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O Encontro Junho de 2013 A Luz no Caminho - Associação Espiritualista - Distribuição gratuita Bhagavan Sri Ramana Maharshi É só esperar acontecer Editorial Por Marcos Garcia “Deus e o Guru só podem mostrar o caminho da libertação; sozinhos, não podem libertar a alma. Na verdade, Deus e o Guru não são diferentes. Assim como a presa que cai nas garras de um tigre não tem escapatória, também aqueles que adentram o alcance do olhar complacente do Guru por Ele serão salvos e não se perderão; contudo, cada um por seus próprios esforços deve buscar o caminho mostrado por Deus ou o Guru e alcançar a libertação. Só se pode conhecer a si mesmo com o próprio olhar do conhecimento e não com o de outrem.” Palavras de Bhagavan Sri Ramana Maharshi, no livro Ramana Mahar- shi, Ensinamentos Espirituais. Cada um por seus próprios esforços Orientação Um dia, sonhei que estava dis- tante de Sua casa, Bhagavan. Sentia saudade de Seu olhar, naquele re- trato revelador, enorme, mas muito menor que o Seu imensurável amor por nós. Ainda no sonho, viajei sem des- tino, sem saber o que viria pela frente. Nesta viagem, me senti pro- tagonista de minha própria história. Lembrei-me de quando entrei no ashram do Maharshi pela primeira vez, quando entrei pela dor, pelo desespero. A dor passou, o amor pelo Mestre ficou impregnado em mim. Passei a conviver com pes- soas com o mesmo encanto pelo magnético olhar do Maharshi. Pas- sei a me sentir em família. A semana passava e eu ansioso em voltar ao ashram aos sábados. Depois, passei a ir quase todos os dias e, mais para frente, comecei a ajudar na administração da Casa até que cheguei a ser presidente. A princípio, pensei que não seria difí- cil, mas quanta responsabilidade eu tive que assumir. Que aprendizado! Então, acordei do sonho e esta- va longe da casa Dele. Chorei mui- to, muito, mas aos poucos compre- endi. A distância não existe para quem está dentro de nós. Ela não existe quando a imagem não sai da mente. Ou melhor, quando a mente não existe, porque Ele está em nós. Eu estou presente na Casa, no ashram, mesmo temporariamente distante, porque o amor aproxima. Para o verdadeiro amor, não há distância, não há tempo. O tempo não nos pertence. Pertence a Ele. Ele faz a hora. A gente entrega e só espera acontecer.

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Page 1: O Encontro - aluznocaminho.org.br · O Encontro A Luz no Caminho ... histórico desse surgimento da oração encontraremos no capítulo 1 do livro “Invocação”. À guisa de síntese,

O EncontroJunho de 2013A Luz no Caminho - Associação Espiritualista - Distribuição gratuita

Bhagavan Sri Ramana Maharshi

É só esperar acontecerEditorial

Por Marcos Garcia

“Deus e o Guru só podem mostrar o caminho da libertação; sozinhos, não podem libertar a alma.

Na verdade, Deus e o Guru não são diferentes. Assim como a presa que cai nas garras de um tigre não tem escapatória, também aqueles que adentram o alcance do olhar complacente do Guru por Ele serão salvos e não se perderão; contudo, cada um por seus próprios esforços deve buscar o caminho mostrado por Deus ou o Guru e alcançar a libertação.

Só se pode conhecer a si mesmo com o próprio olhar do conhecimento e não com o de outrem.”

Palavras de Bhagavan Sri Ramana Maharshi, no livro Ramana Mahar-shi, Ensinamentos Espirituais.

Cada um por seus próprios esforços

Orientação

Um dia, sonhei que estava dis-tante de Sua casa, Bhagavan. Sentia saudade de Seu olhar, naquele re-trato revelador, enorme, mas muito menor que o Seu imensurável amor por nós.

Ainda no sonho, viajei sem des-tino, sem saber o que viria pela frente. Nesta viagem, me senti pro-tagonista de minha própria história. Lembrei-me de quando entrei no ashram do Maharshi pela primeira vez, quando entrei pela dor, pelo desespero. A dor passou, o amor pelo Mestre ficou impregnado em

mim. Passei a conviver com pes-soas com o mesmo encanto pelo magnético olhar do Maharshi. Pas-sei a me sentir em família.

A semana passava e eu ansioso em voltar ao ashram aos sábados. Depois, passei a ir quase todos os dias e, mais para frente, comecei a ajudar na administração da Casa até que cheguei a ser presidente. A princípio, pensei que não seria difí-cil, mas quanta responsabilidade eu tive que assumir. Que aprendizado!

Então, acordei do sonho e esta-

va longe da casa Dele. Chorei mui-to, muito, mas aos poucos compre-endi. A distância não existe para quem está dentro de nós. Ela não existe quando a imagem não sai da mente. Ou melhor, quando a mente não existe, porque Ele está em nós.

Eu estou presente na Casa, no ashram, mesmo temporariamente distante, porque o amor aproxima.Para o verdadeiro amor, não há distância, não há tempo. O tempo não nos pertence. Pertence a Ele. Ele faz a hora. A gente entrega e só espera acontecer.

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O Encontro Junho, 2013

O Senhor Budha é o último avatar de Vishnu, o mais conhecido. Às margens do Rio Kohana, na Índia, Ele ensinou à multidão que o cercava:

“Mais fundo que o inferno, mais alto que o céu, além das mais longínquas estrelas, além da morada de Brahma, há um Poder estável e divino, existente antes do princípio e que não terá fim. Eterno como o tempo, seguro como a certeza, que impele para o bem e é súdito de suas próprias leis.”(...)“Cada vida do homem é o resultado de suas vidas precedentes. Os erros passados engendram tristeza e sofrimento; a passada retidão traz felicidade. Colhereis o que semeardes!”

O Budha nos revelou que “O verdadeiro culto não consiste em oferecer incenso, flores ou outras coisas materiais; mas no esforço por seguir o caminho da-quele a quem se reverencia! Por mais que na batalha se vença um ou mais inimigos, a vitória sobre si

mesmo é a maior de todas as vitórias!”

Em Seu último sermão, Ele nos exortou: “Fazei de vós mesmos uma luz. Confiai em vós mesmos, não dependais de ninguém. Fazei destes ensinamentos a vossa luz. Considerai o vosso coração, pensai em sua inconstância. Como podereis cair na ilusão e alimen-tar o orgulho e o egoísmo, sabendo que isto conduz ao sofrimento?”

Palestra ministrada por Vera Carolina de Mello, disponível em www.aluznocaminho.org.

Próxima palestraTema: O Bhagavad Gita

Palestrante: Dhyana de Krishna

Data e horário: 22 de junho, às 19h

Círculo de Estudos

Muitos de nós já ouvimos falar sobre Advaita Ve-danta. Alguns até conseguem uma tradução mais imediata do que vem a ser esta expressão. O que significa Advaita Vedanta? “A não-dualidade”. Esta pergunta não foi a mais complexa para ser res-pondida. Mas, temos alguns outros questionamentos que merecem atenção: O que isso significa verda-deiramente e como isso está ligado a Ramana? E as perguntas não acabam aqui: Como relacionar Advaita ao livro que fora lançado pela Casa intitulado “Invo-cação: Reflexões sobre uma Poderosa Oração”?

Muito do que discorreremos aqui tem sua fonte nos estudos e ensinamentos da professora Gloria Arieira.

Não pretendemos traçar aqui um estudo hermético sobre o tema. Muito menos temos a pretensão de abordar todos os aspectos que envolvem o Advaita. Nosso objetivo é trazer para a nossa linguagem mais cotidiana uma doutrina milenar. Se, a partir desta leitura, conseguirmos uma noção melhor esclarecida do que “ouvimos” falar sobre Advaita Vedanta, já teremos “cumprido com a nossa missão”.

Vedanta não é um conceito fechado que poderia ser expresso em uma frase. Vedanta significa “meta do conhecimento”. Esmiuçando mais, a palavra Ve-danta vem das raízes “veda” (conhecimento) + “anta” (centro, núcleo, essência ou o fim). Poderíamos en-tender o Vedanta como a essência do conhecimento.

“Para que serve esse conhecimento?” Ou ainda “De que conhecimento estamos falando?”

A proposta do Vedanta é levar o homem a desco-brir que conhecimento é esse, de onde ele surge e para que serve.

Talvez, na história da humanidade, esta seja uma das perguntas que mais inquietou os pesquisadores: “O que eu estou fazendo neste mundo?”

Se já analisamos, ainda que superficialmente o que é Vedanta, devemos então agora entender Advai-ta. Literalmente significa “não duplo” ou “não dois” como preferem alguns.

Achamos que agora conseguimos inferir o começo de nossa conversa. Quer dizer, Advaita Vedanta é

Advaita VedantaFilosofia

Confiai em vós mesmos

Por Daniel Soares

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O EncontroJunho, 2013

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uma proposta de buscar o cerne da verdade abso-luta da existência através da observação da “não-dualidade”.

Mas o que isso significa?

Recupero aqui a definição da professora Gloria para deixar mais nítida a noção de Advaita Vedanta:

“Na parte final de cada um dos quatro Vedas (são quatro livros) encontram-se as Upanishads. A estas é dado a designação geral de Vedanta. A palavra se deriva de vedanam antah, que significa o final dos Vedas. Outra designação dada às Upanishads, geralmente usada e que carrega uma significação im-portante, é Sruti, que significa aquilo que é ouvido. Aqui podemos apreciar que as Upanishads não são um conhecimento teórico contido em livros, mas um ensinamento que deve ser ouvido.

Vedanta não é um sistema filosófico. Tampouco religião. Vedanta é uma tradição de ensinamento transmitido de mestre a discípulo num fluxo perene desde tempos imemoriais.”

Assim sendo, Vedanta é uma tradição de conheci-mento.

Uma das formas mais claras da busca do conheci-mento é traduzido na filosofia hindu como “param-pará” que quer dizer “sucessão” compreendida como do Mestre para o discípulo, ou em uma linha mais ortodoxa, transmissão do conhecimento da boca para o ouvido. E é essa a proposta do Vedanta.

Nas Upanishads, é dito que o conhecimento deve ser recebido de um Guru. Razão pela qual as religi-ões e/ou propostas filosóficas instituem a figura de um Mestre. Isso quer dizer que aquele que encontra um Mestre pode apreciar a sin-gularidade e eficiência do ensi-namento, no caso o ensinamento vedântico.

Não queremos cansá-los. Por este motivo, vejamos a relação entre o livro “Invocação”, Ramana e o Advaita Vedanta.

A base desse livro está em uma oração conhecida pelos frequen-tadores das reuniões doutrinária de A Luz no Caminho – Associa-ção Espiritualista.

E de onde surgem os versos que compõem a Invocação?

Em determinadas passagens da vida de Ramana, as instru-ções dadas pelo Mestre sobre tal busca humana contida nos fun-damentos do Vedanta tomavam

como referências os ensinamentos de outro Mestre indiano: Sri Shankara, nascido no século VIII da Era cristã. Esse monge é considerado por muitos um dos codificadores da proposta filosófica do Advaita. Em um dos seus livros intitulado Viveka Chudamani (A Joia Suprema do Discernimento) podemos reconhecer os alicerces da “nossa” Invocação. Em outras opor-tunidades, Bhagavan também demonstrou sua estrita relação com o sábio Shankara, como podemos ver em um dos primeiros versos compostos por Mahar-shi em louvor ao Monte Arunachala, quando movido pela Graça do Encontro com o Monte (que foi por ele mesmo chamado de “Seu Guru”). Ramana disse: “Em meu ser sem amor, tu criaste uma paixão por ti, ó Arunachala”.

Em síntese, a oração intitulada Invocação “nasce” das traduções que o Grupo Arunachala, na década de 1960, começa a fazer para o português da vida e da obra de Bhagavan Sri Ramana Maharshi. Um breve histórico desse surgimento da oração encontraremos no capítulo 1 do livro “Invocação”.

À guisa de síntese, tomamos novamente as palavras da professora Gloria para o significado do convite que o Advaita nos faz a cada dia, a cada minuto de nossas vidas no intuito de encontrarmos a paz imorredoura que jaz em nós mesmos.

“O estudo de Vedanta vai nos levar a um questio-namento dos nossos valores, das nossas atitudes, da nossa visão das realidades da vida. No processo, nós vamos lidar com a mente, entender melhor como ela funciona. Vamos também questionar a nossa relação com este universo e o seu criador - Deus. Vamos lidar com vários temas, mas o tema principal do estudo de Vedanta é a descoberta do Ser pleno, completo e feliz que já é cada um de nós.”

Filosofia

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O Encontro Junho, 2013

A Luz no Caminho - Associação Espiritualista | Rua Maxwell, 145 - Vila Isabel - Rio de Janeiro, RJ - CEP 20541-100 | (21) 2208 5196 | Ho-rário de funcionamento (inclusive dias santos e feriados): segundas e quartas, das 14h30 às 20h30 - terças e quintas, das 14h30 às 21h00 - sábados, das 14h00 às 20h00 | Mais informações no site: www.aluznocaminho.org.br | Notícias da Casa: www.casaderamana.blogspot.com

O sábado da distribuição...(segunda parte)Por Guilherme Lemos

Casa de Ramana

O doutor João Roberto, que está sempre conosco nos segundos sá-bados de cada mês, segue uma rotina inalterável há anos. Chega cedo (por volta de 8h) e logo encontra uma equipe de devotadas voluntárias, normalmente as ‘assis-tentes’ Suely, Leonor e Vera Lúcia.

Tão amável quanto sério e ob-jetivo, o doutor desperta nas vovós uma grande admiração e respei-to. Todas ficam alegres em revê-lo, mesmo estando algumas vezes com suas saúdes debilitadas e limitações motoras. Deixam-se examinar, rece-bem os medicamentos e orienta-ções médicas, sempre com aquela fé do tratamento correto, que se renova a cada sábado da distri-buição.

E é exatamente a renovação da fé que oferece um testemunho para todos aqueles que frequentam a Casa de Ramana em um dia como esse, que tem atraído mais e mais pessoas, das mais diversas origens, credos e idades.

Uma grande família, de bons e sinceros abraços, todos unidos pelo mesmo sentimento, pela força de uma Casa, pela inspiração de um Olhar que guia os devotos desde a sua fundação...

Após receberem a orientação médica, as vovós retornam ao ‘cir-cuito’, passando pelo lanche e pela organização da assistência social, mas esta é uma conversa para o próximo ‘O Encontro’...

Antônia Silva nasceu em 8 de maio de 1918 e não chegou a conhecer os pais ou alguém de sua família.

Viveu em colégios internos, mas era muito levada, vivia aprontando e, de vez em quando, fugia do colégio.

Ainda jovem, conheceu a Sra. Léa e sua família, e foi viver com eles. Ali cresceu, trabalhou por muitos e mui-tos anos e recebeu amor.

Porém, com o tempo, a Sra. Léa adoeceu e não houve mais condições de Antônia permanecer na casa. A esta altura, já com idade avançada, passou a residir em abrigos até que em 2001 chegou à Casa de Ramana.

Por Vera Lúcia Simões Faria

O aniversário de AntôniaEsta é para ela uma casa santa, onde recebe amor e carinho.

Quando chegou à Casa, Antônia era muito “atirada”, gostava de ir para a cozinha descascar legumes, participar, ajudar.

Em maio deste ano, nossa queri-da Antônia completou 95 anos, ainda com “carinha de menina sapeca”.

A festa foi linda e contou com a participação muito especial do coral de fucionários do IBGE, que alegrou a todos com sua música.

Antônia agradece e todos nós da Casa também!Antônia e o Coral dos Funcionários

do IBGE

Acima, no sentido anti-horário: Dr. João Roberto, Suely, Leonor e uma das senhoras atendidas pela Casa. Abaixo as senhoras aguardando o atendimento