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O “ESPAÇO RURAL” E A RELAÇÃO HOMEM X MEIO BIOFISICO NA
AMAZONIA
THE RURAL AREA AND THE MAN X BIOPHYSICAL ENVIRONMENT
RELATION IN THE AMAZON
Apresentação: Comunicação Oral
Manoel Júlio Albuquerque Filho1; Camila Suely Leite do Vale
2; Carlos Anderson
Sousa de Carvalho3 Brendo Wilson da Silva Lima
4; Louise Ferreira Rosal
5
DOI: https://doi.org/10.31692/2526-7701.IIICOINTERPDVAGRO.2018.00172
Resumo
O trabalho objetivou analisar por meio da vivencia as atividades desenvolvidas pelos
produtores rurais, bem como as atividades vegetais e animais; sobretudo a sua interação
familiar, cultural e social no espaço rural amazônico, tendo como eixo norteador a relação
homem x meio biofísico. Logo, com o intuito de identificar os desafios da agricultura familiar
na região amazônica, os discentes de agronomia do IFPA – Campus Castanhal, experiêciaram
a oportunidade de conhecer a rotina de uma propriedade rural localizada no município de
Inhangapi- PA. Apresentando importantes diferenças em suas sociedades já constituídas, o
Estado do Pará, que teve pela diversidade dos meios sociais que designaram seu
apoderamento e chamaram a atenção pela influencia do meio biofísico na vida social, e faz
parte desse espaço amazônico, sendo que esses processos sociais, já foram campos de
observação de romancistas de onde se extraíram personagens de ocupações sociais tão
distintas, com a precisão de recriar através da arte, na literatura, a sociedade marajoara
(JURANDIR, 1992), a civilização da borracha e a batalha com indígenas (NUNES, 2003), os
cacauais cultivados em Óbidos (SOUZA, 1973), entre outros. Sidersky (1990), utilizando
simultaneamente os conceitos do pequeno produtor e do campesinato, estabelece três
características básicas para precisar o espaço rural: o acesso aos meios de produção, entre os
1Licenciado em Química, UFPA. Agronomia, IFPA – Campus Castanhal, [email protected]
2Agronomia, IFPA – Campus Castanhal, [email protected]
3Agronomia, IFPA – Campus Castanhal, [email protected]
4Agronomia, IFPA – Campus Castanhal, [email protected]
5 Doutora em Agronomia (Fitotecnia), IFPA – Campus Castanhal, [email protected]
quais a terra; o caráter familiar da produção; a relação com o mercado, como ligação com o
sistema global capitalista. Características essas que também foram discutidas por Romeiro
(1998). Para a obtenção de dados, utilizou - se o Diagnóstico Rápido Participativo de
Agroecossistemas, de WEID, In: KLAUSMEYER, A. et al. (1995), e Ferramentas de Diálogo.
A comunidade Arajó, tem uma ligação direta com o rio Guamá, que proporciona a presença
da floresta equatorial higrófila de várzea, este fator influência de forma direta a presença de
açaizais nativos na propriedade, sendo esse o “espaço rural” de muitas famílias da região
amazônica. Das reflexões realizadas no âmbito da pesquisa, identificou-se a relação familiar
com o “espaço rural”, local de dinâmica com o meio biofísico. Observou-se que a família já
ocupa a área há 30 anos e conseguiu desenvolver estratégias de meio de vida apesar das
condições difíceis. As suas decisões por um modelo de desenvolvimento sem a necessidade
de desmatar grande parte da propriedade é uma das estratégias, até mesmo devido às boas
condições impostas pela própria natureza no caso dos açaizais nativos que são manejados
segundo recomendação técnica da EMATER – PA.
Palavras-Chave: campesinato amazônico, espaço rural, homem x meio biofísico.
Abstract
This project aimed to analyze the activities developed by rural producers through
experience, as well as vegetal and animal activities, especially their family, cultural and social
interactions in Amazonian rural space using man x biophysical environment relationship as a
guiding element. Therefore, the agronomy students from IFPA – Campus Castanhal
experienced the opportunity to know the routine of a rural property in Inhangapi – PA in order
to identify the challenges of family agriculture in the Amazonian region. Portraying important
differences in its assembled societies, the state of Pará had its take over through the diversity
of social channels that drew the attention for the influence of biophysical environment in
social life and it’s part of the Amazonian space and its social processes, which have already
been noticed by novelists that reaped characters of such singular social occupations recreating
accurately in literature the Marajoara society (JURANDIR, 1992), the rubber civilization and
the battle against the indigenous (NUNES, 2003), the cocoa trees cultivated in Óbidos
(SOUZA, 1973), among others. Sidersky (1990), employs the concepts of the small farmer
and peasantry simultaneously and establishes three basic traits to pinpoint rural space: the
access to production resources – including the land, the family nature of production, the
relationship with the market as a connection with the global capitalist system. These
characteristics were also discussed by Romeiro (1998). This data was obtained in Quick
Inclusive Diagnosis of Agroecosystems, WEID, In: KLAUSMEYER, A. et al. (1995) and
Tool for Dialogue. The Arajó community has direct link with the Guamá River which enables
the presence of Equatorial Floodplain Forests. This determines directly the presence of native
açai berry trees in the property and becoming the “rural space” of many families in the
Amazonian region. From all the debates carried out in our search area, we could identify a
homelike relationship with the “rural space” which is the dynamics spot with the biophysical
environment. The family has occupied the area for 30 years and managed to develop
livelihood strategies to overcome their harsh conditions. One of these strategies is the decision
for a development model that avoids deforestation of great part of the property due to good
conditions imposed by nature itself, which is the case of the native açai berry trees that are
handled according to technical advice from EMATER – PA.
Key words: amazonian peasantry, rural space, man x biophysical environment.
Introdução
A agricultura familiar é de suma importância para o país, pois cerca de 70% da
produção dos alimentos básicos consumidos pelos brasileiros vem destas propriedades rurais
(Wanderley, 2014). Conhecer a rotina de vida dos pequenos produtores rurais é essencial para
entender o seu trabalho, cultura e espaço familiar, fazendo com que se destine mais respeito e
reconhecimento a quem tem um papel de fundamental importância na manutenção alimentar
do Brasil.
Logo, com o intuito de identificar os desafios da agricultura familiar na região
amazônica, através da vivencia, os discentes do 3º período do curso de agronomia por meio
do Estágio Supervisionado I, experiêciaram a oportunidade de conhecer a rotina de uma
propriedade rural localizada no município de Inhangapi- PA.
O estágio possui como eixo norteador: Homem X Meio Biofísico, levando a
possibilitar uma análise da relação do agricultor com os agroecossistemas amazônicos,
ocasionando observações para as práticas e técnicas empregadas na agricultura familiar e o
seu desenvolvimento. Perante a necessidade de se conhecer melhor e amplamente a rotina de
uma família de produtores rurais, o presente trabalho objetivou analisar por meio da vivencia
as atividades desenvolvidas pelo produtor rural, assim como as atividades vegetais e animais
praticadas por ele, sobretudo a sua interação familiar, cultural e social.
A vivencia possibilitou analisar a percepção do olhar do agricultor para o meio no qual
esta inserido, como as condições climáticas, solo, recursos hídricos e a convivência familiar
interferem em sua rotina de trabalho. Foi possível também observar a influência cultural no
seu manejo e tratos vegetais, e entender o que significa o “espaço rural” para ele.
Fundamentação Teórica
Sidersky (1990), utilizando simultaneamente os conceitos do pequeno produtor e do
campesinato, estabelece três características básicas para precisar o espaço rural: o acesso aos
meios de produção, entre os quais a terra; o caráter familiar da produção; a relação com o
mercado, como ligação com o sistema global capitalista. Características essas que também
foram discutidas por Romeiro (1998).
Apresentando importantes diferenças, em suas sociedades já constituídas, o Estado do
Pará, que teve pela diversidade dos meios sociais que designaram seu apoderamento e
chamaram a atenção pela influencia do meio biofísico na vida social. Esses processos sociais,
que foram campos de observação de romancistas de onde se extraíram personagens de
ocupações sociais tão distintas, com a precisão de recriar através da arte, na literatura, a
sociedade marajoara (JURANDIR, 1992), a civilização da borracha e a batalha com indígenas
(NUNES, 2003), os cacauais cultivados em Óbidos (SOUZA, 1973), entre outros.
O modelo de desenvolvimento atual é colonialista. Isso significa que se reconhece
como superior uma só concepção moderna de manejo e uso dos recursos naturais em
detrimento das práticas tradicionais de pequenos agricultores. Esse modelo tem enfoque
mercantilista. As ações de desenvolvimento estão diretamente projetadas para o
funcionamento e as regras do sistema de mercado. O que traz um modelo alternativo? Um
modelo de desenvolvimento alternativo pressupõem pensar em processo de
desmercantilização – portanto, a solução para essa hipótese não é simples, já que esse
processo orienta a retirar as atividades econômicas do funcionamento da lei do valor – assim,
não deveria ser identificado como desenvolvimento. O agricultor familiar, em seu “espaço
rural”, desempenha importante papel no cotidiano de vida na Amazônia por conta de sua
gestão ambiental e múltipla sócio diversificada? Então, se pode presumir que esse modelo
alternativo leva a um modelo de desenvolvimento de caráter integral, tendo além dos aspectos
econômicos, as relações harmônicas com a natureza e entre os seres humanos.
Metodologia
O estágio supervisionado I foi realizado no município de Inhangapi, situado a 95 km
da capital Paraense (Belém), na mesorregião metropolitana de Belém, nordeste paraense, na
microrregião de Castanhal, com as seguintes coordenadas geográficas latitude: - 1° 20' 54''
Sul, Longitude: - 47° 54' 38'' Oeste. A pesquisa iniciou-se no dia 05 de fevereiro de 2018 e
teve duração de dez dias na propriedade denominada Sítio Macaimbara, localizada na
comunidade Arajó. O Sítio conta com uma área total de 61, 5495 ha e prevalece a mão de
obra familiar, residem 8 pessoas, entre estes estão: o pai, a mãe, três filhos, um genro e dois
netos. As atividades desenvolvidas na propriedade são realizadas pelo pai, a mãe, um dos
filhos e o genro, entretanto a única renda não-agrícola é a do bolsa família de um dos netos.
Para a obtenção de dados, utilizou - se o Diagnóstico Rápido Participativo de
Agroecossistemas, de WEID, In: KLAUSMEYER, A. et al. (1995), e Ferramentas de Diálogo,
pois estas literaturas se apresentam como ferramentas didáticas, acessíveis e de fácil
entendimento para ser usada pelos discentes em questão e para serem aplicadas aos produtores
rurais. Com o apoio dos materiais citados foram realizadas, caminhadas transversais, para
discernir a propriedade e as culturas vegetais estabelecidas, observação participante, registros
fotográficos, aplicação de um questionário através do diálogo com os agricultores, mapa de
localidade e da propriedade, especificando a posição desta na comunidade e demonstrando a
produção animal e vegetal, foi realizado também um calendário sazonal, e levantamento
bibliográfico dos dados do município. Tais metodologias foram aplicadas para assegurar a
participação do agricultor em todas as fases do processo de desenvolvimento: diagnóstico,
avaliação e reprogramação de ações.
Resultados e Discussão
A comunidade Arajó, é uma das comunidades mais antigas do município. A escolha
ocorreu devido esta localidade ter uma ligação direta com o rio Guamá, que proporciona a
presença da floresta equatorial higrófila de várzea, este fator influência de forma direta a
presença de açaizais nativos na propriedade, sendo esse o “espaço rural” de muitas famílias da
região amazônica. No sítio Macaimbara existem duas casas, formando duas unidades
familiares, porém, a estadia dos discentes no período do estágio realizou-se na unidade mais
antiga, sendo esta dos proprietários da terra, que se instalaram na área em meados de 1988, já
a nova unidade familiar é formada por uma das filhas do casal.
Com o apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará /
EMATER – PA, escritório local de Inhangapi, se obteve acesso ao Cadastro Ambiental Rural
(CAR), do Sítio Macaimbara e então foi possível através do programa de imagens de satélite
google Earth, realizar a captura de imagens da região e mostrar uma imagem área da
propriedade, como descrevemos nas figuras 1 e 2.
Figura 1. Imagem de Satélite da região do
Arajó
Fonte: google EARTH, acessado em 15 de
fevereiro de 2018, às 15:00 H.
Figura 2. Imagem de Satélite ampliada da
propriedade Sítio Macaimbara.
Fonte: google EARTH, acessado em 15 de
fevereiro de 2018, às 16:00 H.
No que tange aos fatores biofísicos relacionados à vegetação da propriedade, esta se
apresenta com uma cobertura de floresta secundária intercalada com cultivos agrícolas,
espécies ombrófilas latifoliadas, com predominância das palmeiras. Entre essas palmeiras,
destaca-se o açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.), espécie de grande importância
socioeconômica, haja vista que, a comercialização do açaí é a maior fonte de renda das
famílias da comunidade Arajó e comunidades adjacentes. Em termos climáticos o município
de Inhangapi possui clima tropical, sendo classificado segundo a THORNTHWAITE como
Af. 26.7 °C e a sua temperatura média e pluviosidade média anual de 2384 mm, tendo um
balanço hídrico bem interessante. Os solos nesta região são predominantemente argissolo
amarelo, solos que apresentam textura variando de arenosa média até muito argilosa, com o
horizonte superficial A do tipo moderado e proeminente. A vegetação de terra firme é
composta pela floresta equatorial subperenifolia densa (Embrapa, 2001). Caracteriza – se por
apresentar fisionomia e estrutura variada, com algumas espécies que perdem parcialmente a
folhagem na época de maior estiagem. Vale ressaltar que no sitio Macaimbara se encontra
uma pequena parcela deste tipo de vegetação, pois é em parte destas áreas de terra firme que a
família utiliza do método de derruba e queima, para poder implantar as culturas temporárias
(de subsistência).
Ocorre, também, em maior extensão, na propriedade, a floresta equatorial higrófila de
várzea, margeando os cursos dos rios e seus afluentes. Caracterizam– se por apresentar
espécies que não perdem folhas em nenhuma época do ano. Neste tipo de cobertura vegetal, é
marcante a grande concentração de espécie de palmeira como o açaizeiro (Euterpe olerácea,
Mart.) e buriti (Mauritia flexuosa), este tipo de vegetação é classificado segundo a
EMBRAPA como floresta ombrófila.
A família detém uma relação direta com esse tipo de vegetação, principalmente com
os açaizais nativos, sendo a produção destes, em certa época do ano, a principal fonte de renda
e sustento da família, bem como culturas nativas manejadas e as culturas plantadas (Tabela 1),
para fins econômicos e de segurança alimentar.
Cultivo Espécie Destinação
Açaí Euterpe oleraceae Consumo e Venda
Acerola Malpighia emarginata Consumo
Milho Zea mays Consumo e Venda
Mandioca Manihot esculenta Consumo e Venda
Cupuaçu Theobroma grandiflorum Consumo
Castanha do Pará Bertholletia excelsa Consumo e Venda
Cajú Anacardium occidentale Consumo
Cacau Theobroma cacao Consumo
Pupunha Bactris gasipaes Consumo
Manga Mangifera indica Consumo e Fauna
Coco Cocos nucifera Consumo
Andiroba Carapa guianensis Consumo e Fauna
Patauá Oenocarpus bataua Consumo e Fauna
Limão ‘Tahiti’ Citrus latifolia Consumo
Laranja Citrus sinensis L. Osbeck. Consumo
Ingá Inga fagifolia (L.) Consumo e Fauna
Goiaba Psidium guajava L. Consumo e Fauna
Seringueira Hevea brasilensis Composição da flora
Uxizeiro Endopleura uxi (Huber) Cuatrecasas Consumo e Fauna
Jaqueira Artocarpus heterophyllus Consumo e Fauna
Tucumã Astrocaryum aculeatum Consumo e Fauna
Urucum Bixa orellana Consumo
Tabela1. Espécies vegetais presentes no Sítio Macaimbara.
Fonte própria
Patichouli Pogostemon patchouly Consumo e Paisagismo
Acapu Vouacapoua americana Composição da flora
Cupiuba Goupia glabra Aubl Composição da flora
Buriti Mauritia flexuosa Composição da flora
Os recursos hídricos utilizados na propriedade têm funcionalidade para o
abastecimento doméstico e também para as atividades produtivas, através de um poço de 18 m
de profundidade em que sua água é utilizada para lavagem de roupa, louça, preparo de comida
e para o banho, também, utilizada para a lavagem da mandioca e para o amolecimento da
mesma, além de servir para abastecer os bebedouros da criação de frangos. Outro recurso de
grande utilidade na propriedade são as chuvas, já que no município de Inhangapi a taxa de
pluviosidade é bastante elevada, essa é a principal forma de manutenção hídrica das lavouras
temporárias (mandioca, milho e arroz), plantadas em áreas de terra firme. No sítio
Macaimbara, não consta nenhum igarapé de grande representatividade de uso, porém, o
mesmo contém um lago natural que deu origem ao nome da propriedade e que está ligado no
período do inverno por canais, e em virtude das altas marés, ao rio Guamá, recurso esse que
mantem a irrigação dos açaizais nativos e traz uma carga de matéria orgânica que serve como
fertilização natural para os mesmos. VALENTE (2001), ressalta que nessa região predomina
para esta aptidão das palmeiras naturais. Porém, observamos também a presença de cacauais
nativos da várzea, o que demonstra a possibilidade de realizar a construção de um arranjo com
outras frutíferas.
Na propriedade se realiza avicultura em confinamento (Figura 3), sistema não
integrado, ainda com baixa tecnologia, sendo que esta atividade iniciou recentemente. Na
criação de frangos de corte, a família garante geração de alimento e renda. Possuí um
galinheiro com aproximadamente 6 m de comprimento por 2,5 m de largura, toda a
alimentação oferecida é feita a base de ração comercial comprada no município de Castanhal.
Por estar criando neste modelo, a família possui um maior controle das doenças das aves e
através do manejo realizado de higienização na retirada de cada lote, a família da um
descanso para as instalações e utiliza o subproduto cama de aviário, para realizar adubação de
cobertura no quintal produtivo que fica em volta da casa. A venda das aves é realizada no
próprio sítio.
Figura 3. Avicultura não integradora.
Fonte própria
Para a família o solo deve ser cuidado, para que possa sempre ser utilizado para novos
plantios. Esse olhar se dá principalmente para os solos presentes na área de terra firme, pois
consideram o solo de maior fragilidade e, sendo o local onde conseguem plantar as culturas
temporárias, essa percepção se dá, pois, a família realiza o método de derruba e queima na
propriedade. Como forma de cuidar do solo, após a colheita das culturas temporárias
(mandioca, milho e arroz), a família deixa a terra em descanso (pousio).
Segundo a pesquisa realizada pela EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas
Agropecuárias, em 2001, no trabalho intitulado: Solos e Avaliação da Aptidão Agrícola das
Terras do Município de Inhangapi, Estado do Pará. Esse trabalho mapeou os solos do
município e como resultados temos entre outros a classificação destes solos.
Com o auxílio da ferramenta metodológica conhecida como caminhada transversal
pôde - se analisar as características dos solos ao longo do diálogo com os produtores e a
vivencia na propriedade, também com o auxílio do documento publicado pela Embrapa, que
mapeou os solos do município de Inhangapi, inclusive da comunidade do Arajó. Foi visto que
a propriedade possui os solos, Argissolo Amarelo Distrófico; o Argissolo Vermelho –
Amarelo Distrófico Concrecionário (este em menor porção na propriedade) e Neossolo
Flúvico Distrófico. Estes solos ocorrem em área de relevo plano e suavemente ondulado,
justamente em áreas onde se realiza os cultivos das lavouras temporárias. Quanto à área da
propriedade composta por Neossolo Flúvico, estes são solos minerais, hidromórficos, com
alto conteúdo de material orgânico, pouco evoluídos, constituídos de sedimentos aluviais
recentes depositados periodicamente durante as inundações nas margens do rio Guamá, que se
conectam com o lago da propriedade, e que no período do inverno apresenta – se como igapó.
Este é o solo onde encontramos os açaizais nativos que são manejados pela família, segundo a
orientação técnica dos extensionistas rurais da EMATER – PA.
Diante da vivencia foi possível ouvir dos agricultores familiares do sítio Macaimbara
um calendário do início do período chuvoso, o que determina a época de plantio da mandioca,
do milho e do arroz. As chuvas também ditam o período de se fazer o manejo dos açaizais
nativos, pois assim que inicia as chuvas o agricultor familiar contrata alguns diaristas da
comunidade de Arajó, para poderem lhe ajudar nesta atividade. O produtor relata que fazer o
manejo neste período da mais resultados de produção, pois facilmente as estirpes dos
açaizeiros vão se decompor devido ao acumulo de água na superfície. Já no período menos
chuvoso, a família realiza a abertura de roça, onde prática o método de derruba e queima.
Neste caso, é importante citar que tanto homens e mulheres participam ativamente das
mais variadas atividades na propriedade. Porém, no trabalho na roça (área de plantio das
culturas temporárias, é visível o trabalho familiar, mas, a presença do homem encontra-se
presente em pelo menos três etapas da roça: derruba, queimada e coivara (consiste em
empilhar os troncos meio queimados e em arrancar as raízes mais profundas que foram
queimadas). A participação da mulher na roça é mais continua ao longo do ano, salvo nessas
três etapas. Elas atuam mais em plantio, capina e colheita.
No período de fazer o manejo dos açaizais nativos, a família contrata alguns diaristas
da comunidade Arajó para poderem trabalhar nesta prática. Atividade esta realizada a cada
dois anos. Já no período da colheita da produção de açaí, também paga por produção, aos
“peconheiros” - pessoa que executa a ação de subir nos açaizeiros e colher os cachos,
também faz a debulha dos mesmos, colocando os frutos nos paneiros – aproximadamente 8
pessoas são chamadas para trabalhar nessa atividade, são esses, na maioria, moradores da
comunidade Arajó.
Desses esforços que vivenciamos sobre o uso dos recursos naturais, o resultado com
maior relevância prática em direção a um modelo alternativo, de desenvolvimento sustentável,
talvez tenha sido a relação de produção agrícola e criação de animais de pequeno porte, com o
extrativismo do açaí e a cobertura vegetal verificada na propriedade já ocupada pela família
desde 1988. Vale ressaltar que eles conseguem se enxergar como parte do meio biofísico,
quando os mesmo fizeram o croqui da propriedade, como mostra a figura 4.
Figura 4. Croqui da Propriedade
Fonte própria
Conclusões
Das reflexões realizadas no âmbito da pesquisa, identificou-se a relação familiar com
o “espaço rural”, sendo este seu local de dinâmica com o meio biofísico. Visto que a família
que já ocupa a área há 30 anos conseguiu desenvolver estratégias de meio de vida apesar das
condições difíceis. As suas decisões por um modelo de desenvolvimento sem a necessidade
de desmatar grande parte da propriedade, até mesmo devido às boas condições impostas pela
própria natureza no caso dos açaizais nativos que são manejados segundo recomendação
técnica, visto que a família tem boa relação com a equipe de extensionistas rurais da
EMATER – PA, como se pode observar no decorrer do estágio, pois os mesmos realizaram
uma visita à propriedade.
O estágio de campo possibilitou vivenciar as práticas agrícolas e principalmente
trouxe o olhar dos agricultores familiares que compõem o sitio Macaimbara, com relação ao
seu modo de vida e o meio biofísico em que vivem. Com sua cultura e diversidade, a família
mantem nas suas formas de se relacionar e de se apropriar da natureza, seja internamente na
sua unidade de serviço, a roça; sobretudo, a conquista de sua permanência no local, a relação
equilibrada com a natureza e a comunidade de Arajó, sendo este o seu “espaço rural”
amazônico.
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