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Saúde Coletiva ISSN: 1806-3365 [email protected] Editorial Bolina Brasil Lopes, Jaqueline; Rouze Lira, Mônica; Andrade Abdala, Gina; Sarkis Oliveira, Alberto Manoel O impacto da reabilitação aquática associada à oração no desempenho funcional de pacientes pós- acidente vascular encefálico Saúde Coletiva, vol. 7, núm. 37, 2010, pp. 9-14 Editorial Bolina São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84212110003 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Saúde Coletiva

ISSN: 1806-3365

[email protected]

Editorial Bolina

Brasil

Lopes, Jaqueline; Rouze Lira, Mônica; Andrade Abdala, Gina; Sarkis Oliveira, Alberto Manoel

O impacto da reabilitação aquática associada à oração no desempenho funcional de pacientes pós-

acidente vascular encefálico

Saúde Coletiva, vol. 7, núm. 37, 2010, pp. 9-14

Editorial Bolina

São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84212110003

Como citar este artigo

Número completo

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Sistema de Informação Científica

Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Lopes J, Lira MR, Abdala GA, Oliveira AMS. O impacto da reabilitação aquática associada à oração no desempenho funcional de pacientes pós-acidente vascular encefálico

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terapia e espiritualidadeLopes J, Lira MR, Abdala GA, Oliveira AMS. O impacto da reabilitação aquática associada à oração no desempenho funcional de pacientes pós-acidente

vascular encefálico

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terapia e espiritualidade

O impacto da reabilitação aquática associada à oração no desempenho funcional de pacientes pós-acidente vascular encefálicoEsse artigo analisa as repercussões da reabilitação aquática associada à oração no desempenho funcional de pacientes pós-acidente vascular encefálico (AVE). O estudo baseou-se em um ensaio clínico não randomizado realizado na Clínica Ad-ventista da Bahia em 2008, com uma amostra de oito indivíduos acometidos por AVE. Foram divididos em dois grupos e sub-metidos ao mesmo protocolo de tratamento, sendo que o grupo experimental participou de um momento de oração antes do tratamento. Com relação ao desempenho funcional, o grupo experimental obteve melhores resultados (50% de ganho). No quesito espiritualidade, observou-se que 100% da amostra gostariam que os profissionais de saúde orassem em seu favor. Descritores: Prece, Acidente vascular encefálico, Piscina terapêutica.

This article analyzes the repercussions of the aquatic rehabilitation associated to the prayer on the functional performance of patients who had a Cerebrovascular Accident. Clinical trial nonrandom sample occurred at the Adventist Clinic of Bahia/Brazil, in 2008, with a sample of eight individuals. They had been divided in two groups and submitted the same protocol of aquatic treatment, except for the experimental group who participated of a praying moment before the treatment. With regard to the functional performance, the experimental group had better results (50%). In the spirituality issue, it was observed that 100% of the sample affirmed that they would like the health professionals could pray in their favor. Descriptors: Prayer, Cerebrovascular accident, Aquatic rehabilitation.

Este artículo analiza las repercusiones de la rehabilitación acuática asociada a la oración, sobre el desempeño funcional de pacientes post-accidente vascular encefálico (AVE). Se trata de un ensayo clínico no randomizado llevado a cabo en la Clínica Adventista de la Bahia/Brasil, en 2008, con una muestra de ocho individuos a quienes les había acometido un AVE. Éstos se distribuyeron en 2 grupos y sometidos al mismo protocolo de terapia, pero el grupo control participó en una oración antes de la terapia. Cuanto al desempeño funcional, el grupo control obtuvo mejores resultados (50% más). En el quesito espiritualidad se observó que 100% de la muestra gustaría que los profesionales de salud orasen en su favor.Descriptores: Oración, Accidente vascular encefálico, Rehabilitación acuática.

INTRODUÇÃO

O acidente vascular encefálico (AVE) é consequência de uma defi ciência na irrigação sanguínea normal do cérebro,

ocasionando lesão celular e danos às funções neurológicas. Suas manifestações clínicas compreendem alterações no sistema sensitivo, motor, mental, perceptivo, cognitivo, e na linguagem, alterando o desempenho funcional.

O tema escolhido se deve ao fato do AVE ser um evento neurológico de importância considerável em termos de saúde pública, visto que, situa-se entre as quatro maiores causas de morte em muitos países. E, ao fato que os profi ssionais de saúde, geralmente, não levam em consideração a esfera espiritual do paciente, esquecendo que o ser humano é composto de corpo, mente e espírito. Assim, optou-se por associar a reabilitação aquática à oração com o objetivo de tratar o paciente de forma global.

As alterações funcionais do paciente pós-AVE necessitam de uma reabilitação que tenha como foco minimizar e melhorar a função. Portanto, a utilização da piscina terapêutica facilita a aplicação de várias intervenções fi sioterápicas como alongamento, fortalecimento, treino de marcha, equilíbrio e de resistência à fadiga, consequentemente, melhorando o

Recebido: 30/04/2009 Aprovado: 18/12/2009

Jaqueline LopesFisioterapeuta Formada pela Faculdade Adventista da Bahia.

Mônica Rouze Lira Fisioterapeuta Formada pela Faculdade Adventista da Bahia.

Gina Andrade Abdala Enfermeira. Mestre em Saúde Coletiva. Professora e Coordenadora do curso de Enfermagem. Faculdade Adventista da [email protected]

Alberto Manoel Sarkis OliveiraFisioterapeuta. Mestre em Cinesiologia. Professor de Cinesiologia. Faculdade Adventista da Bahia.

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desempenho funcional.O paciente neurológico além de disfunções físicas, apresenta

também fragilidade emocional podendo levar a depressão. Assim, a espiritualidade é um fator relevante para o ser humano diante de suas debilidades físicas, emocionais e sociais. A oração ocupa um espaço central no aspecto da espiritualidade, podendo ser um colaborador durante a terapêutica.

A busca do conhecimento sobre a relação entre as práticas de religião e a saúde, como a oração, meditação e sacrifícios, tanto no aspecto físico como mental, já ocorre desde períodos muito distantes. Essa junção possui suas raízes histórico-culturais muito antigas, existentes na época dos mitos gregos, rituais indígenas e nos relatos bíblicos, os quais infl uenciaram e continuam infl uenciando nos tempos atuais1.

As palavras prece e oração são sinônimas, e signifi cam pedidos, súplicas, votos e desejos expressos a um ser superior que transcende o espaço material. Porém, essa ação envolve o indivíduo que pede ou que recebe. Portanto, as duas formas mais utilizadas de prece são: a intercessão e a petição. Durante a oração intercessória, o indivíduo pede em favor de alguém, podendo ser tanto na presença do recebedor da oração quanto na sua ausência. Já na petição, o próprio indivíduo fala com o ser que considera superior2. O presente estudo utilizou-se da oração intercessória, visto que o terapeuta intercedia pelo paciente, por sua saúde e pelo tratamento que seria realizado em seguida.

Embora a oração tenha sido usada nos processos de cura por séculos, só recentemente ela tem recebido atenção do meio científi co3. Por muito tempo, a ciência e a religião têm se desenvolvido separadamente, e ainda hoje, há certa resistência por parte dos cientistas em aceitar o que não podem provar por seus meios metodológicos.

MECANISMOS NEUROFISIOLÓGICOS DA ORAÇÃO A relação da oração com a ativação cerebral e seus efeitos fi siológicos no organismo foi comprovada através de exames de neuroimagem, sendo possível observar que, durante processos de oração e meditação, regiões do encéfalo, denominadas “centro da fé”, são mais vascularizadas. O “centro da fé” localiza-se no sistema límbico (sistema nervoso central-SNC), próximo às regiões que regulam as defesas do organismo. Quando o sistema límbico é ativado durante a oração ou meditação, substâncias neuroendócrinas são liberadas e áreas hipotalâmicas adjacentes são estimuladas, fortalecendo o sistema imunológico e, consequentemente, prevenindo doenças4. Assim, durante a oração, substâncias neuroendócrinas são liberadas na corrente sanguínea, fortalecendo o sistema de defesa do corpo, auxiliando o processo de reabilitação do paciente de forma mais efi caz, proporcionando-lhe um melhor estado físico, contribuindo para

uma melhor regulação da frequência cardíaca, além de promover uma sensação de bem-estar.

Segundo Cousins5, a capacidade do corpo de assimilar os valores espirituais e o desejo de viver são fatores preponderantes na reabilitação da saúde. Desta forma, indivíduos que possuem estimulação da fé aumentam sua recuperação física e possuem um melhor estado emocional. “Por outro lado, as áreas encefálicas ligadas ao comportamento emocional também controlam o sistema nervoso autônomo, o que é fácil de entender, tendo em vista a importância da participação desse sistema na expressão das emoções6”. Então, pode-se afi rmar que a saúde física está intimamente relacionada à saúde mental e que, quando os fatores orgânicos e psicológicos não estão equilibrados surgem os transtornos

somáticos ou psicossomáticos, que são alterações orgânicas provenientes de distúrbios psíquicos.

ESTUDOS SOBRE ORAÇÃO E SAÚDE FÍSICA Um dos pioneiros no estudo da infl uência da oração no processo de reabilitação da saúde foi o Dr. Randolph Byrd, em 1988, com o trabalho intitulado “contribuições da oração intercessória em pacientes internados na unidade de terapia co ro-nariana”, sendo caracterizado como um estudo duplo cego a fi m de avaliar os efeitos da oração intercessória. Teve como amostra 393 pacientes internados em unidades de terapia coronariana, os quais foram divididos em dois grupos de forma aleatória (com prece e sem prece). Esse estudo teve como resultado menor índice de complicação nos pacientes do grupo com oração, pois estes desenvolveram menos insufi ciência cardíaca congestiva e pneumonia, necessitaram de menos suporte ventilatório e tratamento com antibióticos e diuréticos. Porém, não houve diferença na mortalidade entre os grupos, nem na

duração da permanência na unidade de terapia intensiva ou no hospital. Esse trabalho mostra a infl uên cia que a oração intercessória tem sobre a saúde humana.

Um estudo de longo seguimento foi realizado por Strawbridge et al7, para avaliar a taxa de mortalidade entre praticantes regulares de atividades religiosas. Foram incluídos 6928 indivíduos com idade entre 16 e 94 anos e acompanhados por 28 anos. Os autores concluíram que os praticantes regulares de atividades religiosas tiveram menores taxas de mortalidade e durante o seguimento, muitos interromperam o tabagismo, adotaram atividade física regular, aumentaram suporte social e mantiveram seu estado matrimonial.

Em um estudo realizado, nos Estados Unidos, com pacientes hospitalizados, 77% deles relataram que gostariam que os médicos considerassem suas necessidades especiais, 37% gos tariam que os médicos discutissem mais vezes essas ne-cessidades e 48% apreciariam que o médico orasse com eles se houvesse possibilidade8.

"O PACIENTE NEUROLÓGICO, ALÉM DE DISFUNÇÕES

FÍSICAS, APRESENTA TAMBÉM FRAGILIDADE EMOCIONAL

PODENDO LEVAR A DEPRESSÃO. ASSIM, A ESPIRITUALIDADE É UM FATOR RELEVANTE PARA O SER HUMANO DIANTE DE SUAS DEBILIDADES FÍSICAS, EMOCIONAIS E SOCIAIS. A

ORAÇÃO OCUPA UM ESPAÇO CENTRAL NO ASPECTO DA

ESPIRITUALIDADE, PODENDO SER UM COLABORADOR

DURANTE A TERAPÊUTICA"

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No Brasil, dados apresentados pelo Ministério da Saúde mostraram que 87.338 indivíduos morreram de comprometimento vascular em 2002. Foi uma das principais causas de incapacidades em idosos. Nos últimos anos vem crescendo o número de casos de AVE em indivíduos jovens, gerando um impacto ainda maior sobre a economia9.

O tratamento fisioterapêutico do paciente pós AVE deve enfatizar a melhora do controle motor, incentivando padrões de movimentos seletivos, ou seja, combinações de movimentos que permitam a realização de atividades funcionais. Portanto, a inibição da atividade indesejada e do esforço excessivo é fundamental para o sucesso do paciente10.

A flutuação pode trazer auxílio ao paciente pós-AVE porque é muito mais fácil equilibrar-se na água do que em solo, devido ao alívio do peso, e assim, o paciente consegue desenvolver aquelas atividades que antes seriam impossíveis11. Segundo Schanzer e Queiroz12, durante os exercícios, a resistência imposta pela pressão hidrostática e viscosidade pode estimular o fuso neuromuscular, o que favorece a propriocepção do segmento que está sendo movimentado além de favorecer a formação de inputs sensoriais necessários para a formatação adequada do esquema corporal. O método Bad Ragaz compreende alguns padrões que são baseados no FNP (facilitação neuromuscular proprioceptiva) e têm como objetivo o uso de exercícios e técnicas de facilitação neuromuscular destinados a diminuir os déficits sensitivos-motores e promover recuperação motora e consequentemente, melhora do desempenho funcional.

OBJETIVOSAnalisar as repercussões da reabilitação aquática associada à oração no desempenho funcional de pacientes pós-acidente vascular encefálico e avaliar associação entre a oração e o desempenho funcional da velocidade da marcha e o teste de subida e descida de escada.

METODOLOGIACaracteriza-se por ensaio clínico não randomizado realizado na Clínica Escola da Faculdade Adventista da Bahia, situada na cidade de Cachoeira, no estado da Bahia. Compreendendo o período de 07/04/08 à 11/06/08. Foram selecionados de forma aleatória simples oito indivíduos acometidos por AVE, os quais foram divididos em dois grupos de quatro indivíduos, sendo um grupo controle e o outro grupo experimental. Os critérios de inclusão dos participantes foram possuir idade superior a 18 anos, ambos os sexo, período de pós – AVE maior que seis meses, serem capazes de deambular com ou sem dispositivos auxiliares, sem presença de déficit de compreensão, afasia ou alguma morbidade importante que limite a realização das atividades aquáticas Os critérios de exclusão foram indivíduos que apresentassem incontinência urinária ou fecal, hidrofobia, incapacidade de deambulação mesmo com dispositivo auxiliar, presença de limitação de compreensão, afasia e indivíduos que obtiverem quatro faltas no período da pesquisa.

Antes da execução da pesquisa, o projeto foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos, localizado no

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campus das Faculdades Adventistas da Bahia, onde recebeu aprovação no dia 21/03/08, parecer n° 015/2008.

A amostra (n=8) foi dividida em dois grupos (por sorteio): grupo controle (n=4) e grupo experimental (n=4), porém, devido à intercorrências, a amostra que concluiu o estudo foi n=4, grupo controle=2 e grupo experimental=2. O grupo experimental participava de um momento de oração que antecipava a terapia realizada pelo terapeuta.

A intervenção foi realizada na piscina da Clínica Escola das Faculdades Adventistas da Bahia no setor de hidroterapia, no período de abril e junho de 2008. Foram realizadas duas sessões por semana, totalizando 17 sessões. Sendo que, após 10 sessões foi realizada a primeira reavaliação e a reavaliação fi nal foi realizada no último dia da pesquisa. O tratamento aquático foi realizado na piscina terapêutica, com uma temperatura de aproximadamente 34°C, e duração de 50 minutos cada sessão, sendo distribuídos cinco minutos de aquecimentos, 10 minutos de alongamento, 30 minutos de treinamento e cinco minutos de relaxamento. Nos primeiros cinco minutos era realizado o aquecimento andando para frente com e sem o auxílio de halteres. Após o aquecimento e alongamento era iniciado o treinamento.

RESULTADOSA idade dos pacientes variou entre 21 a 73 anos, com idade média de 52 anos, sendo quatro(50%) do sexo feminino e quatro (50%) do sexo masculino. A mé dia do tempo de lesão da amostra foi três anos. Um estudo realizado por Franzoi e Kagohara13, com 87 pacientes hemiplégicos apresentou idade média de 54 anos, com predomínio do sexo masculino e tempo médio de lesão de 33 meses, bem próximo dos valores obtidos nesta pesquisa.

Umphred14 relata que nos Estados Unidos a ocorrência do AVE é mais frequente nos homens. 62,5% (cinco) dos pacientes apresentavam hemiparesia direita, e 37,5% (três) hemiparesia esquerda. O trabalho de Franzoi e Kagohara13 apresentou semelhança em proporção da prevalência de hemiplegia direita de 53% e 37% de hemiplegia esquerda, estes resultados sugerem a predominância de lesões no hemisfério cerebral esquerdo.

Na tabela 1, segue a caracterização da amostra apresentando a idade, sexo, tempo de lesão, hemiparesia e raça dos pacientes pesquisados.

Com relação aos resultados apresentados no formulário sobre espiritualidade dos pesquisados verifi cou-se que no grupo controle 100% dos pacientes (4) classifi caram-se como religiosos, já no grupo experimental 75% eram religiosos (3) e 25% classifi cou-se como nem religioso nem espiritual, ou seja, ateu. Esses dados confi rmam os relatos feitos por Goldstein e Neri15 de que os idosos são mais religiosos do que os jovens e, a fé aumenta à medida que as pessoas vão envelhecendo. Com relação às denominações religiosas, a religião católica foi a mais comum (37,5%) entre os oito pacientes estudados. Esses dados estão de acordo com o estudo sobre as religiões no Brasil de Brandão16 no qual afi rma que o Catolicismo é a religião mais difundida no país.

Todos os sujeitos da amostra estudada afi rmaram que gostariam que os profi ssionais da área de saúde lhes ajudassem

espiritualmente com oração. Esse dado é de extrema importância, pois revela a real necessidade dos pacientes neurológicos, o apoio espiritual que muitas vezes é negligenciado pelos profi ssionais da saúde. E esse dado superou os encontrados nos Estados Unidos, visto que 77% dos pacientes hospitalizados relataram que gostariam que os profi ssionais da área de saúde considerassem suas necessidades especiais e 48% apreciariam que o médico orasse com eles se houvesse possibilidade8.

Os resultados da avaliação do desem-penho funcional estão resumidos na tabela 2. É possível verifi car que tanto o grupo controle quanto o grupo experimental obtiveram melhoras em todos os parâmetros avaliados. Na tabela 2 verifi cou-se todas as variáveis empregadas na avaliação do desempenho funcional, bem como, os resultados das três avaliações realizadas. A última coluna da tabela mostra, em porcentagem, a comparação da avaliação inicial com a avaliação fi nal, facilitando, portanto, a visualização dos resultados.

No teste Time Up and Go, apresentou os valores iniciais no grupo controle de

21,40 segundos e após a intervenção na avaliação fi nal de 16,21 segundos, obtendo um ganho em porcentagem de 24%. E o grupo experimental apresentou inicialmente 25,72 segundos e no fi nal 21,09 segundos, tendo um ganho de 18% mostrando que o grupo controle obteve um ganho razoável em relação ao grupo experimental. Tanto o grupo controle como o grupo experimental obtiveram melhora em seus movimentos e equilíbrio, contribuindo

Figura 1 - Momento de aquecimento - Rotação longitudinal. Cachoeira, 2008.

"MUITOS TÊM PESQUISADO SOBRE A INFLUÊNCIA DA

ESPIRITUALIDADE SOBRE A SAÚDE FÍSICA. NO ENTANTO,

NÃO SE PODE ESQUECER QUE A CIÊNCIA NÃO TEM, POR ENQUANTO, TODAS AS

RESPOSTAS. ELA É LIMITADA PELO INTELECTO FINITO DO SER

HUMANO E NÃO CONSEGUE EXPLICAR FENÔMENOS

OU MANIFESTAÇÕES QUE TRANSCENDEM OS LIMITES DA MENTE HUMANA, COMO É O

CASO DA ORAÇÃO"

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para um melhor desempenho funcional. Segundo Berg e Norman17, valores entre 10 a 20 segundos estão dentro dos padrões de normalidade para idosos frágeis ou indivíduos com incapacidade e valores acima de 20 segundos são indicativos de mobilidade funcional comprometida. Portanto o grupo controle obteve no início um grau acima de 20 segundos classificando como tendo uma mobilidade comprometida, porém após a terapia aquática ele passou a classificar-se dentro dos limites da normalidade para pessoas com uma incapacidade como o AVE. O grupo experimental iniciou com maior debilidade (25,72), e finalizou com a classificação de mobilidade ainda pouco comprometida, porém, progrediu bastante, pois iniciou com um tempo de 25,72 segundos e finalizou com 21,09 segundos.

A velocidade da marcha foi outro parâmetro usado para quantificar o desempenho funcional dos pacientes. Essa medida é imprescindível, pois está relacionada à qualidade da marcha, independência funcional e capacidade de realização de atividades sociais e funcionais. Junqueira, Ribeiro, Scianni18, em um estudo que avaliou os efeitos do fortalecimento muscular e sua relação com atividade funcional e a espasticidade em indivíduos hemiparéticos relatam que, a velocidade da marcha é um dos indicadores da melhora na capacidade funcional, pois com marcha mais veloz, o paciente se torna menos dependente e mais apto a realizar as tarefas do dia-a-dia, como, por exemplo, atravessar uma rua.

No presente estudo a velocidade da marcha foi quantificada no grupo controle inicialmente em 0,69 m/s, tendo uma diminuição nesse ganho na metade do tratamento para 0,66 m/s e progredindo para 0,75 m/s ao final do tratamento. Observou-

se que, o grupo controle com apenas 10 sessões não teria um ganho satisfatório, mas sim um declínio do seu valor inicial, sugerindo que dez sessões são insuficientes no ganho de velocidade da marcha. Já o grupo experimental teve um valor inicial na AV1 de 0,44 m/s e na metade de tratamento AV2 de 0,46 m/s e AV3, ou seja, no final do tratamento 0,51 m/s, esse grupo foi mais progressivo em seus ganhos durante a velocidade da marcha. Em relação à avaliação inicial, o grupo controle progrediu 8% e o grupo experimental 15%. A pesquisa atual, como se pode observar obteve melhores resultados em relação à velocidade de marcha quando comparado a estudos em que o tratamento é baseado apenas em fortalecimento muscular (fortalecimento isocinético dos flexores e extensores do joelho), como é o caso do estudo de Sharp e Brower19, os quais obtiveram melhora de apenas 5,8% na velocidade da marcha de pacientes hemiparéticos. Uma hipótese para tal fato seria o protocolo de tratamento empregado, visto que o presente estudo utilizou o meio aquático como facilitador da reabilitação, proporcionando ganho de força muscular e diminuição da espasticidade devido aos efeitos fisiológicos da água.

Como a velocidade da marcha, a habilidade para subir e descer escadas é uma medida importante da capacidade funcional, sendo sensível para detectar ganhos funcionais relacionados à reabilitação de hemiparéticos crônicos20.

No presente estudo, o grupo controle obteve na avaliação inicial 20 segundos para subir e descer seis degraus, e 19,22 segundos na avaliação final, correspondendo a uma melhora de 3,9%. Já o grupo experimental, na avaliação inicial apresentou 24,19 segundos e após o tratamento obteve uma redução do

Tabela 2 - Avaliação de desempenho funcional. Cachoeira, 2008.

TesteTUG

TUG

VM

VM

SDE

SDE

FIM

FIM

GrupoGC

GE

GC

GE

GC

GE

GC

GE

AV121,40

25,72

0,69

0,44

20

24,19

11,5

12

AV218,80

22,14

0,66

0,46

18,92

22,39

12

12,5

AV316,21

21,09

0,75

0,51

19,22

22,28

12,5

12,5

%24%

18%

8%

15%

3,9%

7,9%

8,7%

4,1%

Tabela 1 - Caracterização da amostra. Cachoeira, 2008

NºGC 1

GC 2

GC 3

GC 4

GE 1

GE 2

GE 3

GE 4

Média

Idade52

24

66

61

73

60

21

61

52

SexoF

F

M

F

M

F

M

M

Tempo de lesão5 anos

4 anos

2 anos

8 anos

2 anos

5 anos

2 anos

2 anos

3 anos

HemiparesiaDireita

Direita

Direita

Esquerda

Esquerda

Direita

Esquerda

Direita

RaçaParda

Negra

Parda

Negra

Parda

Parda

Parda

Branca

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Referências

tempo para 22,28 segundos, com melhora de 7,9%. O escore obtido pelo grupo controle na avaliação inicial da

locomoção independente funcional adaptada (FIM) foi de 11,5 e após o tratamento passou para 12,5. Já o grupo experimental na avaliação inicial apresentou escore de 12 e após o término do tratamento 12,5. Pode-se então verifi car que nos dois grupos houve uma pequena alteração nos escores da FIM. Segundo Nemer et al21, a escala de medição da FIM mensura a evolução da locomoção em relação à marcha e ao subir e descer escadas, e é um importante instrumento para avaliar a recuperação da locomoção, em pacientes neurológicos. Ou seja, pontuações mais altas na FIM estão associados a resultados bem sucedidos da terapia, proporcionando mais chances de alta para voltar para casa e retorno à comunidade10.

CONCLUSÃO Após o AVE os pacientes realmente apresentam alterações sensitivas, cognitivas, mentais e principalmente motoras, difi cul-tando a realização das atividades de vida diária e predispondo ao isolamento social e à depressão.

Assim, as pessoas com esse tipo de distúrbio podem se benefi ciar através do aspecto espiritual, onde a oração irá proporcionar benefícios tanto à saúde física como mental, fazendo com que eles encarem melhor as difi culdades da vida e de sua debilidade, podendo ser um fator de auxílio na recuperação dos pacientes

Verifi cou-se que ambos os grupos, controle e experimental, alcançaram resultados positivos em relação ao desempenho funcional. Portanto, confi rmou-se a hipótese que através das propriedades físicas

da água o paciente fortalece sua musculatura, diminui a espasticidade, mantém a mobilidade, promove relaxamento e alongamento muscular, itens esses indispensáveis para se obter uma marcha adequada e um bom equilíbrio, proporcionando independência funcional ao paciente. O tratamento proposto infl uenciou na saúde

física, mental – através da redução da ansiedade e promoção de relaxamento – e espiritual, visto que os pacientes do grupo experimental atingiram maiores ganhos funcionais quando comparado ao grupo controle.

Há, portanto, limitações neste estudo em relação a um maior número de pacientes, para que se chegue a uma análise de signifi cância estatística mais aprofundada. Porém, ao se estabelecer mais uma estratégia de intervenção, o paciente pós AVE poderá ser melhor atendido e ter um maior desempenho funcional em sua reabilitação.

Muitos têm pesquisado sobre a infl uência da espiritualidade sobre a saúde física. No entanto, não se pode esquecer que a ciência não tem, por enquanto, todas as respostas. Ela é limitada pelo intelecto fi nito do ser humano e não consegue explicar fenômenos ou manifestações que transcendem os limites da mente humana, como é o caso da oração. Entretanto, esta pesquisa ajudou a esclarecer algumas questões sobre o amplo assunto aqui abordado. E espera-se que futuramente outros estudos sejam realizados sobre a infl uência da oração na

saúde humana; não para provar se Deus existe ou não, pois nem todos os fatos podem ser explicados pela metodologia científi ca, mas para compreender mais sobre essa fantástica máquina que é o corpo humano.

"AS PESSOAS COM ESSE TIPO DE DISTÚRBIO PODEM SE BENEFICIAR ATRAVÉS DO

ASPECTO ESPIRITUAL, ONDE A ORAÇÃO IRÁ PROPORCIONAR BENEFÍCIOS TANTO À SAÚDE

FÍSICA COMO MENTAL, FAZENDO COM QUE ELES ENCAREM MELHOR AS

DIFICULDADES DA VIDA E DE SUA DEBILIDADE, PODENDO

SER UM FATOR DE AUXÍLIO NA RECUPERAÇÃO"

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