o papel do psicopedagogo sob a Ótica das … · também, procuraremos demonstrar que a educação...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO SOB A ÓTICA DAS
QUESTÕES DA INFLUÊNCIA SOCIAL E FAMILIAR NO
AMBIENTE DA APRENDIZAGEM
Por: Patrícia Pontes Ferreira
Orientadora
Profª: Carly Machado
Rio de Janeiro
2010
2UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO SOB A ÓTICA DAS
QUESTÕES DA INFLUÊNCIA SOCIAL E FAMILIAR NO
AMBIENTE DA APRENDIZAGEM
Trabalho de Conclusão de Curso para
aprovação na disciplina de Metodologia da
pesquisa e monografia, do Instituto A Vez do
Mestre - Universidade Cândido Mendes como
parte dos requisitos para obtenção do Grau de
Especialista em Psicopedagogia.
Por: Patrícia Pontes Ferreira
Rio de Janeiro
2010
3AGRADECIMENTOS
A todas as pessoas que colaboraram com a
realização deste trabalho, sejam com
comentários, críticas e fornecimento de textos,
livros e artigos, sejam com incentivos,
elementos tão importantes para a elaboração
do mesmo.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho monográfico a todas as
pessoas que de alguma forma me deram o
incentivo necessário para a construção desse
trabalho; aos meus pais Elias Gadelha Ferreira
e Eguimar Pontes Ferreira, meu noivo Diogo
Wallace Barbosa S. Sanches por suas valiosas
críticas construtivas e palavras de apoio que
em muitos momentos deram-me a força
necessária para continuar buscando o melhor;
a minha professora orientadora, elemento de
fundamental importância para reflexão e estudo
neste trabalho.
5
“Se não procurares senão a recompensa, o
trabalho vai parecer-te penoso: mas, se
apreciares o trabalho por si mesmo, nele
próprio terás a tua recompensa.”
TOLSTÓI (1828 – 1910 )
6LISTA DE SIGLAS
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB - Lei 9.394 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
7RESUMO
Apresentamos o seguinte trabalho monográfico com a proposta de
mostrar o papel exercido pela família no melhor desenvolvimento da
aprendizagem do aluno. Notoriamente, o primeiro contato social do ser humano
é gerado em seu núcleo familiar, a influência da família em determinados
aspectos pode ser considerada como um dos fatores determinantes do
crescimento humano. Tal fator pode ser também um diferencial a ser analisado
na vida cotidiana do aluno. Com a cultura enraizada por cada membro, suas
aspirações e ideologias, visando uma melhor compreensão e exercício de
cidadania e formação plena no desenvolvimento humano.
Palavra-chave: Família. Desenvolvimento. Aprendizagem.
8ABSTRACT
The following monographic term works as an ideal bid in order to demonstrate
the role done by family members in general for a better development of
student’s learning. Notoriously, the first social contact of the human being is
created in its family. Family's influence in certain aspects can be considered as
one of the determinants of human growth. This factor may also be a differential
when analyzed and studied in the daily life of a student, because the culture
rooted in a family environment, aspirations and ideologies, always seeking for
understanding and constant improvement for the preparation turned to a full
exercise of citizenship and character training in human development must be
taken into account and therefore is one of the focuses of our research.
Keywords: Family. Development / Evolution. Learning.
9METODOLOGIA
O presente trabalho monográfico foi baseado em pesquisa bibliográfica
de revisão da literatura cujo foco foi a busca pelo embasamento do tema: “A
aprendizagem nas séries iniciais no ensino fundamental e os elementos que
interferem no processo, com ênfase na participação familiar”.
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 11
CAPÍTULO I 15
SOCIEDADE E FAMÍLIA 15
CAPÍTULO II 24
CONCEITO DE APRENDIZAGEM, SEUS PROCESSOS E A
PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE 24
CAPÍTULO III 30
OS DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM E A PARTICIPAÇÃO
DA FAMÍLIA 30
CONCLUSÃO 34
ÍNDICE 36
REFERÊNCIA 37
11INTRODUÇÃO
O presente trabalho monográfico tem como proposta estudar as
maneiras pelos quais o ambiente familiar pode interferir na aprendizagem em
prol da evolução do ser humano ou, de modo contrário, trazer prejuízos
severos ao processo, em casos de uma estrutura familiar não completamente
estruturada para os parâmetros sociais vigentes.
Entende-se por estrutura familiar não completamente estruturada para
os parâmetros sociais vigentes, a omissão familiar, seja por questões de cunho
social, afetivo ou quaisquer outras que tendam a influenciar e refletir na vida
cotidiana do aluno e possam tornar-se elementos geradores de dificuldades
nos diferentes níveis de aprendizagem.
Este estudo nasce após sucessivas pesquisas e leituras sobre o tema,
além de ter despertado especial interesse em função das constantes
observações in loco, cujo laboratório principal para tal trabalho foi a percepção
de determinados alunos com perfis sociais semelhantes, muitas vezes
colocados à margem, em diferentes ambientes escolares.
A preocupação do educador com fatores que interferem na
aprendizagem é uma constante. O ambiente familiar é, certamente, um destes
fatores e, portanto, torna-se preponderante compreender de forma não apenas
superficial a relação que pode existir entre um possível distúrbio causador da
dificuldade de aprendizagem e a efetiva participação da família e da sociedade
neste panorama.
Certas crianças podem não aprender, ou eventualmente apresentem
certa dificuldade no entendimento e compreensão, e a questão a ser estudada
e que encontra-se implícita na citada dificuldade é: até que ponto a família,
enquanto organismo inserido em um contexto social e pertencente
naturalmente a alguma sociedade definida pode auxiliar ou prejudicar o
processo de aprendizagem? De que maneira as questões ligadas ao apoio
familiar podem ou não interferir no desenvolvimento pleno do discente?
12Por isso, a abordagem da necessidade de compreender a trajetória do
desenvolvimento pleno do ser humano e a importância da estruturação da
família, são objetos desta reflexão. Analisar este desenvolvimento, levando em
conta os distúrbios que podem ser ocasionados quando este não recebe o
necessário apoio dentro de seu núcleo familiar é uma proposta a ser seguida,
tendo como pressuposto que a escola não caminha sozinha. Há que existir um
caminhar paralelo entre mestres e pais. Ambos, educadores do ser em
formação, o aluno. Às mães, particularmente importantes neste processo,
cabe o papel de dar a criança os vislumbres iniciais do que seja uma escola, o
novo ambiente que a partir de certa idade ela irá freqüentar.
As diferenças no modo como as mães ensinam seus filhos a lidar com o
sistema escolar podem ter conseqüências importantes para a aprendizagem.
Muitas crianças são desajustadas em uma sociedade por causa dos
próprios ensinamentos – ou pela falta destes – proporcionados pelos
pais. Além disso, as relações de papéis que são requeridas na
sociedade podem estar totalmente ausentes no lar, não porque se
trate, necessariamente de um lar “ruim”, no sentido geralmente aceito
da palavra, mas porque as crenças dos pais são limitadas e
limitadoras. (MORRISH, 1983, p.194)
A família é um vínculo eterno dentro de cada ser humano. E deve ter
como principal objetivo o desenvolvimento e crescimento de seus integrantes.
O apoio da família é necessário e imprescindível, no entanto este deve
respeitar o espaço individual para que possa haver autonomia na tomada de
decisões.
Estudos clínicos relacionam o fracasso escolar de algumas crianças
com as opressivas e escravizantes ambições parentais, e o de outras
com a indiferença parental. Como várias investigações utilizam
diferentes medidas para as atitudes dos pais em relação ao êxito
acadêmico, é difícil avaliar se elas estão num ponto ótimo. Um outro
estudo observa que as exortações e os padrões parentais de êxito
acadêmico, só são aceitos pela criança quando esta se identifica
fortemente com os pais. Essa condição é formentada por uma relação
afetuosa e rica de substância entre os pais e o filho. (BACKMAN,
1971, p.31)
13O objetivo geral do estudo é compreender a participação efetiva da
família e da sociedade na escola enfatizando suas importâncias no processo
ensino-aprendizagem, no desenvolvimento integral do aluno e demonstrando
de que formas e sob quais circunstâncias a parceria escola X família e escola X
sociedade podem promover uma aprendizagem favorável ao aluno,
desenvolvendo propostas que concretizem a interferência destas parcerias em
prol dos benefícios do discente.
Sendo assim, procura-se demonstrar através de dois aspectos, descritos
abaixo, a maneira como a família, a sociedade e a educação podem, sob o
ponto de vista histórico, afetar de maneira benéfica ou não o rendimento
adequado do aluno.
• O papel da família como estímulo no processo ensino-aprendizagem.
• A importância do elo familiar na formação da personalidade dentro do
ambiente escolar e como sua ausência pode vir a causar distúrbios de
aprendizagem.
A pesquisa, de caráter bibliográfico, analisa diferentes situações
familiares, favorecendo um estudo mais detalhado das causas mais freqüentes
dos distúrbios de aprendizagem e a importância da família no desenvolvimento
do aluno. Dessa forma, pretende-se analisar e desenvolver propostas no
ambiente, estimulando e promovendo uma aprendizagem favorável ao aluno
através do apoio familiar.
A investigação, em seu capítulo inicial, enfoca a importância da
sociedade, da família e dos limites singulares de união e interseção dos dois
conceitos – sociedade e família - mostrando os importantes e definidos papeis
desses elementos para o desenvolvimento e formação do indivíduo, já sabida
que a influência social e de familiares se farão presentes e certamente
acompanharão o ser humano por toda a vida.
Contextualizaremos ainda a educação, seja ela escolar ou “do mundo”
como sendo um fenômeno que ocorre apenas em razão de um processo
básico de interação entre as pessoas (família e sociedade).
14Também, procuraremos demonstrar que a educação é um processo
eminentemente social, e que a mesma se manifesta exatamente porque o
homem é um ser gregário e que somente se sente plenamente realizado como
tal a partir do momento em que entra em contato com seu semelhante, como
explicitado no capítulo segundo.
No capítulo final procuraremos mostrar a forma pela qual cada família
possui sua concepção relacionada a área educacional de seus membros, suas
aspirações acerca do desenvolvimento de seus integrantes do núcleo familiar,
não se restringindo mais, portanto, em função das grandes modificações nos
padrões da vida cotidiana da sociedade, a ficar transmitindo apenas suas
experiências que foram passadas às gerações atuais.
15
CAPÍTULO I
1- SOCIEDADE E FAMÍLIA
No relacionamento com a sociedade e a família, à medida que o homem
tenta construir seu ambiente social, vai deixando as suas marcas e também
sendo marcado pelo ambiente ao seu entorno. Esta “educação do mundo”, que
é a primeira e rudimentar forma de educação que se conhece e que se inicia
com as formas tradicionais de desenvolvimento empírico, isto é tentativa-erro,
vai sendo aprimorada aos poucos e com o passar do tempo, até que atinja a
forma mais complexa de educação sistemática e intencional – os centros
escolares como conhecemos habitualmente – voltada para a execução de um
determinado tipo humano que mais se identifica com crenças, valores e
expectativas daqueles que a promovem.
1.1- A Socialização do indivíduo na sociedade
As levas de novos seres, que a todo instante, batem as portas de uma
sociedade definida constituem uma valorosa substância pela qual esta se
perpetuará e constantemente se renovará. No entanto, inicialmente não são
mais que organismos inermes, cheios de potencialidades, incapazes de
sobreviver às custas de suas próprias atividades e, menos ainda, aptos a
fazerem qualquer contribuição à vida social. A transformação se dará por meio
de processos sociais, cuja ação de inserção é chamada de socialização.
Diferentemente do adotado pelos Pedagogos Franceses que costumam
atribuir o termo socialização o significado de aquisição de capacidade de
cooperação, trabalharemos com o conceito abordado e consagrado na
literatura anglo americana e na Sociologia Brasileira, que determina
socialização como sendo a aquisição de personalidade social, e por outro lado,
tornar-se membro da sociedade e portador e disseminador de sua cultura,
colaborando com isso para sua perpetuação.
16A socialização envolve a aprendizagem, o domínio de técnicas sociais, a
aquisição de novos conhecimentos, o estabelecimento e a aceitação de
padrões sejam de comportamento social, sejam de interiorização de valores
consagrados pela sociedade. É um ciclo que nunca se completa
definitivamente, a renovação faz parte do contexto. No momento em que
qualquer um dos processos destacados primariamente for interrompido, a
flexibilidade mental, indispensável à sobrevivência no complexo mundo
humano de interações sociais estará fadado a findar.
Quem se socializa incorpora valores e padrões sociais, válidos para
todos os membros da sociedade (universais) e outros, que se aplicam
somente ao exercício de certos papéis sociais (especiais). A criança
aprende a falar português, mas também comportar-se como menino
ou menina. O adolescente adquire as noções morais aceitas pela
sociedade em geral, ao lado daquelas que regem a religião e a
profissão que adota. E cada profissão exige, além de habilidades
comuns a todas, outras que lhe são peculiares. (LENHARD,1995, p.5)
Desta forma, fica evidenciado como fazendo parte do comportamento
humano, a necessidade do indivíduo de se sentir inserido dentro de um
contexto social. Não é obra do acaso, é um movimento cultural natural dos
seres vivos em geral que precisam conviver com os semelhantes em sua
jornada de vida.
1.2- A Socialização do indivíduo na família
O homem é um ser social por natureza. Tem como necessidade, o fato
de conviver em sociedade, em um ambiente propício, desempenhando seu
papel na trajetória da espécie humana, e na sua relação com o meio. Sendo
um ser racional, expressa seu pensamento por meio da linguagem escrita,
falada ou gestual, comunicando-se com seus semelhantes. É o anseio pela
vida em sociedade com seus companheiros que estimula a comunicação entre
seus membros.
Buchon (1964) mostrou que através da família a criança recebe suas
primeiras impressões acerca da vida, onde a criança dificilmente apaga da
17memória as marcas da infância, os detalhes, o gosto, o cheiro, o sentimento, as
sensações vivenciadas durante tão vasto momento de descobertas.
A influência da educação familiar é inegável e imensa. A família é, em
primeiro lugar, o círculo no qual a criança se percebe inserida ao abrir os olhos.
Com o desenvolvimento natural da capacidade analítica, a inteligência, a
criança passa a captar, a “entender” as primeiras impressões, os primeiros
signos são decodificados. Algumas marcas dificilmente se apagam em função
da grande plasticidade da criança, a força do sangue e a identidade de afetos,
costumes, entre outros aspectos que ficam gravados em talhe profundo na
consciência individual de cada um. Daí, a singular importância dos exemplos –
tanto a figura paterna como a materna desempenham um papel importante na
formação - e da necessidade de preparação por parte dos pais para o
cumprimento do dever fundamental de educar seus filhos.
A importância das escolhas feitas pela família pode ser destacada em
segundo lugar na formação do ser que se desenvolve. As relações familiares
normalmente são as que por mais tempo, influem de alguma forma no
indivíduo, mesmo que a criança, o adolescente ou o jovem sejam formados por
escolas, centros especiais, ou mesmo interno em colégios, a escolha de um
determinado lugar em detrimento a outro passará pela égide da tomada de
decisão por parte de membros da família que ao estabelecer critérios procuram
um denominador comum as suas expectativas e forma de pensar e proceder. A
determinação do ambiente escolar apropriado, do qual o jovem cidadão será
inserido, chega para somar na formação do novo ser, no novo ambiente, o
recinto escolar, a criança passa a receber a influência não somente dos pais,
que devem colaborar com os demais educadores, assim como dos novos
“coleguinhas”, dos professores e todo o novo grupo social que acaba de se
abrir nessa nova experiência. A influência familiar é não só a primeira,
cronologicamente, mas é a de maior duração para o educando.
Em terceiro lugar, uma vez que não se possuem meios mais eficazes de
atuação do que a família: o amor dos pais, tão abnegado e pessoal não pode
ser igualado; a autoridade de que dependem em tudo, as crianças pequenas, é
18muito importante mesmo quando vão se tornando maiores; faculdade para
determinar meios que hão de convir mais os filhos, são elementos que dotam
os pais das melhores condições possíveis para a formação. A tudo isso
corresponde o filho com confiança, carinho e docilidade, que fazem com que
exista comunicação e compenetração, e que se dê, realmente, uma influência
decisiva, que se notará no filho por toda a vida.
O ser humano interage com o meio social no qual está inserido. A classe
social a que pertence pode interferir na educação do indivíduo de forma
diversificada, tendo como pressuposto que a reação de cada ser a um mesmo
estímulo ou situação é diferente, levando-se em conta a individualidade
humana. Pais de diferentes classes sociais exercem influência diferenciada
sobre seus filhos e isto se reflete no cotidiano escolar. Assim ocorre, por
exemplo, no que se refere à escolha da instituição de ensino que a criança irá
freqüentar, nas atitudes da família em relação a educação, suas aspirações
educacionais e ocupacionais, seu meio intelectual, a importância que confere
aos esforços para se chegar ao sucesso, a forma de disciplina usada por seus
familiares.
Uma família, num determinado nível de classe social, raramente
corresponde em todas as dimensões à sua posição de classe social.
Assim as pesquisas atuais tendem para ir além da classe social e
para examinar as relações entre progresso educacional e cada uma
das variáveis específicas associadas a classe social. Se as relações
entre essas variáveis específicas da família e o progresso
educacional puderem ser determinadas, teremos uma compreensão
mais precisa do rendimento escolar de qualquer criança dada e
também uma melhor idéia de que gêneros de ação social poderiam
melhorar e aperfeiçoar o sistema educacional. (BACKMAN, 1971,
p.23)
É importante fazer aqui uma ressalva no que diz respeito à diferenças
das classes sociais: trata-se de compreender que esta é fator de interferência e
não determinante absoluto no comportamento e desenvolvimento do ser
humano. Portanto não é pertinente colocar a responsabilidade do insucesso de
um aluno meramente no contexto sócio-econômico no qual estiver inserido.
191.3- A Socialização da família na sociedade
As famílias contemporâneas se organizam de forma relativamente
isolada. Os vínculos existentes entre diferentes núcleos e as conexões com
organizações mais amplas são tênues.
Mais do que elas, são as pessoas, enquanto universo singular, que se
relacionam entre sim e com as organizações. Assim mesmo, o núcleo familiar e
a comunidade em que este núcleo está inserido desempenham um papel na
socialização e esta age no sentido de conservar o relativo viço destas
estruturas intermediárias.
Tanto os avós como os tios ainda representam, para o jovem urbano de
hoje, uma posição peculiar na trama das suas relações sociais. Aprende a
pensar neles como potenciais protetores, diferentemente de quando vivíamos
em uma estrutura feudal quando representavam o elo de ligação entre eles e a
sociedade concebida como organizada. Podem influir na educação familiar não
apenas como virtuosos modelos que apresentam qualidades pessoais ou
grandes conquistas alcançadas, mas também pela autoridade discreta que
aquele papel social eventualmente lhes confere.
As relações entre a vizinhança, ou seja, elementos próximos em uma
mesma comunidade, chegam a ser uma área de exercícios em que o jovem
pode aprender a arte de se equilibrar entre relações primárias e secundárias,
de ser amigo com suas reservas e de reservar-se ao direito de resguardar-se
cortesmente. Pelo fato de tudo que for feito fora dos limites da residência poder
de alguma forma refletir-se dentro do ambiente familiar, a prática dos contatos
vicinais ensina a olhar para duas direções antes caminhar – tal como
analogamente na vida do adulto, no qual a necessidade de atenção antes de
caminhar em uma direção se faz constantemente presente no teor de suas
decisões.
Por outro lado, um certo controle social difuso, embora mais fraco do que
nas sociedades tradicionais, não deixou de existir, por parte da comunidade em
relação às famílias.
20A adolescência, período de mudança que levará o jovem a transcender
do período infantil e alça-lo a uma idade adulta, é marcada por uma redefinição
do equilíbrio entre o poder exercido sobre o jovem pela família e a comunidade,
a favor da mesma.
A heterogeneidade dos valores e das normas dominantes na
comunidade moderna faz desta passagem o momento de ruptura de uma vida
ordenada por controles relativamente consistentes para uma liberdade que se
assemelha à ausência de limites, cujas restrições o jovem terá que aprender a
perceber lentamente, á medida que amadurece.
Os membros adultos do núcleo familiar, que já vivenciaram esta
experiência anteriormente, ou provêm de uma sociedade mais homogênea,
apresentam certa dificuldade em acompanhar os jovens neste processo de
adaptação e novas descobertas, o que poderá acarretar tensões quando se
esforçarem para assisti-lo. Por outro lado a compreensão e o diálogo passam a
figurar como elementos importantes nesta nova fase adaptativa a realidade da
qual o jovem passa a estar atrelado.
1.4- A Família pensada pela educação
A família tem o direito inalienável à educação, sendo assim o direito e o
dever da educação pesam sobre os pais, onde possuem o direito de escolher
quem os represente a ministrar a educação de seus filhos.
Este direito de educar da família é inalienável, porque é dever
indeclinável da paternidade.
Os pais, pelo fato de o serem, tem o título de educadores, não pela
capacidade cultural, mas pelo cargo. Os que educam os filhos dos
outros, tem de fazer jus a um duplo título, o de aptidão, adquirido em
centros de ensino apropriados, e o de jurisdição, de que, em ultima
análise, só que podem valer como representantes dos pais. Logo, é
claro que o direito e o dever da educação pesam sobre os pais, e
quando eles não podem atuar diretamente sobre a criança, no todo
ou em parte, tem o direito de escolher quem os represente, e o dever
de não discordar da formação que recebem.(BUCHON,1964, p.110)
21A educação, se analisada pelo viés da escolaridade, permite a
observação de vários fatores facilitadores ou contrários ao esperado bom
rendimento escolar. A célula familiar é instrumento legítimo de apoio ao
indivíduo e inegavelmente importante em sua formação. Para um melhor
desenvolvimento e crescimento de qualquer criança, independente de sua
classe social, é necessário que haja um sentimento de segurança e
estabilidade. Quanto mais estável for a família, maior segurança os filhos irão
sentir no decorrer da sua vida.
A família é o agente intermediário de cultura ao filtrar e interpretar os
valores e comportamentos de subgrupos diferentes dos seus. Em
nossa sociedade superlativamente móvel, a criança está exposta,
com freqüência, a tais grupos, não só nos contatos diretos mas,
especialmente, através da televisão e do cinema. Embora essa
exposição amplie a sua experiência, em certa medida, a família limita
essa ampliação ao interpretar essas experiências externas para a
criança de maneira que reforce os padrões culturais do seu próprio
subgrupo. (BACKMAN, 1971, p. 38)
Se por um lado, desenvolver estabilidade e segurança no lar, parecem
soluções definitivas no que se relaciona à criança no elo escola x família, o
poder aquisitivo surge como um diferencial inserido neste mesmo contexto. As
famílias com maior poder aquisitivo possuem mais acesso à compra de livros,
dispõem de um melhor espaço físico dentro do lar para a leitura e, geralmente
estimulam seus filhos ao hábito de ler.
Essas mesmas famílias vivem em áreas residenciais com melhores
condições sócio-econômicas, têm uma alimentação mais variada, procuram
escolas que tenham uma infra-estrutura adequada ao seu modo de vida, quase
sempre instituições privadas que valorizem o que julgam ser o melhor. Estas
instituições, por sua vez, usam os recursos financeiros para possibilitar a oferta
de melhores condições aos alunos. É certo mencionar que um bom poder
aquisitivo não se restringe à escolha da instituição de ensino, a alimentação e à
compra de livros. Especialmente se a este fator estiver relacionado um outro de
grande importância, qual seja o fator cultural. Assim, filhos de pais que tiveram
22acesso à cultura e dispõem de recursos financeiros, terão, em sua grande
maioria, possibilidades em maior quantidade e qualidade em todos os setores.
Em contrapartida, as famílias econômica e culturalmente desfavorecidas,
que vivem em áreas mais pobres, muitas vezes acabam envolvendo-se menos
na educação de seus filhos. Embora não caibam aqui questões estatísticas, é
visível a diferença do apoio familiar num quadro social desigual e, por vezes,
injusto. São muitos os problemas enfrentados por pais que se encontram nessa
camada social mais desfavorecida. A distância do local do trabalho a moradia,
a necessidade de pai e mãe trabalharem para complementar a renda familiar,
sem ter muitas vezes com quem deixar os filhos, o baixo índice de escolaridade
dos pais, a falta de esclarecimento , a falta de tempo para lazer, são alguns dos
fatores que contribuem para que essas pessoas não cumpram
satisfatoriamente seus deveres e nem tampouco exijam plenamente seus
direitos.
A família não só é uma instituição que permite uma certa segurança
para a criança durante o seu período de imaturidade biológica, mas
também é uma instituição que proporciona a socialização primária e a
educação inicial da criança. G.D. Mitchell sublinhou que a
paternidade e a maternidade estão “se convertendo rapidamente
numa vocação altamente autoconsciente”. (MORRISH, 1983, p.192)
Cada grupo familiar possui distintas aspirações em relação à educação,
valorizando em maior ou menor escala qualitativa o apoio que irá promover na
vida escolar de seus descendentes. Assim, estímulos ao desenvolvimento, a
forma de disciplina imposta e os progressos desejáveis para os filhos
alcançarem, estão intimamente relacionados a estas aspirações.
Segundo Spiro (apud Morrish, 1983, p. 187)
Os pais são de considerável importância no desenvolvimento
psicológico de seus filhos, dentro da coletividade; pois servem como
os objetos de suas mais importantes identificações e proporcionam-
lhes uma certa segurança e amor que as crianças não podem obter
de outras pessoas.
23 Portanto, independentemente do nível sócio-econômico e cultural dos
pais, o papel por eles desempenhado é de suma importância para o futuro do
jovem cidadão, haja visto que a figura representativa dos pais funciona como
uma espécie de modelo para as personalidades que ainda estão em formação.
24CAPÍTULO II
2- CONCEITO DE APRENDIZAGEM, SEUS PROCESSOS
E A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE
O conceito de aprendizagem tem como um dos objetivos primordiais a
motivação do indivíduo, uma vez que deste jeito, o mesmo tenderá a relacionar
o que aprende com o que já sabe.
Quando estimulamos alguém de alguma forma, esse indivíduo passa a
desenvolver um senso de desejo que poderá otimizar suas capacidades
favorecendo uma aprendizagem significativa. Deve-se proporcionar, portanto
um significado real às ações para que uma motivação verdadeira possa ser
despertada.
Cada ser humano possui uma maneira única de se fazer presente no
mundo. Aprender é conseqüência de uma autonomia que é dada ao ser
humano após a construção de conhecimentos e sua respectiva interiorização.
A responsabilidade não é uma qualidade com que nascemos, mas
promana das oportunidades que tivermos de aprender, de acordo
com o nosso grau de maturidade, como agir responsavelmente, para
que, com o passar do tempo, estejamos aptos a desenvolver um
conceito do que isso significa. (MORRISH, 1983, p. 217)
O conceito literal de aprendizagem, como menciona Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira em seu Dicionário da Língua Portuguesa - Século XXI, é “[de
aprendiz + agem] s.f.V. aprendizado de 1 a 3. Aprendizado- s.m. 1. Ato ou
efeito de aprender. 2. O tempo que dura tal aprendizagem. 3. O exercício ou
prática inicial da matéria aprendida; experiência; tirocínio.” (p.172)
A aprendizagem, em toda a vida do ser humano, acontece de forma
contínua. Desde nossos primeiros momentos de vida estamos em contato com
imensuráveis mudanças, sujeitos a diferentes adaptações e readaptações de
ordem mundana, social ou mesmo profissional e que se mostram necessárias.
Estamos sempre percorrendo um caminho diário de novos conhecimentos e
25estabelecimento de conhecimentos previamente adquiridos que fluem de forma
natural no cotidiano do detentor do mesmo.
A aprendizagem nasce como um resultado da estimulação do
ambiente sobre o indivíduo já maduro, que expressa, diante de uma
situação-problema, sob a forma de uma mudança de comportamento
em função de experiência. (COELHO&JOSÉ, 2002, p.11)
Cada ser constrói sua história individualmente, sob influências diretas e
indiretas do meio social e mais especificamente do meio familiar onde estiver
inserido, havendo uma constante relação de troca e estabelecimento de inter
relações que permeiam a trajetória evolutiva de cada um.
A aprendizagem é gradual, isto é vamos aprendendo pouco a pouco,
durante toda nossa vida. Portanto, ela é um processo constante,
contínuo. Cada indivíduo tem seu ritmo próprio de aprendizagem
(ritmo biológico) que, aliado ao seu esquema próprio de ação, irá
constituir sua individualidade.(DROUET, 2003, p.8)
Sabe-se que a modernização nas relações familiares se alterou.
Atualmente a mulher entrou no mercado de trabalho e com isso muitas
crianças ficam com a educação a cargo da escola, porém é necessária a
participação familiar para um êxito satisfatório na aprendizagem.
Através de pesquisas realizadas é possível perceber que muitas
famílias, devido a ausência, acabam não dando limites a seus filhos, na
tentativa de evitar o fracasso, frustrações e insucessos. Assim, diferentes
distúrbios podem ser ocasionados levando a dificuldade na aprendizagem. O
conceito de distúrbios da aprendizagem, segundo Martin & Marchese (1995,
p.25) é: “distúrbio de aprendizagem como qualquer dificuldade observável
enfrentada pela criança para acompanhar o ritmo de aprendizagem de seus
colegas de mesma faixa etária seja qual for o fator determinante desse atraso”.
Os distúrbios de aprendizagem podem ocorrer tanto no início como
durante o período escolar e mesmo antes do período de escolarização.
A aprendizagem, como parte de um processo de comunicação - a
Educação apresenta quatro elementos: - comunicador ou emissor
(professor)- mensagem (conteúdo educativo) - receptor da
26mensagem (aluno) -meio ambiente (escolar, familiar, social).
(DROUET, 2003, p.43 )
Como mostram as citações acima, percebe-se que os distúrbios da
aprendizagem podem ter diferentes causas sejam estas físicas, emocionais,
sócio-econômicas, intelectuais, neurológicas ou cognitivas. A família, porém, é
vista como um fator determinante na aprendizagem. Se qualquer um desses
fatores falhar, haverá um obstáculo à comunicação, o que poderá causar
problemas de aprendizagem.
Sabe-se que o ser humano, desde o seu primeiro momento de vida,
necessita de convívio social para que possa sobreviver e desenvolver-se.
É sabido que a ausência de assistência por parte dos pais ou de outrem
que lhes façam às vezes, o pequeno recém-nascido não conseguiria sobreviver
por longo período em função da necessária dependência a que está sujeito.
Da mesma forma que um bebê precisa de estímulos desde seu primeiro
sopro de vida quando saí do ventre materno, analogamente o ser humano
assim por toda a sua jornada necessita do outro.
Num lar bem harmônico, as primeiras lições de relações humanas e
socialização são aprendidas sob a guia de professores agradáveis, porém
sábios. O sentimento de segurança dado pela conhecida proteção confere a
primeira influência estabilizadora.
À medida que a inteligência e a apreciação se apuram, há um
significativo aumento do encanto do prazer cultural compartilhado.
Ainda está por se descobrir algo que tenha o poder de ultrapassar um
círculo familiar composto por integridade e respeito para ensinar as pessoas a
se comportarem em um ambiente macro e de ordem social.
No ambiente familiar é possível encontramos todas as variedades
possíveis de companheirismo: juventude com velhice, menino com menino,
menina com menina, e homem com mulher. Aqueles que foram de alguma
forma privados de tal oportunidade ou não tiveram a chance de se deleitar com
27um lar feliz tiveram estirpados do seu íntimo um dos mais valiosos bens da
espécie humana: o convívio social.
Mesmo que alguém esteja sozinho, estará mantendo uma relação
educativa com alguém, na medida em que assimilou valores, crenças,
hábitos, maneiras de falar, de sentir, etc. (Garcia, 1977, p.63)
A aprendizagem pensada por diferentes teóricos educacionais tem em
comum o desenvolvimento da criança. Onde cada um expõe a sua teoria de
desenvolvimento, que independente de certa ou errada demonstra com clareza
uma linha de pensamento que pode ser seguida.
Na teoria Psicogenética de Piaget os conhecimentos são apresentados
espontaneamente, as atividades mentais são construídas pelos alunos onde
estes se apropriam do sentido do conhecimento, os temas são
contextualizados, os alunos criam, questionam, participam do processo de
ensino-aprendizagem na construção do próprio sujeito em interação com o
objeto.
Segundo Piaget (1991) “A maturação cerebral fornece certo número de
potencialidades (possibilidades) que se realizam, mais cedo ou mais tarde (ou
nunca), em função das experiências e do meio social.” (p.34)
Baseando-se na concepção de ensino sócio-histórica de Vygostsky a
criança já nasce inserida num mundo social, onde existe um repertório dentro
de cada sujeito e este vai recebendo informações e aprimorando-as
diariamente.
É fundamental para a construção do conhecimento a interação social,
a referência do outro, por meio do qual se podem conhecer os
diferentes significados dados aos objetos de conhecimento. Essa
mediação, ressaltando-se aí o papel da linguagem, é fundamental
para o desenvolvimento do pensamento, dos processos intelectuais
superiores, nos quais se encontra a capacidade de formação de
conceitos. (VYGOTSKY, 1993, p. 50)
A aprendizagem é construída dia após dia de forma contínua. Novas
formas de comunicação são geradas e assim, novas habilidades e atitudes
podem ser ocasionadas através do elo familiar e das experiências originadas
28através desse suporte inserido dentro de cada indivíduo. Aprender é o
resultado das relações internas e mentais de cada ser humano respeitando o
meio.
O ser humano está em um processo contínuo de evolução e o elemento
família procura auxiliar o indivíduo com valiosas orientações que possam
acompanhá-lo pela vida afora, haja vista que a família é responsável pela
transmissão dos primeiros ensinamentos, as primeiras orientações, as
primeiras diretrizes formadoras de caráter do novo ser, universo único que está
sendo inserido em sociedade.
A participação familiar é essencial na vida diária do educando e esse
trabalho tem a proposta de mostrar à interação da família acerca do
favorecimento da aprendizagem promovendo práticas pedagógicas favoráveis
ao aluno.
Observam-se valores educacionais e suas relações no processo
educacional tendo em vista que a família é constantemente presente desde
quando fomos concebidos no ventre materno e forma o primeiro grupo social
concreto no qual participamos, Dada a importância deste primeiro grupo social,
podemos levar em conta que as características ocasionadas por falta de apoio
familiar podem prejudicar no processo de aprendizagem.
“A aprendizagem nas séries iniciais no ensino fundamental e os elementos
que interferem no processo, com ênfase na participação familiar”, tema deste
trabalho, encontra fundamentação na legislação vigente.
No Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), destaca-se o pleno
desenvolvimento da pessoa, preparando-a para uma cidadania digna e
assegurando por lei os direitos da criança e do adolescente. De acordo com o
estatuto, as instituições bem como a família e a sociedade como um todo,
devem propor conteúdos e atividades que tenham significados para que os
alunos consigam aprender novas informações e buscar cada vez mais novos
conhecimentos, desenvolvendo o potencial de cada educando e estimulando-o.
É citado no Art.° 4° do ECA
29É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos
direitos referentes à vida, a saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
(BRASIL/ECA, 2003, p.03)
De acordo com o artigo supracitado, toda criança possui direitos e estes
são assegurados por lei para a formação plena e integral do cidadão. Assim
também, na Lei 9.394 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu Art.
1° , o assunto é recorrente:
A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na
vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de
ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da
sociedade civil e nas manifestações culturais. (BRASIL/LDB, 2006,
p.31)
Tanto o Estatuto da Criança e do Adolescente quanto a Lei 9.394 de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional contêm em sua essência e registram
legalmente a preocupação fundamental que deu origem a esta pesquisa: a
presença da família no processo de desenvolvimento do ser humano e o que
pode ocorrer em caso contrário, ou seja, no caso de ausência total ou parcial
de apoio familiar. As leis pretendem de alguma maneira garantir esta presença
de forma a tornar a trajetória evolutiva da criança, principalmente na fase
escolar, um processo destinado ao sucesso. Um olhar menos atento não
perceberia o objetivo maior destes artigos e parágrafos da legislação, qual seja
a construção de uma sociedade mais justa e digna, consciente de seus
deveres e de seus direitos, em suma, uma sociedade melhor.
30CAPÍTULO III
3 - APRENDIZAGEM, DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM
E A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA
A família vem se reorganizando a cada dia com o progresso e
incontáveis inovações tecnológicas, que conjuntamente acabam por assim
dizer influenciando modificações profundas nas sociedades. A estagnação, as
lembranças do passado, dos dias de glória, do sucesso da família não se
fazem mais essenciais, estão no passado de um tempo que não se repete e
que não volta mais. Cabe a todos os integrantes do núcleo familiar se aterem
ao presente fazendo com que comecem a construir suas respectivas histórias,
seus aprendizados e sua era a partir do aqui e agora.
3.1- A Participação da família no processo ensino-
aprendizagem
As famílias, bem como outros grupos sociais, são dotadas de
especificidade que lhes atribui diferenças e lhes confere diversidade de
características, seja de cunho social ou temporal. Alguns fatores influenciam
nas mudanças ao longo do tempo e de forma peculiar na estruturação destas
famílias.
Antigamente, a aprendizagem infantil era concebida através da
reprodução de dados, sendo a criança vista como um ser que imitava o outro.
Nesse contexto, o papel do mestre era fundamental. Ele era o detentor do
conhecimento e responsável por transmiti-lo ao seu aluno. Para verificar o nível
de aprendizagem, para saber efetivamente se o aluno havia ou não aprendido,
eram utilizados os testes. Depois, através de estudos, foi possível perceber que
o conhecimento estava dentro do aluno e que era viável extrair informações
dentro da vivência de cada ser humano.
313.2 – Aprendizagem
O ser humano ao nascer já chega ao mundo pronto a observar o seu
redor e o comportamento de quem o cerca. Os bebês possuem uma
capacidade de imitação que os cientistas após inúmeras pesquisas
compreenderam fazer parte do desenvolvimento do ser humano. Não é apenas
o ato de reproduzir e sim perceber o mundo que está inserido.
3.3 - Influência do ambiente familiar na aprendizagem
Nem sempre a família percebe as mensagens que transmitem aos filhos,
pois estas são transmitidas por seus atos, emoções, pensamentos, crenças.
Mas a participação familiar pode influenciar na personalidade, caráter, atitudes
e valores dos filhos.
Atualmente a família vem sofrendo severas mudanças e a relação
familiar não é mais apenas relação homem e mulher. A família pode ser
composta por diferentes formas de relações, ou seja, uniões homossexuais,
uniões informais, separações de casais, famílias nucleares.
A família exerce grande influência no desenvolvimento do aluno, cada
uma possui um contexto histórico social, uma religiosidade, cujos hábitos são
transmitidos de geração a geração. Isso é possível observar logo quando a
criança entra para a escola através do seu currículo oculto.
As funções desempenhadas pelas famílias no conjunto da vida de
qualquer sociedade são tão importantes, independentemente da sua
natureza e extensão, que se compreende facilmente a universalidade
da sua institucionalização. (LENHARD, 1985, p.55)
A família e a escola na sociedade atual possuem tarefas
complementares, pois ambas não conseguem êxito total se agirem
isoladamente.
32A presença dos pais no recinto escolar e sua maior participação em
determinadas atividades tornam-se mais comuns. Os contatos formais e
informais se multiplicam e se diversificam. No cotidiano, os canais de
comunicação parecem se ampliar para além da tradicional participação nas
associações de pais e mestres e da presença em reuniões oficiais com
professores. A escola deve propor em seu projeto político pedagógico,
estratégias para envolver de forma espontânea a participação da família de
maneira participativa.
Hoje na escola há palestras, cursos, jornadas e “festas da família”, a
agenda escolar do aluno, os bilhetes, os contatos telefônicos, as conversas na
entrada e na saída das aulas e a participação da própria criança.
Para que possa ocorrer uma integração e favorecimento do bem estar
do educando a família e a escola devem trabalhar em sistema de parceria.
O professor não tem um papel terapêutico em relação à criança e sua
família, mas o de conhecedor da criança, de consultor, apoiador dos
pais, um especialista que não compete com o papel deles. Ele deve
possuir habilidades para lidar com as ansiedades da família e
partilhar decisões e ações com ela. Se assim ocorrer, a família terá
no professor alguém que lhe ajude a pensar sobre seu próprio filho e
a se fortalecer como recurso privilegiado do desenvolvimento infantil.
(OLIVEIRA, 2002, p.181)
Pais, educadores e pessoas participantes no desenvolvimento da
criança devem interagir com o educando, fazendo com que se sintam seguros
para desenvolver suas potencialidades. Nenhuma criança nasce sabendo e
cabe aos pais, familiares e a sociedade vigente fornecer estímulos para que
possa realizar a tomada de decisões de forma crítico participativa com base na
realidade da estrutura social em que vive.
O adulto“faz andaimes para” ou “apóia” as consecuções da criança,
forçando-a a entrar na “ zona de desenvolvimento proximal” mediante
o jogo e “ ensinado-o” a conseguir o controle consciente do que vai “
aprendendo’, graças às relações sociais estabelecidas. (SALVADOR,
1994, p.106 )
33A construção familiar é um elo permanente, não basta termos sido
gerados naquele núcleo familiar, se faz necessário a cada a dia vencermos os
obstáculos da falta de tempo, atrativos tecnológicos que acabam dispersando a
convivência com o outro ser humano.
É necessária, a valorização da conquista a cada passo de seus
membros, a descoberta do outro, o sentir-se importante e especial, a liberdade
para constante construção sabendo que se pode recorrer a estrutura familiar no
momento de conflitos, incertezas e alegrias.
A família tem papel essencial na vida de seus membros, pois cada um
assume papéis no grupo, portanto cada ser é único e têm suas características,
sonhos, desejos e cabe a todos respeitar as divergências e contribuir através
da transmissão de suas experiências na descoberta de novos caminhos de
cada integrante, para que estes possam construir seu próprio caminho.
Parafraseando Sayão (1964), a família pode dar aos filhos o bem mais
precioso que é a sua presença afetiva, constante e orientadora mostrando que
o mundo é cercado de inúmeras possibilidades e cabe a cada indivíduo a
conquista de alcançar os resultados.
34CONCLUSÃO
No triângulo família - sociedade - aprendizagem reside a essência desta
pesquisa. As múltiplas reflexões ao longo do trabalho monográfico permeado
pelo pensamento de teóricos da educação trazem à tona uma questão de
considerável importância no cenário educacional dos tempos modernos, qual
seja a influência familiar na aprendizagem. Pesquisas e observações do
cotidiano escolar e familiar buscam reunir dados que tragam suporte
consistente ao trabalho do educador, seja este um membro da família ou o
professor. A educação não pode se ater somente aos muros escolares, é na
família que precisam nascer os primeiros e principais estímulos para o
desenvolvimento sócio afetivo do ser humano. É da qualidade desta
semeadura que irão brotar os frutos mais saudáveis ou menos saudáveis, ou
seja, a participação efetiva da família no crescimento dos filhos, a dedicação, o
afeto e a atenção são fatores preponderantes em seu desenvolvimento.
A escola, como instituição de cunho transformador, pode e deve
detectar as causas das dificuldades de aprendizagem, no entanto, não cabe a
esta, prover ao educando o equilíbrio socialmente desejável que deveria haver
em todos os lares. Sabedores que somos de que a sociedade está longe do
que poder-se-ia chamar de ideal, há que se construir metas concretas na busca
da qualidade de vida e consequentemente na melhoria da educação como
instrumento da formação de cidadãos.
Desta forma, lidando com alunos oriundos de uma sociedade
multifacetada, a escola depara-se com a diversidade, e na seqüência imediata,
com a dificuldade de aprendizagem. Não que a diversidade por si só seja
elemento único e gerador das dificuldades detectadas nos educandos, no
entanto são agravantes num sistema que prioriza políticas assistencialistas em
detrimento de dignidade social.
Não basta construir escolas, matricular crianças e contratar mestres. Isto
a sociedade em que vivemos já possui parcialmente. Fundamental é avaliar a
sociedade como um todo, os porquês do fracasso escolar e sua íntima relação
com o apoio familiar. Censos escolares anuais para coletas de dados sem
35reavaliação do sistema escolar também são ineficazes. Em contrapartida não
basta acusar a família por sua ausência e promover julgamento inadequado
àqueles que , muitas vezes, por total ausência de oportunidades, deixa a
desejar no cumprimento do pátrio poder. Ficam as questões para refletir: se
somos capazes de tão facilmente julgar, porque não conseguimos, da mesma
forma, reverter esse quadro de desamparo social? Onde reside a
responsabilidade de cada um ? O cada um de nós deveria estar fazendo neste
exato momento para que não houvessem questionamentos como
estes?Quando formos capazes de dar respostas exatas à estas perguntas e
mensurar seu verdadeiro teor, talvez estejamos a caminho das soluções.
Se vivemos numa sociedade democraticamente organizada, é
necessário exigir dos governantes, condições mínimas para que pais e mães
possam viver dignamente sem ter que necessariamente estar ausente o dia
inteiro, privando a criança de seu convívio. Políticas públicas inteligentes
podem e devem contribuir para que a família esteja presente no
desenvolvimento de seus filhos. Lamentavelmente, implícito nesta questão,
está a escolha dos gestores públicos, feita por esta mesma sociedade
desamparada que clama por dignidade .
Cabe, em suma, a cada um de nós e à sociedade como um todo fazer
as devidas cobranças,bem como participar efetivamente para que num futuro, o
mais próximo possível, laços família – escola, tragam de forma definitiva e
contundente o sucesso do aluno e seu pleno e integral desenvolvimento,
culminando com a construção de uma sociedade justa e sã.
36
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 11
CAPÍTULO I 15
1 - SOCIEDADE E FAMÍLIA 15
1.1 - A SOCIALIZAÇÃO DO INDIVÍDUO NA SOCIEDADE 15
1.2 - A SOCIALIZAÇÃO DO INDIVÍDUO NA FAMÍLIA 16
1.3 - A SOCIALIZAÇÃO DA FAMÍLIA NA SOCIEDADE 19
1.4 - A FAMÍLIA PENSADA PELA EDUCAÇÃO 20
CAPÍTULO II 24
2- CONCEITO DE APRENDIZAGEM, SEUS PROCESSOS E
PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE 24
CAPÍTULO III 30
3 - APRENDIZAGEM, DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM E A
PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA 30
3.1 - A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO PROCESSO ENSINO-
APRENDIZAGEM 30
3.2 – APRENDIZAGEM 31
3.3 – INFLUÊNCIA DO AMBIENTE FAMILIAR NA APRENDIZAGEM 31
CONCLUSÃO 34
ÍNDICE 36
REFERÊNCIA 37
37REFERÊNCIAS
• BACKMAN,Carl W.; SECORD,Paul F. Aspectos psicossociais da
Educação .Ciência da Reeducação. 3ª ed. Zahar Editores, Rio de
Janeiro, 1971.
• Brasil. [Lei de diretrizes e bases da educação nacional (1996)]
LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n°
9394/96/ apresentação Carlos Roberto Jamil Cury; edição e notas
Antonio De Paulo. -10ª ed., - Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
• BUCHON, Consuelo S. Curso de Pedagogia. 16ª ed., A.E.C, Rio
de Janeiro,1964.
• CHRAIM, Albertina de Mattos. Família e escola: a arte de
aprender para ensinar. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2009.
• CUNNINGHAM. William F. Introdução a Educação Problemas
fundamentais, finalidades e técnicas. 2ª ed. São Paulo,
Globo&Mec. 1975.
• DROUET, Ruth C. D. Distúrbios da Aprendizagem. São Paulo,
Ática, 2003.
• FERREIRA, Aurélio B. Holanda. Dicionário da Língua Portuguesa –
Século XXI, Rio de Janeiro, Nova Fronteira,
• GARCIA, Walter E. Educação: visão teórica e prática pedagógica.
São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1977.
• JOSÉ, E.da A. & COELHO, M.T. Problemas de Aprendizagem.
São Paulo, Ática, 2002.
• LENHARD, Rudolf. 1912- Sociologia educacional. 7.ed. ver. e
ampl. São Paulo: Pioneira, 1985.
• MARTIÍN,E. & MARCHESI, A. Desenvolvimento matacognitivo e
problemas de aprendizagem In Desenvolvimento Psicológico e
Educação, vol. 3. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995, 24 – 35 p.
38• MORRISH, Ivor. Sociologia da Educação - Uma Introdução. 2ª ed.
Zahara Editores, Rio de Janeiro, 1983.
• OLIVEIRA Z.R. Educação Infantil: Fundamentos e métodos. São
Paulo: Cortez, 2002.
• PILETTI, Claudino. Didática Geral, 23ª ed., São Paulo, Ática,
2000.
• PORTELLA, Fabiani Ortiz,BRIDI, Fabiane R. de Souza. Rio de
Janeiro: Wak Ed., 2008.
• SALVADOR, César Coll. Aprendizagem escolar e construção do
conhecimento. Porto Alegre: Artes médicas, 1994.
• SALVADOR, César Coll. Psicologia da educação. Porto Alegre:
Artes Médicas Sul, 1999.
• SAMPAIO, Simaia. Dificuldades de aprendizagem: a
psicopedagogia na relação sujeito, família e escola. Rio de
Janeiro: Wak Ed., 2009.
• Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Estatuto da
Criança e Adolescente – Lei Federal n° 8069/90 de 13/04/1990
Atualizado até 12/11/2003
• VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins
Fontes, 1993.