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CENTRO SETORIAL DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS O PAPEL DE ALTAS CONCENTRAÇÕES DE Na + E Cl - NA MODULAÇÃO DE FATORES DE VIRULÊNCIA POR Burkholderia cenocepacia Amanda Ferreira Monteiro Rio de Janeiro 2012

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CENTRO SETORIAL DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

O PAPEL DE ALTAS CONCENTRAÇÕES DE Na+ E Cl- NA

MODULAÇÃO DE FATORES DE VIRULÊNCIA POR

Burkholderia cenocepacia

Amanda Ferreira Monteiro

Rio de Janeiro

2012

AMANDA FERREIRA MONTEIRO

Aluna do curso de Ciências Biológicas

Matrícula 0823800002

O PAPEL DE ALTAS CONCENTRAÇÕES DE Na+ E Cl- NA

MODULAÇÃO DE FATORES DE VIRULÊNCIA POR

Burkholderia cenocepacia

Trabalho de conclusão de curso, TCC apresentado

ao Curso de graduação em Ciências Biológicas do

Centro Universitário Estadual da Zona Oeste como

parte dos requisitos necessários à obtenção do grau

de Bacharel em Biologia, sob orientação da Prof.ª

Maria Cristina de Assis.

Rio de Janeiro

Julho de 2012

M775 Monteiro, Amanda Ferreira O papel de altas concentrações de Na+ e Cl- na modulação de fatores de virulência por Burkholderia cenocepacia / Amanda Ferreira Monteiro. Rio de Janeiro, 2012.

viii, 42p.;

Trabalho de conclusão de curso (Ciências Biológicas)- Fundação Centro Universitário Estadual da Zona Oeste- UEZO, Rio de Janeiro, 2012.

Bibliografia: f. 36-42.

Orientadora: Profª Maria Cristina de Assis

1. Burkholderia cenocepacia, 2. Fatores de virulência, 3. Fibrose Cística, 4. NaCl. - Trabalho de Conclusão de Curso. I. Assis, Maria Cristina. II. Centro Universitário Estadual da Zona Oeste. III. O papel de altas concentrações de Na+ e Cl- na modulação de fatores de virulência por Burkholderia cenocepacia.

CDD 579.2

ii

O PAPEL DE ALTAS CONCENTRAÇÕES DE Na+ E Cl

- NA

MODULAÇÃO DE FATORES DE VIRULÊNCIA POR

Burkholderia cenocepacia

Elaborado por Amanda Ferreira Monteiro

Aluna do curso de Ciências Biológicas da UEZO

Este trabalho de graduação foi analisado e aprovado com

Grau: 9.0

Rio de Janeiro, 17 de Julho de 2012

______________________________________________________

Profª Alessandra Mattos Saliba, Drª

______________________________________________________

Profª Amada Zambrana Coronado, Drª

______________________________________________________

Prof. João Bosco de Salles, Dr.

Suplente

______________________________________________________

Profª Maria Cristina de Assis, Dra

Presidente/Orientadora

Rio de Janeiro, RJ - Brasil

Julho de 2012

iii

Dedico este trabalho à minha mãe, que sempre

me incentivou, apoiou e ensinou a nunca desistir .

“Quem acredita sempre alcança...”

iv

Agradeço primeiramente a Deus, que renova

minhas forças todos os dias para continuar

lutando e superando todas as dificuldades,

fazendo de mim uma pessoa vitoriosa.

À minha mãe Shirley, por estar ao meu lado

em todos os momentos difíceis da minha vida,

segurando a minha mão e sempre me

incentivando a seguir em frente. Obrigada por

sempre acreditar que eu sou capaz.

À minha querida orientadora Maria Cristina,

pela paciência e atenção dedicadas por longos

meses de trabalho. Posso dizer que eu tive uma

grande sorte de encontrá-la na minha caminhada,

essa pessoa que é tão doce e que tem o incrível

dom de ensinar. Agradeço por todos os

conhecimentos transmitidos e pela orientação

segura. Esta tornou-se para mim um exemplo de

profissionalismo a ser seguido.

Às amigas Mayra e Raquel, agradeço pela

cumplicidade e pelas ajudas nos trabalhos e em

muitos problemas que a vida me impôs durante

os anos de faculdade.

A Profª Alessandra M. Saliba e Carolina

Diettrich pelos momentos de biologia molecular

no Departamento de Microbiologia, Imunologia e

Parasitologia da Faculdade de Ciências Médicas

da UERJ.

A todos os professores e amigos que

influenciaram direta ou indiretamente nessa

conquista.

v

Resumo

Burkholderia cenocepacia é um micro-organismo frequentemente associado a

infecções graves em pacientes portadores de Fibrose Cística, doença caracterizada pelo

defeito no transporte dos íons Na+ e Cl

-. Existem evidências de que infecções persistentes

possam ser decorrentes, em parte, da sua habilidade de ser um patógeno intracelular

facultativo, mas também pela presença de fatores de virulência como formação de

biofilme, adesinas como “cable pilus”, produção de exopolissacarídeos, além de outros

mecanismos de resistência. O aumento da concentração de NaCl (170mM), parece

favorecer a colonização de B. cenocepacia nas vias aéreas dos pacientes com FC. Estes

achados nos motivaram a investigar o papel dos altos níveis de Na+ e Cl

- na modulação de

fatores de virulência importantes na persistência das infecções. Utilizamos o clone

epidêmico ET-12 e quatro isolados clínicos (1664, 1634, 1652 e 2627) cultivados em meio

suplementado com 0,1M e 0,3M de NaCl para avaliar: i) a formação de biofilme realizada

pelo método de coloração com cristal violeta a 0,2%; ii) arquitetura dos biofilmes

formados por microscopia eletrônica de varredura; iii) a expressão do gene “cable pilus”

por RT-PCR. Nossos resultados demonstraram uma heterogeneidade na formação de

biofilme pelas diferentes cepas. As cepas 1664 e 2627 quando cultivadas em meio

suplementado com 0,3M de NaCl, apresentaram um aumento significativo no índice de

formação de biofilme. A cepa 1664 foi a única cepa clínica a apresentar o gene cblA, e a

ET-12 quando cultivada em 0,3M, apresentou um aumento na expressão deste gene.

Portanto, sugerimos que o aumento das concentrações de NaCl nas secreções pulmonares

na FC pode conferir maior virulência para cepas de B.cenocepacia.

Palavras-chave: Burkholderia cenocepacia, Fatores de virulência, Fibrose Cística, NaCl.

vi

Abstract

Burkholderia cenocepacia is a microorganism commonly associated with severe

infections in patients with cystic fibrosis, a disease characterized by defective transport of

Na+ and Cl

-. There is evidence that persistent infections may be due in part to its ability to

be a facultative intracellular pathogen, but also by the presence of virulence factors and

biofilm formation, adhesins as cable pili, production of exopolysaccharides and other

resistance mechanisms. Increasing concentrations of NaCl (170mM), seems to facilitate the

colonization of B. cenocepacia in the airways of CF patients. These findings motivated us

to investigate the role of high levels of Na+ and Cl

- in the modulation of virulence factors

important in persistence of infections. We used epidemic ET-12 strain and four clinical

isolates (1664, 1634, 1652 and 2627) grown in medium supplemented with 0.1M and

0.3M NaCl to assess: i) the formation of biofilm performed by staining with crystal violet

0.2%, ii) the architecture of biofilms by scanning electron microscopy, iii) gene expression

cable pili by RT-PCR. Our results demonstrate heterogeneity in biofilm formation by

different strains. Strains 1664 and 2627 when grown in medium supplemented with 0.3M

NaCl showed a significant increase in the rate of biofilm formation. The strain 1664 was

the only strain to present clinical gene cblA and ET-12 when grown in 0.3M showed an

increased expression of this gene. Therefore, we suggest that increased concentrations of

NaCl in the pulmonary secretions in CF may confer greater virulence strains

B.cenocepacia.

Keywords: Burkholderia cenocepacia, Virulence Factors, Cystic Fibrosis, NaCl

vii

SUMÁRIO

Página

Resumo...................................................................................................................................v

Abstract.................................................................................................................................vi

1. Introdução...........................................................................................................................1

1.1 Complexo Burkholderia cepacia..........................................................................1

1.2 Aplicação biotecnológica dos micro-organismos do CBc....................................3

1.3 Bactérias doCBc como patógenos oprtunistas.....................................................4

1.4 Burkholderia cenocepacia e fatores de virulência...............................................5

1.4.1 Biofilme.......................................................................................................6

1.4.1.1 A formação do biofilme......................................................................8

1.4.1.2 Fatores que influenciam na formação de biofilmes..........................12

1.4.1.3 Papel dos biofilmes na patogênese das infecções.............................13

1.5. Fibrose Cística...............................................................................................................16

1.6. A Fibrose Cística e B. cepacia.......................................................................................19

2. Justificativa.......................................................................................................................20

3. Objetivos..........................................................................................................................21

3.1 Geral...................................................................................................................21

3.2 Específicos..........................................................................................................21

4. Materiais e Métodos.........................................................................................................21

4.1 Amostras Bacterianas.........................................................................................21

4.2 Determinação da capacidade de formação de biofilme......................................22

4.3 Análise por microscopia eletrônica de varredura (MEV)...................................23

4.4 Análise da presença do gene cblA por PCR........................................................23

4.5 Análise da expressão do gene cblA por RT-PCR................................................25

4.6 Análise estatística...............................................................................................27

5. Resultados e discussão.....................................................................................................27

5.1 Determinação do índice de biofilme formado pelas diferentes cepas meio

viii

suplementado ou não com NaCl...............................................................................27

5.2 Análise da estrutura do biofilme por MEV.........................................................29

5.3 Análise da presença do gene “cable pilus” por PCR..........................................32

5.4 Análise da expressão do gene cblA por RT-PCR................................................33

6. Conclusões.......................................................................................................................34

7. Perspectivas......................................................................................................................36

8. Referências Bibliográficas...............................................................................................36

1

1. INTRODUÇÃO

1.1 - Complexo Burkholderia cepacia

Burkholderia cepacia foi inicialmente descrita em 1950 como Pseudomonas

cepacia por Burkholder da Universidade de Cornell, como uma espécie fitopatogênica

responsável pelo apodrecimento de bulbos de cebola. Ironicamente, hoje em dia, B.

cepacia está sendo considerada por microbiologistas como um agente promotor do

crescimento de culturas agrícolas (GOVAN et al., 1996). Ainda em 1950, foi relatado como

um patógeno humano por ser agente etiológico de endocardite bacteriana. Em 1971, foi

identificada como um organismo do “pé podre” em tropas em formação no pântano dos

Estados Unidos, em exercício na Flórida (DAVIES & RUBIN, 2007). Mais tarde, essa

bactéria se mostrou muito versátil, com capacidade para várias interações complexas,

como degradação de complexos aromáticos e interação com humanos e animais, além de

poder metabolizar diversos substratos. Com a análise taxonômica molecular de isolados

dessa espécie de Pseudomonas, muitos foram transferidos para um novo gênero,

Burkholderia (TOMICH & MOHR, 2003)

As espécies de Burkholderia cepacia partilham características fenotípicas

semelhantes, porém genotípicas diferentes, sendo estas diferenças suficientes para permitir

subdivisões em variantes genômicas, e estas genovariantes formam o Complexo

Burkholderia cepacia (CBc). Atualmente são descritas pelo menos 17 espécies (tabela 1)

ou variantes genômicas no CBc (SOUZA et al., 2010), sendo que nove cepas de quatro

espécies do complexo já têm a sequência do seu genoma completo e disponível

publicamente, e outras nove estão com sequenciamento em andamento (LEITÃO et al.,

2010). O termo genomovar é comumente usado para denominar espécies que são

filogeneticamente distintas, mas que são fenotipicamente indistinguíveis quando realizados

testes bioquímicos rotineiros (LEITÃO et al., 2010)

Os micro-organismos desse complexo apresentam características comuns: são

bacilos Gram-negativos, aeróbios, não esporulados e móveis. Apresentam temperatura

ótima de crescimento entre 30º e 35ºC, e podem utilizar mais de 200 compostos como

2

fonte de carbono e energia (PALLERONI, 1984). Pertencem à família Pseudomonadaceae

(NASSER et al., 2004) e seus habitats primários incluem sedimentos dos rios, solo e

plantas, onde são abundantes na rizosfera do milho, do trigo e do arroz, constituindo um

importante indicador de alterações que ocorram nas comunidades microbianas resultantes

de práticas específicas na agricultura (BERRIATUA et al., 2001). Bactérias do CBc têm

suscitado interesse como ferramenta biotecnológica.

Tabela 1- Tabela com as espécies que compõe o Complexo Burkholderia cepacia

Espécie CBc Genomovar

B. cepacia Genomovar I

B. multivorans Genomovar II

B. cenocepacia Genomovar III

B. stabilis Genomovar IV

B. vietnamiensis Genomovar V

B. dolosa Genomovar VI

B. ambifaria Genomovar VII

B. anthina Genomovar VIII

B. pyrrocinia Genomovar IX

B. ubonensis Genomovar X

B. latens Genomovar XI

B. diffusa Genomovar XII

B. arboris Genomovar XIII

B. seminalis Genomovar XIV

B. metallica Genomovar XV

B. contaminans Genomovar XVI

B. lata Genomovar XVII

(Adaptado de SOUSA et al., 2010)

3

1.2 - Aplicação biotecnológica dos micro-organismos do CBc

Bactérias do CBc têm suscitado grande interesse como biopesticida, atuando no

controle biológico de fungos e pragas que afetam plantas e culturas agrícolas de interesse

comercial, além de se mostrar como agente na biodegradação. Estes organismos

apresentam uma extraordinária versatilidade metabólica, podendo degradar substratos

aromáticos clorados, que são complexos compostos tóxicos de herbicidas e pesticidas,

alguns inclusive com alto potencial cancerígeno. Podem também degradar resíduos

industriais, utilizando-os como fonte de carbono e energia. Um dos compostos tóxicos de

grande importância que é degradado por B. cepacia é o ácido 2,4,5 - triclorofenoxiacético

(2,4,5-T), potente herbicida que não é facilmente biodegradado e persiste por longos

períodos no ambiente e foi o principal composto do conhecido agente laranja, muito usado

na guerra do Vietnã (SANGODKAR et al., 1988).

Também pode antagonizar e reprimir muitos fitopatógenos presentes no solo. Pode

impedir a senescência foliar e a podridão causada por fungos, por exemplo, agindo de

forma a inibir a germinação dos esporos. O mecanismo de controle biológico usado por

estes microrganismos envolve a síntese de substâncias antagonistas e de metabólitos

antifúngicos muito ativos contra um largo espectro de fungos, contrastando com as suas

potencialidades na agricultura, em que a proteção e promoção do crescimento/rendimento

de culturas agrícolas mundiais suscitam fortes interesses econômicos (MENDES, 2007).

Outros estudos mostraram que bactérias do gênero Burkholderia podem produzir ácido

indol acético (AIA), hormônio da classe das auxinas responsável pelo crescimento vegetal,

por várias vias de síntese independentes da adição de suplementos ao meio de cultura.

Estes estudos foram feitos em cana-de-açúcar (Saccharum spp.) e os resultados mostraram

que o gênero Burkholderia possui grande número de representantes potencialmente

benéficos para a promoção do crescimento e desenvolvimento vegetal, aumentando a

produtividade agrícola na cultura da cana-de-açúcar. O conhecimento destes processos

pode permitir a exploração desta interação micro-organismo-vegetal, visando à aplicação

biotecnológica, já que apresentam características importantes, tais como a fixação

biológica de N2, solubilização de fosfato inorgânico e síntese de auxinas (COSTA et al.,

4

2009).

As bactérias do complexo emergiram como oportunistas em IrAS (Infecções

relacionadas à Assistência à Saúde), principalmente associadas a infecções respiratórias em

pacientes com FC, criando crescentes preocupações sobre a eventual relação entre isolados

ambientais (ou lançados no ambiente) e clínicos, e os potenciais riscos de utilização desta

bactéria como agente de controle biológico (HOLMES, GOVAN & GOLDESTEIN, 1998).

1.3 - Bactérias do CBc como patógenos oportunistas

Espécies do CBc emergiram como patogênicas oportunistas importantes por sua

capacidade de causar infecções potencialmente letais em imunossuprimidos e pacientes

com Fibrose Cística. O progresso no estudo das bactérias desse complexo tem acontecido

principalmente por terem emergido na década de 80 como potencial causador de infecções

hospitalares, com aumento significativo de mortes particularmente associadas com

infecções pulmonares. Surtos hospitalares com pequenos focos envolvendo pacientes sem

fibrose cística (FC) foram registrados devido à contaminação de fontes comuns com

pacientes portadores da doença, tais como preparações desinfetantes ou soluções

intravenosas (HOLMES, GOVAN & GOLDESTEIN, 1998). Espécies do CBc emergiram

como patogênicas oportunistas importantes por sua capacidade de causar infecções

potencialmente letais em imunossuprimidos e pacientes com Fibrose Cística. Porém sua

patogenicidade não se limita a pacientes fibrocísticos, sendo agente etiológico importante

em granulomatose crônica, infecções em feridas, peritonites, artrites sépticas, por vezes

afetando indivíduos saudáveis (LEITÃO et al., 2010). A espécie mais prevalente nos

pacientes com fibrose cística é a B. cenocepacia, causadora de mais de 50% das infecções,

seguido da B. multivorans. A infecção pela B. cenocepacia está associada à maior

mortalidade entre os pacientes com fibrose cística (tabela 2), quando comparada às

infecções por P. aeruginosa e B. multivorans, e também é a espécie mais frequentemente

relacionada à Síndrome Cepacia (MAHENTHIRALINGAM et al., 2002).

5

Tabela 2 – Distribuição da frequência de aparecimento das espécies do Complexo Burkholderia cepacia em

uma população selecionada de pacientes com fibrose cística

(Adaptado Drevinek & Mahenthiralingam, 2010)

1.4 - Burkholderia cenocepacia e fatores de virulência

A identificação dos fatores de virulência envolvidos na patogenicidade das bactérias

do CBc é uma das áreas de investigação da maior importância. A avaliação de

características que conferem patogenicidade está, contudo, muito condicionada por

particularidades inerentes ao hospedeiro e resulta de uma combinação complexa de fatores

genéticos. Muitos dos fatores de virulência já conhecidos em outros micro-organismos

patogênicos foram também identificados em estirpes do CBc; no entanto, a sua

contribuição para a doença não foi ainda demonstrada. Entre esses fatores de virulência

encontram-se lipases, proteases, sideróforos, hemolisinas, “cable pilus”,

lipopolissacarídeos e exopolissacarídeos (EPS) (CUNHA et al., 2004).

Geralmente, os micro-organismos Gram-negativos são mais resistentes a agentes

microbianos do que os Gram-positivos, e esse potencial tem sido atribuído ao fato das

bactérias Gram-negativas possuírem uma membrana externa adicional, que atua como uma

barreira de permeabilidade extra. A presença de lipopolissacarídeos (LPS) impede o acesso

de moléculas hidrofílicas, isto inclui antibióticos e biocidas, para o interior da célula. Além

6

disso, há um grande número de proteínas de membrana externa que, embora funcionem

como responsáveis pela entrada de antimicrobianos hidrofóbicos na célula, estão

associados também à resistência bacteriana (FERREIRA et al., 2010).

Sabe-se que todas as espécies do CBc são potencialmente capazes de causar

infecção em seres humanos, entretanto, as espécies B. multivorans e B. cenocepacia têm

maior frequência de isolamento em contraste com as espécies B. anthina, B. estabilis e B.

anbifaria, que raramente são isoladas (CAMPANA et al., 2005).

Algumas linhagens do complexo possuem grande capacidade de transmissão, em

particular, a cepa ET-12 (eletrophoretic type 12) de Burkholderia cenocepacia, responsável

pela epidemia em pacientes com fibrose cística no Canadá e Reino Unido. Essa cepa

carrega o gene cblA, que codifica uma subunidade do “cable pilus”, estrutura chave que é

responsável pela aderência da bactéria na célula epitelial (CUNHA, et al., 2004)

Supõe-se ainda que algumas cepas sejam mais transmissíveis que outras, e dois

genes têm sido utilizados como marcadores de uma linhagem epidêmica do CBc: os genes

cblA, que codifica o “cable pilus” do complexo B. cepacia e esmR, que codifica uma

proteína reguladora de função ainda não completamente estabelecida. O “cable pilus” de

cepas isoladas de pacientes com fibrose cística atua na aderência da bactéria às

glicoproteínas do muco e também aumenta sua adesão às células epiteliais. Embora sejam

mais frequentemente identificados em cepas de B. cenocepacia, eles não são exclusivos

desta espécie, mas podem ser considerados marcadores de virulência ou de

transmissibilidade. Outros fatores de virulência são importantes na persistência das

infecções como a produção de biofilme e a resistência a antibióticos (DREVINEK &

MAHENTHIRALINGAM, 2010).

1.4.1- Biofilme

As bactérias em geral podem ser encontradas na natureza sob duas formas:

bactérias livres e flutuantes, denominadas planctônicas e as bactérias que estão firmemente

aderidas a uma superfície, denominadas sésseis, podendo formar biofilmes (DUNNE,

2002).

7

Os biofilmes são uma forma adaptativa do ciclo de vida procariota, funcionando

como a principal forma de sobrevivência e proliferação. São caracterizados

morfologicamente como um conjunto de bactérias agrupadas tridimensionalmente e

irreversivelmente a um substrato, interface (sólido-líquido) ou umas às outras, recobertas

por uma matriz extracelular autoproduzida composta por polissacarídeos, ácidos nucleicos

e proteínas. Apesar da grande complexidade das diferentes estruturas moleculares, os

biofilmes são formados predominantemente por água, em até 90% de seu volume total. A

porção sólida é constituída por células (15%) e matriz extracelular EPS (85%)

(COSTERTON et al., 1995).

Biofilmes microbianos ocorrem naturalmente nos mais variados tipos de ambientes,

sejam eles bióticos, como tecidos vegetais e animais, ou abióticos, como rochas, metais e

polímeros diversos. A formação de biofilme é benéfico ao micro-organismo pois gera

micro-habitats, que oferecem proteção aos indivíduos que fazem parte dele contra as

intempéries e os estresses do meio ambiente. Eles podem ser monoespécie, quando sua

formação diz respeito a apenas um tipo de micro-organismo, ou multiespécie, quando é

encontrada mais que uma espécie na comunidade, mas sempre interagindo

cooperativamente (BOARI, 2008). É extremamente vantajosa para todas as espécies de

micro-organismos a organização em forma de biofilme em relação às bactérias que se

encontram em modo de vida livre, pois dessa forma estão mais protegidos da ação de

agentes químicos e físicos, tendo menor possibilidade de sofrer agressões ambientais como

exposição a raios ultravioleta, toxicidade por metais, garantindo maior proteção contra a

desidratação, vento e variações de pH e osmolaridade, além de conferir certa estabilidade

para seu crescimento com possibilidade de interação e cooperação com outras células que

estão em sua proximidade (HALL-STOODLEY, COSTERTON & STOODLEY, 2004). O

estado de sobrevivência em forma de biofilme garante proteção, principalmente contra o

sistema imunológico do hospedeiro ou de microrganismos predadores existentes no meio

ambiente (BEHLAU & GILMORE, 2010), tornando dessa forma os biofilmes bastante

difíceis de serem erradicados.

Um gradiente de nutrientes e oxigênio é observável a partir do topo do biofilme à

sua base onde há um microambiente anaeróbico. Esta observação reforça a idéia de que o

8

estado metabólico de bactérias dentro de um biofilme depende da sua localização dentro da

estrutura. Esses biofilmes espessos possuem uma arquitetura complexa no qual podem

existir microcolônias em pilares distintos ou estruturas em forma de haste ou pedúnculo,

através do qual se constitui uma rede intrínseca de canais altamente permeáveis, que

permitem o acesso aos nutrientes e oxigênio mesmo nas áreas mais profundas (DONLAN,

2002).

É possível descrever algumas diferenças básicas entre bactérias em estado de vida

livre e vivendo em forma de biofilme. Estas diferenças estão listadas na tabela 3.

Tabela 3 – Diferenças básicas entre bactérias em forma de vida livre e vivendo em biofilmes

Bactérias Planctônicas Bactérias em biofilmes

Células isoladas e em suspensão Células formando agregados, aderidas umas

às outras e a um substrato

Ligeira matriz capsular Embebidas em uma matriz de

exopolissacarídeos (EPS)

Fisiologicamente homogêneas e ativas Fisiologicamente heterogêneas

Sinalização intracelular, não essencial

para divisão celular

Sinalização celular fundamental para o

crescimento e desenvolvimento de uma

arquitetura organizada

Células ativas fisiologicamente

suscetíveis aos antimicrobianos

Extremamente mais resistente a drogas

antimicrobianas

Células individuais reconhecidas e bem

orientadas pela resposta imune do

hospedeiro

Células embebidas na matriz de EPS são

inacessíveis para a resposta do hospedeiro e

resistentes às drogas antimicrobianas (Adaptado de Behlau & Gilmore, 2010)

1.4.1.1- A formação do biofilme

A formação do biofilme é uma estratégia de sobrevivência de micro-organismos em

um ambiente com condições adversas o que provoca uma alteração fenotípica de células de

vida livre para a forma séssil. Células crescidas em biofilme expressam propriedades

distintas das células planctônicas, uma das quais é o aumento na resistência aos biocidas e

agentes antimicrobianos (MOSTELLER & BISHOP, 1993; CABEÇA, 2006). Os biofilmes

9

têm se revelado como estruturas dinâmicas e altamente organizadas, compostas por

unidades estruturais e funcionais básicas, as microcolônias, que podem variar desde uma

camada única a uma espessa comunidade de células rodeadas por uma matriz heterogênea

de EPS (COSTERTON, 1995). Essa matriz de EPS é fundamental para a arquitetura e

estabilidade estrutural do biofilme, proporcionando maior durabilidade e proteção ao

biofilme. A quantidade de EPS produzida pode variar de um micro-organismo para o outro

e tende a aumentar com a maturidade do biofilme. Costerton et al., 2003, constatou em sua

primeira observação direta envolvendo biofilmes microbianos, que essas populações

aderentes geralmente continham muito mais células do que as populações planctônicas do

ecossistema que estava sendo estudado.

Existem várias teorias propostas para formação de biofilmes. A primeira teoria foi

descrita por MARSHALL et al., 1971, que relata ser um processo que inicia com a adesão

que ocorre em duas fases: na primeira o processo é ainda reversível, em função da adesão

do micro-organismo a superfície ocorrer por forças de Van der Walls e atração eletrostática.

Na segunda fase, ocorre a interação física da célula com a superfície por meio de material

extracelular de natureza polissacarídica ou proteica, produzida pela bactéria, que é

denominada de glicocálix, que suporta a formação de biofilmes (MELO, 2008). Outra

teoria sugere que a formação de biofilmes depende de uma série coordenada de eventos

moleculares, que podem ser colocadas resumidamente em cinco etapas: I)

condicionamento da superfície pela adsorção de material orgânico; II) transporte de células

e nutrientes para o sítio de aderência; III) inicia-se o processo de adesão bacteriana, ainda

reversível, por atração eletrostática; IV) crescimento celular, adesão irreversível e

formação de microcolônias; V) o biofilme está maduro e apresenta alta atividade

metabólica com liberação de células localizadas na periferia (Figura 1) (RICKARD et al.

2002).

10

Figura 1- Etapas de formação do biofilme

(Adaptado de Rickard et al., 2003)

Inicialmente ocorre a fixação microbiana à superfície, na qual os organismos

denominados colonizadores primários aderem a um substrato, que pode ser biótico ou

abiótico, sendo esta fixação denominada como ligação reversível, e ocorre em função das

forças de “Van der Walls” e da ação eletrostática. Nesta fase bactérias apresentam

comportamentos característicos de cada espécie, que incluem rolamento (rolling),

deslizamento (gliding), entre outros antes de se estabelecer num local e começarem a

iniciar o processo de adesão irreversível. Posteriormente ocorre a interação física das

células aderidas com a superfície, onde as células passam a proliferar e desenvolver-se,

originando microcolônias que autossintetizam uma matriz exopolissacarídica (EPS) de

natureza polissacarídica ou proteica, resultando em ligações irreversíveis. Essas matrizes

passam a atuar como substratos para a aderência de micro-organismos denominados

colonizadores secundários, que podem se aderir diretamente aos primários formando os

agregados e levando à maturação do biofilme. Dessa forma, a adesão é uma importante

etapa neste processo descrito por (MARSHAL et al., 1971), pois o glicocálix é produzido

após o processo de adesão superficial. A quantidade de EPS produzido varia de acordo

com o micro-organismo e aumenta com o tempo de formação, podendo associar-se a íons

metálicos, cátions bivalentes e outras macromoléculas (DNA, lipídeos, etc.) (RICKARD et

al., 2003).

11

A formação da matriz de polímeros extracelulares de natureza polissacarídica ou

proteica, também conhecida como glicocálix, que se expõe exteriormente à membrana

externa das células Gram-negativas é fundamental e funciona como base para formação do

biofilme. O pili e flagelos, além de promoverem a adesão à superfície, permitem a

formação e a ampliação das microcolônias, pois se movem longitudinalmente. A

motilidade flagelar favorece a interação inicial da bactéria com a superfície, permitindo

que a bactéria vença as forças de repulsão, aumentando assim a probabilidade de

abordagem de fixação na superfície (WILLIAMS & FLETCHER et al., 1996). No quarto

estágio, ocorre a maturação da arquitetura do biofilme, com a formação de canais de água

que dividem a comunidade microbiana, através dos quais ocorre a comunicação inter e

intracelular (DONLAN, 2002).

Estudos com Vibrio cholerae e Escherichia coli indicaram que a produção de EPS é

essencial para o desenvolvimento de biofilme porque estabiliza a sua arquitetura

tridimensional, favorecendo sua maturação. Em caso de mudanças ambientais, a

sobrevivência em forma de biofilme pode dificultar sua adaptação e assim, a bactéria deve

ser capaz de detectar e responder às condições ambientais desfavoráveis, retornando ao

modo planctônico da existência. Esta última etapa é conhecida como dispersão ou

desadesão do biofilme e parece ser um processo altamente regulado, embora, pouco se

conheça sobre seus mecanismos que incluem: i) síntese de enzimas que degradam adesinas

e o EPS; ii) retorno a motilidade; iii) produção de substâncias surfactantes e lise celular,

além de poder ser causado for força física de organismos ou objetos exteriores. O

desprendimento de células bacterianas do biofilme é de fundamental importância, é uma

maneira de perpetuar a espécie e de colonizar novos ambientes. É possível identificar três

tipos de diferentes de estratégias de dispersão de um biofilme: i) dispersão de células que

vão sendo libertadas, individualmente, das microcolônias; ii) os agregados de células são

espalhados em forma de massa compacta; iii) dispersão de superfície, sob a qual as células

do biofilme vão se movendo superficialmente. O processo de maturação do biofilme pode

durar de 3 a 6 dias (HALL-STOODLEY et al., 2004).

12

1.4.1.2 - Fatores que influenciam na formação de biofilmes

Cada biofilme é considerado único, pois a formação e composição de sua estrutura

são influenciadas por diversos fatores. A formação de um biofilme é guiada por numerosos

sinais ambientais, que em sua maioria ainda não foram identificados. As bactérias podem

responder de várias formas às condições ambientais. Algumas respondem com a formação

de biofilme de acordo com o tipo e a quantidade de nutrientes disponíveis no ambiente,

formando biofilme de múltiplas camadas, como por exemplo, a Salmonella enterica

sorovar e Typhimurium, que respondem dessa forma quando há limitação de nutrientes

(GERSTEL & ROMLING, 2001). Os principais fatores que influenciam na formação de

biofilmes são: as propriedades do substrato e da interface onde ocorrerá a adesão

(hidrofobicidade, rugosidade e propriedades eletroquímicas: pH, osmolaridade,

concentração de eletrólitos, temperatura); a hidrodinâmica do local ou tensão de corte

(tensão dos meios que fluem rapidamente), quando o ambiente for de baixa tensão de corte,

os biofilmes apresentam uma baixa resistência à tração e quebram facilmente. No entanto,

quando são formados em ambientes de elevada tensão de corte, os biofilmes apresentam-se

bastante fortes e resistentes a quebras mecânicas, ou seja, ao atrito; a diversidade ecológica

da comunidade microbiana pode favorecer a resistência a antimicrobianos por mutação

espontânea ou através da aquisição de informação genética de outras bactérias,

influenciando assim a formação do biofilme (apud Stoodley et al., 1997).

O chamado Quorum Sensing (QS), mecanismo de sinalização celular que atua

através de um sistema de comunicação célula-célula entre bactérias de um biofilme através

de sinais químicos e que depende da densidade celular, também é um fator importante na

formação de biofilmes. Através deste mecanismo que as bactérias regulam expressão de

conjuntos de genes especializados em resposta a densidade celular, muitos destes genes

associados à formação de biofilmes e produção de fatores de virulência (SIMÕES et al.,

2010).

A formação de biofilmes tem sido considerada uma resposta ao mecanismo de QS.

13

Uma série de outras atividades microbianas importantes estão também associadas e este

mecanismo, incluindo: biossíntese de enzimas extracelulares, biossíntese de

antimicrobianos, produção de biossurfactantes, transferência de plasmídeos por meio de

conjugação, síntese de EPS e fatores de virulência extracelulares em bactérias Gram-

negativas como a B. cenocepacia (SIMÕES, SIMÕES & VIEIRA, 2010).

1.4.1.3 - Papel dos biofilmes na patogênese das infecções

Os biofilmes desempenham um papel fundamental em determinados processos

biotecnológicos como na biodegradação de poluentes ambientais ou no equilíbrio

microbiano dentro de um organismo. No entanto, na maioria das vezes os biofilmes não

são desejados e causam sérios problemas em diversas áreas, que incluem setores industriais

e médicos, podendo levar ao aumento dos custos de produção e manutenção, assim como à

saúde pública e aos impactos e preocupações ambientais (FERREIRA et al., 2010).

A formação de biofilmes está associada à cronicidade das infecções e a sua inerente

resistência a ações terapêuticas de erradicação que levam extensos períodos de tratamento

e não garantem sua total erradicação; além da sua difícil detecção em diagnósticos de

rotina. Sendo assim, os biofilmes apresentam papel significativo no aparecimento de

doenças infecciosas (DONLAN, 2002).

Estudos estimam que cerca de 65% das infecções bacterianas (tabela 4)

desenvolvidas em humanos pressuponham a formação de biofilmes, daí a grande

importância em se estudar esse tipo de organização celular.

14

Tabela 4 – Lista de algumas infecções humanas que envolvem biofilmes

Doença/Infecção Espécies bacterianas envolvidas

Cáries dentárias Cocos Gram-positivos acidogênicos,

Streptococcus sp.

Periodontite Bactérias orais anaeróbicas Gram-negativas

Otite média Haemophilus influenzae

Amigdalite crônica Várias espécies

Pneumonia/Fibrose Cística Pseudomonas aeruginosa, Burkholderia

cepacia

Endocardite Streptococcus grupo Viridans, Staphylococcus

Fascite necrosante Streptococcus grupo A

Infecções musculoesqueléticas Cocos Gram-positivos

Osteomielite Várias espécies

Infecções do trato biliar Bactérias entéricas

Pedra nos rins infecciosa Bacilos Gram-negativos

Prostatite bacteriana E. coli e outras Gram-negativas

(Adaptado de FUX et al., 2005)

Biofilmes possuem um potencial patológico associado a infecções oportunistas,

principalmente em pacientes fibrocísticos. Cepas do CBc possuem a capacidade de formar

biofilmes, o que pode favorecer a persistência das infecções, visto que o biofilme impede o

acesso dos antimicrobianos à superfície da célula bacteriana (CUNHA, 2004).

Diversos pesquisadores propuseram hipóteses para explicar a resistência a

antimicrobianos, que incluem permeabilidade seletiva na parede celular, alteração de alvos

intracelulares das drogas, degradação enzimática ou inativação de drogas ou o efluxo ativo

de antibióticos. Costerton et al., (1999) e Prakash et al., (2003) sugeriram os seguintes

mecanismos: o primeiro sugere que esta resistência se deve à presença de EPS, constituinte

15

da matriz exopolissacarídica do biofilme, pode atuar como uma barreira física/química

retardando a difusão do antibiótico e diminuindo a taxa de difusão de outros solutos,

suficientes para induzir a expressão de genes dentro do biofilme que medeiam a

resistência.

As bactérias do CBc são resistentes aos aminoglicosídeos, quinolonas, polimixinas,

devido ao incomum componente lipopolissacarídeo de suas membranas celulares e a β-

lactâmicos devido à produção de betalactamases. Estes componentes são produzidos em

resposta à exposição a antibióticos, podendo levar a ligação e/ou desativação de moléculas

de antibióticos que estão tentando alcançar as células que compõem o biofilme. O

tratamento de indivíduos com infecções por bactérias do CBc geralmente incluem a

combinação de dois ou três antibióticos com atividade sinérgica como β-lactâmico

(meropenem ou ceftazidima), a ciprofloxacilina, a tobramicina, o cloranfenicol, a

minociclina ou a rifampicina. Contudo, estas combinações não levam a erradicação total do

micro-organismo (LACY et al., 1993).

Uma segunda hipótese gira em torno do fato de algumas células do biofilme

sofrerem um período de limitação de nutrientes levando a um crescimento lento ou mesmo

estagnação, a chamada fase estacionária que se assemelha a dormência, podendo contribuir

para a expressão da resistência generalizada ou tolerância a antibióticos (COSTERTON et

al., 1999). Outra hipótese sugere que o agente antimicrobiano é desativado por oxidantes

reativos nas camadas mais externas do biofilme, mais rapidamente do que se difunde

(PRAKASH et al., 2003).

Os biofilmes podem proporcionar um ambiente ideal para a troca de DNA

extracromossômico responsável pela resistência aos antibióticos, fatores de virulência e

capacidade de sobrevivência ambiental, tornando assim um meio perfeito para a resistência

(KARATAN, 2009)

16

1.5 - Fibrose Cística

A fibrose cística é uma doença hereditária autossômica recessiva, cujo gene está

localizado no braço longo do cromossomo 7, no lócus q31. Este gene é formado por 250kb

de ácido desoxirribonucleico (DNA), com 27 éxons e tem a propriedade de codificar um

ácido ribonucleico mensageiro (RNAm) de 6,5Kb que transcreve uma proteína

transmembrana, reguladora de transporte iônico, composta de 1.480 aminoácidos,

conhecida como cystic fibrosis transmembrane conductance regulator (CFTR), também

chamada de canal de cloro. Esta proteína é sintetizada no núcleo, sofre maturação em

organelas citoplasmáticas (fosforização e glicosilação), localizando-se na membrana apical

das células. A CFTR é essencial para o transporte de íons pela membrana celular, estando

envolvida na regulação do fluxo de cloro, sódio e água (Figura 2). Esta doença pode ser

detectada no teste do pezinho logo ao nascimento do bebê (RIBEIRO, RIBEIRO &

RIBEIRO, 2005).

Figura 2- Estrutura da CFTR (canal de cloro) que pode estar ausente, deficiente ou em menor quantidade nas

células de vários órgãos do corpo humano

(Adaptado de Ribeiro, Ribeiro & Ribeiro, 2005)

A FC foi descrita por Andersen em 1938 como “fibrose cística do pâncreas” e o

prognóstico da doença era fatal nos primeiros anos de vida. Ao longo dos anos, o avanço

17

no conhecimento sobre a fisiopatologia da doença tornou cada vez maior a sobrevivência

dos pacientes e dados do registro norte-americano mostram que a idade mediana de

sobrevida é de 36,5 anos atualmente (DALCIN & ABREU E SILVA, 2008).

As mutações no gene da fibrose cística, causadas pela presença de dois alelos,

provocam ausência de atividade ou funcionamento parcial da CFTR, provocando uma

redução na excreção de cloro, aumentando dessa forma a eletronegatividade intracelular,

resultando em maior fluxo de entrada de sódio para preservar o equilíbrio eletroquímico e

secundariamente de água para dentro da célula por ação osmótica. As mutações I, II e III

conferem formas clínicas mais graves e as mutações IV e V conferem manifestações

clínicas mais leves. Nas vias aéreas ocorrem alterações no líquido de superfície com

desidratação das secreções mucosas e aumento da viscosidade, favorecendo a obstrução

ductular, que se acompanha de reação inflamatória e posterior processo de fibrose

(KNOWLES et al., 1986). E como ela é uma doença multissistêmica, vai causar danos no

trato respiratório, mas também em órgãos como pâncreas, intestinos, fígado e sistema

reprodutor (Figura 3).

Figura 3- Fisiopatogenia da fibrose cística

(Adaptado de Ribeiro, Ribeiro, Ribeiro, 2005)

18

Mais de mil mutações já foram descritas no gene da fibrose cística, porém a mais

frequente delas (ΔF508) ocorre devido a uma deleção de três pares de bases, que acarreta

na perda de um aminoácido chamado fenilalanina, na posição 508 da proteína CFTR, o que

impedirá seu funcionamento adequado. Aproximadamente 70% dos cromossomos de

fibrose cística, no norte da Europa, têm a mutação ΔF508, cuja incidência diminui para o

centro e sul da Europa (RIBEIRO et al., 2005)

A incidência da fibrose cística é variável de acordo com as etnias, oscilando de 1

fibrocístico para cada 2.000 a 5.000 caucasianos nascidos vivos na Europa, Estados Unidos

e Canadá; 1 para cada 15.000 negros americanos, e 1 para 40.000 na Finlândia

(LASSERSON, 2002). No Brasil, a incidência da FC varia entre as diferentes regiões

devido à heterogeneidade da população. No Rio Grande do Sul, a estimativa da incidência

da FC é de 1 em 1.587 indivíduos, sendo semelhante à encontrada no sul da Europa

(RASKIN et al., 2008).

Atualmente não existe um tratamento específico para a alteração genética que causa

a fibrose cística. Apesar dos avanços no conhecimento da doença, o tratamento definitivo

ainda é uma perspectiva para o futuro. Por enquanto tenta-se minimizar as consequências

da ausência ou defeito da proteína CFTR (canal de cloro). Como a fibrose cística acomete

vários órgãos e apresenta curso crônico, o tratamento deve ser realizado em centros de

referência que permitam abordagem multidisciplinar (RIBEIRO et al., 2005)

Os objetivos básicos do tratamento consistem em: prevenir a infecção pulmonar por

maior tempo possível, minimizar o declínio da função pulmonar e manter bom estado

nutricional. Nos centros especializados, pacientes que mantenham boa frequência durante o

tratamento, apresentam sobrevida média que vem aumentando ao longo dos anos, passando

de 2 anos em 1950 para 30 a 40 anos atualmente. Deve-se estabelecer um programa de

tratamento vigoroso e contínuo, visando à profilaxia das infecções e das complicações.

Segundo estudos, é necessário utilizar no mínimo um conjunto de 2 antibióticos para

combater a infecção, e isso se deve a grande resistência a antimicrobianos. O tratamento

deve ser iniciado o mais precoce possível e ser individualizado, levando-se em conta a

gravidade e os órgãos acometidos. O início precoce retarda a progressão das lesões

pulmonares, melhora o prognóstico e aumenta a sobrevida do paciente (CYSTIC

19

FIBROSIS FOUNDATION, 1997).

1.6 - A Fibrose Cística e B. cepacia

A infecção por Burkholderia cepacia em pacientes fibrocísticos está associada com

doença pulmonar avançada e uma síndrome clínica denominada “síndrome cepacia”, que é

caracterizada por uma pneumonia necrosante e sepse. A infecção inicia com a colonização

do trato respiratório superior, que evolui para o trato inferior, onde ocorrem alterações no

líquido de superfície com desidratação das secreções mucosas e aumento da viscosidade,

favorecendo a obstrução ductular, que é acompanhada de reação inflamatória e posterior

processo de fibrose. Quadro clínico que leva a uma falência aguda da função pulmonar,

apresentando uma pneumonia fulminante em aproximadamente 20% dos pacientes com

fibrose cística. Nessa condição, outros organismos invadem sistemicamente o indivíduo,

causando choque endotóxico, insuficiência de múltiplos órgãos e em muitos casos, morte

(CUNHA et al., 2004).

Estudos epidemiológicos demonstram que a transmissão dos micro-organismos do

CBc ocorre por contato social, podendo acontecer de pacientes hospitalizados sem fibrose

cística abrigarem o micro-organismo e ser uma ameaça de infecção para pacientes

vulneráveis com fibrose cística. Também foi demonstrado que cepas virulentas e muito

transmissivas de Burkholderia cenocepacia podem substituir outras variantes genômicas

durante a infecção, como a Burkholderia multivorans, sugerindo a importância do

isolamento dos pacientes infectados (COURTNEY et al., 2004).

A realização de exame bacteriológico do material respiratório de indivíduos com

Fibrose Cística é extremamente relevante como apoio no diagnóstico e tratamento da

doença infecciosa dos pacientes fibrocísticos. Os micro-organismos que infectam o

paciente fibrocístico irão determinar o tratamento, a qualidade de vida, as perspectivas para

o transplante e a sua sobrevida global. A exata identificação de patógenos respiratórios é

essencial para o tratamento da infecção, seja como guia para o uso adequado de

antibióticos por longos períodos para os pacientes com infecção bacteriana crônica, bem

como para a aplicação adequada de medidas de controle de infecção (LUTZ et al., 2011).

20

Micro-organismos do CBc são nutricionalmente muito versáteis, o que proporciona

a estas bactérias uma variedade de ambientes para sua proliferação. Devido a esta

versatilidade e pela sua resistência à ação de alguns antissépticos e desinfetantes, espécies

de Burkholderia tem sido implicadas em surtos resultantes de contaminação em géis de

ultrassom, hidratantes e antissépticos bucais. Todas as espécies do CBc podem ser isoladas

como patógenos em seres humanos ou simplesmente isoladas no meio ambiente sem

estarem envolvidas em infecções e algumas são transmissíveis entre pacientes com FC,

sendo capazes de causar surtos epidêmicos. As espécies B. cenocepacia e B. multivorans

predominam entre pacientes com FC. Estas duas espécies em conjunto representam

aproximadamente 85-97% de todas as infecções por CBc na FC. Por isso, a partir de 1990

a maioria dos estudos se focaram na B. cenocepacia. Uma das cepas mais estudadas e

descrita como altamente transmissível é conhecida como ET-12, é uma genovariante IIIA

que causou infecções devastadoras no Canadá, Reino Unido e populações europeias de

pacientes com FC (LUTZ et al., 2011).

2. JUSTIFICATIVA

Estudos sugerem que portadores de fibrose cística possuem concentrações de Na+

e

Cl- aumentadas em suas secreções, favorecendo a colonização de B. cenocepacia nas vias

áreas (TOMICH & MOHR, 2004).

Estudos realizados em nosso laboratório (dados ainda não publicados) a fim de

avaliar o papel do aumento das concentrações de Na+ e Cl

- no crescimento de Burkholderia

cenocepacia, demonstraram que o cultivo da cepa ET-12 em meio LB suplementado com

0,3M de NaCl a 37ºC induziu o aumento no índice de formação de biofilme em 408.9%

136.5 com características de um biofilme maduro (denso e estratificado) em apenas 24

horas de cultivo .

Estes achados nos motivaram a realizar o presente estudo com outras cepas do

subgrupo IIIA, conhecido por ser o subgrupo frequentemente associado à presença de

marcadores de virulência como B. cepacia epidemic Marker (BCESM) e B. cenocepacia

island (CCI) (BALDWIN et al., 2004). Por isso, investigamos o papel dos altos níveis de

21

Na+ e Cl

- na formação de biofilme por cepas clínicas de B. cenocepacia, para determinar se

este é um fator de virulência característico da espécie, pois cepas CBc de uma mesma

espécie podem apresentar comportamentos distintos. Além disso, o fato da adesão ser um

fator importante na etapa inicial da formação de biofilme nos levou a investigar a

expressão da adesina “cable pilus” por B. cenocepacia.

3. OBJETIVOS

3.1. Geral

Avaliar o papel de diferentes concentrações de Na+ e Cl

- na modulação de fatores

de virulência pelo clone epidêmico ET-12 e quatro isolados clínicos de Burkholderia

cenocepacia.

3.2 Específicos

3.2.1 Avaliar a formação de biofilme por diferentes cepas clínicas de

Burkholderia cenocepacia cultivadas em meio suplementado com 0,1M e 0,3M de NaCl.

3.2.2 Avaliar a modulação das altas concentrações de Na+ e Cl

- na expressão

de “cable pilus” pelo clone epidêmico ET-12 e as diferentes cepas clínicas em estudo.

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1 - Amostras Bacterianas

Na realização dos nossos experimentos foi utilizada a cepa ET-12 de B.

cenocepacia (amostra J2315), gentilmente cedida pelo Dr. Mustapha Si-Tahar (Unité de

22

Defense Inée et Inflamation, Instituto Pasteur, Paris França), e quatro isolados clínicos de

B. cenocepacia procedentes de pacientes com FC atendidos no Hospital Universitário

Pedro Ernesto (HUPE) e no Instituto Fernandes Figueira (IFF-Fiocruz) com evolução

clínica diferente da síndrome cepacia, gentilmente fornecidas pela Dr. Elizabeth de

Andrade Marques (Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UERJ).

4.2 - Determinação do índice de formação de biofilme

A formação de biofilme foi determinada pelo método descrito por O’Toole and

Kolter (1998). As cepas clínicas (1664, 2627, 1652 e 1634) foram cultivadas em meio

caldo Luria Bertanni (LB) na ausência e na presença de diferentes concentrações de NaCl

(0,1M e 0,3M) a 30ºC sob agitação de 150rpm por um período de 16 a 18 horas no

equipamento Shaker orbital - Nova Ética. Após este tempo, foi feita uma centrifugação das

culturas a 2608g (centrífuga Eppendorf) por 10 minutos para obtenção do “pellet” e

preparo das suspensões bacterianas. As culturas foram diluídas em meio LB suplementado

e não suplentado com 0,1M e 0,3M de NaCl, até a obtenção de suspensões bacterianas com

DO680nm=0.2. Quando então, 200µl destas suspensões foram inoculadas em uma placa de

96 poços. Controles negativos foram realizados, colocando apenas 200µl de meio estéril na

ausência de NaCl. A placa foi cultivada a 37ºC por 24 horas. O crescimento bacteriano foi

determinado pela absorbância dos poços a 540nm no espectrofotômetro de placa

(Termoplate). Para a quantificação do biofilme, o meio de cultura e as bactérias não

aderidas foram removidos por duas lavagens com 200µl de Tampão fosfato-salino (PBS)

0,1M (pH 7,2). As bactérias aderidas foram coradas com 200µl de cristal violeta a 0,2%

por 10 minutos a temperatura ambiente. Em seguida, as culturas foram lavadas com 200µl

água destilada e o corante associado às bactérias aderidas, foi solubilizado com 200µl de

uma solução de álcool e acetona na proporção 4:1. Foram transferidos 100µl de cada poço

para uma nova placa e as absorbâncias foram determinadas a 540nm. O índice de formação

de biofilme foi determinado pela fórmula (0,2/OD crescimento) x OD cristal violeta, pois a

taxa de crescimento das culturas será menor na presença de NaCl (O’TOOLE & KOLTER,

23

1998).

4.3 - Análise por microscopia eletrônica de varredura (MEV) da arquitetura

do biofilme formado pelas diferentes cepas de B. cenocepacia.

A análise da arquitetura dos biofilmes formados foi realizada por microscopia

eletrônica de varredura. Suspensões bacterianas das cepas em estudo foram preparadas em

meio LB suplementado ou não por 0,1M e 0,3M de NaCl de modo a obter uma

DO680nm=0.2. Quando então, 200µl desta suspensão foi inoculada em uma placa de 96

poços. As amostras foram cultivadas por 24 horas a 37ºC e estes poços foram recobertos

por uma tampa contendo espículas de poliestireno (pegs lids-TSP Nunc). Após o período

de incubação, as espículas contendo o crescimento bacteriano foram submetidas ao

tratamento segundo Marques et al., 2007 para posterior análise por MEV. Este tratamento

consiste de uma etapa inicial de fixação com uma solução de Karnovsky (paraformaldeído

a 4%, glutaraldeído a 25% em 0,1M de tampão cacodilato (CACO), em seguida as

espículas foram lavadas por duas vezes com 200µl de PBS 0,1M (pH 7.2) por 10 minutos.

As espículas foram então pós-fixadas em solução de tetróxido de ósmio a 1% por 40

minutos. Na etapa seguinte foi realizada a desidratação, que iniciou com duas lavagens

com PBS 0,1M (pH7.2) por 10 minutos, depois as espículas foram colocadas em 200µl de

diferentes concentrações de álcool etílico (40%, 50%, 70%, 90%, 100%) por 12 minutos

para cada concentração. Após a desidratação, as espículas foram submetidas a uma

secagem ao ponto crítico com CO2 por um período de aproximadamente 3 horas, seguindo-

se da etapa de metalização no qual as espículas foram banhadas com precipitado de ouro e

em seguida foi feita a análise no M.E.V. modelo Jeol 6490 LV, através de detector para

elétron secundário.

4.4 - Análise da presença do gene “cable pilus” por PCR

A adesão às superfícies é um processo importante na formação do biofilme. A

adesina “cable pilus” parece ter importante papel na adesão às superfícies pela cepa ET-12

24

de B.cenocepacia. Nesta etapa do trabalho, investigamos se os isolados clínicos também

apresentam o gene cblA. Para isso, os quatro isolados clínicos de B. cenocepacia (1664,

1634, 1652 e 2627) e o clone epidêmico ET-12, foram cultivadas em caldo LB por 16 a 18

horas sob agitação de 150 rpm e temperatura de 30ºC. Com alças descartáveis estéreis,

uma placa de Petri com meio CLED foi semeada, por esgotamento, para cada uma das

cepas para obtenção de colônias isoladas, e foram incubadas a 37ºC. Recolheu-se cerca de

duas colônias isoladas de cada placa e inoculou-se em um novo tubo contendo caldo LB.

Estes tubos foram incubados a 30ºC a 150rpm no Shaker Orbital por 16 a 18 horas.

Após esta etapa, realizamos uma lise térmica para recuperação do DNA bacteriano.

Para tal, preparamos suspensões bacterianas diluídas em água ultrapura MilliQ (1/10),

cujas densidades óticas foram determinadas a 590nm. As massas bacterianas foram

padronizadas e as suspensões foram transferidas para um microtubo estéril. As culturas

foram centrifugadas a 20.817g por 2 minutos e os sobrenadantes descartados. Os “pellets”

foram congelados à -20ºC por 15 minutos, quando então foram acrescentados ao “pellet”

congelado 90µl de água ultrapura MilliQ estéril, em seguida foram fervidos por 10 minutos

e centrifugados novamente a 20.817g por 10 segundos.

Foram utilizadas para a reação de PCR as seguintes sequências do primer cbl:

Foward - cbl1 5’ –AATGGCAGATGTGCAGCAG– 3’ / Reverse - cbl2 5’ –

CGCGATGTCCATCACATAC– 3’ (TOMICH & MOHR, 2003). Para a reação foi

preparado um MIX com os seguintes reagentes: água ultrapura MilliQ – 15,75µl; 10X Taq

Buffer NH4SO4 - 2,5µl; 25mM MgCl2 - 2,0µl; Primer Foward 10pmol/µl – 0,5µl; Primer

Reverse 10pmol/µl - 0,5µl; dNTP mix a 10mM – 0.5µl; Taq DNA polimerase 5U/µl-

0,25µl. Para cada cepa foi utilizado um microtubo com 22 µl do Mix e 3µl do DNA, um

microtubo para o controle negativo e outro para o marcador de peso molecular. A reação de

PCR foi realizada no termociclador (Eppendorf Mastercycler Personal) com o seguinte

protocolo de amplificação do DNA: desnaturação inicial – 95ºC por 2 minutos;

desnaturação – 95ºC por 45 segundos; anelamento – 53ºC por 45 segundos; extensão –

72ºC por 1 minuto; extensão final – 72ºC por 5 minutos; total de 35 ciclos. Em seguida, foi

preparado gel de agarose a 1%, no qual foi utilizado 0,5g de agarose em 50 ml de TBE 1%

e foi acrescentado ao gel 3µl do SYBR Safe DNA gel stain 10.000X (Invitrogen). O

25

marcador de peso de molecular foi preparado utilizando-se 10µl do Marcador de peso

molecular 1Kb plus DNA ladder (Invitrogen) e 2µl do Tampão de amostra (TBE 1X,

Glicerol 50%, Azul de Bromofenol 0,1%, água deionizada). Foram aplicados 4µl do

amplicon de cada amostra no gel; no poço correspondente ao marcador de peso molecular

foi aplicado 2µl do MPM e no controle negativo 3µl de água ultrapura MilliQ. A

eletroforese foi realizada à 100V por 50 minutos.

O gel foi observado em uma câmara com luz ultravioleta e as imagens das bandas

foram adquiridas pelo sistema foto-documentação 1D Image Analysis software, versão

2.0.3 (KD, Kodak Digital Science).

4.5 - Análise da expressão do gene cblA por RT-PCR pelas cepas clínicas e pelo

clone epidêmico ET-12 de B. cenocepacia cultivadas em meio suplementado ou não

com 0,1M e 0,3M de NaCl

Este estudo foi realizado apenas com as cepas 1664 e ET-12, pois foram as únicas a

apresentar o gene cblA. Para tal, as cepas foram cultivadas em caldo LB na ausência e na

presença de 0,1M e 0,3M de NaCl, por 16 a 18 horas sob agitação de 150 rpm e

temperatura de 30ºC. Decorrido este tempo, os tubos contendo as culturas foram

centrifugados a 2608g (centrífuga Eppendorf) por 10 minutos para obtenção do “pellet”

bacteriano. O sobrenadante foi desprezado e a partir deste “pellet” obtido foram feitos 3ml

de suspensões bacterianas com D.O680nm=0,8. Os tubos com as suspensões foram

novamente centrifugados por 10 minutos e 2608g. O sobrenadante foi desprezado e o

“pellet” foi ressuspenso em 100µL de TE Buffer (10mM Tris-HCl, 1mM EDTA, pH 8,0)

contendo 0,2mg/ml de lisozima. Foi misturado vigorosamente, seguido de uma incubação

por 10 minutos a 37º C em banho-maria (Nova Ética). Em seguida, foi feita a extração dos

RNAs mensageiros totais conforme descrito pelo fabricante do Kit GE Healthcare illustra

RNAspin Mini. Alíquotas de 3l e 97l foram conservadas em microtubos sob temperatura

de -70ºC até a realização dos ensaios de conversão a cDNA e PCR.

Para a determinação da concentração de RNA total extraído, amostras de 3µL do

RNA total foram utilizadas para quantificação no equipamento NanoVue em triplicata e os

26

resultados expressos em µg/µL. A partir da menor concentração, foi determinada a diluição

a ser utilizada na síntese de cDNA.

A síntese de cDNA, empregando-se o kit SuperScript III First-Strand Synthesis

System for RT-PCR (Invitrogen). As amostras de RNA foram acrescidas de 1µL Ramdom

hexamers 50ng/µl e 1µL da mistura de desoxirribonucleotídeo trifosfato (dNTP mix) a

10mM, incubadas no termociclador a 65°C, por 5 minutos e, então, mantidas em gelo por 1

minuto. Em seguida, as amostras foram acrescidas do Mix de síntese de cDNA preparado

na seguinte ordem: 2µl de tampão para a enzima RT Buffer 10X + 4µl MgCl2 a 25mM +

2µl dithiothreitol (DTT) a 0,1M + 1µl de inibidor de RNase a 40U/µl + 1µL da enzima

transcriptase reversa SuperScript III RT a 200U/µl; e e incubadas durante 10 minutos, a

25°C, seguido de 50 minutos a 50ºC. A reação foi finalizada por incubação a 85°C, por 5

minutos, e resfriada em gelo. Seguiu-se adição de 1µl de RNase H a 2U/µl e incubação por

20 minutos, a 37°C. Em seguida, as amostras de cDNA foram diluídas 1/50 e armazenadas

a -20ºC até serem usadas.

A expressão do gene cblA foi determinada por reação de RT-PCR onde 5 µL da

amostra foram utilizadas e a reação ocorreu conforme descrito no item 7.4.

Foi utilizado como gene controle de expressão constante o BCAL1861 (phaC) que

codifica a acetoacetil redutase -CoA (DREVINEK et al., 2008). Os “primes” utilizados

foram: phaC Foward 5' -AGA CGG CTT CAA GGT GGT- 3' e o phaC Reverse 5' -ACA

CGG TGT TGA CCG TCA- 3' (Invitrogen). A reação de PCR foi realizada segundo o

seguinte protocolo: desnaturação inicial – 95ºC por 2 minutos; desnaturação – 95ºC por 45

segundos; anelamento – 53ºC por 45 segundos; extensão – 72ºC por 45 segundos; extensão

final – 72ºC por 5 minutos; 30 ciclos. Aplicou-se no gel 14µl do amplicon de cada amostra,

que foram submetidas à eletroforese em gel de agarose a 1% à 100V por 50 minutos.

O gel foi observado em uma câmara com luz ultravioleta e as imagens das bandas

foram adquiridas pelo sistema de foto-documentação 1D Image Analysis software, versão

2.0.3 (KD, Kodak Digital Science).

A quantificação da expressão do gene foi feita com auxílio do software LabImage e

expressa em unidades arbitrárias.

27

4.6 - Análise estatística

Para as análises estatísticas e construção dos gráficos foi utilizado o software

GraphPad Prism 5. Os resultados foram expressos como médias ± erros padrões (SEM) dos

valores obtidos. Diferenças estatísticas entre os grupos foram determinadas através da

análise de variância (ANOVA) seguida pelos testes de comparação de significância de

Bonferroni.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O objetivo deste trabalho foi estudar o papel de altas concentrações de NaCl (0,1M

e 0,3M) na modulação de fatores de virulência por B. cenocepacia. Para tal, foram

utilizados quatro isolados clínicos de B. cenocepacia procedentes de pacientes com FC de

evolução benigna definida neste estudo como ausência de síndrome cepacia e os

resultados foram comparados com estudos anteriores de nosso grupo que utilizou a cepa

J2315 da linhagem ET-12 de B. cenocepacia, potencialmente virulenta descrita como

agente etiológico associado à síndrome cepacia.

5.1 – Determinação do índice de formação de biofilme pelas diferentes cepas

clínicas de B. cenocepacia cultivadas em meio LB suplementado ou não com 0,1M e

0,3M de NaCl a 37ºC por 24 horas

A capacidade de formação de biofilme foi determinada pelo método de coloração

com cristal violeta como descrito por O'Toole and Kolter (1998).

Os quatros isolados clínicos de B. cenocepacia utilizados neste estudo foram

1664, 1634, 1652 e 2627.

As diferentes cepas foram cultivadas em placa de 96 poços em meio LB

suplementado ou não com 0,1M e 0,3M de NaCl a 37⁰C por 24 horas. Os resultados

obtidos estão representados na Figura 6, e mostram diferenças na formação de biofilme

28

embora pertençam ao mesmo subgrupo. As cepas 1664 e 2627, quando cultivadas em meio

suplementado com 0,3M de NaCl apresentaram aumento significativo (p<0,05 e p<0,01,

respectivamente) no índice de formação de biofilme quando comparado ao índice obtido

em culturas não suplementadas, enquanto que em 1634, este índice não sofreu alterações

decorrentes dos diferentes tratamentos. Curiosamente, a cepa 1652 apresentou um índice

de formação de biofilme significativamente superior quando foi cultivada na ausência de

NaCl, sugerindo que o aumento das concentrações de NaCl levou a uma inibição na

formação de biofilme.

Figura 6 – Capacidade de formação de biofilme pelas diferentes cepas clínicas de B. cenocepacia, cultivadas

em meio LB suplementado ou não com 0.1M e 0.3M de NaCl. Os resultados representam médias ±erro da

média de nove experimentos realizados, em sua maioria, em octuplicata. **p<0,01 e *p<0,05 quando o

índice de formação de biofilme de cepas cultivadas em meio LB suplementado com NaCl foi comparado com

o índice de formação de cepas cultivadas na ausência de NaCl

Diferentes estudos sobre a influência da osmolaridade na regulação da formação do

biofilme, relataram que variações de osmolaridade podem induzir comportamentos

diferentes entre as espécies bacterianas. Em muitos casos, a osmolaridade inibe a formação

de biofilme, embora este efeito dependa do tipo de osmólito no meio ambiente. Por

exemplo, Pseudomonas fluorescens na formação do biofilme é inibida em ambientes de

alta osmolaridade pela adição de NaCl e/ou sacarose (O’TOOLE & KOLTER, 1998). Em

Salmonela typhimurium o crescimento em meio contendo altas concentrações de NaCl

29

suprime a transcrição do genes csgD, um regulador central de formação do biofilme

(ROMLING, 1998). Da mesma forma, quando a Escherichia coli é cultivada em meio

contendo 100mM de NaCl, a transcrição dos genes curli é reprimida pela transcrição do

fator CpxR (JUBELIN, 2005). Curiosamente, quando E. Coli é cultivada em 200mM de

NaCl ativa transcrição do operon PGA, que codifica proteínas necessárias para a síntese do

polímero que faz parte da estrutura do biofilme poli-N-acetilglicosamina (PNAG)

(GOLLER, 2006). Em diferentes condições ambientais, V. cholerae, uma bactéria

halofílica aquática, forma biofilme quando cultivada em alta osmolaridade (KARATAN,

DUNCAN & WATNICK, 2005). Portanto, o aumento da osmolaridade no meio pode

promover a formação do biofilme ou sua inibição.

Estes estudos corroboram com os nossos resultados que embora as diferentes cepas

pertençam a mesma genovariante apresentam comportamentos distintos quando cultivadas

em altas concentrações de NaCl.

Na etapa seguinte de nosso estudo avaliamos a arquitetura dos biofilmes formados

pelas diferentes cepas por microscopia eletrônica de varredura.

5.2 - Análise da arquitetura do biofilme formado pelas diferentes cepas de B.

cenocepacia por microscopia eletrônica de varredura (MEV).

Uma mesma cepa bacteriana pode formar diferentes estruturas de biofilmes em

decorrência das diferentes condições ambientais (KARATAN & WATNICK, 2009).

A análise por MEV foi realizada a partir de culturas das diferentes cepas em meio

suplementado ou não com NaCl na superfície abiótica de espículas de poliestireno (TSP-

NUNC) (Figura 7). As imagens obtidas das diferentes cepas estão em acordo com os

resultados representados na figura 6. As cepas 1664 e 2627 quando cultivadas em meio

suplementado com 0,3M de NaCl apresentam um biofilme denso com espessa camada que

sugere ser decorrente de uma produção abundante de exopolissacarídeo.

A cepa 1652 apresentou a formação de diversos agregados caracterizando um

biofilme imaturo, no entanto, não observarmos diferenças no número de agregados ou de

tamanhos entre os tratamentos.

30

As imagens obtidas com a cepa 1634 demonstraram algumas bactérias isoladas

aderidas à superfície das espículas, não formando biofilme em nossas condições

experimentais.

Os isolados clínicos 1664 e 2627 não apresentaram biofilmes tão densos e com alto

grau de maturidade quanto os apresentados pelo clone epidêmico ET-12. Estes resultados

nos levam a sugerir que a estratificação observada nas estruturas formadas pela cepa ET-12

pode estar relacionada à maior produção de exopolissacarídeo (EPS) e/ou presença de

“cable pilus”. Estudos realizados por Cunha et al. (2004) reforçam esta hipótese; os

autores demonstraram a formação de biofilme na ausência de EPS, pois utilizaram cepas de

B. cepacia deficientes na produção de EPS, no entanto, os biofilmes formados eram

imaturos, pouco densos, basicamente apresentando uma estrutura primária.

A presença de adesinas assim como flagelos, podem favorecer a formação de um

biofilme maduro (KARATAN & WATNICK, 2009). O clone epidêmico ET-12 expressa a

adesina “cable pilus”, o que pode explicar a formação de biofilmes densos e estratificados.

Quanto às cepas clínicas, precisamos investigar a presença do gene “cable pilus”.

31

32

5.3 - Análise da presença do gene cblA por PCR

Entre as cepas clínicas testadas, a cepa 1664 foi a única a apresentar o gene cblA

que codifica a proteína “cable pilus”, como pode ser visto na figura 8. A cepa ET-12 foi

utilizada como controle positivo. Ambas apresentaram bandas em torno de 800pb. Para

avaliarmos se as condições de hiperosmolaridade induziram uma maior expressão do gene

cblA nas diferentes cepas, extraímos o RNA total das cepas nos diferentes tratamentos e

avaliamos sua expressão por RT-PCR.

Figura 8 - Presença do gene “cable pilus” por PCR. Coluna (1) Padrão de peso molecular; (2) Cepa 1634; (3)

Cepa 1652; (4) Cepa 1664; (5) Cepa 2627; (6) Cepa ET-12; (7) Controle negativo

800pb

33

5.4 - Análise da expressão do gene cblA por RT-PCR no clone epidêmico ET-12

e isolado clínico 1664 de B. cenocepacia

A cepa ET-12 apresentou aumento na expressão do gene cblA em 30% quando foi

cultivada em meio suplementado com 0,3M de NaCl a 37ºC por 24 horas (Figura 9 A e B).

A cepa 1664 embora apresentasse o gene cblA, este não foi expresso em nossas condições

experimentais.

ET.LB ET.0,1M ET.0,3M0

1

2

3

4

5

Cepa ET-12

Un

idad

es a

rbri

tári

as

Figura 9- (A) Perfil eletroforético em gel de agarose dos produtos amplificados obtidos a partir de

oligonucleotídeos específicos para amplificar o mRNA da cepa ET-12 de B. cenocepacia cultivadas em meio

suplementado ou não com NaCl a 37⁰C por 24 horas. (B) Gráfico representativo da normalização (cblA/

PhaC ) das densitometrias obtidas pelas bandas da figura A com resultados expressos em unidades arbitrárias

Em face aos resultados acima descritos podemos especular que a presença do

“cable pilus” pode ser um fator importante para a maturação do biofilme, mas não

determinante para sua formação, visto que as cepas 1664, 1652 e 2627 não expressam a

proteína “cable pilus” mas produzem biofilme. Em acordo com esta observação, estudos

A

B

400bp 400bp

800bp

34

realizados por Thomas et al., (2006) demonstraram que a motilidade da E. coli foi

importante para maturação e organização da arquitetura do biofilme mas não para sua

formação.

Outro fator importante na formação de biofilme a ser investigado seria a produção

de exopolissacarídeo.

A análise dos resultados mostrou uma heterogeneidade de respostas, embora todas

as cepas pertençam ao grupo ou genovariante IIIA, possuem diferenças de comportamento

.provavelmente,o, em decorrência da presença de múltiplos cromossomos e ampla variação

no tamanho do genoma que pode variar de 5 a 9Mb. Estas bactérias abrigam, ainda, um

extenso conjunto de sequências de inserção (elementos IS) que são capazes de promover

rearranjos gênicos e aumentar a expressão de genes vizinhos a eles (LESSIE et al., 1996).

Esses elementos contribuem significativamente para a plasticidade genômica dos membros

do Complexo B. cepacia

O aumento das concentrações dos íons Na+ e Cl

- nas secreções de FCs, que podem

variar de 150mM a 200mM, duas vezes maior que as encontradas nos fluidos de pulmões

de indivíduos sadios, leva ao aumento da osmolaridade deste microambiente, condição

descrita como favorecedora para o desenvolvimento e alterações na expressão de genes de

diferentes micro-organismos como bactérias do complexo Burkholderia cepacia (BHATT,

2008).

As secreções pulmonares com elevadas concentrações de NaCl em pacientes

fibrocísticos, poderia explicar a maior persistência e severidade das infecções por B.

cenocepacia, principalmente para infecções pela cepa J2315 da linhagem ET-12.

6. CONCLUSÕES

Verificamos que as cepas 1664 e 2627 cultivadas em meio suplementado com 0,3M

de NaCl, apresentaram um índice de formação de biofilme significativamente

superior às culturas não suplementadas;

A cepa 1634 em nossas condições experimentais não formou biofilme;

35

As cepas 1664 e 2627 em 0,3M de NaCl apresentaram formação de biofilme, mas o

biofilme formado não é tão denso e estratificado como da cepa ET-12;

As cepas 1664 e ET-12 possuem o gene cblA, porém a cepa 1664 não apresentou

níveis de mRNA nas condições experimentais analisadas.

7. PERSPECTIVAS

Quantificar a massa de exopolissacarídeos produzidos pelas cepas de B.

cenocepacia cultivadas em meio suplementado com 0,1M e 0,3M de NaCl, visto

que esta é responsável pela estrutura secundária do biofilme;

Avaliar a resistência das diferentes cepas de B. cenocepacia a antibióticos na

presença de altas concentrações de NaCl, determinando a Concentração Inibitória

Mínima (MIC) em cultivos planctônicos e a Concentração Inibitória em Biofilme

(BIC) em cultivos sésseis.

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