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O Encontro Julho-Agosto de 2014 A Luz no Caminho - Associação Espiritualista - Distribuição gratuita Bhagavan Sri Ramana Maharshi Quando a humildade e a persis- tência quiserem te abandonar, lem- bra-te de que o jovem Ramana co- meu na frente de estranhos, aceitou alimento do tamboreiro e comeu o alimento que tocou o chão em que pisam os animais. Mais que isso, comeu do chão, como eles o fariam. Ao destituir-se dos preconceitos, dogmas e tradições, orgulho e vai- O jovem Ramana Reflexões te restar e o auxílio que alguém te prestou cair de tuas mãos por muito cansaço enquanto curiosos te espreitam, lembra-te Dele: recolhe o arroz abençoado do chão e COME. Aceita com veneração o alimento que são os acontecimentos de tua vida. Mesmo que amargos, são nu- tritivos para que continues, como Venkataraman, a viagem rumo a Arunachala. Humildes e persistentes, caminhe- mos! HARE OM Texto de Estrela da Manhã, do conjunto de reflexões para hora da Bênção. Guru Purnima O Guru Purnima, festival que ho- menageia o Guru, é celebrado na lua cheia do mês de Ashad, perío- do entre julho e agosto no calen- dário gregoriano. Este ano, o festival foi comemo- rado no dia 12 de Julho e coin- cidiu com o segundo sábado do mês, dia da entrega às famílias as- sistidas por A Luz no Caminho. Foi um sábado especial, emocio- nante! Sendo o dia do Guru Purnima, o Guru era a própria presença cor- porificada, através de médicos of- talmologistas, médicos para tirar a pressão arterial das vovós, pessoas fazendo as unhas das vovós e o retrato de Ramana sendo levado até as crianças. Jaya Guru jaya!!! Agenda dade, Ele não perdeu sua natureza divina. Ele tornou-se Liberto. E Li- bertação é Deus. Discípulo é aque- le que aprende com seu Mestre. Aprende a revelar em ti mesmo o Mestre que é interno. Para tanto, volta-te mais para o teu centro. Se por vezes, na vida, negarem-te ali- mento, se a vida te fechar portas, se não te deixarem esperar o dia clarear, se todos comerem e nada Notícia O mês de agosto é consagrado ao Senhor Krishna, em comemora- ção ao Seu nascimento, celebrado em uma data móvel que, este ano em muitas regiões da Índia, coinci- diu com o dia 17 de agosto. Krishna é reconhecido como a oitava encarnação de Vishnu. Seus ensinamentos constam do Bhagavad Gita, o “Cântico do Espírito”, a mais apreciada das escrituras da Índia. O Bhagavad Gita narra um diálogo sa- grado entre Krishna e seu discípulo, Arjuna, a respeito da Yoga, diálogo este, que julga-se ter ocorrido às vésperas de uma grande batalha. Esta Agosto do Senhor Krishna Por Vera Carolina batalha simboliza a luta do homem pela libertação das amarras do ego. O Gita demonstra a essência do Sanatana Dharma - a Religião Eter- na - da Índia. Em comemoração ao mês de Krishna, a página 5 traz um texto sobre o Bhagavad Gita. Por Lêda Maria Fraga

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O EncontroJulho-Agosto de 2014A Luz no Caminho - Associação Espiritualista - Distribuição gratuita

Bhagavan Sri Ramana Maharshi

Quando a humildade e a persis-tência quiserem te abandonar, lem-bra-te de que o jovem Ramana co-meu na frente de estranhos, aceitou alimento do tamboreiro e comeu o alimento que tocou o chão em que pisam os animais. Mais que isso, comeu do chão, como eles o fariam.

Ao destituir-se dos preconceitos, dogmas e tradições, orgulho e vai-

O jovem RamanaReflexões

te restar e o auxílio que alguém te prestou cair de tuas mãos por muito cansaço enquanto curiosos te espreitam, lembra-te Dele: recolhe o arroz abençoado do chão e COME.

Aceita com veneração o alimento que são os acontecimentos de tua vida. Mesmo que amargos, são nu-tritivos para que continues, como Venkataraman, a viagem rumo a Arunachala.

Humildes e persistentes, caminhe-mos! HARE OM

Texto de Estrela da Manhã, do conjunto de reflexões para hora da Bênção.

Guru PurnimaO Guru Purnima, festival que ho-

menageia o Guru, é celebrado na lua cheia do mês de Ashad, perío-do entre julho e agosto no calen-dário gregoriano.

Este ano, o festival foi comemo-rado no dia 12 de Julho e coin-cidiu com o segundo sábado do mês, dia da entrega às famílias as-sistidas por A Luz no Caminho.

Foi um sábado especial, emocio-nante!

Sendo o dia do Guru Purnima, o Guru era a própria presença cor-porificada, através de médicos of-talmologistas, médicos para tirar a pressão arterial das vovós, pessoas fazendo as unhas das vovós e o retrato de Ramana sendo levado até as crianças. Jaya Guru jaya!!!

Agenda

dade, Ele não perdeu sua natureza divina. Ele tornou-se Liberto. E Li-bertação é Deus. Discípulo é aque-le que aprende com seu Mestre. Aprende a revelar em ti mesmo o Mestre que é interno. Para tanto, volta-te mais para o teu centro. Se por vezes, na vida, negarem-te ali-mento, se a vida te fechar portas, se não te deixarem esperar o dia clarear, se todos comerem e nada

Notícia

O mês de agosto é consagrado ao Senhor Krishna, em comemora-ção ao Seu nascimento, celebrado em uma data móvel que, este ano em muitas regiões da Índia, coinci-diu com o dia 17 de agosto.

Krishna é reconhecido como a oitava encarnação de Vishnu. Seus ensinamentos constam do Bhagavad Gita, o “Cântico do Espírito”, a mais apreciada das escrituras da Índia.

O Bhagavad Gita narra um diálogo sa-grado entre Krishna e seu discípulo, Arjuna, a respeito da Yoga, diálogo este, que julga-se ter ocorrido às vésperas de uma grande batalha. Esta

Agosto do Senhor KrishnaPor Vera Carolina

batalha simboliza a luta do homem pela libertação das amarras do ego. O Gita demonstra a essência do Sanatana Dharma - a Religião Eter-na - da Índia.

Em comemoração ao mês de Krishna, a página 5 traz um texto sobre o Bhagavad Gita.

Por Lêda Maria Fraga

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O Encontro Julho-Agosto, 2014

Filosofia

A Iluminação Em 1879, na pequena cidade de

Tiruchuzi, sul da Índia, celebrava-se o “Arudra Darsham” festival que comemora o aparecimento de Shi-va (o Ser absoluto) na forma de Nataraja, quando nasceu o peque-no Venkataraman. Este foi o nome dado por Sundaram Ayyar e sua esposa, Alagammal, àquele que seria, mais tarde, conhecido pelo mundo como Ramana Maharshi.

Venkataraman cresceu como uma criança normal. Era atlético, gostava de futebol e natação. Na escola era uma aluno mediano e na sua infân-cia, leu muito pouco sobre temas espirituais. Porém, em Novembro de 1885, pouco antes de comple-tar dezesseis anos, alguns sinais da real natureza daquele jovem come-çaram a aparecer. Um dia, quando encontrou um parente distante e já de idade, perguntou de onde ele estava vindo. Venkataraman, ficou maravilhado ao ouvi-lo responder: “de Arunachala”. Ele conhecia Aru-nachala como o monte, sendo um lugar muito sagrado, mas nunca lhe ocorrera que alguém pudesse, de fato, ir até lá. O segundo sinal veio logo depois. Seu tio havia toma-do emprestado o livro Periapura-

nan, uma biografia dos 63 santos tâmiles. Venkataraman, pegou-o e ao mergulhar na leitura foi tomado por um extático espanto diante da existência de tamanha fé, da exis-tência de tanto amor, tanto ardor divino, e de tanta beleza na vida humana. Os relatos de renúncias levando à união Divina inspiraram nele grande veneração.

O clímax veio apenas alguns me-ses depois.

Em meados de julho de 1886, veio então o grande acontecimento, a Iluminação, relatada a seguir nas palavras do próprio Maharshi:

“Foi cerca de seis semanas antes que eu deixasse Madurai de vez, que aconteceu a grande mudança em minha vida. Eu estava a sós numa sala do primeiro andar da casa de meu tio. Raramente fico doente e naquele dia minha saúde era perfeita, mas um repentino te-mor da morte apossou-se de mim. Nada no meu estado de saúde jus-tificava tal coisa e eu não tentei encontrar qualquer explicação nem, tampouco, saber se havia alguma razão para aquele temor. Sentia apenas que ia morrer e comecei a pensar no que deveria fazer. Não me ocorreu consultar um médico ou os mais velhos ou os amigos; eu percebia que teria de enfrentar o problema sozinho, resolvendo-o de pronto e ali mesmo. O choque produzido pelo temor da morte fez com que minha mente se voltasse para dentro e eu disse com meus botões, sem chegar na verdade a articular as palavras: ‘A morte che-gou; que significa ela? O que esta-rá morrendo? Este corpo morre’. E, imediatamente, dramatizei a ocor-

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rência da morte. Deitei-me com os membros distendidos, como se o rigor mortis já houvesse tomado conta de mim, e imitei um cadáver a fim de emprestar maior realismo à investigação. Sustei a respiração e mantive os lábios bem apertados de modo que nenhum som esca-passe, de modo que nem a palavra eu, nem qualquer outra palavra pu-desse ser pronunciada. ‘Pois bem’, disse de mim para comigo, ‘este corpo está morto. Será transporta-do para o crematório e ali queima-do e reduzido a cinzas. Mas, com a morte deste corpo estarei eu mor-to? Serei eu este corpo? Ele está silencioso e inerte mas sinto toda a força da minha personalidade e até mesmo ouço a voz do eu dentro de mim, totalmente apartada do corpo. De modo que sou Espírito transcendendo ao corpo. O corpo morre mas o Espírito que o trans-cende é imune à morte. Quer isto dizer que sou um Espírito imortal.’

Não se tratava de pensamentos imprecisos; eles coriscavam dentro de mim tão vividamente como a verdade que eu percebia direta-

mente, prescindindo quase de um processo de raciocínio. O Eu era uma coisa muito real, a única coisa real no estado em que me encon-trava, e toda a atividade consciente ligada ao meu corpo estava centra-lizada nesse Eu. Daquele momento em diante o Eu ou Si passou a atrair sobre si a atenção com po-deroso fascínio. O temor da morte

O Linga é o símbolo de Shiva. Em Tiruvannamalai o Monte Arunachala é, ele próprio, um linga de Shiva. No Templo consagrado a Arunachaleswara a forma simbólica que o senhor Shiva assume é de Luz e Fogo – a Luz que revela a verdade, o fogo da sabedoria que consome as impurezas e destrói o ego. Para onde mais poderia ir o Iluminado, nosso senhor Bhagavan Sri Ramana Maharshi, aquele que nos guia como um farol no caminho que ele mesmo trilhou o caminho do autoconhecimento. Hare Ramana Hare!

desaparecera para sempre. Dali por diante a absorção no Eu prosseguiu sem solução de continuidade. Ainda que o corpo estivesse ocupado em falar, ler ou qualquer outra coisa eu continuava sempre centralizado no Eu, sem solução de continui-dade.”

Biografia de Ramana Maharshi.

Filosofia

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O Encontro Julho-Agosto, 2014

A partir da experiência de morte, houve uma enorme mudança na vida do jovem Venkataraman. Em seu contínuo estado de consciência do Si o que mais o atraía era o templo vizinho de Meenakshi, para onde ele ia quase todas as noites. No templo, Venkataraman se sen-tava, imóvel, diante das imagens de Shiva Natajara e dos 63 santos tâmiles, e era invadido por ondas de emoção.

A “crise” veio em agosto de 1896. Diante de um longo exercício de inglês, Venkataraman se deu conta da futilidade de tal exercício para ele, empurrou os cadernos e en-tregou-se à meditação. Nagaswami, seu irmão mais velho, que observa-va tudo de perto, aborrecido com a atitude de Venkataraman, fez uma observação sarcástica: “Que vale tudo isso para uma pessoa dessa espécie?” Suas palavras tinham o sentido de que, aquele que de-sejava viver como um sadhu não tinha o direito de gozar os confor-tos de um lar. Venkataraman com-

preendeu a verdade das palavras de seu irmão e, com sua impiedosa aceitação da verdade, decidiu partir daquela casa, renunciando a tudo. No momento em que este pensamen-to lhe veio à cabeça a lembrança de Aru-nachala o dominou. Pouco depois disso, ele disse ao irmão que precisava assistir a uma aula de eletricidade. Neste momento o irmão, inconscientemente, forneceu os fundos para sua jornada, ao pe-dir que Venkataraman pegasse cin-co rúpias dentro de uma caixa no andar de baixo da casa, e pagasse sua taxa escolar.

De posse das cinco rúpias, Venkataraman rapidamente pegou um atlas e verificou que a estação de embarque mais próxima para Tiruvannamalai ficava em Tindiva-nam. Na verdade, haviam construi-

do um novo ramal para Tiruvannamalai, cidade onde se situa o mon-te Arunachala, mas esta informação não consta-va do atlas. Então, o jovem seguiu seu plano original, não iria para escola, não iria pagar as taxas, mas sim en-tregar-se a sua busca e começar sua jornada em direção ao Pai Aru-nachala. Ele escreveu um bilhete:

“Parti em procura de meu Pai em obediência às Suas ordens. Fui-me em virtuosa empreita-da, por isso ninguém lamente este, nem des-

perdice dinheiro a procura des-te. Sua taxa escolar não foi paga. Aqui ficam duas rúpias.”

E Partiu.

Chegando à estação ferroviária olhou o quadro de horários e ta-rifas e encontrou Tindivanam. Se tivesse lido com mais atenção ele teria visto o nome da cidade de Ti-ruvannamalai, algumas linhas abai-xo mas, sua jornada estava apenas começando.

Tendo finalmente embarcado, Venkataraman sentou-se em silên-cio absorto no êxtase de sua busca. Depois de passar por várias esta-ções Venkataraman foi informado por um passageiro que poderia tro-car de trem em Villupuram e pegar um outro, direto para a própria Tiruvannamalai.

Antes da aurora do dia seguinte ele chegou a estação de Villupuram. Quando amanheceu, caminhou até a cidade e procurou por placas que sinalizassem o caminho para Tiru-vannamalai, pois havia decidido se-guir a pé. Tiruvannamalai ficava, no entanto, longe demais e, se sentin-do cansado e faminto comeu algo, voltou à estação e comprou uma passagem para Mambalapatu, que era o mais longe que o dinheiro que ainda lhe restava lhe permitia

O chamado de Arunachala

Templo de Meenakshi

Filosofia

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05Filosofia

e sugeriu, de forma jocosa, que ele fosse ao barbeiro remover tam-bém o birote (tufo de cabelos na nuca que indica casta ortodoxa), ao que ele concordou. Ao retornar ao templo logo antes de passar pelo portão principal, uma pancada de chuva propiciou-lhe o banho, que completaria o ritual.

Depois que todas as formalidades relativas à renúncia ao mundo ex-terior haviam sido feitas, Venkatara-man instalou-se no saguão dos mil pilares, do templo de Arunachala. Numa plataforma de pedra suspen-sa, ele se sentou e entregou-se em completa absorção no Ser. Dia após dia, dia e noite, permanecia imóvel, imerso em Bem-Aventurança.

Trecho do Documentário “The Sage of Aruna-chala”, de James Hartel, traduzido por Marília

Maria Barreto de Sousa.

chegar. Ele chegou a Mambalapatu à tarde e de lá, andou ao longo dos trilhos do trem em direção ao seu destino, Tiruvannamalai.

Ao cair da tarde havia percorrido 18 quilômetros. Agora já era noite, e ele estava junto ao templo de Arayarninallur. Logo após a chega-da de Venkataraman, um religioso abriu as portas do templo para re-alização a adoração ritual (puja) da noite. O jovem entrou e imediata-mente percebeu uma luz brilhante por todo o salão. Julgando tratar-se de uma emanação a partir de uma imagem, levantou-se e pesquisou, mas percebeu que não se trata-va de uma luz física, depois disso, sentou-se novamente em profunda meditação e só se levantou quando os sacerdotes tratavam de trancar os cadeados do templo.

Estando faminto e cansado àque-la hora da noite, Venkataraman pe-diu comida e indagou se poderia pernoitar ali, mas foram recusados ambos os pedidos. Os religiosos sugeriram a ele que os seguisse até o templo de Kilur, onde tal-vez pudesse ganhar comida após a adoração. Às nove horas a adora-ção terminou e a ceia foi servida, desta vez, seu pedido foi atendido. O tamboreiro do templo, impres-sionado com a aparência e devo-ção daquele jovem brâmane, lhe deu a sua porção de comida.

A esta altura ele estava exausto, então, pegou a comida, e encami-nhou-se para uma casa que ficava por perto, onde pediu um pouco de água. Enquanto esperava pela água, caiu de sono, poucos minu-tos depois voltou a si, bebeu água, recolheu a comida que havia caído no chão e comeu, deitou-se na grama e dormiu.

Na manha seguinte, segunda-feira, 31 de agosto, era o dia de comemoração do nascimento de Sri Krishna. Assim que Venkataraman acordou, andou a esmo, e começou a sentir-se cansado e com fome novamente. Tiruvannamalai estava ainda a 32 quilômetros de distân-

cia. Então, ele resolveu pedir comida em uma casa. A dona da casa ficou tão impressionada com a aparição de um jovem brâmane tão es-pecial, no sagrado dia de Sri Krishna que lhe forneceu alimentação e doces para a viagem. Venkataraman usava um par de brincos de ouro e rubis, tipica-mente usado por jovens brâmanes. Lembrando-se disso, ele ofereceu-os ao dono da casa em troca de um empréstimo de quatro rúpias, afim de cobrir as despesas com a viagem de trem até Tiruvannamalai. Feita a transação o peregrino partiu para a estação de trem e teve que passar a noite lá, pois o trem para Tiruvannamalai não sairia antes da manhã seguinte.

Na manhã de 1 de setembro de 1896, três dias depois de deixar a casa de seu tio, finalmente ele chegou ao seu destino. Com passos rápidos e em um estado eufóri-co de tanta alegria ele chegou ao grande templo de Arunachala.

Numa muda acolhida os portões dos altos muros e todas as por-tas do templo, até mesmo as do santuário interno, encon-travam-se abertas. Não havia ninguém no interior do templo e Ele prostrou-se estático. Finalmente encontrara seu pai Aruna-chaleswara. Ali na bem-aventurança da União, consumou-se a busca e a jornada teve fim.

Saindo do templo, Venkataraman foi para o Tanque Ayyankulam onde jogou todas as posses que ainda tinha. A seguir, tirou seu dho-ti (pano branco enrola-do ao corpo da cintura para baixo) rasgou uma tira para servir de tanga e jogou o resto fora. Al-guém notou seus atos de renúncia

Elefante no Templo, http://richardarunachala.wordpress.com

Tanque de Ayyankulam,http://richardarunachala.wordpress.com

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O Encontro Julho-Agosto, 2014

Sendo verão e já quente, Krish-naswami borrifou água nas persia-nas rústicas atrás do sofá de Bha-gavan. O jato do borrifador caiu sobre Bhagavan e ele esfregou o corpo, dizendo: “Vejam, estão me consagrando”!

Este incidente parece lhe ter lem-brado algo que aconteceu no pas-sado pois, sorrindo de orelha a orelha e com gestos apropriados, contou-nos a seguinte história:

“Depois que cheguei a Tiruvan-namalai, não tomei banho durante

quatro meses. Um dia, quando eu estava dentro do terreno do Tem-plo de Arunachala, a esposa de um devoto chamado Ponnuswami, che-gou inesperadamente, puxou-me e me fez sentar, lavou minha cabeça com sabonete e me deu banho. Ela vinha ao templo de vez em quando naquela época e por isso eu pensava que ela teria ido como usualmente mas, naquele dia, ela havia ido preparada! Esse foi meu primeiro banho.

O Senhor passou a tomar banho regularmente depois disso? Pergun-tei. Bhagavan respondeu: “Não, não surgiu a questão do banho; quem havia para tomar banho; quem ha-via para me fazer tomar banho? Depois disso, um ano ou coisa as-sim se passou do mesmo jeito. Eu havia permanecido na caverna Gu-rumurtham por algum tempo, você

Próxima palestraTema: Aos pés do Mestre

Palestrante: Telma Mohrstedt

Data e horário: 23 de agosto, às 19h

“Só o conhecimento do Eu é de-sapego; só o conhecimento do Eu é pureza; só o conhecimento do Eu é estar com Deus” (Bhagavan Sri Ramana Maharshi).

Por que seguir os ensinamentos de Bhagavan Sri Ramana Maharshi?

Perguntas como essa compa-recem, insistentemente, ao meu pensamento. Tão logo, aparecem, busco fazer o “Quem Sou Eu”?, Fa-zer o exercício por Ele ensinado é buscar encontrar o meu próprio Eu interior. Mas será que essa procura pelo Eu interior exige vinculação a alguma religião, ou pressupõe grandes investimentos intelectuais ou leituras?

Ramana nos acalenta com as ex-plicações, aparentemente simples e objetivas, pois que Ele nos fala com o coração,

“Todas as religiões impostas es-cravizam o homem a uma persona-lidade, a uma crença, livro ou uma localidade. Aquilo que chamamos de Religião Hindu vos dá liberdade para seguir vossa alma desperta. O despertamento interno é o olho que encontra o caminho do Ser para a Bem-Aventurança. Existe só uma Religião, um Dharma e uma Yoga para todos. É o EU consciente no coração. O coração é o Ser; o coração é o centro do EU. A reli-gião do coração é a Religião úni-ca para toda a humanidade. Para qualquer religião que pertençamos o coração é uno e o EU é uno. Hrit + Ayam = Hridayam, significa EU sou o coração. O coração é a Pura Consciência-Shuddha Shakti. É a verdade ultima, oniabarcante. A mente concreta confunde o corpo com o EU e abre mão do senso do Eu. O Ser é o Supremo Eu

Conversa com RamanaCírculo de Estudos

sabe, e como poucas pessoa iam lá diariamente, ninguém me incomo-dava. Mesmo assim, uma senhora, chamada Minakshi, que de vez em quando costumava levar-me comi-da, um dia trouxe uma grande va-silha e começou a esquentar água. Pensei que fosse para ela mesma mas, tirando de uma cesta algum óleo, sabão etc. Ela disse ‘Swami, por favor, venha’ Eu não me movi. Mas ela ficaria quieta? Puxou-me pelo braço, me fez sentar, espalhou óleo sobre meu corpo e me deu banho. O meu cabelo, que havia se tornado emaranhado por falta de cuidado, estava agora esticado e caía com uma juba de leão. Esse foi meu segundo banho. Depois Palaniswami chegou e tudo foi rea-justado para uma rotina de banhos diários.

Do livro Cartas de Sri Ramanasraman, de Suri Nagama, pag. 46-47.

Sou, o Real Habitante da Cova do coração.”

A generosidade com a qual Ra-mana acolhe seus devotos é infini-tamente grande. Grande também é a força com que suas palavras, seus ensinamentos e, principalmente, seu olhar, penetram em nossos cora-ções. Pois, Ele nos fala ao Coração e, no fundo do nosso ser, sentimos tal força a cada dia.

Resumido da palestra de Ana Isabel Moura de Carvalho Moreira, no Círculo de Estu-dos de Julho. Referência “Auto_Investigação“ Bhagavan Sri Ramana Maharshi, p. 31-32.

O primeiro banho

Filosofia

O EncontroJulho-Agosto, 2014

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Uma onda pode olhar para si mesma do ponto de vista do oce-ano, o total, ou do ponto de vista da onda, o indivíduo. Do ponto de vista da onda, ela é limitada, nasci-da um minuto antes e logo sujeita à morte. Deste mesmo ponto de vista, embora a onda não consiga ver a si própria como água, pode ao menos apreciar o fato de que o oceano é aquele do qual ela nas-ce, pelo qual é sustentada e para o qual ela retorna. Desta maneira, vendo sua forma incluída no oce-ano, a onda rende-se ao Senhor, o oceano. Se você se considera somente uma alma individual (Jiva), ao menos empenhe-se em apreciar que a causa (origem) de tudo é o Senhor. Este é o conselho de Krishna a Arjuna, no final do déci-mo primeiro capítulo do Bhagavad Gita (XI:55):

“Aquele que faz ações por amor a Mim, aquele que tem a Mim como objetivo final, aquele que é Meu devoto, que é livre de apego e sem inimizade a qualquer dos seres, esse vem para Mim, Arju-na”. Quer dizer, Krishna aconse-lha a pessoa que não é capaz de compreender a verdade do Senhor como verdade de si mesma: “Que todas as ações sejam feitas por amor a Mim. Que você seja livre de rancor para com qualquer ser, e livre de apego. Através disso você Me alcançará”. A pessoa que Krish-na está descrevendo é como um empregado obediente que empre-ende seu trabalho, executando cada ação de acordo com a vontade de seu patrão, não para satisfazer seus próprios gostos e aversões pesso-ais. Numa sociedade fundada no dever, cada pessoa cumpre o seu papel não criando qualquer desar-monia e trabalhando com toda a sua habilidade, garantindo, desta

forma, automaticamente o direito dos outros. Cada cidadão trabalha com humildade, compreende suas responsabilidades para com a co-munidade. Se você vê sua presença na sociedade não como um inci-dente infeliz, mas como um even-to lógico, então você se descobrirá importante e abordará a vida com propósito. Se você focar somente um segmento da vida, você poderá encontrar razões para se autocon-denar e reclamar dos outros, mas se sua visão é mais ampla, na sua compreensão do todo, não haverá reclamação ou reprovação. Krishna diz que a visão de uma pessoa não somente deve ser mais ampla como também deve ser cósmica: “Leve-me em consideração; saiba que você está incluído na Minha forma cósmica. Assim como em sua anatomia cada célula faz sua parte, assim também na forma cósmica cada indivíduo realiza sua função. Compreenda isso, e vendo-Me a todo momento, faça a ação. Você tornar-se-á Matkarmakrt, aquele que faz ações somente para Mim”.

Para aquele que não consegue pôr os desejos de lado e fazer ações so-mente por amor ao Se-nhor, Krish-na prescre-ve outra via de acesso: “Continue a fazer seu tra-balho, alcan-çando o que você deseja; e quando os resulta-dos vierem lembre-se de Mim como aquele que

dá os frutos da ação. Quem culti-va essa atitude é Meu devoto; sua mente vai residir em Mim e Meu ensinamento será, então claro”.

Quem aceita o resultado da ação como prasãda, um presente do Se-nhor, é nirvaira, aquele que não tem inimizade a ninguém. Na visão descrita aqui, todos os seres são parte do todo; você não é um in-divíduo isolado. Quem aprecia essa visão não consegue odiar outra pessoa, pois é impossível para ele nutrir inimizade a qualquer parte do todo que o inclui. Se meus dentes mordem minha língua, mes-mo com raiva, eu não os destruo! Com esta compreensão, sentimentos de inquietação e tristeza cessam, e a mente satisfeita verá a verdade desdobrada pelo ensinamento. Por-tanto, o Senhor diz: ”Mameti, ele será uno comigo”, assim como a onda ao descobrir-se “eu sou a água” torna-se una com o oceano, sem sofrer qualquer mudança.

Artigo do livro - O Ensinamento do Bha-gavad Gita, elaborado a partir das palestras proferidas por Swami Bayanand Saraswati em Bombaim na Índia no ano de 1978.

O indivíduo e o realAgenda

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O Encontro Julho-Agosto, 2014

A Luz no Caminho - Associação Espiritualista | Rua Maxwell, 145 - Vila Isabel - Rio de Janeiro, RJ - CEP 20541-100 | (21) 2208 5196 | Ho-rário de funcionamento (inclusive dias santos e feriados): segundas e quartas, das 14h30 às 20h30 - terças e quintas, das 14h30 às 21h00 - sábados, das 16h00 às 20h00 | Mais informações no site: www.aluznocaminho.org.br | Notícias da Casa: www.casaderamana.blogspot.com

Casa de Ramana

Por Daniela Meireles

Em homenagem ao Dia dos Avós, comemorado no último sábado de julho, 26, um grupo de voluntários da Sociedade Espírita Ramatis ofe-receu um café da manhã especial às senhoras atendidas pela Casa de Ramana.

A celebração da data é um cos-tume adotado a partir da tradi-ção da Igreja Católica de dedicar este dia em memória de Sant'Ana e São Joaquim, avós de Jesus Cristo.

Em agosto, haverá nova visita do grupo de voluntários, que desen-volve atividades culturais com as vovós uma vez por mês.

Dia dos avósVisitas...No dia 22 de julho, recebemos a

visita do Lions Matheus Pra Sempre, sob a responsabilidade de Mônica Vasconcelos. Vieram profissionais de saúde, que realizaram consultas e exames. Tivemos também mani-cures, que embelezaram as unhas das senhoras atendidas pela Casa.

No dia 14 de agosto foi a vez do Colégio Meimei visitar a Casa. Os alunos do ensino fundamental, acompanhados por duas profes-soras, apresentaram uma dramati-zação, com música composta por eles. Foi uma tarde muito agra-dável. E eles voltarão no próximo mês trazendo alegria e doações de gêneros alimentícios.

Por Marly Ribeiro

O Arraiá do Jerônimo, nossa tradicional festa julina, que este ano aconteceu nos dias 19 e 20, foi um su-cesso, obrigado a todos que participaram. E foram tantos os que nos ajudaram que seria impossível listá-los. Com as bençãos do nosso Mestre a cada ano o arraiá fica mais bonito.

O Arraiá do Jerônimo foi um sucesso

A Casa precisa de obras

E quem mais para cuidar do teto abençoado, que nos foi confiado guardar? E quem mais para “cui-dar“ das nove irmãs, que hoje são acolhidas pela Casa de Ramana? E quem mais para reconhecer que, pela graça do nosso Senhor, temos a chance de oferecer ajuda e junto com essa oferenda, entregar tam-bém nossos problemas, nossas afli-ções? “As pedras que minhas mãos não juntaram, só a Ti confiaram e hoje venho entregar.”

Iniciamos a campanha para as obras, que se fazem urgentes na Casa de Ramana.

Por Lêda Maria Fraga