o absolutismo

34

Upload: professora-natalia-de-oliveira

Post on 05-Jun-2015

3.991 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: O absolutismo
Page 2: O absolutismo

Durante a Idade Média, na maior parte da Europa ocidental o poder político era descentralizado. Os reis existentes não concentravam todo o poder em suas mãos, já que os senhores feudais eram os verdadeiros soberanos em seus feudos.

Contudo, a partir do século XI, o cenário político europeu foi profundamente alterado.

Page 3: O absolutismo

O fortalecimento das cidades e do comércio, juntamente com a ascensão da burguesia, enfraqueceu o poder dos senhores feudais e os reis retomaram, aos poucos, sua autoridade: eles determinavam em grande parte as leis, aplicavam a justiça, criavam e arrecadavam impostos.

Page 4: O absolutismo

Essa maneira de organização do poder, em que a vontade do rei está acima de toda a sociedade denomina-se absolutismo.

Para justificar esse poder absoluto, vários pensadores da época desenvolveram a chamada teoria do poder divino dos reis. De acordo com ela, os reis recebiam o poder diretamente de Deus e só a ele deviam prestar contas de seus atos.

Page 5: O absolutismo

Podemos citar como grandes pensadores dessa concepção os franceses Jean Bodin (1530 – 1596) e Jacques Bossuet (1627 – 1704). Para este último:Deus estabeleceu os reis como seus ministros e, através deles, reina sobre os povos. Os reis agem como ministro de Deus e seus representantes sobre a Terra. [...] O trono real não é o trono de um homem, mas o trono do próprio Deus. A pessoa dos reis é sagrada e atentar contra eles é um sacrilégio.

Page 6: O absolutismo

Os governos absolutos se fortaleceram por uma série de fatores: Expansão comercial e marítima – As viagens

marítimas e o aumento do comércio fortaleceu a burguesia e os monarcas. Os burgueses viam na centralização política um meio de expandir seus negócios.

Renascimento – O movimento renascentista estimulou e valorizou uma mentalidade que tinha como centro o ser humano. Ao fazer isso, contribuiu para legitimar a centralização do poder pelos reis, por meio de estudos jurídicos que justificavam esse poder, como os de Bodin e Bossuet.

Page 7: O absolutismo

Reforma Protestante – Nos locais onde prevaleceu o protestantismo, a Igreja católica não possuía muito poder (como Inglaterra, por exemplo). Por outro lado, onde prevaleceu o catolicismo, como na Espanha e em Portugal, os monarcas estreitaram o laço com a Igreja, fortalecendo ainda mais as duas instituições.O conceito de absolutismo assumiu formas específicas em lugares e épocas diferentes da Europa, de modo que não é possível estabelecer um único modelo político para todas as monarquias da Idade Moderna.

Page 8: O absolutismo

O monarca francês Henrique IV, que reinou entre 1589 e 1610, concentrou bastante poder em suas mãos. Seu filho Luís XIII nomeou, em 1624, o cardeal Richilieu como primeiro ministro. Foi o governante de fato da França durante esse período. Assim, Luis XIII reinava, mas não governava. Nessa ocasião, o absolutismo havia praticamente se consolidado no reino francês.

Page 9: O absolutismo

Seu sucessor, Luís XIV, governou entre 1643 e 1715. Em seu reinado o absolutismo francês chegou ao apogeu.O Rei Sol, como Luís XIV foi conhecido, era considerado o soberano mais poderoso entre os reis europeus. Tornou-se um modelo para os outros governantes.O poder de Luís XIV evidenciou-se em diversos campos. No religioso, pôs fim à tolerância em relação aos protestantes e expulsou diversos deles. No plano econômico, procurou aumentar a riqueza e o poder do reino, estimulando a agricultura e a manufatura, desenvolvendo a marinha mercante e de guerra e incentrivando a conquista de novos mercados e colônias.

Page 10: O absolutismo

O principal ministro de Luís XIV era Jean Baptiste Colbert. Sob suas ordens, estradas, estaleiros e canais foram construídos, e a instalação de manufaturas foi favorecida. Muitas ruas de Paris foram pavimentadas e iluminadas com lanternas de azeite.

Colbert procurou transformar as colônias – principalmente as da América do Norte (atual Canadá) – em fornecedoras de matérias-primas e consumidoras de produtos franceses. Também se incumbiu da cobrança de impostos.

Page 11: O absolutismo

Luís XIV acabou se tornando um dos principais símbolos do absolutismo, sintetizado na frase a ele atribuída: “O Estado sou eu”. Sua corte, formada por numerosas pessoas que vivam em Versalhes, era a mais luxuosa da época. O absolutismo francês mais tarde seria chamado de Antigo Regime.

Page 12: O absolutismo

Ao assumir o poder escreveu: “A desordem está em toda parte”. Ele se referia ao descontentamento geral que reinava no país em razão da pobreza e dos altos impostos cobrados da população.

No século XVII havia na França 18 milhões de camponeses vivendo em condições miseráveis. Eles podiam utilizar os bens da comunidade local, como os utensílios agrícolas, para cultivar uma pequena área de terra que pertencia a um senhor. Porém, isso não lhes garantia condições para seu sustento e de seus familiares. Os camponeses da época do rei Luís XIV trabalhavam mais para pagar impostos cobrados pela Igreja e pelo rei – do que para seu próprio benefício.

Page 13: O absolutismo

A situação de miséria afetava também os trabalhadores das cidades, que além de enfrentar a opressão das autoridades reais e da Igreja, eram obrigados a uma vida de insalubridade, dadas às péssimas condições de higiene. Paris, por exemplo, não tinha calçadas nem esgoto naquela época.

Page 14: O absolutismo

A Paris do século XVII se caracterizava pelo intenso movimento nas ruas e também por sua sujeira e mau cheiro. Acontecia de tudo nas estreitas e tortuosas ruas parisienses. Além disso, o espaço urbano era muito reduzido para abrigar tanta gente.Todo tipo de ambulante – de vendedores de galinhas, patos e ovos até amoladores de facas, engraxates, carpinteiros, sem esquecer dos alfaiates, artistas de várias modalidades, entre outros – circulava pelas ruas da cidade gritando o preço de suas mercadorias e serviços.

Page 15: O absolutismo

Muitas vezes a multidão tinha de dar passagem às charretes, o que fazia com que as pessoas se espremessem ainda mais. Sorte daquele que pudesse evitar a lama que era jogada pelas rodas das carroças dos camponeses, vindos do campo para vender seus produtos na cidade.Outra façanha dos moradores de Paris: evitar as fezes, não só dos animais mas também das pessoas. É bom lembrar que naquela época as ruas eram desprovidas de calçadas e esgotos. Para completar, as casas não tinham banheiro nem sistema de esgotos. Água, só na casa dos nobres. O lixo era jogado pela janela. Azar daquele que por ali passasse.

Page 16: O absolutismo

À noite, nas ruas desertas, era muito arriscado circular (é bom ressaltar que a maioria das pessoas tinha a rua como único divertimento).A quantidade de miseráveis era tanta que os agentes do rei não conseguiam controlá-los. A fome aumentava ainda mais a revolta das pessoas.O que fazer com tanta indigência? Para o poder real, o pobre era um delinquente em potencial, e o remédio para a pobreza não seria de ordem social, e sim, de ordem policial. Ou seja, cabia à polícia limpar a cidade e controlar os rebeldes.

Page 17: O absolutismo

Como medida para isso, nas principais esquinas de Paris foram afixados cartazes com uma lei, cujo princípio rezava: “É proibido mendigar pelas ruas” ( o curioso é que em 1995, esta lei voltou a ter validade em alguns lugares da França, sobretudo em pontos turísticos de Paris). Todo miserável poderia ser recolhido a um albergue geral. Lá ele ficava em regime de internato, o que na prática tornava o lugar uma espécie de penitenciária.

Page 18: O absolutismo

As batidas policiais, visando à prisão dos pedintes, eram feitas por uma brigada especialmente criada para essa finalidade. Uma vez no “albergue”, o mendigo era forçado a trabalhar sem ser remunerado e dormia com mais quatro num pequeno colchão. Havia castigos impiedosos para o menor gesto de rebelião. As refeições eram compostas de pão, água e um pouco de sopa.

(Adaptado de WINTZ, Nicolas e PONTHUS, René. La France de Louis XIV. Bruxelas: Caslerman, 1989. p. 42-4)

Page 19: O absolutismo

O absolutismo inglês somente teve início após a Guerra das Duas Rosas (1455 – 1485), uma luta entre duas famílias da nobreza – os Lancaster e os York -, apoiadas por grupos rivais. A guerra terminou com o casamento de Henrique de Lancaster com Isabel de York, dando origem à dinastia Tudor. O novo monarca, apoiado pela burguesia, subiu ao trono com o nome de Henrique VII. Seu reinado estendeu-se de 1485 a 1509.

Page 20: O absolutismo

Seu segundo filho, Henrique VIII, assumiu o trono inglês e, com o apoio da burguesia governou até 1547 e conseguiu impor sua autoridade aos nobres. (Henrique VIII fez com que o Parlamento lhe outorgasse o título de chefe supremo da Igreja na Inglaterra. Em 1530 organizou uma nova igreja, chamada Anglicana).

Page 21: O absolutismo

Henrique VIII casou-se seis vezes ao todo, sempre buscando ter um herdeiro homem, já que seus filhos ou eram do sexo feminino ou, quando meninos, morriam no primeiro ano de vida. O único herdeiro homem que chegou ao trono, imediatamente após a sua morte, foi Eduardo VI, em 1547. Mas este também morreu jovem, de tuberculose, aos 15 anos de idade, em 1553.

Page 22: O absolutismo

Com isso, as irmãs de Eduardo lutaram pela coroa inglesa. A primeira a governar foi Maria I, filha do primeiro casamento de Henrique VIII com Catarina de Aragão. Maria I era católica e seu governo foi uma tentativa de restabelecer o catolicismo na Inglaterra. Assim, perseguiu os protestantes com brutal violência, o que lhe valeu o apelido de Bloody Mary (Maria, a sanguinária).

Page 23: O absolutismo

Sua irmã, Elizabeth I, filha do segundo casamento de Henrique VIII com Ana Bolena, assumiu o trono, logo após a morte de Maria I, em 1558.A rainha Elizabeth I, que reinou até 1603, fortaleceu ainda mais a autoridade real. Diferentemente da irmã, Elizabeth era anglicana e consolidou o poder dessa religião na Inglaterra.

Page 24: O absolutismo

Para isso, puritanos e católicos foram perseguidos. Em seu governo, o absolutismo inglês atingiu seu auge. Elizabeth iniciou o processo que transformou a Inglaterra numa potência marítima. Mesmo com o Parlamento inglês, governou como se não houvesse oposição.

Page 25: O absolutismo

Em seu governo, também floresceram as artes e as ciências. No campo da dramaturgia, a figura de Willian Shakespeare alcançou enorme sucesso e, na filosofia, Francis Bacon despontou como um dos precursores da filosofia e da ciência modernas. O período elizabetano ficou conhecido como a Era Dourada.

Page 26: O absolutismo

Elizabeth morreu sem deixar herdeiros e, por isso, subiu ao trono seu primo Jaime I. Durante seu reinado, de 1603 a 1625, Jaime continuou a perseguição aos adeptos do puritanismo e do catolicismo, muitos dos quais acabaram emigrando para a América do Norte.

Page 27: O absolutismo

Carlos I, filho e sucessor de Jaime I, assumiu o trono inglês em 1625. Governou de forma absolutista e intensificou as perseguições religiosas. Em 1640, as divergências entre Carlos e os setores da aristocracia e da gentry (membros da nobreza não titulada) provocaram uma série de revoltas. Para tentar contornar a crise, Carlos I convocou o Parlamento, que ele mesmo havia dissolvido em 1629. Dominada pela gentry, Câmara dos Comuns impôs ao soberano diversas medidas que restringiam sua autoridade.

Page 28: O absolutismo

A partir de 1642, os conflitos entre o Parlamento e o rei aumentaram, dando origem a uma guerra civil: a REVOLUÇÃO PURITANA. Liderados pelo puritano Oliver Cromwell, os revolucionários derrotaram e, em 1649, decapitaram o rei Carlos I. Era a primeira vez que isso acontecia na Europa. Teve início o período republicano na Inglaterra, que durou até 1660. Cromwell assumiu o poder e governou de 1649 a 1658.

Page 29: O absolutismo

Em 1653, Cromwell recebeu o título de Lorde Protetor e passou a governar de forma absoluta. Antes, em 1651, lançou o ATO DE NAVEGAÇÃO, decreto pelo qual a entrada de todas as mercadorias na Inglaterra deveria ser feita em navios pertencentes a ingleses ou cidadãos de colônias inglesas, com no mínimo a metade da tripulação formada por ingleses. O objetivo dessa lei era enfraquecer o sistema marítimo holandês, que, na época, dominava o transporte de mercadorias na Europa.

Page 30: O absolutismo

Com essa medida, a Inglaterra ampliou o processo que a transformaria na maior potência marítima do mundo. Com a morte de Cromwell, em 1658, seu filho e sucessor Richard assumiu o poder, mas não conseguiu manter o país unido e foi forçado a renunciar ao cargo em favor dos chefes militares. Sua renúncia e as disputas entre os militares levaram à convocação do Parlamento, que, em 1660, restabeleceu o poder real. Com isso, a Inglaterra teve mais dois soberanos de tendências absolutistas: os irmãos Carlos II, que reinou de 1660 a 1685, e Jaime II, de 1685 a 1688.

Page 31: O absolutismo

Além do perfil absolutista, Jaime II era católico declarado e seria substituído no trono pelo filho que tivera com sua segunda esposa, também católica. Com a primeira esposa, que era protestante, Jaime tivera duas filhas.O Parlamentarismo, temendo a volta do catolicismo e do absolutismo, uniu-se ao príncipe holandês Guilherme de Orange, casado com Maria Stuart, filha mais velha e protestante de Jaime II. Além disso, o Parlamento incentivou Guilherme de Orange a invadir a Inglaterra e depor o rei, “a fim de restabelecer a liberdade e proteger a religião protestante”.

Page 32: O absolutismo

Em novembro de 1688, Guilherme desembarcou na Inglaterra com um exército de 14 mil homens e marchou sobre Londres, que foi ocupada praticamente sem violência. Jaime II fugiu para a França e Guilherme foi coroado rei com o nome de Guilherme III. Esse foi um processo de restauração da monarquia na Inglaterra.

Page 33: O absolutismo

O novo rei, contudo, não governaria sem nenhum controle. Ao ser coroado, Guilherme III teve de jurar a Declaração de Direitos, que assegurava ao Parlamento o direito de aprovar ou rejeitar impostos, garantia a liberdade individual, a propriedade privada e estabelecia também o princípio da divisão de poderes.

Page 34: O absolutismo

Os processos vistos até aqui podem ser interpretados como uma conquista política da burguesia inglesa. Isso porque a burguesia, pouco a pouco, passou a definir os rumos do desenvolvimento econômico da Inglaterra. Para muitos historiadores, os conflitos ingleses do século XVII constituíram a primeira de uma série de revoluções burguesas que culminaram, em 1789, com a Revolução Francesa. Esses movimentos poriam fim, em grande parte da Europa, ao poder absoluto dos reis.