o estandarte divino do conhecimento

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Tradução do livro Bahá'í World Faith: chamado de Seleção dos Escritos de 'Abdu'l-Bahá vol. II; contém 50% de textos inéditos em português; também inclui a Epístola do Ramo, revelada por Bahá'u'lláh, até então, inédita em português.

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‘ABDU’L-BAHÁ

O Estandarte

Divino do

Conhecimento

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Outras Obras de ‘Abdu’l-Bahá:EPÍSTOLA A HAIA

EPÍSTOLA AO DR. AUGUSTE FOREL

EPÍSTOLAS DO PLANO DIVINO

NARRATIVA DE UM VIAJANTE

RESPOSTAS A ALGUMAS PERGUNTAS

SEGREDO DA CIVILIZAÇÃO DIVINA, OSELEÇÃO DOS ESCRITOS DE ‘ABDU’L-BAHÁ

TRIBUTO AOS FIÉIS

ÚLTIMA VONTADE E TESTAMENTO, AColeção PALESTRAS DE ‘ABDU’L-BAHÁ:

· Londres – 1911· Paris – 1911 · Estados Unidos e Canadá – 1912 / A PROMULGAÇÃO DA PAZ

UNIVERSAL

Outras Obras com Escritos de ‘Abdu’l-Bahá:ALICERCES DA UNIDADE MUNDIAL

COLEÇÃO “SELEÇÃO DE ESCRITOS BAHÁ’ÍS”DIVINA ARTE DE VIVER, AORAÇÕES BAHÁ’ÍSREVELAÇÃO BAHÁ’Í, A

BIOGRAFIA SUGERIDA;‘ABDU’L-BAHÁ, O CENTRO DO CONVÊNIO; DE H. BALYUZI

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Compilado por HORACE HOLLEY

“O Ciclo Profético, em verdade findou. A Verdade Eterna veio agora.”

BAHÁ’U’LLÁH

O Estandarte

Divino do

Conhecimento

Seleção de Textos

de ‘Abdu’l-Bahá

Page 6: O Estandarte Divino do Conhecimento

Título original em inglês: Bahá’í World Faith 2009

Editora Bahá’í do BrasilC.P. 108513800-973 – Mogi Mirim – SPwww.editorabahaibrasil.com.brISBN: 978-85320-0194-81ª Edição: 2009Compilação: Horace HolleyTradução: Osmar Mendes (salvo textos publicados anteriormente)Revisão: Coordenação Nacional Bahá’í de Tradução e Revisão do BrasilImpressão: Prisma Gráfica e Editora Ltda, Campinas - SP

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CONTEÚDO

Introdução XI

ABERTURA: Epístola do Ramo 1

CAPÍTULO I: BAHÁ’U’LLÁH, SUA MISSÃO 7A Humanidade Está em Perigo 7Eu vim com Esta Missão 10A Abençoada Perfeição, Bahá’u’lláh 13A Religião é Progressiva 19O Século Radiante 23A Paz Maior 27Homem e Natureza 31Ciência e Desenvolvimento Espiritual 40 Ensinamentos de Bahá’u’lláh 45Os Educadores da Humanidade 48O Estandarte Divino do Conhecimento 52 O Sol da Realidade 55A Fonte de Unidade 59A Vivificação do Espírito 63Existência Espiritual é Imortalidade 66 Unidade Racial, Promessa da Paz Mundial 72Religião e Civilização 74Justiça Industrial 86Paz Universal 90

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CAPÍTULO II: ALMA, MENTE E ESPÍRITO 105A Origem do Homem 105Modificação das Espécies 109O Reino Humano 112Homem e Evolução 117A Natureza Espiritual do Homem 120 Poderes Inatos do Homem 122O Espírito no Corpo 124A Relação do Homem com Deus 126Alma, Mente e Espírito 128Os Cinco Poderes Psíquicos e Espirituais 129 Caráter Inato, Hereditário e Adquirido 130O Nosso Conhecimento de Deus 133A Imortalidade do Espírito 136As Perfeições são Ilimitadas 141A Evolução do Homem no Outro Mundo 144O Progresso Depois da Morte 145Epístola da Pureza 147Deus e o Universo 152

CAPÍTULO III: O TEAR DA REALIDADE 167Seu Esplendor Imortal 167O Novo Paraíso, A Terra Nova 168Primavera Espiritual 169Servir o Reino 171Cumprimento da Profecia 173Arautos de Seu Nome 173O Mundo Está Enfermo 175O Convênio 176Unidade Racial 179O Fogo do Amor de Deus 180Vocês são os Anjos 180

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A Realidade da Ação de Graças 181O Caminho Estreito 181Desapega-te do Mundo 182Levanta-se com Grande Poder 183 Ajuda Divina 184Prova de Nobreza 184A Fonte de Amor 185Fé Objetiva e Subjetiva 185Capacidade Espiritual 186O Amado de Deus 186Se a Pessoa Possui o Amor de Deus 187 O Magneto do Reino 188O Espírito que a Tudo Envolve 188Almas são como Espelhos 189O Mundo da Visão 189Oração é Indispensável 190Voltar-se para o Espírito Santo 191Inspiração do Espírito Santo 192O Intermediário 192O Espírito de Fé 193Provações, Uma Dádiva de Deus 194O Mistério do Sofrimento 195Casamento Bahá’í 195Bondade com Animais 197 Moderação, um Grande Tesouro 199Meios de Sobrevivência 199Socialismo 200Dois Meios de Cura 200Se Desejas Saúde 201O Dever de Buscar a Ciência 201O Trabalho é Adoração 202Ciência é Adoração 202

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Música 203Rompimento com Este Mundo 203 Consolo aos Nossos Corações 204A Universidade do Reino 205A Essência Incognoscível 207Fé e Conhecimento 208Conhecimento e Ações 208Educação das Crianças 209Conhecimento Espiritual 210Qualificações de uma Alma Iluminada 210Soberania Eterna 211Confirmação e Ajuda 212Este Mundo, Uma Miragem 213Proteção aos Bahá’ís 214O Retorno de Cristo 214Vida Eterna 215Os que Espalham Calúnia 218 O Espírito de Cristo 218Salvação 219A Igreja Espiritual 219 A Ceia com Deus 218Entendendo os Mistérios 219Reencarnação 219Boas-Novas 222Considera o Passado 223 Este Ramo irá Ascender 224Depois desta Tormenta 224O Centro 226Educação Mental e Espiritual 226

CAPÍTULO IV: O PLANO DIVINO 231A Causa de Bahá’u’lláh 231

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A Comunidade do Máximo Nome 231 Deus Ama os que Trabalham em Grupo 232O Pastor Divino 234A Meta Fundamental 234Esta Reunião é Abençoada 234A Eleição Espiritual 235A Casa de Justiça 236Obediência a Assembleia 238 ‘Abdu’l-Bahá está Presente 240O Centro de Decisão 241A Base da União 242A Assembleia Espiritual 242Misericórdia e Justiça 246Reunião entre Assembleias 247O Mashiriqu’l-Adhkár 249O Centro Coletivo de Reino 254Bahá’u’lláh - O Senhor das Hostes 259A Última Epístola do Mestre à América 266

Bibliografia 278

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o estandarte divino do conhecimento

XI

INTRODUÇÃO

O propósito deste livro é oferecer uma compilação de Escritos Sagrados Bahá’ís, os quais, em um único volume, expõe seu alcance universal de temas, sua aplicação direta na vida moderna e seu poder espiritual incomparável. Aqui está um Livro Mundial exposto para os seres humanos de todas as raças e terras; uma nova criação que afirma e provê a mais elevada certeza de que, de tempos em tempos, uma sucessão de Profetas tem iluminado internamente a alma humana. O passado não é negado, mas se estende através do presente para estabelecer uma base firme para uma nova era de justiça e paz. A iluminação que jorrou sobre a nossa própria era mostra, na verdade, as religiões anteriores e seus Fundadores sob uma luz mais clara do que aquela que eles manifestaram anteriormente. O conceito bahá’í da unidade dos Profetas de Deus tira da religião seus credos e cerimônias, mas faz ressurgir a fé na realização de uma Verdade divina e eterna que agora, pela primeira vez, pode ser compreendida em seu plano e propósito para a inteira raça humana.

Qual o significado da palavra bahá’í?Esta palavra deriva do título pelo qual o Fundador da

Fé é conhecido: Bahá’u’lláh, que significa “Glória de Deus”. Designa a pessoa seguidora ou crente, como cristão ou budista identifica o seguidor de Cristo ou de Buda. Semelhantes a essas duas referências, é também a forma adjetivada usada para descrever qualquer coisa que esteja diretamente relacionada com a Fé, como, por exemplo, na expressão religião bahá’í,

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seleção de textos de ‘abdu’l-bahá

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reunião bahá’í, ou comunidade bahá’í. Um bahá’í é alguém que aceita a Bahá’u’lláh como seu Senhor, conhece Seus en-sinamentos e obedece aos seus preceitos. A religião bahá’í é a religião de Bahá. O nome ‘Abdu’l-Bahá significa “Servo de Bahá”, e identifica o grau e a missão do Filho mais velho de Bahá’u’lláh, Aquele por Ele designado para ser o Intérprete de Sua Palavra, o Exemplar de Sua nova criação e o Centro de Seu Convênio com a humanidade.* ...

Os quatro capítulos contêm excertos dos escritos e das palestras de ‘Abdu’l-Bahá, as quais revelam a aplicação prá-tica dos Ensinamentos Bahá’ís à vida em nossa era. Assim, por exemplo, o capítulo um apresenta o texto de palestras proferidas na América sobre a paz universal. O capítulo dois esclarece o mistério espiritual do ser humano. No capítulo três, encontramos passagens que nos oferecem a consumada sabedoria e o amor de ‘Abdu’l-Bahá. O último capítulo con-tém passagens que descrevem o desenvolvimento e a função das instituições bahá’ís como corporificação do espírito de unidade.

Bahá’u’lláh, cujo nome era Husayn-‘Ali, nasceu em 12 de novembro de 1817 na antiga Pérsia. Como Buda, nasceu em uma família rica e de alto nível social, que lhe assegurava um posto eminente no governo imperial do xá. A Pérsia da-quele tempo encontrava-se em uma condição parecida com o feudalismo da Europa. Autoridade arbitrária, não reprimida por uma Constituição, era conferida ao xá e exercida através

*Por razões editoriais, omitimos completamente a seção I (com textos sagrados de Bahá’u’lláh) da compilação original feita por Horace Holley, somente mantivemos a Epístola do Ramo, que é inédita em português, descrevendo ‘Abdu’l-Bahá e Sua Missão.

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de uma autocracia, socialmente irresponsável, na corte e em palácios provinciais. O sistema era consubstanciado por costumes e leis de um Islã tradicional, apoiado por um ver-dadeiro exército de sacerdotes, mestres religiosos, e senhores eclesiásticos. A teologia determinava o objetivo e o conteúdo da educação. As massas da população viviam sob a exploração de um estado-igreja medieval.

Confinado em sua própria cultura e território, separado teologicamente mesmo de outros povos islâmicos pelo impla-cável cisma entre xiitas e sunitas, praticamente inteiramente carente da ciência e da tecnologia em rápida transformação no Ocidente, a Pérsia, no entanto era agitada com sua própria visão de retidão e de uma reforma religiosa. Dentro do pró-prio Islã, alguns mestres religiosos tinham, em uma tradição profética, chegado à conclusão de que o cumprimento de an-tigas expectativas estava próximo. Sentiam que Deus desejava pôr um fim ao mal, à ignorância, à injustiça e à hipocrisia. Previam uma nova Dispensação que substituiria a decadência que ocorrida com a Fé de Muhammad. Esperavam por um tempo de julgamento e de separação dos povos no mundo inteiro. Na escuridão que engolfava sua sociedade, eram como homens com lanternas na mão procurando a direção de onde surgiria a alvorada.

Em tal terra, ignorada pelo Ocidente, onde a iluminação espiritual contrastava com a corrupção oficial, a pompa feudal com a escravidão impotente, a lembrança de glórias passadas com a traição da confiança lhes conferida por Muhammad, o Selo dos Profetas, a Providência encontrara o teatro para a concretização dos mais estupendos eventos transformadores na dramática história da religião revelada.

Respeitado e admirado por Suas qualidades, virtudes e dignidade pessoal, livre da atração das honrarias de uma

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seleção de textos de ‘abdu’l-bahá

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carreira pública, Husayn-‘Ali optou por Sua Missão espiritual no caminho do sacrifício deixado por ‘Ali-Muhammad, co-nhecido para a história como o Báb. De 23 de maio de 1844 a 9 de julho de 1850, o Báb (cuja palavra significa “Porta”) proclamou o nascimento de uma nova Fé mundial. Ab-rogou as leis da Dispensação Muçulmana, não mais eficazes; convocou reis e governantes a darem ouvidos ao Chamado Divino e governarem com justiça; identificou a verdadeira fé de Deus com pureza moral e atos retos; reuniu em torno d’Ele um grupo de devotados e heroicos seguidores; restaurou o espírito de esperança entre o povo; e fez com que o clero e as autoridades civis temessem perder seus privilégios e poder.

Por ordem da igreja e do estado, o Báb foi denunciado como herege e instigador de rebelião, sofreu o martírio do bastinado, por duas vezes foi aprisionado em celas escuras em castelos isolados, e em 1850 este Profeta-Mártir foi executado publicamente na cidade de Tabriz.

O Báb realizou duas missões. Sua Dispensação trouxe ao seu final o ciclo das profecias. Revelou a unidade dos Profetas. Inaugurou um novo ciclo de realidade no qual os antigos postulados de fé encontrariam sua realização na unidade da humanidade. Também descreveu Sua religião como a prepa-ração para o surgimento de Bahá’u’lláh, sendo Ele próprio o Precursor, ou Arauto, de Alguém maior que Ele que surgiria em seguida. Embora o espírito de todos os Profetas do passa-do tivessem retornado à terra em Sua pessoa, as religiões do Oriente e do Ocidente não O conheciam.

Após o martírio do Báb, o ódio do clero e do governo recaiu sobre Husayn-‘Ali, que era então o destacado líder da comunidade bahá’í. Ele foi enclausurado em uma masmorra em Teerã. Durante o ano de 1853, quando passava por essa grande aflição, o Espírito Santo desceu sobre Ele e revelou Sua Missão como Bahá’u’lláh, o Prometido de todas as re-

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ligiões e nações. Em uma carta dirigida um ano depois ao xá da Pérsia, Bahá’u’lláh escreveu: “Ó rei! Eu era apenas um homem como os outros, adormecido em meu leito, mas eis que os sopros do Todo-Glorioso manaram sobre Mim e Me deram o conhecimento de tudo o que existe. Isso não provém de Mim, mas de Um que é o Todo-Poderoso, o Onisciente. E Ele ordenou que Eu levantasse Minha voz entre a terra e o céu...” (O Chamado do Senhor das Hostes, p.80-81).

Quarenta anos de exílio e aprisionamento haviam come-çado. De Teerã, Bahá’u’lláh, com membros de Sua família e um grupo de seguidores do Báb, foram enviados para Bagdá, na expectativa de que Sua ausência da Pérsia iria enfraquecer os crentes remanescentes. De Bagdá, Bahá’u’lláh foi exilado para Constantinopla, o que transferiu a jurisdição das acu-sações civis e eclesiásticas da Pérsia para o Sultão, chefe do Islã sunita. Sob o comando do Sultão, a diretriz de repressão e de recusa a uma entrevista com Bahá’u’lláh continuou. De Constantinopla, o grupo foi enviado para Adrianópolis. Em 1868, o regime turco condenou Bahá’u’lláh e um grupo de Seus seguidores para a pestilenta fortaleza prisão de ‘Akká, na Síria, agora Israel.

Antes de deixar Bagdá para Constantinopla, Bahá’u’lláh declarou Sua Missão (em 1863) a um grupo de babís, e da-quele tempo em diante os crentes passaram a ser conhecidos como bahá’ís, com exceção de alguns poucos, que rejeitaram Sua reivindicação e buscaram perpetuar a Fé Babí além do tempo ao qual estava destinado. Foi naquela cidade também que Ele revelou o incomparável Kitáb-i-Iqán (Livro da Cer-teza), o qual desselou os Livros Sagrados e interpretou suas leis e preceitos como estágios formativos na evolução de uma Fé Mundial. O Kitáb-i-Iqán é insuperável em sua exposição das posições singulares dos Profetas anteriores. Os seguidores das religiões por Eles reveladas bem poderiam ponderar sobre

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seleção de textos de ‘abdu’l-bahá

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aquelas passagens nas quais o propósito essencial das mesmas e os significados espirituais são expostos.

Em Adrianópolis, Bahá’u’lláh proclamou Sua Missão em Epístolas dirigidas a reis e governantes, convocando-os à verdadeira fé em Deus como fideicomissários do bem estar de seus povos.

O período de exílio e confinamento de Bahá’u’lláh em ‘Akká representa o clímax de Seu Ministério e da rica safra de Sua volumosa Revelação. Tanto a reis como a líderes religiosos do mundo, Ele dirigiu apelos, advertências e exortações, pre-vendo as tribulações que adviriam à humanidade por terem repudiado o Profeta cuja Missão era unicamente unir os povos e estabelecer a paz. “Nunca, desde o início do mundo, foi a Mensagem”, Ele afirmou, “proclamada tão abertamente.”

O que foi chamado de “efusões finais e poderosas de Suas inúmeras Epístolas revelando mandamentos e verdades” – junto com o exposto no Livro Sacratíssimo, caracterizam este tempo profético.

As obras de Bahá’u’lláh incluem o misticismo do livro Os Sete Vales, a sucinta e vital sabedoria das Palavras Ocultas, o enfoque de Deus quanto à oração e meditação, a proclamação aos reis, os apelos e advertência aos chefes sacerdotais das religiões, a interpretação das Escrituras Sagradas, o estabele-cimento de instituições, a formulação de leis e a designação de um Centro de Seu Convênio para a continuação de Sua obra após Seu falecimento. Nenhuma Revelação anterior proveu de forma tão completa para a preservação e expansão de seus ensinamentos em sua essência mais pura, nem criou a Ordem na qual a comunidade religiosa iria funcionar e se desenvolver.

Bahá’u’lláh faleceu em ‘Akká em 1892, com Sua Reve-lação completada e Sua Missão cumprida. Sua chegada na Terra Santa por decreto do sultão trouxera à consumação a

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profecia das escrituras cristã e judaica. A terra tornada santa por todos os Profetas tinha recebido seu Senhor. Seu encar-ceramento não impediu Bahá’u’lláh de expressar claramente a Vontade divina.

A designação feita por Bahá’u’lláh a ‘Abdu’l-Bahá como o Intérprete de Sua Palavra, o Exemplar de Sua Fé e o Cen-tro de Seu Convênio não tem paralelo na História humana. Significa que a autoridade e a guia divinas continuarão após a Ascensão de Bahá’u’lláh. A Revelação terminara, mas a forma, a maneira, o modelo e o critério foram estabelecidos para assegurar a criação de uma sociedade religiosa livre de preconceitos e atitudes dos crentes contra qualquer raça, credo ou nacionalidade. Significa que as qualificações para tal tarefa encontravam-se disponíveis. Os bahá’ís contam com algo mais do que um Livro; eles contam com uma liderança contínua acima de seu próprio controle. Desde 1892, a Missão de ‘Abdu’l-Bahá estendeu-se até o Seu passamento em 1921 – trinta anos, a vida de uma geração, expressada através de incontáveis ações, cartas, entrevistas e palestras públicas que proclamaram a Fé ao mundo e sua aplicação para a vida social e intelectual de nosso tempo.

Diferente dos antigos Profetas, Bahá’u’lláh pôde criar uma instituição social, a Casa de Justiça, seus membros escolhidos pelos próprios bahá’ís e com promessa de inspiração em suas deliberações.

Com Sua designação de ‘Abdu’l-Bahá, e com o estabe-lecimento de uma nova ordem social, Bahá’u’lláh proveu as condições para a continuidade ininterrupta de um elemento providencial na religião e supriu os meios através dos quais a humanidade pode dirigir seus poderes através de canais de paz e progresso.

‘Abdu’l-Bahá cumpriu com Sua Missão ao deixar o docu-mento Última Vontade e Testamento, que seria cumprido após

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seleção de textos de ‘abdu’l-bahá

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Seu falecimento. Nesse documento, Ele descreve as institui-ções sociais da Fé e estabelece a hereditariedade da Guardia-nia dentro da família de Bahá’u’lláh, com qualificações para interpretar os Escritos sagrados e presidir as deliberações da Casa de Justiça Internacional.

A comunidade bahá’í tem sobrevivido, passado por testes e purificada através de sucessivos estágios de amarga persegui-ção com a ascensão de Bahá’u’lláh e a morte de ‘Abdu’l-Bahá. Sua Fé não é somente uma reverência a Bahá’u’lláh por uni-dade de ação em ordem de âmbito mundial. O ser humano por inteiro, e toda a sua relação com a sociedade, têm agora um significado e uma sanção espiritual. A divisão da religião em elementos leigos e clérigos chegou a um fim.

HORACE HOLLEY*

*Para saber mais sobre esta incomparável figura dos anais da Fé Bahá’í, que foi nomeado Mão da Causa de Deus, posição única com que alguns bahá’ís foram honrados, convidamos o leitor a ler o Apêndice da outra compilação feita por Horace Holley: Alicerces da Unidade Mundial.

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O Estandarte

Divino do

Conhecimento

Seleção de Textos

de ‘Abdu’l-Bahá

Os textos que não apresentam referência

são inéditos em português.

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ABERTURA

Epístola do Ramo

Revelada por Bahá’u’lláh sobre ‘Abdu’l-Bahá

Ele é Eterno em Seu Horizonte de Abhá!Verdadeiramente, a Causa de Deus surgiu das nuvens das

elocuções e os politeístas estão neste dia em grande tormenta! Em verdade, as hostes da revelação desceram com os estan-dartes da inspiração do céu da Epístola em nome de Deus, o poderoso, o forte! Neste tempo, os monoteístas todos se regozijam com a vitória de Deus e Seu domínio, e os que negam veem-se então em manifesta perplexidade.

Ó povos! Fugis da misericórdia de Deus depois de ter ela envolvido todas as coisas existentes criadas entre os céus e a terra? Cuidai para não vos preferirdes diante da misericórdia de Deus, e não vos priveis dela! Verdadeiramente, quem quer que dela se afaste estará em grande perda. Em verdade, a misericórdia é como versículos descidos de um único céu e dos quais os monoteístas bebem como o vinho escolhido da vida, enquanto os politeístas bebem como água causticante; e quando os versos de Deus são lidos para eles, o fogo do ódio está aceso em seus corações. Assim, preferiram a si próprios diante da misericórdia de Deus, e são negligentes.

Entrai, ó povo, sob o abrigo da Palavra! Então bebei do vinho escolhido das elocuções e dos significados ocultos; pois neles está oculto o kawthar do Ser Glorioso – e que surgiu do

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seleção de textos de ‘abdu’l-bahá

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horizonte da Vontade de seu Senhor, o Misericordioso, com luzes deslumbrantes.

Dize: Verdadeiramente, o oceano da pré-existência proce-de deste mais imenso Oceano. Abençoado, portanto, é aquele que permanece em suas praias e é contado entre aqueles que nelas se estabelece. Em verdade, este templo mais sagrado de Abhá – o ramo de Santidade – procede do Sadratu’l-Muntahá. Abençoado é aquele que busca abrigo nele e é daqueles que nele encontra descanso.

Dize: Verdadeiramente, o ramo de comando procede desta raiz que Deus plantou firmemente no solo da vontade, cujo galho foi elevado à uma posição que abrange toda a existên-cia. Portanto, exaltado seja Ele por esta criação, o exaltado, o abençoado, o inacessível, o poderoso!

Ó vós, povo! Aproximai-vos dele e provai dos frutos de seu conhecimento e sabedoria de parte do Ser poderoso e Onisciente. Quem quer que dele se prive estará privado da misericórdia, mesmo que seja possuidor de tudo o que existe na terra – fosseis vós daqueles que conhecem.

Dize: Verdadeiramente, uma palavra foi proferida em favor desta mais grandiosa Epístola, que Deus adornou-a com Seu próprio manto, fez dela soberana sobre tudo na terra e um sinal de Sua grandeza e onipotência entre as criaturas; a fim de que, através dela, o povo possa louvar seu Senhor, o forte, o poderoso, o sábio; e que, através dela, as pessoas glorifiquem seu criador e santifiquem seu ser com Deus, o qual se encontra entre todas as coisas. Verdadeiramente, isso nada mais é que uma Revelação que procede do sábio, do Patriarca!

Dize: ó povo, louvai a Deus, por sua Manifestação, pois verdadeiramente é o mais grandioso favor a vós concedido e a bênção mais perfeita sobre vós derramada; e através d’Ele todo osso decomponente é refeito. Quem quer que se volte para Ele com certeza voltou-se para Deus, e quem quer que

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d’Ele se afaste afastou-se de Minha beleza, negou Minha prova e é daqueles que são transgressores. Em verdade, Ele é a lembrança de Deus entre vós e Sua Confiança dentro de vós, e Sua manifestação a vós e Seu aparecimento entre os servos que estão próximos. Assim fui ordenado a vos transmitir a mensagem de Deus, vosso Criador; e eu vos transmiti aquilo que me foi ordenado. Por isso, dai testemunho de Deus, então de Seus anjos, e então de Seus Mensageiros, e então de Seus servos santificados.

Inalai as fragrâncias do Ridván de Suas rosas e não sejais daqueles que se privam. Reconhecei a misericórdia de Deus sobre vós e não vos oculteis dela. Em verdade, Nós O en-viamos em forma de templo humano. Assim, louvai a vosso Senhor, o Originador de tudo o que Ele deseja através de Seu sábio e inviolável Comando.

Em verdade, aqueles que se privam do abrigo do Ramo estão certamente perdidos no deserto da perplexidade; e são consumidos pelo calor de seus próprios desejos, e são daquele que perecem.

Apressai-vos, ó povo, para o abrigo de Deus, a fim de Ele vos proteja do calor do Dia no qual ninguém encontrará por si mesmo qualquer refúgio ou abrigo exceto sob a proteção de Seu Nome, o clemente, o que sempre perdoa! Adornai-vos, ó povo, com a vestimenta da certeza, a fim de que Ele vos proteja dos dardos da dúvida e das superstições, e para que possais ser daqueles que estão conscientes naqueles dias quando ninguém terá a certeza e ninguém estará firmemente estabelecido na Causa, exceto separando-se de tudo o que é possuído pelo povos e se voltando para o Semblante sagrado e radiante.

Ó povos! Estais em busca de Jebt como um auxiliador em vez de Deus, e buscais o Taghoot como um Senhor, acima de vosso Senhor, o todo poderoso, o onipotente? Esquecei, ó

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povo, sua menção, então segurai o cálice da vida em nome de vosso Senhor, o misericordioso. Em verdade, por Seu Nome, o mundo existente é avivado por uma gota dele, fosseis vós dos que conhecem.

Dize: Naquele Dia não haverá refúgio para ninguém a não ser o comando de Deus, e nenhuma salvação para qualquer alma, senão em Deus. Verdadeiramente, esta é a verdade e nada existe além da verdade, a não ser erro manifesto.

Verdadeiramente, Deus incumbiu a cada alma transmitir Sua Causa de acordo com sua capacidade. Assim foi o coman-do registrado pelo dedo da força e poder sobre a Epístola de majestade e grandeza.

Quem quer que desperte uma alma nesta Causa é como aquele que desperta todos os servos, e o Senhor o levará no dia da ressurreição ao Ridván da unidade, adornado com o Manto de Si próprio, o protetor, o poderoso, o generoso! Assim se servirdes a vosso Senhor, e nada mais que isso for mencionado neste dia diante de Deus, vosso Senhor e o Senhor de vossos ancestrais vos abençoará.

E quanto a vós, ó servo, ouvi a admoestação que vos é dada na Epístola; então buscai a graça de vosso Senhor em todos os tempos. Então compartilhai a Epístola entre aqueles que creem em Deus e em Seus versículos; para que possam seguir aquilo que nela está contido, e ser daqueles que sejam dignos de louvor.

Dize: Ó povo, não causeis corrupção na terra e não dispu-teis com os homens: pois, verdadeiramente, isso não é digno daqueles que buscaram no abrigo de seu Senhor uma condição na qual em verdade possam permanecer seguros.

Se encontrardes alguém sedento, daí de beber a ele do cálice do Kawtha e do Tasneen; e se encontrardes alguém dotado de um ouvido atento, lede para ele os versículos de Deus, o poderoso, o misericordioso, o compassivo! Desatai

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vossas línguas com elocuções elevadas e admoestai o povo se os encontrardes a caminho do Santuário de Deus; de outra forma abandonai-o a si mesmo e deixai-o no abismo do in-ferno. Cuidai para não espalhardes as pérolas dos significados ocultos em solo seco e estéril. Em verdade, os cegos estão privados de contemplar as luzes e são incapazes de distinguir entre a pedra e a pérola preciosa e sagrada.

Verdadeiramente, fosseis vós ler os versículos mais podero-sos e maravilhosos para a pedra durante milhares de anos, iria ela entender ou sentir algum efeito? Não, por vosso Senhor, o Misericordioso, o Clemente! Se lerdes todos os versículos de Deus a alguém que é surdo, ouviria ele uma palavra sequer? Não, verdadeiramente, não, pela beleza, pelo poder, pelo que há de mais antigo.

Assim, compartilhamos convosco algumas das joias da sabedoria e da elocução, a fim de que possais volver vosso olhar na direção de vosso Senhor e sejais mantido à parte de todas as criaturas. Possa o espírito e a glória estarem convos-co, e com aqueles que habitam a planície da santidade e que permanecem na Causa de seu Senhor em manifesta firmeza e constância.

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CAPÍTULO IBAHÁ’U’LLÁH, SUA MISSÃO

A HUMANIDADE ESTÁ EM PERIGO

Ó povos do mundo! O alvorecer do Sol da Realidade ocorre seguramente para

a iluminação do mundo e para a manifestação da misericórdia. Na assembleia da família de Adão, os resultados e os frutos são dignos de louvor e as dádivas sagradas de toda generosidade são abundantes. É uma misericórdia absoluta e uma bênção completa, a iluminação do mundo, a camaradagem e a har-monia, o amor e a união; ainda mais, generosidade e unidade, a eliminação da discórdia e a unidade de todos, existem sobre a terra na maior liberdade e dignidade. A Abençoada Beleza afirmou: “Sois todos frutos de uma mesma árvore e as folhas de um mesmo ramo.” Ele comparou o mundo da existência a uma árvore e todas as almas como folhas, flores e frutos. Portanto, todas os ramos, folhas, flores e frutos precisam estar em uma condição de completo frescor, e o surgimento de tal sutileza e doçura depende da união e da amizade. Por isso, eles devem ajudar-se mutuamente com todas as suas energias e buscar a vida eterna. Assim, os amigos de Deus precisam manifestar a misericórdia do Senhor de Compaixão no mundo da existência e devem expressar as bênçãos do Soberano visível e do invisível. Devem purificar sua visão, e ver a humanidade como as folhas, as flores e os frutos da árvore da criação, e devem sempre estar pensando em fazer

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o bem aos outros, provendo amor, consideração, afeição e ajuda a alguém. Eles não devem ver os outros como inimigos e não considerar quem quer que seja como maldoso. Devem considerar cada ser humano na terra como um amigo; con-siderar um estranho como íntimo amigo, e a um forasteiro como companheiro. Não devem estar presos por laço algum, mas, sim, estrar livres de todo e qualquer laço. Nestes dias, aquele que é favorecido no limiar da grandeza é alguém que oferece o cálice da fidelidade e concede a pérola de dádiva aos inimigos, mesmo que seja um opressor derrotado, oferece a ele uma mão de ajuda, e considera o maior inimigo como um amigo afetuoso.

Estes são os mandamentos da Abençoada Beleza, estes são os conselhos do Máximo Nome. Ó queridos amigos! O mundo está passando por guerras e disputas, e a humanidade encontra-se no maior conflito e perigo. A escuridão da in-fidelidade envolveu a terra e a luz da fidelidade está oculta. Todas as nações e tribos do mundo afiam suas garras e estão guerreando e lutando umas com as outras. O edifício da humanidade está arrasado. Milhares de famílias perambulam desconsoladas. Milhares de almas estão atoladas no pó e no sangue da arena da batalha e lutam ano após ano, e a tenda da felicidade e da vida foi feita em pedaços. Os homens proeminentes tornaram-se comandantes e se vangloriam do sangue derramado e se gloriam com a destruição. Um deles diz: “Eu cortei com minha espada os pescoços de uma nação,” e outro: “arrasei um reino ao pó”, e ainda outro: “Acabei com a estrutura de um governo.” Este é o pivô em torno do qual o orgulho e a glória da humanidade revolvem. Em todas as regiões, a amizade e a retidão são denunciadas e reconciliadas, e desprezada qualquer consideração pela verdade. A arauta da paz, da reforma, do amor e da reconciliação é a Religião da Abençoada Beleza, a qual ergueu sua tenda no ápice do

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mundo e proclama seu chamado a todos povos.Então, ó amigos de Deus! Apreciai o valor desta preciosa

Revelação, movei-vos e agís de acordo com ela, caminhando a vereda estreita e o caminho reto. Mostrai isso aos povos. Entoai com a melodia do Reino e espalhai por toda parte os ensinamentos e os mandamentos do Senhor amoroso para que o mundo possa tornar-se um outro mundo, a escuridão da terra iluminada e o corpo inanimado da humanidade obtenha nova vida. Toda alma pode encontrar a vida eterna através do sopro do Misericordioso. A vida neste mundo mortal chegará rapidamente a um fim, e toda essa glória, riqueza, conforto e felicidade terrenas logo serão banidas e não mais existirião. Chamai as pessoas a Deus e convocai as almas às boas maneiras e conduta do Concurso Supremo. Aos órfãos sede como pais amorosos, e aos desafortunados um refúgio e abrigo. Ao pobre, um tesouro de riquizas, e ao doente um remédio e cura. Sede um auxiliador de todo oprimido e o protetor de todo destituído, que estejais sempre atentos para servir a qualquer alma da humanidade. Não deis importância às buscas pessoais, as rejeições, nem à arrogância, opressão e inimizade. Não vos preocupeis com elas. Deveis agir no sentido contrário. Sede bondoso, verdadeiramente, não apenas em aparência e exteriormente. Todos os amigos de Deus devem concentrar sua mente sobre isso, que devem manifestar a misericórdia de Deus e a generosidade d’Aquele que sempre perdoa. Devem ser bondosos para com todas as almas que encontrem, ajudá-las, tornar-se causa da melhoria da moral e da correção dos pensmentos, de forma que a luz da orientação divina possa brilhar e que as graças de Sua Santidade o Misericordioso possam envolve-las. O amor é luz em qualquer casa onde brilhe, e o inimigo, escuridão, qualquer que seja a moradia onde habite.

Ó amigos de Deus! Esforçai-vos para que essa escuridão seja

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totalmente dispersa e que o Mistério Oculto possa ser revelado, tornando a realidade de todas coisas evidentes e manifestas.

EU VIM COM ESTA MISSÃO

Eu vim de terras distantes para visitar as reuniões e as-sembleias deste país. Em todo encontro vejo pessoas reunidas, amando umas às outras; por isso estou imensamente satisfeito. Os laços de união estão evidentes hoje nesta assembleia, na qual aqueles que se dedicam ao desenvolvimento do mundo humano foram reunidos em fé, entendimento e concórdia pelo poder de Deus. É minha esperança que, do mesmo modo, toda a humanidade possa se tornar unida nos laços de entendimento e amor. Unidade é a expressão do amoroso poder de Deus e reflete a realidade da Divindade. Neste Dia ela resplandece através das dádivas de luz à humanidade.

Por todo o universo, o poder divino resplandece em in-findáveis imagens e retratos. O mundo da criação, o mundo humano, pode ser comparado à própria terra, e o poder divino, ao sol. Este Sol brilha sobre todo o gênero humano. A Vontade divina se manifesta na infinita variedade de seus re-flexos. Considerai como todos são objetos da graça do mesmo Sol. No máximo, a diferença entre eles é a de intensidade, pois a fulgência é a mesma, a mesma luz que emana do Sol. Isto há de expressar a unicidade do mundo humano. A sociedade organizada, ou a unidade social do mundo humano, pode ser comparada a um oceano, e cada membro, cada indivíduo, a uma onda desse mesmo oceano.

A luz do sol se evidencia em cada objeto de acordo com a capacidade desse objeto. A diferença é apenas de grau e de receptividade. A pedra pode receber apenas uma quantidade limitada; outra coisa criada pode ser como um espelho que reflete o sol integralmente; mas é a mesma luz que brilha sobre ambas.

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O mais importante é polir os espelhos dos corações de modo que possam ser iluminados e receptivos à luz divina. Um coração pode ter a capacidade do espelho polido; outro pode estar encoberto e obscurecido pela poeira e escória deste mundo. Embora o mesmo Sol brilhe sobre ambos, no espelho polido, puro e santificado, pode-se contemplar o Sol em toda a plenitude, glória e poder, revelando sua majestade e esplendor; mas no espelho encoberto e obscurecido não há capacidade de reflexão, embora o próprio Sol esteja brilhando sem ser afetado ou privado por causa disso. Nosso dever, portanto, é procurar polir os espelhos de nossos corações para que possamos nos tornar refletores dessa luz e recipientes das divinas graças que por seu intermédio podem ser completamente reveladas.

É este o significado da unicidade do mundo humano. Ou seja, quando esta comunidade humana atingir a condição de absoluta unidade, o esplendor do Sol eterno fará com que sua luz e seu calor se manifestem em toda a sua plenitude. Portanto, não devemos fazer distinção entre os membros da família humana. Não devemos considerar qualquer alma como infrutífera ou incapaz. Nosso dever é educar as almas de modo que o Sol das dádivas de Deus resplandeça nelas, e isto é possível através do poder da unicidade da humanidade. Quanto mais amor se expressar entre os homens e quanto mais forte for o poder da unidade, maior será essa reflexão e revelação, pois o amor é a maior dádiva de Deus. O amor é a fonte de todas as dádivas de Deus. A menos que o coração seja dominado pelo amor, nenhuma outra dádiva divina pode se revelar nele.

Todos os Profetas Se esforçaram para tornar o amor manifesto nos corações dos homens. Jesus Cristo procurou criar esse amor nos corações. Ele sofreu todas as dificuldades e provações a fim de que o coração humano pudesse se tornar o manancial do amor. Por isso devemos nos esforçar de todo

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coração e alma para que esse amor nos domine e assim toda a humanidade – tanto no Oriente como no Ocidente – possa se unir através dos laços desse divino afeto; pois somos todos as ondas do mesmo mar; viemos à existência por intermédio da mesma dádiva e somos favorecidos pelo mesmo centro. As luzes da terra são todas aceitáveis, mas o centro da resplan-decência é o sol, e devemos dirigir nossa vista a ele. Deus é o Supremo Centro. Quanto mais nos dirigirmos a esse Centro de Luz, maior será nossa capacidade.

No Oriente havia grandes diferenças entre raças e povos. Eles odiavam uns aos outros e não havia qualquer união entre eles. Havia várias seitas divergentes que eram hostis e irre-conciliáveis. As diferentes raças estavam em constante guerra e conflito. Cerca de sessenta anos atrás Bahá’u’lláh apareceu sobre o horizonte oriental. Ele fez com que o amor e a unidade se tornassem manifestos entre esses povos antagônicos. Ele os uniu com os laços do amor; o antigo ódio e animosidade entre eles desapareceram, e amor e unidade reinaram em seu lugar. Era um mundo tenebroso, mas tornou-se radiante. Uma nova primavera surgiu por Seu intermédio, pois o Sol da Verdade ergueu-se outra vez. Flores multicoloridas de sig-nificado interior começaram a florescer nos campos e prados dos corações humanos e os belos frutos do Reino de Deus se tornaram manifestos.

Eu vim para cá com essa missão: a de que através de vosso empenho, através de vossa conduta celestial e vossos devotados esforços, possa ser estabelecido um perfeito laço de unidade entre o Oriente e o Ocidente, de modo que os favores de Deus possam descer sobre todos e que todos possam ser vistos como partes da mesma árvore – a grande árvore da família humana. Pois o gênero humano pode ser assemelhado aos ramos, folhas, flores e frutos dessa árvore.

Os favores de Deus são infindáveis, ilimitados. Infinitas

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graças envolveram o mundo. Nós devemos seguir o exemplo das dádivas divinas, e assim como cada uma delas – a dádiva da vida, por exemplo – envolve e abrange a todos, devemos estar unidos e em harmonia até que cada parte se torne a expressão do todo.

Considerai: Nós plantamos uma semente. A partir dela surge uma árvore completa e perfeita, e de cada semente dessa árvore uma nova árvore pode ser produzida. Desse modo, a parte é uma expressão do todo, pois essa semente era parte da árvore, mas nela existia uma árvore completa em poten-cial. Assim, cada um de nós pode se tornar a expressão ou a representação de todas as dádivas da vida para a humanidade. Esta é a unidade do mundo humano. Esta é a dádiva de Deus. Esta é a felicidade do mundo humano e esta é a manifestação dos favores divinos.

— A Promulgação da Paz Universal, pp. 15-8

A ABENÇOADA PERFEIÇÃO, BAHÁ’U’LLÁH

A Abençoada Perfeição, Bahá’u’lláh, pertencia a uma família real do Irã. Desde a infância distinguia-se entre Seus parentes e amigos. Diziam: “Esta criança tem um poder extraordinário.” Em sabedoria, inteligência e como fonte de novos conhecimentos, Ele era alguém bem acima de Sua época e superior ao ambiente em que vivia. Todos que O conheciam ficavam atônitos com sua preocidade. Era comum dizerem: “Tal criança não viverá”, pois a crença geral era que crianças precoces não chegavam à maturidade. Durante sua juventude a Abençoada Perfeição não frequentou nenhum escola. Não queria receber a educação usual. Este fato é bem conhecido entre os iranianos de Teerã. No entanto, Ele era capaz de resolver os problemas mais difíceis que lhe fossem apresentados. Em qualquer reunião, encontro científico ou

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discussão teológica da qual participasse, era sempre a autori-dade que esclarecia as mais intrincadas e abstrusas questões que surgiam.

Mesmo com o falecimento de Seu pai, Bahá’u’lláh não buscou posição ou cargo político, apesar de Sua ligação com o governo. Isso ocasionava supresa e levantava comentários. Era frequente ouvir-se dizer: “Como é que um jovem com tal inteligência e elevada percepção não busca por cargos lucrati-vos? Sem dúvida alguma, qualquer cargo está disponível para ele.” Esta é uma afirmativa histórica inteiramente confirmada pelas pessoas no Irã.

Era muito generoso, compartilhando abundamente com os pobres. Ninguém que O procurasse voltava de mãos vazias. As portas de Sua casa estavam sempre abertas para todos. Tinha sempre muitos hóspedes. Esta generosidade sem limites despertava ainda maior perplexidade, pelo fato de Bahá’u’lláh não buscar nem posição ou proeminência. Ao comentar so-bre isso, Seus amigos diziam que Ele ficaria pobre, que Suas despesas eram muitas e que Sua riqueza diminuiria cada vez mais. “Por que Ele não pensa em seu próprios interesses?”, perguntavam-se entre si; mas alguns, mais sábios, declaravam: “Este personagem está ligado a outro mundo; Ele possui algo sublime dentro d’Ele que não sabemos ainda o que seja; dia virá, certamente, quando isso se tornará manifesto.” Na verdade, a Abençoada Perfeição era um refúgio para todo necessitado, um abrigo para todo temente, bondoso para com todo indigente e amoroso para com todas as criaturas.

Bahá’u’lláh ficou bem conhecido por todas essas quali-dades antes do aparecimento de Sua Santidade o Báb. Então Bahá’u’lláh declarou que a missão do Báb era verdadeira e promulgou Seus ensinanamentos. O Báb anunciou que uma Manifestação maior iria ocorrer depois d’Ele e chamou

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o Prometido de “Aquele a Quem Deus tornará manifesto”, dizendo que nove anos mais a realidade de Sua missão tornar-se-ia conhecida. Em Seus escritos, afirmou que no nono ano este ser esperado seria conhecido; que no nono ano eles alcançariam toda a glória e felicidade; que no nono ano eles progrediriam rapidamente. Entre Bahá’u’lláh e o Báb nunca houve uma comunicação pessoal direta. Nunca se encon-traram pessoalmente. O Báb escreveu uma carta contendo trezentos e sessenta derivações da raíz da palavra “Bahá”. O Báb foi martirizado em Tabriz, e logo depois, em 1852, Bahá’u’lláh foi exilado para o Iraque, e em Bagdá anunciou abertamente Sua missão. O Governo iraniano havia decidido que quanto mais tempo Ele permanecesse no Irã, a paz do país estaria cada vez mais ameaçada; portanto, com Seu exílio do Irã esperavam que tudo ficasse tranquilo. Seu banimento, porém, produziu efeito contrário. Nenhum tumulto surgiu e a menção de Sua grandeza e influência espalhou-se por toda a parte do país. A proclamação de Sua manifestação e missão foi feita em Bagdá. Ele chamou Seus amigos para lá e lhes falou de Deus. Depois, deixou a cidade e foi viver por algum tempo retirado do mundo nas montanhas do Curdistão, onde fez das cavernas e de grotões sua residência. Parte do tempo em que viveu nessa região passou na cidade de Sulimaniyyeh. Dois anos se passaram sem que sua família, ou seus amigos, soubessem de seu paradeiro.

Embora solitário, isolado e desconhecido em Seu retiro, notícia espalhou-se por todo o Curdistão sobre a existência de um extraordinário e sábio personagem, dotado de um maravilhoso poder de atração. Em pouco tempo, o Curd-istão foi magnetizado por Seu amor. Durante esse período, Bahá’u’lláh viveu em completa pobreza. Suas vestes eram as de um mendigo e necessitado. Seu alimento, o de um pobre

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e indigente. Mas uma atmosfera de majestade aureolava Sua pessoa como o sol do meio dia. Em toda parte, Ele era gran-demente reverenciado e amado.

Dois anos depois retornou a Bagdá. Amigos que O con-heceram em Sulimaniyyeh vinham visitá-Lo. Encontraram-No em um ambiente de conforto e riqueza, ficando atônitos com a diferença entre o que viam agora e a vida de pobreza e frugalidade em que vivia no Curdistão.

O governo iraniano acreditava que o banimento da Abençoada Perfeição do Irã seria o extermínio de Sua Causa naquele país. Tais governantes constatavam agora, porém, que Sua Causa expandira-se mais rapidamente. Seu prestígio aumentara, Seus ensinamentos tornaram-se mais amplamente divulgados. As autoridades do Irã, então, usaram de toda a influência possível para exilar Bahá’u’lláh de Bagdá. Foi chamado a Constantinopla pelas autoridades turcas. Em Con-stantinopla, Bahá’u’lláh ignorou toda e qualquer restrição, especialmente a hostilidade dos ministros e do clero. Repre-sentantes oficiais do Irã novamente usaram da influência que tinham para convencer as autoridades turcas, e conseguiram, para banir Bahá’u’lláh de Constantinopla para Adrianópolis, com a intenção de mantê-Lo o mais longe possível do Irã e tornar Suas comunicações com aquele país mais difíceis. No entanto, a Causa espalhou-se e fortaleceu-se ainda mais.

Finalmente, seus adversário reuniram-se, consultaram e disseram: “Banimos Bahá’u’lláh de um lugar para outro e cada vez que era exilado Sua causa torna-se cada vez mais conhecida, Sua proclamação aumentou em poder e dia a dia Sua lâmpada brilha mais com luz mais forte. Isso devido ao fato de ter sido exilado para cidades grandes e centros populosos. Portanto, vamos mandá-lo agora para uma colónia penal como prisioneiro, para que todos O conheçam como associado com assassinos, ladrões e criminosos; em um curto

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tempo, Ele e Seus seguidores serão todos exterminados.” O Sultão da Turquia então baniu Bahá’u’lláh para a cidade prisão de ‘Akká, na Síria.

Ao chegar a ‘Akká, porém, através do poder de Deus Lhe foi possível erguer e içar Sua bandeira. Sua luz havia sido inicialmente uma estrela; mas agora tornar-se-ia um sol poderoso e a luz de Sua Causa expandir-se-ia do oriente para ao ocidente. Dentro da prisão, Escreveu Epístolas a todos os reis e governaments das nações, convocando-os ao arbítrio e à paz universal. Alguns reis receberam Suas palavras com desdém e repulsa. Um deles foi o sultão do império otomano. Napoleão III, da França, nada respondeu. Uma segunda Epístola lhe foi enviada. Dizia: “Escrevi a você uma epístola antes desta, conclamando-o para a Causa de Deus, mas você foi negligente. Proclamou ser um defensor dos oprimidos; agora tornou-se evidente que não era. Nem é bondoso para com o sofrimento de seu povo oprimido. Suas ações são contrárias aos seus próprios interesses, e por isso seu orgulho real desmoronorá. Devido à sua arrogância, Deus em breve fará com que sua soberania seja destruída. A França livrar-se-á de você, que será surpreendido por uma grande conquista. Haverá lamentações e lutos, mulheres prantearão a perda de seus filhos.” Esta denúncia sobre Napoleão III foi publicada e amplamente divulgada.

Leiam-na e considerem: Um prisioneiro, sozinho e soli-tário, sem ajuda ou defensor, um estrangeiro e desconhecido apresionado numa fortalelza em ‘Akká, escrevendo tais cartas ao imperador da França e ao sultão da Turquia. Reflitam so-bre como Bahá’u’lláh conseguiu levantar o estandarte de Sua Causa na prisão. Vejam a história. Não tem paralelo. Nunca aconteceu algo semelhante antes desse tempo, nem desde então; um prisioneiro e exilado fez progredir Sua Causa e ter Seus ensinamentos divulgados ao ponto de torná-Lo tão

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poderoso capaz de triunfar sobre um próprio rei e bani-lo. Sua Causa espalhou-se cada vez mais. A Abençoada

Perfeição viveu prisioneiro por vinte e cinco anos. Durante todo esse tempo teve de suportar indignidades e ultrajes de pessoas. Foi perseguido, escarneado e colocado sob correntes. No Irã, Suas propriedades foram pilhadas e Suas possessões confiscadas. Primeiro, banido do Irã para Bagdá; então para Constantinopla e Adrianópolis, e finalmente da Roumélia para a prisão fortaleza de ‘Akká.

Durante toda a Sua vida foi sempre muito ativo. Sua energia era ilimitada. Raramente, uma noite que fosse, dormiu com tranquilidade. Suportou todas essas provações, sofreu calamidades e dificuldades a fim de que uma manifestação de abnegação e serviço pudesse tornar-se aparente no mundo da humanidade; para que a Paz Máxima fosse uma realidade; que as almas dos seres humanos pudessem tornar-se como anjos do céu; que milagres celestiais ocorressem entre os homens; que a fé humana fosse fortalecida e aperfeiçoada; outorgadas as dádivas preciosas e inigualáveis de Deus, a mente humana, pudesse ser aperfeiçoada ao máximo de sua capacidade; e o ser humano se tornasse o reflexo e a semelhança de Deus, assim como está revelado na Bíblia: “Criamos o homem à nossa própria imagem.”

Em síntese, a Abençoada Perfeição suportou todas essas provações e calamiddes a fim de que nossos corações pudessem tornar-se iluminados e radiantes, nossos espíritos glorificados, nossas faltas transformadas em virtudes, nossa ignorância em sabedoria; a fim de pudéssemos alcançar os frutos reais da humanidade e adquirir graças celestiais; embora carentes e pobres, podemos receber os tesouros da vida eterna. Por tudo isso Ele suportou tais dificuldades e tristezas.

Confie tudo a Deus. As luzes de Deus são esplendorosas. As Epístolas sagradas se espalham. Os ensinementos abenço-

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ados são promulgados tanto no oriente como no ocidente. Logo vereis que as palavras divinas estabeleceram a unidade do mundo da humanidade. A bandeira da Paz Máxima foi des-fraldada e a “grande comunidade” está começando a surgir.

A RELIGIÃO É PROGRESSIVA

A religião é a expressão exterior da realidade divina. Por isso deve ser viva, vitalizada, dinâmica e progressiva. Sem movimento e progresso, ela carece de vida divina; ela está morta. As instituições divinas estão em constante atividade e progresso; por isso, sua revelação deve ser contínua e progres-siva. Todas as coisas estão sujeitas a reforma. Este é um século de vida e de renovação. As ciências e artes, a indústria e as in-venções foram reformadas. A lei e a ética foram reconstituídas e reorganizadas. O mundo do pensamento regenerou-se. As ciências e filosofias de épocas passadas não servem mais para hoje. As necessidades atuais exigem novos métodos e soluções; os problemas do mundo não têm precedentes. Velhas ideias e antigos modos de pensar rapidamente se tornam obsole-tos. Leis antigas e sistemas éticos arcaicos não satisfazem os requisitos e as condições modernas, pois este é claramente o século de uma nova vida, o século da revelação da realidade e, por isso, o maior de todos os séculos. Considerai como o desenvolvimento científico de cinquenta anos superou e eclipsou o conhecimento e as realizações de todas as eras pas-sadas juntas. Poderiam os enunciados e as teorias dos antigos astrônomos explicarem nossos conhecimentos atuais sobre o sol e o sistema planetário? Poderia o véu da obscuridade que nublou os séculos medievais satisfazer as exigências da clareza de visão e compreensão que caracteriza o mundo de hoje? Poderá o despotismo dos antigos governos responder ao brado de liberdade que se ergueu do coração da humanidade neste

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ciclo de iluminação? É evidente que hoje nenhum resultado vital pode surgir dos costumes, instituições e pontos de vista do passado. Em vista disso, deveriam as antigas formas de cegas imitações e interpretações teológicas continuar a guiar e controlar a vida religiosa e o desenvolvimento espiritual da humanidade de hoje? Deveria o homem, dotado que é do poder da razão, seguir e aderir irrefletidamente aos dogmas, credos e crenças hereditárias que são inconsistentes à análise da razão neste século de refulgente realidade? Isto, inquestio-navelmente, não satisfará aos homens de ciência, pois quando eles encontram premissas ou conclusões contrárias aos atuais padrões de comprovação e destituídas de bases reais, eles rejeitam aquilo que foi anteriormente aceito como padrão e verdadeiro, e seguem adiante a partir de novas bases.

Os Profetas divinos revelaram e fundaram religiões. Eles formularam certas leis e princípios celestiais para guiar a humanidade. Ensinaram e promulgaram o conhecimento de Deus, estabeleceram ideais éticos louváveis e inculcaram os mais altos padrões de virtudes no mundo humano. Esses ensinamentos celestiais e alicerces da realidade foram gra-dualmente sendo nublados pelas interpretações humanas e imitações dogmáticas de crenças ancestrais. As realidades essenciais que os Profetas tão arduamente trabalharam para estabelecer nos corações e mentes dos homens enquanto sofriam provações e severas torturas da perseguição, haviam agora quase desaparecido. Alguns desses Mensageiros celestiais foram mortos, alguns aprisionados, todos Eles desprezados e rejeitados por proclamarem a realidade da Divindade. Logo depois de Sua partida deste mundo, a verdade essencial de Seus ensinamentos se perdia de vista e se aderiam imitações dogmáticas.

Uma vez que as interpretações humanas e cegas imitações divergem amplamente, conflito e discórdia religiosa começa-

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vam a surgir entre a humanidade, a luz da verdadeira religião se extinguia e a unidade do mundo humano era destruída. Os Profetas de Deus proclamaram o espírito de unidade e acordo. Eles foram os Fundadores da realidade divina. Por isso, se as nações do mundo evitarem a imitação e investiga-rem a realidade subjacente à Palavra revelada de Deus, hão de se harmonizar e se reconciliar. Pois a realidade é uma e não múltipla.

As nações e religiões imergem em cegas e fanáticas imi-tações. Um homem é judeu porque seu pai foi judeu. O muçulmano segue implicitamente as crenças e observâncias de seus ancestrais. O budista é fiel à sua herança budista. Isto quer dizer que eles professam crença religiosa cegamente, sem investigação, tornando a unidade e a harmonia impossíveis. É evidente, portanto, que esta condição não terá solução sem uma reforma no mundo da religião. Em outras palavras, a realidade fundamental das religiões divinas deve ser renovada, reformada, novamente anunciada à humanidade. Da semente da realidade, a religião se desenvolveu numa árvore que deu ramos e folhas, flores e frutos. Depois de algum tempo essa árvore entrou numa condição de decadência. As folhas e as flores murcharam e pereceram; a árvore definhou e se tornou estéril. Não é justo que o homem se apegue à velha árvore, alegando que suas forças vitais estão inalteradas, seus frutos, inigualáveis, sua existência, eterna. A semente da realidade deve ser novamente semeada nos corações humanos para que daí possa surgir uma nova árvore e novos frutos divinos refresquem o mundo. Por seu intermédio as nações e povos agora em divergência religiosa serão unidos, as imitações serão deixadas de lado e a verdadeira fraternidade universal será es-tabelecida. Conflito e contenda cessarão entre a humanidade; todos serão reconciliados como servos de Deus, pois todos se abrigam sob a árvore de Sua providência e mercê. Deus

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é bondoso para com todos; Ele concede Sua graça a todos igualmente, tal como Jesus Cristo declarou que Deus faz “e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mateus 5:45) – ou seja, a misericórdia de Deus é universal. Toda a humanidade se encontra sob a proteção de Seu amor e favor, e a todos, Ele mostrou o caminho da orientação e do progresso. O progresso é de dois tipos: o material e o espiritual. O primeiro é alcan-çado através da observação do mundo exterior e constitui a base da civilização. O progresso espiritual é concedido pelos sopros do Espírito Santo e é o despertar da alma consciente do homem para perceber a realidade divina. O progresso material garante a felicidade no mundo humano. O progresso espiritu-al garante a felicidade e a eternidade da alma. Os Profetas de Deus inauguraram as leis da civilização divina. Eles foram a raiz e a primeira fonte de todo conhecimento. Estabeleceram os princípios da fraternidade, da irmandade humana, que é de vários tipos – tais como a fraternidade familiar, de raça, de nação e de motivos éticos. Essas formas de fraternidade, esses laços de irmandade, são meramente temporais e transitórios. Não asseguram harmonia e geralmente são causa de desaven-ça. Não impedem conflito e contenda; são, ao contrário, ego-ístas, restritas e muitas vezes causa de inimizade e ódio entre o gênero humano. A fraternidade espiritual, que se acende e é estabelecida pelos sopros do Espírito Santo, une as nações e remove as causas do conflito e da discórdia. Transforma a humanidade numa grande família e estabelece as fundações da unicidade da humanidade. Promulga o espírito da concórdia internacional e assegura a paz universal. Por isso, devemos investigar os fundamentos desta fraternidade celestial. Deve-mos nos afastar de todas as imitações e promover a realidade dos ensinamentos divinos. De acordo com esses princípios e ações, e pela assistência do Espírito Santo, tanto a felicidade material como a espiritual serão alcançadas. Enquanto todas

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as nações e povos não se unirem nesta fraternidade verdadei-ra pelos laços do Espírito Santo, enquanto os preconceitos nacionais e internacionais não forem eliminados da realidade desta fraternidade espiritual, o homem não atingirá o verda-deiro progresso, prosperidade e felicidade duradoura. Este é o século de uma nacionalidade nova e universal. As ciências avançaram; a indústria progrediu; a política foi reformada; a liberdade, proclamada; a justiça está despertando. Este é o século de movimento, de estímulo divino e de realizações, o século da solidariedade humana e serviço altruístico, o século da paz universal e da realidade do Reino divino.

— A Promulgação da Paz Universal, pp. 172-5

O SÉCULO RADIANTE

Para os historiadores, este século radiante é equivalente a cem séculos do passado. Se o compararmos com a totali-dade das realizações anteriores do homem, veremos que as descobertas, o progresso científico e a civilização material deste século atual igualaram e até mesmo ultrapassaram em muito o progresso e as realizações de cem séculos anterio-res. A produção de livros e as compilações de literatura dão testemunho suficiente de que o produto da mente humana neste século foi maior e mais iluminador do que o conjunto de todos os séculos anteriores. É evidente, portanto, que este século é de importância suprema. Refleti sobre os milagres das realizações que já o caracterizaram: as descobertas em todos os campos de pesquisa humana. Invenções, conhecimento científico, reformas e regulamentações éticas estabelecidas para o bem-estar da humanidade, mistérios da natureza explorados, forças invisíveis tornadas visíveis e dominadas – um mundo realmente prodigioso, de novos fenômenos e condições até então desconhecidos ao homem, agora aberto à sua utilização

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e maiores investigações. O Oriente e o Ocidente podem se comunicar instantaneamente. Um ser humano pode voar nos ares ou se aventurar pelas profundezas submarinas. A energia do vapor interligou os continentes. Trens cruzam os desertos e eliminam a barreira das montanhas; navios abrem cami-nhos seguros nos oceanos inacessíveis. Dia a dia aumentam as descobertas. Que século maravilhoso é esse! É uma época de reforma universal. Leis e estatutos de governos federais e civis estão em processo de mudança e transformação. As ciências e artes estão sendo renovadas. O pensamento sofre metamorfose. As bases da sociedade estão sendo mudadas e fortalecidas. Hoje as ciências do passado são inúteis. O sis-tema astronômico de Ptolomeu e inúmeros outros sistemas e teorias de explanação científica e filosófica são descartados e reputados como falsos e inúteis. Princípios e precedentes éticos não podem ser aplicados às necessidades do mundo moderno. Pensamentos e teorias de épocas passadas agora são estéreis. Tronos e governos estão cambaleando e caindo. Todas as condições e requisitos do passado, impróprios e inadequados para a época atual, estão sofrendo transformação radical. É evidente, portanto, que ensinamentos religiosos falsos e espúrios, e formas de crenças antiquadas e imitações ancestrais que divergem dos fundamentos da realidade divina também devem ser deixados de lado e reformados. Eles devem ser abandonados e novas condições devem ser reconhecidas. A moralidade humana deve passar por mudanças. Devem-se adotar novos remédios e soluções para os problemas humanos. Os próprios intelectos humanos devem mudar e se sujeitar à reforma universal. Assim como os pensamentos e hipóteses das eras passadas são inúteis hoje, dogmas e códigos inventados pelo homem são igualmente obsoletos e contraproducentes na religião. Na verdade são causa de inimizade e conduzem o mundo humano à contenda; guerra e carnificina são seus

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produtos, e a unicidade da humanidade não encontra abrigo nas suas observâncias. Portanto, é nosso dever, neste século radiante, investigar os aspectos essenciais da religião divina, buscar as verdades subjacentes à unicidade do mundo humano e descobrir a fonte de camaradagem e concórdia que unirá a humanidade nos laços celestiais de amor. Esta unidade é a luz da eternidade, a divina espiritualidade, o esplendor de Deus e a graça do Reino. Devemos investigar a fonte divina dessas dádivas celestiais e aderir a elas com toda firmeza. Pois se permanecermos presos e limitados pelos dogmas inventados pelo homem, dia-a-dia o mundo humano se degradará, dia-a-dia o conflito e a contenda crescerão e as forças satânicas convergirão para a destruição da raça humana.

Se amor e acordo se manifestarem numa única família, aquela família avançará, e se tornará iluminada e espiritual; mas se inimizade e ódio existirem em seu seio, a destruição e a dispersão são inevitáveis. Isto é verdadeiro também para uma cidade. Se os seus habitantes manifestarem um espírito de harmonia e fraternidade, ela progredirá constantemen-te e as condições humanas se tornarão mais radiantes, ao passo que através de inimizade e contenda ela degradará e seus habitantes se dispersarão. Do mesmo modo, o povo de uma nação se desenvolve e avança em direção à civilização e iluminação através de amor e concórdia, e se desintegra pela guerra e conflito. Finalmente, isto vale para a própria humanidade como um todo. Quando o amor for efetivo e os laços espirituais perfeitos unirem os corações humanos, toda a raça humana se elevará, o mundo continuamente crescerá em espiritualidade e radiância, e a felicidade e tranquilidade da humanidade aumentarão imensuravelmente. Conflito e contenda serão eliminados, dissensão e discórdia serão dei-xados de lado e paz universal unirá as nações e os povos do mundo. Toda a humanidade viverá em conjunto como uma

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família, mesclada como as ondas de um mar, brilhará como estrelas de um firmamento e como frutos de uma mesma árvore. Esta é a alegria e a felicidade da humanidade. Esta é a iluminação do homem, a glória eterna e a vida imperecível; esta é a dádiva divina. Desejo esta condição para vós, e peço a Deus que o povo da América possa alcançar este grande destino de modo que as virtudes dessa democracia possam ser asseguradas e que seus nomes sejam eternamente glorificados. Que as confirmações de Deus os elevem em todos os sentidos e suas memórias sejam reverenciadas no Oriente e no Oci-dente. Que se tornem servos do Deus Altíssimo, próximos e queridos d’Ele na unicidade do Reino celestial.

Bahá’u’lláh suportou provações e dificuldades por sessen-ta anos. Não houve perseguição, vicissitude ou sofrimento que Ele não experimentasse nas mãos de Seus inimigos e opressores. Passou todos os dias de Sua vida em dificuldade e tribulação – num tempo na prisão, noutro em exílio, e al-gumas vezes acorrentado. De boa vontade Ele suportou essas dificuldades pela unidade do gênero humano, orando para que o mundo humano pudesse perceber a luz de Deus, que a unicidade da espécie humana se tornasse realidade, conflito e contenda cessassem, e paz e tranquilidade fossem sentidos por todos. Na prisão, Ele ergueu a bandeira da solidariedade humana, proclamando a paz universal, escrevendo aos reis e governantes das nações, convocando-os à unidade interna-cional e arbitramento conjunto. Sua vida foi um remoinho de perseguições e dificuldades; no entanto, as catástrofes, as severas provações e vicissitudes não O impediram de com-pletar Sua obra e missão. Ao contrário, Ele Se tornou cada vez mais poderoso, Sua energia e influência se espalharam e cresceram até que Sua gloriosa luz brilhou por todo o Oriente, amor e unidade foram estabelecidos, e as religiões divergentes encontraram um ponto de contato e reconciliação.

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Por isso, também devemos nos esforçar neste caminho de amor e serviço, sacrificando vida e possessões, passando os dias em estado de devoção, consagrando nossos esforços inteiramente à Causa de Deus de modo que, queira Deus, a insígnia da religião universal possa ser erguida no mundo humano e a unicidade do gênero humano seja estabelecida.

Vejo em vossos corações o reflexo de um grande e mara-vilhoso amor. Os americanos têm me mostrado bondade in-variável, e nutro um profundo amor espiritual por eles. Estou satisfeito com as suscetibilidades de vossos corações. Orarei por vós, pedindo a assistência divina, e então digo adeus.

! “Ó meu Deus! Ó meu Deus! Verdadeiramente, estes servos dirigem-se a Ti, suplicando a Teu reino de misericórdia. Verdadeiramente, são atraídos por Tua santidade e ardem com a chama do Teu amor; buscam confirmação de Teu reino maravilhoso e esperam atingir Teu domínio celestial. Verdadeiramente, almejam a descida de Tuas dádivas e a ilu-minação do Sol da Realidade. Ó Senhor! Torna-os lâmpadas radiantes, sinais misericordiosos, árvores frutíferas e estrelas resplandecentes. Que se distingam em Teu serviço e se unam a Ti pelos laços de Teu amor, aspirando à luz da Tua mercê. Ó Senhor! Faze-os sinais, que guiem estandartes de Teu Reino imortal, ondas do mar da Tua misericórdia, espelhos que reflitam a luz da Tua majestade.

Em verdade, és o Magnânimo! Em verdade, és o Clemen-te. Em verdade, és o Precioso, o Bem-Amado!”

— A Promulgação da Paz Universal, pp. 176-8

A Paz Maior

Hoje não há maior glória para o homem do que o serviço na causa da Suprema Paz. Paz é luz, ao passo que guerra é escuridão. Paz é vida; guerra é morte. Paz é guia; guerra é

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erro. Paz é o alicerce de Deus; guerra é uma instituição satâ-nica. Paz é a iluminação do mundo da humanidade; guerra é o destruidor das bases humanas. Quando consideramos os resultados do mundo da existência, vemos que paz e com-panheirismo são fatores de construção e melhora, enquanto guerra e conflito são causas de destruição e desintegração. Todas as coisas criadas são a expressões da afinidade e coesão das substâncias elementares, e a inexistência é a ausência de sua atração e harmonia. Vários elementos se unem harmo-niosamente na composição, mas quando esses elementos se tornam antagônicos, repelindo uns aos outros, o resultado é decomposição e inexistência. Tudo participa desta caracterís-tica e está sujeito a este princípio, pois em todos os graus e reinos a base criativa é uma expressão ou resultado de amor. Considerai a intranquilidade e a agitação do mundo humano hoje por causa da guerra. Paz é saúde e construção; guerra é enfermidade e dissolução. Quando a bandeira da verdade é erguida, a paz se torna causa de bem-estar e progresso do mundo humano. Em todas as eras e ciclos, a guerra foi um fator de transtorno e mal-estar, enquanto a paz e a fraternidade conferiram segurança e consideração aos interesses humanos. Esta distinção é especialmente saliente nas condições do mundo de hoje, pois em séculos passados a guerra não havia atingido o grau de selvageria e destruição que a caracteriza agora. No passado, se duas nações estivessem em guerra, dez ou vinte mil homens eram sacrificados, mas neste século, a destruição de cem mil homens num só dia é perfeitamente possível. A ciência da matança foi tão aperfeiçoada e tão efi-cientes se tornaram os meios e instrumentos de sua execução que toda uma nação pode ser eliminada em pouco tempo. Por isso, não há termo de comparação com os métodos e consequências das guerras antigas.

De acordo com uma lei intrínseca, todos os fenômenos

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da existência atingem um alto ponto e grau de consumação, após o qual uma nova ordem e condição são estabelecidas. Como a ciência e os instrumentos de guerra alcançaram um grau de precisão e eficiência, espera-se que a transformação do mundo humano esteja à mão e que nos séculos vindouros todas as energias e invenções do homem sejam utilizadas na promoção dos interesses da paz e fraternidade. Por isso, que esta estimada e digna sociedade seja confirmada e fortalecida por Deus nas suas sinceras intenções de estabelecer a paz universal. Então se apressará o tempo em que a bandeira da concórdia universal será erguida e o bem-estar internacional, proclamado e realizado, de modo que a escuridão que ora envolve o mundo há de passar.

Há sessenta anos, Bahá’u’lláh estava na Pérsia. Há se-tenta anos, o Báb surgiu lá. Estas duas Almas Abençoadas dedicaram Suas vidas ao estabelecimento da paz e do amor internacionais entre a humanidade. Eles Se esforçaram de coração e alma para estabelecer os ensinamentos pelos quais os povos divergentes poderiam ser reunidos, sem conflito, rancor e ódio. Dirigindo-Se a toda a humanidade, Bahá’u’lláh disse que Adão, o pai da humanidade, pode ser comparado à árvore da vida, da qual vós sois folhas e flores. Uma vez que vossa origem foi uma, deveis agora ser unidos em harmonia; deveis vos associar uns com os outros com alegria e fragrância. Ele denominou o preconceito – seja religioso, racial, patrió-tico, político – como destruidor da sociedade. Ele disse que o homem deve reconhecer a unicidade da humanidade, pois originalmente todos pertencem ao mesmo lar e são servos do mesmo Deus. Portanto, o gênero humano deve continuar num estado de amizade e amor, emulando as instituições divinas e se afastando das sugestões satânicas, pois as dádivas divinas conduzem à unidade e harmonia, enquanto as tenta-ções satânicas induzem ao ódio e à guerra.

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Esta notável Personalidade conseguiu, através desses princípios, estabelecer laços de unidade entre diferentes seitas e povos antagônicos da Pérsia. Os que seguiram Seus ensinamentos, não importa a que denominação ou facção pertencessem, foram ligados pelos laços de amor e até hoje cooperam e convivem em paz e harmonia. São verdadeiros irmãos e irmãs. Não se vê qualquer distinção de classe en-tre eles, e prevalece completa harmonia. Dia a dia este laço de afinidade se fortalece e sua camaradagem espiritual se desenvolve constantemente. Para assegurar o progresso da humanidade e estabelecer estes princípios, Bahá’u’lláh sofreu todas as provações e dificuldades. O Báb foi martirizado e mais de vinte mil homens e mulheres sacrificaram suas vidas pela sua fé. Bahá’u’lláh foi aprisionado e submetido a severas perseguições. Finalmente, Ele foi exilado da Pérsia para a Mesopotâmia; de Bagdá foi mandado a Constantinopla e Adrianópolis, e de lá para a prisão de ‘Akká, na Síria.* Através de todas essas provações, Ele Se empenhou, dia e noite, em proclamar a unicidade da humanidade e promulgar a men-sagem da paz universal. Da prisão de ‘Akká, Ele Se dirigiu aos reis e governantes do mundo através de longas cartas, convocando-os para a concórdia internacional, afirmando explicitamente que o estandarte da Suprema Paz certamente seria erguido no mundo.

Isso veio a acontecer. Os poderes da terra não podem se opor aos privilégios e dádivas que Deus ordenou para este grande e glorioso século. É uma necessidade e exigência do tempo. O homem pode impedir qualquer coisa exceto aquilo que é divinamente intencionado e indicado para a época e suas exigências. Ora – louvado seja Deus! – em todos os países do mundo podem ser encontrados amantes da paz, e estes princípios estão sendo difundidos entre o gênero humano, *Hoje ‘Akká pertence ao Estado de Israel (n.t)

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especialmente neste país. Louvado seja Deus! Este pensamen-to prevalece e as almas estão constantemente se levantando como defensores da unicidade da humanidade, esforçando-se para ajudar a estabelecer a paz internacional. Não há dúvida de que esta maravilhosa democracia conseguirá realizar isso, e a bandeira da conciliação internacional será desfraldada aqui para se difundir amplamente entre todas as nações do mundo. Dou graças a Deus por vos encontrar imbuídos com tais suscetibilidades e aspirações sublimes, e espero que sejais o instrumento para difundir esta luz entre todos os homens. Assim o Sol da Realidade poderá brilhar sobre o Oriente e o Ocidente. As envolventes nuvens se extinguirão, e o calor dos divinos raios dissipará o nevoeiro. A realidade do homem se desenvolverá e se apresentará como a imagem de Deus, seu Criador. Os pensamentos do homem voarão tão alto que as realizações anteriores parecerão brincadeira de criança, pois as ideias e crenças do passado, e os preconceitos relativos a raça e religião sempre rebaixaram o homem e impediram sua evolução. Tenho muita esperança de que neste século estes pensamentos elevados serão conducentes à prosperidade hu-mana. Que este século seja o sol dos séculos anteriores, cujas fulgências durarão para sempre, de modo que no futuro se glorifique o século vinte, dizendo que o século vinte foi o século de luzes, que o século vinte foi o século de vida, que o século vinte foi o século da paz internacional, que o século vinte foi o século das dádivas divinas, e que o século vinte deixou sinais que jamais se extinguirão.

— A Promulgação da Paz Universal, pp. 152-5

HOMEM E NATUREZA

Desde o tempo da criação de Adão até hoje houve dois caminhos no mundo da humanidade: um é o instintivo ou materialista, o outro, religioso ou espiritual. O caminho dos

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instintos é o do reino animal. O animal age de acordo com os requisitos da natureza, segue seus próprios instintos e desejos. Quaisquer que sejam seus impulsos e inclinações, ele tem a liberdade de satisfazê-los; ainda assim, ele é cativo da natureza. Ele não pode se desviar, nem no mínimo grau, do caminho que a natureza estabeleceu. Ele carece completamente de sensibilidade espiritual, ignora a religião divina e desconhece o Reino de Deus. O animal não tem qualquer capacidade de formar ideias ou de inteligência consciente; é cativo dos sentidos e é privado de tudo além deles. Está sujeito àquilo que o olho vê, o ouvido ouve, as narinas sentem, a gustação detecta e o tato revela. Estes sentidos são aceitáveis e suficien-tes para o animal. Mas aquilo que está além do alcance dos sentidos, o domínio daqueles fenômenos através dos quais o caminho consciente ao Reino de Deus passa, o mundo das sensibilidades espirituais e da religião divina – desses o ani-mal é absolutamente inconsciente, pois na sua mais elevada posição ele é cativo da natureza.

Uma das coisas mais estranhas é que os materialistas de hoje se orgulham de seus instintos e dependências naturais. Eles afirmam que nada é digno de crédito e aceitação exceto aquilo que é sensível e tangível. Pela sua própria afirmativa, eles são cativos da natureza, inconscientes do mundo espiri-tual, alheios ao Reino divino e insipientes das dádivas divinas. Se isto é uma virtude, o animal a atingiu em grau superlativo, pois o animal desconhece completamente o domínio do es-pírito e é privado de qualquer contato com o mundo interior da percepção consciente. O animal estaria de acordo com os materialistas em negar a existência daquilo que transcende os sentidos. Se admitirmos que limitar-se ao plano dos sentidos é uma virtude, o animal é de fato mais virtuoso que o homem, pois é inteiramente privado daquilo que se encontra além e absolutamente inconsciente do Reino de Deus e seus sinais,

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enquanto Deus entesourou na criatura humana uma ilimitada capacidade pela qual ele pode reger o mundo da natureza.

Considerai como todos os outros seres fenomênicos são cativos da natureza. O sol, aquele colossal centro do nosso sistema solar, as estrelas e planetas gigantes, as imensas mon-tanhas, o próprio globo terrestre e seus reinos inferiores ao ser humano – são todos cativos da natureza, exceto o homem. Nenhum outro ser criado pode, nem que seja no mais ínfimo grau, desviar-se da submissão às leis da natureza. O sol, em sua glória e grandeza, milhões de milhas afastado, é cativo em sua órbita de revolução universal, sujeito ao controle natural do universo. O homem é o regente da natureza. De acordo com a restrição e lei natural ele deveria permanecer sobre a terra, mas vede como ele transgride essa lei e voa por sobre as montanhas em aviões. Ele navega a superfície do oceano e submerge nas profundezas em submarinos. O homem faz da natureza sua serva; ele subordina, por exemplo, a poderosa energia da eletricidade e a aprisiona numa pequena lâmpada para seu uso e conveniência. Ele fala do Oriente para o Oci-dente através de um fio. Ele é capaz de armazenar e guardar sua voz num fonógrafo. Embora viva sobre a terra, ele penetra os mistérios dos mundos estelares inconcebivelmente distantes. Descobre realidades ocultas no interior da terra, descobre te-souros, desvenda segredos e mistérios do mundo fenomênico e traz à luz aquilo que de acordo com as cuidadosas leis da natureza deveria permanecer oculto, desconhecido e inson-dável. Por intermédio de uma perfeita capacidade interior o homem traz essas realidades do plano invisível para o visível. Isto é contrário à lei da natureza.

É evidente, portanto, que o homem exerce domínio sobre o campo da natureza. A natureza é inerte; o homem é progressista. A natureza não possui consciência; o homem é dotado dela. A natureza não possui vontade e age forçosa-

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mente, enquanto o homem possui uma poderosa vontade. A natureza é incapaz de descobrir mistérios e realidades, ao passo que o homem é especialmente capaz de fazer isso. A natureza não tem relação com o domínio de Deus; o ho-mem se sintoniza com suas evidências. A natureza não tem conhecimento de Deus; o homem tem consciência d’Ele. O homem adquire virtudes; a natureza é privada delas. O ho-mem pode voluntariamente eliminar vícios; a natureza não possui poder de modificar a influência de seus instintos. Em suma, é evidente que o homem é mais nobre e superior, e que nele existe uma capacidade perfeita que supera a natureza. Ele tem consciência, vontade, memória, inteligência, atributos divinos e virtudes de que a natureza carece totalmente; por isso, o homem é mais elevado e nobre devido à perfeita força celestial latente e manifesta nele.

Como parece estranho que o homem, apesar de ser dotado desse poder perfeito, possa descer a um nível que lhe é inferior e simplesmente se declarar claramente inferior à sua verdadeira posição. Deus criou nele um tal espírito consciente que ele é o mais maravilhoso de todos os seres contingentes. Ignorando essas virtudes ele desce ao plano material, considera a matéria o governante da existência e nega aquilo que está além dela. Será isso virtude? No sentido mais amplo, isso é animalesco, pois o animal nada mais percebe. Na verdade, desse ponto de vista o animal é o maior filósofo, pois ignora completamente o Reino de Deus, não tem qualquer sensibilidade espiritual e não possui conhecimento algum do mundo celestial. Em suma, esta é uma visão do caminho da natureza.

O segundo caminho é o da religião, o caminho do Reino divino. Ele implica a aquisição de atributos louváveis, ilumi-nação celestial e atos justos no mundo humano. Este caminho conduz ao progresso e elevação do mundo. É fonte de ilumi-nação humana, educação e melhoramento ético – o ímã que

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atrai o amor de Deus por causa do conhecimento de Deus que ele concede. Este é o caminho dos santos Manifestantes de Deus; pois na realidade Eles são a base da divina religião da unicidade. Não há mudança ou transformação nesse ca-minho. É a causa do aperfeiçoamento humano, a aquisição de virtudes e iluminação do gênero humano.

Infelizmente a humanidade está completamente submer-sa em imitações e falsidades, embora a verdade da religião divina tenha sempre permanecido a mesma. Superstições obscureceram a verdade fundamental, o mundo escureceu e a luz da religião está oculta. Esta escuridão leva a divergên-cias e dissensões; há muitos e variados rituais e dogmas; por isso surgiu discórdia entre os sistemas religiosos, enquanto a religião é para a unificação da espécie humana. A verdadeira religião é fonte de amor e harmonia entre os homens, a causa de desenvolvimento de qualidades louváveis, mas os povos se apegam à falsificação e à imitação, negligenciam a reali-dade que unifica, privando-se assim da radiância da religião. Seguem superstições herdadas de seus pais e ancestrais. De tal modo isto prevaleceu que eles retiraram a luz celestial da verdade divina e permanecem na escuridão das imitações e imaginações. Aquilo que estava destinado a conduzir à vida tornou-se causa de morte; aquilo que era um fator de conhe-cimento, agora é prova de ignorância; aquilo que era um ele-mento de sublimidade da natureza humana mostrou-se como sua degradação. Por isso, o domínio dos religiosos restringiu-se e obscureceu-se gradativamente, ampliando-se e avançando o campo dos materialistas; pois os religiosos se prenderam à imitação e à falsidade, negligenciando e abandonando a santidade e a sagrada realidade da religião. Quando o sol se põe, é o tempo dos morcegos voarem. Eles avançam porque são criaturas da noite. Quando a luz da religião obscurece, os materialistas aparecem. Eles são os morcegos da noite. O

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declínio da religião é o tempo de sua atividade; eles procu-ram as sombras quando o mundo mergulha na escuridão e as nuvens se espalham sobre ele.

Bahá’u’lláh surgiu no horizonte oriental. Ele veio ao mundo como a glória do sol. Refletiu a realidade da religião divina, dispersou as trevas da imitação, colocou as bases de novos ensinamentos e ressuscitou o mundo.

O primeiro ensinamento de Bahá’u’lláh é a investigação da verdade. O homem deve procurar a verdade por si mesmo, afastando-se da imitação e de meras formas herdadas. Como as nações do mundo estão seguindo imitações em vez da ver-dade e as imitações são muitas e variadas, diferenças de crença têm resultado em conflito e guerra. Enquanto essas imitações permanecerem, a unicidade do mundo humano é impossí-vel. Por isso, devemos investigar a verdade para que através de suas luzes as nuvens e a escuridão possam ser dispersas. A realidade é apenas uma; ela não admite multiplicidade ou divisão. Se as nações do mundo investigarem a verdade, elas se harmonizarão e se tornarão unidas. Muitas pessoas e seitas na Pérsia buscaram a verdade através da guia e dos ensinamentos de Bahá’u’lláh. Elas se tornaram unidas e agora vivem numa condição de harmonia e amor; não mais existe o menor traço de inimizade e conflito entre elas.

Os judeus estavam esperando o aparecimento do Messias, buscando-o de coração e alma, mas, por estarem submersos em imitações, não acreditaram em Jesus Cristo quando Ele apareceu. Finalmente levantaram-se contra Ele até o extremo de persegui-Lo e derramar Seu sangue. Se tivessem investiga-do a verdade, teriam aceitado seu prometido Messias. Essas cegas imitações e preconceitos hereditários invariavelmente se tornaram a causa de amargura e ódio, e encheram o mundo com a treva e a violência da guerra. Por isso, devemos buscar a verdade fundamental para nos desembaraçarmos de tais

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condições e então, com faces iluminadas, encontrarmos o caminho para o Reino de Deus.

O segundo ensinamento de Bahá’u’lláh diz respeito à unidade do gênero humano. Todos são servos de Deus e membros da mesma família humana. Deus criou a todos e todos são Seus filhos. Ele educa, nutre, provê e é bondoso a todos. Por que nós deveríamos ser injustos e maldosos? Esta é a política de Deus, cuja luz brilhou no mundo todo. Seu sol concede seu esplendor indistintamente a todos; Suas nuvens vertem chuva sem distinção ou privilégio; Suas brisas refrescam a terra inteira. É evidente que o gênero humano, sem exceção, é abrigado à sombra de Sua mercê e proteção. Alguns são imperfeitos; eles devem ser aperfeiçoados. Os insipientes devem ser instruídos, os enfermos, restabelecidos, os adormecidos, despertados. A criança não deve ser oprimida ou censurada porque não é desenvolvida; ela deve ser pacien-temente treinada. Os enfermos não devem ser negligenciados por estarem doentes; ao contrário, devemos ter compaixão e ajudar a curá-los. Em suma, as antigas condições de animo-sidade, fanatismo e ódio entre os sistemas religiosos devem ser abandonadas e as novas condições de amor, harmonia e fraternidade espiritual, estabelecidas entre eles.

O terceiro ensinamento de Bahá’u’lláh é que a religião deve ser fonte de companheirismo, causa de unidade e a proximidade de Deus ao homem. Se ela promover ódio e contenda, evidentemente a ausência da religião é preferível e um homem irreligioso, melhor do que aquele que a profes-sa. De acordo com a intenção e a Vontade divina, a religião deve ser causa de amor e concórdia, um laço para unir toda a humanidade, pois ela é a mensagem de paz e benevolência de Deus ao homem.

O quarto princípio de Bahá’u’lláh é a harmonia entre a religião e a ciência. Deus dotou o homem de inteligência e

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razão, por meio das quais ele deve decidir a veracidade das questões e proposições. Se as crenças e opiniões religiosas forem consideradas contrárias ao padrão da ciência, elas são meras superstições e imaginações; pois a antítese do conhe-cimento é ignorância, e o filho da ignorância é superstição. Inquestionavelmente deve haver concordância entre a ver-dadeira religião e a ciência. Se uma questão for considerada contrária à razão é impossível ter fé e crer nela, e dela nada resulta senão indecisão e hesitação.

Bahá’u’lláh ensinou também que os preconceitos – sejam religiosos, raciais, patrióticos ou políticos – destroem as bases do desenvolvimento humano. Preconceitos de qualquer espé-cie são destruidores da felicidade e do bem-estar humanos. A menos que sejam banidos, o progresso do mundo humano é impossível; por enquanto há preconceitos raciais, religiosos e nacionais em toda parte. Durante milhares de anos o mundo humano foi agitado e perturbado por preconceitos. Enquanto eles perdurarem, guerra, animosidade e ódio hão de continuar. Por isso, se quisermos estabelecer a paz, devemos deixar de lado este obstáculo; pois de outro modo não haverá concórdia e compostura.

Sexto, Bahá’u’lláh deixou princípios de orientação e ensi-namentos para o reajustamento da economia. Revelou regu-lamentos que asseguram o bem estar da comunidade. Assim como o rico desfruta sua vida cercado por facilidades e luxo, o pobre deve, igualmente, ter um lar e obter sua subsistência e conforto de acordo com suas necessidades. Este reajustamento da economia social é de suprema importância, uma vez que garante a estabilidade do mundo humano; e a menos que ele seja atingido, felicidade e prosperidade são impossíveis.

Sétimo, Bahá’u’lláh ensinou que um padrão equitativo de direitos humanos deve ser reconhecido e adotado. Perante Deus, todos os homens são iguais; no domínio de Sua jus-

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tiça e equidade não há qualquer distinção ou preferência a qualquer alma.

Oitavo, educação é essencial e todos os padrões de treino e ensino em todo o mundo humano devem estar em confor-midade e acordo; um currículo universal deve ser estabelecido e as bases para a ética devem ser as mesmas.

Nono, uma língua universal deve ser adotada e ensinada por todas as escolas e instituições do mundo. Um comitê designado por corpos nacionais de aprendizado deve selecio-nar um idioma adequado para ser usado como um meio de comunicação internacional. Todos devem aprendê-lo. Este é um dos grandes fatores para a unificação da humanidade.

Décimo, Bahá’u’lláh enfatizou e estabeleceu a igualdade do homem e da mulher. O sexo não é específico da humanida-de; ele existe em todos os reinos animados, mas sem distinção ou preferência. No reino vegetal, há completa igualdade entre macho e fêmea de cada espécie. De igual modo, há igualdade no plano do animal; todos estão sob a proteção de Deus. Será apropriado ao homem, a mais nobre das criaturas, fazer tal distinção e insistir nela? A falha no progresso e proficiência das mulheres era devida à carência de educação e oportunidade iguais. Se lhe fosse permitida essa igualdade, não há dúvida de que ela seria equiparada ao homem em habilidade e ca-pacidade. A felicidade da humanidade será atingida quando mulheres e homens, coordenados, avançarem igualmente, pois cada um é o complemento e assistente do outro.

O mundo humano não pode avançar meramente por intermédio de poderes físicos e realizações intelectuais; ao contrário, o Espírito Santo é essencial. O Pai divino deve auxiliar o mundo humano a atingir a maturidade. O corpo do homem está carente de energia física e mental, mas seu espírito requer a vida e a fortaleza do Espírito Santo. Sem sua proteção e vivificação, o mundo humano se extinguiria.

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Jesus Cristo declarou: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos.” (Mateus 8:22) Disse também: “O que nasceu da carne é carne; o que nasceu do Espírito é espírito.” (João 3:6) De acordo com Cristo, é evidente, portanto, que o espírito humano que não for fortificado pela presença do Espírito Santo está morto e precisa de ressurreição pelo poder divino; senão, embora materialmente avançado a graus elevados, o homem não pode atingir pleno e completo progresso.

— A Promulgação da Paz Universal, pp. 219-226

CIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL

Se lançarmos um olhar aguçado sobre o mundo da criação, veremos que todas as coisas existentes podem ser classificadas do seguinte modo: primeiro, o mineral – isto é, matéria ou substância em diferentes formas de composição; segundo, o vegetal – possuindo as virtudes do mineral além da capacidade de aumento ou crescimento, indicando um grau mais avançado e mais especializado que o mineral; terceiro, o animal – possuindo os atributos do mineral e do vegetal, além do poder da percepção dos sentidos; quarto, o homem – o organismo mais altamente especializado da criação visí-vel, incorporando as qualidades do mineral, do vegetal e do animal, além de um excelente dom absolutamente ausente nos reinos inferiores – o poder da investigação intelectual dos mistérios e dos fenômenos exteriores. O resultado desse dom intelectual é a ciência, que é característica específica do homem. Este poder científico investiga e compreende as coisas criadas e as leis que as regem. É o descobridor dos segredos e mistérios ocultos do universo material e é peculiar apenas ao homem. A mais nobre e digna realização do homem é, portanto, o conhecimento e o feito científicos.

A ciência pode ser comparada a um espelho no qual se

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refletem as imagens dos mistérios dos fenômenos exteriores. Gera e nos mostra, no campo do conhecimento, tudo o que foi produzido no passado. Interliga o passado e o presente. As conclusões filosóficas dos séculos anteriores, os ensinamentos dos Profetas e a sabedoria dos antigos sábios são cristalizados e resultam no avanço científico de hoje. A ciência é a descobri-dora do passado. De suas premissas do passado e do presente, tiramos conclusões para o futuro. A ciência é a governante da natureza e seus mistérios, o único meio pelo qual o homem explora as leis da criação material. Todas as coisas criadas são cativas da natureza e sujeitas às suas leis. Elas não podem transgredir o controle dessas leis nem por um detalhe ou pormenor. Os infinitos mundos estelares e os corpos celestes são súditos obedientes da natureza. A terra e suas miríades de organismos, todos os minerais, plantas e animais são servos de seu domínio. Mas o homem, através do exercício de seu poder intelectual e científico, pode sobrepujar essa condição, pode modificar, alterar e controlar a natureza de acordo com seus próprios desejos e necessidades. A ciência, por assim dizer, é a que rompe as leis da natureza.

Considerai, por exemplo, que o homem, de acordo com a lei natural, deve habitar sobre a superfície da terra. Superando essa lei e restrição, no entanto, ele iça suas velas sobre os oce-anos, sobe ao zênite em aeroplanos e penetra nas profundezas do mar em submarinos. Isto é novamente contrário à ordem da natureza e uma violação de sua soberania e domínio. As leis e métodos da natureza, os segredos ocultos e os mistérios do universo, as descobertas e invenções humanas, todas as nossas aquisições científicas naturalmente permaneceriam ocultas e desconhecidas, mas, através de sua perspicácia, o homem as busca no plano do invisível, coloca-as no plano do visível, expondo-as e explicando-as. Por exemplo, um dos mistérios da natureza é a eletricidade. De acordo com a natureza, esta

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força, esta energia, deveria permanecer latente e oculta, mas, através da ciência, o homem rompe as próprias leis da natu-reza, apreende-a e até mesmo a aprisiona para seu uso.

Em suma, por possuir este primoroso dom da investigação científica, o homem é o mais nobre produto da criação, o go-vernante da natureza. Ele toma a espada das mãos da natureza e a usa na cabeça da natureza. De acordo com a lei natural, a noite é o período da escuridão e da obscuridade, mas, uti-lizando o poder da eletricidade, empunhando esta espada da eletricidade, o homem vence a escuridão e dispersa as trevas. O homem é superior à natureza e faz cumprir sua ordem. O homem é um ser sensível; a natureza não tem sentidos. O homem possui memória e razão; a natureza carece delas. O homem é mais nobre do que a natureza. Nele há poderes de que a natureza é privada. Pode-se dizer que esses poderes são provenientes da própria natureza e que o homem faz parte da natureza. Respondendo a essa afirmativa, diremos que, se a natureza é o todo e o homem é parte desse todo, como é possível que a parte tenha qualidades e virtudes ausentes no todo? Sem dúvida, a parte deve ser dotada das mesmas qualidades e propriedades do todo. Por exemplo, o cabelo faz parte da anatomia humana. Ele não pode possuir elementos que não são encontrados em outras partes do corpo, pois, em todos os casos, os elementos componentes do corpo são os mesmos. Por isso é claro e evidente que o homem, embora fisicamente faça parte da natureza, seu espírito possui um poder que transcende a natureza; pois se fosse simplesmente uma parte da natureza e limitado às leis materiais, somente poderia possuir as coisas que a natureza incorpora. Deus lhe conferiu e lhe acrescentou um poder distintivo – a faculdade da investigação intelectual dos segredos da criação, a aquisi-ção de conhecimento mais elevado – cuja virtude maior é o esclarecimento científico.

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Este dom é o mais louvável poder do homem, pois através de seu uso e exercício o aperfeiçoamento da raça humana pode ser realizado, o desenvolvimento das virtudes do gênero humano se torna possível, e o espírito e os mistérios de Deus se tornam manifestos. Por isso estou muito satisfeito com minha visita a esta universidade. Louvor a Deus, pois este país está repleto de tais instituições de erudição nas quais o conhecimento das ciências e artes podem ser rapidamente adquiridos.

Como as ciências materiais e físicas são ensinadas aqui e estão constantemente se desenvolvendo com perspectivas de maiores realizações, estou esperançoso de que o desenvolvi-mento espiritual possa também avançar e caminhar junto com estas vantagens exteriores. Como o conhecimento material está iluminando aqueles que estão dentro dos muros deste grande templo de aquisição de conhecimento, que a luz do espírito, a secreta e divina luz da verdadeira filosofia, possa também glorificar esta instituição. O mais importante prin-cípio da divina filosofia é a unicidade do mundo humano, a unidade da humanidade, o elo que liga Oriente e Ocidente, o laço de amor que mescla corações humanos.

Por isso, é nosso dever envidar o máximo esforço e chamar todas as nossas energias para que os laços de unidade e concór-dia possam ser estabelecidos entre a humanidade. Por milhares de anos tivemos derramamento de sangue e contenda. Já basta, já é suficiente. Agora é tempo de se associar em amor e harmonia. Durante milhares de anos temos tentado a espada e a guerra; deixemos a humanidade viver pelo menos por al-gum tempo em paz. Examinai a história e considerai quanta selvageria, quanta carnificina e guerra o mundo já viu. Houve guerras religiosas, guerras políticas, ou algum outro choque de interesses humanos. O mundo humano jamais desfrutou a bênção de paz universal. Ano após ano os instrumentos de

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guerra são aumentados e aperfeiçoados. Considerai as guerras dos séculos passados; apenas dez, quinze ou no máximo vinte mil eram mortos. Mas hoje é possível matar cem mil num só dia. Nos tempos antigos, as guerras eram feitas com a espa-da; hoje é com arma sem fumaça. Anteriormente, os navios de guerra eram embarcações a vela, hoje são encouraçados. Considerai a multiplicação e o aperfeiçoamento das armas de guerra. Deus nos criou a todos, seres humanos, e todos os países do mundo são partes do mesmo globo. Somos todos Seus servos. Ele é bondoso e justo a todos. Por que devería-mos ser cruéis e injustos uns para com os outros? Ele provê a todos. Por que devemos privar uns aos outros? Ele protege e ampara a todos. Por que deveríamos matar nossos semelhan-tes? Se esta guerra e contenda forem por causa da religião, é evidente que violam o espírito e a base de toda religião. Todos os divinos Manifestantes proclamaram a unicidade de Deus e a unidade do gênero humano. Eles ensinaram que os homens devem se amar e se ajudar mutuamente para que possam progredir. Ora, se este conceito de religião for verda-deiro, seu princípio essencial é a unicidade da humanidade. A verdade fundamental dos Manifestantes é a paz. É isto que sustenta toda religião e toda a justiça. O propósito divino é que os homens vivam em unidade, concórdia e harmonia, e amem uns aos outros. Considerai as virtudes do mundo humano e percebei que a unicidade da humanidade é a base fundamental de todas elas. Lede o Evangelho e outros Livros Sagrados. Sabereis que seus fundamentos são um e o mesmo. Portanto, unidade é a verdade essencial da religião e, quando assim entendido, abarca todas as virtudes do mundo humano. Louvores a Deus! Este conhecimento foi difundido, os olhos foram abertos e os ouvidos se tornaram atentos. Por isso, devemos nos esforçar em promulgar e praticar a religião de

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Deus que foi fundada por todos os Profetas. E a religião de Deus é absoluto amor e unidade.

— A Promulgação da Paz Universal, pp. 33-7

ENSINAMENTOS DE BAHÁ’U’LLÁH

Eu vos falarei a respeito de certos ensinamentos peculiares de Bahá’u’lláh. Todos os princípios divinos anunciados pela língua dos Profetas do passado se encontram nas palavras de Bahá’u’lláh; mas além desses, Ele revelou certos ensinamen-tos novos que não são encontrados em nenhum dos Livros sagrados antigos. Eu vou mencionar alguns deles; os outros, que são muito numerosos, podem ser encontrados nos Livros, Cartas e Epístolas escritos por Bahá’u’lláh – tais como As Palavras Ocultas, As Boas-Novas, As Palavras do Paraíso, Ta-jallíyát, Tarázát e outros. Do mesmo modo, no Kitáb-i-Aqdas há novos ensinamentos que não podem ser encontrados em qualquer um dos Livros ou Epístolas dos Profetas.

Um ensinamento fundamental de Bahá’u’lláh é a unici-dade da humanidade. Dirigindo-Se ao gênero humano, Ele diz: “Sois todos folhas de uma só árvore e frutos do mesmo ramo.” Isto quer dizer que o mundo da humanidade é como uma árvore, as nações ou povos são os diferentes membros ou ramos dessa árvore e as criaturas humanas seus frutos e flores. Desse modo Bahá’u’lláh expressou a unicidade da humani-dade, ao passo que nos ensinamentos religiosos do passado o mundo humano era representado e dividido em duas partes: uma conhecida como o povo do Livro de Deus, ou a árvore pura, e a outra como o povo da infidelidade e do erro, ou a árvore do mal. A primeira era considerada como a dos fiéis, e a outra como as hostes dos irreligiosos e infiéis – uma parte da humanidade era recipiente da misericórdia divina e a outra

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como objeto da ira de seu Criador. Bahá’u’lláh eliminou isto através da proclamação da unicidade do mundo humano e este princípio é peculiar aos Seus ensinamentos, pois Ele sub-mergiu toda a humanidade no mar da generosidade divina. Alguns estão adormecidos; precisam ser despertados. Alguns estão enfermos; precisam ser curados. Alguns são imaturos como crianças; precisam ser treinados. Mas todos são reci-pientes das graças e dádivas de Deus.

Outro novo princípio revelado por Bahá’u’lláh é o manda-mento de investigar a verdade – isto quer dizer que ninguém deve seguir cegamente seus ancestrais e antepassados. Não, cada um deve ver com seus próprios olhos, ouvir com seus próprios ouvidos e investigar a verdade por si mesmo para poder seguir a verdade em vez de cega adesão e imitação a crenças ancestrais.

Bahá’u’lláh anunciou que o fundamento de todas as reli-giões de Deus é um só, que unicidade é verdade e verdade é unicidade, a qual não admite pluralidade. Este ensinamento é novo e exclusivo desta manifestação.

Ele expõe um novo princípio para este dia ao anunciar que a religião deve ser causa de unidade, harmonia e concórdia entre a humanidade. Se ela for causa de discórdia e hostilidade, se ela levar à separação e criar conflito, a ausência da religião seria preferível para o mundo.

Além disso, Ele proclama que a religião deve estar em harmonia com a ciência e a razão. Se ela não concordar com a ciência e não se harmonizar com a razão, ela é superstição. Até hoje, sempre foi costume o homem aceitar um ensinamento religioso, mesmo que não estivesse de acordo com a razão e o julgamento humano. A harmonia da crença religiosa com a razão é uma nova perspectiva que Bahá’u’lláh abriu para a alma do homem.

Ele estabeleceu a igualdade entre homens e mulheres.

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Isto é peculiar aos ensinamentos de Bahá’u’lláh, pois todas as outras religiões colocaram o homem acima da mulher.

Um novo princípio religioso é que preconceito e fana-tismo – sejam sectários, denominacionais, patrióticos ou políticos – destroem o fundamento da solidariedade humana; por isso, o homem deve se libertar de tais laços para que a unicidade do mundo humano possa se tornar manifesta.

A paz universal é assegurada por Bahá’u’lláh como uma realização fundamental da religião de Deus – a paz há de prevalecer entre nações, governos e povos, entre religiões, raças e todas as condições da humanidade. Esta é uma das características específicas da Palavra de Deus revelada nesta manifestação.

Bahá’u’lláh declara que toda a humanidade deve alcançar conhecimento e adquirir educação. Este é um princípio ne-cessário da crença e observância religiosa, caracteristicamente novo desta dispensação.

Ele anunciou a solução e proveu o remédio para a questão econômica. Nenhum dos Livros religiosos dos Profetas do passado falam deste importante problema humano.

Ele ordenou e estabeleceu a Casa de Justiça, a qual é dota-da de uma função política, bem como religiosa, a consumada união e fusão da igreja e do estado. Esta instituição está sob a força protetora do próprio Bahá’u’lláh. Uma Casa de Justiça universal ou internacional também deverá ser organizada. Suas decisões estarão de acordo com os mandamentos e ensina-mentos de Bahá’u’lláh, e tudo aquilo que a Casa Universal de Justiça ordenar deverá ser obedecido por toda a humanidade. Esta Casa de Justiça internacional será designada e organizada a partir das Casas de Justiça de todo o mundo e o mundo inteiro se abrigará sob sua administração.

Quanto à característica suprema da revelação de Bahá’u’lláh, um ensinamento específico não proclamado por

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qualquer um dos Profetas do passado, é a determinação e a designação do Centro do Convênio. Através dessa designação e provisão, Ele salvaguardou e protegeu a religião de Deus contra divergências e cismas, tornando impossível a qualquer um criar uma nova seita ou facção de crença. Para assegurar a unidade e a concórdia Ele fez um Convênio com todo o povo do mundo, incluindo o intérprete e expositor de Seus ensinamentos, de modo que ninguém pudesse interpretar ou explicar a religião de Deus de acordo com seu próprio ponto de vista ou opinião e assim criar uma seita baseada em seu próprio entendimento das Palavras divinas. O Livro do Convênio ou Testamento de Bahá’u’lláh é o meio para pre-venir tal possibilidade, pois todo aquele que falar apenas de sua própria autoridade deve ser desprezado. Sede informados e cientes disso.

— A Promulgação da Paz Universal, pp. 570-3

OS EDUCADORES DA HUMANIDADE

De acordo com a afirmação dos filósofos, na espécie humana, a diferença de grau entre o mais baixo e o mais alto é devida à educação. As provas que eles apresentam são as se-guintes: a civilização europeia e a americana são uma evidência e resultado da educação, ao passo que as condições dos povos semicivilizados e bárbaros da África dão testemunho de que eles foram privados de suas vantagens. A educação torna o ignorante sábio, o tirano, justo, promove a felicidade, forta-lece a mente, desenvolve a vontade e faz árvores infrutíferas da humanidade se tornarem frutíferas. Portanto, no mundo humano, alguns atingiram posições elevadas, enquanto outros tateiam no abismo do desespero. No entanto, a mais alta realização é possível a cada membro da raça humana, até mesmo alcançar a posição de Profetas. Eis o que afirmam e argumentam os filósofos.

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Os Profetas de Deus são os primeiros educadores. Eles conferem educação universal ao homem e o fazem erguer-se dos mais baixos níveis de selvageria até os mais altos piná-culos do desenvolvimento espiritual. Os filósofos também são educadores que avançam paralelamente na educação intelectual. Eles têm sido no máximo capazes de educar a si mesmos e um número limitado daqueles que os cercam, de melhorar sua própria moral e, por assim dizer, civilizar-se a si próprios; mas foram incapazes de dar educação universal. Falharam em fazer qualquer nação avançar da selvageria para a civilização.

É evidente que, embora a educação melhore a moral da humanidade, confira as vantagens da civilização e eleve o homem dos mais baixos níveis para a posição de sublimidade, há, no entanto, uma diferença na capacidade intrínseca ou inata dos indivíduos. Dez crianças da mesma idade, nasci-das na mesma posição social, educadas na mesma escola, alimentando-se da mesma comida, em todos os aspectos sujeitas ao mesmo ambiente, sendo comuns e iguais os seus interesses, mostrarão diferentes e distintos graus de poten-cialidade e progresso; algumas serão extremamente inteli-gentes e capazes de progredir, algumas serão medianamente capazes, outras, limitadas e incapazes. Uma poderá se tornar um erudito mestre, enquanto outra, nas mesmas condições de educação, mostrar-se-á inepta e tola. De todos os pontos de vista, as oportunidades foram iguais, mas os resultados e efeitos variam desde o mais alto até o mais baixo grau de progresso. É evidente, portanto, que a humanidade varia em capacidade inata e dom intelectual intrínseco. Não obstante, embora as capacidades não sejam as mesmas, todo membro da raça humana está capacitado para a educação.

Jesus Cristo foi um Educador da humanidade. Seus ensinamentos foram altruístas; Suas dádivas, universais. Ele

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ensinou a humanidade pelo poder do Espírito Santo e não por intermédio de intervenção humana, pois o poder humano é limitado, enquanto o poder divino é ilimitável e infinito. A influência e as realizações de Cristo atestarão este fato. Ga-leno, o médico e filósofo grego que viveu no segundo século depois de Cristo, escreveu um tratado sobre a civilização das nações. Ele não era cristão, mas deu testemunho de que as crenças religiosas exerciam uma extraordinária influência sobre os problemas da civilização. Em essência, ele disse: “Há certas pessoas entre nós que seguem Jesus, o nazareno, que foi morto em Jerusalém. Estas pessoas são realmente imbu-ídas de princípios morais que são a inveja dos filósofos. Eles creem em Deus e o temem. Têm esperança em Seus favores; por isso eles se afastam de atos indignos e tendem para ética e moral louváveis. Dia e noite eles se esforçam para que suas ações sejam meritórias e possam contribuir para o bem-estar da humanidade; por isso, cada um deles é virtualmente um filósofo, pois estas pessoas atingiram aquilo que é a essência e o sentido da filosofia. Eles têm uma moral louvável, mesmo que sejam iletrados.”

O propósito disso é mostrar que os santos Manifestantes de Deus, os divinos Profetas, são os primeiros Professores do gênero humano. Eles são Educadores universais, e os prin-cípios fundamentais que delinearam são causas e fatores do progresso das nações. Modelos e imitações que se arrastam pela posteridade não conduzem àquele progresso. Ao contrá-rio, são destruidores dos alicerces humanos estabelecidos pelos Educadores celestiais. Eles são nuvens que obscurecem o Sol da Realidade. Se refletirdes sobre os ensinamentos essenciais de Jesus, percebereis que são a luz do mundo. Ninguém pode questionar sua veracidade. São a própria fonte de vida e causa de felicidade para a raça humana. Os modelos e superstições

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que surgiram e obscureceram a luz não afetaram a realidade de Cristo. Por exemplo, Jesus Cristo disse: “Embainha a tua espada.” (João 18:11) Isto quer dizer que a guerra é proibida e revogada; mas, considerai as guerras cristãs que acontece-ram subsequentemente. A hostilidade e a inquisição cristãs não pouparam nem mesmo os sábios; aquele que proclamou a translação da terra foi aprisionado; aquele que anunciou o novo sistema astronômico foi perseguido como herege; eruditos e cientistas se tornaram objetos de ódio fanático, e muitos foram torturados e mortos. Como podem esses atos se harmonizar com os ensinamentos de Jesus Cristo, e qual a sua relação com o próprio exemplo de Jesus? Pois Cristo declarou: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos per-seguem; deste modo vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque Ele fez nascer o Seu sol igualmente sobre maus e bons, e cair a chuva sobre justos e injustos.” (Mateus 5: 44-45) Como podem o ódio, a hostilidade e a perseguição se reconciliar com Cristo e Seus ensinamentos?

Por isso há necessidade de retornar aos fundamentos ori-ginais. Os princípios fundamentais dos Profetas são corretos e verdadeiros. As imitações e superstições que se seguem estão em imenso conflito com os preceitos e mandamentos originais. Bahá’u’lláh repetiu e restabeleceu a quintessência dos ensinamentos de todos os Profetas, deixando de lado os acréscimos e purificando a religião da interpretação huma-na. Ele escreveu um livro intitulado As Palavras Ocultas. O prefácio anuncia que ele contém a essência das palavras dos Profetas do passado, revestida com a roupagem da brevidade, para a instrução e orientação espiritual do povo do mundo. Lede-o para que possais entender os verdadeiros fundamentos da religião e refleti sobre a inspiração dos Mensageiros de Deus. É luz sobre luz.

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Não devemos buscar a verdade nos atos e feitos das nações; devemos investigar a verdade na sua fonte divina e convocar toda a humanidade a se unir na própria realidade.

— A Promulgação da Paz Universal, pp. 102-5

O ESTANDARTE DIVINO DO CONHECIMENTO

No ano passado, durante minha visita a Londres e Paris, eu tive muitas conversas com os filósofos materialistas da Eu-ropa. A base de todas as suas conclusões é que o conhecimento dos fenômenos é adquirido segundo uma lei fixa e invariável – uma lei matematicamente exata que opera através dos sen-tidos. Por exemplo, o olho vê uma cadeira; por isso não há dúvida a respeito da existência da cadeira. O olho olha para o céu e vê o sol; eu vejo flores sobre esta mesa; sinto seu perfume; ouço sons lá fora, etc. Isto, dizem eles, é uma lei matemática determinada de percepção e dedução, cuja operação não ad-mite qualquer dúvida; pois uma vez que o universo está sujeito aos nossos sentidos, é prova intrinsecamente evidente de que nosso conhecimento dele deve ser adquirido por intermédio dos sentidos. Isto quer dizer que os materialistas proclamam que o critério e o padrão do conhecimento humano é a per-cepção pelos sentidos. Entre os romanos e gregos o critério do conhecimento era a razão – que tudo o que é provável e aceitável pela razão deve necessariamente ser admitido como verdade. Um terceiro padrão ou critério é a opinião sustentada pelos teólogos de que as tradições ou asserções proféticas e interpretações constituem a base do conhecimento humano. Há ainda um outro, um quarto critério, mantido pelos reli-giosos e metafísicos, que diz que a fonte e o canal da aquisição de todo conhecimento humano é a inspiração. Em suma, de acordo com o que os homens dizem, estes quatro critérios são: primeiro, a percepção através dos sentidos; segundo, a

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razão; terceiro, as tradições; e quarto, a inspiração.Na Europa eu disse aos filósofos e cientistas do materia-

lismo que o critério dos sentidos não é confiável. Considerai, por exemplo, um espelho e as imagens nele refletidas. Estas imagens não têm existência física real. Mas se nunca tivésseis visto um espelho, insistiríeis e acreditaríeis firmemente que são reais. Os olhos veem uma miragem no deserto em forma de um lago, mas não há qualquer realidade nela. Quando estamos no convés de um vapor a praia parece estar se mo-vendo, embora saibamos que a terra é estacionária e nós é que nos movemos. Acreditava-se que a terra era fixa e que o sol se movia em sua volta, mas, embora pareça ser assim, agora sabemos que o inverso é que é verdadeiro. Uma tocha em movimento circular faz aparecer um círculo de fogo ante nossos olhos, mas sabemos que se trata de apenas um ponto de luz. Vemos uma sombra que se move pelo chão, mas ela não possui existência material nem substância. Nos desertos, os efeitos atmosféricos produzem ilusões que particularmente enganam a vista. Uma vez eu vi uma miragem na qual apa-recia toda uma caravana viajando para o céu. No extremo norte aparece outro fenômeno ilusório que confunde a visão humana. Algumas vezes, três ou quatro sóis, que os cientistas chamam de falsos sóis, brilham ao mesmo tempo, enquanto nós sabemos que o grande orbe solar é um e que permanece estacionário e único. Em resumo, os sentidos continuamente nos enganam, e nós não sabemos distinguir entre aquilo que é real e aquilo que não é.

Quanto ao segundo critério – a razão – também não é confiável e não se pode confiar nele. Este mundo humano é um oceano de opiniões divergentes. Se a razão é o padrão e o critério perfeito para o conhecimento, por que as opiniões variam e por que os filósofos discordam tão completamente uns dos outros? Esta é uma prova clara de que não se pode

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confiar na razão humana como um critério infalível. Por exemplo, grandes descobertas e ideias consagradas de séculos anteriores são continuamente derrubadas e descartadas pelos sábios de hoje. Matemáticos, astrônomos, químicos continua-mente desaprovam e rejeitam as conclusões dos antigos; nada é permanente, nada é final; tudo está em contínua mudança porque a razão humana avança em novos rumos de pesquisa e a cada dia chega a novas conclusões. No futuro, muito daquilo que hoje é aclamado e aceito como verdadeiro, será rejeitado e desaprovado. E assim continuará ad infinitum.

Ao considerarmos o terceiro critério – a tradição – sus-tentado pelos teólogos como o caminho e o padrão para o conhecimento, vemos que é igualmente inseguro e não merece crédito, pois as tradições religiosas são o relato e o registro da compreensão e da interpretação do Livro. Através de que meios se chegou a essa compreensão e essa interpretação? Pela análise da razão humana. Quando lemos o Livro de Deus, a faculdade de compreensão com a qual formamos conclusões é a razão. Razão é mente. Se não somos dotados de uma razão perfeita, como podemos compreender o significado da Palavra de Deus? Por isso, conforme já observamos, a razão humana é, pela sua própria natureza, finita e falha nas suas conclusões. Ela não pode abranger a própria Realidade, a Palavra Infinita. Uma vez que a origem das tradições e interpretações é a razão humana, e a razão humana é falha, como podemos confiar nas suas opiniões como conhecimento verdadeiro?

O quarto critério que citei é a inspiração, através da qual se reivindica ser possível atingir a realidade do conhecimento. O que é inspiração? É a indução do coração humano. Mas o que são as instigações satânicas que afligem o gênero hu-mano? Também são induções do coração. Como podemos fazer distinção entre eles? Surge a questão: Como saber se estamos seguindo a inspiração de Deus ou as instigações

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satânicas da alma humana? Em resumo, o ponto é que, no mundo material humano dos fenômenos, esses são os únicos critérios ou caminhos do conhecimento existentes, e todos eles são falhos e não confiáveis. O que resta, então? Como atingir a realidade do conhecimento? Pelos sopros e estímulos do Espírito Santo, que é luz e o próprio conhecimento. Por seu intermédio, a mente humana é despertada e impelida para conclusões verdadeiras e conhecimento perfeito. Este é o argumento conclusivo que mostra que todos os critérios humanos disponíveis são falhos e imperfeitos, mas o padrão divino de conhecimento é infalível. Por isso não se justifica que o homem diga: “Eu sei porque percebo através dos meus sentidos,” ou “eu sei porque é provado pela minha faculdade da razão,” ou “eu sei porque está de acordo com a tradição e a interpretação do Livro Sagrado,” ou “eu sei porque sou inspirado.” Todos os critérios de julgamento humano são falhos e limitados.

— A Promulgação da Paz Universal, pp. 22-5

O SOL DA REALIDADE

No nosso sistema solar, o foco de iluminação é o próprio sol. Pela vontade de Deus, este luminar central é a única fonte de subsistência e desenvolvimento de todas as coisas fenomenais. Quando observamos os organismos do reino material, vemos que seu crescimento e cultivo dependem do calor e da luz do sol. Sem este impulso vivificador não haveria crescimento das árvores e da vegetação; nem seria possível a existência do animal ou do ser humano; de fato, nenhuma forma de vida criada poderia se manifestar na terra. Mas se re-fletirmos profundamente perceberemos que o grande doador e vivificador é Deus; o sol é o intermediário de Sua vontade e plano. Sem as graças do sol, portanto, o mundo estaria na

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escuridão. Toda a iluminação do nosso sistema planetário procede e emana do foco solar.

Do mesmo modo, no reino espiritual da inteligência e idealismo deve haver um foco de iluminação, e o centro é o sempiterno e sempre brilhante Sol, a Palavra de Deus. Suas luzes são as luzes da realidade que brilharam sobre a humanidade, iluminando o reino do pensamento e da moral, conferindo as graças do mundo divino ao homem. Estas luzes são a causa de educação das almas e fonte de iluminação dos corações, irradiando com seu fulgente esplendor a mensagem das boas-novas do Reino de Deus. Em suma, o progresso do mundo moral e ético e do mundo da regeneração espiritual depende daquele Centro de iluminação celestial. Ele irradia a luz da religião e concede a vida do espírito, imbui a huma-nidade com virtudes arquetípicas e confere esplendor eterno. Este Sol da Realidade, este Centro de esplendor, é o Profeta ou Manifestante de Deus. Assim como o sol fenomênico brilha sobre o mundo material produzindo vida e crescimento, o Sol espiritual ou profético confere iluminação ao mundo humano do pensamento e da inteligência e, a menos que ele brilhe sobre o horizonte da existência humana, o reino humano se tornará tenebroso e extinto.

O Sol da Realidade é um mesmo Sol, mas alvorece em diversos lugares, tal como o sol fenomênico é um só, embora apareça em vários pontos do horizonte. Durante o verão, o lu-minar do mundo físico se levanta bem ao norte do equinócio*, na primavera e no outono ele alvorece a meio caminho, e no inverno ele surge no ponto mais meridional de seu percurso zodiacal. Estes pontos de alvorecer mudam grandemente, mas o sol é sempre o mesmo – tanto no caso do luminar fe-nomênico como do espiritual. As almas que focam sua visão sobre o Sol da Realidade recebem a luz, não importa em que *Cada uma das duas interseções do círculo da eclíptica com o do equador celeste – Dicionário Houaiss. (n.t.)

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ponto ele se levante, mas aquelas que estão presas à adoração do ponto do alvorecer privam-se quando ele aparece numa posição diferente do horizonte espiritual.

Além disso, assim como o ciclo solar possui suas quatro estações, o ciclo do Sol da Realidade tem seus distintos e suces-sivos períodos. Cada um traz sua estação vernal ou primaveril. Quando o Sol da Realidade retorna para vivificar o mundo da humanidade, a divina graça desce do céu da generosidade. O reino dos pensamentos e ideais é posto em movimento e abençoado com nova vida. As mentes se desenvolvem, as esperanças irradiam, as aspirações se tornam espirituais, as virtudes do mundo humano aparecem com renovado poder de crescimento, e a imagem e semelhança de Deus se torna visível ao homem. É a primavera do mundo interior. Após a primavera surge o verão em sua plenitude e frutificação espiritual; o outono se segue com seus ventos debilitantes que abatem a alma; o Sol parece distante, até que finalmente o manto do inverno se estende por toda parte e restam ape-nas traços débeis do esplendor do Sol divino. Assim como a superfície do mundo material se torna escura e monótona, o solo, dormente, as árvores, despidas e expostas, e não há nenhuma beleza ou frescor que compense a escuridão e o desolamento, o inverno do ciclo espiritual testemunha a morte e o desaparecimento do desenvolvimento divino e a extinção da luz e do amor de Deus. Mas novamente o ciclo se inicia e uma nova primavera surge. Nela ressurge a primavera anterior; o mundo é revivificado e iluminado, atingindo a espiritualidade; a religião é renovada e reorganizada, os co-rações se volvem a Deus, o chamado de Deus é escutado e a vida é novamente conferida ao homem. Por longo tempo o mundo religioso havia enfraquecido e o materialismo avan-çava; as forças espirituais da vida minguavam, a moralidade deteriorava, a tranquilidade e a paz desvaneciam-se das almas,

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e qualidades satânicas dominavam os corações; contenda e ódio obscureciam a humanidade, carnificina e violência pre-valeciam. Deus havia sido negligenciado; o Sol da Realidade parecia ter desaparecido completamente; a privação das graças celestiais era um fato; o inverno havia caído sobre a humani-dade. Mas Deus, em Sua generosidade, fez surgir uma nova primavera, as luzes de Deus se irradiaram e o fulgente Sol da Realidade retornou e se manifestou, o mundo do pensamento e o reino dos corações se regozijaram, um novo espírito de vida insuflou-se no corpo do mundo, e revelou-se contínuo progresso.

Tenho a esperança de que as luzes do Sol da Realidade iluminarão o mundo todo, de modo que não permaneça qualquer conflito e guerra, qualquer batalha e derramamento de sangue. Que o fanatismo e a intolerância religiosos sejam desconhecidos, toda a humanidade participe dos laços de fraternidade, as almas se associem em perfeita harmonia, as nações da terra finalmente icem a bandeira da verdade, e as religiões do mundo adentrem o divino templo da unicidade, pois os fundamentos das religiões celestiais são uma mesma realidade. Realidade não é divisível; não admite multiplici-dade. Todos os santos Manifestantes de Deus proclamaram e promulgaram a mesma realidade. Eles conclamaram a hu-manidade para a própria realidade, e a realidade é uma só. As nuvens e os nevoeiros da imitação obscureceram o Sol da Verdade. Devemos abandonar essas imitações, dispersar estas nuvens e nevoeiros, e libertar o Sol da escuridão da supersti-ção. Então o Sol da Verdade brilhará com a maior glória; os habitantes do mundo tornar-se-ão unidos, as religiões serão uma só, seitas e denominações hão de se reconciliar, todas as nacionalidades se desenvolverão em conjunto, reconhecendo o mesmo Pai, e todas as camadas do gênero humano se reunirão ao abrigo do mesmo tabernáculo, sob a mesma bandeira.

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Até que a civilização celestial seja estabelecida, a civilização material não dará qualquer resultado, assim mesmo como observais. Vede que catástrofes sobrevêm à humanidade. Considerai as guerras que perturbam o mundo. Considerai a inimizade e o ódio. A existência dessas guerras e condições indica e prova que a civilização celestial ainda não foi estabe-lecida. Se a civilização do Reino se estender a todas as nações, este pó da discórdia será disperso, estas nuvens desaparecerão e o Sol da Realidade brilhará sobre toda a humanidade com o máximo esplendor e glória.

— A Promulgação da Paz Universal, pp. 113-7

A FONTE DE UNIDADE

O que é verdadeira unidade? Quando observamos o mundo humano, nele encontramos várias expressões coletivas de unidade. Por exemplo, o homem distingue-se do animal pelo seu grau ou reino. Esta distinção abrangente inclui toda a posteridade de Adão e constitui uma grande família, ou a família humana, que pode ser considerada a unidade fun-damental ou física da espécie humana. Além disso, há uma distinção entre os vários grupos humanos de acordo com a linhagem, cada grupo formando uma unidade racial separada dos outros. Há também uma unidade linguística entre aqueles que falam o mesmo idioma como meio de comunicação; a unidade nacional em que vários povos vivem sob uma forma de governo como o francês, o alemão, o inglês, etc.; e unidade política, que preserva os direitos civis dos partidos ou facções do mesmo governo. Todas essas unidades são imaginárias e sem base real, pois nada de real procede delas. O propósito da verdadeira unidade é produzir resultados reais e divinos. Dessas unidades restritas que mencionamos provêm apenas resultados restritos, enquanto unidade irrestrita produz resul-

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tados irrestritos. Da restrita unidade de raça ou nacionalidade, por exemplo, os resultados serão no máximo limitados. É como uma família que vive só e solitária; dela nada resulta que seja ilimitado e universal.

A unidade que produz resultados irrestritos é primeira-mente uma unidade da humanidade que reconhece que todos estão abrigados sob a sombra protetora de glória do Todo-Glorioso, que todos são servos do mesmo Deus; pois todos respiram a mesma atmosfera, vivem sobre a mesma terra, caminham sob o mesmo céu, recebem o esplendor do mesmo sol e estão sob a proteção de um só Deus. Esta é a suprema unidade, e seus resultados são duradouros se a humanidade aderir a ela; mas até agora a humanidade violou-a, aderindo a unidades sectárias e outros tipos restritos de unidade como a racial, patriótica ou de interesses próprios; por isso, nenhum grande resultado surgiu disso. No entanto, certamente a radiância e os favores de Deus são abrangentes, as mentes se desenvolveram, as percepções se tornaram aguçadas, as ciências e as artes se difundiram e existe capacidade para a proclamação e promulgação da verdadeira e derradeira uni-dade da humanidade, a qual trará resultados maravilhosos. Ela reconciliará todas as religiões, tornará afetuosas as nações guerreiras, fará com que reis hostis se tornem amistosos e trará paz e felicidade ao mundo humano. Unirá Oriente e Ocidente, removerá para sempre os fundamentos da guerra e erguerá a insígnia da Suprema Paz. Essas unidades limitadas são, portanto, sinais da grande unidade que tornará uma toda a família humana, exercendo atração de consciência no gênero humano.

Outra unidade é a espiritual, a qual emana dos sopros do Espírito Santo. Esta é maior do que a unidade do gênero humano. A unidade humana ou a solidariedade pode ser comparada ao corpo, enquanto a unidade proveniente dos

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sopros do Espírito Santo é o espírito que anima o corpo. Esta é a unidade perfeita. Ela cria tal condição na humanidade que cada um fará sacrifícios pelo outro, e o maior desejo será dar a vida e tudo que lhe pertence em benefício do outro. Esta é a unidade que existia entre os discípulos de Jesus Cristo e que uniu os Profetas e Almas santas do passado. É a unidade que, através da influência do espírito divino, permeia os bahá’ís de modo que cada um oferece sua vida pelo outro e se esforça com toda sinceridade para agradá-lo. Esta é a unidade que fez com que, em sua devoção e amor por ela, vinte mil pessoas dessem suas vidas na Pérsia. Ela tornou o Báb alvo de mil dardos e fez com que Bahá’u’lláh sofresse exílio e prisão por quarenta anos. Esta unidade é o próprio espírito do corpo do mundo. É impossível o corpo do mundo ser ressuscitado sem sua vivificação. Jesus Cristo – possa minha vida ser um sacrifício por Ele! – proclamou essa unidade entre o gênero humano. Toda alma que acreditou em Jesus Cristo foi revivi-ficada e ressuscitada por esse espírito, atingiu o ápice da glória eterna, sentiu a vida imperecível, experimentou o segundo nascimento e elevou-se ao cume da felicidade.

No Verbo de Deus há ainda outra unidade – a unicidade dos Manifestantes de Deus, Abraão, Moisés, Jesus Cristo, Muhammad, o Báb e Bahá’u’lláh. Esta é uma unidade divina, celestial, radiante e misericordiosa – a mesma realidade que apareceu em sucessivos Manifestantes. Por exemplo, o sol é um só e o mesmo, mas os pontos em que ele alvorece são vários. Durante o verão ele surge no ponto setentrional da eclíptica; no inverno, surge no ponto de alvorecer meridional. A cada mês, ele surge numa certa posição zodiacal. Embora esses pontos de alvorecer sejam diferentes, o sol que aparece em todos eles é o mesmo. A importância disso é a realidade profética que é simbolizada pelo sol e os santos Manifestantes são os pontos de alvorecer ou posições zodiacais.

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Há também a unidade ou entidade divina, a qual está santificada acima de toda concepção humana. Ela não pode ser compreendida nem concebida porque é uma realidade infinita e não pode se tornar finita. As mentes humanas são incapazes de abranger essa realidade porque todos os pensamentos e conceitos a seu respeito são finitos, criações intelectuais, e não a realidade do Ser Divino que é conhecida somente por Ele mesmo. Se, por exemplo, formarmos uma ideia a respeito da Divindade como um Ser vivente, todo-poderoso, subsistente por Si próprio e eterno, este será um conceito apreendido por uma realidade intelectual humana. A realidade da Divindade está santificada acima desse grau de conhecimento e percepção. Sempre esteve oculta e reclusa em sua própria santidade além da nossa compreensão. Em-bora ela transcenda nossa percepção, sua luz, dádivas, sinais e virtudes se tornaram manifestos nas realidades dos Profetas, assim como o sol resplandece em vários espelhos. Essas santas realidades são como refletores, e a realidade da Divindade é como o sol, o qual, embora se reflita nos espelhos, e suas virtu-des e perfeições resplandeçam neles, não desce de sua própria posição de majestade e glória para se abrigar em espelhos; ele permanece no seu céu de santidade. Quando muito, sua luz se torna manifesta e evidente em seus espelhos ou manifestantes. Por isso, sua graça proveniente deles é a mesma graça, mas os receptáculos dessa graça são muitos. Esta é a unidade de Deus; isto é unicidade – unidade da Divindade, santificada além de toda descida e subida, encarnação, compreensão e concepção – unidade divina. Os Profetas são seus espelhos; sua luz se revela por intermédio d’Eles; suas virtudes resplandecem n’Eles; mas o Sol da Realidade jamais desce de sua altíssima posição. Isto é unidade, unicidade, santidade; esta é a glori-ficação pela qual nós louvamos e adoramos a Deus.

— A Promulgação da Paz Universal, pp. 236-9

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A VIVIFICAÇÃO DO ESPÍRITO

O maior poder do reino humano e dentro dos limites da existência humana é o espírito – o divino sopro que anima e permeia todas as coisas. Manifesta-se em toda a criação em diferentes degraus ou reinos. No reino vegetal, é o espírito de ampliação, ou poder de crescimento, o sopro de vida e desenvolvimento nas plantas, árvores e organismos do mundo vegetal. Neste nível de sua manifestação, o espírito é incons-ciente dos poderes que qualificam o reino animal. A virtude distintiva ou adicional do animal é a percepção sensorial; ele vê, ouve, tem olfato, gustação e tato, mas, por sua vez, é incapaz de ter concepção consciente ou reflexão que carac-teriza e diferencia o reino humano. O animal, não exerce e nem apreende esta capacidade e dom que são característicos do homem. A partir do visível ele não pode tirar conclusões sobre o invisível, ao passo que a mente humana, de premissas visíveis e conhecidas, chega ao conhecimento do desconhecido e do invisível. Cristóvão Colombo, por exemplo, a partir de informações baseadas em fatos conhecidos e prováveis, tirou conclusões que o levaram inequivocamente através do vasto oceano para o desconhecido continente americano. Tal poder de realização está além do âmbito da inteligência animal.

Por isso, este poder é um atributo distintivo do espírito e do reino humano. O espírito animal não pode penetrar e descobrir os mistérios das coisas. Ele é cativo dos sentidos. Não há grau de ensinamento, por exemplo, que o possa fazer perceber o fato de que o sol é estacionário e que a terra gira em torno dele. Do mesmo modo, o espírito humano tem suas limitações. Ele não pode compreender os fenômenos do Reino que transcendem a posição do homem, pois ele é cativo das capacidades e forças vitais que operam em seu próprio plano de existência, e não pode ultrapassar esse limite.

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Há, entretanto, outro Espírito, que pode ser denominado Divino, ao qual Jesus Cristo Se refere quando declara que o homem deve nascer de sua vivificação e ser batizado pelo seu fogo vivo. Almas privadas desse Espírito são consideradas mortas, embora possuam o espírito humano. Jesus Cristo declarou-os mortos uma vez que não participam do Espírito de Deus. Ele diz: “Deixa aos mortos sepultar seus mortos.” (Mateus 8:22) Em outra ocasião, Ele declara: “Aquele que é nascido da carne é carne; e aquilo que é nascido do Espírito é espírito.” Com isto Ele quer dizer que as almas, embora vivas no reino humano, são no entanto mortas se destituídas deste espírito particular de vivificação divina. Elas não participaram da vida divina do Reino superior, pois a alma que participa do poder do Espírito Divino está verdadeiramente viva.

Este espírito vivificador emana espontaneamente do Sol da Verdade, da realidade da Divindade, e não se trata de revelação ou manifestação. É como os raios do sol. Os raios são a emanação do sol. Isto não significa que o sol tenha se tornado divisível e que parte do sol tenha se desprendido para o espaço. Esta planta aqui ao meu lado cresceu de uma semente; portanto é uma manifestação e desenvolvimento da semente. A semente, como podeis ver, desenvolveu suas poten-cialidades, e o resultado é esta planta. Toda folha da planta é parte da semente. Mas a realidade da Divindade é indivisível e cada indivíduo do gênero humano não pode ser uma parte dela como muitas vezes se diz. Não, as realidades individuais do gênero humano, quando espiritualmente nascidas, são emanações da realidade Divina, tal como a chama, o calor e a luz do sol são fulgências do sol e não partes do próprio sol. Por isso, um espírito emana da realidade Divina e seus esplen-dores se tornam visíveis nas realidades e entidades humanas. Este raio e este calor são permanentes. Seus esplendores não cessam. Enquanto o sol existir, o calor e a luz existirão, e uma

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vez que a eternidade é própria da Divindade, esta emanação é infindável. Não pára de fluir. Quanto mais o mundo humano evoluir, mais as fulgências ou emanações da Divindade serão reveladas, assim como a pedra, quando polida e pura como espelho, reflete a plena glória e esplendor do sol.

A missão dos Profetas, a revelação dos Livros Sagrados, a manifestação dos Professores celestiais e o propósito da filosofia divina estão todos centrados no treinamento das realidades humanas de modo que possam se tornar claras e puras como espelhos, e reflitam a luz e o amor do Sol da Realidade. Por isso, tenho a esperança de que – não importa se estais no Oriente ou no Ocidente – esforçar-vos-eis de co-ração e alma a fim de que dia a dia o mundo humano possa se tornar glorificado, mais espiritual, mais santificado; e o esplendor do Sol da Realidade possa se revelar plenamente nos corações humanos como num espelho. Isto é digno do mundo humano. Esta é a verdadeira evolução e progresso da humanidade. Esta é a suprema dádiva. De outro modo, o homem não se aperfeiçoa pelo simples desenvolvimento nas coisas materiais. No máximo, o homem pode se equilibrar e melhorar no seu aspecto físico, na sua condição natural ou material, mas permanecerá privado da dádiva espiritual ou divina. Então, ele é como um corpo sem espírito, uma lâmpada sem luz, um olho sem o poder de visão, um ouvido que nada ouve, uma mente incapaz de perceber, um intelecto sem o poder da razão.

O homem possui dois poderes; e seu desenvolvimento, dois aspectos. Um dos poderes está ligado ao mundo material e, por seu intermédio, ele é capaz de avanço material. O outro é o espiritual e, através de seu desenvolvimento, sua natureza potencial, interior, é despertada. Esses poderes são como duas asas. Ambas devem ser desenvolvidas, pois é impossível voar com uma asa. Louvores a Deus! O desenvolvimento

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material tem sido evidente o mundo, mas há necessidade de desenvolvimento espiritual na mesma proporção. Devemos nos esforçar incessantemente e sem descanso para realizar o desenvolvimento da natureza espiritual do homem, e empenhar-nos com energia incansável para conduzir a hu-manidade à nobreza de sua verdadeira e designada posição. Pois o corpo do homem é incidental; é sem importância. O tempo de sua desintegração inevitavelmente chegará. Mas o espírito do homem é essencial e, portanto, eterno. É uma graça divina. É o esplendor do Sol da Realidade e, portanto, de importância maior do que o corpo físico.

— A Promulgação da Paz Universal, pp. 69-72

EXISTÊNCIA ESPIRITUAL É IMORTALIDADE

De acordo com a divina filosofia, há duas condições impor-tantes e universais no mundo dos fenômenos materiais: um diz respeito à vida, e a outra, à morte; uma é relativa à existência, e a outra, à inexistência; uma se manifesta na composição, a outra, na decomposição. Alguns definem a existência como a expressão da realidade ou ser, e a inexistência como o não ser, imaginando que a morte seja aniquilamento. Esta é uma ideia errônea, pois aniquilamento total é uma impossibilidade. No máximo, a composição está sempre sujeita à decomposição ou desintegração – ou seja, existência implica na combinação de elementos materiais numa forma ou corpo, e não existência é simplesmente a decomposição dessa combinação. Esta é a lei da criação em suas infindáveis formas e infinita variedade de expressão. Certos elementos formaram esta criatura com-posta, o homem. Esta composição dos elementos em forma de um corpo humano é, portanto, sujeita à desintegração, que nós chamamos de morte, mas, após a desintegração, os elementos em si permanecem inalterados. Por isso, aniquila-

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mento total é uma impossibilidade, e existência jamais pode se tornar inexistência. Isto seria equivalente a dizer que a luz pode se transformar em escuridão, o que seria evidentemente falso e impossível. Como existência nunca pode se tornar inexistência, não há morte para o ser humano; ao contrário, o homem é imperecível e imortal. A prova racional disso é que os átomos dos elementos materiais são transferíveis de uma forma de existência a outra, de um grau ou reino para outro, inferior ou superior. Por exemplo, um átomo de terra ou pó de terra pode atravessar os reinos, desde o mineral até o homem, incorporando-se sucessivamente nos corpos dos organismos desses reinos. Em certo momento ele entra na for-mação de um mineral ou rocha; então é absorvido pelo reino vegetal, e se torna parte constituinte do corpo e fibra de uma árvore; depois ele é apropriado pelo animal e posteriormente se encontra no corpo do homem. No decorrer de todos esses graus de sua travessia pelos reinos, passando de uma forma a outra da existência fenomênica, ele mantém sua existência de átomo e nunca é aniquilado ou relegado à inexistência.

Inexistência é, portanto, uma expressão aplicada à mu-dança de forma, mas esta transformação não pode ser pro-priamente considerada aniquilamento, pois os elementos da composição estão sempre presentes e, conforme vimos na passagem do átomo por sucessivos reinos, subsistem sem enfraquecer; consequentemente, não há morte; a vida é permanente. O átomo, por assim dizer, ao entrar na compo-sição de uma árvore, morre para o reino mineral, e quando consumido pelo animal, morre para o reino vegetal, e assim por diante até sua transferência para o reino humano; mas du-rante toda a sua travessia esteve sujeito à transformação e não aniquilamento. Morte, portanto, é aplicável a uma mudança ou transferência de um grau ou condição a outro. No reino mineral havia um espírito de existência; no mundo das plan-

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tas e seus organismos, reapareceu como espírito vegetativo; daí chegou ao espírito animal e finalmente atingiu o espírito humano. Estes são graus e mudanças, mas não obliteração, e esta é uma prova de que o homem é imorredouro, sempre vivente. Por isso, morte é apenas um termo relativo que implica em transformação. Diremos, por exemplo, que esta luz que aqui está, tendo aparecido em outra lâmpada incan-descente, morreu em uma e vive em outra. Isto, na realidade, não é morte. As perfeições do mineral são transferidas para o vegetal e deste para o animal, as virtudes sempre galgando um grau superlativo na transformação ascendente. Em cada reino, encontramos as mesmas virtudes que se manifestam mais plenamente, provando que a realidade foi transferida de uma forma de ser inferior a um que lhe é superior. Por isso, inexistência é apenas relativa, e inexistência absoluta é inconcebível. Esta rosa que está na minha mão há de se desintegrar e sua harmonia será destruída, mas os elementos de sua composição permanecem inalterados; nada afeta sua integridade elementar. Eles não podem deixar de existir; são simplesmente transferidos de um estado a outro.

Devido à sua ignorância, o homem teme a morte, mas a morte que ele teme é imaginária e absolutamente irreal; é apenas imaginação humana.

As dádivas e graças de Deus vivificaram o reino da exis-tência com vida e ser. Para a existência não há nem mudança nem transformação; existência é sempre existência; jamais pode se transformar em inexistência. É uma questão de grau; um grau abaixo de outro que lhe é superior é considerado inexistência. Este pó debaixo de nossos pés, comparado com nosso ser, é inexistente. Quando o corpo humano se trans-forma em pó, podemos dizer que ele se tornou inexistente; por isso, sua existência como pó é como inexistência em relação à sua forma como ser humano, mas, em sua própria

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esfera, ele existe, possui sua existência mineral. Assim está perfeitamente provado que inexistência absoluta é impossível; é apenas relativa.

O propósito é este: que a infindável dádiva de Deus concedida ao homem jamais se sujeita à decomposição. Visto que Ele dotou o mundo fenomênico de existência, é impossível que este se torne inexistente, pois ele é a própria gênese de Deus; está no reino da criação; é um mundo criado e não subjetivo, e a graça que sobre ele desce é contínua e permanente. Por isso, o homem, a criatura mais elevada do mundo fenomênico, é dotado das contínuas graças que lhe são incessantemente concedidas pela divina generosidade. Por exemplo, os raios do sol são contínuos e seu calor emana sem cessar; sua descontinuidade é inconcebível. Desse modo, a dádiva de Deus desce sobre a humanidade sem cessar, continu-amente, para sempre. Se dissermos que a dádiva da existência cessa ou hesita, seria equivalente a dizer que o sol pode existir sem emitir seu esplendor. É possível isso? Assim os fulgores da existência estão sempre presentes e contínuos.

O conceito de aniquilamento é um fator de degradação humana, causa de rebaixamento e depreciação, fonte de te-mor e aviltamento. Conduz à dispersão e enfraquecimento do pensamento humano, enquanto a percepção da existência e continuidade eleva o homem a ideais sublimes, estabelece os fundamentos do progresso humano e estimula o desen-volvimento de virtudes celestiais; por isso, cabe ao homem abandonar pensamentos de inexistência e morte, que são absolutamente imaginários, e se considerar imortal, eterno no propósito divino de sua criação. Ele deve se afastar de ideias que deterioram a alma humana de modo que dia após dia e hora após hora possa ascender a alturas mais elevadas até a percepção espiritual da permanência da realidade humana. Se ele viver com pensamentos de não existência, tornar-se-á

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extremamente incompetente; com a vontade enfraquecida, diminuirá sua ambição de progredir e deixará de adquirir virtudes humanas.

Por isso deveis render graças a Deus por lhes ter con-cedido a bênção da vida e da existência no reino humano. Esforçai-vos diligentemente para adquirir virtudes dignas de vosso grau e posição. Sede como luzes do mundo que não podem ser escondidas e que não têm lugar nos horizontes da obscuridade. Ascendei ao zênite de uma existência jamais nublada pelo temor e sentimento de inexistência. Quando o homem não está dotado de percepção interior, ele não é informado destes importantes mistérios. A retina da visão exterior, embora sensível e delicada, pode, entretanto, obstruir a visão interior que é a única que pode perceber. As dádivas de Deus que se manifestam em toda a vida fenomênica, algu-mas vezes são ocultadas pelos véus da visão mortal e mental que tornam o homem espiritualmente cego e incapaz, mas quando essas crostas são removidas e os véus, despedaçados, os grandes sinais de Deus se tornam visíveis e ele testemunha a luz eterna enchendo o mundo. As dádivas de Deus estão todas continuamente manifestas. As promessas do céu estão sempre presentes. Os favores de Deus são todo-abrangentes, mas se a visão consciente da alma do homem permanecer velada e obscurecida, ele será levado a negar esses sinais universais e permanecerá privado dessas manifestações de bondade divina. Por isso devemos nos esforçar de coração e alma a fim de que o véu que cobre a visão interior possa ser removido, que possamos contemplar as manifestações dos sinais de Deus, discernir Suas misteriosas graças e perceber que as bênçãos materiais são como nada se comparadas com as graças espirituais. As bênçãos espirituais de Deus são as maiores. Quando estávamos no reino mineral, embora fôs-semos dotados de certos dons e poderes, esses não podiam

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ser comparados às bênçãos do reino humano. No ventre materno, nós éramos recipientes de dons e bênçãos de Deus, mas esses eram como nada comparados aos poderes e graças concedidos após o nascimento para o mundo humano. De modo semelhante, se nascermos do ventre deste ambiente físico e fenomênico para a liberdade e sublimidade da vida e visão espirituais, devemos considerar esta existência mortal e suas bênçãos como indignas de comparação.

No mundo espiritual, as bênçãos divinas são infinitas, pois naquele reino não há nem separação nem desintegra-ção, os quais caracterizam o mundo da existência material. A existência espiritual é absoluta imortalidade, completude e permanência. Por isso, devemos agradecer a Deus por ter criado para nós tanto as bênçãos materiais como as dádivas espirituais. Ele nos deu dons materiais e graças espirituais, visão exterior para vermos a luz do sol e visão interior pela qual podemos perceber a glória de Deus. Ele destinou o ouvido exterior para desfrutarmos as melodias dos sons, e o ouvido interior com o qual podemos ouvir a voz do nosso Criador. Devemos nos esforçar com as energias do coração, da alma e da mente para desenvolver e manifestar as perfeições e virtudes latentes dentro das realidades do mundo fenomênico, pois a realidade humana pode ser comparada a uma semente. Se plantarmos a semente, uma vigorosa árvore surge dela. As virtudes da semente são reveladas na árvore; ela produz ramos, folhas, flores e frutos. Todas essas virtudes estavam ocultas e latentes na semente. Através das bênçãos e generosidade do cultivo essas virtudes se tornam aparentes. Do mesmo modo, o Deus misericordioso, nosso Criador, depositou nas realidades humanas certas virtudes latentes e ocultas. Por intermédio de educação e cultura essas virtudes depositadas nas realidades humanas pelo Deus amoroso, tornar-se-ão aparentes, tal como a árvore se desenvolve pela germinação da semente.

— A Promulgação da Paz Universal, pp. 104-111

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UNIDADE RACIAL, PROMESSA DA PAZ MUNDIAL

Hoje estou imensamente feliz, pois aqui vejo uma reunião dos servos de Deus. Vejo brancos e negros sentados juntos. Não há brancos e negros perante Deus. Todas as cores são uma, e esta é a cor da servitude a Deus. Odor e cor não são importantes. O importante é o coração. Se o coração for puro, não faz diferença se é branco, negro ou de qualquer outra cor. Deus não olha as cores; Ele vê os corações. Aquele cujo coração é puro é melhor. Aquele cujo caráter é melhor é mais agradável. Aquele que se volve mais ao Reino de Abhá é mais adiantado.

No reino da existência as cores não têm importância al-guma. Observai, no reino mineral as cores não são causa de discórdia. No reino vegetal, as cores das flores multicoloridas não são causa de discórdia. Ao contrário, as cores são causa de adorno do jardim, pois uma só cor não é atraente; mas quando se vê flores de muitas cores, há encanto e beleza.

O mundo humano também é como um jardim, e a espécie humana, como as flores multicores. Por isso, as diferentes co-res constituem adorno. Do mesmo modo, há muitas cores no reino animal. Os pombos são de muitas cores e, no entanto, vivem em completa harmonia. Eles nunca consideram cores, mas sim espécies. Quão frequentemente pombos brancos voam junto com os pretos. Do mesmo modo, outros pássaros e animais de várias cores nunca levam cores em consideração; eles olham para a espécie.

Ora, ponderai sobre isto: os animais, apesar de carecerem de razão e entendimento, não fazem da cor um motivo de conflito. Por que o homem, que possui razão, deveria criar conflito? Isto é completamente indigno dele. Especialmente brancos e negros são descendentes do mesmo Adão; perten-cem à mesma família. Em sua origem eles eram um; eram

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da mesma cor. Adão possuía uma só cor. Eva era de uma só cor. Toda a humanidade descende deles. Por isso, eles são da mesma origem. Posteriormente estas cores se desenvolveram devido a diferentes climas e regiões; não possuem qualquer significado. Por isso, hoje estou muito feliz, pois brancos e negros estão aqui reunidos. Tenho a esperança que esta união e harmonia cheguem a um grau tal que nenhuma distinção permaneça entre eles e que continuem juntos na máxima harmonia e amor.

Mas desejo dizer algo para que os negros sejam gratos aos brancos e os brancos, amorosos em relação aos negros. Se for-des à África e lá virdes os negros, vereis quanto progresso vós fizestes. Louvores a Deus! Sois como os brancos; não restam grandes distinções. Mas os negros da África são tratados como servos. A primeira proclamação da emancipação dos negros da África foi feita pelos brancos da América. Como eles lutaram e se sacrificaram até libertarem os negros! E isto se espalhou para outros lugares. Os negros da África estavam em completo cativeiro, mas vossa emancipação levou à libertação deles tam-bém – ou seja, os estados europeus emularam os americanos e a proclamação da emancipação se tornou universal. Foi por vossa causa que os brancos da América fizeram tal esforço. Se não fosse por esse esforço, a emancipação universal não teria sido proclamada.

Por isso, deveis ser muito gratos aos brancos da América, e os brancos devem se tornar muito amorosos convosco, a fim de que possais progredir em todos os graus humanos. Esforçai-vos em conjunto para fazer progresso extraordiná-rio e mesclar-vos inteiramente. Em suma, deveis ser muito agradecidos aos brancos que foram a causa de vossa liberta-ção na América. Não tivésseis sido libertados, outros negros tampouco o teriam sido. Então – louvado seja Deus! – todos são livres e vivem em tranquilidade. Oro para que possais

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chegar a tal grau de bom caráter e conduta que a designação de negros e brancos se desvaneça. Todos devem ser chamados humanos, tal como a designação de um bando de pombos é pombo. Eles não são chamados de brancos e negros. O mesmo acontece com outros pássaros.

Espero que atinjais tal grau elevado – e isto é impossível senão através do amor. Deveis tentar criar amor entre vós, e este amor não acontece a não ser que sejais gratos aos brancos e os brancos sejam amorosos convosco, esforçando-se por promover vosso progresso e realçar vossa honra. Isto será causa de amor. Diferenças entre brancos e negros serão com-pletamente obliteradas. De fato, todas as diferenças étnicas e nacionais desaparecerão.

— A Promulgação da Paz Universal, pp. 53-5

RELIGIÃO E CIVILIZAÇÃO

A maior dádiva de Deus ao mundo humano é a religião, pois certamente os ensinamentos divinos da religião estão aci-ma de todas as outras fontes de instrução e desenvolvimento para o homem. A religião confere ao homem vida eterna e guia seus passos no mundo da moralidade. Ela abre as portas da felicidade infindável e confere honra imperecível ao reino humano. Ela tem sido a base de toda a civilização e progresso na história da espécie humana.

Iremos, então, investigar a religião, procurando descobrir, de um modo imparcial, se ela é a fonte de iluminação, a causa de desenvolvimento e a força impulsora de todo o progresso humano. Vamos investigar de um modo imparcial, livre das restrições de crenças dogmáticas, da cega imitação de modelos ancestrais e da influência de meras opiniões humanas; pois ao abordarmos esta questão, encontraremos alguns que declaram que a religião é a causa da elevação e da melhora do mundo,

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enquanto outros afirmam positivamente que ela representa um prejuízo e é uma fonte de degradação para a humanidade. Devemos dispensar a estas questões uma consideração cuida-dosa e imparcial, de modo que nenhuma dúvida ou incerteza a seu respeito permaneça em nossas mentes.

Como vamos determinar se a religião tem sido a causa de avanço ou de retrocesso humano?

Vamos primeiro considerar os Fundadores das religiões – os Profetas – recapitular a história de Suas vidas, comparar as condições que precederam Seu aparecimento com as sub-sequentes à Sua partida, observando os registros históricos e fatos irrefutáveis em vez de confiar em relatos tradicionais que estão sujeitos tanto à aceitação como à negação.

Um dos grandes Profetas foi Abraão que, como icono-clasta e Arauto da unicidade de Deus, foi banido de Sua terra natal. Ele fundou uma família sobre a qual desceram as bênçãos de Deus, e foi devido a esta base e determinação religiosa que a casa de Abraão progrediu e avançou. Através da graça divina, notáveis e brilhantes profetas vieram de Sua linhagem. Surgiram Isaac, Ismael, Jacó, José, Moisés, Arão, Davi e Salomão. A Terra Santa foi conquistada pelo poder do Convênio de Deus com Abraão, e alvoreceu a glória da sabedoria e soberania de Salomão. Tudo isto foi devido à religião de Deus que esta abençoada linhagem estabeleceu e sustentou. É evidente que, no decorrer da história de Abraão e Sua posteridade, isto foi a fonte de sua honra, progresso e civilização. Mesmo hoje, os descendentes de Sua casa e linha-gem são encontrados em todo o mundo.

Há um outro aspecto mais significativo deste impulso e ímpeto religioso. Os filhos de Israel estiveram em servidão e cativeiro na terra do Egito durante quatrocentos anos. Eles se encontravam em estado de extrema degradação e escravidão sob a tirania e a opressão dos egípcios. Enquanto estavam em

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condições de pobreza abjeta, no mais baixo grau de humilha-ção, ignorância e servilismo, Moisés subitamente surgiu em seu meio. Embora fosse apenas um pastor, tamanha majes-tade, grandeza e eficiência manifestaram-se n’Ele através do poder da religião que Sua influência continua até hoje. Sua missão de Profeta foi estabelecida por toda a terra e a lei de Sua Palavra se tornou o fundamento das leis das nações. Este Personagem incomparável, sozinho e sem auxílio, resgatou os filhos de Israel do cativeiro através do poder da instrução e da disciplina religiosas. Ele os conduziu à Terra Santa e lá fundou uma grande civilização que se tornou permanente e renomada, e sob a qual este povo atingiu o mais elevado grau de honra e glória. Ele os libertou da escravidão e do cativeiro. Imbuiu-os de qualidades de progressividade e capacidade. Eles se tornaram um povo civilizado, com talentos para educação e erudição. Sua filosofia se tornou renomada; sua diligência foi celebrada entre as nações. Conquistaram distinção em tudo que caracteriza um povo progressista. No esplendor do rei-nado de Salomão, suas ciências e artes avançaram a tal ponto que até os filósofos gregos viajavam a Jerusalém para se sentar aos pés dos sábios hebreus e assimilar os fundamentos da lei israelita. De acordo com a história oriental, este é um fato estabelecido. Até mesmo Sócrates visitou os doutores judeus na Terra Santa, associando-se a eles e discutindo os princípios e bases de sua crença religiosa. Depois de seu retorno à Gré-cia, ele formulou seus ensinamentos filosóficos da unidade divina e expôs sua crença na imortalidade do espírito após a desintegração do corpo. Sem dúvida, Sócrates absorveu estas verdades dos sábios judeus com os quais entrou em contato. Hipócrates e outros filósofos gregos também visitaram a Pa-lestina e adquiriram sabedoria dos profetas judeus, estudando as bases da ética e da moralidade, retornando ao seu país com as contribuições que tornaram famosos os gregos.

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Quando um movimento fundamentalmente religioso fortal-ece uma nação fraca, transforma um povo tribal comum numa grande e poderosa civilização, resgata-o do cativeiro e o eleva à soberania, transforma sua ignorância em conhecimento e o dota de um ímpeto para progredir em todos os graus de desenvolvi-mento (isto não é teoria, mas fato histórico), torna-se evidente que a religião é a causa de o homem atingir honra e sublimidade.

Mas, ao falarmos de religião, referimo-nos ao fundamento ou realidade essencial da religião e não aos dogmas e cegas imitações que gradativamente a encobrem e causam o declínio e a extinção de uma nação. Estas são inevitavelmente destrutivas e constituem uma ameaça e um obstáculo à vida da nação – tal como está registrado na Torá e confirmado pela história de que quando os judeus foram agrilhoados pelas formas vazias e imitações, a ira de Deus se tornou manifesta. Quando eles abandonaram os fun-damentos da lei de Deus, Nabucodonosor chegou e conquistou a Terra Santa. Ele matou e escravizou o povo de Israel, arrasou o país de cidades populosas e incendiou aldeias.

Setenta mil judeus foram levados cativos a Babilônia. Ele destruiu Jerusalém, espoliou o grande Templo, profanou o Sa-grado Santuário e queimou a Torá, o sagrado livro das Escrituras. Por isso, aprendemos que submissão ao fundamento essencial das religiões divinas é sempre a causa de desenvolvimento e progresso, ao passo que o abandono e o obscurecimento da-quela realidade essencial em favor de cegas imitações e adesão a crenças dogmáticas são a causa de aviltamento e degradação de uma nação. Depois de serem conquistados pelos babilônios, os judeus foram sucessivamente subjugados pelos gregos e pelos romanos. No ano 70 A.D., sob as ordens do general romano Tito, a Terra Santa foi devastada e pilhada, Jerusalém arrasada até suas fundações e os israelitas espalhados pelo mundo todo. Tão completa foi sua dispersão que eles permaneceram sem pátria e governo até os dias de hoje.*

Examinando a história do povo judeu, aprendemos que o fundamento da religião de Deus, instituída por Moisés, foi a causa de sua eterna honra e prestígio nacional, o impulso ani-mador de seu progresso e supremacia racial e a fonte daquela excelência que sempre despertará respeito e reverência daqueles que compreendem seu destino e realização peculiares. Os dogmas e as cegas imitações que pouco a pouco obscurecem a realidade da religião de Deus tornaram-se influências destrutivas de Israel, causando a expulsão deste povo eleito da Sagrada Terra de seu Convênio e promessa.

Qual é, então, a missão dos Profetas divinos? Sua missão é educar e propiciar o progresso do mundo humano. Eles são os verdadeiros Professores e Educadores, os Instrutores univer-*O atual Estado de Israel só seria fundado mais tarde, em 1948. (n.t.)

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sais do gênero humano. Se desejarmos descobrir se qualquer uma dessas grandes Almas ou Mensageiros foi realmente um Profeta de Deus, teremos de investigar os fatos que cercam Sua vida e história, e o primeiro ponto de nossa investigação será a educação que Ele conferiu à humanidade. Se Ele foi um Educador, se Ele realmente instruiu uma nação ou povo, elevando-o das mais baixas profundezas da ignorância até a mais alta posição de conhecimento, então teremos certeza de que Ele foi um Profeta. Este é um método e procedimento claro e evidente, uma prova irrefutável. Não temos qualquer necessidade de buscar outras provas. Não precisamos men-cionar milagres, dizendo que a pedra fez jorrar água, pois tais milagres e afirmações podem ser negadas e refutadas por aqueles que as ouvem. Os atos de Moisés são evidências con-clusivas de Sua condição de Profeta. Se uma pessoa for justa, imparcial e desejosa de investigar a realidade, sem dúvida dará testemunho do fato de que Moisés foi verdadeiramente um homem de Deus e um grande Personagem.

Numa consideração adicional a este assunto, gostaria que fôsseis justos e razoáveis em vosso julgamento, deixando de lado todos os preconceitos religiosos. Devemos buscar com sinceridade e investigar cuidadosamente as realidades, reco-nhecendo que o propósito da religião de Deus é a educação a humanidade e a unidade e solidariedade do gênero humano. Além disso, estabeleceremos o ponto de que os fundamentos das religiões de Deus são um só fundamento. Este fundamento não é múltiplo, pois é a própria realidade. A realidade não admite multiplicidade, embora cada uma das religiões divinas seja divisível em duas partes. Uma diz respeito ao mundo da moralidade e à educação ética da natureza humana. É dire-cionada ao progresso do mundo humano em geral; revela e inculca o conhecimento de Deus e torna possível a descoberta das verdades da vida. Este é o ensinamento espiritual e ideal,

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a qualidade essencial da religião divina, e não sujeita a mu-dança e transformação. É o fundamento único de todas as religiões de Deus. Portanto, as religiões são essencialmente uma e a mesma.

A segunda classificação ou divisão se refere às leis e re-gulamentos sociais aplicáveis à conduta humana. Esta não é a qualidade espiritual essencial da religião. Ela está sujeita a mudança e transformação de acordo às exigências e requisi-tos de tempo e lugar. Por exemplo, no tempo de Noé certas exigências tornaram necessário que todos os frutos do mar fossem permitidos e lícitos. No tempo da missão profética de Abraão, devido a certas necessidades, foi considerado ad-missível que um homem se casasse com sua tia, tal como Sara era irmã da mãe de Abraão. Na época de Adão foi permitido a um homem casar-se com sua própria irmã, assim como Abel, Caim e Set, os filhos de Adão, casaram-se com suas irmãs. Mas na lei do Pentateuco, revelada por Moisés, esses tipos de casamentos foram proibidos e sua prática e sanção ab-rogadas. Outras leis anteriormente válidas foram anuladas na época de Moisés. Na época de Abraão, por exemplo, foi permitido comer carne de camelo, mas no tempo de Jacó isto foi proibido. Tais mudanças e transformações nos ensinamen-tos da religião são aplicáveis às condições do dia-a-dia, mas não são importantes ou essenciais. Moisés viveu no deserto do Sinai, onde o crime precisava de punição imediata. Não havia penitenciárias ou condenações à prisão. Por isso, de acordo com as exigências do tempo e do lugar, a lei de Deus era olho por olho e dente por dente. Não seria praticável fazer cumprir esta lei na época atual – por exemplo, cegar alguém que tivesse acidentalmente cegado outro. Na Torá há muitos mandamentos referentes à punição de um assassino. Não seria admissível ou possível cumprir esses mandamentos hoje. As condições e exigências humanas são tais que, mesmo

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a questão da pena capital – a penalidade que a maioria das nações continuou a manter para o assassinato – está agora sendo discutida por sábios quanto à sua conveniência. De fato, leis para as condições do dia-a-dia são válidas apenas temporariamente. As exigências da época de Moisés justifi-cavam que a mão de uma pessoa fosse cortada por roubo, mas tal penalidade não é admissível hoje. O tempo muda as condições, e as leis mudam para ajustar as condições. Devemos nos lembrar que estas leis que mudam não são as essenciais da religião; são as contingentes. Os mandamentos essenciais estabelecidos por um Manifestante de Deus são espirituais; dizem respeito à moralidade e ao desenvolvi-mento ético do homem e à fé em Deus. Eles são ideais e necessariamente permanentes – expressões do fundamento único e não sujeitos a mudança ou transformação. Por isso, a base fundamental da religião revelada de Deus é imutável e invariável no decorrer dos séculos, não sujeita às condições mutáveis do mundo humano.

Cristo ratificou e proclamou o fundamento da lei de Moisés. Muhammad e todos os Profetas reafirmaram esse mesmo fundamento da realidade. Por isso, os objetivos e as realizações dos Mensageiros divinos têm sido sempre os mesmos. Eles foram a fonte de progresso da sociedade e a causa de honra e de civilização divina da humanidade, cujo fundamento é um só em todas as dispensações. É evidente, portanto, que as provas da validade e inspiração de um Profeta de Deus são os atos de realizações benéficas e a grandeza que d’Ele emanam. Se Ele demonstra ser o meio da elevação e da melhora do gênero humano, Ele é, sem dúvida, um Mensa-geiro verdadeiro e celestial.

Gostaria que fôsseis razoáveis e justos ao considerardes a seguinte afirmação:

Na época em que os israelitas foram dispersos pelo po-

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derio do Império Romano e a vida dos hebreus como nação foi aniquilada pelos seus conquistadores – quando a lei de Deus parecia ter sido retirada de seu meio e o fundamento da religião de Deus fora aparentemente destruído – surgiu Jesus Cristo. Quando Ele Se levantou entre os judeus, a primeira coisa que fez foi proclamar a validade da manifestação de Moisés. Ele declarou que a Torá, o Velho Testamento, era o Livro de Deus e que todos os profetas de Israel eram verdadei-ros e autênticos. Ele glorificou a missão de Moisés e, através de Sua proclamação, o nome de Moisés foi difundido pelo mundo todo. Por intermédio do Cristianismo, a grandeza de Moisés se tornou conhecida entre todas as nações. É um fato que, antes do aparecimento de Cristo, o nome de Moisés não havia sido ouvido na Pérsia. Na Índia, nada se conhecia do judaísmo e foi somente através da cristianização da Europa que os ensinamentos do Velho Testamento se espalharam na-quela região. Na Europa toda não havia sequer um exemplar do Velho Testamento. Mas, considerai isto atenciosamente e julgai-o corretamente: por intermédio de Cristo e através da tradução do Novo Testamento, o pequeno volume do Evangelho, o Velho Testamento, a Torá, foi traduzido para seiscentos idiomas e difundido por todo o mundo. Os nomes dos profetas hebreus se tornaram palavras familiares entre as nações, as quais acreditavam que os filhos de Israel eram verdadeiramente o povo eleito de Deus, uma nação sagrada, especialmente abençoada e protegida por Deus, e que por isso os profetas que se levantaram em Israel foram fontes de revelação e brilhantes estrelas nos céus da vontade de Deus.

Por isso, Cristo realmente proclamou o judaísmo; pois Ele era um judeu e não oponente dos judeus. Ele não negou a missão profética de Moisés; ao contrário, proclamou-a e ratificou-a. Ele não invalidou a Torá, mas difundiu seus ensi-namentos. Aqueles mandamentos de Moisés que se referiam

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às transações e condições sem grande importância sofreram transformação, mas os ensinamentos essenciais de Moisés foram ratificados e confirmados por Cristo, sem alteração. Ele não deixou nada inacabado ou incompleto. Do mesmo modo, através da suprema eficácia e poder da Palavra de Deus, Ele uniu a maioria das nações do Oriente e do Ocidente. Isto foi conseguido numa época em que estas nações se opunham umas às outras com hostilidade e contenda. Ele as conduziu ao abrigo da tenda da unicidade da humanidade. Educou-as até se tornarem unidas e harmoniosas e, através de Seu espírito de conciliação, romanos, gregos, caldeus e egípcios foram mes-clados numa civilização complexa. Este maravilhoso poder e extraordinária eficácia da Palavra comprovam definitivamente a autenticidade de Cristo. Considerai como Sua soberania celestial continua permanente e duradoura. Esta, em verdade, é uma prova conclusiva e uma evidência manifesta.

De outro horizonte vemos surgir Muhammad, o Profeta da Arábia. Talvez não saibais que o primeiro pronunciamento de Muhammad à Sua tribo foi a seguinte declaração: “Em verdade, Moisés foi um Profeta de Deus e a Torá é um Livro de Deus. Ó povo, em verdade deveis acreditar na Torá, em Moisés e nos profetas. Deveis aceitar todos os profetas de Is-rael como autênticos.” No Alcorão, a Bíblia islâmica, há sete relatos ou repetições da narrativa mosaica e, em todos os re-latos históricos, Moisés é louvado. Muhammad anunciou que Moisés foi o maior dos Profetas de Deus, que Deus O guiou no deserto do Sinai, que através da luz orientadora Moisés atendeu aos chamados de Deus, que Ele era o Interlocutor de Deus e o portador das tábuas dos Dez Mandamentos, que todas as nações contemporâneas do mundo se levanta-ram contra Ele e que, finalmente, Moisés os venceu, pois a falsidade e o erro sempre são sobrepujados pela verdade. Há muitos outros exemplos em que Muhammad confirma Moi-

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sés. Eu apenas estou mencionando uns poucos. Considerai que Muhammad nasceu entre as selvagens e bárbaras tribos da Arábia, viveu entre elas e era aparentemente iletrado e de-sinformado a respeito dos Livros Sagrados de Deus. O povo árabe se encontrava na máxima ignorância e barbárie. Eles sepultavam vivas as suas filhas ainda crianças, considerando isto uma evidência de natureza valorosa e sublime. Viviam em cativeiro e servidão, sob o jugo dos governos persa e romano, e foram espalhados pelo deserto, ocupados em constante luta e carnificina. Quando a luz de Muhammad alvoreceu, a escu-ridão da ignorância dispersou-se dos desertos da Arábia. Num curto período de tempo, aqueles povos bárbaros atingiram um grau tão superlativo de civilização que, com seu centro em Bagdá, estendeu-se em direção ao Ocidente até a Espanha e posteriormente exerceu uma influência maior na Europa. Que maior prova poderia haver para a missão profética, a menos que fechemos os olhos à justiça e permaneçamos opondo-nos obstinadamente à razão?

Hoje, os cristãos creem em Moisés, aceitam-No como Profeta de Deus e Lhe dedicam o máximo louvor. Os muçul-manos, igualmente, creem em Moisés, aceitam a autenticidade de Sua missão profética e ao mesmo tempo creem em Cristo. Pode-se dizer que a aceitação de Moisés pelos cristãos e mu-çulmanos tenha sido prejudicial e perniciosa àqueles povos? Ao contrário, foi benéfica a eles, mostrando que eles foram sinceros e justos. Qual poderia ser então o prejuízo para os judeus, se em troca eles aceitassem Cristo e reconhecessem a autenticidade da missão profética de Muhammad? Através desta aceitação e louvável atitude, a inimizade e o ódio, que por tantos séculos afligiram a humanidade, seriam dissipados, o fanatismo e a carnificina desapareceriam e o mundo seria abençoado por unidade e concórdia. Cristãos e muçulmanos acreditam e admitem que Moisés foi o Interlocutor de Deus.

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Por que vós não dizeis que Cristo foi o Verbo de Deus? Por que não dizeis estas poucas palavras que acabarão com todas estas dificuldades? Assim não haverá mais ódio e fanatismo, não haverá mais guerra e derramamento de sangue na Terra da Promessa. Assim haverá paz entre vós para sempre.

Em verdade, eu agora vos declaro que Moisés foi o Inter-locutor de Deus e um dos mais notáveis Profetas, que Moisés revelou a lei fundamental de Deus e fundou a verdadeira base ética da civilização e do progresso da humanidade. Que mal há nisto? Será que eu perdi algo ao vos dizer isto e como bahá’í acreditar nisso? Ao contrário, isto me é benéfico; e Bahá’u’lláh, o Fundador do Movimento Bahá’í, confirma-me dizendo: “Tu foste íntegro e justo em teu julgamento; inves-tigaste imparcialmente a verdade e chegaste a uma conclusão verdadeira; anunciaste tua crença em Moisés, um Profeta de Deus, e aceitaste a Torá, o Livro de Deus.” Uma vez que me é possível varrer todas as evidências de preconceito ao fazer esta declaração de crença ampla e universal, por que não é possível a vós fazer o mesmo? Por que não pôr um fim a esta luta religiosa e estabelecer um laço de união entre os corações dos homens? Por que os seguidores de uma religião não deve-riam louvar o Fundador ou Mestre de outra? Os seguidores de outras religiões elogiam a grandeza de Moisés e admitem que Ele foi o Fundador do Judaísmo. Por que os hebreus se recusam a louvar e aceitar os outros grandes Mensageiros que apareceram no mundo? Que dano poderia haver nisto? Qual a objeção justa? Nenhuma. Nada iríeis perder por tal ato e tal declaração. Ao contrário, estaríeis contribuindo para o bem-estar do gênero humano. Estaríeis ajudando a estabelecer a felicidade do mundo humano. A honra eterna do homem depende da liberalidade desta era moderna. Já que nosso Deus é um só Deus e o Criador de todo o gênero humano, Ele provê e protege todos. Nós o reconhecemos como o Deus

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de bondade, justiça e misericórdia. Por que nós, Seus filhos e seguidores, deveríamos então lutar e guerrear, causando pesar e tristeza aos corações uns dos outros? Deus é amoroso e misericordioso. Sua intenção na religião sempre foi o laço de unidade e afinidade entre a espécie humana.

Louvado seja Deus! A época medieval de obscuridade já passou e este século de esplendor despontou, este século em que a realidade das coisas está se tornando evidente, em que a ciência está penetrando os mistérios do universo, a unici-dade do mundo humano está sendo estabelecida e o serviço à humanidade é o supremo motivo de toda a existência. De-veremos permanecer imersos em nosso fanatismo e presos aos nossos preconceitos? É apropriado que permaneçamos presos e restritos a antigas lendas e superstições do passado, fiquemos obstruídos por crenças obsoletas e ignorâncias da idade das trevas, travando guerras religiosas, lutando e derramando o sangue, afastando-nos e repudiando uns aos outros? É dig-no? Não é melhor sermos amorosos e cordiais uns para com os outros? Não é preferível gozarmos de companheirismo e unidade, unirmo-nos em hinos de louvor ao Deus altíssimo, e glorificarmos todos os Seus Profetas em espírito de concórdia e verdadeira visão? Então, em verdade, este mundo se tornará um paraíso, e o prometido Dia de Deus alvorecerá. Então, de acordo com a profecia de Isaías, o lobo e o cordeiro beberão da mesma fonte, a coruja e o abutre se aninharão juntos nos mesmos ramos, e o leão e o novilho pastarão no mesmo prado. O que isto significa? Significa que as religiões furiosas e em contenda, credos hostis e crenças divergentes, haverão de se reconciliar e se unir, apesar de seus antigos ódios e antago-nismos. Através da liberalidade da atitude humana necessária neste século radiante, eles hão de se unir em perfeita cama-radagem e amor. Este é o espírito e o significado das palavras de Isaías. Jamais haverá o dia em que esta profecia venha a

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se cumprir literalmente, pois estes animais, pela sua própria natureza, não podem se misturar e se associar com cordiali-dade e amor. Por isso, esta profecia simboliza a unidade e a harmonia das raças, nações e povos que se unirão em atitude de inteligência, iluminação e espiritualidade.

Alvoreceu a era em que o companheirismo humano se tornará realidade.

Chegou o século em que todas as religiões se tornarão unidas...

— A Promulgação da Paz Universal, pp. 454-464

JUSTIÇA INDUSTRIAL

Perguntastes acerca de greves. É um assunto que apresen-ta atualmente – e por muito tempo ainda há de apresentar – grandes dificuldades. Greves são devidas a duas causas: à excessiva astúcia e rapacidade dos capitalistas e industriais, e, por outro lado, à imoderação, à avidez e à má vontade dos operários e artífices. Faz-se mister, pois, remediar ambas as causas.

As leis da nossa civilização atual são em grande parte responsáveis por esse estado de coisas, pois permitem a um pequeno número de indivíduos acumular fortunas inestimá-veis, muito além de suas necessidades, enquanto a maioria permanece desprovida, destituída de tudo, entregue à mais completa miséria. Isto é contrário à justiça, a todo sentimento de equidade ou humanidade; é a culminância da iniquidade, a verdadeira antítese daquilo que agrada a Deus.

Este contraste é peculiar ao mundo humano. Entre as outras criaturas, isto é, entre quase todos os animais, existe uma espécie de justiça ou igualdade. No caso de um rebanho sob os cuidados de um pastor, ou de um grupo de veados nos campos, ou de pássaros nos prados, planícies, colinas ou

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pomares, cada um recebe, em geral, sua parte justa, baseada na igualdade. Esta desigualdade nos meios de substância não se encontra entre eles, absolutamente, e, por isso, vivem em paz, e em perfeito contentamento.

Muito diferente é o caso da espécie humana, a qual persis-te em grandíssimo erro, em absoluta iniquidade. Considere-mos: um homem acumula tesouros, colonizando uma região em seu próprio interesse; adquire uma fortuna incalculável, usufruindo lucros enormes, rendas que deslizam como um rio, enquanto a cem mil infelizes, fracos e desvalidos, falta até o pão. Não há justiça, nem fraternidade neste estado de coisas. Vemos que assim é impossível existir tranquilidade ou contentamento entre os homens; vemos quanto isso prejudica o bem-estar geral, e torna infrutífera a vida coletiva. De fato, um grupo muito limitado tem em suas mãos a fortuna, o prestígio, a direção total do comércio e da indústria, ao pas-so que os demais têm de se submeter a uma grande série de dificuldades, a inúmeros desgostos; não podendo participar de lucros ou de quaisquer vantagens, nem adquirir conforto ou sossego.

Urge, pois, uma legislação limitando as fortunas excessi-vas de certos indivíduos, e aliviando a miséria de milhões de pobres, e assim certa moderação seria obtida. É impossível, porém, a igualdade absoluta de fortunas e honras, como também a igualdade na direção do comércio, da agricultura e da indústria, pois isto destruiria por completo a ordem da comunidade, condicionada a falta de conforto, o desânimo, uma desorganização nos meios de subsistência – enfim, um desapontamento universal. Há grande sabedoria, pois, em não se fazer uma lei impondo a igualdade; é preferível a moderação operar por si mesma. O essencial é que leis e regulamentos impeçam a acumulação de fortunas excessivas nas mãos de uns poucos, e ao mesmo tempo providenciem as necessidades

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das massas. Os fabricantes e os chefes industriais amontoam tesouros dia a dia, enquanto os pobres operários nem ganham seu sustento diário. É a culminância da iniquidade. Um ho-mem justo não pode admitir tal estado de coisas. Devemos estabelecer leis segundo as quais o trabalhador receberá não somente seu salário, mas também sua parte nos lucros, diga-mos um quarto ou um quinto, dependendo das necessidades da fábrica; ou então, por algum outro sistema, devem ope-rários e patrões participar equitativamente dos lucros e das várias vantagens. Compete ao dono da fábrica, a direção, a administração, mas ao operário cabe o trabalho, a lida. É justo, pois, que este receba um salário que lhe garante um sustento adequado, sendo-lhe facultado também, ao envelhecer ou tornar-se incapacitado, e ter assim de abandonar o trabalho, receber do dono da fábrica uma pensão suficiente. O salário deve ser sempre adequado, para que o trabalhador esteja sa-tisfeito com a quantia recebida e possa também guardar um pouco para os dias de invalidez e consequente necessidade.

Quando assim se fizer, não poderá mais o dono da fábrica acumular, dia após dia, muito além de suas necessidades (sem levar em conta o fato de que um capitalista se sujeita às gran-des dificuldades e aborrecimentos, podendo até sucumbir sob a carga tremenda de uma fortuna desproporcionada, pois a administração de uma fortuna excessiva é assaz difícil e esgota as forças naturais do homem). Por outro lado, os trabalhadores não mais se encontrarão em necessidade, em plena miséria, nem sujeitos, no fim da vida, às mais penosas privações.

Evidentemente, pois, a conservação das grandes fortunas nas mãos de um pequeno número de indivíduos, enquanto as massas permanecem na miséria, é uma iniquidade, uma in-justiça, mas também a igualdade absoluta seria um obstáculo na vida do homem, prejudicando-lhe o bem-estar, a ordem e a paz. É preferível um meio termo. Depende de os capita-

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listas se moderarem na aquisição de lucros, e levar em conta o bem-estar dos pobres e necessitados. Como já dissemos, os operários devem receber não somente um salário fixo, mas também uma parte nos lucros gerais da empresa.

É de suma importância a legislação social que garanta os direitos de ambos, patrões e operários, permitindo que aqueles tenham lucros moderados, e estes os meios necessários de subsistência, bem como segurança para o futuro quando não puderem mais trabalhar, devido à velhice ou fraqueza, ou quando morrerem deixando filhos menores, para que estes não sucumbam à pobreza. Eles têm direito a uma parte da renda da empresa, para lhes proporcionar meios de subsistência.

Por outro lado, os trabalhadores não mais deveriam revoltar-se, nem fazer demandas além de seus direitos, nem fazer greves, ou pedir salário desproporcionados; devem ser obedientes e submissos. Os direitos mútuos de ambas as par-tes serão estabelecidos segundo os costumes, por leis justas, imparciais. No caso de uma infração de qualquer das partes, as cortes de justiça procederiam ao julgamento ajustando as dificuldades e restabelecendo a ordem, pondo termo a tais infrações por meio de multas eficazes. É legal a interferência das cortes de justiça e do governo em casos de dissídios entre patrões e operários, já que não são como os casos comuns, particulares, que não afetam o público e portanto não devem preocupar o governo. As divergências entre patrões e traba-lhadores, embora pareçam simples questões entre indivíduos, causam realmente prejuízos à comunidade, pois o comércio, a indústria, a agricultura e os negócios gerais do país, estão todos intimamente ligados, tanto que, se qualquer deles so-frer uma injustiça, a coletividade também sofrerá. Assim as divergências entre trabalhadores e patrões tornam-se causa de prejuízos gerais.

A corte de justiça, pois, como também o governo, tem o

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direito de interferir. Quando surge entre dois indivíduos uma questão puramente de direitos particulares, é necessário que um terceiro a ajuste. É o que cabe ao governo. Essa questão de greves, muitas vezes devidas tanto às demandas excessivas dos trabalhadores como à capacidade dos patrões, causando transtornos num país – como pode o governo deixar de levá-la em consideração?

Grande Deus! Será possível um homem viver tranquilo em sua mansão luxuosa, rodeado de todos os confortos, vendo o semelhante faminto, destituído de tudo? Quem vê o próxi-mo na maior miséria poderá sentir prazer ao contemplar sua própria fortuna? A Religião de Deus prescreve que os ricos contribuam cada ano com uma determinada parte de sua fortuna para a manutenção dos pobres e infelizes. É o mais essencial dos Mandamentos – é a base da Religião Divina.

Se um homem pela bondade natural de seu coração, com a maior espiritualidade, contribuir para os pobres, enquanto o governo ainda não o obrigue a assim fazer, realizará um ato muito louvável, digno de aprovação.

É o que significam as boas obras mencionadas nos Livros Sagrados e nas Epístolas Divinas!

— Respostas a Algumas Perguntas, pp. 220-4

PAZ UNIVERSAL

Esta última guerra provou ao mundo e às pessoas que guerra é destruição, enquanto paz universal é construção; guerra é morte, ao passo que paz é vida; guerra é sinônimo de voracidade e sede de sangue, mas paz significa bondade e beneficência; a guerra pertence ao mundo da natureza enquanto a paz é um dos fundamentos da religião de Deus; guerra é trevas sobre trevas, ao passo que paz é luz celestial; guerra representa a destruição da estrutura da humanidade,

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mas paz constitui a vida perpétua do mundo humano; a guerra assemelha-se a um lobo devorador, enquanto a paz é como os anjos do céu; a guerra é a luta pela existência, ao passo que paz é auxílio mútuo e cooperação entre os povos e a causa do beneplácito do Verdadeiro no reino do céu.

Não existe nenhum ser humano cuja consciência não ateste que a mais relevante de todas as questões do mundo de hoje é a da paz universal. Todo homem justo dá testemunho disso e venera essa estimada Assembleia por ser seu intuito a transformação dessas trevas em luz, dessa sede de sangue em bondade, desse tormento em bem-aventurança, desse sofri-mento em bem-estar e dessa inimizade e ódio em amizade e amor. Portanto, o esforço dessas almas estimadas é merecedor de louvor e menção.

Entretanto, as pessoas sábias que percebem as relações essenciais que emanam das realidades das coisas são de opinião que uma única questão isolada é incapaz, por si só, de exercer a devida e necessária influência sobre a realidade humana, pois enquanto as mentes dos homens não se unirem, nada de importante se realizará. Presentemente, a paz universal é uma questão de grande importância, mas a unidade de consciência é essencial, de modo que se tornem seguros os alicerces desta questão, firme seu estabelecimento e robusto seu edifício.

Por essa razão, há cinquenta anos, Bahá’u’lláh esclareceu esse assunto – a paz universal – num tempo em que Se encon-trava confinado na fortaleza de ‘Akká, vítima de iniquidade, mantido como prisioneiro. Ele escreveu sobre essa importante questão da paz universal a todos os grandes soberanos do mun-do e estabeleceu-a entre Seus amigos do Oriente. O horizonte do Leste estava totalmente obscuro; as nações mostravam o maior ódio e inimizade mútuos, as religiões tinham sede do sangue umas das outras e predominavam trevas sobre trevas. Em semelhante época, Bahá’u’lláh resplandeceu como o Sol

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desde o horizonte do Oriente e iluminou a Pérsia com a luz desses ensinamentos.

Entre Seus ensinamentos figurava a proclamação da paz universal. As pessoas que O seguiram, oriundas de diferentes nações, religiões e seitas, uniram-se de tal maneira que reuni-ões notáveis foram estabelecidas, representativas das diversas nações e religiões do Oriente. Toda alma que ingressava nessas reuniões não via mais que uma única nação, um mesmo en-sinamento, um caminho e uma só ordem, pois os princípios de Bahá’u’lláh não se limitavam ao estabelecimento da paz universal; compreendiam muitos preceitos que suplementa-vam e sustentavam esse da paz universal.

Entre esses ensinamentos estava a investigação indepen-dente da realidade, para que o mundo humano possa ser salvo das trevas da imitação e chegue à verdade; para que arranque de si e jogue fora as vestes rotas e antiquadas de mil anos atrás e possa se adornar com o manto tecido com a maior pureza e santidade no tear da realidade, que é uma e não admite multiplicidade – as opiniões divergentes têm de fundir-se, afinal, em uma só.

E entre os ensinamentos de Bahá’u’lláh inclui-se a unida-de do gênero humano: que todos os homens são as ovelhas de Deus e Ele é o bondoso pastor que trata com bondade todas as ovelhas, porque Ele as criou a todas, Ele as treinou, zelou e protegeu. Indubitavelmente, o Pastor é bondoso para com todas as ovelhas; e em havendo entre elas algumas às quais faltam conhecimentos, cumpre educá-las; se existirem algumas imaturas, estas devem ser ensinadas até atingirem a maturidade; havendo ovelhas doentes, precisam ser curadas. Nenhum ódio ou inimizade deve haver, mas sim devem es-ses seres imaturos e enfermos ser tratados como que por um médico benévolo.

E entre os ensinamentos de Bahá’u’lláh está que a religião

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tem de ser causa de camaradagem e amor. Caso se torne mo-tivo de desafeição, dela não mais necessitamos, pois religião é como um remédio: se agrava o mal, torna-se desnecessária.

E outro dos ensinamentos de Bahá’u’lláh é que a religião deve estar em harmonia com a ciência e a razão, a fim de exercer influência sobre os corações dos homens. O alicerce deve ser sólido e não consistir em imitações.

E ainda outro dos preceitos de Bahá’u’lláh é o seguinte: os preconceitos raciais, políticos, econômicos e patrióticos destroem a estrutura da humanidade. Enquanto esses pre-conceitos predominarem, o mundo humano não encontrará sossego. A História informa-nos acerca de seis mil anos da vida da humanidade. Durante todos esses seis milênios, o mundo não se viu livre de guerra, contenda, matança e sede de sangue. Em cada período tem-se travado guerras em um ou outro país, e sempre por causa de algum preconceito – de religião, raça, política ou pátria. Logo, é fato evidente e provado que todos os preconceitos arrasam a estrutura humana; enquanto persistirem, a luta pela existência continuará a prevalecer, acompanhada de sede de sangue e rapacidade. Portanto, as-sim como no passado, o mundo humano não se salvará das trevas da natureza, nem alcançará iluminação, a menos que abandone os preconceitos e adquira a moral do Reino.

Se tal preconceito e inimizade nascem da religião, con-sideremos que a religião deveria ser causa de amizade; senão é infrutífera. E se esse preconceito for o de nacionalidade, ponderemos que toda a humanidade é da mesma nação; todos se originaram da árvore de Adão, sendo Adão a raiz. Essa árvore é uma só, e todas as nações são como os ramos, enquanto os seres humanos são suas folhas, flores e frutos. Assim, a constituição de nações diversas e a consequente carnificina e destruição da estrutura da humanidade resultam da ignorância humana e de fins egoístas.

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Quanto ao preconceito patriótico, também provém de ignorância absoluta, pois a superfície do planeta é uma só terra natal. Cada um pode viver em qualquer parte do globo terrestre; o mundo inteiro, pois, é a pátria do homem. Essas divisões e fronteiras foram inventadas pelo homem; não foram determinadas na criação. A Europa é um único continente, a Ásia é um único continente, a África é um único continente, a Austrália é um único continente, mas algumas pessoas, mo-vidas por fins pessoais e interesses egoístas, dividiram cada um desses continentes e consideraram certa parte como sendo seu próprio país. Deus não fixou divisa alguma entre a França e a Alemanha; são terras contínuas. Sim, nos tempos primitivos, almas egoístas, visando à promoção de seus próprios interesses, estabeleceram limites e divisões, aos quais deram mais e mais importância, até isso levar, em séculos subsequentes, a intensa inimizade, rapacidade e carnificina. E assim continuará a ser por tempo indeterminado, e se esse conceito de patriotismo permanecer restrito a certo círculo, será a causa preponde-rante da destruição do mundo. Nenhuma pessoa sábia e justa admitirá essas distinções imaginárias. Consideramos nossa terra natal qualquer área circunscrita a que chamamos pátria, quando o globo terrestre é que é a terra natal de todos, não alguma área restrita. Em suma, vivemos por alguns dias nesta terra e, afinal, nela somos sepultados – é nosso jazigo perpétuo. Valerá a pena entregarmo-nos ao derramamento de sangue e despedaçarmos uns aos outros por este túmulo eterno? Não, longe disso! Tal conduta não pode aprazer a Deus, nem homem algum de juízo são a aprovará.

Considerai! Os animais abençoados não se envolvem em disputas patrióticas. Reina entre eles a maior amizade e vivem juntos, em harmonia. Se, por exemplo, um pombo do Leste, e um do Oeste, e outro do Norte, e outro do Sul chegam por acaso simultaneamente a um mesmo jardim, de imediato

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se associam com harmonia. Assim é com os quadrúpedes e aves abençoados. Os animais ferozes, todavia, logo que se defrontam, atacam-se e lutam e dilaceram-se mutuamente; é-lhes impossível viver em paz, juntos no mesmo lugar. São todos insociáveis, ferozes, selvagens, pugnazes.

No que concerne ao preconceito econômico: é evidente que no momento em que os laços entre as nações se forta-lecerem e se acelerar o intercâmbio de mercadorias, e qual-quer princípio econômico for implantado em determinado país, isso terá influência, em última análise, sobre os demais países, e benefícios universais advirão. Por que, então, esse preconceito?

Com relação ao preconceito político: o que se deve seguir é o plano de ação de Deus, que é inquestionavelmente supe-rior a qualquer esquema humano. Temos de nos guiar pela Política Divina, a qual se aplica a todos igualmente. Ele trata a todos da mesma forma, sem nenhuma distinção, e isso é a base das Religiões Divinas.

E entre os ensinamentos de Bahá’u’lláh figura a adoção de um idioma que possa ser difundido universalmente entre os homens. Esse preceito foi revelado pela pena de Bahá’u’lláh a fim de que, por meio dessa língua universal, se eliminassem os mal-entendidos entre os seres humanos.

E outro dos ensinamentos de Bahá’u’lláh é a igualdade entre homem e mulher. O mundo humano é dotado de duas asas: uma é a mulher, a outra o homem. A ave só poderá voar quando ambas as asas estiverem igualmente desenvolvidas. Se uma delas permanece fraca, o voo é impossível. Enquanto o mundo feminino não se equiparar ao masculino na aquisição de virtudes e perfeições, não se atingirão devidamente o êxito e a prosperidade.

E entre os princípios de Bahá’u’lláh está a repartição vo-luntária dos bens com o semelhante. Essa partilha espontânea

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é superior à igualdade, e consiste em que o homem não se dê preferência a si mesmo sobre outrem, senão que sacrifique a vida e os haveres pelo próximo. Isso, entretanto, não deve ser introduzido pela coerção, de modo que se torne uma lei que o homem seja constrangido a obedecer. Não, antes, o ser humano deve, por sua própria vontade e opção, sacrificar as posses e a vida pelos outros e, de bom grado, dar aos pobres, assim como fazem os bahá’ís da Pérsia.

E entre os preceitos de Bahá’u’lláh inclui-se a liberdade do homem. Através do Poder ideal, ele deve libertar-se e emancipar-se do cativeiro do mundo natural. Pois enquanto o homem permanecer prisioneiro da natureza, será animal feroz, já que a luta pela existência é uma das exigências do mundo natural. Essa questão da luta pela existência é o manancial de todas as calamidades; é a aflição suprema.

E consta dos ensinamentos de Bahá’u’lláh que a religião é um poderoso baluarte. Se o edifício da religião for abalado e oscilar, seguir-se-ão comoção e caos, e a ordem das coisas será completamente transtornada, pois no mundo humano há duas salvaguardas que preservam o homem da perpetração de más ações. Uma é a lei, que pune o infrator, isto, porém, evita apenas o crime manifesto e não o pecado oculto; ao passo que a religião de Deus – a salvaguarda ideal – impede tanto a transgressão manifesta quanto a oculta, educa o ho-mem, ensina a moral, leva ao desenvolvimento de virtudes e é o poder todo-abrangente que assegura a felicidade do mundo humano. Por religião entendemos, todavia, o que se averiguou mediante investigação, e não o que se baseia em mera imitação; queremos dizer os fundamentos das Religiões Divinas, não os arremedos humanos.

E é um dos princípios de Bahá’u’lláh que a civilização material, embora um dos meios do progresso do mundo

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humano, enquanto não estiver fundida com a civilização divina, não trará o resultado desejado, que é a felicidade do homem. Considerai! Essas belonaves que reduzem uma cidade a escombros no intervalo de uma hora são consequências da civilização material, como também o são os canhões Krupp, os rifles Mauser, a dinamite, os submarinos, os torpedeiros, os aviões de caça e os bombardeiros - todos esses instrumentos de guerra são os frutos malignos da civilização material. Ti-vesse a civilização material sido associada à divina, jamais tão terríveis armas teriam sido inventadas. Não, antes, a energia humana teria sido integralmente dedicada a invenções úteis e concentrada em descobrimentos louváveis. A civilização material assemelha-se a uma lâmpada e a divina, à luz. Sem luz, a lâmpada permanece escura. A civilização material é como o corpo. Por infinitas que sejam sua formosura, graça e beleza, ele é morto. A civilização divina é como o espírito. É o espírito que insufla vida no corpo; pois sem o espírito o corpo não passa de um cadáver. Consequentemente, está comprovado que o mundo humano necessita dos sopros do Espírito Santo. Sem espírito, o mundo humano carece de vida, e destituído dessa luz está em escuridão absoluta. Pois o mundo da natureza é um mundo animal, e o homem, até que renasça desse mundo, ou seja, se desprenda do mundo da natureza, será essencialmente animal. São os ensinamentos de Deus que transformam esse animal numa alma humana.

E outro dos princípios de Bahá’u’lláh é a promoção da educação. Toda criança deve ser instruída nas ciências tanto quanto necessário. Se aos pais for possível arcar com as despe-sas decorrentes dessa educação, ótimo; do contrário, incumbe à comunidade providenciar o ensino da criança.

E figuram entre os preceitos de Bahá’u’lláh a justiça e o direito. Enquanto estes não se estabelecerem no plano da

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existência, tudo permanecerá em desordem e imperfeição. O mundo humano é um mundo de opressão e crueldade, um reino de agressão e erro.

Em suma, tais ensinamentos são numerosos. Esses múlti-plos princípios, que constituem a maior base para a felicidade da humanidade, e provêm da graça do Misericordioso, têm de ser adicionados à questão da paz universal e com esta combinados, a fim de se obterem resultados. Do contrário, difícil é a concretização da paz universal no mundo se tomada isoladamente. Os ensinamentos de Bahá’u’lláh, combinados com a paz universal, assemelham-se a uma mesa provida de toda sorte de alimento fresco e delicioso. Nessa mesa de ge-nerosidade infinita, cada alma pode encontrar o que deseja. Restringindo-se a questão exclusivamente à paz universal, os notáveis resultados esperados e desejados não serão atingidos. O escopo da paz universal deve ser tal que todas as comuni-dades e religiões nele vejam a realização de sua mais elevada aspiração. Os ensinamentos de Bahá’u’lláh são tais que todas as comunidades do mundo, quer religiosas, políticas ou éticas, quer antigas ou modernas, neles encontram a expressão de seu mais alto desiderato.

Os adeptos das religiões, por exemplo, encontram nos princípios de Bahá’u’lláh o estabelecimento da Religião Universal – religião esta que corresponde com perfeição às condições atuais, que efetua de fato a cura imediata do mal insanável, que alivia toda dor e proporciona o antídoto infalí-vel de todo veneno mortífero. Pois se é nossa intenção ordenar e organizar o mundo humano de acordo com as imitações religiosas hodiernas – como, por exemplo, pela execução das leis do Torá ou das demais religiões conforme as imitações atuais – então é possível e impraticável alcançar a felicidade do mundo humano. A base essencial de todas as Religiões Divinas, porém, que é pertinente às virtudes do mundo hu-

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mano e é o alicerce de seu bem-estar, essa é encontrada nos ensinamentos de Bahá’u’lláh na mais perfeita apresentação.

Semelhantemente, no que diz respeito aos povos que clamam por liberdade: a liberdade moderada que garante o bem-estar do mundo humano e mantém e preserva as relações universais está presente, na plenitude máxima de seu vigor e extensão, nos princípios de Bahá’u’lláh.

De modo semelhante, com referência aos partidos políti-cos: aquilo que constitui a política maior que guia o mundo humano, não, ainda mais, que é a própria política divina encontra-se nos preceitos de Bahá’u’lláh.

Outrossim, no que tange ao partido da “igualdade”, que se empenha na busca da solução dos problemas econômicos: até agora, todas as propostas de solução tem-se mostrado impraticáveis, com exceção das proposições econômicas dos ensinamentos de Bahá’u’lláh, que são exequíveis e não causam tormento à sociedade.

O mesmo se dá em relação aos demais grupos: se exami-nardes a fundo o assunto, descobrireis que as mais sublimes aspirações desses grupos estão presentes nos princípios de Bahá’u’lláh. Estes constituem o poder que a tudo abrange entre todos os homens, e são factíveis. Há, no entanto, certos ensinamentos do passado, como os do Torá, cuja prática é impossível nos dias de hoje, e isto também se aplica às ou-tras religiões e aos preceitos das diversas seitas e dos vários grupos.

Consideramos, por exemplo, a questão da paz universal, acerca da qual Bahá’u’lláh afirma ser imperioso o estabe-lecimento do Supremo Tribunal: conquanto já tenha sido instituída a Liga das Nações, esta é incapaz de estabelecer a paz universal. O Supremo Tribunal que Bahá’u’lláh descre-ve, porém, levará a cabo essa tarefa sagrada com a máxima pujança e poder. Eis o Seu plano: as assembleias nacionais de

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cada país e nação – ou seja, os parlamentos – devem eleger duas ou três pessoas que sejam as mais excelentes da nação – homens que estejam bem informados no que concerne às leis internacionais e às relações entre os governos, e conscientes das necessidades essenciais do mundo atual. O número desses representantes deve ser proporcional à população de cada país. A eleição dessas almas escolhidas pela assembleia nacional, isto é, pelo parlamento, tem de ser confirmada pela câmara alta, pelo congresso e pelo ministério, bem como pelo presidente ou monarca, de modo que essas pessoas sejam os eleitos de toda a nação e do governo. Dentre essas almas o Supremo Tribunal será eleito, e assim toda a humanidade nele terá participação, pois cada um desses delegados é plenamente representativo de sua nação. Ao tomar o Supremo Tribunal uma deliberação sobre qualquer questão internacional, seja por unanimidade, seja por maioria, não mais haverá pretexto para o querelante nem fundamento para objeção por parte do réu. Se qualquer governo ou nação for negligente ou dilatório no cumprimento da irrefutável decisão do Supremo Tribunal, contra ele erguer-se-ão todas as demais nações porquanto todos os governos e nações do mundo são os apoiadores dessa Corte Máxima. Considerai que alicerce forte é esse! A uma Liga limitada e restrita, porém, não será possível levar a efeito este propósito como cumpre e é necessário. Eis a verdade a respeito da situação aqui exposta.

Consideremos quão poderosos são os ensinamentos de Bahá’u’lláh. Num tempo em que Sua Santidade estava na prisão de ‘Akká, sob as restrições e as ameaças de dois reis san-guinários, Seus ensinamentos difundiram-se, no entanto, com todo poder na Pérsia e em outros países. Se um ensinamento, ou um princípio, ou uma comunidade cair sob a ameaça de um monarca poderoso e sanguinário, será aniquilada dentro de pouco tempo. Há cinquenta anos os bahá’ís na Pérsia e

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em muitas regiões vivem abaixo de restrições severas e sob ameaça de espada e dardo. Milhares de almas têm dado a vida na arena do sacrifício, vítimas das espadas da opressão e da crueldade. Milhares de famílias estimadas foram destruídas – crianças perdendo seus pais, e estes seus filhos. Milhares de mães têm chorado e lamentado a perda dos filhos deca-pitados. Toda essa opressão e crueldade, essa pilhagem e esse sanguinarismo, não impediram a difusão dos ensinamentos de Bahá’u’lláh. Difundiram-se cada dia mais, e seu poder se pôs em maior evidência.

Pode acontecer que alguma pessoa insensata dentre os per-sas assine seu nome ao conteúdo das Epístolas de Bahá’u’lláh, ou as explicações dadas nas cartas de ‘Abdu’l-Bahá e as mande a essa estimada Assembleia. Deveis estar cientes deste fato, pois qualquer persa em busca de fama ou com alguma outra intenção, tomará o conteúdo inteiro das Epístolas de Sua Santidade Bahá’u’lláh e o publicará em seu próprio nome, ou no de sua comunidade, assim como aconteceu no Congresso Universal de Raças, em Londres, antes da guerra. Um persa entrou naquele Congresso com a substância das Epístolas de Sua Santidade Bahá’u’lláh, e as expôs e publicou em seu próprio nome, enquanto estavam nas palavras exatas de Bahá’u’lláh. Algumas dessas pessoas foram à Europa, causando confusão no espírito do povo e nos pensamentos de alguns orientalistas. Deveis-vos lembrar disso, pois nenhuma palavra destes ensinamentos foi ouvida na Pérsia antes do tempo de Bahá’u’lláh. Investigai o assunto para que se vos torne evidente. Algumas pessoas são como papagaios: aprendem e cantam qualquer nota que ouçam, mas elas próprias são inconscientes daquilo que pronunciam. Há atualmente na Pérsia uma seita composta por algumas almas que se chamam bábís, pretendendo ser adeptos de Sua Santidade o Báb, mas não têm a mínima compreensão de Sua Santidade. Possuem

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alguns ensinamentos secretos inteiramente opostos aos ensi-namentos de Bahá’u’lláh, e na Pérsia se sabe disso. Quando, porém, essas pessoas vêm à Europa, escondem seus próprios ensinamentos e expõem os de Bahá’u’lláh, pois sabem que estes são poderosos e, portanto, os proclamam publicamente em seu próprio nome. Dizem que esses ensinamentos secretos derivaram do Livro do Bayán, da autoria de Sua Santidade o Báb, mas quando tiverdes acesso a este Livro, o qual se tra-duziu na Pérsia, descobrireis a verdade: que os ensinamentos de Bahá’u’lláh estão completamente opostos aos dessa seita. Acautelai-vos para que não descuideis deste fato. Caso queirais investigar mais o assunto, pedi informações da Pérsia.

Enfim, ao se viajar pelo mundo, onde quer que se en-contre a construção, é resultado da harmonia e do amor, enquanto tudo o que esteja em ruínas demonstra o efeito da inimizade e do ódio. Apesar disso, o mundo humano não se tornou consciente, não despertou do sono da negligência. Novamente se envolve em divergências, em disputas e con-tenda, para organizar as fileiras da guerra e percorrer a arena da batalha e luta.

Assim é com o universo e sua corrupção, a existência e a inexistência. Todo ser contingente é feito de vários e numerosos elementos; a existência de tudo é resultado da composição. Quer isso dizer, quando há uma composição entre elementos simples, surge um ser; é desse modo que se realiza a criação dos seres. E, ao ser perturbada tal composi-ção, sucede a decomposição, separam-se os elementos, e esse ser é aniquilado. Isto é, o aniquilamento de tudo consiste na decomposição, na separação dos elementos. Cada combina-ção, pois, e cada cor de folhas, flores e frutas, contribuem ao realce da beleza e encanto dos demais, fazendo um jardim admirável, da maior formosura, do mais deleitável perfume e frescor. De modo semelhante, quando a variedade de pen-

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samentos, ideias, opiniões, caracteres e princípios morais do mundo humano vêm sob o controle de um Poder Supremo, essa influência de composição entre os elementos é a causa da vida, enquanto que a dissociação e separação causam a morte. Numa palavra, a atração e harmonia são a causa da produção de frutos e resultados úteis, enquanto o repulso e a desarmonia entre as coisas motivam distúrbios e aniqui-lamento. Da harmonia e atração, deriva a vida de todos os seres contingentes, tais como a planta, o animal e o homem; da desarmonia e repulsão origina a decadência e se manifesta o aniquilamento. Tudo, pois, que seja causa de harmonia, atração e união entre os homens, é a vida do mundo huma-no, e o que motiva diferenças, repulsa e separação é a causa da morte da humanidade. Quando se passa por um jardim onde canteiros de vegetais, flores e ervas fragrantes todos se combinam para formar um todo harmonioso, isso é evidência de que tal jardim e plantação se devem ao cultivo e cuidado de um jardineiro perfeito, mas quando se vê um jardim em desordem, confuso, sem plano, isso indica que foi privado dos cuidados de um jardineiro hábil, ou, antes, que é apenas uma aglomeração de ervas selvagens. Evidentemente, pois, a amizade e harmonia provam que houve cultivo pelo verdadei-ro Educador, enquanto que a separação e dispersão indicam a incultura, a falta de educação divina.

Se alguém objetar que, em vista das diferenças existentes entre as comunidades, nações e raças do mundo – no que diz respeito a formalidades, costumes, gostos, temperamentos, moral, pensa-mentos e opiniões – é impossível que a unidade ideal se manifeste e a união completa se realize entre os ho-mens, dizemos serem de duas espécies as diferenças: uma leva à destruição, assim como a diferença entre povos guerreiros e nações rivais, que se destroem mutuamente e extirpam as famílias uns dos outros, não permitindo sossego ou confor-

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to, devotando-se, antes, à carnificina e à rapacidade. Isso é condenável. A outra diferença, porém, consiste na variação, coisa que manifesta as graças divinas e é a própria perfeição. Consideremos as flores do roseiral: embora sejam de diferen-tes tipos, cores variadas e formatos diversos, no entanto, já que bebem da mesma água, são bafejadas pela mesma brisa e crescem graças ao calor e à luz do mesmo sol, essa varia-ção faz cada uma realçar a beleza e o esplendor das demais. A diversidade de modos, costumes, hábitos, pensamentos, opiniões e temperamentos é o adorno do mundo humano. Isso é louvável. Essa variação, assim como a diferença entre as partes do corpo humano, faz manifestar-se a beleza, a perfei-ção. Desde que essas diferentes partes estejam sob o controle do espírito dominante, o qual penetra em todos os órgãos e membros, e governa todas as artérias e veias, tal variação fortalece o amor e a harmonia, essa multiplicidade é o maior meio de promover a unidade. Se, num jardim, as flores e ervas fragrantes, os ramos, folhas, inflorescência e frutos das árvores forem de um só tipo e formato, da mesma cor e disposição, não se realçará sua beleza ou seu encanto, mas quando existe variedade no mundo da unidade, mostrar-se-ão, em grau máximo, sua glória, beleza, sublimidade e perfeição.

Hoje, nada a não ser o poder do Verbo de Deus, que envolve a realidade das coisas, pode reunir os pensamentos, as mentes, os corações e espíritos à sombra da mesma Árvore. Ele é o Potente em todas as coisas, Aquele que vivifica as almas e preserva e governa o mundo humano. Louvado seja Deus! Neste dia, a luz do Verbo de Deus irradiou sobre todas as regiões e, de todas as comunidades, nações, tribos, raças, religiões e seitas, vieram almas reunir-se à sombra da Palavra da Unidade, na mais íntima amizade, harmonia e união!

— Epístola a Haia, pp. 1-20

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CAPÍTULO IIA ALMA, MENTE

E ESPÍRITO

A ORIGEM DO HOMEM

É uma verdade, embora das mais obscuras, que o mundo da existência – este universo infinito, não teve começo.

Já explicamos que os próprios nomes e atributos da Divin-dade pressupõem a existência dos seres. Não obstante haver sido esse assunto já explicado com minúcias, falaremos dele novamente em forma resumida. De fato, é impossível ima-ginarmos um educador sem alguém que receba a educação, ou um monarca sem súditos, ou um mestre sem discípulos; um criador sem criatura é inconcebível, como também o é um provedor sem que exista alguém beneficiado. Todos os nomes e atributos divinos implicam a existência de seres. Se pudéssemos conceber um tempo em que não existissem seres, tal conceito encerraria a negação da divindade de Deus. Além disso, a inexistência absoluta não pode tornar-se existência. Se os seres houvessem sido absolutamente inexistentes, a existência não teria vindo a se realizar. Como, pois, a Essência da Unidade, isto é, a existência de Deus, é duradoura, eterna – não tendo começo nem fim – é certo também que não há para esse mundo existente, esse infinito universo, nem começo nem fim. Pode acontecer, é verdade, que uma das partes do universo, um dos astros, por exemplo, venha a existir ou a decompor-se, mas ainda existiram outros astros sem conta; o universo não seria destruído por isso, nem perderia sua

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ordem. Não, a existência é perpétua, é eterna. Como todo astro teve seu começo, terá forçosamente seu fim, desde que toda a composição – seja coletiva, ou individual – há de se desfazer. A única diferença é que algumas se decompõem rapidamente, e outras com lentidão, mas é impossível que um ser composto não venha a decompor-se.

Devemos saber, portanto, o que era, a princípio, cada uma das existências, pois, sem a menor dúvida, a origem foi uma só, assim como a origem de todos os números é um, e não dois. Evidentemente, a matéria foi uma, desde o começo e, em cada elemento, esta mesma matéria aparecia sob aspectos diferentes, sendo assim produzidas várias for-mas; e esses aspectos diversos, à medida que se produziam, tornavam-se constantes, sendo cada elemento especializado. Essa constância, porém, não era definida; só depois de muito tempo atingiu plena realização, ou existência perfeita. Esses elementos vinham então a se compor, organizar e combinar uma infinidade de formas; ou melhor, resultaram da combi-nação desses elementos, inúmeros seres.

Através da sabedoria de Deus e Seu preexistente poder, essa composição foi produzida de uma só organização natural, combinada com a máxima força, segundo uma lei universal e sábia. Assim, claro está, tudo é uma criação de Deus, e não composição ou organização fortuita. Portanto, de toda com-posição natural um ser vem a existir, mas de uma acidental, ser algum pode resultar. Se um homem, por exemplo, pela sua própria inteligência, reunir e combinar alguns elementos, não virá daí um ser vivo, por não ser este o método natural. Aqui está a resposta à pergunta: “Por que, se os seres são resultantes da composição, da combinação dos elementos, não podemos nós reuni-los, combiná-los, e assim criar um ser vivo?” Não o podemos, porque a origem da composição é divina – Deus é quem a faz, e desde que seja feita pelo sistema natural, um

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ser resulta de cada composição – uma existência realiza-se. Resultado algum haverá, porém, de uma composição de au-toria humana, porque o homem não pode criar.

Numa palavra, já dissemos que as formas, as infinitas realidades e os inúmeros seres derivam da composição e combinação dos elementos, nas devidas proporções e também da própria decomposição, e da ação de outros seres sobre eles. Este globo terrestre – é claro – não apareceu logo de uma vez em sua forma atual, mas sim, gradativamente, esta existência universal veio atravessando fases diversas até atingir sua presente perfeição. Os seres universais são semelhantes aos individualizados, pois ambos estão sujeitos a um mesmo sistema natural, a uma mesma lei universal e organização divina. Verificamos, então, serem os mais pequeninos átomos do sistema universal similares aos maiores seres do universo. É claro que derivam de um mesmo laboratório de poder, segundo o mesmo sistema da natureza e uma lei única uni-versal, e, por conseguinte, são comparáveis uns aos outros. O embrião humano no ventre materno cresce e se desenvolve gradativamente, aparecendo sob formas e condições diver-sas, até atingir seu pleno desenvolvimento – época em que manifesta a máxima formosura e graça, em que adquire uma forma perfeita.

Assim, a semente desta flor que vemos era, a princípio, uma coisa insignificante, muito pequenina; cresceu, porém, desenvolveu-se no ventre da terra e, depois de assumir várias formas, atingiu seu estado atual de perfeito viço e encanto. Da mesma maneira, evidentemente, este globo terrestre, uma vez tendo vindo a existir, cresceu, desenvolveu-se no ventre do universo, aparecendo em formas e condições diversas, alcançando pouco a pouco sua perfeição atual, adornando-se com inúmeros seres, até que atingiu um grau consumado de organização.

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Está claro, pois, que a matéria original no estado embrio-nário, e suas formas primitivas, resultante da reunião e com-posição dos elementos, cresceram gradativamente, evoluindo por muitas épocas e ciclos, passando de uma a outra forma, até manifestarem, afinal, a perfeição, o sistema, a ordem e a organização atuais, graças à suprema sabedoria de Deus.

Voltemos ao nosso assunto: o homem no começo de sua existência, nas entranhas da terra, semelhante ao embrião no ventre materno, cresceu e desenvolveu-se gradativamente, passando de uma a outra forma e condição, até atingir seu presente estado de perfeição, formosura, força e poder. É certo que não possuía desde o princípio esse encanto, essa graça e essa excelência, mas só aos poucos adquiriu sua for-ma atual tão bela e graciosa. Indubitavelmente, o embrião humano não apareceu logo de início nessa forma – não era desde o começo símbolo das palavras: “Louvado seja Deus, o melhor dos criadores.” Só aos poucos, atravessando várias condições e aspectos diversos, veio a atingir essa perfeição, esse belo aspecto, com sua graça e seu encanto. Assim é claro, é indiscutível, que o desenvolvimento do homem na terra, até alcançar sua perfeição atual, é comparável ao do embrião no ventre materno: passou gradativamente, de um a outro estado, de uma a outra forma, estando isso de acordo com as exigências do sistema universal e da Lei Divina.

Por outras palavras, o embrião atravessa estados diferentes e graus numerosos antes de manifestar os sinais do raciocínio e da madureza, quando alcança a forma que justifica esta glorificação: “Louvado seja Deus, o melhor dos criadores.”

Do mesmo modo, o homem na terra atravessou muitos graus em sua caminhada desde o princípio até seu estado atual, sua forma e suas condições presentes, e isso levou ne-cessariamente muito tempo. O homem é, entretanto, desde o começo de sua existência, espécie distinta, justamente como

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o embrião humano no ventre materno. Embora o embrião, a princípio, tivesse uma forma estranha, passando em seguida de um a outro aspecto, de um a outro estado, até adquirir a máxima formosura e perfeição, era ainda aí – apesar de tão estranha forma, completamente diferente de sua forma ulte-rior – embrião de espécie humana, e não de animal. A espécie e a essência não mudam. E ainda que se admita existirem real-mente vestígios de órgãos já desaparecidos, isso não constitui prova da inconstância da espécie; não prova que ela não seja original. Indica, quando muito, que a forma, a aparência e os órgãos do homem têm progredido. O homem foi sempre espécie distinta – homem, e não animal. Se, pois, o embrião humano no ventre materno, passa de uma a outra fase, de tal modo que a segunda não se parece com a primeira, será isso prova de que a espécie tenha mudado, tendo sido primeira-mente animal e depois, com o progresso e desenvolvimento de seus órgãos, se tornado homem? Certamente que não! Quão pueril e sem base é tal ideia, tal pensamento! A originalidade da espécie humana, a constância da natureza do homem, é clara e evidente.

— Respostas a Algumas Perguntas, pp. 155-9

MODIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES

Passemos agora ao assunto da modificação das espécies e do desenvolvimento orgânico: isto é, a ponto de verificar se o homem descende do animal.

Essa teoria encontrou aceitação no espírito de alguns filósofos europeus, de modo que agora é muito difícil fazer-se entender sua falsidade, mas futuramente será muito fácil, vindo os próprios filósofos europeus a perceber seu erro. Pois é, de fato, um erro evidente.

Quando o homem contempla atentamente a criação,

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examina as condições dos seres, e vê o estado, a organização e a perfeição do mundo, convence-se de que, no reino do possível, nada há mais maravilhoso que aquilo já existente. Pois todos os seres que existem, sejam terrestres ou celestiais, como também esse espaço ilimitado e tudo o que nele está, foram criados segundo a devida ordem e combinação, sendo dispostos e aperfeiçoados precisamente como deviam ser. O universo não tem imperfeição. Se todos os seres se tornassem pura inteligência e meditassem perpetuamente, ser-lhes-ia impossível imaginar algo melhor do que aquilo que existe.

Se no passado a criação não fora adornada com a máxima perfeição, a existência teria sido imperfeita e sem sentido: a criação teria sido incompleta. Esse assunto deve ser conside-rado muito atenta e refletidamente. Por exemplo, imaginemos que o mundo da possibilidade, isto é, o mundo da existência, se assemelhe, de um modo geral, ao corpo humano. Se fossem diferentes essa composição, organização, beleza e perfeição que existem atualmente no corpo humano, isso seria abso-luta imperfeição. Ora, se imaginarmos um tempo em que o homem tenha pertencido ao mundo animal, sendo animal simplesmente, concluiremos ter sido imperfeita sua existên-cia; noutros termos, não teria havido o homem. O membro principal, correspondendo no corpo do mundo ao cérebro e mente no homem, teria faltado. O mundo assim teria sido ab-solutamente imperfeito. Evidentemente, pois, se houvesse um tempo em que o homem permanecesse estritamente no reino animal, a perfeição da existência seria destruída, pois o homem é o principal membro, deste mundo, e o corpo privado de seu membro principal seria certamente imperfeito. Dizemos ser o homem o membro supremo, porque, entre as criaturas, ele é a soma de todas as perfeições que existem. Ao falarmos em homem, queríamos nos referir ao ser perfeito, preeminente no mundo, que reúne em si as perfeições espirituais e visíveis,

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um verdadeiro sol entre os seres. Imaginemos um tempo em que o sol não existisse, ou fosse apenas um planeta – quanta desordem isso haveria de causar nas relações dos seres? Como podemos imaginar tal coisa? Para quem examina o mundo existente, o que já dissemos basta.

Há outra prova mais sutil. É fato conhecido ser composto de elementos cada um dessa infinidade de seres que habitam o mundo, quer seja homem, animal, vegetal ou mineral. Segundo a criação divina, essa perfeição inerente a todos os seres, sem dúvida, deriva da composição dos elementos, de sua combinação apropriada, em quantidades proporcionais, e também da maneira de sua composição, e da influência dos outros seres – porque todos os seres estão ligados, como os elos de uma corrente – e o auxílio e a influência recíprocos, próprios das coisas, são o que condicionam a existência, o desenvolvimento e o crescimento dos seres criados. Existem evidências indiscutíveis de que cada ser atua universalmente sobre os demais seres, seja de um modo direto, ou por asso-ciação. Enfim, a perfeição de cada ser individual – a perfeição manifesta atualmente no homem ou nos outros seres – no tocante aos seus átomos, membros ou poderes, é devida à composição dos elementos, à sua medida, ao seu equilíbrio, ao método de sua combinação, e à influência recíproca. Quando todos esses elementos se encontram reunidos, o homem existe.

Desde que a perfeição do homem é devida inteiramente, pois, à composição dos átomos – os quais por sua vez com-põem os elementos, dependendo de sua medida, do método de sua combinação, e da influência e ação recíprocas dos diferentes seres, e, desde que o homem, há dez mil ou há cem mil anos passados foi feito desses elementos terrestres, na mesma medida e com o mesmo equilíbrio, pelo mesmo método de combinação e pela mesma influência dos outros

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seres, segue-se que o mesmo homem existiu então exatamente como agora. Isso é claro e não merece discussão. Se daqui a cem milhões de anos esses elementos do homem forem reuni-dos, dispostos nessa proporção especial, combinados segundo o mesmo método, e sujeitos à mesma influência dos outros seres, existirá exatamente o mesmo homem. Por exemplo, se daqui a cem mil anos houver querosene, fogo, um pavio, uma lâmpada, e quem a acenda – numa palavra, se houver todos os requisitos que agora existem, existirá exatamente a mesma lâmpada.

Estes são fatos claros e concludentes, enquanto os argu-mentos usados por aqueles filósofos europeus apresentam provas duvidosas e não concludentes.

— Respostas a Algumas Perguntas, pp. 153-5

O REINO HUMANO

Há duas categorias de pessoas, ou dois grupos. Um nega a existência do espírito e diz que o homem também é uma espécie de animal, pois – perguntam eles – não vemos que os animais e os homens participam dos mesmos poderes e sentidos? Esses elementos simples, singelos, que enchem o espaço, formam uma infinidade de combinações, de cada uma das quais um ser é produzido. Entre eles figura o possuidor de espírito, de sentidos e outros poderes. Quanto mais perfeita a combinação, mais nobre o ser. A combinação dos elementos no corpo do homem excede em perfeição a qualquer outro ser; sendo feita com absoluto equilíbrio, é mais elevada, é mais perfeita. “Não é”, dizem eles, “que o homem tenha espírito e poderes especiais de que careçam os outros animais; estes possuem também sensibilidade, apenas o homem em alguns sentidos atingiu um desenvolvimento maior, embora no que diz respeito aos sentidos exteriores, tais como o ouvido, a

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vista, o gosto, o olfato e o tato, e até a algumas faculdades interiores, como a memória, o animal é mais ricamente do-tado que o homem.” “O animal”, afirmam eles, “também possui inteligência e percepção.” Só concedem ser maior a inteligência do homem.

É o que sustentam os filósofos da atualidade; tal é o que afirmam e supõem; é o que lhes dita sua imaginação. Com poderosos argumentos e provas prendem ao animal a origem do homem; dizem ter havido um tempo em que o homem era animal, tendo, então, a espécie se modificado e progredido gradativamente, até alcançar seu estado atual.

Dizem os teólogos, entretanto: Não; não é assim. Embora o homem tenha faculdades e sentidos exteriores em comum com o animal, existe nele um poder extraordinário que o animal não possui. As ciências, artes, invenções, indústrias, e as descobertas de fatos reais resultam do poder espiritual – poder este que abrange tudo, compreende a realidade de tudo, descobre todos os mistérios ocultos nos seres e, graças a este conhecimento, controla-os, percebendo até coisas que não existem exteriormente, isto é, realidades intelectuais, que não podem ser percebidas pelos sentidos e não têm existência exterior, sendo invisíveis. Assim, este poder compreende a mente, o espírito, as qualidades, os caracteres, o amor e a tristeza do homem, que são realidades intelectuais. Houve um tempo em que as ciências hoje existentes, as artes, as leis, e as inúmeras invenções do homem, eram segredos – invisíveis, misteriosos, ocultos; só o poder humano, que tudo abrange, conseguiu descobri-las e fazê-las sair do plano do invisível para o do visível. Em certa época, a telegrafia, a fotografia, a fonografia, e todas essas invenções e artes maravilhosas eram mistérios; a mentalidade humana descobriu-as e levou-as do plano do invisível para o do visível. Nos tempos primitivos, as qualidades deste ferro que vemos, bem como de todos os

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outros metais, eram mistérios; o homem descobriu este metal e deu-lhe sua forma industrial. Igual caso se dá com todas as outras descobertas e inúmeras invenções do homem. Isso não podemos negar.

Talvez aleguemos ser tudo isto o efeito de poderes pos-suídos pelo animal também, dos sentidos corpóreos, mas, obviamente, estes podem ser superiores no caso do animal. A visão de certos animais, por exemplo, é muito mais aguda do que a do homem, como são também suas faculdades olfativa e gustativa. Numa palavra, no tocante aos poderes comuns ao homem e ao animal, vemos ser o animal em muitos casos superior. Tomemos o poder da memória, por exemplo: se le-varmos um pombo daqui a um país distante e lá o soltarmos, ele voltará, porque se lembrará do caminho. Podemos levar um cachorro daqui ao centro da Ásia e soltá-lo, e ele regressará sem se desviar nenhuma vez. O mesmo sucede com as outras faculdades – o ouvido, a vista, o olfato, o gosto e o tato.

Evidentemente, pois, se não houvesse no homem um poder diferente de qualquer dos que existem no animal, este seria superior ao homem em invenções e na compreensão dos fatos. É claro que o homem possui um dom não possuído pelo animal. O animal percebe as coisas sensíveis, mas não as realidades intelectuais. Vê, por exemplo, o que está ao al-cance de sua visão, porém aquilo que não está, ele é incapaz de perceber ou imaginar. É impossível o animal compreender o fato de que a terra possui a forma de globo. O homem, entretanto, das coisas conhecidas deduz as desconhecidas, descobre verdades novas. Vê a curva do horizonte, e daí deduz a redondeza da terra. A Estrela Polar, por exemplo, está em ‘Akká a 33 graus acima do horizonte; eleva-se um grau acima do horizonte por cada grau de distância que viajamos em direção ao Polo Norte; isto é, a altitude da Estrela Polar será de 34 graus, depois 40, 50, 60, 70. Se viajarmos até o Polo

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Norte, sua altitude será de 90 graus – terá atingido o zênite, estará justamente na vertical. A Estrela Polar e sua ascensão são coisas sensíveis. Quanto mais viajarmos em direção ao Polo, mais a Estrela Polar se eleva. Destes fatos conhecidos, descobrimos um desconhecido: o horizonte é curvo, isto é, o horizonte de cada ponto na terra é diferente do horizonte de outro ponto. O homem percebe isto e daí prova uma coisa invisível: a redondeza da terra. É impossível que o animal perceba isto. Tampouco pode ele compreender que o sol é o centro em cujo redor a terra gira. O animal é prisioneiro dos sentidos, está restrito a eles, e, portanto, tudo o que estiver além dos sentidos, todas as coisas fora de seu alcance, jamais as compreenderá, apesar de ser superior ao homem no que diz respeito aos sentidos exteriores. Está assim provado que existe no homem um poder de descoberta que o distingue do animal, isto é, o espírito do homem.

Louvado seja Deus! O homem mira sempre as alturas, tendo aspirações elevadas, desejando constantemente alcan-çar um mundo superior àquele em que vive, subir a uma esfera mais alta que esta na qual se acha. Amor à elevação é uma das características do homem. Causa-me espanto que certos filósofos da América e da Europa têm satisfação em se aproximarem pouco a pouco do mundo animal, isto é, em retrogradar, enquanto a tendência de tudo o que existe deve ser para a elevação. Se, porém, dissermos a um deles: “Sois animal”, ele se ofenderá no extremo.

Quão grande é a diferença entre o mundo humano e aquele ao qual o animal pertence, entre a elevação do ho-mem e a vileza do animal, entre as perfeições humanas e a ignorância que caracteriza o animal, entre a iluminação do homem e a treva em que o animal está submerso, entre a glória humana e a degradação do estado animal! Um menino árabe de dez anos pode governar duzentos ou trezentos camelos no

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deserto, e pela sua voz conduzi-los para frente ou para trás. Um hindu fraco pode controlar um enorme elefante a tal ponto que este se torna o mais obediente criado. Todas as coisas são domadas pela mão do homem; ele pode resistir à natureza, enquanto todas as outras criaturas são suas escra-vas, não podendo, nenhuma delas, fugir de suas exigências. Somente o homem pode resistir à natureza. A natureza atrai os corpos para o centro da terra; o homem por meios mecâ-nicos afasta-se dele, voando nos ares. A natureza impede o homem de atravessar os mares, mas ele constrói um navio e viaja através do grande oceano, e assim por diante – o assunto é inesgotável. O homem, por exemplo, guia máquinas sobre as montanhas e através dos desertos; reúne em um lugar as notícias dos acontecimentos do oriente e do ocidente. Tudo isso ultrapassa a natureza. O mar com sua grandeza não pode se desviar por um átomo sequer das leis da natureza; o sol, com toda a sua magnificência, não pode infringir as leis naturais, nem pela largura de uma ponta de agulha, e jamais poderá compreender as condições, o estado, as qualidades, os movimentos e a natureza do homem.

Qual o poder, pois, existente nesse pequeno corpo hu-mano, que é capaz de abranger tudo isso? Que poder é esse, graças ao qual ele subjuga todas as coisas?

Resta um ponto ainda. Dizem os filósofos modernos: “Nunca vimos o espírito; não obstante nossas pesquisas, nos-sas tentativas de penetrar os segredos do corpo humano, não percebemos um poder espiritual. Como imaginar um poder imperceptível?” Replicam os teólogos: “O espírito do animal tampouco é sensível, ou perceptível pelos poderes corporais. Como, pois, provar a existência do espírito animal? São os seus efeitos que constituem prova indiscutível da existência no animal de um poder que não existe na planta, o poder dos sen-tidos – vista, audição, como outros poderes também – do que

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se conclui que há um espírito animal. Assim, pois, das provas e dos sinais mencionados, argumentamos que há um espírito humano. Uma vez que haja no animal sinais inexistentes na planta, dizemos ser esse poder de sensação uma propriedade do espírito animal. Também no homem vemos sinais, poderes e perfeições inexistentes no animal, e assim deduzimos que existe nele um poder de que o animal carece”.

Se quisermos negar tudo o que não seja perceptível, te-remos de negar as realidades que indiscutivelmente existem. O éter, por exemplo, é imperceptível, embora se não possa duvidar da sua existência. O poder da atração é imperceptível, embora exista, certamente. Por que meios conhecemos essas existências? Por meio de seus sinais. Assim, esta luz é vibração do éter, e dessa vibração deduzimos a existência do éter.

— Respostas a Algumas Perguntas, 159-163

HOMEM E EVOLUÇÃO

Certos filósofos europeus concordam em dizer que não somente a espécie cresce e se desenvolve, como também modificações podem ocorrer. Uma das provas apresentadas em apoio dessa teoria é que se tornou claro, mediante um estudo atencioso da ciência da geologia, ter a existência do vegetal precedido à do animal, e a deste precedido à existência do homem. Admitem que tanto as espécies vegetais como as animais, têm mudado, porque em algumas camadas da terra foram descobertas plantas que existiam no passado, mas não existem agora. Ao longo da evolução, esses espécimes progrediram, tornaram-se mais fortes, mudando de forma e aspecto; assim, as espécies se modificaram. Há também nas camadas da terra algumas espécies de animais que sofreram metamorfose. Um destes é a serpente. Há indícios de que em certo período possuía pés, mas com o correr do tempo esses membros desapareceram. De modo semelhante, existe

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na coluna vertebral do homem um indício, praticamente prova, de que ele – como os animais – numa determinada época, possuía cauda. Esse membro alguma vez teve sua uti-lidade, mas com o desenvolvimento do homem deixou de ter; desapareceu, pois, gradativamente. Quando a serpente começou a refugiar-se debaixo da terra, tornando-se réptil, já não precisava de pés, e assim estes desapareceram, persis-tindo, porém, seus vestígios. O argumento principal é este: a existência de vestígios de membros prova que estes em algum tempo existiram e, como foram perdendo a utilidade, aos poucos vieram a desaparecer. Assim, enquanto persistiam os membros perfeitos e necessários, os desnecessários gradual-mente desapareceram, pela modificação da espécie, embora se vejam ainda seus vestígios.

A primeira resposta a esse argumento é que o fato de haver o animal precedido ao homem não constitui prova da evolução ou transformação da espécie; não indica que o ho-mem fosse elevado do plano animal para o humano. Embora seja certo o aparecimento individual desses diferentes seres, é possível, no entanto, ter o homem vindo a existir após o animal. Quando examinamos o reino vegetal, vemos que os frutos das várias árvores não amadurecem simultaneamente; pelo contrário, uns vêm primeiro, e outros depois, mas esta prioridade não prova que o fruto de uma árvore fora produ-zido do fruto anterior de outra.

Em segundo lugar, esses ligeiros traços e sinais de mem-bros talvez possuam sua razão de ser, a qual o nosso intelecto ainda não conhece. Quantas coisas existem cuja razão nós ainda ignoramos! Assim, a ciência da filosofia, isto é, o estudo das funções do organismo, desconhece ainda a razão por que diferem as cores dos animais e dos cabelos humanos, por que são vermelhos os lábios, e por que variam as cores dos pássaros – tudo isso são segredos ainda não revelados. Sabe-se, porém,

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que a pupila do olho é preta em função dos raios do sol, por-que, se fosse de outra cor, isto é, uniformemente branca, não os atrairia. Assim como é desconhecida, pois, a razão das coisas mencionadas, igualmente o pode ser a razão desses vestígios de membros, quer seja no animal, quer no homem. Há uma razão, sem dúvida alguma, embora nos seja ignorada.

Em terceiro lugar, suponhamos ter havido uma época em que certos animais, ou até o homem, possuíssem membros agora desaparecidos; isto não é prova suficiente da mudança e evolução da espécie. Pois a forma e a aparência do homem, desde o começo do período embrionário até à plena ma-turidade, passam por modificações. Ele muda de aspecto, forma, aparência e cor; passa de uma a outra forma, de uma a outra aparência. Desde o início do período embrionário, no entanto, ele é da espécie humana, ou seja, o embrião de um homem, e não o de um animal. A princípio, não aparenta sê-lo, porém mais tarde vê-se claramente que é. Su-ponhamos ter o homem se assemelhado ao animal em certo período, e depois ter progredido e mudado – supondo que isso seja verdade, ainda não prova que houvesse mudança de espécie. Quando muito, indica como já dissemos, que essas mudanças são comparáveis às modificações por que passa o embrião humano antes de adquirir o raciocínio e alcançar a perfeição. Falaremos mais claramente: suponhamos que num tempo remoto o homem andasse com as mãos e os pés, ou tivesse tido cauda; as modificações que sofreu desde então são comparáveis àquelas do embrião no ventre materno. Se bem que o embrião mude de todas as maneiras, crescendo e se desenvolvendo até adquirir a forma perfeita, é, não obs-tante, desde o começo, espécie distinta. Vemos também no reino vegetal, que as espécies originais do gênero não mudam, mas que há modificações, ou progresso, no que diz respeito à forma, à cor, e ao tamanho.

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Em resumo: assim como o homem no ventre materno experimenta várias conformações, mudando e se desenvol-vendo e, todavia é espécie humana desde o início do período embrionário, de modo idêntico, o homem, desde o princípio de sua existência no ventre do mundo, é também espécie dis-tinta, isto é, humana, apenas tendo evoluído gradativamente em sua conformação. Ainda que se admita, portanto, a reali-dade da mudança de aspecto, da evolução dos membros, do desenvolvimento e progresso*, isto não constitui uma negação da originalidade da espécie. O homem desde o princípio guarda essa forma e essa composição perfeitas, possuindo capacidade e aptidão para adquirir perfeições, tanto materiais como espirituais, e sendo assim a manifestação das palavras: “Faremos o homem à nossa imagem e semelhança”. Ele apenas tem adquirido qualidades mais amáveis – maior formosura e graça. A civilização elevou-o acima de seu estado selvagem, do mesmo modo que os frutos silvestres cultivados por um fruticultor se tornam mais belos, mais doces, mais cheios de viço e de paladar mais delicado.

Os fruticultores do mundo humano são os Profetas de Deus.

— Respostas a Algumas Perguntas, pp. 164-7

A NATUREZA ESPIRITUAL DO HOMEM

Já muitas vezes demonstramos e estabelecemos o fato de ser o homem o mais elevado dos seres, a soma de todas as perfeições, sendo todas as criaturas, todas as existências, cen-tros dos quais a glória de Deus se reflete; isto é, na realidade das coisas e das criaturas aparecem os sinais da Divindade de Deus. Assim como o globo terrestre é o lugar em que os raios do sol se refletem, sendo sua luz, calor e influência visíveis em *Isto é, admitindo-se, por exemplo, ter sido o homem anteriormente quadrúpede ou ter ele tido cauda.

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todos os átomos da terra, também os átomos dos seres neste infinito espaço proclamam e dão provas de uma das perfeições divinas. Coisa alguma é destituída desse benefício; é sinal da misericórdia de Deus, ou de Seu poder, de Sua grandeza, justiça ou sublimidade, que concede a educação; ou é sinal da divina generosidade, da visão, audição, sabedoria ou graça divina, e assim por diante.

Indubitavelmente, cada ser é centro de irradiação da glória de Deus; isto é, nele aparecem com resplendor as perfeições divinas, assim como o sol brilha sobre o deserto, o mar, as árvores, as flores e os frutos, e sobre todas as coisas terrestres. O mundo, ou, de fato, cada um dos seres existen-tes, proclama-nos um dos nomes de Deus, mas a realidade do homem é a realidade coletiva ou geral, é o centro de onde se irradia a glória de todas as perfeições de Deus. Quer isso dizer, de cada qualidade ou perfeição que atribuímos a Deus, existe no homem um sinal. Se assim não fosse, nem poderia o homem imaginar essas perfeições, e menos ainda compreendê-las. Assim, dizemos que Deus vê, e os olhos são os sinais de Sua visão; se não existisse no homem a faculdade visual, como lhe seria possível imaginar a visão de Deus? Pois o cego, pelo menos o cego de nascimento, não pode imaginar o que é a vista; para o surdo, isto é, para quem nasceu surdo, é inconcebível a audição; e o morto não compreende a vida. A Divindade de Deus, soma de todas as perfeições, reflete-se, pois, na realidade do homem; quer isto dizer, a Essência da Unidade é a reunião de todas as perfeições, e desta Unidade Ele lança um reflexo sobre a realidade humana. O homem é assim o perfeito espelho voltado para o Sol da Verdade, é o centro irradiante, e nesse espelho resplandece o Sol da Verdade. As divinas perfeições refletem-se na realidade do homem, sendo ele, pois, uma imagem de Deus, e Seu men-sageiro. Privado da existência do homem, o universo não teria

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finalidade, pois o objetivo da existência é a manifestação das perfeições de Deus.

Portanto, não se deve supor haver sido um tempo em que o homem não existisse. Tudo o que podemos dizer é isto: em certa época este globo terrestre não existia e, no começo de sua existência, o homem não aparecia nele, mas desde o princípio que não teve princípio, até ao fim que não terá fim, sempre existe um perfeito manifestante. Este homem de quem falamos não é qualquer homem; referimo-nos ao homem perfeito. Pois a parte mais digna da árvore é o fruto, o qual é sua razão de ser e sem o que ela nada significaria. Assim, não podemos imaginar que os mundos existentes – sejam as estrelas ou a terra – estivessem em certo tempo habitados por animais como o burro, o boi, o rato e o gato, e sem o homem! Tal suposição é falsa e irracional. A palavra de Deus é clara como o sol.

A prova que acabamos de aduzir é espiritual, e não deve ser apresentada, de início, aos materialistas. Quando falamos com eles, devemos usar primeiro argumentos lógicos, e depois espirituais...

— Respostas a Algumas Perguntas, pp. 167-9

PODERES INATOS DO HOMEM

O princípio da existência do homem no globo terrestre é comparável à sua formação no ventre materno. Ele aqui cresce e se desenvolve até o nascimento, e depois continua a crescer e a desenvolver-se até alcançar o discernimento e a maturidade. Embora desde a infância apareçam no homem os sinais do intelecto e do espírito, estes não chegam logo à perfeição, estando de início imperfeitos. Só quando o homem atinge a maturidade é que a mente e o espírito se revelam com a máxima perfeição.

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A formação do homem no ventre do mundo foi análoga à do embrião. Este progride gradativamente, crescendo e se desenvolvendo até atingir a maturidade, quando o intelecto e o espírito se revelam em todo seu poder. No começo de sua formação, já existem a mente e o espírito, porém ocultos, sen-do que só mais tarde se manifestam. Também no homem, no ventre do mundo, existem, desde o princípio, mente e espírito, mas estão ocultos e só mais tarde se tornam manifestos. De modo idêntico, a árvore existe na semente, porém oculta, só se revelando à medida que a semente se desenvolve e cresce. Assim, o desenvolvimento de todos os seres é gradativo, de acordo com a organização divina universal, o sistema natural. A semente não se torna logo árvore; não é num instante que o embrião se transforma em homem; o mineral não se torna de repente pedra. Não, crescem e se desenvolvem gradativamente até atingirem o limite de sua perfeição.

Todos os seres, sejam grandes ou pequenos, foram criados perfeitos e completos desde o princípio, mas suas perfeições só vão se manifestando aos poucos. A organização de Deus é una; a evolução da existência é una; é uno o sistema divino. Sejam pequenos ou grandes, todos os seres estão sujeitos a uma mesma lei e sistema. Cada semente, por exemplo, tem dentro de si, desde o princípio, todas as perfeições vegetais, mas não de modo visível; depois, pouco a pouco, elas vêm vindo à luz. Assim, da semente, primeiro surge o broto, de-pois os ramos, as folhas, as flores e os frutos, mas isso tudo, desde o começo de sua existência, está na semente, embora em potência apenas, e não visível.

De igual modo, o embrião possui desde o princípio todas as perfeições – o espírito, a mente, a vista, a olfação, a gus-tação – enfim, todas as faculdades, porém elas não se acham visíveis, só aos poucos vindo a manifestar-se.

Assim também, o globo terrestre foi criado inicialmente

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com todos os seus elementos, substâncias, minerais, átomos e organismos, porém estes só se revelaram pouco a pouco: primeiro, o mineral; depois, a planta; mais tarde, o animal; e finalmente, o homem. Todas essas espécies, no entanto, existem desde sempre, embora não se houvessem desen-volvido logo no globo terrestre, só gradativamente vindo a manifestar-se. Pois a suprema organização de Deus, o sistema natural universal, se estende a todos os seres – todos estão sob seu controle. Quando se contempla este sistema universal, verifica-se que não há um único destes seres que tenha alcan-çado logo no começo de sua existência o limite da perfeição. Não, é gradativamente que eles crescem e desenvolvem, e assim atingem o grau de perfeitos.

— Respostas a Algumas Perguntas, pp. 169-170

O ESPÍRITO NO CORPO

A razão do aparecimento do espírito no corpo é a seguin-te: o espírito humano é-nos confiado por Deus e necessitar passar por todas as condições da existência, a fim de adquirir suas perfeições. Assim, quando um homem viaja e visita vários países e regiões, estudando-os sistematicamente, com método, vem a se aperfeiçoar, porque verá diversos lugares e cenas, e destarte descobrirá condições existentes nos outros países. Tornar-se-á conhecedor de sua geografia, suas mara-vilhas e artes, familiarizando-se com os hábitos e costumes dos povos; constatará a civilização e o progresso da época; adquirirá conhecimento da orientação dos governos, e do poder e da capacidade de cada país. O mesmo sucede quando o espírito humano atravessa as várias condições da existência: alcança novos graus e estados. Até mesmo no corpo, pode, seguramente, adquirir perfeições.

Além disso, é necessário que apareçam neste mundo os

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sinais da perfeição do espírito, não só para que sejam produ-zidos entre as criaturas inúmeros efeitos como também para que esse corpo receba vida e manifeste as graças divinas. Os raios do sol devem brilhar sobre a terra, e assim, graças ao seu calor, os seres terrestres desenvolver-se-ão; em caso contrário, este planeta ficaria inabitado, não progrediria, nem teria razão de ser. Da mesma maneira, a menos que se manifestassem no mundo as perfeições do espírito, nenhuma iluminação exis-tiria; a brutalidade é que haveria de dominar. É só quando o espírito se revela em forma física, que o mundo é iluminado. Justamente como o corpo humano tem no espírito a causa da sua vida, também o mundo, como se fosse o corpo, depende do homem, o qual, por assim dizer, lhe serve de espírito. Se não fosse o homem, não se veriam as perfeições espirituais, nem resplandeceria no mundo a luz da inteligência. Este mundo seria, em verdade, um corpo sem alma.

Podemos comparar o mundo, também, a uma árvore fru-tífera, e o homem a seu fruto, sem o qual a árvore nenhuma utilidade teria.

Além disso, essa composição – esses membros e elementos encontrados no organismo humano – agem como ímã, para atrair o espírito; fatalmente, o espírito tem de se manifestar aí. Sem a menor dúvida, um espelho límpido deve atrair os raios do sol, tornando-se luminoso e refletindo admiráveis imagens. Assim, esses elementos existentes, ao serem reunidos segundo a ordem natural, com perfeita força, tornar-se-ão um ímã para o espírito, o qual se manifestará neles com todas as suas perfeições.

Não se pode perguntar, então: “Que necessidade têm os raios solares de descer para o espelho?” Pois a relação que existe entre as realidades das coisas, sejam espirituais, sejam materiais, implica no reflexo da luz solar no espelho quando se ache este límpido e voltado para o sol. De igual modo,

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quando os elementos estiverem dispostos e combinados de determinada maneira, segundo o mais glorioso sistema e a mais perfeita organização, neles se manifestará o espírito humano. Assim decretou o Poderoso, o Sábio.

— Respostas a Algumas Perguntas, pp. 170-2

A RELAÇÃO DO HOMEM COM DEUS

A relação entre Deus e as criaturas é a que existe entre um criador e sua criação; é semelhante àquela que há entre o sol e a escuridão dos seres contingentes; é a relação entre o artífice e as coisas por ele feitas. O sol em sua própria essência é independente dos corpos que ilumina, pois sua luz é-lhe inerente, nada tendo que ver com o globo terrestre. Nosso planeta, sim, está sob a influência do sol, dele recebendo sua luz; o sol e seus raios, porém, são inteiramente independentes da terra. De fato, sem o sol, não poderia existir nem a terra, nem um só dos seres terrestres.

As criaturas dependem, pois, de Deus, e essa dependência é por emanação. Isto é, as criaturas emanam de Deus, e não O manifestam; a relação é de emanação, e não de manifestação. É isto que se entende por emanação: é como o aparecimento dos raios daquele astro que ilumina os horizontes do mundo.

A santa essência do Sol da Verdade não se divide, nem desce até às condições das criaturas, assim como o globo solar não se divide nem desce para a terra; apenas seus raios, que são suas graças, emanam e iluminam os corpos escuros.

O aparecimento por manifestação, por outro lado, é similar ao modo pelo qual da semente surgem haste, folhas, flores e frutos; pois a semente em sua própria essência torna-se ramos e frutos, sua realidade entra nos ramos, nas folhas e nos frutos. Acreditar que Deus, o Altíssimo, se manifeste dessa maneira é atribuir-Lhe simples imperfeição, o que é

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inteiramente impossível; equivaleria a dizer que o Preexis-tente Absoluto tem qualidades fenomenológicas. Se assim fosse, entretanto, a pura independência tornar-se-ia simples pobreza, e a verdadeira existência, mera inexistência – o que seria um contrasenso.

Por conseguinte, todas as criaturas emanam de Deus; isto é, graças a Ele, tudo se realiza, todos os seres vêm a existir. A primeira coisa a emanar de Deus foi aquela realidade universal denominada pelos filósofos antigos “Primeira Inteligência”, e pelos Bahá’ís “Primeira Vontade”. Essa emanação, no tocante à sua atividade no mundo divino, não é limitada nem no tem-po nem no espaço; não teve começo, tampouco terá fim – em relação a Deus, começo e fim são o mesmo. A preexistência de Deus é uma preexistência de essência, e também de tempo; e a fenomenalidade dos seres contingentes é essencial e não temporal, como já explicamos um dia à mesa.

Embora não tivesse começo, a “Primeira Inteligência” não participa da preexistência de Deus, pois existência da realidade universal em comparação com a Existência Divina é simplesmente nada – não tem o poder de se associar a Ele ou de Lhe ser semelhante quanto à preexistência. Este argumento já foi explicado em outra ocasião.

A vida dos seres depende de sua composição; a sua de-composição implica a morte. A matéria universal, porém, os elementos, não são absolutamente destruídos; o que cha-mamos inexistência é apenas transformação. Por exemplo, o homem ao morrer torna-se pó, mas ainda existe em forma de pó. Não se torna, pois, absolutamente inexistente; apenas sujeita-se a uma transformação, à decomposição ocidental. O mesmo sucede com os outros seres, já que a existência não se torna absoluta inexistência, bem como esta não se torna existência.

— Respostas a Algumas Perguntas, pp. 172-3

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ALMA, MENTE E ESPÍRITO

Em outra ocasião explicamos que o espírito se divide universalmente em cinco categorias: o vegetal, o animal, o humano, o da fé e o Espírito Santo.

O espírito vegetal é o poder do crescimento que se atua na semente pela influência de outras existências.

O espírito animal é o poder de todos os sentidos; depende da composição e associação dos elementos, perecendo quan-do estes se desintegram. Assemelha-se a esta lâmpada: ao se combinarem o querosene, o pavio e o fogo, resultam luz, mas uma vez dissolvida essa combinação, separando-se as partes associadas, a luz se extingue.

O espírito humano, que distingue o homem do animal, é a alma racional. Estes dois termos, espírito humano e alma racional, designam a mesma coisa. Tal espírito, ou, segundo a terminologia dos filósofos, essa alma racional, abrange tudo e – dentro dos limites da capacidade humana – descobre a realidade das coisas, tornando-se conhecedor de suas peculia-ridades e de seus efeitos, e das qualidades e propriedades dos seres. Os segredos divinos, porém, as realidades celestiais, esca-pam ao espírito humano, a menos que este seja reforçado pelo espírito da fé. É semelhante a um espelho, que, embora claro, polido e brilhante, ainda precisa de luz. Enquanto não receber um raio do sol, não descobrirá os segredos celestiais.

A mente é o poder do espírito humano. O espírito é o foco; a mente é a luz que dele irradia. O espírito humano é a árvore e a mente o fruto. A mente é a perfeição do espírito, é sua qualidade essencial, assim como os raios solares são uma necessidade essencial do sol.

— Respostas a Algumas Perguntas, 176-7

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OS CINCO PODERES PSÍQUICOS E ESPIRITUAIS

Existem no homem cinco poderes exteriores, sendo estes os agentes da percepção, o meio pelo qual ele percebe os seres materiais. São: a vista, que observa as formas visíveis; o ouvido, sensível aos sons audíveis; o olfato, que distingue os odores; o gosto, que conhece os alimentos; e o tato, encontrado em todas as partes do corpo e percebedor das coisas tangíveis. Esses cinco poderes percebem as existências exteriores.

O homem possui também poderes espirituais: a ima-ginação que concebe as coisas; o pensamento, que reflete sobre sua realidade; a compreensão, que as entende; e a memória, cuja função é a de reter o que o homem imagina, pensa, e compreende. O intermediário entre as cinco facul-dades exteriores e as interiores é o sentido que possuem em comum, isto é, o sentido que age entre elas, transmitindo às faculdades interiores tudo quanto seja discernido pelas exteriores. Denomina-se faculdade comum, por ser o meio de comunicação entre as faculdades exteriores e as interiores, sendo-lhes assim comum.

A visão, por exemplo, é uma das faculdades exteriores; percebe esta flor e conduz esta percepção à faculdade comum, a qual a leva ao poder da imaginação. Este, por sua vez, con-cebe a forma a imagem, transmitindo-a, então, à faculdade do pensamento, a qual medita e, uma vez abarcada sua realidade, leva-a ao poder da compreensão. Depois de ser compreendida, a imagem do objeto percebido é entregue à memória, e esta, afinal, guarda-a em seu repositório.

Os poderes exteriores são cinco: a vista, o ouvido, o gosto, o olfato e o tato.

Os poderes interiores também são cinco: a faculdade comum, e os poderes da imaginação, do pensamento, da compreensão e da memória.

— Respostas a Algumas Perguntas, pp. 177-8

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CARÁTER INATO, HEREDITÁRIO E ADQUIRIDO

Quanto ao caráter inato, embora seja puramente boa a criação divina, as qualidades naturais do homem variam; todas são excelentes, porém em maior ou menor grau. Todos os seres humanos possuem inteligência e capacidade, mas há entre eles, obviamente, vários graus de inteligência, de capacidade, de mérito.

Por exemplo, se observarmos um grupo de meninos pertences à mesma família, nativos do mesmo lugar, até estu-dando as mesmas lições, na mesma escola, e sob a orientação do mesmo professor, sujeitos a idênticas condições de clima, vestuário e alimentação, verificaremos que, ainda assim, alguns deles se distinguirão nas ciências, enquanto outros mostrarão uma habilidade apenas média, ou até muito in-ferior. Disso deduzimos que existe na natureza original uma diferença de grau, bem como uma variação na capacidade e no mérito dos homens. Tal diferença não implica no bem ou no mal; é simplesmente uma diferença de grau. Um está no grau mais elevado, outro num grau médio, e outro ainda inferior. O homem existe, como também existem todos os outros seres – animal, planta e mineral, mas os graus dessas quatro existências variam. Que diferença entre a existência do homem e a do animal! Ambos, no entanto, existem. A variedade de graus na existência é, pois, óbvia.

As qualidades herdadas variam, como se sabe, segundo a força ou fraqueza de constituição: de pais fortes nascem filhos robustos, e de pais fracos, filhos fracos. Sangue puro exerce um grande efeito, pois o germe puro é como a estirpe superior no caso das plantas ou dos animais. É natural crianças de pais débeis terem uma constituição débil e nervos fracos, estarem sujeitas à doença, faltando-lhes resistência, resolução, perseve-rança e paciência, desde que herdaram a fraqueza dos pais.

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Além disso, uma benção especial é concedida a certas famílias e gerações, como, por exemplo, no caso de Abraão, pois todos os Profetas dos filhos de Israel são de Sua descen-dência. É uma benção conferida por Deus a esta família, e que se estende a Moisés por parte do pai, bem como da mãe, a Cristo, pela linhagem materna, e também a Maomé, ao Báb e a todos os Profetas e Santos Manifestantes de Israel. Evidentemente, pois, há um caráter herdado. Tanto assim que, se o caráter de alguém que pertença fisicamente a certa linhagem não se mostrar digno desta linhagem, não será ele considerado, espiritualmente falando, membro da família. Assim aconteceu no caso de Canaã* que não é incluído entre os descendentes de Noé [ver Gênesis 9: 25].

A variação nas qualidades de acordo com a cultura ou a educação é, entretanto, muito grande; é, de fato, imensa sua influência. É por seu intermédio que o ignorante adquire conhecimentos, e o covarde, valor; assim como o ramo torto se endireita mediante cultivo, a fruta azeda, amarga, das montanhas e selvas, torna-se doce, deliciosa, e a flor de cinco pétalas vem a ter centenas. Graças à educação, os povos selva-gens tornam-se civilizados, e até os animais se domesticam. De suma importância é, pois, a educação. Como no plano físico as moléstias são extremamente contagiosas, também o são as qualidades de coração e espírito. A educação tem influência universal; as diferenças por ela causadas são muito grandes.

Se alguém afirmar que a variação em capacidade existente entre os homens explica a diferença de caráter*, refutaremos tal asserção, pois não há somente a capacidade natural, mas também a adquirida. A primeira, criação de Deus, é pura-mente boa, porque o mal não existe na criação divina. É da capacidade adquirida que surge o mal. Por exemplo, Deus criou o homem de tal modo, dotando-o de tal constituição, *E, portanto, ninguém tem culpa de seu caráter.

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de tais capacidades, que ele colhe benefício do açúcar ou do mel, mas é prejudicado, e até destruído pelo veneno. Essa natureza, essa constituição, é inata, concedida por Deus a toda a humanidade. Um homem, no entanto, vem a habituar-se, pouco a pouco, a um certo veneno; toma cada dia uma pequena quantidade, aumentando-a gradativamente a ponto de não poder passar, digamos, sem um grama de ópio por dia. Assim, as capacidades naturais pervertem-se completa-mente. Observemos quanto a constituição e a capacidade natural mudam, a ponto de se perverterem absolutamente, em consequência de certos hábitos. Não censuramos o homem viciado por causa da natureza e capacidades inatas, mas por causa das adquiridas.

Na criação não existe o mal; tudo é bom. Certas qua-lidades inatas em algumas pessoas, embora pareçam ser censuráveis, não o são na realidade. Por exemplo, notamos numa criança desde o começo de sua vida, enquanto ainda amamentada, certos sinais de desejo, ira e impaciência, e disso talvez queiramos inferir que o bem e o mal sejam ina-tos no homem. Tal inferência, entretanto, seria contrária ao conceito da pura bondade da natureza, e de toda a criação. A explicação é a seguinte: o desejo – a vontade de possuir algo – é uma qualidade louvável, contanto que seja usado de modo conveniente. Assim, um homem pode desejar adquirir ciência ou outros conhecimentos, ou talvez queira tornar-se compassivo, generoso e justo. Tudo isso é muito louvável. Se exercer sua indignação e ira contra os tiranos sanguinários, que são como animais ferozes, isso ainda será muito meritó-rio. Se, porém, essas qualidades não forem usadas de maneira apropriada, serão também censuráveis.

Realmente, pois, mal algum existe na natureza, na cria-ção. Só quando o homem usa suas qualidades naturais de um modo ilegítimo é que estas se tornam censuráveis. Se um

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rico der generosamente a um pobre, mas se este, em vez de empregar a quantia recebida para suas necessidades, preferir gastá-la com coisas condenáveis, isso será repreensível. Igual caso se dá com todas as qualidades naturais do homem, que constituem o capital da vida: se forem usadas ou exteriori-zadas de um modo condenável, tornar-se-ão censuráveis. É claro, pois, ser a criação puramente boa. Vejamos a pior das qualidades, o mais odioso dos atributos, a base de todo o mal, a mentira. Não se pode imaginar uma qualidade mais repreensível, pois destrói todas as perfeições humanas, e dá origem a inúmeros vícios. Não há característica pior; é a base de todos os defeitos. Não obstante tudo isso, se um médico com intuito de consolar um doente, disser: “Graças a Deus, está melhor; há esperança de seu restabelecimento”, isso não será censurável, ainda que tal afirmação seja contrária à verdade, pois pode animar o doente e até deter a marcha da doença. Isto não é censurável.

— Respostas a Algumas Perguntas, pp. 178-181

O NOSSO CONHECIMENTO DE DEUS

Notemos que há duas espécies de conhecimento: o da essência de uma coisa, e o de suas qualidades. É apenas pelas qualidades que se conhece a essência de uma coisa; de outro modo estaria oculta, completamente desconhecida. Já que nosso conhecimento das coisas – até das coisas criadas, que têm limites – é restrito ao conhecimento de suas qualidades, não nos sendo possível penetrar sua essência, como, pois, haveremos de compreender, em Sua Essência, a Realidade Divina, a qual é ilimitada? Não compreendemos a substância da essência de coisa alguma, mas apenas suas qualidades. Por exemplo, a substância do sol é desconhecida: apenas suas qualidades, calor e luz, são perceptíveis. Tampouco se conhece

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a substância, a essência do homem, nem se pode percebê-la; só pelas qualidades que a caracterizam pode a essência ser conhecida. De tudo, pois, conhecemos simplesmente as qualidades, e não a essência. Embora a mente alcance todas as coisas, compreenda todos os seres exteriores, é incapaz, no entanto, de penetrar sua essência; apenas conhece suas qualidades.

Como será possível, então, conhecermos em Sua Essência o Senhor Eterno, imperecível, aquele Ser santificado além de nossa compreensão e de todo e qualquer conceito? Isto é, se as coisas só podem ser conhecidas pelas qualidades, e nunca pela essência, não resta dúvida de que a Realidade Divina é desconhecida no tocante à Sua essência, nada se podendo conhecer além de Seus atributos. Reflitamos: seria possível a realidade transitória compreender a Realidade Preexistente? Pois compreensão é resultado da delimitação – deve-se de-limitar, a fim de se poder compreender. Ora, a Essência da Unidade circunscreve tudo, e não é circunscrita por coisa nenhuma.

As diferenças de condição verificadas entre os seres ten-dem a obstruir o entendimento. Por exemplo, este mineral pertence ao reino mineral e, por mais que evolua, nunca há de compreender o poder de crescimento. As plantas, as árvo-res, não importa quanto se desenvolvam, jamais conceberão o poder de ver ou as outras faculdades. Tampouco poderá o animal imaginar a condição do homem, isto é, seus poderes espirituais. Diferença de condição é, pois, um obstáculo ao conhecimento; o grau inferior é incapaz de compreender o superior. Como pode o que é fenomenológico, então, com-preender a Realidade Preexistente? O nosso conhecimento de Deus limita-se a Seus atributos; não atinge Sua Realidade. Nem tampouco é absoluto esse conhecimento dos atributos, pois depende da capacidade humana. A filosofia trata de

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compreender a realidade das coisas existentes, de acordo com a capacidade e os poderes do homem. Só até os limites de sua capacidade poderá a realidade fenomênica compreender os atributos do Preexistente. O mistério da Divindade é san-tificado, indo além dos poderes do entendimento humano, pois qualquer concepção do homem depende daquilo que ele compreende, e seus poderes de compreensão não alcançam a Realidade da Essência Divina. Tudo o que o homem é capaz de compreender, pois, são os atributos da Divindade, cujo esplendor se irradia visivelmente nos mundos e nas almas.

Ao contemplarmos os mundos e as almas, vemos indícios claros, maravilhosos, das perfeições divinas, porque a realidade das coisas é prova da Realidade Universal. A Realidade Divina assemelha-se ao sol, o qual, das alturas de sua magnificência, brilha sobre todos os horizontes, dispensando a cada horizon-te, a cada alma, uma fração de seu esplendor. Se não houvesse essa luz, esses raios, não existiriam os seres; todos os seres exprimem algo disso, participam de algum raio, de alguma fração dessa luz. Os esplendores dos atributos, das graças e perfeições de Deus irradiam-se em toda a sua plenitude da realidade do Homem Perfeito, isto é, do Incomparável, do Manifestante Divino Universal. Os outros seres recebem apenas um raio, mas o Manifestante Universal é o espelho em que esse Sol se reflete em toda a sua perfeição, revelando todos os seus atributos, sinais e maravilhas.

Conhecer a Divina Realidade é-nos vedado, porém co-nhecer o Manifestante de Deus equivale a conhecer Deus, visto serem revelados Nele os atributos, graças e esplendo-res divinos. Se, pois, o homem atingir o conhecimento do Manifestante, terá conhecido o próprio Deus; e também, se desprezar a graça de conhecer o Santo Manifestante, será pri-vado da graça de conhecer a Deus. Está claro então, serem os Santos Manifestantes os centros dos sinais, graças e perfeições

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de Deus. Bem-aventurados os que recebem, dessas Alvoradas Luminosas, a luz da graça divina.

Oxalá os amigos de Deus, com uma força irresistível, atraiam essas graças da própria fonte, e se ergam tão inten-samente iluminados que deem testemunho irrefutável da existência do Sol da Realidade!

— Respostas a Algumas Perguntas, pp. 183-5

A IMORTALIDADE DO ESPÍRITO

Os Livros Sagrados falam da imortalidade do espírito: é a base fundamental das religiões divinas. Dizem haver duas espécies de recompensas e punições, as desta vida, e as do outro mundo. Em todos os mundos de Deus, seja neste, ou nos mundos celestiais, espirituais, há paraíso e há inferno. Ganhar as recompensas é ganhar a vida eterna. Por isso Cristo disse que se deveria pelos atos merecer atingir a vida eterna, e, nascendo da água e do espírito, entrar no Reino do Céu.

As recompensas desta vida são as virtudes e perfeições que adornam o homem. Por exemplo, ele está submerso em trevas e torna-se luminoso; tem pouco conhecimento, e adquire sabedoria; é descuidado, e torna-se vigilante; adormecido, e desperta; morto, e ressuscita; é cego, e adquire a visão; surdo, e ganha o poder de ouvir; de homem terreno, transforma-se em homem celestial; de materialista, em homem de es-piritualidade. Em virtude de tais recompensas, alcança o nascimento espiritual; faz-se nova criatura. É-lhe aplicável, pois, o versículo do Evangelho que diz, com referência aos discípulos: “Não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus.” Equivale a dizer: libertaram-se das qualidades animais que caracterizam a natureza humana, e adquiriram as divinas, as graças de Deus. É isso que significa o segundo nascimento. Para essas almas,

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não há maior tortura que a de serem excluídas de Deus, nem existe punição mais severa do que a de serem dominadas pelos vícios sensuais e desejos da carne, e estigmatizadas por baixezas e indignidades. Quando, graças à luz da fé, elas se libertam da escuridão de tais vícios, sendo iluminadas pelo esplendor do Sol da Realidade e enobrecidas por todas as vir-tudes, nisso veem sua maior recompensa – nisso reconhecem o verdadeiro paraíso. Da mesma maneira, elas consideram a punição espiritual, isto é, a tortura ou o castigo da existência, como equivalente a estar sujeito ao mundo da natureza, a ser privado de Deus, a ser brutal e ignorante, dominado pela luxúria, absorvido pela fraqueza animal, caracterizado por más tendências, tais como a tirania, a crueldade, a mentira, o apego às coisas deste mundo e a sujeição a ideias satânicas. Para essas almas, tudo isso constitui a maior tortura, a mais severa punição.

De modo semelhante, as recompensas do outro mun-do são a vida eterna mencionada claramente em todos os Livros Sagrados, as perfeições e as graças divinas, e a eterna felicidade; são as perfeições e a paz alcançadas no domínio espiritual, após se haver deixado este mundo, assim como as recompensas desta vida são as verdadeiras perfeições luminosas obtidas neste mundo e causadoras da vida eterna, pois nelas consiste o próprio progresso da existência. Tal como sucede quando o homem passa do estado embrionário para o da maturidade e assim se torna a manifestação destas palavras: “Abençoado seja Deus, o melhor dos criadores”. As recom-pensas do outro mundo são, pois, a paz, as graças espirituais, as várias dádivas espirituais no Reino de Deus, a realização dos desejos da alma e do coração, e o encontro com Deus no mundo da eternidade; justamente como, por outro lado, as punições ou torturas do outro mundo consistem em achar-se destituído das especiais bênçãos divinas e graças absolutas, e

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em degradar-se aos graus inferiores da existência. Quem se priva destes favores divinos, embora continue a existir após sua partida deste mundo, é, no entanto, considerado pelo povo da verdade como sendo um morto.

Uma prova lógica da imortalidade do espírito é esta: uma coisa inexistente não pode dar sinal de existência; é impos-sível que sinais apareçam da inexistência absoluta, porque sinais são um resultado, o que depende de uma causa. De um sol inexistente não se irradiará luz alguma, bem como, de um mar inexistente, nenhuma onda surgirá; jamais cairão chuvas de uma nuvem que não existe, nem aparecerão fru-tos numa árvore inexistente; tampouco poderá um homem inexistente manifestar ou produzir coisa alguma. Enquanto, pois, aparecerem sinais de existência, estes serão prova de uma existência.

Consideremos: o Reino de Cristo ainda hoje existe; de um rei inexistente, seria possível manifestar-se um reino tão grandioso? Seria possível terem ondas tão altas surgido de um mar que existia, ou tão deleitável fragrância ter emanado de um jardim inexistente? Reflitamos: não resta efeito, vestígio ou influência alguma de qualquer outro ser após a dispersão das partes que o compunham, uma vez desintegrados seus elementos – sejam estes de mineral, vegetal ou animal. So-mente o homem, o espírito humano, persiste, continua a agir e exercer poder ainda depois da desintegração do corpo e da dispersão das partículas que o compunham.

Este é um ponto extremamente sutil: considerai-o com atenção. Apresentamos uma prova racional, para que os sensatos possam pesar na balança da razão e da justiça. Se, porém, o espírito humano enlevar-se, se for atraído ao Reino de Deus, se adquirir a visão interior e fortalecer o ouvido espiritual, a tal ponto que os sentimentos espirituais predo-minem, então verá a imortalidade do espírito tão claramente

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como vê o sol, e perceberá a boa nova e os sinais de Deus por todos os lados.

Observamos que tanto o poder de entendimento como a capacidade de ação do espírito humano, são de duas ca-tegorias; isto é, o espírito percebe e age de duas maneiras diferentes: uma, por meio de instrumentos ou órgãos, como, por exemplo, vê com os olhos, ouve com os ouvidos, fala com a língua. Tal é a percepção do homem – do espírito humano, e tal é seu modo de agir, por meio de órgãos. É o espírito quem vê, sendo os olhos o instrumento; o espírito quem ouve, por meio dos ouvidos; o espírito quem fala, por intermédio da língua.

A outra maneira pela qual o espírito manifesta seus pode-res de perceber e agir não depende dos órgãos. Por exemplo, durante o sono, vê sem precisar de olhos, ouve sem usar os ouvidos, fala sem língua, e move-se sem pés. Estas ações não dependem de instrumentos e órgãos. Quantas vezes acontece, durante o sono, o espírito perceber um sonho, cujo significado se torna claro uns dois anos depois, ao sucederem os fatos correspondentes. Assim também, quantas vezes acontece que um problema insolúvel no estado de vigília é resolvido no mundo dos sonhos. Acordado, o homem enxerga com os olhos apenas uma pequena distância, ao passo que, em sonho, pode do oriente ver o ocidente. Acordado, vê o presente, enquanto dormindo, vê o futuro. Acordado, o homem viaja, por meios rápidos, apenas vinte farsakhs por hora; em sono, num abrir e fechar de olhos, atravessa o mundo, de leste a oeste. O espírito, pois, viaja de dois modos: sem meios, sendo esta uma viagem espiritual, e com meios, no caso de uma viagem material, assim como um pássaro pode voar ou ser transportado.

Enquanto adormecido, o corpo parece morto: não vê, nem ouve; não sente, não tem consciência ou percepção; seus

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poderes estão inativos. O espírito, entretanto, vive, subsiste; ainda mais, sua penetração é aumentada, seu voo é de maior alcance, sua inteligência é superior. Imaginar que o espírito pereça ao morrer o corpo é como imaginar que o pássaro morra ao quebrar-se-lhe a gaiola. Nada tem o pássaro que recear, porém, com a destruição da gaiola. Nosso corpo é apenas a gaiola, enquanto o espírito é o pássaro. Vemos que esse pássaro voa no domínio do sono, sem a gaiola; portanto, se esta for quebrada, ele continuará a existir, e seus sentimen-tos serão até mais poderosos, suas percepções mais agudas, e sua felicidade maior. Na verdade, deixará um inferno para entrar num paraíso de delícias, pois para os pássaros gratos, não há paraíso maior que se libertar da gaiola. É por isso que os mártires se precipitam na arena do sacrifício com perfeito contentamento e alegria.

Quando o espírito humano age por intermédio do corpo, seu poder é limitado pela capacidade corporal. Assim, com os olhos físicos, o homem vê até uma certa distância, equivalente a uma hora, mas com a vista interior, com os olhos mentais, vê a América, percebe o que está ali, examina e pode decidir determinados assuntos. Fosse o espírito idêntico ao corpo, o poder da vista interior estaria na mesma proporção. Torna-se claro, pois, que o espírito é diferente do corpo – que o pás-saro é diferente da gaiola – e que seu poder aumenta, e sua penetração é mais aguda, quando age independentemente do corpo. Ao abandonar um instrumento, o possuidor continua a agir. Um escritor pode quebrar a pena e permanecer vivo e presente. Uma cada pode ser destruída, sem que o dono deixe de viver. Aqui temos uma das evidências lógicas da imortalidade da alma.

Há outra: o corpo pode aumentar ou diminuir de peso, adoecer ou recuperar a saúde, fatigar-se ou descansar, perder às vezes uma mão ou uma perna, ou sofrer uma mutilação,

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ficar cego, ou surdo, ou mudo, ou paralítico – numa palavra, está sujeito a todas as imperfeições. O espírito, entretanto, conserva seu estado original, sua própria percepção; é eterno, não pode ser mutilado, nem se tornar defeituoso. Quando o corpo, porém, é completamente dominado por alguma doen-ça ou outra aflição, pode ficar privado das graças do espírito, tal como o espelho, quando se quebra ou se cobre de poeira, e assim não reflete os raios do sol, nem revela suas graças.

Já explicamos que o espírito do homem não existe no corpo, por ser santificado e não sujeito a entradas nem saí-das – coisas que são puras condições físicas. A relação entre espírito e corpo é semelhante à do sol com o espelho. O espírito mantém-se numa só condição, não sendo afetado pelas moléstias do corpo, nem pela sua saúde; não adoece, nem enfraquece; não diminui em peso ou em tamanho; não se torna pobre, nem infeliz. As enfermidades do corpo não o atingem; ainda que o corpo se torne débil, perca mãos, pés e língua, ou seja, privado dos sentidos, audição ou vista, nada disso terá efeito algum sobre o espírito. É claro, pois, é indiscutível, que o espírito difere do corpo, e sua duração é independente da duração deste. Na verdade, o espírito exerce supremo domínio sobre o corpo; sua força e sua influência tornam-se visíveis nele, semelhantes às graças do sol refletidas no espelho. O espelho, porém, ao cobrir-se de pó, ou quebrar-se, deixa de refletir os raios do sol.

— Respostas a Algumas Perguntas, pp. 185-190

AS PERFEIÇÕES SÃO ILIMITADAS

Observemos que as condições da existência se restringem às de servidão, estado profético, e Divindade. As perfeições divinas e as contingentes, ambas, são ilimitadas. Ao refletir-mos, descobrimos serem ilimitadas até as perfeições exteriores

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da existência, porque não encontramos ser algum tão perfeito que não lhe possamos imaginar um superior. Por exemplo, não se vê no reino mineral um rubi, ou no reino vegetal uma rosa, ou no reino animal um rouxinol, de tal perfeição que se não possa imaginar espécimes mais perfeitos. Como são infinitas as graças divinas, também o são as perfeições humanas. Se nos fosse possível atingir o limite da perfeição, teríamos então alcançado a condição de seres independentes de Deus – o contingente teria atingido a condição do absoluto. Mas há para cada um dos seres um ponto que ele não pode ultrapassar. Por exemplo, quem está no grau de servo, por mais que progrida nos sentido de adquirir perfeições, nunca alcançará a condição de Divindade. O mesmo sucede com os outros seres: o mineral, não importa quanto progrida em seu próprio reino, jamais adquirirá o poder vegetal, como tampouco aparecerá na flor, por mais que ela progrida em seu reino, qualquer poder sensorial. Assim, esta prata não há de adquirir o poder de ouvir ou ver, podendo, quando mui-to, melhorar dentro de sua própria condição, aperfeiçoar-se como mineral; jamais terá o poder do crescimento nem o da sensação – não adquirirá vida. Ela só poderá progredir dentro dos limites de sua própria condição.

Por exemplo, Pedro não se pode tornar Cristo. Tudo o que pode fazer é atingir infinitas perfeições em seu estado de servo, pois cada ser existente está apto a fazer progresso. Desde que o espírito humano, após haver abandonado esta forma material, tem uma vida eterna, e já que todo ser vivo pode, certamente, progredir, é-nos permitido orar para que um homem progrida após a morte, receba perdão, miseri-córdia, graça e várias bênçãos, pois tudo que existe é capaz de progresso. É por isso que as orações de Bahá’u’lláh pedem clemência e remissão dos pecados para os mortos. Além disso, assim como neste mundo precisamos de Deus, também no

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outro precisaremos Dele. As criaturas estão sempre neces-sitadas, seja neste mundo, ou no outro, enquanto Deus é a absoluta independência.

A riqueza do outro mundo consiste na proximidade de Deus. Por conseguinte, é permitido aos que estão próximos da Corte Divina interceder pelos outros, sendo tal intercessão aprovada por Deus. Mas a intercessão no outro mundo não é como neste: é outra coisa, outra realidade, impossível de expressar em palavras.

Se na hora da morte um rico legar aos pobres e infelizes uma parte de sua riqueza para ser gasta em benefício deles, tal ato pode ser causa de seu perdão e de seu progresso no Reino Divino.

Acontece muitas vezes passarem pai e mãe pelas maiores provações e durezas por causa dos filhos, e apenas estes chegam à idade adulta, os pais têm de partir para o outro mundo. Raramente veem neste mundo a recompensa dos cuidados que dedicaram aos filhos. Estes, pois, reconhecendo tais cui-dados e sacrifícios, devem mostrar caridade e misericórdia e implorar perdão para os pais. Assim, o amor e a bondade que vos foram dispensados pelo vosso pai, deveis retribuir, dando aos pobres em seu nome, rogando perdão e remissão de seus pecados com a maior humildade, implorando para ele a suprema misericórdia.

É até possível modificar o estado dos que morreram em pecado, descrentes; isto é, o perdão ser-lhes-á concedido, graças à bondade de Deus, e não de acordo com Sua justiça, pois dar quando não há merecimento constitui pura bondade, enquanto a justiça exige que se dê o que é merecido. Assim como temos neste mundo o poder de orar por essas pessoas, tê-lo-emos no outro mundo, também, no Reino de Deus. Não continuarão todos a ser naquele mundo, criaturas de Deus? Portanto, ali poderão também progredir. Como aqui

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recebem luz por meio da prece, igualmente poderão ali pedir perdão e receber luz mediante preces e súplicas. As almas neste mundo progridem graças às súplicas e preces de pessoas santas, e após a morte o mesmo ocorrerá. Progridem também pelas próprias orações e súplicas, e mais especialmente quando por eles intercedem os Santos Manifestantes.

— Respostas a Algumas Perguntas, pp. 191-2

A EVOLUÇÃO DO HOMEM NO OUTRO MUNDO

Observemos: nenhuma coisa existente permanece inerte; tudo está em movimento. Todas as coisas crescem ou decli-nam, vêm da inexistência para a existência, ou saem desta para aquela. Assim, esta flor, este jacinto, durante certo período de tempo esteve passando do mundo da inexistência para o da existência, e agora vai passando deste para aquele. Tal estado de movimento consideramos essencial, ou natural, pois não pode ser isolado dos seres, já que é um requisito essencial deles, assim como queimar é requisito inerente ao fogo.

Torna-se claro, então, ser o movimento indispensável à existência, a qual é obrigada ou a progredir ou a retroceder. Como o espírito continua a existir após a morte, tem necessa-riamente de progredir ou de retroceder – não progredir é, no outro mundo, a mesma coisa que retroceder – mas nunca sairá de sua própria condição; nela há de se desenvolver sempre. Por exemplo, a realidade do espírito de Pedro, não importa quanto progrida, jamais atingirá a condição da Realidade de Cristo; apenas progredirá dentro de seu próprio estado.

Vejamos este mineral: por mais que evolua, apenas evo-luirá em sua própria condição; é impossível elevar o cristal a ponto de adquirir o sentido da vista. Assim a lua que está nos céus, não importa quanto evolua, jamais se tornará um sol luminoso, embora tenha, em sua própria condição, apogeu e

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decadência. Por mais que progredissem, os discípulos nunca se tornariam Cristo. É verdade que o carvão se transforma em diamante, mas é por estarem ambos na condição mineral e terem os mesmos elementos componentes.

— Respostas a Algumas Perguntas, p. 193

O PROGRESSO DEPOIS DA MORTE

Ao contemplarmos os seres, notamos estarem divididos, de um modo geral, em três grupos: mineral, vegetal e animal, contendo cada um suas várias espécies. A espécie mais elevada é a humana, por possuir as perfeições de todos os grupos. O homem tem um corpo que cresce e que sente, e não só tem as perfeições do mineral, do vegetal e do animal, mas também possui especiais atributos dos quais carecem os outros seres: os atributos intelectuais. Por conseguinte, o homem é o mais elevado dos seres.

O homem alcançou o grau máximo da materialidade, e o começo da espiritualidade, ou seja, o fim da imperfeição e o princípio da perfeição. Está no último grau da escuridão e no começo da luz. Foi dito, por isso, que no estado humano são assinalados o fim da noite e o princípio do dia; isto é, o homem é a soma de todos os graus da imperfeição e possui também os da perfeição. Tem o lado animal, bem como o angélico; fazer este lado predominar sobre aquele é o que visa o educador em seu esforço de orientar a alma humana. Se, pois, o poder divino no homem, ou seja, sua perfeição essencial, predominar sobre o poder satânico, o qual é abso-luta imperfeição, ele tornar-se-á, efetivamente, a mais elevada das criaturas; se, por outro lado, o poder satânico vencer o divino, ele será o mais decaído de todos. Por isso dizemos ser o homem o fim da imperfeição e ao mesmo tempo o co-meço da perfeição. Em espécie alguma do mundo existente

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encontramos essa diferença, esse contraste, essa contradição, ou oposição, que vemos na espécie humana. Assim, o reflexo da Luz Divina percebemos num Cristo e notamos quanto amor e reverência Lhe são dedicados! Por outro lado, vemos um homem adorar uma pedra, um monte de terra, ou uma árvore. Quão vil se mostra em adorar a mais baixa forma da existência – uma pedra, ou barro, que não tem espírito, um monte, uma floresta, ou uma árvore! Será concebível maior vergonha para o homem do que isto – adorar as formas inferiores da criação? O conhecimento é uma qualidade do homem, como também o é a ignorância; a sinceridade é um de seus atributos, e também o é a falsidade; a honradez e a perfídia, a justiça e a injustiça, são atributos humanos, e assim por diante. Numa palavra, todas as perfeições e virtudes, bem como todos os vícios, são propriedades do homem. Seme-lhantemente, consideremos as diferenças que existem entre vários indivíduos. Cristo apresentou-se em forma de homem, e Caifás também. Moisés e Faraó, Abel e Caim, Bahá’u’lláh e Yáhyá, eram homens.

Diz-se que o homem é quem melhor representa Deus, sendo o Livro da Criação, porque encerra todos os mistérios da existência. Se o homem se abrigar à sombra do Verdadeiro Educador e receber a devida orientação, tornar-se-á a essência das essências, a luz das luzes, o espírito dos espíritos; será o centro dos sinais divinos e a fonte das virtudes espirituais, a alvorada das luzes celestes e o receptáculo das inspirações divinas. Se, porém, for privado dessa educação, manifestará qualidades satânicas, tornando-se sede dos vícios animais e fonte de todas as torpezas.

É a missão do Profeta educar o homem, a fim de que esse pedaço de carvão se transforme em diamante, essa árvore in-frutífera seja enxertada de modo a produzir frutos mais doces e deleitáveis. Após haver atingido o mais elevado grau possível

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no mundo humano, o homem poderá ainda progredir nos graus da perfeição, embora não em estado, pois os estados são limitados, enquanto as divinas perfeições são infinitas.

Não só antes de abandonar esta forma material, mas também depois de o fazer, há progresso, aperfeiçoamento, embora não seja em estado. No homem perfeito os seres encontram sua consumação. Não existe criatura superior ao homem perfeito. Quando atinge esse estado, o homem pode ainda progredir no sentido de se aperfeiçoar, embora não em estado, pois não há estágio superior ao do homem perfeito para o qual possa ser transferido. Ele progride somente dentro do estado humano, sendo infinitas as perfeições humanas. Assim por mais sábio que seja um homem, ainda é possível imaginarmos um outro mais sábio.

Logo, em virtude de serem infinitas as perfeições da hu-manidade, o homem pode continuar a afeiçoar-se após sua partida deste mundo.

— Respostas a Algumas Perguntas, pp. 193-5

EPÍSTOLA DA PUREZA

Ó Amigos do Deus Puro e Onipotente! Ser puro e santo em todas as coisas é atributo da alma consagrada e caracterís-tica necessária da mente que não esteja escravizada. A melhor das perfeições é a imaculabilidade e o livrar-se de todo defeito. Uma vez limpo e purificado em todos os sentidos, o indivíduo então se tornará um centro focal a refletir a Luz Manifesta.

No modo de vida de um ser humano deve haver, antes de tudo, pureza, e então frescor, asseio e independência de espírito. Primeiro se deve limpar o leito do córrego e, então, podem as águas doces do rio ser para aí conduzidas. Olhos castos desfrutam da visão beatífica do Senhor e sabem o que significa esse encontro; um sentido puro inala as fragrâncias

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que emanam dos roseirais de Sua graça; um coração polido espelhará a bela face da verdade.

Eis porque, nas Sagradas Escrituras, os conselhos do céu são comparados à água, assim como diz o Alcorão: “E água pura fazemos nós descer do céu”, e o Evangelho: “Quem não renascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus.” Assim está claro que os Ensinamentos que vêm de Deus são emanações celestiais de graça; são chuvas de mise-ricórdia divina e purificam o coração humano.

O que quero dizer é isto: que, em cada aspecto da vida, a pureza e a santidade, a limpeza e o refinamento, elevam a condição humana e promovem o desenvolvimento da realida-de interior do homem. Até no reino físico, o asseio conduz à espiritualidade, assim como os Sagrados Escritos claramente afirmam. E embora seja uma coisa física, o asseio do corpo, no entanto, exerce uma influência poderosa sobre a vida do espírito. É comparável a uma voz admiravelmente doce ou a uma melodia que é tocada: embora os sons sejam apenas vibrações no ar que afetam o nervo auditivo do ouvido, e essas vibrações nada mais são que fenômenos acidentais transmiti-dos através do ar, mesmo assim, vede quanto elas comovem o coração. Uma admirável melodia é como asas para o espírito e faz que a alma vibre de alegria. O intuito é que o asseio físico também exerce seu efeito sobre a alma humana.

Observai como a limpeza é agradável aos olhos de Deus e quão especificamente, nos Sagrados Livros dos Profetas, é acentuada sua importância; pois as Escrituras proíbem ali-mentos impuros ou o uso de qualquer coisa impura. Algumas dessas proibições eram absolutas, e obrigatórias para todos, e quem quer que transgredisse a lei estabelecida era abomi-nado por Deus e anatematizado pelos crentes. Tais coisas, por exemplo, eram categoricamente proibidas, a perpetração das quais era considerada o mais penoso pecado, havendo

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entre elas ações tão abomináveis que é vergonhoso até lhes pronunciar o nome.

Há outras coisas proibidas, no entanto, que não causam dano imediato, cujos efeitos prejudiciais se produzem só gra-dativamente. Tais atos também são repugnantes ao Senhor, e, aos Seus olhos, são censuráveis e repugnantes. Sua absoluta ile-galidade, porém, não foi expressamente estabelecida no Texto, mas é necessário evitá-los para que se tenha pureza e asseio, para a preservação da saúde e a independência do vício.

Entre estes últimos está o fumar tabaco, o qual é sujo, de cheiro desagradável, ofensivo - um hábito funesto, cuja nocividade gradualmente se torna evidente a todos. Todo médico qualificado já verificou - e isso também foi provado por testes - que um dos componentes do tabaco é um veneno mortal e que os fumantes são vulneráveis a muitas e variadas moléstias. É por isso que o fumar tem sido claramente con-siderado repugnante do ponto de vista da higiene.

O Báb, no início de Sua missão, proibiu explicitamente o tabaco, e todos os amigos abandonaram seu uso. Como naquele tempo, porém, se admitia a dissimulação, e cada in-divíduo que se abstinha de fumar era exposto à perseguição, ao abuso e até à morte, os amigos, para não chamarem aten-ção às suas crenças, fumavam. Mais tarde, o Livro de Aqdas foi revelado, e como não proibiu especificamente o uso do tabaco, os crentes não renunciaram dele. A Abençoada Beleza, no entanto, sempre expressou repugnância por esse hábito, e embora nos primeiros tempos houvesse razões por que Ele fumasse um pouco, Ele breve renunciou tal ação totalmente, e aquelas almas santificadas que em todas as coisas O seguiam também deixaram de usar o tabaco.

O que quero dizer é que, aos olhos de Deus, o uso do tabaco é desaprovado, abominável e extremamente nojento; e é altamente prejudicial à saúde, embora gradativamente. É

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também um desperdício de dinheiro e de tempo, e quem o usa se escraviza a um hábito nocivo. Para aqueles que se mantêm firmes no Convênio, portanto, esse hábito é censurado tanto pelo raciocínio quanto pela experiência, e renunciar a ele trará alívio e paz de espírito a todos os homens. Além disso, tor-nará possível se manter em estado fresco a boca, sem mácula os dedos, e livre de cheiro repelente o cabelo. Ao receberem esta comunicação, os amigos, certamente abandonarão de qualquer modo esse hábito pernicioso, ainda que seja grada-tivamente. É esta minha esperança.

Quanto ao ópio, é abominável e amaldiçoado. Que Deus nos proteja da punição que Ele inflige a quem o usa. De acor-do com o explícito Texto do Mais Sagrado Livro ele é proibido e seu uso é absolutamente condenado. O raciocínio mostra que o uso do ópio é uma espécie de demência, e a experiência atesta que quem o usa é completamente excluído do reino humano. Que Deus proteja todos contra a perpetração de um ato tão hediondo como esse, um ato que arruína o próprio alicerce daquilo que constitui ser-se humano, e faz quem o usa permanecer para sempre privado. Pois o ópio prende-se à alma, tanto que morre a consciência de quem o usa, apaga-se sua mente, e suas percepções são destruídas. Transforma em mortos os vivos. Extingue o calor natural. Não se pode conce-ber maior dando do que aquele que o ópio inflige. Felizes os que nunca lhe mencionam o nome - considerai, pois, como é infeliz quem o usa.

Ó vós que amais a Deus! Neste ciclo, o ciclo de Deus Todo-Poderoso, a violência e a força, a coerção e a opressão, são todas condenadas. É imperativo, entretanto, que o uso do ópio seja impedido por qualquer meio, para que a huma-nidade se livre, porventura, dessa mais poderosa das pragas. Do contrário, que infelicidade e miséria sobrevenham a quem quer que falhe em seu dever a seu Senhor.

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Ó Divina Providência! Em todas as coisas, concede Tu pureza e um estado imaculado ao povo de Bahá. Permite que sejam libertos de toda corrupção e da escravidão a qualquer vício. Protege-os da perpetração de qualquer ato repugnante, livra-os dos grilhões de todo mau hábito, para que possam ter uma vida pura, em liberdade e integridade, sem mácula, e que sejam dignos de servir em Teu Sagrado Limiar, e de se relacionarem com seu Senhor. Livra Tu este povo de bebi-das intoxicantes e do tabaco, protege-os, salva-os do ópio, o qual leva à loucura, permite-lhes fruir dos doces sabores da santidade, saciar-se do cálice místico do amor celestial, e conhecer o êxtase de se aproximar cada vez mais do Reino do Todo-Glorioso. Pois é assim mesmo como tens dito: “Tudo o que tens em tua adega não satisfará a sede de meu amor - ó tu, ó portador do cálice - traz-me, do vinho do espírito, um cálice pleno como o mar!”.

Ó vós, os bem-amados de Deus! A experiência tem de-monstrado o quanto a renúncia do fumo, de bebidas intoxi-cantes e do ópio conduz à saúde e ao vigor, à perspicácia e à expansão da mente, bem como à força física. Há hoje um povo que evita estritamente o tabaco, as bebidas alcoólicas e o ópio. Esse povo é muito superior aos outros, no que diz respeito à coragem e à força física, à saúde, beleza e formosura. Um só de seus homens iguala em poder a dez de qualquer outra tribo. Isso foi comprovado a respeito do povo inteiro: ou seja, um a um, cada indivíduo dessa comunidade é em todos os aspectos superior aos indivíduos de outras comunidades.

Fazei, pois, um grande esforço, para que a pureza e a santidade, que ‘Abdu’l-Bahá estima acima de tudo mais, venham a distinguir o povo de Bahá; que em toda espécie de excelência o povo de Deus supere a todos os demais seres humanos; que tanto exterior quanto interiormente provem ser superiores aos demais; que sejam líderes na vanguarda

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daqueles que têm conhecimento, devido à sua pureza, ima-culabilidade, refinamento e preservação da saúde. Que sejam os primeiros entre os puros, os livres e os sábios por estarem livres de escravização e por causa de seu conhecimento e seu autocontrole.

— Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, pp. 131-5

DEUS E O UNIVERSO

Por materialistas, cuja crença em relação à Divindade já foi explicada, não queremos dizer filósofos em geral, mas somente aquele grupo de materialistas de visão estreita, que adoram aquilo que conhecem por meio dos sentidos, dependendo dos cinco sentidos unicamente, e cujo critério de conhecimento se limita àquilo perceptível através dos sentidos. Tudo isso lhes é real, mas o que não se sujeita ao poder dos sentidos é irreal ou duvidoso. A existência da Deidade, eles a consideram inteiramente duvidosa.

É, pois, assim como escrevestes, referimo-nos aos mate-rialistas de mentalidade estreita, e não aos filósofos em geral. Quanto aos filósofos deístas, tais como Sócrates, Platão e Aristóteles, estes, de fato, são dignos de estima e do mais alto louvor, pois prestaram relevantes serviços à humanida-de. Assim também consideramos os filósofos materialistas que são moderados e capazes, e que têm prestado serviços (à humanidade).

A nosso ver, o conhecimento e a sabedoria são as bases do progresso do homem, e os filósofos dotados de visão larga merecem louvor. Perscruta cuidadosamente o jornal da Universidade de São Francisco, para que te seja revelada a verdade.

Agora, a respeito das faculdades mentais: são realmente propriedades inerentes à alma, assim como a irradiação da luz

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é propriedade intrínseca do sol. Os raios do sol renovam-se, mas o próprio sol é sempre o mesmo, imutável. Consideremos como o intelecto humano se desenvolve e enfraquece, e pode, em algumas ocasiões, falhar, enquanto que a alma não muda. Para que a mente se manifeste, é mister que o corpo humano seja completo; só em corpo são, pode haver mente sã, mas a alma não depende do corpo. Apenas através do poder da alma é que a mente pode exercer sua influência, suas faculdades de imaginação e compreensão, enquanto que a alma é um poder livre. A mente compreende o abstrato com o auxílio do concreto, ao passo que a alma tem ilimitadas manifesta-ções próprias. A mente é circunscrita; a alma é ilimitada. É por meio de tais sentidos como os da vista, audição, gosto, olfato e tato que a mente compreende, enquanto que a alma é independente de todos esses meios. A alma, quer esteja adormecida, quer acordada, assim como já deves ter observa-do, está em movimento, sempre ativa, podendo durante um sonho decifrar um problema intrincado, de solução difícil em estado de vigília. A mente, além disso, não compreende quando os sentidos param de funcionar, e também na fase embrionária e na primeira infância, a capacidade de raciocínio está totalmente ausente, mas a alma sempre se acha dotada de plenas faculdades. Enfim, são muitas as provas de que o poder da alma ainda continua a existir, não obstante a perda do raciocínio. O espírito possui, entretanto, vários graus e condições.

Quanto à existência do espírito no mineral: é indubitável serem os minerais dotados de um espírito e vida de acordo com os requisitos desta etapa. Este antigo segredo, também, tornou-se conhecido aos materialistas que agora afirmam que todas as coisas são dotadas de vida, assim como Ele diz no Alcorão: “Todas as coisas vivem.”

Semelhantemente, no mundo vegetal, há o poder do

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crescimento, ou seja, o espírito. No mundo animal existe alguma sensibilidade, mas no humano há um poder que a tudo abrange. Em todas as etapas anteriores, está ausente a capacidade de raciocínio, porém a alma existe e se revela. Essa sensibilidade não compreende a alma, mas a capacidade de raciocínio possuída pela mente prova a existência da alma.

De igual modo, a mente prova a existência de uma Realidade invisível que abrange todos os seres, existindo e revelando-se em todas as etapas, mas cuja essência está além do alcance da mente. Assim o mundo mineral não compreende nem a natureza nem as perfeições do mundo vegetal, e este não compreende a natureza do mundo animal. Tampouco pode o animal compreender a natureza da realidade do homem – aquele ser que descobre e abrange todas as coisas.

O animal é cativo da natureza, não podendo transgredir suas regras e leis. No homem, entretanto, há um poder de descoberta – poder que transcende o mundo da natureza, controlando e intervindo em suas leis. Todos os minerais, plantas e animais são cativos da natureza. O próprio sol, com toda a sua majestade, está tão sujeito à natureza que não tem vontade própria e não se pode desviar de suas leis nem na grossura de um fio de cabelo. Do mesmo modo, todos os outros seres – sejam do reino mineral, vegetal ou animal, são incapazes de se desviar das leis da natureza – todos são seus escravos. Só o homem, embora seu corpo seja cativo da natureza, está livre no que diz respeito à sua mente e à sua alma, tendo ele predomínio sobre a natureza.

Consideremos: segundo a lei da natureza, o homem vive, move-se, tem sua existência sobre a terra; no entanto, sua alma e sua mente intervêm nas leis naturais e ele voa no ar tal como o pássaro, ou navega rapidamente sobre os mares e, semelhante ao peixe, sonda as profundezas e descobre as coisas que aí se encontram. Verdadeiramente, esta é uma séria

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derrota infligida sobre as leis da natureza. Assim é o poder da energia elétrica: esta força tão violenta e insubmissa, que racha as montanhas, é, no entanto, aprisionada pelo homem dentro de um globo! Evidentemente, é uma interferência nas leis da natureza. Assim também o homem descobre aqueles segre-dos que, segundo as leis da natureza, deveriam permanecer ocultos, e os transfere do plano invisível para o visível; o que é, igualmente, uma interferência na lei natural. Do mesmo modo, descobre ele as propriedades inerentes às coisas, ou-trora segredos da natureza, aviva acontecimentos do passado já desvanecidos na memória, bem como prevê, mediante seu poder de indução, futuros sucessos ainda desconhecidos. Mais ainda: a comunicação é limitada a pequenas distâncias pelas leis da natureza, mas o homem, através do poder interior que possui, poder este que descobre a realidade de todas as coisas, une Leste a Oeste. Também isso é uma interferência nas leis naturais. Semelhantemente, segundo a lei da natureza, toda sombra é fugaz, enquanto que o homem a fixa na chapa, o que constitui, outrossim, uma interferência na lei natural. Ponde-remos e reflitamos: todas as ciências, artes, ofícios, invenções e descobertas eram, outrora, segredos da natureza, devendo assim permanecer, segundo suas leis; mas o homem, graças a seu poder descobridor, intervém nas leis naturais e transfere esses segredos do plano invisível para o visível. Vemos outra vez uma interferência nas leis naturais.

Enfim, essa faculdade interior do homem, escondida da vista, arranca a espada das mãos da natureza e lhe inflige um golpe tremendo. Todos os demais seres, por maiores que sejam, carecem de tais perfeições. O homem tem os poderes da vontade e da compreensão, mas a natureza não os possui. A natureza é circunscrita; o homem, livre. À natureza falta compreensão; o homem compreende. A natureza é incons-ciente dos acontecimentos passados, enquanto que o homem

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os conhece. Nem pode ela prever o futuro, mas o homem, com seu poder de discernimento, vê aquilo que está por vir. A natureza não tem consciência de si própria, ao passo que o homem tudo percebe.

Fosse alguém supor ser o homem apenas uma parte do mundo da natureza, sendo ele dotado dessas perfeições que nada mais seriam que manifestações do mundo natural – vindo assim a natureza a ser considerada a origem de tais perfeições, e não delas privada – à essa pessoa daríamos a seguinte resposta: a parte depende do todo, e não pode possuir perfeições das quais o todo é destituído.

Por natureza, entendemos aquelas propriedades inerentes e relações necessárias que derivam das realidades das coisas, e estas realidades, embora muito diversas, se acham, no entan-to, intimamente ligadas entre si. Para estas várias realidades é necessário um agente unificador que os possa unir uma à outra. Todos os órgãos e membros, partes e elementos que constituem o corpo do homem, por exemplo, se bem que di-versos, unem-se mutuamente, graças àquele agente unificador que conhecemos como alma humana, e que os faz funcionar em perfeita harmonia e absoluta regularidade, assim tornando possível a continuação da vida. O corpo humano, todavia, está inteiramente inconsciente da alma, ou seja, desse agente unificador, embora aja com regularidade, desempenhando suas funções segundo a vontade da alma.

Tratando-se agora dos filósofos: eles são de duas escolas. Sócrates, o sábio, acreditava na unidade de Deus e na existên-cia da alma após a morte, mas como sua opinião não foi aceita pelas mentalidades estreitas de seu tempo, envenenaram-no, filósofo divino que era. Todos os sábios e filósofos divinos, ao observarem estes infinitos seres, têm achado que, neste universo grande, ilimitado, todas as coisas terminam no rei-no mineral, donde procede o reino vegetal, sendo que deste

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resulta o reino animal e este último, por sua vez, é seguido pela espécie humana. A consumação deste ilimitado universo, com toda a sua grandeza e glória, é o próprio homem, e ele labuta e sofre por algum tempo neste mundo da existência, com vários males e dores, vindo afinal a decompor-se, sem deixar atrás nenhum fruto ou traço sequer. Se assim fosse, este infinito universo com todas as suas perfeições teria terminado, sem dúvida, em ignomínia e desilusão, não tendo resultado, fruto, permanência ou efeito algum. Seria absolutamente sem sentido. Eles, (os filósofos) pois, convenceram-se de que tal não era o caso, de que esta Grande Oficina, com toda a sua força, sua deslumbrante magnificência e suas infinitas perfei-ções, não poderia chegar ao nada como final. A existência de uma outra vida é, portanto, certa; e assim, tal como o reino vegetal é inconsciente do mundo humano, nós, também, nada sabemos da Grande Vida do além, que se segue à vida do ho-mem neste plano inferior. Nossa incompreensão daquela vida, entretanto, não é prova de sua inexistência. O mundo mineral, por exemplo, está completamente inconsciente do mundo do homem, não o podendo compreender, mas o fato de que se ignora uma coisa, não é prova de sua inexistência. Existem inúmeras e conclusivas provas que demonstram que esse mundo infinito não pode findar com esta vida humana.

Tratemos agora da Essência da Divindade: essa Essência, realmente, de modo algum pode ser determinada por qualquer coisa fora de sua própria natureza, nem pode, em absoluto, ser compreendida. Pois aquilo que o homem pode conceber é uma realidade que tem limitações, e não uma realidade ilimitada; é circunscrita, não abrangendo tudo; pode ser com-preendida pelo homem, e é por ele controlada. Outrossim, é certo que todos os conceitos humanos são contingentes e não absolutos, tendo uma existência mental, e não material. Além disso, a diferença de grau no mundo contingente é obstáculo

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à compreensão. Como pode, pois, o contingente conceber a Realidade do Absoluto? Como já dissemos, a diferença de grau no plano contingente impede a compreensão. Aos minerais, plantas e animais, faltam as faculdades mentais do homem, faculdades estas que descobrem a realidade de todas as coisas, enquanto que o homem compreende todos os graus que lhe são inferiores. Cada grau superior compreende o que lhe é inferior, e descobre sua realidade, mas o inferior é inconsciente daquele que lhe é superior e, portanto, incapaz de compreendê-lo. Assim, o homem não pode compreender a Essência da Divindade, mas, através de sua faculdade de raciocínio e observação, suas faculdades intuitivas e o poder revelador de sua fé, pode crer em Deus e descobrir a abun-dância de Sua Graça. Embora seja invisível a Essência Divina, e intangível a existência da Deidade, provas concludentes afirmam a existência daquela Realidade invisível. A Essência Divina como ela é em si mesma, entretanto, ultrapassa toda descrição. Desconhece-se, por exemplo, a natureza do éter, mas o fato de que existe, é provado pelos seus efeitos, sendo o calor, a luz e a eletricidade suas ondas. Através dessas ondas, a existência de éter é, portanto provada. E quando consideramos a emanação da Graça Divina, certificamo-nos da existência de Deus. Observamos, por exemplo, que a existência dos seres depende da reunião dos vários elementos, sendo sua inexistência resultado da decomposição de seus elementos constituintes; pois a decomposição implica na dissociação dos vários elementos. Observamos que a junção de elementos dá origem à existência dos seres, e se sabemos que estes, ou seja, o efeito, são infinitos, como pode a Causa ser finita?

Ora, a formação é de três espécies, e de três somente: aci-dental, necessária e voluntária. A reunião dos vários elementos constituintes dos seres não pode ser acidental, pois para todo efeito deve haver uma causa. Tampouco pode ser compulsória,

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porque assim a formação teria que ser propriedade inerente às partes constituintes, e a propriedade inerente de uma coisa, de modo algum, pode dela se desassociar, assim como a luz, que revela as coisas, o calor, que causa a expansão dos elementos, e os raios que são as propriedades intrínsecas do sol. Nesta hipótese, seria impossível que qualquer formação viesse a decompor-se, já que as propriedades inerentes de uma coisa não se separam dela. Resta a terceira espécie da formação, ou seja, a voluntária; isto é, uma força invisível, descrita como o Poder Antigo, é a causa da reunião desses elementos, sendo que cada formação dá origem a um ser distinto.

Quanto aos atributos e perfeições, tais como a vontade, o conhecimento, o poder e outras qualidades que atribuímos àquela Realidade Divina, estes são os sinais que refletem a exis-tência dos seres no plano visível e não as perfeições absolutas da Essência Divina, as quais não podem ser compreendidas. Por exemplo, ao considerarmos os seres criados, observamos infinitas perfeições, disso inferindo que o Poder Antiquíssi-mo, de quem depende a existência destes seres, não pode ser ignorante; assim, dizemos que Ele é o Onisciente. De certo, não é impotente, deve ser então, Todo-Poderoso; nem pobre, deve ser o Possuidor de todas as coisas; nem inexistente, deve ser Eterno. Com isso intentamos mostrar que, ao atribuirmos àquela Realidade Universal tais perfeições, estamos apenas negando imperfeições, e não afirmando atributos inacessíveis à inteligência humana. Assim dizemos, pois, que Seus atributos são incognoscíveis.

Em suma, essa Realidade Universal, com todas as suas re-alidades e atributos que aludimos, é santa e exaltada acima de todas as mentes e da compreensão. Quando, porém, refletimos neste infinito universo, com largueza de visão, percebemos que o movimento sem uma forma motriz, ou seja, um efeito sem causa, é impossível; que todo ser veio a existir sob numerosas

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influências e está sujeito a reações contínuas. Também estas influências derivam de outras ainda. Por exemplo, as plantas crescem e florescem por causa das emanações das chuvas ver-nais, enquanto a própria nuvem é formada por vários outros agentes, os quais, por sua vez, a outros ainda reagem. Plantas e animais crescem e desenvolvem-se sob a influência daquilo que os filósofos de nosso tempo denominam hidrogênio e oxigênio, e reagem sob os efeitos destes dois elementos, os quais, por sua vez, são formados ainda sob outras influências. O mesmo se pode dizer dos demais seres, quer afetando as outras coisas ou sendo por elas afetados. Tal processo de cau-salidade continua, mas seria claramente absurdo afirmarmos que é assim indefinidamente. Assim, essa corrente de causas deve forçosamente conduzir, afinal, Àquele que é o Eterno, o Todo-Poderoso, O que depende de Si próprio, e é a Última Causa. Essa Realidade Universal não pode ser percebida; não pode ser vista. Assim tem que ser, necessariamente, pois a tudo abrange, não podendo ser circunscrita; e tais atributos qualificam o efeito e não a causa.

Ao refletirmos, percebemos que o homem é como um minúsculo organismo contido dentro de um fruto; este fruto desenvolveu-se da flor, a qual cresceu da árvore, sendo esta sustentada pela seiva, que é formada de terra e água. Como pode este pequenino organismo compreender a natureza do jardim, formar algum conceito do jardineiro e compreender seu ser? Isto é manifestamente impossível. Pudesse este or-ganismo compreender e refletir, perceberia que o jardim, a árvore, a flor e o fruto de modo algum teriam vindo a existir por si sós, nessa ordem e perfeição. Da mesma maneira, a alma sábia e reflexiva saberá com certeza que este infinito universo com toda a sua grandiosidade e perfeita ordem não poderia ter vindo à existência por si mesma.

De modo semelhante, há no mundo da existência forças

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que os olhos não veem, tais como a do éter, já mencionada, a qual não pode ser sentida, não pode ser vista, mas dos efeitos que o éter produz, isto é, das suas ondas e vibrações, aparecem a luz, o calor e a eletricidade. Assim também são os poderes do crescimento, da sensibilidade, da compreensão, do pen-samento, da memória, da imaginação e do discernimento; todas estas faculdades internas são imperceptíveis à vista e aos demais sentidos, mas se tornam evidentes pelos efeitos que produzem.

Agora, quanto ao Poder infinito que não conhece limita-ções; a própria limitação prova a existência do ilimitado, sendo o limitado conhecido através do ilimitado, como também a própria pobreza prova a existência da riqueza. Sem riqueza, não haveria pobreza; sem conhecimento, a ignorância seria inconcebível, assim como a treva, sem a luz. A própria escu-ridão é prova da existência da luz, pois é a ausência da luz.

Agora referente à natureza, consiste apenas nas proprie-dades essenciais e relações necessárias inerentes às realidades das coisas. E embora estas realidades infinitas sejam de ca-ráter diverso, unem-se, estreitamente e na maior harmonia. À medida que nossa vista se alarga e o assunto é estudado cuidadosamente, torna-se evidente que cada realidade é apenas um requisito essencial das demais realidades. Portanto para conectar e harmonizar essas diversas e infinitas realidades é imprescindível um Poder unificador universal, a fim de que cada parte da criação existente possa desempenhar sua própria função em perfeita ordem. Consideremos o corpo do homem, vendo na parte (isto é, no corpo humano) um indício do todo. Notemos como as várias partes do corpo humano se acham intimamente ligadas e unidas em completa harmonia entre si. Cada parte é essencial às demais e tem uma função própria. A mente é aquele agente que unifica todas as partes componentes, ligando-as umas com as outras, de

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tal modo que cada uma delas possa desempenhar sua função específica em perfeita ordem, tornando assim possíveis a reação e a cooperação. Todas as partes funcionam sob certas leis essenciais à existência. Se algum dano atingir esse agente unificador, universal, que dirige todas estas partes, cessará, de certo, o devido funcionamento dos membros e das partes constituintes. E embora se não sinta nem veja esse agente unificador universal no templo do homem, e tampouco se conheça sua realidade, esse agente manifesta-se, no entanto, com o máximo poder, através de seus efeitos.

Assim se torna evidente e provado que os infinitos seres neste maravilhoso universo cumprem suas funções devida-mente só em virtude de serem dirigidos e controlados por aquela Realidade Universal, de modo que a ordem seja mantida no mundo. Como no exemplo do corpo humano, há indiscutível evidência de inter-relação e cooperação entre suas partes constituintes, porém isso não basta; é mister um agente unificador universal que dirija e controle as partes componentes para que estas, por sua interação e cooperação, possam desempenhar em perfeita ordem, respectivamente, suas funções necessárias.

Bem sabes – louvado seja o Senhor – que tanto a intera-ção como a cooperação se acham evidentes e provadas entre todos os seres, quer sejam grandes ou pequenos. No caso dos corpos grandes, a interação está tão manifesta como o sol, enquanto que nos corpos pequenos, embora a interação seja desconhecida, a parte é, no entanto, um indício do todo. Assim, pois, todas essas interações estão ligadas por aquele poder que tudo abrange – seu pivô e centro, sua origem e sua força motriz.

Como observamos no exemplo do corpo humano, a cooperação entre suas partes constituintes está claramente estabelecida, sendo que cada parte presta serviços às demais

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partes componentes do corpo. Assim, a mão, o pé, os olhos, os ouvidos, a mente, a imaginação, todas as partes cooperam, ajudando cada uma às demais partes do corpo humano, sendo, porém, todas essas interações ligadas por um poder invisível que tudo abrange e que as faz aparecerem com perfeita re-gularidade. Este poder é a faculdade interior do homem, ou seja, seu espírito e sua mente, sendo ambos invisíveis.

Outro exemplo vemos nas oficinas com a sua maquinaria: observemos como existe interação entre as várias partes e se-ções, como estas se ligam umas às outras. Todas estas relações e interações, entretanto, estão ligadas a um poder central, sendo este a sua força motriz, seu pivô e sua origem. Esse poder central é a força do vapor ou a habilidade da mente perita.

Tornou-se, pois, evidente e provado que a interação, a cooperação e a inter-relação entre os seres se acham todas sob o controle e a vontade de um Poder impulsor que é a origem, a força motriz e o pivô de todas as interações no universo.

Assim, toda disposição e formação que não seja perfeita em sua ordem, nós a denominamos acidental, enquanto que aquilo que é regular, segundo a ordem, perfeito em suas rela-ções, estando cada uma de suas partes em seu lugar próprio, como requisito essencial das demais partes constituintes, a isso chamamos uma composição formada segundo a vontade e o conhecimento. Sem a menor dúvida, esses infinitos seres e a associação desses elementos diversos devem ter procedido de uma Realidade que de modo algum careceria de vontade ou compreensão. Isso está claro e provado à mente; ninguém o pode negar. Não se quer dizer, todavia, que a Realidade Universal ou seus atributos tenham sido compreendidos. Homem algum jamais compreendeu nem sua Essência, nem seus verdadeiros atributos. O que sustentamos, porém, é que esses infinitos seres, essas relações necessárias, essa disposição perfeita, devem ter procedido, forçosamente, de uma fonte

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que não está privada de vontade e compreensão; que essa infinita composição, manifestada em formas infinitas, deve ter sido causada por uma Sabedoria que a tudo abarca. Isso ninguém pode contestar, salvo aquele que é obstinado e nega a evidência clara e inequívoca; aquele a quem se refere o sagrado versículo: “Eles são surdos, eles são mudos, eles são cegos e não mais regressarão.”

Agora com relação à pergunta se as faculdades da mente e da alma são uma só, a mesma realidade; essas faculdades são apenas as propriedades inerentes da alma, tais como o poder da imaginação, do pensamento, da compreensão – poderes esses que são os requisitos essenciais à realidade do homem, assim como o raio solar é propriedade intrínseca do sol. O corpo do homem assemelha-se a um espelho, sua alma ao sol, e suas faculdades mentais são como os raios que emanam dessa fonte de luz. O raio pode deixar de cair sobre o espelho, mas de modo algum pode desassociar-se do sol.

Em suma, o ponto é este: o mundo humano é sobrenatural em relação ao reino vegetal, embora não o seja em realidade. Relativamente à planta, são sobrenaturais a realidade do homem e seus poderes de audição e vista, e é impossível que a planta compreenda essa realidade e a natureza dos poderes da mente humana. Também, de modo algum é possível que o homem compreenda a Essência Divina e a grande Vida do além. As emanações da bondade dessa Essência Divina são, entretanto, concedidas a todos os seres, e cabe ao homem pon-derar em seu coração sobre a efusão da Graça Divina, sendo a alma considerada um de seus sinais, e não sobre a própria Essência Divina. É isso o limite absoluto para o entendimento humano. Como já mencionamos, essas perfeições que atribu-ímos à Essência Divina, nós as deduzimos da existência e da observação dos seres e não porque tenhamos compreendido a essência e a perfeição de Deus. Quando dizemos que a Es-

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sência Divina, compreende e é livre, não queremos dizer que tenhamos descoberto a Vontade e o Propósito Divino, mas apenas que tomamos conhecimento delas através da Graça Divina, que se revela e manifesta na realidade das coisas.

Quanto aos nossos princípios sociais, isto é, aos ensina-mentos de Sua Santidade Bahá’u’lláh, largamente dissemi-nados há cinquenta anos atrás, neles, em verdade, se acham incluídos todos os demais ensinamentos. Evidentemente, a humanidade não poderá progredir de modo algum sem esses princípios. Todas as comunidades do mundo encon-tram nesses Ensinamentos Divinos a realização de suas mais altas aspirações. Esses Ensinamentos são como a árvore que, dentre todas as árvores, produz os melhores frutos. Filósofos, por exemplo, acham a solução perfeita para seus problemas sociais, nesses ensinamentos divinos, bem como uma expo-sição verídica e nobre de assuntos filosóficos. Também os homens de fé percebem a realidade da religião, claramente revelada nesses ensinamentos celestiais, e verificam que eles constituem, indubitavelmente, o verdadeiro remédio para os males e as enfermidades de todo o gênero humano. Se esses sublimes ensinamentos forem difundidos, a humanidade libertar-se-á de todos os perigos, de todos os males crônicos. Outrossim, os princípios econômicos bahá’ís incorporam as mais altas aspirações de todas as classes de trabalhadores e dos economistas das várias escolas. Enfim, as aspirações de todos os grupos e partidos realizam-se nos Ensinamentos de Bahá’u’lláh e, à medida que forem declarados em igrejas, em mesquitas e em outros lugares de adoração, seja entre os seguidores de Buda ou de Confúcio, em círculos políticos ou entre materialistas, todos darão testemunho de que esses Ensinamentos trazem uma vida nova à humanidade e consti-tuem o remédio imediato para todos os males da vida social. Ninguém pode achar defeitos em qualquer desses Ensina-

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mentos; não, uma vez difundidos, serão todos aclamados, e todos os homens admitirão sua necessidade vital, exclamando: “De fato, isso é a verdade e, fora da verdade, nada há senão erro manifesto.”

Em conclusão, estas poucas palavras são escritas, e para cada um serão uma clara e concludente evidência da verdade. Pondera-as em teu coração. A vontade de todo soberano pre-valece durante seu reinado, a vontade de todo filósofo acha expressão num punhado de discípulos durante sua vida, mas o Poder do Espírito Santo brilha radiantemente nas realidades dos Mensageiros de Deus e de tal forma lhes fortalece a von-tade que exercem influência sobre uma grande nação durante milhares de anos, regenerando a alma humana e ressuscitando a humanidade. Considera quão grande é esse poder! É um Poder extraordinário, constituindo prova suficiente da veraci-dade da missão dos Profetas de Deus, e concludente evidência do poder de uma Inspiração Divina.

— Epístola ao Dr. Forel, pp. 20-39

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CAPÍTULO IIIO TEAR DA REALIDADE

SEU ESPLENDOR IMORTAL

Ele é o Todo-Glorioso!A grande Luz do mundo, que resplandecia outrora sobre

toda a humanidade, já Se pôs, para brilhar eternamente do Horizonte de Abhá, Seu Reino de glória perene. Do alto, es-parge fulgor sobre Seus bem-amados e insufla-lhes os corações e almas com o sopro da vida eterna.

Ponderai nos corações o que Ele predisse na Epístola da Visão Divina, que foi difundida pelo mundo inteiro. Assim diz Ele: “Com isso ela gemeu e exclamou: ‘Que o mundo e tudo o que nele está seja um resgate por Teus infortúnios. Ó Soberano do céu e da terra! Por que razão Te deixaste nas mãos dos habitantes dessa cidade-prisão de Akká? Apressa-Te para outros domínios, para Teus refúgios no alto, sobre os quais o povo dos nomes jamais deitou os olhos.’ Então sorrimos e nada dissemos. Meditai sobre estas mais excelsas palavras e compreendei o propósito deste mistério oculto e sagrado.”

Ó vós, os bem-amados do Senhor! Acautelai-vos, acaute-lai-vos para que não hesiteis ou vacileis. Não deixeis que vos domine o medo nem fiqueis perturbados ou desalentados. Tende o maior cuidado para que este dia calamitoso não vos diminua as chamas do ardor nem extinga vossas frágeis esperanças. Hoje é o dia para fidelidade e constância. Bem-aventurados aqueles que se mantêm firmes e inabaláveis como a rocha, e enfrentam com bravura o tumulto e a tensão desta hora tempestuosa. Eles, em verdade, serão alvo da graça de Deus; eles, em verdade, receberão Sua ajuda divina e serão,

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deveras, vitoriosos. Haverão de reluzir entre a humanidade com tal esplendor que os habitantes do Pavilhão da Glória louvam e magnificam. A eles é dirigido este chamamento celestial, revelado em Seu Livro Mais Sagrado: “Que vossos corações não se perturbem, ó povo, quando a glória de Minha Presença se retirar e o oceano de Minhas Palavras se aquietar. Em Minha presença entre vós há uma sabedoria, e em Minha ausência há ainda outra, inescrutável para todos menos para Deus, o Incomparável, o Onisciente. Verdadeiramente, Nós vos vemos de Nosso reino de glória e ajudaremos qualquer um que se levante para o triunfo de Nossa Causa com as hostes da Assembleia do alto e uma companhia de Nossos anjos favoritos.”

O Sol da Verdade, aquela Maior Luz, já Se pôs no horizonte do mundo para surgir, com esplendor imortal, por sobre o Rei-no do Ilimitado. No Livro Mais Sagrado Ele chama os amigos firmes e fiéis: “Não vos consterneis, ó povos do mundo, quando o sol de Minha beleza se tiver posto e o céu de Meu tabernáculo se ocultar de vossos olhos. Levantai-vos para promover Minha Causa e enaltecer Minha Palavra entre os homens.”

— Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, pp. 15-6

O NOVO PARAÍSO, A NOVA TERRA

Ó vós, os bem-amados de Deus! Ó vós, os filhos de Seu Reino! Em verdade, em verdade já vieram o novo céu e a nova terra. A Cidade Santa, a nova Jerusalém, desceu do alto na forma de donzela do céu, velada, formosa, sem igual, e preparada para a reunião com aqueles na Terra que a amam. A companhia angélica da Assembleia Celestial reuniu-se num chamado que percorreu o universo, todos aclamando poderosamente em altas vozes: “Esta é a Cidade de Deus e Sua morada, onde haverão de habitar os puros e santos entre

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Seus servos. Ele há de viver entre eles, pois eles são Seu povo e Ele é seu Senhor!”

Ele lhes enxugou as lágrimas, acende neles a luz, alegrou seus corações e extasiou suas almas. A morte não mais lhes haverá de sobrevir nem lhes afligirão tristeza, pranto ou tribulação. O Senhor Deus Onipotente foi entronizado em Seu Reino e tornou novas todas as coisas. É esta a verdade, e qual verdade pode ser maior do que aquela anunciada pela Revelação de São João, o Divino?

Ele é Alfa e Ômega. É Ele Quem ao sedento dará de beber da fonte da água da vida e ao enfermo concederá o remédio da verdadeira salvação. Quem é assistido por essa graça é, em verdade, aquele que recebe dos Profetas de Deus e Seus santos a mais gloriosa herança. O Senhor será seu Deus e ele será Seu bem-amado filho.

Regozijai-vos, pois, ó vós, bem-amados de Deus e Seus eleitos, e vós, filhos de Deus e Seu povo, erguei as vozes para louvar e magnificar o Senhor, o Altíssimo; pois Sua luz irradiou-se, Seus sinais apareceram e as ondas de Seu oceano intumescente espargiram inumeráveis pérolas preciosas em todas as praias.

— Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, pp. 11-2

PRIMAVERA ESPIRITUAL

Sabeis em que ciclo fostes criados e em que era da história humana existis? Esta é a era da Abençoada Perfeição e este o tempo do Máximo Nome! Este é o século da Manifestação, a era do Sol dos Horizontes e da bela primavera de Sua San-tidade, o Eterno!

A Terra está em movimento e crescimento; as montanhas, as colinas e as planícies estão verdes e esplendorosas; as benes-ses estão florindo; a misericórdia é universal; a chuva cai das

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nuvens da generosidade; o Sol brilha resplandecente; a lua cheia ornamenta o horizonte do éter; a grande onda oceânica está em plenitude com as águas de todo córrego pequeno; as dádivas se sucedem; os favores são intermináveis: e a brisa refrescante está soprando, trazendo o frescor perfumado das florações. Tesouro inexaurível encontra-se nas mãos do Rei dos Reis! Levantai as bordas de vossas vestes para receber suas riquezas.

Se não sois felizes e alegres nesta estação do ano, por qual outra esperareis?

Este é o tempo de crescimento; a época de reunião alegre e festiva! Tomai em vossas mãos a taça do Testamento; pulai e dançai com êxtase na procissão triunfal do Convênio! Depo-sitai vossa confiança na generosidade eterna, voltai-vos para a presença de Deus, que é generoso; pedi ajuda do Reino de Abhá; buscai confirmação do Mundo Supremo; volvei vossa visão para o horizonte da riqueza eterna; e implorai pela ajuda da Fonte da Misericórdia!

Logo vereis os amigos atingindo seu destino longamente esperado e armando suas tendas, enquanto estamos apenas no primeiro dia da jornada.

Este período de tempo é a Era Prometida, a reunião da raça humana para o “Dia da Ressurreição”, e agora é o grande “Dia do Julgamento”. Logo o mundo inteiro, como na primavera, mudará toda a sua aparência. A mudança e a queda das folhas de outono já ocorreram; a frieza do inverno terminou. O novo ano já veio e a primavera espiritual está presente. A terra obscura está se tornando um jardim verde-jante; os desertos e as montanhas estão enfeitados com flores vermelhas; da aridez dos desertos surgem espessos gramados como guardiões diante de formosos ciprestes e das árvores plenas de jasmins; enquanto os pássaros cantam em meio a roseirais perfumados como anjos nos céus, anunciando as

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boas-novas do aparecimento daquela tão esperada primavera espiritual, e a doce música de suas vozes fazem com que se movam e balance a essência de todas as coisas.

SERVIR AO REINO

Quando a escuridão da ignorância e da negligência com relação ao reino da eternidade e a privação do Ser Verdadeiro envolvem todo o universo, então o Luminar esplendoroso alvorece e a Luz brilhante ilumina o horizonte do Oriente. Brilha o Sol da Realidade, espargindo os lampejos de luz do Reino do Oriente e do Ocidente. Aqueles que têm os olhos abertos encontram as Boas-Novas e começam a proclamar: “Ó quão abençoados somos! Quão abençoados somos!” – e contemplam a realidade das coisas neles próprios; e tendo descoberto os mistérios do Reino libertam-se das superstições e dúvidas, percebem as luzes da Verdade e tornam-se intoxica-dos com a taça do amor de Deus, esquecendo-se inteiramente de si mesmos e do mundo, e dançando caminham com a maior alegria e êxtase para a cidade do Martírio, sacrificando suas mentes e suas vidas junto ao altar do Amor.

Mas aqueles que não têm a graça da visão ficam atônitos e ao saberem dessas jubilosas boas-novas ficam desnorteados e começam a bradar: “Onde está a luz?” e dizem: “Não vemos qualquer luz, não podemos contemplar o sol nascendo! Não existe verdade alguma! É tudo pura imaginação!”

E como morcegos na escuridão, buscam algum lugar sobre o solo para repousar, e de acordo com seu próprio julgamento encontram algum pequeno conforto e tranquili-dade. No entanto, a alvorada está apenas surgindo e a força do calor e os raios do Sol da Verdade não produziram ainda seu efeito mais forte e completo. Quando chega ao zênite, porém, o calor penetrará com tal intensidade que fará com que os próprios insetos sobre a terra movam-se e se agitem

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com a maior velocidade imaginável. Embora ainda não sejam capazes de contemplar a luz, ainda assim a penetração do calor os moverá e agitará a todos.

Consequentemente, ó vos amigos de Deus, sejais gratos porque neste Dia de Esplendor volvestes vossas faces para o Orbe das regiões e pudestes contemplar as Luzes! Recebestes uma porção dos raios da Verdade e fostes dotados de um qui-nhão das Graças Eternas. Portanto, não deveis repousar por um minuto sequer, mas agradecer a Ele por esta dádiva.

Não fiqueis sentados e silentes! Difundi as boas-novas do Reino por todas as partes possíveis e a todos os ouvidos, promulgai a Palavra de Deus e colocai em prática os conse-lhos e os convênios de Deus; isto é, levantai-vos dotados de tais qualidades e atributos para que possais, continuamente, conceder vida ao corpo do mundo e nutrir os filhos do uni-verso para alcançarem um grau de maturidade e perfeição. Iluminai toda reunião, com todo o vosso poder, com a luz do amor de Deus, agradai e encorajai todo coração com a mais amorosa bondade, demonstrai vosso amor a estranhos como o demonstrais a vossos próprios parentes. Se uma alma estiver tentando contender convosco, buscai reconciliação com ela; se alguém quiser vos imputar alguma culpa, louvai-o; se lhe der um veneno mortal, concede a ele um antídoto curador; se alguém deseja a morte, administrai-lhe a vida eterna; se mostrar-se um espinho, transformai-o em rosas e jacintos. Com certeza, através desses atos e palavras, este mundo obscuro tornar-se-á iluminado, este universo terreno será transformado em um reino celestial, e esta prisão satânica mudar-se-á em uma corte divina; contenda e derramamento de sangue serão extintos, e o amor e a fidelidade erguerão a tenda de unidade no ápice do mundo.

Estes são os resultados dos conselhos e exortações divinos, e a síntese dos ensinamentos do Ciclo Bahá’í.

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CUMPRIMENTO DA PROFECIA

Um fogo provindo do Reino foi aceso no coração do mundo, na Árvore Sagrada, cuja chama em breve acenderá os pilares da terra e seus raios iluminarão os horizontes das nações. Todos os sinais já surgiram, todas as referências pro-féticas tornaram-se claras e evidentes, tudo o que foi revelado nos Livros e Escrituras tornou-se manifesto, não havendo mais razão para alguém hesitar em considerá-los.

Algumas pessoas do passado e algumas seitas evitavam contato com outras, considerando-as estranhas, mas agora o Ser glorioso, montando Seu veloz corcel, adentrou na arena da Verdade e tudo o que estava oculto tornou-se manifesto.

Que ninguém mais se mantenha silente ou reticente, taciturno ou negligente. A Lâmpada esta acesa – embora as mariposas continuem inertes e melancólicas atrás dos véus.

Agora é o tempo de bramir como as ondas do mar e buscar elevar-se aos céus! Se desejamos alcançar o ápice do Reino Supremo, devemos desfraldar nossas asas; se desejamos mergulhar nas profundezas do oceano, precisamos treinar nossos membros a nadar. O tempo é curto e o Dirigente Divino move-se rapidamente avante; que o acompanhemos e diligenciemos uns com os outros e acendamos cada qual uma lâmpada brilhante.

ARAUTOS DE SEU NOME

Ó fênix daquela flama imorredoura acesa na Árvore sagrada! Durante Seus derradeiros dias terrenos, Bahá’u’lláh - sejam minha vida, minha alma e meu espírito oferecidos em holocausto por Seus servos humildes - prometeu, de modo su-mamente enfático, que, mediante as efusões da graça de Deus e o auxílio e a assistência outorgados do Seu Reino das alturas,

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almas hão de levantar-se e seres santos aparecerão, que, como estrelas, adornarão o firmamento da guia divina; iluminarão o albor da amorosa bondade e generosidade, manifestarão os sinais da unidade de Deus; resplandecerão com a luz da santidade e pureza; receberão quinhão pleno de inspiração divina; erguerão ao alto a tocha sagrada da fé; permanecerão firmes como a rocha e inabaláveis qual a montanha; e virão a ser luminares nos céus de Sua Revelação, canais poderosos de Sua graça, instrumentos do zelo dadivoso de Deus, arautos a invocar o nome do Deus Uno e Verdadeiro, e estabelecedores do alicerce supremo do mundo.

Essas almas hão de laborar incessantemente, dia e noite, não farão caso de sofrimentos ou infortúnio, pausa alguma admitirão em seus esforços, nenhum repouso buscarão, desprezarão toda a tranquilidade e bem-estar material e, des-prendidas e imaculadas, consagrarão cada momento fugaz de sua vida à difusão da fragrância divina e à exaltação do Verbo sagrado de Deus. Júbilo celestial irradiará seu semblante, e exuberante de regozijo terão o coração. Inspirada ser-lhe-á a alma, e firme manter-se-á seu alicerce. Espalhar-se-ão pelo mundo, e viajarão por todas as regiões. Hão de erguer a voz em todas as assembleias e adornar e ressuscitar cada reunião. Falarão em todas as línguas e elucidarão cada significado abstruso. Revelarão os mistérios do Reino e manifestarão a todos os sinais de Deus. Hão de arder brilhantemente como velas no seio de cada congregação e refulgir qual estrela por sobre todo horizonte. As suaves brisas emanadas do jardim de seus corações perfumarão e vivificarão as almas dos homens, e as revelações de sua mente, a semelhança de chuvas caudais, revigorarão os povos e nações do mundo.

Estou esperando, ansiosamente estou esperando que esses seres santos surjam; e, contudo, por quanto tempo delongarão sua vinda? Minha prece e súplica fervorosa, ao alvorecer e ao

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crepúsculo, é que cedo essas estrelas cintilantes esparjam sua radiância sobre o mundo, e suas frontes sagradas se desvelem aos olhos mortais, e as hostes do auxílio divino consumam seu triunfo, e as vagas da graça, erguendo-se de seus oceanos supernos, fluam sobre toda a humanidade. Orai e suplicai vós também a Ele, a fim de que, por meio da generosa ajuda da Beleza Antiga, tais almas sejam reveladas aos olhos do mundo.

Repouse a glória de Deus sobre ti e sobre aqueles cujas faces são iluminadas pela luz eterna que brilha de Seu Reino de Glória.

— Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, pp. 228-230

O MUNDO ESTÁ ENFERMO

Ó amigos de Deus! O mundo é como o corpo do homem – adoeceu e enfraqueceu. Seus olhos carecem de visão, seus ouvidos não ouvem e suas faculdades sensoriais foram inteira-mente dissolvidas. Os amigos de Deus devem tornar-se como médicos sábios e cuidar e curar os doentes em conformidade com os ensinamentos divinos, a fim de que – que Deus assim o permita – eles possam talvez recuperar a saúde, encontrar cura eterna e para que os poderes que perderam lhes sejam restaurados; e que as pessoas do mundo possam encontrar perfeita saúde, frescor e pureza, dando-lhes a maior beleza e encanto.

O primeiro remédio é guiar as pessoas para que possam voltar-se para Deus, dar ouvidos aos mandamentos divinos e viverem com ouvidos atentos e olhos abertos. Depois da apli-cação deste remédio, cujo efeito é rápido e seguro, então, de acordo com os ensinamentos divinos, elas devem ser treinadas na forma de conduta, moral e ações do Concurso Supremo, estimuladas e inspiradas com as dádivas do Reino de Abhá. Os corações devem ser purificados e limpos de todo traço de

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ódio ou rancor, e capacitados para engajar-se em veracidade, conciliação, retidão e amor para com o mundo da humani-dade; e para que desta forma o Oriente e o Ocidente possam abraçar-se mutuamente como dois amantes, para que toda inimizade e animosidade sejam banidas definitivamente do mundo humano e estabelecida a paz universal!

Ó amigos de Deus! Sede bondosos para com todos os povos e nações, tende amor por todos eles, esforçai-vos para purificar os corações o máximo que puderdes, e despendei abundante esforço em regozijar as almas. Sede como um chuvisco refrescante para toda campina e água da vida para toda árvore. Sede como um almíscar perfumado para toda narina e uma brisa refrescante para todo inválido. Sede água salutar para todo sedento, um guia de sabedoria para todos os desviados, um pai ou mãe amoroso para todo órfão e, com a maior alegria e fragrância, um filho ou filha para todo idoso. Sede como um rico tesouro para todo indigente; considerai o amor e a união como um paraíso alcançável, e considerai o aborrecimento e a hostilidade como o tormento do fogo do inferno. Empenhai-vos com a alma, não buscando o repouso do corpo; suplicai e implorai de todo coração e buscai a ajuda e a graça divinas a fim de que possais transformar este mundo no Paraíso de Abhá, e este globo terrestre na arena do Reino Supremo. Se vos esforçardes, com certeza essas luzes brilharão e o aroma do almíscar mais perfumado será difundido.

O CONVÊNIO

Ó vós amados de Deus, sabei que a constância e a firmeza neste novo e maravilhoso Convênio são realmente o espírito que vivifica os corações plenos do amor do Senhor de Glória; verdadeiramente, é o poder que penetra os corações dos povos do mundo! Vosso Senhor seguramente prometeu que Seus

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servos, que forem firmes e constantes, serão sempre vitorio-sos, suas palavras serão enaltecidas, seu poder propagado, difundida suas luzes, fortalecidos seus corações, elevados seus estandartes, ajudadas suas hostes, iluminadas suas estrelas, aumentada a abundância das dádivas de misericórdia sobre eles e capacitados como bravos leões em suas conquistas.

Apressai-vos, apressai-vos, ó vós firmes crentes! Apressai-vos, apressai-vos, ó vós que sois persistentes! Abandonai o desatento, deixai de lado todo ignorante, apegai-vos à corda mais forte, sede firme nesta Grande Causa, buscai a luz deste Luminar Manifesto, sede pacientes e firmes nesta Religião de sabedoria! Vereis as hostes da inspiração descendo em sucessão do Mundo Supremo, as forças de atração caindo incessante-mente das alturas do céu, a abundância do Reino de El-Abhá sendo derramada continuamente e os ensinamentos de Deus penetrando cada vez mais com todo o poder, enquanto os desatentos se veem cada vez mais em visível perda.

! Iscariote não pode ser esquecido; o rebanho divino precisa ser constantemente cuidado contra o ataque de lobos devoradores; a luz da Causa de Deus precisa ser protegida dos ventos contrários através de um forte candeeiro; as pequenas aves ameaçadas precisam ser protegidas das aves de rapina; as rosas viçosas precisam ser salvas das mãos gananciosas da injustiça e os cordeiros de Deus devem ser fortalecidos contra as garras afiadas de animais vorazes.

Não fosse pelo poder protetor do Convênio para manter guarda da fortaleza inexpugnável da Causa de Deus, surgiriam entre os Bahá’ís, em um dia, milhares de seitas diferentes como aconteceu em tempos passados. Mas nesta Sagrada Dispensação, para a continuidade da Causa de Deus e para evitar dissensão entre o povo de Deus, a Abençoada Beleza (seja minha alma sacrificada por Ele), através da Pena Suprema

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escreveu o Convênio e o Testamento; designou um Centro, o Expositor do Livro e o que acaba com todas as disputas. Tudo o que Ele escreve ou diz está em conformidade com a Verdade e sob a proteção da Abençoada Beleza. Ele é infalível. O propósito expresso desta Última Vontade e Testamento é superar todas as disputas do mundo.

Que os amigos se tornem firmes no Convênio e transmi-tam a mensagem do Reino de Abhá a outras almas.

Louvado seja Deus que os crentes na América são firmes, mas quanto mais firmes forem melhor, para que ninguém possa apresentar-se e introduzir disputas, pois as disputas levam à destruição das estruturas da instituição de Deus.

! Sua Santidade Abraão, que a paz seja com Ele, fez um convênio com relação à Sua Santidade Moisés e deu as boas-novas de Sua vinda. Sua Santidade Moisés fez um convênio concernente ao Prometido, isto é, a Jesus Cristo, e anunciou as boas-novas de Sua Manifestação ao mundo. Sua Santidade Cristo fez um convênio quanto ao Paracleto e deu as boas-novas de Sua vinda. Sua Santidade o Profeta Muhammad fez um convênio com relação à Sua Santidade o Báb, e o Báb foi o Prometido por Muhammad, pois Muhammad deu as boas-novas de Sua Vinda. O Báb fez um convênio quanto à vinda da Abençoada Beleza, Bahá’u’lláh, e deu as boas-novas de Sua vinda, pois a Abençoada Beleza foi o Prometido do Báb. Bahá’u’lláh fez um convênio concernente à vinda de um Prometido que irá se manifestar depois de mil anos ou milhares de anos. Ele, da mesma forma, com Sua Pena Su-prema, estabeleceu um grande Convênio e Testamento com todos os Bahá’ís, no qual todos foram instruídos a seguir o Centro do Convênio depois de Sua partida deste mundo, e não afastar-se sequer pela grossura de um fio de cabelo da obediência a Ele devida.

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No Livro do Aqdas, Ele expressou um mandamento positivo em dois momentos bem claros e explicitamente de-signou o Intérprete do Livro. Também em todas as Epístolas Divinas, especialmente no Capítulo do Ramo – todos os significados do que significa a Servidão de ‘Abdu’l-Bahá, que é ‘Abdu’l-Bahá – tudo o que era necessário quanto o Centro do Convênio e o Intérprete do Livro foi revelado pela Pena Suprema. Agora, como ‘Abdu’l-Bahá é o Intérprete do Livro, Ele diz que o “Capítulo do Ramo” significa ‘Abdu’l-Bahá, isto é, a Servidão de ‘Abdu’l-Bahá e nenhuma outra mais.

UNIDADE RACIAL

Vocês escreveram terem sido realizadas diversas reuniões de alegria e felicidade, uma para os brancos e outras para os negros. Louvado seja Deus. Como ambas as raças estão sob a proteção de Deus Onisciente, portanto as lâmpadas da unidade devem ser acesas de tal maneira nessas reuniões que nenhuma distinção seja percebida entre brancos e negros. As cores são expressões externas, mas a realidade do ser humano é sua essência. Quando existe a unidade da essência, que poder tem um fenômeno externo? Quando a luz da luz da realidade está brilhando, que poder tem a escuridão do irreal? Sempre que possível, vocês devem reunir essas duas raças, a negra e a branca, em uma Assembleia, e inspirar tal amor em seus corações que eles não apenas estejam unidos, mas que inclusive haja casamentos entre as raças. Estejam assegurados de que o resultado dessa ação irá abolir diferenças e disputas entre negros e brancos. Ainda mais, pela Vontade de Deus, que assim seja. Este é um grande serviço a ser prestado à humanidade.

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O FOGO DO AMOR DE DEUS

Ó amigo! Incandesce-te com o fogo do amor de Deus, de forma a que os corações das pessoas tornem-se iluminados pela luz de teu amor.

Suplica a Deus, ora a Ele e invoca-O à meia noite e ao alvorecer do dia. Sê humilde e submisso a Deus e entoa os versos de louvor de manhã e à noite para que Ele te guie à Luz Manifesta, mostre o Caminho estreito e te conceda o grau de proximidade de Seu Reino maravilhoso. Verdadeira-mente, peço a Deus para aumentar em ti, todos os dias, a luz da orientação e Sua dádiva de virtude, conforto e bem-estar. Desta forma, mostrarás um bom exemplo naquela região; que Ele levante o véu que existe diante dos olhos de tua mãe e de teu pai, para que eles possam vislumbrar as luzes do Reino de Deus, que abrangem todas as regiões.

VOCÊS SÃO OS ANJOS

Verdadeiramente, Eu, deste Ponto brilhante e Sagrado, dirijo-me a vocês face a face, enquanto vocês se encontram em um país bem distante, dizendo:

“Ó povo da lealdade, ó povo da fidelidade, ó povo que foi despertado pelo Sopro de Deus, ó povo que inala o perfume de vida provindo do Espírito de Deus! O caminho foi suavi-zado, a vereda estreitada, o tapete do Reino está estendido, o Tabernáculo foi colocado na colina do Poder, os poderes do céu foram abalados, os recantos da terra sacudidos, o sol escureceu, a lua não brilha mais, as estrelas caíram, as nações da terra lamentam, e o Filho do Homem desceu das nuvens do céu com poder e grande glória, e Ele enviou Seus anjos ao som da grande trombeta, e ninguém conhece o significado desses sinais a não ser os sábios e bem informados.

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Anjos serão quando seus pés forem firmes, seus espíritos se regozijarem, seus pensamentos secretos, puros, seus olhos, alegres, e se se levantarem para ajudar o Convênio, resistindo à dissensão e atraídos ao Esplendor! Verdadeiramente, Eu lhes digo que Palavra de Deus foi com certeza exposta e tornou-se um sinal evidente e uma prova sólida e forte, seus indícios serão espalhados no Oriente e no Ocidente, e a elas todas as cabeças se curvarão e todas as almas submeter-se-ão e se ajoelharão, suas faces tocando o solo.”

A REALIDADE DA AÇÃO DE GRAÇAS

Nestes tempos, a ação de graças pela generosidade do Todo Misericordioso consiste na iluminação do coração e no sentimento da alma. Esta é a realidade da ação de graças. Mas embora oferecer agradecimentos através da palavra ou dos escritos seja aprovado, ainda assim, em comparação com aquela, é algo irreal, pois a base são os sentimentos espirituais e os sentimentos misericordiosos. Espero que vocês sejam agraciados com os mesmos. Porém a falta de capacidade e de mérito no Dia do Julgamento não impede alguém de receber a graça e a generosidade, pois trata-se do dia da graça e não da justiça, e conceder a cada um o que lhe é devido é justiça. Consequentemente, não vos preocupeis com vossa capacidade e, sim, buscai sempre a graça infinita da Misericórdia de Abhá, cuja graça é plena e cuja misericórdia é perfeita.

O CAMINHO ESTREITO

Agradece a Deus por te guiar ao Caminho Estreito, ma-nifestando a ti a Luz que é evidente. Ele te dará uma gota da taça através da qual o poder espiritual será aumentado. Tu avançarás para a Posição Elevada, adquirirá qualidades celes-

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tiais e atingirá o conhecimento dos significados das palavras de Deus neste Dia glorioso.

Incumbe a ti voltar-se inteiramente para o Reino de Deus, entrar inteiramente nesta Causa maravilhosa e fazer com que teu pensamento, lembrança e esforço se confinem à educação de teu caráter, à iluminação através da luz de Abhá, e guiar as pessoas para a fonte da misericórdia de teu Senhor, o Clemente, o Misericordioso.

Dê conforto à tua mãe e esforça-te para fazer o que for conducente à felicidade do coração. Não te envolvas com aqueles que estão submersos no mar deste mundo, mas, ao contrário, mantém-te aceso pelo fogo do amor de Deus. Sê como uma flama através da qual os corações possam ser iluminados.

Incumbe a ti reunir-se continuamente com os amados de Deus e encontrar-se com aqueles cujas faces estão ilumina-das com a luz do amor de Deus. Verdadeiramente, suplico a Deus fazer-te sincero nesse amor, iluminar-te com a luz de Seu Reino, destinar-te a iluminação da luz de Seus atributos, tornar-te um sinal de misericórdia, um pássaro chilreando os versos da unidade; e que tu possas ser nutrido no seio de Sua providência, e tornar-te uma árvore em crescimento dando frutos no Paraíso de El-Abhá.

Verdadeiramente, teu Senhor confirma aquele que Ele queira, e Ele é o que Sempre perdoa, o Misericordioso.

DESAPEGA-TE DO MUNDO

Se buscas te intoxicar com a taça da Dádiva Mais Pode-rosa, desapega-te do mundo e renuncia ao ego e aos desejos. Esforça-te, dia e noite, até que energias espirituais possam penetrar em teu coração e em tua alma. Abandona o corpo e as coisas materiais, até que os poderes misericordiosos se tornem

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manifestos; pois não antes do solo ser purificado poderá ele ser desenvolvido através da generosidade celestial; não antes do coração ser purificado, poderá nele brilhar o esplendor do Sol da Verdade. Imploro a Deus que dia-a-dia a pureza aumente em teu coração, a alegria em tua alma, a luz em teu discernimento e cresça em ti a busca pela Verdade.

LEVANTA-SE COM GRANDE PODER

Levanta-te com toda a energia para ajudar o Convênio de Deus e servir em Sua vinha. Confia que a confirmação ser-te-á concedida e que o sucesso, da parte d’Ele, te é garantido. Verdadeiramente, Ele te apoiará com os anjos de Sua santidade e te fortalecerá com os sopros do Espírito, para que tu possas alcançar a Arca da Salvação; revelará sinais bem claros, concederá o espírito da vida, revelará a essência de Seus preceitos e mandamentos, guiará o rebanho que está se dispersando do aprisco em todas as direções, e os abençoará. Deves utilizar toda a energia em teu poder e esforçar-te firme e sabiamente neste novo século. Por Deus, verdadeiramente o Senhor das Hostes é teu sustentador, os anjos do céu teus apoiadores, o Espírito Santo teu companheiro e o Centro do Convênio teu auxiliador. Não hesites, mas sê ativo e nada temas. Pensa naqueles que viveram em tempos passados – como resistiram a todas as nações e sofreram todo tipo de perseguições e aflições, e como suas estrelas brilharam, seus esforços foram vitoriosos, seus ensinamentos estabelecidos, suas regiões expandidas, seus corações alegrados, suas ideias esclarecidas e seus objetivos efetivos. Estás agora em uma elevada condição e em um elevado grau de nobreza, e alcançarás sempre grande sucesso e prosperidade, como nunca foram vistos no passado.

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AJUDA DIVINA

Ó tu que te aqueces com o fogo do amor de Deus, o qual procede da árvore do Convênio! Mantém tua alma tranquila e teu coração em paz, para alcançares sucesso e progresso perfeitos, os quais a pena não é capaz de expressar, pois em breve verás a flâmula do Reino tremulando naquelas vastas e longínquas regiões, e as luzes da Verdade brilhando com forte fulgor no romper do dia, acima daqueles horizontes, e saberás que tu és o centro do círculo do amor de Deus, em torno do qual circulam as almas em seu caminho e em súplica a Deus. Portanto, tu deves ampliar teu coração, dilatar teu hálito de vida, ter enorme paciência, a alma em calma e desapegar-te de tudo menos de Deus! Por Deus, a verdade é que, se viveres de acordo com os ensinamentos de El-Abhá e seguires os pas-sos d’Aquele que se dissolveu em Deus, verás que as coortes do Reino de Deus virão em teu auxílio, uma após outra, e que as hostes do Poder de Deus estarão em tua presença em interminável sucessão, os portais da grande vitória abertos e difundidos os raios da luz brilhante da manhã! Por tua vida, ó meu bem amado! Se soubesses o que Deus ordenou para ti, saltarias alegremente e tua felicidade e contentamento aumentariam a cada hora. Que El-Bahá esteja contigo!

PROVA DE NOBREZA

O que precisam e lhes é particular, para aqueles que sabem estar seguros e que têm fé, é se manterem firmes na Causa de Deus e suportarem os testes ocultos e manifestos. Graças a Deus que vocês se distinguem e são eminentes graças a esta bênção. Qualquer pessoa pode ser feliz em uma condição de conforto, tranquilidade, saúde, sucesso, prazer e alegria; mas se sentir-se feliz e contente em tempos de dificuldades, dureza

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e de doenças intermitentes, isso é prova de nobreza. Graças a Deus que aquele querido servo de Deus é extremamente paciente sob as circunstâncias desastrosas, e em vez de recla-mar agradece a Deus.

A FONTE DE AMOR

O advento dos profetas e a revelação dos Livros Sagrados ocorrem para criar amor entre as almas e amizade entre os habitantes da Terra. O amor verdadeiro será impossível a não ser que a pessoa volva sua face para Deus e seja atraída à Sua Beleza.

FÉ OBJETIVA E SUBJETIVA

Escreveste sobre um versículo dos Evangelhos, perguntan-do se no tempo de Cristo todas as almas atenderam ao Seu chamado. Fica sabendo haver duas condições de fé. A primeira é a fé objetiva que se expressa externamente pelo ser humano, seus membros e sentidos obedientes. A outra condição de fé é subjetiva, com uma obediência inconsciente à vontade de Deus. Não há dúvida que no dia de uma Manifestação de Deus, como a de Cristo, todos os seres contingentes possuem fé subjetiva e possuem uma obediência inconsciente à Sua Santidade Cristo.

Todas as partes do mundo da criação estão integradas num todo. Cristo, o Manifestante que reflete o Sol divino representa esse todo. Todas as partes estão subordinadas e são obedientes ao todo. Os seres contingentes são os galhos da árvore da vida, e o Mensageiro de Deus é a raiz daquela árvore. Os ramos, as folhas e os frutos são dependentes, para sua existência, da raiz da árvore da vida. Esta condição de obediência inconsciente constitui a fé subjetiva. Mas a fé

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discernente, na qual existem o verdadeiro conhecimento de Deus e a compreensão das palavras divinas, de tal fé pouco existe em cada era. Por isso Sua Santidade Cristo disse a Seus seguidores, “Muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos”.

CAPACIDADE ESPIRITUAL

Aquelas almas que têm capacidade e aptidão para rece-ber as graças do Reino e as confirmações do Espírito Santo, tornam-se atraídas através de apenas uma palavra. Mas as pessoas que não têm tal capacidade, não importa quanto se explique a ela os mandamentos e os conselhos, ou por mais expostas que sejam aos sopros do Espírito Santo, nenhum efeito terão; pelo contrário, farão aumentar ainda mais sua resistência e negligência.

Embora rapidamente o fogo possa ser aceso, o calor que cria não terá efeito algum sobre uma pedra fria e inerte.

Louvado seja Deus por teres uma intenção pura e grande capacidade para entender; tão logo ouviste a “Palavra” a ela foste atraído. Na verdade, esta é uma das maiores dádivas de Deus.

OS AMADOS DE DEUS

O amor espiritual de Deus torna o ser humano puro e santo, e cobre-o com o manto da virtude e pureza. E quando a pessoa volta seu coração inteiramente para Deus e relaciona-se com a Abençoada Perfeição, generosidade divina desce sobre ela. Este amor não é físico, ao contrário, é inteiramente espiritual.

As almas cujas consciências são iluminadas pela luz do amor de Deus, tornam-se como lâmpadas acesas e como

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estrelas de santidade no céu da pureza.O amor verdadeiro e mais grandioso é o amor de Deus.

Seu grau de santidade está acima da imaginação e dos pen-samentos humanos.

Os amados de Deus devem todos ser a essência da pureza e da santidade; devem ser conhecidos por sua pureza, liber-dade e humildade em todas as terras; devem sorver do cálice eterno do amor de Deus, usufruir de seu êxtase e através de sua ligação com a Beleza de Abhá devem ser alegres, ativos, iluminados pelo zelo e pelas maravilhas da espiritualidade. Esta é a condição dos sinceros. Esta é a qualidade dos que são firmes em sua fé. Esta é a luz que reluz nas faces dos que estão próximos.

Portanto, ó vos amigos de Deus, deveis com pureza per-feita alcançar unidade e concórdia espirituais a um grau tal que possam expressar um único espírito e uma única vida.

Nesta condição, os corpos físicos não interferem; o co-mando e a autoridade estão nas mãos do espírito. Quando o espírito toma conta total do ser humano, a verdadeira união espiritual será alcançada. Dia e noite, esforçai-vos para viver em perfeita harmonia; cuidai de vosso próprio desenvolvimen-to espiritual e fechai os olhos às carência uns dos outros.

Através de uma boa conduta, de vida pura, humildade e desapego, sereis um exemplo para os outros.

SE A PESSOA POSSUI O AMOR DE DEUS

Ó tu, filho do Reino! Se a pessoa possui o amor de Deus, tudo o que empreende será útil, mas se suas ações não tive-rem o amor de Deus, então serão prejudiciais e criarão um véu entre a pessoa e o Senhor do Reino. Porém com o amor de Deus toda amargura transforma-se em doçura, e toda dádiva torna-se preciosa. Por exemplo, uma voz melodiosa

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e musical transmite vida a um coração atraído, mas provo-cará concupiscência naquelas almas que estão submersas em paixão e desejo.

Com o amor de Deus todas as ciências são aceitas e amadas, mas sem ele, serão inúteis; mais ainda, serão causa de insanidade. Toda ciência é como uma árvore; se a fruta dela procedente for o amor de Deus, então será uma árvore abençoada. De outra forma será apenas madeira seca e final-mente boa somente para ser queimada.

Ó tu, servo sincero do Ser Verdadeiro e médico espiritual das pessoas! Onde quer que tu te apresentes, ao lado da cama de um paciente, volve tua face para o Senhor do Reino e suplica a ajuda do Espírito Santo e a cura dos males dos doentes. Oro a Deus para te conceder uma língua eloquente.

O MAGNETO DO REINO

Observe que teu Senhor manifestou o Magneto das almas e dos corações ao Polo do mundo existente, ao qual todos os corações consagrados são atraídos, mesmo de terras e países distantes.

O corpo de ferro é atraído, embora a longas distâncias; mas os feitos de barro, não, embora em contato e bem pró-ximos.

Portanto, agradece a Deus por seres um corpo atraído, por seres puxado pelo Magneto do Reino de Deus.

O ESPÍRITO QUE A TUDO ENVOLVE

Em verdade afirmo que as dádivas de teu Senhor estão te envolvendo de forma semelhante como o espírito envolve o corpo no início da junção dos elementos e a natureza no ventre materno; o poder do espírito começa a aparecer no corpo de

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forma gradual e sucessivamente, conforme a preparação e a capacidade dele em receber aquelas graças duradouras.

AS ALMAS SÃO COMO ESPELHOS

As almas são como espelhos, e a generosidade de Deus como o sol. Quando os espelhos vão além de todas as cores e atingem pureza e polimento completos, e estão voltados para o sol, refletirão com toda a perfeição sua luz e glória. Nesta condição, não se deve considerar o espelho, mas o poder da luz do sol, o qual penetrou no espelho, fazendo um refletor de uma glória celestial.

O MUNDO DA VISÃO

Quanto à pergunta se as almas reconhecerão umas às outras no mundo espiritual: Este fato é indubitável; pois o Reino é o mundo da visão, onde todas as realidades ocultas tornar-se-ão manifestas. Quanto mais, então, as almas se conhecerem, certamente serão manifestas. Os mistérios despercebidos pelo homem no mundo terreno, ele os descobrirá no mundo celestial, e aí será ele informado dos segredos da verdade; mais ainda, ele reconhecerá ou descobrirá as pessoas às quais esteve associado. Indubitavelmente, as almas santas que atingem uma visão pura e são agraciadas com a compreensão, no reino da luz serão informadas de todos os mistérios e procurarão a graça de perceber a realidade de todas as grandes almas. Contemplarão ainda claramente a Beleza de Deus naquele mundo. Do mesmo modo, encontrarão presentes na assembleia celestial todos os amigos de Deus, os dos tempos recentes como os dos mais remotos.

— citado em Bahá’u’lláh e a Nova Era, p. 182

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! Quanto à pergunta se as almas se reconhecerão mutuamente no mundo espiritual: Este fato é certo, pois o Reino é o mundo da visão onde todas as realidades ocultas serão reveladas. Quanto mais as almas conhecidas tornar-se-ão manifestas. Os mistérios que o homem não compreende neste mundo terreno, descobrir-los-á no mundo celestial, onde se revelará o segredo da verdade: mais ainda, ele reconhecerá ou descobrirá as pessoas com quem esteve associada. Indubitavelmente, as almas santas dotadas de olhar puro e favorecidas com visão interior, no reino das Luzes, terão a revelação de todos os mistérios e perceberão a graça de testemunhar a realidade de toda grande alma. Elas próprias, manifestamente, contemplarão a Beleza de Deus nesse mundo. De igual modo, encontrarão todos os amigos de Deus, tanto dos tempos primitivos como dos recentes, presentes na assembleia celestial.

— citado em O Plano Divino Criação, p.16

ORAÇÃO É INDISPENSÁVEL

Ó tu, amigo espiritual! Perguntaste qual a sabedoria da oração obrigatória. Sabe tu que esta oração é mandatória e indispensável. Sob nenhum pretexto está o homem dispensado de sua prática, a menos que seja incapaz de cumpri-la, ou que algum grande obstáculo o impeça. A sabedoria da oração obrigatória é esta: ela conecta o servo ao Ser Verdadeiro, porque naquele momento o homem volve a face para o Onipotente com todo seu coração e alma, buscando a associação com Ele e desejando Seu amor e Sua companhia. Para aquele que ama, não existe nenhum prazer maior do que conversar com quem é o objeto de seu amor; e para aquele que busca, não há bênção maior do que a intimidade com o alvo de seu desejo. O maior anseio de toda alma atraída ao Reino

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de Deus é achar tempo para volver-se com interira devoção para seu Bem-Amado, a fim de buscar Sua generosidade e Sua bênção, e imergir-se no oceano da comunhão, do rogo e da súplica. Ademais, a oração obrigatória e o jejum tornam o homem atento e desperto, e o protegem e preservam das provações.— citado em A Importância da Oração Obrigatória e do Jejum, pp.11-2

VOLTAR-SE PARA O ESPÍRITO SANTO

Para teu conhecimento, aquela carta que te enviei foi apenas devido ao meu amor perfeito e minha compaixão por ti, pois eu desejava que a fragrância do Espírito Santo, que per-fumou todas as regiões e imbuiu no inteiro corpo do mundo o Espírito da Vida, passasse por ti e ficasse contigo. Apesar da elevada posição que ele ocupa, ainda assim, com uma língua eloquente, através da qual o Espírito se expressa, corações são atraídos e peitos se inflamam, ele fala a corações puros e às almas boas e corretas em todos os recantos da terra. Este é o poderoso Espírito, a luz deslumbrante, a estrela brilhante e a riqueza universal e irresistível. E de seus sinais, espalhados e divulgados por toda parte, tu virás a saber e entender sua influência e compreender seu resplendor. Peço a Deus te expor às suas fragrâncias, mover-te com sua brisa, aquecer-te com seu carvão de fogo e iluminar-te com seu esplendor. Volve-te inteiramente para ele – assim tu serás capaz de obter sua influência e poder, a força de sua vida e a grandeza de sua confirmação. Verdadeiramente, afirmo, se desejares ter uma prova definitiva do surgimento daquela Essência Divina, um testemunho irrefutável e uma forte evidência convincente, precisas preparar-te para esvaziar teu coração e teus olhos se prepararem para olhar somente na direção do Reino de Deus, Então, quando isso acontecer, o esplendor daquela luz

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espraiada irá descer sobre ti sucessivamente, e aquela noção a ti concedida pelo Espírito Santo fará com que dispenses qualquer outra evidência que conduza ao aparecimento desta Luz, porquanto a prova maior e mais forte para demonstrar a abundância do Espírito aos corpos é o próprio aparecimento de seu poder e influência sobre esses corpos.

INSPIRAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

E agora te asseguro, ó servo de Deus, que se tua mente esvaziar-se e purificar-se de toda menção e pensamento, e teu coração estiver inteiramente atraído ao Reino de Deus, esque-cido de tudo o mais exceto de Deus e entrado em comunhão com o Espírito de Deus, então o Espírito Santo irá te ajudar com um poder que te possibilitará penetrar no conhecimento de todas as coisas, e uma Chispa de luz deslumbrante que ilumina todos os recantos, uma Flama brilhante no zênite dos céus, te ensinarão tudo aquilo que não conheces dos fatos do universo e da doutrina divina. Verdadeiramente, te digo, toda alma que se levanta no dia de hoje para guiar outras almas ao caminho da segurança e infunde nelas o Espírito da Vida, o Espírito Santos inspirará tal alma com evidências, provas, fatos e luzes que brilharão sobre ela do Reino de Deus. Não te esqueça que te concedi as graças dos sopros do Espírito. Em verdade, é a manhã radiante e alvorada rósea que irá trazer as luzes, revelar os mistérios e capacitar-te em ciências, e através dela as imagens do Mundo Supremo serão gravadas em teu coração e os fatos dos segredos do Reino de Deus brilharão diante de ti.

O INTERMEDIÁRIO

A menos que o Espírito Santo se torne o intermediário, não se pode receber diretamente as dádivas de Deus. Não

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deixes de considerar a verdade óbvia, pois é evidente per se que uma criança não pode ser instruída sem um professor, e o saber é uma das graças de Deus. O solo não se cobre de relva e vegetação sem as chuvas das nuvens; por conseguinte, a nuvem é a intermediária entre as graças divinas e o solo. Um corpo não se desenvolve nem cresce sem a alma; portanto, a alma é o veículo da vida espiritual.

— citado em Bahá’u’lláh e a Nova Era, p. 90

O ESPÍRITO DE FÉ

Com relação ao que tu perguntaste sobre o espírito e seu “retorno” a este mundo da humanidade e a este espaço terrenal: Sabe que o espírito em geral está dividido em cinco espécies – o espírito vegetal, o espírito animal, o espírito hu-mano, o espírito de fé, e o espírito divino de santidade.

O espírito vegetal é a capacidade aumentativa, ou cres-cimento, ou ainda a faculdade vegetativa, que resulta da composição de elementos simples com a cooperação da água, do ar e do calor.

O espírito animal é a capacidade perceptiva resultante da mistura e absorção de elementos vitais gerados no coração, que registra impressões sensoriais.

O espírito humano consiste da faculdade racional ou lógica, o raciocínio, que registra ideias gerais e coisas intelec-tuais e perceptíveis.

Mas essas formas de “espíritos” não são reconhecidas como Espírito na terminologia das Escrituras e utilizadas pelo povo da Verdade, tanto que as leis que as governam são como as leis que governam todos os seres terrestres com relação à geração, corrupção, produção, mudança e reversão, conforme está cla-ramente mencionado no Evangelho onde diz: “Deixa que os mortos enterrem seus mortos”; “O que é nascido da carne é

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carne, e o que é nascido do Espírito é Espírito”; considerando que os que enterravam esses mortos estavam vivos com a alma vegetativa, animal e humana, mas ainda assim Cristo – com Ele esteja a glória de Deus! – declarou tais mortos carentes de vida, naquilo que se refere ao espírito de fé, que procede do Reino de Deus.

Em resumo, para esses três espíritos não há restituição, ou “retorno”, mas eles estão subordinados a reversões, produção e corrupção.

Mas o espírito de fé, que procede do Reino, consiste da graça toda abrangente e da capacidade perfeita, e do poder da santidade e fulgor divino do Sol da Verdade sobre as es-sências brilhantes em busca da luz que procede da Unidade divina. E através desse Espírito provém o espírito do homem, quando fortalecido por ele, como disse Cristo: “Aquele que é nascido do Espírito é Espírito.” E esse Espírito possui tanto a restituição como o retorno, porquanto consiste da Luz de Deus e da graça incondicional. Assim, tendo considerado este grau e estado, Cristo anunciou que João, o Batista, era Elias, que viera antes de Cristo. E a semelhança desta posição é a das lâmpadas incandescentes: existem diferentes vidros e reservatórios de óleo, mas com respeito à luz que irradiam, é uma só. Lâmpadas de diferentes formatos, mas com uma única e mesma luz. Esta é a verdade e fora da verdade existe apenas erro.

PROVAÇÕES, UMA DÁDIVA DE DEUS

Escreveste mencionando as provações que têm recaído sobre ti. Aos sinceros, os testes são como uma dádiva de Deus, o Glorioso, pois uma pessoa heróica apressa-se, com toda a alegria e aceitação, aos testes de uma violenta batalha, mas o covarde teme e treme, geme e se lamenta. Da mesma forma,

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um estudante habilitado se prepara e memoriza suas lições e exercícios com o máximo de seus esforços, e no dia do exame aparece com alegria infinita diante do mestre. Igualmente, também, o ouro puro brilha fulgurante no fogo do teste. Consequentemente, fica claro que para as almas santas, as provações são como dádivas de Deus, o Glorioso; mas para as almas fracas é uma calamidade inesperada. Os testes são como tu mencionaste: removem a ferrugem do egoísmo, limpando o espelho do coração até que o Sol da Verdade nele brilhe com fulgor. Nenhum véu é maior que o egoísmo e nenhum assunto, por mais fino que seja o pó que deixe sobre o espe-lho da alma, ele finalmente vedará sua visão e o impedirá de receber a porção devida da misericórdia eterna.

O MISTÉRIO DO SOFRIMENTO

Quanto ao assunto de bebês, crianças e pessoas fracas que estão sendo afligidas nas mãos de opressores: tal ocorrência contém grande sabedoria, sendo um assunto da máxima importância. Em síntese, para aquelas almas existe uma recompensa em outro mundo e muitos detalhes estão relacionados com este assunto. Para aquelas almas que passam por esse tipo de sofrimento é concedida a maior misericórdia de Deus. Verdadeiramente, tal misericórdia do Senhor é muito melhor e preferível a todo o conforto deste mundo e ao crescimento e desenvolvimento neste plano de mortalidade. Se for da vontade de Deus, quando estiveres em nossa presença, esta vontade será explicada em detalhes pela palavra falada.

CASAMENTO BAHÁ’Í

Ela não deve descansar enquanto não fizer dele o seu parceiro espiritual tanto quanto físico.

— citado em Portais para a Liberdade, p. 94

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! O noivado bahá’i é a comunicação perfeita e o con-sentimento integral de ambas as partes. É necessário, porém, que manifestem a máxima atenção e conheçam o caráter, um do outro, devendo o firme pacto entre eles tornar-se um laço eterno, e seu propósito ser a afinidade, amizade, unidade e vida infindáveis. O noivo, na presença das testemunhas e de algumas outras pessoas, deve dizer: “Verdadeiramente nós aquiescemos a Vontade de Deus”. E a noiva deve responder: “Verdadeiramente estamos contentes com o desejo de Deus”. Este é o matrimônio bahá’í.

— citado em Portais para a Liberdade, p. 92

! No verdadeiro casamento bahá’í os dois nubentes devem tornar-se completamente unidos, tanto espiritual como fisicamente, de modo a atingirem a união eterna em todos os mundos de Deus e melhorar a vida espiritual um do outro. É este o matrimônio bahá’í.

— citado em Bahá’u’lláh e a Nova Era, p. 170

! Entre a maioria dos povos do mundo, o casamento consiste no relacionamento físico, sendo apenas temporárias a união e a afinidade, pois, afinal, a separação do casal é destinada e decretada. Mas o matrimônio do povo de Bahá deve consistir em afinidade física e afinidade espiritual, pois ambos são animados pelo vinho de uma só taça, atraídos por um Único Semblante Incomparável, vivificados por uma só vida e iluminados por uma só Luz. Este é o relacionamento espiritual; é a união duradoura.

De modo igual no mundo físico, eles são estreitamente ligados por laços fortes e indissolúveis. Quando, do ponto de vista físico e espiritual, existem entre os dois, união e concór-dia, essa é uma união verdadeira e, portanto, duradoura. Mas, se for simplesmente do ponto de vista físico, a união, sem dúvida, será temporária; por fim, a separação é inevitável.

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Consequentemente, quando o povo de Bahá desejar contrair a sagrada união do matrimônio, deverá existir entre o casal um laço eterno, verdadeira afinidade, associação física e espiritual de ideias e concepções de vida, a fim de que, em todos os graus da existência e em todos os mundos de Deus, esta união possa continuar eternamente. Pois esta união é um esplendor da Luz do Amor de Deus.

Do mesmo modo, se as almas acreditarem verdadeira-mente em Deus, haverão de se ver introduzidas neste elevado estado de afinidade, se tornarão manifestantes do Amor do Misericordioso e se extasiarão com a taca do Amor de Deus. Indubitavelmente, essa união, essa afinidade, é eterna.

As almas que sacrificarem o eu, que se desprenderem das imperfeições do reino do homem e se livrarem do cativeiro deste mundo efêmero, haverão certamente de ver brilharem em seus corações os esplendores dos raios da União Divina, e elas encontrarão associação e felicidade ideais no Paraíso Eterno.

— citado em Portais para a Liberdade, p. 92-3

BONDADE PARA COM OS ANIMAIS

Então, ó amigos de Deus! Não deveis apenas ser bondosos e misericordiosos para com os seres humanos, mas deveis também demonstrar a máxima bondade para com todas as criaturas vivas. As sensibilidades e instintos físicos são comuns tanto ao animal quanto ao ser humano. O homem, porém, é negligente desta realidade e imagina ser a sensibilidade restrita ao ser humano, e por isso pratica crueldade para com os animais. Na realidade, que diferença existe nas sensações físicas? A sensibilidade é a mesma, ocorra no homem ou no animal; não há diferença, a dor é sentida em um e em outro. A crueldade, na realidade, é mais dolorosa para o animal

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do que para o homem, porque este possui a capacidade de falar e gemer, de reclamar e gritar quando recebe algum ferimento, inclusive podendo reclamar ao próprio governo, o qual lhe dará proteção contra atos de crueldade. Mas o pobre animal não pode falar, nem demonstrar seu sofrimento e não pode apelar ao governo. Se for ferido uma centena de vezes pelo homem não será capaz de se defender com palavras, nem buscar justiça e recompensa pelas injúrias sofridas. Portanto, o ser humano deve ter toda a consideração pelos animais e mostrar a eles a maior bondade, até mais do que a demonstrada para outro ser humano. Se o animal estiver doente, deve esforçar-se para curá-lo; se estiver com fome, deve alimentá-lo; se estiver com sede, dar-lhe água para beber; se estiver cansado, prover-lhe descanso.

O homem é geralmente pecaminoso, mas o animal, ino-cente; sem dúvida alguma, a pessoa deve ser mais bondosa e atenciosa para com quem é inocente. Os animais bravios, como o lobo sedento por sangue, a cobra venenosa e outros animais ferozes são exceções, porquanto demonstrar mise-ricórdia para com eles é julgado crueldade para o homem, bem como para com outros animais. Por exemplo, se alguém demonstra bondade a um lobo, isso torna-se uma tirania para as ovelhas, pois o lobo poderia destruir todo um rebanho de ovelhas. Se der oportunidade a um cachorro louco ele poderá causar a destruição de uma centena de animais e de seres hu-manos. Portanto, compreensão para com os animais ferozes é crueldade para com os animais pacíficos, que poderiam destruí-los. Para os animais mansos, no entanto, deve-se de-monstrar a maior bondade possível; quanto mais, melhor.

Esta compreensão e bondade é um dos princípios fun-damentais do reino divino. Deves dar toda a atenção a este assunto.

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MODERAÇÃO, UM GRANDE TESOURO

Cabe a ti desapegar-te de tudo o mais salvo de teu Senhor, o Supremo, não esperando ajuda ou socorro de ninguém mais no universo, nem mesmo de teu pai ou filhos. Entrega-te inteiramente a Deus! Contenta-se com pouco dos bens deste mundo! Em verdade, a moderação é um grande tesouro. Se algum de teus parentes te aflige, não reclames contra ele diante de um magistrado; ao contrário, manifesta a maior paciência possível durante períodos de calamidades e dificuldades. Ver-dadeiramente, teu Mestre é o Senhor da Fidelidade! Perdoa e esquece as carências que vês em outras pessoas, por amor e afeição. Sabe que nada irá te beneficiar nesta vida a não ser suplicar e invocar a Deus, servir em Sua vinha e, com o coração pleno de amor, ser constante em servidão a Ele.

Na vida diária, viver torna-se difícil, mas logo teu Senhor te concederá aquilo que irá te satisfazer. Sê paciente em tempo de aflições e provações, suporta toda dificuldade e privação com o coração aberto, o espírito atraído e uma língua elo-quente, lembrando do Ser Misericordioso. Verdadeiramente, esta é a vida da satisfação, da existência espiritual, da tran-quilidade sagrada, das bênçãos divinas e da mesa celestial. Logo, teu Senhor irá extenuar e restringir as circunstâncias, mesmo neste mundo.

MEIOS DE SOBREVIVÊNCIA

Tu perguntaste sobre os meios de sobrevivência. Confia em Deus, dedica-te ao teu trabalho e pratica a moderação; as confirmações de Deus descerão a te capacitarão a pagar todas as tuas dívidas. Ocupa-te sempre com a menção de Bahá’u’lláh e a nenhuma outra esperança ou desejo busques, salvo a Ele.

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SOCIALISMO

Tu perguntaste sobre alistar-se no partido socialista. Os bahá’ís devem permanecer na Causa Bahá’í, a qual inclui todos os graus e é perfeita sob todo e qualquer ponto de vista.

DOIS MEIOS DE CURA

Há dois modos de curar-se enfermidades: por meios materiais e espirituais. O primeiro é por tratamento médico; o segundo consiste em preces oferecidas pelas almas espiritu-ais a Deus, e em volver-se a Ele. Ambos os meios devem ser utilizados e postos em prática.

! As enfermidades que surgem em virtude de causas físicas devem ser tratadas por médicos através de remédios; as que têm origem espiritual desaparecem através de meios espirituais. Assim, uma moléstia provocada por aflição, temor ou impressões nervosas será curada mais eficazmente por tra-tamento espiritual do que por físico. Daí dever-se lançar mão de ambas as espécies de tratamento; eles não são antagônicos. Deves, por conseguinte, aceitar também os medicamentos físicos, porquanto também eles provêm da mercê e do favor de Deus, que revelou e tornou manifesta a ciência médica a fim de que Seus servos pudessem beneficiar-se também desta forma de terapia. Deves dirigir igual atenção aos tratamentos espirituais, pois produzem efeitos maravilhosos.

! Porém, se desejas conhecer o remédio verdadeiro, capaz de curar todo mal e proporcionar ao homem a saúde do reino divino, sabe que tal remédio são os preceitos e ensi-namentos de Deus. Focaliza neles tua atenção.

— Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, pp. 136-17

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SE DESEJAS SAÚDE

Se a saúde e o bem-estar do corpo forem despendidos no caminho do Reino, isso é em verdade aceitável e digno de louvor; se forem despendidos em benefício da humanidade em geral – mesmo sendo para seu benefício material – e se for um meio de fazer o bem, isso também é aceitável. Mas se a saúde e o bem-estar do homem forem dedicados aos desejos sensuais, a uma vida no plano animal, e às ocupações diabólicas, então a doença seria melhor do que tal saúde – antes, a pró pria morte seria preferível a tal vida. Se desejas saúde, deseja-a para servir ao Reino. Tenho esperança de que possas atingir uma perfeita com preensão, resolução inflexível, completa saúde, e força espiritual e física, a fim de que possas sorver da fonte da vida eterna e ser auxiliado pelo espírito da confirmação divina.

— citado em Bahá’u’lláh e a Nova Era, p. 112

O DEVER DE BUSCAR A CIÊNCIA

Quanto à tua pergunta sobre desistir do estudo científico em Paris para restringir teus dias e poder dedicar-te à divulga-ção desta Verdade, é uma intenção louvável e aceitável, mas se adquirires ambas será muito melhor e mais perfeito, porque neste novo século a busca da Ciência, das artes e das belas-letras, sejam divinas ou mundanas, materiais ou espirituais, é um assunto aceitável diante de Deus, e um dever que incumbe a todos conseguir. Portanto, nunca troques as coisas espirituais pelas materiais; melhor, ambas são importantes e devem ser por ti consideradas. No entanto, quando estiveres se dedican-do à busca de realizações científicas, precisas controlar-te para manter-te atraído ao amor de teu Glorioso Senhor e cuidar para mencionar sempre Seu Nome maravilhoso. Sendo este

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o caso, tu deves dedicar-te àquilo que estás estudando com a máxima perfeição.

O TRABALHO É ADORAÇÃO

Nesta grande Dispensação, a arte (ou a profissão) é idêntica a um ato de adoração e isso está claro nos textos da Abençoada Perfeição. Portanto, esforço extremo deve ser feito nesse sentido, e isso não deve impedir o ensino às pessoas naquela região. Ao contrário, cada um deve ajudar o outro no trabalho e na orientação. Por exemplo, quando estudando alguma matéria, deve fazê-lo com a intenção de obedecer a determinação de Deus, o que tornará o estudo mais fácil e grande progresso será alcançado em pouco tempo; e quando outros descobrem esta fragrância de espiritualidade em ação, isso causará seu despertar. Da mesma forma, administrar o trabalho de forma adequada será uma forma de sociabilidade e afinidade; e sociabilidade e afinidade por si mesmas levarão os outros à Verdade.

CIÊNCIA É ADORAÇÃO

Tua carta foi recebida. Louvado seja Deus! Ela trouxe a boa notícia de tua saúde e segurança, e informou que estás pronto para entrar numa escola de agricultura. Isso é muito adequado. Esforça-te o mais possível por te tornares proficien-te na ciência da agricultura, porque de acordo com os ensina-mentos divinos a aquisição de ciências e o aperfeiçoamento nas artes são considerados atos de adoração. Se um homem se ocupar-se na aquisição da ciência ou no aprimoramento da arte com todo o seu poder será como se estivesse adorando a Deus em igrejas e templos. Assim, ao entrares numa escola de agricultura e te esforçares na aquisição dessa ciência, es-

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tarás ocupado dia e noite em atos de adoração - atos que são aceitos no limiar do Todo-Poderoso. Qual graça maior que esta? a ciência ser considerada ato de adoração, e a arte como serviço ao Reino de Deus?

— Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, p. 130

MÚSICA

Esta época maravilhosa afastou os véus da superstição e condenou os preconceitos dos povos do Oriente.

Entre algumas das nações do Oriente, a música e a harmonia não eram aceitas, mas a Luz Manifesta, Bahá’u’lláh, nesta época gloriosa, revelou nas Sagradas Epístolas que o canto e a música são o alimento espiritual dos corações e das almas. Nesta dispensação, a música é uma das artes altamente aceitas e considerada uma fonte de elevação para os corações entristecidos e desesperançados.

Portanto... colocai em música os versículos e as palavras divinas, para que possam ser entoadas em comoventes melodias nas Assembleias e reuniões, e para que os corações dos ouvintes possam se agitar e se erguer ao Reino de Abhá em súplica e prece.

— citado em A Revelação de Bahá’u’lláh - vol 3, p. 449

ROMPIMENTO COM ESTE MUNDO

Ó tu que buscas o Reino! Tua carta foi recebida. Escreveste a respeito da severa calamidade que te sobreveio - a morte de teu respeitável marido. Esse homem honrado esteve tão sujeito à estafa e à tensão deste mundo que seu maior desejo era ser libertado dele. Assim é esta morada mortal: um celeiro de aflições e sofrimentos. É a ignorância que faz o homem prender-se a ela, pois nenhuma alma neste mundo pode

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assegurar-se qualquer conforto, desde o monarca até o mais humilde cidadão. Se alguma vez esta vida oferece uma taça doce, centenas de outras amargas lhe seguirão; tal é a condi-ção deste mundo. O homem sábio, portanto, não se prende a esta vida mortal nem confia nela; em alguns momentos ele até anseia ardentemente pela morte, para assim ser libertado dessas tristezas e aflições. Por isso ocorre que algumas pessoas, sob pressão e angústia extremas, cometem suicídio.

Quanto ao teu esposo, fica serena. Ele será imergido no oceano da absolvição e do perdão e será alvo de generosidade e favor.

— Seleção dos Escritos de ‘Abdul’l-Bahá, pp. 181-2

CONSOLO AOS NOSSOS CORAÇÕES

A morte daquele amado jovem e sua separação de vós causaram a máxima dor e pesar; pois ele, na flor da idade e no verdor dos anos, alçou voo rumo ao ninho celestial. No entanto, ele libertou-se deste abrigo repleto de sofrimentos e volveu a face em direção ao ninho eterno do Reino, e, livrando-se de um mundo escuro e exíguo, apressou-se na direção do domínio santificado da luz; nisso reside o consolo de nossos corações.

A inescrutável sabedoria divina está por trás desses acon-tecimentos que partem o coração. É como se um jardineiro bondoso transferisse um arbusto viçoso e tenro de um local confinado para uma área muito espaçosa. Tal translado não faz o arbusto murchar, nem se atrofiar ou perecer; ao con-trário, tal mudança fará com que cresça e se desenvolva, que adquira frescor e delicadeza, que obtenha verdor e dê frutos. O jardineiro bem sabe deste segredo oculto, mas as almas inconscientes destas graças supõem que ele, possuído de ira e cólera, tenha extirpado o arbusto. Não obstante, para aqueles

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que são cientes este fato oculto está manifesto, e tal decreto predestinado é por eles tido como uma graça. Portanto, não vos sintais consternados ou desconsolados pela ascensão deste pássaro da fidelidade; não, antes, sob todas as circunstâncias orai por esse jovem, suplicando por ele perdão, e pela exaltação de sua posição.

Espero que venhais a atingir suprema paciência, serenida-de e resignação, e suplico e imploro, no Liminar da Unidade, rogando humildemente perdão e clemência. A esperança que nutro das infinitas dádivas de Deus é que Ele abrigue esse pombo do jardim da fé e o faça habitar sobre os ramos da Assembleia Suprema, a fim de que gorjeie com a mais dulcíssona das melodias o louvor e a glorificação do Senhor dos Nomes e Atributos.

— Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, pp. 180-1

A UNIVERSIDADE DO REINO

Tu te descreveste como estudante na escola do progresso espiritual. Feliz és tu! Se tais escolas de progresso conduzi-rem à universidade do céu, então se desenvolverão ramos de conhecimento mediante os quais a humanidade virá a contemplar a epístola da existência como pergaminho em permanente desdobrar, e todas as coisas criadas serão vistas nesse pergaminho como letras e palavras. Então os diversos estágios da significação haverão de ser aprendidos e dentro de cada átomo do universo serão testemunhados os sinais da unicidade de Deus. O homem ouvirá, então, o chamado do Senhor do Reino, e contemplarás as confirmações do Espírito Santo que lhe vêm em socorro. Então sentirá tanta felicidade, tanto êxtase, que o grande mundo, com sua vastidão, não mais poderá contê-lo; ele seguirá para o Reino de Deus e apressar-se-á para o domínio do espírito. Pois, uma vez crescidas as asas,

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a ave não mais permanece no solo, mas sim alça voo para as alturas do céu - a não ser aquelas que estão atadas pelos pés, ou cujas asas estão quebradas, ou atoladas.

Ó tu que buscas a verdade! O mundo do Reino é um só mundo. A única diferença é que a primavera retorna vezes sem conta, e dá início a uma nova e grande comoção que afeta todas as coisas criadas. Então ressuscitam a planície e a colina, as árvores vestem-se de verde delicado, e folhas, flores e frutos manifestam-se em beleza terna e infinita. As revelações das eras passadas, portanto, estão intimamente relacionadas com as que lhes sucedem; na realidade, são uma só, mas, à medida que o mundo cresce, o mesmo ocorre com a luz, com a efusão de graça celestial, e então o sol irradia em merídio esplendor.

Ó tu que buscas o Reino! Todo Manifestante Divino é a verdadeira vida do mundo - é o médico perito para cada alma enferma. O mundo humano está doente, e esse Mé-dico competente conhece a cura, visto que Se ergue com ensinamentos, conselhos e admoestações que são remédio para cada dor, bálsamo que alivia cada ferida. Certamente o médico sábio pode diagnosticar as necessidades do paciente em qualquer tempo, e conceder-lhe a cura. Relaciona, pois, os Ensinamentos da Beleza de Abhá às urgentes necessidades do dia atual e verás que proveem remédio instantâneo para o corpo enfermo do mundo. Em verdade, são o elixir que traz saúde eterna.

O tratamento prescrito pelos médicos sábios do passado e por aqueles que lhes sucedem não é sempre o mesmo, mas sim depende da enfermidade do paciente. No entanto, embora possa mudar o remédio, sempre o objetivo é restaurar a saúde do paciente. Nas eras passadas, o débil corpo do mundo não poderia ter suportado tratamento enérgico ou rigoroso. Foi por essa razão que Cristo disse: “Tenho ainda muitas coisas

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para vos dizer - questões que necessitam ser tratadas - mas não podeis suportar ouvi-las agora. Quando, porém, vier aquele Espírito Confortador, a Quem o Pai enviará, Ele tornar-vos-á clara a verdade.”

Assim, pois, nesta era de esplendores, os ensinamentos que outrora estavam restritos a alguns poucos tornam-se acessíveis a todos, a fim de que a misericórdia do Senhor possa abraçar Oriente e Ocidente, para que a unidade do mundo humano desvele-se em plena beleza, e os deslumbrantes raios da realidade inundem de luz o domínio da mente.

A descida da Nova Jerusalém representa a Lei celestial, aquela Lei que assegura a felicidade humana e a fulgência do mundo de Deus.

— Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, pp. 52-4

A ESSÊNCIA INCOGNOSCÍVEL

Todas as pessoas formaram um deus no mundo do pensamento, e é a essa ideia de sua própria imaginação que adoram; quando a realidade é que a forma imaginária é finita e fruto de uma mente finita também. Certamente o infinito é muito maior que o finito, pois a imaginação é algo acidental enquanto que a mente é essencial; e com certeza algo essencial é maior que algo apenas acidental.

Portanto, devemos considerar que todas as seitas e po-vos adoram algo que é fruto de seu próprio pensamento e imaginação. Criaram a noção de um deus conforme suas mentes podiam conceber e reconheceram-no como o criador de todas as coisas, quando tal ser imaginário é apenas uma superstição – desta forma, as pessoas reconhecem e adoram algo inexistente na realidade, algo que é apenas fruto de suas próprias concepções mentais.

A Essência da Entidade Divina e o Invisível dos invisíveis

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é algo sagrado muito acima da imaginação e do pensamento humano. A consciência não a alcança. A capacidade de com-preensão humana não alcança a essência da Realidade Antiga. É um outro mundo, uma outra Realidade, inteiramente aci-ma do entendimento humano. Dela não temos informação direta, conhecê-la em sua essência é algo inacessível à mente humana. Sabe que ela existe, sente seus efeitos, mas não pode saber como ela é em sua essência.

Todos os filósofos e doutores reconhecem a realidade de algo superior, mas ficam perplexos ao tentarem entender sua existência, e por fim desistem e em grande desespero deixam este mundo. Porquanto a compreensão da condição e os misté-rios daquela Realidade das Realidades e Mistério dos mistérios exige outro tipo de poder de compreensão, outra forma de sensibilidade. Tal poder e sentimento não são possuídos pela humanidade, e ela não os encontra pelos meios comuns do entendimento humano. Tal Realidade exige outros poderes e outros sentidos para ser entendida. Permanece pura e san-tificada acima de qualquer esforço humano para entendê-la. Quando tais poderes são alcançados, informações sobre ela são obtidas; de outra forma, não.

FÉ E CONHECIMENTO

Com relação às “duas asas” da alma: Elas significam asas que possibilitam a ascensão. Uma é a asa do conhecimento; outra, a da fé, e ambas formam o meio através do qual ocorre a ascensão da alma humana a um estágio de vida superior, o das perfeições divinas.

CONHECIMENTO E AÇÕES

Embora uma pessoa que normalmente realiza bons atos seja aceitável no Limiar do Todo-Poderoso, no entanto pri-

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meiro vem “o saber” e então “o fazer”. Embora um homem carente de visão produza a mais bela e maravilhosa das artes, ainda assim estará privado de enxergá-la. Considerando como muitos animais trabalham a serviço do homem, tirando-lhe o peso da carga e facilitando sua locomoção; porém, como são ignorantes, não recebem recompensa por este labor e esforço. A nuvem traz a chuva, rosas e jacintos crescem; a planície e a campina, os jardins e as árvores tornam-se verdejantes e floridos; ainda assim não têm a consciência do resultado e dos frutos de tudo isso. A lâmpada se ilumina, mas não se dá conta de sua própria luz, e ninguém, por esta razão, se mostra feliz e agradecido a ela. Mas uma alma, consciente, autora de atos excelentes e boas maneiras com certeza progredirá, qual-quer que seja o horizonte no qual observe as luzes irradiantes. Aqui está a diferença: fé significa primeiro o conhecimento consciente e, segundo, a prática de boas ações.

EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS

Quanto à tua pergunta referente à educação das crianças: cabe a ti nitri-las do seio do amor de Deus e exortá-las para as coisas do espírito - para que possam voltar suas faces para Deus; para que os seus modos estejam em conformidade com as regras da boa conduta e o seu caráter seja inigualável; para que façam suas todas as graças e qualidades louváveis da humanidade; para que adquiram correto entendimento dos vários ramos do conhecimento; para que, desde o princípio das suas vidas, possam se tornar seres espirituais, habilitados do Reino, enamoradas pelas doces fragrâncias da santidade, e possam receber uma educação religiosa, espiritual e do Reino Celestial. Verdadeiramente, pedirei a Deus que conceda a elas sucesso.

— citado em Educação Bahá’í: uma Compilação, p. 43

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CONHECIMENTO ESPIRITUAL

Se desejas alcançar o conhecimento divino e reconhecê-lo, purifica teu coração de tudo o mais menos de Deus, dedica-te inteiramente ao ideal, ao Ser amado; busca até encontrá-lo, e considera os argumentos racionais e confiáveis. Pois os ar-gumentos são um guia no caminho da busca e através deles o coração voltar-se-á para o Sol da Verdade. E quando o coração está voltado para o Sol, então os olhos serão abertos e reconhecerão o Sol através do próprio Sol. Então o homem não precisará mais de argumentos (ou provas), pois o Sol é totalmente independente, e algo absolutamente indepen-dente de nada precisa, sendo as provas uma das coisas que a independência absoluta não tem necessidade. Não sejas como Tomé; sê como Pedro. Espero que te cures, física, mental e espiritualmente.

QUALIFICAÇÕES DA ALMA ILUMINADA

Quanto às sete qualificações (da alma divinamente ilu-minada), sobre as quais tu pediste uma explicação, são as seguintes:

1. CONHECIMENTO: O homem deve adquirir o conhe-cimento de Deus.

2. FÉ. 3. FIRMEZA OU CONSTÂNCIA.4. FIDEDIGNIDADE: É a base de todas as virtudes do mun-

do da humanidade. Sem ela, será impossível a uma alma conseguir progredir e ter sucesso nos mundos de Deus. Quando este atributo divino existe no ser humano, todas as qualidades divinas serão também manifestadas.

5. RETIDÃO: Esta é outra das grandes qualidades divinas.

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6. FIDELIDADE: Este é também um belo aspecto do ser humano celestial.

7. EVANESCÊNCIA ou HUMILDADE: Isso quer dizer que o ser humano deve tornar-se evanescente em Deus. Deve esquecer de si mesmo, de suas próprias condi-ções egoístas, e levantar-se ao grau de sacrifício. Isso a um tal grau que, ao adormecer, não deve ser por prazer, mas para fazer o corpo descansar para poder melhor trabalhar, para falar melhor, para explicar as coisas de forma a mais bela possível, para servir aos servos de Deus e lhes dar provas das verdades. Quando acordado, deve estar sempre atento, servir a Causa de Deus e sacrificar sua condição humana por aquelas que procedem de Deus. Ao alcançar esta posição, as confirmações do Espírito Santo certamente lhe serão concedidas e o ser humano, de posse deste poder, poderá enfrentar todos os que habitam neste mudo.

SOBERANIA ETERNA

Todas as pessoas do mundo encontram-se, como obser-vas, em um estado de torpor ou negligência. Esqueceram-se inteiramente de Deus. Estão todas ocupadas em disputas e guerras. Passam por miséria e destruição. São como vermes repugnantes tentando alojar-se nas profundezas do solo, en-quanto uma pequena inundação pela chuva varre todos os seus ninhos, desalojando-os para longe. Apesar de tudo, elas não se dão conta disso. Onde está a majestade do Imperador da Rússia? Onde está o poder do Imperador germânico? Onde está a grandeza do Imperador da Áustria? Em curto prazo de tempo todos os seus palácios tornaram-se ruínas e todos aqueles portentosos edifícios acabaram sendo destruídos. Não deixaram fruto algum, a não ser ruína eterna.

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As almas daqueles que iluminaram o mundo com a luz do Reino, porém, encontraram a soberania eterna. Elas brilham como estrelas no horizonte de glória eterna. Os Apóstolos eram pescadores. Considera a que elevada posição subiram; e que grande soberania alcançaram, cuja duração e permanência correrá pela eternidade! Maria Madalena era uma camponesa. Seu nome era desconhecido, não era famosa e não usufruía dos benefícios de qualquer posição de destaque. Mas sua vela encontra-se na assembleia do Alto, iluminada por toda a eternidade.

CONFIRMAÇÃO E AJUDA

É evidente que, neste dia, as confirmações do mundo in-visível estão a envolver todos os que transmitem a Mensagem divina. Fosse o trabalho de ensino decair, essas confirmações cessariam inteiramente, dado que é impossível que os amados de Deus recebam auxílio a menos que ensinem.

Sob todas as condições, cumpre levar avante o ensino, mas com sabedoria. Caso não seja possível prossegui-lo publicamente, que se ensine em particular, de forma que se engendrem espiritualmente e camaradagem entre os filhos dos homens. Se, por exemplo, cada um dos crentes, sem exceção, se tornar verdadeiro amigo de um dos desatentos e, procedendo com absoluta retidão, estabelecer laços de companheirismo com tal alma, tratando-a com a máxima bondade - ele mesmo tornando-se exemplar das instruções divinas que recebeu, das boas qualidades e padrões de conduta -, agindo em todos os tempos de acordo com as admoestações de Deus, decerto que, pouco a pouco, terá êxito em despertar essa pessoa anteriormente negligente e em transformar sua ignorância em conhecimento da verdade.

As almas estão propensas à desafeição. Deve-se primeiro

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procurar eliminar esse desafeto, pois somente então a Palavra terá efeito. Se um crente mostrar bondade a um dos desatentos e, com grande amor, levá-lo gradualmente a compreender a validade da Sagrada Causa, de modo que venha a conhecer os princípios fundamentais da Fé de Deus e suas implicações, tal pessoa será certamente transformada, exceto se for daqueles indivíduos raro encontrados que são idênticos a cinzas, cujos corações são “duros como pedras - não, ainda mais duros”.

Se cada qual dos amigos esforçar-se destarte para guiar uma alma ao caminho reto, o número de crentes duplicará a cada ano; e isto pode ser realizado com prudência e sabedoria, sem que mal algum resulte.

— Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, pp.241-2

ESTE MUNDO, UMA MIRAGEM

Ó Amados de Deus! Sabei que o mundo é como uma mi-ragem que o sedento julga ser água; sua água é um vapor; sua generosidade, uma dificuldade; sua tranquilidade, dificuldade e provação; deixai-o para seu povo e voltai vossa atenção para o Reino de vosso Senhor, o Misericordioso. Assim, as luzes da misericórdia e da caridade brilharão sobre vós, a mesa celestial descerá até vós, vosso Senhor vos concederá as maiores dádivas e favores, através dos quais vossos peitos dilatar-se-ão, vossos corações alegrar-se-ão, vossas almas serão purificadas e vossos olhos iluminados.

Ó amados de Deus! Existe outro doador a não ser Deus? Ele concede Sua misericórdia a quem Ele queira.

Ele abrirá diante de vós as portas de Seu conhecimento, encherá vossos corações com Seu amor, regozijará vossos espíritos com os sopros de Suas santas fragrâncias, iluminará vossas faces com Luz Manifesta e elevará vossos nomes entre o povo.

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PROTEÇÃO DOS BAHÁ’ÍS

Durante todos estes anos de distúrbios e comoções, quando o mundo da humanidade foi afligido física e es-piritualmente, os amigos de Deus passaram seus dias em repouso, tranquilidade e conforto. Nos países ocidentais, apenas alguns poucos passaram pelas dificuldades e aflições que pesavam sobre outras almas, enquanto a totalidade dos amigos e das servas do Misericordioso... viviam quietos e em paz. No Oriente, todas as nações passaram por perturbações e suas reuniões dispersadas, enquanto que os amigos de Deus foram todos protegidos e abrigados contra qualquer dificul-dade ou calamidade no Forte da proteção de Bahá’u’lláh. Verdadeiramente, isso é um milagre divino -- que nós, sem amigos, desprotegidos, viandantes desamparados naquelas regiões, pudemos ser salvos do fogo da opressão e tirania. Este é realmente um milagre de Deus!

O RETORNO DE CRISTO

Nos dias de Cristo todas as nações esperavam que Sua Santidade, o Cristo, viria do céu, e Ele veio do céu, embora externamente tenha saído do ventre de Maria. Por isso, Ele disse nos Evangelhos: “Ninguém irá aos céus exceto aquele que veio do céu.” Agora todos os povos esperam que Ele venha do céu.

Se desejais encontrar a verdade, comparai os dias da Ma-nifestação da Beleza de Abhá com os dias de Cristo; considerai como sendo idênticos e que as mesmas dúvidas e oposição estão ocorrendo.

Quanto às provas e argumentos da Beleza de Abhá, estão todas manifestas como o sol. Se desejais uma visão penetrante e buscais um ouvido que ouça, deixai de lado aquilo que

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tendes ouvido de vossos pais e ancestrais, pois tais coisas são imitação – e então buscai a verdade com a maior atenção até que as confirmações divinas cheguem até vós e o assunto seja desvelado de forma apropriada ante vós.

VIDA ETERNA

Quanto a pergunta se todas as almas terão vida eterna; sabei que aquelas almas compartilham da vida eterna na qual o espírito da vida sopra provindo da Presença de Deus, e todos os demais, além delas, são considerados como mortos – sem vida, conforme Cristo explicou nos textos do Evangelho. Qualquer pessoa cujo discernimento esteja aberto por Deus verá as almas em sua condição de vida eterna após a desinte-gração de seus corpos. Verdadeiramente, elas estão vivendo e subsistirão diante de seu Senhor, e veem também as almas mortas submersas nos abismos da mortalidade. Então sabereis que todas as almas foram criadas de acordo com a natureza de Deus e todas encontram-se em um estado de pureza quando de seus nascimentos. Mas depois diferem uma das outras, quanto mais adquiram excelências ou defeitos. No entanto, as criaturas têm diferente graus na existência à medida que a criação avança, pois as capacidades são diferentes, mas todas nascem boas e puras; depois é que se poluirão e corromperão. Embora existam diferentes estados de criação, ainda assim to-dos são benéficos. Olhai o templo do homem, seus membros e todos os seus órgãos. Entre eles se encontram os olhos, os ouvidos, o nariz, a boca, as mãos e os dedos. Não obstante as diferenças entre os órgãos, todos eles são úteis e têm sua própria esfera de atividade. Mas se qualquer um deles estiver machucado ou doente, é preciso prover algum remédio e se a medicina aplicada não curar, então a amputação daquele membro far-se-á necessária.

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OS QUE ESPALHAM CALÚNIA

Em suma, serão encontradas naquelas regiões determi-nadas pessoas como os fariseus no tempo de Cristo, as quais, dia e noite, esforçar-se-ão de todo coração e alma para lançar dúvidas visando privar as almas das boas-novas do Espírito Santo. Irão disseminar falsos rumores e levantar muitas ca-lúnias, publicando e anunciando histórias inventadas. Tudo isso farão apenas por vaidade terrena.

E alguns fariseus entre os missionários do Evangelho apressar-se-ão provindos do Irã e dirão: “Somos sabedores do segredo desse assunto.” Tudo o que disserem será apenas difamação.

Agora, deveis saber dessas coisas para que no tempo devi-do possais dispersar e aniquilar a escuridão provinda daqueles indivíduos suspeitos com uma luz manifesta. Imploro a Deus para que Ele vos conceda a força e o poder necessários para que possais resistir a todos na terra – quanto mais àqueles fracos e corrompidos que recebem salário e suborno para espalhar tais calúnias!

Mantende-vos atentos, ó possuidores de entendimento!

O ESPÍRITO DE CRISTO

O corpo é composto, em verdade, de elementos corpóreos e toda composição está sujeita necessariamente à decomposi-ção; mas o espírito é uma essência, simples, pura, espiritual, eterna, perpétua e divina. Aquele que busca a Cristo do ponto de vista de Seu corpo estará, realmente, privado e ter-se-á afastado d’Ele, mas o que busca a Cristo do ponto de vista de Seu Espírito crescerá cada vez mais em alegria, atração, zelo, proximidade, percepção e visão.

Deves, então, buscar o Espírito de Cristo neste dia mara-

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vilhoso. O céu para onde Cristo ascendeu não é um espaço infinito. Seu céu é, na realidade, o Reino de Seu Senhor, o Misericordioso. Como Ele afirmou: “O Filho do Homem está nos céus.” Sabe-se, então, que Seu céu está além dos limites que envolvem a existência e que Ele se encontra em um plano elevado para o povo que O adora.

Pede a Deus para ascenderes a este céu, para provar de seu alimento – e sabes que o povo não entendeu até hoje o mistério das Sagradas Escrituras. Eles acreditam que Cristo estava privado do Seu céu quando vivia neste mundo, que Ele havia descido das alturas de Sua elevada posição e que mais tarde ascendeu a esse grande pináculo – isso quer dizer, para o céu que não existia, pois havia apenas espaço. Espe-ravam que Ele descesse desse céu sentado sobre uma nuvem. Acreditavam existir nos céus uma nuvem sobre a qual Ele se sentaria e através da qual desceria à terra. O fato é que, na realidade, as nuvens são vapores que sobem da terra, e que não descem dos céus. A nuvem mencionada nas Sagradas Escrituras é o corpo humano, que é um véu para eles, como uma nuvem, que lhes priva de ver o Sol da Verdade que brilha no horizonte de Cristo.

SALVAÇÃO

Perguntas se, através do aparecimento do reino de Deus, todas as almas serão salvas. O Sol da Realidade apareceu para todos no mundo. Este aparecimento luminoso é salvação e vida; mas somente aqueles que abriram seus olhos à realidade e que viram essas luzes serão salvos.

A IGREJA ESPIRITUAL

Tu perguntaste como podes aceitar esta Causa divina,

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sendo um membro da igreja. No dia da Manifestação de Cristo muitas almas ficaram como órfãs e foram privadas por serem membros da Igreja do Santo dos Santos em Jerusalém. Por causa daquela condição de membros, foram velados da Beleza luminosa. Portanto, volve tua face para a Igreja de Deus, a qual consiste das orientações divinas e exortações misericordiosas. Pois que semelhança tem entre a igreja de pedra e cimento e a do Santo dos Santos celestial!

Esforça-te para que possas entrar na Igreja de Deus. Embora tenhas feito voto de participar da igreja, ainda as-sim teu espírito está sob o Convênio e Testamento da Igreja espiritual divina. Deves protegê-la. Embora eles considerem o vinho e o pão na igreja como o sangue e o corpo de Cristo, isso é apenas a aparência e não a realidade. Mas a realidade de Cristo está nas palavras do Espírito Santo. Se fores capaz, toma tua porção dela.

E a celebração do batismo deve limpar o corpo, mas o espírito não tem parte nisso; porém os ensinamentos divinos e as exortações da Beleza de Abhá batizarão a alma. Este é o verdadeiro batismo. Espero que recebas este batismo.

A CEIA DO SENHOR

A Ceia do Senhor que Sua Santidade o Espírito tomou com os apóstolos era uma ceia celestial e não o alimento do pão e água, pois objetos materiais não têm conexão com ob-jetos espirituais. Como naquele tempo o alimento físico tam-bém estava presente, os líderes da religião de Cristo pensaram que se tratava do alimento material o qual era transformado em alimento espiritual.

A prova de que não se tratava de alimento material é esta: Os apóstolos em muitas outras ocasiões compartilha-ram do alimento material com Sua Santidade Cristo, mas a

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ceia daquela noite foi chamada de a “Ceia do Senhor”. Por tal designação, fica claro e evidente que se alimentaram de alimento espiritual naquela ceia. Aquele alimento espiritual consistia do amor de Deus, do conhecimento de Deus, dos mistérios de Deus e das graças de Deus.

ENTENDENDO OS MISTÉRIOS

Se te voltares com todo o teu ser para Deus e deixar-te ser atraído pelas luzes do Reino de Deus e aceso pelo fogo do amor de Deus, então verás aquilo que hoje não podes ver, compre-enderás o significado oculto da Palavra de Deus e entenderás inteiramente os mistérios contidos nos Livros sagrados.

Mas os doutores judeus, como os sacerdotes cristãos e os monges que leem aqueles Livros, na realidade eles apenas apreendem a letra e as palavras que enunciam, como o fazem os papagaios, estarão isentas dos significados internos. Eles não entendem porque estão envolvidos em desejos e luxurias mundanos, e seus corações estão apegados às atrações terrenas. Em verdade, não estão eles esquecidos de Deus, nada com-preendendo, e por isso não encontram o caminho certo?

REENCARNAÇÃO

Escreveste acerca da reencarnação. A crença na reencar-nação remonta à história antiga de quase todos os povos; esposavam-na até mesmo os filósofos da Grécia, os sábios romanos, os antigos egípcios e os grandes assírios. Não obs-tante, tais superstições e asserções não passam de absurdos aos olhos de Deus.

O argumento principal dos reencarnacionistas era que, de acordo com a justiça de Deus, cada um tem de receber o que lhe cabe: por exemplo, sempre que um homem é afligido por

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alguma calamidade, isto se dá em virtude de algum mal por ele perpetrado. Considere-se, contudo, uma criança ainda no ventre materno, aquele embrião que mal se formou, sendo tal criança cega, surda, aleijada, imperfeito: que pecado cometeu semelhante criatura para merecer suas aflições? Respondem eles que conquanto a criança ainda no útero aparente estar isenta de pecados - não obstante, ela perpetrou alguma ini-quidade quando em seu corpo anterior, vindo assim a merecer sua punição.

Esses indivíduos, no entanto, têm deixado de perceber o seguinte ponto: se tudo na criação avançasse segundo uma única regra, como poderia o Poder todo-abrangente se fazer sentir? De que modo poderia o Todo-Poderoso ser Aquele que “faz como Lhe apraz e ordena como deseja”?

Sucintamente, as Escrituras Sagradas de fato aludem a um retorno, porém entende-se nele o retorno das qualidades, condições, efeitos, perfeições e realidades íntimas das luzes que ressurgem em toda Dispensação; essa referência não diz respeito a almas e identidades específicas, individuais. Pode-se afirmar, a título de ilustração, ser a luz desta lâmpada a volta da luz de ontem à noite, ou que a rosa que desabrochou no ano passado retornou agora ao jardim. Não estamos nos reportando, neste caso, à realidade individual, à identidade precisa ou ao ser específico daquela outra rosa; o que se quer exprimir é que as qualidades e atributos distintivos daquelas outras luzes e flores se fazem agora presentes nestas. Aquelas perfeições, ou seja, aquelas graças e dádivas de uma primavera passada outra vez se manifestaram neste ano. Dizemos, por exemplo, ser este fruto o mesmo que medrou no ano anterior; estamos, todavia, considerando somente sua delicadeza, seu viço e frescor, e seu doce paladar, porquanto é óbvio que aque-le inviolável foco da realidade, aquela identidade específica, jamais poderá retornar.

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Acaso alguma vez os Seres Santos de Deus desfrutaram de alguma paz, tranquilidade e conforto durante sua estada neste mundo inferior, para que desejassem continuamente voltar e aqui reviver? Não seria bastante uma única passagem por essa angústia, essas aflições e calamidades, essas agruras físicas e terríveis dificuldades? Por que haveriam de desejar reiteradas vindas à vida deste mundo? Este cálice não é doce a ponto de alguém apreciar sorvê-lo uma segunda vez.

Por esse motivo, aqueles que amam a Beleza de Abhá recompensa alguma almejam, salvo alcançar aquela posição donde possam contemplá-Lo no Reino da Glória, e vereda alguma trilham a não ser as areias ermas do anelo por essas sublimes alturas; buscam a placidez e o consolo que perdu-rarão para sempre e as dádivas que estão santificadas acima da compreensão da mente mundana.

Quando olhares ao teu redor com olhos atentos, notarás que nesta Terra de pó todos os seres humanos passam por alguma forma de sofrimento. Aqui, homem algum se encontra em tal quietude que pudesse reconhecê-la como uma recom-pensa pelo bem que tivesse realizado em vidas anteriores, nem há ninguém tão ditoso de forma a aparentemente colher o fruto de uma angústia de tempos idos. E se a vida humana, com sua existência espiritual, estivesse limitada a este breve período terreno, qual seria então o fruto da criação? De fato, quais seriam os efeitos e consequências da própria Deidade? Fosse tal noção verdadeira, então todas as coisas criadas, todas as realidades contingentes e todo este mundo da existência - tudo, enfim, seria desprovido de sentido. Proíba Deus que alguém se apegue a tal falácia e erro flagrante.

Pois assim como os efeitos e frutos da vida uterina não podem ser encontrados naquele lugar escuro e estreito, e ape-nas quando a criança passa de lá para esta vasta Terra é que os benefícios e serventias do crescimento e desenvolvimento

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naquele mundo anterior efetivamente se apresentam - da mesma forma, a recompensa e a punição, o céu e o inferno, a retribuição e a paga por ações realizadas nesta vida tornar-se-ão evidentes no mundo do além. E do mesmo modo que se a vida humana se restringisse àquele mundo uterino, a existência no ventre materno seria destituída de sentido e propósito; igualmente, se a vida deste mundo, os atos aqui praticados e sua frutificação não se tornassem manifestos no mundo vindouro, todo o processo seria irracional e tolo.

Sabe tu, pois, que o Senhor Deus possui reinos invisíveis que o intelecto do homem jamais poderá sondar, nem tam-pouco a mente poderá conceber. Quando tiveres limpado o canal de teu senso espiritual da contaminação desta vida mundana, haverás de sentir os doces aromas da santidade que emanam dos venturosos caramanchões daquela terra celestial.

AS BOAS-NOVAS

Ó meu amigo, verdadeiramente a Causa é grande, muito grande, e a penetração da Palavra de Deus nos templos de todas as regiões é similar à entrada da alma em um corpo sadio.

Pela vida de Bahá, em verdade o poder do Reino de Deus tomou conta dos pilares do mundo e sua influência abrange todas as nações. Encontrarás certamente os estandartes do Testamento tremulando em todas as regiões, e os cânticos dos versos de unidade sendo entoados em elevadas assembleias, e a as luzes do Sol da Verdade e seu calor dispersando as grossas nuvens que se movimentam no horizonte. Regozija-te com estas boas-novas, que acariciam os corações dos sinceros entre os amados.

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CONSIDERA O PASSADO

Considera o passado para que possas ser informado dos mistérios que serão revelados no futuro. Quando os discípulos chamavam o nome Cristo, os judeus zombavam, desdenhavam e riam deles. Diziam: “Eles estão loucos, fazen-do da loucura uma arte.” Chegaram até mesmo a lhes dar chicotadas, jogavam pedras neles, impediam que as pessoas deles se aproximassem e diziam: “Este homem nada mais é que um feiticeiro, blasfema contra Deus e está possuído pelo demônio.”

Observa então como aquela perseguição e escárnio foram transformados em glória, honra e reverência. Por fim, reveren-ciaram a sublime condição que haviam alcançado, reconhe-cendo sua grandeza, que foi exaltada, promovida e glorificada no centro dos horizontes até que atingiu um grau de exagero em ações. Fizeram para eles imagens e retratos, decoraram seus olhos com joias iluminadas; colocaram suas imagens ou retratos nos templos, igrejas e monastérios construídos no alto das montanhas, e os adoraram com respeito, glória, majestade e reverência. Esta é a condição dos negligentes que foram privados da Verdade no dia de sua existência entre eles. Após a ascensão de seus espíritos ao centro de pureza e misericórdia, então os negligentes se arrependeram e retornaram, criando imagens e retratos conforme suas próprias ideias, as quais não têm qualquer semelhança com os originais, e os adoram da mesma forma. Esta é a condição dos ignorantes, os quais são como animais, seguindo qualquer um que se imponha e são abalados por qualquer vento que sopre. “Esquece deles, deixa-os se divertirem em suas águas rasas.”

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ESTE RAMO IRÁ ASCENDER

Ó Serva de Deus! Esta prisão é na verdade mais preciosa e doce do que um jardim para mim, este grilhão maior que qualquer liberdade, e o confinamento mais amplo do que o deserto mais espaçoso. Portanto, não te aflijas com isso. Em verdade, se meu Senhor me destina e me faz provar a doçura da taça do martírio, meu maior desejo estará cumprido. Não temas se este Ramo for cortado do plano material e jogadas fora suas folhas – pelo contrário, suas folhas irão florescer, pois este Ramo crescerá depois de ter sido cortado da terra, ascenderá até atingir o universo, suas folhagens alcançarão o Ápice supremo e darão frutos, exalando fragrantes perfumes sobre o mundo.

DEPOIS DESTA TORMENTA

Ó vós amados de Deus! Quando os ventos soprarem seve-ramente, as chuvas caírem furiosamente, o relâmpago reluzir, o trovão rugir, o raio descer e tempestades de provações se tornarem árduas, não lamenteis; pois, verdadeiramente, de-pois dessa tempestade, a primavera divina chegará, os montes e campos tornar-se-ão verdejantes, as vastidões de cereais ondularão alegremente, a terra cobrir-se-á de florescência, as árvores serão vestidas com roupagens verdes e adornadas com flores e frutos. Assim, bênçãos tornam-se manifestas em todos os países. Estes favores, são os resultados daquelas tempestades e furacões.

O ser humano inteligente regozijar-se-á nos dias de pro-vações, seu peito dilatar-se-á quando chegarem as tempestades severas, seus olhos brilharão ao verem as águas da chuva e ao sentir as rajadas do vento, através das quais as árvores serão arrancadas; porquanto ele prevê o resultado e o fim, as folhas,

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as flores e os frutos; enquanto que a pessoa ignorante mostra-se preocupada quando olha para a tempestade, se entristece quando a chuva é forte demais, se aterroriza com os trovões e treme de medo ao contemplar as fortes ondas que a tem-pestade joga sobre as praias.

Conforme vocês ouviram falar sobre os tempos antigos, quando Cristo – louvado seja Ele – apareceu, uma tempestade de provações surgiram, aflições sem conta, os ventos dos testes sopraram fortemente, os trovões das tentações eclodiram e as pessoas cercaram as casas dos amigos; então os mais fracos foram abalados e desviados depois de terem sido uma vez guiados, mas os discípulos resistiram às dificuldades e supor-taram as tormentas das provações, permanecendo firmes na Religião de Deus. Então, observem que o que ocorreu depois da tempestade e o que surgiu subsequentemente àquela seve-ridade que fizeram os membros tremer.

Deus transformou a tristeza em alegria, a destrutiva escuridão da calamidade em uma luz brilhante provinda do Concurso Supremo. As pessoas, no início, perseguiam e insultavam os crentes em Deus e diziam a eles: “Estes são o povo da aberração.” Então, quando sua luz surgiu, suas estrelas brilharam e suas lâmpadas se iluminaram, as pessoas voltaram ao amor e à afinidade; oraram por eles, ofereciam-lhes palavras de glória dia e noite e lembravam deles em seus elogios, reverência, honra e majestade.

Portanto, ó vós amados de Deus, não vos entristeçais quando pessoas se opuserem a vós, quando vos perseguirem, quando vos afligirem e vos causarem dificuldades, e proferirem toda espécie de coisas más a vosso respeito. A escuridão virá a passar e a luz dos sinais manifestos surgirá, o véu será retirado e a Luz da Realidade brilhará do invisível (Reino) de El-Abhá. Disto nós vos damos conhecimento antes que ocorra, de modo que, quando as hostes de pessoas se levantarem contra vós

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por causa de meu amor, não fiqueis perturbados ou agitados; não, pelo contrário, sede firmes como uma montanha, por-que esta perseguição e vilipendiação dos povos contra vós, é um fato pré-ordenado. Abençoada é a alma que é firme no caminho!

— citado em Oposição à Fé, pp.6-7

O CENTRO

A luz tem um centro e se alguém deseja procurá-la de outro modo que não seja do seu centro, jamais a atingirá.

— citado em Bahá’u’lláh e a Nova Era, p.90

! Neste sistema solar a fonte de luz é o sol, e toda luz dele procede; mesmo as lâmpadas da noite são acesas através do sol, pois se não existisse o sol as árvores não cresceriam, nem as minas se desenvolveriam para possibilitar que o óleo fosse extraído dessas árvores e minas e as lâmpadas da noite acesas por ele. Seria possível que alguém conseguisse obter a luz nesta esfera global sem a mediação do sol? Não, pela vida de Deus! Supor isso seria pura imaginação. Mas a verdade é esta: A fonte principal de todas as luzes é o sol e os raios dele se espraiam para todas as regiões.

EDUCAÇÃO MENTAL E ESPIRITUAL

A República dos sábios acredita que as diferenças nas mentalidades e opiniões são devidas às diferenças de educa-ção e da aquisição da ética. Isto é, as mentes são iguais em origem, mas a educação e a aquisição da ética fazem com que as mentes difiram e a compreensão das coisas seja diferente; que estas diferenças não são decorrentes de uma entidade, mas sim, da própria educação e do ensino; não existem diferenças

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individuais em favor de alguma alma. Portanto, todos os membros da raça humana possuem a capacidade de atingir à condição mais elevada, e a prova que apresentam nesse sentido é que: “Os habitantes de um país como a África são todos selvagens errantes e animais incultos; carecem de inteligência e de conhecimentos; são todos incivilizados; nenhum homem civilizado ou culto será encontrado entre eles. Pelo contrário, considerai os países civilizados, os habitantes que vivem numa condição mais elevada de cultura e ética, de solidariedade e interdependência; possuindo, com raras exceções, um poder agudo de compreensão e uma mente aguçada. Portanto, fica claro e evidente que a superioridade e a inferioridade das mentalidades, bem como os graus de compreensão, surgem da educação e da capacitação, ou da ausência delas. Um galho torto é indireitado quando trabalhado nesse sentido, e uma fruta silvestre da floresta pode ser um produto de um pomar. Um homem ignorante, através do aprendizado, torna-se um conhecedor, e o mundo da selvageria, através da paciência e esforço de um educador competente, é mudado em um reino de sabedoria. O doente é curado pelos medicamentos e um homem pobre, com o aprendizado da arte do comércio, torna-se rico. O seguidor, alcançando as virtudes de um líder, torna-se grande, e o homem humilde, pela educação recebida de um mestre, soergue-se da condição de olvido ao ápice da celebridade”. Estas são as provas de um homem sábio.

Os profetas também confirmam esta opinião, reconhe-cendo que a educação exerce um grande efeito sobre a raça humana, mas declaram que as mentalidades e o poder de compreensão são originalmente diferentes. E este assunto é por si mesmo evidente; não pode ser refutado. Vemos que de-terminadas crianças de uma mesma idade, local de nascimento e raça, ou melhor dizendo, da mesma família, sob um mesmo educador, diferem em suas mentalidades e entendimento. Um

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se desenvolve rapidamente, enquanto o outro é vagaroso em captar os raios da cultura, e ainda um terceiro se mantém no nível mais baixo de ignorância.

Não importa o quanto a concha seja educada, ela nunca irá se tornar uma pérola radiante. A pedra dura não se tornará uma gema iluminada. Um cacto cheio de espinhos, mesmo com tratamento e desenvolvimento, jamais tornar-se-á uma árvore frondosa. Isso quer dizer que simplesmente a capaci-tação não muda a condição interna do ser humano, embora produza um efeito maravilhoso. Mas por este poder efetivo tudo o que existe de forma latente de virtudes e capacidades na realidade humana será por fim revelado.

O cultivo feito pelo lavrador faz do grão uma grande co-lheita, e os esforços do jardineiro fazem da semente uma linda árvore. O atencioso professor promove as crianças da escola a um nível elevado, e o esforço do mestre coloca a criança sobre um trono bem alto. Portanto, fica demonstrado e provado que as mentalidades são diferentes em uma entidade ou natureza original, e que a educação encabeça e exerce uma decidida e grande influência. Não existissem os educadores, todas as al-mas permaneceriam selvagens, e se não fosse pelos professores as crianças continuariam sendo criaturas ignorantes.

Esta é a razão porque, neste Novo Ciclo, educação e capa-citação são registradas no Livro de Deus como obrigatórias, e não voluntárias. Isto é, todo pai e toda mãe, como um dever obrigatório, devem fazer todo o esforço possível para prover educação aos filhos, meninas e meninos, alimentá-los no seio do conhecimento e criá-los no âmago das ciências e das artes. Se negligenciarem neste assunto, serão responsabilizados e dignos de repreensão na presença de um Senhor austero.

Este é um pecado imperdoável, pois os pais terão feito de um pobre bebê um andarilho no Saara da ignorância, infeliz e atormentado; permanecendo a vida inteira cativo da igno-

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rância e do orgulho, negligente e sem discernimento algum. Verdadeiramente, se um bebê deixar este mundo na idade da infância, será melhor e mais doce. Neste sentido, a morte é preferível à vida; a privação, à salvação; a inexistência, mais amada que a existência; a sepultura, melhor que o palácio; e a tumba estreita e sombria, melhor que um lar espaçoso e rico; pois aos olhos da humanidade, a criança foi rebaixada e degradada, e aos olhos de Deus, é fraca e carente. Em reu-niões, passa por vergonha e humilhação, e ao fazer exames é sobrepujada tanto por jovens como por adultos. Que erro é tudo isso! Que humilhação permanente!

Portanto, os amados de Deus e as servas do Misericor-dioso devem educar seus filhos com a própria vida e de todo o coração, e ensiná-los na escola das virtudes e das perfeições humanas. Não podem relaxar neste assunto; não podem ser ineficientes. Em verdade, se um bebê não viver, seja lá como for, será melhor do que ser mantido ignorante, pois aquela inocente criança, na vida adulta, será afligida por inumeráveis carências, responsável perante Deus e por Ele questionada, e pelo povo censurada e rejeitada. Que grande pecado isso seria, e que omissão!

O primeiro dever dos amados de Deus e das amadas servas do Misericordioso é este: Devem esforçar-se, por todos os meios possíveis, para educar seus filhos de ambos os sexos; as meninas igualmente como os meninos; pois não existe qualquer diferença entre eles. A ignorância de ambos é imperdoável, e reprovável qualquer tipo de negligência em ambos os casos. “São iguais, tanto o que sabe como aquele que ignora?”

O comando é decisivo com relação a ambos. Se forem consideradas aos olhos da realidade, a educação e a provisão de cultura às filhas são mais necessárias do que aqueles a serem dada aos meninos, pois essas meninas serão as futuras

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mães e irão moldar filhas e filhos. A primeira educadora da criança é a mãe. O bebê, como um ramo verde e tenro, cres-cerá e se desenvolverá conforme os cuidados que receber. Se os cuidados forem devidos, crescerá direito, e se defeituosos de alguma forma, crescerá também, e até o final da vida se conduzirá da mesma forma.

Portanto, está firmemente estabelecido que uma menina sem a educação e a capacitação devidas, ao tornar-se mãe, será o fator primário da privação, ignorância, negligência e falta de capacitação de muitas crianças.

Ó vós amados de Deus e servas do Misericordioso! Ensinar e educar é, conforme os textos claros da Abençoada Beleza, um dever sagrado. Quem quer que seja indiferente a esse dever privar-se-á de grande misericórdia.

Cuidai, cuidai! para não falhardes neste assunto. Esforçai-vos de coração e alma, durante toda a vida, para educar vossos filhos, especialmente as meninas. Nenhuma desculpa será aceita sobre este assunto.

Assim, oro para que esta glória eterna e elevada suprema-cia, como o sol do meio-dia, brilhe forte sobre a assembleia do povo de Bahá, para que o coração de ‘Abdu’l-Bahá se torne feliz e agradecido.

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CAPÍTULO IV

O PLANO DIVINO

A CAUSA DE BAHÁ’U’LLÁH

A Causa de Bahá’u’lláh é a mesma que a Causa de Cristo. É o mesmo Templo e a mesma Fundação. Ambas são prima-veras e estações espirituais que despertam uma restauração da alma e são causa de renovação da vida da humanidade. A primavera deste ano é a mesma primavera do ano passado. As origens e os fins são os mesmos. O sol de hoje é o sol de ontem. Na vinda de Cristo os ensinamentos divinos foram dados de acordo com a idade da infância da raça humana. Os ensinamentos de Bahá’u’lláh têm os mesmos princípios básicos, mas estão de acordo com o estágio de maturidade do mundo e das necessidades desta era iluminada.

A COMUNIDADE DO MÁXIMO NOME

Ó exército de Deus! Hoje, neste mundo, cada povo vagueia perdido em seu próprio deserto, indo de lá para cá segundo os ditames de suas fantasias e noções, seguindo seu próprio capricho particular. Entre todas as numerosas multidões da terra, somente esta comunidade do Nome Su-premo está livre e isenta de maquinações humanas e nenhum propósito egoísta tem para promover. Entre todas elas, este povo levantou-se sozinho com objetivos purificados do ego, seguindo os Ensinamentos de Deus, laborando com o máxi-mo zelo e esforçando-se por atingir uma só meta: converter este pó inferior no alto céu, fazer da Terra um espelho para

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o Reino, transformar o mundo num mundo diferente, guiar toda a humanidade aos caminhos da retidão e levá-la a adotar novo modo de vida.

Ó exército de Deus! Através da proteção e da ajuda concedidas pela Abençoada Beleza - que minha vida seja sacrifício a Seus bem-amados - deveis comportar-vos de tal maneira que possais, entre as almas, sobressair distintos e brilhantes como o Sol. Se qualquer um de vós entrar numa cidade, deverá tornar-se centro de atração em virtude de sua sinceridade, fidelidade e amor, de sua honestidade e lealdade, sua veracidade e benevolência para com todos os povos do mundo, de modo que o povo dessa cidade exclame, dizendo: “Este homem é inquestionavelmente um bahá’í, pois suas maneiras, seu comportamento, sua conduta, sua moral, sua natureza e disposição refletem os atributos dos bahá’ís.” Até que atinjais esta condição, não se poderá dizer que tenhais sido fiéis ao Convênio e Testamento de Deus. Pois Ele, por meio de textos irrefutáveis, entrou em irrevogável Convênio com todos nós e demanda que nossas ações estejam de acordo com Suas sagradas instruções e advertências.

Ó exército de Deus! Já chegou o tempo no qual os efeitos e as perfeições do Maior Nome devem tornar-se ma-nifestos nesta época admirável, a fim de se estabelecer, acima de qualquer dúvida, que esta era é a era de Bahá’u’lláh, que esta época se distingue acima de todas as outras épocas.

— Seleção do Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, pp. 63-4

DEUS AMA OS QUE TRABALHAM EM GRUPO

Ó Amigos de Deus! Hoje é o dia da união e esta é a era da harmonia no mundo da existência. “Verdadeiramente, Deus ama aqueles que trabalham em grupo em Sua senda, pois eles formam uma estrutura sólida.” Considera que ele fala “em

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grupo”, unidos e consolidados, apoiando uns aos outros. “O trabalho”, mencionado neste versículo sagrado, não signifi-ca, nesta era grandiosa, agir com espadas, grilhões, lanças e flechas, mas, sim, com intenções sinceras, bons propósitos, meios úteis, moralidade divina, belas ações, qualidades espi-rituais, educando o povo, guiando as almas da humanidade, difundindo fragrâncias espirituais, explicando exemplos divinos, mostrando provas convincentes e fazendo atos de caridade. Quando as almas santificadas, através do poder angelical, se levantam para demonstrar tais características celestiais, estabelecendo laços de harmonia, cada uma dessas almas será considerada como um milhar de pessoas e as ondas deste grande oceano serão considerados como o exército das hostes do Concurso Supremo.

Que grande bênção quando as torrentes, os córregos, as correntezas, as marés e as gotas são todas reunidas em um mesmo lugar! Formam um grande oceano, uma harmonia real resultará e reinará de uma forma tal que todas as regras, leis, distinções e diferenças da imaginação daquelas almas desapa-recerão, desvanecendo-se como pequenas gotas, submersas no oceano da unidade espiritual. Pela Antiga Beleza, neste caso e nesta condição, as bênçãos do grande oceano transbordarão, tornando-se canais espaçosos como um oceano sem fim e cada gota tornar-se-á um mar ilimitado!

Ó amigos de Deus! Esforçai-vos para atingir esta condição sublime e elevada, demonstrando tal luminosidade nestes dias que seu esplendor possa ser visto dos horizontes eternos. Esta é a verdadeira estrutura da Causa de Deus; esta é a essência da doutrina verdadeira; esta é a causa da revelação das Escrituras celestiais; esta é a forma do aparecimento do Sol do mundo divino; este o caminho para o estabelecimento de Deus sobre o trono da vida terrena.

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O PASTOR DIVINO

Todo rebanho das ovelhas de Deus que estiver protegido à sombra do Pastor Divino não será dispersado, mas quando as ovelhas estão separadas do rebanho, necessariamente serão apanhadas e dilaceradas pelo lobo.

Portanto, incumbe a vós manter-vos juntos! Incumbe a vós estar unidos! Incumbe a vós expor-se às fragrâncias de Deus a todo tempo e a todo momento!

A META FUNDAMENTAL

A meta do aparecimento da Abençoada Perfeição – seja minha vida um sacrifício por Seus amados! – é unir e criar harmonia entre todos os povos do mundo. Portanto, meu maior desejo, primeiro, é a concordância, união e amor dos crentes e, depois, entre todos os povos do mundo. Agora, se a unidade e o acordo não forem estabelecidos entre os crentes, ficarei desolado e as aflições deixarão uma marca muito forte em mim. Mas se as fragrâncias do amor e unidade entre os amigos chegarem às minhas narinas, toda provação tornar-se-á uma bênção, e toda tristeza transformar-se-á em alegria, toda dificuldade em progresso, toda miséria, em um tesouro, e todo sofrimento, em felicidade.

ESTA REUNIÃO É ABENÇOADA

Louvado seja Deus! Que vocês estão reunidos em uma assembleia como as estrelas das Plêiades, estão iluminados com a luz do conhecimento de Deus, e através das chuvas da nuvem do amor de Deus, vocês são as flores viçosas dos prados e das planícies; vocês são íntimos e familiares ao amor e unidade infinitos.

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Portanto, esta é uma reunião abençoada. Se estiver firmemente estabelecida e tornar-se constante, produzirá grandes resultados e os mais poderosos desenvolvimentos serão alcançados. Consequentemente, perseverem com suas reuniões e demonstrem a maior magnanimidade em firmeza e persistência. Quando as raízes da árvore do jardim estão bem firmes e sua proteção garantida, certamente produzirá frutos saborosos.

Da mesma forma, quando o regimento de um exército e os integrantes de um batalhão estão unidos e relacionados harmoniosamente, triunfos incontáveis serão alcançados. Mas se um dia estão unidos e em outro, dispersos, nenhum fruto produzirão.

Portanto, como vocês prepararam um exército celestial e tornaram-se as hostes da vida, devem continuar a realizar suas reuniões, manter comunicações espirituais, ser firmes em suas resoluções, constantes em seu propósito, decididos e perseverantes para que alcanceis vitórias celestiais.

A ELEIÇÃO ESPIRITUAL

A carta abençoada informando da eleição da Reunião Espiritual foi recebida e revela ter sido uma fonte de alegria. Graças a Deus, os amados daquela cidade, em perfeita união, amor e unidade, realizaram uma nova eleição e foram confir-mados e fortalecidos para eleger tão santas almas, próximas que estão do divino Limiar e reconhecidas pela república dos amados como firmes e constantes no Convênio.

Agora, eles (os membros) precisam, em perfeito espíri-to e fragrância, com sinceridade de coração, atraídos pelas fragrâncias de Deus e pelas confirmações do Espírito Santo, engajar-se em serviços; na promoção da Palavra de Deus, na difusão das fragrâncias divinas, na capacitação das almas, na

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promulgação da Paz Máxima. Devem levantar o Estandarte da Guia e tornar-se as hostes do Concurso Supremo.

Na verdade, almas abençoadas foram eleitas. Quando li os seus nomes, alegria espiritual foi imediatamente sentida, pois, louvado seja Deus! Determinadas almas surgiram naquele continente que são verdadeiras servas do Reino, pessoas que se sacrificam pela Majestade Inigualável.

Ó amigos meus! Que vossa reunião seja iluminada com a luz do amor de Deus, tornai-a alegre e feliz através da melodia do Reino da Santidade, e sabei que com o alimento celestial e através da “Ceia do Senhor” ela confere vida.

A CASA DE JUSTIÇA

Ó vós, colaboradores apoiados por exércitos do reino do Todo-Glorioso! Bem-aventurados sois, porquanto vos reu-nistes à sombra protetora da Palavra de Deus e encontrastes refúgio na caverna de Seu Convênio; trouxestes paz a vossos corações ao construir o lar no Paraíso de Abhá, e sois tranqui-lizados pelos ventos suaves que sopram de Sua benevolência, seu ponto de origem; vós vos levantastes para servir a Causa de Deus e difundir Sua religião em toda parte, para promover Sua Palavra e erguer altamente as bandeiras da santidade em todas essas regiões.

Pela vida de Bahá! Verdadeiramente, o consumado poder da Realidade Divina insuflará em vós as graças do Espírito Santo e ajudar-vos-á a realizar façanha cujo igual jamais foi contemplado pelos olhos da criação.

Ó vós, Liga do Convênio! Verdadeiramente a Beleza de Abhá fez uma promessa aos bem-amados que são firmes no Convênio: que lhes fortaleceria os esforços com o mais poderoso apoio, e os socorreria com Sua força triunfante. Dentro em breve percebereis que vossa Assembleia ilumina-

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da tem deixado sinais e emblemas conspícuos nos corações e almas dos homens. Segurai-vos à orla das vestes de Deus e dirigi todos os esforços à promoção de Seu Convênio, e ao brilhardes cada vez mais intensamente com o fogo de Seu amor, para que vossos corações vibrem de júbilo aos sopros de servitude que manam do peito de ‘Abdu’l-Bahá. Reanimai-vos os corações, fazei-vos firmes os passos, confiai nas graças eternas que sobre vós serão derramadas, uma após outra, do Reino de Abhá. Sempre que vos reunirdes nessa congregação radiante, sabei que os esplendores de Bahá sobre vós estão brilhando. Cumpre-vos buscar a concórdia e estardes unidos; cumpre-vos estar em estreita comunhão, unidos de corpo e alma, até vos assemelhardes às Plêiades, ou a cordão de pérolas reluzentes. Assim havereis de firmar-vos solidamente; assim vossas palavras prevalecerão, vossa estrela resplandecerá e vossos corações serão confortados.

Sempre que entrardes na sala de conselho, recitai esta prece com coração a vibrar de amor a Deus, e com língua purificada de tudo salvo de Sua comemoração, para que o Todo-Poderoso vos ajude generosamente a alcançar a vitória suprema.

! Ó Deus, meu Deus! Somos servos Teus que nos voltamos em devoção a Teu Sagrado Semblante, e nos desprendemos de tudo, menos de Ti, neste Dia Glorioso. Reunimo-nos nesta Assembleia Espiritual, com opiniões e pensamentos unidos e um único propósito: o de exaltar Tua Palavra entre o gênero humano. Ó Senhor, nosso Deus! Faze de nós os sinais de Tua Orientação Divina, os Estandartes de Tua Fé sublime entre os homens, servos de Teu poderoso Convênio, ó Tu, nosso Senhor Altíssimo. Que possamos manifestar Tua Unidade Divina em Teu Reino de Abhá, e luzir como estrelas resplandecentes sobre todas as regiões. Senhor!

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Ajuda-nos a sermos mares encapelados com as ondas de Tua graça maravilhosa, rios manando de Tuas alturas de glória, frutos excelentes na Árvore de Tua Causa divina, árvores movidas pelas brisas de Tua bondade em Tua Vinha celestial. Ó Deus! Faze nossas almas dependerem dos versículos da Tua Divina Unidade, e nossos corações alegrarem-se com os eflúvios de Tua graça, para que nos unamos como as ondas do mesmo mar e sejamos fundidos como os raios de Tua Luz esplendorosa; e assim nossos pensamentos, opiniões e sentimentos tornem-se como uma só realidade, manifestando pelo mundo inteiro o espírito da união. Tu és o Benévolo, o Magnânimo, o Generoso, o Onipotente, o Misericordioso, o Compassivo.

— Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, pp. 76-8

! A assinatura daquela reunião deve ser a da Reunião Espiritual (Casa de Espiritualidade) e a sabedoria é que futu-ramente o governo não pense que o termo “Casa de Justiça” signifique uma corte de justiça, que esteja relacionada com assuntos políticos, ou que a qualquer tempo irá interferir com os assuntos do governo.

No futuro, os inimigos serão muitos. Eles poderão usar este assunto como uma razão para perturbar a mente do go-verno e confundir os pensamentos do público. A intenção era tornar conhecida pelo termo de Reunião Espiritual (Casa de Espiritual), aquela Reunião não tem qualquer conexão com assuntos materiais e que seu objetivo único e suas consultas estão confinadas a assuntos ligados a temas espirituais.

OBEDIÊNCIA À ASSEMBLEIA

Nestes dias, a reunião de uma assembleia para consultar é da maior importância e uma grande necessidade. Para todos,

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obediência a ela é um imperativo, especialmente porque os seus membros são como mãos para a Causa.

Assim, eles (os membros) devem reunir-se e consultar de uma forma tal que nenhum desentendimento ou aversão venha a ocorrer. Ao se reunirem em consulta, cada um dos membros deve ter perfeita liberdade para apresentar seus pontos de vista e dar provas de sua demonstração. Se outro membro o contradiz, ele não deve se exaltar, pois se não houver investigação ou verificação dos questionamentos e dos assuntos tratados, a visão mais adequada não seria descoberta nem entendida. A brilhante luz que se revela como resultado do choque de opiniões divergentes é a reveladora dos fatos.

Se todos os pontos de vista estiverem em harmonia ao final da reunião, isso será excelente; mas se, Deus o proíba! ocorrerem desacordos, então a decisão deverá ser decorrente do maior número em harmonia. Se, após chegarem a um resultado, um ou outro dos membros não concorda com a decisão tomada, nenhum dos outros membros ou quem quer que seja deve discutir com ele ou repreende-lo, mas manter silêncio: então eles podem escrever para este Servo.

Nenhum (dos membros da Assembleia) deve divulgar os assuntos ou os métodos pertencentes à Assembleia. No início da reunião devem orar a Deus para lhes dar assistência e ajuda especial, bem como para o Governo do país e seus colaboradores.

Durante a reunião nenhuma menção deve ser feita a as-suntos políticos. Todas as consultas devem ser sobre assuntos benéficos, tanto para o indivíduo como para a coletividade, para o bem estar de todos, sua proteção e preservação, me-lhoria do caráter, educação das crianças, etc.

Se alguma pessoa desejar falar sobre assuntos do governo, ou interferir com decisões das autoridades, os outros não

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devem concordar com ela porquanto a Causa de Deus está inteiramente afastada de assuntos políticos; o campo da po-lítica pertence somente aos governantes; nada tem a ver com as almas que estão se dedicando ao máximo para harmonizar os assuntos, ajudar na formação do caráter e estimular (as pessoas) a se esforçarem em busca de perfeições. Portanto, a nenhuma alma é permitido interferir em assuntos políticos, mas somente naquilo que lhe é determinado.

‘ABDU’L-BAHÁ ESTÁ PRESENTE

Escreveste sobre as reuniões e sobre os locais de encontro dos crentes de Deus. Tais assembleias e congregações irão ajudar em muito na promoção da Palavra de Deus – e todos na audiência, sejam amigos ou não, serão por elas tocados. Mas quando os amigos têm a intenção de entrar em tais reuniões e assembleias, devem, primeiro, ter um propósito puro, afastar o coração de todos os assuntos mundanos, pedir a inesgotável confirmação divina, e com a maior devoção e humildade colocar os pés nos locais de reunião. Que não apresentem qualquer tópico na reunião a não ser a menção ao Ser Verdadeiro, nem devem confundir aquela assembleia mi-sericordiosa com assuntos externos confusos. Devem ensinar ou abrir seus lábios para apresentar argumentos pertinentes, comungando ou suplicando em oração a Deus, seja lendo Epístolas ou expressando conselhos e exortações.

Faze todo esforço que puderes para que em todas as reu-niões a Ceia do Senhor se torne uma realidade e o alimento celestial se faça presente. Este alimento celestial é o conheci-mento, a compreensão, a fé, a certeza, o amor, a afinidade, a bondade, a pureza de intenções, a atração dos corações e a união das almas. Foi desta forma que a Ceia do Senhor des-ceu do reino dos céus nos dias de Cristo. Quando a reunião

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é realizada desta maneira, então ‘Abdu’l-Bahá também estará presente de coração e alma, embora Seu corpo não esteja mais com vocês.

O CENTRO DA DECISÃO

Se surgirem diferenças de opiniões naquelas regiões, você deve manter-se inteiramente afastado e demonstrar amor e bondade a todos, dizendo ser melhor referirem-se ao Centro que decide sobre todos os assuntos. Tudo o que Ele decidir é aceitável e amado. Você deve satisfazer-se com isso. Disputa é causa de dispersão da Palavra de Deus. Qualquer coisa que Ele disser ou escrever é dever de todos obedecer. Além disso, nenhuma palavra é permitida.

Com relação ao estabelecimento do comitê de tradução. Este assunto é ainda uma teoria, mas sua realização depende de muitos assuntos que estão longe de serem alcançados no momento. Até que esses assuntos sejam realizados, o comitê de tradução não encontrará uma forma de expressão externa.

O trabalho maior é este: vocês devem esforçar-se para que os crentes na América se levantem em união e concór-dia. O feito mais importante neste dia é harmonia e acordo. Nenhuma alma deve interferir com outra e ninguém deve olhar para as faltas dos outros. Louvado seja Deus que todos eles são crentes na Beleza de Abhá, e ‘Abdu’l-Bahá está alegre e feliz por causa disso. Mas eles devem levantar-se para reali-zar bons atos de acordo com as instruções divinas, de forma a poderem guiar as pessoas com ações e maneiras celestiais: - a um grau tal que todos os habitantes do mundo possam tirar conclusões de suas condutas e realizações, de que essas pessoas são realmente Bahá’ís. Pois a realização de tais atos e ações para qualquer outra pessoa exceto os Bahá’ís, é algo impossível e impraticável.

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Esta é a base firme da religião de Deus e a lei de Deus! Abençoados sejam aqueles que as praticam.

A BASE DA UNIÃO

Organizai as Assembleias Espirituais; estabelecei a base da união e da concórdia neste mundo; destruí a estrutura de dis-puta e guerra da face da terra; construí o templo da harmonia e concórdia; acendei a luz do reino da unidade da humanidade; abri vossos olhos; olhai e contemplai o outro mundo! O reino da paz, da salvação, da retidão e da reconciliação tem sua base no mundo invisível, e gradualmente será manifesto e tornado visível através do poder da Palavra de Deus!

Suplico a Deus para que possais vos tornar o exército daquele reino, a fim de que pelo poder do Máximo Nome os amigos de Deus possam conquistar o mundo através do amor, da amizade e da força do Reino da paz; a raça humana tornar-se-á compassiva, e o derramamento de sangue e a carnificina serão banidos para sempre do universo.

O espírito da verdade está sobrevoando no ápice supremo como um pássaro, para poder descobrir um coração ferido e nele descer e formar seu ninho.

Espero que os amigos se tornem manifestantes do conhe-cimento e centros de sentimentos misericordiosos. Cada um deles se torne como um anjo e seja autor de obras , pensa-mentos e ações celestiais.

A ASSEMBEIA ESPIRITUAL

Ó serva de Deus! Tua carta foi recebida e trazia notícias de que uma Assembleia foi estabelecida nessa cidade.

Não considereis vosso pequeno número; antes, buscai corações que sejam puros. Uma alma consagrada é preferível a mil outras almas. Se um pequeno número de pessoas

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reúne-se com amor, absoluta pureza e santidade, com os corações livres do mundo, sentindo as emoções do Reino e as poderosas forças magnéticas do Divino, e unidas em feliz associação fraterna, essa reunião exercerá influência sobre toda a Terra. A natureza de tal grupo de pessoas, as palavras que proferem, as ações que realizam, haverão de liberar as graças do Céu, e proverão amostra da felicidade eterna. As hostes da Companhia nas alturas irão defendê-las, e os anjos do Paraíso de Abhá, a descer em contínua sucessão, virão socorrê-las.

Com “anjos” queremos dizer as confirmações de Deus e Seus poderes celestiais. Da mesma forma, anjos são seres abençoados que romperam todos os laços com este mundo inferior, que se libertaram das correntes do ego e dos desejos carnais e fixaram firmemente os corações nos domínios ce-lestiais do Senhor. Eles são do Reino: celestiais; são de Deus: espirituais; são reveladores da abundante graça de Deus; são pontos do alvorecer de Suas dádivas espirituais.

— Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, pp.72-3

! As reuniões espirituais, que são organizadas neste ciclo de Deus e neste século divino, jamais tiveram iguais ou pareci-das em ciclos passados. Pois as grandes reuniões eram sempre para a proteção de homens aristocratas, enquanto que estas reuniões de hoje estão sob a proteção de El-Abhá. O apoiador e auxiliador daquelas reuniões foi sempre um príncipe ou um rei; e um sacerdote era o líder, ou uma grande república; mas o auxiliador, o ajudante e o confirmador e inspirador destas reuniões espirituais é Sua Majestade, o Deus eterno.

Não considere a presente condição, mas, sim, olhe para o futuro e para o fim. A semente, no início, é muito pequena, mas ao final torna-se uma grande árvore. A pessoa não deve considerar a semente, mas a árvore em sua abundância de flores, folhas e frutos.

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! Pense nos dia de Jesus, quando havia apenas um pequeno grupo de seguidores, e então observe a grande ár-vore que cresceu daquela semente e que frutos abundantes produziu. Hoje, a árvore é muito maior, porquanto se trata do chamado do Senhor das Hostes e da voz da trombeta do Deus vivo; é a convocação para a harmonia e união do mundo, o estandarte da fidelidade, lealdade e amizade entre as diferentes nações e seitas do universo; é a luz do Sol da Verdade e a espiritualidade do Ser majestoso. Em verdade, este grande ciclo abrangerá todos os horizontes e, por fim, todas as nações reunir-se-ão sob este estandarte.

! Ó vós que sois firmes no Convênio! ‘Abdu’l-Bahá mantém constante comunicação ideal com toda Assembleia Espiritual que é instituída através da graça divina e cujos membros se volvem, com máxima devoção, ao Reino divino e que sejam firmes no Convênio. Ele está de todo coração ligado a eles, e com eles está unido por laços sempiternos. Assim, a correspondência com essa reunião é sincera, cons-tante e ininterrupta.

— Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, p. 80

! As Assembleias Espirituais que são organizadas com a finalidade de ensinar a verdade, sejam Assembleias de homens ou de mulheres, ou mistas, são todas aceitas e levarão à difusão das fragrâncias de Deus. Isso é o essencial. Da mesma forma, as reuniões públicas nas quais um dia por semana os crentes se reúnem para louvar a Deus, ler os Textos e fazer palestras importantes, são aceitas e amadas. Mas agora não é ainda o tempo --- é totalmente impossível estabelecer a Casa de Justiça mencionada no Livro do Aqdas, é impraticável e não deve ser ainda considerada, sendo agora o tempo da Causa ser procla-mada e os Ensinamentos tornarem-se efetivos. Portanto, agora

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não é o tempo para o estabelecimento da Casa de Justiça, o que deverá ocorrer por uma eleição geral. Sua menção não é permitida e sua realização, impossível.

! Esforçai-vos, o máximo que puderdes, para que não surjam diferenças nos assuntos tratados; não deixeis que as-suntos insignificantes tornem-se causa de desentendimento. Se existirem tais condições, a finalidade será inteiramente dispersa. Os crentes e servas do Misericordioso devem todos considerar como produzir harmonia, a fim de que a unidade do mundo humano possa ser realizada, não que todo assunto sem importância conduza a diferenças de opiniões.

É minha esperança que os amigos e as servas da América tornem-se unidos em todos os assuntos e que não haja desa-cordo algum. Se concordarem sobre um determinado assunto, mesmo que estejam errados, isso será melhor que estarem em desacordo e com a razão, pois tal diferença de opiniões produzirá a demolição da estrutura divina. Embora uma das partes possa estar com a razão, e os outros discordam, isso será causa de milhares de erros, mas se eles concordam e ambas as partes estão erradas, como a verdade está na unidade, ela será revelada e o errado transformado em correto.

! Os membros da Reunião Espiritual devem esforçar-se, pelo poder do Espírito Santo, para tornarem as almas verda-deiros Bahá’ís. Se conseguirem este glorioso propósito, aquele país será iluminado e aquela terra tornar-se-á um verdadeiro paraíso, todas as nações olharão para aquela Assembleia e de suas explanações e exposições receberão o conhecimento sobre as realidades e significados.

! Não confieis em homem algum salvo naqueles cujos corações foram iluminados pela luz da fé, a quem Deus

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confirmou em sua Religião, e que estão desapegados de tudo exceto de Deus e atraídos às Suas fragrâncias.

No futuro, naturalmente, certas pessoas chegarão a vós afirmando sua fé; não credes nem confieis nelas, a não ser após um exame crítico, pesquisa e investigação, e após um longo período de espera, se elas se mostrarem fiéis e fidedig-nas, confiantes em seu coração, atraídas em espírito, puras em intenção, pacientes em dificuldades, suportando testes difíceis; então podeis associar-vos a elas. É que algumas seitas enviam certos homens para misturar-se em vosso meio, a fim de lançar suspeitas sobre aqueles que são mais fracos; portanto, evitai-os cuidadosamente.

! Escrevestes sobre os artigos e documentos que estão escritos pelos crentes de Deus e os enviando para esta terra a fim de serem corrigidos. Este servo, em razão de uma mul-tidão de trabalhos e ocupações, não teve tempo algum para tratar deste assunto. Se esses artigos são lidos na assembleia espiritual de cada cidade na América, e sua impressão e distribuição forem analisadas e aprovadas pela assembleia, é aceitável. Esta permissão é concedida para que aquelas almas não fiquem desapontadas e se engajem em compor e imprimir documentos instrutivos.

MISERICÓRDIA E JUSTIÇA

A base estrutural do Reino de Deus está estabelecida sobre a justiça, equidade, misericórdia, compreensão e bondade para com todas as almas. Esforçai-vos, pois, de alma e cora-ção, para praticar o amor e a bondade para com o mundo da humanidade em geral, exceto para aquelas almas que sejam egoístas e insinceras. Não é aconselhável mostrar bondade a uma pessoa que seja um tirano, um traidor ou um ladrão,

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porquanto a bondade encoraja-a a tornar-se ainda pior e a não a desperta. Quando mais bondade mostrardes a um mentiroso, mais ele se julgará apto a mentir, pois pensará que você ignora, embora você o saiba, mas bondade extrema impedirá que você revele seu conhecimento.

REUNIÃO ENTRE ASSEMBLEIAS

A Reunião Espiritual de homens e a Reunião Espiritual de mulheres em Chicago estão, verdadeiramente, se esforçan-do para servir. Se eles se unirem, como devem, produzirão grandes resultados. Especialmente se as Reuniões Espirituais de Chicago se unirem com as de Nova York e se tornarem mutuamente fortalecidas, em pouco tempo a fragrância do jardim divino, que produz vida, perfumará todas as regiões.

A Reunião Espiritual de Consulta de Nova York deve manter-se em perfeita união e harmonia com a Reunião Espiritual de Consulta de Chicago, e o que elas, em comum acordo, decidirem publicar, sua publicação é aconselhável. En-tão a Reunião de Consulta deve enviar uma cópia para ‘Akká, a fim de que seja também aprovada aqui e então devolvida, para que então possa ser impressa e publicada.

Que as duas Reuniões Espirituais, de Chicago e Nova York, estejam em unidade e harmonia é muito importante, e quando uma Reunião Espiritual possa ser organizada em Washington de uma maneira adequada, essas duas reuniões devem também estar em unidade e harmonia com aquela nova.

É propósito de Deus que no Ocidente a união e harmo-nia possam aumentar dia a dia entre os amigos de Deus e as servas do Misericordioso. Até que isso seja realizado não pode ser alcançado qualquer progresso. E o meio mais eficaz

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de promover união e harmonia entre todos os amigos são as reuniões espirituais. Esta questão é muito importante, e é como um ímã que atrairá as confirmações divinas.

— citado em Bahá’u’lláh e a Nova Era, p. 177

Se a beleza deste Bem-Amado Divino – isto é, a unidade dos crentes – aparece no ornamento do Reino de Abhá, é certo que aqueles países irão, em curto tempo, tornar-se o Paraíso de Abhá e a luz da unidade e singularidade brilhará sobre o mundo inteiro do Ocidente. Estamos nos esforçan-do, de alma e coração, não descansamos nem de dia nem de noite, não temos um momento sequer de tranquilidade, para que possamos tornar o mundo da humanidade um espelho da unidade divina; quanto mais aos amados de Deus! E este desejo e esperança aparecem e brilham quando os verdadei-ros amigos de Deus se levantam e agem de acordo com os ensinamentos da Beleza de Abhá – que minha vida seja um sacrifício por Seus bem-amados! Um dos ensinamentos é que o amor e a fidelidade devem prevalecer nos corações para que os seres humanos possam ver o estranho como um amigo, um pecador como um companheiro íntimo, possam considerar os inimigos como aliados, considerar os adversários como amorosos camaradas, chamar seu carrasco de doados de vida, considerar os que rejeitam a fé como um crente, e o descrente uma pessoa fiel – isto é, os homens devem conduzir-se de tal forma que seja condizente com a condição de um crente, de alguém fiel, amigo e confidente. Se esta lâmpada brilhar de maneira adequada na assembleia do mundo, vocês verão que as regiões tornar-se-ão verdejantes e perfumadas e o mundo tornar-se-á um paraíso perfeito, a face da terra será transfor-mada em um maravilhoso jardim, o mundo será como um só lar, as diferentes nações terão uma condição comum, e os povos e nacionalidades do Oriente e do Ocidente tornar-se-ão

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uma única família. Espero que tal dia chegue logo e que tais luzes possam alvorecer, e tal semblante aparecer com toda a sua beleza.

! Ó meus queridos amigos! As Assembleias daquelas regiões devem ser ligadas umas às outras e manterem comu-nicação entre si. Até mesmo comunicarem-se com as Assem-bleias do Oriente, para que isso possa tornar-se um meio de grande unidade e concórdia.

O MASHRIQU’L-ADHKÁR

Você escreveu sobre a construção do Templo e a compra do terreno, ou que se encontrasse um lugar para ser a sede das reuniões dos crentes. Neste momento em que ‘Abdu’l-Bahá está imerso num oceano de calamidades, esta notícia O deixa alegre e feliz, e informa também que – assim Deus o permita – os amigos e as servas do Misericordioso estão pensando em servir ao Reino de Deus.

Quanto à construção do Templo: No momento, os crentes precisam tornar-se unidos para que o Templo possa ser logo construído em algum lugar. Pois se os crentes quiserem cons-truir o Templo em muitos lugares, ele não será completado em lugar algum; e como foi em Chicago que primeiro surgiu o plano de construção do Templo, sem dúvida ajudar os amigos de lá e cooperar com eles é mais nobre e uma necessidade. Então, quando for construído em um lugar, depois poderão ser construídos outros em muitos lugares. Se, para o presente, vocês prepararem e estabelecerem um local em Nova York, alugando-o, para ser um centro de reuniões para os crentes de Deus, é bem aceitável. Que assim Deus o permita, em todos os estados da América, no futuro, serão construídos templos com infinita beleza arquitetônica e arte, com proporções

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agradáveis e aparência atraente e formosura; especialmente em Nova York. Mas para o presente, vocês devem satisfazer-se com um lugar alugado.

! Ó amigos de ‘Abdu’l-Bahá e Seus colaboradores e companheiros no serviço ao Senhor das Hostes! Verdadei-ramente, o assunto maior e mais importante nestes dias é estabelecer um Mashriqu’l-Adhkár e fundar um Templo do qual as vozes dos louvores se ergam para o Reino do Majestoso Senhor. Bênçãos recaiam sobre os amigos por terem pensa-do fazer isso e mantêm a intenção de construir tal edifício, adiantando-se todos em oferecer suas riquezas para este grande propósito e esplêndido trabalho. Vocês logo verão os anjos das confirmações seguirem um após outro e as hostes de apoio aglomerando-se diante de vocês.

Quando o Mashriqu’l-Adhkár estiver pronto, quando as luzes dele emanarem, os retos estarão presentes dentro dele, as orações serão feitas com súplicas ao Reino misterioso, a voz da glorificação será erguida para o Senhor, o Supremo, então os crentes se regozijarão, os corações serão dilatados e plenos do amor do Deus Vivo e Eterno. As pessoas apressar-se-ão para adorarem naquele Templo celestial, as fragrâncias de Deus serão exaladas, os ensinamentos divinos estabelecidos nos corações, será o estabelecimento do Espírito na humani-dade; as pessoas ficarão mais firmes na Causa de seu Senhor, o Misericordioso. Louvores e bênçãos estejam com vocês.

Agora é chegado o dia no qual o edifício de Deus, o santuário divino, o templo espiritual, será construído na América! Rogo a Deus para ajudar os crentes confirmados para realizarem este grande serviço e com zelo total erigir esta poderosa estrutura que alcançará renome no mundo inteiro. O apoio de Deus estará com os crentes naquele distrito para que tenham sucesso em seu empreendimento, pois a Causa é

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grande, muito grande; e porque este é o primeiro Mashriqu’l-Adhkár naquele país e dele o louvor a Deus ascenderá ao Reino dos Mistérios e será ouvido o tumulto de Sua exaltação e saudações provindos do mundo inteiro.

Quem quer que se levante em serviço desse edifício será ajudado com grande poder provindo de Seu Reino Supremo e sobre ele descerão bênçãos espirituais e celestiais, as quais encherão seu coração de maravilhoso conforto e iluminarão seus olhos ao contemplarem o glorioso e eterno Deus!

! A contribuição que tu fizeste ao Templo é muito querida. O Templo é a maior estrutura do mundo da hu-manidade e tem muitas ramificações. Embora o Templo seja um local de adoração, com ele coexistirão um hospital, uma farmácia, a casa dos peregrinos, uma escola para os órgãos e uma universidade para o estudo das altas ciências. Todos os Templos estão conectados com essas cinco instituições. Espero que agora na América eles construam um Templo e gradual-mente adicionem a ele o hospital, a escola, a universidade, a farmácia e a casa dos peregrinos, com a maior eficiência e de forma completa. Eles devem tornar conhecidos aos crentes estes detalhes, para que possam dar-se conta de quão impor-tante o Templo é. O Templo não é somente um local para adoração; não, é perfeito em todos os sentidos.

! Tua carta chegou e o conteúdo trouxe boas-novas de que o terreno para o Templo foi comprado e também fala da reunião que foi realizada para tratar das necessidades para o Templo. Esta grande notícia gerou alegria e fragrância. Espero que os membros desta reunião tornar-se-ão os receptores da benevolência divina e sejam ajudados pelos poderes celestiais. Mas consultem com a Casa de Justiça de Chicago. Vocês to-dos precisam estar em perfeita unidade e harmonia até que,

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através dessa harmonia, vocês perpetuamente recebam ajuda do Reino de Deus.

Quanto aos membros desta reunião espiritual, você su-geriu que sejam selecionados de todas as reuniões espirituais de outras cidades da América. Inteiramente aprovo e estou muito feliz com este plano. Isso tornar-se-á causa de harmonia da Palavra em toda a América. Portanto, pede a cada reunião espiritual em outras cidades para que cada uma delas escolha um representante e o envie, e desses amigos selecionados com mais aqueles escolhidos de Chicago, estabeleçam uma nova reunião para proverem as necessidades do Templo. Se isso for estabelecido com perfeita harmonia e alegria, produzirá grandes resultados. Nesta nova reunião, especialmente para o estabelecimento do Templo, as mulheres também devem atuar como membros.

Transmita a todos os amigos divinos as boas-novas das infinitas bênçãos celestiais e diga a eles que as atenções do olhar da Providência estão abertas para eles, e a misericórdia e os favores estão descendo sobre eles.

! Tua carta detalhada foi recebida. Seu conteúdo indica que você viajou para várias cidades da América e visitou os amigos de Deus até chegar à Convenção geral em Chicago para a construção do Mashriqu’l-Adhkar. Em tua carta escre-veste com menção de louvores e elogios à iluminação daquela Convenção. Em verdade, digo, a Convenção dos delegados Bahá’ís em Chicago foi uma reunião celestial e confirmada pela Ajuda Divina.

O esplendor do Reino de Abhá brilhou e uma brisa espiritual refrescante era sentida, procedente da Providência divina.

Foi o fulgor dos raios do sol da Verdade que irradiava dos amigos reunidos naquela Assembleia iluminada com o maior

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amor, unidade e concórdia. As intenções de cada um deles foram reforçadas pelas confirmações divinas, o objetivo de cada um sendo servir a Causa de Deus, servidão no Limiar do Todo Poderoso e a construção do Mashriqu’l-Adhkar. Os resultados daquela Convenção no futuro terão um grande alcance e, mais importante, evidentes sinais tornar-se-ão manifestos. Como foi a primeira Convenção geral na Amé-rica, ela teve uma influência maravilhosa. A reunião daquela Assembleia iluminada, em tão curto espaço de tempo, seria impossível sem o poder do Convênio e Testamento divinos. O Convênio tem tão grande poder que deixa atônitas as mentes. Em toda região o sinal do poder do Convênio é aparente e manifesto.

Por exemplo, no Irã o fogo da revolução foi tão forte que todas as comunidades, governos e nações ficaram aflitos com tão severas provações; mas o poder do Convênio protegeu os amigos Bahá’ís a tal ponto que nessa turbulenta tempestade nenhum grão de pó caiu sobre eles, exceto em uma localidade, o que se tornou a causa da expansão da Religião de Deus e difusão da Palavra de Deus. Agora todos os partidos no Irã estão tentando imaginar como o povo de Bahá foi protegido e guardado. Louvado seja Deus que em Teerã e em todas as províncias do Irã foi erguido o Chamado de Deus, a Ensígnia do Convênio foi desfraldada, o brado de “Ya-Bahá’u’l-Abhá” foi ouvido, e a melodia do Reino de Abhá foi promulgada entre o povo de inteligência.

! Escreveste quanto à organização de um conselho para tratar da construção do Mashriqu’l-Adhkár. Esta noticia trou-xe muito espírito e fragrância para os nove delegados, enviados pelas diversas assembleias, reunidos naquela reunião e que consultaram sobre a construção do Mashriqu’l-Adhkár.

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! O Mashriqu’l-Adhkár é o assunto mais importante e o maior instituto divino. Considere como o primeiro instituto de Sua Santidade Moisés, depois de Seu êxodo do Egito, foi a “Tenda do Martírio” que Ele ergueu e que era o Templo itinerante. Foi uma tenda que eles ergueram no deserto, em qualquer parte que paravam, e o adoravam. Da mesma forma, após Sua Santidade o Cristo – que o espírito do mundo seja um sacrifício por Ele – o primeiro instituto para os discípulos foi um Templo. Eles planejaram uma igreja em cada país. Considere o Evangelho e a importância do Mashriqu’l-Adhkár tornar-se-á evidente.

! Por fim, espero que todos os amados de Deus, coleti-vamente, no continente da América, homens e mulheres, se esforcem dia e noite até que o Mashriqu’l-Adhkár seja erigido com a maior solidez e beleza.

O CENTRO COLETIVO DO REINO

Ele é Deus!Ó vós almas celestiais, filhos e filhas do Reino: Deus diz no Alcorão: “E segurai-vos todos à cadeia de

Deus e não vos dividais.” No mundo contingente há muitos centros coletivos, os

quais conduzem os filhos dos homens à associação e unidade. Por exemplo, o patriotismo é um centro coletivo; o naciona-lismo é um centro coletivo; a identidade de interesses é um centro coletivo; a aliança política é um centro coletivo; a união de ideais é um centro coletivo e a prosperidade do mundo da humanidade depende da organização e promoção de centros coletivos. Não obstante, todas as instituições acima são, na re-alidade, a matéria e não a substância, acidentais e não eternas, temporárias e não duradouras. Com o surgimento de grandes

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revoluções e sublevações todos esses centros coletivos irão se desfazer. Porém, o Centro Coletivo do Reino, incorporando as instituições e os ensinamentos divinos, é o Centro Coletivo eterno. Ele estabelece relação entre o Ocidente e o Oriente, organiza a unicidade do mundo humano e desintegra os ali-cerces da discórdia. Supera e engloba todos os demais centros coletivos. Assim como o raio de sol, dispersa por completo a escuridão que envolve todas as regiões, concede a verdadeira vida e produz a fulgência da iluminação divina. Através dos sopros do Espírito Santo, realiza milagres; o Oriente e o Ocidente abraçam-se, o Norte e o Sul tornam-se íntimos e associados, opiniões conflitantes e contenciosas desaparecem, propósitos antagônicos são postos de lado, a lei da luta pela sobrevivência é revogada e o pálio da união da humanidade é erguido no ápice do globo, projetando sua sombra sobre todas as raças humanas. Por conseguinte, o verdadeiro Centro Coletivo é o corpo dos ensinamentos divinos, o qual abrange todos os graus e envolve todas as relações universais e leis necessárias à humanidade.

Ponderai! Os povos do Oriente e do Ocidente achavam-se na maior estranheza. Em que alto grau de conhecimento mú-tuo e entrosamento eles agora se encontram! Quão afastados estão os habitantes da Pérsia dos países remotos da América! Observai agora, quão grande tem sido a influência do poder celestial que reduziu a distância de milhares de quilômetros a um passo! Como diversas nações que não mantinham relações ou afinidade umas com as outras estão agora unidas e harmo-nizadas entre si mediante essa força divina. Verdadeiramente a Deus pertence o poder tanto no passado como no futuro! E, em verdade, Deus é poderoso sobre todas as coisas!

Considerai as flores de um jardim! Apesar de se diferen-ciarem pela sua espécie, pela sua cor e pela sua forma, uma vez que sejam regadas pelas chuvas de uma só primavera,

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revivificadas pelos sopros de uma mesma brisa, revigoradas com os raios de um mesmo sol, esta diversidade lhes aumenta o encanto e a beleza. Que desagradável seria aos olhos se todas as flores e plantas, folhas e frutos, ramos e árvores deste jardim fossem da mesma forma e cor! A diversidade de coloração, forma e formato enriquece e embeleza o jardim e engran-dece o seu efeito. De forma semelhante, quando as nuanças peculiares do pensamento, do temperamento e do caráter são combinadas através do poder e influência de um agente central, a beleza e glória da perfeição humana revelam-se e se tornam manifestas. Nada, a não ser a potência celestial do Verbo de Deus, o qual rege e transcende a realidade de todas as coisas, é capaz de harmonizar os pensamentos, sentimentos, ideias e convicções divergentes dos filhos dos homens.

Portanto, os crentes em Deus em todas as Repúblicas da América devem, através do poder divino, tornar-se a causa da promoção dos ensinamentos celestiais e do estabelecimento da unidade da humanidade. Cada uma dessas destacadas almas deve levantar-se e espalhar o sopro da vida por todas as partes da América, conferindo às pessoas um novo espírito e batizando-as com o fogo do amor de Deus, com a água da vida e com os sopros do Espírito Santo, a fim de que o seu segundo nascimento venha a se realizar. Pois está escrito no Evangelho: “O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito.”

Portanto, Ó vós crentes em Deus nos Estados Unidos e Canadá! Selecionai pessoas de destaque, ou melhor, que elas próprias, uma vez desprendidas do repouso e do conforto do mundo, levantem-se e viajem através do Alasca, da República do México e, ao sul do México, nas Repúblicas da América Central, tais como Guatemala, Honduras, El Salvador, Ni-carágua, Costa Rica, Panamá e Belize; através das grandes Repúblicas da América do Sul, tais como Argentina, Uruguai,

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Paraguai, Brasil, Guiana Francesa, Guiana Holandesa, Guiana Inglesa, Venezuela, Equador, Peru, Bolívia e Chile; também pelo grupo de ilhas das Índias Ocidentais, tais como Cuba, Haiti, Porto Rico, Jamaica e São Domingo; pelo grupo das Antilhas Menores, as ilhas das Bahamas e as Ilhas Bermudas; de modo igual as ilhas ao leste, oeste e sul da América do Sul tais como Trinidad, Ilhas Falkland, Ilhas Galápagos, Juan Fernandez e Tobago. Visitai especialmente a cidade da Bahia, na costa oriental do Brasil. Em anos passados esta cidade foi batizada pelo nome de BAHIA e isso foi, sem dúvida, através da inspiração do Espírito Santo.

Consequentemente, os crentes em Deus devem demons-trar o maior esforço, levar a melodia divina por aquelas regiões, promulgar os ensinamentos celestiais e espargir sobre todos, o espírito da vida eterna, de forma que essas repúblicas venham a se tornar tão iluminadas com os esplendores e as fulgências do Sol da Realidade, que possam se tornar objetos de louvor e elogios dos demais países. Deveis semelhantemente dar atenção especial à república do Panamá, porquanto naquele ponto o Ocidente e o Oriente se acham unidos pelo canal do Panamá e também por se encontrar situado entre dois grandes oceanos. Aquele local será de grande importância no futuro. Os ensinamentos, uma vez lá estabelecidos, unirão o Oriente e o Ocidente, o Norte e o Sul.

Portanto, a intenção deve ser pura, os esforços exaltados e enobrecidos, para que possais estabelecer afinidade entre os corações do mundo humano. Esse propósito glorioso não poderá ser estabelecido exceto mediante a promoção dos ensinamentos divinos os quais são os fundamentos das santas religiões.

Considerai o quanto as religiões de Deus serviram ao mundo da humanidade! Como a religião da Tora veio trazer glória, honra e progresso à nação Israelita! Como os sopros

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do Espírito Santo de Sua Santidade Cristo criaram afinidade e união entre comunidades divergentes e famílias beligerantes! Como o poder sagrado de Sua Santidade Maomé tornou-se o meio de união e harmonia das tribos contenciosas e dos diversos clãs da Península Arábica – a tal ponto que mil tribos foram fundidas em uma só; as lutas e a discórdia foram elimi-nadas; todas elas, unificadas e em harmonia, empenharam-se no avanço da cultura e da civilização e foram assim libertadas dos mais baixos níveis de degradação, erguendo-se às alturas de glória eterna! Será possível encontrar neste mundo fenomenal um Centro Coletivo maior que este? Em relação a este Centro Coletivo divino, o centro coletivo nacional, o centro coletivo patriótico, o centro coletivo político e o centro coletivo cul-tural e intelectual são como brincadeiras de criança!

Esforçai-vos, então, a fim de que o Centro Coletivo das sagradas religiões – para cuja implantação todos os Profetas se manifestaram e que nada mais é senão o espírito dos ensinamentos divinos – seja difundido por todas as partes da América, de modo que cada um de vós possa brilhar no horizonte da realidade como a estrela matinal, a iluminação divina venha a superar a escuridão da natureza e o mundo da humanidade se torne iluminado. Esta é a maior tarefa! Se nela fordes confirmados, este mundo tornar-se-á um novo mundo, a superfície desta terra tornar-se-á um deleitável paraíso e instituições eternas serão fundadas. ...

Aquele que viajar a diferentes lugares para ensinar, que leia esta súplica nas montanhas, no deserto, na terra e no mar:

“Ó Deus! Ó Deus! Tu vês minha fraqueza, minha hu-mildade e submissão entre Tuas criaturas; no entanto, con-fiando em Ti, levantei-me para difundir Teus ensinamentos entre Teus servos fortes, dependendo de Teu poder e Tua grandeza.

Ó Senhor! Sou uma ave de asas partidas e desejo voar

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nesse Teu espaço ilimitado. Como me será possível realizar isto senão através de tua bondade e graça, Tua confirmação e ajuda?

Ó Senhor! Tem compaixão de minha fraqueza e fortalece-me com Teu poder!

Ó Senhor! Tem compaixão de minha incapacidade e ajuda-me através de Teu poder e Tua realeza!

Ó Senhor! Se os sopros do Espírito Santo confirmarem a mais fraca das criaturas, esta atingirá tudo o que desejar. Em verdade, Tu ajudaste Teus servos no passado e, embora fossem as mais fracas de Tuas criaturas, os mais humildes de Teus servos e os mais insignificantes dos que vivem sobre a terra, através de Tua sanção e Teu poder, tiveram precedência sobre os mais gloriosos dentre Teu povo e os mais nobres da humanidade. Embora anteriormente fossem como mariposas, tornaram-se falcões reais e, ainda que fossem outrora como gotas, através de Tuas dádivas e Tua misericórdia vieram a ser mares. Através de Teu favor supremo tornaram-se estrelas brilhando no horizonte da orientação, aves cantando nos jardins de rosas da imortalidade, leões rugindo nas florestas do conhecimento e da sabedoria e baleias mergulhando nos oceanos da vida.

Em verdade, Tu és o Clemente, o Poderoso, o Grande, o mais Misericordioso dos Misericordiosos!”

— Epístolas do Plano Divino, pp. 103-110

BAHÁ’U’LLÁH O SENHOR DAS HOSTES

Ele é Deus!Ó vós Apóstolos de Bahá’u’lláh! Que minha vida seja um

sacrifício a vós!A Pessoa Abençoada do Prometido é denominada no

Livro Sagrado como o Senhor das Hostes – os exércitos ce-

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lestiais. Exércitos celestiais significam aquelas almas que são inteiramente libertas do mundo humano, transformadas em espíritos celestiais e tornaram-se anjos divinos. Tais almas são os raios do Sol da Realidade que iluminarão todos os continentes. Cada uma está segurando uma trombeta na mão, insuflando o sopro de vida sobre todas as regiões. Estão libertas das qualidades humanas e dos defeitos do mundo da natureza, caracterizam-se pelos atributos de Deus e são atraídas pelas fragrâncias do Misericordioso. Assim como os apóstolos de Cristo que estavam plenos d’Ele, estas almas também se tornaram plenas de Sua Santidade Bahá’u’lláh; isto é, o amor de Bahá’u’lláh dominou todo órgão, parte e membro de seus corpos, de modo a não se deixarem influenciar pelas instigações do mundo humano.

Estas almas são os exércitos de Deus e os conquistadores do Oriente e do Ocidente. Se qualquer um deles volver sua face em alguma direção e convocar os povos ao Reino de Deus, todas as forças ideais e confirmações divinas se apres-sarão ao seu auxílio e apoio. Ele contemplará todas as portas abertas e todas as sólidas fortificações e inexpugnáveis castelos demolidos. Completamente sozinho atacará os exércitos do mundo, derrotará as alas da direita e da esquerda das hostes de todos os países, atravessará as fronteiras das legiões de todas as nações e dirigirá sua investida ao próprio centro dos poderes da terra. Este é o significado das Hostes de Deus.

Qualquer alma dentre os seguidores de Bahá’u’lláh que venha a atingir esta condição, será conhecida como o Após-tolo de Bahá’u’lláh. Portanto, esforçai-vos, com coração e alma, para que possais atingir esta sublime e elevada posição, estabelecer-vos no trono de glória eterna e coroar vossas cabe-ças com o diadema brilhante do Reino, cujas joias cintilantes resplandecerão pelos séculos e ciclos.

Ó vós bondosos amigos! Elevai vossa magnanimidade e

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alçai voo em direção ao ápice do céu, de modo que dia após dia vossos abençoados corações possam tornar-se iluminados mais e mais, através dos raios do Sol da Realidade, isto é, Sua Santidade Bahá’u’lláh; a cada instante os espíritos possam ob-ter uma nova vida, e a escuridão do mundo da natureza possa ser inteiramente dissipada; deste modo podeis vos tornar a encarnação da luz e a personificação do espírito, inteiramente alheios às coisas sórdidas deste mundo e atentos às questões do mundo divino.

Contemplai os portais que Bahá’u’lláh abriu diante de vós! Considerai quão excelsa e sublime é a condição a que fostes destinado atingir; quão incomparáveis são os favores com os quais fostes dotados. Fôssemos nos inebriar com este cálice, a soberania deste globo terrestre tornar-se-ia mais ínfimo, à nossa estima, que brinquedo de criança. Fossem eles colocar na arena a coroa do governo do mundo inteiro, e convidar cada um de nós a aceitá-la, indubitavelmente não condescen-deríamos e recusaríamos aceitá-la.

Atingir esta condição suprema é, contudo, condicionada à realização de certas condições:

A primeira condição é a firmeza no Convênio de Deus. Pois o poder do Convênio irá proteger a Causa de Bahá’u’lláh das dúvidas do povo do erro. É a cidadela fortificada da Causa de Deus e o sólido pilar da religião de Deus. Hoje nenhum poder conseguirá manter a unidade do mundo bahá’í exceto o Convênio de Deus; caso contrário, assim como um grandioso temporal, divergências envolverão o mundo bahá’í. É evidente que o cerne da unidade do mundo da humanidade é o poder do Convênio e nada mais. Se o Convênio não tivesse sido estabelecido nem revelado pela Pena Suprema e não tivesse o Livro do Convênio, assim como os raios do Sol da Realidade, iluminado o mundo, as forças da Causa de Deus teriam sido totalmente dispersadas e certas almas, prisioneiras de suas

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próprias paixões e lascívias, teriam apanhado um machado e cortado a raiz desta Árvore Abençoada. Cada pessoa teria forçado seu próprio desejo e cada indivíduo manifestado sua própria opinião! Não obstante este grandioso Convênio, algumas almas negligentes, avançando com suas armas no campo de batalha, pensaram que porventura poderiam en-fraquecer as bases da Causa de Deus: mas, louvado seja Deus, todos sofreram desgostos e prejuízos, e em breve se acharão em atroz desespero. Portanto, no início os crentes devem firmar seus passos no Convênio de forma que as confirma-ções de Bahá’u’lláh os cerquem de todos os lados, as legiões do Concurso Supremo possam se tornar seus apoioadores e auxiliadores, e as exortações e conselhos de ‘Abdu’l-Bahá, tais como figuras gravadas em pedras, tornem-se permanentes e indeléveis nas tábuas de todos os corações.

A segunda condição é: amor e amizade entre os crentes. Os amigos divinos devem ser atraídos e enamorados uns aos outros e estar sempre prontos e desejosos de sacrificar suas próprias vidas uns pelos outros. Se uma alma dentre os crentes encontrar uma outra, deveria ser como se alguém sedento com lábios ressecados chegasse à fonte da água da vida, ou um amante encontrasse sua verdadeira amada. Pois, uma das maiores sabedorias divinas relativas ao advento dos santos Manifestantes é que: As almas possam vir a conhecer umas às outras e se tornar íntimas entre si; o poder do amor de Deus possa torná-las as ondas de um só mar, as flores de um só jardim, e as estrelas do mesmo céu. Esta é a sabedoria do aparecimento dos santos Manifestantes! Quando a maior das dádivas se revelar nos corações dos crentes, o mundo da natureza será transformado, a escuridão do ser contingente desaparecerá e a iluminação celestial será atingida. Então o mundo inteiro se tornará o Paraíso de Abhá e cada um dos

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crentes em Deus se transformará numa árvore abençoada a produzir frutos maravilhosos.

Ó vós amigos! Amizade, amizade! Amor, amor! Unida-de, unidade! – a fim de que o poder da Causa Bahá’í possa surgir e se tornar manifesta no mundo da existência. Meus pensamentos estão direcionados a vós e meu coração se agita dentro de mim mediante vossa menção. Se soubésseis como minha alma arde com vosso amor, tão grande felicidade inundaria vossos corações que vos tornaríeis enamorados uns pelos outros.

A terceira condição é: Instrutores devem viajar continu-amente a todas as partes do continente, ou melhor, a todas as partes do mundo, mas devem fazê-lo como ‘Abdu’l-Bahá, que viajou pelas cidades da América. Ele estava santificado e livre de todo apego e na máxima simplicidade. Assim como disse Sua Santidade Cristo: “... sacudi a poeira dos vossos pés.” (Mateus 10:14) Observastes que enquanto na América, muitas almas, com máxima súplica e solicitude, desejavam ofertar-lhe alguns presentes, mas este servo, consoante as exortações e admoestações da Abençoada Perfeição, nunca aceitou nada, ainda que em certas ocasiões estivesse na mais precária das condições. Mas por outro lado, se uma alma por amor a Deus, espontaneamente e com pureza de intenção, deseja fazer uma contribuição (para despesas do instrutor), o instrutor poderá aceitar uma pequena quantia para deixar o contribuinte feliz, mas deve viver no maior contentamento.

O propósito é este: O motivo do instrutor deve ser puro, seu coração independente, seu espírito atraído, seu pensamen-to em paz, sua resolução firme, sua magnanimidade elevada e uma tocha acesa no amor de Deus. Se ele atingir tal con-dição, seu sopro santificado irá influenciar até a pedra; caso contrário nenhum resultado haverá. Enquanto uma alma não se aperfeiçoar, como poderá eliminar os defeitos dos outros?

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A menos que esteja desprendida de tudo salvo Deus, como pode ensinar desprendimento aos outros?

Em suma, ó vós crentes em Deus! Esforçai-vos para que possais manter todos os meios para a promulgação da religião de Deus e a difusão de Suas fragrâncias.

Entre outras coisas é a realização das reuniões de ensino, de modo que estas almas abençoadas e os mais velhos entre os crentes possam reunir os jovens do amor de Deus em escolas de instrução e ensinar-lhes todas as provas divinas e os irre-futáveis argumentos, explicar e elucidar a história da Causa, interpretando inclusive as profecias e provas que estão regis-tradas e preservadas nos livros e epístolas divinos a respeito da manifestação do Prometido, a fim de que os mais jovens possam ter perfeito conhecimento em todos esses níveis.

Do mesmo modo, sempre que possível, um comitê deve ser organizado para a tradução das Epístolas. Almas sábias que dominam e estudam perfeitamente o persa, o árabe e outros idiomas estrangeiros, ou que conhecem um dos idiomas es-trangeiros, devem começar a traduzir Epístolas e livros que contenham as provas desta Revelação, publicando estes livros e distribuindo-os pelos cinco continentes do globo.

De modo semelhante, a revista Star of the West deve ser publicada com a máxima regularidade, porém o seu conteú-do deve ser a promulgação da Causa de Deus, de modo que tanto o Oriente e como o Ocidente, possam ser informados dos acontecimentos mais importantes.

Em suma, em todas as reuniões, sejam públicas ou pri-vadas, nada deve ser discutido exceto aquilo que está em consideração, e todos os artigos girem em torno da Causa de Deus. Conversas promíscuas não devem ser permitidas e disputas são totalmente proibidas.

Os instrutores que viajam por diferentes partes devem saber o idioma do país em que entram. Por exemplo, uma

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pessoa que é fluente no idioma japonês pode viajar ao Japão, ou uma pessoa que é fluente no idioma chinês pode apressar-se à China e assim por diante.

Em suma, após essa guerra mundial, as pessoas obtiveram extraordinária capacidade para ouvir atentamente os ensina-mentos divinos, pois a sabedoria desta guerra é a seguinte: Ficará claro a todos que o fogo da guerra consome o mundo, enquanto que os raios da paz o iluminam. Um é morte e o outro é vida; isto é extinção e aquilo imortalidade; um é su-prema calamidade e o outro a maior graça; isto é escuridão, aquilo é luz; isto é humilhação eterna e aquilo glória eterna; um é o destruidor das bases do homem e o outro é o criador da prosperidade da raça humana.

Por conseguinte, um certo número de almas deve se levantar e agir de acordo com as condições supracitadas, apressando-se a todas as partes do mundo, especialmente da América para Europa, África, Ásia e Austrália, e viajar pelo Japão e pela China. Igualmente, instrutores e crentes devem viajar da Alemanha para os continentes da América, África, Japão e China; em resumo devem viajar por todos os con-tinentes e ilhas do globo. Desse modo, em um curto prazo de tempo, os mais maravilhosos resultados serão alcançados, a bandeira da paz universal tremulará no ápice do mundo e as luzes da unidade do mundo da humanidade iluminarão o universo.

Em suma, ó vós crentes em Deus! O texto do Livro divi-no é o seguinte: Se duas almas brigam e se desentendem por causa de um dos assuntos divinos, divergindo e disputando, ambas estão erradas. A sabedoria desta incontroversa lei de Deus é a seguinte: Que entre duas almas em meio aos crentes em Deus, nenhuma contenda ou disputa deve surgir; que eles conversem um com outro com infinito amor e amizade. Caso apareça o menor traço de controvérsia, devem guardar

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silêncio e ambas as partes devem encerrar suas discussões, mas perguntando a realidade da questão ao Intérprete. É este o mandamento irrefutável!

— Epístolas do Plano Divino, pp. 49-57

A ÚLTIMA EPÍSTOLA DO MESTRE À AMÉRICA

Ó vós amigos de Deus! ‘Abdu’l-Bahá pensa em vós e vos menciona dia e noite, porque os amigos de Deus lhe são queri-dos. Todo dia, à alvorada, suplico ao Reino de Deus, pedindo que recebais abundantemente os sopros do Espírito Santo, de modo a vos tornardes velas brilhantes, guiando os outros com sua luz e dissipando a escuridão do erro. Assegurai-vos de que as confirmações do Reino de Abhá vos hão de atingir continuamente.

Através do poder da primavera divina, das chuvas que jorram das nuvens celestes, e do ardor do Sol da Realidade, a Árvore da Vida está principiando a crescer. Dentro em breve, haverá de produzir botões, folhas e frutos, e estender sua sombra sobre Oriente e Ocidente. Esta Árvore da Vida é o Livro do Convênio.

Na América, nestes dias, ventos severos cercam a Lâmpa-da do Convênio, na esperança de que esta Luz brilhante se extinga e esta Árvore da Vida seja desarraigada. Certas almas fracas, instáveis, maliciosas e ignorantes, abaladas pelo terre-moto do ódio e da animosidade, empenharam-se em eliminar o Convênio e Testamento Divino e em tornar lamacenta a água límpida, a fim de poderem nela pescar. Levantaram-se contra o Centro do Convênio, assim como fizera o povo do Bayán contra a Abençoada Beleza, a todo momento pronun-ciando uma calúnia. Todo dia, procuram eles um pretexto e secretamente fazem surgir dúvida, afim de que o Convênio de Bahá’u’lláh seja completamente aniquilado na América.

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Ó amigos de Deus! Despertai, despertai; sede vigilantes, sede vigilantes! Sua Santidade, o Báb, fez um Convênio para Bahá’u’lláh com todo o povo do Bayán, para que no dia em que surgisse “Aquele a Quem tornará manifesto” – e o esplendor da Luz de Bahá’u’lláh, eles acreditassem e estivessem seguros, levantassem em serviço e promulgassem a Palavra de Deus. Mais tarde o povo do Bayán, como Mirzá Yahyá e muitos outros, insirgiram-se contra a Abençoada Beleza, inventaram toda sorte de calúnias, criaram dúvidas na mente do povo bem como sobre os Livros de Sua Santidade o Báb – que estavam cheios de referências à “Aquele a Quem Deus tornará manifesto” – tudo tentando provar ser Bahá’u’lláh falso. Diariamente escreviam e espalhavam um panfleto contra Bahá’u’lláh, causando problemas e perplexidade entre o povo; eles infligiram a maior injúria e crueldade, embora se considerassem firmes no Convênio de Sua Santidade o Báb. Mas quando a luz do Convênio de Sua Santidade, o Báb, iluminou o universo, então todas as almas fiéis e sinceras foram libertadas da escuridão da violação do povo do Bayán e brilharam como lâmpadas incandescentes.

Bahá’u’lláh, em todas as Mensagens e Epístolas, proibiu os amigos sinceros e firmes de se associarem e manterem amizade com os violadores do Convênio de Sua Santidade, o Báb, dizendo que ninguém devia chegar perto deles por-que seu hálito era como o veneno de uma serpente que mata instantaneamente.

Em “Palavras Ocultas”, Ele diz: “Estima a companhia dos justos, mas afasta tanto a mente como as mãos da companhia dos maldosos.”

Dirigindo-se a um dos amigos, Ele disse: “É claro para vós que em breve Satán, em traje humano, chegará àquela terra e tentará enganar os amigos da Abençoada Beleza através de tentações que despertem os desejos do ego, fazendo com

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que eles sigam os passos de Satán para longe do caminho reto e glorioso, e os impeçam de atingir a Praia Abençoada do Rei da Unidade. Esta é uma informação oculta sobre a qual temos informado os escolhidos para que eles não sejam privados de sua condição de dignidade ao se associarem com as incorporações do ódio. Portanto, incumbe a todos os ami-gos de Deus evitar contato com qualquer pessoa nas quais sintam a emanação de ódio pela Beleza Gloriosa de Abhá, embora ela seja capaz de citar todas as Elocuções Celestiais e apegar-se a todos os Livros.” Ele continua – Glorioso seja Seu Nome! – “Protejei-vos, com toda a vigilância, para que não sejais enredados pela serpente da decepção e fraude.” Este é o conselho da Pena do Destino.

Em outra mensagem, Ele diz: “Portanto, evitar essas pes-soas será o caminho mais seguro para alcançar o bel-prazer divino; porque seu hálito é infeccioso como um veneno.”

Em outra Epístola, Ele diz: “ Ó Kazim, fecha teus olhos para o povo do mundo; bebe da água do conhecimento daqueles que seguram a taça celestial, e não dê ouvidos às afirmativas infundadas das manifestações de Satán, porque as manifestações de Satán estão ocupando hoje os postos de observação do caminho glorioso de Deus, e procurando afastar as pessoas por todos os meios possíveis de decepção e ardis. Não demorará para que testemunhes o afastamento do povo do Bayán da Manifestação do Misericordioso.”

Em outra Epístola, Ele diz: “Esforçai-vos ao máximo para vos protegerdes, porquanto Satán aparece em diferentes roupagens e apela a cada um de acordo com as próprias con-dições da pessoa, até tornar-se igual a ela — então deixa-lá-á sozinha.”

Ainda em outra Epístola, Ele diz: “Evitai qualquer homem no qual perceberdes inimizade para com este Servo, embora ele possa surgir em traje de religiosidade dos primeiros e dos

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últimos povos, ou possa levantar-se para adoração dos dois mundos.”

Em outra Epístola, Ele diz: “Ó Mahdi! Fiqueis informados destas elocuções e evitai as manifestações do povo do inferno, o lugar de aparecimento dos Nimrods, o lugar de nascimento dos Fariseus, a fonte do Tagut, e dos advinhos.”

Novamente, Ele diz: “Dize, ó meus amigos e meus puros! Ouvi a Voz deste Amado Prisioneiro nesta Maior Prisão. Se sentis em qualquer homem o mínimo que se possa perceber do hálito de violação, evitai-o e mantende-vos longe dele.” Então, diz: “Verdadeiramente, eles são manifestações de Satán.”

! Em outra Epístola, Ele diz: “E volvei vossas faces para o Semblante Maior, pois não demorará para que os odores das pessoas malvadas irão passar por essas regiões. Com a graça de Deus, sereis protegidos durante esses dias.”

No capítulo 18 do Evangelho de Mateus, versos 6 a 9, Sua Santidade, o Cristo, diz: “Mas, qualquer que escandalizar um destes pequeninos que creem em Mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mo de azenha, e se submergisse na profundeza do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos, porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem! Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o e lança-o para longe de ti: melhor te é entrar na vida coxo, ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno.”

E no capítulo 21, verso 38 do Evangelho de Mateus, Ele diz: “Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo e apoderemo-nos de sua herança. E, lançando mão dele, o arrastaram para fora da vinha, e o mataram.”

Também no capítulo 22, versículo 14 do Evangelho de

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Mateus, Ele diz: “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.”

No Escritos Sagrados de Sua Santidade, Bahá’u’lláh, em mil lugares pelo menos, os violadores do Convênio são abo-minados e condenados. Algumas dessas passagens celestiais serão agora mencionadas.

Em síntese, todos os amigos na América sabe que os au-tores desta sedição – a saber, os violadores do Convênio – são pessoas cujas intenções são conhecidas de todos os amigos. No entanto, ó Deus glorioso, eles são enganados por eles!

Louvado seja Deus, vocês sabem com clareza perfeita que Sua Santidade, o Cristo, foi extremamente bondoso e amoroso, ainda assim houve pessoas como Judas Iscariote que – por suas próprias ações – afastaram-se de Cristo. Portanto, que culpa poderia ser imputada a Cristo? Agora o Nakazene diz que ‘Abdu’l-Bahá é despótico, expulsa algumas pessoas e as excomunga como faz o Papa. Isso de forma alguma é verdade! Qualquer pessoa que deixa (a Causa), o faz devido suas próprias ações, intrigas e tramas maldosas. Se tal obje-ção é levantada contra ‘Abdu’l-Bahá, elas devem também ser imputadas a Bahá’u’lláh, o Qual, com decisão inconfundível e conclusiva, proibiu os amigos de manterem relações e fa-miliaridade com os violados do povo do Bayán.

Súplica! Ó Senhor do Convênio! Ó Estrela luminosa do mundo! O perseguido ‘Abdu’l-Bahá caiu nas mãos de pessoas que têm a aparência de cordeiros mas na realidade são lobos ferozes; elas exercem toda sorte de opressão, esforçam-se para destruir a base do Convênio, -- e ainda se dizem bahá’ís. Eles atacam a própria raíz da Árvore do Convênio --- e se contam como perseguidos – exatamente como fez o povo do Bayán que rompeu o Convênio de Sua Santidade, o Báb, e de seis di-ferentes direções atiraram setas de difamação e calúnia contra Teu Corpo Sagrado. Apesar desta grande opressão, alegavam

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serem oprimidos. Agora, este Servo de Teu Limiar também caiu nas mãos dos opressores. A toda hora eles concebem novas intrigas e mentiras, e apresentam novas calúnias.

Yá-Baha’u’l-Abhá! Protege a Fortaleza de Tua Causa desses ladrões, e salvaguarda as lâmpadas do Reino desses ventos malévolos!...

Yá-Bahá’u’l-Abhá! ‘Abdu’l-Bahá nem por um momento descansou antes de haver erguido Tua Causa e feito flutuar sobre o mundo o Estandarte do Reino de Abhá. Agora se levantaram algumas pessoas com intrigas e más intenções para espezinhar esta bandeira na América, mas minha espe-rança está em Tuas confirmações. Não Me deixes sozinho, abandonado e oprimido! Como prometeste verbalmente e por escrito, que irias proteger esta ovelha no pasto de Teu amor dos ataques das hostes do ódio e da inimizade, e que Tu salvaguardarias este perseguido rebanho das garras dos lobos ferozes, -- espero agora pelo aparecimento de Tuas graças e a realização de Tua promessa definitiva. Tu és o Verdadeiro Protetor, e Tu és o Senhor do Convênio! Portanto, protege esta Lâmpada, que tu acendeste, dos ventos impetuosos.

Yá-Baha’u’l-Abhá! Renunciai ao mundo e a seu povo, estou com o coração partido devido aos infiéis, e sinto-me cansado. Na gaiola deste mundo, bato as asas como um pás-saro assustado e anseio voar para Teu Reino.

Yá-Baha’u’l-Abhá! Faze-me beber da taça do sacrifício, e liberta-me! Livra-me dessas dificuldades, privações, aflições e aborrecimentos! Tu és o Auxiliador, o que ajuda, o protetor, aquele que verdadeiramente protege!

Agora, alguns dos escritos, orações e versículos da Abenço-ada Beleza serão mencionados, nos quais é proibida qualquer associação com os rompedores do Convênio. No “Iranian Commune”, Ele diz:

“Protege este Servo das dúvidas das pessoas que se afasta-

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ram de Ti e estão privadas do mar de Teu conhecimento. Ó Deus! Ó Deus! Protege este servo através de Tua misericórdia e generosidade do mal de Teus inimigos que violaram Teu Convênio e Testamento.”

Em outro lugar, Ele diz: “Ó Meu Deus e Alvo de Minha Vida! Protege este fraco com Tua mão Poderosa da voz de Naegh.”

Diz, também: “Tu consideraste alguém que odeio como sendo teu amado, e Meu inimigo como teu amigo.”

Diz, ainda: “A companhia dos maus aumenta as aflições, e a associação com os fiéis remove a ferrugem do coração. Aquele que deseja associar-se com Deus, que se associe com Seus amigos; e aquele que deseja ouvir as Palavras de Deus, que ouça as palavras de Seus escolhidos.”

São Suas palavras também: “Não vos associeis com os maus, porque a companhia deles muda a luz da vida em fogo do remorso. Se pedis as bênçãos do Espírito Santo, associai-vos com os puros, porque eles beberam do cálice eterno das mãos do Copeiro da eternidade.” Disse também: “A maior degradação é deixar a Sombra de Deus e entrar sob a sombra de Satán.”

Disse também: “Ó Vós servos! Nada existe neste coração salvo a luz do esplendor da alvorada da Reunião, e Ele nada fala a não ser absoluta verdade de seu Senhor. Portanto, não deveis seguir o ego; não rompais com o Convênio de Deus nem violeis Seu Testamento. Agi com perfeita firmeza e per-sistência, e com o coração, alma e língua volvei-vos para Ele, e não sejais dos irrefletidos.”

E diz ainda: “Vós esquecestes do Convênio de Deus e violastes Seu Testamento.”

E novamente diz: “Se alguém chegar até vós com o livro do maldoso, dai as costas a ele.”

“Entre o povo encontram-se aqueles que romperam com

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o Convênio, e entre eles encontram-se também aqueles que seguiram o que foi ordenado por Quem tudo sabe, o Sábio. Minha aflição não decorre de Meu aprisionamento e perse-guição, ou o que me sucede de ações de Meus servos rebeldes – mas das ações daqueles que se dizem companheiros deste perseguido, e cometem entre o povo aquilo que é degradante aos olhos de Deus. Em verdade, eles são dos sediciosos.

Falando, da mesma forma, dos violadores do Convênio, Ele diz: “Tu fizestes os púlpitos para Te mencionar, para proclamar Tua Palavra e manifestar Tua Causa, e nós subi-mos neles para proclamar o rompimento de Teu Convênio e Testamento.”

Igualmente, diz: “Tomai o que foi ordenado para vós e evitai aqueles que romperam com o Convênio e Testamento de Deus, pois, eis! Eles são do povo do erro.” Novamente, diz: Aqueles que romperam com o Convênio de Deus, apesar do que Ele determinou, e se afastaram, esses são o povo do erro diante do mais Opulento, o Exaltado.

E diz: “Aqueles que foram fiéis ao Convênio de Deus são os mais elevados aos olhos do Mais Augusto Senhor. Aqueles que se tornaram negligentes são do povo do fogo aos olhos de Teu Senhor, o Bem Amado, o Independente.”

E da mesma forma, diz: “Abençoado é o servo, ou a serva, que crê; e ai dos politeístas que violaram o Convênio de Deus e Seu Testamento, e se desviaram do Caminho Reto.”

Diz ainda: “Eu imploro que Tu não me prives daquilo que Tu possuis, ou daquilo que ordenaste para Teus escolhidos, aqueles que não romperam com Teu Convênio e Testamento. Dize! Morre com teu ódio! Em verdade, Ele veio através de Quem os pilares do mundo foram abalados e devido a Quem os pés tremeram – salvo para aqueles que não romperam com o Convênio, mas que seguiram o que Deus revelou em Seu Livro.”

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Diz, também: “O Concurso Supremo irá orar por aque-les que estão adornados com as vestes da fidelidade entre o céu e a terra; mas aqueles que rompem com o Convênio são abominados pelo céu e pela terra.”

Diz, também: “Segurai-vos àquilo que vos foi revelado, com um poder superior ao das mãos dos descrentes que violaram o Convênio de Deus e Seu Testamento, e que se afastaram de Seu Semblante.”

Diz, ainda: “Ó Yahya! Verdadeiramente, o Livro de Deus já veio! Toma-o com um poder que procede de Nós e não sigais aqueles que romperam com o Convênio de Deus e Seu Testamento, aqueles que negaram o que havia sido revelado pelo Poderoso, o Que Tudo Sabe.”

Da mesma forma, diz: “Acordei esta manhã, ó meu Deus, à sombra de Tua grande misericórdia e tomei, com Teu poder, a pena para Te mencionar com tal menção que será uma luz para o puro, e fogo para o malévolo que violou Teu Convênio, negou Teus Versículos e colocou de lado o Kawther da vida que surgiu a Teu comando e que foi revelado pelo dedo de Tua vontade.”

Aqui, em uma Epístola a ‘Abdu’l-Bahá, Ele diz também: “Ó Deus! Este é um Ramo que surgiu da Árvore da Unici-dade, o Sadrat de Tua Unidade. Ó Deus! Tu O vês com os olhos voltados para Ti e apegado às vestes de Tuas bênçãos. Protege-O no abrigo de Tua Misericórdia! Tu sabes, ó Meu Deus, que Eu não desejo para Ele senão aquilo que Tu desejas para Ele, e não O escolho a não ser para o que Tu o escolheste. Ajuda-O com as hostes de Tua terra e de Teu céu. Ajuda, ó Deus, também aqueles que O ajudam e escolhe aqueles que O escolhem. Confirma aqueles que d’Ele se aproximam, e afasta aqueles que o Negarem e os que não O desejarem. Ó Deus, Tu vês que neste momento da Minha Revelação Minha pena treme e Meu Ser estremece. Peço-Te, por Minha impaciência

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em Teu Amor e Minha prontidão em proclamar Tua Causa, ordena para Ele para Seus amigos o que ordenaste para Teus Mensageiros e para os servos fiéis de Tua Revelação. Verda-deiramente, Tu és o poderoso e o onipotente! Por Deus, ó povo, Meus olhos choram e o olho de ‘Alí chora no Concurso Supremo; Meu coração se acelera e o coração de Muhammad se acelera nas Cortes de Abhá; Meu coração e os corações dos Profetas lamentam com o povo do conhecimento, se sois daqueles que têm visão. Minha tristeza não é por Mim mesmo, mas por Aquele que virá depois de Mim à Sombra da Causa com um reinado claro e inegável; porque aqueles que não reconhecerem Seu Manifestante e irão negar Suas evidências e versículos, contestar Seu Poder, antagonizá-Lo e serão traidores de Sua Causa – como fizeram com Sua Pessoa naquelas dias - e vocês foram testemunhas.”

Novamente em uma Epístola a ‘Abdu’l-Bahá, Ele diz: “Ó Maior Ramo! Verdadeiramente, Tua doença causou-me tristeza, mas serás curado, pois Ele é o mais generoso e o que melhor ajuda. Glória esteja contigo e sobre aqueles que Te servem e estão em volta de Ti! Tristeza e tormenta é o que terão aqueles que a Ti se opõem e Te maltratam! Abençoado que tem amizade por Ti, e inferno para o que a Ti se opõe!”

Da mesma forma, Ele diz: “É possível que após a alvorada do sol de Teu Testamento no horizonte de Tua mais grandiosa Epístola, que alguns pés se afastem do Caminho correto? Dissemos, Ó Minha Pena Suprema, compete a Ti fazeres con-forme foi determinado por Deus, o exaltado, o grande. Não busque aquilo que enternece Teu coração e o dos habitantes do Paraíso que envolve Tua Causa maravilhosa. Não deves saber o Que ocultamos de ti. Teu Senhor é o Ocultador e o Que tudo sabe. Volve Tua Face luminosa ao mais grandioso semblante e diz: Ó Meu Deus Misericordioso! Enfeita o Céu do Bayán com as estrelas da firmeza, confiança e verdade.

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Verdadeiramente, Tu és Poderoso sobre o que desejas. Não existe outro Deus senão Tu, o sábio e o generoso.

Em síntese, dessas Sagradas Elocuções e aquelas de Sua Santidade, o Cristo, torna-se claro, evidente e comprovado, que a pessoa deve associar-se com o povo que é firme no Convênio e Testamento, e ser amigo dos puros; porque as más companhias trazem consigo a infecção de más qualidades. É como a lepra; é impossível a alguém associar-se e ser amigo de um leproso e não ser infectado. Esta ordem é para o bem, proteção e segurança.

Considera este texto do Novo Testamento: os irmãos de Sua Santidade o Cristo, foram a Ele e disseram: “Estes são teus irmãos.” Ele respondeu que Seus irmãos eram aqueles que acreditavam em Deus, e recusou associar-se com Seus próprios irmãos.

Da mesma forma, Qurratu’l-‘Ayn, que ficou conhecida em todo o mundo, quando acreditou em Deus e foi atraída aos Sopros divinos, esqueceu seus dois filhos mais velhos, embora fossem seus únicos filhos, porque eles não acreditaram e por isso não foi ao encontro deles. Ela disse: “Todos os amigos de Deus são meus filhos, mas aqueles dois não. Nada tenho a ver com eles.”

Considera! O Jardineiro divino corta os galhos secos ou fracos da árvore saudável e enxerta nela um ramo de outra árvore. Ele tanto separa como une. Isso é o que Sua Santidade o Cristo diz: que eles procedem de todo o mundo e entram no Reino, e os filhos do Reino serão expulsos. O neto de Noé, Canaan, era detestado aos olhos de Noé e outros eram aceitos. Os irmãos da Abençoada Beleza separaram-se d’Ele, e a Abençoada Beleza nunca buscou se encontrar com eles. Ele disse: “Esta é uma separação eterna entre vocês e Eu.” Tudo não foi porque a Abençoada Beleza era uma pessoa despótica; mas porque aquelas pessoas, através de suas ações e palavras,

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privaram-se das bênçãos e dádivas da Abençoada Beleza. Sua Santidade, o Cristo, não exerceu despotismo algum no caso de Judas Iscariote e Seus próprios irmãos – mas eles próprios se separaram.

Enfim, o ponto é este: ‘Abdu’l-Bahá é extremamente bondoso, mas quando a doença é a lepra, o que posso fazer? Como acontece com as doenças do corpo, devemos evitar a todo custo o contato e a contaminação com a aplicação de leis sanitárias eficazes – porque as doenças de contaminação física exterminam a própria estrutura da humanidade; da mesma forma deve-se proteger e salvaguardar as almas abençoadas dos sopros e das doenças espirituais fatais; de outra forma a violação, como a praga, tornar-se-á contagiosa e tudo perecerá. Nos primeiros dias, após a Ascensão da Abençoada Beleza, o centro de violação estava só; mas aos poucos a contaminação se espalhou; e isso devido ao companheirismo e associação.

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seleção de textos de ‘abdu’l-bahá

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BIBLIOGRAFIA

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AEN DOS BAHÁ’ÍS DOS EUAO Plano Divino da Criação. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Bahá’í do Brasil, 1975.

BALYUZI, Hasan. ‘Abdu’l-Bahá, O Centro do Convênio de Bahá’u’lláh. 1ª ed. Mogi Mirim: Editora Bahá’í do Brasil, 2006.

CASA UNIVERSAL DE JUSTIÇAA Importância da Oração Obrigatória e do Jejum. 2ª ed. Mogi Mirim: Editora Bahá’í do Brasil, 2003.

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ESSLEMONT, John E. Bahá’u’lláh e a Nova Era. 9ª ed. Mogi Mirim: Editora Bahá’í do Brasil, 2001.

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TAHERZADEH, Adib. A Revelação de Bahá’ú’lláh, vol. 3. 1ª ed. Mogi Mirim: Editora Bahá’í do Brasil, 2004.

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