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Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017
O fazer-se docente e o
Pibid
INDICTO EDITORA
TOLEDO
2018
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017
O FAZER-SE DOCENTE E O PIBID
Andréa Cristina Martelli
Dulce Maria Strieder
Dulcyene Maria Ribeiro
Lourdes Aparecida Della Justina
Solange de Fátima Reis Conterno
Organizadoras
INDICTO EDITORA
Toledo
2017
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017
Copyright: Dos autores. Todos os direitos reservados – 2017
Revisão: Dr. Rosan Luiz do Prado – Indicto Editora – Toledo – PR.
Produção gráfica e impressão: Ebook – Indicto Editora
Conselho Editorial:
Profª. Ana Meneghini, Profª. Eide Reati do Prado, Profº. Dr. Rosan Luiz
do Prado, Profº Dr. Moacir Jorge Rauber.
Apoio Financeiro:
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES
Realização:
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência -
PIBID/Unioeste
Rua Universitária, 1619 - Jardim Universitário - CEP 85819-100 -
Cascavel-PR
E-mail: [email protected]
Os autores de cada capítulo respondem individualmente e são totalmente
responsáveis pelo respectivo conteúdo publicado.
RIBEIRO, Dulcyene Mariaet al. O fazer-se docente e o Pibid/Andréa Cristina
Martelli, Dulce Maria Strieder e Lourdes Aparecida Della Justina
Solange de Fátima Reis Conterno. Toledo - Paraná: Indicto Editora,
2017.
283 p.
ISBN 978-85-54884-08-6
1. Educação
2. Formação de professores
3. Pibid/Unioeste
I. Título
CDD 1ª ed. – 370
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017
SUMÁRIO O LUGAR NO ENSINO DE GEOGRAFIA: UM OLHAR A
PARTIR DAS QUESTÕES AGRÁRIAS DE FRANCISCO
BELTRÃO ............................................................................ 27
A DINÂMICA DAS FEIRAS NA CIDADE DE
FRANCISCO BELTRÃO A PARTIR DA EDUCAÇÃO
GEOGRÁFICA ..................................................................... 48
A FORMAÇÃO DE FUTUROS PROFESSORES PELO
PROGRAMA PIBID NA PERSPECTIVA DIALÓGICA DE
BAKHTIN ............................................................................. 65
A LATERALIDADE E A SUA IMPORTÂNCIA NO
ENSINO DA GEOGRAFIA: UMA EXPERIÊNCIA COM
ALUNOS DO CURSO DE FORMAÇÃO DOCENTE ........ 93
GEOGRAFIA E CARTOGRAFIA: OS DESAFIOS
ENCONTRADOS NA SALA DE AULA .......................... 115
IMPORTÂNCIA DA ALFABETIZAÇÃO
CARTOGRÁFICA PARA A COMPREENSÃO DA
INTEGRAÇÃO DOS ESPAÇOS ....................................... 134
INTEGRAÇÃO DOS ESPAÇOS E ALFABETIZAÇÃO
CARTOGRÁFICA .............................................................. 156
JOGO COMO ESTRATÉGIA DIDÁTICA PARA O
ENSINO DE GEOGRAFIA ................................................ 179
JOGOS NARRATIVOS E O ENSINO DE HISTÓRIA:
REFLEXÕES SOBRE UMA EXPERIÊNCIA ................... 191
UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE “SUJEIÇÃO
CRIMINAL” A PARTIR DAS REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS NO RAP .............................................................. 215
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BONECAS ABAYOMI: UMA FORMA LÚDICA DE
ENSINAR ........................................................................... 235
A ARQUEOLOGIA DO DISCURSO NAS RESENHAS DE
NOTÍCIAS DO GRUPO PIBID DE SOCIOLOGIA ......... 263
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PREFÁCIO
O prefácio é um texto relativamente curto, que precede
a obra e tem o intuito de preparar o leitor para o que virá em
seguida. No caso do conjunto de coletâneas elaboradas pelo
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
(Pibid) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
Unioeste, adianto que nenhum texto desse caráter pode
cumprir bem essa função, dada a surpreendente e interessante
experiência de conhecer as atividades desenvolvidas no
Programa nos últimos quatro anos, discutidas nos capítulos
que compõem essa obra. As reflexões, elaboradas por
educadores que constroem conhecimento sobre o ensino no
cotidiano das escolas públicas, buscando qualificar a
formação dos mais novos professores, mais que revelam o
resultado de um trabalho sistemático realizado com grande
senso de responsabilidade. A leitura dessa obra nos
impulsiona à autorreflexão, a cada linha, provocando nosso
pensamento: “e nós”, que caminhos temos percorrido? Que
escolhas temos feito? Que recursos temos utilizado? O que
temos feito dos nossos erros e acertos?
O Pibid foi criado em 2007 pela CAPES e tem
alcançado expressivo reconhecimento social, colocando-se
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como um Programa estratégico no cenário das políticas de
formação de professores. O Programa insere estudantes do
curso de licenciatura no cotidiano das escolas da rede pública
de educação, nas quais praticam o ensino sob orientação de
um docente do curso - coordenador de área - e de um
professor da escola - o supervisor. Ao mesmo tempo,
oportuniza a identificação de problemas, estudos e mudanças
da realidade das escolas.
O conjunto de coletâneas do Pibid/Unioeste
possibilitam conhecermos e compreendermos como esse
Programa se traduz em um contexto específico. No seu
conjunto, a obra trata da experiência de formação de
autênticos educadores, trazendo temas variados e que
dialogam com a complexidade da práxis educativa das escolas
públicas do Estado do Paraná. O ponto de partida é de, nada
menos que cinco coletâneas, que detalham o trabalho
realizado por diferentes perspectivas, com destaque para a
organicidade das ações realizadas ao longo do processo de
iniciação à docência, que tem como ponto de partida a
construção de vínculos com a escola, o diagnóstico sobre a
realidade escolar, a realização de atividades formativas, o uso
de mecanismos de acompanhamento e a socialização dos
resultados alcançados.
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Na coletânea “Trajetórias de iniciação à docência no
Pibid/Unioeste”, os coordenadores das diversas áreas do
ensino descrevem as práticas desenvolvidas nas escolas. Os
textos relatam as experiências realizadas de modo crítico,
discutem os fundamentos teóricos e metodológicos em
questão, revelam os saberes produzidos e efeitos da
experiência na formação dos licenciandos. Além disso,
discutem as percepções dos bolsistas da iniciação à docência e
dos egressos do Programa sobre a própria formação e a
conscientização sobre o fato de que nós, educadores, nunca
estamos prontos por isso continuamos aprendendo. Também
analisam suas vivências quanto às práticas de ensino de
filosofia, biologia, geografia, língua portuguesa e línguas
estrangeiras, alfabetização e letramento, história e
matemática.
Uma marca das discussões travadas nessa coletânea é
a formação de professores reflexivos no cotidiano da escola,
para contemplar um ensino de qualidade visando à formação
plena de sujeitos críticos, que pensam e transformam sua
realidade.
Na coletânea “Experiências na educação em ciências e
matemática no contexto do Pibid/Unioeste”, a ênfase é a
formação de professores e docência nas áreas de Ciências e
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Matemática. Por um lado, ainda prevalece nas escolas um
ensino descontextualizado, baseado apenas na abstração, por
outro, as mais novas gerações demandam cada dia mais por
uma aprendizagem significativa. Em face disso, são relevantes
as reflexões dos textos dessa coletânea, pois partem das
práticas de iniciação à docência nas escolas para analisar a
história do pensamento científico e as possibilidades de
ensino lúdico com uso de jogos, materiais concretos, modelos.
Também discutem as práticas de investigação na escola como
meio de compreensão das condições de existência no planeta
e mudanças observados nos tempos atuais, como as mudanças
climáticas globais, efeitos do uso dos smartphones no corpo
humano, petróleo e combustíveis fósseis, o papel dos fungos
na natureza. Há relatos sobre a importância das feiras de
ciências e até mesmo da educação inclusiva com ensino de
matemática para crianças cegas. Desse modo, as experiências
relatadas nessa coletânea apontam a necessária implicação
entre escola e vida dos sujeitos que aprendem, ajudando a
ressignificar a experiência escolar.
Na coletânea “Vivências na sala de aula no Pibid”, o
destaque é para o ensino de línguas, bem como o modo de
formar o professor. É consenso a importância tanto do
domínio do português quanto de outras línguas para que se
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aprenda mais sobre si mesmo e sobre o mundo na sua
pluralidade de valores culturais formas de organização
política e social, mas são inúmeras as dificuldades dessa
prática na escola pública. Como resultado das práticas de
iniciação à docência nas áreas de ensino de português, inglês e
espanhol, os textos argumentam sobre as possibilidades de
uso das tecnologias da informação e comunicação, da
literatura, do cinema, do cordel, dos readers - pequenos livros
reescritos a partir dos grandes e complexos clássicos da
literatura. Também debatem abordagens diferenciadas,
analisando criticamente as mais conservadoras e explorando
inovações possíveis, como a produção de livro didático. Há
reflexões acerca da ação do professor frente aos desvios de
escrita dos alunos, a problematização acerca da concepção de
leitura, discussões acerca da oralidade. No bojo da reflexão
sobre a função social da escrita, incluindo experimentos sobre
o ensino da função argumentativa e discursiva do texto, a
coletânea apresenta ainda, como lastro, as teorias
socioconstrutivistas no ensino das línguas, valorizando e
empoderando o sujeito do conhecimento.
Na coletânea “O fazer-se docente e o Pibid”, tem lugar
o ensino das ciências humanas na escola. É indiscutível o
papel do ensino de história, geografia e sociologia para a
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formação de um cidadão consciente. Os resultados da
experiência de iniciação à docência nessa área, analisados nos
textos dessa coletânea, contribuem com a reflexão sobre as
questões locais como agricultura, a dinâmica das feiras locais,
o estudo da hidrografia. Os textos discutem o uso de jogos e
atividades práticas em grupos como formas de ensino mais
lúdicas, uso da cartografia como meio de reconhecimento da
realidade pelos alunos, uso dos jogos narrativos para
compreensão de si como sujeito histórico, uso das bonecas
Abayomis – feitas de retalhos de tecido - para ensino da
reflexão sociológica relativo às questões raciais e de gênero.
Ou seja, os textos compilados dão evidência à necessidade de
formar o pensamento crítico e seres humanos capazes de
compreender e produzir relações sociais saudáveis, com
clareza sobre seu papel nas transformações necessárias da
sociedade.
Na coletânea “Experiências dos subprojetos de
Pedagogia do Pibid/Unioeste”, é dado foco à formação de
professores para ensino da língua materna como condição
para a expressão e autonomia dos sujeitos, desde a educação
infantil e o ensino fundamental. São grandes os desafios com
o ensino de português que forme sujeitos capazes de produzir
e compreender textos. A coletânea apresenta formas de
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enfrentamento dessa realidade a partir da contação de
histórias para instigar as crianças a apreciar a leitura, de
aproximações entre a educação formal e não formal para
preparar o sujeito para o exercício da cidadania, da reflexão
sobre a alfabetização e o letramento, incluindo as pessoas com
necessidades especiais e a alfabetização matemática, do
trabalho com a literatura como modo de compreensão da
realidade e resolução de conflitos, das contribuições da Teoria
Histórico-cultural, do aprendizado sobre folclore e cultura
popular na educação infantil. Essa coletânea mostra caminhos
percorridos no sentido de colocar o ensino da língua a serviço
da leitura de mundo, abrindo promissora perspectiva de
trabalho para uma efetiva educação na infância.
À essa altura, deve estar claro para o leitor o porquê
dessa despretensiosa introdução às Coletâneas do
Pibid/Unioeste. Ciente da impossibilidade de reduzir a poucas
palavras a robusta contribuição dessa obra, as páginas iniciais
representam o resultado, principalmente, de uma leitura
transversalizada pela gratidão e honra de compartilhar ideias
com os autores, sujeitos, educadores do Estado do Paraná. A
leitura de mundo, de escola, de docência e de formação
impressa nesse trabalho são o testemunho vivo de
experiências vividas e reflexionadas no espaço-tempo
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singular, sob condições objetivas e específicas. Mas, ao
mesmo tempo, no seu conjunto, os textos apresentados
despertam a esperança de que uma outra educação é possível,
que ela está em construção e que podemos fazer parte disso,
dialogando com outros educadores, repensando nossas
próprias práticas. Boa leitura!
Alessandra Santos de Assis
Professora do Departamento de Educação II -
FACED/UFBA, Docente do Programa de Mestrado
Profissional em Educação na UFBA e Coordenadora
Institucional do Pibid/UFBA
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APRESENTAÇÃO
A coletânea “O fazer-se docente e o Pibid” é resultado
de atividades desenvolvidas nos subprojetos, do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, nos
últimos quatro anos.
Nosso projeto contempla 20 cursos de licenciatura
distribuídos em cinco campi da instituição, sendo esses:
Ciências Biológicas (Cascavel), Ciências Sociais (Toledo),
Educação Física (Marechal Cândido Rondon), Enfermagem
(Cascavel), Filosofia (Toledo), Geografia (Francisco Beltrão e
Marechal Cândido Rondon), História (Marechal Cândido
Rondon), Letras-Inglês (Cascavel, Foz do Iguaçu e Marechal
Cândido Rondon), Letras – Português (Cascavel e Marechal
Cândido Rondon), Letras-Espanhol (Cascavel), Matemática
(Cascavel e Foz do Iguaçu), Pedagogia (Cascavel, Francisco
Beltrão e Foz do Iguaçu) e Química (Toledo).
A participação dos cursos de licenciatura da Unioeste
no Programa, desde o edital de 2009, fomenta reflexões sobre
a atuação docente e seus elementos constituintes, contribuindo
para a melhoria de resultados no processo de ensino e
aprendizagem desde os anos iniciais do ensino fundamental,
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ensino médio até a educação técnica de nível médio. A
formação de professores para a Educação Básica tornou-se
centro de discussões em diferentes momentos na
universidade, tendo em vista a visibilidade ocasionada pelas
atividades desenvolvidas no Programa.
As atividades nos subprojetos ocorrem em diferentes
etapas, embora todas sejam interdependentes. O
conhecimento da organização da escola, sua estrutura e de
seus profissionais são anuais, tanto pela dinamicidade própria
da educação, quanto pelo movimento de bolsistas e a troca de
algumas escolas que deixam de atender aos critérios do Edital
61/2013 – Capes ou por outro contratempo. Os estudos dos
instrumentos legais e pedagógicos de cada escola corroboram
para ampliar o conhecimento da escola parceira do Pibid.
Concomitante ao processo de conhecimento da escola
foi desenvolvido grupos de estudos na universidade e nas
escolas com a participação dos bolsistas (iniciação à docência,
supervisão e coordenação de área) com temáticas referentes à
docência e ao conhecimento de cada área. Os fichamentos de
livros e textos, bem como os estudos dirigidos e o uso das
mídias sociais fomentam o planejamento da inserção e
vivência na escola, ou seja, da docência.
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Na escola, os bolsistas de iniciação à docência
observaram as disciplinas específicas de cada subprojeto;
desenvolveram oficinas didáticas e artísticas (turbante, grafite,
rap, outros); organizaram laboratórios e feiras de ciências;
elaboraram planos e projetos de ensino; prepararam cenários e
encenação de peças teatrais; ministraram palestras,
produziram contação de histórias e materiais didáticos.
Essas atividades desenham a inserção dos bolsistas de
iniciação à docência nas escolas, as quais contribuem para a
sua formação acadêmica e profissional, pois os aproxima do
cotidiano de sua atuação e ainda permite às comunidades
escolares usufruírem de atividades diferenciadas.
O programa demonstrou e ratificou sua importância na
formação inicial e continuada de professores para a Educação
Básica, exercendo importante papel nos cursos de licenciatura
da Universidade. Uma das contribuições do Programa às
licenciaturas é a consolidação da relação da Educação
Superior com a Educação Básica, haja vista que ao
desenvolver as atividades previstas em cada subprojeto, os
bolsistas de iniciação à docência se envolvem diretamente
com as especificidades do seu campo de trabalho e com as
peculiaridades do trabalho docente.
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Nesse sentido, essa empiria aprimora os estágios
obrigatórios e suscita reflexões nas disciplinas dos cursos
envolvidos, ultrapassando os limites de formação daqueles
diretamente envolvidos e alcançando a comunidade
acadêmica dos cursos como um todo.
A experiência de participar de eventos científicos
proporciona aos bolsistas o desafio da escrita dentro das
normas científicas, bem como, a sistematização e
contextualização das discussões teóricas com as vivências nas
escolas. Além disso, possibilita o acesso aos novos
conhecimentos e propostas metodológicas de suas áreas e o
conhecimento sobre as realidades diversas. A participação em
eventos instiga a escrita e a fala de seus objetos de estudo,
ocasionando uma formação mais abrangente e o desafio de
construir argumentos no intercâmbio com acadêmicos de
outras universidades.
Outro fator de contribuição para as licenciaturas é o
aumento de alunos egressos da Educação Básica, que têm
optado pelos cursos de licenciatura nas universidades
públicas. Eles afirmam que, de uma forma ou outra, o contato
que tiveram com atividades e bolsistas do Pibid quando ainda
estavam na escola, foi determinante para a escolha do curso
de licenciatura.
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Como resultado desse trabalho, apresentamos as
produções que compõem essa coletânea. O capítulo “O lugar
no ensino de geografia: Um olhar a partir das questões
agrárias de Francisco Beltrão” de Gabriel Durante, Rafael
Ghidini e Shirley Manera Balastrelli, apresenta uma palestra
na qual foram discutidas as relações agrárias do município de
Francisco Beltrão para debater assuntos relacionados à
agropecuária por meio da categoria lugar, levando em
consideração os conhecimentos prévios dos estudantes,
possibilitando assim reflexões críticas acerca da realidade dos
mesmos. A realização dessa atividade possibilitou a utilização
de diferentes recursos visuais para a compreensão do tema.
Entretanto, também demonstrou limites, como o cansaço entre
os participantes. Porém, os autores sugerem a realização de
outras atividades que podem contribuir para produção de
conhecimento pelos estudantes sobre o tema.
Gilvana Fatima Carvalho, Luiz Carlos da Silva e
Nubia Luiza Chaves da Rosa Pazinato, autor e autoras de “A
dinâmica das feiras na cidade de Francisco Beltrão a partir da
educação geográfica” evidenciam a importância do lugar e da
Educação Geográfica para o entendimento das dinâmicas das
Feiras locais, para tanto consideram os aspectos econômicos,
culturais e históricos. Com esse intuito entrevistaram os
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feirantes locais, realizaram estudos sobre a agroindústria,
visitaram supermercados e coletaram informações relevantes
para o trabalho. Para o desenvolvimento desse artigo foi
realizada pesquisa bibliográfica que demonstra como a ciência
geográfica contribui para compreensão das relações políticas,
econômicas, culturais, sociais e territoriais.
“A formação de futuros professores pelo programa
Pibid na perspectiva dialógica de Bakhtin” de Ione A. Zucchi
Modanese e Sonia M.M. Nacke apresenta reflexões sobre a
formação de futuros professores, fundamentadas no conceito
do dialogismo na perspectiva bakhtiniana. Segundo as
autoras, o Pibid proporciona aos acadêmicos vivenciar
práticas pedagógicas ao longo da graduação e também
aproxima professores da escola pública com a universidade,
estabelecendo formas de dialogar sobre as diferentes
realidades que envolvem o ato de ensinar. Desta forma,
afirmam que os Pibidianos passam a ter uma formação mais
significativa e contínua, articulada entre os conteúdos
acadêmicos, os objetos escolares e suas práticas e, os
diferentes sujeitos que estão envolvidos no fazer pedagógico.
Por fim, as autoras dizem que é pela experiência concreta,
com alunos reais e pelas diferentes interações sociais que nos
tornamos professores.
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O capítulo “A lateralidade e a sua importância no
ensino da geografia: Uma experiência com alunos do curso de
formação docente” de Giovani Luiz Käfer e Alisson Henrique
Bavaresco apresenta parte do trabalho direcionado ao conceito
de Lateralidade, uma das principais noções topológicas para
formação do conceito de espaço geográfico. Os autores
descrevem a realização de Oficinas que foram realizadas com
alunos do 1º ano do curso de Formação Docente em que as
metodologias adotadas foram diversificadas, destacando-se a
problematização de elementos vinculados aos conhecimentos
cotidianos dos alunos, jogos e atividades práticas em grupos.
Os autores consideram ter propiciado aos alunos um
conhecimento mais aprofundado no que tange a área e
ofereceram alternativas didáticas para eles, que futuramente,
se tornarão professores nas Séries Iniciais da escola Básica.
Elaborado por Ana Carolina Tazinasso e Danieli Matei
“Geografia e cartografia: Os desafios encontrados na sala de
aula” relata a experiência realizada com ouso de metodologias
diversas visando favorecer a compreensão da linguagem
cartográfica para a turma do 2º ano do curso Técnico em
Formação de Docentes. Para a construção desta análise, as
autoras dialogam com os conceitos de referenciais que
fundamentaram alguns dos debates realizados nos encontros
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do Pibid. Buscam dialogar com os autores, mostrando a
importância de reconhecer a realidade dos alunos no processo
educativo, ao mesmo tempo em que, analisam as principais
dificuldades de se desenvolver metodologias diferenciadas de
aprendizagem a partir da experiência no Pibid.
O capítulo “Importância da alfabetização cartográfica
para a compreensão da integração dos espaços” da autoria de
Andreza Carla Corrazza, Daiane Peluso e Marlon Ronner
Faedo apresenta as atividades realizadas em Oficinas de
ensino de Cartografia nos 1º e 2º anos do Curso de Formação
Docente – Ensino Médio do Colégio Estadual Mário de
Andrade – Francisco Beltrão/PR. Tais oficinas tiveram como
principal objetivo facultar a aprendizagem dos conteúdos aos
alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental I. Verificou-
se que as atividades possibilitaram aos alunos a percepção dos
elementos cartográficos que permitem a leitura dos mais
diversos mapas/trajetos. Como resultados consideram a
intervenção de forma positiva, pois os alunos foram
participativos e interessados na realização das atividades,
demonstrando dessa forma, o grande potencial das atividades
para colaborar no processo de ensino e de aprendizagem da
linguagem cartográfica.
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Luéli Bortoletti e Ritiéli Pires da Silva elaboraram
“Integração dos espaços e alfabetização cartográfica”, no qual
relatam a contribuição das intervenções pedagógicas
realizadas pelo Pibid para o processo de alfabetização
cartográfica nos cursos de formação docente do Colégio
Estadual Mário de Andrade, localizado no município de
Francisco Beltrão - PR. Realizaram uma pesquisa
bibliográfica sobre a importância do ensino de noções
espaciais e cartográficas nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, bem como a elaboraram e executaram
atividades coletivas de caráter lúdico para a construção de
noções cartográficas a partir de elementos do cotidiano
docente dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
O “Jogo como estratégia didática para o ensino de
geografia” de Adriana Edite Apolinário, Jaime Santana de
Figueiredo Junior e Tatiéli Cella apresenta o relato de
experiência dos Pibidianos do subprojeto de Geografia do
Campus de Francisco Beltrão-PR, na aplicação de jogo com
temática relacionada ao estudo da hidrografia. O jogo partiu
de um desafio, no qual os estudantes precisavam criar
propostas para combater a poluição da água no município,
permitindo que participassem ativamente das aulas em que
desenvolviam o jogo. Tal proposta apresentou resultados
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 24
significativos na aprendizagem dos alunos, uma vez que ao
fim do processo, os mesmos elaboraram propostas
consistentes e coletivas para diminuir a poluição da água,
possibilitando um maior acesso dela para toda a população.
Aparecida Darc de Souza e Rodrigo Ribeiro Paziani
no capítulo “Jogos narrativos e o ensino de história: Reflexões
sobre uma experiência” narram que a realidade do ensino
escolar impõe ao profissional de História um constante
diálogo com o tempo presente e vivido socialmente. É preciso
em primeiro lugar, interesse e empatia para iniciar uma
observação dos modos de vida dos estudantes. Esta
observação, no entanto deve ser balizada por uma concepção
de ensino de História. Assim, entre as atividades produzidas
dentro do projeto Pibid História destacam o desenvolvimento
e aplicação de jogos narrativos. A proposta é apresentar um
relato de experiência e ao mesmo tempo desenvolver algumas
reflexões sobre o sentido e o significado do uso dos jogos
narrativos no ensino de História.
No capítulo “Uma análise do processo de “sujeição
criminal” a partir das representações sociais no RAP”
Caroline Andressa Momente Melo. e Jhonathan Matheus
analisam que as letras das músicas oportunizam maior
compreensão acerca do conceito de “sujeição criminal”
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conforme oferecem as representações dos sujeitos que ora são
“simplesmente” incriminados, ora estão inseridos no processo
de “sujeição criminal”, ou seja, quando há uma expectativa
que determinados sujeitos estão propensos a cometer práticas
criminosas, particularmente violentas, e isso constitui a
personalidade do sujeito, compõe seu caráter, sua
subjetividade, seu ser, portanto, “sua morte ou
desaparecimento podem ser amplamente desejados” (MISSE,
2010, p. 03).
“Bonecas Abayomi: uma forma lúdica de ensinar” de
Juliana Machiner Buraicko aborda alguns pressupostos a
respeito da teoria de ensino, e a importância da utilização de
atividades lúdicas em sala de aula como recursos que visam
melhorar o desempenho e interesse do estudante diante do
conteúdo ensinado. O resultado disso foi a aplicação de uma
oficina de produção das chamadas bonecas Abayomis, um
recurso didático utilizado na finalização da discussão da
temática racial e da noção de alteridade, com alunos do ensino
médio em uma atividade realizada através do Pibid de
Sociologia.
E a coletânea encerra-se com o texto: “A arqueologia
do discurso nas resenhas de notícias do grupo Pibid de
Sociologia” de autoria de Marco Antonio Arantes, o qual
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relata a experiência realizada em projeto que objetivou o
desenvolvimento de um conceito/teoria sociológica, tendo
com suporte notícias de jornais. A construção de resenhas
possibilita trabalhar com notícias de jornais e repensar sobre
as relações entre a teoria e a prática; refletir sobre a
construção de ideias e a reinterpretar notícias de jornais.
As organizadoras
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O LUGAR NO ENSINO DE GEOGRAFIA: UM OLHAR
A PARTIR DAS QUESTÕES AGRÁRIAS DE
FRANCISCO BELTRÃO1
Gabriel Durante2
Rafael Ghidini3
Shirley Manera Balastrelli4
Introdução
O presente trabalho apresenta uma intervenção
pedagógica realizada no subprojeto de Geografia que compõe
o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
(Pibid) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(Unioeste) campus de Francisco Beltrão.
O subprojeto de Geografia da Unioeste/FB conta
atualmente com 24 (vinte e quatro) bolsistas de iniciação à
docência, 04 (quatro) professoras supervisoras e 02 (duas)
coordenadoras de área e está inserido em 03 (três) escolas no
município de Francisco Beltrão.
O Pibid consiste na inserção dos acadêmicos dos
cursos de licenciatura em escolas, para que estes possam
1 Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo
Brasileiro, voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão. 3Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão. 4Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 28
observar e intervir propositivamente sobre a realidade escolar,
buscando aprimorar a qualificação profissional do acadêmico,
assim como, a obtenção de novos saberes.
O presente trabalho apresenta uma ação desenvolvida
no Colégio Estadual Tancredo Neves. Essa ação pedagógica
tinha por objetivo discutir as relações histórico-geográficas
existentes no município de Francisco Beltrão. Para tanto foi
necessário realizar pesquisa bibliográfica, respaldando em
autores como Flávio (2011), Cattelan e Castanha (2016) e
Colognese e Stoffel (2007), e, também, pesquisa de campo
para a coleta de informações. A busca de informações foi
sistematizada em uma palestra que foi realizada com 02
(duas) turmas do 2º ano do Ensino Médio, no turno matutino.
Por meio da análise do desenvolvimento histórico de
Francisco Beltrão buscamos explorar as relações econômicas
e de poder existentes correlacionando-as com as
características econômicas atuais, visando a compreensão dos
fenômenos geográficos presentes na realidade dos estudantes.
Para tal, primeiramente realizamos um levantamento
de informações acerca do tema central que consistia nas
relações econômicas presentes na agropecuária do município,
através de revisões da literatura, buscas na internet,
entrevistas e trabalhos de campo. Após, compilamos as
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informações obtidas e organizamos uma apresentação de
slides, contendo imagens, gráficos, tópicos e mapas. A ordem
da apresentação buscou favorecer o desenvolvimento de
raciocínios histórico-geográficos que permitiriam
compreender as transformações ocorridas na dinâmica
espacial, tendo como escala de análise o município de
Francisco Beltrão.
Vale destacar que o intuito foi potencializar o ensino
de Geografia por meio da categoria lugar. Nesse sentido, a
recuperação histórica de alguns aspectos do munícipio
vinculados à economia e à população foi realizada com vistas
a atribuir sentido e explicar as relações econômicas atuais à
luz da Geografia, ou seja, conhecer o passado para melhor
entender o presente.
Dessa forma, o trabalho está organizado em três
seções, que buscam demonstrar as relações existentes entre a
dinâmica econômica de Francisco Beltrão e o ensino de
Geografia ancorado pela categoria analítica geográfica do
lugar.
Na primeira parte buscamos contextualizar o perfil
agropecuário do município de Francisco Beltrão, recuperando
brevemente sua gênese histórica para compreender as relações
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 30
socioeconômicas e suas interligações com a cidade, através
das feiras e supermercados.
Na segunda seção, procuramos evidenciar as
possibilidades do tema em análise para o ensino de Geografia
na Educação Básica por meio da utilização do conceito lugar,
a partir da intervenção pedagógica realizada na forma de
palestra e também realizando sugestões de alternativas
didáticas para o debate deste tema na disciplina de Geografia.
Por fim, realizaremos algumas considerações
buscando sintetizar os argumentos apresentados com vistas a
fornecer subsídios para o enriquecimento da discussão do
ensino de Geografia através do conceito lugar.
Contextualizar para entender
O desenvolvimento do sudoeste do estado do Paraná
foi rápido e é considerado uma formação recente.
Intensificou-se durante o governo de Getúlio Vargas,
principalmente nas décadas de 40 e 50, devido a política
governamentista da Marcha para o Oeste, que foi inspirada na
expansão territorial dos Estados Unidos da América e tinha
como objetivo ocupar o interior do país (CATTELAN;
CASTANHA, 2016).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 31
No ano de 1943 houve a criação e a instalação
provisória da Colônia Agrícola Nacional General Osório
(Cango) no município de Pato Branco, logo transferida ao
município de Francisco Beltrão, que na época era distrito e
conhecido por Vila Marrecas (CATTELAN; CASTANHA,
2016). A principal função da Cango era a distribuição das
terras entre os colonos recém-chegados, oriundos de Santa
Catarina e do Rio Grande do Sul. Além da distribuição de
terras, a Cango envolvia-se em outros processos de ocupação
como: criação de escolas, construção de hospitais, olaria,
ferrarias, oficinas mecânicas, entre outros.
O desenvolvimento eclodiu, e em 1952 ocorreu a
emancipação do município de Francisco Beltrão, nome dado
para homenagear Francisco Gutierrez Beltrão, engenheiro e
grande colonizador do Paraná.
O projeto de ação da Cango visava efetivar a
colonização da região de fronteira do sudoeste do Paraná.
Para o Governo Federal, a colonização desta região, tida como
abandonada, satisfaria múltiplas necessidades, dentre elas a
proteção da fronteira e a expansão da produção agrícola para
o suprimento do mercado interno (FLÁVIO, 2011).
Conforme Flávio (2011), para poder acomodar mais
famílias, a Cango buscava controlar a demarcação das glebas
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 32
para que tivessem entre 25 e 50 hectares. Porém, como não
detinha o controle total da colonização, formaram-se grandes
propriedades de posse de migrantes abastados, que viam na
Colônia uma oportunidade vantajosa de negócios, já que as
terras disponíveis eram baratas e produtivas.
Em 1962, o presidente João Goulart criou o Grupo
Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná (Getsop) que,
entre 1962 e 1974, regularizou a posse da terra na região,
emitindo títulos válidos aos posseiros (FLÁVIO, 2011).
Embora a atuação do Getsop não tenha sido completamente
democrática, sua ação ocasionou uma legalização fundiária
configurando “[...] uma estrutura fundiária rural caracterizada
por pequenos estabelecimentos apropriados pelas famílias de
migrantes gaúchos e catarinenses no sudoeste paranaense”
(FLÁVIO, 2011, p. 297).
A organização da área rural “oficializada” pelo Getsop
representa, até hoje, a estrutura fundiária do município de
Francisco Beltrão. De acordo com dados do Censo
Agropecuário de 2006, dos 54.132 hectares destinados à
atividades agropecuárias no município, 38.347 (70%)
pertencem a propriedades com menos de 50 hectares. Além
disso, 48.555 hectares (89%) são trabalhados pelo próprio
proprietário da terra, sendo relegadas aos 11% restantes as
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 33
demais formas de utilização (arrendamento, parceria,
ocupação, etc.). Ademais, 86% das pessoas ocupadas nos
estabelecimentos agropecuários possuem laços de parentesco
com o produtor, e em 69% da área é realizada a agricultura
familiar. Estes dados sintetizam a estrutura fundiária do
município em análise, caracterizada por pequenas
propriedades utilizadas através do trabalho familiar.
A partir da década de 1970 a produção agrícola
familiar tornou-se integrada ao mercado, passando a estar
diretamente ligada à produção industrial. A incorporação da
pequena propriedade familiar gerou novas dinâmicas
produtivas que substituíram o caráter comunitário e de
subsistência por práticas individualizadas e competitivas.
Dessa forma, a terra transformou-se de um meio de
subsistência para um meio de produção de mercadorias
(COLOGNESE; STOFFEL, 2007).
Neste contexto de integração, a agricultura familiar
expandiu suas atividades e ramificou-se até a cidade, estando
atualmente presente em feiras, supermercados, e no comércio
em geral. O produtor familiar, dessa forma, ampliou sua rede
de atuação, pois embora esteja conectado verticalmente com a
agroindústria, também exerce atividades mercantis, embora
em pequena escala, diretamente com os consumidores dos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 34
centros urbanos mais próximos, através sobretudo das feiras,
que são construídas para que os pequenos agricultores possam
comercializar suas mercadorias.
Além das feiras, os supermercados da cidade de
Francisco Beltrão mantém uma relação próxima com os
produtores agrícolas, por meio da comercialização dos
produtos, os donos dos supermercados estabelecem junto ao
produtor preços que sejam adequados, para poder adquirir e
comercializar o produto fornecido, os mercados possuem uma
média de 40% do seu hortifrúti composto por produtos
fornecidos por produtores agrícolas.
O breve histórico que buscamos apresentar nesta seção
teve o objetivo de caracterizar o perfil socioeconômico de
Francisco Beltrão e por meio dessa contextualização verificar
as possibilidades do tema no que tange o ensino de Geografia.
A estrutura fundiária e a agropecuária de Francisco Beltrão,
tanto em sua história quanto em sua configuração atual,
dispõem de elementos substancialmente integrados ao estudo
da Geografia, como as relações econômicas e de poder, a
mútua influência campo-cidade, as disputas territoriais, os
processos de territorialização e a complexidade e a integração
dos múltiplos lugares.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 35
Em relação ao último item, gostaríamos de salientar
que a utilização do lugar para o ensino de Geografia traz em si
a possibilidade de explorar as relações cotidianas dos
estudantes para o desenvolvimento de raciocínios geográficos.
Dessa forma, ao compreender a realidade na tecitura das
múltiplas relações definidoras do lugar, o estudante aprofunda
o seu entendimento dos fenômenos que o cercam espacial e
temporalmente, e como tais são essencialmente geográficos,
aprimora sua compreensão dos conteúdos da Geografia. Dessa
forma, vemos o conceito lugar como eixo norteador para o
ensino dos conteúdos geográficos na Educação Básica.
Desse modo, buscaremos, no próximo item, apontar
algumas possibilidades na utilização do tema abordado para o
ensino da Geografia na Educação Básica, tomando enquanto
objeto de análise o lugar considerando a realidade dos
estudantes.
O conceito lugar e suas possibilidades para ensinar e
aprender geografia
O conceito de lugar nas Diretrizes Curriculares
Estaduais de Geografia da Educação Básica do Paraná
(DCEs) baseia-se predominantemente na vertente crítica da
Geografia. O lugar é abordado por meio de sua relação com o
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 36
processo de globalização, também considerando seus aspectos
próprios. O estudante deve entender que a partir do lugar é
possível observar as influências, a materialização, mas
também as resistências ao processo de globalização,
compreendendo as dinâmicas econômicas tanto internas
quanto externas ao lugar (PARANÁ, Diretrizes Curriculares
Estaduais da Educação Básica: Geografia, 2008).
Segundo Callai (2000, p. 86)
[...] estudar e compreender o lugar, em
Geografia, significa entender o que
acontece no espaço onde se vive para
além das suas condições naturais ou
humanas. Muitas vezes as explicações
podem estar fora, sendo necessário buscar
motivos tanto internos quanto externos
para se compreender o que acontece em
cada lugar. O espaço construído resulta da
história das pessoas, dos grupos que nele
vivem, das formas como trabalham, como
produzem, como se alimentam e como
fazem/usufruem do lazer.
Baseados na concepção do lugar enquanto espaço e
produção de relações particulares, históricas, culturais,
econômicas e de identidade para o ensino de Geografia,
buscamos realizar uma ação didático-pedagógica (palestra)
que explorasse as relações econômicas e de poder e os
fenômenos territoriais manifestos na dinâmica agropecuária
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 37
do município de Francisco Beltrão e seus desdobramentos
enquanto conteúdo escolar a ser trabalhado com os alunos de
Ensino Médio nas aulas de Geografia
A palestra foi realizada com 02 (duas) turmas do 2º
ano do Ensino Médio no turno matutino, durante 02 (duas)
horas-aula. Para realizarmos tal atividade, efetuamos um
levantamento de informações e organizamos, com o auxílio
das professoras supervisoras e coordenadoras do Pibid, uma
apresentação de slides (figura a seguir).
Figura 1: Parte da apresentação de slides utilizada em sequência (de cima
para baixo e da esquerda para a direita): monumentos da colonização,
dinâmica da agropecuária, produtos vendidos na feira, e síntese do
conteúdo.
Fonte: Arquivo pessoal dos autores.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 38
No transcorrer da palestra, os estudantes puderam,
progressivamente, compreender os fenômenos históricos e
suas implicações na configuração do espaço, entendendo as
relações geográficas presentes naquele tema. Para tal,
utilizamos esquemas, gráficos, ilustrações e mapas temáticos.
Percebemos um interesse significativo por parte dos
estudantes sobre o tema que estávamos discutindo. Enquanto
falávamos sobre a organização da agropecuária no município,
alguns deles exemplificaram o tema mencionando como seus
parentes, que viviam no campo, realizavam suas atividades
agropecuárias. Enquanto discutíamos a organização do
comércio e a sua relação com a agropecuária outros, que
trabalhavam em supermercados, contribuíram com a
discussão, complementando a fala dos pibidianos com o
conhecimento prévio que possuíam.
No entanto, os estudantes participavam apenas quando
eram instigados pelos pibidianos. Dessa forma, os
questionamentos e os incentivos realizados pelos pibidianos
que ministraram a palestra conferiam segurança aos
estudantes para que esses pudessem participar da discussão.
Não obstante, quando não eram questionados e instigados se
limitavam a conversar em tom baixo com os colegas, mas não
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 39
interferiam na palestra, pois não se sentiam seguros, embora
tivessem interesse no tema.
Essa atitude de passividade e de não intervenção dos
estudantes pode ser entendida à luz de formas de ensino-
aprendizagem predominantes nas salas de aula em que o
professor é detentor de todo conhecimento, e os estudantes
são tidos como “tábuas rasas” a ser preenchida pelos
conteúdos transmitidos pelo professor (FREIRE, 2016).
[...] A única margem de ação que se
oferece aos educandos é a de receberem
os depósitos, guardá-los e arquivá-los.
Margem para serem colecionadores ou
fichadores das coisas que arquivam. No
fundo, porém, os grandes arquivados são
os homens, nesta (na melhor das
hipóteses) equivocada concepção
“bancária” da educação. Arquivados,
porque, fora da busca, fora da práxis, os
homens não podem ser. Educador e
educandos se arquivam na medida em
que, nesta distorcida visão da educação,
não há criatividade, não há transformação,
não há saber [...] (FREIRE, 2016, p. 80-
81).
Tal arquivamento, dentre outras coisas, intimida os
estudantes. Somente deixa margem para sua atuação passiva,
enquanto receptáculos vazios a serem preenchidos. Essa
dicotômica relação professor-estudante reduz a ação do
estudante na sala de aula, limitando-o. Foi isso que
percebemos no decorrer da atividade, através das atitudes
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 40
contidas e receosas dos estudantes. Trata-se de uma realidade
escolar na qual o estudante é subjugado a uma posição passiva
no processo de ensino-aprendizagem.
Entretanto, um aspecto positivo da atividade foi que a
discussão das relações agrícolas através do conceito lugar
trouxe importância ao tema. Os estudantes conseguiram
conectar o conteúdo discutido com suas realidades, pois
falavam de seus parentes que trabalhavam no campo, do
supermercado onde faziam suas compras, das feiras que
visitavam e dos produtos que lá compravam.
[...] O mundo empírico, o vivido pelo
aluno, pode lhe proporcionar noções
sobre o mundo teórico; a vivência do
aluno e a ação docente por meio de
problematizações, pesquisas, aulas
expositivas, trabalho de campo etc.
contribuirão para que o aluno consiga
estruturar e construir conceitos científicos
no campo do mundo teórico
(CASTELLAR e VILHENA, 2011, p.
100-101).
Sabemos que a construção de conceitos não é
exclusividade da escola, ela ocorre a partir da vivência do
estudante, através da formulação de suas próprias noções,
geralmente intuitivas, acerca de objetos e fenômenos. Cabe a
escola, portanto, aprimorar essas noções através de suas
técnicas e processos didáticos, aperfeiçoando a compreensão
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 41
dos conceitos no plano do mundo teórico, tornando-os mais
coerentes cientificamente (CASTELLAR; VILHENA, 2011).
A importância dos conhecimentos prévios dos
estudantes no processo de ensino-aprendizagem advém do
fato de que
[...] não se aprende aquilo que se
desconhece, não se gosta daquilo que se
ignora. É preciso, portanto, considerar que
a aprendizagem é um processo de
reconstrução e que há rupturas com
aquilo que já se sabe ou com a
representação que se tem dos objetos
(CASTELLAR; VILHENA, 2011, p. 103,
grifos nossos).
Embora a atividade tenha despertado o interesse dos
estudantes sobre o tema, a sua organização enquanto palestra
causou cansaço nos participantes. Por conta da complexidade
do tema e da disponibilidade de tempo (o limite era de 02
(duas) horas-aula), não foi possível, naquele momento,
associar a fala (exposição) sobre o assunto com outros
exercícios, o que poderia ter dinamizado a atividade e
reduzido a fadiga.
Considerando os limites de uma palestra, sugerimos
também a apresentação dos conteúdos através de outras
alternativas didáticas, como: trabalhos de campo, estudos do
meio, utilização de meios tecnológicos, partilha de
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 42
informações da vivência dos estudantes e ainda atividades
escritas.
A leitura do meio em que o estudante está inserido é
um processo importante, porque, partir do lugar como
categoria de análise podemos desenvolver percepções do
espaço geográfico, e ao mesmo passo relacionar os fenômenos
socioespaciais de um dado local com as diferentes realidades
entendendo a teia de relações que os circundam.
Também podem ser realizados trabalhos de campo,
inclusive interdisciplinares, buscando a compreensão do lugar
através da observação empírica, de entrevistas e questionários.
Isto porque
[...] ver uma paisagem qualquer que seja
do lugar em que o aluno mora ou outra,
[...] pode suscitar interrogações que, com
o suporte do professor, ajudarão a revelar
e mostrar o que existe por trás do que se
vê ou do que se ouve (PONTUSCHKA et
al., 2009, p. 174).
Ao discutir as relações agrícolas de Francisco Beltrão,
por exemplo, podem ser visitadas propriedades agropecuárias
e observada a forma de organização de sua produção, além de
entrevistar os trabalhadores que lá exercem suas atividades.
Isto permitirá a compreensão do meio e possibilitará o
surgimento de questões que talvez não fossem desveladas se o
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 43
trabalho pedagógico tivesse ocorrido apenas na sala de aula,
sem a realização de observações empíricas.
Como para a realização de trabalhos de campo é
necessário planejamento e disponibilidade de recursos e
tempo, a concretização dessas atividades pode ser difícil. Por
isso os estudos do meio pode ser uma importante alternativa,
em que o professor e os estudantes analisam a realidade,
incorporando os conteúdos da Geografia na investigação
acerca do meio em que vivem.
Almejamos que o estudante seja capaz de analisar o
lugar, desenvolvendo reflexões sobre a utilização deste,
entendendo, observando e comparando com os lugares que o
cercam. Sendo claro que a realidade é um processo e não um
acaso do destino.
Considerações finais
A utilização do lugar enquanto categoria analítica
permitiu por meio da palestra discutir questões locais e
relacioná-las com o cotidiano dos estudantes. Isso trouxe
importância ao tema e incentivou a participação dos mesmos
na atividade, através das contribuições baseadas nos
conhecimentos prévios dos estudantes.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 44
Constatamos que as noções dos estudantes sobre o
tema abordado desenvolviam-se a partir de suas percepções
da realidade, e essas puderam ser utilizadas como subsídio
para aproximar os estudantes dos conhecimentos
sistematizados. Isso foi possível porque incorporamos na
discussão elementos presentes na vida cotidiana dos
estudantes, como as feiras, supermercados e a agricultura
familiar.
Entretanto, a organização da atividade enquanto
palestra mostrou alguns limites, a predominância da
exposição oral, gerou cansaço nos estudantes. Além disso,
notamos que os mesmos possuíam receio em falar, embora
tivessem interesse no tema. Esse comportamento advém das
relações escolares que os mesmos vivenciam em que o papel
do estudante é reduzido a uma atitude passiva, não tendo voz
na sala de aula.
Considerando os limites da palestra, propomos outras
atividades para a incorporação das relações agrárias do
município de Francisco Beltrão nos conteúdos de Geografia,
como estudos do meio, que a partir da realidade dos
estudantes buscam desenvolver raciocínios geográficos. Além
disso, também podem ser realizados trabalhos de campo, nos
quais, a partir da experiência empírica é possível captar e
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 45
discutir elementos difíceis de serem demonstrados em sala de
aula.
Com a intervenção pedagógica e os levantamentos
bibliográficos realizados, verificamos que as relações agrárias
do município de Francisco Beltrão possuem aspectos,
sobretudo econômicos, que podem ser relacionados aos
conteúdos escolares da Geografia e utilizados no
desenvolvimento de conhecimentos que permitam a
compreensão das dinâmicas histórico-espaciais presentes na
sociedade.
Além disso, a discussão desse tema através da ótica do
lugar propicia a transformação dos saberes prévios dos
estudantes em conhecimentos científicos, valorizando os
conhecimentos trazidos por eles à escola, tornando assim mais
viável sua participação no processo de ensino-aprendizagem.
Referências
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mundo. In: CASTROGRIOVANNI, Antonio Carlos;
CALLAI, Helena Capetti; KAERCHER, Nestor André.
Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano.
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CASTELLAR, Sônia; VILHENA, Jerusa. O significado da
construção dos conceitos. In: ________. Ensino de
geografia. São Paulo: Cengage Learning, 2011.
CATTELAN, Carla; CASTANHA, André Paulo. A Colônia
Agrícola Nacional General Osório (Cango) e o processo de
escolarização no Sudoeste do Paraná: 1948 – 1957. Oficina
do Historiador, Porto Alegre, EDIPUCRS, v. 9, n. 1,
jan./jun. 2016.
COLOGNESE, Silvio Antônio; STOFFEL, Jaime Antonio.
Organização produtiva da agricultura familiar no oeste do
Paraná. In: VANDERLINDE, Tarcísio; GREGORY, Valdir;
DEITOS, Nilceu Jacob (Org.). Migrações e a construção do
oeste do Paraná: século XXI em perspectiva. Cascavel:
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FLÁVIO, Luiz Carlos. Memória(s) e território: elementos
para o entendimento da constituição de Francisco Beltrão-PR.
2011. 386 f. Tese (doutorado) - Universidade Estadual
Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, 2011.
Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/105022>. Acesso
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FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 62. ed. Rio de
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ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Agropecuário 2006: segunda
apuração. Disponível em:
<https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-agropecuario/censo-
agropecuario-2006/segunda-apuracao>. Acesso em: 01 mar.
2017.
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PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes
Curriculares da Educação Básica: Geografia. Curitiba:
Governo do Estado, 2008.
PONTUSCHKA, Nídia Nacib; PAGANELLI, Tomoko Iyda;
CACETE, Núria Hanglei. Estudo do meio: momentos
significativos de apreensão do real. In: ______. Para ensinar
e aprender Geografia. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 48
A DINÂMICA DAS FEIRAS NA CIDADE DE
FRANCISCO BELTRÃO A PARTIR DA
EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA1
Gilvana Fatima Carvalho2
Luiz Carlos da Silva3
Nubia Luiza Chaves da Rosa Pazinato4
Introdução
O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à
Docência (Pibid) oferece bolsas aos estudantes que cursam
licenciatura para que desenvolvam intervenções pedagógicas
nas escolas públicas. O objetivo do programa é qualificar a
formação de professores, por meio da inserção dos licenciados
nas escolas.
O Pibid é importante na articulação entre teoria e
prática, o diálogo e a aproximação entre escola e universidade
contribuem para a formação docente, pois valoriza a formação
1Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo
Brasileiro, voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão. 3Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão. 4Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 49
de professores e prepara o futuro professor para atuar nas
diferentes realidades escolares.
Na Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(Unioeste) – campus de Francisco Beltrão – PR está em
andamento o subprojeto de Geografia no qual foram
desenvolvidas diversas atividades. Entre as atividades
desenvolvidas destacamos a proposta de intervenção
pedagógica realizada no Colégio Estadual Tancredo Neves a
qual será abordada no presente trabalho.
O presente trabalho buscou evidenciar a importância
do lugar e da Educação Geográfica para o entendimento das
dinâmicas das Feiras locais, para tanto consideramos os
aspectos econômicos, culturais e históricos. Compreender a
importância da Educação Geográfica no estudo do lugar
proporciona o entendimento das relações que ocorrem nas
feiras do município de Francisco Beltrão e como essas
influenciam diretamente na organização do espaço local. Com
esse intuito entrevistamos os feirantes locais, realizamos
estudos sobre a agroindústria, visitamos supermercados e
coletamos informações relevantes para o trabalho.
Portanto, para o desenvolvimento desse artigo foram
realizadas pesquisas bibliográficas, entre as quais destacamos:
Girotto e Mormul (2016) que enfatizam a importância da
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 50
Educação Geográfica, Callai (2013) ao abordar compreensão
do lugar e sua importância para o ensino de Geografia e
Lacoste (1988) que demonstra como a ciência geográfica
contribui para compreendermos as relações políticas,
econômicas, culturais, sociais e territoriais.
Educação geográfica
A Geografia enquanto ciência aborda o estudo do
espaço geográfico e as múltiplas relações que nele ocorrem,
sendo assim a educação geográfica tem como função permitir
a compreensão dos diversos fenômenos sociais, históricos,
econômicos, políticos, culturais, entre outros, que ocorrem em
diferentes lugares e escalas.
Na compreensão dos conflitos territoriais as
informações de natureza geográfica eram importantes para o
domínio e manutenção de poder de uma nação sobre outra,
quem detinha mais informações sobre o espaço geográfico
tinha mais chances de sucesso frente aos adversários. Essa
compreensão possibilita analisar o quanto os conteúdos
geográficos possuíam uma função estratégica no domínio e
conquista de povos e nações.
Porém, por muito tempo a Geografia enquanto
disciplina escolar foi alvo de críticas, porque os conteúdos da
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 51
forma como eram trabalhados resultavam em aulas monótonas
em que os conceitos deveriam ser decorados e não
apresentavam utilidade para a vida dos educandos. Isso pode
ser explicado, segundo Lacoste (1988), por conta da ciência
geográfica ter sido fragmentada em duas vertentes, a
geografia escolar e a geografia universitária ou do governo.
Para Lacoste (1988) a Geografia do governo apresenta
elementos cartográficos como: mapas, satélites e demais
instrumentos que auxiliam na compreensão do espaço,
servindo para o domínio e monitoramento de fronteiras,
pessoas, animais e mercadorias, já a Geografia dos
professores passa por situações distintas, em muitos casos os
materiais didáticos são ultrapassados, há a falta de condições
de trabalho para os professores, falta estrutura física o que
auxilia na reprodução e manutenção do status quo.
O papel social da ciência geográfica é entender as
relações que ocorrem no espaço geográfico, não apenas as
estratégias militares, pois o desenvolvimento do raciocínio
geográfico deve "contribuir na formação de sujeitos sociais
que sejam capazes de compreender e estabelecer relações
espaço-temporais entre fenômenos e processos,
aparentemente, desconectados" (GIROTTO; MORMUL,
2016, p. 82).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 52
Para analisar as dinâmicas espaciais é importante
abordar o lugar, pois esse conceito é dotado de significados,
possibilitando aos educandos ler o mundo geograficamente,
ou seja, aproximar a realidade dos educandos com os
conteúdos curriculares abordados na escola.
O professor de Geografia durante o processo de
ensino-aprendizagem busca desenvolver nos educandos
habilidades necessárias para uma leitura de mundo, por meio
da educação geográfica. Portanto, para isso devem-se levar
em conta os diversos fatores que compõem a dinâmica de
ocupação do planeta como as grandes migrações, a busca por
matéria-prima, questões militares, entre outras.
Abordar o lugar no processo de construção de
conhecimento é valorizar o cotidiano e atribuir significado as
questões trabalhadas no ensino de Geografia, provocando
reflexões acerca do local e do global.
Para Callai "o estudo do lugar como possibilidade de
aprender Geografia considera o cotidiano da vida dos alunos e
o contexto escolar como fundamentos” (2013, p. 19). Isto é
uma integração entre o currículo escolar de Geografia e o
mundo ao qual o aluno está inserido. Seguindo o raciocínio de
Callai (2013), ao utilizarmos o conceito de lugar no ensino de
Geografia estamos falando sobre o que acontece em nossa
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 53
vida, ou seja, estuda-se o lugar para melhor compreender
tanto fatores locais quanto regionais e nacionais.
Para que a educação geográfica possa alcançar o
objetivo de ir além do conteudismo, Girotto e Mormul (2016),
evidenciam sobre a importância do professor construir de
forma articulada os diversos saberes produzidos tanto nas
escolas, quanto nas universidades, transformando esses
saberes em ações didáticas, tendo como ápice as discussões e
diálogos entre professores e alunos. Educar-se
geograficamente requer uma análise de situações vividas que
segundo os autores "deve ser mediado pelos conteúdos,
conceitos, linguagens e metodologias da geografia
possibilitando assim que os alunos possam reconstruir as
formas de ver, compreender e agir" (GIROTTO; MORMUL,
2013, p. 93).
A importância do local e do cotidiano dos educandos
deve ser utilizada pelos professores como meio de um
entendimento mais complexo de sociedade, pois, muitas vezes
a escola serve para reprodução e manutenção do sistema
econômico dominante. Portanto, o educador deverá
problematizar as concepções de mundo dos alunos, para
favorecer a aprendizagem, ou seja, tornar os saberes
científicos mais acessíveis aos alunos.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 54
Quando o aluno entra em contato com a escola, já está
sendo influenciado, no sentido de viver aquele ambiente e as
questões que o mesmo traz para sua vida. Por isso que a forma
de pensar a Educação Geográfica vai além de conteúdos
escolares, ela proporciona uma vivência de mundo ao
educando. De acordo com CALLAI (2013, p. 94):
Para oportunizar que as pessoas
compreendam a espacialidade em que
vivem, pela Educação Geográfica busca-
se construir uma forma geográfica de
pensar, que seja mais ampla, mais
complexa, e que contribua para a
formação dos sujeitos, para que estes
realizem aprendizagens significativas e
para que a Geografia seja mais do que a
mera ilustração.
Portanto, a Educação Geográfica não se limita apenas
em ensinar alguns conteúdos, mas vai além, envolvendo os
elementos necessários para o entendimento de algumas
relações de poder, principalmente no cenário político, social e
cultural, desta forma a Educação Geográfica vai transformar o
pensar do aluno, levando em consideração o seu processo de
aprendizagem, e sua relação com o mundo, para que o
conhecimento adquirido seja significativo em sua vida, e
possa alterar sua maneira de observar o meio em que o cerca.
Para Callai “[...] é fundamental conhecer o conteúdo
geográfico que será trabalhado, as dificuldades estarão em
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 55
compreender o espaço, proporcionando a criação de
princípios espaciais, para poder realizar a análise geográfica
(2013, p. 99)”. A partir do momento em que se aprende a ler o
espaço por meio da Educação Geográfica há a possibilidade
de desenvolver uma compreensão mais ampla e complexa dos
conteúdos trabalhados na escola.
Dentre os temas geográficos trabalhados na escola a
economia é um dos assuntos que tangenciam vários
conteúdos. Nesse sentido, as relações comerciais despontam
como um importante meio de articulação entre o espaço
vivido e os conteúdos curriculares, uma vez que podemos
ensinar geograficamente as relações econômicas a partir do
lugar.
Com esse trabalho buscamos contextualizar as
particularidades existentes no comércio local de Francisco
Beltrão/PR, levando em consideração o histórico de formação
das feiras dos pequenos agricultores sua importância para a na
economia da cidade, abordando tais aspectos enquanto
conteúdo escolar.
As feiras agrícolas de Francisco Beltrão e sua relação com
geografia escolar
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 56
O município de Francisco Beltrão está localizado na
região sudoeste do estado do Paraná, assim como a maioria dos
municípios dessa região foi colonizado, por famílias oriundas
dos estados de santa Catarina e Rio Grande do Sul, pessoas que
buscavam por uma melhor qualidade de vida.
Figura 1: exemplo de ilustração e legenda para o texto a ser inscrito no
XIII Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia – 2017.
Fonte: FRANCISCHETT 2009
O projeto colonizador erigido sobre o governo do
então presidente Getúlio Vargas que tinha o intuito de proteger
uma faixa de 150 km de fronteira entre o Brasil e a Argentina,
além de fomentar um aumento na produção agrícola e industrial
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 57
que contribuísse para a produção de excedentes para o mercado
interno, milhares de famílias migraram para o sudoeste
paranaense esse processo de colonização ficou conhecido como
a "marcha para o oeste" (FLÁVIO, 2011).
Com o processo de fixação na terra, que ocorreu em
meio a muitas disputas, o trabalhador familiar que enfrentava
muitas dificuldades para comercializar o seu produto,
estabeleceu a venda direta ao consumidor através das feiras
livres. Formaram-se, então, algumas associações de produtores
com o intuito de fortalecer os trabalhadores envolvidos através
do espírito cooperativo, para poder competir em pé de
igualdade com os grandes comerciantes e com o agronegócio.
Sobre o espírito cooperativista vemos que "o cooperativismo
nasce com o objetivo de melhorar a vida dos associados
mediante a colaboração de todos, visando superar a situação de
exclusão especialmente dos pequenos produtores mais
humildes que procuram a inserção dos seus produtos no
comércio” (ALVES, et al., 2010, p. 05).
O agricultor familiar para agregar valor aos seus
produtos adere ao sistema cooperativo passa a ter apoio
jurídico e técnico contribuindo para a valorização do seu
produto.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 58
Na cidade de Francisco Beltrão destacamos três
grandes feiras de produtos agrícolas na atualidade: A feira do
produtor localizada na Praça Central Eduardo Virmond
Suplicy; a feira de produtores orgânicos, localizada no Bairro
Cango(Colônia Agrícola Nacional General Osório) e,
também, a da Associação dos Produtores Ecológicos instalada
na Rua Antonio de Paiva Cantelmo, também situada no Bairro
Cango.
As relações de venda e consumo dos produtos
vendidos nas feiras estabelecem vínculo direto entre o campo
e a cidade. O município de Francisco Beltrão e região são
reconhecidos por sua tradição agrícola e os costumes
herdados ainda estão presentes nas práticas agrícolas
contemporâneas.
A Educação Geográfica permite a compreensão do
processo histórico abordado, mas é importante indicar
condições para que os alunos percebam as múltiplas relações
existentes entre a dinâmica das feiras e o comércio local. Por
meio do ensino de Geografia podemos acionar os elementos
econômicos, sociais e culturais, para que o aluno entenda as
interrelações existentes , Com o conceito de lugar o professor
pode desenvolver estratégias didáticas que possibilitarão a
compreensão do espaço geográfico, ou seja, partindo do local
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 59
e do conhecimento prévio dos alunos podemos enriquecer seu
saberes, transformando o senso-comum em conhecimento
sistematizado.
Descrição da prática
A palestra realizada contou com uma apresentação de
slides, em que alguns aspectos históricos referentes à
constituição socioeconômica do município foram
apresentados. Os elementos abordados possibilitaram a
compreensão do funcionamento das relações comerciais e
produtivas locais. Foi enfatizado o surgimento da agricultura
familiar no município de Francisco Beltrão/PR,
posteriormente discutimos as relações comerciais , e
apresentamos a Feira como um elemento importante para a
compreensão da relações econômicas e sua interpretação por
meio da Educação Geográfica.
E, também, foram utilizadas informações sobre as
agroindústrias da cidade, referente a produção,
comercialização e consumo. Ressaltando que as relações de
poder entre indústria e economia podem influenciar nas ações
do pequeno agricultor e interferir na comercialização de seu
produto final.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 60
Por meio da contextualização da feira, podemos
observar a relação com os diferentes aspectos econômicos, e
compreender as questões vinculadas com o público que
frequenta esses lugares, o que consomem e de que maneira
interagem com o lugar.
Sendo assim, ao abordar a Feira por meio da Educação
Geográfica podemos compreender os fenômenos sociais,
históricos, econômicos, políticos, culturais. Tal proposta é
viável, pois a Feira funciona como uma ponte entre o produtor
e o consumidor, servindo de alicerce para entender as relações
econômicas do lugar, levando em consideração a cultura das
pessoas que habitam naquele local.
Considerando os aspectos econômicos e sociais
presentes nas Feiras, percebemos que a produção esta
intimamente ligada ao aspecto cultural, pois o pequeno
produtor desenvolve sua produção baseando-se, na maioria
das vezes, em hábitos e/ou costumes que foram herdados. A
discussão sobre a importância desses saberes transmitidos de
geração a geração pode ser trabalhada em sala de aula.
Essas questões podem ser trabalhadas evidenciando os
aspectos geográficos, entretanto, há a necessidade da
compreensão dos fenômenos socioespaciais, os quais estão
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 61
interligados, fazendo com que o educando aprenda
relacionando o local com global.
Para Aguiar “os alunos tem de saber que os fenômenos
não ocorrem num “passe de mágica”, por isso os conteúdos
devem ser aos poucos aprofundados do ponto de vista
conceitual” (AGUIAR, 2016, p. 16). Com a palestra foi
possível estimular os alunos a pensar que os elementos
presentes no seu cotidiano como as Feiras, podem ser
entendidas a partir de relações mais complexas e nesse
sentido, a Educação Geográfica contribui para que o cotidiano
torna-se ponto de partida para compreensões mais elaboradas,
possibilitando que os alunos sejam protagonistas de sua
história.
A palestra possibilitou comparar os modos de
produção da agricultura familiar que sofre com o processo de
apropriação por parte das agroindústrias, nas quais lucram
com o produto final. Assim, a agricultura familiar que se vê
representada dentro das feiras, resgata a sua cultura trazendo o
homem do campo a resistir contra todo o processo capitalista
vigente. Partindo da análise das práticas agrícolas locais o
aluno poderá compreender os processos em torno dos setores
que envolvem o comércio e como estes se relacionam com as
indústrias, e que apesar da modernização da indústria e
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 62
agricultura, existe uma interdependência no que se refere aos
sistema produtivos alimentando uma rede econômica.
A abordagem didática realizada na forma de palestra
apresentou alguns limites, o tempo destinado para a realização
da atividade impediu uma maior problematização do tema;
houve poucas participações dos alunos e essas somente
ocorreram quando eram provocadas. Apesar das dificuldades
encontradas a palestra atingiu seu objetivo, e possibilitou aos
pibidianos envolvidos refletir sobre o processo de ensino e
aprendizagem e aprimorar a formação docente.
Considerações Finais
Por meio deste trabalho foi possível compreender que
as reflexões ora apresentadas contribuem para a formação e
incentivam a pesquisa de como a Educação Geográfica pode
ser trabalhada a partir do estudo do lugar. As Feiras na cidade
de Francisco Beltrão ,guardadas suas especificidades, podem
ser abordadas em sala de aulas e contribuir em tornar o ensino
de Geografia mais dinâmico e próximo da realidade dos
alunos.
Por meio das ligações entre os diferentes níveis de
produção e comercialização, o professor pode tecer
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 63
argumentações e trabalhar vários conteúdos da Geografia, a
exemplo das relações agroeconômicas e da própria inserção
do trabalhador do campo no modo de produção capitalista.
Com o Pibid temos a oportunidade de conhecer e
intervir no processo de ensino e aprendizagem. Para
desenvolver tal atividade, nos utilizamos de pesquisa
empírica, e bibliográfica, isso repercute em nossa formação,
por possibilitar que nossas ações sejam embasadas tanto em
conceitos científicos quanto nos saberes alunos.
Foi possível trabalhar com os alunos as múltiplas
relações da Geografia, dando ênfase na economia, mostrando
a organização das feiras, dos supermercados da cidade, das
indústrias e como isso funciona em um ciclo de redes, todos
esses elementos estão interligados e influenciam na dinâmica
da sociedade, já que um depende do outro.
Referências
AGUIAR, Waldiney Gomes de. Didática da Geografia:
Construindo aulas. Curitiba: CRV, 2016.
ALVES, Adilson Francelino, BORILE, Luiz Claudio,
BELON, Ivone, REINEHR, Claudia Lais, org. Manual para
Cooperativas: Boas práticas na gestão cooperativada.
Francisco Beltrão, 2010.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 64
CALLAI, Helena Copetti. A formação do profissional da
geografia: o professor- Ijuí: Ed. Unijuí, 2013. 163, p.-
(Coleção ciências sociais).
GIROTTO, Eduardo Donizeti, MORMUL, Najla Mehanna.
Formação Docente e Educação Geográfica: entre a escola
e a universidade. Curitiba: CRV, 2016.
LACOSTE, Yves. A geografia, isso serve em primeiro
lugar para fazer a guerra. Editora Papirus, 1988.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 65
A FORMAÇÃO DE FUTUROS PROFESSORES
PELO PROGRAMA PIBID NA PERSPECTIVA
DIALÓGICA DE BAKHTIN1
Ione A. Zucchi Modanese2
Sonia M. M.Nacke3
Introdução
O Pibid (Programa Institucional de Bolsa a Iniciação a
Docência) tem a finalidade de apoiar a formação de
estudantes dos cursos de licenciaturas e contribuir para elevar
a qualidade da educação básica nas escolas públicas a médio e
longo prazo.
A formação de professores e os processos de ensino –
aprendizagem têm sido preocupação constante que transcende
a escala governamental e atingem as universidades, a
comunidade escolar e a sociedade em geral.
Neste contexto de discussões, o Colégio Estadual Mário
de Andrade (CEMA), de Francisco Beltrão, foi convidado
1Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo
Brasileiro, voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Supervisão à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão. 3 Bolsista de Supervisão à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 66
pela Unioeste (Universidade do Oeste do Paraná) a participar
juntamente com o curso de Geografia deste programa de
capacitação de futuros docentes.
O CEMA é um colégio mantido pelo governo estadual
e oferta Ensino Fundamental (séries finais), Ensino Médio,
Ensino Técnico e Formação de Docentes.
O corpo docente de Geografia é formado por quatro
professores, todos concursados, sendo que dois deles
aceitaram o desafio de trabalhar como supervisores do
programa Pibid, recebendo doze pibidianos que foram
inseridos no cotidiano do trabalho escolar, acompanhando
diretamente as aulas de Geografia.
Inicialmente ficamos muito preocupadas se teríamos
capacidade profissional para contribuir com o proposto, pois
nossas aulas, nossos saberes, nossas metodologias e nossas
posturas estarão presentes nos profissionais que os
acadêmicos do projeto se tornarão, mesmo sabendo que o ato
de ensinar evolui com o tempo e também dependerá das
relações e experiências a serem desenvolvidas ao longo da
vida de cada um, mas mesmo assim, elas estarão lá.
No intuito de sistematizar a reflexão acerca do Pibid,
recorremos a Gramsci (2003) quando este afirma que: “O
homem é um ser social e se faz pelo trabalho”. Partindo desse
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 67
pressuposto, é mister questionar quais são os saberes
necessários ao professor de Geografia à frente da proposta e
quais são os limites e as possibilidades de interferência na
formação dos pibidianos.
Quanto ao professor está em constante
aperfeiçoamento pedagógico, é uma atividade que tem início,
mas não tem fim. Esse ato precisa ser contínuo e significativo,
articulado entre os conteúdos específicos, os objetos em si e
os sujeitos envolvidos no processo. A formação não pode ser
apenas teórica, precisa ser acompanhada da prática,
juntamente com a práxis social, numa eterna ação-reflexão-
ação.
A segunda constatação diz respeito à Proposta
Curricular da Geografia que é desenvolvida na escola. Como
fazemos as escolhas por determinados conteúdos em
detrimento de outros? O que nos leva a essas escolhas? Quais
as metodologias que usamos? Os conteúdos escolares são os
mesmos da Geografia que se aprende na universidade? E
como minhas ideologias estão presentes?
Diante destas reflexões percebemos que nossas
escolhas não são por acaso. São políticas e determinadas por
conhecimentos racionais, técnicos e sociais e, segundo Tardif
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 68
(2010), “O saber é sempre o saber de alguém que trabalha
alguma coisa no intuito de realizar um objetivo qualquer”.
Neste contexto, os pibidianos que assistiam a nossas
aulas, já percebiam as diferenças entre as professoras de
Geografia do colégio e os diferentes recortes que faziam nos
conteúdos e, os objetivos que queríamos atingir. De forma
sutil começaram a questionar as práticas pedagógicas
observadas e a se preocuparem com as escolhas que teriam
que fazer, para posteriormente trabalhar com os alunos.
Em muitas conversas com os pibidianos que estavam
diretamente ligados à nossa supervisão, percebemos que
entendiam que o saber docente, vai depender de como ocorreu
sua graduação e demais formações, juntamente com as
condições concretas de trabalho de cada um, a sua
personalidade e as experiências desenvolvidas socialmente.
Sobre isso Tardif (2010, p. 07) “Os saberes de um professor
são uma realidade social materializada através de uma
formação, de programas, de práticas coletivas, de disciplinas
escolares, de uma pedagogia institucionalizada, etc, e são
também, ao mesmo tempo, os saberes dele”.
Mesmo considerando os saberes docentes como
práticas sociais, ele deve ser compreendido como único, pois
as relações que ocorrem na sala de aula e nos demais
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 69
ambientes escolares são multidimensionais, ou seja, mudam-
se os sujeitos, mudam-se os saberes e esta é a dialética
escolar.
Outra preocupação que surgiu foi em relação à
universidade e seus “professores doutores”, uma vez que
estávamos abrindo espaços para sermos avaliados também,
mesmo sabendo que o objetivo do Pibid é outro. Contudo, a
relação da escola com a universidade foi sendo construída
através de inúmeras reuniões, basicamente duas por mês,
quando nem sempre éramos compreendidos pelos
“professores doutores” ou pelos pibidianos. No início do
projeto foram levantadas demandas para a escola sobre quais
partes entenderam de modo diverso.
Com muito diálogo, acertos e desencontros, tentamos
construir um trabalho interativo, reconhecendo os impasses,
os problemas, as contradições e as individualidades dos
sujeitos envolvidos. Nesta construção nem tudo foram
“flores”, percebemos que a universidade também tem seus
problemas, tão graves quanto os nossos no que diz respeito ao
diálogo, aos saberes, ao tempo, à objetividade das coisas, à
infraestrutura, entre outras questões.
O trabalho inicial com nosso grupo de pibidianos foi
bastante conflituoso. Discutiam entre si, iam poucas vezes à
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 70
escola e não conseguiram fazer o trabalho de forma coletiva.
Diante destas problemáticas foi decidido em comum acordo
com a universidade dividi-los em dois subgrupos e cada
professora supervisora ficaria responsável por um deles.
Estamos participando no Pibid/subprojeto de
Geografia 2014 é perceptível o crescimento dos participantes,
que depois de um ano nos acompanhando e atuando encerram
o ciclo com uma produção científica relatando as experiências
vivenciadas. Com esse rodízio todos os anos temos novos
integrantes que circulam pelas diferentes escolas conveniadas.
Embasamento teórico na nossa prática como professoras
supervisoras do Pibid
A relação entre o ensino da Geografia na sala de aula e
o pensamento bakhtiniano nos remete a pensar sobre as
questões de natureza teórica- metodológica que envolve
diretamente a formação e postura do professor diante da
complexidade que é ensinar os conteúdos de Geografia na
atualidade.
Considerando as múltiplas abordagens dos objetos de
estudos da Geografia, optamos pela teoria dialógica
bakhtiniana, pois indica possibilidades de realizar um trabalho
na perspectiva interacionista, pelo fato de trazer inúmeros
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 71
elementos presentes no social e, pelo diálogo, é possível
construir conceitos, já que nosso discurso é resultado de todas
as interações que fazemos ao longo da nossa história, ou seja,
aprendemos o discurso de outrem na interação social.
Para entender na prática como o meu discurso de
professor de Geografia entra na consciência dos meus alunos,
a teoria dialógica menciona que precisamos ir além dos
processos subjetivos – psicológicos da alma do receptor. É
preciso perceber as tendências sociais que se manifestam na
forma da língua e entender que ocorrem diferenças entre a
recepção de cada um, dependendo da interação social de seu
contexto de vida.
Isto quer dizer que a unidade básica de todo processo
ensino-aprendizagem é a interação, o movimento dos fatos e
das relações, já que é através disso que as pessoas constroem
os significados, que embasam seus discursos.
Para Bakhtin o significado das “coisas” é resultado de
uma construção social da linguagem pelo fato de que toda
enunciação envolve pelo menos duas vozes, ou seja, a voz do
eu e a voz do outro. Isto é determinado pelo falante e pelo
ouvinte, é a interação entre eles, de base de suas práticas
discursivas, que tornam os indivíduos conscientes de si
mesmo, dos outros e dos significados das coisas.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 72
Ensinar Geografia dentro do contexto do discurso
como construção e prática social não é algo fácil de realizar,
pois a identidade social dos conteúdos precisa ser vista como
processo, como uma “produção” que nunca está completa,
que está sempre em movimento; uma ação gerando reflexão
que vai gerar outra ação e assim o conhecimento vai sendo
construído com significação socialmente contextualizada.
Diante do que deveria ser e das condições que temos,
inúmeros questionamentos de ordem prática surgem: Como
lidar com a formação de futuros professores, no nosso caso os
participantes do Pibid e inseri-los no contexto escolar? E com
o currículo? As avaliações? As reprovações? O livro didático?
As aulas fragmentadas em 50 minutos? O desinteresse dos
alunos? A indisciplina? E tantas outras questões que
envolvem o contexto escolar.
Com o desenvolvimento do Pibid no Colégio Estadual
Mário de Andrade um novo olhar e fazer pedagógico se fez
necessário, já que as práticas discursivas nas quais estamos
envolvidos estão impregnadas pelo sistema, carregadas de
poder, o qual engessa a escola, os professores e alunos com
práticas nem sempre inovadoras e democráticas.
Consideramos que a escola tem muita relevância na vida
dos indivíduos que passam por ela, neste caso, os pibidianos,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 73
pelas interações que realizam no seu interior, as práticas que
desenvolvem e as experiências que adquirem.
As escolas são instituições cujo papel específico é a
construção do conhecimento e aprendizagem dos saberes
sistematizados pela história das sociedades. Conhecimentos
estes que são organizados pelas Diretrizes Curriculares
Estaduais do Estado do Paraná e reorganizados
metodologicamente pelo professor através dos Planos de
Trabalho Docente. Além disso, todas as nuances e formas do
discurso acontecem ao mesmo tempo e durante todo o tempo,
de forma real, entrelaçando teoria e prática de forma
permanente com a utilização de diferentes metodologias.
Acreditamos também que as identidades sociais construídas
na escola são determinantes na vida dos indivíduos, pois
quando se deparam com outras práticas podem se
reposicionar, rever significados, conceitos e metodologias, ou
seja, se tornam, no caso dos pibidianos, futuros professores
mais preparados para as diferentes realidades sociais que terão
que enfrentar na vida profissional.
Neste contexto, o conceito de dialogismo é
fundamental para se compreender esta prática proposta de
formação de professores porque permeia a concepção de
linguagem no âmbito social, pois para Bakhtin, “a língua é
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 74
constituída justamente nas relações sociais, via interação
verbal, realizada por meio da enunciação ou das
enunciações”. A partir disso, o discurso (a língua em sua
integridade concreta e viva) não é individual porque se
constrói entre, pelo menos, dois interlocutores que, por sua
vez, são seres sociais; e se constrói como um “diálogo entre
discursos”, ou seja, mantém relações com outros discursos
que o precederam (BARROS, 1996, p. 33).
No entanto, é importante ressaltar que o conceito de
dialogismo em Bakhtin não está atrelado à ideia de um
diálogo face a face entre interlocutores, mas sim entre
discursos, já que, como explica (FIORIN, 2008, p. 166) “o
interlocutor só existe enquanto discurso”. O autor acrescenta
também que para essa perspectiva “todo enunciado possui
uma dimensão dupla, pois revela duas posições: a sua e a do
outro” (FIORIN, 2008, p. 170).
Desse modo, conforme afirma Faraco, “Bakhtin é o
primeiro pensador contemporâneo a tratar e analisar a
linguagem sem a necessidade de divorciá-la da materialidade
da vida social” (FARACO, 1996, p. 121). Isso é possível a
partir das concepções de Bakhtin acerca do discurso e,
principalmente, do dialogismo. Desta forma, entendemos que
os conteúdos de Geografia e suas múltiplas relações, precisam
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 75
ser situados no tempo e no espaço, fatores que causam
determinações em sua constituição e funcionamento nas
esferas sociais em que circulam. Assim, ao trabalharmos a
Geografia em sala de aula, procuramos promover a reflexão
sobre os discursos que subjazem os conteúdos, os quais se
materializam nos textos-enunciados, socialmente
determinados, permeados, portanto, por relações dialógicas.
Sob a perspectiva do dialogismo é preciso entender as
relações sociais, ou seja, para Bakhtin, a significação e a
criação do conhecimento e da ideologia partem de
determinações históricas, uma vez que todo texto se constitui
como um enunciado, socialmente produzido, o qual apresenta
tanto uma materialidade linguística (dimensão verbal), quanto
uma dimensão extraverbal (relações dialógicas). Cabe assim,
no contexto do ensino da Geografia, promovermos atividades
pedagógicas que privilegiem essas duas dimensões dos textos-
enunciados.
Para tanto, isso envolve a ação e o pensamento do
outro que altera e interfere no seu próprio pensamento. Neste
caso, o professor supervisor do Pibid vai ser referência para os
acadêmicos, mudando e alterando sua formação social, o que
ocorre em via de mão dupla, ou seja, ao mesmo tempo em
que, interfere é interferido. Entretanto, essa relação só é
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 76
possível no diálogo e na reflexão sobre as diferentes
interações sociais que desenvolvemos no cotidiano escolar.
Estas interações sociais devem ser contextualizadas,
considerando suas vivências, incorporando o sujeito, seu
interior e exterior, e o contexto social que nos cerca. A relação
social de intertextualidade está dada, assim, como uma das
faces do dialogismo. A todo o momento a obra de Bakhtin
busca estabelecer este diálogo, tanto em seu sentido restrito,
quanto entendendo seu papel na construção dos indivíduos,
seu conhecimento e ideologias, construídos socialmente: a
ideia de diálogo agrega-se a outro elemento que não se refere
apenas à fala em voz alta de duas pessoas, mas a um discurso
interior (LUKIANCHUKI, 2001).
Assim, muito além do diálogo face a face o dialogismo
remete aos diálogos não explicitados na materialidade
linguística, mas, sim, nos diálogos entre um enunciado real e
outros enunciados, anteriores e posteriores a ele. Trata-se,
com o dito, de focalizar em nosso trabalho pedagógico os
discursos, as relações dialógicas presentes nos textos, as quais
nos levam a compreender processos sociais que constituem as
interações.
Para trabalhar com formação de professores,
considerando as ideias bakhtinianas de dialogismo, o
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 77
conhecimento precisa transcorrer em seus diferentes
cruzamentos e no diálogo constante de todos os elementos
envolvidos de forma social.
Para compreender é necessário estabelecer um diálogo
com seus locutores e a realidade social de cada um dos
envolvidos. Na medida em que essas relações ocorrem, ainda
é preciso considerar a subjetividade das entrelinhas na
formação de professores.
De acordo com (FARACO, 1996, p. 17), existem três eixos
básicos do pensamento bakhtiniano, que podem interferir na
formação de professores, são elas a “unicidade do ser e do
evento, a relação do eu com o outro e a dimensão axiológica”.
Esses eixos influenciaram as diferentes esferas do pensamento
humano, pois para ele existe um dualismo entre o mundo da
teoria e o mundo da vida.
Para ele, “esses dois mundos não se comunicam
porque o mundo da vida, na sua eventicidade e unicidade não
são apreendidos pelo mundo da teoria, ou seja, na medida em
que nele não há lugar para ser e o evento que sempre são
únicos” (FARACO, 1996, p. 17). Esse posicionamento crítico
frente à razão teórica é feito pelo fato de que a filosofia
tradicional abstrai o ser humano de sua realidade concreta e
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 78
de seus valores próprios. Defende que o enunciado sempre é
único e nunca se repete.
Toda compreensão de um enunciado exige uma
responsividade e está impregnado de juízo de valor e
ideologias. Neste sentido, ao considerarmos o dialogismo na
formação de professores, já que os interlocutores, no nosso
caso os pibidianos, ao receber e compreender a significação
de uma aula podem adotar diferentes posturas, porque como
professores supervisores nosso papel não é neutro e vai
interferir diretamente de forma positiva ou negativa na vida
deles.
O conceito de dialogismo permeia toda a obra de
Bakhtin e é princípio unificador da sua teoria. Ao utilizarmos
o dialogismo para ensinar Geografia na prática escolar,
podemos propor atividades pedagógicas com os conteúdos
estabelecendo relações vivas com a língua, no seu uso real,
sendo ela dialógica e impregnada de sentidos, permeada por
ideologias, uma vez que nenhum texto segundo a perspectiva
bakhtiniana é neutro.
Assim, a orientação dialógica é naturalmente um
fenômeno próprio de todo discurso ou comunicação. Portanto,
o enunciado não existe fora das relações dialógicas, nelas
sempre estarão presentes lembranças de outros enunciados,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 79
que conforme (FARACO, 1996, p. 21) “toda vez que se
produz um enunciado o que se está fazendo é participar de um
diálogo com outros discursos”.
Portanto, em sala de aula é preciso perceber as
relações dialógicas que o enunciado mantém com o contexto,
pois, como dito, ele nunca é neutro e sempre será
heterogêneo, pois revela duas posições, a sua e aquela em
oposição à qual ele se constrói. Como diz (FIORIN 2008, p.
24): “Ele exibe seu direito e seu avesso.” Nesta perspectiva,
as relações dialógicas tanto podem ser contratuais ou
polêmicas, de divergência ou de convergência, de aceitação
ou negação, enfim serão dialéticas considerando a posição dos
sujeitos envolvidos.
Se os sujeitos vivem em sociedade, eles estarão
organizados e pertencendo a diferentes grupos sociais, com
interesses divergentes, portanto, os enunciados também
estarão carregados de vozes sociais, posicionamento
axiológico, o que significa que a sala de aula deve ser lugar de
contradição, onde essas “vozes sociais” irão aparecer em
diversos momentos, de forma individual e social. Em relação
a isso, Fiorin (2008) afirma:
[...] Tanto o social como o individual, na
proposta bakhtiniana permite examinar,
do ponto de vista das relações dialógicas,
não apenas as grandes polêmicas
filosóficas, políticas, estéticas,
econômicas, pedagógicas, mas também
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 80
fenômenos da fala cotidiana, como a
modelagem do enunciado pela opinião do
interlocutor imediato ou a reprodução da
fala do outro com uma entonação distinta
da que foi utilizada, admirativa,
zombeteira, irônica, desdenhosa,
indignada, desconfiada, aprovadora,
reprovadora, dubitativa, etc. Todos os
fenômenos presentes na comunicação real
podem ser analisados á luz das relações
dialógicas que os constituem (FIORIN,
2008, p. 27).
Entende-se que os conceitos de individual e de social
na obra de Bakhtin não são algo simples e de fácil
compreensão, são conceitos imbricados, porque para ele
mesmo a opinião do indivíduo é social.
Em Bakhtin “o sujeito não é assujeitado, ou seja,
submisso às estruturas sociais, nem é uma subjetividade
autônoma em relação à sociedade”, conforme também afirma
Fiorin (2008, p. 55). Portanto a subjetividade é constituída
pelo conjunto de relações sociais e históricas de que
participam o sujeito. Logo, as consciências dos sujeitos se
constroem na comunicação social, nas interações permeadas
por relações dialógicas diversas.
Por isso, compreendemos que os conteúdos de
Geografia e a apreensão do mundo devem ser situados
historicamente, uma vez que o sujeito está sempre em relação
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 81
com o outro e com os diferentes grupos com os quais interage.
Nesta perspectiva, os sujeitos vão se formando
discursivamente na interação com as diferentes vozes sociais
que mostram a realidade na qual estão inseridos, como a
realidade é heterogênea, os sujeitos não irão apenas se
constituir a partir de uma só voz social, mas a partir de várias
que se estabelecem entre si.
Desta forma, acreditamos que os participantes do Pibid
passam a ter uma formação mais significativa e contínua,
articulada entre o conteúdo, o objeto e os sujeitos envolvidos
em diferentes praticas sociais, situadas historicamente. Para
isso, é necessário desenvolver atitudes que estimulem o
estudo e a pesquisa, desenvolvendo metodologias apropriadas
para cada série, favorecendo a reconstrução do conhecimento.
É pela experiência com alunos reais que é possível
desenvolver as habilidades necessárias para ser professor,
considerando o trabalho com os conteúdos socialmente
relevantes.
Relato da experiência de 2016
O Colégio Estadual Mário de Andrade atua no Pibid
desde 2014, sendo que cada ano é uma experiência única por
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 82
se tratar de um programa que no decorrer do tempo vai
trocando seus integrantes. Este processo permite interações,
uma vez que cada integrante possui uma história de vida e faz
parte de diferentes períodos da graduação do curso de
Geografia. Embora as professoras supervisoras sejam as
mesmas, os resultados destes diálogos e experiências se deram
de formas distintas.
No decorrer dos anos percebemos que, mesmo
mudando os integrantes, algumas situações eram recorrentes.
Foi necessário trabalhar com os pibidianos que, ao serem
inseridos na instituição de ensino, passariam a ser
reconhecidos como professores e isso exige uma postura ética
profissional coerente com a profissão, desde o modo de se
vestir, as relações com os alunos, a linguagem adequada e o
respeito aos horários.
Desta forma, resolvemos entre as professoras
supervisoras que mudaríamos nossa forma de recepção dos
pibidianos na escola. Organizamos, então, um roteiro que
incluía uma fala inicial sobre as atividades docentes e suas
responsabilidades, uma pequena apresentação da instituição,
suas normas e regras e, ainda, incluímos atividades internas e
externas de reconhecimento do espaço, apresentação da
equipe docente e de todos os auxiliares diretamente ligados às
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 83
atividades de classe. Consideramos importante esta
apresentação para que os pibidianos se sintam inseridos no
trabalho didático-pedagógico, podendo circular com liberdade
pelo ambiente escolar.
Com objetivo de conhecer os documentos que
norteiam o trabalho técnico pedagógico, solicitamos que os
pibidianos lessem e realizassem apontamentos sobre os
documentos escolares como o PPP – Projeto Política
Pedagógica, o PPC – Proposta Pedagógica Curricular e o
Regimento Escolar. Esta etapa é extremamente importante,
para que eles compreendam as politicas pedagógicas e as
regras regimentadas e estabelecidas pela comunidade escolar.
Após realizar a plenária com as discussões, partimos
para o levantamento das primeiras sugestões e intervenções.
No primeiro momento as ideias dos pibidianos eram
conflitantes e não atendiam à realidade da instituição escolar.
Então, foi necessário um processo reflexivo e de retomada dos
documentos. Assim, no final do encontro o grupo conseguiu
elencar uma série de possibilidades de intervenções.
A princípio sugerimos a organização de um
cronograma de observações das classes e das aulas dos
professores supervisores e outros parceiros da instituição que
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 84
permitiram tal atividade, para posteriormente voltarmos a
discutir que ações realmente seriam pertinentes.
Assim, decidiu-se que a melhor proposta para o ano
letivo de 2016 seria a intervenção através de oficinas no curso
de Formação de Docentes, em virtude das dificuldades
relatadas pela equipe pedagógica e das observações, uma vez
que a disciplina de Geografia é ministrada somente no 1º ano,
e apenas em três horas aulas semanais. Por isso, escolhemos
trabalhar com as temáticas de Orientação - Localização e
Integração das diferentes escalas espaciais – do Local para o
Global.
A organização das oficinas ocorreu a partir de
encontros realizados em turnos contrários. Definidas as
temáticas, foi hora de organizar os grupos para o
desenvolvimento da atividade. Nossa primeira impressão foi
que a proposta e os objetivos ficaram claros e que caberia a
eles desenvolver uma sequência didática, uma vez que se
tratava de conteúdos considerados basilares da Geografia.
Para nossa surpresa começaram a surgir as
dificuldades, descobrimos que eles não sabiam quase nada
sobre as temáticas. Mesmo os mais graduados detentores do
conhecimento acadêmico apresentavam dificuldades para
fazer a transposição didática para a Geografia Escolar.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 85
Outra dificuldade registrada foi o diálogo entre os
integrantes dos grupos de pibidianos e também com as
professoras supervisoras. Apesar de conversarmos, estávamos
em diferentes sintonias e não conseguíamos estabelecer com
eles um roteiro de atividades. Sobre isso (TARDIF, 2010, p.
21) diz que: “ensinar é mobilizar uma ampla variedade de
saberes, reutilizando-os no trabalho para adaptá-los e
transformá-los pelo e para o trabalho”. Diante desta
afirmação, entendemos que era necessário ampliar nossas
formas de comunicação e de estarmos mais presentes no
processo de criação das oficinas. Para isso, organizamos um
grupo de e-mails e whatsapp para facilitar a troca de ideias e
textos com intuito de eliminar os problemas causados pela
distância e melhorar a integração do grupo de trabalho.
Percebemos que o trabalho não fluía devido ao fato de
serem de cidades diferentes, com dificuldades de transporte
para chegar aos horários combinados. Mesmo estudando na
mesma universidade, os pibidianos pertenciam a turmas
distintas e isso impossibilitava a coesão das atividades.
Levamos algum tempo para entender a dinâmica do grupo,
pois eram novos na escola, não se conheciam e ainda não
havia integração suficiente que permitisse aos pibidianos
ficarem à vontade para falar entre eles e conosco.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 86
As dificuldades foram sendo superadas com o diálogo.
Reunimos o grupo várias vezes durante o decorrer das
semanas e nos encontros eram discutidos os pressupostos
teóricos e práticas que pudessem fundamentar os conteúdos
que seriam desenvolvidos. Neste processo, percebeu-se que
em cada subgrupo existiam lideranças com forças
antagônicas, dificultando um acordo coletivo do que seria
trabalhado nas oficinas. Foi necessária a mediação das
professoras supervisoras para que a oficina fosse estruturada.
Mesmo assim, nos dias que antecederam a realização
das oficinas havia certo desespero no ar, algo que não era dito,
mas estava nas entrelinhas. Então, ao perceberem esta
situação, as professoras supervisoras decidiram pedir apoio à
nossa orientadora do Pibid na universidade, para avaliarmos
em conjunto.
Como resultado deste encontro na universidade,
acordamos que faríamos uma experiência preliminar nas
turmas de 6º ano vespertino (imagem abaixo) para testar o
nível de integração e coerência entre as explicações e
atividades e poder fazer os ajustes necessários para o
desenvolvimento do planejado no curso de Formação de
Docentes.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 87
Nacke, Sonia M.M.(2016) – Turma de 6º ano fazendo seus
questionamentos.
A experiência com os alunos do 6º ano foi
extremamente importante, pois os pibidianos puderam
perceber o que poderia ser feito, que precisariam mudar a
linguagem, redistribuir o tempo das atividades e respeitar o
ritmo de aprendizagem. Podemos afirmar que a elaboração da
oficina ratificou que o ato de ensinar permite o aprender, ou,
como diz (TARDIF, 2010, p. 20), “ensinar supõe aprender a
ensinar, ou seja, aprender a dominar progressivamente os
saberes necessários à realização do trabalho docente”.
Na prática puderam também perceber através deste
ensaio a importância da interação, da reflexividade, da
retomada, da reprodução e da reiteração daquilo que se
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 88
planeja para o que se realiza. Obrigatoriamente o diálogo e a
colaboração entre eles foi o recurso mais utilizado no
desenvolvimento da oficina.
As oficinas foram executadas em duas manhãs no
curso de Formação de docentes, com duração de 4horas de
atividades.
NACKE, Sonia M. M. (2016) – Oficina Formação de
Docentes
Tudo ocorreu conforme o planejamento, embora os
pibidianos estivessem ansiosos, as atividades estavam
coerentes, bem elaboradas e o diálogo entre eles fluiu durante
toda a execução, o que permitiu o sucesso da atividade. As
avaliações dos alunos do curso de Formação Docentes foram
excelentes considerando que as pessoas são únicas, que o
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 89
saber de cada um é plural e que suas experiências vividas vão
determinando suas histórias pessoais e profissionais.
Considerações Finais
Ao nos fundamentarmos nas ideias de Bakhtin e no
conceito de dialogismo na formação dos futuros professores
(Pibid), isso nos permitiu construir diferentes reflexões
sempre a partir do diálogo e do contexto social de todos os
envolvidos no processo, considerando a interação dos
diversos discursos e textos. Os conceitos e as práticas
pedagógicas desenvolvidas foram realizadas pela
comunicação, no conjunto das relações estabelecidas, pela
experiência com alunos reais. Assim, todo o texto tanto verbal
quanto não verbal foi considerado na sua constituição social,
nas interações historicamente produzidas.
Pelos diálogos e os diferentes enunciados evidenciou-
se que as práticas estão impregnadas de juízo de valor e de
ideologias, que nossas ações não são neutras, que não existe
neutralidade nos discursos e que estes estão intrinsecamente
ligados ao contexto e a história social de cada um.
Entendemos que a formação dos pibidianos se dá de
forma contínua e que os saberes nunca são relações apenas
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 90
cognitivas ou intelectuais, como afirma Tardif (2010) “São
relações mediadas pelo trabalho, pelo diálogo e pela cultura
que os sujeitos estão envolvidos”. Desta maneira, fica
impossível entender a identidade de um educador sem inseri-
lo num contexto histórico, social e estrutural de vida. Neste
caso, apenas a formação acadêmica sem a inserção no
cotidiano escolar apresentaria mais problemas do que já
temos.
Nosso papel como professor supervisor do Pibid é
colaborar de forma efetiva na formação dos graduandos,
auxiliando-os no que for necessário, desde o planejamento das
atividades até sua execução e avaliação, além de estarmos em
contato com a universidade de forma permanente e crítica,
dialogando com todos os envolvidos.
A realização das oficinas inseriu os graduandos no
cotidiano da escola, possibilitando a eles e a nós professores
supervisores do Pibid oportunidades de criação e participação
em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas
docentes de caráter inovador e interdisciplinar.
Os aspectos positivos da elaboração destas oficinas
ocorreram no processo de construção, nos diálogos, no pensar,
no refletir e na forma de organizá-los para o trabalho e não
somente na sua execução em si.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 91
Referências
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TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 11.
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Lahud e Yara Frateschi. São Paulo: HUCITEC, 2012.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 93
A LATERALIDADE E A SUA IMPORTÂNCIA NO
ENSINO DA GEOGRAFIA: UMA EXPERIÊNCIA COM
ALUNOS DO CURSO DE FORMAÇÃO DOCENTE1
Giovani Luiz Käfer2
Alisson Henrique Bavaresco3
Introdução
No Colégio Estadual Mário de Andrade, localizado na
cidade de Francisco Beltrão, região Sudoeste do estado do
Paraná, funciona o curso de formação à docência. Os alunos
que o frequentam este curso, possuem, se não a totalidade, em
maior parte, o intuito de seguir na carreira docente na
Educação Infantil.
A formação de docentes voltados à Educação Infantil
superou há muito tempo as noções errôneas e frequentes no
senso comum de que os conhecimentos e ensinamentos
praticados neste nível de escolarização requerem pouco
aprofundamento teórico. De acordo com Kramer (2006), após
extensos e complexos debates, o Ministério da Educação
(MEC) determinou que a Educação Infantil necessita de
1 Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo
Brasileiro, voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão. 3Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 94
profissionais capacitados, bem como estratégias curriculares
específicas para uma melhor formação de crianças com faixa
etária entre zero e seis anos.
No Colégio Estadual Mário de Andrade, dada a
iniciativa e empenho dos professores de Geografia deste curso
Técnico Profissionalizante, realizou-se a proposta de suprir as
necessidades de adequação metodológica dos conhecimentos
geográficos para que os mesmos fossem amplamente
compreendidos pelos alunos do Ensino Médio e que, uma vez
concluída a formação, estes alunos pudessem aplicá-los de
modo satisfatório em sala junto às crianças. Uma maneira
encontrada pelos professores supervisores foi a elaboração de
oficinas a fim de que algumas formas de abordagem sobre a
orientação e localização no espaço geográfico fossem trazidas
por universitários que cursam Licenciatura em Geografia na
Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná),
membros do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência - Pibid de Geografia.
Foi proposta a ideia de uma oficina a respeito da
orientação e localização no espaço geográfico com objetivo
de facilitar o aprendizado e também de obter material de
apoio para futuramente serem usados pelos técnicos docentes.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 95
Uma questão levantada viria a ser um pequeno
problema, a Lateralidade. Muitas destas pessoas que cursam a
Formação Docente não conhecem este conceito ou o
compreendem muito vagamente a palavra e o seu significado,
bem como sua importância no ensino e também na vida de
uma criança.
O principal objetivo da atividade que consistiu em
trabalhar o básico da orientação e localização deu espaço à
Lateralidade e seu desenvolvimento. Como a Lateralidade
influencia no desenvolvimento das crianças, bem como a
importância que devemos dar para ela. Para discorrer sobre
estes assuntos consideramos as pesquisas realizadas por:
Celeste Carneiro (2002), Sonia Kramer (2006), Airton
Negrine (1986), Britta Holle (1979), Luiz Paulo Teixeira de
Souza/Bianca Martins de Figueiredo/Alan Peloso Figueiredo
(2013), Geni Serafin/Luíz Sério Peres/Herton Xavier Corseuil
(2000), Andrea Tereza Sartorio Soares (2002), Lívia Oliveira
(1978), Antônio Carlos Castrogiovanni (2000), Sanderson dos
Santos Romualdo e Graziella Martinez Souza (2009), Lana de
Souza Cavalcante (2002), Sonia Maria Vanzella Castellar
(2005), Rafael Montoito e José Carlos Pinto Leivas (2008) e
Helen M. Eckert (1993).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 96
Relações topológicas, lateralidade e compreensão do
espaço
Uma série de conteúdos fazem parte dos
conhecimentos considerados fundamentais para a formação
nos anos iniciais da escolarização infantil. Tais
conhecimentos devem ser apresentados de forma didática e
prática, a fim de um entendimento fácil por parte da criança,
entretanto, a obtenção de tais conhecimentos perpassa pela
sua estruturação em forma de conteúdos disciplinares, que por
serem trabalhados com os alunos do curso técnico de
Formação à Docência, via de regra, de modo insuficiente e de
modo pouco estimulante, deixam dúvidas e lacunas na
formação dos futuros professores da Educação Infantil.
A forma de suprir tais lacunas é a abordagem dos
diversos conteúdos que compõem o currículo da Educação
Infantil de forma conjunta, por todas as disciplinas, a fim de
promover uma maior aprendizagem por parte dos futuros
professores e também maior interação entre as disciplinas,
ficando assim mais fácil o conhecimento. Dentre os
conhecimentos considerados indispensáveis para o bom
desenvolvimento da criança estão aqueles de ordem
topológica. Montoito e Leivas (2012) nos falam que as relações
topológicas:
são as primeiras construídas pela criança e
dizem respeito às características dos objetos
em si mesmos, revelando suas relações de
vizinhança (perto ou longe do observador,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 97
objetos perto ou longe uns dos outros),
separação (distinguir elementos uns dos outros
e partes do todo), envolvimento (perceber,
numa sequência linear ou cíclica, um
elemento entre outros, e saber reproduzir esta
sequência, bem como perceber as relações de
“dentro” e “fora” para figuras planas e formas
tridimensionais), continuidade (perceber que
uma linha ou superfície é ou não
interrompida) e ordem, a qual se divide em
duas partes: a ordem perceptiva e a ordem
representativa (MONTOITO, LEIVAS, 2012,
p. 27).
De acordo com Castrogiovanni (2000) a criança
apreende o espaço de forma paulatina, conforme ocorre seu
desenvolvimento. Esta evolução é marcada por pelo menos
três fases perceptíveis na formação da criança: dos 5 aos 8
anos de idade quando a criança consegue dar posição nos
objetos e o autor chama de fase do espaço físico vivido. A
segunda fase ocorre entre 8 e 11 anos de idade, quando a
criança consegue dar a posição a partir de outro indivíduo
colocado a sua frente e através do movimento, a criança
começa a fase da apreensão do espaço, que se torna um
elemento de sua percepção. A terceira fase distinta por
Castrogiovanni (2000) ocorre a partir dos 12 anos, quando a
criança consegue imaginar-se no lugar de diferentes objetos e
situar-se a partir deles. Nesta fase já se caracteriza uma
capacidade completa de se distanciar do espaço vivido e
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 98
mesmo assim compreender as localizações dos objetos-
pontos-referências. A criança nesta fase passa do
conhecimento espacial corporal para o formado pelos sentidos
(CASTROGIOVANNI, 2000).
Esta evolução só é possível a partir da realização dos
trabalhos vinculados as noções espaciais topológicas iniciados
na Educação Infantil. Dentre os inúmeros conteúdos inseridos
nas noções topológicas de espaço, o conteúdo vinculado a
Lateralidade será abordado no presente artigo, uma vez que
foi a partir deste aspecto do conhecimento que propusemos o
desenvolvimento das demais etapas de formação dos
conceitos de localização e orientação geográfica.
As relações projetivas (espaço percebido)
envolvem noções de esquerda/direita; em
cima/ embaixo; frente/atrás. Uma das noções
fundamentais do espaço projetivo é a noção de
esquerda/direita, ou seja, de Lateralidade.
Landau e Rumer (1986), ao tratar da
relatividade dos conceitos de esquerda e
direita deixam evidente que “quando nos
referimos ao lado esquerdo e direito de um
caminho, não podemos deixar de ter em conta
a direção que nós próprios nos deslocamos”.
Torna-se assim de estrema importância
chamar a atenção dos alunos para o fato de
que, por exemplo, as referências do trajeto
escola-casa são diferentes do trajeto casa-
escola, isso porque devemos levar em conta a
direção em que nós nos deslocamos. Esses
conceitos de esquerda/direita se revestem de
significado somente quando se define a
direção em relação à qual se dá a definição
(SANTOS, MORO, 2007, p. 136).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 99
Negrine (1986, p. 28) afirma que "[...] a Lateralidade
Corporal refere-se ao esquema do espaço interno do
indivíduo, que o capacita a utilizar um lado do corpo com
melhor desembaraço do que o outro, em atividades que
requeiram habilidade, caracterizando-se por uma assimetria
funcional". O autor assevera que a Lateralidade pode ser
classificada como: definida, cruzada ou indefinida.
Neste sentido, a Lateralidade Definida é assim
conceituada quando o ser e/ou o corpo já identifica o lado
"preferido", ou seja, o lado em que a agilidade, as habilidades
e também o controle, assim como a força, se desenvolvem
mais facilmente e de forma gradual, dando uma maior
segurança nas tarefas a serem realizadas (NEGRINE, 1986).
Já na Lateralidade Cruzada, caracteriza-se por certo
conflito entre ambos os lados do corpo. Isso ocorre durante o
desenvolvimento da criança, quando ela percebe uma maior
facilidade, por exemplo, de escrever mais facilmente com a
mão direita mas, possui também maior facilidade e força ao
chutar uma bola ou pegar impulso com o pé/perna esquerda.
Neste caso, o autor avalia que o indivíduo não possui uma
lateralidade centrada, mas, ainda assim, é definida, tendo
certas preferências para realizar determinadas ações com
membros de lados específicos do corpo (NEGRINE, 1986).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 100
Serafin, Peres e Corseuil (2000), continua a elucidar
que as Lateralidades Definida e Cruzada são consideradas
“normais”, enquanto que a Lateralidade Indefinida é um
fenômeno preocupante, podendo atrapalhar na vida do
indivíduo mais cedo ou mais tarde, deixando-o com
problemas na escola e na sociedade como um todo, além de
afetar direta e indiretamente na intelectualidade e podendo
ocasionar sérios problemas socioafetivos.
Negrine (1986), nos diz que a criança não deve ser
forçada a tomar um lado do corpo como sendo a dominante
sobre o outro lado. O que se deve fazer é criar situações que o
ponham a prova e que o façam descobrir por si só qual
realmente será o lado predominante do corpo.
Em Holle (1979) encontramos a Lateralidade como
sendo um sentimento interno de duas partes corporais de lados
diferentes. Um destes lados seria predominante sobre o outro,
tornando-o mais fácil de controlá-lo, mais ágil e forte, mais
preciso.
Como podemos observar o desenvolvimento da
Lateralidade? E até quando esse desenvolvimento ocorre?
A Lateralidade, bem como todo o corpo do ser
humano, se desenvolvem quase que ao mesmo tempo, uma
vez que o indivíduo faça o uso de determinados membros para
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 101
algumas finalidades, pegar coisas, puxar ou até mesmo
segurar. A Lateralidade pode ser observada desde os
primeiros meses de vida de uma criança.
Segundo Serafin, Peres e Corseuil (2000), é por volta
dos 7 anos de idade que o aperfeiçoamento gradativo do
desenvolvimento é observado. Em Eckert (1993), vemos que
dos 7 aos 10 anos, a fase do desenvolvimento lateral já é
considerada tardia.
Tradicionalmente é o professor de Educação Física
quem tem sido incumbido de ter um cuidado maior em
relação ao desenvolvimento da Lateralidade na escola, onde
através de atividades práticas pode ajudar no “descobrimento”
e também desenvolvimento da dominância lateral de cada
criança, porém neste artigo, acrescentamos que a outros
profissionais, como por exemplo, professores de Geografia,
interessa o bom desenvolvimento da Lateralidade de uma
criança.
Estudos da lateralidade acerca do cérebro
Desde o século XX, muitos estudos vêm sendo
desenvolvidos por cientistas do mundo todo que buscam
entender como funcionar o cérebro humano e também como
se dá o seu desenvolvimento. Carneiro (2002) nos fala sobre
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 102
experimentos feitos em pessoas que passaram por algum tipo
de trauma cerebral. As pessoas que sofreram derrames no lado
esquerdo do cérebro não conseguiram mais falar, assim como
pessoas que sofreram com a mesma doença no lado direito
perdiam a capacidade de orientar-se no espaço. O mesmo
autor continua: “(…) até agora ficou esclarecido que a
linguagem, o raciocínio lógico, determinados tipos de
memória, o cálculo e a análise, são próprios do hemisfério
esquerdo do Cérebro. Enquanto que o direito não usa
palavras, é intuitivo, usa a imaginação, o sentimento e a
síntese” (CARNEIRO, 2002, p.[1]).
A Lateralidade deve ser estudada e desenvolvida nas
“horas certas” durante o desenvolvimento do indivíduo. Como
em Negrine (1986), caso a Lateralidade não seja bem
trabalhada ou seja indefinida, sérios problemas poderão
ocorrer, o comprometimento da aprendizagem.
É o que podemos observar em Soares (2002)
Justificando a importância do estudo, a
criança ingressaria na fase escolar já com sua
preferência lateral detectada, o que poderá vir
a evitar futuros transtornos em seu
desenvolvimento e/ou em seu aprendizado,
pois, a lateralidade contrariada poderá
acarretar diversos transtornos nesta área
(SOARES, 2002, p. [29]).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 103
Com a preferência lateral citada por Soares (2002), a
criança entraria na escola com uma maior segurança de seus
atos, conhecimentos e também apta a novos saberes. Um
exemplo destes conhecimentos é específico da Geografia
(localização e orientação no espaço), sendo muito importante
o desenvolvimento correto da Lateralidade e também o
conteúdo da Geografia, com aulas teóricas e práticas a fim de
proporcionar atividades que estimulem e/ou continuem
desenvolvendo os conhecimentos corporais e espaciais do
indivíduo.
A lateralidade e o ensino da geografia
É muito importante que o aluno do Ensino
Fundamental tenha noção do que se tange as questões de
Lateralidade (direita e esquerda), para que através deste,
compreenda a dinâmica da Geografia e suas especificidades.
Romualdo e Souza (2009) dizem:
Para muitos professores das séries iniciais, a
Geografia se limita a gênese da palavra,
buscando trabalhar com os alunos uma
Geografia arcaica que se atém apenas a
descrições de paisagens, não se preocupando
em desenvolver um senso crítico e reflexivo,
condizentes com a faixa etária dos alunos e
sua capacidade cognitiva. Não se tem o
cuidado de trabalhar com as primeiras noções
geográficas, proporcionando ao aluno uma
compreensão crítica das relações espaciais a
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 104
partir da cartografia (ROMUALDO; SOUZA,
2009, p. 2).
Romualdo e Souza (2009) mostram o que está a
acontecer em nossas escolas onde além do despreparo há certo
desinteresse dos professores em desenvolver um olhar; um
senso mais crítico voltado a questões políticas, educacionais e
sociais. De acordo com os autores, é fundamental que
O processo de aprendizagem geográfica,
assim como de outras ciências, deve sempre
preocupar-se com a construção de
conhecimentos/conceitos/noções junto aos
educandos, não atrelando o seu ensino a
“memorização”, mas com uma visão
geográfica que transcende as salas de aulas e
passa a fazer parte da realidade do aluno
(ROMUALDO; SOUZA, 2009, p. 3).
Para uma melhor compreensão, é necessário que o
aluno tenha clareza do assunto. Segundo Castellar (2005), é
de suma importância que o aluno desenvolva sua habilidade
da linguagem gráfica, através de estratégias de aprendizagem
cujo objetivo seja o entendimento dos mapas como sendo
construções sociais que transmitem ideias e conceitos do
mundo, logo nos primeiros anos da escolaridade, para que
com isso consiga se localizar em mapas e se orientar no
espaço geográfico.
Segundo Oliveira (1978),
A cartografia infantil é um campo de estudos
que está à espera do interesse e da dedicação
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 105
de geógrafos, cartógrafos, educadores e
professores, para ser desenvolvido. O estudo
da Cartografia deve ser precedido pelo estudo
de uma cartografia infantil, na qual a criança
tenha oportunidade de desenvolver atividades
preparatórias, para em seguida realizar
concretamente as operações mentais de
redução, rotação e generalização, que são
propriedades fundamentais do processo de
mapeamento. Para que o desenvolvimento de
uma cartografia infantil seja eficaz, é preciso
considerar o mapa como um entre os vários
tipos de linguagem de que os homens
dispõem para se comunicarem e se
expressarem (OLIVEIRA, 1978, p. 36).
A cartografia foi e continua sendo fundamental na vida
de toda sociedade e cabe ao professor de Geografia trazer para
sala de aula o assunto, trabalhando adequadamente,
principalmente nas Séries Iniciais, para que os alunos possam
compreender de forma adequada as técnicas cartográficas.
Para tal, Cavalcante (2002) argumenta que:
As habilidades de orientação, de localização,
de representação cartográfica e de leitura de
mapas desenvolve-se ao longo da formação
dos alunos. Não é um conteúdo a mais no
ensino da Geografia, ele perpassa todos os
outros conteúdos, fazendo parte do cotidiano
das aulas dessa matéria. Os conteúdos de
Cartografia ajudam a abordar os temas
geográficos, os objetos de estudo
(CAVALCANTE, 2002, p. 16).
A orientação e localização geográfica estão
plenamente relacionadas à Lateralidade, uma vez que em
Negrine (1986) vemos a Lateralidade como:
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 106
[…] o reflexo do predomínio motriz dos
segmentos direito e esquerdo, isto é, a
"BÚSSOLA" do esquema corporal. O lado
esquerdo e o lado direito não são homogêneos
e esta distinção se manifesta ao longo do
desenvolvimento e da experimentação
(NEGRINE, 1968, p. 28).
Neste sentido, a localização e também a orientação
geográfica ocorrem dentro do próprio indivíduo, levando
através de experimentações físicas e intelectuais a descobrir o
seu corpo e também seus pontos fortes e fracos, ou seja, suas
dominâncias laterais dominantes.
A oficina
Observando as dificuldades que os alunos do Ensino
Fundamental e até mesmo os alunos de Formação Docente
encontram na orientação cartográfica, vimos o quanto é
importante para a educação cartográfica trabalhar a
Lateralidade como introdução para todo o ensino da
cartografia.
Com o intento de suprir essa necessidade, nós
graduandos do curso de Geografia, bolsistas do subprojeto do
Pibid-Geografia da Unioeste de Francisco Beltrão, juntamente
aos professores coordenadores e supervisores, desenvolvemos
oficinas de Orientação e Localização, que foram ministradas
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 107
para aproximadamente 40 alunos do 1º ano do curso de
Formação Docente do Colégio Estadual Mário de Andrade de
Francisco Beltrão.
Para iniciar a oficina foram trabalhadas a parte da
história da cartografia, sua importância e a dinâmica
cartográfica. Logo após, a Lateralidade seria tratada com
maior ênfase, uma vez que a tivemos como centro de nosso
trabalho. Desenvolvemos o restante da nossa oficina,
trazendo à tona as questões de direita e esquerda para que,
posteriormente, a Rosa dos Ventos e elementos vinculados
aos Pontos Cardeais e Colaterais fosse trabalhada na teoria,
por meio de exposição e explicação, e na prática, por meio de
atividades em grupos e jogos.
Tínhamos claro o nosso verdadeiro objetivo, uma vez
que já soubéssemos da importância dos conhecimentos
geográficos na vida das crianças, e também a dependência que
a Geografia possui em relação a Lateralidade, no que se refere
aos conhecimentos de orientação e localização no espaço.
Temos na Geografia esta grande importância da Lateralidade
em seus ensinamentos. Negrine (1986) nos diz que a
Lateralidade e a orientação espacial são diferentes, “[…]
entretanto, o movimento corporal que o homem realiza é
resultante da projeção que faz de seu corpo no espaço
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 108
circundante.”, continua “[…] exige, pois, a estruturação do
esquema corporal e a organização das condutas
perceptomotoras” (NEGRINE, 1986, p. 51).
Os conhecimentos espaciais do indivíduo vêm tanto de
seu interior, quanto do exterior, através de sensações e
estímulos oriundos de pessoas que o rodeiam. Neste contexto,
temos o papel do professor, sendo o de buscar alternativas
para o desenvolvimento da Lateralidade, objetivando sempre
as sensações e buscando estimular ao máximo estes alunos.
Mas nem sempre isto dá certo.
Algumas dificuldades vão aparecendo durante o ano,
onde encontramos professores despreparados e sem mesmo
um mínimo de material que possa servir como base para um
melhor entendimento do assunto e quem sabe algum caminho
que possa ser seguido. Devemos lembrar que a Lateralidade
se manifesta aos poucos, e deve ser trabalhada não somente
por professores de Geografia ou Educação física, mas por
todas as disciplinas. É o que nos mostra Oliveira apud Soares;
Kurkdjian (2001):
Grande parte dos professores não está
preparada para “alfabetizar” as crianças no
que se refere à representação gráfica dos
aspectos geográficos, para introduzir
estudantes na leitura e na produção de mapas,
na compreensão de suas convenções e
símbolos, o que lhes daria subsídios para
melhor entender o seu espaço geográfico e
para agir nele, se necessário (OLIVEIRA apud
SOARES; KURKDJIAN, 2001, p. 223).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 109
Assim, quando nos deparamos com a palavra
Lateralidade, algumas perguntas vêm em mente. E entre elas:
de que forma podemos ajudar no desenvolvimento da
Lateralidade em cada indivíduo? A resposta é simples,
Atividades, sejam elas práticas, lógicas, locomotoras ou não,
ilusórias, ou até mesmo canções coreografadas. Tais
atividades podem ajudar e muito no desenvolvimento lateral,
estimulando a percepção dos movimentos e levando o corpo
do indivíduo a se adaptar aos desafios lançados pelas
atividades.
Soares (2002) nos chama a atenção quanto as
atividades:
A prática de atividades recreativas, referentes
a lateralização da criança na vida escolar e em
uma determinada sequência lógica, partindo
de atividades simples para as mais complexas,
podem favorecer e muito no desenvolvimento
infantil, sendo habituais e diferenciadas e em
certa série de repetições, sem que se torne de
certa forma autoritária e repetitiva, mais de
modo prazeroso (SOARES, 2002, p. 6).
Sabendo das dificuldades sofridas pelos professores
em relação aos trabalhos de Geografia, mais precisamente
envolvendo assuntos de orientação e localização, foram feitas
abordagens que envolvesse os dois tipos de desenvolvimento:
o da Lateralidade e o dos conhecimentos geográficos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 110
espaciais, a fim de mostrar exemplos de atividades que podem
ser desenvolvidas em sala de aula, com alunos que vão do
primeiro ao quarto ano do Ensino Fundamental I.
Foram desenvolvidas muitas atividades práticas, com
o intuito de ensinar o conteúdo aos futuros professores e
também oferecer atividades que eles pudessem ofertar aos
seus futuros alunos das Séries Iniciais, quando os mesmos se
tornarem professores. Castellar (2005) nos diz que a
Geografia vai além de saberes. Por fim, definimos o ensino de
geografia como um conjunto de saberes que não só ocupam os
conceitos próprios, mas os contextos sociais nos quais se apoiam.
Ensinar na perspectiva da construção dos saberes não é apenas
dominar conteúdos, mas ter, ao mesmo tempo, um discurso
conceitual organizado com uma proposta adequada de atividades,
buscando superar os obstáculos da aprendizagem (CASTELLAR,
2005, p. 223).
Considerações finais
No decorrer da carreira do professor, muitos são os
desafios enfrentados para que seus alunos consigam um
entendimento maior e mais fácil através de atividades, sejam
ela rotineiras ou novas e diferentes. Devemos sempre buscar
uma maior especialização em ambas as áreas do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 111
conhecimento, não tão somente áreas específicas como as da
Geografia.
A questão Lateralidade X Geografia é só um dos
assuntos que serão encontrados pelo professor em sua jornada
na escola. Pensamos em muitas alternativas e muitas vezes
não vemos saída para determinadas situações. É aí que está o
desafio do ser professor.
Observamos que a Lateralidade está direta e
indiretamente presente na vida do indivíduo e, se mal
trabalhada, muitos dos problemas relacionados a
intelectualidade, socialização e desenvolvimento do indivíduo
podem ser causadas pelo mau desenvolvimento da
Lateralidade.
Ao trabalharmos com a localização e orientação do
espaço geográfico, vemos a necessidade de trabalhar com a
Lateralidade, pois no curso de formação à docência muitos
dos alunos ainda não tinham contato ou conheciam pouca
coisa do assunto, sendo muito necessário não só para
disciplinas específicas, mas para um desenvolvimento escolar
como um todo. Em especial na Geografia, se faz necessário o
estudo de tal assunto devido a sua utilização com os pontos
laterais, usados na orientação e localização.
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Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 115
GEOGRAFIA E CARTOGRAFIA: OS DESAFIOS
ENCONTRADOS NA SALA DE AULA1
Ana Carolina Tazinasso2
Danieli Matei3
Introdução
Propomos neste artigo a realização de uma análise
crítica sobre a importância do ensino da cartografia na escola,
enfatizando as metodologias vinculadas à docência dos
conteúdos de orientação e localização. Para efetivar uma
apreciação mais congruente com a realidade das escolas, será
utilizada a experiência vivenciada por meio do programa
Pibid, subprojeto Geografia - Unioeste, campus de Francisco
Beltrão no Colégio Estadual Mário de Andrade durante o ano
letivo de 2016.
O Pibid é fomentado pelo governo federal e, se
constitui em importante programa de apoio à formação nos
cursos de licenciatura. Na licenciatura em Geografia, campus
de Francisco Beltrão, o subprojeto do Pibid tem sido suporte
1 Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo
Brasileiro, voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão. 3Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 116
para inúmeros projetos de intervenções e parcerias entre a
Universidade e a escola. O presente artigo selecionou a
experiência vinculada às Oficinas de Orientação e
Localização para os discentes do Ensino Técnico Formação
Docente – Nível Médio.
Para o desenvolvimento das atividades, foi trabalhado
o tema orientação, utilizando mapas como recurso
metodológico para a turma do 2º ano do curso Técnico em
Formação de Docentes. Depois de formados, estes docentes
Nível Médio se dedicarão ao ensino de crianças dos primeiros
anos do Ensino Fundamental I.
A principal questão averiguada neste artigo é a
importância do uso de metodologias diferenciadas no
processo de ensino-aprendizagem, que levem em
consideração as diferentes condições sociais e cognitivas dos
alunos. Buscar-se-á retratar por meio da experiência vivida no
colégio, a pertinência dessa questão, bem como, a importância
da mesma para a nossa formação docente em Geografia.
A escolha deste tema como elemento norteador de
nossa análise se justifica pela importância de se aprender a
orientação por meio do uso de linguagens cartográficas
diversificadas, ao mesmo tempo em que se identifica
dificuldades por parte dos professores das Séries Iniciais em
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 117
trabalhar com diferentes metodologias para ensinar a
cartografia, bem como a orientação com o mapa e pela
dificuldade encontrada pelos alunos em entender este tipo de
linguagem. Por isso, é importante que seja aprofundada esta
discussão acerca das diferentes metodologias de ensino-
aprendizagem com o intuito de reconhecer a necessidade de
buscar práticas pedagógicas que favoreçam o pleno
desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, bem como
respeitem suas condições de aprendizagem.
Para a construção desta análise, dialogaremos com os
conceitos de autores que fundamentaram alguns dos debates
realizados no Pibid, durante o ano de 2016 e início de 2017,
tais como: Joyce Rickli (2013); Tania Regina Peixoto da Silva
Gonçalves, Jader Janer Moreira Lopes (2008); Tielle Soares
Dias (2009); Helena Copetti Callai (2001); João Luiz
Gasparin, Maria Cristina Petenucci (1984); Paula Juliana da
Silva, Alexandre Alves de Andrade, Jorge Magno da Costa e
Maria Cristina Cavalcanti de Araújo (2010); Wanda Paccheco
T. dos Santos e Paulo Rogério Moro (2007); Valdiney D.
Rigonato (s/d).), entre outros. Buscaremos mostrar como os
autores analisam a importância de reconhecer a realidade dos
alunos no processo educativo. Igualmente, contextualizaremos
a opinião dos autores quanto as principais dificuldades de se
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 118
desenvolver metodologias diferenciadas de aprendizagem.
Após isso, será discutido de que forma o professor de
Geografia pode buscar problematizar esta questão em suas
aulas. Por fim, buscaremos apresentar, nas considerações
finais, nosso ponto de vista sobre a problemática analisada,
bem como, os resultados alcançados na experiência
desenvolvida no Colégio Estadual Mário de Andrade.
Diante do exposto, é esperado, através desta análise,
contribuir, mesmo que de modo exordial, para a compreensão
desta temática que é fundamental para a formação docente e a
prática dos futuros e atuais professores, buscando ideias para
desenvolver a habilidade em trabalhar com orientação
cartográfica para que entendam a importância da mesma para
a instrução cartográfica dos discentes.
O ensino da cartografia para o entendimento da
orientação por meio de mapas
A Cartografia é a ciência que retrata graficamente a
superfície da Terra, cujo resultado final é o mapa, ou seja, ela
contempla desde a produção até o estudo do mapa
(SIMIELLI, 2003). Para compreender a cartografia é
indispensável reconhecer os símbolos, as cores e outros
fundamentos da Cartografia. Sendo assim, Dias (2009, p. 2)
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 119
nos fala que: “para trabalhar cartografia no ensino de
Geografia necessita-se trabalhar um dos temas próprios dos
estudos geográficos: a noção de espaço”.
Desta forma, para que o aluno entenda a cartografia
ele precisa primeiramente ter uma noção de espaço. Esta
noção, entretanto, é construída desde os seus primeiros anos
de vida, portanto, para que seja bem conduzido dentro do
universo cartográfico é indispensável que esta linguagem seja
introduzida já na escola desde o Ensino Fundamental I. Por
isso o papel do professor Pedagogo se torna primordial, pois
tudo o que o aluno aprende nesta fase da vida se tornará
decisivo para que continue se sentindo estimulado nas demais
fases de desenvolvimento.
Santos e Moro (2007) afirmam ser, exatamente nos
primeiros anos da infância, que se concentram as relações de
conhecimento espacial que possibilitarão a continuidade e o
desenvolvimento pleno deste processo durante a vida adulta.
De acordo com os autores, a criança
Ao ser tocada, acariciada, segurada no colo
inicia o processo de aprendizagem do espaço.
Nesse processo, as primeiras relações
espaciais que a criança estabelece são as
chamadas topológicas, aquelas que ela pode
presentar em pensamento para si própria e
tratam da proximidade de ordens espacial,
continuidade e de sucessão. Para ela, o espaço
é essencialmente um espaço de ação, o espaço
vivido, prático, organizado e equilibrado em
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 120
nível da atividade e comportamento
(SANTOS; MORO, 2007, p. 136).
Evidencia-se que os autores consideram fundamental
que os trabalhos vinculados ao conhecimento espacial sejam
conectados aos elementos do cotidiano vivido pela criança.
A criança começa a dominar as noções de
espaço que ela ocupa em relação aos
elementos ao seu redor, através de exercícios
concretos de orientação e localização e
posicionamentos próprios, além da
representação de objetos e de ambientes
conhecidos no papel. Só depois de estar
familiarizadas com as noções de fronteira,
direita/esquerda, em cima/ embaixo,
frente/atrás, a criança poderá estar preparada
para formar conceitos mais complexos, que
irão possibilitar-lhe a realização de análise
geográfica (SANTOS; MORO, 2007, 138).
Ou seja, não se trata de antecipação da abordagem de
conteúdos, mas a exploração de conhecimentos inerentes as
próprias delimitações espaciais da criança, sem as quais não
pode se desenvolver de modo satisfatório nas demais etapas
da vida. Em síntese, aspiramos evidenciar o fato de que se
esta noção de espaço não for construída nos primeiros anos da
Educação Infantil, o professor de Geografia no Ensino
Fundamental II terá uma tarefa ainda mais difícil, pois terá
que trabalhar não apenas com noções deficientes e, por vezes,
equivocadas trazidas pelos jovens para iniciar a construção do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 121
conceito de espaço para ensinar a Cartografia, mas também,
com a possibilidade de debilidade de percepções espaciais.
Por vezes, quando isso ocorre, o aluno tem grande dificuldade
de compreender e avançar no raciocínio orientado por
linguagens cartográficas.
Para Dias (2009, p. 1):
O domínio da linguagem cartográfica
constitui-se num fator de relevância para o
desenvolvimento e ensino dos conteúdos
relacionados a Geografia entre outras
disciplinas escolares, principalmente para as
crianças, porque a partir desses
conhecimentos, os alunos, passam a
compreender melhor a organização do espaço
onde eles se encontram, minimizando desta
forma as dificuldades nas séries posteriores,
onde os conteúdos se apresentam de forma
mais complexa.
Vale ressaltar que todo esse processo só irá contribuir
se o professor ocasionar a ocorrência do processo de ensino-
aprendizagem4, onde há uma troca de conhecimentos entre o
que o professor ensina e o que o aluno aprende (RIGONATO,
s/d.), e este tem um papel fundamental para que toda essa
4 Ensino-Aprendizagem: é o processo que promove o diálogo entre o conteúdo
curricular (formal) e os conteúdos únicos (vivências, histórias, individualidade)
tanto do professor quanto do estudante, ou seja, é uma troca de conhecimentos.
Fonte: Educação Integral, disponível em:
<http://educacaointegral.org.br/glossario/ensino-aprendizagem/>. Acessado em: 20
mar. 2017.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 122
compreensão ocorra por meio de atividades práticas, onde o
aluno consiga se inserir ao meio.
Sendo assim, quando se fala em aprender e/ou ensinar
a cartografia vale ressaltar que não envolve apenas o copiar,
ler e repetir, mas, principalmente e, essencialmente,
compreender todo o espaço geográfico, desde a noção de
espaço até a forma de orientação no meio em que vive (DIAS,
2009).
Para que isso ocorra, é crucial que o professor traga
ao aluno elementos que ele consiga relacionar com o seu
cotidiano, ou seja, atividade que ele possa fazer uma relação
com elementos que ele observa em seu dia a dia. Um exemplo
de atividade que poderíamos citar, seria que eles mostrassem
através de um desenho os elementos que eles veem no
caminho de casa até a escola, pode-se considerar uma
atividade bastante simples, mas se a criança não desenvolve
cognitivamente esses aspectos, com certeza isso fará falta em
algum momento da sua vida.
Sobre isso Gonçalves e Lopes (2008, p. 47) nos falam
que:
[...] torna-se essencial pensar em uma
alfabetização geográfica, ou seja, pensar o
educando envolvido com os conceitos e
habilidades geográficas desde o início de sua
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 123
escolarização. Estes terão, então, a
possibilidade de construir uma aprendizagem
significativa sendo capazes de observar, ler,
escrever, comparar, ordenar, classificar e
identificar os fenômenos geográficos para
melhor interagirem no seu cotidiano [...]
Portanto, é de extrema importância que o professor use
diversas ferramentas para que além de todos esses aspectos, o
aluno seja além de tudo um grande leitor crítico do seu
espaço. Entretanto, Callai (2005, p. 47) nos diz que: “a leitura
de mundo é fundamental para que todos nós que vivemos em
sociedade possamos exercitar nossa cidadania”. Por isso, a
Cartografia tem um papel fundamental na vida do cidadão:
fazer com que consiga ler o mundo para poder exercitar a
cidadania, e para isso, requer de um professor com formação
em Geografia e que tenha o interesse não só do salário, mas
sim, a preocupação com que o aluno aprenda a Cartografia,
pois isso, pode ter consequências futuras.
Orientação cartográfica na escola
Na experiência vivenciada por pibidianos no Colégio
Estadual Mário de Andrade, no município de Francisco
Beltrão, foram desenvolvidas atividades com o 6º ano e com
dois 2os
anos de Formação de Docentes. Essas atividades
consistiam em ensinar os alunos do 6º ano para quando
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 124
acabasse a oficina, pudesse ser feito uma reflexão de como foi
o comportamento dos mesmos para com a atividade e para
que os alunos dos 2os
anos pudessem aproveitar a ideia dessas
mesmas atividades para ensinar seus futuros alunos no Ensino
Fundamental I.
Para desenvolver a oficina sobre Orientação, o grupo
de sete pibidianos foi divido em subgrupos para a realização
das abordagens didático metodológicas dos assuntos
relacionados a orientação. Para que os alunos conseguissem
compreender melhor, foi trabalhado desde a história da Rosa
dos Ventos5, (onde foi desenvolvida uma linha do tempo) até
como construí-la e usá-la. Entretanto, neste artigo científico
será relatada e analisada a experiência vinculada apenas às
especificidades da orientação cartográfica.
A orientação Cartográfica é algo essencial para a
compreensão do mundo, bem como, se orientar no espaço
vivido. Por isso, é fundamental que o professor além de usar
metodologias diferenciadas saiba explicar como fazer a
atividade e para que irá servir na vida do aluno. Portanto, o
5Rosa dos Ventos: é um desenho que serve de instrumento para a
navegação geográfica, utilizada para auxiliar a localização de
determinado corpo ou objeto em relação a outro. É formada pelos
pontos cardeais e seus intermediários. Fonte: Significados, disponível em:
<https://www.significados.com.br/rosa-dos-ventos/>. Acessado em: 27
mar. 2017.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 125
Pibid tem o papel fundamental de auxiliar o professor,
trazendo essas metodologias diferenciadas, por isso, para que
ocorresse a oficina de orientação, foi preciso de uma música
sobre os pontos cardeais e mapas de Francisco Beltrão, do
Sudoeste do Paraná e o Atlas onde foi utilizado o mapa do
Brasil e do Continente Americano. Como citado
anteriormente, para que se construa o conhecimento, deve se
partir do local para o global, utilizando sempre o
conhecimento empírico trazido pelo aluno.
Para se iniciar a oficina de orientação cartográfica, foi
confeccionado um mapa da sala, utilizando E.V.A. vermelho
como base, E.V.A. amarelo simbolizando as carteiras e
cadeiras e E.V.A. verde representando a carteira e cadeira do
professor, além disso, para a colagem foi utilizado velcro,
pois assim, poderia ser mudado de lugar as carteiras.
Conforme cada aluno entrava na sala, escrevia seu nome na
carteira onde sentaria. Quando todos os alunos chegaram, os
pibidianos perguntavam em relação ao seu ponto de
referência, ou seja, a sua localização em relação ao colega.
Essa foi a atividade diagnóstica feita com ambas as turmas
que serviria como ponto de partida para explicar lateralidade e
orientação. Todas as turmas apresentaram dificuldades no
início.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 126
Após a atividade diagnóstica, outros subgrupos
apresentaram a linha do tempo, lateralidade, como construir a
Rosa dos Ventos e os pontos cardeais e colaterais. Para que os
aprendessem melhor os pontos cardeais, sem precisar
“decorar”, o subgrupo da orientação entrou em ação,
iniciando com a música Pontos Cardeais6.
Primeiramente foi entregue a letra da música para que
os alunos pudessem acompanhar a letra e mais tarde aprender
a coreografia, visando a necessidade e a importância de se
trabalhar com movimentos e atividades lúdicas, sobre isso.
Macedo (2007, p. 16) nos diz que:
Valorizar o lúdico nos processos de
aprendizagem significa, entre outras coisas,
considerá-lo na perspectiva das crianças. Para
elas, apenas o que é lúdico faz sentido. Em
atividades necessárias (dormir, comer, beber,
tomar banho, fazer xixi), por exemplo, é
comum as crianças introduzirem um elemento
lúdico e as realizarem agregando elementos.
Visando isso e, tendo como chave a importância do
lúdico para que as crianças compreendam, nesse caso, o
conteúdo em si, após escutarem a música, ensinamos uma
coreografia para a música e todos dançamos juntos. A turma
do 6º ano foi mais participativa, pois como ainda são crianças,
6 Pontos Cardeais: são pontos de orientação no espaço terrestre os quais
estão relacionados com a posição do sol. Fonte: Toda Matéria, disponível
em: <https://www.todamateria.com.br/pontos-cardeais/>. Acessado em: 27
mar. 2017.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 127
gostam de brincadeiras, já os 2os
anos nem tanto, alguns
participaram e outros se sentiram envergonhados, mas quando
aprenderam se soltaram e participaram mais, pois é uma
música essencial para aprender os Pontos Cardeais e que
futuramente terão que ensinar para seus alunos.
Por isso é fundamental que o professor não leve o
mapa apenas por levar porque é aula de Geografia, mas sim,
levar o mapa com um propósito: ensinar a orientação. Para
isso, é preciso não somente o mapa, mas também a Rosa dos
Ventos. Desta forma, foram confeccionados pequenas Rosas
dos Ventos, onde os alunos poderiam trabalhar em grupos
utilizando os mapas e sobre eles a Rosa dos Ventos que
poderia ser deslocada.
Portanto, quando entregue os mapas de Francisco
Beltrão, os alunos ficaram fascinados, procurando onde
estavam suas casas, após acharem o bairro que moram e a
escola, começou a atividade. Os alunos centralizariam sua
Rosa dos Ventos no bairro onde está localizada a escola e
procurariam os bairros vizinhos, completando-os no local
indicado da atividade, indicando qual bairro ficaria a Norte,
Sul, Leste, Oeste, Nordeste, Noroeste, Sudeste e Sudoeste, ou
seja procurando usar os pontos cardeais e colaterais que
acabara de aprender.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 128
Após usar o mapa de Francisco Beltrão para se
orientarem, foi entregue o mapa do Sudoeste do Paraná, para
que fizessem o mesmo, mas procurando os municípios
vizinhos de Francisco Beltrão. Logo após, foi entregue o
mapa do Paraná para que procurassem os Estados que fazem
divisa e indicando em quais pontos cardeais e colaterais
estariam, e assim por diante até chegar ao Continente
Americano.
Durante a confecção das atividades pôde-se perceber
que os alunos do 6º ano tiveram um pouco de dificuldade nas
primeiras atividades, mas depois que aprenderam como
utilizar a Rosa dos Ventos conseguiram fazer as outras
atividades. O 6º ano mostrou-se bem interessado, fazendo
perguntas em todos os momentos e desenvolvendo todas as
atividades e relacionando sempre que possível com seu
cotidiano.
Já os 2os
anos tiveram resultados diferentes. O 2º ano A
de Formação de Docentes, mostrou-se muito participativo e
compreensivo, mas com bastante dificuldade no decorrer das
atividades. Esses alunos, faziam perguntas sempre que
necessário, porém se confundiam em algumas atividades, ou
seja, trocavam alguns Pontos Cardeais por Colaterais e vice
versa.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 129
O 2º ano B de Formação de Docentes, mostrou-se mais
quieto e não muito participativo, mas com bastante
dificuldades no decorrer das atividades. Esses alunos
dificilmente faziam perguntas, mas no momento da correção
pôde-se perceber que a maioria não tinha completado a
atividade ou tinha completado errado.
Portanto, foi possível observar nesse tempo que existe
claramente uma enorme dificuldade de aprendizado quando o
assunto é Orientação Espacial e foi por esse motivo que esse
tema foi escolhido. Apesar da grande dificuldade que os
alunos do curso de Formação de Docentes declararem possuir,
bem como revelaram no momento de corrigir as atividades,
muitos deles reconhecem esta deficiência e desejavam supri-
la. Após relatos verificamos que após a oficina muitas dúvidas
até as consideradas simples puderam ser esclarecidas.
Considerações finais
Através dessa experiência, foi possível observar a
importância do processo de ensino-aprendizagem, ou seja,
como professor e aluno devem estar interligados para que o
aprendizado aconteça de forma positiva.
Sendo assim, vale destacar que para todos o
aprendizado foi enorme, pois, foi a primeira vez que tínhamos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 130
alunos do formação de docentes, ou seja, futuros professores,
aonde deveríamos mostrar a eles formas diversificadas de
ensinar uma criança, então, além de termos que pensar em
atividades que a criança conseguisse compreender, tínhamos
como objetivo fazer com que o futuro professor (formação de
docentes) também compreendesse, aonde foi ai que
encontramos uma dificuldade maior, pelo fato de que, eles
também tinham uma enorme dificuldade na orientação.
As oficinas aconteceram em duas turmas diferentes,
onde, cada uma se comportou de maneiras distintas com
dificuldades e potencialidades singulares. Apesar das
atividade terem sido elaboradas para alunos com o perfil do
Colégio Estadual Mário de Andrade (realidade
socioeconômica; perfil dos cursos; exercícios com a planta
das próprias salas de aula; trajetos com bairro da escola)
avalia-se que o ideal teria sido que as atividades tivessem sido
ainda mais específicas para cada grupo de alunos,
principalmente porque verificamos turmas nas quais as
atividades dialogadas foram melhor aceitas enquanto em
outras, as atividades corporais forma mais bem acolhidas.
Ao final foi possível verificar um grande avanço em
ambas as turmas, ou seja, constatamos que os alunos, cada
qual de sua forma, contribuíram para o êxito da oficina e
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 131
participaram ativamente, nos ajudando também a
compreender de modo mais claro a importância das
metodologias lúdicas para as crianças das séries iniciais do
Ensino Fundamental na formação dos conhecimentos de
orientação cartográfica.
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Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 134
IMPORTÂNCIA DA ALFABETIZAÇÃO
CARTOGRÁFICA PARA A COMPREENSÃO DA
INTEGRAÇÃO DOS ESPAÇOS1
Andreza Carla Corrazza2
Daiane Peluso3
Marlon Ronner Faedo4
Introdução
O artigo a seguir trata da problemática de levar a
Geografia para as séries iniciais do Ensino Fundamental I, por
meio do processo de alfabetização cartográfica dos
professores do Ensino Médio de Formação de Professores.
Estimulou-nos a pensar de que forma poderíamos levar a
cartografia - que é a linguagem de representação dos
fenômenos espaciais por meio de mapas e outros símbolos
(FRANCISCHETT, 2007) - para essas séries onde os alunos
ainda são menores, de modo que eles pudessem entender os
elementos principais da cartografia e compreender como
funciona a integração dos espaços.
1Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo
Brasileiro, voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão. 3Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão. 4Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 135
Buscamos criar oficinas voltadas à formação dos
professores com atividades lúdicas simples, de forma que
pudessem ser base de criação e inovação para estes futuros
professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental I.
Interessava-nos que esses alunos do curso de formação
docente pudessem ter uma primeira noção de como funciona a
Geografia através da cartografia e que compreendessem a
relevância da aplicação deste conhecimento na vida cotidiana
e no desenvolvimento das crianças.
O papel do curso de Formação Docente é de
fundamental importância no processo de construção de
sujeitos que tenham noções espaciais bem amadurecidas e que
compreendam os mapas para além de simples ilustrações. São
os professores que trabalharão com os alunos pequenos e,
devido a isso, são os mais indicados à participar de oficinas
que expliquem sobre a função das atividades de alfabetização
cartográfica com caráter lúdico e sua importância no
aprendizado dos alunos das series iniciais do Ensino
Fundamental I.
A importância da alfabetização cartográfica no curso
técnico de formação de docentes
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 136
Entender um mapa é compreender muito mais do que
representação ilustrativa, pois ele traz consigo um grande
gama de informações. Conforme Francischett (2010, p. 45) “o
mapa como um documento cartográfico é um instrumento
capaz de representar em escala, com o grau de exatidão
requerido, informações geográficas quantitativas e temáticas”.
A questão central na problemática proposta por nosso
artigo é: por que é importante a alfabetização cartográfica nas
aulas de Geografia? A partir do pressuposto da diversidade
existente no ambiente (em que ressaltamos as distintas
trajetórias, histórias, caminhos e cotidianos) pressupomos que
todo aluno já possui saber geográfico. Este saber empírico,
deve, entretanto, ser qualificado. O professor cumpre o papel
de auxiliar a construção deste conhecimento academicamente
construído e socialmente acumulado para que o aluno atribua
sentido e significado a todos os conceitos estudados e os
utilize em seu cotidiano de forma consciente e direcionada ao
cumprimento de seus objetivos.
Deste modo, optamos por desenvolver as atividades
com a turma da Formação de Docentes, ou seja, as futuras
gerações de docentes, pois notamos uma necessidade quanto à
formação de uma base de conhecimento docente sobre o tema
da alfabetização cartográfica, o qual resultará na construção e
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 137
aplicação de diversas atividades voltadas ao ensino, visando à
construção da aprendizagem docente e discente.
À vista disto, concordamos com Demo7 (2014, s/p),
quando afirma: “Quem tem interesse em fazer o aluno
aprender tira a aula e cria um ambiente de aprendizagem”.
Desta maneira pretendemos mostrar a atuação do professor
em sala de aula por meio de conteúdos significativos que,
juntamente com explicações e atividades, promovem de modo
efetivo a aprendizagem.
Ao se explorar o conceito de aprendizagem, notamos
que sua origem deriva do grego Arpehendere, o qual em sua
tradução remete ao termo “agarrar; tomar posse; pegar”. No
sentido metafórico este termo se remete ao ato de agarrar,
tomar posse do conhecimento com a mente.
Assim, ressaltamos que o importante, não é somente
aprender, mas sim como se está aprendendo. Por isso,
justificamos a utilização do material didático lúdico, como
uma alternativa de ensino aos alunos, que por não se
apresentar cotidianamente, se torna impactante. Nesse sentido
7XV SEU – Seminário de Extensão Universitária em Marechal
Cândido Rondon campus da Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (UNIOESTE), palestra com o Professor Dr. Pedro Demo,
intitulada Pesquisa e Extensão Universitária sua interface com a
aprendizagem, realizada no período de 13 a 15 de maio de 2015.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 138
concordamos com Silva; Lucas; Jesus (2005): o uso das
atividades lúdicas se tornam prazerosas aos alunos, pois além
de trabalhar com os conceitos científicos permitem aos
mesmos extravasarem todas as suas emoções.
Desse modo, quanto mais atrativa for a atividade
desenvolvida, maior será o interesse do aluno em aprender.
Tais atividades quando desenvolvidas, sustentadas e
fundamentadas em uma base teórica, possibilitam a
aprendizagem significativas e também envolvem a atenção
dos alunos no processo de ensino.
Conforme Sales (2005, p. 03):
Todos os agentes envolvidos no processo de
ensino-aprendizagem tornam-se responsáveis
pela produção do conhecimento crítico, ativo
e discutido, responsáveis diretamente pela
mobilização efetiva de competências, partindo
do pressuposto de que ninguém sabe tudo e
todos sabem de alguma coisa.
No contexto apresentado por Sales (2005), o
conhecimento crítico só é possível via o conceito de
aprendizagem significativa.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 139
Para Ausubel (1973, p. 25) a aprendizagem
significativa parte do acesso ao subsuncor. “Subsunçor8 é uma
estrutura específica na qual uma nova informação pode se
agregar ao cérebro humano que é altamente organizado e
detentor de uma hierarquia conceitual, que armazena
experiências prévias do sujeito.”
Dessa forma, é de fundamental importância a
valorização da estrutura cognitiva dos alunos, pois ambos
possuem variados conhecimentos que se pautam em diferentes
realidades e que ao serem trabalhadas nas atividades
permitem a construção de uma diversificada gama de
conhecimentos fundamentados teoricamente que possibilitam
a aprendizagem significativa e não mecânica.
Por conseguinte, segundo Silva e Schirlo (2014, p. 34):
[...] a estrutura cognitiva pode ser fortalecida
por meio de estratégias de ensino, do emprego
de sequências na apresentação dos conteúdos,
na realização de feedback dos conteúdos, entre
outros. Mas, se com todos estes artefatos o
conteúdo escolar a ser aprendido não
conseguir ancorar-se em um conhecimento já
8 É um termo utilizado na Psicologia para se remeter a conceitos
relevantes. Pois conforme Ronca (1994. p. 92) “O ponto de partida da
teoria de ensino proposta por Ausubel é o conjunto de conhecimentos que
os alunos trazem consigo. A este conjunto de conhecimentos Ausubel dá o
nome de estrutura cognitiva, segundo ele, é a variável mais importante que
o professor deve levar em consideração no ato de ensinar”.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 140
internalizado ocorrerá uma aprendizagem
mecânica.
Pois desenvolver atividades que possibilitem o aluno a
construir seu conhecimento é necessário, mas o ensino não se
configura somente a esta atitude, é muito mais amplo.
Uma vez que a escola é um ambiente diferenciado na
formação das pessoas, conforme Cavalcanti (2012), esta trará
os conhecimentos científicos e os conhecimentos culturais
sistematizados, que durante o trabalho agrega diversos saberes
que se originam e desenvolvem nos ambientes educacionais.
Segundo Cavalcanti (2012, p. 16) “para que seja
assim, salienta-se a necessidade de sua articulação à dinâmica
sociocultural local e global, às demandas da sociedade
contemporânea e de seus alunos, da comunidade da escola, do
bairro e da cidade em que está”.
Ressalvamos que é no Ensino Fundamental I que se
constrói a base para alfabetização cartográfica, para que nas
séries posteriores os conceitos sejam inteligíveis,
possibilitando assim a aprendizagem.
Formar bem o futuro docente é de extrema
importância, pois conforme nos elenca Cavalcanti (2012, p.
86):
A discussão sobre a formação profissional
parte, em geral, do pressuposto básico de que
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 141
se trata de dotar o profissional de bases
teóricas para que ele possa atuar correta ou
adequadamente na prática, baseando-se, por
sua vez, em uma compreensão do que é teoria,
do que é prática e da relação entre elas. Pelo
sentido mais corrente, o momento da
formação é o acesso à teoria, da sua
divulgação e discussão, e o momento da
prática é o da sua aplicação.
Os dois momentos (teórico e prático) na formação
docente são de igual e fundamental importância.
Conceito importante para a realização da alfabetização
cartográfica – integração escalar dos espaços
Seguindo esta forma de pensar/agir, buscamos
desenvolver com os alunos a compreensão entre o
desenvolvimento da teoria e da prática, desmistificando a
compreensão de superioridade empregada entre ambas. Em
concordância com Cavalcanti (2012), não se deve desenvolver
superioridade entre estes pontos, pois ambos se
propagam/progridem/avançam/evoluem em uma concepção
de compatibilidade, sendo ambos de grande importância para
se atingir os resultados planejados inicialmente.
Pois realizar a alfabetização cartográfica nos anos
iniciais do Ensino Fundamental I é uma tarefa que abrange
muito mais que sua denominação. Conforme Straforini (2008,
p. 84):
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 142
A totalidade-mundo como conceito é uma
abstração. Logo a totalidade que também é
sinônimo de espaço geográfico, faz desse
também um conceito abstrato. Mas não
podemos trabalhar em nossa prática educativa
apenas o nível de abstração. Precisamos
encontrar as ferramentas analíticas para
abarcar concretamente a totalidade, o que
permitirá fragmentá-la para, em seguida
reconstruí-la.
Compreender a totalidade do mundo é, acima de tudo,
compreender a integração estabelecida nos espaços, pois para
os alunos do Ensino Fundamental I este é um conhecimento
que é construído em constante auxílio com os professores, os
quais com a noção acerca do tema realizam as intervenções,
desenvolvem as atividades e atingem a aprendizagem.
Ao trabalharmos com a alfabetização geográfica,
partimos do pressuposto que os alunos já possuem
conhecimentos nas áreas relacionadas à localização e
referências do espaço local. Deste modo ao tratar o professor
como auxiliar no processo de qualificação deste
conhecimento, notamos alguns aspectos que norteiam o
desenvolvimento desta metodologia como a compreensão
inicial acerca da escala.
A escala conforme Castrogiovani é (2012, p. 47):
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 143
A escala é uma relação de proporção entre o
tamanho de uma representação e o real. No
caso de uma planta urbana, por exemplo, a
escala vai mostrar em que proporção a planta
representa o objeto real- a cidade. Na verdade,
o conceito de escala introduz a noção de
relação entre um fenômeno real na superfície
terrestre, ou o todo, e a representação no
papel.
Dentre os diferentes tipos de conhecimento que
compõem esta ciência a escala sempre se faz presente, pois é
uma representação do espaço real a mesma estabelece
vínculos comunicativos com os leitores, pois suas
informações permitem a interpretação da realidade ali
apresentada.
Todavia, conforme Francischett (2010), o processo de
construção e representação dos mapas deve manter na sua
essência a possibilidade de compreendê-los, uma vez que para
se tornar possível esta leitura se utiliza de algumas
ferramentas que ali estão expostas, como por exemplo, a
escala, os signos e as simbologias que representam elementos
e características do mapa.
Ao realizar a intervenção nas aulas sobre este tema
com o curso Técnico de Formação de Docentes, buscamos o
desenvolvimento de atividades que favoreçam a explicação
sobre as várias representações dos espaços físicos que a escala
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 144
fornece, demonstrando assim que as características e as
representações espaciais se alteram de acordo com a
necessidade representativa momentânea.
Assim sendo, trabalhamos com a integração dos
espaços, a qual se constitui em todos os ambientes, pois a
escala é a parte essencial desta análise, favorecemos a
compreensão das diversas representações gráficas que já
foram desenvolvidas, bem como as que ainda podem se
desenvolver.
Conforme Castrogiovani (2012, p. 33) “as maquetas9,
mapas, cartas e plantas são representações sociais de um
determinado espaço real e representam uma organização dos
elementos que compõem o espaço. São modelos de
comunicação que se utilizam de uma linguagem cartográfica”.
Desta forma, interpretar estes signos que se expõem
nas representações requer um preparo mínimo, que segundo
Castrogiovani (2012), esta atitude/atividade deve ser
essencialmente assegurada, na mesma proporção que se
favorece a aprendizagem dos cálculos matemáticos.
Pois para se aprender a ler um mapa, é necessário
também se saber construir um mapa, sendo que em
9 A autora utiliza o termo maqueta - sinônimo de maquete.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 145
concordância com Francischett (2010, p. 46): “o mapa ocupa
um lugar de destaque na Geografia porque é, ao mesmo
tempo, instrumento de trabalho, registro e armazenamento de
informação, além de um modo de expressão, comunicação,
uma linguagem gráfica”.
Reforçamos assim a necessidade de se construir
mapas, com as mais distintas realidades para assim tornar
possível a valorização do conhecimento geográfico que o
aluno possui, já que conforme Martinelli (2007) afirma, a
criança constrói seu conhecimento partindo do próximo, o
espaço vivenciado, ou seja, a sua realidade para assim
possibilitar o avanço na representação e compreensão do
espaço distante, o desconhecido.
Relato das experiências
Iniciamos a aula com uma atividade diagnóstica na
qual os alunos deveriam realizar o desenho de um mapa
representando o trajeto de sua casa até a escola, com o intuito
de verificar se os alunos iriam utilizar alguns dos principais
elementos da cartografia. Neste momento, não se faria
nenhuma exigência do que este mapa deveria conter conforme
o ilustra a figura 01.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 146
Figura 01 – Atividade diagnóstica com o curso Formação de Docente.
Fonte: Arquivo pessoal.
Org.: PELUSO, D., 2017.
Ao término da elaboração do desenho, os alunos
trocaram de atividades entre si com o objetivo de observar se
seria possível para eles deslocar-se até a casa do seu colega
por meio do mapa elaborado. Partimos do pressuposto que,
devido a falta de informações dos mapas, a maioria dos alunos
iria perceber que não seria possível chegar ao destino
proposto. Esta constatação, nos ajudou a problematizar a
importância dos signos presentes no mapa e isso está de
acordo com o pensamento de Francischett (2008, p. 08),
quando cita:
[...] que interessa é que os alunos vejam e
estabeleçam as relações que existem entre as
“características” das localizações[...]. A
visualização da “imagem” composta revelará o
conteúdo da informação! Se o mapa não
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 147
conseguir isso, será inútil. Os mapas devem ser
elaborados visando a essa perspectiva e os alunos
preparados para a leitura da legenda; primeiro
lendo o que cada signo significa, depois
reconhecendo as relações que existem entre os
signos. Com esse aprendizado, resgata-se a
informação que o mapa revelou.
A partir de então iniciamos o questionamento sobre a
importância dos elementos cartográficos para que seja
possível a leitura dos mapas. Apoiados nisso, trabalhamos
conceitos de cartografia (escala, legenda, título,
orientação/rosa-dos-ventos e projeção) que são essenciais para
compreensão da leitura de mapas.
A segunda atividade foi a Re-elaboração do desenho
do mapa casa – escola. Nessa atividade os alunos deveriam
utilizar os elementos cartográficos, acrescentando também
pontos de referência e nomeando as ruas e bairros, e para
auxiliar na construção dos mapas os discentes utilizariam um
mapa da malha urbana de Francisco Beltrão.
Ao término desta atividade os alunos conseguiram
compreender a importância das informações contidas nos
mapas e como realizar a leitura dos mesmos produzindo um
mapa que pudesse ser útil na prática e entendido por qualquer
pessoa.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 148
A atividade seguinte foi nomeada de Barbante
Geográfico, que consistiu em medir a sala de aula com um
barbante, dobrando-o repetidas vezes, reduzindo a medida
proporcionalmente de forma que coubesse no caderno. Tinha
o intuito de construir um mapa da sala de aula, para
exemplificar o conceito de escala para os alunos.
Com a ajuda dos alunos, foram medidos a sala de aula;
as carteiras dos alunos e até mesmo um notebook para serem
desenhados com as medidas reduzidas proporcionalmente em
seus cadernos.
Este procedimento foi empregado pois seguimos a
orientação de Francischett (2005, p. 11), para quem: “o mapa
é uma representação no plano, em escala pequena, dos
aspectos geográficos, naturais, culturais e artificiais de
determinada área destinada aos mais variados usos”, ou seja, a
representação da sala de aula também pode ser destinada
como atividade para compreensão da escala nominal, mesmo
sem obter as medidas exatas dessa área, desde que tudo na
mesma seja reduzido proporcionalmente a mesma quantidade
de vezes.
A próxima atividade (figura 02) teve como objetivo
possibilitar que os alunos compreendessem como um mapa se
encontra “dentro” do outro. Demos início demonstrando para
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 149
eles mapas políticos da América, do Brasil, do Paraná e da
malha urbana de Francisco Beltrão. Logo após utilizamos
mapas artesanais em E.V.A com destaque para o município de
Francisco Beltrão, Sudoeste do Paraná, Estado do Paraná,
Brasil e América.
Figura 02– Atividade com os mapas. Fonte: Arquivo pessoal.
Org.: PELUSO, D., 2017.
Para apresentar uma metodologia alternativa à
atividade anterior, foi realizada uma dinâmica com
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 150
caixas(figura 03). Usamos caixas de papelão, nas quais
estavam representados o município e em caixas
sucessivamente maiores a região Sudoeste do Paraná, o
Estado do Paraná e o Brasil.
Figura 03– Dinâmica com as caixas.
Fonte: Arquivo pessoal.
Org.: PELUSO, D., 2017.
Cada caixa adentrando a outra, para que houvesse a
compreensão dos discentes da integração dos espaços e de
como fazemos parte de todos estes ao mesmo tempo. Também
buscamos enfatizar a noção de região e como estão
relacionadas entre si no espaço geográfico. Assim como diz
Castogiovanni (2016, p. 148-149):
Na comunicação por meio da Cartografia, o
desenho cartográfico envia uma informação a
uma localização espacial transcrita mediante
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 151
símbolos gráficos ao espectador. A utilização
adequada dos mapas corresponde a um
conjunto de ações completas que inclui a
compreensão das inter-relações entre os
elementos representados em um mapa, no
intuito de compreender a área de
representação, bem como as características
dos fenômenos cartografados.
Ao finalizarmos, notamos o quanto vantajoso e
valoroso foi a realização destas atividades, pois as mesmas
possibilitaram a aprendizagem dos alunos a qual foi
observada em inúmeros momentos da intervenção, bem como
o engrandecimento pessoal e profissional também dos sujeitos
envolvidos na realização das atividades, pois as vantagens não
se aplicam somente ao momento da experiência, mas também
em diversas aulas que futuramente serão realizadas, estas
atividades são grandes potenciais de recursos a serem
utilizados.
Considerações
Podemos considerar o fim do artigo que os alunos do
projeto Pibid Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a
Docência conseguiram ensinar os alunos de Formação
Docente vária atividades voltadas para a cartografia se
utilizando o lúdico essas atividades foram todas as
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 152
metodologias diferentes para explicar e exemplificar o mesmo
conteúdo.
Todo o ensinamento foi muito produtivo, pois os
alunos de Formação Docente conseguiram compreender o que
queria ser passado a eles de uma forma muito positiva de
forma receptiva às ideias dos pibidianos.
Ficou claro que todos conseguiram compreender a
importância dos elementos principais existente em um mapa e
o modo como os espaços estão integrados uns aos outros -
como um bairro a cidade; a cidade ao município; o município
a microrregião; a microrregião a macrorregião; a
macrorregião ao estado, o estado ao país; o pais ao continente
- de forma que eles vão conseguir repassar esse conteúdo para
os alunos de um a forma muito simples, metódica e que se
tornará muito proveitosa tanto para os alunos de Formação
Docente quando se formarem professores, quanto para os
alunos das séries iniciais do Ensino Médio nas demais
modalidades, para usufruindo da metodologia lúdica, aprender
com mais facilidade.
Consideramos que a realização destas atividades, foi
muito satisfatória, pois possibilitou a visualização da
aprendizagem dos alunos sobre os elementos cartográficos e a
sua importância, bem como a leitura dos mapas. Deixou como
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 153
resultado a certeza de que poderemos criar novas atividades e
metodologias lúdicas em relação aos conteúdos voltadas para
a cartografia em integração dos espaços.
Referências
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1973.
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Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 155
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em 25 mar. 2017.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 156
INTEGRAÇÃO DOS ESPAÇOS E ALFABETIZAÇÃO
CARTOGRÁFICA1
Luéli Bortoletti2
Ritiéli Pires da Silva3
Introdução
A Cartografia pode ser entendida como a arte, o
método e a técnica de representar a Terra, a sociedade e seus
fenômenos espaciais por meio de mapas, cartas, maquetes,
etc. (KATUTA; SOUZA, 2001). Seus resultados são dados a
partir de observações e explorações de documentos,
usufruindo da elaboração de produtos cartográficos de acordo
com determinados sistemas de projeção e de uma determinada
escala.
A alfabetização cartográfica implica, por conseguinte,
no processo de compreensão de uma linguagem composta por
símbolos e significados; uma linguagem gráfica(códigos e
símbolos definidos) (PASSINI, 2007). Contudo, não basta à
criança, jovem ou adulto descobrir o universo dos mapas, é
1Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo
Brasileiro, voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão. 3Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 157
essencial arquitetar condições para que o discente seja um
leitor crítico (FRANCISCHETT, 2007). Trabalhar com
alfabetização cartográfica é indispensável, pois tal atividade
contribui para o processo de ensino-aprendizagem que os
alunos precisam vivenciar para tornarem-se capacitados a
elaborar e interpretar mapas, além de desenvolverem
habilidade para fazerem leitura do espaço geográfico.
A compreensão da linguagem cartográfica consiste
num elemento de magnitude para o progresso e ensino dos
conteúdos pertencentes à Geografia entre outras disciplinas do
currículo escolar, principalmente nos anos iniciais de
escolarização, porque a partir desses conhecimentos, os
discentes começam a compreender melhor a organização do
espaço, reduzindo assim, as dificuldades nas próximas séries,
quando os conteúdos vão se tornando mais complexos. É
essencial possibilitar aos alunos condições para o
desenvolvimento da capacidade de pensar criticamente,
produzir meios para a resolução dos problemas distintos aos
conteúdos trabalhados relacionados ao seu cotidiano, fazendo
com que ele compreenda que o estudo é mais do que mera
memorização de conceitos.
Dentro desse contexto, esta pesquisa tem como foco
realizar uma breve discussão sobre a importância da formação
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 158
docente no processo de alfabetização cartográfica enfatizando
práticas pedagógicas relacionadas ao ensino e aprendizagem
da linguagem cartográfica na área de Geografia, assim como
compreender a importância do ensino da Cartografia para o
desenvolvimento intelectual dos alunos das séries iniciais.
Ainda no presente artigo, relatamos nossa experiência
vivenciada na elaboração de uma oficina pedagógica sobre
integração dos espaços, realizada com os alunos do Ensino
Médio da formação de docentes no Colégio Estadual Mário de
Andrade localizado no município de Francisco Beltrão - PR.
Como contribuição direta das análises, ainda que
iniciais, deste artigo, pretendemos estimular a realização o
debate acerca da importância do trabalho de formação docente
das séries iniciais na área da alfabetização cartográfica.
Alfabetização cartográfica – um debate necessário
Os conhecimentos geográficos começam a ser
desenvolvidos de forma assistemática nos primeiros anos da
vida de uma criança, mas é a partir das séries iniciais do
Ensino Fundamental, que a compreensão do espaço
geográfico torna-se objeto regular de investigação da
Geografia, ou seja, as relações entre natureza e sociedade
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 159
passam a ser conceituadas e problematizadas de modo
sistemático.
A respeito da relevância do uso de noções geográficas
de modo preliminar às discussões de conteúdos geográficos
nas séries finais do Ensino Fundamental, Passini (1994)
afirma que:
[...] as primeiras relações espaciais que a
criança constrói são as relações espaciais
topológicas (vizinhança, proximidade,
separação, envolvimento e
interioridade/exterioridade). Elas evoluem
depois para as relações projetivas
(coordenação de pontos de vistas,
lateralidade). As ações que os alunos
organizam para essas construções podem
explicar o funcionalismo do seu pensamento
para a leitura do espaço e sua representação. A
passagem da percepção para a representação
espacial é feita sobre significante e
significado, isto é, sobre o pensamento
(significado) e o desenho (significante)
(PASSINI, 1994, p. 31).
Dessa forma, a Cartografia constitui a base de
representação e compreensão do objeto de estudo da
Geografia. Contudo, a autora ratifica que “é preciso
considerar este espaço como uma realidade global onde
natureza e sociedade possuem uma dinâmica própria e
integrada na construção do espaço geográfico” (PASSINI,
1994, p. 15). Possibilitar que as crianças tenham contato com
essa linguagem cartográfica desde as séries iniciais permite a
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 160
esses discentes desenvolverem suas capacidades de percepção
do próprio espaço de vivência, para futuramente portarem
conhecimento e/ou capacidade cognitiva mais complexa sobre
a compreensão do espaço.
Sempre como mediador10
, é importante que o
professor trabalhe com as crianças desde seus primeiros anos
escolares valorizando o mapa enquanto uma linguagem que
comunica informações e não uma mera figura ou objeto de
decoração (FRANCISCHETT, 2007).
Trabalhar com diferentes estratégias que envolvam o
manejo de mapas, que por sua vez estão no cotidiano das
crianças, presentes em revistas, livros, televisão, internet, etc.,
contribuirão nesse processo de compreensão dos
conhecimentos que qualificam os discentes a compreenderem
e representarem a realidade. A partir do momento que a
criança compreende isso e adquire a capacidade de ler mapas,
passa a caminhar em direção à autonomia, uma vez que essa
capacidade de visualização da organização espacial é muito
significativa como discernimento para uma participação
consciente na sociedade. Por essa razão que o ensino de
Geografia.
[...] tem se tornado uma tarefa cada vez mais
ampla, pois, além de dominar os
10
Segundo o educador Paulo Freire (1921-1997), o papel do professor é
estabelecer relações dialógicas de ensino e aprendizagem; em que
professor, ao passo que ensina, também aprende. Professor e estudante
aprendem juntos em um encontro democrático e afetivo, em que todos
podem se expressar (FREIRE, 1996).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 161
conhecimentos relativos aos
conceitos/categorias inerentes ao ensino dessa
disciplina, faz-se necessário selecionar e saber
utilizar linguagens adequadas para cada
situação de ensino-aprendizagem. Uma das
linguagens mais utilizadas no ensino de
Geografia é, indubitavelmente, o mapa. Ele
favorece a compreensão sócio espacial, na
medida em que possibilita realizar estudos
comparativos das diferentes paisagens e
territórios representados em várias escalas
(MOREIRA, 2008, p. 02).
Seguindo essa linha de raciocínio observamos que a
criança ao aprender a ler mapas consegue, dentro do contexto
sócio espacial, realizar transformações expressivas “na
medida em que possibilita realizar estudos comparativos das
diferentes paisagens e territórios representados em várias
escalas” (MOREIRA, 2008, p. 1). Dentro dessa mesma lógica,
na qual o espaço geográfico é objeto de estudo da Geografia,
a Cartografia se torna de extrema importância, pois ela ajuda
o aluno a entender os fenômenos físicos, naturais e culturais
que se distribuem pelo espaço de forma irregular a partir de
instrumentos que representam a realidade como mapas,
globos, plantas, etc.. Cavalcante (2002) ratifica esta
concepção quando afirma que:
[...] as habilidades de orientação, de
localização, de representação cartográfica e de
leitura de mapas desenvolve-se ao longo da
formação dos alunos. Não é um conteúdo a
mais no ensino da Geografia, ele perpassa
todos os outros conteúdos, fazendo parte do
cotidiano das aulas dessa matéria. Os
conteúdos de Cartografia ajudam a abordar os
temas geográficos, os objetos de estudo
(CAVALCANTE, 2002, p. 16).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 162
O uso da linguagem cartográfica é imprescindível para
o desenvolvimento das crianças, jovens e adultos em suas
atividades cotidianas, sendo necessária desde uma fácil
informação do caminho entre a casa e a escola, até as
circunstâncias mais complexas, nas quais sejam necessários
conhecimentos acerca de coordenadas geográficas ou análises
econômicas, políticas e físicas do espaço.
A Geografia e, consequentemente a Cartografia, estão
presentes no dia a dia, sendo assim, é necessário que as
noções cartográficas também estejam presentes na concepção
das pessoas. Alfabetizar cartograficamente desde as séries
iniciais condiz com uma atividade pedagógica essencial para
o desenvolvimento do aluno, não apenas para seu aprendizado
dos conteúdos de Geografia, mas também para a compreensão
do espaço no qual vive.
Formação do professor no processo de
alfabetização cartográfica nas séries iniciais
A responsabilidade do ensino da disciplina de
Geografia, assim como de outras matérias nos anos iniciais do
Ensino Fundamental I fica a cargo dos professores pedagogos
e é pertinente que o conteúdo seja bem trabalhado por parte
do professor, pois ele irá fornecer subsídios para o
aprendizado dessa ciência nas séries seguintes. Para isso, é
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 163
importante considerar que o docente esteja capacitado a
realizar tal tarefa.
Se aceitássemos que o ensino é exclusiva ou
fundamentalmente uma atividade rotineira,
estática e até estereotipada, não precisaríamos
de teorias sobre estas características; neste
caso, as receitas e instruções seriam o mais
adequado. Mas já sabemos que ensinar é outra
coisa, e que os planos fechados raramente se
adaptam as necessidades da situação (SOLÉ;
COLL, 2006, p. 13).
Neste sentido, o professor precisa buscar ensinamentos
e experiências que sejam desafiadores à curiosidade e
inquietude de seus alunos. Isso ocorre de modo mais
contundente quando o professor empenha-se em despertar o
interesse pelo conhecimento ainda nos primeiros anos do
Ensino Fundamental I quando a criança está em constantes
fases de descobrimento do mundo ao seu redor e assim, busca
maneiras de responder a estes inúmeros questionamentos. É
neste sentido que, mais uma vez, vemos a fundamental
importância do papel do professor (a forma de ensino) na vida
do aluno (na forma do seu aprendizado). Ao professor cabe
explorar as novas experiências da criança, despertando o
interesse pelo conteúdo, atrelando-o às temáticas trabalhadas
em sala de aula e vinculando-os com situações cotidianas da
vida de seu aluno.
Não queremos uma aula-espetáculo,
centralizada no professor com sua eloquência
discursiva, quase uma aula demonstrativa,
porque acreditamos que a produção deve ser
do aluno e que o “espetáculo” deve se centrar
no pensamento do aluno: é ele que deve
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 164
pensar e expor suas ideias. O professor
precisa passar segurança e motivar o aluno à
investigação das questões que responderão
aos problemas colocados por ele e pela classe.
[...] Uma aula produtiva é aquela em que o
aluno trabalha além do tempo e do espaço da
aula (AQUINO JUNIOR, 2007, p. 79).
O que o autor argumenta é que, ao dar suporte e
espaço para as reflexões e análises do aluno, qualificando os
conhecimentos prévios que os alunos trazem consigo, o
professor oportuniza o crescimento do aluno enquanto sujeito
ao levar em consideração o entendimento que os mesmos
possuem acerca de um determinado assunto, tentando atrelar a
realidade em questão, ajuda a construir um cidadão capaz de
analisar questões e estabelecer interconexões. Como assevera
Paulo Freire (1996, p. 23) “Quem ensina aprende ao ensinar e
quem aprende ensina o aprender”, desta maneira acreditamos
que tanto os professores quanto os alunos constroem juntos o
conhecimento. Nesse sentido, ratifica Caldato e Retica (2014):
Como podemos perceber, o ensino de
Geografia deve ser um ensino em que os
alunos junto com professores construam
os seus conhecimentos de modo a
descobrir o mundo não apenas na sala de
aula, com caderno e lápis na mão, mas
uma descoberta que ocorra assim como
coloca o autor em “experiências
informais” próprias do cotidiano da
criança, livres de um ensino que se
caracteriza apenas pela transmissão do
saber (CALDATO; RETICA, 2014, p. 5).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 165
O aluno precisa entender o sentido dos conteúdos
trabalhados na escola, para que assim ele transponha estes
conhecimentos em seu cotidiano, para desmistificar a ideia de
que a disciplina de Geografia não terá utilidade em sua vida, e
para que este objetivo seja concluído é necessário que o
professor esteja teórica e metodologicamente preparado.
Mais que o domínio do conhecimento, consideramos
que há a necessidade de formar e preparar professores que
aprendam a pensar, a construir e a correlacionar a teoria e a
prática, buscando a resolução dos problemas que emergem no
dia a dia da escola e no cotidiano dos alunos.
A formação do conhecimento geográfico para os
profissionais de pedagogia
Para que o professor consiga colocar seu conhecimento
como suporte para a construção do conhecimento do aluno é
essencial que ele tenha uma boa formação e compreenda os
conceitos básicos da disciplina. Se este conhecimento do
conteúdo não for construído pelo professor e aluno nas séries
iniciais, possivelmente no futuro o aluno irá apresentar
dificuldades relacionadas a esta disciplina.
É nas séries iniciais, ou seja, quando a
criança começa seu período escolar, é que
o professor precisa estar atento para a
construção de um conhecimento
intrapessoal que dê sentido à sua presença
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 166
na escola. É importante que o conteúdo
educativo atinja maior grau de
significação. Para tanto se faz necessário
que o professor reconheça o valor de
ensinar a realidade que seus alunos fazem
parte e também de estabelecer vínculos da
sua própria forma de conceber a realidade
com os conteúdos propostos em sala
(LEMES; LOPES, 2015, p. 3742).
Neste sentido, ao pensar na dificuldade do aluno em
compreender os conteúdos da disciplina de Geografia,
podemos também pensar em relação à formação dos
professores de Pedagogia.
Se entendermos o pedagogo como um
profissional capaz de proporcionar um ensino
articulador, onde a Geografia, a História e as
Ciências Naturais (dentre outras áreas) são
consideradas importantes para a formação
integral dos alunos dos anos iniciais, é preciso
pensar na formação desse profissional
(LASTÓRIA; AZEVEDO, 2015, p. 3550).
Devido a isso, é importante que a Geografia seja
aprofundada desde a formação dos professores na Pedagogia,
pois só assim conseguiremos melhorar o ensino dos alunos
nas séries iniciais, com uma docência qualificada e
estruturada, passando segurança e construído conhecimentos
científicos com os alunos.
[...] a Geografia como área do conhecimento
escolar, deve ser compreendida nas séries
iniciais fazendo parte do processo de
alfabetização, porque é importante para a
leitura de mundo. Aliás, em função da
formação inicial dos professores das séries
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 167
iniciais, muitos não sabem por que é
importante alfabetizar a criança em Geografia
(CASTELLAR, 2000, p. 30).
Nas séries iniciais do Ensino Fundamental, mais do
que em outros momentos da docência, é importante que o
professor se aproprie de metodologias que lhe facultem
acessar de modo adequado a fase de desenvolvimento de seus
alunos. Dentre as diferentes metodologias possíveis na
alfabetização cartográfica, o uso de atividades lúdicas se
mostra primordial.
De acordo com Vieira e Rodrigues (2016, p. 3) o
conceito de lúdico advém da palavra latina “ludus” que
significa jogo, vincula-se as brincadeiras espontâneas, porém
na atualidade, este termo tem contraído uma importância
atribuída à construção da qualidade de vida das pessoas. Por
esse motivo, cada vez um maior número de pessoas tem
aplicado esta noção às diferentes atividades do cotidiano.
O lúdico está presente na infância de qualquer criança
através de brincadeiras e do faz de conta. É por meio da
imaginação que a criança inicia sem saber, o processo de
desenvolvimento criativo, à interação social e maior domínio
lógico, motor, cognitivo e afetivo.
A brincadeira contribui para o
desenvolvimento social da criança, já que por
meio delas as crianças aprendem regras e
normas de convivência humana. Respeitando
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 168
e se relacionando com o colega de maneira
igualitária, aprendendo desde cedo que no
mundo há espaço para todos só precisamos
saber compartilhar as experiências e
oportunidades (NUNES, 2014, p. 4).
Devido ao fato de a criança gostar e se sentir atraída
pelas brincadeiras, é muito importante que o professor,
sobretudo, das séries iniciais, faça o uso da ludicidade em
suas aulas. É preciso que o professor saiba atrelar diversão e
conhecimento, de uma maneira prazerosa para seus alunos, de
forma de que eles se sintam envolvidos na atividade. Como
cita a pesquisadora Tereza Cristiany Paiva Nunes (2014, p. 9)
“O trabalho educativo com o lúdico requer muita disposição,
planejamento e dedicação, para que o brincar não se torne
apenas um passatempo no horário escolar ou uma atividade de
distração”.
As brincadeiras desenvolvidas em sala de aula devem
buscar promover o conhecimento das crianças e a socialização
com seus colegas. O aprendizado pode ser melhorado nas
séries iniciais com o auxílio de jogos e brincadeiras
relacionados à Geografia, sendo necessário que o professor
elabore e utilize recursos didáticos que estejam à sua
disposição para trabalhar durante as aulas, para assim
proporcionar novas experiências para seus alunos. Por meio
do lúdico a criança irá aprender brincando ao mesmo tempo
em que relacionará o conteúdo com sua realidade.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 169
Nas aulas de Geografia, é pertinente a
necessidade de um apoio técnico, de mapas a
internet, pois muitas vezes o aluno sente
dificuldades em abstrair conceitos e construir
seu conhecimento com os livros didáticos e as
aulas expositivas (AQUINO JUNIOR, 2007,
p. 78).
Nessa perspectiva, podemos ainda contar com a
contribuição de Jean Chateau (1908, p. 29) quando reitera
que: “O jogo representa, então, para a criança o papel que o
trabalho representa para o adulto. Como o adulto se sente
forte por suas obras, a criança sente-se crescer com as suas
proezas lúdicas”. Então, percebemos a importância da
elaboração de atividades lúdicas com as crianças para
desenvolver o seu crescimento cognitivo.
Compartilhando nossa experiência
A oficina sobre: “Cartografia: Integração dos Espaços”
foi desenvolvida no Colégio Estadual Mário de Andrade de
Francisco Beltrão-PR, na turma do 1° ano A de Formação de
Docentes, sob supervisão da professora de Geografia Ione A.
Zucch.
A oficina teve o objetivo de proporcionar a
compreensão da integração dos espaços de acordo com a
escala de representação dos objetos. Para isso, concordamos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 170
em realizar a oficina com atividades dinâmicas que
demonstrassem o conteúdo de formas distintas, com o intuito
de ser didáticos e proporcionar o entendimento ao maior
número de alunos possível.
Inicialmente realizamos junto aos alunos uma
Atividade Diagnóstica. Neste primeiro momento da oficina
tivemos o interesse de observar o conhecimento prévio que os
alunos possuíam, através da elaboração de um mapa feito por
eles. Neste mapa os mesmos deveriam desenhar o trajeto de
sua casa até a escola, sem dar mais informações aos alunos
para assim avaliarmos se os mesmos utilizariam elementos
fundamentais da linguagem cartográfica, tais como:
coordenadas; nome das ruas; pontos de referências; escala e
etc. Então, após a elaboração dos desenhos trocaríamos os
mapas entre os demais alunos com o intuito de observar se
seria possível para o aluno se deslocar até a casa do seu
colega pelo mapa por ele elaborado. Como a maioria dos
alunos não utilizou os elementos cartográficos não foi
possível para eles orientarem-se para chegar até a casa do seu
colega utilizando o mapa que foi apresentado. Após este
momento, fizemos juntamente aos alunos uma
problematização sobre os principais elementos cartográficos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 171
(escala, legenda, título, entre outros) que são essenciais para
compreensão da leitura de mapas.
Em seguida, reelaboramos as atividades após a
problematização dos elementos essências que o mapa deve
conter. Os alunos deveriam redesenhar seu mapa, agora
utilizando os elementos cartográficos, para isso eles poderiam
utilizar um mapa da Cidade de Francisco Beltrão que foi
disponibilizado a eles para que pudessem acrescentar
informações como pontos de referência, nome de ruas e
bairros. Após o término do segundo mapa os alunos puderam
comparar suas duas produções. Primeiro e visualizar a
diferença e como é importante que os elementos cartográficos
estejam presentes nas ilustrações para que seja possível
realizar a leitura do mapa e se deslocar a um determinado
lugar.
Na segunda atividade empreendida, tivemos como
objetivo abordar a temática de escala com os alunos, para que
os mesmos pudessem entender que um objeto pode ser
diminuído ou ampliado várias vezes em relação ao seu
tamanho real.
Para desenvolver a atividade do Barbante Geográfico
fizemos a medição de uma parede da sala de aula com um
barbante. Após ter tirado a medida real com a ajuda dos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 172
alunos, dobramos o barbante repetidas vezes, reduzindo sua
medida de forma proporcional, fazendo assim com que a
medida da parede pudesse caber no caderno dos alunos de
forma reduzida. Explicamos a equivalência de que cada dobra
do barbante aos metros da parede da sala de aula, também
explicamos que isso ocorre com os mapas, seu tamanho real é
reduzido inúmeras vezes para que possa ser expresso em uma
representação.
Em seguida, elaboramos com os alunos a atividade
nomeada como: do local para o global. Esta teve por objetivo
possibilitar que os alunos compreendessem como um mapa se
encontra “dentro” de outro. Então, começamos mostrando
para eles mapas políticos da América, do Brasil, do Paraná e
da malha urbana de Francisco Beltrão. Logo após utilizamos
mapas artesanais em IVA produzido pelos pibidianos com
destaque para o município de Francisco Beltrão, Sudoeste do
Paraná, Estado do Paraná, Brasil e América do Sul.
Comentamos que é muito importante que os alunos ali
presentes e futuros professores produzam seus materiais
didáticos para trabalhar com seus futuros alunos. Ao mesmo
tempo em que íamos mostrando os mapas aos alunos
buscamos problematizar e atrelar esta atividade com a escala,
explicando que só é possível diminuir ou aumentar um mapa
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 173
utilizando a escala que já havíamos explicado anteriormente
na atividade do barbante geográfico.
Por fim, para exemplificar a atividade anterior
aplicamos aos alunos a dinâmica das Caixas, para que
pudessem visualizar de maneira diferente a mesma atividade.
Para isso, utilizamos caixas de papelão, nas quais
representaremos o município de Francisco Beltrão-PR com
caixa menor, o Sudoeste do Paraná com uma caixa um pouco
maior, Estado do Paraná com caixa ainda maior e o país com
uma caixa grande. Cada caixa caberá uma dentro da outra,
para que haja a compreensão dos alunos de como ocorre à
integração dos espaços e de como estamos dentro de todos ao
mesmo tempo.
Consideramos que a experiência da oficina pedagógica
foi satisfatória, pois pudemos perceber durante as atividades
que os alunos demonstraram interessem em aprender o que
havia sido proposto, pois durante as atividades faziam
questionamento e tiravam dúvidas. Devido a isso reforçamos
a ideia da importância do lúdico no ensino da disciplina de
Geografia, pois muitas vezes apenas a parte teórica dos
conteúdos não é capaz de suprir o aprendizado dos alunos, é
importante buscar metodologias que desenvolvam a
capacidade cognitiva do estudante.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 174
Acreditamos que para ocorrer um ensino de qualidade
nas séries iniciais é necessário haver uma boa preparação dos
futuros professores que trabalharão com as crianças, pois o
professor deve ter pleno domínio do conteúdo para
desenvolver uma docência de qualidade e capacitar os alunos
para as etapas de desenvolvimento seguintes.
Conseguimos perceber também que houve um avanço
quanto às noções cartográficas iniciais que os alunos
possuíam e como esta foi desenvolvida ao longo da oficina,
pois com o decorrer das atividades os alunos compreenderam
a importância da cartografia no seu cotidiano, seja através da
leitura de mapas ou mesmo pela compreensão de escala.
Considerações finais
Discutir sobre esse tema presente no currículo escolar
que passa quase despercebido no cotidiano dos indivíduos
contribui não apenas para a visibilidade do mesmo, mas
possibilita provocar os diferentes sujeitos a perceber,
questionar e interpretar o espaço em que se localizam,
viabilizando assim, o exercício da cidadania.
Acreditamos que o ensino de cartografia esteja ligado
ao processo de alfabetização, pois a Cartografia consideramos
ser uma extraordinária forma de linguagem, uma vez que por
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 175
meio dos símbolos contidos no mapa é possível a viabilização
de uma comunicação, assim como ocorre com a linguagem
verbal. Compreendemos assim, que é necessário ensinar as
crianças das séries iniciais a ler, interpretar e escrever por
meio dos mapas, ou seja, por meio da linguagem cartográfica,
ao não trabalharmos adequadamente com essa linguagem,
permitimos que os discentes se tornem analfabetos
cartográficos.
Como tentativa para buscar solucionar estas lacunas
que existem no ensino de Geografia por parte da formação no
curso de Pedagogia e Formação de Docentes nível Ensino
Médio, deveriam haver mais propostas por parte das escolas
para a realização de oficinas pedagógicas voltadas as práticas
de ensino da Geografia e/ou cursos de formação continuada
que pudessem auxiliar os professores em busca do
conhecimento e demais medidas que estejam ao alcance da
instituição escolar. Foi pensando nessas falhas no processo de
alfabetização cartográfica que elaboramos a oficina
pedagógica voltada para o tema “integração dos espaços”,
justamente para trazer um breve debate sobre atividades que
proporcionaram ampliar e compreender o espaço em que nos
localizamos através da visualização e compreensão dos
elementos que compões um mapa.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 176
Referências
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Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 179
JOGO COMO ESTRATÉGIA DIDÁTICA PARA O
ENSINO DE GEOGRAFIA1
Adriana Edite Apolinário2
Jalme Santana de Figueiredo Junior3
Tatiéli Cella4
Introdução
O Programa Institucional de Bolsa Iniciação à
Docência (Pibid), subprojeto de Geografia da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste)Campus de Francisco
Beltrão/PR, iniciou suas atividades no ano de 2011, desde
então várias atividades foram desenvolvidas resultando em
diversas experiências ricas e formativas.
Atualmente, o subprojeto de Geografia da Unioeste,
campus de Francisco Beltrão consta com vinte e quatro
bolsistas, duas coordenadoras de área, quatro professoras
supervisoras bem como três escolas parceiras – todas
localizadas no município de Francisco Beltrão/PR.
1Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo
Brasileiro, voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão. 3Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão. 4Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto Geografia, do Campus de
Francisco Beltrão.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 180
No ano de 2016, nossas atividades no Pibid foram bem
difíceis, vez que passávamos por uma conjuntura política
desfavorável, que esboçava a vários cortes, mudanças em
propostas pedagógicas, ameaças de extinção e desligamento
de bolsistas, entre outras ações que provocaram manifestações
contrárias em vários pontos do Brasil.
Mesmo diante dessa situação, conseguimos
desenvolver nossas atividades aliadas a essas manifestações
de enfrentamento e defesa pela manutenção do Pibid,
enquanto programa fundamental para a formação docente,
uma vez que a participação no Pibid permite melhoras
qualitativas na formação acadêmica.
Diante disso, apresentaremos nesse texto uma
atividade desenvolvida em uma turma de 6º ano do Ensino
Fundamental do Colégio Estadual Prof. Vicente de Carli,
localizado no município de Francisco Beltrão/PR, no período
de 01 à 18 de Novembro de 2016, atividade esta que consistiu
na aplicação do jogo “Pensando maneiras de diminuir a
poluição da água”.
Essa proposta resultou do anseio na busca de maneiras
diferenciadas para trabalhar os conteúdos geográficos, de
modo a provocar os alunos reflexões e ações transformadoras.
Assim, a utilização de jogos no ensino de Geografia,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 181
[...] vem como um estímulo tanto para melhor
compreensão do conteúdo, quanto para o
crescimento e o desenvolvimento intelectual
do aluno – fundamental para atingir a
responsabilidade e a maturidade. É uma forma
de aproximar o conteúdo aos alunos
motivando-os a estudar de forma mais
atrativa. [...] Estamos pensando no seu uso
como recurso pedagógico, pois no jogar o
aluno articula tanto a teoria quanto a prática,
fazendo com que ele estude sem perceber
tornando o processo de ensino- aprendizagem
mais interessante e atrativo (VERRY;
ENDLICH, 2009, p. 67).
Dialogando diretamente com tal interpretação, Souza e
Yokoo (2013, p. 5) consideram “[...] que os jogos são
excelentes ferramentas de motivação para a aprendizagem de
Geografia [...] facilitando visualizar um conjunto de fatos e
eventos geográficos”, nos quais possibilitam que os alunos
aprendam de maneira prazerosa e interessante.
Desse modo, somos provocados a explorar o potencial
formativo possibilitado pelos jogos no ensino da Geografia,
vez que aliam a diversão com o conhecimento, colocando os
alunos em situações que o permitam exercitar os pensamentos
e ações dos sujeitos.
Nesse sentido, evidenciamos os jogos como
facilitadores para o ensino dos conteúdos geográficos, pois
promovem a participação, solidariedade, cooperação, análise
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 182
crítica, reflexão, motivação e respeito do aluno a si mesmo e
ao outro (SOUZA; YOKOO, 2013, p. 01).
Feito tais ponderações, apresentaremos no próximo
tópico alguns pontos centrais acerca da construção e
desenvolvimento do jogo, na sequência discorreremos sobre
alguns elementos identificados sobre a utilização dessa
atividade, abordando os aspectos positivos, e, também as
dificuldades encontradas.
Sobre o jogo
Para a construção do jogo realizamos levantamento de
informações referentes ao consumo de água nos comércios
localizados aos arredores da escola, também foram
entrevistados os proprietários, consultados site da Companhia
de Saneamento do Paraná (SANEPAR) e realizados
mapeamento sobre as populações residentes nos bairros
próximos a escola. Essas ações nos permitiram problematizara
realidade dos alunos.
Para o desenvolvimento do jogo que apresentaremos é
importante à ação do professor na organização dos grupos,
orientação nas tarefas a serem desenvolvidas, bem como
colaboração com as ideias apresentadas. Buscando uma
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 183
melhor elucidação da proposta, separamos a exposição em
etapas, sugerindo uma média de tempo para a sua execução.
1ª etapa: Partindo dos conteúdos divulgados no livro
didático, organizamos problematizações sobre a quantidade e
distribuição de água em nosso planeta, em forma de
questionamentos como: Quanta água há em nosso planeta?
Essa quantidade diminui ou não? Todas as pessoas possuem
acesso à água? Entre outras (20min).
Nessa etapa, aproveitamos as problematizações em
torno do tema, para dialogar sobre a importância da água para
existência e manutenção da vida, as dificuldades em seu
acesso, bem como as discrepâncias de consumo de água dos
diferentes setores, considerando sua distribuição e quantidade
invariável em nosso planeta.
2ª etapa: Nesse momento os alunos foram divididos
em quatro grupos aleatórios, sendo que cada grupo recebeu
uma ficha informativa (em apêndice), representando um setor
específico da sociedade, qual seja o Agrícola, Industrial,
Comercial e Consumo Residencial (10 min);
3ª etapa: Os alunos organizados em seus respectivos
grupos começam a ler a ficha – a ideia é que busquem
entender o conceito apresentado, uma vez que estão expostas
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 184
as principais características e relações que cada um dos
setores possui com a água (20 min).
Foi relevante a demonstração de saberes que os alunos
possuíam sobre o setor por qual eram responsável, muitos
acreditavam que o consumo dos moradores era maior que os
industriais, outros não sabiam os impactos dos agrotóxicos na
água, outros se questionaram se as indústrias locais se
preocupavam com o trato da água, entre outros.
4ª etapa: Após o estudo de cada um dos setores pelos
grupos, lança-se o desafio: A água está ficando mais cara,
tendo em vista a elevação do custo de seu tratamento por
conta da poluição, o que podemos fazer para reverter essa
realidade? Frente a tal questão, cada grupo deverá construir
propostas que atendam a essa demanda, a melhor proposta
vencerá o jogo! (10 min).
Uma vez lançado os desafios, os pibidianos se
dedicaram a auxiliar o andamento das analises de cada grupo,
sendo que cada membro do Pibid ficou responsável pelo
andamento de um grupo, de modo a provocá-los a refletirem e
construírem propostas interessantes que respondessem a
questão lançada pelo desafio.
Nesse momento o objetivo dos pibidianos e provocar
nos alunos a compreensão que o cumprimento do desafio
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 185
exige envolvimento da coletividade, não apenas
responsabilizar ou isentar um setor específico da
responsabilidade pelo cuidado ou não para com a água.
5ª etapa: Os alunos começam a pensar características
que se vinculam ao setor representado, objetivando a
construção de propostas para vencer o desafio (podendo
utilizar cartazes, fotos, poemas, músicas, etc.), (25min).
Nessa etapa do jogo, os alunos são orientados a
construírem suas propostas para um debate coletivo,
sugerindo aos mesmos que elaborem materiais que expressem
as ideias do grupo sobre o setor estudado, sua
responsabilidade para com o trato da água bem como ações
para minimizar os impactos negativos realizados pelo setor.
6ª etapa: Cada grupo apresenta as propostas
construídas em uma socialização para a turma inteira, com
objetivo de observar e opinar seus pareceres favoráveis ou não
sobre as propostas construídas por todos os setores – se
necessário (40 min).
Nessa etapa, buscamos provocar os alunos para o
debate coletivo, objetivando melhorar a proposta
considerando as sugestões dos colegas, uma vez que cada
grupo se responsabilizou por um setor.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 186
Aqui os alunos são mobilizados para argumentarem no
coletivo, defender uma ideia, bem como respeitarem opiniões
contrárias, se colocando na posição de autores do
conhecimento produzido por seu grupo.
7ª etapa: Conclusão do jogo, e anunciação da proposta
vitoriosa (10min).
Essa é a penúltima etapa, de grande importância, pois
é nesse momento que os pibidianos problematizam em torno
de qual seria a melhor proposta, incentivando a conclusão que
é a reunião de tudo que foi produzido que reflete a proposição
vencedora, pois assim, pois é o conjunto dos conhecimentos
diversos produzidos que podem resolver as questões
vinculadas ao trato com a água na realidade em que nos
inserimos.
Ressalta-se o papel cooperativo para se pensar
maneiras práticas de se resolver os problemas de poluição e
acesso à água, de modo que em um movimento coletivo
surgem novas riquezas de conhecimentos e experiências.
8ª etapa: Após concluir o jogo, aquilo que foi
produzido poderá ser divulgado na Escola, em forma de
exposição nos corredores ou nas salas, nos murais, na
recepção, etc. É importante que os alunos escolham a forma
para divulgar aquilo que eles aprenderam aos demais colegas.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 187
Uma vez findada as ações, se faz importante divulgar
aquilo que foi produzido, para que possamos contribuir com a
leitura de outros sujeitos, nesse sentido, a apresentação da
proposta foi de suma importância, pois foi neste momento que
os alunos firmaram seus papeis autorais nos trabalhos.
Considerações sobre o jogo e sua execução: alguns
resultados alcançados
O jogo possibilita ao aluno, ser alocado enquanto
sujeito, uma vez que o mesmo é provocado a pensar maneiras
alternativas para solucionar a problemática da que envolve a
questão da água. Desse modo tanto pibidianos quanto alunos
podem aprender coletivamente novas formas de ler o mundo,
vez que:
A atividade com jogos rompe com as práticas
tradicionais mantidas pelos professores, tirando o
aluno da acomodação para a assimilação, dando a
oportunidade de aprimorar a sua capacidade
cognitiva, construindo um raciocínio lógico,
tornando o processo de aprendizagem mais
significativo (SAWCZUK; MOURA, 2012, p. 2,).
A autora demonstra que muitas vezes as práticas
tradicionais deixam o aluno em certa “zona de conforto”, pois
ele é alocado no papel de ouvinte, não sujeito, nesse sentido a
prática do jogo rompe com tal situação, provocando o aluno
para ser sujeito no processo de aprendizagem.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 188
Desse modo, um aspecto positivo que entendemos
fundamental – que foi alcançado em nossa proposta – foi em
provocar os alunos para tomarem parte de sua aprendizagem,
uma vez que nós os incentivávamos a pensarem nas propostas
e os alunos, por sua vez, se esforçavam para pensarem
proposições que fossem possíveis e baratas de se realizar.
Outro aspecto positivo alcançado, que também
percebemos no decorrer da execução do jogo, foi à
participação ativa dos alunos nos diálogos realizados,
apresentando informações, questionando os conhecimentos
estudados, pensando propostas (no coletivo), buscando
solucionar o problema do desafio, entre outros. Práticas essas
nos demonstraram que “Ninguém educa ninguém, ninguém
educa a si mesmo, os homens se educam entre si mediatizados
pelo mundo” (FREIRE, 2011, p. 95).
Por fim, o último aspecto positivo que alcançamos foi
referente ao conhecimento produzido e divulgado pelos
alunos nos murais da escola, demonstrando o
comprometimento para com o material produzido, enquanto
resultado de dos diálogos e estudos desenvolvidos no decorrer
de toda a proposta.
No entanto, avaliamos que o fato de estarmos
trabalhando em um grupo composto por seis pibidianos nos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 189
facilitou o alcance desses resultados, uma vez que
conseguimos orientar os grupos de maneira mais particular,
bem como coletar informações e organizar os conteúdos
estudados de maneiras mais completa e aprofundada.
Entendemos que muitas vezes as condições materiais
encontradas na escola, como quantidade reduzida de aula,
turmas com muitos alunos, falta de materiais como cartolinas,
cola, canetões e tesouras, podem ser entraves que dificultem
para o professor a execução do jogo aqui apresentado em sua
maneira plena.
No entanto, nossa ideia é que o jogo possa ser
adaptado a realidade que o professor enfrente em seu dia a
dia, de modo que ele possa pensar e trabalhar aulas
diferenciadas para provocar os alunos no desenvolvimento de
seu pensamento crítico e ação transformadora.
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Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 191
JOGOS NARRATIVOS E O ENSINO DE HISTÓRIA:
REFLEXÕES SOBRE UMA EXPERIÊNCIA1
Aparecida Darc de Souza2
Rodrigo Ribeiro Paziani3
O ensino de História no espaço escolar se constitui
num desafio cotidiano para os profissionais de História. Este
desafio se renova a cada geração que apresenta novos
elementos sociais e culturais no processo de cognição do
conhecimento histórico. Mesmo, para os professores que
advogam o ensino como atividade indissociável da pesquisa
permanece a necessidade constante do diálogo com o tempo
presente e vivido socialmente, particularmente pelos
estudantes. As questões e temas que orientam o ensino como
atividade de investigação não são imutáveis, mas renovadas
constantemente pelos sujeitos dos processos de aprendizagem
em seus novos contextos sociais, econômicos, políticos e
culturais.
1Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo
Brasileiro, voltada para a formação de recursos humanos. 2Bolsista de Coordenação de área do Subprojeto História, do Campus de Marechal
Cândido Rondon. 3Bolsista de Coordenação de área do Subprojeto História, do Campus de Marechal
Cândido Rondon.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 192
Esta dinâmica das relações contidas no espaço da
aprendizagem reafirma a História como conhecimento
disciplinar que tem como objeto os homens encarnados e
marcados pelo tempo, tempos vividos e herdados (BLOCH,
1997). Sob esta perspectiva, o ensino de História se distancia
efetivamente da reprodução de saberes prontos e acabados e
da simples coleção dos fatos e acontecimentos do passado.
Noutra direção, invoca a necessidade do professor de se
colocar na posição de um investigador do mundo que o cerca,
particularmente do mundo que cerca e define os estudantes
com quem trabalha.
Trata-se de um esforço que é, simultaneamente,
sensível e científico que recoloca a discussão sobre o sentido
da História, o sentido do ensino da História dentro de um
contexto concreto, dentro de um contexto vivido pelos
sujeitos da aprendizagem escolar. Nestes termos a cognição
histórica, a leitura e análise do passado estão circunscritas às
necessidades de um presente social e culturalmente
determinado. O passado se torna necessário e é estudado em
razão das questões colocadas pelos sujeitos a partir das
demandas produzidas no momento em que vivem.
Sob esta perspectiva a sala de aula, a escola e o
universo social e cultural que os cercam se tornam um
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 193
laboratório permanente que se oferece ao olhar questionador,
inquieto do professor. Os estudantes se tornam, além de
sujeitos do processo de aprendizagem, sujeitos sociais
portadores de uma cultura que precisa ser constantemente
mapeada, conhecida, desvendada. Orientados por esta
premissa teórica o Pibid-História da Unioeste tem procurado
desenvolver suas atividades no Colégio Estadual Marechal
Cândido Rondon e no Colégio Estadual Eron Domingues.
Foram utilizados vários caminhos metodológicos para
conhecer o universo cultural dos estudantes do ensino médio
das escolas parceiras do projeto. O estudo da dos modos de
vida destes jovens cuja idade varia entre 15 e 21 anos apoiou-
se, portanto, na observação participante (FREIRE, 1986), na
aplicação de questionários e na realização de grupos focais
(DAMICO, 2006). Todas estas estratégias foram utilizadas
para mapear o mundo dos jovens estudantes do ensino médio
com o objetivo de conhecer diferentes aspectos do seu modo
de vida dentro e fora da escola.
Este modelo de pesquisa produziu diversos resultados
que foram fundamentais para orientar o planejamento e as
intervenções do Projeto Pibid nas escolas parceiras. Dentro de
campo diversificado de diagnóstico gostaríamos de destacar
um dos aspectos observados na realidade dos adolescentes nos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 194
levou a produzir a experiência de construção de jogos dirigida
ao ensino de História.
Detectamos na pesquisa feita com os adolescentes das
escolas parceiras um grande interesse destes adolescentes por
jogos eletrônicos em seus diferentes suportes, consoles de
vídeo-games, PCs ou celulares. Objeto de muitas
controvérsias, o uso de jogos digitais ou games, encontram na
atualidade uma larga aceitação entre adolescentes e jovens.
Para muitos, este interesse é associado imediatamente
a comportamentos violentos, a puberdade precoce, e
desinteresse pela escola. No entanto, conforme Cruz (2012) já
vem se consolidando estudos na área da psicologia que
comprovam a potencialidades do uso de jogos digitais online
no aprimoramento das habilidades sociais necessárias ao
desenvolvimento dos adolescentes bem como na sua
educação.
De outro lado há também uma tendência em tomar os
jogos como elemento da cultura e como tal expressão
histórica das sociedades. Parte importante desta tendência se
apoia nas ideias lançadas por Huizinga que nos convida a ver
no jogo, mais de que um impulso ou necessidade biológica.
Segundo Huizinga (2000, p. 7):
Ao tratar o problema do jogo diretamente
como função da cultura, e não tal como
aparece na vida do animal ou da criança,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 195
estamos iniciando a partir do momento em
que as abordagens da biologia e da psicologia
chegam ao seu termo. Encontramos o jogo na
cultura, como um elemento dado existente
antes da própria cultura, acompanhando-a e
marcando-a desde as mais distantes origens
até a fase de civilização em que agora nos
encontramos. (...) O objeto de nosso estudo é
o jogo como forma específica de atividade,
como "forma significante", como função
social. (...) Se verificarmos que o jogo se
baseia na manipulação de certas imagens,
numa certa "imaginação" da realidade (ou
seja, a transformação desta em imagens),
nossa preocupação fundamental será, então,
captar o valor e o significado dessas imagens
e dessa "imaginação". Observaremos a ação
destas no próprio jogo, procurando assim
compreendê-lo como fator cultural da vida.
Orientados por esta perspectiva procuramos então
recortar esta dimensão do universo social e cultural dos
adolescentes para desenvolver estudos e produzir experiências
e materiais didáticos voltados ao ensino de História. É
recente, mas profícua as iniciativas de uso didático de games
em sala de aula quando o assunto é História. A possibilidade
de trabalhar com jogos digitais, como RPG (Role Play Game)
tem sido explorada por alguns profissionais, pois existem
vários jogos de conteúdo histórico: ValiantHearts,
Civilization, Total War, Caesar, Swordof Samurai, Age
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 196
ofEmpires, Cursader Kings. Este é um caminho possível, mas
tem seus limites.
O primeiro deles diz respeito ao fato de que os games
comerciais trabalham com períodos e temas determinados.
Ainda que os chamados history games trabalhem com a
periodização clássica – pré-história, historia antiga, historia
medieval, historia moderna e contemporânea – prevalece o
interesse por determinados período em detrimento de outros.
A partir do levantamento feito por Neves (2012) observar-se
que 48% dos jogos se referem aos conteúdos relativos a I e II
Guerra Mundial.
Outro limite que deve ser observado refere-se à
ausência de conteúdos relacionados à história do Brasil, da
África, da América, particularmente da América Latina. Os
jogos disponíveis são majoritariamente relacionados a uma
visão de história universal que sabidamente ignora a história
de continentes que não o Europeu. Por fim é preciso ainda
considerar uma ultima dificuldade. É bastante comum
encontrar estereótipos femininos e masculinos que
reproduzem uma visão hegemônica dos papeis sociais de
homens e mulheres. Prevalece ainda, na maioria dos jogos,
uma visão maniqueísta do mundo, que sempre se apresenta
dividida entre o bem o mal. (AMARAL; DE PAULA, 2007).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 197
Certamente estes aspectos acima indicados não
invalidam os usos dos games como estratégia a ser utilizada
no ensino de História. Mostra disto pode ser verificada com
mais detalhe nos estudos de Albaine e Costa, 2017; Neves, i.
b. c. 2011; Arruda, 2011. Em cada um deles poderão ser
conferidas reflexões e experiências exitosas do uso de games
no ensino de História. Assim, as observações feitas servem
mais para explicar as razões que nos levaram a decisão de
trabalhar com a construção e elaboração de jogos para o
ensino.
Por uma questão de coerência teórica e metodológica
com as premissas que sustentam o processo de formação
inicial de docentes do nosso projeto definimos por elaborar
nosso próprio jogo ao invés de usar jogos já existentes.
Acreditamos fundamentalmente que o trabalho de ensinar é
também um trabalho de pesquisa e de produção de saber, “o
verdadeiro ensino sempre pressupõe pesquisa e descoberta”
(FENELON, 2008, p. 35). Por esta razão ensejamos a
construção do saber em todas as atividades de docência do
projeto.
A elaboração do jogo exigia a aplicação de métodos
próprios do processo de produção do conhecimento que vão
desde o trabalho com fontes até a reflexão teórica. Para
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 198
desenvolver o jogo foi preciso definir claramente uma
problemática, o objeto e o tema que será explorado a partir da
pesquisa bibliográfica e analisado a partir do diálogo com a
historiografia. Além disto, há que se destacar todo o processo
criativo nele implicado. Em síntese, todo o trabalho de
construção do jogo permitiu que a formação inicial dos
bolsistas como docentes se fizesse simultaneamente a um
trabalho técnico, criativo, investigativo e intelectual. Deste
modo, considerando o objetivo formativo do Pibid
escolhemos montar nosso próprio jogo.
O amplo e complexo espectro do mundo dos jogos nos
ofereceu a possibilidade de projetar um jogo que poderia ser
produzido por estudantes e professores, já que não seria
possível projetar um jogo eletrônico. Inspirados, inicialmente
em jogos de tabuleiros, os games constituem-se, na
atualidade, num dos tipos utilizado de jogos entre
adolescentes e jovens. Todavia há uma grande variedade de
jogos que permeia o universo infanto-juvenil, tais como jogos
de cartas e tabuleiros que podem ser artesanalmente
elaborados e produzidos.
Esta inversão, do jogo digital para o jogo analógico, de
cartas ou tabuleiro não significa uma recuo. Interessante
observar que entre os jogos de tabuleiros e os games não
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 199
houve necessariamente uma evolução, mas uma relação de
inspiração recíproca. Assim como foram dos jogos de
tabuleiros que surgiram as ideias para o desenho dos jogos
eletrônicos o que se vê hoje é um movimento inverso de
games que inspiram jogos de tabuleiro. No ano de 2015 foram
lançados versões de jogos digitais no formato de “board-
games” (jogos tabuleiros) segundo publicação feita no site
Terra.
Foi dentro desta possibilidade, tomando como
exemplo este tipo de inversão que nos definimos pela
elaboração de jogos de narrativos inspirados nos jogos de
RPG. O Role Play Game ou RPG como é comumente
conhecido é um gênero de jogo narrativo que pode se
apresentar como um jogo de tabuleiro ou como um jogo
eletrônico. Trata-se de um jogo de interpretação de papéis,
com personagens que podem ser reais ou fictícios. De acordo
com Pavão (2000, n.p).
RPG é um jogo cujas regras são descritas em
livros que são, em geral, bastante volumosos e
que, além das regras, trazem descrições de
mundos fantásticos e orientações de talhadas
para uma aventura, que poderíamos chamar de
virtual. Os atores dessa aventura são o mestre
e os jogadores, usualmente chamados de
players. O texto do livro de regras é lido em
geral pelo mestre que, nas sessões de RPG
então, apresenta uma história, uma aventura,
ao grupo de jogadores, criada por ele, a partir
da leitura do livro. A aventura proposta deve
conter enigmas, charadas e situações que
exigirão escolhas por parte dos jogadores.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 200
Cada participante, tal como um autor de
ficção, constrói um personagem para si,
detalhando seu perfil psicológico, suas
habilidades intelectuais e físicas, suas
preferências e seus trunfos, assim como suas
deficiências, que vão garantir o "tempero" da
ficção. Esses personagens devem adequar-se a
um ambiente, proposto pelo livro do mestre,
no qual a trama se desenrolará. O ambiente
onde se desenvolve a aventura, no linguajar
desses grupos, é chamado de mundo ou
cenário.
Estas características do RPG em termos de sua
metodologia o tornam muito atraente como recurso didático
no ensino de História. Neste jogo destaca-se o grande
estimulo a imaginação, pois nele os jogadores são estimulados
a interpretar um personagem escolhido, construído seu perfil e
fazem escolhas próprias numa relação ativa com outros
jogadores. Ao mesmo tempo o jogador é chamado a fazer
estas escolhas dentro de condições determinadas, as quais são
apresentadas pelo narrador do jogo que faz a leitura do livro
do mestre. Por meio dele os jogadores se situam no tempo e
no espaço e reconhecem a dinâmica e o movimento do enredo
da qual fazem parte identificando seus limites e possibilidades
dentro da história narrada.
Esta condição de agente, de sujeito atribuído aos
jogadores no RPG revelou-se importante dentro do contexto
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 201
de observação dos estudantes das escolas parceiras e
envolvidas no Projeto do Pibid História. Nas conversas e
interações com os estudantes, detectamos que os mesmos se
ressentem da falta de autonomia nos processos de ensino-
aprendizagem. Sua margem de escolha é quase nula quando
se trata das definições de conteúdo e métodos de
aprendizagem. Deste ponto de vista, os jogos de RPG
revelaram uma possibilidade de recuperar na relação de
ensino no espaço da escola a condição de sujeitos destes
jovens estudantes.
Além disto, a narratividade inerente ao jogo, associada
ao exercício de interpretação de papéis dentro de contextos
definidos oferecem um caminho lúdico para o ensino de
História. Esta alternativa vem sendo explorada por
profissionais que se dispuseram a articular o ensino de história
com as novas tecnológicas. Há aqueles que optam por
trabalhar com jogos prontos e disponíveis no mercado como
Neves, Alves e Bastos (2012)que fazem uso dos chamados
History games. Mas há também aqueles que escolhem
elaborar, dentro da plataforma e metodologia doRole Play
Gameseus novos jogos de RPG de conteúdo histórico como
trabalho feito por Morais e Rocha (2016).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 202
Seguindo esta linha de atuação o projeto Pibid História
da Unioeste definiu-se pela elaboração de um jogo narrativo.
Apostamos na possibilidade de intercambiar linguagens e
promover o ensino de História. Contudo, a metodologia do
RPG foi utilizada apenas como referência e inspiração para o
grupo. Evitamos criar um jogo de RPG e tentamos criar outra
modalidade de jogo narrativo porque nosso objetivo era
explorar a capacidade criativa do grupo do envolvido no
projeto. Criamos então um jogo narrativo Quem é quem na
História. Um jogo organizado a partir de cartas. Preservamos
as características fundamentais como a narrativa e a
interpretação de papeis típicas do RPG. Neste jogo, no
entanto, os participantes tem mais liberdade para interpretar e
improvisar diante dos acontecimentos.
O jogo foi criado para ser desenvolvido em diversas
versões que pudessem abordar diferentes espaços e
temporalidades. Inicialmente foram desenvolvidas duas
versões do jogo: a) Quem é quem na História do Brasil:
ditadura civil militar; b) Quem é quem na História do Brasil:
Era Vargas. O primeiro jogo foi elaborado exclusivamente
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 203
pela equipe do Pibid11
e o segundo envolveu alunos
interessados da Disciplina de História do Brasil IV do 3º ano
do Curso de História da Unioeste12
. Em qualquer versão
temporal ou espacial mantem-se a estrutura e dinâmica do
jogo.
Como se trata de um jogo narrativo, modalidade
cartas, sua estrutura esta dividida em dois grupos de cartas: i)
as cartas de narração; ii) as cartas dos personagens. As cartas
de Narração expressam uma evolução cronológica dos
acontecimentos e localizam cada personagem no tempo e no
espaço histórico determinado. Assim, as cartas aparecem
numeradas num sequência de eventos. Estas cartas de
narração anunciam e descrevem acontecimentos determinados
que envolvemos personagens da história.
11
Equipe de Bolsistas do Pibid História da Unioeste que realizaram o
trabalho de pesquisa, desenvolvimento e aplicação do Jogo Quem é quem
na História do Brasil: Ditadura Civil-Mititar (1961-1970): Aparecida Darc
de Souza (coord), Alessandra Bastos Silva, Ana Karoline Biavat Pagno,
Victor Antonio de Melo e Silva, Giovani Luiz Souza Scheidt, Alana Thais
Quadro de Campo, Vinícius Boaretto Kaefer. 12
Equipe de bolsistas do Pibid e estudantes do curso de História da
Unioeste que realizaram o trabalho de pesquisa, desenvolvimento e
aplicação do Jogo Quem é quem na História do Brasil: Era Vargas (1930-
1954): Aparecida Darc de Souza (coord), Victor Antonio de Melo e Silva,
Giovani Luiz Souza Scheidt, , Heloísa H. Giaretta,Vitor Lopes, Jessica
Oliveira, Andrey Tironi da Silva e Henrique Laurentino.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 204
As cartas personagens identificam diferentes
personagens com perfis sociais e ideológicos dos grupos
sociais que compõe a história narrada pelo jogo. Cada jogador
retira uma carta personagem aleatoriamente no início do jogo.
A partir das descrições feitas ele poderá compor seu
personagem incorporando as atitudes a serem tomadas no
decorrer da narrativa. Nas cartas-personagens, além da
identidade estão indicados também os eventos históricos das
cartas de narração nos quais aquele personagem esta
envolvido. Assim o jogador pode orientar sua ação dentro da
narrativa.
O jogo é formado então pela figura do narrador e por
vários personagens. O narrador é responsável por fazer a
leitura das cartas de modo que todos os personagens possam
acompanhar. Em sua leitura das cartas, o narrador, revela,
numa sequência cronológica, os eventos que cada personagem
irá participar. Diferente do RPG, neste jogo o narrador não
interage com os demais jogadores, não lhes apresenta
desafios, obstáculos ou caminhos. Sua narrativa situa os
personagens no tempo e no espaço, cabendo a cada um
interpretar o momento ou evento narrado.
Neste jogo, todos os personagens fazem parte de uma
categoria que pode ser social, econômica, política,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 205
profissional ou étnica. Deste modo, os jogadores se agrupam
em torno de suas identidades coletivas para poder orientar
suas ações dentro do jogo. Por exemplo, no jogo cuja
narrativa se passa no período da ditadura militar foram criadas
sete (07) grupos de personagens: burguesia; militares; classe
média, estudantes; trabalhadores; mídia e igreja. Já no jogo
sobre a Era Vargas foram criadas outras categorias: indígenas,
posseiros, jagunços, grileiros, exército, operários, empresários
e comunistas.
Na sala de aula, uma vez determinado quem seria o
narrador as cartas-personagens eram distribuídas
aleatoriamente. Depois de distribuídas os alunos se
agrupavam a partir da identidade de sua carta. As cartas de
cada grupo de personagens forma feitas em cores diferentes
para facilitar a identificação.
Há, no entanto, cartas que identificam personagens
históricos reais específicos. Embora estes personagens façam
parte de um grupo ou uma categoria, dentro do jogo eles são
protagonistas de situações ímpares que não são vividas
coletivamente, tais como: Getúlio Vargas que se suicida no
curso da narrativa ou Edson Luis, um estudante que é
assassinado durante uma manifestação contra a ditadura
militar.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 206
Quem é quem na História é um jogo de interpretação
de papeis organizado a partir de cartas que oferecem aos
jogadores uma determinada narrativa de acontecimentos
históricos os quais serão livremente interpretados por seus
participantes. Deste ponto de vista o jogo se aproxima mais da
técnica do teatro de improviso que explora em cada jogador a
busca, o retorno a experiências vividas para composição de
seu personagem e de suas atitudes. Neste caso, a interpretação
de papéis se desenha em dois movimentos.
De um lado o jogo provoca a imersão do
estudante/jogador num contexto histórico determinado. Os
estudantes a partir dessa proposta serão compelidos a se
inserir ou a mergulhar dentro de um personagem
desenvolvendo ações que expressam o seu o perfil social e
ideológico. Neste sentido, o objetivo do jogo é provocar nos
estudantes/jogadores o sentimento de empatia levando-os
pensar, ver e sentir como atuavam diferentes atores sociais
dentro de contextos históricos determinados. Este conceito de
empatia pode se tornar um importante aliado no processo de
ensino e construção do saber histórico escolar, pois segundo
Abud (2005, p.27-28):
[...] o conceito de empatia facilita a compreensão
histórica, ao aproximar as pessoas do passado às do
presente. Há ideias e práticas do passado que
oferecem explicações pouco satisfatórias se não
forem analisadas na perspectiva da cultura, do
sistema de valores e até do senso comum, num
contexto mais amplo, com o qual estão
relacionados. [...] A compreensão histórica vem da
forma como sabemos como é que as pessoas viram
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 207
as coisas, sabendo o que tentaram fazer, sabendo o
que sentiram em uma determinada situação.
Na aplicação dos jogos narrativos verificamos que ao
se colocarem no lugar do outro, os estudantes/jogadores
experimentam e vivenciam como seus os dilemas, ideias,
sentimentos de indivíduos, sujeitos coletivos e ou sociais de
outras épocas. Foi o caso, por exemplo, de uma estudante que
tirou a carta de Getúlio Vargas. Ao final do jogo ela explicou
que sentia que era impossível fazer algo que pudesse agradar
a todos. Quando atendia às reivindicações dos trabalhadores
era duramente criticada e atacada pelos empresários. Se ela
mantinha o acordo com os empresários sofria com as greves.
Esta experiência mostrou a ela em termos empíricos as
contradições características de um governo ou uma liderança
política que orienta suas ações pelo projeto de conciliação de
classes.
Outro exemplo foi vivido pelo grupo de posseiros que
durante a narrativa do jogo se vem constantemente ameaçados
e massacrados por jagunços e grileiros sem encontrar meios
de manter-se na terra. Uma das alunas do grupo disse que ao
final ela se sentiu desprezada, como se ela não tivesse
importância. Este sentimento pode abre o caminho para uma
importante discussão sobre a histórica condição dos pequenos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 208
proprietários, posseiros e trabalhadores brasileiros. Em ambos
os casos o que percebemos é que o jogo proporciona aos
estudantes/jogadores fazer uso de suas próprias experiências
para entender e explicar situações vividas no passado.
Por meio do uso de cartas, que servem para orientar
uma narrativa dos acontecimentos e designar papéis sociais,
os estudantes/jogadores envolvidos podem experimentar
sentimentos, identificar ideias e promover ações relativas a
um determinado contexto histórico abordado. Ao interagirem
entre si, provocados por situações do jogo, os
estudantes/jogadores encontram meios de refletir sobre a
maneira como diferentes agentes sociais se comportaram a
agiram no passado (ROCHA, 2014).
De outro lado, o jogo permite que o jogador evoque
valores e percepções que o ajudam a conferir sentido às ações
e momentos vividos pelos dos personagens do jogo. A
maneira como o jogador interpreta, em gestos e palavras, sem
premeditação ou ensaio traz para dentro do jogo a sua leitura
sobre determinados personagens e situações históricas. O
jogo incorpora, deste ponto de vista, os valores e as
percepções dos jogadores. Ainda que a narrativa seja sempre a
mesma, porque já esta definida nas cartas, o que observa é ela
é sempre vivida de maneira distinta pelos diferentes
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 209
estudantes/jogadores. Em cada sala, com cada grupo de
alunos, a mudança dos jogadores muda a forma como os
acontecimentos são vividos porque eles estão imbricados e
atravessados pela forma como os diferentes jogadores vêm o
mundo.
Um exemplo interessante é a forma como Getúlio
Vargas foi representado. Em uma turma, sua figura foi
associada à de Hitler pelo seu jogador interprete que fingia
andar de carro pela sala com mão erguida numa clara
referência ao cumprimento do ditador. Em outra sala a
jogadora representou Vargas como homem autoritário,
vaidoso e apegado ao poder e na terceira turma. No terceiro
caso ele é representado com um homem angustiado e
pressionado. Cada estudante/jogador trouxe para o jogo
elementos diferentes para a construção do personagem.
Nos jogos eles interpretam os personagens sob o signo
do improviso e precisam assim, dar voz aos personagens
históricos sejam eles individuais ou coletivos, a partir de suas
próprias referências culturais e imaginárias que lhe são
próprias estabelecendo empiricamente a relação presente-
passado. O jogo permite por meio da improvisação que o
passado seja representado a partir de elementos que os
estudantes/jogadores têm disponíveis no presente. Assim de
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 210
maneira, sensível e empírica os estudantes/jogadores realizam
esta operação fundamental para o entendimento sobre o
sentido da produção do saber histórico que, como observou
Bloch (1997), deveria se fazer em sentido contrário, por um
método “prudentemente regressivo”, “desenrolando a bobina
ao contrário”.
Esta dimensão da relação entre presente e passado se
revela no jogo por atos e palavras. Por exemplo, durante o
jogo que tematizou o período da ditadura militar foi recorrente
o uso de termos e expressões como “coxinha”, “petista”, “vai
pra Cuba” que faziam claramente referência ao contexto de
atual de polarização política vivida no momento. Num
contexto marcado por constantes repressões policiais aos
movimentos sociais e populares a polícia não é de se estranhar
que um estudante/jogador durante a simulação de uma greve
tenha decido derrubar no chão da sala algumas carteiras para
indicar uma situação de quebra-quebra. Outro aluno, dentro
deste contexto, decidiu cair no chão, como se tivesse sido
atingido por uma bala e sai arrastado pelos outros colegas de
grupo.
Estas situações ilustram algo importante sobre o fato
de que os estudantes mobilizam informações, valores e
percepções do tempo presente no processo de cognição
histórica. Em cada um delas podemos encontrar um caminho
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 211
para discutir quais são os problemas vividos no tempo
presente pelos adolescentes e jovens a quem nos dirigimos
que incitam a busca de explicações no passado, pois como
afirmou Bloch (1997, p.100-101):
Na verdade, conscientemente ou não, é
sempre com as nossas experiências
quotidianas que, para diferenciar, ali onde
deve ser, novas aparências, damos, em ultima
análise, os elementos que nos servem para
reconstruir o passado.
Esta dimensão do jogo é reveladora do papel didático e
estratégico no processo de ensino. Pensamos o jogo Quem é
quem na História como uma atividade sensibilizadora que
abre o caminho para a discussão e análise no espaço da sala
de aula. A partir das situações vivenciadas no jogo
professores e estudantes podem então discutir e analisar não
apenas conteúdos, mas os procedimentos que informam o
trabalho de construção do saber histórico. O jogo cumpre,
nesta direção, a função de ferramenta auxiliar do processo de
ensino de História.
Por ultimo é preciso ressaltar que de conjunto-nos
pensamos num jogo cujo objetivo foi o de promover uma
experiência compartilhada. A proposta incita professor e
estudante a romper com a prática da educação bancária
tradicional produzindo uma situação de aprendizagem apoiada
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 212
numa atividade lúdica permitindo que professor e aluno
desenvolvam no espaço da sala de aula, uma relação
prazerosa e empática com o estudo do passado.
Referência
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Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 215
UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE “SUJEIÇÃO
CRIMINAL” A PARTIR DAS REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS NO RAP1
Caroline Andressa Momente Melo 2
Jhonathan Matheus Dias3
Introdução
O presente trabalho estrutura-se em duas partes, no
primeiro momento, analisa-se, introdutoriamente, a crise no
sistema prisional brasileiro, no que se refere às chacinas
ocorridas no início de 2017, nos presídios de oito estados,
consideram-se: Alagoas, Amazonas, Paraíba, Paraná, Santa
Catarina, São Paulo, Rio Grande do Norte e Roraima
(CARTA CAPITAL, 2017), problematiza-se a aceitação das
chacinas por parte de alguns representantes do Estado.
Para compreender essa aceitabilidade, utiliza-se das
contribuições teóricas de Pinheiro (1991), que estabelece que
a “herança autoritária” no Brasil inviabiliza a consolidação de
uma sociedade democrática, em que práticas autoritárias,
1 Trabalho realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes), entidade do governo brasileiro voltada
para a formação de recursos humanos. 2 Bolsista de Supervisão à Docência do Subprojeto de Ciências Sociais, do
campus Toledo - PR. E-mail: [email protected] 3 Bolsista de Iniciação à Docência do Subprojeto de Ciências Sociais, do
campus de Toledo - PR. E-mail: [email protected]
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 216
abusivas e inclusive ilegais são utilizas constantemente por
agentes do Estado. Nesse contexto de autoritarismo, as noções
de cidadania, direitos e direitos humanos são incompreendidas
pela população (CALDEIRA, 1991). Assim, os sujeitos
enquadrados enquanto “bandidos”, inseridos no processo de
“sujeição criminal”4 (MISSE, 2010), têm sua humanidade
rejeitada pelos “cidadãos de bem”, que legitimam as chacinas
do sistema prisional.
No segundo momento, analisa-se o processo de
“sujeição criminal” (MISSE, 2010) tomando como referência
as representações sociais da subcultura emitidas em cinco
letras de Rap. Desta forma, apresenta-se o processo pelo qual
determinados sujeitos são enquadrados na categoria
“bandidos”, logo, tornam-se moralmente repulsivos, o que
legitima seu extermínio para a sociedade.
Considera-se que as letras das músicas oportunizam
maior compreensão acerca do conceito de “sujeição criminal”
conforme oferecem as representações dos sujeitos que ora são
“simplesmente” incriminados, ora estão inseridos no processo
de “sujeição criminal”, ou seja, quando há uma expectativa
que determinados sujeitos estão propensos a cometer práticas
4 O conceito de “sujeição criminal” foi desenvolvido por Misse (1999),
mas, o presente artigo parte das reflexões de Misse (2010).
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 217
criminosas, particularmente violentas, e isso constitui a
personalidade do sujeito, compõe seu caráter, sua
subjetividade, seu ser, portanto, “sua morte ou
desaparecimento podem ser amplamente desejados” (MISSE,
2010, p. 03).
Violência, justiça e direitos humanos no Brasil
O sistema prisional brasileiro encontra-se em uma
profunda crise, somente nas duas primeiras semanas do ano
de 2017 houve mais de 130 assassinatos nos presídios de oito
estados (CARTA CAPITAL, 2017). São múltiplos fatores que
propiciaram tal fato, dentre eles o encarceramento em massa e
a superlotação dos presídios, porém, no escopo deste texto
não se objetiva analisar esta crise do sistema prisional, mas
sim apresentar, de modo introdutório, os referenciais teóricos
de Pinheiro (1991) e Caldeira (1991) relacionados a esta
temática. Em seguida, será analisado o processo de sujeição
criminal, que, em suma, representa o enquadramento de
“bandido” para determinados sujeitos (MISSE, 2010).
Neste contexto de crise do sistema carcerário um
elemento que merece destaque é a legitimação das chacinas
por parte dos representantes do Estado, a cargo de exemplo, o
Secretário de Juventude do governo federal quando
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 218
questionado sobre as chacinas afirmou que “Tinha que ter
uma por semana” e o próprio presidente do Brasil alegou que
o massacre se trata de um “acidente” (EL PAIS, 2017), ou
seja, uma fatalidade, algo que não teria como ser prevenido e
até mesmo resolvido.
De modo geral, considera-se que a crise no sistema
prisional brasileiro tem relação com a “herança autoritária”
que permaneceu mesmo com o processo de redemocratização
do país, conforme apontado por Pinheiro (1991) houve um
avanço no que tange os direitos políticos, todavia observa-se
um permanente “regime de exceção paralelo” em que as
práticas repressivas do Estado são caracterizadas por um
elevado nível de ilegalidade e autoritarismo.
Este “regime de exceção legalizado favorece a
repressão ilegal aos criminosos comuns” (PINHEIRO, 1991,
p. 49). Essa repressão ocorre através de práticas de tortura,
métodos de extermínio de suspeito, invasões a domicílio, e até
mesmo quando o Estado não garante segurança nas
instituições carcerárias. Neste contexto de “Herança
Autoritária”, a sociedade legitima o “regime de exceção
paralelo” e compreende como necessário o extermínio dos
presos comuns. Em suma, esse massacre evidencia como as
instituições estatais da área criminal não foram
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 219
democratizadas, permanecendo um “regime de exceção
paralelo”.
Considerando a tradição política deficitária no Brasil,
em que não se consolidou uma noção clara de Cidadania, de
Direitos, e, principalmente, dos Direitos Humanos, quando
ocorre extermínio dos presos comuns e os movimentos dos
Direitos Humanos buscam denunciar, estes são denominados
pelos “cidadãos do bem” de “defensores de bandidos”, que
buscam “privilégios” e “regalias” a bandidos (CALDEIRA,
1991). Desta forma, a democracia no Brasil não será
consolidada, enquanto a sociedade civil corroborar com um
ideário autoritário e legitimar os abusos de violência do
Estado.
Ou ainda, enquanto determinados sujeitos forem
condenados “pela interpelação da polícia, da moralidade
pública e das leis penais” (MISSE, 2010, p.17), por realizarem
determinadas práticas, sendo enquadrados na categoria de
“bandido”, paralelamente, retirando sua humanidade e
justificando, portanto, seu extermínio, os colocando assim na
condição de “corpos matáveis” (MISSE, 2010), neste
contexto, fica mais distante o horizonte democrático na
sociedade brasileira.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 220
Sujeição Criminal: Uma Análise A Partir Do Rap
O presente trabalho analisa o processo de “sujeição
criminal” que sustenta a categoria de “bandido” (MISSE,
2010), para tanto, será tomado como referência às
representações sociais da subcultura emitidas nas letras de
Rap5, do estilo denominado “gangsta”, ou seja, que abordam o
crime, a violência, o racismo institucional, a violência policial
e a “sujeição criminal”. Considerando que o rap expõe a
realidade social a partir das representações sociais de sujeitos
que vivenciam a incriminação e/ou à “sujeição criminal”, em
outras palavras, a sujeição criminal ocorre quando há uma
expectativa que determinados sujeitos estão propensos a
cometer práticas criminosas, particularmente violentas, e isso
constitui a personalidade do sujeito, compõe seu caráter, sua
subjetividade, seu ser, portanto, “sua morte ou
desaparecimento podem ser amplamente desejados” (MISSE,
2010, p. 03).
Trata-se de um sujeito que “carrega” o crime
em sua própria alma; não é alguém que
comete crimes, mas que sempre cometerá
crimes, um bandido, um sujeito perigoso, um
sujeito irrecuperável, alguém que se pode
desejar naturalmente que morra, que pode ser
morto, que seja matável (MISSE, 2010, p. 07).
Desta forma, foram selecionadas cinco músicas6, de
diferentes estados, visando abranger a diversidade de
5 Procedimento metodológico semelhante foi realizado por Kleinschmitt
(2016) ao entrevistar rappers, para captar as representações da periferia
sobre as mortes violentas na região de três fronteiras entre o Brasil,
Paraguai e Argentina. 6 Aconselha-se que as músicas sejam ouvidas na íntegra.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 221
situações, consideram-se: “Londrina Criminal” do grupo
Família IML, do Paraná. Do Rio de Janeiro foi escolhida a
música “Favela Vive 2” uma cypher produzida por vários
MC´s. De São Paulo optou-se pelas músicas “Diário de um
Detento” e “Homem na Estrada” do grupo Racionais MC´s e
“Um pião de Vida Loka” da Trilha Sonora do Gueto.
Misse estabelece que “O sujeito, nesse sentido, é o
efeito de ser posto pela estrutura (poder) e de emergir como
seu contraposto reflexivo (potência)” (2010, p. 16), ou seja, a
experiência da subjugação/sujeição à estrutura forma o
sujeito, este, enquanto sujeito deve agir na estrutura, muitas
vezes se contrapondo a ela. Dentre os processos de
subjetivação o autor constata que há vários tipos de sujeitos
que se caracterizam por ser “não revolucionário, não
democrático, não igualitário e não voltado ao bem comum”
(2010, p. 17), o mais conhecido dentre estes tipos é rotulado
de “bandido”.
O processo de “sujeição criminal” se dá, basicamente,
conforme determinados indivíduos são incriminados por sua
classe social, sua cor, sua cultura, seu território, dentre outros
aspectos, assim é construído socialmente uma projeção, um
enquadramento de sujeitos que são potencialmente
criminosos. Nesse sentido, o grupo Trilha Sonora do Gueto,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 222
na música “Pião de Vida Loka”, expõe um conjunto de
abordagens policiais que ocorrem em decorrência da
identidade cultural que o sujeito possui, ou seja, o uso do boné
e da camiseta proveniente da cultura hip hop, são associados a
criminalidade, observa-se:
“O foda é que os cara embaçaram na bombeta/
e na camisa do vida loka, os cara ta achando/
que o bagui é facção de crime esses bagui aí ,ó
mano!”.
Em seguida, o racismo institucional é denunciado,
pois, como o sujeito é negro e morador de favela, para a
polícia ele é suspeito: "Sou vida loka jão daquele jeito/
Neguinho de favela prus coxinha eu sou suspeito”.
Evidenciando também como a “sujeição criminal” se
“territorializa” na favela.
Sobre o “bandido” deseja-se, amplamente, a morte ou
o desaparecimento, pois suas condutas são “moralmente
repulsivas”. A Letra da música “Homem na Estrada” relata a
experiência de um sujeito que “recomeça a sua vida” após
cumprir pena, este sujeito vive em um bairro periférico e vê
“seu filho nascer no berço da miséria”, contexto marcado pela
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 223
negação de direitos básicos e alto índice de violência.
“Assaltos na redondeza levantaram suspeitas” como este
sujeito possuía antecedentes criminais ele foi considerado um
suspeito, diante disso, ele afirma:
A Justiça Criminal é implacável
Tiram sua liberdade, família e moral
Mesmo longe do sistema carcerário
Te chamarão para sempre de ex presidiário
Não confio na polícia, raça do caralho.
Se eles me acham baleado na calçada
Chutam minha cara e cospem em mim, é
Eu sangraria até a morte
Na calada da noite, o sujeito percebe que a polícia vai
“invadir seu barraco”:
Vieram pra arregaçar, cheios de ódio e malícia
Filhos da puta, comedores de carniça!
Já deram minha sentença e eu nem tava na "treta"
Não são poucos e já vieram muito loucos
Matar na crocodilagem, não vão perder viagem
Quinze caras lá fora, diversos calibres, e eu apenas
Com uma "treze tiros" automática
Só eu mesmo, meu Deus e o meu orixá
No primeiro barulho, eu vou atirar.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 224
Se eles me pegam, meu filho fica sem ninguém
E o que eles querem: mais um "pretinho" na FEBEM.
Assim se deu o extermínio do suspeito através da ação
do Estado, sua morte não provoca comoção, mas é
“necessária”, afinal, ele é um “bandido”, e a impressa local
reforça:
“Homem mulato aparentando
Entre vinte e cinco e trinta anos
É encontrado morto na estrada do
M'Boi Mirim sem número
Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas
rivais.
Segundo a polícia, a vítima tinha vasta ficha
criminal."
Diante dos antecedentes criminais desse sujeito,
“se reserva a reação moral mais forte e, por
conseguinte, a punição mais dura: seja o
desejo de sua definitiva incapacitação pela
morte física, seja o ideal de sua reconversão à
moral” (MISSE, 2010, p. 17).
Como mencionado, no processo de “sujeição criminal”
justifica de forma habitual a eliminação física de criminosos
não periculosos, no qual a punição é deslocada do crime e
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 225
direcionada ao sujeito. Emergindo assim, um conjunto de
práticas ilegais, que podem ser realizadas, inclusive, pelos
aparelhos repressivos do Estado, tais como os esquadrões da
morte ou grupos de extermínio de suspeito. Em congruência o
grupo Racionais MC´s, na música “Diário de um Detento”,
narra os momentos que precederam o Massacre do Carandiru:
São Paulo, dia 1º de outubro de 1992, 8h da manhã
Aqui estou, mais um dia
Sob o olhar sanguinário do vigia
Você não sabe como é caminhar com a cabeça na mira
de uma HK
Metralhadora alemã ou de Israel
Estraçalha ladrão que nem papel
Na muralha, em pé, mais um cidadão José
Servindo o Estado, um PM bom
[...]
Amanheceu com sol, dois de outubro
Tudo funcionando, limpeza, jumbo
De madrugada eu senti um calafrio
Não era do vento, não era do frio
Acertos de conta têm quase todo dia
Tem outra logo mais, eu sabia
[...]
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 226
Avise o IML, chegou o grande dia
Depende do sim ou não de um só homem
Que prefere ser neutro pelo telefone
Ratatatá, caviar e champanhe
Fleury foi almoçar, que se foda a minha mãe!
Cachorros assassinos, gás lacrimogêneo
Quem mata mais ladrão, ganha medalha de prêmio!
O ser humano é descartável no Brasil.
Através do relato do detento compreende-se a
realidade de um presídio, no qual a punição direcionou-se ao
sujeito, não ao crime, uma vez que, os presos comuns, são,
supostamente, irrecuperáveis para a sociedade geral, que por
sua vez, legitima a realização de extermínio destes presos
pelos agentes do Estado.
Conforme os sujeitos são incriminados, cria-se a noção
de que o crime é imanente a este sujeito, algo determinado e
natural, por isso, a aceitabilidade da sua morte. Portanto, “No
limite da sujeição criminal, o sujeito criminoso é aquele que
pode ser morto. (MISSE, 2010, p. 21). Estes “corpos
matáveis” são apresentados pelo MC Funkero, na cypher
“Favela Vive 2”.
O futuro chegou e ainda usamos corrente
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 227
Escravizados através do tráfico de entorpecente
Nos empurram todo dia goela a abaixo
Ódio, medo, desespero e incentivo à violência
Dizem que somos bandidos
Mas quem mata usa farda e exala despreparo e
truculência
[...]
Quem é o inimigo? Quem é você?
Nessa guerra sem motivos e sem vencedor
Quem é o inimigo? Quem é você?
A bala perdida acha o outro sofredor
[...]
Nós já nascemos preparados pra morrer
Nos proibiram de sonhar, se foderam
Somos o monstro que vocês criaram, seu pesadelo
Essa porra é um campo minado
PM aplica pena de morte com aval do Estado
Quem tá certo? Quem tá errado?
Só sei que o alvejado é sempre o favelado
Quantos irmãos tombaram cedo demais
Favela vive sangrando implorando por paz, paz!
O crime não é algo que exista em si mesmo, provém
de uma relação social em que o acusador – partindo no
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 228
primeiro momento de uma moral, que posteriormente pode
efetivar-se através de leis – rotula enquanto desviante o
acusado, segundo Becker (2008). Nesse sentido, “a acusação
social que constrói o criminoso” (MISSE, 2010, p. 22), a
música “Favela Vive 2” problematiza este “rótulo de
bandido” que é imposto aos moradores da favela, sendo que,
neste contexto são realizados assassinatos por agentes do
Estado, cabendo a estes moradores “prepararem-se para
morrer”.
O processo de “sujeição criminal” efetiva-se na
incorporação de práticas criminosas pelo sujeito que até então
era rotulado como bandido, apropriando-se dessa tipificação e
assumindo este papel social, ou seja, o sujeito que é
considerado um criminoso em potencial pode se sujeitar ao
crime, reforçando o enquadramento que existia anteriormente
a prática criminal.
O grupo Família IML, na música “Londrina Criminal”,
oferece um panorama de sujeitos que incorporaram as práticas
criminosas, nos trechos abaixo fica evidente esta relação de
sujeitos que são incriminados e exercem práticas criminais.
Na periferia miséria pede justiça
Isso é compromisso do governo que tem preguiça.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 229
Moleque daqui que rouba só na chave micha.
Com 12 de idade no crime já fez sua ficha.
Adolescentes procuram pura adrenalina
Em motos e carros, assaltos nessa Londrina
Mete o revolver, se envolve, resolve na fita.
Vira traficante, assaltante tipo homicida.
[...]
Brinquedo assassino, quadradas e carabinas
E num tem medo não, a missão é fazer chacina
[...]
Ele tava com a biqueira na rua em andamento.
No tempo que não tava preso teu filho tinha sustento.
O tempo então passou e ele provou que o bang é
monstro.
O crime é a cara dele porque ele é criminoso.
Sempre matando, osso, monstro no calabouço.
Pilantra quando trombou ele logo arrancou o pescoço
O crime verdadeiro nem todos acompanhou.
O crime é pra quem é o crime, pra muitos nunca
virou
Vem pra segunda capital, o crime deu aval Londrina é
criminal.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 230
Onde o crime fecha é lindo de ver e o espaço é para
aquele que merecer
Este sujeito que incorpora crime, em virtude de uma
rotulação que antecede a prática criminal, está inserido no
processo de “sujeição criminal”, assim, “O rótulo “bandido” é
de tal modo reificado no indivíduo que restam poucos espaços
para negociar, manipular ou abandonar a identidade pública
estigmatizada” (MISSE, 2010, p. 23). Emergindo um sujeito
egoísta, não preocupado com o bem comum, sem medo, já
que “a missão é fazer chacina” conforme a letra da Família
IML aponta. Desta forma, este sujeito “[...] pode chegar, no
limite, a assumir publicamente sua identidade como “mau” ou
se tornar inteiramente indiferente ao status negativo que
continuam a lhe atribuir” (MISSE, 2010, p. 26).
Ainda sobre a música da Família IML afirma-se, “O
crime é a cara dele porque ele é criminoso” é exposta a
subjetivação do crime, na qual o sujeito possui essa identidade
criminal, em que a crime não se limita a aparência, ou ainda, a
rotulação – “o crime é a cara dele”, mas atinge a essência
desse indivíduo – “porque ele é criminoso”, conferindo a ele
uma “subjetividade peculiar”, um “carisma de valor negativo”
“que denota uma diferença que pode ser interpretada por ele
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 231
como de “superioridade moral”” (MISSE, 2010, p. 27). Essa
“superioridade moral” atribuída ao sujeito criminal ocorre
conforme ele se diferencia dos demais, pois “pra muitos
nunca virou”, ou seja, o sujeito que emerge da “sujeição
criminal” é um ““sujeito-em-ruptura” com a ordem legítima
dominante” (MISSE, 2010, p. 30).
Este sujeito criminal é retirado do contexto social
comum e direcionado “a um lugar socialmente separado o
“submundo”, a “boca”, o “ponto”, o “antro” e, enfim, a
“prisão” (MISSE, 2010, p. 31), e este “espaço é para aquele
que merecer” conforme exposto na música, ou ainda, é
merecedor do espaço o sujeito que incorporou o crime,
possuindo assim uma “superioridade moral”.
Vale ressaltar, que este “lugar socialmente separado”
tem relação com a sociedade geral, Misse (2010) estabelece
que os símbolos, os códigos e as linguagens do submundo
expandem-se ao universo normalizado, evidenciando uma
continuidade entre o (que é considerado) desvio e a norma,
portanto, o processo de “sujeição criminal” encontra-se em
expansão, disseminando-se no corpo social.
Considerações finais
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 232
Considerando a expansão dos símbolos, dos códigos e
das linguagens do submundo ao universo normalizado
(MISSE, 2010), buscou-se, neste trabalho, analisar o processo
de “sujeição criminal” a partir das representações sociais da
subcultura emitidas nas letras de Rap do estilo “gangsta”.
Não foi aprofundada a noção sobre representações
sociais da subcultura, sendo necessário realizar em outra
oportunidade. Vale ressaltar que as letras das músicas
oportunizam maior compreensão acerca do conceito de
“sujeição criminal” conforme ofereceram as representações
dos sujeitos que ora são “simplesmente” incriminados, ora
estão inseridos no processo de “sujeição criminal”. Esses
sujeitos enquadrados na categoria “bandidos” se tornam
“corpos matáveis”, tanto para a opinião pública, quanto para o
Estado, inviabilizando a consolidação de uma sociedade
democrática.
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Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 235
BONECAS ABAYOMI: UMA FORMA LÚDICA DE
ENSINAR1
Juliana Machiner Buraicko2
Introdução
O presente artigo irá abordar alguns pressupostos a
respeito da teoria de ensino, e a importância da utilização de
atividades lúdicas em sala de aula como recursos que visam
melhorar o desempenho e interesse do estudante diante do
conteúdo ensinado. Cabe ressaltar que atividades lúdicas não
se destinam exclusivamente para alunos da educação infantil,
mas funcionam como um recurso que pode ser explorado por
professores de todos os níveis do ensino e em todas as
disciplinas, inclusive em sociologia, disciplina que sobreviveu
a diversas interrupções na grade curricular, tornando-se uma
disciplina obrigatória apenas recentemente. O resultado disso
foi a aplicação de uma oficina de produção das chamadas
bonecas Abayomis, um recurso didático utilizado na
finalização da discussão da temática racial e da noção de
alteridade, com alunos do ensino médio em uma atividade
realizada através do Pibid de Sociologia.
1 Trabalho realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes), entidade do governo brasileiro voltada
para a formação de recursos humanos. 2 Acadêmica do Curso de Ciências Sociais da Unioeste, Campus Toledo,
bolsista no programa Pibid- [email protected]
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 236
O lúdico na educação
O professor dentro do quadro educacional é um agente
de imensa importância. Quanto mais rica for sua vivência e
sua experiência em sala de aula, mais fácil e satisfatório será o
desempenho de sua prática docente. Nóvoa (1991), afirma que
não é possível construir um conhecimento pedagógico para
além dos professores, isto é, que ignore as dimensões pessoais
e profissionais do trabalho docente. O professor não é o único
responsável pelo sucesso da educação, mas é uma peça
fundamental desse quebra-cabeça. A educação, segundo
Demerval Saviani em “Escola e Democracia” (SAVIANI,
2000b), é como uma atividade mediadora no seio da prática
social global. Assim, a educação é entendida como
instrumento, como um meio ou uma via através da qual o
homem se torna plenamente homem apropriando-se da
cultura, isto é, a produção humana historicamente acumulada.
O professor desempenha o papel de mediador da prática social
global, é a ponte entre o conhecimento e o estudante. Cabe a
ele não apenas mostrar uma possível visão de mundo que
considere como correta, mas sim tornar seus alunos pessoas
conscientes de si e ensiná-los a realizarem as suas próprias
escolhas de acordo com aquilo que considerem adequado.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 237
Não apenas ensinar, mas é mostrar como encontrar o caminho
que entendem melhor para si. A educação pode ser
considerada a responsável por instaurar a humanidade no
homem. Por meio dela o homem aprende a se sobrepor à
natureza, aprendendo a superá-la e a modificá-la, adaptando-a
conforme suas necessidades e vontades; capacidade que
diferencia o homem dos demais animais.
O objetivo central do professor em seu papel como
educador, seja qual for o local em que lecione, é que seus
alunos atinjam ao menos o percentual mínimo necessário de
compreensão do conteúdo que é exigido pela instituição. No
entanto, essa não é uma tarefa simples, uma vez que o
processo é repleto de obstáculos, que dificultam de diversas
maneiras a obtenção do resultado desejado. Esses obstáculos
podem ser tanto externos quanto internos, como: interesse por
determinado conteúdo em detrimento de outro, limitações
sociais e de acesso a informações. Acabam muitas vezes,
desencadeando a falta de interesse do aluno pelo conteúdo
trabalhado. Problemas como esse fazem parte do dia a dia
enfrentado por muitos educadores dentro da sala de aula; e
fazem uma conexão com uma problemática importante: a
motivação. O ato de incitar e motivar nos alunos o desejo e a
sede de aprender, utilizando para isso, alguns recursos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 238
diferenciados ou novas formas de abordagem é o ponto
fundamental do desafio da didática do professor e a motivação
está intimamente relacionada com a tão almejada disciplina
em sala de aula (alunos comportados, concentrados e
preocupados em aprender). Ou seja, costuma-se fazer uma
relação direta entre motivação e um comportamento mais
disciplinado, no entanto “silêncio” em sala de aula nem
sempre é sinônimo de aprendizado, uma vez que este ocorre
também e principalmente na participação ativa e atuante dos
estudantes em sala de aula, compartilhando opiniões e
escutando a dos seus colegas, essa participação é resultado da
chamada aprendizagem significativa (SOUZA et all., 2013).
O ambiente cultural assim como o natural também se
impõe ao individuo desde seu nascimento. Desde seu
nascimento o individuo já se defronta com um mundo cuja
linguagem, crenças, costumes, já estão definidas. Além das
pessoas que farão parte de seu círculo de convivência, que
através desse contato exercerão influência na formação desse
indivíduo e consequentemente também do resultado final da
aprendizagem, um ambiente motivador faz-se necessário para
se colher bons frutos. No processo educacional, assim como
em outros aspectos da vida, os seres humanos são resultado
das relações que mantém com outros indivíduos e também do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 239
meio no qual foi socializado. Desse modo, suas experiências
pessoais o transformam nesse ou naquele outro sujeito.
Para o psicólogo norte-americano Carl Ransom
Rogers, criador da chamada Teoria Humanista, cujo foco da
educação está no estudante, o aprendizado é algo individual
que leva em conta o caráter subjetivo de cada indivíduo,
sendo o contexto e experiências pessoais importantes no
processo de aprendizado, o que o estudante irá aprender faz
parte ou é relevante dentro da sua realidade (Souza et alli,
2013). Carl Rogers nos apresenta em sua teoria um conceito
importante: a aprendizagem significativa, definida como um
processo auto iniciado de descoberta e compreensão, que tem
a qualidade de um envolvimento da pessoa como um todo,
tanto no aspecto cognitivo quanto no sensível, modificando
tanto o comportamento quanto as atitudes, e até mesmo a
personalidade do educando, que passa a significar a
experiência como um todo, a partir de um lócus de avaliação
que se encontra nele mesmo (MACÊDO, 2000). A
aprendizagem só faz sentido quando abrange um todo
(cognição, percepção, afetividade, emoção) e não apenas a
relação restrita entre o conteúdo que é transmitido de forma
mecânica e a finalização com a aplicação de alguma
avaliação. É muito mais que isso, é necessário um total
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 240
envolvimento do aluno no processo. Sendo a motivação um
fator de extrema relevância dentro do processo, cabe ao
professor se preocupar com essa questão e procurar sempre
novas maneiras de motivar nos estudantes. Nesse sentido, as
atividades lúdicas, são exemplos de atividades que podem ser
aplicadas para tornar essa tarefa menos árdua.
Diversos trabalhos vêm sendo desenvolvidos,
principalmente na área da educação infantil, sobre
importância de se trabalhar com o lúdico em sala de aula. E
isso se deve à sua importância para o desenvolvimento da
criança nessa fase da sua vida. O lúdico é uma ferramenta que
transforma o aprendizado em algo mais prazeroso e
estimulante para o estudante, na medida em que esse tipo de
atividade difere do modelo básico de ensinar, ainda muito
utilizado por muitos profissionais da área. As pesquisas
apontam para a problemática do interesse do aluno e afirmam
que tais atividades despertam a atenção do estudante para
aquilo que o professor irá ensinar. O aprendizado motivado
pela alegria e vontade aprender, deve ser mais aprofundado,
pois são inúmeras suas vantagens. Desta maneira, o lúdico é
muito mais do que apenas um passatempo, uma brincadeira
ou um divertimento sem um objetivo estruturado, como
definem alguns/pensam. Logo, a técnica, deve ser pensada
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 241
com mais atenção, uma vez que a educação lúdica
proporciona ao estudante uma forma de ver o mundo
diferente: não apenas como um mero expectador, mas dá a ele
o papel de indivíduo atuante e criador de sua própria história,
(uma vez que) estimula a sua autonomia frente aos obstáculos
que possam aparecer, estimulando-o a agir. Mas, afinal, o que
é uma atividade lúdica? Uma atividade lúdica é basicamente
uma atividade que visa o entretenimento, o divertimento; que
proporciona prazer para as pessoas envolvidas; remete a jogos
a brincadeiras que potencializam a criatividade e a capacidade
intelectual do indivíduo.
Traduzindo do latim, lúdico significa brincar. Porém,
para alguns autores a palavra está relacionada ao jogo. Talvez
aí esteja uma das causas de o lúdico ser visto com maus olhos
por alguns profissionais, pois jogo remete a uma brincadeira e
muitos não acreditam que possa ser possível a relação entre
aprender e brincar ao mesmo tempo; como se o aprendizado
fosse sinônimo de seriedade e disciplina, pois veem o ensinar
somente como algo sério, rígido. A ludicidade, portanto, entra
no espaço da aprendizagem como um recurso integrador e
facilitador do processo. O lúdico possui origem em várias
áreas do conhecimento, sendo o jogo também passível de ser
analisado por diferentes perspectivas. Comentamos que ele é
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 242
frequentemente relacionado ao jogo, mas afinal, o que é o
jogo? Segundo Huizinga (1990), o jogo é uma atividade de
ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados
limites de tempo e espaço, seguindo regras livremente
consentidas, mas absolutamente obrigatórias e dotados de um
fim em si mesmo, acompanhado de um sentido de tensão, de
alegria e de uma consciência de ser diferente da vida
cotidiana.
O jogo não é uma mera brincadeira que não apresenta
limites e pode ser praticado de qualquer maneira, mas sim
algo planejado e estruturado. Atividades lúdicas como os
jogos estão mais voltadas para a educação infantil, porém, o
ensino lúdico não deixa de ter importância também nas outras
fases de ensino, inclusive durante o ensino médio. Se já é
árdua a tarefa de captar a atenção de uma criança, imagine
grande é o desafio de conseguir a atenção e se fazer ouvir por
adolescentes que, de certa forma, já possuem uma opinião
formada e que não hesitam em mostrar suas insatisfações
perante aqui que não lhes agrada. Alunos com vontade de
aprender, compenetrados e com vontade de ir para a escola,
pois consideram esse espaço como algo de grande valia, é o
desejo de muitos professores. Por isso, cabe a eles tornar esse
desejo uma realidade. Mas, o que eles estão fazendo para isso
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 243
acontecer? Afinal, não se consegue ensinar aquele que não
quer aprender. É de suma importância que os professores
assumam suas responsabilidades frente a esse fato.
O lúdico proporciona para aquele que o realiza uma
vivência plena de experiência, na qual ele se encontra
totalmente presente, utilizando-se de sua total atenção para o
momento, é algo interno que tem sua exposição no exterior,
algo relacionado ao estado de espirito do praticante que está
totalmente envolto e absorvido pelo momento,
proporcionando uma vivência plena. Por meio dele é possível
melhorar a aprendizagem do estudante, seu desenvolvimento
pessoal, mental, simplificando o processo de socialização do
indivíduo e a construção do seu conhecimento. A atividade
lúdica pode ser pensada também em certos aspectos
subjetivos que retratam emoções; sentimentos, que são
difíceis de serem descritos de forma absoluta devido ao fato
de serem subjetivos, mas que causam uma sensação de bem-
estar. Podemos partir, portanto para essas implicações das
atividades lúdicas na vida escolar e pessoal de nossos
estudantes. O lúdico está relacionado à espontaneidade e
criatividade e também a liberdade dos estudantes. O que nos
vem à cabeça quando pensamos em atividades lúdicas?
Geralmente a imagem que isso nos transmite são a de
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 244
atividades que podem ser realizadas ao ar livre, brincadeiras,
atividades que exigem espontaneidade por parte dos
estudantes, não se relacionando apenas a infância, são
atividades que promovem o desenvolvimento, portanto,
podem estar presentes também na vida adulta. Ela pode ser
direcionada para crianças, jovens, adultos dependendo apenas
da forma como é realizada e os seus objetivos. Atualmente o
lúdico desempenha o papel de transformar a forma de ensinar
em algo mais descontraído e que proporcione prazer. É uma
forma de aprender brincando. E como envolve não apenas o
indivíduo, mas também sua objetividade confere a esse tipo
de aprendizagem um caráter significativo.
O lúdico pode e deve estar presente em todas as fases
da vida do estudante muito mais como uma necessidade do
ser humano do que somente uma brincadeira. Durante o
ensino médio, por exemplo, as atividades de caráter lúdico
que serão desenvolvidas serão diferentes daquelas utilizadas
por professores dos primeiros anos iniciais, visto que os
objetivos são diferentes. O lúdico traz para o ensino e
aprendizado o prazer na construção dos conceitos e no
desenvolvimento intelectual dos jovens, além de colaborar
para a aprendizagem como um todo. Alguns professores
atingem um percentual maior de conquistas dentro de sala de
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 245
aula ao reconhecerem a importância da utilização de
atividades lúdicas em suas metodologias.
O ensino de Sociologia
Para iniciarmos a discussão acerca do ensino de
sociologia, considero importante falarmos um pouco de sua
trajetória enquanto disciplina. Além de entender do que trata a
sociologia, seus pressupostos, seus objetivos, precisamos ter
clareza sobre quais são as bases que norteiam o ensino da
disciplina.
A Sociologia enquanto disciplina se constituiu
oficialmente com Emile Durkheim, considerado seu pai
fundador. Durkheim foi o responsável por ministrar o
primeiro curso de Sociologia em Bordeaux, na França, marco
importante na história da disciplina. A sociologia, segundo
Martins (1984), constitui em certa medida uma resposta
intelectual às novas situações colocadas pela revolução
industrial. Alguns de seus temas de análise e de reflexão
foram retirados das novas situações, como, por exemplo, a
situação da classe trabalhadora, o surgimento da cidade
industrial, as transformações tecnológicas, a organização do
trabalho na fábrica etc.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 246
Porém, aqui no Brasil a sua instituição como uma
disciplina cientifica ocorreu bem mais tarde, como nos mostra
Enno D. Liedke Filho, 2005:
A institucionalização acadêmica da Sociologia
no Brasil ocorreu em meados da década de
1930, com a criação da Escola Livre de
Sociologia Política de São Paulo (1933) e com
a criação da Seção de Sociologia e Ciência
Política da Faculdade de Filosofia da
Universidade de São Paulo (1934). As
tentativas, de relacionar o ensino e a pesquisa
em Sociologia, ainda que limitadas e parciais
em ambas as instituições, demarcam o início
da chamada etapa da Sociologia Científica, a
qual viria a ter seu apogeu em fins dos anos de
1950 (LIEDKE FILHO, 2005. p. 382).
Um longo caminho, porém, foi percorrido até a
Sociologia conseguir atingir o status de disciplina obrigatória
no currículo básico do ensino médio brasileiro, repleto de
dificuldades e frequentes fases de interrupções. A sua
institucionalização como disciplina obrigatória no currículo
do Ensino Médio é algo muito recente, compreendendo um
período de menos de um século, sendo oficialmente disciplina
obrigatória em todas as séries do Ensino Médio apenas em
2008, por meio da Lei 11.684 de 2008. A discussão acerca da
sociologia como componente obrigatório no currículo escolar
passou por diversos altos e baixos, como o ocorrido em 2001
quando o sociólogo e então presidente da republica, Fernando
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 247
Henrique Cardoso, que vetou o projeto aprovado pelo
Congresso Nacional que estabelecia o retorno das disciplinas
de Sociologia e Filosofia no currículo do Ensino Médio.
Eventos como esse trazem uma explicação para o fato do
baixo interesse dos estudantes e pesquisadores em relação à
sociologia. A maior parte dos artigos e estudos produzidos
abordam a sociologia analisando apenas a sua difícil
trajetória, enquanto apenas alguns escassos estudos abordam
questões importantes como as discussões metodológicas, os
diálogos a respeito de seus conteúdos estruturantes e sua
bibliografia básica a importância das formações para melhorar
o desempenho desses profissionais em sala de aula.
É importante compreendermos também do que se trata
essa matéria. O questionamento a respeito do que é a
sociologia é feito constantemente pelos estudantes do Ensino
Médio, principalmente por aqueles alunos dos anos iniciais, É
de fundamental importância que o professor consiga definir
de uma maneira satisfatória a sua disciplina frente aos alunos,
assim se espera de um professor de biologia, por exemplo.
Mas, ao contrário da biologia, a sociologia ainda é marcada
por um “mistério”; não se tem ao certo uma definição
específica do que seja essa disciplina. Consequentemente isso
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 248
aumenta o desinteresse por parte dos alunos com a disciplina,
pois todos gostamos de saber com aquilo que iremos lidar.
A Lei 11.684 de 2008 trouxe o suprimento do inciso
III do § 1º do artigo 36 da LDB, que transfere à disciplina de
sociologia a responsabilidade da formação para a cidadania.
Segundo esse inciso, caberia às disciplinas de sociologia e
filosofia, até o final do Ensino Médio, ensinar aos estudantes
os conteúdos considerados necessários para o exercício da
cidadania, bordão esse que continua sendo muito difundido
quando se fala na sociologia e no seu caráter transformador da
sociedade. O inciso da LDB foi suprimido, no entanto,
discursos como esse continuam sendo disseminados, o que
torna mais difícil a tarefa de superarmos o “ensinar para a
cidadania” e avançamos para uma discussão mais
aprofundada a respeito das metodologias e dos conteúdos
essenciais a serem trabalhados. Importante ressaltar também,
o fato comumente atribuir a à cidadania um caráter pré-
estabelecido dentro da sociedade do qual o indivíduo não
participará do processo de constituição, mas que será formado
a partir desses moldes por meio do Ensino Médio e, ao final,
estará capacitado para exercê-la caso tenha aprendido os
conteúdos considerados necessários, retirando, assim, o
caráter de participação ativa do cidadão no processo de
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 249
formação da cidadania. Esse cidadão pensado/idealizado a
partir de uma imagem formada pela classe dominante e de
acordo com os interesses dessa classe, no sistema atual de
produção em que vivemos: o sistema capitalista. Nesse
sistema, cujo objetivo principal é o lucro, os cidadãos que
serão formados deverão se enquadrar nessa realidade. Ou seja,
os cidadãos preparados a que se referem são aqueles que o
mercado de trabalho necessita e que irão fazer girar a máquina
da economia e a manutenção do sistema.
Mas afinal, do que se trata a sociologia uma vez que é
considerado equivocado analisá-la como uma formadora de
cidadãos? A sociologia em si é algo contraditório: para alguns
é como uma arma que se presta a determinada classe (a
dominante) para divulgar seus ideais e interesses; para outros,
é uma expressão dos movimentos revolucionários, é
considerada também um disfarce para a revolução e a teoria
marxista. Podemos, portanto, considerar a sociologia uma
disciplina responsável por trazer reflexões sobre a sociedade,
sua realidade e conflitos sociais.
A sociologia é, primeiramente, uma ciência que possui
uma linguagem própria. Ela estuda o indivíduo e o
comportamento humano, dando sentido as suas ações com
relação ao meio social e natural no qual está inserido; e
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 250
também em relação às associações e grupos de pessoas com
as quais estabelece vínculos, observando e analisando de uma
forma crítica essa interdependência entre os indivíduos. Desse
modo, os conhecimentos de sociologia são em grande medida,
necessários na vida cotidiana das pessoas, uma vez que
colaboram para uma melhor compreensão dessas relações
com as quais se deparam diariamente e que são frutos dessas
relações sociais.
É importante, que o professor consiga deixar claro que
o objetivo da disciplina não é “formar cidadãos”. Tampouco
se limitar apenas ao ensino de conceitos e teorias das ciências
sociais. Mas que sua importância consiste em seu caráter
prático na vida dos estudantes, em poder explicar o papel do
indivíduo dentro da sociedade e de provocar um
estranhamento nesse indivíduo, possibilitando, assim, que este
questione a sua condição, a sua realidade de forma mais
crítica e autônoma.
O ensino de sociologia se baseia em alguns conceitos
que orientam a prática de ensino, como o conceito de
“desnaturalização” e o de “estranhamento”, presentes na
Orientação Curricular Nacional (OCN) de Ciências Humanas.
Podemos, ainda, acrescentar também um terceiro conceito que
remete a Antropologia: o conceito de “alteridade”.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 251
Continuamos a discussão abordando a questão da
“desnaturalização” dos processos e fenômenos sociais, um
dos principais papéis vivenciados dentro do pensamento
sociológico. Mas o que significa desnaturalizar? Quem afinal
nunca ouviu que determinada coisa é assim por que é
“natural” ao se referirem a determinado fato? Há uma
tendência muito comum que deve ser evitada a todo custo
pelos sociólogos: o de naturalizar as coisas sem fazer uma
reflexão sobre os fatos. Costumamos dar algumas explicações
já naturalizadas para determinados fenômenos e fatos,
tomando-os (como (verdadeiros e imutáveis) algo natural e
imutável. Como se isso sempre fora assim, negando, desse
modo, sua historicidade, sua volatilidade e também os
motivos que os levaram a ser dessa forma. Esquecendo,
muitas vezes, que são realizações humanas e que, portanto,
estão sujeitas a modificações (constantes). Assim como a
cultura, que não é estática e (está em constante movimento e
transformação. Outro papel desempenhado pela sociologia é o
“estranhamento”. Estranhar é olhar e analisar fatos
corriqueiros do nosso dia a dia, para os quais não damos
muita importância. É olhar de modo diferente do habitual,
procurando descobrir as suas reais causas e explicações, por
mais banais que possam parecer. É um olhar mais atento e que
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 252
leva em consideração as explicações para determinado fato,
sem aceita-lo porque simplesmente é assim, mas procurar uma
explicação racional. Por exemplo: até mesmo o surgimento de
um arco-íris apresenta uma explicação científica, portanto,
devemos entender que para tudo há uma explicação e esta
deve ser buscada pelo sociólogo. Ao “estranhamento” e à
“desnaturalização”, Parmigiani e Dombrowski (2013)
acrescentam outra noção que não consta nas OCNs, mas que é
de suma importância: a noção de “alteridade”. A alteridade é
poder olhar o outro e enxergá-lo em suas diferenças, de
maneira não valorativa; sem atribuir-lhe uma escala de
importância. Existem milhares de culturas diferentes, cada
uma com suas particularidades e valores, que vivenciam
realidades diferentes. Cada uma delas é fruto de uma
transformação histórica própria. Assim, alteridade é aprender
a olhar esse outro, conseguir se enxergar nele e aprender a
lidar com essas diferenças.
Por que trabalhar com as abayomis?
Como já mencionamos no capítulo anterior há uma
grande necessidade de se trabalhar a noção de alteridade
dentro da disciplina de sociologia. Desta forma, podemos
fazer uma junção com a temática do preconceito racial,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 253
abordando as suas origens e implicações atuais. Entendemos
que discussões como essa são importantes diante da realidade
brasileira e também de diversos países; pois há uma enorme
relutância por parte dos brasileiros em admitir que de fato,
somos um povo racista. O processo de miscigenação ocorrido
na formação do povo brasileiro, que resultou em um país
formado por uma grande mistura de raças, trouxe a falsa ideia
de uma democracia racial, como se a miscigenação fosse
indicativo de que somos um país inclusivo e sem
preconceitos.
O que ocorre no Brasil é uma dificuldade das pessoas
de se admitirem preconceituosos. Mesmo que suas ações e
atitudes inconscientes demonstrem ao contrário, sua prática é
sempre atribuída a outrem. Quem nunca ouviu alguém falar
“eu não sou racista, mas conheço alguém que é”? É difícil
negar que não existe racismo no Brasil. O que ocorre é que
muitas vezes esse racismo vem disfarçado e não acontece de
uma maneira explícita, dificultando sua identificação. É o
chamado preconceito/racismo velado, que causa tantos danos
quanto se fosse mais manifestado. Vivemos, portanto, uma
falsa ilusão de democracia racial, como se todos fossem
tratados da mesma forma, sem exclusões.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 254
O racismo nada mais é do que resultado de um
processo histórico de exploração da mão-de-obra dos povos
africanos pelos colonizadores, que remete aos tempos da
escravidão: os povos negros foram sequestrados, arrancados
de suas raízes força no século XVI, sofrendo assim uma
brusca ruptura com suas culturas e identidades, sofrendo
diversos tipos de violência física, psicológica e todo tipo de
humilhações às quais foram submetidos. Inclusive de
perderem o direito de fazer escolhas por conta própria e o
direito sobre a sua própria vida. Os negros capturados no
continente africano eram transportados de navio até o
continente americano, os chamados navios negreiros. Muitos
não conseguiram suportar a difícil travessia e acabaram
morrendo antes de aportarem no Brasil; aqueles que
conseguiam chegar com vida eram torturados, vendidos como
mercadoria e obrigados a trabalhar nas propriedades rurais de
seus donos.
O Brasil foi o último país da América a abolir a
escravidão. Chegou a ter a maior parcela da sua população
constituída por escravos negros. Mesmo após a abolição, não
conseguimos nos livrar totalmente dessa herança de violência
e preconceitos cometidos contra a população negra. Mesmo
após a maior implementação de políticas de cotas que visam
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 255
ressarcir aos negros seus direitos básicos, estes ainda são
delegados aos cargos mais subalternos, com menor
remuneração que continuam a legitimar seus lugares junto à
pobreza. Além do difícil acesso a uma boa educação, o que
contribui ainda mais para a manutenção das desigualdades
entre negros e brancos.
A discriminação racial é caracterizada por atitudes
preconceituosas e discriminatórias de indivíduos que
consideram a sua etnia superior em relação às outras.
Consiste em inferiorizar alguém por ser de outra cor ou etnia,
com a finalidade de impedir ou dificultar o exercício de
igualdade. Já o preconceito se refere à discriminação, porém
ele não é exteriorizado. Mas o que isso tem a ver com a noção
de alteridade? Pois bem, entender a alteridade é saber
respeitar o outro em sua diversidade. Portanto, alguém que
age de forma discriminatória com relação a outrem, não está
respeitando o fato de não sermos todos iguais e de que o
diferente existe e convive no meio de nós. A escola como um
espaço de formação dos estudantes deve se comprometer em
ensinar os seus alunos a relação entre a pluralidade de culturas
existentes e a tolerância, respeito e aceitação do diferente. O
preconceito está presente em nossa sociedade também por
meio de estereótipos e frases populares de cunho racista,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 256
como “negro é igual urubu, só presta longe”, “a coisa tá
preta”, “serviço de preto” entre outros.
As bonecas abayomi
Como já mencionado ao longo desse artigo, é
importante para os professores desenvolverem o hábito de
levar para a sala de aula atividades lúdicas, pois suas
vantagens vão desde melhorar a relação professor/aluno até
mesmo facilitar a assimilação dos conteúdos pelos estudantes,
tornando a aula mais prazerosa, retirando-os da monotonia
causada pelas aulas exclusivamente expositivas.
Mencionamos que é interessante também se discutir dentro da
disciplina de sociologia a noção de alteridade e suas
implicações, aliando-a com a discussão da temática racial.
Decidimos então conciliar as duas coisas em uma agradável
oficina de produção de bonecas Abayomi. Essa oficina foi
voltada para estudantes do ensino médio, uma turma de 3° ano
matutino. Essa oportunidade nos foi proporcionada por
intermédio do Pibid de sociologia - Projeto Institucional de
Bolsas de Iniciação à Docência, cuja verba custeou a compra
de todo material utilizado na oficina.
As bonecas Abayomis são pequenas bonecas negras
feitas de pano. Simbolizam a resistência, tradição e poder
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 257
feminino negro: Abayomi em ioruba significa “encontro
precioso”. Possuem uma história bem interessante, pois
originam-se nos “pedaços de panos das roupas das mães
africanas, que as utilizavam para diminuir o sofrimento de
seus filhos nos navios negreiros” (PERINI, BELLÉ, 2011,
P.680) durante o transporte dos negros da África para o
Brasil. Levar as Bonecas Abayomis para sala de aula foi uma
forma encontrada para também mostrarmos aos alunos um
pouco da cultura dos povos africanos e uma das formas de
resistência encontrada por essas mulheres na tentativa de
amenizar o sofrimento de seus filhos.
Desenvolvemos a oficina como um recurso didático
para encerrarmos o conteúdo que trata do preconceito étnico-
racial, e também como uma forma de demonstrarmos a
valorização da cultura africana como parte de nossa herança
cultural.
Passo- a- passo para fazer uma boneca Abayomi conforme
ensinado para os alunos:
Materiais:
• Um retângulo em tecido preto de 24x12 cm;
• Um retângulo preto de 24x5cm;
• Um retângulo em tecido colorido com 14x8 cm;
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 258
• Duas tiras de tecido finas e coloridas.
Como fazer:
• Primeiro deve-se pegar o retângulo maior e segurar bem
firme umas das pontas;
• Depois dê um nó, deixando para cima do nó uma pequena
ponta;
• Dobre a parte de baixo que sobrou ao meio e faça nela um
corte até a metade do tecido, mais ou menos, para fazer as
perninhas da boneca;
• Dê um né em cada perna, se o nó ficar no meio, puxe até
ficar na ponta;
• Agora pegue o outro retângulo preto e dobre ao meio no
sentido de seu comprimento duas vezes;
• Coloque a tira atrás da boneca e dê um longo nó abaixo da
cabeça;
• Dê um nozinho na ponta de cada braço;
• Peque o pedaço de pano colorido e dobre ao meio duas
vezes;
• Corte a pontinha da dobra;
• Vista sua boneca e amarre com uma fitinha na cintura e
outra na cabeça da boneca.
Agora presenteie alguém com a sua Abayomi, ela irá
proporcionar sorte para aquele que a receber.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 259
Considerações finais
O presente trabalho teve como objetivo demonstrar a
importância de realizar atividades mais diferenciadas em sala
de aula, enxergando o lúdico como uma alternativa para fugir
da monotonia causada por aulas puramente expositivas e
tornado assim a aula mais dinâmica e prazerosa para os
estudantes. As vantagens de se trabalhar com o lúdico são
inúmeras, elas vão desde a melhoria da atividade cognitiva ao
aumento de seu interesse perante aos conteúdos ensinados
etc., além de funcionarem como um potencializador de
aprendizado. Embora o lúdico seja associado ao jogo, à
brincadeira, não são atividades desprovidas de proposito,
realizadas apenas para divertir os estudantes, pelo contrário,
apresentam objetivos definidos como auxiliar no aprendizado
dos estudantes e colaborar com o professor como um recurso
metodológico, podendo ser utilizado como recurso didático
em todas as fases do ensino, e não somente no campo da
educação infantil, auxiliando até mesmo nas aulas de
sociologia.
Tendo em vista as vantagens de se trabalhar com o
lúdico em sala de aula, resolvemos utilizá-lo nas aulas de
sociologia por intermédio do Pibid de Sociologia, com a
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 260
realização de uma oficina de produção das bonecas negras
Abayomi. A atividade foi realizada na turma de 3° matutino
com o objetivo de ensinar a respeito da cultura africana,
mostrando uma forma de valorização dessa cultura. Pudemos
constatar por meio dessa oficina que ela melhorou a forma
como os alunos enxergavam aquilo que provém da cultura
africana, provocando neles um sentimento de respeito e
tolerância com relação a cultura negra. Outro fato interessante
é que os alunos (meninos e meninas) “brincaram” de boneca
de uma maneira totalmente desprovida de preconceitos,
levando em consideração que as bonecas são atribuídas
socialmente as meninas, sendo os meninos desde pequenos
privados de brincadeiras que as envolvam, utilizaram assim
toda a criatividade, rompendo com o preconceito de gênero.
Conclui-se, portanto, que essas atividades enriquecem cada
vez mais as atividades dos docentes e devem ser utilizadas
sem receio pelos professores como uma ótima ferramenta
auxiliar em suas aulas.
Referências
BRASIL. Lei nº 11.684. Altera o art. 36 da Lei n. 9.394, de 20
de Dezembro de 1996, para incluir a Filosofia e a
Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 261
ensino médio. Brasília, Presidência da República, 02 jun.
2008.
BRASIL. Ministério da Educação. Orientações Curriculares
para o Ensino Médio – v. 3, Ciências Humanas e Suas
Tecnologias. Brasília: MEC/SEB, 2006.
HUIZINGA, J. Homo Ludens. São Paulo: Perspectiva, 1990.
LIEDKE FILHO, E. D. A Sociologia no Brasil: história,
teorias e desafios. Sociologias, Porto Alegre, ano 7, nº 14,
jul/dez 2005, p. 376-437.
MACÊDO, S. M. de. Psicologia Clínica e Aprendizagem
Significativa: Relatando uma Pesquisa Fenomenológica
Colaborativa. IX Encontro Nordestino da Abordagem
Centrada na Pessoa. Valença/BA, 21 a 25 de abril de 1999.
MARTINS, B. C. O que é Sociologia. Brasiliense, 1984.
PARMIGIANI, J.; DOMBROWSKI, O. O Alfabetismo
Sociológico: Uma Contribuição para o Debate sobre o Ensino
de Sociologia. Tempo da Ciência, v. 20, n. 40, 2° semestre
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PERINI, J.; BELLÉ, L. Bonecas Abayomi e Duchamp:
reflexões multiculturais a partir de um currículo inclusivo.
In: Anais do Encontro da Associação Nacional de
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 262
Pesquisadores em Artes Plásticas. GERALDO, S. C.; DA
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SAVIANI, D. Escola e democracia, 33. ed. Campinas,
Autores Associados, 2000.
SOUZA, M. V. L.; LOPES, E. S; SILVA, L. L. da.
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Revista de C. Humanas, Viçosa, v. 13, n. 2, p. 407-420,
jul./dez. 2013.
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 263
A ARQUEOLOGIA DO DISCURSO NAS RESENHAS DE
NOTÍCIAS DO GRUPO PIBID DE SOCIOLOGIA1
Marco Antonio Arantes2
Introdução
Quando o subprojeto de Ciências Sociais iniciou suas
atividades em 2014, foi colocado em prática às primeiras
propostas colocadas no plano de trabalho do projeto original,
cujo foco era a inserção dos bolsistas no ambiente escolar e a
gradual iniciação à docência, relevando o treinamento de
oficinas de Sociologia que seriam realizadas nas escolas do
Ensino Médio selecionadas pelo projeto.
Duas dimensões seriam exaustivamente exploradas
pelos 23 bolsistas e 3 supervisores selecionados para iniciar o
projeto: a ideia de estranhamento e a desnaturalização do
conhecimento. Para isso, elegemos as publicações advindas de
diversas mídias como matéria prima nas problematizações em
sala de aula.
1 Trabalho realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes), entidade do governo brasileiro voltada
para a formação de recursos humanos. 2 Coordenador do subprojeto Pibid de Ciências Sociais/ Campus de Toledo
Toledo
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 264
Essa atividade seria o ponto de partida para várias
problematizações no campo da Sociologia, Antropologia e
Política. E os temas escolhidos pelos bolsistas foram os mais
diversos. Na maioria das vezes, eram temas atuais que
incitavam o debate, desde crimes comuns do cotidiano das
grandes cidades às questões ligadas a arte, gênero, política,
trabalho, movimentos sociais, enfim temas que estavam sendo
veiculados na mídia impressa e eletrônica.
O projeto tinha como meta explorar o discurso e as
novas demandas nos processos de comunicação e que
promovem novas percepções do mundo. De certa forma,
[...] a virtualidade das novas mídias está
acarretando novas maneiras de aprender e de
ensinar, nas quais as dimensões de tempo e
espaço são percebidas como mais flexíveis e
mutáveis e a imensa quantidade de
informações é transmitida velozmente,
desafiando, portanto, a educação a ter um
novo papel e pensar novas práticas para novas
demandas” (OLIVEIRA; COSTA, 2009, p.
157).
Inicialmente intitulado de “Resenha de Notícias”, é
considerada a principal atividade metodológica no projeto,
concomitante ao desenvolvimento de regências e oficinas nas
escolas do Ensino Médio. A dinâmica de apresentação de uma
notícia em sala de aula foi sobretudo aproveitada por bolsistas
iniciantes no projeto e com pouca experiência em sala de aula,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 265
que são acompanhados por bolsistas mais experientes e por
seus supervisores. O objetivo era fazer o aluno desenvolver
um conceito e/ou teoria sociológica tendo como referência
uma notícia de jornal escolhida pelo próprio bolsista ou pelos
estudantes. Até mesmo foi criado um portal de notícias para
que os estudantes sugerissem notícias para as próximas aulas.
O tempo de desenvolvimento entre dez aos vinte minutos,
possibilitaria nessa fase inicial um aprendizado necessário
para aulas didáticas mais elaboradas e com um tempo mais
prolongado. Embora fosse estipulado um tempo para a
realização da atividade, na maioria das vezes as discussões se
estendiam para além do previsto.
Para colocá-la em prática optamos por reuniões
semanais nas escolas entre supervisores e bolsistas que foram
divididos nas três escolas selecionadas pelo projeto. As
reuniões partiam do princípio de organização das atividades e
distribuição das duplas, visto que optamos por aulas
ministradas em duplas e não apenas aulas individuais. Era
uma forma de dinamizar as aulas e não sobrecarregar as aulas
de Sociologia dos supervisores e uma forma de flexibilizar o
acesso do bolsista que estava iniciando suas atividades, muitas
vezes inseguro para ministrar um tema com uma sala lotada
de alunos. Era um facilitador, mas ao mesmo tempo um
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 266
elemento importante na sua aprendizagem e
metodologicamente pensado para o melhor desenvolvimento
dos conteúdos e postura em sala de aula.
É importante ressaltar que notícias de jornais não
substituem os livros, conceitos, teorias e temas, muito menos
visa impossibilitar que o bolsista desenvolva futuras regências
individuais, embora incite discussões sobre o alcance das
teorias para o entendimento da atualidade.
Um ponto de partida das resenhas é trabalhar com
notícias de jornais, questionando o senso comum e as ideias
contidas por trás do discurso, utilizando categorias
sociológicas. Afinal, todas as ideias são ideias feitas? Como
acontece a construção das ideias? O que existe por trás de um
discurso jornalístico? Há interesses políticos, econômicos e
morais incrustrados em tais discursos? Quais os limites do
senso-comum? O senso comum está completamente afastado
da ciência? Todo discurso é inerente a uma mentira e a uma
mistificação? Por que é tão importante reinterpretarmos
notícias de jornais?
Ocupo-me da concepção foucaultiana sobre discurso
para iniciar uma discussão sobre a importância da análise dos
discursos em sala de aula. Foucault compreende a dificuldade
de uma definição precisa de discurso. Mas o que Foucault
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 267
entende por discurso? Em “Arqueologia do Saber” (1969), ele
ensaia uma pequena definição de discurso, “ora domínio geral
de todos os enunciados, ora grupo individualizável de
enunciados, ora prática regulamentada dando conta de um
certo número de enunciados” (FOUCAULT, 1987, p. 90).
Uma teoria sociológica pode concordar e discordar das
premissas de um discurso. Pode discordar e criticá-las. Mas o
ponto não passa apenas por uma concordância. Seu ponto
chave é estimular um debate fazendo uso de categorias
sociológicas, antropológicas e políticas apresentadas nas
disciplinas do curso de Ciências Sociais.
O objetivo é desconstruir o discurso. Ao mencionar o
termo desconstrução do discurso refiro-me aos enunciados
que estão em suas entrelinhas. Até mesmo o sujeito do
discurso pode estar em suas entrelinhas e nem sempre ele se
revela. Ele, no entanto, pode dar um novo sentido ao que foi
dito, escrito, pintado ou gesticulado. Há várias formas de
linguagem do discurso que pode incitar interlocuções. Em um
discurso pode haver uma defesa corporativa de uma classe
social, de uma minoria, de uma etnia, de um grupo político e
de uma seita religiosa. Em todos eles se encontra valores que
estão submersos. O que está por trás desses discursos? Pode
existir uma defesa de uma posição ideológica, de uma
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 268
tendência política, de um modo de se vestir, de uma moral
vigente, uma defesa aberta da liberdade de expressão, uma
crítica a grupos extremistas, a defesa de valores tradicionais e,
entre outras coisas, a defesa da família e dos “bons costumes”,
concomitantemente a manutenção de interesses de grandes
grupos econômicos.
Ter colocado em práticas a análise de discursos na
disciplina de Sociologia no Ensino Médio, por intermédio de
programa de Iniciação à Docência, permitiu aos bolsistas uma
abertura para desenvolver e aplicar teorias sociológicas,
políticas e antropológicas em sala de aula, promovendo a
aproximação entre o bolsista e o aluno. No mais, ele permitiu
o planejamento de cada atividade, de cada apresentação, seja
em grupo ou individualmente, dando-lhes uma ideia de
pertencimento e coletividade na construção do conhecimento.
A troca de informações sobre o meio social é compartilhada
em grande medida com os estudantes, a identificação de
pontos de vistas aparentemente ofuscados pela falta de
comunicação e o embate com posições políticas que implicam
em divergências resultaram em uma desconstrução do
discurso pelas teorias sociológicas.
Não se trata de validar um discurso, nem de
imposição, mas de discussões que visam causar uma ideia de
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 269
estranhamento sobre os fatos, mostrando que nem tudo é tão
concreto e consensual como aparentemente é divulgado nos
meios jornalísticos e na mídia eletrônica.
O intuído da “Resenha de Notícias” não foi explorar a
diversidade de discursos que remetem a determinadas
realidades sociais apenas por uma via formal e linguística. Se
levarmos em conta uma concepção foucaultiana do discurso
ele reproduz
um certo número de cisões historicamente
determinadas (por exemplo, a grande
separação entre razão/desrazão): a ‘ordem do
discurso’ própria a um período particular
possui, portanto, uma função normativa e
reguladora e coloca em funcionamento
mecanismos de organização do real por meio
da produção de saberes, de estratégias e de
práticas (REVEL, 2005, p. 37).
Mas de quais saberes estamos nos referindo? No
referimos aos enunciados que estão na estrutura de um
discurso. Não se deve, entretanto, pensar que os enunciados
são coisas ruins e negativas. Eles apenas expressam uma
história subjacente ao seu sentido. Ver os discursos por um
ângulo binário seria uma redução do seu significado. Ele
também possui coisas positivas, e nem sempre as coisas
positivas são escancaradas.
Eles são difusos e heterogêneos e não estão na
superfície do discurso. Eles não operam no mesmo sentido
que uma língua. Não há clareza na linguagem e nem sempre é
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a clareza que explica os enunciados dos discursos, mas as
funções dentro de um discurso. Segundo Foucault, onde existe
uma frase, existe um enunciado, mas isso não significa dizer
que eles sejam equivalentes ou que possuam a mesma
estrutura linguística. No entanto, afirma ser difícil fazer uma
definição de enunciado.
Se não houvesse enunciados, a língua não
existiria, mas nenhum enunciado é
indispensável à existência da língua (e
podemos sempre supor, em lugar de qualquer
enunciado, um outro enunciado que, nem por
isso, modificaria à língua). A língua só existe
a título de sistema de construção para
enunciados possíveis; mas, por outro lado, ela
só existe a título de descrição (mais ou menos
exaustiva), obtida a partir de um conjunto de
enunciados reais. Língua e enunciados não
estão no mesmo nível de existência
(FOUCAULT, 1987, 96-97).
Informações podem ser manipuladas com frequência,
mas nem tudo é manipulado. O fato de não ser manipulado
não implica na clareza ou na verdade de um discurso. Mas se
um discurso é manipulado é porque ele pode conter
determinados interesses. O mesmo também pode ocorrer em
um discurso que não é manipulado. Não importa o tom e a
estrutura linguística. Discursos são oscilatórios e podem ser
direcionados e controlados.
Discursos podem conter dados econômicos, índices de
desenvolvimento humano, quantidades variadas de quaisquer
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coisas, pesquisas eleitorais; locais e personagens, podem
aparecer e desaparecer fatos e acontecimentos. Foucault até
mesmo questiona se a pronuncia de um alfabeto não seria um
discurso. Reportagens podem omitir fatos e alterar
informações. Outras podem dizer tudo e não esconder fatos.
Cabe perguntar se há uma critica a essas informações que
chegam ao leitor e/ou expectador. Há uma autocritica? Qual o
alcance de um discurso? Ele pode alterar uma ordem social?
Ele tem um caráter formativo ou apenas informativo?
Há uma duplicidade no discurso. Se há nele uma
gramática, um formalismo e uma linguística, há também
enunciados em sua estrutura e enunciações que justificam a
sua existência. Há sempre algo a mais em sua estrutura. E não
necessariamente uma maquinação, mas uma história, camadas
de história. O discurso é um acontecimento que não se esgota
completamente na escrita, e sua matéria prima é a história.
A análise de discursos tornou as atividades de resenha
mais instigantes, pois se procura não apenas um sentido para
uma notícia, mas a história que está por trás dela. E quando se
fala em história, não estamos necessariamente nos referindo a
uma história narrativa.
Se os discursos são duplos eles também podem ser
triplos. Discursos não se reduzem a número e dados
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quantitativos. Dispositivos se diluem em sua estrutura e se
aplicam na prática. Discursos são materializados e
direcionados para muitos propósitos. Não se resume a uma
língua/fala, mas a uma relação entre saber/poder,
considerando-se uma concepção foucaultina de discurso.
Ao invés de uma simples subjetividade subjacente no
discurso de quem fala e se expressa na escrita, há também um
conflito que provoca resistência nas suas funções. Em
Foucault, o tema do discurso está intrinsicamente articulado
ao tema da Arqueologia, o que significa a emergência de uma
metodologia para analisa-lo e pensa-lo.
E o discurso pode estar presente em diversas
atividades em sala de aula. Uma sala de aula fala por si
mesmo. A sua estrutura física é subjacente de um discurso. E
o corpo também se manifesta pelo discurso. O corpo que fala,
soa, luta, sente, protesta e também elabora enunciados. Um
corpo tem história. Em oficinas de ensino em que o corpo é
utilizado com o manuseio de roupas, tecidos, sapatos,
chapéus, encontramos um número significativo de discursos
ligados e entrelaçados com a realidade social. Vale lembrar,
para Foucault os discursos estão associados aos dispositivos
de poder, ou seja, está associado às questões ligadas à
genealógica e à ética. Significa que o modo como opera um
discurso não se restringe a palavras e livros, mas também a
história. “Um discurso não pode encerrar-se nos limites
materiais do livro; para além do começo, do título e das linhas
finais, está implicado um conjunto de referências a outros
discursos e a outros autores” (CASTRO, 2016, p. 118). Ou
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seja, nem os discursos e nem os enunciados se limitam a um
conjunto de signos com modalidades particulares. O signo por
si só não explica o enunciado de um discurso. Ele vai além
disso. Não basta
[...] que os signos de uma língua constituam
um enunciado, uma vez que foram produzidos
(articulados, delineados, fabricados, traçados)
de um modo ou de outro, uma vez que
apareceram em um momento do tempo e em
um ponto do espaço, uma vez que a voz que
os pronunciou ou o gesto que os moldou lhe
deram as dimensões de uma existência
material? Será que as letras de um alfabeto
por mim escritas ao acaso, em uma folha de
papel, como exemplo do que não é um
enunciado, será que os caracteres de chumbo
utilizados para imprimir os livros – e não se
pode negar sua materialidade que tem espaço
e volume -, será que esses signos, expostos e
visíveis, manipuláveis, podem ser
razoavelmente considerados como
enunciados? (FOUCAULT, 1987, p. 97).
Se nos remetermos as atividades realizadas pelos
bolsistas do subprojeto de Ciências Sociais nas três escolas
que participam do projeto, encontraremos propostas de
oficinas ligadas ao corpo e ao vestuário. O uso de técnicas
teatrais, de performances, de música e até mesmo a regência
nos moldes tradicionais com o uso da lousa exploram aspectos
do discurso. Eles podem ser considerados elementos
importante para se provocar o estranhamento e a
desnaturalização do conhecimento. Vale lembrar que “o
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discurso e a figura tem, cada um, seu modo de ser; mas eles
mantem entre si relações complexas e embaralhadas”
(FOUCAULT, 2013, p. 83).
Mas a análise de um discurso não se resume apenas a
desnaturalização e ao estranhamento, pois provoca um
tensionamento e uma resistência ao poder, redimensionando
um embate de forças de corpos dentro de um conjunto de
técnicas. Atividades como essa questionam esquemas de
comportamento e até mesmo a eficiência de pedagogia
vigente.
Há controles internos e discursos que são amplamente
divulgados pela mídia, exercendo controles que fluem sobre
outros discursos de forma negativa. Discursos são sobrepostos
uns sobre os outros. Há um esforço de excluir discursos e
discursos que se pretendem hegemônicos, o que impossibilita
a comunicação heterogênea entre os vários discursos.
Discursos são descontínuos, mas também podem ser
contínuos, podem ser institucionais e organizacionais. O que
há em comum entre eles é a dispersividade dos enunciados.
Ao se realizar oficinas, regência e resenhas de notícias
sobre temas como terceirização e o impacto no mundo do
trabalho, oficinas de técnicas de charge, violência simbólica,
coronelismo, teoria sociológica, violência física contra as
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mulheres, cultura de rua, gênero, exposição fotográfica de
artesanatos indígenas, movimento social, etc, não foi buscado
apenas o lado obscuro do discurso, e nem a demonização do
poder. O poder está no discurso e não é necessariamente algo
que deve ser demonizado. Também não é tão relevante aquele
que fala, mas o significado do que diz dentro de determinadas
estratégias de poder e de como opera esse poder. Pode-se
dizer, que dentro de uma concepção foucaultina de poder, o
sujeito que fala deixa de ser responsável pelo discurso ao
enuncia-lo. Isso se deve ao fato de que cada discurso tem sua
interioridade e vários sujeitos, além de carregar uma forte
conotação ficcional, ou seja, “o sujeito que fala é o mesmo
que aquele pelo qual ele é falado” (FOUCAULT, 2009, p.
219)
O fato é que a história nunca está dissociada do
discurso. Ele está sempre em transformação, e não depende do
sujeito para a sua existência. Coisas são ditas dentro de regras
“a linguagem como já estando lá, determina de uma certa
maneira o que se pode dizer, independentemente, ou dentro do
quadro linguístico geral” (FOUCAUT, 2009, p. 404).
Discursos deixam rastros e os rastros podem se
manifestar de múltiplas formas. Em uma sala de aula, o
debate e aprendizagem “são os rastros” que provocam o
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embate de conhecimento, sejam quais forem os
conhecimentos. Portanto, discursos não se resumem a um
idioma, uma forma de linguagem, um texto, uma palestra,
uma fala, mesmo que necessite de regras gramaticais e
técnicas de oralidade para a sua existência.
Pode-se dizer que
O discurso implica uma exterioridade à
língua, encontra-se no social e envolve
questões de natureza não estritamente
linguística. Referimo-nos a aspectos sociais e
ideológicos impregnados nas palavras quando
elas são pronunciadas. Vemos, portanto, que o
discurso não é língua(gem) em si, mas precisa
dela, para ter existência material e/ou real”
(FERNANDES, S/D, p. 12).
Isso explica a importância do combate às ideias
prontas e acabadas, aos estereótipos ligados a linguagem, e
que frequentemente são encontradas em jornais analisados
pelos bolsistas. Frases como “lugar de mulher e na cozinha”,
“Deus criou apenas homens e mulheres”, “o brasileiro não
gosta de trabalhar”, “todo político é ladrão”, “sem-terras são
invasores de propriedades”, “a pobreza é natural”, “o trabalho
enobrece o homem”, marcam diferentes posições do sujeito
dentro de um discurso. Delimitar o papel do sujeito e o seu
contexto é reconhecer que “os discursos devem ser pensados
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em seus processos histórico-sociais de constituição”
(FERNANDES, s/d, p. 16).
Quando nos referimos aos meios de comunicação de
massa, nos deparamos com o problema da interlocução e a
interpretação de uma linguagem formal. A utilização de
determinados termos podem dizer muito do sujeito e o alcance
de seu discurso, além de dizer muito do sujeito e da história
desse sujeito.
Um ponto chave das atividades de resenha é o
entendimento da existência social e a história como elementos
importantes em um discurso. Isso significa que
[...] em toda sociedade a produção do discurso
é ao mesmo tempo controlada, selecionada,
organizada e redistribuída por certo número
de procedimentos que tem por função conjurar
seus poderes e perigos, dominar seu
acontecimento aleatório, esquivar sua pesada
e terrível materialidade (FOUCAULT, 1996,
p. 8-9).
Discursos são móveis e podem ser interpretados de
diversas maneiras. Eles são fluídos e acompanham as
transformações sociais e políticas em diferentes contextos e
culturas. Falar em discurso é falar em movimento e em
pessoas falando. E falar implica em interpretações de uma
infinidade de discursos. Discursos podem ser materializados
em atos, gestos, posturas, leis, ensaios, artigos, normas,
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 278
regras, poemas, performances, etc. Há discursos verbais e não
verbais. Uma imagem ou uma pintura incita um discurso.
Quando um bolsista se propõe a fazer uma aula-teatro e/ou
uma participação dos alunos, ele está produzindo novos
sentidos para um tema exaustivamente tratado com o uso de
uma outra metodologia. Ele faz emergir os enunciados de um
discurso.
Nesse sentido, o sujeito da interlocução desempenha
um papel importante na recepção de um discurso. Na maioria
das vezes o discurso preserva o sujeito, com o intuito de se
beneficiar desse instrumento. Há quem o ouve. Dizer a
verdade poderia comprometer, por exemplo, a carreira de um
político e provocar uma crise em seu partido. Daí a
importância do que dizer em público. Não é por acaso que
Foucault considerava a linguística “a matemática de nossos
tempos”. O discurso tem um estatuto de cientificidade, tal
como a matemática. Foucault denomina a Arqueologia dos
discursos como
[...] a ciência das formações discursivas. As
formações discursivas são conjuntos de
enunciados, isto é, segmentos de discursos,
definidos não em sua materialidade de átonos,
mas por sua forma de existência que exclui
qualquer referência a realidades trans-
discursivas. A tarefa da arqueologia é
descrever essas formações discursivas
(ROUANET, 1971, p. 103).
Os enunciados não estão explícitos no discurso, mas
implícitos em sua função da existência. Eles são constituídos
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 279
por objetos, modalidades de enunciação, de sujeitos, conceitos
e escolhas temáticas. Eles constituem os conjuntos de regras
que formam um enunciado. É impossível apanhar um objeto
plenamente em um discurso por causa da variação histórica.
Eles são móveis e devem ser contextualizado
s. Eles seguem regras ditadas pelo tempo. Há vários
exemplos vindo da psiquiatria que confirmam que uma
formação discursiva segue determinados padrões de
conhecimentos aceitos por uma comunidade científica.
As instâncias de delimitação dos discursos definem as
características dos objetos tratados nos discursos. Há vários
tipos de instituições que definem critérios para separar
“cientificamente” vários tipos de comportamentos e
produções discursivas, com o intuito de criar um padrão
discursivo, dentro de critérios classificatórios, normativos,
valorativos, isto é
[...] a unidade de uma formação discursiva é
dada portanto não pelos objetos, que se
transformam continuamente, mas por um
conjunto de relações que permitem ou
excluem certos objetos. E como essas relações
são externas ao discurso, mas aderem a este,
como sua condição de possibilidade, podemos
dizer que os objetos do discurso são
constituídos pelo próprio discurso
(ROUANET, 1971, p. 104).
O tema se desdobra para o sujeito que profere o
discurso e a instituições que está vinculado o sujeito do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 280
discurso. É como se o discurso tivesse uma identidade
institucional. É o que se denomina de estatuto do discurso,
que lhe confere autoridade e uma legitimidade institucional.
A estrutura discursiva envolve até mesmo a percepção
do sujeito sobre o objeto que está falando. A percepção está
vinculada aos seus objetos de trabalho e ao espaço
institucional no qual profere o discurso.
Discursos também estão vinculados aos conceitos,
como uma forma de ordenar os enunciados. Conceitos são
coexistentes aos enunciados. Cada época cria os seus próprios
conceitos dentro de um universo de relações que serão
posteriormente sistematizados e hierarquizados dentro de
determinados temas e/ou escolhas teóricas.
Um discurso não se limita a linguística. Em cada
discurso há uma dimensão histórico-política e a linguística se
inscreve nesse espaço de exterioridades de contradições e
ideologias. Ele é controlado, organizado e redistribuído
através de vários procedimentos cuja função é parte de uma
dinâmica de poder. Não é ocasional que para Foucault o
discurso esteja associado a história, afinal, “Foucault sempre
olhou para a história não em busca do que é central, mas do
que foi jogado para as margens, das práticas e discursos em
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid 2017 281
ruptura com a norma, com a hegemonia, com o majoritário”.
(ALBUQUERQUE JR, 2011, p. 103)
Considerações finais
As resenhas de notícias realizadas pelo Grupo Pibid de
Ciências Sociais remetem aos saberes, enunciados e
formações discursivas por via da imprensa impressa e
eletrônica. Se tornou um espaço importante para o
questionamento do poder. De certa forma pode-se dizer que
“o poder não suporta a ideia de um discurso desenfreado, por
isso estabeleceria certas formas para que o dizer se tornasse
legitimo” (KRUTZEN, 2011, p. 127).
Não há dúvida que ela ajuda a repensar sobre as
relações entre a teoria e a prática, além de problematizar a
transposição do conhecimento da universidade para as salas
de aula do Ensino Médio. No mais, ela incita uma discussão
sobre a escrita e o uso crescente de imagens, questionando a
predominância do livro para a dominância da mídia
eletrônica. É por esta perspectiva crítica que situamos a
importância da análise do discurso como elemento chave da
Resenha de Notícias.
Referências
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