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Cultura, Cidadania e Desenvolvimento
O papel da cultura na promoção do desenvolvimento
Ana Carolina Talefe Marques Louro
Coimbra, 2013
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Índice
1. Introdução 1
2. Desenvolvimento
2.1 O Desenvolvimento Humano 2
2.2 Dimensão Cultural 4
2.2.1 Cidadania Cultural 4
2.2.2 Sociedade de Informação 5
2.3 Política cultural 7
2.3.1 A política cultural em Portugal 8
3. Descrição detalhada da pesquisa 10
4. Avaliação da página da Internet 11
5. Ficha de leitura 12
6. Conclusão 15
7. Referências bibliográficas 16
Anexos
O papel da cultura na promoção do desenvolvimento
1
1. Introdução
Num mundo que se conhece desigual, ainda no século XXI, em esferas básicas
como Direitos Humanos e mínimas condições de vida, e quando se sabe que já muito
foi discutido sobre as demais dimensões que afetam o desenvolvimento deste
mundo, surge importante dar relevo à dimensão cultural no processo de
desenvolvimento. Esta análise pretende, em primeira instância, esclarecer os
conceitos de desenvolvimento e cultura, e numa segunda, tentar delinear, não só, o
papel da dimensão cultural mas também perceber se este tem real impacto no
desenvolvimento dos países e na cooperação entre eles.
Antes de mais, é necessário clarificar os conceitos que dão corpo a esta
análise, já que muitas vezes, como exemplo, “cultura” e “desenvolvimento” se
tornam dúbios e dispersos para a maioria das pessoas, sendo assim importante traçar
uma linha de entendimento comum ao estudo desta problemática.
O conceito de desenvolvimento que vou analisar assume aqui duas
perspetivas que considero estritamente interligadas: desenvolvimento numa
perspetiva social e desenvolvimento numa perspetiva de cariz de cooperação
internacional, que, em conjunto, convergem na ideia de desenvolvimento humano.
“...[o desenvolvimento humano] é um processo de alargamento das escolhas
das pessoas e melhoramento das capacidades humanas e liberdades, permitindo‐
lhes: viver uma vida longa e saudável, ter acesso ao conhecimento e um padrão de
vida decente, e participar da vida da sua comunidade e nas decisões que afetam
suas vidas.”1 (Organização das Nações Unidas s.d.)
A cultura, também ela com múltiplas aceções, será estreitada com base na
explicação da cidadania cultural e da sociedade de informação. Estas duas ideologias
recentes, explicadas e avaliadas por diversos autores, vêm servir de apoio ao estudo
da dimensão cultural como fenómeno de cooperação para o desenvolvimento. Talvez
fosse suficiente basear a análise apenas numa das ideologias, mas a verdade é que
ambas são reais e influenciam toda a dinâmica cultural.
O papel da cultura na promoção do desenvolvimento
2
Partindo do pressuposto que os Estados (ainda) são soberanos no que
concerne à promoção do desenvolvimento e à garantia de condições benéficas aos
seus cidadãos, qual deve ser o papel dos governos na aceitação desta dimensão
cultural como papel para o desenvolvimento? Estará esta dimensão cultural a
preparar‐se como uma vindoura estratégia de desenvolvimento e cooperação?
Tendo em conta estas ideias principais, e sumarizando, a análise que se segue
pretende, ainda que superficialmente, elucidar o leitor acerca da recente temática
“cultura para o desenvolvimento” percorrendo, numa primeira fase, a explicação do
desenvolvimento, sua contextualização histórica e situação atual; numa segunda,
desabotoar a dimensão cultural e, assim, descobrir os conceitos de “cidadania
cultural” e “sociedade de informação”; e finalmente, numa terceira e com base em
exemplos, de que forma a políticas culturais atuais dos países em geral agem perante
esta nova abordagem.
2.
2.1. O Desenvolvimento Humano
Definir “desenvolvimento”, por si só, não é fácil. É um conceito que para além
de ambíguo envolve múltiplas perspetivas. Na linha de análise deste relatório, este
conceito diz respeito, principalmente, à cooperação entre países desenvolvidos e em
desenvolvimento. Mas nem esta distinção é fácil de fazer. Já Tatyana Soubbotina e
Katherine Sheram referiam que seria mais fácil fazer a distinção entre países ricos e
países pobres. “Mas os indicadores de riqueza, (…), não fornecem informações
sobre a alocação dos recursos (…) entre os grupos sociais e a qualidade de vida que
lhes é prometida.”1 (Soubbotina e Sheram 2000, 7)
Nem mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) se refere hoje ao
Desenvolvimento Humano como resultado de uma análise puramente económica.
Este conceito de Desenvolvimento Humano, já definido na nota introdutória, tem
vindo a ser alterado com o decorrer do tempo. Começou sim, em 1970, por ser uma
1. Tradução minha
O papel da cultura na promoção do desenvolvimento
3
interpretação puramente económica, só atingindo a visão mais abrangente de uma
estratégia centrada nos cidadãos em 1990, com a primeira publicação do Relatório de
Desenvolvimento Humano (RDH) pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD). (Jolly, Emmerij e Weiss 2009)
É importante explicar que apesar de este conceito dar, de facto, importância à
pessoa humana, o mesmo está intimamente ligado a uma perspetiva sociológica. A
verdade é que, num caminhar para o desenvolvimento, o “individual” não sobrevive
sem o social.
“A forma como as pessoas se relacionam entre si é fundamental para a
construção de sociedades coesas e duradouras. (…) Uma sociedade integrada
depende de instituições sociais eficazes que possibilitem que os indivíduos ajam
coletivamente, reforçando a confiança e a solidariedade entre os grupos.” (PNUD
2013, 37‐38)
Desta forma, a estimação do desenvolvimento humano de cada país, baseia‐se
fundamentalmente em quatro índices ‐ Índice de Desenvolvimento Humano, Índice
de desenvolvimento Humano Relativo ao género, Índice de potenciação de género e
Índice de pobreza multidimensional – que não esquecem as demais áreas influentes
no processo de desenvolvimento, a realçar, economia, saúde, política e educação.
(Organização das Nações Unidas s.d.)
Apesar de ser verdade que o PNUD se pronuncia no mais recente relatório
sobre o aspeto da melhoria da educação, fator base na definição de cultura, ainda
mais verdade é que a dimensão desta, ainda que subliminarmente adjacente, pouco é
analisada principalmente no que toca aos aconselhamentos aos governos
relativamente a políticas culturais. É compreensível este aspeto não ser o grosso
conteúdo de um RDH já que, em primeiro lugar, outras políticas aprazem ser
prioritárias ao desenvolvimento (ajustamento estrutural e austeridade), e em
segundo lugar, por este ideal de cultura para o processo de desenvolvimento ser
recente.
A problemática desta análise basear‐se‐á, assim, em perceber se os países que
mais politicas culturais adotam são aqueles que apresentam um desenvolvimento
O papel da cultura na promoção do desenvolvimento
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humano mais elevado e em que medida é que a não adoção da cultura pode
influenciar este desenvolvimento.
2.2. Dimensão cultural: Cidadania Cultural e Sociedade de Informação
Em primeiro lugar é importante referir que estes dois conceitos, referentes a
diferentes aspetos, não são sinónimo de coerência pelos diferentes autores que as
estudaram. Tanto uma como a outra se inserem na ideia de cultura e afetam, da
melhor ou da pior maneira, a dinâmica cultural no que concerne ao desenvolvimento.
De que forma?
Nesta abordagem, referenciarei principalmente os autores com que mais
concordo.
2.2.1 Cidadania cultural
Toby Miller, como referência principal, definiu o conceito de cidadania cultural
como o “direito à comunicação e à representação da diferença cultural”. (Miller 2011,
57) Segundo Maria José Canelo, citando McWilliams, a ideia de cidadania cultural
surgiu em 1989 por Renato Rosaldo na sua análise à relação distante entre Estados
Unidos da América e América Latina, resultando na rejeição da segunda. (Canelo s.d.,
25)
Claro que há inúmeras considerações a fazer até ao mais ínfimo pormenor da
dinâmica de cidadania cultural, como os vários autores analisaram e discordaram
entre si. Mas o que importa aqui salientar é a ideia de que um património mundial rico
em diferenças culturais e desigual em desenvolvimento pode efetivamente ter apoio
na cidadania para cumprir este segundo, já que esta afasta a ideia de interesse
próprio e aproxima‐se da ideia de bem comum. Exemplo disto é a influência que a
globalização e as migrações entre os povos podem ter na aceitação de um mundo
O papel da cultura na promoção do desenvolvimento
5
diferente e na educação para outros métodos de cooperação, solidariedade, respeito
pelo outro, e assim, desenvolvimento.
“Precisamos rearticular a cultura em torno da economia e da política” (Miller
2011, 70) – esta frase pode vir descrita em várias ideologias políticas, no entanto,
leva‐nos logo a pensar nas medidas eficazes em torno do desenvolvimento
económico e tecnológico que têm feito com que os países mais desenvolvidos,
maioritariamente do Norte, tenham introduzido as mesmas nos do Sul para que estes
segundos consigam desenvolver‐se e consigam competir no mercado internacional
na ambição de um desenvolvimento sustentável.
2.2.2. Sociedade de informação
Sabemos que a transmissão da informação não é um fenómeno recente. Mas
também sabemos que a explosão de transmissão de informação exacerbadamente
rápida do mundo atual é efetivamente recente. Quando pensamos em informação,
surge‐nos logo em ideia a internet, a televisão e os media em geral. É nesta segunda
hipótese que se insere o conceito de “sociedade de informação”: “Webster (1995)
aponta a crescente importância atribuída a fenómenos como a «revolução das TIC», a
«explosão de informação» ou a «informatização» da vida social como indutora do
conceito de sociedade de informação.” (Macedo 2005, 894)
Desta forma, há que referir que estas inovações vieram alterar a ordem social
pautada, agora, por um acesso fácil e mais rápido à informação. Pode considerar‐se
que esta dinâmica contribui positivamente para o desenvolvimento das sociedades?
Para responder a esta pergunta, surge importante contar, a exemplo, o facto de os
habitantes do Quénia e das Filipinas, que nunca tinham tido conta bancária pessoal e
viviam distantes de uma agência bancária, utilizam agora o telemóvel para fazer
operações da mesma natureza. (PNUD 2013). Será esta “sociedade de informação”
um contributo relevante para o desenvolvimento dos países?
O papel da cultura na promoção do desenvolvimento
6
Importa ainda falar sobre os media como parte desta sociedade. Por um lado,
exercem força nos países desenvolvidos para lhes dar a conhecer as realidades dos
países menos desenvolvidos. Por outro, e por serem o mass meio de divulgação,
precisam aliar‐se à realidade e darem voz aos cidadãos na expressão das suas ideias e
direitos.
*
A esta altura, numa tentativa de relacionar o advento da cultura na sua
contribuição para o desenvolvimento, é importante questionar se existem
ferramentas para esta dimensão cultural apoiar o desenvolvimento humano.
Nesta esfera, e baseando‐me no trabalho Towards Cultural Citizenship: Tools
for Cultural Policy and Development de Colin Mercer, que considero relativamente
exclusivo, pretendo mostrar de que forma é importante reconhecer o papel da
cultura para o desenvolvimento e como é possível medi‐lo para o comprovar o
segundo.
A vasta obra do autor e da sua equipa pretende elaborar uma arquitetura e
lançar as bases para o trabalho de “planeamento, elaboração de relatórios e
avaliação das políticas culturais para o desenvolvimento humano”.2 (Mercer 2002,
15). Desta forma, consideram que as políticas de desenvolvimento, nomeadamente
social, económica e ambiental, já estudadas anteriormente, esquecem o domínio da
política cultural como importante fator de desenvolvimento.
“Este solo de cultura é rica e complexa. Ela é composta de narrativas, histórias,
imagens, senso de lugar e de pertença: os recursos da identidade e da cidadania
cultural. (…) estes são também os filamentos e redes capilares da sociedade civil ,
os componentes constituintes do capital social e cultural que são cruciais para
qualquer processo ou programa de desenvolvimento sustentável”3 (Mercer 2002,
108)
Passando por uma análise a um conjunto de indicadores, pela comparação
entre desenvolvimento cultural e desenvolvimento humano e pelo desenvolvimento
2. Tradução minha 3. Tradução minha
O papel da cultura na promoção do desenvolvimento
7
de ferramentas no contexto da diversidade cultural, Mercer elucida‐nos, no fim da
obra, como planear e mapear as políticas culturais.
2.3. Política cultural
No seguimento desta análise, seria esquivo falar de uma política pública cultural
como resultado apenas de políticas para as artes. A política cultural hoje ganha uma
dimensão bem mais importante que isso, como é o efeito que ela tem na cidadania
cultural e assim referiu Mercer.
Urge importante destacar o conceito de “democracia cultural”. Como é que os
Governos além‐mundo visionam e gerem a cultura? Apenas resultado das artes?
Panóplia de leis de sobre emigração? Estratégia de cooperação internacional?
Considero que o conceito de democracia cultural envolve todas estas perspetivas e
que os governos são responsáveis por promover o bem‐estar dos seus cidadãos no
que diz respeito às áreas económicas, social e saúde, mas também promover a
própria área cultural na medida em que esta fomenta a “cidadania cultural” e a
“sociedade de informação”. É claro que o seu papel também incide sobre a
cooperação para o desenvolvimento, mas com base na ideia de uma “democracia
cultural” e, assim, participativa dos cidadãos, este processo torna‐se mais fácil já que
abre portas à existência de organizações não só de cooperação para o
desenvolvimento internacional, mas também de ajuda solidária local.
Tony Bennet acredita que os seguintes pontos são importantes para o
desenvolvimento de uma cidadania tendo em conta a cultura:
• A primeira delas consiste no direito à igualdade de oportunidades para participar
das atividades do sistema operacional que constituem área da cultura na
sociedade em questão;
“
O papel da cultura na promoção do desenvolvimento
8
• A segunda consiste no direito de todos os membros da sociedade a lhes ser
fornecidos todos os meios culturais de dentro dessa sociedade, sem serem
obrigados a mudar suas alianças culturais, afiliações ou identidades;
• O terceiro consiste na obrigação dos governos e de outras autoridades para
alimentar as fontes de diversidade por meio de mecanismos imaginativos para
manter e desenvolver as diferentes culturas que estão ativos dentro da população
sobre as quais são responsáveis;
• E o quarto diz respeito à obrigação de promoção da diversidade para estabelecer
interações em curso entre culturas diferenciadas (…) para favorecer a
continuidade dinâmica para a diversidade; 4 (Bennett 2001, 55‐56)
2.3.1 A política cultural em Portugal
Portugal, um país considerado desenvolvido, tem uma política cultural
consideravelmente boa, na medida em que, além de ser uma democracia, não
restringe em demasia as políticas de emigração, faculta aos seus cidadãos um diverso
leque de oportunidades culturais e é um dos países da Europa que mais utiliza os
meios de informação subjacentes à “sociedade de Informação”. Causa ou não desta
sua política cultural, a verdade é que, apesar de pequeno e a passar por uma etapa
austera desde 2008, sempre manteve a sua quota de cooperação internacional na
média, e é membro ativo da ONU e da UNESCO5.
Para comprovar esta performance portuguesa no que diz respeito à dimensão
cultura e tentar criar uma opinião na relação entre o papel do governo e a cultura
para a problemática de desenvolvimento penso ser importante mostrar os seguintes
dados da cultura em Portugal em comparação com a Europa.
4. Tradução minha 5. UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
”
Gráfico 1:
Gráfico 2:
Despesas e
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O papel da cultura na promoção do desenvolvimento
10
3. Descrição detalhada da pesquisa Desde início que a abrangência do tema em questão se tornou a prioridade da
minha análise. De forma a conseguir delimitar o tema da melhor maneira, e por ter
tido recentemente a possiblidade de aprofundar o meu conhecimento no que diz
respeito ao Desenvolvimento Humano, optei não por afunilar em demasia o tema,
mas sim por revelar o que é de facto o desenvolvimento e de que maneira é que a
cultura o influencia. A principal razão que encontrei para o problematizar da maneira
que problematizei foi o facto de considerar que é a ambiguidade do mesmo torna
comum o facto de algumas pessoas pensarem em desenvolvimento como um
aspecto puramente económico e, por consequência, esqueçam a influência da
dinâmica cultural.
Depois de realizar a ficha de leitura, procurei tratar do tema no âmbito da
perspectiva sociológica e da perpectiva de cooperação internacional, o que ajudou à
posterior definição da estratégia de pesquisa.
Tendo tido como objectivo primordial esclarecer o desenvolvimento através de
uma visão mais ampla, procurei em primeiro lugar, e recorrendo às referências
bibliográficas dos textos fornecidos pela disciplina, conhecer o trabalho dos autores
mais citados.
Numa primeira fase, fiz uma pesquisa nos catálogos da Biblioteca da FEUC e da
Biblioteca Municipal de Coimbra, inicialmente com os assuntos «cultura»,
«desenvolvimento», «cidadania cultural» e «sociedade de informação» e
posteriormente pelos autores que mais abordavam os mesmos assuntos. O
resultado desta pesquisa não foi tão favorável quanto esperado uma vez que a
bibliografia que encontrei escrita em língua portuguesa foi escassa e a encontrada foi
mais ligada ao assunto da política cultural.
Desta forma, foi necessário reestruturar ligeiramente a pesquisa, desta vez em
inglês, mas com os mesmos assuntos e títulos. Também direccionei a pesquisa para
publicações disponíveis na internet, recorrendo à B‐on e à Biblioteca do Centro de
Estudos Sociais.
O facto de querer abordar o tema de uma forma superficial, fez com que a
minha estratégia no tratamento de informação fosse ler principalmente notas
O papel da cultura na promoção do desenvolvimento
11
introdutórias e conclusivas e, a cada necessidade, ler mais os subtemas mais em
profundidade, de forma a tornar a execução do trabalho mais eficiente.
4. Avaliação de uma página da internet
A página da internet que decidi avaliar é a da UNESCO (http://en.unesco.org/),
pois considero uma consulta de elevada importância quando se aborda o tema
“Cultura, Cidadania e Desenvolvimento”. A UNESCO, organização das nações unidas
para a educação, ciência e cultura, tem como objectivo primordial promover a paz e o
desenvolvimento sustentável, através de variados projectos dentro da sua área de
actuação.
É de salientar que existem páginas da UNESCO criadas pelas suas comissões
nacionais, as quais orientam a sua construção com base em diretivas fornecidas pela
UNESCO. (UNESCO s.d.) No entanto, a análise aqui feita é à página geral. O seu
público alvo pode ser generalista, todavia considero que os utilizadores mais comuns
são académicos, estudantes e corpos governante e diplomata (que neste caso, para
uma utilização mais profunda lhes é solicitado um “custo”, isto é, nome de utilizador
e password de autenticação).
À primeira vista a página é apelativa e convidativa. Os seus seis separadores
principais permitem facilmente dividir/organizar a navegação. A página respeita os
três principais critérios de uma fonte. É autêntica, não fosse a sua organização mãe a
ONU, os seus contúdos são fiáveis, uma vez que os recursos disponibilizados (livraria,
estatísticas, etc) são devidamente referênciados e o sítio acessível à maioria das
pessoas.
Relativamente ao autor, este é claramente institucional e experiente na
matéria6. Pertence a uma organização pública e exprime‐se em nome institucional.
Relativamente à estrutura e navegação no sítio, considero que, em primeiro lugar o
URL é intuitivo e facilmente memorizável e em segundo, apesar de não existir mapa
do site, este disponibiliza um motor de pesquisa e todas as suas ligações são
6. UNESCO foi criada em 1945
O papel da cultura na promoção do desenvolvimento
12
pertinentes e intutitivas. Não contém publicidade, o que evita distrações
desnecessárias ao utilizador.
Já no que concerne ao conteúdo e alcance do site, a sua redação é clara e a
informação exacta e objectiva. Muitas vezes encontra‐se uma pequena
introdução/resumo de um texto de maior dimensão o que permite aumentar a
eficiência da pesquisa. O site apresenta a opção de seis línguas, o que, tendo em
conta o público alvo do site, é relativamente bom já que as principais línguas
escolhidas pela UNESCO são o inglês e o francês. (UNESCO s.d.). A infomação,
principalmente as notícias e os projectos futuros são também actualizados
regularmente.
Por fim, no que diz respeito ao grafismo, a home page é apelativa e contém
imagens representativas das notícias, devidamente legendadas, no entanto, depois
de alguma navegação mais profunda, acaba por se encontrar textos com letra
demasiado pequena e mesmo as imagens com hiperligações, apesar de
interessantes, não têm o tamanho suficiente que se ajuste a um zoom de aumento da
página, perdendo alguma nitidez.
Uma avaliação pelo Achecker ®, vem ainda sustentar a minha análise,
resultando um total de 69 problemas conhecidos , 2 possíveis e 547 potenciais. Estes
estão principalmente relacionados com a não facultação de opções de acessibilidade,
nomeadamente ouvir e visualisar os conteúdos de outra forma, e ainda com a
navegação não sugestiva da localização da pesquisa num dado momento.
5. Ficha de leitura
Título: “Cidadania Cultural”
Autor: Toby Miller
Edição: Revista MATRIZes Ano 4 – nº 2
Data de publicação: Jan./Jul 2011
Local: São Paulo – Brasil
O papel da cultura na promoção do desenvolvimento
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Páginas: 57‐74
Data de leitura: Outubro de 2013
Palavras‐chave: Cultura, cidadania, teoria política
Neste texto, Toby Miller elucida o fenómeno da “cidadania cultural” como parte
da cidadania, ‐ à qual pertence também a área política e a económica, em que a
cultural surge como seguimento ‐ expondo sete linhas de pensamento sobre a
mesma com base em outros autores.
Consegue criar um quadro político complexo como nota introdutória à
explicitação da cidadania cultural e às diversas conceções que lhe estão subjacentes,
não só com base em contextualizações históricas e práticas bem como explicando
em que medida a globalização, a mobilidade e as diferentes práticas culturais afetam
este fenómeno, destacando a imigração e o multiculturalismo como aspetos
fundamentais ao desapego de uma ideia tradicional e antiga de cidadania cultural
naturalizada, assente em pressupostos de uma cultura enraizada e ligada ao local de
origem.
Escolhe, assim, sete autores para fundamentar a sua obra, não descurando do
princípio de terem todos em conta a esfera pública como parte fundamental do seu
argumento.
“É chegado o momento da cidadania cultural”. (Miller 2011, 57) “A cidadania
sempre foi uma questão cultural”. (Miller 2011, 58) A cidadania cultural tem
acompanhado um processo evolutivo tanto em relação à sua conceção bem como ao
seu contexto e aplicação. Mostra disso, é o facto de as Constituições, ao longo da
história a à longitude das regiões, terem vindo a passar de enfoques políticos para
sociais e económicos e motivarem diferentes competências culturais necessárias aos
seus cidadãos à medida que a região e os seus interesses variam. Os últimos duzentos
anos produziram, assim, as três áreas da cidadania: política (direito de residir e de
votar), económica (direito de progredir e prosperar) e cultural (direito ao
conhecimento e à expressão.
A par de uma cidadania cultural como resultado de movimentos sociais, é
fundamental entendê‐la como uma também evolução de transformações
económicas. Inerente a estas transformações estão os fenómenos da globalização e
O papel da cultura na promoção do desenvolvimento
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da multiculturalidade. À medida que o mundo prolifera uma partilha dos mais
variados acontecimentos, tais como a imigração, a criação de organizações
transnacionais, as trocas comerciais internacionais, etc, começa a discernir‐se do
conceito tradicional de “cidadania naturalizada” para uma “cidadania global”, esta
mais assente ainda em democracia e direitos humanos, mas resultado,
principalmente, de todo um contexto económico que críticos conservadores não
referem.
Sete linhas de pensamento teorizam o contexto em que a cidadania cultural se
teoriza. A primeira, por Tony Bennett, assenta na ideia de facultar aos cidadãos
capital artístico por parte dos Governos, tornando‐se a política cultural uma
engenharia social. A segunda, por Renato Rosaldo, entende a cidadania cultural
como “uma ponte entre diferenças e semelhanças ao exigir igualdade económica e
política na base comum da manutenção da identidade e do exercício do
“pertencimento pleno” à comunidade geral”. (Miller 2011, 68) Kymlicka e a sua
equipa procuram mostrar uma crescente reaproximação entre migrantes e povos
nativos que os primeiros encontram. Na mesma linha de Kymlicka, Rorty enfoca o
acesso universal à educação como alavanca para a também formação de cidadãos
que aprendam sobre os seus “vizinhos globais”. Um quinto grupo de pensamento
teórico, liderado por Bhikhu Parekh, realça o racismo dentro das instituições
nacionais de cultura, educação, forças de segurança e assistência social como
aspecto importante para a construção da cidadania cultural. Amy Chua, aborda os
limites do neoliberalismo, e finalmente, em sétimo e “mais poderoso” a ideia de
“choque de civilizações” (Miller 2011, 67), de ideias e de culturas entre, em exemplo,
Estados Unidos e nações islâmicas.
Toby Miller assume que estas linhas de pensamento são práticas, mas
analisando e baseando‐ se nelas, também as critica fundamentalmente por lhes faltar
aspetos e áreas que, ao mesmo tempo, cada um deles analisou. A ideia do autor é
evidenciar que a evolução e crescimento económico‐ político é fundamental na
análise da cidadania cultural, mas este esquece‐se não só de exemplificar em
pormenor, a par dos autores em que se baseou, os tais fenómenos económicos para
o conceito, bem como de estudar outros fenómenos exponencialmente crescentes,
O papel da cultura na promoção do desenvolvimento
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como os media nos dias de hoje, e a aldeia global de informação e de escolhas que
temos hoje ao nosso dispor.
6. Conclusão
Governar um país não é tarefa fácil. Gerir a política cultural no mesmo também
não. Coordenar o país, a cultura e promover o desenvolvimento interno e externo é
possivelmente ainda mais árduo. Mas será esta dimensão cultural fundamental à
promoção do desenvolvimento?
O objectivo da pergunta não é voltar à introdução, mas sim fomentar a criação
de uma opinião a quem o lê, pelo facto de se saber que não só o estudo desta
dimensão cultural como promotor de desenvolvimento é recente, bem como
também tem sido implementada e “(des)implementada” por alguns governos.
A fim de evitar ser tendencioso, tratou‐se do tema de uma forma superficial,
informativa, e questionadora. No entanto, chega altura de partilhar a minha própria
opinião, frizando que é fundamental a implementação contínua da dinâmica cultural
em todos os países. Na verdade, considero que é aceitável que países menos
desenvolvidos foquem as suas prioridades em crescimento económico, político e
estrutural, podendo adiar políticas culturais para um futuro a médio prazo. Mas os
países desenvolvidos devem fazer com que esta dimensão cultural ganhe peso e
eduque os seus cidadãos para um espírito proactivamente solidário e cooperativo, de
uma forma fácil.
Quando duvidarmos que a política cultural é necessária ao bom funcionamento
social e económico, quando duvidarmos que esta tem impacto, recordemos, por
exemplo, o Live 87. Quando duvidarmos que a educação para o cooperação é
importante para o desenvolvimento, imaginemo‐nos numa situação de emigração e
pensemos no quão bom seria sermos bem recebidos, no quão bom seria podermos
mostrar um pouco da cultura do nosso país de origem, sem sentir insegurança.
O tratamento da informação pesquisada para este trabalho resultou numa
projeção bastante abrangente do tema. Cada ponto tratado tem inúmeros outros
que lhe estão associados, e que dariam, de certo, uma análise triplicada da actual.
7. O Live 8 foi uma série de concertos que ocorreram em julho de 2005 nos países integrantes do G8 e África
do Sul. O evento teve como idéia principal pressionar os líderes mundiais para perdoar a dívida externa das nações mais pobres do mundo, além de aumentar e melhorar a ajuda e negociar regras de comércio mais justas que respeitem os interesses das nações africanas.
O papel da cultura na promoção do desenvolvimento
16
No entanto, sabendo que se pretendia no âmbito desta disciplina a aquisição de
conhecimentos e a prática sobre fontes de informação, foi minha decisão atuar
consoante as regras e estratégias facultadas e conseguir dar uma estrutura coerente
e real ao trabalho, baseando‐me em fontes credíveis, mas ao mesmo tempo,
consegui‐lo de uma forma diferente, pensada e estruturada por mim própria.
O receio de por vezes incorrer em erros informativos por me basear nos estudos
de autores com ideais distintos foi recorrente, mas como output final resulta uma teia
de conteúdos no tema desenvolvimento, que considero (obviamente numa
perspetiva ampla) bem interligada e fundamentada.
7. Referências Bibliográficas
Bennett, Tony. “Cultural Policy and Cultural diversity: mapping the policy domain.” Cultural Policies Research and Development Unit, Dezembro de 2001.
Canelo, Maria José. “Carey MacWiliams e a ideia de cidadania cultural nos anos 40 e 50.” Coimbra: Centro de Estudos Sociais ‐ Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, s.d.
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Anexos
Página da internet avaliada