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Cascavel – PR – 21 a 23 de junho de 2010
O COOPERATIVISMO DE PRODUÇÃO E A CONTRIBUIÇÃO DA
COOPERATIVA C. VALE PARA O DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO E SOCIAL DO MUNICÍPIO DE PALOTINA (PR)
Área: Ciências Econômicas
Resumo
Este artigo objetiva apresentar os princípios cooperativistas e a contribuição da Cooperativa
Agroindustrial C.Vale para o desenvolvimento econômico do município de Palotina (PR). A pesquisa
pautou-se na revisão de literatura e na análise de dados secundários sobre o assunto, e no estudo de
caso da Cooperativa C. Vale. Tenta-se associar a sua função social em relação à valorização do
produtor e da propriedade, explicitando o seu papel no desenvolvimento socioeconômico local e
regional. Constatou-se que, no passado distante, o surgimento do cooperativismo legalmente
constituído se deu com a fundação da cooperativa de Rochdale. Já o cooperativismo paranaense tem
suas origens junto às comunidades de imigrantes europeus, mas a sua efetiva estruturação tem
influência de três fortes ondas colonizadoras regionais. As cooperativas são entidades de livre adesão
de pessoas que estejam aptas para participar do objeto para a qual foi constituída. Dessa forma, as
cooperativas agropecuárias exercem grande influência no meio rural e no desenvolvimento local. Os
resultados apontaram que a C.Vale é uma importante agente geradora de renda aos associados e estes,
por sua vez, fazem a utilização dessa renda na própria região. Isso se reflete no aumento do número de
empregados formais em Palotina a partir da instalação do Complexo Avícola em 1997.
Palavras Chave: Cooperativismo; C. Vale; Desenvolvimento.
1. INTRODUÇÃO
A trajetória histórica de um povo, bem como seu desenvolvimento, tem como ponto
de referência a agricultura. Vista como uma arte para as antigas civilizações (mesopotâmicos,
egípcios, incas, maias, astecas, etc.), o início da atividade agrícola é um marco histórico
importante. A partir de seu desenvolvimento, o homem deixou de ser nômade e passou a
estabelecer novas relações com o meio em que vivia, tornando-se sedentário. Tratada apenas
da forma extrativa durante séculos, a agricultura era uma atividade que se resumia apenas aos
atos de semear e colher. Somente depois dos avanços do sistema capitalista é que ela passou
por grandes transformações. De acordo com Silva (1998, p. 4), a atividade agropecuária deixa
de ser uma esperança ao sabor das forças da Natureza e torna-se uma certeza subordinada pelo
Capital.
É neste contexto que se inseriu a atividade agropecuária do Estado do Paraná. Uma
atividade que objetivava inicialmente a ocupação e a colonização do Estado, e, como afirma
Trintin (2006), a colonização agrícola do Estado ocorreu por distribuição das propriedades de
forma desconcentrada, favorecendo o surgimento de pequenas propriedades. Com o
desenvolvimento do capitalismo, essas pequenas propriedades, para serem competitivas,
necessitavam se reunir para aumentar seu poder no mercado. Foi nesse contexto que as
atividades cooperativas se inseriram no Paraná. Conforme Singer (2002), um grupo
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cooperativo deve ser capaz de, simultaneamente, preservar o tamanho dos pequenos
empreendimentos e eliminar as diferenças de rentabilidade, equalizando os resultados para o
grupo de cooperados.
Este trabalho tem por objetivo apresentar os princípios cooperativistas e a contribuição
da Cooperativa Agroindustrial C.Vale para o desenvolvimento econômico do município de
Palotina (PR), analisando os encadeamentos produtivos da variável emprego nesse município,
induzidos com a instalação do parque agroindustrial da referida cooperativa.
2. ELEMENTOS METODOLÓGICOS
A metodologia da pesquisa pode ser classificada de acordo com o objetivo que o
pesquisador deseja, enquadrando-se, de acordo com Richardson (1999), como: estudos
exploratórios, quando não se tem informação sobre determinado tema e se deseja conhecer o
fenômeno; estudos descritivos, quando se deseja descrever as características de um fenômeno;
e estudos explicativos, quando se deseja analisar as consequências de um fenômeno.
A metodologia empregada neste estudo tem caráter documental, exploratório e o
estudo de caso. Conforme Yin (2002), o estudo de caso é a verificação de um fenômeno atual
dentro da realidade pessoal. Uma dissertação associada ao estudo de caso torna-se um
importante método de pesquisa principalmente para investigar eventos fora dos limites do
laboratório e dos objetivos do conhecimento da ciência laboratorial.
Quanto ao objetivo e ao grau em que o problema de pesquisa está cristalizado, o
presente estudo foi caracterizado como descritivo, pois descreve a realidade como ela é sem a
intenção de querer modificá-la (RICHARDSON, 1999). Segundo Gil (1995), uma das
características mais significativas das pesquisas descritivas está na utilização de técnicas
padronizadas na coleta de dados.
Quanto ao procedimento documental, foi realizada a revisão de literatura sobre o
assunto e, no estudo de caso da Cooperativa C.Vale, na tentativa de associar a sua função
social em relação à valorização do produtor e da propriedade, explicitando o seu papel para o
desenvolvimento econômico.
Além disso, fez-se uma análise de dados secundários sobre o município de Palotina,
dados coletados principalmente dos seguintes bancos de dados: Instituto de Pesquisa
Econômica e Aplicada (IPEA), Relação Anual de Informações Sociais (RAIS)
disponibilizado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
3. HISTÓRICO SOBRE O COOPERATIVISMO
Nessa seção será apresentado um pouco da história e das origens do cooperativismo.
Primeiramente, é importante ressaltar que a palavra cooperativa deriva do latim cooperativus
– de cooperari, que significa cooperar, colaborar, trabalho com outros (DE PLÁCIDO &
SILVA, 2000, p. 222).
A cooperação sempre existiu nas sociedades humanas, desde as eras mais remotas,
estando associada às lutas pela sobrevivência, às crises econômicas, políticas e sociais, bem
como às mudanças. Os melhores exemplos de cooperação aparecem quando se estuda a
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organização social dos antigos povos, como babilônios, gregos, chineses, astecas, maias e
incas (SCHNEIDER, 1998).
O cooperativismo moderno surgiu junto com a Revolução Industrial, como forma de
amenizar os traumas econômicos e sociais que a Revolução Industrial trouxe com suas
mudanças e transformações nos sistemas de produção. O crescimento industrial, na sua
primeira etapa, fez com que os artesãos e os trabalhadores rurais migrassem para as grandes
cidades, atraídos pelas fábricas em busca de melhores condições de vida. Essa migração
resultou em excesso de mão de obra urbana, na exploração do trabalhador de forma abusiva e
desumana, com jornadas de trabalho de até 16 horas/dia, com baixos salários e baixa
qualidade de vida, obrigando mulheres e crianças a ingressar no mercado de trabalho, em
condições mais desumanas que a dos homens. Com o aumento da industrialização, o trabalho
manual passou a ser substituído gradativamente pela maquinaria, aumentando a exclusão
social e o excedente de mão de obra.
Nesse contexto, começaram a surgir reações contra a doutrina liberal e individualista,
como exemplo, as reações socialistas, o socialismo espiritualista, chamado utópico, e o
socialismo materialista ou científico, a partir de 1848 com o Manifesto Comunista de Karl
Marx. As correntes de pensamento que surgiram nessa época defendiam uma forma mais
igualitária na distribuição de bens, pois havia um grande anseio por que todos os
trabalhadores fossem beneficiados, de forma a contribuir para a diminuição da debilidade nas
condições de vida e de trabalho. Ganharam importância espaços que pudessem ser utilizados
para esse fim, e a ideia de formar cooperativas tomou força. A cooperativa, nessa concepção,
seria uma organização que pudesse facilitar o combate e a diminuição das desigualdades
sociais a partir da ideia de que a produção não poderia ser apenas de propriedade privada,
onde a eliminação de intermediários entre o produtor e o consumidor pudesse diminuir os
preços dos produtos (PINHO, 1966).
Dessa maneira, a exploração coletiva das terras poderia facilitar esse processo e,
consequentemente, contribuir para a emancipação dos trabalhadores, que deixariam de servir
a terceiros e passariam a produzir para si, tornando-se, assim, donos do resultado final de seu
trabalho. Era preciso encontrar novas alternativas, e o que parecia mais coerente naquele
momento era criar novos postos de trabalho que absorvessem a grande massa de trabalhadores
ociosos, e melhorar as condições de trabalho.
Foi então nesse contexto de extremas desigualdades sociais que surgiu a que se
considera a primeira cooperativa, a dos Pioneiros de Rochdale (Distrito de Lancashire, na
Inglaterra). Essa experiência bem sucedida deu-se graças às iniciativas próprias de 28
tecelões, que buscavam um meio de melhorar suas condições sociais e econômicas. A história
do cooperativismo registra que, em Rochdale, no dia 24 de dezembro de 1844, os Pioneiros
inauguraram um armazém, organizado e regido por normas estatutárias que, segundo Pinho
(1982), objetivavam: a formação de capital para emancipação dos trabalhadores, mediante
economias realizadas com a compra em comum de gêneros alimentícios, construção de casas
para fornecer habitação a preço de custo, criação de estabelecimentos industriais e agrícolas
com duplo objetivo (produzir direta e economicamente tudo o que fosse indispensável às
necessidades dos trabalhadores e assegurar trabalho aos operários desempregados), educação
e luta contra o alcoolismo (que era muito comum entre os trabalhadores), comercialização
(compra e venda) somente a dinheiro, para que os cooperados só assumissem compromissos
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dentro de suas possibilidades orçamentárias, e evitando o crédito, que consideravam um "mal
social", e, por fim, cooperação integral.
Embora a experiência dos Pioneiros de Rochdale tenha tido sucesso, é importante
deixar claro que nem todas as cooperativas que vieram após a de Rochdale tiveram a mesmo
êxito. Muitas dessas experiências não obtiveram sucesso principalmente devido às condições
políticas desfavoráveis, pois muitas delas eram fragmentárias e tinham pouca expressividade.
Elas se concentrarem em países de estrutura capitalista e conseguiram se multiplicar mais para
o final do século XIX e início e a partir do século XX, tornando-se mais importantes depois
do período da Primeira Grande Guerra (1914-1919). Ao mesmo tempo em que o meio
capitalista estava passando por varias transformações, muitas das cooperativas também
passaram por isso, portanto, frente à necessidade se adaptarem às transformações, muitas se
desviaram, em parte, dos fins doutrinários.
Cercada de forças, em sua grande maioria agressivas e desfavoráveis aos seus
interesses, as cooperativas precisaram harmonizar-se com o ambiente em que estavam postas.
Essa foi a condição primordial para continuarem a existir. Cabe deixar claro, também, que o
cooperativismo, desde o seu surgimento, sempre foi considerado uma alternativa aos modelos
socioeconômicos tradicionalistas, pois nasceu como um movimento popular autônomo e
acabou por preservar essa característica. E, sendo a experiência histórica testemunha dos
fatos, fica evidente que o sistema econômico dominante dificulta o desenvolvimento de
empresas que lhe são contrárias, levando-as a se corromper. O ambiente, além de pressionar
contrariamente o desenvolvimento do cooperativismo, implica, também, de maneira profunda,
interferências no funcionamento interno. Além de existirem os entraves de ordem externa,
resultantes do sistema vigente, organizado e fortalecido durante quase dois séculos de
experiências, nas cooperativas existem também os entraves internos, como a mentalidade
capitalista dos associados e dos próprios dirigentes, a falta de capitais, entre outros.
O cooperativismo está organizado em um sistema mundial, que busca garantir a
unidade da doutrina e da filosofia cooperativista. Além de defender os interesses do
cooperativismo pelo mundo, sua organização máxima mundial é a Aliança Cooperativa
Internacional (ACI), uma organização não governamental, independente, que reúne,
representa e presta assistência às organizações cooperativas do mundo inteiro. A ACI foi
fundada em 1895, por iniciativa de líderes cooperativistas ingleses, franceses e alemães, com
o objetivo de criar um órgão representativo mundial, que intensificasse o intercâmbio entre as
cooperativas dos diversos países, no campo doutrinário, no educativo e no técnico. A ACI
congrega mais de 800.000 cooperativas e 810.000.000 de cooperados. Sua sede fica em
Genebra, na Suíça.
A fundação da ACI foi precedida por intensos debates entre duas correntes. A
primeira era a da Hegemonia do Produtor, que pregava a transformação social por intermédio
das cooperativas de produção, que seria o instrumento de libertação dos trabalhadores
assalariados, com a participação dos funcionários nos lucros das empresas. A segunda era a da
Hegemonia do Consumidor, que pregava a transformação social pela organização das
cooperativas de consumo, pois entendiam que todas as pessoas são consumidoras e nem todas
são trabalhadoras, por isso as cooperativas de consumo são mais universais nos objetivos que
defendem e, portanto, atenderiam aos interesses de todas as pessoas.
De acordo com Schneider (1991), a influência de Charles Gide foi decisiva para que
a ACI acatasse a "Hegemonia do Consumidor" (que é a vitória da produção cooperativada de
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consumidores, com retorno proporcional às operações) em detrimento da "Emancipação do
produtor" ou produção de trabalhadores cooperativados, em retorno ao trabalho. Segundo ele,
as cooperativas de produção, apoiadas pelas cooperativas de crédito, pleiteavam apenas a
reconciliação entre o capital e o trabalho, gerando a paz social, defendendo somente os
interesses dos pequenos produtores da ameaça de se tornarem assalariados.
A representação do sistema cooperativista nacional cabe à Organização das
Cooperativas Brasileiras (OCB), sociedade civil, com sede em Brasília, que nasceu durante a
realização do IV Congresso Brasileiro de Cooperativismo em Belo Horizonte, no qual se
decidiu pela fusão da ABCOOP e da UNASCO e pela existência de apenas uma entidade de
representação do cooperativismo no Brasil. Estruturada nos termos da Lei Federal nº
5764/1971, foi definitivamente criada em 1971 para atuar como representante legal do
sistema cooperativista nacional e como órgão técnico consultivo ao governo, congregando as
organizações estaduais constituídas com a mesma natureza. Representa todos os ramos do
cooperativismo brasileiro, composto por mais de 7.518 cooperativas e mais de 6.791.054
cooperados (OCEPAR, 2008).
4. PRINCÍPIOS DO COOPERATIVISMO
Iniciada no ano de 1988, a revisão mais recente dos princípios cooperativistas só foi
concluída em setembro de 1995, no Congresso Centenário de ACI em Manchester, Inglaterra.
Essa revisão foi completamente diferente das primeiras e foi convocada para examinar as
mais profundas questões de identidade cooperativa, pois o crescimento quantitativo e
empresarial das cooperativas fez com que os valores básicos do cooperativismo fossem
substituídos pela eficiência econômico-administrativa e pela necessidade de encontrar
respostas eficazes aos crescentes desafios de um mercado extremamente competitivo e
monopolista devido à formação de grandes empresas multinacionais.
Oficialmente, a definição do termo cooperativa é aquela proveniente do Congresso
Mundial da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), ocorrido em Manchester, na Inglaterra,
em setembro de 1995, e pode ser assim formulada: Cooperativa é uma associação autônoma
de pessoas, unidas voluntariamente, para atender suas necessidades e aspirações
econômicas, sociais e culturais comuns, através de uma empresa coletiva e
democraticamente controlada.
A atualização dos "Princípios Cooperativistas dos Pioneiros de Rochdale" também
aconteceu no Congresso do Centenário da Aliança Cooperativa Internacional – ACI em 1995,
e é assim entendida:
1º) Adesão Voluntária e Livre: As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a
todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como
membros, sem discriminações de sexo, sociais, raciais, políticas e religiosas; democráticas,
controladas pelos seus membros, que participam ativamente na formulação das suas políticas
e na tomada de decisões.
2º) Gestão Democrática pelos Membros: As cooperativas são organizações
democráticas, controladas pelos seus membros, que participam ativamente na formulação das
suas políticas e na tomada de decisões.
3º) Participação Econômica dos Sócios: Os cooperados devem contribuir igualmente
para o capital de sua cooperativa, o qual é controlado democraticamente. Parte deste capital é
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propriedade comum dos cooperados. O restante poderá ser destinado para investimentos na
própria cooperativa ou para outras aplicações, sempre de acordo com a decisão tomada na
assembleia.
4º) Autonomia e Independência: As cooperativas são organizações autônomas de
ajuda mútua, controladas pelos seus membros. Se estas firmarem acordos com outras
organizações, incluindo instituições públicas, ou recorrem ao capital externo, devem fazê-lo
em condições que assegurem o controle democrático pelos membros e mantenham a
autonomia das cooperativas;
5º) Educação, Formação e Informação: As cooperativas promovem a educação e a
formação dos seus membros, dos representantes eleitos e dos trabalhadores de forma que estes
possam contribuir, eficazmente, para o desenvolvimento das suas cooperativas;
6º) Intercooperação: As cooperativas devem trabalhar em conjunto, por meio do
intercâmbio de informações, produtos e serviços, para atender melhor os seus associados e
fortalecer o Cooperativismo.
7º) Interesse pela Comunidade: As cooperativas trabalham para o desenvolvimento
sustentado das suas comunidades através de políticas aprovadas pelos membros.
Tendo apresentado brevemente o histórico do cooperativismo e seus princípios em um
contexto geral, apresenta-se, na próxima seção, o contexto cooperativista brasileiro.
5. O COOPERATIVISMO NO BRASIL
Verificando a historiografia, é possível encontrar dados a respeito do cooperativismo
brasileiro já no século XVII, mais precisamente a partir de 1610, com a formação das
primeiras reduções jesuíticas no Brasil, na região compreendida pela bacia dos Rios Paraguai,
Paraná e Uruguai; ocupando áreas de Guaíra, no Paraná; das Missões, no Rio Grande do Sul e
terras no Oeste de Santa Catarina, formaram-se Estados cooperativos integrais, onde tudo era
de todos e as necessidades eram atendidas de forma grupal, formando uma sociedade
solidária, fundamentada no trabalho coletivo, baseado na catequese divina e no auxílio mútuo
(PINHO, 1982, p. 30).
Podem-se encontrar também referências a fatos ocorridos entre os séculos XVII a
XIX, em Quilombos (que se formaram principalmente no Nordeste brasileiro), onde os
escravos fugidos também já praticavam alguma forma de cooperativismo.
No Estado do Paraná, as cooperativas agropecuárias, bem como as de outros ramos de
atividades, surgiram a partir da década de 1940, principalmente nas comunidades de origem
alemã e italiana, onde seus habitantes já eram conhecedores do Sistema Cooperativista
Europeu (OCB, 1993).
O movimento cooperativista demorou a ser aceito pelo povo brasileiro, isso devido à
desconfiança provocada por gestões ineficientes. Foi somente após 1960 que se iniciou um
movimento que redundou na fundação de várias cooperativas agrícolas, conservando, desde
essa época, os princípios que nortearam os operários de Rochdale.
O cooperativismo agrícola se desenvolveu com os crescentes desafios impostos pelo
governo no sentido de aumentar a produção de alimentos para consumo e para exportação,
cujos benefícios resultariam em melhores condições para o desenvolvimento dos centros
urbanos industriais, com isso tornando o país mais competitivo. Estas cooperativas prestam
serviços de vários tipos aos seus associados: recebem a produção para armazenamento,
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padronização, industrialização e venda; fornecem implementos para uso profissional, gêneros
de consumo e obtêm crédito junto aos bancos, para os associados.
Devido às particularidades do desenvolvimento político, econômico, social e cultural,
o cooperativismo brasileiro desenvolveu-se à sombra dos subsídios e do paternalismo do
governo, onde os interesses do poder econômico dominante prevaleceram sempre em
detrimento dos interesses dos pequenos e médios agricultores. Mesmo assim, com todas as
adversidades conjunturais, o cooperativismo brasileiro tornou-se um sistema organizado que
participa da maioria das atividades da vida humana (CORADINI & FREDERICO, 1982).
O movimento cooperativista agrícola brasileiro cresceu consideravelmente no início
do século XX em virtude da necessidade de comercialização da produção e do abastecimento
dos centros urbanos industriais, que cresciam rapidamente devido à industrialização. Até
então o cooperativismo era um instrumento dos pequenos produtores para enfrentar a ação
dos intermediários durante o período de comercialização dos excedentes da safra. O objetivo
inicial era a defesa da remuneração do trabalho familiar, uma vez que a agricultura
camponesa, nessa fase, não possuía nenhum instrumento de proteção (CORADINI &
FREDERICO, 1982).
A partir da década de 1930, com a crise econômica mundial, que provocou, entre
outras ações, o fechamento do comércio mundial, fazendo com que o café brasileiro ficasse
sem mercado, houve a necessidade de redirecionar o modelo de desenvolvimento econômico
brasileiro, no sentido de substituir a importação de bens duráveis pela industrialização. Isso
resultou, em 1932, na promulgação do Decreto Federal 22.239, que disciplinava a
constituição e o funcionamento das cooperativas, facilitando e simplificando a sua fundação e
isentando-as de uma série de impostos. A partir de então, o governo não só passou a regular a
constituição de cooperativas, como procurou a incentivar a sua criação e expansão
(VALADARES, 1990).
Assim, o cooperativismo agrícola deixou de ser um movimento legítimo dos
produtores, passando a ser um instrumento governamental, que procurava a organização dos
produtores agrícolas de acordo com os padrões do modelo de desenvolvimento econômico
adotado pelo governo.
Segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) em 2008, o país já
contava com cerca de 4.000 cooperativas congregando o sistema, em 11 diferentes segmentos,
com mais de 3.700.000 associados. O segmento mais importante do cooperativismo brasileiro
ainda é o do cooperativismo agropecuário de produção, que contribui muito para o
crescimento econômico das localidades onde as unidades cooperativas estão inseridas.
A Tabela 1 mostra a participação das cooperativas de produção agropecuária
brasileiras na produção de diversos produtos. A participação das cooperativas agrícolas na
produção de alimentos é bastante significativa, principalmente na produção de trigo, cevada,
aveia, algodão e soja. Este fato evidencia a importância das cooperativas na produção
agropecuária brasileira.
As cooperativas de produção, cooperativas operárias de produção ou cooperativas de
trabalhadores, segundo Pinho (1966), baseiam-se em uma espécie de síntese do modelo
rochdaleanismo e dos sistemas societários de Buchez, de Fourier (livre associação do
trabalho, talento e capital), de Louis Blanc e outros. Aos poucos foram se estruturando, com o
objetivo de eliminar o patrão, suprimir o assalariado e dar aos operários a posse dos
instrumentos de produção e o direito de disposição do produto de seu trabalho. Nesse ramo do
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cooperativismo, estão concentradas as cooperativas dedicadas à produção de um ou mais tipos
de bens e produtos, os meios de produção, explorados pelo quadro social, pertencem à
cooperativa e aos cooperados que formam o seu quadro diretivo, técnico e funcional.
TABELA 1 - Participação das cooperativas brasileiras na produção agrícola Produtos Agrícolas %
Trigo 62,2 %
Cevada 44,2 %
Aveia 39,2 %
Algodão 38,9 %
Soja 38,4 %
Batata 36,1 %
Suínos 31,1 %
Café 28,0 %
Alho 22,5 %
Uva 19,2 %
Milho 16,7 %
Arroz 11,4 %
Feijão 11,2 %
Fonte: OCB, in Folha de Londrina, Caderno Economia, 23/12/96
Nesse contexto, na próxima seção são feitas algumas considerações acerca do
cooperativismo paranaense.
6. O COOPERATIVISMO PARANAENSE
O Paraná é um Estado privilegiado, não só em aspectos naturais, como também em
produtivos. Seus campos férteis produzem um quarto da produção de alimentos (grãos) do
país. Os agricultores, através de uma ação consciente e preservacionista em lavouras de soja,
milho, trigo, café, algodão, feijão e arroz, entremeadas com criações de bovinos, de suínos, de
aves, com reservas florestais e com rios, garantem produtos puros de origem. O Estado é
exportador de matérias-primas como soja, farelo, óleo, café, milho, fios de algodão e de seda,
carnes de aves, de bovinos e de suínos, onde os produtos industrializados já representam
metade do valor exportado (COAMO, 2009).
Segundo a COAMO (2009), o cooperativismo paranaense deitou suas raízes nos
pioneiros esforços cooperativistas nas comunidades de imigrantes europeus, que procuraram
organizar suas estruturas de compra e venda em comum, além de suprir suas necessidades de
educação e lazer, através de sociedades cooperativistas. Foram os imigrantes que deram
significativo impulso ao cooperativismo estadual com as experiências bem sucedidas das
cooperativas de colonização, como Witmarsum, de Palmeira; Agrária, de Entre Rios; Batavo
e Castrolanda, de Castro, e Capal, de Arapoti, hoje verdadeiros exemplos de comunidades
rurais perfeitamente urbanizadas, economicamente prósperas e socialmente integradas às
condições de vida urbano-industrial no país.
Apoiado na doutrina e na filosofia cooperativista universal, o cooperativismo
paranaense contava, em 2008, com 500.129 mil cooperados, organizados em 238 cooperativas
registradas na Organização das Cooperativas do Estado do Paraná – OCEPAR (criada em
1971). Essas cooperativas agrupavam mais de 1,5 milhão de postos de ocupação, 55 mil
empregos diretos e envolvia 2,2 milhões de pessoas, o que equivalia a 20% da população
paranaense ligada ao cooperativismo em 2008. As cooperativas também participaram dos
diversos ciclos econômicos pelos quais o Paraná passou, expandiram fronteiras agrícolas e
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passaram a desenvolver-se também nas cidades. Atualmente, no Estado, existem cooperativas
nas mais diferentes áreas (saúde, trabalho, serviços, crédito, consumo, educação, habitação), e
até no ramo dos transportes, o mais jovem do cooperativismo brasileiro, que se articula para
tentar ser a vanguarda de um mercado que demanda cada vez mais soluções profissionais e
especializadas (OCEPAR, 2009).
Para compreender a capacidade empreendedora das cooperativas paranaenses, é
preciso voltar à década de 1970, quando praticamente toda a economia estava voltada para a
produção agropecuária. Naquela década as cooperativas se reorganizaram e passaram a ter
participação crescente na economia paranaense, baseada fortemente na produção
agropecuária. Também passaram a atuar no setor agroindustrial e absorveram diversas
empresas agropecuárias em liquidação, mostrando sua aptidão empreendedora e seu
compromisso com o setor, garantindo o recebimento e o processamento da produção dos
cooperados. Responsabilidade social e ambiental, geração de emprego e renda, promoção de
melhoria da qualidade de vida das pessoas, dinamização da economia e a expansão desta nas
comunidades onde está inserida, essa é a missão do cooperativismo paranaense. Inúmeras
ações objetivam a integração, a educação e a formação de milhares de cooperados e
colaboradores das cooperativas. Os investimentos sociais do sistema cooperativista
paranaense somam mais de 2 bilhões de reais/ano, segundo a OCEPAR. A responsabilidade
social das cooperativas é exercida através de projetos voltados ao aprimoramento cultural
artístico de lazer, saúde e às questões assistenciais, bem como em novos projetos e
tecnologias para melhorar os processos produtivos e agregar valor aos produtos e serviços dos
cooperados (OCEPAR, 2009).
Tabela 2 – Cooperativas do Paraná Registradas na OCEPAR – Dezembro 2008 Ramo Cooperativas Cooperados
Agropecuário 81 123.311
Crédito 66 346.695
Saúde 33 10.847
Transporte 19 2.373
Educacional 15 2.881
Trabalho 09 4.657
Infraestrutura/Eletrificação rural 08 7.985
Turismo e lazer 03 292
Consumo 01 950
Habitacional 01 96
Mineral 01 22
Produção 01 20
Total 238 500.129
Fonte: OCEPAR, SEAB
Como se pode observar na Tabela 2, as cooperativas agropecuárias (como é o caso da
C.Vale, objeto de estudo deste artigo) são as de maior número no Estado do Paraná e,
segundo a OCEPAR (2008), cerca de um terço dos produtores rurais paranaenses são
cooperados. A expressiva participação dos pequenos e médios produtores com área de até 50
hectares – nas cooperativas agropecuárias, representando 70% de seu total de 123.311
cooperados -- evidencia a importância das cooperativas para essa faixa de produtores. A
integração das cooperativas e a agregação dos interesses dos produtores rurais permitiram a
montagem de estruturas de armazenagem, apresentando mais de 54% de toda a capacidade de
estocagem instalada no Paraná (OCEPAR, 2008).
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São importantes instrumentos de difusão de tecnologias e implementadoras de
políticas desenvolvimentistas, como a difusão de crédito rural, armazenagem, manejo
integrado de pragas, manejo e conservação de solos, industrialização, entre outros. Além
disso, em vários municípios paranaenses -- como a C. Vale em Palotina, a Copacol em
Cafelândia, a Copagril em Marechal Cândido Rondon e a Lar em Medianeira --, essas
cooperativas assumem o papel de empresas mais importantes, as maiores empregadoras e
também as principais geradoras de receitas (OCEPAR, 2008).
Tabela 3 - Participação das Cooperativas na Produção Agropecuária do Paraná – Safra
2006/2007 Produtos Produção do Paraná (em toneladas) Participação das cooperativas – (%)
Cevada 120.520 100,0
Trigo 1.948.869 87,4
Soja 11.750.579 72,5
Algodão (em caroço) 25.903 55,8
Leite comercializado (1000 litros) 2.500.000 48,0
Milho (*) 14.258.086 46,3
Suínos 448.140 36,3
Triticale 93.340 35,8
Canola 4.236 33,9
Aves 2.130.000 23,6
Café em coco 97.389 19,0
Cana-de-açúcar 45.887.548 18,5
Aveia 288.793 13,3
Maçã 43.425 12,5
Arroz 174.258 8,8
Feijão 766.792 8,2
Mandioca 3.365.003 3,4
Fonte: OCEPAR, SEAB e IBGE, 2008.
(*) Participação das cooperativas na produção e comercialização
Conforme mostra a Tabela 3, as cooperativas participam ativamente na produção das
principais commodities do Estado, como no caso da soja com 72,5% e do milho com 46,3%,
mas também em vários outras atividades agropecuárias, como na produção de cevada,
representando 100% e no leite com 48%.
As cooperativas agropecuárias são muito importantes no sentido de que estão sempre
procurando implantar novos projetos, com o objetivo de agregar valor aos produtos primários,
aumentando assim, consideravelmente, o valor desses no mercado. O aumento da renda do
cooperado, que, por sua vez, pode reinvestir na atividade produtiva, garante, dessa forma, a
oferta de matérias-primas em níveis permanentes. É nesse contexto que ocorre o
desenvolvimento da comunidade na qual a cooperativa está inserida (OCEPAR, 2008).
O cooperativismo agrícola (agropecuário) é o que mais se tem destacado na geração
de renda e nas exportações brasileiras de produtos básicos agropecuários e
agroindustrializados (OCEPAR, 1996-a). Essas cooperativas, as agropecuárias, são as
responsáveis por exportar produtos elaborados para aproximadamente 70 países, o que gerou
ao Estado do Paraná, em 2008, uma receita superior a 1,5 bilhão de dólares (REVISTA
OCEPAR, 2009).
Na próxima seção serão abordadas informações a respeito da cooperativa de produção
agropecuária C.Vale, que, assim como algumas outras cooperativas paranaenses do mesmo
ramo, deixou de direcionar seus objetivos apenas à produção de alimentos e se inseriu na
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industrialização da produção, agregando mais esta atividade ao leque de serviços prestados a
seus cooperados (MENEGÁRIO, 2000).
7. O HISTÓRICO DA COOPERATIVA C.VALE
Como já foi enfocado acima, a origem do cooperativismo paranaense está ligada aos
grupos de imigrantes europeus no Sul do Brasil. O processo de colonização do extremo-oeste
paranaense, mais especificamente falando da colonização de Palotina (onde está a sede da
Cooperativa C.Vale), envolveu vários tipos de interesses, de cunho político-ideológico,
econômico-empresarial e também religioso, presentes durante o governo de Getúlio Vargas de
1930 a 1945 (FREITAG, 2001).
Para Freitag (2001), uma das características essenciais do extremo-oeste paranaense
foi o processo racional de ocupação e de uso do solo agrícola a partir da década de 1930. As
atitudes nacionalistas do governo Vargas, atreladas à sua política de segurança nacional,
encontraram terreno fértil junto aos grupos de intelectuais na época, que foram os
responsáveis, então, por construir aquilo que ficou conhecido como o sentimento de
brasilidade para a nação em seus limites territoriais, especialmente aqueles contíguos às
fronteiras internacionais.
Cooptados pela política varguista, esses intelectuais trabalharam em conjunto, com o
único objetivo – construir uma nacionalidade forte e coesa. Deram, assim, ao Estado Nacional
uma fisionomia econômica e sociopolítica no sentido de nação homogênea. Suas teorias
transformaram os territórios, considerados vazios demográficos, em espaços a serem
ocupados através de uma cruzada nacional.
A política de Marcha para Oeste foi um preciso exemplo desse processo. Foi política
elaborada crucialmente depois do golpe que instituiu o Estado Novo em 1937, visava firmar a
imagem de uma nação que tinha sua própria autonomia. A região do extremo-oeste
paranaense participou efetivamente desse processo chamado de Marcha para Oeste, com
políticos, pensadores e empresários (especialmente do Sul do país), já em meados da década
de 1930, considerando esta região como vazia, demograficamente falando, sendo assim uma
fronteira de importância vital a ser ocupada e colonizada para assegurar a segurança nacional.
Mesmo muito antes, ao final do século XIX, houve a fundação da Colônia Militar de
Foz do Iguaçu, com o objetivo na época de ocupar e de nacionalizar essa fronteira. Foi nesse
momento então que ocorreu o primeiro contato oficial brasileiro com as obrages -- grandes
unidades produtivas estrangeiras de extração de madeira e de erva-mate, produtos explorados
e remetidos aos Mercados do Prata por grupos econômicos argentinos. Esses grupos se
introduziram na região e possuíam o capital necessário para o desenvolvimento das atividades
de exploração em suas propriedades, enquanto que os paraguaios faziam parte da mão de obra
dessas grandes unidades produtivas. Argentinos e paraguaios, naquele momento,
representavam um grande perigo às instituições nacionais e à política nacionalista. Aliados
então, os governos federal e paranaense tinham como objetivo principal nacionalizar essa
região de fronteira internacional. A ocupação dos vazios demográficos no extremo-oeste
paranaense ocorreu, no entanto, décadas depois e feita principalmente por descendentes de
ítalos e teuto-brasileiros sulistas, que tinham por tradição o trabalho em pequenas
propriedades policultoras. Foram eles a base fundamental para a realização das políticas
nacional e estadual de Marcha para Oeste. A ocupação da fronteira extremo-oeste paranaense
Cascavel – PR – 21 a 23 de junho de 2010
ocorreu como expansão interna. A política getulista forneceu o substrato ideológico pela via
do nacionalismo, provocada pela expressiva presença de estrangeiros nessa área. E, mesmo
que a efetiva construção e ocupação do território hoje constituído pelo município de Palotina
tenha se concretizado, somente na década de 1950, ele foi resultado das preocupações que
foram apontadas e que tiveram início na década de 1930 (FREITAG, 2001).
Nesse processo (a partir da década de 1930) estavam inseridas empresas colonizadoras
de capital privado. A Companhia Pinho e Terras Ltda. foi a empresa que colonizou a região
de Palotina. A empresa procurou criar elementos atrativos à migração, tendo em vista a
estrutura de povoamento revestida de um teor sociocultural, e um grande instrumento
utilizado foi a propaganda. Era preciso despertar nas pessoas o interesse em adquirir terras
nessa região, criaram-se expressões do tipo “nova terra”, “novo mundo”, reportagens em
jornais e correspondências também foram usadas como tática de propaganda, mas é
importante frisar que o interesse dos colonos se deu também por meio de um canal condutor
alimentado pela religiosidade. O catolicismo era uma das exigências básicas da Companhia,
que se comprometia com os colonos a fim de fornecer, aos núcleos colonizatórios, assistência
religiosa e educacional (FREITAG, 2001).
A colonização de Palotina iniciou-se no ano de 1953, quando ainda pertencia ao
município de Guaíra. Os seus pioneiros eram descendentes de alemães e de italianos e vieram
principalmente dos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. O nome Palotina é
uma homenagem aos Padres Palotinos (religiosos e corretores uniram fé à atividade
econômica e construíram uma sociedade singular, em consonância com os interesses
econômicos da empresa colonizadora Pinho e Terras) (BIPP, 2009).
O crescimento acelerado da população permitiu a sua oficialização enquanto
município sob a Lei Estadual nº 240, de junho de 1960. O primeiro censo de Palotina,
realizado em 1970, mostrou um número de 43.005 pessoas no município, das quais 5.252
residiam na zona urbana e 37.753 na zona rural (BIPP, 2009).
A falta de locais para armazenar a produção, as dificuldades para o escoamento da
safra e a ausência de assistência técnica levaram um grupo de 24 agricultores a fundar, em 7
de novembro de 1963, a Cooperativa Agrícola Mista de Palotina Ltda. (primeiramente
denominada Campal). Mas obstáculos no acesso ao crédito impediram que a Campal iniciasse
sua estruturação. O início efetivo das atividades da cooperativa ocorreu em 1969, com o
recebimento de trigo em armazém de um moinho de Palotina. Em 1970 foi finalizada a
construção do primeiro armazém da Campal. O rápido crescimento da produção levou a
Campal a iniciar a fase de estruturação física, com a construção de unidades para recebimento
de cereais no município de Palotina.
Com a divisão territorial da região Oeste entre as cooperativas, a Campal passou a
atuar além das fronteiras do município, o que levou os associados a modificar a razão social
da empresa, em 1974, para Cooperativa Agrícola Mista Vale do Piquiri Ltda. (Coopervale).
Com uma grande produção de trigo, a Coopervale implantou, em conjunto com outras
cooperativas, o Moinho Cotriguaçu, em 1992 (C. VALE, 2009).
8. C.VALE E A SUA AGROINDUSTRIALIZAÇÃO
A C.Vale é uma cooperativa de produção agropecuária com atuação no Paraná, Santa
Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraguai. As atividades da cooperativa
Cascavel – PR – 21 a 23 de junho de 2010
concentram-se no segmento agroindustrial, e destacam-se na produção de soja, milho, trigo,
mandioca, leite e suínos. Atua na prestação de serviços, com mais de 150 profissionais que
dão assistência agronômica e veterinária aos associados. Para manter os cooperados
atualizados tecnologicamente, desenvolve cursos, palestras, treinamentos e dias de campo.
Também financia a produção, garantindo crédito aos cooperados, especialmente aos
pequenos produtores. A empresa também comercializa insumos, peças, acessórios e revende
máquinas agrícolas, assegurando preços mais competitivos aos associados. Produz semente de
soja em Santa Catarina, que é comercializada em todo o Brasil. Além disso, a cooperativa
mantém uma rede de supermercados, com seis lojas no Paraná e no Mato Grosso.
A cooperativa incentiva a produção de leite como alternativa de renda para seus
associados. Desde 1983, a cooperativa mantém um Departamento Veterinário para orientar os
pecuaristas sobre manejo e tecnologias que melhorem o desempenho da atividade. A
produção de leite é entregue à Frimesa, em Medianeira (PR), empresa da qual a C.Vale é
sócia, que o industrializa e comercializa.
Foi a partir de 1995 que a cooperativa colocou em prática um plano de modernização
destinado a tornar a empresa mais competitiva no mercado agroindustrial e a iniciar o
processo de agregação de valores aos produtos primários.
A agroindustrialização começou em outubro de 1997, quando foi inaugurado o
complexo avícola, com alta tecnologia para a produção de frangos. Foi o primeiro sistema de
integração avícola brasileiro, em escala comercial, a utilizar processos automatizados para o
controle de ambiência. Outro aspecto importante da atividade está na rastreabilidade da cadeia
produtiva. A cooperativa mantém um sistema informatizado que permite o acesso aos
procedimentos utilizados para a produção da matéria-prima (soja e milho), passando pela
fabricação da ração, manejo e industrialização das aves. O objetivo é garantir a segurança
alimentar aos consumidores da carne de frango.
A agroindustrialização ampliou-se em 2002 com o início das operações de uma
amidonaria em Assis Chateaubriand. Em 21 de novembro de 2003, uma alteração estatutária
mudou a razão social de Cooperativa Agrícola Mista Vale do Piquiri Ltda. (Coopervale) para
C.Vale -- Cooperativa Agroindustrial. Também nesse ano a cooperativa colocou em operação,
uma Unidade Produtora de Leitões (UPL) no Distrito Floresta, em Palotina. A unidade abriga
3.470 matrizes, que produzem 1.600 leitões por semana, num total de 84.000 animais/ano. Os
animais são entregues aos associados, que fazem a engorda e os enviam para a
industrialização. Na fase final, a UPL terá 14.200 matrizes e produzirá 1.420 leitões por dia.
Assim, a C.Vale dispõe de um processo de crescimento e expansão contínua, procurando
sempre diversificar suas atividades tendo em vista conquistar espaços no mercado e ampliar
as margens de lucros.
Em 2004 começaram as obras de ampliação do abatedouro de aves (inaugurado em
outubro de 1998), e também a construção da indústria de termoprocessados de aves, obras que
foram inauguradas no dia 8 de abril de 2005. A capacidade de produção passou de 150 mil
para 500 mil aves/dia. Essa expansão beneficiou o município de Palotina, principalmente
quando se fala em ocupação de mão de obra, como será apresentado na próxima seção.
Conforme foi apresentado, a C.Vale financia a produção, garantindo crédito aos
cooperados, comercializa insumos, peças, acessórios, revende máquinas agrícolas, produz
sementes de soja e mantém uma rede de supermercados, ou seja, trata-se de uma empresa com
diversificação horizontal.
Cascavel – PR – 21 a 23 de junho de 2010
O desempenho da C.Vale, nos cinco primeiros meses de 2009, está sendo superior ao
do mesmo período do ano anterior. Os indicadores econômicos e sociais mostram que, apesar
da crise econômica internacional e dos problemas climáticos sobre a safra de verão em 2009,
a cooperativa segue crescendo, embora a um ritmo menor que em 2008. Esse conjunto de
fatores permitiu que a C.Vale fechasse os cinco primeiros meses de 2009 com faturamento
bruto (soma da vendas) de R$ 961 milhões, cerca de 8% a mais que no mesmo período de
2008.
A melhoria do desempenho econômico está sendo acompanhada por benefícios
sociais. Em 2009, 220 novos postos de trabalho já foram abertos, o que elevou para 4.930 o
número total de funcionários da cooperativa. O número de associados subiu para 8.296 e a
arrecadação de tributos alcançou R$ 35,5 milhões (REVISTA C.VALE, 2009).
Esses números apresentam o cenário positivo analisando a cooperativa como um todo,
com sua atuação em todos os municípios de abrangência. Cabe perguntar: -- Especificamente
em Palotina, quais foram os impactos sociais (na geração de empregos) e econômico, gerados
pela C.Vale? A próxima seção objetiva responder a esses questionamentos.
9. CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DE PALOTINA
Conforme mencionado em seção anterior, o município de Palotina foi emancipado na
década de 1960. A partir dos dados disponibilizados pelos censos demográficos do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município perdeu parte significativa de sua
população a partir de 1970.
Gráfico 1 – População total, urbana e rural do município de Palotina – 1970/2007
43.005
28.253
30.705
24.78325.771
27.545
5.214
12.854
19.70018.537
20.740
23.086
37.791
15.399
11.005
6.2465.031 4.459
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
35.000
40.000
45.000
50.000
1970 1980 1991 1996 2000 2007
Total Urbana Rural
Fonte: IBGE, 2009.
Conforme mostra o Gráfico 1, no ano de 1970, a maior parte dos 43.005 habitantes
estavam situados na zona rural do município, representando cerca de 87,87% do total. Esse
cenário começa a se alterar rapidamente a partir dessa década. Em 1980, duas características
Cascavel – PR – 21 a 23 de junho de 2010
são visualizadas: a primeira é a redução da população total em 34,30% em relação a de 1970 e
a segunda é o aumento da participação da população urbana no total, passando de 12,12% em
1970 para 45,50% em 1980.
A partir de 1980, a população urbana ganha cada vez maior destaque, sendo superior à
população rural já em 1991. Apesar do aumento da população total de 1980 a 1991, e da
diminuição posterior em 1996, de 1996 até 2007 a população total vem crescendo de forma
contínua. Nesse período, o crescimento da população total foi de 11,14%, sendo o
crescimento da população urbana a maior responsável por esse desempenho. No mesmo
período, a população urbana apresentou crescimento de 24,54%, enquanto a população rural
diminuiu em -28,61%.
Quando se analisa o comportamento do número de empregados formais do município
de Palotina, verifica-se uma estabilidade do crescimento do total de empregados até o ano de
1997. Comparando o desempenho setorial e total de 1985 até 1997, verifica-se que o total de
empregados diminuiu -19,16%, e os desempenhos setoriais foram, na sua maioria, modestos.
Em 1996, os setores que mais empregavam eram: o comércio com 782 empregados, a
administração pública com 640 e a agropecuária com 506.
Tabela 4 - Número de empregados formais no município de Palotina, por setores – 1985-2008
Ano
Ind. de
prod.
minerais
não met.
Ind.
metal. e
mec.
Ind. de
prod.
aliment.
Const.
civil
Outras
ativ. ind. Comércio
Transp.
e
comum.
Serv. de
aloj. e
aliment.
Adm.
Pública Agrop.
Outras
ativ.
terciárias
Total
1985 45 58 27 52 152 1.518 126 245 625 444 444 3.736
1986 73 86 41 83 160 1.509 146 248 626 458 398 3.828
1987 58 95 37 127 143 1.448 185 255 646 445 596 4.035
1988 68 93 123 76 153 1.349 184 274 652 433 804 4.209
1989 65 83 55 65 157 1.403 205 249 739 451 762 4.234
1990 61 73 66 64 168 1.185 193 392 719 390 740 4.051
1991 45 36 67 29 148 1.064 190 403 764 367 701 3.814
1992 49 37 118 21 140 963 144 272 565 374 745 3.428
1993 60 46 142 39 164 951 150 250 582 363 1.044 3.791
1994 59 46 99 94 158 1.045 160 229 594 566 1.005 4.055
1995 55 47 68 104 92 934 145 612 464 608 309 3.438
1996 47 58 175 74 98 782 147 154 640 506 339 3.020
1997 68 72 530 114 127 901 135 276 438 544 346 3.551
1998 68 69 184 92 135 1.688 124 250 418 332 393 3.753
1999 58 73 174 91 127 1.793 135 259 424 331 359 3.824
2000 44 97 879 77 131 1.275 163 306 428 415 377 4.192
2001 41 129 1.392 53 175 1.389 165 303 446 539 423 5.055
2002 50 193 1.586 83 212 1.520 182 382 504 557 463 5.732
2003 67 160 1.692 122 215 1.581 210 384 504 555 496 5.986
2004 65 160 1.901 207 229 1.857 235 408 544 547 616 6.769
2005 78 107 2.872 182 215 1.861 253 430 596 578 603 7.775
2006 98 68 2.679 179 309 1.873 278 411 581 550 539 7.565
2007 109 101 3.160 188 340 1.988 310 410 637 613 503 8.359
2008 91 125 3.302 134 312 2.144 333 447 641 638 540 8.707
Fonte: RAIS, 2009.
A partir do ano em que a Cooperativa C.Vale inaugura seu complexo avícola, a
situação do emprego setorial começa a se alterar. Inicialmente é possível verificar um
aumento contínuo no número total de empregados. Somente entre 1996 até 1997 esse total
cresceu 17,58%, estimulado principalmente pelo setor das indústrias de produtos alimentícios,
que apresentaram 202,86% de aumento nesse mesmo período.
Cascavel – PR – 21 a 23 de junho de 2010
O interessante é que o aumento no setor das indústrias de produtos alimentares foi
acompanhado pelo desempenho positivo de outros setores, como, por exemplo, os setores do
comércio, de transporte e de comunicação, de serviços de alojamento e alimentação, e da
agropecuária.
O resultado desse processo foi que em 2008 a hierarquia dos setores que mais
empregavam em Palotina se alterou completamente. Nesse ano, a ordem dos principais
setores era: as indústrias de produtos alimentares com 3.302 empregados (ou 37,92% em
relação ao total), o comércio com 2.144 (ou 24,62%), o setor da administração pública com
641 (ou 7,36%), e o setor da agropecuária com 638 empregados (e representação de 7,33% do
total).
De 1997 a 2008 todos os setores apresentaram crescimento no número total de
empregados. Os principais destaques foram para o setor das indústrias de produtos
alimentares com 523,02%, das outras atividades industriais com 145,67%, do setor de
transportes e comunicação com 146,67% e do comércio com 137,96%.
A justificativa para o crescimento associado dos setores supracitados é encontrada na
afirmação de Hirschmann (1985), que identifica os conceitos de encadeamentos para frente e
para trás. Esse autor afirma que esses encadeamentos se evidenciam principalmente através do
crescimento interdependente e respectivo de certas indústrias fornecedoras e compradoras de
insumos de uma determinada indústria (central), bem como dela própria. Hirschmann reforça
que a importância desses efeitos deveria ser analisada por meio de dois enfoques principais: o
primeiro diz respeito aos produtos potencialmente induzidos em outros setores pelo
investimento inicial, enquanto que, no segundo, deveriam ser analisadas as probabilidades de
que esses novos investimentos, corporificados em ampliações da capacidade das empresas ou
na criação de outras, realmente aconteçam.
Sendo assim, ao buscar caminhos que possam apontar os encadeamentos, o autor
propõe que os encadeamentos para frente de um determinado setor sejam medidos pela
proporção de seu produto total destinado às outras indústrias, e não à demanda final, enquanto
que, para o efeito de encadeamento para trás, através da medida da porcentagem de seu
produto, que representa compras de outros produtos do mesmo setor e/ou de outros setores
(HIRSCHMAN, 1961, p. 150-161).
O autor menciona ainda que o caminho mais eficiente de crescimento deve ser aquele
onde possam ser combinados os efeitos de encadeamento para trás e para frente
(HIRSCHMAN, 1961). A partir disso, entende-se que encadeamento para trás é o resultado de
um crescimento autônomo de um determinado setor, motivado basicamente por causa de um
novo investimento ou pelo aproveitamento da capacidade produtiva previamente existente.
Nesse tipo de encadeamento existe a indução do crescimento de outros setores a ele
relacionados, graças, principalmente, às pressões de demanda. Nos encadeamentos para
frente, o motivo de sua ocorrência é a existência de um aumento da produção de um
determinado fator que provoca a elevação da produção de outros setores em virtude do
excesso de oferta do produto do setor inicial (RIPPEL, 1995).
No caso analisado neste artigo, pode-se fazer uma analogia com a teoria apresentada
de Hirschmann. A partir do momento em que a C.Vale realiza os investimentos necessários
para a construção do seu complexo avícola e começa a utilizá-lo, ela necessita continuamente
da matéria-prima, de transportar e de comercializar os produtos finais e, com isso, dinamiza o
setor rural, que produz os frangos e os suínos, e o setor de comércio e serviços para
Cascavel – PR – 21 a 23 de junho de 2010
transportar os produtos. Além disso, os próprios setores rural e terciário vão aumentar sua
demanda de produtos diversos, e, com isso, dão continuidade nesse efeito multiplicador.
Os gráficos ajudam a comprovar essa afirmação, mostrando que, na prática, em
Palotina ocorreram efeitos de encadeamentos para trás e para frente após a implantação do
Complexo Avícola da C.Vale no município.
Gráfico 2 – Produto Interno Bruto (PIB) setorial do município de Palotina – 1970/2006
0,00
50.000,00
100.000,00
150.000,00
200.000,00
250.000,00
300.000,00
350.000,00
400.000,00
1970 1975 1980 1985 1996 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
R$
de 2
00
0 (
mil
)
PIB Total PIB Indústria PIB Serviços PIB agrop.
Fonte: IPADATA, 2009.
O Gráfico 2 mostra o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do município de
Palotina entre 1970 a 2006, e notam-se algumas características interessantes do município. A
primeira delas era a expressiva participação do PIB agropecuária em 1970 e a pequena
participação do setor industrial nesse mesmo ano.
A segunda é a inversão da hierarquia dos principais setores responsáveis pela
produção setorial municipal no ano de 1996. A partir desse ano, ganha destaque, e sempre
crescente, o setor dos serviços, seguido pelos setores agropecuário e industrial, característica
que continua até o ano de 2003.
De 2003 em diante, o setor da agropecuária perde cada vez mais sua participação no
PIB total, sendo compensado pelo crescimento contínuo do PIB industrial e de serviços, mas
que, mesmo assim, não conseguem evitar a diminuição do PIB total a partir desse ano. Essas
informações mostram que, se não fosse o comportamento do PIB industrial, e de serviços, o
desempenho do PIB total de Palotina poderia ter sido muito mais negativo. Partindo do
pressuposto de que a C.Vale é uma das indústrias que mais emprega e que mais gera
produção, pode-se afirmar que ela tem ajudado o município a manter o dinamismo dos setores
industrial e de serviços.
Cascavel – PR – 21 a 23 de junho de 2010
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A história do cooperativismo faz parte da evolução da humanidade. Ela se revela
diante das dificuldades e lutas que os homens encontraram e travaram no dia a dia para sua
sobrevivência e defesa de sua dignidade. É uma história ligada à economia daqueles que
cooperam, que, apoiados em sua doutrina, buscam a produção e a distribuição daquilo de que
necessitam ou que desejam para viver. O cooperativismo surge como uma atividade humana
concreta, que leva a marca histórica de cada época em que ela ocorre. Por isso, pode-se falar
de diferentes práticas cooperativas ao longo da história da Humanidade.
A formação do pensamento cooperativista representa a busca de construir um
cooperativismo autêntico, fiel aos seus princípios e adaptável sempre às mudanças e às
transformações que ocorrem no meio político, social e econômico das nações. Tal atualização
é coordenada pela ACI, que procura acompanhar os princípios cooperativistas estabelecidos
em Rochdale, mesmo dentro de uma economia de mercado.
Embora não constituindo um “remédio milagroso para todos os males”, o
cooperativismo produtivo objetiva reunir homens (e não capitais) e, por isso, permanece
aberto a qualquer um, sem discriminação de religião, de raça ou de patrimônio. A
preocupação com o bem-estar do associado, essencial na doutrina cooperativista, visa
melhorar as condições de vida do homem e não simplesmente criar uma organização
econômica.
Essa seria a diferença básica entre as cooperativas e as empresas capitalistas, que se
preocupam primeiramente com o lucro. As cooperativas, ao contrário, se preocupam com o
homem, sem se importar com o capital de que ele dispõe, o seja, o capital do associado não
influi no exercício dos seus direitos. O cooperado pode utilizar os serviços da sociedade; pode
votar e ser votado e isso significa que, mesmo tendo o menor número de cotas-partes, pode vir
a ser administrador da cooperativa.
A distribuição dos lucros na sociedade capitalista é proporcional ao capital de cada
um; na cooperativa, as sobras são distribuídas em proporção às operações praticadas pelos
associados com a cooperativa, isto é, de acordo com a utilização dos serviços. Disso decorre
uma posição moral bem definida por parte da cooperativa em suas operações, mesmo com
terceiros. Os associados procuram fazer uma rigorosa fiscalização, seja através do constante
contato com a cooperativa, seja nas assembleias gerais ou ainda através do conselho fiscal,
que não é, como nas sociedades anônimas (mero apêndice da diretoria), com seus membros
escolhidos entre não acionistas, amigos e empregados. O conselho fiscal das cooperativas é
formado por associados que têm suas responsabilidades perfeitamente definidas perante a
sociedade e os demais associados.
Todos esses elementos fazem da cooperativa uma sociedade única, que alia os
objetivos econômicos aos sociais e que atua inspirada em princípios morais, ou seja, os
princípios de Rochdale, não porque tenham sido apenas os Pioneiros de Rochdale que os
criaram, mas porque foram eles que os formularam como verdadeiro programa doutrinário,
posteriormente aperfeiçoado pela prática e pelos estudos da doutrina.
Além de descrever os aspectos gerais do cooperativismo, este artigo procurou
também fazer uma análise a respeito das relações que existem entre cooperativismo e
desenvolvimento econômico por meio do estudo de caso da cooperativa C.Vale. Essa
instituição é vista como uma das principais agentes geradoras de desenvolvimento econômico
Cascavel – PR – 21 a 23 de junho de 2010
em Palotina-PR, pois promove renda aos associados e estes, por sua vez, fazem a utilização
dessa renda na própria região. Isso pode ser observado com maior intensidade a partir de
1997, no número de empregados formais, quando houve a instalação do Complexo Avícola. A
cooperativa também é a empresa que mais gera postos de trabalho e arrecadação de impostos
no município de Palotina. No contorno da verticalização da produção, a cooperativa em
questão ainda propicia, de forma direta ou indireta, o desenvolvimento social e econômico da
localidade onde está inserida. Sendo assim, ao analisar o histórico da C.Vale, foi possível
perceber que, além do aspecto econômico e comercial (principal motivo pelo qual o produtor
se torna associado), o vínculo torna-se viável também por laços que não são apenas de âmbito
econômico, mas que perpassam esse espaço, expandindo-se para o social. Assim, para
garantir a manutenção do cooperado como associado dessa cooperativa, foi necessária a
criação tanto da confiança como da credibilidade, que se complementam e garantem os
vínculos entre cooperativa e cooperado.
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