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  • O GNERO TIRINHAS: UMA PROPOSTA DE SEQUNCIA DIDTICA

    Suzana Lima Vargas1

    Luciane Manera Magalhes2

    Resumo

    Este artigo aborda o ensino de gneros textuais por meio da utilizao de um modelo de trabalho deinido por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) a que denominam de sequncia didtica. Trata-se de experincia de pesquisa de interveno na qual construmos a sequncia didtica do gnero tirinhas e desenvolvemos a proposta didtica com alunos do 2 ano do ensino fundamental, de uma escola pblica. Os conhecimentos prvios dos alunos acerca do gnero estudado so analisados a partir de suas produes iniciais.

    Abstract

    his article addresses the teaching of texts genders through the use of a model of work deined by Dolz, Noverraz and Schneuwly (2004) named as didactics sequence. Its about interventional research experience in which we build the didactics sequence of the gender excerpts of the bottom of magazines and develop the didactics proposal with the 2nd grade students of a public school. he students previous knowledge of the studied gender is analyzed by their initial productions.

    1 INTRODUO

    Apesar de ainda haver muito a ser realizado no ensino de lngua materna no Brasil, principalmente no que diz

    1 Professora Adjunta Faced / UFJF. [email protected] Professora Adjunta Faced / UFJF. [email protected]

  • Educ. foco,

    Juiz de Fora,

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    respeito s sries iniciais, vale ressaltar as aes inovadoras das polticas pblicas para o ensino fundamental, com nfase nas mudanas curriculares e nos processos de organizao do ensino. Dentre essas aes, voltadas para a melhoria da qualidade de aprendizagem da leitura e escrita, destacam-se os Parmetros Curriculares Nacionais de Lngua Portuguesa PCNs (BRASIL, 1997), as propostas curriculares de estados e municpios brasileiros e o Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD). Alm dessas aes, os programas de formao continuada de professores, como PCNs em Ao, Pr-Letramento, Plano Nacional de Formao de Professores da Educao Bsica tambm investem na concretizao de prticas de sala de aula sustentadas pelos princpios orientadores apontados nos documentos oiciais.

    So aes que vm atender crescente exigncia de letramento no Brasil e dependem de uma escola que forme cidados capazes de pensar de modo criativo e de interagir usando diferentes linguagens. Noutros termos, pensamos em um processo educacional que permita ao aluno o acesso ao conhecimento, instrumentalizando-o para resolver problemas de diferentes naturezas. Quanto a isso, reconhecemos os grandes impasses vividos hoje pelos professores de educao bsica que so chamados a responder uma srie de demandas postas pelo MEC e pela sociedade em geral.

    Nesse sentido, temos a inteno de discutir a proposta de ensino de gneros textuais apontada nos PCNs de Lngua Portuguesa para as sries iniciais; apresentar uma sequncia didtica do gnero tirinha e analisar os conhecimentos prvios dos alunos ao elaborarem uma tirinha como tarefa de sua produo inicial.

    2 POR QUE TRABALHAR COM OS GNEROS TEXTUAIS?

    O trabalho com os gneros textuais, na escola, tornou-se imperativo desde a compreenso de que preciso proporcionar aos alunos o exerccio efetivo e competente das habilidades de

  • Educ. foco,

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    O gnero tirinhas:

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    leitura e escrita. Como destacam Batista et alii (2008) [...] muitas crianas chegam escola sem ter tido oportunidade de conviver e se familiarizar intensa e amplamente com os meios sociais de circulao da escrita (p.20), o que deixa escola uma importante funo: a de propiciar s crianas a vivncia de situaes diversiicadas com a maior variedade possvel de gneros textuais.

    A necessidade de um trabalho com os gneros textuais no ensino da lngua tem sido discutida h mais de dez anos, principalmente com a publicao dos PCNs de Lngua Portuguesa, nos quais os gneros so tomados como objeto de ensino. Tal preocupao ica evidente nos objetivos do documento:

    - expandir o uso da linguagem em instncias privadas e utiliz-la com eiccia em instncias pblicas, sabendo assumir a palavra e produzir textos tanto orais como escritos coerentes, coesos, adequados a seus destinatrios, aos objetivos a que se propem e aos assuntos tratados;- compreender os textos orais e escritos com os quais se defrontam em diferentes situaes de participao social, interpretando-os corretamente e inferindo as intenes de quem os produz [...] (p.33)

    A ideia bsica do documento que os alunos tomem conscincia da multiplicidade de gneros e aprendam a analisar, compreender e produzir textos em funo das diferentes situaes de uso da lngua no dia a dia. Esse aspecto pode ser observado no quadro a seguir, o qual indica para os professores os gneros orais e escritos adequados para o trabalho nas sries iniciais:

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    Quadro 1: Gneros discursivos

    Gneros adequados para o trabalho com a linguagem oral

    Gneros adequados para o trabalho com a linguagem escrita

    contos (de fadas, de assombrao, etc.), mitos e lendas populares; poemas, canes, quadrinhas, parlendas, adivinhas, trava-lnguas, piadas, provrbios; saudaes, instrues, relatos; entrevistas, debates, notcias, anncios (via rdio e televiso); seminrios, palestras.

    cartas (formais e informais), bilhetes, postais, cartes (de aniversrio, de Natal, etc.), convites, dirios (pessoais, da classe, de viagem, etc.); quadrinhos, textos de jornais, revistas e suplementos infantis:ttulos, lides, notcias, resenhas, classiicados, etc.; anncios, slogans, cartazes, folhetos; parlendas, canes, poemas, quadrinhas, adivinhas, trava-lnguas, piadas; contos (de fadas, de assombrao, etc.), mitos e lendas populares, folhetos de cordel, fbulas; textos teatrais; relatos histricos, textos de enciclopdia, verbetes de dicionrio, textos expositivos de diferentes fontes (fascculos, revistas, livros de consulta, didticos, etc.), textos expositivos de outras reas e textos normativos, tais como estatutos, declaraes de direitos, etc.

    FONTE: BRASIL (1997:82).

    Destaque-se que no h uma clareza nos PCNs quanto aos critrios utilizados para estabelecer as distines entre a lngua falada e a lngua escrita, assim como no se faz uma diferenciao sistemtica entre tipos textuais (fundam-se em critrios lingusticos e formais) e gneros textuais (fundam-se em critrios sociocomunicativos e discursivos). Observa-se, ainda, um predomnio dos gneros escritos mais formais e a ausncia de uma noo de gradao para o ensino dos gneros.

    Ao discutir a prtica de linguagem em sala de aula, Rojo (2000) defende o trabalho com os gneros textuais como uma

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    extraordinria oportunidade de se lidar com os usos sociais da lngua, na forma como ela acontece no dia na dia, na vida das pessoas. Entretanto, existem diferenas entre o uso do gnero na sociedade e a maneira como ensinado, pois nem sempre ser possvel explorar todos os aspectos ligados estrutura composicional, ao contedo temtico e ao estilo de cada gnero. Em situaes didticas, o estudo dos gneros textuais implica na opo por determinados elementos, considerando-se os grupos de alunos destinatrios do trabalho, suas capacidades de linguagem, seus conhecimentos prvios acerca do gnero.

    Os gneros textuais, na concepo de Marcuschi (2008), so fenmenos histricos profundamente vinculados vida cultural e social, surgindo de acordo com as necessidades e atividades socioculturais. No entendimento do autor, os gneros textuais caracterizam-se muito mais por suas funes comunicativas, cognitivas e institucionais do que por suas peculiaridades lingusticas e estruturais. Por isso, ressalta que no existem gneros textuais ideais para tratamento em sala de aula, mas que possvel eleger gneros para o ensino da lngua, considerando as diiculdades progressivas.

    Como nos PCNs h uma sugesto pouco clara para o tratamento dos gneros de maneira sistemtica, resta ao professor responder outras questes: Quais gneros escolher? Quais esferas sociais de comunicao sero consideradas nessa escolha? Quais so os tipos textuais predominantes nos gneros escolhidos? Como distribu-los do nvel menos formal ao mais formal, do mais pblico ao mais privado?

    No modelo de trabalho proposto por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), o ensino da lngua deinido a partir do agrupamento dos gneros por ciclos, considerando-se os diversos domnios sociais de comunicao, as capacidades de linguagem envolvidas na produo e a variedade de gneros orais e escritos. Vejamos como os autores sugerem a distribuio dos gneros para o ensino do francs como lngua materna.

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    Quadro 2: Sequncias didticas para expresso oral e escrita

    AGRUPAMENTOCICLO

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    NARRAR 1. O livro para completar1. O conto maravilhoso 2. A narrativa de aventura

    1. O conto do porqu e do como 2. A narrativa de aventura

    1. A pardia de conto 2. A narrativa de ico cientica 3. A novela fantstica

    RELATAR1. O relato de experincia vivida (Apresentao em udio)

    1. O testemunho de uma experincia vivida

    1. A notcia1. A nota biogrica 2. A reportagem radiofnica

    ARGUMENTAR 1. A car