nossa américa: as duas faces das ong’s
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Nossa América: as duas faces das ONG’S Comentaristas e intelectuais mostraram-se surpresos quando muitos líderes e ativistas de organizações não governamentais (ONG’S) se uniram à campanha eleitoral de Vicente Fox1 e, com sua vitória, esperam receber cargos dentro de seu novo governo. A idéia de que líderes “progressistas” das ONG’s se unam a um regime abertamente partidário do “livre mercado” parece estranha. Não obstante uma análise mais profunda da história e dos antecedentes de funcionários de ONG’s na América Latina, assim como de suas ideologias e vínculos com doadores externos, poderia haver profetizado este cenário.
Na transição ocorrida na política eleitoral do Chile, Bolívia, Argentina e América Central, numerosos líderes de ONG’s se aliaram a regimes neoliberais que utilizaram suas experiências organizacionais e retóricas progressistas para controlar protestos populares e solapar movimentos de classes sociais.
Desde o início da década de 80, as classes dominantes neoliberais, junto com o governo dos Estados Unidos e governos europeus, se asseguraram de que as políticas do “livre mercado” estavam polarizando as sociedades na América Latina. Mediante fundações privadas e fundos estatais, começaram a financiar as ONG’s, as mesmas que expressavam uma ideologia contra o estado e promoviam a “auto-ajuda”. Ao final deste milênio, existem umas 100 mil ONG’s em todo o mundo que recebem cerca de 10 milhões de dólares e competem com os movimentos sociopolíticos pela lealdade das comunidades militantes.
Ainda que as ONG’s tenham denunciado violações aos direitos humanos, raras vezes denunciam seus benfeitores da Europa e dos EUA. À medida que aumentou a oposição ao neoliberalismo, o Banco Mundial (BM) incrementou os donativos destinados às ONG’s.
O ponto fundamental de convergência entre as ONG’s e o BM era a repulsa de ambas entidades ao “estatismo”. Superficialmente, as ONG’s criticavam o Estado numa perspectiva de “esquerda” em defesa da “sociedade civil”, enquanto que criticavam o BM em nome do “mercado”.
Na realidade, o BM e os regimes neoliberais aproveitaram as ONG’s para minar o sistema de seguridade social estatal, utilizado-as e reduzido-as em meios de compensar as vítimas das políticas neoliberais.
Enquanto os regimes neoliberais diminuíam os níveis de vida e saqueavam a economia, fundaram-se as ONG’s para promover projetos de “auto-ajuda” que absorveriam, temporariamente, pequenos grupos de desempregados pobres, ao mesmo tempo em que recrutavam líderes locais.
As ONG’s se converteram no “rosto comunitário” do neoliberalismo e se relacionaram intimamente com os de cima e complementaram seu trabalho destrutivo. Quando os neoliberais transferiam lucrativas propriedades estatais, privatizando-as para os ricos, as ONG’s não tomaram parte de uma resistência sindical. Ao contrário, mostraram-se ativas na elaboração de projetos privados, promovendo o discurso da iniciativa privada (“auto-ajuda”) ao tratarem de fomentar as microempresas nas comunidades pobres.
As ONG’s criaram pontes ideológicas entre pequenos capitalistas e os monopólios que se beneficiaram das privatizações – tudo em nome do anti-estatismo e da construção da sociedade civil.
Enquanto os ricos criavam vastos impérios financeiros a partir das privatizações, profissionais de classe média que trabalhavam com as ONG’s recebiam pequenos fundos para financiar seus escritórios, seus gastos com transportes e suas atividades para promover atividades econômicas de pequena escala.
O importante aqui é que as ONG’s despolitizaram setores da população, ignoraram seus compromissos para com atividades do setor público e se aproveitaram de lideres sociais potenciais para a realização de projetos econômicos pequenos.
Na realidade as ONG’s não são não-governamentais. Recebem doações de governos estrangeiros ou funcionam como agências subcontratadas por governos locais. Igualmente importante é o fato de que seus programas não são qualificados pelas comunidades a quem ajudam, e sim pelos financiadores estrangeiros. É neste sentido que as ONG’s sabotam a democracia, ao arrancar programas sociais das mãos das comunidades e de seus líderes oficiais, para criar dependência a cargos de funcionários não eleitos, provenientes do exterior, que escolhem e ungem seus interlocutores locais.
A ideologia das ONG’s quanto a suas atividades privadas e voluntárias destrói o sentido de “público”; a idéia de que o governo tem a obrigação de representar a todos seus cidadãos. Contra esta noção de responsabilidade pública, as ONG’s fomentam a idéia neoliberal de uma responsabilidade privada para com os problemas sociais e a importância dos recursos para resolver estes problemas.
Dessa forma, as ONG’s impõem uma dupla carga sobre os pobres: o pagar impostos para financiar um Estado neoliberal que serve aos ricos e a auto-explorar-se de maneira privada para satisfazer suas próprias necessidades.
Muitos dos líderes e militantes das ONG’s são ex-marxistas ou “pós-marxistas”, que tomam emprestado muito da retórica ligada a “dar poder ao povo”, “o poder popular”, “a igualdade de gênero” e o “governo das bases com o único que tem legitimidade”, enquanto distanciam a luta social das condições que marcam a vida das pessoas. As ONG’s, se converteram em um veículo organizado que permite a mobilidade social ascendente para desempregados ou professores ex-esquerdistas mal pagos.
O linguajar progressista disfarça o núcleo conservador das práticas das ONG’s, tem sempre que ver com “dar poder”, porém os esforços destes organismos raras vezes vão além de uma influência em pequenas áreas da vida social, utilizando os recursos limitados e sempre dentro das condições permitidas pelo Estado neoliberal. No lugar de dar educação pública sobre a natureza do imperialismo e sobre as bases clássicas do neoliberalismo, as ONG’s discutem sobre “os excluídos”, “os indefesos” e “a extrema pobreza”, sem jamais passar de seus sintomas superficiais para analisar o sistema social que produz essas condições.
Ao incorporar os pobres na economia neoliberal através de ações voluntárias que são exclusivamente da iniciativa privada, as ONG’s criam um mundo em que a aparência de uma solidariedade e ações sociais oculta uma conformidade com as estruturas nacionais e internacionais de poder.
Não é por acaso que as ONG’s têm-se convertido em entidades dominantes em certas regiões onde as ações políticas independentes têm decaído e o neoliberalismo rege sem oposição alguma.
A conversão de líderes das ONG’s, de porta-bandeiras do “poder popular” a simpatizantes do presidente conservador eleito, Vicente Fox, é, portanto, perfeitamente compreensível.
Os funcionários das ONG’s proporcionam a retórica “populista” em torno da sociedade civil que legitimam as políticas do livre mercado. Em troca, suas nomeações como funcionários governamentais satisfazem suas ambições de mobilidade e ascensão social.
Para os ex-esquerdistas, o anti-estatismo é a passagem que lhes concederá trânsito ideológico da política de classes e do desenvolvimento comunitário para o neoliberalismo. Para os intelectuais críticos, o problema não é só o neoliberalismo do “livre mercado” que vem das cúpulas, mas também o neoliberalismo da “sociedade civil”, que provém de baixo.
James Petras é do Departamento de sociologia da Universidade de Binghamton, em Nova York/EUA (1) Vicente Fox, presidente do México, eleito recentemente.
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O ESQUEMA DA CORRUPÇÃO NO MUNDO DA GLOBALIZAÇÃO CAPITALISTA
Empresas Corporativas (Setor PRIVADO)
contratam
Lobbistas
que corrompem
Vereadores, deputados e senadores; Juízes;
Governantes em geral (Setor PÚBLICO)
que reprimem e enquadram na política neoliberal
os...
Funcionários públicos
...........................................................................
Duas formas de luta contra a corrupção:
Combate à corrupção proposto pela grande
mídia (Globo, etc.):
propõe o combate aos corruptos (os governos)
X
Movimento Occupy Wall Street (EEUU):
propõe o combate aos corruptores (os grandes
conglomerados capitalistas)
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Segunda-feira, 6 de Agosto de 2012
Opinião: QUE SE LIXE O EMPREENDEDORISMO...
Imagem: http://ministeriodacontrapropaganda.wordpress.com/
Num episódio recente do programa Prós e Contras a apresentadora Fátima Campos Ferreira, rodeada de empresários, defendia que os jovens portugueses deviam voltar a "lançar as caravelas ao mar". Também nas suas palestras de domesticação dos trabalhadores mais novos, Carlos Coelho, e o seu pupilo Miguel Gonçalves, nunca hesitam em recuperar a propaganda fascista do Estado Novo: a alusão aos Descobrimentos é uma constante. É constrangedor que no momento em que ocorre uma das maiores transferências de rendimentos do trabalho para o capital, estes "empreendedores" defendam a adesão a um revisionismo de cariz neocolonialista que tem na exploração dos povos autóctones o seu centro ideológico. Em visita aos auditórios onde estudantes despolitizados ensaiam coreografias para os receber em claque, vendem a ilusão de que desde que inspirados pelas "conquistas" de Vasco da Gama todos os jovens podem criar modelos de negócio, dobrando dessa forma o cabo das tormentas representado pelo desemprego e a precariedade generalizada cada vez mais evidentes. A adesão aos discursos do empreendedorismo não têm como causa única o processo de despolitização imposto a vários sectores da sociedade. Como refere João Valente Aguiar "(...) os apelos ao empreendedorismo muito em voga a partir das últimas governações PS/Sócrates e PSD/CDS de Passos Coelho e Portas não são mero sound-byte. Em sectores da classe trabalhadora (sobretudo nos países desenvolvidos) existe inclusivamente um forte comprometimento pessoal e identitário com os intentos das empresas em criar novas mercadorias e novos serviços. Nas tarefas mais criativas
e onde o recurso intelectual tem uma componente mais marcada, é muito fácil encontrar jovens trabalhadores que literalmente adoram trabalhar em regimes de free lance, a projeto ou com uma grande flexibilidade no trabalho e nos horários. E neste ponto o capitalismo tem sido extremamente eficaz em conseguir que boa parte dos sectores mais jovens, mais dinâmicos e mais qualificados da classe trabalhadora se identifique com a dinâmica organizacional capitalista." A assimilação da ideologia do “empreendedorismo”, se em parte pode ser justificada pelo processo de despolitização ocorrido, deve também ser interpretada à luz do que foi o desenvolvimento dos modos de produção. Se o antagonismo entre trabalho e capital ainda se mantém, a imagem de uma maioria de operários fabris a lutar contra capitalistas de cartola ganha contornos de caricatura quando mobilizada para analisar a realidade presente. O “empreendedorismo” está na lista das “palavras e expressões que nos governam”. Sendo esta uma lista que se encontra em disputa constante, não há nenhum fatalismo determinista que garanta que teremos que aturar a propaganda do “empreendedorismo” ad eternum. É certo que sempre que a classe dominante espirra, parte considerável da vox pop fica constipada. Façamos do debate de ideias o paracetamol contra-hegemônico indicado. O “empreendedorismo” é o projeto de uma sociedade composta exclusivamente por empresários. Nesse modelo, todos competem entre si, deixando espaço zero para qualquer ideia de solidariedade. Quem defende o “empreendedorismo” sabe da impossibilidade de colocar em prática uma sociedade composta exclusivamente por empresários. Afinal que tipo de contrato social poderia resistir a uma sociedade em que todos estão contra todos? Quem opta por advogar esta ideia, fá-lo não porque acredite na ideia per si, mas porque ela é a cunha que permite validar um programa político mais vasto. O primeiro objetivo desse programa político é negar de forma velada a existência de uma luta de classes. Se governantes mais hábeis como Paulo Portas negam a luta de classes sem qualquer pejo, o “empreendedorismo” possibilita que de forma dissimulada outras pessoas assumam posição semelhante. Como segundo objetivo, este programa político pretende fomentar o crescimento do número de pessoas que não se revê na categoria de trabalhador. Isto materializa-se numa das ideias que está subjacente ao “empreendedorismo”, a ideia de que ser trabalhador assalariado é hoje uma opção. É uma ilusão. Ser ou não ser trabalhador assalariado não é nem nunca foi uma
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escolha, é algo que deriva de uma posição de classe que a sociedade impõe aos indivíduos. O triunfo desta ideia de que ser trabalhador é uma opção, é um espaço político que se abre para ações de degradação da legislação laboral. Os milhares de trabalhadores que não se consideram como tal mais dificilmente estarão disponíveis para defender os direitos associados ao trabalho. Acreditando que podem ascender à categoria de empresário desde que assim o queiram, pouca consciência terão de que as constantes alterações às leis laborais têm impactos diretos nas suas vidas. É por isso menor a probabilidade de se constituírem enquanto sector de resistência. É esclarecedor o exemplo do “empreendedor” isolado que não compreende os benefícios associados aos cada vez mais raros contratos coletivos de trabalho. O terceiro objetivo deste programa político é o de desresponsabilizar os governos pelos fracassos registrados nas políticas de combate ao desemprego. Se a ideia que prevalece é a de que em qualquer circunstância cada pessoa se pode constituir enquanto empresário, a culpa do desemprego deixa de ser dos governos que não adotaram as medidas necessárias para criar emprego, e é transferida para os trabalhadores desempregados que se recusam a ser “empreendedores”. Com vista a baixar os números nas estatísticas do desemprego, existiram políticas concretas no sentido de transferir aquilo que deve ser a responsabilidade coletiva para um plano meramente individual. Muitos trabalhadores desempregados foram persuadidos pelo o IEFP a investir a totalidade do seu subsídio de desemprego em "projetos empreendedores". Acontece que o “empreendedorismo”, embora possa ter efeitos momentâneos nas estatísticas, em si mesmo não é uma medida concreta de combate ao desemprego. A taxa de desemprego não parou de aumentar, isso conduziu a uma queda do consumo, fazendo com que só uma minoria dessas empresas "empreendedoras" tenha sobrevivido. Estas pessoas acumulam hoje a condição inicial de trabalhador desempregado com a de empresário falido. O subsídio de desemprego foi-se. No seu lugar ficaram as dívidas da empresa "empreendedora" Importa dizer que a desconstrução do “empreendedorismo” deve sempre basear-se numa análise estrutural, e não em juízos morais que incidam sobre os trabalhadores que avançam com projetos próprios. Ao vendedor de cupcakes (NDE - 'pequeno bolo designado para servir uma única pessoa'. Wikipédia) não se devem atribuir culpas, pelo contrário deverá ser apoiado. Ao “vendedor de cupcakes” apenas se pode exigir que entenda porque foi relegado para essa posição social, e que já agora tenha um discurso
crítico relativamente à forma como a sociedade se encontra estratificada. Mas o que significa por exemplo dizer que um trabalhador de uma área criativa se tornou num empreendedor? A ideologia do "empreendedorismo" é uma faceta do neoliberalismo mais extremista, é dizer que todas as esferas da vida devem ser mercantilizadas. Todas as subjetividades individuais, toda a "poesia", tem de obrigatoriamente entrar no mercado de bens. Não deverá sobrar um único espaço da vida de cada um e de todos que não seja colonizado por esta lógica. Este é o quarto ponto do programa político do “empreendedorismo”, e que de certa forma engloba os três primeiros pontos: vincar a mensagem de que tudo, sem exceções, deverá ficar sujeito à lei da oferta e da procura. Nem mesmo as subjetividades individuais podem ficar de fora. E se uma sociedade passa a aceitar que nada escape à lei do mercado, a tarefa de quem tem por interesse desmantelar o Estado social fica facilitada. A saúde, a educação ou a segurança social entrarão mais rapidamente na espiral das privatizações. Direitos que foram de todos transformar-se-ão em serviços só para alguns. A proteção social que foi bem comum, passará a estar acessível apenas àqueles por ela poderem pagar mais. O “empreendedorismo” é muito mais do que uma converseta inofensiva proveniente dos sectores aliados ao patronato. Esconde por trás um programa político de grande violência social, programa que já começou a ser posto em prática. Se existe área onde vai ser preciso empreender e inovar é nas formas de luta e resistência. Rafael Rostom
Extraído de http://www.precariosinflexiveis.org/2012/08/opiniao-que-se-lixe-o-empreendedorismo.html
LAMENTÁVEL!
'SEBRAE Inove' - Carreiras e Negócios
O movimento empreendedor ganha força na UERJ com a parceria entre a Incubadora Phoenix e as Empresas Juniores.
A Incubadora Phoenix e a Aliança Junior, grupo formado pelas Empresas Juniores ligada às faculdades de Engenharia, Administração e Economia da UERJ, firmaram uma parceria de apoio técnico para estimular a interação entre alunos e empresas incubadas com foco no desenvolvimento empreendedor, através da realização do curso SEBRAE Inove – Carreiras e Negócios. Este curso é voltado à capacitação dos novos e antigos membros das Empresas juniores interessados em despertar seu lado criativo e empreendedor.
A Incubadora Phoenix felicita à Hydros, Iniciativa e Economus pela parceria e aposta nos frutos oriundos deste encontro.
OBS: Há Incubadoras de empresas também na UFRJ (desenvolvidas pela Coppe) e na UFF, onde, em outubro de 2012, se encontra em processo de reestruturação
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O PRISM e a ascensão de um novo fascismo
por John Pilger
No seu livro, Propaganda, publicado em 1928,
Edward Bernays escreveu: "A manipulação consciente
e inteligente dos hábitos organizados e das opiniões
das massas é um elemento importante na sociedade
democrática. Aqueles que manipulam este
mecanismo que não se vê da sociedade constituem
um governo invisível, o qual é o verdadeiro poder
dominante no nosso país".
Bernays, o sobrinho americano de Sigmund Freud,
inventou a expressão "relações públicas" como um
eufemismo para propaganda de estado. Ele advertiu
que seria uma ameaça permanente ao governo
invisível aqueles que dizem a verdade e um público
esclarecido.
Em 1971, Daniel Ellsberg trouxe a público os arquivos
do governo estadunidense conhecidos como "The
Pentagon Papers", revelando que a invasão do Vietnã
fora baseada numa mentira sistemática. Quatro anos
depois, Frank Church dirigiu audiências sensacionais
no Senado dos EUA: um dos últimos lampejos da
democracia americana. Estas puseram a nu a plena
extensão do governo invisível: a espionagem e
subversão internas e a provocação de guerra pelas
agências de inteligência e "segurança", bem como o
apoio que recebiam do big business e dos media,
tanto conservadores como liberais.
Ao referir-se à Agência de Segurança Nacional (NSA,
na sigla em inglês), o senador Church afirmou: "Sei da
capacidade que há para instaurar tirania na América e
devemos verificar que esta agência e todas as
agências que possuem esta tecnologia operem dentro
da lei... de modo a que nunca cruzemos esse abismo.
Trata-se do abismo do qual não há retorno".
Em 11 de Junho de 2013, seguindo no Guardian as
revelações de Edward Snowden, contratado pela NSA,
Daniel Ellsberg escreveu que os EUA agora caíram
dentro "daquele abismo".
A revelação de Snowden, de que Washington utilizou
a Google, o Facebook, a Apple e outros gigantes da
tecnologia para espionar quase toda a gente, é uma
nova evidência da forma moderna de fascismo – esse
é o "abismo". Tendo alimentado fascistas tradicionais
por todo o mundo – desde a América Latina à África e
à Indonésia – o gênio libertou-se e voltou para casa.
Entender isto é tão importante quanto entender o
abuso criminoso da tecnologia.
Fred Branfman, que revelou a destruição "secreta" do
pequeno Laos pela US Air Force nas décadas de 1960
e 70, proporciona uma resposta àqueles que ainda se
admiram como um presidente afro-americano, um
professor de direito constitucional, pode comandar
tamanha ilegalidade. "Sob o sr. Obama", escreveu ele,
"nenhum presidente fez mais para criar a
infraestrutura para um possível futuro estado
policial". Por que? Porque Obama, tal como George
W. Bush, entende que o seu papel não é satisfazer
aqueles que nele votaram, mas sim expandir "a mais
poderosa instituição da história do mundo, uma
instituição que matou, feriu ou privou de lar bem mais
de 20 milhões de seres humanos, principalmente civis,
desde 1962".
No novo ciber-poder americano, só as portas
giratórias mudaram. O diretor da Google Ideas, Jared
Cohen, era conselheiro de Condaleeza Rice, a antiga
secretária de Estado na administração Bush que
mentiu quando disse que Saddam Hussein podia
atacar os EUA com armas nucleares. Cohen e o
presidente executivo da Google, Eric Schmidt – eles
encontraram-se nas ruínas do Iraque – escreveram
um livro em coautoria, "The New Digital Age",
apresentado como visionário pelo antigo diretor da
CIA Michael Hayden e pelos criminosos de guerra
Henry Kissinger e Tony Blair. Os autores não
mencionam o programa de espionagem "Prism",
revelado por Edward Snowden, que proporciona à
NSA acesso a todos nós que utilizamos o Google.
Controle e domínio são as duas palavras que dão o
sentido disto. São exercidos através de planos
políticos, econômicos e militares, entre os quais a
vigilância em massa é uma parte essencial, mas
também pela propaganda insinuante na consciência
pública. Este era o ponto de Edward Bernay. As suas
duas campanhas de RP com mais êxito foram
convencer os americanos que deveriam ir à guerra em
1917 e persuadir as mulheres a fumarem em público;
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os cigarros eram "archotes da liberdade" que
acelerariam a libertação da mulher.
É na cultura popular que o "ideal" fraudulento da
América como moralmente superior, como "líder do
mundo livre", tem sido mais eficaz. Mas, mesmo
durante os períodos mais patrioteiros de Hollywood
houve filmes excepcionais, como aqueles de Stanley
Kubrick no exílio e audaciosos filmes europeus que
encontravam distribuidores nos EUA. Nestes dias, não
há Kubrick, nem Strangelove e o mercado
estadunidense está quase fechado a filmes
estrangeiros.
Quando apresentei meu filme, "A guerra à
democracia" ("The War on Democracy" ), a um grande
distribuidor dos EUA de mentalidade liberal, recebi
uma lista de mudanças exigidas para "assegurar que o
filme fosse aceitável". A sua inesquecível cedência
para mim foi: "OK, talvez pudéssemos deixar Sean
Penn como narrador. Isso o satisfaria?" Ultimamente,
o filme de apologia da tortura "Zero Dark Thirty", de
Katherine Bigelow, e "We Steal Secrets", um trabalho
de machadinha contra Julian Assange, foram feitos
com o apoio generoso da Universal Studios, cuja
companhia-mãe até recentemente era a General
Electric. A GE fabrica armas, componentes para
aviões-caça e tecnologia avançada de vigilância. A
companhia também tem interesses lucrativos no
Iraque "libertado".
O poder dos que contam verdades, como Bradley
Manning, Julian Assange e Edward Snowde, é que eles
refutam toda uma mitologia construída
cuidadosamente pelo cinema corporativo, pela
academia corporativa e pela mídia corporativa. A
WikiLeaks é especialmente perigosa porque
proporciona aos que contam a verdade um meio para
a por cá fora. Isto foi conseguido em "Collateral
Murder", o vídeo filmado a partir da cabine de um
helicóptero Apache dos EUA que alegadamente foi
revelado por Bradley Manning. O impacto deste único
vídeo marcou Manning e Assange para a vingança do
Estado. Ali estavam pilotos dos EUA a assassinar
jornalistas e mutilar crianças numa rua de Bagdad, a
divertirem-se claramente com isso e a descrever a sua
atrocidade como "linda". Mas, num sentido vital, eles
não escaparam sem punição; somos agora
testemunhas e o que resta é para nos tramar.
20/Junho/2013
O original encontra-se em New Statesman e em
www.counterpunch.org/2013/06/21/prism-and-the-
rise-of-a-new-fascism/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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Um novo ciclo de lutas
populares?
Por Atilio Boron
Esta visão, não só equivocada como profundamente
reacionária (e quase sempre racista) ficou em frangalhos
nestes dias, o que revela a curta memória histórica e o
perigoso autismo da classe dominante e seus
representantes políticos que esqueceram que o povo
brasileiro soube ser protagonista de grandes jornadas de
luta e que seus períodos de quietismo e passividade
alternaram com episódios de súbita mobilização que
rebaixaram os estreitos marcos oligárquicos de um estado
apenas superficialmente democrático. Basta recordar as
multitudinárias mobilizações populares que impulsionaram
a eleição direta para presidente em começos dos anos
oitentas; as que precipitaram a renúncia de Fernando Collor
de Melo em 1992 e a onda ascendente de lutas populares
que tornaram possível o triunfo de Lula em 2002. O
quietismo posterior, fomentado por um governo que optou
por governar com e para os ricos e poderosos, criou a
errônea impressão de que a expansão do consumo de um
amplo estrato do universo popular era suficiente para
garantir indefinidamente o consenso social. Uma péssima
sociologia se combinou com a traidora arrogância de uma
tecnocracia estatal que ao embotar a memória fez com que
os acontecimentos desta semana fossem tão
surpreendentes como um raio num dia de céu claro. A
surpresa emudeceu uma direção política de discurso fácil e
enigmático, que não podia compreender - e muito menos
conter - o tsunami político que irrompia nada menos que e,
meio às pompas futebolísticas da Copa das Confederações.
Foi notável a lentidão da resposta governamental, desde as
prefeituras municipais até os governos estaduais e o
próprio governo federal.
Opinólogos e analistas adscritos ao governo insistem agora
em colocar na lupa estas manifestações, assinalando seu
caráter caótico, sua falta de liderança, a ausência de um
projeto político de mudança. Seria melhor que em lugar de
exaltar as virtudes de um fantasioso “pós-neoliberalismo”
de Brasília e de pensar que o ocorrido tem a ver com a falta
de políticas governamentais para um novo ator social, a
juventude, dirigissem seu olhar para os déficits da gestão
governativa do PT e seus aliados num amplo leque de
temas cruciais para o bem-estar da cidadania. Supor que os
protestos foram causados pelo aumento de 20 centavos de
real no transporte público de São Paulo é o mesmo que,
guardadas as devidas proporções, afirmar que a Revolução
Francesa se produziu porque, como é sabido, algumas
padarias da zona da Bastilha haviam aumentado em alguns
poucos centavos o preço do pão. Confundem estes
propagandistas o detonante da rebelião popular com as
causas profundas que a provoca, que dizem respeito à
enorme dívida social da democracia brasileira, apenas
atenuada nos últimos anos do governo Lula. A gota d'água,
o aumento no preço da passagem do transporte urbano,
teve eficácia porque segundo alguns cálculos para um
trabalhador que ganha apenas o salário mínimo em São
Paulo o custo diário do deslocamento para o seu trabalho
equivale a pouco mais da quarta parte de sua receita. Mas
isto só pode desencadear a onda de protestos porque se
combinou com a péssima situação dos serviços de saúde
pública; o viés classista e racista do acesso à educação; a
corrupção governamental (um indicador: a presidenta
Dilma Rousseff trocou vários ministros por este motivo), a
ferocidade repressiva imprópria de um estado que se
reclama como democrático e a arrogância tecnocrática dos
governantes, em todos os seus níveis, ante as demandas
populares que deixam de ser ouvidas sistematicamente:
caso da reforma da previdência social, ou da paralisada
Reforma Agrária ou as reivindicações dos povos originários
contra as construções de grandes represas na Amazônia.
Com estas questões pendentes, falar de “pós-
neoliberalismo” revela, no melhor dos casos, indolência ou
fraqueza de espírito crítico; no pior dos casos, uma
deplorável submissão incondicional ao discurso oficial.
À explosiva combinação assinalada mais acima há que se
somar o crescente abismo que separa o comum da
cidadania da partidocracia governante, incessante tecedora
de toda sorte de inescrupulosas alianças e transformismos,
que burlam a vontade do eleitorado sacrificando
identidades partidárias e destacamentos ideológicos. Não é
por acaso que todas as manifestações expressavam seu
repúdio aos partidos políticos. Um indicador do custo
fenomenal dessa partidocracia –que tira recursos do erário
público que poderiam destinar-se à investimento social-
está dado pelo que no Brasil se denomina de Fundo
Partidário, que financia a manutenção de uma maquinaria
meramente eleitoral e que nada tem a ver com esse
"príncipe coletivo", sintetizador da vontade nacional-
popular do qual falara Antonio Gramsci. Um só dado será
suficiente: apesar de que a população exige
infrutuosamente maiores pressupostos para melhorar os
serviços básicos que fazem a qualidade da democracia, o
mencionado fundo passou de distribuir R$ 729 mil em 1994
à ninharia de R$ 350 milhões de reais em 2012, e está por
acrescentar ainda mais neste ano em curso (2013). Essa
enorme cifra fala com eloquência do hiato que separa
representantes de representados: nem os salários reais
nem a inversão social em saúde, educação, moradia e
transporte tiveram a prodigiosa progressão experimentada
por uma casta política completamente separada de seu
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povo e que não vive para a política senão que vive, e muito
bem, da política e às custas de seu próprio povo.
Isso é tudo? Não, há algo mais que provocou a fúria cidadã.
O exorbitante custo em que incorreu Brasília a conta de
uma absurda “política de prestígio” encaminhada a
converter o Brasil num “jogador global” na política
internacional. A Copa do Mundo da FIFA e os Jogos
Olímpicos exigirão enormes desembolsos em dinheiro, que
poderiam ter sido utilizados mais proveitosamente na
solução de velhos problemas que afetam às classes
populares. É salutar recordar que o México não apenas
organizou um senão duas Copas do Mundo (uma em 1970 e
outra em 1986) e os Jogos Olímpicos de 1968. Nenhum
destes grandes eventos converteu o México num jogador
global da política mundial: mas, sim, serviram para ocultar
os problemas reais que irromperiam com toda força na
década dos noventas e que perduram até o dia de hoje.
Segundo a lei aprovada pelo congresso brasileiro, a Copa do
Mundo dispõe de um orçamento inicial de 13,6 bilhões de
dólares, que seguramente aumentará, à medida que se
aproxime a inauguração do evento, e se estima que os
Jogos Olímpicos demandarão dos cofres públicos uma cifra
ainda maior. Convém aqui recordar uma frase de Adam
Smith, quando dizía que “o que é imprudência e loucura no
manejo das finanças familiares não pode ser
responsabilidade e sensatez no manejo das finanças do
reino”. Quem em seu lar não dispõe de recursos suficientes
para garantir saúde, educação e adequada moradia para
sua família não pode ser elogiado quando gasta o que não
tem numa festa muitíssimo custosa.
A dimensão deste despropósito se torna evidente, como
observa com perspicácia o sociólogo e economista
brasileiro Carlos Eduardo Martins, quando se compara o
custo do programa “Bolsa Familia”, R$ 20 bilhões, com o
custo do pagamento da dívida pública: R$ 240 bilhões. Ou
seja, que em um ano os tubarões financeiros do Brasil e do
exterior, crianças mimadas do governo, recebem como
compensação a seus fraudulentos empréstimos o
equivalente a doze Projetos “Bolsa Familia” por ano.
Segundo um estudo da Auditoria Cidadã da Dívida, no ano
2012 o desembolso em taxas e amortizações da dívida
pública somou 47,2% do orçamento nacional; em
contraposição, se dedicou à saúde pública 3,9%, para a
educação 3,2% e para o transporte 1,2%. Com isso não se
quer diminuir a importância do programa “Bolsa Família”
senão ressaltar a escandalosa gravitação da sangria
originada por uma dívida pública -ilegítima até a medula-
que tem feito dos banqueiros e especuladores financeiros
os principais beneficiários da democracia brasileira ou, mais
precisamente, da plutocracia reinante no Brasil. Por isso
tem razão Martins quando observa que a dimensão da crise
exige algo mais que reuniões de gabinete e conversações
com alguns líderes dos movimentos sociais organizados.
Propõe, em troca, a realização de um plebiscito para uma
reforma constitucional que corte os poderes da
partidocracia e transfira poderes de verdade à cidadania;
ou para derrogar a lei de auto-anistia da ditadura; ou para
realizar uma auditoria integral sobre a obscura gênese da
escandalosa dívida pública (como fez Rafael Correa no
Equador). Agrega também que não basta dizer que 100%
dos royalties que origina a exploração da enorme jazida
petrolífera do Pré-Sal serão dedicados, como declarou
Dilma Rousseff, à educação, na medida em que não se diga
que proporção o estado captará das empresas petrolíferas.
Na Venezuela e Equador o estado retém através dos
royalties entre 80 e 85% do que é produzido na boca do
poço. E no Brasil quem fixará essa porcentagem? O
mercado? Por que no estabelecê-lo mediante uma
democrática consulta popular?
De tudo que foi dito anteriormente, pode-se inferir que é
impossível reduzir a causa do protesto popular no Brasil a
uma eclosão juvenil. É prematuro prever qual será o futuro
destas manifestações, mas de algo estamos seguros. O
“¡Que se vayan todos!” da Argentina de 2001-2002 não
pode se constituir como uma alternativa de poder, mas
pelo menos assinalou os limites que nenhum governo
poderia voltar a transpor sem correr o risco de ser
derrocado por uma nova insurgência popular. Mais ainda,
as grandes mobilizações populares na Bolívia e Equador
demonstraram que suas fraquezas e sua falta de
organicidade -como as que hoje acontecem no Brasil- não
impediram a derrubada de governantes que só faziam favor
aos ricos. As massas que saíram ás ruas em mais de cem
cidades brasileiras tal vez não saibam aonde vão, porém em
sua marcha podem acabar com um governo que
claramente elegeu se colocar a serviço do capital. Brasília
faria muito bem se olhasse para o ocorrido nos países
vizinhos e tomar nota desta lição que pressagia crescentes
níveis de ingovernabilidade se persistir em sua aliança com
a direita, com os monopólios, com o agronegócio, com o
capital financeiro, onde os especuladores promovem a
vampiragem do orçamento público do Brasil. A única saída
para tudo isso é pela esquerda, potencializando não no
discurso, mas através de fatos concretos, o protagonismo
popular e adotando políticas coerentes e um novo sistema
de alianças. Não seria exagerado prognosticar que um novo
ciclo de ascensão das lutas populares estaria se iniciando
no gigante sul-americano. Se assim for, o mais provável
seria uma reorientação da política brasileira, o que seria
uma excelente notícia para a causa da emancipação do
Brasil e de toda Nuestra América.
Fuente: Rebelión
SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 3 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 9
Stephen King: “O capitalismo não demonstrou sua eficácia”
A prosperidade da Europa está chegando a seu fim com a
venda de suas propriedades, com o extremismo político e
outros indícios de um colapso iminente, opina o economista
Stephen King, chefe da HSBC, uma das maiores organizações
de serviços bancários e financeiros do mundo.
Em seu livro ‘Quando o dinheiro se acaba’ (When the Money
Runs Out), cujo capítulo foi publicado em exclusividade pelo
site russo finmarket.ru, o economista destaca que o capitalismo
não conseguiu demonstrar sua eficácia e que a história
econômica regressa às etapas já experimentadas em vários
países da Europa. Para demonstrar isso o autor cita vários
exemplos do passado.
Lições medievais não aprendidas
Faz muitos séculos, a gente também opinava que podia gastar
sem pensar em seu futuro. Durante muito tempo, o artigo mais
caro no orçamento foi o gasto militar. Apesar da ameaça de
crise econômica, os gastos de guerra não eram cortados, o que
no século XIV deu lugar a uma tremenda revolta camponesa, o
que se pode apreciar também na atualidade.
Hoje em dia os governos, acossados pela dívida, estão
decididos a introduzir programas de incentivos. Os protestos
em Atenas e Madrid se parecem surpreendentemente às
revoltas camponesas daquele período.
Venda do Ocidente
Se os bônus públicos e as divisas perdem seu valor, os
investidores tem que comprar ativos reais. Seguindo esta
lógica, se o Ocidente quer seguir vivendo acima de suas
possibilidades, terá que permitir aos estrangeiros que se
apodere do melhor, opina King.
A volta do extremismo político
A falta de crescimento, a perda de confiança ou a carga
desigual da austeridade são um coquetel perigoso, opina King,
que chama a recordar as sangrentas revoluções na França no
século XVIII, o antissemitismo na Alemanha no século XIX e a
ascensão do fascismo e do comunismo nas décadas de 1920 e
1930. Cada um destes eventos foi uma resposta a uma crise
econômica.
Fim da globalização
Culpar os outros dos problemas é uma reação previsível dos
políticos. Na história do mundo, este enfoque foi utilizado com
muita frequência. A crise na zona do euro também demonstra
isso. A Alemanha, acusada de manejar erradamente sua
própria economia; a Grécia, que por sua vez culpa os alemães
de aplicar duras medidas de austeridade. Por sua parte, o
Reino Unido acusa a toda a eurozona da impossibilidade de
restaurar o crescimento econômico. Agora, os países estão
começando a viver de acordo com o princípio do “salve-se
quem puder”, e aplicam uma política de protecionismo que se
manifesta no setor financeiro.
Que receita elegerá a Europa?
Segundo King, analisando a história da crise econômica, se
pode deduzir que as elites recorrerão a cinco formas diferentes
de recuperação da crise: culpar todo o mundo, admitir que elas
vivem acima de suas possibilidades, aplicar medidas de
austeridade mais severas, proteger-se contra os
especuladores, levar a cabo revoluções para derrocar à elite
governante. O futuro mostrará qual será a opção da Europa
desta vez.
O colapso da zona do euro
Durante a criação do chamado mercado único em 1992 a
moeda única parecia um passo natural. A crise financeira
demonstrou que, apesar da moeda comum, em momentos
difíceis os países sempre se guiam por seus próprios
interesses, o que põe em questão o futuro da zona do euro,
destaca o economista.
Governos sem confiança
Nos países democráticos os políticos tem medo de tomar uma
decisão impopular e não ser reeleitos. Por isso, simplesmente
adiam decisões com a esperança de que seus sucessores
resolvam todos os problemas. Mas, esta política tem suas
limitações, porque em algum momento os financiadores de
campanha dos políticos podem abandoná-los.
A desconfiança para com o dinheiro cresce
Com o tempo, uma política de empréstimos permanente pode
conduzir à perda da confiança no dinheiro, não só entre o
público em geral, senão também por parte dos credores
estrangeiros. Os temores serão suficientes para gerar um
rápido aumento dos preços, o que obrigará a população a se
desfazer de seu dinheiro. Como resultado, o dinheiro perderá
seu valor.
“O mundo pode haver chegado aos limites da globalização e
agora se situa no umbral de novas mudanças”, conclui o
economista.
_____________
(30/07/13 - Com informação do site Russia Today: www.rt.com)
SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 3 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 10
SOS, Snowden!
30 de julho de 2013
1. Em sua antiutopia 'Nós', Evgeny Zamiatin imagina um
mundo com arranha-céus cujas paredes, tetos e pisos
são de cristal e onde nenhum ato passa despercebido
para os demais. Em 1984, de George Orwell, há telas de
televisão inapagáveis que nos espionam. Vivemos essa
fábula: nenhum de nossos atos pode ser ocultado agora,
mas para observadores que nos escrutam por trás dos
espelhos impenetráveis 'saber é poder'. Os espiões
conhecem tudo de nossas chamadas telefônicas,
correios, contas bancárias, gastos, hábitos de consumo,
ideias, enfermidades, relações, localização. Este fluxo de
informação é unilateral.
Espionar é poder. Com o pretexto da guerra contra o
terrorismo caímos no terror total.
2. Desde o século XIX, todas as legislações garantem a
inviolabilidade da correspondência. Na atualidade,
governos e empresas não só se atribuem o direito de
conhecer o conteúdo das mensagens que circulam ou
interceptam: também o de utilizar, publicar e registrar os
dados obtidos. Facebook e outras redes sociais
pretendem ter a propriedade intelectual de quanto
circula nelas. É como se as companhias transportadoras
de repente se declarassem donas de toda a mercadoria
que colocam em movimento. Em sua corrida para
confiscar os meios de produção, o capitalismo confisca a
informação.
3. Para quê se aplica este controle? Uma manipulação
tão completa (total) ou totalitária da informação
permitiria erradicar o crime organizado, o mercado de
produtos danosos à saúde, o tráfico de armas, a
corrupção política, os delitos bancários, a evasão
tributária, o tráfico de pessoas, a exploração do
trabalho, a lavagem de dinheiro, os paraísos fiscais, o
monopólio dos alimentos, os falsos pretextos para as
guerras, tais como a suposta construção de armas de
destruição em massa. Se tais males persistem, é porque
a espionagem não as impede: as possibilita e assegura
sua impunidade. A espionagem não viola o segredo: cria
o segredo. Todos aqueles que criaram sistemas de
espionagem terminaram sendo seus prisioneiros. Após o
cristal impenetrável, presidentes, financistas, sicários são
mais espionados que nós.
4. O temor de revelar misérias domésticas levou a
burguesia a valorizar a privacidade. O medo da polícia
induz os revolucionários a não revelar 'nem a pau' seus
contatos. Hoje em dia nada se esconde. Todos aspiram
aos quinze minutos de fama (celebridade) que prometeu
Andy Warhol. O presidente Obama recomendou aos
jovens que tenham cautela com o que colocavam em
suas redes sociais. Mas o que revela esta espionagem
onipresente? Abrir páginas web é acessar vitrines
impudicas onde os usuários exibem desde pertences até
perversões. Um olhar crítico revela que o retrato do
usuário é o Photoshop, que suas supostas aquisições são
cortar (Ctrl+c) e colar (Ctrl+v), que sua lista de amigos
consta de centenas de pessoas que nem lhe conhecem.
O narcisismo digital infla os arquivos dos espiões com
terabytes de propriedades e relações inexistentes. Não
estamos tão longe assim do mundo fictício anunciado
em Matrix (The Matrix). Como suas vítimas, os espiões
informáticos vivem em um universo ilusório.
5. Em passados tempos turbulentos os revolucionários
deviam entrar na clandestinidade. A partir de hoje, toda
a humanidade deve fazê-lo. Isso requereria a prudência
mais elementar. Usar com limitação extrema os meios
de comunicação.
Disfarçar o que está sendo comunicado através deles.
Saber que sempre podemos estar ante um espião, ante
um microfone ou uma câmara. Ou, pelo contrário,
devemos atuar com a total liberdade e tranquilidade de
quem nada tem a esconder?
Uma pesquisa demonstrou que 67% dos estadunidenses
aprovam a revelação por parte de Snowden da
informação secreta do governo dos Estados Unidos.
Também confirma que essa maioria não aprova que se
esconda nem o conteúdo da informação. Os espiões e
seus sicários são um bando de inconstitucionais, ilegais,
antidemocráticos e ocultos (não transparentes).
Seu poder consiste em querer obrigar que todos se
ocultem. Que eles se escondam!
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Fonte: http://www.cubadebate.cu/opinion/2013/07/30/sos-snowden/
SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 3 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 11
Ensaio sobre o modo de produção capitalista
Em obra intitulada "O Capital: Crítica da Economia Política", Karl Marx, destrincha o mundo capitalista. E eis, a seguir, algumas conclusões a que chega. - Riqueza = "imensa acumulação de mercadorias". - Mercadoria (M) é a forma elementar dessa riqueza. 1. Os dois fatores da mercadoria: valor de uso e valor. -Mercadoria é algo que satisfaz uma necessidade humana (material ou espiritual) - tem valor de uso (substância). E é algo que, por sua utilidade, pode ser desejado (logo trocado) com outro alguém: M é algo que tem valor de troca (ou simplesmente valor). - Mas, para que troquemos coisas diferentes (linho produzido pelo tecelão por casaco produzido pelo alfaiate) elas precisam ter algo em comum. O que faz as mercadorias serem diferentes é o trabalho concreto do tecelão, do alfaiate, etc. que geram valores de uso diferentes. Mas se as mercadorias são trocadas é porque elas têm algo em comum. E o que as mercadorias possuem em comum? Resposta: Serem todas elas produtos do trabalho humano em geral ou trabalho abstrato. Ou seja: todas resultam do desgaste de energia, músculos e nervos humanos. E como se mede o trabalho abstrato? Por quantidade de trabalho. E como se mede o trabalho? Por certa quantidade de tempo (dias, horas, minutos, segundos).
Portanto: Quanto mais quantidade de tempo um produto precisa para ser produzido mais valor ele retém ou incorpora. Mas, cuidado! Isso é e não é assim. Pois o que dá valor a uma mercadoria é, a rigor, o tempo médio socialmente necessário para a sua produção. Assim, na sociedade capitalista, vende mais quem produz mais dentro de uma mesma medida de tempo. 2. Mas, as trocas evoluem! As trocas se operam dentro de uma dada equivalência. Assim:
20m de linho (2h) = 1 casaco (2h)
Já que, nesta quantidade, é que eles se igualam quanto à proporção de tempo necessário a sua produção (tempo de trabalho). Historicamente, as trocas se desenvolveram do Escambo (M - M) até a forma Dinheiro (M - D - M). Esta forma aparece por conta da intensa divisão do trabalho e pelo aumento da intenção em se produzir não para o consumo próprio, mas para o mercado de troca. Eis as fases identificadas por Marx: 1) Forma simples do valor; 2) Forma total ou extensiva do valor; 3) Forma geral do valor; e 4) Forma Dinheiro do valor. 3. O fetichismo da mercadoria: seu segredo Sobre este tema tão essencial, Marx afirma: "A mercadoria é misteriosa simplesmente por encobrir as características sociais do próprio trabalho dos homens". E continua: "Uma relação social definida, estabelecida entre os homens, assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. Para encontrar um símile, temos de recorrer à região
nebulosa da crença. Aí, os produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria, figuras autônomas que mantêm relações entre si e com o seres humanos. É o que ocorre com os produtos da mão humana, no mundo das mercadorias. Chamo a isto de fetichismo, que está sempre grudado aos produtos do trabalho, quando são gerados como mercadorias. É inseparável da produção de mercadorias".
"(...) O valor não traz escrito na fronte o que ele é. Longe disso, o valor transforma cada produto do trabalho num hieróglifo social. Mais tarde, os homens procuram decifrar o significado do hieróglifo, descobrir o segredo de sua própria criação social, pois a conversão dos objetos úteis em valores é, como a linguagem, um produto social dos homens". E diz ainda: "Até hoje nenhum químico descobriu valor de troca em pérolas ou diamantes".
Este conceito de "fetichismo da mercadoria" explica situações tais como: 1) O indivíduo se sente promovido de classe social ao adquirir um rolex ou tênis de R$ 1.000,00; 2) O indivíduo que compra uma moto de 1000 cilindradas e tira o silenciador e o capacete para que seja identificado como o "dono"; 3) qualquer mercadoria que adquiro com a esperança de curar meus "buracos no peito". 4. O processo de troca M - D - M subdivide-se em duas vontades ou necessidades opostas:
M - D (vender) >> para >> D - M (comprar), portanto a lógica do processo de troca é vender para comprar. O dinheiro serve, sobretudo, para fazer circular as mercadorias. Contudo, o dinheiro pode ser usado para outras finalidades, quais sejam: a) entesouramento; b) meio de pagamento; c) como dinheiro universal. 5. Como o dinheiro se transforma em capital Fórmula do capital: D - M - D'. Aqui, o objetivo é bem diferente: é comprar para vender. Diferente do processo de troca comum, que corresponde à troca de valores de mesma magnitude, a troca aqui só serve se for desigual, pois nenhum comerciante compra uma mercadoria a R$ 50 para vendê-la a R$ 50. Para fazer sentido (e se tornar capital), há que rever para algo como: R$ 50 - M - R$ 75, onde R$ 75 é D' (D inicial + ∆D ou 50 + 25), garantindo um lucro de R$ 25 (ou 50%). Compra e venda da força de trabalho (FT). A FT é a única mercadoria existente capaz de gerar mais valor (ou mais valia), pois que é o trabalhador (detentor da FT) a única força criadora, capaz de combinar o restante das forças produtivas (matérias-primas e ferramentas) dentro de um processo produtivo planejado. Burguesia x Proletariado. FT (Força de Trabalho) D - M -------------------------- P (produção)-------------------- P' - M' - D' MP (objetos de trabalho + meios de trabalho) 6. A produção da mais valia absoluta Mais valia é a quantidade de tempo (ou produtos ou dinheiro) que o trabalhador produziu, mas que não foi pago pelo patrão, que deste se apropriou. Exemplo:
Jornada de Trabalho (JT) = 8h
A - - - - B - - - - C 4h 4h
SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 3 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 12
AB = Tempo Necessário (para reprodução da vida; salário)
= 4h BC = Tempo Excedente (mais valia ou trabalho não pago) =
4h
Para se produzir mais valia absoluta, basta estender a jornada (JT). Vide exemplo:
Jornada de Trabalho (JT) = 10h
A - - - - B - - - - - - C 4h 6h
AB = Tempo Necessário (para reprodução da vida; salário) = 4h
BC = Tempo Excedente (mais valia ou trabalho não pago) = 6h
IMPLICAÇÕES: Luta da classe operária pela redução da JT.
7. Capital Constante (c) e Capital Variável (v) Capital Constante (c) - É o que foi gasto na compra de matérias-primas, ferramentas manuais e maquinário. Capital Variável (v) - É o montante total usado no pagamento de salários. Fórmula do Capital Inicial >> C = c + v Fórmula do Capital após a produção >> C = (c + v) + m 8. Taxa de mais valia Expressa o grau de exploração da força de trabalho (FT). Eis a fórmula: Taxa de mais valia = m/v Taxa de mais valia = TE/TN 9. A produção da mais valia relativa Se dá pela redução do TN (tempo necessário ao pagamento do salário) dentro da jornada de trabalho (JT) sem alterar a jornada de trabalho. Com isso, cresce relativamente o tempo excedente (a mais valia). A redução do TN se dá pelo aumento da produtividade (inserção de uma máquina mais complexa) ou da intensidade do trabalho (aumento do ritmo do trabalho). Efeito: Demissões de FT. Exemplo:
Jornada de Trabalho (JT) = 8h
A - - B - - - - - - C 2h 6h
AB = Tempo Necessário (para reprodução da vida; salário) = 2h
BC = Tempo Excedente (mais valia ou trabalho não pago) = 6h
10. Acumulação do capital Acumulação simples = D - M - D' ...... D - M - D'... Acumulação ampliada = D - M - D' ...... D' - M - D''... 11. Lei Geral da Acumulação Capitalista Burguesia x Proletariado (mais rica) (mais pobre) (menos gente) (mais gente) 12. Acumulação Primitiva de Capital É o processo de acumulação ilícito necessário à formação de capital inicial (dinheiro) que vai garantir a Revolução
Industrial inglesa, francesa e assim por diante. Eis alguns dos mecanismos criminosos adotados neste processo primitivo: 1) Contrabando; 2) Pirataria, roubos e assaltos; 3) Colonização; 4) Comércio de escravos; 5) Escravidão; 6) Guerras de pilhagem; 7) Superexploração assalariada; 8) Inflação. 12. Composição Orgânica do Capital (COC)
É a relação entre o capital constante (c) e o capital variável (v) e se expressa na fórmula: COC = c/v. Quanto maior a quantidade de capital constante (máquinas, tecnologias e matérias-primas) investido na produção, maior será a Composição Orgânica do Capital. Exemplo 1: COC = 1/10 (baixa COC) Exemplo 2: COC = 20/20 (média COC) Exemplo 3: COC = 100/10 (alta COC) 13. Tendência decrescente da Taxa de Lucro A razão que existe entre a mais valia e a totalidade do capital chama-se Taxa de Lucro. Ela pode ser expressa de duas formas, já que C= c + v. Taxa de Lucro = m/C Taxa de Lucro = m/c+v
Diante da forte concorrência entre os capitalistas e o processo de globalização desta concorrência, qualquer capitalista é levado a incrementar seus gastos com maquinaria (capital constante), elevando o grau de COC de sua indústria. Contudo, quanto mais faz isso, mais aumenta a sua produtividade e a capacidade criativa de sua indústria (exemplo: a robotização na indústria Toyota). Contudo, mais mercadorias produzidas pedem mais vendas.
Mas, atenção! A Lei Geral da Acumulação aumenta a pobreza no mundo. Isso força a obsolescência programada (produtos mais baratos e mais vagabundos) e o necessário sacrifício da natureza (via extração de recursos) e dos seres humanos. 14. Conclusão
Este foi um resumo abrangendo alguns aspectos que considero mais essenciais de "O Capital", de Karl Marx.
À guisa de conclusão, podemos observar o quanto Marx põe a nu os "mecanismos" de funcionamento do sistema capitalista. Mostra como o capital é refém de sua própria dinâmica, que parece reiniciar-se a cada crise, mas num grau de intensidade sempre crescente, sacrificante e inédito.
Marx, no livro 3, após demonstrar a tendência decrescente (e fatal, diria) da Taxa de Lucro, passa a estudar a dependência crescente do sistema para com o crédito, os bancos e o sistema financeiro. A tendência de queda da Taxa de Lucro é também a tendência ao sacrifício social, sobretudo do proletariado internacional, através da superexploração, das guerras sem ética, da quebra das leis naturais, sociais e individuais, da eliminação de direitos que se expressam pelo abuso de autoridade e na posse direta das funções de todo e qualquer tipo de Estado, numa autofagia sem limites. (Texto de Renato Fialho Jr.)
SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 3 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 13
NA TELINHA DA SUA CASA VOCÊ É CIDADÃO? - MÍDIA E CULTURA NO CAPITALISMO GLOBALIZADO
A partir da II Revolução Industrial no século XIX e da predominância das regras do mercado capitalista, as artes, a cultura e a mídia foram submetidas à ideologia da indústria cultural.
Ou seja, os produtos de criação da cultura dos homens foram submetidos à idéia de consumo, como produtos fabricados em série. As obras de arte se transformam em meras mercadorias, produtos de consumo, onde a maioria dos bens artísticos não são criados para a contemplação, para a busca do belo, e, sim, para a obtenção do lucro.
A indústria cultural massifica a cultura e as artes para o consumo rápido no mercado da moda e na mídia. Massificar é banalizar as artes e a produção das idéias e, também, vulgarizar os conhecimentos.
Marilena Chauí (1995) nos dá um exemplo disso afirmando:
"A indústria cultural vende cultura. Para vendê-la, deve seduzir e agradar o consumidor. Para seduzi-lo, não pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-lo pensar. Fazê-lo ter informações novas que perturbem, mas deve devolver-lhe, com nova aparência, o que ele já sabe, já viu, já fez".
Daí surgem as revistas de fofocas, o teclado, o MSN, os programas de TV sobre futilidades, os comerciais que tentam vender produtos sem qualidades, mas com ótima produção de marketing.
O poder da mídia - Expressão máxima da indústria cultural são os meios de comunicação de massa, ou mídia escrita ou eletrônica. Aqui vale destacar o poder da mídia enquanto manipulação, formação de opinião, infantilização e condicionamento de mentes e produção cultural do grotesco visando a despolitização. Essas características da mídia se expressam particularmente através da TV, rádio, jornais e revistas, que são de fácil acesso à grande maioria das pessoas.
Muitos estudiosos, jornalistas e políticos costumam dizer que a mídia - ou meios de comunicação de massa - representa um quarto poder (além dos poderes governamentais do judiciário, do legislativo e do executivo). Isto porque influencia comportamentos, opiniões e atitudes de forma constante e permanente.
Vejamos essa passagem do livro Convite à Filosofia, de Marilena Chauí (1995):
"Vale a pena, também, mencionar dois outros efeitos que a mídia produz em nossas mentes: a dispersão da atenção e a infantilização."
"Para atender aos interesses econômicos dos patrocinadores, a mídia divide a programação em blocos que duram de sete a dez minutos, cada bloco sendo interrompido pelos comerciais. Essa divisão do tempo nos leva a concentrar a atenção durante os sete ou dez
minutos de programa e a desconcentrá-la durante as pausas para a publicidade."
"Pouco a pouco isso se torna um hábito. Artistas de teatro afirmam que, durante um espetáculo, sentem o público ficar desatento a cada sete minutos. Professores observam que seus alunos perdem a atenção a cada dez minutos e só voltam a se concentrar após uma pausa que dão a si mesmos, como se dividissem a aula em 'programa' e 'comercial'."
"Ora, um dos resultados dessa mudança mental transparece quando criança e jovem tentam ler um livro: não conseguem ler mais do que sete a dez minutos de cada vez, não conseguem suportar a ausência de imagens e ilustrações no texto, não suportam a idéia de precisar ler 'um livro inteiro'. A atenção e a concentração, a capacidade de abstração intelectual e de exercício do pensamento foram destruídas. Como esperar que possam desejar e interessar-se pelas obras de artes e de pensamento?"
"Por ser um ramo da indústria cultural e, portanto, por ser fundamentalmente uma vendedora de cultura que precisa agradar o consumidor, a mídia infantiliza. Como isso acontece? Uma pessoa (criança ou não) é infantil quando não consegue suportar a distância temporal entre seu desejo e a satisfação dele. A criança é infantil justamente porque para ela o intervalo entre o desejo e a satisfação é intolerável (por isso a criança pequena chora tanto)."
"Ora, o que faz a mídia? Promete e oferece gratificação instantânea. Como o consegue? Criando em nós os desejos e oferecendo produtos (publicidade e programação) para satisfazê-los. O ouvinte que gira o dial do aparelho de rádio continuamente e o telespectador que muda continuamente de canal o fazem porque sabem que, em algum lugar, seu desejo será imediatamente satisfeito."
Além disso, como a programação se dirige ao que já sabemos e já gostamos, e como toma a cultura sob a forma de lazer e entretenimento, a mídia satisfaz, imediatamente nossos desejos porque não exige de nós atenção, pensamento, reflexão, crítica, perturbação de nossa sensibilidade e de nossa fantasia. Em suma, não nos pede o que as obras de arte e de pensamento nos pedem: trabalho sensorial e mental para compreendê-las, amá-las, criticá-las, superá-las. A cultura nos satisfaz se tivermos paciência para compreendê-la e decifrá-la. Exige maturidade. A mídia nos satisfaz porque nada nos pede, senão que permaneçamos para sempre infantis."
(Trecho extraído do livro: "Sociologia para jovens do século XXI", de OLIVEIRA, Luiz F. de & COSTA, Ricardo Cesar R. da)