noções básicas de antroposofia - a entidade humana

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  • 23/05/13 R. Lanz: Nocoes Basicas de Antroposofia - parte 4

    www.sab.org.br/edit/nocoes/basicas3.htm 1/11

    Noes Bsicas de Antroposofia

    Rudolf Lanz

    Esta pgina contm parte do livro que, para um melhor entendimento,recomendamos seja lido integralmente desde o seu incio em www.sab.org.br/edit/nocoes

    Direitos reservados Editora Antroposfica

    Rua da Fraternidade 174, 04738-020 So Paulo, SP, tel. (11) 5686-4550

    Esse livro pode ser adquirido tambm em sua loja virtual

    A ENTIDADE HUMANA

    A bblia nos conta que Deus formou o primeiro homem do "p da terra", fazendoressaltar, dessa maneira, que o corpo do homem constitudo pela mesma matria

    do mundo que o circunda. De fato, a qumica confirmou que todos os elementosque constituem o corpo encontram-se tambm na natureza ao seu redor. Omesmo clcio, fsforo, ferro, hidrognio ou carbono entram na composio de

    ambos. Essas substncias entram no corpo e dele saem num fluxo contnuo, seja

    pela respirao, seja pela nutrio. Os processos do metabolismo so amplamente

    conhecidos, e a cincia materialista at compara o corpo a um grande laboratrio

    qumico. Veremos que esta imagem contm algo de certo, embora esteja, narealidade, longe de corresponder completamente verdade.

    O conhecimento da matria, inclusive aquela que constitui o nosso corpo nosdada pelos nossos sentidos. O conjunto dessas substncias forma o reino mineral,

    e podemos dizer que na sua parte corprea os seres dos outros reinos (vegetal,animal e humano) contm as mesmas substncias que se chamam "inrganicas" no

    reino mineral. A matria inrganica encontra sua expresso mais tpica no cristal.Conceitos qumicos, fsicos e matemticos explicam todos os fenmenos do

    mundo fsico (inorgnico), seja a transformao de formas de energia, seja a

    combinao de elementos simples em substncias mais complicadas.

    Podemos dizer que, de maneira geral, as causas de todos esses fenmenos se

    encontram no mundo sensvel ou fsico. A relao entre causas e efeitos

    constante e permite estabelecer as chamadas "leis da natureza". Extrapolando as

    leis descobertas nos ltimos sculos, os astrnomos e astrofsicos estabeleceram

    teorias sobre os fenmenos extra-terrestres, afirmando a identidade das leis da

    natureza sobre todo o Universo. Essa atitude, seja dito entre parnteses, uma

    conquista da cincia moderna; um observador grego ou medieval nunca teriaousado submeter os mundos extra-telricos s mesmas leis que explicam os

    fenmenos terrestres.

    Se compararmos o mundo inorgnico, de um lado, e os seres do reino vegetal,

    animal e humano, de outro, veremos que estes se diferenciam daqueles pelo que

    chamamos de vida. Assistimos a fenmenos novos que o reino mineral

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    desconhece: crescimento, formas tpicas, regenerao, reproduo metabolismo,

    etc. Vemos tambm que os elementos qumicos formam substncias de estrutura

    mais complexa e de grande labilidade qumica, como a albumina, o protoplasma,

    etc. Observamos, finalmente, que os seres orgnicos tm uma existncia limitada

    no tempo; eles nascem e morrem, enquanto uma pedra nunca cessa de ser uma

    pedra, a no ser que foras vindas de fora, e no inerentes sua prpria essncia,

    venham a modificar ou destruir-lhe a forma.

    Parece, pois, que h nos seres orgnicos algo alm da pura substancialidade e que

    subtrai a matria s leis inerentes sua prpria natureza. No momento da morte,

    esse "algo" deixa de existir, ou pelo menos de atuar: o corpo morto passa a ser um

    cadver, e como tal a sua substncia volta a obedecer exclusivamente s leis do

    mundo inorgnico: o organismo se decompe, perdendo a sua forma e estrutura

    especficas e retornando ao reino do "p da terra".

    Podemos, portanto, afirmar que os seres orgnicos seguem leis opostas, ou pelomenos alheias, s leis qumicas e fsicas do mundo mineral.

    Alm disso, verificamos que cada ser orgnico tem a sua forma particular.

    Podemos imaginar duas sementes compostas, quimicamente falando, dos mesmoselementos; apesar disso, uma formar uma planta de um determinado tipo, e outra,

    uma planta de outra espcie e de aspecto totalmente diferente, pois cada umasegue, para a sua estrutura, um modelo prprio. Essa autonomia da forma

    orgnica vai muito longe. Cada planta, por exemplo, tem sua silhueta tpica. Se lhepodamos a folhagem, ela a restabelecer automaticamente, At os seres maiselevados, como o homem e os mamferos tm essas faculdades dentro de certos

    limites: uma ferida "cicatriza", isto , a forma original se restabelece como sealguma fora plasmadora central comandasse o comportamento dos tecidos

    vizinhos no sentido de uma volta ao aspecto anterior.

    Poderamos continuar essa comparao. Descobriramos que os minarais realizama sua existncia apenas no espao, no sofrendo qualquer processo de

    desenvolvimento (vamos deixar de lado fenmenos particulares, como aradioatividade espontnea ou o envelhecimento dos metais) enquanto as plantas (e

    os animais, e o homem) tm uma evoluo no tempo.

    O cristal "auto-suficiente". Ele existe e dura por si, no podendo ser produzido"de fora". O organismo vivo necessita de influncia exteriores para a sua

    existncia: a luz solar e a corrente ininterrupta da respirao e do metabolismo sofatores imprescindveis para o crescimento e todas as demais manifestaes davida.

    At aqui nada de novo para um leitor que costuma observar, sem preconceitos e

    de olhos abertos, os fenmenos ao seu redor. A biologia moderna procuraminimizar as diferenas entre os reinos inrganico e orgnico, afirmando que este

    , por assim dizer, uma continuao, sem hiato, daquele. Para isso, invoca aexistncia de seres orgnicos decadentes, ou virus, que constituem formas de

    transio. Na realidade nunca se deve recorrer s formas decadentes ou detransio, mas aos representantes tpicos de ambos os reinos para fazer uma

    comparao eficiente. E nesse caso, a presena daquele "algo" j citado

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    inegvel.

    Mas o que ser esse "algo"?

    Doutrinas vitalistas do passado e do presente ensinam que h uma fora vitalpermeando os seres orgnicos. Mas, com o emprego desse termo, coloca-se

    apenas um rtulo numa incgnita, sem qualquer verdadeira explicao. Essaatitude certamente no seria apropriada a um cientista.

    A Antroposofia oferece a seguinte explicao: os seres orgnicos possuem, alm

    do seu corpo mineral ou fsico, um conjunto individualizado e delimitado de forasvitais, ou seja, um segundo corpo no-fsico que permeia o corpo fsico. Esse

    segundo corpo o conjunto das foras que do "vida" ao ser e impedem a matriade seguir as suas leis qumicas e fsicas normais. Rudolf Steiner, fundador da

    Antroposofia, chamou esse segundo corpo de "corpo plasmador" ou "corpo deforas plasmadoras". Por motivos cuja explicao ultrapassa o mbito deste livro,

    esse corpo vital tambm chamado "corpo etrico".

    O corpo etrico no existe, pois, nos minerais; existe sim, nas plantas, nos animaise no homem.

    Assim como o corpo fsico constitudo de substncias fsicas, o etrico tira a sua

    substncia de um plano etrico geral (temos que empregar este termo "substncia",embora estejamos conscientes de que em domnios no-fsicos no se devam, arigor, empregar termos tirados do plano sensorial; mas a nossa linguagem

    elaborada para as coisas deste mundo, e no h palavras apropriados paraexprimir exatamente o sentido e a essncia de fenmenos de outros planos. Essa

    observao vlida para todos os termos que empregaremos a seguir). Como ocorpo fsico uma aglomerao individualizada de substncias qumicas, assim o

    corpo etrico um verdadeiro "corpo", embora no seja perceptvel aos nossossentidos comuns.

    Aqui surge uma primeira grande dvida: como que a Antroposofia pode afirmar

    a existncia de tal corpo? No ser uma afirmao gratuita, simples postulado ou

    hiptese, em nada mais vlida do que tantas outras hipteses ou teorias inventadaspela cincia e pelas religies? Assim seria, fosse o corpo etrico apenas um

    conceito, uma abstrao. Mas na realidade o corpo etrico pode ser observado,

    sua existncia pode ser vivenciada, suas funes podem ser analisadas einvestigadas por experincia prpria e direta.

    Mas como?

    Os nossos sentidos comuns s nos mostram objetos e foras fsicas, Mas a cincia

    espiritual nos revela que o homem possui, alm dos sentidos fsicos, sentidos

    superiores que lhe possibilitam observar fenmenos de planos mais elevados. Ou

    antes: ele possui esses sentidos em estado latente, podendo despert-los por meiode um treino adequado, sobre o qual falaremos mais tarde. Afirma a Antroposofia

    que, em pocas remotas, todos os homens possuiam esses sentidos, os quais lhes

    proporcionavam uma vidncia supra-sensvel. Mesmo em pocas posteriores,

    havia sempre indivduos privilegiados que tinham essa clarividncia, ao passo que

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    a maioria dos homens j a havia perdido (veremos mais tarde por que e em que

    condies isso se deu). No futuro, os homens voltaro a possuir esses sentidos

    superiores em pleno funcionamento. A Antroposofia indica o caminho que permiteao homem moderno, com a conservao da sua plena conscincia, despert-los

    pouco a pouco.

    O corpo etrico pode ser "visto" (naturalmente no se trata de viso pelos olhosfsicos) pelos indivduos que atingiram um certo grau de clarividncia. Em todas as

    pocas da Histria houve tais iniciados e suas descries so concordantes sobre

    os demais "objetos" da Antroposofia.

    Na realidade, a Antroposofia no afirma nada de novo nesse ponto. O esoterismo

    hindu, egpcio, tibetano ou grego conhece esse corpo etrico e as correntes mais

    recentes reproduzem essa velha sabedoria em termos cientficos modernos, deacordo com o grau de evoluo alcanada pelo homem do sculo XX.

    O corpo etrico mantm a vida e atua contra a morte; esta aparece como

    transio para um estado puramente mineral. Assistimos, nos seres vivos, a umprocesso de mineralizao cuja presena no corpo humano pode ser facilmente

    observado; constitui um enfraquecimento progressivo das foras plasmadoras do

    corpo etrico, at o momento da morte, que marca o triunfo total das foras

    mineralizantes.

    curioso observar, a esse respeito, que inspirados pensadores do passado j

    afirmaram que a vida um contnuo morrer. Basta comparar um rcem-nascido eum ancio para compreender a profunda verdade dessa afirmao; no rcem-

    nascido, a vitalidade est no seu mximo: o corpo mole, elstico, plasmvel; a

    conscincia, o intelecto e todas as atividades psquicas ainda no so

    desenvolvidas e a criana vive, por assim dizer, entregue s suas funes vitais evegetativas. No adulto, e mais ainda no ancio, o corpo ressecado,

    desvitalizado, as funes biolgicas so reduzidas e sujeitas a estados patolgicos

    (disfunes, atrofias, esclerotizao, mineralizao, etc.); em contrapartida, as

    faculdades mentais, a conscincia e o domnio de si so plenamentedesenvolvidos, atingindo um ponto culminante na serenidade e na sabedoria

    contemplativa da velhice (desde que a fraqueza fsica no seja um empecilho).

    As numerosas doenas da velhice (esclerose, gota, clculos, etc.) so umaindicao do triunfo das foras mineralizantes sobre as foras etricas. Os

    depsitos, muitas vezes cristalinos, constituem uma invaso de matria "morta" no

    corpo vivo.

    Seja permitido aqui, observar que as foras etricas no se enquadram na

    "causalidade" mecnica e deterministas que prevalece no mundo fsico. Por

    exemplo, a planta cresce "para cima", em sentido oposto fora de atraoterrestre.

    J vimos que o mineral encontra sua forma mais expressiva no cristal, ou seja, na

    matria em estado slido. Os fenmenos vitais ocorrem s em meio mido oulquido. No existe vida sem gua. Se voltarmos mais uma vez ao nosso exemplo

    do rcem-nascido e do ancio, veremos que o corpo do primeiro contm

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    proporcionalmente muito mais gua.

    Os prprios depsitos (clculos, artrite) constituem solidificaes em lugares onde

    o organismo plenamente vitalizado deve conter apenas lquidos, colides ou outras

    formas ainda plsticas e maleveis.

    Em resumo, a planta (e por extenso o animal e o homem) aparece composta de

    substncias fsicas (matria) que se colocam "ao longo" de um corpo etrico, que

    poderia ser comparado a um campo de foras invisveis. Assim como a limalha deferro se coloca nas linhas do campo magntico, assim a matria "enche" a forma

    no fsica do corpo etrico. Mas enquanto o campo esttico, o corpo etrico,

    alm de dar forma, provoca tambm toda a dinmica das funes vitais. Ele atua

    no espao e no tempo, de acordo com leis especficas do plano etrico. Almdisso, o campo magntico ainda um fenmeno produzido por foras inerentes

    matria, ao passo que as foras etricas so de ordem superior.

    Vejamos agora se podemos estabelecer uma diferenciao entre o reino vegetal e

    o reino animal (e humano). Uma observao emprica e sem preconceitos pode

    revelar-nos os seguintes fatos:

    Tanto o animal como a planta vivem. Mas enquanto a planta aparece como um ser

    adormecido, em estado de "sono", o animal vive em estado de viglia,

    caracterizado por uma conscincia que j se manifesta nos animais mais primitivos.

    Ou antes, o animal passa por estados alternados de sono e de viglia. Nestesltimos, ele sente e reage; tem impulsos (procura de alimento, de parceiros

    sexuais), pode "aprender", etc.

    Verificamos, ainda, que a planta aberta: a superfcie da folha (mduloconstitutivo da planta, de acordo com a genial descoberta de Goethe) est

    exposta e permevel s foras de fora. Ela no tem vida "interior". O animal, por

    seu lado, parece-nos mais "fechado", mais isolado do mundo externo; e isso noapenas fisicamente. Existe nele uma espcie de espao interior, que no apenas

    fsico (estruturao do sistema do corpo, rgos com funes definidas, etc.) mas

    tambm anmico. No animal h um "mundo prprio" de reaes, instintos, atitudes,

    gracas ao qual ele ocupa um lugar isolado dentro da natureza, enquanto a planta entregue ao mundo, a cada momento atravessada pelas suas influncias.

    Ao passo que a planta se realiza no tempo, com o surgimento gradativo das suas

    partes, o animal est pronto e completo desde o seu nascimento. Ele cresce emtamanho mas no se diversifica (vamos desprezar aqui fatos como a metamorfose

    dos insetos, que tem outra explicao).

    Novamente podemos dizer que as observaes sucintas que precedem noconstituem novidade alguma para um observador curioso.

    O que a Antroposofia acrescenta de novo uma descoberta de suma importncia;

    todos os fenmenos aludidos so ligados existncia de um veculo que no existenas plantas, mas que est presente nos animais. Esse veculo que permite ao

    animal ter sensaes, simpatias e antipatias, instintos e paixes. No homem ele

    torna possvel toda a gama do sentir, desde o instinto at os sentimentos mais

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    nobres e sublimes.

    Tambm esse veculo aparece como um "corpo", mas de uma "substancialidade"

    ainda mais refinada e sutil do que a do corpo etrico. Um grau mais elevado devidncia permite ao iniciado perceber esse corpo por meio de outra srie de

    rgos superiores (dos quais falaremos mais tarde). Esse corpo, veculo das

    sensaes e sentimentos, pode ser chamado de "corpo se sentimentos". RudolfSteiner deu-lhe o nome de "corpo astral". Sem querer entrar aqui em detalhes

    sobre as razes dessa denominao, quero lembrar apenas que antigas correntes

    esotricas vislumbram uma relao entre as foras planetrias (em latim: astra) e

    os rgos do homem e sua vida anmica. Da o nome "corpo astral".

    Estamos, pois, em presena de mais um "corpo" que permeia o corpo visvel dohomem e do animal. Ambos possuem, portanto, alm do corpo fsico e do corpo

    vital (ou etrico), esse terceiro membro da sua entidade, pelo qual participam de

    um terceiro plano, o chamado plano astral.

    Esse corpo astral "superior" ao corpo etrico, dominando-o. Ele provoca no

    corpo fsico e no corpo etrico, a especializao de funes, que se traduz pelos

    rgos ocos. Enquanto a folha, unidade constitutiva da planta, plana e pode serconsiderada como bidimensional, o corpo de qualquer animal contm esses

    espaos tridimensionais vazios, e cuja primeira apario se d no estado de

    gstrula do embrio. Esse vazio foi, desde tempos remotos, posto em relao com

    o ar, e de fato, o elemento atribudo ao mundo animal era o ar (no sentido da

    diviso antiga do mundo em quatro elementos). Como o conjunto das foras

    anmicas tambm chamado "alma", podemos estabelecer paralelos interessantes

    entre as palavras latinas: anima (alma), animus (vento, ar, sopro) e animal

    (animal).

    A presena de elemento "ar" se manifesta de manifesta de muitas maneiras. Os

    animais superiores possuem a faculdade de manifestar seus estados anmicos pela

    voz, pelo grito, utilizando para isso o ar. Enquanto a respirao das plantas

    (diferente da fotossntese) uma corrente contnua, ela se efetua na maioria dos

    animais como alternao rtmica da inspirao e da expirao. Quanto mais um

    animal se afasta das funes puramente vegetativas (que o aproxima mais daplanta), mais o elemento "ar" passa a dominar sua vida.

    Mas voltemos nossa caracterizao do animal frente ao reino vegetal. Dissemos

    que o animal mais fechado, mais separado do mundo. Para compensar esse

    isolamento, o animal inova em trs domnios:

    1) Ele se move em seu ambiente. O movimento lhe permite tomar a atitude ou

    buscar o lugar mais propcio para a realizao dos seus intentos (fuga, sexo, fome,etc.). Todo movimento dirigido.

    2) Ele emprega um sistema sensorial e nervoso que estabelece o contacto com o

    mundo.

    3) Ele vive e age com uma certa conscincia.

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    Essa conscincia f-lo reagir de maneira tpica e caracterstica a cada espcie.

    No se trata evidentemente de uma conscincia lcida, individual, pois no

    podemos falar de indivduos entre os animais. Todos os exemplares de uma

    espcie se comportam e reagem de maneira igual, como se um impulso de grupo

    lhes orientasse a vida. Por esse motivo, Rudolf Steiner no atribui aos animais uma

    "alma" individual, mas antes uma alma de grupo que se manifesta atravs dos

    corpos astrais de todos os membros de uma espcie.

    Falando mais especificamente do corpo astral humano, a clarividncia revela que o

    seu "aspecto" depende dos sentimentos que prevalecem no indivduo observado.

    O vidente fala em "colorao" desse corpo astral, embora naturalmente no se

    trate de cores fsicas. Quanto mais puro e menos egostas os sentimentos, mais

    claro e brilhante o corpo astral, ao qual se d tambm o nome de "aura". Dai o

    costume de representar o corpo ou a cabea de pessoas "santas" envoltos em uma

    aura clara e luminosa ("mandorla" na ndia, "aurola" na pintura ocidental), Erauma tradio cujas origens remontam s pocas em que ainda se podia perceber o

    corpo astral como resultado de uma clarividncia geral.

    Demos agora mais um passo procurando diferenciar o homem do animal,

    Devemos perguntar se o homem apenas um animal evoludo, com certas

    faculdades existentes neste ltimo, porm mais aperfeioadas e desenvolvidas; ou

    se o homem fundamentalmente diferente de qualquer animal, possuindo algo amais que o distingue dele.

    As teorias evolucionistas tradicionais seguem a primeira hiptese, fazendo o

    homem descender em linha reta do animal. As grandes religies viam no homem

    um ser basicamente diferente do animal. A Antroposofia da mesma opinio.

    Com efeito, os animais no tm individualidade; eles so dirigidos por almas de

    grupo; todas as tartarugas ou abelhas reagem de maneira idntica e tpica, como

    se seus impulsos fossem dirigidos de fora (Para estas consideraes deve-setomar, como exemplos tpicos, os animais selvagens - os domsticos j sofreram a

    influncia do homem), No homem aparece a verdadeira individualizao. Cada

    homem um ser nico, singelo, diferente de todos os demais seres humanos.

    Enquanto os animais atingiram um estado de viglia ao qual no hesitamos em dar

    o nome de conscincia, s o homem tem conscincia de si prprio, a

    autoconscincia que o faz ter plena noo de si mesmo frente ao mundo.

    Isso pressupe uma srie de faculdades que no encontramos no animal:

    1) S o homem pode pensar, opor-se ao mundo numa relao sujeito-objeto. Ele

    pode representar de maneira abstrata as suas vivncias sensoriais e elevar-se a

    representaes, conceitos e idias. No seria impossvel ensinar a um rato ou a um

    cachorro achar o seu caminho num labirinto; mas s o homem pode, uma vez

    percorrido o trajeto certo, sentar junto a uma mesa, representar-se a imagemabstrata do labirinto e fazer dele um desenho. Qualquer abelha constri favos

    perfeitamente hexagonais; mas s o homem pode compreender as relaes e o

    princpio de construo de um hexgono regular.

    2) O animal est entregue s suas sensaes e sentimentos. Cessando a causa que

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    lhe provoca uma sensao ou sentimento, acaba tambm o estado anmico. O

    homem possui a durabilidade dos sentimentos, por alm da presena da causa.Mais ainda, ele pode provocar um sentimento por uma pura representao mental:

    eu posso pressentir os gozos gastronmicos pela simples imaginao de um

    suculento jantar.

    3) O homem tem memria, o animal, no! - Esta afirmao parece temerria

    quando se pensa na alegria de um cachorro quando seu dono volta aps uma

    ausncia prolongada. Mas uma coisa memria, outra, o fato de reconhecer. No

    caso do animal, a sensaco, agradvel ou no, repete-se quando a mesma causaest presente. A presena do dono provoca sempre, a cada vez, a mesma reao;

    mas para isso, necessria a presena fsica do fato causador. O cachorro pode

    at sofrer quando lhe falta essa presena. Mas s o homem pode representar-se,

    sob a forma de imagens, um ser ou uma situao da qual no h mais vestgio. A

    memria, como faculdade de recordar mentalmente qualquer situao vivida,

    uma faculdade exclusivamente humana.

    4) Das trs faculdades descritas nasce a capacidade do homem de livrar-se das

    influncias do meio, isolando-se por completo e podendo at resistir a essas

    influncias. Nenhum animal pode dominar seus instintos por uma deciso

    autnoma. O homem pode dominar-se, renunciar a um prazer ou satisfao de

    um desejo; ele pode ponderar vrios motivos, representar-se as consequncias

    futuras de um ato ou lembrar concretamente as consequncias de um ato passado.

    Tudo isto impossvel ao animal.

    5) Em consequncia disso, s o homem pode ter a liberdade de agir, de escolher

    entre vrios atos possveis. Somente ele pode agir moral ou imoralmente; o animal

    segue trilhas fixas e predeterminadas pelas caractersticas da sua espcie. Ele

    irresponsvel.

    O homem possui, pois um centro autnomo da sua personalidade, o qual constitui

    o mago da sua essncia, e do qual tem uma experincia direta e insofismvel.Quando fala desse centro ele diz "eu", e esse eu ou ego, verdadeira parcela

    espiritual, que o distingue do animal.

    Alm e acima dos trs "corpos" inferiores (fsico, etrico e astral) o homem possui,

    pois, um quarto elemento constitutivo da sua identidade. Ou melhor: ele esse eu

    (ego) ao qual os trs corpos servem apenas de base ou envoltrio.

    Pelo seu EU, o homem participa de um plano superior ao plano astral ou anmico,plano que podemos chamar de espiritual; possui um elemento espiritual

    individualizado e singelo que constitui o centro do seu ser. O eu lhe d a sua

    personalidade, o eu pensa, sente e deseja atravs dos seus corpos inferiores, o eu

    ama e odeia, cobia e renuncia, comete atos bons e atos maus.

    Desde h muitos sculos, os poetas falam de "fogo" da personalidade, do amor e

    do dio. E com muita razo, pois o elemento do fogo , por assim dizer, o

    apangio espiritual do eu. Vemos, pois, os quatro membros da entidaderelacionar-se, de certa forma, com os quatro "elementos" dos gregos.

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    Como elemento espiritual autnomo, o eu no est sujeito s limitaes do espao

    e do tempo. Ele eterno, independente e alheio s caractersticas passageiras dos

    seus corpos inferiores. Estes esto a servio de eu, constituindo seu veculo na

    vida terrena.

    A presena do eu faz o homem. Dessa presena recebem os corpos inferiores

    suas feies e funes diferentes das que existem nos animais e nas plantas.

    Assim, por exemplo, o pensar e a memria esto ligados ao corpo etrico, o qual,

    na planta, serve exclusivamente a tornar possvel a "vida", No ele que pensa,

    mas constitui, por exemplo, para a memria, o meio no qual se "guardam" as

    experincias passadas. Da mesma maneira, o crebro imprescindvel para o

    pensar; mas naturalmente no o crebro que pensa; ele serve ao homem apenascomo veculo fsico para o pensar.

    O mineral, a planta e o animal so criaes. O homem criao e criador. Criado

    por foras exteriores a ele, libertou-se dessas foras criadoras, tornando-se

    autnomo e criador. Ele continua a obra de criao; como pensador, filsofo ou

    artista, acrescenta ao mundo algo de novo. Sua liberdade est em oposio ao

    determinismo inelutvel que domina os reinos inferiores.

    Por meio do eu, o homem pode dominar e purificar seus sentimentos, instintos e

    paixes. O esprito , de certa forma, um adversrio daquilo que, em ns,

    meramente anmico. Toda tica tem a sua razo de ser nesse antagonismo.

    Veremos, mais adiante que o princpio da evoluo reina em toda a existncia,

    embora de maneira bem diversa da imaginada pelo darwinismo e outras escolas

    bio-histricas. O homem nem sempre foi homem, e dever alcanar futuramenteestados superiores ao meramente humano.

    O homem se desenvolve no somente pela aquisio de novos conhecimentos e

    tcnicas. Ele evolui sobretudo pelo aperfeioamento das suas faculdades anmicas,

    mentais e morais, A sua prpria "egoidade", o grau da sua conscincia e da sua

    maneira de pensar tm evoludo no passado e evoluiro no futuro. Ele vive e

    viver adquirindo novas faculdades.

    J vimos que o corpo astral o veculo para sensaes e sentimentos, instintos e

    atividades psquicas conscientes e inconscientes. Do convvio do eu com ele e com

    os corpos inferiores nasceu um conjunto autnomo de atitudes e faculdades, que

    se chama vulgarmente de "alma".

    A alma distinta da corporalidade e do eu, constitui, pois como que um elemento

    de ligao entre o eu e o mundo. O eu sente e age atravs desse instrumento.

    Contudo essa alma no homognea, Ela possui faculdades que fizeram sua

    apario gradativamente no decorrer da Histria.

    Diremos que a "alma" se manifesta de trs formas. Para maior simplicidade a

    Antroposofia at fala em trs almas (Aristteles e outros j haviam falado em

    vrias almas), ou seja:

    1) A alma sensvel ou ainda alma da sensao: ela traz a conscincia das

  • 23/05/13 R. Lanz: Nocoes Basicas de Antroposofia - parte 4

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    sensaes, a vivncia de uma impresso sensorial, por exemplo, de uma cor, de

    uma obra musical, de uma dor. Atravs da alma sensvel, o homem vivencia o

    mundo.

    2) A alma do intelecto ou do sentimento: por meio dela o homem formula

    pensamentos. Ele pe em ordem as sensaes recebidas, ele compreende o

    mundo, ele constri o universo interno de representaes mentais, de pensamentose de idias. A abstrao e o pensar so resultados da existncia dessa alma do

    intelecto. Cincia e filosofia so seus frutos.

    3) A alma consciente ou alma da conscincia: traz ao homem a conscincia dos

    contedos no-materiais do mundo ("idias") e da sua prpria individualidade e o

    choque entre o seu ego e o mundo. Ele se sente distanciado, abandonado; em

    consequncia, sofre por seu isolamento, duvidando de tudo e no se dando maispor satisfeito com explicaes fornecidas pela alma racional.

    Um grande esforo necessrio para que o homem possa transpor o abismo que

    a prpria alma consciente rasgou entre ele e o mundo. Num trabalho rduo, ele

    deve restabelecer a ligao entre a parcela espiritual do seu eu e a espiritualidade

    universal.

    Esse esforo j nos leva ao desenvolvimento futuro da humanidade. Com efeito,as trs almas so o fruto da simples existncia do eu e dos trs corpos inferiores.

    Sem qualquer atuao consciente do eu, as trs almas se desenvolveram pouco a

    pouco ao longo da histria do homem.

    No futuro, o eu, que entrementes ter atingido a plena maturidade e

    autoconscincia, dever tomar o seu destino nas prprias mos. Ele impregnar

    com suas prprias foras e propriedades os trs corpos inferiores, comeando

    pelo corpo astral, que lhe oferece menor resistncia do que os corpos etrico efsico, mais "densos" e menos maleveis.

    Nesse trabalho rduo e difcil de "espiritualizaco" consciente dos corpos

    inferiores, o eu criar, por assim dizer, novos membros futuros, novas camadas de

    seu ser. Ele se abrir ao esprito csmico para transformar os impulsos recebidos

    "de cima" em aperfeioamento e purificao dos corpos astral, etrico e fsico.

    O corpo astral assim espiritualizado por um trabalho consciente do homem

    constituir, pois, um futuro novo "corpo" do homem. Steiner lhe deu o nome de

    "personalidade espiritual" (em alemo: Geistselbst). O corpo etrico

    transformado, segunda etapa da evoluo futura, o "esprito vital" (Lebensgeist),

    O corpo fsico, quando imagem pura e regenerada do mundo espiritual,

    chamado de "homem- esprito" (Geistmensch). Com essas perspectivas do futuro

    chegamos bem longe da atualidade. No presente, como j vimos, o homem

    constituido pelos quatro membros da sua entidade, acima descritos.

    O eu, sua verdadeira entelquia, o centro do seu ser. Ele o indivduo.

    O corpo astral recebe os impulsos e impresses dos mundos fsicos e superiores.

    Com ele o homem reage, pensa e entra em intercmbio com a realidade.

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    O corpo etrico lhe d a vida e fornece o instrumento para o pensamento, a

    memria e outras faculdades.

    Finalmente, o corpo fsico a base material da sua existncia atual. Ele fornece a

    matria para os instrumentos que permitem ao homem participar do mundo fsico.

    Veja tambm o artigo de V.W.Setzer "Uma introduo antroposfica

    constituio humana"