nota tecnica sae final

9
 o desao é garantir que esse patrimônio natural possa continuar gerando benefícios aos seres humanos e ao planeta de maneira sustentável. As orestas (nativas e plantadas) ocupam aproximada- mente 31% da superfície terrestre (FAO, 2010). A despei- to de participarem com apenas 7% do total dessa área, as orestas plantadas desempenham um importante papel nas estratégias de conservação. Além disso, desta- cam-se como instrumento de uso sustentável voltado à garantia do suprimento futuro de matéria-prima orestal para um planeta com demandas crescentes. As orestas plantadas cobrem 264 milhões de hectares e sua expansão é da ordem de 5 milhões de hectares por ano em média, segundo dados da FAO (2014). Várias estimativas indicam que elas provêm entre 1/3 e 2/3 da demanda global de madeira em tora para ns industriais (EFIATLANTIC, 2013). No Brasil, verica-se tendência semelhante. O país possui uma das maiores áreas orestais do globo, com 463 mi- lhões de hectares, ou 54,4% da área do país (SFB, 2013). Destes, 7 milhões de hectares correspondem a orestas plantadas (menos de 1% da área do país). Essa pequena área relativa é capaz de suprir quase 90% do total da oferta de madeira em tora industrial, 81,5% do carvão vegetal e 62,3% da lenha produzida internamente, con- forme demonstra a gura 1 (IBGE, 2013). TÉCNICAS S A E NOTAS NOTAS  TÉCNICAS•SAE 1. INTRODUÇÃO A Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR) iniciou em 2009 um processo de articulação para a construção de uma proposta de Po- lítica Nacional de Florestas Plantadas. O objetivo princi- pal era propor um conjunto de orientações condizentes com a contribuição potencial que o setor de orestas plantadas pode dar ao desenvolvimento sustentável nacional. Passados quatro anos, a presidente da República anun- ciou a inserção da referida política no âmbito da maior estratégia de planejamento rural brasileiro, o Plano Agrí- cola e Pecuário 2014/2015. A presente Nota Técnica sintetiza os fundamentos e as li- nhas mestras que a SAE/PR entende como fundamentais para a construção das bases para a Política Nacional de Florestas Plantadas. 2. CONTEXTO GLOBAL E PERSPECTIVAS NACIONAIS Produtos e serviços advindos das orestas são cruciais para sustentar qualquer processo de desenvolvimento, seja em nível local, regional ou global. A percepção da sociedade sobre essa realidade é cada vez mais clara, e SECRET ARIA DE ASSUNTOS ESTRATÉG ICOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA NÚMERO 01  | JUN 2014 FLOREST AS PLANT ADAS: BASES PARA A POLÍTICA NACIONAL

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  • o desafio garantir que esse patrimnio natural possa

    continuar gerando benefcios aos seres humanos e ao

    planeta de maneira sustentvel.

    As florestas (nativas e plantadas) ocupam aproximada-

    mente 31% da superfcie terrestre (FAO, 2010). A despei-

    to de participarem com apenas 7% do total dessa rea,

    as florestas plantadas desempenham um importante

    papel nas estratgias de conservao. Alm disso, desta-

    cam-se como instrumento de uso sustentvel voltado

    garantia do suprimento futuro de matria-prima florestal

    para um planeta com demandas crescentes.

    As florestas plantadas cobrem 264 milhes de hectares e

    sua expanso da ordem de 5 milhes de hectares por

    ano em mdia, segundo dados da FAO (2014). Vrias

    estimativas indicam que elas provm entre 1/3 e 2/3 da

    demanda global de madeira em tora para fins industriais

    (EFIATLANTIC, 2013).

    No Brasil, verifica-se tendncia semelhante. O pas possui

    uma das maiores reas florestais do globo, com 463 mi-

    lhes de hectares, ou 54,4% da rea do pas (SFB, 2013).

    Destes, 7 milhes de hectares correspondem a florestas

    plantadas (menos de 1% da rea do pas). Essa pequena

    rea relativa capaz de suprir quase 90% do total da

    oferta de madeira em tora industrial, 81,5% do carvo

    vegetal e 62,3% da lenha produzida internamente, con-

    forme demonstra a figura 1 (IBGE, 2013).

    T C N I C A S S A ENOTAS

    N O T A S T C N I C A S S A E

    1. Introduo

    A Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia

    da Repblica (SAE/PR) iniciou em 2009 um processo de

    articulao para a construo de uma proposta de Po-

    ltica Nacional de Florestas Plantadas. O objetivo princi-

    pal era propor um conjunto de orientaes condizentes

    com a contribuio potencial que o setor de florestas

    plantadas pode dar ao desenvolvimento sustentvel

    nacional.

    Passados quatro anos, a presidente da Repblica anun-

    ciou a insero da referida poltica no mbito da maior

    estratgia de planejamento rural brasileiro, o Plano Agr-

    cola e Pecurio 2014/2015.

    A presente Nota Tcnica sintetiza os fundamentos e as li-

    nhas mestras que a SAE/PR entende como fundamentais

    para a construo das bases para a Poltica Nacional de

    Florestas Plantadas.

    2. Contexto global e

    perspeCtIvas naCIonaIs

    Produtos e servios advindos das florestas so cruciais

    para sustentar qualquer processo de desenvolvimento,

    seja em nvel local, regional ou global. A percepo da

    sociedade sobre essa realidade cada vez mais clara, e

    SECRETARIA DE ASSUNTOS ESTRATGICOS DA PRESIDNCIA DA REPBLICA N M E R O 0 1 | JUN 2014

    FLORESTAS PLANTADAS: BASES PARA A POLTICA NACIONAL

  • N O T A S T C N I C A S S A E

    interno. Se considerarmos exportaes do agronegcio

    em 2013, os produtos florestais esto entre os quatro

    mais importantes, com 10% do valor total, atrs apenas

    dos complexos soja (31%), carne (17%) e sucroalcoolei-

    ro (14%). Vale ressaltar que o agronegcio brasileiro res-

    pondeu por 41% do total das exportaes brasileiras em

    2013, chegando a quase US$ 100 bilhes. A figura 2 ilus-

    tra a evoluo da superavitria balana comercial do setor.

    Figura 2. Evoluo da balana comercial de produtos

    de florestas plantadas no Brasil, 2002-2012.

    Fonte: ABRAF, 2013.

    Apesar das estatsticas favorveis do setor, o pas ainda

    tem muito a avanar para aproveitar bem seu potencial

    econmico.

    A participao de produtos florestais brasileiros repre-

    senta menos de 3% do comrcio anual internacional,

    que supera o valor de US$ 230 bilhes conforme apre-

    senta a figura 3 (FAOSTAT, 2014).

    Figura 3. Evoluo do comrcio mundial de produtos

    florestais e do Brasil, 2002-2012

    Fonte: FAOSTAT, 2014.

    100%

    80%

    60%

    40%

    20%

    0%Madeira em Tora Carvo Vegetal Lenha

    Florestas Plantadas Extrativismo

    37,7%18,5%10,2%

    62,3%81,5%89,8%

    2,0

    2002 2003 2004 2005

    Saldo Exportao Importao

    2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

    4,0

    6,0

    8,0

    10,0

    US$

    bilh

    o

    Figura 1. Participao percentual das florestas

    plantadas e do extrativismo vegetal na produo de

    madeira em tora, carvo vegetal e lenha no Brasil,

    2011-2012.

    Fonte: IBGE, 2013.

    Essa realidade explicada por vrios fatores. Dentre os

    principais, podemos destacar:

    Alta produtividade das espcies florestais plantadas

    no pas, fruto de mais de um sculo de investimentos

    em pesquisa e desenvolvimento em melhoramento

    gentico pelo governo, academia e setor privado.

    Maior conscientizao da sociedade com relao ao

    meio ambiente, com aumento das restries socio-

    ambientais.

    Demanda por maior disponibilidade de produtos flo-

    restais com melhores padres de qualidade, como

    o caso dos segmentos de celulose & papel, painis

    reconstitudos e siderurgia a carvo vegetal.

    Reduo da produo de matria-prima florestal de

    origem nativa na Caatinga, Cerrado, Mata Atlntica

    e tambm na Amaznia, onde nessa ltima a lenha

    estimada em 50% (SFB & IMAZON, 2010).

    Licenciamento ambiental simplificado

    A cadeia produtiva florestal muito ampla e envolve di-

    versos segmentos importantes para o PIB do pas, como

    celulose e papel, ao, mobilirio, construo civil e naval,

    embalagens, e os setores energtico, farmacutico, qu-

    mico e alimentcio.

    A contribuio para a economia brasileira relevante no

    apenas do ponto de vista de abastecimento do mercado

    300.000.000

    6.000.000

    8.000.000250.000.000

    200.000.000

    4.000.000150.000.000

    100.000.0002.000.000

    50.000.000

    02002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

    US$

    1.00

    0

    Mundo Brasil

  • N O T A S T C N I C A S S A E

    10.000.000

    20132005

    Produo Consumo Interno

    2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

    m

    8.000.000

    6.000.000

    4.000.000

    2.000.000

    0

    Se analisarmos de maneira segmentada o setor, poss-

    vel perceber uma forte diferenciao em termos de com-

    petitividade internacional. No caso da celulose, somos o

    4 produtor mundial, tendo alcanado em 2012 cerca de

    14% do comrcio mundial, que foi de US$ 30,6 bilhes.

    No caso do papel, somos o 9 produtor mundial, mas

    nossa participao no comrcio internacional foi menos

    de 2% no mesmo ano.

    Para os demais produtos temos um volume significativo

    de produo, mas com participao internacional inci-

    piente. Para a siderurgia a carvo vegetal, por exemplo,

    somos tambm o 9 maior produtor de ferro-gusa, mas

    nossa participao em nvel mundial inferior a 3%, sem

    considerar que a participao do carvo vegetal na pro-

    duo do ferro-gusa gira em torno de 24% (CGEE, 2014).

    O mesmo ocorre no segmento de painis de madeira re-

    constitudos, importante segmento fornecedor de mat-

    ria-prima para indstrias de mobilirio e construo civil.

    Nossa produo atual, apesar de crescente, suficiente

    para atender a demanda interna (figura 4). A mesma ten-

    dncia observada para os segmentos de madeira sli-

    da, laminados, compensados e produtos de maior valor

    agregado.

    Figura 4. Evoluo da produo e do consumo

    interno de painis reconstitudos (m3) no Brasil,

    2005-2013

    Fonte: ABIPA, 2014.

    3. relevnCIa soCIoambIental

    Em fruns internacionais houve uma evoluo significati-

    va do entendimento dos benefcios que as florestas plan-

    tadas prestam sociedade, principalmente no que tange

    complementaridade e garantia de renda para produto-

    res rurais, bem como sua contribuio para minimizar

    impactos do aquecimento global e contribuir para a re-

    duo de emisses de gases de efeito estufa (GEE).

    O maior crescimento do mercado de energia da madeira

    e de biocombustveis em geral guarda forte relao com

    uma maior adoo de metas de reduo de emisso de

    CO2 por pases desenvolvidos e em desenvolvimento.

    As florestas plantadas so fontes alternativas matria-

    prima oriunda de desmatamentos ilegais, auxiliando

    desta forma na reduo das emisses de GEE decorren-

    tes do desflorestamento, que representa cerca de 25%

    das emisses mundiais. Estudos indicam que as flores-

    tas plantadas na Terra sequestram cerca de 1,5 gigatons

    de emisses de dixido de carbono equivalente por ano

    (AFIATLANTIC, 2013).

    O Brasil estabeleceu, em 2009, compromisso nacional vo-

    luntrio, previsto em lei1, para reduzir o total de emisses

    de dixido de carbono equivalente (CO2eq) entre 1.168

    milhes e 1.259 milhes de CO2eq. As florestas plantadas

    so elementos importantes nessa estratgia, pois esto

    includas diretamente em trs planos setoriais (Planos

    ABC, Siderurgia e Indstria/Celulose & Papel)2. Florestas

    plantadas so por sua natureza sumidouros naturais de

    carbono, tanto na fase de crescimento das florestas (figu-

    ra 5) quanto nos produtos com origem na madeira.

    1 Lei n. 12.187, de 29 de dezembro de 2009 e Decreto n. 7.390, de 9 de dezembro de 2010.2 Principalmente por meio do incremento, na siderurgia, da utilizao de carvo vegetal originrio de florestas plantadas e melhoria na eficincia do processo de carbonizao; na ampliao do sistema Inte-grao Lavoura-Pecuria-Florestas (ILPF) em 4 milhes de hectares; na expanso do plantio de florestas em 3 milhes de hectares.

  • N O T A S T C N I C A S S A E

    Figura 5. Fixao de dixido de carbono ao longo da

    vida de um eucaliptal

    Fonte: CANAVIEIRA, 2006.

    Segundo informaes setoriais, as florestas plantadas no

    Brasil tm atuao positiva no processo de estocagem

    de carbono, j que h uma absoro de 1,3 bilho de

    toneladas de dixido de carbono equivalente (CO2eq)

    por ano, quantidade ainda mais relevante caso se consi-

    dere que as emisses do setor de florestas plantadas so

    de somente 7,4 milhes de toneladas de CO2eq anuais

    (CARVALHAES, 2014).

    Na questo social, fato que no Brasil, bem como na

    maioria dos pases em desenvolvimento, os pequenos

    e mdios proprietrios rurais e agricultores possuem

    florestas e dependem delas para a sua subsistncia. H

    um grande nmero de pessoas cujo emprego depende

    de trabalho em viveiros e em indstrias de base florestal,

    preparao de terrenos, estabelecimento e manuteno

    de plantaes, etc. Estudos tambm mostram a impor-

    tncia das plantaes e das rvores fora da floresta como

    suporte sobrevivncia, segurana alimentar e reduo

    da pobreza. Ainda, necessrio salientar que a lenha

    uma importante fonte de energia para uso domiciliar nas

    propriedades rurais do Brasil.

    As florestas plantadas no pas tambm so as com maior

    nvel de atendimento s normas de responsabilidade so-

    cioambiental reconhecidas em nvel internacional. No Bra-

    sil existem dois grandes selos de certificao florestal, o

    Cerflor, que detm 1,9 milho de hectares certificados de

    florestas plantadas, e o FSC Brasil, que possui 4,4 milhes

    de hectares, sendo a 5 maior rea certificada do planeta.

    4. CenrIos perspeCtIvos

    H perspectivas positivas quanto ao crescimento setorial.

    Simulaes realizadas por Ferreira Filho (2013) a partir de

    modelos de equilbrio geral indicam que os setores de ce-

    lulose & papel e produtos de madeira devero apresentar

    at 2025 um crescimento acumulado de 391% e 210%,

    respectivamente, em relao ao ano de 2005.

    Aspectos relevantes levantados pela FAO (2009) para o

    forte desenvolvimento do setor de floretas plantadas no

    mundo esto relacionados: i) s alteraes demogrfi-

    cas; ii) ao aumento de renda da populao; iii) ao cresci-

    mento econmico contnuo; iv) s mudanas regionais;

    v) s polticas energticas; e vi) s campanhas de promo-

    o do uso da madeira.

    Segundo dados da SAE/PR (2014), os nmeros indicam

    que ocorreu uma considervel mobilidade social nos l-

    timos anos no Brasil. Entre 2004 e 2010, 32 milhes de

    pessoas ascenderam classe mdia, e 19,3 milhes sa-

    ram da pobreza. Os 95 milhes de brasileiros que com-

    pem a nova classe mdia correspondem a 50,5% da

    populao, ganhando relevncia do ponto de vista eco-

    nmico, detendo 46% do poder de compra e superando

    inclusive as classes A e B (44,12%) e D e E (9,65%).

    Em vista disso, a melhoria do desempenho econmico

    do pas levar ao aumento da demanda por produtos

    florestais. O aumento do consumo de ao, mveis, de

    energias renovveis, embalagens, celulose, papel e ou-

    tros produtos florestais so tendncias vlidas para diver-

    sos segmentos do setor.

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

    450

    00

    8100

    12150

    16200

    20250

    24300

    28350

    32400

    rvore de eucalipto Fixao Anual

    ton

    CO2 fi

    xado

    por

    ha

    (acu

    mul

    ado)

    ton

    CO2 fi

    xado

    por

    ha

    (por

    ano

    )

  • N O T A S T C N I C A S S A E

    O Brasil apresenta baixo nvel de consumo de produtos

    florestais se comparado a pases onde a economia de

    base florestal mais consolidada. Segundo BRACELPA

    (2014), o consumo aparente de papel per capita no Brasil

    da ordem de 48,6 kg/habitante, ndice abaixo da mdia

    mundial (57 kg/hab) superada por pases como Mxico

    (63,9 kg/hab), Chile (68,6 kg/hab) e China (68,6 kg/hab)

    e muito distante dos pases desenvolvidos, como Ale-

    manha (242,6 kg/hab) e Finlndia (280,6 kg/hab).

    4.1. A demAndA por energiA de biomAssA

    A demanda por energia de biomassa tende a aumentar

    no Brasil e no mundo. A oferta de biomassa florestal se

    d por resduos (florestais, industriais ou urbanos) ou

    oriunda de plantaes de florestas energticas. Os res-

    duos florestais tm a maior oportunidade a curto prazo,

    enquanto a oferta de matria-prima oriunda de plan-

    taes de finalidade exclusivamente energtica ainda

    incipiente. No Brasil existe grande potencial de desen-

    volvimento a mdio prazo. O mercado internacional de

    biocombustveis de resduos florestais (pellets) foi de US$

    1,6 bilho em 2012, dominado pelo Canad e Estados

    Unidos, com tendncia de crescimento (FAOSTAT, 2014).

    Fortemente associado atividade agrcola crescente (se-

    cagem de gros e movimentao de caldeiras), o uso da

    biomassa tambm largamente utilizado no mbito do

    consumo domiciliar da lenha, bem como pelas indstrias

    alimentcia, de papel & celulose, cermica vermelha, ges-

    so e ferro-gusa. A biomassa florestal tambm se apre-

    senta como um dos grandes potenciais de alavancagem

    do potencial florestal brasileiro no mbito internacional.

    Segundo dados da Agncia Nacional de Energia Eltri-

    ca (ANEEL, 2014), atualmente no pas esto registradas

    apenas 53 usinas que utilizam biomassa florestal para a

    produo de energia, respondendo por 0,32% da ca-

    pacidade instalada nacional (438 mil kW), mas h uma

    tendncia positiva de crescimento desse tipo de gerao

    de energia.

    4.2. reflorestAmento com outrAs espcies

    florestAis

    Tambm pode ser observado um acrscimo de reas

    plantadas com outras espcies florestais que no as tradi-

    cionalmente implantadas no pas (Eucalyptus spp. e Pinus

    spp.). O crescimento percentual desses reflorestamentos

    foi de 60% entre 2005 e 2012, saindo de pouco mais de

    300 mil hectares para 520 mil hectares (ABRAF, 2013).

    Outro importante fato o surgimento de iniciativas de

    plantio de espcies nativas tropicais para fins comerciais,

    como as j existentes no mbito da Mata Atlntica.

    4.3. desenvolvimento regionAl

    A primeira fase do desenvolvimento setorial, implemen-

    tada a partir de um conjunto de aes pblicas aplica-

    das em meados de 1960, deu-se prxima aos mercados

    consumidores nacionais e aos principais portos de esco-

    amento para exportao.

    Recentemente, h um forte movimento de interioriza-

    o desse crescimento, com a implantao de grandes

    projetos industriais-florestais nas regies que incorporam

    oportunidades para o desenvolvimento regional, como

    Centro-Oeste, Norte e Nordeste, bem como novos desa-

    fios para o setor, como infraestrutura e logstica, qualifi-

    cao de mo de obra e adaptao e produtividade das

    espcies florestais.

    4.4. vAntAgens compArAtivAs

    O Brasil continua a dispor de vantagens comparativas

    significativas e que indicam perspectivas muito positivas

    para o crescimento do setor, sejam de carter geogrfi-

    co (disponibilidade de terras), climticas ou tecnolgicas.

  • N O T A S T C N I C A S S A E

    Esses fatores foram cruciais para a obteno das maiores

    taxas de produtividade do planeta para os dois principais

    gneros plantados no pas (figura 6).

    Figura 6. Comparao de produtividade florestal de

    folhosas (Eucalyptus) e conferas (Pinus) entre pases

    selecionados

    Fonte: ABRAF, 2013.

    4.5. desenvolvimento rurAl

    A interface do setor de florestas plantadas com o de-

    senvolvimento rural do pas tende a ser cada vez mais

    dinmica, e cada vez mais essa sinergia vem sendo incor-

    porada pelo produtor rural com consequente impacto

    nas polticas pblicas. Os modelos so vrios e incluem

    o reflorestamento per se, mas tambm o fortalecimento

    da integrao entre processos produtivos via Integrao

    Lavoura-Pecuria-Florestas (ILPF) ou Sistemas Agroflores-

    tais. Florestas plantadas se prestam tambm para auxiliar

    a rotao de culturas, a melhoria da qualidade de solo e

    gua, e a recuperao de reas degradadas e passivos

    ambientais, gerando aumento de renda e melhorando a

    qualidade de vida no campo.

    5. agenda de futuro

    Um importante passo para o setor de florestas planta-

    das foi dado a partir da sua incorporao ao mbito do

    planejamento rural brasileiro, com a definio de sua

    gesto feita agora pelo Ministrio da Agricultura, Pe-

    curia e Abastecimento. Nesse sentido, fundamental

    que se caminhe na construo de uma nova agenda de

    desenvolvimento setorial.

    incontestvel a necessidade de ampliarmos a rea de

    florestas plantadas no pas. Segundo projees realiza-

    das pela SAE/PR e pela UFMG (2013), a expectativa

    que a rea total de florestas plantadas no Brasil mais

    do que dobrar entre 2020-2030, dependendo do im-

    pacto de polticas pblicas que favoream o incremento

    dos reflorestamentos.

    Novos produtos e processos inovadores tm potencial

    de alterar todo um mercado, como foi o caso do uso

    de painis de madeira reconstitudos na indstria do

    mobilirio. O maior emprego da madeira como ele-

    mento estrutural em habitaes e a disseminao do

    uso da energia de biomassa e biocombustveis podem

    ser a prxima onda de inovao tecnolgica. Isso sem

    contar os avanos da engenharia gentica e seu po-

    tencial de revoluo na produo de florestas plan-

    tadas.

    Tambm h que se considerar que as exigncias do

    mercado aumentaro quanto padronizao e preo,

    contando com margens de lucro cada vez menores,

    levando necessidade de se priorizar o aumento da

    competitividade no apenas para podermos ampliar

    nossa participao em nvel internacional, mas, prin-

    cipalmente, para competirmos tambm no mbito do

    mercado interno.

    Essa melhoria ser impulsionada pelas condies ma-

    croeconmicas que acabam por dar acesso s camadas

    mais baixas da populao a produtos oriundos da ca-

    deia de produo de florestas plantadas, como livros,

    habitaes, mveis e produtos de higiene.

    m

    / ha.

    ano

    5,0

    0,0

    10,0

    15,0

    20,0

    25,0

    30,0

    35,0

    40,0

    45,0Folhosas

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    5,5 6,0

    12,0 15,0 18

    ,0 20,0 22,0 25

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    30,8

    18,8

    40,7

    3,5

    2,0

    10,0 13,7

    22,0

    18,0

    16,2 18,0

    28,0

    27,5

    41,0

  • N O T A S T C N I C A S S A E

    Esse processo certamente dever contar com a participa-

    o de todos aqueles atores envolvidos com o setor, mas

    fundamental que seja estabelecido um modelo de pla-

    nejamento que contemple as principais demandas seto-

    riais, a partir de um entendimento claro sobre a situao

    Tabela 1. Itens fundamentais para a construo de uma agenda positiva de desenvolvimento do setor

    de florestas plantadas

    item comentrio

    Ampliar a rea de florestas plantadas no pas

    O aumento dos investimentos em plantas industriais, da demanda interna e externa, e a carncia de oferta j existente em alguns casos (como o de lenha para secagem de gros) demandam essa ampliao.

    Plena integrao da produo florestal com as outras culturas agrcolas e a pecuria

    fundamental ampliar a incluso de pequenos e mdios produtores rurais no processo de crescimento das florestas plantadas, de forma a gerar maiores ganhos de renda e qualidade de vida no campo. O favorecimento da integrao entre culturas e a pecuria facilita esse processo de incorporao produo rural.

    O papel da biotecnologia

    A aplicao da biotecnologia nas florestas plantadas tem sido reconhecida como uma oportunidade para proporcionar novos ganhos de produtividade, incluindo novos materiais mais adaptados ao contexto das alteraes climticas globais. Contudo, ela tambm deve ser considerada alm dos seus aspectos tcnicos, devendo sua utilizao ser governada por normas e padres ambientais, conforme j preceitua a legislao brasileira que versa sobre essa temtica.

    Criar um clima de negcios favorvel

    O objetivo incentivar investimentos no setor por meio, por exemplo, da reduo de custos de transao, de taxas, de poltica fundiria, de licenas e reduo da regulamentao excessiva.

    Padres de gesto florestal sustentvel

    Importante elemento que minimiza e mitiga possveis impactos negativos gerados pela atividade de florestas plantadas.

    Melhorar o sistema de avaliao e mitigao de riscos na atividade florestal

    A atividade florestal apresenta riscos que acabam por ganhar importncia medida que a quantidade de reas reflorestadas aumenta, e tambm por sua caracterstica de maturao de longo prazo.

    Recuperao de paisagens rurais

    As florestas plantadas possuem papel relevante na recuperao de paisagens rurais, suportando o desenvolvimento de ecossistemas funcionais, reduzindo os riscos ambientais e econmicos das comunidades, e aumentando a contribuio dos recursos naturais para a segurana alimentar e a reduo da pobreza.

    Articulao e coordenao entre as polticas pblicas correlatas

    Diversas polticas pblicas correlatas interferem de maneira direta ou indireta no desenvolvimento setorial. A plena convivncia, por meio de articulao institucional e tcnica, potencializa positivamente os possveis impactos dessas polticas associadas.

    Sistemas de informao e anliseSem informao no h gesto. As estatsticas principalmente as pblicas, e, por conseguinte, as anlises sobre o setor so falhas e muitas vezes inconsistentes.

    Acesso a recursos

    A demanda de capital ser elevada, e as fontes de financiamento existentes so insuficientes para suportar o crescimento setorial. fundamental buscar novos mecanismos que estimulem o investimento privado, nacional e internacional, e ampliem e melhorem a qualidade do crdito setorial.

    Aperfeioar o sistema de pesquisa, desenvolvimento e extenso

    A fim de garantir e melhorar os extraordinrios ganhos cientficos e tecnolgicos obtidos nas ltimas dcadas, crucial estabelecer um sistema de estmulo PD&I voltada aos principais desafios que o setor ter nos prximos anos.

    Apoio a melhorias de processoInovaes tecnolgicas do novos contornos ao mercado, como verificado na introduo de painis reconstitudos na indstria de mobilirio. O mesmo vem acontecendo na indstria de habitao com estruturas de madeira, via wood frames.

    Plantio de espcies florestais nativas e exticas no tradicionais

    O uso mltiplo e diversificado de espcies e produtos florestais ainda pouco explorado, mas as iniciativas j existentes indicam bom caminho para essa diversificao, interessante no apenas para fins de produo, mas tambm como forma de manuteno e recuperao de essncias florestais nativas brasileiras.

    pregressa, a atual e os cenrios futuros. Da a proposta

    de criao do Plano Nacional de Desenvolvimento das

    Florestas Plantadas como elemento balizador desse pro-

    cesso. Relacionamos a seguir alguns dos principais itens

    da agenda de futuro (tabela 1).

  • N O T A S T C N I C A S S A E

    EXPEDIENTEgoverno federalpresidncia da repblicaSecretaria de Assuntos EstratgicosEsplanada dos MinistriosBloco O, 7, 8 e 9 andaresBraslia / DF CEP 70052-900www.sae.gov.br

    ISSN 2357-7118

    Coordenao geralMinistro Marcelo Neri e Sergio Margulis

    elaboraoSSDS Subsecretaria de Desenvolvimento Sustentvel

    autoriaFernando Castanheira Neto, Antnio Carlos do Prado ePedro Antonio Arraes Pereira

    reviso, projeto grfico e diagramaoAdriano Brasil, Gabriella S. Malta e Rafael W. Braga

    6. refernCIas

    ABIPA ASSOCIAO BRASILEIRA DA INDSTRIA DE PAINIS RECONSTITUDOS. 2014. Disponvel em: . Acesso em 9/05/2014).

    ABRAF ASSOCIAO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTADAS. Anurio estatstico AbrAf 2013: ano base 2012. Braslia: ABRAF, 2013. p. 74.

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