o corvo

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O CORVO (Edgar Allan Poe) Era uma noite, como agora Na meia-noite que apavora! Sozinho, em casa eu lia Um monte de história antiga. De repente, ouvi um barulhinho E levantei bem de mansinho Abri a porta, aqui atrás. E nada!!! Deve ter sido o vizinho Foi só isso e nada mais! A tempestade me assustava E eu lembrei da minha amada! A que está com Deus agora Minha querida Eleonora! Que deixou saudades imortais E que não esquecerei jamais! Então, outro barulho eu ouvi Pensei ter imaginado! E ri! Mas alguém batia na porta. Quem será? E o que te traz? Nessa chuva e nessa hora? Deve ser uma visita. É só isso, e nada mais. Eu disse: por favor senhor ou senhora Você chegou na hora do meu descanso Desculpe, mas não posso abrir agora Eu já estava no meu canto Não ouvi nada! Então tanto faz! Acho que desistiu e foi embora Foi só isso, e nada mais! Mas, na janela, algo bate e sussurra! Arranhando o vidro, na noite, na chuva Caminho, abro a janela e, de repente Um corvo entra assustadoramente! E no meu quarto, com a ave escura De tanto medo! Não mudei a postura! E eu disse: Ó ave da noite, o que a traz, O que desejas, como se chamas? E o corvo respondeu: Nunca mais! Vendo que o pássaro entendia A pergunta que eu fazia Fiquei muito impressionado! Porque ninguém antes tinha visto Algo parecido com isso. Uma ave fazer o que essa faz: Dizer que seu nome é “Nunca mais”! Mas a ave nada mais disse Como se a palavra que ouvi Toda a sua alma resumisse! Não disse mais nenhuma. E não mexeu sequer uma pluma. E, observando o corvo, pensei: “Deve ter poderes sobrenaturais” Criei coragem e então perguntei: Tinha tantos amigos, e tão leais Será que um dia ainda os verei? E o corvo respondeu: “Nunca mais”! Tremi com a resposta ouvida! Tão exata e tão na medida! Ah! São apenas ruídos normais Que fazem os corvos todo dia É o seu canto: “Nunca mais” Sentei na frente do corvo escuro Calado, na poltrona de veludo! Pensei no medonho segredo Daquelas palavras fatais Ditas pela ave do medo A terrível frase: “Nunca mais” Refletindo, encostado na poltrona Sentia o corvo me observando E de repente, me vi lembrando Da minha querida Eleonora! Ó, ave terrível, me diz agora Voltarei a ver a minha Eleonora Cujo coração não bate mais? E o corvo respondeu: “Nunca mais” Então, diga ave do horror Quando vou curar essa dor? Ele se aproximou mais e mais E então respondeu: “Nunca mais” Ave terrível, ave do mal! Volte agora para o temporal! Deixe agora o meu abrigo! Afaste de mim seus olhos fatais! E o corvo respondeu: “Nunca mais”! E na sombra de suas asas infernais, Permaneci sem nada falar Dali, jamais não vou levantar Não vou, nunca, nunca mais!!!!

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Page 1: O Corvo

O CORVO (Edgar Allan Poe)

Era uma noite, como agoraNa meia-noite que apavora!Sozinho, em casa eu liaUm monte de história antiga.

De repente, ouvi um barulhinhoE levantei bem de mansinhoAbri a porta, aqui atrás.E nada!!!Deve ter sido o vizinhoFoi só isso e nada mais!

A tempestade me assustavaE eu lembrei da minha amada!A que está com Deus agoraMinha querida Eleonora!Que deixou saudades imortaisE que não esquecerei jamais!

Então, outro barulho eu ouviPensei ter imaginado! E ri!Mas alguém batia na porta.Quem será? E o que te traz?Nessa chuva e nessa hora?Deve ser uma visita.É só isso, e nada mais.

Eu disse: por favor senhor ou senhoraVocê chegou na hora do meu descansoDesculpe, mas não posso abrir agoraEu já estava no meu cantoNão ouvi nada! Então tanto faz!Acho que desistiu e foi emboraFoi só isso, e nada mais!

Mas, na janela, algo bate e sussurra!Arranhando o vidro, na noite, na chuvaCaminho, abro a janela e, de repenteUm corvo entra assustadoramente!

E no meu quarto, com a ave escuraDe tanto medo! Não mudei a postura!E eu disse: Ó ave da noite, o que a traz,O que desejas, como se chamas?E o corvo respondeu: Nunca mais!

Vendo que o pássaro entendiaA pergunta que eu faziaFiquei muito impressionado!Porque ninguém antes tinha vistoAlgo parecido com isso.Uma ave fazer o que essa faz:Dizer que seu nome é “Nunca mais”!

Mas a ave nada mais disseComo se a palavra que ouviToda a sua alma resumisse! Não disse mais nenhuma. E não mexeu sequer uma pluma.

E, observando o corvo, pensei: “Deve ter poderes sobrenaturais” Criei coragem e então perguntei: Tinha tantos amigos, e tão leais Será que um dia ainda os verei?E o corvo respondeu: “Nunca mais”!

Tremi com a resposta ouvida!Tão exata e tão na medida! Ah! São apenas ruídos normaisQue fazem os corvos todo diaÉ o seu canto: “Nunca mais”

Sentei na frente do corvo escuroCalado, na poltrona de veludo!Pensei no medonho segredoDaquelas palavras fataisDitas pela ave do medoA terrível frase: “Nunca mais”

Refletindo, encostado na poltronaSentia o corvo me observandoE de repente, me vi lembrando Da minha querida Eleonora!

Ó, ave terrível, me diz agoraVoltarei a ver a minha EleonoraCujo coração não bate mais?E o corvo respondeu: “Nunca mais”

Então, diga ave do horrorQuando vou curar essa dor?Ele se aproximou mais e maisE então respondeu: “Nunca mais”

Ave terrível, ave do mal!Volte agora para o temporal!Deixe agora o meu abrigo!Afaste de mim seus olhos fatais!E o corvo respondeu: “Nunca mais”!

E na sombra de suas asas infernais,Permaneci sem nada falarDali, jamais não vou levantarNão vou, nunca, nunca mais!!!!