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O impacto do Digital na economia portuguesa

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O impacto do Digital na economia portuguesa

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Boston Consulting Group (BCG) is a global management consulting firm and the world’s leading advisor on business strategy. We partner with clients from the private, public, and not-for-profit sectors in all regions to identify their highest-value opportunities, address their most critical challenges, and transform their enterprises. Our customized approach combines deep insight into the dynamics of companies and markets with close collaboration at all levels of the client organization. This ensures that our clients achieve sustainable competitive advantage, build more capable organizations, and secure lasting results. Founded in 1963, BCG is a private company with offices in more than 90 cities in 50 countries. For more information, please visit bcg.com.

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dezembro 2018 | Boston Consulting Group

O IMPACTO DO DIGITAL NA ECONOMIA PORTUGUESA

MIGUEL ABECASIS

PEDRO PEREIRA

DOMINIC FIELD

EDUARDO BICACRO

COM O APOIO

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SECTION HEADER TWO LINESSUBTITLE TWO LINES

ÍNDICE

06 1. O ECOSSISTEMA DIGITAL É HOJE PREPONDERANTE NA VIDA DOS PORTUGUESES

1.1. A nossa ambição: compreender o impacto e o potencial do Digital em Portugal1.2. O ecossistema digital sustenta múltiplas funcionalidades relevan-tes1.3. Este ecossistema é cada vez mais relevante para os portugueses

09 2. O DIGITAL É JÁ UM IMPORTANTE MOTOR ECONÓMICO EM PORTUGAL, MAS COM GRANDE ESPAÇO PARA CRESCER

2.1. Perímetro económico digital puro e digital enabled2.2. O impacto económico do digital puro e digital enabled2.3. O gap do impacto digital em Portugal

13 3. AS OPORTUNIDADES E O IMPACTO GERADOS PELO DIGITAL SÃO TRANSVERSAIS AOS MAIS IMPORTANTES SETORES ECONÓMICOS

3.1. Diferentes setores a diferentes velocidades3.2. Turismo – decisões cada vez mais tomadas de telemóvel na mão3.3 Retalho – consumidores desafiam as fronteiras entre o online e o offline abrindo oportunidades para abordagens integradas3.4 Banca – um setor pioneiro na desmaterialização dos serviços desa-fiado a criar relação através de canais digitais3.5. Seguros – transformação de toda a cadeia de valor gera novas oportunidades para a experiência de cliente e para a eficiência interna3.6. Telecomunicações – investir na infraestrutura do futuro e explorar novas oportunidades protegendo a relevância no negócio core3.7. Administração Pública – maior eficiência, velocidade e proximidade entre os serviços e os cidadãos3.8. Educação – cânones clássicos desafiados na procura de responder ao desafio da dotação de novas competências3.9. Saúde – mais qualidade de vida e cuidados de saúde mais eficien-tes, suportados por um fluxo contínuo de informação digital3.10. Transportes e Mobilidade – revolução tecnológica da mobilidade como fator crítico para fazer face à pressão sobre as cidades

31 4. PORTUGAL PODE AINDA RECUPERAR O ATRASO E POSICIONAR-SECOMOUMHUB DIGITAL PARA A EUROPA

4.1. O Digital é a primeira revolução tecnológica na qual Portugal tem uma palavra a dizer4.2. Os desafios existentes são relevantes, mas ultrapassáveis4.3. Uma visão para Portugal: o Hub Digital da Europa

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SUBTITLE TWO LINES

FACTOS E NÚMEROS EM DESTAQUE

NÚMEROS E MENSAGENS CHAVE DO IMPACTO DO DIGITAL EM PORTUGAL

Porque o sucesso em Digital depende sobretudo de pessoas com as competências adequadas, de infraestruturas de qualidade e de um ambiente regulatório responsável, Portugal tem hoje perante si a possibilidade de se tornar num Hub Digital para a Europa.

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SUMÁRIO EXECUTIVO

O Digital tem vindo a assumir uma preponderância central na vida das pessoas, sendo já um portal de comunicação entre mais de ¾ dos portugueses e o mundo. Esta relevância traduz-se no tempo que des-pendem online (mais de 1h e 10 min do seu tempo livre diariamente) e também na valorização que fazem do acesso à Internet: quando questionados sobre se abdicariam da Internet por alguma quantia de dinheiro, 45% dos portugueses afirmam que não o fariam por qual-quer montante, e a média do prémio necessário situa-se nos €1.600/ano.

Esta relevância do Digital faz já deste paradigma tecnológico um im-portante motor económico para o país. Estimamos que o impacto do digital puro na economia, em 2017, se tenha aproximado de 4,7% do PIB, ou €9 mil milhões, sendo 20% superior àquilo que era há 4 anos. Este contributo é já superior ao agregado dos setores da Construção (3,5%) ou da Energia, Água e Saneamento (3,3%). Se alargarmos o pe-rímetro à atividade económica que, não sendo totalmente materiali-zada online, resulta da influência e potenciação de canais digitais, esti-mamos que o impacto digital enabled ascenda a aproximadamente €17 mil milhões, ainda que consideremos apenas os setores do Turismo e do Retalho.

Ainda que este impacto económico seja já muito relevante, está ainda mais de 3 p.p. abaixo da média dos países selecionados como referên-cia neste relatório e é quase 3 vezes inferior ao nível atingido pelo Reino Unido. Procurámos então perceber qual o ponto de digitaliza-ção de alguns dos principais setores económicos portugueses, anali-sando as transformações que o Digital já provocou no tecido económi-co, mas também as oportunidades ainda por endereçar:

• Turismo: Um setor que se tem posicionado para estar cada vez mais presente online, onde a maioria dos turistas decide o seu destino de viagem, e que deverá manter a aposta numa estratégia de marketing personalizada;

• Retalho: Embora os portugueses façam cada vez mais componen-tes da sua jornada de compra online, o e-commerce português tem ainda um grande potencial de crescimento que poderá ser explo-rado por players nacionais ou internacionais;

• Banca: A Banca portuguesa mais clássica tem dado importantes passos na digitalização da experiência dos seus clientes, mas tem ainda muito espaço de progressão na concretização de vendas online, e terá de posicionar-se para fazer frente a uma crescente

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variedade de modelos de negócio nativos do Digital que têm transformadoaexperiênciadosserviçosfinanceiros;

• Seguros: O setor encontra no Digital uma forma de construir uma relação de maior envolvimento com os seus clientes, para além de importantessimplificaçõesdomodelooperativo.Umoutrodesafiopassará pela inovação do próprio modelo de negócio, acompa-nhando transformações como as novas formas de mobilidade e a entrada de concorrentes com grande agilidade e excelência na experiência, sustentados pelo Digital;

• Telecomunicações: Tendo um papel determinante na capacitação de todo o ecossistema, os operadores assistem também a uma transformação da experiência de consumo de conteúdos, que é hojemuitomaisdiversificada–urgeporissodesenvolvercompe-tências digitais não só para dar resposta aos cada vez mais exigen-tes padrões de consumo, como também para transformar a experiênciadeclientequecontinuaaserumdesafioparaageneralidade da indústria;

• Administração Pública: Portugal é hoje um exemplo entre os seus pares europeus na disponibilização de serviços online aos seus cidadãos, tendo no entanto ainda um caminho a percorrer no seu níveldeadoçãopelapopulação–seráassimcríticomanterestetipo de aposta pelo papel que tem na sustentabilidade do sistema, acompanhando-a de estratégias que garantam a literacia dos portugueses na sua utilização;

• Educação: As tecnologias digitais, associadas à liberalização do acesso à informação e a novas formas de aprender e ensinar, têm vindo a gerar enormes possibilidades de potenciar a experiência educativa em sala e à distância. O sistema educativo português deverá não só explorar essas oportunidades, mas também posicio-nar-se para poder fazer face ao necessário rebalanceamento do próprio foco educativo em competências digitais chave para o futuro do país;

• Saúde: O impacto do Digital no setor da Saúde é multifacetado e promete provocar uma revolução na capacidade de responder aos problemas de saúde dos utentes, de uma forma financeiramente sustentável num contexto de forte envelhecimento da população portuguesa;

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• Transportes e Mobilidade: O paradigma Digital, em que novos modelos de propriedade, utilização de transportes e autonomia na condução estão a proporcionar mais liberdade de escolhas inter-modais ao utente, promete não só transformar o modelo de negócio dos transportes como também trazer novas soluções ao problema do congestionamento nas cidades;

Ao contrário do que aconteceu em revoluções tecnológicas anteriores, Portugal tem na revolução Digital uma oportunidade de se bater em pé de igualdade pela captura de valor numa economia cada vez mais global. A escala e o tamanho do mercado doméstico deixam hoje de ser fatores inibidores da competitividade, uma vez que é possível com baixos custos servir mercados supranacionais, e em particular o mer-cado europeu onde Portugal goza de liberdade para estabelecer estas trocas comerciais.

Para o conseguir, Portugal deverá continuar a apostar nalgumas di-mensões críticas para estabelecer a sua competitividade digital: a Li-teracia Digital, do ponto de vista da mão-de-obra qualificada e de uma sociedade com um nível de conhecimento que não a exclua dos mercados; o Fomento ao investimento, interno e externo, sustentando empresas com modelos de negócio digitais; a Infraestrutura digital, ao nível do acesso à Internet, mas também da ligação de cada vez mais elementos à rede; a Cibersegurança, condição indispensável à confian-ça de empresas e consumidores na economia digital; um ambiente re-gulatório responsável, que zele pelos direitos dos consumidores sem se tornar inibidor da oportunidade de obter produtos e serviços per-sonalizados que gerem mais valor para as suas vidas.

Acreditamos que Portugal tem de facto algumas características que o tornam num país candidato a estabelecer-se como um importante Hub Digital para a Europa. Através de uma ação altamente concertada entreosdiferentesatoresdaeconomiaportuguesa–instituiçõespú-blicas,empresasoucidadãos–estimamosquePortugalpoderiageraranualmente um crescimento adicional de cerca de 1,5 p.p. do PIB, e gerar um incremento económico de perto de €20 mil milhões em 2025.

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1. O ECOSSISTEMA DIGITAL É HOJE PREPONDERANTE NA VIDA DOS

PORTUGUESES

1.1. A nossa ambição: compreen-der o impacto e o potencial do Digital em PortugalEste relatório tem como objetivo estimar o impacto da economia digital na economia portuguesa, contextualizá-lo com base no im-pacto observado noutros países europeus e explorar alavancas para garantir a concretiza-ção do seu potencial em Portugal. Para tal, iremos começar por explorar o papel do Digi-tal como um pilar económico e quantificar

esse impacto. Posteriormente, analisaremos em maior detalhe alguns dos setores que têm vindo a ser transformados pela evolução do Digital. Iremos também expor o gap que o país apresenta já hoje no desenvolvimento da sua economia digital, e discutiremos a forma como Portugal poderá colocar-se na vanguar-da da primeira revolução tecnológica, onde tem de facto uma palavra a dizer, gerando as-sim maior valor económico e maior qualida-de de vida na sociedade portuguesa.

Transportes e Mobilidade Acesso a formas de mobilidade assentes em novos modelos de interação digital, ou aos canais online dos serviços clássicos de transporte

Retalho Montra universal de produtos, exercendo influência sobre todos os segmentos da jornada de compra, desafiando fronteiras entre os canais online e offline

Turismo, Alojamento e Restauração Acesso a montra digital de opções de alojamento e restauração, por vezes totalmente assentes em modelos de oferta e procura online, sob a influência de recomendações de terceiros

InformaçãoAcesso e pesquisa de conteúdos informativos com múltiplas finalidades, entre as quais a educacional / formativa e oacompanhamento das notícias sobre o dia-a-dia local e global, permitindo a formação de opinião sobre o mundo

Entretenimento Experiência de entretenimento desde o vídeo à música, mas também a espetáculos ou eventos ao vivo

ComunicaçãoComunicação bi ou multidirecional entre indivíduos através de e-mail, redes -sociais, mensagens instantâneas, videoconferência, fóruns, permitindo a partilha de ideias, pontos de vista e experiências

Produtividade Execução de funções de âmbito profissional, facilitando a colaboração e acesso a ferramentas críticas que sustentam a produtividade do trabalho

IdentidadeUtilização de formas de identidade digital, permitindo estabelecer representação individual ou de cidadania

Banca e Seguros Forma de aquisição e acesso a serviços, num setor cada vez mais desmaterializado onde novos modelos totalmente assentes no digital ganham relevância para o consumidor

Produtos e ServiçosAcesso a produtos ou serviços disponibilizados por empresas ou instituições, cobrindo toda a jornada desde o awareness até à prestação de serviço posterior à compra

Fonte: Análise BCG

figura 1 | Digital, um portal entre o indivíduo e o mundo

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1.2. O ecossistema digital sustenta múltiplas funcionalidades rele-vantesO Digital tem vindo a assumir uma preponde-rância central na vida das pessoas, sendo hoje um verdadeiro portal entre o indivíduo e o mundo. Se há 20 anos “digital” era sobretu-do sinónimo de poder computacional e arma-zenamento de informação, a generalização da Internet e dos smartphones veio potenciar o alcance, impacto e disseminação desta tecno-logia, tornando-a omnipresente.

O Digital deve ser entendido, no contexto deste relatório, como um veículo de comuni-cação bidirecional entre indivíduos, entre ins-tituições e indivíduos, ou entre máquinas e indivíduos, assente em tecnologia de informa-ção, e propagado através da Internet. Este pe-rímetro traduz-se hoje numa multitude de realidades para os portugueses, representada na Figura 1.

1.3. Este ecossistema é cada vez mais relevante para os portugue-ses A crescente relevância do Digital para os indi-víduos tem-se refletido no número de portu-gueses com acesso à Internet, estando hoje Portugal em linha com alguns dos seus pares europeus. Cerca de 3 em cada 4 portugueses está online1, com um crescimento superior a 34 p.p. durante a última década. Prevê-se que a proporção de pessoas com acesso deverá continuar a aumentar até 84% em 20202. Para

este crescimento contribuíram a moderniza-ção das redes de dados móveis e a expansão dos smartphones–em2017,74%dostelemó-veis em Portugal eram smartphones3. A quali-dade e a penetração do serviço de Internet são dois pilares críticos do desenvolvimento da economia digital em que Portugal está numa posição de ligeiro atraso face à média da União Europeia, onde a penetração média de Internet era de 87% dos lares em 2017.

45% afirmaram não abdicar da Internet por qualquer valor, e aqueles que aceitaram contrapartida avaliaram a sua ligação à Internet em cerca de €1.600 por ano.

No entanto, os portugueses com acesso à In-ternet despendem em média 22% do seu tem-po livre online, uma percentagem já duas ve-zes superior ao tempo despendido a ver televisão, equivalente a cerca de 1 hora e 10 minutos por dia. Hoje em dia, os portugueses passam 12% do seu tempo livre nas redes so-ciais e a ver filmes e séries online, sendo estas as duas atividades que mais tempo ocupam na utilização de Internet4. Apesar de serem os mais jovens os que passam mais tempo on-line–27%dotempolivreparaosindivíduoscom idades compreendidas entre os 18 e os

França Espanha Portugal Itália União Europeia

Alemanha Reino Unido

77% 81% 83% 86% 87% 93% 94%

Fonte: Eurostat

figura 2 | Penetração de Internet na Europa 2017 (% lares com acesso)

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Fonte: Inquérito; Análise BCG

34anos–,asgeraçõesmaisvelhasestãoare-cuperar o atraso. A penetração de serviços nativos ou potenciados pelo Digital, como as redes sociais e o e-commerce, têm aumentado drasticamente em todas as faixas etárias4. A utilização da Internet transcende a pesquisa de informação, com mais de 60% da popula-ção a utilizar redes sociais e 47% a comprar produtos online4.

Quando questionados sobre até que ponto aceitariam dinheiro em troca de abdicarem da sua ligação pessoal à Internet, os portu-gueses responderam de forma categórica: 45% afirmaram não abdicar da Internet por

qualquer valor, e aqueles que aceitaram con-trapartida avaliaram a sua ligação à Internet em cerca de €1.600 por ano4. Para além disso, se forçados a escolher entre alguns dos seus hábitos mais comuns e a ligação à Internet, a maioria das pessoas revelaram estarem dis-postas a prescindir de açúcar ou bebidas al-coólicas antes de prescindir da Internet, cerca de 40% de chocolate e 32% da televisão4.

5,8%

Ver filme ou série

6,3%

Pesquisar na Internet

Usar redes sociais

Ler um e-book

5,1%

2,3% 0,6%

21,8%

1,7%

Totalonline

Compraronline

Jogaronline

Nota: Baseado na estimativa dos inquiridos relativamente às atividades online que praticam e ao tempo que despendem com cada umaFonte: Inquérito; Análise BCG

figura 3 | Tempo livre despendido por atividade (%)

Bebidas alcoólicas

60%

Chocolate

39%

Televisão

32%

Exercício

26%

figura 4 | Percentagem de pessoas dispostas a abdicar de um bem antes de abdicar da Internet

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2.1. Perímetro económico digital puro e digital enabledO aumento da relevância da Internet para os portugueses está também associado ao cres-cente peso do Digital como motor económico, cujos impactos podem ser vistos de forma maisestrita–odigital puro–oudeformamais alargada, considerando neste último caso as jornadas de cliente que têm uma for-te componente digital, mas que continuam a ter uma dependência de uma fase offline–aque nos referimos como digital enabled.

O perímetro económico digital puro é defini-do neste relatório utilizando a visão do PIB na ótica da despesa, nas suas componentes de consumo privado, investimento das em-presas (privado), despesa do Estado (investi-mento público) e valor líquido da balança co-mercial(exportações–importações);noconsumo privado, incluímos o consumo de e-commerce, a economia colaborativa (i.e., sha-ring economy), os serviços financeiros via ca-nais digitais, e ainda o valor gasto no acesso à Internet, software e hardware; no investimen-to privado e público considerou-se o investi-mento em infraestruturas de acesso à Inter-net/TICs*; no saldo da balança comercial contabilizaram-se exportações líquidas nos domínios de atividade definidos na rúbrica de consumo.

Por sua vez, no perímetro digital enabled in-cluímos as compras de retalho em canais tra-dicionais que foram iniciadas por pesquisas ou visitas a canais online, e as receitas da ati-vidade turística provenientes de turistas que começaram a sua jornada nos canais digitais, aí decidindo sobre o seu destino de férias. Acreditamos que estes dois setores, ainda que não cubram de forma exaustiva todas as jor-nadas de natureza mista online e offline, são de longe os mais relevantes em jornadas des-ta natureza.

2.2. O impacto económico do digital puro e digital enabledEstimamos que o impacto do digital puro na economia, em 2017, se tenha aproximado de 4,7%doPIB–€9milmilhões–sendo20%su-perior àquilo que era há 4 anos. Este contri-buto é já superior ao agregado do setor da Construção (3,5%) ou da Energia, Água e Sa-neamento (3,3%)5, e tem um crescimento esti-mado de 6,4% ao ano até 2020.

O consumo privado é, neste contexto, o prin-cipal motor económico digital, representando cerca de 60% do impacto digital puro. O e-com-merce, que apresenta um crescimento acelera-do nos últimos anos, é a principal componen-te do consumo privado, contribuindo em mais de €2 mil milhões. Também o valor gas-

2. O DIGITAL É JÁ UM IMPORTANTE MOTOR ECONÓMICO EM PORTUGAL, MAS COM GRANDE ESPAÇO PARA CRESCER

Nota: * Tecnologias de Informação e Comunicação, que englobam dispositivos, infraestruturas, software, serviços de IT e serviços de telecomunicações.

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to com o acesso à Internet tem um peso bas-tante relevante, valendo quase 30% do total do consumo privado. Dentro do consumo pri-vado, está ainda incluído o valor gasto em sofware, hardware, em Seguros, na Banca onli-ne e na Economia colaborativa, sendo que esta última, apesar de se encontrar em forte crescimento, apenas representa €470 M, me-nos de 10% do consumo privado em 2017.

O contributo do Digital é já superior ao agregado do setor da Construção (3,5%) ou da Energia, Água e Sa-neamento (3,3%)5, e tem um cresci-mento estimado de 6,4% ao ano até 2020.

Para além do impacto do digital puro, parte do valor criado nos principais setores da eco-nomia é cada vez mais influenciado e poten-ciado pelo Digital, ainda que venha a mate-rializar-se em canais offline–aquiloaquechamamos o impacto digital enabled no PIB. Neste tipo de interação entre digital e o mun-do offline, o mundo online tem um papel mui-tas vezes decisivo no processo de abordagem, comparação de alternativas e decisão de com-pra do cliente. Estimamos que, considerando apenas o setor do Turismo e do Retalho, o impacto do digital enabled ascenda a aproxi-madamente €17 mil milhões.

Iremos explorar em maior detalhe estes im-pactos no próximo capítulo, quando explorar-mos cada setor de forma isolada. Outras in-dústrias, tais como a das Instituições Financeiras ou das Telecomunicações, que têm vindo a verificar uma maior relevância

7.800

Turismo1Retalho alimentar

Roupa e Calçado

RetalhoEletrónica Outros

2.0501.400

3.800

9.000 16.800

550

Impactodigital enabled

Investimento público

Investimento privado

Exportações líquidas

Consumoprivado

Impactodigitaltotal

-1.600 5.400

4.400 800

25.800

Impactodigital

enabled

16.800

Impacto digital puro

9.000

Fonte: Euromonitor; IDC; Gartner; Anacom (Autoridade Nacional de Comunicações); Forrester; Trademap; INE (Instituto Nacional de Estatística); Statista; APS (Associação Portuguesa de Seguradoras); APB (Associação Portuguesa de Bancos); Estatísticas do Banco Central Europeu; Banco de Portugal; Banco de Inglaterra; Turismo de Portugal; TravelBI; Eurostat; Relatório CTT e-commerce; Análise BCG.

1. Exportação de turismoFonte: Euromonitor; Turismo de Portugal; TravelBI; APS; Banco de Portugal; PORDATA; Google Barometer; Relatório CTT e-Commerce 2017; Análise BCG.

Figura 5 | Impacto do Digital no PIB português em 2017 (M€)

Figura 6 | Impacto digital enabled dos setores do Retalho e Turismo no PIB português em 2017 (M€)

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deste tipo de impacto na sua atividade, não foram contabilizadas no contexto deste rela-tório para a determinação do impacto indire-to do digital.

2.3. O gap do impacto digital em Portugal É importante obter uma perspetiva dos números obtidos para o impacto económico emPortugal–afinal,esteimpactoégrandeou pequeno? Até que ponto está o país a conseguir alavancar nesta nova realidade tecnológica como motor de crescimento? A nossa análise sobre o perímetro do digital puro mostra que, apesar de relevante, o seu impacto económico está bastante aquém do observadoparaoutrospaíseseuropeus–o

impacto da economia digital no PIB portu-guês é quase 3 vezes inferior ao nível atingi-do pelos líderes europeus da digitalização em 2017 (Figura 7), e é também o mais reduzido entre os pares selecionados neste relatório*. Portugal está hoje apenas ligeiramente acima da média dos 27 países da União Europeia de há7anos–em2010,segundoumestudodaBCG, a média situava-se nos 4,1% do PIB6. Se Portugal conseguisse atingir o valor médio do universo selecionado de pares (7,9%), isto re-presentaria um incremento superior a €6 mil milhões.

O atraso português na economia digital não parece dever-se à falta de investimento em infraestruturas. Olhando em particular para o valor do consumo privado em e-commerce,

Nota: * Alemanha, Espanha, França, Itália e Reino Unido.

87

Portugal Alemanha

81

31

Itália Espanha

70 71

Reino Unido França

91

44 57

86 82 95

52

-13 -40 -37 -34 -9 -8

Internet e-commerce

Figura 8 | Penetração da Internet e e-commerce 2016 (%)

Fonte: E-Commerce News; E-Commerce Foundation; Análise BCG.

Reino Unido

Portugal França Itália Espanha

6,4Médiade 7,9

Alemanha

5,0 6,7

13,8

4,6

7,4

+3x

Impacto do Digital Puro

(€mM) 9 85 219 170 321 75

Figura 7 | Impacto do digital puro no PIB em 2017 (%)

Fonte: Euromonitor; IDC; Gartner; Anacom; Forrester; Trademap; INE; Statista; AFS;APB; Estatísticas do Banco Central Europeu; Banco de Portugal; Banco de Inglaterra; Turismo de Portugal; TravelBI; Eurosatat; Análise BCG.

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que sabemos já ser uma das principais com-ponentes da economia digital, verifica-se que em 2016 Portugal tinha uma diferença de 40 p.p. entre a penetração da Internet e a pe-netração das compras online, segundo a E-Commerce Foundation. Esta diferença está muito acima da encontrada noutros países (ver Figura 8). Este facto sugere que, embora estejam criadas as condições de acesso para que este mercado gere valor para consumido-res e empresas, o ecossistema de e-commerce, ainda não se materializou. Isto pode ser uma consequência de desinvestimento dos reta-lhistas nacionais neste canal, da ausência de mecanismos de pagamento e entrega efica-zes, ou de alguma iliteracia digital entre os utilizadores de Internet. No próximo capítulo iremos debruçar-nos sobre estes e outros as-petos, procurando estabelecer os progressos e insuficiências do ecossistema digital portu-guês nalguns dos mais relevantes setores da economia.

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3.1. Diferentes setores a diferentes velocidadesA relevância que o Digital assume em cada setor económico depende essencialmente do papel que este assume nessa cadeia de valor: se em alguns casos o seu impacto pode estar restrito a um segmento dessa cadeia (e.g., como um importante veículo de marketing de uma marca), noutros o Digital transforma o próprio modelo de negócio, possibilitando formas inovadoras de servir uma determina-da necessidade ou abrindo novos mercados.

Os Media e a Indústria musical, o Retalho, a Banca, os Seguros e o setor das Telecomuni-cações estão entre as indústrias que têm visto uma maior transformação dos seus modelos de negócio, mas o impacto do Digital tem vin-do a materializar-se noutras indústrias mais tradicionais como a Indústria transformado-ra, os Transportes e Logística, a Agricultura, a Saúde ou mesmo a Energia.

Não tendo por ambição fazer um retrato exaustivo da realidade de cada setor, procura-

3. AS OPORTUNIDADES E O IMPACTO GERADOS PELO DIGITAL SÃO TRANSVERSAIS AOS MAIS IMPORTANTES SETORES ECONÓMICOS

Ocorrência de várias disrupções significativas

Movimentações disruptivas (por players unicamente online) afetaram estas indústrias, mas o resultado final ainda está em evolução

Efeito ainda desconhecido, mudanças disruptivas ainda por observar; estas indústrias são muito semelhantes no seu nível global de digitalização

Impacto da digitalização

Ponto no percurso de digitalização

MEDIAPlayers digitalizados dominam o mercado com lojas e serviços online, como Netflix

RETALHORetalhistas online ganham quota de mercado, especialmente em segmentos como a eletrónica

TELECOMUNICAÇÕESDigital em iniciativas de atendimento ao cliente e investimento em infraestruturas

BANCA E SEGUROS

Digital em iniciativas de atendimento ao cliente (ex.: oferta online/lojas) e melhorias no back-office

BENS DE CONSUMO EMBALADOS

Ainda sem grandes disrupções digitais; maioria das iniciativas na gestão da cadeia de abastecimento e desenvolvimento de produto

SAÚDEDigitalização ainda no começo, com alguns exemplos de front-office e iniciativas focadas em I&D

ENERGIAUtilização de digital extremamente limitada, principalmente em operações internas

AUTOMÓVELOtimização sobretudo na gestão da cadeia de abastecimento e pontos de atendimento ao cliente, como websites

Fonte: Análise BCG.

Figura 9 | Impacto e percursos da digitalização nos vários setores

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remos estabelecer não só os seus contributos para as componentes de digital puro e digital enabled, quando relevante, mas também ilus-trar os aspetos de natureza qualitativa deter-minantes para se compreender a extensão dos desafios e oportunidades desencadeados pela tecnologia digital.

3.2. Turismo – decisões cada vez mais tomadas de telemóvel na mãoO setor do Turismo, Alojamento e Restaura-ção tem vindo a ganhar preponderância na economia portuguesa, e em particular na sua balança de pagamentos. Em 2017, o peso do setor nas exportações portuguesas foi de 18%7, o que o torna o segundo maior setor ex-portador português, apenas atrás da indústria de capital intensivo8. Esta evolução foi acom-panhada do crescente peso que a jornada de cliente digital tem ao longo de toda a cadeia de valor, desde o momento do “sonho” e pla-neamento através da pesquisa online até à partilha de experiências nas redes sociais.

Uma das grandes transformações deste setor está a ter lugar no início da jornada: os con-sumidores a nível global baseiam cada vez mais a sua escolha de destino turístico em momentos da sua jornada online. Cerca de 35% das pessoas diz inspirar-se no conteúdo publicado online por viajantes para planear os seus destinos de férias9. Portugal, sendo cada vez mais um destino turístico procurado a nível global, está logicamente exposto a esta realidade. De facto, um relatório do Tu-rismo de Portugal apurou que 61% dos turis-tas que visitam o Algarve* declara ter inicia-

do a sua “viagem” em frente ao ecrã do seu computador ou do telemóvel. Se assumirmos que esta percentagem é representativa do que acontece no resto do país, então concluí-mos que a componente turística digital ena bled pesa cerca de 9 mil milhões de euros na balança de pagamentos anualmente10.

Compreendendo este fenómeno, o Turismo de Portugal encetou uma estratégia de marketing digital que é hoje um reconhecido caso de sucesso. Em 2014, passou a aplicar todo o seu investimento em marketing no estrangeiro neste canal.

Compreendendo este fenómeno, o Turismo de Portugal encetou uma estratégia de

marketing digital que é hoje um reconhecido caso de sucesso. Em 2014, passou a aplicar todo o seu investimento em marketing no es-trangeiro neste canal: os cartazes nos metros ou aeroportos das capitais europeias foram totalmente substituídos por uma comunica-ção digital assente na capacidade de persona-lizaçãodamensagemparaalvosespecíficosecom maior relevância quando comparados com a audiência tradicionalmente alcançada. As apostas em segmentos particulares como o surf ou determinados grupos etários de al-guns países europeus colheu um reconhecido

PARTILHASONHO PLANO RESERVA VIAGEM EXPERIÊNCIA

Figura 10 | Jornada típica de turismo

Fonte: Análise BCG.

Nota: * O Algarve, em 2017, representou 24% dos hóspedes em Portugal e 36% das dormidas.

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16 | O impacto do Digital na economia portuguesa

sucesso em colocar Portugal entre os destinos com maior notoriedade junto de turistas eu-ropeus. O Turismo de Portugal procura agora levar ainda mais longe a sua ação promocio-nal, passando de um objetivo de awareness mais global para targets táticos como a dimi-nuição da sazonalidade turística. Este tipo de objetivo é conseguido, por exemplo, através de conteúdos que reforçam a qualidade do clima português durante o inverno.

No entanto, o impacto do Digital no processo de escolha não se limita à escolha do destino turístico. Também na escolha de alojamento e restauração os hábitos dos consumidores es-tão em mudança, favorecendo informação disponível online, complementada por reco-mendação de terceiros e agregada em plata-formas que centralizam e facilitam a compa-ração da oferta disponível. Cerca de 40% das pessoas assume basear-se no rating e reco-mendações15 no momento da sua reserva de alojamento, o que evidencia que cada vez mais o julgamento de especialistas indivi-duais é substituído por este tipo de informa-ção proveniente de pares (peer reviews). A pe-netração de plataformas como o TripAdvisor, TheForkouZomatoéumreflexodestefenó-meno–estaúltimacontava,em2016,com600 mil utilizadores ativos por mês em Lis-boa, sendo Portugal o segundo país com

maior taxa de penetração11.

Para além da fase de descoberta e escolha, o Digital tem vindo a transformar este setor também ao nível do próprio modelo de negó-cio: no alojamento, com as plataformas de alojamento peer-to-peer, e na restauração atra-vés da disrupção da experiência de entrega em casa que, ainda que recente, parece estar a encontrar um mercado ávido por este tipo de soluções.

Na fase de procura ou reserva de serviços, plataformas como o Airbnb e Booking.com são hoje responsáveis por cerca de 61% do agendamento de reservas de hotelaria12. O Airbnb veio transformar o modelo de negócio do setor, uma vez que permitiu um aumento significativo no número de camas disponíveis em várias cidades a um preço mais reduzido, expandindo a oferta disponível através da rentabilização de espaços que até então não eram utilizados para esse fim e justificando mesmo o racional económico para a recupe-ração de parte do património imobiliário das cidades. Estimamos que o valor de alojamen-to local através destas plataformas seja cerca de €280 M em 2017.

No setor da Restauração, tirando partido de experiências digitais de qualidade, vários ne-

Manter-se atualizado com as novidades das marcas

Descarregar a aplicação da marca ou do retalhista

Ganhar inspiração

Procurar informação, descontos e cupões na loja

Comparar preço fora da loja

Verificar disponibilidade do produto antes de ir à loja

Procurar descontos e cupões fora da loja

Procurar lojas perto de si

Comprar online paraentrega em casa

Comprar onlinepara levantar na loja

Comentar marcas, produtos e serviços

Fazer uma reclamação ou resolver um conflito

Procurar informações sobre marcas, produtos e serviços fora da loja

34%

32%

44%

50%

37%35%14% 29%

29%

% de pessoas que utiliza a Internet para realizar atividades de forma regular

Envolvimentocom marcas Escolha Decisão

de compraEntrega epós-venda

43%

17%

11%

16%

Fonte: Survey; Análise BCG.

Figura 11 | Cada vez mais os portugueses integram a Internet na sua jornada de compra

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gócios de transporte de comida à casa do consumidor têm despontado em Portugal. Es-tes negócios permitem aos restaurantes atin-gir um novo público e rentabilizar melhor toda a sua cadeia logística, sem necessidade de expandir o seu espaço físico. Estima-se que o valor deste mercado seja já de perto de €50 M e que cresça 19% por ano até 202013, o que traduz impacto digital puro.

3.3. Retalho – consumidores desafiam as fronteiras entre o online e o offline abrindo oportu-nidades para abordagens integra-das O canal digital disponibiliza aos consumido-res e empresas novas possibilidades de encontro, mais personalizado e com maior simplicidade. Valorizando essa experiência, os portugueses têm vindo a despender uma maior porção do seu processo de compra online. Hoje, por exemplo, uma em cada duas pessoas com acesso à Internet em Portugal declara utilizar frequentemente a Internet para comparar preços entre produtos4.

Estaalteraçãocomportamentalreflete-senocrescimento do e-commerce, estimado em 14% ao ano entre 2013 e 2017, ascendendo aos €2 mil milhões em 201714. Entre as principais categorias compradas online estão os setores da Alimentação e Bebidas, de Aparelhos Ele-

trónicos e do Vestuário e Calçado, categorias que representam quase 50% do valor de e-commerce em Portugal14. Ainda assim, a fre-quência com que os portugueses realizam compras online é, em média, ainda muito bai-xa–écomparável,porexemplo,àfrequênciacom que procuram bens imobiliários e muito inferior à frequência da utilização de home-banking, que utilizam já numa base semanal4.

Esta reduzida frequência explica a posição re-lativa do e-commerce português face aos seus pares europeus: como explorámos na secção 2.3., Portugal apresenta um gap entre a pene-tração de Internet e a do e-commerce muito superior ao observado noutros países15. Este

Notícias

Jogar

E-mail

Guardar informação Encontrar direções

Pesquisa de informação

Redes Sociais Comunicação Homebanking

Ver música/ filmes/séries

Usar serviços de streaming pagos

Serviços de carreira

Reservas Pesquisa de imóveis Comprar ou vender bens usados

Conhecer pessoas Cursos educativos

Nunca Semestralmente Semanalmente Diariamente

Os portugueses compram em média 2-3 vezes por ano

FREQUÊNCIA DE ATIVIDADE REPORTADA

Mensalmente

Compras online

Fonte: Inquérito, Analise BCG

Figura 12 | A frequência de compras online ainda é relativamente baixa; sendo tão frequente quanto a pesquisa de imóveis

Marca 2015 2016 2017

Continente 8% 9% 8%

Worten 5% 5% 7%

eBay 3% 3% 3%

Jumbo 3% 3% 3%

Fnac 2% 2% 2%

Apple 3% 2% 2%

Intermarché 1% 2% 2%

Amazon 2% 2% 2%

La Redoute 2% 2% 2%

Show Room Prive 2% 2% 2%

Operações em Portugal para além de distribuição last mile

Fonte: Euromonitor; Análise BCG.

Figura 13 | 10 Marcas com maior quota de mer-cado online (%)

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18 | O impacto do Digital na economia portuguesa

gap mostra que as empresas portuguesas ain-da não foram capazes de gerar um ecossiste-ma e uma experiência que leve os consumi-dores a realizarem as suas compras online comoacontecenoutrospaíses–defacto,opeso das importações é de 36% no e-commerce em Portugal, comparado com uma média de 15% nos seus pares16. Um exemplo deste com-portamento é o facto de que entre as 10 mar-cas com maior quota de mercado em vendas online apenas 5 têm operações em Portugal para além da distribuição de last mile14. Ten-do em conta a elevada penetração da Inter-net e a mudança dos hábitos dos internautas portugueses, existe de facto uma oportunida-de significativa para gerar valor neste espaço e atrair uma fatia do crescimento de e-com-merce–umpesodoe-commerce no total das receitas de retalho equivalente à média dos seus pares implicaria um crescimento no va-lor de e-commerce de 220% em Portugal.

Esta oportunidade, se não for aproveitada pelos retalhistas portugueses mais clássicos, criará certamente o espaço para a entrada de outros players.

Esta oportunidade, se não for aproveitada pe-los retalhistas portugueses mais clássicos, criará certamente o espaço para a entrada de outros players. Retalhistas nativos do canal online, com estratégias que vão do preço bai-xo e conveniência à profundidade da catego-ria, e o crescimento dos modelos de venda di-reta ao consumidor fazendo bypass aos retalhistas físicos irão certamente ocupar esse espaço. Hoje, começam a surgir alguns exem-plos de grupos portugueses a explorar esta oportunidade, através de marcas existentes ou novas marcas. Dois exemplos são o Dott, um marketplace lançado numa parceria entre a Sonae e os CTT, que pretende reunir mais de 1 milhão de produtos e 17 categorias, apostando na conveniência na entrega, com mais de 1.500 pontos de recolha; e o market- place da Worten, uma plataforma de e-com-merce que pretende expandir a marca para novas dimensões do retalho, como a decora-

ção ou o vestuário.

Ainda que a jornada online dos portugueses muitas vezes não inclua o momento da com-pra do produto, ela já assume uma preponde-rância inquestionável na geração de aware-ness e no processo de decisão, adquirindo assim uma grande relevância na conversão de vendas nos canais offline. Estimamos que aproximadamente 15% do total de vendas no retalho siga de alguma forma um comporta-mento ROPO (Research Online Purchase Offli-ne), resultando num valor de €7,8 mil mi-lhões, cerca do dobro do valor do e-commerce.

Os retalhistas são assim desafiados a acompanhar jornadas de compra que não são puramente digitais ou offline, mas sim marcadas por uma alternância entre estes dois mundos muitas vezes descoordenados na estratégia comercial.

Os retalhistas são assim desafiados a acompa-nhar jornadas de compra que não são pura-mente digitais ou offline, mas sim marcadas por uma alternância entre estes dois mundos muitas vezes descoordenadas na estratégia comercial. Garantir a unificação destas expe-riências implica a mudança de um paradigma assente em estratégias multicanal, em que as estratégias para os diferentes canais online e offline são definidas independentemente, paraaomnicanalidade–emqueainteraçãoentre os diferentes canais é controlada e utili-zada para a conversão de vendas encarada numa perspetiva da empresa (ou do consumi-dor) e não do canal.

A capacidade de interagir com o consumidor em múltiplos canais de forma integrada abre também a possibilidade de gerar mais conhe-cimento acerca do cliente e assim estabelecer uma relação de maior profundidade. Os reta-lhistas clássicos podem tirar partido dessa re-lação mais multifacetada e multi-momento para gerar uma vantagem competitiva que modelos puros online não conseguem replicar

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–masparaissoterãodeconstruirumcanaldigital complementar e eficiente. Assim, será crítico conjugar fatores como a variedade e profundidade dos stocks, o apoio ao cliente de qualidade, preços competitivos, e experiência de procura, compra e entrega dos produtos de excelência.

3.4. Banca – um setor pioneiro na desmaterialização dos serviços desafiado a criar relação através de canais digitais Os players do setor bancário construíram historicamente a sua vantagem competitiva em Portugal através da construção progressi-va de uma marca de confiança e do aumento da capilaridade da sua rede comercial, quer pela sua rede de agências, quer pela rede de “caixas” Multibanco, que serviam os clientes com elevada proximidade. No entanto, a crise financeira que atingiu o setor na última década e a evolução das potencialidades dos canais online têm vindo a pôr em causa qualquer um destes drivers de vantagem competitiva. A pressão sobre os balanços e resultados da banca, bem como a evolução das expectativas dos consumidores quanto à experiênciadeutilizaçãodosserviços–in-fluenciados por novos players puros digitais financeirosenãofinanceiros–exigehojeodesenvolvimento de estratégias de interação com o cliente mais personalizadas e simples e, sobretudo, com um menor custo. Os canais e modelos de negócio digitais são por isso hoje uma grande oportunidade para o setor.

Na verdade, a experiência de utilização de serviços financeiros foi a primeira a ser desmaterializada em Portugal. O surgimento das “caixas” de Multibanco começou um movimento de substituição do canal baseado em agências, que depois encontrou novo fôlego com o aparecimento de soluções de homebanking online. Ainda assim, Portugal está aquém da média dos países da União Europeia neste último campo, que têm em média uma penetração de 51%, cerca de 20 p.p.maiorqueemPortugal17.Noentanto,aevolução da experiência online oferecida pela banca tradicional não foi capaz de acompa-nhar as expectativas de uma parte relevante dos consumidores, o que levou ao surgimento de concorrentes no mercado português cujo

modelo operativo é quase totalmente digital. Estes novos modelos focaram-se em segmen-tos específicos de elevado valor como o da banca privada, como é o caso do Banco Invest, ou nos segmentos mais jovens e com maior apetência pelo Digital, como é exem-plo o Activo Bank, que em 2017 contava com mais de 160 mil clientes e uma margem financeira superior a €20 M. Globalmente, estimamos que as receitas bancárias geradas online nos bancos portugueses represente aproximadamente €465 M, sendo expectável que este valor continue a aumentar. Este impacto representa 0,24% do PIB, e 5,1% do impacto do digital puro como um todo. No entanto, este valor é ainda baixo quando comparado com alguns dos pares europeus –entreogrupodepaíseseleitocomoreferên-cia, a média do peso no PIB é de 0,44%.

Globalmente, estimamos que as receitas bancárias geradas online nos bancos portugueses representem aproximadamente €465 M, sendo expectável que este valor continue a aumentar. Este impacto representa 0,24% do PIB, e 5,1% do impacto do digital puro.

A banca portuguesa assiste atualmente também ao progressivo aparecimento de fintechs e NeoBanks, nativos do digital. Estes players endereçam as expectativas de expe-riência dos consumidores e posicionam-se também para tirar partido das oportunidades geradas por alterações regulatórias como o PSD2 (Payment Services Directive). A título de exemplo:

• O Revolut, que oferece aos consumidores a possibilidade de abrirem uma conta totalmente online em poucos minutos, aposta numa proposta de valor para o consumidor com necessidades de paga-mentos em várias moedas, com taxas de câmbio competitivas, integração de seguros de viagem e uma experiência de utilização e serviço digitais de excelência.

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20 | O impacto do Digital na economia portuguesa

Em 2018, o Revolut conta já com cerca de 70 mil clientes em Portugal, número este, 4,6 vezes superior ao do ano anterior;

• O próprio MB Way, lançado pela SIBS, demonstra a apetência cada vez maior por experiências digitais de qualidade que facilitem a experiência de pagamentos e transferências–estaaplicaçãomobile conta já com mais de 900 mil utilizadores e com uma média de 2 milhões de operações mensais18.

• A Easypay é uma fintech portuguesa que está a explorar as oportunidades criadas pelo Digital, permitindo às empresas receberem pagamentos centralizados a partir de cartões de crédito, MB Way, Multibanco e débito direto, numa só plataforma, contando com mais de 6 mil clientes empresariais.

• A Raize é outro exemplo de uma fintech portuguesa, que constrói uma bolsa de empréstimos financiando empresas através de capital de privados, conseguin-do assim satisfazer as necessidades quer dos investidores que procuram bons retornos assentes em processos menos burocráticos, quer das empresas que procuram alternativas atrativas de financiamento. Isto é possível graças à alteração radical da estrutura de custos operativos e de transação, possibilitada por modelos assentes no Digital.

As instituições financeiras portuguesas estão assim perante a oportunidade de intensificar a sua transformação digital, não só de forma a conseguirem reequilibrar o seu modelo operativo e de distribuição, como para se poderem posicionar num novo ambiente concorrencial.

As instituições financeiras portuguesas estão assim perante a oportunidade de intensificar

a sua transformação digital, não só de forma a conseguirem reequilibrar o seu modelo ope-rativo e de distribuição, como para se pode-rem posicionar num novo ambiente concor-rencial. A velocidade necessária nessa transformação, neste como noutros setores, faz com que seja muito relevante recorrer a parcerias. A eBankit é uma fintech portuguesa especializada na análise de dados avançada que desenvolve, em parceria com a banca tra-dicional, plataformas digitais omnicanal as-sentes num profundo conhecimento indivi-dualizado dos clientes. A Feedzai, fundada em 2008, é outro exemplo de uma fintech por-tuguesa que criou uma plataforma que utiliza inteligência artificial e Big Data para gerir o risco associado aos pagamentos e transferên-cias em todos os canais de um banco. Conta hoje com clientes também em Hong Kong, Londres, Nova Iorque e Silicon Valey. De fac-to, o futuro da banca passa por um paradig-ma competitivo em que os players tradicio-nais interagem com os players digital native para acelerar o desenvolvimento constante de competências e modelos de negócio digi-tais complementares.

Deste modo, num contexto em que os clientes bancários têm hoje a ambição de ter uma ex-periência junto do seu banco similar àquela que lhes é proporcionada pelos nativos digi-tais–emqualquerlado,aqualquermomen-to, à distância de um click e entregue de for-ma simples, intuitiva e customizada às suas necessidades–eondeaaberturadosetor,es-timulada pela nova diretiva PSD2, deverá via-bilizar o surgimento de novas propostas de valor, gerando riscos importantes de desinter-mediação, mas também oportunidades rele-vantes de parceria e cooperação, o futuro dos bancos está nas suas próprias mãos.

Este novo contexto de mercado exigirá aos bancos a definição de uma visão mais disrup-tiva para a transformação do seu modelo de negócio, assegurando a combinação de solu-ções digitais para a rapidez e conveniência com o toque “humano” para os momentos da verdade. Para além disto, o setor deverá pro-curar a incorporação de tecnologia e analítica nos processos para assegurar um serviço ho-mogéneo e personalizado em qualquer canal a um custo eficiente e a criação de novas pro-postas de valor, que sirvam o cliente para lá

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das suas necessidades bancárias, tornando-se assim mais relevantes no quotidiano dos seus clientes.

3.5. Seguros – transformação de toda a cadeia de valor gera novas oportunidades para a experiência de cliente e para a eficiência interna O setor dos Seguros foi historicamente mais lento a aderir à vaga de digitalização do que o setor da Banca. Ainda assim, o modelo de canais diretos apontava já para a oportunida-de de propostas de valor mais lean dirigidas a segmentos mais sensíveis ao preço. Hoje, as potencialidades que o Digital abre vão muito para lá da capacidade de simplificar a cadeia operacional da venda dos seguros, tornando--o num tema central na agenda das segurado-ras portuguesas. A mudança provocada pelo Digital nos seguros é evidente em domínios como a capacidade de desenvolver modelos assentes em Big Data capazes de avaliar o risco de uma forma individualizada, a simplificação e digitalização de toda a cadeia de valor de gestão de sinistros, a transforma-ção da experiência de cliente proporcionada a segmentos propensos ao Digital, ou o próprio aparecimento de concorrentes não tradicionais (nativos do Digital) que transfor-mam os modelos de negócio e elevam ainda mais a fasquia das experiências.

Alguns exemplos em Portugal mostram que o impacto da análise de dados em larga escala, possibilitada por novas formas de recolha de informação de cliente está a começar a mu-dar o setor. Exemplo deste movimento é a te-lemática, uma tecnologia que permite estabe-lecer com muito maior exatidão qual o risco associado a cada condutor por via da análise agregada dos seus hábitos de condução (velo-cidade média, número de horas em condução, agressividade da condução, etc.). Vários segu-radores a atuar em território nacional já es-tão a estabelecer parcerias ou mesmo a ad-quirir empresas com competências neste domínio, pois este tipo de conhecimento indi-vidualizado sobre o risco de cada condutor pode vir a materializar-se como uma vanta-gem competitiva crítica para garantir a sus-tentabilidade de todo o ramo automóvel.

No entanto, a maior manifestação do impacto do Digital nas seguradoras acontece hoje ao nível da experiência proporcionada na utili-zação de canais digitais para as interações mais comuns, desde a venda de produtos até ao acompanhamento de sinistros, facilitando a jornada do cliente e simplificando os pro-cessos internos que a suportam. Por exemplo, a Associação Portuguesa de Seguradores lan-çou no final de 2016 o e-Segurnet, uma apli-cação que visa substituir a tradicional Decla-ração Amigável de Acidente Automóvel. Com a aplicação é agora possível a localização de um sinistro através de geolocalização, anexar fotografias do acidente e enviar por e-mail para que os intervenientes possam validar e assinar os dados preenchidos. A aplicação cria um ecossistema em que as seguradoras incluem QR Codes nas cartas dos seguros que permitem o preenchimento automático dos dados do veículo e do seguro. Outro exemplo da inovação ao nível da experiência é a apli-cação MyFidelidade, lançada pela Fidelidade, que permite aos seus clientes aceder 24h por dia ao estado dos seus processos, requisitar assistência em tempo real em caso de aciden-te e ainda receber alertas de pagamento.

Ainda que uma parte relevante da jornada de cliente esteja a ser transferida para canais di-gitais, o nível de geração de negócio a partir deste canal é ainda residual em Portugal. De facto, segundo a Associação Portuguesas de Seguradores, o total de prémios ativos gera-dos a partir de canais online era apenas ligei-ramente inferior a €25 M em 2017. Apesar de representar um aumento de 23% em relação a 2016, este valor representa apenas 0,2% dos prémios totais. No entanto, estimamos que as vendas ROPO ascendam a cerca de €160 M em 2017, ou 1,3% do total dos prémios. Estes seguros são subscritos por clientes que com-pararam opções online e efetuaram simula-ções, tendo depois fechado a venda através de um canal convencional.

Quando se considera a maturidade digital do setor segurador no contexto português, esta até é superior à média global das empresas dopaís–umrelatóriode2016doIDCcoloca-va o setor à frente da média em todas as di-mensões analisadas. No entanto, o setor está atrás do seu benchmark europeu ou america-no no seu processo de transformação digital

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22 | O impacto do Digital na economia portuguesa

–28%dasorganizaçõesemPortugalforamentão consideradas como resistentes às trans-formações digitais, vs. 14% nos EUA e 20% na Europa19. Se até agora há um custo de oportunidade que o setor não tem captado, a entrada de novos players digital native no mercado, que começam a oferecer seguros com uma expe-riência de subscrição e serviço totalmente di-gitais, torna mais premente uma resposta à altura por parte dos seguradores incumben-tes. Para além disso, os ativos que podem ser segurados estão em mudança, e os modelos de propriedade sobre bens como o automóvel estão a ser profundamente alterados. O setor segurador em Portugal deverá assim conti-nuar o seu caminho rumo a uma maior ado-ção do Digital. 3.6. Telecomunicações – investir na infraestrutura do futuro e ex-plorar novas oportunidades prote-gendo a relevância no negócio core O setor das Telecomunicações vive hoje uma situação singular, por ser um potenciador crí-tico da relevância e universalidade da tecno-logia digital ao mesmo tempo que é também fortemente impactado por diversas transfor-mações que esta nova era tecnológica provo-ca. Se por um lado providencia a infraestrutu-ra necessária à transmissão crescente de dados que suporta as atividades digitais, vê-se também face ao desafio de continuar a ser re-levante para os seus clientes na gestão do acesso a entretenimento e comunicações no lar e no telemóvel.

O consumo de dados em Portugal tem vindo a crescer de forma exponencial ao longo dos últimos anos, acompanhando novos hábitos de consumo de conteúdos em casa e no tele-fone: o tráfego de dados fixos era, no final de 2017, 4,3 vezes superior ao verificado em 2011, e os dados móveis registavam um cres-cimento de 5,6 vezes no mesmo período (Fi-gura 14). Este crescimento foi sustentando por um investimento continuado na moderni-zação da infraestrutura do setor. Só em 2017, estimamos que os operadores portugueses te-nham investido mais de €280 M nas suas re-des móvel e fixa. Ao longo dos anos, este in-vestimento colocou Portugal entre as melhores práticas europeias no acesso a In-ternet fixa de alta velocidade com base em redes de próxima geração: é o 6º país entre os EU-28 (Figura 15).

O aumento da transmissão de dados é poten-ciado não só pelo aumento do tempo despen-dido online, mas também pelo aparecimento de modelos de negócio OTT (over-the-top) que revolucionam a experiência de consumo de entretenimento (como o Netflix) e de comuni-cação (como o WhatsApp, Skype ou Hang- outs). A entrada destes modelos estabelece uma nova referência na valorização da expe-riência e qualidade dos serviços suportados pela Internet, um movimento que as Telco tradicionais estão a tentar acompanhar.

Como resultado do investimento sustentado que o setor tem realizado, a par da substitui-ção de alguns dos serviços geradores de recei-ta e do ambiente competitivo que se tem vivi-do no mercado, os resultados do setor têm estado sob pressão. Se se juntar a estes fato-

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Fixo Móvel

Fonte: ANACOM.

Figura 14 | Evolução relativa do tráfego de dados em Portugal 2011-17 (2011T4 = 1)

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res a crescente preferência dos consumidores por interações digitais, resulta evidente a ne-cessidade dos operadores desencadearem uma transformação digital do modelo opera-tivo, procurando simultaneamente a descida dos custos operacionais e a melhoria da expe-riência de cliente. De facto, o nível da expe-riência proporcionada é cada vez mais um fa-tor crítico na diferenciação neste setor. Para sustentar esta transformação e outras necessi-dades operacionais, estima-se que o setor das Telecomunicações tenha investido cerca de €430 M em TICs ao longo de 2017.

No entanto, a revolução digital apresenta vá-rias oportunidades relevantes para os opera-dores de telecomunicações. Para as poder ex-plorar, o setor pode tirar partido de algumas características que lhe conferem uma posição privilegiada: a sua relação de longo prazo com os clientes, as infraestruturas de rede própria fiáveis, e o acesso a uma grande quantidade de informação sobre a experiên-cia de utilização dos seus clientes.

Um exemplo destas oportunidades no seg-mento B2B é o mercado de serviços de TIC, que tem vindo a ser cada vez mais explorado pelos operadores. Partindo do fornecimento de serviços de comunicação puros, os opera-dores estão a explorar oportunidades de ne-gócio nas camadas tecnológicas de maior va-lor acrescentado como a gestão integrada dos sistemas de infraestrutura, comunicação e se-gurança, ou as soluções de IoT (Internet of Things) ou M2M (machine-to-machine).

Também no segmento B2C cada vez mais os operadores procuram expandir a sua relevân-cia em casa gerindo outro tipo de serviços de forma integrada, como a segurança e os apa-relhos eletrodomésticos, ou criando novas for-mas de acesso a entretenimento que replicam a experiência proporcionada pelos grandes players digitais. O NPlay, oferecido pela NOS, é um exemplo de um serviço de vídeo on-de-mand por subscrição (SVOD) que é hoje con-corrente de serviços de players internacionais.

Adicionalmente, os operadores de telecomu-nicações têm também perante si a oportuni-dade de capitalizar na quantidade gigantesca de informação que recebem dos seus clientes a todo o momento. Por este motivo, e pela importância de cada vez mais desenvolver propostas de valor assentes na personaliza-ção, devem transformar-se em organizações data-driven, possibilitando que, respeitando o quadro regulatório do acesso e utilização de dados pessoais, se tornem numa peça chave na entrega de experiências mais ricas e adap-tadas às necessidades de cada um.

3.7. Administração Pública – maior eficiência, velocidade e pro-ximidade entre os serviços e os cidadãos À semelhança do que acontece noutro tipo de organizações privadas, a adoção da tecnolo-gia digital pelos órgãos da Administração Pública é um potenciador de um serviço de maior qualidade e simultaneamente uma chave para retirar pressão dos serviços

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Fonte: Broadband Coverage in Europe 2017, um estudo pela HIS Market e Point Topic para a Comissão Europeia.

Figura 15 | Cobertura de NGA por país em 2017 (%)

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através da utilização mais eficiente dos recursos estatais. Estando os portugueses cada vez mais a adotar hábitos digitais e a ser influenciados por experiências de enorme simplicidade de gestão da sua relação com os seus fornecedores de serviços privados, é natural que esperem o mesmo tipo de experiência quando interagem com os serviços administrativos do Estado. Para além de satisfazer esta expectativa, essa transfor-mação digital dos serviços públicos tem também externalidades muito positivas para os cidadãos e economia, por minimizar o tempo despendido em processos burocráticos e acelerar o funcionamento de instituições críticas para o bom funcionamento da sociedade e da economia.

Compreendendo esta dinâmica, Portugal tem vindo a investir na modernização dos seus serviços administrativos, em diversas áreas. Programas como o Simplex e a criação da AMA*, em 2007, promoveram com sucesso uma importante modernização administrati-va em Portugal, atuando em três eixos: o atendimento ao cidadão, a simplificação dos processos e a transformação digital. Em 2017, como parte deste esforço, o Governo portu-guês investiu cerca de €800 M em TICs, valor que deverá ascender a perto de €1.000 M em 202020. Este valor representa 0,42% do valor do PIB em 2017, sendo comparável ao valor investido por França (0,47%), Espanha (0,44%), Alemanha (0,41%) e Itália (0,37%).

A penetração do Digital na Administração Pública é facilmente visível: hoje é possível para qualquer cidadão proceder à sua identi-

ficação eletrónica a partir do seu telemóvel, desmaterializando um cartão de cidadão que até já era eletrónico; o Portal das Finanças torna a submissão de declarações fiscais e ou-tros serviços totalmente digitais; a Loja do Ci-dadão–tradicionalmentecomlongasfilasdeespera–migroupartedosseusserviçosparaum portal online e para uma aplicação acessí-vel pelo smartphone; e até a própria Seguran-ça Social disponibiliza a maioria dos seus ser-viços online. Para além dos efeitos visíveis para os cidadãos, Portugal tem também feito progressos ao nível da integração interminis-terial, através da Plataforma de Interoperabi-lidade da Administração Pública, que irá per-mitir o cruzamento de informações em diversos “verticais” públicos, desbloqueando informação relevante ao dia-a-dia dos cida-dãos.

Também as empresas beneficiaram do desen-volvimento digital dos serviços públicos de atendimento. O Espaço Empresa, iniciativa desenvolvida pelo IAPMEI** em parceria com a AMA e o AICEP*** inclui a criação de uma rede de pontos de atendimento às em-presas, que combina o atendimento através dos vários canais: o presencial, o online e o te-lefónico.

A penetração do Digital também é visível nas compras realizadas pelo Estado. Hoje em dia todos os concursos públicos e ajustes diretos são realizados através de uma plataforma. As-sim, o Estado está não só a promover a ado-ção de transformações digitais por parte dos seus fornecedores, mas também a tornar es-

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Fonte: Digital Economy and Society Index Report 2018, Comissão Europeia.

Figura 16 | Proporção de serviços administrativos disponíveis online nos países europeus em 2017 (%)

Nota: * Agência para a Modernização Administrativa.; ** Agência para a Competitividade e Inovação.; *** Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal.

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tas contratações mais eficientes e transparen-tes.

Um outro exemplo paradigmático da maturi-dade do Digital no contexto da Administração Pública é o Orçamento Participativo, uma ini-ciativa inovadora na forma como permite aos cidadãos apresentarem propostas sobre como alocar €5 M do Orçamento de Estado. Portu-gal foi o primeiro país a levar o conceito de um Orçamento Participativo a nível nacional, feitoreconhecidopeloPrémioGovCX2018–um prémio a nível internacional que preten-de reconhecer e celebrar iniciativas públicas de investimento na experiência digital nas suas interações com os cidadãos21. Além dis-so, existem também várias freguesias, como a Junta de Freguesia de Arroios ou a Junta de Freguesia do Lumiar, a disponibilizar parte do seu orçamento anual na forma de orça-mentos participativos.

Os benefícios de uma aposta na digitalização dos serviços públicos foram reconhecidos na Estratégia TIC 2020doGovernoportuguês22, que faz parte do programa Simplex, e que es-tima que os investimentos realizados durante o quadriénio 2017-2020 tenham retornos po-sitivos a partir do segundo ano do programa. Ao abrigo deste programa, o Governo portu-guês planeia investir cerca de €480 M até 2020 na transformação digital, da qual deve-rão resultar benefícios totais líquidos acima de €1.340 M, provenientes da redução de cus-tos assim conseguida, dos aumentos de efi-ciência para os cidadãos e empresas através da redução de tempos de espera, e do núme-ro de deslocações e do tempo de execução dos serviços. Numa outra iniciativa, foi recen-temente criado o TicAPP, um Centro de Com-petências Digitais para dotar a Administração Pública de mais perfis especializados em TIC. Este reforço deverá acontecer por atração e capacitação de novos perfis internos do Esta-do, assim como por um maior apoio à adjudi-cação de contratos a empresas externas espe-cializadas para a implementação de projetos de modernização da Administração Pública23.

Como resultado destes esforços, Portugal ocu-pa hoje uma posição bastante favorável no contexto europeu na que toca à competência digital das suas instituições públicas. Segundo aComissãoEuropeia24, em 2017, Portugal era

o 4º país que mais serviços disponibilizava on-line aos seus cidadãos.

Como resultado destes esforços, Portugal ocupa hoje uma posição bastante favorável no contexto europeu na que toca à competência digital das suas instituições públicas. Segundo a Comissão Europeia, em 2017, Portugal era o 4º país que mais serviços disponibilizava online aos seus cidadãos.

No entanto, Portugal está ainda atrás da mé-dia europeia no que diz respeito à adoção dos serviços administrativos online, com ape-nas 55% dos utilizadores de Internet a fazer uso dos portais públicos, comparado a uma média europeia de 58% e melhores práticas perto dos 95%24. Isto demonstra que não é su-ficiente investir na existência destes canais, sendo também importante apostar em políti-cas e iniciativas que fomentem a sua adoção, e melhorar a experiência de utilização destes portais. Por exemplo, a Chave Móvel Digital, relançada em 2018, contava até setembro des-te ano com pouco mais de 217 mil registos (cerca de 2% da população), estando um pou-co aquém do potencial de um serviço que pode simplificar muito o acesso, não só a ser-viços administrativos, como até ser uma cha-ve de acesso a websites e aplicações móveis de terceiros. Um esforço para promover a utiliza-ção destes serviços retiraria pressão sobre as agências físicas da Administração Pública que, assim, poderia ter uma resposta mais à altura das necessidades dos cidadãos.

Um outro domínio em que Portugal parece estar ainda atrás dos seus pares é no ecossis-tema de informação disponibilizada publica-mente. Segundo a Comissão Europeia, Portu-gal era mesmo o penúltimo país europeu no que toca a Open Data24, que avalia a quanti-dade de informação disponibilizada, as nor-mas que regulam a sua utilização e dissemi-

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nação e a maturidade do portal em que é partilhada. O mesmo relatório aponta a falta de uma coordenação nacional na disponibili-zação de informação e a sua automação, a falta de monitorização do seu impacto como as maiores lacunas que limitam o aproveita-mento da informação disponível. Esta infor-mação é não só em última análise proprieda-de de todos os cidadãos, mas também um ativo que ganha uma relevância crescente pela capacidade que hoje existe de extrair va-lordedadosemlargaescala–semprequeas-segurada a privacidade dos indivíduos. O es-crutínio público sobre este tipo de informação é importante para assegurar uma análise independente sobre diversas dimen-sões do funcionamento do Estado, contribui para a credibilidade das instituições, e pode servir de base para o desenvolvimento de produtos e serviços que fomentem o cresci-mento económico.

No entanto, Portugal está ainda atrás da média europeia no que diz respeito à adoção dos serviços administrativos online, com apenas 55% dos utilizadores de Internet a fazer uso dos portais públicos.

Contudo, o relatório apresenta também o de-senvolvimento de uma estratégia a 5 anos e uma melhor definição de setores de priorida-de, como ações que irão ter um impacto posi-tivo nos próximos anos. Já depois da redação desse estudo, o Ministério da Presidência e Modernização Administrativa anunciou um programa de investimento em parcerias para a aplicação de inteligência artificial a dados de diferentes áreas da Administração Pública, de modo a promover a capacidade científica no processamento massivo de informação, e para fazer frente a problemas existentes na sociedade portuguesa, como por exemplo projetos para a identificação da receita anor-mal de antibióticos, a identificação de pontos críticos de sinistralidade ou a previsão do ní-vel de procura das urgências hospitalares, en-tre outros.

3.8. Educação – cânones clássicos desafiados na procura de respon-der ao desafio da dotação de novas competências A Educação tem também vindo a ser transfor-mada pela prevalência da tecnologia digital, quer pela liberalização do acesso à informa-ção, pelo surgimento de novas formas de aprender e ensinar, ou pela crescente necessi-dade de rebalanceamento do próprio foco educativo em competências digitais.

O Digital liberalizou o acesso à informação, facilitando o acesso imediato e reduzindo drasticamente o seu custo. Hoje, em muitos domínios educacionais, o papel da infraestru-tura física como uma biblioteca ou mesmo uma universidade é largamente potenciado pela experiência digital. A facilidade de aces-so a repositórios digitais (gratuitos ou não), e a capacidade de pesquisar em milissegundos toda essa quantidade de informação tornou--os novos centros de acesso a conhecimento, e trouxe uma capacidade de combinar abran-gência e profundidade de temas sem prece-dentes. Um bom exemplo deste fenómeno é a Wikipedia, que conta com mais de 43 M de artigos e 365 M de leitores em todo o mun-do25. A existência de comunidades online e de conteúdos em vários formatos, como o vídeo e áudio, permite também a troca de informa-ção e aprendizagem numa variedade de for-matos que se adequam às capacidades e pre-ferências de cada utilizador.

Esta mudança tão radical dos hábitos de aprendizagem fora da sala de aula, sobretudo entre os mais jovens, obriga o ensino formal a acompanhar algumas destas tendências, ino-vando ao nível dos canais, formatos e conteú-dos para garantir manter-se relevante e atra-tivo para os estudantes. Os métodos e programas de ensino formal são complemen-tados por acreditações totalmente online, como é o caso do IPAM e da Universidade Aberta em Portugal. Para além disto, a cres-cente penetração de conteúdos e ferramentas digitais é também uma oportunidade para desenvolver planos educativos mais adapta-dos à realidade de cada aluno, tanto em ter-mos de capacidade como de preferência em termos de métodos educativos.

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Esta mudança tão radical dos hábitos de aprendizagem fora da sala de aula, sobretudo entre os mais jovens, obriga o ensino formal a acompanhar algumas destas tendências, inovando ao nível dos canais, formatos e conteúdos.

A tecnologia digital permite não só a trans-formação do ensino tradicional, mas também o aparecimento de novos serviços de educa-ção e formação completamente digitais. É o caso de repositórios de cursos como o Khan Academy ou o Coursera, que agregam mate-riais desenvolvidos por instituições de ensino e outras entidades, e que permitem a qual-quer pessoa expandir o seu conhecimento com base em conteúdos produzidos muitas vezes por instituições de renome internacio-nal. Em Portugal, existem também websites como o Sabe Online onde é possível ter aces-so a formações/cursos específicos totalmente digitais, lecionados por profissionais com ex-periência e prática real nesses temas. O apa-recimento de aplicações móveis como o Duo-lingo, que permite aprender línguas de forma simples e ao ritmo de cada um, está também a alterar o paradigma de aprendizagem. Estas tendências estão a liberalizar o desenvolvi-mento de competências, por possibilitarem acesso à educação a um custo mais reduzido e que rompe com as limitações geográficas.

No entanto, o maior desafio que os sistemas educativos enfrentam é a mudança estrutural das competências necessárias ao funciona-mento do tecido económico. Estima-se que cerca de 85% dos empregos que os alunos de hoje terão em 2030 ainda não foram inventa-dos26. Estes novos empregos irão requerer um conjunto de competências diferente (ainda que em parte complementar) daquele que é hoje ensinado nas salas de aula. Para respon-der a estas novas realidades, o sistema de educação deve continuar a apostar na litera-cia tradicional em áreas como o Português e a Matemática, mas reforçar as componentes digitais que terão um peso preponderante no mercado de trabalho do futuro. Iniciativas como o projeto-piloto “Iniciação à Programa-ção”, que envolveu mais de 44 mil alunos no ano letivo 2016/17 com o objetivo de ensinar

programação a alunos do 1º ciclo do Ensino básico (3º e 4º ano)27, deverão tornar-se mais frequentes e assumir um caráter mais genera-lizado e persistente.

Para já, Portugal não está ainda a responder a este desafio à velocidade necessária. Ape-sar de o número de licenciados nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemáti-ca estar apenas ligeiramente abaixo da média europeia (18,6 vs. 19,1 por cada 1.000 habi-tantes), já as licenciaturas completadas em 2016 nas áreas de TIC representavam apenas 1,2%, que compara com uma média europeia de 3,5%28. Esta lacuna reflete-se no nível de especialistas em TIC no mercado de trabalho. A quota destes profissionais era de 2,4% em 2016, sendo inferior à média da UE de 3,7%.

... as licenciaturas completadas em 2016 nas áreas de TIC representavam apenas 1,2%, que compara com uma média europeia de 3,5%. Esta lacuna reflete-se no nível de especialistas em TIC no mercado de trabalho.

Para além de um gap em relação à Europa no que toca à educação formal e profissionaliza-ção nestes setores, a população portuguesa em geral está ainda atrás dos seus pares euro-peus no que toca a competências digitais. Apenas metade da população possui compe-tências digitais básicas e 27% não possui quaisquer competências, um valor muito mais acentuado do que a média da EU de 17%28. Os baixos níveis de competências digi-tais, particularmente entre os idosos e aque-les com baixos níveis de educação ou com baixos rendimentos, continuam a representar um risco de exclusão digital.

De forma a acelerar a recuperação do atraso de formação e educação em comparação à Europa, Portugal e em especial o Governo, deve recorrer a parcerias que garantam que as competências digitais chegam mais rapida-mente às escolas, diminuindo o tempo de es-pera entre o desenvolvimento de necessida-

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des do mercado de trabalho e as compe- tências dos portugueses. Exemplo disso é o Atelier Digital, uma iniciativa da Google em parceria com o Governo português, algumas universidades públicas e a SIC Esperança, que já formou mais de 42.000 indivíduos em competências digitais em áreas como o Marketing digital e o Comércio eletrónico, en-tre outras.

3.9. Saúde – mais qualidade de vida e cuidados de saúde mais eficientes, suportados por um fluxo contínuo de informação digital O impacto do Digital no setor da Saúde é multifacetado e promete provocar uma revolução na capacidade de responder aos problemas de saúde dos utentes, de uma forma financeiramente sustentável num contexto de forte envelhecimento da popula-ção portuguesa. A tecnologia digital está a potenciar a capacidade de acompanhamento dos utentes de saúde, a prevenção e o diagnóstico precoce, a transformar a forma como os cuidados são prestados e também a capacidade de acompanhar os impactos provocados pelas opções terapêuticas, facilitando uma melhor alocação de recursos e uma melhor qualidade de vida para os doentes.

A monitorização do estado de saúde dos indi-víduos e a aposta na prevenção dos proble-mas mais graves são elementos críticos para assegurar a sustentabilidade do sistema de saúde. Diversos dispositivos ligados à Internet permitem hoje aos utentes de saúde um maior controlo sobre a sua atividade e sinais vitais, esbatendo a linha entre os cuidados de saúde e a atividade quotidiana. O utilizador pode agora medir variáveis como o número de passos dados ou o batimento cardíaco, a quantidade de calorias ingeridas ou o exercí-cio efetuado. Esta informação permite adotar hábitos mais saudáveis e limitar as visitas a centros de cuidados de saúde, que no longo prazo reduzem a necessidade de utilização de recursos de saúde. Como um breve exemplo, a Sword Health29 é uma startup portuguesa que desenvolve detetores de movimento pe-quenos, leves e de alta precisão que registam e digitalizam os movimentos de um paciente

em reabilitação motora e comunicam com um“terapeutadigital”.Oterapeutadigital–umaaplicação–guiaopacienteatravésdecada sessão de reabilitação e partilha feed- back em tempo real, garantindo que os exercí-cios são executados de forma correta. Os da-dos de cada sessão são guardados de modo a acompanhar de forma profunda a evolução do paciente e a permitir a adaptação dos pro-gramas de acordo com os objetivos.

As formas de diagnóstico estão também a ser revolucionadas pela introdução de técnicas de aprendizagem automática que potenciam a identificação precoce de problemas de saúde.

As formas de diagnóstico estão também a ser revolucionadas pela introdução de técnicas de aprendizagem automática que potenciam a identificação precoce de problemas de saú-de. A HeartGenetics30 é um exemplo de uma startup portuguesa que nasceu a partir do ramo da biologia computacional, e que utiliza este tipo de algoritmos para identificar de forma precoce doenças do foro cardiovascu-lar, estando também a entrar em domínios do bem-estar e nutrição. O mesmo tipo de tecno-logias está hoje a ser utilizado num elevado número de especialidades, desde a oncologia às doenças oculares, auxiliando os especialis-tas a tomar melhores decisões.

Ao nível da prestação de cuidados de saúde, o Digital tem permitido encontrar modelos muito mais eficientes e descentralizados, tal como o seguimento dos resultados após inter-venção. Por exemplo, no caso do controlo de doenças crónicas, modelos descentralizados de monitorização à distância conduzem a me-nos hospitalizações, melhoria do acesso à saú-de e à redução de custos relacionados com o tratamentodadoença31. Em Portugal, existem já diversos programas que apostam nestas tecnologias para acompanhar doentes cróni-cos e evitar visitas desnecessárias a postos de atendimento, libertando assim capacidade

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dos prestadores de serviços de saúde. Um exemplo disto é a Ageing Coimbra32, que mo-nitoriza idosos que são vítimas de doenças crónicas, proporcionando-lhes uma melhor qualidade de vida. A KNOK33 é uma startup portuguesa que está também a apostar na descentralização dos cuidados de saúde, utili-zando uma plataforma puramente digital para construir um ponto de encontro em tem-po real entre médicos e pacientes. Ali são possíveis interações à distância ou presen-ciais, em que o médico mais próximo se des-loca ao domicílio, bastando para isso um click naaplicação–umUberparacuidadosmédi-cos.

... é no ambiente de prestação de cuidados médicos mais clássico que a digitalização da informação de saúde pode trazer enormes vantagens.

No entanto, é no ambiente de prestação de cuidados médicos mais clássico que a digitali-zação da informação de saúde pode trazer enormes vantagens. Dois bons exemplos são as startupsportuguesasPeekMed34, um soft- ware e aplicação de smartphone que utiliza imagens reais dos ossos de pacientes, permi-tindo aos ortopedistas praticar e testar proce-dimentos para uma determinada cirurgia, mi-nimizando as hipóteses de existirem erros ou imprevistos; e a Criam35, uma empresa que produz um aparelho capaz de detetar o tipo desanguedeumpacienteem3minutos–aoinvésdeumpardehoras–baseadoempo-derosos algoritmos de machine learning e com-puter vision.

Adicionalmente, através da centralização de informação de hábitos comportamentais, prá-ticas médicas utilizadas e monitorização de impactos, podem ser gerados modelos que permitam melhorar as práticas clínicas e cor-rigir estruturalmente deficiências do sistema de saúde. A existência de sistemas capazes de

gerir e armazenar estas grandes quantidades de informação serão críticas para concretizar estepotencial–atecnologiadeBlockchain como mecanismo de registo de informação poderá ter aí um papel importante. As autori-dades de saúde em Portugal desenvolveram já esforços significativos para recolher e siste-matizar informação de modo a melhorar as práticas de saúde. Iniciativas como a imple-mentação de um sistema de avaliação dos hospitais com base em indicadores de proces-so e de resultados (SINAS) e um sistema de avaliação de tecnologias de saúde (SiNATS) permitem uma maior visibilidade sobre o ver-dadeiro impacto que os processos e tecnolo-gias têm na saúde das pessoas e na utilização de recursos de saúde públicos.

Portugal tem também apostado em aproxi-mar o sistema de saúde dos cidadãos através de interfaces digitais, merecendo até o desta-que da Comissão Europeia no seu relatório “Digital Economy and Society Index (DESI) 2018”doprogramaSNS+Proximidade24. Este programa procura “facilitar o acesso e o per-curso dos utentes no SNS, ou seja, alterar o paradigma de relacionamento dos portugue-ses com o SNS”36, tirando partido das possibi-lidades do Digital. Outras iniciativas do Minis-tério da Saúde nesta área foram a dispo- nibilização de aplicações que permitem aos cidadãos ter acesso a informação sobre os serviços de atendimento de saúde, como a MySNS. Um estudo da Polityka Insight estima que a aposta neste tipo de aplicações e nas outras vertentes de eHealth* em Portugal, que permitam melhorar a eficiência dos seus serviços, pode reduzir a despesa na saúde em cerca de 0,3%37 do PIB, ou €400 M.

O setor da Saúde tem assim no Digital uma enorme oportunidade para conseguir vencer o paradoxo de suprir com qualidade as neces-sidades de saúde de uma população a enve-lhecer. Para isso, será necessário apostar na inovação tecnológica e fomentar as parcerias com instituições capazes de assegurar a assi-milação destas competências nos serviços pú-blicos de saúde. Iniciativas como Health Clus-ter Portugal, que ambiciona tornar o país num “player competitivo na investigação, con-

Nota: * eHealth neste relatório é definido como a utilização de aplicações, processos e plataformas digitais, incluindo o atendimento remoto, aplicações de smartphone, a implementação de registos de saúde online, equipamentos de monitorização remota e a utilização de algoritmos e ferramentas analíticas no processo de tomada de decisões.

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ceção, desenvolvimento, fabrico e comerciali-zação de produtos e serviços associados à saúde”, ou a HealthCare City, uma incubado-ra de startups na área de saúde baseada em Lisboa e que promove a sustentabilidade de novas ideias de negócio bem como a sua in-ternacionalização, são passos importantes na concretização desse potencial.

O setor da Saúde tem assim no Digital uma enorme oportunidade para conseguir vencer o paradoxo de suprir com qualidade as necessidades de saúde de uma população a envelhecer.

3.10. Transportes e Mobilidade – revolução tecnológica da mobili-dade como fator crítico para fazer face à pressão sobre as cidades O crescimento urbano de 27% desde 2000 em Portugal38, aumentou fortemente a pegada ambiental deixada pelos meios de mobilida-de, tal como o tempo desperdiçado no trânsito–emPortugalestima-sequeemmédia uma pessoa passe cerca de 8 horas em viagem em dias úteis39, o que impacta o bem-estar e a produtividade económica. O Digital surge neste contexto como uma ferramenta indispensável para aliviar a pressão provocada pelo trânsito sobre os centros urbanos e assim melhorar a qualida-de de vida dos seus habitantes.

De facto, o Digital permite elevar a mobilida-de a um novo paradigma: novos modelos de propriedade e utilização de transportes estão a proporcionar mais liberdade de escolha ao utente; a utilização de Big Data e de interfa-ces móveis com atualização em tempo real potencia a intermodalidade na deslocação dos cidadãos, e será utilizada cada vez mais para combater o problema de congestiona-mento nas cidades. Os veículos autónomos, que irão impactar não só a mobilidade dos cidadãos privados, como o resto do setor dos Transportes (incluindo transporte de merca-dorias), prometem também no futuro próxi-

mo revolucionar o paradigma atual de mobilidade nas cidades e fora delas.

... o Digital permite elevar a mobilidade a um novo paradigma: novos modelos de propriedade e utilização de transportes estão a proporcionar mais liberdade de escolha ao utente.

As opções de transporte disponíveis para os portugueses nos grandes centros urbanos têm vindo a aumentar. Como parte da economia colaborativa foram desenvolvidos modelos de negócio que possibilitam aos utilizadores via-jar em automóveis, motociclos, trotinetes e bicicletas nos centros urbanos sem terem de ser proprietários destes veículos. Serviços de ride-hailing e ride-sharing geram já hoje um valor que se estima próximo dos €90 M, sen-do expectável que cresça para os €145 M em 2020. Ainda que introduzam um novo tipo de experiência valorizada por muitos consumi-dores, é para já difícil dizer que estes mode-los partilhados estão a contribuir para o des-congestionamento das cidades, em particular se desviarem utentes dos transportes públicos tradicionais40.

A utilização da informação gerada no contex-to da mobilidade será a chave para retirar mais valor da infraestrutura existente. Uma das utilizações mais evidentes é a facilitação da intermodalidade de transportes que é já uma realidade, através de aplicações de mo-bilidade como a Via Verde Planner, ou o Goo-gle Maps, que disponibilizam informação so-bre os melhores trajetos multimodais, baseados na informação disponível em tem-po real, incluindo o preço e duração de uma viagem de acordo com as condições de trânsi-to. O próximo passo na utilização deste tipo de informação passará por ligar a infraestru-turaàInternet–atravésdaInternet of Things –gerandoalgoritmoscapazesdeinvestigarestratégias para melhorar o fluxo das cidades de forma agregada.

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A utilização da informação gerada no contexto da mobilidade será a chave para retirar mais valor da infraestrutura existente. Uma das utilizações mais evidentes é a facilitação da intermodalidade de transportes.

O aparecimento de carros totalmente autóno-mos e elétricos vai certamente ser um novo marco na história dos transportes. Um estudo da BCG estima que em 2035 perto de 1 em cada 4 carros novos a nível mundial serão veí-culos autónomos41. O desenvolvimento destes veículos será moldado à utilidade que é ne-cessária no contexto de cada cidade, podendo as cidades promover a introdução de veículos autónomos focados em transportes coletivos ao invés do paradigma atual do transporte in-dividual. A otimização de rotas em tempo real e da própria configuração dos veículos nas ruas da cidade irá ter um impacto trans-formador no tráfego.

Também para as empresas de transporte de mercadorias, os veículos autónomos signifi-cam mudanças profundas nas suas operações. Possibilitam um transporte mais eficiente, a um custo mais reduzido através de tecnolo-gias como o platooning, que permite a vários veículos seguir em proximidade, sendo que apenas o veículo dianteiro conta com um con-dutor humano, e os seguintes são controlados por Inteligência Artificial42. Outra das vanta-gens deste novo modelo é a redução do custo de transporte de mercadorias e a possível me-lhoria dos impactos ambientais no caso de utilização de veículos elétricos. O uso de veí-culos autónomos será também mais um fator potenciador da globalização comercial e da aproximação de mercados internacionais.

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4.1. O Digital é a primeira revolu-ção tecnológica na qual Portugal tem uma palavra a dizer A digitalização possui características que fazem dela uma verdadeira revolução tecnológica:églobal–naverdadetematéoefeito de aproximar ainda mais sociedades e economias–,oseuimpactoétransversalatodos os setores económicos e há razões para acreditar que a sua dimensão e relevância irão aumentar muito nos próximos tempos. Duas grandes forças serão responsáveis por esse crescimento: por um lado, cada vez mais elementos do mundo offline passam a ser instanciados online, aumentando a proporção de momentos “digitais” no nosso dia-a-dia com o desenvolvimento de tecnologias como a Internet of Things; por outro lado, a capaci-dade de gerar valor a partir destes objetos e informação vai expandir-se, o que aumenta a sua atratividade para consumidores e empre-sas, e em consequência o seu impacto social e económico. A Cloud, inteligência artificial, o aumento da capacidade computacional, e algoritmos de construção de significado a partir de informação irão ser os enablers do desbloqueio desse valor. Esta revolução tecnológica é, no entanto, mui-to diferente de outras que lhe antecederam. Ao contrário de, por exemplo, a revolução tecnológica do Séc. XVIII, a escala e tamanho de mercado interno não tem uma relevância tão significante na capacidade de sucesso de

determinada economia. O Digital está assente em componentes cujos custos são cada vez mais reduzidos, diminuindo a necessidade de escala para gerar competitividade. Por outro lado, tem reduzido as barreiras comerciais e aproximado os mercados, permitindo atingir uma população supra nacional, nivelando as-sim as oportunidades originadas a partir da dimensão dos mercados. Estes fenómenos di-minuíram assim o investimento necessário para criar uma empresa e os custos associa-dos à gestão de um canal com este tipo de al-cance.

... cada vez mais elementos do mundo offline passam a ser instan-ciados online, aumentando a pro-porção de momentos “digitais” no nosso dia-a-dia.

Considerando apenas o mercado europeu, em que já estão em vigor normas que facilitam as trocas comerciais, Portugal tem assim aces-so a 500 milhões de pessoas. E as próprias instituições europeias já estão a criar meca-nismos para facilitar ainda mais esse cami-nho, com iniciativas como o Single Digital Market. Esta iniciativa é a estratégia conjunta dos países da União Europeia que visa elimi-

4. PORTUGAL PODE AINDA RECUPERAR O ATRASO E POSICIONAR-SE COMO UM HUB DIGITAL PARA A EUROPA

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nar as barreiras ainda existentes entre países europeus no comércio eletrónico, através do melhor acesso a bens e serviços online, uma infraestrutura e ambiente regulatório e de se-gurança individual que transmita confiança e garanta a fiabilidade da rede, e através da ca-pacitaçãodapopulação43.

... a capacidade de gerar valor a par-tir destes objetos e informação vai expandir-se, o que aumenta a sua atratividade para consumidores e empresas, e em consequência o seu impacto social e económico.

As empresas portuguesas têm já exemplos do que podem alcançar: empresas como a Far- fetch e a Outsystems são hoje líderes nos seus mercados e empresas de renome internacio-nal. Ambas estas empresas cedo se apercebe-ram das possibilidades do Digital e focaram os seus esforços no desenvolvimento de mo-delos de negócio totalmente assentes nesse meio. A Farfetch, uma plataforma online de artigos de luxo criada em 2007, alavancou no Digital para ter acesso a um mercado global. Em setembro de 2018, realizou um IPO de su-cesso. Por outro lado, a Outsystems tem um modelo de negócio de suporte às atividades digitais das empresas com soluções de softwa-re “low code”, negócio este que se encontra em grande crescimento à medida que a trans-formação digital vai progredindo. A empresa

fechou em junho uma ronda de investimento de €310 M, sendo que este negócio avalia a empresa em mais de mil milhões de dólares.

Esta natureza da revolução digital abre assim grandes oportunidades para Portugal: a base do sucesso nesta economia está na qualidade dos recursos humanos e na criação de am-bientes propícios ao desenvolvimento destes conceitos e modelos de negócio. Ora, num e noutro caso, não só Portugal não tem para já desvantagenscompetitivasbloqueantes–queanalisaremosnapróximasecção–,comotemnas suas mãos as ferramentas para tirar um maior proveito desta transformação.

4.2. Os desafios existentes são relevantes, mas ultrapassáveisPara desencadear uma trajetória de sucesso no Digital, Portugal terá de endereçar proati-vamente os enablers críticos que a podem sus-tentar, assim como os desafios que esta trans-formação económica acarreta. Alguns dos enablers mais relevantes que permitirão o su-cesso na nova economia são a literacia digital e as capacidades digitais da sociedade, o fo-mento de investimento, a infraestrutura digi-tal, a regulamentação responsável e a ciberse-gurança, assim como a capacidade de estabelecer parcerias nos diferentes setores da sociedade.

O mercado de trabalho irá ser fortemente im-pactado pela digitalização. As necessidades de mão-de-obra qualificada no Digital vão au-mentar 4% ao ano, e em 2020 a União Euro-peia estima que terá um défice de 825.000

CibersegurançaFomento de Investimento

Literacia Digital & Capacidades

Digitais da sociedade

Regulamentação Responsável

Infraestrutura Digital

Figura 17 | Enablers para o sucesso na nova economia

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trabalhadores qualificados nas áreas de tec-nologias de informação44. As capacidades di-gitais presentes no mercado de trabalho na União Europeia não se estão a ajustar à velo-cidade necessária às novas realidades do mundo digital.

Para satisfazer o mercado de trabalho, as em-presas e Governo devem embarcar em políti-cas conjuntas e abrangentes de capacitação digital em toda a sociedade: começando com a implementação universal no ensino primá-rio, olhando para exemplos como o Reino Unido, e estendendo-se à formação laboral e de reinserção no mercado de trabalho. Aqui, Portugal pode procurar replicar estratégias já utilizadas no melhoramento do sistema de educação como um todo, cujos impactos já foram reconhecidos pela OCDE45, e aplicá-las à educação e capacitação digital à velocidade necessária.

Para satisfazer o mercado de traba-lho, as empresas e Governo devem embarcar em políticas conjuntas e abrangentes de capacitação digital em toda a sociedade: começando com a implementação universal no ensino primário.

O fomento do investimento é outro vetor crí-tico de atuação. Portugal precisa de combater a falta de capital para investimento em em-presas que apostem na inovação. Apesar de eventos como a WebSummit, que trazem visi-bilidade para as empresas portuguesas e po-derão fomentar o investimento externo, Por-tugal é ainda, na OCDE, um dos países em que os investimentos de Venture Capital são dos mais diminutos quando comparados com o PIB nacional, menos de 0,01%, e dos que mais desceu desde 201046. Como base de comparação, em Espanha este tipo de investi-mento representa 4 x mais peso vs. o PIB. A recuperação deste atraso pode ser atingida através do aumento da atratividade deste tipo de investimentos: o “The Venture Capital and Private Equity Country Attractiveness Ranking 2018”, publicado pelo IESE, coloca

Portugal em 34º lugar no que toca a atrativi-dade do país47.

Portugal é ainda, na OCDE, um dos países em que os investimentos de Venture Capital são dos mais diminu-tos quando comparados com o PIB nacional.

Dada a escassez de investimento, é necessá-rio dotar as empresas de capital para pode-rem inovar. O incentivo a instituições já exis-tentes para servirem de motor de aposta na inovação é possível através do incentivo à inovação in-house ou em empresas que atuem no meio digital. Também o apoio a Hubs tec-nológicos baseados em universidades, toman-do como exemplo o UNIDEMI e a UNINOVA, que capacitam empresas nascidas nas suas instituições de educação a trazerem produtos inovadores para o mercado, poderá colmatar as lacunas existentes.

A infraestrutura em Portugal é já um motor de crescimento estabelecido do Digital em Portugal. Um estudo recente do World Econo-mic Forum48, coloca a infraestrutura portugue-sa como um dos seus maiores pilares de com-petitividade, em 19º lugar a nível mundial. Como discutido na secção 3.7., o investimento público em TICs está em linha com os nossos pares europeus, o que garante uma base sóli-da para a inovação. Esta infraestrutura terá de estar preparada para o futuro: o aumento da dependência de sensores que conectem os elementos offline à rede, que suportam o de-senvolvimento da Internet of Things, e o au-mento das necessidades de dados de empre-sas e indivíduos, impele a que as empresas apostem na inovação e na implementação de tecnologias como o 5G que permitam à socie-dade estar na vanguarda das possibilidades do Digital.

A cibersegurança e a regulamentação da in-formação online também irão influenciar a adoção do Digital pela população. A utiliza-ção de serviços digitais que vão para além da pesquisa de informação requer confiança no

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sistema digital por parte dos utilizadores. Ao mesmo tempo, é necessário encontrar um equilíbrio entre medidas que protejam de for-ma sólida os utilizadores e medidas que não limitem a competitividade na economia no Digital ou mesmo a oportunidade para os consumidores de adquirirem produtos e servi-ços personalizados à sua medida. Se a regula-mentação de proteção de dados pessoais for mais longe em Portugal do que nos restantes países europeus, isto poderá pôr em causa o espaço que Portugal poderá ocupar no mer-cado europeu. Por outro lado, se não forem criadas as condições para evitar as violações de dados pessoais que se verificam em em-presas internacionais, irá sempre existir um sentimento de desconfiança por parte dos uti-lizadores que terá impacto na aceitação de novas empresas digitais. Olhando para o futu-ro, é necessário garantir a segurança, privaci-dade e transparência na utilização de dados pessoais–algoquenormascomooRGPDco-meçamaconseguirregular–massemissoimpedir o desenvolvimento de modelos de negócio inovadores que gerem valor para os consumidores e sociedade em geral.

O tecido empresarial possui o know-how tecnológico e os perfis que permitem o desenvolvimento de soluções inovadoras e a trans-ferência de competências que será chave neste processo.

Estabelecer parcerias entre diferentes stakeholders da sociedade, como o setor públi-co e o tecido empresarial, é crítico para fazer frente à dimensão da tarefa que a sociedade enfrenta para atingir o seu potencial. O teci-do empresarial possui o know-how tecnológico e os perfis que permitem o desenvolvimento de soluções inovadoras e a transferência de competências que será chave neste processo. Pela distância a que Portugal está hoje do ní-vel de literacia digital em muitas destas áreas, é impossível que consiga “sobrevoar” este gap e tornar-se líder em Digital em poucos anos de forma independente. Protegendo a sua so-berania e os interesses dos portugueses, as

instituições públicas e privadas devem por isso recorrer de forma estratégica a parcerias que possam ter um impacto material na sua competência digital e na experiência dos ci-dadãos e clientes.

4.3. Uma visão para Portugal: o Hub Digital da EuropaNa sua obra A Mensagem, Fernando Pessoa fa-lava de um Portugal que haveria de se rege-nerar e retomar os grandes feitos do passado. Falava do país como “a cabeça da Europa”, e aludia a D. Sebastião que haveria de regres-sar para salvar o país. Hoje será difícil acredi-tar no seu regresso, mas parece que talvez pu-desse estar certo o poeta na sua visão de grandeza futura para o país. No entanto, cer-tamente não adivinharia então que essa “ca-beça” seria digital.

Porque o sucesso em Digital depende sobre-tudo de pessoas com as competências ade-quadas, infraestrutura de qualidade e um am-biente regulatório responsável, Portugal tem hoje perante si a possibilidade de se tornar num Hub Digital para a Europa, e a partir dela para o mundo. Não só existe um sistema educativo que pode dar resposta às necessi-dades, como há uma grande capacidade para atrair e reter talento. O boom turístico, o influ-xo de cidadãos estrangeiros que se instalam em Portugal e a vontade de regressar de mui-tos dos que encontraram trabalho no estran-geiro7 mostram que há características no nos-so país que são muito difíceis de replicar: o clima ameno, a boa comida, a segurança, a cultura amigável ou o nível de inglês de uma boa parte da população são alguns desses fa-tores. Numa altura em que empresas de todo o mundo procuram reforçar-se de perfis digi-tais, o baixo nível do custo de vida e do traba-lhoemPortugal–aindaquenãosejamvan-tagens competitivas que se deva promover no médioprazo–podemcertamentefavoreceraescolha do país para a fixação deste novo per-fil de recursos, e ajudar a acelerar a formação de um ecossistema de talento digital.

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Porque o sucesso em Digital depende sobretudo de pessoas com as compe-tências adequadas, infraestrutura de qualidade e um ambiente regulatório responsável, Portugal tem hoje perante si a possibilidade de se tornar num Hub Digital para a Europa.

Portugal já é uma aposta estratégica no ecos-sistema digital de algumas empresas. A Mer-cedes-Benz instalou em Lisboa o seu Hub de “digital delivery” e ambiciona utilizar a capital portuguesa como a base da sua transforma-ção de um produtor de carros premium para um operador de mobilidade premium, assente na transformação digital. Por outro lado, eventos como a WebSummit mostram que o país–enestecasoconcretamenteacapitalportuguesa–dárespostaaoseuposiciona-mento de tecnologia de ponta.

Ainda que se estabeleça como um centro de empreendedorismo digital vibrante, dificil-mente o país poderá substituir os centros eco-nómicos e financeiros europeus atuais. Mas num mundo em que cada vez mais o trabalho à distância se aproxima da experiência de co--localização, e em que as viagens aéreas estão cada vez mais baratas e convenientes, porque não haveriam mais profissionais e empresas escolher fixar-se num país com tão boa quali-dade de vida?

Esta visão, ainda que de difícil concretização, nãoserátotalmenteutópica–etorná-lareali-

dade depende da aposta clara em colmatar as falhas que o tecido digital encontra hoje no país. Se nos basearmos numa comparação com o crescimento económico conseguido nos últimos anos em alguns países que são exemplos de Hubsdigitais–casosdaIrlanda,ReinoUnido,IsraeleEstónia–estimamosque caso Portugal se tornasse um Hub Digital relevante na Europa poderia ampliar o seu crescimento do PIB em aproximadamente 1,5 p.p. ao ano. Isto representaria mais do que duplicar as perspetivas de crescimento económico do Banco de Portugal para 2020, e teria um impacto incremental de mais de €3milmilhõesporano–em2025,oacumu-lado deste impacto seria já de perto de €20 mil milhões de euros. Este “prémio” só será possível atraindo iniciativas de transformação digital de grandes empresas globais, promo-vendo o investimento internacional a partir de fundos de capital de risco e expandindo o ecossistema de startups digitais português.

A concretização desta visão depende em grande medida de uma ação concertada e al-tamente coerente entre os diferentes atores da economia portuguesa, sejam eles institui-ções públicas, empresas ou cidadãos. E não há tempo a perder. Há que assumir a prosse-cução da competitividade nesta nova era digi-tal como uma prioridade nacional. Os portu-gueses recordam-se do seu papel no primeiro movimento de globalização à escala planetá-ria, e podem aqui encontrar uma oportunida-de de o fazer uma outra vez.

Crescimento baseline

6 9 12 15 19710

1418

20242022

3

Crescimentoadicional

202520232020 2021

21

1,4%

2,8%

1,6%

3,0%

1,7%

3,1%

1,7%

3,1%

1,7%

3,1%

1,7%

3,1% Taxa de crescimento

Crescimento acumulado do PIB (€mM)

3

Fonte: Digital Economy and Society Index Report 2018, Comissão Europeia; Análise BCG.

Figura 18 | "Prémio" sobre o PIB português ascenderia a €20 mM em 2025

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Contexto do relatório Este relatório tem como objetivo estimar o impacto do Digital na economia portuguesa, contextualizá-lo com base no observado noutros países europeus, e analisar alavancas para garantir a concretização do seu poten-cial em Portugal.

Este relatório foi preparado tendo por base os pressupostos, cálculos e fontes de informação descritas em seguida.

Cálculo do impacto digital puro no PIBDe forma a estimar o impacto do Digital no PIB português, utilizou-se a sua decomposi-ção na ótica da despesa. Assim, este decom-põe-se em consumo privado, investimento público, investimento privado e exportações líquidas.

Consumo privado No perímetro digital do consumo privado fo-ram consideradas 6 componentes. São elas o valor gasto no acesso à Internet, o consumo de hardware, o consumo de software, o merca-do de e-commerce, o valor gasto em serviços financeiros online e em economia colaborati-va, tal como descritas de seguida.

e-commerce De forma a estimar o tamanho do mercado de e-commerce em Portugal, foram utilizados dados do Euromonitor que incluem empresas

que vendem exclusivamente ou parcialmente online.

Acesso à Internet O valor gasto pelos portugueses no acesso à Internet móvel e fixa, foi calculado através de uma estimativa do valor médio pago por acesso. O preço médio pago pelo acesso à In-ternet foi calculado tendo por base a propor-ção dos preços dos serviços individuais de hoje em dia e o número de utilizadores de cada tipologia de serviço. Estes valores foram obtidos pela observação da valorização relati-va dos serviços no mercado atualmente, e tendo por base as contas dos players do setor.

Hardware e Software No mercado de hardware foram considerados equipamentos tais como telemóveis, leitores portáteis, wearables, computadores e apare-lhos periféricos. Estes valores foram obtidos através do Euromonitor e da IDC.

Nas vendas de software ao consumidor final incluíram-se software para computador e vi-deojogos. Estas vendas foram estimadas utili-zando o relatório da Forrester, “Online Retail Forecast 2018 to 2023”.

Banca e Seguros O valor gasto pelas famílias no setor financei-ro online inclui o valor gasto na Banca e em Seguros online. Os valores de Seguros online foram obtidos através da Associação Portu-

METODOLOGIA

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38 | O impacto do Digital na economia portuguesa

guesa de Seguradores. De forma a calcular a componente de bancos online, estimou-se a percentagem de vendas online em cada país. Para tal, considerou-se o peso das vendas eu-ropeias online no total de vendas, tendo estas sido ponderadas para cada país pela penetra-ção de homebanking, e depois aplicadas ao produto bancário nacional. Utilizaram-se como fontes a Associação Portuguesa de Ban-cos, estatísticas do Banco Central Europeu, es-tatísticas do Banco de Inglaterra, dados do Eurostat, relatórios e contas do Banco de Por-tugal e experiência BCG.

Economia colaborativa O valor da economia colaborativa foi calcula-do tendo por base três áreas: Alojamento, Transportes e Serviços.

Para o cálculo do alojamento estimou-se o va-lor do alojamento local, assumindo que este é totalmente efetuado por meios digitais. Atra-vés do Airbnb Citizen obteve-se o valor rece-bido pelos senhorios pelo aluguer dos seus imóveis. Complementou-se esta análise com informação do Turismo de Portugal e do Re-gisto Nacional de Alojamento Local de forma a estimar o valor do mercado de alojamento que não diz respeito ao Airbnb.

No setor dos Transportes, o mercado de hai-ling e sharing foi determinado partindo da es-timação da oferta existente no mercado. O preço médio por viagem foi calculado tendo por base a média de 1.200 viagens realizadas por 25 pessoas na região de Lisboa. O núme-ro médio de viagens por ano foi calculado tendo por base o número de veículos existen-tes e estimativas de número médio de via-gens por hora. Todos os valores utilizados fo-ram estimados através de experiência BCG e comparados com estatísticas encontradas na imprensa.

Por fim, de forma a estimar o tamanho do mercado de serviços gerados por plataformas digitais, contabilizaram-se plataformas que agregam variados serviços e plataformas de entrega de comida. Para estimar a dimensão das plataformas de agregação de serviços uti-lizámos informação pública disponível na im-prensa. As vendas realizadas por plataformas de entrega de comida são dadas por proje-ções da Statista.

Investimento privado e públicoO investimento privado inclui os investimen-tos em infraestruturas e TICs de operadoras de telecomunicações e investimentos em TICs de outras empresas privadas. Nos cálcu-los de investimentos em infraestruturas pelas operadoras de telecomunicações consideram--se as parcelas deste investimento para desen-volver infraestruturas de Internet móvel e fixa. Para calcular os investimentos das res-tantes empresas e a despesa pública, foram utilizadas fontes referentes aos gastos com TIC–serviçosinternos,sistemasdedatacen-ter, software, aparelhos eletrónicos, e serviços de telecomunicações. As seguintes fontes fo-ram utilizadas nestas estimativas: Anacom, relatório e contas de empresas de telecomuni-cações, Gartner, IDC, Diário da República.

Exportações líquidas A balança comercial digital foi estimada como a soma das exportações líquidas dos equipamentos e serviços relacionados com TICs com as exportações líquidas de e-com-merce. As exportações e importações de TICs foram retiradas de estatísticas do TradeMap de 2013 a 2017. Os dados para o investimento privado e público foram obtidos através da Gartner.

No cálculo das importações de e-commerce foi utilizado o relatório Online Cross Border Retail da Forrester. Assumiu-se nesta análise que as exportações de e-commerce são negligenciá-veis.

Cálculo do impacto digital enabled no PIBO cálculo do impacto digitally enabled no PIB foi estimado para dois setores: Retalho e Tu-rismo, englobando este último o Alojamento e a Restauração.

No setor do Retalho, utilizou-se o consumer barometer da Google, que reflete o comporta-mento de compra dos consumidores (i.e., Re-searched Online/Offline, Purchased Online/Offli-ne). Estes valores foram depois ponderados pela penetração da Internet em Portugal (PORDATA) e de seguida cruzados com os vá-rios segmentos do mercado de retalho em Portugal. Estes últimos foram obtidos na Eu-romonitor.

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No setor do Turismo calculou-se a quota de valor gerada com origem nos canais online. A partir do portal Travel BI, do Turismo de Por-tugal, e de outras fontes disponíveis publica-mente que corroboram estes dados, conside-rou-se uma percentagem de 60% da atividade gerada a partir de pesquisa e/ou reserva onli-ne. Através de dados do Banco de Portugal e do Turismo de Portugal para o impacto glo-bal do Turismo na economia portuguesa, esti-mou-se então a sua componente digital.

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REFERÊNCIAS

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45. Education at a Glance 2018 – OCDE46. Venture capital investments, in Entrepreneurship at a Glance 2017, OECD Publishing, Paris.47. The Venture Capital and Private Equity – Country Attractiveness Index 2018 – IESE Business School48. The Global Competitiveness Index 2018 – World Economic Forum

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