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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
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O ENSINO NORMAL E A REFORMA DE 1927: TRANSFORMAÇÕES NO CENÁRIO EDUCACIONAL PAULISTA
Leila Maria Inoue1
Este texto pretende discutir os resultados finais da pesquisa de Doutorado em
Educação2 (2011-2015), cujo tema é a história da formação de professores em São Paulo,
desenvolvida na Linha de Pesquisa em História e Filosofia da Educação Brasileira, no
Programa de Pós Graduação em Educação, da Unesp-Campus de Marília.
O objetivo deste texto é conhecer, estudar e analisar as transformações proporcionadas
pela Reforma da Instrução Pública de 1927, implantada pelo Diretor Geral Amadeu Mendes,
no Ensino Normal. A finalidade deste texto é ampliar os conhecimentos sobre a História da
Educação e sobre a formação de professores em São Paulo.
O desenvolvimento desta pesquisa teve como fundamento as perspectivas da História
Cultural com base nos estudos de Carvalho (1998), Certeau (2008) e Chartier (1990, p.16-17),
que considera que:
A história cultural, tal como entendemos, tem por principal objetivo identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler. Uma tarefa desse tipo supõe vários caminhos. O primeiro diz respeito às classificações, divisões e delimitações que organizam a apreensão do mundo social como categorias fundamentais de percepção e de apreciação do real.
E também, com base nas considerações de Certeau (2008, p. 66) sobre “operação
historiográfica”. Este autor considera que:
Encarar a história como operação será tentar, de maneira necessariamente limitada, compreendê-la como a relação entre um lugar (um recrutamento, um meio, uma profissão, etc.), procedimentos de análise (uma disciplina) e a construção de um texto (uma literatura). É admitir que ela faz parte da realidade da qual trata, e que essa realidade pode ser apropriada ‘enquanto prática’. Nesta perspectiva, gostaria de mostrar que a operação histórica se refere à combinação de um lugar social, de práticas ‘científicas’ e de uma escrita. (grifos do autor).
A análise dos documentos das Escolas Normais revela as transformações culturais e
políticas que emergiam em diversos momentos e as tendências pedagógicas que formavam os
1 Doutora em Educação pela Faculdade de Filosofia e Ciências – Unesp Marília. E-mail: <[email protected]>.
2 Pesquisa desenvolvida com Bolsa CAPES.
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professores. E, ainda, permite analisar os “projetos pedagógicos e modelos culturais” que
circulavam pelas Escolas Normais. Desse modo, os arquivos das Escolas Normais são
importantes fontes de estudos para a História da Educação no Brasil que ainda não foram
exploradas.
Durante meu percurso de pesquisa, que iniciou ainda na Graduação em Pedagogia
(2004-2007), observei que após 1910 houve muitas reivindicações populares e de intelectuais
pela melhoria e ampliação da Escola Primária para a população, sobretudo no estado de São
Paulo. Tais reivindicações resultaram em diversas Reformas da Instrução Pública na década
de 19203 que buscaram ampliar a instrução pública acabando com o analfabetismo. A partir
de então, passei a analisar algumas Reformas de Ensino paulistas preocupadas em propor
medidas que ampliassem o número de Escolas Primárias pelo estado. Uma dessas reformas
foi a Reforma da Instrução Pública 1927 que proporcionou uma grande transformação no
Ensino Normal paulista a fim de difundir também o Ensino Primário. Desse modo, no
Doutorado me preocupei em analisar a Reforma de 1927, implantada pelo Diretor da
Instrução Pública Amadeu Mendes4 e compreender a expansão das Escolas Normais pelo
interior paulista. Tal Reforma trouxe significativas mudanças para a formação de professores
que discutirei ao longo do texto.
O movimento em prol da educação, influenciado pelas inovações educacionais
internacionais, gerou muitas críticas à instrução pública e com isso, o número de formandos
das Escolas Normais Oficiais decaiu. Era preciso formar professores em número suficiente
para atender a demanda, mas as críticas quanto à precária formação pedagógica das Escolas
Normais Oficiais paulistas podem ter diminuído a procura pelos estudantes. Segundo Tanuri
(1973, p. 230), o número professores formados nas Escolas Normais do Estado de São Paulo
decresceu até meados da década de 1920:
1915 – 1006 professores formados
1920 – 631 professores formados
1925 – 238 professores formados
Com a falta de professores diplomados para atender a demanda paulista, a Reforma da
Instrução Pública Paulista de 1927, equiparou as Escolas Normais Livres às Oficiais do
estado, com exceção da Escola Normal da Capital, para formar professores em número
suficiente para atender a demanda das regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos –
3 Reforma Sampaio Dória (1920), Reforma Pedro Voss (1927) e Reforma Amadeu Mendes (1927). 4 Diretor Geral da Instrução Pública de 1927 a 1930.
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áreas que estavam se desenvolvendo com o avanço do povoamento. Essas medidas
estimularam a criação de Escolas Normais privadas e municipais pelo estado marcando o
início do processo de expansão do Ensino Normal “Livre”.
As Escolas Normais Livres já existiam anteriormente à Reforma de 1927. A Lei nº. 88,
de 08 de setembro de 1892 e o Decreto nº 144-B, de 30 de dezembro de 1892,
regulamentaram o exercício da iniciativa privada no setor do ensino, porém no âmbito do
Ensino Normal houve dificuldades para sua concretização, pois o estado de São Paulo
reconhecia apenas os títulos de estabelecimentos oficiais, constituídos pela Escola Normal da
Capital e pelas Escolas Complementares, que na época, também formavam professores para
atuarem no Ensino Primário.
Os professores formados nessas instituições livres trabalhavam como professores leigos
nas Escolas Estaduais ou em Escolas Primárias privadas. Os professores contratados como
leigos, mesmo com a devida formação em Escolas Normais Livres, não tinham os mesmos
direitos e benefícios dos professores formados nas Escolas Normais Oficiais até a Reforma de
1927. Mas, com a Reforma, essas instituições foram equiparadas às Escolas Normais Oficiais,
com exceção da Escola Normal da Capital5 que, de certa forma, sempre teve certa
superioridade em relação às demais.
Fazia parte do Ensino Livre as instituições escolares privadas e municipais6. As Escolas
Normais Livres criadas e mantidas pelos municípios cobravam mensalidades para sua
manutenção ao contrário Escolas Normais Oficiais - criadas e mantidas pelo estado - que
ofereciam ensino gratuito. Por isso, as escolas municipais faziam parte do setor privado de
ensino. Tais escolas eram denominadas de “livres”, mas, apesar da denominação, eram
submetidas à fiscalização do governo por meio de inspetores nomeados para cada uma delas.
Até o ano de 1927, o estado de São Paulo contava com apenas 10 Escolas Normais que
se encarregavam de formar professores para atender a o ensino primário paulista. Eram elas
a Escola Normal da Capital (1846), Escola Normal do Braz (1913), Escola Normal de
Campinas (1902), Escola normal da Casa Branca (1912), Escola Normal de Piracicaba
(1896), Escola Normal de São Carlos (1911), Escola Normal de Botucatu (1910), Escola
Normal de Itapetininga (1894), Escola Normal de Pirassununga (1910) e Escola Normal de
Guaratinguetá (1902). Contudo, esse número era insuficiente para atender as regiões
5 Os egressos da Escola Normal de São Paulo tinham mais benefícios que todos os outros, uma vez que poderiam assumir cargos de diretores de escolas e outros cargos administrativos da Diretoria da Instrução Pública, por exemplo.
6 Nesse período, como os municípios não eram entes federados e nem responsáveis pelo ensino oficial, precisavam do reconhecimento do Estado e por isso as escolas municipais eram consideradas escolas livres.
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afastadas dos grandes centros urbanos e ainda, muitos desses professores não exerceriam a
profissão.
O presidente do estado Júlio Prestes ressaltou que era necessário formar professores
para atender à demanda nas escolas das regiões mais distantes e de difícil acesso. Assim,
seria necessário reorganizar o Ensino Normal para formar, de maneira rápida, os professores
para tais localidades.
O fundamento da reforma de 1927 calcava-se na alegação de que não havia professores diplomados em número suficiente para preenchimento das vagas nas escolas rurais e que urgia reorganizar o ensino de modo a satisfazer as necessidades imperiosas do Estado referente à escolarização primária. Era novamente a tentativa de resolver o problema do analfabetismo, que mais uma vez voltava a ser questionado na década de vinte, como se apenas as modificações nos padrões de ensino e nas estruturas escolares fossem suficientes para dar ao problema o devido equacionamento e solução a fim de que se estendesse a escolarização a todos os habitantes das zonas rurais e urbanas. Colocava-se na formação rápida de um professorado numeroso, o cerne do problema do analfabetismo na zona rural. (TANURI, 1979, p. 180).
Então, a Reforma de 1927 - Lei nº 2.269, de 31 de dezembro de 1927, considerada uma
medida de emergência, equiparou as Escolas Normais Livres às Escolas Normais Oficiais (art.
19) com o intuito de expandir o Ensino Normal e formar professores para atender a demanda
nas áreas de difícil acesso como Escolas Isoladas e Rurais do interior do estado e reduziu o
Curso Normal de 05 para 03 anos (art. 1º), com exceção da Escola Normal da Capital7 que
conservou a estrutura implantada em 1925. Com essa nova estrutura pode-se dizer que na
impossibilidade de expandir Escolas Normais do mesmo nível das existentes, os
reformadores buscaram manter a superioridade da Escola Normal da Capital e reduzir todas
as outras.
Com a implantação da nova Reforma, as demais Escolas Normais Oficiais e Escolas
Normais Livres equiparadas ficaram organizadas em 03 anos. A redução do Curso Normal
proporcionaria a formação mais rápida de profissionais para atender a demanda do estado.
Com as mudanças, as cadeiras e as aulas se organizaram conforme o Quadro abaixo.
7 Os professores formados na Escola Normal da Capital gozavam de algumas regalias como: preferência para os cargos de diretores das Escolas Normais, Primárias, Profissionais, e Secundárias, professores de Escolas Complementares e normais e inspetores de ensino.
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QUADRO 1 CADEIRAS E AULAS DAS ESCOLAS NORMAIS DE 03 ANOS APÓS A REFORMA DE 1927
Cadeiras e Aulas Aulas no 1º
ano Aulas no 2º
ano Aulas no 3º
ano
1 - Português e Califasia 4 3 2
2- Francês 3 3 -
3 - Geografia Geral e Geografia do Brasil
3 -
- 3
- -
4 - História da Civilização e História do Brasil e Educação Cívica
- -
3 -
- 3
5 - Aritmética, Álgebra e Geometria
4 -
- 2
- -
6 - Física e Química
- -
3 -
7 - História Natural e Higiene 4 2
8 - Psicologia, Pedagogia e Didática 3 10
9 - Desenho 4 3 -
10 - Música (Orfeão) 4 3 -
11 - Ginástica (seção masculina/seção feminina)
3 3 -
12 - Trabalhos Manuais (seção masculina/seção feminina)
3 - -
Fonte: Instrucções para o Cumprimento das Disposições Regulamentares nas Escolas Normais Livres (1929), publicado pela Diretoria Geral da Instrução.
Com o novo programa, o corpo docente das Escolas Normais Oficiais e Livres, com
exceção da Escola Normal da Capital, foi composto de:
- um lente8 de Português e Califasia;
- um lente de Francês;
- um lente de Geografia;
- um lente de História da Civilização, do Brasil e Educação Cívica;
- um lente de Matemática;
- um lente de Física e Química;
- um lente de História Natural e Higiene;
- um lente de Psicologia e Pedagogia;
- um professor de Didática;
- um Professor de Música;
- um professor de Desenho;
- um professor de Ginástica para cada seção;
- um professor de Trabalhos Manuais e
- um preparador de Física e Química e auxiliar das aulas de História Natural.
8 O termo lente significava na época que o professor era o titular da cadeira ou disciplina.
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Muitos parlamentares, intelectuais e educadores foram contrários a tal medida de
equiparação, pois o estado abria mão do controle da formação de professores ao colocá-la sob
responsabilidade da iniciativa privada e municipal. Para tentar controlar as escolas, o
governo impôs algumas condições para a concessão da equiparação:
a) terem sido fundadas taes escolas e serem mantidas por nacionaes, com corpo docente tambem de nacionaes; b) serem seus cursos e programmas organizados de accordo com o regimem adoptado nas Escolas normaes officiaes; c) possuírem um patrimonio minimo de duzentos contos de reis; d) serem situadas em municipios, que não possuam Esccola Normal official; e) ser o seu lente de pedagogia e didactica de nomeação do Governo, com vencimentos identicos aos dos lentes das Escolas Normaes officiaes. (SÃO PAULO, 1927).
Para justificar as equiparações, Amadeu Mendes cita uma fala do Presidente do Estado
Julio Prestes sobre os custos pagos pelo governo para manter as Escolas Normais Oficiais e a
economia que as Normais Livres trariam para os cofres públicos (Relatório apresentado ao
Exmo. Sr. Diretor Fabio de Sá Barreto - Secretário do interior, 1929).
As 10 escolas normais mantidas pelo Estado custavam anualmente 5. 500:000$000, o que demonstra que as escolas normaes livres, que devem produzir o mesmo resultado das escolas normaes officiaes, representam para o Estado, sem levar em conta as despesas de installação, uma economia de 14.3000:000$000, que poderão ser applicados na disseminação do Ensino Primário. (MENDES, 1929, p. 58).
Com isso, as Escolas Normais Livres formariam os professores que o estado
necessitava de forma econômica. A economia que o governo teria com as Normais Livres
poderia ainda ser destinada para a ampliação do Ensino Primário.
O Diretor Geral Amadeu Mendes justifica que:
As 10 escolas normais officiaes, diplomando uma média de 345 alumnos por anno, eram insuficientes para attender ás necessidades do ensino, pois para cumprir o encargo constitucional de fornecer instruccção gratuita ás 150.000 crianças em idade escolar e sem matricula nas zonas ruraes do Estado, devendo cada classe ter, em média 30 alumnos, seriam necessários 5.000 professores, número esse que as escolas officiaes só num prazo minimo de 6 anos poderiam dar. O alvitre adoptado para supprir tal deficiencia foi a instituição do regime das escolas normais livres, que funccionando sob a immediata fiscalização desta Diretoria, vem soluccionar um dos nossos problemas mais sérios, o da diffusão do ensino alphabetizante, facilitando o provimento de escolas, máxime na zona rural, onde, já em 1926, existem 2.156 escolas criadas, que se acham vagas por falta de professores diplomados. Cercados de todas as garantias de uma severa fiscalização e sujeitos a rigorosa disposições regulamentares, esses estabelecimentos funccionaram, no anno findo, aparelhados para a realização de seus fins – formar
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professores habilitados para prover, num futuro próximo, o maior numero possível de escolas ruraes e urbanas. (MENDES, 1929, p. 46).
A justificativa de Amadeu Mendes em propor a equiparação das Escolas Normais Livres
foi a demora das Escolas Normais Oficiais em formar os professores que o estado necessitava,
pois segundo o Diretor, 2.156 escolas rurais foram criadas em 1926 e muitas delas estavam
vagas por falta de professores.
Para organizar o Ensino Normal, a Reforma de 1927 determinou que mais de uma
escola poderia ser equipara em uma mesma cidade desde que fosse uma em regime de
internato e a outra de externato. Isso significa que cada município não poderia ter mais de
uma escola em regime de externato ou internato equiparada. Assim, há uma deliberação
favorável à expansão das Escolas Normais, porém com certo controle por parte do Estado.
Tal controle parece coibir a concentração de Escolas Normais em uma determinada cidade.
Com o intuito de controlar as Escolas Normais Livres o estado nomearia um Inspetor
Fiscal e um professor para a cadeira de Psicologia e Pedagogia e Didática, além disso, tais
escolas deveriam depositar, a cada seis meses, na “Colletoria Estadual”, a importância
correspondente aos vencimentos anuais do desses profissionais. O professor nomeado pelo
estado seria uma forma de controlar a formação pedagógica dos novos professores. Sua
presença na Escola Normal Livre poderia ser uma forma de garantir que os saberes ensinados
seriam os mesmos das Escolas Normais Oficiais.
Outra medida proposta pela Reforma de 1927 foi que o diplomado nas Normais Livres
apenas poderia lecionar em uma escola urbana depois de passar 200 dias letivos em exercício
em escolas rurais e só poderia ser adjunto de Grupos Escolares depois de mais 200 dias
letivos em escolas urbanas ou 400 dias em escolas rurais, contudo, isso não era uma
exigência para os diplomados nas Normais Oficiais. Essa determinação pode indicar uma
maneira de aumentar o rigor e controle dos os diplomados nas Normais Livres e fazer com
que esses professores formados fossem para as regiões de difícil acesso, tal como era o
propósito de Amadeu Mendes (SÃO PAULO, 1927).
Ainda durante Reforma de 1927, se admitia professores leigos. O art. 39 explica que os
professores leigos poderiam ser habilitados mediante exames de uma comissão formada pelo
Inspetor Escolar para atuar em escolas rurais, isoladas ou reunidas que permanecerem vagas,
ou seja, sem professor devidamente diplomado, por mais de 30 dias e, em escolas urbanas
onde houver falta absoluta de tais profissionais.
Após a Reforma de 1927, em 1928, 26 Escolas Normais Livres – 02 na capital e 24 no
interior – obtiveram a equiparação. Essas escolas tiveram 44 classes de 1º ano com 1.503
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alunos matriculados, e as dez Escolas Normais Oficiais9 tiveram 3.126 matriculados em todos
os anos do curso, pois ainda estavam em fase de transição do Ensino Normal de cinco para
três anos, conforme a Reforma de 1927 (TANURI, 1973). Isso mostra que a equiparação das
Escolas Normais alteraria a organização da formação professores no estado, pois entrava em
cena a iniciativa privada e municipal superando – em número de escolas - a iniciativa
estadual. As Escolas Normais equiparadas estão no Quadro 2.
9 Escola Normal da Capital, Escola Normal do Braz, Escola Normal de Campinas, Escola Normal de Casa Branca, Escola Normal de Piracicaba, Escola Normal de São Carlos, Escola Normal de Botucatu, Escola Normal de Itapetininga, Escola Normal de Pirassununga e Escola Normal de Guaratinguetá.
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QUADRO2 ESCOLAS NORMAIS PAULISTAS EQUIPARADAS (1928)
ESTABELECIMENTOS AOS QUAIS SÃO
ANEXOS LOCALIDADE
DATA DE EQUIPARAÇÃO
REGIME Nº DE
CLASSES ALUNOS
MATRICULADOS ALUNOS
PROMOVIDOS
1. Colégio Puríssimo Coração de Maria
Rio Claro 16-02-1928 Internato Externato
2 68 60
2. Colégio Sagrado Coração de Jesus
Campinas 16.02.1928 Internato 1 21 14
3. Escola Normal Livre de
Tietê 16.02.1928 Externato 3 118 88
4. Ginásio Municipal
Mackemzie Araraquara 16.02.1928 Externato 2 62 49
5. Ginásio de São Luiz
Jaboticabal 16.02.1928 Externato 1 49 17
6. Colégio Santa Inês
Capital 16.02.1928 Internato 1 25 13
7. Escola de Farmácia e
Odontologia
Ribeirão Preto
16.02.1928 Externato 2 91 66
8. Colégio Nossa Sra. Auxiliadora
Batatais 20.02.1928 Internato-Externato
1 18 18
9. Escola Normal Livre de
Franca 20.02.1928 Internato-Externato
2 110 63
10. Escola Normal Livre de
São Simão 20.02.1928 Externato 2 120 97
11. Colégio Progresso
Campineiro Campinas 23.02.1928 Internato 1 20 19
12. Colégio Nossa Sra. do Amparo
Amparo 23.02.1928 InternatoExternato
1 36 28
13. Assoc. Instrutiva José Bonifácio
Santos 29.02.1928 Externato 2 104 69
14. Colégio Santo André
Jaboticabal 29.02.1928 Internato 1 28 16
15. Escola Normal Livre Guedes de
Azevedo Bauru 01.03.1928 Externato 1 100 22
16. Colégio N. S. do Carmo
Guaratinguetá
01.03.1928 Internato 1 18 16
17. Colégio N. Sra. d’ Assunção
Piracicaba 01.03.1928 Internato 1 40 35
18. Colégio Progresso
Araraquara 08.03.1928 Internato 1 25 19
19. Escola Professoral
Patrocínio São José Lorena 15.03.1928
InternatoExternato
2 96 51
20. Ginásio Municipal de
Jaú 29.03.1928 InternatoExternato
1 50 41
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21. Colégio Patrocínio
Itu 29.03.1928 InternatoExternato
3 92 55
22. Colégio Imaculada
Moji Mirim 12.04.1928 Internato Externato
1 23 36
23. Colégio São José Limeira 12.04.1928 InternatoExternato
1 25 23
24. Colégio Florence Jundiaí 12.04.1928 Internato Externato
1 47 43
25. Colégio Batista Brasileiro
Capital 12.04.1928 Internato 1 10 6
26. Colégio São José Pindamonhangaba
19.04.1928 Internato
Externato 2 87 14
TOTAL GERAL 44 1503 978
Fonte: Inoue, 2015 - Elaborado com base no quadro Escolas Normais equiparadas às oficiais de 3 anos , que funcionavam em 1928, do Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Fábio de Sá Barreto, Secretário do Interior, pelo Diretor Geral da Instrução
Pública Amadeu Mendes (1927-1928, p. 59).
De acordo com os dados do Quadro acima, 26 Escolas Normais Livres – devidamente
equiparadas – iniciaram seu funcionamento em 1928 e nenhuma Escola Normal Oficial foi
criada nesse período. Então, o estado passou a ter 36 Escolas Normais - 10 Escolas Normais
Oficiais e 26 Escolas Normais Livres. Isso trouxe transformações significativas para a
instrução paulista, pois, com mais Escolas Normais haveria mais professores diplomados
para atender as necessidades possibilitando a ampliação do Ensino Primário.
Em 1930, o número de Escolas Normais Livres atingiu 49 unidades, com 4.017
matriculados, enquanto havia apenas 3.684 nas 10 Escolas Normais Oficiai. Formava-se a
primeira turma de alunos das Escolas Normais Livres após a equiparação com 934
formandos e mais 1.203 formandos das Escolas Normais Oficiais totalizando 2.137 novos
professores. Para Tanuri (1973, p. 272), foi esse o motivo que levou o governo provisório a
exonerar 1.050 professores leigos que lecionavam em Escolas Primárias do estado.
Pelo Quadro acima é possível observar que algumas Escolas Normais Livres eram
confessionais, por isso, é importante pontuar também que, com a abertura proporcionada
pela Reforma de 1927, muitas das Escolas Normais Livres foram criadas e mantidas por
ordens religiosas ligadas à Igreja Católica e outras igrejas, assim, destaco o papel desses
“grupos” na expansão do Ensino Normal nesse período.
Diante dos dados, é possível afirmar que a Reforma de 1927 foi muito importante para
a expansão do Ensino Normal no estado de São Paulo, principalmente nas regiões distantes
dos grandes centros urbanos. Na falta de recurso, o governo estadual equiparou as Escolas
Normais Livres às Escolas Normais possibilitando assim, a formação mais rápida de
professores para atender à demanda do Ensino Primário. Então, considero que a Reforma de
1927 possibilitou uma importante transformação no Ensino Normal a fim de ampliar o
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Ensino Primário, ou seja, por trás de um projeto de ampliação das Escolas Normais havia um
projeto de ampliação das Escolas Primárias para o interior e o litoral.
Referências
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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 4828
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