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O número três é muito recorrente na iconografia ògbóni . Podemos vê-lo representado nos elementos triplos ou em forma triangular. A Tabela VIII mostra alguns arranjos possíveis, mas há muitos outros encontráveis, de forma idealizada, nos elementos de estilo (cf., por exemplo, as construções de coroas e narizes, ou estruturas das correntes e escarificações da Tabela V ). De acordo com os autores consultados, a união do masculino e do feminino na imagem do e dan simboliza a formação do "terceiro". Seria como aquele gerado pela complementaridade de partes, aquele que se segue - a progenitura, ou o devir, reiterando os laços entre passado, presente e futuro. Essa tríade se estabelece quando um Ologboni é visto com as duas figuras humanas no peito, usando o e dan pendurado no pescoço, como mostra a renomada foto de William Fagg (Blier 1997:97, f. 78). O terceiro elemento é Il è , o mistério, o próprio segredo compartilhado (Morton-Williams 1960: 373) - que tem raízes ancestrais. Para Lawal (1995: 44), "o número três ( ta), (...) significa poder dinâmico (agbára), ambos físico e metafísico. (...) A terceira parte - Il è / e dan - é a força da ligação da promessa, companheirismo, contrato, obrigação, ou responsabilidade moral". 33 Esse número, segundo Morton-Williams (1960: 373), também está presente na concepção iorubá dos três estágios da existência humana: a saída do ò run para viver no àiyé e eventualmente se tornar um espírito em Il è . Os iorubás também acreditam na existência de três componentes "espirituais": è (a respiração); ara- ò run (um componente que retorna para o ò run para renascer), e im o l e (que se torna um ancestral). Elbein dos Santos (1993: 71) aponta que três são também as forças que constituem o universo e tudo o que existe: Ìwà , princípio da existência, Axé , princípio da realização, e Àbá , princípio orientador. E, nos terreiros nagôs da

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Page 1: numero 3

O número três é muito recorrente na iconografia ògbóni. Podemos vê-lo representado nos elementos triplos ou em forma triangular. A Tabela VIIImostra alguns arranjos possíveis, mas há muitos outros encontráveis, de forma idealizada, nos elementos de estilo (cf., por exemplo, as construções de coroas e narizes, ou estruturas das correntes e escarificações da Tabela V). 

De acordo com os autores consultados, a união do masculino e do feminino na imagem do edan simboliza a formação do "terceiro". Seria como aquele gerado pela complementaridade de partes, aquele que se segue - a progenitura, ou o devir, reiterando os laços entre passado, presente e futuro. Essa tríade se estabelece quando um Ologboni é visto com as duas figuras humanas no peito, usando o edan pendurado no pescoço, como mostra a renomada foto de William Fagg (Blier 1997:97, f. 78). 

O terceiro elemento é Ilè, o mistério, o próprio segredo compartilhado (Morton-Williams 1960: 373) - que tem raízes ancestrais. Para Lawal (1995: 44), "o número três (eéta), (...) significa poder dinâmico (agbára), ambos físico e metafísico. (...) A terceira parte - Ilè/edan - é a força da ligação da promessa, companheirismo, contrato, obrigação, ou responsabilidade moral".33 

Esse número, segundo Morton-Williams (1960: 373), também está presente na concepção iorubá dos três estágios da existência humana: a saída do òrun para viver no àiyé e eventualmente se tornar um espírito em Ilè. Os iorubás também acreditam na existência de três componentes "espirituais": èmí (a respiração); ara-òrun (um componente que retorna para o òrun para renascer), e imole (que se torna um ancestral). 

Elbein dos Santos (1993: 71) aponta que três são também as forças que constituem o universo e tudo o que existe: Ìwà, princípio da existência,Axé, princípio da realização, e Àbá, princípio orientador. E, nos terreiros nagôs da Bahia a que se refere a autora, o número três também está ligado à terra: "toda ação ritual no 'terreiro' está indissoluvelmente ligada à terra; desde Olorun, passando por todos os orixás até os ancestrais, todos são saudados e invocados no início de cada cerimônia derramando um pouco de água três vezes sobre a terra" (idem: 57).