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ANAIS DO III ENCONTRO CIENTÍFICO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA Comitê Dança em Mediações Educacionais Maio/2013 http://portalanda.org.br/index.php/anais 1 O DISCURSO MODALIZADOR DA TELEVISÃO COM A DANÇA JOUBERT DE ALBUQUERQUE ARRAIS (PUCSP) RESUMO Em 2010, o jovem dançarino de rua John Lennon da Silva “surpreendeu” o júri do concurso de novos talentos Se Ela Dança, Eu Danço (canal SBT, 2011, Brasil), quando, na audição para este programa, para o qual foi “convocado”, dançou uma versão de dança de rua para uma peça de balé. O sucesso foi imenso, principalmente na Internet. Nesta situação comunicacional, que opera na lógica do contrato e da competição, evidenciam-se discursos modalizadores (desejos, vontades, etc) que revelam graus distintos de engajamento. Nela a dança mediatizada passar a ser engenhada não apenas pela espetacularização, mas, sim, pela lógica das convocações, onde a dança passa a fazer parte de uma biopolítica da mídia: um saber/poder dançar. PALAVRAS-CHAVE: Dança na Tevê, Reality Competition Show, Se Ela Dança Eu Danço, Discurso Modalizador. THE MODALIZER DISCOURSE OF THE TELEVISION WITH THE DANCE ABSTRACT In 2010, the young street dancer John Lennon da Silva "surprised" the jury of the competition for new talent Se ela dança, eu danço (channel SBT, 2011, Brazil), when in listening to this program, for which was " summoned ", danced a version of street dance for a piece of ballet. The success was tremendous, especially on the Internet. In this situation communication, which operates on the logic of contract and competition, show up modalizers discourses (desires etc) which show different degrees of engagement, in where the dance now be engineered mediated not only by the spectacle but, rather, by the logic of the convocations, in which the dance become part of a biopolitics of media: a knowledge/power to dance. kEYWORDS : Dance on TV , Reality Competition Show, Se Ela Dança Eu Danço, Modalizer Discourse.

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ANAIS DO III ENCONTRO CIENTÍFICO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA Comitê Dança em Mediações Educacionais – Maio/2013

http://portalanda.org.br/index.php/anais 1

O DISCURSO MODALIZADOR DA TELEVISÃO COM A DANÇA

JOUBERT DE ALBUQUERQUE ARRAIS (PUCSP)

RESUMO Em 2010, o jovem dançarino de rua John Lennon da Silva “surpreendeu” o júri do concurso de novos talentos Se Ela Dança, Eu Danço (canal SBT, 2011, Brasil), quando, na audição para este programa, para o qual foi “convocado”, dançou uma versão de dança de rua para uma peça de balé. O sucesso foi imenso, principalmente na Internet. Nesta situação comunicacional, que opera na lógica do contrato e da competição, evidenciam-se discursos modalizadores (desejos, vontades, etc) que revelam graus distintos de engajamento. Nela a dança mediatizada passar a ser engenhada não apenas pela espetacularização, mas, sim, pela lógica das convocações, onde a dança passa a fazer parte de uma biopolítica da mídia: um saber/poder dançar. PALAVRAS-CHAVE: Dança na Tevê, Reality Competition Show, Se Ela Dança Eu Danço, Discurso Modalizador.

THE MODALIZER DISCOURSE OF THE TELEVISION WITH THE DANCE

ABSTRACT In 2010, the young street dancer John Lennon da Silva "surprised" the jury of the competition for new talent Se ela dança, eu danço (channel SBT, 2011, Brazil), when in listening to this program, for which was " summoned ", danced a version of street dance for a piece of ballet. The success was tremendous, especially on the Internet. In this situation communication, which operates on the logic of contract and competition, show up modalizers discourses (desires etc) which show different degrees of engagement, in where the dance now be engineered mediated not only by the spectacle but, rather, by the logic of the convocations, in which the dance become part of a biopolitics of media: a knowledge/power to dance. kEYWORDS : Dance on TV , Reality Competition Show, Se Ela Dança Eu Danço, Modalizer Discourse.

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Introdução

Um pergunta vem me acompanhando, quando se trata de falar sobre o

comitê temático Produção de Discurso Crítico sobre Dança: se somos

produtores de discursos sobre dança, em que sentido e possibilidade tem esse

discurso de se tornar crítico? Tal inquietação se desdobra quando pensamos

nos outros comitês, que também tratam de discursos sobre dança, quer seja na

história, na educação, nos processos de criação etc. Então, qual seria nossa

especificidade, referindo-me ao comitê em questão?

Desse modo, esse artigo nasce de um desejo/vontade de partilhar o

assunto da tese de doutorado que desenvolvo na PUCSP, percebendo uma

recorrência que pede uma reflexão crítica urgente: a “presença” da dança na

televisão. Especificamente, interessa-nos a relação da televisão com a dança,

em termos da produção de um discurso do “corpo competente”, sendo a dança

tratada como um produto midiático que vem se popularizando na relação corpo

que dança, marketing publicitário e índices de audiência.

Certos programas de TV vem colocando a dança no limiar da

espetacularização, mas que, contraditoriamente, vem gerando sociabilidade, ou

seja, as pessoas vem dançando e falando mais de dança quando esta aparece

na televisão, eis o paradoxo que nos mobiliza nessa crítica de/da TV.

Ressalto que durante os trabalhos do comitê em questão, no encontro

2013 da Anda, apenas uma proposta de artigo elencou esse tema, trazendo em

seu titulo sua pretensão investigativa de pesquisa, em nível mestrado: O que o

artista faz com o que a TV faz da arte?, de Bruno Freire (PUC/SP). O diálogo

desse artigo com o que aqui partilho é uma proposta de interlocução, sendo a

escolha feito sob o critério do assunto em comum.

Os outros tinham questões transversais que, felizmente, convergiram e

convergem para, inclusive, repensarmos a ementa deste comitê, como

começamos a fazer durante os dois dias de encontro na Escola de Dança da

Universidade Federal da Bahia (UFBA) em Salvador.

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O Mundo da Dança na Televisão

Constatamos uma presença recorrente da dança na televisão

contemporânea na primeira década do século 21, por meio de

programas/seriados temáticos do tipo reality competition show. Esse subgênero

televisivo, ainda iminente, distingue-se do padrão “reality show”, porque não

opera na lógica espetacularizada que age pelo confinamento e pela reclusão,

mas pela ação de chamar para fazer parte, recrutar, convocar. Trata-se da

cultura midiática de convocação (PRADO, 2010), um desdobramento, ou

mesmo, ramificação e especialização desse padrão:

Os enunciadores das máquinas comunicacionais se dedicam à especialização estética da mercadoria, já que a atividade de leitura, audição, televisão e imersão convoca o receptor a experiências multissensoriais construídas com apoio dos especialistas. Os enunciadores midiáticos, do marketing e da publicidade são sujeitos-supostos-sabedores que fornecem aos enunciatários o saber, na forma de mapas, ou seja, receitas modalizadoras para as ações (PRADO, 2008: 11).

Interessa-nos, nesse processo, os discursos, formados de enunciações,

das pessoas ditas comuns ou artistas aspirantes anônimos. Elas, de modo

geral, participam desses concursos na busca de realizar o sonho de ter uma

carreira artística, de fazer parte do que (re)conhecem como “mundo da dança”;

logo, conquista uma visibilidade midiática por meio da dança. Cada pessoa

inscrita é selecionada para uma primeira apresentação, chamada “audição”,

que faz parte do início do processo seletivo.

Ao dançar na e para tevê, o candidato ou a candidata precisa mostrar

competências que o/a tornem apto/a a concorrer nas etapas eliminatórias

seguintes. Na medida que conseguem boa audiência e publicidade,

prosseguem na competição. Como atesta o depoimento de um candidato John

Lennon da Silva (JLS) para o programa Se ela dança, eu danço, do canal SBT,

conhecido por ter inaugurado, mesmo com o veredito de plágio, o formato

reality show no Brasil, com “A casa dos Artistas”, seguindo com programas de

competição de dança, que foi prometido ser retomado este ano, 2013, o que

não aconteceu. Tal depoimento do dançarino foi dado durante audição seletiva

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para o programa Se ela dança, Eu danço, pelo canal brasileiro de televisão

SBT, que diz:

Nome de artista eu já tenho, a questão é que eu quero sim ser artista, vim aqui propriamente por isso, pra mostrar o que eu sei. A dança na minha vida significa muita coisa. Meu sonho mesmo na dança é viajar pelo mundo, fazer algumas turnês e ser conhecido.

Nesta ação de dançar na tevê para um júri especializado, JLS confessa

ambições e expectativas, nas quais se evidenciam discursos modalizadores

que anunciam um certo “projeto midiático” da tevê para a dança com forte viés

biopolítico e ancorado no que lhe é exterior. Ou seja, nas falas, percebemos

certa modalização do discurso, que é expressa por elementos linguísticos

(verbos modais) que funcionam como indicadores de intenções e atitudes;

certezas e probabilidades; desejos, vontades e empreendimentos; e assim,

'revelam' graus distintos de engajamento.

Este projeto, ao que parece, não é pensado pelo ambiente televisivo,

mas nele e com ele forjado a partir do que acontece fora da tevê. Nos EUA, o

canal norte-americano Fox produz, desde 2005, segundo o padrão das

competições de música, o programa So You Think You Can Dance?, já na

nona edição e com franquias em cerca de 22 países, dentre os quais,

recentemente, estreou uma versão homônima na China. É dele o padrão

seguido pelo canal SBT, com o programa Se ela dança, eu danço, que não fez

tradução literal, porém, manteve o mesmo layout e certa semelhança, com

eliminatórias de apresentações solo e também, de grupo.

Porém, fora da tevê, temos festivais de dança, como, por exemplo no

Brasil, o de Joinville, já há duas décadas sendo realizado com caráter de

competição, que não cumpre uma função a longo prazo, mas imediatista, uma

vez que os critérios não são claros, como afirmou a crítica de dança Helena

Katz, em entrevista realizada há mais dez anos e, comparado às últimas

edições, mostra-nos que este evento de dança avançou muito pouco naquilo

que poderia ser seu diferencial, o caráter educacional, já que se trata de um

empreendimento comercial entre escolas:

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Apenas no dia em que o festival decidir ponderar a respeito do seu formato e de sua responsabilidade com o mesmo profissionalismo com que aplica ao seu planejamento de marketing se poderá falar em avanço ou retrocesso com pertinência. Todo o resto, distanciado desse contexto, só pode ser entendido como teste de mercado - rascunhos de mudanças nascidos das pressões críticas que foram se avolumando nos últimos anos (KATZ, 15/07/2001).

Não por acaso, os programas que constituem o segmento

comunicacional dos seriados televisivos de competição de dança, podem ser

chamados também de reality competition dance show, transformam-se, eles

mesmos, em mídias dos valores fundamentais do neoliberalismo: o mercado

controla a produção, o indivíduo tem mais importância que a sociedade e a

competição gera inovação. Diz respeito ao 'discurso competente' desses

concursos televisivos, enquanto ação no mundo, e que esse discurso vai sendo

institucionalizado enquanto 'discurso do corpo competente'. Assim, constitui-se,

ele mesmo, em corpomídia dos valores fundamentais do neoliberalismo,

construído com enorme visibilidade em programas de tevê que associam

entretenimento e competição às políticas do corpo.

Não se trata, portanto, de uma dança midiatizada apenas (veiculada),

mas de uma dança mediada, ou seja, de um corpo dançante que se constrói

por processos contaminatórios de mediação cultural (KATZ & GREINER,

2001). Em uma sociedade de mercado, e não mais industrial, corpos tornam-

se mercadorias e, no caso da dança, corpos dançantes passam a fazer parte

de uma pedagogização da mídia que fortalece estereótipos, dita formulas,

defende manuais etc, tudo isso em prol de como se deve dançar, ou melhor, de

quem sabe/pode dançar.

A dança na mídia televisual tem sido, assim, um tema recorrente na

primeira década do novo século, sendo a televisão o meio onde esse

movimento se faz mais evidente. Eis uma recorrência (ou mesmo, ocorrência),

que se configura não tanto mais como ação coadjuvante, mas como ação

protagonista, uma vez que a dança e, mais especificamente, o corpo dançante

vem sendo o foco temático de muitos programas seriados.

Inclusive, com alguns exemplos de telenovelas. Ainda no século

passado, no final dos anos 70, fez grande sucesso a telenovela Dancin'Days,

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claramente influenciado pelo movimento disco. Já na primeira década do

século 21, tivemos a telenovela Dance Dance Dance (Record), como também a

participação da bailarina celebridade Ana Botafogo, vivendo uma professora de

balé (ou seja, ela mesma) em novela Global. Vale ressaltar que foi nesta

década que começou a reverberar no Brasil os programas seriados do tipo

reality show, sendo seu precursor o programa “A casa dos Artistas” (SBT).

Não há, pois, como desconsiderar que existência de uma produção de

imagens televisuais que relacionam, rotineiramente, a dança com uma

competição agônica, e não tanto de especialização; e, por conseguinte, esta

competição gera um tipo específico de competência que interessa mais ao jogo

midiático neoliberal (FREIRE FILHO; COELHO, 2012). São imagens não

apenas televisionadas, mas sim televisivas no sentido de uma hiperprodução

semiótica (DURÃO, 2008), que passaram a ser difundidas em outras lógicas de

tempo e espaço.

No capitalismo pós-moderno, o subsistema dos media e da publicidade não mostra os sintomas da pós-modernidade que acompanham a implantação econômico-cultural dos programas de indeterminação e de vida flexível ou líquida. Com o fim de universalizar o consumo advindo com a sociedade não-repressiva, tal subsistema constrói regimes de visibilidade e de interação, em que se apresenta somente o lado glamoroso da arte de se equilibrar num chão movediço, que brilha nos corpos soltos, bonitos, jovens, rejuvenescidos e turbinados, preocupados em cuidar da qualidade de vida, da beleza, da saúde e do prazer efêmeros, ou que se incorpora nas personalidades discursivizadas a partir de significantes do sucesso e da riqueza e em seus emblemas. Entre as radicais transformações culturais e mercadológicas implantadas na passagem da modernidade para o período que muitos qualificaram de pós-modernidade, estão a diferença de vivência do tempo e do espaço e dos modos de construir a própria individualidade (PRADO, 2008: 90).

Nesse contexto maior, interessa-nos o enfoque nos concursos de dança

na televisão enquanto dispositivos midiáticos que modalizam o discurso, a

partir de uma audição pré-seletiva para o programa Se ela dança, Eu danço,

até o momento, com apenas uma edição produzida pelo canal SBT. Como

também, refletirmos a respeito da descartabilidade do sujeito, segundo Bauman

(2008), este sujeito “líquido” e individualizado que se diferencia

homogeneizando-se, um “indivíduo sitiado” (idem, 26), e que pode ser

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encontrado nos programas competitivos de tevê de dança, que seguem o

formato reality show.

Pensar os concursos de dança na televisão nos remete aos regimes de

visibilidade midiática da televisão, que dizem respeito à modalização dos

discursos. Nas falas e atitudes das pessoas que compõe o juri, as

discordâncias seguem o papel publicitário da comunicação televisiva e de um

tipo de dança que sirva às metas dessa mídia, uma dança que ultrapasse os

limites do corpo e que impressione o telespectador comum. Os candidatos

destes concursos fazem todo o esforço para se adequar às ditas expectativas

técnicas e o júri elimina os que não conseguiram atingir essa meta.

As audições, essas prévias do grande show, mostram-se como

eficientes dispositivos midiáticos, selecionam quem está apto, por enquanto, e

descarta quem não está; ou mesmo, descarta momentaneamente, pois há a

meta da reciclagem, outro aspecto que nos ajuda a avançar nessa discussão,

no sentido do empreendedorismo de si mesmo, essa “dança s/a” que temos

como assunto/hipótese.

Os enunciadores das máquinas comunicacionais se dedicam à especialização estética da mercadoria, já que a atividade de leitura, audição, televisão e imersão convoca o receptor a experiências multissensoriais construídas com apoio dos especialistas. Os enunciadores midiáticos, do marketing e da publicidade são sujeitos-supostos-sabedores que fornecem aos enunciatários o saber, na forma de mapas, ou seja, receitas modalizadoras para as ações (PRADO: 2008: 97).

Por intermédio da mobilização de emoções, valores e histórias

exemplares, e contando com a participação de especialistas, estes concursos

produzem uma ação nefasta, criando opções e responsabilidades éticas e

comunicacionais que precisam ser problematizadas, uma vez que afastam o

telespectador comum de um engajamento crítico coletivo. Tal postura acarreta

um poder avassalador na compreensão das pessoas, contribuindo para uma

percepção de mundo acrítica, e que já há algum tempo existe na televisão e,

aos poucos, vem se consolidando como um 'jeito televisivo' de lidar com a

dança e o corpo que quer dançar 'profissionalmente'.

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Nestas audições enquanto seleção de elenco, a influência da tevê, em

termos de estandardização, pode ser percebida como dispositivo de poder,

quando os veredictos enaltecem os aptos porque 'têm uma boa técnica e bom

corpo', os vocacionados porque 'têm o dom e o talento' e os esforçados porque

'podem mas precisam trabalhar mais'; e, ainda, os desajeitados porque 'não

nasceram para dançar'. A audição passa a ser um procedimento de escolha em

termos de políticas do e sobre o corpo, quando o candidato, ganhador ou

perdedor, é capturado pela máquina midiática da televisão, em termos de

estratégias de audiência, como também é testado em suas competências e

habilidades. “Foi no biológico, no somático, no corporal que, antes de tudo,

investiu a sociedade capitalista. O corpo é uma realidade biopolítica”

(FOUCAULT: 1994: 80).

A importância dos modelos de corpo que esse discurso televisivo vai

montando com suas imagens midiatizadas da dança merece bastante atenção

investigativa, em termos ideológicos e cognitivos, no âmbito da Comunicação.

Os júris “especializados” ditam o que é competência e o que não é

competência a partir de uma prática imposta pelo mercado. Nessa operação,

pessoas, corpos e danças transformam-se em mercadorias, em que tais

modelos vêm certificando identidades fixas ou estilos de vida idealizados; e que

são problemáticos quando reforçam uma ideia de corpo fabricável, moldável,

incutindo a competição no corpo quando este precisa ser mantido, a todo

custo, dentro dos padrões corporais ideais de mercado.

Trata-se, assim, na sociedade de controle do capitalismo globalizado, de fornecer programas midiáticos, regados pelo imaginário da publicidade e do marketing, para guiar os indivíduos aos seus objetos de desejo. Tais programas constroem regimes discursivos de visibilidade, fortemente sensorializados, em que certos itens são tornados positivos e podem vir às cenas midiáticas com seus modos de usar e suas receitas de vida boa, enquanto outros são disforizados e relegados ao ostracismo (PRADO: 2008: 98-99).

A promulgação da competência pela competição vai na direção das

relações neoliberais que hoje nos governam. “O controle da sociedade sobre

os indivíduos não se opera simplesmente pela consciência ou pela ideologia,

mas começa no corpo, com o corpo”, diz Foucault (1994: 80). Pois, se é no

corpo que estão os subsídios para pensar processos de produção,

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armazenamento e transmissão da informação, por contaminação e por redes

de conexão, “o próprio corpo resulta de contínuas negociações de informações

com o ambiente e carrega esse seu modo de existir para outras instâncias de

seu funcionamento” (KATZ & GREINER: 2001: 72).

Estas situações de dança configuram-se como imagens televisivas

bastante difundidas na Internet, muitas delas conhecidas a partir deste meio, o

que faz a tevê criar uma comunicabilidade de clichês onde o corpo opera

segundo parâmetros publicitários de um mercado sedento por produtos

diferenciados e/ou casos de sucesso e fracasso.

Nestas audições a serem investigadas, evidenciam-se as expectativas

dos profissionais que avaliam e escolhem; e dos(as) dançarinos(as) que

aceitam serem mensurados em suas habilidades “artísticas”. As regras e

parâmetros são “estritamente técnicos”, entendidos como o desempenho físico

do corpo sem intuitos autorais, comprometido apenas com as exigências

motoras do corpo para o júri. No ambiente da televisão, ganha presença

espetacularizada, uma vez que se trata do estereótipo e senso comum do que

vem a ser um bom bailarino/dançarino ou boa bailarina/dançarina.

Logo, esse estritamente técnico televisivo já nos é espetacularizado e

que dizem respeito às competências do corpo para dançar em situação de

avaliação: corpos atléticos, tecnicamente aptos; e, quando não, os corpos

expressivos de “caras e bocas”.

Como, na passagem de uma cultura de massa para uma cultura das

mídias (PRADO, 2008), transformamos nosso jeito de nos relacionarmos,

cognitivamente, com aquilo que nos é posto pela televisão contemporânea,

reconfigurada com o advento da internet, como um jeito de viver midiatizado?

Investigar o discurso do corpo competente/competitivo é, assim, falar de

regimes de visibilidade nos media, o que implica considerar temas biopolíticos

que estabelecem tipos específicos de contrato forjados pelos enunciadores

midiáticos, em torno do sucesso, saúde, riqueza e felicidade. “Os contratos

comunicacionais são construídos para que a mídia funcione de modo

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performativo, ou seja, o dizer do enunciador todo-sabedor faz fazer nesse

campo discursivo” (PRADO, 2008: 98).

A noticia abaixo é um tanto inquietante, se atentarmos para o fato de

que a dança na tevê, a partir de concursos de novos talentos, é um assunto

ainda pouco discutido. Refere-se à audição do jovem dançarino John Lennon

da Silva (JLS) para o programa “Se ela dança, eu danço”, foi um sucesso em

2010. Contudo, constatamos a construção e difusão de “certa imagem de

dança” na televisão contemporânea enquanto arte da competição. Uma notícia

online, publicada no site do jornal Correio Braziliense sobre esse dançarino,

que nos ajuda a contextualizar nossa discussão.

O solo A morte do cisne criado em 1905 pelo russo Mikhail Fokine e a música de Camille Saint-Saens retratam o último voo de um cisne, antes de ele morrer. Na versão original, a bailarina, com figurino impecavelmente branco e na ponta dos pés, interpreta toda a agonia da ave se debatendo até desfalecer. No fim do ano passado, um rapaz de 20 anos, morador do bairro de São Mateus, na Zona Leste de São Paulo, elaborou um novo jeito de dançar a coreografia imortalizada pela bailarina Anna Pavlova. No lugar de um colã e das sapatilhas; calça jeans, camiseta e tênis. Em vez de balé, street dance. O autor da façanha tem nome de gênio da música, mas quer trilhar a carreira na dança: John Lennon da Silva. Sua apresentação inovadora de A morte do cisne, que foi ao ar no programa Se ela dança, eu danço, do SBT, no fim de fevereiro, virou hit no YouTube. Em entrevista por telefone, John conta que a coreografia, que foi capaz de emocionar os três jurados que participam da atração, foi concebida em outubro do ano passado no projeto vocacional de dança que participa (BRANT, 13/03/2001).

Muitos dos programas produzidos nesse ambiente midiático, segundo

recorte histórico da primeira década do novo século, tem a presença da dança

como sinônimo de boa audiência, gerando retornos publicitários consideráveis.

Vem atraindo não apenas os ditos profissionais, mas também pessoas ditas

comuns que almejam o estrelato nas “telinhas”, uma chance quase imperdível

de fazer parte do glamourizado mundo midiatizado da dança. Tratam-se de

ações modalizadoras, na sociedade, da mídia televisiva quando esta populariza

a dança como arte de(a) competição.

Importa-nos o que emerge como discurso nesse momento de

enfrentamento entre dança, candidato e juri, com atenção a peça A morte do

cisne, interpretada ou reinterpretado por JLS, como ele mesmo diz, e que

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causou emoção e surpresa. Levando em conta a dinâmica espetacular do

ambiente midiático da tevê, interessa-nos perceber o que engendra tais

discursos para além desse simulacro espetacular, uma vez que a tevê, mesmo

direcionada ao consumo e à audiência, mobiliza pessoas em suas alteridades,

constrói sociabilidades.

Ao dançar a “sua” morte do cisne, JLS midiatiza no e pelo corpo (e não

simplesmente através de) uma coreografia de balé numa roupagem

contemporânea e, nesse movimento estetizante, dá ao telespectador-internauta

(no caso, mais o internauta) a oportunidade de conhecer a peça de balé na

interpretação ao estilo street dance. Midiatiza e faz-se midiatizar no ambiente

competitivo de uma audição televisiva de dança de uma reality show. Essa

ordem modalizante, seguindo com Prado (2008, 2006), é também discutida por

Sodré (2002), quando este nomeia a cultura midiática de bios midiático, uma

nova forma de vida; ou mesmo Debord (apud PRADO, 2012), se entendermos

espetáculo como um dispositivo naturalizador.

A dança de JLS configura-se como um corpo masculino que “executa”

uma coreografia historicamente dançada por corpos femininos, bailarinas. Faz

jus ao que nome dado ao programa, Se ela dança, Eu danço, inspirado no

refrão de uma música de um funk e não com o nome do programa original que

copia, sendo uma replicação não autorizada do original So you think you can

dance?, para o canal de TV SBT se livrar da obrigatoriedade de pagar direitos

de uso, como é rotina desse canal, que no Brasil inaugurou o formato reality

show com A casa dos Artistas, no ano de 2003, e que depois foi processado

pela TV Globo por plágio.

Ao assistir a essa audição de dança, nota-se o forte apelo emotivo e

motivante, que vem da “história” contada na coreografia original, como define o

jurado João Wladimir, que ora da tevê, João Wladimir é um dos diretores

artísticos do Festival de Dança de Joinville, hoje, o grande evento competitivo

de dança do Brasil, desde 1992. Ele interroga, coçando o queixo, se JLS

conhecia a versão original da Morte do Cisne:“Você sabe que um cisne se

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debatendo até a morte e é feito por uma bailarina nas pontas, toda de branco, a

versão original é essa...”.

Trata-se do modo característico de operar da televisão, que mobiliza

emoções e sentimentos em quem vê tevê no aparelho de tevê ou na tela do

computador, ou mesmo no celular. Ao se utilizar desta estratégia de

convencimento e surpresa, diante do juri e de uma situação de avaliação, JLS

dança para causar “boa impressão” (diga-se satisfazer as expectativas), tanto

que o jurado João Wladimir emociona-se e sai do palco, enquanto ele sai com

um sorriso de vitorioso, pois se o juri gostou, principalmente o jurado mais

exigente, é porque sou competente para dançar.

A imagem de dança que permanece na tevê, a partir dessa audição e de

seus enunciadores midiáticos, é construída a partir de situações de

entretenimento e de uma competência vinculada a uma competição. Porém, tal

competição não é instaurada pela televisão, pois “a tevê não inaugura

processos”, como afirma o jornalista e crítico de televisão e cinema Eugênio

Bucci no texto “Crítica de Televisão” (1999). Segundo este autor, aquilo que se

vê na televisão já vem de uma demanda fora dela que, no caso da dança

podemos identificar com esse viés competitivo e, mais especificamente, sobre

o discurso do corpo competente pela competição. Nas palavras desse autor,

[…] aquilo que o telespectador vê na tela emerge não da tela em sim,

mas também de algo que ele, o telespectador [e hoje o telespectador-

internauta], já estava demandando antes. Muita mistificação vem

sendo cometida pela inobservância ingênua dessa cautela – ou desse

dado (BUCCI: 1999: 102).

Diante dessa situação, torna-se imprescindível aprofundar o

conhecimento do meio televisivo e seu poder biopolítico de normatização dos

corpos. Percebemos que as possibilidades da produção desta ambiência

midiática são minimizadas, na mesma escala, de outros sensos comuns, como

propõe Sousa Santos (2007) na discussão sobre regulação e emancipação na

sociedade dita pós-moderna. Se entendemos que artefatos televisivos

funcionam menos como emancipadores e mais como reguladores de uma certa

concepção de corpo e de arte, podemos, então, concluir, provisoriamente, que

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tais programas ativam expectativas de sucesso meteórico e culpas vindas da

humilhação, que afetam, mesmo em níveis distintos, todos os sujeitos que com

eles se envolvem.

O que permanece estável como imagem de dança é justamente esse

lugar que a competência ocupa no fazer dança atravessada por uma lógica de

competição contra o outro, regulada pela lógica neoliberal de uma ação

competitiva que tem o outro como ameaça e que opera na agonia. O próprio

JLS tem dificuldade de se situar no contexto da coreografia da morte do cisne,

ao ser indagado por um dos jurados, na hora preliminar das perguntinhas.

Tanto que após a audição, já fora do estúdio, quando questionado pelo repórter

que o esperava lá fora, diz assim:

Ele (o jurado João Wladimir) viu minha potencialidade e simplesmente... ele pensou que ia ser normal quando eu percebi pelo rosto dele, pela face dele... mas quando ele viu eu terminando a coreografia ele disse você é um artista!

A dança de JLS nos chamou atenção pelo sucesso meteórico alcançado

pela audiência da Internet, medida pelo número de acessos, ou seja, uma

imagem televisiva que repercutiu no ambiente da Internet, mas não produzida

para esta mídia televisual. Estamos interessados em como a mídia televisiva,

por meio de programas competitivos, evidencia o corpo dançante como uma

construção onde dinâmicas tecnológicas, entendidas como estratégias do atual

estágio do capitalismo, atuam e são reproduzidas, desafiando e interrogando a

competência do corpo na ação de dançar, por meio das suas audições, onde

um juri de “especialistas” decide quem está apto a fazer parte da competição

principal.

Como esse padrão vem se replicando privilegia as mediações e as

relações de impacto entre ambientes midiáticoculturais e a organização da vida

cotidiana e do corpo. Sobre isso, Muniz Sodré esclarece:

É preciso inicialmente considerar que, mesmo pertencendo a um bios específico, a tevê não é um ator social isolado, está sempre inserida em contextualizações de ordem sócio-histórica. Colocada dentro de uma tradição sócio-cultural patrimonialista, como a brasileira, a tevê, apesar do transnacionalismo de sua forma, produz efeitos específicos, regionais (SODRÉ: 2002: 31).

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No discurso televisivo, a competência pela competição consolida-se

como uma de suas especificidades, por alguns axiomas produzidos pela

globalização, em termos de mercado e consumo, como “concorrência gera

soluções” e “competitividade gera inovação”, que enfraquecem fundamentos

importantes no que tange às sociabilidades, como os princípios de cooperação

e igualdade. Paradoxalmente, uma sociabilidade evidencia-se na audiência

quando as pessoas passam a falar mais de dança e a experimentar dança para

melhoria de vida na sociedade, sentir-se melhor e feliz, espécies de sublimação

pela dança.

Assim, as conexões que os programas de televisão estabelecem,

eventualmente, entre posturas individuais e o bem-estar coletivo vão

alicerçando, pelo poder da mídia, uma “sociabilidade dançante global”. O

discurso televisivo torna-se um operador cognitivo de sociabilidades. Fora da

televisão, esses discursos mostram uma sociabilidade da arte pela dança,

mesmo se relacionados com o bem-estar.

Buscamos perceber, com as reflexões aqui apresentadas, o que

engendra tal situação de sociabilidade pela competição e qual o papel da

dança na produção desse discurso da competência. É o que defendemos como

socialmente relevante, já que mobiliza pessoas em suas alteridades, criam

expectativas e frustrações em quem sonha e deseja ser dançarino, dançarina,

bailarino e bailarina profissionais.

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silva-para-classico-do-bale-e-atracao-na-web.shtml. Acessado em: 13/05/2013.

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Joubert de Albuquerque Arrais Artista-pesquisador, crítico de dança e jornalista cultural. Professor Assistente do bacharelado e da licenciatura em Dança da FAP/Unespar. Doutorando em Comunicação e Semiótica (PUC-SP, Capes), mestre em Dança (UFBA, 2008) e bacharel em Comunicação Social / Jornalismo (UFC, 2003), com formação artística pelo centro em movimento – c.e.m (Lisboa/Portugal, 2009/11). Escreve no <www.enquantodancas.net >. E-mail: [email protected]