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O CAMINHO MISSIONÁRIO DE DEUS Uma Teologia Bíblica de Missões C. Timóteo Carriker

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O CAMINHOMISSIONÁRIO DE

DEUS

Uma Teologia Bíblicade Missões

C. Timóteo Carriker

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Coordenação EditorialJudith RamosBilly Viveiros

Tradução

RevisãoJudith RamosBilly Viveiros

Editoração EletrônicaIberê Romani

Capa

Impressão

Todos os direitos reservados à Editora SepalCaixa Postal 202901060-970 – São Paulo – SPFone: (011) 523.2544Fax: (011) 523.2201E-mail: [email protected] page: www.editorasepal.com.brNenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida sem autorização escrita daeditora. Versão bíblica empregada: Nova Versão Internacional (NVI).

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SUMÁRIO

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Igreja: Por quê Me Importar?

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VELHOTESTAMENTO

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Igreja: Por quê Me Importar?

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O povo de Deus, durante toda a sua história, foi sempre sujeitoa crises que ameaçavam sua sobrevivência. Por vezes a crise era externa:uma conquista, um cativeiro ou uma dominação política ou cultural.Em outras ocasiões a crise era interna: o compromisso com outrasreligiões, ou a negligência de seu dever diante de Deus ou de seu papelentre as nações. Apesar destes perigos e falhas, Deus sempre semanifestou fiel em seu relacionamento especial com o seu povo erealizou seus propósitos para com o mundo fosse a despeito da falha doseu povo ou até em confronto com ele. Somente esta fidelidade de Deus,a sua graça, garantiu a sobrevivência do seu povo.

Cerca de 1220 anos antes de Cristo, numa inscrição na qualMernepta, rei do Egito, relata as vitórias militares obtidas no correr doseu reinado, encontramos a mais antiga referência feita aos israelitasfora do Antigo Testamento: “Israel está desolado, não possui maisnenhuma semente”. Pouco menos de quatro séculos depois, encontramosoutra afirmação pelo rei Mesa de Moabe: “Israel pereceu totalmente,para sempre”. Como nos dias de hoje, os poderosos exageravam no quediziam sobre a sua força e eficácia sobre os povos que dominavam. Ahistória relembrada e relatada “de baixo para cima”, nos mostra outroângulo. Israel sobreviveu, pois Deus tinha um propósito universal pararealizar através dele.

A Bíblia, Palavra de Deus, também é palavra recitada pelo povode Deus, chamado para uma tarefa de repercussão e significadouniversais. Nem sempre, aliás pouco, este povo foi fiel a estechamamento que era a própria base da sua existência. Portanto, não sóas forças políticas e externas ameaçaram sua sobrevivência, mas tambéma sua própria compreensão, ou falta de compreensão, da sua verdadeiraidentidade diante de Deus e no meio das nações. A sobrevivência e

RAÍZES NA BÍBLIAMISSÃO NO MUNDO

Como percebê-las pelo estudo da Bíblia?

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dinamismo do povo de Deus dependia fundamentalmente dacompreensão da sua vocação missionária, e do seu compromisso comela. A Bíblia relata os sucessos e os fracassos desta história.

A crise de vocação permanece até hoje. A identidade e a própriasobrevivência do povo de Deus, no Velho bem como no NovoTestamento, estão diretamente relacionadas à sua compreensão de seupapel no mundo e ao seu compromisso com este papel. É uma crise deidentidade e de missão. É mister que o povo de Deus sempre volte àBíblia para reexaminar as bases da sua identidade e vocação a fim demelhor realizá-las dentro do seu contexto específico e atual. A igreja,em todo lugar e em cada período, precisa sempre repensar sua identidadee tarefa no mundo à luz da Bíblia e em referência ao seu contextoespecífico e atual.

Percebendo a tarefa do povo de Deus pelo estudo da Bíblia

A mera existência da Bíblia já é um dado profundamentemissionário. A comunicação de Deus nas Escrituras é evidência do seuamor e da sua preocupação para com a humanidade. Doutra sorte, nãohaveria necessidade de revelação para o mundo. Ao receber a Bíblia, omundo já sabe que Deus se preocupa com ele e, ao lê-la, o amor e opropósito salvador de Deus para com o mundo se revela. As própriasEscrituras já são um instrumento da missão de Deus no mundo e nahistória.

A Bíblia como uma tapeçaria completa. Surge então umdesafio: Se a Bíblia possue um propósito missionário e nela o povo deDeus encontra o devido papel para sua missão, como pode o povo deDeus melhor estudar a Bíblia e assim conhecer a revelação de Deus?Um método comum e popular trata a Bíblia como uma “mina”,procurando textos de prova para apoiar uma perspectiva predeterminada.Se queremos ouvir da Bíblia e não de antemão ler nela apenas aquiloque queremos ouvir, este método não servirá. O que propomos é ummétodo um tanto diferente: Queremos perceber a estrutura básica damensagem bíblica em seu desdobramento mais amplo, a fim de discerniras nuanças do texto em relação à tarefa do povo de Deus no mundo.

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Desta forma, não buscamos na Bíblia referências apenas para legitimara nossa perspectiva e atuação ou até mesmo os nossos programaseclesiásticos. Pelo contrário, queremos ouvir o julgamento da Palavrade Deus e mudar aquilo que não corresponde à vontade de Deus quantoà missão do seu povo.

E não queremos nos perder nos detalhes de tal forma que “nãoenxerguemos a floresta porque olhamos demais as árvores”.Certamente os detalhes são importantes. Neste sentido, a compreensãomais acertada de passagens bíblicas específicas sempre deve ser onosso ponto de partida. Entretanto, pelo menos nestes estudos quepropomos em seguida, o nosso enfoque, para usar outra analogia, estána tapeçaria toda, a fim de ver o padrão na tecelagem toda, e não emcada fio ou parte menor. Mais uma vez, tanto a visão ampla quanto asvisões específicas e mais detalhadas são importantes para o processomaior de compreender a Bíblia. Entretanto, nos estudos que se seguem,adotaremos a estratégia da visão maior que procura o “fio da meada”ou os enredos principais dos textos.

Isto significa que alguns pontos de partida, fundamentais paraoutras maneiras de estudar a Bíblia, não servirão nessa nossa ótica.Por exemplo, nas últimas décadas têm surgido cada vez mais técnicase metodologias para uma análise cada vez mais histórica da Bíblia.Ainda há debate animado, mesmo que sem conclusões definitivas,nalguns destes setores sobre os resultados e conclusões destas técnicase metodologias. Nosso conhecimento de detalhes da vida do povo deDeus através das Escrituras, e até mesmo nossa interpretação dosignificado disto, se desenvolveu muito a partir destes estudos que sepreocupam com os dados históricos. Entretanto, a Bíblia não foiorganizada seguindo os critérios da história, pelo menos não os critériosmodernos e ocidentais da história. Antes, pela sua própria organização,ela apresenta uma mensagem. Por isso, julgamos como tarefa digna aleitura desta mensagem na ordem, não em que ela foi escritaoriginalmente, mas na ordem na qual, através dum longo processo elafoi eventualmente compilada e celebrada no culto do povo de Deus.Obviamente as questões históricas são importantes e não podem serignoradas. Devem nos auxiliar. Não serão, entretanto, o nosso pontode partida.

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Nosso propósito, portanto, é antes literário que histórico.Queremos ouvir a mensagem destes textos antigos. A compreensão daleitura é o que importa. Só um aviso: o entendimento do texto não équestão de “esclarecer o leitor sobre as coisas difíceis que a Bíblia conta”,como diz o biblista Carlos Mesters. Ao invés disto, “é corrigir a falhaque existe na nossa visão” (1993:19). E a finalidade de corrigir a nossavisão é a de ouvir as respostas que esta mensagem antiga contém paraas perguntas e os desafios que vivemos hoje no Brasil. Assim queremosver as nossas raízes na Bíblia a fim de exercermos com mais fidelidadea nossa missão no mundo.

Antes de começar, porém, cabem algumas dicas para uma leituraproveitosa da Bíblia.

Métodos de estudo da Bíblia. Uma leitura proveitosa requertodo o nosso ser (Marcos 12.30; Mateus 22.37; Lucas 10.27). Não éum processo apenas intelectivo. Envolve o corpo, a mente, o coração,todo esforço, até mesmo nosso espírito.

Envolve o corpo, porque requer a nossa atenção e respostafísica. A postura, o tipo de cadeira que se usa quando se lê, o horário ea frequência—todos estes fatores fisiológicos de atenção—influem nobom aproveitamento. O corpo responde à leitura também, pela tensãoem relação a uma palavra dura recebida; ou pela alegria, a agitação dasmãos e a dança dos pés em relação à celebração e o louvor dum salmoou doxologia.

Uma leitura proveitosa da Bíblia envolve a mente, porque requerinterpretação. A interpretação exige, por sua vez e ao máximo possível,abertura para receber novas idéias e novos desafios. É claro queimparcialidade total é uma ilusão. Todos nós, pela formação cultural,eclesiástica e social, temos as nossas predisposições de leitura.Entretanto, precisamos nos dispor a ouvir, sempre de novo, a mensagemque a Bíblia nos traz, inclinar os ouvidos ao sopro do Espírito que ainspirou e ainda hoje a aplica.

Especificamente, cabe levar em consideração três momentosda passagem estudada: o ante-texto, o con-texto, e o próprio texto. Oprimeiro momento consiste em conhecer as situações históricas, sociaise espirituais que geraram o texto. Qual foi a realidade do povo naquele

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tempo e naquele lugar que provocou a composição do texto? Quanto aisto, as enciclopédias, os dicionários, e os comentários bíblicos podemesclarecer dúvidas geográficas, biográficas, cronológicas e culturais.Algumas edições da Bíblia trazem introduções gerais à cada livro,notas de roda-pé e referências a outros textos afins.1

No segundo momento repara-se o contexto maior da passagem,o que vem antes e o depois do texto. Aqui entra o trabalho da teologiabíblica, o olhar mais distante, o exame de pedaços inteiros da tapeçaria,os temas principais que entrelaçam livros inteiros da Bíblia.

Finalmente é preciso atentar para o texto em si, ler as linhascom cuidado onde as coisas aparecem com mais clareza, e asentrelinhas, onde o leitor atual se imagina no lugar do leitor antigo.Na tarefa de ler as linhas, a comparação de traduções diferentes podetrazer esclarecimento sobre a linguagem. Aliás, quanto à linguagem,o leitor não deve confundir a expressão contemporânea da linguagemcom a fidelidade da tradução. Uma versão cuja linguagem é mais atuale flue com facilidade pode muito bem ser também uma tradução fielao texto original, mas não necessariamente.

Para ler as entrelinhas o leitor deve observar a maneira que oargumento do autor se estabelece, especialmente o seu próprio uso detextos bíblicos anteriores ao seu escrito. Frequentemente o autor deum livro bíblico cita ou alude a outra passagem bíblica. O apóstoloPaulo faz isto muito, especialmente na sua carta aos Romanos.Geralmente um rodapé indica as citações ou alusões mais óbvias.Quando isto ocorre, o leitor fará bem em ler a passagem citada juntocom o contexto da passagem citada. Desta forma, a preocupação e assutilezas do autor que faz a citação se tornam muito mais evidentes.

Uma leitura proveitosa da Bíblia envolve o coração, porqueabrange tanto a expressão dos escritores antigos quanto requer umaresposta expressiva de nós, os leitores atuais. A primeira expressão, ados escritores antigos é conhecida principalmente reparando a formado texto estudado. É narrativa, poesia, doxologia, instrução, oraçãoou provérbio? Percede-se ironia ou impaciência? Revela surpresa ouêxtase, ou é lei? Prestar atênção à forma nos ajuda também a percebermais integralmente o significado e responder mais afetivamente a ele.Assim, o texto é não só entendido como também sentido. A exclamaçãoinvocaria surpresa, a doxologia o culto, a oração reverência, a exortação

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certo temor, e o encorajamento a serenidade.

Ainda quanto à forma, repare no uso de linguagem figurativa eda metáfora, não a nossa interpretação figurativa mas as figuras que oautor usa na transmissão da sua mensagem. Por exemplo, quando Paulonos exorta de vestir-nos com toda a armadura de Deus, está obviamenteempregando uma figura de linguagem. Não está se referindo a trajesfísicos, e sim, às características de cada peça da armadura que elemenciona.

Tais expressões literárias originais requerem uma respostaexpressiva da nossa parte, os leitores. Esta resposta expressiva procededa meditação e da “ruminação” da leitura. A prática de meditar nasEscrituras pode nos auxiliar muito a prestar atenção ao texto bíblico.Gastar tempo contemplando, relembrando e repetindo com calma eatenção o texto é exercício. Antes da interpretação e da resposta exige-se silêncio e pausa. Só depois de prestar atenção a uma passagemrepetidas vezes é que começamos a absorver o seu significado.

Ainda seguindo a analogia de Marcos 12.30, a leitura proveitosada Bíblia envolve o nosso espírito e o nosso esforço porque nasce dumasede intensa da Palavra de Deus e requer obediência. A sede intensa daPalavra de Deus procede da nossa fé e da nossa esperança em JesusCristo (2 Timóteo 3.15; Romanos 15.4). Portanto urge ler o texto comtais fé e esperança. Pode-se argumentar com boa razão que não hácompreensão da Palavra sem a prática da Palavra (Salmo 19.1-4, 7-11;Lucas 6.46-49; 8.19-21). A mística da meditação, e a medidaracionalidade das palavras se encontram aqui, no momento do exercícioe do compromisso; quando a Palavra ouvida, compreendida e sentidano íntimo se transforma em missão assumida e transformadora.Digamos, “faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lucas 1.38).

Finalmente, é necessário dizer que a leitura proveitosa da Bíbliapressupõe uma leitura comunitária. É a comunidade do povo de Deusque quase sempre determina o primeiro destinatário.2 Os textos bíblicoseram lidos e relidos no contexto da comunidade do povo de Deus. Assim,são leituras para o povo de Deus através de toda a história, inclusivenos dias de hoje (1 Coríntios 10.11; Romanos 15.4). Como tais requeremuma leitura não apenas e não primeiramente individual. Esta observaçãoé urgente porque frequentemente o estudo da Bíblia é tratado como sefosse um exercício apenas individual e particular. Quem sabe a influência

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do valores ocidentais da liberdade e democracia se desembocaram naapreciação da leitura privada em contra-posição a leitura comunitária.Seja como for, urge voltar à uma leitura que se coadune com a intençãoda composição destes textos antigos, a intenção de uma leituracomunitária. Assim há maior possibilidade de prevenir-se deinterpretações pretenciosas. Necessitamos da perspectiva de diversasclasses etárias e sociais, até de tendências teológicas diversas, tanto dasmulheres quanto dos homens, todos dentro da comunidade do povo deDeus (Gálatas 3.28; Atos 2.17-18).

Uma orientação final de Carlos Mesters3 é perspicaz:

Quando você faz leitura orante, o objetivo último nãoé interpretar a Bíblia, mas sim interpretar a vida. Não éconhecer o conteúdo do Livro Sagrado, mas sim,ajudado pela Palavra escrita, descobrir a Palavra vivaque Deus fala hoje em sua vida, na nossa vida, na vidado povo, na realidade do mundo em que vivemos(Salmo 95.7)...

Vamos assim embarcar nesta aventura e nesta caminhada deleitura da Bíblia!

1veja em primeiro lugar a Biblia Vida Nova. Também são utéis as ajudas da Bíblia naLinguagem de Hoje e da Bíblia de Jerusalém.2A qualificação, “quase”, se deve à observação que, às vezes, o destinatário é o próprio Deus,como no caso de muitos salmos. Entretanto, mesmo nestes casos, o destinário também é opovo de Deus na medida que tais expressões de louvor, contrição, confissão, earrependimento, servem como paradigma de expressões semelhantes do povo de Deus hoje.3“Reflexões sobre a mística que deve animar a leitura orante da Bíblia” na revista EstudosBíblicos, número 32, 1991, p. 103.

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IMCUMBÊNCIAE QUEDA

Gênesis 1-3

A missão do povo de Deus encontra as suas raízes maisprofundas na missão de Israel. Esta, por sua vez, se baseia intimamenteno plano redentor de Deus para toda a humanidade, como encontradonos relatos da criação. Aqui é evidente que desde o início, a mensagembíblica é universal e, por esta razão, missionária.

Os relatos da criação têm, como seu tema inicial, a ordem nacriação, e ainda mais especificamente, o reino de Deus que dá sentido àordem criativa. Este é o tema que permanece através de todo o escopoda Bíblia e que é fundamental para a compreensão da nossa tarefa nomundo. Examinaremos brevemente os relatos da criação encontradosprincipalmente em Gênesis 1 e 2, detendo-nos mais naqueles aspectosque pertencem particularmente à missão de Deus ao mundo e ao papelda humanidade nesta. Destacaremos que nada menos que toda a criaçãoé o objeto da preocupação de Deus.

O contexto maior. Antes da nossa análise da criação emGênesis 1 e 2, repararemos o seu local maior dentro dos primeiros onzecapítulos. Resumimos: no princípio, Deus criou os céus e a terra, isto é,tudo. Toda a criação tem sua centralidade e finalidade na humanidade.Em Gênesis 2, o homem surge do meio das criações de Deus, é seucentro. Enquanto isso, em Gênesis 1, o homem é o ápice da criação, suafinalidade. Entretanto, a humanidade não compreendeu sua centralidadee responsabilidade (Gênesis 3) e, por conseqüência, se alienou de Deus.O resultado alcançou proporções catastróficas não apenas para a raçahumana, como também para toda a criação (Gênesis 4-6). O julgamentoinevitável e necessário veio através do dilúvio (Gênesis 7-8); contudo,depois e através dele, Deus permaneceu fiel à sua criação e à humanidadepelo fato de ter poupado alguns, simbolizando uma nova criação (Gênesis

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8-9). Apesar disto, gerações posteriores novamente manifestaram a suanatureza caída culminando no episódio da torre de Babel. De novo, ojulgamento de Deus se estendeu a toda humanidade, mas essa vez nãocom um dilúvio, e sim com a dispersão da humanidade sobre toda aterra em alienação mútua (Gênesis 11).

Até esta altura, Deus se relacionava com todos os povos domundo. Mas, no capítulo 12 encontramos um enfoque específico deDeus numa só nação, a nação de Israel. O relacionamento de Deus como mundo das nações em Gênesis 1-11 se torna o pano de fundo para ahistória de Israel, que começa com os patriarcas e, particularmente,com o chamamento de Abraão. A partir do capítulo 12, lemos sobre arestauração da unidade e da comunhão anteriormente perdidas equebradas entre Deus e a humanidade. Neste sentido, Gênesis 12.3 setorna fundamental para a história da humanidade. “Abençoarei os quete abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem. Por ti serãobenditas todas as famílias da terra”. Assim como a desobediência deum homem determina o destino da humanidade no relato da criação,também a eleição e a obediência por parte de um homem provoca umoutro destino para a humanidade no início do relato da restauração.

...toda a história de Israel nada mais é do que acontinuação do trato de Deus com as nações e que,portanto, a história de Israel só pode ser entendida naperspectiva do problema não resolvido da relação deDeus com as nações. (Johannes Blauw 1966:19)

Israel, apenas uma entre muitas nações. Que o propósito deDeus é ligado à criação toda através das nações pode ser afirmado nãosomente observando-se a seqüência de eventos relatados em Gênesis1-11, como também pelo fato de Israel ser descrito como uma só entremuitas outras nações. A lista na Tabela das Nações (Gênesis 10) nemsequer menciona Israel. Está no “lombo de Arfaxade”, isto é, está ocultonum nome de insignificância histórica. No próximo capítulo lemos queum dos descendentes deste era Terá, pai de Abrão. Portanto, Israel nãopoderia se ver como foco das nações, mas só deduzir que era apenasuma das nações na história. De fato, era o primeiro povo a se reconhecer

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como apenas uma nação. Todos os outros impérios, como o Egito e aBabilônia, pensaram em si como o universo todo. Israel, então, segundosuas próprias Escrituras Sagradas, reconhece que sua origem biológicanão era diferente de qualquer outro povo gentio (veja também Ezequiel16.3). Não possui nenhum status sobrenatural nem por nascimento, nempela sua história primitiva.

Portanto, Israel aceitou sua condição não como o propósito finalde Deus, mas como seu meio de redenção, eventualmente, para todas asnações. Esta consciência de Israel ser uma entre muitas nações concluia história da criação e, por conseqüência, a história universal. Todas asnações são o alvo da preocupação e do propósito divinos. As naçõesfazem parte integral do drama da obra e atividade de Deus. Não sãomeros enfeites incidentais no cenário da criação. Os atos de Deus sãodirigidos para toda a humanidade no relato do início da história comotambém o relato comovente de seu fim, o livro de Apocalipse. O Deuscriador habita entre nós na pessoa de Jesus Cristo, o Alfa e o Ômega.Ele não abandona a sua obra até que “toda língua e nação” e “umamultidão sem número” se reúna ao redor de seu trono (Apocalipse 5.9-10 e 7.9-17). Deus está abrindo um caminho através das atividades dehomens e mulheres na história, a fim de realizar seus alvos entre asnações. E este palco tão amplo quanto a criação e todas as nações já éestabelecido no contexto maior dos relatos da criação de Gênesis.

A estrutura dos relatos. Até mesmo a estrutura dos relatos dacriação em Gênesis ressalta o propósito de Deus para toda a criaçãoatravés da humanidade, das nações.

1. Adão. Observamos já a centralidade de Adão nos relatos.Adão aqui, como em outros trechos bíblicos (1 Coríntios 15), se referetanto a um nome próprio de um indivíduo quanto a um termo genéricosignificando a raça humana. No relato da criação, o que se fala de Adãotambém tem significância para toda a humanidade; e o que se fala dahumanidade no relato de Gênesis 1 é a temática de ordem e do reino deDeus (veja a figura seguinte).

2. Ordem. De fato, todos os relatos da criação no VelhoTestamento salientam a dependência completa de Deus para a ordemterrestre (Josué 10.12; Juízes 5.20; Gênesis 49.25; Êxodo 15.8,11;

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Números 16.30;Deuteronômio 33.14ss;Jeremias 31:35-36 eSalmo 29 e 8). Aconstrução ordeira dacriação sobressai emProvérbios 8.22-36como a arquitetura dasabedoria personificada.Também, a ordem éimediatamente evidenteno relato de Gênesis 1 daação inicial de Deussobre e contra todo ocaos (compare Gênesis1.2 com Isaías 45.18!).Essa ordem, ou subor-dinação da criação,continuamente recebe destaque em vários salmos, especialmente Salmo18.7-15. A obediência, que é exigência inerente à ordem, é pré-requisitopara a habitação harmoniosa na criação (Isaías 66.1-3). Por isso, a quedada própria criação e a desordem conseqüênte em Gênesis 1 e 2, foiresultado da desobediência.

A forma que o tema adquire já foi sugerida pela idéia do reinode Deus (que então liga os relatos da criação de Gênesis 1 e 2 e Gênesis17.6,16). A restauração da criação também é compreendida através daidéia do reino de Deus. E o ponto fundamental da idéia do reino é avinda do Rei Jesus (Isaías 9.6,7; Lucas 1.32-33); e a sua consumação éa criação dum novo céu e uma nova terra. O tema do reino de Deusesclarece a ordem definida em Gênesis 1 e 2. Reparamos este temaquando empregamos uma análise tópica, ao invés de uma análisecronológica ou ao invés duma análise que pressupõe que o relato sejapura invenção.

Alguns estudiosos tendem a tratar os relatos de Gênesis 1 e 2como pura invenção sem nenhuma relação com acontecimentoshistóricos. Isto parece-lhes a única solução a tantas incompatibilidadescom a ciência moderna. Por outro lado, outros estudiosos que forçam

TÍTULO"no princípio Deus criou o céus e terra"

Dia 1:luz e trevas

Dia 2:céu e águas

Dia 3:terra e mares

Dia 4:luzeiros(sol, lua e estrelas)

Dia 5:aves e peixes

Dia 6:animais

a humanidade:homem e mulher

Dia 7:Deus

governarem

povoarem

restejarem

governar

descansar

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uma seqüência restritamente cronológica nos relatos acabam propondointerpretações fantásticas que só podem ser imposições ao texto.

Sugerimos que tanto a perspectiva cronológica quanto a deinvenção partem de conceitos contemporâneos e ocidentais do tempo eda história, em contraposição aos conceitos hebraicos antigos. Nosrelatos da criação, Israel não estava interessado na natureza física dacriação em si, como nós hoje em dia procuramos entender pela ciêncianatural a origem das coisas. Para Israel, o relato da criação era importanteà medida que explicava seu relacionamento com o plano de Deus, paraeste mundo todo. Isto é, devemos entender os relatos topicamente, otópico sendo o propósito de Deus para a sua criação, ou maisprecisamente, o reino de Deus.

Desta perspectiva, Deus primeiro cria três grupos básicos dereinos, ou domínios, durante os primeiros três dias. Nos próximos trêsdias, Deus cria os reis para governarem nos reinos, anteriormentecriados. O último rei a ser designado (constituindo a primeira GrandeComissão!) é o homem, que recebe o mandato representativo e realcomo governador-administrador sobre todos os outros reis e reinados.Por representativo, quer dizer que a humanidade foi criada por Deus àsua imagem (çelem) e semelhança (dêmûth), isto é, segundo a sua espécie(Gênesis 1.26,11).

O importante no relato, então, é ressaltar o propósito da criaçãodo homem, e não tanto a forma que assumiu. Semelhantemente, o relatose importa mais com o propósito do resto da criação, do que com aforma e com a natureza desta origem em si, sendo estas últimas,preocupações da ciência moderna.

3. A imagem de deus no ser humano. A humanidade tem umchamamento representativo para reinar como Deus reina. Por esta razão,o ser humano é não somente o servo do Senhor, como tambémrepresentante dele. Assim como Deus faz, o representante deveria fazer,refletindo as características do Criador. Nisto, a realeza e o domínio deDeus são refletidos no domínio e na administração apropriados dahumanidade sobre a criação. A função que a imagem de Deus no serhumano tem, portanto, é exatamente o que o texto bíblico elabora emGênesis 1.28, “ter domínio” (râdhâh) e “sujeitar” (kôbhash) a terra.Isto é o seu status como senhor no mundo. Deus coloca a humanidadeno mundo como sinal da sua soberania.

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Igreja: Por quê Me Importar?

O Salmo 8 concorda com este conceito de Gênesis 1 de que ahumanidade realiza sua comissão como rei do reino terrestre, assimcomo Deus é Rei do reino celeste, e o status do ser humano sendo porum pouco menor do que Deus. Daniel Thambyrajah Niles, teólogo emissionário indiano ilustra esta relação da seguinte forma:

O homem é a única criatura que Deus fez cujoser não está em si mesmo, e que por si mesmo não énada. A “canicidade” do cão está no cão, mas a“humanidade” do homem não está no homem. Está nasua relação com Deus. O homem é homem porquereflete Deus, e somente quando ele assim o faz[tradução] (1958:60-61).

Desta forma, a ética bíblica é fundamentalmente uma ética deimitação. Essencial e unicamente os seres humanos são capazes deresponsáveis de imitar Deus no nível de criatura. Aliás, em toda a Bíblia,a imitação de Deus precede tanto cronológica quanto logicamente aobediência à lei, embora estes dois fundamentos não sejam mutuamenteexclusivos. O modelo ético cristão de imitação também é intimamenteligado à doxologia. Pois, adoramos a Deus pelas Suas característicasdignas de louvor, e, ao fazê-lo, empenhamos-nos, nós mesmos, ememular tais características. É por isso que a imagem de Deus no serhumano é tão essencial para definir a própria natureza da humanidadee ao mesmo tempo estabelece os parâmentros do seu comportamento.O ser humano é homo Dei, ou está aquém da sua própria humanidade.

Em síntese, Iahweh tem um propósito escatológico para toda acriação (Deus finaliza com um novo céu e uma nova terra em Apocalipse21.1 como começou com os céus e a terra em Gênesis 1.1!). Seurepresentante para a reordenação da sua criação é a humanidade redimidaque leva a benção de Deus a toda a criação. Esta tarefa escatológica dereordenar a criação se baseia na intenção original de Deus que o serhumano, como imitador de Deus e “rei-criador”, deve ordenar oudominar os “reinos” e “reis” que o Rei-Criador criou. Agora, devemoselaborar esta tarefa.

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O mandato cultural

A imagem de Deus imputada no ser humano, a de “reinar” ou“dominar”, que é constatada em Gênesis 1.26, é elaborada logo depoisnos versículos 27 e 28. O versículo 27 esclarece que esta tarefa pertenceao homem no sentido genérico, isto é, ao homem e à mulher. Somenteos dois juntos realizam a primeira ordenança de Deus, e nenhum dosdois só, é capaz de realizá-la. Esta pequena observação já possui grandesimplicações tanto para o machismo quanto para o feminismo, pois ohomem ou a mulher que se impõe um contra o outro, o faz contra ointento original de Deus. A dominação do homem sobre a mulher éresultado claro da queda e do pecado (Gênesis 3.16) e não o propósitooriginal de Deus. Quando, então, o homem e a mulher são redimidos, oseu relacionamento volta a ser primeiro um de mútua sujeição sob otemor de Cristo (Efésios 5.21). Somente dentro do contexto desta mútuasujeição e tarefa comum dos dois que uma submissão funcional damulher ao marido faz sentido, pois a autoridade do marido écaracterizada não pela imposição e opressão, e sim, pela auto-entrega esacrifício, baseado no modelo de Jesus e a igreja.

Somos constrangidos a reforçar isto, já que a própria históriado povo de Deus confirma e até destaca o importante papel de mulheresno avanço do reino de Deus.

Como o versículo 27 esclarece quanto aos sujeitos da imagemde Deus no homem, o versículo 28 esclarece quanto ao conteúdo dafunção dada ao homem de “dominar” a criação. Elabora a imagem deDeus no homem em três áreas de responsabilidade e administração: asua experiência social e familiar (“multiplicar”, “encher”, “dar nome”);a responsabilidade econômica e ecológica (“sujeitar”, “cultivar”,“guardar”) e o governo (“dominar”, “dar nome”). Estes mandamentos(Gênesis 1.28; 2.15, 18-25) marcam o início de uma série de obrigações:o mandato para a família e a comunidade, a lei e a ordem, a cultura e acivilização que se alarga e se aprofunda ao longo do desdobramento darevelação divina. Deste modo, Deus chama a humanidade para o papelde vice-regente sobre o mundo; todos devem participarresponsavelmente nesta tarefa.

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Igreja: Por quê Me Importar?

Dois mandatos. Dietrich Bonhoeffer, um teólogo luterano,distingue entre quatro mandatos ou instituições nesta tarefa: de trabalho,de casamento, de governo e de igreja. Abraham Kuyper, seguindo aperspectiva reformada, resume estes mandatos em dois: o cultural (paraa humanidade toda) e o redentor (para a humanidade redimida). OMandato Cultural chama toda a humanidade a participar na ordenançae na administração da criação, isto é, na obra da civilização e da cultura.O Mandato Redentor, que começa a surgir a partir de Gênesis 12 e quese torna explícito com a vinda de Jesus, chama o povo redimido deDeus a participar com ele na missão da redenção. São dois mandatos:um horizontal e outro vertical.

A queda

Nos relatos da criação de Gênesis, as marcas do paraíso são abeleza, a utilidade e o teste moral (as árvores). Neste contexto, o serhumano poderia escolher, segundo o seu livre arbítrio, ou a favor doseu relacionamento de dependência e subordinação a Deus como vice-regente sobre a criação, ou a favor de um relacionamento de auto-suficiência e separação de Deus, dependendo do mundo criado em vezque do Criador pelo seu conhecimento, suas satisfações e seus valores,e rejeitando as diretrizes de Deus em vez de ser subordinado a elas. Ahumanidade optou pela separação.

Sua natureza. A tentação do ser humano, criatura e vice-regente, era de passar os limites que definiram a sua humanidade eusurpar a posição de Deus, o Criador e Rei-Senhor. Deixando dereconhecer as ordens de Deus, a humanidade, de fato, desafia a própriadivindade de Deus, pois nega-lhe a sua soberania absoluta. Quando ohomem nega a divindade de Deus, põe em perigo a sua própriahumanidade. Pode-se dizer, então, que a natureza do pecado é dedesumanizar a humanidade. O objetivo, então, da redenção, será deverdadeiramente humanizar o ser humano, não no sentido do ser humanopecaminoso, e sim no sentido do ser humano original. Humanizar évoltar às origens humanas. Não é deixar de ser uma criatura humana e,sim, tornar-se uma nova criatura, um novo homem.

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Quando o ser humano deu ouvidos à serpente, uma criatura,deliberadamente rejeitou a sua responsabilidade de controlar e dominar osseres viventes. Assim, renunciou a sua função como vice-regente e serecusou a cumprir o mandato cultural sob a direção de Deus e para a Suaglória. Agora, o homem exploraria o mundo para os seus próprios interesses.A corrupção e a falsidade, enfim, a desordem, entrou em cena e a própriacriação, junto com o homem, caiu. “Por um só homem entrou o pecado nomundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos oshomens porque todos pecaram” (Romanos 5.12).1

Seus resultados. Como resultado da queda, o homem tende paraa desintegração e a desordem, isto é, para o caos. Esta é a conseqüência emtodos os seus relacionamentos: com Deus (3.10), no matrimônio (3.12),entre irmãos (4.8) e no ambiente (3.17-19).

Mesmo assim, apesar da introdução do pecado no mundo, emhipótese alguma a soberania e o controle de Deus são comprometidos.Assim que o homem caiu, Deus asseverou Sua soberania e pleno controleda história. O próprio julgamento mostra a soberania de Deus: a serpenteteve que se arrastar, a mulher se sujeitar ao seu marido, e o homem, exiladodo jardim, teve que depender mais de Deus. O resto da Bíblia revela amaneira como Deus procura o objetivo que tinha para o homem desde oinício.

Ainda em vigor depois da queda. Apesar da queda, o mandatocultural não foi anulado, embora o labor do homem tenha adquiridouma dimensão dolorosa pela disciplina divina (Gênesis 3.17-19). Ohomem continua a “sujeitar” e “cultivar” a terra mas, agora pelo suordo seu rosto, labuta numa terra resistente e rebelde. Sua responsabilidadeeconômica e ecológica se desenvolve na arquitetura urbana, na pecuáriarural, na arte cultural e na metalurgia tecnológica (4.17-22).

Imediatamente depois do dilúvio, o mandato cultural foireafirmado e até ampliado (9.1-10). A sucessão do mandato continua ese desenvolve na instrução de Deus no Sinai, através dos profetas e dosapóstolos e do próprio modelo de Jesus, demonstrando que todos ospadrões sociais e instituições políticas estão dentro do círculo depreocupação de Deus.

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Igreja: Por quê Me Importar?

IMPLICAÇÕES ATUAIS

Podemos agrupar estas implicações em três idéias gerais: opropósito de Deus, a natureza e função do homem, e o papel redentorde Jesus.

O propósito de Deus para a criação.

1. O Deus ativo. Primeiro, reconhecemos que o Deus da Bíblianão é uma divindade de especulação filosófica, mas o Deus vivo queage na história deste mundo. As Escrituras começam contando sobre asatividades de Deus neste mundo. “No princípio, Deus criou...” As boasnovas pressupõem esta orientação de que Deus não é um Deus ausente,afastado e longe das relações humanas e históricas, mas podemos atéconhecê-lo através de sua criação (Romanos 1.20). É um Deus próximo,conhecível, que se envolve neste mundo. Pois aquele que trabalhoucriando, continua ativo hoje (João 5.17). Como a missão de Jesus erade revelar o Pai, a missão da Sua igreja é a de fazer conhecido o Criador(João 20.21).

2. O Deus soberano. Os relatos da criação revelaminequivocamente que Deus tem absoluto controle sobre Sua criação.Ele é totalmente distinto da criação como aquele que a criou. Não seconfunde com a criação como nos panteísmos antigos e as suas múltiplasformas contemporâneas, por exemplo, o espiritismo. Isto significa quenem o homem, nem os espíritos, nem o pecado desviam os seuspropósitos. A mensagem do povo de Deus deve ser anunciada com aplena certeza e convicção de que em todas as circunstâncias Deus estáno controle e seu poder não pode ser usurpado.

3. Um propósito final. Conseqüência direta da soberania deDeus é a idéia de que seu propósito será levado à cabo. O Deus Criadore Soberano guia a história para que toda a Sua criação tenha seucumprimento, sim, sua própria salvação em Cristo (Efésios 1.10;Colossenses 1.20). A história primeva de Gênesis aponta para frente,para a história consumada de Apocalipse:

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Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu ea primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vitambém a cidade santa, a Nova Jerusalém, que desciado céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornadapara o seu esposo. Então ouvi grande voz vinda dotrono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com oshomens. Deus habitará com eles. Eles serão povos deDeus e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugarádos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já nãohaverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeirascousas passaram. E aquele que está assentado no tronodisse: Eis que faço novas todas as cousas. Escreve,porque estas palavra são fiéis e verdadeiras [ênfaseacrescentada] (Apocalipse 21.1-5).

A tarefa do povo de Deus é de “escrever”, isto é, fazer conhecidaa promessa de Deus para a renovação da Sua criação e o resgate dosseus povos (2 Coríntios 5.17; Romanos 8.18-21).

4. Um propósito redentor. Deste modo, ressaltamos que opropósito de Deus para a criação é redentor. Isso é o nosso ponto departida fundamental. Quando Deus terminou o mundo, declarou queera “bom, muito bom!” (tôbh m’ôdt). Este propósito redentor é a baseda proclamação da soberania de Deus por todo o mundo, inclusive seusmuitos povos. Nenhum povo e nenhum aspecto do mundo é “mau”segundo o intento original de Deus, como se não merecesse nada oumerecesse menos a libertação do Evangelho. A tarefa missionáriaimplica em reivindicação como “bom”, pela graça de Deus, todo aspectoda criação e todo povo no mundo, tudo neste mundo que o pecadomanchou, isto é, tudo.

5. Um propósito mundial. A criação serviu para Israel desafiarconstantemente as nações a reconhecer e glorificar Iahweh. “Ao Senhorpertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nelehabitam. Fundou-a ele sobre os mares e sobre as correntes a estabeleceu”(Salmo 24.1,2). Richard DeRidder esclarece:

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Igreja: Por quê Me Importar?

O cristão nunca pode ver o mundo a não ser nocontexto de Deus como o Deus de todos os homens, omundo todo como sujeito a ele e a história como a esferada sua atividade redentora. Enquanto é verdade que odescrente tem alguma perspectiva mundial, éimpossível descobrir o relacionamento histórico própriodos eventos mundiais sem fé em Deus e referência aquem pertence o céu e a terra [tradução] (1975:21).

O propósito de Deus não se cumpre antes de atingir asextremidades do mundo. A obra missionária procura aqueles lugaresonde Iahweh ainda não é reconhecido e glorificado.

A natureza e a função do homem. Uma outra série deimplicações surgem acerca da natureza e da função do homem nos relatosda criação. A primeira aliança de Deus que encontramos na Bíblia, nãoé o pacto com Israel, mas um compromisso com a humanidade toda.

1. Um só. Todos os povos pertencem a uma família e tem umantecedente comum, Adão (Lucas 3.38). Nenhuma raça e nenhumindivíduo pode se considerar como superior aos outros. “De um só feztoda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra” (Atos 17.26).Quando os apóstolos se dirigiam a grupos predominantemente não-judeus, freqüentemente começavam sua pregação com uma referênciaà criação e a sua significância para a unidade da raça humana (Atos10.34; 14.15; 17.24). É essencial para a realidade sócio-econômica eracial dos nossos “três” mundos, que a missão do povo de Deus serealize no contexto de mútuo reconhecimento humano. Na história daexpansão da igreja constam ocasiões, infelizmente excessivas, onde aobra missionária se realizou no contexto de uma atitude de superioridadee dominação colonial ou neo-colonial. É uma grave contradição àimagem de Deus na humanidade toda, qualquer relacionamento da igrejaque não reconheça a igual dignidade (e pecaminosidade) dos homens.

2. Dependente de Deus. Como senhor sobre o restante dacriação e vice—regente com Deus, o homem encontra a sua própriadignidade na sua sujeição a Deus. O homem é criatura e dependente deDeus e somente no seu relacionamento com Deus ele encontra a sua

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verdadeira humanidade. Valdir Steuernagel põe em relevo a significânciadisto:

Um dos pecados fundamentais do homem temconsistido no seu inconformismo com o fato de sercriatura, e o seu anseio doentio de ser igual a Deus. Orelato da criação nos leva a diferenciar definitivamenteentre criador e criatura, e a constatar que a criatura estáno seu devido lugar quando se aceita como tal...Só hárealização e sentido para o homem na medida em queele reconhece a Deus como seu Criador, e a si mesmocomo criatura chamada a uma nobre tarefa, naobediência a Deus (1984:25-26).

O papel do povo de Deus no mundo não se baseia no humanismosecular, que eleva a capacidade humana a tal ponto que não há lugarpara Deus, mas se baseia no humanismo bíblico, que, enquanto destacao papel supremo do homem entre as outras criaturas de administrartoda a área da criação, compreende o êxito deste papel em referência aohomem ser dependente e subordinado de Deus, procurando a Sua glória.

3. Portador da imagem de Deus. Porque o homem porta aimagem de Deus, sua função é dominar a terra e se submeter a Deus.Quando o homem manifesta esta característica original de sujeitar aterra e dominar sobre as suas estruturas, como tarefa comum e universal,a sua natureza especial se torna visivelmente efetiva e ele se manifestacomo o constituinte responsável do Senhor cósmico e divino.

Esta característica, entre todas as criaturas, pertence apenas aohomem. Isto foi evidenciado quando Deus trouxe todos os animais docampo e todas as aves do céu para o homem lhes dar nomes, e tambémporque entre eles não achou uma auxiliadora idônea (Gênesis 2.19-20).Como Deus se distingue da Sua criação, também a humanidade é distintado restante da criação.

Esta característica especial de dominação ou administração étarefa comum de todos, e não somente dos grandes dominadores. Istosignifica que todos os homens têm o direito e responsabilidade departicipar em toda a administração deste mundo. Não existem áreas

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Igreja: Por quê Me Importar?

proibidas para alguns, como se pensa muito a respeito da política. Amissão da igreja também é chamar o homem de volta para estacaracterística original dele e abrir o espaço para a realização desta suafunção. Assim, o homem será capaz de realizar o seu primeiro mandato,o Mandato Cultural. Porém, o relato da criação também deixa bem claroque o homem fracassou neste mandato, falhou com Deus, e que o pecadocria uma tremenda mancha e estrago na sua função como administrador.

4. Pecador e carente da redenção. O homem caído é inclinadopara a infidelidade no casamento, irresponsabilidade para com seusfilhos, falta de cuidado e preguiça no trabalho, e tratamento injustopara com seu próximo. Não pode cumprir sua função de administradorda criação. Não pode aperfeiçoar a sociedade humana. Os seus fracassosdeverão levá-lo a buscar o perdão e a salvação de Deus para sua vidapessoal e em todas as suas relações na sociedade e na história humana.Desde que Deus é um Deus procurador (Gênesis 3.8), é seu desejorestabelecer relacionamento com toda a humanidade (2 Pedro 3.9) pararestaurar a ordem original. O povo de Deus, como portador da imagemde Deus redimida, tem também o papel de procurar pessoas e povosconforme sua necessidade do evangelho, pois não se satisfaz até que onome de Deus seja conhecido em todo lugar.

O papel central e redentor de Jesus. A idéia de redenção jáestá presente implícita, senão explicitamente nos relatos da criação. Omundo que Deus declarou “bom” depois de haver caído, ainda aguardaa sua redenção (Romanos 8.24), quando passará a ser novos céus enova terra.

Portanto, o Antigo Testamento encara a criaçãoda perspectiva da redenção (cf. Salmos 74, 89, 93, 95,135, 136; Isaías 44.24; Amós 4.12; 5.8s; Malaquias2.10). É o início de um grande projeto escatológico: oreino de Deus. O pecado é a grande desordem que tentafrustrar a obra de Deus; a salvação é a recriação quevence o pecado e recupera o controle do grande planode Deus [tradução] (Orlando Costas 1982:27).

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Embora o Velho Testamento prepare o caminho para aidentificação da fonte desta redenção, como ainda veremos mais adianteneste estudo, somente o Novo Testamento a revela. É Jesus Cristo, oLogos e o Verbo de Deus, que é o Salvador para todos os homens. Eleé a fonte da redenção, disponível a todos, que restaura ao homem e aomundo seu relacionamento original com Deus (1 Coríntios 8.6). EmCristo, há esperança para a restauração de todas as coisas (Efésios 1.21-22). Enquanto o objetivo central da redenção enfoca a salvação daspessoas, isso não é a circunferência e limite da redenção. Pois a redençãose estende além, embora através do homem, para toda a criação.

A criação, em todos os seus aspectos, há de participar nasbençãos da redenção. Portanto, a mensagem missionária é uma deredenção, a restauração deste mundo e dos seus povos ao intento originalde Deus. O foco central está na lbertação do homem e sua completarestauração à dependência de Deus. Mas, também vai além deste fococentral irradiando até as circunferências de todo aspecto da criação eanunciando sinais desta libertação na história e nas relações humanas.

Conclusão

O povo de Deus necessita da perspectiva amplam dos relatosda criação no Velho Testamento. Assim, encontra uma perspectivaintegral da sua identidade e de sua missão. Os atos salvíficos de Deussão universalmente disponíveis, embora não necessariamenteuniversalmente aceitos. A graça redentora de Deus se estende a todosos povos, através da Sua igreja, mas eventualmente para todas as facetasda criação através de Jesus Cristo (Filipenses 2.10-11; 1 João 2.2).

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO

1. Qual é a significância do fato que a Bíblia começa com os relatosda criação?

2. De que maneira o ser humano é como Deus? De que maneiraele é diferente? Quais são as implicações éticas disto? A

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incumbência que Deus dá ao ser humano é diferente no homemque na mulher? Estes dois são igualmente iguais, ou mais oumenos?

3. Como você entende a soberania de Deus no relato da criação ea sua importância para a identidade e a missão do povo de Deus?

4. Ser “povo de Deus” já é um fim em si, ou um meio para Deusalcançar outro fim maior? “pois Deus amou o ______________(a igreja ou o mundão?) de tal maneira que deu seu Filhounigênito...”

5. Você pode adotar quais atividades concretas na sua vida pessoale no seu ministério baseadas numa perspectiva bíblica do meioambiente? Poderá recomendar quais delas para toda a sua igreja?

6. O mandato cultural desafia o cristão e a igreja a se envolveremcom quais áreas da vida humana? Qual é a relação destesenvolvimentos com o mandato redentor?

7. Qual é a relação entre a ira de Deus e a sua graça?

8. Qual era o lugar e a função da criação na pregação dos apóstolos(veja Romanos 1.25; 8.18; Colossenses 1.15s; Apocalipse 3.14s;4.11; 10.6; 1 Timóteo 4.4; Efésios 3.9)?

1Uma questão que os relatos de Gênesis não tratam é a origem do maligno que levou o homemao pecado. Entretanto, mais tarde, as Escrituras esclarecem que o maligno não foi criado porDeus. Porém, ele não está fora do alcance do poder de Deus. O pecado é uma força demoníacaque atua no homem. Mas os seres humanos também são distintos do mundo dos espíritos,como estes últimos são distintos de Deus. Os espíritos são seres finitos, criados, e sujeitos aDeus. Não há um dualismo eterno entre Deus e Satanás, entre o bem e o mal, como muitasreligiões orientais e politeísmos antigos sugerem. Nem são os homens vítimas infelizes de“deuses” e “espíritos”. Enquanto o poder destes últimos seja real e ocupe um lugarproeminente no Novo Testamento, os redimidos participam no triunfo sobre estes poderesjactanciosos. Os espíritos também são sujeitos a Jesus e à autoridade delegada aos seusdiscípulos.

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MISERICÓRDIAE JULGAMENTO

Gênesis 4-11

Os descendentes de Adão persistiram e até ampliaram a suatendência pecaminosa, entrando em decadência e violência total (Gênesis6.5). Até mesmo os setitas, que começaram a invocar o nome do Senhor(4.26), se corromperam. O pecado atingiu o próprio mundo e todos osseus seres viventes passaram a estar sob a maldição (Gênesis 6.11-12)porque o homem se imaginava “auto-suficiente” e independente de Deus,condição que persiste até hoje (João 3.36; Romanos 1.18; 3.23; 8.20).

Foi neste contexto triste de decadência penetrante que a ira deDeus se manifestou, sendo o dilúvio seu instrumento. Depois de umlongo período de advertência, o dilúvio caiu sobre aquela geraçãocorrupta e o mundo de Gênesis chegou a um fim abrupto. Mas, mesmoque a humanidade tenha passado o limite da tolerância divina, Deusnão desejou a destruição total (1 Timóteo 2.4). Pois, mesmo na irajulgadora de Deus, a sua preocupação redentora é evidente. Chamouum homem, Noé, considerado “justo diante de Deus” (6.9; 7.1) e osalvou, ele e toda a sua casa. Em Noé haverá um novo mundo, umanova humanidade e uma nova população de seres viventes. Como acorrupção tinha atingido não só a humanidade como toda a criação,então a ira de Deus se dirigiu contra homens, animais e tudo que Deushavia criado (6.7,13).

A ira de Deus. A ira de Deus se apresenta na Bíblia como aexpressão permanente e imutável do seu coração a tudo o que é contrárioao seu amor. Repetidas vezes Deus se manifestou desta forma, tantoque no hebraico há sete palavras para descrever a resposta de Deus aoser humano quando este peca, todas sob a idéia da “ira de Deus”.Devemos ressaltar que a Sua ira não é dirigida somente para o pecadoem si mas também contra o próprio pecador, embora seja falado muito

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Igreja: Por quê Me Importar?

o contrário. Pois Deus aborrece “todos que praticam iniquidade” (Salmo5.5). No tempo dos cativeiros assírios e babilônicos, até mesmo o povode Deus foi destruído da terra que Deus lhe deu, calamidades somentemenos severas e extensas que o próprio dilúvio. A ira de Deus caiusobre Israel quando este quebrou a sua aliança com Deus (Levítico 10.12;Números 16.33,46), sobre os não-israelitas pela opressão do povoescolhido (Jeremias 1.11-17; Ezequiel 36.5) e cairá sobre o incrédulono grande Dia do Julgamento, o Dia do Senhor (Isaías 2.10,22; Jeremias30.7,8; Joel 3.12; Obadias 8ss; Sofonias 3.8). As nações que nãoreconhecem a Deus correm grande perigo (Jeremias 25.15,33).

O arrependimento. As “boas” novas do evangelho sãoacompanhadas de um aviso severo:

Notifica aos homens que todos em toda parte searrependam; porquanto estabeleceu um dia em que háde julgar o mundo com justiça por meio de um varãoque destinou e acreditou diante de todos, ressucitando-o dentre os mortos (Atos 17.30,31).

Jesus veio anunciando tanto a chegada do reino de Deus quanto anecessidade conseqüente de arrependimento e de fé (Marcos 1.14,15).Esta mesma urgência Ele passou para os apóstolos (Lucas 24.46-47), oque de fato assumiram como o clímax da sua pregação repetidas vezes(Atos 2.38; 3.19; 5.31; 8.22; 17.30; 26.20).

No relato sobre Noé lemos que, mesmo diante da dramática iradestruidora de Deus manifestada no dilúvio, Deus permaneceu fiel àsua criação e à humanidade. A aliança de Deus com Noé era predicadoda Sua fidelidade. O propósito de Deus para Sua criação e seurepresentante, o homem, ainda chegará ao seu fim.

A fé e a obediência. Para tanto, Deus chamou Noé (Gênesis 6.13),que o registro descreve como o “justo diante de Deus” (7.1), e secomprometeu a poupá-lo, a ele, sua família e cada espécie de ser vivente,e prometeu a sua participação na nova vida além do dilúvio. O registrode Gênesis informa que Noé seguiu todas as instruções de Deus quanto

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à construção da arca, o resgate dos animais e o tempo para procurarabrigo (6.22; 7.5,16). Noé era obediente e se subordinara a Deus,assumindo a função da imagem de Deus no homem de ordenar o mundoe seus habitantes (a construção da arca e o domínio dos animais) e sesubordinar a Deus. O Novo Testamento, por sua vez, descreve aobediência de Noé como sendo o exercício da sua fé (Hebreus 11.7).De fato, a relação de fé com obediência é tão próxima que o autor deHebreus pode empregar os dois termos permutavelmente (3.18,19).Como a obediência é necessariamente precedida pela fé (Hebreus 11.7),também a fé é necessariamente evidenciada pela obediência (Efésios2.8-10; Tiago 2.14-26).

Eleição. Noé respondeu suficientemente a Deus para ser achadojusto diante dele. Possuiu uma boa herança de retidão, sendo da linhagemde Sete, que começou a cultuar a Deus (Gênesis 5.6-29; 4.26). Mas,mesmo assim, não demonstrou caráter perfeito (9.20-21)! Antes dequalquer registro de fé e obediência da parte de Noé, o relato de Gênesisdiz que ele “achou graça diante do Senhor” (6.8). Deus agiusoberanamente na sua seleção misteriosa de Noé para a salvação e oserviço. A eleição soberana e incondicional traz muita humildade paraa tarefa da igreja no mundo. Antes da igreja assumir a sua tarefamissionária, reconhece que esta tarefa é subordinada primeiramente àmissão de Deus. A missão soberana de Deus chegará a sua conclusãocom a participação da igreja na promoção do reino sobre toda criação etodo povo. É na segurança da missão de Deus que a igreja assume a suamissão.

O propósito de Deus na criação é mantido. Depois que o dilúvioterminou, Deus “lembrou-se” de Noé (Gênesis 8.1), baixou as águas eordenou que Noé saísse (8.15,16). Noé adorou a Deus em gratidão, eDeus então, prometeu misericordiosamente nunca mais provocarnenhuma calamidade tão global até o Dia Final (8.21,22; 2 Pedro 3.7).Como lembrança desta promessa, estabeleceu o arco-íris, símbolo daaliança de Deus com a nova humanidade. A aliança que Deus haviaprometido antes do dilúvio (6.18), então, é selada, e as ordenanças deDeus para o primeiro homem, Adão, são repetidas e ampliadas para onovo homem, Noé (9.1-17). A nova humanidade continua com um

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mandato cultural, de ser o mordomo de Deus sobre a sua criação. Porém,Deus restringe a violência que corrompia a terra através da proibiçãocontra o assassinato (9.6), baseando-se na dignidade da vida do homemque porta a sua imagem. Isto foi feito porque a violência era uma dasexpressões mais evidentes do pecado do homem, que lançou a sociedadenuma projeção de auto-destruição (6.11-13) antes do dilúvio, e tendotambém destaque no relato anterior de Caim e Abel (4.8-16).

Não como outras alianças a seguir, a aliança com Noé inclui todaa humanidade, até toda a criação, sob sua benção e lei. Era a primeiraaliança explícita.

A seletividade no propósito redentor. O princípio deseletividade no propósito redentor permanece no registro da genealogiade Noé. Mais adiante na história de Israel, o princípio seria empregadopara falar do remanescente fiel dentro de Israel e, eventualmente, sereferiria ao próprio Messias. Por enquanto, o princípio demonstra queos propósitos redentores de Deus se manifestariam através dadescendência dum só dos filhos de Noé, Sem. Somente opronunciamento acerca dele invoca o nome pessoal de Deus, Iahweh(Gênesis 9.26), indicando que a “história da salvação” se realizariaatravés deste ramo da família de Noé. Assim sendo, típico do estudo deGênesis, o registro elabora as descendências secundárias primeiro, Jafée Cão, para então deixar campo livre para elaborar a linhagem de Sem,que nos leva até a história dos patriarcas de Israel.

O pronunciamento acerca de Jafé é obscuro mas fascinante(Gênesis 9.27). Kidner observa que não há nenhuma referência no VelhoTestamento do cumprimento das palavras “habite ele nas tendas deSem”, mas que a idéia predomina no Novo Testamento, na colheita dosgentios (Efésios 3.6), principalmente do ocidente (1979:98) (vejatambém Mateus 8.11; Apocalipse 5.9,10).

Uma única humanidade de um único criador. A lista das naçõesem Gênesis 10 mantém a ênfase da Bíblia que a humanidade é uma só,todos descendentes de Noé, e sob o único Criador. Enquanto não incluitodas as nações conhecidas do Velho Testamento (Deuteronômio 2.10-12, por exemplo, registra ainda os emins e os horeus), o emprego de

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setenta nomes na genealogia se refere ao número completo de povos.Talvez a escolha de setenta emissários por Jesus em Lucas 10.1 se devaa este registro de Gênesis 10.

Porque a humanidade toda pertence a um único Deus, podemosesperar que o propósito de Deus seja de ter relacionamento com toda aSua criação. Como Sem iria abrir sua moradia para a habitação de Jafé(Jafé significa: “de amplo espaço a”, e seus descendentes repartiramentre si “as ilhas” ou “costas”—Gênesis 10.5—termos designando as partesdistantes da terra especialmente de Isaías 40 em diante, e em particular oocidente), Israel seria a habitação do estrangeiro, as nações vindo comooferta a Jerusalém (Isaías 66), e a barreira que separa judeu e grego seriaquebrada para a entrada dos gentios na igreja (Efésios 2-3).

A rebeldia persistente. O relato sobre a torre de Babel volta aotema antediluviano da perversão e arrogância persistentes da raçahumana. Indícios de tal perversão já se encontram no relato daembriaguez e nudez de Noé e o desrespeito conseqüente de Cão, nocapítulo 9. O quadro geral da história primeva e universal é de dissoluçãocrescente. Os descendentes de Noé não se beneficiaram do aviso dodilúvio.

Com um esforço coletivo, o homem se projeta numa tarefatipicamente grandiosa do desejo de fama e da auto-suficiência arrogante.Seu alvo pretensioso era de chegar até o céu e sua determinação de“tornar célebre o nosso nome” (11.4). O homem procurava grandeza nafama e no poder.

O julgamento de Deus. Frente a tamanha arrogância eindependência de Deus, e reconhecendo os perigos do esforço humanocoletivo (Gênesis 11.6), o Deus que antes fixou a ordem do mundo edesignou o homem para sua administração, agora provoca uma desordemna administração do homem (frustrando as construções) e uma confusãona sua unidade (confundindo as línguas)! A lição salta à nossa vista!Enquanto Deus estabeleceu o Mandato Cultural para o homem ordenara criação como mordomo dela, e enquanto Deus também estabeleceu oMandato Redentor de reunir todas as nações para seus propósitosredentores (já vimos indícios de tal mandato na inclusão da família de

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Noé na sua salvação e na inclusão de Jafé nas bençãos de Sem, e estemandato se tornaria ainda mais explícito a partir de Abraão), nem aunião humana e nem o seu domínio em si podem ser realizados pelosesforços próprios do homem, independentes de Deus.

Mais uma vez, a ira de Deus se manifestou. A graça de Deus temlimite. Deus não responde só com mais graça à desobediência e àarrogância do homem. Mas mesmo este julgamento era salvífico. Deusevitou a concentração do homem e, assim, a concentração do mal. Omundo se tornou uma Babel (“confusão”) de línguas, hoje mais que6.000. E a própria Babilônia veio a simbolizar na Bíblia a devassidãocrescente de uma sociedade ateísta, opressora (Deuteronômio 3),pretensiosa, sensual, feiticeira (Isaías 47.8-13) e rica. Não foi a suatorre, mas os seus pecados que “se acumularam até o céu” (Apocalipse18.5). O seu contraste seria a cidade santa que “descia do céu” e eratotalmente dependente de Deus, cujas portas jamais se fecham parareunir as nações (Apocalipse 21.10, 24-27).

A sucessão de narrativas em Gênesis 1-11 revela um abismo cadavez mais largo entre o homem e Deus. Deus reage à manifestação dopecado com julgamento cada vez mais severo, tendo este tambémintenções salvíficas. O castigo de Adão e Eva era menos severo do queo de Caim, que era menos severo do que o dilúvio, que era menos severodo que a dispersão dos povos. Onde tudo isto acabará? Gênesis 12 dá aresposta. A partir deste capítulo há uma concentração de atenção numasó pessoa, Abraão, e seus descendentes, Israel, através dos quais Deusrealizará seus propósitos redentores para todas as nações.

Do geral, Deus volta para o particular. Em Gênesis 12.1, oparticularismo da eleição começa. Com Abraão, um amorita peregrinoda cidade sumeriana de Ur, Deus estabeleceu uma nova aliança,implicando em bençãos para seus descendentes, e ainda mais, para todasas nações através de “seu descendente”. As profundezas dodepravamento humano (Gênesis 3.11) não derrotarão o propósitoredentor de Deus para sua criação (Gênesis 12ss).

A linguagem de Gênesis 12 reflete a transição da história universalde Gênesis 1-11 para a história da salvação. Isto é evidente por umasérie de paralelos opostos. O contraste da ambição, “tornemos célebreo nosso nome” (11.4) se encontra na promessa, “te engrandecerei onome” (12.2). A “dispersão pela superfície da terra” (11.8) é

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contraposicionada à frase, “de ti farei uma grande nação” (12.2); e amaldição pronunciada sobre a desobediência e aspiração arroganteencontra seu contrário na promessa, “todas as famílias da terra serãobenditas” (12.3).

Deus jamais abandonará a Sua vontade de salvar e restaurar oseu representante, a humanidade. Com esta convicção a igreja podeenfrentar, como tem enfrentado, imensurável tamanho de obstáculos erebelião humana, convicta da capacitação por Deus na promoção daboas novas.

IMPLICAÇÕES ATUAIS

Israel como testemunha fiel-obediente. O relato da aliança comNoé está repleto de significância para o povo de Deus. Primeiro, salientaque um homem justo era o instrumento de Deus para o resgate de todauma família, até mesmo de toda uma nova humanidade e uma novacriação. Depois, Deus escolhe a nação de Israel para ser justa, isto é,fiel-obediente, para a salvação das nações. Nenhum outro papel éocupado pela igreja. Como testemunho fiel-obediente, a igreja proliferaa sua família para o resgate duma nova humanidade, que repercute aação salvadora de Jesus Cristo através de toda a criação e em todas asáreas de sua vivência.

O interesse de Deus neste mundo. Segundo, ressalta o interessede Deus por este mesmo mundo. Depois do dilúvio Deus garante quesua ira nunca mais atingirá o mundo inteiro (Gênesis 8.21,22). A criaçãocontinua a esfera da preocupação salvífica divina e da administraçãodo homem, seu representante. O homem deve exercer sua função deadministrar ainda neste mundo, não o abandonando à sorte da maldade.Hoje em dia, muitos na igreja pensam que qualquer envolvimento nasrelações deste mundo, em qualquer ou algumas áreas da sociedade, éatitude “mundana” ou, na melhor das hipóteses, secundária nospropósitos de Deus. O registro da aliança com Noé confirma a orientaçãodos relatos da criação (como pretendemos ainda demonstrar no NovoTestamento), de que enquanto Deus se preocupa centralmente com oresgate do homem, esta redenção indispensavelmente influi em todas

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as suas relações. A aliança com Noé era, de fato, com toda a humanidade,até mesmo com a criação toda. Os propósitos de Deus ainda possuemdimensões universais.

A missão é de Deus. Terceiro, embora recebamos a soleneresponsabilidade de sermos instrumentos do seu alcance salvador, oregistro assegura que a missão é, de fato, de Deus. Ele elege mas, aomesmo tempo, exige a resposta humana de fé-obediência. Aresponsabilidade missionária urgente da igreja é acompanhada, (masnão diminuída!), pela segurança na realização soberana da missão deDeus.

A arrogância da auto-suficiência humana e a persistência dopecado. Quarto, salientamos que a atitude fundamental que levou àruína no episódio da torre de Babel, foi a falta de dependência de Deus,que provocou a insegurança e que, por sua vez, gerou o desejo deconstruir grandiosos projetos para, enfim conseguir fama e poder. Amesma atitude está atrás de muitas das aspirações nacionalistas de nossaépoca. Não nos opomos à união humana, nem à contribuição do avançotecnológico e de grandes obras nacionais. Mas devemos expor à vistade todos a arrogância de auto-suficiência que tais aspirações geram. Ohomem somente pode ordenar a sociedade beneficamente à medida queele se subordina à Deus.

Também, repara-se que os descendentes de Noé persistiram nasua perversão, apesar do dilúvio. Pouco eles aprenderam da história.No justo entusiasmo de pregar o evangelho, não se pode minimizaringenuamente a realidade do pecado e da alienação humana de Deus.

A urgência do anúncio da salvação. Quinto, porque conhecemoso temor e a ira de Deus como expressos no julgamento de Babel, oanúncio do dia da salvação como sendo hoje (2 Coríntios 5.11; 6.10) secoloca como a tarefa missionária e urgente da igreja.

A tradução do evangelho nas línguas do mundo. Finalmente,não vivemos à sombra apenas dos resultados da confusão de línguas,mas também à luz do milagre do pentecoste, quando este se refere à

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articulação do Evangelho em muitas línguas. O pentecoste representa ainversão da maldição da torre de Babel, como prometida em Sofonias3.9, “Então darei lábios (linguagem) pura aos povos, para que todosinvoquem o nome do Senhor, e o sirvam de comum acordo”. Para aobra missionária, isto implica na tradução da Bíblia como um primeiropasso essencial na comunicação transcultural do evangelho. Podemosnos regozijar porque hoje em dia, praticamente 99% de pessoas nomundo dispõe das Escrituras na sua língua nativa, certamente a maiorrealização na história das comunicações! Nenhuma outra religião ouideologia jamais se incumbiu de tal tarefa. Para os mulçumanos, oAlcorão deve ser lido e ouvido apenas no árabe. Nem os hindus nem osbudistas tiveram muito interesse em tradução. Os cristãos traduzem asEscrituras para que “toda tribo e língua” ouça a Palavra de Deus na suaprópria língua. Mesmo assim, falta traduzir a Bíblia toda em mais de1.600 línguas, que embora faladas por cerca de 1% da populaçãohumana, representam 47% das línguas do mundo.1 Oxalá estes tambémconheçam as boas novas.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO

1. Antes do dilúvio, a humanidade realmente ultrapassou os limitesda tolerância de Deus?

2. A ira de Deus ainda hoje pode se acender contra o própriopecador e não somente contra o pecado dele?

3. Porque Deus castigou a humanidade com desordem e confusãoquando esta deveria ter um papel de ordenadora e administradoraem relação à criação?

4. Há um limite da graça de Deus? Por quê? Qual é a extensão dasua graça?

5. Quais são as características de Abel, Sete e Abraão que levouDeus a utilizá-los para a salvação e serviço?

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6. Por que Deus dispersou os povos sobre a terra?

7. A imagem de Deus no homem foi anulada depois da queda?Quais são algumas implicações da sua resposta para aindentidade do povo de Deus?

1Esta porcentagem se baseia num total de línguas, 3.400, inferior ao total de 6.000 quecitamos anteriormente. O último valor é o total usado pela Wycliffe Translators e a diferençase deve aos critérios diferentes usados para distinguir “línguas” e “dialetas” de línguas. Deacordo com Wycliffe, a porcentagem da população humana sem qualquer tradução da Bíblia écerca de 7%. (veja Frank Kaleb Jansen, ed. Target Earth. The Necessity of Diversity in aHolistic Perspective on World Mission. Kailua-Kona, Havaí e Pasadena, California: Universityof the Nations e Global Mapping International, 1989, pp. 50-51).

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ELEIÇÃOE ALIANÇA

Gênesis 12-50

A partir de Gênesis 12 encontramos a resposta de Deus para adispersão da humanidade, que constituiu o clímax da história universale primeva de Gênesis 1-11. Desde então, Deus se compromete a reuní-la numa comunidade eleita através da Sua soberana graça.

O chamamento de Abraão era a resposta de Deus para o caos dasnações. Foi o início do grande projeto escatológico, o reino de Deus, eassim respondeu à desordem e à dispersão conseqüentes do pecado comuma nova ordem e restauração da humanidade, mas desta vez não atravésde uma nova chance, como no caso de Noé, e, sim, exclusivamentepela iniciativa e atuação de Deus, numa palavra só, pela graça de Deus,que envolve uma aliança com o povo eleito.

O chamamento de Abraão reflete tanto a salvação de Deus (Gênesis10), quanto o seu julgamento (11), e estes terão predominância na maneiracomo Deus se relacionará com a humanidade desde este ponto. A relaçãodeste chamamento com os capítulos anteriores não destaca tanto umfavoritismo exclusivo de um só povo, mas deixa bem claro que Deus estáprofundamente preocupado pela salvação de todas as nações. Assim comoa história universal de Gênesis 1-11 forma a base de uma história particularde Gênesis 12, o chamamento de Abraão forma o pano de fundo para ahistória de Israel.

O grande tema de Gênesis 12-50 é esclarecido logo no início, sendoa promessa de benção para todas as nações, através da semente de Abraão.Já que o estabelecimento de uma nação implica na necessidade de umlugar de residência, a terra prometida em menor medida também recebe aatenção do narrador. O tema da descendência de Abraão se desdobra emquatro gerações de patriarcas e em duas culturas diferentes. A promessa deum filho domina os capítulos 12 a 20, culminando no nascimento de Isaque,no capítulo 21. Então, a linha de sucessão leva ao episódio da entrada no

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Egito, a elaboração das tribos; e no fim do livro, a vocação de Israel nomeio das nações já está no contexto da esperança da sua libertação doEgito.

A eleição

O chamamento. Abraão precisava abandonar radicalmente todasas suas raízes naturais: sua terra, sua parentela e sua família imediata,exigências cada vez mais difíceis, senão impossíveis para o homemantigo. Nada menos que a confiança penetrantemente completa nadireção de Deus foi a porção de Abraão (Hebreus 11.8-10) que ocapacitou a tomar este passo.

Devemos esclarecer que nesta narrativa sobre o chamamento deAbraão, Israel registra mais que um fato que marcou o seu início, maisque um evento na sua história mais antiga. Também constata nela umacaracterística fundamental de seu próprio relacionamento com Deus.Como Abraão, Israel surgiu da comunidade das nações (Números 23.9)e nunca foi completamente arraigado em Canaã, sendo até mesmoestrangeiro lá (Levítico 25.23; Salmo 39.12). O destino de Israel comoo de Abraão, estava num plano de dimensões universais, completamentenas mãos de Deus.

A centralidade da eleição na teologia do Velho Testamento.Embora a terminologia específica da eleição (da palavra b~ar, para“escolher”) não apareça em Gênesis 12.1-3, a linguagem destesversículos denota a maioria das idéias implícitas na idéia da eleição.Inclusive, toda a tradição acerca dos patriarcas pressupõe o tema daeleição, pela maneira como ela prepara o cenário para o surgimento deIsrael como nação depois do êxodo, e para a aliança no Sinai que selariaa sua eleição (Deuteronômio 7.6-8). A centralidade da eleição para acompreensão da fé de Israel sobressai em todo o Velho Testamento epermanece até hoje como o ponto central da sua mensagem.

Mas a eleição é chave não só para o Israel antigo e o judeucontemporâneo. A idéia de que Deus chama um povo para si, paraviver sob sua soberania em antecipação da vinda do reino de Deus, é

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um dos temas unificadores da Bíblia. A eleição é um dos elos queunem o Antigo e o Novo Testamento.

A função da eleição. A eleição de Abraão e dos patriarcas nãose referia ultimamente a sua própria redenção ou condenação eternas,mas à sucessão da sua descendência dirigida para Cristo, semente deAbraão. Ainda são poucas as alusões ao aspecto último da salvação, alibertação da morte e do inimigo final. Mesmo assim, como antecipamosa redenção através dos relatos da criação, antecipamos também na eleiçãode Abraão. Aquele que é eleito, é receptor e canal de benção. A idéiaculminaria em Cristo, o descendente de Abraão e verdadeira fonte dabenção de Deus (Gálatas 3.6-14; Atos 3.25-26).

O “particularismo” da eleição. Então, a eleição de Abraão nãoteve como alvo exclusivo a benção dele próprio. Este, além de receptor,teria o papel de “mediador” no plano salvífico de Deus para todas asfamílias da terra. Israel, herdeiro desta promessa para Abraão pordescendência (Gênesis 13.14-16; 15.5,7,18; 17.4-8; 18.18; 22.17-18;26.2-4, 24; 28.3-4, 13-15; 22.12; 35.9-12; 48.16), também seria umcanal, não um “depósito” das bençãos de Deus no seu desígnio últimopara as nações. Quando Deus escolheu Abraão, não abandonou asnações, mas o fez a favor delas. A salvação e o serviço de Deus foramdirigidos para um povo escolhido, mas também, este povo teria umpropósito maior como instrumento no alcance das nações.

A eleição não significa favoritismo. A eleição de Israel não eranenhum chamamento para a superioridade, nem para o privilégioparticular. A eleição de Israel não significava a rejeição das nações!Pois a palavra “escolher” sempre aparece na forma ativa, e não napassiva, em relação a Israel. Assim, Israel não era “o escolhido”, mas“escolhido para”. Não era o seu caráter étnico que lhe dava uma posiçãoúnica. Tanto que, o “estrangeiro” que morasse dentro de Israel,participava plenamente na vida do povo. Freqüentemente eram atéincluídos na história da salvação, como Melquisedeque, Balaão, Jó eRute. A eleição de Israel implicava numa responsabilidade universal.

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Por isso, o abuso da eleição pode levar ao julgamento. “De todasas famílias da terra somente a vós outros vos escolhi, portanto eu vospunirei por todas as vossas iniquidades” (Amós 3.2).

A eleição recupera seu sentido quando é compreendida emreferência ao futuro, a sua finalidade, a redenção dos povos. A distorçãose manifesta quando é compreendida somente ou principalmente emreferência ao passado, em termos de privilégio e honra, em vez deresponsabilidade e peso. Os profetas teriam que chamar Israel de voltapara uma perspectiva da eleição que anuncia libertação para as nações(Isaías 42.5-7; 43.10; 45.22).

A eleição implica em serviço. O propósito da eleição é serviço eé inseparavelmente ligado à salvação das nações, como a interpretaçãodo Novo Testamento confirma (Gálatas 3.8-29; 1 Pedro 2.9). A eleiçãoem si não era um fim. Sua finalidade era que todas as nações fossemabençoadas.

Eleição: serviço sacerdotal para um povo santo. O serviçoespecial da eleição se define numa função sacerdotal. Israel é chamadopara ser um reino de sacerdotes no meio das nações (Êxodo 19.6),oferecendo sacrifícios de retidão (Deuteronômio 33.19). O testemunhode Israel para as nações seria a evidência de verdadeira separação, osentido básico de “santo”, para Deus. Israel teria um ministério derepresentante de Deus diante das nações. Sua justiça em relação aopróximo e sua dependência dum só e único Deus serviria de modelopara as nações que a soberania do Deus Criador iria alcançar. Para Israel,o universalismo era decorrente do monoteísmo, e sua missão universal,a conseqüência da sua eleição. A teocracia em Israel seria um precursorda soberania de Deus sobre todo o mundo e a presença de Deus emIsrael seria um sinal e garantia de sua presença no mundo.

Por que Abraão/Israel? Tanto judeus quanto gentios têm feitoesta pergunta através dos séculos. A resposta se encontra apenas namisericórdia de Deus, pois Abraão antes do seu chamamento nãodemonstrava nenhuma qualidade ou virtude acima das dos seuspróximos. E as virtudes e qualidades de Israel não eram melhores que

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as das outras nações (Deuteronômio 7.7-8). Muito pelo contrário, Josué,especificamente, menciona que Abraão veio de uma família de idólatras,que adorava outros deuses (24.2-3). Harã, por exemplo, era a sede daantiga seita da lua. Abraão, o arameu peregrino (Deuteronômio 26.5),era precisamente o verdadeiro representante da raça caída. Tanto queos rabinos o chamaram de o primeiro prosélito! E até hoje os judeusrecitam Deuteronômio 26.5 duas vezes por ano para se lembrarem deque, desde o início, Israel nasceu com convertidos. Aquele que foidisperso por Deus (Gênesis 12.1) seria o instrumento de Deus para reuniros que foram dispersos pelo julgamento na torre de Babel (Gênesis11.8). A explicação a respeito da escolha de Abraão/Israel por Deussomente se encontra no amor e misericórdia soberanos de Deus.

Assim diz o Senhor Deus para Jerusalém: Por tuaorigem e nascimento és do país de Canaã. Teu pai eraum amoreu e tua mãe uma hitita. E como foi o teunascimento? Quando nasceste não te cortaram o cordãoumbilical, nem foste banhada em água, nem esfregadacom salmora nem envolvida em faixas. Ninguém tevedó de ti, prestando-te um destes serviços por compaixão.Ao contrário, no dia em que nasceste deixaram-teexposta em campo aberto pela repugnância quecausavas.

Então eu passei junto de ti e vi que te debatias nopróprio sangue. E eu te disse enquanto jazias em teusangue: “Vive! Eu te faço crescer exuberante como umaplanta silvestre.”... Eu te fiz um juramento,estabelecendo uma aliança contigo, oráculo do SenhorDeus, e foste minha (Ezequiel 16.3-8, na Bíblia Vozes).

Eleição soberana. Em Gênesis 12.1, início da história dasalvação, bem como em Gênesis 1.1, início da história universal, Deusé o sujeito do primeiro verbo. Deus fala, e pela palavra inicia-se todauma seqüência na história sagrada. A total iniciativa divina mostra queo status do eleito é claramente aquele de ser chamado a uma tarefa,excluindo qualquer mérito ou virtude para tal responsabilidade.

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A aliança com Abraão/Israel

O conceito da aliança não é a única analogia do relacionamentoentre Iahweh e o seu povo, porquanto as figuras de Israel como o “filho”de Iahweh (Êxodo 4.22; Oséias 11.1-9; Jeremias 31.20) e como a “noiva”ou “esposa” de Iahweh (Jeremias 2.2-3) também se sobressaem.Contudo, a “aliança” (berîth) é a analogia mais flexível e conveniente, enão só predomina na tradição deuteronômica, mas também tem umefeito profundo na formação de toda a tradição literária do VelhoTestamento.

A obediência: exigência da aliança. Enquanto a eleição seexpressa como um ato unilateral de Deus na escolha dum povo, a aliançaimplica num compromisso bilateral entre os dois. Enquanto Abraão/Israel é passivo na eleição, torna-se ativo na aliança. Um dever lhe éclaramente imposto: a obediência a Deus (Gênesis 17.1,9). Esta condiçãobásica da aliança se torna bem explícita no nascimento de Israel comonação no monte Sinai:

Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minhavoz, e guardardes a minha aliança, então sereis a minhapropriedade particular dentre todos os povos: porquetoda a terra é minha (Êxodo 19.5).

Deuteronômio 5.2-21 elabora mais o significado de “guardarminha aliança” nos dez mandamentos, a aliança do Sinai. Esta aliançaprecisava ser renovada por cada geração voluntariamente. A aliançaera condicional. Dependia da resposta de obediência de Israel. Emboraa obediência não fosse exigida como pré-requisito da aliança (sendo aeleição soberana o único pré-requisito), era uma obrigação para acontinuação nela. Quando Israel falhava em aceitar tal obrigação, estava,de fato, repudiando sua própria eleição (Isaías 1.2,4; Jeremias 18.1-7;Oséias 6.7; 8.1).

A bilateralidade da aliança tem sua origem nos tratados antigosdo antigo Oriente Próximo. Eram particularmente os hititas queempregavam tratados entre um rei poderoso, o suserano, e um príncipe

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sujeito, o vassalo. Nestes tratados, os dois se comprometiam com certosdeveres. Voltando para o caso bíblico, estes estudiosos apontam para abilateralidade da aliança entre Iahweh e Israel (Êxodo 19.5-6; 2 Reis23.3; Jeremias 11.1-8), tendo como modelo os tratados do seu mundoantigo, como dos hititas, que certamente eram bem conhecidos por Israel.

Entretanto, em pelo menos uma linha de tradição do VelhoTestamento, o conceito da aliança é quase sinônimo com a idéia deuma promessa solene, sendo a aliança uma obrigação unilateral da partede Deus, sem a exigência de obediência da parte de Israel. A idéia deuma aliança unilateral como sendo promessa que assume o cumprimentodas obrigações de Deus, certamente aparece na idéia da “nova aliança”e da “aliança renovada” de Jeremias 31.31-34, e esta aliança teria maissignificância para o papel da igreja dentro do mundo.

Então a aliança é bilateral ou unilateral? De certo, o peso dotestemunho bíblico está num pacto bilateral entre Iahweh e Israel,enquanto aguarda a era em que sua unilateralidade receba mais ênfase.Em parte, nossa falta de clareza se deve ao mistério da inseparabilidadeda idéia da graça soberana de Deus e da resposta responsável do homem.O conteúdo de Hebreus expressa bem tal ambigüidade em referência àaliança com Abraão, quando afirmou, “pela fé (que vem de Deus),Abraão quando chamado, obedeceu...” (11.8).

Em síntese, a aliança foi soberanamente estabelecida eadministrada, e exige a obediência. Mas pode haver revolta,desobediência e recusa para cumprir o propósito de Deus. Mesmo assim,tal rebelião não significa que Deus é aleijado e conseqüentementeincapaz de cumprir seus propósitos. A escolha humana é de se envolverou não na atividade salvadora de Deus, que continua apesar da respostahumana.

Uma aliança específica para um fim amplo. Visto que a aliançaé conseqüência da eleição, cujo propósito é serviço às nações,necessariamente, a aliança visa redenção inclusiva, e não exclusiva. Abenção de Deus é o mais abrangente possível na sua finalidade. A aliançade Deus com o seu povo serve como “luz para as nações” (Isaías 42.6).Na aliança de Deus com um povo, Deus nunca tirou as nações da suamira. Ele se relaciona tão intensamente com Israel justamente porquemantém Sua reivindicação sobre o mundo todo.

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Igreja: Por quê Me Importar?

A aliança específica com Israel, fez com que ele vivesse suahistória diante dos olhos das nações ao seu redor. Desta forma, a aliançacom Israel servia como modelo do domínio e soberania de Deus sobretodo o mundo. Porque, de fato, Iahweh tem controle sobre as nações esuas histórias, como constatam os oráculos extensos dos profetas (Amós1-2; Isaías 12.23; Jeremias 46-52; Ezequiel 25-32).

Quando Israel subordinava as implicações universais da aliançaà dimensões étnicas, seu relacionamento com Iahweh se deteriorava.Assim, Israel se apegou a uma identidade exclusivista, como forma dedefesa, ignorante de que tal procedimento já enfraquecera seurelacionamento de aliança. Quando o povo de Deus chegava a tal pontode orgulho introvertido, os profetas lembravam-no que não tinhanenhuma vantagem sobre as nações (Amós 9.7).

Benção para as nações

A aliança que Deus fez com Abraão e repetiu para Israel tinhaem vista a benção para todas as nações. “Em ti serão benditas todas asfamílias da terra” (Gênesis 12.3). A frase é repetida mais quatro vezes,em Gênesis 18.18; 22.18; 26.4 e 28.4. Tudo isto confirma o que temosasseverado, que até nos documentos mais remotos do Pentateuco,implícito na fé de Israel, está o universalismo. A benção de Israel deveser compartilhada com os gentios. Em Gênesis 12.3, encontramosinsinuações daquilo que várias passagens dos profetas dirão anos depois,que no último “Dia do Senhor” as nações se reunirão ao redor de Israelpara receber a benção de Deus (Isaías 2.2-3; 19.23-25; Zacarias 8.22-23).

Israel e as nações

As nações (goyîm) sempre aparecem no Antigo Testamento emrelação com Israel e são tratadas conforme sua atitude em relação aosparticipantes da aliança: Iahweh e Israel. Além da referência a estaatitude, não há interesse nas relações e afazeres das nações. A obediênciade um homem ou de uma nação para com Deus é determinada em relaçãoa atitude para com Israel (Salmos 22.28). “Abençoarei os que teabençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem”. Em todo o

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Hexateuco confirma-se que as nações ou eram o despojo por direito deIsrael, ou instrumentos de benção ou de julgamentos sobre ele (Gênesis49.8,10; Êxodo 3.22; Deuteronômio 28.33). Os profetas tambémconstataram que as nações poderiam ser instrumentos ou sujeitos dojulgamento de Deus (Amós 6.14; Oséias 10.10) ou da sua benção (Isaías41.1ss; 45.1).

As nações podem ser, igualmente, objetos tanto de benção quantode julgamento, por causa da sua atitude para com Israel. Anteriormente,já ressaltamos numerosas passagens que falam da benção de Deus paraas nações através de Israel. Mas também podem ser objetos dejulgamento. Os cananeus foram expulsos da terra por causa da suainiqüidade (Deuteronômio 9.4,5, e não por causa da justiça de Israel!).

Entretanto, a idéia de julgamento em Gênesis 12.3 não recebe amesma ênfase que a idéia de benção, visto que “aquele que amaldiçoar”é singular enquanto “aqueles que abençoarem” é plural. O objeto e desejode Deus é a benção universal. Julgamento resulta da rejeição ou rebelião.

Finalmente, as nações ocupam um papel de testemunhas daaliança entre Iahweh e seu povo. Pode até ser a sua função maisproeminente. A aliança e os julgamentos de Deus sobre Israel se realizam“à vista das nações”, que são testemunhas (Levítico 26.45; Ezequiel5.8,14; 16.41; Amós 3.9). Assim, as nações reconhecem e“testemunham” que o Deus de Israel é o Deus de toda a terra, o Criadorde todo o mundo.

IMPLICAÇÕES ATUAIS

A eleição: risco, não privilégio. Observamos que, Israel caíaem apostasia quando considerava sua eleição como expressão defavoritismo de Deus, ao invés de um chamamento para serviço em favordas nações. Deste modo, entendemos que a eleição não é tanto umprivilégio, uma exclusividade que afasta o povo de Deus do mundo.Embora seja chamado “santo”, cujo significado básico é o de “separado”,Israel se caracteriza como um reino de sacerdotes no meio das nações(Êxodo 19.5-6), como testemunha à vista delas e intercessor a seu favor(1 Pedro 2.9). Antes de “privilégio” e “exclusivismo”, que afastam opovo de Deus do mundo, a eleição implica em serviço arriscado que

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Igreja: Por quê Me Importar?

lança o povo de Deus no meio do mundo. A eleição envolve risco.Implica em sacrifício, auto-entrega e serviço ao próximo. O risco semanifesta porque o povo de Deus deve viver sua vida não em particular,como ascéticos longe da vista e das preocupações do mundo. As naçõestestemunham o pacto entre o povo de Deus e Deus. Que assim seja,como Deus quis! Além disso, como veremos depois, na elaboração davida da nação de Israel, seu estilo de vida é testemunho, para as nações,da presença de Deus no seu meio.

Por isso, hoje, ser chamado exige uma pública confissão, à vistade todos (Mateus 10.32-33), pois a eleição tem como função, serviço àsnações.

Porque a missão do povo de Deus é de proclamar os atosuniversais de Deus, ela deve olhar além de si mesma, para a vontade deDeus para o mundo. A eleição é para um relacionamento particularcom Deus, para o mundo, não fora dele.

A nova aliança de Cristo. Não se pode duvidar que Abraão ocupaum papel significante e central na história da salvação. As referências aele no Novo Testamento são numerosas. Todavia, seu papel não éentendido como sendo para ele mesmo, mas como sendo para suadescendência, referindo-se não só a Israel, como também a Cristo e aoverdadeiro Israel nascido pela fé, como Abraão (Mateus 1.1; Atos 3.25-26; Romanos 4.13; Gálatas 3.8-16; 6.15-16). 1 Pedro 2.9-10 reafirma aeleição de Israel como instrumental na redenção universal, aplicando-aa igreja, participante da nova aliança através do verdadeiro “eleito” deDeus, Jesus Cristo (vs. 4). A diferença é que a finalidade da eleição daigreja se evidencia pela proclamação das virtudes daquele que a chamou,enquanto a eleição de Israel se expressava através da demonstraçãodestas virtudes.

A aliança com o Israel espiritual é qualitativamente diferente daanterior com Israel físico, em que Deus não só estabelece as condiçõesda aliança, mas Ele mesmo, pela atuação dentro do coração humano, dáo poder e a capacidade para cumprí-las (Jeremias 31.33; Ezequiel 36.26-27). O Israel espiritual também recebe condições para sua eleição—“ide, pois, e pregai”; mas ao mesmo tempo também recebe a capacidadede cumprí-las pela presença contínua—“eis que estou convosco todosos dias até a consumação do século”, e o poder de Deus—“mas recebereis

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poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhastestemunhas”.

Evangelização: dimensão essencial da fé. O evangelho não podeser um conceito exclusivo. O propósito da aliança de Deus é maior quenossa salvação pessoal; é de nos incluir no serviço de Deus no seuplano para o mundo todo. De modo que, se os cristãos são chamadospara serem povo de Deus, a fim de proclamar a sua salvação para omundo, deixar de fazer isto constitui uma repúdio da sua eleição, eentão, o evangelismo se torna não só uma obrigação, mas até mesmouma dimensão necessária da sua fé! Isto é, não se pode ser povo deDeus sem um compromisso com a redenção das nações. Ser povo deDeus é participar na missão de Deus para o mundo. Vale a pena citar ocomentário de R. B. Kuiper a respeito da igreja que menospreza talparticipação:

São capazes de impedir o mundo de invadir aigreja, mas também impedem a igreja de invadir omundo. Talvez insistam em que só se pregue a purapalavra de Deus em seus púlpitos, mas deixam deproclamar o verdadeiro Evangelho para os perdidos.Podem edificar na fé os salvos, mas não procurampersuadir à fé os não salvos. Orgulhando-se de suaortodoxia, vivem atormentados pela mania daortodoxia. Se não despertarem e não derem ouvidos aosom do clarim do Rei da igreja mandando queproclamem o Evangelho aos de fora, mais cedo ou maistarde estarão dormindo o sono da morte (1976:41).

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Quais são alguns riscos e alguns privilégios da eleição?

2. A aliança com Abraão continua em vigor?

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Igreja: Por quê Me Importar?

3. Abraão foi chamado para ser uma benção para uma nação oupara todos os povos?

4. Por que Deus escolheu Israel?

5. Qual é a relação entre salvação e julgamento na eleição?

6. Compare a eleição e a aliança.

7. O povo de Deus tem cumprido a sua tarefa de ser uma bençãopara as nações?

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LIBERTAÇÃO ECHAMAMENTO

Êxodo 1-18

No último capítulo, ressaltamos a significância da aliançaabraâmica para o papel de Israel diante das nações. Embora Israel busquesuas origens mais antigas neste chamamento de Abraão, o surgimentode Israel como nação, e não apenas como liga de tribos descendentesdos patriarcas, é fixado não na vida de Abraão, mas na de Moisés. Aliás,a idéia de ser enviado por Deus para uma tarefa de resgate, tão essencialao conceito de missão no Novo Testamento, se evidencia maisexplicitamente no chamamento de Moisés que no de Abraão (Êxodo3.12,13,14). Todavia, a idéia de que Deus chama um homem para serseu representante, que assume um papel de administração (Adão), dejulgamento e renovação (Noé), ou de maldição e benção (Abraão), jáprecede o chamamento de Moisés. Cada uma destas figuras pressupõe,explicita e avança a missão daquele que o antecedeu. Com Abraão,aprendemos que o plano redentor de Deus para as nações se realizaráatravés de um povo, Israel. Com Moisés aprendemos a maneira comoeste povo será um canal de benção ou maldição para as nações.

Moisés no Egito: a libertação humana (Êxodo 1-2)

Não é à toa que a personagem de Moisés predomina nos livrosde Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Foi ele quem Deuschamou e usou mais na formação do povo de Israel em nação, naelaboração do seu culto e das suas leis, enfim, na expressão fundamentalda sua fé. Tão elevada foi a estimação de Moisés que os comentáriosrabínicos chegaram a descrevê-lo como quase divino.

Em vista disto, é ainda mais importante ressaltar que, aoapresentar este homem, a narrativa de Êxodo sublinha não o seu carisma

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Igreja: Por quê Me Importar?

e capacidade própria para liderar, sua autoridade exemplar sobre Israelmas, ao invés disso, revela a rejeição da sua autoridade pelos hebreus,sua incapacidade de guardar uma das leis mais fundamentais dada ahumanidade (contra o assassinato) e sua antipatia. Como na eleição deAbraão, em Moisés Deus escolheu um representante da raça caída. E comoAbraão, Moisés seria um peregrino em terra estranha (Êxodo 3.22).

Aliás, o foco de toda a narrativa não está tanto na personalidadede Moisés em si, mas no Deus que o prepara e o chama para ser seuagente na realização do seu propósito. Mais uma vez, o relato bíblicoconfirma que a iniciativa é inteiramente divina—no chamamento e naeleição para serviço.

Também, a narrativa salienta que a libertação de Israel, evidênciahistórica de sua aliança com Deus, somente pode ser efetuada pelapoderosa mão de Iahweh. Moisés, sem um chamamento marcante deDeus, não poderia libertar nem apenas um dos seus compatriotas daopressão de um só egípcio, muito menos reunir todo o Israel para libertá-lo do poderoso império egípcio! Moisés sozinho era incapaz dedemonstrar a justiça de Deus, de liderar e de libertar Israel.

A libertação de Israel só poderia dar relevo à soberania única deIahweh. As virtudes particulares de um homem podem ser instrumentosno propósito divino, mas a falta delas jamais o impediria.

Moisés no êxodo: a libertação divina (Êxodo 3-18)

Nas vésperas do êxodo, os israelitas haviam passado jáquatrocentos anos no Egito (Atos 7.6). Porque os egípcios detestavampastores, os israelitas foram relegados para o Gosen, onde mantiveramsua identidade étnica e sua vida comunitária (Êxodo 8.22; 9.26). Àmedida que os anos passavam e Israel crescia em número, os privilégoslhe foram retirados e os egípcios começaram a considerá-lo como riscode segurança na fronteira. A situação piorou cada vez mais e elesclamaram a Deus pela libertação da opressão egípcia. É neste contextoque lemos do chamamento de Moisés e da sua insuficiência anterior.

O chamamento. O chamamento de Moisés aconteceu no contextode um encontro pessoal com Deus, na sarça ardente. Lá teve uma

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experiência espiritual profunda e, através dela, aprendeu da realidadede Deus e da sua aliança com Israel. Bem ciente do seu fracasso prévio,mas transformado pelo conhecimento de Deus, Moisés se dirigiu a Israel,persuadido de que fora mandado por Iahweh, que se compadecera deIsrael (Êxodo 2.23-25; 3.7-9). Prometeu-lhes uma libertação que elebem sabia não ter forças para realizar, nem sozinho e nem com a ajudadeles. De fato, os esforços próprios de Moisés não desempenham partealguma no episódo. E o povo, mesmo fugindo do Egito, não se voltapara lutar contra Faraó e vencê-lo. Somente a vocação de Moisés podeexplicar a radical transformação de eventos, cujo resultado foi alibertação do cativeiro.

No episódio da sarça ardente, Deus se identifica pelo nomeIahweh. Inclusive, esta é a única referência na Bíblia que oferece umainterpretação do nome. A explicação é dada através de um trocadilhohebraico associando o nome Iahweh ao verbo “ser”, com o seguinteresultado: “eu sou o que sou”. O verbo “ser” não deve ser entendidoestaticamente, como mera referência ontológica à existência de Deus.No hebraico o verbo é dinâmico, difícil de representar em português. Aidéia é mais aproximada de “eu faço ser”, do que de “eu sou”. Mais quepassivamente presente ou existente, a existência de Deus sempre éeficazmente presente, um adesse mais que um simples esse.1

Ao revelar seu nome, Deus estava afirmando a sua presença ativana história, manifesta em palavra e ação. É o Deus que envia (Êxodo3.14), o Deus que liberta Israel do cativeiro (Êxodo 20.2), o Deusoperante nos afazeres da humanidade, particularmente nos do seu povo.De fato, a narrativa do êxodo testemunha a presença consistentementeativa de Deus em todo o episódio. Deus nunca se ausentara do seu povo.

Por outro lado, e paradoxalmente, a interpretação do nome deDeus não só vislumbra a sua presença ativa na história. Também salientaa sua incomparabilidade e até certa obscuridade em segredo. “Eu souquem eu sou”. A auto-existência de Deus não pode ser descrita pornenhuma categoria ou analogia, a não ser referência a ele próprio. Ele éúnico. Por certo, esta é a idéia por trás da proibição da idolatria efabricação de imagens, o primeiro mandamento do Decálogo. Não hácomo representar o Deus supremo, e qualquer tentativa só poderá seruma depreciação grosseira e blafêmia conseqüente. Destarte, enquantoque Deus é ativamente presente na história, a sua presença é algo

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Igreja: Por quê Me Importar?

escondido. Este tema também se destaca através de todo o relato doêxodo. Faraó não consegue enxergar o único Deus nos acontecimentosdos seus súditos israelitas, apesar das pragas!

Em resumo, o nome de Deus2 revela sua presença na história,uma presença tanto ativa quanto escondida. Assim sendo, o seu nome éum aviso para que o homem não exceda seus limites como criatura e,ao mesmo tempo, uma promessa que Deus sempre age em nosso meio.

Além do significado do nome de Deus, o próprio evento destaauto-identificação de Deus tem significância para nós. Para o hebreu,“nome” simboliza “caráter”. Conhecer o nome de Deus é conhecê-lopessoalmente. O mero fato de Deus ter um nome, demonstra que Ele éplenamente pessoal. Não é mero conceito filosófico, fruto das nossasmais inteligentes cogitações. Não é um princípio impessoal do maisalto elevado raciocínio ou sabedoria, como no misticismo oriental. Nãoé idêntico a tudo que é e que acontece, como no panteísmo e noespiritismo contemporâneo. Deus é pessoa. Pode ser conhecido pelohomem. “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaquee o Deus de Jacó” (Êxodo 3.6). A proclamação do povo de Deus para asnações inclue um convite ao conhecimento pessoal de Deus e a entrarem relacionamento com Ele através da aliança.

O Êxodo. O êxodo era lembrado por Israel como o ato do seunascimento e da sua criação (Números 14.19). Assim, era um atolibertador e redentor que eclipsava todos os demais subseqüentes que,por sua vez, eram medidos por este. Estava no cerne da lembrança daeleição de Israel. O êxodo era tão importante para o israelita quanto acruz é para o cristão.

No êxodo, Deus se manifesta como um Deus que escolhe. Alibertação de Israel foi antecipada pela sua eleição (Êxodo 2.24,25).Como já observamos no capítulo anterior, a eleição por Deus é umconceito vital ao ensino da Bíblia toda. Na eleição de Israel, como nade Moisés e de Abraão, aprendemos algo essencial para a nossa fé epara a nossa vocação como povo de Deus.

Quanto a nossa fé, aprendemos que nada havia de merecimentona escolha. Deus não escolheu Israel (nem Moisés ou Abraão) porquefosse forte, culto ou virtuoso, mas justamente porque era fraco,

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desamparado e pisoteado. Não foi o merecimento, mas a necessidadeque provocou a eleição. “Deus prova o seu próprio amor para conosco,pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores”(Romanos 5.8).

Quanto a vocação do povo de Deus, aprendemos que a escolhanão depende de grande talento e dinamismo inerentes a alguém. Ahistória está cheia de “surpresas”, pessoas simples que Deus usoumaravilhosamente na expansão missionária da igreja. Os atributos defineza na linguagem ou de grande conhecimento não são essenciais àpregação do evangelho. Aliás, podem até prejudicar. Urgem, entretanto,a atuação e poder de Deus (1 Coríntios 2.1-5; Romanos 15.18-19). Se ainiciativa e a dependência contínua não forem de Deus, de nadaadiantam.

Quando Deus trata da sua aliança com o seu povo, é significantea freqüência com que Ele se refere ao êxodo. Deuteronômio 26.5-9ressalta a importância deste evento para a lembrança da promessa deDeus. No êxodo, Deus cumpriu a Sua promessa e se “lembrou” da suaaliança, libertando seu povo do cativeiro e da escravidão (Deuteronômio9.26; 12.5; 15.15; 24.18). Isto é parte básica do credo de Israel (Êxodo20) e este credo transformou Israel de um mero povo (‘am) numacomunidade “chamada” (g~h~l), que cultua e louva àquele queprovidenciou sua libertação. No nosso estudo posterior dos salmos e daliturgia de Israel, elaboraremos a significância do louvor do povo deDeus para a sua missão para o mundo. Mais adiante ainda, no NovoTestamento, e especialmente no livro do Apocalipse, desenvolveremosa idéia de que, por um lado, a missão da igreja é um grande ensaio parao louvor que as nações erguerão ao Cordeiro de Deus. Por enquanto,basta apenas reparar que, já na lembrança do êxodo, há uma incitação àadoração e ao louvor que terá implicações para o mundo todo. Istoporque, lembrando do Deus Libertador, Israel o associava com nadamenos que o Deus Criador, que é dono dos céus e da terra (Salmos 135-136). Dificilmente lembraria disso sem cogitar as conseqüências para apreocupação universal de Deus.

Finalmente, o êxodo é a base para a tipologia cristã que antecipaa obra redentora de Cristo. Isto é, o êxodo como evento todo, desde alibertação através do Mar Vermelho no início do livro de Êxodo até a

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conquista de Canaã no livro de Josué, serve pelo menos como alusão, efreqüentemente como tipologia da salvação em Cristo (por exemplo, 1Coríntios 10.1-3).

Os milagres. O registro do êxodo enfatiza os sinais, as pragas eas vitórias no Mar Vermelho como demonstrações aos egípcios do podere da presença soberana de Iahweh. A frase: “Saberão os egípcios queeu sou Iahweh” ocorre com muito mais freqüência que “saberá Israel”(Êxodo 7.5; 8.10; 12; 14.17; 34.10, ver também Josué 4.23-24; 1 Samuel17.45-46; Salmo 98.2,4) para indicar a finalidade dos milagres. Umavez, Moisés até apelou a Deus para não destruir Israel porque o Egitosabia da presença de Deus no meio do seu povo pela evidência demilagres, e a destruição teria um efeito negativo para os egípcios(Números 14.13-16). Como no Novo Testamento, os milagres servema um propósito missionário. Confirmam a mensagem de boas novas esão indícios, isto é, tanto garantia quanto contribuintes, do reinado deDeus anunciado. Manifestam-se especialmente nos momentos críticosda história da salvação, autenticando a mensagem e atestando a soberaniade Deus. No Velho Testamento, como no Novo, os milagres não servemtanto para animar o povo de Deus quanto para testemunhar e desafiar omundo. Sua mira está no mundo. Veremos este princípio operantedepois, no Novo Testamento, como base do argumento de Paulo em 1Coríntios 14. Também destacaremos a repetida presença de milagresno ministério de Jesus e dos apóstolos, sempre em conexão com umnovo avanço missionário. Não nos surpreende, portanto, que em talmomento crítico na vida de Israel, como no êxodo, a presença destessinais se ressaltem.3

Se os milagres têm o mundo como seu objeto, têm Deus comoseu sujeito. O papel do povo de Deus ou do servo de Deus na operaçãodo milagre desaparece totalmente, a não ser à medida que este realmenteglorifica a Deus. O caso da fuga pelo Mar Vermelho em Êxodo 14 éparadigmático.

Aqui toda atividade procede exclusivamente de Deus. Osisraelitas, de maneira alguma, são ativos na sua defesa. As rodas doscarros egípcios se emperraram por um poder misterioso. Uma nuvemconfunde o exército egípcio, que não consegue se aproximar dos

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israelitas. Tudo isto para que Deus seja glorificado (Êxodo 14.17-18).Moisés e Israel são meros expectadores de todo o drama (14.13-14).

Encontramos o mesmo fenômeno no relato da vitória de Gideãosobre os midianitas (Juízes 7). A redução dos seus homens, por Deus,perto das águas, já introduz o tema: Deus não precisa de grandes tropas,nem mesmo de uma que seja pequena, pois eles nem tiraram suasespadas, apenas balançaram as tochas, quebraram as panelas, tocaramas trombetas e ficaram no seu lugar, enquanto o temor caiu sobre oinimigo e eles mesmos mataram uns aos outros na confusão. O episódiosalienta que onde Deus é glorificado a ação cooperativa pelos homensnão existe (ver também 2 Crônicas 20).

Os milagres, então, servem para chamar o mundo para olhar aDeus e glorificá-Lo.

IMPLICAÇÕES ATUAIS

Os eventos que traçamos aqui elaboram, explicitam e avançamas lições do nosso estudo anterior do livro de Gênesis. Sugerimos osseguintes temas como implicações atuais da libertação de Israel do Egito:

Vocação missionária. O chamamento de Moisés e de Israelressalta que a tarefa do povo de Deus é de tal tamanho e complexidadeque exige nada menos que uma vocação de Deus. Sem tal vocação,nada adiantava a preocupação de Moisés com a opressão do seu povo.A libertação não era fruto de justiça humana isento da iniciativa divina.Somente Deus pode operar tamanha libertação contra o imenso poderpolítico, financeiro e estrutural de Faraó. Mas, para tal, Deus se reveloua Moisés e o chamou. Ele é o único e verdadeiro Deus. John Stott dizque o monoteísmo, conhecer o único Deus Criador, é a base da tarefamissionária do povo de Deus.

Moisés teve um encontro pessoal com o Deus todo-poderoso!Quando Deus revelou seu nome, já implicitamente revelou que é pessoal.Pode ser conhecido. E, de fato, quer ser conhecido. Tanto que, por isso,chama um povo para Si com a finalidade de deixar seu caráter serconhecido entre as nações.

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Igreja: Por quê Me Importar?

O engajamento do povo de Deus no mundo começa, e só podecomeçar, com um chamamento de Deus e um encontro pessoal comEle.

A eleição de Deus. A eleição de Israel não era resultado denenhuma virtude própria que o povo possuía. Os eventos do êxodosalientaram que nenhum esforço ou esperteza de Israel ou de Moiséscontribuíam para a sua libertação. O “eleito” deve depender somentede Deus para sua tarefa no mundo.

Paulo reparava que só na fraqueza dele que via o poder de Deus(2 Coríntios 12.10) e que a sua pregação missionária não se caracterizavapor grande talento da sua parte, mas pelo poder de Deus (1 Coríntios2.1-5).

O caminho para a terra prometida é o caminho primeiro desofrimento e libertação. O caminho para a glória da ressurreição é ocaminho do sofrimento da cruz.

O desempenho do povo de Deus no mundo não depende detalentos, recursos e obras colossais, frutos da ingenuidade e novidadehumanas. Depende de iniciativa divina e da humilde disposição da igreja,quer rica e poderosa, quer pobre e fraca, mas quase sempre, as últimas.

De qualquer modo, é erro sério pressupor que a preocupaçãouniversal de Deus hoje depende de empreendimentos missionários ricose poderosos. Depende do poder de Deus e emana do seu caráter.

Milagres: sinais para o mundo, não para o povo de Deus. Oregistro do êxodo prepara o leitor para o que se segue em toda a Bíblia.Os milagres servem também a um propósito missionário. Dirigem-seao mundo com a finalidade de chamá-lo para glorificar a Deus. Relegar-lhes qualquer papel ou nível insignificante só seria desprezar, ou namelhor hipótese, ignorar sua importância no desempenho do desafiomissionário. Dizer que não são operantes hoje seria distorcer o testemunhobíblico pelos olhos da incredulidade. Não disse Jesus que o crente nelefaria maiores obras que Ele (João 14.12)? Paulo não esclareceu que asmanifestações milagrosas, o carismati, só desapareceriam depois da vindade Cristo glorificado (1 Coríntios 13.10)?

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Quando examinamos os momentos “críticos” ou “chaves” nahistória quando havia um avanço significante nos propósitos redentoresde Deus, sempre encontramos a presença de sinais extraordinários. Porquê? Não tanto para o povo de Deus, quer seja Israel ou a igreja, maspara que o mundo, as nações saibam que Iahweh é o Deus verdadeiro eO glorifiquem. Qualquer outra motivação além deste testemunho bíblicodeve levar a certa suspeita. Os propósitos de Deus não são dirigidosultimamente para o seu povo, mas apenas penultimamente, a fim dechegar ao seu objeto último, o resgate da Sua criação.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Milagres ocorrem hoje no contexto do testemunho do povo deDeus? Pode citar exemplos?

2. Compare o seu chamamento por Deus com o de Moisés.

3. Qual é a importância do êxodo para a “história da salvação”?

4. Moisés foi o primeiro missionário no Antigo Testamento? Porquê?

5. Como pode a igreja incentivar a vocação missionária e selecionaros que se dizem vocacionados? Como a igreja deve procedernesta seleção?

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Igreja: Por quê Me Importar?

1A palavra latina, esse, corresponde ao verbo “ser” no português e se refere à existência(passivo), enquanto adesse corresponde ao verbo “estar” e se refere à presença (ativo).2O nome Iahweh aparece mais que 6.800 vezes no Antigo Testamento.3Uma excelente apologética para a existência de milagres é desenvolvida por C. S. Lewis(1984). Ver H. H. Rowley (1977:59) para um exemplo de um profissional de exegese críticade boa reputação que afirma, embora não acriticamente, a presença de milagres nos registrosbíblicos.

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SACRIFÍCIOE LEI

Êxodo 19-40, Levítico, Números, Deuteronômio

Moisés dirigiu o povo diretamente para o monte Sinai, ondefizeram um compromisso solene com o Deus que os libertou. A aliançado Sinai era a base contínua do relacionamento de Israel com Iahweh(Deuteronômio 5.2ss). Era a sequência da eleição. A eleição exigia umaresposta, a resposta de adoração e serviço.

Mas esta resposta precisava ser renovada voluntariamente porcada geração. A aliança não era incondicional. Mesmo que a sua naturezapredominante tenha sido a graça de Deus, e a iniciativa permanecidocom Deus, a aliança subseqüentemente revelou os mandamentos deDeus. Israel foi chamado ao privilégio da responsabilidade. A suaresposta à eleição era a aceitação do seu chamamento e o juramento deobediência. Israel jurou lealdade e obediência incondicionais, isto é, adevoção fiel (heedh) a Iahweh que anterior e primeiramente o tinhaescolhido.

Embora a obediência não tenha sido pré-requisito da aliança,era uma obrigação para a participação contínua nela.

“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz, eguardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiardentre todos os povos: porque toda a terra é minha” (Êxodo 19.5, verJosué 15.16). Deus tem o direito de possuir o que comprou.

E a obrigação de Israel era: “Vós sereis reino de sacerdotes enação santa” (Êxodo 19.6, ver 1 Pedro 2.9). A partir de então, Israelcumpriria uma função sacerdotal como povo dentre todos os povos,representando Deus no mundo das nações. A aliança implicava, então,numa função especialmente missionária de Deus. Quando Israel falhouem aceitar esta obrigação, então também estava repudiando sua própriaeleição (Isaías 1.2,4; Jeremias 18.1ss; Oséias 6.7; 8.1).

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Igreja: Por quê Me Importar?

Deus ativo e soberano

Pela aliança, Deus assegurou que permanecia ativo no meio deIsrael, embora, às vezes, aparentemente “escondido”. Sua presença era,ao mesmo tempo, reivindicação da sua soberania real em todas assituações conseqüentes. Deus permaneceria incansavelmente fiel aosseus propósitos e comprometido nas suas promessas. Iahweh é o Deusque “se lembra” especificamente da sua aliança com Abraão e os outrospatriarcas. “Lembrar-se” não quer dizer que Deus é capaz de ter umlapso de memória, mas é figura bíblica que simplesmente expressa asua imutabilidade. Ele não é arbitrário. Mais literalmente, no hebraico,“lembrar-se” significa “agir”. Deus, então, agiu de acordo com a suaaliança quando “se lembrou” dela. Assim, Deus permanece ativo nomeio do seu povo.

De fato, os israelitas se convenceram de tal atividade de Deusno seu meio, através de cada circunstância da sua libertação de Faraó.Nada estava além do poder e controle de Iahweh. Ele era soberano sobretoda a vida de Israel. A sua presença, em cada detalhe da libertação,serviu uma vez por todas como testemunho da sua atividade salvíficano meio de seu povo e atestou a sua soberania.

A própria natureza da aliança ilustrava esta soberania real deDeus sobre seu povo. A aliança sinaítica era uma aliança real. Iahwehnão era somente seu Deus-Protetor, como também seu chefe exclusivoe político. Isto atestava o seu senhorio real. Por isto, quando Israeldesejou ter um rei, isto foi julgado como desobediência e rejeição aDeus (2 Samuel 8.4-9), não por querer um rei em si, mas porque, assim,queria ser como as outras nações. E ser como as outras nações só poderiaser uma repudiação da sua aliança única com Iahweh. De fato, por quaseduzentos anos, Israel não tinha governo, nacionalidade, exército efetivo,nem administração fora de Iahweh. Era uma liga sacra de tribos unidasem aliança com seu rei, Iahweh.

Proibição contra idolatria

A proibição contra idolatria era conseqüência da soberania únicade Iahweh, e assim consta como a primeira das obrigações de Israel

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delineadas no decálogo (Êxodo 20.3; Deuteronômio 5.7). Tal proibiçãonão negava a existência de outros deuses.1 Por outro lado, os deuses doEgito na narrativa sobre o êxodo são ignorados por serem insignificantes.Só valia a vontade de Iahweh, que comandava até as forças da natureza.Estes “deuses” simplesmente não têm importância diante de Iahweh.

Esta proibição era especialmente significante para a situaçãode Israel, em que a religião cananita geralmente considerava o deus doseu santuário principal como o principal, ou “rei”, de um panteão dedeuses.2 Então, a proibição significava efetivamente que o israelita lealse dava apenas com um Deus. Iahweh é um Deus único, não como osoutros deuses.

Sendo Iahweh o único Deus e os outros deuses relegados àinsignificância, o corolário de aliança exclusiva com Deus surge daproibição contra a fabricação de imagens. A primeira explicação destaproibição se encontra na lembrança de que Deus havia falado comMoisés no meio do fogo sem mostrar sua aparência (Deuteronômio4.12). Depois, no período do exílio, a explicação teológica é elaborada(Isaías 40.18-20; 44.9-20). Deus é o criador e não o homem e, por isso,este último não deverá usurpar o lugar do Criador na criação de objetosde adoração.

Somente Iahweh tem o direito de penetrar toda faceta da vidade Israel (Deuteronômio 18.3), pois é um Deus “ciumento”, isto é, zeloso.Como qualquer marido amoroso, Iahweh não tolera repartir sua esposacom nenhum outro rival. O corolário do “zelo” do Senhor é a “santidade”de seu povo. A relação de Israel com Deus separa-os para um serviçoespecial. Através da sua obediência, seu caráter “santo” (significa“separação) assumiria uma qualidade ética também, que serveprincipalmente como testemunho para as nações do caráter e da presençade Deus no seu meio.

Redenção

No chamamento de Israel para a santidade, ou “separação”,encontramos importantes indícios de redenção. A palavra em si,“redimir” (gâ’al), aparece poucas vezes em Êxodo mas, quando usada,significa “pagar o resgate”. Pelo menos duas vezes descreve a atividade

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Igreja: Por quê Me Importar?

redentora de Deus para com Israel (6.6; 15.13). Este papel de resgatar éexemplificado no livro de Rute e definido em Levítico 25.25, e depoisse refere a futura redenção que Deus daria a Israel no cativeiro naBabilônia (Isaías 43.1). Mas mesmo que a palavra em si não apareçamuito em Êxodo, a idéia de salvação já está presente. Por exemplo, opovo redimido cantou o cântico de Moisés (que é apropriadamentereferido em Apocalipse 15.3 como também o cântico do Cordeiro!) àbeira do Mar Vermelho depois de sua libertação, ressaltando o eventocomo “salvação” (Êxodo 15.2). Embora a sua compreensão da redençãoàquela altura tenha se restringido à idéia de salvação como libertaçãode opressão política, a base do conceito na aliança que ampliava muitomais o conceito de ser um povo “salvo”, “eleito” e “sacerdotal” já foiestabelecida ali. A aliança elabora o conceito de redenção através dosistema de sacrifícios e através da lei.

O sistema de sacrifícios. O sistema de sacrifícios surgiu daligação de Israel como nação “santa” e dele como reino de sacerdotes(ou “reino em relação ao sacerdócio”). Em outras palavras, o ritualismoda fé israelita, o aspecto dela como reino sacerdotal, tinha como funçãoprincipal destacar o caráter ético desta fé, o aspecto de um povo “santo”.O propósito do sistema de sacrifícios era conscientizar Israel da suadistância em relação a santa presença de Deus. Além disto, encorajou-o a entrar numa vida de culto e comunhão.

A grande extensão de material sobre o culto (Êxodo 19-40,Levítico) ressalta que o culto de Israel era o coração da sua religião.Tanto que a construção do tabernáculo exigia muita precisão e cuidado.Em primeiro lugar, o objetivo da construção do tabernáculo era que apresença de Deus fosse experimentada no meio do seu povo.Especialmente o projeto da arca ressaltava a sua presença. O ápice daconstrução vem quando a glória de Deus enche o tabernáculo (Êxodo40.35). Como já observamos anteriormente, o livro do Êxodo ressaltauma teologia de presença. A presença de Deus era a promessa básicapara Israel (33.14). E esta presença habitava na comunidade de Israel.Segundo, o tabernáculo e seu ritual permitiam que o israelita fielexperimentasse a segurança de perdão e aceitação de Iahweh. Apesardo abuso posterior deste sistema, o sacrifício e a expiação bemdestacaram a santidade de Deus e o pecado do povo. Até os mais sinceros

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reconheciam a necessidade de pureza absoluta de coração para que seusacrifício fosse considerado aceitável (Amós 4.4,5; 5.21-24; Isaías 1.10-15; Jeremias 7.21-26). Esta percepção de necessidade, preparou-os paraa promessa subseqüente de Iahweh, que um deles efetivamente seofereceria como sacrifício perfeito e culto agradável e se tornaria o seumediador. Somente um tal de Santo de Israel poderia validar os grandesprincípios do sistema sinaítico de sacrifícios e se tornar o instrumentosacerdotal através do qual as pessoas podem se aproximar de Deus, omeio de comunhão contínua entre Deus e o homem, e a oferta todosuficiente de gratidão devida a Deus.

Israel devia ser “um reino de sacerdotes”, o representante divinono mundo e a favor do mundo (como Adão) para a benção das nações(como Abraão). Mas o próprio Israel, através do sistema de sacrifíciose do tabernáculo3 , se tornou cada vez mais consciente da sua própriadistância de Deus e necessidade de entrar na benção de Iahweh. Restariao servo sofredor cumprir e consumar o sistema de sacrifícios quando—

pelo eterno Espírito, a si mesmo se ofereceu sem máculaa Deus... para aniquilar pelo sacrifício de si mesmo, opecado... e ser a propiciação ... pelos pecados do mundointeiro (Hebreus 9.14,35; 1 João 2.2).

A lei. A aliança elabora o conceito de redenção não só atravésdo sistema de sacrifícios e da construção do tabernáculo, mas tambématravés da lei. Enquanto o tabernáculo era uma analogia visível e ritualda santidade e da salvação de Deus, a lei era a sua expressão verbal. Alei também refletia a idéia de que Deus exerce Sua soberania real sobreseu povo escolhido, em todas as áreas da sua vida. O povo de Deuselabora seus afazeres e conduta de maneira que reflita a natureza e ocaráter de Iahweh. Deus dá sentido a toda a vida cooperativa e individualdo seu povo.

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Igreja: Por quê Me Importar?

EXCURSO

Imediatamente, uma tremenda barreira para acompreensão acertada da lei surge para o leitor cristão.Ele logo pensa: será a lei o polo oposto da graça? Nãoserá a Velha Aliança cancelada pela Nova Aliança?Não será o cristianismo uma religião de liberdade enão de obras? Estas são as perguntas do leitordescuidado das cartas de Paulo aos Romanos e aosGálatas.

Esclarecemos que a polêmica levantado porPaulo nestas epístolas se refere a um judaísmo legalistada sua época e não à relação entre o Velho e o NovoTestamento.4 A “Lei” conseqüente da aliança de Deusnunca era apresentada como o caminho ou meio dasalvação. Pelo contrário, era a resposta do povo à açãolibertadora e salvadora de Deus já conseguida, respostaesta que se exprimia no louvor e no culto. Seria maisanálogo à relação correta entre obras e a graça, descritoem Efésios 2.8-10. O decálogo e os mandamentosmostraram ao povo como servir ao seu Deus. Erampara Israel o que os mandamentos de Jesus, por exemplono sermão do monte (aonde ele intensifica e interiorizaa lei!), e também os códigos de ética das epístolas, sãopara a igreja. Eram um guia de vida para um povo queDeus já havia salvo e redimido. Enfim, era a respostade obediência à atividade redentora e gratuita deIahweh. Tanto que poderia ser “resumida” em termosdo maior teste de amor (a “devoção leal” de esedh,Êxodo 20.6), o amor a Deus (Deuteronômio 6.5) e oamor ao próximo (Levítico 19.18).

Desta forma poderíamos interpretar o ataquede Paulo contra o judaísmo do seu tempo como umareformulação em Cristo da intenção original de Deusna aliança sinaítica e a lei subseqüente.

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A lei, então, era a resposta de gratidão de Israel pela sualibertação. Neste contexto, a gratidão é uma emoção fundamentalmenteética e, portanto, a fé israelita adquiriu uma qualidade ética, como a leievidencia. Embora tenham sido os profetas do século VIII e VII quedeclararam com clareza e insistência a natureza ética da fé de Israel, jána aliança do Sinai os germes da religião ética foram plantados. Comtal ética, os profetas anunciavam a injustiça social da sua época nemtanto como campeões dos direitos humanos em si, mas como campeõesda vontade de Deus que quis expressar seu caráter justo através de umpovo escolhido.

Antes, alegamos que a lei era a expressão verbal da redençãode Deus como o tabernáculo era a sua analogia visível, tipo parábola.Isto afirmamos porque em toda a lei o cuidado ativo e salvífico de Deusem favor das viúvas, órfãos, cativos e estrangeiros recebe atençãoespecial (Êxodo 22.21-24). No Egito, Deus se revelou como um Deuscompassivo e salvador (Êxodo 2.23-25; 3.7-9; 34.6-7). Compadeceu-se da opressão de Israel e o libertou pelo seu poder.

Mais ainda, já que Deus tem essa “preferência”5 a favor dosdesamparados, Israel, como seu povo, deve tê-la. O povo de Deus devedemonstrar o caráter salvador de Deus de forma prática. Não é à toaque o Salvador manifestaria a mesma preocupação (Lucas 4.18-19). Etal preocupação salvífica é caracterizada pela lei.

A lei refletia o caráter salvador e compassivo de Iahweh,especialmente através das suas provisões em relação à exploraçãoeconômica (o uso apropriado da terra), à injustiça social (os direitosdos escravos) e ao bem-estar dos mais fracos (o estrangeiro, o órfão e aviúva).

Numa sociedade agrícola, a terra era o capital mais importante.Ser privado de terra significava praticamente perder a vida. Portanto,Deus ordena a providência de redistribuição e manutenção de terras.Deus somente é Senhor e proprietário (Levítico 25.23). O homem éapenas inquilino. O inquilino paga a Iahweh o aluguel, isto é, um dízimo,10%. O quinqüagésimo ano, o ano de “jubileu”, era um ano único degraça quando todas as terras eram restauradas aos seus possuidoresoriginais. Embora uma lei nem sempre praticada, os profetasrelembraram a Israel a sua importância (Ezequiel 45.8; 46.17). A ajudamútua deveria caracterizar o povo de Deus. E os perigos, tanto da

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Igreja: Por quê Me Importar?

afluência quanto da pobreza, deveriam preocupar a todos (Levítico25.18-25). Nestas leis, a preocupação salvífica de Deus em relação àexploração econômica se manifestou.

A lei também evitava a injustiça social. Não era como nassociedades politeístas. Os escravos judeus eram protegidos pela lei(Êxodo 21.2-27; Levítico 25.25-55). Os mestres hebreus devem lembrarque eles mesmos também foram escravos no Egito e que Iahweh osremiu (Deuteronômio 15.15). De fato, o escravo deve ser tratado comoqualquer outro obreiro (Levítico 25.39-40) e o ano do jubileu oferecia-lhes a oportunidade de liberdade (Êxodo 21.3; Deuteronômio 15.12-18) juntamente com o direito de levar consigo parte da produção daterra. Desta forma havia sempre ampla possibilidade do escravo seintegrar econômica e socialmente na sociedade geral, livre de dívidas esuprido para as necessidades fundamentais da vida.

Finalmente, a lei providenciava o bem-estar dos mais fracos evulneráveis da sociedade: os órfãos, as viúvas, e os estrangeiros. Onão-israelita que estabelecia residência sob a proteção de Israel, e não oestrangeiro passageiro, possuia certos direitos, privilégios eresponsabilidades e era classificado pela lei junto com os órfãos e osnecessitados (Deuteronômio 14.29; Salmo 146.9; Êxodo 22.29). Oisraelita não deve oprimí-lo (Êxodo 22.21,23) e, sim, amá-lo(Deuteronômio 10.19). Uma das razões pela observação do sábado erapara refrescar o peregrino (Êxodo 23.12). As espigas do vinhedo e docampo deveriam ficar para ele (Levítico 19.10; 23.22; Deuteronômio24.19-21). Ele era incluído na provisão feita para as cidades de refúgio(Números 35.15). Sendo ele indefeso, Deus seria a sua defesa e julgariao seu opressor (Jeremias 7.6; 22.3). Tinha praticamente o mesmo nívelque o israelita (Levítico 24.22), era contado junto com Israel naparticipação da aliança (Deuteronômio 29.9,11). E na visão de Ezequielda era messiânica, participava na herança de Israel (47.22-23).

As viúvas e os órfãos eram considerados pessoas carentes enecessitadas, incapazes de se proteger ou suprir suas própriasnecessidades. Assim, mereciam consideração especial e tratamento justo(Êxodo 22.22-24; Deuteronômio 10.18; 24.17-21; Malaquias 3.5). Jáfreqüentemente esquecidos, Deus os fez objeto especial da suapreocupação (Salmos 68.5,6; 146.9; Provérbios 15.25).

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Em resumo, a lei refletia o próprio caráter de Iahweh como umDeus compassivo, misericordioso e libertador. A sua justiça deve ser opadrão para a comunidade do seu povo, que assume para si estacaracterística profundamente redentora como resposta de compromisso,de gratidão e de obediência à aliança que Iahweh havia feito com ela.Esta sociedade teocrática era igualitária, exaltava o trabalho, denunciavaa preguiça, encorajava o treinamento apropriado dos filhos, promovia areciprocidade e se preocupava ativamente pelo seu próximo. Enfim,respeitava a dignidade do homem, portador da imagem de Deus. Antesda lei ser abusada e transformada em sistema legalista, era na intençãode Deus a expressão de seu caráter e se colocava não como caminhopara a salvação, mas como o caminho do “já salvo” como respostaagradecida a Deus.

IMPLICAÇÕES ATUAIS

Os eventos que traçamos neste capítulo, que são elaboradosdesde o capítulo 19 do livro de Êxodo até o fim do livro de Josué, sãosignificantes para nossa compreensão da identidade e tarefa do povo deDeus. Eles elaboram, explicitam e avançam as idéias antecedentes nolivro de Gênesis. Sugerimos os seguintes temas como implicações daaliança de Israel com Deus:

A eleição de Deus para uma tarefa. A eleição de Israel nãoera resultado de nenhuma virtude própria que o povo possuía. Os eventosdo êxodo salientaram que nenhum esforço ou esperteza de Israel ou deMoisés contribuíam para a sua libertação. O “eleito” deve dependersomente de Deus para sua tarefa no mundo.

Paulo reparava que só na fraqueza dele que via o poder de Deus(2 Coríntios 12.10) e que a sua pregação não se caracterizava por grandetalento da sua parte, mas pelo poder de Deus (1 Coríntios 2.1-5).

O caminho para a terra prometida é o caminho primeiro desofrimento e libertação. O caminho para a glória da ressurreição é ocaminho do sofrimento da cruz.

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Igreja: Por quê Me Importar?

A tarefa da igreja não depende de talentos, recursos e obrascolossais, frutos da ingenuidade e novidade humanas. Depende deiniciativa divina e da humilde disposição da igreja, quer rica e poderosa,quer pobre e fraca, mas quase sempre, as últimas.

De qualquer modo, é erro sério pressupor que a preocupaçãouniversal de Deus hoje depende de empreendimentos ricos e poderosos.Depende do poder de Deus e emana do seu caráter.

A presença ativa de Deus na tarefa da igreja. A revelação donome de Deus punha em relevo a presença ativa de Deus no meio doseu povo. Como Deus era ativo (ora evidentemente, ora obcuramente)na libertação do seu povo, permanecia ativo no seu meio para a realizaçãodo serviço deles.

O tabernáculo particularmente enfatizava a presença de Deusno seu povo, bem no meio de seu acampamento. Mais tarde, o Temploserviria ao mesmo propósito. E a promessa da vinda de Emanuel (“DeusConosco”, Isaías 7.14) se tornaria a promessa mais venerada do VelhoTestamento. Israel daria testemunho aos povos da soberania universalde Deus no seu meio.

Por analogia, a igreja, por ser a igreja e se caracterizar pelapresença de Deus nos seus afazeres, se torna missionária. Embora talconceito de presença não seja definitivo para a obra missionária (já nosprofetas, mas muito mais no Novo Testamento, a necessidade deproclamação convicta se destaca), certamente é essencial e apressuposição para toda atividade missionária que se segue.

A presença de Deus no seu povo também destaca a necessidadede um povo de Deus. A comunidade da igreja é chamada para seu papelno mundo. Os chamamentos de indivíduos sempre ocorrem no contextodo chamamento da igreja toda. O chamamento de Paulo se ligavaintimamente à missão da igreja de Antioquia.

Hoje, não devemos encarar o ministério da igreja como vocaçãode apenas alguns indivíduos nem de grupos sem vínculo concreto aocorpo de Cristo, a igreja. Isto é justamente porque a obra da igreja chamaos povos para o conhecimento de Deus, e isto acontece quando suapresença se evidencia ativamente entre o seu povo reunido.

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Finalmente, é a presença de Deus no meio de seu povo quepossibilita e dá garantia da eficácia do serviço do povo de Deus nomundo. Emanuel, de fato, está aqui. Ele acompanha seus discípulos naproclamação do evangelho. O desafio missionário é seguido pelapromessa, “e eis que estou convosco todos os dias até a consumação doséculo” (Mateus 28.20). E isto é pela instrumentalidade do seu Espírito,“recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhastestemunhas...” (Atos 1.8).

A aliança missionária. Mas, enquanto o objeto final de Deusé universal, seu meio para atingir esse final é específco. Deus entra emum relacionamento especial com um povo específico. E esterelacionamento de aliança é recíproco, embora o chamamento para elanão seja. Enquanto só Deus escolhe, tanto Ele quanto seu povo secomprometem. O povo de Deus responde ao dom gratuito com sualealdade, sua devoção, seu amor e sua obediência; numa só palavra,com seu esedh.

Tal compromisso do povo de Deus serve um propósitomissionário. Esse será “separado”, isto é, santo, do mundo, e para Deus,sim, para Deus usá-lo no mundo. Sua vida e conduta toda deve dartestemunho para as nações do caráter de Deus. Tanto o sistema desacrifícios quanto a lei destacam o papel missionário do povo de Deus.Os sacrifícios demonstram que só Deus deve ser cultuado e tambémrevelam a distância do povo em relação a Deus. Seguindo a lei, o povoconfirma sua resposta de compromisso com a aliança e reflete o caráterde Deus para o mundo. É significante que este caráter seja refletido poruma ética com grandes preocupações sociais, pelo estrangeiro, pela viúvae órfão, e pelos pobres. Deus é um Deus justo e tal justiça deve semanifestar entre seu povo.

Não era só a ética pessoal e individual do povo que refletia ocaráter de Deus para o mundo; ainda mais, era a sua ética social. Aliás,tal distinção tão nítida entre ética “pessoal” e “social” nem existia parao israelita, como se fosse possível um sem o outro. Para o hebreu existeapenas uma palavra para o nosso conceito tanto de “retidão” (pessoal)quanto de “justiça” (social), a palavra mishpât.

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Igreja: Por quê Me Importar?

Deus chama um povo específico para manifestar seu caráter decompaixão e justiça no mundo e assim chamar o mundo a glorificá-lo.

Com esta característica de justiça, somos chamados como umpovo especial para um serviço missionário, para interceder como reinode sacerdotes a favor do mundo, e declarar-lhe as boas novas (1 Pedro2.9). Isto implica, antes, num compromisso de obediência e lealdade aDeus. O que a lei era para Israel, o discipulado é para a igreja. O serviçodo povo de Deus no mundo exige a disposição de um povo disciplinadoe discipulado. Por isso, há tanto nos Evangelhos e nas Epístolas sobre avida cristã. Não que a vida e o amadurecimento cristãos sejam umacoisa e missões seja outra. Não que edificação interna seja umapreocupação do ministério e o alcance externo de evangelismo e missõesseja uma outra. O discipulado é um preparo para missões! A vida cristãé para um testemunho missionário! A edificação é a capacitação paraum alcance missionário. Talvez uma das conspirações mais sinistrascontra o povo de Deus seja a separação dos dois elementos em dimensõesparalelas e separadas. Não são! Um serve o outro. O discipulado é opreparo para ser o representante de Deus no mundo.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Qual é a relevância hoje das antigas leis de justiça social?

2. Qual é o propósito da lei na “velha aliança” e a sua aplicaçãohoje?

3. À luz do relato do êxodo, você acha válida a discussão teológicahoje a respeito de libertação de opressão sócio-política? Porquê?

4. Qual é a relação entre a libertação “humana” e a libertação“divina” e quais são as suas finalidades?

5. Qual é a importância do êxodo para a “história da salvação”?

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6. Qual é o propósito missionário de Deus na aliança?

7. Qual é a significância do sistema de sacrifícios para a igrejahoje?

8. Qual é a relevância dos sacrifícios e lei para a missiologia?

9. Compare o tabernáculo com o templo da sua igreja. Até queponto deve ou pode haver continuidade entre os dois?

1Gleason Archer (1984:153) refuta uma referência à monolatria neste contexto e cita aanalogia do Salmo 96.4,5: “porque todos os deuses dos povos não passam de ídolos” (v.5).Concordamos com Archer que aqui encontramos essencialmente o monoteísmo (ver tambémRowley 1977:74-75, n. 89). Entretanto, mantemos a afirmação de que o primeiro mandamentonão nega a existência de outros deuses. Tanto que Israel não deve adorar os outros deusesporque “Iahweh, cujo nome é ciumento, é um Deus ciumento” (Ex 20.5; 34.4) “Zeloso” é umatradução mais acertada que “ciumento”, pois não expressa tanta emoção de Deus quanto a Suasingularidade e exclusividade. Em parte, a polêmica é de natureza semântica. Sem dúvida, aexistência de poderes espirituais atrás da adoração de “deuses” como Baal é pressuposta nacosmovisão bíblica, mas estes são relegados mais claramente à categoria de Satanás e osdemônios (ver Apocalipse). Neste sentido, “deuses” como seres supremos não existem, pois sóIahweh é soberano.2Por exemplo, o deus babilônico, Marduk, e até certo ponto a exaltação de El na religiãocananita.3O simbolismo espiritual do tabernáculo é delineado por G. Archer (1984:154-155).4Sanders, E. P., Paul and Palestinian Judaism. A Comparison of Patterns of Religion.Philadelphia, Fortress Press, 1977 e Paulo, a lei, e o povo judeu. São Paulo, Edições Paulinas,1989.5Tal preferência não significa nem arbitrariedade nem exclusividade. Ver Levítico 19.15;Deuteronômio 16.19-20.

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NACIONALIDADEE CONQUISTA

Josué

A fé de Israel se baseava na sua lembrança e recitação religiosados principais eventos históricos do seu chamamento como povo deDeus: a sua libertação da escravidão egípcia (o êxodo) e a sua herançada terra prometida (a conquista de Canaã). Às vezes, o intervalo entreestes dois eventos, o período de peregrinação no deserto, era omitidonas recitações do êxodo e da conquista, a não ser naquelas recitaçõesmais detalhadas (Josué 24.2-13). Os profetas do século VIII (Isaías,Oséias, Amós, Miquéias) fundem os dois temas do êxodo e asperegrinações pelo deserto (“como uvas no deserto, achei a Israel”—Oséias 9.10). Eles dão ao tema do deserto as duas dimensões combinadasde perigo e de socorro divino. O deserto é o lugar onde o povo é testado,mas também onde Deus manifesta o seu poder.

Até esta altura, temos concentrado nosso estudo em torno doêxodo e da aliança no Monte Sinai, isto é, o chamamento e ocompromisso de Israel. Resta ainda traçar algumas das idéias principaisda conquista de Canaã e sua significância para a tarefa do povo de Deusno mundo.

A conquista da terra prometida. O Velho Testamento, eespecialmente o livro de Deuteronômio, dá muita significância àscondições e às conseqüências da posse da terra por Israel. Esta terra éinterpretada como o “patrimônio” ou “herança” da nação, que sedestacava como o maior dom de Deus para seu povo (Deuteronômio8.10; 9.6) e cumprimento de Deus em relação ao repouso prometidopara os pais (Josué 21.43-45). Também serviu como símbolo visível dorelacionamento especial de Israel com Iahweh. Esta promessa do domda terra faz parte do pano de fundo para nossa avaliação da conquistade Canaã.

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Além disto, reparamos dois perigos iminentes em relação a novaresidência de Israel: o sincretismo e o isolacionismo. As descobertasarqueológicas revelam uma grande quantidade de estatuetas e outrosobjetos ligados às religiões cananitas de fertilidade. Isto demonstra queo sincretismo era amplamente praticado na região. Freqüentemente, talsincretismo se divulgava livremente entre o povo de Israel. Até os maissábios de Israel, como Salomão, se seduziam por alianças mistas, comoo casamento, que acabavam comprometendo a sua fé (1 Reis 11.1-8).

O outro perigo, contrário extremo do sincretismo, era o doisolacionismo. À luz do papel mediador de Israel em referências àsnações, tal exclusivismo seria uma repudiação da sua eleição tão gravequanto a adoração a outros deuses, como no sincretismo. A história deIsrael comprova que ambos extremos se tornaram realidade em períodosdiferentes. Também hoje, a igreja enfrenta os mesmos perigos.

Lembrando das promessas e dos perigos, vemos a conquista: dosespias, apenas Josué e Calebe sobreviveram aos quarenta anos deperegrinação pelo deserto. Com Iahweh como seu “generalcomandante”, e Josué como seu líder, marcharam para Canaã.

A conquista deveria ser realizada sob ordens restritas de Deus.Antes de sitiar uma cidade distante, deveria primeiro oferecer os termosde paz à cidade e permitir que os habitantes vivessem. Se as condiçõesfossem recusadas, então Israel mataria todos os homens. Estaregulamentação não se aplicava, contudo, a certos povos, para os quaisIsrael seria o instrumento da justiça de Deus por causa de seus pecados(Deuteronômio 20.10-18) Aliás, é importante ressaltar que a conquista sedeu não por qualquer merecimento por parte de Israel, mas, em primeirolugar, como expressão da ira de Deus contra a maldade praticada peloshabitantes da terra (como no caso do dilúvio), e somente depois comopromessa de Deus para o próprio Israel (Deuteronômio 9.4, 5).

De fato, a evidência arqueológica confirma o testemunho bíblicode um vasto assalto no século XIII. John Bright elabora:

Nas décadas depois de 1250 a.C. uma catástrofetotal atingiu a Palestina. A população dos cananeussuportou uma série de golpes que eventualmentecustou-lhes nove décimos do seu território na Palestina

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e na Síria. Esta é a história que vimos através dos olhosdo livro de Josué. É uma história de guerra sangrenta;a fumaça de vilas queimando e o mau cheiro de carnepodre pende de suas páginas. Começa assim que astribos israelitas, que correram selvagem através dosreinos dos amorreus da Palestina Oriental, se colocamna margem do Jordão à vista da Terra Prometida. Derepente, estão do outro lado do rio sem sequer terem semolhado, os muros de Jericó caem ao som da trombetae os corações dos cananeus derretem de terror. Entãose segue uma sucessão rápida de três arremetidasvelozes através do centro da terra (capítulos 7-9), paraa região sul (capítulo 10) e até o norte distante (capítulo11), e a espinha montanhosa inteira da Palestina é deles.Se não fosse pelos carros de ferro (Juízes 1.19) quenenhum soldado da infantaria poderia enfrentar, teriamtambém os vales do litoral. Tendo ocupado a terra,dividem-na entre as suas tribos. É uma terra feitadeserto: Os habitantes são uniformemente massacradose as cidades são postas à tocha.

Os cananeus conheciam estas pessoas?... Talveztenham aprendido primeiro com humor, depois comterror, que estes homens do deserto possuíam a noçãofantástica de que seu Deus lhes prometera esta terra eque estavam lá para tomá-la! [tradução] (1953: 22-23).

A nacionalidade de Israel e as nações. A conquista deCanaã e a tomada de sua terra demorou muito tempo. Aliás, apesar daassistência de Iahweh, Israel nunca subjugou a Palestina nem substituiuseus povos completamente. Juízes 1.1-25 registra as muitas maneiraspelas quais Israel avançou e frustrou a vontade de Deus. O perigo desincretismo era sempre iminente e não foram poucas as vezes que Israelsucumbiu à idolatria. Foi nesta experiência de obediência edesobediência que a realidade da sua nacionalidade começou a semanifestar na consciência do povo (Deuteronômio 28).

E parte da consciência nacional de Israel era sua função em relaçãoàs nações. O propósito universal e redentor de Deus continuou a ser

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realizado. O não-israelita, o “estrangeiro” residente permanente, tambémpoderia compartilhar a fé e a aliança de Israel. Como reparamos antes,sempre era possível a entrada de pessoas de outras nações na aliançaespecífica de Deus com Israel.

As confissões de Israel. A partir do êxodo e da conquista, trêsênfases caracterizaram o credo ou as confissões de recitação de Israel:sua eleição via o chamamento de Abraão, sua libertação do Egito, e aherança ou dom da terra (Deuteronômio 26.5-11). Embora espiritu-alizados, estes elementos continuariam essenciais à compreensão dasalvação no Novo Testamento. A eleição se referiria a um povo quepertence a Deus; a libertação, ao perdão do pecado e das suasconseqüências; e o dom, à vida eterna através de Jesus, o Senhor. Atipologia verdadeiramente cristã da redenção de Deus sempre se baseavanestes três elementos do período do êxodo, como antecipação da obraredentora de Cristo (por exemplo, 1 Coríntios 10.1-13).

IMPLICAÇÕES ATUAIS

Os eventos que traçamos neste capítulo são significantes para opovo de Deus. Eles ainda elaboram, explicitam e avançam as idéias noscapítulos anteriores. Sugerimos os seguintes temas como implicaçõesda conquista por Israel de Canaã:

Nem sectário, nem mundano. A conquista de Canaã por Israeltambém tem significância para o povo de Deus hoje. Israelfreqüentemente enfrentou uma de duas tentações em relação as culturascananitas: ou isolamento de um extremo, ou sincretismo do outro.

O povo de Deus não podia assumir uma posição de isolamento.Era chamado para um serviço entre as nações. Recuar para oexclusivismo da sua eleição seria renunciar ao propósito do seuchamamento. De fato, Israel caiu exatamente neste perigo numerosasvezes através da sua história, necessitanto de exortação profética parareafirmar seu papel diante das nações. Até mesmo hoje, a igreja continuapelejando contra o mesmo perigo sob outro nome, o “igrejismo”, ou o

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denominacionalismo. Quando a igreja esquece do seu papel no mundo,e pensa só em si, na sua sobrevivência e nas suas peculiaridades, rejeitao propósito do seu chamamento e renuncia sua própria eleição. EmilBrunner disse, “a igreja existe pela missão como o fogo existe peloqueimar” (1931:108). Quando deixa de queimar, o fogo deixa de ser. Equando a igreja deixa de ser missionária, deixa de ser igreja. Como osal, perde seu sabor e preservação, não presta mais e só serve para serjogado fora.

Mas, o povo de Deus também não pode assumir uma posição desincretismo, isto é, adotar e assimilar todos os valores das culturasvizinhas na sua fé. Isso seria uma traição da revelação de Deus emIsrael. Enquanto o povo de Deus procura pontes de contato entre asnações e ele, isto de maneira alguma implica em compromisso daunicidade de sua fé. Hoje a igreja tem uma mensagem para proclamar,que embora possa ter várias analogias em várias culturas que ajudamna comunicação do evangelho (como acontecia freqüentemente naBíblia), também é única no sentido de Iahweh ter se revelado de maneiraespecial a ela.

A igreja, então, vive nesta tensão de separada do mundo (dizer“não” ao sincretismo), mas também ser separada para Deus (dizer “sim”à sua aliança) e por Deus para o mundo (dizer “sim” à sua eleição).

A promessa de repouso para o povo de Deus. Durante o restantedo Antigo Testamento a conquista de Canaã foi vista como um eventoúnico que nunca mais seria repetido. Por um lado, o dom de Deus, aterra, não era espiritualizado, pois tinha uma qualidade concreta ehistórica. Nos profetas, a restauração futura do povo eleito de Deussempre tomava a forma da volta à terra, mas não como conquista(Jeremias 31.1ss; Ezequiel 28.25ss; 34.11ss; Isaías 44.24ff; 49.14ss).Por outro lado, havia toda uma teologia a respeito da promessa da terra,desenvolvida ao longo do Antigo Testamento. A terra, por exemplo,não seria simples possessão imutável, mas seria um veículo do repousoprometido, que poderia ser retirado. Em síntese, a possessão da terranão se identificava tanto com a sua ocupação quanto com a fidelidadede Israel à sua aliança com Deus. Isto certamente preparou o caminhopara a visão de Isaías, da esperança por um Sião restaurado e por umnovo céu e nova terra para o povo de Deus. No Novo Testamento esta

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idéia se desenvolve ainda mais na promessa de salvação e vida eternacom o retorno de Jesus.

Diante deste desenvolvimento teológico da idéia da terra ao longoda revelação bíblica, as interpretações e aplicações religioso-militaresda conquista para outras situações históricas obviamente não cabem. Aconquista carolingiana das tribos germânicas durante a expansão daigreja na Europa, as cruzadas medievais, o genocídio cometido contraos índios durante a colonização européia das Américas, e a justificaçãoteológica do apartheid na África do Sul, nos Estados Unidas e naAlemanha, simplesmente ignoram o desenvolvimento teológico ao longodo Antigo Testamento da idéia da conquista da terra. Pois em CristoJesus “não pode haver judeu nem grego, nem escravo nem liberto; nemhomem nem mulher” (Gálatas 3.28).

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. A igreja hoje ainda enfrenta a idolatria? Qual deve ser a suareação? Há algum tipo de idolatria que impeça o avançomissionário nos nossos dias?

2. Qual tem sido a tendência da igreja brasileira quanto aos doisperigos de sincretismo e isolacionismo?

3. O povo de Deus ainda pode conquistar militarmente outras terras?Por que sim ou não?

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O REINOEM ISRAEL

Juízes a Ester

No tempo da conquista de Canaã, Israel era uma liga tribal,uma confederação livre de clãs unidos em torno da adoração a Iahweh.Porém, por quase dois séculos não havia nenhum governo central. Israelera governado por juízes, que o Espírito de Iahweh levantava em temposde emergência para reunir as tribos para se defenderem contra o inimigo(Juízes 3.10; 14.6). Os juízes possuiam uma autoridade carismática querepresentava bem a teocracia de Israel. Iahweh era seu único rei, quereinava sobre o povo através do seu representante designado. Havia umfoco na organização de Israel, porém não era governamental, masreligioso, centralizado na arca da aliança (1 Samuel 4.1-4). Afraternidade do povo era afirmada quando se reuniam diante dela, nosdias de festa, para renovar sua aliança com Iahweh. Eles conscientementerejeitaram a idéia da monarquia, tão proeminente nas culturas ao seuredor (Egito, Assíria, Pérsia e Babilônia), e também recusaram-se aimitar o padrão de cidade-estado da Canaã antiga. Eram uma teocraciatribal, um povo, não tanto geográfica ou politicamente, masreligiosamente; e seu rei era Iahweh. Isto é bem ilustrado pela rejeiçãopor Gideão de ser rei: “Não domina rei sobre vós, nem tão pouco meufilho dominará sobre vós; o Senhor vos dominará” (Juízes 8.23). Mesmoassim, a própria recusa de Gideão demonstra certa ansiedade do povo edesejo de ter, de fato, um rei, e, assim, ilustra a rebelião e julgamentoque tanto caracterizou o período desde o êxodo (1304 a 1290 a.C.) até adestruição do primeiro templo (586 a.C.).

O conceito do reino

A invasão dos filisteus. Em última análise, foi a ameaça dosfilisteus que forçou Israel a introduzir a monarquia e disto, estabelecer

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um estado pleno e territorial. Os filisteus eram bem mais organizados emilitarmente efetivos que os cananeus. Já haviam forçado a tribo de Dãa ir para o Norte. Mas o golpe decisivo aconteceu quando os filisteuscortaram Israel pela metade, capturaram a arca, mataram os sacerdotesda arca e estirparam Silo junto com seu santuário (1 Samuel 4). Erauma derrota total, a mais profunda humilhação militar e espiritual. Opovo de Deus foi esmagado (1 Samuel 13.19-23) e ficou em desespero,procurou união sob um rei que deveria ser apontado “por uma duração”.O carisma falhou e o povo, angustiado, se voltou para a monarquia.

O desenvolvimento do conceito: 1. seu surgimento. Emboraa idéia de realeza tenha começado cedo no pensamento dos israelitas(Gênesis 36.31; Êxodo 19.6), a instituição do reino demorou quaseduzentos anos, durante o período dos juízes, antes de se concretizar. Defato, a atitude do Velho Testamento a respeito de um rei é profundamenteambígua. A instituição do reino na vida nacional de Israel chegou a servista hesitante e criticamente. Em si, a instituição não era essencial àsalvação de Israel (1 Samuel 8-12, especialmente 12.15,25). Era atévista como um ato de apostasia do reino verdadeiro de Iahweh, parauma imitação falsa e ilegítima dos reis pagãos.

Por outro lado, no Velho Testamento, esta perspectiva bastantenegativa da ideologia da monarquia é contrabalanceada por umaperspectiva positiva do reino como designação divina para o bem dopovo. Era seu dever governar Israel com justiça, proteger os fracos edirigir o povo para a verdadeira adoração a Deus.

Quando Israel pediu a Iahweh por um rei, ele não aprovou porcausa da rejeição da teocracia, implícita no pedido , do domíniounicamente de Iahweh sobre eles (1 Samuel 8.6-9). Apesar disto, elesescolheram Saul, que então os levou à ruína.

2. Saul. Saul exemplificava bem porque o Velho Testamentovia a monarquia negativamente (embora ele tenha sido designado pelagraça de Deus, 1 Samuel 9.15-17!) pois, embora Saul tenha ganhovitórias iniciais contra os filisteus, foi sob seu mal-reinado que os filisteuseventualmente dominaram a terra (1 Samuel 31). Em vista disto, Iahwehinstituiu o reino permanente da linha davídica (1 Samuel 13.14).

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3. Davi. Todos os aspectos bons e benéficos da monarquia, quepertencem a uma perspectiva favorável da instituição, são focalizadosem Davi e seus descendentes.

Foi Davi que salvou seu povo, pelo seu carisma, sua liderançamilitar e agudeza política. Destruiu os filisteus, fez de Jerusalém suacapital e sua propriedade particular, reduziu as fortalezas cananéias,fez do transjordão seu tributário e estendeu o poder de Israel até a Síria.Aliás, Davi realmente completou a conquista de Canaã e, sob sualiderança, cada centímetro de solo palestino então era Israel, ou estavasob domínio israelita. O que foi confederação indefinida de tribos pisadassob o calcanhar de um opressor estrangeiro numa geração, então, setornou um império de tamanho considerável. Um novo Israel surgira, ea idade dourada começara.

Aqui encontramos um rico vocabulário que descrevia o reicomo: “filho de Deus” (Salmo 2.7), sacerdote de uma ordem única(Salmo 110.4) e até o próprio folêgo que dava vida ao seu povo(Lamentações 4.20). O rei, se permanecesse obediente à vontade divina,poderia ser uma fonte de vida, salvação e benção para o povo de Iahweh(1 Samuel 12.14; Salmo 132.12).

É nesta conexão de um vocabulário singular para descrever orei Davi, que o Velho Testamento relaciona o reino à eleição. E é naeleição de Israel, muito precedente à monarquia, que o conceito do reinocomeça a germinar. A eleição conscientizava Israel de que era um povochamado para viver sob o reinado de Deus, e é neste lugar que a noçãodo reino de Deus encontra suas raízes.

Não é surpreendente, então, que a perspectiva positiva damonarquia, encontrada em Davi, seja ligada à eleição. Deus elegeu Davicomo rei (Salmo 89.3-4, 33-34; 78.67-72; 132.10-18; 18.50). A aliança deDeus com Davi, inclusive, segue os padrões da aliança patriarcal. O reinão governava autônomamente ou por vontade própria, mas era o deputadode Deus, responsável ao Suserano divino pela sua conduta (assim a aliançacom Davi é semelhante à aliança mosaica). Mas a ênfase está não nasobrigações, e, sim, nas promessas incondicionais de Deus. A nação é seguraporque assim Deus prometeu (2 Samuel 7.15; Salmo 89.33-37; 21.7; 20.6-7).Tudo isto indica que a aliança com Davi chegou a ser vista como umarenovação e extensão das promessas para Abraão. Como em Abraão, emDavi todas as nações serão abençoadas (Salmo 72.17)!

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Igreja: Por quê Me Importar?

Ressaltamos a este respeito que, não era a monarquia comoinstituição em si que foi eleita, mas a família davídica. Deste modo,quando o desastre de 587 a.C. sobreveio à nação, não foi a monarquiaem geral, mas a restauração da monarquia, especificamente de Davi,que se tornou o foco da esperança da libertação e independência políticade Israel (Jeremias 33.14-25; Ezequiel 37.24-25). Portanto, o reinodavídico se tornou o símbolo visível da eleição de Israel e serviu comotestemunho da relação especial entre Iahweh e a nação. Inclusive, orelacionamento entre Deus e o rei poderia ser chamado de “aliança” (2Samuel 23.5; Isaías 55.3; Jeremias 33.19-22) e era o ponto central decontato e mediação entre Deus e seu povo.

Isto não significa que a monarquia não era sujeita à crítica. Àsvezes, devido a fracassos morais e sociais (1 Samuel 8.11-18), às vezespor deficiências religiosas ou de culto (1 Reis 11.7-13; 12.26-33), eoutras vezes porque o povo confiava mais na instituição do que erapropriamente justificável (1 Samuel 8.7; 12-15, 17, 25), o criticismofoi dirigido à monarquia. Ainda assim, tais críticas não levam a umarejeição completa da instituição. Como na aliança abraâmica, a dinastiadavídica faria um papel especial como personificação e representaçãodo relacionamento único entre Iahweh e Israel.

4. Salomão. Na pessoa de Salomão, a base da liderança sobreIsrael finalmente passou do carisma para a dinastia. Com ele, Israelacumulou mais riquezas, poder e prestígio. Seu reinado trouxeprosperidade material e segurança física, tais como Israel jamais sonharae que nunca mais iria conhecer. Colhendo os frutos das realizações doseu pai, Salomão se destacou nas áreas de relações internacionais,indústria metalúrgica, comércio e negócios mundiais, construcõesmegalíticas, literatura, e alianças judiciosas. A Bíblia não se cansa decontar da riqueza e esplendor da corte de Salomão (1 Reis 10.11-29).

Mas, também com Salomão, o estado de Israel chegou a serigualado com o reino de Deus. A sacralização inevitável aconteceu. Ospropósitos de Deus na história vieram a ser entendidos comoequivalentes à ordem existente, o status quo.

Tudo isto se fez em face da tensão social aguda, surgindo donepotismo e favoritismo na corte real, impostos opressivos, serviçomilitar obrigatório e compromisso religioso. Eventualmente, a maioriados israelitas rejeitaram o estado salomônico como cumprimento do

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destino de Israel e uma revolução estourou sob a liderança de Jeroboão,um chefe das turmas de trabalho forçado. O preço desta revolução foium total desastre político, do qual Israel nunca se recuperou. Em poucasgerações, Israel passou de teocracia para a monarquia forte e solidária,e então para a monarquia fraca e dividida.

A análise do conceito. A monarquia, especialmente a de Davi,deixou sua marca inesquecível em Israel. Parecia que o destino do povode Deus tinha enfim se realizado além dos seus sonhos mais queridos,e deste modo, que a promessa para Abraão, “de ti farei uma grandenação” (Gênesis 12.2), tinha se cumprido, e que o reino de Deus de fatotinha sido estabelecido em Israel. Nas épocas seguintes de dificuldade,o povo tinha muitas saudades dos tempos bons de Davi, que havia setransformado na perdida Idade de Ouro. A esperança de Israel peloreino de Deus, depois da sua divisão e ainda mais tarde, em seu cativeiro,só poderia assumir a analogia do reino de Davi. Seria impossível oisraelita pensar no messias vindouro, salvo como um Davi redivivo,um novo Davi. O tema do reino davídico olhava para um futuro no qualum filho de Davi reinaria sobre Israel, até sobre as nações, trazendo amaravilhosa idade de prosperidade, justiça e de paz.

1. Um conceito religioso. Isto aconteceu, em grande parte, porcausa da natureza eminentemente religiosa da monarquia. O reino jamaisse limitava à esfera simplesmente política e administrativa. Eraintimamente ligado ao culto a Iahweh. É significante que o templo, aoinvés do palácio, era visto como o centro do reinado universal de Iahweh(Isaías 2.1-4).

Os reis, portanto, faziam um papel importante na fé do povo deDeus. Davi heroicamente trouxe a arca para sua cidade particular,Jerusalém, e instalou seus filhos como sacerdotes (2 Samuel 8.18).Salomão se incumbiu de construir um grandioso templo (1 Reis 6.1-38),e Josias aceitou e até encorajou a grande reforma da fé (2 Reis22.11-23.27). De fato, o rei era elogiado ou repreendido de acordo coma maneira como ele controlava o culto (1 Reis 15.11-15; 22.52-53; 2Reis 10.18-31; 12.4-16, etc.)

O conceito do reino logo se ligava às esperanças escatológicasde Israel. Por “escatológico” nos referimos ao sentido mais amplo (e

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Igreja: Por quê Me Importar?

não mais restrito das “últimas coisas”, que só aparece no fim do períodoveterotestamentário) de ter Israel uma orientação para o futuro, umaesperança futura, que se expressava em referência ao reino. Tal esperançafutura se desenvolveu mais a partir do período dos profetas do séculoVIII. Estes profetas pré-exílicos anteciparam a vinda de um rei ideal dalinhagem davídica (“o Messias”) que, reinando como o vice-rei de Deus,traria justiça e paz na terra. E os apóstolos não hesitavam em identificareste filho de Davi, como o Salvador Jesus (Atos 13.20-23).

O reino de Davi apontava para o futuro através da idéia domessias. O termo já fora aplicado a Davi como o “ungido” de Deus, porele ser seu “filho” (Salmo 2.7; 89.27; 2 Samuel 7.14). E comoanteriormente mencionado, veio a se referir ao descendente de Davique viria inaugurar o prometido reino de Deus (Amós 9.11-12; Oséias2.5; Isaías 9.2-7; 11.1-9; 32.1; 33.17; Jeremias 33.19-26; Ezequiel37.24-28).

Tal reino, também como anteriormente mencionado, teria umaorientação religiosa. Enquanto entendido em termos altamente racionaise políticos durante os reinados de Davi e Salomão, com a subseqüentedesilusão no estado, e depois a divisão e ainda o cativeiro, o reinoadquiriu uma interpretação cada vez mais espiritual. A ligação religiosado reino e, especificamente, a ideologia acerca de Jerusalém e do templo,grandemente adiantou esta interpretação espiritual.

Já vimos como Davi tomou o primeiro passo no surgimentodesta ideologia quando trouxe a arca para a sua cidade, Jerusalém.Salomão promoveu ainda mais a ligação religiosa do reino quandoconstruiu o grandioso templo bem na capital do reino, ainda Jerusalém.Com isso, o Velho Testamento desenvolve uma perspectiva teológicadistinta sobre a significância do monte de Sião (Salmo 84.5-7; 87.1-3;132.13-14). Jerusalém, o centro político de Israel, adquiriu uma naturezaprofundamente religiosa, até santa, pela presença do templo nela(Jeremias 3.17; Isaías 62.1-12). Jerusalém chegou a ser em si a fonte devida, luz e prosperidade para o povo de Deus (Salmo 92.12-15; Ezequiel47.1-12). Dela, a justiça, a luz e a verdade seriam distribuídas para asnações (Isaías 2.3-4; 60.1-4) e nela todas as nações se reuniriam paraadorar a Deus (Isaías 66.10-24). No fim, toda a humanidade sebeneficiaria através da paz e prosperidade de Jerusalém e o bem-estardo povo de Deus (Zacarias 14.16-21). Tal era a extensão da

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espiritualização de Jerusalém que, mais tarde, seria usada como imagemdo céu e para expressar o estado final do cumprimento abençoado queo destino de Israel aguardava (Apocalipse 21.2).

Em resumo, o conceito do reino, através da sua ligação à dinastiadavídica, à Jerusalém e ao templo, adquiriu características religiosas eescatológicas. Ele se referia à fé de Israel e à sua esperança orientadapara o futuro pela vinda do messias que inauguraria o reino de Deus.Tanto seu aspecto religioso quanto a sua orientação futura teriam grandessignificâncias por todo o resto da Bíblia, culminando na vinda de Jesuse o registro do Novo Testamento.

IMPLICAÇÕES ATUAIS

O conceito do reino, fruto do surgimento da monarquia,contribue para a compreensão da tarefa missionária do povo de Deus.Consideremos as suas implicações.

O conceito do reino: 1. O conteúdo da mensagemmissionária. O conceito do reino terá cada vez mais significância aolongo da revelação bíblica. Decerto, constituiu o âmago da pregação deJesus desde o início (Marcos 1.15) até ao fim (Atos 1.3). A última cenada história da igreja em Atos fecha descrevendo a pregação missionáriade Paulo nestes termos (28.31). A mensagem que ocupa a igreja até avolta de Jesus é o evangelho especificamente “do reino” (Mateus 24.14).Anunciamos a chegada do rei davídico prometido e do reino de Deusque este inaugurou.

2. O anúncio da esfera do reino. O reino de Deus queanunciamos é um domínio sobre toda a sua criação, até aos confins daterra. Com Davi, o reino de Israel alcançou sua máxima extensão emtoda a sua história. Mas, através do seu descendente, esta esfera nãoterá limites. Cabe ao povo de Deus levar avante, para cada canto doglobo, o anúncio do domínio universal de Deus através de Jesus Cristo.

3. O anúncio da existência do reino. No Velho Testamento, otermo “reino” (malkûth) se refere principalmente ao fato do reino(reinado), e somente secundariamente à esfera daquele reino. Neste

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sentido, a palavra grega basileia, no Novo Testamento, traduzcorretamente o original. A referência principal é ao fato do reinadosoberano de Deus.

Agora, este fato em si não é novidade. Aliás, temos destacadonos capítulos anteriores que o reino de Iahweh sobre Israel e toda aterra é fundamental à sua fé desde os relatos da criação. O reinado,especialmente de Davi, concretiza mais a idéia do reino de Deusapontando para paz, justiça e prosperidade. Decerto, estas idéias aindapassam por um processo de espiritualização. Mas sem o acontecimentodo reinado de Davi, o judeu mal poderia imaginar como seria o messiasda linhagem davídica.

Então, o fato do reino de Iahweh não é a notícia para se anunciar.O anúncio é que, em Jesus, este reino se tornou realidade presente, fatocom que cada um tem que tratar. Não é mais remoto ou apenas esperado,pertencente ao fim dos tempos ou a uma esfera transmundana darealidade. Cada um deve levar em conta a presença do rei Jesus e arealidade do seu reino.

4. O anúncio do evento do reino. Como os reinos de Saul,Davi, Salomão, etc. eram acontecimentos históricos que tocaramconcretamente a vida do povo de Deus, também é o reino que Jesusinaugurou. Era um evento histórico, não dogmático ou filosófico. Oanúncio do reino é a proclamação de um evento histórico, de umacontecimento acerca da vida, morte e ressurreição de Jesus. Exige nãosó afirmação intelectual, como uma doutrina, mas aceitação,transformação e sujeição, como um relacionamento.

5. Um anúncio não tanto político quanto religioso. Pela suaassociação com a arca e depois com o templo, reparamos que o conceitodo reino era intimamente ligado ao culto e à fé israelita. Isto não querdizer que o conceito era apolítico, e muito menos a-histórico. Inclusive,no início da monarquia israelita, o conceito era mais político quereligioso. De fato, era impossível separar totalmente estas duas esferasde ação. Entretanto, a direção do desenvolvimento do conceito do reinofoi logo marcada pela sua associação com o culto. A tendênciaespiritualizante cresce através de toda a revelação da Bíblia até acharseu primeiro cumprimento no ministério de Jesus, e ainda aguarda maiscumprimento na volta do mesmo.

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Precisamos andar com certo cuidado aqui, pois vale a pena frisarque, por um lado, o reino de Deus não é principalmente político. Poroutro lado, inclui também a política, pois não devemos negar-lhe suatarefa histórica. O reino de Deus é sua administração soberana sobretoda a criação que, por sua vez, demanda a resposta de adoração ecompromisso, uma obrigação que tem ramificações na vida pessoal esocial, que atinge fundamentalmente a pessoas e, através delas, todosos seus relacionamentos familiares, comunitários, econômicos, políticos,etc. O convite para entrar no reino implica numa aliança com Deus.

A pregação do reino é, antes de tudo, uma chamada à adoraçãoe ao compromisso com Jesus que, por conseqüência e como parte destechamado, convoca uma transformação em todas as relações humanas.

6. Seu centro é a nova Jerusalém e Jesus. Como nos reinosde Davi em diante, o reino de Deus tem como o seu centro a novaJerusalém e Jesus, o rei (Hebreus 12.22-24). A glória de Deus aindahabita nela e o seu centro é Jesus (Apocalipse 21.9-11, 23), cuja luzilumina o caminho para a vinda das nações.

Já não é mais uma cidade geográfica, mas uma pessoa e seureino que será o centro da reunião do povo de Deus e, eventualmente,dos povos. “Naquele dia recorrerão as nações à raiz de Jessé que estáposta por estandarte dos povos; e a glória lhe será a morada” (Isaías11.10). O reino que anunciamos tem seu centro na pessoa de Jesus. Éele que proclamamos para todos os povos.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. O Velho Testamento avalia positiva ou negativamente osurgimento da monarquia?

2. Que significava para Israel o conceito “reino de Deus”? Quesignifica para a igreja hoje?

3. Pode a igreja hoje cair no mesmo perigo de Israel no períododa monarquia, isto é, de se igualar ao reino de Deus?

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4. Qual é a ligação entre o conceito de eleição e a monarquia?

5. Considerando: a) que o reino de Deus tem implicações políticase religiosas e b) que deve haver equilíbrio entre estes dois pólos,o que a igreja precisa, no Brasil, para ser equilibrada no anúnciodo reino?

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CONTROLANDOOS PODEROSOS

Juízes a Ester

Junto com o desenvolvimento do reino, surgiu o profeticismo.Este, de fato, começou nos dias de Samuel, justamente para controlar econter divinamente a autoridade da monarquia. Samuel representavauma transição na maneira como Deus se relacionava com Israel. Era oúltimo dos juízes e o primeiro dos profetas.

O papel redentor do profeticismo. Os profetas, com clareza,denunciavam os erros sociais e religiosos da sociedade e da monarquia,e assim se tornaram arautos de uma compreensão verdadeiramente moraldo reino de Deus. O seu papel e sua significância talvez tenham sidodescritos melhor por Geerhardus Vos:

Os profetas eram protetores da teocracia quese desenvolvia, e a proteção era exercitada no seucentro, o reino. O propósito era conservá-lo como umarepresentação verdadeira do reino de Jeová.... Oprofeticismo, por se restringir à palavra como seuinstrumento e, enquanto aparentemente se limitasse nasua eficácia a este aspecto, na realidade fez mais quequalquer outra coisa para espiritualizar a relação entreJeová e Israel. Os profetas não criaram fatos, elesmantiveram princípios, e quaisquer fatos futuros dosquais eles falassem eram colocados à luz pura e idealda predição. Através da profecia, a religião bíblica veioprimeiro a ser uma religião da verdade, da fé e daEscritura.... Mais que nunca antes, a consciênciareligiosa de Israel se achou envolvida e amarrada ao

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fato cardeal da revelação. A aproximação por Jeová deIsrael é eminentemente a aproximação pela fala; Deusse dá na palavra da sua boca [tradução, ênfaseacrescentada] (Vos 1948:204-205).

Contra o sincretismo. Um outro fenômeno crescente queacompanhava o desenvolvimento do reino, embora o tenha precedido,foi o sincretismo, a adoção cada vez maior na fé israelita de conceitosreligiosos das culturas ao seu redor. Foi durante o período dos monarcas,especialmente a partir de Onri (876-869) e Acabe (869-850), que opaganismo cananeu chegou a predominar em Israel e foramprincipalmente os profetas que Deus usou para chamar Israel à decisão:ou Iahweh ou Baal.

Este foi o grande encontro decisivo e religioso na história deIsrael. Já no período dos patriarcas, este rival cananeu muito prejudicoua fé do povo de Deus. Com a conquista de Canaã, Israel se transformoude um povo nômade do deserto para uma sociedade agrária. A tentaçãode adotar o culto aos deuses da fertilidade da sociedade agrária jáexistente na terra dos cananeus, era muito forte. Certamente, a inclusãorepentina de muitos estrangeiros em Israel e a atitude tolerante deSalomão e de outros, só facilitava o processo de sincretismo. Baal nãoera estranho para Israel.

Mas a situação chegou a uma crise durante o reinado de Acabepor causa da sua esposa pagã, Jezabel. Para ela, Acabe, não tacanho (!),construiu um templo a Baal (1 Reis 16.32). E Jezabel, sendo umaverdadeira missionária do seu deus, perseguiu os profetas de Iahweh (1Reis 18-19), especialmente Elias. O rival de Deus adquiriu sanção oficial(1 Reis 16.30-33), e uma árdua luta de poderes tornou-se eminente.

A religião cananita. Esta situação era bem mais grave quedenota uma leitura superficial do relato. Em Canaã encontramos umpaganismo dos mais depravados e degradados. Seus deuses, Baal,Astarote, Asera, Anate e os outros, representavam as forças da naturezareferentes à fertilidade. Seu mito era ligado à morte e ao renascimentoda natureza e seu culto procurava controlar, pelo seu ritual, as forças danatureza, e assim produzir a fertilidade desejada para o solo, o animal e

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o homem. O ritual era uma representação, pela magia e pela mímica,das relações íntimas entre os deuses, e desta forma, envolvia aprostituição “sagrada” de ambos os sexos e outras práticas orgiásticas eextáticas de sorte mais fastidiosa. Era um verdadeiro carnaval de prazeressoltos na avenida, e não só sancionados como promovidos pelas redesde comunicação e influência.

Aqui não se trata de mera disputa entre denominações. Eramreligiões de tipos completamente diferentes. Nada poderiam ter umacom a outra.

A adoração a Baal era uma religião cíclica, classificada pelaciência da religião como uma hierofania, significando o aparecimentodo santo. Na sua visão do mundo ou na perspectiva da realidade, oseventos desta vida refletiam e seguiam os eventos sacros. Estes eventosse repetiam anualmente conforme os ciclos da natureza de fertilidade,crescimento, ceifa e morte. Não havia progresso real, nem história reale, por conseqüência, não havia possibilidade de mudança, melhoramentoou desenvolvimentos verdadeiros.

Segundo Bright, a religião cananita era um politeísmo:

...afinado ao ritmo da natureza, dedicado a servir obem-estar da ordem vigente, sem senso de uma direçãodivina da história para um alvo de acordo com umpropósito a longo prazo, anunciado com antecedência....A esperança do pagão era uma esperança por temposmelhores, vitória, abundância e paz, uma esperançacomum a todos os homens. Não se encontra nospaganismos antigos nenhuma antecipação de um alvopara o qual todas as coisas avançam, de “últimas coisas”[tradução] (1976:21-22).

A ênfase principal estava na repetição e na lembrança. A fé deIsrael, por contraste, era uma religião de promessa, longe de ser cíclicaou a-histórica. Sua própria existência como um povo dependia da suaconfiança que Iahweh havia invadido sua história, o chamado para viverobediente a justa lei de Deus, e lhe dado um senso de destino como opovo de Deus. A fé de Israel era história do início até o fim. A história

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avança para frente, não voltando às suas origens, como nas religiõescíclicas de fertilidade. Deus, então, chama seu povo a uma tarefahistórica, deste mundo, não fora dele, para a transformação do seuambiente para uma vida vivida em promessa.

Baal só poderia destruir a fé de Israel, chamando-o aos seusinstintos animais e até encorajando sua natureza bestial, sem nenhumaexigência moral. O paganismo não era coisa insignificante. Se Israeltivesse abraçado Baal, não permaneceria o povo peculiar de Deus. Nadada sua herança teria sobrevivido. Aliás, isto quase aconteceu. Uns cemanos depois do desafio contra Baal pelo profeta Elias, o baalismorecuperou e praticamente eclipsou a adoração a Iahweh. A segundaconfrontação vigorosa também se realizou através dos profetas,principalmente por Oséias (do reino do norte, 743 a.C.) e Amós (deJudá, 760 a.C.).

O encontro. Muitos dos judeus não gostavam das exigênciaséticas do seu culto, das suas festas, e da comemoração dos atos poderososde Deus a seu favor. Resolveram suplementá-los com as festas (haviatrês, inclusive uma que dramatizava a copulação do deus da chuva e davegetação com a deusa da fertilidade) e o estilo de vida da adoração ànatureza. Desejavam o luxo e a folga, o egoísmo e a cobiça de um cultosem exigências éticas e morais. Por conseqüência, havia um vigorososincretismo, uma mistura incongruente não diferente, em efeito, dosmuitos modelos do espiritismo brasileiro.

Neste contexto, Elias foi usado para chamar Israel à decisãodefinitiva: ou Baal ou Iahweh. Através deste profeta rústico, haveriaum encontro eminente de poderes para demonstrar quem, de fato, erasoberano. Elias era um homem do deserto (1 Reis 19.15-18), periferiade Israel, onde ainda predominava a velha ordem tribal epré-monárquica, e lembrava João Batista (Mateus 3.4). Declarava, comonos tempos da conquista, guerra santa contra Acabe e seu estado pagão,sua rainha pagã e o seu deus pagão. Grande parte de 1 Reis conta abatalha de Elias com o rei Acabe e a rainha Jezabel pela alma da nação.

Em 1 Reis 18.17-40, lemos sobre o grande encontro entre Iahwehe Baal. Através de Acabe, Elias desafiou os 450 profetas de Baal e os 400profetas de Asera a uma disputa no monte Carmelo, local do culto ao baal

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de Carmelo! O profeta fez a pergunta aguda e penetrante para todo o povo:“Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus,segui-o; se é Baal, segui-o”. Tais palavras lembram do desafio anterior deJosué em Siquém (Josué 24.14-15) e o preceito posterior de Jesus:“Ninguém pode servir a dois senhores” (Mateus 6.24).

A descrição que se segue no relato destaca a completairreconciliabilidade das duas religiões.

O Baalismo leva a extremos e à perda daidentidade pessoal, como demonstrado pelas tentativasdesesperadas dos sacerdotes de Baal para fazer algoque atrairia a atenção do seu deus. Comparado comeste frenesi, a compostura de Elias dá a impressão deabsoluta inércia. O Deus de Israel estava prestes a darprova de si, e Israel sabia disto! Sabia que ele (Deus) obuscava e que não precisava (Israel) buscá-lo e implorarsua atenção. [tradução, parênteses acrescentados] (vonRad 1962:65: I, 18).

Era o contraste do delírio do adorador às paixões carnais, comonos enlevos e montagens do espiritismo, com a segurança e firmeza daadoração ao único Deus que gera uma justiça moral e social dentro dacomunidade.

Através de Elias, Deus “desligou” a chuva, parou o ciclo danatureza e provocou um desafio com os profetas de Baal. Pela sua vitória,deixou claro a incomparabilidade e unicidade de Iahweh.Secundariamente, endossou o ministério profético que, a partir de então,desafiara não só o culto dos “baalim”, como também toda a estruturasocial que este representava. O adorador de Iahweh não deveria apoiaro status quo, mas fazer a vontade de Deus, para “praticar a justiça eamar a misericórdia” (Miquéias 6.8), aguardando a vinda do reino.

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Igreja: Por quê Me Importar?

IMPLICAÇÕES ATUAIS

O surgimento do movimento profético, que tanto denunciava ainjustiça do povo e do rei quanto zelava pela adoração unicamente aIahweh, contribue para a compreensão da tarefa do povo de Deus.Consideremos as suas implicações.

Defensor de Deus. Ao reinado soberano de Deus há implacávelresistência e oposição pelo seu povo, pelos povos que não o conheceme pelos poderes invisíveis. Por isto, Deus convoca os profetas para seremseus defensores e porta-vozes. Através dos profetas, que dependiam darevelação de Deus, a fé bíblica se tornou uma fé de revelação e depalavras, eventualmente da Palavra de Deus. A própria existência daBíblia, em grande parte, humanamente pensando, dependia destatendência que os profetas iniciaram.

Seu propósito era de fornecer um tipo de controle sobre amonarquia, que era a autoridade humana sobre o povo de Deus. Hoje, aigreja, bem como o Israel antigo, pode cair na tentação de identificar asi mesma com o reino de Deus. Contudo, como em Israel, a expressãode tal reino deve se destacar como sinal, mais ainda na igreja. Quandohá corrupção e desvio na natureza do povo de Deus, que deve servir detestemunha para as nações, é ainda mais iminente o papel do profetapara exortar e corrigir a igreja. Mas no Novo Testamento, enquanto nãoencontramos nenhuma evidência para a extinção da função do profeta(pelo contrário, encontramos exemplos da continuação dele e até umaapologética para seu ministério, 1 Coríntios 12 e 14, como um dosministérios normais da igreja, Efésios 4.11!), o seu papel é eclipsadopela revelação escrita, Hebreus 1.1-3, e até subordinado a ela, 2Tessalonicenses 3.14; 1 João 4.1.

A significância disto talvez pareça indireta, mas é importante.A igreja, como Israel, é chamada para atrair as nações pela sua vidaexemplar e sua adoração a Deus. A função de profeta, e ainda mais daPalavra, a partir do Novo Testamento, é deter a igreja de desviar destecurso. Mantém a igreja como um povo missionário de Deus. A igrejafortemente missionária, então, é a igreja que se sujeita à Palavra e aocrítico legítimo dos profetas modernos no seu meio. A alta liderança da

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igreja precisa da correção das vozes proféticas de base para mantê-lano curso redentor de ser um povo missionário.

Desafiador dos poderes pagãos. A obra da igrejainevitavelmente envolve encontros religiosos, tanto na evangelizaçãodos não-cristãos quanto no desafio ao nominalismo. No processo deproclamar a única soberania de Deus em Cristo Jesus, muitos povossão chamados a uma decisão análoga a do encontro com Baal. A fé emCristo Jesus não abre lugar para o misticismo e subjetivismo da adoraçãopoliteísta. Deus não compartilha seu trono!

Aqui, de novo, teremos que andar com certo cuidado, emborafirmeza. Pois, não nos opomos à contextualização do evangelho, masapenas ao sincretismo. Qual é a diferença? A este respeito, a antropologianos ajuda. A contextualização traz o evangelho profundamente a umcontexto específico e assim dá significado cristão para formasautóctones de uma dada cultura, pelo menos para as não adversas à fébíblica (que geralmente são a maioria na sociedade). O sincretismo éresultado de exatamente o contrário, deixando o evangelho muitosuperficial na sua cultura, e assim dá formas cristãs para sentidos esignificados pagãos (por exemplo, dando nomes de santos para os velhosorixás das religiões africanas).

A igreja, enquanto cuidadosamente procura contextualizar suamensagem, rejeita toda forma de sincretismo. Somente Jesus Cristo é oSenhor (1 Coríntios 12.3)! O testemunho bíblico demanda umexclusivismo de fé, enfatizando a unicidade e incomparabilidade deIahweh, como revelado em Jesus Cristo.

Não se acha via de acesso ao Reino de Deusentre as religiões pagãs, porém só na fé que Abraão e asua descendência professaram, cujos herdeiros somosnós, a igreja de Jesus Cristo (Wright 1967:20).

Revolucionário progressista, não apoiador do status quo.Os profetas chamavam Israel a entender o tempo de um modo linear,enquanto os politeístas meramente o consideravam ciclicamente. Paraestes últimos, não havia um conceito de progresso ou mudança na

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história. De fato, não havia um conceito de história como entendemos.Só se poderia apoiar e participar no sistema social existente, que nãoera grande coisa!

O politeísmo era, portanto, uma religiãopreeminentemente de status quo. Por isso, é importanteobservar que tal religião não tem sido um fator dinâmicode mudança social nos países onde criou raízes.... Nãotem sido um poder na evolução da sociedade e napromoção da justiça social (Wright 1967:21)

A missão de Deus através da igreja, por outro lado, implica emmudança e progresso. Isto não quer dizer progresso no sentido popularque as coisas estão ficando cada vez melhores, mas progresso no sentidoque Deus está levando para frente a história, ao seu alvo, ao seu fim. Eo quadro deste fim, como descrito no livro de Apocalipse, é um quadrouniversal, incluindo todos os povos na adoração do verdadeiro Deus.Há um futuro. Não somos presos a um presente estático. As coisas podemmudar e, de fato, mudam à medida que o reino de Deus se torna cadavez mais evidente na nossa história e sua extensão chegue a dimensõesuniversais.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Qual era a importância da palavra no trabalho do profeta?

2. Compare o baalismo com o javismo e explique aincompatibilidade entre os dois.

3. Por que Israel teve uma forte tendência para o sincretismo? Omesmo é o caso na igreja hoje?

4. Ainda há profetas hoje para corrigir o povo de Deus e os líderesda igreja?

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5. Qual é a significância dos “encontros de poderes” para otestemunho hoje?

6. Como deve a igreja se preparar para “encontros de poderes” nasua prática evangelística?

7. Qual é a diferença entre o profeta e o juiz do período pré-monárquico?

8. Quais são algumas diferenças entre o profeta do AntigoTestamento e aquele que encontramos no Novo Testamento?

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Igreja: Por quê Me Importar?

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A SABEDORIA DOPOVO DE DEUS

Jó, Provérbios, Eclesiastes, Cantares

Nos capítulos anteriores, tratamos dos atos de Deus na criaçãodo mundo e num relacionamento especial com um povo, o Israel. Emse tratando da criação e da história universal subseqüente, observamosa relação de Deus com a humanidade em geral e começamos a detectartraços dos propósitos salvadores de Deus para a mesma. Em se tratandoda eleição e da aliança com Israel, observamos a relação de Deus comum povo específico e começamos a traçar a sua significância e o seupapel missionários para os propósitos maiores de Deus para o mundo.O primeiro assunto envolveu principalmente os primeiros onze capítulosde Gênesis, enquanto o segundo ocupou a atenção do restante doHexateuco e os Profetas Anteriores.

Estes dois grupos de literatura relevam duas grandes intervençõessalvadoras de Deus na história de Israel que, definitivamente, deixamsua marca na identidade do seu povo. O primeiro, o Hexateuco, gira emtorno dos eventos que estabelecem a eleição de Israel, sua aliança comDeus e a promessa da terra de Canaã. O foco é a aliança do Sinai. Osegundo, os Profetas Anteriores, ressalta o surgimento da monarquia ea escolha de Davi e o seu trono. O foco é a aliança com Davi com o seucentro em Jerusalém. Estes dois eventos, de maneira alguma, esgotama atividade de Deus na história de Israel. Contudo, sobressaem como osdois principais fundamentos da relação especial e salvífica de Deuscom o Israel.

Então, chegamos nos Escritos: o livro dos Salmos e a sabedoria.Esta literatura se difere em tom e forma do Hexateuco (os primeirosseis livros do Antigo Testamento) e dos Profetas Anteriores. Enquantono Hexateuco e nos Profetas Anteriores Deus é o principal ator, nosEscritos este ator é o Israel. Nos Escritos encontramos a resposta deIsrael diante dos atos redentivos de Iahweh na sua história. É uma

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Igreja: Por quê Me Importar?

resposta totalmente pessoal, uma resposta de louvor, de interrogações,de arrependimento e até de reclamação. Nos Escritos começamos acompreender a maneira como Israel se via diante de Deus e diante domundo ao seu redor.

E nesta resposta cúltica de Israel encontramos muita significânciapara a sua tarefa no mundo, já que esta tarefa faz parte dumrelacionamento triangular entre Deus, o seu povo e o mundo. A tarefado povo escolhido encontra sua relação eficaz com o mundo à medidaque responda sincera e pessoalmente a Deus. E esta resposta é umatanto de adoração a Deus quanto de provérbios em forma de observaçõespráticas acerca do mundo ao seu redor.

Nesta lição queremos estudar a literatura de sabedoria. Napróxima lição voltaremos para algumas nas mesmas preocupações etemas, porém através dum estudo do livro dos Salmos. Ambos iluminammuito nossa compreensão da maneira como Israel tratou seus vizinhose como se entendeu de modo prático e cotidiano dentro do seu contextomaior de mundo.

Os sábios

Os sábios formavam uma classe distinta no Israel antigo, bem comoos profetas e os sacerdotes. E igualmente com estes, fizeram parte dosimportantes círculos de liderança de Jerusalém (Jeremias 18.18). Elespossuíam seu próprio corpo de ensino que hoje chamamos de literaturasapiencial, isto é, os livros canônicos de Provérbios, Jó, Eclesiastes e algunsdos Salmos (1, 37, 73, 91, 119, 127, 128, 133, 139). Esta literatura foiescrita desde os dias mais antigos de Israel (parte dos Provérbios) até operíodo mais recente do Velho Testamento (Eclesiastes). Salomão eraconhecido tradicionalmente como o fundador do movimento sapiencial (1Reis 4.29-34), assim como Davi era o patrono dos salmos e da música emIsrael. Mas este aspecto da vida de Israel é mais velho que Salomão e maisamplo que os livros acima classificados como sapienciais. Encontramos alinguagem sapiencial nos provérbios do povo (1 Samuel 24.14; 1 Reis20.11), no livro de Juízes (9.7ss; 14.14), em alguns Salmos (mencionadosacima) e nas parábolas e aforismos dos profetas (Isaías 28.23ss; Oséias14.9; Jeremias 23.28b).1

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Todavia, foi Salomão, um homem extremamente sábio (1 Reis3.4-28; 10.7, 23ss) e intensamente interessado em se tornar um líder naprincipal corrente dos movimentos culturais dos seus dias, com umafama internacional de autor de provérbios (1 Reis 4.29-34), quem deu ogrande estímulo para o movimento florescer.

Problemas cotidianos e universais

A sabedoria em Israel não era tanto uma questão do conhecimentointelectual de muitos fatos, quanto o conhecimento prático sobre asrelações humanas, a vida e também Deus. A sua preocupação não écom a filosofia ou teologia especulativa, nem com a solução de questõesúltimas sobre o homem e o seu mundo, mas está interessada na vidacotidiana, o contato com o próximo e com as coisas no âmbito pessoal.Ela repara o dia-a-dia rotineiro, as questões triviais de sucesso e defracasso e as experiências boas e más que ocorrem no decorrer do diacomum.

O termo okhmâh se refere à habilidade manual, profissional eartística (Êxodo 31.3ss), à astúcia, ao “jeitinho”, à arte de governar(Jeremias 50.35; Isaías 10.13) e de interpretar (Gênesis 41.8). É a períciaou experiência de um marinheiro, ou de um remador, de um conselheiropolítico. Os sábios de Israel enquadraram a sabedoria como a arte depilotagem (Provérbios 1.5) através da confusão da vida, pegando a rotacerta.

A literatura sapiencial, então, difere em tom da literatura profética.A palavra profética se dirige ao povo na sua totalidade, enquanto apalavra do sábio se dirige ao indivíduo. A base do conselho do sábio éa sua experiência, enquanto o profeta reivindica a revelação e autoridadedivinas. A sabedoria possue um caráter humano universal, enquanto osprofetas invocam a fé em Iahweh com base em sua ação na história deIsrael.

Para Israel, a sabedoria lhe dava uma orientação proverbial daexperiência diária que era comum a toda a humanidade. Tinha a vercom a vida toda e com todos os seus departamentos. Não é surpreendenteque a literatura egípcia e mesopotâmica revelam que quase todos ospovos do antigo mundo bíblico tinha grande interesse neste tipo de

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sabedoria, uma sabedoria do mundo, o uso de perspicácia e bom juízopara discernir a maneira que o mundo e o ser humano funcionam, umtipo de ética prudencial. Assim, Salomão podia discutir a ética ouquestões de “sabedoria” com um egípcio ou um cananeu sem entrarmuito em discussões teológicas, pois os sábios simplesmente nãoexpressaram o mesmo interesse na teologia que os historiadores, osprofetas e os salmistas de Israel.

Esta característica da literatura sapiencial é evidente naapresentação de Jó diante de Deus e no seu isolamento, fora do seucontexto social e dos seus laços históricos e culturais. No relato, Deusnão é identificado como o Deus de Israel que se revela na história doseu povo, mas é o Deus que se revela a todo homem na ação criadora.Portanto, a sabedoria era uma categoria comum a toda humanidade.

A criação e o imago Dei

A dimensão universal da sabedoria se funda no tema da criação eassim se relaciona mais com Gênesis 1-11, sendo a história universal,do que com o resto do Hexateuco e os Profetas Anteriores, sendo umahistória particular. Em Provérbios 8, a sabedoria aparece como oprimôgenito de toda a criação que a assistiu, se delicia diante de Deus ese deleita sobre a face da terra. Foi por ela que Iahweh fundou a terra(Salmo 104.24; Provérbios 3.19) e por ela os reis, príncipes, nobres ejuízes governam a terra (Provérbios 8.15,16).

A relação íntima entre a sabedoria e a criação é indicada nadescrição detalhada do maior dos sábios pela tradição israelita, o reiSalomão.

Discorreu sobre todas as plantas, desde o cedro queestá no Líbano até ao hissopo que brota do muro,também falou dos animais e das aves, dos répteis e dospeixes (1 Reis 4.33).

Esta relação toma a forma de inúmeras analogias entre os processosda “natureza” e a vida do homem, nas máximas compiladas no livro dosProvérbios (25.23; 26.20; 30.15,16, 18- 19, 24-31; veja também Jó 10.10).

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O sábio caminha em direção ao domínio sobre a criação (Gênesis1.28). A sabedoria é análoga à imagem de Deus no homem, como foielaborado no capítulo 1, cujo fim é domínio e ordem sobre a criação.Este é o potencial de todo homem. Contudo, como a imagem de Deusno homem, a sabedoria tem que ser redimida por Deus, a sua derivacãoúltima.

A sabedoria, portanto, consiste no conhecimento de que, atrás detudo, existe uma ordem operante no mundo que mantém um equilíbriode eventos, de relações humanas e de fenômeno natural. Esta ordem éde natureza misericordiosa e justa, mas tem que ser discernida comgrande paciência e, às vezes, a grande custo de experiências dolorosas.

A influência estrangeira

Por causa desta sua natureza universal, a sabedoria em Israel nãosó foi divulgada entre as outras nações, como também foi influenciadapor elas. A própria Bíblia faz alusões à sabedoria das nações do Egito(Gênesis 41.8; Êxodo 7.11; Atos 7.22; 1 Reis 4.30; Isaías 19.11-12), doEdom e da Arábia (Jeremias 49.7; Obadias 8; Jó 1.3; 1 Reis 4.30), daBabilônia (Isaías 47.10; 44.25; Jeremias 50.35; 51.57; Daniel 1.4, 20),e da Fenícia (Ezequiel 28.3ss; Zacarias 9.2). Desde o segundo milênio,a literatura sapiencial já existia, e muito antes de todo o mundo antigo,especialmente no Egito e na Babilônia, mas também em Canaã.2 Estaliteratura atinge os próprios textos transmitidos do Antigo Testamento.A grande maioria de estudiosos concorda que Provérbios 22.17-23.11se baseia nas Máximas Egípcias de Amenemope do segundo milênio.Provérbios 23.13s se baseia na doutrina de Aicar, um sábio assírio doséculo sete a.C. e Provérbios 30 e 31.9 provém de sábios das nações outribos siro-palestinas. Também é muito discutida a influência do “JóSumérico” nos livros bíblicos de Jó, Salmo 73 e Provérbios. A sabedoriafloresceu em Israel no século X, provavelmente por influência cananéia, efoi cultivada na corte de Salomão (veja a menção dos nomes cananeus deEta, Hema, Calcol e Darda em 1 Reis 4.31).

Enquanto a Bíblia rejeita inequivocamente a magia e a superstiçãoembutidas neste pensamento (Isaías 47.12-13) e o orgulho que promovia(Jo 5.13), fala dos sábios gentios com um respeito que jamais demonstrou

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para com os sacerdotes e os profetas das nações pagãs. Embora tambémafirme que Salomão os ultrapassava e que Daniel foi mais excelenteque os sábios da Babilônia (Daniel 5.11-12), como pessoas a quemDeus deu compreensão sobrenatural, o Antigo Testamento deixa claroque um homem pode pensar de maneira clara e falar acertadamentecom sabedoria, com certos limites, sem uma revelação especial de Deus.A história do sábio Aitofel, cujo conselho era entendido como “respostade Deus”, deixa isto bem claro (2 Samuel 16.23; 17.14).

Derivada de Deus

Apesar de tudo que dissemos sobre a universalidade da sabedoria,ela brilhava mais forte em Israel, pois a literatura sapiencial do povo deDeus era isenta de politeísmo, de magia e de qualquer justificação daimoralidade. Aqui, temos a certeza de que o caminho de Deus é perfeitoe sua vontade se revela suficientemente, deixando um padrão únicodaquilo que é sábio e certo.

Uma comparação da literatura gnômica judaica com aquela dosseus vizinhos, enquanto revela semelhanças de forma e até de conteúdo,ao mesmo tempo, demonstra que os sábios de Israel adaptaram a tradiçãode sabedoria, realizando certas mudanças teológicas. O máximo dasabedoria era temer a Deus. Os sábios de Israel não eram humanistasseculares, para quem Deus era distante e despreocupado. A sabedorianão poderia ser divorciada da sua fonte, Iahweh, nem ser conhecida ouaplicada corretamente à parte do “temor do Senhor”. Isto é confirmadorepetidamente (Provérbios 1.7, 29; 2.5; 8.12-14; 15.33; Salmo 111.10;Jó 28.28). Este “Senhor” de Provérbios é especificamente o Deus deIsrael, Iahweh, cujo nome é mencionado 66 vezes em Provérbios 10-29.O termo mais geral para Deus, Elohim, aparece apenas uma vez, emProvérbios 25.2.

O princípio de toda sabedoria, portanto, é o temor do Senhor.Isto é, todo esforço para saber começa com uma profunda reverênciaao Senhor, um relacionamento de suprema seriedade, caracterizado pelaausência de arrogância, pelo senso de moderação e humildade apropriadaduma criatura diante do seu Criador. Somente este conhecimento emrelação a Deus e ao seu domínio soberano coloca o homem no

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relacionamento apropriado com os objetivos do seu conhecimento. Afé não impede o saber. Pelo contrário, estabelece o ambiente maiscondutivo ao saber.

A personificação da sabedoria

Um clímax do pensamento sobre a relação da sabedoria comosendo derivada ultimamente de Deus se encontra em Provérbios 1-9.Especialmente no capítulo 8, bem como em Jó 28, encontramos umapersonificação da sabedoria, talvez até mesmo uma hipostatização. Asduas passagens transmitem fundamentalmente a mesma mensagem: asabedoria somente é possível para o homem através do discipulado. Ohomem deve seguir a sabedoria. A sabedoria é melhor que as riquezas.Por ela Deus fundou a terra, e por ela reis governam! Este conceito éaumentado mais ainda na literatura apócrifa de Eclesiástico e a Sabedoriade Salomão. Em Eclesiástico 24, a sabedoria é exaltada na sua funçãocósmica de salvação dentro da história. E na Sabedoria de Salomão7.22, a sabedoria é designada como o próprio criador do mundo.

A influência no Novo Testamento

Tudo isto, sem dúvida, serviu como um grande preparo para certasafirmações por Jesus e a respeito dele próprio, em linguagem sapiencial,que destacam o seu papel de salvação no plano de Deus para a suacriação. A sua pregação, por exemplo, evidenciou a influência daliteratura sapiencial pelas suas exortações, discussões, e peloensinamento aos discípulos e especialmente pelas parábolas. Seu ensinotomava forma de provérbios—“podem, porventura, jejuar os convidadospara o casamento, enquanto o noivo está com eles?” (Marcos 2.19)—àsvezes, paralelos exatos com alguns provérbios (Provérbios 3.28 comMateus 5.42; Provérbios 2.5,6 com Lucas 14.10). O povo comum e atéos próprios fariseus o chamavam de “mestre”. E o próprio Jesuscertamente se identificou com a sabedoria quando fez o seguinte convite:

Vinde a mim todos os que estais cansados esobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós omeu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e

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humilde de coração; e achareis descanso para as vossasalmas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve(Mateus 11.28-30, compare Eclesiástico 51.23-27; 6.24,30; Provérbios 9.32-35).

De acordo com os escritores do Novo Testamento, em Jesus Cristoencontramos não a loucura, mas a própria sabedoria de Deus (1 Coríntios1.24; Provérbios 8.12). Ele é o Logos, ou a ordem da criação, que noschama pessoalmente para seguí-lo (João 1.1-4; 14.6; Provérbios 8.22-24,30, 32-36). O apóstolo Paulo várias vezes aplicou a Cristo a linguagemsapiencial (1 Coríntios 8.6—compare Sabedoria 9.1; Colossenses 1.15—compare Sabedoria 8.22; 7.26 e Eclesiástico 1.4; Colossenses 1.17—compare Sabedoria 7.27; 8.1).

IMPLICAÇÕES ATUAIS

É mister lembrar que as implicações elaboradas através do nossoestudo são meramente sugestivas e representativas e de maneira algumapretendem ser compreensivas e exaustivas. Uma teologia bíblica, jamais édefinitiva pois, enquanto o povo de Deus permanece com uma tarefa detestemunho no mundo, sempre e em todo lugar terá que repensar, atualizare contextualizar a sua fé em novas situações e para novos desafios. Não éque a fé em si mude, mas a expressão adequada e efetiva dela. Os Escritosrevelam vários bons princípios para a comunicação efetiva da fé. Sugerimos,por enquanto, três: coerência, contextualização, e diálogo.

Coerência

A literatura sapiencial ressalta a necessidade duma ética pessoal esocial que testemunhe do caráter justo e misericordioso de Deus. Amensagem que anunciamos exige uma coerência de vida que implica numaética.

A preocupação principal dos sábios era a edificação e permanênciade uma sociedade harmoniosa. Bem antes da rebelião e discórdia civil,entendiam como boa e sábia qualquer contribuição à harmonia e ao

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bem-estar da nação, e como má e tola qualquer atividade ou atitude queprovocava discussão e contenda. Sabiam que a pobreza era uma causaprincipal de muita desordem civil e, por isso, incentivavam o cultivo,os cuidados dos campos, a distribuição igual de riquezas e denunciavama preguiça e a avareza (Provérbios 24.30-34; 10.4-5, 26; 13.4, 23; 20.4;26.16; 21.26; 11.26; 22.9). Buscavam a justiça (Provérbios 22.28; 23.10;19.9; 17.23; 15.27; 16.8; 18.5) e o bom governo (Provérbios 29.12).Para eles, o verdadeiro sábio e homem certo é aquele que entende osdireitos dos pobres (Provérbios 29.7-14), organiza a sua vida de modoapropriado e contribue para o bem-estar da comunidade (Provérbios10). Inculcavam a generosidade, tolerância, humildade e a capacidadede perdoar, mas advertiam contra a inveja, difamação e o orgulho(Provérbios 11.2,9, 12-13; 12.17, 22; 14.5; 16.32; 18.12; 19.11; 21.1-4;24.1; 27.2; 25.21).

Todavia, nenhum destes ideais era peculiar a Israel, pois osprincípios de justiça e harmonia na sociedade eram universais e baseadosna noção e confiança numa ordem divina operante no mundo e acessívelao conhecimento humano. Mesmo assim, o povo de Deus precisavatestá-los pelas experiências da sua fé no dia-a-dia.

A comunicação da nossa fé e a proclamação do domínio do ReiIahweh exigem uma ética pessoal e preocupação pela justiça social,que são coerentes com as qualidades daquele que representamos eanunciamos.

Contextualização

A contextualização do evangelho, atualmente, é o foco da atençãode muita discussão teológica. Contudo, ainda há muitomal-entendimento sobre o assunto. A Bíblia nos dá muita orientação,especialmente exemplos de contextualização sem compromisso da fé,tanto no Velho quanto no Novo Testamento. Aqui reparamos trêsprincípios básicos e abrangentes baseados no nosso estudo dos Escritos:a comunicação contextualizada deve ser prática, afetiva e proposital.

Comunicação prática. A idéia de contextualização significasimplesmente uma comunicação facilmente receptível e intimamente

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compreendida pela audiência. É comunicar em termos que o povoentenda, sendo fiel ao conteúdo da mensagem enquanto emprega idéiase formas familiares ao povo. A tensão existe justamente na coordenaçãoda fidelidade à mensagem com o emprego de elementos culturais dopovo que possam servir como veículo de transmissão da mensagem.Quais são os veículos apropriados? Até que ponto são apropriados?Quem pode julgar estas coisas?

O primeiro princípio que queremos reparar nos Escritos é oprincípio de praticabilidade ou popularidade. Já vimos que a literaturasapiencial focaliza mais nos problemas imediatos e cotidianos da vida.

Esta forma de sabedoria proporcionava verdades quese aplicam à vida humana, de acordo com as quais umhomem pode guiar sua conduta. Ela foi sempre lúcidae sensível, freqüentemente prosaica, prática e intentavaser útil (Fohrer 1982a:196).

Comunicação afetiva. Praticabilidade implica em afetividade.É comunicação que fala ao coração do povo por criar associaçõesfamiliares e íntimas. A literatura sapiencial, empregou formas culturaisbem familiares daquela região e daquele período. Já elaboramos sobrea influência estrangeira na literatura sapiencial. Qual é a significânciadeste fenômeno?

Por certo, esta familiarização de forma literária servia de pontepara a comunicação do evangelho entre as nações, se não explícita,pelo menos implicitamente. A filosofia de vida de Israel não eram algototalmente estranho para as nações vizinhas, pelo menos em termos dasua forma e seu estilo. Por outro lado, o conteúdo da fé israelita eramuitas vezes peculiar, mas nem tanto a forma de expressar esta fé emculto e em filosofia de vida. Não podemos aqui categorizar de maneiraabsoluta, pois é também verdade que nem todo o conteúdo da fé deIsrael era novidade para as nações. Por exemplo, a idéia da personalidadeda deidade era comum entre os antecedentes politeístas do AntigoTestamento e alguma noção da ressurreição dos mortos existia namitologia suméria. E provavelmente Israel tenha possuído algumasformas de expressão da sua fé que eram peculiares às nações vizinhas.

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Mesmo assim, o princípio geral da semelhança das suas formas culturaise gnômicas permanece, e estas semelhanças devem ter auxiliado acomunicação do conteúdo e significância da sua fé. Bernard W.Anderson lucidademente expôs esta tensão entre a fé de Israel e asculturas vizinhas ao seu redor:

Israel não disse enfaticamente um não de repúdia acultura avançada na qual entrou, mas disse não e sim.A fé em Iahweh, o Deus de Israel, exigiu uma rejeiçãodos outros “deuses” e, conseqüentemente, a repúdiadas presssuposicões teológicas das religiões doambiente ... Não poderia haver um meio termo entre afé em Iahweh e os deuses do paganismo. Todavia, onão de Israel neste nível mais profundo, freqüentementefoi acompanhado por um sim de apropriação, isto é,tomando posse das formas de culto (tal como osacrifício) e formas literárias (tal como o salmo) econvertendo-as ao serviço de Iahweh [tradução, ênfaseacrescentada] (Anderson 1970:24s).

Aplicando estes princípios à comunicação do evangelho hoje noBrasil, perguntamo-nos: Como podem os ditados e os provérbiosbrasileiros ser adaptados para a evangelização? Encontramos pistas naletra de algumas músicas populares e cristãs:

Saiba que a nossa vida, irmão

Não é viver só d’água e pão

Quem se esforça, força a barra e cai

Não é no braço que se vai

Alcançar firmeza na mesma dimensão

Que Cristo disse ter prá dar... [ênfase acrescentada] (Pimenta1985)

... Sim, mas foi Pilatos que por fim O entregou, Cara e mãoslavadas, a saída que escolheu

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E o povo irado como um só se levantou,

Falou: ...

(Será que a voz do povo é voz de Deus?)

Cruz e morte ao Benfeitor! [ênfase acrescentada] (Kerr 1985)

Será que outros ditados populares podem ser usados ou adaptadosà comunicação do evangelho? Consideremos:

“A união faz a força”

“Deus escreve certo por linhas tortas”

“Melhor é um pássaro na mão que dois voando”

“Quem pode mais, chora menos”

“Quem tem boca vai à Roma”

“Quem corre nem sempre alcança, nem tarda por madrugar, quem quiserchegar a tempo ande firme e devagar”

“Antes só do que mal-acompanhado”

“De grão em grão a galinha enche o papo”

“Quem canta, seus males espanta”

“Um homem prevenido vale por dois”

“Sarna prá se coçar”

“Quem não pode com o pote não pega na rodilha”

“Cada um sabe o sapato que lhe aperta”

“Pimenta nos olhos dos outros é refresco”

“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”

“Quem não chora, não mama”

“Quando a esmola é grande, o cego desconfia”

“Devagar com o andor que o santo é de barro”

“Dá pano prá manga”

“Está pondo o carro na frente dos bois”

“Está puxando a sardinha para o seu lado”

“A galinha do vizinho é sempre mais gostosa”

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“O olho do dono é que engorda o boi”

“Em casa de fereiro espeto é de pau”

“Não queima a casa para assar o porco”

“Bater na cangalha para o boi entender”

“Tamanho não é documento”

“O porco só engorda nas vistas do dono”

“Pau que nasce torto morre torto”

“Burro velho não pega marcha”

“Por for bela viola, por dentro, pão bolorento”

“O sol nasce para todos”

“Quem muito quer, tudo perde”

“Diga com quem andas e direi quem tu és”

“Quem meu filho beija, minha boca adoça”

“Santo de casa não faz milagre”

“Macaco velho não põe a mão em cumbuca”

“Cachorro mordido de cobra tem medo até de linguiça”

“Gato escaldado tem medo de água fria”

“Não adianta fechar o porteiro depois que a boiada passou”

“Quem planta vento colhe tempestade”

O importante é considerar quais são os meios e formas que melhorcomuniquem hoje para uma dada audiência sem sacrificar o conteúdoda mensagem. No Brasil, isto também implica na consideração regional.Será que a nossa comunicação aos que estão fora do evangelho épercebida íntima e profundamente?

Comunicação proposital. A contextualização também envolvea direção e o objetivo da comunicação. Uma comunicação proposital étão estreita e específica em termos do seu assunto, quanto larga euniversal na sua audiência.

O assunto específico é a incomparabilidade e a soberaniaexclusiva de Iahweh. O propósito da sabedoria era levar quem quer quea buscasse a um relacionamento salvífico com Deus (Provérbios 2.5-8;

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Igreja: Por quê Me Importar?

1.20; 8.35). É Deus que reina. A Ele pertence a glória. O temor doSenhor é o princípio de sabedoria.

A audiência é a arena das nações. A literatura sapiencial deu aopovo de Deus uma prontidão de entrar em discussão com os povosestrangeiros e dialogar com eles a respeito de Deus e a base da própriasabedoria deles. A história de Israel está em estreita relação com o destinodas nações.

Em síntese, a contextualização implica no emprego de formasculturais populares e da vida diária, uma comunicação do coração dopovo, uma abrangência universal de audiência e uma mensagemespecífica sobre o domínio do único Deus.

Diálogo

A literatura sapiencial é evidência que o testemunho cristão nãoprecisa ser monológico e altivo. O cristão não é o dono da verdade, masconhecedor de sua fonte pessoal. A literatura sapiencial revela que háum padrão e uma ordem divinos na criação que podem ser discernidopor aqueles que estão atentos à sabedoria, já que a sabedoria se tornouconhecida na criação, e naturalmente acessível a todos os povos. Isto éuma ponte de diálogo com as nações pagãs. Por isto, Salomão podiadiscutir a ética e questões de sabedoria com os egípcios e cananeus,sem permitir que as diferenças teológicas impedissem a discussão.

Um espírito de diálogo não é incoerente com o reconhecimentode que a sabedoria, em última análise, é derivada de Deus, e atribuídano seu sentido mais pleno a ele (Jó 12.13ss; Isaías 31.2). Deus manifestoua sua sabedoria na criação do mundo (Provérbios 3.19s; 8.22ss) e nahumanidade (Jó 10.8ss; Salmo 104.24). Se é derivada de Deus, então,toda sabedoria possue um caráter religioso. E se é manifestada na criaçãoe entre todos os homens, também possue traços seculares. Isto parececontraditório, mas não o é. Para o hebreu, não havia nenhuma dicotomiaentre o religioso e o secular, e entre o intelectual e o prático (Harrison1969:1008). O mundo tem sentido, possue uma ordem. As obras doSenhor são grandes (como diz o salmo sapiencial), e não só “grandes”,mas também podem ser estudadas por aqueles que nelas se comprazem(Salmo 111.2). Isto não justifica a atitude de arrogância intelectual que

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o livro de Jó repreende (38.32-36, compare 1 Coríntios 1.17-19; 2.4s,13;Romanos 1.22), nem implica na possibilidade de decifrar os mistériosda criação de Deus, como Eclesiastes nos mostra (compare Provérbios16.25). Mas ao mesmo tempo, também o pensamento sapiencial nãopermite nenhuma atitude anti-intelectual, uma retirada para airracionalidade. A existência, então, de sabedoria entre povosnão-cristãos, estabelece uma ponte de contato para dialogar sobre aordem e o padrão divinos existentes no mundo de maneira “racional” eao mesmo tempo “espiritual”. Fornece também meios de comunicarque o princípio da verdadeira sabedoria é o temor do Senhor, e assimleva quem busca sabedoria à fonte da verdade através de relação pessoalcom o Senhor Jesus (João 14.6).

PERGUNTAS PARA A DISCUSSÃO:

1. Existem sábios hoje? Por quê?

2. Como aplicar a sabedoria do Velho e do Novo Testamento àsnossas vidas?

3. A sabedoria popular e “mundana” poderá ou deverá ser ummeio de comunicar o evangelho? Como?

4. Discuta a importância da tradução da Bíblia numa linguagemmais contextualizada.

5. Qual é a relação do tema da criação com a literatura sapiencial?

6. Escreva uma mensagem de 3 páginas usando pelo menos cincoditados populares.

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Igreja: Por quê Me Importar?

1Uma classe de sábios existia na terra de Canaã até antes de Israel, como demonstram as cartasde Amarna no século XV e o nome da cidade de Debir, que significa “cidade do livro” ou“cidade dos escribas” (Josué 15.15-19).2Veja, por exemplo, os provérbios nas cartas de Amarna, os textos de Ras Shamra, asMáximas Egípcias de Amenemope e outros textos do Antigo Oriente em The Ancient NearEast. An Anthology of Texts and Pictures, editado por James B. Pritchard. Princeton:Princeton University Press, 1958.

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A ADORAÇÃO DOPOVO DE DEUS

Os Salmos

Afirmamos na última lição que a resposta cúltica de Israel temsignificância para a sua tarefa no mundo. Lembramos desta tarefa comoparte dum relacionamento triangular entre Deus, o seu povo e o mundo.A tarefa do povo escolhido encontra sua relação eficaz com o mundo àmedida que responda sincera e pessoalmente a Deus. E esta resposta éuma tanto de adoração a Deus quanto de provérbios em forma deobservações práticas acerca do mundo ao seu redor.

Nesta lição queremos estudar o livro dos Salmos que tambémilumina nossa compreensão da adoração de Israel a Deus no meio dosseus vizinhos.

O título do livro dos Salmos no texto original é “louvores”(tehllim). O termo “salmo” se deriva da tradução grega (a Septuaginta)duma expressão em Hebraico (mizmor) que significa “cânticoacompanhado de instrumentos musicais”. O livro compreende 150cânticos divididos em cinco livros (Salmos 1-41, 42-72, 73-89, 90-106e 107-150), cada um terminando numa doxologia especial, sendo oSalmo 150 uma doxologia do saltério todo. Fora do saltério há aindamais cânticos de Israel, como o cântico de Débora (Juízes 5), da irmãde Moisés (Êxodo 15.21), de Davi (2 Samuel 1.19-27), sobre a libertaçãopor meio do Mar Vermelho (Êxodo 15.1-19) e sobre a sabedoria(Provérbios 8). Encontramos hinos de Israel também fora da Bíblia,como os Salmos de Salomão e os cânticos de agradecimento no Qumran.

Como um livro de “louvores”, o livro dos Salmos possue ocaráter de testemunho devocional, composto à luz da salvação que Deusrealiza em Israel. Enquanto a Bíblia, em geral, relata aquilo que Deusfez pelo povo e lhe falou, nos Salmos é principalmente o homem quefala a Deus de maneira totalmente pessoal e devocional. Esta naturezaintensamente devocional e sua expressão viva das necessidades humanas

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Igreja: Por quê Me Importar?

mais profundas transcendem as divisas de tempo, cultura enacionalidade, de tal modo que pessoas no mundo inteiro, através detoda a história, se identificam com o conteúdo e forma existenciais dosSalmos.

Esta expressão profunda de sentimento toma principalmenteduas formas: primeiro, o louvor tanto pelo que Deus é (Salmos 117.1-2;121; 147.1-11; 149 e 150) quanto pelo que fez (Salmos 124.6-7; 40.1-3;46.8-10; 66.5-7; 85.1-3), e segundo, a súplica pelo socorro em situaçõescríticas (Salmos 123.3-4; 12.1-2; 54.1-3; 55.1- 5; 60.1-3). Estesexprimem tanto o sentimento da comunidade toda quanto do indivíduoe, às vezes, dos dois ao mesmo tempo (Salmo 44.4-7). Todavia, osSalmos eram principalmente cânticos para o culto público, alguns atécontendo anotações musicais. Eram originalmente cantados,primeiramente na vida comum do povo, e depois no culto formal dosantuário.

Alguns estudiosos asseveram que a maioria dos salmos foramcompostos no período pós-exílico. Contudo, tanto a evidênciaarqueológica recente quanto a comparação literária indicam, em grandeparte, uma datação da era de Davi e Salomão. Alguns salmos (porexemplo, Salmo 48) podem ter tido origem no início da monarquia, eoutros, no período do exílio (Salmo 137). Alguns podem ser maisrecentes ainda (Salmos 105-106, 136), e outros podem ter origens maisantigas que o tempo de Israel, provindo de fontes pagãs, como veremosem seguida.

A influência estrangeira nos salmos

Quando comparamos os Salmos de Israel com os testemunhosliterários da poesia sumério-acádica, egípcia e cananéia, confirma-seque aqueles seguem as mesmas regras de estilo e estrutura que estes.Os dois empregam a técnica de parallelismus membrorum, ou seja, rimade pensamento (ao invés de rima de som, como na poesia ocidental).Esta rima, ou paralelismo, pode ser sinônimo (Salmo 19.1-2), antitético(Salmo 1.6), sintético (Salmo 19.7s) ou climático (Salmo 93.1a).

Foi neste âmbito de intercâmbio cultural que Israel, sob ainfluência fenícia, alcançou níveis de excelência musical. Salmos de

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origem cananéia (18, 29, e 45) foram adaptados para uso israelita. Assemelhanças são bem evidentes, indicando que os louvores e as oraçõesde Israel tomaram formas facilmente compreensíveis pelos povosvizinhos. Só podemos concluir, então, que sua forma e estilo estavamem harmonia com seu propósito e mensagem de chamar as nações a umculto universal ao verdadeiro Deus, (Salmos 7.7,8; 9.8,11; 10.16; 19.1-4;22.27-28; 33.12; 40.3; 47; 50.1; 57.7; 59.5; 64.9-10; 66.1,8; 67; 68.28-32;72.8-11, 17-19; 86.9; 87.4; 96- 100; 102.15-22; 105.1, 44-45; 108.3;113.3-4; 117.1).

Se os hebreus do Antigo Testamento reagiram enfaticamentecontra o politeísmo dos seus vizinhos, não eram iconoclastas literários,mas empregaram muitas frases gráficas das culturas ao seu redor,especialmente aquelas que intensificavam a qualidade altamente pessoalde Deus. Por exemplo, no Salmo 68.5, o Senhor é chamado “cavaleirodas nuvens”, um epíteto freqüentemente usado para o deus cananeu,Baal. Desta forma, o salmista não está sucumbindo ao politeísmo, masusando linguagem popular para descrever o controle de Iahweh sobre anatureza. Mas, enquanto os poetas hebraicos usavam livremente alinguagem cananita, não fizeram-no descuidadosamente. Somenteconceitos teologicamente aceitáveis eram empregados. Por exemplo, otermo semítico e comum, ilt, significando “deusa”, era rejeitado portodos os escritores, já que na teologia hebraica, tal conceito do VelhoTestamento, em todas as épocas, não tinha significado. Elmer Smickacertou bem a maneira que Israel adaptou a literatura estrangeira:

Embora o Velho Testamento tenha sido, decerto modo, um produto da sua época, sua própriaasseveração de ser o produto do Espírito Santo de Deusé enriquecida pela sua justa reação às práticas e àscrencas vis das religiões vizinhas, sem rejeitar aqueleselementos que fizeram parte daquele vestígio deverdade ainda remanescente num mundo corrupto[tradução, ênfase acrescentada] (1970:115).

Uma comparação do hino egípcio ao sol com o Salmo 104 feitopor Othmar Schilling, ilustra este processo de assimilação e adaptação(1978:388-389):

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Hino ao Sol

Belo é o teu esplendor, na extremidade do céu, tu, Aton,vivente que antes já vivias.... Quando tu ultrapassas aextremidade do céu, eis que o mundo jaz na escuridão,como se estivesse morto...

Os leões saem de suas cavernas, as serpentes atacam...cala-se o mundo, porque quem o criou se deitou naextremidade do céu...

Luminosa é a terra, quando tu surges no horizonte,quando tu, Aton que és, brilhas no dia...

Todos os homens fazem o seu trabalho...

Todo animal se contenta com o seu alimento, todas asárvores e plantas florescem os pássaros volteiam sobreos seus pauis...

Os barcos navegam descendo e subindo a corrente...Os peixes na corrente saltam diante de ti e os teus raiosestão no meio do grande mar...

Éstu que formas as crianças nas mulheres... que dás avida ao filho... que dás a respiração para que viva tudoo que fizestes...

Tu colocas cada um no seu lugar e lhe dás aquilo deque tem necessidade.

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Salmo 104

Iahweh, Deus meu, mui grande sois, de majestade emagnificência revestido, sois vós que distendeis a luzcomo um manto!... Sois aquele que para marcar ostempos fez a Lua e o Sol indicou o seu ocaso!

Quando produzis as trevas e se faz escuro, entãodesentocam-se os animais da selva, e os leõezinhosrugidores em busca da presa...

Ao despontar o sol, se retiram e se deitam nos seuscovis...

Sai então o homem para a sua faina, e para os seuslabores até a noite.

Faz crescer a erva para as alimárias... cheias de sucosão as árvores de Iahweh, sobre elas fazem as aves osseus ninhos...

Eis o mar, tão grande e espaçoso, onde se agitam semnúmero animais pequenos e grandes. Sulcam-no asnaus....

Logo que enviais o vosso espírito são criados...

Todos de vós esperam que lhes deis alimento a seutempo... abrindo as mãos os saturais de bens.

A comparação é reveladora. Enquanto o faraó adora o Sol doEgito, o Salmo 104 exalta o criador do sol, Iahweh, que está infinitamenteacima de toda a sua criação. A confissão de Israel permanece: ‘Iahwehé nosso Deus, Iahweh é único’” (Deuteronômio 6.4).

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Igreja: Por quê Me Importar?

Em resumo, Israel utilizou a mesma forma poética das culturasvizinhas, isto é, o estilo, a estrutura, a rima e, freqüentemente, até mesmoas mesmas figuras de linguagem a fim de efetuar uma comunicaçãofamiliar e compreensível ao nível popular. Todavia, rejeitou qualquermaterial que não coadunava com a fé em Iahweh, e modificou outrosmateriais para exprimir as verdades da sua fé.

Seu conteúdo

Seria fútil, em poucos parágrafos, tentar discursar a respeitodos vários temas que os salmos tratam. As categorias de tipos jádiversificadas, junto com a variedade de assuntos, praticamente proíbeuma classificação temática muito resumida e sistematizada. Contudo,quando lembramos que, como poesia, oração e hinos, os salmos possuemuma qualidade altamente emotiva, então reparamos especialmente ostemas relacionados à esperança humana. Embora estes não esgotem ostemas que os salmos elaboram, são especialmente significantes. Aesperança religiosa é uma categoria escatológica e, conseqüentemente,os temas que trataremos exprimem uma esperança escatológica e porisso são orientados em grande parte para o futuro. Estes temas são: aglória de Deus, o domínio universal de Deus, a esperança messiânica,juízo e misericórdia.

A glória de Deus. Já falamos que nos salmos não encontramostanto Deus falando para o seu povo mas o povo se exprimindo diante deDeus. Uma das primeiras reações deste povo diante de Deus é aexpressão da sua infinita grandeza e santidade. O povo de Israelfreqüentemente empregou a frase, “a glória de Deus” (kebhôdh YHWH)em referência à sua grandeza. A “glória de Deus” se referia a suagrandeza (Salmo 138.5), a sua manifestação (Salmo 63.2) e a sua honraou importância (Salmo 66.2; 79.9).

No seu testemunho, não é o povo de Deus como comunidade,nem tampouco os indivíduos ou líderes cristãos populares e verbososque devem se destacar. Somente Deus merece a honra e a glória nomeio das nações.

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Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos ospovos as suas maravilhas. Porque grande é o SENHORe mui digno de ser louvado,

Temível mais que todos os deuses...

Aclamai a Deus, toda a terra.

Salmodiai a glória do seu nome, dai glória ao seulouvor... [ênfase acrescentada] (Salmos 96.3,4; 66.1,2).

Para Israel, as dimensões da glória de Deus devem corresponderàs dimensões do seu conhecimento pelas nações. E assim se estabeleceuma esperança religiosa e futura na ligação entre a glória ou manifestaçãode Deus e a salvação futura das nações, pois esta glória ou manifestaçãonão é tanto da natureza intrínseca quanto da realização final do seudireito como soberano sobre o mundo. Desta forma se entende o salmista,“... da sua glória se encha toda a terra” (72.19) e “... em toda a terraesplenda a tua glória” (57.5,11).

O domínio universal de Deus. A glória de Deus, então, encheráa terra. O seu domínio real será universal. Esta afirmação escatológicaé o tema dos salmos de entronização.

O SENHOR preside aos dilúvios;

como rei presidirá para sempre (29.10)

Deus é o rei de toda a terra... (47.7)

Desde a antigüidade está firme o seu trono... (93.2)

... O SENHOR é o Deus supremo, é o grande rei acimade todos os deuses (95.3)

Dizei entre as nações: Reina o SENHOR (96.10)

Reina o SENHOR. Regozije-se a terra (97.1)

Reina o SENHOR; tremam os povos.

Ele está entronizado acima dos querubins; abale a terra(99.1)

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Igreja: Por quê Me Importar?

Todos estes salmos são hinos para serem cantados na casa doSenhor (1 Crônicas 6.31-31). Mas enquanto pressupõem a centralidadede Sião, aonde o povo louva a Deus (Salmos 96.6; 97.8; 99.2,9), mesmoassim, não limitam o domínio de Deus a Sião. Iahweh é rei sobre Israel,as nações, e o cosmos. No livro dos Salmos, há mais que 175 referênciasde natureza universal às nações do mundo.

Diante da extensão do domínio soberano de Deus, nem Israel enem a igreja podem desfalecer ou se inibir como se fosse uma minoriainsignificante no mundo. Pelo contrário, têm uma tarefa de dimensõesuniversais (Salmo 67.2) e a promessa de que o Soberano cumprirá seudomínio pela extensão de toda a terra. Nenhum outro projeto históricochega aos pés da importância da promoção do reino de Deus. Nossosafazeres, quando não relacionados a este projeto e diante dele, perdempor completo a sua significância. Por isso, o próprio Jesus gastou seuministério pregando este reinado (Marcos 1.16) e desafiou seusdiscípulos a fazerem o mesmo até o fim escatológico (Mateus 24.14).

A esperança messiânica. A esperança messiânica éintimamente ligada ao tema do domínio universal de Deus nos Salmos.Esta esperança se promoveu especialmente através dos denominadossalmos reais (2, 18, 20, 21, 45, 72, 101, 110, 144). No seu contextooriginal, encontramos uma referência muito elevada à monarquia e àlinhagem davídica como uma nova depositária da aliança com Deus,que recebia uma missão de salvação como testemunho da fidelidade deDeus (89.1-2) diante do povo de Deus (22.22s), das nações (22.27s),até dos ainda não nascidos (22.30s) e, assim, até mesmo diante do cosmos(89.36s) e todos os deuses (138.1). Seu testemunho de Deus é tambéminspirado por Deus (51.14-17; 71.17) e o seu conteúdo inclui aquiloque Iahweh fez pessoalmente a favor do rei—sua libertação do perigo(18.3-6)—e sua misericórdia eterna (18.2s, 29-31; 118.13s; 3.3; 54.5;144.1s). Mas, com o passar do tempo, Davi se tornou o tipo do rei ideal,o soberano do tempo escatológico da salvação, o ungido ou “messias”de Deus que devia concretizar o ideal, realizar a “plenitude dos tempos”e levar tudo a cumprimento. Mesmo que na mesopotâmia o rei tenhasido proclamador da glória da sua deidade sobre todos os povos e dosdeuses para sempre, isto na explica porque os salmistas, com uma fé

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javista, aplicariam a um rei de Israel as qualidades de supremo soberanoda era messiânica vindoura (Salmo 72), cujo reinado será universal emextensão (Salmo 2) e governado pelo messias em associação com Deus.Este messias, descrito como consquistador, rei e sacerdote que reinavaem glória a destra de Deus (Salmo 110), mesmo na mais radical poesiametafórica, mal poderia ser associado com os atributos de Davi, Salomãoou qualquer outro rei de Israel ou Judá. É neste sentido que os salmosfomentavam a grande esperança messiânica voltada para o futuro epreparavam o fundo histórico para o ministério de Jesus.

Juízo e misericórdia. A expectativa do futuro é de juízo etambém de misericórdia. O rei vem para “julgar” a terra e estabelecer oseu trono (Salmo 96.10-13; 97; 98.7-9; 110.5-6). A ira de Deus estácontra os reinos que não o adoram (79.6). Ele exerce sua sabedoria epoder, vencendo a injustiça e defendendo o oprimido e assim expressao seu julgamento. Para o salmista, cada indivíduo é responsável porbuscar a Deus, pois todos se corromperam (53.2-3).

Contudo, os salmos ressaltam mais ainda a misericórdia de Deus(52.8; 63.3) que todos necessitam e que é oferecida a todos que oinvocam (86.5); não só Israel, mas todas as famílias das nações (22.27).

IMPLICAÇÕES ATUAIS

Na última lição, ressaltamos três princípios para a comunicaçãoda nossa fé, baseados na literatura sapiencial: coerência,contextualização, e diálogo. O livro dos Salmos avança estes trêsprincípios e levanta maisdois: o conteúdo essencialda mensagem, e a formalitúrgica da mesma.

Princípios para o testemunho da fé:

• essência da mensagem

• coerência entre fé e vida

• contextualização

• diálogo

• liturgia “universal”

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Igreja: Por quê Me Importar?

Essência

A comunicação missionária e bíblica é uma comunicaçãosubstancial que possue um certo conteúdo essencial. Logo devemosesclareçer que, por “essencial” não justificamos uma pregação parcialou incompleta, deixando de ensinar tudo que Jesus ordenou (Mateus28.20), mas procuramos as ênfases que os autores veterotestamentáriosderam. Já mencionamos estas anteriormente, basta apenas ressaltar eresumir.

A soberania de Deus. Os salmos enfatizam o domínio real deIahweh sobre Israel, as nações e toda a sua criação. De modo inverso, olivro dos Provérbios destaca as limitações da ação e da discrição humanas(16.9; 19.21; 22.2; 16.2; 20.24; 21.20s). Aquele que é sábio semprereconhece Deus como o fator limitador e incalculável. Toda a vidahumana está completamente sujeita à vontade soberana de Deus (vejaGênesis 50.20). O anúncio do evangelho é a proclamação dainsuficiência humana para ordenar seu mundo independente de Deus eo testemunho da atividade soberana de Deus sobre toda a criação e ahistória humana.

A glória de Deus. A grandeza e honra de Iahweh é incomparávelem relação aos outros deuses. Sua glória exige uma exclusividade deculto e adoração. À medida que sua glória se refere à manifestação deDeus, proclamamos o pleno cumprimento da sua presença na pessoa deCristo Jesus (João 1.14; Romanos 11.36; Hebreus 1.3). Por isso, aincomparável grandeza do Deus que louvamos se encontra na pessoade Jesus (Colossenses 1.13-20). Ele é o sujeito sobremodo excelenteque anunciamos.

A misericórdia e ira de Deus. O evangelho se constitue tantodas boas notícias a respeito da graça e misericórdia de Deus oferecidasa todo homem, quanto do realismo justo de que a ira de Deus está contratodos aqueles que não invocam o seu nome, tornando o envio demensageiros e a pregação indispensáveis (Romanos 10.13-15) na missãode Deus de reconciliação (2 Coríntios 5.18-21).

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A chegada do messias! Finalmente, com o salmista gritamos“Iahweh é rei!” (93.1a) e celebramos a chegada do rei ideal, o ungidode Deus, Jesus. Através da sua ressurreição, o “hoje” escatológico doSalmo 2.7 chegou (Romanos 1.4; Atos 13.33).

Coerência

(desenvolvendo mais a idéia pelo livro dos Salmos)

Na última lição já reparamos a ética pessoal e social a literaturasapiencial pressupõe para o testemunho e vida do povo de Deus. Ossalmos ressaltavam esta mesma necessidade de ética pessoal e social.

Porque o Deus que reina é aquele que governa com princípiosde justiça, retidão, fidelidade e misericórdia (Salmos 89.14; 97.2), estasqualidades devem também pertencer ao seu povo representativo. Ossalmos encaram o mundo não só na sua beleza estética, mas tambémcomo a esfera de atividade moral aonde se aplica o princípio divino deretribuição, pela maldade, imediata ou pelo menos próxima. Confiantena justiça de Deus, o salmista emite seu hino:

Os sofredores hão de comer e fartar-se;louvarão o SENHOR os que o buscam. Viva parasempre o vosso coração (22.26).

A comunicação da nossa fé e a proclamação do domínio do ReiIahweh exigem uma ética pessoal e preocupação pela justiça social,que são coerentes com as qualidades daquele que representamos eanunciamos.

Contextualização

(desenvolvendo mais a idéia pelo livro dos Salmos)

Na última lição reparamos três princípios básicos a respeita dacontextualização, baseados no estudo dos Escritos: a comunicaçãocontextualizada deve ser prática, afetiva e proposital. O livro dos Salmos,mais uma vez, avança estes princípios.

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Igreja: Por quê Me Importar?

Comunicação prática. Encontramos a mesma ênfase no teorprático da nossa comunicação nos salmos. Os salmos mais antigosrefletem formas mais populares de piedade. A poesia e a oração tratamdos problemas mais proeminentes de vida e da questão de Deus.

Os Salmos surgem da experiência humanacotidiana. Indicam as dúvidas, as inquietudes, as lutas,os anseios de quem quer conhecer melhor a Deus.Buscam respostas à tristeza, às dificuldades, àsinjustiças da vida contemporânea. Os Salmos sãopopulares porque expressam sentimentos comuns(Breneman 1983b:26).

E para tratar destas questões, estes escritores empregaram formasliterárias bem conhecidas e populares daquela época, tanto em Israel comonas nações vizinhas do Oriente Médio. Usou a poesia, a música, ditados,aforismos e contos. Enquanto a literatura profética (anterior e posterior)enfatizou a soberania de Deus através da história, de certo modo, seusenhorio e sua transcendência sobre o cosmos, os Escritos destacam maiso seu senhorio sobre as questões cotidianas da vida e sua imanência oupresença próxima entre seu povo. Assim, também a comunicação doevangelho não é somente nem principalmente doutrinação. É a proclamaçãodo Deus sempre presente nos mínimos detalhes da nossa vida, nosproblemas comuns e existenciais da vida diária.

Uma comunicação contextualizada, então, é prática e popular.Utiliza elementos culturais da vida diária do povo. Quais formas,costumes e conceitos do ambiente aonde ministramos podem serempregados para comunicar o evangelho?

Comunicação afetiva. Uma grande parte da linguagem dossalmos é intencionalmente emotiva, abrangendo as emoções extremas,desde a mais profunda tristeza (69.7-20; 88.3-9) até a mais elevadafelicidade (98; 133; 23.5,6). Para tal, os salmistas, bem como a literaturasapiencial, empregam formas culturais bem familiares daquela regiãoe daquele período. Já elaboramos sobre a influência estrangeira tantonos salmos quanto na literatura sapiencial.

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Perguntamos que formas de música brasileira podem seradaptadas à comunicação do evangelho? É um assunto controvertido,freqüentemente pela falta de reconhecimento do dinamismo epluralidade da cultura brasileira. Aqueles que promovem uma hinologia“contextualizada” e brasileira em termos de ritmos e estilos populares,encontrarão muito apoio na perspectiva que elaboramos neste capítulo.Acreditamos que oemprego e devida adap-tação destas formasajudarão especialmentena evangelização depessoas que não são domeio evangélico, epodem também contribuir para uma adoração mais afetiva por muitosevangélicos.

Contudo, é mister cautela e equilíbrio neste ponto, pois nãocreio que a promoção de formas populares na música evangélica leve,necessariamente, a uma rejeição dos hinos tradicionais de origemestrangeira. Pois uma grande porção de pessoas nas igrejas evangélicasno Brasil foi criada com estes hinos. Portanto, embora de origemestrangeira, estes hinos se tornaram tão familiares, falam tanto para ocoração e são tão “brasileiros” quanto o quibe, o futebol, certos traçosarquitetônicos ou café—todos de origem estrangeira. Aqui não devemoscometer o erro de alguns advogados da contemporaneidade, que reduzema questão de contextualização a uma tensão entre o que é de origemestrangeira e o que é de origem nacional. Nem tampouco devemoscometer o erro de alguns advogados do tradicionalismo, que reduzem aquestão de contextualização a uma tensão entre o “sagrado” e o“profano” (por exemplo, o uso do termo “música sacra” como se existisseuma forma “sagrada” de música). A contextualização não implica tantona tensão entre a origem estrangeira e a origem nacional, nem na tensãoentre o sagrado e o profano, mas é uma questão de familiaridade eafetividade. Contextualização é aquilo que comunica mais íntima eprofundamente no dado contexto. Raras vezes, a origem última dasformas culturais numa cultura ocidentalizada e pluralista como o Brasilé puramente “nativa”. Também isto não é a questão mais relevante.Mais uma vez, o importante é considerar quais são os meios e formas

Contextualização = a origem nacional

Contextualização = o sagrado

Contextualização = aquilo que comunicamais íntima, fiel, e profundamente no dadocontexto

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Igreja: Por quê Me Importar?

que melhor comuniquem hoje para uma dada audiência. No Brasil, istotambém implica na consideração regional. Será que a nossa comunicaçãoaos que estão fora do evangelho é percebida íntima e profundamente?

Comunicação proposital. Os salmos entesouraram umaexpressão viva das mais profundas necessidades e emoções humanas,que criavam uma ponte de comunicação com as nações. A história deIsrael está em estreita relação com o destino das nações (Salmos 67.2,7;117). Mais uma vez, a contextualização implica no emprego de formasculturais populares e da vida diária, uma comunicação ao coração dopovo, uma abrangência universal de audiência e uma mensagemespecífica sobre o domínio do único Deus.

Liturgia

Nas lições anteriores, vimos que através do êxodo e da aliançasinaítica subseqüente, Israel se transformou de mero povo qualquer numacomunidade chamada, que cultua e louva aquele que providenciou asua libertação. Aludimos à significância do seu culto e louvor para atarefa missionária. O livro dos Salmos traz a esta significância um granderelevo. Os salmos não eram mera poesia que servia de instrumentosdidáticos para a educação de filhos. Mas, eram em grande parte hinos,com algumas anotações musicais, e sua finalidade era de ajudar no cultoe adoração a Deus, talvez inicialmente na vida diária do povo, masdepois no próprio templo. “O louvor constitue a característica maispersistente da religião bíblica” [tradução] (Senior 1983:111). Os salmosrevelam a natureza e o conteúdo litúrgicos de Israel. Embora dirigidapara Israel, esta liturgia está repleta de desafios e mensagens missionárias(Salmos 2; 33; 66; 72; 98; 117; 145). Ela chama os povos ao cultouniversal:

Batei palmas, todos os povos;

Celebrai a Deus com vozes de júbilo:

Pois o SENHOR Altíssimo é tremendo, é o grande reide toda a terra...

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Salmodiai a Deus, cantai louvores; salmodiai ao nossoRei, cantai louvores.

Deus é o rei de toda a terra, salmodiai com harmoniosocântico.

Deus reina sobre as nações:

Deus se assenta no seu santo trono (Salmo 47.1-2, 6-8).

Fala o Poderoso, o SENHOR Deus, e chama a terradesde o levante até ao poente (Salmo 50.1).

Aclamai a Deus toda a terra. Salmodiai a glória do seunome, dai glória ao seu louvor (Salmo 66.1-2).

Render-te-ei graças entre os povos, ó SENHOR!

Cantar-te-ei louvores entre as nações (Salmo 108.3).

Louvai ao SENHOR vós todos os gentios, louvai-otodos os povos.

Porque mui grande é a sua misericórdia para conosco,ea fidelidade do SENHOR subsiste para sempre. Aleluia!(Salmo 117).

Faz parte, então, do conteúdo da liturgia do povo de Deus, umconvite às nações para participarem no culto e adoração a Deus. Então,a própria liturgia, longe de ser uma cerimônia exclusivista, é umverdadeiro desafio missionário para o povo de Deus.

Mas, além de desafiar o povo de Deus, a liturgia também forneceum meio condutivo à participação litúrgica e, por conseqüência,salvífica, das nações, pois o louvor e a celebração não só sãocaracterísticas da fé bíblica, como também são uma reação inerente emuito essencial entre todos os povos do mundo. A música, a dança, arisada, o grito, as palmas e os instrumentos musicais dos salmos refletemuma celebração que toda a humanidade deseja e expressa, se não emculto, então de maneira profana. É curiosíssimo, para não falar trágico,o tanto que a liturgia evangélica, pelo menos a tradicional, tem sedistanciado e se “sofisticado” em relação à liturgia expressiva e bíblica.Isto é mais trágico ainda para um povo “latino”, que vibra com a música,instrumentos, dança e participação. Por certo, isto é uma reação contraa motivação freqüentemente profana da celebração secular (e.g.,

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sensualidade) e contra a motivação, entendida como idólatra, dacelebração católica e tradicional (e.g., procissões). Contudo, quando serejeitou estas motivações de celebração, houve também muita rejeiçãode formas de celebração e louvor pelas igrejas evangélicas (“queimou acasa para assar o porco!”), de tal modo que a nossa liturgia se tornouum tanto estéril e francamente sem graça. Não expressa realmentealegria, celebração e adoração profundas. Mal pode cumprir o desejoíntimo das nações de se alegrar e celebrar, quanto mais canalizar estedesejo a uma adoração a Deus.

A liturgia, portanto, não é apenas uma atividade interna da igreja,enquanto missões, apenas uma preocupação externa dos evangelistas emissionários. Ambas, a liturgia e a ação missionária, pertencem uma aoutra. Isto se torna evidente nos salmos. A verdadeira liturgia desafia ecapacita o povo de Deus para sua ação missionária e atrai os povos aoculto, enquanto o objetivo da ação missionária é a integração plena nocorpo de Cristo, que alcança sua mais elevada expressão não no batismoe nem na profissão de fé, mas na verdadeira adoração (conseqüente dafé) ao Senhor. “A liturgia sem a missão é como um rio sem uma fonte.A missão sem o culto é como um rio sem um mar” (Orlando Costas1979:90-91).

PERGUNTAS PARA A DISCUSSÃO:

1. Podemos usar formas seculares de música e de sabedoria/conhecimento hoje no louvor e na transmissão do evangelho?Existem limites? Quais são?

2. Existem músicas que, pelo seu estilo, justificavelmente podemosdenominar como sendo “sacra”? Quais são as característicasda música sacra e quais são os critérios para se compor umamúsica sacra?

3. Podemos utilizar formas musicais e músicos não-cristãos, oupara o culto ou para a evangelização? Quais seriam os limites?

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O PERIGODE APOSTASIA

Isaías-Malaquias

A literatura profética representa um momento central na históriada fé de Israel. Além de recapitular os grandes temas bíblicos, estaliteratura elabora as conseqüências últimas destes temas para a vida dopovo de Deus e antecipa a era em que Deus realizará as suas promessasde salvação para seu povo e, através deste, para todas as nações. Poristo, a sua mensagem é indispensável para uma compreensão da tarefada qual Deus encarregou seu povo.

O movimento profético

Já reparamos na nona lição que o movimento profético surgiujunto com a monarquia, como um tipo de controle divino sobre o rei etambém sobre os sacerdotes. Seu propósito era de lembrar aos reis deIsrael do seu papel de servo de Deus e não de soberano independente.Também, alertava o povo sobre os perigos de sincretismo, sempreeminente pelo baalismo dos cananeus.

Como o rei, o sacerdote e o sábio, o ofício do profeta não éexclusividade de Israel, pois temos conhecimento do profeta egípcio,Wen-Amon, do século XI a.C. e ainda antes, profetas em Mari, semmencionar as figuras posteriores de Confúcio, Lão-Tzu, SiddhartaGautama conhecido como o Buda, Zoroastro, e bem mais tarde, deMaomé. Todavia, estes não falaram em nome do Criador dos Céus e daterra, mas somente em nome de uma entidade particular.

Os primeiros “grandes” profetas do século VIII, Amós, Oséias,Isaías e Miquéias, já eram bem diferentes dos bandos de extáticosestranhos que vagueavam a região na época de Samuel, trezentos anosanteriores. Também eram alienados do grande número de profetas

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profissionalizantes, estratificados e oficiais do seu tempo. Os profetasescritores de Israel, no breve espaço de duzentos anos, até Sofonias,Jeremias e Ezequiel, se destacam dos seus contemporâneos falsos deIsrael e dos seus contemporâneos estrangeiros pela riqueza da revelaçãodivina mediada. Eram, portanto, um tipo sui generis.

Os profetas escritores eram o instrumento de Deus para purificarIsrael e revigorar a sua missão. Eles chamaram Israel às suas origens nafé mosaica de aliança com Iahweh. O profeta podia participar doconselho de Deus e assim, compreender a sua vontade (Amós 3.7;Jeremias 23.18, 22). A sua função essencial era a mediação de umapalavra que recebia por divina inspiração. Era o porta-voz de Deus. Elejamais cogitaria profetizar sem antes ter uma experiência extraordináriade chamamento de Deus.

Rugiu o leão,

quem não temerá?

Falou o Senhor Deus,

quem não profetizará? (Amós 3.8)

O contexto profético

Quando os profetas clássicos de Israel surgiram, a nação nãoera mais jovem, mas já existia há mais de trezentos anos. Durante estelapso de tempo, a sociedade israelita muito se afastou da vida dos seusdias iniciais. Contrastes sociais e espirituais agudos existiam nasociedade. Uma classe rica e poderosa se opunha a um proletariadodesfavorecido de pequenos sitiantes, e a vida religiosa se transformavaem um ritual vazio e externo, sem fé séria ou reverência verdadeira aDeus.

Os profetas dirigiam sua crítica contra o Estado, em particularcontra a monarquia que seria responsável perante Iahweh pelo bem-estarespiritual e social da nação. Criticava o culto, que virara um culto estatale apoiador do status quo e da política oficial, pois eles não queriam quea fé fosse dependente da política, muito menos procuravam ter as açõespolíticas do Estado sob a tutela dos representantes da fé. A crítica

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fundamental de Karl Marx cabe bem neste período: era precisamente areligião que legitimava e tornava possível a economia de afluência (1Reis 4.20-25) e a política de opressão (1 Reis 5.13-18; 9.15-22) quesurgiram e coabitaram. A religião se tornara o “ópio do povo”. Mas osprofetas exigiam, em nome de Deus, que os governantes tomassem suasdecisões como crentes fiéis e dependentes de Deus (Isaías 7.1-9).

Ousadamente, anunciavam que Israel era povo de Deus somenteà medida que obedecia a lei e manifestava justiça e retidão. De outrasorte, o Israel político não podia ser identificado como povo de Deus(Amós 9.8-10). Deus é livre para dispensar Israel de ser seu povo quandoeste não cumprir a aliança, deixando de ser, por conseqüência, um povosanto e um reino de sacerdotes para as nações. Em vez de ser testemunhade Deus para as nações, foi levado à decadência por elas e se preocupouapenas com sua própria grandeza.

Era neste contexto que os profetas operavam, chamando Israelpara os primeiros dias da sua aliança com Iahweh, procurando reformaras instituicões religiosas e civis por uma volta para os tempos livres,heróicos e não complicados de Moisés, quando Israel estava diretamentesob a liderança de Deus.

Assim diz o SENHOR: Lembro-me de ti, da tua afeiçãoquando eras jovem, e do teu amor quando noiva, e decomo me seguias no deserto, numa terra em que se nãosemeia. Então Israel era consagrado ao SENHOR, e eraas primícias da sua colheita; todos os que o devoraramse faziam culpados; o mal vinha sobre eles, diz oSENHOR (Jeremias 2.2-3).

Mas o encargo dos profetas, de fazerem o seu povo retornar aDeus, aparentemente foi inútil, pois nenhum deles afirma ter tido êxitonesta missão. O anúncio do castigo pendente dos profetas pré-exílicos,de Amós a Jeremias, não conseguiu mudar muita coisa na conduta dopovo.

O contexto histórico. Então, através da conquista assíria em721 a.C., o julgamento de Deus finalmente chegou. Permaneceu apenas

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Judá, mas sua sorte logo seguiria a de Israel, isso porque a apostasiaespiritual, a decadência moral e a opressão política tambémcaracterizaram esta nação, apesar de algumas reformas nacionais emovimentos de libertação (Isaías 37.33,35). Embora Judá nunca tenhachegado à extrema decadência de Israel, pois sempre havia um“remanescente fiel” no seu meio, mesmo assim, a adoração assíria, aadivinhação e a magia, a prostituição religiosa e o sacrifício humanopoluíram o seu culto. Houve um período de reforma espiritual atravésde Josias (2 Reis 22-23), mas depois da sua morte o declínio espiritualmais uma vez entrou em vigor. Jeremias foi o instrumento profético deDeus para anunciar que Deus também rejeitara Judá como veículo doseu reino. Desta vez, a Babilônia foi o instrumento de Deus para castigaros judeus e, até 587, a destruição de Jerusalém se realizou por completo.O templo se reduziu a ruínas, e depois da morte de grande porção dapopulação, o resto foi levado ao cativeiro. Era o fim de Israel comoentidade política e religiosa. Os cativeiros eram o julgamento de Deussobre o seu povo, e marcaram um momento decisivo na história deIsrael, apenas menos importante que o êxodo. Reparamos o comentáriode John Bright:

Aqui aprendemos sobre as esperanças falsasda redenção do homem. O estado e seus programas,sua riqueza e sua prosperidade, até sua religião e seusesforços mais nobres pela reforma, estes não podemproduzir o reino de Deus, nem podem criar o povo sobreo qual Ele reinará. A ordem terrestre, na melhor dashipóteses, é uma aproximação fraca da ordem de Deus,e na pior, é uma paródia dela. Pelo contrário, ela vive,hoje como ontem, sob o julgamento da história. Masaqui também aprendemos da esperança verdadeira. Elaestá na graça de Deus, que outorga uma Nova Aliançaaos homens, sua lei escrita nos corações humanos. Opovo desta aliança é o povo do Reino de Deus, porquesão os puros de coração que são, vamos dizer, nascidosde novo. A Velha Aliança assim, aponta para umasolução além de si mesma, a criação de um novo povo[tradução] (Bright 1953:126).

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Com a destruição do templo e a remoção do rei davídico em587 a.C., as duas tradicões mais preciosas, e por conseqüência, seupassado, desmoronaram. Israel havia morrido (Jeremias 15.5-9) e ocativeiro se transformou na sua sepultura (Ezequiel 37.12; Jeremias9.17-22). Era o terrível “dia do SENHOR” (Lamentações 1.12; 2.1, 21-22).A partir de então, toda a direção da fé profética se orientou para a voltadaquela parte de Judá levada ao cativeiro babilônico. A “morte” e a“ressurreição” de Israel se tornaram os temas principais que ligaramtodos os profetas diferentes durante mais de dois séculos, desde Amóse a ameaça da Assíria em meados do século VIII a.C., até as primeirasvoltas do século V (Jeremias 24.1-10; 29.10-14; Ezequiel 36.8-15; Isaías40.1ss).

Quando Ciro conquistou o império neo-babilônico em 539 a.C.,e os medo-persas ganharam a supremacia internacional no Ocidente, osjudeus exilados tiveram a opção de retornar à Palestina e restabelecer otemplo. Segundo o registro de Esdras, cerca de 50 mil regressaram àJerusalém, enquanto a maioria preferiu permanecer no exílio, aondemuitos haviam se estabelecido materialmente bem. Apesar deste retornoe a reconstrução do templo subseqüente, o estado judeu nunca maisobteve completa independência do império persa, e então o reino nãofoi restaurado. Também não ouvimos nenhum registro de que a glóriade Deus tenha enchido o templo como antes. A moral do povopermaneceu baixa e as preocupações políticas e religiosas eraminsignificantes. Enquanto isto, o domínio internacional passou dos persaspara os gregos e, eventualmente, para os romanos, e o papel de Israelcomo testemunha de Deus no meio das nações parecia cada vez maisescasso.

O contexto teológico. Acabamos de traçar a seqüência históricaque estabeleceu o contexto do surgimento dos profetas. Algumas dicasdo contexto teológico destes eventos foram feitas. Este contexto tratada razão do fracasso de Israel durante este período. Isto é,fundamentalmente, Israel fracassou na sua aliança, tanto em termos dasua fidelidade e devoção a Iahweh, e como conseqüência, também emtermos do seu testemunho no meio das nações.

1. Sua relação com Iahweh. Os termos da eleição e da aliançase entrelaçam por todo o Velho Testamento e já vimos a sua significância

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missiológica em capítulos anteriores. Não é necessário repetir toda estadiscussão. Apenas reparamos que uma compreensão cada vez maisdistorcida da sua eleição levou Israel a julgamento durante o períododos profetas clássicos. Toda a noção da aliança e da eleição se tornaraalgo mecânico, e suas implicações morais e missionárias seobscureceram. Israel se esqueceu que a sua aliança era uma obrigaçãobilateral, que envolvia não só compromisso da parte de Deus, mastambém um compromisso da parte do povo de Deus para adoraçãoapenas a Iahweh e para a mais estrita obediência à sua lei em todas asrelações humanas. Em vez disto, a relação entre Deus e a nação eraalgo estático e pagão, baseado em sangue e culto, e o propósito da religiãose tornou totalmente pagão: manipular o ritual para ganhar o favor deDeus, a fim de assegurar proteção e lucro material para o indivíduo e anação. Israel havia entendido a sua eleição como favoritismo, ao invésde responsabilidade e serviço.

Foi neste contexto que Amós, enquanto reconhecesse a graçade Deus na história de Israel (2.9-12), advertiu que este povo estava tãosujeito ao julgamento da justiça de Deus quanto as outras nações(capítulos 1-2; 5-7). A eleição deixa mais clara ainda a obrigação e aresponsabilidade, e de maneira alguma é isenta de julgamento. “Detodas as famílias da terra somente a vós outros vos escolhi, portanto euvos punirei por todas as vossas iniqüidades” [ênfase acrescentada] (3.2).Em síntese, Israel somente é povo de Deus à medida que guarda a lei eexibe a justiça.

O livro de Jonas também realça a necessidade de Israel ter umacompreensão da sua eleição como de serviço e responsabilidade, e nãode exclusivismo. Freqüentemente, entende-se como tema deste livro, anecessidade missionária de pregar a mensagem de Deus para outrospovos. Quando então o desafio missionário não é aceito, Deus castiga omissionário relutante, como através do grande peixe. Contudo, os temasda pregação transcultural e o castigo de Deus pela desobediênciamissionária, enquanto temas importantes, são secundários ao focoprincipal deste pequeno estudo de caso. Não é tanto no grande peixe datempestade quanto no pequeno verme da planta sombrosa queencontramos a metáfora da moral e do ponto culminante deste relato.Aqui encontramos a grande lição do livro: Deus se preocupa com todosaqueles que ele criou. Ele não é propriedade particular de Israel (mesmo

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que Israel seja propriedade particular de Deus através da eleição)! Deusse compadece de todos, e através do arrependimento sincero destes,poupa-os da destruição, mesmo que estes sejam os mais cruéis opressoresde Israel (4.11). Jonas, e através dele, Israel, se esquecera do propósitoda sua eleição, ser testemunha no meio das nações, e se banhara emextremo no conforto da sombra das bençãos de Deus, ao invés de sepreocupar pela salvação dos povos (4.5-6).

Jonas nunca foi muito entusiasmado pela tarefa da qual foraencarregado. Quando Deus o mandou pregar uma mensagem dejulgamento e também misericórdia para aqueles que se arrependessem,ele não achou nada agradável, já que os assírios, cuja capital Nínive erao objeto da missão de Jonas, eram os cruéis opressores de predominânciainternacional daquela época. Portanto, Jonas iniciou sua viagem emdireção diametralmente contrária. Foi o incidente do peixe grande e umsegundo chamamento subseqüente que, enfim, colocaram Jonas nadireção certa para Nínive. Lá, pregou a mensagem dura do julgamentode Deus. Todavia, para a surpresa e decepção de Jonas, o povo e o reide Nínive se arrependeram e Deus suspendeu a destruição da cidadeque tanto Jonas queria ver. O Deus vingador de Israel compadeceu-se.Como observou Johannes Verkuyl, “Jonas é o pai de todos aquelescristãos que desejam os benefícios e as bençãos da eleição, mas recusamsua responsabilidade” [tradução] (1978:100).

2. Sua relação com as nações. Quando Israel entendeu malsua eleição, fracassou não só na sua relação de fidelidade com Deus,mas também na sua relação de testemunho às nações. Aliás, esta seriaconseqüência inevitável daquela. Para falar de modo inverso, o povode Deus, quando obediente e fiel à sua aliança e debaixo da soberaniade Deus, é a testemunha mais forte que Deus tem. Através de Israel, omundo deveria aprender da grandeza de Deus. E as nações dariam glóriaa Deus quando confrontadas pela transformação inegável de Israel empovo de Deus, eleito e precioso. Mas Israel fracassou pela desobediênciae compreensão distorcida da sua eleição. Deus, que se dirigiria ao mundoatravés do fermento salvífico de Israel, agora se dirige a Israel atravésdo fermento salvífico dos profetas. Através dos profetas, orelacionamento exclusivo de Iahweh com Israel foi superado. O Deusnacional tornou-se o Senhor do mundo. Ele conduz o destino de todasas pessoas e nações. Voltaremos depois a este tema da missão de Israel

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Igreja: Por quê Me Importar?

entre as nações como parte da mensagem dos profetas. Basta apenasobservar, nesta altura, que o fracasso de Israel em entender sua eleiçãoem relação às nações fez parte do contexto teológico do surgimento domovimento profético.

A atitude profética

Em referência a este contexto histórico e teológico, podemostraçar algumas características de uma atitude profética. Anteriormente,reparamos que os profetas eram indivíduos com suas própriaspersonalidades, que também se manifestam através dos seus escritos.Mas, apesar das suas idiossincrasias, algumas características são comunsa todos eles. Eles possuem tanto uma preocupação espiritual quantosocial.

Os pecados característicos de Israel eram a idolatria e a opressãodos pobres. Os profetas revelaram a vontade de Deus em relação a estespecados. Eles falaram em nome de Deus (Amós 3.8; Isaías 1.21,23).

Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é que oSENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça eames a misericórdia, e andes humildemente com o teuDeus? (Miquéias 6.8).

Os profetas inculcavam no povo de Deus a necessidade de umacompleta consagração a Deus. Contudo, como Georg Fohrer bemreparou:

Isto, naturalmente, não significa uma vida afastada domundo, transcorrendo em tranqüila simplicidade,sinceridade, mansidão. Ao contrário, indica firmededicação ao mundo, apaixonada atividade a serviçode Deus e descoberta de sua vontade em todos osaspectos da vida (1982b:125).

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Quanto à preocupação pela justiça social, vale a pena fazeralgumas observações a respeito de diversos estereótipos dos profetas,feitos hoje em dia. Por um lado, algumas pessoas freqüentementeconsideram os profetas advinhadores de acontecimentos futuros edistantes e, às vezes, celestiais. Por outro lado, outras pessoas consideramos profetas contestadores sociais da sua realidade contemporânea eterrestre. É possível quaisquer destas duas posições representar o objetivoprofético? A observação perspicaz de Walter Brueggemann merecereprodução:

Um mal-entendido dos conservadores, evidente empartidários muito importantes, é que o profeta seja umhomem que prevê o futuro, uma pessoa que prognosticacoisas que vão acontecer, muitas vezes ameaçadores, egeralmente encontramos uma referência específica aJesus. Enquanto ninguém iria negar totalmente aquelesaspectos da prática profética, há uma tendência a umtipo de reducionismo mecânico e, por isso,insustentável. Se, por um lado, os profetas foramhomens que previram o futuro, por outro lado, foramhomens preocupados com o futuro na medida em queo mesmo contradizia o presente. Já os progressistas,que abandonaram e deixaram o medo do futuro para osconservadores, tomaram como direção o presente. Demodo que a profecia é, alternativamente, reduzida auma justa indignação e, no círculo das idéias em quenos movemos, a profecia é compreendida sobretudocomo ação social. Na realidade, esta compreensãoprogressista da profecia é um artifício atraente e umdisfarce contra qualquer desgaste na defesa de qualquercoisa. Provavelmente, o que faríamos de melhor seriadeixar o medo do futuro dos conservadores e a críticaao presente dos progressistas corrigirem-se um ao outro.Creio que nenhuma destas posicões entendeadequadamente qual seja, na realidade, o pontoprincipal na questão da profecia israelita (1983:11s).

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Igreja: Por quê Me Importar?

Decerto, os profetas manifestaram um espírito crítico e dinâmicomas, como Brueggemann observou, não como meros contestadoressociais, muito menos como apenas revolucionários políticos. Aliás, amudança que advogavam era muito mais radical do que apenas social eatingiu o cerne da visão do mundo do povo. Estavam, sim, preocupadoscom mudanças essenciais na sociedade mas, mais ainda, sua função era“alimentar, nutrir, criar uma consciência e uma percepção alternativasà consciência e à percepção culturais dominantes a nossa volta”(Brueggemann 1983:12). E, para tanto, empregavam a extraordináriaforça da linguagem. Portanto, mais do que contestar as injustiças sociaisda sua época, os profetas, pelo uso da linguagem criativa, propunhamuma nova visão alternativa de vivência com Deus e com o próximo,que Deus iria estabelecer e a qual Deus estava convidando o seu povo aconstruir. Mais que contestar, os profetas anunciavam propostasalternativas e davam a esperança de que Deus iria realizá-las e, paratanto, empregavam a extraordinária força da linguagem.

Na verdade, nem a dicotomia entre o espiritual e o social, nema de orientação apenas para o presente ou apenas para o futuro, capta aatitude profética dominante, pois esta olhava tanto para o homem emtodas as suas dimensões quanto para o tempo como um todo, aonde alivre soberania de Iahweh deve ser reconhecida e obedecida em todasas relações, tanto com a divindade quanto nas relações humanas.

IMPLICAÇÕES ATUAIS

A perspectiva dos Profetas Posteriores explicita e refina asimplicações delineadas lições anteriores a respeito da tarefa do povo deDeus no mundo. É à luz da literatura profética que o leitor é forçado arefletir sobre seu presente, como os profetas se dirigiam para seupresente. E junto com os profetas, o leitor faz uma avaliação do povode Deus: este povo é fiel? Vive os padrões mosaicos de justiça querefletem o próprio caráter de Deus?

Como sempre, deixamos transparecer no discorrer de toda estalição as implicações para o povo de Deus hoje. Simplifica-se nossotrabalho agora. Basta apenas ressalta-las e completa-las. Propomos umatensão geral para nossa reflexão:

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As Dimensões Sociais e Pessoais da Fé

A distinção entre as dimensões pessoais e as implicações sociaisda fé é mais conveniente do que real em se tratando da fé bíblica. Nuncana vida de Israel encontramos um coletivismo extremo ou um extremoindividualismo. A pessoa e a nação eram responsáveis diante de Deuspor todas suas ações, por mais específicas ou abrangentes que fossem.

Contudo, seria ingênuo negar nossa herança teológica dualista,que faz separação bem clara entre o corpo e o espírito, entre o indivíduoe a sociedade. Esta herança, no Brasil, foi nítida e sobriamentedocumentada por Antônio Gouveia Mendonça no seu O Celeste Porvir(1984), e antes por Rubem Alves no seu Protestantismo e Repressão(1979). Ambos os documentos não deixam que subestimemos estadicotomia da fé. Os profetas inequivocamente mantém em equilíbrio einseparáveis as dimensões sociais e pessoais da fé bíblica.

1. A fé exige uma ética social. Os profetas são incansáveis emdenunciar injustiças sociais dentro e fora de Israel. Já ilustramos estasdenúncias antes neste capítulo. Apenas para relembrar, estas denúnciaseram contra aqueles que oprimiam os pobres e profanavam a casa deDeus pelas suas indulgências (Amós 2.6-8), o favorecimento das classesricas (Amós 5.7, 10-12), o comércio fraudulento que explorava o pobre(Amós 8.4-6), e impostos injustos (Amós 4.1). Israel era especialmentejulgado por estes crimes sociais por causa da sua relação especial (pelaeleição) com o Deus de todas as nações (Amós 3.1-2) e,conseqüentemente, porque tinha uma responsabilidade e obrigação (pelaaliança) de reconhecer e refletir (pela imagem de Deus no homem) oSenhorio e caráter justo de Iahweh. Para Israel, as injustiças sociais,antes de serem crimes contra o seu próximo, eram uma blasfêmia contraa santidade e retidão de Deus. Israel tinha sempre uma “missão” de sertestemunha e instrumento de benção no meio das nações. “Lavai-vos,purificai-vos, ... atendei a justiça, repreendei ao opressor, defendei odireito do orfão, pleiteai a causa das viúvas” (Isaías 1.16-17). As naçõesveriam o povo de Deus como modelo, portanto este modelo precisavade correção e julgamento divinos. As bençãos resultantes da obediênciaà aliança também são acompanhadas por maldicões resultantes dadesobediência.

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Igreja: Por quê Me Importar?

Em lições posteriores, repararemos que a igreja primitivatambém foi exortada a tomar uma posição forte contra qualquer injustiçasocial, e que isto se evidencia acima de tudo pelo seu próprio estilo devida e participação na sociedade maior e secular, não comprometendode maneira alguma a sua moralidade pessoal ou social cristã, muitopelo contrário, como uma testemunha radical no meio das nações docaráter justo e Senhorio de Jesus.

Quando a igreja cristã contemporânea dicotomiza as áreasespirituais e sociais, relegando seu testemunho social ou para o governoou para o futuro, ela assim está cortando um nervo principal do seutestemunho e negando exigências fundamentais da sua aliança.

2. A fé também é uma questão interior e pessoal. Enquantoos profetas não pouparam palavras em críticas agudas contra toda formade injustiça social, não eram meros contestadores sociais. Queriamchegar ao cerne do problema.

O pecado se manifesta não só na vida pessoal de indivíduoscomo também nas próprias estruturas sociais nas quais todos vivem.Todavia, esta manifestação do pecado nas estruturas sociais sempre énutrida pela presença do pecado nas vidas pessoais. Por outro lado, asestruturas já têm inestimável influência nas vidas pessoais. Por isto, opecado é confrontado nos dois níveis, pessoal e social.

A injustiça social em Israel era fruto sobretudo da negligênciapara com a lei e a sua transgressão. Isto ocorria quando o homem sedeclarava interiormente independente de Iahweh, negando, porconseqüência, o seu Senhorio. As leis exteriorizadas, “corrigi o opressor,fazei justiça ao orfão, defendei a causa da viúva”, etc., dependemprimeiro de um princípio que só poderia ser avaliado interiormente,“cessai de praticar o mal, aprendei a fazer o bem” (Isaías 1.16-17,compare Miquéias 6.8), praticamente o sinônimo de um outro princípioque começa no interior, “buscai-me, e vivei” (Amós 5.4, compare Isaías56.6). Tais exortações não deviam ser presas a meditações pessoaisinteriorizadas, e, sim, achar expressão na devoção pessoal e na vivênciasocial caracterizada pela justiça. A lei deveria ser inscrita, em primeirainstância, no coração (Jeremias 31.33).

Especialmente Jeremias e Ezequiel proclamavam o fim do cultonacional como base da fé. Agora a decisão pessoal quanto às

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responsabilidades e aos direitos do indivíduo para com a aliança deIahweh era determinante para sua inclusão na comunidade de fé.

Continuando essa preocupação profética, o Novo Testamentoapresenta ainda mais esta dimensão interior e pessoal da fé. A igrejacontemporânea não pode recuar para uma compreensão apenasdenominacional da fé, que entende somente seus membros como o povode Deus e somente seus programas como a expressão da missão deDeus dada a igreja.

Voltando a relação entre estas duas dimensões da fé, a pessoale a social, esclarecemos que a fé interior alimenta a sua expressão socialde justiça em todas as relações humanas. Por outro lado, as estruturassociais, quer boas quer não, têm uma forte influência na formação da fépessoal. Como asseveramos anteriormente, as duas dimensões não sãoseparáveis e, portanto, o testemunho profético se dirige a ambas. Nãohá, então, dicotomia real. As duas ênfases são fundamentais para aperspectiva bíblica do papel do povo de Deus no mundo.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Existe alguma base bíblica para a opinião e participação públicasda igreja diante de questões graves de injustiça? Faça uma listade questões no seu contexto que a igreja deve tratar; que podetratar; que não deve tratar. Por que isto é ou não é essencial aotestemunho missionário do povo de Deus?

2. Quais eram os dois principais pecados de Israel no período dosprofetas posteriores?

3. Quais dificuldades precisamos superar para chegar ao nível daatitude profética no Velho Testamento?

5. Quais são as conseqüências para os crentes do século XX queacreditam no dualismo entre corpo/espírito?

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Igreja: Por quê Me Importar?

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A PALAVRADOS PROFETAS

Isaías-Malaquias

Era no contexto do fracasso vocacional de Israel e com a atitudeprofética, elaboradas na lição anterior, que os profetas apresentavam asua mensagem. Esta continha tanto um aviso sobre o julgamento quantouma promessa de misericórdia.

Às vezes a mensagem profética era corretiva, às vezesescatológica. Incluia promessas de conforto e esperança, mas tambémadvertências sobre julgamento. No início, nos profetas pré-exílicos, amaior atenção foi dada aos perigos do sincretismo com o baalismo, decasamentos mistos, e de alianças estrangeiras, e não à confiança noSenhor. O dia do Senhor certamente virá para julgar tal idolatria eopressão (Sofonias 1.14-16; Isaías 2.10-21). Mesmo assim, os profetastambém anunciaram a salvação, cujo ponto de entrada para as naçõesera um Israel fiel. Podemos observar que, enquanto este tom de salvaçãoera amortecido pelo julgamento predominante da profecia do períodomais antigo, ela ganhou cada vez mais força e destaque nos profetasmais recentes. Só podemos deduzir que, enquanto o tratamento de Deuscom seu povo e com todo o mundo implica em julgamento pordesobediência, a sua finalidade envolve crescentemente umrelacionamento de salvação. Examinemos com mais atenção estas duasdimensões da mensagem profética.

O aviso sobre julgamento

Apesar do Novo Testamento ressaltar a função previsível dosprofetas em relação a Cristo, isto não era sua principal ocupação. Semnegar-lhes a característica de previsão, uma leitura abrangente dosprofetas, especialmente os mais antigos do século VII, leva-nos à

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Igreja: Por quê Me Importar?

conclusão de que sua principal missão era a de anunciar o juízo ao seupovo. Nos livros históricos (ou os profetas anteriores), o juízo é dirigidoao indivíduo, especialmente ao rei. Mais tarde, nos profetas escritores(ou os profetas posteriores), desde Amós até Jeremias e Ezequiel, ojuízo é dirigido ao povo todo. Esta transição se fez porque, neste período,a desobediência do povo chegou a afastá-lo de Deus a tal ponto, que adestruição era iminente. O anúncio do juízo era necessário não por causados pecados de alguns aqui e ali, mas porque os pecados de todo o povose acumularam em todo o decurso da história de Israel.

Amós (760-750 a.C.) lamentou que em Israel houvesse aopressão dos pobres, a corrupção da justiça, o desrespeito de direitoshumanos e fundamentais (2.6-8; 5.10-12; 6.4) e pronunciou as seguintespalavras do Senhor: “chegou o fim para o meu povo Israel; e jamaispassarei por ele” (8.2; compare 5.2). Diante de tanta injustiça social, aliturgia e o culto de Israel eram repugnados por Deus como farsa.

Afasta de mim o ruído de teus cantos, eu nãoposso ouvir o som de tuas harpas! Que o direito corracomo água e a justiça como um rio caudaloso! (5.23,24, tradução da Bíblia de Jerusalém).

Oséias também anuncia o juízo de Deus contra Israel (e em segundolugar, como Amós, contra Judá). Só que, em vez de enfatizar a naturezasocial dos pecados, ele destaca os abusos religiosos como a idolatria, rituaisfalsos, e práticas sexuais detestáveis (4.11-14, 17-19; 6.8-10).

Isaías (740-700 a.C.), nos capítulos 1-39, como Amós e Oséias,anuncia condenação e juízo sobre Israel e Judá, mas enfatiza a ameaçapreeminente sobre o reino do sul por causa da opressão dos pobres e daidolatria. O juízo ressoa como o tema principal, apesar de passagens maisextensas sobre a promessa de salvação e libertação futuras (2.2-4; 11.1-9;14.1-2; 32.1-8).

Miquéias também se junta aos profetas do século VIII quanto àcaracterística principal da sua pregação: o juízo vindouro sobre Judá.

Mais tarde, no século VI, os profetas Jeremias e Ezequiel condenamos mesmos pecados de Judá, que trouxeram a ira de Deus sobre Judá.

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Os profetas se lançavam contra os governantes injustos (Isaías3.12-15), inclusive os reis (Oséias 8.4); contra os ricos e notáveisinsensíveis (Amós 6.1-7); contra os grandes proprietáriosmonopolizadores (Isaías 5.8); contra os juízes e anciãos corruptos (Amós5.12); contra os comerciantes exploradores (Amós 8.4-7); contra ossacerdotes enganadores (Oséias 5.1-2); contra os profetas profissionaismentirosos da corte e do culto (Miquéias 2.2); mas também contra ostrabalhadores e os pobres que transgrediram a lei (Oséias 4.1-2).Certamente, se confirma a perspectiva de que a base fundamental daprofecia veterotestamentária se expressa no anúncio de condenação ejuízo.

A promessa de salvação

Contudo, a mensagem dos profetas, embora o fosseprincipalmente, não era somente a de juízo. Era também uma mensagemde esperança e continha uma promessa de misericórdia e salvação. Aliás,a realidade do juízo era tão terrível e inevitável que o povo de Deus sópodia se interrogar sobre a possibilidade de um novo homem quepraticasse a vontade de Deus e mostrasse o caminho de retidão e justiçapara Israel (Sofonias 3.12s), que se converteria com um novo coração(Ezequiel 36.26s). Desta interrogação, em face do juízo, surgiu amensagem de esperança e, por conseqüência, a promessa de salvação.

O anúncio claro e inequívoco da libertação e restauração deIsrael aparece nas profecias de Isaías 40-55, que a maioria dos estudiososdatam do fim do século VI. Assim, concluem que só no final do exílioos profetas anunciaram a esperança de restauração. Portanto, outrasmensagens de esperança nos profetas, segundo eles, devem ser oresultado de trabalho editorial bem mais recente (por exemplo, Amós9.11-12; Oséias 2.5; Isaías 9.2-7; 11.1-9; 32.1-8).

Por outro lado, R. E. Clements argumenta convincentementeque estas passagens de esperança refletem um certo otimismo já presentedurante o reinado de Josias (640-609 a.C.) e, portanto, podem datarpelo menos do século VII, senão antes (1978:140-142). O resultadodestes e outros estudos crítico-literários ultrapassam o alcance da nossaanálise teológico-bíblica, mas de maneira alguma possuem pouca

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Igreja: Por quê Me Importar?

relevância para ela. Não podemos traçar com segurança odesenvolvimento histórico da mensagem de esperança na literaturaprofética, apenas reparar sua presença e importância cada vez maior,culminando no Novo Testamento. Seus temas são vários e um tantocomplexos, e a sua relevância, inestimável para as perspectivasteológicas no Novo Testamento e para nossa teologia de missão.Portanto, dedicamos um estudo maior a estes temas na próxima lição.

IMPLICAÇÕES ATUAIS

Os profetas falaram que Deus está em absoluto controle dahistória, mas não duma forma mecanista ou fatalista. Espera e exige aparticipação do seu povo nesta história a fim de manifestar o seu própiocarácter justo e misericordioso. Esta exigência de participação nos trazvárias lições para a tarefa deste povo de Deus até os dias de hoje.

Deus controla a história

Deus tinha e sempre terá controle da história. Abençoou ejulgou tanto a Israel quanto as nações através de eventos da história.Sua missão se realiza não no céu, mas aqui na terra onde os objetos dasua missão vivem. Devemos procurar discernir esta missão em nossahistória específica para nos afinar aos propósitos de Deus no nossocontexto. Aqui não estamos recomendando um mero relativismo parainterpretar os sinais da atuação de Deus entre nós. Todo discernimentoé sujeito à revelação anterior, como foi para os profetas e depois paraa igreja primitiva. O ponto é este: tal revelação não é apenas aplicávelpara aquele passado, ou para um futuro distante, ou para um planoespiritual e extraterrestre. A revelação para nós, como para os profetas,é Deus também se dirigindo a nós no nosso contexto histórico. Exige-seainda o trabalho delicado, mas necessário, de discernir os indícios daatuação de Deus entre nós, a fim de respondermos fielmente como povode Deus.

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A igreja não inaugura o reino vindouro

Um corolário da soberania de Deus sobre a história é aobservação de que a igreja não pode inaugurar o reino vindouro queconsumará a história. A igreja nunca pode ser auto-confiante em relaçãoaos seus programas, mas sempre se interrogar: “Até que ponto estamosem harmonia com a missão de Deus para tal contexto?”

Salvação abrangente

Outro corolário da soberania divina é a inclusividade dasalvação. Aquele que controla tudo, que criou tudo, tem um plano evisa eventualmente o tudo. Não só todas as nações são incluídas comoalvos da sua salvação, como também toda a criação (Isaías 11.6-9,Ezequiel 36.30; Oséias 2.21-22). Os profetas viam a salvação vindouracomo sendo um evento totalmente inclusivo, abraçando a criação nasua inteireza. Uma reflexão bíblica e abrangente a respeito da tarefa dopovo de Deus no mundo leva em conta não só as transgressões humanase universais como também os desafios de transgressões ecológicas.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Qual é a mensagem específica dos profetas de Israel? Qual é arelevância desta mensagem hoje?

2. Se a igreja não é sinônimo do reino de Deus, qual é a missãodela no mundo de hoje para o estabelecimento e vindadefinitivos do reino?

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A ESPERANÇANO MESSIAS

Isaías-Malaquias

A mensagem dos profetas não termina com uma notapessimista! Entrelaçado com advertências sobre o juízo, encontra-se oanúncio de uma solução futura de restauração e do reino vindouro deDeus. Embora, como já dissemos, esta esperança não fosse o grosso daliteratura profética, será que não podemos concordar com os escritoresdo Novo Tesamento e reconhecer tal esperança como o foco e alvodesta literatura, mesmo que não completamente entendido assim pelospróprios profetas?

O julgamento e ruína de Deus eram vistos como uma preparaçãopara uma nova criação e um novo êxodo. Pois, doutra sorte, não haveria,humanamente pensando, nenhum futuro para Israel. Somente Deuspoderia dar qualquer base de esperança. É por isso então que, nosprofetas, apesar e por causa do juízo, encontramos a mais brilhanteesperança de qualquer período da história de Israel. A ênfase no VelhoTestamento muda do passado no êxodo e a posse de Canaã, para opresente nos salmos reais e no culto do templo, para o futuro nosprofetas—o futuro próximo nos profetas mais antigos e o futuro maisdistante nos profetas mais recentes.

A morte e o renascimento de Israel eram os temas que uniamestes Profetas Posteriores através de um período de mais que doisséculos. A mensagem de esperança se tornou um anúncio compreensivoda restauração e da grandeza futura de Israel, e isto através de váriostemas repetidos que tornamos a examinar.

O remanescente

A idéia do “resto” ou do “remanescente” se desenvolveespecialmente nos profetas, porém não se limita a eles. Já encontramo-na

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Igreja: Por quê Me Importar?

na narrativa do dilúvio, tanto na escolha de Noé e sua família queconstituem o resto, quanto no princípio de seletividade, que se desdobrano registro da descendência de Noé. Aparece depois na promessa debenção para Abraão e sua descendência, que se restringia a um dosfilhos de Isaque. A idéia de novo se evidencia no tempo de Elias, quandosete mil justos não dobraram o joelho a Baal, permanecendo fiéis aDeus (1 Reis 19.18). Nos profetas pré-exílicos, o remanescente temuma conotação de ameaça e se refere à porção que sobrou depois dadestruição. O resto foi salvo como um “tição retirado do braseiro” (Amós4.11) ou “pedaços de carneiros arrancados da boca do leão” (Amós3.12; compare Êxodo 10.12; Levítico 10.12 e Josué 11.22). Neste caso,o termo acompanha ameaças de julgamento e exortações dearrependimento (Isaías 1.8; 6.11-12; 7.3-6; 30.14, 17; Amós 5.3; Jeremias24.8-9; 42.2-3; Ezequiel 9.8; 17.21). Mas, em outros lugares, o remanescentetem uma conotação de promessa e de salvação (Isaías 4.3; 10.20-21; 11.11,16; 28.5; 46.3-4; Miquéias 7.18; Ageu 2.2; Zacarias 8.6).

O conceito é especialmente característico em Isaías efundamental ao pensamento do profeta desde o início, pois deu paraseu primogênito o nome “resto-que-retornará,” She’âr-yâshûbh. Estenome mantém as duas conotações da idéia do remanescente, a conotaçãode ameaça e a conotação de promessa, dependendo da ênfase que se dápara as duas palavras. Pode significar ameaça, “o resto retornará” (istoé, somente o resto), e pode significar promessa, “o resto retornará” (agarantia que alguns, de fato, se arrependerão e voltarão a Deus).

Estas conotações aparecem também no Novo Testamento, “nemtodos os de Israel são de fato israelitas” (ameaça, Romanos 9.6) e “assim,pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescentesegundo a eleição da graça” (promessa, Romanos 11.5). No NovoTestamento, como em Isaías, o remanescente é o povo sobre o qualDeus reina. O Israel espiritual não é idêntico ao Israel político, e servede base para a esperança profética de que Deus triunfará através dahistória.

O remanescente, então, representa um estreitamento do povode Deus, uma “redução progressiva”, não como um grupo de indivíduos,mas como um todo.

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A humanidade, criada por Deus mas alienada pelopecado, é representada depois do chamamento deAbraão por uma minoria escolhida, Israel. QuandoIsrael, como um todo, deixa de cumprir seu destino, érepresentado, por sua vez, pelo remanescente.Ultimamente, este remanescente é representado por umhomem, o Servo Sofredor de Isaías, que também é oFilho do Homem de Daniel, o Senhor Jesus. Pela suamorte e ressurreição, ele inverte a corrente da históriae inaugura o Reino. Uma expansão progressiva sesegue, começando com os apóstolos e desde então paraa igreja, o novo Israel, e até a manifestação última doReino com sua promessa para toda a humanidade[tradução, ênfase no original] (Scott l980:74).

Mas isto não significa que o remanescente sempre é virtuoso.Às vezes, Deus o poupa misericordiosamente, não pelo seu mérito, masa fim de poder transportar para outra época a revelação que o próprio“resto” desvaloriza. Assim, ainda servia de esperança na salvação futura.

O messias

O conceito do messias era intimamente ligado à idéia doremanescente e contribuia mais ainda para a esperança profética desalvação. Tanto o “messias” quanto o “renovo” eram descendentesdavídicos na sua natureza humana (Jeremias 23.5-6) e, ao mesmo tempo,descendentes de Deus na sua natureza divina (Isaías 4.2; compareZacarias 3.8; 6.12). Este “renovo”, nos dias do fim, restaurará a terra,estabelecerá um remanescente de “sobreviventes”, santificará a parterestante, purificará o povo da imoralidade e manifestará a glória brilhanteda presença pessoal de Iahweh.

O termo messias traduz o aramaico meshîa que, por sua vez,vem do hebraico mâshîah, significando “ungido”, e aparece umasquarenta vezes no Antigo Testamento, principalmente nos Salmos eem Primeiro e Segundo Samuel. Este termo pode se referir ao sumosacerdote (Levítico 4.5), mas geralmente denota o rei de Israel (2 Samuel

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Igreja: Por quê Me Importar?

1.16). Numa lição anterior, já notamos que, enquanto messiasrepresentava o rei ou vice-regente de Deus no Israel contemporâneo, otermo freqüentemente transcendia a esfera contemporânea e particularpara adquirir características futuras e universais. Este também é o casonos profetas.

À primeira vista, o tema do messias parece ocupar um lugarinsignificante nos profetas. Embora, no Antigo Testamento, o termonunca tenha se referido ao futuro soberano humano que Deus levantarápara trazer a salvação escatológica, não se pode negar ao conceito domessias as suas qualidades escatológicas e soteriológicas. Pois, aodescrever o domínio de Iahweh sobre o seu povo, o conceito do messiasrepresentou o alvo efetivo da história”, e não se pensava que nadapudesse estar além deste alvo. Portanto, enquanto as referências aomessias parecem escassas, o conceito assume cada vez mais importânciana elaboração da literatura profética.

Por esta razão, não é de se surpreender que as tradições judaicase cristãs tenham se desenvolvido paralelamente no seu entendimentodas passagens messiânicas do Antigo Testamento. Concordaram nasseguintes passagens como messiânicas: Gênesis 3.15; 14.17,20; 49.10;Êxodo 25.10,40; 2 Samuel 23.1,7; Salmo 110.4; Isaías 2.2,5; 4.2; 9.1;Miquéias 4.1,4; 5.1,5; Amós 9.1; Oséias 3.5; Jeremias 23.5,8; 30.9;33.14,18; Ezequiel 34.21,30; 37.24,28; Ageu 2.7,10; Zacarias 6.9-15;9.9-10.

Mas é Isaías que dá expressão clássica à esperança messiânica.Destacam-se duas passagens: 9.1-7 e 11.1-9. A primeira anuncia omenino e descendente de Davi que trará salvação futura e que recebe ostítulos régios de “Admirável Conselheiro, Guerreiro Divino, PaiPerpétuo, Príncipe da Paz”. A segunda promete a vinda de um novoDavi, que possuirá as qualidades carismáticas do primeiro (versículo2) e estabelecerá tal paz que “a terra se encherá do conhecimento doSENHOR como as águas cobrem o mar” (11.9b).

O filho de Davi

A figura messiânica foi associada principalmente com a idéiado rei e especificamente com a casa de Davi. Assim, a benção de Jacó

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sobre Judá pode ser considerada a mais antiga expectativa messiânica(Gênesis 49.8-12). A glorificação de Davi na promessa dada através deNatã contribuiu mais ainda para o desenvolvimento da idéia (2 Samuel7.12-15).

Nos profetas, grande número das passagens messiânicas fazema ligação com a dinastia real davídica (Isaías 9.1-7; 11.1-5; 32.1; 33.17;Miquéias 5.2-4; Amós 9.11-12; Oséias 2.5; Jeremias 33.19-26; Ezequiel37.24-28). Este “Filho de Davi” nos profetas será o rei “ungido”(messias) e, portanto, há uma base para entender as esperanças nelecomo sendo esperanças messiânicas. Isto não era ainda a expectativaplena numa figura sobrenatural como do judaísmo mais tardio e docristianismo nascente, mas uma esperança na restauração divina de umrei davídico, e assim já preparou muito o caminho para a esperança ecumprimento messiânicos encontrados no Novo Testamento. Tanto queJesus de Nazaré recebeu da igreja o título de Cristo, a tradução gregado hebraico, Messias, ou “ungido”.

Todavia, as referências messiânicas que falam do Filho de Davi,sózinhas não são suficientes para se fazer uma associação exata com aobra de Jesus, e por isso não devem ser forçadas. Não contém, porexemplo, nenhuma indicação da importância do sofrimento para amediação da salvação. Encontramos estas referências só nos cânticosdo Servo Sofredor e nas promessas da vinda do Filho do Homem.Portanto, somente uma teologia bíblica, e neste caso, não apenas osmétodos analíticos da crítica histórica, pode dar conta da interpretaçãode todas as referências messiânicas de tal modo que a sua significânciapara a cristologia apareça. E assim, tornamos nossa atenção para oconceito do Servo Sofredor.

O servo de Iahweh

O termo “servo” aparece vinte vezes na forma singular em Isaías40-53, e mais dez vezes na forma plural em Isaías 54-66. Especialmentesignificante para nosso discurso é o certo clímax que este termo alcançanos quatro cânticos do “Servo de Iahweh”, ‘ebhedh YHVH, em Isaías42.1-4; 49.1-6; 50.4-9; 52.13-53.12.

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Igreja: Por quê Me Importar?

Uma referência messiânica. Estas passagens não podem serconsideradas como referências messiânicas no sentido mais restrito,isto é, de um rei ungido. Há alguma designação régia atribuída aoscânticos, por exemplo, na introdução do primeiro cântico, e na evocaçãocom a “vergotea” o “rebento de Jessé” (Isaías 53.2 e 11.1), mas não éessa que sobressai. Mas, entendendo o messias mais amplamente comouma figura salvadora em termos históricos e concretos e em termos dasua função de mediador, não há como negar ao Servo do Senhor a suareferência messiânica. Aliás, ele é a mais plena realização da missão domessias, como veremos logo em seguida. Mas antes disto indagamos:Quem é o Servo do Senhor?

Sua Identidade. A identidade do Servo do Senhor há muitotempo foi objeto de muita discussão. A idéia do Servo é móvel, às vezes,se referindo a uma personalidade coletiva, às vezes a um indivíduo, àsvezes aos dois ao mesmo tempo.

No Antigo Testamento, vários indivíduos foram chamados deservos do Senhor, Abraão (Gênesis 26.24) e os patriarcas (Êxodo 32.13,Deuteronômio 9.27), Moisés (Êxodo 14.31; Josué 1.1-15), Davi (2Samuel 3.18; 7.5l, 8, 26), os profetas (2 Reis 9.7; 17.13; Jeremias 7.25;26.5) e outros. Em Isaías, muitas das passagens sobre o “servo” sereferem a Israel coletivamente (43.10; 44.21; 45.4), sendo o“descendente de Abraão” e “amigo de Deus” (41.8). Esta referência setorna clara pela alusão à desobediência histórica de Israel como servocego e surdo (42.19). Em outros lugares porém, a referência é aoremanescente fiel dentro de Israel (44.1; 51.1, 7) que levará a nação devolta para Deus (49.3-5), será obediente ao seu chamamento e darátestemunho do poder de Deus no mundo (49.1-13; 42.1-7).

Mas em certas ocasiões, especialmente no quarto cântico, oServo do Senhor é descrito em termos que ultrapassam qualquerpossibilidade de referência a Israel ou mesmo a um remanescente fiel.

Ele é o Redentor vindouro do verdadeiro Israel, queatravés do seu sofrimento, possibilita o cumprimentoda tarefa de Israel; ele é o ator central na “coisa nova”que está para acontecer; ele é, poderíamos dizer, o

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“novo Moisés” no novo Êxodo, prestes a começar[tradução] (Bright 1953:150-151).

O Servo é simultaneamente Israel e um indivíduo, querepresenta toda a comunidade e leva ao seu pontoculminante a missão da nação, convocando todo o povoa ingressar nessa missão, de modo que seja também asua missão e não meramente a dele. Que no pensamentodo profeta se trate de um indivíduo futuro, parece-meacima de qualquer discussão (Rowley 1977:130).

O cristão, justificavelmente, identifica o Servo Sofredor doquarto cântico com Jesus, pois esta foi a interpretação do próprio Jesuse a afirmação da igreja primitiva (Marcos 10.45; Filipenses 2.5-11; Atos8.26-40).

Todavia, não é por isso que se deve concluir precipitadamenteque o quarto cântico é apenas uma predição sobre Jesus. Enquanto Jesuscumpre plenamente a realidade que este cântico enuncia, há ainda, eantes, uma mensagem aqui aos que viviam naquele tempo.

O profeta estabelece uma relação entre a libertação atual deIsrael, do exílio babilônico e a libertação da opressão no Egito. Israel éo servo que sofre e que por seu testemunho-fiel-servo sofredor será oinstrumento para a libertação de muitos. Haverá um novo êxodobabilônico que, como o primeiro, será sofredor mas resultará num novoinício.

A missão do Servo ideal. O Servo em Isaías 42.1 não tantoativamente “trará” as nações à justiça (mishpâ) quanto passivamente a“causará ser visível” (yôçî). É um testemunho cego e surdo, inútil pelospadrões modernos de testemunho judicial e, na última instância, é opróprio Iahweh que é a testemunha. Não são as atividades próprias doservo que são enfatizadas, mas o fato de que Deus opera nele e atravésdele” [tradução, ênfase no original] (1980:75). A atuação do servo éantes centrípeta que centrífuga.

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Entretanto, também é verdade que Deus opera nele e atravésdele, ou seja, o servo é o instrumento missionário de Deus. Qual é,então, a missão do servo?

Em primeiro lugar, a missão do servo se define pelo sofrimentoque ele experimenta. O profeta Jeremias já fora exemplo para Israel deque a missão do servo e profeta do Senhor implica em sofrimento(Jeremias 11.18-12.6; 15.10-20; 17.14-18; 18.18-23; 20.7-11, 14, 18).Só que Jeremias não via um valor positivo no sofrimento suportado porcausa da sua missão. O sofrimento do Servo do Senhor em Isaías 53 eraalgo totalmente novo. Era um sofrimento expiatório substitutivo, umconceito simplesmente sem paralelo antes, ou no Antigo Testamento,ou no Antigo Oriente.

O Servo do Senhor sofre em prol de toda a humanidade e assimprovê o meio de expiação (63.4-6), e isto apesar da rejeição da suamensagem (53.1), sua pessoa (53.2) e sua missão (53.3). Seu sofrimentoo leva para morte (53.8) e sepultamento (53.9). Especialmentesignificante neste quarto cântico é o fato de que o Servo é justo einocente, em contraste com Israel, que sofreu pelos pecados dos outros.Mas como resultado, será exaltado e grandemente premiado (53.10-12).Ele, então, carregou o pecado da humanidade inteira, mas é estahumilhação que possibilita a sua exaltação.

A morte do Servo provê redenção. Seu sofrimento e morte nãoresultam em mera tragédia. Deus, através deles, está realizando os seuspropósitos redentores. E o Servo encontra satisfação na sua realizaçãodesta vontade de Deus. Ele será a fonte da justificação de “muitos”(53.11) e será, ele mesmo, altamente exaltado.

Israel precisava da salvação e Deus prometera apagar seu pecadoatravés de expiação (44.22). Para tanto, Deus escolhe o Servo (49.1-6)e Israel é admoestado três vezes a prestar atenção e preparar-se para asalvação prometida (51.1-8). Mas tal salvação não se define por merolivramento do exílio, mas por libertação do pecado através do ServoSofredor (52.13-53.12).

Este não só oferece a salvação a Israel, mas também é luz paraos gentios (42.6; 49.6). No fim, todas as nações se prostarão a seus pés(49.7; 9.7). A missão do Servo é dotada de significância universal. Asua “posteridade possuirá as nações” (54.2-3), e então Iahweh será “o

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Deus de toda a terra” (54.5; 49.6), que se compromete através da sua“misericórdia” (eedh) e a “aliança da paz” (54.9-10) com todas as nações(55.1-9; 49.6, veja Atos 13.45-49; 26.22-23). Aqui lemos sobre opropósito de Deus de governar seu reino mundial e convidar todas asnações a participarem; e a vitória deste reino não se realizará através deforça ou poder espetacular, mas por meio do labor sacrificial do Servodo Senhor.

Mais uma vez, reparamos que não é tanto o Servo que sai paraum “campo missionário” a fim de buscar as nações, e, sim, as naçõesque virão ao servo como os dez homens de todas as línguas das nações,pegarão no vestido de um judeu, dizendo: “Iremos convosco, porquetemos ouvido que Deus está convosco” (Zacarias 8.23). A atividademissionária do Servo é uma atividade centrípeta; porém, nem por isso,deixa de ser missionária.

A missão de Israel. A missão do servo ideal é paradigmáticapara a missão do servo coletivo, Israel. Ambos recebem uma missãouniversal e ambos encontram seu pleno sentido apenas em serviço parao mundo. Esta missão não pode ser identificada com os esquemasespertos de calculações humanas, pois sua origem está no Deus criadorque formou o Servo desde o ventre (43.21; 49.5-6). Nem tampoucopodem seus propósitos e alvos serem confundidos com mera estratégiaque glorifique os programas de denominações. Sua finalidade está naglorificação do Senhor dos Exércitos (54.5; 52.7,10; 51.4-5; 45.22-23;37.20). A missão de servo/povo de Deus é fundada, centrada e finalizadaem Deus; antes de tudo, é missio Dei.

Assim diz o Senhor, Rei de Israel, seu redentor, oSENHOR dos exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou oúltimo, e além de mim não há Deus ... Vós sois asminhas testemunhas. Há outro Deus além de mim? Não,não há outra Rocha que eu conheça (Isaías 44.6-8).

Israel será o instrumento da glória de Deus no mundo (49.1-2)e voltará ao destino da sua eleição como luz para as nações (49.5-6).Ser servo, como ser eleito, antes de denotar status, descreve sua função

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sacrificial no mundo das nações. Com o Espírito de Deus (42.1), seuprogresso missionário não será de conquista e glória, mas de labor epaciência infinita (42.2-3). Mesmo desanimado não desistirá atéconseguir a vitória (42.4). Açoitado, atormentado e cuspido (50.6), aindapersevera pacientemente e confiante que Deus o vindicará (50.7-9).Israel será o povo do Servo e, somente assim, será o povo de Deus.

O filho do homem

As visões de Daniel 7-12 acrescentam uma nova dimensão àesperança messiânica no Velho Testamento pelo seu novo entendimentoda história e pela nova conceituação do Messias, o Filho do Homem.Daniel, não como Isaías, viu o servo de Deus não no seu sofrimento,mas no seu triunfo final como o Filho do Homem:

... eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filhodo homem, e dirigiu-se ao Ancião de dias, e o fizeramchegar até ele. Foi-lhe dado domínio e glória, e o reino,para que os povos, nações e homens de todas as línguaso servissem; o seu domínio é domínio eterno, que nãopassará, e o seu reino jamais será destruído (Daniel7.13-14).

O domínio prometido a Adão (veja capítulo 2) e o reinoprometido a Davi e a sua semente (capítulo 6) agora se liga àquelechamado de Filho do Homem e ao seu povo. Ele é entronizado no textoacima no contexto de adoração e serviço prestados pelas nações como aentronização de Jesus no meio das nações (1 Timóteo 3.16; Filipenses2.9-11; Hebreus 1.5-14).

O próprio Jesus assumiu o título de Filho do Homem para simesmo mais que qualquer outro título. O título aparece umas 82 vezesno Novo Testamento e, com a exceção de uma vez, sempre usado porJesus. Certamente Jesus o entendeu como título messiânico (Marcos14.61-62) e, portanto, asseverou ser o homem celestial e o representanteesperado do Israel verdadeiro, o povo de Deus. Contudo, Jesus alteroua idéia do Filho do Homem, ou melhor, combinou-a com a idéia do

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Servo Sofredor, pois disse que o Filho do homem deve sofrer muitascoisas (Marcos 8.31; 9.12, 31; Lucas 9.22; 24.7). Desde o início eleentendeu que o plano redentor e glorioso de Deus, sua missão, serealizará somente através de sacrifício e sofrimento. Somente atravésdo caminho da cruz haverá a ressurreição.

A visão de Daniel introduz um novo entendimento sobre ahistória. Ele escreveu depois do exílio e da restauração dos judeus naPalestina, um período caracterizado por opressão e exploraçãoestrangeiras, mediocridade da casa de Davi e desânimo geral. Não haviamuito mais esperança no reino terrestre de Israel. Para Daniel, então, oreino de Deus assumiu proporções cósmicas. Estabeleceu-se umcontraste entre a história do mundo e o reino de Deus, que só seinauguraria depois de um julgamento catastrófico futuro. O testemunhoprofético mudou de esperança escatológica por um reino terrestre dentroda história para a esperança apocalíptica1 de um reino além da história.O Libertador celeste e transcendental de Daniel 7.13-14 eclipsou oMessias terrestre davídico. Enquanto de forma humana, ele ésuperhumano em essência e existe antes da sua manifestação àhumanidade. Devemos acrescentar que, sem a fundição com as idéiasanteriores do Filho de Davi e o Servo Sofredor, as nossas esperançasescatológicas seriam resumidas numa orientação ultramundana, apenasvoltada para além deste mundo, com o resultado de afastamento da lutapela justiça neste mundo.

As nações

Além da figura messiânica nascente no conceito doremanescente e mais desenvolvida nas idéias do Filho de Davi, o ServoSofredor e o Filho do Homem, um outro modelo básico da esperançaprofética é a compreensão cada vez maior da relação de Israel com asnações. Esta encontra sua expressão mais destacada na crença dumaglorificação última do Monte Sião como o centro de um grande reinode paz, aonde a glória de Deus aparecerá e para onde as nações afluirão.Assim, a casa de Deus será “casa de oração para todos os povos” (Isaías56.7; cf. 2 Crônicas 6.32), conseqüência da unicidade e universalidadede Iahweh. Em Isaías 66.18-21 (compare Miquéias 4.1-4), lemos queIahweh tomará pessoas dentre as nações para participarem não só das

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bençãos da salvação, mas também para participarem do ministério dopovo de Deus como testemunhas.

Embora a relação entre Israel e as nações já tenha aparecidonas lições anteriores, é à luz do exílio que o papel de Israel diante dasnações fica claro. Em vez de destruir sua confiança em Deus, as própriasfrustrações e desapontamentos da era pós-exílica intensificaram a convicçãode Israel de que o alvo final dos propósitos de Deus, a era escatológica desalvação, certamente viria e incluiria o cumprimento da promessa feitapara Abraão acerca de benção para as nações (Gênesis 12.3).

Mesmo na era pré-exílica, encontramos a esperança no dia emque os povos prestarão culto a Iahweh depois de uma purificação deseu povo-testemunha, Israel (Sofonias 3.10, compare Jeremias 16.19-21;Habacuque 2.14).

Depois do exílio, a visão se intensifica. As nações procurarão oSenhor no centro religioso de Israel, em Jerusalém, sendo dirigidas pelojudeu fiel (Zacarias 8.22s). Isaías 40-55 relacionou nitidamente ouniversalismo já evidente anteriormente com a missão de Israel. Suaesperança não era remota e acreditou que a lei de Deus que atrai ospovos deve ser logo proclamada (45.22; 42.6; 43.10). Comoconseqüência do monoteísmo explícito (44.10, 20; 46.1-13), o únicoDeus deve ser conhecido entre as nações que ele criou (45.22-23; 51.4-5;55.5). O modelo de Israel para esta missão, como já deparamos, é oservo de Iahweh (49.6).

A mesma idéia se destaca em Isaías 56.66. O grande futuro deperegrinação das nações para Sião (66.19s, compare Isaías 55.5; 2.2-4e Miquéias 4.1-3) e a paz mundial conseqüente são inseridos numaperspectiva mais espantosamente universal ainda, em Isaías 19.24-25:

Naquele tempo será o terceiro com os egípcios e osassírios, uma benção no meio da terra; porque oSENHOR dos Exércitos os abencoará, dizendo: Benditoseja o Egito, meu povo, e a Assíria, obra de minhasmãos, e Israel, minha herança.

Em síntese, a esperança profética inclue necessariamente umamaior compreensão do papel de Israel no meio das nações como preparo

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para a era escatológica vindoura. Esta compreensão abrange as seguintesobservações:

Deus é soberano na história universal. Os atos de Deus na históriade Israel são uma amostra só da maneira como Deus trata as nações. ODeus de Israel é também, e antes (!), o Deus das nações. Nenhum outroprofeta destaca este ponto mais que Amós. Deus havia operado na históriados filisteus e os arameus (9.7). Manda o fogo do seu julgamento sobre asnações que se opõem à sua autoridade (1.3-2.3). Uma nação se torna oinstrumento da ira de Deus contra outra (6.14). Até desastres mundiaisservem aos seus propósitos (7.1, 4; 4.6-11). Tudo isto realça que Deus ageatravés dos eventos da história humana, dentro das nossas vidas concretas.Também esclarece que todas as nações são responsáveis diante de Deusque responderá através de juízo ou benção.

Deus deseja o arrependimento das nações. Ele não se regozijano julgamento, mas muito mais prefere a misericórdia. Isto, sem dúvidaé o tema principal de Jonas:

Tens compaixão da planta que te não custou trabalho,a qual não fizeste crescer; que numa noite nasceu enuma noite pereceu; e não hei de eu ter compaixão dagrande cidade de Nínive em que há mais de cento evinte mil pessoas, que não sabem discernir entre a mãodireita e a mão esquerda, e também muitos animais?(4.10-11).

Israel é testemunha de Deus para as nações. Pela suafidelidade a Iahweh como Rei de Israel, a nação confirma que Deus étambém Rei do mundo. Este testemunho não é totalmente passivo, poiso povo de Deus ativamente vive e demonstra a justiça de Deus no meiodas nações. Mas também não é ativo no sentido de “ir” às naçõesproclamar (com pouquíssimas excessões, como Isaías 42.6 e 49.6 eJonas). Seu papel missionário era principalmente centrípeto. A soberaniade Deus como autor da missão não nega nem diminue o papel de Israel,e, sim, o intensifica. Não há competição entre Deus e seu povo.

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Igreja: Por quê Me Importar?

Escatologia

A esperança profética no destino das nações levou para aexpectação escatológica de salvação. Toda a esperança acima elaborada,a missão do Servo de Iahweh, a vinda do Messias, ou papel detestemunha de Israel, é atividade do futuro. A esperança profética navinda das nações para o cerne de Israel é uma expectativa escatológicaque será cumprida apenas no fim dos tempos. Enquanto o desempenhode Israel no seu papel missionário, sua atividade humana, poderápreparar para aquele dia, por si mesmo jamais produzirá a eraescatológica de salvação. Isto pertence em primeira e última instância aDeus. Iahweh está mobilizando a história para o seu grande futuro.

IMPLICAÇÕES ATUAIS

Um corolário do controle de Deus sobre a história é a esperançano mediador messiânico, através de quem a consumação da história serealiza. A linhagem profética iniciada com Moisés se cumpre na pessoa deJesus. Ele foi erguido (Atos 3.26; 13.33) como aquele que fala as palavrasde Deus e será o modelo para a igreja fazer o mesmo (1 Coríntios 2.13). Amissão de Deus dada à igreja é centrada na pessoa de Jesus. A igreja pregae ensina sobre muitos assuntos, mas o centro é Cristo. Dirigir as nações àpessoa de Jesus é obedecer não só ao mandato do Novo Testamento, mastambém ao anseio da esperança messiânica dos profetas.

A comunidade eleita é o instrumento da missão de Deus. Asoberania de Deus não anula a responsabilidade e serviço missionáriosdo seu povo. Quando a comunidade de fiéis recua do seu papeltestemunho, não está recuando apenas do seu dever, mas está seafastando da graça e da eleição. Este papel de testemunho é assumidoseguindo o padrão do Servo de Iahweh em Isaías. A indagação inquietade John Bright ainda demanda reflexão séria:

Pois como membros da igreja de Cristo, nossa vocaçãoé aquela vocação do servo. Até que ponto nós a levamos

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a sério? Compreendemos-na de alguma forma? Amissão mundial da igreja nós aceitamos. Acreditamosnum só Deus; declaramos que seu Reino está sobre todaa terra; enviamos missionários para pregar o evangelhoem terras distantes. Mas, como nós pouco entendemosas conseqüências dessa grande teologia!...Queremos umCristo que sofre para que não precisemos fazê-lo, umCristo que se sacrifica para que nosso conforto não sejaincomodado. O chamado de perder a vida para que estaseja achada novamente, de tomar a cruz e seguir,permanece misterioso e ofensivo para nós. De certo,trabalhamos para trazer os homens a Cristo, e oramos,“venha o Teu reino”. Mas nosso trabalho vemos comoum trabalho de conquista e crescimento, programasbem-sucedidos e dólares. Pode ser que procuremosconstruir o Reino do Servo, sem seguir o Servo? Seassim fazemos, sem dúvida edificaremos uma grandeigreja, mas teria algo a ver com o Reino de Deus?

Lembremo-nos, então, que a tarefa da igrejanão é outra, senão a tarefa de servo [tradução](1953:154-155).

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. O conceito do remanescente é relevante hoje? Como?

2. Qual é o papel escatológico de Israel no mundo hoje?

3. Se a igreja não é sinônimo do reino de Deus, qual é a missãodela no mundo de hoje para o estabelecimento e vindadefinitivos do reino?

4. Como podemos ser uma igreja-serva conforme o modelo doServo Sofredor?

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1 A perspectiva apocalíptica vê o tempo dual e cosmicamente. A era presente então, é má etemporal, dominada por Satanás, enquanto a era futura é perfeita e eterna, sob o domínio deDeus.

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RESUMINDOO VELHO TESTAMENTO

No decorrer da nossa análise do Velho Testamento,transpareceram repetida e progressivamente vários temas decisivos.Nesta lição, refletimos acerca da contribuição do Velho Testamentopara a identidade pelo de Deus de si mesmo e da sua tarefa no mundodas nações.

Não propomos fazer do Velho Testamento o que não é, umateologia sistemática. A sua literatura é diversa e múltipla não só no seudesenvolvimento histórico mas também nas suas orientações eperspectivas teológicas, e assim, não permite tal sistematização. Poroutro lado, é possível detectar uma certa convergência edesenvolvimento das suas idéias principais. Sem diminuir oumenosprezar a riqueza da sua diversidade, queremos aqui ressaltar estaconvergência destes. Sugerimos seis temas abrangentes.

A origem da missão

Através de toda a revelação no Velho Testamento, se tornapatente que o principal ator no drama é Deus. “No princípio criou Deus...” É Deus quem cria, quem julga, quem age, quem escolhe, e quem serevela. Ele é ativo não só na criação, mas também nos julgamentos, nalibertação do seu povo do Egito, nas exortações dos seus profetas e napromessa de restauração vindoura. Ele é o único e verdadeiro Deus edeseja que sua glória seja conhecida nos céus (Salmo 19) e nasextremidades da terra (Isaías 11.9).

Portanto,“missão” é uma categoria que pertence a Deus. Amissão, antes de ter uma conotação humana que fala da tarefa da igreja,antes de ser da igreja, é de Deus. Esta perspectiva nos guarda contra

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Igreja: Por quê Me Importar?

toda atitude de auto-suficiência e independência na tarefa missionária.Se a missão é de Deus, então é dele que a igreja deve depender na suaparticipação na tarefa. Isto implica numa profunda atitude de humildadee de oração para a capacitação missionária, uma dependência confianteem Deus, em vez de que a independência característica da queda, dodilúvio, da torre de Babel e do próprio cativeiro.

Por outro lado, se a missão é de Deus, temos segurança de queé Deus que está comandando a expansão do seu reino, nos seus termos,e isto nos dá plena convicção de que ele realizará os seus propósitos.

O propósito da missão

Se a missão tem como principal ator Deus, ressaltamos queDeus tem como principal atividade uma missão. A própria existênciado Velho Testamento, e de toda a Bíblia, é a primeira evidência de queDeus tem uma missão, um propósito no mundo. Não é um Deus dareflexão filosófica, fruto das nossas mais espertas cogitações. Mas é oDeus que age no nosso meio, que se revela por si mesmo a nós e quetem uma finalidade para sua criação. Se a origem da missão está emDeus—“no princípio criou Deus...”—seu fim está no alcance universalda sua misericórdia e graça—“a graça do Senhor Jesus seja com todos”(Apocalipse 22.21). Portanto, toda a extensão da Bíblia reflete um temaintegrante e unificador, a missão.

Para usar um termo mais abrangente, podemos descrever opropósito da missão como sendo de restauração, é a missão da salvação.Aquilo que Deus criou, ele pretende restaurar. Contudo, a restauração ésalvação não só no sentido de poupar, mas também no sentido de julgar.Haverá um novo céu e uma nova terra, mas isto através do sofrimento,tribulação e julgamento. A mensagem de restauração no VelhoTestamento, consistentemente, inclui estas duas dimensões de salvaçãoe de julgamento. Vemo-nas no relato do dilúvio (julgamento) e da arca(salvação), da torre de Babel (julgamento) e do chamamento de Abraão(salvação), no Êxodo, na aliança com Israel e na conquista de Canaã.Vemo-nas nas críticas dos profetas (julgamento) e nas suas promessasde salvação vindoura. Ou misericórdia ou julgamento, era a sorte dadaa Israel e às nações, de acordo com o seu relacionamento de dependência

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de Deus e com o seu relacionamento de misericórdia sobre a criação,duas características da imagem de Deus no homem. Por isso, tanto aadoração apropriada e genuína para com Deus quanto a justiça expressanos relacionamentos sociais e ecológicos dentro e fora de Israel, eram ocritério usado para determinar a reação divina, ou julgamento ousalvação, ambos como alvo da restauração da criação e da humanidade.

Este critério duplo, adoração e justiça, integra as dimensõespessoais e sociais da missão de restauração, fundindo as distinçõesespirituais e materiais da fé. A verdadeira espiritualidade terá expressãomais aguda nas relações concretas em que o povo de Deus vive.

Esta perspectiva do propósito restaurador da missão nos guardacontra as falsas dicotomias da tarefa missionária e da fé. Restauração éeste propósito, portanto a obra redentora de Jesus Cristo e aevangelização permanecem centrais à missão de Deus. Contudo, estaredenção deve ser entendida como resultando tanto em adoração própriae sincera a Deus quanto em relações de justiça com o próximo humanoe com toda a criação.

Em termos de adoração no Brasil, isto implica na dinamizaçãonas igrejas cristãs, do culto e especialmente da liturgia. Implica navalorização e implementação de músicas e liturgias contextualizadaspard, com conteúdo bíblico e expressão afetiva, enfim, um culto que leve opovo à profunda e sincera adoração e não ao mero estímulo intelectual.Também implica em denunciar toda idolatria da adoração ao Deus único,desde as expressões populares do catolicismo com a sua iconolatria eadoração mariana até as diversas manifestações de espiritismo com asua adoração sincrética. Enquanto os evangélicos têm reparado mais oprimeiro, é o segundo que representa cada vez mais um desafio àadoração monoteísta e cristã, como a seguinte tabela demonstra:

Certamente, o sincretismo espírita representa hoje para a igrejabrasileira um desafio à adoração singular a Iahweh do tamanho dodesafio do baalismo cananeu.

O propósito da missão como sendo a restauração, além deimplicar em adoração própria, também implica em relações de justiçadentro e fora do povo de Deus. Decerto, pouco o povo de Deus teria detestemunho quanto às questões de justiça se no seu próprio meio estespadrões não encontrassem expressão. Ser povo de Deus implica em

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Igreja: Por quê Me Importar?

refletir algo do caráter de Deus, e isto inclui fundamentalmente aqualidade de justiça. Por isso, a diaconia na igreja primitiva assumiuuma importância essencial para o seu testemunho no mundo.Infelizmente, em questões de justiça social, a igreja brasileira formulousua perspectiva de envolvimento grandemente em contraposição ao“evangelho social” dos modernistas, em contraposição à doutrina deboas obras do espiritismo e do catolicismo, em contraposição à análisemarxista (que se diz atéia) de estruturas sociais, em contraposição àtemida teologia da libertação e de acordo com um evangelho truncadode alguns missionários estrangeiros, que acredita que a conversão pessoalem grande número deve preceder qualquer tentativa de melhorar omundo. Todavia, a igreja necessita de uma perspectiva bíblica da suatarefa para formular seu entendimento sobre estas questões, não emcontraposição às perspectivas x, y e z, e nem de acordo com asformulações teológicas importadas que refletem brigas teológicasestrangeiras, mas de acordo com os padrões e ensinos bíblicos. Talformulação só poderá desafiar a igreja a participar no propósito da missãocomo sendo a restauração dos seres humanos e da criação toda; e estaparticipação se manifestará através de uma adoração sincera e exclusivaao Senhor e através de padrões de justiça dentro da igreja que a qualifiquea anunciar o domínio de Deus pelo mundo, o que implica,simultâneamente, em padrões de justiça no mundo.

O alcance da missão

O propósitorestaurador da missãoalcança dimensões uni-versais. Se Deus é o prin-cipal ator ou sujeito damissão, e a restauração oseu conteúdo, então seuobjetivo é a criação toda.Deus se propõe a res-taurar aquilo que criou.Sua missão é uma missão Fonte: World Christian Encyclopedia e Operation World

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para a criação. Não é por acaso que a revelação escrita que descreve amissão de Deus começa com a criação dos céus e da terra e terminacom a restauração dos mesmos num novo céu e nova terra. O homemnão só é guardião do seu próximo, mas mordomo da própria criação.Através do julgamento do dilúvio, não só parte da raça humana é salva,mas também parte representativa da criação toda. As leis da aliançadetalham as dimensões religiosas, sociais e ecológicas da fé e daobediência do povo de Deus, provendo instruções para o bem-estar detoda a criação e toda a vida, em todas as suas múltiplas dimensões. Ossalmos e hinos no Velho Testamento incluem os louvores não só dopovo de Deus, mas também da própria natureza; e a era vindoura desalvação só pode incluir a expectativa de restauração não só de Israel edas nações, mas da criação toda (Isaías 43.18-21; 65.17-25).

Esta perspectiva nos guarda contra toda sorte de miopiamissionária. Não nos satisfazemos até que todos os povos, línguas, tribose nações recebam o evangelho do reino (Mateus 24.14) para o louvordo Cordeiro de Deus (Apocalipse 5.9-14; 7.9-12), implica então numamotivação e estratégia evangelística que procure ir não só para os maisdistantes lugares, mas aonde quer que Cristo não tenha sido anunciado(Romanos 15.20), quer sejam grupos humanos negligenciados ou“escondidos” por perto, quer sejam povos não-alcançados mais distantes.

Mas o alcance da missão não pára com toda a raça humana.Também implica na igreja assumir a tarefa de mordomo sobre a criaçãotoda. Problemas ecológicos como a seca no nordeste, enchentes no sul,desflorestamento da Amazônia, poluição do meio-ambiente, o usoapropriado e a redistribuição de terras também devem ser tratadas pelopovo de Deus. Fazem parte da sua missão. Que isto seja dever do governonão há dúvida, contudo a igreja antes, tendo uma restauração substancialda imagem de Deus nele, deve opinar e se envolver num testemunhopara toda humanidade e toda a criação.

O instrumento da missão

Se Deus é o principal ator e origem da missão, não é o únicoator. Seu instrumento é um povo específico. A missão também é a tarefada igreja que é derivada então da missão de Deus. Deus escolhe um

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Igreja: Por quê Me Importar?

povo específico como instrumento da sua missão de restauração. Elegeuum povo, Israel, no Velho Testamento e com este fez uma aliançapeculiar a fim de que este fosse o seu testemunho no meio das nações(Gênesis 12.3; Êxodo 19.5-6). A eleição de Israel, antes de denotarqualquer favoritismo exclusivista de Deus, teve um propósito inclusivode serviço missionário para as nações. Quando não cumpria estepropósito, Israel foi julgado pelos mesmos para quem ele deveria terdado testemunho e deveria ter sido uma benção.

Esta perspectiva nos guarda contra todo sentimento defavoritismo exclusivista. Não nos orgulhemos na nossa eleição comatitude de superioridade espiritual para com os que não crêem, nosseparando socialmente deles. A eleição não é para separação social(separação moral sim!), mas envolvimento e serviço. A igreja nãoencontra sua identidade verdadeira em contraposição social ao mundomas justamente numa relação com ele, uma relação não de identificaçãocom seus valores, mas uma relação evangelística de serviço e testemunhoousados. Então, esta perspectiva também nos guarda contra todoescapismo deste mundo para um plano espiritual além.

Também nos guarda contra todo passivismo e comodismo. Amissão de Deus não inibe a atividade do seu povo, mas dinamiza-a. Seé Deus quem escolheu, fica patente que escolheu um povo para, atravésdele, realizar sua missão. A igreja passiva quanto ao seu envolvimentomissionário, não poderá invocar a soberania exclusiva de Deus comojustificativa pela sua passividade, pois o Deus soberano escolheu o seupovo para testemunhar. Usando um exemplo do Novo Testamento, eranecessário que Pedro pregasse para Cornélio, muito embora o anjo queo precedeu bem pudesse ter anunciado o evangelho para este centurião(Atos 10). Para atingir alvos universais, a restauração de toda a criação,Deus escolheu meios particulares, um povo.

O local da missão

O lugar aonde a missão se desdobra é o mundo, e o seu processose realiza na história deste mundo. Desde o início do testemunho bíblicoobservamos que Deus age dentro e através de eventos concretos navida dos seres humanos. Ele se manifesta nem tanto num planocontemplativo e fora deste mundo, mas dentro e através da história.

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Julga através da expulsão do Éden, através do dilúvio e da dispersão depovos. Julga as nações através das pragas no Egito, a conquista de Canaãe a queda de um império por outro. Julga seu povo através dos profetase através do exílio. Mas também abençoa através da libertação do Egitoe do exílio. São todos estes eventos históricos, acontecimentos nestemundo. Até mesmo a literatura apocalíptica que enfatiza um contrastecom este mundo, ensina que a intervenção futura e catastrófica de Deusserá uma irrupção para dentro desta história e deste mundo. Emboraenfatize descontinuidade com a progressividade natural da históriahumana, não transfere o cenário dos atos salvíficos de Deus para umplano extra-histórico ou ultra-mundano. Apenas ressalta a opção semprepresente e futuramente iminente da intervenção divina na história, comosendo abrupta e extraordinária.

Creio que a perspectiva do Velho Testamento ilumina muito atarefa ou a missão da igreja no Brasil e em toda a América Latina.Sabendo que Deus embarca num projeto histórico, a igreja tem umaboa base para se perguntar: “aonde, nos eventos históricos da realidadelatinoamericana, podemos discernir a mão de Deus?” Alguns podementender isto como sendo uma secularização da fé. Não é nossa intenção.Em vez de reduzir a missão de Deus aos afazeres deste mundo, queremosdiscernir aonde e como Deus poderá estar manifestando seu reino nanossa história. Implica na proclamação do evangelho paraarrependimento e conversão. E implica em participar na luta pela justiça.Com os pés no chão, as mãos em oração e os olhos abertos à realidademultidimensional e latinoamericana, a igreja dá testemunho pelaproclamação das boas novas e pela promoção de justiça de maneiraconcreta, visível e “mundanapard ” (isto é, na nossa história).

Implica numa desmistificação da fé. A verdadeiraespiritualidade não é aquele jejum “sagrado” com orações de belaspalavras perfumadas, mas é um estilo de vida cotidiano e mundano quereflete o caráter justo de Deus para com o seu próximo.

Porventura, não é este o jejum que escolhi, quesoltes as ligaduras da impiedade, desfaças as atadurasda servidão, deixes livres os oprimidos e despedacestodo jugo?

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Igreja: Por quê Me Importar?

Porventura não é também que repartas o teupão com o faminto, e recolhas em casa os pobresdesabrigados, e se vires o nu, o cubras, e não te escondasdo teu semelhante? (Isaías 58.5-7).

Uma análise, até das mais superficiais, da situação socioeconômica naAmérica Latina deixa a igreja sem desculpa quanto a sua missão nestemundo e nesta história: anunciar às nações a chegada do reino de Deuse viver um modelo deste reino através de sincera adoração e de umpadrão de justiça que tome expressão no mundo e na história.

Não obstante, este processo jamais poderá ser identificadosimplesmente com o processo histórico e humano. A literaturaapocalíptica e as intervenções singelas e dramáticas de Deus na históriade Israel (ex.: o êxodo) nos distanciam de uma plena confiança nosprocessos apenas humanos da história. O reino de Deus não poderá seridentificado com o processo histórico, embora possamos e devamosdetectar indícios deste reino na história. Enquanto a era escatológicaseja apenas divinamente inaugurável, o povo de Deus também participana sua promoção. E, enquanto sua realização seja apenas futura, jápodemos discernir sinais dela na história presente.

A dinâmica da missão

Como os dois conceitos de Servo de Iahweh e de Filho doHomem oscilam entre uma referência individual e uma coletiva, nossareferência à missão varia entre uma referência à missão de Deus e umaà missão do povo de Deus. Discursando a respeito de missão,referimo-nos, ora à missão de Deus, ora à missão da igreja, considerandoo conteúdo do primeiro, e por conseqüência, logo refletindo sobre asimplicações disto para o segundo. Tal discurso ilustra a dinâmica damissão como sendo a missão de Deus e da igreja.

Deus partilha sua tarefa com seu povo e nela o convida aparticipar. Este recebe a promessa que aquele estará sempre presentena realização da missão. Decerto, a missão de Deus jamais poderá sersinônimo da missão da igreja. Por outro lado, nem tampouco poderá a

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missão da igreja ser considerada absolutamente divorciada da missãode Deus. A dinâmica entre os dois encontra sua expressão ideal à medidaque a igreja discerne a missão de Deus e se conforma à mesma, umideal que embora nunca se realize perfeitamente, mesmo assim semanifesta em parte.

A vice-regência do homem sobre a criação teve como umpropósito refletir a soberania de Deus, mas jamais duplicá-la ousubstituí-la. Israel herda este papel de embaixador de Deus no meio dasnações, ou melhor, de sacerdote e testemunha. Portanto, Deus e o seupovo não são competidores na missão, e, sim, cooperadores, sendo aigreja serva da missão de Deus. Enquanto o povo de Deus é convidadoa participar com Deus na sua missão de restauração, Deus promete suapresença no desempenho da missão do povo de testemunha diante dasnações.

Tal perspectiva da dinâmica da missão nos guarda, por um lado,contra uma identificação completa dos programas missionários dasdenominações e agências missionárias com o propósito e missão globale integral de Deus. O povo de Deus reflete, apenas parcial eimperfeitamente, a missão de Deus. Historicamente, nem sempre amissão da igreja refletiu o caráter justo, salvador e libertador de Deus.A íntima associação de missões com a política expansionista econquistadora do Império Carolíngio do século VIII na Europa e daIbéria do século XVI na América Latina, ou com o colonialismo doséculo XIX na África Negra, proíbe qualquer identificação da missãode Deus com a missão da igreja. Até hoje, um certo triunfalismo àsvezes se evidencia nas nossas promoções e nos slogans missionáriosque jamais poderá ser comparável com a adoção humilde do papel demissionário-servo do povo de Deus no meio das nações.

Por outro lado, esta dinâmica da missão estimula e capacita opovo de Deus a uma aproximação e a participação com a missão deDeus e nos dá a confiança, mesmo em meio de dificuldades e desânimo,de que Deus vai levar avante sua missão. Ele é criador do mundo eautor da história, e sua missão de restaurar aquele e completar esta vaise realizar, não apesar, mas através do seu povo.

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PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Diante da doutrina de predestinação, porque devemos dartestemunho e evangelizar?

2. Na missão da igreja como você entende a prioridade ou não daevangelização em relação à justiça?

3. A nossa teologia é muito norteamericana?

4. Qual é a abrangência da missão da igreja? O que está central aesta missão?

5. Como Deus está agindo na nossa história hoje, no Brasil? Ounão está?

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ANTECIPANDOO NOVO TESTAMENTO

As conclusões acima delineadas levantam uma interrogaçãopara a teologia cristã. Apesar da enorme base que o Velho Testamentoestabelece para tal teologia, ela é completa? Se respondemosafirmativamente, então ainda interrogamos: O Novo Testamento énecessário? Acrescenta alguma coisa? Por outro lado, se respondemosnegativamente, nos defrontamos com uma outra série de perguntas: seo Velho Testamento é incompleto teologicamente, ele então ésecundário, menos inspirado em relação ao Novo Testamento e temmenos autoridade? Em preparação para a continuação da nossa pesquisano Novo Testamento, queremos primeiro refletir a respeito da relaçãoentre o Velho e o Novo Testamento.

O Velho Testamento é inconcluso

Duas características da teologia do Velho Testamento apontampara sua própria inconclusão: a sua orientação missionária centrípeta esua antecipação do futuro.

Sua orientação missionária centrípeta. O Velho Testamentonão contém nenhuma instrução explícita de que o povo de Deus deva iràs nações para proclamar a verdade. Esta observação leva muitosestudiosos a falar sobre uma missão centrípeta (que procura aproximar-se ao centro) no Velho Testamento, a idéia de que as nações peregrinarãopara o centro de Israel, o monte de Sião e o templo, sendo atraídos pelotestemunho do povo de Deus. A missão de Israel implicava numtestemunho que marca sua “presença” no mundo, e não um testemeunhode “proclamação” ou “persuação”. Esta presença evangelística no meio

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Igreja: Por quê Me Importar?

das nações constituia a principal obrigação missionária do povo de Deusno Velho Testamento e, por certo, estabelece uma base insubstituívelpara o testemunho no Novo Testamento.

Esta orientação centrípeta não deve ser entendida comototalmente passiva como se missão fosse exclusivamente um ato deDeus. Ao invés disto, o testemunho de presença descreve a participaçãoativa do povo de Deus nos afazeres do mundo. É indispensável para opapel evangelístico entre as nações que Israel mantenha um verdadeirorelacionamento de genuína e exclusiva adoração a Iahweh e de retidãomoral e justiça social para com os outros. Aliás, quando Israel entendeusua eleição como referência ao seu status e privilégio passivos emcontraposição às nações, em vez de como referência ao seu serviçoativo no meio das nações, foi lembrado que não era diferente nem melhorque os outros povos: “não sois vós para mim, os filhos de Israel, comoos filhos dos etíopes?” (Amós 9.7a). Enquanto é justa a observação queo movimento missionário no Velho Testamento é grandemente paradentro, ou seja, centrípeto, isto não significa que Israel era passivo nestepapel missionário. Pelo contrário, sua aliança com Iahweh resultavaem obrigações quanto à sua vivência, obrigações para com seu Deus eobrigações para com seu próximo.

Contudo, enquanto este centripetismo forma uma baseindispensável para a natureza missionária do povo de Deus em todos ostempos, ilustra também a inconclusão do Velho Testamento. Se otestemunho centrípeto é ativo, então não encontramos ainda no AntigoTestamento nenhuma realização de testemunho fiel e ativo que de fatoatraiu as nações para Israel. Pelo contrário, Israel entrou num longoperíodo de cada vez mais exclusivismo e, por conseqüência, cada vezmenos palavras reveladoras de Deus. E o período intertestamentário secaracterizava pela esperança cada vez maior na reinvindicação divinado povo de Deus no seu papel crítico e ativo diante das nações.

Sua antecipação do futuro. Este anseio ou antecipação tambémdenota a inconclusão do Velho Testamento. Muitas promessas de Deusforam entendidas como referências à futura era escatológica. O elementode esperança se destacou progressivamente à medida que Israel perdiaa confiança na realização do reino de Deus no seu contexto atual.Decerto, a esperança tomou formas diferentes. Na época de Jesus, os

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fariseus esperavam a exaltação de Israel sob o domínio do Messias eacreditavam que a participação apropriada seria obediência estreita àlei, que então prepara o caminho para a vinda do Messias. E ainda haviauma esperança apocalíptica na intervenção catastrófica de Deus e navinda do Filho do Homem nas nuvens para receber o reino eterno. Apesardas direrentes formas de esperança, todos esperavam e reconheciamque alguma participação do povo de Deus era necessária. Esta esperançano futuro ilustra a inconclusão do Velho Testamento.

O Velho Testamento não é inferior ao Novo

Uma vez que sustentamos a inconclusão do Velho Testamentoem relação ao Novo, torna-se necessário uma qualificação: por serinconcluso não se deve deduzir que o Velho Testamento seja inferiorao Novo e, por conseguinte, com menos autoridade ou menosimportância. A relação entre os dois não é uma questão do seu valorintrínseco, mas é uma questão de seqüência.

O Velho Testamento não é provisório. Dizer que o VelhoTestamento é inconcluso não significa que sua importância sejatemporária, passageira ou provisional. Não é algo que já passou, masalgo complementado pelo Novo. O tratamento de Deus para com Israelestá em um continuum com a história da igreja. Assim, Israel e o AntigoTestamento refletem os propósitos de Deus para a humanidade e toda acriação. Deus plantou só uma oliveira, que está sujeita, através de todaa história, à sua poda e ao seu enxerto (Romanos 9-11). Portanto, oVelho Testamento não é provisório. Sua relevância e autoridadepermanecem atuais.

A continuidade entre os dois testamentos

A relação entre os dois testamentos, portanto, é uma decontinuidade. Existe uma seqüência e um desenvolvimento entre e dentrodos dois. Por um lado, e mais obviamente, este desenvolvimento éhistórico, procedendo-se de um começo até um fim. Mas também, odesenvolvimento é teológico, exprimindo uma relação de promessa ecumprimento.

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O desenvolvimento histórico: começo e fim. Esta qualidadehistórica da fé do Velho Testamento também atesta sua inconclusão,pois lança o leitor para um futuro ainda a ser realizado. Isto está emcontraposição total com a orientação cíclica dos seus vizinhos e adesesperança e resignação estática que esta gera. A história se movepara frente e não para trás, para seu início original como nas religiõesvizinhas de Israel. Deus chama o homem para uma tarefa histórica ecada vez mais progressiva. O homem não está preso a uma maneira depensar, passiva e orientada para o passado .

Este processo de desenvolvimento histórico implica,naturalmente, em um começo e um fim. Alguns elementos no início,então, são vagos ou até nem estão presentes ainda, mas com o tempo setornam mais claros e explícitos. Isto é verdade também quanto àdimensão missionária da fé do Velho Testamento. Suas implicaçõescompletas só se desdobram gradualmente à medida que Deus se revelaao seu povo e atua no seu meio. Por isso, não nos afligimos com aorientação missionária predominantemente centrípeta do VelhoTestamento, pois isto apenas aponta para sua inconclusão e a antecipaçãode uma orientação a ser realizada depois. Como outro exemplo, a ênfasena unicidade e incomparabilidade de Iahweh em Isaías quase nos leva àconclusão lógica da necessidade de proclamar e fazer conhecido esteDeus em todo o mundo. Só que o Velho Testamento não chega a tanto,e assim antecipa e aguarda a revelação e desenvolvimento subseqüentes.Para o Velho Testamento, o curso da história é irreversível, o velhoabre caminho para o novo. Não encontrando qualquer testemunho noVelho Testamento de que o alvo tenha sido realizado, o leitor é levadoobrigatoriamente a esperar tal realização futura e reconhecer que o textotestifica a sua inconclusão.

O desenvolvimento teológico: promessa e cumprimento. Estedesenvolvimento entre promessa e cumprimento já há muito tempo éreconhecido pelos “gigantes” da teologia bíblica. Vale a pena citar algunsdeles para ressaltar a importância deste conceito para a compreensãoda relação entre e também dentro dos dois testamentos.

Os dois testamentos são ligados orgânicamente um aooutro. O relacionamento entre os dois não é nem de

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desenvolvimento ascendente nem de contraste, é de uminício e complementação, de esperança e cumprimento[tradução] (Bright 1953:196-197).

... a maneira que o Velho Testamento é absorvido noNovo é o final lógico de um processo iniciado pelopróprio Velho Testamento ... Nenhum métodohermenêutico é necessário para ver o movimento inteiroe diversificado dos eventos salvíficosveterotestamentários, composto das promessas de Deuse seus cumprimentos temporários, como apontandopara seu cumprimento futuro em Jesus Cristo. Isto podeser dito bem categoricamente. A vinda de Jesus Cristocomo uma realidade histórica deixa o exegeta semnenhuma escolha; ele deve interpretar o VelhoTestamento como apontando para Cristo, que ele deveentender à sua luz. Este fluxo de entendimento recíprocoé claramente estabelecido, tanto pela importânciahistórica do evento salvífico neotestamentário quantopelo movimento incessante de promessa e cumprimentono Velho Testamento [tradução] (von Rad1966:321,374)

... no Novo Testamento, a compreensãoveterotestamentária do mundo e da humanidade, quebrota da auto-revelação da vontade divina na orientaçãohistórica de Israel, encontra suas mais profundasaspirações imediatamente confirmadas e ampliadas deuma maneira que mal pode ser descrita por qualqueroutra expressão a não ser “cumprimento”. Por outrolado, a tensão mútua existente entre as proclamaçõesde sacerdote, profeta e sábio é espantosamente resolvidana salvação revelada em Cristo. Doutra sorte, a novairrupção da realidade de Deus no evento salvíficoneotestamentário, que aponta para o povoneotestamentário de Deus como herdeiros legítimos dopovo da antiga aliança, supera a falta de tentativa de

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por em prática a sua herança veterotestamentária, e aqual estava aleijada internamente a conduta na sua vidacotidiana [tradução] (Eichrodt 1961:519).

Para o cristão, portanto, o Velho Testamento não só éincompleto, mas clama por ser completado. Isto não quer dizer que oAntigo é apenas promessa e o Novo apenas cumprimento. Melhor dizerque o Antigo Testamento contém a história da promessa, às vezes nelamesma pelo menos parcialmente cumprida, mas a qual encontra umcumprimento substancial apenas no Novo. Sem dúvida, esta foi aperspectiva dos escritores do Novo Testamento (Marcos 1.15; Atos 1.7;Romanos 3.26; Gálatas 4.4; Efésios 1.10; Hebreus 1.2; 6.12; 7.6), masisto somente porque o próprio Antigo Testamento aguardava umcumprimento, e assim já contribuía para esta perspectiva no NovoTestamento. Ainda resta delinear mais a maneira como o VelhoTestamento contribui para o Novo.

A contribuição do Velho Testamento ao Novo

A inconclusão do Velho Testamento não diminue nem suaimportância máxima para a igreja e sua missão hoje, nem prejudica aunidade entre os dois testamentos. O Velho Testamento, por sersuperado, jamais é negado, e, sim, complementado pelo Novo.Conquanto seja verdade que o Novo completa e esclarece o Velho,igualmente urge a afirmação de que o Velho contribue para o Novo e oesclarece. O Velho esclarece as bases do Novo e traz à luz a meta doNovo.

O Velho Testamento esclarece as bases do Novo. O NovoTestamento depende do Velho e nele está arraigado. Cristo veio pararealizar a esperança do Velho Testamento, não para destruí-la esubstituí-la com uma fé nova e melhor. Os temas centrais na pregaçãode Jesus (o reino de Deus, o preceito básico do amor a Deus e aopróximo), a escatologia e a perspectiva missionária do Novo Testamentoencontram suas raízes no Velho Testamento.

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Por exemplo, a ênfase no povo de Deus como testemunha-fielde Iahweh que realiza sua missão centripetamente à medida quedemonstra padrões de justiça e verdadeira adoração e assim atrai asnações ao culto no seu meio, esclarece a atenção constante dada à vidamoral, social e espiritual da comunidade cristã nascente no NovoTestamento. Assim, as cartas “pastorais” são entendidas não comoexemplos de uma preocupação doméstica e tardia da igreja emcontraposição ao zelo missionário e escatológico dos primeiros anos daigreja primitiva, mas como correspondências para o povo de Deus nalinha de frente da batalha evangelística mundial.

Semelhantemente, a eleição e predestinação de Efésios 1 eRomanos 8 são esclarecidas não como doutrinas de privilégio e statuspassivos do povo de Deus, mas como o fundamento desafiador e prefáciopara o serviço ativo e missionário do povo de Deus empenhado naevangelização do judeu e gentio (Romanos 9-11) e todos os poderes epotestades (Efésios 3.10), para que o plano salvífico de Deus alcancesuas dimensões mais universais (Romanos 11.25-26, 32, 36; Efésios4.7-16). Estes são apenas dois exemplos de como o Velho Testamentoesclarece as bases do Novo.

O Velho Testamento também traz à luz a meta do Novo.Enquanto muitas promessas do Velho Testamento ou já se cumpriramou já tomaram corpo em Jesus, algumas destas, e outras, não foramrealizadas na história do mundo contemporâneo. Estas vão além dahistória de Jesus e motivam a igreja a uma espera ativa. Aindaaguardamos um novo céu e uma nova terra, a paz eterna entre nações ecriaturas, e o louvor de todos os povos rendido ao Cordeiro de Deus.Estas promessas do Antigo Testamento conduzem seus leitores às metasfinais, nos encorajando na tarefa missionária no nosso tempo e no nossomundo e nos sustentando na espera da consumação do reino de Deusainda por vir.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Algumas pessoas definem a evangelização em termos dapresença (testemunho de vida) da igreja no mundo. Outras

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pessoas incluem, além da presença, a necessidade daproclamação. Outras ainda alegam que não houve evangelizaçãose o evangelizando não estivesse persuadido. Qual é a relaçãodevida entre a presença, a proclamação e a persuação na tarefaevangelística da igreja?

2. Levante a sua Bíblia de tal modo que você enchergue as páginasmais puxadas do dorso. Quais são as partes da sua Bíblia quevocê lê mais? Por que? Qual é a importância de estudar econtemplar a Bíblia toda?

3. Dê alguns exemplos de “promessa” no Velho Testamento quese cumprem no Novo Testamento.

4. Qual é a relação entre o ministério pastoral e o missionário/evangelístico?

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NOVOTESTAMENTO

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O REINO DE DEUS

Os Evangelhos

O Novo Testamento, como o Velho, apresenta várias perspectivasdo papel que o povo de Deus exerce no mundo. Isto ocorre por razõesdiferentes daquelas que explicam a diversidade de perspectivas noAntigo Testamento. A abrangência histórica de centenas de anos noAntigo Testamento, além dos diversos ministérios em desenvolvimentodurante a sua composição, logicamente preparam o leitor para umadiversidade de perspectivas. Mas este não é o caso do Novo Testamento.Os estudiosos dizem que o Novo Testamento foi escrito dentro de 30 a70 anos. Portanto, por um lado há mais coesão literária e temático noNovo Testamento que no Velho Testamento.

Mas por outro lado há perspectivas diferentes também no NovoTestamento. Pois, os escritores do Novo Testamento eram pastores,líderes de comunidades cristãs primitivas, com os seus problemasespecíficos, regionais e sócio-culturais. E mesmo escrevendo com umtema em comum, a vida de Jesus, faziam-no lembrando das necessidadese das características peculiares dos seus leitores. Isto é, escreviam obrasliteralmente contextualizadas, e por isso, com os seus enfoquesespecíficos. Esta observação não precisa ferir a doutrina cristã dainspiração pelo Espírito Santo das Escrituras. Apenas qualificamos queo Espírito Santo estava inspirando não um dogma fixada e sistematizadaque nunca mais precisava de explicação e aplicação atual. Uma vezfeita esta observação, podemos apreciar a diversidade dos Evangelhos,e até seguir o seu modelo de especificação histórica e cultural. A partirdo Novo Testamento ainda continuaremos a reparar as diversasdimensões de testemunho do povo de povo frente os desafios concretosda sua vida no mundo.

Mas antes de repara a especificação e peculiaridade de cada umdos testemunhos no Novo Testamento, convém comentar alguma

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perspectiva que tinham em comum. Em síntese, todos os escritores doNovo Testamento concordavam que através dos eventos que cercavama carreira de Jesus de Nazaré, especialmente a sua morte e ressurreição,o Deus de Israel estava realizando uma grande transformação definitivana história do povo de Deus, inclusive entre os gentios. Os Evangelhos,especialmente os primeiros três, descreviam tal transformação utilizandoa linguagem antiga do prometido “reino de Deus”. É para este tema quevolvemos a nossa atenção.

Um tema comum

Jesus nunca definiu o reino de Deus, mas ensinou sobre ele, opersonificou e exemplificou.

Nos ensinos de Jesus. Há mais de setenta referências ao reino,por Jesus, nos Evangelhos. O tema se destaca desde o início até o fimdo seu ministério (Marcos 1.14-15; Atos 1.3). Liga a comissão dada àcomissão executada (Atos 1.1-5, 6.11, 2.1-13, 37-41). Serve até de chavede interpretação para compreender os seus ensinos.

Um exemplo é a sua interpretação da lei. Embora um judeu reto,Jesus usa a sua autoridade e sua própria experiência para colocar osvalores de compaixão e integridade interior, às vezes, em confrontaçãodireta com a interpretação da lei pelos que se opõem à ele (Marcos2.23-28; 3.1-6; 7.1-23). A subordinação de toda a lei ao mandamentodo amor bem descreve o espírito dos seus ensinos (Mateus 22.40 par.).O Deus que vem reinar é um Deus de compaixão esmagadora.

Um outro exemplo é o ensino de Jesus a respeito da reconciliaçãoe do perdão que reflete a sua experiência de Deus, também. A oraçãodominical, o “pai-nosso”, liga o perdão divino à reconciliação humana.Deve-se, portanto amar até o seu inimigo porque Deus nos amouprimeiro. A reconciliação precede, também, o ato litúrgico, o sacrifício(Mateus 5.23-24; cf. Mateus 18.21-35—o rei perdoador e o servo quenão perdoou).

Era o tema do reino de Deus que definia o conteúdo de muitasdas suas parábolas. Veja, por exemplo, as cinco parábolas sobre ademora da vinda do reino em Marcos 13.34ss; Mateus 24.43-25,30.

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Estas parábolas expressam a indiferença e a afrouxamento que a demorada volta do messias causa. São parábolas de crise para despertar osouvintes para a horrível seriedade do momento. Há também quatroparábolas a respeito da maneira como o reino vem: 1) já vem agora eisto é um mistério (Marcos 4.11 par.); 2) do semeador (Mateus 13.1-23; Marcos 4.1-9; Lucas 4.4-8); 3) do joio e da rede que serão separadossomente no fim (Mateus 13.24-30; 47s), do grão de mostarda e dofermento que indicam que um início insignificante provoca um resultadofinal de significado global (Mateus 13.31-33); e 4) do tesouro no campoe da pérola de grande valor (Mateus 13.44-46), indicando que o reinonão é conseguido por meios humanos, apenas encontrado por pessoasque sacrificam tudo alegremente para possuí-lo.

Na pessoa de Jesus. Mas é na própria pessoa de Jesus, no seucaráter e no seu ministério, que o sentido do reino tem que ser deduzido.Orlando Costas aptamente afirmou que “Jesus não era somente o arautodo reino como também a sua personificação”. Orígenes de Alexandriasustentou, mais enfaticamente ainda, “Jesus mesmo é o reino”.

Isto se evidencia, em primeiro lugar, no caráter de Jesus pela suapiedade. Jesus desfrutava dum relacionamento íntimo e livre com Deus.Chamava-o afetivamente de “abba”, “pai”. Compreendia Deus como oDeus de misericórdia e compaixão (veja as três parábolas demisericórdia—da ovelha, da moeda e do filho perdidos, em Lucas 15).Por isso, o chamado evangelístico era também um chamado para oarrependimento (Marcos 1.15).

Em segundo lugar, o conteúdo do reino de Deus se demonstravano ministério de Jesus pela sua compaixão por pessoas da periferia.Nos evangelhos, Jesus constantemente se associa com os membros dasociedade judaica considerados fora da lei e que eram excluídos daparticipação na comunidade religiosa e social de Israel. Ele tomavaceia com publicanos, que recolhiam impostos, com samaritanos,mulheres, estrangeiros. A misericórdia irresistível do Deus do reinoremove as divisas arbitrárias e sociais.

No ministério, Jesus enfatizava a libertação (Mateus 12.22-28;Lucas 11.14-23; João 8.32; Gálatas 5.1-13) não só para toda ahumanidade como também para toda a criação (Romanos 8.20-21). Asevidências desta libertação são os milagres e curas que anunciam a

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Igreja: Por quê Me Importar?

chegada do tempo da graça e da vitória sobre Satanás (Mateus 11.6“reino é chegado entre vós”). Mas é uma libertação integral:

Todas as linhas judaicas têm duas coisas em comumquanto ao futuro reino de Deus: 1) O reino de Deusainda não é dado como fato de Deus ser Senhor sobre odesenrolar da história; tem que ser exigido em oposiçãoao mundo. Isto ocorre em meio de juízo final, comoevento escatológico. 2) Sua realização provoca umanova história, uma situação cósmica que significasalvação para todos os que dela participam,especialmente para o povo de Deus. 3) A chamada parao discipulado é uma chamada para obediência, possívelpela habilitação mística do próprio Senhor. Não éapenas uma chamada para pregar, mas para declarar eenfrentar guerra total contra o mundo demoníaco, jáque o kurios é o Senhor de um reino universal...”—Goppelt

A missão que Cristo tem para seus discípulos, surge de umanova autoridade e de um novo poder e se expressa numa novamaneira de viver que pode ser vista e reconhecida por outrosno seu meio. O discípulo vive em tensão pois participa na criaçãoduma nova história na qual ele vive. É a tensão entre o ‘já’ doreino neste mundo e o ‘ainda não’ da consumação”—PedroSavage

“Quando Deus reina, Ele concede salvação para seu povo. Háligação íntima”—John Stott (veja Marcos 10.17,23,26—“oreino de Deus”, “a salvação” e “vida eterna”).

“Para Jesus, a vinda do reino de Deus não está incluída nahistória e subordinada à mesma, mas dá ao mundo presente,bem como ao futuro a sua feição”—Goppelt

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Os sinais de Deus no mundo

A igreja faz o seu papel mais crítico no reino vindouro e presentede Deus quando exerce a sua tarefa na mundo (Mateus 24.1-14—compare Mateus 28.20; 26.13; Marcos 13.10 e Atos 1.8). A sua missãoé penúltimo no plano escatológico e salvífico de Deus. Vem em segundolugar somente depois de glorificação de Deus pela humanidade e estáintimamente ligada a este “fim principal”.

“O sentido último da história entre a ascensão do nossoSenhor e a sua vinda em glória se acha na extensão ena operação do Evangelho no mundo”—George Ladd

Por isso, é importante reparar mais uma característica doministério de Jesus destacado nos primeiros três Evangelhos e ligadoao tema do reino de Deus: o papel dos sinais do reino.

Os sinais do reino. Historiador sobre o século I, Robert Grant,ressalta, “é difícil achar qualquer grão não milagroso no Evangelho”.1

Dos 661 versículos que se encontram no Evangelho Segundo Marcos,209 tratam de milagres. Há 35 milagres atribuídos a Jesus nosEvangelhos. Jesus não só pregou a chegada do reino de Deus comotambém a demonstrou através do ministério de cura, expulsão dedemônios e outros milagres. Estes faziam parte normal do seu ministério(Mateus 4.23). Até os judeus mais hostis a Jesus reconheceram-no comooperador milagroso de maravilhas e exorcista. Também Jesus deu aosseus doze discípulos a autoridade para realizar estas operações, comosinal e demonstração de que o reino estava próximo (Mateus 10.7), efez o mesmo para com os setenta discípulos (Lucas 10.8-9). Estes sinaisevidenciaram a chegada do reino e a vitória conseqüente sobre Satanáse seu poder (Mateus 11.22-28 par.)

1. Os termos dos sinais. É necessário esclarecer alguns termosusados na linguagem sobre os sinais. O Novo Testamento adota alinguagem da Septuaginta (tradução grega do Velho Testamento), emparticular, três termos: 1) to teras, sempre usado no contexto de semeion,para se referir aos “feitos extraordinários de Deus” (e.g., diante dos

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Igreja: Por quê Me Importar?

egípcios, Êxodo 7.3; Deuteronômio 4.34). No Novo Testamento o termodenota o evento extraordinário que aponta para Deus e se traduzgeralmente como “milagre”; 2) semeion, na Septuaginta se refere a todoacontecimento que aponta para Deus, especialmente para sua disposiçãode auxiliar; no Novo Testamento se traduz como “sinal”; e 3) dunamis,na Septuaginta refere ao poder de Deus que forma a história (e.g., alibertação no êxodo, Êxodo 6.26; 7.4; Deuteronômio 3.24); no NovoTestamento se traduz como “ação poderosa” (de Deus).

Nos Evangelhos Sinóticos, os judeus pedem um “sinal” a Jesusque deveria demonstrar com toda clareza a sua origem divina (Marcos8.11-13 par; Mateus 12.38 par; Lucas 23.8). Nos sinóticos, geralmentetem uma conotação negativa, mas em João é o conceito constante paraos milagres de Jesus no sentido positivo. A palavra dunamis, “açãopoderosa”, é usado nos sinóticos para os milagres de Jesus no sentidopositivo. Então, os milagres aqui são entendidos como exteriorizações dopoder que provoca salvação na história e a conduz rumo à salvação. Acura, em si, é inteiramente secundária ao seu poder (Mateus 11.21 par.).

Em relação à vinda do reino, os sinais suscitam a noção de que omomento escatológico havia chegado. A resposta de Jesus para JoãoBatista reivindica veladamente que, através de seu ministério milagrosoe de sua pregação, esteja ocorrendo o que foi anunciado para o tempoda graça (Mateus 11.2-6 par.).

Também, enquanto Elias e Eliseu realizavam sinais no AntigoTestamento, os sinais de Jesus possuem uma qualidade única.Distinguem-se de duas maneiras: 1) não julgam, e 2) em Jesus nãoencontramos (Lucas 9.51-56; 2 Reis 1.10) o milagre do castigo. A únicaocorrência parecida é a maldição da figueira (Marcos 11.12ss. par.),pois Jesus não traz o reino como demonstração de poder e julgamentocomo os judeus esperavam, mas através duma demonstraçãoincondicional, Jesus inaugura a época da graça.

2. A fé. Os sinais também estão ligados à fé. Por isso mesmoJesus podia recusar-se a executar um milagre espetacular porque seupovo era incrédulo (Marcos 6.5 par; Marcos 8.11ss. par.), pois umarevelação de Deus não permite uma posição neutra do observador, massignifica sempre ou graça ou juízo. Jesus se manifesta como o salvadorpara aqueles que crêem.

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O conceito de “fé” no Novo Testamento era algo completamentenovo no ambiente histórico religioso. No ambiente helenista nenhumareligião fazia propaganda duma fé em relação à divindade. O homemgrego devia refletir que o mundo é essencialmente divino. A filosofiaestóica baseava-se em conclusões racionais e o gnosticismo emfenômenos extáticos. No ambiente judaíco o importante era obedecer àTorá. A fé tinha que ser comprovada pela obediência à lei. Mas acompreensão de Jesus era diferente.

A fé, em primeiro lugar, era uma resposta à aflição (“Tua fé tesalvou”, Marcos 5.34 par; 10.52 par; Lucas 17.19; 7.50). No VelhoTestamento, sozein, “salvar”, designava a salvação de Deus, onde querque haja aflição. Neste sentido, os Salmos falam oitenta vezes,principalmente ao “pobre” ou “humilde” (anaw), como nas bem-aventuranças. É necessário “crer”, e ter fé em Jesus como libertadorque introduz o reino divino na terra.

A fé, em segundo lugar, se baseava em um encontro pessoal comJesus. A fé surge sempre e apenas no encontro individual e real com apresença de Jesus, quando Jesus se dirige a alguém que o procura emdeterminada aflição (Mateus 8.10 par, o centurião: “Não achei em Israelfé como esta”). Fé é a participação real e pessoal (veja o pronomepossessivo: “tua fé te salvou”), não só o saber e a certeza.

A fé toma forma apenas quando o indivíduo desiste de se auxiliara si mesmo e de ser altivo, e busca e encontra auxílio em Deus. Fé éabandono em direção à Deus. O termo hebraico, he‘emin, significareconhecer que uma pessoa que nos assegura algo, o possa cumprir. Fé,então é uma atitude humana somada à obediência e à confiança.Cooperação é necessária.

A base da fé está na autoridade de Jesus. As narrativas de curanunca falam da própria fé de Jesus, mas de sua exousia, de seu “poder”ou “autoridade”. Então não é uma potência religiosa vicária, mas o poder.

A fé, em terceiro lugar, é evidência da chegada do reino. Ascuras são eventos de cumprimento (Mateus 11.3 par) ou vinda do reino(Mateus 12.28 par). Quando pessoas se transformam em crentes eintensificam sua relação com Deus, tudo se torna são. Aliás, éespecialmente através da doença, mais do que por culpa edesconsideração social, que o homem nota que é “pobre”, isto é, alguémque depende totalmente de seu Criador. Essa condição pessoal é o ponto

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Igreja: Por quê Me Importar?

de partida para a fé. E fé significa salvação e sanidade corporal. Doabscôndito do novo (reino) vem a quebra da lei da recompensa: o homemrecebe graça onde deveria contar com desgraça e merecê-la.

3. Os sinais e a pregação. As curas eram diretamente ligadas esubordinadas à mensagem da alvorada do reino divino, a ser consumadobrevemente (Mateus 9.35). O propósito principal de Jesus não erameramente curar as pessoas, mas simbolizar e prefigurar a sua salvaçãono reino, e ao mesmo tempo, por este “sinal”, prepará-las para aqueleevento já alvorecendo e próximo a ser completado. Não são só“símbolos”, como também, e ao mesmo tempo, parte componente everdadeira destes eventos. Efetuam o que simbolizam, são sinais efetivosque causam o que significam. São vitórias reais na batalha. Eram estesatos de poder aliados à pregação de Jesus que tinham tanto impacto,como na igreja nascente (Atos 6.8,10). Michael Green, no seu livro, AEvangelização na Igreja Primitiva (Edições Vida Nova), cita numerososexemplos desta combinação de pregação e operações de sinais, desdeJesus e através da igreja apostólica e pós-apostólica até o século III.

IMPLICAÇÕES ATUAIS

O mínimo que se pode deduzir do ministério milagroso de Jesusé que a missão implica tanto em demonstração concreta da açãolibertadora e salvífica de Deus, quanto em anúncio desafiador de entrarnuma ordem inteira e radicalmente diferente de valores sob o governo,o senhorio de Jesus (Romanos 15.18-19; 1 Coríntios 2.4-5). Estademonstração atinge as áreas de mais aflição humana—fome, doença,pobreza, etc.—para evidenciar e efetuar este do reino no meio dummundo sujeito às maldades e corrupções espirituais, morais e sociais deSatanás. Esta demonstração nunca tem como alvo chamar a atençãoapenas para si, mas levar quem for atingido a um encontro pessoal ereal com Jesus, que inaugura o reino. A tarefa da igreja, portanto, antesda formação doutrinária e institucional, é a participação humana eprofunda com Jesus, isto é, a fé no libertador. Esta tarefa procura instilara fé, antes que compromissos eclesiásticos e doutrinários. As fronteirasda tarefa da igreja no mundo se caracterizam pela presença de “sinais”,como símbolos e evidências do reino em avanço e como causadores

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deste avanço. Onde esta tarefa está avançando, podemos esperar apresença de sinais, e onde não se evidenciam, então este avanço é maislento.

O povo de Deus não é um povo viajante e aventureiro à procurade novas conquistas geográficas e culturais, e sim, um novo peregrinoque, olhando para o reinado e senhorio do Senhor, edifica umacomunidade de discípulos e seguidores de Jesus que, por sua vez, têmcomo valores do reino a justiça e a compaixão.

O mandato de Jesus para missão não se reduz a uma ordem ou leilegalista, mas surge da identificação com o Messias sofredor e ressurretoe está inseparavelmente ligado ao dinamismo do Espírito Santo, quetambém une o povo de Deus para ser uma comunidade missionária.Este mandato alarga o próprio ministério de Jesus através de seusdiscípulos. O estilo e o exemplo dele são definitivos para os seusdiscípulos.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. A pregação da palavra e a aceitação pelos ouvintes sãoevidências suficientes da chegada do reino de Deus? Falta algomais?

2. De que maneira o processo de institucionalização eclesiásticapode desviar a igreja da sua missão integral?

3. Podemos estabelecer uma analogia entre os diferentes contextosantigos que levavam para nuanças diferentes entre osEvangelhos e as diferentes personalidades (e ênfases teológicas)de denominações contemporâneas?

1 Historical Introduction to the New Testament, 1963.

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AS BOAS NOVASSOBRE JESUS

segundo Mateus

O Novo Testamento do início até o fim, é um livro sobre atarefa da igreja no mundo. Os Evangelhos são “gravações vivas” dapregação missionária, bem como as Epístolas, que serviam comoinstrumentos autênticos e reais da obra missionária. Ambos servirampara consolidar, exortar e incentivar as primeiras igrejas cristãsemergentes. As comunidades de todos os Evangelhos eram mistas—havia tanto judeus quanto gentios conversos—e por isso, os Evangelhosrefletem tal mistura de audiência original. Os Evangelhos, porém, nãoforam escritos para não-crentes, e sim, para as igrejas em si, parajustificar, renovar e motivar a compreensão da igreja sobre a sua herançado ministério de Jesus que quebra todas as divisas humanas.

No último estudo enfatizamos uma mensagem e um tema quetodos os Evangelhos têm em comum: o anúncio da inauguração do reinode Deus por Jesus. No presente estudo, sem perder de vista este temacomum, queremos enfocar a ênfase específica que Mateus dava ao seutestemunho a Jesus.

Ênfases do Evangelho de Mateus

Jesus: o Filho de Israel e o inaugurador da nova época dosgentios. O Evangelho de Mateus foi escrito logo depois da revoltajudaica, cerca de 80-90 depois de Cristo, para uma igreja urbana naSíria, quando havia uma transição entre o cristianismo judeu e ocristianismo gentio. Por isso Mateus fala de Jesus tanto como o Filhode Israel1 quanto o Inaugurador da nova era de salvação, que se estendepara todas as nações. Esta última referência à extensão universal doministério de Jesus é central ao Evangelho de Mateus (Mateus 28.16-

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Igreja: Por quê Me Importar?

20) embora, às vezes, o Evangelho vacile entre uma perspectiva maisexclusiva e uma inclusive de salvação.

Jesus: o evangelho do reino. Marcos era a fonte principal doEvangelho segundo Mateus, mas este último usa também outras fontes.E assim como Marcos e os outros Evangelhos, adotou o método literáriode narrativa. Porém, Mateus começou mais cedo no seu relato queMarcos, falando do nascimento de Jesus. Além disto, concluiu maistarde, com as aparições em Jerusalém e Galiléia, e entrou assim dentroda própria história da igreja de Mateus.

Mateus continuou o tema do reino como Marcos, mas muda otermo para “o reino dos céus”, simplesmente para não ofender a suaaudiência judaica que teria se chocado pelo uso da referência direta aonome de Deus. Porém, ele fala especificamente do evangelho do reino,dando ênfase ao “evento” inteiro do ministério de Jesus. Encontrar oreino para Mateus, é principalmente encontrar Jesus. Há outros temasde destaque no Evangelho segundo Marcos que Mateus não desenvolve(ex., o templo e a polaridade entre Galiléia-Jerusalém não são centrais).

Jesus: a “dobradiça” da história da salvação. A salvaçãoque experimentamos a nível pessoal e espiritual, na Bíblia, dependedum processo antes coletivo e histórico. Deus age com a humanidadeem geral e com um povo específico através de eventos na sua históriaque revelam progressivamente a vontade de Deus. Chamamos esteprocesso de história da salvação. Jesus é o ponto crucial e transformadorde toda a história. Inaugura a nova era gentílica. A morte e ressurreiçãosão o clímax da história pessoal de Jesus, dão significado à sua missão,e sinalizam o início da nova era que ele inaugura. Mateus releva o eventoda morte e da ressurreição mais que Marcos, pois também relata umasérie de eventos cósmicos: terremotos, pedras rachando, e sepulcros seabrindo. Há uma transição em Mateus, duma missão de salvação limitada(10.5; 15.24) para uma missão inclusiva (24.14; 28.19). Assim, a missãoda igreja para os gentios não é acidente da história, e sim, conseqüênciadela, e isto é o propósito de Deus.

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Jesus: o cumprimento das promessas para Israel. TambémMateus enfatiza que Jesus cumpriu as promessas feitas para o povojudaico, não revogando a lei (5.17). Jesus é até descrito como o novoMoisés. Ao mesmo tempo, Jesus é rejeitado por Israel. A vida de Jesus,portanto, exige uma resposta: aceitação ou rejeição (veja a parábola dovinhedo, 21.33-46, versículo 43 é um acréscimo à parábola registradaem Marcos). A rejeição dos judeus se torna paradoxalmente a aberturapara as nações.

Jesus exige uma resposta de fé. A resposta apropriada a Jesus eà sua mensagem inclui uma fé ativa na sua pessoa (8.1-4, 5.13; 9.18-31;15.21-28). A fé dos discípulos é mais evidente em Mateus do que emMarcos (cf. Mateus 14.33 e Marcos 6.52), mas ainda é pouca fé (6.30;8.26; 14.31; 16.8). Esta fé, em Mateus exige “entendimento” (em Marcosos discípulos não entendem, mas em Mateus entendem: cf. Marcos 8.21 eMateus 16.12). Também exige “obediência”, demonstrando que Mateustem preocupação por uma fé ativa (7.24-27; 5.19).

O desafio evangelístico

No período medieval e logo depois, pensava-se que os apóstolostivessem subdividido o mundo entre eles e completado a evangelizaçãodo mundo. Embora Lutero tenha achado que isto era bobagem, nem elenem Calvino fizeram muito para mudar esta idéia. O primeiro quesucedidamente desafiou esta perspectiva popular foi Guilherme Carey,que em 1792 publicou um livro pequenno com o seguinte título longo:“Inquérito sobre a obrigação dos cristãos usarem meios para a conversãodos pagãos”. Disse que o mandato de evangelizar em Mateus 28 apareceno mesmo contexto que o mandato de batizar e da promessa da presençade Jesus. Já que se reconhecia a validade atual destes últimos, deveria-se também reconhecer a validade da obrigação evangelística. Eleenfatizou que a “grande comissão” é uma ordem para ser obedecida.

Nossa dívida a Carey pela reconhecimento da importância atualda “grande comissão” é, sem dúvida, enorme. Mesmo assim, a colocaçãodesta comissão como ordem e obrigação não é tão boa. De fato, estaorientação predomina popularmente até hoje. Vale a pena notar, porém,

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Igreja: Por quê Me Importar?

que nenhuma das passagens paralelas contém própriamente umimperativo para evangelizar. E, curiosamente, a igreja primitiva nasepístolas, nunca fez nenhum apelo a tal mandamento. Isto é porque amissão surge não de ordem e sim de Pentecostes. Era uma dívida degratidão e não de dever. Missões não se define por “ir”, e sim por“fazer discípulos” onde quer que estejamos (cf. Romanos 15.20).

Esta dívida se encontra nos Evangelhos como o último desafiode Jesus. Foi relatado cinco vezes (enquanto o Sermão no Monte foirelatado duas vezes, o grande mandamento três vezes, e a oraçãodominical duas vezes). São palavras pronunciadas entre a ressurreiçãoe a ascenção de Jesus. São relatos escritos após a ressurreição, aliás,depois até das epístolas, portanto, refletem as preocupações também daigreja primitiva já estabelecida. Os próprios Evangelhos já são atosmissionários. Assim, queriam chamar as pessoas à uma decisão de féem Jesus.

O mandato está sempre ligado à ressurreição de Jesus que a revelacomo o resultado da coroação de Jesus como Senhor. Portanto, o períodoentre a ressurreição e a segunda vinda não é um simples período vazio,mas o período de evangelismo quando o domínio do Senhor é expandidouniversalmente (veja Filipenses 2.5-11 e I Coríntios 15.23-28).

Aprofundando mais...

É importante reparar o contexto da passagem: os discípulosestavam entre a adoração e a dúvida (Mateus 28.17)! A passagem écompreendida em três divisões. Primeiro, há uma declaração deautoridade que lembra de Daniel 7.13-14 e do interrogatório de Jesuspelo Sinédrio em Mateus 26.64. Tanto o local, a montanha (sempre olugar de revelação em Mateus), quanto a atividade dos discípulos, aadoração, ressaltam a autoridade de Jesus. Certamente ele já possuíaautoridade antes (curando, libertando, ensinando, etc.) mas agora é lheatribuida “toda” autoridade “nos céus e na terra”, tendo uma dimensãode extensão universal. Todos os relatos enfatizam que a autoridadesalvífica e libertadora procede dele, a vítima que se tornou vitoriosa.

A segunda divisão, indicada pela conjunção “portanto”, indicaque o mandato segue como conseqüência da coroação do Senhor

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ressurreto e da autoridade que isto traz. Em síntese, a proclamação doevangelho é a proclamação do seu senhorio. A missão é a manifestaçãodo seu domínio universal. O verbo “ir” é secundário, e ligadogramaticalmente ao verbo principal “discipular”. Desta forma, os doisjuntos se referem a uma só ação, a ação não de ir para algum lugar, masa ação de fazer discípulos. O verbo “ir” serve como reforço à ação doverbo “fazer discípulos” e acrescentando uma nota de urgência. Pode-se traduzir assim: “ide fazer discípulos”, ou passando a terceira pessoasingular: “vá fazer discípulos”. É a tarefa, portanto, e não a localidadeque é importante. Missão é trazer pessoas a Jesus, como Senhor, ondequer que estejam. Missão ocorre em todo lugar onde o senhorio deJesus não penetrou toda faceta da vida humana.

A idéia do “discípulo” cristão é semelhante à idéia do discípulodo rabino, mas também é diferente das seguintes maneiras: o discipuladocristão se liga a Jesus em si. Jesus está no centro do relacionamento enão a Torá. O discípulo cristão é chamado por Jesus e não vice-versa,tem relacionamento permanente com Jesus, e transmite não só os ensinosdo mestre como dá testemunho do próprio mestre. Finalmente, Jesusnão debate com alunos como os rabinos o fazem. Jesus debate só com aoposição. O discipulado em Mateus 27.57 se assemelha à espera pelavinda do reino em Marcos 15.43.

Esta segunda divisão da passagem, que afirma a atividademissionária contínua, ainda define o discipulado pelos verbos qualificativos,“batizando” e “ensinando”. Estes descrevem o conteúdo do discipulado eo coloca no contexto de ingresso na igreja. “Guardar todas as coisas quevos tenho ordenado” é uma alusão clara a Mateus 19.17. Em outros lugaresse resume com “fazer justiça” (Mateus 5.20, 6.33).

Se “batizando” e “ensinando” definem o conteúdo dodiscipulado, as “nações” (ethne), definem o seu alvo. Este termo não serefere apenas a grupos sociologicamente definidos como grupos étnicos,mas também é uma distinção religiosa diferenciando o judeu do não-judeu (como o hebraico que o traduz, gôyim). Mas nem sempre é umareferência apenas aos gentios, pois pode também se referir ao mundointeiro (compare Mateus 24.14; Marcos 13.10; Marcos 16.15 e Mateus26.15) incluindo tanto os judeus como a pluralidade de povos distintos(Salmo 72; Isaías 66; Apocalipse 5.7). O discipulado se destina a todos,sem distinção, do mundo inteiro.

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Igreja: Por quê Me Importar?

Finalmente a terceira divisão abrange a promessa da presençado Senhor (a autoridade que dá o mandato) na tarefa que a igreja recebe.Esta promessa é o maior dom que a igreja recebe, e é a maior e últimapromessa de Jesus, válida até os dias de hoje. Ela nos lembra do iníciodo Evangelho e o nome dado a Jesus, “Emanuel”2 , “Deus conosco”.Estas palavras são, então, uma recapitulação das promessas implícitasem Mateus. Mas também são uma antecipação, pois ligam missão aofim. Missão é uma expectativa escatológica da realização plena doreino de Deus, quando a justiça definitivamente se instalará.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Qual é a relevância do enfoque específico de Mateus para asigrejas no Brasil?

2. Como você relaciona o Jesus Cristo ao nosso modelo paramissões hoje?

3. Qual é a ligação entre a ressurreição e missões?

4. O uso de expressões e conceitos regionais e não judaicos servecomo modelo para a comunicação do evangelho hoje? Como?

5. Quais são principais barreiras para que sejamos “imitadores deCristo” no nosso testemunho no mundo? Como podemos vencê-los?

6. Podemos realmente “encontrar pessoalmente” com Jesus hoje?Como?

1Mateus cita o Velho Testamento 40 vezes, das quais 20 vezes são independentes de Marcos eLucas para mostrar que Jesus cumpre a aliança veterotestamentária e é o “novo Moisés”.2Ligado ao conceito rabínico de Shekinah, com uma missão perigosa (cf. Josué 1.5; Isaías43.2,5)

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AS BOAS NOVASSOBRE JESUS

segundo Marcos

Marcos escreveu o primeiro dos Evangelhos, ou logo antes oulogo depois da destruição de Jerusalém, no ano 70 depois de Cristo,talvez em Roma (embora alguns pensem ter sido na Palestina ou Síria).“Marcos” provavelmente era João Marcos (Atos 12.12, 25; 15.37, 39;Colossenses 4.10; 2 Timóteo 4.11; Filemon 24; 1 Pedro 5.13).

O Evangelho fielmente transmite o conteúdo e intentos básicosdo ministério do reino de Jesus. Apresenta o reino como a nota chavedo ministério de Jesus (1.14-15) e depois descreve toda a extensão dasua atividade que define o sentido do reino, sendo a sua morte e a suaressurreição o ingrediente principal.

A dinâmica do estilo narrativo. Marcos, como os demaisevangelistas, interpreta a missão de Jesus de várias maneiras. Primeiro,o mero fato de empregar o estilo literário da narração favorece a nossacompreensão de Jesus e da sua mensagem como sendo dinâmicos e nãoestáticos. Somente uma narrativa pode capturar isto. Marcos acreditana comunicabilidade inerente da pessoa e da mensagem de Jesus.

A estrutura do Evangelho. Quanto à estrutura da narrativa,no prólogo (1.1-13), a missão de Jesus está ligada à missão escatológicade João. A seguir, na primeira seção (1.14-8.21), o ministério de Jesus,ministrando o reino de Deus, ocorre na Galiléia. Há um ministério decura, ensino e confronto profético. Na segunda seção (8.22-10.52), otema gira em torno do sofrimento. A audiência é quase exclusivamentecomposta por seus discípulos (sem as multidões) ainda na Galiléia, masjá em transição para Jerusalém. Na terceira e última seção (11.1-16.8),o enredo se intensifica nos temas de oposição, sofrimento e morte. Olocal muda para Jerusalém. O tema da peregrinação de Jesus permeia

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Igreja: Por quê Me Importar?

todo o Evangelho, sendo anunciado em 1.2-3, e prefigurado no ministériode João (1.4-8). Jesus está peregrinando e todo o relato implica que aigreja deve seguí-lo, caminhando além de seus limites tradicionais. Estaestrutura, no mínimo, reforça o dinamismo da pessoa e ministério deJesus.

O Jesus histórico. Marcos especialmente descreve Jesus comouma figura dinâmico e comunicável. Aliás, o fato de Marcos concentrarem tantos detalhes da vida e ministério de Jesus mostra o tanto que oJesus histórico era considerado. Marcos e os outros Evangelhosconsideram a significância da sua morte e ressurreição à luz de todo oseu ministério histórico, não como Paulo, que não menciona nenhumdetalhe da carreira de Jesus antes da sua morte. Em Marcos, a definiçãoda missão da igreja se torna uma recitação histórica da vida de Jesus.

Uma “missão” não exclusiva. A inclusividade da missão deJesus no Evangelho revela uma outra convicção do autor quanto aresponsabilidade missionária da igreja. Isto se evidencia pela maneiraque Marcos organiza as palavras de Jesus pelo uso de geografia, deGaliléia até Jerusalém. Na Galiléia a população era mista. Era o lugarde abertura para a pregação entre os gentios. Por sua vez, Jerusalém erao lugar de oposição e morte. A sua população era judaica. Depois dasua morte, Jesus envia seus discípulos de volta para Galiléia, o lugar doseu ministério do reino, para uma missão universal (14.28; 16.7). Omar da Galiléia (4.35-8.21) é paradigmático: de um lado, os judeus, dooutro, os gentios. Jesus vai e volta várias vezes, um ato que Marcosinterpreta como uma indicação de que o evangelho é tanto para judeuquanto para gentio.

A inclusividade da missão de Jesus em Marcos se evidencia norelato do centurião gentio que é o primeiro ser humano a confessarabertamente que Jesus é o filho de Deus (15.39). E é dentro destaperspectiva que enquanto a pregação se dirije primeiro para o judeu(7.27-28), há uma abertura de espaço para a comissão universal (13.10).Aqui lemos da rejeição de Jesus pelos judeus e a conseqüente aberturado evangelho para os gentios que começa na primeira parte doEvangelho, mas alcança o seu clímax na terceira, onde em JerusalémJesus encontra a oposição dos judeus.

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Em terceiro lugar, a inclusividade da missão de Jesus aparecena referência ao novo templo não feito pelas mãos (capítulos 11-15).Este será uma “casa de oração para todas as nações” (11.17) e substituiráo templo. A mesma mensagem é dada pela referência aos “outros” naparábola do vinhedo (12.1-2) e pelo enfoque no véu que se rasga namorte de Jesus. O evangelho se destina a todos, judeus e gentios.

O discipulado. Uma outra maneira que Marcos interpreta amissão de Jesus é pelo relevo dado o discipulado. Marcos define“discipulado” em termos da resposta que os seguidores dão a Jesus. Odiscípulo deve ser um “pescador de pessoas” (1.16-20; 2.14). Porém,nem sempre os discípulos responderam positivamente; eles nãoentenderam as parábolas e alguns milagres, não sabiam responder aquestão da identidade de Jesus, dormiram no Getsêmani e na sua morteum o traiu (Judas) enquanto um outro o negou (Pedro). Assim, osdiscípulos exemplificam tanto a resposta certa quanto a resposta erradaque deve ser dada à identificação de Jesus.

Jesus, a revelação de Deus. Finalmente, Marcos compreendeJesus como a revelação de Deus. Sua identidade transcendente sempreaparece no Evangelho: quando declarado Filho de Deus no batismo(1.11) e na transformação (9.7); nas curas e nos exorcismos; e pelasreações que Jesus provocava nas pessoas (temor e reverência 1.27; 9.32;silêncio 16.8).

Em tudo isto, pela pregação do reino de Deus, pelacomunicabilidade de sua pessoa, pela universalidade da sua missão,pela resposta que exige de quem queira ser seu discípulo, e por ser arevelação de Deus, Marcos enfatiza a importância da pessoa de Jesuscomo o Cristo cósmico.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Qual é a relevância do testemunho de Marcos para a igreja noBrasil?

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Igreja: Por quê Me Importar?

2. A igreja deve peregrinar “além dos seus limites tradicionais”?Como? Quem são os nossos galileus?

3. Que estratégia a igreja pode usar para estender suas tendas,lembrando o Evangelho de Marcos?

4. Como você vê a pessoa de Jesus? Quem era ele, a final decontas?

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AS BOAS NOVASSOBRE JESUS

o Evangelho de Lucas

Os dois volumes de Lucas, o seu Evangelho e os Atos dosApóstolos, podem ser a apresentação mais clara da missão da igreja emtodo o Novo Testamento. O fato de Lucas ligar a história de Jesus àhistória da igreja indica que um dos seus propósitos era mostrar orelacionamento entre os dois.

Especialmente no “terceiro mundo”, há muito interesse naperspectiva de Lucas por causa da sua ênfase no caráter profético doministério de Jesus, e por causa do seu confronto com questões deinjustiça. Além disto, o relato por Lucas do desenvolvimento dacomunidade primitiva, nos oferece a melhor fonte de informação sobrea história da igreja primitiva. Portanto, pessoas interessadas tanto nahistória quanto no ministério social, freqüentemente recorrem a Lucas.

É difícil identificar a situação da igreja de Lucas. Seus doisvolumes provavelmente foram escritos depois de 80 d.C., eprovavelmente para uma igreja de maioria gentílica. Havia umaperseguição talvez tanto dos judeus quanto dos pagãos. Mesmo assim,o tom do Evangelho é mais positivo que negativo. Seu objetivo é de,ousadamente, urgir seus colegas cristãos para penetrarem no mundocom o mesmo Espírito de Jesus e da primeira geração de discípulos.

A “ordem” (Lucas 1.3) que Lucas menciona na sua exposiçãonão se refere a uma simples recitação cronológica impassível doseventos, mas reflete o seu entendimento da significância da história deJesus. Seu relato demonstra que uma preocupação principal era a defortificar a missão inclusiva e contínua da comunidade de Jesus, queele havia estabelecido através do seu ministério dinâmico do reino.

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Igreja: Por quê Me Importar?

Ênfases de Lucas (vv. 24.44-49)

O elo entre seus dois volumes é Lucas 24.44-49, e o seu eco,Atos 1.3-8. Esta passagem sintetiza o enfoque e propósito do Evangelhoe, ao mesmo tempo, prepara o leitor para a continuação da saga nolivros dos Atos dos Apóstolos. O seu propósito é instruir a igreja sobrea natureza e o escopo da sua tarefa no mundo. As característicasprincipais destas passagens são:

1. Uma afirmação do Cristo ressurreto sobre o ministérioque a igreja deve cumprir depois que Jesus volta ao Pai (v. 44). Anatureza da tarefa da igreja se tornou evidente e clara apenas depois dapáscoa. Mesmo assim, o reconhecimento não veio facilmente. Foiatravés do poder e da intervenção do Espírito que os apóstoloscompreenderam plenamente que eram chamados para irem “até osconfins da terra”.

Lucas nos relata que essa tarefa da igreja está arraigada naprópria história de Jesus. Como em Mateus, a comunidade recebe a suamissão pela autoridade de Cristo (Mateus 28.19); aqui também estamissão deve ser realizada “em seu nome” (Lucas 24.47). Por isso oevangelho serve de paradigma para a tarefa da comunidade. Todas ascaracterísticas do ministério de Jesus, portanto, se manifestarão na tarefada igreja no mundo.

2. O cumprimento das escrituras (v. 44). Cristo deixa claro eexplícito aquilo que interliga todo o evangelho: ele cumpria “tudo oque de mim está escrito na Lei de Moisés, nos profetas e nos Salmos”(compare Levítico 24.20). Esta perspectiva é semelhante a de Mateus eaté de todo o Novo Testamento que enxergava na pessoa e no ministériode Jesus o cumprimento do plano divino de salvação profeticamenteexpressado no Velho Testamento. Assim, há continuidade com a herançade Israel.

É significante que Lucas entenda que o cumprimento dasEscrituras não se dava apenas na história de Jesus, mas também nahistória da comunidade, pois todos os elementos de v. 46-48 encaixamsob o título “Assim está escrito”; a morte e ressurreição de Jesus, a

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proclamação mundial da conversão e perdão, e o dom do Espírito paraa comunidade testemunha.

3. A tarefa da igreja no contexto da ressurreição de Jesus.Lucas, junto com os outros Evangelistas, encarou a morte e a ressurreiçãocomo o ápice na história de Jesus. A narrativa da jornada iniciada emLucas 9.51 e continuada até a entrada em Jerusalém (19.41) focaliza orelato nesta direção. O sofrimento de Jesus passa a ser um padrão daobra de Deus na história e era necessário para Jesus (24.26) como erapara os profetas de Israel (13.34) e serve de padrão para a própriacomunidade de testemunhas.

A mensagem de salvação chegará às nações em e através desofrimento: o aprisionamento dos apóstolos se torna uma oportunidadepara pregação (Atos 5.40-42), a morte de Estevão traz a mensagempara Samaria (Atos 8.4-5) e aos gregos (Atos 11.19-21), e asperseguições e dificuldades de Paulo não impedem o Espírito (Atos28.30-31).

O restante da passagem chave de Lucas (24.47-49) descreve oestilo e conteúdo da missão da comunidade.

4. O chamamento para a conversão e a promessa de perdão.O chamamento para conversão implica em compromisso total e a reaçãoao evangelho deve ser deliberada e aberta (veja as parábolas em Lucas14.28-33). Continua logo no início da pregação da comunidade primitiva(Atos 2.37-38) e serve como um tema dominante dos dois volumes.Assim, Lucas lembra à comunidade que a salvação permanece o alvoda tarefa da igreja no mundo.

5. A tarefa deve ser inclusiva (v. 47). A tarefa começou emJerusalém e se expandiu para todas as nações (Lucas 24.47). A origemda missão em Jerusalém destaca o cumprimento de Jesus para Israel, eo local predomina especialmente em Lucas (Lucas 1.9; 2.41-52; 9.51-19.40; 24.49,52; Atos 1.4). Jesus, que cumpre o Velho Testamento, fazo clímax do seu trabalho messiânico em Jerusalém (Lucas 13.33) e é deJerusalém que a comunidade cristã parte para a sua missão. A missãoda igreja continua o plano de Deus para salvação que começou em Israel.

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Igreja: Por quê Me Importar?

6. A tarefa da igreja quebra todas as barreiras humanas.Mesmo Lucas, reconhecendo que a igreja tem raízes judaicas, afirmaque a sua missão vai além de qualquer barreira humana. Toda a estruturade Atos demonstra esta quebra, assim como o evangelho penetra desde“Judéia e Samaria até aos confins da terra” (Atos 1.8). Lucas,eventualmente, baseará esta universalidade na vontade de Deus (Lucas4.14,18; Atos 10.34).

7. Os apóstolos são “testemunhas” (v. 48). Os doze apóstolosformam uma ligação viva entre a história de Jesus e a história da igreja.A perseverança se torna uma associação crucial para eles na perspectivade Lucas (veja a lista de pré-requisitos em Atos 1.21-22). Eles fazemum papel muito importante no início da missão da igreja e ocupammuito da atenção de Lucas até o foco em Paulo, a partir do capítulo 15.

8. A fonte sustentadora e direcionadora da missão: o EspíritoSanto (v. 49). Sem dúvida, isto é um tema que domina todo o relato deLucas. O próprio ministério de Jesus inaugura a era do Espírito. O domdo Espírito para a comunidade é o verdadeiro resultado da obra redentorade Jesus (Lucas 24.49; Atos 1.4-5). Começando com o Pentecostes eatravés de todo o relato em Atos, o escopo cada vez mais abrangente emais largo da missão da igreja é atribuído a obra do Espírito.

Os elementos básicos da perspectiva missionária de Lucas sãoresumidos então em Lucas 24.44-49, e entrelaçam e ligam os seus doisvolumes. Destacamos, agora, estes elementos no Evangelho segundoLucas.

Aprofundando mais... (todo o Evangelho)

1. O escopo universal da tarefa. Apesar das restriçõesgeográficas do ministério de Jesus, Lucas claramente destaca a suapotência universal. O cântico de Simeão expressa o tema na infância deJesus: “luz para revelação aos gentios e para glória do teu povo deIsrael” (Lucas 2.32). Todo o clima destes primeiros capítulos enfatiza otema. O nascimento de Jesus exige a marcação dum imperador mundial,

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Augusto, e o seu governador, Quirino (2.1-2); e o seu ministério émarcado pelo reinado de Tibério (3.1). Isto coloca a vida de Jesus aonível de eventos mundialmente significantes. O tema é ecoado de novona citação de Isaías, “e toda a carne verá a salvação de Deus” (Lucas3.6). Paulo também ecoará Isaías 40.5 na conclusão de Atos, quandoele vira que a salvação passou dos judeus para os gentios: “tomai, pois,conhecimento de que esta salvação de Deus foi enviada aos gentios”(Atos 28.28). Esta universalidade se encontra no próprio ministério deJesus, onde sua força pode ser sentida na dramática cena inaugural doseu ministério em Nazaré:

“O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que meungiu para evangelizar aos pobres; enviou-me paraproclamar libertação aos cativos e restauração da vistaaos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, eapregoar o ano aceitável do Senhor” (Lucas 4.18-19,veja Isaías 60.1-2a).

Aqueles na periferia—os pobres, os cativos, os cegos, e osoprimidos—são especialmente os recipientes do ministério de Jesuscheio do Espírito. Aqui Lucas está prevendo literalmente asconseqüências últimas do ministério de Jesus: um ministério compublicanos e pecadores (Lucas 5.27-32; 15.1-2, ...), com mulheres, ocenturião gentio (7.1-10) e samaritanos (9.52-55; 10.30-37; 17.11-19),com leprosos (5.12-15) e com pobres (16.19-31; 18.18-27). Lucas deixaclaro que esta característica universalista do ministério de Jesus se tornouo padrão para a igreja primitiva (Atos 10.38).

2. A continuidade com a história de Israel. Jesus é o Messiase filho davídico de Deus (1.32,35,68-79; 2.11; 3.22). A expectativa deZacarias, Isabel, Maria, José, Simeão, Ana e os pastores demonstra queo nascimento de Jesus é o clímax das promessas para Israel. A genealogiade Jesus é traçada através da linha davídica desde Abraão, Adão e desdeaté o próprio Deus (3.23-28). Jesus afirma que a promessa messiânicade Isaías 61 se cumpre na inauguração de seu ministério (4.17-22).

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Igreja: Por quê Me Importar?

A necessidade de sofrimento está de acordo com os profetas deIsrael (20.9-10), e a necessidade explícita de se esforçar para Jerusalém(17.24; 18.31-34; 24.7,26,44 e também Atos 17.3; 26.22-23) mostraque a morte de Jesus é o clímax da obra salvífica de Deus para com oseu povo Israel. Jesus é o Filho de Deus (20.17) e seu nome funda acomunidade messiânica (22.28-30).

3. A missão da salvação. O conteúdo do ministério da igreja éo mesmo do ministério de Jesus: o arrependimento e o perdão (Atos2.38; 3.19,26; 8.22; 10.43; 13.38; 17.30; 20.21; 26.18,20). Esteministério é anunciado por Zacarias (Lucas 1.77) e prefigurado em JoãoBatista (Lucas 3.3, veja a definição por João em 3.7-14).

No ministério de Jesus (Lucas 4.31ss) a palavra “perdão”, afesis,significa libertação. Jesus não só “perdoa” (5.20; 7.47-48; 28.34) comotambém “liberta” aqueles amarrados fisicamente por dor, doença, etc.(13.10-17). Lucas, como os outros Evangelistas, indica que a libertaçãoé libertação de Satanás, o mal último (4.13; 22.23-28; 11.20).

O chamamento para conversão é parte essencial da missão deJesus de salvação. Implica em transformação, metanoia (24.47; 3.3;5.32; 15.7,9,32). As exigências do discipulado são uma forma intensivadeste chamamento à metanoia. Os candidatos para o discipulado devemcalcular o custo e reconhecer a necessidade de renunciar todo obstáculopara o compromisso completo, antes de embarcar no caminho dodiscipulado (14.25-33).

4. A formação da comunidade. Os discípulos juntaram-se nofim do Evangelho (24.33) não só para continuar a missão de Jesus noperíodo pós-páscoa, mas como resultado final daquela missão. Opropósito da missão de Jesus era restaurar Israel (1.68-79) e formar opovo de Deus. O relato de Pentecostes conta o clímax desta formação(Atos 2.43-47). Pois o propósito de Deus, que Lucas destaca, é que“toda carne” se incorpore no povo de Deus, todos que temem a Deus ese comportam justamente (Atos 10.34).

O tema da “refeição” é usado para reforçar esta formação degente, a despeito de divisas humanas (Lucas 5.29-32; 7.34; 15.1-2; 7.36-50; 19.1-8; 22.19-20; 24.13-35, 41-43). Assim, em Atos, a comunidade

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pelejará para se assentar à mesa dos gentios. A parábola do banqueteilustra esta preocupação de incluir todos na salvação de Deus,especialmente os menos esperados (14.15-24; veja 13.29). Em Lucas,isto é ilustrado pelo grande número de vezes que o socialmentemarginalizado responde, até melhor que os judeus (o centurião—7.1-10, a pecadora—7.42-50, as cidades de Tiro e Sidon—10.13-14, a rainhado sul e os cidadãos de Nínive—11.29-32, o leproso samaritano—17.11-19, o Samaritano amoroso—10.25-37, o pobre Lázaro—16.19-31, opublicano arrependido—18.9-14 e a pobre viúva—21.1-4).

O direito de ser incluído na comunidade do povo de Deus, portanto,não depende da herança ou do status de alguém, mas somente da sua posiçãoe atitude que assume para com o convite universal de Deus.

5. Os testemunhos perseverantes. Já vimos em Mateus eMarcos que aqueles que encontram Jesus devem assumir também umaatitude para com ele. O mesmo é verdade em Lucas. O tema já surgiuna aparição depois da ressurreição: “Vós sois testemunhas destas coisas”(24.48), disse Jesus para “os onze e outros com eles” (24.33). À medidaque o relato se desdobra em Atos, serão os apóstolos (agora os “dozerestaurados”, Atos 1.15-26) e outros discípulos importantes comoBarnabé e Paulo que darão testemunho de Jesus aos confins da terra.

Esta função tem suas raízes no Evangelho, onde as exigênciaspara o discipulado são definidas como “quem andou com Jesus desde oinício” (Atos 1.21-22). Um exemplo notável de discípulo é a própriamãe de Jesus, Maria (Lucas 1.26-38, veja 8.15), que perseverou na suafé (Lucas 1.45; 8.19-21; 11.27-28). Lucas caracteriza a comunidadeque dará testemunho de Jesus (Lucas 5.1-11) através da noção dodiscipulado—ouvir atentamente a Palavra, ter uma atitude de fé eperseverar.

A função específica dos doze começa a surgir quando, em Lucas,Jesus seleciona seus discípulos e os chama de “apóstolos” (Lucas 6.12-16). Em Lucas 9.1-6 estes doze são “enviados” (o significado deapóstolos) para “pregar o reino de Deus e curar”, a missão exata dopróprio Jesus. Há um círculo maior de discípulos, dos quais os doze sãoescolhidos, os “setenta”, que também são enviados para combater omal como Jesus o faz (Lucas 10.1-20).

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Igreja: Por quê Me Importar?

O papel dos “doze” é enfatizado porque demonstra a ligaçãoentre Israel (doze tribos) e a igreja (Lucas 22.14-32); enquanto os“setenta” demonstram a ligação entre as nações (de acordo com atradição judaica) e a igreja. Por causa deste papel, o discípulo deveperseverar, e este tema é desenvolvido por Lucas, tanto que o fracassodos discípulos na paixão adquire menos ênfase em Lucas, para mantero tema de perseverança (Lucas 23.49), e o fracasso de Pedro, emparticular, somente em Lucas parece ser corrigido durante o julgamentode Jesus (Lucas 22.61-62); e os relatos da aparição de Cristo ressurretopara os doze servem para reanimar sua fé na hora em que a perseverançaestava fraca (24.8,9,33,36-49).

6. O poder do Espírito Santo. As últimas palavras de Jesusgarantem o dom do Espírito: “Eis que envio sobre vós a promessa demeu Pai, permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidosde poder” (24.49, veja Atos 1.4-5,8). De todos os Evangelistas, Lucaselabora mais a significância do Espírito. É o poder do Espírito quepropulsiona a comunidade para dentro do mundo gentio e a guia na suaestratégia pastoral.

Porque o Espírito se torna, num sentido, o “substituto” da pessoade Jesus, não é surpreendente que ele apareça mais em Atos (42 vezes)que no Evangelho (13 vezes). Porém, como em tudo, para Lucas ahistória da igreja tem as suas raízes na história de Jesus. Portanto, antesdo Cristo ressurreto enviar o Espírito para a comunidade, ele mesmoprova a “promessa do Pai”.

O Espírito marca a explosão da nova era de salvação nonascimento de Jesus (Lucas 1.67,41,15; 2.25,36; 3.16; 1.35), como marcaa explosão da missão da igreja para o mundo (Atos 2). É o Espírito queidentifica Jesus como Filho de Deus (Lucas 1.35; 3.22) e que dádinamismo para a sua missão (Lucas 4.1; 3.22-38; 4.4; 4.16-30). Destamaneira, o Espírito de Deus é o elo que causa a continuação entre amissão de Jesus e a missão da comunidade do povo de Deus.

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PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Qual é a relevância da perspectiva de Lucas para a igreja noBrasil?

2. Como você relaciona Jesus Cristo ao nosso modelo de missõeshoje?

3. Como você relaciona o Espírito Santo ao nosso modelo demissões hoje?

4. Qual é a ligação entre a ressurreição e missões?

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Igreja: Por quê Me Importar?

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AS BOAS NOVASSOBRE JESUS

o Evangelho de João

João escreve de maneira bem diferente que os outros Evangelistas,e descreve Jesus também de maneira diferente. Por isso, a suacontribuição é singular no Novo Testamento. Ele tem atraídocontempladores e comentaristas durante toda a história da igreja,inclusive, nos dias de hoje. Poucos destes comentaristas, porém, reparaa significância de João para a tarefa da igreja no mundo.1 Isto é umagrande pena, pois muitas das ênfases e preocupações de João têm altasignificância para a tarefa evangelística.

O Evangelho de João e os Evangelhos Sinóticos

Antigamente, a idéia comum era que os três primeiros Evangelhos,também chamados de sinóticos2 , descreviam a história de Jesus como“fotografias”, enquanto o Quarto o fazia mais criativamente como uma“pintura”. Hoje se reconhece a criatividade de todos os quatroEvangelhos, sendo todos vistos como “pinturas”. De fato, há diferençasde forma—os Evangelhos sinóticos compartilham um estilo episódiconotavelmente diferente da continuidade alusiva do Quarto. Porém, adiferença que importa mais não é só de forma, mas a diferença na própriaintenção do autor.

Cada um dos evangelistas inicia sua obra traçando aatividade de Jesus desde a sua origem (arche): Marcosdesde a obra do Batista e o batismo de Jesus, com adescida do Espírito e o pronunciamento divino, “Tu ésmeu Filho”; Mateus e Lucas, desde o nascimento deJesus duma virgem; João desde a criação, e além dela.

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Igreja: Por quê Me Importar?

Cada um tem o propósito de preparar seus leitores paraa compreensão da narrativa subseqüente; Jesus devesomente ser entendido como Messias, como Filho deDeus, e como o Logos. Somente João, entretanto, dá ànarrativa sobre Jesus, uma estrutura teológicaabsoluta. (Barrett)

O pano de fundo

O Evangelho segundo João foi escrito no contexto do diálogocom vários grupos e ideologias do século I. Não há concordância,entretanto, a respeito da origem específica da comunidade de fiéis daqual João faz parte e para quem este Evangelho foi escrito, nemtampouco sobre as influências que esta comunidade sofreu e que Joãotrata neste Evangelho. O que podemos afirmar é que o apóstolo foiassociado às igrejas da Ásia e que a autoridade conferida à João naépoca de Domiciano (81-96 d.C.) nesta região era tão notória quanto afama de Paulo nas regiões européias.

No contexto de um mundo variado nos seus conceitos dedivindade, nem mesmo o nascimento virginal seria necessariamenteprova de que Jesus era Deus. Jesus, portanto, é apresentado como “overbo que estava no início com Deus, e que era ele mesmo Deus”. Ouseja, João contextualiza o evangelho em termos que seus leitores possamcompreender, e de maneira relevante às suas idéias e ao seu mundo.

João, como Paulo, começou a discursar sobre Jesus de umamaneira que seus leitores pudessem entender dentro da sua apreensãointelectual—verdadeira ou falsa—com a revelação de Deus. Paulo eJoão deixam claro que apenas Cristo tem autoridade última no cosmos.Aceitá-lo como possuindo autoridade limitada é não entendê-lo demaneira alguma. Paulo e João querem mostrar as implicações absolutasda fé cristã—que Jesus é o evangelho e que o evangelho é Jesus—parapessoas cientes da linguagem das religiões e filosofias populares naqueletempo em grande parte do Império Romano. A convicção de João, queJesus é o único revelador de Deus, levou-o a, corajosamente, reinterpretaras conceituações tradicionais e proclamar o evangelho numa linguagempopular, com símbolos potentes e cósmicos, uma linguagem que faziasentido para os seus primeiros leitores.

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A divindade de Jesus

O Quarto Evangelho logo apresenta Jesus como o revelador únicodo Deus vivo (1.18). Assim, desde o princípio no seu Evangelho, Jesusé levado a mais alto nível cósmico. Tal cristologia desenvolvida se tornaa chave para todo o Evangelho, inclusive no que se trat da tarefa daigreja no mundo.

A encarnação: o Logos. O prólogo (1.1-18) serve como base detodo o Evangelho de João. Em linguagem da filosofia grega popular(com o padrão de descida e subida espacial, e o uso de termos como“logos”, “mundo” e “carne”), João descreve Jesus como o “Logos” cujamissão é oriunda do Pai, estando junto com Ele desde o início e sendotão intimamente ligado a Deus e revelando-o de tal forma, que o verbose identifica como Deus (1.1-2). O “Verbo” penetra progressivamentea esfera humana, criando toda a realidade, dando-lhe vida, e iluminando-a. Este último aspecto não se refere à uma “iluminação”, por Deus, detodos os homens que, subseqüentemente, era aprofundada pelamanifestação mais completa de Logos na encarnação. Embora“iluminar” possa significar “iluminar interiormente”, o sentido maisfreqüente na Bíblia é “derramar luz sobre” ou “trazer à luz” e entãoexpor ao julgamento. João 3.16-21, portanto, serve de comentário paraJoão 1.9. Afirmar que o “Verbo” ou a “Palavra” de Deus pode seencontrar particularmente, ainda que obscuramente, em qualquer sistemareligioso, é precário. A “vida” é a “luz dos homens” porque traz para ojulgamento “as trevas” egocêntricas, materialísticas e opressoras queescravizam o ser humano por natureza; e o faz onde quer que as trevasse encontrem—em qualquer religião, inclusive na própria igreja de Deuse em qualquer sistema social em todos os níveis. Contudo, em seumotivo, o julgamento não é destrutivo. A Palavra de Deus julgaprimariamente, a fim de salvar. E aqueles que aceitam a Palavraencontram a sua identidade verdadeira nela.

Finalmente, a Palavra se envolve tanto na esfera humana que setorna “carne” e vive no meio da comunidade (1.14). E a comunidade crenteé quem reconhece a “glória” de Deus revelada na Palavra feita carne eassim recebe uma abundância sem paralelo de graça, para verdadeiramenteconhecer ou ver o Deus impossível de se ver (1.16-18).

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Igreja: Por quê Me Importar?

Além do contexto da filosofia grega popular, não devemosnegligenciar a influência de fontes bíblicas e judaicas no discurso deJoão sobre a encarnação. O Velho Testamento já possuía uma noçãodesenvolvida da “Palavra de Deus” como a revelação da sua vontade epropósito criativos. Está até personificada em textos proféticos comoIsaías 55.10-11. Também as passagens que falam da Sabedoriapersonificada são cruciais para se entender o pensamento de João. Asabedoria é descrita como a manifestação da presença de Deus ao mundoque forma o padrão da criação (Sabedoria 9.1-2,9; Provérbios 8.22-31),que vem habitar no mundo (Sabedoria 9.10; 18; 14-15; Sirácida 24.8-14) e encontra ou aceitação ou rejeição (Sirácida 24.19-22; Provérbios8.32-36). João, então, identifica abertamente Jesus como a Palavrareveladora de Deus, como a Sabedoria encarnada.

A encarnação não é mais um tema do Evangelho de João, mas éa base para todos os demais aspectos da teologia deste Evangelho.

O Filho do Homem. O título usado por João 20 vezes, “Filho doHomem”, é o mais significante de todos os títulos usados no primeirocapítulo do Evangelho (1.19-51), pois João o usa para descrever a origemcelestial e misteriosa de Cristo na sua missão de revelar a Deus. E paraele, o momento mais intenso na missão reveladora é o momento damorte de Jesus. É neste momento que Jesus é elevado (3.14; 8.28;12.32,34 compare Filipenses 2.9), é a “hora” em que “a glória de Deusse manifesta” (12.27-28; 13.1; 17.1,4-5 ...) e o momento em que o amorde Deus pelo mundo é revelado e provado (João 3.16). Não é por acaso,então, que neste momento João liga o título “Filho do Homem” à mortede Jesus (3.14; 8.28) pois, somente quando o Filho do Homem élevantado na cruz, completa a sua missão de revelar o amor salvador deDeus para com o mundo.

“Eu Sou”. As afirmações de Jesus que começam com “eu sou”,também fazem uma parte importante da cristologia deste Evangelho.Em João, Jesus emprega o nome de Deus, “Eu Sou”, revelado paraMoisés como uma autodesignação. Estas afirmações se encontram ouem forma absoluta ou com predicados como “pão”, “vida”, “luz”,“ressurreição”, etc. Em Jesus, portanto, se encontra a presença de Deus,uma presença salvífica sugerida no próprio nome que Jesus pode ousar

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a aceitar como o dele próprio. E ligando o nome aos predicados, Joãopassa a sua teologia de revelação para um nível mais profundo, poistodos estes predicados simbolizam a busca do homem a Deus. Assim,em Jesus, a presença manifesta de Deus e a busca humana por Deus seencontram. A missão de Jesus é fazer o nome de Deus conhecido (17.4).Ele é o mediador entre Deus e o homem e o próprio revelador de Deus.

O enviado do Pai. Já que a cristologia em João é tãoinerentemente “missionária”—o Verbo revela Deus para o mundo—não é por acaso que Jesus é chamado repetidamente de “o enviado”.Este termo esclarece o propósito da missão de Jesus, agente ou enviadodo enviador: “porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não paraque julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (3.17,compare 6.38-39; 12.49-50). Isto é a “obra” ou a “comida” de Jesus(4.34) e aqueles que aceitam o Filho e crêem nele, têm a vida eterna(5.24). Por meio do agente encontram o enviador, pois a atitude tomadaem relação ao agente é crucial. E através do Evangelho, João enfatiza acrença no Filho como o meio para conseguir a vida eterna (3.15 e muitosoutros textos) e a comunhão íntima com Deus (17.20-21).

O testemunho. É possível ver todo o Quarto Evangelho nocontexto dum “tribunal”, com Jesus (e o Pai, 5.37) dando testemunhoao seu favor, certificando que, de fato, sua missão é de Deus (5.30-47;8.17-19). João Batista (1.6-8), o discípulo amado (19.35) e a própriacomunidade são chamados para testemunhar da missão de Jesus para omundo. Testemunhar também é uma função do Paráclito (15.26).

Em síntese, João apresenta a história toda de Jesus da perspectivaduma missão cósmica. Como os Evangelhos sinóticos usam a linguagemdo reino de Deus, João usa a linguagem cósmica para mostrar que Jesusnão só cumpriu as esperanças de Israel pelo reinado vindouro de Deus,como os primeiros três Evangelhos mostram, mas que Jesus revela aface não vista de Deus para toda a humanidade (1.18). Portanto, emJoão, Jesus assume a posição de “salvador do mundo” (4.42), a “luz domundo” (8.12; 9.5) e o cordeiro que tira “os pecados do mundo” (1.29)e como o “pão da vida” (6.51).

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Igreja: Por quê Me Importar?

O Espírito: consolação e advogacia para missão

João, como Paulo e Lucas, destaca o papel importante do EspíritoSanto na vida da comunidade crente. Embora João compartilhe algumasimagens do Espírito com a tradição sinótica—por exemplo, o testemunhopor João Batista da descida do Espírito sobre Jesus no seu batismo e ainsistência de que Cristo ressurreto é quem dá o Espírito para acomunidade—em grande parte, a sua apresentação do Espírito é únicae singular.

O uso do termo “paráclito”. Por exemplo, o termo usado parao Espírito nos capítulos 14-16 é “paráclito”. Aqui, João trata da funçãodo Espírito na comunidade no contexto dum discurso de despedida porJesus. Desta forma, o “paráclito” se refere ao “advogado” e “mediador”ou até ao “consolador” e “animador”. Na ausência de Jesus, o paráclitosustenta o mesmo relacionamento vivo e dinâmico que os discípulosexperimentaram com Jesus no seu ministério terrestre. Assim, o Espíritoassume o papel dum “outro Consolador” que fica com a comunidade(14.16), a “ensina” e a “guia” (14.26; 16.13), revela a mensagem do Paipara ela (16.13) e confronta proféticamente o mundo descrente (16.8-11).

Ainda mais que somente preencher o vão que Jesus deixa nacomunidade, o Paráclito até mesmo enriquece o estado da comunidadepós-páscoa, ao ponto dela ser melhor que a dos próprios discípulos deJesus, porque “embora não tenham visto, creram” (20.29). O Paráclitoiria “lembrar” à comunidade tudo o que Jesus disse (14.26), muito doqual nem os discípulos entenderam durante o ministério de Jesus (2.22).Enquanto os “sinais” de Jesus encheram o Evangelho, através do Espíritoa comunidade poderia fazer outros “maiores” (14.12). Assim, o Espíritointensifica a presença do Cristo ressurreto e não meramente a substitue.

Obviamente, esta intensificação do poder e da presença de Cristoressurreto é ligada à experiência missionária da comunidade. Pois amissão por ela recebida de Cristo, imediatamente é ratificada pela infusãodo Espírito (20.21,22). O Espírito dará testemunho de Cristo como osdiscípulos darão (15.2-27), e confrontará o poder do maligno no mundo,como Jesus o fez e a comunidade deverá fazer (16.8-11; 17.14-18).Talvez as “obras maiores” que o Espírito fará também se refira à

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experiência missionária da igreja como testificam repetidas vezes, tantoPaulo quanto Lucas, que a expansão missionária da igreja se realizousob a direção e poder do Espírito.

Na missão capacitada pelo Espírito, a igreja descobre o verdadeirosentido da Palavra que se fez carne.

IMPLICAÇÕES ATUAIS

A presença necessária da comunidade cristã é destacada em todoo pensamento de João. Não há missão cristã autêntica sem levar emconta a igreja.

Esta comunidade é composta primeiro dos discípulos de Jesus,que progressivamente crescem na sua crença em conhecimento de Jesus(1.15-19); Nicodemos progride de discípulo inadequado (3.2-15) paraa defesa de Jesus diante dos principais sacerdotes e fariseus, (7.50-52)para oferecer a unção funerária do corpo de Jesus (19.39); a mulhersamaritana—capítulo 4 e o cego capítulo 9.

Nossas comunidades cristãs hoje não precisam ser fábricas dediscípulos “já feitos”. Somos edifício de Deus ainda em contrução! Poroutro lado, isto não justifica a inértia ou o contentamento com o estágioaonde estamos, nem como indivíduos e nem como a igreja toda. Devehaver “desenvolvimento” da nossa fé e nossa salvação (Filipenses 2.12),pois a estagnação leva para a religiosidade farisáica que Jesus tantocondenava.

Amor e justiça. Porém, só “crer em Jesus” como revelador deDeus, por mais crucial que seja, não é o único sintoma da existênciacristã. Junto com o resto do Novo Testamento, João destaca “amor eserviço” como ingredientes necessários para a crença autêntica (13.15).Quem é “amigo” de Jesus (15.14-15) e “permanece” nele (15.1-11),deve manifestar o amor misericordioso entre eles (13.12-16, 34-35;15.12-17). A fé e o amor são os fundamentos da experiência cristã, queidentifica os discípulos como seguidores de Jesus. Nas nossascomunidades (nas liturgias, nas reuniões e classes, e no ministério aosoutros), há expressão concreta de amor e justiça?

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Igreja: Por quê Me Importar?

Compromisso com o mundo. Também os discípulos assumema missão de Jesus no mundo (20.21; 17.18; 13.16, 20; 4.34, 38) que,como já vimos, é ativada pela vinda do Espírito. Portanto, nada menosque a missão de Jesus para o mundo serve de modelo para a missão daigreja. O prólogo já descreveu a sua missão como sendo essencialmentesalvífica (1.4-5,12) e o texto chave para entender a missão de Jesus,3.16-17, deixa isto bem claro (veja 6.38-40; 12.44-47).

Estes textos ilustram como Jesus “é enviado” e determinam abase e o modelo da missão da comunidade. A posição fundamental doEvangelho é positiva em relação ao “mundo”. Do ponto de vista deDeus, o mundo é objeto de amor. Do ponto de vista humano, a iniciativade Deus pode ser ou aceita ou rejeitada; conforme isto, determina-se acaracterização positiva ou negativa do “mundo” em João.

A igreja não deve ser seduzida, porém, pelo mundo, como se elesempre fosse aceitar o amor de Deus, pois ele é governado pelo Príncipedeste mundo, Satanás, e ativamente hostil a Jesus. Por isso, o tom daoração de Jesus no capítulo 17. Mas, mesmo neste mundo alienado, osdiscípulos devem permanecer (17.14) para compartilhar a missão deJesus de salvá-lo (17.18-21).

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Qual é a relevância da perspectiva de João para a igreja no Brasil?

2. Nas nossas comunidades (nas liturgias, nas reuniões e classes,e no ministério aos outros), há expressão concreta de amor ejustiça?

3. Como entendemos “o mundo” e a relação da igreja com ele?

1Uma exceção, em português, é a obra perspicaz de José Comblin, O Enviado do Pai.2De “sin” (juntos) e “otica” (vista), significando “visão comum”, “vista junta” ou “vista lado-a-lado”.

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O ESPÍRITO SANTANA IGREJA

Atos dos Apóstolos

O programa missionário pronunciado em Lucas 24.44-49, eprevisto na descrição por Lucas da missão de Jesus, agora é realizadopelos apóstolos e a comunidade no livro dos Atos dos Apóstolos. Oescopo, a estrutura e o conteúdo de Atos são dominados pela questãoda missão universal. O ministério do reino que Jesus inaugurou e quealcançou seu clímax na sua morte e ressurreição em Jerusalém, serácontinuado pela direção do Cristo ressurreto e o poder do Espírito naprópria história da igreja.

Assim, a perspectiva elaborada no Evangelho segundo Lucas(especialmente em 24.44-49), é recapitulada nos primeiros versículosde Atos. A comunidade reunida em Jerusalém é instruída por Jesusressurreto sobre o “reino de Deus” e o advento do Espírito (1.3-5). Devepermanecer na cidade até que recebam o poder do Espírito, que acapacitará para a missão que se estende “até aos confins da Terra” (1.8).Enquanto espera, o grupo reconstitue o número de “doze” apóstolospara estarem prontos para a missão (1.15-26). O início de Atos confirmao que o final do Evangelho já deixou claro: a preocupação do Evangelistaé a missão universal de salvação anunciada por Simeão (Lucas 2.32) eJoão Batista (Lucas 3.6), iniciada pelo ministério de Jesus e agoracontinuada pela liderança dos doze.

As principais personagens históricas

Cornélio. A conversão de Cornélio (capítulo 10) e a aceitaçãodas suas conseqüências pela igreja em Jerusalém (capítulo 11 e 15)abre a visão missionária da igreja. Porém, já antes (capítulo 2-9), Lucasilustra a natureza expansiva da missão. Como Paulo leva a mensagem

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Igreja: Por quê Me Importar?

da salvação até aos confins da terra, sendo “instrumento escolhido” deDeus (9.15), Pedro e os outros líderes da igreja em Jerusalémevangelizaram em Jerusalém, Judéia e Samaria.

Pedro. Pedro é a figura dominante na missão da igreja deJerusalém (2.5-11), cujo ministério para os judeus da diáspora confirmaa perspectiva universal de Lucas (2.17; 3.25). Seu ministério de cura(2.43; 3.1-10; 5.12-26) e o crescimento da igreja (2.41-47; 4.4, 32-35;5.14; 6.7) confirmam o cumprimento da primeira fase da promessa doSenhor para testemunho efetivo.

Estevão. A morte de Estevão e a perseguição conseqüente(capítulo 6-8), paradoxalmente alargam o escopo da missão para Judéiae Samaria (8.11). Assim como Jesus, a comunidade evangélicaevangeliza no meio de perseguição (8.4,5-8, 26-39). Embora a missãoainda não tenha ido além dos limites geográficos de Israel, Lucas jáilustra que é uma missão universal de salvação.

Paulo. Paulo introduz a terceira fase da missão da comunidadeprimitiva (7.58; 8.3; 9.1ss) e levará a missão até aos confins da terra.Porém, ele necessita primeiro da aprovação de Pedro e da igreja emJerusalém para ratificar a missão para os gentios. Por isso, Lucas gastamuito tempo com a visão de Pedro, que abriu este caminho (10.1-11.18).Só pelejando é que a comunidade enxerga a significância das palavrasde Jesus (Lucas 24.47) e reconhece que “também aos gentios foi porDeus concedido o arrependimento para a vida” (Atos 11.18). Só com aaprovação da igreja em Jerusalém, pode a palavra se espalhar daAntioquia pelos helenistas cristãos, (11.19-20) e somente agora estamospreparados para a apresentação plena da missão de Paulo (13.2-3); Atos13 marca o padrão repetido na segunda metade do livro: Paulo pregaprimeiro nas sinagogas e, quando rejeitado, ele então se volta para osgentios (13.44-52). Assim mostra a orientação de Lucas (como Mateusenfatiza), que a mensagem salvífica é para “o judeu primeiro”, e porisso é dada tanta ênfase no início da missão em Jerusalém.

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Na segunda metade de Atos, Paulo se esforça ousadamente nasua missão para a Ásia, Grécia e finalmente Roma, assim cumprindo apromessa da salvação universal de Deus (28.28).

Ênfases de Atos

Como a missão universal forma a estrutura de Atos, tambémdita o seu conteúdo. Dois temas já foram examinados na nossaconsideração da estrutura, isto é, o escopo universal da missão e suacontinuidade com a história da salvação. Resta destacar outros temasque já foram desenvolvidos no Evangelho de Lucas.

“Começando em Jerusalém”. Lucas apresenta a própriamissão de Jesus tendo o seu clímax em Jerusalém. A cidade simbolizao papel de Israel na história de salvação. A missão é sempre feita emreferência à Jerusalém para demonstrar a continuidade daquilo que Deusfez no Velho Testamento (2.5-12). A história de Israel, portanto, érecitada em grandes porções nos sermões de Atos (2.22-36; 3.12-26;7.2-53; 13.16-41), para reforçar esta continuidade. Assim confirma queo trabalho da igreja entre os gentios “cumpre” o que estava escrito “naLei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lucas 24.44). Estapreocupação pela continuidade de Israel não diminue o universalismoinerente ao evangelho, pois embora os gentios se convertam apenasdepois da rejeição de Israel, a sua salvação era o propósito de Deusdesde o início (14.15-17; 17.23-3l).

O propósito da missão da igreja é a salvação. Este é o temaprincipal de Lucas 24.44-49. O ministério de Jesus é um ministério desalvação e define a “vinda do reino de Deus”. E a mesma missão é dadapara a comunidade (Lucas 24.47-48). Jesus ensina-lhe o sentido do reino(Atos 1.8) e este símbolo chave caracteriza a pregação missionária deFilipe (8.12) e de Paulo (19.8; 20.25; 28.23,31).

Os sermões de Atos falam da graça incansável de Deus e anecessidade de responder-lhe pela conversão do coração (2.38; 3.19;5.31; 10.43; 11.18; 13.38-39; 16.30-31; 20.21; 26.18-20). A mensagem

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Igreja: Por quê Me Importar?

de salvação também é proclamada pelo ministério de cura dacomunidade, como o foi para Jesus (2.43; 3.1-10; 5.12-16; 9.32-35,36-42; 14.3,8-10; 16.16-19). Sem dúvida, a missão da comunidade é amissão de salvação, como era a missão de Jesus.

A comunidade. A igreja é resultado direto do dom do Espírito(2.43-47; 4.32-35). Como no seu Evangelho, em Atos também Lucasenfatiza a comunhão no partir do pão para descrever que os discípulosformam uma comunidade do povo de Deus. A questão de incluir osgentios gira em torno disto (cf. 10-11). Mesmo no capítulo 15, onde seconcentra a questão da circuncisão, a questão em jogo é associação dacomunidade com os gentios.

Portanto, as conseqüências da comunhão ousada no partir dopão exercida por Jesus no Evangelho, determinam o abraço pela igrejado mundo gentílico. O banquete escatológico de Israel inclue agora nãosó “os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos” das ruas e becos dacidade, mas também os convidados distantes dos “caminhos e atalhos”(Lucas 14.15-24).

Os doze apóstolos como testemunhas perseverantes. Formamo núcleo da comunidade formada em nome de Jesus (Lucas 24.44). Jávimos o papel de Pedro continuando o ministério de Jesus de pregaçãodo reino (2.14-36), cura (3.1-16; 5.15-16), confrontando poderes hostis(4.8-12,19-20; 5.29-32) e agüentando a perseguição e aprisionamento(5.17,40-41; 12.3). Ele tem um papel decisivo no estabelecimento dacomunidade e das suas decisões (1.15; 2.14; 5.1-11; 10-11; 8.14).

Paulo compartilha a atenção de Lucas com Pedro como um“apóstolo” da segunda geração (14.14).

Também há menção de João, Filipe e Estevão (6.8; 8.5) e osassociados de Paulo: Barnabé (13.2), Silas (15.22), Judas (15.22), JoãoMarcos (2.25), Priscila e Áquila (18.2).

O Espírito Santo. O Espírito é o catalizador e a força guiadorada missão expansiva da comunidade. Este tema serve como a mais forteligação entre Atos e o Evangelho, entre a história de Jesus e a históriada igreja (Lucas 24.49; Atos 1.4-5,8;2.33), pois o Espírito mantém a

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presença e as diretrizes de Cristo ressurreto na igreja como o impulsopara o universalismo e o poder que possibilita a intrepidez dacomunidade.

A experiência de Pentecostes (capítulo 2) já alarga a missãopara as várias populações da diáspora. O encontro de Filipe com o eunucoetíope é pela mediação do Espírito (8.29-30), e a aceitação última porPedro, de Cornélio e sua família (10.44-48; 11.12-18) é confirmadapelo derramamento do Espírito sobre esta casa. A confirmação destefenômeno pela igreja em Jerusalém é também realizada pelo impulsodo Espírito (15.28,8). Paulo é guiado pelo Espírito (13.2,4; 16.6-10;19.21; 20.22; 21.11) em todas as suas direções e no chamamento para amissão universal (9.15-16; 22.21; 26.16-18). O Espírito guia outrosdiscípulos no seu ministério entre os gentios (11.24; 13.2-4; 19.6).

O Espírito possibilita a intrepidez da comunidade, como Jesusprometeu (12.11-12). Veja Pedro diante do Sinédrio (4.8), a comunidadediante da perseguição (4.1-31), e a coragem de Estêvão (6.5,10,55). Omesmo Espírito que capacitou Jesus na sua missão profética é dadopara a comunidade. Assim, este tema não só assegura a continuidadeentre Jesus e a comunidade, como também afirma que toda a história,de Jesus e da sua comunidade, testemunha em seu nome.

Conclusão

A missão universal da igreja é a preocupação central de Lucas.Demonstra que a mensagem de salvação tem seu início com Israel efloresce plenamente entre os gentios. Este trabalho de salvação é oresultado final do próprio ministério de Jesus através da sua morte,ressurreição e envio do Espírito Santo. Esta missão tem um preço: odiscipulado implica em sofrimento e perseguição, como foi na vida deJesus, que serve de modelo para a missão da igreja.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Como você relaciona o Espírito Santo com o papel da igreja nomundo? Com o crescimento disparado das igrejas pentecostais,

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Igreja: Por quê Me Importar?

quem tem a razão quanto à doutrina e manifestação do EspíritoSanto, eles ou nós? Totalmente ou parcialmente?

2. Que quer dizer “ser testemunha em Jerusalém”? Qual é umaaplicação disto hoje?

3. Que quer dizer “ser testemunha em Judéia e Samaria”? Qual éuma aplicação disto hoje?

4. Que quer dizer “ser testemunha até aos confins da terra”? Qualé uma aplicação disto hoje?

5. Somos uma comunidade exclusiva ou inclusiva? O suficiente?

6. Quais são algumas circumstâncias em que você precisou“perseverar” na sua fé? Como conseguiu fazê-lo?

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A VOCAÇÃODE PAULO

Gálatas 1.10-24

Paulo não é a única nem a primeira pessoa a anunciar o evangelhopara os não-judeus. O evangelho já havia se espalhado pelo menos atéRoma antes de Paulo. Nem ele criou a pregação da igreja primitiva,mas recebeu-a tanto da antiga tradição cristã quanto do próprio judaísmo.Mesmo assim, a importância de Paulo para a compreensão dodeseenvolvimento da fé cristã dificilmente pode ser exagerada, pois eleé quem dá a apresentação mais profunda e sistemática do evangelho.Herbert Kane afirmou que Paulo:

...fez para o cristianismo o que Moisés fez para ojudaísmo. De fato, os dois homens tinham muito emcomum. Ambos foram cuidadosamente criados na fédos seus pais. Ambos conheciam a sabedoria do mundo.Ambos foram escolhidos por Deus para se tornaremhomens de destino. Ambos tiveram uma dramáticaconfrontação com Deus em preparação para a obra dasua vida. Ambos se tornaram líderes dinâmicos,poderosos em palavra e em ação (1976:72).

De fato, entre bispos e teólogos, revivalistas e evangelistas,missionários e pastores, nunca na história do cristianismo havia outrolíder de tanto destaque que merecia a distinção de “missionário entre asnações”. Assim que se entende “apóstolo dos gentios”.

Nas próximas quatro lições queremos fazer quatro perguntas arespeito deste “missionário entre as nações”: (1) Quem era este Saulode Tarso? Quais eram as convicções que levaram um “fariseu dosfariseus” (Filipenses 3.4-5; Gálatas 1.4) a se tornar apóstolo dos gentios?

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Igreja: Por quê Me Importar?

(2) Qual era o conteúdo do “seu” evangelho? (3) Como tudo issoinfluenciou a sua “teologia”? e (4) Quais eram a estratégia e motivaçãoda sua atividade missionária?

Voltamos as primeiras perguntas: quem era este Saulo de Tarso?Quais eram as influências no seu pensamento? Quais eram as convicçõesque levaram um “fariseu dos fariseus” a se tornar apóstolo dos gentios?E quais eram as influências na sua formação?

Influências na formação de Paulo

O judaismo. Mesmo que Paulo tenha reformulado radicalmentemuitos das crenças judaicas que teve antes do episódio na estrada paraDamasco, nem tudo foi mudado. Por exemplo: Primeiro, Paulocontinuou aceitando as Escrituras Hebraicas como a Palavra reveladade Deus. Aliás ele constantemente elaborou sua própria perspectiva emdiálogo com as Escrituras, usando técnicas rabínicas adquiridas dojudaísmo. Segundo, ele empregou alguns dos mesmos temas do usocorrente da pregação missionária judaica (e.g., a soberania de Deus;conhecer a e ser conhecido por Deus), na sua pregação missionária e nasua estimação do mundo gentílico.

A tradição cristã primitiva. Paulo não é independente do restoda comunidade cristã, embora ele mesmo tenha dado esta impressão(Gálatas 1.11-17). Em textos estratégicos, o apóstolo deixa claro queseu evangelho era recebido da igreja primitiva (1 Coríntios 11.23; 15.3)e fervorosamente defendeu a autenticidade da sua missão, referindo-seà aprovação pelas autoridades da comunidade cristã (Gálatas 2.2-10).Portanto, Paulo não deve ser designado como “o segundo fundador” docristianismo, como alguns fazem. Pois, apesar da sua criatividade e oaspecto original de muito da sua teologia, o apóstolo coexistia ecooperava com a tradição dos apóstolos.

O helenismo. A cultura helênica já se infiltrara profundamenteno judaísmo Palestino desde o início do século IV antes de Cristo. Muitomais os judeus da diáspora, como Paulo, eram influenciados por esta

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cultura. Alguns estudiosos procuram mostrar grandes influênciashelênicas na perspectiva paulina sobre o batismo, a santa ceia e atésobre sua doutrina de salvação. Porém, até hoje, as evidências de talinfluência se baseiam em muitos documentos cujas fontes são maisrecentes que Paulo. Portanto, tal ligação não pode ser mantida. Por certo,problemas do mundo grego e, portanto, de comunidades cristãs helênicasprovocaram a reflexão paulina (por exemplo: casamentos mistos em 1Coríntios 7, comendo carne oferecida aos ídolos em 1 Coríntios 8 eRomanos 14), e conceitos e linguagem helênicos foram usados por Paulo(por exemplo: o corpo, a lista de vícios e virtudes, etc.). Mas parece-nos que as influências do cristianismo primitivo e do judaísmo erammais determinantes na sua formação do que as do mundo greco-romano.

A conversão de Paulo

Paulo se refere várias vezes à sua própria experiência de conversãono contexto duma vocação missionária. As referências que Paulo fez àsua conversão enfatizam o fato da experiência em si e as consequênciaspara sua crença em Jesus e para seu papel como apóstolo. Não sepreocupam com a descrição da experiência, como Lucas o faz em Atos.

O Chamamento. A vocação de Paulo se evidencia maisclaramente em Gálatas 1:11-18 no relato sobre o seu encontro como oSenhor ressurreto na estrada para Damasco. Pela sua próprias palavras,ele considerou o encontro como uma “revelação”. Ao usar este termo, elembrando os chamamentos visionários dos profetas do VelhoTestamento (Isaías 49:1; Jeremias 1:5), Paulo deseja enfatizar a origemdivina do seu evangelho. Ele faz isto a fim de convencer os gálatas deque o evangelho que ele pregava era autêntico, e que qualquer outroseria falso, como aquele que estava, de fato, influenciando a igreja gálata.

Em 1 Coríntios 15:8-11 Paulo mais uma vez fala da sua conversão.E mais uma vez ele o faz porque a sua autoridade apostólica e,conseqüentemente, a confiança no seu evangelho estavam sendoameaçadas. O termo empregado nesta passagem, “foi visto” ou“apareceu” (15:8). enfatiza ainda mais que Gálatas, a natureza visionária

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Igreja: Por quê Me Importar?

da experiência. Paulo ainda identificou seu chamamento para oapostolado com a sua conversão (15:9-10).

Em 1 Coríntios 9:1-2 a referência à sua conversão é bem maisrápida, porém significante. De novo, há o desafio à sua autoridade (paradiscernir sobre carne sacrificada aos ídolos, 9:3). A sua defesa incluique ele “viu a Jesus”, a mesma palavra de 1 Coríntios 15, e a suadesignação como apóstolo (9:1), pois para Paulo, em todas estaspassagens, os dois fenômenos são ligados—encontro com Jesus comoCristo ressurreto e vocação como apóstolo.

Em resumo, antes da sua conversão, Paulo era um judeucomprometido e zeloso. Isto faz mais sentido diante da situação históricada Palestina daquela época que levou muitos judeus a achar que a suaidentidade religiosa e étnica estava sendo ameaçada. O “zelo pela lei”era uma espécie de grito de guerra da resistência nacional e popularcontra o imperialismo romano. Paulo, antes da sua conversão e comotodo judeu mais convicto, dava importância, e digo importância teológicajudaica, para a manutenção dos sinais externos distintos da identidadecultural do judaismo—a observação do sábado, a circuncisão, e as leisculinárias. Foi o orgulho de Paulo sobre a sua herança judaica (Gálatas1:13-14; Filipenses 3:4-6; 2 Coríntios 2:22 e Romanos 3:1-2; 9:1-5)que o levou a perseguir a comunidade cristã (Gálatas 1:13; Filipenses3:6; 1 Coríntios 15:8; veja Atos 8:1-3; 9:1-30). A sua experiência deconversão provocou uma reversão apocalíptica do seu estilo de vida eda sua visão do mundo. Passou de principal perseguidor a principalprotagonista do movimento cristão primitivo; de “zeloso pelas tradiçõesdos nossos pais” a “apóstolo dos gentios”.

Foi, então, este encontro com o Jesus crucificado e agora ressurreto,que transformou a vida de Paulo, e não uma insatisfação ou infidelidadereligiosa anterior (como no caso de Agostinho e Lutero). Paulo não abraçoua mensagem cristã e voltou sua atenção para os gentios por causa dumasuposta insatisfação anterior com o judaísmo e a lei. Não foi atormentadoe cheio de sentimentos de culpa numa tentativa fútil de ser fiel à lei, poissua própria declaração mostra que Paulo era um judeu fiel e convicto, semnenhuma dica do peso de culpa (Filipenses 3.6).

O principal texto citado a favor de um Paulo pré-cristão eatormentado é Romanos 7.8. Porém, o contexto sugere que nestapassagem Paulo não está descrevendo sua própria experiência, mas

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tipificando a condição do não-cristão ou pré-cristão em retrospecto daconvicção de salvação em Cristo. Ou seja, Paulo mostra porque a leinão é ultimamente adequada sob o ponto de vista de Cristo sendo oúnico caminho.

Então, o ponto de partida para a teologia paulina não era suaexperiência pré-cristã, e a catálise veio não de dentro da experiênciasubjetiva duma vida perplexa, e sim de fora—dum encontro com Cristoque deu nova orientação sobre a natureza do Deus de Israel (e do seuCristo).

IMPLICAÇÕES ATUAIS

A descrição da conversão de Paulo em Atos, ou narradodiretamente por Lucas em 9.1-19, ou na boca de Paulo em 22.6-21 e26.12-18, é detalhada, e assim acaba chamando atenção tanto para aexperiência em si quanto para o propósito de tal experiência. O mesmonão é o caso quando o próprio apóstolo Paulo escreve sobre a suaconversão, por exemplo em Gálatas 1.11-17, 1 Coríntios 15.8-11 e 9.1-2; Romanos 15.15-16; Efésios 3.1-8; e Colossenses 1.24-29. Estaspassagens não se preocupam com a descrição da experiência em si,como Lucas o faz em Atos. Preocupam unicamente com o conteúdo epropósito de tal chamamento em termos de reconhecimento da revelaçãode Deus através da morte e ressurreição de Jesus e da urgênciaconsequente disto, de anunciar o evangelho entre todos os povos.

A Bíblia dá testemunha de diversos modos que Deus chama aspessoas para si. Às vezes, o relato das maneiras, e por consequência, dosdetalhes destes chamamentos, pode ser edificar e encorajar o povo de Deusna sua peregrinação de fé, como no caso de Lucas. Entretanto, maisimportante ainda, não é a experiência em si. (E se alguem podia se orgulharde maravilosa e espetacular experiência, era o apóstolo Paulo!) Pauloenfatizava, e justamente, o propósito do seu chamamento. E não devemosdeixar de reparar que tal propósito era essencialmente missionário!

Seguir o exemplo de Paulo não é procurar a mesma experiência deconversão que ele. Isto, afinal, é prerrogativa de Deus! Seguir o exemplode Paulo é compreender, anunciar e por em prática a razão do nossochamamento: compartilhar urgentemente as boas novas.

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Igreja: Por quê Me Importar?

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Há base para considerar Paulo como “o segundo fundador docristianismo”?

2. Para que e por que nos convertemos?

3. A formação anterior a fé é importante? De que maneira?

4. Paulo “se converteu” duma religião para outra ou se transformoudentro da mesma religião por um novo reconhecimento?

5. Qual é o papel da “conversão” na vida cristã? Todos “seconvertem” a Cristo?

6. A conversão de Paulo é fortemente ligada aos seus ensinos. Anossa experiência de conversão se evidencia através da nossapregação?

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O EVANGELHODE PAULO

Gálatas 3.6-14

Paulo se refere diversas vezes ao “seu” evangelho (Romanos2.16; 16.24; 2 Coríntios 4.3; 11.4; Gálatas 1.8; 1 Tessalonicenses 1.5;2 Tessalonicenses 2.14; 2 Timóteo 2.8) no contexto duma revelação etarefa lhe dada. Por isso, ele não quer dizer que o seu evangelho sejadistinto e diferente do evangelho de Deus ou de Cristo, termo que eletambém usa (Romanos 1.1, 9; 15.16, 19; 1 Coríntios 9.12; 2 Coríntios2.12; 9.13; 10.14; 11.7; Gálatas 1.7; Filipenses 1.27; 1 Tessalonicenses2.2, 8, 9;3.2; 2 Tessalonicenses 1.8). Mas pode ser diferente do evangelhoque outros pregam. Pois este seu “evangelho”, ou o seu anúncio dasboas notícias, se refere a maneira que Paulo compreendeu as implicaçõesda revelação de Deus em Jesus. E nem sempre a igreja primitivaconcordava no que se refere às implicações práticas desta revelação,especialmente para a maneira que os gentios agora são incluidos naigreja que até então era composta predominantemente de conversosjudeus.

O conteúdo da revelação que Paulo recebeu foi este: Primeiro,reconheceu que Jesus de Nazaré, que morreu crucificado era, de fato, oCristo ressurreto e o Filho exaltado de Deus (Gálatas 1:12,16; 1 Coríntios9:1). Isto era possível, porque o livro de Daniel e a literatura judaicacontemporânea de Paulo (2 Enoque 44:5; cf. Testamento de Abrãao12-14), começou a discorrer sobre a possiblidade da ressurreição deindivíduos como uma demonstração que Deus vindicava o seu povoescolhido, mesmo diante das opressões políticas que sofria das mãosdos babilônios, depois dos gregos e então dos romanos. A convicçãocomum era de que Deus iria, de fato, vindicar o seu povo. Israel nãopereceria, os justos receberiam o seu devido galardão e os ímpios o seucastigo. Segundo, Paulo também convenceu-se de que, através desteJesus, Deus oferecia a salvação para todos, tanto judeus quanto gentios.

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Igreja: Por quê Me Importar?

Isto é fundamental para o evangelho que ele defende com paixão (Gálatas1:11,12; 1 Coríntios 15:8-11), ao qual foi chamado desde sua experiênciade conversão. Paulo relata a associação entre a revelação de Cristocrucificado e ressurreto em Gálatas 3:6-14:

Cristo nos redimiu da maldição da lei quando ele setornou uma maldição por nós—pois está escrito,“Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro”—a fim de que, em Cristo, a bênção de Abraão possapertencer para os gentios... (citando Deuteronômio21:23).

Para Paulo, ser amaldiçoado por Deus era o mesmo de ter asbênçãos da aliança canceladas, ser expulso da aliança, isto é, ser colocadona posição dum gentio pecador. Na crucificação, pela forma de morte,Jesus era rejeitado por Deus, sendo considerado como um gentio eportanto fora da aliança. Certamente a revelação de Jesus para Paulo naestrada para Damasco invertia totalmente este raciocínio, pois indicouque Deus claramente aceitou e vindicou este precisamente como ocrucificado. A conclusão imediata era evidente: que Deus também devefavorecer o amaldiçoado, o pecador fora da aliança, isto é, o gentio.Terceiro, alterou radicalmente sua compreensão do curso da história,embora não haja uma ligação explícita mencionada nos textos sobresua conversão. A era escatológica dos gentios havia, de fato, começado.E quarto, convenceu-se de que ele mesmo era chamado, como osprofetas antigamente, para anunciar a Palavra de Deus de salvação paraos gentios.

Isto teve repercussões no seu próprio estilo de vida e na suaimagem de si mesmo. Na maioria das sua cartas, Paulo se refere a simesmo como “apóstolo” (Romanos 1:1; 1 Coríntios 1:1; 2 Coríntios1:1; Colossenses 1:1; Gálatas 1:1). Outras vezes sua auto-compreensãoalude a passagens proféticas (Atos 13:47 6 Isaías 49:6; Atos 18:9b, 10a6 Isaías 4:1-10 e 43:5; Atos 26:18 6 Isaías 42:7,16; 2 Coríntios 6:2 6Isaías 49:8). Paulo entendeu que sua tarefa era de continuar a missão doMessias que é uma “luz para as nações” divulgando as boas novas atéaos confins do mundo. E, como na de Jesus, a missão de Paulo incluiriao sofrimento e sacrifício (Colossenses 1:24).

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Que Jesus é o Cristo e agora oferecia salvação aos gentios sópoderia significar que a era final, de fato, já havia começado. No seucerne, então, o ponto de partida apropriado e o tema dominante doevangelho para Paulo era a cruz de Cristo. Deus oferece a salvação atodos através da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Esta salvação,entretanto, não era apenas pessoal como se pensa popularmente, masera uma transformação da própria história, isto é, uma salvação emque foi revelada a vontade de Deus dentro do plano e curso da história.Agora as regras do jogo mudaram. O nosso mundo não é mais o mesmo.Há uma nova criação. Assim, a cruz se vê como o cumprimento daquiloque passou e a garantia, inauguração e catalizador já daquilo que há deacontecer, tanto para os judeus como para os gentios.

No seu cerne, então, o ponto de partida apropriado e o temadominante do evangelho de Paulo é a salvação. Deus oferece a salvaçãoa todos através da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Esta salvação,entretanto, não é apenas existencial, mas é uma salvação apocalíptica-escatológica, isto é, uma salvação em que foi revelada a vontadesalvífica e universal de Deus dentro do plano e curso da história. Assim,a crucificação e ressurreição de Jesus se vê como cumprimento daquiloque passou e garantia, inauguração e catalizador daquilo que há deacontecer, tanto para os judeus como para os gentios.

Conclusão

Apesar da complexidade e riqueza do pensamento paulino, hámuita coerência na sua experiência de conversão. Em tudo isto, Paulodá à cruz e à ressurreição um foco missionário. Para Paulo, Cristo temo papel central através da história da salvação. A missão universal temsua base na crença pessoal em Jesus Cristo, sua morte e ressurreição, etem seu alvo na esperança e preparação evangelística para sua vinda.Esta crença e esperança eram baseadas na experiência de conversão eno chamamento apostólico de Paulo, e lançaram-no numa missãodinâmica que faz uma contribuição sem paralelo à teologia bíblica demissão.

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PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Qual é a perspectiva salvífica e as implicações missiológicasda eleição e predestinação?

2. Qual é o impacto da cruz e da páscoa no seu testemunho?

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A TEOLOGIADE PAULO

1 Coríntios 1:18-25

Paulo não desenvolveu seu ministério de fundamentosexclusivamente dogmáticos. Nem podemos afirmar que Paulo era um“teólogo” no sentido que muitos o fazem hoje em dia, como se fosseum escritor de teologia sistemática. Em vez de considerá-lo como umteólogo sistemático, devemos encará-lo como um teólogo pastoral, quedesenvolveu sua perspectiva das situações concretas e problemaseclesiásticos em que se envolvia. Melhor, Paulo seria uma sorte deteólogo peregrino (ou missionário!) que, na estrada da experiência davida e do ministério, procurava “teologar”, ou verbalizar a sua fé, apartir da sua vivência. Assim, Paulo seria melhor descrito como umteólogo de práxis que, partindo da sua experiência, refletia nela a basedas escrituras hebraicas e do seu encontro com Jesus crucificado eressurreto.

As cartas

As cartas de Paulo não são textos missionários no sentido estrito,mas são correspondências pastorais (sem dúvida, dum pastormissionário), que respondem aos problemas particulares e pastorais decomunidades cristãs específicas. Muito se presume nas cartas, que defato, não é dito. Ler as cartas é como ouvir alguém na mesma sala queestá tendo uma conversa no telefone: sempre tem que inferir o que apessoa no outro lado da ligação está dizendo.

Felizmente, porém, há também uma dimensão pública e universaldesta correspondência pois, embora escrita para uma audiênciaespecífica, é intencionada para uma leitura pública e talvez até mesmopara circulação entre outras comunidades. Em todo caso, foi isto que de

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Igreja: Por quê Me Importar?

fato aconteceu e isto atribuímos à dimensão de inspiração do EspíritoSanto desde o início.

Embora a correspondência não seja textos missionários no sentidoestrito e formal, é importante enfatizar que foi escrita durante o períododa atividade missionária mais energética de Paulo. Assim, as cartasdevem ser vistas como reflexões pastorais em relação à missão quePaulo recebeu e assumiu.

Nesta cartas, encontramos a “teologia” de Paulo, isto é, a suaexpressão mais elaborada de quem é Deus e qual é o Seu propósito parao mundo através da história. Mais especificamente, a experiência deconversão mostrou a Paulo que o Deus de Israel exerce sua soberaniasobre toda a criação e todos os povos, livremente chamando todos àsalvação através de Jesus Cristo. Isto é a pedra angular da sua teologia.

A soberania de Deus sobre tudo e todos

Já havia, no Velho Testamento, a declaração do Senhorio de Deussobre todas as pessoas. Paulo, porém, elabora a convicção de que oDeus de Israel escolhe todos—tanto judeu quanto grego—para asalvação através de Jesus Cristo.

A sua carta aos romanos. Nesta correspondência, Paulodesenvolve e define o resultado da sua luta ministerial para mostrar eexplicar a rejeição geral do Evangelho pelos judeus e a sua aceitaçãogeral pelos gentios. O texto 1.16-17 serve como tema de toda a suacarta, chegando a um clímax nos capítulos 9-11. Aqui Paulo mostraque tanto o judeu como o gentio necessitam da justiça de Deus e quetodos igualmente são pecadores. A “justiça” de Deus não é tanto umtermo abstrato e jurídico quanto descreve a relação de Deus com ohomem. Assim, Deus é “imparcial” na sua salvação, pois ninguém amerece. Ele é o justo que justifica injustos (4.17), e assim se provaimparcial (3.11). Não é por acaso o tanto que esta perspectiva ésemelhante à imagem de Deus no cerne do ministério de Jesus.

Esta justiça de Deus se manifesta na “história da salvação”, ouna escatologia divina pois, no fim, a salvação irá de fato atingir não sóos gentios como também os próprios judeus, e assim tanto as promessas

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de Deus na eleição quanto a sua liberdade na inclusão dos gentios semostram motivos de doxologia (11.33-36).

O tema de “conhecer a Deus”. Este tema, que vem da pregaçãomissionária judaica, demonstra aos gentios o mesmo senso de iniciativae chamamento de Deus. O bom exemplo é Gálatas 4.8-9. “Conhecer”,neste caso, implica em compromisso total com Deus, em contraste comRomanos 1.21, onde diz que os gentios “conheceram” a Deus, porém,não o honraram. “Ser conhecido por Deus”, por outro lado, sugere aação salvífica de Deus, que é a base da teologia paulina de missão.

Por certo, a experiência de conversão demonstrou a Paulo aurgência da vontade salvífica de Deus e que esta vontade erademonstrada através de Jesus Cristo.

A percepção de Cristo

De novo, sua experiência de salvação radicalmente reformulousua compreensão de Jesus. Antes, Jesus e o movimento que ele fundoueram uma ameaça para Paulo. Agora, o “inimigo” se manifestou Messias,Filho de Deus.

Sem dúvida, o impacto de Cristo na teologia paulina era enorme.Quase todo parágrafo dos seus escritos o ecoa, tanto que seria impossívelelaborar compreensivamente a cristologia paulina. Em vez disto, apenasdestacamos algumas nocões básicas.

Jesus é o messias exaltado. Isto é a chave para a visão que Pauloteve da identidade de Jesus. Jesus de Nazaré era a pessoa histórica atravésda qual Deus efetivaria seu plano de salvação (Romanos 1.3-4). Istotem conseqüências para o papel dos gentios neste plano.

A função messiânica de Jesus. A função messiânica de Jesus seevidencia preeminentemente através da sua ressurreição. O VelhoTestamento não havia preparado Paulo para este reconhecimento. Pauloentendeu que no centro do evangelho estava a crucificação de Jesus eque através da sua exaltação pela ressurreição toda a humanidade recebe

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Igreja: Por quê Me Importar?

a oferta de mudar da morte para vida, do pecado para Deus (1 Coríntios1.18, 23-24). O evento de morte-ressurreição de Jesus é a revelaçãoúltima do dom gratuito de Deus para a salvação de todos (1 Coríntios15.1-15). A “universalidade” da missão de Jesus era o fundamento dosmais amplos textos paulinos de “nenhuma distinção” (Romanos 3.21-24; 10.12; Gálatas 3.16-18).

Salvação participativa. Com Paulo, como em todo o NovoTestamento, a universalidade e inclusividade da salvação que Deusofereceu não é independente da resposta humana. Paulo sempre põeseus qualificadores nas suas declarações de salvação universal, que é“para aqueles que crêem”, que “estão em Cristo” ou que são “chamados”.

Aqueles que provam o dom universal de salvação são aquelesque respondem ao evangelho com a fé. Isto, então, limita o escopo quea salvação vai alcançar, e a dimensão de resposta faria com que Pauloreavaliasse a atitude dos judeus e dos gentios, pois a lei definitivamentenão era o meio de salvação como constou a própria experiência de Paulo.Todos, judeus e gentios, estavam debaixo do senhorio do pecado, damorte e da carne, antes de Cristo. Todos—judeus e gentios—sãojustificados através da fé em Jesus Cristo (Romanos 3.21-26; Gálatas2.15-16; 3.15-19).

As convicções fundamentais da teologia elaborada acima têmenormes conseqüências para o resto da síntese teológica de Paulo.Destacamos aqui os assuntos mais significantes.

A história

A era messiânica. O reconhecimento de que Jesus era o Messiasexigia uma reformulação da perspectiva paulina da história. A eramessiânica, há muito esperada, já havia começado! E Paulo responde à suachegada admirado (2 Coríntios 6.2; 5.17). O plano de Deus para a salvação,antes escondido, agora é manifesto neste momento de graça (Romanos16.25-26; 1 Coríntios 2.7). Mesmo assim, há ainda um momento futuro desalvação, quando todos os poderes malignos do universo serão conquistadose sujeitos quando Cristo estabelecer definitivamente seu Senhorio. Então,Deus será “tudo em todos” (1 Coríntios 15.20-28).

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Com a chegada do Messias, certamente Paulo lembrou da tradiçãojudaica que o destino dos gentios aguardava a era messiânica (veja seuuso do Velho Testamento em Romanos 10.13-21; 15.9-12), quando iráa Sião em peregrinação (Isaías 66). Esta crença só poderia ter fortalecidoseu chamamento como apóstolo aos gentios.

Também o tema escatológico da peregrinação gentílicainfluenciou a estratégia paulina quanto a Israel. Pois, uma razão pelaqual Paulo tanto zelava pela salvação dos gentios era que, através disto,Paulo convenceria Israel que, de fato, chegou a era missionária e queIsrael pode gozar a salvação em Cristo (Romanos 11).

A era do Espírito. Um outro aspecto da orientação histórica,junto com sua própria experiência de conversão, que Paulo muitoreparava, era a expectativa judaica que, com a chegada da era messiânicachegava a era do Espírito. Paulo reconheceu e elaborou que os dons doEspírito Santo eram derramados sobre os cristãos gentios, como deveriase esperar para a era final. Paulo se refere muito à sua própria experiênciado Espírito (1 Tessalonicenses 1.5; 1 Coríntios 2.4; 7.40; 2 Coríntios12.12; Romanos 15.18-19) e as tais experiências entre os cristãos colegas(1 Coríntios 17; 2.12; 3.16; 6.19; 7.7; 2 Coríntios 1.22; 4.13; 5.5; Gálatas3.25; 4.6; Romanos 5.5; 8.9,11,23).

Esta evidência da presença ativa do Espírito, garantiu para Pauloque a idade messiânica havia chegado. De fato, Deus estava operandoentre os gentios e, portanto, o próprio chamamento de Paulo eraconfirmado. E a presença do Espírito também confirma a experiênciada atuação de Deus entre os gentios cristãos (Gálatas 3.1-5).

Paulo não era um teólogo teórico só, mas era um teólogo pastor-missionário que elaborava suas convicções da experiência religiosagenuína e da práxis ministerial.

A lei

A partir da sua conversão, Paulo também modificou a suaperspectiva da lei judaica. Isto, então, provocou uma reformulação dolugar do gentio e do judeu na história da salvação, e teve impacto diretona estratégia paulina de missão.

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Igreja: Por quê Me Importar?

A lei não levava à salvação. Paulo era convencido de que asalvação de Deus vem apenas e definitivamente através da fé em JesusCristo, e não através da lei. Isto não significava para Paulo que a lei nãotinha valor algum (Romanos 7.12, 16). Era instrutiva, servia de “tutor”ou “aio”, botando a criança Israel na linha até que a verdadeira fonte devida chegasse (Gálatas 3.23-29). Até os gentios tinham acesso ao poderinformativo da lei se apenas seguissem os bons instintos da suaconsciência (Romanos 2.12-14). Porém, de maneira alguma, a lei eraum meio de salvação para alguém.

A partir desta nova perspectiva sobre a lei, a teologia cristãprimitiva, seguindo o próprio exemplo de Jesus, tomou novos rumos.No seu sermão no monte, Jesus já estabelecera a precedência desta novaperspectiva. As leis no Antigo Testamento a respeito do homicídio,adultério, o falso juramento e vingança foram intensificadas einteriorizadas para incluir a ira, a lascívia, qualquer juramento e o ódio.Jesus, de fato, vinha cumprir, isto é, intensificar e interiorizar a lei, poiscom a sua vinda, a lei de Deus estava escrita nos corações dos crentes.

Por isto, a partir da vinda de Cristo, vários costumes sagradíssimosdo Antigo Testamento mudaram na prática da igreja primitiva. Acircumcisão foi reinterpretada no batismo cristão (Colossenses 2:10-12), a páscoa na ceia do Senhor, o sábado na consagração de todos osdias da semana, o Israel no povo crente em Jesus, e o dízimo na ofertada vida toda ao serviço do reino de Deus. Infelizmente, em séculosposteriores e em alguns lugares hoje, a igreja retrocedeu para o exercíciono Velho Testamento de algumas destas práticas, esquecendo-se doensino no Novo Testamento e a prática da igreja primitiva. A maneiraque entendemos o dízimo e a observação do domingo são dois exemplosdeste desentendimento e retrocesso entre nós.

Salvação apenas através de Cristo

Esta perspectiva, em última análise, mudou a maneira que Paulotratava os gentios, em contraste ao proselitismo judaico. A salvação deum gentio não implicava na sua entrada no Israel étnico, pois, se fosseassim, iria negar efetivamente o verdadeiro caminho de salvação atravésde Jesus Cristo. Por isso, Paulo briga veementemente pelo “evangelho”

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contra os gálatas que eram seduzidos pela lei. Por um lado, Paulo nãofazia objeções quando os cristãos judeus mantinham as práticas da lei,como ele mesmo o fazia. Por outro lado, para um gentio assumir a lei,poderia escurecer o ponto central do evangelho: a salvação vem a todossomente através de Cristo.

Novamente, esta perspectiva não vinha de teoria, e sim da própriaexperiência e prática de Paulo. Nem ele mesmo, nem seus convertidostiveram um encontro com a ação salvífica de Deus através da lei; ePaulo lembrava seu rebanho disto (Gálatas 3.2).

O protótipo: Abraão. Paulo baseava esta convicção não só naexperiência e revelação de Cristo, mas também na figura de Abraão.Abraão era o protótipo do cristão, porque era salvo antes e separado dalei, ainda na condição de gentio, e com base em sua fé (Gálatas 3.7-29;Romanos 4.1-25).

Israel

Esta questão, mais que qualquer outra, era difícil, polêmica equente para Paulo, e ele a tratou com compaixão (Romanos 9.1-5). Àsvezes, seu amor pelas suas tradições judaicas e seu compromissoabsoluto ao evangelho pareciam estar em grande conflito.

A eleição. Por exemplo, Paulo teve que mudar a sua noção deeleição, que não poderia mais significar simplesmente uma designaçãoa um só povo. Agora a eleição se referia à resposta positiva de alguémà oferta gratuita de salvação e graça de Deus. Os escolhidos são os“filhos da promessa”, não “filhos da carne” (Romanos 9.8), aqueles“justificados pela fé em Cristo” (Romanos 8.29-30).

A eleição se manifesta não pela filiação a um certo povo, maspela aceitação crente do evento de Cristo. A comunidade cristã é agorao povo eleito, que levou Paulo a redefinir a própria noção de Israel(Gálatas 6.16). Os gentios igualmente têm acesso ao povo escatológicode Deus.

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Igreja: Por quê Me Importar?

Romanos 9-11. Paulo elabora esta questão do papel de Israel nahistória de salvação nestes capítulos.

Aqui Paulo reconhece que os gentios não são somente chamados,como também estão respondendo afirmativamente ao evangelho,enquanto os judeus, em grande escala, estavam recusando o evangelho.

Para a sua estratégia missionária, Paulo viu que a rejeição porIsrael fornecia a oportunidade para a missão aos gentios (Romanos11.11). Mas Israel não está fora do quadro. Também o chamamentoinicial para seu povo permanece intacto (Romanos 9.4-5; 11.1, 29).Parecem ser “inimigos de Deus” (11.28), “duros de coração” (11.28)na sua recusa de crer, mas isto também faz parte do plano de Deus, queabre o espaço para a missão gentílica (11.25) e prepara para um grandefinal quando todos—gentios e judeus—serão salvos pela eficácia daconfissão de fé em Jesus (Rm 10.8). Portanto, Paulo conclue: “os donse a vocação de Deus são irrevogáveis” (11.29).

O ministério de “ciúmes”. Aceitando a salvação, os gentiospodem convencer Israel de que a era final de salvação chegou e levá-loa responder afirmativamente ao evangelho. Provocar estes santos“ciúmes” era um dos alvos mais amplos de Paulo no seu zelo missionário(Romanos 11.13-15,25-26,30-31).

Inclusive a coleta de Paulo tinha a ver com estes ciúmes, poisPaulo corre muito risco de vida para voltar para Jerusalém (de fato,Paulo foi preso nesta viagem e levado a Roma), com uma companhiaexcessivamente grande de convertidos gentios, a fim de provocar ociúme em alguns judeus e a conversão em Cristo (Romanos 15.15-29);neste sentido, não era por acaso que, no fim de cada viagem missionária,Paulo visitava Jerusalém para tentar ganhar alguns dos seuscompanheiros à salvação.

Conclusão

Deus usou especialmente o apóstolo Paulo para esclarecer asimplicações da vinda de Cristo para nós. Desde que ele encontrou oCristo ressurreto, sua teologia passou a ser nada menos que a expressão

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da sua nova compreensão de Deus, sua percepção da história e sua visãodo destino humano. Por isso, ele disse:

Com efeito, a linguagem da cruz é loucura para aquelesque se perdem, mas para aqueles que se salvam, paranós, é poder de Deus. Pois está escrito:

Destruirei a sabedoria dos sábios

e rejeitarei a inteligência dos inteligentes.

Onde está o sábio? Onde está o homem culto?

Onde está o argumentador deste século? Deus nãotornou louca a sabedoria deste século? Com efeito, vistoque o mundo por meio da sabedoria não reconheceu aDeus na sabedoria de Deus, aprouve a Deus pela loucurada pregação salvar aqueles que crêem. Os judeus pedemsinais, e os gregos andam em busca de sabedoria; nós,porém, anunciamos Cristo crucificado, que para osjudeus é escândalo, para os gentios é loucura, mas paraaqueles que são chamados, tanto judeus como gregos,é Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. Pois oque é loucura de Deus é mais sábio do que os homens,e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que oshomens. (1 Coríntios 1:18-25, na versão da Bíblia deJerusalém)

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Qual é o papel e lugar de Israel na escatologia paulina e qual éa relação destes à estratégia missionária de Paulo e da igrejahoje?

2. Para Paulo, quando começa a era messiânica? Qual é aimplicação disto para a tarefa missionária da igreja?

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Igreja: Por quê Me Importar?

3. Como você define o conceito de “teologia” à luz das cartas dePaulo?

4. Paulo era que tipo de teólogo?

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A MISSÃODE PAULO

Romanos 15.14-21

Com sua nova orientação e a revelação por Jesus que a salvaçãohavia chegado, Paulo não poderia conter a sua explosiva pregação. Istoé evidente, especialmente nos textos onde Paulo fala diretamente sobresua comissão missionária.

A compulsão para pregar

Paulo fala da transformação de sua estimação de Cristo (2 Coríntios5.16-20). Aquela experiência de conversão transformou sua perspectivada história e o fez ciente da sua vocação como “embaixador de Cristo” eministro de “reconciliação”. O conhecimento da graça ilimitada de Deusquebrou todas as divisas entre judeu e grego. Porém, agora a mensagemtinha que ser anunciada a fim de que todas as pessoas “roguem o nome doSenhor” e experimentem as boas novas (Romanos 10.12-15).

O ministério de Paulo foi pela “graça” de Deus e era o seu“serviço sacerdotal”. Sua missão aos gentios era uma oferta a Deus,que ultimamente atingiria o próprio Israel e, assim, completaria oministério da salvação. Sua tarefa o levaria a circular1 o mundomediterrâneo, sem construir na obra dos outros, porque o tempo eracurto e a tarefa urgente (Romanos 15.15-21). A combinação das suasexperiências e das suas convicções deixou Paulo sem escolha. Eracompelido a pregar.

Desde Paulo encontrou o Cristo ressurreto, seu conceito demissão passou a ser nada menos que a expressão da sua novacompreensão de Deus, sua percepção da história e sua visão do destinohumano.

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Igreja: Por quê Me Importar?

Sua estratégia

O objetivo. Embora possa ter demorado alguns anos para Paulocompreender plenamente o escopo do seu chamado, até seu ministérioprincipal missionário, já era ousado no seu alvo missionário—“trazeros gentios”, provocando Israel ao arrependimento e, assim, precipitar oato final no drama da salvação.

Isto é evidente pelos títulos que Paulo assumiu para si comoseu chamamento profético (Romanos 1.1, veja Isaías 49.1, e Gálatas1.15 veja Jeremias 1.5; veja suas citações proféticas em Atos 13.47;18.9,10; 26.18), e seu ministério sacerdotal, oferecendo os gentios aDeus como “um sacrifício aceitável santificado pelo Espírito Santo”(Romanos 15.16). Ele concebeu a sua pregação como um meio atravésdo qual Deus o usou para “manifestar em todo lugar a fragância do seuconhecimento”. Paulo é “o bom perfume de Cristo” (2 Coríntios 2.14-15). O apóstolo afirma que é um “embaixador de Cristo”, “Deus exortapor seu intermédio” (2 Coríntios 5.20). Seu ministério é “da novaaliança”, designado por Deus (2 Coríntios 3.6). Ele é o “servo” de Deus,através de quem pessoas vêm a crer (1 Coríntios 3.5). Acima de tudo,Paulo é “apóstolo” ou, mais especificamente, “3apóstolo para os gentios”(Romanos 11.13).

Estes títulos não anulam a confissão franca de Paulo sobre suasfraquezas. Porém, nunca ele hesita em falar da natureza do seu ministériomundial e definitivo.

O alcance. Paulo fala explicitamente disto em Romanos 15.15-33, talvez o último texto que Paulo escreveu na Bíblia. Seu chamado édescrito como sendo de “ministro de Cristo Jesus aos gentios”, e a missãofoi realizada “por palavra e por obras, por força de sinais e prodígios,pelo poder do Espírito Santo”. Portanto, Paulo mesmo afirma que seuministério não era limitado apenas à pregação, mas inclui “curas e outrossinais”. Nesta altura, Paulo já havia chegado até Ilírico desde Jerusalém.

À luz do contexto desta carta, Paulo evidentemente propôs fazermais; pelo menos, prosseguir até a Espanha, usando a igreja romanacomo sua base, como a igreja de Antioquia era até aquele ponto. Suavisita a Roma era um passo significante na sua missão escatológica

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pois, os grandes temas desta carta—salvação para judeu e grego—forneceram o contexto, o escopo do seu apostolado missionário, que olevou até Roma e Espanha. Como disse aos coríntios, “tendo esperançade que, crescendo a vossa fé, seremos sobremaneira engrandecidos entrevós, dentro da nossa esfera de ação, a fim de anunciar o evangelho paraalém das vossas fronteiras...” (2 Coríntios 10.15-16).

A missão gentílica tinha implicações para o próprio Israel.Portanto, Paulo deve primeiro levar sua coleta das igrejas gentílicaspara Jerusalém. Ele sempre era ciente de que seu ponto de partida eraJerusalém (Romanos 15.22-29).

A prioridade. Paulo procurava atingir primeiro os centrosprovinciais que não eram evangelizados na sua missão. Isto era umaestratégia do “quadro geral” e não dos detalhes, isto é, não de todo equalquer lugar. Ele não tentava evangelizar o mundo gentílicototalmente, mas contava com a obra evangelizadora das comunidadesque ele estabeleceu para continuar a missão. Ele mesmo se apressavapara a tarefa urgente de pregar o evangelho para aqueles que não oouviam (Romanos 10.14). Sua perspectiva era de “preencher” ou“completar” (Romanos 15.19) os principais lugares que faltavam nomundo gentílico e prosseguir em frente.2

Já que Paulo entendeu que Deus oferece a salvação a todosagora e que ele era chamado para pregar entre os gentios, dedicou suaenergia ao ministério móvel da pregação que varreu o mundo gentílico.Para Paulo, um judeu helenista, o mundo gentílico significava o mundogreco-romano. Porque esta missão tinha como motivação provocar osjudeus aos ciúmes e, assim, iniciar o capítulo final da história dasalvação, a missão paulina possuia um aspecto de urgência. Não queriaduplicar o trabalho dos outros e não prosseguia nesta missão semreferência às suas raízes no judaísmo. A coleta e seus esforços paravalidar seu ministério com a comunidade em Jerusalém eram sintomasdesta preocupação.

O alvo. Paulo teve uma certa “ansiedade apostólica” pelasigrejas que estabeleceu e se preocupava muito com a perseverançadestas, pois estas comunidades eram provas do seu próprio apostolado

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Igreja: Por quê Me Importar?

e chamamento (1 Coríntios 9.1-2; 1 Tessalonicenses 2.19; Filipenses2.16; 2 Coríntios 11.28). Sua preocupação pela saúde de suas igrejasrefletia também sua orientação à história da salvação. A formação da“igreja” demonstrou que “agora é o dia da salvação” (2 Coríntios 6.2).

A vida da igreja em Cristo era evidência de que Deus ofereciasalvação a todos através da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Portanto,para Paulo, a fidelidade contínua das comunidades gentílicas eratestemunho vivo da sua visão escatológica, que ele descobriu em Cristo.Paulo esperava que esse “testemunho” penetrasse a cegueira de Israel,e assim pudesse tirar o véu que escondia o final glorioso do plano deDeus de salvação.

Por isso mesmo, apesar da sua urgência de se apressar paraáreas novas, Paulo gastou considerável tempo no “cuidado pastoral”.Paulo não se satisfazia em meramente “implantar” a igreja e depoissair, apesar das suas próprias afirmações a este respeito. Sentiuresponsabilidade pessoal pelas comunidades que ele estabeleceu e, semhesitação, mandava-lhes diretrizes específicas e pastorais. O fato deque comunidades, como os coríntios, pediam conselho de Paulo sobrequestões específicas e suas visitas freqüentes a elas, demonstram quePaulo não se apresentava como mero evangelista passageiro, mas comoalguém que retinha autoridade sobre estas comunidades e tinha aintenção de pastoreá-las.

Concluímos que a estratégia e o estilo da missão paulinacorrespondiam à sua teologia de missão.

Seu conteúdo

Embora as cartas de Paulo não contenham explicitamentesermões que o apóstolo pregava, é razoável que refletem os temas básicosque empregou na sua pregação. Como já reparamos, alguns temas vieramda tradição judaica de pregação missionária, embora o fundamentalseja o fruto da revelação de Jesus na sua experiência de conversão.

Abandonar os ídolos. Paulo apelou para os gentiosabandonarem seus ídolos (1 Tessalonicenses 1.9; Romanos 1.18-32).

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Porém, Paulo não se referia a idolatria apenas no sentido de adoraçãoaos ídolos, mas incluia o sentido de aliança a qualquer coisa que erafalsa. Abandono dos ídolos, como na pregação judaica, poupava osgentios da “ira vindoura” de Deus; só que para Paulo, esta libertaçãoera atribuída a Jesus (1 Tessalonicenses 1.10); Paulo, substancialmente,dá uma modificação cristã para um tema judaico tradicional.

O conhecimento de Deus e por Deus (Gálatas 4.8-9). Para ojudeu, “conhecer a Deus” pode ou se referir ao conhecimento de Deusatravés da natureza (o sentido que Paulo usa em Romanos 1.18-23) oua um compromisso total com Deus. Em Gálatas, Paulo usa o termoneste segundo sentido. “Conhecer a Deus” implicava em libertação daignorância da prisão aos falsos deuses. Paulo acrescentou uma outradimensão quando falou de “ser conhecido por Deus”, sendo este termoequivalente à escolha e à eleição do crente por Deus. Esta dimensãonão tinha precedência na literatura judaica.

Paulo relacionou os dois aspectos—“conhecendo” e “sendoconhecido”, libertação e eleição—ao ato de redenção de Cristo (Gálatas4.4-5). Portanto, como no tema idolatria, Paulo cristianiza o temaemprestado do judaísmo.

A morte e a ressurreição de Jesus. Isto era a parte principalda pregação de Paulo e veio pela sua experiência de conversão (1Coríntios 15.4; 2.2).

Por certo, Paulo era flexível, conforme situações diferentes.Mas, mesmo assim, a sua teologia missionária marcou profundamenteos traços da sua pregação, mesmo quando empregou temas judaicos.

Portanto, as convicções formadas na sua experiência deconversão—que Deus oferecia salvação a todos através de Jesus Cristomorto e ressurreto—serviam como plataforma básica à sua mensagemmissionária.

O foco escatológico da pregação. Paulo fala “desta era”(Romanos 12.2; 1 Coríntios 1.20; Gálatas 1.4) e da “era vindoura”(Efésios 1.21). Mas antes de serem categorias de tempo, estas são

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categorias qualitativas que descrevem os dois domínios distintos—doinimigo e de Deus. A era vindoura e o domínio de Deus é tanto futuro(2 Coríntios 4.7) como presente (2 Coríntios 5.17ss; Gálatas 6.15).

Como no Velho Testamento, o sinal da vinda do fim (escaton)seria a vinda do Espírito de Deus em poder. Por isto, Paulo enfatiza avida no Espírito como prova da chegada do escatão (Romanos 5.5;Gálatas 4.6,7) e garantia da consumação do mesmo no futuro (Romanos8.23; 2 Coríntios 1.22; 5.5).

As comunidades que Paulo estabeleceu são o povo escatológicode Deus, provas da fase final do plano de salvação de Deus.

IMPLICAÇÕES ATUAIS

Muitos estudiosos acreditam firmemente que Paulo esperava oretorno de Jesus logo em seguida, talvez enquanto Paulo estivesse aindavivo. Entretanto, há vários indícios do contrário. Por exemplo, ele nuncafala disto, e esta observação deve pesar muito, diante do elevadíssimonível de paixão e urgência que Paulo sentia em relação a seu serviço aCristo. Além do mais, gastava muito tempo no trabalho pastoral. Paulo,o maior missionário da história, prezava o pastorado! Pois sem a firmezae permanência das sua igrejas, o seu evangelho se provaria defeituoso,e sua crença no estabelcimento da era vindoura por Deus, enganada.Creio que haja uma lição de tremenda importância para nós nisto tudo.Enquanto (e porque!), sem dúvida, devemos estar sempre prontos parao Dia Final, nosso esforço no aqui e no agora se nutre não apenas nestaesperança futura, mas também na já inauguração do reinado de Deusno nosso mundo. É nesta dispensação da graça de Deus, em que ospovos estão conhecendo a Deus e sendo conhecido por Deus, que aigreja pode e deve anunciar as boas novas. Apesar das aparênciascontrárias, maldade e pecado no mundo, e problemas dentro da própriaigreja (não era diferente na igreja primitiva!), quase dois mil anos dehistória comprova: o evangelho está de fato avançando e Deusestabeleceu seu povo para ser Sua testemunha. Se recuamos neste dever,as próprias pedras anunciarão.

Mas além da urgência (ainda!) da tarefa e da certeza da suaviabilidade, Paulo nos oferece estratégias concretas que nos guiam até

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os dias de hoje: 1) manter na mira os grandes centros urbanos dasprovíncias (mas infelizmente nós aqui hoje priorizamos as regiões maisdistantes dos centros!); 2) enfocar lugares não onde Cristo já foraanunciado (não necessariamente onde a nossa igreja não foraestabelecida!); 3) ter uma visão ousada do mundo inteiro como nossocampo de trabalho (não apenas nossa região e nem sequer todo o nossopaís); 4) estrategizar em termos de grupos ou povos étnicos; e 5)estabelecer e acompanhar de perto, igrejas fortes que vivam não naprecariedade espiritual e moral, mas comunidades de fiéis quetransbordam de alegria e unção do Espírito, que Deus nos deixou comoselo e garantia da nossa salvação.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Qual é o papel e lugar de Israel na escatologia paulina e qual éa relação destes à estratégia missionária de Paulo e da igrejahoje?

2. Para Paulo, quando começa a era messiânica? Qual é aimplicação disto para a tarefa missionária da igreja?

3. Qual era a estratégia missionária regional e étnica de Paulo?

1As versões em português geralmente traduzem Romanos 15.19 “circumvizinhanças” ou“arredores”, mas a palavra, tanto no Novo Testamento quanto em toda a literatura gregaantiga, sempre significa “círculo” e assim deve ser traduzido com “circulando” e descrevetodos os roteiros missionários de Paulo.2"Divulgar” o evangelho em Romanos 15.19 tem a idéia literalmente de “completar” ou“preencher” os lugares que a pregação do evangelho ainda não atingiu.

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FINALIDADE DE CRISTO EFIDELIDADE DA IGREJA

Hebreus

A Carta aos Hebreus contribui por afirmação e por exortação àênfase missionária da Bíblia. Contribui por exortação pois nos mostra,que a confiabilidade de Deus em salvar o mundo por meio de Cristo, éameaçada quando a igreja vacila na sua fé e no seu testemunho. Estacarta, portanto, exorta a igreja de permanecer firme na fé, tanto diantede perseguição e zombaria oriundas fora da igreja, quanto diante datentação à preguiça e o relaxamento dentro da igreja.

Também contribui porque afirma a finalidade de Cristo emcumprir os propósitos de Deus para o mundo. Estes propósitos parecemcomo sombras no Velho Testamento em comparação com a supremaciade Cristo. Tal ênfase na supremacia de Cristo pelo seu cumprimentohistórico do Velho Testamento destaca a importância da época atualcomo o período da salvação e portanto o período de missão (Hebreus1.5; 3.7, 13, 15; 4.7; 5.5; 13.8).

Assim o duplo tema da carta aparece como: 1) a finalidade deCristo nos planos de Deus, vistos como sombra no Velho Testamento,para a salvação do mundo e 2) a necessidade consequente da igreja seencorajar e permanecer firme na fé.

O pano de fundo histórico

A Carta aos Hebreus não começa como outras cartas do NovoTestamento que deixam transparecer o seu carácter ocasional. Naverdade, Hebreus parece mais uma homília extensa com um alto estilode composição retórica, que uma carta. Entretanto, a conclusão deHebreus demonstra que um grupo específico (talvez em Roma),conhecido pelo autor, está em mente (13.19, 23), e por isso fala-se da

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Igreja: Por quê Me Importar?

“Carta” aos Hebreus.

A autoria específica da carta é desconhecida, algumas sugestõesincluindo Paulo (pelo teólogo puritano João Owens), Lucas ou Clemente(por João Calvino), Apolo (por Lutero), e até Priscila. O mais certo,entretanto, é o comentário de Orígenes, logo no início da história daigreja: “somente Deus sabe”! Mas mesmo não sabendo o nome do autor,é difícil duvidar que tanto ele quanto os seus leitores tenham sido judeus,pelo grande volume e profundidade de citações do Velho Testamento.

1. Citações de:Gênesis ( 4.4 )Êxodo ( 8.5 )Levítico ( 9.7 )Números ( 3.5 )Deuteronômio ( 10.30 )2 Samuel ( 1.5 )Salmos ( cita 11 vezes )Provérbios ( 12.5-6 )Isaías 2.13 )Jeremías ( 8.8-12 )Ezequiel ( 13.15 )Oséias ( 13.15 )Habaquque (10.37-38 )Ageu ( 12.26 )Zacarias ( 13.20 )

2. PersonagensCaim e Abel ( 11.4; 12.24 )Enoque ( 11.5-6 )Noé (11.7 )Abraão ( 7.1-10; 11.8-19 )Isaque ( 11.21 )Jacó ( 11.21 )Esaú ( 12.16 )José ( 11.22 )Moisés ( 3.1-6; 11.23ss )Arão ( 5.4; 9.4 )Raabe ( 11.31 )Muitos juízes e profetas( 11.32-38 )

3 Eventoscriação ( 11.3; 4.4 )queda ( 6.8 )Moisés no Egito ( 11.24-27 )Páscoa ( 11.28 )Êxodo ( 3.16; 11.29 )Monte Sinai ( 9.18-21; 12.18-21 )Entrada na Terra Prometida( 3.18-19; 11.30 )

4 Instituições e ceremôniastabernáculo ( 9.1-5 )Dia da propiação ( 9.7 )Sacerdócio ( 5.1-3; 10.11 )Sacrifícios ( 7.27; 8.3 )Ritos de purificação ( 9.13 )Lei ( 7.28; 8.4 )Aliança ( 9.15-20 )

Extraída de Homens com uma mensagem, de John Stott e Stephen Motyer, Campinas , EditoraCristã Unida, p. 109.

O velho Testamento na Carta aos Hebreus(as referências em Hebreus estão entre parênteses)

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Figure 1

Sabemos que estes últimos sofreram perseguição quando seconverteram (10.32-34), e que eram conhecidos pelo seu serviçosacrificial (6.12). Mas hoje o autor os chama de “preguiçosos” e “tardiosem aprender” (5.12; 6.12), necessitando de repetidas exortações paranão se afastarem de Deus (3.12), mas avançarem em maturidade (6.1).Desanimaram na fé ou estavam sucumbindo à tentação de abandonar afé e retornar ao judaísmo? Não sabemos precisamente, mas em qualquercaso, o autor oferece a solução: uma visão nova e clara de Jesus na suafinalidade e supremacia, em relação às instituições mais sagradas datradição judaica elaboradas nas escrituras. Assim resumimos o conteúdoda carta em quatro partes.

O ensino de Hebreus

A mensagem de Hebreus se resume no cumprimento definitivoe final por Cristo de toda a revelação divina até então:

Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e demuitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimosdias nos falou pelo Filho a quem constituiu herdeiro detodas as cousas, pelo qual também fez ouniverso....Jesus, por causa do sofrimento da morte,foi coroado de glória e de honra, para que, pela graçade Deus, provasse a morte por [toda a humanidade](1.1-2; 2.9b).

Como João, o autor de Hebreus destaca a naturezaabsolutamente divina de Cristo e realça a sua obra redentora, uma obrade significância universal, a favor de toda a humanidade (2.9-18; 5.7-9). Sua supremacia é elaborada na carta tanto em termos de sequênciahistórica (horizontalmente: antes e agora, o temporário e o eterno) quantoem termos de nível e local (verticalmente: o terrestre e o celeste, asombra e a plena revelação). Assim o autor comunica que em tudo,Cristo é a revelação maior, mais completa e final de Deus. Não hánenhuma outra palavra de Deus por vir.

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Igreja: Por quê Me Importar?

Esboço de Hebreus:

Ética2.183.7-4.135.11-6.2010.19-13.25

Teologia1.4-2.173.1-64.14-5.107.1-10.18

AssuntoAnjosMoisésArãoSacerdócio / alinça

Supremacia histórica: antes e agora. O autor de Hebreusdemonstra a primazia de Cristo contrastando o seu papel no plano deDeus com o papel dos anjos, de Moisés, de Arão e de todo o sacerdóciolevítico. Finalmente compara o sacrifício de Cristo crucificado comtodo o sistema de sacrifícios elaborado na extensão das escrituras. Nistotudo, Cristo é a realização final e substituto destas figuras e instituiçõesque apontavam, mesmo obscuramente, para a sua obra redentora.Convém reparar que no final de cada seção, o autor fez uma aplicaçãocada vez mais clara da sua comparação teológica à necessidade dosseus ouvintes permanecerem firmes na fé. A ética apropriada nasce deteologia apaixonada.

Jesus é maior que os anjos (1.4-2.18) por dois motivos.Primeiro, ele realizou aquilo que os anjos não podiam, a identificaçãocom a humanidade pela incarnação, que por um lado estabeleceu Jesuscomo um “pouco” menor que os anjos (2.7). Segundo, Jesus foi coroadoe honrado pela sua ressurreição—sujeitando tudo, inclusive os anjos,debaixo dos seus pés— e assim conduz “muitos filhos” semelhantementeà glória (2.10). Finalmente, o autor apresenta a sua implicação éticadeste ensino, mesmo que sutil e indiretamente: naquele que venceu amáxima tentação encontramos forças também para vencer a tentação.

Jesus também é maior que Moisés (3.1-4.13), pois emboraambos fossem fiéis nas suas respectivas “casas” (Israel e a Igreja), afidelidade de Moisés era aquela dum servo do Construtor, enquanto ade Jesus era a dum Filho. Também o ministério de Moisés aguardavacumprimento enquanto o de Jesus se goza plenamente hoje. A exortaçãodo autor agora é mais desenvolvida: se alguns podiam se rebelar nosdias de Moisés e sofrer o castigo divino, quanto mais hoje devemoszelar para não endurecer os nossos corações.

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De modo crescente e climático o autor de Hebreus continua asua comparação, demonstrando que Jesus é ainda maior que tambémArão, um argumento que desenvolve extensivamente (4.14-10.39). Oargumento se desdobra da seguinte maneira: Arão representa osacerdócio levítico, o pessoal autorizado a cuidar do tabernáculo e dotemplo e de todo o processo de oferecimento de sacrifícios ligado aestas instituições judaicas cúlticas antigas. Cristo, por sua vez, éantecipado por Melquisedeque, uma personagem que mal aparece noVelho Testamento, apenas duas vezes em Gênesis 14.17-24 e Salmo110:4. Mas o autor de Hebreus dá muito importância para a sua pessoapor dois motivos. Primeiro, a mera presença do sacerdócio deMelquisedeque no Velho Testamento é evidência de que o sacerdóciode Arão e dos seus herdeiros era incompleto e imperfeito (7.11).Segundo, a própria pessoa de Melquisedeque é compreendida comoprefiguração de Jesus. Pois ambos:

• exercem uma função tanto de realeza quanto de sacerdócio (7.1;1.8) em contraposição à mera função cúltica dos sacerdoteslevíticos

• precedem o nascimento e ultrapassam a morte em contraposiçãoà vida temporária dos sacerdotes levíticos (7.3, 16)

• merecem a homenagem dos sacerdotes levíticos como a Deus,já que era Melquisedeque que abençoou Abraão, de quemdescendem os levitas (7.4-10, expondo Gênesis 14; cf. Números18.26)

• possuem uma linhagem independente da casa de Levi (7.13-14); e

• são designados sacerdotes por juramento divino e de validadeeterna, diferentemente da designação genealógica e temporáriados sacerdotes levíticos (7.21-23).

Em tudo isso, o sacerdócio de Jesus prefigurado na pessoa deMelquisedeque, é infinitamente maior do que o sacerdócio levítico dareligião judaica que o precedeu. Jesus, portanto, possue a supremaciahistórica em relação àquilo que o precedeu. E esta supremacia tambémse deve a posição superior de Jesus.

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Igreja: Por quê Me Importar?

Supremacia de posição: o terrestre e o celeste. O sacrifíciode Jesus é maior que o sistema de sacrifícios judaicos pois é celeste enão apenas terrestre. De pelo menos quatro maneiras o sacrifício deJesus supera a sombra imperfeita do Dia da Propiciação. Primeiro, aesfera do sacrifício de Jesus não se limitava à cerimônia externa doculto (9.13) mas também incluia a moralidade interior e pessoal (9.9,14) do adorador. Segundo, pela sua natureza, o sacrifício de Jesus eraperfeito (9.26), espiritual (9.14) e vicário (9.28). Terceiro, o seu sacrifícioúnico, realizado “uma vez para sempre” (9.12, 26, 28; e 10.10). E quatro,a eficácia do seu sacrifício era permanente, não passageira (6.20).

Portanto, em Jesus, Deus estabelece uma nova aliança ou umnovo testamento, baseado na santidade interior, no conhecimento pessoale no pleno perdão. Jesus é mediador deste novo pacto, superior aoanterior (9.15; 8.6), e definitivo, pois não será superado. É uma “aliançaeterna” (13.20), que traz ao povo de Deus uma “salvação eterna” (5.9),uma “redenção eterna” (9.12), e uma “herança eterna” (9.15).

A exortação de Hebreus

Na teologia, ou mais precisamente na cristologia, de Hebreus,há sempre uma preocupação de aplicar a visão sublime do papel eposição superiores de Cristo à situação da fé precária dos leitores. Jávemos isso depois da comparação de Jesus com os anjos, e depois comMoisés, e finalmente com Arão. Esta exortação alcança o seu momentomais intenso a partir de 10.19, “tendo, pois, irmãos”. Aqui encontramosum encorajamento profundo e uma advertência sóbria: encorajamentopara se firmar na fé (10.22), na esperança (10.23), e no amor (10.24; eadvertência sobre as consequências horríveis para aqueles quedeliberadamente pecam depois de conhecer a verdade (10.26). Nãopodemos assim desprezar o único sacrifício que resta pelo pecado semcorrer o risco de cair no julgamento terrível e eterno de Deus (10.26-27).

A fé. Pela plena certeza mesmo naquilo que não vemos (11.1),não desfalecemos, mas cremos para sermos salvos (10.39), como osheróis da fé nas escrituras antigas (capítulo 11), e considerandocuidadosamente o exemplo supremo de Jesus na cruz (12.1-3).

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A esperança. A disciplina e a perseverança à luz da esperançaem Jesus agora caracterizarão a vida cristã (capítulo 12).

O amor. Finalmente, o amor fornece o princípio mestre deética que guia toda a conduta dos fiéis. Mas este amor não é merosentimento. Caracteriza-se por ações concretas e visíveis: hospitalidadepara os desconhecidos (13.2), atenção aos presos (13.3), fidelidade nocasamento (13.4), contentamento ao invés da cobiça (13.5), e respeitoaos líderes da igreja (13.7-9, 17, 24).

Em tudo isto nós assumimos a desgraça de Jesus (13.13-14) epermanecemos solidários com ele onde ele sofreu, fora dos portões dacidade. Enchemos nossas vidas de louvor (13.15) e procuramos fazer obem aos necessitados (13.16), orando por todos (13.18-19) e olhando aDeus que nos capacita (13.20-21)

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. A igreja hoje sofre por causa dos seus valores e estilo de vida?

2. A sua igreja ou a sua vida evidencia relaxamento edesfalecimento na fé? Quais são alguns motivos disto? Comopodemos vencer e permancer firmes?

3. Você acha que missões realmente dependem do testemunho daigreja, e do seu testemunho?

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A IGREJA NASOCIEDADE

1 Pedro

Através da história da expansão da igreja, uma de duas táticasfoi assumida em relação ao seu envolvimento no sistema e nasinstituições da sociedade geral—ou participação ou isolamento. Algunsdos fatores principais que contribuíram para estas duas posições incluem:a hostilidade ou receptividade pela sociedade da comunidade da fé e dasua mensagem; a atitude, ou otimista ou pessimista, pela igreja datransformabilidade da sociedade; e a compreensão pela igreja do destinodivino deste mundo. A resolução desta questão hoje leva para váriosextremos do entendimento do papel da igreja na sociedade.Surpreendentemente, os livros de 1 Pedro e Apocalipse chegam asoluções contrárias, porém por razões e circunstâncias diferentes. Mesmoassim, os dois são coerentes na sua avaliação da vontade de Deus emrelação ao mundo e assim acrescentam uma perspectiva significantepara o testemunho bíblico.

O pano de fundo histórico

A primeira carta de Pedro se dirige a uma comunidademinoritária, numa situação hostil no norte da Ásia Menor (1.1). Estescristãos eram “forasteiros”, “peregrinos”, isto é, “exilados” e membrosda “dispersão” (1.1; 2.1). Aparentemente, o autor escreve de Roma,conhecido pelo apelido diminuitivo, “Babilônia” (5.13; veja Apocalipse14.8; 17.5,18; 18.2).

Por causa de seus valores e seu estilo de vida, a igreja estava“por fora” do padrão da sociedade dominante (4.3, 4). Esta desarmonia,em vez de qualquer perseguição explícita, era a causa fundamental dosofrimento que os cristãos tinham que passar. Eram ridicularizados pelamudança no seu estilo de vida que acompanhou sua conversão. Alguns

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Igreja: Por quê Me Importar?

deles sofreram mais ainda por causa do seu papel mais envolvido nasociedade geral, como por exemplo os escravos domésticos e esposascrentes de maridos descrentes. Portanto, os cristãos eram uma minorianum ambiente grande e hostil e, por causa de sua conduta não-conformista, eram “forasteiros” e um povo dispersado na sua própriaterra.

O ensino teológico

Mesmo assim, a carta demonstra uma atitude positiva em relaçãoao mundo pagão ao seu redor, e não uma atitude predominantementedefensiva. A Primeiro Carta de Pedro relaciona este senso deresponsabilidade cristã para com o mundo com uma teologia de batismoe vocação. Esta teologia não é a mesma que se encontra nos Evangelhose nas cartas de Paulo. Por exemplo, não trata da questão dorelacionamento entre judeus e gentios e pouco se apoia na perspectivada história da salvação.

Desde seu início, a carta enfatiza que o cristão é “escolhido”por Deus e “consagrado” (1.1-7). O fiel encontra esta graça de Deusatravés da pregação missionária da igreja (1.12, 25) e das águas dobatismo (3.21). Esta graça salvadora encontrada no batismo e naconversão assume a imagem nestes de “regeneração” (1.3), a aquisiçãode herança incorruptível (1.4), resgate da futilidade (1.18-21) e umaboa consciência para com Deus (3.21).

A salvação de Deus se torna a base para a identidade da igrejae sua responsabilidade no mundo. Na carta, o autor lembra seus leitoresque são “povo de Deus” (2.10), “eleitos” (1.2), e “chamados” (1.15).Em 2.4-10, o autor reúne uma série de figuras bíblicas para descrever acomunidade cristã como o povo de Deus. Estas figuras preparam para adescrição da responsabilidade cristã.

Pois nem sua posição minoritária na sociedade, nem suaconsciência de conversão e eleição, levou a igreja para uma atitudedefensiva em relação ao mundo. Nesta carta, o cristão não deve seseparar do mundo, nem condená-lo. A comunidade cristã deve oferecerum testemunho vivo da esperança que eventualmente levará o mundo adar glória a Deus.

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A ética pessoal e social

Os princípios básicos desta missão de testemunho sãoelaborados em 1.1-2.10: agora o autor se concentra nas conseqüênciaspráticas desta identidade. Os princípios são dois: a pureza moral e oenvolvimento na sociedade.

A pureza moral. O primeiro princípio é que o cristão não deve serender às “paixões carnais” que podem destruir o espírito humano (2.11).Isto será um resultado direto da conversão, a negação da sensualidade emudança do estilo de vida que distancia a comunidade da sociedade. Estedistanciamento e recusa de aceitar os padrões dominantes da sociedadeprovoca desconfiança e até hostilidade (4.4). E, para isto, a comunidadedeve permanecer sóbria e vigilante, resistindo às seduções do mal (5.8-9).

O envolvimento na sociedade. Apesar da ameaça da sociedadeem geral, a comunidade deve se envolver ativamente na sociedade e dar-lhe testemunho. Este testemunho consiste em “boas obras” (2.12, 14; 4.19)e seu senso de esperança. Para que seu testemunho seja visível, o cristãodeve ser “submisso” ou se envolver nas instituições da sociedade humana(2.15).1 Esta participação ativa e testemunho moral são oferecidos para“silenciar” as difamações contra os cristãos (2.15). A comunidade cristã,portanto, deve cuidar de andar, por um lado, participantes ativos nasociedade e, por outro lado, com reverência leal a “Deus” (2.16-17).

Por causa da sua boa conduta, a igreja sofre o afastamento dasociedade, e este sofrimento tem um impacto missionário na sociedade(2.12, 15; 3.1, 2, 16). A igreja acaba tendo uma vida distinta na sociedadegeral. Por outro lado, pelo seu envolvimento e participação na sociedade,a igreja também tem um impacto missionário na sociedade, umapenetração evangelística.

Os dois aspectos, distinção moral e participação social devemser mantidos para que o testemunho seja fiel e tenha integridade. Porum lado, a igreja toma posição ao lado de Deus, em contraposição aomundo. Mas, por outro lado, esta posição deve falar profeticamenteàquele mundo no qual a igreja vive e participa, e ao qual a igreja serve.

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Igreja: Por quê Me Importar?

Dois exemplos de participação na sociedade são especificadospor Pedro: os escravos domésticos e esposas de maridos descrentes. Ainstrução para estes se encontra em 2.18-25. São exortados a serem“submissos” aos seus senhores, isto é, continuar na sua posição nasociedade, pois é nesta posição que o testemunho de suas vidas é visto.Portanto, devem cumprir seu serviço com “temor” aos seus senhores(uma palavra que Pedro restringe à atitude que se tem em relação àDeus). Esta tentativa de, por um lado, ser um bom servo (participar nasociedade) e, por outro lado, ser um bom cristão (sofrer isolação dasociedade), pode levar ao sofrimento. Mas neste sofrimento há poder epotencial para um testemunho eficaz (2.20), pois Cristo sofreu, mesmoinocente, e este sofrimento era salvador (2.21-24).

O outro exemplo da participação dos crentes na sociedade geralse refere às esposas crentes de descrentes. As esposas cristãs estavamnuma posição particularmente vulnerável, porque normalmente nasociedade romana, a mulher adotava a religião do seu marido. Talvulnerabilidade aumentava mais ainda quando o seu marido era hostilao cristianismo (3.1). Mesmo nesta situação aparentemente insuportável,a esposa cristã deveria ser “submissa”. Neste contexto, a submissãonão é passiva, já que a questão em jogo é justamente resistência corajosaà vontade do marido de assumir a religião dele. Em vez disto, semelhanteao caso dos escravos, a mulher deveria continuar no seu papel comoesposa e cristã comprometida. Porém, o bom senso indica que ela nãodeve confrontar seu marido diretamente, mas deixar seu procedimentoganhá-lo “sem palavra alguma” (3.1), como Sara que “pratica o bem enão teme perturbação alguma” (3.6). Dificilmente poderia entender estaexortação como uma à submissão meiga.

Então, apesar da gozação, desconfiança e afastamento, o cristãodeve continuar a levar uma vida de integridade, “não pagando mal pormal, ou injúria por injúria” (3.9). Seu chamamento é bendizer, e nãoresponder com hostilidade.

A base destes testemunhos é nada menos que o próprio exemplode Jesus crucificado. Aqueles sofrimentos fizeram parte integrante eativa do ministério dele. Ele morreu pelos pecadores...o justo pelosinjustos para conduzí-los a Deus (3.18).

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O testemunho humano e divino

O testemunho que Pedro exorta a comunidade cristã a dar é,acima de tudo, o testemunho da boa conduta e das boas obras (vejaacima); entretanto, inclue também o testemunho verbal. O correlato dedemonstração é explanação, que por sua vez já pressupõe algo presentee conhecido, mas não entendido. O testemunho verbal explica e esclarecea presença já do testemunho de vida, a demonstração da fé e vida cristã.O testemunho verbal inclui dois aspectos—a proclamação humana e arevelação divina.

A proclamação humana. Como resultado e conseqüência dasua identidade como povo eleito, sacerdócio real, nação santa epropriedade divina, a igreja “proclama” as características dAquele quedeu-lhe esta identidade. A proclamação, então, chama a atenção para aação salvífica de Deus para com a igreja, e por isso mesmo tem quepressupor a evidência clara da sua transformação (2.9). O crente échamado para dar a razão da esperança que ele possue, esperança estaque tem que ser manifesta e visível para poder levantar a pergunta aqual a razão responde (3.15). Às vezes, a explanação é dispensável,como vimos no caso das esposas cristãs de maridos descrentes (3.1). Equando dada, a explanação não pode se caracterizar por um tom desuperioridade, arrogância ou duplicidade (3.16). Mesmo assim, aproclamação permanece essencial, tanto porque alguns podem pedí-la,quanto porque a demonstração precisa dela como complemento, poisfoi pela proclamação que a igreja para quem Pedro escreve, recebeu agraça de Deus (1.12, 25).

A revelação de Deus. A evangelização e a tarefa missionáriatêm tanto uma origem e fonte divina quanto um exercício humano. Aproclamação humana precisa ser acompanhada pela revelação divinapara efetuar a transformação do ouvinte. Pedro lembra à comunidadeda fé que assim eles receberam a graça de Deus (1.11-12). A naturezareveladora da palavra de Deus é enfatizada na carta (1.23-25).

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Igreja: Por quê Me Importar?

A escatologia evangelística

O objetivo principal do testemunho da igreja não é descritocomo um programa de recrutamento de membros para a igreja. Mas,através das boas obras e da boa conduta da igreja, o mundo pagão“glorifique a Deus no dia da visitação” (2.12). O papel da comunidadecristã é se preparar para o dia final, quando os não-crentes poderãoaclamar seu Deus. Portanto, o sofrimento que o cristão pode passardando testemunho ao não-cristão é por “breve tempo”, em comparaçãocom a “eterna glória” que gozará no dia da visitação (1.6; 5.10). Poristo, a orientação da boa testemunha é sempre para o fim, que só podeser “próximo” (4.7), já que o juízo é chegado para a igreja (4.17) e istotorna mais urgente a obediência do descrente.

Conclusão

Mesmo em frente à sociedade pagã, que não entende aspeculiaridades dos cristãos e se chateia pela recusa destes de assumirseus valores, a igreja deve ser tanto firme na sua boa conduta, quantotambém participar nas instituições da sociedade, a fim de efetuar umtestemunho cuja finalidade é levar os gentios a glorificarem a Deus nodia final. O testemunho é principal e fundamentalmente umademonstração de vida vivida de acordo com as virtudes de Deus.Entretanto, é complementado pela proclamação verbal da igreja eefetuado pela própria revelação de Deus. Assim 1 Pedro esclarece aatitude apropriada da igreja em relação ao mundo.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Qual é a posição da igreja diante da sociedade: envolvimentoou afastamento?

2. A Bíblia exige a abstinência (afastamento profético), pela igreja,de práticas socialmente aceitas? Dê exemplos.

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3. A igreja hoje sofre por causa dos seus valores e estilo de vida?

4. Em quais casos a igreja não deve se envolver na sociedade emgeral?

1A conotação da palavra hipotasso, ”sujeitar-se” (2.13), se torna evidente pela sua alternativaneste contexto. Esta alternativa não é “rebelião”, cujo oposto seria “render-se”, mas é“separação”, cujo contrário seria “participação”. Portanto, a referência à submissão é umareferência à participação.

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Igreja: Por quê Me Importar?

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A IGREJA CONTRAA SOCIEDADE

Apocalipse

O Apocalipse de João difere muito em forma e em tom de 1Pedro, pois Apocalipse tem uma característica profética e apocalíptica,enquanto 1 Pedro tem um estilo homilético e pastoral. Enquanto o autorcomeça com um formato de carta (1.4-3.22), a maior parte desta literaturaemprega figuras apocalípticas, e portanto simbólicas, para construir suavisão dramática da história do mundo. O próprio autor descreve suaobra como “profecia” (1.3), e assim escreve às comunidades cristãspara lhes dar uma orientação cortante e destemida num momento decrise.

O pano de fundo histórico

Provavelmente, a carta tenha sido escrita durante o reinado deDomiciano (81-94 d.C.), quando o culto ao imperador se tornou umproblema sério para os cristãos e uma ocasião para perseguiçãosistemática, embora esporádica, pelo estado romano. Portanto, osproblemas que as igrejas da Ásia Menor enfrentaram não eram causadosmeramente por elas serem uma minoria, com valores diferentes damaioria ao seu redor, como no caso de 1 Pedro. A recusa de participarnuma função cívica tão importante como homenagens religiosas aoimperador poderia ter, e tinha, conseqüências sérias de naturezaeconômica, política e social.

Além deste conflito com a sociedade fora, as igrejas tambémenfrentaram problemas internos que eram mais sérios ainda. Em 1 Pedro,porém, não há nenhuma dica de divisão ou conflito dentro dacomunidade cristã. João, por sua vez, não poupa palavras duras para osfalsos mestres, que ao seu ver, ameaçavam a vida da igreja. Suas

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Igreja: Por quê Me Importar?

mensagens às sete igrejas aludem a estes conflitos internos. Algunsabandonaram o amor que tinha no início (2.4), outros estão “prestes amorrer” porque suas obras não eram “perfeitas” aos olhos de Deus, eainda outros se tornaram ricos e presunçosos (3.15-17).

As facções mais problemáticas que violentamente perturbamJoão são o partido nicolaíta (2.6, 15), a profetisa tipo Jezabel (2.20) eaqueles que aderem ao ensino de “Balaão” (2.14). Embora não tenhamosdetalhes quanto a origem destes grupos, sabemos algumas coisas sobreo seus ensinos. Seus líderes permitiram comer carne oferecida aos ídolos(2.14, 20) e praticaram “imoralidade” (2.14, 20), que se referiametaforicamente à idolatria (a literatura judaica freqüentementechamava a idolatria de imoralidade).

O ensino teológico e ético

Paulo havia concluído em 1 Coríntios e Romanos que o comercarne oferecida aos ídolos, em si, não constituía fazer mal enquanto opraticante não prejudicava a consciência de seus irmãos mais imaturosna fé. Mas João entendia, no seu contexto, que comer esta carne erasímbolo de solidariedade com todo o sistema do estado romano e aasseveração blasfêmica do imperador às prerrogativas divinas. Comisto, a questão em jogo não era comer esta carne, mas a luta cósmicaentre o reino de Deus e as forças do pecado e da morte, personificadasno estado romano e no seu culto idólatra. Assim sendo, o cristão nãopode prejudicar sua aliança e lealdade ao reino de Deus e, portanto,seu testemunho heróico e profético de não-participação é absolutamentenecessário. Embora a derrota das forças da morte seja assegurada, até avitória final, o cristão deve viver uma vida de integridade vigorosa.

A base teológica de tudo isto se encontra na dramática visãoapocalíptica que João descreve. O cenário é cósmico, alcançando todaa história futura. O tema é a luta entre o bem e o mal e o destino últimodo mundo criado. Embora a arena imediata seja o poder desumanizantedo estado romano, nos bastidores desta cena encontramos o combatecósmico de Deus e Satanás.

Neste quadro João afirma a salvação universal intencionadapor Deus e efetuada pela morte e ressurreição de Cristo. Assim, uma

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parte chave da teologia encontrada em Paulo e nos Evangelhos éreafirmada aqui. O “Cordeiro que foi morto” é aquele cujo sangue redimepara Deus “de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus osconstitui reino e sacerdotes; e reinarão sobre toda a terra” (5.9-10).Este Cordeiro receberá louvores de “toda criatura que há no céu e sobrea terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o que neles há” (5.13). Oevangelho desta salvação será proclamado a todos: “aos que se assentamsobre a terra, e a cada nação e tribo e língua e povo” (14.6).

A base do seu alcance salvífico é o senhorio cósmico de Cristoressurreto. Seu senhorio não tem igual. Ele é “o soberano dos reis daterra” (1.5) e seu julgamento vindouro causará que todo olho o verá, atéquantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobreele, certamente (1.7). Eis o conflito fundamental entre a igreja e o impérioromano. Porque o império assumia uma autoridade que pertence apenasa Cristo, se colocou contra Deus e assim se manifestou como agente deSatanás. Esta “besta” de império ataca a igreja (6.9; 13.7), e sua naturezacorrupta se caracteriza pela injustiça (13.16-17; 18.3,11-19) e pelaimoralidade sensual (17.2-5; 18.1-3).

Não há dúvida quanto ao resultado deste combate entre o reinode Deus e o reino de Satanás. A descrição do triunfo começa a partir docapítulo 19 e continua até o fim do livro. Aqueles que perseveram até ofim, até que o reino do pecado seja expulso, terão que passar porsofrimentos e perseguições (20.4). Devem, então, perseverar firmes(4.12). Porque João encara esta luta entre Cristo e Satanás, não há lugarpara concessões em questões cruciais como o comer carne oferecidaaos ídolos. As conseqüências de tal posição podem implicar emafastamento da sociedade geral (uma posição bem diferente que aquelaassumida em 1 Pedro), porém este afastamento é feito como umtestemunho profético que chame a sociedade geral ao senhorio de Jesus.

Conclusão

Tanto em 1 Pedro como em Apocalipse, a igreja é chamadapara sua tarefa missionária, a de dar testemunho—no primeiro caso,por participação ativa na sociedade, e no segundo por afastamentoprofético. O chamado para testemunhar vem da convicção na vontade

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salvífica universal de Deus e no sentido de responsabilidade a todos ospovos por causa do ministério de Cristo ressurreto.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Qual é a posição da igreja diante da sociedade: envolvimentoou afastamento?

2. A Bíblia exige a abstinência (afastamento profético), pela igreja,de práticas socialmente aceitas? Dê exemplos.

3. A igreja hoje sofre por causa dos seus valores e estilo de vida?

4. Em quais casos a igreja não deve se envolver na sociedade emgeral?

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AS RAÍZES DO FIM

“O empreendimento missionário é entidadeescatológica, tanto no sentido da escatologia futura,como no da escatologia realizada ... Os componentesgeográficos (confins da terra) e temporais (fim dostempos) pertencem à própria essência do serviçomissionário”—Wilhelm Andersen (citado por Blauw1966:111).

Através do Novo Testamento reparamos a importância e acentralidade do reinado de Jesus para a questão missionária. Isto setornou muito evidente através do emprego do conceito “o reino de Deus”ou “o reino dos céus” nos Evangelistas sinóticos; mas também semanifestou através da cristologia cósmica e universal, tão elevada emtodo o Novo Testamento, que destaca a soberania de Deus, especialmenteexpressa em Cristo Jesus crucificado e ressurreto.

Ainda resta-nos esclarecer a relação entre este conceito do reinode Deus e a escatologia. Os dois se enquadram dentro da perspectiva dahistória da salvação, isto é, que Deus está levando os seus propósitosprogressivamente ao seu cumprimento, a salvação do mundo, e isto atravésda própria história humana. A escatologia, o estudo das “últimas coisas”,se preocupa principalmente com o cumprimento, o fim do plano, o seuaspecto futuro e final. Entretanto, também trata do presente à medida queeste já manifesta a chegada do fim, fato este realizado através da morte eressurreição de Jesus. NEle, os últimos dias (futuro) agora chegaram(presente) e assim enquadram-se na escatologia (Hebreus 1.1-2).

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O reino de Deus e a escatologia

O reino de Deus é um conceito mais amplo que a idéia deescatologia. Refere-se à elaboração e ao desdobramento do planosalvífico de Deus em toda a história. Mais estreitamente trata do domínio,do governo, da onipotência, da soberania de Deus na expansão temporal(em toda a história) e geográfica (em todo o lugar) do mundo.

Podemos dizer que a escatologia focaliza o cumprimento(presente e futuro) do reino de Deus. Portanto, é difícil, se nãoimpossível, tratar de escatologia e missão sem se referir à sua base eseu alvo no reino de Deus. Mesmo assim, nesta lição nos concentraremosna significância do “fim” para a missão da igreja.

A esperança do fim e o esforço missionário. Para alguns, aobra missionária é descrita como se fosse um substituto para a esperançanão-realizada da chegada do fim. Outros ainda são paralizados no seuenvolvimento missionário com total pessimismo à possibilidade deredenção deste mundo.

Acreditamos que a proclamação missionária é a característicaapropriada da ação cristã neste mundo, visto que ela demonstra aconfiança que a obra missionária faz, essencialmente, parte do planoescatológico de Deus para a salvação do mundo. A obra missionária daigreja é o sinal escatológico do reino de Deus, e a esperança bíblica no“fim” constitui seu estímulo mais intenso para a ação missionária.

A demora do fim. Não há dúvida que a esperança na voltaiminente de Cristo deu grande ímpeto ao evangelismo pela igrejaprimitiva. Basta olhar para 1 Tessalonicenses 1.5-10 para observar amaneira com que a pregação do evangelho, tanto por Paulo quanto pelospróprios tessalonicenses nas regiões próximas e distantes, se colocouno contexto da volta de Jesus dos céus. A pregação evangelísticafreqüentemente terminou com o anúncio da volta iminente de Cristo eum desafio para o arrependimento e fé, à luz da culminação de todas ascoisas.

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Entretanto, Cristo não voltou tão rápido. Por isto perguntamos:até que ponto a energia evangelística da igreja primitiva era resultadode uma escatologia errada?1 Primeiro observamos que a esperançaescatológica continuou a incentivar muito a igreja na sua missão duranteos séculos II e III, muito depois que era óbvio que uma volta imediataera sem base. Deduzimos, então, que o evangelismo não deve terdependido de tal esperança pressuposta, ou tería diminuído e nãoaumentado (compare os escritos antigos: Epístola de Clemente, 2Clemente, Epístola de Barnabé, Teófilo, Clemente de Alexandria,Ignácio, Justino Mártir, Tácito e Irineu).

Conseqüentemente, a expectativa escatológica permaneceucomo grande incentivo para a obra missionária da igreja muito depoisque ficou bem clara a demora duma volta rápida de Cristo.

Michael Green, em Evangelismo na Igreja Primitiva, argumentacontra a maioria dos estudiosos do Novo Testamento e afirma que, defato, os escritores do Novo Testasmento nunca ensinaram que Cristovoltaria imediatamente. A metáfora do ladrão em quatro textos diferentesapoia esta posição (Mateus 24.43s; Lucas 12.29s; Apocalipse 3.3; 16.15).Paulo, inclusive, fala dum intervalo antes do clímax da história (2Tessalonicenses 2). Além disto, as várias parábolas nos alertam sobreuma demora (Lucas 17.24—o relâmpago; Mateus 21.33s—dono da casaque demorou, cf. Mateus 25.1ss e Lucas 12.39), e a falta de conhecimentodo tempo da sua volta (Lucas 12.35-48; 17.24; Marcos 13.32; Atos1.7). Será que os discípulos sabiam mais que seu Senhor? É bem maisrazoável, ao nosso ver, que não deveria haver mudança tão traumática erepentina no ensino sobre a rapidez do retorno de Cristo, embora osmuitos estudiosos contemporâneos afirmem que tal mudança aconteceu.Concordamos com Green que, enquanto havia um senso da iminênciada volta, isto não era associado, necessariamente, com a proximidadetemporal. A parousia seria “repentina” ou “inesperada”, mas nãonecessariamente “breve” ou “logo”.

Então, o supremo incentivo para o procedimento em santidadee para a tarefa missionária dedicada era esta consciência da iminênciado Fim, das limitações nas oportunidades para evangelismo, e de terque prestar contas, por último, a Deus.

Nunca, no Novo Testamento, há possibilidades de se calcular adata destes eventos futuros, mesmo quando descritos como “próximos”.

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Sempre estão debaixo da soberania de Deus, e a única resposta humanaapropriada é “vigiar e orar” (Mateus 24.42). Porque não sabemos quandoo fim virá, a onipotência de Deus recebe seu destaque apropriado.Nenhum esforço ou conhecimento humano nos capacitará paraacertarmos quando o reino de Deus virá. Nós não podemos “trazer” oreino de Deus. Isto é a obra e prerrogativa de Deus apenas. Todavia,este reconhecimento na onipotência de Deus em realizar o fim não nosparaliza na obra missionária. De maneira alguma! Pois, somente aquelesque são convictos que o reino vem de Deus, encontram a coragem paraagir agora e aqui, quer com sucesso quer não. Se pensassem que a vindado reino dependia deles, quando enfrentados com fracasso iriam sedesesperar. Por isso, trabalhamos com alegria e coragem, não para“apressar” a vinda do reino no sentido desta depender somente de nós,mas porque sabemos que o reino vem de Deus.

A chegada do início do fim. Embora não saibamos da data dachegada do fim, o evento decisivo da sua inauguração ou do seu iníciojá se realizou—a Ressurreição de Jesus. O fim pode parecer demorar,mas isso não é razão para desânimo, dúvida ou desespero. A fé naressurreição gera firme convicção de que a soberania real de Jesus jácomeçou e continuará por um período desconhecido, até Cristo “entregaro reino a Deus e Pai, quando houver destruído todo o principado, bemcomo toda potestade e poder” (1 Coríntios 15.24, repare o contexto deressurreição). A ressurreição de Cristo inaugura o início do fim, o períodoem que as nações serão evangelizadas, pois apenas o Cristo exaltadopode atrair para si todos os homens sem distinção (João 3.14; 12.32).Por isso, reparamos que uma teologia de missão reconhece umacristologia muito elevada, cósmica e universal, como de fato, o NovoTestamento constantemente o faz.

O período do cumprimento. Com a inauguração dos últimosdias pela morte e ressurreição de Jesus, podemos nos referir ao períodoatual como o período do cumprimento, mais conhecido como o períodointerino, pois é neste tempo que Deus já está iniciando o cumprimentodo seu plano salvífico. “Hoje” é o dia da salvação. A evidência destefato é a presença do Espírito Santo na igreja. A promessa da vinda doEspírito (Joel 2.28-32), como sinal do dia terrível do Senhor, quando a

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salvação chega a se cumprir no meio da igreja, a partir de Pentecostes.Seu propósito principal é capacitar os crentes para a expansãomissionária da igreja (Atos 1.8). Ele é a garantia (2 Coríntios 1.22) e asprimícias (Romanos 8.23) das promessas de Deus na igreja. Com suapresença, se torna manifesta a chegada da era em que muitos seconverterão a Deus das extremidades da terra. O período antes do fimnão é um período vazio de espera passiva; é a era do Espírito, o tempode missão. Estes são os “sinais” da fase final (Mateus 24.14; Marcos13.10). O Evangelho deve ser pregado para todas as nações antes dofim, pois Deus não quer que ninguém pereça (2 Pedro 3.9), mas quetodos se arrependam. Porém, a vinda do reino não depende da aceitaçãohumana deste chamado. Aí está o mais forte incentivo para a decisãohumana, e ao mesmo tempo, a soberania de Deus é totalmente mantida.

A tarefa missionária faz parte do cumprimento final,uma demonstração divina e de fato da exaltação doFilho do Homem, uma escatologia no progresso derealização. Ela oferece a possibilidade de cooperar comDeus na sua antecipação benevolente da hora decisivade redenção descrita em Isaías 25: “Os gentios sãoaceitos como convidados à mesa de Deus (v. 6), o véué arrancado dos seus olhos (v. 7) e a morte é abolidapara sempre (v. 8) (ênfase no original, JoachimJeremias, Jesus’ Promise To the Nations 1958:75).

Vamos examinar estas perspectivas, mas primeiro com umainvestigação das suas origens no judaísmo.

A origem judaica da missão escatológica

O judaísmo pré-cristão possuía um senso de missão, emboranão como pré-condição do reino messiânico. Mesmo assim, um outroconceito influenciou a doutrina neotestamentária da missão da igrejacomo um “sinal” do fim. Havia esforços no judaísmo para calcular adata do reino messiânico. Durante o período do Novo Testamento, surgiua expectativa expressa no Talmude e nos livros apócrifos, que o reino

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de Deus virá somente quando todo o Israel tiver se arrependido. Àpergunta, “Quem está impedindo a aparição do messias?”, surgiam duasperspectivas rabínicas, divergentes à perspectiva do Novo Testamento.

A escola de Rabino Eliezer. Os seguidores desta escoladesistiram de qualquer tentativa de calcular a data da vinda do messias.Ensinaram que o messias virá quando todo o Israel tiver se arrependido.Esta perspectiva prejudica a soberania de Deus, pois afirma que a vindado reino depende da atitude moral do homem, e esta vinda já não é maisum ato soberano e divino.

A escola de Rabino Jeheshua. Esta fixou uma data, o ano de240 d.C., quando, independentemente do homem, o fim do mundo viria.À pergunta: “O que impede a vinda do messias?”, eles não responderam,“Israel não se arrependeu completamente”, mas “o tempo ainda nãochegou”. Contudo, esta perspectiva também prejudica a soberania deDeus porque a vinda do messias ainda depende do esforço humano,isto é, a característica de cálculos.

Por outro lado, a escatologia no Novo Testamento mantémplenamente a soberania divina, pois nem o esforço nem o conhecimentohumano capacita-o para saber quando o reino virá. O conceito de“missão” no Novo Testamento, segundo o qual o Evangelho será pregadopara todas as nações antes do fim, confirma esta orientação. Antes deexaminá-la mais ainda, destacaremos três perspectivas judaicas quecontribuíram para a perspectiva neotestamentária: 1) Elias pregará oarrependimento nos últimos dias (Malaquias 3.1; Eclesiástico 48.10,11); 2) O reino virá quando o número dos eleitos se completar (1 Henoc47.4; 2 Baruc 30.2; 4 Esdras); e 3) A peregrinação das nações paraJerusalém (Isaías 66, cf. 2 Tessalonicenses 1 e 2).

IMPLICAÇÕES MISSIOLÓGICAS

Não precondição do fim. Missões nunca devem serconsideradas como precondição ou pré-requisito para a vinda do fim,nem pode a igreja apressar o fim através do seu fervor missionário.

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Isto é, o fim não depende nem do cálculo nem do esforçohumano. Só Deus sabe a hora. Ele é soberano. Portanto, oempreendimento missionário não pode possuir nenhum aspecto detriunfalismo, mas deve manter uma atitude de humildade, dum servono seu papel de instrumento no plano salvífico de Deus. A igreja é acomunidade serva de Deus. O reino de Deus não é equivalente à igreja,pois a última possui as suas falhas e seus fracassos, embora seja tambémcriação de Deus. Mas mesmo tendo estas falhas, a igreja manifesta nasociedade geral uma “presença salvífica”, uma amostra do reino de Deus.Desse forma, em toda área das suas vidas, a igreja é desafiada a afirmaro senhorio de Deus e refletir Suas preocupações. O desafio significaque a igreja assume a preocupação veterotestamentária pela justiça nasociedade humana e lança o aviso sobre a oportunidade dearrependimento e conversão pessoal (Romanos 8.9,29; 1 Coríntios 15.3;João 1.12; 2 Coríntios 5.20).

Não ultramundanismo. Em relação à observação anterior, istonão significa que a igreja deva desenvolver uma atitude escapista, oude isolamento quanto ao mundo e simplesmente se preocupar porquestões internas ou eclesiásticas.

Algumas seitas judaicas do século I (essênios) tomaram estaatitude e alguns interpretam referências no Velho Testamento ao“remanescente” e a referência de Jesus ao “pequenino rebanho” (Lucas12.32) desta maneira. A igreja cristã, freqüentemente na sua história,assumia a mesma mentalidade.

Pelo contrário, a perspectiva escatológica de missão põe a igreja,seu chamamento e sua vocação dentro dos mais amplos parâmetros—até aos confins da terra e o fim do tempo. O grito litúrgico, Maranata,“vem Senhor” (1 Coríntios 16.22; Apocalipse 21.17,20) se torna estérilse não traduzido em ação missionária decidida para este mundo.

Uma tarefa contínua até o fim. O evento escatológico demissão lembra à igreja que sua tarefa nunca termina antes do fim. Aperspectiva escatológica de missão dá um estímulo e motivaçãocontínuos para a igreja, pois o plano salvífico de Deus se manifesta àmedida que a igreja se envolve na promoção do reino neste mundo.

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Esperar o fim nunca implica em passividade, mas atividade intensa noagora e aqui. Envolvimento no mundo é uma das maneiras principaisde como a igreja se prepara para o fim.

Um reino tanto presente quanto futuro. O evento escatológicode missão reconhece a certeza tanto da realidade futura quanto dapresença atual do reino de Deus em nosso meio. A igreja vive de acordocom o que “já está aqui” do reino, a caminho do que “ainda não chegou”.O sentido da história pode ser discernido, já que o seu alvo foi revelado.

Olhando para o futuro, a igreja experimenta conflito esofrimento, e isto continuará a ocorrer, se intensificando até a chegadado fim. A igreja deve “completar o que resta das aflições de Cristo”(Colossenses 1.24), e os missionários, particularmente, experimentarãosempre resistência na linha de frente na luta contra as potestades domal (Efésios 6.10ss).

Um cumprimento próximo. O evento escatológico de missãosignifica que estamos nos aproximando do cumprimento. Embora oreino já esteja presente, inaugurado pela ressurreição de Cristo, sópodemos vê-lo na perspectiva do reino vindouro. Há um perigo dasigrejas perderem seu campo de visão por estender a missão meramenteem categorias deste mundo. O desafio social de hoje nunca pode ser tãopersuasivo que a esperança pelas coisas invisíveis pareça inútil ou irreal.

É a missão que mantém viva a esperança do cumprimento divinodo reino. Quando a expectativa da intervenção de Deus murcha, missãoperde seu caráter verdadeiro e a escatologia é reduzida para a ética.Então se torna ou meramente melhoramento humanitário sem umadimensão transcendente, ou uma questão privada onde a preocupaçãonão é pela renovação da criação, mas apenas pela salvação individual.Missão, escatologicamente entendida, infunde uma esperança não sónum novo céu como também numa nova terra. A idéia de que as coisaspodem ficar do jeito que são é uma antítese absoluta do evangelho.

Uma missão confiante. O evento escatológico de missãopreserva a igreja de desespero. Enquanto o tema escatológico impele aigreja para envolvimento neste mundo, também fortifica-a contra o

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perigo de desânimo, frustração e desilusão. A mensagem do reinotranscendente e a confiança de que, em última análise (e na primeira!),tudo está sob o controle de Deus, nos dá a distância necessária de tudoneste mundo. É Deus quem prepara o banquete. Nós somos meros servosque distribuem os convites. O reconhecimento disto determina ohorizonte das nossas expectativas. Sem isto, o evangelho se torna lei, enós nos tornamos ansiosos e nervosos nas nossas atividades, como setudo dependesse de nós.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. O trabalho missionário é pré-condição para a vinda do fim?

2. A igreja possue uma visão “escapista” para o seu envolvimentomissionário?

3. Quando termina a tarefa missionária?

1 O sociólogo Leon Festinger, no seu livro When Prophecy Fails, demonstra pela sua análisedos Testemunhas de Jeová, como movimentos milenistas freqüentemente compensam ofracasso das suas profecias pelo maior envolvimento no recrutamento de adeptos.

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O PROPÓSITODO FIM

Na última lição ficou patente que a escatologia bíblica estáintimamente ligada à tarefa evangelística. O evangelismo serve opropósito do “fim”. Basta agora ilustra este ponto dos textos principaisno Novo Testamento.

No “pequeno apocalipse”

Marcos 13.10 e Mateus 24.14 deixam clara a ordemescatológica. Marcos especifica a ordem da missão “primeiro” e antesdo aparecimento do Anticristo. Mateus deixa ainda mais claro: “entãovirá o fim”, e este “fim” é inaugurado pelo aparecimento do Anticristo.Nas duas passagens, a missão é mencionada como um “sinal” divinojunto com os “ais” escatológicos: guerras, fomes, catástrofes cósmicas,perseguições, etc. e a intensificação do mal no homem. Portanto, a vindado reino não depende do sucesso da pregação, mas apenas do fato delamesma. Esta posição é confirmada em Apocalipse.

No livro de Apocalipse

Em capítulo 6 de Apocalipse, versículos 1-8, não há dúvidaquanto ao segundo, terceiro e quarto cavaleiros. Sempre a referência éuma das pragas características e escatológicas, que é personificada nestasfiguras misteriosas. Mas, quem é o primeiro cavaleiro? Primeiro,reparamos que ele não tem o aspecto dos atributos sinistros dos outroscavaleiros, mas senta num cavalo branco, cor que representa qualidadecelestial. Sobre ele, o versículo diz que saiu “vencendo” e para vencer.Isto também descreve uma qualidade divina da ação de Deus.

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Acreditamos que este é o mesmo cavaleiro de 19.11ss, que então échamado “Fiel e Verdadeiro” e “Verbo de Deus”. Ou seja, sua tarefa éproclamar o Evangelho pelo mundo. Desta forma, a pregação doEvangelho em Apocalipse também é um sinal divino (ou “promessa”)do fim e, como última oferta da salvação, é seguida logo pelas pragas,ou pelos ais, ligados ao mal no homem. Além disto, outras passagensneste livro enfatizam a necessidade dum apelo para o arrependimentoantes do fim. As duas testemunhas pregam o arrependimento antes dofim (11.3ss) e o anjo prega o “evangelho eterno” antes do juízo de Deus(14.5-7), para cada nação e tribo e língua e povo.

Em Atos 1.6-8

Lucas também relata a centralidade da pregação do Evangelhocomo sinal escatológico do fim, de maneira muito clara. Popularmente,esta passagem é muito citada ou para enfatizar o papel do Espírito Santona vida do crente ou para destacar a importância da evangelizaçãomundial. Entretanto, dentro do seu contexto, o versículo 8essencialmente é uma resposta à uma pergunta escatológica, “Quandovirá o reino futuro” ?

Jesus primeiro repreende os discípulos, porque até a própriapergunta pertence ao conhecimento e à autoridade exclusivos de Deus.Não cabe aos discípulos saberem destas coisas. Mas, há uma coisa quedeve ser a preocupação deles—proclamar o evangelho para todo omundo até que o “dia” chegue. Isto eles fazem pelo dom do EspíritoSanto, lhes dado em poder. É a vontade de Deus que todos os homenstenham a possibilidade de ouvir o Evangelho. É Deus que oferece esteEvangelho para o mundo, pois no texto a alusão à missão mundial édescrita como um indicativo e não como um imperativo. Os apóstolos,ou enviados, são apenas instrumentos pelos quais o plano de salvação érealizado.

Na “grande comissão”

Esta perspectiva também é confirmada pelos “mandamentos”de Jesus para evangelização mundial. Já antes notamos que o “ide”

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imperativo de Mateus 28.18-20 é melhor traduzido como “ao irdes”,indicativo ligado ao verbo principal e imperativo “discipulai”. Mateus,então, como Lucas (24.48) e João (20.21), põem a missão mundial naforma de indicativo, enfatizando, como Atos, que é Deus quem faz e ohomem é apenas seu instrumento. Mateus também coloca a missãodentro do contexto escatológico quando relata a afirmação de Jesus,“eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século”.

No pensamento de Paulo

Como vimos no estudo da perspectiva missionária de Paulo, omotivo missionário como pré-condição da vinda da salvação permeiatoda a teologia do apóstolo e é intimamente ligado ao seu senso devocação. Seu senso de vocação vem da sua convicção de que ele mesmoé um instrumento importante do plano escatológico da salvação. Vemosisto muito claramente, primeiro em Romanos 9-11, que bem serve dumcomentário apto de Marcos 13.10.

Romanos 9-11. O capítulo 10 enfatiza que Deus pretenderealizar seu próprio plano mas, ao mesmo tempo, a responsabilidadehumana é igualmente clara. Todos precisam da oportunidade de ouviro Evangelho e por isso é necessário que alguém pregue. Os judeus játiveram a oportunidade mas não aceitaram, e por isto o apelo vai paraos gentios, antes que os judeus finalmente entrem no reino. Acaracterística e “sinal” que precede o fim é, de novo, a pregação doEvangelho pelo mundo. É esta convicção na necessidade da pregaçãopara as nações que tanto motiva Paulo para “circular” (15.19) o mundoconhecido, a região mediterrânea, “preenchendo” (15.19) os lugaresonde Cristo não havia sido pregado ainda. Isto era a sua vocação, ou“ministério” (15.16).

Colossenses 1.22-29. Neste texto Paulo também se refere à suavocação e ao seu ministério como parte do plano de Deus para a salvaçãode “toda criatura debaixo do céu” através da pregação. Esta perspectivado seu papel especial no plano divino explica a “obrigação” (1 Coríntios9.16) que Paulo tinha de “pregar o evangelho”, como “devedor”

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(Romanos 1.14) tanto a gregos como a bárbaros. Ele se consideraprisioneiro de Cristo a favor dos gentios (Efésios 3.1). Desta perspectivaentendemos a urgência de Paulo para pregar onde o Evangelho não foipregado. O tempo é curto: “Ai de mim se não pregar o evangelho!” (1Coríntios 9.16).

2 Tessalonicenses 2.6-12. Das observações acima elaboradas,parece-nos coerente entender as palavras “sabeis o que o detém” comouma referência à pregação do Evangelho como “sinal” que precede ofim. Reconhecendo o peso da evidência já elaborada de que estaperspectiva era comum no Novo Testamento, esta interpretação não éestranha, mas apenas natural. Também a autocompreensão da suavocação e a sua importância no plano divino da salvação estabelece ocontexto geral da interpretação de “aquele que agora o detém” como opróprio apóstolo Paulo, pelo menos teologicamente como o protótipodo pregador do Evangelho para as nações. Como em Mateus e Marcos,o Anticristo em 2 Tessalonicenses também aparece logo depois dapregação do Evangelho para as nações. O contexto (2.9-12, 13-14 ecapítulo 1) trata da relação dos eventos escatológicos com a aceitaçãoou rejeição do Evangelho.

Esta interpretação, bem como os textos anteriores examinados,de maneira alguma sacrifica ou diminui a onipotência de Deus, pois avinda do reino não depende do homem e exclue toda a possibilidade decálculo. Por outro lado, intensifica muito a responsabilidade do homeme dá a igreja sua comissão específica, isto é, em nome de Deus levar oEvangelho para todas as nações.

Uma escatologia progressiva

A Bíblia nos comunica uma perspectiva dinâmica edesdobradora da história. O movimento está na direção para frente eDeus está levando a humanidade para um alvo, um cumprimento, pode-se dizer, para um destino, embora este último não deva ser entendidode uma forma mecânica do destino mulçumano ou até hipercalvinista.Este ímpeto da história, a escatologia bíblica, inclue não só a humanidadecomo também a natureza e poderes cósmicos. Estes últimos também

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são intensamente envolvidos nos eventos dos últimos dias e aguardamo fim (Romanos 8.18-25; 1 Coríntios 15.20-28; Filipenses 2.9-11;Colossenses 1.13-23; Apocalipse 21). Haverá julgamento e separaçãoentre os justos e os injustos, com os correspondentes galardões e castigos.Mas o homem não será mero espectador do drama final. Embora pormuitos séculos não tenha dado a devida atenção para as nações, Israelsabia que, à medida que a história progredisse, estas fariam parte doplano salvífico de Deus. Esta perspectiva fazia parte fundamental dateologia de missão da igreja primitiva. Estas comunidades cristãsafirmaram que, com a ressurreição de Jesus, esta fase final do planosalvífico de Deus havia chegado, “Agora é o tempo aceitável, hoje é odia da salvação”.

Portanto, a teologia bíblica tem uma orientação otimista sobrea história. A palavra final é vida e não morte. A ação final é cumprir eajuntar, não frustar e dispersar. Entretanto, esta perspectiva não éingênua. A literatura apocalíptica claramente relata que haverásofrimento agudo e transformação cataclísmica no caminho para o fim(Mateus 24.13; Marcos 13.13; 2 Timóteo 2.12; Tiago 5.11), pois ascalamidades se agravarão cada vez mais. Contudo, o fim será, semdúvida, salvífico, pois Deus terá a palavra final. E a igreja desempenhaseu papel como instrumento de Deus no seu plano quando, perseverando,ela proclama a vinda do evangelho para todas as nações, chamando-asao arrependimento.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. O trabalho missionário é pré-condição para a vinda do fim?

2. A igreja possue uma visão “escapista” para o seu envolvimentomissionário?

3. Quando termina a tarefa missionária?

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Igreja: Por quê Me Importar?

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RESUMO

Através do nosso estudo sobre o Novo Testamento (e tambémno Velho Testamento), procuramos prestar mais atenção ao contexto eà estrutura do texto bíblico, tentando detectar seus temas básicos, doque apenas citar versículos bíblicos que “provam” nosso ponto de vistapredefinido. Nosso propósito com essa metodologia era de ouvir aPalavra de Deus e dispormo-nos a sermos mudados por Ela, em vez deimpor nossos conceitos na Bíblia. Seríamos muito pretenciosos seafirmássemos que, de fato, fomos definitivamente bem sucedidos, poisé impossível evitar uma leitura da Palavra de Deus que não sejahumanamente condicionada. Por isso, a necessidade do discernimentodo Espírito Santo sempre existe. Este próprio princípio hermenêutico,buscar a revelação do Espírito Santo, é, em si, um princípio missionáriopois, como vimos, especialmente em Atos, a continuação do ministériode Jesus dependia do importantíssimo poder do Espírito Santo,dependência esta não só doutrinária ou teológica, mas da própriaexperiência cotidiana dos fiéis. Por isso, é necessário que cada leitor,com o descernimento do Espírito, avalie e torne aplicável e dinâmica,em sua situação específica, a teologia elaborada até esta altura.

Entretanto, procuramos traçar certas “linhas básicas” nasEscrituras que servem de guia para sua aplicação específica. Cabe-nosaqui, resumir o estudo e destacar os fundamentos bíblicos dodesempenho da igreja no mundo, inclusive sugerindo implicações eaplicações para a nossa reflexão e ação hoje.

Resumo e síntese

Como no Velho Testamento, vimos que o Deus da igrejatambém é o Deus que age através da história. Observamos os fatores

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Igreja: Por quê Me Importar?

que tanto facilitaram quanto dificultaram a penetração do Evangelhono primeiro século. Concluímos que o próprio Deus de Israel agia atravésdestes eventos da história “secular”. Além disto, vimos como a vontadesalvífica de Deus em relação ao mundo se revelou especificamenteatravés dos eventos da vida de Jesus. Não que Jesus mesmo iniciouuma missão plenamente para os gentios, mas os seus ensinos e seuministério “abriu a porta” e serviu de exemplo e justificação para aigreja primitiva embarcar numa missão que incluía todas as nações. Abase duma missão universal não era apenas a vida de Jesus. Os eventosque cercavam sua morte e, especialmente, sua ressurreição, eram provaspara os apóstolos que a era messiânica, quando um grande número degentios virão a Deus, de fato, chegou.

Portanto, podemos afirmar que a pessoa de Jesus era ocatalizador e ponto de referência essencial para missão no NovoTestamento. Cristo ocupa o lugar principal na missão da igreja.

Olhando, então, para Cristo, reparamos que sua grandepreocupação era de anunciar a vinda do reino de Deus. Embora estafrase, “o reino de Deus”, nunca seja definida no Novo Testamento (poisdeve ter sido subentendido), mais uma vez encontramos no ensino e napessoa de Jesus a caracterização de tal reino. Este reino de Deus erauma nova ordem de Deus, o Deus de compaixão e soberania que sepreocupa com a humanidade toda, especialmente aqueles que maisreconhecem sua carência de Deus (na grande maioria das vezes, ospobres e oprimidos). Jesus, então, ocupava um papel profético,anunciando a chegada de um novo padrão de justiça, baseado no amore compaixão de Deus.

Na sua divulgação do reino, os sinais ocupavam um lugarimportante no ministério de Jesus, pois eles, por um lado, funcionavamcomo provas e indicadores da chegada do reino de Deus. Desta forma,pode-se pensar que seu valor em si é mínimo, subordinando-se àquilopara o que apontam, o reino. Contudo, os sinais eram mais queindicadores, eram componentes integrais daquele reino e daquelesvalores que também anunciavam. Por isto mesmo, parece-nos que era anorma que acompanhava não só o ministério de Jesus, mas de Paulo etodos os apóstolos, e até todos aqueles que até hoje abrem novasfronteiras para o Evangelho.

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A missão de Jesus é dada também para seus seguidores. Porisso, cada um dos relatos da vida de Jesus, os Evangelhos, terminadestacando de maneiras distintas e características de cada evangelista,a comissão missionária de Jesus para a igreja. A história terrestre deJesus termina com esta transição de passar a tarefa missionária para aigreja, bem como a história da igreja, especialmente em Atos, começatambém com esta comissão. Seu modelo nesta missão é,preeminentemente, a vida de Jesus. E com esta idéia em mente, osevangelistas descrevem-nos a biografia de Cristo, cada um com suasênfases e pontos de vista.

Marcos estrutura seu relato ao redor do ministério que Jesusteve na Galiléia e em Jerusalém. O primeiro lugar representa aspopulações mistas onde Jesus operava curas e onde havia a aberturapara a pregação aos gentios. Jerusalém era o lugar de oposição e morte,onde Jesus ministrava para os judeus. Esta tensão entre a salvação paraos gentios e para os judeus continuava e refletia a tensão da igrejaprimitiva que Paulo procura elaborar em Romanos 9-11.Significantemente, Jesus depois da sua morte, leva seus discípulos devolta para a Galiléia, onde deveriam embarcar numa missão universal.

Como os outros evangelistas sinóticos, Mateus possui umaorientação da “história da salvação”, porém ele a desenvolve ainda mais.Ele mostra que Jesus é o ponto crucial e transformador de toda a história,cumprindo as promessas feitas para Israel. Nele, todas as esperanças deIsrael se encontram. Mas, paradoxalmente, a rejeição de Jesus pelosjudeus se transforma em abertura e oportunidade salvífica para as nações.

Lucas destaca especialmente bem a universalidade doevangelho. Jesus quebra todas as barreiras e os preconceitos humanos.Ele cumpre as Escrituras, encarrega os discípulos para seremtestemunhas fiéis e perseverantes e dá o Espírito Santo para sustentá-los e dirigí-los na sua missão. A chave para entender a orientaçãomissionária de Lucas é a ligação que ele faz entre Jesus e a igreja. Istojá é evidente pelo fato de ter ele escrito dois volumes, um sendo a históriade Jesus e o outro a história da igreja. Há um paralelo na sua estruturatambém, pois a igreja reflete e continua a missão de Jesus pelo poderdo Espírito Santo.

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Igreja: Por quê Me Importar?

João descreve a missão da igreja como uma extensão daencarnação. Como Cristo, sendo Deus, se tornou homem e “concretizou”o significado de Deus, a igreja deve “contextualizar” em cada situaçãoas características de Deus. A igreja cumpre a sua missão através daoperação do Espírito Santo, o paráclito que ajuda, consola e capacita aigreja na sua tarefa.

Paulo foi profunda e radicalmente mudado pelo seu encontropessoal com Jesus, que persuadiu-o que Jesus de Nazaré era, de fato, oCristo, o Messias que Deus havia prometido. Portanto, agora é a horade salvação para todos, pois em Cristo a era vindoura quando as naçõesiriam se converter, chegou. E esta salvação é possível apenas através damorte e ressurreição de Jesus. Este evento único e crítico para toda ahistória humana exige uma resposta afirmativa de compromisso totalpelos homens. A lei já não é mais vista como reino de salvação. O filhode Deus não é quem nasce apenas como judeu. Tudo é reinterpretadoem referência ao evento de Cristo. Por isso, Paulo só pode pregar, e selança na missão para os gentios, pois isto é a evidência da chegada doMessias. Também através da conversão dos gentios, Paulo deseja ganharo seu próprio povo judeu, que em grande parte rejeitou a mensagem.

Dois outros livros no Novo Testamento, 1 Pedro e Apocalipse,ajudam a esclarecer a missão da igreja em relação à sociedade em geral.O primeiro exorta a igreja a manter a sua pureza moral, mas sem seseparar dos relacionamentos cotidianos com a sociedade em geral. Muitopelo contrário, os fiéis devem se envolver na sociedade para que estapossa enxergar seu testemunho, e assim, poder receber os benefícios doevangelho.

Por outro lado, o conselho de João em Apocalipse é contrário.Os fiéis devem se manter afastados dos relacionamentos com o mundo.Isto é porque o contexto social de Apocalipse era bem diferente docontexto de 1 Pedro. Em Apocalipse, a sociedade geral, pelo domínioromano, exigia que os cristãos comprometessem sua fé, participandoem atos ligados à adoração ao imperador. Em tal situação a igreja devemanter corajosamente um testemunho pela separação da sociedade.

Os outros livros do Novo Testamento: Tiago, Judas, 2 Pedro eHebreus, contribuem muito pouco para a teologia de missão. Suapreocupação era mais com problemas internos das suas comunidadescristãs do que externos. Mesmo assim, isto mesmo destaca a importância

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que Paulo também dava para a boa saúde e o amadurecimento das igrejaslocais pois, sua própria existência e perseverança eram também evidênciada nova era do Espírito que Jesus inaugurou e que era caracterizadapela conversão das nações. Era essencial para a missão da igreja quetal testemunho de perseverança fosse intacto, fiel, compreensível epersuasivo.

Este, então, é o período de cumprimento, quando o plano salvíficode Deus para toda humanidade alcança as suas maiores dimensões. Antesda volta de Jesus, é necessário (para não dizer, misericordioso) pregar oreino de Deus em todo lugar por todo tempo. O momento de salvação já éagora, pois o seu fornecedor já veio e já providenciou. Antes que ele retornepara reivindicar o que lhe pertence, cabe à sua igreja divulgar estas boasnovas para o mundo inteiro. Esta missão dá sentido a existência da igreja.E a esperança na volta do Messias dá motivação para ela cumprir tal missãono poder do Espírito Santo.

Isto é, em síntese, a teologia apresentada no Novo Testamento.Disto podemos observar vários princípios em comum entre os váriosautores do Novo Testamento. Em seguida, sugeriremos alguns destesprincípios ou fundamentos bíblicos.

Fundamentos bíblicos

Deus soberano e salvador. No Velho Testamento já reparamos,por numerosas maneiras, que Javé é o Deus soberano sobre toda a suacriação. A universalidade e unicidade de Deus formam a basefundamental para a universalidade da missão. A vontade do único Deussobre o universo é salvar a sua criação.

Esta imagem de Deus está no coração do Novo Testamentotambém. Um Deus soberano e misericordioso é o ator último dasparábolas de Jesus. É este Deus salvador que alcança além das leisjudaicas. Sua aproximação do homem exige a atitude de conversão. Oseu reino tem um escopo universal até cósmico. Os marginalizados,mulheres, samaritanos, e gentios recebem a misericórdia de Deus.

Deus tem um plano salvífico que alcança tanto judeu quantogentio, e ele vai cumprí-lo. A confiança no cumprimento do seu planodá a igreja motivação para perseverar até o fim.

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Igreja: Por quê Me Importar?

A igreja, contudo, não fica passiva em relação à soberania deDeus. Reconhecer que a missão é essencialmente de Deus não significaque a participação da igreja na evangelização mundial tem poucasignificância. Muito pelo contrário, a missão de Deus exige e se exprimenas atividades e projetos missionários da igreja. São praticamente doislados da mesma moeda. Michael Green resume esta idéia dizendo: “aevangelização é supremamente a obra de Deus nas vidas dos homens,na qual ele alista a cooperação humana”.

A história da salvação. O Deus da Bíblia é o Deus que age nahistória. Não é principalmente apresentado como um conceito ou idéia,uma doutrina que podemos elaborar. Ele é, acima de tudo, pessoal eage nos eventos e experiências concretas das nossas vidas. Deus não serestringe a uma dimensão mística da nossa vida. Atua através do êxodo,do dilúvio e do cativeiro no Velho Testamento, todos eventos históricosaté “seculares”. Ele atua através da vida humana do seu filho Jesus,através da sua morte e ressurreição, eventos bem visíveis que fazemparte da nossa história.

É na nossa história humana que Deus se revela e o faz commovimento para frente. Percebemos, através da história, a sua conclusão.Assim, a perspectiva cristã da história é essencialmente escatológica.A humanidade está indo na direção do cumprimento, julgamento esalvação, e este movimento entrou na sua fase final com a ressurreiçãode Cristo. Hoje é o dia da salvação.

A criação: cenário de revelação e salvação. Este princípio éuma correlação do anterior. O Deus que age, atua na nossa história e nonosso mundo. O próprio mundo criado é revelatório de Deus e participano seu plano universal de salvação. Não somente os seres humanos esua história são sagrados, mas a terra e o cosmos que habitam pertencema Deus.

O Novo Testamento abraça a perspectiva do Velho de que acriação é essencialmente boa e que tem características (como o homem)do seu Criador, mesmo caído (Romanos 1.19-20). E ela, como ahumanidade, ainda aguarda sua restauração final (Romanos 8.19-23).

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A perspectiva bíblica vai além (embora não ultrapasse) da idéiade salvação de “almas” na dimensão “espiritual”. A salvação é integral,pois procura a restauração do homem todo, corpo, espírito, mundo,cosmos e tempo.

A experiência com Deus. Tanto o Israel quanto a igreja tiveramexperiências dramáticas, transformadoras e desafiadoras com Deus.Vimos como a experiência de conversão mudou e motivou toda aorientação de Paulo sobre a salvação, a história, a lei e o Israel. A suaprofunda experiência de Cristo transformou Paulo e a comunidade cristãnuma companhia de testemunhas. A experiência íntima que Jesus tevede Deus se evidenciava através de toda sua missão. Jesus era o enviadodo Pai, fazendo apenas a vontade do Pai.

A experiência religiosa no Novo Testamento era ligada ao papeldo Espírito Santo, capacitador da igreja para missão. Era a igrejadespertada e cheia do Espírito que evangelizava e se envolvia em missão.Não é acidente algum que a própria história da igreja até hoje testificaa relação da renovação espiritual com a expansão missionária da igreja.

A direção centrífuga e centrípeta. O Novo Testamento destacao movimento centrífugo da igreja na sua ação missionária, bem como oVelho Testamento enfatiza o movimento centrípeto. Isto não écontradição, mas apenas ressalta a distinção entre os dois testamentoscomo sendo a distinção entre antecipação e cumprimento. Mesmo assim,isto não significa que o Velho Testamento não revele seus momentosde evangelização centrífuga, nem que o Novo Testamento não possuauma dimensão de preocupação centrípeta. Os dois elementos estãopresentes nos dois testamentos, embora difira a ênfase.

O Novo Testamento anuncia a chegada de uma nova era desalvação, que alcança dimensões mais cósmicas. Por isto, o papel daigreja é, antes de tudo, ser orientada não para si mesma, mas para omundo, para anunciar o reino de Deus. E, mesmo quando há uma ênfasenas preocupações internas da igreja, isto também tem como propósito otestemunho missionário que, pela perseverança da igreja comprova apresença do Espírito Santo, característica principal da era vindoura desalvação.

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Igreja: Por quê Me Importar?

A centralidade de Cristo. É impossível dar sentido a qualquertexto do Novo Testamento sem referência a Jesus. A igreja eraunânimemente cristocêntrica em sua mensagem. O conteúdo da suaproclamação era, nada mais nada menos, que a pessoa de Cristo.Empregavam todos os meios culturais e intelectuais para comunicar asignificância da vida, morte e ressurreição de Cristo. A sua mensagemera a mensagem da Cruz, a mensagem de Cristo crucificado. Era istoque eles lembravam liturgicamente através da celebração da ceia doSenhor, pois na cruz Deus havia providenciado a salvação do mundo.

Maneiras diferentes de testemunho

Já observamos que a missão de Deus foi transmitida pela igreja.Havia várias formas de comunicar esta missão. Algumas se destacamno Novo Testamento.

A proclamação verbal. Há grande consenso entre os estudiososque o meio mais importante de evangelização na igreja primitiva era aproclamação direta. Os pregadores missionários anunciaram as boas novasde salvação.

A carreira de Paulo é um exemplo da pregação como o principalinstrumento da igreja na evangelização. Ele fala claramente que era“obrigado” a pregar. Também sabemos de Paulo que já havia um grandenúmero de evangelistas que pregavam o evangelho até Roma. Ele congratulaos tessalonicenses por isto mesmo. Os Evangelhos afirmam que o Evangelhoserá pregado até os confins da terra. Segundo os Evangelhos, Jesus gastavamuito tempo pregando e ensinando. Por certo, Jesus, então, serviu de modelopara a importância da proclamação no ministério dos apóstolos. As raízesda proclamação podem ser traçadas ainda mais para trás na idéia do VelhoTestamento da “Palavra” de Deus (Isaías 55.9-11).

O desafio profético. Embora esta maneira de testemunhar sejamais explícita no Velho Testamento, também o Novo Testamentoemprega-a. Os Evangelhos, especialmente Lucas, descrevem oministério profético de Jesus, desafiando a atitude exclusivista de Israele denunciando falsas atitudes e falsos valores.

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Paulo compreende sua própria vocação em referência aoschamamentos de Isaías e Jeremias; e o modo profético é central aoApocalipse. Aqui a comunidade é exortada para tomar uma posiçãoprofética contra o Império Romano que era idólatra.

O testemunho de vida. Sem dúvida o testemunho do bomcomportamento, pureza moral e envolvimento da igreja na sociedadeserve de modelo para a ação missionária da igreja no mundo. Em Efésios,a igreja deve ser exemplo e instrumento de reconciliação de Deus paracom o mundo.

João destaca a essencialidade do amor e da unidade da igrejapara a crença do mundo.

O testemunho de vida muitas vezes implicava em sofrimento.E este sofrimento era parte integrante da missão. Paulo sentiu que seuaprisionamento e outros sofrimentos “contribuiram para o progressodo evangelho” (Filipenses 1.12).

Outras maneiras. Embora estas sejam as principais maneirasde testemunhar, a igreja primitiva contextualizava o Evangelho nasdiversas circunstâncias dos seus contextos. Michael Green relata, demaneira exaustiva, várias formas de testemunho.

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‘am‘ebhedh YHWH‘ehyeh shelâani‘ehyeh ‘asher ‘ehyeh2ª ClementeAalenAbelAbraãoAcabeAdãoadesseadoraçãoafesisÁfrica negraAicarAitofelaliançaAlmeidaAlvesAmarnaAmazôniaAmenemopeAmérica LatinaAmósAnaniasAnateanawAndersonAntioquiaAntioquiaApocalipse

apocalípticaaposteleinapóstoloÁquilaarameusarcaarcheArcherArfaxadeAriasarrependimentoAseraAssíriaAssíriosAssociacão de MissõesTransculturais BrasileirasAstaroteAtonAugustoBaalbaalismoBabelBabilôniababilônicosBachliBachmannbaharbalaãoBalybârâ’Barnabé

ÍNDICE DECONCORDÂNCIA

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BarrettBarthbasileiaBasshamBavinckberîthBerkhofBertholetBlauwBoerBonhoefferBoschBraatenBrasilBrenemanBrightBruceBrueggemannBrunnerBudábudistasBuisBultmannCafarnaumCaimCaio FábioCalcolCalebeCalvinoCanaãcananeuscânticosCãoCareycarismacarismaticarismáticaCarmelocarolingianoCastrocativeiro

catolicismocatólico romanoçelemcentrifugismocentripetismoCentro Evangélico de MissõesCentro Evangélico Brasileiro deEstudos PastoraisCeramChildsChristensen e HutchisonCiroClemente de AlexandriaClementsCloéColecolonialismoComblincomunhãocomunicacãoConferencia MissionáriaIbero-AmericanaConfúcioCongresso Brasileiro deEvangelizaçãoContextocontextualizaçãoCorintoCornélioCornéliocosmosCostascrescimento da igrejacriaçãoCrispoCristocristologiacruzCullmanncultoCuza

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DãDanielDardaDaveyDaviDebirDecálogoDeisslerDelitzchdêmûthDeRidderDeschnerdeusesdeutero-IsaíasDia do JulgamentoDia do SenhordiaconiadiásporadilúvioDingermanndireitos humanosdispersãoDodddoxadualismodunamisDyrnessEatonEclesiastesEclesiásticoecumenismoEdeneedhegípcioEgitoEichrodteleiçãoEliasEliseuElohimEmanuel

eminsencarnaçãoencontro de poderesEpístola de ClementeEpístola de BarnabéErastoescatologiaescatonEscritosEscrituraEsdrasEspanhaesperançaespiritismoEspírito SantoespíritosesseessêniosEstadoEstéfanasEstevãoestrangeiroEtaéticaetnomusicologiaEuropaevangelho socialEvangelhos SinóticosevangelicalevangelizaçãoexclusivismoexílioêxodoexousiaexpiaçãoEzequielFaraófariseusfavoritismoFee e StuartFenícia

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FerreiraFigeiredoFilho de DaviFilho de DeusFilho do HomemFilipeFiliposfilisteusFohrerFoulkesFraternidadeTeológica LatinoamericanaFriesenFrohnesfundamentalismofuturogâ’alGaioGaliléiaGaventaGensichengentioGetsêmanigideãoGiradinGlasserglória de DeusgnômicaGonzalesGoppeltGosengôy qâdhôshgoyimGrande ComissãoGrantGreengregosGrelotGrostGuilletGuthrieGutierrez

adtêy Yhvâhâîdâkhamh_ay_ahHahnHarãHarrisonHarveyHaselhe’eminHeilsgeschichteHemaheneulogethésontaiHenkelhermenêuticaHerodesHerschelHexateucohierofaniaHillershindushinohipostatizaçãohistória da salvaçãohistóriahithbârakhûhititasHoekendijkHogghoreusHoskynshumanismo secularIahwehIbériaIdade ÁureaIdade vindouraidolatriaIgnácioigreja primitivaigrejaIlírico

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iltimagem de Deusimago DeiImpério RomanoImschootinjustiças sociaisinstitucionalizaçãoInternational Review of Missionira de DeusIrineuIsabelIsaíasIsaqueisolacionismoIsraelJacóJacobsJafeJairoJavismoJeremiasJeroboãoJerusalémJesusJezabelJóJó SuméricoJoanaJoão MarcosJoão BatistaJoaquimJonasJosiasJosuéJubileuJudáJudaismoJudasJudéiaJudeusJuizes

JuizojulgamentojustiçaJustino Mártirkabod IahwehKahlerKaiserKaneKäsemannkebhôdh YHWHKeckKerrKidnerKlinekôbhashKohlerKraemerKuiperkukloskúriosKwakLaddLao-TzuLausanneLázaroleiLewisLíbanolibertaçãoLídiaLindlínguasliturgiaLogosLohmeyerlouvorLucasLuteromagiamalkûthmamlekheth kôhanîm

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mandato redentormandato culturalMaoméMar VermelhoMardukMariMariaMartin-AchardMarxmarxismomâshîahmatheteusatemáximas Egípcias de MenemopeMcCarthyMcGravanmebhârekheydhâmedo-persasmegaleldhâMelquizedequeMendenhallMendonçaMesa de Moabemeshîa

mesneptaMesopotamiaMessiasmetanoiaMichaelMiddle KoopmidianitasmilagreMiquéiasmisericórdiamishpâmissãomissão integralmissiomissio ecclesiaemissio Deimissiologia Latinoamericanamissional

Missionaliamissiones ecclesiaemitologiamitteremizmorMoisésmonarquiamonoteismomonte de SiãoMooreMoraesmuçulmanosMunckmúsicanaalâhnacionalismonaçõesNatãNazaréNeillNewbiginnibhrekhûNicholsNiebuhrNilesNíniveNoénominalismoNorthokhmâhOnésimoOnrioppressãooração dominicalordemOriente PróximoOriente MédioOrígenesOséiaspaganismoPalestina

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Papeparábolasparácletoparallelismus membrorumparticularismopatriarcasPauloPedroPentateucoPentecostespeplérókenaiperdãopersasPérsiapersonificaçãoPetersPiersonPimentapisteueinpistispô’êl yshû’ôthpobrepoesiapoliteismopolíticaporeuomaiporeuthentesporneusaiporta-vozespós-exíliopovos não-alcançadospré-exíliopreferência opcional pelos pobresPriscilaPritchardprofetasprofeticismoprogressistaspromessaprovérbiospseudepígrafo

q_ah_alquedaQuirinoRabino JeheshuaRabino EliezerrâdhâhRas ShamrareconciliaçãoredençãoRedentor vindouroreino de DeusreligiãoremanescenteressurreiçãoRhodesRomaromanosRooyRowleyRutesabedoriasábiossacerdotessacralizaçãosacrifíciosSafirasalmistassalmosSalomãosalvaçãoSalvadorSamariaSamuelSandmelsantidadesantuárioSatanásSaulSavageSchillingSchreiter

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SchultzScottSéforisSegundoSellin e FohrerSellinSemsemeionSeminário Teológico FullerSenhorSeniorSeptuagintaserviçoservo sofredorservo idealservo coletivoServo de IahwehShe’iâr-yâshûbhShenkSiãoSiderSidonSilasSiloSimeãoSinaisincretismoSiquemSíriaSmicksoberania de DeusSofoniassoteriologiasozeinSpindlerStamStendahlSteuernagelStottStuartStuhlmueller

SundklersúplicaTabela das NaçõesTabertabernáculoTácitotehllimtemor do SenhortemploteocraciaTeófiloteologia de libertaçãoteologia bíblica de missãoteologia da históriateologia contextualizadateologia de libertaçãoteologia bíblicaTeráTiberíadesTibérioTippettTiranoTiroto terastôbh m’ôdtTorátradução da BíbliaTransjordãoungidounidades homogêneasuniversalismoUrVerkuylVINDEVocabulário de Teologia Bíblicavolta de Jesusvon RadVosWatsonWeberWen-Amon

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WestermannWolffWrightWright e FulleryôçîZacariaszelotesZenasZienerZoroastroZorobabel

ÍNDICE DE REFERÊNCIASDA BÍBLIA E MANUSCRITOS

GÊNESIS 13, 16, 18, 21, 25, 28, 36, 77, 101

1-11 14, 15, 40, 45, 1051 14, 16, 17, 18, 20,1061.1 23, 511.1-2 221.2 171.11 191.26 19, 231.27 231.28 19, 23, 24, 1062 14, 182.7 222.15 242.18-25 242.19-20 303 143.11 403.8 313.10 263.12 26

3.15 1443.16 233.17-19 26,3.19 263.23-24 264-6 144.8 264.8-16 374.17-22 274.26 34, 365.6-29 366.5 346.7 346.8 366.9 346.11-12 346.11-13 376.13 34, 366.18 376.22 367-8 147.1 34, 36

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Igreja: Por quê Me Importar?

7.5 367.16 368-9 148.1 378.15-16 378.21-22 37, 419 399.1-10 279.1-17 379.6 379.20-21 369.26 389.27 3810 15, 38, 4510.5 3811 14, 4511.4 39, 4011.6 3911.8 40, 5012ss 4012-20 4612.21 4612 12, 14, 20, 24, 40, 45, 5412.1 40, 46, 50, 5112.1-3 4712.2 40, 8812.3 15, 40, 54, 55, 56, 153, 16712.50 4613.14-16 4814.17 14414.20 14415.5 4815.7 4815.18 4817.1 5217.4-8 4817.6 1817.9 5217.16 1818.18 48, 5421 4622.12 4822.17-18 4822.18 5426.2-4 48

26.4 5426.24 48, 14628.3-4 4828.4 5428.13-15 4835.9-12 4836.31 8541.8 104, 10748.16 4849.8 5549.8-12 14549.10 55, 14449.25 1750.20 118

EXODO 61, 70, 77

1-2 612.23-25 62, 722.24-25 643-18 623.6 643.7-9 62, 723.12 613.13 613.14 61, 633.22 55, 614.22 516.6 696.26 1887.3 1887.4 1887.5 657.11 1078.10 658.22 629.26 6210.12 14212 6514 6614.13-14 6614.17 6514.17-18 6614.31 14615.1-19 110

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15.2 7015.8 1715.11 1715.13 6915.21 11019-40 67, 7019.5 52, 6719.5-6 52, 56, 16719.6 49, 67, 8520 6520.2 6320.3 6820.5 6820.6 7221.2-27 7321.3 7322.21 7322.21-24 7222.22-24 7422.23 7322.29 7323.12 7324.8 17325.10 14425.40 14431.3ss 10332.13 14633.14 7034.4 6834.6-7 7234.10 6540.35 70

LEVÍTICO 61, 67, 70

4.5 14310.12 35, 14219.10 7319.15 7219.18 7223.22 7324.22 7324.27 20225.18-25 7325.23 47, 73

25.25 6925.25-55 7325.39-40 7326.45 56

NÚMEROS 61, 67

14.13-16 6614.19 6416.30 1716.33 3516.46 3523.9 4735.15 73

DEUTERONÔMIO 61, 67, 75

2.10-12 383 403.24 1884.12 694.34 1885.2ss 675.2-21 525.7 686.4 1136.5 727.6-8 477.7-8 508.10 759.4 56, 759.5 759.6 759.26 659.27 14610.18 7410.19 7312.5 6514.29 7315.12-18 7315.15 65, 7316.19-20 7217.14-20 8818.3 6920.10-18 75

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Igreja: Por quê Me Importar?

24.17-21 7424.18 6524.19-21 7326.5 5026.5-9 6526.5-11 7728 7628.33 5529.9 7329.11 7333.14ss 1733.19 49

JOSUÉ 50, 74, 76, 77

1.1-15 1461.5 1944.23-24 657-9 7610 7610.12 1711 7611.22 14215.15-19 10315.16 6724.2-3 5024.2-13 7424.14-15 93

JUÍZES

1.1-25 761.19 763.10 845 1105.20 177 668-23 849.7ss 10314.6 8414.14 103

RUTE 69

I SAMUEL 143

4 854.1-4 848-12 858.6-9 858.7 878.11-18 879.15-17 8612-15 8712.14 8612.15 8512.25 8513.14 8613.19-23 8517 8717.45-46 6524.14 10325 8731 86

II SAMUEL 143

1.16 1441.19-27 1103.18 1467.8 1467.12-15 1457.14 897.15 877.26 1467.51 1468.4-9 688.18 8816.23 10817.14 10823.1 14423.5 8723.7 144

I REIS 93

3.4-28 1034.20-25 1324.29-34 103

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4.30 1074.31 1074.33 1065.13-18 1326.1-38 889.15-22 13210.7 10310.11-29 8710.23ss 10311.1-8 7511.7-13 8712.26-33 8715.11-15 8916.30-33 9116.32 9118-19 9118.17-40 9319.15-18 9319.18 14220.11 10322.52-53 89

II REIS

1.10 1899.7 14610.18-31 8912.4-16 8917.13 14622-23 13322.11-23.27 8823.3 52

II CRÔNICAS

20 66

ESDRAS 134

JÓ 103, 107, 128

1.3 1075.13 10710.8ss 12810.10 106

12.13ss 12828 10828.28 10838.32-36 128

SALMOS 21, 103, 110, 111, 116, 117,119, 121, 125, 143

1-41 1101 1031.6 1112 116, 1252.7 86, 89, 1182.10-11 1153.3 1165.5 357.7 1127.8 1128 17, 20, 219.8 1129.11 11210.16 11212.1-2 11118 112, 11618.2s 11618.3-6 11618.7-15 1718.50 8619 21, 16319.1-2 11119.1-4 11219.7s 11120 11620.6-7 8721 11621.7 8722.22s 11622.26 12022.27s 11622.27 11722.27-28 112, 11522.28 5522.30s 11623 12123.5 121

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Igreja: Por quê Me Importar?

23.6 12124 2124.1 2924.2 2929 17, 11229.10 11529-31 11633 21, 12533.12 11237 10339.12 4740.3 11240.1-3 11142-72 11044.4-7 11145 112, 11646 11246.8-10 11147 11247.1-2 12647.6-8 12647.7 11547.8 11548 11150.1 112, 12651.14-17 11652.8 11753.2-3 11754.1-3 11154.5 11655.1-5 11157.5 11557.7 11257.11 11559.5 11260.1-3 11163.2 11463.3 11764.9-10 11266 12566.1 112, 11566.1-2 12666.2 114, 11566.5-7 11166.8 112

67 53, 11267.2 116, 12567.3-7 11667.7 12568.5 74, 11268.6 7468.28-32 11269.7-20 12171.17 11672 116, 125, 19472.8-11 11272.17 8772.17-19 11272.19 11573-89 11073 103, 10774 21, 3174.12-17 2178.67-72 8679.6 11779.9 11484.5-7 9085.1-3 11186.5 11786.9 11287.1-3 9087.4 11288.3-9 12189 21, 3189.1 2189.1-2 11689. 3-4 8689.14 12189.27 8989.33-34 8689.33-37 8789.36s 11690-106 11091 10392.12-15 9093 3193.1a 111, 11893.2 11595 31, 11295.3 115

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96-100 11296. 1-13 11696.3 11596.4 68, 11596.5 6896.6 11596.10 11596.10-13 11797 11797.1 11597.2 11997.8 11598 21, 121, 12598.2 6598.4 6598.7-9 11799.1 11599.2 11599.9 115101 116102.15-22 112102.26-28 22104 21, 113, 112104.24 105, 128105-106 111105.1 112105.44-45 112107-150 110108.3 112, 126110 116110.4 86, 144110.5-6 117111.2 128111.10 108113.3-4 112117 125, 126117.1 112117.1-2 111118.13s 116119 103121 111123.3-4 111124.6-7 111 127 103128 103

132.10-18 86132.12 86132.13-14 90133 103, 121135-136 65135 31136 31, 111137 111138.1 116138.5 114139 103144 116144.1s 116145 117146.9 74147.1-11 111149 111150 110, 111

PROVÉRBIOS 103, 107, 108, 118,119

1-9 1081-8 1081.5 1041.7 1081.20 1251.29 1082.5 108, 1092.6 1092.5-8 1253.19 1053.19s 1283.28 1098 105, 108, 1108.12 1108.12-14 1088.15-16 1058.22ss 1288.22-24 1108.22-31 2158.22-36 178.30 1108.32-36 110, 2158.35 125

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Igreja: Por quê Me Importar?

9.32-35 10910-29 10810 11910.4-5 11910.26 11911.2 11911.9 11911.12-13 11911.26 11912.17 11912.22 11913.4 11913.23 11914.5 11915.25 7415.27 11915.33 10816.2 11816.8 11916.9 11816.25 12816.32 11917.23 11918.5 11918.12 11919.9 11919.11 11919.21 11820.4 11920.24 11821.1-4 11921.20s 11821.26 11922.2 11822.9 11922.17-23.11 10722.28 11923.10 11923.13s 10724.1 11924.30-34 11925.2 10825.21 11925.23 10626.16 119

26.20 10627.2 11929.7-14 11929.12 11930 10730.15 10630.16 10630.18-19 10630.24-31 10631.9 107

ECLESIASTES 103

ISAÍAS 21, 74, 131, 142, 144, 146, 151,160, 204, 225,205, 269

1-39 1401.2 52, 671.4 52, 671.8 1421.10-15 701.16-17 157, 1581.21 1371.23 1372.1-4 882.2 1442.2-3 552.2-4 140, 1532.3-4 902.5 1442.10 352.10-21 1392.22 353.12-15 1404.1-10 2274.2 143, 1444.3 1425.8 1406.11-12 1427.1-9 1327.3-6 1427.14 789.1 1449.1-7 144, 1459.2-7 89, 141

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9.6-7 189.7 14910.13 10410.20-21 14211.1 14611.2 14411.1-5 14511.1-9 89, 140, 141, 14411.6-9 15911.9 16311.9b 14511.10 9611.11 14211.16 14212.23 5414.1-2 14019.11-12 10719.23-25 5519.24-25 15325 25425.6 25425.7 25425.8 25428.5 14228.23ss 10330.14 14230.17 14231.2 12831.33 15832.1 89, 14532.1-8 140, 14133.17 89, 14534.4 2237.33 13337.35 13337.20 15040-53 14540-55 141, 15340 3840.1ss 13440.5 20440.18-20 6940.27ss 2140.55 14741.1ss 56

41.8 14642-44 1442.1 148, 15042.1-4 14542.1-7 14642.2-3 15042.4 15042.5 2142.5-7 4942.6 53, 149, 153, 15542.7 22742.16 22742.19 14643.1 21, 6943.2 19443.5 194, 22743.7 2143.10 49, 146, 15343.15 2143.18-21 16643.21 15044.1 14644.1ss 2144.2 2144.6-8 15044.9-20 6944.10 15344.20 15344.21 21, 14644.22 14944.24 21, 3144.24b-28 2144.25 10745.1 5645.4 14645.18 1745.22 49, 15345.22-23 150, 15346.1-13 15346.3-4 14247.8-13 4047.10 10747.12-13 10749.1 23449.1-2 150

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Igreja: Por quê Me Importar?

49.1-6 145, 14949.1-13 14649.3-5 14649.5-6 15049.6 149, 153, 155, 225, 22749.7 14949.8 22750.4-9 14550.6 15050.7-9 15051.1 14651.1-8 14951.4-5 150, 15351.7 14651.9-10 2152.7 15052.10 15052.13-53.12 145, 14953 14853.1 14853.2 146, 14853.3 14853.8 14853.9 14853.10-12 14853.11 14954-66 14554.2-3 14954.5 149, 15054.9-10 14955.1-9 14955.3 8755.5 15355.9-11 26955.10-11 21556.6 22, 15856.7 15356.66 15358.5-7 16960.1-2a 20460.1-4 9061 20562.1-12 9063.4-6 14865.17 22

65.17-25 16666 39, 181, 194, 230, 25566.1-3 1866.10-24 9066.18-21 15366.19s 15366.22 22

JEREMIAS 131, 133, 139, 140, 148, 158,225, 269

1.4-5 2251.5 2341.11-17 352.2-3 51. 1323.17 907.6 737.21-26 707.25 1469.17-22 13411.1-8 5211.18-12.6 14815.5-9 13415.10-20 14816.19-21 15317.14-18 14818.1ss 6718.1-7 5218.18 10318.18-23 14820.7-11 14820.14 14820.18 14822.3 7323.5 14423.5-6 14323.8 14423.18 13123.22 13123.28b 10324.1-10 13424.8-9 14225.15 3525.33 35

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26.5 14629.10-14 13430.7-8 3530.9 14431.20 5131.31-34 5331.33 5733.14 14433.14-25 8733.18 14433.19-22 8733.19-26 89, 14542.2-3 14246-52 5449.7 10750.35 104, 10751.57 107

LAMENTAÇÕES

1.12 1342.1 1342.21-22 1344.20 86

EZEQUIEL 73, 131, 139, 158

5.8 565.14 569.8 14216.3 1516.3-8 5016.41 5617.21 14225-32 5428.3ss 10734.21 14434.30 14436.5 3536.8-15 13436.26s 14136.26-27 5736.30 15937.12 13437.24 144

37.24-25 8737.24-28 89, 14537.28 14445.8 7346.17 7347.1-12 9047.22-23 73

DANIEL 143

1.4 1071.20 1075.11-12 1077-12 1507.13s 1747.13-14 1937.13-14 151, 152

OSÉIAS 74, 93, 131, 140

2.5 89, 141, 1452.21-22 1593.5 1444.1-2 1404.11-14 1404.17-19 1405.1-2 1406.7 52, 676.8-10 1408.1 52, 678.4 1409.10 7410.10 5611.1-9 5114.9 103

JOEL

2.28-32 2533.12 35

AMÓS 74, 93, 131, 133, 135, 139,140, 154

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Igreja: Por quê Me Importar?

1.3-2.3 1541-2 54, 1352.6-8 139, 1552.9-12 1353.1-2 1573.2 49, 1353.7 1313.8 131, 1373.9 563.12 1424.1 1574.4 704.5 704.6-11 1544.11 1424.12 315-7 1355.2 1405.3 1425.4 1585.7 1575.8 315.10-12 139, 1575.12 1405.21-24 705.23 1405.24 1406.1-7 1406.4 1396.8-10 1406.14 56, 1547.1 1547.4 1548.2 1408.4-6 1578.4-7 1409.1 1449.7a 1729.7 54, 135, 1549.8-10 1329.11-12 89, 141, 145

OBADIAS

8 1078ss 35

JONAS 135, 155

4.5-6 1354.10-11 1544.11 135

MIQUÉIAS 74, 131

2.2 1404.1 1444.1-3 1534.1-4 1534.1 1445.1 1445.2-4 1455.5 1446.8 94, 137, 1587.18 142

HABACUQUE

2.14 153

SOFONIAS

131

1.14-16 1393.8 353.9 423.10 1533.12s 140

AGEU

2.2 1422.7 1442.10 144

ZACARIAS

3.8 143

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6.9-15 1446.12 1438.6 1428.22-23 558.22s 1538.23 1499.2 1079.9-10 14414.16-21 90

MALAQUIAS

2.10 313.1 2553.5 74

SABEDORIA DE SALOMÃO 109

7.22 1097.25s 1107.26 1107.27 1108.1 1108.22 1109.1 1109.1-2 2159.9 2159.10 21518 215

ECLESIÁSTICO 109

1.4 1106.24 1096.30 10924 10948.10 25548.11 25551.23-27 109

I ENOQUE 151

47.4 255

II BARUQUE

30.2 255

SIRACIDA

24.8-14 21524.19-22 215

MATEUS 180, 193, 194, 200, 201,202, 203, 206, 208, 212,255, 258, 264

1.1 573.4 934.23 1885.13 2015.17 2005.19 2015.20 1945.23-24 1855.42 1096.24 936.30 2016.33 1947.24-27 2018.1-4 2018.5-13 1808.10 1898.11 388.26 2019.18-31 2019.35 19010 19210.5 180, 192, 20010.7 18810.23 19210.32-33 5711.2-6 18911.3 19011.6 18611.21 18911.22-28 18811.28-30 109

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Igreja: Por quê Me Importar?

12.22-28 18612.28 19012.38 18813.1-23 18513.24-30 18513.31-33 18513.44-46 18513.47s 18514.31 20114.33 20115.21-28 20115.24 180, 20015.29-31 18416.8 20116.12 20118.21-35 18519.17 19421.33s 25222.33-46 20021.43 20022.40 18524.1-14 18724.13 25924.14 95, 116, 166, 194, 200, 254, 25524.42 25324.43s 25224.43-25.30 18525.1ss 25226.13 18726.15 19426.64 19327.55-56 18327.57 19428 19228.16-20 20028.17 19328.18-20 192, 25728.19-20 19328.19 180, 200, 20228.20 79, 118, 187

MARCOS 188, 192, 193, 194, 198, 199,200, 201, 202, 206, 211, 212,213, 258

1.1-13 1981.2-3 1981.4-8 1981.11 1991.14-8.21 1981.14-15 35, 185, 1971.15 94, 176, 1861.16 1161.16-20 1991.27 1992.14 1992.19 1092.23-28 1853.1-6 1854.1-9 1854.11 1854.35-8.21 1985.34 1896.5 1896.7 1946.52 2017.1-23 1857.24s 1807.27-28 1998.11ss 1898.11-13 1888.21 2018.22-10.52 1988.31 1518.34 1509.7 1999.12 1519.31 1519.32 19910.17 18710.23 18710.26 18710.45 14710.52 18911-15 19911.1-16.8 19811.12ss 18911.17 19912.1-2 19912.41-44 184

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13 19813.10 187, 194, 199, 254, 255, 25713.13 25913.32 25213.34ss 18514.28 19814.61-62 15114.62 19915.39 19915.40-41 18315.43 19416.7 19816.8 19916.14-18 19416.15 194

LUCAS 180, 193, 194, 195, 201, 203, 204,205, 206, 207, 208, 210, 212,264, 269

1.3 2011.9 2031.15 2071.26-38 2061.32 2041.32-33 181.35 204, 2071.41 2071.45 2061.67 2071.68-79 204, 2051.77 2052.1-2 2042.5-11 2082.11 2042.25 2072.32 204, 2072.36 2072.41-52 2033.1 2043.3 2053.6 204, 2083.16 2073.22 204, 2073.22-38 207

3.23-28 2053.38 294.1 2074.4-8 1854.4 2074.13- 2054.14 2034.16-30 2074.17-22 2054.18-19 72, 2044.18 2034.31ss 2055.1-11 2065.12-15 2045.14 2085.20 2055.27-32 2045.29-32 2055.32 2056.12-16 2067.1-10 204, 2067.34 2057.36-50 2057.42-50 2067.47-48 2057.50 1898.1-3 1838.15 2068.19-21 2069.1-6 2069.22 1519.51 2029.51-19.40 2039.51-56 1899.52-55 20410.1 3810.1-20 20610.8-9 18810.13-14 20610.25-37 20610.30-37 20411.14-23 18611.20 20511.27-28 20611.29-32 206

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Igreja: Por quê Me Importar?

12.29s 25212.32 25912.35-48 25212.39 25212.51 3913.10-17 20513.29 20513.33 20313.34 20314.10 10914.15-24 205, 20914.25-33 20514.28-33 20315 186, 19515.1-2 204, 20515.7 20515.9 20515.32 20516.19-31 204, 20617.11-19 184, 204, 20617.19 18917.24 205, 25218.9-14 20618.18-27 20418.31-34 20519.1-8 20519.41 20220.9-10 20520.17 20521.1-4 20622.14-32 20622.19-20 20522.23-28 20522.28-30 20522.61-62 20623.8 18823.49 20624.7 151, 20524.8 20624.9 20624.13-35 20524.26 203, 20524.33 205, 20624.36-49 20623.41-43 205

24.44 202, 205,209, 21024.44-49 195, 202, 204, 207, 20924.46-47 3524.46-48 20224.47 180, 202, 203, 205, 20824.47-48 20924.47-49 20324.48 203, 206, 25724.49 203, 204, 207, 21024.52 20328.34 205

JOÃO 189, 195, 211, 212, 213, 214, 215,216, 217, 218, 219, 264, 269

1 2121.1-2 2141.1-4 1101.1-14 221.1-18 2141.4-5 2191.6-8 2171.9 2141.12 219, 2591.14 118, 215, 2161.15-19 2181.16-18 2151.17 2121.18 214, 2171.19-51 2161.29 2172.19-21 2122.22 2183.2-15 2183.7-14 2053.14 216, 2533.15 2173.16 2163.16-17 2193.16-21 2143.17 2173.36 344 2194.34 217, 2194.38 219

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4.42 2175.17 275.24 2175.30-47 2175.37 2176.38-39 2176.38-40 2196.51 2177.50-52 2188.12 2178.17-19 2178.28 2168.32 1869 2199.5 21710.16 19512.27-28 21612.32 195, 216, 25312.34 21612.44-47 21912.49-50 21713.1 21613.12-16 21913.15 21913.16 21913.20 195, 21913.34-35 21914-16 21814.6 110, 12814.12 79, 21814.16 21814.26 21815.1-11 21915.2-27 21815.12-17 21915.14-15 21915.26 21716.8-11 21816.13 21817 195, 21917.1 21617.1-26 19517.4 21717.4-5 21617.14 219

17.14-18 21817.18 21917.18-21 21917.20-21 21719.35 21719.39 21920 21620.19-23 19520.21 27, 219, 25720.21b 19520.21-22 21820.29 218

ATOS 94, 192, 195, 201, 202, 204, 205,206, 207, 208, 209, 225 257,264

1.1-5 1851.1-6.7 1951.1-12.24 1951.3 95, 1851.3-5 2071.3-8 2021.4 2031.4-5 204, 207, 2101.6-8 195, 2561.7 176, 2521.8 79, 187, 203, 207, 209, 210, 254, 2561.15 2101.15-26 206, 2071.21-22 203, 2061.32 2041.35 2041.68-79 2042-9 2082 207, 2102.1-13 1852.3 1952.5-11 2082.5-12 2092.11 2042.14 2102.14-36 2102.17 2082.22-36 209

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Igreja: Por quê Me Importar?

2.25 2102.33 2102.37-38 2032.37-41 1852.38 35, 205, 2092.41-47 2082.43 208, 2092.43-47 205, 2093.1-10 208, 2093.1-16 2103.12-26 2093.19 35, 205, 2093.22 2043.25-26 48, 573.25 55, 2083.26 159, 2054.1-31 2104.4 2084.8 2104.8-12 2104.19-20 2104.32-35 208, 2095.1-11 2105.12-16 2095.12-26 208, 2095.14 2085.15-16 2105.17 2105.29-32 2105.31 35, 2095.40-41 2105.40-42 2036-8 2086.5 2106.7 2086.8 190, 2106.8-9.31 1956.10 190, 2106.11 1856.55 2107.2-4 467.2-53 2097.6 627.22 1077.58 208

8.1-3 2268.3 2088.4 2088.4-5 2038.5-8 2088.5 2108.11 2088.12 2098.14 2108.15-18 1958.22 35, 2058.26-39 2088.26-40 1478.29-30 2109.1ss 2089.1-30 2269.15-16 2109.15 2089.32-12.24 1959.32-35 2099.36-42 20910.1-11.18 20810 168, 192, 20810-11 209, 21010.18 20910.34 29, 203, 20510.38 20410.43 205, 20910.44-45 19510.44-48 21011 20811.12-18 21011.18 208, 20911.19-20 20811.19-21 20311.24 21012.3 21012.11-12 21012.12 19712.25 19712.25-28.31 19512.25-16.5 19513 20813.2 21013.2-3 208

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13.2-4 21013.4 21013.16-41 20913.20-23 8913.33 118, 15913.38 20513.38-39 20913.44-52 20813.45-49 14913.47 227, 23414.3 20914.8-10 20914.14 21014.15 2914.15-17 20915 203, 208, 20915.8 21015.22 21015.28 21015.37 19715.39 19716.6-10 21016.6-19.20 19516.16-19 20916.30-31 20917.3 20517.4 18317.12 18317.23-31 20917.24 2917.26 2917.30 35, 20517.30-31 3518.1 18318.2 21018.4-7 18318.8 18318.9b 22718.9 23418.10 23418.10a 22719.6 195, 21019.8 20919.21 21019.21-28.31 195

20.21 205, 20920.22 21020.25 20921.11 21022.21 21026.16-18 21026.18 205, 227, 23426.18-20 20926.20 35, 20526.22-23 149, 20528.23 20928.28 204, 20828.30-31 20328.31 95, 209

ROMANOS 71, 222, 228, 246

1.1 227, 2341.3-4 2291.4 1181.14 2571.16-17 2281.18 341.18-23 2371.18-32 2371.19-20 2671.20 271.21 2291.22 1282.12-14 2313.1-2 2263.11 2283.21-24 2303.21-26 2303.23 343.26 1764.1-25 2324.13 574.17 2285.5 231, 2385.8 645.12 257.8 2277.12 2317.16 231

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336

Igreja: Por quê Me Importar?

8 1778.9 231, 2598.11 2318.18-21 288.18-25 2588.19-23 2678.20 348.20-21 1868.23 231, 238, 2548.24 318.29 2598.29-30 192, 2329-11 173, 177, 192, 228, 232, 233,

257, 2649.1-5 226, 2329.4-5 2339.6 1429.8 23210 25710.12 23010.12-15 23410.13-15 11810.13-21 23010.14 23511 23111.1 23311.5 14211.11 23311.13 23511.13-15 23311.25 23311.25-26 177, 23311.28 23311.29 23311.30-31 23311.32 17711.36 118, 17712.2 23814 22415.9-12 23015.15-21 23415.15-29 23315.15-33 23515.16 234, 25715.18 226

15.18-19 65, 191, 226, 23115.19 226, 236, 25715.20 16715.22-29 23516.23 18216.25-26 230

I CORÍNTIOS 222, 246

1.1 2271.14 1831.16 1831.17-19 1281.18 2291.20 2381.23-24 2291.24 1101.26 1822.1-5 65, 782.2 2372.4 2312.4ss 1282.4-5 1912.7 2302.12 2312.13 128, 1593.5 2353.16 2316.19 2317 183, 2247.7 2317.40 2318 2248.6 32, 1109.1 226, 2279.1-2 225, 2369.3 2269.16 2579.16-17 23410.1-3 6510.1-13 7711-14 18311 18311.23 22412 97

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12.3 9813.10 7914 66, 9715 16, 22615.1-15 23015.3 224, 25915.4 23715.5-7 22615.8 225, 22615.8-11 225, 22715.9-10 22515.20-28 230, 25815.23-28 19215.24 25316.22 26017 231

II CORÍNTIOS 222

1.1 2271.22 231, 238, 2542.14-15 2352.22 2263.6 2354.7 2384.13 2315.5 231, 2385.11 425.16-20 2345.17 28, 2305.17ss 2385.18-21 1185.20 235, 2596.2 227, 230, 2366.10 4210.15-16 23511.28 23612.10 7812.12 231

GÁLATAS 71, 222, 225, 227, 237

1.1 2271.2 226, 2271.4 221, 238

1.5 2261.11-17 224, 2251.11 2271.12 226, 2271.13-14 2261.13 2261.15-16 2251.15 2341.16 225, 226, 2272.2-10 2242.15-16 2303.1-5 2313.2 2323.6-14 483.7-29 2323.8 553.8-16 573.8-29 493.15-19 2303.16-18 2303.23-29 2313.25 2314.4 1764.4-5 2374.6 231, 2384.7 2384.8-9 229, 2375.1-13 1866.6 2326.15 2386.15-16 576.16 173

EFÉSIOS 222, 269

1 1771.4 231.10 28.1761.21 2381.21-22 322-3 392.8-10 36, 723.1 2573.6 383.10 177

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Igreja: Por quê Me Importar?

4.7-16 1774.11 974.13 2275.21 236.10ss 260

FILIPENSES 222

1.12 2692.5-11 147, 1922.9-11 151, 2582.9 2162.10-11 322.16 2363.4-5 2213.4-6 2263.6 226, 227

COLOSSENSES 222

1.1 2271.13-20 1181.13-23 2581.15 1101.17 1101.20 23, 281.22-29 2571.23 51.24 227, 2604.10 1974.14 183

I TESSALONICENSES 222

1.5 226, 2311.5-6 2261.5-10 2511.9 2371.10 2372.19 2363.13 183

II TESSALONICENSES 222, 258

1 255, 258

2 252, 2552.6-12 2582.9-12 2582.13-14 2583.14 97

I TIMÓTEO

2.4 342.9 1833.16 151

II TIMÓTEO

2.12 2594.11 197

FILEMOM 222

24 197

HEBREUS 36, 53, 240, 248, 265

1.1-2 2511.1-3 22, 97, 110, 2481.2-3 221.2 1761.3 110, 1181.5-14 1512.1-4 2482.9-18 2483.18-19 365.7-9 2486.12 1767-11 2487.6 1769.14 719.35 7110.32-34 24811.7 3611.8 5311.8-10 4711.39-40 248

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12.22-24 96

TIAGO 240, 247, 265

2.14-26 365.11 259

I PEDRO 240, 241, 245, 247, 248, 249,265

1.1 2401.1-2.10 2411.1-7 2411.2 2411.3 2411.4 2411.6 2441.11-12 2441.12 241, 2441.15 2411.18-21 2411.23-25 2441.25 241, 2442.1 2402.4 572.4-10 2412.9 49, 56, 67, 80, 2442.9-10 572.10 2412.11 2422.12 242, 2442.13 2422.14 2422.15 2422.16-17 2422.18-25 2422.20 2432.21-24 2433.1 242, 243, 2443.2 2423.3-4 1833.6 2433.9 2433.15 2443.16 242, 244

3.18 2433.21 2414.3 2414.4 2414.4 2424.7 2444.17 2444.19 2425.8-9 2425.10 2445.13 197, 241

II PEDRO 240, 248, 265

2.20 2483.2 2483.7 373.9 31, 254

I JOÃO

2.2 32, 714.1 97

JUDAS 240, 247, 248, 265

4 247

APOCALIPSE 16, 69, 240, 245, 248,249, 256, 265, 269

1.3 2451.4-3.22 2451.5 2471.7 2472.4 2452.6 2462.14 2462.15 2462.20 2463.3 2523.15-17 2464.12 2475.7 1945.9-10 16, 38, 246

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Igreja: Por quê Me Importar?

5.9-14 1665.13 2466 2566.1-8 2566.9 2477.9-12 1667.9-17 1611.3ss 25613.7 24713.16-17 24714.5-7 25614.6 24614.8 24115.3 6916.15 25217.2-5 24717.5 24117.18 24118.1-3 24718.2 24118.3 24718.5 4018.11-19 24719 24719.11ss 25620.4 24721 25821.1 2321.1-5 2821.2 9021.9-11 9621.10 4021.17 26021.20 26021.24-27 4021.23 9622.21 163

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ÍNDICE DEASSUNTOS E AUTORES

‘am 65‘ehyeh ‘asher ‘ehyeh 632ª Clemente 253Aalen 60, 272Abel 37, 43Abraão i, 12, 14, 39, 40, 43, 45-48, 50-55,57-61, 64, 67, 70, 77, 87, 88, 98, 142, 143,146, 153, 163, 205, 232Acabe 7, 91, 93Adão 16, 26, 29, 34, 37, 40, 61, 70, 151,205adesse 63adoração 65, 67-69, 75, 84, 85, 92-94,96-98, 118, 124-127, 133, 135, 151, 164,165, 166, 169, 171, 177, 193, 237, 266afesis 205África negra 170Aicar 107Aitofel 107aliança i, ii, 10, 29, 35-37, 40, 41, 45, 47,50-60, 62, 64, 65, 67-74, 77, 79-82, 84,86, 87, 96, 101, 105, 113, 116, 125,131-136, 149, 156, 157, 163, 166, 167,172, 173, 176, 194, 235, 237, 246Almeida 54Alves 7, 138, 156, 272Amarna 103, 107Amazônia 167Amenemope 107América Latina 2, 3, 6-8, 168-170, 280Amós 31, 49, 54, 56, 70, 74, 89, 93,131-135, 137, 139-142, 144, 145, 154,156, 157, 172, 281Ananias 183Anate 92anaw 189Anderson 116, 117, 122, 191, 272, 273,284

Antioquia 79, 183, 195, 208, 235Apocalipse iii, 16, 23, 28, 33, 38, 40,65, 68, 69, 90, 96, 98, 163, 166, 194,211, 213, 240, 241, 245, 249, 253, 256,257, 259, 261, 266, 270apocalíptica 152, 168, 169, 172, 226,228, 245, 246, 260, 276apóstolo 7, 110, 192, 210, 212, 221,222, 224-227, 230, 235, 237, 258, 259Áquila 210arameus 154arca 36, 70, 84, 85, 88, 89, 95, 163arche 212Archer 18, 19, 68, 71, 111, 272Arfaxade 15Arias 6, 272arrependimento 35, 102, 135, 142, 154,168, 186, 205, 208, 234, 253, 256, 257,260Asera 92, 93Assíria 84, 133, 134, 153Assírios 35, 105, 136, 153Astarote 92Aton 113Augusto 182, 204Baal 68, 91-94, 97, 112, 142baalismo 93, 94, 99, 130, 139, 165Babel i, 14, 37, 39, 42, 43, 50, 163Babilônia 15, 39, 69, 84, 107, 133, 241babilônicos 35Bachli 60, 272Bachmann 8, 272bahar 47balaão 48, 246Baly 111bârâ’ 21Barnabé 183, 206, 210, 253Barrett 211, 213

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Igreja: Por quê Me Importar?

Barth 159, 191, 272basileia 95Bassham 7, 272Bavinck 53berîth 51Berkhof 141Bertholet 60, 272Blauw 8, 10, 13, 15, 48, 56, 60, 63,102, 122, 144, 148, 149, 251, 273Boer 115, 273Bonhoeffer 24Bosch 2, 5, 7, 8, 46, 52, 147, 148,154, 155, 159, 171, 184, 191, 273Braaten 11, 273Brasil 3, 100, 122, 124, 156, 164,168, 196, 219, 280Breneman 102, 107, 111, 114, 121,147, 273Bright 10, 51, 52, 68, 75, 84, 86, 89,92, 107, 111, 133, 134, 142, 144, 146,147, 149, 150-152, 158, 159, 173,175, 273, 274Bruce 1, 120, 274, 280Brueggemann 8, 137, 138, 282Brunner 81, 274Budá 130budistas 43Buis 51, 274Bultmann 212Cafarnaum 180Caim 37, 40Caio Fábio 184Calcol 107Calebe 75Calvino 191Canaã ii, 47, 50, 65, 74-77, 81, 84,86, 91, 92, 101, 103, 107, 141, 163,168cananeus 56, 76, 85, 91, 107, 127,130cânticos 110, 111, 145Cão 20, 38, 39Carey 191, 272, 281carisma 61, 84-87carismati 79carismática 226

Carmelo 93carolingiano 170Castro 5-7, 10, 274cativeiro ii, 1, 62, 63, 65, 69, 88, 89, 130,133, 134, 163, 267, 272catolicismo 6, 164, 166çelem 19centripetismo 154, 155, 171, 172Ceram 52, 274Childs 111, 152, 274Christensen e Hutchison 170Ciro 134Clemente de Alexandria 253Clements 10, 18, 47, 51-53, 84, 87, 90,141, 176, 275Cloé 183Cole 52, 63, 64, 275colonialismo 170Comblin 211, 275comunhão 10, 14, 70, 209, 217Confúcio 130Contexto ii, 2, 5-9, 13, 14, 16, 23, 25, 29,34, 46, 62, 68, 72, 79, 82, 93, 97, 102, 105,111, 116, 124, 132-136, 139, 151, 158-160,172, 179, 184, 188, 191, 193, 194, 202,212-215, 218, 223, 225, 227, 235, 242,243, 246, 248, 252, 254, 257-259, 263,266, 281, 283Corinto 182Cornélio 168, 192, 208, 210cosmos 22, 115, 116, 121, 214, 268Costas 2, 3, 5-7, 22, 26, 30, 31, 38, 127,184, 186, 187, 275crescimento da igreja 182-184, 208, 283criação i, 7, 13-34, 36-41, 43, 48, 60, 64,69, 79, 95, 96, 101, 105, 106, 109, 110,113, 118, 127-129, 134, 141, 159, 162-164,166-168, 170, 173, 174, 186, 187, 212,215, 216, 228, 260, 262, 267, 268, 283Crispo 183Cristo 1, 3, 7, 16, 23, 24, 28, 31-33, 41,47, 48, 57, 64, 65, 72, 77, 79, 89, 95, 97,98, 109, 110, 118, 123, 127, 139, 145, 150,159, 160, 164, 167, 173, 175, 176, 182,187, 197-200, 202, 206, 207, 210, 213,214, 216-218, 220, 224-238, 243, 246-249,251-254, 258, 261, 264, 265, 266, 268,269, 280, 283

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cristologia 145, 198, 214, 216, 217, 229, 238,248, 251, 254, 264cruz 64, 78, 123, 150, 151, 160, 192, 216, 269Cullmann 215, 251, 275culto 61, 64, 70, 71, 87-89, 91-96, 111, 112,115, 118, 122, 125-127, 129, 132, 133, 135,140, 141, 153, 157, 164, 177, 245, 246Cuza 183Dã i, iii, 1-79, 81-99, 101-171, 173-177,179-249, 251-259, 261-270, 273-278, 280,283, 284Daniel 20, 107, 143, 150-152, 174, 193, 280Darda 107Davey 211Davi 86-89, 95, 96, 101, 103, 105, 110, 111,116, 144-147, 151, 152Debir 103Decálogo 63, 68, 71Deissler 10, 144, 173, 275dêmûth 19DeRidder 28, 30, 47, 50, 52, 53, 57, 151, 191Deschner 155deuses 26, 50, 68, 69, 75, 91, 92, 114-116,118, 122, 237Dia do Julgamento 35Dia do Senhor 35, 55, 134, 139diaconia 165diáspora 208, 210, 224dilúvio i, 14, 18, 27, 34-37, 39-43, 142, 163,166, 168, 267Dingermann 152, 276direitos humanos 72, 139dispersão 14, 40, 45, 168, 241Dodd 192, 211, 213, 276doxa 216dualismo 26, 161dunamis 188, 189Dyrness 106, 142, 276Eaton 116, 276Eclesiastes 103, 128Eclesiástico 109, 110, 256Eden 168eedh 149egípcio 62, 66, 104, 112, 130Egito ii, 1, 15, 46, 61, 62, 65, 68, 72, 73, 77,84, 107, 113, 147, 153, 162, 168

Eichrodt 10, 30, 51, 88, 108, 122, 176,276eleição i, 10, 15, 21, 36, 40, 42, 45-49,51-53, 55-59, 61, 64, 67, 75, 77, 78, 81,86, 87, 99, 101, 134-136, 142, 150,156, 159, 167, 172, 177, 229, 232, 237,239, 241Elias 91, 93, 94, 142, 189, 256Eliseu 189Elohim 108Emanuel 78, 79, 194emins 38encarnação 214-216, 220, 265Epístola de Clemente 253Erasto 182, 183escatologia iii, 22, 152, 155, 177, 211,229, 239, 251-253, 255, 256, 259, 262,276escaton 238Escritos ii, 12, 101, 102, 110, 117,120, 121, 124, 129, 136, 192, 197, 201,211, 229, 249, 253, 284Escritura 91Esdras 134, 256Espanha 235esperança ii, 5, 32, 46, 65, 87-90, 92,114-117, 133, 138-145, 150-153, 155,159, 172, 173, 175, 176, 179, 235, 238,242, 244, 252, 253, 261, 262, 266, 276espiritismo 27, 64, 93, 94, 164, 166Espírito Santo 5, 57, 79, 112, 179, 195,203, 207, 210, 217, 220, 223, 226, 231,234, 235, 254, 257, 263, 265, 266, 268,269espíritos 26, 27, 194esse 63, 80, 226, 236essênios 213, 260Estado 84, 85, 87-90, 93, 132-134,218, 245, 246Estéfanas 183Estevão 4, 203, 208, 210estrangeiro 39, 47, 48, 72, 73, 76, 80,86Eta 107ética 6, 24, 69, 72, 80, 104, 119, 120,127, 156, 262etnomusicologia 124

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Igreja: Por quê Me Importar?

Europa 7, 170, 182, 195evangelho social 166evangelical 6, 272exclusivismo 56, 75, 81, 98, 135, 172exílio 69, 111, 134, 141, 147, 149, 151,153, 168êxodo ii, 17, 47, 49, 51, 52, 55, 56,61-70, 72-74, 77-79, 82, 85, 103, 107,110, 125, 133, 141, 142, 144, 146, 147,163, 167, 169, 173, 188, 267, 275exousia 190expiação 24, 70, 148, 149Ezequiel 15, 35, 50, 54, 56, 57, 73, 87,89, 90, 107, 131, 134, 139-142, 144,145, 157, 159Faraó 62, 63, 68, 77, 113fariseus 109, 172, 183, 218, 221favoritismo 45, 48, 56, 87, 135, 167Fee e Stuart 114Fenícia 107, 111, 180Ferreira 9, 10, 54, 276Filho de Davi 88, 89, 145, 152Filho de Deus 86, 199, 205, 207, 212,229, 266Filho do Homem 143, 145, 150-152,169, 172, 174, 199, 213, 216, 255Filipe 209, 210Filipos 183filisteus 85, 86, 154Fohrer 10, 102, 104, 106, 107, 111,114, 116, 121, 122, 131, 137, 144, 146,151, 158, 176, 276, 282Foulkes 222Friesen 124, 276Frohnes 170, 277fundamentalismo 24, 137futuro 5, 22, 26, 32, 45, 46, 49, 88-90,98, 114, 117, 137, 138, 141, 142, 144,147, 152, 153, 155, 157, 158, 171, 172,174, 175, 186, 187, 230, 238, 252, 257,261gâ’al 21, 69Gaio 182, 275Galiléia 198, 200, 265Gaventa 8, 277, 282Gensichen 60, 277gentio 15, 177, 198-200, 204, 207, 228,

231, 232, 241, 267Getsêmani 199gideão 66, 84Glasser 4, 10, 25, 184, 277glória de Deus 70, 96, 114-116, 118, 134,150, 153, 216gnômica 104, 108Gonzales 6, 277Goppelt 184, 187, 241, 277Gosen 62gôy qâdhôsh 70goyim 55, 194Grant 188, 277Green 190, 253, 267, 271, 277gregos 134, 183, 203, 258Grelot 9, 10, 277Grost 48Guillet 63, 277Guthrie 222, 277Gutierrez 184Hahn 8, 29, 60, 181, 277, 278âkham 103Harã 46, 50Harrison 9, 11, 109, 119, 121, 128, 278Harvey 217Hasel 10, 278âîd 147Heilsgeschichte 38, 194, 224, 252, 259,280Hema 107Henkel 8, 278hermenêutica 6, 8, 9, 185, 276Herodes 183Hexateuco 55, 101, 105hierofania 92Hillers 51, 278hindus 43hino 112, 113, 119história i, 1-3, 5, 6, 8-16, 18, 20-23,26-29, 31-33, 37-40, 42, 43, 45-48, 51, 54,57, 63-66, 75, 76, 79, 81, 82, 87, 91, 92,94, 95, 98, 101, 102, 104, 105, 107, 110,111, 118, 121, 125, 130, 133, 135, 139,141, 143, 144, 150-152, 154, 155, 158,159, 168-170, 173, 174, 176, 177,186-189, 194, 199-204, 207, 209-211, 216,

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217, 227-231, 233, 234, 236, 238, 240, 241,245, 246, 248, 252, 253, 259, 260, 261, 264,265, 267, 268, 274-277, 282hititas 52, 274Hoekendijk 4Hogg 43, 278okhmâh 103horeus 38Hoskyns 211humanismo secular 30Iahweh 21-23, 27-29, 38, 46, 51-56, 61-63,65, 67-76, 79, 81, 84-88, 91-95, 98, 102, 104,105, 108, 112-116, 118, 120, 122, 125, 131,132, 134, 135, 136, 138, 143-146, 148, 149,153-157, 159, 165, 169, 171, 172, 173, 174,177Ibéria 170Idade Áurea 55idolatria 63, 68, 76, 82, 137, 139, 140, 164,237, 246Ignácio 253igreja iii, 2-6, 9, 13, 23-25, 27, 29, 31-33, 36,39-42, 44, 47, 53, 57, 58, 60, 64, 65, 72, 75,78-83, 94, 95, 97-100, 116, 127, 143, 145,147, 150, 152, 155, 157-161, 163, 165-170,173, 176, 177, 179-184, 187, 188, 190-192,194-198, 200-211, 215, 216, 218-222, 224,225, 235, 236, 239-255, 259-262, 264-271,273, 277, 283igreja primitiva 147, 157, 158, 165, 177, 180,181, 190-192, 201, 204, 221, 224, 240, 252,253, 259, 264, 265, 269, 271, 277Ilírico 235ilt 112imagem de Deus 19, 23, 29, 30, 36, 44, 74,106, 156, 164, 167, 228, 234, 267imago Dei 105Império Romano 182, 183, 213, 214, 247, 270Imschoot 63, 278injustiças sociais 138, 156International Review of Mission 8ira de Deus 33-35, 39, 42-44, 117, 118, 140,154Irineu 253Isabel 205Isaías 14, 17, 18, 21, 22, 31, 35, 38-40, 49,52-56, 67, 69, 70, 74, 78, 87-90, 96, 103, 104,107, 128, 131-134, 137, 139-148, 150, 153,

154, 156, 157, 159, 163, 166, 169, 174,181, 194, 204, 205, 215, 225, 227, 230,234, 255, 256, 270, 273Isaque 46, 64, 142isolacionismo 75, 83Israel i, ii, 1, 12-16, 18, 20, 21, 28, 29,32, 35, 37-41, 45-70, 72-82, 84-95, 97,98, 99, 101-105, 107, 108, 110-119,121, 122, 125, 130-137, 139, 140,141-144, 146-158, 160, 163, 164, 166,167, 169-175, 186, 189, 200, 202-206,208-210, 217, 224, 228, 230-236, 239,255, 256, 259, 264, 265, 268, 270, 272,274, 276, 281, 282, 284Jacó 64, 145Jacobs 71, 278Jafe 38, 39Jairo 183Javismo 15, 99Jeremias 35, 51-54, 57, 67, 70, 73, 87,89, 90, 103, 104, 107, 131-134, 139,140, 142, 143-148, 151, 153, 157, 181,225, 234, 255, 270, 278Jeroboão 88Jerusalém 28, 39, 50, 54, 86, 88-90,96, 103, 112, 133, 134, 140, 153, 183,195, 197, 198-200, 202, 203, 205,207-210, 233, 235, 236, 256, 265Jesus iii, 3, 7, 16, 18, 22-24, 26, 27,31, 32, 35, 38, 41, 57, 66, 72, 77, 79,89, 90, 93-98, 109, 116-118, 127, 128,137, 143, 145, 147, 151, 157, 159, 163,164, 172, 173, 175, 177, 179-181,183-220, 222, 225, 226, 227-233,235-238, 243, 247, 248, 251, 252, 254,255, 257, 258, 259, 260, 263-270, 274,278, 283Jezabel 91, 93, 246Jó 48, 103, 105-108, 128Jó Sumérico 107Joana 183João Batista 93, 189, 205, 207, 212,213, 216, 217João Marcos 197, 210Joaquim 146Jonas 135, 136, 154Josias 88, 133, 141Josué ii, 12, 17, 50, 65, 67, 74-77, 93,

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Igreja: Por quê Me Importar?

103, 142, 146, 194, 276Jubileu 73Judá 93, 117, 133, 134, 140, 145Judaismo 71, 72, 145, 147, 221, 223, 224,226, 227, 236, 237, 255Judas 199, 210, 240, 248, 266Judéia 182, 195, 203, 208Judeus 29, 50, 73, 93, 133, 134, 151, 181,183, 188, 189, 192, 194, 198-201, 204, 206,208, 213, 221, 224, 227-230, 232, 233, 236,258, 265Juizes 17, 66, 76, 84, 85, 90, 103, 105,110, 140Juizo 104, 114, 117, 139-141, 154, 186,189, 245, 257julgamento i, 9, 14, 26, 34, 35, 37, 39, 40,42, 45, 49, 50, 56, 58, 61, 85, 117, 133,135, 136, 139, 141, 142, 152, 154, 156,163, 164, 166, 175, 189, 191, 206, 214,215, 247, 259, 268justiça 35, 49, 56, 62, 74, 75, 77, 80, 82,85, 88-90, 94, 95, 98, 119, 120, 132, 135,137, 139, 140, 148, 152, 154-158, 164-166,168, 169, 171, 177, 184, 194, 195, 228,229, 247, 260, 264kabod Iahweh 115Kahler 7Kaiser 10, 102, 108, 147, 278Kane 221, 279Käsemann 71, 151, 279kebhôdh YHWH 114Keck 223Kerr 123, 279Kidner 37-39, 46, 60, 102, 107, 109, 111,117, 279Kline 20, 51, 52, 157, 279kôbhash 19Kohler 47Kraemer 196Kuiper 42, 49, 51, 58, 279kuklos 258kúrios 187, 192Kwak 144, 279Ladd 188Lao-Tzu 130Lausanne 120, 184, 277Lázaro 206

lei 10, 20, 24, 37, 70-74, 80, 82, 83, 92,132, 133, 135, 140, 153, 157, 172, 182,185, 186, 189, 190, 195, 200, 202, 209,227, 230-232, 262, 266, 268, 281Lewis 66, 279Líbano 106libertação ii, 5, 7, 8, 28, 32, 46, 47, 49,60-62, 64, 65, 68, 70, 72, 74, 77, 78, 82,87, 96, 105, 110, 116, 125, 133, 140, 141,147, 149, 162, 166, 168, 182, 184, 186,188, 194, 204, 205, 237, 272Lídia 183Lind 88, 279línguas 39, 42, 43, 149, 151, 166liturgia 65, 125-127, 140, 164Logos 22, 31, 109, 212-215louvor 65, 71, 102, 111, 115, 116, 125,126, 129, 166, 177, 282Lucas iii, 18, 29, 35, 38, 39, 72, 109, 151,180, 183-186, 188, 189, 192-195, 201,202-212, 217, 218, 225, 253, 257, 258,260, 265, 270Lutero 191magia 92, 107, 108, 133malkûth 95mandato cultural i, 23-27, 31, 33, 37, 39mandato redentor 24, 33, 39Maomé 130Mar Vermelho 65, 66, 69, 110Marduk 69Mari 130Maria 205, 206Martin-Achard 280Marx 132mâshîah 143matheteusate 193McCarthy 51, 280medo-persas 134Mendenhall 52, 280Mendonça 156, 280Mesa de Moabe 1meshîa 143Mesopotamia 116Messias 37, 88-90, 95, 116, 118, 143-147,150, 152, 155, 172, 195, 204, 212, 227,229, 230, 255, 256, 265, 266metanoia 205

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Michael 151, 190, 253, 267, 271, 277Middle Koop 8midianitas 66milagre 42, 66, 188, 189Miquéias 74, 94, 131, 137, 140, 142, 144, 145,153, 157misericórdia i, 34, 50, 94, 114, 116-119, 126,136, 137, 139, 140, 149, 154, 163, 164, 186,191, 267mishpâ 148missão i, iii, 2-9, 11-14, 24, 27, 29-32, 36, 41,42, 49, 52, 57, 58, 60, 61, 64, 65, 71, 77-79,81, 98, 102, 105, 116-118, 127, 130, 131, 133,136, 139, 141, 146-151, 153-156, 158, 159,161-171, 176, 177, 179, 180, 181, 182, 184,185, 187, 188, 190-211, 214, 216-219, 221,223, 224-231, 233-236, 238, 240, 242,245-248, 251-270, 273, 275, 277, 280missão integral i, 11, 180, 196missio 4, 8, 36, 150, 163, 166-170, 195, 267missio Dei 8, 36, 150, 163, 167, 169, 170, 195,267missio ecclesiae 167, 169, 170missional 125, 127

Missionalia 8missiones ecclesiae 36, 267mitologia 18, 122mittere 4mizmor 110Moisés ii, 12, 60-62, 64-67, 69, 77, 78, 82, 83,90, 110, 132, 146, 147, 159, 194, 200, 202,209, 212, 216, 221monarquia ii, 84-88, 90, 94, 95, 97, 99, 101,111, 116, 130, 132monoteismo 49, 68, 77, 153Moore 60, 280Moraes 124Munck 224, 280música 103, 121, 122, 124, 126, 129, 279, 280nações i, 1, 2, 14-16, 28, 32, 35, 38-41, 45-51,53-61, 65, 67-70, 75-81, 87, 88, 90, 96, 97,107, 112, 114-118, 121, 122, 125-127, 130,132, 134, 135, 136, 139, 148-159, 163,166-172, 174, 177, 181, 194, 199, 200, 203,206, 227, 254-256, 258-260, 264-266Natã 145Nazaré 145, 180, 181, 204, 215, 216, 225,227, 229, 265

Neill 4, 170, 280Newbigin 10, 280nibhrekhû 54Nichols 120, 280Niebuhr 4Niles 20, 280Nínive 136, 154, 206Noé i, 34, 36-39, 41, 42, 44, 45, 61,142nominalismo 97North 146, 272, 280Onésimo 183Onri 91oração dominical 185, 192ordem i, 7, 13, 14, 16-18, 24, 31, 39,45, 86, 87, 92, 93, 104, 106, 109, 119,127, 128, 133, 182, 190-192, 195, 201,256, 264Orígenes 186Oséias 51, 52, 56, 67, 74, 89, 93, 103,131, 140, 141, 144, 145, 159paganismo 91-93, 122Palestina 76, 134, 151, 195, 197, 213Pape 6, 280parábolas 103, 109, 185, 186, 199,203, 253, 267parallelismus membrorum 111particularismo 40, 48patriarcas 12, 14, 38, 46, 47, 60, 67,91, 146, 248Paulo iii, 3, 7, 19, 42, 59, 66, 71, 72,78, 79, 94, 110, 120, 181-183, 187,192, 198, 203, 204, 206, 208-210,212-214, 217, 218, 221-239, 241, 246,249, 252, 253, 258, 259, 264-266, 268,270, 272-284Pedro iii, 8, 31, 37, 49, 56, 57, 67, 80,168, 183, 187, 197, 199, 206, 208, 210,240, 241, 243-245, 247-249, 255, 266,281Pentateuco 12, 55Pentecostes 192, 195, 204, 205, 210,255peplérókenai 236perdão 31, 70, 77, 185, 195, 202, 203,205persas 134

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Igreja: Por quê Me Importar?

Pérsia 84Peters 4, 48, 115, 280Pierson 64Pimenta 123, 280pisteuein 189pistis 189pobre 78, 156, 184, 189, 190, 206poesia 102, 111, 114, 116, 121, 125politeismo 92, 98, 108, 112política 1, 24, 31, 70, 82, 86-88, 96, 132,133, 170, 245poreuomai 193poreuthentes 193porneusai 246porta-vozes 96Priscila 210Pritchard 107profetas ii, 12, 27, 49, 54, 55, 72-74, 78,84, 89-91, 93, 94, 96-99, 101-105, 107,130, 131-142, 144-146, 155-160, 162,163, 168, 174, 202, 203, 205, 209, 227profeticismo ii, 90, 91, 96progressistas 137, 138promessa ii, 10, 28, 37, 40, 46, 48, 53,60, 63, 65, 70, 75, 78, 79, 88, 92, 93, 101,116, 139-143, 145, 153, 162, 170,174-176, 191, 194, 195, 203, 205, 207,208, 232, 254, 257provérbios 17, 74, 102-110, 118, 119,122, 125, 128, 215, 279pseudepígrafo 181queda i, 18, 23-26, 33, 44, 163, 168Quirino 204Rabino Eliezer 256Rabino Jeheshua 256râdhâh 19Ras Shamra 107redenção i, 16, 20-22, 24, 25, 31, 32, 41,47, 49, 53, 57, 58, 69-72, 77, 89, 127,133, 149, 164, 237, 252, 255Redentor vindouro 147reino de Deus 5, 10, 11, 14, 16, 18, 19,22, 23, 31, 33, 35, 45, 47, 86-90, 95-100,116, 117, 133, 148, 152, 160, 161, 169,172, 177, 180, 184, 185-188, 194, 196,198, 199, 206, 207, 209, 217, 246, 247,251, 252, 254, 255, 260, 261, 264, 266,

269religião 6, 43, 69-72, 91, 92, 98, 125, 132,133, 135, 189, 215, 226, 243, 276remanescente 37, 112, 133, 142, 143, 146,152, 160, 260Rhodes 109, 122, 281Roma 123, 195, 197, 208, 221, 233, 235,241, 270romanos 25, 27, 28, 31, 33, 34, 57, 64, 65,71, 118, 128, 134, 142, 167, 173, 176, 177,182, 183, 186, 191, 192, 222, 224,226-238, 246, 255, 258, 259, 260, 265, 268Rooy 80, 281Rowley 10, 49, 55, 60, 66, 68, 72, 131,143, 146, 147, 156, 281Rute 48, 69sabedoria ii, 17, 64, 102-110, 117, 121,125, 127-129, 215, 221, 284sábios 75, 103-105, 107, 108, 119, 128sacerdotes 49, 56, 67, 70, 80, 85, 88, 94,103, 107, 130, 132, 140, 218, 246sacrifícios 49, 70, 71, 80, 82, 83Safira 183salmistas 104, 116, 121salmos ii, 14, 17, 21, 22, 31, 55, 65, 74,103, 110-112, 114-119, 121, 122, 125, 126,127, 129, 141, 143, 166, 189, 202, 209,273, 279, 282Salomão 75, 87-89, 91, 95, 103-105, 107,109-111, 116, 127salvação 4-7, 20, 22, 28, 31, 32, 36, 38-43,45, 47-49, 51, 57, 58, 60, 65, 66, 69, 70,71, 74, 77, 82, 85, 86, 115, 116, 130, 135,139-145, 149, 153, 154, 155, 159, 163,164, 166, 173, 176, 181, 186, 187, 189,190, 194, 198-200, 202-205, 207-210, 212,216, 224, 227-238, 241, 246, 247-249, 252,254, 257-259, 262, 265-269, 272Salvador 31, 41, 72, 89, 115, 170, 189,216, 217, 243, 267Samaria 195, 203, 208Samuel 47, 65, 68, 84-90, 102, 103, 107,110, 131, 143-146, 282Sandmel 47santidade 69-71, 114, 156, 253santuário 69, 85, 111Satanás 26, 68, 152, 186, 188, 191, 205,219, 246, 247

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Saul 85, 86, 95Savage 8, 187, 281Schilling 111-114, 282Schreiter 8, 102, 282Schultz 102, 282Scott 143, 156, 282Séforis 180Segundo 4, 12, 15, 19, 25, 28, 41, 46, 56, 59,70, 92, 101, 107, 111, 115, 134, 136, 140-144,164, 169, 180, 186, 188, 189, 192, 193, 200,204, 207, 211-213, 217, 224, 237, 239, 249,256, 257, 270, 282Sellin 102, 104, 106, 107, 114, 116, 146, 282Sellin e Fohrer 102, 104, 106, 107, 114, 116,146Sem 3, 10, 13, 16, 18, 24, 29, 33, 38, 39, 45,46, 53, 54, 58, 62, 65, 68, 69, 71, 76, 77, 79,80, 92, 93, 95, 104, 107, 109, 112, 113, 120,127, 130, 131, 132, 139, 148, 149, 152, 154,160, 162, 169, 175, 176, 179, 196, 198, 209,211, 215, 218, 223, 227, 229, 234, 236, 238,243, 252-254, 260, 262, 266, 269, 270semeion 188Senhor 19, 22, 25, 28-30, 34-36, 42, 50, 55,69, 73, 77, 84, 93, 98, 108, 112, 114, 115, 120,125-128, 131, 132, 134, 136, 137, 139, 143,144, 146, 147-150, 153, 163, 166, 181,186-188, 192-195, 204, 208, 234, 248, 253,254, 261, 269Senior 8, 47, 125, 181, 185, 186, 197, 282,283Septuaginta 55, 110, 188serviço 4, 6, 20, 36, 43, 48, 49, 51, 53, 56, 57,61, 67, 69, 78, 80, 81, 87, 122, 135, 137, 149,151, 159, 167, 172, 177, 219, 234, 243, 251servo coletivo 149Servo de Iahweh 145, 146, 153, 155, 159, 169servo ideal 147, 149servo sofredor 71, 143, 145, 147, 149, 151,152Shenk 5, 191, 273, 275, 282Sião 90, 115, 152, 153, 171, 181, 230Sider 119, 282Sidon 206Silas 210Silo 85Simeão 204, 205, 207Sinai ii, 27, 47, 52, 67, 72, 74, 101, 105

sincretismo 75, 76, 81, 83, 90, 91, 93,97-99, 130, 139, 165Siquem 93Síria 76, 86, 197, 200Smick 112, 122, 282soberania de Deus 10, 20, 26-28, 33,49, 54, 66, 97, 118, 121, 136, 155, 158,159, 170, 228, 251, 252, 254-256, 267Sofonias 35, 42, 131, 139, 140, 153soteriologia 224, 228, 230sozein 189Spindler 8, 282Stam 8, 11, 283Stendahl 226Steuernagel 29-31, 184, 283Stott 4, 77, 187, 283Stuart 114, 276Stuhlmueller 8, 112, 121, 181, 186,282, 283Sundkler 45, 143, 283súplica 111Taber 8, 283tabernáculo 28, 70-72, 78Tácito 253tehllim 110temor do Senhor 108, 125, 128templo 78, 85, 88-91, 95, 115, 125,133, 134, 141, 171, 183, 199, 200, 212,213, 248teocracia ii, 49, 84, 85, 88, 91Teófilo 253teologia contextualizada 179Terá 15, 65, 94, 95, 117, 148, 158,164, 260Tibério 204Tippett 115, 283Tirano 183Tiro 206to teras 188tôbh m’ôdt 28Torá 88, 189, 193ungido 89, 116, 118, 143, 145universalismo 10, 32, 49, 55, 60, 153,209, 210Ur 40, 46Verkuyl 5, 6, 10, 48, 49, 60, 122, 136,

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184, 233, 283VINDE 3, 109von Rad 11, 15, 18, 19, 48, 50-52, 61, 67,93, 94, 102, 106, 108, 109, 119, 172, 174,175Vos 49, 57, 67, 79, 84, 89-91, 109, 113,126, 135, 150, 156, 172, 186, 194, 206,207, 235, 283Watson 47, 53, 283Weber 84Wen-Amon 130Westermann 40, 71, 147, 176, 283Wolff 102, 107, 121, 174, 176, 284Wright 52, 65, 72, 98, 105, 111, 147, 148,284Wright e Fuller 105, 111yôçî 148Zacarias 55, 90, 107, 142-144, 149, 153,205Zenas 183Ziener 102, 103, 105, 107, 110, 119, 122,284Zoroastro 130Zorobabel 146

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