o escuro da semente/viagem a andara oo livro invisível vicente franz cecim

Upload: vicente-franz-cecim

Post on 08-Aug-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    1/361

    Viagem a Andara oO livro invisvel

    O escuro da sementeVicente Franz Cecim

    o humano } o umanoh }} o umano }}}

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    2/361

    2

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    3/361

    3

    que teu oglho veja as cores invisveis no Livro

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    4/361

    4

    Vermelho a cor da voz de e da Viso do ssaKil

    Verde a cor das manifestaesminerais, vegetais, animais

    e do humano, umanoh, umanosobre a Terra

    Branco a cor da pedrinha branca,oculta na pgina

    Negro a cor do Cue tambm das vozes humanas

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    5/361

    5

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    6/361

    6

    Areiade que somos feitos

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    7/361

    7

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    8/361

    8

    Sementeinvisvel do visvel

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    9/361

    9

    e na noite no brilhammais as asas do meu dorso,

    ou vi

    etendo oslbios de

    ArseniiTarkovski

    se entreaberto para me dizer isso

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    10/361

    10

    o ui em ns

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    11/361

    11

    aquela voz vermelha que nos diz

    ah, o humano, o umanoh, o umano

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    12/361

    12

    e viessem as vozes, me falando Sombras, mefalando Luzes

    A primeira voz, sua gua rpida me dizendo

    assim

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    13/361

    13

    Era uma vez,em Andara

    Fosse uma vez,em Andara

    Certa vez,em Andara,

    havendo adormecido sob a lua amarela, a quenos alucina nas noites, de olhos fechados

    um tal K despertouem pleno dia, sob o encanto da lua branca, a que

    nos alucina nos dias, de olhos abertos

    E viu que havia se transformado em homemareo, j no mais humano.Pois em suas omoplatas havendo sido semeadas

    asas, agora, j ento, ele fosse:

    O umanoh.

    Ah,

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    14/361

    14

    sendo assim possvel essas coisas em Andarae aonde mais seriam? Na vida, a sutil que para

    ns se adensa, para ns, os ainda os que ficamos,

    humanos?Sendo assim ento, e em Andara fosse possvel

    isso de asas nascendo de omoplatas humanas

    - hein? Onde estou? O que foi, hein? O que?Isso? Que mo Imensa, esta, hein?

    Se perguntando aquele tal K, aquela letra que

    ascendendo havia deixado o Alfabeto Humano.

    Fosse uma vez, em Andara

    Enquanto isso, l embaixo, na Terra se

    acendesse um fogo, mais uma vez um fogo, para emtorno dele se contar histrias

    Enquanto no alto, um Cu escuro de estrelas

    Mas isso j seja a outra voz que me falaVejam: depois dessas palavras descendentes,

    caindo dos cus como chuva sobre ns,

    agora outras palavras, em torno desse fogo acesoas que pesadas mas querendo ascender queleCu escuro de estrelas

    sua Areia Lenta

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    15/361

    15

    E a segunda voz, de Areia Lenta me dizendoassim

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    16/361

    16

    o que ia ficando para trs

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    17/361

    17

    eles passassem pelo Anjo da Histria ali cadono caminho, as asas fechadas no peito,

    plumas e p

    e ouvissem vozes bem pequenas, fossem insetosaqueles homenzinhos, que das vrtebras ainda

    diziam

    o ui em ns

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    18/361

    18

    o ui em ns

    ah, a Penumbra

    No ela ainda, neste incioMas para l que esto indo os nossos ps, em

    sonhos

    me dizendo aquela voz

    sua Areia Lenta

    buscasse em torno daquele fogo aceso por unshomens, ali, quem sabe ser s Cinzas de Palavras

    que se elevassem, leves, naquele cu Escuro deestrelas

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    19/361

    19

    e agora entendamEntendero?Como isso se dar

    Assim em duas camadas, essas vozes assim ans se dando,

    se doando

    Do meus ouvidos se doando aos seus ouvidos Labirantos para onde elas nos levam

    Labiantro, esses meus lbios partidos emAndara, de tanto em Andara ouvir e lhes contarhistrias.

    E agora ainda essas vozes, mais uma vez, emAndara

    essas vozes. E aonde mais

    ora chovendo sobre ns sua chuva, ah omoplatashumanas, se mesmo que isso no querendo agora setornavam aladas, o

    umanoh, o umanoh

    ora subindo aos cus naquela noite escura, ahpalavras se sacrificando ao fogo o humano, se doando s

    cinzas

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    20/361

    20

    enquanto ouvirem essas vozes, ao menosenquanto elas durarem

    em ns, tentem, s o que lhes peo

    :

    - Por baixo de ns, vejam: o Cu desmoronandoem cinzas

    - Por cima de ns, Vejam: a terra incendiada se

    elevando do P

    Vocs poderiam, ainda humanos, e pelo tempoque durassem essas vozes,

    serem em Sonhos a chuva inversa dos cus?

    Ouve, tambm tu, o que eu te digo, minhaSombra

    isso que eu me digo

    enquanto, sobre ns, brilha um sol que no

    existe, inundando as minhas palavras de luz. E Sombras.E silncios. Nuvens de sal passam, nenhuma ave cantaOn g de as Asas, perguntasse a Serpente

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    21/361

    21

    em Andara, a que espreita a letra hno umanoSilncio. Faam silncio. Elas, as rvores

    da Dvida, agora se curvam para ouvir o coraode Andara,

    se me pergunto:

    - O que a vida? A Lenta de areia

    se me pergunto:

    agora, para falar essas vozes, at onde ela ir, aLiteratura?

    O que restou: a

    EscrituraO Vazio que transborda

    Se me pergunto: On g de o omhm de areia ouasas? Seu On de Ser

    e essa pergunta assim caindo, ascendendo,caindo

    Com cada vez mais noites sobre ns

    entendem? Entendero

    agora ouamos essas vozes.

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    22/361

    22

    pela Amizade das coisas pelas coisas,essa Amizade ainda assim seus gros em minha

    areia que no esqueceu ainda inteiramente a carne queainda lhes conto isso,

    o que aqui ser contadoa duas vozes

    se dando a vocs em duas camadas, lembram?

    ei-las:

    - A Voz da Areia Lenta, ela quem lhes contar a viagem de Oniro e

    Orino, atravs de Andara, indo para a Penumbra Andaraeles tambm podendo ser Oniroorino,

    oh, dois seres num ser s, que coisacomo vocs suspeitassem ao v-los nestas

    Trevas de Palavras que eles sendo assim vagassem comos ps cheios de terra,

    humanos, mas Oniro em demanda do umanohe encontrando os dois, em seu caminho: O

    umano,o omem de areia,

    e achassem tambm, passo aps passo: aquelasAsas Negras, Asas Brancas, girando em torno do Ovoimenso no horizonte.

    Fosse em Andara isso

    Vocs sabemE mais adiante, achassem ainda Francisco e osangrando

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    23/361

    23

    Antes da viso do Vaso: o Vaso

    E o meio Rosto do omem de areia, levado pelo

    vento: o Vento, voltaria, gro a gro?

    E a perna de Orino, devorada pelo animal, noEscuro? Para ela, qual luz ainda, qual destino de p?

    Ahe a Viso do ssaKil?

    o: a Viso do ssaKil

    Essas coisas contadas por aquele homem a umOutro, junto ao fogo.

    Fossem elas tambm vislumbradas por K, doscus, na mo de

    - Pois a Voz de gua Rpida que me cai do Cu. ela quem lhes falar da Presena de K,tendo ele ascendido,

    e agora ento pousado na mo esquerda de , ,o Altssimo, o Sem Nome, o solitrio L at a vinda deK pois tendo o outro Outro, o Filho brando, o branco

    ah o Alvssimo,de sua mo direita retornado s Trevas,onde ns ainda aqui, com os nossos ps cheios

    de terra

    seu Nome somente inominvel pelo espantodesse som surgindo assim para os nossos olhos:

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    24/361

    24

    que em ns soando to silenciosamente,

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    25/361

    25

    Se assim levados por essas vozes ao menos

    alguns de vocs consentissem em ir

    Ento,agora vamos

    atravs de Andara que iremos, passo a passo.O que vocs, no sabendo, sabem. No Labirantro

    nestas Trevas em que eles oos assim vagassemcom os ps cheios de terra,

    e Oniro em demanda do umanoh

    e orino tropeando no Humano

    vocs tambm tropearo?Tambm?nas pedras das Palavras. Ah a que Oculta para

    nos espessar, nas palavras

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    26/361

    26

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    27/361

    27

    On de o hgomem?

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    28/361

    28

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    29/361

    29

    Aqueles homens ali sentados, e entre eles umfogo ardendo

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    30/361

    30

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    31/361

    31

    aqueles homens ali sentados, e entre eles umfogo ardendo,

    da voz de Areia Lenta, ento, que nos dizendoisso:

    Agora, ali

    no havia ningum. Ali havia estado um homem, noestava mais

    Para onde havia ido o homem agora?

    Veio a serpente.

    - On de o hgomem? Se perguntaria em silncio aserpente. Mas s o Silncio lhe respondendo nada, elase enrolaria na Sombra do homem, que ficara

    Porque a Sombra ficara, coisa esquecida comoquem parte s pressas, tendo alguma coisa toimportante, to importante, para fazer em outro lugar

    Ficavam ali, num s Ser aqueles seresmisturados: a serpente e a Sombra.

    E os dias passavam indo para parte alguma

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    32/361

    32

    Viessem: o anoitecer dos dias, viessem: oamanhecer das noites

    e viessem as nesgas de luz,

    nos crepsculos, as auroras, nas auroras oscrepsculos, e as cintilaes que s vezes se doincendiando mas sem chamas as teias Negras velando osolhos dos cegos

    Viessem, voltassem. Como se passassem

    Agora, ali

    no havia ningum. Ali havia estado um homem, noestava mais

    Ento eu te pergunto: Ali,

    ali,

    havia estado alguma vez um homem, havia estadorealmente um homem? Ou foram s as sombras dasaves passando no cu sobre a terra que nos deram essa

    miragem: um homem?Ou foram s as folhas secas murmurando pelocho cadas das rvores e dos nossos olhos, midas delgrimas, que nos deram essa viso: um homem?

    Ou foram esses sonhos que quando se tem,mesmo de olhos abertos, nos revelam, sempre, ,sempre, que ali, onde deveria haver um homem, na

    verdade s houvesse a ausncia de sermos?

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    33/361

    33

    Ali, l,

    eu te digo, sim, Sim: houve uma vez um homem. E esse

    homem fui euAgora aqui contigo te contando a minha

    ausncia,

    a minha no mais minha Presena

    onde s ficaram a minha Sombra e uma serpente que

    enlouquece em seu silncio e ainda agora

    - Ouves?

    ela, e se repete: - On de o hgomem?

    Fosse isso ainda no tempo em que os animais

    falavam

    Viesse a outra serpente, a Outra: a serpente daCerteza

    para dizer a ela:

    - Agora, no h mais ningum onde um diahouve um hgomem.

    Mas essa nova serpente, por tambm lhe serproibido dizer corretamente o nome Velado: K

    Ah, essa tambm ficaria presa Sombra.

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    34/361

    34

    E, assim, esses trs seres num Ser s,entrelaados,

    quem poderia dizer que no so eu, tu e a minhavoz enquanto o fogo que acendemos vai indo para ascinzas te contando essa histria,

    aqui,

    onde por enquanto ainda o que restou de umhomem: a Neblina humana, suas vozes: para contar aum outro homem histrias?

    Seja este o tempo em que os homens aindafalam. E diz-se disso: literatura. Um sopro de voz, que

    passa, como passou nos animais um dia

    Para onde iremos, homens, depois das palavras?

    O humano.

    Ongde

    o

    umano h?

    hein? Onde? o Onde? O sopro da voz umanah

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    35/361

    35

    o ui em ns

    Vocs ouviram?

    aquela primeira voz de Areia Lenta nos dizendoisso,

    teramos dado ento esse to pequeno passooo: o ui em ns

    e eles da terra, aqueles dois em torno ao fogo,como ergueriam as suas serpentes para o Alto, pois semAsas, e para eles s os nossos ouvidos de Lodo e sobre

    eles s os nossos olhos Escuros de cintilncias

    j a segunda voz, a de gua rpida, agora sedizendo

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    36/361

    36

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    37/361

    37

    } Primeiro Passo

    : Do Cu e sua voz

    de gua rpida

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    38/361

    38

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    39/361

    39

    Essa voz, ento, que se dizendo:

    pois tendo ascendido a Letra K e veio vindo, seretirando do Alfabeto Humano,

    veio pousar em minha mo Esquerda, pois

    tendo o Outro deixado vazia a minha moDireita,

    ter ele mergulhado para o l dos homens,retornado s Trevas onde antes j vagou, agora lvagando novamente?

    - Ter aquele Outro para o l humano retornado, K, me diz, pois se vieste ocupar a minha mo vazia,essa outra a esquecida mo esquerda que com a tua

    vinda s agora eu percebi que tinha?

    , K, sabes quem sou?

    Eu sou o Olho cego que tudo v, e nada vendo, enem me vendo que te peo, K, vai ver por mim

    pois sabes o que eu sou, K?

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    40/361

    40

    Eu sou o Olho Silencioso todo mudo que tudosabe e nada diz ao Nada

    Para onde ele foi, aquele outro o Filho Humano,K, que antes da tua vinda pousava em minha moEsquerda, e agora, ei-la: a Vazia?

    Te peo, K, me diz

    Se tu achasses para mim o meu Filho l, o Outro, K, naquelas Trevas l embaixo,

    eu te daria uma pedrinha branca

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    41/361

    41

    eu te daria uma pedrinha branca, uma pedrinhaem que estaria escrito O Nome Que Ningum Conhece

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    42/361

    42

    eu te daria uma pedrinha branca, uma pedrinhaem que estaria escrito O Nome Que Ningum Conhece,somente aquele que a recebe:

    A Esfera de silncio, rolando entre Treva e Luz

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    43/361

    43

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    44/361

    44

    }} Segundo Passo

    K: Aqueles dois L

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    45/361

    45

    K, nos conta a voz de gua rpida,mesmo se nada vendo,nas Trevas que aqui ficaram, olhar inverso se de

    l tambm olhada a Terra aqui embaixo, atravs daquelecu Escuro de estrelas,

    ento lhe diria:

    - , quem sabe no ele aquele que agora vejoindo pela terra, seus ps cheios de p, e caminha lado a

    lado com um outro o mudo e ainda mais um ozinho denada, o mudo,

    e ele lhe dizendo coisas?

    Ou a si mesmo que se diz?Pois tendo um corpo,um s,

    desse corpo emergem duas cabeas,

    oo,

    embora todo o resto consistindo num s homem

    pelo menos assim me parece,

    porque a Noite deles to escura, vista daqui, etenho os olhos to cansados da tua luz

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    46/361

    46

    lhe dizendo:- K, no queres a pedrinha branca?

    k, no?

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    47/361

    47

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    48/361

    48

    }}}Terceiro Passo

    OO: Aquela fosse

    a Noite da Semente

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    49/361

    49

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    50/361

    50

    - E na Noite da Semente, contando j agoraaquela voz de Areia Lenta ao outro homem

    Que em torno do fogo ao outro ouvia

    a noite em que ele adormeceu sob a lua amarela,a que nos alucina nas noites, de olhos fechados

    e antes de despertar, depois, sob o encanto da luabranca, a que nos alucina nos dias, de olhos abertos.

    E na Noite da Semente ainda pude ouvir um

    rumor de voz, vindo do Cu sobre mimComo gua rpida chovendo sobre mim

    E essa voz, a no sei quem, dizia:

    - , quem sabe no ele aquele que vejo indopela terra, seus ps cheios de p,

    e caminha com um outro lhe dizendo coisas?Ou a si mesmo que se diz?Pois tendo um corpo,um s,desse corpo emergem duas cabeas,

    oo,

    pelo menos assim me parece,

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    51/361

    51

    porque a Noite deles to escura e tenho osolhos to cansados da tua luz

    E ouvi ainda a voz daquele lhe dizendo:- K, no queres a pedrinha branca?

    k, no?

    No sei de que pedrinha branca eles falavam nos

    cus sobre nsE depois no ouvi mais voz alguma.Aquele K no estando mais no humano, entre

    ns,e havendo se perdido, ah, para sempre no

    umanoh

    devesse eu ainda prosseguir sua voz? Sua vozento assim ainda em mim se prolongando? Ainda tenhoesta boca,

    vs?e, agora, isso em mim: essa vozse imaginando, em mim sonhassee se balbuciando a minha neblina humana, entre

    miragens, coisas e entre as Memrias daquilo que antesfui e esse alado: K,que alm do humano agora

    E te contando a histria

    daquele corpo de onde emergissem duas

    cabeas,

    oo,

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    52/361

    52

    ou fossem eles ainda s dois homens, como ns,

    vagando oo

    atravs dos dias e das noites, pela terra

    assim me parece que eles iam,porque esta Noite em que me ouves, escurae tenho os olhos to cansados dessa luz que

    jamais ser um sol: a Estrela: e s esse foguinho acesoentre ns

    ento, fechando os olhos,eu visse para os teus ouvidos vagando esse oo

    a histria deles, aqui na terra, agora, eu assim eute contaria

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    53/361

    53

    Mas, antes,me diz

    Vs como escuro esse cu Escuro de estrelaso sobre ns?Como eu, esta neblinazinha humana,aqui ficada,

    poderiaver atravs da minha Pedra de ver as coisas da

    terra, as Escuras

    se outra Voz no vindo me dizerque este, ah, no todo o Cu que no havendo,

    h, para alm dele, deste: o Treva Area, o s o quedaqui eu e tu podendo ver

    On i

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    54/361

    54

    On i

    Oni, digamos. Bebamos da nossa gua amarga

    e desejemos, oni, on i , que ela venha

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    55/361

    55

    E aquela voz verde que nos diz

    Ah um m em mim

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    56/361

    56

    e tendo aquele Animal, saindo da Noite, suaspatas emergindo, emergindo

    das rvores em volta do fogo, suas sombras

    rvorese se chegado para perto do fogo, onde ficasse

    ouvindo o silncio do que escutava e aquela voz dohumano que falava,

    o que buscasse aquele Animal que aos homensassim se chegando:

    quisesse nessa Noite uma Fogueira que fosse

    mais que o fogo aceso pelo humanoA Fogueira? Fosse ela feita da lenha, que ainda

    viva nas rvores da florestaa Figueira em que o homem que falava

    repousava as costas

    e, entre os silncios do Animal e do homem

    mudo e aquela voz do que falava,soprando por ali, naquele instante, um ventinholeve, que fez as chamas do fogo mais se inclinaremantes da manh para as cinzas, o vento agitou as folhasda Figueira

    Dissesse a ela: foge das tuas razes, homens emmultido esto vindo te transformar em Cruz

    A Figueira em que o homem que falavaRepousava as costas

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    57/361

    57

    E diz-se disse: Contgio do pulmo humano

    pelas vias areas, por tudo que fala Seivas que oshomens no ouvem

    essas outras vozes, de jardins noite

    daquela Figueira se ouvisse e no ouvisse,

    a voz verde que dizia:

    Tivesse um m em mim para chamar fazerdescer dos cus s terras

    fazer subir das terras aos cus

    uma voz, menos pesada, Alada

    Aah um m em mim, um Irmo m

    em mim

    e a voz vermelha que nos diz:

    os Reinos contagiados, k. Vs?

    pois sendo a minha voz s o balbuciar de umlbio humano, dizia o homem que falava

    no deve ela chamar aquele outro Lbio em ns,por Companhia

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    58/361

    58

    em ns seunindo lbio a Lbio em vozVoz,

    pelo encontro desses Llbios

    que se dissessem, sim: os murmrios,e a si tambm falassem em silncio aos Gritos?

    se perguntava ao outro, ao Mudo, o homem.

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    59/361

    59

    ah est vindo, esta vindo essa outra Voz, ouvesela vem

    preciso, fosse preciso que ela viesse, e ela vem

    e pousando sua boca em nosso fogo:vs como ele agora mais se incendeiacom essa Boca em Chamas, antes que as Cinzas

    venham ao amanhecer,ela nos diz

    - Porque lnada obscuro nem opaco,

    pois cada um transparente a cada um e em tudo,

    pois a luz no a luzE cada um possui a todos dentro de si e v

    em outro a todos, e tudo tudo e cada um tudoe cada um tudoe o Fulgor imenso,

    pois cada um deles grande,pois tambm o pequeno grandeL o sol todos os sisE cada sol sol e todos os sis

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    60/361

    60

    e tendo vindo essa voz: Claro

    re

    lmpa g

    o

    Lmina de Luz, ah ns, escuros reruns

    unisse Cu e Terra, terracu

    a generosa

    A que assustando as aves: vs, como despertame todas em revoada a nossa volta achando queum novo dia j nasce antes da hora

    e tendo ela vindo se fundir em nosso fogoluzinha que acendemos e sob esse cu Escuro de

    estrelas,

    possa a nvoa humana,as neblinas que somos,

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    61/361

    61

    e agora eu falando, tu ouvisses,

    a histria deles, oo, aqui na terra, agora, eu, sim,

    eu te contaria

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    62/361

    62

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    63/361

    63

    }}}}

    Dilogo dos alimentos do ser

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    64/361

    64

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    65/361

    65

    Da voz de Areia Lenta

    Eis: a histria:

    - E cada um possui a todos dentro de si e vem outro a todos, e tudo tudo e cada um tudoe cada um tudoe o Fulgor imenso,

    pois cada um deles grande,pois tambm o pequeno grandeL o sol todos os sisE cada sol sol e todos os sis

    Tendo nos dito isso, e o Fulgor imenso,Plotino, pois fosse sua aquela Voz em chamas

    - ? Nos perguntamos. E cada um possui a todosdentro de si

    Mas de onde vem ento esse vento, em Andara,que diz:

    - Um animal uma falta de tudo para sempre

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    66/361

    66

    Vem de pginas passadas de Andara, virandopginas passadas de Andara.

    sempre em Andara que esses ventos vm

    soprar, e esse quis soprar aqui de novo

    Ei-lo. Dizendo, esse ventoO que um dia j foi dito por Iziel a Azael nessas

    pginas passadasEst l, no livro que um dia se chamou

    Silencioso como o Paraso aps a expulso das criaturas

    humanas, essa pgina passadaQue diz, seu eco ainda nos chegandoVem l do Paraso

    Dilogo dos alimentos do ser:

    Disse Iziel- V, Azael, a ternura que um animal quer tirar

    de um outro e pr dentro de sie o animal essa caverna onde uma falta , para

    sempre, a mesma coisa, essa ternura, que o alimento

    que um animal tira da vida e pe dentro de si,

    o corpo, uma caverna de carne.

    - Os alimentos. s vezes visveis, s vezes invi-sveis

    E a fome real s a sombra da grande fome emns

    Ento isso, um animal uma falta de tudo parasempre

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    67/361

    67

    ?

    E esse vento, vindo, dizSim.

    Seria esse vento,enquanto essa flor de papel: essa pgina passada,

    se abria ao vento,

    que eles um dia ouviriam,Oniro e Orino, esses outros, aps Iziel e Azael,odas mos brancas,odas mos negras.Eles agora tambm aqui em Andara,

    na floresta Andara, oo

    Ou fossem um corpo s: Oniroorino. De ondehouvessem brotado duas cabeas,

    e se dizendo coisas

    Pois Oniro, ouvindo o vento trazer essas palavras

    esvoaantes, passantesComo so todas as palavras ah, todas:as transeunteslogo estaria dizendo a Orino:- Ouviste? Ouviste com todos os ouvidos que

    temos em ns: os de carne e os outros,ouviste? O vento?

    - O vento. Sim, diria Orino. Mas que palavras?- V, Orino,ento diria Oniro,

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    68/361

    68

    como pode ser que sendo nossos nomes osmesmos, s com as letras trocadas, no possas ouvir as

    palavras que o vento disse,

    como eu?- A menos que, como eu, s vezes tambm

    parea para ti que tu no s tu. E para alm do oo quesomos,

    esses ozinhos de nadaparea que s um outro: um ser de hiptese, s

    de brisa, fantasma de ti,

    diria Oniro.- A menos que esse n que em ns nos une seja

    s vu, a Iluso,e por trs dele algo querendo nos dividir em eu e

    tu

    - V, dizendo Oniro, agora entende isso:

    Em ns h a fome de dois alimentos,foi o que o vento disse,e aquele Iziel no tendo dito quais, os alimentos,

    agora eu vou te dizer quais so

    E ento, como um outro Iziel,

    ah Iziel, cego, ainda l no Paraso as suas mosbrancas, se batendo nas coisas duras da vida?E querendo as razes dos alimentos do ser, Oniro

    diria:

    - Tudo vem como sombra do Um e para o Umvolta como sombra

    Aqui, na breve Residncia, a vida,

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    69/361

    69

    imersos nesta luz cheia de penumbras em quesomos e no-somos, pois permanecemos sendo l noUm enquanto aqui at parece que somos,

    as sombras esto no Vrios,e se tornam coisas

    para se darem em alimento umas s outras,enquanto aqui permanecerem

    podendo esse alimento servisvel e invisvel

    e visveis e invisveis as bocas nas coisas,sempre famintas umas das outras

    e tambm podendo ser os alimentosbnos e venenos

    assim como podendo ser as bocas por onde se

    colhe o alimentoabenoadas e venenosas,

    havendo ainda os alimentos simulacrose as bocas simuladas na colheita.

    Quanto permanncia na breve Residncia, a

    vida, imersos nesta luz cheia de penumbras em quesomos e no-somos, pois permanecemos sendo l noUm enquanto aqui at parece que somos,

    as coisas podem optar pela Fome umas dasoutras, e se devorando se devolverem como sombras doUm ao Um

    ou pelo Jejum das outras.

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    70/361

    70

    Pois h um dom que nos dado pelo Umpara alimentar a permanncia:

    aliado dos jejuns, esse Dom o daAmizade das coisas pelas coisas.

    Isso havendo dito inicialmente Oniro,como uma primeira semente lanada nos ouvidos

    de Orino, esses jardins de carne em que queria plantar

    revelaes,depois ele diria:

    - Orino, a primeira coisa que tens que saber que no s, que s s um ser de emprstimo.

    Nvoa. Que ganhou forma.E que s nvoas, como tudo, um dia voltars.

    Podes entender isso?No.No, enquanto no entenderes, antes, isso:Que tudo vem do Um e ao Um volta,

    sendo,

    durante um intervalo breve, a que chamamosvida: o Vrios, que surge dessa disperso do Um emmuitos para povoar o que sendo a Ausncia desse Umantes disso se dar

    Entendes, isso? Ao menos um pouco?

    V. Aquela ave ali.Ela parece ser, em si, mas no .No , mas sendo.

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    71/361

    71

    Como aquela outra l adiante, tambm querendoser ave naquela rvore, mas sendo s a forma Ave doUm, que uma das suas formas,

    h outras,sendo at sua sombra apenas a Sombra Ave do

    Um agora aqui projetada pelo sol.O sol, este, imenso sobre ns, por sua vez sendo

    apenas o solzinho do Um que nos dado ver,como os outros mais imensos ainda sobre ns

    que no vemos,

    L, onde o Fulgor: o ClaroOnde cada sol sol e todos os sis

    No acreditas no que te digo, OrinoNo?

    Pois a prova : que tudo passa e nada fica: nem

    ave nem homem e um dia que j no ser noite nem dia,nem as estrelas, essas luzes, ficaro, entende

    Ento, nem boca ainda haver para perguntar:

    On gde

    o ogmem?

    Pensa. esta ave que vemos ali eterna? ?

    Ento v a minha lio inteiramente viva sedando diante de ti.

    E dizendo isso, eis que Oniro estaria indo emdireo ave, que, distrada, nem o via chegando.

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    72/361

    72

    Chegando e animalmente a agarrando. E animalmente adespedaando, as unhas, os dentes. E, pedao a pedao,ento fazendo a ave sumir dentro de si para os olhos de

    Orino.- Cad a ave agora, Orino. On g de? A ave- A ave, onde? Se perguntando Orino. Sim, sei.

    Sumiu em ti- Mas ainda a ave ave? Perguntando Oniro.

    Ainda , o que foi?- No, dizendo Orino. Agora a sida.

    - Pois sendo isso, entende, o comeo da sua volta Ave Ave que ela, para alm e para aqum da avezinhaque parecia ser, ser

    - Essa a via dos alimentos. Ouveo que eu te digo Orino. Que todo ser, enquanto

    parece ser, faz atravs de um outro ser

    e assim todos indo todos voltando, voltando parao Um,sendo ns, os outros seres,Oni, Ons os caminhos dessa viagem que fazemos uns

    atravs dos outros,des-sendo,

    des-sendo-nos,ora com dor, ora com dor ainda mais uma vez,

    pois no nos dada a opo sem dor?

    - E sabes, Orino, diria Oniro, que isso mesmoque fiz ave eu poderia fazer a ti: desfazer-te, des-ser-

    te, aqui mesmo sob este cu vazio de onde o Umapenas interessado em seus interesses de tudoreaver para Si,

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    73/361

    73

    Zeloso, ou indiferentemente,autoriza todos os seres que fingem o S de ser a

    desfazerem issoS:

    essaS miragenSSe desfazendo uns aos outros

    serpenteS,

    aves, homem

    at que tudo retornado ao Um?

    E para um trmulo Orino, eis que Oniro jestaria dizendo:

    - Mas no temas. Por tiIsso, eu no farei contigo. Porque o Um no s

    a sua indiferena pelos seres-miragens, seres neblinasque somos parecendo ser,

    pois se nos d outra maneira de nosalimentarmos uns aos outros

    E essa maneira aquele Dom, aliados dos Jejuns

    o On Domda Amizade das coisas pelas coisas

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    74/361

    74

    A lua branca a que alucina nos dias e a amarela aque alucina nas noites

    iam passado sobre eles,por entre as seivas da floresta Andara,

    e os sis imensos que flutuam sobre ns, bemlonge, nem saberiam daqueles homenzinhos l embaixo

    e s esse solzinho que nos dado ver viria roara terra que vai caindo

    caindoOu ascendendo

    no azul?

    Oh o O, a esfera

    Mas onde o On Dom

    da Amizade das coisas pelas coisas

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    75/361

    75

    se depois Oniro estaria dizendo:

    - Orino, a segunda coisa que tens que saber queno s, porm, s um ser de emprstimo.

    Nvoa. Que ganhou forma.Ainda que s nvoas, como tudo, um dia

    voltars.

    - Entende tambm: Que o que aqui no Vrios

    ainda l no Um

    sendo aqui o Um,

    aqui, neste intervalozinho breve, esse sono ousonho a que chamamos vida: o Vrios,

    pois sendo o Um tambm a concentrao do Um

    em muitos para que o Um possa habitar sua Ausnciacom a alegria de ser breve

    Entendes agora isso? Ao menos um pouco?

    V. Aquela ave ali.Ela parece ser, em si, mas no .

    No , no em si

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    76/361

    76

    Como aquela outra l adiante, tambm querendoser ave em si naquela rvore, mas sendo s a forma Avedo Um, que uma das suas formas,

    h outras,sendo at sua sombra, a sombra que projeta de

    si, apenas a Sombra Ave do Um agora aqui projetadapelo sol.

    O sol, este, imenso sobre ns, por sua vez sendoapenas o solzinho do Um que nos dado ver,

    como os outros mais imensos ainda sobre ns

    que no vemosL, onde o Fulgor: o ClaroOnde cada sol sol e todos os sis

    Acredita tambm nisso que te digo, OrinoSim?Em tudo o Um enquanto nas coisas

    transeuntes, e elas no passam e ficam: ave, homem, ossis,

    entende

    Pensa. Aquela ave que vemos ali no eterna?No?

    Ento v, a minha lio agora inteiramenteinversa se dando a ti.

    E dizendo isso, eis que Oniro estaria indo emdireo ave, que, distrada, nem o via chegando.Chegando e ternamente a tocando. E ternamente a

    acariciando, as mos, os lbios. Aquele breve sonho deplumas que ele, Oniro, agora no faria sumir no animalem si.

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    77/361

    77

    E depois, a ave tendo voado, perguntaria:- Cad a ave agora, Orino. Onde? A ave

    - A ave, onde? Se perguntando Orino. Se foi,ainda ave.

    - E ainda a ave ave? Perguntando Oniro. Ainda, o que era?

    - Sim, dizendo Orino. Ainda a sendo.- Pois ento entende: que o Um nela quis

    permanecer, e no quis, por mim, sorver em si a

    avezinha que ela parece ser, e

    - E essa a via dos jejuns, te digo Orino. Quetodo ser, enquanto parece ser, faz, para permitir a umoutro ainda ser

    e assim sendo permitido, pelos jejuns de uns,outros ficarem, e se tornado um Dom de todos esses

    jejuns, eis: disso viessem adiamentos da nossa volta aoUm,

    sendo ns, os jejuantes, os doadores desseadiamento das viagens que assim j no fizssemos unsatravs dos outros,

    nos des-sendo,

    e assim, ora sem dor, ora ainda sem dor maisuma vez,

    pois nos foi dada a opo dos jejuns da dor

    - E sabes, Orino, diria Oniro, que isso mesmoque eu fiz ave o que fao a ti: no te desfazer, no te

    des-ser,

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    78/361

    78

    aqui mesmo, sob este cu vazio, onde o Umpor um instante esquecido dos seus interesses de todasas suas coisas e seres reaver para si,

    zeloso, ou indiferentemente,

    me autoriza a permitir que ainda finjas ser isso,essa miragem, permanecendo em ti, a neblina quesomos parecendo ser,

    e te dou minha amizade humana,para que permaneas no Vrios que s, em ti.

    E para um trmulo OrinoO emocionado.O tolo trmuloeis que Oniro j diria:

    - Ento, no temas o Um de mim. Pois o Umsendo o Generoso, tambm nos deu essa maneira dealimentarmos uns aos outros, essas ternuras, e, assim,vai nos deixando nos manter nesta iluso de sermos

    essa maneira a que chamamos:a Amizade das coisas pelas coisas

    - Repara, Orino, mais tarde diria Oniro,como so deslizantes essas coisas da amizade,e fica sabendo que vais te mover atravs de um

    deserto ou jardins ou pntano cheios de miragens emetamorfoses enquanto semeio essas palavras em teus

    ouvidos.E que, para te moveres neste deserto ou jardinsou pntano, precisas estar mais revelado a ti mesmo

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    79/361

    79

    E agora vem comigo, segue as minhas palavras

    - Lembras, Orino?Dissemos que os alimentos so visveis,

    invisveis e simulacros. E que, alimentos, podem serbnos e venenos.

    E dissemos que as bocas so visveis, invisveise simuladas. E que essas bocas podem ser abenoadas evenenosas.

    E se disse ainda que as coisas podem optar pelaFome umas das outras

    Ou pelo Jejum.

    E quais so os alimentos visveis?Eis os alimentos visveis: os minerais, os

    vegetais, os animais. O ar, a gua, o fogo

    E quais so as bocas visveis?Eis as bocas visveis: os olhos, os ouvidos, a

    pele, o nariz, a boca

    E quais so os alimentos invisveis?Eis os alimentos invisveis: os sonhos, as idias,

    os sentimentos, as vozes do vento

    E quais so as bocas invisveis?Eis as bocas invisveis: o sono, a imaginao, ossentidos. E a literatura. Se Escritura

    E quais so os alimentos simulacros?Eis os alimentos simulacros: as sombras, as

    miragens, as imagens

    E quais so as bocas simulacros?

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    80/361

    80

    Eis as bocas simulacros: os espelhos, todos essesque a vida semeou na vida para nos confundir, etambm os nossos olhos

    Agora eu vou te dizer o que so os alimentosbnos.

    Eis os alimentos bnos: so todos os queparticipam da Amizade das coisas pelas coisas,

    sejam eles alimentos visveis ou invisveis ou atmesmo simulacros

    E agora eu vou te dizer o que so as bocasabenoadas.

    Eis as bocas abenoadas: so todas as queparticipam da Amizade das coisas pelas coisas,

    sejam elas bocas visveis ou invisveis ou atmesmo simuladas

    Agora eu vou te dizer o que so os alimentosvenenos.

    Eis os alimentos venenos: so todos os queparticipam do dio das coisas pelas coisas,

    sejam eles alimentos visveis ou invisveis ou atmesmo simulacros

    E agora eu vou te dizer o que so as bocas

    venenosas.Eis as bocas venenosas: so todas as queparticipam do dio das coisas pelas coisas,

    sejam elas bocas visveis ou invisveis ou atmesmo simuladas

    E agora vou te dizer o que so os alimentos

    simulacros bnos.

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    81/361

    81

    Eis os alimentos simulacros bnos: so todosos que participam, ao mesmo tempo, da realidade dascoisas visveis e invisveis,

    sendo fronteira sutil e transio, na penumbra,entre elas

    E agora vou te dizer o que so os alimentossimulacros venenos.

    Eis os alimentos simulacros venenos: so todosos que participam da irrealidade das coisas,simplesmente isso

    E eis que finalmente te revelo o que a opopela Fome das coisas pelas coisas.

    Eis o que a opo pela Fome das coisas pelascoisas: toda opo pelos alimentos venenos e pelas

    bocas venenosas, sejam visveis ou invisveis ousimulacros e simuladas

    E tambm te revelo o que a opo pelo Jejumdas coisas pelas coisas.

    Eis o que a opo pelo Jejum das coisas pelascoisas: toda opo pelos alimentos bnos e pelas

    bocas abenoadas, sejam visveis, invisveis ou atmesmo simulacros e simuladas

    E tendo dito isso,Oniro ento passasse a falar a Orino em

    fragmentos: fbulas, fraes da falaassim ele pudesse entender a breve Residncia, a

    vidaonde aqueles dois: oo, ou fossem um s

    Mas antes ele ainda perguntaria:- Entendeste, Orino?

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    82/361

    82

    - Os deslizamentos? Entendes?

    - Pois se para que entendas ainda mais o Um

    como Fonte: a gua dos Retornos do que somos,pois se para isso que agora vou te falar das

    vrias formas de alimentos do ser,seja pelo corpo, seja por essa ave que alguns

    chamam alma, e que, diz-se, voa dentro de ns,e do que devemos nos alimentar, e do que no

    Ento, ouve,e embora sejas livre, pela ignorncia, para nem

    ouvir a minha voz

    - A voz, ah

    sendo a que se semeia

    ouve ainda isso que eu tenho a te dizer, Orino,antes de continuar a te falar sobre eles, os alimentos,

    diria Oniro,ainda isso, sobre ela, a deserta que no semeia,

    pois a todos ns ela contm, e no apenas a ti,

    ela: a Ignorncia

    E ento diria Oniro:

    - preciso ver, ele diria, atravs da florestareveladora e veladora das palavras,

    como

    o no-ser contm em si oser,

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    83/361

    83

    embora o ser no contenha em si ono-ser

    Pelo menos isso que vemos nesta paisagem depalavras, como podes ver

    E nessa Semelhana que esto semeadas asesperanas de um dia conhecermos a diferena entre oser e o no-ser,

    e assim, anulada essa diferena, quem sabe unir

    o ser e o no-ser pelo conhecimento,mas s pelo Conhecimento, e ainda no anular

    ser e no-ser como coisas e no-coisas, separados em si

    E se essa Semelhana falhar

    S

    e tudo falha em ns, s homens?

    Sobraria aos homenzinhos que somos, para os

    vos dos nossos olhozinhos vos,uma Viso da Diferena,pois abolidas as semelhanas, ainda ficaria a

    palavra No acrescentada ao ser

    seu

    N

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    84/361

    84

    Nos dizendo Nada

    E partiramos, j ento com outras asas, negrasnegras, e os lbios cheios de sede, para ir interrogar a

    palavra No ao longo dos dias de nossas vidasOn gde quer que ela esteja tombada, seu tronco

    se negando a ns

    A menos que at mesmo essa hiptese toda cheiade noite seja nula

    a menos que j sejamos em ns Nadas,um No sem sins nem talvez sendo e todo feito

    de silncio e ausncias sem nem rumores em ns,

    nozinhos de nada

    E ento, se fosse assim,

    O que?

    Andara indo mesmo assim em ns, o que eu te

    digo

    - Pois uma coisa certa e h no-havendo:

    o

    V

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    85/361

    85

    azio que Transborda

    Ora,

    havendo a lua branca que alucina nos dias e aamarela que alucina nas noites passado outra vez sobreeles,

    por entre as seivas da floresta Andara,

    e os sis imensos que caminham cegos sobrens, bem longe, nem sabendo daqueles homenzinhosl embaixo: o Fulgor ausente

    e s esse solzinho que nos dado tendo vindooutra vez roar a terra que vai caindo

    caindoou ascendendono azul

    E onde o On Dom

    da Amizade das coisas pelas coisas

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    86/361

    86

    mais tarde Oniro diria

    - Mas isso s a minha voz em teus ouvidos,semeando, Orino

    pois por Amizade os teus ouvidos sendo os meusE como saber se as vozes so vozes sementes ou

    so vozes pedrasSe delas alguma coisa nascerDessas vozes

    Todas essas vozes, todos esses sons j em ns

    E ainda esses outros, vindo a ns?

    Ouve ainda isso que eu tenho a te dizer, Orino,antes de continuar a te falar sobre os alimentos, eles.

    sobre os sons que eu tambm tenho uma coisaa te dizer, com outros sons.

    E aqui eu j te recomendo um jejum.Ouve

    Dos sons em nossos ouvidos:

    - Se um ser emite para ti um

    Som

    seja um rosnado, bom-dia ou msica,

    o que fazer?

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    87/361

    87

    V, parece que cada um desses sons um somem si, com sua verdade pequena. Mas tu sabes: asaparncias: o limo: as iluses.

    Entende, Orino.O rosnado participa da fria natural que nos tem,

    contm e mantm. Nele, o limo quase real.J os bons-dias perecem imediatamente, por

    conterem em si a prpria palavrabom,

    uma das mais suspeitas residncias humanas dolimo.

    Quanto msica, nela o limo ainda mais seadensa,

    so teias de sentimentos, que o fato de terddo mundo

    refaz em mim vindo del da penumbra onde umsol se apaga e as coisas so emsi mais lamentos

    ai o ui em nsa nossa d de ser

    Por isso, no ouve os sons como seres separadose ouve apenas o Som

    e sabe que todos os sons separados se alimentam

    dos alimentos benfazejos e dos alimentos malignos edeles participam,

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    88/361

    88

    mas tu, tu s participes do teu Ouvido, Orino, eignorando as Vozes do Ouvir, ouve apenas

    em ti, o

    Silncio

    ainda que se uive e uive e rosne e grasne eexistam as palavras humanas e mesmo que haja a

    Msica das coisas ao redor de ns

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    89/361

    89

    Da voz de Areia Lenta:

    Diria Oniro mais tarde,

    eles seguissem atravs de Andara

    Mas eu te pergunto, antes das manhs, antes dascinzas: Atravs de Andara se ir a alguma parte?

    Aviva o fogo.Atravs de Andara no se ir a parte alguma

    - V, Orino, isso:Quando os homens inventaram as somas e as

    diminuies, sejam elas tambm multiplicaes velozesou velozes divises,

    Issos,

    foi um sonho que tivemos,ns, to homenzinhos de nada,

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    90/361

    90

    os nmeros, para nos falar da alimentao doUm pelos diversos e da alimentao dos diversos peloUm.

    assim.Entende, ouve se te digo:

    Da alimentao do Um pelos diversos:

    Para que o Um seja em si, preciso que eleexista pela soma do que somos, tu, eu, aquela rvore alie essa ave que acaba de levantar vo de si mesma e

    partirPara onde foi? Ainda est aqui, mas l no Um.Entende isso.

    Ele, Oniro, colheria o corpo da ave tombada,cavaria a terra, faria um montinho de terra sobre ela

    e prosseguiria

    - Ouve, diria

    Da alimentao dos diversos pelo Um:

    Da mesma forma, para que sejamos em ns, eu,tu, aquela rvore ali, e essa ave que acaba de pousar em

    si, aquela l, v:nascendo naquele ninho neste instante, precisoque o Um se divida em vrios,

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    91/361

    91

    O Um sendo em partes em nsEntendes?Ouve

    Sejam essas coisas tambm multiplicaesvelozes

    Ou velozes divisesNo importa

    Agora, sentados sob uma rvore,

    sombra da amizade da rvore por eles

    Das amizades que nascem das carncias

    haveria de querer falar Oniro, e diria:

    - Tu sabes, Orino, quanto mais o ser frgil, maisfome de amizade ele tem.

    O que fosse propcio Amizade?Do que resulta que muitas nascem disso,se um que se pensava Um s em side repente se sentir um unzinho de nada

    na fronteira do Nada,e se doendo, se perguntandoongde a minha origem e Fonte

    e ento chama: Ei, querendo um outro alipassando por companhia

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    92/361

    92

    Mas isso se inverte. E ento se d o que eu tedigo

    Das carncias que nascem da amizade:

    - quando,

    a vida sendo a que nos contorce,

    o que vs bem naquela rvore ali, aquela outra, acontorcida,

    dessa amizade nascida da fome uma fome aindamaior nasce, e nos torna fracos de amizades,

    e sem companhias

    Ia a sombrazinha daquela rvore para onde?

    Ia sumindo na Sombra imensa da rvore doMundo que sempre vem ao entardecer,

    e no vemos

    e, nesse entardecer, ainda Oniro diria

    Das luzes e das sombras em nossos olhos:

    - Orino,se algum, chegando, no se sabe de onde, trazum mal nos olhos para ti,

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    93/361

    93

    ou s um mal, desses que vo apagando asluzes at cegar o humano

    Se algum trouxesse um mal assim,e tu e a dvida: se um mal nesse ser em si ou

    um mal desse ser para ti,

    o que farias?

    Os olhos,

    essas luzes que s vezes se apagam de tristeza,s vezes se incendeiam: e um dio no outro se

    doado a ns?

    - Se isso assim, e ento: a Dvida,deves fazer a opo pelo Jejum das coisas pelas

    coisas,

    pois como saber, Orino, se esse olhar umabno ou um veneno,

    e se dele est vindo para ns um alimentoabenoado ou venenoso?

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    94/361

    94

    pois esses so os deslizamentos, Orino,diria depois Oniro

    e sendo eles assim.

    E se j sabes que vais te mover atravs de umdeserto ou jardins ou pntano cheio de metamorfosesenquanto vamos

    e vou semeando essas palavras em teus ouvidose que para te moveres neste deserto ou jardins ou

    pntano precisas,cheio de Metamorfoses em ti,estar mais revelado a ti mesmo,ento agora deixa que eu te diga,

    pois sero muitos os deslizamentos tambmnisso que eu te digo,

    isso:

    - pela ausncia do Um,e disso alguns, mais ss, se dizem: A gente tem

    saudade de voltar a no ser nada

    e outros nos dissessem

    o: vejam:

    a Viso do ssaKil

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    95/361

    95

    que ns, seres da Neblina, e pela Neblinaseparados,

    e indo assim dispersos por Andara,

    mas quem se semear em Andara

    Andara, que alguns chamassem: a Vida: ou:Andara, a regio de asas,

    Andara querendo ir do Visvel ao Invisvelquisesse unir num sSer esse Animal de Nvoa que nele ns

    habitamos, unir

    terracuterra: vermelho entre dois oo negros

    oo

    E enquanto vamos, querendo pisar as Estrelas

    com os nossos ps cheio de terra querendo pisar Estrelaso no-ser vem em ns clamando, mas sem vozes,e nos devoramos uns os outros.

    Isso assimE sendo.

    E se essa fome que nasce em ns, sendodisperso, resulta em Unio: a unio do devorador e dodevorado,

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    96/361

    96

    e assim como negar que vai cessando aSeparao pela Assimilao,

    mesmo que a custa da anulao dos devorados

    pelos devoradores como se v em tudo a nossa volta?

    Pois eis: ela, a grande fome do Devorador emns sua Voz como se nos dizendo:

    vocs, estando separados, no entanto no assimque deve ser,

    e eu lhes dou as fomes para que se renam uns

    aos outros outra vezem mim

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    97/361

    97

    - Ouves, essa Voz em ns, Orino? oo?

    seu Nome inominvel

    vermelho em ns silenciosamente,

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    98/361

    98

    Da voz de gua rpida:

    eu te daria a pedrinha branca, a pedrinha em que

    estaria escrito O Nome Que Ningum Conhece, somenteaquele que a recebe

    A Esfera, a rolante entre Treva e Luza pedrinhaa inominvel

    k, no queres a pedrinha?

    Onde nas Trevas vaga o meu filho branco, k?

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    99/361

    99

    pois assim , o sendo

    Se pudesse dizer: o que a Fome, o que ela quer que as coisas, que aquela Lmina separou, se renam

    outra vez ,pela Alimentao das coisas pelas coisas?At atingirmos a Coisa?

    Qual coisa?

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    100/361

    100

    Da voz de Areia lenta:

    - V, Oniro, isso que eu te digo, pois ao terecomendar os Jejuns at parece que me contradigo

    Vs?

    mas havendo dito isso Oniro: isso,oo: Oniroorino,eis que agora Orino, s o, o fascinado por uma

    outra coisa que agora via

    Lento, um animal haveria surgido diante dele, nocaminho por onde iriam.

    E, se aproximando,fosse comeando a devorar Orino. Neles, se

    iniciasse uma amizade?Pois Orino se deixando ir para o interior escuro

    do animal, iria, lentamente, se negando ao sol

    mas mais alto ainda rondassem os sis cegos, osque no nos vem,

    uns homenzinhos, fossem insetosaqui embaixo,

    pois aquele sol sobre eles uma manh

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    101/361

    101

    luzes ocultas de nsUm Sol Negro sempre ronda?

    Se Oniro no afastasse o animalE lhe dizendo:oo- No, Orino. Ainda no, pois isso s a

    amizade das coisas coisas pela coisa. Sigamos. Pois aamizade das coisas pela coisa Coisa que espera por ns

    E ento eles seguiriam.

    Mas uma perna de Orino ali ficava, mais escuradentro do animal no escuro

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    102/361

    102

    Esse Sacrifcio amizade tendo sido feito,mesmo que fosse s um passo dado aos nadas

    que somos

    - Via dos mutilados, se diz

    Pois essa a Via em que eles estariam,Oniro e OrinoOniroOrinoOniroorinooo

    como vocs veroSe sendo um s?Como saber?O ns, que no existe: e onde o N em ns

    On gde? Perguntasse a Serpente, se passasse

    agora por ali

    Ah o humanoNosso Espelho partido, seus cacos

    Deslizando entre o noserser

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    103/361

    103

    Da voz de Areia Lenta

    Deslizando,pela fome fsica como amizade decada

    eis Oniro e Orino indo. E por um tempoandassem em silncio

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    104/361

    104

    A gente tem saudade de voltar a no ser nada

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    105/361

    105

    seres da Neblina, e pela Neblina separados

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    106/361

    106

    e pela Neblina separados,

    e indo assim dispersos por Andara

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    107/361

    107

    E essa voz verde que nos grita

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    108/361

    108

    - o: oglhem,vejam:

    a Viso do ssaKil

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    109/361

    109

    Andara, Regio de Asas

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    110/361

    110

    andara no nada, no Nada

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    111/361

    111

    s um caminhar inverso. No mais o irdo calcanhar para os dedos dos ps

    Teus ps querem retornar Origem dos passos

    Se diz

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    112/361

    112

    Da voz de Areia Lenta:

    Ora,

    havendo a lua branca que alucina nos dias e aamarela que alucina nas noites passado outra vez sobreeles,

    por entre as seivas da floresta Andara,

    e os sis imensos que caminham cegos sobrens, bem longe, nem sabendo daqueles homenzinhosl embaixo: o Fulgor ausente

    e s esse solzinho que nos dado tendo vindooutra vez roar a terra caindo

    caindo

    ou ascendendono azul

    e onde o On Dom

    da Amizade das coisas pelas coisas?

    - Lembra, Orino

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    113/361

    113

    Agora Oniro voltasse a falar, e dizendo- Te disse que os alimentos so visveis,

    invisveis e simulacros. E que, alimentos, podem ser

    bnos e venenos. E te disse que as bocas so visveis,invisveis ou simuladas. E que essas bocas podem serabenoadas e venenosas. E disse ainda que as coisas

    podem optar pela Fome umas das outrasOu pelos Jejuns.

    Eles parariam no caminho: e no Caminho,pois esta a Via,

    e sob uma outra rvore e sob uma sombra,Oniro e Orino, agora aqui nesta seiva sombra

    E o animal com a perna escura de Orino em si osobservando,

    pois haveria seguido Oniro e Orino at ali,

    Oniro diria:- E o que so os alimentos visveis? Queres que

    eu te diga?

    Dos alimentos visveis:

    E dos alimentos visveis diria Oniro- Eles so os minerais, os vegetais, os animais. O

    ar, a gua, o fogoE deles passo a te falar assim

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    114/361

    114

    E o animal com a perna escura de Orino em sitambm ali ouvisse, mas j no todas elas,

    ns: as palavras devoradas

    Das bocas visveis:

    E das bocas visveis diria Oniro- Elas so os olhos, os ouvidos, a pele, o nariz, a

    bocaE delas passo a te falar assim

    E o animal com a perna escura de Orino em sitambm ali ouvisse. Devorasse essas palavras

    Dos alimentos invisveis:

    E dos alimentos invisveis diria Oniro- Eles so os sonhos, as idias, os sentimentos, as

    vozes do ventoE deles passo a te falar assim

    E o animal com a perna escura de Orino em sitambm ali ouvisse

    Das bocas invisveis:

    E das bocas invisveis diria Oniro

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    115/361

    115

    - Elas so o sono, a imaginao, os sentidos. E aliteratura

    E delas passo a te falar assim

    E o animal com a perna escura de Orino em sitambm ali ouvisse

    Dos alimentos simulacros:

    E dos alimentos simulacros diria Oniro- Eles so as sombras, as miragens, as imagensE deles passo a te falar assim

    E o animal com a perna escura de Orino em sitambm ali ouvisse

    animal das neblinas, Fulgor ausenteTambm caindoou ascendendono azul

    quisesses entender o Animal Imenso que em teuDorso habita?

    E achar o Ongd da Amizade das coisas pelascoisas?

    Das bocas simulacros:

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    116/361

    116

    E das bocas simulacros diria Oniro

    - Elas so os espelhos, todos esses que a vidasemeou na vida para nos confundir, e tambm os nossosolhos

    E delas passo a te falar assim

    E o animal com a perna escura de Orino em sitambm ali ouvisse

    Dos alimentos bnos:

    E dos alimentos bnos diria Oniro- Eles so todos os participam da Amizade das

    coisas pelas coisas,sejam eles alimentos visveis ou invisveis ou at

    mesmo simulacrosE deles passo a te falar assim

    E o animal com a perna escura de Orino em si aliouvisse

    Das bocas abenoadas:

    E das bocas abenoadas diria Oniro- Elas so todas as que participam da Amizade

    das coisas pelas coisas,sejam elas visveis ou invisveis ou at mesmosimuladas

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    117/361

    117

    E delas passo a te falar assim

    E o animal, com a perna escura de Orino em si

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    118/361

    118

    Da voz de gua rpida:

    - , k, animal umanoh

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    119/361

    119

    os alimentos venenos:

    E dos alimentos venenos diria Oniro- Eles so todos os que participam do dio das

    coisas pelas coisas,sejam eles alimentos visveis ou invisveis ou at

    mesmo simulacrosE deles passo a te falar assim

    E o animal com a perna escura de Orino em sitambm ali ouvisse

    Das bocas venenosas:

    E das bocas venenosas diria Oniro- Elas so todas as que participam do dio dascoisas pelas coisas,

    sejam elas bocas visveis ou invisveis ou atmesmo simuladas

    E delas passo a te falar assim

    E o animal com a perna escura de Orino em sitambm ali ouvisse

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    120/361

    120

    Dos alimentos simulacros bnos:

    E dos alimentos simulacros bnos diria Oniro- Eles so todos os que participam, ao mesmo

    tempo, da realidade das coisas visveis e invisveis,sendo fronteira sutil e transio, na penumbra,

    entre elasE deles passo a te falar assim

    E o animal com a perna escura de Orino em sitambm ali ouvisse

    Animal Escuro, a

    quisesses a pedrinha branca?queres achar nas Trevas o filho Brando?

    animal nas Trevas: a verde se amparando em vermelho

    a?

    at chegar pelo caminho da ida a a vermelhounido a vermelho

    a

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    121/361

    121

    e no regresso tua Neblina, ah, como bem-vindo o sido sendo, o ido retornado, a inteiramenteverde

    a?

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    122/361

    122

    Da voz de gua rpida:

    - , k, animal umano h

    a voz vermelha diz

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    123/361

    123

    Da voz de Areia Lenta:

    Dos alimentos simulacros venenos:

    E dos alimentos simulacros venenos diria Oniro- Eles so todos os que participam da irrealidade

    das coisas, simplesmente issoE deles passo a te falar assim

    E o animal com a perna escura de Orino em sitambm ali ouvisse

    Da opo pela Fome das coisas pelas coisas:

    E da opo pela Fome das coisas pelas coisasdiria Oniro

    - Ela toda opo pelos alimentos venenos epelas bocas venenosas, sejam visveis ou invisveis ousimulacros e simuladas

    E dela passo a te falar assim

    E o animal com a perna escura de Orino em sitambm ali ouvisse

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    124/361

    124

    Da opo pelo Jejum das coisas pelas coisas:

    E do Jejum das coisas pelas coisas diria Oniro- Ele toda opo pelos alimentos bnos e

    pelas bocas abenoadas, sejam visveis, invisveis ou atmesmo simulacros e simuladas

    E dele passo a te falar assim

    E o animal com a perna escura de Orino em siainda ali ouvisse, mas Orino

    em sua casinha de ossos, ah

    O quanto pode um homem de outro homem

    ouvir

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    125/361

    125

    Da voz de gua rpida:

    - k, no queres a pedrinha branca? No? Eu te

    daria essa pedrinha branca, k,onde estaria escrito O Nome Que Ningum

    Conhece

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    126/361

    126

    O Nome somente o nominvel pelo Espanto, k

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    127/361

    127

    Escritura que no cessa, s tu falas onde cala aliteratura

    Que Ave negra assim girando em crculos em ti

    No temer.Por que eles temem: teus vcios tuas repeties

    tudo isso que adejae busca enquanto os nossos ps vo indo para a

    Penumbra, assim em sonhos?

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    128/361

    128

    Da voz de Areia Lenta

    sobre a opo pelo Jejum das coisas pelas coisashavendo sido as ltimas palavras de Oniro que o animalouvira, se atravs do Lodo ouvira

    agora Oniro calariae o animal, onde o animal com a perna escura de

    Orino em si,agora, onde ele estaria, hein

    Ali,agora s a perna devorada de Orino ficaria,

    devolvida terra, no caminho

    pois, ao se ir, ele a deixara. Mas no as palavras

    devoradas de Oniro

    E quando Oniro diz- E agora vamos nos pr a caminho, Orino,

    vamos daqui,para doar a outros tudo o que, aqui,graas a esses ventos esvoaantes, a essas vozes

    que sopraram dentro de mim, e diz-se disso: o vento: oVento sopra em toda parte

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    129/361

    129

    e apesar da areia de que somos feitos no nosdesfaz,

    aprendemos

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    130/361

    130

    Via dos Mutilados

    ficasse aquela perna ali,a esquecida,e cintilasse ainda, pois devolvida ao sol

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    131/361

    131

    Ah como a Casa de Lodo escura: a terra

    Via dos Mutilados. Um passo.Via dos Mutilados. Outro passo

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    132/361

    132

    SeguiriamE, mais tarde, apontando o cu com um dedo

    longo, enquanto iam, Oniro estaria dizendo:

    - Olha, Orino,tu no sabes ver,mas sabes que nos cus das coisas duplas duas

    estrelas giram em torno uma da outra? ParentesO amor. O Amor?

    E dizendo isso, apontasse um cu invisvel sobre

    eles

    Mas depois diria Oniro,pois no podia mentir: no podia, ento no

    podia:- E no entanto, to atradas uma pela outra, o mal

    se d: o Mal. E dizem esses que olham o cu nas noites

    Escuras de estrelas que elas sendo fomes ocas negras, sedevoram. A se dando mais uma vez a Fome das coisaspelas coisas

    Por isso, h sis que preferem a solido,e ficam l, esferas, girando em si em sonhose homens, pois mais grave quando se quebra a

    carne, que preferem ser vazios de homem em si,

    imagens

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    133/361

    133

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    134/361

    134

    fosse ficando aquela perna escura, a devolvida luz, mais e mais para trs,

    como ficara o Anjo da Histria,as asas fechadas no peito, lembram?

    plumas e p

    fossem insetosaqueles homenzinhos, que das vrtebras ainda

    diziam

    o ui em ns

    Lembram?

    e cintilando ao sol,a esquecida,

    eles seguiam.

    Via dos Mutilados. Um passoVia dos Mutilados. Outro passo

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    135/361

    135

    E Oniro,

    que coisas ainda diria?Que j no se ouviro aqui. Via dos Mutilados,

    outro passo

    Pois na Via dos Mutilados s vezes nem aEscritura fala, e ela, a Literatura, na Via dos Mutilados

    ainda mais se cala

    ainda que Oniro, quem sabe, no Silncio que sefez, a si, oo, dissesse

    para se ouvir ainda e sem voz? e diz-se disso:que o teu ouvido escute a tua boca,

    mesmo que Oniro ainda dissesse,se dizia

    Da alimentao do corpo pelas pedras:

    Da alimentao da alma, essa ave que, diz-se,voa dentro de ns, pelas mos:

    Da alimentao dos olhos pelas sombras:

    Da alimentao das miragens:

    Da fome dos sonhos pelo sono:

    Da fome do sono pelos sonhos:

    Da alimentao da amizade pelo dio:

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    136/361

    136

    Da alimentao do dio pela amizade:

    Da alimentao da amizade pela indiferena:

    Da fome dos alimentos uns pelos outros:

    Da alimentao dos alimentos uns pelos outros:

    Da alimentao do mal:

    Da alimentao do bem:

    Da alimentao da dvida:

    Da alimentao da certeza:

    Da alimentao da dvida pela certeza:

    Da alimentao da certeza pela dvida:

    E se cada vez mais longe daquela perna queficava para trs ainda se dissesse?

    Da fome de se alimentar do bem feito a umoutro:

    Da fome de se alimentar do mal feito a um outro:

    Da fome de se alimentar de si:

    Da sede de ser bebido pela gua:

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    137/361

    137

    Da sede de arder num fogo:

    Um passo, outro passo, Via dos Mutilados

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    138/361

    138

    e a voz de gua rpida?Ela tambm j no mais nos falasse

    Silncio, faam silncio entre o Cu e a terra

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    139/361

    139

    Escutem

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    140/361

    140

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    141/361

    141

    ouvem, alguma voz?

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    142/361

    142

    On g de? A voz do Cu? Se perguntasse a vozverde da Serpente, passando por ali agora

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    143/361

    143

    e escura cintilando ao sol,a esquecida,

    quem sabe a sua Agonia, se l tentando se botarde p, para vir atrs de Oniroorino

    nem quela perna, se erguendo e tombando,tombando

    ela falaria?

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    144/361

    144

    A gente tem saudade de voltar a no ser nada

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    145/361

    145

    seres da Neblina, pela Neblina separados

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    146/361

    146

    e pela Neblina separados,

    e indo assim dispersos

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    147/361

    147

    caminha com ternura sobre a Terra, pois estsandando sobre os mortos

    os Semeados mortos,

    diz Outra voz

    Al-Maharri, agora sob os ps humanos, lbioscheios de terra

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    148/361

    148

    quem semear Andara?

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    149/361

    149

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    150/361

    150

    o: ouam, ouam:

    a Voz do ssaKil

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    151/361

    151

    Andara, Asa da Voz. Que Revoada em ti nocessa?

    k, animal umanohdizendo a voz vermelha. Que dissesse

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    152/361

    152

    k, sabes quem eu sou?

    o Olho cego que tudo v, e nada vendo, e te

    peo, k, vai ver por mim

    pois sabes o que eu sou, k?

    sou o Olho Silencioso que tudo sabe e ao Nadanada diz

    Te peo, k, me dizem suas Trevas eles falam de mim? E o que

    susssssssurram?

    eu te daria uma pedrinha branca

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    153/361

    153

    Da voz de gua rpida

    a k agora perguntasse:

    k, em suas Trevas o que eles falam de mim?ouvindo. Estou ouvindo.

    ouves?

    No, k, pois sabes o que eu sou?Eu sou o Ouvido Vazio que o Nada ouve

    So vinte e quatro as suas vozes. E uns aosoutros eles se dizem, com lbios cheios de espanto:

    - uma mnada que engendra uma mnada, e

    reflete em si mesmo uma s chama

    - est todo ele em qualquer parte de si

    - mente que engendra a palavra e perseverana unio

    - aquele de que nada melhor se pode pensar

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    154/361

    154

    - aquele em comparao com o qual todasubstncia acidente, e o acidente nada

    - princpio sem princpio, mudana semmudana, fim sem fim

    - amor que quanto mais se possui mais seoculta

    - o nico que tem presente tudo o que

    pertence ao tempo

    - aquele cujo poder no mensurvel, cujoser no finito, cuja bondade no limitada

    - se acha por cima do ser, necessrio,abundante e suficiente para si mesmo

    - aquele cuja vontade igual potncia esabedoria

    - eternidade que atua em si sem se dividirnem se determinar

    - oposio ao nada pela mediao do ente

    - vida cuja via para a forma a verdade epara a unidade a bondade

    - o nico ao que por sua excelncia aspalavras no podem significar e nem a mente por sua

    desemelhana compreender

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    155/361

    155

    - pensamento de si mesmo e no recebepredicado algum

    - est sempre imvel no movimento

    - o nico que vive do pensamento de simesmo

    - treva que permanece na alma aps toda luz

    - aquele de quem tudo quanto semdiviso, aquele para quem tudo quanto sem variao,aquele no qual tudo quanto sem mistura

    - aquele a quem a mente conhece somente naignorncia

    - luz que brilha sem fratura e se difunde masnas coisas apenas fica uma semelhana divina

    Eu sou o Ouvido Vazio que o Nada ouve k.O que mais eles dizem?

    - esfera que tem tantas circunferncias

    quanto pontos

    No ouves mais nada, k? a voz vermelha deperguntando

    - Espera, escuto: Ainda faltando uma

    ah, e a vigsima quarta voz diz de ti

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    156/361

    156

    - esfera infinita cujo centro est em todaparte e a circunferncia em parte alguma

    esses,e mais ainda o ltimo,sendo os mais Esfricos, k.Vissem naqueles oos pequenos l nas Trevas o

    que sendo no sou

    no sou mas sendo, e, assim, o contvel O em

    fosse O possvel. Isso

    Fosse o Possvel

    isso?

    k,

    mas k, por que eles se dizem Issos assim solenesde mim?

    um issozinho de nada as suas palavrase assim, Quem? O Que?Nem o nem , e ainda mais se oculta a minha

    mo direitaa que desceu s Trevas, agora,

    a Vazia

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    157/361

    157

    Vs entre eles o Outro, o que partiu da minhamo vazia, k?

    Vs? L, ele? E tambm balbuciante,

    Pergunta sua voz vermelha de crepsculos eauroras

    E mesmo se tudo visse, K lhe diz:- No:

    a menos que seja aquele de onde brotam as duascabeas

    - k, pedindo , no vais achar o meu Filho nasTrevas l embaixo? No queres a pedrinha branca, k?

    Eu te daria a pedrinha branca

    No queres a pedrinha branca, keu te daria uma pedrinha branca, uma pedrinha

    em que estaria escrito O Nome Que Ningum Conhece,somente aquele que a recebe:

    Esfera de silncio

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    158/361

    158

    Da voz de Areia Lenta:

    E se avanam Oniro e Orino com as trs pernasque lhes restam, atravs de Andara,

    cruzassem as guas das Alucinaes Humanas,

    e dando as costas s seivas da floresta,sobre o lugar do Dilogo dos alimentos s viriam

    passar a lua branca que alucina nos dias e a amarela quealucina nas noites depois que houvesse ido dali

    depois que houvessem ido dali, sumindo longebem pequenos no horizonte

    como so tambm de perto os homens,ei-lo, o vento. O Vento.Voltando, passando outra vez por ali, agitando as

    rvores, assustando as folhas recm-nascidase dizendo, insistindo:

    - Um animal uma falta de tudo para sempre

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    159/361

    159

    Mal sabiam

    dissesse a voz vermelha

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    160/361

    160

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    161/361

    161

    }}}}}

    O omem de areia

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    162/361

    162

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    163/361

    163

    Mal sabiam

    que naquele Areal para onde os seus passos oshaviam levado,

    ao darem as costas s seivas da floresta,o vento: o Vento, j haveria chegado antes.

    E alienquanto eles viriam surgindo longe do

    horizonte, bem pequenos

    como so tambm de perto os homens, dissesse avoz vermelha

    e ainda menores se em Orino falta uma perna,ei-lo, o vento. O Vento.

    J passando agora ali, agitando areias e dizendo,insistindo:

    - Um animal uma falta de tudo para sempre

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    164/361

    164

    Da voz de Areia Lenta:

    - E cada um possui a todos dentro de si e vem outro a todos, e tudo tudo e cada um tudoe cada um tudoe o Fulgor imenso,

    pois cada um deles grande,pois tambm o pequeno grandeL o sol todos os sis

    E cada sol sol e todos os sis

    Tendo nos dito isso Plotino, pois, lembram?fosse aquela a sua voz em chamas

    - ?

    E no entanto agora esse vento, tambm aquineste areal, que insiste, que diz:- Um animal uma falta de tudo para sempre

    Ento,entre seivas ou areias,

    um animal uma falta de tudo para sempre

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    165/361

    165

    ?

    E esse vento, que agora soprando, entre areias,

    dizSim.

    pois no instante em que eles estariamchegando, que um vento sopraria forte ali

    e to furioso, ah, pois ali se desfazendo um

    homem na areia

    neste Areal que uma mancha de brancura,que uma mancha de silncio

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    166/361

    166

    a Escritura, ei-la que volta de sua fraturabranca?

    to branca essa fratura no animal do textoE diz-se disso: se balbuciantes so os ossos do

    texto, Escritura

    e ali aquele: j um omem de areia

    Vocs diriam

    - Vicente, ser de espanto, omens de areia noexistem

    Mas, Sim, existem. Lhes digo com os escombrosdas palavras

    - quando morrem todos os alimentos em ns,e no s os bons, mas at os maus fenecem,que a areia vem e se instala

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    167/361

    167

    Da voz de Areia Lenta:

    Estaria agora ali,no Areal,

    dizendo Oniro a Orino- e ento a carne cede logo e vai cedendo a uma

    vocao de areia em ns, j sem resistir.E nem mais o Lodo, o mido em ns, se

    acumula

    aquilo se dando assim, naquele areal aonde eleshaveriam chegado,

    quantas vezes aquele omem ali, de areia, jhaveria resistido ao vento?

    o vento: o Vento

    Ou a primeira vez? O vento, s agora ali,trazido por eles? Mesmo tendo chegado antes deOniro e Orino, o vento

    Como saber.No saberemos. Pois em ns, os ainda os

    midos, mesmo os lodos quase nada sabem

    E o vento:- Um animal uma falta de tudo para sempre

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    168/361

    168

    repetia.E outra voz, gua veloz. Seu eco?Que dizia. A voz vermelha

    Um animal uma falta de tudo para sempre

    Mas como ouvi-lo, o vento, com ouvidos deareia?

    Nesse Areal onde ns, agora tambm tendochegado,

    resistimos, resistimose no queramos estar,como ouviria aquele omem de areia aquelas

    palavras com ouvidos de areia? Um omem de areia.Sim, existe. O que ns nem como literatura queremosser

    a pergunta vermelhaE nas Escrituras do ser, vocs aceitariam?

    - Um animal uma falta de tudoO vento: o Vento repeteUm animal Seu eco vermelho ressoa

    E toda aquele areia, que se agita ao redordaquele omem,

    e nele.

    Mas no em ns?Nem s em hipteses de inscries humanas, e

    diz-se disso: Escrituras?Uma outra areia mais fina, aps a areia grossa daLiteratura

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    169/361

    169

    E Oniro e Orino havendo chegado ali, ento, no

    ArealooOniroorinoum vinha na frente, pois mais queria doar a

    outros o que sabia. Aviva o fogo. Adivinhas qual?Perguntando o homem que contando ao outro ao

    redor do fogo a histria de OniroOrino,

    deixem que eu, Vicente, isso lhes diga

    Escritura convergente,como tu a todos tudos tens Em ti

    Eles estariam vindo, vocs sabem, dos sonhos dalua,

    a branca que alucina nos dias, a amarela quealucina nas noites, tendo deixado para trs as seivas dafloresta

    E agora teriam chegado nesse Areal, onde,ao sol, s uns gros secos, de sonhos umanos,os ressequidos

    - Ei, tu.Diria Oniro ao chegar, fazendo sombra sobre

    Orino que viria atrsoo?- Ei, tu, diria Oniro, ao se aproximarem atravs

    da areia daquele outro no ArealEsse outro, porm, se s ouvindo o vento no oouvia

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    170/361

    170

    E nele nem um gesto, um levemente, pois neletodo o lodo abolido

    E furiosamente s a areia ali se agitando,aquela pele de areia,

    ento, eis: um gro de areia, arrancado pelovento, estaria saltando do omem de areia

    e viria, esse gro, se cravar no olho de Orino.Que animal, e ainda um homem em si

    e diz-se disso: um animal em si, fora de sichutaria aquele monte de areia, aquela forma j

    umana de areia, e a desfaria. Vermelho ahhh

    Poderia esse encontro,ainda que seja s um encontro do humano com

    um omem de areia,se desfazer assim?Sim.Pois sendo um homem s um montinho de p

    que um outro homem com um sopro desfaz, e semternura

    A Pergunta Rubraento, para que contar histrias? E desse omemde areia

    Fim, ento. E se diz: fim da Literatura

    Mas no sendo mais isto Literatura, ossos de

    palavras, Escritura

    e Oniro no querendo que isso fosse assim,

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    171/361

    171

    epara ter a quem doar lies

    sobre a Espessa em tudo, em nssob a lua amarela, sob a lua branca, e ainda que

    doadas a ouvidos onde o lodo se acumula,ou para um omem de areia,e ainda que asas negras, asas brancas,mais adiante vocs vero, mas s mais tarde,

    quantas pginas adiante ainda no sei

    no as quisessem aceitar,

    pois saibam: Asas negras, Asas brancas aindaviro voar sobre vs, terrveis, quantas pginas ladiante no direi,

    disse e calasse a voz vermelha

    Oniro, ento, no querendo que isso fosse assimjuntaria minuciosamente, gro a gro, aquele ex-homem,

    o desfeito, do cho. E, tendo o cuidado de nemrespirar,

    no soprasse sem querer, e espalhasse aquelesgros no p o que sempre ns espreita,

    refaria minuciosamente, gro a gro, aquela ex-carnee,homem sem sequer brisas em si,sem soprar,e at fazendo do seu corpo um escudo contra o

    vento que por ali continuava a soprar furioso e dizendo,

    insistindo- Um animal uma falta de tudo para sempreuma falta de tudo para sempre. Eco vermelho

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    172/361

    172

    e at mesmo obrigando Orino oo unido a si afazer de seu corpo o Mesmo escudo

    e ento, eis: o omem de areia abriria os olhos,e diria:- oiEsse pequeno som vindo dele.De criana, renascendo

    E para que?

    Ainda para esse sonho de existirmosDe carne. Ou areia.

    ah, no importa, no importa

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    173/361

    173

    Da voz de gua rpida:

    k, me diz

    Pede a voz vermelha

    k: aqueles vinte e quatro que Susssssssurrandonas Trevas, tambm eles no querem a pedrinha branca, k?

    Eu lhes daria a pedrinha branca, k

  • 8/22/2019 O escuro da semente/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

    174/361

    174

    Da voz de Areia Lenta:

    Depois,

    o vento havendo cessado, O ido dali

    - Um animal uma falta

    ele dissera ainda uma vez, e cessaraum animal uma falta. Simeco vermelho

    agora Oniro e Orino estariam sentados ao ladodaquele montinho umano de areia, sacudindo gros, selimpando, e distrados nisso

    nem notassem que faltava meio rosto no omemde areia

    pois a ternura em Oniro,a