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1 O Internetês na escola Célia Francisca de Araujo (Professor PDE) Juliano Desiderato Antonio (Orientador) Resumo Este artigo apresenta as várias etapas de um trabalho desenvolvido na 1ª série do Ensino Médio do Colégio Estadual “Senador Moraes de Barros” EFM, no município de Jussara, núcleo de Cianorte, sendo a primeira etapa a apresentação do projeto aos alunos expondo sua importância e como seria seu desenvolvimento. O professor procurou valorizar a linguagem utilizada pelos alunos na internet como um gênero em alta na atualidade, e a partir dessa linguagem, trabalhou a linguagem formal. Em seguida conduziu uma conversação sobre os bate-papos na internet e como é utilizada a linguagem nessa interação. Na sequência trabalhou o gênero relato, no qual foi apresentado um texto (relato) publicado em um blog em internetês, fazendo, em seguida, a leitura e compreensão do texto para posteriormente trabalhar a retextualização através de um encaminhamento metodológico em que se desenvolveu uma sequência didática, aplicando-se a passagem do texto escrito na internet (internetês) para o texto escrito na linguagem padrão. Palavras-chave: Internetês. Retextualização. Escrita. Abstract This article presents the various stages of a work in 1st year of high school in State College "Senator Moraes de Barros" FSM in the city of Jussara Cianorte core, the first step to present the project to expose students and their importance and as would be development. The teacher tried to enhance the language used by students on the Internet as a genre on the rise today, and from that language, worked the formal language. Then led a conversation about the chats on the Internet and how language is used in this interaction. Following the gender story worked, where he was presented with a text (story) published in a blog on the Internet, but after reading and understanding of the text for further work retextualização through a routing methodology which was developed following a teaching by applying the transition

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O Internetês na escola Célia Francisca de Araujo (Professor PDE)

Juliano Desiderato Antonio (Orientador)

Resumo

Este artigo apresenta as várias etapas de um trabalho desenvolvido na 1ª série do

Ensino Médio do Colégio Estadual “Senador Moraes de Barros” EFM, no município

de Jussara, núcleo de Cianorte, sendo a primeira etapa a apresentação do projeto

aos alunos expondo sua importância e como seria seu desenvolvimento. O professor

procurou valorizar a linguagem utilizada pelos alunos na internet como um gênero

em alta na atualidade, e a partir dessa linguagem, trabalhou a linguagem formal. Em

seguida conduziu uma conversação sobre os bate-papos na internet e como é

utilizada a linguagem nessa interação. Na sequência trabalhou o gênero relato, no

qual foi apresentado um texto (relato) publicado em um blog em internetês, fazendo,

em seguida, a leitura e compreensão do texto para posteriormente trabalhar a

retextualização através de um encaminhamento metodológico em que se

desenvolveu uma sequência didática, aplicando-se a passagem do texto escrito na

internet (internetês) para o texto escrito na linguagem padrão.

Palavras-chave: Internetês. Retextualização. Escrita.

Abstract

This article presents the various stages of a work in 1st year of high school in

State College "Senator Moraes de Barros" FSM in the city of Jussara Cianorte core,

the first step to present the project to expose students and their importance and as

would be development. The teacher tried to enhance the language used by students

on the Internet as a genre on the rise today, and from that language, worked the

formal language. Then led a conversation about the chats on the Internet and how

language is used in this interaction. Following the gender story worked, where he

was presented with a text (story) published in a blog on the Internet, but after reading

and understanding of the text for further work retextualização through a routing

methodology which was developed following a teaching by applying the transition

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text written in the (Internet) to the text written in standard language.

Key words: Internet slang. Retextualization. Writing

Introdução

A realização deste trabalho se deu na busca de uma forma de despertar o

interesse dos alunos pela escrita. Em observação sobre as atividades dos alunos no

seu dia-a-dia, percebemos que o que mais lhes chama a atenção são as atividades

ligadas à informática. Passamos, então, a considerar o aproveitamento da internet

como algo interessante no estudo da linguagem em sala de aula para introduzirmos

a linguagem padrão de forma mais participativa por parte dos alunos, dando-se,

assim, a troca de experiência entre aluno e professor.

Muitas formas de escrita são aceitas hoje em dia, porém não podemos deixar

de ensinar a língua padrão. É função da escola e do professor preparar o aluno

para o emprego da língua padrão, sabendo que, em situações informais, ele poderá

usar o dialeto que lhe é peculiar.

A experiência em sala de aula revela que a maioria dos alunos não lê e,

consequentemente, não gosta de escrever e se distancia cada vez mais da norma

padrão. De acordo com as diretrizes curriculares, a sala de aula é o espaço de

apropriação desse conhecimento, porque é o único lugar que possibilita à grande

maioria dos alunos o contato com a norma padrão.

Nossos alunos utilizam-se de códigos linguísticos que, às vezes,

desconhecemos totalmente e que entre eles são usados com grande domínio na

escrita, principalmente na comunicação pela internet. Sendo assim, nosso desafio

é: Por que não conseguimos levar o nosso aluno a gostar de escrever na escola?

São os nossos métodos que não os agradam? Não seria, então, o momento de

buscarmos, em seu próprio meio, algo que desperte o seu interesse e nos valermos

disso para a introdução do nosso trabalho de despertar no aluno o gosto por

atividades que tratem da língua padrão?

Segundo Marcuschi (2001 p.18), “escrever pelo computador no contexto da

produção discursiva dos bate-papos síncronos (on-line) é uma nova forma de nos

relacionarmos com a escrita, mas não propriamente uma nova forma de escrita”.

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Levados por esse pensamento e propondo-nos a trabalhar com algo mais próximo

da realidade do nosso aluno, ou seja, utilizando a linguagem do seu dia-a-dia é que

usamos o internetês para iniciarmos o nosso trabalho de despertar no aluno o gosto

pela escrita.

Fundamentação Teórica / Revisão bibliográfica

A internet tem sido uma das maiores formas de comunicação entre os jovens

na atualidade. Neste trabalho utilizamos a linguagem na internet com o propósito de

aproveitar a prática dos alunos com o ensino da língua padrão.

Nesse tipo de interação, interlocutores estão em contato por um

canal eletrônico, o computador. Eles sentem-se falando, mas pelas

especificidades do meio em que os põe em contato, são obrigados a

escrever suas mensagens, ou seja, interagem, construindo um texto

“falado” por escrito. (HILGERT (2000, p.17-55).

Por ser esse tipo de texto interessante para o nosso aluno, uma vez que está

relacionado com a sua prática no dia-a-dia, é que propusemos um trabalho voltado

para a linguagem em sala de aula.

A comunicação na internet normalmente acontece por meio de e-mails e

mensagens on-line ou conversação. Os e-mails são textos enviados ao destinatário

por meio de endereço eletrônico e ficam arquivados num servidor para serem lidos

posteriormente. Para Hilgert (2000, p.17-55),

as mensagens on-line são enunciados predominantemente

lingüísticos, enviados ao destinatário que está, naquele momento

preciso, ligado ao computador para as receber e, se desejar, a elas

responder. É o que se chama também de comunicação em tempo

real. Cada mensagem é elaborada pelo destinador e enviada

somente depois de ele acionar o comando “enviar”. As mensagens

não são arquivadas, perdendo-se com a interrupção da interação, se

não forem salvas. Da alternância dessas mensagens é que se dá a

denominada conversação na Internet.

A elaboração da mensagem na conversação na internet acontece por escrito,

por força das características do meio eletrônico usado, mas os interlocutores

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sentem-se numa interação falada. Essa percepção de fala fica explícita nas

características da própria formulação dos enunciados, mas se manifesta também em

referências metalingüísticas do tipo “bate papo”.

Expressões do tipo cumprimentos informais, alongamentos vocálicos e outras

fazem que os interlocutores sintam-se em um bate papo, o que torna a comunicação

atraente e próxima da fala.

De acordo com Koch e Oesterreicher (1994, 1990 e 1985 apud Hilgert, p.19),

Os termos fala e escrita são empregados em dois sentidos: num,

denominam meios distintos de realização textual, correspondendo

fala à manifestação fônica e escrita à manifestação gráfica; noutro

referem maneiras distintas de concepção de um texto.

Vemos, então, uma proximidade da linguagem falada na internet com a

escrita, já que essa conversação se dá por turno em que os interlocutores

“escrevem” no teclado a mensagem que querem transmitir. É então que vemos que,

mesmo não gostando de escrever, como dizem os nossos alunos, escrevem o

tempo todo no computador, sem darem conta disso. Interagindo em tempo real, os

interlocutores não se encontram face a face, não sabem com quem estão “falando” e

estão limitados aos recursos de programação do computador, que os obriga a

elaborar por escrito seus enunciados, ainda que se concebam falando nas

interações de que fazem parte (HILGERT 2000).

Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais (PARANÁ, 2007), a oralidade é

rica e permite muitas possibilidades de trabalho. Compete a escola tomar como

ponto de partida os conhecimentos linguísticos dos alunos, ou seja, fazer uso da

variedade de linguagem que eles empregam em suas relações sociais. Pensando

nisso é que procuramos uma nova forma de introdução da escrita em nossa prática.

A internet vem revolucionando a comunicação, principalmente entre os jovens

em idade escolar, no entanto, alguns pais e professores, por não dominarem essa

linguagem virtual e suas regras, vêm preocupando-se com esse tipo de linguagem.

Daí a importância de conhecermos mais esse gênero emergente. Ramal (2000)

propõe que a escola deva valorizar também a linguagem codificada que os alunos

usam em ambiente de comunicação virtual, porém, mostrando as diferenças de uso

de acordo com o contexto. Segundo Ramal, o cidadão preparado para o futuro tem

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que dominar tantas linguagens quantas forem as janelas que se abrirem para ele.

Apesar da inclusão, não se pode deixar de lado o ensino da norma padrão, pois a

capacidade de decodificar as mensagens na interação virtual está atrelada à intuição

linguística aguçada.

Devemos considerar também que por causa da internet os nossos alunos

leem e escrevem mais. Novos gêneros estão surgindo através dela. Cabe à escola e

a nós professores a correlação entre a norma e o uso da língua adequada aos

gêneros discursivos novos ou emergentes.

Retextualização Considerando-se o internetês como uma porta de entrada para o exercício da

linguagem e sua variedade e da importância da aplicabilidade da língua em suas

diversas situações, algumas atividades foram feitas no intuito de aprimorar o

conhecimento do aluno. Uma atividade que concluiu este trabalho foi a prática da

retextualização em que os alunos passaram um texto do internetês para o

português padrão utilizando a técnica da retextualização apresentada por Marcuschi

(2001).

De acordo com Marcuschi (2001, p.47), as semelhanças entre a linguagem

oral e a linguagem escrita são maiores do que as diferenças, tanto nos aspectos

estritamente linguísticos quanto nos aspectos sociocomunicativos, (as diferenças

estão mais na ordem das preferências e condicionamentos). Segundo o autor, “a

passagem da fala para a escrita não é passagem do caos para a ordem: é a

passagem de uma ordem para outra ordem”.

Toda retextualização exige antes uma compreensão. Mesmo em uma

conversa, quando contamos para alguém um fato que nos foi relatado

anteriormente, estamos fazendo uma atividade de retextualização que exige de nós

uma compreensão do fato para que possamos transmiti-lo com a maior precisão

possível. Podemos dizer que entre oralidade e escrita não existe diferença quanto a

conhecimento. Há várias atividades linguísticas corriqueiras em que a

retextualização, reescrita, e transformação de textos estão envolvidas, como por

exemplo, a secretária da escola que anota as informações orais de uma reunião e

transforma em ata; uma pessoa contando a outra o último capítulo da novela; um

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colega contando ao outro o filme que viu no dia anterior; um leitor contando ao outro

o livro que leu e muitos outros eventos que podemos chamar de corriqueiros e que,

se analisados com cuidado, podem ser considerados atividades de retextualização.

Neste trabalho foi investigada a passagem do texto escrito na internet

(internetês) para o texto escrito na linguagem padrão. Nesse tipo de atividade,

basicamente passamos as palavras pronunciadas para a formatação escrita num

sistema gráfico que, na maioria dos casos, segue a grafia padrão exceto nos casos

especiais em que queremos manter a questões específicas do falante.

A seguir, apresentam-se as principais características da retextualização

segundo Marcuschi (2001).

1 ) Definição: transformação de textos orais em textos escritos. Não se trata de um

processo mecânico, mas de um processo que envolve operações complexas que

interferem tanto no código como no sentido e evidenciam uma série de aspectos

nem sempre bem-compreendidos da relação oralidade-escrita.

Exemplo: transformação de entrevista oral em entrevista escrita.

2) Atividades de retextualização: identificação das operações mais comuns

realizada na passagem do texto falado para o texto escrito.

3) Variáveis intervenientes: propósito ou objetivo da retextualização; relação entre

o produtor do texto original e o transformador; relação tipológica entre o gênero

textual original e o gênero da retextualização; processos de formulação de cada

modalidade

4 ) Modelo das operações textuais-dicursivas na passagem do texto oral para o texto escrito: Marcuschi (2001, p. 75) apresenta algumas operações textuais-discursivas mais comuns na passagem do texto oral para o texto escrito: - 1ª operação: eliminação de marcas estritamente interacionais, hesitações e partes de palavras; - 2ª operação: introdução da pontuação com base na intuição fornecida pela entoação das falas;

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- 3ª operação: retirada de repetições, reduplicações, redundâncias, paráfrases e pronomes egóticos; - 4ª operação: introdução da paragrafação e da pontuação detalhada sem modificação da ordem dos tópicos discursivos; - 5ª operação: introdução de marcas metalingüísticas para referenciação de ações e verbalização de contextos expressos por dêiticos; - 6ª operação: reconstrução de estruturas truncadas, concordâncias, reordenação sintática, encadeamentos; - 7ª operação: tratamento estilístico com seleção de novas estruturas sintáticas e novas opções léxicas; - 8ª operação: reordenação tópica do texto e reorganização da seqüência argumentativa; - 9ª operação: agrupamento de argumentos condensando as idéias. 1.3 Gêneros textuais: O tema gêneros textuais está presente em toda situação de ensino na

atualidade. Não se pode mais falar em textos sem pensar em gêneros textuais.

O conceito de gênero textual deste trabalho está embasado em Bakhtin

(1992). Para o autor, sempre que falamos, utilizamos gêneros do discurso, ou seja,

os enunciados são constituídos a partir de uma forma padrão de estruturação.

Bakhtin define gêneros discursivos como “tipos relativamente estáveis de

enunciados” que “são determinados por uma dada esfera de comunicação”. Os

gêneros refletem as condições dessas esferas de uso da linguagem em sua

temática, nas formas linguísticas e lexicais e na estrutura.

Gêneros são, portanto, instrumentos utilizados para realização das práticas

sociais. Sua variedade é infinita e o conceito aplica-se a textos orais e a textos

escritos.

Ainda segundo Bakhtin, os gêneros podem ser primários ou secundários. Os

primários são simples e procedem da comunicação verbal espontânea (diálogos,

cartas). Os secundários vêm de uma comunicação cultural mais evoluída, mais

complexos (o romance, o teatro, discurso científico).

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Para Marcuschi (2003),

... hoje, em plena fase da denominada cultura eletrônica, com o

telefone, o gravador, o rádio, a TV e, particularmente o computador

pessoal e sua aplicação mais notável, a internet, presenciamos uma

explosão de novos gêneros e novas formas de comunicação, tanto

tem q trazer colchão e dormir na Ica e aqui

na oralidade como na escrita.

Os novos gêneros textuais surgiram nos últimos anos graças a novas áreas

de comunicações tecnológicas que têm interferido nas atividades comunicativas

diárias. Os grandes suportes tecnológicos da comunicação como rádio, televisão e a

internet são marcantes nas atividades diárias da sociedade atual e, sendo assim,

acabam sendo indicadores de novos gêneros característicos surgindo novas formas

discursivas como reportagens ao vivo, teleconferências, videoconferências, cartas

eletrônicas (e-mails), bate-papos virtuais (chats) aulas virtuais (aulas chats) e outros

gêneros.

Tais gêneros não são inovações absolutas. Bakhtin (1997) já falava na

transmutação dos gêneros e na assimilação de um gênero por outro gerando novos.

O e-mail (correio eletrônico) gera mensagens eletrônicas que têm nas cartas

pessoais, comerciais etc. No entanto, as cartas eletrônicas são gêneros que

circulam na mídia virtual.

Bakhtin (1997) e Bronckart (1999) defendem que a comunicação verbal só é

possível por algum gênero textual. Esta idéia é adotada pela maioria dos autores

que tratam a língua em seus aspectos discursivos como atividade social, histórica e

cognitiva.

Para Marcuschi (2003 p.35),

Tudo o que fizermos linguisticamente pode ser tratado em um ou outro gênero. E há muitos gêneros produzidos de maneira sistemática e com

grande incidência na vida diária, merecedores de nossa atenção. Inclusive e talvez de maneira fundamental, os que aparecem nas diversas mídias hoje existentes, sem excluir a mídia virtual, tão bem conhecida dos internautas ou navegadores da internet.

A Sequência Didática e sua aplicação em sala de aula

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Implementação da proposta de intervenção na escola

A aplicação da sequência didática teve início com uma conversa com os

alunos sobre a importância de se conhecer a linguagem padrão, ser capaz de utilizá-

la em determinadas situações que a exijam, como, por exemplo, responder a uma

entrevista para emprego, elaborar uma carta comercial, fazer um trabalho escolar e

outras situações que se faça necessário o uso da forma padrão.

Para conduzir essa conversa, partimos das seguintes questões:

1- Por que o internetês é tão utilizado atualmente?

2- Qual o motivo desse tipo de linguagem ter se propagado tanto no meio dos jovens

hoje?

3- Em que situações o internetês pode ser utilizado?

4- Quando devo utilizar a norma padrão em minha comunicação?

5- Por que eu devo continuar a estudar a norma padrão?

Partindo desses questionamentos, conversamos com os alunos sobre a

invasão do computador na vida das pessoas e a importância de se fazer uso desse

recurso nos dias atuais. Partindo desse princípio, conhecer o internetês se faz

importante em nosso dia-a-dia, pois é uma linguagem que, além de facilitar a

comunicação, nos coloca em contato com os internautas, e nos leva a compreender

a sua linguagem. Aprender o internetês é saber utilizar o computador e acessar os

mais variados programas (blogs, MSN, salas de bate-papos, Orkut, emails), enfim,

várias formas de comunicação que estão à nossa disposição. Saber avaliar o que há

de bom e o que há de ruim em cada uma delas, como também utilizá-la de forma

adequada e no momento certo.

Visitamos alguns blogs na internet para obtermos conhecimento do seu

funcionamento. Em seguida trabalhamos o gênero relato publicado em um blog em

internetês fazendo a leitura e a compreensão do mesmo para posteriormente

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aplicarmos a retextualização. Na sequência, propusemos aos alunos que

procurassem na internet textos escritos em internetês, levassem para a sala de aula

e selecionassem um para ser retextualizado sem a intervenção do professor. Após a

retextualização, professor e alunos discutiram o internetês e a forma padrão,

percebendo como e quando se deve utilizar cada uma delas. ,

Atividade número 1: no laboratório de informática, colocamos os alunos em

contato com o internetês conduzindo as seguintes atividades:

1) Acesse a internet e localize alguns textos contendo a linguagem do internetês.

2) Faça a leitura dos textos observando a forma como foram escritos. Essa

linguagem dificulta ou facilita a compreensão desses textos?

3) Dos textos lidos, escolha um, salve-o em sua pasta e em seguida

sublinhe as expressões do internetês.

4) Copie as expressões sublinhadas na atividade anterior e transcreva-as para a

linguagem padrão.

5) Substitua no texto as expressões transcritas no exercício anterior e releia-o,

verificando a compreensão.

Após essa atividade, a sala foi dividida em grupos de três alunos e pedimos a

eles que pesquisassem em casa textos em internetês, escolhessem aquele que a

equipe mais gostasse fizessem cópias para as outras equipes e distribuíssem na

sala de aula para que fossem traduzidos para a linguagem padrão. A divisão das

equipes foi coordenada pelo professor, a fim de que os alunos que não tivessem

computador em casa pudessem participar ativamente das atividades estando em

uma equipe em que ao menos um dos alunos tivesse acesso à internet. Houve

quem voltasse à escola sem o texto, mas a maioria das equipes trouxe os textos e

foi feita a troca dos mesmos para leitura, compreensão, e a passagem do internetês

para a linguagem padrão. Foi uma atividade que provocou muita conversa por parte

dos alunos, pois todos queriam comentar a linguagem com o outro e em uma sala

numerosa fica difícil o controle, mas a participação foi boa.

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Atividade número 2: retextualização

O texto que será analisado na sequência traz marcas da oralidade. Uma

forma de diminuir esse problema é através da reestruturação do texto até que a

maioria dos problemas seja resolvida. Uma nova proposta para esse trabalho é a

retextualização. Nessa atividade o aluno transforma um texto oral em um texto

escrito, e toma consciência das diferentes características da fala e da escrita.

Marcuschi (2000, p. 75) apresenta algumas operações textuais discursivas

mais comuns na passagem do texto oral para o texto escrito. Com algumas

adaptações trabalhamos quatro dessas operações:

1ª operação: eliminação de marcas do processo de produção oral;

2ª operação: introdução da pontuação e paragrafação;

3ª operação: reestruturação sintática (problemas de concordância, pronomes,

verbos, conectivos, etc.)

4ª operação: alterações estilísticas.

Texto retirado de um blog para análise:

ACHADO NUM BLOG PERDIDO

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Eu fui na nobel megastore. Tinha um livro de astrologia muuuuito legal, + nem fui vr

o preço pq era caro. Lah tb tinha o Bridget Jones, no limite de sei lá oq (continuação

do Diario de Bridget Jones, 6 sabem neh...) soh q custava 31 realz! Moh caro! Nem

sei se compro o livro ou espero arranjar emprestado...

Ai agente foi ver o filme. Foi muito engraçado. A minha irmã tava lá no começo da

fila, e dae 6 pessoas 'entraram delicadamente' atras dela *eh nois*. Detalhe q era um

lugar pra umas 2 pessoas, e tinha 6... Moh sufoco...(e depois entrou uma otra mina

lá c agente) Dai puta fila enorme *tah, n tava tão grande...* e os tios pegaram metde

do ingresso antes, pra não ter que pegar n porta. E abriram o lancezinho lah. Eu

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empurrando minha irmã feito uma loca condenada, e nosso 'grupinho' todo gritando

"corre, não sei qm, guarda n sey qts lugares! corre!" e agente correndo... uma

maravilha... Dae agente catou varios lugares lah na fila lah mcimaum... *foi quase a

fileira inteira. Só o gurizinho harry ptter e o amigo dele q tavam na nossa fileira tb*.

Dai eu fui lah mbaxu cunversa c meu amorzinho e dexei minha irman guardando

meu lugar o filme inteiro.

Depois de 2 hrs e 33 minutos, o filme acabow e fomos mbora.

Operações de retextualização aplicadas ao texto:

Operação número 1: eliminação das marcas de produção oral. Retirem do texto as

marcas características da produção oral. Essas marcas podem ser truncamentos,

repetições, e também marcas interacionais, ou seja, expressões dirigidas ao

interlocutor, como né, ah, entende? dentre outras.

Foram eliminadas nessa etapa as seguintes marcas:

. Marcas interacionais: neh (linha 3), tah (linha 8).

Retextualização após a primeira atividade:

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Eu fui na nobel megastore. Tinha um livro de astrologia muuuuito legal, + nem fui vr

o preço pq era caro. Lah tb tinha o Bridget Jones, no limite de sei lá oq

(continuação do Diario de Bridget Jones, 6 sabem ...) soh q custava 31 realz! Moh

caro! Nem sei se compro o livro ou espero arranjar emprestado...

Ai agente foi ver o filme. Foi muito engraçado. A minha irmã tava lá no começo da

fila, e dae 6 pessoas 'entraram delicadamente' atras dela *eh nois*. Detalhe q era

um lugar pra umas 2 pessoas, e tinha 6... Moh sufoco...(e depois entrou uma otra

mina lá c agente) Dai puta fila enorme * n tava tão grande...* e os tios pegaram

metde do ingresso antes, pra não ter que pegar n porta. E abriram o lancezinho lah.

Eu empurrando minha irmã feito uma loca condenada, e nosso 'grupinho' todo

gritando "corre, não sei qm, guarda n sey qts lugares! corre!" e agente correndo...

uma maravilha... Dae agente catou varios lugares lah na fila lah mcimaum... *foi

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quase a fileira inteira. Só o gurizinho harry ptter e o amigo dele q tavam na nossa

fileira tb*.

Dai eu fui lah mbaxu cunversa c meu amorzinho e dexei minha irman guardando

meu lugar o filme inteiro.Depois de 2 hrs e 33 minutos, o filme acabow e fomos

mbora.

Nessa operação o mais difícil foi fazer os alunos entender o que pedia o

enunciado. Eles estavam todos ansiosos para passar o texto do internetês para a

linguagem padrão, neste momento foi necessário uma nova conversação a respeito

da retextualização esclarecendo que é uma atividade feita por etapas e que

devemos nos limitar ao que nos pede o enunciado. Concluída esta etapa passamos

para a operação número dois.

Operação número 2: introdução de pontuação e de paragrafação – procure no texto

assuntos que possam ser agrupados em parágrafos e verifique a pontuação correta.

No texto analisado, pudemos observar quatro assuntos distintos: o primeiro

apresenta informações que são necessárias para a compreensão do que será

narrado na sequência. Esse primeiro tópico vai das linhas 1 a 4 nas quais ele fala

sobre onde eles foram, o que viram primeiro, enfim descreve o lugar em que

estavam. O segundo tópico trata-se da narração do que aconteceu no passeio. Vai

da linha 5 a 13, nas quais narra toda a trama desde a entrada na fila para comprar

os ingressos para o cinema até a tomada dos lugares. O terceiro tópico linhas 14 e

15 é onde o narrador conta que se separa do grupo para conversar com seu amor.

O quarto tópico, última linha do texto, é a conclusão, na qual o narrador deixa claro o

tempo e o final dos acontecimentos.

Com base na delimitação dos tópicos os alunos estabeleceram, assim, quatro

parágrafos para o texto analisado.

A segunda etapa dessa operação, que trata da introdução da pontuação pôde

ser feita já com a inclusão das orações nos parágrafos delimitados.

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Verifique, então como ficou o texto após a aplicação da segunda operação:

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Eu fui na nobel megastore. Tinha um livro de astrologia muuuuito legal, +

nem fui vr o preço pq era caro. Lah tb tinha o Bridget Jones, no limite de sei lá oq

(continuação do Diario de Bridget Jones, 6 sabem ...) soh q custava 31 realz! Moh

caro! Nem sei se compro o livro ou espero arranjar emprestado...

Ai agente foi ver o filme. Foi muito engraçado. A minha irmã tava lá no

começo da fila, e dae 6 pessoas 'entraram delicadamente' atras dela *eh nois*.

Detalhe q era um lugar pra umas 2 pessoas, e tinha 6... Moh sufoco...(e depois

entrou uma otra mina lá c agente) Dai puta fila enorme * n tava tão grande...* e os

tios pegaram metde do ingresso antes, pra não ter que pegar n porta. E abriram o

lancezinho lah. Eu empurrando minha irmã feito uma loca condenada, e nosso

'grupinho' todo gritando "corre, não sei qm, guarda n sey qts lugares! corre!" e

agente correndo... uma maravilha... Dae agente catou varios lugares lah na fila lah

mcimaum... *foi quase a fileira inteira. Só o gurizinho harry ptter e o amigo dele q

tavam na nossa fileira tb*.

Dai eu fui lah mbaxu cunversa c meu amorzinho e dexei minha irman

guardando meu lugar o filme inteiro.

Depois de 2 hrs e 33 minutos, o filme acabow e fomos mbora.

Na realização dessa atividade, foi possível perceber um empenho muito

grande dos alunos. Um dos alunos chamou o professor e disse que essa era uma

boa atividade, pois ensinava como escrever outros textos, ou seja, o aluno concluiu

que, por meio daquela atividade, ele saberia como agrupar os assuntos nos

parágrafos e pontuá-los.

Operação número 3: reestruturação sintática - orações com problemas sintáticos ou

com construções sintáticas típicas da oralidade devem ser reconstruídas. Faça a

reconstrução das mesmas e reescreva o texto.

Reestruturações possíveis nessa etapa:

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- Substituição da expressão “Eu fui na Nobel” por “Eu fui à Nobel”;

- Substituição de letra minúsculas por maiúsculas na indicação de substantivos

próprios: “nobel megastor” “Nobel Megastore”, “harry potter” “Harry Potter”;

- Troca da expressão “a gente” pelo pronome nós e adequações das formas verbais

como em: “agente foi” (nós fomos),” com agente” (conosco);

-Adequação das formas verbais, como: “tava” (estava);

- Elipse, quando o mesmo sujeito é mantido em orações consecutivas, como em

“agente foi ver o filme”, “agente correndo..., agente pegou vários lugares”;

“Nós fomos ver o filme,” “e nós correndo..., pegamos vários lugares”...

- Substituição de marcas orais de encadeamento das orações, como “aí”, “daí” etc.

por marcas de coesão que representem outras relações lógicas tais como: assim,

então etc. como em: “aí nós fomos ver o filme” “então nós fomos ver o filme”;

Após essa atividade, tivemos a seguinte versão do texto:

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Eu fui à Nobel Megastore. Tinha um livro de astrologia muuuuito legal, +

nem fui vr o preço pq era caro. Lah tb tinha o Bridget Jones, no limite de sei lá

oq (continuação do Diario de Bridget Jones, 6 sabem ...) soh q custava 31 realz!

Moh caro! Nem sei se compro o livro ou espero arranjar emprestado...

Então nós fomos ver o filme. Foi muito engraçado. A minha irmã estava lá

no começo da fila, e 6 pessoas 'entraram delicadamente' atras dela *eh nois*.

Detalhe q era um lugar pra umas 2 pessoas, e tinha 6... Moh sufoco...(e depois

entrou uma otra mina lá c agente) Puta fila enorme * n estava tão grande...* e os

tios pegaram metde do ingresso antes, pra não ter que pegar n porta. E abriram

o lancezinho lah. Eu empurrando minha irmã feito uma loca condenada, e nosso

'grupinho' todo gritando "corre, não sei qm, guarda n sey qts lugares! corre!" e

nós correndo... uma maravilha... Então catamos vários lugares lah na fila lah

mcimaum... *foi quase a fileira inteira. Só o gurizinho harry ptter e o amigo dele q

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Nessa operação, os alunos demonstraram um nível de dificuldade maior,

pois envolve questões mais complexas como concordância e regência em que os

alunos encontram muita dificuldade. Esta operação ocupou um tempo maior, mais

de uma aula com muitas perguntas e resistência por parte dos alunos.

Algumas construções passam despercebidas para eles. Estão tão

habituados a elas que não percebem nenhum problema chegando mesmo a dizer:

“todo mundo fala assim, nunca vi essa outra forma”. Alguns até tentaram resistir a

substituição de certas construções, mas discutiram e chegaram a um consenso.

Operação número 4: alterações estilísticas - nessa operação selecionam-se

construções sintáticas e formas lexicais mais adequadas à modalidade escrita.

- Uso de sinais ou numerais com mesmo som ou com som semelhante de um

vocábulo como: “+”, ”6” deverão ser substituídos por: “mas,” “vocês”.

Outras substituições que deverão ocorrer na passagem do internetês para a forma

padrão estão citadas à frente de cada expressão como:

- Uso do “h” para indicar acento agudo como em: “lah” “lá”, “soh” “só”

- Transcrição fonética: “muuuuito” “muito”, “cunversa” “conversar”, “dexei” “deixei”,

“loca” “louca”, “otra” “outra”.

- Uso da consoante nasal para indicar nasalidade como em: “mcimaum” “em cima”,

“mbaxu” “embaixo”, “irman”, “irmã”, “mbora” “embora”.

- Abreviação de palavra como em: “vr” “ver”, “pq” “porque”, “Tb” “também”, “oq” “o

que”, “q” “que”, “n” “não”, “metde” “metade”, “qm” “quem”, “gts” “quantos”, “ptter”

“Poter”.

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estavam na nossa fileira tb*.

Então eu fui lah mbaxu cunversa c meu amorzinho e dexei minha irman

guardando meu lugar o filme inteiro.

Depois de 2 hrs e 33 minutos, o filme acabow e fomos mbora.

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- Utilização de “y” e “w” para marcar semivogal como: “sey” “sei”, “acabow”

“acabou”.

- Seleção vocabular: no texto encontramos vocabulário informal e gíria como: “legal”

“bom”, “moh caro” “muito caro”, “moh sufoco” “maior sufoco”, “realz” “reais” “mina”

“menina ou garota”, “puta fila” “fila grande”, “eh nois” “éramos nós”, “lancezinho”

“porta”.

- substituição do verbo “catar” linha 11 por pegar: “catamos vários lugares”

“pegamos vários lugares”, mais adequado à modalidade escrita.

Após essas adaptações, os alunos completaram a retextualização da

narrativa obtendo o seguinte texto:

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2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

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16

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Eu fui à Nobel Megastore. Tinha um livro de astrologia muito bom, mas nem

fui ver o preço porque era caro. Lá também tinha a Bridget Jones, no limite de sei

lá o quê (continuação do Diário de Bridget Jones, vocês sabem!...) só que custava

trinta e um reais! Muito caro! Nem sei se compro o livro ou espero arranjar

emprestado...

Então nós fomos ver o filme. Foi muito engraçado. A minha irmã estava lá

no começo da fila, e seis pessoas 'entraram delicadamente' atrás dela *éramos

nós*. Detalhe: era um lugar para umas duas pessoas, e tinha seis... maior

sufoco... (e depois entrou outra menina lá conosco) Uma fila enorme * não estava

tão grande...* e os homens pegaram metade do ingresso antes, para não ter que

pegar na portaria. Então abriram a porta. Eu empurrando minha irmã como uma

louca condenada, e nosso 'grupinho' todo gritando "corre, não sei quem, guarda

não sei quantos lugares! corre!" E nós correndo... Uma maravilha... Então

pegamos vários lugares na fila lá em cima... *foi quase a fileira inteira. Só o

gurizinho Harry Potter e o amigo dele estavam na nossa fileira também*.

Então eu fui lá embaixo conversar com meu amorzinho e deixei minha irmã

guardando meu lugar o filme inteiro.

Depois de duas horas e trinta e três minutos, o filme acabou e fomos

embora.

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Esta foi a atividade mais esperada pelos alunos. Desde a primeira operação

eles queriam eliminar o internetês tendo de ser orientados, pelo professor, o tempo

todo, afinal essa era a parte que eles mais sabiam. Após essa atividade foi feita uma

releitura de todo o processo de retextualização com os alunos e a reescrita final do

texto, concluindo-se, assim, o estudo proposto.

Em uma análise das atividades desenvolvidas até então, percebemos que o que não

agradou muito os alunos foi a questão da reescrita do texto após cada operação,

eles acharam essa parte cansativa sempre propondo que fossem feitas todas as

operações e aí sim, se reescrevesse o texto, no final. Todas as questões foram

discutidas, trabalhadas e chegou-se ao final com a compreensão de todos sobre o

processo de retextualização e uma consciência maior do ato de escrever e da forma

de se utilizar os vários tipos de linguagem a que nos dispõe a língua portuguesa,

especialmente o internetês.

Atividade número 3: baseando-se no texto “Achado Num Blog Perdido” que acabou

de reestruturar, responda:

1) Quais as diferenças encontradas na linguagem utilizada na internet e a língua

padrão que devemos utilizar ?

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___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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2) Como era o texto antes, e como ficou depois da retextualização?

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___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

3) Cada uma dessas versões do texto é adequada para que tipo de situação

comunicativa?

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___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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Após essa atividade, os alunos concluíram que há uma diferença entre a

linguagem da internet e a linguagem que utilizamos na escola no sentido de que o

internetês facilita a conversação pelo computador abreviando, usando outros sinais

de acentuação, formas mais rápidas para se comunicarem numa conversa rápida e

muitas vezes simultânea. Por outro lado, entenderam que numa comunicação formal

esse tipo de linguagem pode dificultar a compreensão. Perceberam também que é

importante conhecer as duas formas de utilização da linguagem e o momento certo

para o emprego de cada uma.

Atividade número 4: (pesquisa na internet)

1) Reúna-se com mais dois colegas e pesquise na internet textos escritos em

internetês. Escolha o que mais lhe chamar a atenção, faça cópias e traga para a

sala para que todos tenham acesso à leitura.

2) Escolha, juntamente com a classe, um dos textos para ser feita a

retextualização, agora, sem a intervenção do professor.

3) Com a coordenação do professor, cada equipe deve colocar em edital o texto

que retextualizou para ser lido pelos outros alunos.

4) Juntamente com o professor, a sala fará a análise da atividade realizada

chegando à melhor retextualização do texto selecionado pela turma.

Após a pesquisa os alunos trouxeram vários textos para a sala de aula e

fizemos a leitura de todos eles. Foi uma aula muito tumultuada, mas ao mesmo

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tempo divertida com todos tentando entender o texto da melhor maneira possível e,

alguns, orgulhosos em poder ajudar o colega a entender determinados termos, ou

expressões, que lhe eram desconhecidas. De acordo com o que foi proposto, os

alunos deveriam escolher um único texto para a retextualização, mas houve muita

divergência entre eles e procuramos não ser muito rigorosos com tal proposta, o que

nos levou a permitir a escolha de mais de um texto. Ao final da atividade, todos os

textos retextualizados, foram expostos e analisados por todos, e muitos, concluindo

que o seu trabalho foi o melhor. Na idade em que se encontram, é difícil aceitar uma

visão de escolha que não seja a sua. Para que não houvesse decepções, aceitamos

todas. De modo geral todos os problemas foram trabalhados e encerramos, assim,

nossas atividades de maneira satisfatória.

Considerações finais

A busca de uma forma de despertar o interesse do aluno pela escrita e o

desejo de trabalhar com algo que estivesse mais próximo da sua realidade, foi o que

nos motivou a desenvolver este trabalho fazendo uso de uma temática que lhes é

muito familiar. Nos tempos atuais a informática tomou conta das nossas vidas e,

principalmente, da rotina dos jovens e adolescentes que frequentam as nossas salas

de aula por todo o país e no nosso estado, principalmente agora, que essa

tecnologia tem chegado a todas as escolas da rede pública de ensino. Nem mesmo

os próprios alunos sabem que gostam de escrever, pensam que isso é tarefa de

escola e rejeitam a escrita como rejeitam outros afazeres escolares. É comum

encontrar alunos que chegam ao ensino médio dizendo que não gostam de escrever

e que a escrita é uma atividade muito difícil e chata. Mas o que eles não percebem é

, mesmo fora da escola, eles estão escrevendo o tempo todo, e que isso não é

cansativo e nem chato, é apenas uma atividade rotineira em suas vidas, e que eles

só a percebem como difícil, quando se colocam como alunos, fazendo da escrita

uma atividade apenas escolar.

Ao levar para sala de aula textos com os quais eles têm contado pela internet,

através de uma atividade que lhes dá prazer, os alunos acabam tendo, com o texto

escrito, uma relação de proximidade que o livro didático muitas vezes não permite.

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Essa proximidade faz com que a escrita deixe de ser algo considerado chato para se

tornar uma atividade mais prazerosa.

Outro fator importante é que com a implantação dos laboratórios de

informática nas escolas, atividades que envolvem essa nova linguagem estarão

cada vez mais presente na vida escolar, cabendo a nós, professores, a utilização

dos recursos disponíveis para melhoria no trabalho de ensinar a língua padrão

considerando a variedade empregada pelos alunos no seu dia-a-dia.

Várias medidas administrativas estão sendo desenvolvidas no sentido de

assegurar a presença do computador e da Internet nos estabelecimentos de ensino,

o que sugere a necessidade de interação na comunidade escolar.

O interesse do aluno por esse recurso é muito grande e é necessário projetar

ações que promovam a utilização da Informática na sala de aula como algo que

tende a contribuir no ensino e, eliminar de uma vez por todas, a rejeição cultivada

por muitos profissionais da educação levando à crença de que Internetês não é

linguagem de sala de aula.

O projeto foi desenvolvido obtendo ótimos resultados, principalmente no que

se refere à participação dos alunos, atingindo, assim, todas as expectativas de êxito

projetadas através da utilização do Internetês para o conhecimento e a utilização da

linguagem padrão na escola e na vida dos alunos.

Referências BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. 4ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. HILGERT, José Gaston. A construção do texto ‘falado’ por escrito: a conversação na internet. In: Dino Preti. (org). Fala e escrita em questão. 1 ed. São Paulo: Humanistas - FFLCH/USP, 2000, v. 4, p. 17-55. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: Atividade de retextualização São Paulo: Cortez, 2001. PARANÁ, Diretrizes Curriculares da Educação Básica, 2007.

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