nota tÉcnica n° 06/2012

2
NOTA TÉCNICA n° 06/2012 Rafael Reis Alencar Oliveira Mestre em Meio Ambiente, Engenheiro de Pesca Gerência de Desenvolvimento e Operação - COGERH Cogerh – Rua Adualdo Batista, 1550 - Parque Iracema CEP 60824-140 - Fortaleza/CE. PABX:(85)3218-7020 / FAX:(85)3218-7032 1 OBJETIVO Este documento divulga os resultados obtidos da investigação da mortandade de peixes, realizada em 10 de outubro de 2012 no açude Penedo. O evento foi notificado à Gedop/Cogerh em 09 de outubro de 2012, através do Comitê da Bacia e população local. 2 ÁREA DE OCORRÊNCIA O reservatório Penedo situa-se no município de Maranguape, Ceará, distante cerca de 60km de Fortaleza, a partir da CE-065 e CE-119 (Figura 1). Figura 1 – Açude Penedo, Maranguape, Ceará. O corpo hídrico foi construído em 1958 na Bacia Hidrográfica Metropolitana, barra o rio Penedo e atualmente abastece cinco distritos e quatro localidades, além de servir às atividades agrícolas, pecuárias, pesca extrativista e de lazer na região. 3 RESULTADOS A mortandade no açude Penedo foi observada a partir do dia 04 de outubro de 21012. O evento se manifestou de forma repentina e massiva, decrescendo a intensidade até a data da investigação. A branquinha (Curimata spp) foi a espécie mais afetada, seguida do Tucunaré (Cichla ocellaris) e camarão- canela (Macrobrachium amazonicum). No corpo hídrico também podem ser encontradas Tilápias (Oreochromis niloticus) e Traíras (Hoplias malabaricus), que não foram afetadas (Figura 2). Durante o campo foram verificados exemplares já em avançado estágio de rigor mortis às margens do açude e alguns ainda morrendo (Figura 2). Os tamanhos dos espécimes variaram de pequeno a médio porte. Figura 2 – Peixes afetados (esquerda) e não afetados (direita). De acordo com a população local e observação em campo, os peixes afetados apresentavam natação vagarosa e, por vezes, lateral. Os indivíduos se concentravam à superfície da água e morriam principalmente durante a noite e pela manhã. Nenhum dos indivíduos observados apresentou sinais clínicos externos anormais (anatomia, coloração, tecidos, lesões, parasitas, etc.). Segundo relatos, o referido açude anualmente apresenta eventos de mortandades de peixe durante o período de seca, contudo as ocorrências têm se tornado mais expressivas, tanto em intensidade como em espécies afetadas. Vale ressaltar que o entorno do açude apresenta grande ocupação por atividades agrícolas, podendo ser também identificadas áreas pecuárias, desmatadas, queimadas, residenciais e comerciais (restaurante) (Apêndice A). O açude se encontrava com cerca de 22.9% de sua capacidade hídrica, o que representa em torno de 552mil m³ e profundidades máximas de 3,5metros. A dinâmica hidrológica do açude demonstra que o Penedo é bastante sensível aos regimes pluviométricos anuais como interanuais, variando o volume armazenado de 100% (sangrando) até menos de 20% (Figura 3). Figura 3 – Evolução do volume armazenado. A predominância de períodos secos e, portanto, volumes hídricos reduzidos, evidenciam o alto tempo de residência médio para o açude: 305 dias. 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 19/03/01 20/03/02 21/03/03 21/03/04 22/03/05 23/03/06 24/03/07 24/03/08 25/03/09 26/03/10 27/03/11 27/03/12 Vol. Armaz. (%) 0 241,400 482,800 724,200 965,600 1,207,000 1,448,400 1,689,800 1,931,200 2,172,600 2,414,000 Vol. Armaz. (m³) vol.(%) Volume (m³)

Upload: cogerh

Post on 25-Jul-2015

209 views

Category:

Self Improvement


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: NOTA TÉCNICA n° 06/2012

NOTA TÉCNICA n° 06/2012 Rafael Reis Alencar Oliveira

Mestre em Meio Ambiente, Engenheiro de Pesca

Gerência de Desenvolvimento e Operação - COGERH

Cogerh – Rua Adualdo Batista, 1550 - Parque Iracema CEP 60824-140 - Fortaleza/CE. PABX:(85)3218-7020 / FAX:(85)3218-7032

1 OBJETIVO

Este documento divulga os resultados obtidos da

investigação da mortandade de peixes, realizada em 10

de outubro de 2012 no açude Penedo. O evento foi

notificado à Gedop/Cogerh em 09 de outubro de 2012,

através do Comitê da Bacia e população local.

2 ÁREA DE OCORRÊNCIA

O reservatório Penedo situa-se no município de

Maranguape, Ceará, distante cerca de 60km de

Fortaleza, a partir da CE-065 e CE-119 (Figura 1).

Figura 1 – Açude Penedo, Maranguape, Ceará.

O corpo hídrico foi construído em 1958 na Bacia

Hidrográfica Metropolitana, barra o rio Penedo e

atualmente abastece cinco distritos e quatro localidades,

além de servir às atividades agrícolas, pecuárias, pesca

extrativista e de lazer na região.

3 RESULTADOS

A mortandade no açude Penedo foi observada a partir

do dia 04 de outubro de 21012. O evento se manifestou

de forma repentina e massiva, decrescendo a intensidade

até a data da investigação.

A branquinha (Curimata spp) foi a espécie mais afetada,

seguida do Tucunaré (Cichla ocellaris) e camarão-

canela (Macrobrachium amazonicum). No corpo hídrico

também podem ser encontradas Tilápias (Oreochromis

niloticus) e Traíras (Hoplias malabaricus), que não

foram afetadas (Figura 2).

Durante o campo foram verificados exemplares já em

avançado estágio de rigor mortis às margens do açude e

alguns ainda morrendo (Figura 2). Os tamanhos dos

espécimes variaram de pequeno a médio porte.

Figura 2 – Peixes afetados (esquerda) e não afetados (direita).

De acordo com a população local e observação em

campo, os peixes afetados apresentavam natação

vagarosa e, por vezes, lateral. Os indivíduos se

concentravam à superfície da água e morriam

principalmente durante a noite e pela manhã. Nenhum

dos indivíduos observados apresentou sinais clínicos

externos anormais (anatomia, coloração, tecidos, lesões,

parasitas, etc.).

Segundo relatos, o referido açude anualmente apresenta

eventos de mortandades de peixe durante o período de

seca, contudo as ocorrências têm se tornado mais

expressivas, tanto em intensidade como em espécies

afetadas.

Vale ressaltar que o entorno do açude apresenta grande

ocupação por atividades agrícolas, podendo ser também

identificadas áreas pecuárias, desmatadas, queimadas,

residenciais e comerciais (restaurante) (Apêndice A).

O açude se encontrava com cerca de 22.9% de sua

capacidade hídrica, o que representa em torno de 552mil

m³ e profundidades máximas de 3,5metros. A dinâmica

hidrológica do açude demonstra que o Penedo é bastante

sensível aos regimes pluviométricos anuais como

interanuais, variando o volume armazenado de 100%

(sangrando) até menos de 20% (Figura 3).

Figura 3 – Evolução do volume armazenado.

A predominância de períodos secos e, portanto, volumes

hídricos reduzidos, evidenciam o alto tempo de

residência médio para o açude: 305 dias.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

19/0

3/0

1

20/0

3/0

2

21/0

3/0

3

21/0

3/0

4

22/0

3/0

5

23/0

3/0

6

24/0

3/0

7

24/0

3/0

8

25/0

3/0

9

26/0

3/1

0

27/0

3/1

1

27/0

3/1

2

Vo

l. A

rmaz

. (%

)

0

241,400

482,800

724,200

965,600

1,207,000

1,448,400

1,689,800

1,931,200

2,172,600

2,414,000

Vo

l. A

rma

z. (m

³)

vol.(%)

Volume (m³)

Page 2: NOTA TÉCNICA n° 06/2012

NOTA TÉCNICA n° 06/2012 Rafael Reis Alencar Oliveira

Mestre em Meio Ambiente, Engenheiro de Pesca

Gerência de Desenvolvimento e Operação - COGERH

Cogerh – Rua Adualdo Batista, 1550 - Parque Iracema CEP 60824-140 - Fortaleza/CE. PABX:(85)3218-7020 / FAX:(85)3218-7032

Foram realizadas perfilagens em três pontos do

reservatório. Os resultados apontaram uma hipoxia

(baixo nível de oxigênio) logo no primeiro metro de

profundidade, chegando quase a anoxia (ausência de

oxigênio) nas partes mais profundas (Figura 04).

Figura 4 – Perfil do oxigênio dissolvido no Penedo.

As perfilagens da água nos três pontos do reservatório

Penedo apontaram tendência à alcalinidade (9,14 ± 0,1),

temperatura elevada (27,5 ± 0,5) e baixa salinidade

(0,17 ± 0,0). Visualmente a água do açude apresentava

coloração escura, próxima ao marrom. Porém, relatos

dos populares e do funcionário da ETA- Penedo da

Cagece apontam florescimento de algas nas semanas

anteriores, conferindo coloração esverdeada e

dificuldades no tratamento da água.

4 CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES

As evidências identificadas na mortandade de peixes

ocorrida no reservatório Penedo durante o período de 04

a 10 de outubro de 2012, conduzem a depleção de

oxigênio dissolvido como a principal causa da morte

dos indivíduos.

A sensibilidade de muitas espécies a concentrações de

oxigênio não permitem valores abaixo de 4 mg/L,

resultando em mortandades massivas, principalmente

durante períodos da madrugada e para espécies de maior

porte.

As condições ambientais do açude Penedo apontam a

degradação da qualidade da água, possivelmente

condicionada pela forma de uso e ocupação da área de

entorno da bacia hidráulica do reservatório.

A agricultura e a pecuária são atividades potencialmente

poluentes devido ao aporte de nutrientes, nitrogênio e

fósforo, oriundos da matéria orgânica e fertilizantes

utilizados em seus processos produtivos.

Os efeitos deste aporte já podem ser observados no

comportamento limnológico do Penedo, seja pelo

florescimento de algas ou pelos baixos índices de

oxigênio dissolvido.

Desta forma, recomendam-se fortemente ações que

mitiguem ou reduzam os impactos decorrentes das

pressões humanas ao longo da bacia hidrográfica

contribuinte para o açude Penedo, sobre a possibilidade

de possíveis prejuízos aos múltilpos usos de suas águas.

Com relação à mortandade dos peixes recorrentes, em

médioe longo prazo um plano de manejo do reservatório

e o controle das fontes poluentes podem reduzir estas

ocorrências, uma vez que ações de curto prazo são

inviáveis em corpos hídricos com significativa área de

extensão.

Por fim, recomenda-se o não consumo dos peixes

afetados durante a mortandade, por uma questão de

higiene e saúde pública, uma vez que o pescado possui

curto período de degradação e também facilidade de

contaminação quando sujeitos às condições estressantes.

5 APÊNDICE

Fotos registradas durante a investigação no Penedo.

0

1

2

3

4

0 1 2 3 4 5

Oxigênio D isso lvido (mg/ L)

P1

P2

P3