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O pai, o filme e o espírito santo Por Joana Amaral Cardoso 11/12/2015 08:02 Star Wars está de volta, dia 17. Pode o tempo voltar atrás? O pai, George Lucas, paira sobre O Despertar da Força, de J.J. Abrams - um dos "filhos" da era Lucas e Spielberg, que comunga do espírito. Mas é preciso matar o pai para atingir a pureza dos idos de 1977?

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O Pai, o Filme e o Espírito Santo - PÚBLICO

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O pai, o filme e oespírito santoPor Joana Amaral Cardoso  11/12/2015 ­ 08:02

Star Wars está de volta, dia 17. Pode o tempo

voltar atrás? O pai, George Lucas, paira sobre O

Despertar da Força, de J.J. Abrams - um dos

"filhos" da era Lucas e Spielberg, que comunga do

espírito. Mas é preciso matar o pai para atingir a

pureza dos idos de 1977?

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“É só um filme”. George Lucas, pai, e Mark Hamill,filho, bem tentam entorpecer o animal que criaram aolongo das décadas, desmistificando o efeito Star Wars.É só um filme, este fenómeno cultural que nos querestremunhar com a Força que desperta, imparávelquase quatro décadas depois – trailer após trailer,entrevista após pepita de informação até ao Natal desteano da graça de 2015. É, de facto, só um filme – atéAllen Ginsberg relaxou. A sala escureceu num cinemado Colorado em 1977 e deslizaram as famosas primeiraspalavras: “A long time ago, in a galaxy far, far away”...“Thank goodness”, suspirou o poeta beat. “Não tenhode me preocupar." 

Guerra das Estrelas, ou Star Wars como agora quer serchamada em quase todas as línguas, está de volta. Eparece querer voltar ao início. Ao Episódio IV, estreadoem Maio de 1977 e que, ao que tudo indica, érecuperado como matriz pelos seus herdeiros depois deo seu patriarca ter partido. E parece querer voltar àsupresa e maravilhamento infantil que para muitos foiver aquele que “é só um filme” pela primeira vez. Edepois muitas outras vezes. 

Um rapaz loiro num planeta deserto (o Luke Skywalkerde Mark Hamill), uma princesa de branco que foge deum Império Galáctico titânico (a Leia de Carrie Fisher),uma rebelião, um eremita com uma espada luminosa eum vilão de negro. 

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A simplicidade dos valores e universalidadehumanística da ópera espacial evoluiu de um para trêsfilmes até 1983 e, daí, para outros três (as prequelas de1999 a 2005), para tornar Star Wars numa sagafamiliar em que o espectro edipiano do pai paira noespaço. Trinta anos depois de os eventos de O Regressode Jedi (1983) e com o regresso do  elenco­chave de1977 (http://www.publico.pt/1634114)  ­ embora com aomnipresente (http://www.publico.pt/1711632)  eprovocadora ausência(http://www.publico.pt/1711740)  de Luke Skywalkerdos materiais promocionais ­, chega o simultaneamentemuito (http://www.publico.pt/1692660)   promovido(http://www.publico.pt/1679180)  mas enigmáticosétimo filme, em que dois jovens heróis, Rey e Finn (ouas futuras estrelas Daisy Ridley e John Boyega), vivemnovas aventuras. 

(//imagens5.publico.pt/imagens.aspx/1013465?tp=UH&db=IMAGENS)

George Lucas, o jovem cineasta de Modesto, um dos homens maisimportantes de Hollywood e uma das cenas mais emblemáticas do EpisódioIV, A New Hope, com Luke Skywalker (Mark Hammil), Leia Organa (CarrieFisher) e Han Solo (Harrison Ford) UNKNOWN/MODESTO BEE/ZUMAPRESS.COM

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Milhões em todo o mundo comungam daideia Star Wars. E isso leva­nos àquelasala de cinema com Allen Ginsberg, poetada Beat Generation e figura dacontracultura das décadas de 1960 e 70 arespirar fundo. A palavra “humano” éapenas um referente esquemático nagaláxia de Lucas e companhia e, para ojornalista e escritor britânico Chris Taylor,o seu sucesso reside nessa primeira linhade argumento que se agiganta no ecrã. Épor isso que cita a experiência deGinsberg, relatada por um investigador efuturo jornalista da Wired. “As pessoasrelaxam quando vêem aquilo, é como sesentíssemos os ombros a descontrair. Vão­nos contar uma história que nada tem aver com o nosso mundo, planeta,problemas, aquecimento global… Temoslicença para nos perdermos. O que não éverdade para qualquer outro franchise”,nem o era nos seus predecessores na paisagem cultural,de Star Trek a Planeta dos Macacos, explica ao Ípsilona partir de São Francisco. 

Chris Taylor é o autor de How Star Wars Conqueredthe Universe, biografia do franchise e também dos seusacólitos, aqueles que ajudaram a tornar a frase do títulouma verdade ­ Star Wars é um conquistador, umaglutinador universal, seja na sua aceitação ou na suarecusa, um momento­chave para o cinema. O filme queoriginaria duas trilogias e que vale cerca de 30 milmilhões de dólares, segundo estima o Guardian, é umaterra de fronteira entre o reconhecível e o desconhecido.E o seu arquitecto – ou “O Criador”, como se auto­

O novo filme pode ser“a expressão mais purada ideia de Star Warsque tivemos desde ofilme original — do quenós, o público,achámos que é a ideiade Star Wars — poroposição ao queGeorge Lucas pensava.

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intitulou Lucas em reacção às palavras de George W.Bush, em 2006, sobre ser “O Decisor” ­, não construiu,inicialmente, um mundo completo. 

A New Hope, de 1977, “era um filme que tanto permitiaao público compreender uma nova história mastambém inferir uma série de coisas excitantes quepoderiam ser”, disse em Novembro à revista Wired o“superfã” que agora vai refundar a saga, J.J. Abrams: “Éum dos presentes que o Star Wars original oferece deforma tão generosa”, a quem o vê, em “pinceladas”. Ahistória começa a meio, não há muita exposição decontexto e os sabres sussurram­nos aos ouvidos. Nofundo, o que raio foram as Guerras dos Clones? Maselas lá estão, uma pista nas histórias contadas a umrapaz de Tatooine, e as naves continuam a zumbir até àpróxima sequência. O público segue­as, esbugalhado,hiperespaço dentro.

“A primeira trilogia constitui o ponto de viragem nocinema moderno”, escreveu o historiador de cinemaDavid Thomson no diário Guardian há um mês. Foramas centenas de milhões de dólares e pessoas, foram asfilas de quarteirões de Los Angeles a Lisboa, foram osespectadores que não arredavam do assento e queinauguraram medidas como o esvaziamento obrigatóriodas salas após as sessões, foi a fantasia aliada aos efeitosvisuais, foi Lucas. E um amigo. 

“Star Wars estava in. Spielberg estava in. Nósestávamos acabados”, enumerou Martin Scorsese aPeter Biskind no livro Easy Riders and Raging Bulls(1997). Um amargo William Friedkin ilustra no mesmolivro: aquele foi o momento em que “Star Wars varreuas fichas todas da mesa”. 

A ideia Star Wars

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A “ideia de Star Wars” é uma das constantes de HowStar Wars Conquered the Universe. É um conceito­chave para abordar uma história amplamentedocumentada. Christopher Walken podia ter sido HanSolo, o herói chegou a chamar­se Annikin Starkiller, ossabres de luz foram escritos como “lazerswords”, tudofoi terminado no fio da navalha, o dinheiro não chegava,e Alec Guinness não gostou de ser o gravitas do filme napele de Obi­Wan Kenobi ­ e na rodagem na Tunísia,Harrison Ford chamava­lhe ‘Madre Superiora’. “Nãoajuda”, relata, frustrado, o veterano britânico nas suasmemórias.

Só faz sentido contar histórias do que poderia ter sidoquando há uma tal penetração dos conceitos ou dagramática de Star Wars na cultura. E isso faz parte daideia Star Wars. Que é de Lucas, pai, mas também doespírito santo ­ a massa dos fãs. É uma tese de Taylor. Eé, aliás, o que o faz acreditar num final feliz para amaratona (http://www.publico.pt/1694503)promocional (http://www.publico.pt/1704952)  deStar Wars: O Despertar da Força. O novo filme podemuito bem ser, diz, “a expressão mais pura da ideia deStar Wars que tivemos desde o filme original ­ do quenós, o público, achámos que é a ideia de Star Wars ­por oposição ao que George Lucas pensava”. 

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Taylor, um dos directores­adjuntos do muito 2015 sitenoticioso Mashable, é fã, mas não fanático. Com olegado noutras mãos, “paradoxalmente, Star Wars podeficar mais forte como ideia. É como se o mundoestivesse a reflectir de volta para George Lucas: ‘aquiestá o que pensámos sobre o que Star Wars era supostoser’”. 

É aqui que entra J.J. Abrams. O realizador que vem deressuscitar Star Trek, de mostrar a sua filiação nessaera 1980s de Hollywood em Super 8 e de várias sériesde TV com mistério e aventura no ADN tem em 2015 odesafio de fazer algo que não seja nem uma peça denostalgia, nem uma porta de sentido único para novosclientes, nem mais um filme de shock and awe. ParaTaylor, ecoando o favoritismo e optimismo de parte dofandom, "J.J. Abrams percebe. Era um fã desde o inícioe traz o sentido certo de maravilhamento infantil. E ofacto de Lawrence Kasdan estar envolvido é umagarantia de qualidade", diz o jornalista sobre oargumentista e realizador, que foi responsável peloguião de Império Contra­Ataca (1980), que Lucasentregou por seu turno ao realizador Irvin Kershner.

Outras coisas que era suposto ser num dos maisimportantes fenómenos de cultura popular de massasdo século XX: Spielberg era a primeira escolha pararealizar Regresso de Jedi, mas havia outroextraterrestre: E.T.. David Lynch também foi sondadopara realizar o terceiro filme, mas teve uma forteenxaqueca quando viu os Ewoks. Fez, em vez disso,Dune. A história de bastidores de Star Wars é cheia dereescritas, frustração e controlo de Lucas. A certa altura,o lado negro da Força ­ conceito que une “todas ascoisas vivas, que nos rodeia e penetra” e que se divide,basicamente, entre Bem e Mal ­ tinha um nome. Bodan.

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O lado bom? Ashla. Curiosidades que podiam ser notasde rodapé, mas tratando­se de Star Wars são comoinscrições clandestinas no cânone ­ lados B de umahistória colectiva. São também exemplos d’O Criador atrabalhar. 

Tal como Brian De Palma pegou no longo texto amareloque introduz o primeiro filme e o editou para ser aquiloque hoje conhecemos, também Bodan e Ashla ficaram,com outras ideias rejeitadas, na mesa feita a partir detrês portas sobre a qual Lucas escreveu a trilogiaoriginal. São ideias por lapidar de The Journal of theWhills, o nome original de uma história mais ampla deStar Wars. Urgia simplificar. A versão menos complexafoi eficaz. Star Wars satisfaz “a necessidade humanapor aventura espiritual”, validou o mitólogo JosephCampbell.

A  música de John Williams(http://www.rtp.pt/play/p2151/celebrar­john­williams) , os efeitos visuais, o realismo do “universo

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J.J. Abrams, o “superfã” que tem nas mãos a refundação da saga comoalguém que tem “o sentido certo de maravilhamento infantil” SPLASHNEWS/SPLASH NEWS/CORBIS

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usado”, a história de uma família no espaço nem dezanos depois da ida à Lua. Os sonhos, a experiênciajuvenil de um plot twist, a iconografia. A ideia de StarWars cabe, segundo Chris Taylor, numa mão­cheia desegundos. “A expressão mais pura da ideia de Guerradas Estrelas é o trailer”, a materialização de “todas aspossibilidades, do que aquelas imagens podiamsignificar”. A ideia de Star Wars é a sugestão e o mundoreagiu. 

Nas filas das cidades, de Paris a Londres ou a Tóquio,estavam miúdos e miúdas, universitários, pais, JohnnyCash, Hugh Hefner e as coelhinhas Playboy,Mohammed Ali, William Friedkin ou Ridley Scott. Oque procuravam? “Desejamos a evasão. O escapismotem sido muitíssimo incompreendido. Pensamos que éperdermo­nos em algo estúpido, escapar das nossasvidas banais e ser envolvidos num disparate frívolo. Oescapismo é muito difícil. Dá mais trabalho do que fazeralgo realmente ligado à realidade, porque tem de ser tãocompleto e tão escapista que conseguimos projectar onosso próprio significado nele”, defende Taylor. IsaacAsimov: Star Wars era divertido e gostei”. 

O tempo de Star WarsO tempo em Star Wars começa a meio para chegar auma espécie de fim e só mais de 20 anos depois começapelo princípio ­ a trilogia original vai de 1977 a 83, asprequelas de 1999 a 2005. Foi sempre, defendeu Lucasem 1981, “um conto de fadas”. Mas “é um ícone culturalcomplicado”, disse em 2013. 

Star Wars estreou­se no ano em que a música morreuum pouco com Elvis, na ressaca do Vietname, quandoDeng Xiaoping voltou ao poder, quando o Benficaganhou o campeonato e quando o FMI interveio na

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economia portuguesa. Nos anos anteriores,produziram­se Taxi Driver, de Scorsese, Nashville, deRobert Altman, O Vigilante e, claro, O Padrinho ­ queCoppola recusou várias vezes até Lucas o convencer aaceitar. Por seu turno, Apocalypse Now esteve para serde Lucas depois de American Graffiti, mas seria oseguinte de Coppola ­ o amigo de cuja casa Lucas saiupara ir a Cannes, para ir ao festival onde faria aproposta inicial que o obrigou a concretizar “uma ideiade um filme de fantasia, uma ópera espacial ao estilo deFlash Gordon”.

“Uma era de jovens aspirantes a cineastas americanosestava deliciada com a carreira afluente de GeorgeLucas” e de Coppola ­ “quem queria ser cineasta podiaacreditar que a arte (e o negócio) tinham sido libertadospara uma geração fresca”, recorda David Thomson. Oantes fazia­se de “parábolas impiedosas de desviopsicológico, malaise social e paranóia política, passadasnas cidades infernais e purulentas da América”, escreveo escritor e professor de Oxford Peter Conrad noGuardian. Depois, “Lucas reafirmou os prazeres dostorytelling directo, não irónico e com personagensbidimensionais acessíveis e cujas aventuras acabambem” ­ Peter Biskind não esconde o seu desagrado com

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o desfecho da história. Friedkin compara o efeito dofilme de Lucas com o do McDonald’s – “O gosto por boacomida simplesmente desapareceu”. Antecipando apaisagem do videoclipe e desmamando o público docinema europeu e dos produtos da Nova Hollywood,Lucas e Spielberg, acrescenta o crítico, devolviam osespectadores “à simplicidade da era de ouro do cinemapré­60s”. 

Súmula de influências dos serials de aventuras comoFlash Gordon, de filmes de Kurosawa ou de heróiscomo John Carter de Edgar Rice Burroughs, mescla decomédia, romance e efeitos visuais milagrosos, StarWars não queria ser, como disse Lucas à revistaAmerican Film em Abril de 1977,  “um filme zangado esocialmente relevante”. Mas tinha leituras políticas, tãosubtis que alguns as inverteram ­ afinal, o Império eramos EUA, os Rebeldes o Vietname, os pequenos Ewok doterceiro filme os Vietcong, o Imperador era Nixon e atéa sua sala na Estrela da Morte era oval. Mas  algunscríticos citados por Chris Taylor consideraram quesimbolizava um regresso da guerra para um feelgoodmovie que retratava a América de forma positiva. A suafé era perturbadora.

Lucas continuou a ver­se como um indie, a rejeitar aideia de que infantilizou o público e a frisar que oslucros da invenção  ­ o blockbuster de Verão ­ fezcrescer as salas de cinema para multiplexes, dandoespaço “às pequenas Miramaxes”, como disse à revistaTime em 2006, para mostrar os seus filmes. 

“Guerra das Estrelas é muitas vezes o bode expiatório”,defende Chris Taylor. Scorsese tentou filmar um contode Philip K. Dick, De Palma tentou fazer o sci­fi de TheDemolished Man,  Alejandro Jodorowski pensou fazerum Dune (http://www.imdb.com/title/tt1935156/) comDali, H.R. Giger e Orson Welles. São, para Taylor, prova

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de que o havia mais interessados noterreno desbravado por Lucas e Spielberg.“Se vamos culpar um filme por criar oblockbuster de Verão, deve ser Tubarão,que chegou um ano antes”, argumenta ojornalista. 

“Não sei se têm hipsters no vosso país…”,pergunta. Sim, temos. Para Taylor, “atecnologia fez algo como Star Warsinevitável”. Sem Lucas e Spielberg “sóteria levado mais tempo”. “Qualquertentativa de simplificar com um antes eum depois de Lucas e Spielberg… parececonversa de hipster”, ri­se.

“O conceito de um hipster é alguém quenão gosta de nada que seja popular eaplica­se aqui. Guerra das Estrelas está a ser culpadoporque foi demasiado bem sucedido, o que é umaloucura. Por que é que isso deve ser responsável porHollywood tentar a seguir fazer outro tipo deblockbusters escapistas? E havia muitos filmes que jáestavam em produção e que surgiram depois de Guerradas Estrelas, como Super­Homem” (1978), reflecte aotelefone com o Ípsilon. “Demorou muito tempo paraHollywood chegar ao ponto em que está hoje, cheia defilmes de fantasia, Piratas das Caraíbas, filmes deHobbits...”. 

O pai de Star WarsA história de Star Wars é irrefutavelmente colectiva.Perfilhada. Foi feita não só por Lucas, mas por todos osque, com ou sem créditos, o ajudaram a melhorar oprimeiro filme que mudaria a sua vida, o percurso e avelocidade do cinema. E foi completada pelos

Star Wars é muitasvezes o bodeexpiatório. Se vamosculpar um filme porcriar o blockbuster deVerão, deve serTubarão, que chegouum ano antes

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espectadores, do sócio número 1 do clube de fãs oficialRoman Coppola aos 2,2 milhões de americanos quefaltaram ao trabalho a 19 de Maio de 1999 para verAmeaça Fantasma, o Episódio I. Lucas queria “tomar opulso do inconsciente colectivo dos contos de fadas” edeixou uma marca digital na cultura. 

O Criador parece ser, ouvindo quem com ele trabalhou,um Editor. Um pai que delega, não no essencial, masque delega. Iain McCaig, concept artist que trabalhounas prequelas e nas edições especiais da trilogiaoriginal, também ajudou no iminente Episódio VII.Voltou à Lucasfilm pela primeira vez desde a saída do“pai nerd”, a expressão favorita de Taylor paradescrever Lucas e usada por um dos funcionários daprodutora vendida em 2012 à Disney.  Em Tróia no finaldo último Verão (http://www.publico.pt/1709156) ,McCaig recordava ao Ípsilon: “George não nos diz o quefazer. Diz­nos um nome. ‘É um Sith Lord’. E vai­seembora. Não temos a mínima ideia – homem, mulher,planta, o quê?”, sorri o autor de Darth Maul e do visualde Padme Amidala. “O seu génio é, quando todos osartistas apresentam tudo numa mesa, ele escolhe ‘esta,

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aquela, a cabeça desta e o corpo daquela’. E encaixamcomo se tivessem sido desenhados juntos. É a únicamaneira como ele sabe trabalhar”.

Agora, sentia­se alguma orfandade e reverência noinício do processo Episódio VII, para o qual Lucasdeixou esboços que não foram usados. É preciso saberlidar com um pai ausente. “Foi diferente, porque nãoera o George. Toda a gente estava a tentar adivinhar oque ele pensaria”, continua McCaig. “Nós, os ‘velhos’tentámos empurrá­los para o que sabíamos ser StarWars”. Sempre em busca da ideia de Star Wars, jánoutro tempo ­ este é o primeiro filme da era das redessociais, mas este é o enésimo filme com forçassobrenaturais, explosões e efeitos especiais do ano, dadécada, do século.

Cerca de 1,3 mil milhões de bilhetes, segundo disse aLucasfilm a Taylor, foram vendidos para ver os seisfilmes em cinemas de todo o mundo. Duma dessassessões, Ridley Scott levantar­se­ia da cadeira edecidiria deixar os épicos históricos e entrar na ficçãocientífica. Alien e Blade Runner escreveriam a suaprópria história. E, escreve Taylor, “em Los Angeles, ummotorista de camiões de 22 anos que tinha sonhadoexactamente com este tipo de modelo de nave [daperseguição que aterra os espectadores  na primeiracena de A New Hope(https://www.youtube.com/watch?v=z33­qOXOWS4) ]ficaria tão enfurecido com o filme, tão consumido com aquestão de como tinha Lucas feito aquilo, que sedespediu e entraria na indústria cinematográfica atempo inteiro. O seu nome era James Cameron”.

A.O. Scott, crítico de cinema do New York Times, tinha11 anos em 1977 – tal como J.J. Abrams. Viu Star Warsrepetidamente. “A vida moderna é uma série de marcosgeracionais. Calibramos as nossas identidades

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colectivas de acordo com a experiência partilhada deacontecimentos públicos, incluindo filmes de sucesso ecanções populares”, postula. “O fenómeno alargado deStar Wars representou o que parece o produtoinevitável de demografia e de forças sociais”, sintetiza, eagora, na mesma galáxia mas décadas depois,(re)começa outra viagem.

         

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