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Disciplina NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM

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Disciplina

NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM

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Disciplina

NEUROCIENCIA E APRENDIZAGEM

Marta Pires RELVAS Revisado por Marta Pires RELVAS

www.avm.edu.br

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3

Su

mári

o

05 Apresentação

07 Aula 1

Funções gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem

33 Aula 2 Plasticidade cerebral e Memória; Atenção

54 Aula 3 A filogênese do sistema nervoso Percepção; Linguagem e Pensamento

77 Aula 4

Emoção e o processo de aprendizagem. Neurociência na construção da inteligência e da afetividade

102 Referências bibliográficas

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Neurociência e Aprendizagem C

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taçã

o

Prezado aluno, nesta disciplina abordaremos sobre um assunto muito interessante. Não são apenas as estrelas no universo que fascinam o homem com o seu impressionante número. Em outro universo, o nosso universo biológico interno, uma gigantesca “galáxia” com centenas de milhões de pequenas células nervosas que formam o cérebro e o sistema nervoso comunicam-se umas com as outras através de pulsos eletroquímicos para produzir atividades muito especiais: nossos pensamentos, sentimentos, dor, emoções, sonhos, movimentos e muitas outras funções mentais e físicas, sem as quais não seria possível expressarmos toda a nossa riqueza interna e nem perceber o nosso mundo externo como o som, o cheiro, o sabor, e também a luz e o brilho, inclusive o das estrelas. Então é sobre isso que esse caderno com 4 aulas vai tratar. Na primeira aula falaremos de alguns conceitos do sistema nervoso. Na segunda aula o assunto será a plasticidade cerebral e a memória. Na terceira aula conheceremos a filogênese do sistema nervoso. Em sequência iremos analisar a neurobiologia do conhecimento aplicada à construção da inteligência e da afetividade. Finalmente, o assunto da última aula se refere as aplicações das aulas anteriores no âmbito da sala de aula a partir de uma nova perspectiva biológica. Aproveite ao máximo!

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etiv

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s

Este caderno de estudos tem como objetivos: � Expor sobre o sistema nervoso: nossa galáxia interna; � Distinguir partes do cérebro; � Reconhecer a existência da plasticidade do cérebro; � Estudar a memória, seus tipos e funções; � Demonstrar a filogênese do sistema nervoso; � Discutir sobre a linguagem e seus distúrbios; � Abordar as regiões encefálicas numa visão integrada; � Analisar os impactos da neurobiologia no âmbito da sala de

aula.

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Funções gerais do Sistema Nervoso e sua relação com a aprendizagem Marta Relvas

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Apr

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Agora sim vamos à primeira aula! Todos os estímulos do nosso ambiente causando sensações, como dor e calor, todos os sentimentos, pensamentos, programação de respostas emocionais e motoras, bases neurais da aprendizagem e memória, ação de drogas psicoativas, causas de distúrbios mentais, e qualquer outra ação ou sensação do ser humano, não podem ser entendidos sem o fascinante conhecimento do processo de comunicação entre os neurônios. E é sobre o neurônio que nossa aula começa! Depois de sabermos o que é neurônio vamos estudar as diferenças do neurônio e de outras células nervosas. Conheceremos as partes da célula nervosa e suas funções, ou seja, conheceremos o corpo celular, a membrana neuronal, os dentritos, o axônio e o terminal nervoso. Depois passearemos pelo cérebro e sue hemisférios, sem falar que também discorreremos por uma breve história de seu descobrimento. Por fim, começaremos a falar do sistema nervoso e seu funcionamento para que a partir daí possamos entender as outras aulas.

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etiv

os

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: � Entender a organização e funcionamento do sistema nervoso,

mas para isto precisamos saber de outras coisas como os próximos tópicos que se seguem;

� Definir o que são neurônios; � Reconhecer a diferença de um neurônio e de outras células; � Entender por que o cérebro é cinzento; � Conhecer partes e funções da célula nervosa; � Saber o que são sinapses e como elas ocorrem; � Conhecer as funções e diferenças dos hemisférios cerebrais

(direito e esquerdo).

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 8

O que são neurônios?

Neurônios são células especializadas. Eles são

feitos para receber certas conexões específicas,

executar funções apropriadas a passar suas decisões a

um evento particular a outros neurônios que estão

relacionados com aqueles eventos. Estas

especializações incluem uma membrana celular que é

especializada para transportar sinais nervosos como

pulsos eletroquímicos; o dendrito, (do grego dendron,

ou árvore) que recebe e libera os sinais, o axônio (do

grego axoon, ou eixo), o “cabo” condutor de sinais, e

pontos de contatos sinápticos, onde a informação pode

ser passada de uma célula a outra.

O QUE FAZ O NEURÔNIO SER DIFERENTE DE

OUTRAS CÉLULAS NERVOSAS?

Assim como as outras células, os neurônios se

alimentam, respiram, têm os mesmos genes, os

mesmos mecanismos bioquímicos e as mesmas

organelas. Então, o que faz um neurônio de diferente?

Neurônios diferem de outras células em um aspecto

importante: eles processam informação. Ele deve

desencadear informações sobre o estado interno do

organismo e seu ambiente externo, avaliar esta

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 9

informação, e coordenar atividades apropriadas à

situação e às necessidades correntes das pessoas.

A informação é processada através de um

evento conhecido como impulso nervoso. O impulso

nervoso é a transmissão de um sinal codificado

de um dado estímulo ao longo da membrana do

neurônio, a partir do ponto em que ele foi estimulado.

Dois tipos de fenômenos estão envolvidos no

processamento do impulso nervoso: elétrico e químico.

Eventos elétricos propagam um sinal dentro do

neurônio, e processos químicos transmitem o sinal de

CÉLULAS GLIAIS

Além dos neurônios, o sistema nervoso apresenta-se constituído pelas células glia, ou células gliais, cuja função é dar sustentação aos neurônios e auxiliar o seu funcionamento. As células da glia constituem cerca de metade do volume do nosso encéfalo. Há diversos tipos de células gliais. Os astrócitos, por exemplo, dispõem-se ao longo dos capilares sanguíneos do encéfalo, controlando a passagem de substâncias do sangue para as células do sistema nervoso. Os oligodendrócitos e as células de Schwann enrolam-se sobre os axônios de certos neurônios, formando envoltórios isolantes. Neurônios recebem sinais nervosos de axônios de outros neurônios. A maioria dos sinais é liberada aos dendritos. Os sinais gerados por um neurônio são enviados através do corpo celular, que contém o núcleo, o “armazém” de informações genéticas. Axônios são as principais unidades condutoras do neurônio. O cone axonal é a região na qual os sinais das células são iniciados. Células de Schwann, as quais não são partes da célula nervosa, mas um dos tipos das células gliais, exercem a importante função de isolar neurônios por envolver seus processos membranosos ao redor do axônio formando a bainha de mielina, uma substância gordurosa que ajuda os axônios a transmitirem mensagens mais rapidamente do que as não mielinizadas. A mielina é quebrada em vários pontos pelos nodos de Ranvier, de forma que em uma secção transversal o neurônio se parece com um cordão de salsichas. Ramos do axônio de um neurônio (o neurônio pré-sináptico) transmitem sinais a outro neurônio (o neurônio pós-sináptico) em um local chamado sinapse. Os ramos de um único axônio podem formar sinapses com até 1000 outros neurônios.

IMPULSO NERVOSO

ELÉTRICO QUÍMICO

SINAL DO NEURÔNIO

NEUROTRANSMISSORES LIBERADOS

CAPTADO POR OUTRO NEURÔNIO

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 10

um neurônio a outro ou a uma célula muscular.

Processos químicos sobre interações entre neurônios

ocorrem no final do axônio, chamados sinapse. Tocando

intimamente com o dendrito de outra célula (mas sem

continuidade material entre ambas as células), o axônio

libera substâncias químicas chamadas

neurotransmissores, os quais se unem a receptores

químicos na membrana do neurônio seguinte.

O CÉREBRO É CINZENTO. POR QUÊ?

Talvez você já tenha ouvido o termo “matéria

cinzenta” para o cérebro. Em uma secção transversal

feita no cérebro, é fácil ver as áreas cinzentas e

brancas. O córtex e outras células nervosas são

cinzentos, e as regiões, entre eles, brancas. A coloração

acinzentada é produzida pela agregação de milhares de

corpos celulares, enquanto que o branco é a cor da

mielina. A cor branca revela a presença de feixes de

axônios passando pelo cérebro, mais que em outras

áreas nas quais as conexões estão sendo feitas.

Nenhum neurônio tem conexão direta com outro. No

final do axônio, encontram-se filamentos terminais, e

estes estão próximos de outros neurônios. Eles podem

estar próximos dos dendritos de outros neurônios

(algumas vezes em estruturas especiais chamadas

espinhas dendríticas) ou próximo ao corpo celular.

Parte da célula nervosa e suas funções

CORPO CELULAR

Corpo celular é a “fábrica” do neurônio. Ele

produz todas as proteínas para os dendritos, axônios e

terminais sinápticos, e contém organelas especializadas

tais como mitocôndrias, aparelho de Golgi, retículo

endoplasmático, grânulos secretórios, ribossomos e

Você sabia?

O cérebro é o órgão onde se radicam a sensibilidade consciente, a mobilidade voluntária e a inteligência; por este motivo é considerado como o centro nervoso mais importante de todo o sistema.

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 11

polissomos para fornecer energia e agrupar as partes

em produtos completos.

Fonte: HTTP: //www.primeirobhp.vilabol.uol.com.br/

VAMOS RELEMBRAR UM POUCO DA ESTRUTURA DAS CÉLULAS?

Citosol é o fluido aquoso e salgado com uma solução rica em potássio dentro da célula contendo enzimas responsáveis pelo metabolismo celular. Núcleo - Derivado do latim nux, castanha, o núcleo é o arquivista e o arquiteto da célula. Como arquivista ele contém os genes, consistindo de DNA, o qual contém a “história” da célula, a informação básica para manufaturar todas as proteínas características. Como arquiteto ele sintetiza RNA, a partir do DNA, e o transporta através de poros ao citoplasma para uso na síntese de proteínas. Nucléolo é uma organela que está envolvida ativamente na síntese de ribossomos e na transferência de RNA ao citosol. Aparelho de Golgi é uma estrutura ligada à membrana que exibe um papel no empacotamento de peptídeos e proteínas (incluindo os neurotransmissores) dentro das vesículas. Poliribossomos – Existem vários ribossomos unidos por um cordão. O cordão é um fio único de RNAm (RNA mensageiro, uma molécula envolvida na síntese de proteínas do lado de fora do núcleo). Os ribossomos associados atuam nele para fazer múltiplas cópias da mesma proteína. Mitocôndria é a parte da célula responsável pela energia na forma de ATP (adenosina trifosfato). Os neurônios necessitam de uma enorme quantidade de energia. O cérebro é um dos tecidos mais ativos metabolicamente. No homem, por exemplo, o cérebro usa 40 ml de oxigênio por minuto. A mitocôndria usa oxigênio e glucose para produzir a maioria da energia da célula.

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 12

MEMBRANA NEURONAL

A membrana neuronal serve como uma barreira

na união do citoplasma interno do neurônio e para

excluir certas substâncias que flutuam no fluido que

banha o neurônio.

A membrana, com seu mosaico de proteínas, é

responsável por muitas funções importantes:

� Mantém certos íons e pequenas moléculas

fora da célula e deixa outras dentro;

� Acumula nutrientes e rejeita substâncias

nocivas;

� Catalisa reações enzimáticas;

� Estabelece um potencial elétrico dentro da

célula;

� Conduz um impulso;

� É sensível a certos neurotransmissores e

neuromoduladores.

A membrana é feita de lipídio e proteínas -

gorduras e cadeias de aminoácidos. A estrutura básica

desta membrana é uma camada bilateral ou um

“sandwich” de fosfolipídios, organizado de tal forma que

a região polar (carregada) está voltada para fora e a

região não polar para dentro.

O cérebro consome grandes quantidades de ATP. A energia química armazenada em ATP é usada como combustível na maioria das reações bioquímicas do neurônio. Por exemplo, proteínas especiais na membrana neuronal usam energia liberada pela quebra de ATP em ADP para bombear certas substâncias através da membrana para estabelecer diferenças de concentração entre o lado interno e externo do neurônio. Retículo Endoplasmático Rugoso (RER) e Retículo Endoplasmático Liso (REL) são sistemas de tubos para o transporte de materiais para dentro do citoplasma. Ele pode ter ribossomos (RER) ou não (REL). Com ribossomos, o RE é importante para a síntese de proteínas.

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 13

A face externa da membrana contém os

receptores, pequenas regiões moleculares

especializadas que fornecem uma espécie de

“recipiente” para outras moléculas externas, em um

esquema análogo a uma chave e fechadura. Para cada

molécula externa, existe um receptor correspondente.

Quando as moléculas se unem aos receptores,

seguem-se algumas alterações da membrana e no

interior da célula, tais como a modificação da

permeabilidade de alguns íons.

DENDRITOS

Estas estruturas se ramificam como galhos de

uma árvore e serve como o principal aparato para

receber sinais de outras células nervosas. Eles

funcionam como “antenas” do neurônio e são cobertos

por milhares de sinapses. A membrana dendrítica sob a

sinapse (a membrana pós-sináptica) tem muitas

moléculas de proteínas especializadas, os receptores,

que detectam os neurotransmissores na fenda

sináptica. Uma célula nervosa pode ter muitos

dendritos que se ramificam muitas vezes, sua

superfície é irregular e coberta em espinhas dendríticas

que é o local onde as conexões sinápticas são feitas.

AXÔNIO

Geralmente, é um longo processo que se projeta

nas regiões distantes do sistema nervoso. O axônio é a

principal unidade condutora do neurônio, capaz de

conduzir sinais elétricos a distâncias longas e curtas,

ou seja, desde 0,1mm até 2m. Muitos neurônios não

têm axônios. Estes são chamados de “células

amácrinas”, todos os processos neuronais são

dendritos. Neurônios com axônios muito curtos

também são encontrados.

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 14

Os axônios de muitos neurônios são envolvidos

em uma bainha de mielina, que é composta de

membranas de células intersticiais e é envolvida ao

redor do axônio para formar várias camadas

concêntricas. A bainha de mielina é quebrada em vários

pontos pelos nodos de Ranvier. A mielina protege o

axônio e previne interferência entre axônios à medida

que elas passam ao longo dos feixes.

As células que circundam as fibras nervosas

periféricas, ou seja, as fibras dispostas fora do cérebro

e medula espinhal, são chamadas de células de

Schwann (porque foram primeiramente descritas por

Theodor Schwann). As células que envolvem os axônios

dentro do sistema nervoso central (cérebro e medula

espinhal) são chamadas de oligodendrócitos. Entre cada

par de células de Schwann sucessivas, existe o nodo de

Ranvier.

O local onde o axônio se junta à célula se chama

cone axonal. É daí que a despolarização conhecida

como potencial de ação ocorre.

NEURÔNIOS: CÉLULAS NERVOSAS Um neurônio típico apresenta três partes distintas: corpo celular, dendritos e axônio. No corpo celular, a parte mais volumosa da célula nervosa, se localiza o núcleo e a maioria das estruturas citoplasmáticas. Os dendritos (do grego dendron, árvore) são prolongamentos finos e geralmente ramificados que conduzem os estímulos captados do ambiente ou de outras células em direção ao corpo celular.

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 15

TERMINAL NERVOSO (TERMINAL PRÉ-SINÁPTICO)

Sinapses são junções formadas com outras

células nervosas, onde o terminal pré-sináptico de uma

célula faz contato com a membrana pós-sináptica de

outra. São nestas junções que os neurônios são

excitados, inibidos ou modulados. Existem dois tipos de

sinapses: a elétrica e a química.

As sinapses elétricas ocorrem quando o terminal

pré-sináptico está em continuidade com o pós-

sináptico. Íons e pequenas moléculas passam por eles,

conectando então canais de uma célula à próxima, de

forma que alterações elétricas em uma célula são

transmitidas quase instantaneamente à próxima. Os

íons podem gerar fluxo em ambas as direções destas

junções, embora eles tendam a ser unidirecionais.

ARRANJOS SINÁPTICOS NO SNC

A. Uma sinapse axo-dendrítica. B. Uma sinapse axo-somática. C. Uma sinapse axo-axônica.

O axônio é um prolongamento fino, geralmente mais longo que os dendritos, cuja função é transmitir para outras células os impulsos nervosos provenientes do corpo celular. Os corpos celulares dos neurônios estão concentrados no sistema nervoso central e, também, em pequenas estruturas globosas espalhadas pelo corpo, os gânglios nervosos. Os dendritos e o axônio, genericamente chamados de fibras nervosas, estendem-se por todo o corpo, conectando os corpos celulares dos neurônios entre si e às células sensoriais, musculares e glandulares.

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 16

Nas sinapses químicas, o modo de transmissão

não é elétrico, e sim carreado por neurotransmissores,

substâncias neuroativas liberadas no lado pré-sináptico

da junção. Existem dois tipos de junções químicas. O

tipo I é uma sinapse excitatória, geralmente encontrada

em dendritos; o tipo II é uma sinapse inibitória,

geralmente encontrada em corpos celulares.

Substâncias diferentes são liberadas nestes dois tipos

de sinapses.

Cada botão terminal é conectado a outros

neurônios através de uma pequena fenda chamada

sinapse. As características físicas e neuroquímicas de

cada sinapse determinam a força e a polaridade do

sinal de input. Mudando a constituição de vários

neurotransmissores químicos, pode ocasionar o

aumento ou a diminuição da estimulação que a

despolarização do neurônio causa no dendrito vizinho.

Alterando os neurotransmissores, também, altera a

estimulação, que pode ser inibitória ou excitatória.

Descobrimento do cérebro. Uma breve

história

O século XX foi notável para o estudo do

cérebro. Verdadeira “caixa preta” para a compreensão

Quer saber mais?

A eletroencefalogra-fia é um dos maiores instrumentos de investigação da atividade cerebral. A forma mais freqüentemente utilizada é o eletroencefalograma (EEG) de rotina, o qual dura 20-40 minutos e usa aproximadamente 20 eletrodos diferentes de escalpo colocados de acordo com alguns sistemas. O EEG é um registro da atividade elétrica cerebral usando eletrodos colocados no escalpo. Os eletrodos captam qualquer alteração na atividade neural. Conseqüentemente, os sinais obtidos são apenas uma medida grosseira da atividade neural em um volume cerebral funcionalmente grande.

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 17

sobre seu funcionamento, o cérebro pode afinal ser

despido e visto como podemos, através do raio X.

Sistema nervoso: neurônios nossa galáxia interna

O eletroencefalograma tornou-se uma

extraordinária ”ferramenta” permitindo avanços no

estudo da atividade cerebral in vivo. Outra contribuição

é a técnica conhecida como Pósitron Emission

Tomography, que possibilita marcar o oxigênio e

glicose permitindo ao cientista acompanhar seus

passos “cérebro a dentro”. Por essa técnica é possível

discriminar áreas cerebrais em pessoas com atividades

diferentes, acendendo pequenas em pontos do cérebro

na leitura de um texto ou situações emotivas.

Há ainda o Magnetic Ressonance Imaging que

mede mudanças de concentração do oxigênio no

sangue que irriga o cérebro, que é transmitido por

proteína com teor magnético. Propriedades,

monitoradas por ondas de rádio com sinais que

revelam regiões mais ativas nessa ou outra função.

Resultados obtidos por essas e outras técnicas

extraordinárias inauguram nova era da neurociência,

trazendo concepções sobre ação cerebral fazendo

brotar teorias jamais sonhadas para estudo da

cognição, da memória.

A medicina, sem dúvida, está a desvendar

segredos profundos da amnésia e da incapacidade de

reconhecimento de rostos, realizar operações

matemáticas e muitas outras disfunções. Não só a

medicina ganha com esse mergulho da ciência na

mente humana como também a educação.

O cérebro sempre foi o órgão essencial da

aprendizagem e da saúde. Precisamos sempre

estimular, animar, “Acordar” a mente.

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 18

O CÉREBRO E SEUS HEMISFÉRIOS

O cérebro humano constitui-se por dois

hemisférios cerebrais (esquerdo e direito). O hemisfério

esquerdo controla o lado direito do corpo e o hemisfério

direito controla o lado esquerdo. Cada hemisfério

divide-se em lobo frontal, lobo parietal, lobo occipital e

lobo temporal. Os dois hemisférios cerebrais eram

vistos como dois irmãos, um ativo, dinâmico e falante,

e outro tolo e mudo.

Em 1950, verificou-se que mesmo separando-se

os dois hemisférios, estes continuavam a funcionar

independentemente.

Em 1960, percebeu-se que o hemisfério direito

era mudo, mas não tolo. O esquerdo é resumidamente

verbal e analítico. O direito é rápido, complexo,

espacial, perceptivo e configuracional.

Nosso cérebro é duplo, portanto, necessita

receber estímulos específicos. Hemisfério direito exalta

a liberdade de aceitar informações, sem preocupações

analíticas. A atenção desliza com rapidez, detendo-se

diante de uma nova idéia apenas o tempo necessário.

Não existe nada que seja unicamente regulado por um

dos hemisférios.

Importante

É importante guardar que há um cruzamento das ligações entre o cérebro e o resto do corpo. Sendo assim, o hemisfério direito controla o lado direito e vice-versa.

Cerebelo Lobo

temporal

Lobo frontal Lóbulo

occipital

Lobo parietal

Tronco cerebral

Para navegar

Acesse o site http://www.epub.org.br/cm/home.htm da Revista Cérebro Mente, revista eletrônica de divulgação científica em neurociência.

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 19

HEMISFÉRIO ESQUERDO

HEMISFÉRIO DIREITO

� Função verbal: Seleciona palavras para descrever, definir. � Simbólica: Usa símbolos para representar. � Analítica: Desenvolve a habilidade passo a passo. � Abstrata: Seleciona pequena parte da informação para representar o todo. � Temporal: Marca o tempo e a sequência. � Racional: Busca razão nos fatos. � Lógica: Extrai conclusões lógicas.

� Função não verbal: Percebe as coisas através de imagens. � Concreta: Concebe coisas em sua integralidade. � Sintética: Agrupa informações e forma um todo. � Analógica: Compreende relações e percebe semelhanças. � Não temporal: Não possui sensação de tempo. � Intuitiva: Prefere seguir palpites ou amostras.

CÉREBRO: USE-O OU PERCA-O

Esta afirmação é atualmente pesquisada.

Estudos comprovam que a mente pode conservar até

idéias avançadas se for usada por mais tempo e de

forma saudável.

A partir dessa certeza, inúmeras pesquisas

sugerem exercícios que estimulam a ação cerebral. Os

de maior popularidade são os exercícios NEURÓBICOS.

Como a própria palavra sugere é uma combinação de

“neurônios” e exercícios físicos ou aeróbicos. Conservar

a juventude do cérebro não é difícil. O cérebro

necessita de estímulos. Estudos e pesquisas estão

comprovando isto com base na comprovação de que as

células nervosas, quando excitadas, produzem

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 20

neurotrofinas, moléculas que estimulam seu

crescimento e reação.

O princípio básico desses exercícios consiste em

se fugir da rotina, pois o cérebro cria hábitos com a

rotina e, desse modo, sua ação nas atividades que são

feitas sempre parece ser a de um “piloto automático” e

ao se quebrar sistematicamente esses hábitos estariam

impondo desafios geradores de neutrofinas que é o

verdadeiro “adubo cerebral”.

Os estímulos propostos pelos exercícios

neuróbicos dirigem-se aos hemisférios esquerdo e direito

e destaca a importância da mudança de hábitos,

desempenhando-se com a outra mão atividades

habituais diárias como alternar o pulso do relógio, inserir

frases curtas em contextos mais amplos, desenvolver

analogias, explorar a intuição, entre muitas outras,

garantirão um cérebro sempre em forma e jovem.

CÉREBRO SARADO Exercícios simples, como ler, dançar, desenhar e jogar xadrez, estimulam a atividade dos neurônios, melhoram a memória, as habilidades e o raciocínio.

(Juliane Zaché) Como anda sua malhação? As pernas estão durinhas, a barriguinha bem definida e o braço bem torneado? Ótimo. E o cérebro? Também está malhadíssimo? A pergunta pode parecer inusitada, mas tem fundamento. Cada vez mais a ciência confirma a importância de se exercitar tal órgão para que as potencialidades de cada um, da memória à coordenação, sejam desenvolvidas ao máximo. Não se trata, é claro, de um trabalho muscular, até porque o cérebro não é um músculo. Na verdade, os pesquisadores defendem que é preciso manter constantemente a atividade dos neurônios (as células nervosas do órgão). Assim, o cérebro fica afiado e não atrofia como um músculo que não é usado. A malhação, nesse caso, é feita com estímulos freqüentes, como aprender um novo movimento de dança, ler sobre um assunto com o qual não se está habituado ou simplesmente mudar o caminho do escritório até a casa. Atitudes como essas, de acordo com os cientistas, são capazes de aumentar o poder de raciocínio, a concentração e até habilidades como desenhar e escrever.

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 21

Somos tentados a perguntar: Que razão leva

um cérebro a permanecer produtivo e criativo durante

uma vida inteira e reserva a outro o destino de

conduzir-se muito mal na fase madura dos seus donos?

Durante os últimos anos, a ciência acumulou

muitas respostas a essas duas perguntas respostas

que têm também o efeito de desmentir as crendices

acerca do processo de envelhecimento do cérebro.

Testes em laboratórios e estudos epistemológicos

trouxeram à tona uma das mais notáveis

características do cérebro: a sua habilidade em

amoldar-se à situação das perdas de neurônios

comandadas pela biologia, (isto é, sua plasticidade)

sem perder assim o seu vigor, mesmo nas mais

avançadas idades. O mais importante de tudo, porém,

é você saber usar a plasticidade cerebral para

determinar qual daqueles dois caminhos você seguirá.

Em grande parte, está em suas mãos o destino

do seu cérebro. O cérebro atua sob o tema: “Use-o ou

perca-o!”

O sistema nervoso

O sistema nervoso detecta estímulos externos e

internos, tanto físicos quanto químicos, e desencadeia

as respostas musculares e glandulares. Assim, é

responsável pela integração do organismo com o seu

meio ambiente.

Ele é formado, basicamente, por células

nervosas, que se interconectam de forma específica e

precisa, formando os chamados circuitos neurais.

Através desses circuitos, o organismo é capaz de

produzir respostas estereotipadas que constituem os

comportamentos fixos e invariantes (por exemplo, os

reflexos) ou, então, produzir comportamentos variáveis

em maior ou menor grau.

Para pensar

Qual será sua resposta ao desafio lançado pela autora?

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 22

Todo ser vivo dotado de um sistema nervoso é

capaz de modificar o seu comportamento em função de

experiências passadas. Essa modificação comportamental

é chamada de aprendizado, e ocorre no sistema

nervoso através da propriedade chamada plasticidade

cerebral.

O NEURÔNIO

A célula nervosa ou, simplesmente neurônio, é o

principal componente do sistema nervoso. Considerada

sua unidade anatomofisiológica, estima-se que no

cérebro humano existam aproximadamente 15

bilhões destas células, responsáveis por todas as

funções do sistema.

Existem diversos tipos de neurônios, com

diferentes funções dependendo da sua localização e

estrutura morfológica, mas em geral constituem-se dos

mesmos componentes básicos:

1. O corpo do neurônio, constituído de núcleo e

pericário, dá suporte metabólico a toda célula;

2. O axônio (fibra nervosa), prolongamento único e

grande que aparece na soma, é responsável pela

condução do impulso nervoso para o próximo

neurônio, podendo ser revestido ou não por

mielina (bainha axonial), célula glial

especializada;

3. Os dendritos são prolongamentos menores em

forma de ramificações (arborizações terminais)

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 23

que emergem do pericário e do final do axônio,

sendo, na maioria das vezes, responsáveis pela

comunicação entre os neurônios através das

sinapses. Basicamente, cada neurônio possui

uma região receptiva e outra efetora em

relação à condução da sinalização.

OS DIFERENTES TIPOS DE NEURÔNIOS No centro da substância cinzenta há um canal - o canal central da medula - que permanece no adulto como resquício da luz do tubo neural embrionário. Os neurônios da substância cinzenta são de dois tipos: neurônios de axônio longo (tipo I) e neurônios de axônio curto (tipo II). Os neurônios de tipo I possuem longos axônios que saem da medula para constituir a raiz ventral. Tais neurônios radiculares podem ser viscerais (neurônios pré-ganglionares do sistema nervoso autônomo que inervam as glândulas, músculos lisos e cardíacos), ou somáticos (neurônios motores primários que inervam os músculos estriados esqueléticos). Além dos neurônios radiculares, há os neurônios cordonais, também de tipo I, cujos longos axônios localizam-se no interior da medula em vias ascendentes ou descendentes. As vias ascendentes são formadas principalmente pelos neurônios cordonais de projeção, que terminam fora da medula, no encéfalo, e integram as vias ascendentes da medula. As vias descendentes são formadas principalmente pelos neurônios cordonais de associação, cujo axônio passa pela substância branca e se bifurca em um ramo ascendente e outro descendente, ambos terminando na substância cinzenta da própria medula. A função dos neurônios cordonais de associação é a integração intersegmentar da medula. Os neurônios do tipo II possuem o axônio curto que permanece sempre no interior da própria substância cinzenta. Tais neurônios estabelecem a conexão entre fibras aferentes dorsais e fibras eferentes ventrais, participando, assim, de vários arcos reflexos medulares. Fonte: http://www.enciclopedia.com.br/MED2000/pedia98a/anat31dk.htm

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 24

A SINAPSE

É a estrutura dos neurônios através da qual

ocorrem os processos de comunicação entre os

mesmos, os seja, onde ocorre a passagem do sinal

neural (transmissão sináptica) através de processos

eletroquímicos específicos, isso graças a certas

características particulares da sua constituição.

Em uma sinapse, os neurônios não se tocam,

permanecendo um espaço entre eles denominado fenda

sináptica, onde um neurônio pré-sináptico liga-se a um

outro denominado neurônio pós-sináptico. O sinal

nervoso (impulso), que vem através do axônio da

célula pré-sináptica chega em sua extremidade e

provoca na fenda a liberação de neurotransmissores

depositados em bolsas chamadas de vesículas

sinápticas. Este elemento químico se liga quimicamente

a receptores específicos do neurônio pós-sináptico,

dando continuidade à propagação do sinal.

NEUROTRANSMISSORES

Neurotransmisores são substâncias liberadas por um neurônio, considerado como neurônio pre-sináptico, em resposta a um estímulo. Esses neurotransmissores são jogados no espaço sináptico e se unem a um neurorreceptor específico no neurônio seguinte, chamado então, de neurônio post-sináptico. Com freqüência em suas sínteses intervêm substâncias precursoras e enzimas. A neurotransmissão química é de fundamental importância para o mecanismo de diversas patologias e para a ação de fármacos e é a responsável pela conversão de energia elétrica para energia química entre um neurônio e outro na sinapse. A neurotransmissão, então, implica a necessidade de síntese do transmissor, de armazenamento e de liberação. Os transmissores terão, então, que atuar em neurorreceptores específicos da membrana pós-sináptica e ser removidos rapidamente da fenda sináptica por metabolização, difusão ou recaptação.

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 25

Um neurônio pode receber ou enviar entre

1.000 a 100.000 conexões sinápticas em relação a

outros neurônios, dependendo de seu tipo e localização

no sistema nervoso. O número e a qualidade das

sinapses em um neurônio pode variar, entre outros

fatores, pela experiência e aprendizagem,

demonstrando a capacidade plástica do SN.

ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL

Funcionalmente, pode-se afirmar que o sistema

nervoso é composto por neurônios sensoriais, motores

e de associação. As informações provenientes dos

receptores sensoriais aferem ao Sistema Nervoso

Central (SNC), onde são integradas (codificação/

comparação/ armazenagem / decisão) por neurônios

de associação ou interneurônios, e enviam uma

resposta que afere a algum órgão efetor (músculo,

glândula).

O efeito do estímulo do neurorreceptor é, então, observado na alteração da membrana da célula pós-sináptica e nos eventos que disso decorrem. Os neurotransmissores se acoplam, assim, aos neurorreceptores. Atualmente, os neurorreceptores vêm sendo intensamente estudados. Cada neurotransmissor pode atuar sobre diversos subtipos de receptores de uma mesma categoria e o subgrupo de neurorreceptores descritos é crescente na literatura. Fonte: http://www.psiqweb.med.br

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 26

Kandel sugere que o “movimento voluntário é

controlado por complexo circuito neural no cérebro

interconectando os sistemas sensoriais e motor. (...) o

sistema motivacional”. As respostas desencadeadas

pelo SNC são tão mais complexas quanto mais

exigentes forem os estímulos ambientais (aferentes).

Para tanto, o cérebro necessita de uma

intrincada rede de circuitos neurais conectando suas

principais áreas sensoriais e motoras, ou seja, grandes

concentrações de neurônios capazes de armazenar,

interpretar e emitir respostas eficientes a qualquer

estímulo, tendo também a capacidade de, a todo

instante, em decorrência de novas informações,

provocar modificações e rearranjos em suas conexões

sinápticas, possibilitando novas aprendizagens.

ÁREAS ASSOCIATIVAS DO CÓRTEX

Todo o córtex cerebral é organizado em áreas

funcionais que assumem tarefas receptivas,

integrativas ou motoras no comportamento. São

responsáveis por todos os nossos atos conscientes,

nossos pensamentos e pela capacidade de

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 27

respondermos a qualquer estímulo ambiental de forma

voluntária. Existe um verdadeiro mapa cortical com

divisões precisas a nível anatomofuncional, mas que

todo ele está praticando sempre, mais ou menos

ativado, dependendo da atividade que o cérebro

desempenha, visto a interdependência e a necessidade

de integração constante de suas informações frente aos

mais simples comportamentos.

Lobo frontal - Responsável pela elaboração do pensamento, planejamento, programação de necessidades individuais e emoção. Lobo Parietal - Responsável pela sensação de dor, tato, gustação, temperatura, pressão. Estimulação de certas regiões deste lobo em pacientes conscientes produz sensações gustativas. Também está relacionado com a lógica matemática. Lobo temporal - É relacionado primariamente com o sentido de audição, possibilitando o reconhecimento de tons específicos e intensidade do som. Tumor ou acidente afetando esta região provoca deficiência de audição ou surdez. Esta área também exibe um papel no processamento da memória e emoção. Lobo Occipital - Responsável pelo processamento da informação visual. Danos nesta área promovem cegueira total ou parcial. Lobo Límbico (ao redor da junção do hemisfério cerebral e tronco encefálico) - Está envolvido com aspectos do comportamento emocional e sexual e com o processamento da memória.

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 28

EQUILÍBRIO E ELETRICIDADE CEREBRAL

Há muito é sabido que o cérebro, em constante

atividade, emite sinais elétricos que revelem, quando

analisados através da eletroencefalografia espectral, os

diversos estados cerebrais e que esses podem ser

normais ou patológicos.

Na verdade, o cérebro “escreve” constantemente

– através do trabalho elétrico dos neurônios – uma

espécie de codificação eletrônica gerada para cada tipo

de atividade, sentimento ou emoção com que nos

envolvemos.

Entrar em equilíbrio cerebral significa obter

sinais elétricos coerentes e proporcionais entre as

diversas áreas do cérebro para que esse possa

coordenar perfeitamente as atividades físicas

correspondentes. É nesse sentido que afirmamos que

ao se atingir a condição de equilíbrio cerebral, obtém-

se, conseqüentemente, o balanceamento psicofísico e,

normalmente, a condição de saúde física e mental.

Inúmeros métodos de treinamento em controle

mental buscaram atingir esse objetivo, mas o equilíbrio

perfeito do trabalho realizado pelo cérebro é na

verdade um fenômeno físico que tem ligação direta

com as condições do funcionamento neuronal.

Dessa forma, não basta apenas repetir técnicas

de controle cerebral, pois se faz necessário mudar o

padrão de funcionamento dos neurônios. Uma

vez atingido o equilíbrio, então é conveniente buscar o

controle, que pode ser alcançado com treinamento e

prática contínua.

É possível porque o cérebro é particularmente

sensível a estímulos especiais de luz e som, que

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 29

quando o atingem nas proporções adequadas e

coerentes, faz com que os neurônios busquem

continuar a produzir esse mesmo padrão rítmico

(gerando o fenômeno de bio-retro-alimentação ou

biofeedback).

Mesmo em situações patológicas, é possível

obter a condição de balanceamento cerebral, pois na

maioria dos casos o desequilíbrio é apenas elétrico,

constituindo somente uma situação de mau

funcionamento dos neurônios.

Em situações onde ocorreram lesões físicas

definidas, também, é possível obter o balanceamento

cerebral (dependendo da intensividade e do tipo de

lesão), pois ao ser lesada fisicamente uma área do

córtex, imediatamente ocorre uma “reação” natural por

parte do cérebro para suprir as funções desempenhadas

pelos neurônios da área lesada. Essa ação

compensadora do cérebro é, também, traduzida como

diferença em seu equilíbrio elétrico de funcionamento,

claramente perceptível na análise espectral.

Tudo isso acontece graças aos fenômenos

conhecidos como “plasticidade cerebral” (que

constituem as maiores evidências da capacidade

adaptativa do sistema nervoso central) e por contar o

cérebro com uma enorme reserva de células nervosas

que podem entrar em ação, assumindo e realizando as

funções dos neurônios lesados. O cérebro humano

trabalha com uma reserva de cerca de 90%, totalizando

285 bilhões de neurônios que podem ser acionados.

Quando o cérebro recebe as estimulações

corretas, uma imensidão de neurônios recobra seu

funcionamento normal e um outro grande número é

despertado para novas tarefas em caso de lesões

físicas.

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 30

O equilíbrio cerebral perfeito só se tornou

possível após a determinação precisa e proporcional

das freqüências elétricas emitidas pelo cérebro em suas

diversas áreas, durante a realização de funções

específicas.

RESUMO

Vimos até agora:

� Neurônios são células especializadas;

� Neurônios recebem sinais nervosos de

axônios de outros neurônios;

� Um neurônio típico apresenta três partes

distintas: corpo celular, dendritos e axônio;

� No corpo celular, a parte mais volumosa da

célula nervosa, se localiza o núcleo e a

maioria das estruturas citoplasmáticas;

� A informação é processada através de um

evento conhecido como impulso nervoso;

� As sinapses elétricas ocorrem quando o

terminal pré-sináptico está em continuidade

com o pós-sináptico;

� Sinapses são junções formadas com outras

células nervosas, onde o terminal pré-

sináptico de uma célula faz contato com a

membrana pós-sináptica de outra;

� As sinapses elétricas ocorrem quando o

terminal pré-sináptico está em continuidade

com o pós-sináptico;

� O século XX foi notável para o estudo do

cérebro;

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Aula 1 | Sistema nervoso: neurônios – nossa galáxia interna 31

� O cérebro humano constitui-se por dois

hemisférios cerebrais (esquerdo e direito);

� Os estímulos propostos pelos exercícios

neuróbicos dirigem-se aos hemisférios

esquerdo e direito e destaca a importância da

mudança de hábitos, desempenhando-se com

a outra mão atividades habituais diárias como

alternar o pulso do relógio, inserir frases

curtas em contextos mais amplos,

desenvolver analogias, explorar a intuição,

entre muitas outras, garantirão um cérebro

sempre em forma e jovem.

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Plasticidade cerebral, Memória; Atenção Marta Relvas

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o

Nesta aula falaremos sobre a plasticidade cerebral. Veremos que Plasticidade cerebral é o ponto culminante da nossa existência e seu desenvolvimento se dá ao longo da vida. Deste desenvolvimento depende todo o processo de aprendizagem e também de reabilitação das funções motoras e sensoriais. Acontece mais ou menos assim. Logo depois do nascimento, diversos processos são desencadeados no desenvolvimento das atividades cerebrais. Um recém-nascido possui cerca de um quarto da massa cerebral de um adulto, mas já tem quase todos os neurônios que precisará por toda a sua vida. Os neurônios se expandirão e se organizarão em grandes redes de processamentos. Os processos de: memorização, atenção, percepção, linguagem e pensamento são complexos envolvendo sofisticadas reações químicas e circuitos interligados de neurônios. As células nervosas ou neurônios, quando são ativadas liberam hormônios ou neurotransmissores que atingem outras células nervosas através de ligações denominadas sinapses. Bem vou parar por aqui, mas vem comigo que vamos ver isso tudo mais explicadinho.

Obj

etiv

os

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

� Conhecer o papel da plasticidade cerebral; � Reconhecer a relação entre memória, atenção, linguagem,

pensamento e aprendizagem; � Se aprofundar nos mistérios do funcionamento cerebral; � Verificar o papel da emoção nas funções cerebrais; � Conhecer como se processa a perda de memória; � Aprender como exercitar o cérebro para melhorar a memória.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 34

O que é plasticidade cerebral?

Plasticidade cerebral é a denominação das

capacidades adaptativas do Sistema Nervoso Central -

SNC – ou seja é a sua habilidade para modificar sua

organização estrutural própria e funcionamento. É a

propriedade do sistema nervoso que permite o

desenvolvimento de alterações estruturais em resposta

à experiência e como adaptação a condições mutantes

e a estímulos repetidos.

Este fato é melhor compreendido através do

conhecimento do neurônio, da natureza das suas

conexões sinápticas e da organização das áreas

cerebrais. A cada nova experiência do indivíduo,

portanto, redes de neurônios são rearranjadas, outras

tantas sinapses são reforçadas e múltiplas

possibilidades de respostas ao ambiente tornam-se

possíveis.

Até bem pouco tempo, existia a idéia que a falta

de capacidade dos neurônios se dividirem supunha a

impossibilidade de se fazer algo quanto às conexões de

neurônios, impedindo, assim, o indivíduo de aprender.

Ainda há alguns decênios, os neurobiólogos pensavam que os genes impunham as conexões iniciais entre neurônios (as células nervosas), mas interrogavam-se sobre o fato de saber se, sim ou não, qualquer maturação cerebral era tributária dos genes. Assim, considerava-se que a atividade cerebral, sob a forma de influxo nervoso ou de potenciais de ação no interior dos neurônios, modelava o número, a distribuição e a eficiência das sinapses (as regiões de contato entre dois neurônios), permitindo aos neurônios transmitir informações entre si. Mas, no decurso dos vinte últimos anos, as investigações mostraram que é a própria atividade cerebral que atua diretamente sobre o desenvolvimento das sinapses e que os potenciais de ação são necessários a esse desenvolvimento. Estas investigações põem em evidência um duplo fenômeno: por um lado, a plasticidade cerebral não é indefinida (quando certo número de ajustamentos estão terminados, as

Dica da professora

O estudo dos neurônios já foi realizado na aula anterior a esta.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 35

As reconexões neuronais é uma reorganização

responsável pelas modificações que são observadas no

sistema nervoso do indivíduo. Por esses meios, diz-se

que o indivíduo pode aprender e reaprender atividades

desenvolvidas por ele previamente de forma

espontânea e harmoniosa. Porém, este processo é

gradual, dependendo do desenvolvimento do sistema

nervoso, devendo ser valorizados os pequenos

progressos de cada dia.

O cérebro pode promover reconexão de circuitos

neuronais até quando há uma pequena perda de

conectividade, pois tende a uma recuperação

autônoma, enquanto uma grande perda terá perda

permanente da função, mas que para tanto necessitam

de objetivos precisos mantendo níveis adequados de

estímulos facilitadores e inibidores.

Os neurônios desenvolvem brotamentos

axonais, promovendo um aumento na habilidade

funcional e um aumento aparente na força através do

aprendizado. A prática de um exercício ou uma

atividade leva a uma melhora nas habilidades e

desempenho dos nossos aprendizes.

O sistema nervoso de uma criança em

desenvolvimento é mais plástico que o sistema nervoso

do adulto, a atuação correta e eficaz na estimulação da

plasticidade é de fundamental importância para a

máxima da função motora/sensitiva do indivíduo,

vias neuronais perdem qualquer capacidade de se modificar), e, por outro lado, em certas partes do cérebro é essencial, em contrapartida, que se mantenha uma plasticidade permanente, porque se trata de circuitos neuronais que permitem a aprendizagem e asseguram ao cérebro o armazenamento contínuo de novos conhecimentos. Fonte: http://www.citi.pt/educacao_final/trab_final_inteligencia_artificial/

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 36

visando facilitar o processo de aprender a aprender em

nosso cotidiano. É o nosso grande desafio, como

profissional que somos, conhecer o cérebro de nossos

aprendizes e clientes, e tão logo o funcionamento, pois

cada um tem as suas próprias características.

COMO SE DÁ A PLASTICIDADE CEREBRAL?

Podemos encontrar várias teorias sobre como

se dá a recuperação das funções perdidas em uma

lesão cerebral: ela poderia ser medida por partes

adjacentes de tecido nervoso que não foram lesadas, e

o efeito da lesão dependeria mais da quantidade de

tecido poupado do que da sua localização; pela

alteração qualitativa de uma via nervosa íntegra

controlando uma função que antes não era sua; através

de estratégias motoras diferentes para realizar uma

atividade que esteja perdida, sendo o movimento

recuperado diferente do original, embora o resultado

final seja o mesmo.

captam

Neurônio É um canal de comunicação

entre dois

Soma

É um canal de comunicação

entre dois Sinapse

Transmissão Sináptica

Possibilita a

Neurônios (Biológicos) Interconectam-se

com 1º

Podem ou não vir de um

Estímulos

ou Corpo Celular

Constitui-se de

Realiza a passagem do

representa, de algum modo, um determinado

são

é resultado de um

é o menor estimulo capaz de causar um

processa e transmite

é consequência da atividade do

Estimulo Limiar

Axônio

Potencial de Ação

Impulso Nervoso

Sinal Neural

Dendrito

Ramificações

Conhecimento

2º 4º 3º

Contem a

conduz

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 37

Estas formas de regeneração do SNC são

crucialmente dependentes do ambiente tissular no qual

os novos axônios estão crescendo. Eles podem não

conseguir estabelecer conexões sinápticas apropriadas,

devido aos fatores tróficos, condições desfavoráveis de

substratos extracelulares, barreiras mecânicas, como

de cicatrizes gliais densas ou outros mecanismos

inibitórios.

As áreas motoras do SNC demonstram os

princípios do brotamento e da sinaptogênese reativa. O

brotamento colateral já foi identificado no córtex, no

núcleo vermelho e em outras regiões cerebrais,

sugerindo que este é um fenômeno generalizado.

Supersensitividade de desnervações, por outro lado, já

foi demonstrada no núcleo caudado. A base das

mudanças reorganizacionais é a presença de conexões

intracorticais que permitem interações variáveis entre

neurônios no córtex motor primário.

Outro mecanismo ainda em fase de testes é o

transplante de células. O uso do transplante,

combinado com o treinamento adequado, demonstra

que pode haver recuperação através deste, associado

com programas de reabilitação, com melhora na

habilidade motora.

A Lei Pública Americana, P.L. 94-142, diz: "Dificuldade de aprendizagem específica significa uma perturbação em um ou mais processos psicológicos básicos envolvidos na compreensão ou utilização da linguagem falada ou escrita, que pode manifestar-se por uma aptidão imperfeita de escutar, pensar, ler, escrever, soletrar ou fazer cálculos matemáticos. O termo inclui condições como deficiências perceptivas, lesão cerebral, disfunção cerebral mínima, dislexia e afasia de desenvolvimento. O termo não engloba as crianças que têm problemas de aprendizagem resultantes principalmente de deficiência visual, auditiva ou motora, de deficiência mental, de perturbação emocional ou de desvantagens ambientais, culturais ou econômicas" (Federal Register, 1977).

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 38

A PLASTICIDADE CEREBRAL NO ADULTO

Durante muitas décadas, acreditou-se que o

cérebro de um adulto maduro não possuía capacidade

de regenerar suas células nervosas, ou seja, formar

novas sinapses, e que as conexões entre os neurônios

congelavam-se em posições imutáveis. Pensava-se que

o cérebro era semelhante a um computador,

permanecendo estável e imutável, com memória e

capacidade fixa.

Mas nos últimos anos, neurocientistas

descobriram que o cérebro muda durante a vida e que

essa mudança é benéfica. Experiências revelaram que

situações desafiadoras e ambientes ”complexos”,

agradáveis e divertidos fornecem capacidade extra de

que o cérebro precisa para reconfigurar-se. Essa

plasticidade dispara um mecanismo pelo qual o cérebro

remodela-se, para aprender a sentir-se melhor, ou

pode ser induzido a se auto-reparar, no caso de sofrer

lesões ou contrair doenças.

Exercícios mentais tais como fazer contas,

aprender novo jogo de tabuleiro, ler atentamente e

refletir sobre o texto, jogo de quebra-cabeça são alguns

exemplos de ginástica cerebral. Além desses temos

também as atividades físicas – caminhadas, exercícios

aeróbicos, tai chi chuan, hidroginástica, alongamentos

– que aumentam a produção de endorfina, responsável

pela sensação de bem-estar, e retarda problemas

cognitivos associados ao envelhecimento. Com

atividades físicas regulares, o sangue passa a circular e

levar mais oxigênio às áreas menos irrigadas do

cérebro, aumentando a quantidade de conexões

neurais, melhorando a memória e a capacidade de

raciocínio.

Dica de leitura

TENÓRIO, Robinson Moreira. Cérebros e Computadores. São Paulo: Escrituras, 2002.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 39

A PLASTICIDADE CEREBRAL NA CRIANÇA

Logo depois do nascimento, diversos processos

são desencadeados no desenvolvimento das atividades

cerebrais. Um recém-nascido possui cerca de um

quarto da massa cerebral de um adulto, mas já tem

quase todos os neurônios que precisará por toda a sua

vida. Os neurônios se expandirão e se organizarão em

grandes redes de processamentos.

Os primeiros anos de vida da criança são

fundamentais para o desenvolvimento da criança. O

contato físico, o ouvir a voz da mãe, as entonações

diferentes das vozes, as luzes e cores... enfim, cada

experiência nova, cada contato dispensado na época

certa faz realizar conexões sinápticas. Criando

condições favoráveis para o surgimento de

determinadas competências (musicalidade, raciocínio

lógico-matemático, inteligência espacial), capacidades

que se estabelecem na primeira infância. As emoções e

o equilíbrio psicológico dependem do exercício cerebral

realizado nos primeiros minutos de existência e se

estendem até a adolescência, além de estimular e

fortalecer conexões do sistema límbico. O estímulo

certo, na hora certa, pode proporcionar a capacidade

de controlar suas emoções ou vice-versa.

Sem memória não há aprendizagem

A memória é a base de todo o saber e também

de toda a existência humana, desde o nascimento.

Todo o nosso cérebro funciona através da memória.

Comemos, andamos, falamos porque nos lembramos

de como fazê-lo. A memória determina nossa

individualidade como pessoas e como povos. O cérebro

manda secretar um ou outro neurotransmissor ou

hormônio quando estamos alegres ou tristes, quando

sentimos medo ou prazer. Acontecimentos com maior

Dica de leitura

ZIMMER, Carl. A fantástica história do cérebro. O funcionamento do cérebro humano. Rio de Janeiro: Campus, 2004.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 40

carga emocional são relembrados com mais nitidez,

pois neuroquímicos são estimulados, garantindo sua

memorização. A memória é uma das funções mais

importantes do cérebro, está ligada ao aprendizado e à

capacidade de repetir acertos e evitar erros. “A

memória é a reprodução mental das experiências

captadas pelo corpo por meio de movimentos e dos

sentidos. Essas representações são evocadas na hora

de executar atividades, tomar decisões e resolver

problemas, na escola e na vida”, afirma Elvira Lima,

psicóloga e antropóloga, especialista em

desenvolvimento humano. O conceito de memória vai,

portanto, muito além do poder de recordar. Memória é,

também, a capacidade de planejamento, abstração,

julgamento crítico e atenção.

Funcionamento cerebral

O neurônio é a unidade sinalizadora do sistema

nervoso. É uma célula especializada, com vários

prolongamentos para a recepção de sinais e um único

para emissão de sinais. Podemos compará-los a árvores

sem folhas: os galhos seriam os dendritos; o tronco, o

axônio; e as raízes, os terminais pré-sinápticos.

Emaranhados de caminhos são criados entre eles, que

se orientam em várias direções. Quando os galhos de

uma célula nervosa tocam as raízes de outra, se

formam sinapses, conexões que não só permitem o

fluxo de informações, mas também detectam a

correlação entre células nervosas.

A sinapse é um local de comunicação entre os

neurônios e unidade elementar de armazenamento da

memória e onde ocorrem sínteses de proteínas, trocas

elétricas e ativação de genes que resultam no

armazenamento da informação. Quanto mais conexões,

mais memória. Cada neurônio pode se comunicar com

até outros mil. Fazendo as contas, como o ser humano

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 41

tem de 10 bilhões a 86 bilhões de células, é possível

haver até 100 trilhões de conexões sinápticas. A

capacidade de processamento de informações do

sistema nervoso provém da integração entre as

milhares de sinapses existentes em cada neurônio.

Ao vivenciar uma experiência, o sujeito recebe

informações de todo o tipo. Em determinadas

situações, os sentidos visuais e auditivos podem estar

sendo mais exigidos, neurônios são ativados de forma

consistente e simultânea, a “força sináptica” dessas

conexões são potencializadas. Sinais luminosos são

captados pela retina e sons pelos aparelhos auditivos,

são transformados em impulsos elétricos que migram

para o córtex cerebral, eles circulam antes de serem

descartados ou arquivados. O impulso morre, mas a

passagem por determinado caminho estabelece

conexões, criam-se “ganchos”, que permite ao cérebro

Cientistas do laboratório de Neuroengenharia, da Universidade da Geórgia (Estados Unidos) construíram um pequeno robô que se move utilizando sinais de células do cérebro de um rato, cultivadas "in vitro". Este é o primeiro robô do mundo cujos movimentos são controlados por uma rede de neurônios. O objetivo do pesquisador Steve Potter e sua equipe é a criação de sistemas de computação que funcionem da mesma forma que o cérebro humano. Para isso, eles estão estudando os mecanismos básicos do aprendizado, memorização e processamento de informações de neurônios cultivados em laboratório. (...) Os cientistas acreditam que poderão um dia construir uma rede neural artificial que aprende como o cérebro humano. "O aprendizado é freqüentemente definido como a mudança derradeira no comportamento, resultante da experiência," disse o Dr. Potter. "A fim de que uma rede aprenda, ela deve estar apta a se comportar. Utilizando multieletrodos como uma interface de duas vias para uma rede cultivada de células do córtex de um mamífero, nós estamos dando a estas redes um corpo artificial com o qual se comportar." Pense sobre qual a sua opinião sobre os limites do desenvolvimento tecnológico nesta área.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 42

recriar imagens. Quando essa informação é resgatada

da memória, o conhecimento será acessado de forma

simples e rápida. O que não tem nada a ver com

decoreba.

Por exemplo, se o estudante não aprende o

conteúdo é porque não encontrou nenhuma referência

nos arquivos já formados para abrigar a nova

informação, com isso, a aprendizagem não ocorre. Não

adianta insistir no mesmo tipo de explicação. Por isso,

os conhecimentos do aluno precisam ser investigados,

recordar aulas anteriores e dispor de diversos recursos

pedagógicos são importantes para formar “ganchos”,

facilitando a aprendizagem. Se o assunto estudado

estiver ligado a um som, a uma linguagem e a um

cheiro, três áreas diferentes do cérebro tentarão

recuperar esta memória. Isso pode ocorrer em outras

situações e não só na escola.

Recursos como associar imagens com sons,

palavras, cores e assim por diante, facilitam o

armazenamento e o acesso a determinado

conhecimento. Criar letra para música, versinhos

rimados, frases engraçadas, são associações que levam

à memorização.

O papel da emoção nas funções cerebrais

Temos duas memórias, uma que se emociona,

sente, comove... outra que compreende, analisa,

pondera, reflete... Trata-se de emoção e de razão.

Essa dualidade se articula através de um mecanismo

dinâmico, uma impulsionando a outra com grande

rapidez nas tomadas de decisões. Cada pessoa

apresenta diferentes reações conforme a utilização de

suas mentes. Nessa interação o sistema límbico está

presente, personagem importante para o cérebro.

Elemento responsável pelo prazer e pelo aprendizado

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 43

situa-se nesta região. A falta de libidinação gera

problemas conflitantes, inibindo o processo de

aprendizagem, “aprender é um ato desejante e sua

negação é o não aprender. O desejo é movido pelo

inconsciente, que nesse momento do aprender ou não

aprender responde às informações libidinadas

(negação, recusa, omissão, rejeição)...” A emoção está

para o prazer assim como o prazer está para o

aprendizado, e a auto-estima é a ferramenta que

movimenta os estímulos para gerar bons resultados.

O cérebro processa tão velozmente essa relação que

não se pode perceber a ligação de elementos

consultando uns aos outros ao resolver uma simples

questão.

Em "O erro de Descartes", o neurologista António Damásio propõe que a ausência de emoção e de sentimento podem destruir a racionalidade, a característica que determina o ser humano. Para Damásio, ao contrário do que é comum se afirmar, as decisões sensatas não saem de uma "cabeça fria", nem a razão está situada numa região separada da mente, onde as emoções não estão autorizadas a penetrar. A famosa frase do filósofo francês, "penso, logo existo", sugere uma atividade ("pensar") exclusiva da mente, separada do corpo. Damásio contesta o dualismo da frase e sustenta que certos aspectos do processo da emoção e do sentimento são indispensáveis para a racionalidade, e que os sentimentos e emoções são uma percepção direta de nossos estados corporais e constituem um elo entre corpo e consciência. Para sustentar sua tese, o autor começa o livro com uma análise sobre o comportamento de Phineas Cage, um operário norte-americano vítima de um grave acidente no século 19 - uma barra de ferro perfurou seu cérebro, sem matá-lo. O caso Cage, pela primeira vez na história, tornou evidente a ligação entre lesão cerebral e limitação da racionalidade.

(Cícero Solimões) DAMÁSIO, Antônio. O Erro de Descartes. Emoção, Razão e o Cérebro Humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 44

Memória e Atenção – uma depende da

outra.

O termo memória tem sua origem etimológica

no latim e significa a faculdade de reter e/ou readquirir

idéias, imagens, expressões e conhecimento. É o

registro de experiências e fatos vividos e observados,

podendo ser resgatados quando preciso. Isso faz com

que a memória seja a base para a aprendizagem, pois,

com as experiências que possuímos armazenadas na

memória temos a oportunidade e habilidade de mudar

o nosso comportamento. Ou seja, a aprendizagem é a

aquisição de novos conhecimentos e a memória é a

fixação ou retenção desses conhecimentos adquiridos.

COMO SE FORMA A MEMÓRIA

Para se construir a memória, passamos por um

processo de assimilação. E é através desse processo

que enviamos as informações para a memória de curta

ou de longa duração. Neste momento, o hipocampo é

ativado. O hipocampo ajuda a selecionar onde os

aspectos importantes para fatos, eventos serão

armazenados e está envolvido, também, com o

reconhecimento de novidades e com as relações

espaciais, tais como o reconhecimento de uma rota

rodoviária. É ele que filtra os dados, usa e joga fora

informações de curto prazo e se encarrega de enviar

outras para diferentes partes do córtex cerebral. Essas

informações se envolvem numa verdadeira “sopa

química” que passa a provocar “intercâmbio” entre os

neurônios. Nesta fase, o hipocampo descansa e quem

passa a trabalhar é o lobo frontal.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 45

ATENÇÃO!

O lobo frontal funciona como um “coordenador

geral” de todas as memórias e da atenção. É

responsável pela guarda das informações, bem como

de classificá-las de acordo com seus diferentes tipos.

Nessa área cerebral as diferentes memórias se

completam dando origem ao raciocínio.

O hipocampo é uma pequena estrutura bilobular alojada profundamente no centro do cérebro. Tal como o teclado do nosso computador, o hipocampo é como uma espécie de posto de comando. À medida que os neurônios do córtex recebem informação sensorial, transmitem-na ao hipocampo. Somente após a resposta do hipocampo é que os neurônios sensoriais começam a formar uma rede durável (assembléia). Sem o "consentimento" do hipocampo, a experiência desvanece-se para sempre. É aqui que entra a carga afetiva necessária para que o estímulo se fixe na memória de longo prazo. A atitude de "consentimento" do hipocampo parece depender de duas questões. Primeiro, a informação tem algum significado emocional, portanto, tem que ter alguma importância afetiva. O nome de uma pessoa muito atraente tem mais probabilidade de conseguir "autorização" do hipocampo para se fixar no "disco rígido" de nosso computador do que o nome do jornalista que escreve o obituário do jornal. É assim que nossa consciência se constrói, sempre em conformidade com nossos próprios interesses emotivos. Fonte: BALLONE, G. J. em http://www.psiqweb.med.br/cursos/memoria/html

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 46

É o lobo frontal que acessamos quando

“vasculhamos” nossa memória à procura de

informações guardadas no córtex. Essa parte do

cérebro é extremamente complexa e, por isso, bastante

sensível. A idade, a depressão, o estresse e também a

sobrecarga de informações afetam a nossa memória. O

volume de informações sobrecarrega o lobo frontal que,

em muitos momentos, nos “desligam” ou geram

aqueles “brancos” que tantas vezes nos desesperam.

A memória não está localizada em uma

estrutura isolada no cérebro: ela é um fenômeno

biológico e psicológico envolvendo uma aliança de

sistemas cerebrais que funcionam juntos.

O processo de memorização é complexo,

envolvendo sofisticadas reações químicas e circuitos

interligados de neurônios. As células nervosas ou

neurônios, quando são ativadas, liberam hormônios ou

neurotransmissores que atingem outras células

nervosas através de ligações denominadas sinapses.

Quanto mais conexões, mais memória!

Os fatos antigos, naturalmente, têm mais tempo

de se fixar em nosso banco de dados e daí sua melhor

fixação, o que não ocorre com fatos recentes, que têm

pouco tempo para se fixarem e, ainda, podem ter sua

capacidade de fixação alterada por razões relacionadas

a variações de estado emocional ou a problemas de

ordem física.

Cada célula cerebral (ou neurônio) contribui para

o comportamento e para a atividade mental,

conduzindo ou deixando de conduzir impulsos. Todos os

processos da memória são explicados em termos

destas descargas.

As alterações decorrentes da aprendizagem e da

memória são chamadas plasticidade.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 47

Quando uma célula é ativada, é desencadeada a

liberação de substâncias químicas nas sinapses,

chamadas neurotransmissores, tornando-as mais

efetivas. Pesquisas revelaram que neurônios

“exercitados” possuem um número maior de

ramificações (dendritos) se comunicando com dendritos

de outros neurônios.

Assim, para que as memórias sejam criadas, é

preciso que as células nervosas formem novas

interconexões e novas moléculas de proteína.

TIPOS DE MEMÓRIA

� Memória Ultra rápida

A retenção da informação não dura mais do que

alguns minutos.

� Memória de Curto Prazo ou de Curta Duração

Esse tipo de memória não forma “arquivos”.

Nela guardamos informações que serão utilizadas

dentro de pouco tempo. Logo após sua utilização,

esquecemos os dados nela armazenados.

Exemplo: Local onde estacionou o carro, o

conteúdo decorado para uma prova.

� Memória de Longo Prazo ou de Longa

Duração

Armazena as informações por um longo período.

A capacidade de armazenamento é limitada. Pode ser

dividida em Declarativa e Não declarativa.

Memória Declarativa é a memória para fatos e

eventos, reúne tudo que podemos evocar por meio de

Importante

Para amarrar essa aula vamos relembrar? Plasticidade Cerebral é a denominação das capacidades adaptativas do Sistema Nervoso Central (SNC) - sua habilidade para modificar sua organização estrutural própria e funcionamento. É a propriedade do sistema nervoso que permite o desenvolvimento de alterações estruturais em resposta à experiência e como adaptação a condições mutantes e a estímulos repetidos.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 48

palavras. Pode ser episódica quando envolver eventos

datados, isto é, relacionados ao tempo. E será

Semântica quando envolver o significado das palavras

ou quando envolver conceitos atemporais.

Memória Não declarativa é aquela para

procedimentos e habilidades. Pode ser De

Procedimentos quando se referir às habilidades e

hábitos como, por exemplo, dirigir e nadar. De Dicas

quando for evocada, resgatada por meio de dicas, como

acontece quando ouvimos sons ou sentimos algum odor

que nos lembram uma situação há tempos vivida. Será

Associativa quando nos fizer associar um determinado

comportamento a um fato. Um bom exemplo disso é

quando salivamos ao ver um prato apetitoso. Nós

lembramos o quanto é saborosa aquela comida e nosso

organismo responde a essa lembrança. E, finalmente, a

memória poderá ser Não Associativa quando for

resgatada através de estímulos repetitivos. Ocorre, por

exemplo, quando ouvimos o latido de um cão pequeno.

Esse tipo de latido não nos causará medo porque

saberemos relacioná-lo com o de um animal que não

oferece perigo.

PERDA DE MEMÓRIA

A perda de memória pode estar associada a

determinadas doenças neurológicas, a distúrbios

psicológicos, a problemas metabólicos e também a

certas intoxicações. A forma mais freqüente de perda

de memória é conhecida popularmente como

“esclerose” ou demência.

A demência mais comum é a doença de

Alzheimer que se caracteriza por perda acentuada de

memória acompanhada de graves manifestações

psicológicas como, por exemplo, a alienação.

Dica de filme

Sugestão de filme: AMNÉSIA Um ladrão ataca um casal, terminando por matar a mulher e deixando o homem à beira da morte. Porém, ele sobrevive e durante sua recuperação busca recuperar a memória, já que foi afetado por uma amnésia que o fez esquecer os trágicos momentos do assalto, que precisam ser relembrados para que detalhes sobre o assassino possam ser entregues à polícia a fim de encontrar o responsável pela morte de sua esposa. Atenção: este filme tem uma estrutura de roteiro muito diferente e, a fim de compor as etapas da história, a narrativa se dá de trás para frente!

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 49

Estados psicológicos alterados como o estresse,

a ansiedade e a depressão podem, também, alterar a

memória.

A falta de vitamina B1 (tiamina) e o alcoolismo

levam à perda de memória para fatos recentes e com

freqüência estão associados a problemas de marcha e

confusão mental.

Doenças de tireóide, como o hipotireoidismo,

geralmente, se acompanham de comprometimento de

memória.

O uso de medicação tranqüilizante

(“calmantes”) por tempo prolongado provoca a

diminuição da memória e favorece também a

depressão, o que leva a uma situação que pode se

confundir com a demência.

A vida sedentária, com excesso de preocupações

e insatisfações, bem com a dieta deficiente, favorece a

perda de memória.

Contrariamente ao esquecimento comum

ocorrido normalmente no dia-a-dia de nossas vidas,

existem algumas doenças e injúrias no cérebro que

causam séria perda de memória e, também, interferem

com a capacidade de aprender. A esta instabilidade dá-

se o nome de Amnésia.

COMO MELHORAR A MEMÓRIA

A contínua atividade intelectual como a leitura,

exercícios de memória, palavras cruzadas e jogo de

xadrez auxiliam a manutenção da memória.

O estilo de vida ativa com atividade física

realizada regularmente e uma dieta saudável são

Para pesquisar

Analise a diferença entre o nível de atividade mental de uma criança com o de um adulto. Muitas vezes a redução desta atividade é dramática. Agora, pense em um idoso. O que acontece nesta faixa etária? Experimente fazer uma listagem das atividades cotidianas de uma criança, um adulto e um idoso, verificando esta diferença. Não deixe, ainda, de pensar em sugestões para que esta redução de atividades (e conseqüentemente da memória) não seja tomada com naturalidade ou como “coisas da idade”.

Quer saber mais?

Fatores que podem causar perda total ou parcial da memória: � Concussão; � Alcoolismo

crônico; � Drogas e

medicamentos; � Tumor cerebral; � Encefalite.

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 50

pontos importantes para a manutenção da memória.

A diminuição da memória que ocorre na 3ª

idade, na maioria das vezes, é absolutamente benigna,

mas, freqüentemente, por falta de melhor informação,

angustia o idoso que tem dificuldade de aceitá-la como

um fato normal.

Semelhante ao que ocorre com exercícios

musculares realizados para se manter a boa forma

física, a atividade cerebral também deve ser realizada

com freqüência, sempre procurando estimular nossos

principais sentidos: olfato, paladar, tato, visão e

audição, bem como nossa memória e inteligência.

O declínio de nossas funções mentais que ocorre

com a idade se deve em grande parte à falta de atividade

mental que com freqüência segue paralelamente ao

envelhecimento. Vários trabalhos realizados em diversos

países demonstram claramente que o declínio mental que

ocorre com a idade pode ser evitado.

Devemos estimular nossas percepções, nossa

memória (recente e antiga), noções espaciais,

habilidades lógicas e verbais.

Os exercícios cerebrais nada mais são do que

estímulos às funções cerebrais que podem estar

decadentes devido à idade e que já foram ativas no

passado.

A ativação deve ser feita diariamente, durante

as atividades normais, como o caminhar, durante as

refeições ou mesmo durante as compras.

Muitas coisas podem ser feitas para melhorar a

memória. Várias técnicas e cuidados podem ser

utilizados. Entre eles:

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 51

� Dormir bem;

� Beber bastante água;

� Uma boa alimentação;

� Relaxar;

� Associar fatos a imagens (técnicas

mnemônicas);

� Estimular a memória utilizando o máximo da

capacidade mental;

� Visualizar imagens;

� Praticar jogos de xadrez, palavras cruzadas;

� Exercícios físicos.

RESUMO

Vimos até agora:

� O sistema nervoso de uma criança em

desenvolvimento é mais plástico que o sistema

nervoso do adulto, a atuação correta e eficaz na

estimulação da plasticidade é de fundamental

importância para a máxima da função

motora/sensitiva do indivíduo, visando facilitar o

processo de aprender a aprender em nosso

cotidiano. É o nosso grande desafio, como

profissional que somos, conhecer o cérebro de

nossos aprendizes e clientes, e tão logo o

funcionamento, pois cada um tem as suas

próprias características;

� A memória é a base de todo o saber e também de

toda a existência humana, desde o nascimento.

Todo o nosso cérebro funciona através da

memória. Comemos, andamos, falamos porque

nos lembramos de como fazê-lo. A memória

determina nossa individualidade como pessoas e

como povos;

ALIMENTAÇÃO EQUILIBRADA

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Aula 2 | Plasticidade cerebral e memória 52

� Ao vivenciar uma experiência, o sujeito

recebe informações de todo o tipo. Em

determinadas situações, os sentidos visuais e

auditivos podem estar sendo mais exigidos,

neurônios são ativados de forma consistente

e simultânea, a “força sináptica” dessas

conexões são potencializadas;

� A perda de memória pode estar associada a

determinadas doenças neurológicas, a distúrbios

psicológicos, a problemas metabólicos e

também a certas intoxicações. A forma mais

freqüente de perda de memória é conhecida

popularmente como “esclerose” ou demência;

� A contínua atividade intelectual como a

leitura, exercícios de memória, palavras

cruzadas e jogo de xadrez auxiliam a

manutenção da memória;

� O estilo de vida ativa com atividade física

realizada regularmente e uma dieta saudável

são pontos importantes para a manutenção

da memória.

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A Filogênese do Sistema Nervoso Percepção; Linguagem e Pensamento Marta Relvas

AU

LA3

Apr

esen

taçã

o

A neurociência é o estudo da realização física do processo de informação no sistema nervoso humano. O estudo da neurociência engloba três áreas principais: a neurofisiologia, a neuroanatomia e a neuropsicologia. A neurofisiologia é o estudo das funções do sistema nervoso. Ela utiliza eletrodos para estimular e gravar a reação das células nervosas ou de áreas maiores do cérebro. Ocasionalmente, separam as conexões nervosas para avaliar os resultados. A neuroanatomia é o estudo da estrutura do sistema nervoso, em nível microscópio e macroscópio. Os neuroanatomistas dissecam o cérebro, a coluna vertebral e os nervos periféricos fora dessa estrutura. A neuropsicologia é o estudo da relação entre as funções neurais e psicológicas. A principal pergunta da neuropsicologia é qual área específica do cérebro controla ou media as funções psicológicas. O principal método de estudo usado pelos neuropsicólogos é o estudo do comportamento ou mudanças cognitivas que acompanham lesões em partes específicas do cérebro. Estudos experimentais com indivíduos normais também são comuns. E é sobre um pouco de cada ponto desses que trataremos nessa aula.

Obj

etiv

os

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: � Descrever a filogênese do sistema nervoso; � Entender a estrutura e o funcionamento do sistema nervoso; � Rever pontos sobre a plasticidade cerebral e a memória; � Conhecer mais sobre a linguagem e outras funções de alto

nível; � Estudar os distúrbios da fala e da compreensão, além de ver

outros distúrbios; � Analisar a especialização dos hemisférios; � Reconhecer as implicações nas ciências cognitivas.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 55

Filogênese do sistema nervoso

Os seres vivos, mesmos os mais primitivos,

devem se ajustar continuamente ao meio ambiente, que

também é mutável, para sobreviver enquanto indivíduo e

ainda como espécie.

Essa resposta pode ser um encurtamento da

célula produzido pela propriedade chamada

contratilidade. Essa reação normalmente acontece no

sentido de fugir a um estímulo nocivo ou para se

aproximar de um estímulo agradável.

Experiências com o microorganismo unicelular

chamado de ameba demonstraram que ela se afasta

lentamente do ponto onde fora tocado por uma micro-

agulha. São reações rudimentares, sem especialização de

nenhuma das propriedades citadas.

Em seres mais complexos, pluricelulares, como as

esponjas do mar, já encontramos células diferenciadas.

Algumas dessas células, as mais internas, se

especializaram em movimentos de contração; outras

localizadas na superfície desenvolveram mais as

Os seres unicelulares, os mais primitivos na escala filogenética, possuem três propriedades fundamentais para a sua adaptação ao meio ambiente e conseqüente sobrevivência. Essas propriedades são irritabilidade, condutibilidade e contratilidade.

Através da irritabilidade, a célula detecta as modificações do meio ambiente. Essa sensibilidade celular, causada por um estímulo, é conduzida à outra parte da célula através da condutibilidade, possibilitando uma resposta a esse estímulo.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 56

propriedades de irritabilidade e condutibilidade. Quando a

água que passa pelos orifícios no interior das esponjas

contêm substâncias irritantes, as células constitutivas se

contraem, fechando a passagem do líquido para o interior

da esponja.

A evolução filogenética providenciou para que

essas células especializadas em conduzir sinais se

agrupassem e formassem um sistema nervoso central.

Esse sistema de comando conta com neurônios sensitivos

ou aferentes, que são responsáveis pela coleta de

informações oriundas do meio ambiente. Essas

informações ou sinais são enviados ao centro de

comando, formado pelo sistema nervoso central para que

este elabore e retome uma determinada reação ou

resposta. Essa resposta é possível graças aos neurônios

eferentes ou motores.

As respostas podem ser elaboradas e retomadas a

partir de qualquer ponto do sistema nervoso central como

encéfalo, medula, tubo raquidiano. Os reflexos patelares,

observados no joelho do homem, quando se bate com um

martelete nessa região, o que provoca o estiramento

involuntário da perna para frente, é um exemplo de

reação a partir da medula.

Outro tipo de neurônio trouxe um considerável

aumento do número de sinapses, o que aumentou

significativamente a complexidade do sistema nervoso.

Esse neurônio foi denominado de neurônio de associação

ou internunciais. Ele associa os diversos tipos de

informações e elabora as respostas a serem dadas ao

estímulo. Seria o rudimento de inteligência, capaz de

elaborar.

Essa aglutinação numa das extremidades dos

animais foi dando origem ao encéfalo, que é uma porção

do sistema nervoso central composto pelo cérebro,

mesocéfalo, cerebelo, tronco encefálico.

Importante

Nos metazoários, seres ainda mais complexos, as células musculares responsáveis pela contratilidade foram ficando na parte mais interior do animal. Na superfície ficaram as células sensoriais responsáveis pela identificação do estímulo. Essa distância entre as células sensoriais e as musculares foi compensada pela especialização de células exclusivas para permitir a condutibilidade da informação colhida na superfície, levando-as até o interior do ser, para que houvesse uma resposta, que pode ser de repulsão ou de aproximação, dependendo do teor do estímulo. Estamos falando dos neurônios.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 57

O crescimento gradual do encéfalo, observado na

escala filogenética, atinge seu maior tamanho no ser

humano.

Os neurônios de associação situados no encéfalo

foram os responsáveis pelo surgimento das funções

psíquicas superiores. Chegava, assim, ao ápice, a

evolução do sistema nervoso.

Estrutura e funcionamento do sistema

nervoso

Observando a estrutura do sistema nervoso,

percebemos que eles têm partes situadas dentro do

cérebro, da coluna vertebral e outras distribuídas por

todo corpo. As primeiras recebem o nome coletivo de

sistema nervoso central (SNC), e as últimas de sistema

nervoso periférico (SNP). É no sistema nervoso central

que está a grande maioria das células, seus

prolongamentos e os contatos que fazem entre si. No

sistema nervoso periférico, estão relativamente poucas

células, mas um grande número de prolongamentos

chamados fibras nervosas, agrupadas em filetes

alongados chamados nervos.

O crescimento do número de neurônios de associação aconteceu de forma agrupada e em uma das extremidades dos seres vivos, o que seria mais tarde a sua cabeça. Durante os deslocamentos, os animais percebiam mais rapidamente as mudanças do meio através desses neurônios agrupados nessa extremidade e podiam elaborar resposta mais rápida, livrando-se de perigos ou para encontrar alimento. Essa extremidade especializou-se em explorar ambientes e por isso foi aparelhada com boca, olhos, ouvido ou antenas e nariz, enfim, todos os órgãos dos sentidos. Devido a sua importância, esse agrupamento de neurônios foi protegido por um crânio.

Quer saber mais?

Os nervos (conjunto de neurônios) podem ser divididos em nervos que levam informação para o SNC e nervos que levam informação do SNC. Os primeiros são chamados fibras aferentes e os últimos de fibras eferentes. As fibras aferentes enviam sinais dos receptores (células que respondem ao estímulo sensorial nos olhos, ouvidos, pele, nariz, músculos, articulações) para o SNC. As fibras eferentes enviam sinais do SNC para os músculos e as glândulas.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 58

UMA REVISÃO

Os neurônios são formados por três partes: a

soma, os axônios e os dendritos. A parte central, corpo

celular ou soma, contém o núcleo celular. Pode-se

observar que a soma possui grande número de

prolongamentos, ramificando-se múltiplas vezes como

pequenos arbustos, são os dendritos. É através dos

dendritos que cada neurônio recebe as informações

provenientes dos demais neurônios a que se associa. O

grande número de neurônios é útil à célula nervosa,

pois permite multiplicar a área disponível para receber

as informações aferentes. Saindo da soma, também,

existe um filamento mais longo e fino, ramificando-se

pouco no trajeto e muito na sua porção terminal, é o

axônio. Cada neurônio tem um único axônio e é por ele

que saem as informações eferentes dirigidas às outras

células de um circuito neural.

A região de contato entre um terminal de fibra

nervosa e um dendrito ou o corpo (mais raramente outro

axônio) de uma segunda célula chama-se sinapse, e

constitui uma região especializada fundamental para o

processamento da informação pelo sistema nervoso. Na

sinapse, nem sempre, os sinais elétricos passam sem

alteração, podem ser bloqueados parcial ou

completamente, ou então multiplicados. Logo, não corre

apenas uma transmissão da informação, mas uma

transformação durante a passagem.

A transmissão sináptica pode ser química ou

elétrica. Na sinapse elétrica, as correntes iônicas

passam diretamente pelas junções comunicantes

(região de aproximação entre duas células) para as

outras células. A transmissão é ultra-rápida, já que o

sinal passa praticamente inalterado de uma célula para

outra. Na sinapse química, a transmissão do sinal

através da fenda sináptica (região de aproximação

Dica de leitura

MACHADO, Ângelo. Neuroanatomia funcional. Rio de Janeiro: Atheneu, 2000.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 59

entre duas células, bem maior que as junções

comunicantes) é feita através de neurotransmissores. A

sinapse química pode ser excitatória, quando ocorre um

aumento no estímulo recebido pelo neurônio pós-

sináptico, ou inibitória, quando ocorre uma diminuição

do estímulo no neurônio pós-sináptico. São essas

transformações ocorridas durante a sinapse que

garantem ao sistema nervoso a sua enorme diversidade

e capacidade de processamento de informação.

Uma das melhores maneiras de perceber a

influência dos neurotransmissores na cognição é

observando a quantidade de drogas cujo efeito provém

da modificação da atividade dos neurotransmissores,

como a nicotina.

Continuando nossa revisão

PLASTICIDADE

Plasticidade é a capacidade do sistema nervoso

alterar o funcionamento do sistema motor e perceptivo

baseado em mudanças no ambiente.

Estudos comprovam a hipótese sobre o

desenvolvimento neural e a aprendizagem na qual

funções particulares de processamento de informação

são controladas por grupos especiais de neurônios,

mas quando uma dessas funções fica inutilizada, os

neurônios associados a ela passam a controlar outra

função. Por exemplo, se os neurônios que normalmente

recebiam estímulos do olho esquerdo pararem de

receber esse estímulo, eles se tornariam responsáveis

pelos estímulos do olho direito. O inverso também é

verdadeiro, quando as funções neurais são limitadas,

os neurônios podem passar a controlar novas funções.

No entanto, nem sempre esse processo ocorre.

A plasticidade é mais comum em crianças.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 60

MEMÓRIA

Quando falamos em memória, insistem os

pesquisadores, não falamos em informações que são

guardadas intactas, mas fragmentos ou traços que são

armazenados e recuperados em forma de memória.

"Formamos novas memórias sobre outras mais antigas,

eventualmente modificando-as e inventando mentiras

verídicas", explica Izquierdo, um dos maiores

estudiosos sobre o assunto do país. Isso equivale a

dizer que as memórias não são amostras fiéis de fatos

reais, mas construções que são modificadas conforme o

contexto em que são recuperadas e em meio a um

intenso trânsito de sinapses (espaço entre neurônios,

onde ocorre a transferência de informações em forma

de impulsos elétricos).

Um sem número de cheiros, sabores, objetos,

rostos, conhecimentos, sons, tatos, medos, números,

comportamentos e cenários vão sendo estocados em

nosso cérebro. Ele é capaz de nos remeter à infância,

em questão de segundos, quando sentimos um cheiro

familiar. Somos capazes de lembrar o momento exato

em que aquele perfume fazia parte de nossas vidas.

Isso quer dizer que de nada valeria tanta informação

guardada se ela não pudesse ser rapidamente

recuperada. Izquierdo explica que, no momento da

evocação de uma memória, forma-se um percurso

sináptico em que cada sinapse possui um caminho de

reações bioquímicas, como se cada lembrança tivesse

uma reação em cascata própria, um trajeto que a

localizasse em meio a tantas informações. "No caso da

evocação, esse percurso é mais curto e mais simples do

que na formação de cada memória", esclarece o

pesquisador.

A formação de memórias, desde a aquisição,

passando pela consolidação até chegar à evocação ou à

Dica de filme

Série Educadora. Memória, Criatividade na Educação Atta e Mídia e Educação. Prof. Celso Antunes. Site: www.educadores.com.br

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 61

lembrança, são processos dependentes da transmissão

de informações célula a célula por meio da ajuda de

neurotransmissores ou moléculas, que agem no espaço

existente entre dois neurônios (sinapses). Essas

substâncias, conta Izquierdo no artigo "Os labirintos da

memória" (Ciência Hoje. Nº. 148, Abril 1999), são

responsáveis por ampliar a comunicação entre as

células, uma vez que permitem a ligação de receptores

na membrana da célula, que é assim estimulada,

provocando o desencadeamento de uma cascata de

reações químicas. Entre as muitas reações, os

neurotransmissores costumam ativar enzimas

(proteínas que aceleram reações químicas), que entram

no núcleo da célula, ativando genes que, então,

sintetizam proteínas. Essas proteínas estão envolvidas

não apenas na formação inicial de memória, mas

também no momento de recrutá-las como lembranças,

para então serem armazenadas.

Entretanto, eles estão relacionados, pois a

memória declarativa pode ser convertida em memória

reflexiva pela repetição constante. Assim, por exemplo,

os atletas desenvolvem movimentos respostas que,

com o treinamento, se tornam "instintivos". De

maneira semelhante, muitos aspectos do

comportamento, tão complexos quanto dirigir um

automóvel ou tocar piano, tornam-se respostas de

hábito.

É óbvio que existem vários tipos de memória, e que estes variam em complexidade, desde os tipos primitivos, que explicam a habituação e a sensitização, às complexas memórias conscientes do homem. Os tipos são convenientemente divididos em memória não-declarativa ou reflexiva e memória declarativa. A memória não-declarativa inclui o condicionamento clássico, habilidades e hábitos, e é em grande parte ou, com freqüência, completamente inconsciente. A memória declarativa, por outro lado, envolve a recuperação consciente de eventos ou fatos que tenham ocorrido. Estes tipos de memória são processados de formas diferentes e em partes diferentes do cérebro.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 62

O início da formação das memórias se dá na

fase conhecida por aquisição e que consiste na chegada

das informações aos sistemas sensoriais (visual, tátil,

auditivo, olfativo e gustativo) na forma de estímulos.

Os dados que chegam ao cérebro são, então,

processados em diferentes regiões e resultam em

memórias que podem ser, basicamente, de três tipos,

de acordo com a duração.

MEMÓRIA DE ELEFANTE

Quem nunca ouviu falar de “memória de

elefante”? Conta-se que um alfaiate indiano enfiou uma

agulha na tromba de um elefante e, anos mais tarde,

quando o animal reencontrou o alfaiate, encheu a

tromba d'água e despejou sobre o homem, prova de

sua boa memória.

Na realidade, pouco foi estudado sobre a

memória desses animais, mas cientistas da

Universidade de Sussex, na Inglaterra, estudaram as

fêmeas de manadas, testando sons gravados de mais

de cem indivíduos do mesmo grupo, do Parque Nacional

Amboseli, no Quênia, sendo que alguns já estavam

separados há anos. Os animais testados reconheceram

os sons apresentados, apontando não apenas para uma

boa memória, mas para a importância dela para a

organização social e até para auxiliar na conservação

desses animais.

MEMÓRIA DO TRABALHO OU MEMÓRIA

OPERACIONAL

A memória do trabalho mantém a informação

viva durante segundos ou minutos, enquanto ela é

percebida ou processada. Essa memória é sustentada

pela atividade elétrica dos neurônios do córtex pré-

frontal. Esses neurônios interagem com outros através

Dica de leitura

Sobre aprendizagem e memória, leia: PENNA, Antônio Gomes. Introdução à Aprendizagem e Memória. Rio de Janeiro: Imago, 1995.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 63

do córtex entorrinal, durante a percepção, a aquisição

ou a evocação. Através dessa interação, pode-se

determinar se uma dada informação é nova e convém

guardá-la, ou se já deve ser evocada.

MEMÓRIA RECENTE OU MEMÓRIA DE CURTA

DURAÇÃO (MCD)

A memória recente é aquela em que a retenção

de informação dura pouco tempo e pode ser

comprometida em vários processos patológicos. Sabe-

se que a memória recente depende do sistema límbico

envolvido nos processos de retenção e consolidação de

informações novas e possivelmente em seu

armazenamento temporário e transferência para áreas

neocorticais de associação para armazenamento

permanente.

MEMÓRIA REMOTA, MEMÓRIA RECENTE OU

MEMÓRIA DE LONGA DURAÇÃO (MLD)

A memória remota ou permanente é aquela em

que os fatos podem permanecer por anos. Ela é estável

e mantém-se inalterada mesmo com a ocorrência de

danos cerebrais graves.

CONSOLIDAÇÃO DA MEMÓRIA

Ocorre para que a memória em curto prazo

torne-se a longo prazo.

A consolidação depende da repetição.

A consolidação ocorre por codificação: uso de

informações antigas para ajudar no pensamento de

novas informações. As novidades são sempre

associadas.

Dica de leitura

LIEURY, Alain. A memória – do cérebro à escola. São Paulo: Ática, 1997. Com o objetivo de familiarizar o leitor com o funcionamento da memória, o autor descreve as etapas da pesquisa e os resultados obtidos por neurologistas, fisiologistas e psicólogos. Em seguida, analisa o papel da memória na educação, questionando se ela seria um instrumento fundamental para o sucesso escolar.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 64

PORÇÕES CEREBRAIS UTILIZADAS NA MEMÓRIA

� Hipocampo.

� Pessoas sem hipocampo não conseguem

estabelecer novas memórias a longo prazo =

amnésia anterógrada.

� Hipocampo está ligado ao sistema límbico,

justificando sua função nas recordações

prazerosas.

Incapacidade de evocar memórias passadas =

amnésia retrógrada.

VOCÊ CONHECE OLIVER SACKS?

O inglês Oliver Sacks é um neurologista com muitos pacientes para estudar e histórias para contar. O olhar de Sacks sobre seus pacientes, nos nove livros que já publicou, torna-os extremamente interessantes, revelando mistérios da mente humana. Algumas das obras, pelo potencial em dramaturgia, foram adaptadas para o cinema. O filme mais conhecido é Tempo de despertar, baseado no livro de mesmo nome, produção de 1991, tendo Robin Williams e Robert De Niro nos papéis principais. O livro conta a história de um grupo de pacientes com letargia encefálica, que retornam subitamente ao mundo após décadas de "sono". Presenciar o "renascimento" dessas pessoas permitiu a Sacks repartir a experiência daquelas vidas incomuns - que maravilharam e intrigaram o autor - com muitas outras pessoas, via literatura e cinema. Livros de Oliver Sacks, todos da editora Companhia das Letras: - O homem que confundiu sua mulher com um chapéu; - Tio Tungstênio – memórias de uma infância química; - Um Antropólogo em Marte: Examinando casos clínicos de indivíduos com diferentes tipos de lesões, o neurologista Oliver Sacks constrói uma teoria da inteligência. Fascinante.

OLIVER SACKS

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 65

Agora, após essa revisão vamos falar da

linguagem?

Linguagem e outras funções de alto nível

A ÁREA DE BROCA E ÁREA DE WERNICKE

Em 1861, o neurologista francês Paul Broca

identificou um paciente que era quase totalmente

incapaz de falar e tinha uma lesão nos lobos frontais, o

que gerou questionamentos sobre a existência de um

centro da linguagem no cérebro. Mais tarde, descobriu

casos nos quais a linguagem havia se comprometido

devido a lesões no lobo frontal do hemisfério esquerdo.

A recorrência dos casos levou Broca a propor, em

1864, que a expressão da linguagem é controlada por

apenas um hemisfério, quase sempre o esquerdo. Esta

visão confere com resultados do procedimento de

Wada, no qual um hemisfério cerebral é anestesiado.

Na maioria dos casos, a anestesia do hemisfério

esquerdo, mas não a do direito, bloqueia a fala. A área

do lobo frontal esquerdo dominante que Broca

identificou como sendo crítico para a articulação da fala

veio a ser conhecida como área de Broca (BEAR,

2002).

Mais uma dica de livro voltado para a questão da Imagem Corporal. SACKS, Oliver. Com uma perna só. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. Durante uma escalada solitária na Noruega, em 1974, o jovem neurologista Oliver Sacks depara-se com um enorme touro branco. Em pânico, dá meia volta, dispara pelo caminho inverso e um tombo faz com que sua perna esquerda fique seriamente avariada. Depois de uma cirurgia, a sensação é de que a perna se tornara “inexistente”. O médico se transforma em paciente e é obrigado a aprender lições de passividade num leito de hospital. Sem poder andar, apartado da vida normal e isolado pela insensibilidade de colegas médicos, Sacks inicia um processo de autodiagnóstico.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 66

Em 1874, o neurologista Karl Wernicke

identificou que lesões na superfície superior do lobo

temporal, entre o córtex auditivo e o giro angular,

também interrompiam a fala normal. Essa região é

atualmente denominada área de Wernicke. Tendo

estabelecido que há duas áreas de linguagem no

hemisfério esquerdo, Wernicke e outros começaram a

mapear as áreas de processamento da linguagem no

cérebro e levantaram hipóteses acerca de

interconexões entre o córtex auditivo, a área de

Wernicke, a área de Broca e os músculos requeridos

para a fala.

O modelo neurolingüístico de Wernicke considera que a área de Broca conteria os programas motores de fala, ou seja, as memórias dos movimentos necessários para expressar os fonemas, compô-los em palavras e estas em frases. A área de Wernicke, por outro lado, conteria as memórias dos sons que compõem as palavras, possibilitando a compreensão.

(Lent, 2002, pág. 637)

Assim, se essas duas áreas fossem conectadas,

o indivíduo poderia associar a compreensão das

palavras ouvidas com a sua própria fala.

Atualmente, o modelo de Wernicke teve que ser

corrigido quando se observou que pacientes com lesões

bem restritas à porção posterior do giro temporal

superior (a área de Wernicke) apresentavam na

verdade uma surdez lingüística e não uma verdadeira

afasia de compreensão. A área de Wernicke seria,

então, responsável pela identificação das palavras e

não da compreensão do seu significado.

Decide, então, elaborar um relato provocativo sobre os padrões de atendimento do sistema de saúde, mas também um testemunho vivo e fluente sobre os mecanismos neurossensoriais responsáveis pela formação da “imagem corporal” - graças à qual sentimos que os membros fazem parte do corpo, formando um todo integrado.

KARL WERNICKE

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 67

Distúrbios da fala e da compreensão

Damos o nome de afasia a alguns dos distúrbios

da linguagem falada causados por acidentes vasculares

cerebrais na sua fase aguda. Entretanto, nem todos os

distúrbios da linguagem podem ser chamados de

afasia. São chamados de afasia apenas aqueles que

atingem regiões realmente responsáveis pelo

processamento da linguagem e não distúrbios do

sistema motor, do sistema atencional, e outros que

seriam apenas coadjuvantes do processo. Ao contrário

de um doente que não consegue falar devido à

paralisia de um nervo facial, os portadores de afasia

podem apresentar problemas de linguagem sem ter

qualquer problema no funcionamento muscular facial.

A área de Wernicke é responsável pela compreensão e pela escolha das palavras que usamos. Sem ela, não conseguiríamos achar as palavras nem entender o que os outros dizem. Mas não adianta só saber montar a frase na mente. É preciso que ela faça sentido. Aí é que entra uma outra região: a área de Broca. A área de Broca é responsável pela nossa expressão verbal e escrita. É com essa parte do cérebro que juntamos as sílabas de cada palavra de uma forma coerente. Viver sem a área de Broca é um desafio mental. Fonte: http://www.drauziovarella.com.br/cerebro/palavracerebro.asp

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 68

Segundo Lent (2002), as afasias são

classificadas em afasia de expressão, de compreensão

e de condução, de acordo com os sintomas do paciente

e com a região cerebral atingida.

A afasia de Broca é também chamada de afasia

motora e não-fluente, já que as pessoas têm

dificuldade de falar, mesmo que possam entender a

linguagem ouvida ou lida. Pessoas com este tipo de

afasia têm dificuldade em dizer qualquer coisa, fazendo

pausas para procurar a palavra certa (anomia). A

marca típica de afasia de Broca é um estilo telegráfico

de fala, no qual se empregam, principalmente, palavras

de conteúdo (substantivos, verbos, adjetivos), além da

incapacidade de construir frases gramaticalmente

corretas (agramatismo). É provocada por lesões sobre

a região lateral inferior do lobo frontal esquerdo.

A afasia de compreensão ou afasia de Wernicke

atinge a região cortical posterior em torno da ponta do

sulco lateral de Sylvius do lado esquerdo. Os pacientes

não conseguem compreender o que lhes é dito. Emitem

respostas verbais sem sentido e, também, não

conseguem demonstrar compreensão através de

gestos. Apesar de possuir uma fala fluente, ela também

Uma pessoa vítima de afasia pode não conseguir contar, nomear, por exemplo, os dias da semana e os meses do ano ou ainda perder a noção gramatical. É difícil para alguém com afasia interpretar o que ouve. "É como se a pessoa, mesmo ouvindo, ficasse 'surda' para as palavras, por não reconhecer o significado das mesmas", explica a Dra. Heloísa, que completa que "muitas vezes o portador de afasia consegue perceber alguma palavra e reconhece o restante da comunicação". A perda parcial ou total da capacidade de ler e escrever também fazem parte da sintomatologia do portador de afasia. Ele ainda pode não conseguir organizar gestos de forma a representar ou comunicar o que quer. "Por exemplo, o paciente não consegue, com gestos, mostrar o que deseja comer ou indicar que deseja comer". Fonte: http://www.boasaude.uol.com.br.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 69

não tem sentido, pois não compreendem o que eles

mesmos dizem. Enquanto na afasia de Broca, a fala é

perturbada, mas a compreensão está intacta; na afasia

de Wernicke, a fala é fluente, mas a compreensão é

pobre.

A afasia de condução é provocada por lesão de

feixe arqueado, feixes que conectam a área de Broca

com a área de Wernicke. Os pacientes seriam capazes

de falar espontaneamente, embora cometessem erros

de repetição e de resposta a comandos verbais.

Outros distúrbios

Afasia é apenas uma das desordens que resulta

de lesões do cérebro. Abaixo temos uma pequena lista

de algumas delas:

� Alexia: Inabilidade adquirida de compreender

a linguagem escrita;

� Agrafia: Inabilidade adquirida de produzir

linguagem escrita apesar da presença

linguagem oral, da leitura e de controle de

movimentos normal;

� Apraxia: Inabilidade de ter movimentos

propositais apesar da compreensão normal

das instruções, da força, do reflexo e da

coordenação normais;

� Agnosia Visual: Perda da habilidade de

reconhecer ou identificar a presença de

objetos, apesar das funções visuais estarem à

presença de objetos, apesar das funções

visuais estarem intactas. Uma forma

específica da agnosia visual foi registrada

como propagnosia, inabilidade de reconhecer

faces;

� Síndrome da Negligência: A tendência a

ignorar coisas numa região particular do espaço

ignorando o módulo sensorial responsável pelos

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 70

estímulos provenientes daquela região.

Pacientes com uma forma dessa síndrome

chamada síndrome da negligência unilateral

ignoram as informações provenientes do lado

esquerdo ou direito do corpo e podem até

esquecer de barbear essa parte do rosto ou de

vestir esse lado do corpo.

A alexia agnósica corresponde a uma dificuldade maior para a identificação das palavras (compreensão global) do que para a identificação de letras isoladas. O indivíduo utiliza o dedo para a identificação das letras e a identificação das palavras soletradas é satisfatória. Nesses pacientes, a cópia é imperfeita, ainda que a escrita espontânea ou ditada seja satisfatória. A alexia agnósica está, freqüentemente, associada a outras manifestações de agnosia visual, notadamente a agnosia para as cores. A agrafia é a manifestação na escrita das alterações afásicas que ocorrem na linguagem oral. Ainda que exista uma dissociação entre a possibilidade de denominar por escrito e verbalmente, a ausência da palavra existe tanto na linguagem escrita como na linguagem oral. Apraxia é o prejuízo na capacidade de executar atividades motoras, apesar de as capacidades motoras, função sensorial e compreensão estarem intactas para a tarefa exigida. Na realidade, é a perda da capacidade de executar eficientemente a intenção para um ato para um determinado fim, mas não há comprometimento anatômico das estruturas cerebrais envolvidas na execussão desse ato (seja ele da musculatura voluntária, da fala, da mímica). Agnosia não é uma alteração exclusiva das sensações nem exclusiva da capacidade central de perceber objetos externos, mas uma alteração intermediária entre as sensações e a percepção. Em alguns casos, observa-se a perda da intensidade e da extensão das sensações, permanecendo inalteradas as sensações elementares, em outros há integridade e extensão, mas perda da capacidade de reconhecimento dos objetos. Fonte: http://www.psiqweb.med.br

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 71

A especialização dos hemisférios

Segundo Lent (2002), o hemisfério esquerdo

controla a fala em mais de 95% dos seres humanos,

mas isso não quer dizer que o direito não trabalhe, ao

contrário, é a prosódia do hemisfério direito que

confere à fala nuances afetivas essenciais para a

comunicação interpessoal. O hemisfério esquerdo é

também responsável pela realização mental de cálculos

matemáticos, pelo comando da escrita e pela

compreensão dela através da leitura. Já o hemisfério

direito é melhor na percepção de sons musicais e no

reconhecimento de faces, especialmente quando se

trata de aspectos gerais. O hemisfério esquerdo

participa também do reconhecimento de faces, mas

sua especialidade é descobrir precisamente quem é o

dono de cada face. Da mesma forma, o hemisfério

direito é especialmente capaz de identificar categorias

gerais de objetos e seres vivos, mas é o esquerdo que

detecta as categorias específicas. O hemisfério direito é

melhor na detecção de relações específicas. O

hemisfério direito é melhor na detecção espaciaes,

particularmente as relações métricas, quantificáveis,

aquelas que são úteis para o nosso deslocamento no

mundo. O hemisfério esquerdo não deixa de participar

dessa função, mas é melhor no reconhecimento de

relações espaciais categoriais qualitativas. Finalmente,

o hemisfério esquerdo produz movimentos mais

precisos da mão e da perna direitas do que o

hemisfério direito é capaz de fazer com a mão e a

perna esquerda (na maioria das pessoas).

Quer saber mais?

Apesar de o nosso cérebro ser dividido em dois hemisférios ,não existe relação de dominância entre eles, pelo contrário, eles trabalham em conjunto, utilizando dois milhões de fibras nervosas que constituem as comissuras cerebrais e se encarregam de pô-los em constante interação. O conceito de especialização hemisférica se confunde com o de lateralidade (algumas funções são representadas em apenas um dos lados, outras nos dois) e de assimetria (um hemisfério não é igual ao outro).

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 72

DICA DE LEITURA KASTRUP, V. A invenção de si e do mundo. São Paulo: Papirus, 1999. O presente trabalho se situa no campo dos estudos da cognição e, mais especificamente, na interface entre a Psicologia e a Biologia. A partir das contribuições da Segunda Cibernética no domínio da Ciência Cognitiva, o tema da auto-organização e dos sistemas autopoiéticos colocam problemas de grande relevância. Interessa aos autores em especial avaliar o sentido desta poiesis e o estatuto do si mesmo que resulta dessa atividade de criação da realidade conhecida. Esse trabalho se organiza em torno dessa problemática da criação do si mesmo (sujeito cognoscente ou unidade do organismo vivo). As idéias seminais de H. Maturana e F. Varela são retomadas de modo a explicitar a pertinência da formulação de um processo cognitivo criador.

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 73

Implicações nas ciências cognitivas

Existem redundâncias consideráveis no sistema

nervoso. A existência de processamento paralelo é

amplamente aceita na neurociência e acredita-se que

ele seja necessário devido à rapidez e complexidade do

processamento da informação no cérebro das criaturas

vivas. O poder da computação paralela pode ser

observado nos modernos computadores seriais que

demoram muito mais que o cérebro humano para

processar informações visuais. Nos últimos anos,

reconheceu-se que computadores com processamento

paralelo são necessários para acelerar o processamento

de imagens, aproximando-se da velocidade do cérebro

humano.

Esse é um dos caminhos pelo qual a neurociência

pode ajudar as ciências cognitivas. A psicologia cognitiva

tem se esforçado para modelar as atividades intelectuais

com elementos que interajam numa maneira

neurologicamente plausível. Esses modelos estão ajudando

a mostrar como a cognição pode ser estruturada através

dos princípios básicos de operação da mente.

RESUMO

Vimos até agora:

� A evolução filogenética providenciou para que

essas células especializadas em conduzir sinais

se agrupassem e formassem um sistema

nervoso central. Esse sistema de comando

conta com neurônios sensitivos ou aferentes,

que são responsáveis pela coleta de

informações oriundas do meio ambiente;

� O crescimento gradual do encéfalo, observado

na escala filogenética, atinge seu maior

tamanho no ser humano;

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 74

� Os neurônios de associação situados no

encéfalo foram os responsáveis pelo

surgimento das funções psíquicas superiores.

Chegava, assim, ao ápice, a evolução do

sistema nervoso;

� Observando a estrutura do sistema nervoso,

percebemos que eles têm partes situadas

dentro do cérebro, da coluna vertebral e

outras distribuídas por todo corpo. As

primeiras recebem o nome coletivo de sistema

nervoso central (SNC), e as últimas de

sistema nervoso periférico (SNP);

� O neurologista francês Paul Broca identificou

um paciente que era quase totalmente

incapaz de falar e tinha uma lesão nos lobos

frontais, o que gerou questionamentos sobre

a existência de um centro da linguagem no

cérebro. Mais tarde, descobriu casos nos

quais a linguagem havia se comprometido

devido a lesões no lobo frontal do hemisfério

esquerdo;

� A área do lobo frontal esquerdo dominante

que Broca identificou como sendo crítico para

a articulação da fala veio a ser conhecida

como área de Broca;

� Em 1874, o neurologista Karl Wernicke

identificou que lesões na superfície superior

do lobo temporal, entre o córtex auditivo e o

giro angular, também interrompiam a fala

normal. Essa região é atualmente

denominada área de Wernicke;

� Atualmente, o modelo de Wernicke teve que

ser corrigido quando se observou que

pacientes com lesões bem restritas à porção

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Aula 3 | A filogênese do sistema nervoso 75

posterior do giro temporal superior (a área de

Wernicke) apresentavam na verdade uma

surdez lingüística e não uma verdadeira

afasia de compreensão. A área de Wernicke

seria, então, responsável pela identificação

das palavras e não da compreensão do seu

significado;

� A afasia de Broca é também chamada de

afasia motora e não-fluente;

� A afasia de condução é provocada por lesão

de feixe arqueado, feixes que conectam a

área de Broca com a área de Wernicke;

� O hemisfério esquerdo produz movimentos

mais precisos da mão e da perna direitas do

que o hemisfério direito é capaz de fazer com

a mão e a perna esquerda (na maioria das

pessoas).

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Emoção e o processo de aprendizagem. Neurociência na construção da inteligência e da afetividade Marta Relvas

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Nessa quarta aula vamos passear entre a inteligencia e a afetividade. A ciência admite a existência de dois cérebros, divididos pela diferença de suas funções ligadas às regiões que as operam. As emoções são conjuntos de reações químicas e neurais que ocorrem no cérebro emocional e que usam o corpo como “teatro", ocasionando até as emoções viscerais, que afetam os órgãos internos, de acordo com a sua intensidade. O cérebro emocional é do apetite, do sono, do desejo sexual, da secreção dos hormônios e do sistema imunológico. O cérebro cognitivo é responsável pelo pensamento, pela concentração, pela atenção, pelo controle dos instintos, dos impulsos, pelos comportamentos morais, pelos movimentos voluntários e pela linguagem. O importante na construção dessa relação é saber usar essas competências para uma melhor qualidade de vida, capacitando o ser humano para suportar as adversidades, sendo generoso e empreendedor, cultivando sempre a equilibração entre e a razão e a emoção.

Obj

etiv

os

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

� Refletir sobre a relação entre inteligência e afetividade; � Conhecer a evolução da inteligência humana; � Ter uma visão integrada das regiões encefálicas; � Discutir sobre razão e emoção, principalmente razão e emoção

no processo de ensino aprendizagem; � Reconhecer como se aprende com a cabeça e com o coração.

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 78

Inteligência e afetividade

As nossas emoções são uma fonte valiosa de

informação e ajudam-nos a tomar decisões, estas são

resultado não só da razão, mas da junção de ambas,

associadas a outras competências emocionais que

podem nos levar ao sucesso na construção das relações

no trabalho, tais como:

� Tolerância à ambigüidade - É a habilidade

para lidar com o inesperado;

� Compostura - Essa competência emocional

tem a ver com a capacidade de absorver

frustrações;

� Autoconfiança - É a capacidade de confiar em

si mesmo e de resolver determinadas

responsabilidades;

� Empatia - Habilidade para ler nas entrelinhas

e trabalhar com as emoções, os sentimentos

e as motivações dos outros;

� Energia - É a capacidade de manter o foco e o

compromisso durante um determinado tempo

e diante de coisas difíceis;

� Humildade - É a capacidade de adaptação de

cada um;

� Criatividade - É a criação de novas soluções

para velhos problemas;

� Planejamento - É a prioridade nas ações.

A evolução da inteligência humana

Um dos mais fascinantes temas da ciência é

como surgiu a inteligência humana ao longo da

evolução dos grandes primatas aos hominídeos

chegando até o ser humano. A inteligência é um tema

fascinante porque nos dá a chave para o tesouro do

entendimento sobre nós mesmos e como a seleção

natural pôde produzir tamanha maravilha como o

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 79

cérebro humano e sua capacidade em tempo tão curto.

Também é uma explanação sobre a natureza da nossa

singularidade no reino animal e porque nós somos

assim hoje.

De fato, muitas facetas da evolução da

inteligência humana são ainda matéria de considerável

mistério, porque ela não pode ser observada

diretamente no registro paleontológico como um osso,

ou os dentes, por exemplo. A evidência reunida por

cientistas sobre a inteligência vem indiretamente a

partir da observação do aumento do tamanho da

capacidade craniana, de artefatos produzidos como

resultado da inteligência humana, tais como a

fabricação de ferramentas, a caça cooperativa e a

guerra, o uso do fogo, e o cozimento de alimentos, a

arte, o enterramento dos mortos, e poucas outras

coisas mais.

Por que ela se desenvolveu em primatas e não em

outros gêneros animais? Provavelmente pela inerente

instabilidade de ambientes territoriais, quando

comparados com os ambientes aquáticos, e quase

certamente devido às séries de mudanças dramáticas no

clima africano em certos pontos da história geológica.

Portanto, os fenômenos probabilísticos podem ser muito

bem a explicação por que estamos agora na posição de

sermos os mais inteligentes de todos os animais da Terra.

Este passo evolucionário foi espetacular porque

deu origem ao círculo cada vez mais rápido de

feedback positivo entre a evolução cultural (trazida

pela linguagem) e o desenvolvimento posterior do

cérebro ao aumentar enormemente o sucesso

reproduzido e às chances de sobrevivência do

organismo assim armados com um cérebro capaz de

alta flexibilidade, adaptabilidade e capacidade de

aprendizagem. Em um período de um a dois milhões de

Para pensar

O aparecimento da inteligência, juntamente com a linguagem, foi um passo espetacular da evolução animal. Ela apareceu em primatas, mas poderia ter sido desenvolvida igualmente bem em outros mamíferos avançados, tais como golfinhos.

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 80

anos (praticamente um piscar de olhos em termos de

tempo geológico), este poderoso impulso de evolução

neural levou ao que somos hoje e ao que o homem

será nos próximos 100.000 anos.

Há hipóteses atualmente sobre a existência de

uma "massa crítica" de neurônios como um pré-

requisito para a "explosão" evolucionária da

inteligência. Em outras palavras, abaixo de um certo

número de neurônios (ou tamanho do cérebro), a

inteligência é altamente limitada e não leva à invenção,

imaginação, comunicação social, simbólica e outras

coisas que não existem em cérebros não-humanos. Um

número grande de fatores evolucionários convergentes

determinaram um rápido aumento no cérebro e a

complexidade do cérebro de hominídeos e levaram à

primeira espécie verdadeiramente Homo. A massa crítica

foi atingida e, após isso, foi apenas uma questão de

evolução quantitativa.

DEFININDO INTELIGÊNCIA

Mas o que é inteligência? Antes de embarcar em

uma viagem ao entendimento desta evolução, deve-se

conhecer melhor o objeto dessa questão.

Será a inteligência unicamente presente nos seres humanos? É claro que não. A inteligência humana parece ser composta de um número de funções neurais correlacionadas e cooperativas, muitas das quais já estão presentes em outros primatas, tais como a dexteridade manual, visão colorida estereoscópica altamente sofisticada e acurada, reconhecimento e uso de símbolos complexos, coisas abstratas que representam outras memórias de longo prazo . De fato, a visão científica atual é de que existem vários graus de complexidade de inteligência presente em mamíferos e que nós compartilhamos com eles muitas características que anteriormente pensávamos que eram únicas ao homem (tais como linguagem simbólica, como já foi provado que ocorre em primatas).

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 81

Parece que existem tantas definições de

inteligência quanto existem cientistas trabalhando no

campo. De acordo com a Enciclopédia Britânica, "ela é

a habilidade de se adaptar efetivamente ao ambiente,

seja fazendo uma mudança em nós mesmos, ou

mudando o ambiente, ou achando um novo ambiente".

Esta é uma definição inteligente, porque ela incorpora

aprendizado (uma mudança em nós mesmos),

manufatura e abrigo (mudança do ambiente) e

migração (encontrando um novo ambiente). De modo a

nos adaptar efetivamente, o cérebro deve usar todas

estas funções. Portanto, "inteligência não é um

processo mental único, mas sim uma combinação de

muitos processos mentais dirigidos à adapatação

efetiva do ambiente", prossegue a definição da EB -

Enciclopédia Britânica.

Reconhecer quais são os componentes da

inteligência é muito importante em termos de montar

uma "teoria da inteligência". Uma das teorias mais

sólidas e interessantes foi proposta por Sternberg (veja

a tabela) e se relaciona diretamente à evolução. Ele

propõe que a inteligência é feita de três aspectos

integrados e interdependentes: no mundo interno, as

relações com o mundo externo, as experiências que

relacionam ao mundo externo e o interno.

OS COMPONENTES DA INTELIGÊNCIA O mundo interno: cognição 1. processos para decidir o que fazer e o quão

bem foi feito. 2. processos para fazer o que foi decidido ser feito. 3. processos para aprender como fazer.

O mundo externo: percepção e ação

1. adaptação a ambientes existentes. 2. modelagem de ambientes existentes em novos. 3. a seleção de novos ambientes quando os antigos se provam insatisfatórios.

A integração dos ambientes internos e externos através da experiência

1. a habilidade de se adaptar às novas situações. 2. processos para criar objetivos e para planejamento. 3. mudança dos processos cognitivos pela experiência externa.

Para refletir

A inteligência é uma entidade multifatorial, envolvendo coisas tais como a linguagem, o pensamento, a memória, o raciocínio, a consciência (a percepção de si mesmo), a capacidade para a aprendizagem e a integração de várias modalidades sensoriais.

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 82

Um dos melhores exemplos que demonstram os

três aspectos da inteligência é a caça cooperativa nos

hominídeos. O mundo externo é caracterizado por um

terreno extenso tridimensional onde existem animais

muito rápidos, muito grandes ou muito perigosos como

presas em potencial. Aprender como emboscar a presa,

como aproximar-se dela e como matá-la com um

machado de pedra são habilidades cognitivas. Ser capaz

de caçar em vários ambientes, se mover, parar ou ir

quando a caça se torna escassa, fabricar armas de caça,

armadilhas animais são exemplos de processos

relacionados aos mundos interno e externo.

Finalmente, ser capaz de se comunicar e

coordenar a caça com outros seres humanos, delinear

uma estratégia para caçar mais efetivamente, e

desenvolver e sustentar todo o processo de caça por

meio da cognição, percepção e ação são exemplos da

integração entre os mundos interno e externo.

O quanto da inteligência humana, do pensamento,

do raciocínio, da imaginação e do planejamento são

devidos à linguagem? Praticamente tudo, nós poderíamos

dizer. De fato, esses processos são uma espécie de

"processamento interno da linguagem", como se diz. Um

dos mais importantes experts em evolução humana, lan

Tattersall, da Inglaterra, propôs que o sucesso da

humanidade é largamente o resultado da linguagem com

toda a sua riqueza de sintaxe e semântica. A linguagem,

portanto, é fundamental para a nossa capacidade de

pensar, e o intelecto humano e as conquistas que vamos

explicar neste artigo seriam impossíveis sem a linguagem.

Para Tattersall, a linguagem é "mais ou menos sinônimo

com o pensamento simbólico" e isto faz toda a diferença.

Neste contexto, aparece uma das mais

importantes propriedades da mente humana que é a

consciência, ou autopercepção. Nós não temos muitas

evidências se elas existem em outros animais, e

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 83

quando ou onde elas aparecem em humanos pela

primeira vez. Será a autoconsciência um produto da

evolução? Será que ela é vantajosa para a adaptação e

a sobrevivência? A resposta é sim. A autoconsciência

nos permite construir a realidade além de meras

sensações físicas como imaginar uma situação e as

conseqüências de nossas ações, antes que qualquer

coisa aconteça.

Visão integrada das regiões encefálicas

Durante muito tempo, acreditou-se que a

regulação do comportamento emocional estaria na

dependência de todo o cérebro. Coube principalmente a

Hess, há cerca de 63 anos, demonstrar a existência de

"centros" de regulação do comportamento. Este autor

implantou eletrodos de diferentes regiões do

hipotálamo do gato e observou as mais variadas

manifestações do comportamento quando estas áreas

eram estimuladas eletricamente.

Igualmente importantes foram as pesquisas de

Von Holst e Von Saint Paul, estimulando com corrente

alternada várias regiões do sistema nervoso central de

galos e galinhas. Estes estímulos, especialmente

quando feitos no hipotálamo, determinam formas

variadas de comportamento, imitando situações

Conforme a área estimulada, os animais podem demonstrar medo ou agressividade, podem ciscar, limpar as penas, cacarejar como se estivessem chamando os pintos, ou assumir a atitude de cópula, ou de choco. Estas experiências e muitas outras demonstram a existência de circuitos cerebrais ligados aos vários tipos de comportamento. Sugerem, também, a existência de circuitos cerebrais capazes de, quando ativados, desencadear de uma maneira organizada e integrada movimentos complexos que caracterizam comportamentos observados na biologia normal da espécie estudada. Sabe-se que as áreas relacionadas com o comportamento emocional ocupam territórios bastante grandes não só do córtex cerebral como também de vários centros subcorticais.

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 84

observadas em condições normais. Estes territórios

serão estudados a seguir.

TRONCO ENCEFÁLICO

A ativação destas estruturas por impulsos

nervosos de origem telencefálicas ou diencefálicas

ocorre nos estados emocionais, resultando nas diversas

manifestações que acompanham a emoção tais como o

choro, as alterações fisionômicas a surdorese, a

salivação, o aumento do ritmo cardíaco. Além disto, as

diversas vias descendentes que atravessam ou se

originam no tronco encefálico vão ativar os neurônios

medulares, permitindo aquelas manifestações

periféricas dos fenômenos emocionais que se fazem por

nervos espinhais, ou pelos sistemas simpático e

parassimpático sacral. Deste modo, o papel do tronco

encefálico é principalmente efetuador, para o qual

recebe um grande número de fibras descendentes

originadas nas estruturas telencefálicas e diencefálicas,

ligadas mais diretamente à integração e à coordenação

dos fenômenos emocionais. A maioria destas fibras

termina no mesencéfalo. Contudo, existem dados que

sugerem que a substância cinzenta central do

mesencéfalo e a formação reticular podem ter,

também, um papel regulador de certas formas de

comportamento agressivo. Por outro lado, o papel

ativador que a formação reticular exerce sobre o córtex

é pré-requisito para várias formas de comportamento e

manifestações emocionais.

HIPOTÁLAMO

As experiências de Hess demonstram a

participação do hipotálamo nos fenômenos da emoção e

do comportamento. Estimulações elétricas de várias

No tronco encefálico estão localizados vários núcleos de nervos cranianos, viscerais ou somáticos, além de centros viscerais como o centro respiratório e o vasomotor.

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 85

áreas do hipotálamo do gato permitiram a este autor

fazer um verdadeiro mapeamento emocional do

hipotálamo deste animal, desencadeando atitudes de

ataque, defesa, pânico, raiva. Verificou-se, também ,

que lesões do núcleo ventral medial do gato tornam o

animal extremamente agressivo e perigoso.

Interessantes são as experiências relacionando o córtex

e o hipotálamo com certas formas de raiva. Quando se

retira o córtex de um gato, ele tem crises de raiva que

aparecem espontaneamente ou após estímulos que no

animal normal não causam nenhuma alteração no

comportamento. Conforme demonstrou Bard, se nestes

animais secciona-se a parte posterior do hipotálamo,

estas manifestações desaparecem. Segundo o autor, o

córtex exerce uma ação frenadora sobre o hipotálamo

que, quando liberado, funciona como agente de

expressão das manifestações viscerais e somáticas que

caracterizam a raiva.

A maioria das modificações de comportamento

observadas em experiências com hipotálamo de

animais já foram também observadas no homem em

experiências realizadas durante o ato operatório, ou

como conseqüência de traumatismos, tumores, lesões

vasculares, ou infecções desta região. Parece, pois,

fora de dúvida que as manifestações emocionais são,

pelo menos em parte , coordenadas e integradas no

nível do hipotálamo. Não há, entretanto, evidência de

Hipotálamo: emoção e comportamento. Coordena principalmente as manifestações periféricas da emoção.

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 86

que os aspectos subjetivos da emoção se passam no

hipotalâmico, ou seja, que se pode "sentir" emoção em

nível hipotálamo. Ao que parece, isto depende

basicamente do córtex e o hipotálamo coordena

principalmente as manifestações periféricas da emoção.

TÁLAMO

Lesões ou estimulações do núcleo dorso-medial

e dos núcleos anteriores do tálamo já foram

correlacionadas com alterações de reatividade

emocional no homem e em animais. Ao que parece,

entretanto, a importância destes núcleos na regulação

do comportamento emocional decorre de suas

conexões. O núcleo dorso-medial liga-se ao córtex da

área pré-frontal e ao hipotálamo. Os núcleos anteriores

ligam-se ao corpo mamilar e ao córtex do giro do

cíngulo, fazendo parte de circuitos do sistema límbico.

A significação funcional da área pré-frontal e do

sistema límbico será estudada a seguir.

ÁREA PRÉ-FRONTAL

A área pré-frontal corresponde à parte não

motora do lobo frontal, ocupando a porção anterior

deste lobo. Estruturalmente é constituída de neocórtex

no que difere das áreas corticais que integram o

sistema límbico e que serão estudadas no item

seguinte.

A área pré-frontal tem importantes conexões

com o núcleo dorso-medial do tálamo, recebendo e

enviando fibras a este núcleo. Fulton e Jacobsen

estudaram os efeitos da ablação desta área sobre o

comportamento de chimpanzés. Observaram que os

animais operados não manifestavam mais as

características de reações de descontamento quando

frustrados. Além disso, havia uma certa deficiência

psíquica dos animais. Com base nessas experiências,

TÁLAMO: REGULAÇÃO DO

COMPORTAMENTO EMOCIONAL

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 87

Egas Moniz e Almeida Lima, dois cirurgiões

portugueses, fizeram pela primeira vez a lobotomia

pré-frontal, para tratamento de doentes psiquiátricos

com quadros de depressão e ansiedade. A operação

consiste em uma secção bilateral da parte anterior dos

lobos frontais, passando adiante dos cornos anteriores

dos ventrículos laterais. Sabe-se, hoje, que os

resultados devem-se à secção das conexões da área

pré-frontal com o núcleo dorso-medial do tálamo. Esta

cirurgia melhora os sintomas de ansiedade e depressão

dos doentes que entram em um estado de

“tamponamento psíquico”, ou seja, deixam de reagir a

circunstâncias que normalmente determinam alegria ou

tristeza. Uma conseqüência indesejável e imprevisível

da lobotomia frontal é que muitos doentes após a

cirurgia mostram uma deficiência intelectual grave.

SISTEMA LÍMBICO – CONCEITO DE SISTEMA

LÍMBICO

Na face medial de cada hemisfério cerebral,

observa- se um anel cortical contínuo constituído pelo

giro do cíngulo, istmo do cíngulo, giro parahipocampal

e hipocampo. Este anel cortical contorna as formações

interhemisféricas e foi considerado por Broca como um

lobo independente, o grande lobo límbico; este lobo é

filogeneticamente muito antigo, existindo em todos os

vertebrados. Apresenta uma certa uniformidade

citoarquitetural, pois seu córtex é mais simples que o

do isocórtex que o circunda, sendo do tipo alocórtex no

Pré-frontal: é constituído de neocórtex, tem importantes conexões.

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 88

hipocampo e giro parahipocampal e mesocórtex no giro

do cíngulo (mesocórtex é um córtex de estrutura

intermediária entre isocórtex e alocórtex). O trabalho

de Papez foi fundamentalmente teórico e especulativo,

embora ele chamasse a atenção para certos dados

clínicos como as dramáticas alterações do

comportamento emocional, causadas pela raiva

(hidrofobia), cujo vírus lesa preferencialmente o

hipocampo. Este termo é hoje usado em um conceito

muito mais restrito para indicar apenas estruturas

relacionadas diretamente com a olfação, ou seja, o

nervo, o bulbo e o tracto olfatórios, a estria olfatória

lateral e o uncus. As demais formações anatômicas

que, tradicionalmente integravam o rinencéfalo são

hoje estudadas como parte do chamado sistema

límbico, ligado aos fenômenos de emoção,

comportamento e controle do sistema nervoso

autônomo. Do ponto de vista anatômico, este sistema

compreende o lobo límbico e as estruturas subcorticais

com ele relacionadas. Contudo, mesmo dentro deste

conceito não há completo acordo quanto às estruturas

que devem ser incluídas no sistema límbico.

CONEXÕES DO SISTEMA LÍMBICO

As conexões dos diversos componentes do

sistema límbico são extremamente complexas e seu

Do ponto de vista funcional, admitiu-se durante muito tempo que o lobo límbico teria funções olfatórias, fazendo parte do chamado rinencéfalo ou encéfalo olfatório.

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 89

estudo será feito de maneira muito simplificada. Cabe

referir inicialmente a existência de um circuito fechado

(Circuito de Papez) que une as seguintes estruturas

límbicas, enumerados na seqüência que, segundo se

admite, representa a direção predominante dos

impulsos nervosos: giro do cíngulo, giro

parahipocampal, hipocampo, fórnix, corpo mamilar,

fascículo mamilatômico, núcleos anteriores do tálamo,

cápsula interna e giro do cíngulo novamente.

Estudos eletrofisiólogicos mostram que o

sistema límbico recebe informações sensoriais,

somáticas e viscerais de praticamente todos os órgãos

sensoriais que chegam por vias nem sempre bem

conhecidas. Por outro lado, merecem referências as

conexões do sistema límbico com o tegmento

mesencefálico, as quais se fazem basicamente por três

sistemas de fibras:

a) Fascículo mamilo-tegmental – feixe de fibras

que, dos núcleos mamilares, projeta- se

sobre os núcleos de formação reticular do

mesencéfalo;

b) Feixe prosencefálico medial – complexo feixe

de fibras que, da área septal, dirige-se ao

tegmento do mesencéfalo, passando antes

pela parte lateral do hipotálamo, no qual

terminam algumas fibras e originam-se

outras;

c) Estria medular - feixe de fibras que se origina

na área septal e termina nos núcleos

habenulares do epitálamo.

GIRO DO CÍNGULO

No homem, a cingulectomia já foi empregada no

tratamento de psicóticos agressivos. Verificou-se,

também, que a simples secção do fascículo do cíngulo

Dica da professora

Fique atento às indicações das caixas de texto.

Dica da professora

Papel das estruturas do sistema límbico na regulação do comportamento emocional.

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 90

(cingulotomia), interrompendo o circuito de Papez,

pode melhorar consideravelmente quadros graves de

depressão e ansiedade, dando resultados que, quanto a

este aspecto, assemelham-se aos obtidos nas

lobotomias frontais.

CORPO AMIGDALÓIDE

Outro fenômeno associado às lesões do corpo

amigdalóide é o aparecimento de um quadro

hipersexual semelhante ao da síndrome de Kluver e

Buck. Por outro lado, existem dados mostrando que, no

homem, focos epilépticos da região amigdalóide do lobo

temporal associam-se a um aumento da agressividade

social e são, freqüentemente, acompanhados de uma

diminuição da atividade sexual.

HIPOCAMPO

O hipocampo é uma formação arquiencefálica

bastante desenvolvida no homem. O papel do

hipocampo na regulação do comportamento emocional

foi inicialmente apontado por Papez que chamou a

atenção para o aumento da reatividade emocional

causada por lesões do hipocampo pelo vírus da raiva.

Outra função importante do hipocampo é a sua

participação no fenômeno da memória. Além disto, o

hipocampo participa da regulação de atividades

viscerais e endócrinas, destacando-se o seu papel na

secreção do ACTH.

Importante

No homem, entretanto, lesões bilaterais do corpo amigdalóide resultam em considerável diminuição da excitabilidade emocional, normalizando o comportamento social de indivíduos com graves distúrbios do comportamento manifestados principalmente pela agressividade.

Hipocampo: regulação do comportamento emocional.

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 91

Do que foi exposto, verifica-se que as áreas

encefálicas relacionadas com o comportamento

emocional ocupam territórios muito amplos do

telencéfalico e do diencéfalico, nos quais encontram-se

estruturas que integram o sistema límbico, a área pré-

frontal e o hipotálamo. Além de sua participação nos

fenômenos emocionais, estas áreas relacionam-se

também com comportamentos ligados às necessidades

básicas do organismo tais como a sede, a fome e o

sexo, importantes para a preservação do indivíduo e da

espécie. Cabe acentuar, também, o papel destas áreas

na regulação das atividades viscerais através do

sistema nervoso autônomo. Verificou-se, assim, que

estimulações elétricas, em várias áreas do hipotálamo,

da área pré-frontal ou do sistema límbico determinam

manifestações viscerais diversas, tais como salivação,

sudorese, dilatação pupilar, modificações do ritmo

cardíaco ou respiratório. O fato de que as mesmas

áreas encefálicas que regulam o comportamento

emocional também regulam o sistema nervoso

autônomo torna-se mais significativo se considerarmos

que as emoções se expressam em grande parte

através de manifestações viscerais (choro no homem,

aumento de salivação e eriçar de pêlos em um gato

com raiva) e são geralmente acompanhados de

alterações da pressão arterial, do ritmo cardíaco ou do

ritmo respiratório. Toma-se mais fácil entender,

também, que muitos distúrbios emocionais graves

resultam em afecções viscerais, sendo um exemplo

clássico o caso das úlceras gástricas e duodenais.

Razão e emoção do ser humano

Em um sistema de ensino e aprendizagem,

devemos levar em consideração fatores afetivos de

modo a tornar a interação mais flexível e adaptável. A

arquitetura de um sistema de interação em tempo real

com agentes humanos deveria prever, em sua

Dica da professora

A base para explicar a noção da inteligência é o paradigma cognitivo do processamento da informação, o qual é decomposto nos seguintes aspectos: percepção, atenção,memória, raciocínio, aprendizagem, intenção, explicação e generalização".

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 92

estrutura, explicitamente as crenças e o raciocínio

afetivo.

Três pontos são fundamentais na discussão:

� A emoção exerce influência nos processos de

raciocínio;

� Os sistemas cerebrais destinados à emoção

estão intrinsecamente enredados nos

sistemas destinados à "razão";

� A mente não pode ser separada do corpo.

Nesse sentido, a emoção é mais um aspecto o

qual permeia os demais.

Corpo e cérebro formam um organismo

indissociável. É possível que a ligação entre diferentes

partes da mente provenha da relativa sincronia de

atividades em locais diferentes. Desta forma, pode-se

imaginar que a comunicação entre os milhões de

neurônios dá-se por dois processos diferentes:

� Pela limitação do potencial de ação oriundo

dos axônios;

� Pela modulação em freqüência entre os

diversos setores neurais.

Estatisticamente, o número de informações

armazenadas durante toda a vida de um ser humano

não seria comportado apenas pelas relações de

possibilidades de arranjos entre as sinapses neurais

(muito embora este valor seja muito alto). Desta

forma, a natureza lançou mão de outro artifício que é a

modulação por freqüência.

Organismos complexos fazem mais do que

interagir, gerando respostas externas espontâneas.

Eles geram respostas internas, as quais algumas são

imagens (visuais, auditivas, somatossensoriais).

Quer saber mais?

O cérebro possui a capacidade de exibir imagens internas e de ordenar essas imagens num processo chamado pensamento.

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Talvez seja proveitoso pensar que nosso forte

sentido de integração mental é criado a partir da ação

concertada dos sistemas de grande escala, pela

sincronização de conjunto de atividades neurais em

regiões cerebrais separadas. Se a atividade ocorre em

regiões cerebrais anatômicas separadas, mas se a

mesma ocorre dentro de aproximadamente a mesma

"janela temporal", é ainda possível ligar as partes

escondidas, criando assim a impressão de que tudo

ocorre no mesmo local. Qualquer disfunção do

mecanismo de regulação do tempo criaria,

provavelmente, uma integração adulterada ou uma

desintegração. Talvez seja isso que de fato ocorre em

estados de confusão causadas por traumatismos

cerebrais ou em alguns sintomas de esquizofrenia e

outras doenças mentais.

Entretanto, o organismo se encontra

constantemente formando uma imagem do seu estado

atual e a sua percepção criaria o que em termos gerais

poderíamos chamar de "estado de alerta" ou

"consciência". Nesse sentido, é válido perguntar o que

ocorre no cérebro que permite aos seres humanos se

comportarem racionalmente?

Esta interpretação é interessante no sentido de

definir em termos biológicos o que seria o tempo. Tido

como noção primeira, muitos filósofos o definiram

como "comparação entre dois movimentos". Nesses

termos, podemos dizer que a "passagem do tempo"

advém do constante monitoramento do corpo

comparando às impressões sensíveis, através de

padrões internos já estruturados. Pode-se, assim,

verificar um agora, um ontem e um amanhã.

Esse processo estaria constantemente

dependendo da memória, tanto de curto quanto de

médio prazo. Pelo fato de existir uma diferenciação

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 94

entre o conceito memorizado e a impressão sensível

atualizada, diferencia-se o ontem de hoje. Para isso é

importante "esquecer" parte da impressão sensível.

Caso fosse possível uma memorização completa de

presente, pois, se estaria constantemente em delírio.

Embora muitos estudiosos chamem a atenção

para os ciclos de interação entre cérebro e mente,

continua-se a concebê-los separados em termos

estruturais e funcionais, pois, a interação com o meio

ambiente dá-se no organismo como um todo, assim,

quando se ouve uma música, se vê um filme, se

saboreia uma sobremesa, corpo e cérebro interagem

com o ambiente. A percepção não é um atributo

exclusivo do cérebro, todo o organismo reage

ativamente de forma a obter a melhor interface

possível. Constrói-se, assim, um conceito mais amplo

de percepção, que tanto atua sobre o meio ambiente

como dele recebe sinais.

Em conclusão, as representações que nosso

cérebro cria para descrever uma situação e os

movimentos formulados como resposta a essa depende

de interações mútuas entre o cérebro e o corpo.

O grande diferencial entre os estudiosos dá-se

entre a razão e os sentimentos: com efeito, os

sentimentos parecem depender de um delicado sistema

com múltiplos componentes que é indissociável da

regulação biológica; e a razão aparece, na verdade,

depende de sistemas cerebrais específicos, alguns dos

quais processam sentimentos. Assim, pode existir um

elo de ligação, em termos anatômicos e funcionais,

entre razão e sentimentos e entre esses e o corpo.

Isso não conduz à morte da racionalidade, mas é

preciso reconhecer a relevância das emoções nos

processos de raciocínio e, como não poderia deixar de

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 95

ser, suas implicações educacionais. Não basta

reconhecer este efeito, mas é necessário um esforço

para compreender como se processa nossa complexa

maquinaria biológica e sociocultural, como função

atribuída às emoções na criação da racionalidade tem

implicações na área educacional.

O alerta, para os pesquisadores, é de que a

investigação da mente deve aliar os recursos da

neurobiologia, sob pena de estar se assumindo uma

postura dualista, ainda que não se admita. Os

neurocientistas também correm o mesmo perigo, ao

insistirem em que a mente pode ser perfeitamente

explicada em termos de fenômenos cerebrais, deixando

de lado o resto do organismo e o meio ambiente físico

e social.

Para finalizar, a compreensão cabal da mente

humana requer a adoção de uma perspectiva do

organismo, que não só a mente tem de passar de um

cogitum não físico para o domínio do tecido biológico,

como deve ser também relacionada com todo o

organismo que possui cérebro e corpo integrados e que

se encontra plenamente interativo com um meio

ambiente físico e social.

Razão e emoção no processo de ensino

aprendizagem - aprender com a cabeça e

com o coração

O maior desafio do mundo da informação é,

para quem estuda, como organizá-la, como encontrar

critérios que viabilizem a organização da informação e

que permitam, com isto, torná-la disponível quando

necessária. Ora, tais critérios são, antes de tudo,

formas de pensar e de sentir, ou seja, forma de viver.

Quem pretende enfrentar o mundo da informação

somente com a cabeça, com abstrações, não irá muito

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 96

longe. O excesso de informação mal compreendida, mal

armazenada, significa o mesmo que confusão. Não há

uma distância entre confusão e falta de informação.

Não será possível chegar ao conhecimento crítico,

inovador, com uma relação meramente racional diante

das informações. Este é o caminho da congestão

mental. O acúmulo de dados, seja em computadores,

seja em cérebros vivos, não representa conhecimento.

A análise, a fragmentação dos dados, sem uma

correspondente síntese, não leva a nenhum

conhecimento útil e pode, pelo contrário, levar a muitos

conhecimentos inúteis.

Podem-se criar várias disciplinas falando de

cidadania, honestidade. Os valores têm de ser vividos,

vivenciados; a crise na educação não é outra coisa

senão a perda de sentido, nos remete à idéia da

educação ter um sentido coletivo.

Deve-se desenvolver a capacidade de pensar

criativamente o cotidiano, talvez encontremos diversas

soluções paulatinas.

Ver o que não está aparente no conteúdo

programado, no concreto, mas considerar o

crescimento humano que a pessoa adquiriu durante

aquela experiência.

Tudo isso é aprender. E aprender é sempre adquirir uma força para outras vitórias, na sucessão interminável da vida.

(Cecília Meireles)

O grande desafio da sociedade da informação é

estimular uma saudável relação emocional tanto quanto

racional com as informações. Como eu reajo

emocionalmente diante do conhecimento? Se imaginar

que um professor, um programa de computação, um

curso televisivo, ou seja, qual for vai colocar na mente

um determinado conhecimento, então pressuponha-se

Dica da professora

A alternativa é aprender com a cabeça e com o coração.

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 97

que a mente é algo como uma caixa vazia ou um papel

em branco a ser preenchido. Neste caso, pressuponha-

se que é o objeto e não o sujeito do processo de

conhecer. A percepção de quanto a emoção está

ocupando a mente desvia as informações,

relacionando-as em forma de rede com a vida

cotidiana, com os sonhos e desejos. Não estou

percebendo que o discurso do professor ou de alguma

outra fonte de informação é apenas parte do processo

de aprendizado e que, se deixar que essa parte fique

desacompanhada da emoção, do zelo e cuidado, tudo

será um amontoado de palavras ou dados inúteis, uma

perda de tempo, um desperdício em todos os sentidos.

Aprender com a cabeça e com o coração é

colocar-se em movimento diante das informações. É

fazer perguntas diante das afirmações. É abandonar a

obsessão pela certeza absoluta e definitiva diante do

conhecimento científico, filosófico ou seja lá de que

outro tipo for. É começar a olhar tanto para o texto

quanto para o contexto do texto, quanto para o

processo íntimo de auto-questionamento. Precisa saber

observar os pensamentos e sentimentos, sem agarrar-

se a eles, sem pretender descanso nas convicções, pois

estas podem ser becos sem saída do processo de

aprendizagem.

É tomar o conhecimento sempre dentro de

contextos, sempre ligado a uma perspectiva ou teoria

que o delimite, que permita ver as falhas, as

limitações, as lacunas do próprio conhecimento. Não

posso pretender agarrar-me a algo que considero

passível de afundar a qualquer momento. E se o

conhecimento é aprendido com a razão tanto quanto

com a emoção, há sempre este risco. A emoção

representa, para o conhecimento, seu contexto mais

insondável, algo como um mar aberto em torno de

uma ilha de idéias bem organizadas; ou, no máximo,

Para pensar

Aprender com a cabeça e com o coração implica conviver com as incertezas.

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 98

de um arquipélago. Conhecer não é percorrer terras

planas e seguras. Conhecer é viajar por espaços

delimitados pela ignorância e pelo risco do retrocesso.

O ensino é um compromisso com a estimulação,

com a provocação, com a orientação da aprendizagem.

Ninguém pode ensinar a quem não se encontra

disponível para as incertezas e em busca de

conhecimento. Não é possível orientar sem aprender a

orientar com o orientado. Ensinar é fundamentalmente

aprender. Aprender a enfrentar o desafio da vinculação

da emoção com a razão no processo de conhecer e,

além disso, enfrentar o desafio de criar meios,

mecanismos, recursos, instrumentos, estratégias e

táticas que mobilizem, no educando, sua emoção em

paralelo com sua razão. Esquecer ou reprimir a

primeira em função da segunda, sob a alegação de que

a emoção apenas atrapalha o conhecimento científico, é

retroceder mais de um século na psicologia da

aprendizagem.

Aprender com o aprendiz é buscar, com ele,

maneiras de reconstruir o conhecimento em parceria,

com base nas vivências e reflexões propiciadas pelas

dinâmicas de grupo, pelas circunstâncias geográficas e

históricas vividas no momento da aprendizagem, pelas

varias estratégias de ensino-aprendizagem, valorizando

tanto a análise quanto a síntese, tanto a cultura escrita

quanto a expressão oral, a capacidade de interação e

de estabelecer e cumprir compromissos. Aprender um

conteúdo é não apenas dominá-lo, mas envolver-se

com ele, habitá-lo, transformá-lo em algo renovado

pela vida e que nele depositamos.

Estar em busca de, estar ideologicamente

inquieto, insatisfeito, é pré-condição de aprendizado

efetivo. Ter aprendido algo significativo implica

conseguir emocionar-se, até certo ponto, toda vez que

Para refletir

A aprendizagem é um compromisso fundamentalmente emocional.

Importante

Aprender é uma aventura e quem ensina não deve interromper a viagem do aprendiz com falsas bóias de salva-vidas.

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 99

relacionamos novamente com tal conteúdo. Quem

aprendeu com a cabeça e com o coração, sempre, tem

algo a dizer sobre o que parece ter aprendido.

Consegue reemocionar-se toda vez que se envolve com

o aprendido. Assim, torna-se mais persuasivo,

convincente quando busca partilhar seu conhecimento

com os demais.

A representação do aprendido não é apenas

uma reapresentação do conhecido, em forma racional,

abstrata. É também uma representificação, uma nova

viagem, um novo mergulho.

Para aprender, o sujeito necessita estar apto a

fazer um investimento pessoal no sentido de renovar-

se com o conhecimento. Implica um movimento que

envolve tanto a utilização dos recursos cognitivos

mesclados com os processos internos quanto com as

possibilidades socioafetivas. Vale dizer que a

aprendizagem vai acontecendo à medida que o

aprendiz vai construindo uma série de significados que

são resultados das interações que ela fez e continua

em seu constexto social.

A dimensão da proposta escolar para o novo

milênio, e o seu êxito estão diretamente ligados à

construção de seres pensantes, críticos, com

instrumentos capazes de melhorar o seu social

promovendo a democratização. A vivência da cidadania

plena é aprendida e internalizada na ação social e

emocional.

A plena integralidade do ser humano, entendida

entre a razão e a emoção, entre o subjetivo e o

objetivo, entre o individual e o coletivo, constitui o ser

cidadão, pleno em suas capacidades de exercer seus

deveres e viver seus direitos para redimensionar os

problemas sociais.

Importante

Aprender a aprender é realmente o mais importante na sociedade da informação.

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 100

Em verdade, cremos que a educação deva ser

um ato de “resgatar a dignidade do ser humano e sua

infinita nobreza”, e propiciar uma convivência em que

todos tenham um espaço digno e sejam mais felizes.

RESUMO

Vimos até agora:

� Um dos mais fascinantes temas da ciência é

como surgiu a inteligência humana ao longo

da evolução dos grandes primatas aos

hominídeos chegando até o ser humano;

� Deste modo, o papel do tronco encefálico é

principalmente efetuador, para o qual recebe

um grande número de fibras descendentes

originadas nas estruturas telencefálicas e

diencefálicas, ligadas mais diretamente à

integração e à coordenação dos fenômenos

emocionais;

� As experiências de Hess demonstram a

participação do hipotálamo nos fenômenos da

emoção e do comportamento;

� Lesões ou estimulações do núcleo dorso-

medial e dos núcleos anteriores do tálamo já

foram correlacionadas com alterações de

reatividade emocional no homem e em

animais;

� A área pré-frontal tem importantes conexões

com o núcleo dorso-medial do tálamo,

recebendo e enviando fibras a este núcleo.

Fulton e Jacobsen estudaram os efeitos da

ablação desta área sobre o comportamento

de chimpanzés;

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Aula 4 | Neurobiologia na construção da inteligência e da afetividade 101

� Na face medial de cada hemisfério cerebral,

observa- se um anel cortical contínuo

constituído pelo giro do cíngulo, istmo do

cíngulo, giro parahipocampal e hipocampo;

� O hipocampo é uma formação arquiencefálica

bastante desenvolvida no homem. O papel do

hipocampo na regulação do comportamento

emocional foi inicialmente apontado por

Papez que chamou a atenção para o aumento

da reatividade emocional causada por lesões

do hipocampo pelo vírus da raiva. Outra

função importante do hipocampo é a sua

participação no fenômeno da memória;

� A arquitetura de um sistema de interação em

tempo real com agentes humanos deveria

prever, em sua estrutura, explicitamente as

crenças e o raciocínio afetivo;

� Três pontos são fundamentais na discussão:a

emoção exerce influência nos processos de

raciocínio; os sistemas cerebrais destinados à

emoção estão intrinsecamente enredados nos

sistemas destinados à "razão"; a mente não

pode ser separada do corpo.

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