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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE HISTÓRIA ELAINE RODRIGUES PATRIMONIO INDUSTRIAL: USOS, CONFLITOS E DISPUTAS EM TORNO DAS ESTRUTURAS DO CARVÃO EM SIDERÓPOLIS/SC CRICIÚMA 2016

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

CURSO DE HISTOacuteRIA

ELAINE RODRIGUES

PATRIMONIO INDUSTRIAL USOS CONFLITOS E DISPUTAS EM TORNO DAS

ESTRUTURAS DO CARVAtildeO EM SIDEROacutePOLISSC

CRICIUacuteMA

2016

1

ELAINE RODRIGUES

PATRIMONIO INDUSTRIAL USOS CONFLITOS E DISPUTAS EM TORNO DAS

ESTRUTURAS DO CARVAtildeO EM SIDEROacutePOLISSC

Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado para obtenccedilatildeo do grau de licenciatura no curso de Histoacuteria da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC

Orientador (a) Prof (ordf) Mestre Michele Gonccedilalves Cardoso

CRICIUacuteMA

2016

1

ELAINE RODRIGUES

PATRIMONIO INDUSTRIAL USOS CONFLITOS E DISPUTAS EM TORNO DAS

ESTRUTURAS DO CARVAtildeO EM SIDEROacutePOLISSC

Trabalho de Conclusatildeo de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenccedilatildeo do Grau de Licenciatura no Curso de Histoacuteria da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC com Linha de Pesquisa em Patrimocircnio Cultural Cultura Material e Memoacuterias

Criciuacutema 8 de dezembro de 2016

BANCA EXAMINADORA

Prof Michele Gonccedilalves Cardoso - Mestre - (UNESC) - Orientador

Prof Marli de Oliveira Costal - Doutora - (UNESC)

Prof Daniela Pistorello - Doutora- (UDESC)

2

Aos meus pais que sempre me ensinaram a natildeo

desistir e a buscar o melhor de mim Aos meus

filhos Ruan e Murilo e ao meu companheiro

Rodrigo que mesmo impaciente entendeu e

respeitou minha ausecircncia E a toda comunidade

do Rio Fiorita sem ela essa pesquisa natildeo seria

possiacutevel

3

AGRADECIMENTOS

Eacute muito bom saber que temos com quem contar nas horas difiacuteceis e que

nunca estamos sozinhos Quando decidi ingressar na vida acadecircmica sabia que natildeo

seria faacutecil tinha certeza que encontraria vaacuterios obstaacuteculos A maior dificuldade que

encontrei fui eu mesma meu jeito estourado e ansioso sincero e sem papas na

liacutengua acabou logo me afastando de muitas pessoas Como natildeo poderia ser

diferente encontrei pessoas que me ajudaram me entenderam e acima de tudo me

respeitaram afinal ningueacutem eacute perfeito

No teacutermino dessa etapa natildeo posso deixar de agradecer a cada um que

esteve ao meu lado desde as que duvidaram da minha capacidade ateacute as que

acreditaram em mim

Comeccedilo agradecendo aos meus pais Joatildeo Rodrigues que mesmo

ausente fisicamente manteve sempre sua presenccedila espiritual comigo e minha matildee

Ana Mordf Ferraro Rodrigues ambos construiacuteram suas vidas no bairro Rio Fiorita

entatildeo esse trabalho tem um pouco dos dois com certeza Quero agradecer meu

marido Rodrigo obrigada por aturar meu estresse minhas inseguranccedilas minhas

noites na frente do computador ou dos livros obrigada por me apoiar e estar do meu

lado nas minhas escolhas Aos meus filhos que sofreram com minha ausecircncia A

toda minha famiacutelia irmatildeos Luciana Deizi Jeizon e Joatildeo Henrique Aos meus sogros

Joseacute e Maria das Dores aos meus cunhados e a minha cunhada Gerusa que

insistiu muito pra eu voltar a estudar deu certo Quero agradecer tambeacutem aos

colegas Rogeacuterio Dalssaso e Macsuel de Bona que sempre que precisei

disponibilizaram seu tempo e seus arquivos sobre Sideroacutepolis

Durante esses quatro anos conheci muitas pessoas algumas delas quero

levar pra sempre comigo Acircngela Rodrigo Carol estamos juntos desde o primeiro

semestre o primeiro trabalho a primeira briga Sei que agora cada um segue sua

vida mas jaacute aviso que natildeo vou perder vocecircs de vista acredito que nossos laccedilos vatildeo

aleacutem das paredes da UNESC obrigada amigos por tornar esses anos mais

divertidos obrigada por compartilharem comigo cada minuto cada laacutegrima cada

angustia da vida pessoal e acadecircmica cada momento de aprendizado e de loucura

que soacute o curso de histoacuteria pode proporcionar adoro vocecircs Agradeccedilo tambeacutem aos

colegas Lucas Jaqueline Lisane Juliana e Juliano que se fizeram presentes em

4

muitos momentos nesses anos

Quero agradecer a todos os mestres que dividiram comigo seus

conhecimentos e um agradecimento especial a Joatildeo Henrique Zanelatto Paulo

Sergio Osoacuterio Marli de Oliveira Costa Ismael Gonccedilalves Alves Gislene Camargo

Michele Stakonski Cechinel e Tiago da Silva Coelho que satildeo mais que mestres satildeo

amigos que levarei pra sempre no meu coraccedilatildeo

Essa pesquisa natildeo seria possiacutevel se uma pessoa natildeo tivesse acreditado

na minha capacidade Desde o comeccedilo vocecirc me apoiou e soube extrair o melhor de

mim mesmo eu achando que natildeo conseguiria Vocecirc brigou nas horas certas e

elogiou tambeacutem Obrigada minha orientadora pela paciecircncia e me desculpe pelos

incocircmodos fora de hora das consultas no whatssap vocecirc eacute a melhor Obrigada

Michele Gonccedilalves Cardoso

Simplesmente obrigada

5

ldquoAmar o perdido deixa confundido este

coraccedilatildeo

Nada pode o olvido contra o sem sentido

apelo do Natildeo

As coisas tangiacuteveis tornam-se insensiacuteveis agrave

palma da matildeo

Mas as coisas findas muito mais que lindas

essas ficaratildeordquo

Carlos Drummond de Andrade

1

RESUMO

Esta pesquisa consiste em analisar o conjunto de estruturas presentes na antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita situada na cidade de SideroacutepolisSC na perspectiva do Patrimocircnio Industrial A vila operaacuteria inicialmente colonizada por imigrantes italianos com uma economia agriacutecola sofreu vaacuterias mudanccedilas a partir da chegada da Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN no ano de 1941 Ali a sideruacutergica constroacutei todas as estruturas especiacuteficas para atender as necessidades da empresa e de seus funcionaacuteriosas e suas famiacutelias No ano de 1991 com o fechamento da CSN esse conjunto de edificaccedilotildees foi entregue agrave prefeitura municipal Ao longo desses anos alguns desses preacutedios foram e ainda satildeo palco de disputas Os conflitos em torno dos possiacuteveis usos desses espaccedilos evocam tensotildees entre diferentes personagens o sindicato os poliacuteticos e a associaccedilatildeo de moradores Estes grupos fundamentam seus argumentos evocando diferentes memoacuterias e interesses Neste sentido busco por meio da anaacutelise de fontes orais documentais fotos entre outros compreender esse conjunto de bens que ainda fazem parte da antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita na perspectiva do patrimocircnio industrial Fundamento a minha pesquisa refletindo a carta de Nizhny Tagil que determina as especificidades do patrimocircnio Industrial Essas edificaccedilotildees do ciclo carboniacutefero permite refletir sobre algumas tensotildees presentes no campo patrimonial reafirmando sua importacircncia para comunidade local

Palavras-chave Patrimocircnio Industrial Vila Operaacuteria estruturas do carvatildeo

2

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20

Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35

Figura 6 - Escola do SENAI 36

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel

deacutecada de 1960 39

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47

3

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CSN Companhia Sideruacutergica Nacional

4

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE 15

21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio

Fiorita 17

3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24

31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28

4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34

41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 50

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas

pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo

artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira

pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias

relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de

Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa

nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de

Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas

instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL

Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em

vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias

outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que

atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido

a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar

sobre essas construccedilotildees

Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos

moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da

histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a

intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando

presente ateacute os dias atuais

A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins

do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se

efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de

desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a

intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis

modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas

ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave

construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham

de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo

Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em

1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente

12

iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica

Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades

causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do

governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50

anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas

transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas

estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e

passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa

pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado

especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma

parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da

extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)

Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era

anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a

companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego

significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica

responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo

As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade

Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o

funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios

almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os

engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem

na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram

erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das

casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no

ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma

escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash

SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam

com o jardim de infacircncia

Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa

acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para

1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com

sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)

13

novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da

carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de

tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez

com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas

edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde

funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas

protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro

Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria

prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que

juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor

histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o

patrimocircnio industrial

Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa

busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo

como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados

agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo

A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais

e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a

fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e

com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do

Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As

pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos

particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da

UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios

leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa

Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de

documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno

desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade

do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1

Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em

Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural

Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3

Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN

14

No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade

carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta

regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse

contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa

atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e

econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com

o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre

o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees

deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio

Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e

produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo

enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma

breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro

O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade

de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses

espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila

sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental

e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a

comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela

posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como

associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a

doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura

Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as

relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de

urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos

como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a

loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas

caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos

15

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE

A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico

urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio

no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando

ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas

catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo

sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis

Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as

cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos

poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo

(CAROLA 2002 p15)

Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu

surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A

primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada

para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna

e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que

impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo

Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e

1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas

como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar

incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o

contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de

incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento

significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de

venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo

suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)

Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica

Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo

Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo

A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado

16

enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo

desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o

processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas

em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias

privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal

(2002 p21)

As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo

e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute

meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de

15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19

milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo

ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que

levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda

significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais

Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre

presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas

investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um

retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros

estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e

de fora do estado

Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres

de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em

busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que

as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades

dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo

ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a

pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas

Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado

era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila

operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO

2002p105)

2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e

alugadas posteriormente

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

1

ELAINE RODRIGUES

PATRIMONIO INDUSTRIAL USOS CONFLITOS E DISPUTAS EM TORNO DAS

ESTRUTURAS DO CARVAtildeO EM SIDEROacutePOLISSC

Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado para obtenccedilatildeo do grau de licenciatura no curso de Histoacuteria da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC

Orientador (a) Prof (ordf) Mestre Michele Gonccedilalves Cardoso

CRICIUacuteMA

2016

1

ELAINE RODRIGUES

PATRIMONIO INDUSTRIAL USOS CONFLITOS E DISPUTAS EM TORNO DAS

ESTRUTURAS DO CARVAtildeO EM SIDEROacutePOLISSC

Trabalho de Conclusatildeo de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenccedilatildeo do Grau de Licenciatura no Curso de Histoacuteria da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC com Linha de Pesquisa em Patrimocircnio Cultural Cultura Material e Memoacuterias

Criciuacutema 8 de dezembro de 2016

BANCA EXAMINADORA

Prof Michele Gonccedilalves Cardoso - Mestre - (UNESC) - Orientador

Prof Marli de Oliveira Costal - Doutora - (UNESC)

Prof Daniela Pistorello - Doutora- (UDESC)

2

Aos meus pais que sempre me ensinaram a natildeo

desistir e a buscar o melhor de mim Aos meus

filhos Ruan e Murilo e ao meu companheiro

Rodrigo que mesmo impaciente entendeu e

respeitou minha ausecircncia E a toda comunidade

do Rio Fiorita sem ela essa pesquisa natildeo seria

possiacutevel

3

AGRADECIMENTOS

Eacute muito bom saber que temos com quem contar nas horas difiacuteceis e que

nunca estamos sozinhos Quando decidi ingressar na vida acadecircmica sabia que natildeo

seria faacutecil tinha certeza que encontraria vaacuterios obstaacuteculos A maior dificuldade que

encontrei fui eu mesma meu jeito estourado e ansioso sincero e sem papas na

liacutengua acabou logo me afastando de muitas pessoas Como natildeo poderia ser

diferente encontrei pessoas que me ajudaram me entenderam e acima de tudo me

respeitaram afinal ningueacutem eacute perfeito

No teacutermino dessa etapa natildeo posso deixar de agradecer a cada um que

esteve ao meu lado desde as que duvidaram da minha capacidade ateacute as que

acreditaram em mim

Comeccedilo agradecendo aos meus pais Joatildeo Rodrigues que mesmo

ausente fisicamente manteve sempre sua presenccedila espiritual comigo e minha matildee

Ana Mordf Ferraro Rodrigues ambos construiacuteram suas vidas no bairro Rio Fiorita

entatildeo esse trabalho tem um pouco dos dois com certeza Quero agradecer meu

marido Rodrigo obrigada por aturar meu estresse minhas inseguranccedilas minhas

noites na frente do computador ou dos livros obrigada por me apoiar e estar do meu

lado nas minhas escolhas Aos meus filhos que sofreram com minha ausecircncia A

toda minha famiacutelia irmatildeos Luciana Deizi Jeizon e Joatildeo Henrique Aos meus sogros

Joseacute e Maria das Dores aos meus cunhados e a minha cunhada Gerusa que

insistiu muito pra eu voltar a estudar deu certo Quero agradecer tambeacutem aos

colegas Rogeacuterio Dalssaso e Macsuel de Bona que sempre que precisei

disponibilizaram seu tempo e seus arquivos sobre Sideroacutepolis

Durante esses quatro anos conheci muitas pessoas algumas delas quero

levar pra sempre comigo Acircngela Rodrigo Carol estamos juntos desde o primeiro

semestre o primeiro trabalho a primeira briga Sei que agora cada um segue sua

vida mas jaacute aviso que natildeo vou perder vocecircs de vista acredito que nossos laccedilos vatildeo

aleacutem das paredes da UNESC obrigada amigos por tornar esses anos mais

divertidos obrigada por compartilharem comigo cada minuto cada laacutegrima cada

angustia da vida pessoal e acadecircmica cada momento de aprendizado e de loucura

que soacute o curso de histoacuteria pode proporcionar adoro vocecircs Agradeccedilo tambeacutem aos

colegas Lucas Jaqueline Lisane Juliana e Juliano que se fizeram presentes em

4

muitos momentos nesses anos

Quero agradecer a todos os mestres que dividiram comigo seus

conhecimentos e um agradecimento especial a Joatildeo Henrique Zanelatto Paulo

Sergio Osoacuterio Marli de Oliveira Costa Ismael Gonccedilalves Alves Gislene Camargo

Michele Stakonski Cechinel e Tiago da Silva Coelho que satildeo mais que mestres satildeo

amigos que levarei pra sempre no meu coraccedilatildeo

Essa pesquisa natildeo seria possiacutevel se uma pessoa natildeo tivesse acreditado

na minha capacidade Desde o comeccedilo vocecirc me apoiou e soube extrair o melhor de

mim mesmo eu achando que natildeo conseguiria Vocecirc brigou nas horas certas e

elogiou tambeacutem Obrigada minha orientadora pela paciecircncia e me desculpe pelos

incocircmodos fora de hora das consultas no whatssap vocecirc eacute a melhor Obrigada

Michele Gonccedilalves Cardoso

Simplesmente obrigada

5

ldquoAmar o perdido deixa confundido este

coraccedilatildeo

Nada pode o olvido contra o sem sentido

apelo do Natildeo

As coisas tangiacuteveis tornam-se insensiacuteveis agrave

palma da matildeo

Mas as coisas findas muito mais que lindas

essas ficaratildeordquo

Carlos Drummond de Andrade

1

RESUMO

Esta pesquisa consiste em analisar o conjunto de estruturas presentes na antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita situada na cidade de SideroacutepolisSC na perspectiva do Patrimocircnio Industrial A vila operaacuteria inicialmente colonizada por imigrantes italianos com uma economia agriacutecola sofreu vaacuterias mudanccedilas a partir da chegada da Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN no ano de 1941 Ali a sideruacutergica constroacutei todas as estruturas especiacuteficas para atender as necessidades da empresa e de seus funcionaacuteriosas e suas famiacutelias No ano de 1991 com o fechamento da CSN esse conjunto de edificaccedilotildees foi entregue agrave prefeitura municipal Ao longo desses anos alguns desses preacutedios foram e ainda satildeo palco de disputas Os conflitos em torno dos possiacuteveis usos desses espaccedilos evocam tensotildees entre diferentes personagens o sindicato os poliacuteticos e a associaccedilatildeo de moradores Estes grupos fundamentam seus argumentos evocando diferentes memoacuterias e interesses Neste sentido busco por meio da anaacutelise de fontes orais documentais fotos entre outros compreender esse conjunto de bens que ainda fazem parte da antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita na perspectiva do patrimocircnio industrial Fundamento a minha pesquisa refletindo a carta de Nizhny Tagil que determina as especificidades do patrimocircnio Industrial Essas edificaccedilotildees do ciclo carboniacutefero permite refletir sobre algumas tensotildees presentes no campo patrimonial reafirmando sua importacircncia para comunidade local

Palavras-chave Patrimocircnio Industrial Vila Operaacuteria estruturas do carvatildeo

2

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20

Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35

Figura 6 - Escola do SENAI 36

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel

deacutecada de 1960 39

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47

3

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CSN Companhia Sideruacutergica Nacional

4

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE 15

21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio

Fiorita 17

3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24

31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28

4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34

41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 50

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas

pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo

artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira

pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias

relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de

Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa

nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de

Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas

instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL

Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em

vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias

outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que

atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido

a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar

sobre essas construccedilotildees

Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos

moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da

histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a

intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando

presente ateacute os dias atuais

A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins

do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se

efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de

desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a

intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis

modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas

ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave

construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham

de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo

Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em

1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente

12

iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica

Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades

causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do

governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50

anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas

transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas

estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e

passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa

pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado

especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma

parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da

extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)

Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era

anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a

companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego

significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica

responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo

As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade

Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o

funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios

almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os

engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem

na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram

erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das

casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no

ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma

escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash

SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam

com o jardim de infacircncia

Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa

acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para

1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com

sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)

13

novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da

carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de

tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez

com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas

edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde

funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas

protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro

Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria

prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que

juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor

histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o

patrimocircnio industrial

Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa

busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo

como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados

agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo

A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais

e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a

fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e

com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do

Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As

pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos

particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da

UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios

leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa

Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de

documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno

desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade

do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1

Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em

Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural

Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3

Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN

14

No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade

carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta

regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse

contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa

atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e

econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com

o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre

o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees

deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio

Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e

produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo

enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma

breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro

O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade

de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses

espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila

sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental

e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a

comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela

posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como

associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a

doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura

Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as

relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de

urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos

como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a

loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas

caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos

15

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE

A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico

urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio

no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando

ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas

catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo

sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis

Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as

cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos

poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo

(CAROLA 2002 p15)

Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu

surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A

primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada

para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna

e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que

impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo

Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e

1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas

como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar

incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o

contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de

incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento

significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de

venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo

suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)

Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica

Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo

Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo

A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado

16

enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo

desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o

processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas

em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias

privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal

(2002 p21)

As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo

e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute

meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de

15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19

milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo

ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que

levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda

significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais

Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre

presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas

investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um

retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros

estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e

de fora do estado

Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres

de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em

busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que

as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades

dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo

ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a

pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas

Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado

era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila

operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO

2002p105)

2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e

alugadas posteriormente

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

1

ELAINE RODRIGUES

PATRIMONIO INDUSTRIAL USOS CONFLITOS E DISPUTAS EM TORNO DAS

ESTRUTURAS DO CARVAtildeO EM SIDEROacutePOLISSC

Trabalho de Conclusatildeo de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenccedilatildeo do Grau de Licenciatura no Curso de Histoacuteria da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC com Linha de Pesquisa em Patrimocircnio Cultural Cultura Material e Memoacuterias

Criciuacutema 8 de dezembro de 2016

BANCA EXAMINADORA

Prof Michele Gonccedilalves Cardoso - Mestre - (UNESC) - Orientador

Prof Marli de Oliveira Costal - Doutora - (UNESC)

Prof Daniela Pistorello - Doutora- (UDESC)

2

Aos meus pais que sempre me ensinaram a natildeo

desistir e a buscar o melhor de mim Aos meus

filhos Ruan e Murilo e ao meu companheiro

Rodrigo que mesmo impaciente entendeu e

respeitou minha ausecircncia E a toda comunidade

do Rio Fiorita sem ela essa pesquisa natildeo seria

possiacutevel

3

AGRADECIMENTOS

Eacute muito bom saber que temos com quem contar nas horas difiacuteceis e que

nunca estamos sozinhos Quando decidi ingressar na vida acadecircmica sabia que natildeo

seria faacutecil tinha certeza que encontraria vaacuterios obstaacuteculos A maior dificuldade que

encontrei fui eu mesma meu jeito estourado e ansioso sincero e sem papas na

liacutengua acabou logo me afastando de muitas pessoas Como natildeo poderia ser

diferente encontrei pessoas que me ajudaram me entenderam e acima de tudo me

respeitaram afinal ningueacutem eacute perfeito

No teacutermino dessa etapa natildeo posso deixar de agradecer a cada um que

esteve ao meu lado desde as que duvidaram da minha capacidade ateacute as que

acreditaram em mim

Comeccedilo agradecendo aos meus pais Joatildeo Rodrigues que mesmo

ausente fisicamente manteve sempre sua presenccedila espiritual comigo e minha matildee

Ana Mordf Ferraro Rodrigues ambos construiacuteram suas vidas no bairro Rio Fiorita

entatildeo esse trabalho tem um pouco dos dois com certeza Quero agradecer meu

marido Rodrigo obrigada por aturar meu estresse minhas inseguranccedilas minhas

noites na frente do computador ou dos livros obrigada por me apoiar e estar do meu

lado nas minhas escolhas Aos meus filhos que sofreram com minha ausecircncia A

toda minha famiacutelia irmatildeos Luciana Deizi Jeizon e Joatildeo Henrique Aos meus sogros

Joseacute e Maria das Dores aos meus cunhados e a minha cunhada Gerusa que

insistiu muito pra eu voltar a estudar deu certo Quero agradecer tambeacutem aos

colegas Rogeacuterio Dalssaso e Macsuel de Bona que sempre que precisei

disponibilizaram seu tempo e seus arquivos sobre Sideroacutepolis

Durante esses quatro anos conheci muitas pessoas algumas delas quero

levar pra sempre comigo Acircngela Rodrigo Carol estamos juntos desde o primeiro

semestre o primeiro trabalho a primeira briga Sei que agora cada um segue sua

vida mas jaacute aviso que natildeo vou perder vocecircs de vista acredito que nossos laccedilos vatildeo

aleacutem das paredes da UNESC obrigada amigos por tornar esses anos mais

divertidos obrigada por compartilharem comigo cada minuto cada laacutegrima cada

angustia da vida pessoal e acadecircmica cada momento de aprendizado e de loucura

que soacute o curso de histoacuteria pode proporcionar adoro vocecircs Agradeccedilo tambeacutem aos

colegas Lucas Jaqueline Lisane Juliana e Juliano que se fizeram presentes em

4

muitos momentos nesses anos

Quero agradecer a todos os mestres que dividiram comigo seus

conhecimentos e um agradecimento especial a Joatildeo Henrique Zanelatto Paulo

Sergio Osoacuterio Marli de Oliveira Costa Ismael Gonccedilalves Alves Gislene Camargo

Michele Stakonski Cechinel e Tiago da Silva Coelho que satildeo mais que mestres satildeo

amigos que levarei pra sempre no meu coraccedilatildeo

Essa pesquisa natildeo seria possiacutevel se uma pessoa natildeo tivesse acreditado

na minha capacidade Desde o comeccedilo vocecirc me apoiou e soube extrair o melhor de

mim mesmo eu achando que natildeo conseguiria Vocecirc brigou nas horas certas e

elogiou tambeacutem Obrigada minha orientadora pela paciecircncia e me desculpe pelos

incocircmodos fora de hora das consultas no whatssap vocecirc eacute a melhor Obrigada

Michele Gonccedilalves Cardoso

Simplesmente obrigada

5

ldquoAmar o perdido deixa confundido este

coraccedilatildeo

Nada pode o olvido contra o sem sentido

apelo do Natildeo

As coisas tangiacuteveis tornam-se insensiacuteveis agrave

palma da matildeo

Mas as coisas findas muito mais que lindas

essas ficaratildeordquo

Carlos Drummond de Andrade

1

RESUMO

Esta pesquisa consiste em analisar o conjunto de estruturas presentes na antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita situada na cidade de SideroacutepolisSC na perspectiva do Patrimocircnio Industrial A vila operaacuteria inicialmente colonizada por imigrantes italianos com uma economia agriacutecola sofreu vaacuterias mudanccedilas a partir da chegada da Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN no ano de 1941 Ali a sideruacutergica constroacutei todas as estruturas especiacuteficas para atender as necessidades da empresa e de seus funcionaacuteriosas e suas famiacutelias No ano de 1991 com o fechamento da CSN esse conjunto de edificaccedilotildees foi entregue agrave prefeitura municipal Ao longo desses anos alguns desses preacutedios foram e ainda satildeo palco de disputas Os conflitos em torno dos possiacuteveis usos desses espaccedilos evocam tensotildees entre diferentes personagens o sindicato os poliacuteticos e a associaccedilatildeo de moradores Estes grupos fundamentam seus argumentos evocando diferentes memoacuterias e interesses Neste sentido busco por meio da anaacutelise de fontes orais documentais fotos entre outros compreender esse conjunto de bens que ainda fazem parte da antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita na perspectiva do patrimocircnio industrial Fundamento a minha pesquisa refletindo a carta de Nizhny Tagil que determina as especificidades do patrimocircnio Industrial Essas edificaccedilotildees do ciclo carboniacutefero permite refletir sobre algumas tensotildees presentes no campo patrimonial reafirmando sua importacircncia para comunidade local

Palavras-chave Patrimocircnio Industrial Vila Operaacuteria estruturas do carvatildeo

2

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20

Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35

Figura 6 - Escola do SENAI 36

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel

deacutecada de 1960 39

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47

3

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CSN Companhia Sideruacutergica Nacional

4

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE 15

21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio

Fiorita 17

3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24

31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28

4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34

41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 50

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas

pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo

artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira

pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias

relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de

Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa

nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de

Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas

instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL

Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em

vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias

outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que

atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido

a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar

sobre essas construccedilotildees

Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos

moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da

histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a

intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando

presente ateacute os dias atuais

A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins

do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se

efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de

desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a

intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis

modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas

ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave

construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham

de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo

Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em

1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente

12

iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica

Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades

causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do

governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50

anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas

transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas

estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e

passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa

pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado

especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma

parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da

extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)

Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era

anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a

companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego

significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica

responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo

As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade

Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o

funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios

almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os

engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem

na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram

erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das

casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no

ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma

escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash

SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam

com o jardim de infacircncia

Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa

acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para

1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com

sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)

13

novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da

carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de

tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez

com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas

edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde

funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas

protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro

Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria

prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que

juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor

histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o

patrimocircnio industrial

Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa

busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo

como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados

agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo

A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais

e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a

fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e

com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do

Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As

pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos

particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da

UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios

leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa

Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de

documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno

desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade

do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1

Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em

Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural

Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3

Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN

14

No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade

carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta

regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse

contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa

atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e

econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com

o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre

o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees

deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio

Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e

produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo

enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma

breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro

O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade

de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses

espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila

sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental

e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a

comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela

posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como

associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a

doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura

Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as

relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de

urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos

como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a

loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas

caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos

15

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE

A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico

urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio

no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando

ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas

catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo

sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis

Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as

cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos

poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo

(CAROLA 2002 p15)

Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu

surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A

primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada

para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna

e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que

impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo

Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e

1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas

como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar

incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o

contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de

incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento

significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de

venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo

suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)

Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica

Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo

Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo

A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado

16

enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo

desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o

processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas

em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias

privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal

(2002 p21)

As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo

e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute

meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de

15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19

milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo

ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que

levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda

significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais

Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre

presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas

investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um

retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros

estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e

de fora do estado

Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres

de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em

busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que

as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades

dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo

ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a

pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas

Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado

era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila

operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO

2002p105)

2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e

alugadas posteriormente

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

2

Aos meus pais que sempre me ensinaram a natildeo

desistir e a buscar o melhor de mim Aos meus

filhos Ruan e Murilo e ao meu companheiro

Rodrigo que mesmo impaciente entendeu e

respeitou minha ausecircncia E a toda comunidade

do Rio Fiorita sem ela essa pesquisa natildeo seria

possiacutevel

3

AGRADECIMENTOS

Eacute muito bom saber que temos com quem contar nas horas difiacuteceis e que

nunca estamos sozinhos Quando decidi ingressar na vida acadecircmica sabia que natildeo

seria faacutecil tinha certeza que encontraria vaacuterios obstaacuteculos A maior dificuldade que

encontrei fui eu mesma meu jeito estourado e ansioso sincero e sem papas na

liacutengua acabou logo me afastando de muitas pessoas Como natildeo poderia ser

diferente encontrei pessoas que me ajudaram me entenderam e acima de tudo me

respeitaram afinal ningueacutem eacute perfeito

No teacutermino dessa etapa natildeo posso deixar de agradecer a cada um que

esteve ao meu lado desde as que duvidaram da minha capacidade ateacute as que

acreditaram em mim

Comeccedilo agradecendo aos meus pais Joatildeo Rodrigues que mesmo

ausente fisicamente manteve sempre sua presenccedila espiritual comigo e minha matildee

Ana Mordf Ferraro Rodrigues ambos construiacuteram suas vidas no bairro Rio Fiorita

entatildeo esse trabalho tem um pouco dos dois com certeza Quero agradecer meu

marido Rodrigo obrigada por aturar meu estresse minhas inseguranccedilas minhas

noites na frente do computador ou dos livros obrigada por me apoiar e estar do meu

lado nas minhas escolhas Aos meus filhos que sofreram com minha ausecircncia A

toda minha famiacutelia irmatildeos Luciana Deizi Jeizon e Joatildeo Henrique Aos meus sogros

Joseacute e Maria das Dores aos meus cunhados e a minha cunhada Gerusa que

insistiu muito pra eu voltar a estudar deu certo Quero agradecer tambeacutem aos

colegas Rogeacuterio Dalssaso e Macsuel de Bona que sempre que precisei

disponibilizaram seu tempo e seus arquivos sobre Sideroacutepolis

Durante esses quatro anos conheci muitas pessoas algumas delas quero

levar pra sempre comigo Acircngela Rodrigo Carol estamos juntos desde o primeiro

semestre o primeiro trabalho a primeira briga Sei que agora cada um segue sua

vida mas jaacute aviso que natildeo vou perder vocecircs de vista acredito que nossos laccedilos vatildeo

aleacutem das paredes da UNESC obrigada amigos por tornar esses anos mais

divertidos obrigada por compartilharem comigo cada minuto cada laacutegrima cada

angustia da vida pessoal e acadecircmica cada momento de aprendizado e de loucura

que soacute o curso de histoacuteria pode proporcionar adoro vocecircs Agradeccedilo tambeacutem aos

colegas Lucas Jaqueline Lisane Juliana e Juliano que se fizeram presentes em

4

muitos momentos nesses anos

Quero agradecer a todos os mestres que dividiram comigo seus

conhecimentos e um agradecimento especial a Joatildeo Henrique Zanelatto Paulo

Sergio Osoacuterio Marli de Oliveira Costa Ismael Gonccedilalves Alves Gislene Camargo

Michele Stakonski Cechinel e Tiago da Silva Coelho que satildeo mais que mestres satildeo

amigos que levarei pra sempre no meu coraccedilatildeo

Essa pesquisa natildeo seria possiacutevel se uma pessoa natildeo tivesse acreditado

na minha capacidade Desde o comeccedilo vocecirc me apoiou e soube extrair o melhor de

mim mesmo eu achando que natildeo conseguiria Vocecirc brigou nas horas certas e

elogiou tambeacutem Obrigada minha orientadora pela paciecircncia e me desculpe pelos

incocircmodos fora de hora das consultas no whatssap vocecirc eacute a melhor Obrigada

Michele Gonccedilalves Cardoso

Simplesmente obrigada

5

ldquoAmar o perdido deixa confundido este

coraccedilatildeo

Nada pode o olvido contra o sem sentido

apelo do Natildeo

As coisas tangiacuteveis tornam-se insensiacuteveis agrave

palma da matildeo

Mas as coisas findas muito mais que lindas

essas ficaratildeordquo

Carlos Drummond de Andrade

1

RESUMO

Esta pesquisa consiste em analisar o conjunto de estruturas presentes na antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita situada na cidade de SideroacutepolisSC na perspectiva do Patrimocircnio Industrial A vila operaacuteria inicialmente colonizada por imigrantes italianos com uma economia agriacutecola sofreu vaacuterias mudanccedilas a partir da chegada da Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN no ano de 1941 Ali a sideruacutergica constroacutei todas as estruturas especiacuteficas para atender as necessidades da empresa e de seus funcionaacuteriosas e suas famiacutelias No ano de 1991 com o fechamento da CSN esse conjunto de edificaccedilotildees foi entregue agrave prefeitura municipal Ao longo desses anos alguns desses preacutedios foram e ainda satildeo palco de disputas Os conflitos em torno dos possiacuteveis usos desses espaccedilos evocam tensotildees entre diferentes personagens o sindicato os poliacuteticos e a associaccedilatildeo de moradores Estes grupos fundamentam seus argumentos evocando diferentes memoacuterias e interesses Neste sentido busco por meio da anaacutelise de fontes orais documentais fotos entre outros compreender esse conjunto de bens que ainda fazem parte da antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita na perspectiva do patrimocircnio industrial Fundamento a minha pesquisa refletindo a carta de Nizhny Tagil que determina as especificidades do patrimocircnio Industrial Essas edificaccedilotildees do ciclo carboniacutefero permite refletir sobre algumas tensotildees presentes no campo patrimonial reafirmando sua importacircncia para comunidade local

Palavras-chave Patrimocircnio Industrial Vila Operaacuteria estruturas do carvatildeo

2

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20

Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35

Figura 6 - Escola do SENAI 36

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel

deacutecada de 1960 39

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47

3

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CSN Companhia Sideruacutergica Nacional

4

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE 15

21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio

Fiorita 17

3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24

31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28

4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34

41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 50

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas

pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo

artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira

pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias

relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de

Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa

nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de

Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas

instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL

Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em

vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias

outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que

atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido

a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar

sobre essas construccedilotildees

Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos

moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da

histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a

intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando

presente ateacute os dias atuais

A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins

do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se

efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de

desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a

intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis

modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas

ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave

construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham

de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo

Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em

1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente

12

iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica

Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades

causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do

governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50

anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas

transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas

estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e

passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa

pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado

especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma

parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da

extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)

Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era

anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a

companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego

significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica

responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo

As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade

Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o

funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios

almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os

engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem

na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram

erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das

casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no

ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma

escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash

SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam

com o jardim de infacircncia

Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa

acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para

1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com

sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)

13

novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da

carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de

tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez

com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas

edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde

funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas

protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro

Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria

prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que

juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor

histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o

patrimocircnio industrial

Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa

busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo

como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados

agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo

A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais

e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a

fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e

com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do

Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As

pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos

particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da

UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios

leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa

Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de

documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno

desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade

do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1

Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em

Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural

Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3

Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN

14

No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade

carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta

regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse

contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa

atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e

econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com

o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre

o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees

deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio

Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e

produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo

enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma

breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro

O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade

de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses

espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila

sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental

e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a

comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela

posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como

associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a

doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura

Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as

relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de

urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos

como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a

loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas

caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos

15

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE

A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico

urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio

no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando

ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas

catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo

sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis

Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as

cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos

poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo

(CAROLA 2002 p15)

Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu

surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A

primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada

para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna

e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que

impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo

Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e

1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas

como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar

incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o

contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de

incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento

significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de

venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo

suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)

Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica

Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo

Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo

A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado

16

enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo

desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o

processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas

em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias

privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal

(2002 p21)

As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo

e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute

meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de

15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19

milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo

ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que

levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda

significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais

Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre

presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas

investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um

retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros

estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e

de fora do estado

Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres

de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em

busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que

as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades

dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo

ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a

pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas

Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado

era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila

operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO

2002p105)

2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e

alugadas posteriormente

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

3

AGRADECIMENTOS

Eacute muito bom saber que temos com quem contar nas horas difiacuteceis e que

nunca estamos sozinhos Quando decidi ingressar na vida acadecircmica sabia que natildeo

seria faacutecil tinha certeza que encontraria vaacuterios obstaacuteculos A maior dificuldade que

encontrei fui eu mesma meu jeito estourado e ansioso sincero e sem papas na

liacutengua acabou logo me afastando de muitas pessoas Como natildeo poderia ser

diferente encontrei pessoas que me ajudaram me entenderam e acima de tudo me

respeitaram afinal ningueacutem eacute perfeito

No teacutermino dessa etapa natildeo posso deixar de agradecer a cada um que

esteve ao meu lado desde as que duvidaram da minha capacidade ateacute as que

acreditaram em mim

Comeccedilo agradecendo aos meus pais Joatildeo Rodrigues que mesmo

ausente fisicamente manteve sempre sua presenccedila espiritual comigo e minha matildee

Ana Mordf Ferraro Rodrigues ambos construiacuteram suas vidas no bairro Rio Fiorita

entatildeo esse trabalho tem um pouco dos dois com certeza Quero agradecer meu

marido Rodrigo obrigada por aturar meu estresse minhas inseguranccedilas minhas

noites na frente do computador ou dos livros obrigada por me apoiar e estar do meu

lado nas minhas escolhas Aos meus filhos que sofreram com minha ausecircncia A

toda minha famiacutelia irmatildeos Luciana Deizi Jeizon e Joatildeo Henrique Aos meus sogros

Joseacute e Maria das Dores aos meus cunhados e a minha cunhada Gerusa que

insistiu muito pra eu voltar a estudar deu certo Quero agradecer tambeacutem aos

colegas Rogeacuterio Dalssaso e Macsuel de Bona que sempre que precisei

disponibilizaram seu tempo e seus arquivos sobre Sideroacutepolis

Durante esses quatro anos conheci muitas pessoas algumas delas quero

levar pra sempre comigo Acircngela Rodrigo Carol estamos juntos desde o primeiro

semestre o primeiro trabalho a primeira briga Sei que agora cada um segue sua

vida mas jaacute aviso que natildeo vou perder vocecircs de vista acredito que nossos laccedilos vatildeo

aleacutem das paredes da UNESC obrigada amigos por tornar esses anos mais

divertidos obrigada por compartilharem comigo cada minuto cada laacutegrima cada

angustia da vida pessoal e acadecircmica cada momento de aprendizado e de loucura

que soacute o curso de histoacuteria pode proporcionar adoro vocecircs Agradeccedilo tambeacutem aos

colegas Lucas Jaqueline Lisane Juliana e Juliano que se fizeram presentes em

4

muitos momentos nesses anos

Quero agradecer a todos os mestres que dividiram comigo seus

conhecimentos e um agradecimento especial a Joatildeo Henrique Zanelatto Paulo

Sergio Osoacuterio Marli de Oliveira Costa Ismael Gonccedilalves Alves Gislene Camargo

Michele Stakonski Cechinel e Tiago da Silva Coelho que satildeo mais que mestres satildeo

amigos que levarei pra sempre no meu coraccedilatildeo

Essa pesquisa natildeo seria possiacutevel se uma pessoa natildeo tivesse acreditado

na minha capacidade Desde o comeccedilo vocecirc me apoiou e soube extrair o melhor de

mim mesmo eu achando que natildeo conseguiria Vocecirc brigou nas horas certas e

elogiou tambeacutem Obrigada minha orientadora pela paciecircncia e me desculpe pelos

incocircmodos fora de hora das consultas no whatssap vocecirc eacute a melhor Obrigada

Michele Gonccedilalves Cardoso

Simplesmente obrigada

5

ldquoAmar o perdido deixa confundido este

coraccedilatildeo

Nada pode o olvido contra o sem sentido

apelo do Natildeo

As coisas tangiacuteveis tornam-se insensiacuteveis agrave

palma da matildeo

Mas as coisas findas muito mais que lindas

essas ficaratildeordquo

Carlos Drummond de Andrade

1

RESUMO

Esta pesquisa consiste em analisar o conjunto de estruturas presentes na antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita situada na cidade de SideroacutepolisSC na perspectiva do Patrimocircnio Industrial A vila operaacuteria inicialmente colonizada por imigrantes italianos com uma economia agriacutecola sofreu vaacuterias mudanccedilas a partir da chegada da Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN no ano de 1941 Ali a sideruacutergica constroacutei todas as estruturas especiacuteficas para atender as necessidades da empresa e de seus funcionaacuteriosas e suas famiacutelias No ano de 1991 com o fechamento da CSN esse conjunto de edificaccedilotildees foi entregue agrave prefeitura municipal Ao longo desses anos alguns desses preacutedios foram e ainda satildeo palco de disputas Os conflitos em torno dos possiacuteveis usos desses espaccedilos evocam tensotildees entre diferentes personagens o sindicato os poliacuteticos e a associaccedilatildeo de moradores Estes grupos fundamentam seus argumentos evocando diferentes memoacuterias e interesses Neste sentido busco por meio da anaacutelise de fontes orais documentais fotos entre outros compreender esse conjunto de bens que ainda fazem parte da antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita na perspectiva do patrimocircnio industrial Fundamento a minha pesquisa refletindo a carta de Nizhny Tagil que determina as especificidades do patrimocircnio Industrial Essas edificaccedilotildees do ciclo carboniacutefero permite refletir sobre algumas tensotildees presentes no campo patrimonial reafirmando sua importacircncia para comunidade local

Palavras-chave Patrimocircnio Industrial Vila Operaacuteria estruturas do carvatildeo

2

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20

Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35

Figura 6 - Escola do SENAI 36

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel

deacutecada de 1960 39

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47

3

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CSN Companhia Sideruacutergica Nacional

4

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE 15

21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio

Fiorita 17

3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24

31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28

4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34

41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 50

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas

pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo

artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira

pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias

relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de

Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa

nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de

Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas

instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL

Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em

vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias

outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que

atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido

a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar

sobre essas construccedilotildees

Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos

moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da

histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a

intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando

presente ateacute os dias atuais

A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins

do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se

efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de

desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a

intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis

modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas

ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave

construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham

de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo

Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em

1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente

12

iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica

Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades

causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do

governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50

anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas

transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas

estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e

passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa

pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado

especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma

parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da

extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)

Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era

anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a

companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego

significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica

responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo

As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade

Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o

funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios

almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os

engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem

na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram

erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das

casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no

ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma

escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash

SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam

com o jardim de infacircncia

Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa

acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para

1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com

sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)

13

novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da

carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de

tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez

com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas

edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde

funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas

protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro

Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria

prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que

juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor

histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o

patrimocircnio industrial

Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa

busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo

como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados

agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo

A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais

e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a

fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e

com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do

Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As

pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos

particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da

UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios

leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa

Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de

documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno

desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade

do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1

Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em

Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural

Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3

Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN

14

No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade

carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta

regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse

contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa

atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e

econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com

o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre

o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees

deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio

Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e

produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo

enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma

breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro

O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade

de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses

espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila

sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental

e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a

comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela

posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como

associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a

doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura

Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as

relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de

urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos

como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a

loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas

caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos

15

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE

A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico

urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio

no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando

ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas

catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo

sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis

Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as

cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos

poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo

(CAROLA 2002 p15)

Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu

surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A

primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada

para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna

e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que

impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo

Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e

1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas

como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar

incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o

contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de

incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento

significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de

venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo

suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)

Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica

Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo

Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo

A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado

16

enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo

desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o

processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas

em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias

privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal

(2002 p21)

As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo

e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute

meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de

15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19

milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo

ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que

levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda

significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais

Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre

presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas

investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um

retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros

estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e

de fora do estado

Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres

de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em

busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que

as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades

dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo

ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a

pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas

Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado

era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila

operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO

2002p105)

2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e

alugadas posteriormente

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

4

muitos momentos nesses anos

Quero agradecer a todos os mestres que dividiram comigo seus

conhecimentos e um agradecimento especial a Joatildeo Henrique Zanelatto Paulo

Sergio Osoacuterio Marli de Oliveira Costa Ismael Gonccedilalves Alves Gislene Camargo

Michele Stakonski Cechinel e Tiago da Silva Coelho que satildeo mais que mestres satildeo

amigos que levarei pra sempre no meu coraccedilatildeo

Essa pesquisa natildeo seria possiacutevel se uma pessoa natildeo tivesse acreditado

na minha capacidade Desde o comeccedilo vocecirc me apoiou e soube extrair o melhor de

mim mesmo eu achando que natildeo conseguiria Vocecirc brigou nas horas certas e

elogiou tambeacutem Obrigada minha orientadora pela paciecircncia e me desculpe pelos

incocircmodos fora de hora das consultas no whatssap vocecirc eacute a melhor Obrigada

Michele Gonccedilalves Cardoso

Simplesmente obrigada

5

ldquoAmar o perdido deixa confundido este

coraccedilatildeo

Nada pode o olvido contra o sem sentido

apelo do Natildeo

As coisas tangiacuteveis tornam-se insensiacuteveis agrave

palma da matildeo

Mas as coisas findas muito mais que lindas

essas ficaratildeordquo

Carlos Drummond de Andrade

1

RESUMO

Esta pesquisa consiste em analisar o conjunto de estruturas presentes na antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita situada na cidade de SideroacutepolisSC na perspectiva do Patrimocircnio Industrial A vila operaacuteria inicialmente colonizada por imigrantes italianos com uma economia agriacutecola sofreu vaacuterias mudanccedilas a partir da chegada da Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN no ano de 1941 Ali a sideruacutergica constroacutei todas as estruturas especiacuteficas para atender as necessidades da empresa e de seus funcionaacuteriosas e suas famiacutelias No ano de 1991 com o fechamento da CSN esse conjunto de edificaccedilotildees foi entregue agrave prefeitura municipal Ao longo desses anos alguns desses preacutedios foram e ainda satildeo palco de disputas Os conflitos em torno dos possiacuteveis usos desses espaccedilos evocam tensotildees entre diferentes personagens o sindicato os poliacuteticos e a associaccedilatildeo de moradores Estes grupos fundamentam seus argumentos evocando diferentes memoacuterias e interesses Neste sentido busco por meio da anaacutelise de fontes orais documentais fotos entre outros compreender esse conjunto de bens que ainda fazem parte da antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita na perspectiva do patrimocircnio industrial Fundamento a minha pesquisa refletindo a carta de Nizhny Tagil que determina as especificidades do patrimocircnio Industrial Essas edificaccedilotildees do ciclo carboniacutefero permite refletir sobre algumas tensotildees presentes no campo patrimonial reafirmando sua importacircncia para comunidade local

Palavras-chave Patrimocircnio Industrial Vila Operaacuteria estruturas do carvatildeo

2

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20

Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35

Figura 6 - Escola do SENAI 36

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel

deacutecada de 1960 39

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47

3

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CSN Companhia Sideruacutergica Nacional

4

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE 15

21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio

Fiorita 17

3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24

31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28

4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34

41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 50

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas

pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo

artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira

pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias

relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de

Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa

nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de

Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas

instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL

Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em

vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias

outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que

atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido

a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar

sobre essas construccedilotildees

Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos

moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da

histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a

intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando

presente ateacute os dias atuais

A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins

do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se

efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de

desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a

intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis

modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas

ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave

construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham

de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo

Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em

1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente

12

iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica

Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades

causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do

governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50

anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas

transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas

estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e

passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa

pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado

especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma

parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da

extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)

Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era

anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a

companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego

significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica

responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo

As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade

Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o

funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios

almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os

engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem

na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram

erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das

casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no

ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma

escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash

SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam

com o jardim de infacircncia

Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa

acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para

1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com

sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)

13

novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da

carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de

tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez

com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas

edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde

funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas

protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro

Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria

prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que

juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor

histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o

patrimocircnio industrial

Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa

busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo

como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados

agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo

A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais

e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a

fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e

com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do

Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As

pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos

particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da

UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios

leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa

Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de

documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno

desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade

do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1

Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em

Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural

Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3

Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN

14

No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade

carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta

regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse

contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa

atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e

econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com

o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre

o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees

deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio

Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e

produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo

enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma

breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro

O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade

de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses

espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila

sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental

e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a

comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela

posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como

associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a

doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura

Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as

relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de

urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos

como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a

loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas

caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos

15

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE

A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico

urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio

no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando

ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas

catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo

sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis

Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as

cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos

poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo

(CAROLA 2002 p15)

Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu

surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A

primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada

para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna

e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que

impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo

Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e

1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas

como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar

incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o

contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de

incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento

significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de

venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo

suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)

Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica

Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo

Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo

A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado

16

enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo

desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o

processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas

em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias

privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal

(2002 p21)

As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo

e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute

meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de

15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19

milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo

ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que

levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda

significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais

Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre

presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas

investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um

retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros

estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e

de fora do estado

Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres

de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em

busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que

as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades

dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo

ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a

pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas

Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado

era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila

operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO

2002p105)

2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e

alugadas posteriormente

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

5

ldquoAmar o perdido deixa confundido este

coraccedilatildeo

Nada pode o olvido contra o sem sentido

apelo do Natildeo

As coisas tangiacuteveis tornam-se insensiacuteveis agrave

palma da matildeo

Mas as coisas findas muito mais que lindas

essas ficaratildeordquo

Carlos Drummond de Andrade

1

RESUMO

Esta pesquisa consiste em analisar o conjunto de estruturas presentes na antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita situada na cidade de SideroacutepolisSC na perspectiva do Patrimocircnio Industrial A vila operaacuteria inicialmente colonizada por imigrantes italianos com uma economia agriacutecola sofreu vaacuterias mudanccedilas a partir da chegada da Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN no ano de 1941 Ali a sideruacutergica constroacutei todas as estruturas especiacuteficas para atender as necessidades da empresa e de seus funcionaacuteriosas e suas famiacutelias No ano de 1991 com o fechamento da CSN esse conjunto de edificaccedilotildees foi entregue agrave prefeitura municipal Ao longo desses anos alguns desses preacutedios foram e ainda satildeo palco de disputas Os conflitos em torno dos possiacuteveis usos desses espaccedilos evocam tensotildees entre diferentes personagens o sindicato os poliacuteticos e a associaccedilatildeo de moradores Estes grupos fundamentam seus argumentos evocando diferentes memoacuterias e interesses Neste sentido busco por meio da anaacutelise de fontes orais documentais fotos entre outros compreender esse conjunto de bens que ainda fazem parte da antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita na perspectiva do patrimocircnio industrial Fundamento a minha pesquisa refletindo a carta de Nizhny Tagil que determina as especificidades do patrimocircnio Industrial Essas edificaccedilotildees do ciclo carboniacutefero permite refletir sobre algumas tensotildees presentes no campo patrimonial reafirmando sua importacircncia para comunidade local

Palavras-chave Patrimocircnio Industrial Vila Operaacuteria estruturas do carvatildeo

2

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20

Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35

Figura 6 - Escola do SENAI 36

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel

deacutecada de 1960 39

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47

3

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CSN Companhia Sideruacutergica Nacional

4

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE 15

21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio

Fiorita 17

3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24

31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28

4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34

41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 50

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas

pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo

artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira

pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias

relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de

Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa

nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de

Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas

instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL

Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em

vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias

outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que

atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido

a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar

sobre essas construccedilotildees

Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos

moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da

histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a

intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando

presente ateacute os dias atuais

A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins

do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se

efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de

desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a

intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis

modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas

ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave

construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham

de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo

Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em

1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente

12

iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica

Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades

causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do

governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50

anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas

transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas

estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e

passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa

pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado

especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma

parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da

extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)

Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era

anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a

companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego

significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica

responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo

As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade

Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o

funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios

almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os

engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem

na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram

erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das

casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no

ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma

escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash

SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam

com o jardim de infacircncia

Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa

acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para

1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com

sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)

13

novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da

carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de

tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez

com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas

edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde

funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas

protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro

Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria

prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que

juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor

histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o

patrimocircnio industrial

Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa

busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo

como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados

agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo

A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais

e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a

fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e

com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do

Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As

pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos

particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da

UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios

leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa

Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de

documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno

desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade

do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1

Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em

Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural

Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3

Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN

14

No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade

carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta

regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse

contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa

atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e

econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com

o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre

o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees

deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio

Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e

produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo

enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma

breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro

O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade

de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses

espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila

sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental

e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a

comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela

posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como

associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a

doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura

Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as

relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de

urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos

como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a

loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas

caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos

15

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE

A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico

urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio

no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando

ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas

catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo

sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis

Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as

cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos

poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo

(CAROLA 2002 p15)

Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu

surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A

primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada

para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna

e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que

impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo

Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e

1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas

como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar

incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o

contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de

incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento

significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de

venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo

suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)

Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica

Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo

Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo

A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado

16

enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo

desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o

processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas

em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias

privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal

(2002 p21)

As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo

e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute

meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de

15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19

milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo

ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que

levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda

significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais

Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre

presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas

investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um

retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros

estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e

de fora do estado

Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres

de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em

busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que

as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades

dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo

ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a

pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas

Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado

era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila

operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO

2002p105)

2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e

alugadas posteriormente

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

1

RESUMO

Esta pesquisa consiste em analisar o conjunto de estruturas presentes na antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita situada na cidade de SideroacutepolisSC na perspectiva do Patrimocircnio Industrial A vila operaacuteria inicialmente colonizada por imigrantes italianos com uma economia agriacutecola sofreu vaacuterias mudanccedilas a partir da chegada da Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN no ano de 1941 Ali a sideruacutergica constroacutei todas as estruturas especiacuteficas para atender as necessidades da empresa e de seus funcionaacuteriosas e suas famiacutelias No ano de 1991 com o fechamento da CSN esse conjunto de edificaccedilotildees foi entregue agrave prefeitura municipal Ao longo desses anos alguns desses preacutedios foram e ainda satildeo palco de disputas Os conflitos em torno dos possiacuteveis usos desses espaccedilos evocam tensotildees entre diferentes personagens o sindicato os poliacuteticos e a associaccedilatildeo de moradores Estes grupos fundamentam seus argumentos evocando diferentes memoacuterias e interesses Neste sentido busco por meio da anaacutelise de fontes orais documentais fotos entre outros compreender esse conjunto de bens que ainda fazem parte da antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita na perspectiva do patrimocircnio industrial Fundamento a minha pesquisa refletindo a carta de Nizhny Tagil que determina as especificidades do patrimocircnio Industrial Essas edificaccedilotildees do ciclo carboniacutefero permite refletir sobre algumas tensotildees presentes no campo patrimonial reafirmando sua importacircncia para comunidade local

Palavras-chave Patrimocircnio Industrial Vila Operaacuteria estruturas do carvatildeo

2

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20

Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35

Figura 6 - Escola do SENAI 36

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel

deacutecada de 1960 39

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47

3

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CSN Companhia Sideruacutergica Nacional

4

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE 15

21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio

Fiorita 17

3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24

31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28

4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34

41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 50

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas

pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo

artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira

pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias

relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de

Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa

nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de

Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas

instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL

Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em

vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias

outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que

atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido

a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar

sobre essas construccedilotildees

Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos

moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da

histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a

intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando

presente ateacute os dias atuais

A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins

do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se

efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de

desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a

intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis

modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas

ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave

construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham

de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo

Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em

1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente

12

iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica

Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades

causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do

governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50

anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas

transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas

estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e

passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa

pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado

especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma

parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da

extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)

Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era

anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a

companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego

significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica

responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo

As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade

Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o

funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios

almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os

engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem

na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram

erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das

casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no

ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma

escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash

SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam

com o jardim de infacircncia

Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa

acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para

1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com

sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)

13

novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da

carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de

tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez

com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas

edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde

funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas

protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro

Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria

prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que

juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor

histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o

patrimocircnio industrial

Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa

busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo

como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados

agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo

A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais

e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a

fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e

com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do

Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As

pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos

particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da

UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios

leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa

Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de

documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno

desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade

do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1

Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em

Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural

Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3

Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN

14

No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade

carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta

regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse

contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa

atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e

econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com

o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre

o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees

deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio

Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e

produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo

enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma

breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro

O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade

de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses

espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila

sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental

e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a

comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela

posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como

associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a

doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura

Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as

relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de

urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos

como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a

loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas

caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos

15

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE

A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico

urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio

no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando

ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas

catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo

sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis

Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as

cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos

poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo

(CAROLA 2002 p15)

Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu

surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A

primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada

para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna

e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que

impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo

Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e

1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas

como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar

incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o

contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de

incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento

significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de

venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo

suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)

Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica

Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo

Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo

A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado

16

enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo

desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o

processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas

em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias

privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal

(2002 p21)

As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo

e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute

meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de

15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19

milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo

ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que

levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda

significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais

Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre

presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas

investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um

retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros

estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e

de fora do estado

Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres

de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em

busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que

as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades

dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo

ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a

pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas

Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado

era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila

operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO

2002p105)

2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e

alugadas posteriormente

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

2

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20

Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35

Figura 6 - Escola do SENAI 36

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel

deacutecada de 1960 39

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47

3

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CSN Companhia Sideruacutergica Nacional

4

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE 15

21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio

Fiorita 17

3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24

31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28

4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34

41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 50

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas

pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo

artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira

pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias

relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de

Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa

nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de

Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas

instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL

Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em

vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias

outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que

atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido

a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar

sobre essas construccedilotildees

Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos

moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da

histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a

intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando

presente ateacute os dias atuais

A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins

do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se

efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de

desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a

intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis

modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas

ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave

construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham

de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo

Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em

1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente

12

iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica

Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades

causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do

governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50

anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas

transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas

estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e

passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa

pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado

especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma

parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da

extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)

Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era

anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a

companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego

significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica

responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo

As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade

Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o

funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios

almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os

engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem

na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram

erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das

casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no

ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma

escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash

SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam

com o jardim de infacircncia

Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa

acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para

1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com

sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)

13

novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da

carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de

tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez

com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas

edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde

funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas

protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro

Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria

prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que

juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor

histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o

patrimocircnio industrial

Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa

busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo

como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados

agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo

A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais

e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a

fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e

com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do

Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As

pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos

particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da

UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios

leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa

Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de

documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno

desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade

do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1

Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em

Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural

Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3

Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN

14

No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade

carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta

regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse

contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa

atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e

econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com

o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre

o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees

deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio

Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e

produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo

enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma

breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro

O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade

de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses

espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila

sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental

e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a

comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela

posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como

associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a

doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura

Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as

relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de

urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos

como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a

loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas

caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos

15

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE

A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico

urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio

no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando

ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas

catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo

sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis

Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as

cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos

poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo

(CAROLA 2002 p15)

Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu

surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A

primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada

para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna

e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que

impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo

Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e

1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas

como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar

incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o

contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de

incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento

significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de

venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo

suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)

Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica

Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo

Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo

A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado

16

enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo

desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o

processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas

em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias

privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal

(2002 p21)

As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo

e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute

meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de

15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19

milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo

ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que

levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda

significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais

Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre

presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas

investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um

retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros

estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e

de fora do estado

Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres

de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em

busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que

as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades

dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo

ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a

pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas

Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado

era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila

operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO

2002p105)

2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e

alugadas posteriormente

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

3

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CSN Companhia Sideruacutergica Nacional

4

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE 15

21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio

Fiorita 17

3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24

31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28

4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34

41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 50

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas

pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo

artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira

pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias

relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de

Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa

nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de

Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas

instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL

Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em

vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias

outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que

atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido

a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar

sobre essas construccedilotildees

Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos

moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da

histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a

intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando

presente ateacute os dias atuais

A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins

do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se

efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de

desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a

intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis

modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas

ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave

construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham

de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo

Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em

1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente

12

iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica

Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades

causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do

governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50

anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas

transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas

estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e

passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa

pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado

especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma

parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da

extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)

Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era

anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a

companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego

significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica

responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo

As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade

Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o

funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios

almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os

engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem

na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram

erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das

casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no

ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma

escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash

SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam

com o jardim de infacircncia

Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa

acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para

1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com

sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)

13

novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da

carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de

tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez

com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas

edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde

funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas

protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro

Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria

prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que

juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor

histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o

patrimocircnio industrial

Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa

busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo

como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados

agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo

A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais

e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a

fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e

com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do

Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As

pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos

particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da

UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios

leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa

Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de

documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno

desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade

do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1

Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em

Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural

Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3

Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN

14

No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade

carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta

regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse

contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa

atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e

econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com

o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre

o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees

deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio

Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e

produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo

enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma

breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro

O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade

de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses

espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila

sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental

e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a

comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela

posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como

associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a

doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura

Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as

relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de

urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos

como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a

loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas

caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos

15

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE

A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico

urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio

no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando

ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas

catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo

sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis

Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as

cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos

poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo

(CAROLA 2002 p15)

Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu

surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A

primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada

para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna

e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que

impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo

Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e

1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas

como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar

incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o

contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de

incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento

significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de

venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo

suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)

Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica

Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo

Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo

A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado

16

enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo

desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o

processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas

em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias

privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal

(2002 p21)

As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo

e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute

meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de

15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19

milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo

ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que

levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda

significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais

Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre

presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas

investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um

retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros

estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e

de fora do estado

Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres

de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em

busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que

as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades

dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo

ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a

pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas

Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado

era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila

operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO

2002p105)

2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e

alugadas posteriormente

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

4

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE 15

21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio

Fiorita 17

3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24

31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28

4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34

41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48

REFEREcircNCIAS 50

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas

pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo

artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira

pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias

relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de

Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa

nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de

Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas

instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL

Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em

vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias

outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que

atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido

a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar

sobre essas construccedilotildees

Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos

moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da

histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a

intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando

presente ateacute os dias atuais

A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins

do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se

efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de

desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a

intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis

modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas

ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave

construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham

de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo

Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em

1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente

12

iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica

Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades

causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do

governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50

anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas

transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas

estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e

passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa

pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado

especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma

parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da

extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)

Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era

anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a

companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego

significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica

responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo

As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade

Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o

funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios

almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os

engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem

na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram

erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das

casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no

ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma

escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash

SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam

com o jardim de infacircncia

Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa

acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para

1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com

sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)

13

novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da

carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de

tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez

com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas

edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde

funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas

protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro

Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria

prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que

juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor

histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o

patrimocircnio industrial

Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa

busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo

como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados

agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo

A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais

e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a

fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e

com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do

Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As

pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos

particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da

UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios

leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa

Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de

documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno

desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade

do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1

Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em

Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural

Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3

Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN

14

No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade

carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta

regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse

contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa

atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e

econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com

o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre

o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees

deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio

Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e

produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo

enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma

breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro

O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade

de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses

espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila

sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental

e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a

comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela

posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como

associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a

doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura

Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as

relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de

urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos

como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a

loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas

caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos

15

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE

A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico

urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio

no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando

ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas

catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo

sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis

Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as

cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos

poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo

(CAROLA 2002 p15)

Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu

surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A

primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada

para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna

e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que

impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo

Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e

1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas

como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar

incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o

contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de

incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento

significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de

venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo

suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)

Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica

Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo

Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo

A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado

16

enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo

desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o

processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas

em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias

privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal

(2002 p21)

As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo

e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute

meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de

15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19

milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo

ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que

levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda

significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais

Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre

presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas

investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um

retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros

estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e

de fora do estado

Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres

de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em

busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que

as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades

dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo

ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a

pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas

Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado

era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila

operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO

2002p105)

2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e

alugadas posteriormente

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas

pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo

artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira

pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias

relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de

Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa

nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de

Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas

instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL

Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em

vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias

outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que

atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido

a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar

sobre essas construccedilotildees

Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos

moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da

histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a

intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando

presente ateacute os dias atuais

A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins

do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se

efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de

desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a

intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis

modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas

ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave

construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham

de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo

Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em

1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente

12

iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica

Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades

causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do

governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50

anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas

transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas

estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e

passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa

pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado

especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma

parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da

extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)

Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era

anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a

companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego

significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica

responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo

As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade

Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o

funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios

almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os

engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem

na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram

erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das

casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no

ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma

escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash

SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam

com o jardim de infacircncia

Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa

acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para

1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com

sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)

13

novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da

carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de

tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez

com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas

edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde

funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas

protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro

Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria

prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que

juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor

histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o

patrimocircnio industrial

Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa

busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo

como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados

agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo

A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais

e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a

fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e

com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do

Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As

pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos

particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da

UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios

leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa

Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de

documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno

desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade

do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1

Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em

Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural

Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3

Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN

14

No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade

carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta

regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse

contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa

atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e

econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com

o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre

o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees

deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio

Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e

produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo

enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma

breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro

O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade

de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses

espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila

sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental

e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a

comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela

posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como

associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a

doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura

Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as

relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de

urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos

como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a

loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas

caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos

15

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE

A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico

urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio

no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando

ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas

catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo

sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis

Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as

cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos

poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo

(CAROLA 2002 p15)

Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu

surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A

primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada

para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna

e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que

impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo

Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e

1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas

como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar

incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o

contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de

incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento

significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de

venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo

suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)

Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica

Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo

Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo

A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado

16

enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo

desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o

processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas

em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias

privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal

(2002 p21)

As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo

e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute

meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de

15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19

milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo

ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que

levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda

significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais

Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre

presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas

investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um

retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros

estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e

de fora do estado

Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres

de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em

busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que

as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades

dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo

ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a

pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas

Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado

era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila

operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO

2002p105)

2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e

alugadas posteriormente

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

12

iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica

Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades

causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do

governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50

anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas

transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas

estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e

passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa

pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado

especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma

parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da

extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)

Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era

anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a

companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego

significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica

responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo

As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade

Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o

funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios

almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os

engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem

na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram

erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das

casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no

ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma

escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash

SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam

com o jardim de infacircncia

Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa

acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para

1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com

sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)

13

novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da

carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de

tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez

com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas

edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde

funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas

protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro

Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria

prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que

juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor

histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o

patrimocircnio industrial

Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa

busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo

como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados

agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo

A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais

e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a

fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e

com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do

Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As

pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos

particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da

UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios

leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa

Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de

documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno

desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade

do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1

Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em

Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural

Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3

Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN

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No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade

carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta

regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse

contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa

atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e

econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com

o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre

o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees

deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio

Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e

produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo

enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma

breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro

O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade

de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses

espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila

sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental

e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a

comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela

posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como

associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a

doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura

Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as

relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de

urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos

como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a

loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas

caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos

15

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE

A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico

urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio

no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando

ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas

catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo

sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis

Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as

cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos

poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo

(CAROLA 2002 p15)

Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu

surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A

primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada

para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna

e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que

impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo

Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e

1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas

como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar

incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o

contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de

incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento

significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de

venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo

suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)

Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica

Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo

Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo

A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado

16

enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo

desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o

processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas

em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias

privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal

(2002 p21)

As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo

e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute

meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de

15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19

milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo

ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que

levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda

significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais

Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre

presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas

investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um

retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros

estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e

de fora do estado

Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres

de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em

busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que

as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades

dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo

ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a

pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas

Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado

era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila

operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO

2002p105)

2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e

alugadas posteriormente

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

13

novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da

carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de

tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez

com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas

edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde

funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas

protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro

Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria

prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que

juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor

histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o

patrimocircnio industrial

Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa

busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo

como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados

agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo

A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais

e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a

fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e

com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do

Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As

pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos

particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da

UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios

leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa

Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de

documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno

desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade

do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1

Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em

Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural

Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3

Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN

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No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade

carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta

regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse

contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa

atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e

econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com

o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre

o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees

deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio

Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e

produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo

enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma

breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro

O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade

de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses

espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila

sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental

e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a

comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela

posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como

associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a

doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura

Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as

relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de

urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos

como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a

loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas

caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos

15

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE

A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico

urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio

no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando

ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas

catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo

sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis

Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as

cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos

poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo

(CAROLA 2002 p15)

Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu

surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A

primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada

para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna

e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que

impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo

Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e

1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas

como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar

incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o

contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de

incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento

significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de

venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo

suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)

Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica

Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo

Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo

A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado

16

enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo

desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o

processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas

em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias

privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal

(2002 p21)

As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo

e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute

meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de

15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19

milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo

ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que

levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda

significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais

Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre

presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas

investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um

retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros

estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e

de fora do estado

Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres

de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em

busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que

as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades

dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo

ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a

pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas

Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado

era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila

operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO

2002p105)

2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e

alugadas posteriormente

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

14

No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade

carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta

regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse

contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa

atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e

econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com

o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre

o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees

deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio

Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e

produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo

enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma

breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro

O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade

de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses

espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila

sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental

e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a

comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela

posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como

associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a

doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura

Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as

relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de

urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos

como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a

loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas

caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos

15

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE

A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico

urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio

no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando

ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas

catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo

sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis

Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as

cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos

poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo

(CAROLA 2002 p15)

Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu

surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A

primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada

para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna

e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que

impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo

Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e

1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas

como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar

incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o

contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de

incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento

significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de

venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo

suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)

Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica

Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo

Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo

A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado

16

enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo

desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o

processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas

em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias

privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal

(2002 p21)

As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo

e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute

meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de

15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19

milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo

ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que

levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda

significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais

Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre

presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas

investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um

retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros

estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e

de fora do estado

Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres

de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em

busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que

as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades

dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo

ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a

pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas

Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado

era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila

operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO

2002p105)

2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e

alugadas posteriormente

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

15

2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL

CATARINENSE

A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico

urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio

no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando

ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas

catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo

sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis

Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as

cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos

poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo

(CAROLA 2002 p15)

Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu

surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A

primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada

para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna

e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que

impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo

Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e

1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas

como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar

incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o

contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de

incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento

significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de

venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo

suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)

Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica

Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo

Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo

A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado

16

enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo

desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o

processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas

em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias

privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal

(2002 p21)

As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo

e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute

meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de

15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19

milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo

ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que

levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda

significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais

Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre

presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas

investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um

retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros

estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e

de fora do estado

Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres

de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em

busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que

as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades

dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo

ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a

pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas

Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado

era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila

operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO

2002p105)

2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e

alugadas posteriormente

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

16

enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo

desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o

processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas

em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias

privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal

(2002 p21)

As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo

e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute

meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de

15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19

milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo

ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que

levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda

significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais

Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre

presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas

investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um

retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros

estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e

de fora do estado

Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres

de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em

busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que

as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades

dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo

ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a

pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas

Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado

era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila

operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO

2002p105)

2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e

alugadas posteriormente

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

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SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

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ANEXO(S)

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ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

17

Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios

armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram

construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes

recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o

funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja

para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas

21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA

OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA

Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do

desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos

nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia

um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de

Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de

1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda

como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena

colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao

novo empreendimento econocircmico

A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como

aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo

demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo

ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI

QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na

cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN

Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)

Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no

Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas

Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

18

foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a

empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as

estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros

vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo

A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse

grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a

carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma

infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da

agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube

recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo

engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)

A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram

melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um

paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute

para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4

A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o

processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis

Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)

Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN

Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila

do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a

denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a

denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em

19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga

elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis

(IBGE2016)

Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas

estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A

3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura

4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A

extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

19

cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro

e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios

Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram

inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de

habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas

operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)

Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para

abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em

1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia

Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador

do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp

Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas

famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram

embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas

oficinas da estatal

As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para

atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita

foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para

atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila

contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o

preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc

Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do

carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas

cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem

e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte

antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte

sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM

(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da

ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo

produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de

CapivariSC

A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial

740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

20

companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em

Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o

porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada

para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)

Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da

Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um

ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da

Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em

Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa

SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em

Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis

Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que

fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel

ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a

uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi

essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de

Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de

TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis

Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

21

A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa

trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da

carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de

caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do

carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso

dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como

ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline

Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou

uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30

anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

22

Figura 2 - Maacutequina Marion SD

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso

Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)

No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou

a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela

para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou

novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

23

estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas

ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo

No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram

construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de

comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que

O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)

Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo

entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam

ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades

escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos

imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que

na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente

comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde

funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de

gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas

doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na

lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos

Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como

importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da

comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e

ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio

5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

24

3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL

A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje

possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser

apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma

determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo

relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de

um determinado grupo ou sociedade

Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade

contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues

os patrimocircnios culturais satildeo

Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)

A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de

proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos

Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -

vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A

partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute

natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees

urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)

Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e

salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de

Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz

um novo olhar aos bens que devem ser preservados

Segundo a carta de Veneza

O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

25

As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de

preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia

um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de

intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio

Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi

assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e

artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo

deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu

excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor

seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009

p20)

Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural

no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era

marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo

SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte

Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre

esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes

(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria

em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo

Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra

um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de

que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)

A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que

contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria

Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes

Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o

6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto

para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

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_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

26

patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)

Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do

Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a

reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo

(SD p3)

Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens

foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro

jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila

arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo

(GONCcedilALVES 2012 p2)

Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura

do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do

estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas

expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos

passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse

sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio

documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O

problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram

legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria

por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens

culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma

parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar

que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural

da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM

1984 p33)

A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de

patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais

antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste

sentido

Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

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_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

27

mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)

Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes

significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois

refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com

que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma

efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues

A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)

Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos

ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de

transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua

preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute

responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua

permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7

Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003

8

Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu

valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas

memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario

valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles

relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua

7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

28

importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo

presente

A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se

efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas

essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves

quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se

duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave

necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que

articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de

determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a

eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do

reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees

sua preservaccedilatildeo

Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)

Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a

importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e

como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto

na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute

imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo

encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando

em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania

31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL

O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves

discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o

desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um

crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura

necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

29

progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na

Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse

periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e

trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial

A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a

segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra

um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz

Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo

industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios

considerados significativos (2010 p 24)

Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales

Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)

A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi

ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram

sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da

eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)

Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu

texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar

significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho

2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial

Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)

aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao

patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO

Segunda a Carta de NizhnyTagil

O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

30

desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)

A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs

pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar

a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e

fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados

a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo

instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os

acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo

XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova

mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo

(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar

natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses

bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam

a partir dessa rotina e fora dela

Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e

equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas

mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de

subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)

Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam

diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009

p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo

ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo

da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as

formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo

(MELLO SILVA 2006 p1)

Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute

ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e

teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens

levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo

presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

31

dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam

remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9

Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de

trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das

memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil

onde eacute evidenciado que

O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais

10

Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela

sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes

galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses

modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a

beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e

funcional11

Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o

patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das

grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo

mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na

Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e

regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo

Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que

servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de

passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias

com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o

empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social

Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram

construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os

operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a

9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista

concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10

Idem 11

MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

32

CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No

lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio

desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde

funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse

conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio

a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol

que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados

no mapa

Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12

1- Caixa de embarque

2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE

3- Clube Recreio do Trabalhador

4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem

5- Accedilougue e Padaria

6- Escritoacuterio e guarita

7- Ambulatoacuterio

8- Estrada de Ferro

9- Grupo escolar SENAI

10 - Jardim de Infacircncia

Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita

Fonte Google Earth

12

Em anexo segue algumas fotos das estruturas

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

33

A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial

estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres

comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da

industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio

Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que

acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e

mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio

industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas

estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para

preservar as memoacuterias do lugar

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

34

4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO

FIORITA

Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo

evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas

vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro

Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por

algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a

comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas

estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje

Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a

partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a

chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo

presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores

A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de

desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado

pelo governo de Getuacutelio Vargas que

Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de

planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a

empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)

Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta

Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir

do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo

arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O

objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial

evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)

Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar

uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para

administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo

Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015

p29)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

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_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

35

A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o

controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de

escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da

estatal

A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)

As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39

ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a

vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que

possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o

que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica

no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e

edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13

Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

36

Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo

relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha

apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e

em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um

dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela

empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda

assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute

assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem

equipado (DAVID 2015 P71)

Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e

de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de

Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo

de obra especializada (idem 66)

Figura 6 - Escola do SENAI

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso

Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da

empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender

as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a

Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua

posse seja pelas memoacuterias que elas representam

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

37

Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam

essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube

Recreio do Trabalhador

As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a

mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do

Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono

O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda

que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio

assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de

Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio

funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou

casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo

preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo

Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou

a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede

municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas

como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue

hoje funciona uma oficina mecacircnica 15

Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se

adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram

apropriados conforme suas necessidades

41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO

TRABALHADOR

Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas

principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um

ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de

desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das

memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse

de alguns preacutedios

14

Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15

Fotos dos edifiacutecios em anexo

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

38

Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube

Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia

dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens

visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico

jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade

Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de

Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos

Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso

dessas estruturas

O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de

Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30

de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de

Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas

construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que

correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste

documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de

Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139

conforme documento

O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era

estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado

em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica

de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a

demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos

administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros

comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o

fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a

ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

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_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

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Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

39

Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)

Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

40

Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na

tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16

atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de

reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente

abandonado

Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015

Fonte Arquivo Pessoal (2015)

No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o

preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de

Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o

intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos

usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o

tombamento foi necessaacuterio

Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes

18

16

Industria de Calccedilados local 17

Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

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SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

41

Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo

sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes

da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma

discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer

O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse

do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a

doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do

carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato

A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo

Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do

mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-

prefeito Douglas

O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal

19

O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao

Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004

Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos

fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais

uma aacuterea para o sindicato

Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida

20

Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores

19

Idem 20

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

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Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

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SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

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ANEXO(S)

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ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

42

A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos

21

Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse

ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe

a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado

pela falta de manutenccedilatildeo

Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte

das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli

Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de

espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)

Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)

21

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

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REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

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_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

43

O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da

Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata

a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do

Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de

Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)

Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade

houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas

de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)

No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)

Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum

natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas

pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em

CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a

exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador

com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o

foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo

No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos

eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da

sociedade em eventos festas cinema etc

Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no

local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes

a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo

livre

Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)

Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para

promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

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REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

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_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

44

mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas

Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como

relata uma moradora

O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa

22

Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na

cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele

tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN

automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram

aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que

O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava

23

Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito

Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou

o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura

Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio

24

Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que

estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com

livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos

eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito

carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa

22

Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23

Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24

Idem

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

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Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

45

Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o

que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este

espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se

caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera

Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da

CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de

Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis

Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo

prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da

CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do

Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no

fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta

Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo

proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr

Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de

Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais

de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que

o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que

a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25

Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do

Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos

de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no

ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico

No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia

poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as

eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte

de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de

Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de

doaccedilatildeo

Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das

luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita

25

Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

46

Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e

Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do

barro Rio Fiorita segundo a nota

A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade

Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a

rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A

partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos

preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos

Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio

Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007

tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era

arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos

moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005

quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o

local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em

atividade26

No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns

empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura

Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que

representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais

revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos

dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos

administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009

Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios

depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute

praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas

26

Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

47

Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016

Fonte Arquivo pessoal (2016)

Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias

evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O

que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje

reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o

auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada

um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens

Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse

periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda

a regiatildeo carboniacutefera

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

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SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

48

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de

Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos

moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando

atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as

marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria

dos moradores locais

A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita

conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para

legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros

lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a

demanda da produccedilatildeo carboniacutefera

No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial

para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os

trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que

foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim

como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades

cumpriam o papel do controle do tempo

A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da

companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam

comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares

buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido

famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos

construindo novas identidades para a vila operaacuteria

Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na

comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que

remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas

memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade

e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute

Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de

ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais

de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

49

As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees

presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho

como Patrimocircnio Industrial

Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria

de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo

carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo

somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social

Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a

carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes

da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as

relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo

pelo poder puacuteblico

Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem

de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua

sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida

melhor

A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje

eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no

cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e

nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo

residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e

atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)

Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo

presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as

necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da

memoacuteria do lugar

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

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Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

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SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

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ANEXO(S)

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ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

50

REFEREcircNCIAS

ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p

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_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

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Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

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SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

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ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

51

_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-

arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo

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Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

54

ANEXO(S)

55

ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

52

Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004

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SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

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ANEXO(S)

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ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

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Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

53

SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913

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ANEXO(S)

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ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

57

Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

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ANEXO(S)

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ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

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Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

58

Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

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ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita

FIGURA 12 - Foto caixa de embarque

Fonte Google Earth (2016)

Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)

56

Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

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Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

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Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

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Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)

Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)

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Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

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Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

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Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016

Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)

Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)

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Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)

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Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)

Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente

Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)