o imaginÁrio cristÃo latino americano

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O IMAGINÁRIO CRISTÃO LATINO AMERICANO O Protestantismo Brasileiro é fruto de alguns fatores que foram decisivos em sua construção. Existem basicamente três alas, os Tradicionais, os Pentecostais e os Neo- Pentecostais. Os Tradicionais: Batistas, Presbiterianos, Metodistas, Congregacionais etc. é que tiveram grande influência na construção do que chamamos de Igreja. A Igreja Protestante vem conquistando seu espaço em passos lentos, prova disso é a expressiva votação na Candidata à Presidência do País Marina Silva, cerca de 20% dos eleitores apoiaram a Candidata, destes supõe-se que a maioria seja de Protestantes, porém se levarmos em conta os eleitores Protestantes que votaram em outros candidatos, esta porcentagem poderia ser bem maior do que 20%. Fica então um alerta para os Eleitos, os protestantes estão presentes e já são vistos como um povo unido. O censo do IBGE 2010 poderá nos mostrar quantos realmente somos no Brasil, todavia para chegarmos onde estamos hoje, a história teve em suas linhas pessoas e movimentos que influenciaram direta ou indiretamente a construção de um imaginário cristão latino americano que hoje se faz presente. Os textos dos professores Èmile G. Leonard e Lauri Emilio Wirth nos levam aos corredores da história revelando 1

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Page 1: O IMAGINÁRIO CRISTÃO LATINO AMERICANO

O IMAGINÁRIO CRISTÃO LATINO AMERICANO

O Protestantismo Brasileiro é fruto de alguns fatores que foram decisivos em sua

construção. Existem basicamente três alas, os Tradicionais, os Pentecostais e os Neo-

Pentecostais. Os Tradicionais: Batistas, Presbiterianos, Metodistas, Congregacionais etc. é

que tiveram grande influência na construção do que chamamos de Igreja. A Igreja

Protestante vem conquistando seu espaço em passos lentos, prova disso é a expressiva

votação na Candidata à Presidência do País Marina Silva, cerca de 20% dos eleitores

apoiaram a Candidata, destes supõe-se que a maioria seja de Protestantes, porém se

levarmos em conta os eleitores Protestantes que votaram em outros candidatos, esta

porcentagem poderia ser bem maior do que 20%. Fica então um alerta para os Eleitos, os

protestantes estão presentes e já são vistos como um povo unido.

O censo do IBGE 2010 poderá nos mostrar quantos realmente somos no Brasil,

todavia para chegarmos onde estamos hoje, a história teve em suas linhas pessoas e

movimentos que influenciaram direta ou indiretamente a construção de um imaginário

cristão latino americano que hoje se faz presente.

Os textos dos professores Èmile G. Leonard e Lauri Emilio Wirth nos levam aos

corredores da história revelando os fatores que impulsionaram a Igreja Protestante na

América Latina e nesta o Brasil.

O Primeiro Fator: A colonização Européia

O mundo colonial dividiu-se basicamente entre duas potências da época: Portugal e

Espanha, ambas de religião Católica Romana. 1 Com o tratado de Tordesilhas o mundo

seria dividido entre Portugal e Espanha.

1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Tordesilhas

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O Cristianismo Católico Romano foi introduzido nas terras descobertas como meio

de consolidação do Império dos Reis e do Papa. A incorporação dos povos conquistados à

coroa européia estabeleceu uma hierarquia em que a cultura dominante suprime a

conquistada impondo-se como centro do poder e da religião.

O Segundo Fator: Os movimentos do Novo Mundo

A América Latina conquistada pela Europa passa a ser então uma extensão da

Europa, com um quintal ou terreiro das Coroas. O prof. Lauri descreve muito bem esta

situação ao dizer que os povos descobertos por Colombo entraram no imaginário Europeu

como sendo os índios asiáticos que se buscavam, em busca das Índias descobriu-se a

América. O fator matéria-prima no novo mundo era a afirmação de que os povos

conquistados seriam moldados conforme o imaginário europeu, convertendo-os à cultura

“superior” européia e nela o Catolicismo Apostólico e Romano. A citação da carta de

Caminha mostra a visão européia sobre a terra descoberta, onde os ocupantes eram vistos

como barros prontos a serem moldados segundo a vontade do artista.

O imaginário eurocêntrico europeu trabalhado pelos jesuítas transformou o Brasil

em um estado Católico. Todas as religiões eram rejeitadas e perseguidas, a dominação

religiosa envolvia também a dominação cultural.

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O Terceiro Fator: A dominação da cultura

Com a necessidade de se impor como Nação Dominante os povos conquistados eram

obrigados pelas coroas a se adequarem à nova realidade. De livres a escravos e vassalos da

coroa os índios tiveram a maneira de viver alterada; o relatório de D. Pedro Fernandes

exemplifica que certo religioso Salvador Rodrigues estava se adequando à cultura dos

índios enquanto dançava com eles, e que foi asperamente repreendido por seu superior D.

Pedro Fernandes. Os jesuítas através de sua catequese impunham não apenas a religião

católica aos índios, mas principalmente a superioridade da raça através da cultura européia.

Na dominação da cultura foi utilizada uma arma de destruição em massa chamada

imposição da linguagem, através do aprendizado do português os nativos esqueceram-se de

muitos de seus costumes, talvez maravilhados com a nova língua ou quem sabe se

aportuguesaram demais achando-se superiores a seus irmãos. O fato é que o português

colonial foi imposto pela coroa como forma de dominação e consolidação do império.

O Quarto Fator: A separação entre Igreja e Estado

A igreja separa-se do estado 2, nos Estados Unidos foi por Tomas Jeferson em 1802 e

no Brasil ocorreram desavenças entre católicos e membros maçons o que levou à separação

da igreja com o estado 3em 7 de janeiro de 1890 iniciando-se o período de pluralismo

religioso. Porém, antes desta data foi firmada a Paz de Vestfália que pôs fim em uma guerra

que perdurara trinta anos, entre Católicos, Luteranos e Calvinistas na Europa. O estado

passa a ter poder supremo e nenhuma entidade o poderia superar, nesta época a Igreja

Católica perdeu muitas de suas propriedades que foram confiscadas pelo governo.

O Quinto Fator: O Livre Comércio

Além do Estado e da Igreja surge o Comércio, este reina até hoje soberano sobre

todas as nações do mundo. O tratado firmado entre Portugal e Inglaterra em l810

enfraqueceu o catolicismo e abriu as portas mesmo que entreaberta ao protestantismo

europeu. A cultura Anglo-Saxônica passa a ser sinônimo de civilização. Importante lembrar

2 http://pt.wikipedia.org/wiki/Separa%C3%A7%C3%A3o_Igreja-Estado3 http://pt.wikipedia.org/wiki/Catolicismo_no_Brasil

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que foi por pressão inglesa que o Brasil libertou seus escravos a fim de manter comércio a

Inglaterra. Assim como o Império Romano abrindo estradas beneficiou a propagação do

evangelho pelos Apóstolos o livre comércio beneficia o protestantismo da reforma no

Brasil.

O Sexto Fator: A reforma

O Prof. Leonard em sua biografia relata bem a presença da reforma em solo

brasileiro, a presença dos missionários estrangeiros citados pelo Prof. Como Bandeirantes

da fé deu inicio à nova face da população Brasileira. Com o catolicismo enfraquecido pelo

governo, os pioneiros trazem ao País uma nova forma de ação. Nem Pentecostais, nem

Neo, os históricos foram os primeiros no envio de obreiros missionários. Com isso o

protestantismo passa a ter a cara da reforma.

O Prof. Leonard primeiro historiador evangélico no Brasil buscou incansavelmente

por fontes autênticas escritas e verbais, e em seu retorno à sua terra natal levou além da

linguagem brasileira relatos verídicos do desenvolvimento do protestantismo no Brasil.

Se os Alemães tivessem vencido a 2ª Guerra Mundial o mundo talvez fosse nazista e

não teríamos Bíblias no Brasil, mas se Lutero o Alemão, não tivesse protestado com 95

Teses em 31 de outubro de 1517 afixando-as na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg

talvez a América Latina continuasse 100% Católica.4

A reforma é para os protestantes uma ferramenta superior à contra-reforma

(Inquisição Católica) visto que, ainda hoje colhemos seus frutos. Que vão desde à livre

expressão de fé quando nasceu, até o decorrer dos séculos nos quais é lembrada.

O Último Fator: Protestantismo de Imigração e de Missão

a) Protestantismo de imigração.

Feito por Europeus em especial por alemães e por Norte-Americanos, deles surgiram

as nossas igrejas históricas, um Exemplo atual deste tipo de Protestantismo é a Igreja Cristã

Evangélica do Brasil que tem em seu quadro docente Doutores e Mestres que são

missionários de agências internacionais de evangelismo. Ela conta com Alemães, Ingleses e

Norte Americanos. Todos remunerados por suas agencias de envio. 5 Este tipo de

4 http://www.espacoacademico.com.br/034/34tc_lutero.htm5 Ver pagina do SETECEB, sua história e seu quadro de professores os pioneiros e os atuais. http://www.seteceb.com.br/site/index.php

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protestantismo visa o apoio à Escolas, Igrejas e Associações culturais. Conforme o texto a

Igreja que mais se enquadra é a Igreja de Confissão Luterana no Brasil. Como a marca de

definição do protestantismo de imigração é a superioridade (pureza) da raça. A derrota na

Segunda Guerra mostra que não é a cor da pele e sim a do coração com seus ideais, que

fortalecem o evangelho.

b) Protestantismo de Missão

Evangelizar o Mundo nesta geração – Frase de impacto utilizada em Edimburgo na

conferência. Não realizada já que o Brasil ficou fora dos alvos evangelísticos da

conferência. É negativo o fato de que o mercantilismo inglês viu como preparação de seu

caminho a aceitação do protestantismo. O cristianismo de missão deixou o catolicismo

numa esfera inferior na evolução cultural da humanidade. O mundo moderno talvez abra os

olhos e veja alem dos postes ídolos a essência do Cristianismo que era sem manchas e

rugas. O que de fato com a Supremacia Norte Americana sobre Porto Rico e Cuba decreta

do catolicismo sua subordinação e seu fracasso. Os presbiterianos, legítimos puritanos 6

colonizaram a América do Norte e com isso deram uma imagem Cristã aos Estados Unidos.

O Brasil foi Portugal com seu Catolicismo, que lhe conferiu sua imagem atual.

Conclusão

A imagem que temos do Cristianismo Latino Americano tem duas vertentes, o

catolicismo e o protestantismo, e ambos são frutos do berço europeu, quer seja por Portugal

e Espanha ou pela Inglaterra e Alemanha. A face cristã do mundo Latino Americano deve-

se de fato aos feitos dos Católicos e Protestantes da Europa. A efeito de Brasil, o

catolicismo não foi tão fracassado assim, visto que o Brasil é o País com maior

concentração de católicos no mundo.7 Cerca de 61%.

Os fatores que deram à América Latina a forma religiosa que ela tem hoje, não foram

fatores planejados, eles aconteceram naturalmente desde a colonização até os

protestantismos de imigração e missões. Eles não foram um fim em si mesmos, mas foram

os meios para que se chegasse ao que temos hoje.

6 http://www.teuministerio.com.br/BRSPIGBSDCMCMC/vsItemDisplay.dsp&objectID=C1244C32-F98E-45E6-8D9898C507518127&method=display7 Op.cit. pág. 3

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O mundo segue em constante mudança a janela 10/40 está fechada, os muçulmanos

aumentam em número por nascidos e por convertidos; a Europa não é mais tão Cristã, a

América não é mais tão pura. Os históricos não fazem mais história, o terceiro mundo quer

ser o primeiro, talvez seja hora, de se mudar a cara do mundo e torná-lo protestante. E

quem sabe criar um imaginário Latino Americano que seja legitimamente Brasileiro.

Elitânio Lopes Santana das Neves

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