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2018 Experiências em Ensino de Ciências V.13, No.5
O ENSINO DE PROCESSOS DE SEPARAÇÃO DE MISTURAS A PARTIR DE
SITUAÇÕES-PROBLEMAS E ATIVIDADES EXPERIMENTAIS INVESTIGATIVAS
The Teaching of Mixing Separation Processes from Problem Situations and Experimental
Investigative Activities
Daniela do Amaral Friggi ([email protected]).
Maria Rosa Chitolina ([email protected]).
Universidade Federal de Santa Maria.
Av. Roraima, 1000 - Camobi, Santa Maria – RS, 97015 – 900.
Recebido em: 02/01/2018
Aceito em: 09/07/2018 Resumo
Neste trabalho, verificam-se as concepções prévias dos alunos relativas aos processos de separação
de misturas, bem como a importância da contextualização e atividades experimentais no ensino de
química. A partir disso, propõe-se o desenvolvimento de atividades experimentais investigativas, a
partir de situações-problemas contextualizadas, a fim de proporcionar aos alunos do 1º ano do ensino
médio uma melhor compreensão e aprendizagem dos processos de separação de misturas. Após a
realização dessas atividades, observou-se que, a partir dos seus conhecimentos prévios aliados com
as atividades desenvolvidas, os alunos adquiriram novos conhecimentos, aperfeiçoaram os conceitos
já existentes e aprenderam novos meios de compreender o conteúdo em estudo.
Palavras-Chave: Processos de separação de mistura. Situações-problemas Atividades experimentais
investigativas.
Abstract
In this work, the previous students conceptions about mixtures separation processes, as well the
importance of contextualization and experimental activities in chemistry education are verified.
Considering these, it proposes the development of investigative experimental activities, from
problem-solving contexts, in order to provide to high school 1st year students, a better understanding
and learning of mixtures separation processes. After activities, it was observed that allying their
previous knowledge with the activities, the students have acquired new knowledge, improved the
existing concepts and learned new ways to understand the subject studied.
Key words: Mixture separation processes. Problem situations. Experimental investigative activities.
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Introdução
O ensino de química, a partir da experimentação, tem sido defendido por diversos autores,
pois constitui um recurso pedagógico importante que pode auxiliar na construção e compreensão de
conceitos trabalhados em sala de aula. Conforme Maldaner (1999), o conhecimento químico deve ser
construído por meio de manipulações orientadas, de modo a desenvolver os conteúdos a partir de
algum fato recente ou ainda do próprio cotidiano. Isso proporciona ao aluno compreender, organizar
e relacionar as informações necessárias na construção dos conceitos fundamentais da disciplina de
química.
No entanto, geralmente, as atividades experimentais têm como sua principal característica
verificar ou confirmar alguma lei ou teoria, além de buscar na prática o que foi ensinado pelo
professor e aprendido pelo aluno em sala de aula. Este tipo de atividade é orientado por roteiros pré-
determinados, tendo resultados previsíveis e suas explicações para tais fenômenos, na maioria das
vezes, já conhecidas pelos alunos. Ainda, dificilmente tal tarefa propõe o raciocínio e o
questionamento, há apenas um aspecto automatizado da atividade.
De acordo com Suart e Marcondes (2009, p.53), “as atividades experimentais podem
contribuir para o desenvolvimento de habilidade cognitivas, desde que sejam planejadas e executadas
de forma a privilegiar a participação do aluno”, ou seja, uma atividade experimental não pode ser
realizada, de modo que, o professor apresente os procedimentos e o aluno apenas execute e verifique
se deu ou não certo.
Uma alternativa para esse tipo de atividade seria propor o ensino a partir de atividades
experimentais investigativas, de modo que, os alunos são colocados em situações de realizar pequenas
pesquisas. Além disso, segundo Lima e Maués (2006), que os alunos envolvam-se com a sua
aprendizagem, com a construção de questões, levantamento de hipóteses, análise e discussão dos
resultados obtidos. Além do mais, muitos educadores e pesquisadores em educação em ciências
relatam que a aprendizagem dos alunos é mais efetiva, quando trazem sua experiência pessoal para o
contexto escolar. Também, quando eles possuem a oportunidade de executar investigações, a partir
de suas ideias e conhecimento prévio, adquirindo novos meios de aprender e compreender os temas
e os fenômenos em estudo. Nesta perspectiva, o ensino ministrado por atividades experimentais
investigativas torna-se uma importante estratégia de ensino e aprendizagem.
Porém, a realização deste tipo de atividade se torna mais significativa, proveitosa e motivadora
para os alunos se for contextualizada com o dia a dia. Conforme Medeiros e Lobato (2010, p. 66), “a
contextualização do ensino tem relação com a motivação do aluno, por dar sentido àquilo que ele
aprende, fazendo com que relacione o que está sendo ensinado com a sua experiência cotidiana”.
Deste modo, os conteúdos a serem tratados em sala de aula devem ter um significado humano e social,
de modo que, interesse e provoque o aluno permitindo uma leitura mais crítica do mundo físico e
social, proporcionando ao estudante refletir, compreender, discutir e agir sobre seu mundo.
Os processos de separação de misturas é um tema abordado no ensino de química, mais
especificamente no 1º ano do ensino médio. Em relação a este tema, é possível afirmar que há várias
possibilidades de contextualizar o conteúdo com o cotidiano do estudante, e, a partir dele, realizar
atividades experimentais. Além do mais, trabalhar os processos de separação de misturas a partir de
atividades experimentais contextualizadas permite que o professor construa um elo entre o conteúdo
em foco e os conceitos abordados anterior ou posteriormente e que são necessários para dar suporte
no desenvolvimento e na compreensão destes processos tais como: estados físicos da matéria,
misturas homogêneas e heterogêneas, fases, componentes, densidade, solubilidade, polaridade entre
outros.
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Na maioria das vezes, o conteúdo processos de separação de misturas é transmitido pelo
professor ou exposto nos livros didáticos como unidade isolada, não realizando nenhuma ligação com
os conteúdos necessários para uma melhor compreensão. Apenas, descrevem os processos de
separação, citam exemplos e algumas vezes, dependendo do processo, mencionam algum dos
conceitos citados acima.
Deste modo, considerando a relevância do desenvolvimento de atividades experimentais
contextualizadas no ensino de química, no presente estudo, visa-se a averiguar os conceitos prévios
dos alunos sobre o conteúdo processos de separação de misturas e com base nos dados obtidos
desenvolver uma atividade experimental investigativa. Assim, a partir das situações-problemas dadas,
os alunos tiveram que investigar e indicar o processo de separação de mistura adequado para resolver
cada situação-problema. Além disso, para que os alunos desenvolvessem os processos de separação
de misturas, eles tiveram que construir, a partir de materiais alternativos, os sistemas para executar
os procedimentos experimentais.
Desenho da pesquisa
A presente pesquisa ocorreu em uma escola pública no interior do Rio Grande do Sul, com
alunos das turmas do 1º ano do ensino médio, nos períodos do turno da manhã da disciplina de
química e nos períodos dos seminários integrados os quais ocorriam nas terças pelo período da tarde,
entre agosto e dezembro de 2015. Consentiram participar da pesquisa 28 alunos, mediante entrega do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, assinado pelos responsáveis e pelo aluno. Todos os
alunos participaram da intervenção, mas a coleta de dados foi realizada apenas com os alunos que
consentiram participar da pesquisa.
Para coleta de dados, utilizou-se um questionário com três perguntas abertas, com objetivo de
verificar as concepções prévias e explicações referentes aos processos de separação de misturas.
• O que você entende por processos de separação de misturas?
• Quais os processos de separação de misturas vocês utilizaria para separar as seguintes
misturas: feijão + impurezas; amendoim + cascas; areia fina + areia grossa; café + água; água + óleo;
sal + areia; água + sal;
• O conhecimento sobre os processos de separação de misturas são importantes em que parte
do seu cotidiano?
A aplicação do questionário foi realizada em dois períodos de 50 minutos de duração cada e
a aplicação das atividades experimentais foram realizadas em cinco encontros, com duração de 3
horas e meia cada, nas terças-feiras, pelo período tarde, quando os alunos tinham os seminários
integrados nestes períodos.
Para a análise dos dados contidos no questionário, foi utilizada a técnica de Análise de
Conteúdo (BARDIN, 2003), com a qual primeiramente as informações extraídas das respostas dos
alunos foram organizadas e agrupadas em categorias emergentes significativas (PACCA; VILLANI,
1990). Todas as respostas obtidas pelos alunos foram consideradas sem serem classificadas como
certas ou erradas (LÜDKE; ANDRÉ, 1983).
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Resultados e Discussões
3.2.1 Processos de separação de misturas: A compreensão
Para verificar a compreensão dos alunos sobre os processos de separação de misturas, foi
realizado o seguinte questionamento: O que você entende por processos de separação de misturas?
Gráfico 1 - O que você entende por processos de separação de misturas
Fonte: dados da pesquisa.
Com relação às respostas dos alunos referentes à primeira pergunta (Gráfico 1), emergiram
quatro categorias: Separar as substâncias; Processos/procedimentos químicos; Separar misturas
homogêneas/heterogêneas e não sabe/ não respondeu.
Na categoria separar as substâncias, encontram-se todas as respostas relacionadas com
processos para separar as substâncias, como: “Processos de separação de misturas, são aqueles
processos que usamos para separar várias substâncias que foram misturadas” ou “São processos para
isolar as substâncias contidas em uma mistura” ou ainda “O próprio nome já diz, separar as misturas,
ou seja, as substâncias que estão na mistura”.
Na categoria de respostas denominadas processos/procedimentos químicos, encontram-se
todas as respostas relacionadas com processos/procedimentos químicos para separar as misturas,
como: “São processos químicos, da disciplina de química, para separar as misturas” ou
“Procedimentos realizados para separar as misturas”.
Na categoria separar misturas homogêneas/heterogêneas, agruparam-se todas as respostas
relacionadas com processos de separação de misturas homogêneas e heterogêneas, como: “São
processos que estudamos para separar as misturas homogêneas e heterogêneas” ou “Conforme a
mistura, existem processos para separar a mistura que é homogênea e a que é heterogênea” ou ainda
“Processos que classificamos, conforme a mistura for homogênea ou heterogênea”.
De forma geral, a análise das respostas obtidas mostra que o conhecimento dos alunos sobre
processos de separação de misturas é muito geral e não está baseado no conhecimento científico, o
qual engloba fatores determinantes como solubilidade, polaridade, estado físicos da matéria,
densidade, temperatura, entre outras.
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Separar as substâncias Processos/Procedimentos
Químicos
Separar misturas
homogêneas/heterogêneas
Não sabe/Não respondeu
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CATEGORIAS
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3.2.2 Processos de separação de misturas: A aplicação de conceitos
Após verificar a compreensão dos alunos sobre os processos de separação de misturas, foi
exposto em sala de aulas diferentes misturas, para que os alunos indicassem para cada, o processo de
separação de mistura mais adequado. Deste modo, foi proposta a seguinte pergunta: Quais os
processos de separação de misturas você utilizaria para separar as seguintes misturas: feijão +
impurezas; amendoim + cascas; areia fina + areia grossa; café + água; água + óleo; sal + areia; água
+ sal? (questão 1).
Gráfico 2 – Misturas e classificação.
Fonte: dados da pesquisa
A partir das respostas dos alunos referentes à questão 1, explicada acima no Gráfico 2
emergiram cinco categorias: catação; ventilação; peneiração; filtração e não respondeu/ não sabem.
Na categoria catação, encontram-se todas as respostas relacionadas a este processo de
separação, para separar as misturas dadas aos alunos, como: “Para separar o feijão das impurezas
utilizamos as mãos para tirar o feijão e colocar na panela” ou “Catar o feijão com as mãos para separar
as sujeiras que vêm juntas no saco”1.
Na categoria ventilação, estão todas as respostas dadas pelos alunos, referente a este processo
como método de separação para as misturas presentes, como: “A mistura de amendoim + cascas
utiliza o vento para tirar as cascas que tem no amendoim” ou ainda “Como a casca do amendoim é
leve podemos assoprar as cascas, mas vai fazer muita sujeira”.
Na categoria peneiração, reuniram-se todas as respostas relacionadas a este método de
separação, para separar as misturas dadas aos alunos, como: “Como temos dois tipos de areia, uma
mais fina e outra mais grossa, podemos usar uma peneira, assim a mais fina passa e a mais grossa fica
na peneira” ou “Peneira a areia mais fina da grossa”.
Na categoria filtração, agruparam-se todas as respostas referentes a este processo de
separação, para separar as misturas dadas aos alunos, como: “Café + água, o pó é colocado no filtro
e a água passa por esse filtro, se misturando com o café, e depois sai o líquido que bebemos”, ou
“Essa mistura é separada todos os dias lá em casa pela minha mãe, antes dela ir para o serviço, ela
coloca o pó no coador da cafeteira, e passa o café” Ou ainda “Para separar o café da água, acontece
uma filtração”.
1 Trechos em aspas e ou itálico são as respostas dadas pelos alunos no questionário. Ao transcrever as respostas dos
alunos, respeitou-se a escrita deles, mantendo a concordância usada por eles.
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4 5
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Feijão +impurezas
Amendoim +cascas
Areia fina +areia grossa
Café + água Água + óleo Areia + sal Água + sal
ALU
NOS
CATEGORIAS
Catação Ventilação Peneiração Filtração Não sabe/ Não respondeu
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Na categoria não respondeu/não sabem, encontram-se três misturas, as quais os alunos não
souberam o processo de separação que seria mais adequado para separá-las. Uma possível
justificativa é que esses processos não estão relacionados ao dia a dia dos alunos, com os processos
de catação, ventilação, peneiração e filtração. Porém, é possível sanar as dificuldades apresentadas
nas misturas areia + sal; água + óleo e água + sal, a partir de atividades experimentais
contextualizadas, de modo a evidenciar essas misturas para o cotidiano dos estudantes.
3.2.3 Processos de separação de misturas: O cotidiano
Como os processos de separação de misturas estão relacionados a diversas atividades
realizadas no nosso dia a dia, com o objetivo de verificar se os alunos conseguiam relacionar o
conteúdo em estudo com o seu cotidiano, foi realizada a seguinte a pergunta: “Os conhecimentos
sobre os processos de separação de misturas são importantes em que parte do seu cotidiano?”
Gráfico 3 - Os conhecimentos sobre os processos de separação de misturas são importantes em que parte do seu cotidiano?
Fonte: dados da pesquisa.
Conforme as respostas dos alunos referentes à pergunta do Gráfico 3, emergiram cinco
categorias: alimentação; separar o lixo; não são importantes; não sabem e não responderam.
Na categoria denominada alimentação, estão presentes as respostas dos estudantes que
consideraram que os conhecimentos sobre processos de separação de misturas são importantes,
principalmente no preparo de alimentos, como por exemplo: “Na alimentação quando passamos
café”; “Para separar o feijão das partes sujas e poder cozinhar”; “Para separar e preparar os
alimentos”.
Na categoria “separar o lixo”, encontra-se apenas uma resposta referente aos conhecimentos
dos processos de separação de misturas sendo importantes no seu cotidiano, como: “Faz parte do meu
dia, quando meus pais pedem para separar os lixos de comidas dos outros”.
Nesta categoria, foi possível observar que, dentre das diversas atividades cotidianas passíveis
de serem correlacionadas aos processos de separação de mistura, a alimentação foi a mais apontada
pelos alunos. Somente um aluno relacionou os processos de separação de misturas com outra
atividade cotidiana, relacionando-a com a separação seletiva do lixo.
Assim, de forma geral, as respostas obtidas são consideradas relativamente simples, pois os
estudantes não conseguiram explicar em termos conceituais os processos de separação e relacionar
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Alimentação Não são importantes Separar o lixo Não sabe/ Não respondeu
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com as suas atividades habituais. Uma possível explicação para essa aparente falta de conhecimento
dos alunos, sobre o assunto em questão, na sua maioria, está relacionada com a pouca correlação entre
os conteúdos abordados no ensino de química, com associação do conhecimento científico e ao seu
cotidiano. Ainda, relaciona-se a pouca ou inexistência da realização de atividades experimentais, que
são essências para uma melhor compreensão dos conteúdos trabalhos na disciplina de química.
Realização das atividades experimentais investigativas.
Após a realização da análise das respostas obtidas a partir do questionário aplicado com os
alunos do 1º ano do ensino médio, tendo em vista as dificuldades apresentadas por eles em relacionar
as misturas, água + óleo, areia + sal e água + sal, com os processos de separação de misturas, foi
proposta uma atividade experimental investigava a partir de situações-problemas contextualizadas.
Além disso, para que os alunos pudessem desenvolver a atividade proposta, eles tiveram que elaborar
todos os sistemas necessários, a partir de materiais alternativos, para executar os processos de
separação das misturas. Durante o desenvolvimento das atividades experimentais, manteve-se um
diário de bordo e gravações, em que se registraram observações, falas interessantes dos alunos e a
execução das atividades. Antes de realizar o primeiro encontro para dar início ao desenvolvimento
das atividades, os alunos receberam duas situações-problemas, descritas abaixo:
Imagem 1: Manchete de notícia. Fonte: g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2012/01/vazamento-de-oleo-atinge-o-mar-de-tramandai-no-litoral-
norte-do-rs.html
Situação-problema 1: João e Maria estavam curtindo suas férias na cidade de Tramandaí,
localizada no litoral norte do RS, quando presenciaram um acidente envolvendo vazamento de óleo
no mar, conforme a notícia acima. Preocupados, João e Maria começaram a pensar, em uma possível
solução para separar esta mistura.
Situação-problema 2: Aproveitando mais um dia de sol na praia, Maria e João resolveram
fazer espetinhos de churrasco à beira-mar. No entanto, João ao abrir o pacote de sal para temperar a
carne, derrubou-o todo na areia. Ajude Maria e João a pensar quais processos de separação de
misturas, eles podem utilizar para recuperar o sal misturado na areia.
A realização das atividades experimentais pode ser organizada em três momentos:
► Primeiro momento: A construção do conhecimento antes da realização das atividades
experimentais investigativas;
► Segundo momento: A construção do conhecimento durante a execução das atividades
experimentais investigativas;
► Terceiro momento: Aplicação do conhecimento após a realização das atividades experimentais
investigativas;
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A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ANTES DA REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES
EXPERIMENTAIS:
Nos dois primeiros encontros, alguns alunos já traziam consigo materiais que haviam
pesquisado antes do nosso primeiro encontro. A partir de uma observação realizada por um dos
alunos, referente ao livro didático que eles utilizavam em sala de aula, conforme a figura 1, iniciou-
se o desenvolvimento das nossas atividades.
O livro didático escolhido pelos professores da disciplina de química, para acompanhar os
alunos durante ano letivo, era o livro Química para a nova geração – Química cidadã (PNLD, 2010).
Os autores deste livro, ao longo do capítulo sobre os processos de separação de misturas,
incentivavam a montar equipamentos alternativos, caso a escola não possuísse materiais e
equipamentos para realização de atividades experimentais. Este incentivo, podemos observar no
decorrer do capítulo, espaço em que os autores fazem uma chamada para o leitor: “use sua
criatividade, mas tenha sempre muito cuidado, mesmo não tendo os materiais e equipamentos
necessários dentro do laboratório é possível realizar uma atividade experimental, seja no laboratório
seja na sala de aula (SANTOS; MÓL, 2010, p.63)”.
Realizada a observação do aluno, referente ao livro didático, ele já possuía consigo, os
materiais descritos no livro para elaborar o sistema de destilação. Porém, os alunos não observaram
nas situações-problemas, se havia alguma mistura que necessitasse a elaboração do sistema de
destilação para separá-la. Logo, então, surgiu o questionamento de um dos alunos, sobre qual mistura
poderia ser separada pelo processo de destilação simples.
Aluna A: Professora, no exemplo do livro, não tem a mistura que temos aqui;
Aluna B: Então não precisamos construir esse equipamento;
Aluno C: Aqui no livro, diz água + areia, e a que temos é areia + sal, não dá para trocar;
A partir das dúvidas dos alunos, comecei a questioná-los: “Para separar a mistura de areia +
sal, qual processo podemos utilizar? Qual a classificação desta mistura, homogênea ou heterogênea?
Que processos de separação de misturas utilizo para separar as misturas homogêneas? E as
heterogêneas? ”
Os alunos responderam que não lembravam ou não sabiam. Tendo em vista a dificuldade dos
alunos em responder, além da mistura de areia + sal, foi preparada uma mistura contendo água + sal.
Assim, os alunos trabalhariam com uma mistura homogênea (água + sal) e uma mistura heterogênea
(areia + sal). Dadas as misturas, foi solicitado que os alunos as classificassem em mistura homogênea
ou heterogênea. As respostas dos alunos foram organizadas no gráfico 4:
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Gráfico 4 - Respostas referentes à classificação das misturas.
Fonte: dados da pesquisa.
A partir do gráfico é possível observar as dificuldades que os alunos apresentaram em
classificar as duas misturas em estudo. Deste modo, questionei-os: O que vocês entendem por
misturas homogêneas e heterogêneas?
Aluna D: Os materiais homogêneos têm apenas uma fase, por isso, são também
chamados de monofásicos.
Aluno E: Uma mistura homogênea apresenta só uma fase.
Aluna D: Os materiais heterogêneos têm mais de uma fase, por isso, são também
chamados de bifásicos, trifásicos e polifásicos.
Aluno E: Uma mistura heterogênea apresenta mais de uma fase.
Os alunos, que responderam o questionamento realizado, buscaram o conceito de mistura
homogênea e heterogênea no livro didático. Conforme as respostas dadas, podemos observar que o
conceito de fases aparece a todo o momento na classificação das misturas. Geralmente, para explicar
este conceito, o docente desenha no quadro um sistema de uma determinada mistura e a partir de
diferentes cores, indica o número de fases, tornando a aprendizagem deste conceito muito abstrata
para os alunos.
Para trabalhar o conceito de fases, fiz o seguinte questionamento: O que vocês entendem sobre
o conceito de fases?
Aluno F: Fases são aquilo que não se misturam, componentes é aquilo que tem dentro de
uma mistura.
Aluna G: Fases é aquilo que enxergamos e componentes compõem as misturas.
Aluna H: Fases é o estado físico que se encontram os componentes da mistura, que podem
se misturar ou não.
A partir das respostas dos alunos, para aplicar os conceitos os quais estavam sendo
trabalhados, mistura homogênea, heterogênea e número de fases, solicitei novamente que os alunos
classificassem as misturas contendo areia + sal e água + sal em homogênea e heterogênea e o número
de fases.
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Homogênea Heterogênea Não respondeu/Não sabe
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RESPOSTAS
Classificação das Misturas
água + areia água + sal
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Após os alunos classificarem, foi possível perceber que a dificuldade estava no número de
fases de cada mistura para classificar em homogênea e heterogênea. Podemos observar esta
dificuldade na fala de um dos alunos, descrita logo abaixo, quando os questionei quantas fases havia
na mistura contendo água + sal.
Alunos: Duas fases, a água no estado líquido e o sal no estado sólido.
Neste momento, foi possível perceber que os alunos haviam compreendido o conceito de
fases, a partir do estado físico dos componentes os quais constituíam a mistura. Porém, em algumas
misturas, encontramos componentes com estados físicos diferentes que se misturam ou se solubilizam
entre si, apresentando somente uma fase em toda sua extensão, como no caso da mistura de água +
sal. Deste modo, fiz o seguinte questionamento: Na mistura contendo água + sal, vocês conseguem
visualizar o sal? Todos alunos responderam que não estavam visualizando o sal na mistura. Então
novamente questionei-os: Quantas fases têm na mistura contendo água + sal? Os alunos responderam
que uma fase.
Após os questionamentos, foi possível observar nas falas dos alunos a compreensão sobre a
classificação e o número de fases, como por exemplo:
Aluno I: Primeiro eu olho a mistura, vejo se as substâncias se misturarem para ver o
número de fases e classificar a mistura em homogênea e heterogênea.
A partir deste momento, foi possível observar que os alunos haviam compreendido os
conceitos trabalhados, e assim nos próximos encontros poderíamos voltar a atenção no
desenvolvimento e na elaboração dos sistemas para resolver as situações-problemas dadas no início
das atividades.
A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO DURANTE A EXECUÇÃO DAS ATIVIDADES
EXPERIMENTAIS
A construção do conhecimento durante a execução das atividades experimentais aconteceu no
momento da resolução das situações-problemas. Para a situação-problema 1, que continha a mistura
água + óleo, a maioria dos alunos trouxeram os materiais alternativos descritos no livro didático
Química Cidadã: “o funil de separação pode ser substituído por uma garrafa pet descartável de
refrigerante de 600 mL, cortando-se o fundo e utilizando a tampa para e fechar, para que apenas o
líquido de baixo escoe (SANTOS; MÓL 2010, p.61)”.
Porém, uma aluna trouxe um material diferente daquele descrito no livro didático. Para separar
a mistura de água + óleo, a aluna trouxe um recipiente para sabão líquido para lavar as mãos. Logo
então, a aluna pegou a mistura contendo água + óleo, colocou dentro recipiente, conforme a figura 2,
e começou a explicar como ocorria a separação da mistura no recipiente de sabão líquido.
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Figura 1 - Sistema de decantação. Fonte: foto da autora.
Aluna J: Após colocar a mistura de água + óleo dentro do recipiente, esperamos a
mistura decantar, e após apertamos o embolo do recipiente até que todo líquido que está
embaixo seja posto para fora, e assim separamos a água do óleo.
Após a aluna executar a separação da água do óleo, um dos alunos questionou: por que o óleo
ficava sobre água e não contrário? Os alunos já tinham trabalhado o conceito de densidade com a
professora que ministrava a disciplina de química, porém alguns estudantes não tinham compreendido
o conceito de densidade. Deste modo, para ajudar na compreensão do termo densidade, iniciei uma
discussão com eles, com o exemplo da densidade do algodão e do chumbo: “Considerando a atração
gravitacional da terra, quem pesa mais: 1kg de chumbo ou 1kg de algodão? ”
Alunos: Chumbo; óbvio que um 1kg de chumbo, sem dúvidas um 1kg de chumbo.
A partir da resposta dos alunos, fiz a seguinte afirmação: Como vocês me dizem que o chumbo
pesa mais, se ambos possuem a mesma massa, 1kg de chumbo e 1 kg de algodão. Os alunos ficaram
confusos, então para facilitar a explicação e compreensão fui até o quadro e coloquei a fórmula da
densidade, d (densidade) = m (massa de um determinado material) / v (volume de um determinando
material), e fiz o seguinte questionamento: Se vocês fossem pesar um 1kg de chumbo e 1kg de
algodão, qual dos dois irá precisar de uma maior quantidade para chegar até um 1kg? Obtive a
seguinte resposta.
Alunos: algodão por que ele é mais leve; algodão;
Então, vocês concordam que para chegar até 1kg de algodão é necessária maior quantidade e
assim teremos um volume maior de algodão comparado com 1kg de chumbo?
Alunos: Sim; concordamos;
Aluno L: No caso do óleo e da água, se a gente pesar 1kg de óleo e 1kg de água, a massa
e o volume de água será menor que massa e o volume de óleo e por isso a água é mais
densa.
Após concluir a situação-problema 2, os alunos começaram a voltar suas atenções para a
situação-problema 1, que envolvia a mistura contendo areia + sal. Para executar este processo de
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separação, era necessário realizar três processos, dois envolvendo misturas heterogêneas, dissolução
fracionada e filtração simples, e um envolvendo uma mistura homogênea, destilação simples.
Os materiais alternativos utilizados pelos alunos para a situação problema 2 foram: garrafa
pet de 2L, papel filtro utilizado para passar café, manga de silicone, lâmpada comum, lata de
refrigerante, velas, cola epóxi e outros materiais que encontramos no laboratório da escola foram
aproveitados. Conforme a figura 2, podemos observar a montagem dos sistemas descritos
anteriormente.
Figura 2 - Dissolução Fracionada, filtração e destilação simples. Fonte: foto da autora
O primeiro processo de separação realizado pelos alunos foi o processo de dissolução. Neste,
um líquido é adicionado à mistura no intuito de dissolver um dos sólidos, após a mistura é filtrada e
por último destilada. Geralmente, na mistura de areia + sal adicionamos a água para dissolver o sal.
Quando os alunos começaram a realizar o processo de separação de dissolução fracionada,
questionei-os sobre o que eles entendiam sobre o conceito de dissolução e conforme as respostas de
alguns estudantes, foi possível perceber que muitos estavam confundindo o conceito de dissolução
com o de diluição. Para trabalhar estes dois conceitos, utilizei dois exemplos que podem ser
trabalhados em sala de aula, como: diluição do café e dissolução de um suco em pó.
Ao trabalhar com esses exemplos, observou-se na fala dos alunos, descrita logo abaixo, a
compreensão da diferença dos conceitos de diluição e dissolução.
Aluno N: Quando adicionamos água em uma mistura que já tem água na mistura,
estamos realizando uma diluição.
Aluno O: Quando uma mistura está forte, adicionamos água para ficar mais fraca.
Aluna P: No caso do suco em pó, como só tem o pó, quando adicionamos água estamos
dissolvendo.
Aluno O: Dissolver é acrescentar sólido no líquido e diluir acrescentar água;
Após os alunos compreenderem a diferença dos conceitos de diluição e dissolução, eles
adicionaram a água na mistura contendo sal + areia e montaram o sistema de filtração para separar
areia da mistura de água + sal. Realizada a filtração, sobrou a mistura contendo água + sal, que era
mistura a qual os alunos tinham pesquisado no livro didático, no início das nossas atividades, para
realizar o processo de destilação.
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Os estudantes montaram o sistema de destilação, conforme o livro didático Química Cidadã,
colocaram a mistura de água + sal dentro da lâmpada, vedaram a lâmpada e ascenderam as velas.
Durante a execução do processo de destilação simples, como os alunos haviam pesquisado, no livro
didático, apenas os materiais alternativos, não havia uma explicação de como ocorria todo o processo
de separação por destilação simples, e eles acabaram se esquecendo de colocar dentro da garrafa pet
a água fria. Essa era necessária para realizar a condensação da água. Deste modo, alguns
questionamentos de como ocorria o processo de separação foram surgindo:
Aluno Q: Como ocorre o processo de separação?
Aluno P: Como a água vai voltar a ser água?
Neste momento, solicitei aos alunos que pesquisassem no livro didático a explicação de como
ocorria o processo de destilação. No livro didático, os alunos encontraram a seguinte explicação
referente à destilação simples:
A mistura é aquecida em um balão de vidro e a água entra em ebulição, mas o sal não. O
vapor de água passa pelo interior do condensador, que é resfriado por água corrente. Com
esse resfriamento, esse vapor condensa-se. A água líquida, isenta de sal, é recolhida no
recipiente e, ao final restará sal sólido no balão de vidro (SANTOS; MOL, 2010, p.63).
Realizada a pesquisa de como o processo de destilação ocorria, os alunos perceberam que
tinham se esquecido de colocar a água gelada dentro da garrafa pet para realizar a condensação da
água. Assim, os discentes adicionaram a água gelada dentro da garrafa pet e começaram a realizar o
processo de destilação novamente.
Conforme o processo de destilação simples ia ocorrendo, um dos alunos questionou se existia
diferença nos conceitos ebulição e evaporação. Estes conceitos são bem parecidos, ambos se referem
à passagem do estado líquido para o estado gasoso, porém existe uma diferença fundamental entre
eles. A ebulição ocorre quando a substância atinge a temperatura de mudança de estado. É o que
acontece com água quando atinge 100 oC. Já a evaporação ocorre em temperaturas inferiores, como
no caso de uma roupa secando no varal. A partir dos exemplos de mudança de estado físico da água
e da roupa secando no varal, iniciamos a discussão dos conceitos de ebulição e evaporação com o
seguinte questionamento: “Qual é a temperatura que a água em estado líquido passa para o estado
gasoso? ”
Alunos: Não sei, não lembro, acho que é 100 oC.
E quando colocamos a roupa no varal para secar é necessário que água contida na roupa
alcance a temperatura de 100oC?
Alunos: Não.
Então, neste caso, temos o processo de evaporação, pois a mudança de estado físico da água
no estado líquido para o estado gasoso ocorre em temperaturas mais baixas e é um pouco mais lento,
ao contrário do processo de ebulição, que ocorre em temperaturas mais elevadas e mais rápido, sendo
necessário que água atinja 100oC para passar do estado líquido para o gasoso. Após as explicações,
os alunos começaram a concluir que no processo de destilação simples ocorre o processo de ebulição,
conforme descrito abaixo:
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Aluno R: No processo de destilação, o correto falar então, é que água está entrando em
ebulição e não em evaporação?
Aluno S: Aqui na destilação como a água muda de estado físico mais rápido dizemos então
que ocorreu ebulição.
Durante a realização das atividades experimentais foi possível observar importantes
contribuições no ensino e na aprendizagem dos alunos. Dentre elas, podemos citar: o caráter
motivador, na tentativa de despertar a atenção dos alunos a iniciativa pessoal e tomada de decisões
no momento que os alunos foram instigados a pesquisar, propor hipóteses e fornecer explicações para
realização da atividade ou nos fenômenos observados durante a realização do experimento;
criatividade na construção de materiais alternativos que foram empregados no desenvolvimento dos
experimento; aprenderam e compreenderam conceitos científicos e detectaram e corrigiram eventuais
erros conceituais antes e após a realização das atividades experimentais.
Conforme Maldaner (1999), o conhecimento químico deve ser construído por meio de
manipulações orientadas, desenvolvendo conteúdo a partir de algum fato recente ou ainda do próprio
cotidiano, proporcionando ao aluno, compreender, organizar e relacionar as informações necessárias
na construção de conceitos fundamentais na disciplina de química. Dessa forma, encarar as atividades
de laboratório como ‘projetos de investigação’, ou seja, formular hipóteses, preparar experiências,
realizá-las, recolher, e analisar os dados obtidos favorece a motivação dos estudantes, a curiosidade,
o desejo de experimentar e duvidar de certas informações confrontando os resultados.
Ao concluir a diferença dos conceitos de evaporação e ebulição, o processo de destilação
ocorreu corretamente, e finalmente concluímos todas as atividades propostas nas situações-
problemas. Para finalizar, no último encontro, os alunos teriam que apresentar para a professora que
ministrava as aulas de química, os processos de separação de misturas os quais eles realizaram nesses
encontros, utilizando todos os conceitos aprendidos e reforçados durante nossos encontros.
APLICAÇÃO DO CONHECIMENTO
No último encontro, os alunos apresentaram os processos de separação de misturas envolvidos
nas situações-problemas. Durante apresentação, os estudantes evidenciaram os conceitos trabalhados
durante todos os encontros. No início da apresentação, eles questionaram a diferença de misturas
homogêneas e heterogêneas, trouxeram as misturas contendo água + areia e água + sal, para trabalhar
essa diferenciação e ao mesmo tempo discutir os conceitos de fases, componentes e estados físicos
da matéria.
Na apresentação da situação-problema que envolvia a mistura contendo água + óleo,
aplicaram o exemplo do chumbo e do algodão utilizado para compreensão do conceito densidade. E
na apresentação da situação-problema que envolvia a mistura da areia + sal, trabalharam os conceitos
de dissolução e diluição. Esses a partir dos exemplos do café e do suco em pó e os conceitos de
evaporação e ebulição, com o exemplo da mudança de estado físico da água, do estado líquido para
o gasoso, em diferentes situações.
Ao final da apresentação dos alunos, a professora relatou que estava realmente admirada, com
a diversidade de conceitos os quais trabalhamos durante o desenvolvimento das atividades. E avaliou
que as atividades realizadas, de fato, proporcionaram aos alunos não só a compreensão do conteúdo
em estudo, mas também a compreensão e aprendizagem de diversos conteúdos, que na maioria das
vezes, são explicados de forma fragmentada, conforme a unidade ou capítulo do livro didático, não
realizando a correlação destes, o que dificulta muito a aprendizagem dos alunos.
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CONSIDERAÇÕES
A partir deste estudo, objetivou-se verificar como a utilização de atividades experimentais
investigativas baseadas em situações-problemas, enquanto recurso aplicado para compreensão e
aprendizagem do conteúdo em estudo, processos de separação de misturas, contribuiu efetivamente
na construção do conhecimento dos alunos. Na construção do conhecimento antes da realização das
atividades experimentais, é possível observar que a atividade experimental investigativa foi uma
estratégia capaz de promover o desenvolvimento de habilidades cognitivas e interações dialógicas.
De acordo com Carvalho (1999, p.123), “as atividades de caráter investigativo buscam uma questão
problematizadora que ao mesmo tempo desperte a curiosidade e oriente a visão do aluno sobre as
variáveis relevantes do fenômeno a ser estudado, fazendo com que eles levantem suas próprias
hipóteses e proponham possíveis soluções”.
Ainda na construção do conhecimento e durante a realização das atividades experimentais, foi
possível observar importantes contribuições no ensino e na aprendizagem dos alunos. Dentre elas,
podemos citar: o caráter motivador, na tentativa de despertar a atenção dos alunos a iniciativa pessoal
e tomada de decisões no momento que os alunos foram instigados a pesquisar, propor hipóteses e
fornecer explicações para realização da atividade ou nos fenômenos observados durante a realização
do experimento; criatividade na construção de materiais alternativos que foram empregados no
desenvolvimento do experimento; ainda, aprenderam e compreenderam conceitos científicos e
detectaram e corrigiram eventuais erros conceituais antes e após a realização das atividades
experimentais.
Segundo Hofstein, Mamlok-Naaman (2007), as atividades experimentais investigativas
podem colaborar com a construção e desenvolvimento das habilidades e competências, tais como:
formular hipóteses e explicações, conduzir investigações, organizar procedimentos e apresentar,
analisar e defender os argumentos científicos durante a realização da atividade investigativa. Dessa
forma, encarar as atividades de laboratório como ‘projetos de investigação’, ou seja, formular
hipóteses, preparar experiências, realizá-las, recolher, e analisar os dados obtidos, favorece a
motivação dos estudantes, a curiosidade, o desejo de experimentar e duvidar de certas informações,
confrontando os resultados.
Em relação às atividades experimentais desenvolvidas, mesmo havendo um espaço destinado
para a realização de atividades laboratoriais na escola, a falta de materiais e equipamentos não
impediu a execução das atividades propostas. Ao contrário, a elaboração dos materiais alternativos,
além de estimular a criatividades dos alunos, permitiu demonstrar que é possível sim, realizar
atividades experimentais, sem materiais e equipamentos específicos de laboratórios de química. De
acordo com Silva (2009), uma vez que revistas sobre educação em ciências contêm, frequentemente,
experimentos com materiais de baixo custo sobre diferentes temáticas que contemplam diversos
conteúdos é incoerente justificar o pouco uso de atividades experimentais pela falta de recursos.
Deste modo, os resultados provenientes das atividades experimentais realizadas, neste
trabalho, indicam progressos nos conceitos químicos trabalhados. Este progresso é possível observar,
no momento em que os alunos aplicam o conhecimento construído, durante a execução das atividades,
na apresentação destas para a professora da disciplina, aplicando os conceitos trabalhados, com todos
os exemplos utilizados na explicação destes, de modo a relacionar o conhecimento adquirido com o
seu cotidiano.
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REFERÊNCIAS
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Carvalho, A. M. P.; Santos, E. I.; Azevedo M. C. P. S.; Date, M. P. S.; Fujii, S.R.S.; Nascimento, V.
B.(1999). Termodinâmica: Um ensino por investigação. 1. ed. São Paulo: Universidade de São Paulo
- Faculdade de Educação, 1999
Hofstein, A.; R. Mamlok-naaman. The laboratory in science education: the state of the art. Chemistry
Education Research and Practice, 8 (2), 105-107, 2007.
Lima, M. E. C. C; Maués, E. (2006). Uma releitura do papel da professora das séries iniciais no
desenvolvimento e aprendizagem de ciências das crianças. Revista Ensaio. vol. 8. n.2. p. 161-175.
Lüdke, M.; André, M.E.D. A. (1983). Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo:
EPU. 1983.
Maldaner, O. A. (1999). A pesquisa como perspectiva de formação continuada do professor de
química. Química Nova, São Paulo, v. 22, n. 2, pp.289-292 abr. Disponível em
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010040421999000200023&1ng=pt&nrm
=iso. Acesso em 13 jan. 2016.
Medeiros, M. De A.; Lobato, A. C. (2010). Contextualizando a abordagem de radiações no ensino de
química. Revista Ensaio. v.12 , n.03 , p.65-84.
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Santos, W. L. P.; Mól, G.S. (2010) Química cidadã: Processos de separação de misturas. 1 ed, v1.
São Paulo: AJS. (coleção química para a nova geração)
Silva, R. T.; et al.. Contextualização e experimentação: uma análise dos artigos publicados na seção
“Experimentação no Ensino de Química” da Revista Química Nova na Escola 2000-2008. Ensaio:
Pesq. Educ. Ciências. v. 11, n. 2, p. 1-22, 2009.
Suart, R. C.; Marcondes, M. E. R. (2009). A manifestação de habilidades cognitivas em atividades
experimentais investigativas no ensino médio de química. Ciência & Cognição. v. 14, p. 50-74.