nutriÇÃo funcional e estresse oxidativo
TRANSCRIPT
NUTRIÇÃO FUNCIONAL E ESTRESSE OXIDATIVO
Sumário
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 3
AULA 1 – INTRODUÇÃO À NUTRIÇÃO FUNCIONAL ............................................ 6
PRINCÍPIOS DA NUTRIÇÃO FUNCIONAL ......................................................... 6
AULA 2 - SISTEMA ATMS .................................................................................... 13
ANTECEDENTES .............................................................................................. 15
GATILHOS (TRIGGERS) ................................................................................... 17
MEDIADORES ................................................................................................... 17
AULA 3 - ESTRESSE OXIDATIVO........................................................................ 19
DEFESA ANTIOXIDANTES ............................................................................... 23
Tipos de antioxidantes .................................................................................... 24
AULA 4 - ANTIOXIDANTES NA DIETA ................................................................. 24
FLAVONÓIDES .................................................................................................. 24
CAROTENÓIDES ............................................................................................... 26
VITAMINA A ....................................................................................................... 28
VITAMINA C ....................................................................................................... 31
VITAMINA E ....................................................................................................... 36
ZINCO ................................................................................................................ 40
SELÊNIO ............................................................................................................ 47
REFERENCIAS ..................................................................................................... 53
3
INTRODUÇÃO
É muito comum as pessoas pensarem que estão saudáveis depois de fazer
exames bioquímicos de rotina e não apresentar alterações no diagnóstico. Mas
será que essas pessoas estão realmente saudáveis? Como está seu processo
digestivo? Será que elas estão conseguindo nutrir seu corpo adequadamente?
Dormem o suficiente e acordam revigorados? Como está o seu humor? Será que
seus cabelos estão brilhosos e macios e suas unhas fortes? Essas simples
perguntas são formas de identificar sinais de possíveis deficiências ou excessos
de nutrientes.
É importante entender que nosso corpo é formado por aproximadamente
100 trilhões de células e cada uma dessas células necessita de inúmeros
nutrientes para garantir o seu perfeito funcionamento. A ausência de algum
nutriente propiciará o inadequado funcionamento das células e dependendo da
gravidade desta deficiência, poderá interferir no bem-estar físico e mental do
indivíduo.
Figura 1. Cada célula no organismo humano precisa receber vários
nutrientes necessários para poder executar suas funções.
Fonte: O autor (2019).
4
Dessa forma, a nutrição estuda a necessidade dos organismos e células
para manterem-se vivos e funcionantes. É uma ciência que investiga como o
corpo quebra os alimentos e utiliza os nutrientes adquiridos através deste para
consertar, manter e criar células e tecidos.
De acordo com o Ministério da Saúde (2013), “Nutrição é o estado
fisiológico que resulta do consumo e da utilização biológica de energia e
nutrientes em nível celular”. Ou seja, é o resultado do processo de quebra dos
alimentos após a ingestão e utilização de seus substratos como fonte de energia
e nutrientes para as células funcionarem, promovendo a homeostase do
organismo.
Para o nutricionista, existem três fontes de informação que o auxiliam a
identificar padrões consistentes com a alimentação e os diagnósticos clínicos,
são eles: dados bioquímicos, exames físicos e mudanças funcionais.
Figura 2. Inter-relação dos dados bioquímicos, atributos físicos e estado
funcional.
Fonte: Adaptado de KRAUSE et al., 2018.
A maioria dos exames de rotina solicitados pelos médicos não avaliam o
teor de micronutrientes e/ou a funcionabilidade da microbiota intestinal. Sendo
assim, aplicar uma avaliação clínica detalhada, capaz de identificar os sinais e
5
sintomas que cada indivíduo apresenta é uma maneira de reconhecer os
possíveis problemas que estão afetando o bem-estar do paciente.
As reformas no cuidado da saúde estão modificando, de várias maneiras,
a prática clínica dos nutricionistas. Essas mudanças aumentam o valor da
avaliação física e funcional como componentes essenciais para o diagnóstico
nutricional.
Com base nisso, a Nutrição Funcional trabalha modulando os sinais e
sintomas a fim de que o indivíduo expresse uma saúde com vitalidade e
disposição. É uma área da nutrição que está ganhando mais importância nos
últimos anos por aplicar condutas que busquem o equilíbrio metabólico e
nutricional, capazes de modular respostas frente à individualidade bioquímica do
paciente.
Ao longo da disciplina você irá aprender sobre:
▪ Conceito e princípios da Nutrição Clínica Funcional;
▪ Sistema ATMS;
▪ Os efeitos do estresse oxidativo;
▪ Defesa antioxidante do organismo humano.
As principais referências bibliográficas que utilizaremos para esta disciplina
são as seguintes:
6
AULA 1 – INTRODUÇÃO À NUTRIÇÃO FUNCIONAL
Na nutrição, o termo “funcional” aplica-se à manifestação de mudanças nos
processos fisiológicos básicos que influenciam não apenas a doença conhecida
do indivíduo, mas as alterações nas funções orgânicas apresentadas desde sua
vida uterina até o seu presente estado clínico (SOUZA et al., 2016).
A Nutrição Funcional é uma ciência integrativa que investiga a interação
entre todos os sistemas do corpo humano, enfatizando as relações que existem
entre a bioquímica, a fisiologia, os aspectos emocionais e cognitivos e os
nutrientes. É uma ciência que se baseia na pesquisa científica e cuja aplicação
prática engloba, tanto a prevenção, como o tratamento de doenças, através de
dietas elaboradas de acordo com a individualidade bioquímica de cada pessoa,
levando em consideração seu genótipo e sua suscetibilidade genética no
desenvolvimento de doenças.
PRINCÍPIOS DA NUTRIÇÃO FUNCIONAL
A Dra. Valéria Paschoal (2014) publicou em seu livro os princípios básicos
que norteiam as condutas da nutrição funcional:
▪ Individualidade bioquímica: Representa o princípio base para a terapia
nutricional funcional, caracterizado por um conjunto de fatores genéticos,
fisiológicos e bioquímicos individuais que orquestram o funcionamento do
organismo e as suas necessidades nutricionais, as quais interagem com
fatores ambientais (hábitos alimentares, toxinas, poluentes, estresse e nível
de atividade física). Nesse sentido, cada organismo é único e apresenta
necessidades nutricionais diferentes, necessitando de condutas baseadas no
rastreamento de sinais e sintomas de acordo com as características
apresentadas por cada indivíduo.
7
Figura 3. Ilustração de fatores ambientais que interagem com um conjunto de
fatores genéticos, fisiológicos e bioquímicos em cada indivíduo.
Fonte: O autor (2019).
▪ Tratamento centrado no paciente: A intervenção nutricional é estruturada
considerando-se interconexões entre os sistemas orgânicos (e a influência
dos fatores exógenos, antecedentes pessoais e familiares, prática de
atividade física e uso de medicamentos) na busca pelo equilíbrio fisiológico do
paciente – nesse sentido o foco é o paciente e não a doença. Ou seja, o
tratamento não será focado exatamente na doença, mas sim nos fatores que
desencadearam o aparecimento ou fortalecimento dessa patologia. Para
determinação do correto diagnóstico nutricional, utiliza-se conjuntamente o
sistema ATMs (Antecedents, Tiggers and Mediators – Antecedentes, Gatilhos
e Mediadores).
▪ Equilíbrio nutricional e a biodisponibilidade de nutrientes: além de
garantir a adequada oferta de nutrientes pela alimentação, é necessário a
adequada absorção e ação dos nutrientes em nível celular (ou seja, sua ótima
biodisponibilidade). Para tanto, é importante considerar a origem do alimento
e sua forma de conservação e preparo, a forma química das suplementações
e, por fim, a condição em que o indivíduo consegue absorver os nutrientes,
seu estado clínico e sua necessidade nutricional.
▪ Saúde como vitalidade positiva: segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), saúde se refere ao perfeito estado de bem-estar físico, mental e social
8
– assim a intervenção nutricional tem como objetivo modular os desequilíbrios
existentes para restabelecer a relação positiva entre todos os sistemas,
atingindo a saúde de forma plena.
▪ Inter-relações em teia de interconexões metabólicas: Desenvolvida
pelo Institute for Functional Medicine (IFM), a teia de interconexões
metabólicas é uma ferramenta útil para nortear o trabalho da Nutrição
Funcional, pois permite estabelecer as inter-relações entre todos os
processos bioquímicos do organismo e entre o sistema ATMS, permitindo a
identificação dos desequilíbrios metabólicos associados às condições
clínicas apresentadas pelo paciente, favorecendo o desmembramento das
bases funcionais destes distúrbios para o tratamento de suas causas.
O esquema a seguir permite destacar as principais alterações de cada
ponto da teia, para que seja possível compreender a origem dos
desequilíbrios orgânicos do indivíduo, bem como estabelecer as primeiras e
mais importantes condutas nutricionais.
Figura 4. Sistemas orgânicos e interconexões metabólicas.
Fonte: Adaptado de BAPTISTELLA et al., 2016.
9
Assim, é importante conhecer cada ponto do sistema de interconexões
metabólicas da teia, conforme descritos no artigo publicado por Carnauba et al.
(2018):
a) Mental, emocional e espiritual: Conforme observado na Imagem 4,
esses três pontos estão indicados no centro da teia de interconexões
metabólicas, pois tem a capacidade de influenciar diretamente o estado de saúde
ou doença. Sem o equilíbrio dos fatores emocionais, mentais e espirituais, todos
os outros sistemas podem ser afetados. Assim, deve-se considerar sintomas
como estresse mental, ansiedade, depressão, tristeza, angústia e as relações
interpessoais, a fim de direcionar uma dieta capaz de fornecer nutrientes que
atuarão no controle emocional através de sua contribuição na formação e
modulação de hormônios e neurotransmissores (dopamina, serotonina,
melatonina, ácido gama-aminobutírico, oxitocina, entre outros).
b) Assimilação: O ponto da assimilação compreende o funcionamento do
trato digestório desde o início da digestão até a formação e eliminação das fezes,
englobando os aspectos relacionados ao funcionamento do trato digestório,
incluindo digestão, absorção, hábito e saúde intestinal. Nesse aspecto, é
essencial considerar a composição e saúde da microbiota intestinal, que tem
papel fundamental na manutenção da saúde e homeostase endógena, uma vez
que atua na manutenção da barreira intestinal (controlando a absorção de
nutrientes, lipopolissacarídeos bacterianos e toxinas), interage com o
metabolismo de sais biliares e modula o sistema imune (influenciando a
produção de antígenos). Devido a esses efeitos metabólicos, a composição da
microbiota influencia também o metabolismo hepático, a composição e
funcionalidade do tecido adiposo e o eixo cérebro-intestino.
Portanto, investigar possíveis fatores dietéticos e ambientais que podem
comprometer a integridade do trato intestinal e avaliar outros pontos da teia que
poderiam afetar o seu funcionamento (como os fatores mentais e emocionais)
são estratégias nutricionais que devem ser colocadas em prática, pois podem
contribuir para o equilíbrio do sistema digestivo, visando a saúde e bem-estar do
indivíduo.
10
c) Defesa e reparo: O ponto defesa e reparo aborda a relação entre
alterações imunológicas, estado inflamatório e infecção. O sistema imunológico
é alvo de diversos fatores exógenos e endógenos que, desde a vida intrauterina,
podem comprometer o estado de saúde do indivíduo, podendo propiciar o
surgimento de doenças autoimunes e desequilíbrios funcionais que levam a um
estado de hiperinflamação desencadeador de Doenças Crônicas Não
Transmissíveis (DCNT). Por esse motivo, a escolha de intervenções nutricionais
com nutrientes específicos (que podem apresentar propriedades anti-
inflamatórias ou promover o aumento da resposta imune) deverá ser feita com
base na situação clínica do indivíduo.
d) Energia: O ponto energia avalia o metabolismo energético e a função
mitocondrial. São diversos os fatores que podem promover o aumento do
estresse oxidativo e produção das espécies reativas de oxigênio, como o
estresse emocional, alta ingestão de ácidos graxos trans e frituras, alto consumo
de bebidas alcoólicas, exercícios físicos extenuantes, medicamentos,
contaminação por metais tóxicos, exposição a poluentes e toxinas ambientais,
entre outros. Ainda, além desses fatores, a defesa antioxidante estará ainda mais
comprometida pela baixa ingestão de componentes alimentares com ação
antioxidante. Uma vez que os danos oxidativos causados em lipídios, proteínas
e no DNA levam a importantes desequilíbrios funcionais nas células e podem
aumentar o risco de diversas doenças, é importante que o consumo de nutrientes
e compostos bioativos com ação antioxidante seja considerado na elaboração
de planos alimentares (CARNAUBA et. al, 2018).
e) Biotransformação e eliminação: O ponto de biotransformação e
eliminação compreende o processo de destoxificação hepática, considerando a
exposição a diferentes fontes de xenobióticos e compostos tóxicos
(principalmente poluentes, toxinas ambientais, metais tóxicos, álcool,
medicamentos e substâncias químicas presentes em alimentos como aditivos e
corantes). O processo de destoxificação, que visa a eliminação dessas
substâncias tóxicas do organismo, é dividido em três fases e ocorre por meio da
ação de complexos enzimáticos que utilizam diversos nutrientes como cofatores
(por exemplo, selênio, zinco, manganês e ferro). Desta forma, a exposição
11
excessiva a toxinas pode levar à depleção de nutrientes antioxidantes e
alterações no funcionamento celular, propiciando o surgimento de sinais e
sintomas e redução da vitalidade.
f) Transporte: O ponto transporte investiga a saúde dos sistemas
cardiovascular e linfático, uma vez que, para que os nutrientes, hormônios e
neurotransmissores alcancem suas células alvo, um sistema de transporte
eficiente é necessário, incluindo uma adequada funcionalidade desses sistemas.
g) Comunicação: O ponto comunicação considera a função de todos os
mensageiros orgânicos. Todas as reações bioquímicas endógenas são
coordenadas pela ação de hormônios e neurotransmissores, que precisam estar
em perfeito equilíbrio para manutenção da homeostase orgânica. Diversos
fatores podem perturbar a ação de mensageiros, como a alimentação, estresse
físico e emocional e o excessivo contato com toxinas ambientais que atuam
como disruptores endócrinos. Apesar disso, existem algumas intervenções
nutricionais que podem contribuir para o equilíbrio de hormônios e
neurotransmissores e que certamente devem ser consideradas para indivíduos
que apresentam desequilíbrio neste ponto.
h) Integridade estrutural: O ponto integridade estrutural considera a
integridade de membranas celulares, saúde óssea e demais aspectos estruturais
do indivíduo. Assim, considerando a integridade estrutural, é necessário reduzir
a exposição a contaminantes ambientais (que afetam a funcionalidade das
membranas celulares) e ofertar alimentos que podem promover efeitos benéficos
à saúde.
Cada ponto da Teia de Interconexões Metabólicas pode estar relacionado
com a suficiência ou deficiência de alguns nutrientes. Um mesmo sintoma pode
estar envolvido em vários pontos diferentes das interconexões. Por exemplo: o
zinco participa da produção de hormônios e neurotransmissores, dentre eles a
testosterona e a serotonina (comunicação), participa da sinalização da insulina
(Energia), melhora a saúde intestinal (Assimilação), a saúde hepática
(Biotransformação e Eliminação), a saúde cardiovascular (Transporte), a saúde
12
das unhas, pele, cabelo e gordura corporal (Integridade Estrutural) e o sistema
imunológico (Defesa e Reparo).
Tabela 1. Tópicos da Teia de Interconexões Metabólicas e os principais
nutrientes envolvidos.
TÓPICOS DA TEIA
PRINCIPAIS NUTRIENTES, FITOTERÁPICOS E COMPOSTOS BIOATIVOS ENVOLVIDOS
Assimilação
Ômega-3, fibras dietéticas, polifenóis, probióticos,
prebióticos (FOS, inulina, oligofrutose), vitamina A,
vitamina D, zinco, glutamina.
Biotransformação
e Eliminação
Vitaminas (A, C, D, E, K), cálcio, magnésio, potássio,
proteína, fósforo, zinco, cobre, selênio, ferro, manganês,
ômega-3, N-acetilcisteína, metionina, BCAA, quercetina,
rutina, flavonoides, antocianinas, isoflavonas, polifenóis
do café, resveratrol, cúrcuma, isotiocianatos, coenzima
Q10, SAMe, silimarina, probióticos, prebióticos.
Transporte
Vitaminas (A, C, D, E, K e complexo B), cálcio, magnésio,
zinco, cromo, selênio, fibras, ômega-3, ácido lipoico,
coenzima Q10, catequinas, resveratrol, hidroxitirosol,
antocianinas, Cúrcuma longa, Hibiscus sabdariffa,
Cynara scalymus, cacau.
Integridade
Estrutural
Vitaminas (A, C, D, E, K e complexo B), cálcio, magnésio,
silício, boro, zinco, cobre, ferro, manganês, creatina,
leucina, whey protein, proteínas vegetais, colágeno e
seus peptídeos bioativos, ácidos graxos poli-insaturados,
resveratrol, coenzima Q10, Boswellia serrata, Cúrcuma
longa, Zingiber officinale.
Comunicação,
Mente e Emoção
Magnésio, zinco, selênio, cromo, ferro, Vitaminas (C, D,
E e complexo B, principalmente B3, B13, B9 e B6),
ômega-3, N-acetilcisteína, ácido lipoico, coenzima Q10,
carnitina, triptofano, teanina.
13
Defesa e Reparo
Vitaminas (A, C, D, E e complexo B), zinco, selênio,
magnésio, cobre, ferro, ômega-3, glutamina, arginina,
taurina, BCAA, nucleotídeos, resveratrol, curcumina,
quercetina, epigalocatequina-3-galato, nucleotídeos, mel,
própolis, geleia real, pólen, probióticos, prebióticos.
Energia
Magnésio, cálcio, zinco, ferro, cromo, vanádio, Complexo
B, vitamina C, ácido lipoico, coenzima Q10, ômega-3,
CLA, polifenóis, Hibiscus sabdariffa, Garcinia
mangostana, Eriobotrya japônica, Curcuma longa,
Camellia sinensis, Ilex paraguariensis,Undaria
pinnatifida, Citrus aurantium, Citrus sinensis L. Osbeck,
Capsicum spp., Cinnamom spp., Zingiber officinale.
Fonte: BAPTISTELLA et al., 2018.
Ao observar a tabela 1, é possível notar que os sintomas podem estar
interligados e que os mesmos nutrientes agem em diferentes pontos. Uma vez
que forem identificados os sinais e sintomas que irão compor a teia, é necessário
analisar os principais tópicos em desequilíbrio e aplicar condutas dietéticas para
promover o adequado funcionamento do organismo.
Uma maneira importante de diagnosticar os desequilíbrios funcionais dos
pacientes é aplicando o sistema ATMS.
AULA 2 - SISTEMA ATMS
O sistema ATMS (antecedentes, gatilhos e mediadores), representando
na figura 5, assemelha-se a Teia de Nutrição Funcional e leva em consideração
a interconexão de todos os sistemas fisiológicos do nosso organismo, os
antecedentes, os gatilhos e mediadores que afetam esses sistemas e os
sistemas pertinentes ao desequilíbrio no funcionamento de cada um deles.
Dessa forma, levam-se em consideração os aspectos que interferem no(a):
▪ Estresse oxidativo e metabólico energético
14
▪ Regulação hormonal e de neurotransmissores
▪ Digestão, absorção e integridade da barreira intestinal
▪ Suporte imunológico
▪ Integridade estrutural do individuo
▪ Destoxificação e biotransformação hepática
▪ Processo inflamatório
▪ Equilíbrio psicológico e espiritual
Figura 5. Ficha de diagnóstico nutricional.
Fonte: Adaptado de Paschoal et al., 2014.
Sistema
ATMS
15
ANTECEDENTES
Os antecedentes estão relacionados com a história de vida do paciente e
com a história genética de sua família. Se o indivíduo não possui uma
determinada doença que está presente em seu histórico familiar ou se houver a
possibilidade de adquirir devido uma rotina propícia ao desenvolvimento de
DCNT’s, então o foco do nutricionista será trabalhar na prevenção,
concentrando-se nos fatores de risco a que o paciente está exposto e o que pode
anteceder o aparecimento de alguma patologia. Porém, se o indivíduo já possui
algum tipo de doença instalada, é importante aplicar uma anamnese completa
para investigar toda a história do paciente, desde o nascimento até o momento
da consulta, incluindo suas experiências de vida, seu desempenho escolar, o
tipo de alimentação consumida durante toda a vida. Ou seja, investigar todos os
antecedentes que possam estimular gatilhos que favoreçam o aparecimento de
patologias.
1. Fatores Genéticos
A suscetibilidade ao desenvolvimento de doença é provavelmente
resultado de fatores genéticos e ambientais que possuem predominância variada
em diferentes indivíduos. Os antecedentes podem ser os eventos aos quais o
indivíduo esteve exposto na vida intrauterina e nos primeiros meses de vida que
interferiram na sua programação metabólica e na predisposição à doença.
Um exemplo de fator genético é apresentado em estudos relacionados a
predisposição à obesidade. Conforme pesquisas apresentadas por Toschke et
al. (2002) e von Kries et al. (2002), o tabagismo materno gestacional está
associado ao desenvolvimento de sobrepeso infantil e de obesidade e diabetes
tipo 2 na vida adulta.
Existem estudos que demonstram também, que crianças não
amamentadas no peito e expostas precocemente às fórmulas infantis possuem
o funcionamento de regulação da ingestão alimentar prejudicado. Isso porque
bebês, nos primeiros meses de vida, possuem uma deficiência do principal
hormônio da saciedade (leptina) que é passado da mãe através do leite materno.
16
Assim, crianças que não são amamentadas no peito apresentam um
desequilíbrio no eixo fome-saciedade que podem predispor essa criança à
obesidade na primeira infância e na vida adulta quando associada a outros
fatores ambientais de risco (MELNIK, JOHN, SCHMITZ, 2013; OOSTING et al.,
2013; POWER, SCHULKIN, 2013; STACHOWIAK et al., 2013).
2. Hipersensibilidade alimentar
A hipersensibilidade alimentar ou alergia alimentar gera uma resposta
imunológica que altera a função intestinal, liberando substâncias que atuarão
como gatilhos para diversas desordens orgânicas, tais como:
▪ Respiratórias: asma, sinusite, coriza e congestão nasal constante
▪ Cardiovasculares: edema, taquicardia, inflamação de veias coronárias
▪ Gastrointestinais: doença celíaca, diarreia crônica, cólicas, obstipação,
doença de Crohn, úlceras duodenais ou gástricas, gastrites, indigestão,
síndrome do intestino irritável, síndrome e má absorção, náuseas, colite
ulcerativa.
▪ Genitourinário: infecções crônicas da bexiga, síndrome nefrótica,
incontinência urinária
▪ Imunológica: otites de repetição
▪ Mental e emocional: déficit de atenção, ansiedade, depressão, perda de
memória, esquizofrenia, epilepsia
▪ Músculos esqueléticos: dores articulares, mialgias, artrite reumatoide
▪ Cutâneas: eczema, psoríase, urticária, dermatites, coceiras nos olhos
▪ Outros: enxaqueca
As reações adversas aos alimentos podem gerar quadros de alergia
alimentar (mediadas por IgE), hipersensibilidades alimentares (mediadas por
IgG, IgM, IgA, IgE e células T) e intolerâncias alimentares (deficiências
metabólicas, exemplo: deficiência da lactase). O primeiro quadro apresenta uma
17
resposta rápida após a ingestão do alimento desencadeante da ativação da ação
imunológica. A hipersensibilidade e a intolerância alimentar apresentam uma
resposta mais tardia.
3. Hábitos alimentares
Vários estudos demonstram que o consumo elevado de alimentos com
carga glicêmica alta, associado ao desequilíbrio no consumo de ácidos graxos
ômega-6 em relação ao ômega-3, à deficiência, por exemplo de vitamina D e à
falta de compostos bioativos e antioxidantes levam à ativação do fator de
transcrição NFkB (Nuclear Factor kappa B), responsável pelo aumento da
expressão de genes pró-inflamatórios, desencadeando inúmeras doenças como
câncer, obesidade, dislipidemia, diabetes tipo 2 e doenças neurodegenerativas.
Estudos demostram que o consumo diário de alimentos, com intervalo
máximo de 3 em 3 horas, contendo os compostos bioativos lignanas, beta
glucanas, antocianinas, licopeno e catequinas garantem efetivamente a
modulação das reações bioquímicas envolvidas, contribuindo para reduzir o
risco de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis.
GATILHOS (TRIGGERS)
Os gatilhos incluem fatores ambientais e alimentares atuais, que
desencadeiam os sintomas relatados pelos pacientes, e ainda estresse
emocional, físico e mental, radiação, estresse oxidativo, traumas,
lipopolissacarídeos bacterianos (LPS), vírus e parasitas. Uma vez acionados,
eles desencadearão inúmeras consequências deletérias para nosso organismo,
como por exemplo, a ativação do fator de transcrição para genes inflamatórios
como NFkB.
MEDIADORES
Os mediadores são quaisquer substâncias, enzimas ou fatores ambientais
que causem os sintomas, a destruição dos tecidos e o comportamento em
relação à doença.
18
Os mediadores são sintetizados a partir da atividade dos gatilhos e podem
ser bioquímicos, subatômicos, cognitivos e emocionais, sociais e culturais:
Tabela 2. Mediadores e seus respectivos fatores que desencadeiam os gatilhos.
MEDIADORES FATORES QUE DENSENCADEIAM OS GATILHOS
Bioquímicos Hormônios, neurotransmissores, neuropeptídios, citocinas, radicais livres, fatores de transcrição
Subatômicos Íons, elétrons
Cognitivos e emocionais
Medo da dor e perda, crença em relação à doença, baixa autoestima;
Mediadores sociais e culturais
Falta de apoio social e solidão, relação profissional – paciente, condições comportamentais.
Fonte: Paschoal, V. et al, 2014.
Os mediadores bioquímicos são os mais estudados atualmente, por estar
envolvido na inflamação. A inflamação exerce uma função crítica não só em
respostas às infecções, mas também em desordens como as doenças
cardiovasculares, aterosclerose, diabetes, câncer, depressão, doenças
gastrointestinais, doença de Crohn, artrite reumatoide, mal de Alzheimer,
esclerose múltipla, desordens cutâneas e obesidade (Paschoal, V. et al, 2014).
Além da inflamação, o estresse tem demonstrado ser um importante
mediador de diversas patologias como depressão. Pacientes com depressão
severa apresentam uma “perda do feedback negativo do eixo hipotálamo
adrenal. Assim, os níveis de cortisol urinário livre se elevam alterando o ciclo
circadiano do cortisol e potencializando os tintomas da doença.
Conhecendo os antecedentes, gatilhos e mediadores apresentados pelo
paciente, o tratamento por meio dos princípios básicos da Nutrição Clínica
Funcional será mais efetivo no restabelecimento da funcionabilidade orgânica e
saúde e bem-estar do indivíduo. Cabe ao profissional nutricionista preencher a
teia com as informações obtidas através do paciente, eleger os três itens que
apresentam maior desequilíbrio (maior número de sintomas) e iniciar o
tratamento nutricional. Deve-se optar por condutas que bloqueiem os gatilhos e
19
por nutrientes que modulem os mediadores, restabelecendo o equilíbrio
funcional de cada sistema.
AULA 3 - ESTRESSE OXIDATIVO
Para entender o assunto abordado nesta aula, é necessário compreender
primeiramente, o que são espécies reativas de oxigênio e radicais livres.
O oxigênio é essencial para a oxidação de compostos orgânicos e
produção de energia para o metabolismo celular. Uma pequena quantidade do
oxigênio consumido (2 a 5%) é reduzida, produzindo uma variedade de
substâncias químicas altamente reativas, denominadas espécies reativas do
oxigênio (ERO). Essas espécies reativas são átomos, moléculas, ou íons
derivados do oxigênio, que em sua grande maioria possuem alta reatividade e
podem provocar, em altas concentrações, danos as organelas celulares, ácidos
nucleicos, lipídeos e proteínas. As espécies reativas podem ser didaticamente
divididas em dois grupos: os radicais livres e os compostos não radicalares.
Figura 6. Representação de uma molécula de oxigênio estável e instável.
Fonte: O autor (2019).
Os radicais livres são átomos ou moléculas que possuem um número ímpar
de elétrons em sua camada de valência (camada mais externa). Isso o torna
20
instável e altamente reativo, fazendo com que esteja sempre buscando capturar
elétrons das células à sua volta. Alguns exemplos são:
▪ OH• (íon hidroxila)
▪ HOH• (íon peroxil)
▪ O2-• (ânion superóxido)
▪ NO (óxido nítrico)
▪ O2 (oxigênio molecular)
Já os compostos não radicalares, como H2O2 (peróxido de hidrogênio) e
HOCl (ácido hipocloroso), não possuem elétrons livres, portanto, são menos
instáveis que os radicais livres, mas também podem reagir com moléculas que
estão ao seu redor.
As mitocôndrias são a maior fonte endógena de produção de radicais livres
nos eucariotos. O radical livre ânion superóxido (O2-•) é o mais comumente
gerado, a partir de elétrons que escapam da cadeia transportadora das
mitocôndrias e reduzem o O2 presente nas células. Já o óxido nítrico (NO),
produzido por uma ampla variedade de tipos celulares, tem características
importantes na modulação da pressão arterial.
As EROs em baixos níveis e em condições normais possuem um papel
importante e são naturalmente produzidos pelo metabolismo dos seres vivos.
Um exemplo de suas funções no organismo é na resposta imune a infecções. O
sistema imunológico atua na produção de radicais livres ao redor de bactérias,
fungos e vírus para destruir sua membrana, tornando possível fagocitar esses
microrganismos invasores. Há evidências de que as EROs também
desempenham um papel importante na sinalização celular.
A produção contínua de radicais livres em nosso organismo durante os
processos metabólicos ativa nosso mecanismos de defesa antioxidante, que têm
o objetivo de limitar os níveis intracelulares de tais espécies reativas e controlar
a ocorrência de danos decorrentes, porém, um dos problemas da atualidade
recai no fato da dieta da população estar cada vez mais deficitária em
21
substâncias que contra regulem uma resposta à geração de EROs e cada vez
mais exposta a estímulos que aumentam a produção de radicais livres.
Esse desequilíbrio entre compostos oxidantes e antioxidantes, em favor da
geração excessiva de radicais livres ou em detrimento da velocidade de remoção
destes, induz o processo de estresse oxidativo.
O estresse oxidativo pode ser gerado através de fontes endógenas
(metabolismo celular) e pode ser produzido em resposta a diferentes estímulos
exógenos como: toxinas, radiação ultravioleta, poluição, estresse e alimentação.
Figura 7. Causas do estresse oxidativo.
Fonte:http://andreiatorres.com/blog/2016/11/22/estresse-oxidativo-em-crianas-com-sndrome-de-down
Através da alimentação é possível diminuir a produção de radicais livres,
mas também é possível aumentá-la, pois os macronutrientes (Proteína,
Carboidrato e Lipídeos) possuem variações de átomos de oxigênio em sua
composição, conforme a tabela 2. A partir do momento que o indivíduo consume
um alimento que irá conter uma ou mais desses nutrientes, ele estará ingerindo
moléculas de oxigênio. E assim como qualquer outra molécula de oxigênio em
nosso organismo, ela pode sofrer uma redução de elétron e tornar-se instável.
Tabela 3. Fórmula química de macromoléculas.
22
Fonte: O autor (2019).
Além disso, a realização excessiva de exercícios por períodos prolongados
também pode produzir altas concentrações EROs. A taxa de consumo de
oxigênio durante o exercício pode aumentar em 10 a 15 vezes, ou até 100 vezes
em músculos esqueléticos periféricos ativos, favorecendo o aumento da
produção de peróxidos lipídicos e radicais livres. A magnitude do estresse
depende da capacidade dos tecidos do corpo de se desintoxicar das EROs.
O estresse oxidativo conduz à oxidação de biomoléculas com consequente
perda de suas funções biológicas e/ou desequilíbrio homeostático, cuja
manifestação é o dano oxidativo potencial contra células e tecidos. Ou seja, o
estresse oxidativo pode promover danos as células e aos tecidos do corpo
levando a um desequilíbrio metabólico através do aumento de radicais livres no
organismo e consequentemente à peroxidação de lipídeos, a oxidação de
proteínas, a inativação enzimática, ativação excessiva de genes pró-
inflamatórios, como fator de necrose tumoral (TNF-α), interleucinas (IL), fator de
transcrição nuclear kappa B (NFkB) e fator de crescimento transformador beta
(TGF-β), além de causar danos ao DNA. Com base nesses desequilíbrios, o
acúmulo de danos oxidativos em lipídios, proteínas e no DNA está relacionado
com a patogênese de diversas doenças como câncer, diabetes, inflamações,
doença de Parkinson, doenças cardiovasculares, aterosclerose, ischemia-
reperfusão e no envelhecimento acelerado.
Desta forma, a utilização de moléculas antioxidantes adquiridas através da
dieta ou de maneira sintética compõem um dos mecanismos de defesa contra
os radicais livres.
23
DEFESA ANTIOXIDANTES
Todas as células ativas produzem certa quantidade de ERO, mas o sistema
antioxidante mantém seus níveis baixos. De acordo com Lima e Bezerra (2012,
p.115), a exposição aos radicais livres tem levado os organismos a
desenvolverem uma série de mecanismos de defesa. Os mecanismos de defesa
contra os radicais livres, induzidos pelo estresse oxidativo envolvem:
mecanismos preventivos, mecanismos de reparo, defesas físicas, e as defesas
antioxidantes.
Os antioxidantes atuam em diferentes níveis na proteção dos organismos.
O primeiro mecanismo de defesa contra os radicais livres é impedir a sua
formação. Os antioxidantes são capazes de interceptar os radicais livres gerados
pelo metabolismo celular ou por fontes exógenas, impedindo o ataque sobre os
lipídios, os aminoácidos das proteínas, a dupla ligação dos ácidos graxos poli-
insaturados e as bases do DNA, evitando a formação de lesões e perda da
integridade celular. Os antioxidantes obtidos da dieta, tais como as vitaminas C,
E e A, os flavonoides e carotenoides são extremamente importantes na
intercepção dos radicais livres. Uma molécula antioxidante possui substituintes
doadores de elétrons ou de hidrogênio ao radical, favorecendo o balanço entre
a produção e a degradação de ERO e assim, mantendo a homeostase celular.
Outro mecanismo de proteção é o reparo das lesões causadas pelos
radicais. Esse processo está relacionado com a remoção de danos da molécula
de DNA e a reconstituição das membranas celulares danificadas. Em algumas
situações pode ocorrer uma adaptação do organismo em resposta a geração
desses radicais com o aumento da síntese de enzimas antioxidantes.
Desta forma, a utilização de moléculas antioxidantes constitui um dos
mecanismos de defesa contra os EROs e através de um ou mais mecanismos,
tais como inibição de radicais livres e complexação de metais, retardam ou
previnem a velocidade da oxidação, prevenindo o desenvolvimento de muitas
doenças e contribuindo para uma maior longevidade.
24
Tipos de antioxidantes
Os antioxidantes podem ser classificados em antioxidantes enzimáticos ou
não-enzimáticos. Entre os antioxidantes enzimáticos encontram-se: superóxido
dismutase, catalase, NADPHquinona oxidoredutase e glutationa peroxidase. Já
os antioxidantes não-enzimáticos, em sua maioria, precisam ser adquiridos pela
alimentação, sendo os mais comuns: glutationa reduzida (GSH), tiorredoxina
(Trx), a-tocoferol (vitamina E) curcumina, b-caroteno, ácido ascórbico (vitamina
C), flavonoides, proteínas do plasma, selênio, glutationa, clorofilina e a L-
cisteína.
AULA 4 - ANTIOXIDANTES NA DIETA
Embora o organismo possua defesas antioxidantes endógenas efetivas
para o combate ao excesso de radicais livres, a inclusão de antioxidantes na
dieta é de grande importância, pois o seu consumo está associado a inúmeros
benefícios à saúde, incluindo proteção contra doenças crônico-degenerativas
associadas ao acúmulo de radicais livres.
Os antioxidantes também têm sido relacionados com a diminuição de
efeitos colaterais advindos do uso de fármacos antitumorais como, por exemplo,
a nefrotoxicidade, que é um dos principais efeitos colaterais da terapia com a
cisplatina (fármaco antitumoral). Evidências mostram que uma abordagem
alternativa para proteção contra esses efeitos colaterais é o uso de conhecidos
antioxidantes da dieta tais como, vitaminas C e E, curcumina, selenito de sódio
e o carotenoide bixina (ANTUNES & BIANCHI, 2004).
Entre os nutrientes com ação antioxidante, destacam-se: os flavonoides e
carotenoides, vitaminas A, C e E e os minerais zinco e selênio.
FLAVONÓIDES
Os flavonóides constituem substâncias aromáticas contendo 15 átomos de
carbono no seu esqueleto básico. Este grupo de compostos polifenólicos
25
apresenta uma estrutura comum caracterizada por dois anéis aromáticos e um
heterociclo oxigenado, formando um sistema C6-C3-C6. Segundo as pesquisas
realizadas por Pereira e Cardoso (2012, p. 148), já foram identificadas mais de
8.000 substâncias pertencentes a este grupo. Esse grande número de
compostos surge da ampla variação de combinações de grupos metil e hidroxil
como substituintes na estrutura química básica.
Os flavonóides são membros de uma classe de compostos naturais que
recentemente tem sido objeto de considerável interesse científico e terapêutico,
uma vez que têm sido relatadas importantes atividades biológicas, tais como,
ações antialérgicas, antivirais, anti-inflamatórias, vasodilatadoras e
principalmente sua atividade antioxidante, ação esta exercida devido a sua
capacidade de inibir e/ou reduzir a formação de radicais livres e na capacidade
de quelar metais (LIMA & BEZERRA, 2012, p. 118).
A grande diversidade de flavonóides é decorrente das variações
estruturais, tais como: flavonas, flavanóis, flavonóis, diidroflavonóis,
antocianidinas e isoflavonóides. Dentre os flavonóides destacam-se as
antocianinas, que são glicosídeos que apresentam em sua estrutura química um
resíduo de açúcar no carbono 3. Como produtos desta hidrólise, obtêm-se o
componente glicídico e a aglicona, denominada antocianidina (LIMA &
BEZERRA, 2012, p. 116; DEWICK, 2002 apud PEREIRA & CARDOSO, 2012, p.
148).
As antocianinas são um grupo de pigmentos naturais com estruturas
fenólicas variadas. São os componentes de muitas frutas vermelhas e hortaliças
escuras, apresentando grande concentração nas cascas de uvas escuras.
Representam um significante papel na prevenção ou retardam o aparecimento
de várias doenças por suas propriedades antioxidantes. As antocianinas
encontradas em alimentos são todas derivadas das agliconas pertencentes a
três pigmentos básicos: pelargonidina (vermelha), cianidina (vermelho) e
delfinidina (violeta) (Araújo, 2008 apud PEREIRA & CARDOSO, 2012, p. 148).
26
Ação antioxidante
Os efeitos antioxidantes dos flavonóides podem ser explicados por sua
prevenção a peroxidação lipídica através do aprisionamento de radicais de
iniciação lipídica, tais como, superóxido, hidroxil e hidroperoxil. Outro efeito,
muito importante, é a quelação de íons metálicos, por exemplo, a complexação
com íons ferro, suprimindo a Reação de Fenton - nome dado à oxidação de ferro
(II) a ferro(III) pela água oxigenada, uma reação que produz espécies com alto
poder oxidante como o radical hidroxila.
CAROTENÓIDES
Os carotenóides formam um grupo de pigmentos naturais com
aproximadamente 700 representantes que apresentam coloração amarela,
laranja ou vermelha, à exceção dos carotenoides fitoeno e fitoflueno que são
incolores.
Tabela 4. Exemplos de carotenóides encontrados na natureza e suas
colorações.
Carotenóide Coloração
Luteína Amarela
Zeaxantina Amarela e laranja
β-caroteno Laranja
Bixina Laranja
Norbixina Laranja
Cantaxantina Laranja e vermelha
Astaxantina Vermelha
Fonte: Adaptado Mesquita, S. S. et al.2017
Os carotenóides são responsáveis pela síntese de vitaminas, estando
relacionada à redução do risco de degeneração macular, catarata e doenças
crônicas. Além de auxiliar na prevenção de neoplasias e na proteção do DNA
contra o estresse oxidativo, em virtude de sua ação antioxidante (BAENA, 2015
27
apud HENRIQUE et al., 2018). Pode-se citar como exemplos de carotenoides:
licopeno, caroteno e luteína.
Carotenoides precursores de Vitamina A
Alimentos como a cenoura, a abóbora e o espinafre, são exemplos de
fontes abundantes em carotenoides precursores de vitamina A, porém, nem
todos os carotenoides apresentam atividade pró-vitamina A. Para que o
carotenoide apresente esta atividade, a molécula deve conter, no mínimo, 11
carbonos, pelo menos um anel β não substituído e duplas ligações conjugadas
em sua composição química, como é o caso de β-caroteno, γ-caroteno, α-
caroteno, β-criptoxantina e α-criptoxantina.
Uma vez ingeridos, os carotenoides com atividade pró-vitamina A são
absorvidos e convertidos a retinal no intestino. A molécula de retinal, por sua
vez, é convertida a retinol e, em seguida, é transportada para o fígado, onde será
armazenada.
Ação antioxidante
Como antioxidantes, os carotenoides, apresentam mecanismos de ação
física ou química para neutralizar os efeitos de ERO. O primeiro caso envolve
transferência de energia. Já o mecanismo químico está relacionado à reação
química entre carotenoide e espécie reativa de oxigênio, sendo conhecidos três
tipos:
▪ Transferência de elétron: radicais com alto potencial redox removem um
elétron do carotenoide, oxidando-o e formando o radical cátion;
▪ Abstração de hidrogênio: há a remoção de um átomo de hidrogênio da
molécula de carotenoide, formando o radical neutro;
▪ Adição: ocorre a adição de um radical à molécula de carotenoide,
formando o radical aduto.
28
VITAMINA A
Primeira vitamina lipossolúvel a ser reconhecida foi a vitamina A, em 1913.
Esse nome é um termo genérico usado para descrever todos os retinóides que
tem atividade biológica transretinol.
A vitamina A foi chamada de retinol em referência à sua função específica
na retina do olho. Outras formas metabolicamente ativas da vitamina incluem o
correspondente aldeído (retinal) e ácido (ácido retinóico).
A vitamina A é relativamente estável ao calor e à luz, entretanto, é destruída
pela oxidação. Sua biodisponibilidade é acentuada pela presença de vitamina E
e outros antioxidantes.
Essa vitamina é absorvida sob forma de ésteres de retinol, comumente
como retinil palmitato. O armazenamento da vitamina A é feito em forma de
ésteres de retinil, e após divisão hidrolítica dos ésteres, o fígado libera
continuamente retinol livre na circulação sanguínea e deste modo mantendo uma
constante concentração de sua forma ativa na circulação.
A concentração média dos ésteres de retinil no organismo é cerca de 100
a 300 µg no fígado e a taxa normal de retinol no plasma é de 30 a 700 µg/dl.
A administração sanguínea não é um guia recomendável para um estudo
individual de vitamina A, mas valores baixos de retinol sanguíneo significam que
o armazenamento hepático da vitamina pode estar sendo esgotado. A
concentração de RBP (proteína transportadora de retinol) no plasma é decisiva
para a regulação do retinol plasmático e seu transporte para os tecidos.
Função da vitamina A
A vitamina A desempenha papel essencial na visão, crescimento,
desenvolvimento dos ossos, no desenvolvimento e manutenção do tecido
epitelial, no processo imunológico, na reprodução normal e tem ação
antioxidante. Suas propriedades moleculares incluem o controle da expressão
gênica, bem como danos ao DNA.
29
Redução da vitamina A no organismo
Sua redução pode interromper a homeostase do organismo, gerando
problemas como:
▪ Aumento da ligação das bactérias às células epiteliais do trato respiratório;
▪ Diminuição da produção de IgA secretor;
▪ Favorecer a atrofia do Timo;
▪ Reduzir a atividade das células Natural Killers;
▪ Diminuir a produção de interferons e anticorpos;
▪ Diminuir a atividade dos macrófagos;
▪ Diminuir a diferenciação das células Tregs.
Sinais e sintomas de deficiência
Uma deficiência prolongada de vitamina A pode produzir:
▪ Alterações na pele (pele seca, acne);
▪ Dores oculares;
▪ Cegueira noturna;
▪ Ulcerações na córnea.
▪ Em crianças com alta deficiência de vitamina A pode causar cegueira.
Os primeiros indícios de deficiência de vitamina A é a adaptação
prejudicada ao escuro ou cegueira noturna. Deficiência leve pode resultar em
alterações na conjuntiva (canto do olho) chamado pontos de Bitot. A deficiência
grave ou prolongada causa uma condição chamada xeroftalmia (olho seco), e
caracteriza-se por alterações nas células da córnea (cobertura transparente do
olho), que em última instância resulta em úlceras de córnea, cicatrizes e
cegueira.
30
Figura 8. Sinais clínicos da deficiência de vitamina A
Fonte: Ministério da Saúde, 2013.
Em estados de deficiência extrema, as membranas mucosas dos tratos
respiratórios, gastrointestinal e geniturinário são afetadas.
Outros sintomas de deficiência são perda de apetite, inibição do
crescimento, anormalidades ósseas, ceratinização das papilas gustativas, perda
de paladar, nódulos na parte posterior do braço, gripes e infecções recidivantes,
problemas sinusais, diminuição da salivação, cefaleias, cabelo sem brilho,
descamação das unhas, diminuição da contagem de glóbulos brancos,
diminuição da fertilidade em mulheres e perda de olfato.
Causas de deficiência
As deficiências primárias de vitamina A são consequência de uma dieta
inadequada. Já as secundárias podem ser oriundas de fatores que podem
interferir na absorção, estoque ou transporte de vitamina A.
▪ Má absorção devido à insuficiência de ácidos biliares ou insuficiência
pancreática;
▪ Desnutrição proteico-energética;
▪ Doenças hepáticas;
▪ Deficiência de zinco.
Toxicidade
A hipervitaminose A (altas concentrações de vitamina A no organismo)
pode se apresentar de forma aguda e crônica.
31
A hipervitaminose A aguda pode ser induzida por uma única dose de retinol
superior a 200mg (660.000UI) em adultos, ou superior a 100mg (330.000UI) em
crianças. Os sintomas incluem náuseas, vômitos, fadiga, fraqueza, cefaleia e
anorexia. Nos lactantes, o sintoma pode ser a fontanela abaulada.
A hipervitaminose A crônica reflete o uso inadequado do consumo
constante de suplementos de vitamina A, alcançando uma ingesta de pelo
menos 10 vezes a mais as recomendações estabelecidas pelo RDA: 4,2mg de
retinol (14.000UI) para um lactante ou 10 mg de retinol (33.000UI) para um
adulto. A resposta a esse excesso crônico é altamente variável entre os
indivíduos.
Os sintomas desaparecem em semanas ou meses após a suspensão da
suplementação. Além dos sinais e sintomas, níveis acima de 500 UI/dl no sangue
constituem indicação adicional da hipervitaminose.
Fontes de vitamina A
A vitamina A pré-formada (retinol) é encontrada em alimentos de origem
animal: vísceras (principalmente fígado), gemas de ovos e leite integral e seus
derivados (manteiga e queijo). Os vegetais são fontes de vitamina A sob a forma
de carotenóides (precursores de vitamina) os quais, no organismo, se
converterão em vitamina A. Em geral, frutas e legumes amarelos e alaranjados
e vegetais verde-escuros são ricos em carotenóides: manga, mamão, cajá, caju
maduro, goiaba vermelha, abóbora/jerimum, cenoura, acelga, espinafre,
chicória, couve, salsa etc. Alguns frutos de palmeira e seus óleos também são
muito ricos em vitamina A: dendê, buriti, pequi, pupunha, tucumã (Ministério da
Saúde, 2004).
VITAMINA C
A vitamina C ou ácido ascórbico é um composto derivado da hexose e
classificado como um carboidrato intimamente relacionado aos
monossacarídeos. O ácido ascórbico é reversivelmente oxidado no organismo
em ácido deidroascórbico, que é mais ativo.
32
No trato gastrointestinal, a absorção da vitamina C ingerida é por transporte
ativo saturável, dependente de sódio e da dose presente no lúmen intestinal.
Cerca de 80% a 90% da ingestão oral de ácido ascórbico pode ser absorvida,
mas essa absorção pode diminuir quando se aumenta a quantidade ingerida. E
facilmente absorvida pelo duodeno, parte proximal do jejuno e também tem
absorção bucal. Outro mecanismo de regulação da vitamina C é sua excreção
renal ou de seus de seus metabólitos.
No plasma, o ácido ascórbico é transportado em forma de ascorbato, sendo
que não necessita de transportador para circular em meio extracelular por ser
uma vitamina hidrossolúvel. Para o interior das células sanguíneas, o ascorbato
é transportado na forma de deidroascorbato, composto mais permeável à
membrana.
A concentração de vitamina C nos tecidos é maior que no plasma e na
saliva. O pool corpóreo é, em média, de 1200 a 2000mg, e tem uma meia vida
de 20 dias. A necessidade diária de vitamina C é estimada entre 25 mg e 30 mg
por 1.000 kcal, que devem ser obtidos por meio da ingestão de alimentos de
origem vegetal e frescos. As necessidades alimentares do ácido ascórbico estão
aumentadas nos idosos, na gestação e na lactação.
Função da vitamina C
A capacidade redutora do ácido ascórbico faz parte de várias reações
bioquímicas e caracteriza sua função biológica. Essa vitamina também pode
reduzir espécies reativas de oxigênio. Sua principal função é como cofator de
numerosas reações que requerem cobre e ferro reduzidos como antioxidantes
hidrossolúveis que atuam em ambientes intra e extracelulares. É conhecida a
capacidade do ácido ascórbico de doar elétrons a enzimas humanas. Participa
da hidroxilação do colágeno, da biossíntese da carnitina e da biossíntese de
hormônios e aminoácidos. Alguns estudos sugerem que o ascorbato
desempenha papel importante na expressão gênica do colágeno, na secreção
celular de procolágeno e na biossíntese de outras substâncias do tecido
conectivo, como elastina, fibronectina, proteoglicanos e elastina associada à
fibrilina.
33
O ácido ascórbico também participa da síntese e modulação de alguns
componentes hormonais do sistema nervoso, como a hidroxilação de dopamina
e noradrenalina.
A vitamina C pode aumentar a biodisponibilidade do ferro, já que o mantêm
na forma reduzida (ferroso, Fe 2+), estimulando sua absorção.
Redução da vitamina C no organismo
Os sinais de deficiência em indivíduos bem nutridos só se desenvolvem
após quatro a seis meses de baixa ingestão (valores menores que 10 mg/dia),
quando as concentrações plasmáticas e dos tecidos diminuem
consideravelmente. Os primeiros sintomas de deficiência são equimoses e
petéquias. As equimoses se tornam mais proeminentes, desenvolvendo
hiperqueratose folicular, seguida de hemorragia ocular. Sintomas proeminentes
são anormalidades psicológicas, como histeria e depressão. A deficiência de
vitamina C geralmente está associada com doenças específicas, sendo o
escorbuto a principal delas. Este é raramente encontrado em países
desenvolvidos, embora possa ocorrer em alcoolistas crônicos.
A diarréia crônica aumenta a perda fecal, e a acloridria diminui a quantidade
absorvida. A anemia também está geralmente associada ao escorbuto e pode
ser tanto macrocítica, induzida pela deficiência de folato, como microcítica,
induzida pela deficiência de ferro. As deficiências de ascorbato e de folato são
associadas, já que ambos possuem as mesmas fontes alimentares, e a
deficiência de ferro pode ser secundária à menor absorção deste, que seria
facilitada pela presença do ascorbato.
Sinais e sintomas de deficiência
Embora atualmente seja rara, uma deficiência grave de ácido ascórbico
causa escorbuto. Os sintomas aparecem quando os níveis séricos caem abaixo
de 0,2 mg/dl. Pode-se definir escorbuto como diminuição da capacidade do
organismo de sintetizar colágeno, dando lugar a uma elevada fragilidade nos
capilares sanguíneos, aparecimento de derrames na pele, órgãos e músculos
esqueléticos, retardo na cicatrização, perda dos dentes, astenia, sonolência,
34
anemia e dores articulares. A forma severa de escorbuto pode resultar na perda
dos dentes, danos nos ossos, hemorragia interna e infecção.
A deficiência de vitamina C em crianças produz anormalidades no
crescimento e problemas na ossificação, hemorragias e anemias.
Causas de deficiência
▪ Estresse agudo ou crônico (fisiológico, mental e/ou emocional);
▪ Síndromes de má absorção;
▪ Fumo;
▪ Poluição ambiental;
▪ Alimentação deficiente;
▪ Drogas que interferem no metabolismo;
▪ Diarreia crônica.
Toxicidade
Doses de 1 g têm sido consumidas sem efeito adverso conhecido, porém
doses de 2 g ou mais podem causar gastroenterite ou diarréia osmótica em
alguns indivíduos. Megadoses também podem afetar adversamente a
disponibilidade da vitamina B12 dos alimentos, e em indivíduos que tomam
doses de 1 g ou mais podem desenvolver deficiência de vitamina B12. Efeitos
adversos relacionados ao consumo excessivo: distúrbios gastrointestinais,
cálculos renais e absorção excessiva de ferro. Os limites superiores toleráveis
(UL) estão mostrados na tabela a seguir.
Tabela 5. Limite superior tolerável de ingestão de vitamina C (mg/dia)
Estágio de Vida NAS/USDA*
1º ano 0 – 6 m ND**
7 – 12 m
Crianças 1 – 3 400
4 - 8 650
Masculino e feminino 9 – 13 1200
35
14 – 18 1800
19 – 70 2000
>70 2000
Gravidez 14 – 18 1800
19 - 50 2000
Lactação 14 – 18 1800
19 - 50 2000
Fonte: Adaptado de ILSI BRASIL, 2012. *NAS/USDA: National Academy of Science, United States Department of Agriculture.
**ND: não determinado.
Fontes de vitamina C
A concentração estimada de vitamina C nos alimentos é afetada por
diversos fatores: estação do ano, transporte, estágio de maturação, tempo de
armazenamento e modo de cocção. Produtos animais contêm pouca vitamina C,
e os grãos não a possuem. As fontes usuais de ácido ascórbico são vegetais,
frutas e legumes.
Tabela 6. Teor de ácido ascórbico em alimentos
Fonte: Hands (2000); Taco (2011).
36
VITAMINA E
O termo vitamina E é usado para uma família de oito moléculas de estrutura
semelhante. Sua atividade no organismo é desempenhada pelos tocoferóis (alfa,
beta, gama e delta) e pelos tocotrienóis (alfa, beta, gama e delta).
A vitamina E consiste em uma molécula de sinalização celular e interage
com receptores de células, fatores de transcrição, afetando a expressão gênica,
níveis de proteína e atividade enzimática de alvos moleculares específicos.
A sua característica química mais importante é a sua propriedade
antioxidante.
A vitamina E é captada na forma alcoólica livre (6-hidroxil) pelo intestino
sem discriminação dos isômeros individuais, não havendo diferença na cinética
de absorção entre o alfa-tocoferol livre e seus ésteres acetato ou succinato após
a administração oral. O alfa-tocoferol absorvido é secretado pelo intestino em
quilomícrons e os remanescentes de quilomícron são capturados pelo fígado,
que secreta o alfa-tocoferol em VLDL. O metabolismo do VLDL resulta na
incorporação de alfa-tocoferol pelo LDL e HDL.
O nível recomendado de ingestão média diária para adultos de ambos os
gêneros foi aumentado pelo Food and Nutrition Board (FNB) da Academia
Nacional de Ciências (6) e leva em consideração apenas a forma alfa-tocoferol
(AT) da vitamina E.
Tabela 7. Recomendação de ingestão de vitamina E
Estágio de Vida AI
(mg/dia) EAR
(mg/dia) RDA
(mg/dia) UL
(mg/dia)
1º ano 0 – 6 m 4
7 – 12 m 5
Crianças 1 – 3
4 - 8 5 6 200
Masculino e Feminino
9 – 13 6 7 300
14 – 18 9 11 600
19 – 70 12 15 800
37
>70 12 15 1000
Gravidez 14 – 18 19 - 50
12 15 800
Lactação 14 – 18 19 - 50
16 19 800
Fonte: Adaptado de ILSI BRASIL, 2014.
Função da vitamina E
A principal atividade fisiológica da vitamina E é a sua ação antioxidante,
sendo o alfa-tocoferol a isoforma com maior atividade. A vitamina E está
presente de forma abundante nas membranas biológicas, onde protege os
ácidos graxos poli-insaturados da peroxidação, contribuindo assim para a
manutenção da integridade e estabilidade de estruturas celulares. O alfa-
tocoferol reage com radicais peroxila e hidroxila, impedindo a propagação das
reações em cadeia induzidas pelos radicais livres.
Além de possuir propriedades de captura de radicais, o alfa-tocoferol pode
agir como um potente redutor e um agente eletrofílico em reações químicas. O
alfa-tocoferol e seus isômeros podem estar envolvidos na progressão da
oxidação de LDL e na aterosclerose, não apenas por suas propriedades anti ou
pró-oxidantes, mas também por sua capacidade de regular a expressão gênica.
A captação dietética de vitamina E pelo intestino é inespecífica, mas seu
transporte pela VLDL é regulado por proteínas citosólicas envolvidas no tráfego
intracelular de tocoferóis hidrofóbicos. Todas as formas de vitamina E ativam a
expressão gênica pelo receptor pregnano X. Esse receptor nuclear é conhecido
por regular enzimas metabolizadoras de drogas como CYP3A4. Mecanismos
alternativos envolvendo efeitos anti-inflamatórios e na sinalização intracelular
têm sido o foco de investigações intensas.
O alfa-tocoferol atua como regulador da expressão gênica por meio de duas
vias centrais de transdução de sinais, a proteína C quinase e a fosfatidilinositol
3-quinase, que regulam inúmeros fatores de transcrição. Dessa forma,
mudanças na atividade destas quinases podem influenciar uma série de eventos
altamente relevantes às funções celulares. Apesar de a sua capacidade de
38
modular a transdução de sinal e expressão gênica ser descrita em vários
estudos, os mecanismos moleculares ainda devem ser mais bem elucidados.
Redução da vitamina E no organismo
A vitamina E é amplamente encontrada na alimentação, e por isso sua
deficiência é rara, sendo as principais causas representadas por anormalidades
nas lipoproteínas, defeitos no gene da alfa-TTP e síndromes de má-absorção
por insuficiência pancreática, doença de Crohn, doença celíaca, indivíduos
desnutridos com AIDS, entre outras. Baixos níveis de vitamina E no plasma
podem ocorrer em condições clínicas agudas, como traumas, sepse e processos
inflamatórios. Além disso, há maior exigência desta vitamina antioxidante em
pacientes queimados. A deficiência de vitamina E induz a peroxidação lipídica
em diferentes condições como nefrectomia, processos inflamatórios, alcoolismo
agudo. Indivíduos com deficiência de vitamina E e ataxia possuem uma
neuropatia periférica caracterizada pela morte dos axônios de grande calibre nos
nervos sensoriais. Pacientes com essa síndrome possuem concentração
reduzida de vitamina E em seus nervos previamente ao aparecimento da função
nervosa anormal.
Sinais e sintomas de deficiência
Embora a deficiência grave seja rara, insuficiência marginal de vitamina E
é relativamente comum.
A deficiência de vitamina E tornam as células do organismo mais
rapidamente suscetíveis aos danos ocasionados por espécies reativas de
oxigênio, particularmente as células nervosas.
Sua deficiência tem sido relacionada com lesão eritrocitária e disfunção
neurológica. Entre as características que definem sua deficiência, pode-se incluir
infertilidade, problemas menstruais, alterações neuromusculares, pobre
coordenação, movimento involuntário dos olhos, vida curta dos glóbulos
vermelhos com ruptura das células vermelhas do sangue, levando à anemia
hemolítica, abortos espontâneos, degeneração uterina, fadigam insônia,
taquicardia, trombose, cãibras, envelhecimento e dificuldade de cicatrização.
39
Causas de deficiência
Existem algumas condições que podem facilitar a insuficiência da vitamina
E no organismo:
▪ Síndromes de má-absorção das gorduras, tais como doença celíaca,
fibrose cística, síndrome pós-gastrectomia e cirurgia bariátrica;
▪ Nascimento prematuro
▪ Paciente em hemodiálise
▪ Desordens sanguíneas hereditárias;
▪ Desnutrição grave;
▪ Defeitos genéticos que afetam o alfa-TTP;
▪ Traumas, sepse e processos inflamatórios.
Toxicidade
A toxicidade por suplementação de vitamina E é baixa, mesmo em níveis
relativamente altos. Entretanto, deve-se ter cuidado com megadoses por longos
períodos.
Alguns sintomas sugerem que o excesso da vitamina E interfere com a
absorção e/ou utilização de outras vitaminas lipossolúveis, já que estes sintomas
são os mesmos que aparecem quando há carência de vitaminas A, D e K, como
por exemplo.
Fontes de vitamina E
A vitamina E é um nutriente essencial e, portanto, deve ser obtido por
alimentos e suplementos. Os alimentos ricos em ácido graxo poli-insaturado
possuem boas quantidades de vitamina E.
As melhores fontes são óleos vegetais ricos em ácido graxo poli-insaturado,
sementes, oleaginosas e cereais integrais. Boas fontes também são aspargos,
abacate, frutas vermelhas, vegetais de folhas verdes e tomate.
40
ZINCO
Zinco é um mineral essencial para as células e exerce funções estruturais,
enzimáticas e regulatórias. É encontrado no organismo humano em maior que
os outros elementos-traço, só perdendo para o ferro. são encontrados de 1,3 a
2,5 g de zinco no organismo de um adulto, com as maiores concentrações no
fígado, pâncreas, rins, ossos e músculos voluntários, além de ser encontrado
também em várias partes dos olhos, glândula prostática, espermatozoides, pele,
cabelo, unhas e secreção das glândulas endócrinas. É encontrado na estrutura
cristalina do osso e nas enzimas ósseas.
O zinco é constituinte de muitas enzimas (aproximadamente 300 enzimas),
participando de inúmeros reações enzimáticas. Nas enzimas, o zinco pode ter
função catalítica ou estrutural. Também é necessário para a ação de vários
hormônios. A concentração do hormônio de crescimento (IGF-I) diminui na
deficiência de zinco.
Função do Zinco
Dentre as várias funções do zinco em nosso metabolismo, podemos citar:
▪ Participa de reações que envolvem a síntese e degradação de
carboidratos, lipídios, proteínas e ácidos nucleicos.
▪ É um mineral necessário para ação de vários hormônios entre eles a
insulina, o hormônio de crescimento (GH), hormônios sexuais,
hormônios da tireoide, do Timo, da supra-renal, testículos e para
modulação de prolactina.
▪ O zinco está relacionado com a interação entre os hormônios e seus
receptores e com melhoras no estímulo pós-receptor.
▪ A insulina pode se ligar ao zinco melhorando a solubilidade deste
hormônio nas células beta do pâncreas, e ainda, esse mineral pode
aumentar a capacidade de ligação da insulina ao seu receptor e pós-
receptor.
41
▪ A deficiência de zinco danifica células da epiderme, podendo promover
lesões cutâneas semelhantes àquelas observadas em casos de
acrodermatite enteropática ou de deficiência grave do mineral.
▪ A função de leucócitos polimorfonucleares, de células natural killer e do
sistema imunológico inato complemento, também são prejudicados na
deficiência de zinco.
▪ Seres humanos e animais com deficiência de zinco, mesmo que leve,
também podem apresentar linfopenia em tecidos linfoides centrais e
periféricos.
▪ Devido ao envolvimento do zinco em vários eventos celulares, desde a
expressão de genes até a estabilidade de membranas, podem ocorrer
diversos defeitos metabólicos e estruturais em linfócitos remanescentes
de hospedeiros deficientes em zinco.
▪ O estado nutricional relativo ao zinco também pode afetar o transporte
de anticorpos da mãe para o feto durante o último trimestre de gestação.
Essa característica tem grande impacto sobre a imunidade do recém-
nascido, uma vez que os anticorpos maternos têm especificidade em
reconhecer diversos antígenos e também influenciam a qualidade do
sistema imunológico que será formado.
▪ O timo é o órgão do sistema imune responsável pela produção de
linfócitos T e pode ser afetado pela deficiência de zinco, a qual provoca
reduções significativas em seu tamanho. As células epiteliais do timo
também secretam o hormônio timulina, o qual promove a maturação dos
linfócitos T. Sua atividade é dependente das concentrações séricas de
zinco. Em órgãos periféricos como baço, linfonodos e sangue, a
quantidade de linfócitos T também é reduzida.
▪ Quando há alterações no conteúdo corporal de zinco ocorre um
desenvolvimento e função prejudicadas de linfócitos B na medula óssea
e alterações nas funções de monócitos e macrófagos.
42
▪ O zinco também exerce papel fundamental na produção ou atividade
biológica de diversas interleucinas, as quais, por sua vez, influenciam o
desenvolvimento e as funções de linfócitos T e B, macrófagos e células
natural killer. As funções de células T helper Th1 e Th2 também são
afetadas por níveis reduzidos de zinco, promovendo alterações na
resistência a infecções.
▪ O zinco tem papel essencial no crescimento e proliferação celular, uma
vez que sua deficiência está relacionada à redução de crescimento em
diversos organismos.
▪ O mineral está envolvido em todas as etapas de transdução da
sinalização celular, tanto como um fator estrutural como regulatório.
▪ Também está envolvido no reconhecimento de sinais extracelulares, no
metabolismo de segundos mensageiros, na fosforilação de proteínas e
na desfosforilação e atividade de fatores de transcrição.
▪ O zinco tem importância fundamental no funcionamento do sistema
reprodutivo de animais e de seres humanos:
o Em mulheres, há necessidade do mineral para que ocorra a síntese
e a secreção adequadas dos hormônios luteinizante, folículo
estimulante e prolactina. No caso de deficiência, pode ocorrer o
desenvolvimento ovariano anormal e alterações no período da
ovulação. Quando a deficiência ocorre durante a gestação, podem
ocorrer abortos frequentes, períodos gestacionais prolongados,
teratogenicidade, nascimento de fetos com baixo peso ou mortos,
dificuldades no parto, pré-eclâmpsia e toxemia gravídica.
o Em homens, suas principais funções consistem na diferenciação
das gônadas, no crescimento dos testículos, na síntese e
maturação dos espermatozoides, influenciando, portanto, a
manutenção da fertilidade.
43
▪ A relação existente entre o zinco e os hormônios sexuais femininos e
masculinos baseia-se no fato de que todos os receptores nucleares de
esteroides pertencem à família dedos de zinco.
▪ Em casos de deficiência, ocorrem também alterações na atividade da
enzima conversora de angiotensina (ECA), o que, por sua vez, provoca
redução da produção de testosterona, com subsequente inibição da
espermatogênese.
▪ Na pele, o zinco está localizado intracelularmente e também na matriz
extracelular. Apesar de seu conteúdo ser maior na epiderme, o mineral
também está presente na derme. Sua ação consiste em estabilizar as
membranas das células, além de ter influência nos processos de mitose,
migração e maturação.
▪ O epitélio sensorial da mucosa nasal e da língua também apresenta
quantidades importantes de zinco, refletindo a importância do mineral na
percepção de gosto e aroma dos alimentos.
▪ A participação essencial do zinco no restabelecimento de ferimentos se
dá devido a sua presença em metaloenzimas, como fosfatase alcalina,
DNA e RNA polimerases e metaloproteinases de matriz. Qualquer
alteração na expressão de fatores de transcrição de RNA mensageiros
que codificam para fatores de crescimento e que sejam dependentes de
zinco prejudica o restabelecimento de ferimentos.
▪ O zinco também tem ação contra a flora microbiana tipicamente
encontrada em ferimentos, além de auxiliar o sistema de defesa contra
infecções. Entretanto, são necessários mais estudos que avaliem sua
ação na cicatrização de ferimentos, tanto em indivíduos que apresentam
deficiência do mineral, como naqueles com estado nutricional adequado.
Redução de Zinco no organismo
Em casos de deficiência leve, o diagnóstico é de difícil realização, porém,
podem ocorrer alterações neurossensitivas, oligospermia, concentrações
44
reduzidas de testosterona sérica, hiperamonemia, redução de massa magra
corporal, atividade reduzida de timulina sérica, de interleucina 2 e de células
natural killer, bem como alterações em subpopulações de células T.
Sintomas como crescimento reduzido, hipogonadismo, alterações
cutâneas, redução de apetite, letargia mental, adaptação anormal ao escuro e
cicatrização reduzida de ferimentos são observados em casos de deficiência
moderada.
Sinais e sintomas de deficiência
Condições clínicas associadas com deficiência de zinco:
▪ Distúrbios de sono e de comportamento;
▪ Infecções frequentes e/ou severas;
▪ Dificuldade de cicatrização;
▪ Resistência celular à insulina;
▪ Doenças psiquiátricas;
▪ Doença inflamatória do intestino;
▪ Intolerância à glicose;
▪ Síndrome de má absorção;
▪ Diminuição do apetite/ anorexia;
▪ Crescimento retardado/ nanismo;
▪ Exaustão adrenal;
▪ Hipertireoidismo;
▪ Hipertrofia prostática;
▪ Letargia;
▪ Perda de paladar e olfato;
▪ Maturação sexual retardada;
▪ Decréscimo da visão noturna;
▪ Impotência/ infertilidade;
45
▪ Desordens dermatológicas;
▪ Alteração da menstruação;
▪ Caspas e queda de cabelo;
▪ Abuso de álcool;
▪ Doença do tecido cognitivo;
▪ Mancha branca nas unhas;
▪ Artrite reumatóide;
▪ Feridas na boca, língua branca e mau hálito;
▪ Osteoporose.
Causas de deficiência
A deficiência de zinco pode ser causada por decréscimos na ingestão
absorção e utilização e aumento da excreção do mesmo.
Alguns fatores envolvidos com decréscimo da ingestão de zinco:
▪ anorexia nervosa;
▪ dietas da moda;
▪ deficiência proteica;
▪ dieta vegetariana;
▪ cirrose alcoólica;
▪ envelhecimento;
▪ infecções e/ou inflamações agudas;
▪ alcoolismo;
▪ perda de peso aumentada (pó-trauma, queimadura) aumentando a
necessidade de zinco.
Algumas condições associadas com decréscimo de absorção de zinco:
▪ Diabetes;
▪ Alta razão dietética Ca/Zn;
46
▪ Alta razão dietética Fe/Zn e ácido fólico/Zn;
▪ Alcoolismo;
▪ Medicamentos: antiácidos, antibióticos, inibidores de bomba de prótons;
▪ Agentes quelantes;
▪ Acrodermatite enteropatia;
▪ Diálise;
▪ Acloridria/ hipocloridria;
▪ Doenças hepáticas;
▪ Doença celíaca;
▪ Doença inflamatória do intestino;
▪ Diarreia;
▪ Síndrome de má absorção;
▪ Ressecção intestinal;
▪ Cirurgia bariátrica;
▪ Perda sanguínea crônica;
▪ Síndrome do intestino curto;
▪ Insuficiência pancreática.
Toxicidade
O zinco alimentar não apresenta efeitos tóxicos e sua ingestão acima dos
limites estabelecidos não é comum, à exceção de indivíduos que consomem
alguns alimentos de origem marinha em grandes quantidades.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura - FAO/WHO (2001), em casos de ingestão excessiva (mais de 4 g)
de suplementos, podem ocorrer sintomas como náuseas, vômitos, diarreia, febre
e letargia. A ingestão elevada por longos períodos de tempo pode interferir com
o metabolismo de outros nutrientes, como é o caso do cobre.
47
Quantidades não muito superiores aos valores de UL, que foram
estabelecidos em 45 mg/dia, podem promover alterações nos níveis sanguíneos
de cobre. Ingestões dez vezes superiores ao valor de UL são associadas a
reduções importantes nos níveis de cobre, de ceruloplasmina e, por
consequência, com a anemia, visto que a ceruloplasmina é imprescindível à
absorção de ferro.
Outros parâmetros afetados pelo consumo excessivo de suplementos de
zinco são o estado imunológico e os níveis de lipídeos séricos, ambos também
relacionados ao metabolismo do cobre.
Fontes de Zinco
Grande quantidade de zinco é encontrada na ostra, porém, outras boas
fontes são frutos do mar, peixes, fígado e carne vermelha. Boas concentrações
de zinco também são encontradas em aves, cereais integrais, leguminosas,
levedo de cerveja, milho e alguns vegetais.
SELÊNIO
Atualmente são conhecidas cerca de 30 selenoproteínas. Destas,
aproximadamente metade foi isolada e tem funções definidas para os humanos.
Depois de ficar sujeito a descobertas contraditórias durante décadas, ficou
conhecida a sua importância vital no metabolismo humano, oferecendo proteção
contra diversos tipos de câncer e, na verdade contra um amplo espectro de
doenças. atualmente, as principais funções atribuídas ao selênio incluem a
capacidade antioxidante, a participação na conversão de T4 (tiroxina) em T3
(triiodotironina), a proteção contra a ação nociva de metais pesados e
xenobióticos, a redução do risco de doenças crônicas não transmissíveis e o
aumento da resistência do sistema imunológico.
As recomendações de ingestão de selênio em diferentes estágios de vida
de acordo com a EAR (estimated average requirement/necessidade média
48
estimada) e RDA (recommended dietary allowance /ingestão dietética
recomendada) são:
Tabela 8. Recomendação de ingestão de Selênio.
Fonte: IOM, 2000 apud ILSI Brasil, 2009. AI = ingestão adequada; EAR = necessidade média estimada; RDA= ingestão dietética recomendada; UL= limite máximo tolerado de ingestão diária.
Função do Selênio
Na literatura, as principais funções atribuídas ao selênio incluem a
capacidade antioxidante, a participação na conversão do T4 (tiroxina) em T3
(triiodotironina); a proteção contra a ação nociva de metais pesados e
xenobióticos, a redução do risco de doenças crônicas não transmissíveis e o
aumento da resistência do sistema imunológico.
Redução de Selênio no organismo
Em seres humanos, a ingestão de níveis muito baixos de selênio pode
resultar em duas enfermidades principais. A doença de Keshan, uma
cardiomiopatia que afeta crianças e mulheres jovens, é encontrada
49
principalmente na China, em regiões com solos pobres em selênio. A forma
aguda é caracterizada por insuficiência súbita da função cardíaca e, na fase
crônica, por hipertrofia de moderada a grave do coração, promovendo graus
diferentes de insuficiência cardíaca. As características histopatológicas incluem
necrose multifocal, substituição fibrosa do miocárdio e miocitólise. A doença de
Kashin-Beck, também decorrente de baixos níveis de selênio no organismo, é
uma osteoartrite endêmica que ocorre durante a pré-adolescência ou
adolescência. Seu aspecto patológico mais marcante é a degeneração necrótica
dos condrócitos, que pode promover nanismo e deformação das articulações
(Burk & Levander, 2003).
Indivíduos com alterações ou mau funcionamento do trato digestório podem
apresentar deficiência de selênio. A má absorção ou o aumento das perdas
intestinais podem produzir estados de deficiência marginal (Navarro-Alarcón &
López-Martínez, 2000). Outros grupos mais suscetíveis à deficiência são
crianças e idosos.
Sinais e sintomas de deficiência
Sinais e sintomas Associados com a carência de selênio:
▪ Aumento do LDL oxidativo;
▪ Diminuição do HDL;
▪ Diminuição da atividade do sistema imunológico;
▪ Acidente vascular cerebral;
▪ Piora catarata;
▪ Necrose hepática;
▪ Crescimento retardado;
▪ Pelagra infantil;
▪ Níveis menores de coenzima Q10 nos tecidos;
▪ Propensão a ter toxicidade de Hg e outros metais tóxicos;
▪ Unhas opacas, mancha branca nas unhas;
50
▪ Dores musculares, fadiga e fraqueza muscular.
Causas de deficiência
A carência de selênio pode ser agravada com níveis baixos de vitamina E.
Algumas doenças são relacionadas com deficiência de selênio:
▪ Câncer;
▪ Dermatite;
▪ Doença degenerativa;
▪ Hipertensão;
▪ Depressão;
▪ Esquizofrenia;
▪ Doenças cardíacas;
▪ Estresse oxidativo elevado;
▪ Diminuição da fertilidade;
▪ Alterações da tireóide.
Toxicidade
A toxicidade do selênio é dependente de diversos fatores, entre eles, do
composto e do método de administração utilizados, do tempo de exposição, do
estado fisiológico e da idade do indivíduo, e da interação com outros compostos.
Entretanto, a toxicidade por formas orgânicas ou inorgânicas de selênio resulta
em características clínicas semelhantes, porém, com velocidade de início e
relação com as concentrações teciduais do mineral diferentes.
Além da fragilidade e perda de unhas e de cabelos, a intoxicação por
selênio também pode causar alterações gastrintestinais, erupções cutâneas,
odor de alho na respiração, fadiga, irritabilidade e anormalidades do sistema
nervoso. Também podem ocorrer alterações no funcionamento do sistema
endócrino, na síntese de hormônios da tireóide e de hormônios relacionados ao
crescimento. Alguns pesquisadores sugerem que os sintomas mais tóxicos
ocorrem com ingestões que variam de aproximadamente 3 a 7 mg/dia, e os
51
sintomas moderados, com cerca de 1,3 mg/dia. Esse último valor relaciona-se a
uma concentração de selênio no sangue de 1.350 µg/L (IOM, 2000, Navarro-
Alarcon & CabreraVique, 2008 apud ILSI Brasil, 2009).
Ambas as formas orgânica e inorgânica são igualmente tóxicas em casos
de ingestão excessiva crônica. A selenometionina, quando consumida em doses
elevadas, promove aumento importante nas concentrações teciduais de selênio,
ao contrário das formas inorgânicas. Entretanto, os precursores inorgânicos são
mais tóxicos, sendo que doses muito menores podem causar intoxicação (IOM,
2000 apud ILSI Brasil, 2009).
Fontes de Selênio
As melhores fontes de selênio são: castanha do Pará, atum, arenque,
Miúdos, levedo de cerveja, gérmen de trigo, farelo, brócolis, couve, cebola, alho,
repolho, rabanete e tomate. o selênio pode ser perdido através de lavagem,
cozimento e armazenamento.
Além de todos os nutrientes citados, com informações obtidas em livros e
publicações governamentais, a ANVISA (2016) determinou quais são os
nutrientes e os não nutrientes que possuem alegação de propriedades funcionais
e/ou de saúde, como pode observar na tabela a seguir.
Tabela 9. Nutrientes e não nutrientes com alegações de propriedades funcionais
e/ou de saúde.
NUTRIENTES E
NÃO NUTRIENTES ALEGAÇÕES
Ácidos graxos
Ômega 3
Auxilia na manutenção de níveis saudáveis de
triglicerídeos, quando associado a hábitos alimentares
saudáveis.
Carotenóides Licopeno, Luteína e Zeaxantina
52
Possui ação antioxidante que auxilia na proteção das
células contra os radicais livres, desde que esteja
associado hábitos alimentares saudáveis.
Fibras alimentares
Fibras alimentares, Dextrina Resistente, Goma Guar
parcialmente hidrolisada, Lactulose e Polidextrose
Contribui para o adequado funcionamento intestinal. Seu
consumo deve estar associado à uma alimentação
saudável e equilibrada.
Beta Glucana em farelo de aveia, aveia em flocos e
farinha de aveia
Pode auxiliar na redução do colesterol. Seu consumo
deve estar associado à hábitos alimentares saudáveis e
baixa ingestão de gorduras saturadas.
Frutooligossacarídeos– FOS e Inulina (Prebiótico)
Contribuem para o equilíbrio da microbiota intestinal,
quando associada a uma alimentação saudável.
Psillium ou Psyllium
Auxilia na redução da absorção de gordura, desde que
esteja associada a hábitos alimentares saudáveis.
Quitosana
Auxilia na redução da absorção de gordura e colesterol,
quando associada a hábitos alimentares saudáveis.
Fitoesteróis Auxiliam na redução da absorção de colesterol, quando
associada a hábitos alimentares saudáveis.
Polióis
Manitol/ Xilitol/ Sorbitol
Não produz ácidos que prejudicam os dentes.
Probióticos Melhoram o equilíbrio microbiano intestinal produzindo
efeitos benéficos à saúde do indivíduo.
53
Proteína de soja O consumo diário de no mínimo 25 g de proteína de soja
pode auxiliar na redução do colesterol.
Fonte: ANVISA, Resolução n°2, de 07/1/2002; ANVISA, 2016.
A partir dos dados apresentados nesta disciplina, é possível concluir que
os antioxidantes naturais e suplementares, particularmente os naturais advindos
de frutas e vegetais, ganharam um interesse crescente entre os consumidores e
a comunidade científica, porque os estudos atuais indicam que o consumo
frequente de recursos naturais antioxidantes podem reduzir a expressão de
espécies reativas de oxigênio, evitando assim, os danos causados pelo estresse
oxidativo.
Porém, observa-se que existem algumas lacunas com relação aos
antioxidantes, tais como: a inexistência de recomendação para cada
antioxidante, a falta de padronização quanto ao real valor antioxidante dos
alimentos e possíveis efeitos tóxicos da administração de elevadas doses
desses compostos. Mais estudos são cruciais para padronizar os efeitos e
dosagens necessárias de cada nutriente.
REFERENCIAS
Baptistella, Ana Beatriz; Souza, Márcio L. Ribeiro de; Paschoal, Valeria. Nutrição
Funcional: Nutrientes aplicados à prática clínica. São Paulo: Valeria Paschoal
Editora Ltda, 2018.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Alimentos com Alegações de
Propriedades Funcionais e ou de Saúde. 2016. Disponível em:
http://portal.anvisa.gov.br/alimentos/alegacoes.
BRASIL. Ministério da Saúde. Coordenação-Geral da Política Nacional de
Alimentação e Nutrição. Dicas em Saúde: Deficiência de vitamina A. BVS, 2004.
Acesso disponível em: bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/70vitamina_a.html
54
Burk RF, Levander OA. Selênio. In: Shills ME, Olson JA, Shike M, Ross AC (eds.)
Tratado de Nutrição Moderna na Saúde e na Doença. 9.ed., vol. 1. Barueri:
Manole 2003; p. 285-96.
CARNAUBA, Renata Alves; BAPTISTELLA, Ana Beatriz; PASCHOA, Valéria.
Nutrição clínica funcional: uma visão integrativa do paciente. Diagn Tratamento.
2018; 23(1):28-32.
Carreiro, Denise Madi. Suplementação Nutricional na Prática Clínica. 1ª ed. São
Paulo, SP, 2015.
Costa, Neuza Maria Brunoro; Rosa, Carla de Oliveira Barbosa. Alimentos
Funcionais - Componentes Bioativos e Efeitos Fisiológicos. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Editora Rubio, 2016.
Dolinsky, Manuela. Nutrição funcional. 2 ed. São Paulo: Payá, 2018.
Food and Agriculture Organization of the United Nations, World Health
Organization. Human vitamin and mineral requirements. Rome: Food and
nutrition division FAO, 2001.
GOIÁS. Governo do Estado de: Secretaria de Estado da Saúde;
Superintendência de Vigilância em Saúde; Coordenação de Vigilância
Nutricional. 2016 Suplementação de Vitamina A. Um olhas simplificado e
explicativo de como agir dentro do programa para o Estado de Goiás. Goiânia:
SUVISA/GVE/CVN, 2015.
HENRIQUE, Vanessa Alves et al. Alimentos funcionais: aspectos nutricionais na
qualidade de vida. Aracaju, EdIFS, 2018.
International Life Sciences Institute Brasil. Funções Plenamente Reconhecidas
de Nutrientes – Zinco. Força-tarefa Alimentos Fortificados e Suplementos Comitê
de Nutrição. ILSI Brasil, Julho 2009.
International Life Sciences Institute Brasil. Funções Plenamente Reconhecidas
de Nutrientes – Ácido ascórbico (Vitamina C). Força-tarefa Alimentos
Fortificados e Suplementos Comitê de Nutrição. ILSI Brasil, Julho 2012.
55
International Life Sciences Institute Brasil. Funções Plenamente Reconhecidas
de Nutrientes – Selênio. Força-tarefa Alimentos Fortificados e Suplementos
Comitê de Nutrição. ILSI Brasil, Julho 2009.
LIMA, Fernanda Oliveira; BEZERRA, Aline Sobreira. Flavonoides e radicais
livres. Disciplinarum Scientia. Série: Ciências Naturais e Tecnológicas,
Santa Maria, v. 13, n. 1, p. 111-124, 2012.
MELNIK, B. C.; JOHN. S. M.; SCHMITZ. G. Mil kis not just food but most likely a
genetic transfection system activating mTORC1 signaling for postnatal growth.
Nutricion Journal, v.12, p.103, 2013.
MESQUITA, S. S.; TEIXEIRA, C. M. L. L.; SERVULO, E. F. C. Carotenoides:
Propriedades, Aplicações e Mercado. Rev. Virtual Quim., 2017, 9 (2), 672-688.
Navarro-Alarcón M, López-Martínez MC. Essentiality of selenium in the human
body: relationship with different diseases. Sci Tot Environ 2000;249:347-71.
OOSTING, A. et al., Effect of dietary lipid struture in early postnatal life on mouse
adipose tissue development na function in adulthood. British Journal of
Nutrition, p. 1-12, 2013.
Paschoal, Valéria; Naves, Andréia; Fonseca, Ana Beatriz. Nutrição Clínica
Funcional: Dos Princípios à Prática Clínica. 2ª ed. São Paulo: Valeria Paschoal
Editora Ltda, 2014.
Pereira, R. J.; Cardoso, M. Metabólitos secundários vegetais e benefícios
antioxidantes. Journal of Biotechnology and Biodiversity. v. 3, N.4: pp. 146-
152, Nov. 2012.
POWER, M. L.; SCHULKIN, J. Maternal regulation of offspring development in
mammals is na ancient adaptation tied to lactation. Appliesd & Translational
Genomics, 2013.
RAMALHO, Andréa. Vitamina A. Série de publicações ILSI Brasil: funções
plenamente reconhecidas de nutrientes. 2. ed. São Paulo: International Life
Sciences Institute do Brasil. ILSI Brasil, 2017.
56
STACHOWIAK, E. K et al. Maternal obesity induced by a high fat diet causes
altered cellular development in fetal brains suggestive of a predisposition of
offspring to neurological disorders in later life. Metabolic brain disease, v.28,
n.4, p. 721-725, 2013.
SOUZA, Neiva et al. Nutrição Funcional: Princípios e Aplicação na Prática
Clínica. Acta Portuguesa de Nutrição. 2016, n.7, pp.34-39. ISSN 2183-5985.
TOSCHKE, AM; KOLETZKO, B; SLIKKER, Junior W; HERMANN, M; von KRIES,
RV. Childhood obesity is associated with maternal smoking in pregnancy. Eur J
Pediatr. 2002; 161(8):445-8.
TURECK, Camila; LOCATELI, Gelvani; CORRÊA, Vanesa Gesser;
KOEHNLEIN, Eloá Angélica. Avaliação da ingestão de nutrientes antioxidantes
pela população brasileira e sua relação com o estado nutricional. Rev Bras
Epidemiol JAN-MAR 2017; 20(1): 30-42.
von KRIES, RV; TOSCHKE, AM; KOLETZKO, B; SLIKKER, Junior W. Maternal
smoking during pregnancy and childhood obesity. Am J Epidemiol. 2002;
156(10): 954-61.