notas para uma breve história da indústria cervejeira nacional

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Page 1: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

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Page 2: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários

à obtenção do grau de Mestre em História Contemporânea, realizada sob a

orientação científica de Maria Fernanda Fernandes Garcia Rollo

Page 3: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

AGRADECIMENTOS

«As palavras são boas. As palavras são más. As palavras ofendem. As palavras

pedem desculpas. As palavras queimam. As palavras acariciam. As palavras são dadas,

trocadas, oferecidas, vendidas e inventadas. As palavras estão ausentes. Algumas

palavras sugam-nos, não nos largam: são como carraças: vêm nos livros, nos jornais,

nos slogans publicitários, nas legendas dos filmes, nas cartas e nos cartazes. As

palavras aconselham, sugerem, insinuam, ordenam, impõem, segregam, eliminam. São

melífluas ou azedas. O mundo gira sobre palavras lubrificadas com óleo de paciência.

Os cérebros estão cheios de palavras que vivem em boa paz com as suas contrárias e

inimigas. Por isso as pessoas fazem o contrário do que pensam, julgando pensar o que

fazem. Há muitas palavras.

E há os discursos, que são palavras encostadas umas às outras, em equilíbrio

instável graças a uma precária sintaxe, até ao prego final do Disse ou Tenho dito. Com

discursos se comemora, se inaugura, se abrem e fecham sessões, se lançam cortinas de

fumo ou dispõem bambinelas de veludo. São brindes, orações, palestras e conferências.

Pelos discursos se transmitem louvores, agradecimentos, programas e fantasias. E

depois as palavras dos discursos aparecem deitadas em papéis, são pintadas de tinta de

impressão – e por essa via entram na imortalidade do Verbo. Ao lado de Sócrates, o

presidente da junta afixa o discurso que abriu a torneira do marco fontanário. E as

palavras escorrem tão fluidas como o "precioso líquido". Escorrem interminavelmente,

alagam o chão, sobem aos joelhos, chegam à cintura, aos ombros, ao pescoço. É o

dilúvio universal, um coro desafinado que jorra de milhões de bocas. A terra segue o

seu caminho envolta num clamor de loucos, aos gritos, aos uivos, envoltos também num

murmúrio manso, represo e conciliador. Há de tudo no orfeão: tenores e tenorinos,

baixos cantantes, sopranos de dó de peito fácil, barítonos enchumaçados, contraltos de

voz surpresa. Nos intervalos, ouve-se o ponto. E tudo isso atordoa as estrelas e

perturba as comunicações, como as tempestades solares.

Porque as palavras deixaram de comunicar. Cada palavra é dita para que não

se oiça outra palavra. A palavra, mesmo quando não afirma, afirma-se. A palavra não

responde nem pergunta: amassa. A palavra é a erva fresca e verde que cobre os dentes

do pântano. A palavra é poeira nos olhos e olhos furados. A palavra não mostra. A

palavra disfarça.

Page 4: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

Daí que seja urgente mondar as palavras para que a sementeira se mude em

seara. Daí que as palavras sejam instrumento de morte – ou de salvação. Daí que a

palavra só valha o que valer o silêncio do acto.

Há também o silêncio. O silêncio, por definição, é o que não se ouve. O silêncio

escuta, examina, observa, pesa e analisa. O silêncio é fecundo. O silêncio é a terra

negra e fértil, o húmus do ser, a melodia calada sob a luz solar. Caem sobre ele as

palavras. Todas as palavras. As palavras boas e as más. O trigo e o joio. Mas só o trigo

dá pão.»

(Saramago, José, in Deste Mundo e do Outro. Lisboa: Editorial Caminho, 1997)

Porque as palavras simples não atraiçoam:

um singelo obrigado a todos os aqui se encontram presentes.

Page 5: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

“A nacionalização que se deseja”

Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional: do Estado Novo às nacionalizações revolucionárias

Filipe Guimarães da Silva

RESUMO

PALAVRAS-CHAVE: indústria cervejeira, desenvolvimento industrial,

nacionalizações, revolução portuguesa.

A presente dissertação enquadra teoricamente a análise da história da indústria cervejeira portuguesa numa visão sistémica das políticas de desenvolvimento à escala nacional, tendo em conta os contornos políticos e as opções essenciais. Esta indústria assume um papel de relevo, desde logo pela componente tecnológica e pelo tecido modernizador que lhe é conferido no contexto da indústria portuguesa de dimensão mais reduzida.

Os impactos da industrialização tardia, insertos num quadro internacional no qual Portugal progredia a contraciclo, tiveram certamente o pendão contraproducente de exacerbar alguns problemas estruturais da economia portuguesa, sendo que o sector cervejeiro, apesar de se encontrar parcialmente desenquadrado desta realidade, carece de uma visão estratégica global. O papel do Estado enquanto agente económico merece uma atenção especial, tendo em conta os dois grandes períodos em análise – o Estado Novo e o PREC.

Page 6: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

“A nacionalização que se deseja” Notes for a brief history of the portuguese brewing industry: from “Estado

Novo” to the revolutionary nationalizations

ABSTRACT

KEYWORDS: brewing Industry, industrial development, nationalizations,

portuguese revolution.

This dissertation fits theoretically the analysis of the portuguese brewing industry’s history in a systemic view of the development policies at national level, taking into account the political contours and the main options. This industry plays a major role for its technological component and modernizing industrial fabric which is given by the portuguese industry, although on an smaller scale.

The impacts of late industrialization, inserted in an international framework in which Portugal counter-cyclically progressed, certainly had the counterproductive effect to exacerbate structural problems of the portuguese economy. The brewing industry, despite being partially unframed from this reality, lacks a strategic global vision. The role of the State as an economic agent deserves special attention, regarding the two great periods under review – “Estado Novo” and “PREC”.

Page 7: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

Índice

Introdução ......................................................................................................................... 1

1. As “cervejas de Salazar e Caetano” .............................................................................. 6

1.1. O longo “século XIX” ............................................................................................ 6

1.2. Da concentração aos anos 50 ................................................................................. 9

1.2.1. A II Guerra Mundial, a abertura de mercados externos e o problema da

cevada ...................................................................................................................... 11

1.3. Reapetrechamento sectorial, actualização técnica e expansão dos anos 50 ......... 15

1.3.1. A indústria cervejeira e a lavoura nacional ................................................... 18

1.3.2. O potencial produtivo vs. consumo ............................................................... 19

1.3.3. Industrialização ou surto industrial. O II Congresso da Indústria Portuguesa e

o sector cervejeiro em equação ............................................................................... 21

1.4. A reorganização forçada por um convite inesperado: o sector cervejeiro e a

abertura externa ........................................................................................................... 24

1.4.1. Na senda da investigação. As novas unidades industriais ............................. 27

1.4.2. Balanço da indústria cervejeira no final da década e a nova abertura do

condicionamento industrial ..................................................................................... 29

1.5. Uma estabilidade relativa: os efeitos de um crescimento ilusório ....................... 33

1.5.1. Diagnóstico sectorial de 1974. O IV Plano de Fomento ............................... 34

1.5.2. Redes de interesses, grupos e monopolismo ................................................. 35

1.5.3. O sector cervejeiro e a economia portuguesa nas vésperas da Revolução .... 37

2. Economia da Revolução: contextualização ................................................................ 42

2.1. Revolução e transformações ................................................................................ 42

2.2. Conclusões e indicadores económicos ................................................................. 52

3. As nacionalizações ..................................................................................................... 55

3.1. Que plano de nacionalizações? ............................................................................ 56

3.2. As fases das nacionalizações ............................................................................... 59

3.2.1. Setembro de 1974 .......................................................................................... 59

3.2.2. Março de 1975 ............................................................................................... 60

3.2.3. Abril de 1975 ................................................................................................. 63

4. A nacionalização da indústria cervejeira .................................................................... 66

4.1. O processo reivindicativo e os conflitos sociais .................................................. 68

Page 8: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

4.1.1. Do movimento reivindicativo de 31 de Janeiro ao pedido de nacionalização

................................................................................................................................. 68

4.1.2. Guerra de comunicados ................................................................................. 72

4.1.3. As sequelas do 11 de Março .......................................................................... 76

4.2. Sobre o controlo operário na SCC ....................................................................... 80

4.3. A Comissão Administrativa ................................................................................. 83

4.4. Comissão de Análise e Inquérito ......................................................................... 85

4.4.1. Congelamento das contas bancárias – a primeira grande medida da Comissão

de Análise e Inquérito ............................................................................................. 87

4.4.2. As cervejas na hora da nacionalização. Os resultados do inquérito oficial ... 89

4.4.3. “Um capitalismo bem tirado”. A Sociedade Central de Cervejas como cabeça

do grupo ................................................................................................................... 91

4.4.4. “Receita para um monopólio”. Os meandros das “operações” ..................... 94

4.5.5. Outras situações ........................................................................................... 100

4.5. Os trabalhos do Ministério da Indústria e Tecnologia ....................................... 104

4.6. Os processos nas restantes empresas ................................................................. 107

4.7. A “nacionalização que se deseja” sempre se realiza .......................................... 110

4.8. Breve síntese do processo de reestruturação do sector ...................................... 112

Conclusão ..................................................................................................................... 118

Fontes e bibliografia ..................................................................................................... 120

Fontes Primárias e Secundárias ................................................................................ 120

1. Arquivos e bibliotecas ....................................................................................... 120

2. Publicações periódicas – boletins, jornais e revistas ......................................... 120

3. Documentação dos órgãos de soberania, da Administração Central e de

departamentos governamentais ............................................................................. 122

4. Congressos ........................................................................................................ 124

5. Documentação empresarial ............................................................................... 124

6. Relatórios, balanços e contas ............................................................................ 125

7. Memórias, entrevistas, intervenções e livros de militares e políticos civis ....... 125

8. Outras fontes ..................................................................................................... 127

Fontes Orais .............................................................................................................. 128

Bibliografia ............................................................................................................... 128

1. Bibliografias, cronologias, dicionários e estatísticas ........................................ 128

2. Obras gerais e de enquadramento ...................................................................... 128

Page 9: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

3. A indústria/industrialização portuguesa durante o Estado Novo ...................... 129

4. Obras e estudos sobre o Processo Revolucionário Português ........................... 131

5. Economia da Revolução .................................................................................... 133

6. Nacionalizações ................................................................................................. 136

7. Movimentos sociais, sindicalismo e partidos .................................................... 138

8. Questões jurídicas e constitucionais .................................................................. 138

9. Outra bibliografia .............................................................................................. 138

10. Vídeo ............................................................................................................... 139

Page 10: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

LISTA DE ABREVIATURAS

AICP – Associação da Indústria Cervejeira Portuguesa

BdP – Banco de Portugal

BESCL / BES – Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa / Banco Espírito Santo

BIRD – Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento / Banco Mundial

BPA – Banco Português do Atlântico

BTC – Balança de Transacções Corrente

CDS – Centro Democrático e Social

CERCOPIM – junção da Cergal, Copeja e Imperial

CIP – Confederação da Indústria Portuguesa

COPCON – Comando Operacional do Continente

CP – Caminhos de Ferro Portugueses

CRP – Constituição da República Portuguesa

CRSC – Comissão de Reestruturação do Sector Cervejeiro

CT – Comissão de Trabalhadores

CUCA – Companhia União de Cervejas de Angola

CUF – Companhia União Fabril

CUFP – Companhia União Fabril Portuense

D.L. – Decreto-Lei

DGCI – Direcção-Geral do Comércio Interno

EBC – European Brewery Convention

EBIC – EFTA Brewery Industry Council

EBWP – EFTA Brewers Working Party

EFTA – Associação Europeia de Livre Comércio

EKA – Empresa Angolana de Cervejas

FMI – Fundo Monetário Internacional

GATT – Acordo Geral de Tarifas e Comércio

Page 11: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

GP – Grupo Cervejeiro Português

JSN – Junta de Salvação Nacional

MCI – Ministério do Comércio Interno

MDE/S – Movimento Dinamizador Empresa/Sociedade

MDP – Movimento Democrático Português

MES – Movimento Esquerda Socialista

MFA – Movimento das Forças Armadas

MIT – Ministério da Indústria e Tecnologia

MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola

MRPP – Movimento Reorganizativo do Partido Proletário

NOCAL – Nova Empresa de Cervejas de Angola

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

PCP – Partido Comunista Português

PIB – Produto Interno Bruto

PPD – Partido Popular Democrático

PREC – Processo Revolucionário em Curso

PRP – Partido Revolucionário do Proletariado

PS – Partido Socialista

SCC – Sociedade Central de Cervejas / Central de Cervejas

SEE – Sector Empresarial do Estado

SIL – Skol International

SIPSA – Skol International de Participações

TAP – Transportes Aéreos Portugueses

TLP – Empresa Pública de Telefones de Lisboa e Porto

TVR – Taxa de Variação Real

UDP – União Democrática Popular

VAB – Valor Acrescentado Bruto

FBCF – Formação Bruta de Capital Fixo

Page 12: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

1

Introdução

Como as investigações são feitas de avanços e recuos, de constantes

amadurecimentos intelectuais, com honestidade assumo o irrealismo operacional do

estudo que me propus fazer na etapa inicial. De facto, a primeira hipótese levantada para

o início dos trabalhos procurava analisar o processo das nacionalizações enquanto um

todo, na óptica das relações, com um único sujeito colectivo – o Conselho da

Revolução.

Iniciado o primeiro contacto com as fontes disponíveis, caí abruptamente numa

realidade que me parecia imensa e ainda por desbravar no campo historiográfico. O que

seria mais importante? Uma análise superficial das nacionalizações, que fizesse o

levantamento da literatura existente complementada pela análise do Arquivo do

Conselho da Revolução? Talvez não passasse de uma síntese, por muito conveniente

que pudesse ser. Uma análise do impacto das nacionalizações nas estruturas laborais

portuguesas da época, sob o prisma da História Social? Seria um desafio interessante,

mas certamente inoperante para uma tese de mestrado. Ora, decidimos pela análise de

um sector que fosse fortemente representativo da estrutura capitalista portuguesa num

duplo sentido: primeiro, necessitava de estar imbuído das idiossincrasias do regime

salazarista. E se o estava! A indústria cervejeira – objecto de estudo – era um dos

principais potentados industriais do Estado Novo, na sua vertente monopolista e na sua

relação com o poder político. Em segundo lugar, era ponto obrigatório constituir-se

como fidedigno representante do processo nacionalizador de 1974-76. E aqui, também o

era, fazendo uma ponte interessante entre o Estado Novo e a revolução que eclodiu no

pós-25 de Abril, numa escala que o associava aos principais sectores nacionalizados,

ainda que a sua nacionalização ocorresse apenas a 30 de Agosto de 1975.

Curioso, porém, é que a indústria cervejeira portuguesa terá sido a única

indústria deste tipo a ser nacionalizada em todo o mundo até aos dias de hoje. Qual a

racionalidade económica? Quais as razões por detrás desta decisão? Estas são algumas

das perguntas que orientaram a investigação, mas que só podiam ser compreendidas se

se realizasse uma contextualização estruturada do Estado Novo e do Processo

Revolucionário em Curso.

O Estado da Arte, relevando as questões relacionadas com o desenvolvimento

económico (estruturação industrial, ciência, tecnologia e inovação, internacionalização,

Page 13: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

2

papel do Estado e modelos económicos) organiza-se em três grandes temáticas: (i) a

industrialização durante o Estado Novo; (ii) as nacionalizações no contexto social,

político e económico do período revolucionário português; (iii) a evolução/história do

sector cervejeiro em Portugal.

A historiografia em torno do Estado Novo encontra-se, actualmente, bastante

desenvolvida, ainda que na vertente económica escasseiem estudos sólidos de cariz

sectorial, apesar dos excelentes trabalhos realizados sobre a industrialização e os seus

mecanismos (Francisco Pereira de Moura1, José Maria Freire Brandão de Brito2, Maria

Fernanda Rollo3), e no que diz respeito à génese e evolução dos grupos económico-

financeiros (Américo Ramos dos Santos e outros4).

Para o período revolucionário, a literatura subdivide-se em quatro níveis: um

primeiro, que comporta os textos de enquadramento, onde se incluem as secções

relativas às nacionalizações, dos quais destacam-se a obras de António Reis (Portugal

Contemporâneo e História de Portugal Contemporâneo) e José Mattoso (volume

Portugal em Transe, de José Medeiros Ferreira), bem como o livro coordenado por

Fernando Rosas sobre a transição portuguesa (Portugal e a transição para a

democracia, 1974-1976), e outro coordenado por José Maria Brandão de Brito (O País

em Revolução); de um segundo nível, consta a historiografia de contextualização

político-social que examina as relações de natureza institucional, destacando-se as

1 MOURA, Francisco Pereira de et al. Estrutura da economia portuguesa. Sep. da Revista do Centro de Estudos Económicos, n.o 14. Lisboa: INE - Centro de Estudos Económicos, 1954; MOURA, Francisco Pereira de et al., Estudo Sobre a Indústria Portuguesa. II Congresso da Indústria Portuguesa. Lisboa: Bertrand, 1957; MOURA, Francisco Pereira de. Reorganização das Indústrias, Estudos de economia aplicada 14. Lisboa: Associação Industrial Portuguesa, 1960; MOURA, Francisco Pereira de. Planeamento Industrial e Desenvolvimento Regional, 2 vols. Lisboa: A.E. ISCEF, 1967; MOURA, Francisco Pereira de. Por onde vai a economia portuguesa? Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1969. 2 BRITO, José Maria Brandão de. Industrialização portuguesa no pós-guerra (1948-1965): o condicionamento industrial. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1989; BRITO, José Maria Brandão de (coord). Do marcelismo ao fim do império. Lisboa: Editorial Notícias, 1999; BRITO, José Maria Brandão de (coord.). Engenho e Obra. Uma abordagem à História da Engenharia em Portugal do século XX. Lisboa: Dom Quixote, 2002). 3 ROLLO, Maria Fernanda. “A Indústria Nacional”, in História de Portugal: o Estado Novo (1926-1974), ed. José MATTOSO, vol. 7, 8 vols. Lisboa: Estampa, 1998; ROLLO, Maria Fernanda. “A industrialização e os seus impasses”, in História de Portugal: o Estado Novo (1926-1974), ed. José MATTOSO, vol. 7, 8 vols. Lisboa: Estampa, 1998; BRITO, José Maria Brandão de e ROLLO, Maria Fernanda. “Ferreira Dias e a Constituição Da Companhia Nacional De Electricidade”, in Análise Social xxxi, n.º 130–137 (1996): 343–354. 4 SANTOS, Américo Ramos dos. “Abertura e bloqueamento da economia portuguesa”, in Portugal Contemporâneo, 1958-1974, ed. REIS, António, vol. V. Lisboa: Publicações Alfa, 1989; SANTOS, Américo Ramos dos. “Desenvolvimento monopolista em Portugal: estruturas fundamentais”, in Análise Social XIII, n.º 49 (1977): 69–95; RIBEIRO, José Félix et al. “Grande indústria, banca e grupos financeiros”, in Análise Social XXIII, n.º 99 (1987): 945–1018; LISBOA, Manuel. A Indústria Portuguesa e os seus dirigentes. Lisboa: Educa, 2002.

Page 14: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

3

excelentes investigações de Kenneth Maxwell5 e, mais recentemente, de Maria Inácia

Rezola6; no domínio económico, salientam-se Augusto Mateus7, José da Silva Lopes8 e

Ernâni Rodrigues Lopes9, com trabalhos de dimensão temporal alargados e, numa

perspectiva de compreensão da estrutura capitalista portuguesa, surgem necessariamente

os trabalhos de Maria Belmira Martins10; por fim, a questão das nacionalizações

encontra-se ainda por explorar na sua multitude de domínios (história social11, história

empresarial, história dos organismos ministeriais), o que se comprova pela escassa

produção historiográfica neste sentido (apenas secções de livros em obras gerais12, e

uma obra de natureza sociológica de José Manuel Leite Viegas13). Só a recente tese de

doutoramento de Ricardo Noronha (2011), sobre a nacionalização da banca, veio reabrir

as linhas de investigação neste domínio.

A existência de diversas obras de memórias e depoimentos enriquece a

historiografia em torno da revolução portuguesa. No entanto, há que distingui-las em

dois grupos: memórias e/ou depoimentos de participantes ou observadores primários do

5 MAXWELL, Kenneth. A construção da democracia em Portugal. Lisboa: Presença, 1999. 6 REZOLA, Maria Inácia. Os militares na revolução de Abril: o Conselho da Revolução e a transição para a democracia em Portugal, 1974-1976. Lisboa: Campo da Comunicação, 2006. 7 MATEUS, Augusto. “O 25 de Abril, a transição política e as transformações económicas”, in O País em Revolução. Lisboa: Editorial Notícias, 2001. 8 LOPES, José da Silva. A economia portuguesa desde 1960. Lisboa: Gradiva, 1996; LOPES, José da Silva. “Portugal e a transição para a democracia: que modelo económico?”, in Portugal e a Transição para a Democracia (1974-1976). Lisboa: Colibri, 1999. 9 LOPES, Ernâni Rodrigues. “O desenvolvimento económico-social desde o pós-guerra 45 e a integração europeia. Dilemas portugueses”, in Portugal e a Europa: 50 anos de integração. Lisboa: Verbo, 1996. 10 MARTINS, Maria Belmira. Sociedades e grupos em Portugal. Lisboa: Estampa, 1973; MARTINS, Maria Belmira e ROSA, José Chaves. O grupo Estado: análise e listagem completa das sociedades do sector público empresarial. Lisboa: Edições Jornal Expresso, 1979. 11 SANTOS, Maria de Lourdes Lima dos, LIMA, Marinús Pires de e FERREIRA, Vítor Matias. O 25 de Abril e as lutas sociais nas empresas. Lisboa: Afrontamento, 1977; LIMA, Marinús Pires de et al. “Controlo operário em Portugal (I)”, in Análise Social, n.º 47, 1999: 765–817; LIMA, Marinús Pires de et al. “Controlo operário em Portugal (II)”, in Análise Social, n.º 48, 1999: 1049–1146; PATRIARCA, Fátima. “Que justiça social’”, in Portugal e a Transição para a Democracia (1974-1976). Lisboa: Colibri, 1999. Resurgiu, recentemente, o interesse por estas linhas de investigação, como provam as teses de Miguel Ángel Pérez Suárez (Contra a exploração capitalista. Comissões de trabalhadores e luta operária na revolução portuguesa, 1974-1975) e de Diego Palacio Cerezales (O poder caiu na rua: crise de Estado e acções colectivas na revolução portuguesa). 12 LEÃO, Emanuel Reis. “Das transformações revolucionárias à dinâmica europeia”, in Portugal Contemporâneo, 1974-1992, vol. 6, ed. REIS, António. Lisboa: Publicações Alfa, 1990, pp. 173–183; FERREIRA, José Medeiros. Portugal em Transe, vol. VIII História de Portugal, dir. José Mattoso. Lisboa: Editorial Estampa, 1994; FRANCO, António de Sousa. “Economia,” in Portugal, 20 anos de Democracia, ed. REIS, António. Lisboa: Círculo de Leitores, 1994. 13 VIEGAS, José Manuel Leite. Nacionalizações e privatizações, Elites e cultura política na história recente de Portugal. Oeiras: Celta, 1996.

Page 15: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

4

25 de Abril de teor ensaístico; e a recolha de testemunhos de natureza historiográfica,

nomeadamente a que foi conduzida por Maria Manuela Cruzeiro14.

A presente investigação segue uma estratégia multidisciplinar (porque o objecto

assim o compele) de utilização sistemática de fontes primárias em várias frentes e que

interceptam segmentos analíticos de várias ordens – história industrial/empresarial,

história do movimento operário e dos conflitos sociais, história dos organismos oficiais

estatais e militares, história da ciência, inovação e tecnologia e história das relações

internacionais/política internacional –, naquilo que pretende ser uma história de

dinâmicas, não tão preocupada com as correntes interpretativas teleológicas. Feita esta

declaração de princípios, não significa, naturalmente, que a análise e interpretação do

objecto em questão não esteja marcada por factores inerentes à evolução intelectual do

investigador no decorrer deste período.

Uma breve referência para os arquivos consultados, que foram da maior

relevância no intuito de obter informações sobre o processo de nacionalização. Cita-se

aqui o Arquivo do Conselho da Revolução, essencial para a recolha de documentação

associada às Comissões de Trabalhadores e à Comissão de Análise e Inquérito; também

o Arquivo Central da Secretaria da Presidência do Conselho de Ministros e o Arquivo

Contemporâneo do Ministério das Finanças. Outros fundos documentais existentes na

Associação Industrial Portuguesa, na Direcção-Geral das Actividades Económicas e no

Departamento de Prospectiva e Planeamento, foram proveitosos para a realização da

tese.

Realizado, de forma sucinta, o estado da questão, é perfeitamente observável a

carência de investigações científicas sobre a temática no domínio da História. Este

trabalho procura constituir, declaradamente, um ponto de partida e uma proposta teórica

de pesquisa (em aberto) para a realização, a longo prazo, de uma História das

nacionalizações em Portugal durante o PREC, que carece ainda de investigações

científicas estruturadas, num projecto que defendo ser urgente realizar ao nível sectorial

e numa dialéctica não autocentrada nas nacionalizações.

***

14 CRUZEIRO, Maria Manuela. Costa Gomes: o último marechal. Lisboa: Editorial Notícias, 1998; CRUZEIRO, Maria Manuela. Vasco Gonçalves: um general na Revolução. Lisboa: Notícias editorial, 2002; CRUZEIRO, Maria Manuela. Melo Antunes: o sonhador pragmático. Lisboa: Notícias, 2004; CRUZEIRO, Maria Manuela. Vasco Lourenço: do interior da Revolução. Lisboa: Âncora Editora, 2009.

Page 16: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

5

A estrutura da tese é necessariamente cronológica, dividida em quatro capítulos

temáticos. O primeiro faz uma retrospectiva que, dadas as limitações da tese, é

incompleta, da indústria cervejeira durante o Estado (entre 1934, data da concentração

industrial, e 1974). Aqui será abordada a génese desta indústria em Portugal e o seu

desenvolvimento no contexto da evolução da economia nacional. A análise radica em

quatro pontos-chave: (i) concentração industrial; (ii) investimento/reapetrechamento;

(iii) reorganização sectorial e (iv) expansão.

No segundo capítulo é apresentada, num formato de síntese, a evolução dos

acontecimentos fundamentais do período revolucionário português e os movimentos de

continuidade e de ruptura, suportados pela utilização de dados estatísticos. Entretanto,

no capítulo 3, entramos num campo de análise mais exclusivo – nacionalizações –,

antecâmara do 4º capítulo, onde se analisa de forma mais particularizada o objecto de

estudo, através da exposição do processo reivindicativo na Sociedade Central de

Cervejas e das suas consequências imediatas – intervenção estatal e processos análogos

– e a longo prazo – nacionalização e reestruturação do sector cervejeiro.

Page 17: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

6

1. As “cervejas de Salazar e Caetano”

1.1. O longo “século XIX” A indústria cervejeira em Portugal – em moldes modernos – remonta ao início

do século XIX, sendo indicada a Real Fábrica de Cerveja e Genebra do Valle Pereiro,

pertencente a Claude Sauvinet, como a primeira digna de registo. As primeiras unidades

de fabrico de cerveja caracterizavam-se pela sua reduzida dimensão, descapitalização,

produção local e pelo uso de equipamento rudimentar e obsoleto, cujas propriedades

pertenciam, de forma geral, a cidadãos estrangeiros. Reconhecem-se as seguintes

fábricas no século XIX15:

i. Fábrica pertencente a Jacques Maillard: rua Flor da Murta (1833);

ii. Fábrica da Cerveja Trindade, de Manuel Moreira Garcia: Lisboa (1834);

iii. Michael Gerards & C.ª: rua do Tesouro Velho (1855). Mais tarde transferida

para terreno da Casa de Bragança, alugada a John Henri Jansen, sócio de

Michael Gerards, passando a denominar-se Fábrica de Cerveja Jansen;

iv. Fábrica de Cerveja Leão, propriedade de José Varela e Jacinto Franco (ex-

empregados da Jansen) e de António Monteiro: interior de um pátio de

Arroios (1878);

v. Fábrica da Piedade, de Maximiliano Schreck e Frederico Vintchel: rua da

Piedade, Porto (1883).

A situação de concorrência verificada era prejudicial para as empresas, daí que

algumas fábricas da zona do Porto tenham concordado a concentração das mesmas,

formando a Companhia União Fabril Portuense, SARL a 7 de Março de 1890, com um

capital inicial de 125 contos de réis. A sociedade é o resultado da fusão de seis fábricas

cervejeiras da região do Porto – Fábrica Piedade (fábrica central), Fábrica do Melo, M.

Achvek & C.ª, J.J. Chentrino & C.ª, J.J. Persival & C.ª, M. Schreck – e a Fábrica de

Ponte da Barca. Em 1889, o inquérito industrial registava um capital fixo de sete contos

de réis, treze trabalhadores, com produção anual de cerveja e gasosa de 90 mil dúzias e

4 mil litros de licores e outras bebidas. A facturação seria cerca de 9 contos e 200 mil

réis, sendo que os salários oscilavam entre os 240 e os 400 réis por dia, com o número

15 II CONGRESSO DA INDÚSTRIA PORTUGUESA. II Congresso da Indústria Portuguesa, Relatórios de Sectores Industriais 0/3, vol. 4, 9 vols. Lisboa: s.n, 1957.

Page 18: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

7

médio de 200 dias/ano de trabalho e cerca de 13 horas/dia no Verão e 10 horas/dia no

Inverno. Há que destacar, ainda, a existência de duas fábricas de cerveja nas ilhas: uma

na Madeira, Empresa de Cervejas da Madeira, que surgiu em 1872 pela mão de Henry

Price Miles; e a Fábrica de Cervejas e Refrigerantes João de Melo Abreu, criada em 4

de Maio de 1892, nos Açores.

Logo no início do século é fundada a Companhia de Cervejas (1903), para onde

entra a Fábrica Leão que, em 1912, passa a denominar-se Germânia e, em 1916,

Portugália (já nas instalações da Almirante Reis). Em 1921, após a construção de uma

malteria destinada à produção de malte a partir de cevadas nacionais, adopta o nome de

Companhia Produtora de Malte e Cerveja Portugália, com capital social de 3 500

contos. Em 1922, a própria Portugália decide a criação da Empresa Produtora de

Garrafas, preconizando já o tipo de política que mais adiante encontraremos.

A CUFP vai, entretanto, reorganizando o seu funcionamento, nomeadamente

através do encerramento de algumas fábricas, como a da Ponte da Barca e sobretudo

com a incorporação de técnicos alemães na empresa. Já no regime republicano, a

Fábrica da Piedade e a Fábrica do Leão acordam a repartição do capital social, passando

a CUFP a possuir duas fábricas em regime de concorrência, ainda que a última estivesse

destinada a produzir para Marrocos. Por esta altura, os lucros com a exportação para as

colónias representavam cerca de 20 865$00.

Em 1919, forma-se a Sociedade de Cervejas (capital social de 100 contos),

sucedida posteriormente pela Companhia de Cervejas Estrela (capital social de 720

contos). A fabricação de cerveja fica a cargo de um anterior técnico da Portugália,

Richard Eisen. Em 1923, a Companhia de Cervejas Estrela coloca na rua, de forma

inédita, os novos carros de distribuição que são puxados por três muares16.

No campo social, realça-se a admissão da mão-de-obra feminina no rescaldo da I

Guerra Mundial, em 1920, embora ainda a título experimental, num contexto de

expansão da CUFP, que acabará por entrar em concorrência na zona norte do país com o

sector cervejeiro de Lisboa a partir de 1926. Noutro âmbito, esta data marca a distinção

internacional da indústria cervejeira, pela vitória do Grand Prix, e a conquista de três

medalhas de ouro. Segue-se, em 1927, o lançamento da Super Bock. Finalmente, em

Março de 1922, é formada a Companhia de Cervejas de Coimbra (capital social de 300

16 MARTINS, Américo. Central de Cervejas: 50 Anos de actividade. Lisboa: Central de Cervejas, 1985.

Page 19: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

8

contos), na avenida Navarro, que inicia a laboração dois anos mais tarde. Contabilizam-

se as seguintes unidades fabris no ano de 1925:

i. Companhia Produtora de Malte e Cerveja Portugália

ii. Companhia de Cervejas Estrela

iii. Fábrica de Cervejas Trindade

iv. Fábrica de Cerveja Jansen

v. Companhia de Cervejas de Coimbra

vi. Companhia União Fabril Portuense

Através de um relatório apresentado ao II Congresso da Indústria Portuguesa em

1957 por Sebastião José de Oliveira – engenheiro da SCC –, ficamos a conhecer as

principais dificuldades que o sector enfrentava no início dos anos 30:

“[O] mercado português era demasiado pequeno para tanta fábrica, e baixas as possibilidades de

todos os produtores de cerveja para a poderem exportar, tendo-se tornado, por isso, muito forte a

concorrência entre eles”, sendo que os clientes aproveitavam-se exigindo descontos sobre

descontos sem que o consumidor ganhasse algo. Além do mais, “a diferença entre o preço do

custo da cerveja e o da venda ao público era absorvido, quase por completo, pelos

intermediários”, daí a necessidade urgente de crédito por parte das empresas17.

Parece, no entanto, que esta afirmação acaba por absorver desde o seu início a

explicação dogmática dos benefícios da concentração, ainda para mais veiculada por

alguém que representava os interesses da maior e principal produtora de cervejas

nacional. Os problemas não se cingiam apenas a questões concorrenciais conjunturais,

mas sim a uma questão estrutural mais complexa, explicada também pelo atraso

tecnológico das fábricas em questão e da não articulação com sectores agrícolas

essenciais à produção, aliada ao problema crónico do mercado nacional e à falta de

consumidores (até pela novidade do produto e pela preferência por bebidas vinícolas). A

própria depressão económica destes anos agravou a situação, daí que se tivesse

estabelecido um convénio, em 1930, para evitar a concorrência desleal, cuja duração foi

muito fugaz. Assim, em 1933, as fábricas estavam às portas da falência, com excepção

da Portugália que havia realizado uma série de negócios durante a I Guerra Mundial,

granjeando-lhe algumas reservas financeiras.

17 II CONGRESSO DA INDÚSTRIA PORTUGUESA. II Congresso da Indústria Portuguesa, Relatórios de Sectores Industriais 0/3,4. Lisboa: s.n, 1957, pp. 5-6.

Page 20: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

9

1.2. Da concentração aos anos 50 É a imagem de uma guerra suicida que é necessário ter em conta e que explica,

por um lado, a necessidade de concentração empresarial que ocorre a 21 de Junho de

1934, marcando um ponto de viragem no seio do sector cervejeiro português. Da lista

de fábricas anteriormente apresentada, só a Companhia União Fabril Portuense recusava

este cenário, sendo que todas as outras se associaram na Sociedade Central de Cervejas

(onde se impõem os interesses da família Vinhas, detentora da Portugália), apesar de a

Fábrica Trindade ser desmantelada e a Jansen cessar o fabrico, encerrando em 1936. No

fundo, o tipo de funcionamento é um modelo aperfeiçoado das várias tentativas de

convénios que haviam sido testadas e que assentavam na divisão regional do mercado e

fixação de preços, numa espécie de regime cartelizado ou até monopolista.

O primeiro Conselho de Administração da Sociedade Central de Cervejas é

eleito em Julho do mesmo ano, com a seguinte composição: António Marques de

Freitas (Portugália), Camilo Infante de la Cerda (Jansen), Cândido Sotto Mayor

(Coimbra), Estolano Dias Ribeiro, José Maria Dias Ferrão e M. H. de Carvalho Ltd.ª

(Estrela). O capital inicial perfilhava os 100 000 escudos, divido do seguinte modo:

Portugália e Estrela com 40,9%, Jansen com 10,2% e Coimbra com 8%18.

O mesmo Sebastião José de Oliveira, seguindo a lógica do seu discurso,

vangloria o tipo de concentração efectuado, por ter sido consumado livremente e sem a

intervenção do Estado, “numa época em que poucas pessoas consideravam necessário o

condicionamento da indústria e muito menos a concentração”19. De facto, o grau de

concentração na indústria transformadora no final da década de 30 era insignificante,

constituindo o sector cervejeiro uma das excepções – juntamente com as indústrias de

base e tabacos, que por sinal registavam os valores de formação bruta de capital fixo

mais elevados –, servindo, inclusive, como exemplo a seguir para futuras concentrações

industriais (cf. tabelas seguintes).

Grau de concentração da indústria cervejeira (1937-1939) N.º de fábricas

N.º de operários

N.º de operários por fábrica

Valor do equipamento industrial (1938; 103 escudos)

5 707 141 7 000

18 MARTINS, Américo. Central de Cervejas: 50 Anos de actividade. Lisboa: Central de Cervejas, 1985, p 27. 19 II CONGRESSO DA INDÚSTRIA PORTUGUESA, II Congresso da Indústria Portuguesa, Relatórios de Sectores Industriais 0/3,4. Lisboa: s.n, 1957, p. 7.

Page 21: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

10

Grau de concentração da indústria transformadora (1937-1939) Grupos segundo o n.º de operários por fábrica

N.º de fábricas

Percentagem do n.º de fábricas no total

Mais de 400 6 0,14 De 200 a 399 28 0,65 De 100 a 199 598 13,86 De 50 a 99 156 3,62 De 20 a 49 1 299 30,11 De 10 a 19 1.599 37,07 Menos de 10 628 14,56 Totais 4 314 100

Nota: Tabelas adaptadas de ROLLO, Maria Fernanda. “A indústria nacional”, in História de Portugal: o Estado Novo

(1926-1974), ed. José Mattoso, vol. 7, 8 vols. Lisboa: Estampa, 1998

Curiosamente, a indústria da cerveja, à semelhança de outros sectores que

caminhavam na direcção da monopolização industrial, não tinham, de todo, a chancela

de organismos corporativos, sendo justificado, de acordo com Fernanda Rollo, pelo

facto de a organização corporativa apresentar-se como um “instrumento fundamental

para a cartelização da «infantaria empresarial»”20, onde o Estado teria urgência de tratar

dos vários conflitos nas indústrias menos concentradas.

As informações sobre o sector cervejeiro nesta fase inicial são ainda muito

escassas, tal como a existência de dados estatísticos. Ainda assim, no tocante à

produção é possível observar os números relativos aos anos de 1932-1934 e de 1938,

percebendo, desde logo, a natureza incipiente da produção no início da década e a

grande alteração que o ano de 1938 nos dá a conhecer.

Ano Produção continental (litros) 1932 203 957 1933 184 800 1934 176 402 1938 6 528 381

Nota: Tabela construída com base nos dados da Indústria Portuguesa (n.º 85, VIII, Março de 1935, p. 60; n.º 143, XIII,

Janeiro de 1940, pp. 51-53)

A Lei n.º 1956 do Condicionamento Industrial, de 1937, veio reforçar a política

de concentração e a limitação da concorrência, pela capacidade do poder estatal

autorizar ou recusar a implantação de novas indústrias e a introdução ou substituição de

maquinaria, fazendo notar a corporatização como produto do Estado. Não

negligenciando as suas lógicas diferenciadas, nos sectores industriais com maior grau de

20 ROLLO, Maria Fernanda. “A Indústria Nacional,” in História de Portugal: o Estado Novo (1926-1974), ed. António Reis, vol. 7, 8 vols. Lisboa: Estampa, 1998.

Page 22: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

11

concentração, a política de condicionamento industrial constituiu, segundo Fernanda

Rollo, “um estímulo real à implementação ou defesa da concentração”21. O grau de

consensualidade é geral neste período, apenas surgindo uma ou outra voz de fundo, que

se insurge em algumas matérias. A validação destes argumentos é perfeitamente

justificada pela análise do condicionamento industrial na indústria cervejeira

portuguesa, seguindo de perto a evolução que Brandão de Brito propõe22. Assim, para o

final do decénio de 30, surge apenas um pedido de instalação, prontamente recusado

pela Direcção-Geral da Indústria:

Ano Empresa Motivo Informações Boletim

1937-1938

António Vahia de Castro (representante de grupo financeiro)

Pedido de instalação

Fabrica de cerveja e refrigerantes 15-09-1937

Portugália, Estrela, Coimbra, Jansen e CUFP Reclamação Contra António

Vahia de Castro 20-10-1937

António Vahia de Castro (representante de grupo financeiro)

Despacho ministerial Indeferido 29-06-1938

Portugália Despacho ministerial

Deferido (laboração na Almirante Reis) 29-06-1938

Nota: tabela construída com base nos dados do Boletim da Direcção-Geral da Indústria

Contudo, a luta pelo mercado interno continuou entre a Sociedade Central de

Cervejas e a Companhia União Fabril Portuense, a primeira situada a Norte e a segunda

no Centro e Sul do país, não impedindo, porém, que estabelecessem um acordo

comercial sobre os preços e condições de venda, bem como o regime de permuta de

informações técnicas.

1.2.1. A II Guerra Mundial, a abertura de mercados externos e o problema

da cevada

A II Guerra Mundial veio pôr a nu as dificuldades que se faziam sentir na

indústria nacional, e o sector cervejeiro não escapou. Por outro lado, abriu um novo

horizonte aos industriais do sector no que diz respeito às novas possibilidades de

exportação. A Guerra obrigou a indústria da cerveja a recorrer a sucedâneos, como a

farinha de pau, trinca e o mosto de vinho, que exigiam vários tratamentos correctivos,

sendo para esse efeito criada a marca Nevália, com o intuito de proteger as outras

21 Ibid. 22 BRITO, José Maria Brandão de BRITO. Industrialização portuguesa no pós-guerra (1948-1965): o condicionamento industrial. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1989.

Page 23: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

12

marcas relativamente à fraca qualidade das matérias-primas. Os efeitos da guerra foram

também visíveis na indústria vidreira nacional, arrastando consigo o sector das cervejas,

dada a sua ligação. No campo legislativo promulgaram-se, durante o período, despachos

que autorizaram a exportação temporária de garrafas de vidro normais acondicionando

cerveja (D. L. n.º 31.983, de 27-4-1942; n.º 32.601, de 30-12-1942; n.º 33.449, de 27-

12-1943, n.º 33.740, de 28.06.1944; n.º 34.341, de 28-12-1944). As cevadas nacionais,

quando usadas, eram irregulares e de má qualidade e a importação das mesmas sofreu

restrições muito fortes durante o período balizado pela guerra, como comprova o estudo

de alguns documentos da época. É o que nos mostra uma carta enviada pela direcção da

Associação Industrial Portuguesa ao ministro das Finanças, após a análise de um pedido

da Portugália:

“Carece aquela Empresa para a laboração da sua fábrica, de cerca de 1.000 toneladas de malte

que habitualmente importava da Checoslováquia e da Dinamarca, em períodos normais (...).

Dadas as dificuldades presentes em consequência do estado de guerra na Europa, contava aquela

empresa, no corrente ano, proceder à maltagem na sua fábrica, de cerca de 1.000 toneladas de

cevada nacional. Acontece, porém, que chegada agora a época das colheitas se verifica que a

produção de cevada no país foi insignificante, não chegando sequer para as necessidades mais

urgentes da lavoura e da pecuária (...).

“[Solicitou a interferência da AIP junto do Governo] no sentido de vir a ser permitida em face

das circunstâncias apontadas, e ter de adquirir aquele produto em países muito distantes, o que

muito o onera, em virtude do agravamento dos preços dos fretes marítimos e seguros de guerra,

visto não poder importá-lo de onde habitualmente o fazia – a sua importação isenta de direito ou,

na impossibilidade de ser obtida essa concessão, apenas com a aplicação de um simples direito

estatístico mínimo”. 23

Esta carta remete ainda para um velho problema da indústria cervejeira – a

produção nacional de cevada –, problema este que começa já a ser pensado nesta época,

mas cujos avanços só se darão após o término da guerra e, de forma mais vincada, na

década de 60. Já em 1936, os representantes das fábricas de cervejas tinham refutado as

alegações de uma comissão de agricultores que exigia a adopção de medidas que

obrigassem a indústria da cerveja a consumir cevada nacional, justificando a rejeição

pelo simples facto de que a qualidade das cevadas nacionais era muito baixa devido ao

excesso de matérias azotadas e que, consequentemente, a importação de maltes

23 Indústria Portuguesa, n.º 150, XIII, Agosto de 1940, p. 34.

Page 24: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

13

estrangeiros era necessária, apesar de economicamente ser menos rentável. Fazia-se

referência à necessidade de estudo do clima, do terreno e de outros factores para a

produção de cevada de boa qualidade para a indústria cervejeira, mas eram apenas

ideias não materializadas24.

Quanto à produção de cerveja, ela quase triplicou desde 1938 a 1945, passando

de 6 500 000 litros em 1938 para cerca de 15 milhões, em 1945, consequência natural

da exportação durante o período de guerra. Os destinos das exportações variavam

geograficamente, mas tinham como ponto convergente as zonas onde se encontravam

operações militares. Surge, deste modo, Gibraltar, onde a frota inglesa se abastecia,

Marrocos, pela importância das suas bases e, claro está, as colónias portuguesas. Os

valores detalhados da exportação da Sociedade Central de Cervejas para este período

podem ser observados na tabela 1 do anexo A. Salienta-se, por mera curiosidade, que a

Sociedade Central de Cervejas criou uma marca especial – Victory – cujo destino era

Gibraltar.

Os números recolhidos sobre as vendas da cerveja para o continente e para o

exterior (ver tabela 2, anexo A) permitem comprovar a novidade dos mercados

estrangeiros e o impacto nas estratégias das empresas mas, ao mesmo tempo, deixam

transparecer a ideia de que esta ilusão assentava em bases muito volúveis e pouco

estruturadas. O próprio Araújo Correia, entre 1946 e 1949, em artigos publicados na

Revista do Centro de Estudos Económicos, afirma que a produção de cerveja iria

certamente diminuir, ora pela falta de mercados importadores de cevada, ora pelo

desaparecimento dos mercados exportadores, regressando “à proximidade dos números

antigos”25. A verdade é que, até ao final da década, a produção e a exportação vão

crescendo a um ritmo constante, notando-se, no entanto, em 1949 uma descida de

ambos os níveis. O início dos anos 50 reflecte aquilo que Araújo Correia vinha

anunciando, mas a situação não permaneceu assim durante muito tempo, como teremos

oportunidade de ver. Uma análise para o período de 1943-1952 indica-nos mais

claramente a realidade que os números anteriores trouxeram, concluindo-se que o valor

absoluto da exportação cervejeira portuguesa é insignificante comparativamente ao

consumo nacional:

24 cf. Indústria Portuguesa, n.º 98, IX, Abril de 1936, p. 26. 25 Araújo Correia, in Revista do Centro de Estudos Económicos, n.º 3, 1946.

Page 25: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

14

Vendas anos 1943-1952 Continente Exportação Total

127 920 705 8 070 528 135 991 233

Nota: tabela construída com base nos dados de MARTINS, Américo. Central de Cervejas: 50 anos de actividades.

Lisboa: Central de Cervejas, 1985

Outro dos pontos centrais é o fosso que divide o volume de produção da

Sociedade Central de Cervejas e a Companhia União Fabril Portuense, com a primeira a

produzir cerca de quatro vezes mais do que a segunda. O poder hegemónico da

Sociedade Central de Cervejas aglutina praticamente todos os interesses da indústria

cervejeira nacional, dominando o mercado interno.

Assinala-se, para concluir, o início da presença da indústria cervejeira em

África, em 1947, através da criação da Companhia União de Cervejas de Angola

(Cuca), fruto da parceria entre a Sociedade Central de Cervejas e a Companhia União

Fabril Portuense, que surge como resultado da compra de 51% de capital da CUFP pela

SCC. A partir desta data, a empresa sedeada no Porto dá início a um novo ciclo de

expansão, com a entrada do engenheiro João Talone (que criará, mais tarde, uma equipa

de projectos de novas instalações em Portugal e nas colónias), nomeadamente com o

plano de renovação tecnológica iniciado nos anos 50.

Page 26: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

15

1.3. Reapetrechamento sectorial, actualização técnica e expansão dos anos 50

Entramos em 1950 e uma das grandes preocupações do sector cervejeiro era a

defesa do condicionamento industrial contra qualquer possível entrada no ramo. É

interessante observar o comportamento dos vários actores neste complexo processo e a

forma como foi evoluindo ao longo dos anos, nomeadamente através da pressão

constante e do desmontar de argumentos daqueles que pretendiam instalar novas

unidades fabris de produção de cerveja. Através da tabela 1 do anexo B torna-se

perceptível esta evolução. Importa, para que a análise seja coerente com o contexto do

Estado Novo, definir dois grandes marcos temporais: um primeiro que decorre desde

1937 a 1956, marcado pela rejeição de qualquer nova fábrica; o segundo período inicia-

se, simbolicamente, em 1956, data da autorização concedida a José Joaquim Gonçalves

de Oliveira para a construção de uma fábrica de cerveja, refrigerantes e gelo no distrito

do Porto.

De 1937 a 1956 dão entrada na Direcção-Geral da Indústria/Serviços Industriais

um total de 22 pedidos de instalação de fábricas de cerveja (com ou sem variante de

refrigerantes e gelo). Todos obtêm a mesma resposta por parte das autoridades oficiais:

“negada autorização...”. Pelo contrário, os pedidos das empresas já existentes recebem,

na sua maioria, despachos favoráveis, ainda que incidam essencialmente sobre

introdução ou substituição de maquinaria. Porém, o processo não se fica por aqui, uma

vez que os argumentos utilizados pelas várias empresas a laborar merecem um

tratamento especial neste campo, pois reflectem as ambições, as pressões existentes e a

estratégia, que, por vezes, é concertada em várias frentes (interempresarial e até com o

próprio Estado). Destaco, de seguida, as principais conclusões:

i. “Capacidade de produção existente é suficiente para as necessidades de

consumo nacional e para a exportação;

ii. Esforço de investimento/reapetrechamento exigido ao sector não deve ser

perturbado pela concorrência indisciplinada e ambiciosa;

iii. Características de indústria supercapitalizada, com unidades a mais e

dimensões desproporcionadas para a capacidade de consumo;

iv. Inexistência de monopólio no sector;

v. Sazonalidade do consumo;

Page 27: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

16

vi. Variação climatérica”26.

Existem, decerto, outros argumentos, mais específicos, designadamente os que

surgiram por reacção aos pedidos de instalações no final da guerra, com a justificação

da abundância do mercado externo. A estes, por exemplo, a CUFP afirmava que tais

mercados não “oferecem possibilidades de futuro por serem destituídos de condições de

estabilidade” e porque em situação de normalidade económica não iriam “querer mais a

cerveja portuguesa”27.

Relativamente à modernização tecnológica, os anos 50 significaram o início da

mudança de paradigma neste sector, com o lançamento de planos de reapetrechamento –

resposta final à notificação que o governo havia dado em 1948 no sentido da indústria

se “equipar para o fabrico de todo o malte que ela necessitasse”28 – que, no caso, da

Sociedade Central de Cervejas atingiram os 100 000 contos (ver tabela 1 do anexo C),

alterando profundamente o panorama das instalações industriais no ramo da cerveja,

com grande destaque para a malteria da Portugália. Na SCC coloca-se como objectivo a

renovação da fábrica Estrela, a criação de uma nova fábrica em Coimbra (1959), na

zona de Loreto, e uma nova fábrica da Portugália para a produção de malte e outra para

cerveja, realizada por fases, entre 1954-1959. Considerada umas das mais modernas

instalações de maltagem da Europa, a malteria da Portugália, obra de técnicos

portugueses liderados pelo engenheiro Sebastião de Oliveira e com a colaboração do

subsecretário de Estado da Agricultura, Vitória Pires, ficou com uma capacidade de

produção suficiente para satisfazer “todas as necessidades impostas pelo

desenvolvimento industrial da cerveja”, ainda que na dependência daquilo que a lavoura

nacional conseguisse produzir29. Este último ponto será fruto de uma abordagem

pormenorizada mais adiante por se tratar de um assunto essencial na construção desta

26 INDÚSTRIA CONTINENTAL DE CERVEJA, Memorial: 1953. Lisboa: Bertrand, 1953; SCC, Condicionamento Industrial: oposição da Sociedade Central de Cervejas S.A.R.L... ao pedido de Manuel António Flor Alves da Silva e outros para a instalação de uma nova Fábrica de Cervejas. Lisboa: s.n, 1966; PELÁGIO, Humberto José Pereira, Vinculação e discricionariedade no exercício dos poderes de condicionamento industrial: a propósito do despacho de autorização de uma nova fábrica de cerveja. Lisboa: s.n, 1958; SCC, Condicionamento industrial: oposição da Sociedade Central de Cervejas... ao pedido da Companhia de Cervejas e Refrigerantes Mac-Mahon para a instalação de uma nova Fábrica de Cerveja. Lisboa: s.n, 1967; SCC. Condicionamento industrial: oposição da Sociedade Central de Cervejas… ao pedido da Empresas Garrafeiras para a instalação de uma nova Fábrica de Cerveja. Lisboa: s.n, 1966. 27 CUFP. Da Indústria nacional de cerveja. Reclamações apresentadas pela Companhia União Fabril Portuense. Porto: s.n, 1946. 28 Cerveja, n.º 3, II, Março de 1956. 29 Indústria Portuguesa, n.º 335, XXIX, Janeiro de 1956, p. 25.

Page 28: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

17

nova estratégia industrial, assente na nacionalização da cerveja portuguesa e na política

de substituição de importações. Fica no ar a frase que, lançada na inauguração da

malteria da Portugália, espelhava o novo olhar sobre a indústria e sobre o papel da

tecnologia e da modernização:

“a clássica letargia nacional foi forçada a dobrar a cerviz; ou, por outras palavras, a ceder perante

uma vontade que ignora o desfalecimento e a tibieza de ânimo”30.

Mudou-se o paradigma, porque também se alteraram algumas coisas ao nível

dos mercados tradicionais, como era o caso das colónias. Uma nova unidade fabril

começa a ser montada em Luanda no ano de 1951 e já existiam outras fábricas em

Lourenço Marques, locais onde a concorrência das marcas estrangeiras começava a

fortalecer-se. Resulta daqui uma das principais críticas dos industrias (papel relevante

de Humberto Pelágio, presidente do Conselho de Administração da SCC), que

consideravam que a indústria cervejeira nacional não possuía protecção suficiente por

forma a defender-se contra a concorrência externa nos mercados ultramarinos31.

Por outro lado, paralelamente à renovação das instalações e do equipamento,

empreendeu-se um forte incentivo à formação técnica e ao recrutamento de técnicos

cervejeiros qualificados (ver tabela de mestres cervejeiros, n.º 2, do anexo C),

promovendo-se o estágio de especialistas portugueses em universidades estrangeiras,

como a de Lovaina, a École de Brasserie de Nancy e a Versuchts und Lehrenstalt für

Brauereu (Berlim). A lista de todos os técnicos portugueses que frequentaram estes

cursos encontra-se ordenada cronologicamente na tabela 3 (anexo C). Assiste-se,

consequentemente, à modificação da estruturação das empresas no sentido da

intensificação em capital e redução da mão-de-obra.

Iniciou-se, em 1954, o primeiro Curso de Tiradores de Cerveja, sucessor da

Escola de Tiradores de Cerveja da SCC (1951), dirigido pelo engenheiro António

Alberto Martins da Fonseca, que se ampliou a todo o país (cf. tabela 4, anexo C);

criaram-se circulares informativas; formou-se a Equipa Técnica Externa, composta por

duas unidades automóveis que visitavam diariamente os estabelecimentos de Lisboa,

realizando ainda deslocações periódicas à Província para fazer a revisão e a afinação da

aparelhagem e prestar ensinamentos básicos; organizou-se a primeira reunião de agentes

30 Cerveja, n.º 3, II, Março de 1956, p. 2. 31 Relatório da Direcção e das Secções da AIP, 1955, p. 105.

Page 29: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

18

e sub-agentes da SCC, em Junho de 1955, estrutura fundamental, mas também motivo

de algumas confrontações com a própria companhia; por último, saiu o boletim/jornal

da Sociedade Central de Cervejas, que se destinava aos agentes, sub-agentes e

revendedores da mesma, órgão essencial e um dos muitos meios de propaganda que se

intensificaram na altura32. Já em 1956, a Sociedade Central de Cervejas organizou o I

Congresso da Cerveja, realizado entre 14 a 21 de Maio no salão nobre da Câmara do

Comércio – Associação Comercial de Lisboa, contando com a presença de 310

congressistas e assistentes, com o objectivo de discutir formas de aumentar o consumo

de cerveja.

1.3.1. A indústria cervejeira e a lavoura nacional

A questão da inovação, ciência e tecnologia é uma das pedras angulares deste

arranque, da renovação da indústria de maltagem de cevadas, com o principal objectivo

de criar em Portugal a espécie de cereal própria para o consumo de cerveja, à imagem

do que já acontecia noutros países, numa óptica de colaboração com os Serviços

Oficiais do Estado (Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas do Ministério da Economia,

Federação Nacional do Trigo e Comissão de Cevadas, nomeada oficiosamente),

destacando-se o papel de Vitória Pires com o programa de valorização da cultura

cerealífera. Esta ideia não era nova, remontava, aliás, a 1944/45, aos trabalhos de

melhoramentos de cevadas realizados pelos engenheiros agrónomos Domingos Rosado

Vitória Pires e Luís Aníbal Valente Almeida, na Revista Agronómica. Começava a

ganhar terreno a concepção de que a subida do consumo só poderia ser conseguida

através da melhoria da qualidade dos produtos.

Na prática, com o apoio do Comité de Cevadas da European Brewery

Convention (Barley Committee), foram criados campos experimentais pelo país, onde

eram testadas várias qualidades de sementes de acordo com a terra e o clima. Para tal,

foi contratado um técnico de renome, Pierre Bergal, pioneiro do mesmo projecto em

França. Os resultados dos testes permitiram recolher informações sobre as zonas com as

características mais indicadas, bem como o tipo de semente dística ideal para a

produção de cerveja, regulamentando-se a sua produção, com o controlo dos Serviços

Oficiais (D. L. n.º 38.153) e com a estreita colaboração, material e financeira, da

32 Cerveja, n.º 1, I, Outubro de 1955

Page 30: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

19

Sociedade Central de Cervejas33. Em 1961 existiam as seguintes infra-estruturas e

brigadas:

Campos de ensaio permanentes Brigadas Técnicas Agrícolas Elvas – Estação de Melhoramento de Plantas Brigada de Santarém – 2 campos Tapada da Ajuda – Estação de Ensaio de Sementes Brigadas de Elvas – 2 campos Vila Franca de Xira – Sociedade Central de Cervejas Brigada de Évora – 1 campo Brigada de Beja – 3 campos

Os excelentes desenvolvimentos nesta área acabaram por se traduzir em

resultados concretos e satisfatórios: obtenção de prémios internacionais – da European

Brewery Convention – nas cevadas portuguesas ensaiadas Aurore e Beka em 1957,

1958 e em 1960. Outra das amostras com bom resultado foi a Lima Monteiro34. O

aumento da qualidade reflectiu-se, igualmente no aumento da produção, da superfície

cultivada e no aumento do número de produtores35, contribuindo para a obtenção da

primeira classificação da cerveja Sagres na classe de cervejas Dortmund no Concurso

Internacional de Gand, em 16 de Maio 1958. No entanto, este investimento vem tarde

para a indústria cervejeira colonial que, em 1961, não laborava com qualquer tipo de

malte nacional, contrariamente à situação de quase auto-suficiência na produção da

metrópole.

No que diz respeito à produção de lúpulo, foi criado um plano semelhante ao das

cevadas, mas apenas na década de 60, sob o impulso da Sociedade Central de Cervejas,

que constituiu, para estes efeitos, a Lupulex.

1.3.2. O potencial produtivo vs. consumo

Com a melhoria das instalações, agudiza-se nestes anos a questão da relação

entre o potencial produtivo da indústria cervejeira e o consumo no mercado continental,

bem como as potencialidades de exportação. É claro para este período, como também

pode ser para outras fases, que esta indústria possui uma capacidade de produção muito

superior ao que são os dados do consumo, chegando a ser cerca de três vezes mais.

33 Relatório da Direcção e das Secções da AIP, 1958, p. 165. 34 BANCO NACIONAL ULTRAMARINO. “Da indústria cervejeira em Portugal,” Boletim trimestral dos Serviços de Estudos Económicos do B.N.U, 31 de Dezembro de 1961. 35 Ibid.

Page 31: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

20

Numa perspectiva comparada, com base na produção mundial e no consumo, os

números indicam-nos que o consumo anual per capita é muito mais reduzido em

Portugal do que na maioria dos países da Europa, com a excepção da Grécia (ver tabela

3, anexo A). O mesmo panorama pode ser observado na produção, dado o valor

absoluto reduzido da produção portuguesa em termos comparativos, apesar de aqui a

produção metropolitana ter aumentado 160,3% entre 1951-1959, enquanto a produção

mundial aumentou cerca de 28,8%36. Neste cenário, há que colocar, para contrabalançar,

os dados sobre o consumo de vinho, que, contrariamente aos da cerveja, só são batidos

por países como a França e a Itália. A capitação portuguesa de cerveja seria, no final da

década de 50, de 3,51, de acordo com Humberto Pelágio37, mas mantinha-se a mais

baixa do mundo.

A partir de dados recolhidos no boletim Cerveja, da SCC, foi possível construir

uma tabela com os dados relativos à capitação de consumo de cerveja em Portugal, por

distritos, para o ano de 1955, apesar da inexistência de informação para algumas

regiões:

Capitação de cerveja por distritos em 1955 Distrito Habitantes Capitação de consumo de cerveja Beja 278 215 1,172

Portalegre 189 044 1,156

Setúbal 260 328 3,3

Faro 284 993 1,744

Leiria 358 015 1,682

Santarém 421 450 2,583

Porto

2 194 603 0,577 (p/ cervejas do Sul e Centro) 1,065 (p/ cervejas da concorrência)

Braga Viana do Castelo Vila Real Bragança Viseu 441 579 -

Guarda 295 664 -

Castelo branco - -

Aveiro 433 395 0,656

Coimbra 415 827 1,729

Fonte: SOCIEDADE CENTRAL DE CERVEJAS. Cerveja. Ano I, n.º 1, 31 de Outubro de 1955

36 Ibid. 37 PELÁGIO, Humberto José Pereira. A Indústria da Cerveja e o Agro Nacional. Lisboa: s.n, 1961.

Page 32: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

21

Este quadro torna evidente as assimetrias existentes e os números fornecem uma

visão realista das dificuldades de penetração em algumas regiões. Ao mesmo tempo,

com base neles, a Sociedade Central de Cervejas iniciou um processo de expansão para

o Norte do país, através de um trabalho muito forte com os seus agentes e sub-agentes,

reorganizando a distribuição comercial e estabelecendo acordos com a CP e outras

transportadoras para baixar o custo e expandir o produto para locais mais distantes. Uma

das realidades que poderia vir a ser importante para o aumento do consumo era a

questão do preço da cerveja, que permanecia inalterável desde 1947.

No II Congresso da Indústria Portuguesa foi apresentada uma tabela sobre a

indústria portuguesa, fruto do trabalho de Francisco Pereira de Moura. Para o sector

cervejeiro, mostra-nos o seguinte quadro, que elucida sinteticamente o que aqui foi

anteriormente exposto (talvez com base nos números de 1954):

Número de unidades 4 Número de operários 739 Capacidade produtiva em 300 dias de 24 horas 33 420 000 1 Consumo 18 361 000 1 Relação entre capacidade produtiva e consumo 1,8 Percentagem de maquinismo antiquado 25

Fonte: II CONGRESSO DA INDÚSTRIA PORTUGUESA. Comunicação 1 a 74. Volume 1. Lisboa: s.n, 1957 Dados com base previsível no ano de 1954

1.3.3. Industrialização ou surto industrial. O II Congresso da Indústria

Portuguesa e o sector cervejeiro em equação

É de fulcral importância ligar estas últimas alterações no sector cervejeiro com a

realidade industrial portuguesa e com as acções políticas que foram adoptadas, desde

logo com o surgimento do planeamento económico, através dos planos de fomento, e

com a necessidade de uma estruturação industrial mais séria e mais profunda, que

alguns sectores da sociedade vinham proclamando há algum tempo, mas que o regime

havia negligenciado na sua ânsia gritante de assegurar estabilidade em pontos-chave da

área financeira, mas sobretudo no campo social (veja-se a estratégia do I Plano de

Fomento e a aposta em sectores-motores, mas a imprudência para com algumas

condições a montante). O sector cervejeiro absorvia todos estes “vícios”. Veja-se:

preparava a modernização das infra-estruturas e dos equipamentos, mas a origem de tais

máquinas era estrangeira, dada a inexistência de uma indústria de bens de equipamentos

em Portugal. De certa forma, podemos concluir que, pela análise efectuada, a indústria

Page 33: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

22

cervejeira assume-se como um sector que, em certo sentido, vai remando contra

algumas marés, chamando a si o processo de inovação e modernização tecnológica,

ainda que sem os pressupostos necessários à competitividade internacional. Mas, não

seriam já os reflexos das novidades de cooperação europeia a ditar algumas das

posições?

É no II Congresso da Indústria Portuguesa e dos Economistas que todas estas

questões vão ganhar forma e respostas concretas e coerentes, aparecendo em cima da

mesa, pelo próprio Marcello Caetano, a questão da integração europeia, a preocupação

com a competitividade internacional e o papel da iniciativa privada. Uma série de

conclusões vai depois ganhar corpo na economia e na sociedade portuguesa, com

especial relevância no II Plano de Fomento (industrialização e reorganização industrial),

se bem que a sua forma não constituísse ainda o projecto mais elaborado relativamente à

indústria, vendo-se ultrapassado pelos acontecimentos na cena internacional e pela

adesão de Portugal à EFTA, colocando um ponto final, uma ruptura, não total, dos

comportamentos e práticas que subsistiam do passado.

Os dois primeiros planos de fomento nada indicam quanto à situação do sector

cervejeiro, negligenciando por completo uma indústria que estava numa fase importante

de modernização. Existe apenas uma pequena menção – num relatório preparatório do II

Plano de Fomento para as indústrias transformadoras – à relação entre a capacidade

produtiva e o consumo que é bastante baixa – 1,838. Nesta posição de falta de

informação não se encontra apenas a indústria da cerveja, mas todo o sector das bebidas,

não esquecendo, naturalmente, a pouca informação estatística existente, que segue os

traços daquilo que foi desenhado por altura do II Congresso da Indústria, cujo papel de

Pereira de Moura foi fundamental, como arauto da reorganização industrial, da

interdependência industrial e do efeito motor sobre as regiões39.

Após a autorização concedida, em 1956, para a instalação de uma fábrica de

cerveja no Porto, vão surgindo as primeiras grandes críticas ao condicionamento

industrial, expressas de forma vincada no II Congresso da Indústria, mais precisamente

na sessão 32, sobre a indústria de cerveja, presidida por Manuel Vinhas. Apresentaram-

38 PRESIDÊNCIA DO CONSELHO. INSPECÇÃO SUPERIOR DO PLANO DE FOMENTO, Relatório final preparatório do II Plano de Fomento. III) Pesca IV) Minas. V) Indústrias transformadoras. VI) Electricidade. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1958. 39 c.f Estrutura da Economia Portuguesa, 1954; Estudo sobre a Indústria Portuguesa, 1957; Reorganização das Indústrias, 1960.

Page 34: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

23

se algumas conclusões que representam com bastante nitidez a dupla concepção que

existia em torno do condicionamento industrial, que mais não é do que um simples

instrumento de interesses, variando conforme as acções que se vão tomando. Assim,

percebe-se a defesa quase incessante do condicionamento industrial, como factor-chave

da modernização da indústria cervejeira, resultante da concentração, mas também a

discordância para com o “poder discricionário ministerial, por poder quebrar uma

determinada linha de rumo e progresso”, por ter criado uma “vida difícil com o

licenciamento de novas fábricas”40 a um sector que estaria bem considerado na própria

proposta de Lei de Fomento e Reorganização Industrial, e que até concedeu assistência

“voluntária ao seu pessoal, mais do dobro do que lhe foi exigido”41, ou pela falsa

questão da concorrência que o governo entendeu introduzir, entre outros argumentos.

O despacho ministerial de 20 de Fevereiro de 1956 ao pedido de José Joaquim

Gonçalves de Oliveira (de 13 de Maio de 1952) surge numa altura em que,

aparentemente, nada fazia prever a sua autorização, até pela situação em que se

encontravam as fábricas do sector. As razões invocadas prendem-se com a necessidade

de se “alcançar, outra vez, um nível mínimo de saudável concorrência de que a

respectiva indústria parece ter-se afastado”, nunca colocando em causa a sua crescente

importância para a economia portuguesa42. O despacho indicava ainda uma série de

condições a que a instalação estava sujeita e que traduziam as evoluções recentes na

área científica, como a obrigatoriedade de possuir um laboratório e técnicos

devidamente qualificados. A empresa, posteriormente denominada de Nacerel –

Sociedade Nacional de Cerveja e Refrigerantes, nunca chegou a entrar em

funcionamento, acabando por se concentrar na CUFP em 1960.

40 II CONGRESSO DA INDÚSTRIA PORTUGUESA. II Congresso da Indústria Portuguesa. Actas das sessões, vol. 3, 9 vols. Lisboa: s.n, 1957. 41 Cerveja, n.º 3, II, Março de 1956. 42 Boletim n.º 375 da Direcção-Geral dos Serviços Industriais, Ano VIII, 7 de Março de 1956.

Page 35: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

24

1.4. A reorganização forçada por um convite inesperado: o sector cervejeiro e a abertura externa

Os anos 60 caracterizam-se pela continuidade das renovações industriais – veja-

se, a título de exemplo, a fábrica da Leça do Balio (CUFP) e a de Vialonga (SCC) –,

mas também pelo arranque do consumo e da exportação da cerveja portuguesa, apenas

possível num contexto recente de abertura ao exterior, consubstanciado na integração de

Portugal na EFTA, em 1960, e noutros organismos de cooperação internacional (BIRD,

FMI, GATT), que alteraram substancialmente a política económica portuguesa, com a

inserção de um novo elemento na política económica e industrial – a exportação –,

concluindo que o caminho da substituição de importações, per si, não tinha presenteado

bons resultados à economia. Será esta uma das principais linhas condutoras que guiará a

estratégia da indústria cervejeira a partir do início da década, mas agora com a

preocupação acrescida da mudança de orientação da política de condicionamento

industrial para o sector, pautada nos despachos ministeriais de 8 de Setembro de 1960 e

de 19 de Março de 1968, inaugurando uma fase de entrada de novas empresas, sob o

pressuposto da regularização da concorrência, ainda que continuassem os esforços no

sentido de fomentar o crescimento das empresas já existentes.

Este crescimento, associado ao todo nacional, é possível, para além de razões

internas, porque todos os países da OCDE vivem nesta altura os anos de ouro da

economia, num balizamento temporal mais alargado que ficou conhecido como os 30

anos gloriosos. No entanto, o desenvolvimento da década de 60 acontece

simultaneamente com uma verdadeira quebra ou crise na agricultura, evidenciada no

êxodo rural, bem como no aumento da emigração para países europeus. Como refere

Sousa Franco, “o crescimento económico destes anos 60, produzindo inegáveis efeitos

no domínio da riqueza e do próprio bem-estar social, acusa, para além das limitações

apontadas, deficiências e limites evidentes”43.

A iniciativa do despacho de 8 de Setembro de 1960 – reorganização sectorial da

indústria cervejeira – coube a Ferreira Dias, então ministro da Economia, e surge como

consequência previsível das alterações que o sector vinha sofrendo no final da década

de 50, nomeadamente com a questão da produção de cevada. No entanto, revela já uma

noção cuidada da importância que os mercados externos poderão ter para o sector, desde

43 FRANCO, António de Sousa. “Economia,” in Portugal, 20 anos de Democracia, ed. António REIS. Lisboa: Círculo de Leitores, 1994, p. 173.

Page 36: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

25

que haja uma correcta análise dos custos de produção e uma consequente estruturação

do sector no sentido de o tornar competitivo à escala internacional:

“A indústria portuguesa da cerveja, apesar das aparências, que levam tanta gente a conclusões

erradas, não atingiu ainda entre nós o nível de concentração industrial que lhe permita chegar a

custos de concorrência internacional”44.

Desta forma, os serviços industriais viram-se na necessidade de traçar a curva de

variação do custo de produção das fábricas existentes no continente, concluindo que o

custo de produção baixaria automaticamente com o aumento da mesma. O despacho

chega mesmo a referir a possibilidade de encerrar todas as fábricas com capacidade

produtiva abaixo dos 100 000 000 litros. As indicações recolhidas mostram que

existiam quatro fábricas em Portugal, cuja capacidade anual, em milhões de litros seria

a seguinte: “Coimbra com 4,5; Porto com 7,2; Lisboa (duas fábricas) com 18 e 21”45.

Objectivamente, o despacho ministerial traçou os seguintes objectivos:

i. Remodelação das fábricas com vista à colocação de cerveja nos mercados

internacionais;

ii. Potenciar a cevada nacional através da criação de meios de transformação;

iii. Dar garantias aos capitais a investir na remodelação;

iv. Impedir a venda de cervejas que pudessem fomentar a concorrência com o

vinho.

De forma a atingir estes objectivos, seguindo um parecer da Sociedade Central

de Cervejas, o despacho propõe a promoção da concentração das duas fábricas de

Lisboa numa unidade, com capacidade de 110 000 000 litros/ano; montagem de uma

fábrica no Porto com capacidade anual de 25 000 000 litros; cooperação entre

produtores de cerveja e produtores de cevada para a instalação de fábricas de malte; e

re-equipamento das unidades fabris com vista à diversificação da produção. A ideia por

detrás deste plano assentava no parecer da SCC, que estabelecia a meta de 110 milhões

de litros/ano como pré-requisito de entrada nos mercados externos em concorrência

igual, enquanto a capacidade anual de 25 milhões de litros asseguraria condições

marginais de exportação. O despacho encerrou com a afirmação de que o Governo não

44 SECRETARIA DE ESTADO DA INDÚSTRIA. Reorganização das Indústrias de Cerveja e Malte. Lisboa: Direcção-Geral Serviços Industriais, 1969. 45 Ibid.

Page 37: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

26

iria permitir a instalação de novas unidades se estas metas fossem cumpridas. Veremos,

mais à frente, que este ponto será vital no desenvolvimento do sector no final da década.

Por outro lado, as reacções dos industriais cervejeiros com interesses instalados

foram naturalmente positivas e reveladoras da nova disposição portuguesa face aos

movimentos de integração europeia, até porque, como refere Kenneth Maxwel, “os

industriais sabiam que o isolamento de Portugal era mais um estado de espírito do que

uma realidade económica”46. Humberto Pelágio, administrador da SCC, atesta a lucidez

e a actualidade do despacho, porque alerta a indústria para a “compreensão dos

problemas e realidades que a economia dum Ocidente em perigo nos impõe considerar

resolver”47. Interessante é também o seguinte excerto de um discurso de Humberto

Pelágio no lançamento da primeira pedra da fábrica de Leça do Balio, em Abril de

1962, pois permite observar, por um lado, o elogio da abertura à Europa realizado pelo

Governo mas, por outro, não deixa de lançar criticas severas à essência da política

económica salazarista:

“(...) as economias nacionais que se encerram hermeticamente nas suas fronteiras geográficas

estão irremediavelmente condenadas pelo próprio isolacionismo a que se remeterem. O auto-

abastecimento (...) é uma figura de retórica económica que o ultrapassado dirigismo cultivou, e

na base do qual está, afinal, a razão de ser do seu aparatoso malogro”48.

João Salgado, também da SCC, partilha a mesma opinião, tocando no problema

da exportação como uma questão que urge ser resolvida, só possível de ser concretizada

através da dilatação do mercado cervejeiro para além do Continente e das Províncias

Ultramarinas49.

Estas duas problemáticas não podem ser analisadas separadamente, pois esta

aparente vaga de entusiasmo com a “integração” esconde a bipolaridade que então se

fazia sentir e que opunha os mercados coloniais aos mercados ocidentais/europeus,

como espelha o relatório do Conselho de Administração da SCC no balanço de 1960:

“O Mercado Nacional (Continente e Ultramar), tem que deixar de ser uma aspiração

política, para se transformar em curto prazo numa realidade económica tangível”. Creio

que, pela investigação efectuada, a nata do sector cervejeiro fosse tendencialmente

46 MAXWELL, Kenneth. A construção da democracia em Portugal. Lisboa: Presença, 1999, p. 44. 47 PELÁGIO, Humberto. A Indústria da Cerveja e o Agro Nacional. Lisboa: s.n, 1961, p. 11. 48 Indústria Portuguesa, n.º 441, XXXV, Maio de 1962, p. 155. 49 Cerveja, n.º 23, VII, Março de 1961.

Page 38: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

27

favorável à nova abertura ao exterior, até porque a situação do sector nas colónias não

era propriamente favorável. Todavia, estes sinais de entusiasmo não anulam por

completo, nem extravasam o discurso oficial do regime, como se depreende pelas

declarações de Humberto Pelágio no rescaldo a Conferência dos Sete, em Novembro de

1960: “se é à integração que devemos ir buscar a certeza duma continuidade, - há

necessariamente, que a cultivar em toda a sua plenitude e extensão”50. No fundo, são

discursos que representam posições de interesses e luta pela hegemonia, e que se

coadunam facilmente em contextos, por vezes, contraditórios.

A adaptação do tecido empresarial português face ao novo paradigma espelha-se

primorosamente na criação da Associação da Indústria Cervejeira Portuguesa (AICP),

em 1961, e na participação portuguesa na fundação da EFTA – Brewers Working Party

(EBWP) e na EFTA Brewery Industry Council (EBIC), cujos fabricantes de cerveja

haviam reunido a 3 e 4 de Maio de 1961 em Lisboa. No entanto, esta não era a primeira

experiência de cooperação do sector, já que a Sociedade Central de Cervejas era

membro do European Brewery Convention (EBC) desde 1954, braço científico e

tecnológico da Brewers of Europe. Da primeira associação nacional, cuja promoção

coube à Sociedade Central de Cervejas, faziam parte as empresas licenciadas do

continente, das ilhas e das colónias, que reuniam mensalmente.

1.4.1. Na senda da investigação. As novas unidades industriais

A aproximação à Europa contribuiu decisivamente para quebrar os resquícios de

amadorismo da indústria cervejeira portuguesa, apostando de forma brutal na

investigação tecnológica, no marketing – a título de exemplo, a SCC inicia a prática de

campanhas publicitárias em 1963, em parte como consequência das quedas das vendas

originada pelo aumento de imposto de consumo em 1961, e funda em 1967 a Cinevoz

(empresa de publicidade) –, na prospecção de mercados, ou seja, numa panóplia de

recursos indispensáveis à integração económica. Humberto Pelágio, no fragmento

sequente, relata de forma transparente esta realidade:

“[A investigação científica] tomou então o seu lugar; os métodos da organização passaram a

viver em paralelo com a programação económica; o conhecimento universitário iluminou a

Empresa; a tecnologia aumentou a sua rentabilidade qualitativa e quantitativa; as previsões

50 Cerveja, n.º 23, VII, Março de 1961.

Page 39: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

28

tornaram-se possíveis, e a identificação dos custos marginais operaram o resto que se impunha

atingir para bussolar e orientar com consciência e eficiência os destinos da indústria, dotando-a

de crédito e de indispensável segurança”.51

As duas grandes obras que resultam do diploma da reorganização industrial

nascem nesta década, sustentadas pelo aumento da produção (ver tabela 4, anexo A) e

do consumo, ainda que no final da década a capitação seja inferior a 10 litros por

pessoa, enquanto na Espanha, com características análogas, os valores cifravam-se na

ordem dos 30 litros. A CUFP muda as suas instalações para a Via Norte, na Leça do

Balio, em 28 de Setembro de 1964, cuja produção anual passa a 25 milhões de litros. Na

inauguração da fábrica, que contou com a presença do Presidente da República, o

presidente da AICP – Humberto Pelágio – exaltou a jornada da integração europeia e o

papel da empresa no desenvolvimento económico. Elogiou a CUFP e o tecido

empresarial português por se adaptar a esta nova etapa, mas também por “vontade e

programação expressa do Governo da Nação”52.

“Esta unidade denuncia o grau de desenvolvimento atingido pelo produto nacional, mercê da

assimilação crescente das técnicas mais evoluídas que se está felizmente operando no nosso País,

concretizada numa saudável e criadora confiança do investimento nacional no capital técnico

utilizado e a aproximação progressiva, portanto, do nível ideal daquilo que a ciência económica

chama relação capital-produto”53

“Esta nova unidade traduz uma marcada e salutar viragem da mentalidade empresarial no nosso

País, uma vez que a sua implantação se está a dever ao financiamento interno, expresso no

concurso da poupança portuguesa e do crédito concedido pelas instituições bancárias

portuguesas, uma e, outras, apostadas em revelar espírito de iniciativa, e mostrar presença e

confiança.”54

“É, com efeito, na diversificação de mercados que está a chave da sua [Estado] política

económica e dos seus destinos.”55

A produção da Sociedade Central de Cervejas transfere-se para as novas

instalações de Vialonga a 22 de Junho de 1968, data da inauguração da maior unidade

51 PELÁGIO, Humberto. A Indústria da Cerveja e o Agro Nacional. Lisboa: s.n, 1961, p. 11. 52 PELÁGIO, Humberto José Pereira. A Fábrica de Cerveja de Leça do Balio da Companhia União Fabril Portuense. Lisboa: s.n, 1964, p. 8. 53 Ibid, p. 13. 54 Ibid, p. 14. 55 Ibid, p. 18.

Page 40: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

29

fabril cervejeira do país, garantindo, desde logo, a cobertura dos mercados interno e

externo, dada a totalidade de produção de 110 milhões de litros de cerveja por ano,

acrescida de 21 milhões de litros de refrigerantes e 50 mil toneladas de malte. No

global, o total dos investimentos relativos às novas fábricas não deveriam ser inferiores

a 600 000 contos, como nos indica o despacho ministerial de 19 de Março de 1968, e

contam com o financiamento, em grande escala, da banca nacional (Banco Espírito

Santo, Banco Português do Atlântico, etc.), que fará parte do capital social das

empresas. Ambas as obras foram levadas a cabo por corpos técnicos portugueses, a

primeira dirigida pelo engenheiro João Talone.

1.4.2. Balanço da indústria cervejeira no final da década e a nova abertura

do condicionamento industrial

Importa, para contextualizar esta realidade, transmitir as dificuldades que o

tecido empresarial do sector cervejeiro diagnosticava. Para tal, foi imprescindível a

leitura de um relatório sobre a indústria das bebidas, realizado por uma comissão

composta por Bernardo Lancastre Mendes de Almeida (conde de Caria), Humberto

Pelágio e Abilino Vicente, com o apoio da Corporação da Indústria e da Direcção-Geral

de Minas e Serviços Geológicos, que fez parte de um relatório preparatório do Plano de

Investimentos para 1965-6756. É um dos poucos documentos em que é realizada uma

análise mais detalhada da evolução deste sector, com apreciação crítica dos problemas

das indústrias em questão, propondo, inclusive, caminhos a seguir. Incompreensível é,

no entanto, a quase nulidade de informações sobre a indústria cervejeira no Plano

Intercalar de Fomento, apesar do despacho de 1960 se incorporar nele, sobretudo por

este ter sido, de todos os planos, aquele que verdadeiramente ensaiou o planeamento

económico global, com estruturação sectorial. São, sobretudo, os relatórios

preparatórios – da corporação da indústria e o do Ministério da Economia – que nos

elucidam acerca das matérias dominantes em torno do debate sobre o sector: a questão

da promoção da cultura de cevada dística e lúpulo face à necessidade urgente de reduzir

o seu custo; o regime de aplicação do imposto de consumo, que havia subido em 1961

para 2$10/litro com o início da guerra em Angola, “verdadeiro travão à expansão dos

56 O Plano de Investimentos para 1965-67 constitui um dos vários relatórios preparatórios para o III Plano de Fomento (1968-1973), que compunha estudos elaborados por diversos grupos de trabalho da Comissão Interministerial do Planeamento e Integração Económica, nos vários sectores da economia portuguesa.

Page 41: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

30

consumos continentais e possibilidades de exportação”57; bem como o problema da

indústria de embalagens e garrafas, visto como um “sério embaraço para a Indústria

Portuguesa”58, mas cuja solução estava já em andamento, com a montagem de uma

nova fábrica de garrafas (constituição da Cive – Companhia Industrial Vidreira que

agrupava a Empresa Produtora de Garrafas, a Guilherme Pereira Roldão, a Ivima e a

Crisal), resultado da política de diversificação iniciada pela SCC com base em dois

eixos: «o mercado da sede», que a levara aos refrigerantes, ao vinho comum e às águas

minerais, e a indústria de embalagens, nomeadamente de vidro”59. Falava-se, de igual

modo, da carência de uma regulamentação dos preços praticados pelo comércio

retalhista, que “estrangulava a indústria”, e da abolição dos direitos de exportação para a

cerveja, “1,5% do valor médio por grosso”60. Afigurava-se já um novo receio: a

provável concorrência do produto estrangeiro, então expresso nas conclusões do

relatório preparatório do plano de investimentos para 1965-67, onde se rejeitavam as

alternativas do crescimento lento, pois as únicas vias que se poderiam percorrer eram a

do “crescimento rápido que aproveite eficazmente os factores até agora sub-empregados

(...) ou a crescente absorção desses factores pelas economias estrangeiras”61.

Consequentemente, vemos do lado dos industriais o desejo de serem estabelecidos

prémios de exportação, bónus à navegação nacional para fretes internacionais e seguros,

como já se observava em alguns países. Ainda assim, há que considerar a existência do

anexo G da Convenção de Estocolmo, que salvaguardava a indústria portuguesa no que

tocava às pautas aduaneiras.

As direcções que a indústria apontou remetem para dois conjuntos de ideias, que

confluem nos seus propósitos, isto é, o cumprimento do despacho ministerial de 1960,

que asseguraria a não concessão de novos alvarás e o papel da Associação de

Cervejeiros, que seria o esteio desta mesma luta, como grupo de pressão, ainda que

justificando tais opções pelo projecto animador da exportação e do desarmamento

57 PORTUGAL. CORPORAÇÃO DA INDÚSTRIA. Plano Intercalar de Fomento 1965-1967. Acções de política industrial na indústria transformadora. Lisboa: s.n, 1964, p. 29. 58 MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Indústria da Alimentação e das Bebidas (classes 20 a 21): Relatório Preparatório do Plano de Investimentos para 1965-67. Lisboa: Ministério da Economia, 1964, p. 4. 59 RIBEIRO, José Félix et al. “Grande indústria, banca e grupos financeiros,” Análise Social XXIII, n.º 99 (1987): 945-1018, p. 1004. 60 MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Indústria da Alimentação e das Bebidas (classes 20 a 21): Relatório Preparatório do Plano de Investimentos para 1965-67. Lisboa: Ministério da Economia, 1964. 61 PORTUGAL. PRESIDÊNCIA DO CONSELHO. SECRETARIADO TÉCNICO DA PRESIDÊNCIA DO CONSELHO, Relatório preparatório do plano de investimentos para 1965-1967. Estudos gerais (Metrópole), 2a parte. Caracterização presente da economia portuguesa e projecções do seu desenvolvimento no período de 1965-1973. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1964, p. 382.

Page 42: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

31

aduaneiro. Como era referido no final deste relatório, não se esperavam obstáculos. “A

indústria arrancou já para o objectivo Exportação. E não pode voltar atrás”62.

Para mais rapidamente atingir os mercados externos, a SCC e a CUFP criaram,

em 1966, um Gabinete Comum de Exportação, cuja estratégia inicial passava pela

entrada em mercados específicos, nomeadamente onde existiam grandes comunidades

de emigrantes portugueses. Nos moldes da cooperação, acreditavam que resolveriam

eficazmente os problemas que assolavam a indústria com acções concertadas no campo

da publicidade, da investigação de novos produtos e da prospecção e estudo de

mercados. Iniciaram, no mesmo ano, a exportação para Gibraltar e para os Estados

Unidos. O relatório do Conselho de Administração da CUFP relativo a 1970 referia que

“a concorrência pela inovação é mais importante do que a concorrência de preços e

quantidades”.

O quadro que se segue dá-nos uma panorâmica comparativa do sector em 1953 e

em 1962:

Sector cervejeiro em 1953 e 1962

1953 1962

Estabelecimentos em actividade 4 4

Valor da produção em contos (preços de venda ao retalhista) 79 750 203 500

Pessoal operário remunerado 716 848

Materiais consumidos (contos) 35 216 68 961 Valor acrescentado (contos) = valor da produção aos preços de venda (custo industria - mão-de-obra) 66 075 161 406

Capital fixo (contos) 172 000 320 000

Distribuição regional da produção a preços de venda ao retalhista (contos)

Lisboa 49 198 123 641

Coimbra 11 000 33 000

Porto 19 552 46 859

Fonte: Tabela retirada de MINISTÉRIO DA ECONOMIA, Indústria da Alimentação e das Bebidas (classes 20 a 21):

Relatório Preparatório do Plano de Investimentos para 1965-67 (Lisboa: Ministério da Economia, 1964), p. 8.

O balanço desta década não pode ficar concluído sem que se decomponha

detalhadamente o despacho de 1968, a confirmação final da mudança de estratégia

governamental no que toca ao sector cervejeiro, isto é, “utilizar o condicionamento

industrial, [através da autorização de instalação de novas empresas], para romper os

62 MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Indústria da Alimentação e das Bebidas (classes 20 a 21): Relatório Preparatório do Plano de Investimentos para 1965-67. Lisboa: Ministério da Economia, 1964, p. 8.

Page 43: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

32

equilíbrios estabelecidos há décadas em sectores fortemente concentrados”63. Desde a

orientação de Ferreira Dias, em 1960, até à data de promulgação deste novo despacho,

não há uma evolução unívoca quanto aos pedidos de instalações. Em 1963, Lúcio Tomé

Feteira requer a autorização para instalação de uma unidade fabril de cerveja, mas esta é

rejeitada. A partir daqui, só em 1966/67, como mostra a tabela 1 do anexo B, se dá uma

renovada afluência de pedidos, com o argumentário comum da existência de posições

monopolistas no sector, que estarão na base de discussão do referido documento.

O despacho parece, na sua essência, sofrer de um problema de coerência, uma

vez que desconsidera as críticas encetadas por alguns industriais acerca do

monopolismo, dizendo que esta situação pode ser corrigida por ajustes pautais, não

implicando necessariamente o licenciamento de novas fábricas, cujos investimentos

poderiam ser nefastos para o sector. Mas, simultaneamente, com base na capacidade

nominal de produção do sector, estabelecida em 170 milhões de litros/ano, e dadas as

previsões de alcance desse número em 1972, no que toca ao consumo, considera-se

proveitosa a entrada de uma ou várias empresas no mercado cervejeiro, desde que

obedeçam às exigências emanadas do anterior despacho e que produzam refrigerantes e

garrafas (apenas um dos requerentes cumpria estes objectivos – Supersumos). No

entanto, a entrada em laboração da nova fábrica só estaria prevista para o ano de 1972,

face às recentes previsões da produção e do consumo. No fundo, este despacho reflecte

uma certa abertura à iniciativa privada, através de uma tentativa de liberalização

económica, que pretendia enfrentar os problemas decorrentes da concorrência externa.

Entretanto, em 1969, a Supersumos, juntamente com outros accionistas,

incluindo a Mahou, sociedade espanhola de assistência técnica, e a influência do Conde

de Caria com o apoio do Banco Pinto e Sotto Mayor, constitui, a 27 de Março de 1969,

a Cergal – Cervejas de Portugal (capital social de 60 000 contos), que fixa a localização

da sua fábrica no distrito de Lisboa (Venda Seca, Belas), com uma produção anual de

25 000 000 litros.

63 RIBEIRO, José Félix et al. “Grande indústria, banca e grupos financeiros,” Análise Social XXIII, n.º 99 (1987): 945-1018, p. 1002.

Page 44: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

33

1.5. Uma estabilidade relativa: os efeitos de um crescimento ilusório Nos anos 70 prosseguem os esforços no sentido de incrementar a

internacionalização das cervejas portuguesas, já num quadro sectorial nacional mais

alargado, com o início da comercialização da cerveja Cergal em 1972, após ter obtido a

aprovação do plano de expansão da empresa. Os dados sobre as vendas do sector em

1970 revelam uma diminuta importância dos mercados externos, como se pode

comprovar seguidamente:

Destino das vendas do sector cervejeiro em 1970 Metrópole 94% Ultramar 5,75% Estrangeiro 0,25% Total 100%

Nota: Tabela retirada da Indústria Portuguesa, n.º 523, XVLIV, Setembro de 1971

Apesar das anteriores indicações pessimistas no segmento da exportação, as

recentes programações para o sector previam a alteração deste quadro num espaço

temporal curto, daí a concessão de alvarás a duas novas empresas nos primeiros anos

deste decénio (ver tabela 1, anexo B). Em 1972, face aos resultados do consumo de

cerveja, os serviços industriais respondem positivamente aos pedidos de António Vítor

de Almeida Saraiva, da Refriplás e de José Nunes Rodrigues. Na Guiné, a SCC e a

CUFP participam na fundação da Cicer – Companhia Industrial de Cervejas e

refrigerantes da Guiné, oficialmente inaugurada em Janeiro de 1974.

António Vítor de Almeida Saraiva, com o apoio da Interbrew e da Heineken,

constitui a Copeja – Companhia Portuguesa de Cervejas, em 2 de Agosto de 1972,

tendo a unidade fabril uma capacidade de laboração anual de 30 000 000 litros. Idêntica

autorização foi concedida a José Nunes Rodrigues e à Refriplás – Indústrias Reunidas

de Refrigerantes e Plásticos. Através de um novo despacho ministerial, em Maio de

1973, é autorizada a junção, numa única unidade (Imperial), localizada no distrito de

Faro (Loulé), com uma capacidade de laboração anual de 60 000 000 litros, podendo, no

entanto, arrancar com 30 000 000 de litros de capacidade.

É este o cenário da indústria cervejeira nas vésperas da revolução:

Page 45: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

34

Continente e Ilhas Adjacentes Províncias Ultramarinas Sociedade Central de Cervejas Cuca – Companhia União de Cervejas de Angola Companhia União Fabril Portuense Nocal – Nova Empresa de Cervejas de Angola Cergal – Cervejas de Portugal Sogere – Sociedade Geral de Cervejas e Refrigerantes de

Moçambique ! Companhia da Fábrica de Cerveja Reunidas de

Moçambique ! Fábrica de Cerveja da Beira ! Companhia de Cervejas e Refrigerantes Mac-Mahon

– Moçambique Copeja – Companhia Portuguesa de Cervejas

Cicer – Companhia Industrial de Cervejas e Refrigerantes da Guiné

Imperial – União Cervejeira Portuguesa Empresa de Cervejas da Madeira Fábrica de Cervejas e Refrigerantes João de Melo Abreu

1.5.1. Diagnóstico sectorial de 1974. O IV Plano de Fomento

Com a preparação do IV Plano de Fomento, diagnosticou-se um conjunto de

problemas que subsistiam no sector. Trata-se fundamentalmente do aumento do custo

da mão-de-obra, das matérias-primas, do problema dos combustíveis e da água, tal

como a constante necessidade de modernização tecnológica. Quanto ao primeiro

problema, aconselha-se o “estudo da evolução para efectivos de pessoal

proporcionalmente mais reduzidos embora de maior qualificação, pelo recurso à

automatização e pela adopção de métodos de trabalho mais evoluídos”64. Através do

relatório e contas da SCC de 1972 e 1973, a questão do proteccionismo e da legislação

aplicada à cevada é alvo de fortes críticas, uma vez que obriga a indústria cervejeira a

“adquirir, em curto espaço de tempo, no final de cada campanha agrícola, a um preço

oficialmente fixado, todas as quantidades que lhe sejam entregues pela Lavoura”, tendo

que “pagar preços que se distanciam dos que são praticados internacionalmente”, o que

coloca sérios problemas em situações de excedente na produção de cevada. Por outro

lado, a subida do imposto de transacções de 2$10 para 2$80/litro reflecte-se num coro

de protestos por parte dos industriais, que esperavam medidas de fomento do consumo e

da exportação.

Num relatório preparatório do IV Plano de Fomento, elaborado pela Corporação

da Indústria, a Companhia União Fabril Portuense dá conta dos problemas que se lhe

colocam: o abastecimento de água na zona de Matosinhos, que causa graves

perturbações ao funcionamento da empresa; a necessidade de redução do custo das

64 Boletim da Sociedade Central de Cervejas, n.º 1, 1974.

Page 46: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

35

cevadas nacionais, uma vez que as cevadas importadas acabam por ser menos

dispendiosas; as deficiências dos meios de comunicação na zona Norte; critica aos

novos licenciamentos que poderão arrastar a indústria cervejeira para o caos, pois o total

da capacidade produtiva – 225 milhões de litros/ano (com estimativa de capitação de

28,1 litros/pessoa) – ultrapassa em larga escala o consumo nacional – capitação de 14,1

litros/pessoa65.

1.5.2. Redes de interesses, grupos e monopolismo

O sector cervejeiro, tal como os principais sectores concentrados em Portugal,

constituía um autêntico jogo de relações e interesses, por vezes difícil de destrinçar.

Através do diagrama e da tabela presentes no anexo D, é realizada uma viagem desde

1934 até 1974, onde procuramos encontrar e relacionar os principais actores entre si,

tornando visível aquilo que poderia parecer um jogo de sombras. Veremos, à medida

que avançamos temporalmente, a entrada de interesses e capitais financeiros no sector,

através de “participações cruzadas entre os bancos e as grandes empresas, cujos

principais accionistas eram accionistas minoritários dos bancos”66, que ajudam a

prolongar o monopólio existente, assente sobretudo entre a Sociedade Central de

Cervejas e a Companhia União Fabril Portuense, ainda que com uma relevância muito

maior da primeira, até porque, como já foi referido, a SCC vai tomar parte de 51% do

capital social da CUFP, em 1947.

Um dos protagonistas fulcral neste enredo é Manuel Vinhas, cervejeiro e

vidreiro, industrial-banqueiro (um dos representantes do Banco Português do Atlântico)

e um dos donos da Portugália. É através desta empresa que, em 1934, procede à

concentração da indústria cervejeira na Sociedade Central de Cervejas, com excepção

da Companhia União Fabril Portuense. Importante nestas relações era a ligação do

sector cervejeiro à indústria de vidro e garrafas, onde a Portugália detinha a Empresa

Produtora de Garrafas. A família Lancastre de Freitas e Carvalho Martins assumem um

papel de igual respeito no seio da Sociedade Central de Cervejas. Surgem

recorrentemente, numa espécie de evolução hereditária, apelidos familiares similares

65 PORTUGAL. CORPORAÇÃO DA INDÚSTRIA. IV Plano de Fomento. Anexo: Questões sectoriais. Lisboa: s.n, 1972, pp. 44-48. 66 RIBEIRO, José Félix et al. “Grande indústria, banca e grupos financeiros,” Análise Social XXIII, n.º 99 (1987): 945-1018, p. 1015.

Page 47: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

36

nos cargos mais importantes – Lancastre de Freitas, Sttau Monteiro, Moniz Galvão,

Carvalho Martins, Homem de Mello, Miles (na Madeira), Beirão da Veiga etc. –

indicando a estrutura fechada, característica do patronato português.

Estas relações íntimas entre o industrial e o financeiro ganham relevo a partir da

década de 60, até pela necessidade de investimento necessário para se proceder à

modernização das instalações na indústria. Esta realidade é facilmente percepcionada na

leitura dos relatórios e contas, por exemplo, da CUFP, ao encontrar o Banco Português

do Atlântico no Conselho de Administração em 1961, representado por Alberto Pires de

Lima (e depois Cupertino de Miranda), ou descobrir a presença de Manuel Ricardo

Espírito Santo Silva no mesmo Conselho de Administração, como delegado da

Companhia de Cervejas Estrela. O próprio engenheiro João Talone, responsável pelo

projecto de desenvolvimento da empresa neste período e, mais tarde, administrador da

Cuca, exerceu as funções de administrador executivo do Banco Português do Atlântico

entre 1972 e a nacionalização do mesmo. Na Sociedade Central de Cervejas, o Banco

Português do Atlântico e o Banco Espírito Santo (através da Estrela) surgem igualmente

pelas mesmas razões, enquanto o Banco Borges & Irmão ganha força mais tardiamente,

apesar de deter o capital da Fábrica de Coimbra (participação com a SCC na formação

da Sogere – Sociedade Geral de Cervejas e Refrigerantes de Moçambique). Encontram-

se ainda na SCC nomes como Fernando Moniz Galvão, Manuel Ricardo Espírito Santo,

entre outros com ligações a grupos financeiros.

Os trusts não se encerram à indústria cervejeira. Criam, por seu turno, uma teia

complexa de participações financeiras que merecem ser cuidadosamente examinadas.

No vidro, a Empresa Produtora de Garrafas, da SCC, dá lugar, em 1968, à Cive, que

engloba, para além daquela empresa, a Guilherme Pereira Roldão e duas empresas de

cristalaria, a Ivima e a Crisal. A SCC empreende ainda integrações verticais nos

plásticos – Síntex (1972) –, nas águas, no vinho e nos refrigerantes – Adegas Camillo

Alves, Sociedade de Água de Luso, por exemplo – e até em empresas de publicidade,

como a Cinevoz (1967) e supermercados (Nutripol). A CUFP detinha algumas

participações financeiras relevantes e diversas, que iam desde as empresas cervejeiras

nas colónias, a empresas de alimentação, como a Gelex, e águas – Empresa das Águas

Medicinais Castelo de Vide –, passando pelo sector agrícola, mormente na Lupulex –

Sociedade Portuguesa de Cultura de Lúpulo, entre muitas outras.

Page 48: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

37

Todavia, a década de 70 vai inaugurar uma nova fase da monopolização através

do sector financeiro e de sociedades de investimento. É o que acontece na Portugália

onde, através da Sociedade de Investimentos São Ciro, os interesses da família Vinhas

vão-se estendendo67 (na Estrela sucede-se o mesmo com a Progredior, controlada pela

família Carvalho Martins). Em 1973, os principais accionistas da SCC constituem uma

sociedade de controlo, a Parfil – Sociedade de gestão de Participações Financeiras, cujo

objectivo “é a gestão de participações noutras sociedades”68.

O grupo do Conde de Caria está também ligado à indústria de bebidas, sempre

numa relação estreita com o grupo Champalimaud e o grupo CUF, bem como ao sector

financeiro, através do Banco Pinto e Sotto Mayor. Destacam-se aqui as empresas

Vidago, Melgaço & Pedras Salgadas e Supersumos, sendo esta última a fundadora da

Cergal, empresa que concentra os interesses dos grandes industriais vidreiros (Santos

Galo e Santos Barosa). Na Copeja, assiste-se, da mesma forma, à presença da banca,

com o Banco Espírito Santo, aliado à família Guedes de Sousa e ao grupo Comundo –

“sociedade mãe de muitas sociedades luso-estrangeiras”69 (um dos representantes do

BPA). Os accionistas da Imperial, segundo Maria Belmira Martins, não diferem muito

dos da Copeja. O Banco Espírito Santo participava ainda na Nocal, em Angola.

1.5.3. O sector cervejeiro e a economia portuguesa nas vésperas da

Revolução

Compreender a economia da Revolução pressupõe um conhecimento

enquadrado dos sinais, das características, das mudanças que marcaram o período pré-

revolucionário. A evolução dos acontecimentos nos mais variados domínios permite-

nos identificar alguns traços que considero marcantes, e que, na área económica, se

podem dividir em duas fases, com um ponto de ruptura em 1957, após a realização do II

Congresso da Indústria Portuguesa. Se na primeira fase tínhamos um modelo

económico assente na estabilidade financeira, no planeamento a médio prazo,

privilegiando o sector agrícola e algumas indústrias complementares e que sacrificava a

modernização pela estabilidade social, o final da década de 50 vai significar uma recusa

deste modelo de transição, fundando as bases do crescimento e desenvolvimento

67 MARTNS, Maria Belmira. Sociedades e grupos em Portugal. Lisboa: Estampa, 1973. 68 MARTINS, Américo Central De Cervejas: 50 anos de actividade. Lisboa: Central de Cervejas, 1985. 69 MARTNS, Maria Belmira. Sociedades e grupos em Portugal. Lisboa: Estampa, 1973, p. 45.

Page 49: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

38

económico numa nova política industrial, que remetia para a exportação os novos

horizontes, procurando contrariar a política de substituição de importações. Entre as

variáveis em jogo podem ainda destacar-se a guerra colonial que marcou os anos 60 e

70, bem como os ventos de mudança que se faziam sentir no contexto internacional

relativamente à descolonização; a adesão a estruturas internacionais e de cooperação,

como a NATO, a ONU e a EFTA, não negligenciando os motivos de tais adesões; a

crise petrolífera de 1973, entre uma série de outros leitmotivs.

A importância destas questões, por vezes aparentemente residuais, só é

correctamente formulada quando analisadas a longo prazo, enquadradas no contexto

mais abrangente da situação económica que assinalou todo o período revolucionário

português, até porque muitos destes pontos estarão presentes e constituirão focos de

tensões e discussões económico-políticas durante o PREC (cf. dicotomias: estabilidade-

desenvolvimento, intervencionismo-liberalismo, isolamento-abertura, africanismo-

europeísmo, agricultura-indústria, etc.). Assim sendo, a questão da estabilidade

financeira, que se insere num campo de debate maior entre finanças (percepcionada

como conservadora) e economia (numa óptica de transformação), tornou-se peça-chave

da política económica salazarista, que se foi alicerçando e transformando “em algo para

além do campo da opção política circunstancial, adquirindo um estatuto virtualmente

mítico”70, conduzindo ao atraso do desenvolvimento económico e industrial do país.

Augusto Mateus fala da importância das relações entre as dinâmicas interna e

externa para se perceber a evolução estrutural da economia portuguesa. Deste modo, a

internacionalização da economia portuguesa neste período de análise pode ser descrita

como limitada, pois era dominada por “movimentos de mercadorias com base em

vantagens comparativas limitadas”, no quadro da EFTA. Esta situação coexistia com a

“manutenção da relevância do comércio colonial”, num sistema fechado ao

investimento estrangeiro71. No plano interno, à manutenção de salários reais baixos,

somou-se a debilidade da estrutura económica e a pouca apetência para assumir riscos,

podendo ser observado pelo peso das várias actividades industriais. O bloqueamento a

estratégias e planos de desenvolvimento económicos ousados é das questões mais

70 LOPES, Ernâni Rodrigues. “O desenvolvimento económico-social desde o pós-guerra 45 e a integração europeia. Dilemas portugueses.”, in Portugal e a Europa: 50 anos de integração. Lisboa: Verbo, 1996, p. 27. 71 MATEUS, Augusto. “O 25 de Abril, a transição política e as transformações económicas", in O País em Revolução. Lisboa: Editorial Notícias, 2001, p. 263.

Page 50: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

39

interessantes, que terá consequências não só nesse período, mas também durante o

processo revolucionário em curso. Ainda assim, e contrariamente ao discurso ruralista

de Salazar nos anos 50, houve uma tendência, que Silva Lopes considera natural, para a

industrialização, mas nos moldes que os capítulos anteriores foram demonstrando.

O crescimento económico português na década de 60 foi notável em termos

absolutos, mas em termos relativos a espectacularidade do mesmo é minimizada. Na

realidade, o desenvolvimento da década de 60 acontece simultaneamente com uma

verdadeira quebra ou crise na agricultura, evidenciada no êxodo rural, bem como no

aumento da emigração para países europeus (ex. França), caso único por toda a Europa

devido à quebra de população na metrópole, que baixa de “8,89 para 8,61 milhões (-

3,1%) nos anos 60”72. António de Sousa Franco, de forma bastante sistemática, aponta

os sinais de crise que se começam a evidenciar a partir de 1967 (com base em dados do

Banco de Portugal), e se podem representar do seguinte modo:

i. “Atenuação das taxas de crescimento das exportações e dificuldades de continuar a

tradicional política de substituição de importações;

ii. Incremento do défice comercial, compensado, na balança de pagamentos correntes, pelas

remessas de emigrantes;

iii. Afrouxamento do ritmo de crescimento do investimento industrial;

iv. Aparecimento de taxas de inflação progressivamente mais fortes;

v. Dificuldade de o Estado suportar os gastos de infra-estrutura, devido ao peso das despesas

da guerra, com deterioração da qualidade e eficiência do aparelho do Estado;

vi. Diminuição dos salários reais em 1971, 1972 e 1973”73.

Os indícios de uma crise complexa do modelo económico do Estado Novo

também não surgem isoladamente. Pelo contrário, eclodem acompanhando a evolução

europeia, já se fazendo sentir algumas mudança sociais em Portugal, nomeadamente

com a emergência de uma nova classe média, que rejeitava o carácter rural do Estado e

“não desejava mais do que ser «europeia»”74. Apesar deste “período glorioso” em

termos económicos, José da Silva Lopes diz-nos que Portugal encontrava-se na cauda

da Europa75. Todas as alterações no tecido económico que aqui tenho dado conta, estão

72 LOFF, Manuel. “Fim do colonialismo, ruptura política e transformação social em Portugal nos anos setenta", in Portugal: 30 anos de democracia (1974-2004). Porto: Editora UP, 2006, p. 155. 73 FRANCO, António de Sousa. “Economia", in Portugal, 20 anos de Democracia, ed. António Reis. Lisboa: Círculos de Leitores, 1994, pp. 173-174). 74 MAXWELL, Kenneth. A construção da democracia em Portugal. Lisboa: Presença, 1999, p. 40. 75 LOPES, José da Silva. A economia portuguesa desde 1960. Lisboa: Gradiva, 1996, p. 15.

Page 51: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

40

bem perceptíveis no quadro relativo à evolução do emprego em Portugal elaborado por

Américo Ramos dos Santos76:

1960 1973 Emprego Total 3 112 000 3 124 300 Emprego PIB Emprego PIB Sector primário 43,6% 25,1% 26% 12,2% Sector secundário 28,7% 36,5% 36,7% 51,7% Sector terciário 27,7% 38,4% 37,3% 36,1%

A crise petrolífera de 1973, que conduziu ao aumento exponencial do preço do

crude (quadruplicou, aumentando de três para doze dólares/barril), a par da contracção

económica, da pressão inflacionista e da desregulamentação do sistema monetário

internacional, colocou um ponto final na época áurea do crescimento económico

europeu, com implicações para a economia portuguesa.

As sucessivas tentativas dos elementos tecnocratas77 do governo de Marcello

Caetano não conseguiram suster a degradação do regime e do modelo económico

subjacente, sobretudo pela acção da velha guarda salazarista, os ultras do regime. As

palavras que se seguem, de Fernando Rosas, traduzem na perfeição o fracasso da

mudança política – a última evolução na continuidade, a última transição falhada:

“o marcelismo era, na realidade, a expressão do triunfo tardio de uma corrente reformista dentro

do Estado Novo, surgida no rescaldo da II Guerra Mundial, e que, em 1968, após acidentes

vários e algumas oportunidades ingloriamente perdidas, chegava finalmente ao poder. Iria deixar

fugir, também, desta feita, como veremos, a última chance de conduzir o regime por um

processo de transição”78.

O processo de industrialização que ocorreu nos anos 60 acabou por se tornar, de

certa forma, disfuncional e desarticulado da realidade, por não conseguir ultrapassar

alguns obstáculos e imobilismos que se mantinham do passado, não querendo com isto

negligenciar todas as transformações essenciais que gerou na sociedade portuguesa.

Mas, que industrialização seria esta que vivia de mãos dadas com o condicionamento

industrial? Como modernizar com um processo de industrialização que parece rejeitar a

competitividade interna e externa, num sistema fechado e com condições de produção

76 SANTOS, Américo Ramos dos. “Abertura e bloqueamento da economia portuguesa", in Portugal Contemporâneo, 1958-1974, ed. António Reis, vol. V. Lisboa: Publicações Alfa, 1989, p. 131. 77 Tais como Rogério Martins, Xavier Pintado, João Salgueiro e Vasco Leónidas. 78 ROSAS, Fernando. “O Marcelismo ou a falência da política de transição no Estado Novo", in Do Marcelismo ao Fim do Império, ed. José Maria Brandão de Brito. Lisboa: Editorial Notícias, 2001, p. 16.

Page 52: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

41

artificiais? Nesta conjuntura global, realça-se o surgimento de um número reduzido de

grupos económico-financeiros hegemónicos que, fazendo uso das palavras de Ernâni

Rodrigues Lopes, “[constituem] a base organizacional dos segmentos dinâmicos da

economia portuguesa”79 – são os chamados sete magníficos, que controlavam os

sectores industriais de maior produtividade, taxa de lucro e capacidade tecnológica, bem

como os sectores básicos e a banca80.

Enquadrada neste cenário, a indústria cervejeira portuguesa, sendo um sector

com forte contribuição para o crescimento industrial do país81, sobretudo a partir dos

anos 60, em que engrossa os cofres do Estado com largos montantes de capital

provenientes do imposto sobre o produto, parece representar minimamente as aparentes

contradições da(s) política(s) económica(s) do Estado Novo, apesar de se encontrar, não

raras vezes, em posições de vanguarda em vários domínios – veja-se a investigação

científica, o marketing, a formação técnica, etc. No fundo, tal como a economia

portuguesa, o crescimento deste sector, em termos absolutos é relevante, mas em termos

comparativos acaba por ficar aquém da evolução da indústria cervejeira mundial,

sobretudo no que diz respeito ao volume de produção e à exportação. No plano do

crescimento, contrariamente à situação de outros sectores, a indústria da cerveja não

conheceu uma situação de real declínio ou desaceleração no final da década de 60 /

início de 70, mas na vertente financeira a situação não é a mesma, como teremos

oportunidade ver. O sector cervejeiro – e praticamente toda a indústria de processos –

constitui-se como um dos principais núcleos de desenvolvimento industrial, não

ultrapassando alguns vícios e problemas estruturais da indústria portuguesa,

nomeadamente a exploração de mão-de-obra pouco qualificada e a recusa da tecnologia

e inovação.

79 LOPES, Ernâni Rodrigues. “O desenvolvimento económico-social desde o pós-guerra 45 e a integração europeia. Dilemas portugueses,” Portugal e a Europa - 50 Anos de Integração (1995): 25-45, p. 32. 80 ROLLO, Maria Fernanda. “A industrialização e os seus impasses,” in História de Portugal: o Estado Novo (1926-1974), ed. José Mattoso, vol. 7, 8 vols. Lisboa: Estampa, 1998, p. 421. 81 LISBOA, Manuel. A Indústria Portuguesa e os seus dirigentes. Lisboa: Educa, 2002.

Page 53: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

42

2. Economia da Revolução: contextualização

2.1. Revolução e transformações A revolução que eclodiu na madrugada de 25 de Abril de 1974 e que pôs fim a

48 anos de ditadura deve ser analisada sob várias perspectivas, sobretudo relacionadas

com a crise definitiva do paradigma colonial e todas as questões envolventes (desde o

cansaço acumulado, às demissões de altas patentes e a percepção militar da derrota na

Guiné, bem como a entrada de oficiais milicianos no quadro). O golpe militar que fez

cair o regime, não implicou o colapsar imediato do Estado, mas sim “das características

fascistas do velho regime: partido único, a polícia política, as milícias paramilitares, o

tribunal plenário, os presos políticos, a repressão da liberdade de expressão e de

associação”82. Considero que o processo revolucionário que se seguiu foi o dínamo das

transformações destes anos (1974-1976), com grande participação social, ainda que num

movimento amplamente assimétrico e multipolar, com linhas temporais razoavelmente

demarcadas.

Descrever a economia da revolução, os seus indicadores económicos, as linhas

de orientação, as transformações operadas e as especificidades desta época é um

trabalho aliciante, maciço e, acima de tudo, ainda muito mitificado. Deste modo,

procurarei analisar e explicitar os objectivos económicos iniciais e toda a sua evolução

num quadro político-militar governamental, mas também na esfera não-governamental.

Consequentemente, sublinharei as tensões existentes e as principais políticas aplicadas,

com particular enfoque para a questão das nacionalizações (sobretudo no capítulo 3 e 4).

O programa do Movimento das Forças Armadas (MFA), sobre a égide dos três

D’s – descolonizar, democratizar e desenvolver – é aparentemente muito vago no que

diz respeito aos seus fundamentos económicos e sociais:

“a) Uma nova política económica, posta ao serviço do Povo Português, em particular das

camadas da população até agora mais desfavorecidas, tendo como preocupação imediata a

luta contra a inflação e a alta excessiva do custo de vida, o que necessariamente implicará

uma estratégia antimonopolista”.

82 SANTOS, Boaventura de Sousa. O Estado e a Sociedade em Portugal (1974-1988). Porto: Afrontamento, 1998, p. 27.

Page 54: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

43

“b) Uma política social que, em todos os domínios, terá essencialmente como objectivo a defesa

dos interesses das classes trabalhadoras e o aumento progressivo, mas acelerado, da

qualidade da vida de todos os Portugueses”83.

Não deixa, no entanto, de ser relevante a preocupação com a crise que se fazia

sentir, especialmente o receio da inflação. Por outro lado, estabelece-se formalmente o

inimigo da revolução – classe capitalista, financeira, e outros ramos de actividades

análogos –, surgindo o interesse dos trabalhadores como uma das referências capitais.

A Junta de Salvação Nacional, com Spínola como principal figura, vai promover

uma série de acções conducentes à desestruturação do antigo regime, nomeadamente

ilegalizar a Acção Nacional Popular, permitir a liberdade sindical e destituir a

Assembleia Nacional. Em 14 de Maio de 1974, a Junta de Salvação Nacional decreta a

estrutura constitucional transitória (Lei n.º 3/74), que revoga a Constituição de 1933

naquilo que era contrário às disposições constitucionais anteriores – Leis n.os 1/74 e

2/74 – e estabelece as principais normas, medidas e órgãos que devem vigorar até à

concretização de uma nova Constituição. António de Spínola é o militar escolhido para

a Presidência da República, que coexistirá com um conjunto de organismos84.

Neste mesmo mês, a 16 de Maio, é formado o I Governo Provisório, liderado

pelo liberal independente Adelino da Palma Carlos, integrando representantes dos

principais partidos políticos (Partido Comunista, Partido Socialista, Partido Popular

Democrático, CDS e MDP) e militares. O programa do governo é uma peça de estudo

fulcral, uma vez que esclarece as clivagens existentes, as esperanças e as linhas de rumo

que se colocavam, mas demonstra as limitações que os próprios sentiam pela simples

constatação de que o carácter transitório não permitia “grandes reformas de fundo, nem

alterações que afectem o foro íntimo da consciência dos Portugueses, em particular das

suas convicções morais e religiosas” (D. L. n.º 203/74, in S.a, 1975, p. 5/24). No quadro

que se segue, adaptado do Programa do Governo Provisório, apresentarei as medidas

centrais e os objectivos da política económica e financeira:

! “Combate à inflação, através de medidas de carácter global;

83 s.a, Programa do Movimento das Forças Armadas. E vários decretos e leis publicados pelo Governo Provisório. Lisboa: Rei dos Livros, 1975, p. 5/20. 84 A concepção de duplo poder emerge naturalmente: Governo Provisório, Junta de Salvação Nacional, Conselho de Estado.

Page 55: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

44

! Revisão da orgânica e dos métodos de administração económica, de modo a dotá-los de

eficiência e celeridade de decisão;

! Eliminação dos proteccionismos, condicionalismos e favoritismos que restrinjam a

igualdade de oportunidades e afectem o desenvolvimento económico do País;

! Criação de estímulos à poupança e ao investimento privado – interno e externo –, com

salvaguarda do interesse nacional;

! Adopção de novas providências de intervenção do Estado nos sectores básicos da vida

económica, designadamente junto de actividades de interesse nacional, sem menosprezo dos

legítimos interesses da iniciativa privada;

! Intensificação do investimento público, designadamente no domínio dos equipamentos

colectivos de natureza económica, social e educativa;

! Liberalização – em conformidade com os interesses do País – das relações económicas

internacionais, no domínio das trocas comerciais e dos movimentos de capitais;

! Apoio e fomento de sociedades cooperativas. Revisão dos circuitos de comercialização, de

molde a libertá-los de intervenções e encargos não justificados;

! Reforma do sistema tributário, tendente à sua racionalização e à atenuação da carga fiscal

sobre as classes desfavorecidas, com vista a uma equitativa distribuição do rendimento;

! Adopção de medidas excepcionais destinadas a combater a especulação e a fraude fiscal;

! Reforma do sistema de crédito e da estrutura bancária, visando, em especial, as exigências

do desenvolvimento económico acelerado;

! Nacionalização dos bancos emissores;

! Dinamização da agricultura e reforma gradual da estrutura agrária;

! Auxílio às pequenas e médias empresas;

! Protecção das participações minoritárias no capital das sociedades”85.

Numa série de alterações a que se propõe, o I Governo Provisório não fecha as

portas da intervenção estatal, pelo contrário, expande até a possibilidade de actuação em

alguns sectores essenciais, falando da nacionalização dos bancos emissores e do eterno

problema da questão agrícola. Note-se também a presença de um pensamento anti-

monopolista e a importância concedida às pequenas e médias empresas. Deixo ainda um

breve apontamento para a presença de Vasco Vieira de Almeida à frente do Ministério

da Coordenação Económica, que se ocupa das seguintes áreas: finanças, planeamento

económico, indústria e energia, agricultura, comércio externo e turismo e abastecimento

e preços. Nos tempos iniciais, a actuação do Governo Provisório cingiu-se sobretudo a

políticas de emergência, a

85 Ibid, pp. 5/26 e 5/27, sublinhado nosso.

Page 56: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

45

“tentativas de articulação [...] de medidas imediatas que evitassem as consequências negativas de

qualquer situação anárquica ou revolucionária (especulação, açambarcamento de bens, escassez

de abastecimentos, fuga de capitais ou de bens de património, incerteza, insegurança,

instabilidade social) com algumas providências que marcassem a propriedade de um certo

sentido social (em geral socializante ou mesmo socialista)”86.

Foi nesta óptica – sobretudo com o D.L. n.º 217/74 (27 Maio) – que se procedeu

ao congelamento dos preços de bens essenciais, à fixação do Salário Mínimo Nacional

(3 300$00), ao aumento do abono de família, ao congelamento das rendas urbanas, à

criação da Comissão de Apoio às Pequenas e Médias Empresas, ao encerramento das

Bolsas de Valores de Lisboa e do Porto e ao controlo das contas bancárias para evitar

fugas de capitais (em parceria com o sindicato). Este período conheceu, de igual modo,

um enorme movimento social espontâneo, fonte geradora de enormes conflitos sociais e

laborais, começando a definir-se os vários pólos e agentes da revolução: destacam-se as

ocupações de casas de habitação por vários pontos urbanos, mas em especial no centro e

sul do país (Lisboa, Setúbal); a ocupação da Companhia das Águas de Lisboa (21 de

Maio de 1974); a explosão de movimentos grevistas e a criação das comissões de

trabalhadores e das comissões de moradores, com larga experiência acumulada antes do

25 de Abril87, bem como a emergência de sindicatos fortes e organizados. No fundo, a

execução das medidas que estavam previstas no programa do Governo não foi realizada

totalmente e é esta situação que permanece até ao 11 de Março de 1975, uma vez que

num programa de feições socialista e liberais, num quadro revolucionário sem posições

totalmente clarificadas, seria muito difícil o cumprimento destas linhas programáticas.

Anexa-se a isto o facto de a prioridade política estar centrada na descolonização, na

“desfascização” dos organismos estatais e das entidades públicas, e no controlo da

situação social.

O I Governo Provisório vai acabar por ter uma vida curta, caindo a 11 de Julho

de 1974, fruto das propostas de Palma Carlos de realizar, ao mesmo tempo, eleições

presidenciais e um referendo para uma Constituição provisória. Como estas propostas

contrariavam o programa do MFA e propunham o reforço do poder do Presidente da

República, elas foram rejeitadas e Palma Carlos pede a demissão a 09 de Julho. A 12 de

Julho, Vasco Gonçalves, da facção militar mais próxima do PCP, é indigitado por

86 FRANCO, António de. “Economia, in Portugal, 20 anos de Democracia, ed. António Reis. Lisboa: Círculo de Leitores, 1994, p. 177. 87 cf. O 25 de Abril e as lutas sociais nas empresas

Page 57: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

46

Spínola para ocupar o cargo de Primeiro-ministro. As posições começam a definir-se

em torno de outro foco de tensão entre o MFA e Spínola: a questão da descolonização e

da autodeterminação dos povos. Este problema será formalmente resolvido com o

esclarecimento ao Programa do MFA, que afirma “o reconhecimento [...] do direito dos

povos à autodeterminação”88.

Os traços definidores da política económica do novo governo não se encontram

ordenados no programa do governo, mas estão, curiosamente, presentes no discurso da

tomada de posse de Vasco Gonçalves. Este dá continuidade à concepção de uma

economia ao serviço do povo e dos trabalhadores, num tempo de grandes dificuldades.

Fala de um apoio à iniciativa privada desde que esta adira “sem ambiguidades ao

esforço de reconstrução nacional” e coexista com as “potencialidades do Estado”, num

caminho de modernização económica89. Mais importante que estas chamadas de

atenção, é a explicação dada relativamente à questão das reformas de fundo:

“[...] o Programa do Movimento das Forças Armadas não permite a efectivação de

transformações radicais ou revolucionárias da estrutura sócio-económica da sociedade

portuguesa; contudo, nem da letra nem do espírito do referido Programa se pode concluir que

não possam desde já ser adoptadas as medidas que se julguem necessárias para acelerar o

progresso económico-social, melhorar as condições de vida do Povo Português e aproximá-lo

dos níveis dos outros povos da Europa”90.

O Ministério da Coordenação Económica é extinto a 18 de Julho e em seu lugar

é criado o Ministério da Economia, sob a orientação de Emílio Rui Vilar, e o Ministério

das Finanças, cuja liderança coube a José da Silva Lopes.

Face aos conflitos latentes entre spínolistas e o MFA, não tardou a que

começassem a surgir tentativas golpistas. Foi o que aconteceu a 28 de Setembro, com a

manifestação da maioria silenciosa, que, contudo, acabou por fracassar e conduziu à

demissão de Spínola. Costa Gomes é então nomeado Presidente da República e é

formado o III Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves, com reforço da

posição do MFA no governo. Nos quadros do MFA é reformulada a Junta de Salvação

Nacional, com o afastamento dos spínolistas, e é criado o Conselho dos Vinte (Conselho

88 s.a, Programa do Movimento das Forças Armadas. E vários decretos e leis publicados pelo Governo Provisório. Lisboa: Reis dos Livros, 1975, p. 5/53. 89 GONÇALVES, Vasco. Programa do II Governo Provisório. S.l: s.n, 1974, p. 10. 90 Ibid.

Page 58: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

47

Superior do MFA), um órgão que teria como objectivo “coordenar a actividade de todos

os militares, [...] tendo em vista uma maior integração das hierarquias no processo

revolucionário e o estabelecimento real e eficaz de um fluxo de informação a todos os

níveis militares”91. Foi ainda criada a Assembleia do MFA (ou Assembleia dos

Duzentos), como espécie de órgão consultivo, que vai acentuar a predominância do

MFA em relação aos demais.

O período que decorre de Outubro a Março de 1975 é especialmente um período

de definição do modelo político e económico, com largo protagonismo para o MFA e

para o crescimento das forças de esquerda. Os restantes partidos políticos encontram-se

numa fase organizativa, de realização de congressos e divulgação dos programas. Como

refere Inácia Rezola, o “tom geral é de moderação”92, e de subalternização do poder

civil ao militar. Ao mesmo tempo, no interior do MFA fazem-se sentir algumas vozes

dissonantes com o rumo dos acontecimentos, e isto é manifestado na divisão em três

frentes: “a moderada, a gonçalvista e a populista”93. Inicia-se, apesar da fractura

ideológica, o processo de institucionalização do MFA na vida política, que verá o seu

auge na sequência dos acontecimentos de 11 de Março, mas que passou pelo

beneplácito do espectro partidário em finais de 1974, e com a reunião de um relativo

consenso quanto a uma via socialista ou socializante (a definir), anti-monopolista e mais

activa, como se depreende pela prisão de alguns administradores da Torralta e de

instituições bancárias, acusados de sabotagem económica (13 de Dezembro de 1975).

Quanto às intervenções do Estado, a 12 de Outubro é publicado o D. L. n.º 540-

A/74, que garante a possibilidade de intervenção do Estado na banca “em situações

específicas em relação a determinadas situações”, através de delegados e/ou

administradores do Governo. Isto surge na sequência da nacionalização dos bancos

emissores (Banco de Angola; Banco Nacional Ultramarino e Banco de Portugal) que

ocorreu a 13 de Setembro, e que será tratada de forma mais cuidada no capítulo 3. O D.

L. n.º 671/74 (21 de Novembro) reforça esta posição e a capacidade de coordenação do

Banco Central junto das instituições de crédito. Já a 25 de Novembro, através do D. L.

n.º 660/74, fica prevista a intervenção directa do Estado nas empresas privadas sempre

91 REZOLA, Maria Inácia. Os militares na revolução de Abril: o Conselho da Revolução e a transição para a democracia em Portugal, 1974-1976. Lisboa: Campo da Comunicação, 2006, p. 51. 92 Ibid, p. 54. 93 Cervelló, cit. por Ibid, p. 55.

Page 59: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

48

que for necessária a regulação, nomeadamente por motivos de sabotagem económica,

disciplinados pelo seguinte índice:

i. “Encerramento ou ameaça de despedimento total ou de secções significativas da empresa, ou

despedimentos efectivos ou eminentes da parte importante do pessoal sem justa causa;

ii. Abandono de instalações ou estabelecimentos;

iii. Descapitalização ou desinvestimento significativos e injustificados;

iv. Incumprimento ou mora no cumprimento, de forma reiterada, das obrigações da empresa;

v. Desvio de fundos da actividade corrente da empresa;

vi. Redução dos volumes de produção não justificada em termos de mercado;

vii. Empolamento injustificado das despesas gerais e de administração;

viii. Outras situações emergentes de conduta dolosa ou gravemente negligente na condução da

actividade económica”94.

Abre-se a possibilidade do Estado intervir directamente, mas ainda não se fala

em nacionalização. Outros decretos importantes neste contexto são os D.L. n.os 1/75 e

51/75: o primeiro tem que ver com o financiamento bancário e as movimentações e

créditos, enquanto o segundo se traduz na criação do Instituto de Apoio às Pequenas e

Médias Empresas Industriais (IAPMEI).

O Plano de Melo Antunes (PPES) foi aprovado a 07 de Fevereiro pelo Conselho

de Ministros, mas nunca chega a entrar em vigor. Elaborado pelo ministro sem pasta,

Ernesto Melo Antunes, e por alguns especialistas como Rui Vilar, José da Silva Lopes,

Maria de Lourdes Pintasilgo, Vítor Constâncio e outros, o PPES é, sem dúvida, o

primeiro grande programa económico-social de fundo para a sociedade portuguesa, de

definição das grandes opções e linhas programáticas, não apenas num sentido de

colmatar a situação vigente, mas com perspectivas mais ambiciosas. Preparado desde

Outubro de 1974, o Programa reflecte uma certa cisão entre os oficiais progressistas

(atente-se às constantes alterações introduzidas), mas parece estar desenquadrado da

realidade do momento, que conhece a ascensão de uma via mais revolucionária e

socialista. Podem ser observadas algumas das suas medidas e objectivos no quadro

sequente:

! “Melhoria do nível de vida da população;

! Criação de novos empregos e incentivo ao investimento;

94 s.a, Programa do Movimento das Forças Armadas. E vários decretos e leis publicados pelo Governo Provisório. Lisboa: Reis dos Livros, 1975, pp. 5/55 e 5/56.

Page 60: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

49

! Controlo pelo Estado dos sectores-chave da economia, nomeadamente das indústrias

extractivas e transformadoras;

! Controlo do Crédito Predial Português pelo sector público;

! Criação de uma única empresa de transportes marítimos, na qual o Estado tomará 51% do

capital social;

! Criação de empresas públicas de comercialização interna de produtos de primeira

necessidade;

! Política de participação dos trabalhadores em órgãos de fiscalização e vigilância das

empresas;

! Criação de um instituto nacional de promoção industrial e de um Instituto de Gestão das

participações financeiras do Estado;

! Ampla reforma fiscal;

! Apoio ao investimento privado;

! Não ingerência do Estado na vida das empresas (a não ser em casos extremos)”95.

Apesar de não ter entrado em funcionamento, na minha perspectiva, o PPES

inaugura uma nova etapa no que concerne às política económicas, particularmente no

sentido de instaurar um socialismo de tipo único, que procura romper com “o sistema

capitalista ou modelos neocapitalistas, ou modelos de social-democracia da Europa

Ocidental, [ou] das chamadas democracias populares”96. O que se sucede após a

tentativa golpista de Spínola e dos sectores conservadores no dia 11 de Março é a

radicalização destas propostas, levando até aos limites possíveis os ideais presentes no

quadro inicial do MFA e de algumas posições partidárias. Desta forma, extingue-se a

Junta de Salvação Nacional, o Conselho dos Vinte e o Conselho de Estado, e é criado,

por sua vez, o Conselho Superior da Revolução (12 de Março), o mega-órgão

orientador/executivo de todo o processo, que contará, até às eleições para a Constituinte,

com o apoio dos partidos, como o prova o Pacto MFA-Partidos, bem como o

reconhecimento do poder legislativo para a reforma estrutural da economia portuguesa

que lhe é concedido a 21 de Março. Nos dias imediatamente a seguir ao 11 de Março

lançam-se as primeiras nacionalizações de fundo, nomeadamente sobre as instituições

bancárias e as companhias de seguros. Outro caso que, por seu lado, trará grandes

confrontações ideológicas e sociais é a problemática da unicidade sindical.

95 PPES, in REZOLA, Maria Inácia. Os militares na revolução de Abril: o Conselho da Revolução e a transição para a democracia em Portugal, 1974-1976. Lisboa: Campo da Comunicação, 2006, p. 74, sublinhado nosso. 96 Melo Antunes, cit. por Ibid, p. 76.

Page 61: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

50

Nas ruas, nas fábricas e nos campos os movimentos sociais são constantes e

diversificados, com ocupações de empresas pelos trabalhadores, estabelecimento de

sistemas de autogestão, etc. Surge um novo governo na sequência destes

acontecimentos, a 26 de Março, com Vasco Gonçalves como Primeiro-ministro, mas

com a redução de sectores mais à direita. Assim, não são de estranhar as novas linhas

de orientação da política económica, aprovadas a 10 de Abril e que se consubstanciam

no D.L. n.º 203-C/75 de 15 de Abril, o qual define o modelo económico e as bases

gerais do programa de medidas económicas de emergência (mais nacionalizações e

reforma agrária). Mário Murteira é o elemento escolhido para a pasta do Planeamento e

Coordenação Económica, José Joaquim Fragoso para a pasta das Finanças e João

Cravinho fica responsável pelo Ministério da Indústria e Tecnologia. A política de

nacionalizações está verdadeiramente em marcha, num processo de “construção de uma

sociedade socialista”, como previa o Plano de Acção política (espécie de segundo

Programa do MFA, apresentado em Junho), mas não deixa de contar com sucessivas

crises, como as do 1º de Maio, o caso República e o caso Renascença, e até com a perda

de poder da esquerda radical nas eleições para a Constituinte, nas quais o PS obtém a

maioria (cerca de 38%), seguido do PPD (25%). No seio do MFA as divisões acentuam-

se e parecem cristalizar num trinómio: extrema-esquerda-PCP-moderados. Este enredo

permanece no chamado Verão Quente, levando inclusive à saída do PS e do PPD do

governo, à consequente queda e remodelação do governo em Agosto, e também à

tentativa de interferência dos Estados Unidos em Portugal – que, segundo Eugénio

Rosa, fez parte de um esquema maior de “boicote [dos] países capitalistas à Revolução

Portuguesa”, pelo menos até à queda do V Governo Provisório97. É esta a fase das

campanhas de dinamização cultural promovidas pela 5ª Divisão – ou “processo de

missionação cultural do povo”98 – e do reforço de poder do COPCON, como braço

armado do MFA. É, acima de tudo, um período que poder ser descrito como uma

“epidemia de planos”99: Plano de Acção Política (Junho), Documento-Guia de Aliança

Povo-MFA (Julho), Documento dos Nove (Agosto).

97 ROSA, Eugénio. Portugal, dois anos de revolução na economia. Lisboa: Diabril, 1976, p. 182. 98 ALMEIDA, Sónia Vespeira de. Camponeses, cultura e revolução: campanhas de dinamização cultural e acção cívica do MFA, 1974-1975. Lisboa: Edições Colibri, 2009, p. 21. 99 Vasco Gonçalves, cit. por REZOLA, Maria Inácia. Os militares na revolução de Abril: o Conselho da Revolução e a transição para a democracia em Portugal, 1974-1976. Lisboa: Campo da Comunicação, 2006, p. 253.

Page 62: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

51

O V Governo Provisório encontra-se numa posição bastante fragilizada, como se

constata pela sua curta duração (08 de Agosto a 19 de Setembro), e o MFA vai

tentando, de várias formas, eliminar os diferendos internos, prova dada pela constituição

de um Directório político-militar já em finais de Julho. Este governo é marcadamente de

esquerda, expresso de forma incontestável no seu programa – talvez o programa mais

radical de todos –, onde se assume

“a construção de uma sociedade socialista [...] sem classes, obtida pela colectivização dos meios

de produção, eliminando todas as formas de exploração do homem pelo homem e na qual serão

dadas a todos os indivíduos iguais oportunidade de educação, trabalho e promoção, sem distinção

de nascimento, sexo, credo religioso ou ideologia”100.

Algumas medidas em jogo focam-se em torno da descentralização político-

administrativa, da batalha da economia (ou produção), da socialização dos meios de

produção, da imediata delimitação do sector privado e apoio ao movimento cooperativo,

sempre com a política de austeridade como pano de fundo. O movimento

autogestionário e cooperativista foi, de facto espantoso, ao ponto de se falar num

número de aproximadamente 2666 cooperativas e 1200 empresas em regime de

autogestão para o ano de 1976101.

Em Setembro, a correlação de forças dentro do Conselho da Revolução inverte-

se, podendo-se falar de uma vitória “da linha dos Nove sobre os Gonçalvistas”102. Na

formação do VI Governo, Vasco Gonçalves é substituído pelo almirante Pinheiro de

Azevedo e a composição assinala já a recusa dos partidos de esquerda em assumir

algumas responsabilidades governamentais. É a via eleitoralista que vence, contando

com empréstimos no valor de 272 milhões de dólares por parte dos Estados Unidos e da

CEE103. Resumindo o período até aos acontecimentos de 25 de Novembro, o que se

observa é um verdadeiro estado de sítio, marcado pelos desentendimentos nas forças

armadas, nos partidos políticos e o aproveitamento oportuno da extrema-esquerda, tal

como a sua parcial ruptura com alguns movimentos sociais.

100 Programa do V Governo Provisório, 1975, p. 5. 101 LEÃO, Emanuel Reis. “Das transformações revolucionárias à dinâmica europeia,” in Portugal Contemporâneo, 1974-1992, vol. 6, ed. António Reis. Lisboa: Publicações Alfa, 1990, p. 176. 102 REZOLA, Maria Inácia. Os militares na revolução de Abril: o Conselho da Revolução e a transição para a democracia em Portugal. Lisboa: Campo da Comunicação, 2006, p. 393. 103 MAXWELL, Kenneth. A construção da democracia em Portugal. Lisboa: Presença, 1999, p. 174.

Page 63: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

52

2.2. Conclusões e indicadores económicos Concluindo a análise deste período, quero apenas salientar algumas das questões

que considero estruturais, recorrendo para isso a alguns indicadores económicos que,

certamente, espelharão melhor a realidade.

As transformações económicas conjunturais e estruturais portuguesas inserem-se

numa panorâmica de rupturas mais alargada, como indica Augusto Mateus. Neste

cenário é preciso não esquecer a ruptura energética, a ruptura monetária e financeira, a

ruptura do tipo de crescimento industrial e a ruptura da estabilidade das formas e

relações de dependência, dominação e interdependência104. Houve, portanto, uma

degradação dos termos de troca e aumento da inflação com associações múltiplas e com

consequências severas para as economias importadoras. Por outro lado, os sectores

financeiros saíram prejudicados com a desagregação do sistema monetário

internacional, com o aumento das taxas de juro e a sobrevalorização do dólar. Estas

mutações afectaram as economias semi-periféricas, com características de dependência

e com uma industrialização atrasada. Acrescente-se a isto a conjuntura político-social

portuguesa, mergulhada no caos e na indefinição económica, que se vê de repente com

um aumento de cerca de meio milhão de retornados e assiste à derrocada das trocas

comerciais com as ex-colónias e a uma diminuição das exportações para o mercado

europeu. Estar num limbo político-económico, que se vai assumindo progressivamente

como socialista, mas que não se desliga dos mecanismos liberais da economia de

mercado é, no mínimo, bastante exigente.

As transformações evidenciaram-se sobretudo no mercado de trabalho, nas

políticas sociais, na distribuição dos rendimentos e na regulação económica. A alteração

das relações de força entre os trabalhadores e os empregadores é um dos principais

destaques e efeito dos movimentos sociais que irromperam logo após a revolução, com

incidência nas empresas, mas também nos campos. Já aqui referi as vitórias conseguidas

no domínio da liberdade sindical, da regulamentação da greve, dos aumentos salariais,

ao que se pode agregar o “alargamento do direito a férias pagas, o subsídio de

desemprego, a redução do máximo semanal do tempo de trabalho”, entre muitas outras

104 MATEUS, “O 25 de Abril, a transição política e as transformações económicas", in O País em Revolução, ed. José Maria Brandão de Brito, 2001, pp. 254-255.”

Page 64: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

53

mudanças105. Não deve ser menorizado o alcance destas medidas e o trabalho de vários

agentes sociais, como as comissões de trabalhadores e de moradores, os sindicatos, os

partidos políticos e até o patronato. O melhoramento das políticas sociais na área da

educação, da saúde e da segurança social estão estreitamente relacionados com estes

aspectos, constituindo as bases da construção de um verdadeiro Estado-Providência.

Quanto ao tema da distribuição dos rendimentos, podemos falar numa política de

aumentos salariais até 1976, que ocorre simultaneamente com a imposição de um tecto

salarial e com a introdução do salário mínimo.

No entanto, vários autores consideram que estas medidas, ligadas ao controlo

dos preços, tiveram um efeito negativo para a competitividade das empresas no contexto

de problemas que já aqui tratei (recessão, inflação, desemprego, mão-de-obra pouco

qualificada, balança comercial negativa, juros elevados, diminuição de remessas).

Reflecte-se neste ponto a velha questão das políticas orçamentais e monetárias

expansionistas ou contraccionistas. Parece, neste caso, existir uma clara política

orçamental expansionista – uma das principais inovações face ao regime anterior –, que

pretendia impulsionar a procura interna, mas, ao mesmo tempo, convivia com a

aplicação de uma certa política de austeridade, que procurava conter a inflação e

proteger os consumidores através do controle dos preços. Os resultados estão longe de

ser consensuais: se, por um lado, evitaram quedas mais acentuadas na actividade

económica e uma maior igualdade económica e social, por outro, poderão ter conduzido

a um ciclo vicioso de impedimento de competitividade106. A reforma agrária assentou

particularmente numa base volúvel, com unidades colectivas de produção efémeras, já

para não falar da insustentabilidade de um clima verdadeiramente hostil nestas regiões.

Emanuel Reis Leão refere que “este movimento [...] se desenvolveu à margem de

qualquer projecto delineado pelo poder político, tendo a sua cobertura surgido já na fase

final do processo”107.

105 LOPES, José da Silva. “Portugal e a transição para a democracia: que modelo económico?", in Portugal e a Transição para a Democracia (1974-1976), ed. Fernando Rosas. Lisboa: Colibri, 1999, pp. 176-177. 106 Ibid, pp. 179-180.; LOPES, José da Silva Lopes. A economia portuguesa desde 1960. Lisboa: Gradiva, 1996, pp. 25-26. 107 LEÃO, Emanuel Reis. “Das transformações revolucionárias à dinâmica europeia", in Portugal Contemporâneo, 1976-1992, vol V. Lisboa: Publicações Alfa, 1990, p. 175.

Page 65: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

54

A conjuntura macroeconómica do período em análise encontra-se resumida no

seguinte quadro108:

1973 1974 1975 1976

Consumo privado (taxa de variação real, em %) 10,5 6,2 3,7 4,3

Consumo público (tvr em %) 7,8 17,3 6,6 7

Investimento (tvr em %) 8,4 7,7 -12,3 0,1

Exportações (tvr em %) 11,7 -12 -14,1 -0,8

Importações (tvr em %) 11 6,2 -22,7 6,2

PIB (tvr em %) 11,2 1,1 -4,3 6,2

Taxa de inflação (em %) 7,8 27,9 20,5 18,2

Salários/rendimento (em %) 50,3 55,6 68,6 67,6

Défice do Orçamento Geral do Estado (% do PIB) -0,9 2,1 3,8 6,2

Saldo da balança de transacções correntes - BTC (milhões de dólares) 349 -882 -817 -1289

Saldo da BTC (em % do PIB) 3 -6 -5,5 -8,2

Taxa de desemprego (em%) - 2,2 5,6 6,7

Salários reais (tvr em %) - 12 9 -1,5

Taxa de desvalorização do escudo (em %) - 3,3 2,3 9,1

Taxa de crescimento M2 (em %) - 13,7 12,3 16,7

Dívida externa (milhões de dólares) - - - 2892

Dívida externa (tvr em %) - - - -

A maioria dos indicadores conhece maus resultados no ano de 1974 e 1975,

surgindo uma ligeira melhoria a partir de 1976. De facto, os números são

impressionantes: a inflação dispara, acompanhada do decréscimo e até quebra no

produto, motivada pela “desorganização na produção e pela quebra verificada na

procura agregada”109; há também um decréscimo das exportações, fruto de factor

exógenos, como a recessão mundial, mas também consequência de fracos resultados em

algumas áreas, nomeadamente no turismo e na relações comerciais com as ex-colónias;

o investimento conhece, da mesma maneira, resultados negativos, explicados por várias

causas: “perda de confiança da classe empresarial; crise do sector exportador; aumento

[...] dos custos de produção”110; desequilíbrio da balança de transacções correntes, onde

a fuga de capitais é um objecto a ter em conta; são evidentes ainda os deficits

orçamentais e o aumento do desemprego.

108 Adaptados de Ibid, p. 177 e 182. 109 Ibid, p. 178. 110 Ibid.

Page 66: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

55

3. As nacionalizações

O conceito de nacionalização pode ser caracterizado como um acto político –

governamental –, fundado num diploma legislativo e que implica a transferência de

empresas para a propriedade pública, pertencente exclusivamente ao Estado111. As

nacionalizações podem ser efectuadas sobre explorações agrícolas, industriais,

comerciais ou explorações de certos recursos naturais, fazendo-se valer de justificações

tendencialmente nacionalistas, de melhoramento de alguns sectores/serviços ou para

evitar constrangimentos maiores, como a falência. Estes processos podem modificar a

estrutura do poder económico em níveis diferentes, desde intervenções pontuais com

vista a regular algumas estruturas, até à transformação total do sistema económico e

produtivo.

A Constituição da República Portuguesa de 1976 (CRP), redigida pela

Assembleia Constituinte, entrou em vigor a 25 de Abril de 1976, consagrando

juridicamente, na generalidade das matérias, as opções político-ideológicas referentes

ao PREC, ainda que nesta fase se encontrasse numa situação de “arrefecimento”

revolucionário. Fruto do contexto, com especial incidência para o pós-11 de Março de

1975, a CRP previa já em 1976 a possibilidade de não indemnização aos grandes

proprietários e empresários que viram os seus bens nacionalizados (artigo 82.º, n.º 1).

Noutro artigo (83.º), estava presente a irreversibilidade das nacionalizações –

“conquistas irreversíveis das classe trabalhadoras”112 –, apenas abolido em 1989. Já a

questão das indemnizações foi alterada em 1982, sendo revogado o n.º 2 do artigo 82.º.

É sobretudo a ideia de interesse público/interesse nacional que constitui a pedra angular

dos processos de nacionalização. No entanto, não deixa de ser curioso que este mesmo

preceito abonou em favor das reprivatizações. É necessário deixar ainda uma nota para

o facto de o Estado ser o único actor com legitimidade para nacionalizar, sendo que aqui

não é incluída qualquer entidade pública, como os municípios ou regiões autónomas.

111 SANTOS, António Carlos dos, GONÇALVES, Maria Eduarda e MARQUES, Maria Manuel Leitão. Direito económico. Coimbra: Almedina, 2001. 112 Constituição da República Portuguesa de 1976, in NEVES, Orlando . E agora que fazer? Lisboa: Diabril, 1976, p. 202.

Page 67: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

56

3.1. Que plano de nacionalizações? O processo de nacionalizações de 1974-1976 não é fruto de uma política

planificada, parecendo até seguir alguns impulsos mais ou menos espontâneos,

nomeadamente quanto à acção das comissões de trabalhadores e, mais tarde, das

associações sindicais e alguns partidos políticos, ainda que nestes últimos nada esteja

completamente clarificado até aos acontecimentos de Março de 1975.

É a resposta política às revoltas sociais, laborais e sindicais que vai marcar toda

a diferença, facilitada pela posição defensiva que o patronato inicialmente assume, com

excepção de algumas intervenções pontuais, como o caso da formação do M.D.E/S. Há,

nas fases iniciais deste processo um progressivo reconhecimento dos adversários, com

realce para dois momentos importantes: Maio a Junho de 1974 – período de

“descompressão política e ideológica”113; Janeiro a Março de 1975 – período de luta

ideológica radicalizada.

Compreender o porquê das nacionalizações implica um olhar atento sobre as

pressões sociais, as formas de luta e os conteúdos das mesmas, bem como os interesses

particulares e colectivos. É perceber que os trabalhadores reclamavam por melhores

condições de vida, de trabalho e aumentos salariais, da mesma forma que exigiam o

saneamento dos sabotadores económicos (sinónimo de patronato), que exerciam o

controlo operário e ocupavam as empresas, numa “batalha pela produção”, dirigidos por

partidos ou sindicatos, mas muitas vezes fugindo à tutela destes. Sendo a primeira fase

marcadamente espontânea, a segunda já revela a luta pelo poder e a tentativa de

presença hegemónica da Intersindical. Relativamente às formas de luta empregadas,

José Medeiros Ferreira elenca algumas: manifestações de rua, sequestro de pessoas e

bens, ameaça de greve, declaração parcial de greve, greve total e ocupação das

empresas114.

O ideal anti-monopolista, principalmente dirigido contra os sete magníficos, –

CUF, Espírito Santo, Banco Português do Atlântico, Champalimaud, Banco Fonsecas &

Burnay, Banco Nacional Ultramarino e Banco Borges & Irmão – reuniu um relativo

consenso na sociedade, desde trabalhadores a alguns sectores industriais e comerciais.

113 SANTOS, Maria de Lourdes Lima dos, LIMA, Marinús Pires de e FERREIRA, Vítor Matias. O 25 de Abril e as lutas sociais nas empresas, 3 vols. Lisboa: Afrontamento, 1977, p. 56. 114 FERREIRA, José Medeiros. Portugal em Transe, vol. VIII História de Portugal, dir. José Mattoso. Lisboa: Editorial Estampa, 1994, p. 108.

Page 68: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

57

No debate ininterrupto sobre modelos de modernização económica para o país, as

diferenças sobressaem de forma muita complexa no interior das forças armadas, sendo

certo que o apoio às nacionalizações ocorreu sobretudo por razões políticas. Órfão de

qualquer orientação, o processo de nacionalizações não conhece “um mero plano a

médio prazo ou de reformas sectoriais”115, podendo apenas ser detectadas algumas

linhas de actuação, que serão esmiuçadas no capítulo posterior, numa abordagem

trifásica.

O intervencionismo estatal nas empresas e toda a lógica que está por detrás não é

completamente inovadora. Aliás, o sector empresarial do Estado (SEE) já existia antes

da Revolução de Abril, com algumas empresas de capital púbico – a Caixa Geral de

Depósitos, Águas de Lisboa, Carris, Gás de Lisboa, TLP e Correios116. Por outro lado,

detinha ainda algumas participações em empresas mistas, como o Banco de Fomento

Nacional, TAP, CP, Siderurgia Nacional, empresas de electricidade e de transportes

marítimos.117 Com o objectivo anti-monopolista e, mais tarde, de centralização da

economia portuguesa nas mãos do Estado, era previsível que o sector financeiro e as

indústrias de base (detidos pelos grandes grupos financeiros) fossem os principais alvos.

Seguindo os diplomas insertos no Diário da República, em 24 números do

mesmo nacionalizaram-se 244 empresas, que se traduziram num “sem-número de

participações indirectas. Directa ou indirectamente, o Estado nacionalizou, expropriou

ou interveio em quase duas mil empresas”118. Com as nacionalizações, o sector

empresarial do Estado conheceu uma larga expansão (cf. tabela 1, anexo E), próxima da

média dos países da OCDE (cf. tabela 2, anexo E): o peso do sector público empresarial

no VAB quase triplicou (7,8% para 22,9%), atingindo-se crescimento semelhante do

peso público empresarial na FBCF (41,6% contra 15,8%)119, passando o sector público a

115 Ibid, p. 114. 116 LEÃO, Emanuel Reis. “Das transformações revolucionárias à dinâmica europeia", in Portugal Contemporâneo, 1974-1992, vol. 6, ed. António Reis, Lisboa: Publicações Alfa, 1990, p. 174. 117 ALPALHÃO, Rui Manuel Meireles dos Anjos. O toque da mão visível. Nacionalizações, indemnizações e privatizações em Portugal, 1975-2003. Lisboa: ISCTE, 2007. 118 GRUPO DE TRABALHO INTERMINISTERIAL PARA A ANÁLISE E AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO E DAS PERSPECTIVAS DE EVOLUÇÃO DO SECTOR EMPRESARIAL DO ESTADO, Livro branco do sector empresarial do Estado. Lisboa: Ministério das Finanças, 1998, p. 4. 119 ALPALHÃO, O toque da mão visível. Nacionalizações, indemnizações e privatizações em Portugal, 1975-2003, pp. 25-26.

Page 69: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

58

ser composto por empresas que já eram do Estado antes do 25 de Abril, por empresas

nacionalizadas, por empresas controladas e por empresas participadas120.

Como foi explicado no capítulo anterior, as nacionalizações foram efectuadas

por Decretos-Lei, sem qualquer planeamento, empresa a empresa, com a sequente fusão

em grandes empresas públicas por sector, sob três critérios básicos: aniquilação dos

grande grupos económicos portugueses; cobertura de sectores básicos ou estratégicos e

assegurar a sobrevivência de empresas em risco de falência ou abandonadas pelos

patrões. Há, contudo, uma clara política de não nacionalizar os capitais estrangeiros,

motivada pelo receio de perda de confiança dos investidores externos e para não

prejudicar as relações económicas existentes. Outra singularidade tem que ver com a

geografia das nacionalizações, uma vez que algumas empresas de grande dimensão que

se localizavam no norte do país não foram sequer intervencionadas (têxteis, cortiça,

vinho, refinação de açúcar, etc.), constituindo-se, algumas delas, nos grandes grupos

económicos e financeiros do pós-25 de Abril.

A falta de quadros técnicos qualificados para ocupar os vários cargos inerentes à

burocratização processual revelou-se um obstáculo à criação de equipas competentes: “a

primeira linha [de quadros técnicos] foi quase toda para o Brasil; na segunda linha, uns

ficaram, outros partiram, e foi a terceira linha que forneceu a matéria-prima e atingiu

maior valorização”121. Por outro lado, a falta de uma estratégia única teve algumas

consequências caricatas, por exemplo, o facto de a Sociedade Mineira de Santiago ter

sido nacionalizada três vezes, primeiro directamente, depois por via da CUF e

ulteriormente através da Sogefi. Como referia um quadro da CUF, esta situação advinha

do plano de nacionalizações nacionalizar “as holdings, depois as sub-holdings e,

nalguns casos, talvez por inércia, as próprias filiadas das sub-holdings” 122.

120 PINHO, Ivo. “Sector Público Empresarial - antes e depois do 11 de Março”, in Análise Social XII, n.º 47, 1976: 733–747. 121 Ibid, p. 90. 122 Ibid, p. 90.

Page 70: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

59

3.2. As fases das nacionalizações 3.2.1. Setembro de 1974

Não estando enquadrada neste espaço temporal, é preciso falar da primeira acção

sobre a Companhia das Águas que havia sido ocupada logo a 21 de Maio de 1974 pelos

trabalhadores, exigindo a sua nacionalização. Com as transformações operadas, passa a

denominar-se Empresa Pública das Águas de Lisboa (em Outubro de 1974). Todavia, só

após a promulgação da lei que defendia a independência das colónias (Lei n.º 7/74), no

Verão de 1974, é que o tema das nacionalizações volta ao debate público, com a questão

dos bancos emissores. É através dos Decretos-Lei n.os 450, 451 e 452/74, de 13

Setembro, que são nacionalizados os seguintes bancos emissores: Banco de Angola,

Banco Nacional Ultramarino e o Banco de Portugal. Estas nacionalizações decorrem

directamente do processo descolonizador, “o primeiro passo para o Estado ocupar o

único lugar do lado português na gestão das consequências financeiras da

descolonização”123.

A partir de Outubro, inicia-se a regulação do papel do Estado em algumas

matérias, como as intervenções na banca e outras instituições paralelas. Os partidos

políticos não se manifestavam contra esta evolução: Sá Carneiro já havia defendido, em

Junho, “a nacionalização dos monopólios quando comprometem o interesse

nacional”124; posteriormente, a 12 de Dezembro, o PS pede a intervenção directa do

Estado na gestão das empresas. Mas não se pode falar, ainda, numa “teoria sobre o

papel do Estado na organização económica”125. Deve ser relembrado o acentuar da

conflituosidade laboral por todo o país em vários sectores económicos, com o

encerramento de empresas e despedimentos elevados em algumas regiões. São tomadas,

por isso, algumas decisões dentro das empresas por parte dos trabalhadores e das

comissões, destacando-se a primeira experiência de controlo operário que foi decidida

pelos trabalhadores da Siderurgia Nacional a 17 de Dezembro. O Estado passa a exercer

um papel mais activo neste meio, nomeadamente para evitar o encerramento de

empresas-chave, como o caso da CIFA (têxtil), em Valongo, e para nomear comissões

administrativas para algumas empresas (ex. Metalúrgica Duarte Ferreira).

123 FERREIRA, José Medeiros. Portugal em Transe, vol. VIII História de Portugal, dir. José Mattoso. Lisboa: Editorial Estampa, 1994, p. 92. 124 Sá Carneiro, cit. por FRANCO, António de Sousa. “Economia,” in Portugal, 20 anos de Democracia, ed. REIS, António. Lisboa: Círculo de Leitores, 1994, p. 182. 125 FRANCO, António de Sousa. “Economia,” in Portugal, 20 anos de Democracia, ed. REIS, António. Lisboa: Círculo de Leitores, 1994, p. 114.

Page 71: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

60

Curiosamente, é no sector mais visado pelas várias leis que iam sendo

promulgadas que surgem vozes a exigir a nacionalização da banca. Destaca-se, aqui, o

Sindicato dos Bancários de Lisboa, um dos mais activos e interventivos das fases que se

seguem. No primeiro trimestre de 1975, o apelo às nacionalizações começa a ser ouvido

com mais frequência em vários sectores económicos (para além da banca, surge também

a reivindicação dos trabalhadores da SCC).

3.2.2. Março de 1975

A partir de 11 de Março, com a radicalização da situação, a orientação

económica vai assentar na reforma agrária e na intervenção sistemática do Estado nas

empresas, consubstanciada numa aparente política de nacionalizações. As ocupações de

empresas que se acentuam logo a partir de 12 de Março fazem acelerar a tomada de

decisão, sob a batuta do recente Conselho Superior da Revolução.

Na reunião do Conselho da Revolução de 13 de Março, começou logo a

discussão das grandes opções da política económica portuguesa. No que toca às

nacionalizações, José da Silva Lopes (ministro das Finanças), Jacinto Nunes

(Governador do Banco de Portugal) e Medina Carreira tinham preparado um projecto

pseudo-revolucionário126 para a banca, que deveria ser apresentado na reunião. O plano

previa a intervenção temporária, com duração de seis meses, através da substituição das

administrações por administradores nomeados pelo Estado127. Os autores do documento

referem que se tratava de uma “intervenção de emergência do Estado na banca, por

forma a evitar a fuga de capitais em massa. Era uma intervenção temporária, que

retirava a gestão aos accionistas privados”, mas o projecto não foi aprovado pelo CR128.

E não o foi porque se encontrava irremediavelmente ultrapassado pelos acontecimentos.

Já estava em cima da mesa um plano de nacionalização da banca, sem texto de projecto

de lei, que parecia agregar os vários elementos, até porque nesse momento era esse o

projecto e a luta dos trabalhadores da banca, e evitava o risco de fuga de capitais, pois,

como referiu Silva Lopes (segundo palavras de Vasco Lourenço), “ou se nacionalizava

126 Mas que no fundo pretendia apenas a abertura da banca, que havia sido ocupada pelos trabalhadores. 127 Filipe S. FERNANDES e Hermínio SANTOS. Os excomungados de Abril: os empresários na Revolução. Lisboa: Dom Quixote, 2005, p. 86. 128 GOMES, Adelino e CASTANHEIRA, José Pedro. Os dias loucos do PREC. Lisboa: Expresso-Público, 2006, p. 23.

Page 72: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

61

já ou, daqui a oito dias, arriscávamo-nos nacionalizar apenas as paredes...”129. No

seguimento da nomeação de administradores do Estado para a banca, Silva Lopes

apresenta a sua demissão, percebendo que “quem mandava naquilo não era eu, eram os

sindicatos”130, ou como referiu Mário Murteira: “nós éramos mais espectadores numa

grande movimentação popular do que actores”131.

Alguns dos nomes que devem ser retidos no âmbito das nacionalizações são:

Francisco Pereira de Moura, Mário Murteira, José Joaquim Fragoso (com apoio de

Costa Leal e Mário Brandão Ferreira), para além de João Cravinho e João Martins

Pereira, “paladinos das nacionalizações”132.

Nesta sequência, no dia 14 de Março, o Conselho da Revolução antecipa-se à

decisão dos bancários e promulga o Decreto-Lei n.º 132-A/75133, que estabelece a

nacionalização das instituições de crédito – “mais de vinte milhões de contos em

carteira de títulos, mais de cento e sessenta milhões de contos em carteira comercial e

mais de duzentos e trinta milhões de contos em depósitos”134 – e, no dia seguinte,

através do Decreto-Lei n.º 135-A/75, são nacionalizadas as companhias de seguros –

“trinta e duas companhias, a que correspondem três quartos do mercado, e a parte

nacional de oito outras”135. Apenas as pequenas instituições não capitalistas e as de

capital estrangeiro não são abrangidas pelos decretos. Ficam de fora as seguintes

instituições de créditos: Crédit Franco-Portugais e os departamentos portugueses do

Bank of London & South América e do Banco do Brasil. Já as seguintes companhias de

seguros não são nacionalizadas: Europeia, Metrópole, Portugal, Portugal Previdente, A

Social, Sociedade Portuguesa de Seguros e O Trabalho. O caso da banca e dos seguros é

ainda especial pelo facto de os diplomas nacionalizadores referirem-se a um sistema

bancário como um todo, “não identificando, uma a uma, as empresas que se queriam

nacionalizar”136.

129 Ibid. 130 FERNANDES, Filipe S. e SANTOS, Hermínio. Os excomungados de Abril: os empresários na Revolução.Lisboa: Dom Quixote, 2005, p. 86. 131 Ibid, p. 88. 132 Ibid, p. 90. 133 “A lei revolucionárioa jamais promulgada”, segundo Costa Gomes. 134 MARTINS, Maria Belmira e ROSA, José Chaves. O grupo Estado: análise e listagem completa das sociedades do sector público empresarial. Lisboa: Edições Jornal Expresso, 1979, p. 9. 135 Ibid, p. 9. 136 NUNES, A. J. Avelãs, A garantia das nacionalizações e a delimitação dos sectores público e privado no contexto da Constituição Económica Portuguesa. Coimbra: Coimbra Editora, 1975, p. 6.

Page 73: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

62

Não há como entender esta mudança de fundo, se não forem compreendidos os

principais elementos que estão presentes nos decretos. Assim, é possível elencar alguns

considerandos. Os primeiros dizem respeito à nacionalização da banca137, enquanto o

segundo grupo faz alusão à nacionalização das companhias de seguros138:

! “Necessidade de concretizar uma política económica antimonopolista que sirva as classes

trabalhadoras e as camadas mais desfavorecidas;

! Sistema bancário, na sua função privada, se tem caracterizado como um elemento ao serviço

dos grandes grupos monopolistas;

! Sistema bancário constitui a alavanca fundamental de comando da economia, e que é por

meio dela que se pode dinamizar a actividade económica;

! Recentes acontecimentos de 11 de Março vieram pôr em evidência os perigos que [...]

existem se não forem tomadas medidas imediatas no campo de controle efectivo do poder

económico;

! [...] Atenção [à] realidade nacional e [à] capacidade demonstrada pelos trabalhadores da

banca na fiscalização e controle do respectivo sector de actividade”.

! “Elevado volume de poupança privada retido pelas sociedades de seguros e que tem sido

aplicado não em benefício das classes trabalhadoras mas com fins especulativos e em

manifesto proveito dos grande grupos económicos;

! Proliferação de sociedades de seguros constituídas, que têm conduzido a uma concorrência

desleal;

! Necessidade de proporcionar maior segurança aos capitais confiados às sociedades de

seguros;

! As elevadas somas de capital em poder das sociedades de seguros devem ser aplicadas em

investimentos com interesse nacional;

! Necessidade de tais medidas terem em atenção a realidade nacional e a capacidade

demonstrada pelos trabalhadores de seguros na apreciação de situações irregulares no

domínio da gestão que já haviam imposto até a intervenção do Estado”.

Com os processos em marcha, são nomeadas, pelo Governo, comissões

administrativas para as empresas nacionalizadas e delegados governamentais para as

restantes companhias que tinham participação expressiva de capitais estrangeiros, com

base nos Decretos-Lei anteriores, especialmente o de 25 de Novembro (660/74).

137 NEVES, Orlando. Textos históricos da revolução. Lisboa: Diabril, 1975, p. 301. 138 Ibid, p. 304.

Page 74: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

63

Os elogios partidários às nacionalizações reproduzem-se em todos os quadrantes

políticos, mas já com alguma moderação nos sectores mais à direita. O PS fala numa

decisão que, fazendo já parte do seu programa, criava condições para a “construção do

socialismo”139; o PCP realça a vitória da “aliança Povo-MFA”140; já o PPD, defendendo

um caminho rumo ao socialismo, coloca algumas reservas, pois “substituir um

capitalismo liberal por um capitalismo de Estado não resolve as contradições com que

se debate hoje a sociedade portuguesa”141. Enfim, a transição para o socialismo está

definitivamente na ordem do dia.

3.2.3. Abril de 1975

A última – e maior – fase de nacionalizações, inicia-se com a promulgação do

Decreto-Lei n.º 203-C/75 (nota oficiosa do Conselho de Ministros), no dia 15 de Abril

de 1975, cinco dias após a reunião do Conselho de Revolução que havia estipulado o

modelo económico para a sociedade portuguesa – transição para o socialismo – e as

medidas económicas de emergência. Destaco seguidamente as principais orientações

definidas (adaptado do D. L. n.º 203-C/75, 1975, sublinhado nosso):

i. “É necessário que os trabalhadores sintam que a economia já não lhes é estranha, ou seja,

que a construção socialista da economia é tarefa deles e para eles. Isto implica a afirmação

clara do princípio do controle organizado da produção pelos trabalhadores para objectivos

de produção e eficiência, coordenados pelos órgãos centrais de planeamento [...];

ii. É indispensável estabelecer uma limitação dos consumos a partir de um princípio de

máximo nacional de rendimento disponível [...];

iii. Igualmente se torna indispensável garantir a contenção dos preços de bens essenciais,

sobretudo alimentares;

iv. Deverão ser completados os passos já dados no sentido da nacionalização dos sectores

básicos da actividade económica (indústria, transportes e comunicações);

v. Deverá ser aplicado um programa progressivo de reforma agrária, integrado num todo

coerente de medidas de política económica;

vi. Verificadas as condições anteriores, será legítimo fazer apelo à mobilização dos

trabalhadores para um emprego produtivo, mobilização necessária à construção da sociedade

desejada pelo povo português”.

139 Mário Soares cit. por REZOLA, Maria Inácia. Os militares na revolução de Abril: o Conselho da Revolução e a transição para a democracia em Portugal. Lisboa: Campo da Comunicação, 2006, p. 150. 140 Ibid, p. 151. 141 Ibid.

Page 75: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

64

Uma série de Decretos-Lei são publicados no dia 16 de Abril – D. L. n.os 205-A,

B, C, D, E, F, G/75 – prevendo a nacionalização de inúmeros sectores estratégicos:

empresas refinadoras e distribuidoras de petróleo, empresas de transportes marítimos,

transportes aéreos e ferroviários, empresas produtoras, transformadoras e distribuidoras

de electricidade e a siderurgia (cf. quadro 1, do anexo F, para uma análise mais

detalhada). Cabe ainda dizer que as nacionalizações têm lugar em pleno período

eleitoral, numa base de pleno consenso partidário. São nomeadas, no final de Abril,

algumas comissões administrativas para as empresas Indústria Alimentar e Cimentos de

Leiria, e cerca de 21 comissões para empresas rodoviárias. Contudo, só após as eleições

para a Constituinte se desenvolvem novas nacionalizações – a chamada 2ª fase. O início

é fulgurante (a partir de Maio), conhecendo algum abrandamento a partir de Outubro.

De forma a simplificar e tornar este conjunto de nacionalizações perceptível, organizei-

as de forma cronológica, presente no quadro 1 do anexo F. Os sectores são bastante

diversificados: cimento, celulose, tabaco, transportes, química, cervejas, indústria

ligeira, holdings, etc.

O trabalho de Maria Belmira Martins e José Chaves Rosa é indispensável para

qualquer análise dos sectores envolvidos e dos números que apresentavam.

Contrariamente, alguns dados que o Ministério do Trabalho, através do Gabinete de

Estudos, Planeamento e Organização, conseguiu reunir relativamente às nacionalizações

até Setembro de 1975 mostram o verdadeiro estado de desorganização institucional e a

lógica, ou falta dela, existente neste processo:

“Todos os números têm carácter provisório, pois são de admitir inexactidões em face das

inúmeras dificuldades que se encontram na elaboração do referido ficheiro com um mínimo de

elementos essenciais”142.

É possível, em jeito de resumo, denominar cada mês com um título adequado:

Maio Cimento, celuloses e tabaco

Setembro CUF e estaleiros navais (s/ a Lisnave)

Junho Transportes rodoviários e urbanos

Outubro Holdings

Julho Carris Novembro Sociedade agrícola Agosto Vidro, minas, químicas e

cervejas Dezembro Televisão, rádio, transportes fluviais e serviços

auxiliares de transportes por água

142 AAVV, Nacionalização e outras intervenções até 22 de Setembro de 1975. Representatividade social do número de empresas e do pessoal abrangido. (Lisboa: Gabinete de Estudos, Planeamento e Organização do Ministério do Trabalho, 1975), p. 1.

Page 76: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

65

Com o VI Governo Provisório as nacionalizações continuaram, como se

depreende pelo quadro anterior, mas há um refrear de toda a situação. Em 1976, são

ainda nacionalizados alguns sectores, como as principais empresas de pesca

(conservação, produção, serviço, transformação e comercialização), através do Decreto-

Lei n.º 572/76, e ainda alguns jornais diários (D. L. n.º 639/76, de 29 de Julho). Por

outro lado, são aprovados os estatutos das novas empresas públicas (Petróleos de

Portugal EP, CIMPOR, Electricidade de Portugal EP, A Tabaqueira, Empresa Industrial

de Tabacos EP, etc.) e empreende-se uma reestruturação do sector empresarial do

Estado no seio do Instituto de Participações do Estado, ainda que de forma muito ténue.

Page 77: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

66

4. A nacionalização da indústria cervejeira

Como ponto de partida da descrição e interpretação do processo nacionalizador

ocorrido na indústria cervejeira, assume-se a existência de uma corporização teórica

assente em cinco vectores:

i. Multiplicidade e complexidade de actores em espaços temporais que, na

maioria dos casos, se cruzam, estabelecendo um processo de avanços e

recuos (operariado, patronato e classe dirigente, comissões de trabalhadores,

partidos políticos, sindicatos, estruturas militares e governamentais);

ii. Recusa da primazia de um sujeito colectivo;

iii. Nacionalização enquanto processo essencialmente político-social, mas não

como desígnio estratégico politicamente articulado;

iv. Nacionalização sui generis no quadro internacional, quer ao nível sectorial,

quer numa visão macroeconómica;

v. Processo de luta hegemónica que procura transformar a estrutura social

portuguesa sob vários prismas: e.g., relações laborais, relações económico-

financeiras.

Relembrando a imagem sectorial apresentada no capítulo 1, há necessariamente

que justificar a falta de documentação encontrada para o período que decorre entre 25

de Abril de 1974 e Janeiro de 1975. Mea culpa, em primeiro lugar, pela impossibilidade

de recolher documentação no seio da estrutura empresarial; por outro lado, acrescentam-

se problemas de economia de tempo e escala a que a tese de mestrado deve estar sujeita,

associados à pluralidade e dispersão geográfica de fundos/acervos documentais para o

período em análise. A análise da nacionalização do sector cervejeiro centra-se

fundamentalmente no processo ocorrido na Sociedade Central de Cervejas, por se tratar

da empresa que monopolizava o sector e por ter chamado a si, por obra dos seus

trabalhadores, a quase totalidade do processo reivindicativo e a intervenção do Estado.

A queda do regime fascista não significou a emergência automática de um

movimento reivindicativo, ou de outra espécie, na Sociedade Central de Cervejas. Vítor

Tomás, da Comissão de Trabalhadores, diz que o 25 de Abril “pouca mossa fez”,

porque a Administração soube adaptar-se eficazmente à nova situação, concebendo um

plano de contenção de conflitos baseado no aumento das regalias (salário mínimo de 6

Page 78: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

67

000 escudos, jantares em casa dos patrões, desporto, etc.), isto é, o tipo de acções para

“manter a malta entretida sem ser na política”143. Esta estratégia assentava também,

segundo este, numa política de dividir para reinar, acentuando as disparidades salariais

internas (não apenas entre o sector comercial e produtivo; os valores salariais oscilavam

entre os 6 000 e os 30 000 contos dentro de 16 categoriais).

Em Outubro de 1974, um grupo de trabalhadores, composto por técnicos de

todos os sectores e representantes dos trabalhadores, elaborou um diagnóstico da

empresa, apresentando algumas propostas para o futuro, que foram entregues no dia 30

de Janeiro de 1975 ao Conselho de Administração144, na véspera das eleições para a

Comissão de Trabalhadores e na véspera do movimento reivindicativo e consequente

conflito laboral.

143 A Gazeta da Semana, 06-12/05/1976, p. 10. 144 MARTINS, Américo. Central De Cervejas: 50 anos de actividade. Lisboa: Central de Cervejas, 1985.

Page 79: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

68

4.1. O processo reivindicativo e os conflitos sociais 4.1.1. Do movimento reivindicativo de 31 de Janeiro ao pedido de

nacionalização

Os conflitos sociais na Sociedade Central de Cervejas, desencadeados a 31 de

Janeiro de 1975, tiveram como leitmotiv o aumento salarial, com retroactivos desde

Janeiro de 1974 assente num processo de qualificação de funções, de uma categoria

profissional recém-criada – “operador de flash” (operário de enchimento) –, fazendo

aumentar as desigualdades salariais existentes145. Iniciado em Vialonga, pela Comissão

de Trabalhadores, o movimento – que logo se tornou reivindicativo – espalhou-se

rapidamente para a fábrica em Coimbra e para os entrepostos comerciais e escritórios

que a empresa possuía em Lisboa e no Porto. Segundo comunicados da Comissão de

Trabalhadores, a justificação do movimento reivindicativo residia essencialmente em

duas razões: (i) aumento das desigualdades salariais existentes, com predomínio para

chefes e encarregados; (ii) desconhecimento dos operários face a tais medidas:

“[...] beneficiando claramente um grupo em que sobressaem os chefes e encarregados. Estas

promoções não foram pedidas pelos operários nem eram do seu conhecimento, e podem ser

identificadas como uma tentativa de divisão dos operários do enchimento [ao que se associa o

facto] de a retroactividade contar a partir de Janeiro de 1974, uma vez que alguns dos

contemplados nessa data ainda não desempenhavam as funções actuais”146.

Os trabalhadores marcaram um plenário para o início dessa tarde, solicitando a

presença do Movimento das Forças Armadas – que acompanhará este processo com

dois delegados, dirigidos pelo capitão-tenente Silva Nunes – e exigindo a comparência

da Administração para o processo de negociações que iria tomar lugar. Contando com a

presença de 800 trabalhadores (de um total de 2 700), a prioridade recaiu nos seguintes

pontos:

i. “Suspensão imediata das promoções com reembolso imediato das importância recebidas;

ii. Congelamento de promoções e não alteração de vencimentos sem prévia aprovação dos

trabalhadores;

145 Reinvindicações espoletadas do tipo “surdas” (gratificações, vencimentos elevados, etc.), segundo o esquema de Fátima Patriarca, in PATRIARCA, Fátima. “A Revolução e a questão social. Que justiça social?”, in Portugal e a Transição para a Democracia (1974-1976). Lisboa: Colibri, 1999. 146 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Correspondência não classificada do Secretariado Coordenador, Vol. 73, n.º 206, Assuntos Económicos e Sociais e Empresas, Processo 73/15, Comunicado n.º 1 da Comissão de Trabalhadores da Sociedade Central de Cervejas.

Page 80: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

69

iii. Fim de todos os privilégios de alguns grupos;

iv. Redução do número de administradores de treze para o máximo de cinco;

v. Remunerações dos administradores e dos funcionários não superiores às remunerações dos

ministros;

vi. Exigência da não distribuição de lucros aos accionistas nem de gratificações aos

administradores libertando fundos para autofinanciamento”147.

A Administração – ou os três administradores presentes – aceitou todas as

reivindicações que envolviam os trabalhadores, mas adiou para uma posterior decisão –

2.ª feira seguinte, dia 02 de Fevereiro – as questões que diziam respeito aos

administradores e accionistas, pelo facto de a resolução ter que ser tomada em

Assembleia Geral de Accionistas. Como resposta, não escondendo a satisfação pelos

pontos alcançados, a Comissão de Trabalhadores proibiu a entrada da administração na

empresa até que as reivindicações que haviam ficado em suspenso tivessem uma

resposta afirmativa. Para tal, ocuparam a empresa e organizaram piquetes de vigilância

permanentes, exercendo um controlo apertado sobre entradas e saídas de pessoas, mas

também de documentação crucial. No mesmo plenário foram eleitas comissões de

saneamento para a fábrica de Vialonga e para a Sede (Avenida Almirante Reis).

O caderno reivindicativo surgiu de forma imediata, no seguimento das

reivindicações lançadas durante o plenário, estruturando-se em 19 pontos:

1) “Suspensão imediata das promoções com reembolso imediato das já recebidas;

2) Congelamento de promoções a partir do nível 6 e qualquer alteração de vencimento não se

pode processar sem prévia aprovação dos trabalhadores;

3) Fim de todos os privilégios tais como: isenção e horário de trabalho, 300 litros de gasolina

por mês, 1.000$00 de subsídio de transporte, envelopes mistério;

4) Fim do trabalhado extraordinário e do trabalho eventual, para possibilitar a criação de novos

postos de trabalho;

5) Assistência social igualizada para todos os trabalhadores independentemente do seu nível ou

antiguidade;

6) Uniformização das ajudas de custo pelas mais elevadas;

7) Melhoria imediata do meio/ambiente e condições de trabalho, nomeadamente:

a. Condições de transporte dos operários dentro da fábrica;

b. Criação de uma Comissão de Segurança.

147 Ibid.

Page 81: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

70

8) Melhoria da remuneração do trabalho nocturno;

9) Programa de produção tendente a diminuir o trabalho por turnos;

10) Pagamento do 13º mês a todos os contratados;

11) Igualização de salários de todas as operárias até ao nível 3; secções abrangidas: refeitório,

limpezas, laboratório, enchimento e movimento;

12) Vencimento da Administração e dos Funcionários não podem ultrapassar o de Ministro;

13) Que não haja distribuição de lucros aos accionistas, nem de gratificações à Administração

referente ao ano de 1974;

14) O número de Administradores não deve ultrapassar 5;

15) Acabar com as comissões sobre as vendas e criar vencimentos fixos para os trabalhadores

que as recebem;

16) Diuturnidades para todo o Pessoal;

17) Não aos prémios de trabalho;

18) Distribuição equitativa da verba destinada à gratificação da Páscoa, independentemente do

nível de vencimento;

19) Não aos despedimentos nem represálias sobre os trabalhadores que têm conduzido este

processo, nem qualquer tipo de despedimento sem aprovação dos trabalhadores”148.

A temática reivindicativa inicial assemelha-se à tipologia referenciada por

Fátima Patriarca149 para o sector metalúrgico e metalomecânico, mas não se coaduna aos

espaços temporais por ela definidos. Assim sendo, diagnosticam-se reivindicações de

natureza salarial, sem exigência de aumento salarial, a procura de melhoria das

condições laborais, associada, por exemplo, ao 13.º e 14.º mês, ao horário e duração do

tempo de trabalho e ao subsídio de férias. Luta-se ainda pela distribuição equitativa de

regalias e pela extinção dos privilégios existentes em algumas categoriais profissionais,

sobretudo na classe dirigente, complementada pelo saneamento da administração. É o

princípio da estratégia anti-monopolista que se coloca em jogo: “a acumulação de lucros

provenientes do trabalho [deve destinar-se] ao robustecimento não só da empresa como

da economia do País”150.

Um dos pontos cruciais que é necessário reter em todo este período é a total

rejeição dos trabalhadores quanto à gestão da empresa, expressa de forma vincada num

dos comunicados da Comissão de Trabalhadores. Daí que inicialmente se tenha

148 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Correspondência não classificada do Secretariado Coordenador, Vol. 73, n.º 206, Assuntos Económicos e Sociais e Empresas, Processo 73/15, Comunicado n.º 2 da Comissão de Trabalhadores da Sociedade Central de Cervejas 149 PATRIARCA, Fátima. "Que justiça social?", in Portugal e a Transição para a Democracia (1974-1976). Lisboa: Colibri, 1999. 150 Ibid.

Page 82: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

71

estabelecido um acordo com dois dos administradores que se colocaram à disposição

dos trabalhadores, no intuito de despacharem os assuntos que careciam

obrigatoriamente da sua intervenção.

“Os Trabalhadores não querem de forma alguma assumir qualquer espécie de poder na gestão da

empresa, e por isso reafirmam uma vez mais que a administração continua a ser a única

responsável pela sua gestão”151.

Na sequência do incumprimento do compromisso assumido pelos

administradores no plenário de 31 de Janeiro – que o Conselho de Administração vem

mais tarde desmentir ter existido – a Comissão de Trabalhadores convoca os

trabalhadores para um novo plenário a realizar no dia 08 de Fevereiro, na fábrica de

Vialonga. Aquele que poderá ser descrito como o plenário mais emotivo de todos,

contou com a presença de mais de mil trabalhadores e viu ser aprovada a moção que

apoiava a nacionalização da empresa (com 5 votos contra e 21 abstenções), segundo

uma série de considerandos que, entre vários ataques, se dirigiam essencialmente contra

a posição actual e antiga da Administração.

“Considerando todos os factos apresentados em Plenário sobre a incapacidade de gestão

demonstrada pela administração da empresa,

Considerando que em completo desrespeito por aquilo que foi acordado em Plenário entre os

Trabalhadores e a administração da Sociedade Central de Cervejas, esta afirma agora que se

recusa a comparecer em plenário,

Considerando que a administração se recusou desde terça-feira passada a assumir as suas

responsabilidades de gestão, criando problemas a fornecedores e entrando portanto num processo

de sabotagem económica,

Considerando a vontade firme dos Trabalhadores da Sociedade Central de Cervejas em que os

frutos do seu trabalho beneficiem todos os portugueses, e não só uma minoria de privilegiados

que têm esbanjado fortunas adquiridas com o suor dos Trabalhadores,

Considerando que é necessário acabar definitivamente com as injustiças sociais que existem em

Portugal, onde a maioria da população vive em condições económicas deploráveis”152.

151 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Correspondência não classificada do Secretariado Coordenador, Vol. 73, n.º 206, Assuntos Económicos e Sociais e Empresas, Processo 73/15, Comunicado n.º 5 da Comissão de Trabalhadores da Sociedade Central de Cervejas. 152 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Correspondência não classificada do Secretariado Coordenador, Vol. 73, n.º 206, Assuntos Económicos e Sociais e Empresas, Processo 73/15, Comunicado n.º 8 da Comissão de Trabalhadores da Sociedade Central de Cervejas.

Page 83: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

72

O plenário concedeu representação às Comissões de Trabalhadores para, através

do MFA, solicitar ao Governo a nacionalização da empresa ao abrigo do Decreto-Lei n.º

660/74. Porém, a decisão não foi pacífica. Dois dias depois, a 10 de Fevereiro, a

Comissão de Trabalhadores do Prior Velho, apoiada pelos Entrepostos do Porto e da

Cervejaria Trindade (sector comercial), apresentou publicamente a sua contestação face

à decisão tomada, apesar de apoiar o caderno reivindicativo de 31 de Janeiro,

originando ou recuperando uma guerra interna que colocava em cima da mesa questões

muito mais complexas do que a nacionalização do sector153. Os trabalhadores do

Entreposto do Prior-Velho – cerca de 300 que defendiam a via da negociação com os

patrões – punham em causa a legitimidade do plenário poder aprovar essa moção, por

não constar da ordem de trabalhos, mas também pela diminuta representatividade e pela

necessidade da votação se realizar por voto secreto, dada a “verdadeira pressão

psicológica e política existente”154.

No fundo eram duas “culturas” de operariado que se antagonizavam – sector

produtivo e sector de distribuição/comercial – e que espelhavam sobejamente as

contradições que se faziam sentir na sociedade portuguesa. Esta situação é mais

complexa quando se constata a dispersão geográfica das empresas e a existência de

diversas comissões de trabalhadores, completamente desarticuladas.

4.1.2. Guerra de comunicados

O mês de Fevereiro inaugura uma troca de comunicados/acusações entre a

Administração da SCC e as Comissões de Trabalhadores que se estenderá até Março,

patente em grande parte da imprensa escrita da época (Diário de Lisboa; A Capital; O

Primeiro de Janeiro; Jornal do Comércio; O Comércio do Porto; Jornal de Notícias;

Diário Popular; República; Diário de Notícias e Século). Neste espaço, procurarei dar a

conhecer os principais argumentos de ambas as partes, utilizando para o efeito as

notícias recolhidas na imprensa, as principais fontes para compreender a forma como

decorreram as negociações.

Aos comunicados da Comissão de Trabalhadores, literalmente vertidos nos

jornais, segue-se a resposta da Administração, datada de 10 de Fevereiro, que circula

153 Esta guerra era a representação singela da luta na sociedade entre o programa de Melo Antunes e um programa mais à esquerda, ainda que por definir. 154 Vida Mundial, 20/02/1975, p. 22.

Page 84: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

73

pela imprensa nos dias subsequentes. Esta vem contrariar as posições dos trabalhadores,

assentando a sua argumentação em cinco vectores essenciais: (i) condições de trabalho,

remunerações e regalias da empresa estão acima da média nacional; (ii) processo

reivindicativo orquestrado, similar ao que ocorreu noutras empresas; (iii) ilegalidade da

ocupação e acesso a documentos privados; (iv) rejeição de diálogo por parte dos

trabalhadores; (iv) desresponsabilização pela gestão155.

As Comissões de Trabalhadores da Sede, da Trindade, de Vialonga, de Coimbra

e do Porto, de forma conjunta, reagem prontamente e violentamente ao comunicado da

Administração. Pela primeira vez, os trabalhadores recorrem a provas factuais como

forma de ataque ao patronato: desde a questão do levantamento, em 1974, de 100 mil

contos a título de honorários, gratificações e dividendos, às regalias pessoais (crédito

ilimitado no supermercado da empresa, combustível para o sistema de condicionamento

de ar das casas, os 18 750$00 por mês para gasolina, etc.)156. Rejeita-se a ideia de que os

administradores estavam privados da sua actividade normal, e que a situação poderia ser

completamente regularizada logo que estes dessem seguimento ao compromisso

estabelecido quanto aos três pontos em falta (vencimentos dos administradores, redução

do número de administradores e a não distribuição de lucros e gratificações de 1974).

Relativamente à possibilidade de esta situação danificar a política de investimentos da

empresa, a Comissão recorda que a generalidade dos investimentos efectuados à data

não correspondeu aos interesses dos trabalhadores, constituindo mais uma das faces da

“má gestão”. A sabotagem económica começa a ganhar forma segundo os

trabalhadores, desde logo pela tentativa de “assustar os fornecedores” e pela coacção

nos bastidores157. O comunicado finaliza com o reforço da necessidade de

nacionalização:

“Passemos em claro o atestado de incompetência que a Administração concedeu ao Governo

Provisório, aos Governo de Inglaterra, da França e de tantos outros Países do Mundo “ocidental”

e “oriental” ao considerar a nacionalização como negativa.

155 O Primeiro de Janeiro, 11/02/1075, p. 5. 156 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Correspondência não classificada do Secretariado Coordenador, Vol. 73, n.º 206, Assuntos Económicos e Sociais e Empresas, Processo 73/15, Comunicado n.º 12 da Comissão de Trabalhadores da Sociedade Central de Cervejas. 157 Ibid.

Page 85: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

74

As recentes nacionalizações em Portugal provam o contrário e estão a dar lugar a um crescente

pedido dos Trabalhadores de importantes empresas, como garantia que é de sobrevivência e de

fortalecimento”158.

A Administração reforça as suas constatações num novo comunicado que vem a

público no dia 14 de Fevereiro, logo depois de o Diário Popular ter difundido uma

notícia que indicava que alguns elementos das comissões de trabalhadores haviam

recebido ameaças de morte através de chamadas anónimas159. Este episódio é

confirmado na Vida Mundial, ao que se anexam excertos de postais do mesmo teor:

“Vocês empregados burgueses revisionistas têm 6000$00 de ordenado mínimo e portanto a

barriguinha cheia e querem atirar poeira aos olhos do povo português indo para a TV reclamar

que nem macacos a nacionalização da S.C.C. que vos enche a barriga. Tenham é vergonha e

repartam connosco o que ganham imediatamente”.

“Para p... como você vai este aviso: se algum trabalhador desta fábrica for despedido é por sua

causa, sua p... Prepara-se para apanhar um enxerto de porrada, porque vai apanhá-la, disso esteja

certa, seu coiro. Dizer mal dos patrões que melhor pagam neste país, desavergonhada. O teres

ido à televisão dizeres mentiras fica-te caro”.160

O Conselho de Administração reitera o carácter exemplar da Sociedade Central

de Cervejas, assente num equilíbrio financeiro e numa política de investimento

sustentado, defendendo a teoria de que o conflito se havia desencadeado porque o sector

cervejeiro não estava referenciado no Plano Melo Antunes. Por outro lado, faz uma

retrospectiva dos benefícios concedidos aos trabalhadores no período anterior ao 25 de

Abril, nos quais as comissões de trabalhadores tiveram uma participação importante. É

retomada, agora de forma mais vincada, a tese de que o movimento que emergiu no dia

31 de Janeiro se enquadrava numa estratégia montada por sectores afectos ao PCP,

desiludidos pela moderação do Programa Económico, aprovado no dia anterior aos

conflitos na SCC, e que não previa a nacionalização do sector cervejeiro, bem como de

outros sectores onde vieram desabrochar situações idênticas.

Numa entrevista concedida à Vida Mundial, um elemento da Comissão de

Trabalhadores aborda todo o processo reivindicativo em torno da SCC. No eixo central

da análise centra-se a posição dos trabalhadores relativamente às nacionalizações: “o

158 Ibid. 159 Diário Popular, 14/02/1975, p. 11. 160 Vida Mundial, 20/02/1975, p. 23.

Page 86: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

75

Estado deve intervir nas grandes empresas lucrativas e atacar os monopólios”161. Noutra

frente, um representante do sector comercial refuta esta mesma concepção, porque a

nacionalização acarretaria uma “baixa de produção”, já que se o funcionário “se sentir

na pele de funcionário público, faz como ele, isto é, como recebe pouco, pouco faz”162.

O sector comercial é contra a nacionalização da empresa, mas a favor do controlo desta

pelos trabalhadores, em moldes que não foi possível apurar durante a investigação.

A posição da Sociedade Central de Cervejas na estrutura económica do Estado

Novo é também analisada. Salienta-se o facto de a situação de monopólio ter concedido

à SCC benefícios de economia de escala, isto é, com uma produção de 240 milhões de

litros, obtinha custos de produção baixos. Os avultados lucros eram investidos noutras

empresas, contribuindo para a degradação financeira da SCC, que ia assim

incrementando a sua dependência face à banca nacional.

A Comissão Coordenadora anuncia, pela primeira vez, a intenção de promover

um “saneamento político e de competência”, afastando os trabalhadores que estavam

comprometidos com o antigo regime, e desmobilizando a rede policial existente,

consubstanciada na ligação à PIDE. Neste sentido, a ajuda concedida pelo MFA, que

envia técnicos para fazer uma análise à SCC, é extremamente fulcral, como teremos

oportunidade de ver.

Maria Antónia Palla, jornalista que conduz a entrevista, encerra o debate em

torno da Central de Cervejas com uma curiosa interrogação/afirmação: “Abolir a

propriedade privada ou controlá-la? A resposta ultrapassa em muito os trabalhadores da

Sociedade Central de Cervejas”163. Mas será que ultrapassa?

O arrastar da situação – tanto do ponto de vista da actuação da administração

como da posição “divisionista” do sector comercial – provocou a marcação de um novo

plenário, para o primeiro dia de Março, que teve lugar em Sacavém, a pedido da

Comissão do Prior Velho. As principais decisões emanadas dessa Assembleia – que,

segundo a Comissão de Trabalhadores de Vialonga, contou com a presença de

elementos provocatórios – postulavam uma lógica de continuidade reivindicativa sem

inversões dramáticas no seu discurso. A Administração deveria outorgar poder a dois

administradores, que seriam autorizados a entrar na empresa até uma posterior decisão

161 Ibid, p. 19. 162 Ibid. 163 Vida Mundial, 20/02/1975, p. 24.

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76

da Junta de Salvação Nacional sobre a intervenção estatal, que vinha sendo trabalhada

por uma comissão de inquérito nomeada a 20 de Fevereiro. Via-se obrigada a apresentar

o relatório da gestão referente a 1974 e a proceder aos actos de gestão necessários ao

normal funcionamento da empresa. Os trabalhadores definiram o dia 06 de Março como

data final para uma resposta da Administração, caso contrário seriam automaticamente

saneados164. Num comunicado lançado a 04 de Março, a Administração mostra-se

favorável ao diálogo, rejeitando todas as acusações, colocando-se no papel de vítima de

um embuste de maiores dimensões, que iria conduzir a empresa “a uma crise

irreversível e irrecuperável”, desde logo pela impossibilidade de execução do plano de

investimentos previsto para 1975165.

Durante esta constante troca de acusações, desde 20 de Fevereiro que se

encontrava em funcionamento uma Comissão de Inquérito Oficial à SCC, pedida pelos

trabalhadores à Junta de Salvação Nacional. Foi através desta que a JSN apresentou às

comissões de trabalhadores uma proposta de gestão temporária para a empresa, que

previa a formação de uma administração formada por representantes dos accionistas e

elementos de confiança dos trabalhadores. Após a reunião entre as Comissões de

Trabalhadores de Vialonga, Sede, Trindade, Coimbra e Porto, estes contrapropõem:

Administração provisória composta por dois representantes dos actuais accionistas –

sendo que um destes pode ter a confiança do Banco Espírito Santo – e três

representantes da JSN; o Conselho Fiscal contaria com três representantes eleitos pelos

trabalhadores, que funcionaria paralelamente com um órgão de controlo e fiscalização

nomeado pela JSN. O caderno reivindicativo serviria de guia-base para todos os órgãos

que viessem a ser criados.

4.1.3. As sequelas do 11 de Março

Imediatamente após as confrontações do 11 de Março as Comissões de

Trabalhadores vêm saudar a nova viragem revolucionária, convocando à “unidade de

todos os trabalhadores”, de forma a alcançar os objectivos propostos “contra a

164 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Serviços de Apoio ao Conselho da Revolução, Vol. 73, Assuntos Económicos e Sociais, Processo 73/15, Comunicado n.º 20 da Comissão de Trabalhadores da Sociedade Central de Cervejas. 165 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Correspondência não classificada do Secretariado Coordenador, Vol. 73, n.º 206, Assuntos Económicos e Sociais e Empresas, Processo 73/15, Comunicado da Administração da Sociedade Central de Cervejas, 04/03/1975.

Page 88: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

77

exploração capitalista”166. Logo no dia 12 as CT’s de Vialonga, Trindade, Sede e

Coimbra endereçam um telegrama à Junta de Salvação Nacional apoiando a “acção

enérgica do MFA na luta contra a reacção”, pedindo “punição severa aos responsáveis

pela tentativa do golpe”167. Porque a revolução também se faz nas/através das palavras,

as Comissões de Trabalhadores passam para a dianteira no ataque ao patronato,

estabelecendo uma colaboração activa, ainda que informal, entre as Comissões de

Trabalhadores e a Comissão de Inquérito. Atente-se às seguintes interrogações

colocadas pelas CT’s, constituindo, no essencial, as problemáticas investigadas pela

Comissão de Inquérito:

“Como é que os trabalhadores podem aceitar administradores sobre os quais fundadas suspeitas

de exportação ilícita de capitais?

Como é que os trabalhadores podem admitir administradores que prestam falsas declarações ao

Banco de Portugal?

Como é que os trabalhadores podem permitir que administradores solicitem empréstimos

externos a taxas de juro próximas de 14%; que pedem autorizações às entidades oficiais

declarando que o dinheiro se destina a financiamento e, depois, se desviam verbas para

pagamento de dividendos dos accionistas?

Como é que os trabalhadores podem ter confiança em administradores que acordam entre si

contactarem empresas concorrentes no sentido de alterarem a apresentação de balanços, de forma

a justificar pedidos de aumento de preços de cerveja?

Que confiança podem ter os trabalhadores em administradores que, em vez de investir em

Portugal, desviam várias centenas de milhares de contos para o Brasil (e outros países?) com

lucros que jamais regressam ao nosso País?

Como é que os trabalhadores podem admitir que administradores solicitem e levantem, só no ano

de 1974, cerca de 2.000 contos para.... gasolina?

Isto sem falar ainda das ligações de administradores à PIDE/DGS, à Legião Portuguesa, e aos

governos fascistas de Salazar, Tomás e Marcelo”168.

No mesmo comunicado, a par de uma descrição sumária da luta empreendida até

ao momento, acentua-se a tónica no divisionismo interno, na “fascização” do sector

comercial, presente nas seguintes palavras: “estranha posição esta, a de trabalhadores

166 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Correspondência não classificada do Secretariado Coordenador, Vol. 73, n.º 206, Assuntos Económicos e Sociais e Empresas, Processo 73/15, Comunicado n.º 27 da Comissão de Trabalhadores da Sociedade Central de Cervejas, 12/03/1975. 167 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Documentação Económica e Social, Junta de Salvação Nacional, caixa 2, n.º 116, doc. 231, Sociedade Central de Cervejas. 168 Ibid.

Page 89: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

78

atacarem trabalhadores para defenderem capitalistas!...”169. Estas Comissões acusavam

frontalmente o sector de distribuição de participar numa manifestação contra-

revolucionária, na manhã de 11 de Março, utilizando “dezenas de camionetas a boicotar

o acesso ao Instituto da Defesa Nacional”170, deixando no ar a ideia de que existiam

relações próximas entre certos quadros e os autores do golpe de 11 de Março. Sobre a

localização actual dos administradores – entre acusações de participação nos

acontecimentos de 28 de Setembro e de 11 de Março ao lado dos contra-revolucionários

–, o mesmo documento informa que: (i) Manuel José Carvalho Martins e Manuel

Vinhas estão há vários meses fora de Portugal; (ii) Mário Vinhas, Caetano Beirão da

Veiga e José Manuel Martins não estão no país desde o início de Fevereiro.

No dia anterior à nacionalização da banca, um dos administradores da Sociedade

Central de Cervejas, Miguel Sttau Monteiro – dirigente da CIP; o administrador da SCC

que mais rapidamente se adaptou ao contexto revolucionário – responde, através da

«Vida Mundial» à argumentação da Comissão de Trabalhadores, deixando bem claro

que “as cervejas não serão nacionalizadas”171. Com um discurso centrado no auto-elogio

ao nível da gestão, plasmado no elevado crescimento da empresa desde 1934, Miguel

Sttau Monteiro refere que uma das estratégias empresariais passava pela compra de

empresas “em más condições para as transformar depois”172, dando o exemplo da

Empresa de Cervejas da Madeira e da Água do Luso. Por outro lado, assume a clara

dependência bancária pelo facto de a empresa não ter capacidade de se autofinanciar,

mas que esta dependência é positiva pois permite que se atinja um elevado grau de

investimento, necessário nos mercados internacionais. Sobre a colaboração com as

antigas estruturas do Estado Novo, Sttau Monteiro refere o pagamento mensal de 3

contos à PIDE/DGS, mais como uma forma de “coacção” do que colaboração activa,

apesar da investigação levada a cabo nos arquivos da PIDE ter revelado essa mesma

ligação sob a forma de investigação e controlo dos funcionário da fábrica de Coimbra

pelos serviços da polícia, que contavam com o apoio da Administração, designadamente

pelo envio de memorandos com as alterações na estrutura dos funcionários (entradas,

saídas, etc.). É mencionada, também, a existência de três funcionários que, “a pedido da

169 Ibid. 170 Ibid. 171 Vida Mundial, 13/03/1975, p. 31. 172 Ibid, p. 32

Page 90: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

79

Legião Portuguesa desta cidade, frequentaram um curso de anti-sabotagem”173. Quanto à

natureza do movimento que se desencadeou no dia 31 de Janeiro, este administrador

considera que o problema ultrapassa o conflito laboral: é sobretudo um conflito de teor

político. Para mais, acrescenta que não se opõe à nacionalização da indústria se este for

o caminho que o país decidir escolher, ainda que não preveja um acontecimento desta

índole, por quatro razões: (i) o Plano Económico não prevê a nacionalização; (ii) o

Decreto-Lei n.º 660/74 não constitui um atentado aos empresários, mas uma forma de

assistência a empresas em risco de falência; (iii) o Estado não possuí meios para gerir

um elevado número de empresas; (iv) a maioria dos trabalhadores da empresa não

subscreve os projectos das Comissões de Trabalhadores.

De facto, os acontecimentos do 11 de Março e a inversão de forças que se

sucedeu explicam a resolução que foi dada a esta empresa, imediatamente extrapolada

para as restantes ocorrências similares. A Comissão de Trabalhadores dirigiu uma

exposição ao Conselho da Revolução no dia 20 de Março. Neste documento, dando

conhecimento da situação da empresa e da evolução dos acontecimentos, é solicitada a

intervenção do Estado através da nomeação de uma Comissão Administrativa – à

semelhança do que havia sucedido na Banca – fundamentada no já referido D. L. de

Novembro de 1974, na situação periclitante de uma empresa que não possuía uma

administração desde 31 de Janeiro e cujas dívidas à Banca se estimavam na ordem dos

896 418 mil contos, montante já superior ao capital social e às reservas da empresa (850

mil contos). Acresce a este valor as garantias e avales prestados, num montante de 147

798 558$29, que perfaz um total de 1 044 216 558$29 (para uma análise discriminada

ver tabela 1, no anexo G).

Como refere Ricardo Noronha, na sua tese de doutoramento sobre a

nacionalização da banca, “a economia tornava-se incontornavelmente política”174,

seguindo aquilo que Medeiros Ferreira denomina de circunstancialismo revolucionário.

– é a primeira grande vitória dos trabalhadores das cervejas.

173 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo da PIDE/DGS, Del C, UI: 10627, Relatório n.º 1.528/72-4ª. Sec. S. Inf. – Ambiente na Fábrica da Cerveja – Coimbra, 03/08/1972. 174 NORONHA, Ricardo. A nacionalização da banca no contexto do processo revolcuionário português (1974-1975). Tese de doutoramento. Lisboa: FCSH, 2011, p. 416.

Page 91: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

80

4.2. Sobre o controlo operário na SCC O tema aqui abordado sobre a questão do controlo operário divide-se em duas

vertentes: uma primeira, de carácter selectivo, com base na experiência das Comissões

de Trabalhadores da fábrica de Vialonga; a segunda vertente, parte dessa mesma

experiência, mas teoriza em traços gerais sobre a concepção de controlo operário.

A Comissão de Trabalhadores de Vialonga, eleita no dia 31 de Janeiro, era

composta por dez elementos, tendo sido reeleita três vezes desde então. Segundo relato

de um membro da Comissão, nesta existiam quatro militantes do PCP e seis

independente de esquerda (à esquerda do PS)175, que espelhavam razoavelmente a

realidade fabril: mais militantes e simpatizantes do PS e do PCP, apesar da actividade

partidária ser maior nos elementos afectos ao Partido Comunista; e alguns militantes do

PRP, do MES e da UDP. Sobre a organização das CT’s, o referido elemento afirma a

falta de articulação destas176, apesar da sua forte organização de base, como já havia sido

comprovado no decorrer da tese177. Desde cedo, a Comissão de Trabalhadores

manifestou-se contra o controlo operário na sua vertente de gestão da produção e gestão

financeira, por considerar que não devia multiplicar as suas funções quando existia uma

comissão administrativa competente, pedida por estes e legitimada pelo MFA. Na

prática, o controlo operário realizou-se inicialmente através da fiscalização da

contabilidade da empresa e da vigilância dos arquivos, que permitiu a descoberta de

várias irregularidades pela Comissão de Análise e Inquérito nomeada pela JSN. Porém,

esta situação não impediu que se discutissem, num campo teórico, as questões ligadas

ao controlo operário e a sua aplicação no conjunto das empresas da SCC. É com base

em três documentos, que estão literalmente disponíveis em dois excelentes artigos sobre

o controlo operário em Portugal178, que esta análise se debruça.

175 A Gazeta da Semana, 6-13/05/1976, p. 11. 176 MAILER, Phil e BRINTON, Maurice. Portugal: a revolução impossível. Porto: Edições Afrontamento, 1978. Segundo Mailer e Brinton, este tipo de problemas era comum às CT’s, sobretudo quando existia uma assinalável dispersão geográfica das empresas. Outro tipo de problemas poderia ser também impeditivo ao normal funcionamento das CT’s: encontrar local de reunião; tendências políticas; assimetrias da própria classe (posições sociais, sexo, idade); autogestão; saneamento e a tecnologia. 177 Na SCC existe uma comissão de trabalhadores por cada fábrica: fábrica 1 (Vialonga), fábrica 2 (Coimbra), fábrica 3 (Catujal), entrepostos 1 e 2 (Prior Velho), entreposto 3 (Porto), sede (Lisboa) e cervejaria Trindade (Lisboa). A sua coordenação faz-se através de reuniões inter-comissões (RIC), mas não há uma Inter-Comissão à escala da empresa. 178 LIMA, Marinús Pires de et al. “Controlo operário em Portugal (I)", in Análise Social, n.º 47, 1999: 765–817; LIMA, Marinús Pires de et al. “Controlo operário em Portugal (II)", in Análise Social, n.º 48, 1999: 1049–1146.

Page 92: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

81

O primeiro documento, intitulado «Sobre o Controlo Operário na Sociedade

Central de Cervejas» (Junho/Julho de 1975), da autoria de um grupo de trabalhadores da

empresa serviu de base à proposta concreta de controlo operário para a SCC. Fazendo

um balanço das nacionalizações, os trabalhadores deixam no ar duas questões

prementes: quem passa a mandar na economia? Quem controla o processo de

transformação em curso?179 Ora, o que os trabalhadores concluem é que na maioria das

empresas o poder ainda se encontra do lado do capital, pelo que urge atacar esse mesmo

poder. E, esse contra-poder, terá que ser necessariamente o “poder operário”, através do

controlo dos processos de transformação, através do controlo operário, que é “a

expressão do poder dos trabalhadores sobre as decisões que lhes dizem respeito” e é a

expressão de um duplo poder180. Os trabalhadores reconhecem que o controlo da

empresa é importante, mas é apenas uma parte do controlo. Este só existe na sua

plenitude quando enquadrado num controlo global (ao nível sectorial, regional e

nacional), pois permite a reorientação da economia, o combate ao imperialismo e a

coordenação da luta económica e política dos vários trabalhadores. Neste sentido, o

documento fala numa coordenação real entre as comissões de trabalhadores e o

movimento sindical e na possibilidade de criar um sindicato vertical na empresa, que

albergue os operários e os empregados de escritórios, mas que saneie os quadros

comprometidos com a exploração. O controlo operário só deveria responder aos

plenários e nunca aos órgãos de Estado ou aos sindicatos, porque o iria burocratizar e

retirar-lhe a função de órgão de poder operário181.

“O controlo operário nos sectores nacionalizados deve ser uma arma de ataque aos critérios de

gestão capitalista e não deve ser dado lugar a perspectivas «autogestionárias», que tendem a

fazer dos trabalhadores os patrões da sua própria empresa; estas perspectivas, normalmente,

ocultam posições que querem reintroduzir a lógica capitalista, atacando para isso, ainda que de

forma «disfarçada» neste momento, as nacionalizações, o controlo a nível global e os seus

órgãos”182.

Esta constatação distancia desde logo os conceitos de autogestão e de cogestão,

porque, como bem referiu Raquel Varela, o controlo operário surgiu como medida de

transição para a colectivização (não num meio-termo) e apesar de ser menos que a

179 LIMA et al, “Controlo operário em Portugal (I)”, in Análise Social, n.º 47, 1999: 765-817, p. 776. 180 Ibid. 181 Ibid, p. 778. 182 Ibid.

Page 93: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

82

autogestão em termos de gestão, é politicamente ajustado ao processo de transição para

o socialismo, uma vez que rompe obrigatoriamente com o processo de acumulação

capitalista183. Paralelemente, ocorrem várias tentativas de aproveitamento e manipulação

destas características do controlo operário por parte do PCP, dos sindicatos e dos

governos provisórios (cf. a batalha de produção). Um dos exemplos que sustenta esta

percepção é a teoria desenvolvida por Mário Murteira, subjacente no desenho do Plano

Económico de Transição, que defende a necessidade de “combinar forte e eficaz

coordenação central de macro-decisões com progressiva estruturação descentralizada e

desconcentrada do sistema económico-social, apoiada em órgãos diversos de poder

popular”184, isto é, o controlo operário deveria existir num espaço restrito (empresas),

coexistindo com as funções macroeconómicas do governo e demais instituições.

Sob um dos modelos teóricos mais maduros, o trabalho das CT’s deveria

estabelecer-se na (i) luta contra a sabotagem económica e contra a desorganização

capitalista da economia (controlando o abastecimento e fiscalizando a gestão), na (ii)

luta contra os efeitos da crise económica capitalista sobre os trabalhadores, e na (iii) luta

contra os critérios burgueses de organização do trabalho na empresa (contra os

privilégios, contra a separação entre o trabalho intelectual e o trabalho manual e pela

implantação do poder colectivo). O documento-guia, de finais de Julho, discutido pelos

trabalhadores da fábrica de Vialonga e da fábrica de Catujal, apesar de demonstrar uma

reflexão teórica estruturada, nunca chega a ser concretizado, o que traduz a dificuldade

do movimento operário em unificar-se em torno de uma alternativa política que se

enquadrasse no contexto de radicalização social. São agora especificados os modos

concretos de actuação, que deveriam ser exercidos pelas CT’s (podiam incluir delegados

sindicais), coadjuvados por subcomissões sectoriais, e encimados por um plenário

empresarial. A proposta de reestruturação passava pela criação de um Conselho de

Trabalhadores (órgão coordenador), de um Secretariado, e de uma variedade de órgãos

de controlo (actividade comercial, produção, manutenção, finanças, gestão de pessoal e

183 VARELA, Raquel. A História Do PCP Na Revolução Dos Cravos. Lisboa: Bertrand, 2011; VARELA, Raquel. “O Partido Comunista Português, as Nacionalizações, o controlo operário e a ‘batalha da produção’. Estudo de caso na Revolução Portuguesa (1974-1975)", in Debat, n.º 6, 2011: 38–59. 184 MURTEIRA, Mário. “Sobre o conceito de independência económica,” in Análise Social XI, n.º 41 (n.d.), p. 533.

Page 94: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

83

informação e actividade sindical). Previa ainda comissões de trabalhadores de

estabelecimento (base do esquema)185.

4.3. A Comissão Administrativa Na reunião plenária do Conselho da Revolução, de 21 de Março, examinada a

situação da Sociedade Central de Cervejas com base nas resultados preliminares da

Comissão de Análise e Inquérito, o Conselho resolveu “recomendar ao Governo a

nomeação imediata de uma comissão administrativa”186, ao abrigo do disposto no

Decreto-Lei n.º 660/74, para assegurar a regular gestão da referida empresa. Num

despacho do mesmo dia (4º Spl. D.G, 1ª Série, n.º 68, de 21/03/1975), a Presidência do

Conselho de Ministros, ao abrigo da resolução do Conselho da Revolução e das alíneas

c), e), g) e h) do n.º 2, do art.º 1. do Decreto-Lei n.º 660/74, nomeou uma comissão

administrativa para a Sociedade Central de Cervejas composta pelos seguintes

elementos:

! Armando da Fonseca Marques (51 anos, licenciado em Ciências Económicas

e Financeiras, Director dos Serviços Comerciais);

! Leontino Raimundo Aleixo (41 anos, licenciado em Finanças, Director dos

Serviços Financeiros);

! Luís Alberto Caldeira Deslandes (33 anos, curso de Engenharia Química do

I.S.T., Director da Fábrica n.º 1 da SCC);

! Amílcar Soares Martins (engenheiro);

! José Manuel da Silva Nunes (capitão-tenente AN)187.

Esta modalidade de intervenção estatal nas empresas ilustra na perfeição a

concepção de duplo poder – quer ao nível institucional, entre Conselho da Revolução e

Governo, quer ao nível da legitimação, que se verifica entre as Comissões de

Trabalhadores e os órgãos institucionais – então vigente e que constitui, desde logo, o

primeiro entrave à realização de uma política de nacionalizações estruturada.

O mandato da Comissão Administrativa cingiu-se inicialmente à Sociedade

Central de Cervejas, de forma isolada. Contudo, com o prosseguimento das

185 LIMA, Marinús Pires de et al. “Controlo operário em Portugal (II)", in Análise Social, n.º 48, 1999: 1049–114, pp. 1059-1064. 186 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Reuniões, Resoluções do Conselho da Revolução, n.º 81, Resolução de 21/03/1975. 187 Arquivo da Presidência do Conselho de Ministros, Caixa 393 EAD Proc. Colectivos, E8.93, Gabinete do Primeiro Ministro, 24/03/1975.

Page 95: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

84

investigações, propôs-se que o mandato fosse alargado à Companhia de Cervejas

Estrela, à Companhia da Fábrica de Cervejas Jansen e à Companhia Produtora de Malte

e Cerveja Portugália188, pelas razões que aqui são transcritas:

i. “Muitos dos membros dos Conselhos de Administração são comuns às várias empresas [cf.

anexo H, tabela 1];

ii. Existe estreita interpenetração de interesses entre as empresas do Grupo;

iii. A maioria dos problemas que têm surgido resultam da ausência dos administradores ou do

seu desinteresse;

iv. Existe a possibilidade do funcionamento de muitas empresas do Grupo ser entravado pela

actuação de alguns dos administradores ainda presentes no País;

v. Foram já detectadas irregularidades várias nessas empresas (desvio de fundos, transacção

ilegal de acções)”189.

188 A 30 de Maio o Conselho de Ministros suspende os órgãos das empresas acima mencionadas, com excepção do Conselho de Gerência da Companhia de Cervejas de Coimbra, constituído por representantes do Banco Borges & Irmão, Banco do Alentejo e Borges & Irmão Comercial (Diário de Governo, 1ª Série, n.º 138, de 18/06/1975). 189 Arquivo da Presidência do Conselho de Ministros, Caixa 393 EAD Proc. Colectivos, E8.93, Gabinete do Primeiro Ministro, 06/05/1975.

Page 96: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

85

4.4. Comissão de Análise e Inquérito Nomeada a 20 de Fevereiro por despacho da Junta de Salvação Nacional, a

«Comissão de Análise e Inquérito ao grupo de que faz parte a Sociedade Central de

Cervejas» (denominação oficial), inicia os trabalhos ainda nesse mês. Abrangida

posteriormente pelo n.º 2 do art.º 4.º do Decreto-Lei n.º 129-A/75, de 13 de Março,

segundo o qual as comissões nomeadas dentro dos campos da Lei n.º 3/75 usufruíam

“das prerrogativas comuns de agentes da polícia judiciária militar e inspectores de

finanças”190, a estrutura dividia-se em dois grupos: um primeiro, oficial, que trabalhava

mais activamente, sob a liderança do capitão Silva Nunes, em representação do MFA; e

um grupo de apoio ou de vogais, responsável por uma variedade de trabalhos,

nomeadamente a realização de entrevistas, redacção de documentos, numa vertente de

back office. O trabalho realizado pela comissão, à imagem dos procedimentos legais que

eram tomados aquando da intervenção estatal, assentou numa parceria de facto entre

esta comissão e as Comissões de Trabalhadores, com maior destaque para a de Vialonga

e para a da Sede, onde se situavam os escritórios.

Entre Março e Maio, a Comissão de Análise e Inquérito procedeu ao

levantamento e análise dos documentos que haviam sido salvaguardados pelas

Comissões de Trabalhadores, ao mesmo tempo que começavam a vir a público, na

imprensa, as primeiras acusações pessoais aos anteriores elementos da Administração –

na sequência do plenário de trabalhadores de 12 de Abril. O primeiro envolvido foi

Manuel Vinhas, um dos mais emblemáticos administradores da empresa, sobretudo pela

sua actividade nas colónias – ligado e investigado pela PIDE, a partir de 1963, por

possíveis ligações ao MPLA –, pelo associativismo e dirigismo desportivo – ex-

dirigente do Sporting Clube de Portugal – e pela sua actividade de apoio a artistas

portugueses como Júlio Pomar, Luiz Pacheco, entre muitos outros. Figura sui generis,

Vinhas constava da lista de procurados pelo COPCON na antecâmara do 28 de

Setembro, mas conseguiu fugir a 03 de Outubro e exilar-se no Brasil, não obstante ter

passado em vários momentos por Paris e Madrid. No Diário de Lisboa, de 14 de Abril

de 1975, um ex-motorista de Vinhas, que o acompanhou nessa fuga, recupera as

palavras que o patrão havia dado no período que antecedeu o 28 de Setembro. Eram,

essencialmente, mensagens de cautela: “não saias de casa no próximo fim-de-semana

190 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Reuniões, Documentos apresentados ao CR, caixa n.º 1, n.º 319, doc. 29, Projecto e Resolução do CR, 09/02/1976.

Page 97: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

86

porque vai haver um grande banho de sangue”191. Surgem também notícias que acusam

Manuel Vinhas de mandar destruir papéis da empresa antes da sua viagem para o Brasil,

e de ligações ao 11 de Março, dada a sua relação íntima com Spínola e a entrega de uma

carta a este, em finais de Fevereiro. As Comissões de Trabalhadores, num do seus

comunicados, acusam ainda Manuel Vinhas de ligações neocoloniais, através dos

órgãos de comunicação que este controlava em Angola - Notícias e o Comércio.

Comprovam esta situação com a análise de telegramas enviados a João Fernandes, do

Notícias, onde era reprovada a “maneira como as autoridades portuguesas tratavam os

representantes dos movimentos de libertação (como chefes vitoriosos) e apoiavam e

impulsionavam os partidos fantoches como a União Nacionalista Angolana”. Noutro

telex, Vinhas assume-se como elemento de pressão contrária à política de

descolonização, referindo ser “indispensável que associações económicas tomem

posição pedindo obediência a princípios formulados em Portugal e o Futuro”192, daí que

Vinhas tenha indicado o nome de Silvino Silvério Marques para Angola, como aparece

noutro telegrama.

O segundo visado nestas relações foi Artur Alves Conde – ex-secretário de

Estado do Tesouro e, naquele momento, secretário de Estado do Turismo, com anterior

ligações na SCC193 –, associado às ligações neocoloniais de Manuel Vinhas e às fraudes

que iam sendo encontradas no interior da SCC. “Ponta-de-lança do grande capital

introduzido pelo 1.º Governo Provisório”, Alves Conde é acusado de, juntamente com

João Pedro Homem de Mello, incentivar as empresas cervejeiras a investir no Brasil e

desinvestir em Portugal, um país com uma “ditadura equilibrada” que permitia reduzir

riscos políticos e tornar os “prejuízos fictícios” rentáveis194. Quanto às relações com

Vinhas, o documento indica a instrução dada a Alves Conde para falsear os balanços da

CUCA e das associadas, e “fazer parte do 4.º Governo Provisório como secretário de

Estado do Turismo”195. O Plenário de 12 de Abril aprova uma moção que apela ao

afastamento do Governo de Alves Conde e à suspensão de qualquer nomeação sua para

cargos de relevância.196

191 Diário de Lisboa, 14/04/1975, p. 3. 192 Diário Popular, 10/04/1975, p. 10 (mesma notícia no Esquerda Socialista). 193 Ex-administrador da CUCA, mas também da Siderurgia. 194 Diário Popular, 10/04/1975, p. 10 (mesma notícia no Esquerda Socialista). 195 Ibid. 196 República, 15/04/1975, p. 13.

Page 98: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

87

4.4.1. Congelamento das contas bancárias – a primeira grande medida da

Comissão de Análise e Inquérito

Por despacho emanado do Conselho da Revolução, Rosa Coutinho mandou

congelar, por indicação da Comissão de Análise e Inquérito que encontrou

irregularidades administrativas que justificavam procedimentos judiciais, os bens

móveis e imóveis de:

i. Miguel Infante de la Cerda Sttau Monteiro;

ii. Caetano Sanguinetti Beirão da Veiga;

iii. Manuel Carvalho Pereira Martins;

iv. Manuel José de Carvalho Martins;

v. Mário de Carvalho Brito das Vinhas197.

Esta medida, de carácter temporário (até ao término do inquérito oficial), visava

impedir a saída de capitais do país, uma vez que a maioria dos administradores

encontrava-se no estrangeiro e as notícias de tentativas de transacção de posições das

empresas vinham criando uma síndrome de pânico na economia nacional. Entre os bens

congelados encontram-se empreendimentos de construção civil, propriedades rústicas

em regime de exploração agrícola e pecuária, etc., cuja actividade não pode ser gerida

pela Comissão de Análise e Inquérito dadas as suas limitações materiais e humanas.198

Este problema remete-nos para a questão da movimentação de contas, congeladas ou

não, pelos titulares ou familiares. De facto, o dilema da gestão dos bens congelados não

é solucionado de forma rápida e eficaz, até porque o “Banco de Portugal não se encontra

apetrechado para o exercício de tais funções, bem como não parece existir departamento

do Estado que disponha de condições para a execução de tais tarefas”199. Por outro lado,

já em Julho, a comissão pede ao Conselho da Revolução que conceda à administração

da SCC a faculdade de usufruir dos bens congelados, dada a necessidade de os

197 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Serviço de Vigilância Económica e Social, Caixa 2, n.º 118, doc. 46, 13/05/1975. 198 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Reuniões, Documentos apresentados ao CR, caixa n.º 1, n.º 319, doc. 29, Nota da Comissão de Análise e Inquérito encerrando a primeira fase dos trabalhos – Anexo D, 09/07/1975. 199 Arquivo Contemporâneo do Ministério das Finanças, Arquivo/SETF/SET/038/0039, Sociedade Central de Cervejas, Carta do Banco de Portugal ao Chefe de Gabinete do Secretário de Estado do Tesouro, 24/05/1976.

Page 99: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

88

movimentar “sob pena de paralisação de sectores a eles ligados, o que pode impedir

pagamentos de salários e dificultar certas actividades industriais”200.

Foram tomadas providências cautelares solicitadas ao COPCON que impediam

temporariamente a saída do país de algumas pessoas implicadas nas regularidades que a

Comissão de Análise e Inquérito inventariou (a listagem completa das pessoas

implicadas nas irregularidades detectadas pode ser encontrada no anexo H, tabela 3).

Ainda assim, a lista que se segue, não confirma a presença destas pessoas em território

nacional, até porque algumas das pessoas indicadas (sublinhado no inventário abaixo)

nunca chegaram a prestar declarações à Comissão de Inquérito, presumindo-se a sua

ausência do país.

i. Alexandre Braz Nunes Sequeira;

ii. Pedro Infante de la Cerda Ribeiro da Cunha;

iii. José Afonso de Carvalho Martins;

iv. Miguel Infante de la Cerda de Sttau Monteiro;

v. Carlos João da Silva Moreira Rato;

vi. Caetano Sanguinetti Beirão da Veiga;

vii. Mário de Carvalho Brito das Vinhas;

viii. João Gaudy de Matto Chaves;

ix. Manuel Miguel Dinis;

x. Fernando Afonso Tavares;

xi. António Carlos Ahrens Esteves;

xii. Tereza Gubert Mundet Gomes;

xiii. Maria Tereza Gubert Mundet Gomes Carvalho Martins201.

Uma referência final para duas reuniões realizadas no início de Maio que

contaram com a presença das representações das indústrias cervejeiras localizadas em

Portugal Continental. A primeira decorreu em 07 de Maio, em Lisboa, com o objectivo

de discutir a situação sectorial; a segunda – Reunião do Secretariado das Comissões de

Trabalhadores do Sector Cervejeiro – teve lugar no Porto, nas instalações da CUFP, no

dia 15 de Maio, e veio afirmar publicamente que a Cergal encontrava-se em laboração

200 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Reuniões, Documentos apresentados ao CR, caixa n.º 1, n.º 319, doc. 29, Nota da Comissão de Análise e Inquérito encerrando a primeira fase dos trabalhos, 14/08/1975 201 Ibid (sublinhado nosso).

Page 100: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

89

normal, “sem qualquer alteração ao seu programa de produção anual”, contrariando os

boatos de falência económica que vinham surgindo202.

4.4.2. As cervejas na hora da nacionalização. Os resultados do inquérito

oficial

Os relatórios conclusivos do inquérito levado a cabo pela Comissão de Análise e

Inquérito foram entregues no dia 30 de Julho ao Conselho da Revolução e ao Ministério

da Indústria e Tecnologia, ainda que já se tivesse informado o Ministério, a 24 de Maio,

sobre as principais irregularidades detectadas203. A entrega dos documentos às

Comissões de Trabalhadores deu-se a 06 de Agosto – 2 exemplares a cada comissão. É

sob a perspectiva dos resultados apurados que este capítulo incide, procurando

demonstrar as razões que estiveram por detrás da nacionalização da indústria cervejeira.

O objectivo da Comissão de Análise e Inquérito é explícito quanto ao seu tom

ideológico: “levantamento e subsequente desmantelamento das ligações que o

desenvolvimento da política de controle da economia nacional mostrou como mais

aconselhável”204.

Importa salientar as dificuldades que a Comissão enfrentou na realização dos

trabalhos e que residem em dois pontos: (i) composição da comissão; (ii) quantidade e

complexidade da documentação. A composição mostrou-se constantemente flutuante,

com persistentes entradas e saídas de vogais, para além da dificuldade de encontrar

técnicos qualificados e disponíveis. Considera o relatório que mesmo alguns dos

elementos mais activos não “puderam dar uma assistência total porquanto

permaneceram ligados aos seus locais de trabalho”205. A imensidão de documentação

existente tornou “fisicamente impossível a sua compulsão e análise”206, por culpa da

escassez de meios humanos, mas também pela complexidade das matérias em questão e

pela necessidade de uma conclusão rápida. O grupo elaborou 14 sub-relatórios que

compõem as várias irregularidades encontradas. Sucintamente, os resultados dos

202 Diário Popular, 19/05/1975, p. 12. 203 Arquivo da Presidência do Conselho de Ministros, Comissão de Inquérito, Informação da Comissão de Inquérito relativa à intervenção do Estado no Grupo da Sociedade Central de Cervejas, 24/05/1975. 204 Relatórios da Comissão de Análise e Inquérito ao Grupo de que faz parte a Sociedade Central de Cervejas, Nota prévia, p. 3. 205 Relatórios da Comissão de Análise e Inquérito ao Grupo de que faz parte a Sociedade Central de Cervejas, Nota prévia, p. 2. 206 Ibid.

Page 101: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

90

trabalhos organizam-se formalmente na seguinte temática, apesar dos pontos não serem

estanques em si mesmos:

1. A SCC e o Grupo SCC

2. Operação Nó

3. Operação Brasil

4. Sub-operação Vita Finance

5. Contrato SCC/Carlsberg

6. Distribuição indevida de

resultados

7. Fusão das Vidreiras

8. Portugália/Estrela

9. Improve

10. Jansen

11. Gastos confidenciais

12. Sobrefacturações Moçambique

13. Sobrefacturações Cuca

14. Transferências de capitais de

Angola

A lógica de análise que adoptei segue de perto os pontos acima evocados, ainda

que procure acrescentar e comparar com dados do Ministério da Indústria e Tecnologia,

trazendo igualmente o eco que os relatórios repercutiram na imprensa escrita207, que

haviam sido cuidadosamente enviados (na versão resumida, em formato de

comunicado) pelo Ministério da Comunicação Social para os jornais, como indica o

«Comércio do Porto»208. As comissões de delegados sindicais da banca estão atentas aos

resultados da investigação, procurando relacionar o seu trabalhado de fiscalização com

estas comissões, como é o caso do BESCL209. As principais conclusões a que o grupo

chegou destacam-se em dez pontos:

i. “Utilização sistemática da SCC como fonte de financiamento de outras empresas, com

manifesto prejuízo da SCC;

ii. Empolamento exagerado das remunerações e gastos com os accionistas-administradores;

iii. Descapitalização da SCC em proveito próprio de administradores (ou quotistas);

iv. Exportação ilícita de capitais;

v. Abuso de confiança, burla e furto, nomeadamente desvio de participações das empresas do

grupo em empresas cervejeiras no Brasil ultrapassando os 150 mil contos;

vi. Irregularidades fiscais e falsas declarações a organismos do Estado;

vii. Transacção ilegal de acções;

viii. Elevada dependência da banca;

207 De forma maciça nas duas primeiras semanas do mês de Agosto, sobretudo no Jornal do Comércio, A Capital, Expresso, O Jornal, República, Jornal Novo e Comércio do Porto. No início de 1976, com o recrudescimento do debate em torno da nacionalização das distribuidoras, alguns jornais retomam estes assuntos, nomeadamente o Diário de Lisboa e o Gazeta da Semana. 208 Comércio do Porto, 14/08/1975, p. 6. 209 COMISSÕES DE DELEGADOS SINDICAIS DO BANCO ESPÍRITO SANTO E COMERCIAL DE LISBOA, Sabotagem económica. “Dossier” Banco Espírito Santo. Lisboa: Diabril, 1975.

Page 102: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

91

ix. Má gestão e outros procedimentos gravemente negligentes na condução da actividade

empresarial;

x. Desvio de fundos da actividade corrente de algumas empresas”210.

4.4.3. “Um capitalismo bem tirado”211. A Sociedade Central de Cervejas

como cabeça do grupo

Pela análise até agora efectuada, com especial incidência para o capítulo 1.5.2. e

para o digrama apresentado, parece redundante uma afirmação como a que intitula esta

secção. Mas, vale a pena acrescentar alguns indicadores que elucidam na perfeição a

situação financeira do grupo entre 1965 e 1974. A debilidade financeira é uma das

principais características do capitalismo português nesse período, e o grupo SCC não

foge à regra. De acordo com Soares Bento, são vários os canais pelos quais as empresas

eram sugadas da parte da mais-valia produzida: (i) dividendos; (ii) encargos financeiros;

(iii) remunerações especiais ao Conselho de Administração212. Veja-se o caso da Central

de Cervejas: os accionistas-administradores absorviam 450 000 contos, dos quais 237

096 sob a forma de dividendos e 216 317 em remunerações213; as participações

financeiras subiram, neste período, de 1 660 para 347 413 contos, sem qualquer entrada

de rendimento nesta empresa; o passivo aumentou igualmente de 94 173 para 1 387 473

contos, dos quais 961 815 correspondiam ao passivo a curto prazo. Estes números

correspondem a constatações muito simples, mas significativas da estrutura financeira

da empresa: mais de 70% dos lucros foram distribuídos – rendimentos ou remunerações

(a distribuição de dividendos e de remunerações era das mais elevadas das empresas que

entretanto foram nacionalizadas, como se comprova na primeira tabela);

autofinanciamento muito reduzido e investimento forte noutros sectores, provocando

endividamento elevado (cerca de 165 mil contos de prejuízo); situação financeira

perigosa (cf. segunda tabela)214. No anexo I, as tabelas 1, 2 e 3 reflectem a panorâmica

geral do sector segundo os dados que aqui apresentei.

210 Relatórios da Comissão de Análise e Inquérito ao Grupo de que faz parte a Sociedade Central de Cervejas, Nota prévia, pp. 4-6. 211 Jornal do Comércio, 06/08/1975, p. 8. 212 BENTO, Soares. “Os prejuízos das empresas nacionalizadas - algumas causas (conclusão)", in Economia e Socialismo, n.º 12–13, Março de 1977: 70–77. 213 Os dividendos referentes a 1973, no valor de 54.296 contos foram pagos à custa de um empréstimo externo mediado pelo BESCL, com prejuízo claro para a amortização da dívida à banca. 214 Como muito bem descreve o Jornal do Comércio a 08 de Agosto de 1975, “perder dinheiro significava o aumentar os lucros dos acionistas administradores.

Page 103: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

92

Dividendos/Capitais próprios x 100 Tabaco 11% Celulose 6,7% Covina 5,2% Cerveja 4,7% Siderurgia 4,1% CUF 1,6% Cimento 1,0% Adubos 0,4%

Fonte: BENTO, Soares. “Os prejuízos das empresas nacionalizadas - algumas causas (conclusão)", in Economia e

Socialismo, n.º 12–13, Março de 1977: 70–77.

Encargos financeiros/Capital próprio Siderurgia 12,7% Adubos 8,6% Celulose 8,5% Cerveja 6,8% CUF 1,6% Tabaco 3,5% Cimentos 0,9% Covina 0,6%

Fonte: BENTO, Soares. “Os prejuízos das empresas nacionalizadas - algumas causas (conclusão)", in Economia e

Socialismo, n.º 12–13, Março de 1977: 70–77.

Esta imagem ampliada de uma realidade que parecia perfeita mostra ainda a

necessidade de recurso ao crédito para fazer face aos investimentos, aumentando a

dependência face à banca nacional e estrangeira, bem como o autêntico sorvedouro que

esta empresa constituía para os accionistas, que raramente injectavam capital (excepção

no ano de 1973, com a entrada de 150 000 contos). Os capitais próprios são, na sua

maioria, resultantes de autofinanciamento – limitado – ou de incorporações, o que

capitaliza ainda mais a imagem da Sociedade Central de Cervejas como «banco» do

grupo, concedendo créditos e adiantamentos sem juros ou com juros muito reduzidos às

empresas associadas e accionistas (na ordem dos 307 000 contos entre 1965-1974 como

se extrai da análise da seguinte tabela). Uma das consequências directas desta estratégia

reside no aumento crescente das imobilizações (cerca de 680 000 contos em 1974).

Page 104: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

93

“[Os accionistas] partiam do princípio que o desenvolvimento da empresa se poderia basear no

auto-financiamento, mas, ao mesmo tempo, esqueciam essa hipótese e absorviam, em dividendos

e remunerações, somas muito mais avultadas do que as atribuídas para reservas”215.

Empresas Dívida em 1974 (contos) Adegas Camilo Alves* 12 500 Companhia Indústria de Cervejas e Refrigerantes da Guiné* 55 784 Companhia União Fabril Portuense 19 619 Companhia de Cervejas Jansen 2 491 Companhia Vidreira de Moçambique 1 139 Empresa Cervejas da Madeira* 7 089 Fábrica de Cervejas e Refrigerantes João de Melo Abreu 4 235 Fábrica de Cervejas Reunidas Moçambique 1 520 Sociedade Águas do Luso* 2 936 Urfil* 13 875 Empresa Águas do Vimeiro 4 443 Lemoc 5 520

Nota: Relatórios da Comissão de Análise e Inquérito ao Grupo de que faz parte a Sociedade Central de Cervejas, A SCC

e o Grupo SCC, p. 12.

*SCC com participação directa.

É sobre este assunto que transcrevo alguns excertos da Acta n.º 590 de uma

reunião do Conselho de Administração realizada em 31 de Janeiro de 1972 e da Acta n.º

606, de 26 de Outubro de 1972 (sobre a posição na Skol Brasil), bem como de uma

reunião privada datada de 06 de Março de 1967, com a presença dos homens fortes da

empresa, que decidiu a requisição de um pedido de empréstimo ao Banco Espírito Santo

e Comercial de Lisboa no valor de 105 milhões de contos. Existia, da parte dos

administradores, a clara consciência de que a estratégia empreendida se traduzia na

degradação contínua da empresa, como se pode comprovar:

Acta n.º 590

“O Snr. Eng. Moniz Galvão, no uso da palavra diz: [...] o problema que defrontamos [situação

financeira da empresa] é muitíssimo grave e pode, mesmo, conduzir ao desaparecimento da

Empresa (...). Esse problema já não é de hoje mas já de há muito tempo (...).

Cada um de nós, sejam quais forem os interesses que tem em jogo, deve pensar e dar primazia

aos interesses conjuntos (...).

Juntemos os trapinhos para salvar a SCC.”216

215 Relatórios da Comissão de Análise e Inquérito ao Grupo de que faz parte a Sociedade Central de Cervejas, A SCC e o Grupo SCC.

Page 105: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

94

Acta n.º 606

“(...) o Snr. Dr. Moreira Rato diz que, talvez sem grande base, sempre se pensou que o problema

da SKOL era uma troca de posição que não viria trazer – como em termos monetários globais

não traz – encargos financeiros. A verdade é que assim não é, e que a prazo muito curto –

questão de dias – se torna necessário encontrar os meios financeiros para pagar mais de 50.000

contos à SIL.”

O Snr. Comandante Matoso: [...] de há muito tempo que nós vimos insistindo nas

responsabilidades que a SCC estava a tomar, sem termos feito previamente um planeamento

geral.”217

Reunião privada

“continua a movimentar-se ou a gravitar sobre si própria, o que tanto significa dizer, sobre uma

estrutura em que os seus sócios se mantêm estáticos no que interessa ao apoio ou auxílio

imediato de tesouraria e, no que interessa à rentabilidade anualmente auferida, no que respeita às

verbas distribuídas e arrecadadas”.218

Para além de alguns privilégios já aqui referidos, os administradores tinham

ainda direito a uma verba anual de 100 contos que substituía a obrigatoriedade de

compra de automóvel, enquanto os administradores-adjuntos recebiam 50 contos de

crédito anual e uma viatura paga pela empresa.

A principal crítica para o estado da situação da empresa, em 1974, residia na

política desproporcionada de aumento de participações financeiras em empresas sem

qualquer tipo de rentabilidade. O ano de 1974 marcou, por outro lado, o início da

deterioração da situação económica, como se depreende pelo prejuízo de 90 750 contos

(cf. tabela 1 do anexo I), ainda que a empresa continuasse em expansão.

4.4.4. “Receita para um monopólio”219. Os meandros das “operações”

Para compreender as irregularidades encontradas neste tipo de esquemas, é

necessário extrapolar as questões técnicas específicas para um “nível de crítica política

216 Relatórios da Comissão de Análise e Inquérito ao Grupo de que faz parte a Sociedade Central de Cervejas, A SCC e o Grupo SCC, doc. n.º 3 em anexo. 217 Ibid. 218 Ibid. 219 A Capital, 09/08/1975, p. 15.

Page 106: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

95

aos critérios e objectivos postos em prática”220. São, essencialmente, dois os casos que

apresentarei – a Operação Brasil e a Operação Nó – mas que têm características muito

semelhantes e entrecruzam dinâmicas e actores com objectivos comuns. Os

pressupostos delineadores continuam a inserir-se na dicotomia interesse do grupo vs.

interesse da nação, que se resume a outro binómio: financiamento para expansão vs.

limitações estruturais do país (dependência económica, burocracia, entrada e saída de

divisas, etc.). Só assim se percebem os vários pagamentos no estrangeiro sem

autorização oficial das entidades competentes, porque esta seria demorada ou negada,

encarecendo o negócio. Estes processos demonstram com bastante nitidez a dinâmica de

dois mecanismos fundamentais numa sociedade capitalista: a banca e a lei. A primeira,

neste tipo de relações, canaliza o dinheiro e dirige-o de acordo com a estratégia

concertada entre os grandes grupos (fornece o caminho para a saída do dinheiro, oferece

garantias de crédito externo para as operações ilegais, etc.); a lei é constantemente

ultrapassada pela sua complexa interpretação. A Operação Brasil é um caso

paradigmático do uso conveniente da lei e da banca por parte dos administradores.

Em 1967, o Grupo Cervejeiro Português (GP ou SCC) tomou posição no capital

de duas empresas cervejeiras brasileiras – Cayrú e a Londrina – que passou a controlar

com a Sipsa (holding da Skol International). Este investimento foi, contudo, pago em

Lisboa e Luanda sob duas formas, em dinheiro, pela Portugália, Estrela e Jansen, e o

restante através de 8 600 acções da Cuca após venda fictícia e sobrefacturações

(relações com a Operação Nó). No ano seguinte, os irmãos Vinhas compraram o lote de

8 600 acções aos irmãos Scarpa, após empréstimo da banca comercial (papel decisivo

do Banco Português do Atlântico) e cederam metade das mesmas à Cuca.

Noutro ponto do tabuleiro, em 1966, a SCC havia investido na Skol International

(SIL), com as devidas autorizações do Banco de Portugal (BdP), mas nunca chegou a

existir retorno desse investimento. Esta mesma empresa detinha a Sipsa (Skol

Internacional de Participações SA), que por sua vez detinha uma posição na Skol

Caracú SA, que controlava, juntamente com o GP. Em 1972, a SCC decidiu tomar

posição no Brasil, trocando a sua posição na Skol International (com sede nas

Bermudas) pela que esta detinha no Brasil (Sipsa). O Banco Espírito Santo prestou os

devidos serviços quanto à ajuda da banca estrangeira, conseguindo um empréstimo do

220 Relatórios da Comissão de Análise e Inquérito ao Grupo de que faz parte a Sociedade Central de Cervejas, “Operação Brasil”.

Page 107: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

96

Manufacturers Hannover Trust, que posteriormente foi pago com o envio de remessas

não autorizadas. No entanto, o valor da Sipsa – 2 600 000 dólares – acabou por não

corresponder ao que a SCC pagou na realidade – 3 071 587,42 dólares (pelo acréscimo

dos empréstimos). Na transferência não houve transparência com o BdP ao nível das

autorizações e de informação. A SCC exportou apenas 1 803 000 dólares, não

precisando da autorização oficial, sendo que o restante foi enviado por praças

estrangeiras. O presidente da SCC, Moreira Rato, fala mesmo num “mau negócio”221.

Outras ilegalidades estão relacionadas com a necessidade de explicar a saída de 18 368

552$10 contos, que equivale ao empréstimo conseguido junto do Manufacturers

Hanover Trust (saída de Caixa mediante “recibo forjado” por cinco administradores e

lançado na rubrica “Contas Transitórias – SIP”).

A SCC cedeu ainda royalties pelas vendas no Brasil da cerveja Skol e Sagres à

Sipsa, sem que isso resultasse na entrada de dividendos em Portugal, considerada fuga

de divisas, de forma encoberta. Ainda em 1972, a Portugália, Estrela, Jansen e alguns

administradores da SCC e da Cuca reforçaram as posições na Skol Caracú, através da

constituição, no Brasil, da Sociedade Intercontinental de Participações (holding). O

investimento foi realizado, na sua quase totalidade, pelo Grupo Cervejeiro Português

(empresas e pessoas fictícias), que teria que exportar cerca de 52 000 contos para o

Brasil. A parte dos particulares foi liquidada pela Cuca, mas esta não podia participar,

por não ter obtido autorização em Angola para exportar capitais. Não deixa de ser

interessante perceber a tipologia destes processos, pois esta operação veio apenas cobrir

o que havia sido feito anteriormente, uma vez que Hans Monna já havia subscrito as

acções em nome do Grupo Cervejeiro (com empréstimos junto de bancos brasileiros),

facto que se considera grave, pois o GP omitiu esta situação junto do BdP. Umas das

principais dificuldades encontradas foi descobrir os verdadeiros titulares das posições

no Brasil, pelo seu desdobramento em três entidades: (i) entidades que realizaram as

operações; (ii) entidades em nome de quem são realizadas; (iii) entidades que

efectivamente pagavam as despesas/investimentos.

Estas operações fizeram parte de um esquema, já no período revolucionário, de

tentativa de “apropriação pessoal dos bens das empresas do grupo cervejeiro no Brasil,

221 Ibid.

Page 108: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

97

sob forma aparentemente regular e equitativa”222, através da criação da Vita Finance

(sede no Panamá, mas escritório em Genebra). A sociedade era titular de lotes de acções

da SCC e da Portugália, que os utilizou para “pagar” à SCC, Portugália, Estrela e Jansen

as posições que detinham no Brasil, enviando cartas – que a Comissão de Inquérito

considerou como sendo falsas, com base nas declarações de administradores – que

falavam na aceitação de um negócio que as referidas empresas haviam proposto. A

responsabilidade é imputada a Manuel Vinhas, Mário Vinhas, José Manuel Martins e

António Esteves (o advogado da SCC entregou as suas acções – ou as posições que as

empresas detinham em seu nome – a pessoas indeterminadas), ainda que outros

administradores possam estar envolvidos (todos ausentes do país). A Comissão

procurou impedir a alienação das posições do grupo no Brasil, mas não teve sucesso.

As principais conclusões que resultaram da investigação desta operação são: (i)

desvio de fundos da actividade corrente da empresa; (ii) transferência ilegal de divisas

de Angola para o Brasil e para outros países; (iii) balanço falsificado em 1973; (iv)

exportação ilegal de capitais. Refere-se também o enquadramento jurídico preparado

pelo grupo que se pode observar pelo simples facto de os pedidos de exportação de

capitais privados junto do Banco de Portugal terem sido requeridos por Joaquim Luís

Gomes, filho do administrador do BdP, António Luís Gomes.

Associada a esta operação surge a Operação Nó – “ao pescoço de Angola”223 –

(diminutivo de Nocal, empresa cervejeira angolana), fundamental para perceber o

funcionamento do capitalismo português na sua vertente colonial, como fonte de

acumulação, através da exportação de capitais (colocações rentáveis no estrangeiro), das

sobrefacturações e do monopólio. Com um investimento inicial na ordem dos 9 000

000$00, realizado pela SCC, em 1958/59, a Portugália, Estrela e Jansen, sem que

tivessem investido qualquer soma, tiveram uma rentabilidade significativa até Junho de

1974: 36 000 contos, recebidos em Lisboa e o restante enviado para Luanda, e 23 000

contos em investimentos no Brasil e em Angola (EKA). Os administradores utilizaram

mais tarde as acções da Nocal para indemnizarem as empresas das entregas feitas para a

participação no capital inicial da Copeja e da Imperial.

222 Relatórios da Comissão de Análise e Inquérito ao Grupo de que faz parte a Sociedade Central de Cervejas, “Sub-operação Vita Finance”. 223 Jornal do Comércio, 07/08/1975, p. 1.

Page 109: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

98

A formação de um fundo de investimento fantasma – Unidade Atlântica, SA –

alimentou este tipo de exploração colonial. Aquando da criação da Nocal, foi imposto

pelo governo a condição de não participarem no capital outras empresas ligadas ao

ramo. Contudo, o grupo que detinha a Cuca conseguiu entrar na Nocal, com

participação adquirida através de mecanismos de diversão (empresa no Panamá), pela

mão de José Guedes de Sousa (ou Guedal), representante do Grupo Cervejeiro. O

principal objectivo desta empresa era permitir à Portugália, Estrela e Jansen

participarem no capital da Nocal, então vedada legalmente. Foi a SCC quem

desembolsou o dinheiro para a participação (cuja posição aproximou-se dos 30%),

como já atrás referi, sendo que a empresa foi transferida para as empresas-mãe (nem a

Nocal, nem a Unidade Atlântica existem nas participações financeiras destas empresas).

A circulação do dinheiro estava bem definida: movimentava-se de Guedes de Sousa

para Caetano Beirão da Veiga, com conta no «Banco Comercial de Angola», no

«Pancada, Moraes e Cª» e no «Almeida, Bato e Piombino e Cª, Lda».

Os rendimentos desta operação foram aplicados em várias frentes: na compra de

títulos do fundo IOS (Suíça); na já aqui tratada Operação Brasil; e no grupo cervejeiro

angolano EKA, que passou a contar com uma posição de 13,5% da Cuca. Noutra

modalidade distinta, foram entregues às empresas ou emprestados à Cuca, em nome das

empresas: ora entregues a Guedes de Sousa/Guedal-Beirão da Veiga, ora emprestados à

Cuca, com juro de 7% ao ano.

Em 1973 e 1974, o Grupo Cervejeiro, através da Estrela e da Portugália, realizou

uma série de pagamentos para liquidar a sua participação no capital inicial da Imperial e

da Copeja. No fundo, a participação do grupo nestas novas empresas

“insere-se num acordo mais geral de cartelização do mercado angolano entre a Cuca, Nocal e,

episodicamente, a EkA e, por outro lado, na formação de um sindicato de voto entre o grupo

cervejeiro e os grupos Abecassis e Guedes de Sousa, no sentido de controlarem a Nocal”224.

Este sindicato de votos reflectia-se, do mesmo modo, no mercado metropolitano,

como se expressa num documento que o jornal «A Capital» identifica:

224 Relatórios da Comissão de Análise e Inquérito ao Grupo de que faz parte a Sociedade Central de Cervejas, “Operação Nó”.

Page 110: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

99

“(...) presente às partes interessadas um projecto de protocolo em que se propunha que as duas

partes concertarão a política de voto a adoptar nas Assembleias Gerais daquelas sociedades, e

bem assim, a política de gestão industrial e comercial a adoptar pelos respectivos conselhos de

administração”

“Não sendo juridicamente válida, à face das novas disposições legais sobre sociedades de

controlo, a sociedade civil com tal objecto, os signatários julgam ser muito oportuno retomar as

conversações sobre aquela matéria em ordem a estabelecerem-se os desejados acordos e a

fórmula válida para a sua celebração”225.

As participações nas duas novas empresas cervejeiras foram pagas pelas Estrela

e pela Portugália, mas atribuídas posteriormente a José Manuel Martins e a Caetano

Beirão da Veiga, e em troca foram-lhes entregues 2 000 acções da Nocal, que já

pertenciam ao Grupo Cervejeiro. Daquilo que o relatório desfecha convém extrair

alguns pontos essenciais: a operação está ligada a todos os grandes estratagemas do

grupo, mormente os investimentos no Brasil, as transferências para o estrangeiro e a

monopolização do mercado cervejeiro continental e colonial (Angola226 e Moçambique,

na última com o acordo entre o grupo e a Mac-Mahon/grupo Quina); mais uma vez, a

SCC aparece como fonte de financiamento, mas sem dele obter qualquer dividendo;

transferência ilegal de acções; utilização de “figuras de palha” que actuam em nome do

Grupo Cervejeiro e que conduzem os esquemas de circulação do dinheiro para fora do

país.

Alguns dos mecanismos que alimentavam estes negócios estavam directamente

relacionados com a questão das sobrefacturações na Cuca e em Moçambique (Fábrica

de Cervejas Reunidas de Moçambique, Companhia de Cervejas e Refrigerantes Mac-

225 A Capital, 09/08/1975, p. 15 226 Em Angola a Cuca constituía o maior grupo económico-financeiro, controlando cerca de 1/3 da capacidade de produção, através de uma gama diversificada de empresas associadas (cf. tabela 1 do anexo D). Com o aparecimento da Nocal, que na sua génese procurava reajustar a concorrência, a Cuca vê-se obrigada a acordar a divisão de mercado, em forma de cartel (e de forma ilegal), como o demonstra um documento que o O Jornal publica em 22 de Agosto de 1975 na segunda página: «(...) A Cuca, desde o primeiro dia, entendeu, fazendo realisticamente as contas, que para conseguir eventualmente destruir um grupo como aquele que constituiria a Nocal teria de deixar de ganhar muito e muito dinheiro, a que se acrescentaria o que também lhe era devido como grande accionista da empresa (...) Passemos agora a relembrar as vantagens maiores do acordo que propomos. 1 – Assentemos, em primeiro lugar, que em conjunto será fácil à Cuca e à Nocal impor a lei do mercado e criar um ambiente que evite os apetites de novas concorrências (...) Os inconvenientes possíveis que esta decisão teria aos olhos do público são contrabalançados por dois aspectos a considerar de, também relevante importância. a – Estar a concorrência assegurada por existirem mais grupos cervejeiros. b – Desencorajar novas iniciativas impressionadas pelo gigantismo de uma associação Cuca/Nocal...».

Page 111: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

100

Mahon e Fábrica de Cervejas da Beira). As importações da Cuca estavam sedeadas na

delegação da mesma em Lisboa, onde se encontrava, de igual forma, o Conselho de

Administração, sendo responsáveis pelas negociações Caetano Beirão da Veiga, João

Mattos Chaves e Albano Martins da Costa. O inquérito conduzido pela Comissão

apurou a existência de fundos consideráveis por parte destes indivíduos, através de “vias

de créditos em contas particulares em bancos estrangeiros e por entregas directas em

Lisboa”227, que deviam ajudar a fazer face às despesas da delegação (de acordo com as

declarações que Alves Conde, Manuel Dinis e outros indivíduos prestaram à Comissão).

Os relatórios sobre esta matéria transportam uma quantidade assinalável de documentos,

em que se prova o acordo na sobrefacturação das matérias-primas e dos produtos

importados, falando-se em “overprice”, “suprix”, “majoration”, etc. A forma tomada era

simples: os fornecedores debitavam pelo valor bruto da factura na Sede da Cuca, em

Luanda, e creditavam pelo valor do acréscimo sobrefacturado na delegação em Lisboa,

sem que fosse escriturado na contabilidade da Cuca, mas sim numa escritura particular

controlada por Fernando Afonso Tavares (Secretário-Geral da SCC). Para o período de

1962-1974, a Comissão dá a conhecer o montante acumulado de 31 740 422$40 de

sobrefacturações, sendo que estas continuaram no ano de 1974/75 (mais 9 875 854$00).

Em Moçambique, os dados recolhidos não são tão significativos, mas permitem

perceber as relações estruturais estabelecidas com as transportadoras, nomeadamente a

Companhia Nacional de Navegação (estas forneciam descontos que eram depois

devolvidos em Portugal). A Comissão averigua cerca de 9 600 000$00 em

sobrefacturações, descontos e outros que são transferidos para fora de Moçambique, no

período de 1972-1974 (existência de documentos que comprovam os pedidos de sobre-

preço de 15 dólares/toneladas, através de João Pedro Homem de Mello).

4.5.5. Outras situações

Em traços muito gerais, outros exemplos dão conta da verdadeira situação da

Sociedade Central de Cervejas. Um deles é a natureza contratual efectuada entre a SCC

e o grupo The United Breweries Limited, com vista à fabricação, em Portugal, da

Carlsberg e Tuborg, assinado em Setembro de 1972. Visto na altura como um

acontecimento marcante, o relatório desmistifica algumas dessas ideias, ainda que

227 Relatórios da Comissão de Análise e Inquérito ao Grupo de que faz parte a Sociedade Central de Cervejas, “Sobrefacturações Cuca.

Page 112: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

101

utilize argumentação de teor moral em alguns dos casos (fala de imperialismo

tecnológico, da qualidade da cerveja portuguesa, entre outros). As críticas gravitam em

torno da saída de divisas que o contrato provocou, uma vez que a aquisição tecnológica

era “irrisória”228, se bem que pudesse trazer vantagens concorrenciais, dada a entrada em

funcionamento da Cergal. As condições implantadas escravizavam económica e

financeiramente a SCC: (i) fixação de royalties a pagar pelas empresas portuguesas; (ii)

a royaltie (0,20 dólares/hectolitro) incide sobre a totalidade dos produtos fabricados;

(iii) saída de 9 700 contos a pretexto de assistência técnica que se avalia em 1 500

contos; (iv) proibição de relações entre o grupo SCC e empresas cervejeiras

internacionais. A Comissão conclui pela inépcia dos negociadores ou pela instalação de

interesses não identificados.

Sobre a questão da distribuição indevida de resultados não acrescentarei mais

informações, já que o assunto foi previamente descrito no capítulo 4.4.2. De referir

apenas que, em 1974, a SCC não possuía uma correcta provisão para impostos, que

deveria ser da ordem dos 90 366 contos, quando o provisionamento se cifrava nos 35

392, indiciando a falsificação dos lucros do exercício de 1973 e dos anos anteriores.

Não obstante, os dividendos terem sido pagos com recurso a um empréstimo do

Manufacturers Hanover Trust, contribuindo para a descapitalização da empresa.

A Comissão indica dificuldades na investigação da fusão das empresas vidreiras

que pertenciam ao grupo, pela “não disponibilidade de meios humanos”229, ainda que

fosse possível concluir que esta se efectuou de forma ilegal. No final de 1974, foi

pedida uma autorização ao Governo para a fusão da Empresa Produtora de Garrafas, da

Companhia Indústria Vidreira e da Guilherme Pereira Roldão na Companhia Indústria

Vidreira (CIVE). A autorização ministerial foi concedida no dia 28 de Dezembro, mas

nessa data a fusão já havia sido efectivamente consumada, como se deduz pela troca de

acções anteriores a esta data e pelas declarações de Alves Conde que confirmaram que a

“autorização Governamental [teria sido] dada na convicção de que a operação ainda se

iria realizar”230. As principais irregularidades detectadas sujeitam-se ao não

228 Relatórios da Comissão de Análise e Inquérito ao Grupo de que faz parte a Sociedade Central de Cervejas, “Contrato SCC-Carlsberg”. 229 Relatórios da Comissão de Análise e Inquérito ao Grupo de que faz parte a Sociedade Central de Cervejas, “Fusão das empresas vidreiras pertencentes ao grupo cervejeiro”. 230 Ibid.

Page 113: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

102

cumprimento das determinações da JSN que tinha suspendido este tipo de operações,

bem como à prestação de falsas declarações a organismos estatais.

A análise das principais companhias sócias da SCC – Portugália, Estrela e

Jansen – trouxe à luz do dia a verdadeira situação financeira das empresas, bem como as

relações existentes com a Copeja e a Imperial. As Caixas das empresas contavam com

elevados valores de vales que, segundo os técnicos de contas, eram utilizados pelos

administradores para os seus próprios negócios e para uso pessoal. Mais grave, porém, é

a acusação de compra ilegal de acções no pós-25 de Abril, porquanto estas tinham sido

suspensas pela Junta de Salvação Nacional. A Portugália e a Estrela adquiriram acções

da Somarisco (devedora da Portugália), da Carpe (empresa falida, em vias de

liquidação), da Nocal, da Libra e de outras com menos importância. A Estrela comprou

ainda 21 acções da SCC em Junho, sendo que só 13 dessas acções se mantiveram na

posse da Estrela.

A situação destas duas empresas era muito precária, pelo que as relações

estabelecidas com as empresas acima indicadas tiveram o pendor de agudizar ainda

mais o estado financeiro. A Portugália e a Estrela continuaram os empréstimos e avales

a estas empresas, apesar de se encontrarem tecnicamente falidas ou sem actividade

comercial, como era o caso da Libra. Financeiramente, a Companhia de Cervejas

Estrela encontrava-se numa posição desastrosa, como se antevê pela necessidade de

emitir uma livrança do Banco Espírito Santo (cheque emitido a descoberto) para pagar

os impostos. As operações delineadas junto da Copeja e Imperial são o exemplo

singular desta situação: a empresa efectuou o pagamento de 11 700 contos entre

Fevereiro e Julho de 1974, quando dispunha somente de 2 500 contos, segundo dados

do balanço. Contudo, as participações foram desviadas por José Manuel Martins e

Caetano Beirão da Veiga, tendo a empresa adquirido acções da Nocal (2 000 acções, se

bem que se depreenda, pelas relações existentes, que estas acções já lhes pertenciam)

para regularizar a situação.

O Grupo SCC/GP participou em 15% do capital social da Copeja, representado

pela Portugália e pela Estrela (ou melhor, por Guedes de Sousa e António Esteves, que

subscrevem inicialmente), com divisão equitativa para ambas. As acções eram

nominativas para 10 anos e não podiam ser transaccionadas sem autorização

governamental, como era apanágio da política industrial do final do Estado Novo. Na

Imperial, a participação e o processo é equivalente ao da Copeja.

Page 114: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

103

O relatório sobre a Improve, sociedade por quotas, detida por Manuel José

Carvalho Martins, indica a forma como os accionistas-administradores conseguiam

obter lucros superiores aos que recebiam. Esta sociedade recebia alguns dos

rendimentos deste indivíduo, que correspondiam à administração da Portugália e da

Promalte, que Manuel José Martins desempenhava em nome da Improve, sendo esta

designada pela firma Carvalho & Martins. Manuel José Martins conseguia uma redução

substancial dos impostos porque os rendimentos eram debitados aos vários sócios a

título de ordenado ou gratificações. Referem-se ainda alguns episódios de

sobrefacturações associados à Improve, pela sua dedicação às importações.

O último ponto recai na questão dos gastos confidenciais e reservados, que

deverá ser analisado conjuntamente com as remunerações dos administradores,

superficialmente abordada na tese (ver tabela 1, anexo I). A dimensão dos números é

clara, o que permite constatar que entre 1965 e 1973, 31,5% dos pagamentos feitos pela

SCC à Administração foram pela via de “Gastos Confidenciais”, enquanto a Portugália

regista um valor de 53% para o período 1970/74. No seio desta rubrica, incluem-se os

pagamentos de impostos aos administradores (perfaz 63,3% do total) e despesas com

bens pessoais que, com a divulgação dos relatórios ao público, originarão um conjunto

de títulos jornalísticos originais: “Para gerir a S. C. de Cervejas o Conselho de

Administração precisava de iates e coutadas”231. A Comissão de Análise e Inquérito

invoca razões de natureza política como causas primárias do problema, numa crítica à

burguesia:

i. Função niveladora da tributação: quantias astronómicas com que as empresas

indemnizavam os administradores pelas despesas com impostos;

ii. Sacrifício do empresário: existência do lucro como forma de pagamento do

consumo de que este se priva para investir, logicamente explicado pelas

despesas com iates, coutadas e carros;

iii. Independência do poder político e do poder económico: ilustrada pelo

pagamento de verbas confidenciais a pessoas politicamente bem colocadas;

iv. Democratização do capital e apelo à poupança popular: esclarecido pelo

facto de as benesses serem reservas apenas aos grandes accionistas232.

231 República, 16/08/1975, pp. 8-9. 232 Relatórios da Comissão de Análise e Inquérito ao Grupo de que faz parte a Sociedade Central de Cervejas, “Gastos Confidenciais e Reservados na SCC, Estrela e Portugália”.

Page 115: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

104

4.5. Os trabalhos do Ministério da Indústria e Tecnologia Um estudo efectuado pelo Ministério da Indústria e Tecnologia – Estudo da

Nacionalização do Sector Cervejeiro (Indústria e Distribuição) –, datado de Junho de

1975, complementou, não no sentido da procura de irregularidades, o inquérito oficial

da Comissão de Análise e Inquérito. A interpretação aqui seguida é a de que o estudo

surgiu na sequência da nota oficiosa do Conselho de Ministros de 15 de Abril de 1975,

que formulou o Programa de Controle dos Sectores Básicos da Indústria e Energia,

nomeadamente as nacionalizações que ocorreram a 16 de Abril, e desenvolveu-se

paralelamente com os trabalhos da Comissão de Análise e Inquérito (mas não pela

mesma equipa):

“[Previa-se o] estudo e subsequente aplicação das medidas de controlo, incluindo a

nacionalização, quando apropriada, dos principais jazigos de minério e das indústrias de tabacos,

cerveja, celulose, adubos, produtos sódicos e clorados, petroquímica, cimentos, metalomecânicos

pesados, construção naval e farmacêutica”233.

Legitimado pela estratégia anti-monopolista de neutralizar as fontes de

acumulação capitalista e “assegurar a melhor articulação com outros sectores”234, o

estudo toca em alguns elementos já aqui examinados, quanto à caracterização sectorial,

pelo que aproveitarei a sequência da narrativa para transmitir a radiografia do sector

cervejeiro no seu todo (e não apenas da SCC) aquando da nacionalização.

Com cinco empresas em laboração no continente e duas nas ilhas, num total de

423 milhões de litros de capacidade de produção no continente, a Sociedade Central de

Cervejas e a Companhia União Fabril Portuense (dominadas por um grupo comum de

accionistas) detinham 323 mihões de potencial produtivo, que aliada à rede de

distribuição hegemónica, têm praticamente assegurada a totalidade das produções (em

1974 venderam 91% do total de cerveja consumido no país; cf. tabela 2, anexo I e

tabelas 1 e 2 do anexo J, para uma reflexão mais detalhada)235. Era indispensável

controlar a comercialização da cerveja, no âmbito de uma estratégia mais alargada de

controlo da comercialização dos bens essenciais, por impedir tentativas de boicote ou

233 Nota oficiosa do Conselho de Ministros, 15/04/1975. 234 Centro de Documentação 25 de Abril, Espólio Macaísta Malheiros, Legislação, Projectos de Leis, doc. n.º 27, Ministério da Indústria e Tecnologia? Diploma sobre a nacionalização do sector cervejeiro, Junho de 1975. 235 Não venderam mais porque não tiveram oportunidade de abastecer a totalidade dos segmentos de mercado que dominavam.

Page 116: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

105

açambarcamento e por possibilitar o controlo da inflação e do aumento do custo de vida,

mas, igualmente, pela dispersão geográfica da rede de distribuição do sector, que se

encontrava subutilizada (sobreposição de várias redes). O número de empresas, como

foi possível observar na primeira parte da tese, foi crescendo, mas nunca se ultrapassou

o simulacro de concorrência, impedindo o funcionamento sustentável das novas

empresas, como era o caso da Cergal, que em 1974 tinha já “prejuízos acumulados de

101 640 contos e cerca de 440 000 contos de dívidas, dos quais 240 000 a curto prazo,

para um capital de 250 000 contos”236. De facto, as previsões de consumo apontavam

para a saturação nos 40 litros anuais per capita (310 milhões de litros), enquanto a

capacidade instalada superiorizava-se a estes valores. No entanto, convém ressaltar que

as previsões de consumo, a médio prazo, acabaram por ser irrealistas (o consumo seguiu

a um ritmo muito mais elevado do que o previsto). Face a estes considerandos, o estudo

conclui pela (i) irracionalidade do sistema capitalista (desperdício de recursos; saída de

divisas para a compra de equipamentos desnecessários) e pela (ii) irracionalidade dos

capitalistas, que investiram em empreedimentos de rentabilidade duvidosa.

Através da consulta do quadro 2 do anexo H, confirma-se o rápido crescimento

do sector bancário (BESCL) no interior do sector cervejeiro. Este é accionista, directa

ou indirectamente, nas principais empresas, embora a participação na Cergal seja

insignificante. Há que conciliar com esta observação o facto de o banco ser o principal

credor da Sociedade Central de Cervejas, em cerca de um milhão de contos, o que

levantou, desde logo, dúvidas quanto à estratégia do BESCL: “(...) será que essa

aparente irracionalidade era a via que a estratégia do grupo Espírito Santo tinha

escolhido para conquistar posição dominante do sector?”237

“é lícito supor que o grupo tivesse sido forçado a desenha uma estratégia que, passando pelo

controle de outras empresas, lhe permitisse pressionar e mesmo enfraquecer a SCC em alguns

pontos, e lhe proporcionasse a oportunidade de passar a controlar a SCC como empresa

dominante do sector”238.

236 Centro de Documentação 25 de Abril, Espólio Macaísta Malheiros, Legislação, Projectos de Leis, doc. n.º 27, Ministério da Indústria e Tecnologia? Diploma sobre a nacionalização do sector cervejeiro, Junho de 1975, p. 2. 237 Centro de Documentação 25 de Abril, Espólio Macaísta Malheiros, Legislação, Projectos de Leis, doc. n.º 27, Ministério da Indústria e Tecnologia? Diploma sobre a nacionalização do sector cervejeiro, Junho de 1975, p. 4. 238 Ibid.

Page 117: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

106

Ao longo do trabalho não foi possível recolher dados concretos que sustentassem

esta hipótese, sobretudo pela dificuldade de recolha de informação junto do Arquivo

Histórico do BES, que refere a inexistência de qualquer ligação da família ou do banco

com as indústrias cervejeiras para os períodos em análise. Há, de facto, acções que

denotam um tipo de relação estranha entre a banca e a Sociedade Central de Cervejas,

como o facto de ter concedido créditos a curto prazo que funcionavam como créditos a

longo prazo (dadas as facilidades concedidas) e ter permitido saques a descoberto,

atingindo 180 000 contos em Fevereiro de 1975.

As razões para a nacionalização explicam-se, no final do estudo, pela seguinte

ordem de razões:

i. Ordem política: desmantelar os monopólios substituindo-os pelo poder dos

trabalhadores;

ii. Ordem económica: optimização dos recursos disponíveis possibilitada pelo

planeamento integrado;

iii. Ordem social: manter o número de postos de trabalho239

239 Centro de Documentação 25 de Abril, Espólio Macaísta Malheiros, Legislação, Projectos de Leis, doc. n.º 27, Ministério da Indústria e Tecnologia? Diploma sobre a nacionalização do sector cervejeiro, Junho de 1975, p. 6.

Page 118: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

107

4.6. Os processos nas restantes empresas A investigação permitiu a recolha e o tratamento de informação sobre a evolução

de outras empresas cervejeiras em Portugal – Cergal, Imperial, Copeja, Empresa de

Cervejas da Madeira – que poderá ser útil ao nível comparativo, com o grande processo

da Central de Cervejas (apesar dos materiais disponíveis serem pouco representativos).

A tese de mestrado de Miguel Pérez Suárez240, sobre as comissões de

trabalhadores durante o PREC, traz um sucinto relato dos acontecimentos da Cergal –

Cervejas de Portugal, onde o surgimento de uma comissão com tendência de extrema-

esquerda anima todo o processo reivindicativo. Logo na sequência do 25 de Abril é

organizado um plenário de trabalhadores com participação maciça, sendo eleito um

grupo de trabalho com poderes para criar uma Comissão de Trabalhadores (sete

elementos). O caderno reivindicativo apresentado reclama a melhoria salarial e a

redução do número de horas de trabalho241, sendo acompanhado por um processo voraz

de saneamento dos quadros superiores, marcado fortemente pela prisão do Conde de

Caria (Bernardo Mendes de Almeida), em Outubro de 1974, na sequência do 28 de

Setembro242. Em Setembro de 1974 a CT cria o órgão de comunicação «A Luta»,

influenciado pela ideologia de extrema-esquerda, anti-imperialista e anti-PCP (Manuel

Monteiro, um dos elementos da CT vai ser depois deputado da União Democrática

Popular na Assembleia da República). A Comissão de Trabalhadores tomou parte activa

na manifestação anti-Nato a 7 de Fevereiro de 1975, chegando a paralisar o trabalho

durante a visita dos militares da Nato à fábrica, no dia 10, afirmando que se tratava de

uma “provocação”243. O grande celeuma da Cergal prende-se com a questão financeira e

a participação, em moldes complexos, de António Champalimaud e do Banco Pinto &

Sotto Mayor, na elevação do capital social aos 250 000 contos nos finais de 1974244. A

questão financeira reveste-se da maior gravidade. Com um passivo superior ao capital

240 SUÁREZ, Miguel Ángel Pérez, Contra a exploração capitalista. Comissões de trabalhadores e luta operária na revolução portuguesa (1974-1975). Tese de mestrado. Lisboa: FCSH, 2008. 241 Ibid, p. 85. 242 Diário Popular, 04/10/1974, p. 21. 243 Diário Popular, 12/02/1975, p. 19. 244 Champalimaud, apesar do acordo estabelecido sob a forma de sindicato de empresas tomador de acções – por força de proibições legais, mas que nunca chegou a existir –, em que o Banco seria utilizado apenas como fonte de pagamento, sugere um administrador para a Cergal que se vai auto-representar, ao invés de representar o referido Banco. O que é certo é que após a nacionalização da banca e com a mudança de corpos gerentes, o banco passa a ser confundido com o tal sindicato por parte da Administração e dos trabalhadores da Cergal, que lançam ataques violentos à instituição, ameaçando com uma manifestação em frente à sede do mesmo (clamando pela nomeação de um administrador-delegado do Banco para o Conselho de Administração).

Page 119: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

108

social, a empresa não tinha capacidade para cumprir os compromissos a curto prazo e

carecia urgentemente de financiamento, que não vinha sendo facilitado :

“Os salários dos trabalhadores são pagos com o produto das vendas que, se neste momento é

suficiente, nos meses de Inverno não chega nem para satisfazer metade das pessoas.

Não se pagou o imposto de Transacções referente a Janeiro; não se pagam fornecedores; não se

pagam as contribuições para a Previdência; reforma-se letras por inteiro”245

Relativamente à Imperial – União Cervejeira Portuguesa e à Copeja –

Companhia Portuguesa de Cervejas (ligada tecnicamente à Heineken), os dados são

muito limitados no que diz respeito ao processo de luta no pós-25 de Abril (ambas

iniciam a actividade comercial em 1975, sendo que a primeira produz a cerveja Marina

e a segunda coloca no mercado a Clok). 14 de Agosto de 1975 marcou o início da luta

dos trabalhadores da fábrica da Imperial, em Loulé, que reivindicavam o pagamento de

salários, melhores condições laborais e manifestavam-se contra a existência de trabalho

eventual. A evolução da situação económica e financeira da Imperial, entre 1973 e

1977, resumida nos quadros seguintes (em complemento com as tabelas 2 e 3 no anexo

I) indica o estado desastroso da empresa logo no primeiro ano de comercialização (a

insuficiência do seu capital próprio dificultou o suporte dos elevados encargos

financeiros):

1973 1974 1975 1976 1977 Produção em unidades físicas - - - 8 063 964 (Prev) Receitas (exploração e outras, 103 contos) - - 103 163 192 517 Despesas (103 contos) - - 140 225 251 520 Resultado (103 contos) - - 37 062 -59 003 Subsídios O.G.E. ou outros - - - - Despesas c/ pessoal em % de receitas - - 28,3 40,3 Remuneração média mensal (contos) - - 7,7 9,2 Receita média por trabalhador - - 238,5 364 Despesas c/ Pessoal - - 39 822 77 629 N.º de trabalhadores 85 151 432 529 Remunerações base - - - 58 429 Horas extraordinárias - - - 3 131 Prestações suplementares - - - 2 149

245 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Serviço de Vigilância Económica e Social, Caixa 6, n.º 122, doc. 119, Cergal, documento manuscrito sobre a situação financeira da Cergal.

Page 120: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

109

1973 1974 1975 1976 1977 Capital - - 75 000 75 000 (Prev) Reservas - - 29 910 20 910 Resultados - - -40 689 -59 003 Situação líquida - - 35 221 36 907 Endividamento total - - 301 285 466 447 Dívidas à Previdência - - - - Dívidas ao Estado - - - - Endividamento externo - - - 29 461 Avales do Estado - - - -

Fonte: Arquivo Contemporâneo do Ministério das Finanças, Arquivo/SETF/GSEF/037008/001/0065, Imperial

Na Empresa de Cervejas da Madeira, detida parcialmente pela Sociedade Central

de Cervejas e por capitais estrangeiros (cf. quadro 2, anexo H), as notícias que

indicavam a nacionalização da empresa não caíram bem junto dos trabalhadores. O

próprio governador do Distrito do Funchal enviou um telegrama ao ministro do

Comércio Interno, a 20 de Agosto, comunicando esse descontentamento246:

“(...) TRABALHADORES EMPRESA CERVEJAS MADEIRA DAR PARTE GRANDE

DESCONTENTAMENTO DO PESSOAL RELATIVAMENTE A NACIONALIZACAO DA

EMPRESA QUE NAO TINHA PROBLEMAS E EM QUE A PRODUCAO ATINJIU BOM

NIVEL STOP GOVERNADOR CIVIL STOP INFORMA QUE ASPECTO

NACIONALIZACAO PODE REFORCAR IDEIAS CONTRA CONTINENTE (...)”247.

A guerra no mercado cervejeiro reabriu-se no início de 1975 com a entrada em

funcionamento da Copeja e da Imperial, mas era uma guerra com características

suicidas para estas novas empresas. Os custos da produção e da distribuição, os

investimentos realizados e o domínio total da Central de Cervejas cortavam todos os

canais de respiração possíveis, abrindo dois pólos no mercado – um orientado para a

expansão lucrativa (com todas as dificuldades e problemas já aqui referenciados), que

era liderado pela SCC (em conjunto com a CUFP); e outro seguindo uma estratégia (que

não o era enquanto estratégia) de sobrevivência, que só a espaços – por motivos de falha

de abastecimento por parte daquelas duas ou por ponta de consumo prolongada –,

conseguia utilizar a totalidade da capacidade produtiva instalada.

246 Após a nacionalização o conflito adensa-se, chegando os trabalhadores a pedir a desnacionalização da mesma. 247 Arquivo da Presidência do Conselho de Ministros, Caixa 1138 EAD, Processos Colectivos, E8.34, Empresa de Cervejas da Madeira.

Page 121: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

110

4.7. A “nacionalização que se deseja” sempre se realiza248

“A guerra das cervejas vai ficar sem pressão. Sem a pressão da concorrência. Beber esta ou aquela cerveja vai deixar de

ser uma questão de personalidade, de qualidade humana, de inteligência, de classe... Optar por uma ou outra marca de cerveja será

muito simplesmente um caso de... gosto.

Todas as cervejas passarão a ser... as suas cervejas. Todas as cervejas serão cervejas... bem portuguesa”249

O sector cervejeiro foi formalmente nacionalizado pelo Decreto-Lei n.º 474/75,

de 30 de Agosto (promulgado a 20 de Agosto), na vigência do V Governo Provisório.

Numa sucessão de considerandos que caracterizavam o sector cervejeiro como um

sector lucrativo, sob o domínio de um grupo de pressão político-económico que havia

explorado, em regime de monopólio e de forma desordenada, sob o beneplácito do

Estado, o mercado cervejeiro até ao 25 de Abril, o decreto colocava no centro da

questão a necessidade de conjugar a política cervejeira com a vinícola, no quadro de

uma economia planificada de transição para o socialismo, que sirva o interesse

nacional250.

São, deste modo, nacionalizadas as empresas no continente – Sociedade Central

de Cervejas, SARL; CUFP – Companhia União Fabril Portuense, SARL; Cergal –

Cervejas de Portugal, SARL; Copeja – Companhia Portuguesa de Cervejas, SARL;

Imperial – União Cervejeira de Portugal, SARL – e as quotas portuguesas da Empresa

de Cervejas da Madeira, Lda e da Fábrica de Cervejas e Refrigerantes João de Melo

Abreu, Lda. As empresas nacionalizadas assumiam também a posição social que

detinham nas sociedades em que eram sócias. Previa-se ainda o pagamento, a definir

posteriormente (no prazo de 180 dias), das indemnizações a atribuir aos titulares das

acções. Com as nacionalizações, o Estado apoderou-se de posições relevantes na

indústria de refrigerantes, uma vez que a SCC e a CUFP eram importantes fabricantes

(Invicta e Schweppes), e noutras indústrias (vinho, água e algumas empresas de

distribuição). O ministro da Indústria e Tecnologia, por despacho do Primeiro-ministro,

devia nomear para cada uma das sociedades nacionalizadas uma comissão

administrativa composta por três a cinco elementos, mas as suas competências poderiam

expandir-se a mais do que uma empresa, caso fosse conveniente ao nível da gestão. As

funções das comissões consistiam na gerência das remunerações e das regalias dos

248 O Jornal, 11/07/1975, p. 20 (em alusão ao slogan criado por Ary dos Santos em 1967 “Cerveja Sagres, a sede que se deseja”). 249 O Jornal, 11/07/1975, p. 20. 250 Decreto-Lei n.º 474/75, de 30 de Agosto.

Page 122: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

111

trabalhadores e na prática de actos directamente relacionados com as necessidades de

gestão corrente.

Um dos pontos centrais inserido no decreto resultava da política de

reestruturação para o sector251, conduzida pela nomeação de uma comissão de

reestruturação, sob a alçada do Ministério da Indústria e Tecnologia, com as seguintes

funções:

i. “Proceder aos estudos organizatórios, técnicos, económicos, financeiros e jurídicos

indispensáveis, bem como realizar as diligências que se mostrarem convenientes;

ii. Realizar os estudos necessários para a elaboração de um estatuto unificado do pessoal e para

a sua aplicação escalonada aos trabalhadores, tendo em conta a situação actual estes e a

política global de salários e rendimentos definida pelo Governo;

iii. Estudar e propor as medidas legislativas ou de outra natureza requeridas pela execução útil

das nacionalizações decretadas neste diploma”252.

Os trabalhadores regozijaram-se com a decisão tomada, mas o nível de

contentamento não foi equivalente nas várias empresas. Mais uma vez, na Empresa de

Cervejas da Madeira as reacções são de ataque à nova medida, como se comprova pela

tomada de posição contra a nacionalização da empresa no plenário de 04 de Setembro

(semelhante à atitude tomada no plenário de 14 de Agosto), e ainda pela notícias

publicada no Diário de Lisboa, a 10 de Setembro:

“Deploraram também o facto de se pretender impor às suas empresas e à região da Madeira , um

diploma legal totalmente alheio às realidade insulares, pois nenhum dos considerandos com que

se pretende fundamentar o referido Decreto-Lei tem naquelas cabimento (...). Manifestaram

também a intenção de não acatar qualquer medida legislativa, administrativa o de outra natureza,

que pretenda impor a nacionalização, ou mesmo a simples alteração da Administração e quadros,

bem como a sua firme determinação de impedi-las, por quaisquer meios ao seu alcance

Tal nacionalização, que se pretende impor às nossas empresas, é manifestamente contrária ao

desejo de todos os trabalhadores, bem como ao espírito autonomista das populações insulares

(...)”253.

“Acontece na Madeira. Os trabalhadores não dispensam patrões”254

251 O diploma previa a reestruturação sectorial num prazo de 90 dias. 252 Decreto-Lei n.º 474/75, de 30 de Agosto. 253 Arquivo da Presidência do Conselho de Ministros, Caixa 1138 EAD, Processos Colectivos, E8.34, Empresa de Cervejas da Madeira. 254 Diário de Lisboa, 10/09/1975, p. 8.

Page 123: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

112

4.8. Breve síntese do processo de reestruturação do sector O processo de reestruturação do sector cervejeiro, previsto para 90 dias, mas

cuja duração foi muito superior255, confunde-se com a luta pela nacionalização do sector

de distribuição256 (que se arrastou num processo muito conflituoso e burocrático257). Não

sendo este porém o principal âmbito do trabalho, considero importante fazer uma breve

viagem ao “mundo” pós-nacionalizado, para perceber, inclusive, algumas decisões que

haviam sido tomadas; mas, também, porque nele se reflecte o pressuposto inicialmente

levantado, de que a nacionalização do sector teria ocorrido de forma desordenada,

desestruturada de qualquer orientação económica geral (que também não considero

existir enquanto fórmula coerente e hegemónica).

A Comissão de Reestruturação do Sector Cervejeiro (CRSC), constituída com

base no artigo 14.º do Decreto-Lei n.º 474/75, de 30 de Agosto e nomeada por despacho

do Conselho de Ministros de 13 de Fevereiro de 1976, era composta por quatro

representantes do Ministério da Indústria e Tecnologia, um representante do Ministério

das Finanças e três representantes dos trabalhadores (eleitos pelos membros da

Comissão Consultiva258; a listagem completa pode ser vista no anexo K , tabela 1),

sendo apoiada por vários grupos de trabalho, que tratavam das seguintes áreas:

Organização Global, Comercialização, Produção, Pessoal, Administrativa e

Investigação e Desenvolvimento. O seu mandato, marcado pelo início dos trabalhos a

19 de Fevereiro de 1976, englobava, para além das cervejas, os refrigerantes e todos os

restantes produtos que correspondiam às empresas nacionalizadas259.

O secretário de Estado da Indústria Ligeira, aquando dos inícios dos trabalhos,

desmentiu qualquer orientação governamental condicionante da proposta final, mas

assegurou a urgência de uma conclusão no prazo de 60, o que não veio a acontecer.

Mesmo assim, o plano de trabalhos dividia-se em quatros fases: (i) fase de

levantamentos com visitas às fábricas; (ii) estudo da organização das políticas e

255 A fusão em Empresas Públicas só acontece no final de 1977. 256 O diploma nacionalizador diz respeito apenas ao sector da produção, apesar de o V Governo Provisório ter aprovado o Projecto de Decreto-Lei que nacionalizava a o sector comercial. 257 Os relatórios da Comissão de Análise e Inquérito só foram devidamente analisados no Conselho da Revolução em 1976, já após a nacionalização do sector, sendo que as medidas previstas de actuação judicial sobre alguns elementos nunca chegaram a concretizar-se. Há vários relatos na imprensa destas situações, denunciadas pelas Comissões de Trabalhadores. 258 A Comissão Consultiva era constituída por três representantes de cada empresa nacionalizada e com funções de apoio aos representantes dos trabalhadores da CRSC. 259 Ministério da Economia, Centro de Documentação da Direcção-Geral das Actividades Económicas, Relatórios da Comissão de Reestruturação do Sector Cervejeiro.

Page 124: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

113

objectivos; (iii) auscultação dos trabalhadores e audição dos Conselhos de

Administração; (iv) elaboração da proposta afinal. O que é certo é que a 06 de Julho, no

seguimento de uma reunião da comissão com o Ministério da Indústria e Tecnologia, os

pressupostos iniciais são completamente alterados, surgindo uma nova orientação no

sentido da reestruturação em Empresa Pública Única260, causando consequentemente

mais divisões no interior da comissão e das comissões de trabalhadores do sector de

produção e comercial (há uma clara divergência em duas frentes: entre a classe

trabalhadora, não necessariamente entre sector produtivo e sector comercial; e entre a

classe trabalhadora e a comissão de reestruturação, quanto ao modelo de organização a

adoptar)261.

Os trabalhos decorreram, portanto, num ambiente desfavorável à construção de

um modelo teórico consensual para as várias partes262. A comissão critica a falta de

articulação com outros organismos ministeriais, sobretudo com o Ministério do

Comércio Interno, responsável pela definição das linhas orientadoras do sector da

distribuição da cervejeira, ainda em equação quanto ao seu futuro (com ou sem

nacionalização). Relata, por outro lado, a impossibilidade de se proceder a estudos

económicos e financeiros completos, uma vez que os sistemas de informação das

empresas eram diferenciados, com graves deficiências ao nível da contabilidade.

Relativamente ao Estatuto Unificado, a comissão re-transfere o seu poder para o

Ministério, por considerar não possuir capacidades para realizar tal operação.

Sobre os modelos teóricos de organização sectorial, antes da orientação do

Ministério da Indústria e Tecnologia no sentido de formar uma Empresa Única263, a

260 Confirmado a posteriori pelo despacho de 09 de Julho, que também limitava o tempo dos trabalhos ao final desse mês. 261 A 13 de Julho a Comissão Consultiva suspendeu a representação na comissão, após a recente orientação ministerial, e um dos representantes acabou mesmo por apresentar a demissão (sem que alguém o substituísse). A 22 de Julho os representantes dos trabalhadores retomaram as suas posições na comissão após a realização dos plenários de trabalhadores nas várias empresas (voto contra dos Entrepostos Comerciais da SCC). Os representantes ministeriais aceitaram prosseguir os trabalhos com base nas novas orientações, mas com reservas que foram incluídas no relatório final. 262 A título de exemplo, no plenário de 08 de Abril de 1976 os trabalhadores de Vialonga aprovaram uma moção contra o não pronunciamento por parte do Ministério da Indústria e Tecnologia sobre a Proposta Única (reformulação da política salarial para um único nível salarial), com possível recurso à greve caso a resposta tardasse. 263 Empresa Única: agrupamento das cinco empresas com funcionamento descentralizado e articulação das estruturas existentes.

Page 125: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

114

comissão havia proposto inicialmente sete tipos, mais tarde reduzidas aos cinco que se

seguem264:

i. “Uma Empresa Pública com descentralização na gestão;

ii. Cinco Empresas Públicas encimadas por uma sexta visando orientação e coordenação

vinculativas das políticas gerais para o sector;

iii. Três empresas públicas (SCC c/ refrigerantes; CUFP c/ refrigerantes e Cercopim c/

refrigerantes) encimadas por uma quarta entidade visando orientação e coordenação

vinculativas das políticas gerais para o sector;

iv. Duas Empresas Públicas (CUFP c/ refrigerantes e SCC + Cercopim c/ refrigerantes)

encimadas por uma terceira unidade visando orientação e coordenação vinculativas das

políticas gerais para o sector;

v. Duas Empresas Públicas (Porto + Coimbra + Santarém c/ refrigerantes e Belas + Vialonga +

Loulé c/ refrigerantes) encimadas por uma terceira entidade visando orientação e

coordenação vinculativas das políticas gerais para o sector”265.

Para o sector comercial, na senda do modelo adoptado266, previa-se a criação de

dois ramos dentro da Empresa Pública, cada um dispondo de um “catálogo completo de

produtos (cerveja, água, refrigerantes) e de uma rede de comercialização (própria e de

Agentes) cobrindo todo o território”267. Esta problemática foi uma das mais relevantes

em todo o processo, como é fácil de perceber pela abundante documentação encontrada

referente a vários ministérios268, onde a palavra de ordem é a da nacionalização

imediata, dada a situação periclitante da maioria das empresas de distribuição, como nos

mostra um estudo realizado por um grupo de trabalho nomeado pelo Ministério do

Comércio Interno, em 27 de Outubro de 1975269, com o objectivo de fundamentar o

projecto de diploma que propunha a nacionalização do sector de distribuição. Todavia,

os objectivos não foram cumpridos por dificuldades de várias ordens: (i) obtenção de

dados fidedignos; (ii) composição do grupo de trabalho. Ainda assim, possibilitou o

levantamento e a análise superficial dos fundamentos para a nacionalização, que se

264 Após a rejeição de modelos que previssem a manutenção do sector como tal e de modelos demasiado centralizados e centralizadores – modelo de uma Empresa Pública – por cortarem a motivação e iniciativa na gestão. 265 Ministério da Economia, Centro de Documentação da Direcção-Geral das Actividades Económicas, Relatórios da Comissão de Reestruturação do Sector Cervejeiro. 266 O relatório final estabelece um Projecto de Decreto-Lei que prevê a criação da CEPAL – Cervejeira de Portugal, EP. 267 Ibid. 268 Várias cartas, moções e estudos das comissões de trabalhadores dos sectores de comercialização a pedir a nacionalização do sector; alguns transformam-se em Comissões de Luta. 269 Constituído por José Maria Brandão de Brito, Armando Augusto de Morais e Castro, Eduardo Salviano Harris Cruz (estes três representando a DGCI) e pelo Secretariado do Sector Comercial dos Produtos da SCC.

Page 126: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

115

estabeleciam do seguinte modo: (i) Decreto-Lei n.º 769/74 de 31 de Dezembro que

estabelecia as condições de assistência a equipamentos públicos (directamente nas

fábricas), como cantinas e cooperativas de consumo, prejudicando as vendas das

sociedades distribuidoras; (ii) tendência para eliminar intermediários inúteis; (iii)

formação de cooperativas e outras associações que vão beneficiar do ponto 1; (iv)

eliminação do problema dos abastecimentos, acabando com a intranquilidade dos

trabalhadores das distribuidoras quanto ao seu futuro; (v) possibilidade de vender o

produto a preço único a nível nacional, o que beneficiaria o consumidor; (vi) eliminação

do sistema concorrencial existente, que origina gastos supérfluos; (vii) insuficiência de

quadros; (viii) redução dos custos de distribuição através do reordenamento geográfico,

diferenciado da divisão distrital; (ix) obrigatoriedade de venda exclusiva dos produtos

da marca; (x) possibilidade, após a nacionalização, de vendas da fábrica mais próxima;

(xi) reorganizar o capital social das distribuidoras e minorar o grau de dependência do

capital alheio270. Com estes dados, o grupo de trabalho conclui pela nacionalização, por

constituir a

“hipótese socialmente mais rentável, não só em termos de garantir de emprego [...], mas também

em dotar o Estado de uma rede distribuidora de ampla cobertura geográfica, instrumento

essencial para uma política de regularização do abastecimento em bens essenciais não perecíveis,

à escala de todo o território continental, bem como da racionalização dos circuitos de

distribuição correspondentes”271.

Na reunião de Conselho de Ministros de 09 de Janeiro de 1976, o secretário de

Estado do Ministério do Comércio Interno leva a debate o Projecto de Decreto-Lei que

nacionalizava as distribuidoras e que não tinha sido aprovado pela Presidência da

República272 aquando da nacionalização da indústria cervejeira. O secretário de Estado

afirma que o Ministério do Comércio Interno era favorável à nacionalização, porque

garantia “uma rede polivalente de distribuição controlada pelo Estado”273. Contudo, o

Ministério não era favorável à proposta de nacionalização considerada nesse projecto.

Os restantes ministros mostraram-se particularmente renitentes quanto à proposta, tendo

o ministro da Educação e Investigação Científica, Vítor Alves, afirmado que parecia

270 Arquivo da Presidência do Conselho de Ministros, Caixa 393 EAD, Processos Colectivos, Sociedade Central de Cervejas. 271 Ibid. 272 Por discordar do montante das indemnizações e da composição das Comissões Administrativas. 273 Arquivo da Presidência do Conselho de Ministros, Súmula da Reunião do Conselho de Ministros de 09 de Janeiro de 1976, p. 15.

Page 127: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

116

estar a pensar-se em mais uma “nacionalização apressada”274. O projecto foi retirado por

depender de uma “política de nacionalizações a definir”275, o que ilustra bem a completa

inoperância governamental no tocante a uma política coordenada no campo das

nacionalizações (veja-se que já nos encontramos em 1976).

Em Junho de 1977, já na vigência do I Governo Constitucional, a Presidência do

Conselho de Ministros aprova uma Resolução (n.º 140/77) que, desconsiderando o

relatório final da CRSC, por não ser “suficientemente conclusivo quanto à forma a

adoptar para a reestruturação do sector”276, e a proposta de empresa única, por eliminar

totalmente a concorrência, cria, sob a tutela do MIT, a empresa pública Central de

Cervejas, EP (integra a Sociedade Central de Cervejas e a Cergal) e a União Cervejeira,

EP (incorpora a Companhia União Fabril Portuense, a Copeja e a Imperial). Estas duas

empresas – Centralcer e Unicer – são efectivamente criadas (com aprovação dos

estatutos) pelo Decreto-Lei n.º 531/77 de 30 de Dezembro, no culminar de um

complexo processo, cuja evolução se apresenta no diagrama seguinte:

274 Ibid, p. 16. 275 Ibid, p. 17 276 Resolução n.º 140/77, de 20 de Junho

Page 128: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

117

Legenda

CA Comissão Administrativa

CAI Comissão de Análise e Inquérito

CRSC Comissão de Reestruturação do Sector Cervejeiro

CT Comissão de Trabalhadores

MCI Ministério do Comércio Interno

MF Ministério das Finanças

MFA Movimento das Forças Armadas

MIT Ministério da Indústria e Tecnologia

Rep. Representantes

SCC Sociedade Central de Cervejas

Page 129: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

118

Conclusão

As conclusões desta tese, como referido na introdução, procuram constituir um

ponto de partida para a investigação das nacionalizações numa perspectiva mais

alargada, sempre numa óptica de transformação da sociedade portuguesa: de ruptura do

tipo de relações existente; de completa mutação do espaço “fábrica”, com todas as

consequências que daí advém; da ruptura, ou pelo menos, da tentativa de ruptura, das

relações de poder.

A análise dos modelos de industrialização, numa malha sectorial mais fina, mas

perspectivada a longo prazo, permitiu confirmar algumas das principais conclusões que

a historiografia em torno do Estado Novo tem vindo a divulgar. O sector cervejeiro

insere-se no segmento industrial pioneiro no que toca à modernização tecnológica, à

inovação e à abertura ao exterior, ainda que com resultados decepcionantes neste último

ponto. Altamente concentrado, numa situação de verdadeiro monopólio, a introdução de

uma concorrência forte só se vislumbra a partir da década de 70, permitindo um

desenvolvimento desregulado e a tomada de acções controversas por parte do restrito

núcleo de administradores (e accionistas), que convive de perto com as principais

estruturas do regime salazarista.

A revolução coloca a nu as fragilidades deste aparente crescimento.

Financeiramente, o sector cervejeiro encontrava-se num verdadeiro caos, pondo em

causa o futuro próximo da indústria. A mobilização social, que chega rapidamente às

estruturas da indústria cervejeira, permite a alteração de todas as variáveis em jogo, de

forma rápida, brusca e participada. É, pois, um processo que, pela sua celeridade, foge,

pelo menos numa primeira fase, da hegemonia do PCP e da Intersindical. E é esta

confrontação sublime entre CT’s-sindicatos-partidos que é necessário ter em conta para

uma análise cuidada deste período. O movimento não é unívoco, nem segue

necessariamente as crises do aparelho de Estado277, e a investigação efectuada dá uma

imagem dessa mesma realidade: na Sociedade Central de Cervejas, empresa que reúne

as principais características do tecido industrial de ponta português do Estado Novo, o

movimento reivindicativo nasce de forma organizada (reivindicação do tipo “Estado-

277 Como parecem sugerir alguns autores, por exemplo LOUÇÃ, Francisco. “Balanço da revolução portuguesa”, in Acção Comunista, 1976. Ele vai, por seu turno, conduzir às crise do Estado.

Page 130: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

119

Maior”278, também como espécie de ajuste de contas com o patronato), e a sua evolução

constitui-se como um verdadeiro case study do processo de nacionalizações que se

desencadeia no pós-11 de Março.

Apesar da divisão interna dos trabalhadores quanto às estratégias a usar, o

modelo adoptado só é possível num panorama de transição para o socialismo, porque

pressupõe a desorganização de toda a lógica capitalista. Os debates e discussões em

torno da questão do controlo operário tem como pano de fundo – consciente ou

inconscientemente – a escolha de um paradigma de organização da sociedade, pois a

reconstrução da economia nesses termos não se podia limitar à transferência da

propriedade e dos meios de produção para as mãos do Estado. É este o grande

paradigma das nacionalizações: só por si elas não significam a luta dos trabalhadores

neste período, uma vez que esta luta ultrapassa em larga escala as questões processuais

e o bloqueamento estratégico dirigido pelas grandes estruturas partidárias e sindicais. É

esta a dicotomia que se verifica na SCC: por um lado, a estratégia anti-monopolista de

abolição do poder das mãos dos antigos donos, assente numa concepção de transição

para o socialismo que rejeita o controlo total da produção e da gestão; por outro, a ideia

de que o controlo operário não se podia ajustar aos mecanismos de organização

capitalista. Daí se explica que, em 1977, já numa fase de arrefecimento revolucionário,

a indústria cervejeira prossiga a sua reestruturação sob a forma de duopólio, ao invés de

se recuar na nacionalização.

Não parecem ter sido as nacionalizações a principal causa do enfraquecimento

do sector cervejeiro em Portugal nos anos subsequentes, uma vez que estas

possibilitaram, na teoria, o repensar de um modelo de desenvolvimento que estava

esgotado e viciado. São as circunstâncias que definem a evolução do processo e as

tomadas de posição. O que estava em causa não era apenas a estruturação de um sector,

mas antes a reformulação da economia. Efectivou-se porém a primeira premissa,

enquanto se debatia selvaticamente um modelo de sociedade, que acabou por lhe

parecer estranho.

278 PATRIARCA, Fátima. “Que justiça social?”, in Portugal e a Transição para a Democracia (1974-1976). Lisboa: Colibri, 1999, p. 148.

Page 131: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

120

Fontes e bibliografia

Fontes Primárias e Secundárias

1. Arquivos e bibliotecas

Arquivo & Biblioteca da Fundação Mário Soares

Arquivo Central da Secretaria da Presidência do Conselho de Ministros

Arquivo Contemporâneo do Ministério das Finanças

Arquivo Nacional da Torre do Tombo:

! Arquivo do Conselho da Revolução

! Arquivo Oliveira Salazar

! Arquivo da PIDE

Arquivo Particular Eng.º Rui Neves

Centro de Arquivo e Documentação da CGTP-IN

Centro de Documentação 25 de Abril

Centro de Documentação da Associação Industrial Portuguesa

Centro de Documentação da Direcção-Geral das Actividades Económicas

Centro de Documentação do Departamento de Prospectiva e Planeamento

Centro de Documentação do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social

Biblioteca Nacional

Hemeroteca Municipal

2. Publicações periódicas – boletins, jornais e revistas

Cerveja

Boletim da Sociedade Central de Cervejas

Alavanca

Page 132: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

121

Boletim CIP

Boletim da Direcção-Geral da Indústria

Boletim da Direcção-Geral dos Serviços Industriais

Boletim Semanal da Direcção-Geral dos Serviços Industriais

Capital (A)

Comércio do Porto (O)

Diário de Lisboa

Diário Popular

Economia e Socialismo

Esquerda Socialista

Expresso

Flama

Gazeta da Semana (A)

Indústria Portuguesa

Jornal (O)

Jornal do Comércio

Jornal Português de Economia e Finanças

Luta (A)

Movimento – Boletim Informativo das Forças Armadas

Poder Popular

Primeiro de Janeiro (O)

República

Revista do Centro de Estudos Económicos

Seara Nova

Século Ilustrado (O)

Tempo

Page 133: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

122

Tempo e o Modo (O)

Tempo Económico

Time

Vida Mundial

Visão História

3. Documentação dos órgãos de soberania, da Administração Central e de

departamentos governamentais

PORTUGAL. ASSEMBLEIA NACIONAL. II Plano de Fomento (1959-1964), vol. 1.

Proposta de lei e projecto do II Plano. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da

Moeda, 1959.

———. II Plano de Fomento (1959-1964), vol. 2. Pareceres da Câmara Corporativa.

Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1959.

———. III Plano de Fomento para 1968-1973, vol. 1. Proposta de lei e projecto para o

continente e ilhas. Lisboa: s.n, 1967.

———. III Plano de Fomento para 1968-1973, vol. 4. Pareceres da Câmara

Corporativa. Continentes e Ilhas. Lisboa: s.n, 1968.

———. Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967, vol. 1. Proposta de lei e

projecto. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1965.

———. Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967, vol. 2. Pareceres da Câmara

Corporativa. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1965.

PORTUGAL. CONSELHO ECONÓMICO. FUNDO DE FOMENTO NACIONAL.

Plano de Fomento (Lei no 2 058). Continente e Ilhas. Programas aprovados pelo

Conselho Económico. Sua execução em 31 de Dezembro de 1953 e previsões para

1954. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1954.

———. Plano de Fomento (Lei no 2 058). Revisão de 1955. Programas gerais dos

investimentos e seu financiamento aprovados pelo Conselho Económico em sessão

de 27 de Maio de 1955. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1955.

Page 134: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

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PORTUGAL. CORPORAÇÃO DA INDÚSTRIA. IV Plano de Fomento. Anexo:

Questões sectoriais. Lisboa: s.n, 1972.

———. Plano Intercalar de Fomento 1965-1967. Acções de política industrial na

indústria transformadora. Lisboa: s.n, 1964.

PORTUGAL. MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Indústria da Alimentação e das

Bebidas (classes 20 a 21): Relatório Preparatório do Plano de Investimentos para

1965-67. Lisboa: Ministério da Economia, 1964.

PORTUGAL. MINISTÉRIOS DA ECONOMIA E DO ULTRAMAR. Plano de

Fomento, vol 1. Proposta de lei. Propostas adicionais. Decreto da Assembleia

Nacional. Pareceres da Câmara Corporativa. Programas de investimentos.

Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1953.

PORTUGAL. PRESIDÊNCIA DO CONSELHO. COMISSÃO INTERMINISTERIAL

DE PLANEAMENTO E INTEGRAÇÃO ECONÓMICA. III Plano de Fomento.

Grupo de Trabalho n.o 3. Indústrias extractivas e transformadoras. Relatório

preliminar sobre indústrias de alimentação e bebidas. Lisboa: s.n, 1965.

PORTUGAL. PRESIDÊNCIA DO CONSELHO. COMISSÃO INTERMINISTERIAL

DO PLANEAMENTO E INTEGRAÇÃO ECONÓMICA. Relatório preparatório

do plano de investimentos para 1965-1967. Relatório do grupo de trabalho n.o 2

(Indústria e energia). Ramo indústria. Programação industrial. Projecções

sectoriais. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1964.

PORTUGAL. PRESIDÊNCIA DO CONSELHO. INSPECÇÃO SUPERIOR DO

PLANO DE FOMENTO. Relatório final preparatório do II Plano de Fomento. III)

Pesca IV) Minas. V) Indústrias transformadoras. VI) Electricidade. Lisboa:

Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1958.

PORTUGAL. PRESIDÊNCIA DO CONSELHO. IV Plano de Fomento 1974-1979.

Tomo 1. Metrópole. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1974.

PORTUGAL. PRESIDÊNCIA DO CONSELHO. SECRETARIADO TÉCNICO DA

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO. Relatório preparatório do plano de

investimentos para 1965-1967. Estudos gerais (Metrópole), 2.a parte.

Caracterização presente da economia portuguesa e projecções do seu

Page 135: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

124

desenvolvimento no período de 1965-1973. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da

Moeda, 1964.

PORTUGAL. SECRETARIA DE ESTADO DA INDÚSTRIA. Reorganização das

Indústrias de Cerveja e Malte. Lisboa: Direcção-Geral Serviços Industriais, 1969.

4. Congressos

II CONGRESSO DA INDÚSTRIA PORTUGUESA. II Congresso da Indústria

Portuguesa, Comunicações 1 a 74, vol. 1, 9 vols. Lisboa: s.n, 1957.

———. II Congresso da Indústria Portuguesa, Discursos, conclusões, estudo sobre a

indústria portuguesa., vol. 9, 9 vols. Lisboa: s.n, 1957.

———. II Congresso da Indústria Portuguesa, Relatórios de Sectores Industriais 0/3,

vol. 4, 9 vols. Lisboa: s.n, 1957.

———. II Congresso da Indústria Portuguesa. Actas das sessões, vol. 3, 9 vols.

Lisboa: s.n, 1957.

COLÓQUIO LUSO-ESPANHOL DE ACTIVIDADES ECONÓMICAS. Estrutura da

economia portuguesa. I colóquio luso-espanhol de actividades económicas.

Lisboa: s.n, 1964.

MOURA, Francisco Pereira de et al. Estudo Sobre a Indústria Portuguesa. II Congresso

da Indústria Portuguesa. Lisboa: Bertrand, 1957.

5. Documentação empresarial

CUFP. Da Indústria nacional de cerveja. Reclamações apresentadas pela Companhia

União Fabril Portuense. Porto: s.n, 1946.

INDÚSTRIA CONTINENTAL DE CERVEJA. Memorial: 1953. Lisboa: Bertrand,

1953.

MARTINS, Américo. Central de Cervejas: 50 anos de actividade. Lisboa: Central de

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PELÁGIO, Humberto José Pereira. A Fábrica de Cerveja de Leça do Balio da

Companhia União Fabril Portuense. Lisboa: s.n, 1964.

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———. A Indústria da Cerveja e o Agro Nacional. Lisboa: s.n, 1961.

———. Vinculação e discricionariedade no exercício dos poderes de condicionamento

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cerveja. Lisboa: s.n, 1958.

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s.a. 25 anos nas cervejas. Lisboa: Ramos, 1969.

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S.A.R.L... ao pedido de Manuel António Flor Alves da Silva e outros para a

instalação de uma nova Fábrica de Cervejas. Lisboa: s.n, 1966.

———. Condicionamento industrial: oposição da Sociedade Central de Cervejas... ao

pedido da Companhia de Cervejas e Refrigerantes Mac-Mahon para a instalação

de uma nova Fábrica de Cerveja. Lisboa: s.n, 1967.

———. Condicionamento industrial: oposição da Sociedade Central de Cervejas... ao

pedido da Empresas Garrafeiras para a instalação de uma nova Fábrica de

Cerveja. Lisboa: s.n, 1966.

———. Noções Gerais sobre Cerveja. Lisboa: Sociedade Central de Cervejas, 1971.

6. Relatórios, balanços e contas

Sociedade Central de Cervejas

Companhia União Fabril Portuense

Companhia União de Cervejas Angolana

7. Memórias, entrevistas, intervenções e livros de militares e políticos civis

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Page 151: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

I

AN E X O S

Page 152: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

II

Índice

! Anexo A ! tabelas relativas a dados sobre a produção, consumo e venda da cerveja.

! Anexo B ! tabela do condicionamento industrial na indústria cervejeira.

! Anexo C ! informações sobre o reapetrechamento, a investigação e a formação técnica.

! Anexo D ! quadro e diagrama das relações dos grupos do sector cervejeiro.

! Anexo E ! tabelas relativas ao sector empresarial do Estado em Portugal e na Europa.

! Anexo F ! calendário das nacionalizações, entre 1974 e 1976.

! Anexo G ! tabelas relativas ao endividamento da Sociedade Central de Cervejas.

! Anexo H ! tabelas com a estrutura capitalista da indústria cervejeira em 1974/75 e listagem dos

elementos implicados nas irregularidade identificadas.

! Anexo I ! tabelas relativas à caracterização geral da indústria cervejeira em 1974/75.

! Anexo J ! rede de distribuição comercial.

! Anexo K ! informações sobre a composição de diversas comissões.

! Anexo L ! cronologia.

Page 153: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

III

AN E X O A

Page 154: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

IV

Tabela 1: Exportação da Sociedade Central de Cervejas entre 1943-1959:

Exportação da SCC (litros)

Anos Açores Angola Brasil Cabo Verde Gibraltar Goa Guiné Macau Moçambique S. Tomé e Príncipe Timor Vapores Total 1943 8 136 117 662 2 326 785 994 18 374 2 880 30 519 965 891 1944 41 508 143 935 11 702 101 283 30 305 13 701 56 571 399 005 1945 47 851 430 128 9 036 7 164 20 146 17 359 14 400 78 909 629 313 1946 7 049 562 074 6 480 11 181 95 616 28 951 7 417 11 513 792 80 145 811 217 1947 4 061 724 953 7 200 4 918 39 744 22 593 3 240 22 334 4 795 85 826 919 664 1948 10 224 707 420 3 247 22 680 32 090 3 837 39 607 8 597 96 148 923 850 1949 4 716 591 760 13 478 55 598 26 240 2 952 50 584 745 328 1950 9 590 635 488 3 564 28 696 7 722 10 714 67 668 705 774 1951 2 .401 606 398 3 888 26 741 9 893 16 427 70 753 759 501 1952 25 272 394 740 10 368 19 699 7 441 13 791 75 214 546 525 1953 1954 1955 766 748 3 394 5 508 2 653 4 623 1956 139 799 2 255 65 454 2 467 1 671 1957 3 935 67 966 2 611 2 097 1958 1 499 3 859 83 758 2 666 1959 980 3 154 60 732 1 940

Fonte: INDÚSTRIA CONTINENTAL DE CERVEJA. Memorial: 1953. Lisboa: Bertrand, 1953 e BNU. "Da Indústria cervejeira em Portugal". Boletim trimestral dos Serviços de Estudos Económicos do B.N.U., 31 de Dezembro de 1961.

Page 155: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

V

Tabela 2: Vendas da indústria cervejeira portuguesa (1943-1952):

Vendas da indústria cervejeira portuguesa (litros)

Anos Empresas Continente Exportação Total

1943 SCC 10 278 911 965 891 11 244 802

CUFP 1 682 953 76 908 1 758 961

1944 SCC 9 805 79,5 399 005 10 204 802,5

CUFP 1 41 .963 200 097 1 612 060

1945 SCC 11 367 318 629 313 11 996 631

CUFP 1 454 107 328 394 1 782 501

1946 SCC 11 723 311 811 217 12 534 528

CUFP 1 628 972 59 061 1 688 033

1947 SCC 12 397 305 919 664 13 316 969

CUFP 1 581 197 - 1 581 197

1948 SCC 14 252 719 923 850 15 176 569

CUFP 1 970 703 - 1 970 703

1949 SCC 12 296 253,5 745 328 13 041 591,5

CUFP 1 835 577 - 1 835 577

1950 SCC 9 599 800 705 774 10 405 574

CUFP 1 526 551 - 1 526 551

1951 SCC 9 204 350 759 501 9 963 851

CUFP 1 629 996 - 1 629 996

1952 SCC 10 146 109 546 525 10 692 634

CUFP 2 027 702 - 2 027 702

Fonte: INDÚSTRIA CONTINENTAL DE CERVEJA. Memorial: 1953. Lisboa: Bertrand, 1953. Tabela 3: Comparação do consumo anual per capita em alguns países europeus para o

período de 1950-1958:

Consumo anual per capita de cerveja Países Antes da guerra 1950-1953 1956-1958

Áustria 37 48,4 69,8

Bélgica-Luxemburgo - - 134,1 Dinamarca 57,1 68,2 63,9 França 41,4 17,8 30,6 Alemanha 75 47,7 85,5 Grécia - - - Irlanda 38,4 61,6 50,4 Itália 1 2,9 3,8 Holanda 14,8 11 19,3 Noruega 17,4 18,9 22,6 Portugal 0,9 1,6 2,7 Suécia 25,5 25,4 27,3

Suíça 54,6 47,2 57,7

Page 156: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

VI

Tabela 4: Produção da indústria cervejeira portuguesa:

Produção da indústria cervejeira portuguesa (litros) Ano SCC CUFP Total

1932 - - 203 957 1933 - - 184 800 1934 - - 176 402 1935 - - - 1936 - - - 1937 - - - 1938 - - 6 528 381 1939 - - - 1940 - - - 1941 - - - 1942 - - - 1943 11 498 100 1 732 960 12 231 060 1944 12 698 000 1 568 374 14 266 374 1945 12 907 000 1 979 083 14 886 083 1946 12 931 240 1 628 886 14 560 126 1947 14 981 400 1 615 617 16 597 017 1948 16 121 270 1 878 127 17 999 397 1949 14 225 165 1 872 603 16 097 768 1950 11 406 300 1 515 019 12 921 319 1951 10 894 840 1 743 442 12 638 282 1952 11 469 905 1 989 111 13 459 016 1953 - - 14 500 000 1954 - - 16 000 000 1955 - - 20 000 000 1956 - - 20 000 000 1957 - - 24 000 000 1958 - - 28 000 000 1959 - - 32 000 000 1960 - - 37 000 000 1961 - - 40 000 000 1962 - - 37 000 000 1963 - - 36 000 000 1964 - - 50 000 000 1965 - - 50 000 000 1966 - - 65 000 000 1967 - - 75 000 000

Fonte: Tabela construída com base em dados da INDÚSTRIA CONTINENTAL DE CERVEJA. Memoria: 1953. Lisboa, Bertrand, 1953; PORTUGAL. MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Indústria da Alimentação e das Bebidas (classes 20 a 21): Relatório Preparatório do Plano de

Investimentos para 1965-1967. Lisboa: Ministério da Economia, 1964; AIP. "Uma fábrica de cerveja à escala mundial". Indústria Portuguesa, n.º 411, XXV, Maio de 1962, p. 473; AIP. "A actividade industrial portuguesa em 1934". Indústria Portuguesa, n.º 85, VIII, Março de 1935, p. 60; e

AIP. A actividade industrial portuguesa. Índices e números estatísticos". Industria Portuguesa, n.º 143, XIII, Janeiro de 1940, pp. 51-53.

Page 157: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

VII

AN E X O B

Page 158: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

VIII

Tabela 1: Condicionamento industrial – indústria cervejeira

Condicionamento Industrial

Ano Empresa Motivo Informações Boletim

1937-1938

António Vahia de Castro (representa grupo financeiro) PI Fabrica de cerveja e refrigerantes 15-09-1937

António Vahia de Castro (representa grupo financeiro) DM Indeferido 29-06-1938

Portugália DM Deferido (laboração na Almirante Reis) 29-06-1938

1939-1940

Portugália PI Instalação de maquinismo 10-04-1940

Portugália DM Deferido 10-07-1940

1940-1941

Portugália PI Instalação de maquinismo 23-10-1940

Portugália DM Deferido 19-03-1941

1941-1942

António Dias PI Pequeno fabrico de cerveja (Cano, Souzel) 03-06-1942

Portugália DM Instalação de maquinismo 03-12-1941

1945-1946

Portugália, Estrela, Coimbra e Jansen PI Fábrica de cerveja, refrigerantes e gelo (unidade de reserva / nova)

14-08-1946

Francisco António dos Reis PI Secção de fabrico de cerveja (Ribeira Brava, Funchal) 25-06-1946

João Machado da Rocha PI Fábrica de cerveja (Angra do Heroísmo) 30-01-1946

Manuel Pestana PI Fábrica de cerveja (Ribeira Brava, Funchal 24-10-1945

Várias firmas (em nome de sociedade a constituir) PI Fábrica de cerveja e refrigerantes (Lisboa) 31-07-1946

Manuel Pestana DM Indeferido 07-08-1946

1946-1947

Abel Magalhães Castela PI Fábrica de cerveja e gelo (Coimbra) 26-03-1947

António Garcia Roseiro PI Fábrica de cerveja (Mortágua) 03-09-1947

Page 159: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

IX

António Vahia de Castro (representa grupo financeiro) PI Fábrica de cerveja e refrigerantes 23-10-1946

Carlos Mário Duarte PI Fábrica de cerveja (Porto) 30-07-1947

Santos Ferreira & C.ª, Ltd.ª PI Fábrica de cerveja e gelo (Ribeira de Frades, Coimbra) 18-06-1947

João Machado da Rocha DM Indeferido 18-09-1946

1947-1948

Companhia União Fabril Portuense PI Substituição de maquinismo 22-09-1948

Portugália PI Instalação de maquinismo 09-06-1948

Francisco Bento Gouveia PI Fabrico de nova cerveja ("vínica") 25-02-1948

Mesquitas, Ltd.ª PI Fábrica de cerveja (Mãe de Água, Nogueiró - Braga) 29-09-1948

Abel Magalhães Castela DM Indeferido 15-12-1948

António Garcia Roseiro DM Indeferido 15-12-1948

António Vahia de Castro (representante de grupo financeiro)

DM Indeferido 15-12-1948

Carlos Mário Duarte DM Indeferido 15-12-1948

Portugália DM Deferido 27-10-1948

Portugália, Estrela, Coimbra e Jansen DM Indeferido (pedido de 1945-1946) 10-11-1948

Companhia União Fabril Portuense DM Deferido 15-12-1948

Francisco António dos Reis DM Indeferido 10-11-1948

Lagos & Irmão e outros DM Indeferido 10-11-1948

Santos Ferreira & C.ª, Ltd.ª DM Indeferido 10-11-1948

1949 António Martins Ferreira PI Fábrica de cerveja, laranjadas e gelo (Coimbra) 05-01-1949

Page 160: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

X

Companhia de Cervejas de Coimbra PI Substituição de maquinismo 09-02-1949

Emanuel Durão PI Fábrica de cerveja (Viseu) 12-10-1949

Empresa Transmontana de Cervejas, Ltd.ª PI Fábrica de cervejas e refrigerantes (Castelo Branco) 08-06-1949

António Martins Ferreira DM Indeferido 08-06-1949

Companhia de Cervejas de Coimbra DM Deferido 08-06-1949

Companhia União Fabril Portuense DM Deferido 02-02-1949

Companhia União Fabril Portuense DM Prorrogação de 3 meses (9-11-48) 21-09-1949

Mesquitas, Ltd.ª DM Indeferido 16-02-1949

1950

Manuel de Freitas Mariano PI Fábrica de cerveja (Angra do Heroísmo) 05-04-1950

União Industrial, Ltd.ª PI Fábrica de cerveja, refrigerantes e gelo (Odivelas) 08-03-1950

Companhia Produtora de Malte e Cerveja Portugália DM Prorrogação de 12 meses (10-9-48) 15-03-1950

Emanuel Durão DM Indeferido 15-03-1950

Manuel de Freitas Mariano DM Indeferido 20-09-1950

União Industrial, Ltd.ª DM Indeferido 23-08-1950

1951

Abílio Ferreira Borges PI Fábrica de cerveja (Póvoa de Varzim) 31-01-1951

Abílio Ferreira Borges PI Fábrica de cerveja (Póvoa de Varzim) 18-07-1951

Companhia União Fabril Portuense PI Substituição de maquinismo 09-05-1951

Abílio Ferreira Borges DM Indeferido 31-10-1951

Companhia de Cervejas de Coimbra DM Prorrogação de 24 meses (10-3-49) 03-10-1951

Page 161: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XI

Companhia Produtora de Malte e Cerveja Portugália DM Prorrogação de 15 meses (10-9-48) 03-10-1951

Companhia União Fabril Portuense DM Deferido 03-10-1951

Companhia Produtora de Malte e Cerveja Portugália DDG Deferido 31-10-1951

Abílio Ferreira Borges PA Arquivado por desinteresses do requerente 21-03-1951

1952

António Martins Ferreira PI Fábrica de cerveja e gelo (Coimbra) 03-09-1952

José Joaquim Gonçalves de Oliveira PI Fábrica de cerveja, refrigerantes e gelo (Porto) 04-06-1952

António Martins Ferreira PA Arquivado por desinteresses do requerente 24-09-1952

1953 Companhia Produtora de Malte e Cerveja Portugália DM Prorrogação de 18 meses (19-9-51) 27-05-1953

1956 José Joaquim Gonçalves de Oliveira DM Deferido – Nacerel / Reorganização sectorial 07-03-1956

1959 José Manuel Rodrigues Brás PI Fábrica de cerveja (Calheta, Funchal) 02-09-

1959

Nacerel - Sociedade Naconal de Cerveja e Refrigerantes DM Prorrogação de 3 anos (20-2-56) 18-03-1959

1960

Albert Emile José Bensaúde Oulman e outro PI Fábrica de cerveja, gelo e refrigerantes (S. Miguel, Ponta Delgada)

30-03-1960

Companhia União Fabril Portuense e Nacerel PI Concentração 21-12-1960

José Manuel Rodrigues Brás DM Indeferido 03-02-1960

1961

Sociedade Central de Cervejas PI Concentração 12-04-1961

Albert Emile José Bensaúde Oulman e outro DM Indeferido 31-05-1961

Companhia União Fabril Portuense DM Deferido 22-03-1961

Sociedade Central de Cervejas DM Deferido 16-08-1961

1962 Companhia União de Cervejas de Angola, Cuca PI Fábrica de cerveja (Luanda) 17-10-1962

Page 162: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XII

Nova Empresa de Cervejas de Angola, Nocal PI Ampliação de fábrica (Luanda 17-10-1962

1963 Lúcio Tomé Feteira PI Fábrica de cerveja (Lisboa) 18-12-1963

1966 Manuel António Flor Alves da Silva e outros PI Fábrica de cerveja (Setúbal) 17-08-1966

1967

António Gouveia Pedro de Jesus PI Fábrica de cerveja (Porto) 01-02-1967

Banco Pinschof & C.ª PI Fábrica de cerveja (Faro) 01-02-1967

Ciable - Comércio e Indústria de Alimento e Bebidas PI Fábrica de cerveja (Faro) 15-02-1967

Corporel - Companhia de Refrigerantes PI Fábrica de cerveja 12-04-1967

Supersumos, Ltd.ª e outras firmas PI Fábrica de cerveja (Lisboa) 31-05-1967

1968 Supersumos, Ltd.ª e outras firmas DM Deferido / Reorganização sectorial 17-07-

1968

Supersumos, Ltd.ª e outras firmas DM Prorrogação de 60 dias (26-6-68) 04-12-1968

1969 Cergal - Cervejas de Portugal DM Deferido – Constituição da Cergal 27-08-1969

1970 Cergal - Cervejas de Portugal DM Atribuição de acções à Mahou 03-06-1970

1971 António Vítor de Almeida Saraiva (c/ Heineken e Interbra) PI Fábrica de cerveja (Setúbal) 07-04-

1971

Cergal - Cervejas de Portugal PI Plano de desenvolvimento 24-11-1971

1972

Refriplás - Indústrias Reunidas Refrigerantes e Plásticos PI Fábrica de cerveja, levedura seca, gás carbónico e gelo (Faro) 01-03-1972

José Nunes Rodrigues PI Fábrica de cerveja, gás carbónico e gelo (Faro) 03-05-1972

António Vítor de Almeida Saraiva (c/ Heineken e Interbrew)

DM Deferido – Copeja 24-01-1972

Cergal - Cervejas de Portugal DM Indeferido 29-03-1972

Cergal - Cervejas de Portugal DM Deferido (capital social) 02-08-1972

Page 163: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XIII

António Vítor de Almeida Saraiva DM Aprovação de estatutos 30-08-1972

Cergal - Cervejas de Portugal DM Deferido (aumento de produção) 29-11-1972

José Nunes Rodrigues DM Deferido 29-11-1972

Refriplás - Indústrias Reunidas Refrigerantes e Plásticos DM Deferido 29-11-1972

1973

António Coutinho Ramos PI Fábrica de cerveja e gás carbónico (Setúbal) 26-09-1973

Companhia União Fabril Portuense PI Ampliação de produção 15-08-1973

Fernando da Costa Borges Ventura PI Fábrica de cerveja, gás carbónico e gelo (Viseu) 26-09-1973

Sociedade Central de Cervejas PI Ampliação de produção 11-04-1973

Refriplás - Indústrias Reunidas Refrigerantes e Plásticos DM Concentração – Imperial 16-05-1973

Legenda Autorizações concedidas a novas empresas

PI Pedido de Instalação DM Despacho Ministerial

DDG Despacho do Director-Geral PA Processo Arquivado

Fonte: Fonte: Boletim da Direcção-Geral da Indústria; Boletim da Direcção-Geral dos Serviços Industriais;

Boletim Semanal da Direcção-Geral dos Serviços Industriais.

Page 164: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XIV

AN E X O C

Page 165: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XV

Tabela 1: Valores estimados do reapetrechamento/investimento efectuado na Sociedade Central de

Cervejas na para a década de 50:

Reapetrechamento na Sociedade Central de Cervejas

Empresas Montante

Companhia de Cerveja Estrela 27 330 000$00

Companhia Produtora de Malte e Cerveja Portugália 43 630 000$00

Companhia de Cerveja Coimbra 5 340 000$00

Diverso nas 3 fábricas (por fora da SCC) 23 700 000$00

Total 100 000 000$00

Fonte: INDÚSTRIA CONTINENTAL DE CERVEJA. Memorial: 1953. Lisboa: Bertrand, 1953.

Tabela 2: Mestres cervejeiros da indústria cervejeira nacional:

Mestres cervejeiros

Nome Nacionalidade Empresa

Richard Eisen Alemã Germânia; Estrela

Anton Dürrer Alemã CUFP; Coimbra

Albert Lourtie Belga Portugália; SCC

Gerard Eisen Alemã Estrela – SCC

Fernand N. Lourtie Coimbra - SCC; Cuca

António da Fonseca Portuguesa SCC

Alfred Joseph Bury Portugália – SCC

Américo Martins Portuguesa Portugália – SCC

Gustave Emile Michies Belga SCC

Fonte: MARTINS, Américo. Central de Cervejas: 50 Anos de actividade. Lisboa: Central de Cervejas, 1985.

Page 166: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XVI

Tabela 3: Técnicos portugueses graduados por universidades estrangeiras:

Sociedade Central de Cervejas

Ano Louvain École de Brasserie de Nancy

Versuchts und Lehrenstalt für Bruereu (Berlim)

1949-1950

António Alberto Martins da Fonseca (FEUP) João Pedro Homem de Mello (s/d)

1953-1954 Francisco Pinto Teixeira (IST)

1954-1955

Fernando Henrique Gaspar Pereira

Américo Antunes Martins

João Carlos M. Rocha dos Santos (IST)

1955-1956

José Navarro (ISA)

João Pedro Homem de Mello (ISA)

1960-1961 Nuno Ernesto Pestana

1961-1962 Jorge Manuel Massadas Rino

1962-1963 T.A. José Vasconcelos de

Sousa Lino

1965-1966

António Gorjão Lancastre de Freitas

Jorge Ferreira

1966-1967 Luís Caldeira Deslandes

1967-1968

Fernando A. Martins Gil

Luís Mattos Chaves

1970-1971

Pedro José de Almeida Mello e Castro

José Aragão

1973-1974 Manuel Batista Rodrigues

1978-1979

Alfredo Freire

José Sobral

1982-1983 José Castro

Page 167: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XVII

Companhia União Fabril Portuense

Ano Louvain

1947-1948 João Sanguinetti Talone (IST)

1954-1955 José Manuel Bustorff Guerra (ISA)

Companhia União de Cervejas de Angola

Ano Louvain

1952-1953 Henrique Mazanares Abecassis (ISA)

1954-1955

Fernando Henrique Gaspar Pereira (IST)

Francisco A. Gago da Silva (ISA)

Américo Antunes Martins (IST)

Fonte: MARTINS, Américo. Central de Cervejas: 50 Anos de actividade. Lisboa: Central de Cervejas, 1985 e SCC, Cerveja.

Tabela 4: Listagem dos Cursos de Tiradores de Cerveja da Sociedade Central de Cervejas:

Curso de Tiradores de Cerveja da SCC

Data Local Candidatos

30/08/1954 Lisboa 60

03/1955 Lisboa 142

1956 Lisboa -

Coimbra -

22/04/1957 Lisboa 86

29/94/1957 Coimbra 79

06/06/1957 Lisboa 92

13/05/1957 Coimbra 83

1-4/11/1959 Funchal -

1960 Beja 94

1972 Madeira -

Fonte: SCC. Cerveja.

Page 168: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XVIII

AN E X O D

Page 169: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XIX

Tabela 1: Quadro de ligações intra/inter-sectoriais da indústria cervejeira:

Portugália Estrela Coimbra Jansen Sociedade Central de Cervejas (SCC)

SCC Cuca SCC SCC SCC Portugália (c/ BPA) Imperial

Estrela Nocal Coimbra CUFP Coimbra Estrela (c/ BESCL) Emp. Cerv. Madeira

CUFP Sogere CUFP Grupo Borges CUFP Coimbra João de Melo Abreu

Vinhas (c/ BPA) Parfil Nocal Parfil Cuca Jansen Cicer

Lancastre de Freitas São Ciro Cuca Lupulex Sogere Copeja Parfil

Carvalho Martins Soc. Int. Participações Sogere Urfil Cuca Cinevoz Socajú

Lupulex Promalte Carvalho Martins Cive Infante de la Cerda Camillo Alves Liogal

Urfil – Soc. de Construções Sapla Elísio Vilaça Comp. Vid.

Moçambique Avilez Síntex Iniciativas Ultramarinas

Cive Somarisco Braz Nunes Sequeira Perestrelo Águas do Luso Cervisul (distrib.)

Uniturismo Carpe Grupo Espírito Santo Parfil Cive (ligação c/ Cergal)

Soc. Dist. Cerv. Vouga

Iniciativas Ultramarinas Margeste Parfil

Soc. Int.

Participações Nutripol Soc. Dist. Portalegre

Comp. Vid. Moçambique Libra Progredior Lupulex Uniturismo Soc. Int.

Participações

Ribadouro Soc. Int. Participações Urfil Urfil

Lupulex Uniturismo A Capital (Gráfica)

Urfil Iniciativas Ultramarinas Serte

Cive Comp. Vid. Moçambique Sege

Uniturismo El aguila

Iniciativas Ultramarinas

Comp. Vid. Moçambique

Page 170: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XX

CUFP Cergal Copeja Imperial Empresa Cervejas da Madeira

Ind. Cerv. João Melo Abreu

Portugália (c/ BPA) Guilherme Pereira

Roldão + Água do Luso (SCC)

António Esteves (SCC) António Esteves (SCC) SCC Empresa Cervejas da Madeira

Estrela (c/ BESCL) Conde de Caria (Supersumos + Vidago) Guedes de Sousa Guedes de Sousa João de Melo Abreu SCC

Jansen Barbosa e Almeida Abecassis Abecassis Miles

Cuca Ricardo dos Santos Galo António Vítor Almeida Saraiva Grupo Espírito Santo Distribuidora Cervejas

Madeira

Sogere Santos Barosa Grupo Espírito Santo Refriplás

Cicer Banco Pinto e Sotto Mayor Interbrew e Heineken Comundo

Banco Português do Atlântico Mahou SA Comundo Cialbe

Castelo de Vide Fundus

Gelex

Agropor

Ytong Portuguesa

Lupulex

Iniciativas Económicas

Comp. Vid. Moçambique

Page 171: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXI

Cuca Nocal Mac-Mahon Grupo Reunidas Sogere Cicer

Portugália CUFP Estrela (c/ BESCL) Grupo Reunidas SCC SCC SCC

Estrela (c/ BESCL) Cicer Portugália Banco Borges &

Irmão CUFP Fab. Cerv. Reunidas CUFP

Jansen Sofanco Interbrew e Heineken Fábrica de Cerveja da Beira Mac-Mahon Cuca

Angolana de Refrigerantes Frifar Fábrica de Cerveja de Nampula BNU Fab. Cerv.

Reunidas

Vitória IPA Sogere Banco Borges & irmão

Cahombo Protangue Mac-Mahon Banco de Crédito Comercial e Industrial

Real Iforang Fábrica de Refrigerantes de Gaza Companhia de Seguros Atlas

Passicuca Copa União Fabril de Refrigerantes Lisinur

Vega ANA Fábrica de Maltes de Moçambique Alcácer

Unitécnica Camang Nutresco Mabor

Caju-Monado SEPA Empresa de Águas de Montemor

EGI Capsul Vimoc

NEA Vidrul Unifar

VEGA Cuca-Protector

RCA Avicuca

Passi-cuca Sofap

API Distribuidoras

Uniplásticos Neográfica

Ango-Comence Listas Telefónicas

Page 172: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXII

Page 173: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXIII

AN E X O E

Page 174: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXIV

Tabela 1: Evolução do Sector Público Empresarial do Estado

Peso do sector público empresarial antes e depois das nacionalizações (em %)

Indicadores globais Antes das nacionalizações Depois das nacionalizações

Total EP Participações

VAB 7,8 22,9 13,6 1,5

FBCF 15,8 41,6 25,6 1,6

Emprego 12,4 19,3 6,0 0,5

Fonte: FRANCO, António Sousa. Finanças do Sector Público – Introdução aos Subsectores Institucionais. Lisboa, AAFDL, 1991.

Tabela 2: Evolução do Sector Público Empresarial do Estado em Portugal e em alguns países da

Europa

Comparação do sector público empresarial em alguns países

Países Volume de emprego FBCF Volume de vendas Índice médio

Alemanha 8,7 22,7 7,2 12,9

Áustria - - 22,3 -

Bélgica 8 13,5 4,5 8,7

França 11,2 33,5 10 18,2

Holanda 8,1 21 8,7 12,6

Inglaterra 7,5 18 19 11,8

Irlanda - - 8 -

Itália 11,6 28 8,1 15,9

Luxemburgo 5,6 15 3,7 8,1

Portugal 11,5 33,6 14,0 19,7

Fonte: PINHO, Ivo. “Sector Público Empresarial – antes e depois do 11 de Março”, in Análise Social XII, n.º 47, 1976, p. 745.

Page 175: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXV

AN E X O F

Page 176: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXVI

Quadro 1: Calendário das nacionalizações

13 de Setembro 74 D.L. n.º 450/74 Banco de Angola 13 de Setembro 74 D.L. n.º 451/74 Banco Nacional Ultramarino 13 de Setembro 74 D.L. n.º 452/74 Banco de Portugal 14 de Março 1975 D.L. n.º 132-A/75 Instituições de crédito 15 de Março D.L. n.º 135-A/75 Companhias de seguros 16 de Abril D. L. n.º 205-A/75

Empresas refinadoras e distribuidoras de petróleo: • Sacor • Petrosul • Sonap • Cidla

16 de Abril D. L. n.º 205-B/75 Companhia de Caminhos de Ferro (CP) 16 de Abril D. L. n.º 205-C/75 Empresas de transportes marítimos:

• Companhia Nacional de Navegação (CNN) • Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos (205-D?)

16 de Abril D. L. n.º 205-E/75 Transportes Aéreos Portugueses (TAP) 16 de Abril D. L. n.º 205-F/75 Empresas de siderurgia:

• Siderurgia Nacional 16 de Abril D. L. n.º 205-G/75

Empresas produtoras, transformadoras e distribuidoras de electricidade (até c/ participações estrangeiras):

• Aliança Eléctrica do Sul • Companhia Eléctrica do Alentejo e Algarve • Companhia Eléctrica das Beiras • Companhia Hidroeléctrica do Norte de Portugal • Companhias Reunidas Gás e Electricidade • Companhia Portuguesa de Electricidade • Eléctrica Duriense • Empresa Hidroeléctrica do Coura • Empresa Hidroeléctrica da Serra da Estrela • Empresa Insular de Electricidade • Hidroeléctrica do Alto Alentejo • Hidroeléctrica Portuguesa • Sociedade Eléctrica do Oeste • União Eléctrica Portuguesa

09 de Maio

D. L. n.º 221-A/75 Cimentos: • Cisul • Cisnorte • Empresa de Cimento de Leiria • Companhia de Cimentos do Tejo • Companhia de Carvões e Cimento do Cabo Mondego • Sagres • Cibra

09 de Maio D. L. n.º 221-B/75

Celulose – unem-se depois na Portucel, em Julho: • Companhia Portuguesa de Celulose • Sociedade Industrial de Celulose • Celulose do Tejo • Celulose do Norte • Celulose do Guadiana

13 de Maio D. L. n.º 228-A/75 A Tabaqueira INTAR Empresa Madeirense de Tabacos Fábrica de Tabacos Micaelense

05 de Junho D. L. n.º 280-A/75 Metropolitano de Lisboa 05 de Junho D. L. n.º 280-B/75 Empresa Geral de Transportes 05 de Junho D. L. n.º 280-C/75 Transportes colectivos de passageiros:

• João Belo • Claras • Cernache • Eduardo Jorge

Page 177: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXVII

• Empresa de Viação Algarve • António Magalhães e C.ª • Boa Viagem • Pereira Marques • Arboricultura • Transul

03 de Julho D. L. n.º 346/75 Carris 13 de Agosto D. L. n.º 432/75 Covina (excepto acções estrangeiras) 14 de Agosto D. L. n.º 434/75 Pirites de Aljustrel (parte portuguesa)

Sociedade Mineira de Santiago 21de Agosto D. L. n.o 453/75 Companhia Nacional de Petroquímica 22 de Agosto D. L. n.o 457/75 Química pesada:

• Sociedade Portuguesa de Petroquímica • Amoníaco Português • Nitratos de Portugal

30 de Agosto D. L. nº 474/75 Empresas cervejeiras do Continente, Açores e Madeira: • Cergal – Cerveja de Portugal • Copeja – Comp. Portuguesa de Cervejas • Cufp – Comp. União Fabril Portuense • Imperial – União Cervejeira de Portugal • Sociedade Central de Cervejas • Fábrica de Cervejas e Refrigerantes João Mello Abreu • Empresa de Cervejas da Madeira

01 de Setembro D. L. n.º 478/75 Estaleiros Navais de Viana do Castelo Setenave – Estaleiros Navais de Setúbal

25 de Setembro D. L. n.º 532/75 CUF 02 de Outubro D. L. n.º 561/75 Sogefi – Sociedade de Gestão e Financiamentos

Sogeral – Sociedade Geral do Comércio, Indústria e Transportes 13 de Novembro D. L. n.º 628/75 Companhia das Lezírias do Tejo e Sado 02 de Dezembro D. L. n.º 674-C/75 Televisão e rádio (criada a Empresa Pública de Radiodifusão):

• Alfabeta – Rádio e Publicidade • EAL – Emissores Associados de Lisboa • J. Ferreira & C.a • Rádio Clube Português • Sociedade Portuguesa de Radiodifusão • Rádio Radiofónico de Portugal • Rádio Graça • Rádio Peninsular • Rádio Voz de Lisboa

02 de Dezembro D. L. n.º 674-D/75 RTP – Rádio Televisão Portuguesa 17 de Dezembro D. L. n.º 701-C/75 Empresas auxiliares de transportes de água:

• Sofamar – Sociedade de Fainas do Mar e do Rio 17 de Dezembro D. L. n.º 701-D/75 Empresas de transportes fluviais do Tejo – criação da Transtejo 17 de Dezembro D. L. n.º 701-E/75 Serviços auxiliares de transporte por água:

• Socarmar – Sociedade de Cargas e Descargas Marítimas 20 de Julho de 1976 D. L. n.º 572/76 Empresas de pesca:

• SNAPA – Sociedade Nacional dos Armadores de Pesca do Arrasto

• SNAB – Sociedade Nacional dos Armadores do Bacalhau • CPP – Companhia Portuguesa de Pescas • Pescrul – Sociedade de Pesca de Crustáceos • Frigarve – Empresa Frigorífica do Algarve • Docapesca – Sociedade Concessionária da Doca de Pesca • Gelmar – Empresa Distribuidora de Produtos Alimentares • Friantarticus – Frigoríficos de Cascais

26 de Julho de 1976 D. L. n.º 639/76 Comunicação social escrita: • Sociedade Nacional de Tipografia • Empresa Nacional de Publicidade • Sociedade Industrial de Imprensa • Sociedade Gráfica de A Capital

Page 178: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXVIII

AN E X O G

Page 179: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXIX

Tabela 1: Dívidas da Sociedade Central de Cervejas

Banca

A curto prazo (- 1 ano) Valores (contos)

- Banco Espírito Santo

Deficit de tesouraria 178 670

Livranças 45 000

Aceites bancários 210 000

Aceites bancários 100 000

- Caixa Geral de Depósitos

Amortizações + Juros 48 374

Total 582 044

A longo prazo (+ 1 ano) Valores

- Banco Espírito Santo

Plafond 55 000

- Banco Borges & Irmão

Aceite bancário 17 500

- Caixa Geral de Depósitos

Amortização + Juros 241 874

Total 314 374

Total curto e longo prazo 896 418

Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Serviços de Apoio ao Conselho da Revolução, Vol. 73, n.º 206, Assuntos

Económicos e Sociais e Empresas, Processo 73/15, Exposição ao Conselho Superior da Revolução. Processo n.º 2165, 20/03/1975.

Avales e garantias

Devedores Valor

Companhia União de Cervejas Angola “CUCA” 4 500 000 00

Pedro Paulo Rocha Nunes e Esposa 29 500 00

CIVE – Companhia Industrial Vidreira 67 500 000 00

CIVE – Companhia Industrial Vidreira 67 500 000 00

Companhia Iniciativas Económicas Ultramarinas 1 384 889 19

Adegas Camilo Alves, SARL. 4 000 000 00

José Francisco Tirano 1 009 169 10

NUTRIPOL – Soc. Portuguesa de Supermercados 1 875 000 00

Total 147 798 558 29

Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Serviços de Apoio ao Conselho da Revolução, Vol. 73, n.º 206, Assuntos

Económicos e Sociais e Empresas, Processo 73/15, Exposição ao Conselho Superior da Revolução. Processo n.º 2165, 20/03/1975.

Page 180: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXX

AN E X O H

Page 181: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXXI

Tabela 1: Composição dos Conselhos de Administração, em 15 de Janeiro de 1975

SCC Estrela Portugália Jansen

(Conselho de Gerência)

Coimbra (Conselho de Gerência) PARFL (Conselho de

Gerência)

Carlos João da Silva Moreira Rato (presidente)

Progredior, representada por Caetano Sanguinetti Beirão da Veiga

José Manuel Martins

Miguel de Sttau Monteiro

Banco Borges & Irmão, representado por Manuel Cortes Rosa (presidente)

Carlos João da Silva Moreira Rato (presidente)

Portugália, representada pela Imobiliária do Restelo e esta por João Lancastre de Freitas

SAPA Mário Vinhas Domingos Avilez

Banco do Alentejo, representado por Alberto Alves de Oliveira Pinto (administrador-delegado)

Portugália, representada por Manuel Vinhas

Estrela, representada por Progedior e esta por Caetano Sanguinetti Beirão da Veiga

Alexandre Brás Nunes Sequeira

João de Lancastre Freitas

António Eduardo Borges Coutinho

Borges & Irmão Comercial, representado por António da Cruz Neves da Costa (vogal)

Estrela, representada por Caetano Sanguinetti Beirão da Veiga

Coimbra, representada por Alberto Alves de Oliveira Pinto

José António de Carvalho Martins

Carvalho & Martins

Coimbra, representada por Alberto Alves de Oliveira Pinto

Carvalho & Martins, representada por José Manuel Martins

Barbosa e Almeida S. Ciro Carvalho & Martins, representada por José Manuel Martins

Fernando Espírito Santo Moniz Galvão

Ricardo dos Santos Galo SAPA, representada por Fernando Santo Moniz Galvão

Fonte: Arquivo da Presidência do Conselho de Ministros, Caixa 393 EAD, Processos Colectivos, E8.93, Gabinete do Primeiro-Ministro, 06/05/1975.

Page 182: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXXII

Quadro 2: Estrutura do capital accionista do sector cervejeiro em 1975

SCC PARFL Estrela Jansen Portugália Coimbra

Parfil

60% Portugália 42% Espírito Santo (grupo e família)

32,7% Infante de la Cerda

(família)

30,0% José Manuel Martins (família)

41,6% Grupo Borges

100%

Portugália 12,6% Estrela 42%

Alexandre Brás Nunes

Sequeira 27,9% Avilez (família) 30,0% Manuel Vinhas (família) 22,8%

Estrela 12,6% Coimbra 10% José Manuel Martins

(família) 17,0% Perestrelo (família) 29,2%

João Lancastre de Freitas

(família) 13,6%

Coimbra 3,0% Jansen 6,0% Diversos 22,4% Diversos 10,8% Daniel Mendonça e Costa 7,5%

Jansen 1,8% Alexandre Brás Nunes

Sequeira (família) 1,7%

Público + pessoal 10,0% Diversos 12,8%

Page 183: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXXIII

CUFP Cergal Copeja Imperial Empresa Cervejas Madeira

Fábrica João Melo Abreu

Portugália

30,5% Banco Pinto & Sotto Mayor

40,7% José Guedes de Sousa (família)

27,6% Espírito Santo (grupo e família)

27,6 Água do Porto Santo

32% Empresa de Cervejas da

Madeira 80%

Estrela 30,5% Refrigerantes + águas 34,3%

Espírito Santo

(grupo e família) 19,5% Comundo 26,9% H.P. Miles 32% Outros 20%

Jansen 8,0%

Supersumos + Vidago &

Pedras Salgadas +

Vidago Sallus (Conde de

Caria)

7,9% António Vítor

Almeida Saraiva 11,3% Perestrelo (família) 29,2%

Sociedade

Central de

Cervejas

30%

Banco Português do

Atlântico

7,3%

Guilherme Pereira

Roldão + Sociedade

Água do Luso (SCC)

6,3%

António Carlos

Ahrens Teixeira

Esteves (ex-

Comundo; SCC)

8,6% António Carlos Ahrens Teixeira

Esteves (ex-Comundo; SCC)

19,6% Leacock & C.ª 6,0%

Diversos 23,7% Empresas vidreiras 5,4% Abecassis (família) 6,8% José Guedes de

Sousa (família) 7,3% Alexandre Brás Nunes Sequeira

(família) 1,7%

Mahou SA (espanhol) 3,1% Diversos 26,2% Fundus 6,3%

Diversos 2,3% Cialbe 4,7%

Abecassis (família) 3,0%

Diversos 4,6%

Fonte: Centro de Documentação 25 de Abril, Espólio Macaísta Malheiros, Legislação, Projectos de Leis, doc. n.º 27, Ministério da Indústria e Tecnologia? Diploma sobre a nacionalização do sector cervejeiro, Junho de 1975,

Page 184: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXXIV

Tabela 3: Relação das pessoas implicadas nas irregularidades detectadas pela Comissão de

Análise e Inquérito

1. Fernando Alberto de Oliveira (Brigadeiro):

a. Exportação ilícita de capitais de terceiros, cumulada com falsas declarações;

exportação ilícita de capitais cumuladas com falsas declarações; exportação ilícita de

capitais.

2. Artur Luís Alves Conde:

a. exportação ilícita de capitais de terceiros cumulada com falsas declarações;

exportação ilícita de capitais cumulada com abuso de confiança; exportação ilícita de

capitais.

3. José António Carvalho Martins:

a. exportação ilícita de capitais de terceiros cumulada com falsas declarações;

irregularidades fiscais, transacção ilegal de acções e actos de gestão ruinosa:

exportação ilícita de capitais cumulada com abuso de confiança; exportação ilícita de

capitais.

4. Manuel Ricardo Pinheiro Espírito Santo Silva:

a. exportação ilícita de capitais de terceiros cumulada com falsas declarações;

exportação ilícita de capitais cumulada com abuso de confiança; exportação ilícita de

capitais.

5. João Gaudy de Mattos Chaves:

a. exportação ilícita de capitais de terceiros cumulada com falsas declarações;

exportação ilícita de capitais cumulada com abuso de confiança; exportação ilícita de

capitais.

6. Comandante José Francisco Correa Mattoso:

a. Falsas declarações; exportação ilícita de capitais de terceiros; exportação ilícita de

capitais de terceiros cumulada com falsas declarações.

7. Miguel Infante de la Cerda Sttau Monteiro:

a. Falsas declarações; exportação ilícita de capitais de terceiros; exportação ilícita de

capitais de terceiros cumulada com falsas declarações; falsas declarações fiscais;

abuso de confiança; desvio de fundos.

8. Manuel José Carvalho Martins:

a. Falsas declarações; exportação ilícita de capitais de terceiros; exportação ilícita de

capitais de terceiros cumulada com falsas declarações; falsas declarações fiscais;

abuso de confiança.

Page 185: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXXV

9. Manuel Carvalho Brito das Vinhas:

a. exportação ilícita de capitais de terceiros cumulada com falsas declarações; burla,

furto e abuso de confiança; exportação ilícita de capitais.

10. José Manuel Pereira Martins:

a. exportação ilícita de capitais de terceiros cumulada com falsas declarações; burla,

furto e abuso de confiança; simulação; exportação ilícita de capitais cumulada com

abuso de confiança; exportação ilícita de capitais.

11. Carlos João da Silva Moreira Rato:

a. crime de falsas declarações na Operação Brasil; exportação ilícita de capitais de

terceiros na Operação Brasil; exportação ilícita de capitais de terceiros na Operação

Brasil cumulada com falsas declarações; falsas declarações fiscais; abuso de

confiança; transacção ilegal de acções.

12. João Lancastre de Freitas:

a. falsas declarações na Operação Brasil; exportação ilícita de capitais de terceiros;

exportação ilícita de capitais de terceiros na Operação Brasil cumulada com falsas

declarações; falsas declarações fiscais; abuso de confiança; irregularidades fiscais,

transacção ilegal de acções e actos de gestão ruinosa.

13. Caetano Sanguinetti Beirão da Veiga:

a. falsas declarações; exportação ilícita de capitais de terceiros; exportação ilícita de

capitais cumulada com falsas declarações; falsas declarações fiscais; abuso de

confiança; irregularidades fiscais, transacção ilegal de acções e actos de gestão

ruinosa; exportação ilícita de capitais cumulada com abuso de confiança.

14. Albano Martins da Costa:

a. exportação ilícita de capitais de terceiros cumulada com falsas declarações;

exportação ilícita de capitais cumulada com abuso de confiança; exportação ilícita de

capitais.

15. José Luís Fernandes de Moura:

a. exportação ilícita de capitais de terceiros cumulada com falsas declarações;

exportação ilícita de capitais cumulada com abuso de confiança; exportação ilícita de

capitais.

16. Gonçalo Rodrigo Santos Lima de Faria:

a. exportação ilícita de capitais de terceiros cumulada com falsas declarações;

exportação ilícita de capitais cumulada com abuso de confiança; exportação ilícita de

capitais.

17. Alexandre Braz Nunes Sequeira:

Page 186: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXXVI

a. exportação ilícita de capitais de terceiros cumulada com falsas declarações;

irregularidades fiscais, transacção ilegal de acções, actos de gestão ruinosa e

simulação.

18. [Repetido do Miguel Sttau Monteiro]

19. Mário de Carvalho Brito das Vinhas:

a. Exportação ilícita de capitais cumulada com falsas declarações.

20. Domingos Maria de Avillez Lobo de Almeida Melo e Castro:

a. Exportação ilícita de capitais cumulada com falsas declarações; desvio de fundos.

21. Alberto de Oliveira Pinto:

a. Abuso de confiança.

22. Fernando Cardote:

a. Transacção ilegal de acções e falsas declarações

23. Marino Martins:

a. Transacção ilegal de acções e falsas declarações.

24. Vasco da Gama Pinto Basto:

a. Irregularidades fiscais, transacção ilegal de acções e actos de gestão ruinosa.

25. António Gorjão de Lancastre Freitas:

a. Irregularidades fiscais, transacção ilegal de acções e actos de gestão ruinosa.

26. António Esteves:

a. Simulação.

27. Guedes de Sousa:

a. Simulação.

28. Eduardo António Perestrelo de Vasconcelos:

a. Desvio de fundos.

29. João Pedro Homem de Mello:

a. Exportação ilegal de divisas e abuso de confiança.

30. Jorge Rino:

a. Exportação ilegal de divisas e abuso de confiança (G).

31. Eduardo Vaz de Oliveira:

a. Exportação ilegal de divisas e abuso de confiança.

32. João Mexia Alves:

a. Exportação ilícita de capitais.

Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do Conselho da Revolução, Reuniões, Documentos apresentados ao CR, caixa n.º 1, n.º 319,, Nota da

Comissão de Análise e Inquérito encerrando a primeira fase dos trabalhos – Anexo E.

Page 187: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXXVII

AN E X O I

Page 188: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXXVIII

Tabela 1: Panorama geral da Sociedade Central de Cervejas em Dezembro de 1974 (em contos)

Designação/anos 1934 1948 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974

Capital social 100 100 10.000 170 000 - - - - 300 000 - - 550 000 550 000

Produção de cerveja (a) 5 9 35 39 - - - - 86 - - 158 177

Vendas 9 689 100 857 234 770 297 550 - - - - 628 350 - - 1 273 635 1 438 759

Pessoal (b) 760 800 886 903 - - - - 1 309 - - 1 934 2 211

Pessoal (encargos) 13 700 19 800 28 746 33 600 - - - - 91 187 - - 262 240 412 612

Participações financeiras (PF) - - 1 639 1 660 - - - - 93 285 - - 280 473 347 413

Rendimentos das PF - - - - - - - - 1 211 1 559 923 2 265 1 105

Dividendos - - - 10 200 24 650 10 200 - 29 750 36 000 36 000 36 000 54 296 -

Dividendos acumulados - - - 10 200 34 859 45 050 45 050 74 800 110 800 146 800 182 800 237 096 237 096

Resultados anuais - - - 31 084 46 265 48 338 27 596 43 391 87 938 75 584 78 062 92 392 -90 570

Resultados acumulados - - - 31 084 77 349 125 687 153 283 196 674 284 612 360 196 438 258 530 650 440 080

Ordenados e gratificações - - - 7 395 8 435 10 587 12 930 14 203 17 136 5 076 5 475 6 123 10 215

Gratificações especiais - - - - - - - - - 14 100 28 878 8 000 -

Despesas confidenciais - - - 8 773 9 824 2 162 4 072 8 392 9 024 3 700 9 347 8 385 4 084

Total anual de remunerações - - - 16 169 18 259 12 749 17 002 22 595 16 160 2 .876 43 700 22 508 14 299

Remunerações acumuladas - - - 16 169 34 428 47 177 64 179 86 774 112 934 135 810 179 510 202 018 216 317

a) Milhões de litros.

b) B) Efectivo.

Fonte: Adaptado dos Relatórios da Comissão de Análise e Inquérito ao Grupo de que faz parte a Sociedade Central de Cervejas.

Page 189: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XXXIX

Tabela 2: Situação da indústria cervejeira em 1975

Designação/empresa Início da actividade Capital + reservas

(1.000 contos)

Capacidade de produção

(milhões de litros)

Efectivos

totais

Volume salarial anual

(1.000 contos)

Localização

fabril

CUFP 1889 261 65 876 120 Porto

Copeja 1975 75 45 282 34 Santarém

SCC 1934 846 240/18 2.607 407 Vialonga/Coimbra

Cergal 1972 250 35 500 67 Belas

Imperial 1975 95 20 273 35 Loulé

Total do sector - 1.527 423 4.538 663 -

Fonte: Centro de Documentação 25 de Abril, Espólio Macaísta Malheiros, Legislação, Projectos de Leis, doc. n.º 27, Ministério da Indústria e Tecnologia? Diploma sobre a nacionalização do sector cervejeiro, Junho de 1975.

Tabela 3: Situação financeira do sector em 31 de Dezembro de 1974

Empresas / elementos Capital + Reservas Activo Passivo

Dívidas a Bancos Disponíveis + realizável Total Curto prazo Longo prazo Total

SCC 846 270 597 296 2 143 668 961 815 425 658 1 387 473 906 226

CUFP 260 939 100 207 666 298 87 408 194 836 282 244 194 836

Cergal 250 000 126 879 295 379 240 507 203 861 444 368 106 150

Copeja 75 000 10 652 204 455 67 412 51 896 119 308 50 000

Imperial 95 910 61 780 180 585 87 140 ? 87 585 11 680

Total 1 528 119 896 814 3 790 385 1 444 282 876 251 2 320 978 1 368 892

Fonte: Centro de Documentação 25 de Abril, Espólio Macaísta Malheiros, Legislação, Projectos de Leis, doc. n.º 27, Ministério da Indústria e Tecnologia? Diploma sobre a nacionalização do sector cervejeiro, Junho de 1975.

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Tabela 1: Rede de distribuição da cerveja - global

Designação /

empresa

Zona de distribuição

(c/ frota própria)

N.º de viaturas

utilizadas Efectivos Agentes

CUFP

Lisboa 13 46

133 Porto 55 179

Total 68 225

Copeja Lisboa 20 62 31

SCC

Lisboa 140 480 1 por distrito;

exclusivos

para produtos SCC

Porto 43 91

Total 183 571

Cergal

Lisboa 45 176

98 Porto 7 28

Total 56 220

Imperial

Lisboa 30 106

A definir Algarve 6 21

Total 36 127

Totais - 363 1.205 -

Fonte: Centro de Documentação 25 de Abril, Espólio Macaísta Malheiros, Legislação, Projectos de Leis, doc. n.º 27, Ministério da Indústria e Tecnologia? Diploma sobre a nacionalização do sector cervejeiro, Junho de 1975.

Page 192: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

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Tabela 2: Rede de distribuição da cerveja – Sociedade Central de Cervejas

Distribuidoras/distritos / designação N.º de pontos de venda N.º de viaturas Efectivos Venda de cerveja (milhões de litros)

Nacionalização 1974 Previsão 1975

Aveiro (Vouga) 2 900 15 42 4,4 5,4 31%

Beja (Cerbibel) 1 500 14 26 6,0 8,4 -

Castelo Branco (Dibeira) 2 300 11 22 4,4 6,0 -

Coimbra (Unacel) 4 000 30 77 7,6 11,3 50%

Évora (Fomento Éborense) 1 900 14 45 6,8 8,6 -

Faro (Cervisul) 3 400 24 78 12,6 16,3 100%

Guarda (Arcorel) 1 900 7 14 2,9 3,5 5,2%

Leiria (Sodicel) 4 400 32 64 9,8 13,7 -

Pinheiro de Loures (Discer) 5 100 41 117 - - 52%

Portalegre (Refrigel) 1 500 12 28 4,5 5,3 90%

Santarém (Cervinal) 4 400 27 54 12,6 15,7 -

Setúbal (Unicervi) 4 400 43 129 20,7 31,7 -

Viseu (Cervinhal) 2 800 13 29 4,6 5,4 3,57%

Braga (Vilope) 3 500 - - 0,7 (a) 1,9 -

Bragança (Sedinorte) 1 200 5 10 1,1 (a) 3,7 -

Vila Real (Sedental) 1 500 6 12 1,1 (a) 3,5 -

Viana do Castelo (Sopigal) 1 110 4 8 0,7 (a) 1,9 -

Total 7,7%

a) de Maio a Dezembro

Fonte: Centro de Documentação 25 de Abril, Espólio Macaísta Malheiros, Legislação, Projectos de Leis, doc. n.º 27, Ministério da Indústria e Tecnologia? Diploma sobre a nacionalização do sector cervejeiro, Junho de 1975

Arquivo da Presidência do Conselho de Ministros, Caixa 393 EAD Processos Colectivos, Grupo de Trabalho Operacional para o estudo da nacionalização do sector de distribuição, 12/12/1975.

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Tabela 1: Listagem dos elementos que compõem a Comissão de Reestruturação do Sector

Cervejeiro

Comissão de Reestruturação do Sector Cervejeiro (posse 19/02/1976)

Manuel Pires

Representante do Ministério da Indústria e Tecnologia

Amílcar Martins

João Talone

Américo Martins

Armando Vieira Representante do Ministério das Finanças

Luís Mattos Chaves Representantes dos trabalhadores

Lousada Soares

Carlos Soares Catarino

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Tabela 1: Cronologia

Data Acontecimento 1833 Fábrica de Jacques Maillard. 1834 Fábrica da Cerveja Trindade. 1855 Michael Gerards & C.ª - Fábrica de Cerveja Jansen. 1872 Empresa de Cervejas da Madeira. 1878 Fábrica de Cerveja Leão. 1883 Fábrica da Piedade. 1890.07.03 Companhia União Fabril Portuense, SARL (fusão de seis fábricas cervejeiras da

região do Porto – Fábrica Piedade , Fábrica do Melo, M. Achvek & C.ª, J.J. Chentrino & C.ª, J.J. Persival & C.ª, M. Schreck – e a Fábrica de Ponte da Barca. Lançamento da cerveja Cristal.

1892.05.04 Fábrica de Cervejas e Refrigerantes João de Melo Abreu. 1903 É constituída a Companhia Portuguesa de Cervejas, na qual entra a Fábrica Leão. 1912.03 Germânia, Lda (ex-Companhia de Cervejas; após incorporação da Fábrica Leão). 1916 Portugália (ex-Germânia). 1919 Sociedade de Cervejas, Lda, posteriormente denominada Companhia de Cervejas

Estrela. 1921 Após construção da malteria, a Portugália passou a denominar-se Companhia

Produtora de Malte e Cerveja Portugália (ex-Portugália). 1922 É criada a Empresa Produtora de Garrafas pela Companhia Produtora de Malte e

Cerveja Portugália. 1922.03 Companhia de Cervejas de Coimbra . 1923 Entrada em circulação, pela Companhia de Cervejas Estrela, dos carros de

distribuição puxados por muares. 1925 É criada a Cervejaria Portugália. 1926 Prémios internacionais no Grand Prix. 1927 Lançamento da Super Bock, pela CUFP. 1930 Convénio de concertação de preços e de informação técnica entre as empresas. 1934.06.21 Concentração das empresas cervejeiras na Sociedade Central de Cervejas, com

excepção da CUFP e das indústrias existentes nas ilhas. A Fábrica Trindade desmantelada e Jansen cessa fabrico. Distribuição do capital: Portugália, 40,9%; Estrela, 40,9%; Jansen, 10,2% e Coimbra, 8%.

1934.07 Primeiro Conselho de Administração: António Marques de Freitas (Portugália), Camilo Infante de la Cerda (Jansen), Cândido Sotto Mayor (Coimbra), Estolano Dias Ribeiro, José Maria Dias Ferrão e M. H. de Carvalho, Lda (Estrela).

1936.05 A Fábrica de Cerveja Jansen é encerrada. 1939 CUFP celebra os seus primeiros contratos de “exclusive dealing” com alguns

cafés e restaurantes. 1940 Lançamento da cerveja Sagres, pela SCC. 1940 Lançamento da cerveja Nevália, criada para o período de guerra. 1941 Lançamento da cerveja Vitória, pela CUFP. 1941 Lançamento da cerveja Imperial, pela SCC

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XLVII

1943 Início da exportação de cerveja para os cenários de guerra e para as colónias. 1946 Humberto Pelágio, em representação da Companhia de Cerveja Coimbra, preside

a administração da Sociedade Central de Cervejas até à sua morte, em 1967. 1947 SCC entrou no capital social da CUFP (51%). 1947 É iniciado o plano de reapetrechamento da CUFP. 1947.03.20 CUCA – Companhia União de Cervejas de Angola, SARL (com capital da SCC e

CUFP). 1950 Reapetrechamento sectorial, modernização tecnológica e expansão técnica. 1950.08 É constituída a Companhia MacMahon, em Moçambique. 1951 Escola de Tiradores de Cerveja (SCC). 1952.02 Iniciou-se o processo de reorganização na SCC, animado por Caetano Beirão da

Veiga. 1953 É iniciada a construção da nova malteria da Portugália, por uma equipa liderada

por Sebastião de Oliveira (engenheiro da SCC), com apoio de Vitória Pires, subsecretário de Estado da Agricultura

1953 Constituiu-se a Fábrica de Cerveja Reunidas de Moçambique (produção da cerveja Laurentina), resultante da fusão de duas fábricas de Lourenços Marques (Vitória e Dicca).

1954 A SCC requereu a adesão à EBC – European Brewery Convention. 1954.08.30 1º Curso de Tiradores de Cerveja (SCC) 1955 Criação do boletim Cerveja, pela SCC. 1955 Iniciou-se o plano de valorização da cultura cerealífera para o sector cervejeiro,

sob a orientação do subsecretário de Estado da Agricultura, Vitória Pires, com a colaboração dos serviços oficiais do Estado, organismos internacionais (Barley Committe da EBC) e das empresas. É iniciada a criação de campos experimentais de cevadas dísticas pelo país.

1955.06 1ª Reunião de Agentes e Sub-agentes da SCC 1955.09 Constituiu-se a Fábrica de Cervejas da Beira, em Moçambique. 1956 Iniciou-se a laboração da nova malteria da Portugália. 1956 É renovada a fábrica da Estrela. 1956.02.20 Primeira autorização do condicionamento industrial à construção de nova fábrica

de cerveja, concedida a José Joaquim Gonçalves de Oliveira (Nacerel; incorporada na CUFP em 1961)

1956.05.14-21 I Congresso da Cerveja, na Câmara do Comércio – Associação Comercial de Lisboa.

1957 Prémio internacional da EBC nas cevadas ensaiadas Aurora e Beka. 1957 A SCC estabelece pareceria com a Schweppes. 1958 Prémio internacional da EBC nas cevadas ensaiadas Aurora e Beka. 1958 Início da comercialização da Pepsi Cola pela SCC, suspensa 5 dias depois. 1958 Reorganização comercial da SCC. 1958.05.16 Primeira classificação da cerveja Sagres na classe de cervejas Dortmund no

Concurso Internacional de Gand. 1959 A Companhia de Cervejas de Coimbra iniciou o seu reapetrechamento,

culminando na criação da nova fábrica na zona do Loreto. Especializa-se nas marcas regionais Onix e Topázio.

1960 Prémio internacional da EBC nas cevadas ensaiadas Aurora e Beka.

Page 198: Notas para uma breve História da indústria cervejeira nacional

XLVIII

1960 A SCC comprou a Água do Luso. 1960 A SCC e a CUFP participaram na constituição da Companhia de Iniciativas

Económicas Ultramarinas. 1960.09.08 Despacho ministerial de Ferreira Dias sobre a reorganização sectorial da indústria

cervejeira, propõe a concentração com vista à exportação. 1961 AICP – Associação da Indústria Cervejeira Portuguesa. 1961 Organizadas pela Sociedade Central de Cervejas, realizam-se as I Jornadas de

Cevada. 1961 A SCC aderiu à EBIC – EFTA Brewery Industry Council e à EFTA Brewers

Working Party (EBWP) 1963 Início das campanhas publicitárias da SCC, marcada pelo slogan “Cerveja Sagres,

a sede que se deseja”, criado por Ary dos Santos, 1963 É criada a Lupulex. 1964 Diagnóstico do sector cervejeiro, realizado no âmbito do Relatório Preparatório do

Plano de Investimentos para 1965-67. 1964.09.28 É inaugurada a fábrica de cerveja da CUFP na Leça do Balio. 1965 A exploração das associadas da SCC passa a ser exercida directamente pela SCC,

com distribuição de resultados aos accionistas sob a forma de dividendos. Início dos projectos de construção de uma nova fábrica, liderados por Caetano Beirão da Veiga.

1965 A SCC associou-se à Skol International. 1965 A SCC adquiriu participação na Empresa de Cervejas da Madeira, Lda e na

Fábrica de Cervejas e Refrigerantes João de Melo Abreu, Lda. 1965 É criado o “Gabinete de Estudos João Talone”, com o objectivo de desenvolver

projectos para o sector cervejeiro. 1965 Lançamento da cerveja Balla e Da Gama (esta para exportação), pela CUFP. 1966 É criado o Gabinete de Exportação, numa associação entre a SCC e a CUFP. 1967 A SCC funda a Cinevoz (empresa de publicidade). 1968 A posição da SCC na Empresa Produtora de Garrafas evolui para a constituição da

CIVE – Companhia Industrial Vidreira, SARL (agrupamento Empresas Produtora de Garrafas, a Guilherme Pereira Roldão, a IVIMA e a CRISAL).

1968.03.19 Despacho ministerial de Rogério Martins que consubstancia a abertura do condicionamento industrial no sector.

1968.06.22 Foi inaugurada da fábrica de Vialonga (com fachada projectada por Eduardo Nery), pertencente à SCC.

1968.06.22 Foi inaugurada a fábrica de cerveja de Vialonga 1968.07.17 Concedido alvará a uma sociedade liderada pela Supersumos para instalação de

unidade fabril de cerveja e refrigerantes. 1969 Carlos Moreira Rato é eleito presidente do Conselho de Administração da SCC. 1969 Lançamento da cerveja Coral, pela Empresa de Cervejas da Madeira. 1969.08.27 É constituída a Cergal – Cervejas de Portugal, SARL. 1970 A Cergal estabeleceu um contrato de assistência técnica com a Mahou, SA (capital

espanhol). 1970 A SCC adquiriu participação na empresa Adegas Camillo Alves, e aumentou a

participação no capital social da Água do Luso. 1971 Entrou em funcionamento o Entreposto n.º 1, no Prior Velho

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XLIX

1971 A SCC adquiriu a Empresa de Águas Alcalinas e Medicinais de Castelo de Vide e importante participação na Gelex.

1971 Organização de Encontros de Técnicos Cervejeiros, pela SCC. 1972 É inaugurada a rede de distribuição da Super Bock em Lisboa. 1972 A SCC tomou posição na empresa de plásticos Síntex. 1972 A capacidade produtiva da Companhia de Cervejas de Coimbra (Fábrica n.º 2) é

ampliada para 10 milhões de litros de cerveja. 1972 Entrou em funcionamento o Entreposto Comercial n.º 3, no Porto. 1972 Acordo entre a SCC e a CUFP e a The United Breweries, passando a Carlsberg a

ser comercializada pela primeira e a Tuborg pela CUFP. 1972 Participação da SCC e da CUFP no capital da CICER – Companhia de Cervejas e

Refrigerantes da Guiné. 1972 A SCC adquiriu posição na Cervejarias Reunidas Skol-Caracú (Brasil), após

cedência de posições com a Skol International. 1972.01.24 Por despacho ministerial, é deferida a constituição de uma unidade fabril de

cerveja, ao proponente António Vítor de Almeida Saraiva (representando a Interbrew e Heineken). Constituiu-se, deste modo, a Copeja – Companhia Portuguesa de Cervejas.

1972.08 Inicia-se a comercialização da cerveja Cergal. 1972.08 Inicia-se a comercialização da cerveja Cergal. 1972.10 Constituição da Sogere – Sociedade Geral de Cervejas e Refrigerantes de

Moçambique, que agrupou a MacMahon, a Fábrica da Beira e a Fábrica de Cerveja Reunidas de Moçambique.

1972.11.29 São deferidos os pedidos de instalação de unidades fabris de cerveja a José Nunes Rodrigues e à Refriplás.

1973 É constituída a Parfil pelos principais accionistas da SCC, com o objectivo de gerir as participações nas outras empresas do grupo.

1973 SCC apta a ser cotada na Bolsa. 1973.05.16 A Refriplás e José Nunes Rodrigues concentraram-se numa única unidade,

constituindo a Imperial – União Cervejeira Portuguesa. 1974.01 Inauguração da fábrica da CICER em Bissau. 1974.09 A Comissão de Trabalhadores da Cergal criou o órgão de comunicação A Luta. 1974.10 Diagnóstico da Empresa, elaborado por um grupo de trabalhadores da SCC. 1974.10 Bernardo Mendes de Almeida (Conde de Caria), administrador da Cergal, é preso

na sequência do 28 de Setembro. 1975 Lançamento da cerveja Clok. 1975 Entrou em funcionamento a fábrica do Catujal, passando a produzir os

refrigerantes da SCC. 1975.01.30 Entrega-se as propostas resultantes do diagnóstico dos trabalhadores. 1975.01.31 É iniciado o processo reivindicativo na SCC, com a ocupação da empresa e

realização de um plenário de trabalhadores, com a supervisão de elementos do MFA. A Comissão de Trabalhadores divulgou o caderno reivindicativo com 19 pontos.

1975.02.07 A Comissão de Trabalhadores da Cergal participou na manifestação anti-Nato. 1975.02.08 É realizado um novo plenário na fábrica de Vialonga, que aprovou a moção que

defende a nacionalização da empresa.

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1975.08.14 Iniciou-se a luta dos trabalhadores da Imperial, em Loulé. 1975.02.10 A Comissão de Trabalhadores do Prior Velho (sector comercial) contestou a

decisão tomada no plenário de 8 de Fevereiro, defendendo a via negocial, ao invés da nacionalização. A Administração da SCC lançou um comunicado repudiando as acções tomadas pela Comissão de Trabalhadores, que se reproduziam na imprensa. Seguiu-se uma guerra aberta de comunicados entre o Conselho de Administração da SCC e a Comissão de Trabalhadores, que preencheu as páginas dos jornais durante o mês de Fevereiro. Na Cergal, os trabalhadores paralisaram o trabalho na sequência da visita de militares da Nato à fábrica.

1975.02.20 É nomeada a Comissão de Análise e Inquérito ao grupo SCC, pela Junta de Salvação Nacional.

1975.03.01 Realização do plenário de Sacavém, que reitera as reivindicações e estipula a data de 6 de Março para uma resposta do Conselho de Administração.

1975.03.12 As Comissões de Trabalhadores de Vialonga, Trindade, Sede e Coimbra enviaram um telegrama à Junta de Salvação Nacional apoiando a “acção enérgica do MFA na luta contra a reacção”.

1975.03.13 Miguel Sttau Monteiro, ex-administrador da SCC concedeu uma entrevista à Vida Mundial.

1975.03.20 A Comissão de Trabalhadores enviou uma exposição ao Conselho da Revolução sobre a situação da empresa, solicitando a intervenção do Estado através da nomeação de uma comissão administrativa.

1975.03.21 É nomeada uma Comissão Administrativa para a SCC pelo Conselho da Revolução, sob a liderança do capitão-tenente Silva Nunes. Na CUFP a gestão é assumida por um Conselho Executivo, constituído por dois administradores: João Talone e Alberto Martins da Fonseca.

1975.04.10 Numa notícia publicada pelo Diário Popular, Artur Luís Alves Conde é associado às ligações neocolónias de Manuel Vinhas e às fraudes encontradas no decorrer da investigação levada a cabo pela Comissão de Análise e Inquérito.

1975.04.12 Novo plenário dos trabalhadores da SCC, que apelou ao afastamento de Artur Luís Alves Conde do cargo governamental.

1975.04.14 O Diário de Lisboa publicou uma notícia que associava Manuel Vinhas, ex-administrador da SCC, aos golpes contra-revolucionários de 28 de Setembro de 1974 e de apoio ao 11 de Março.

1975.05/06 Um grupo de trabalhadores da SCC publicou o documento «Sobre o Controlo Operário na Sociedade Central de Cervejas».

1975.05.07 Reunião com os representantes das indústrias cervejeiras, em Lisboa, para discutir o situação sectorial.

1975.05.13 Por despacho do Conselho da Revolução, são congelados os bens móveis e imóveis de Miguel Sttau Monteiro, Caetano Beirão da Veiga, Manuel Pereira Martins, Manuel Carvalho Martins e Mário Vinhas.

1975.05.15 Reunião do Secretariado das Comissões de Trabalhadores do Sector Cervejeiro, nas instalações da CUFP.

1975.07.30 A Comissão de Análise e Inquérito procedeu à entrega dos relatórios conclusivos junto do Conselho da Revolução e do Ministério da Indústria e Tecnologia.

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1975.08.06 Os relatórios da Comissão de Análise e Inquérito são entregues às Comissões de Trabalhadores.

1975.08.06 O Ministério da Indústria e Tecnologia realizou o Estudo da Nacionalização do Sector Cervejeiro (Indústria e Distribuição).

1975.08.20 Num telegrama enviado pelo governador do Distrito do Funchal ao ministro do Comércio Interno, é comunicado o descontentamento dos trabalhadores face às notícias da nacionalização da empresa.

1975.08.30 A indústria cervejeira portuguesa é nacionalizada pelo D.L. n.º 474/75, exceptuando as participações estrangeiras.

1975.09.04 No plenário dos trabalhadores da Empresa de Cervejas da Madeira é criticada a nacionalização da empresa.

1975.09.14 Novo plenário da Empresa de Cervejas da Madeira, reiterando o descontentamento da nova medida.

1975.19.27 É nomeado, por despacho do Ministério do Comércio Interno, um grupo de trabalho operacional com vista ao estudo da nacionalização do sector de distribuição da indústria cervejeira.

1976.02.19 São iniciados os trabalhos da Comissão de Reestruturação do Sector Cervejeiro, 1976.07.06 Reunião entre a Comissão de Reestruturação do Sector Cervejeiro e o Ministério

da Indústria e Tecnologia, resulta na orientação do MIT no sentido de reestruturação em Empresa Única.

1977.01.09 Reunião do Conselho de Ministros, onde é discutido o Projecto de Decreto-Lei que nacionalizava as distribuidoras, sendo rejeitada a sua aplicação.

1977.06 A Presidência do Conselho de Ministros aprovou uma Resolução (n.º 140/77) que, desconsiderando o relatório final da Comissão de Reestruturação do Sector Cervejeiro, criou, sob a tutela do Ministério da Indústria e Tecnologia, a empresa pública Central de Cervejas, EP e a União Cervejeira, EP.

1977.12.30 É criada, pelo Decreto-Lei n.º 531/77, a Centralcer - Central de Cervejas, EP englobando a Sociedade Central de Cervejas e a Cergal, e a Unicer, EP, que incorpora a CUFP, a Imperial e a Copeja.