o cotidiano do cuidador familiar da pessoa ......visamos conhecer e compreender o cotidiano do...

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1 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ANA AYLA DE AGUIAR MARINHO O COTIDIANO DO CUIDADOR FAMILIAR DA PESSOA IDOSA COM DEPENDÊNCIA FUNCIONAL FORTALEZA 2013

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

ANA AYLA DE AGUIAR MARINHO

O COTIDIANO DO CUIDADOR FAMILIAR DA PESSOA IDOSA

COM DEPENDÊNCIA FUNCIONAL

FORTALEZA

2013

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ANA AYLA DE AGUIAR MARINHO

O COTIDIANO DO FAMILIAR CUIDADOR DA PESSOA IDOSA

COM DEPENDÊNCIA FUNCIONAL

FORTALEZA

2013

Monografia submetida à aprovação coordenação

do curso de Bacharelado de Serviço Social do

Centro de Ensino Superior do Ceará, como

requisito para obtenção do grau Graduação.

Orientador (a): profa. Joelma Maria Freitas.

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ANA AYLA DE AGUIAR MARINHO

O COTIDIANO DO FAMILIAR CUIDADOR DA PESSOA IDOSA

COM DEPENDÊNCIA FUNCIONAL

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________________

Prof.ª Ms. Joelma Maria de Freitas – Orientadora

Faculdade Cearense – FaC

___________________________________________________________________________

Prof.ª Eliane Nunes de Carvalho

Faculdade Cearense - FaC

___________________________________________________________________________

Prof.ª Flaubênia Maria Girão de Queiroz

Faculdade Cearense - FaC

Monografia apresentada como pré-requisito para

obtenção do título de Bacharelado em Serviço

Social, outorgado pela Faculdade Cearense (FaC),

tendo sido aprovada pela banca examinadora

composta pelos professores.

Data da aprovação:___/____/_____

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A Deus, em primeiro lugar, pela sua graça,

ao meu esposo Felipe Inácio,

meus familiares e amigos...

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RESUMO

Este trabalho tem como tema de pesquisa o cotidiano do familiar cuidador de idosos com

dependência funcional; foi desenvolvido na busca de conhecer o dia a dia dos familiares que

cuidam de idosos que se tornaram dependentes funcionais durante a velhice, ou seja, passarem

a necessitar de um cuidador. De maneira específica para este trabalho, foram pesquisados os

cuidadores que também eram familiares e residiam com o idoso dependente. A metodologia

de pesquisa utilizada para a análise do cotidiano dos familiares cuidadores foi a pesquisa de

campo de caráter descritivo, sendo escolhido o método qualitativo. Para uma melhor

abordagem sobre a temática, buscaram-se identificar de maneira mais específica as mudanças

na saúde, economia e sociedade ocorridas no cotidiano do familiar cuidador. Após a

realização das entrevistas e análise dos dados, pôde-se concluir que por mais que ocorram

mudanças na vida do cuidador pesquisado, elas são tão relativas quanto o processo de

envelhecimento de cada pessoa, ou seja, os determinantes positivos e negativos da vida do

cuidador antes de exercer esta função são decisivos para as mudanças geradas após este

familiar se tornar cuidador.

Palavras-chave: velhice. Dependência funcional. Cuidador familiar. Cotidiano.

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ABSTRACT

This work is the research topic of everyday family caregivers of elderly with functional

dependence, was developed in the search to know more about one of the aspects involved in

the aging process of the Brazilian population that is about caring for older familiar who have

become dependent functional, in other words, passing in need of a caregiver, specifically for

this study, we investigated the caregivers who were also family and living with dependent

elderly. The research methodology used for the analysis of the daily life of family caregivers

was field research exploratory, qualitative method was chosen. For a better approach to the

issue, sought to identify more specifically the changes in health, economic and social occured

in the daily caregiver. After the interviews and data analysis it can be concluded that as

changes occur in the life of the caregiver researched these changes are so much related the

aging process of each person, namely, the positive and negative determinants of the

caregiver's life before performing this function are critical to the changes generated after this

family become caretakers.

keywords: old-age. Functional dependence. Family caregiver. Daily.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................8

1 O ENVELHECIMENTO E A DEPENDÊNCIA FUNCIONAL NA TERCEIRA

IDADE......................................................................................................................................15

1.1 O processo de envelhecimento da população brasileira......................................................15

1.2 A dependência funcional na terceira idade.........................................................................18

1.3 Os idosos de que falamos!..................................................................................................22

1.4 As imagens da dependência!...............................................................................................23

2 A FAMÍLIA E SEUS FAMILIARES CUIDADORES DE IDOSOS..............................26

2.1 A família de que falamos!...................................................................................................26

2.2 O surgimento de um familiar cuidador...............................................................................29

2.3 O perfil dos familiares cuidadores da pesquisa...................................................................32

3 O COTIDIANO COMO CAMPO DE PESQUISA..........................................................34

3.1 O cotidiano e o processo de envelhecimento......................................................................34

3.2.1 O cotidiano dos familiares cuidadores de idosos com dependência funcional................39

3.2.2 Aspectos sobre a saúde dos cuidadores............................................................................39

3.2.3 Aspectos econômicos e financeiros dos familiares cuidadores.......................................41

3.2.4 O cuidador e suas relações sociais atualmente.................................................................44

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................47

REFERÊNCIAS......................................................................................................................50

ANEXO....................................................................................................................................53

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1 INTRODUÇÃO

Nosso trabalho tem como objeto de estudo a investigação sobre o cotidiano dos

familiares cuidadores de idosos com dependência funcional, buscando identificar de maneira

mais específica se há mudanças sociais, econômicas e na saúde do familiar que se torna

cuidador de um parente idoso.

Há algumas décadas nós, brasileiros, temos notado visivelmente que nosso país não

se configura mais com aquele perfil de um país jovem; comprovamos pelos últimos dados de

pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2008) que o número de

crianças nascidas vem diminuindo e o da expectativa de vida vem aumentando, registrando,

assim, um número cada vez maior de idosos, portanto, estamos envelhecendo. Tal realidade

pode ser também vista através da longevidade de nossos habitantes, ou seja, o crescente

número de idosos identificado pelos censos e pelos estudos demográficos.

Diante deste fato, nos são colocados vários desafios, como, por exemplo, a

necessidade de adequação das políticas públicas sociais, particularmente aquelas voltadas para

atender as crescentes demandas nas áreas da saúde, previdência e assistência, entre outras,

para nos adequarmos a esta nova realidade populacional do nosso país. Nessa pesquisa,

visamos conhecer e compreender o cotidiano do cuidador familiar da pessoa idosa que possui

dependência funcional, buscando identificar se há mudanças sociais, econômicas e de saúde

na vida do familiar que se torna um cuidador de um parente idoso.

Dessa forma, nessa pesquisa queremos enfatizar a importância de se considerar o

sujeito que cuida, visando contribuir com o avanço do conhecimento na área da assistência do

cuidado familiar no domicílio, favorecendo uma melhor qualidade de vida para os cuidadores

familiares e, consequentemente, para os nossos idosos.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE-2008),

em 2050 a expectativa de vida do brasileiro será de 81,29 anos, tendo o mesmo nível atual de

Hong Kong, China (82,20) e do Japão (82,60) e o Brasil será o sexto país do mundo com o

maior número de pessoas idosas; o que notamos é que estamos caminhando para a realidade

prevista pelas pesquisas, graças ao avanço da tecnologia, da medicina, da informação, entre

outros fatores, resultando numa maior expectativa de vida para a nossa população. Só que não

basta apenas aumentar os anos vividos, temos que nos preocupar também com a qualidade

que viveremos nesses anos de vida a mais conquistados.

Na velhice, algumas pessoas passam a necessitar de ajuda para as atividades

básicas no seu dia a dia, que podem variar desde uma pequena ajuda para se deslocar ao

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banco até uma ajuda mais contínua, como, por exemplo, no auxílio da higiene pessoal. Em

geral, normalmente com a idade, o ser humano sofre mudanças gradativas no metabolismo,

estatura, locomoção, visão e audição, que comprometem a qualidade de vida; passamos,

então, a necessitar de ajuda de outros membros da família, amigos ou vizinhos para vários

aspectos de nossa vida diária.

Nessa perspectiva, meu interesse por esta problemática surgiu durante as minhas

observações no campo de estágio que se deu no Centro de Referência Especializado de

Assistência Social (CREAS III); este equipamento da prefeitura do município de Fortaleza

trabalha recebendo denúncias de violações de direito e tem como público-alvo pessoas que se

encontraram em situação de risco social e que por algum motivo estão com seus direitos

sendo violados. Após o recebimento das denúncias, os profissionais verificam se estas são

verdadeiras e, caso sejam, passam a acompanhar o usuário juntamente com sua família até

que haja uma superação da violação dos direitos.

Durante as visitas aos idosos que estavam sofrendo algum tipo de violência

pudemos notar, através de cenas do cotidiano de alguns familiares responsáveis por estes

usuários, que por eles possuírem algum grau de dependência funcional, os familiares

acabavam se tornando cuidadores. Porém, alguns destes familiares expressavam nos seus

depoimentos muita dificuldade em estar assumindo a responsabilidades de cuidar de seus

parentes idosos, devido à necessidade de uma dedicação quase que exclusiva no que diz

respeito ao cuidado.

Pudemos observar que na maioria dos casos estudados os cuidadores não eram

preparados para realizar a tarefa de cuidar de um idoso e, além do despreparo em ter que lidar

com tensões e esforços decorrentes do cuidar, tinham também que articular e promover uma

reorganização na sua vida familiar, profissional e social, acarretando, assim, mudanças na

qualidade de vida do cuidador com a sobrecarga de atividades; outras famílias chegavam a

nos pedir asilamento institucional para o idoso, uma vez que não tinham com quem contar

para cuidar do mesmo durante seu horário de trabalho. Ao refletir sobre estas questões,

pensamos na importância do cuidador domiciliar estar sensibilizado para o cuidado de si, para

melhor cuidar do outro, o idoso.

Entre as situações citadas anteriormente, no que diz respeito aos cuidados com os

idosos, temos outro aspecto muito relevante, que é a necessidade de ampliação das medidas

que forneçam suporte para o cuidado da saúde do idoso, já que estamos nos referindo a idosos

que possuem dependência funcional, portanto, a necessidade de atendimento médico voltado

para a reabilitação da capacidade funcional, gerando com estas e outras demandas uma

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integração das diferentes especialidades de atendimento à saúde integral do idoso devido às

demandas geradas durante o processo de envelhecimento, impactos importantes na carga

econômico-familiar, com custos diretos e indiretos, levando os familiares, muitas vezes, a

negligenciar ou abandonar seus idosos por vários motivos, dentre eles a falta de apoio

financeiro.

É o que constatamos frequentemente nos meios de comunicação televisivos e

escritos, através de reportagens que denunciam variadas formas de violência, desrespeito e

preconceito à pessoa idosa, tendo como agressores a família, a comunidade e o Estado. Uma

reportagem feita pelo jornal Diário do Nordeste, publicada no dia 27 de maio de 2011, relata

alguns dados de uma pesquisa feita sobre a violência ao idoso:

Dados do Ministério Público Estadual (MPE) apontam um crescente aumento da

violência contra o idoso de 2006 para 2010. Para se ter uma ideia da situação,

somente a violência psicológica cresceu 3.880%. Se em 2006 as promotorias

registravam cinco denúncias, em 2010 esse valor foi para 199. O abandono também

segue a mesma linha. O MPE tinha zero registro, já agora são 64 (LAVOR, 2011)1.

Assim, pesquisas, investigações e estudos que busquem informações e

conhecimentos sobre a problemática são de extrema importância e necessidade, como fonte

que contribuam para o embasamento de formulação de políticas públicas, programas e

projetos sociais voltados para os sujeitos envolvidos. Na mesma reportagem citada

anteriormente do jornal Diário do Nordeste, registra-se e confirma-se que:

A população de idosos com 60 anos ou mais no Ceará aumentou 61% em dez anos.

Isso porque os dados do Censo 2010 confirmam que esse contingente etário está em

1,063 milhão de pessoas. Enquanto em 2000 esse valor correspondia a exatos 658,9

mil (LAVOR, 2011,)1

No município de Fortaleza, esta realidade não é diferente: de acordo com o censo

do IBGE (2010), a população idosa (com 60 anos ou mais) em 2010 é equivalente a 37% dos

habitantes. Diante deste cenário que nos é colocado, temos que nos preparar para os novos

desafios com o advento do crescimento da população idosa, dentre eles repercussões nos

campos sociais, econômicos e familiares.

Nossa pesquisa se propõe a conhecer o cotidiano do cuidador familiar da pessoa

idosa com dependência funcional, buscando compreender quais são as mudanças causadas no

cuidador com o advento das responsabilidades assumidas em cuidar de um idoso dependente

funcional. Dessa maneira, poderemos ter uma amostra das condições que as famílias

1 “População de idosos cresce 60% no Ceará” Jornal Diário do Nordeste, 27 de maio.

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responsáveis por este contingente populacional se encontra e de que maneira eles estão

lidando com a realidade cada vez mais presente em nossos domicílios. Acreditamos que para

a nossa sociedade é interessante querer conhecer mais sobre o fenômeno do envelhecimento

populacional nos seus diversos aspectos, produzindo, então, conhecimento que possa dar

subsídios para discussões e articulações de meios que apoiem os idosos e suas famílias.

Mas não apenas buscamos trazer para o meio acadêmico tais discussões sobre a

velhice na terceira idade, de forma a contribuirmos para a formulação de novos

conhecimentos, mas também buscamos contribuir com a desmistificação dos preconceitos

sobre a pessoa idosa, levando a uma maior compreensão e sensibilização sobre esta fase da

vida nos demais espaços públicos. Neste sentido, a inserção do serviço social atuando na

contribuição do desenvolvimento de políticas para a pessoa idosa é de grande utilidade, pois o

assunto do envelhecimento da população brasileira não pode ser mais visto em segundo plano.

As conquistas que até agora foram alcançadas precisam ser efetivadas e implementadas, pois

o fenômeno pelo qual nosso país vem passando está cada vez mais complexo e acelerado e,

infelizmente, é quase sempre estigmatizado.

A pesquisa, portanto, foi realizada com caráter descritivo, pois procurou identificar

os fatos e motivos que contribuíram de maneira positiva e negativa na vida do familiar

cuidador de um idoso dependente funcional, após exercer esta função, com o intuito de

aprofundar o conhecimento de sua realidade, por meio da análise do seu cotidiano, feito

através de pesquisa de campo.

A natureza da pesquisa foi de análise qualitativa, por se propor a investigar uma

realidade que não se pode quantificar, ou seja, conhecer o cotidiano dos familiares cuidadores

de idosos é um fenômeno que se busca interpretação e que apresenta uma subjetividade que

não seria tão bem interpretada por números. Este tipo de análise trabalha com o universo de

significados, motivos, valores, crenças e atitudes, corresponde a um espaço mais profundo das

relações, dos processos e dos fenômenos os quais não podem ser reduzidos à

operacionalização variável (MINAYO, 2003).

Com base nos procedimentos técnicos utilizados para a pesquisa, ela teve como

método de estudo a pesquisa de campo, pois o procedimento adotado para a coleta dos dados

foi através da entrevista aberta estruturada e individual, realizada nos domicílios dos

familiares cuidadores e posteriormente transcrita pela pesquisadora para análise e articulação

com o referencial teórico da pesquisa. Gil (2002, p. 53) relata que o estudo de campo “busca

estudar um único grupo ou comunidade em termos de estrutura social, ou seja, ressaltando a

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interação entre seus componentes.” E é exatamente esta a metodologia buscada através desta

pesquisa para poder adentrar no cotidiano dos cuidadores.

Para a realização das entrevistas durante a pesquisa de campo nos domicílios,

foram utilizadas canetas, papel, roteiro de perguntas e gravador, para que os entrevistados

pudessem discorrer livremente sobre suas experiências ao cuidar de um idoso familiar; o

gravador foi de fundamental importância, pois com este recurso o pesquisador ficou tranquilo

para fazer as perguntas sem se preocupar em anotar as respostas no momento das entrevistas,

atividade feita posteriormente e já mencionada no parágrafo anterior.

O sujeito de análise da pesquisa foi o cuidador familiar, aquela pessoa que é

responsável por cuidar de um familiar idoso que se tornou dependente funcional e que reside

na mesma residência do cuidador. Inicialmente, os sujeitos da pesquisa seriam os cuidadores

de idosos que eram acompanhados pelo Centro de Referência Especializado da Assistência

Social III (CREAS III), da Regional III, equipamento da Prefeitura Municipal de

Fortaleza/Ceará, que tem como público-alvo as famílias e indivíduos que estão sofrendo

violação de direitos, porém, seus vínculos familiares e comunitários não foram rompidos.

Esta população se encontra em situação de risco social, ou seja, usuários que de

alguma forma estavam com seus direitos sendo violados. Durante o período de estágio na

instituição, passamos a ter um olhar mais voltado para o cuidador familiar, devido recebermos

muitas denúncias de violação de direitos dos idosos e durante os acompanhamentos a estes

usuários e seus familiares pudemos observar que são muitas as causas que levam a violação

dos seus direitos.

Notamos que existe também um despreparo no âmbito familiar em relação aos

cuidados para com os idosos, devido a vários motivos, como, por exemplo, a falta de tempo

para um cuidado integral àqueles idosos que são dependentes funcionais. Então, os idosos às

vezes faltam às consultas, passam o dia deitados sem praticar nenhum exercício físico etc. A

nossa pesquisa teve como objetivo compreender como é o cotidiano dos familiares que

cuidam de idosos. Temendo que a nossa vinculação à instituição pudesse prejudicar a

obtenção de respostas às nossas indagações, devido os sujeitos se inibir em repassar as

informações sobre o seu cotidiano, resolvemos não realizar a pesquisa com os familiares que

são acompanhados pelo CREAS III.

Além deste motivo, também houve outros motivos que impossibilitaram a

pesquisa, dentre eles, em virtude de o local das entrevistas ser em áreas de vulnerabilidade

social; nós receávamos pôr em risco nossos recursos e integridade física, portanto, a

possibilidade de realização da pesquisa com os usuários do CREAS III foi descartada.

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Partindo da limitação do pesquisador para realizar a pesquisa, os critérios

utilizados para a escolha dos sujeitos foram a indicação de pessoas conhecidas, ser o cuidador

principal de algum idoso com mais de 60 anos, ter algum vínculo familiar com o idoso que

cuida e o idoso possuir dependência funcional. O critério de sermos indicadas por alguma

pessoa conhecida foi de fundamental importância, pois tornou o local da pesquisa de campo

mais confortável no aspecto da segurança para nós. Vale ressaltar que apesar dos sujeitos

terem sido indicados por pessoas conhecidas, eles eram desconhecidos por nós, portanto, não

existia vínculo que pudesse comprometer o resultado da pesquisa. Como a natureza do

trabalho voltou-se para uma análise qualitativa, o processo de coleta de dados, através das

entrevistas, se deu com três sujeitos, pois se buscou dar ênfase à análise das falas.

O primeiro contato com os participantes foi através de pessoas conhecidas que

indicaram os cuidadores; depois deste momento foi apresentada a finalidade da pesquisa e

feito o convite para participação, por meio das pessoas conhecidas. Após a resposta positiva

do cuidadores em querer participar, entramos em contado com os sujeitos por telefone para

marcar o dia em que seriam feitas as entrevistas.

Após a data marcada para as entrevistas, fomos para a pesquisa de campo, ou seja,

nos domicílios dos cuidadores, situados em dois bairros periféricos, sendo eles Bela Vista e

Rodolfo Teófilo, localizados na área da Secretaria da Regional III, do município de Fortaleza

(CE), investigados entre os meses de outubro a novembro de 2012; as entrevistas realizadas

na pesquisa de campo foram estruturadas com perguntas abertas, para que os sujeitos

pudessem discorrer informalmente sobre os assuntos.

Antes de iniciarmos as entrevistas, foi por nós novamente informada a intenção da

pesquisa e sobre o sigilo de identificação dos participantes, portanto, os nomes aqui

mencionados são fictícios. E, por último, foi pedida autorização para gravar as entrevistas em

virtude de facilitar a coleta dos dados no momento da pesquisa e a autorização foi dada por

todos.

As entrevistas foram feitas em apenas um momento, anteriormente havia se

pensado em fazer em dois: o primeiro seria uma apresentação da pesquisa e uma aproximação

com o sujeito e em um segundo encontro seriam feitas as perguntas estruturadas. Mas, durante

o primeiro encontro, percebeu-se que não seria necessário realizar outro momento, pois todos

os três sujeitos se mostraram disponíveis naquele momento para a realização das entrevistas.

Após a pesquisa de campo, os trechos das falas dos sujeitos de interesse foram

transcritos e analisados, buscando-se, então, fazer uma análise entre a pesquisa bibliográfica e

a pesquisa de campo. Portanto, para uma melhor compreensão, organizamos o trabalho em

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três capítulos: no primeiro, buscamos contextualizar como está ocorrendo o processo de

envelhecimento na sociedade brasileira; logo em seguida, apresentamos os idosos da pesquisa

e, de maneira específica, falamos sobre a dependência funcional que leva os idosos a

necessitar de um cuidador e ter suas imagens identificadas.

No segundo capítulo, falamos sobre a família e seus familiares cuidadores de

idosos; dividimos este capítulo em três subtópicos: no primeiro discutimos sobre a família e

suas definições; no segundo apresentamos como surge o cuidador familiar e por último

expusemos o perfil dos cuidadores. Por fim, no último capítulo, abordamos o cotidiano como

campo para a pesquisa e através dele desenvolvemos três subtópicos, em que analisamos o

processo de envelhecimento no cotidiano, o cotidiano dos familiares cuidadores de idosos, os

aspectos de saúde, econômico e social dos cuidadores dos idosos.

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2 O ENVELHECIMENTO E A DEPENDÊNCIA FUNCIONAL NA TERCEIRA

IDADE

Neste segundo capítulo, falaremos sobre o fenômeno do envelhecimento e

algumas das repercussões conceituais para a sociedade brasileira; para tanto, buscaremos

expor algumas definições sobre o envelhecimento, terceira idade e o conceito de idoso. No

segundo tópico do presente capítulo, abordaremos sobre a dependência funcional na velhice e

algumas doenças que frequentemente levam os idosos a se tornarem dependentes funcionais.

No terceiro subtópico, apresentaremos os idosos da pesquisa por meio da narrativa do

cotidiano dos seus cuidadores e as definições do que é ser idoso para os familiares e no último

subtópico mostramos as imagens da dependência encontradas na pesquisa.

2.1 O processo de envelhecimento da população brasileira

O envelhecimento da população no Brasil é uma das questões quem vem sendo

bastante discutidas nos dias atuais nas universidades, nos vários meios de comunicação, nas

instâncias públicas etc. devido as pesquisas, dentre elas a do IBGE (2008), terem apontado o

Brasil como um país que vem apresentando um aumento da população idosa e isso está

chamando a atenção não só de pesquisadores, mas também do poder público e da população

como um todo.

As pesquisas feitas pelo IBGE (2008) apontam que em 2050 a população idosa

ultrapassará os 22,71% da população total. Este fenômeno é um processo que vem se

manifestando de forma distinta entre os diversos países. Nos países classificados como

desenvolvidos, ele se deu de forma lenta, ao longo de mais de cem anos. Já nos países

classificados como emergentes, dentre eles o Brasil, o processo vem se caracterizando de

forma rápida; a partir de 1960, o grupo etário de idosos passou a liderar o crescimento da

pirâmide etária. As pesquisas justificam o aumento da expectativa de vida da seguinte forma:

Os avanços da medicina e as melhorias nas condições gerais de vida da população

repercutem no sentido de elevar a média de vida do brasileiro (expectativa de vida

ao nascer) de 45,5 anos de idade, em 1940, para 72,7 anos, em 2008, ou seja, mais

27,2 anos de vida. Segundo a projeção do IBGE, o país continuará galgando anos na

vida média de sua população, alcançando em 2050 o patamar de 81,29 anos,

basicamente o mesmo nível atual da Islândia (81,80), Hong Kong, China (82,20) e

Japão (82,60) (IBGE, 2008).

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Dentre os fatores que contribuíram para as projeções do crescimento da população

idosa estão: a diminuição da taxa de mortalidade e fecundidade, a diminuição da fecundidade,

principalmente nos centro urbanos, consequência de um intenso processo de urbanização da

população em um contexto de crise econômica, levando a mulher a se incorporar de maneira

mais rápida como força de trabalho, provocando mudanças no número de filhos (VERAS,

2003).

Outro ponto importante para se abordar sobre o envelhecimento, além de seu

conceito, são as definições de idoso e terceira idade, pois dizem respeito à existência de várias

discursões polêmicas na intenção de conceituar esta fase da vida, devido a não existir uma

época exata que determine o que é a fase adulta e a fase da terceira idade.

O envelhecimento é um processo complexo, pluridimensional, revestido não

apenas por perdas, mas também por conquistas individuais e coletivas; fenômenos

indissociáveis e simultâneos, processo este que ocorre durante toda a vida do ser humano,

iniciando no nascimento e finalizando com a morte. Por mais que o ato de envelhecer seja

individual, vivemos em comunidade e, como tal, sofremos as influências da sociedade.

A vida é composta por várias dimensões, ela é biológica, social, cultural,

existencial, compondo-se, assim, de estágios com diferentes significados e durações,

Camarone (2004), ao falar sobre o envelhecimento, o caracteriza da seguinte maneira: “[...] o

envelhecimento de um indivíduo está associado a um processo biológico de declínio das

capacidades físicas, relacionado a novas fragilidades psicológicas e comportamentais”

(CAMARONE, 2004, p. 4).

O fato de o envelhecimento ser um processo natural e dinâmico, não pode

considerar a velhice como incapacidade ou sinônimo de doença, mas é a partir das

intervenções médicas, sociais e ambientais que se definirá a qualidade de vida do ser humano.

Logo, podemos inferir que este processo não depende apenas das funções do corpo, mas da

forma como a pessoa está inserida no contexto social. Portanto, a velhice não pode ser vista

de forma homogeneizada, uma vez que as pessoas envelhecem de forma diferente, contudo,

constroem suas histórias de vida com características e dificuldades específicas. Para Santos

(2003), envelhecer é: “processo universal, que não afeta só o ser humano, mas a família, a

comunidade e a sociedade, tendo a velhice como sua última fase” (SANTOS, 2003, p. 28).

Outro aspecto interessante sobre o processo do envelhecimento é no que diz

respeito à construção social e cultural de sua definição e de sua imagem, pois há uma variação

contrária de sentido em algumas sociedades:

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A civilização moderna não espera, esgota-se no ato, de tal modo que o

envelhecimento, aplicado ao indivíduo conservou tão somente seu despojo

pejorativo, sinônimo de perda. Ao passo que em outras sociedades, como aquelas

que têm “acumulação progressiva da personalidade, o envelhecimento é pensado,

antes de tudo, em termos de aquisição e progresso”, como contata Louis-Vicent

Thomas, depois de vinte anos passados na África (MESSY, 1999, p. 18).

Infelizmente, a sociedade brasileira está inserida no perfil das sociedades de

consumo que enxergam a velhice como uma etapa da vida caracterizada pela decadência

física e ausência de papeis sociais, na qual apenas o novo é valorizado.

No modelo social de velho, as qualidades a ele atribuídas são estigmatizadoras e

contrapostas às atribuídas aos jovens. Assim sendo, qualidades como atividade,

produtividade, memória, beleza e força são características presentes no corpo dos

indivíduos jovens e as qualidades opostas a estas presentes no corpo do idoso.

(MERCADANTE, 2003, p. 56).

Por mais que a idade e o processo de envelhecimento possuam outras dimensões e

significados que extrapolam as dimensões da idade cronológica, a definição de quando uma

pessoa vai ser considerada idosa definida pela idade cronológica é uma das mais utilizadas

para classificar uma pessoa como idosa. Temos como exemplo a Organização Mundial da

Saúde (OMS), que considera como idosas as pessoas com 60 anos ou mais, se elas residem

em países em desenvolvimento e com 65 anos ou mais se residem em países desenvolvidos.

No Brasil, de acordo com a Constituição Federal e a Política Nacional do Idoso,

no artigo segundo, considera-se idosa a pessoa igual ou maior de 60 anos de idade, período

este convencionado como terceira idade. O estatuto do idoso, Lei 10.741/2003, que visa

regular os direitos assegurados às pessoas idosas, também classifica como idosas as pessoas a

partir dos 60 anos.

Contudo, ser idoso não é um fenômeno de fácil compreensão, pois os fatores que

interferem na compreensão deste processo se modificam no decorrer da existência humana,

pois passamos por transformações cronológicas, biológicas e psicológicas ao longo de nossa

vida; logo, estas características marcam a individualidade de cada pessoa, fazendo com que a

velhice seja compreendida nas suas mais variadas formas contextuais.

Segundo Camarano et al. (1999, apud MEIRELES, 2006), a importância de

delimitar a idade a partir da qual a pessoa passa a ser considerada idosa deve-se ao fato de que

as políticas sociais e de saúde são dirigidas, em sua maioria, a grupos etários, como criança,

adolescente e idoso. Esta delimitação de idoso e não idoso é meramente formal, uma vez que

o envelhecimento é um evento individual. Desta forma, para fins deste trabalho, será adotada

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a definição estabelecida na legislação brasileira, que considera pessoas idosas aquelas com 60

anos ou mais.

Para concluirmos as definições sobre o processo do envelhecimento vamos agora

entender de onde vem a fase que classificou a população idosa em terceira idade, de acordo

com Neri e Freire apud Schneider:

A palavra terceira idade, atualmente tão usada, teve sua origem na França, na década

de 1960, e era utilizada para descrever a idade em que a pessoa se aposentava. A

primeira idade seria a infância, que traduziria uma ideia de improdutividade, mas

com possibilidade de crescimento. Já a segunda idade seria a vida adulta, etapa

produtiva. Na época em que a expressão terceira idade foi criada, procurou-se

garantir a atividade das pessoas depois da aposentadoria, que ocorria na França por

volta dos 45 anos. Com o avanço contínuo da esperança de vida, a expressão

"terceira idade" passou a designar a faixa etária intermediária, entre a vida adulta e a

velhice (NERI & FREIRE, 2000, apud SCHNEIDER, 2008, p. 588).

Ainda que aponte para um das etapas finais da vida, a nomenclatura terceira idade

faz desaparecer a alusão direta a vocábulos tão semanticamente marcados, como velhice,

senilidade e envelhecimento. Este termo, como explica a citação, expõe uma idade boa da

vida em que algumas pessoas na França deixavam de trabalhar, mas não eram rejeitadas e

isoladas pela sociedade; pelo contrário, elas representavam a imagem de velhos bem

sucedidos recém-aposentados, que seriam alvos do mercado consumidor para curtir suas

aposentadorias.

1.2 A dependência funcional na terceira idade

Outro tópico de muita relevância em relação à velhice, o qual abordaremos neste

trabalho, será sobre a dependência funcional ocasionada pelo envelhecimento e as doenças

que levam um idoso a depender de outra pessoa para a realização de suas atividades diárias.

Mas, antes de apresentar algumas doenças que levam à dependência funcional,

apresentaremos algumas definições básicas para nortear o desenvolvimento do assunto.

Apesar de se ter várias definições sobre incapacidade funcional, devido ao caráter

multidimensional, dinâmico e complexo deste fenômeno, ficaremos com a definição do

Ministério da Saúde, o qual adotou o ponto de vista da OMS, ou seja, a capacidade funcional

de um indivíduo diz respeito a sua capacidade de realizar as atividades da vida diária

(alimentar-se, vestir-se, tomar banho, entre outras) e as atividades instrumentais (ir ao banco,

pegar um ônibus, comunicar-se, entre outros) (BATISTA, 2008).

A incapacidade funcional pode ocorrer em qualquer idade, mas quanto mais velho

maior é o risco de novas incapacidades, isto porque a incapacidade funcional está diretamente

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ligada à presença de doenças, é, portanto, a dificuldade ou dependência para realizar

atividades da vida cotidiana.

À medida que um maior número de pessoas atinge idade mais avançada, há uma

tendência de alteração no padrão de morbidade e de causas de morte da população; em vez

das doenças infectocontagiosas, tornam-se predominantes as doenças crônico-degenerativas e

suas complicações. Deste modo, a tendência atual é termos um número crescente de

indivíduos idosos que, apesar de viverem mais, experimentam maior número de doenças

crônicas (ALVES, L.C. et al. 2008). Dentre as doenças crônicas, destacaremos algumas que

são muito frequentes em idosos e que foram destacadas pelo Caderno de Atenção Básica de

Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa, desenvolvido pelo Ministério da Saúde.

Inicialmente, tem-se a doença de Alzheimer, que é uma doença cerebral

degenerativa. É a mais superior entre as várias causas de demências. Diversas condições

fazem parte do processo da doença, sendo, portanto, multifatorial. Está associada a diversos

fatores de risco, tais como: hipertensão arterial, diabetes, processos isquêmicos cerebrais.

Fatores genéticos são relevantes, pois, além da idade, a existência de um familiar próximo

com demência é o único fator sistematicamente associado. Escolaridade elevada e atividade

intelectual intensa estão relacionadas com menor frequência de demência (BRASIL, 2006).

Outra doença é a osteoporose, que é conhecida como uma doença progressiva que

leva a uma desordem esquelética; significa osso poroso, ou seja, é a descalcificação

progressiva dos ossos que se tornam frágeis, predispondo a um aumento do risco de fratura. A

multifatorial osteoporose é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a

“Epidemia silenciosa do século” e atualmente é um problema de saúde pública no mundo

inteiro, devido ao aumento na expectativa de vida das populações. É uma doença de grande

impacto devido à sua alta prevalência e a grande relação entre o número de casos da

enfermidade ou morte e o número de habitantes em dado lugar e momento. Afeta às pessoas

de maior idade, de ambos os sexos, principalmente mulheres na pós-menopausa, que também

apresentam mais fraturas (BRASIL, 2006).

Temos também a hipertensão arterial, uma doença crônica, que se caracteriza por

elevação da pressão (do sangue) dentro das artérias de todo o corpo. Entre as pessoas idosas, a

hipertensão é uma doença altamente prevalente, acometendo cerca de 50% a 70% das pessoas

nessa faixa etária. É um fator determinante de morbidade e mortalidade, mas, quando

adequadamente controlada, reduz significativamente as limitações funcionais e a incapacidade

nos idosos. A hipertensão não deve ser considerada uma consequência normal do

envelhecimento (BRASIL, 2006).

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A diabetes é uma doença cuja principal característica é o aumento de açúcar no

sangue. Ela altera o metabolismo do açúcar, da gordura e das proteínas. Na pessoa idosa, é

uma das doenças crônicas mais comuns. Também conhecida como diabetes, apresenta alta

morbimortalidade, com perda importante na qualidade de vida. É uma das principais causas

de mortalidade, insuficiência renal, amputação de membros inferiores, cegueira e doença

cardiovascular. A diabetes se manifesta quando o corpo não produz a quantidade essencial de

insulina para que o açúcar se mantenha normal (BRASIL, 2006).

A incontinência urinária (IU), ou perda involuntária de urina, é um sério

problema de saúde que afeta milhões de pessoas e pode ocorrer em qualquer idade, tendendo

a manifestar-se mais frequentemente com o aumento da idade, principalmente nas mulheres,

na perimenopausa. A prevalência da incontinência urinária é maior nas mulheres que nos

homens entre os 50 e 75 anos, não apresentando variações por sexo na idade mais avançada.

Estima-se que entre as pessoas idosas, a prevalência de IU é de aproximadamente 10 a 15%

entre os homens e de 20 a 35% entre as mulheres. Idosos institucionalizados e os providos de

internação hospitalar recente apresentam incontinência urinária de 25 a 30%.

A IU tem grande impacto sobre a qualidade de vida das pessoas idosas, causando,

geralmente, grande constrangimento e induzindo ao isolamento social e à depressão. A

qualidade de vida é altamente afetada pela incontinência urinária, havendo uma tendência à

autopercepção negativa de saúde por parte das pessoas idosas. Constitui uma das principais

causas de institucionalização de idosos (BRASIL, 2006).

A depressão não faz parte do processo de envelhecimento normal, ela é uma

doença que pode acometer o jovem, o adulto ou a pessoa idosa e merece ser tratada, sendo

mais comum entre as mulheres, na viuvez, nas pessoas idosas que vivem em instituição de

longa permanência, em quem não tem companheiro, em quem teve pouca instrução, em quem

já teve depressão antes ou mesmo em quem tem depressão na família.

Existem situações que podem aumentar a probabilidade de desenvolver

depressão, como a incapacidade física e ter de depender de outras pessoas, alguns

medicamentos, traumas psicológicos, aposentadoria, perda de ente querido, dificuldades

financeiras, divórcio e algumas doenças. Isso não quer dizer que aqueles que têm ou que

tiveram alguma destas condições terão esta doença, porque depende também da predisposição

de cada indivíduo.

É sempre importante que a suspeita de depressão seja avaliada pelo médico, pois

existem algumas causas que podem ser tratadas, promovendo a melhora ou mesmo a cura da

depressão. Dentre elas, podem ser mencionadas a demência, o câncer, problemas na tireoide,

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derrame e outras. Os medicamentos também podem ser a causa de depressão, mas nunca se

deve retirar ou alterar os medicamentos que estão sendo usados, pois esta decisão deverá ser

sempre do médico que acompanha o caso.

Quando a depressão não é tratada, pode levar a sérias consequências, como

diminuição de sua capacidade e independência, piora da memória, má qualidade de vida, ou

até suicídio (BRASIL, 2008).

A doença mais comum na pessoa idosa é a osteoartrite, ou popularmente

chamada de artrose. Na osteoartrite ocorre um desgaste da cartilagem, uma espécie de gelatina

que protege as juntas, entre as extremidades dos ossos. Quando há sua destruição, os ossos

entram em contato entre si, formando pequenos nódulos nas articulações das mãos ou

proeminências na coluna vertebral, o chamado “bico de papagaio”.

A osteoartrite é uma doença muito dolorosa e que pode causar dificuldades na

caminhada, na movimentação do corpo durante atividades de subir e descer escadas, ou até

para realizar trabalhos domésticos. Além disso, pode haver maior probabilidade de queda

trazendo consequências como, por exemplo, fraturas. A dor é lenta, progressiva e pode

acompanhar estalidos das articulações. Embora muitas pessoas preocupam-se com o estalido,

isso não quer dizer gravidade ou intensidade de doença. Ela pode atacar uma ou mais

articulações, seja nas mãos, punhos, quadris, joelhos ou coluna.

Um aspecto bastante importante na osteoartrite é o peso. Por isso, pessoas que

possuem excesso de peso têm uma melhora significativa das dores quando emagrecem.

Portanto, o apoio de um profissional de nutrição e a reeducação alimentar fazem parte do

tratamento da osteoartrite, principalmente dos joelhos.

E, por último, falaremos da demência. Ao envelhecer, a maioria das pessoas se

queixa mais frequentemente de esquecimentos cotidianos. Este transtorno da memória

relacionado à idade é muito frequente. A memória é a capacidade para reter e fazer uso

posterior de uma experiência, condição necessária para desenvolver uma vida independente e

produtiva. Um problema da memória é sério quando afeta as atividades do dia a dia, ou seja,

quando a pessoa tem problemas para recordar como fazer coisas cotidianas.

A demência é uma síndrome clínica decorrente de doença ou disfunção cerebral,

de natureza crônica e progressiva, na qual ocorre perturbação de múltiplas funções cognitivas,

incluindo memória, atenção e aprendizado, pensamento, orientação, compreensão, cálculo,

linguagem e julgamento. A demência produz um declínio visível no funcionamento

intelectual que interfere com as atividades diárias, como higiene pessoal, vestimenta,

alimentação, atividades fisiológicas e de toalete.

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Entre as pessoas idosas, a demência faz parte do grupo das mais importantes

doenças que acarretam declínio funcional progressivo e perda gradual da autonomia e da

independência. A incidência e a prevalência das demências aumentam exponencialmente com

a idade (BRASIL, 2006).

Portanto, a capacidade funcional surge, atualmente, como um novo paradigma de

saúde, particularmente importante para o idoso porque envelhecer mantendo todas as funções

não significa problema para o indivíduo, a família ou A sociedade. O problema se inicia

quando as funções começam a deteriorar. Como o idoso apresenta maior prevalência de

doenças crônico-degenerativas e, consequentemente, de incapacidade, a capacidade funcional

torna-se uma das mais relevantes questões das pesquisas gerontológicas, dado que envelhecer

sem incapacidade é fator indispensável para a manutenção de boa qualidade de vida.

1.3 Os idosos de que falamos!

Depois de discutirmos de maneira geral o que seria o conceito de idoso e velhice

para a nossa sociedade e apresentarmos o que consideramos ser dependência funcional,

exibiremos agora o perfil dos idosos da nossa pesquisa e a maneira que seus familiares os

definem como idosos. Ressaltamos que as descrições do perfil serão baseadas pelas descrições

feitas por seus familiares cuidadores. O intuito de apresentá-los é com a intenção de

conhecermos e nos aproximarmos mais do cotidiano vivido pelos cuidadores.

Cuidadora Maria: cuida da sua mãe que tem 88 anos. A idosa é viúva, teve 18

filhos e tem 13 vivos, estudou até o ensino fundamental, é dona de casa, recebe uma pensão

do marido falecido e se aposentou por idade. Atualmente, a idosa mora na sua casa própria

com quatro filhos, sendo dois homens e duas mulheres e mais um neto e uma neta. Durante a

entrevista a cuidadora definiu a idosa da seguinte maneira: “... como um bebê... O que ela fez

comigo eu tô fazendo por ela. Tem que ver com carinho, com amor... Tem que ter cuidado

como uma recém-nascida, uma criança num requer todo um cuidado, né, pois assim é ela.”

Cuidadora Marta: cuida da mãe que tem 84 anos. A idosa é viúva, teve seis filhos

e tem três vivos, estudou ate o segundo no do ensino médio e trabalhava como comerciante,

tem como renda a pensão do falecido marido. Atualmente a cuidadora mora na sua residência

com sua filha e a idosa. Durante a entrevista, a cuidadora Marta expressou que ver a mãe da

seguinte forma: “É uma criança, né!”.

Cuidadora Madalena: cuida de sua avó paterna que possui 97 anos. A idosa é

viúva, estudou até o primário, trabalhava como costureira, era funcionária federal de um

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hospital e se aposentou por tempo de serviço; a idosa teve 22 filhos e apenas um está vivo.

Atualmente, mora na sua residência com um neto e duas netas, uma delas a cuidadora. Não

apresentou falas que definissem a pessoa idosa.

O que concluímos com as definições dadas pelas cuidadoras a seus familiares

idosos é que elas têm uma imagem de infantilização do idoso; perceberemos no decorrer das

falas que tal imagem repercute na maneira como os idosos são tratados no seu cotidiano.

Visualizamos que os idosos pesquisados apresentam muitas perdas quando chegam a esta fase

da vida e uma delas é a da identidade.

Muitos deixam de ser os chefes da família para serem tratados como crianças,

levando-os também a criarem uma maior dependência, além das funcionais, pois de uma

maneira indireta eles acabam sendo excluídos das decisões do dia a dia, inclusive das que

dizem respeito a eles. Desta maneira, o cuidador e os demais familiares passam a ter que

decidir em tudo em relação ao idoso e este passa a ser totalmente passivo de suas vontades.

Outro aspecto incomum entre as três idosas é que todas elas possuem alguma

renda financeira, ou seja, a família já conta com um recurso a mais que pode vir a contribuir

para uma melhor qualidade de vida, tanto do idoso e consequentemente do cuidador, pois,

caso contrário, a família era que teria que arcar com as necessidades do idoso.

1.4 As imagens da dependência!

Durante a pesquisa, buscamos identificar quais os problemas de saúde e as

dependências apresentadas pelos idosos para que estes e seus familiares concluíssem que

teriam a necessidade de um cuidador. Para tanto, perguntamos a seus cuidadores familiares

quais problemas de saúde as idosas tinham e quais as medicações elas tomavam e depois

buscamos saber que atividades seus parentes idosos necessitavam de ajuda, no dia a dia.

Cuidadora Maria:

Ela toma vários remédios. Ela toma em Jejum... toma nove horas um que controla a

ritimia...a tarde ela toma... e à noite ela toma pra dormi.

A única coisa que ela faz sozinha é colocar a colher na boca.

Ela tá acamada, assim, dependendo dos outros, devido os três avcs, ela é hipertensa.

Mas ela teve esses três avcs e uma queda grande... só está acamada devido os três

avcs que deixaram essas sequelas.

Foi quando ela levou essa queda, mesmo, que ela caiu aqui da calçada, caiu lá em

baixo. Foi em dois mil e seis, faz seis anos. Ai ela passou a depender dos outros.

Podemos identificar mais uma doença causadora de dependência na fala da

cuidadora Maria. O acidente vascular cerebral é uma doença que tem como um dos critérios

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de incidência a faixa etária que é a partir dos 65 anos, havendo uma maior probabilidade com

o aumento da idade (FONSECA; PENHA, 2008, apud VIEIRA, 2010, p. 30). Outro fator que

agravou a dependência foi uma queda que a idosa sofreu; tal acidente também tem maior

frequência quando ficamos mais idosos e, como observamos, causa também a dependência

funcional.

O processo do envelhecimento e a presença de doenças podem levar as pessoas

idosas a apresentarem dificuldades nos movimentos.

As quedas são bastante comuns, podendo resultar em várias consequências, desde

simples hematomas e medo de cair novamente, até complicações mais sérias,

incluindo fraturas e morte (BRASIL, 2008, p. 271).

Na situação da cuidadora Maria, a queda foi determinante para desenvolver uma

situação de maior dependência por parte da idosa e criar uma maior necessidade de uma

familiar cuidador para auxiliar a idosa nas atividades do cotidiano.

Cuidadora Marta:

Hipertensa...ai a doutora agora passou um tratamento pra demência... Ela tem

problema do por do sol, depois da duas horas da tarde ela já começa a ficar agitada,

querendo sair.

Vários! Ela toma sete medicamentos.

Se eu der na mão dela o liquido ela toma... Agora comida, ela não come... Eu banho.

Ela não faz nada só, ela depende de mim. Ela não se deita só... O problema da mãe foi

porque ela perdeu a visão, se ela não tivesse perdido a visão, eu acho que ela era bem

melhor, né. Ela tem problema de glaucoma. Tá com dois anos.

O glaucoma é um problema de visão que pode conduzir à cegueira total e é

irreversível, ou seja, não existe tratamento que produza uma melhora, apenas o problema

sendo detectado precocemente pode ser retardado através de medicamento. Por mais que esta

patologia não esteja exclusivamente relacionada à velhice, ela quando atinge o idoso aumenta

o risco de queda, atropelamento, uso trocado de medicações, depressão, isolamento e

consequentemente cria ou aumenta a dependência no idoso, como foi o caso da idosa da

cuidadora Marta (CYPEL, 2006)

Cuidadora Madalena:

Ela se alimenta, Deus me livre dela me deixar dar comida a ela, ela mesma se

alimenta. Ela não é de comer comida de panela... Até seus oitenta e cinco anos ela

mesma fazia a nossa própria comida daqui de casa. Ai ela foi deixando a cozinha aos

poucos, aos poucos, ai ela parou total de cozinhar... Eu tenho que levar ela pro

banheiro e dar banho nela por causa da coluna dela... ela fala, esculhanba bastante...é

como eu te disse, ela tá com um problema na coluna, ela tem um desvio, ai ela sente

muita dor, ai eu tenho que vestir ela, levantar ela...ir até o banheiro, como a coluna

dela dói bastante, a gente tem que caminhar com ela porque ela não enxergar mais... ai

eu tenho que levar ela ao banheiro... a minha vó até os seus oitenta e sete ano a vó

enxergava.

Ela tem problema de pressão... Ela toma medicamento pela idade e por falta de

oxigênio no cérebro, ai ela dá convulsão.

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Outro problema apresentado como causador de dependência funcional na pesquisa

foi dor lombar; este problema a cuidadora disse que a idosa havia adquirido quando

trabalhava como costureira em um hospital e foi devido a ele que ela resolveu se aposentar;

tal problema é muito comum em pessoas idosas, mas geralmente ele se inicia na juventude

devido a problema postural e sobrecarga muscular. Cerca de 50% das pessoas idosas, em

algum momento da vida, queixa-se de dores nas costas. As causas de dor lombar são diversas:

hérnia de disco, osteoartrite, distensão muscular, infecção, fratura por osteoporose, câncer,

psicossomáticas, erro de postura e outras (BRASIL, 2008, p. 211).

Analisando a fala dos familiares cuidadores, verificamos que o ponto de partida

diz respeito à dependência quase que total, a ponto de necessitarem de um cuidador; e as

doenças que dificultam as atividades físicas, como a perda da visão, queda, sequelas de

AVCs. No discurso dos cuidadores, verificamos que depois que os idosos apresentaram estas

patologias em que interferirem na autonomia do idoso, houve uma gradativa diminuição das

demais atividades diárias, com isso, observamos um aumento da dependência funcional.

Notamos durante a entrevista que há certa acomodação por parte dos idosos e de suas

cuidadoras, no que dez respeito à procura de tratamento que reverta os problemas de saúde

para uma melhor qualidade de vida.

Como a pesquisa delimita aos cuidadores de familiares idosos com dependência

funcional, ou seja, dependência para realizar as atividades básicas da vida diária, as imagens

de dependência aqui apresentadas pela pesquisa foram direcionadas a problemas de saúde e

mobilidade física, pois são as principais causas que levam à dependência funcional.

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2 A FAMÍLIA E SEUS FAMILIARES CUIDADORES DE IDOSOS

A categoria família será abordada na pesquisa para entendermos as origens do

cuidador familiar, buscando, assim, compreender de onde ele vem, em que contexto está

inserido e como é formado no âmbito familiar. Inicialmente, no primeiro subtópico, vamos

fazer uma breve contextualização sobre a família na atualidade, depois, no segundo subtópico,

vamos apresentar o desenvolvimento do cuidador familiar, o seu perfil nos dias de hoje e

atuação como membro da família.

2.1 A família de que falamos!

Para falarmos de família, temos que estar sempre relacionando o significado da

palavra ao termo mudança. Todos nós sabemos que a sociedade é dinâmica, ou seja, está em

constante transformação e é a família que compõe os núcleos mais próximos dos indivíduos

que formam a sociedade, portanto, a instituição chamada família também está em constante

transformação. É importante explicar que as transformações que ocorrem nas famílias, no que

diz respeito aos seus componentes, e as relações que eles ocupam não ocorrem de modo igual

em todas as sociedades, ou seja, existem sociedades, como em países do ocidente, em que as

mudanças são mais frequentes e de maneira mais rápida devido a cultura destes locais, que

são mais flexíveis a mudanças. Mas, temos também outros tipos de sociedade, como a

oriental, que é extremamente resistente a mudanças, apesar de nelas também ocorrerem,

mudanças, porém de forma mais lenta.

As famílias têm passado por mudanças importantes em sua estrutura e função, com

efeito das recentes transformações socioculturais e históricas nas sociedades

ocidentais. O fenômeno do aumento da longevidade é um dos aspectos que

colaboram para as modificações na família, influenciando relacionamentos entre as

gerações e diversificando as funções do idoso na dinâmica familiar (MARANGONI;

OLIVEIRA, 2010, p. 37).

Contextualizando a discussão para a nossa sociedade, na qual estão inseridos os

cuidadores de idosos, é sobre esta família que pretendemos pesquisar e conhecer.

Inicialmente, buscaremos apresentar alguns conceitos sobre a família, parentesco e casamento

da sociedade em que vivemos, lembrando que tais definições não são gerais, levando em

consideração a pluralidade das formas atuais de constituição das instituições e vínculos e logo

após nos aproximaremos do objeto de estudo da pesquisa.

De acordo com o sociólogo Giddens:

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família é um grupo de pessoas diretamente unidas por conexões parentais, cujos

membros adultos assumem a responsabilidade pelo cuidado das crianças. Laços de

parentesco são conexões entre indivíduos, estabelecidas tanto por casamento, como

por linhas de descendência, que conectam parentes consanguíneos (mãe, pais, irmão,

prole etc.). O casamento pode ser definido como uma união sexual entre indivíduos

adultos socialmente reconhecida e aprovada (GIDDENS, 2005, p. 151).

Até algum tempo atrás, no século passado, a família era caracterizada

predominantemente como um conjunto de pessoas que morava em uma mesma casa e que

apresentava ligações de parentesco e afinidade. Mas, o que percebemos nos dias atuais é que

esta imagem que definia a família vem mudando e há pessoas que acreditam a família estar se

acabando por não ter mais a mesma estrutura de antes.

Porém, o que temos observado é que ela vem sofrendo vários tipos modificações,

dentre estas, na sua forma de organização e nos níveis de reprodução, simultaneamente a

outras mudanças sociais como crises financeiras, a entrada da mulher no mercado de trabalho

e outras inúmeras mudanças ocorridas na sociedade, o que consequentemente leva a

instituição casamento ter que se adaptar ao mundo atual. Na citação abaixo, o censo do IBGE

comprava essas mudanças:

O histórico declínio das taxas de fecundidade é reflexo das mudanças ocorridas na

sociedade brasileira nas últimas décadas, tais como: aumento da urbanização, maior

participação de mulheres no mercado de trabalho, elevação da escolaridade,

disseminação cada vez maior dos métodos anticoncepcionais, entre outras mudanças

(IBGE, 2012).

Outro conceito bastante útil para nossa discursão sobre a família é o que Giddens

aborda e sobre o significado de família ampliada e família nuclear:

família nuclear, dois adultos vivendo juntos num núcleo doméstico com suas crianças

ou crianças adotadas [...] Quando parentes próximos além do casal e seus filhos vivem

juntos no mesmo ambiente familiar ou em um relacionamento próximo e contínuo uns

com os outros, falamos em família ampliada (GIDDENS, 2005, p. 152).

Essa família nuclear era a que predominava na nossa sociedade, no século XX, ou

seja, a família era constituída por pais e filhos morando no mesmo lugar, também

caracterizada como sociedade patriarcal. Quem não tivesse uma família com essa organização

era frequentemente julgado, criticado e inferiorizado pela sociedade. Socorro e Dias

confirmam esta realidade:

...as mulheres separadas e as mães solteiras eram malvistas pela sociedade. No intuito

de evitar sofrimento e vergonha, a mulher em tal situação, de modo geral, passavam a

residir com os pais e adotar uma postura de renúncia a relacionamentos afetivos como

forma de adquirir respeitabilidade perante o meio social. (SOCORRO e DIAS, 2010,

p. 100).

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Já a família ampliada ganhou visibilidade e espaço na nossa sociedade; ela é

representada, como Giddens a define, por membros da família, com graus mais e menos

distantes vivendo em um mesmo núcleo familiar.

As famílias atuais passam a ter mais avós e netos. Os arranjos familiares são menos

tradicionais, cresce o número de uniões consensuais e, com o aumento dos divórcios,

há também um crescimento significativo das famílias reconstituídas, nas quais os

filhos podem ser apenas de um dos cônjuges. Outro efeito conhecido das separações e

dos divórcios é o aumento do número de crianças que crescem em famílias

monoparentais. Em relação à economia doméstica, muitos casais têm optado por se

estabelecer no mercado de trabalho antes de decidir ter filhos. Consequentemente, a

postergação da fecundidade feminina gera mudanças nos padrões da organização da

família (IBGE, Censo 2010).

Outro conceito bastante parecido com o de Giddens, sobre família, mas que se

aproxima mais da nossa realidade, é o de unidade doméstica dada pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística IBGE:

A unidade doméstica é a denominação que se dá ao conjunto de pessoas que vive em

um domicílio particular, cuja constituição se baseia em arranjos feitos pela pessoa,

individualmente ou em grupos, para garantir alimentação e outros bens essenciais para

sua existência. Sua formação se dá a partir da relação de parentesco ou convivência

com o responsável pela unidade doméstica, assim indicado e reconhecido pelos

demais membros da referida unidade como tal (IBGE, censo 2010).

Esse conceito se aproxima mais da realidade da nossa sociedade porque ele

ultrapassa os vínculos consanguíneos e de casamento, incluindo também aquela família que é

formada por pessoas que estão juntas pela convivência.

Mas, apesar de todas essas definições na busca de explicarmos de maneira mais

precisa o conceito de família, essa com todas as suas mudanças com o decorrer do tempo,

conforme Ferrari e Kaloustian (2011, p.12) têm peculiaridades bastante pertinentes, como

sendo um lugar privilegiado de socialização, de prática de tolerância e de exercício de

responsabilidade, de busca coletiva de estratégia de sobrevivência; nela normalmente

encontramos espaço indispensável para garantia da proteção integral dos seus membros,

independente dos arranjos familiares ou da forma como se está estruturada. É nesse espaço

que o os indivíduos normalmente constroem e desenvolvem as bases afetivas e matérias

necessárias ao desenvolvimento e bem estar dos seus componentes.

Entretanto, as relações familiares em uma sociedade na qual a expectativa de vida

está aumentando geram situações inovadoras, sem que haja maior preparação de seus

membros para lidarem com esse novo momento; com o envelhecimento dos pais surgem

outras modificações, os quais devido a longevidade exigem maiores cuidados.

A família como um sistema enfrenta desafios importantes diante das demandas

advindas com a velhice (normal ou patológica) especialmente quando há alterações

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ocasionadas por doenças associadas ao envelhecimento como, por exemplo, a

demência. (FALCÃO, 2006 apud FALCÃO e BAPTISTA, 2010, p. 15).

Às vezes estes idosos tem que sair de suas casas e são levados para o seio de

outros familiares, entre outros motivos, por apresentarem algum comprometimento na sua

autonomia e independência. “O cuidado com a geração velha é atribuído, ao longo da história,

aos descendentes, ou seja, a família tem como responsabilidade satisfazer inúmeras

necessidades, sejam elas físicas, psíquicas e sociais” (MORAGAS, 1997, apud

ALCÂNTARA, 2009, p. 21).

O que notamos é que a família, independente de sua configuração, tem assumido a

maior parte das responsabilidades demandadas de seus familiares idosos, mesmo com todas as

mudanças ocorrida em seu interior e já mencionadas anteriormente.

(...) apesar da dinâmica e a estrutura familiar não mais possuírem condições de bancar

a proteção de seus membros necessitados, a família vem sendo considerada uma

inestimável fonte cuidadora de idosos, crianças e enfermos e, paradoxalmente, a base

de cálculo das prestações sociais em detrimento do indivíduo e o seu carecimento

particular. (Pereira, 2007, p.247).

Como forma de reafirmar essa norma social dos familiares cuidarem dos seus

idosos na velhice, as leis brasileiras de proteção à pessoa idosa reafirmam tais

responsabilidades:

...Política Nacional do Idoso (artigo 3º I) e o Estatuto do Idoso (artigo 3°), baseados na

Constituição Brasileira (artigo 230), reafirmam que é obrigação da família cuidar da

pessoa idosa. Mas as leis deixam claro também que essa obrigação é exercida

juntamente com a comunidade a sociedade e o poder público. (Manual do Cuidador da

Pessoa Idosa, 2008, p. 53).

Apesar de legalmente esses cuidados com os idosos serem de responsabilidade

de todos, o que encontramos na realidade é a mínima participação do poder público e a

família representando a sociedade como a principal protagonista nessa busca para se ofertar

uma melhor qualidade de vida aos nossos idosos, na figura do familiar cuidador.

2.2 O surgimento de uma familiar cuidador

O processo para se definir um cuidador que sugira de um dos membros da família

pode ser imediato ou gradual, mas apesar de ter essas diferenças, o processo para se tornar

esse cuidador de que falamos parece obedecer algumas regras, as quais vamos conhecer

durante esse subtópico. Geralmente o que corre é que um membro da família é escolhido para

se tornar o cuidador daquele membro idoso, essa escolha, por mais que não exista um padrão

definido de como o familiar passa a ser cuidador mais existe uma frequência maior de casos

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em que são feitos acordos com os demais integrantes da família ou pode acontecer de maneira

sutil com o decorrer do tempo e da convivência entre o idoso e esse membro. Este cuidador é

denominado cuidador informal, pois existe outro tipo de cuidador que é chamado de cuidador

formal.

O cuidador familiar é o principal agente do sistema de apoio informal. Sem formação

específica, é o principal responsável pelo desenvolvimento das ações de cuidado ao

idoso. O cuidador informal voluntário é um leigo que presta cuidado ao idoso

dependente, sem remuneração, submetido a diversos graus de supervisão da família,

que o aceita por depositar confiança no cuidado prestado. Denomina-se cuidador

formal o profissional contratado que tem educação formal, com certificado de

instituição de ensino reconhecida por organismos oficiais, que presta assistência

profissional ao idoso e/ou à família e a comunidade e que é remunerado por isso

(YUASO, 2002, apud QUEROZ, 2010, p. 118).

No nosso trabalho buscamos pesquisar o cotidiano dos cuidadores informais e de

maneira mais especifica os que têm algum parentesco familiar, para tanto, definimos o

cuidador familiar como:

Membro familiar, esposo (a), filho (a), irmã (ão), normalmente do sexo feminino, que

é “escolhido” entre os familiares por ter melhor relacionamento ou intimidade com a

pessoa idosa e por apresentar maior disponibilidade de tempo. Podemos colocar nesse

grupo a amiga ou vizinha, que mesmo não tendo laços de parentesco, cuida de pessoa,

sem receber pagamento, como voluntária. (Manual do Cuidador da Pessoa Idosa,

2008, p. 54).

Ressaltamos que por mais que a definição anterior inclua amigos e vizinhos

como cuidador, para nossa pesquisa buscamos delimitar apenas os cuidadores que possuíam

laços de parentesco com o idoso de quem cuidam.

Dando continuidade a nossa temática sobre a família e o cuidador familiar,

depois de definirmos o conceito de cuidador vamos agora saber quem são esse cuidadores, seu

perfil e o que levam esses a cuidarem de seus parentes idosos.

É no campo familiar que as pessoas aprendem e desenvolvem suas práticas de cuidado

bastante influenciadas por sua cultura. Geralmente é a família quem decide o

momento de procurar pelos agentes do campo profissional ou do campo popular e

também quem estabelece o contato com esses profissionais. Em alguns casos, o

cuidado dispensado pelos membros da família pode não ser o mais adequado

tecnicamente, mas tem uma forte expressão simbólica por envolver vínculos afetivos,

alianças e o compartilhar de uma história que é peculiar a cada família. (SANTOS,

2010, p. 13).

De acordo com a literatura voltada para área do cuidador, o perfil dos cuidadores

de idosos, nas pesquisas realizadas, tem resultados bem parecidos, apesar de haver exceções;

mas o que geralmente encontramos é apenas uma pessoa assumindo a responsabilidade pelo

cuidado com o idoso, na qual denominamos de cuidador principal:

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É aquele que fica responsável por quase todo o trabalho diário com a pessoa idosa

doente. O papel do cuidador principal é de suprir as necessidades desta pessoa durante

o período de doença ou incapacidade. (Manual do Cuidador da Pessoa Idosa, 2008, p.

64).

Estes na maioria são mulheres, geralmente esposas, filhas, noras e grande parte

destas mulheres são de meia-idade ou idosas, tem filhos adultos, são aposentadas ou estão

perto de se aposentar ou são solteiras. Na próxima citação o autor explica o porquê dessa

predominância de cuidadores do sexo feminino na nossa sociedade:

No contexto familiar, o cuidador é uma figura que sempre se fez presente, geralmente,

era uma função exercida pelas mulheres. Para elas o ato de cuidar era muito natural,

quase que incorporado às demais funções relativas às atividades familiares e

domésticas. As mulheres normalmente aprendiam a cuidar no convívio com outras

mulheres de sua família ou de seu grupo sociocultural e eram elas que detinham o

domínio do saber popular sobre os cuidados com a saúde e na doença... Essa distinção

de atividade segundo gênero pode ser relativizada no mundo moderno, mas

seguramente foi à forma pela qual foram socializados os homens e mulheres que

atualmente constituem a grande maioria dos idosos com os quais deparamos no

cotidiano. (SANTOS, 2010, p. 13).

Na nossa pesquisa essa realidade apresentada por outros estudos não foi muito

diferente, todas as nossas entrevistadas foram do sexo feminino, não por escolha do

pesquisador, mas de forma natural os sujeitos que encontramos com o perfil que se

enquadraram para a pesquisa eram do sexo feminino.

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2.3 O perfil dos familiares cuidadores da pesquisa

Nesse subtópico iremos apresentar o perfil dos familiares cuidadores que

participaram da pesquisa, de que maneira eles se tornaram cuidadores de seus parentes idosos,

é bem parecido com o encontrado em outras pesquisas citadas no presente trabalho.

Na prática, parece que a decisão familiar de indicar a cuidadora no âmbito familiar

obedecer a algumas regras, reiteradamente encontradas na origem da escolha da

pessoa que vai se dedicar a acompanhar e cuidar do seu velho.

São quatro os fatores que influenciam esta escolha: 1. O parentesco direto com o

idoso, portanto esposa, filha ou mãe; 2. O gênero do cuidador: cerca de 70% dos

cuidadores familiares são mulheres, e as filhas são mais preferidas do que os filhos; 3.

A distancia entre idoso e o cuidador: quanto mais próximo do idoso, maior é a

probabilidade de cuidar bem dele; e 4. A proximidade afetiva: pais e filhos,

geralmente, decidem apoiar-se mutuamente, se houver afeto entre eles, e

consequentemente, passa a exercer os cuidados àquele que ficar incapacitado.

(Sinclair, 1990 apud Revista Serviço Social e Sociedade: Velhice e envelhecimento,

2003, p. 106).

Cuidadora Maria: Possui sessenta e um anos, solteira, não tem filho, mora na mesma

residência que a idosa, tem o segundo grau completo, antes de ser aposentada, trabalhou em

uma indústria, não realizou nem um curso para ser cuidadora e cuida da sua mãe há seis anos.

Ao perguntarmos sobre como se deu a escolha do cuidador entre os familiares, a mesma

respondeu da seguinte forma: “Eu sempre morei com ela... e no caso num tinha nem quem

...eu mesma quem tenho que cuidar.”

Cuidadora Marta: Tem sessenta e quatro anos, viúva, têm quatro filhos, nove netos,

fez até a quarta série, era comerciante e se aposentou, vive com a idosa que é sua mãe e com

uma filha solteira. A decisão de quem iria cuidar da idosa pelos familiares foi da seguinte

maneira:

Há dois anos... porque eu tenho dois irmão homens, toda vida a gente foi muito

presente, né, ela era muito boa, toda vida ela me ajudou com meus filhos...toda vida a

gente foi muito próxima uma da outra... só eu de mulher né. Ela era quem cuidava de

mim, me ajudou a cuidar dos meus filhos. Quando papai morreu eu era a mais velha,

tinha onze anos e ela trinta e três, ai nos ficamos muito unidas, ai quando eu me casei

ai meu filho nasceu ai pronto ela tomou de conta do meu menino, toda vida a gente foi

muito próxima...

E, por último, temos a cuidadora Madalena, que possui 29 de idade, solteira, não tem

filhos, está cursando o ensino superior, estagia pela manhã durante a semana e trabalha como

babá nos finais de semana e cuida da idosa há 15 anos. A escolha do cuidador se deu da

seguinte forma:

Quem cuidava realmente dela era a minha irmã, mas com o decorrer do tempo a

minha irmã foi mudando e eu ficava mais preocupada com a vó, ai eu fui me

preocupando, me preocupando... ai eu pensei, no momento que eu precisei mais do

meu pai, o meu pai não tava junto de mim...eu tive paralisia e eu tive que vir mora

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aqui com a minha vó porque eu tinha que fazer o tratamento e aqui e era mais perto

do hospital e tinha gente pra ficar comigo aqui, ai o que acontece, a minha avó vendeu

mesa de jantar dela de cristal, tudo embalado, ai minha vó tinha tudo do bom e do

melhor, ai minha vó vendeu pra pagar minhas medicação, fazer tratamento,

fisioterapeuta. E isso eu não esqueço o que ela fez por mim...a vó ficava comigo.. ai

eu num deixei mais a minha vó... eu tenho que fazer também o que ela fez por mim....

Ao analisar o perfil das cuidadoras confirmamos que o ato de cuidar coincide com o

perfil das pesquisas, pois essa atividade exercida de maneira informal pelas famílias foi

aprendida no dia a dia, como uma atividade do cotidiano familiar das cuidadoras, nem uma

das entrevistadas da pesquisa fez cursos ou teve alguma capacitação voltada pra essa atividade

que desempenha atualmente; outro ponto em comum das cuidadora é serem todas do gênero

feminino, ou seja, culturalmente essa característica do cuidador se representado e assumido

pela figura da mulher ainda é bem presente. E também temos outro aspecto que confirmam as

pesquisa sobre o cuidador que diz da proximidade de convivência, pois tal proximidade

desenvolve maior probabilidade se tornar um cuidador, no caso das nossas cuidadoras todas

tinha essa proximidade física.

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3 O COTIDIANO COMO CAMPO DE PESQUISA

Visando apresentar os resultados dessa investigação de maneira mais particular,

procuramos desenvolver nesse último capítulo uma reflexão sobre as análises produzidas no

curso dessa investigação durante a pesquisa de campo. Inicialmente faremos uma

contextualização da categoria “cotidiano” buscando compreender e nos aproximar mais da

temática e posteriormente resgataremos os depoimentos feitos através das entrevistas durante

o processo de investigação, que dividiremos em três subtópicos que sequencialmente falaram

sobre a saúde do familiar cuidador, do contexto econômico presente do cuidador e por último

das suas relações sociais atuais.

3.1 O cotidiano e o processo de envelhecimento

Abordaremos nesse trabalho a categoria “cotidiano” com a intenção de conhecer o

dia-a-dia dos cuidadores de idosos, com a intuito de extrair a partir de seus relatos do

cotidiano, as percepções e imagens que os familiares tem sobre sua atuação como cuidador e

as repercussões sociais dessa atuação. As referencias teórico-metodológicas para usar o

cotidiano como metodologia de reflexão dessa pesquisa, tem como apoio as produções e

reflexões de Paes (2003) e Netto e Brant (2012). Esses últimos expõe a vida cotidiana da

seguinte maneira:

... é aquela vida dos mesmos gestos, ritos e ritmos de todos os dias: é levantar nas

horas certas, dar conta das atividades caseiras, ir para o trabalho, para a escola, para a

igreja, cuidar das crianças, fazer o café da manhã, fumar o cigarro, almoçar, ... Nessas

atividades, é mais o gesto mecânico e automatizado que as dirige que a consciência.

(NETTO e BRANT, 2012, p.23).

Realmente se paramos para olhar a vida dos cuidadores de maneira mecânica,

como os próprios autores dizem, iremos encontrar muitas dessas atividades presentes no seu

dia a dia, porem buscamos encontrar através desses enredos o que Paes (2003) vai chamar de

“significantes”:

Segundo Paes (2003, p. 29), ao passear por caminhos que cruzam “rotina e

ruptura”, a sociologia do cotidiano passa um pente-fino na paisagem social, em busca dos

significantes mais do que dos significados. Em seu percurso, mantém-se aberta a tudo que

acontece, mesmo quando, aparentemente, nada ocorre. “O verdadeiro desafio que se coloca à

sociologia do quotidiano é o de revelar a vida social na textura ou na espuma da “aparente”

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rotina de todos os dias, como a imagem latente de uma película fotográfica” (PAES, 2003, p.

31).

Ao deslizar seu olhar pelo social, o estudo da vida cotidiana procura capturar a

realidade que é única e transitória, convertendo o cotidiano em permanente surpresa (p. 26).

Nesse itinerário, o observador é desafiado o tempo todo a imaginar, a descobrir e a construir a

realidade que observa. (...) No entanto, “a realidade social não é facilmente acessível ao

investigador, pronta a entregar-se ao primeiro sinal de galanteio” (PAES, 2003, p. 27).

De acordo com Paes (2003, p. 32), a fonte primeira de todo conhecimento é o

cotidiano, é o vivido, o autor fala também que a alma da sociologia do cotidiano não se

encontra nos fatos, estes são apenas o que é visível, mas sim, no modo como se acerca desses

fatos, ditos cotidianos, o modo como os interroga e os revela. É a partir dessa fonte que

buscaremos conhecer para além dos fatos relatados pelos cuidadores, ou seja, ver o que não é

visível no imediatismo do olhar sobre o cotidiano.

Outra característica importante sobre o estudo do cotidiano é que para uma melhor

compreensão da temática, não devemos buscar defini-lo como se define um objeto, pois: “a

posse do real é uma verdadeira impossibilidade e a consciência epistemológica desta

impossibilidade é uma condição necessária para entendermos alguma coisa do que se passa no

cotidiano”. Ou seja, não podemos querer enquadrar o cotidiano por meio de conceitos feitos,

pois não é possível devido a sua realidade ser muito dinâmica, sendo assim, impossível

conceituá-la. O que podemos é aceitar esta condição de constante mudança e a partir desta

dinâmica buscar compreender alguns fatos (PAES, 2003, p. 28).

Segundo Paes (2003, p.17), a sociologia da vida cotidiana pode ser caracterizada

por uma “lógica de descoberta”, que se afasta da lógica do preestabelecido. Para este autor, a

perspectiva metodológica que toma o cotidiano como alavanca para o conhecimento,

...condena os percursos de pesquisa a uma viagem programada, guiada pela

demonstração rígida de hipóteses de partida, a uma domesticação de itinerários que

facultam ao pesquisador a possibilidade de apenas ver o que os seus quadros teóricos

lhe permitem ver (PAES, 2003, p. 17).

“O que se passa no cotidiano é „rotina‟, costuma-se dizer” (PAES, 2003, p. 28). Ao

significado de cotidiano é possível associar a ideia de presente, daquilo que acontece todos os

dias e que implica emrotina de repetição. À rotina relaciona-se a ideia de caminho, de rota,

que, por sua vez, pode estar ligada semanticamente à ruptura, a corte, a rompimento. Foi,

pois, nesta perspectiva que ligamos as interações sobre as formas como os cuidadores

familiares da pesquisa adequaram suas vidas para cuidar de seus parentes idosos, estruturando

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suas rotinas a partir de sua atuação de cuidador, partindo de seus relatos de experiências do

cotidiano.

Observando o discurso do cotidiano dos familiares cuidadores de idosos de dois

bairros periféricos urbanos, nos usos que eles fazem de seus tempos, na fala que utilizam para

expressar a reflexão de suas atividades rotineiras, é possível notar que, mesmo naquilo que se

repete todos os dias, ou seja, no cotidiano, ocorrem mudanças e reinvenção do modo de viver,

para poder adequar às necessidades dos idosos, dentre os imprevistos, os problemas de saúde

que aparecem frequentemente devido à idade avançada. Não estamos generalizando que quem

tem muitos anos de vida necessariamente tenha muitos problemas de saúde, mas geralmente

com o advindo dos anos vividos acumulamos junto problemas de saúde.

Ainda que o envelhecimento não seja sinônimo de doença, não se pode negar que, à

medida que as pessoas vivem mais, ampliam-se também as suas chances de

desenvolver doenças cuja prevalência aumenta significativamente com o passar da

idade, como, por exemplo, as demências (SANTOS, 2010, p. 16).

Outro aspecto importante e significante sobre a vida cotidiana, que Paes, Neto e

Brant abordam é a sua contrariedade, ou melhor,a dialética, pois ao mesmo tempo em que a

palavra cotidiano lembra rotina, repetição, nela também está presente: “... um espaço onde o

acaso, o inesperado, o prazer profundo de repente descoberto num dia qualquer, eleva os

homens dessa cotidianidade, retomando a ela de forma modificada”( NETTO & BRANT,

2012, p. 14).

E realmente foi buscando conhecer o cotidiano dos cuidadores de idosos que o

inesperado passou a ser real. Ao iniciar a pesquisa, buscávamos encontrar sujeitos que

expressassem a sua atuação como cuidador de forma muito árdua e penosa; esperávamos que

eles dissessem o quanto era complicado e difícil cuidar de um parente idoso dependente

funcional, mas, o inesperado apareceu em meio ao cotidiano, a rotina.

Cuidadora Maria:

... Eu tenho o dever e a obrigação de cuidar dela.

É com muito carinho, é um bebê. O que ela fez comigo, eu agora estou fazendo com

ela; tem que ver com carinho, com amor...

Ela é a minha mãe, tem que cuidar, e cuidar com carinho e amor, é um dever da gente.

Sentimento de filha, de gratidão, né, pelo que ela fez por mim. O amor, né, porque a

gente tem que ter amor pela mãe da gente.

Cuidadora Marta: “É minha obrigação, e além do mais eu sou quem tem que

cuidar dela, porque ela num cuidor, né. Agora chegou a hora, eu tô fazendo a minha obrigação

mais nada... e nem é um trabalho, nem nada. A gente faz com prazer...”

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Cuidadora Madalena:

Na minha opinião, eu vejo, assim, ela é minha vó, mãe do meu pai mas independente

se fosse a mãe do meu pai ou a mãe da minha mãe, pra mim eu vejo, assim, é

gratidão... Eu tenho que fazer também o que ela fez por mim. E faria tudo de novo.

Eu gosto de cuidar da minha vó.

Amor, carinho que eu tenho por ela, eu faço tudo pela minha vozinha.

Ao observarmos as falas das cuidadoras, vemos que o ato de cuidar de seu parente

idoso é algo que foi ocorrendo sutilmente, se desenvolvendo através de experiências pessoais

deste membro da família, determinado pela cultura. Já mencionamos anteriormente que o ato

de cuidar tem forte influência da cultura em que vivemos e no nosso país temos a cultura dos

membros adultos cuidarem dos mais novos e mais velhos, sendo que a proximidade física

conta muito na escolha do familiar que cuidará do idoso. Todos os nossos cuidadores

expressaram ter uma proximidade física bem curta com seus parentes idosos no dia a dia.

Outro ponto que nos chamou bastante atenção nas falas das cuidadoras foi o

significado de “dever”, “obrigação” e “gratidão” citadas como determinante para essa

aceitação de ser cuidadora, ou seja, tais palavras são interpretadas como uma forma de

retribuição pelos cuidados já recebidos dos idosos, portanto um dever moral que se era

esperado delas, segundo as práticas socioculturais de seu meio ligado, também, a um

compromisso que foi construído ao longo da convivência familiar.

O que verificamos, em meio ao cotidiano, com essas análises das falas das

cuidadoras sobre ser cuidador de um familiar idoso que é dependente funcional é que por mais

que não seja uma posição que elas tenham desejado ou que não requeira renuncias, elas

expressão também que desempenham com sentimentos positivos, como de gratidão, amor,

cuidado, entre outros.

Paes (2003) fala da seguinte maneira sobre o que esperar quando se tem como

campo de análise o cotidiano: “... o cotidiano é um lugar privilegiado da análise sociológica

na medida em que é revelador, por excelência, de determinados processos do funcionamento e

da transformação da sociedade e dos conflitos que a atravessam (p.72).

Ou seja, o cotidiano nos revelou outro olhar sobre a maneira como os familiares

cuidadores definiam a sua atuação como cuidador. A seguir, pais explicam os motivos para

que possamos entender o quanto o cotidiano é inovador e que a rotina também é um espaço

dinâmico e não monótono como o senso comum costuma manifestar:

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...contrariamente às posições que reduzem o cotidiano ao rotineiro, ao repetitivo e ao

a-histórico -- ele é, antes de mais, o cruzamento de múltiplas dialéticas entre o

„rotineiro‟ e o „acontecimento‟ [...] O cotidiano pode significar mais que o sentido

vulgar do termo; é um conceito que pode e deve ser tomado como fio condutor do

conhecimento da sociedade. Mas para que tal aconteça há que situar o cotidiano no

“histórico-original-significativo”, e não apenas no “banal-insignificante” (PAES,

2012, p. 74).

A citação acima reforça, ao dizer que o cotidiano apesar de ser perceptível como

algo mecânico, repetitivo, que este não está deslocado do histórico, antes, é um dos meios

constitutivos, na perspectiva de que as reproduções sociais se realizam na reprodução dos

indivíduos enquanto tais, ou seja, na vida cotidiana o homem se reproduz diretamente

enquanto indivíduo e reproduz indiretamente a totalidade social.

É justamente o que Lukács (apud NETO & BRANT, 2012, p. 67) vai apresentar

como determinações fundamentais da cotidianidade, isto é, apesar de ser uma categoria de

difícil conceituação, ele leva consigo alguns traços comuns: a heterogeneidade, a

imediaticidade e a superficialidade extensiva. A heterogeneidade se caracteriza pelo produtor

das ações que completam o conjunto-alvo do ser social, ou seja, simultaneamente se

movimentam fenômenos e processos de naturezas múltiplas (linguagem, trabalho, jogo, vida

política, vida privada etc.).

A imediaticidade se apresenta como característica da ação humana no cotidiano,

“... o padrão de comportamento próprio da cotidianidade é a relação direta entre pensamento e

ação; a conduta específica da cotidianidade e a conduta imediata, sem a qual os automatismos

e o espontaneísmo necessário à reprodução dos indivíduos enquanto tal seriam inviáveis”

(NETO & BRANT, 2012, p. 68).

A superficialidade extensiva

a vida cotidiana mobiliza em cada homem todas as atenções e todas as forças, mas

não toda atenção e toda a força; a sua heterogeneidade e imediaticidade implicam

que o indivíduo responda levando em conta o somatório dos fenômenos que

comparecem em cada situação precisa, sem considerar as relações que os vinculam.

(IDEM).

Enfim, agimos de maneira superficial nas atividades rotineiras, não aprofundamos

reflexivamente as ações que costumamos fazer todos os dias (NETO & BRANT, 2012).

Apesar de o cotidiano ter aspectos determinantes, o mesmo pode e deve ser elevado, como

explica Luckcs (apud NETO & BRANT, 2012). Esta superação para o autor se dá por meio

do trabalho criador, da arte e da ciência. São, portanto, meios que se diferenciam pela

metodologia de sua criação, atingindo, assim, autonomia e legalidade (NETO & BRANT,

2012).

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3.2.1 O cotidiano dos familiares cuidadores de idosos com dependência

funcional

O foco de análise da pesquisa centrou-se nas dimensões sociais do cuidador e, de

maneira específica, demos ênfase às situações de saúde, economia e relações sociais,

observadas a partir de entrevistas realizadas nos domicílios dos cuidadores. A questão central

da pesquisa envolveu indagações relacionadas às suas atividades normais do dia a dia e as

suas atividades de cuidado com o familiar idoso que possui dependência funcional.

Os sujeitos da pesquisa, já mencionados anteriormente, foram três familiares

cuidadores primários, sendo duas filhas e uma neta; o tempo que atuam como cuidadoras

variou de dois anos a 15 anos: uma cuidadora há dois anos, uma há seis anos e a outra há

quinze anos. Das participantes da pesquisa, todas são mulheres. As idades delas são: uma com

29 anos, outra com 61 anos e a outra 63 anos.

Cuidar de uma pessoa idosa da família geralmente é uma atuação que não se sabe por

quanto tempo vai durar e exige uma reorganização das atividades do cotidiano, para se poder

tentar conciliar a vida de cuidador com a vida do idoso. O cotidiano dos familiares cuidadores

de idosos será apresentado através de três aspectos adotados pela pesquisa, que são eles:

aspectos de saúde, econômico e de relações sociais.

3.2.2 Aspectos sobre a saúde dos cuidadores

No que se refere às questões sobre a saúde do cuidador, de acordo com a

Secretária Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, através da publicação

feita (BRASIL, 2008), a saúde do cuidador muitas vezes é afetada devido a vários fatores que

variam de acordo com cada situação e contexto; mas os problemas de saúde mais frequentes

são desgaste físico e emocional devido ao excessivo tempo de cuidado para com o idoso.

As consequências de cuidar de uma pessoa idosa variam de pessoas a pessoa devido às

diferenças que há tanto entre os cuidadores como entre as pessoas que recebem os

cuidados. No entanto uma característica comum é que podem levar a uma situação de

tensão e estresse devido ao cansaço, problemas físicos, sentimento de impotência,

sentimento de culpa, irritabilidade, tristeza etc. (BRASIL, 2008. p. 92).

Ao pesquisar sobre a saúde das cuidadoras entrevistadas, identificamos, através

de seus depoimentos, stress, o qual elas consideram que não chega a comprometer o seu

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estado de saúde. Durante as entrevistas, foram questionados se as cuidadoras apresentavam

algum problema de saúde, se tomavam algum remédio e como elas consideravam suas

condições de saúde; identificamos algumas falas em que declaram que se sentem cansadas e

com stress:

Cuidadora Maria:

Não, nada [...] não tomo nem um melhoral, graças a Deus. [...] boa. É graças a Deus.

Todo dia quando eu peço a benção a ela (idosa) ela diz: Deus te der saúde.

[...] Às vezes, eu num nego que a gente cansa né. O ser humano, às vezes, a gente

quer, assim, se aborrecer ou fala mais alto um pouquinho, mas depois... a ela é a

minha mãe, tenho que cuidar e cuidar com carinho, com amor, é um dever da gente.

Na fala da cuidadora Maria identificamos que esta, por mais que reconheça que a

idosa é sua mãe, devido ao cansaço acaba agindo de uma maneira que depois a leva ao

arrependimento de estar agindo com sua mãe de maneira que uma filha não deveria agir.

Observamos em tal situação uma inversão de identidade entre a cuidadora e sua mãe, uma

confusão de sentimentos entre o respeito e a falta de paciência.

Cuidadora Marta:

Três Hérnias de disco. [risos] eu sou hipertensa, também [...] Tomo atenalol e também

remédio pra, mas só quando tá na crise [...] regular.

Agora é tipo de uma coisa, a gente se cansa né, num tem tempo pra nada, a gente se

cansa, quanto ele tá com a crise dela, ave Maria...

Cuidadora Madalena:

Nem sei te explicar, eu acho que num é nem problema de saúde porque é um

problema que eu tenho na minha perna [...] estragou a minha veia [...] ai eu tenho que

operar da perna ate a coxa [...] mas é uma dor horrível. [...] não faço uso de

medicação. [...] graças a Deus só tenho esse probleminha mesmo, vou, faço

caminhada de manhazinha cedo, só uma coisa que eu deixei de fazer foi academia, o

médico proibiu porque quando eu pegava peso nas pernas, isso atraia mais as varizes

pra mim [...].

Assim, como eu posso te dizer, eu tenho que ta vinte e quatro horas com ela. Chega

um momento que eu me sinto cansada, né, não só por ela, mas os problemas de casa [a

cuidadora se emociona e chora] é pera ai, pelos problemas de casa. Mas, assim, às

vezes eu digo: „mãe eu tenho que sai mãe eu tenho que fazer isso‟. [a mãe fala] há

mais eu tenho que sair, tenho que fazer minhas coisas também. [cuidadora fala] mãe

deixa eu dizer uma coisa a senhora: a senhora já viveu sua vida. [mãe fala] não, não eu

tô casada também, num sei o que. [cuidadora fala] então ta, certo, vá, vá, vá resolver

suas coisas. Ai quando é pra mim sair, eu num tenho nem mais vontade, o que eu

tenho pra fazer, eu tenho que fazer oculto[...].

As cuidadoras Marta e Madalena apresentaram problemas de saúde, mas, tais

problemas não são relacionados com a prática de cuidadora, ou seja, não identificam como

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problemas que adquiriam ou se intensificaram após se tornarem cuidadoras de seus familiares

idosos.

São comuns as reclamações do cuidador principal de frustações, decepções, culpa,

raiva, cansaço, falta de tempo para si, além da ansiedade, depressão e outros

problemas de saúde. Falam também da perda de liberdade, perda da mãe ou pai

causada pela inversão de papeis, perda do companheiro, perda financeira, perda da

privacidade se a pessoa idosa for morar com o cuidador, perda de tempo para si

mesma, além de brigas com irmãos (BRASIL, 2008. p. 65).

Com esta citação, podemos compreender as reclamações indiretas que as

cuidadoras expressam através das suas falas, quando se referem ao cansaço, falta de tempo

para si, frustação, conflitos familiares. Ou seja, por mais que elas vejam de maneira positiva e

tranquila a atividade que exercem como cuidadoras, acabam em alguns momentos perdendo o

controle da situação no que se refere ao tempo para outras atividades.

Tal afirmação é baseada nas falas em que elas dizem que não possuem tempo para

nada e que necessitam cuidar 24 horas da idosa. Outro ponto que todas as três cuidadoras

apresentaram foi sobre o cansaço, que é desenvolvido no dia a dia, ao terem que cuidar do

idoso e das demais atividades que desempenham, sendo que a cuidadora Maria demostra que

este cansaço acaba sendo refletido de maneira inadequada na idosa.

3.2.3 Aspectos econômicos e financeiros dos familiares cuidadores

Legalmente, não existe nenhuma lei que garanta valor financeiro para o cuidador

familiar de idoso, „bancado‟ por parte dos demais familiares ou do governo. Mas, buscando

não produzir juízo de valor sobre as condições financeiras dos cuidadores, vamos conhecer

como eles se encontram economicamente a partir de suas narrativas.

Com referência à questão financeira, buscamos saber se as cuidadoras possuíam

alguma renda financeira, se exerciam alguma atividade remunerada atualmente e se elas

achavam suficientes os recursos que tinham, para suas necessidades e despesas. Tais

questionamentos foram feitos para se conhecer de que forma as cuidadoras se mantinham

economicamente, já que elas ao cuidarem de seus familiares idosos que necessitam de ajuda

para suas necessidades básicas, possuem certa parcela significativa do seu tempo diário

comprometida, ou seja, com este comprometimento do tempo voltado para o cuidado com o

idoso, talvez a cuidadora não possua tempo para exercer outra atividade remunerada. Além

deste fator ainda, temos outra particularidade que envolve os cuidadores e os idosos, no que

diz respeito às despesas financeiras, como apresenta a pesquisa:

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[...] observa-se que, de modo geral, os idosos tendem a ser materialmente

desfavorecido em comparação a outros segmentos da população. A aposentadoria

provoca queda de rendimento, o que deteriora os seus padrões de vida. Além disso, é o

segmento populacional que mais sofre com a inflação. No Brasil, estudos da Fundação

Getúlio Vargas, divulgados em 11 de abril de 2005, mostram que nas famílias que

possuem membros com mais de 60 anos, o Índice de Preços ao Consumidor da

Terceira Idade tende a elevar-se, já que os produtos que pesam mais nessas famílias

tiveram reajustes maiores [...] (PEREIRA, 2007, p. 248).

Ou seja, na nossa sociedade capitalista, a população idosa tem algumas

particularidades que elevam ainda mais o custo de vida; inicialmente, temos a aposentadoria,

que já representa uma redução dos rendimentos e outros fatores, como plano de saúde, que é

mais caro para quem tem mais idade etc. Consequentemente, quando o idoso se torna

dependente funcional, geralmente é o cuidador que passa a administrar suas despesas e, com

isto, o que antes era motivo de preocupação para o idoso é repassado para o cuidador.

Vamos agora nos aproximar da realidade por meio da fala das cuidadoras,

conhecer de que maneira elas se mantêm economicamente, quais suas fontes de recursos

financeiros.

Cuidadora Maria:

Eu só sou aposentada. Ainda bem que quando chega a idade né, ai a gente num

trabalha mais e recebe. Eu trabalhei também, ai completou o tempo de serviço, ai

com a idade a gente se aposenta. Eu completei sessentas anos.

Eu tenho a aposentadoria e a pensão do meu pai, eu sou solteira e ele era funcionário

federal e antigamente as filhas solteiras, né... Mas eu tenho a minha aposentadoria e

essa pensão, né, no caso dois salários.

Não, não tenho nem uma atividade. Se pudesse e minha mãe fosse boa, eu ainda

gostaria de trabalhar, mas é porque eu num posso, né sair. Mas se eu pudesse.

É, é, é suficiente.

A cuidadora Maria é aposentada e recebe a pensão do seu pai que é falecido, mora

com sua mãe, esta também é pensionista e aposentada, e outros familiares, em casa própria,

somando toda a renda dos familiares da residência, o valor chega entre seis a sete salários

mínimos. Ao ser questionada sobre suas necessidades financeiras, a cuidadora não demostrou

que necessitasse de mais recursos para as suas despesas.

Cuidadora Marta: “Sou aposentada. Eu era comerciante.” A cuidadora nos

informou que também recebe uma pensão do marido falecido e que atualmente não exerce

nenhuma atividade remunerada. Mora com sua filha e sua mãe em uma casa própria e sua

renda varia em torno de quatro a cinco salários mínimos; tal valor a cuidadora considera

suficiente para as suas despesas.

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Ao analisar a fala das cuidadoras Maria e Marta, estas apresentam um perfil

econômico bem parecido, ou seja, são aposentadas, recebem pensão e estão satisfeitas com os

recursos financeiros que possuem. Tal realidade apresentada por estas duas cuidadoras não se

assemelha à apresentada pela pesquisa da citação anterior, em que os idosos enfrentam

dificuldades financeiras, pois se esta dificuldade existisse para estas cuidadoras, talvez elas

expressassem que necessitariam de recursos a mais para si e seus parentes idosos

dependentes.

Cuidadora Madalena:

Babá. Só nos finais de semana, que na semana eu num deixo minha vó de jeito

nenhum.

Tenho o dinheiro da pensão do meu pai...

Graças a Deus eu tenho!

A cuidadora Madalena já tem um perfil diferente das outras duas cuidadoras, pois

acumula as funções de cuidadora com outras atividades, que são a faculdade, o estágio e um

trabalho que ela exerce nos finais de semana. Durante a entrevista, a cuidadora nos relatou

que ela só exercia as outras atividades porque contava com o apoio de outros membros da

família para olhar a idosa enquanto ela sai. Tal situação nos permite ver outra possibilidade

sobre o cuidador familiar, ou seja, que por mais que o tempo de um cuidador fique

comprometido com os cuidados do idoso e possível conciliar com outras atividades se houver

um apoio de outros membros da família.

No que diz respeito aos recursos financeiros, a cuidadora Madalena também não

apresentou motivos ou necessidades que a tornem insatisfeita com os recursos financeiros que

possui, pois, além de contar com recursos próprios e com a pensão paterna, ainda conta com a

aposentadoria da sua avó e uma pensão que a idosa recebe do marido falecido, somando um

total de quase dez salários mínimos a renda da casa. A cuidadora e sua avó paterna moram em

casa própria.

Observamos que as cuidadoras apresentam certa tranquilidade do que diz respeito

aos recursos financeiros, pois as três são pensionistas; além de as outras duas possuírem

outros recursos como aposentadoria e atividade remunerada. E ao serem questionadas sobre

seus recursos financeiros, nenhuma demostrou que desejasse ter mais recursos em virtude de

alguma necessidade.

3.2.4 O cuidador e as suas relações sociais atualmente

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Outro aspecto que buscamos compreender foi sobre as relações dos cuidadores

com seus familiares e amigos, visando identificar peculiaridades destas relações e também

identificar se os cuidadores se sentem reconhecidos pela atividade que exercem em cuidar do

idoso no meio familiar. “Os cuidadores informaram que houve uma redução do tempo

dedicado à vida social e de lazer e, como consequência, sentem-se isolados de seus amigos e

do mundo o que os cercam” (BRASIL, 2008. p. 62).

Na citação acima encontramos uma análise negativa sobre ser cuidador, pois

devido ter que cuidar dos idosos com certa frequência, durante o cotidiano, acaba que se

sentindo isolado dos demais membros da família e do convívio com outras pessoas fora de

casa.

Mas, como o cotidiano é dinâmico vamos agora conhecer como foi a análise para

os cuidadores da pesquisa; para tanto, perguntamos a estes se houve alguma reorganização ou

mudança nos seu cotidiano a partir do momento em que eles se tornaram cuidadores e como

estão atualmente suas relações sociais com a família e amigos; se houve alguma mudança

com o advento da responsabilidade de cuidar do idoso.

Cuidadora Maria:

Eu quem cuido da casa, dos irmãos, o que ela fazia, ela que é a mãe, ai agora eu faço a

mesma coisa; lavo a roupa, faço comida, faxina, é, vou fazer alguma compra...

No fim de semana, eu saio despreocupada porque a neta fica em casa, ai de segunda a

sexta...

No caso, ai assim, um lazer, um trabalho, mudou, né, porque eu sempre saia, tipo, esse

fim de semana também eu passava fora, dois dias, no fim de semana eu sempre ia,

quando ela era boa. Ai mudou porque agora eu num vou mais. Assim, um lazer, até

mesmo na igreja, né, eu vou, mas vendo, já pensando no horário que ela tá aqui, pode

a outra querer sair, ai é assim, né.

É né, assim, na medida do possível, ainda vou, por exemplo, às vezes na casa de uma

colega, muito difícil, mas... os vizinhos, o pessoal que morou vizinho a gente, aqui,

quando a gente se lembra, ai diz, há vou já lá, ai tira um tempinho e vai lá, ver como é

que vão. Assim, até os colegas diminuíram, agora porque a gente tem que tá em

atividade, né, quem tem amigo ai sempre se encontra né, mas agora, durante esse

período, esses seis anos ate diminuiu mais um pouco, porque eu num posso sair né,

marcar aquela, vamos ali comer uma pizza, ouvir uma música, alguma coisa, assim,

né, diminuiu mais uma pouco, mas é assim mesmo, tudo muda, ou pra melhor ou pra

pior, no caso aqui num foi pra pior, porque ela é a minha mãe. Os amigos são poucos,

uma colega ou outra, é mais quando a gente se encontra.

Ao analisar a fala da cuidadora Maria, esta apresentou muitas mudanças em seu

cotidiano após passar a cuidar de sua mãe; ela expõe que passou a fazer o que a sua mãe fazia,

ou seja, antes quem cuidava das atividades da casa e dos demais irmãos era sua mãe e agora

quem cuida é ela. Outro ponto que merece destaque na sua fala é sobre a redução do convívio

com os amigos e dos eventos sociais; a cuidadora diz que apenas algumas amizades que foram

feitas antes de se tornar cuidadora permaneceram e justifica que o motivo da diminuição da

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rede de amigos é em consequência de a cuidadora não poder sair frequentemente devido ter

que cuidar de sua mãe. A cuidadora Maria também nos falou que quando vai sair para algum

lugar ela conta com a ajuda da sua sobrinha, que fica olhando a idosa, mas mesmo assim ela

ainda fica preocupada. A cuidadora, ao apresentar esta preocupação parece transmitir que

apenas ela tem a responsabilidade em cuidar da idosa, pois fica preocupada em sair e a sua

sobrinha também precisar sair e não poder, devido sua avó não poder ficar só.

Cuidadora Marta:

Mudou total, né porque eu trabalhava, saia de casa, tinha meus compromissos na

igreja, né, mudou total.

Bem. Hoje a gente foi pro batizado da minha neta, levei ela. A gente passou a manhã

todinha no meio do mundo... toda vida ela viveu com muita gente, né.

Pelos relatos da cuidadora Marta, podemos também observar que na própria fala

dela identificamos que houve grandes mudanças no seu cotidiano apos se tornar cuidadora,

alguns compromissos que antes ela tinha fora de casa, atualmente ela deixou de ter devido

cuidar de sua mãe. Observamos que apesar da cuidadora ter diminuído suas atividades

externas, ela e a idosa sempre contam com a presença de outras pessoas no seu dia a dia, ou

seja, a impossibilidade de sair com tanta frequência de casa não a levou a um afastamento

social.

Cuidadora Madalena:

Teve, muita coisa! Parei de ir mais pra igreja, claro que a minha vó, eu num acho um

empecilho não, deixei de sair com meu ex-namorado, ficava mais dentro de casa, às

vezes ele se irritava comigo, dizia assim: neguinha, olhe ou você sai de casa ou você

morre pele sua família, você num faz nada, você vive por eles, morre por eles. Ai eu

dizia assim: é mais eu num posso fazer isso, tenho minha vó, tenho minha mãe pra

cuidar. Pra mim ir pro cinema é muito difícil, eu vou hoje porque eu num aguento

mais, a minha mãe nem sabe, ela acha que eu vou pra faculdade. Mudei muita coisa...

Deixei mais de sair, tô mais e dentro de casa. Eu fico mais dentro de casa de portão

fechado e porta fechada. Eu num boto minha cara fora de jeito nenhum só pra aula, só.

Eu graças a Deus eu consigo dividir as coisas bem, vó é minha vó, faculdade é

faculdade, e os problemas de casa tem que saber conciliar porque se não soube,

sempre quem vai ficar em último lugar é ela mas, eu sempre coloco ela em primeiro

lugar. Medicação da vó, alimentação da vó, banho da vó, primeiro e ela, as outras

coisas, depois que eu vou me preocupar.

Diminui bastante. Assim quando eu tô muito cansada eu mal falo com as meninas,

minhas irmã, a preocupação só é ela.

Não. Eu tenho que ta vinte é quatro horas com ela... As vezes as minha irmãs, só uma

que ver que eu fico vinte e quatro horas com ela, ai as vezes ela me repreende porque

eu tenho que ir pra igreja, tu num pode viver pra tua vó, só, não.

Ao analisar as respostas dadas pela cuidadora Madalena, encontramos alguns

aspectos incomuns com as outras duas cuidadoras anteriores. No que diz respeito ao convívio

sócia, percebemos que a cuidadora também vivenciou modificações, como a redução dos

vínculos de amizade e de outras atividades fora domicílio. Mas, logo depois que a cuidadora

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expõe a falta de relacionamentos externos, ela também diz que consegue conciliar a atividade

de cuidadora com as outras atividades que desempenha.

O que podemos perceber através dos depoimentos das cuidadoras é que cuidar de

um idoso pode levar a ter que sacrificar algumas coisas, dentre elas, alguns eventos sociais,

oportunidades de trabalho, maior número de amizades. Na pesquisa observamos também que

as cuidadoras Maria e Marta, por serem consideradas idosas e contarem além de suas pensões

com suas aposentadorias, é menos exaustivo ser cuidadora e, para a cuidadora Madalena, por

ser uma jovem e conciliar os cuidados da sua vó com a faculdade, estágio e trabalho parece

existir uma sobrecarga maior de responsabilidade para ela tomar conta.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da pesquisa feita por meio das entrevistas aos familiares cuidadores de

idosos com dependência funcional, sobre seus cotidianos, em que estes relataram fragmentos

de suas vidas e nos deixaram conhecer aspectos sobre de saúde, econômicos e financeiros,

pudemos perceber sobre o processo que envolve o envelhecimento na fala de um familiar e

refletir sobre a realidade destes, muitas vezes ignorada pela própria sociedade e, de maneira

mais próxima, pelos demais familiares do idoso.

Ao conhecermos o cotidiano do cuidador, no que se refere às questões que

envolvem sua saúde, pudemos concluir, neste aspecto, que o cuidador não é tão afetado por

passar a cuidar de um familiar idoso. Identificamos algumas falas que expressavam estresse,

mas fora este problema, os demais problemas de saúde que eles apresentaram foram

adquiridos antes de se tornarem cuidadores. O interessante é que das três cuidadoras

entrevistadas, duas já são idosas, ou seja, de acordo com as pesquisas aqui mencionadas

anteriormente sobre a saúde do idoso, as cuidadoras teriam mais um agravante para terem

outros problemas de saúde, pois além de já terem mais de 60 anos ainda são cuidadoras.

Outro aspecto que buscamos conhecer através da narração dos seus cotidianos foi

sobre as condições econômicas; para surpresa da pesquisa, que buscava encontrar familiares

que discorressem sobre necessidades financeiras enfrentadas, por não poder trabalhar, devido

ter que cuidar de um familiar idoso, ao contrario do esperado, encontramos cuidadores

familiares satisfeitos com a renda financeira que possuíam e demostraram não ter grandes

interesses de aumentar a renda devido a necessidades econômicas.

Mas é importante ressaltar que o que possibilitou este equilíbrio entre cuidar de um

idoso, sendo o cuidador principal e ter recursos econômicos, foi devido as cuidadoras e as

idosas contarem com aposentadoria e pensões, ou seja, recursos garantidos por direito. Caso

contrário, talvez as cuidadoras tivessem que trabalhar fora de casa e seus familiares idosos

não pudessem ter com quem contar diante de uma situação de dependência ou por outras

razões. O que poderia ocasionar uma menor expectativa de vida para as idosas ou no mínimo

uma qualidade de vida precária por falta de cuidado.

E, ao analisarmos as atuais relações sociais do cuidador, pudemos concluir que o

papel exercido por este, de cuidar de um familiar que precisa de constante atenção, implica

em fortes influência na sua vida social, pois isto limita suas atividades fora de casa; deixam de

fazer visita a outros parentes, desenvolver novas amizades, se relacionar com outras pessoas

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devido a focar a maior parte do seu tempo e de suas atividades em torno do familiar idoso,

que, limitado por sua dependência, tem dificuldade de se locomover para outros lugares fora

do domicilio. Vale ressaltar que tais considerações foram feitas a partir das narrativas dos

sujeitos da pesquisa, ou seja, tais conclusões não devem ser generalizadas.

Apesar de constatarmos que ser cuidador de um idoso interfere nas relações sociais

dos cuidadores, estes, quando podem contar com outros membros da rede familiar para dividir

o tempo de cuidado para com o idoso, tal apoio de outros membros contribui para diminuir os

impactos negativos causados nas suas relações sociais da vida do cuidador.

Outra observação feita através da pesquisa é que para as cuidadoras com mais

idade é mais tranquilo cuidar de suas idosas, pois a dinâmica de vida tanto da cuidadora como

da idosa tem algumas semelhanças; já para a cuidadora mais jovem é mais complicado estar

conciliando os cuidados dedicados a sua avó com as demais atividades, devido ter outras

atividades fora de casa; sendo assim, é indispensável o apoio de outras pessoas para cuidar da

avó.

Outro ponto que muito nos chamou a atenção ao conhecer os cuidadores por meio

do cotidiano foi o sentimento de responsabilidade de cuidar de seus familiares idosos, que têm

forte influência cultural, pois todas as entrevistadas por serem mulheres e terem recebido

cuidados desses idosos no passado, demostraram sentimento de gratidão, responsabilidade e

obrigação de cuidar dos idosos. Na nossa cultura, temos o hábito social de retribuir os

cuidados transmitidos por nossos antecedentes, todas as cuidadoras expressaram este

sentimento de retribuição e gratidão.

Ao desenvolver a pesquisa, pudemos concluir que cuidar de um idoso dependente

funcional é bem parecido com os cuidados dedicados a uma criança recém-nascida; o que

diferencia geralmente é o sentimento e o modo como ambos são vistos pela sociedade, pois

tanto a criança como o idoso exigem cuidados constantes e mudanças no estilo de vida do

cuidador, para que possam atender às necessidades de ambos.

Mas o que vemos na sociedade capitalista em que vivemos, em que o novo é

valorizado e o velho e descartado, é visto como lixo; é que os cuidados dedicados a uma

criança são realizados com sentimentos positivos e de muita alegria e os dedicados ao idoso às

vezes são encarados com muita dificuldade e a renúncia exigida por quem cuida é feita com

sentimento de sacrifício. Por mais que tal fato seja bem visível na sociedade, na pesquisa

encontramos cuidadores que não viam seus idosos como um peso, mas sim como uma

responsabilidade a mais na vida cotidiana.

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Refletindo ainda sobre os três aspectos abordados na pesquisa, de saúde, econômico

e relações sociais do cuidador, pudemos perceber que o cotidiano vivido, tanto pelo cuidador

como pelo idoso, antes de estes se encontrarem em tais circunstâncias, são determinantes para

atual situação, ou seja, tomando como exemplo a pesquisa, se o cuidador e o idoso não

tivessem contribuído para a aposentadoria, não tivessem buscado uma boa qualidade de vida

ou desenvolvido vínculos sociais, talvez, atualmente, não teriam recursos financeiros,

apresentassem problemas de saúde mais grave e não pudessem contar com o cuidado de

familiares. A nossa vida presente é reflexo do passado vivido.

Como a pesquisa buscou conhecer mais o cotidiano do familiar cuidador de idosos na

intenção de a partir desta aproximação contribuir para uma melhor qualidade de vida, tanto do

familiar cuidador como do idoso, esperamos que estas análises feitas possam colaborar de

algum modo para promover subsídios que fortaleçam o olhar da sociedade para este membro

familiar que está cada vez mais presente nas casas e também para desmistificar alguns mitos

sobre o cotidiano do familiar cuidador.

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ANEXO

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Questionário do perfil do idoso

Idade:______E. Civil: _______________ Quantidade de filhos:______ Sexo_______

Escolaridade:_________________________________Profissão:__________________

Composição familiar da residência do idoso:

___________________________________________________________________________

_________________________________________________________________

Incapacidade apresentada no idoso

Quais as seguintes atividades o idoso precisa da ajuda de alguém?

Alimentar-se ( ) Vestir-se ( ) Banhar-se ( ) ir ao banco ( )

Comunicar-se ( )

Outras ( ) Especificar:_________________________

O idoso apresenta algum problema de saúde: sim ( ) Não ( ) Quais?

O idoso faz uso de remédios frequentemente? Se sim. Quais?

O idoso tem alguma deficiência? Qual?

O idoso possui renda financeira? Qual?

O idoso recebe algum beneficio? Se sim, qual?

Questionário do perfil do cuidador

Nascimento:_____________Sexo:_______

Estado civil:_________________________ Filhos: Não ( ) Sim ( )

quantos?______________

Escolaridade: ( ) Sem escolaridade

( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo

( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo

( ) Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo

( ) Pós- graduado

Profissão:______________________________________________________________

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Realizou algum curso para atuar como cuidador?

( )Não ( )Sim Qual? _________________________________________________________

Há quanto tempo que cuida deste idoso: ___________________________________

Tempo de cuidado: ( ) Parcial _______horas/dia ( ) Integral (24 horas/dia)

Grau de parentesco ________________

Como foi a escolha do cuidador familiar?

Quais as atividades que o (a) sr(a) desempenha para cuidar do idoso (a)?

Quais as atividades do seu dia-a-dia?

Com quem fica o (a) idoso (a) quando o (a) sr(a) precisa se ausentar?

Por quanto tempo o senhor (a) acha que vai cuidar do idoso (a)?

Condições econômicas

Recebe salário mensal? ( ) Não ( ) Sim

Renda familiar:

( )menos de salário mínimo

( ) 1 salário

( ) 1 a 2 salários mínimos

( )2 a 4 salários mínimos

( 4 a 5 salários mínimos

( ) mais de 5 salários

Exerce alguma atividade de trabalho?

Especificar:__________________________________________________________________

O (a) Sr(a) sente que tem dinheiro/ recursos suficiente para suas despesas?

Condições de saúde

Tem problemas de saúde? ( ) Não ( ) Sim Quais?

Utiliza alguma medicação? ( ) Não ( ) Sim Quais?

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Como você avalia as suas condições de saúde?

Condições sociais

Houve alguma reorganização, ou mudança na sua vida para que você pudesse cuidar do

idoso?

Como você desempenha as tarefas em relação à atenção e cuidado do idoso?

Como você lida com relação entre o seu relacionamento afetivo, com familiares e com

amigos e as responsabilidades advindas do cuidado do idoso?

O idoso exige de você alguma atividade exclusiva?

Como você ver responsabilidade em relação ao cuidado do idoso?

Há alguém com quem compartilha a responsabilidade em relação ao idoso?

O (a) Sr(a) sente que poderá cuidar do idoso(A) por muito tempo?

O (a) Sr(a) em algum momento gostaria de simplesmente deixar que outra pessoa cuidasse

do idoso(a)?

O (a) Sr(a) se sente em dúvida sobre o que fazer pelo idoso(a)?

O (a) Sr(a) sente que deveria estar fazendo mais pelo idoso(a)?

O (a) Sr(a) sente que poderia cuidar melhor do idoso(a)?

Você se sente reconhecido pelo trabalho que exercesse de cuidar do idoso (a)?

Qual sentimento leva você a cuidar do idoso?

Como avalia a capacidade de controle de sua vida e as tarefas assumidas devido ao cuidado

do idoso (a)?

Você tem tempo livre? O que você faz?

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