nanotecnologia e riscos ambientais: uma reflexão sobre a

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IV Encontro Nacional da Anppas 4,5 e 6 de junho de 2008 Brasília - DF – Brasil ______________________________________________________ Nanotecnologia e Riscos Ambientais: uma Reflexão sobre a “Ingerência” das Ciências Humanas e Sociais na Construção de um Debate Crítico Jorge Luiz dos Santos Junior (UFRRJ) Mestre em Economia, Professor do Departamento de História e Economia – IM/UFRRJ Doutorando em Ciências Sociais CPDA-UFRRJ [email protected] Wander Luiz Pereira dos Santos Sociólogo, Mestre em Cognição e Linguagem [email protected] Resumo Objetivamos neste paper analisar em que medida algumas contribuições teóricas, no âmbito das ciências humanas e sociais, analisam de forma crítica as transformações societais a partir das nanotecnologias, entendida aqui como uma revolução tecnológica, capaz de estabelecer rupturas, seja na forma de combater doenças, produzir bens, fazer política ou, até mesmo, transformar profundamente os processos sociais. Assim, identificamos como possibilidades interpretativas a Sociologia do Risco e a Economia da Inovação, por terem como objeto de análise a atividade científica e tecnológica. Concluímos, constatando a necessidade de formação de uma tríplice aliança, envolvendo Estado, Empresa e Sociedade (cientistas e não cientistas) a fim de garantir as pesquisas - que certamente podem contribuir para o bem estar social - concomitantemente com a segurança da sociedade. Além disso, percebemos que a convergência de tecnologias demanda das ciências uma maior interação e interdisciplinaridade, elemento essencial na politização das novas tecnologias. Palavras-chave Nanotecnologia, Riscos, Sociedade

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Page 1: Nanotecnologia e Riscos Ambientais: uma Reflexão sobre a

IV Encontro Nacional da Anppas 4,5 e 6 de junho de 2008 Brasília - DF – Brasil ______________________________________________________

Nanotecnologia e Riscos Ambientais: uma Reflexão sobre a “Ingerência” das Ciências Humanas e Sociais

na Construção de um Debate Crítico

Jorge Luiz dos Santos Junior (UFRRJ)

Mestre em Economia, Professor do Departamento de História e Economia – IM/UFRRJ Doutorando em Ciências Sociais CPDA-UFRRJ

[email protected]

Wander Luiz Pereira dos Santos Sociólogo, Mestre em Cognição e Linguagem

[email protected]

Resumo Objetivamos neste paper analisar em que medida algumas contribuições teóricas, no âmbito das

ciências humanas e sociais, analisam de forma crítica as transformações societais a partir das

nanotecnologias, entendida aqui como uma revolução tecnológica, capaz de estabelecer rupturas,

seja na forma de combater doenças, produzir bens, fazer política ou, até mesmo, transformar

profundamente os processos sociais. Assim, identificamos como possibilidades interpretativas a

Sociologia do Risco e a Economia da Inovação, por terem como objeto de análise a atividade

científica e tecnológica. Concluímos, constatando a necessidade de formação de uma tríplice

aliança, envolvendo Estado, Empresa e Sociedade (cientistas e não cientistas) a fim de garantir as

pesquisas - que certamente podem contribuir para o bem estar social - concomitantemente com a

segurança da sociedade. Além disso, percebemos que a convergência de tecnologias demanda

das ciências uma maior interação e interdisciplinaridade, elemento essencial na politização das

novas tecnologias.

Palavras-chave Nanotecnologia, Riscos, Sociedade

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1. Considerações Iniciais Desde a pré-história, o homem vem criando ferramentas que ampliam sua capacidade de interferir

sobre o meio ambiente natural. Foram essas intervenções que permitiram que a sociedade

passasse por diversos momentos em seu desenvolvimento, cunhados por grandes revoluções

tecnológicas que transformaram e, ainda transformam, a vida social e material na terra. Esses

mesmos homens domesticaram plantas e animais permitindo a maior reprodução da espécie

humana.

Porém, em toda a história, e especialmente no século XX, a criação (entendida em sentido amplo

como nova técnica, processo ou instrumento) aparece como uma faca de dois gumes que, por um

lado transforma a sociedade de forma positiva, atendendo aos anseios humanos ao proporcionar

produtos e serviços inconcebíveis para muitos1. Por outro, enseja um conjunto de incertezas,

riscos e desajustes na medida em que destrói o paradigma de desenvolvimento vigente, criando

um novo ambiente, repleto do desconhecido. Acrescenta-se que junto às novas tecnologias,

surgem transformações/distorções culturais, sociais, ideológicas, econômicas e políticas.

Mas é no final do século XX, e início do século XXI, que muitos cientistas e pesquisadores

reconheceram a emergência e a ascensão de um novo paradigma de desenvolvimento com

capacidade transformadora sem precedentes, baseado na Nanociência e tendo como ferramenta

a Nanotecnologia. A literatura especializada tem convencionalmente chamado de paradigma de

convergência das NBICs (Nanotecnologias, Biotecnologias, Informática e Ciências Cognitivas).

Acredita-se que a nanotecnologia seja capaz de transformar a economia e a sociedade como um

todo e que terá um impacto talvez maior que o da Tecnologia da Informação ou o da Genética e

da Biologia Celular e Molecular2. Ela tem chamado a atenção de cientistas das mais diversas

áreas do conhecimento, seja pelas desmesuradas descobertas e invenções em escala

nanométrica, seja devido à suas possíveis implicações econômicas, sociais e, sobretudo,

ambientais.

A nanotecnologia é vista como uma tecnologia emergente, que vai alterar radicalmente outras

tecnologias em muitas áreas como a informática, a saúde3, a militar, a agricultura e a energia;

gerando novos conflitos e embates ideológicos, proporcionando acesso a novos produtos e

processos. Para alguns, a nanotecnologia pode trazer riscos incomensuráveis para os seres do

planeta terra, para outros ela será tão fundamental que poderá acabar com a escassez de

matérias-primas, com a fome e com muitas doenças, proporcionando as bases para o almejado

desenvolvimento sustentável.

1 Lembramos que a atividade científica inicia-se no imaginário do cientista, o que o faz notável por conceber e materializar o inconcebível. 2 Para um detalhamento das aplicações nanotecnológicas, ver Roco et.al. (1999). 3 Incluem-se aqui medicamentos dermatológicos e cosméticos.

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Não se sabe para onde a Nanociência e Nanotecnologia (N&N) levarão a sociedade, sabe-se,

porém, que a atividade científica é incessante, mesmo diante de incertezas acerca do futuro, pois

a ciência se caracteriza justamente pela posição de vanguarda. As previsões são de que os

avanços das nanotecnologias impactarão diversas áreas científicas (biologia, química, física) e

tecnológicas devido ao seu conteúdo paradigmático, e que criarão novas tecnologias que hoje

existem somente nos mais futuristas romances de ficção científica.

Cientistas naturais (ciência hard) especulam que a regulação nessa área, ao contar com uma

legislação específica, pode causar atrasos/desânimos às pesquisas e aos pesquisadores. Porém,

tem-se como questão prática o fato de ser necessário regulamentar em busca da manutenção da

segurança (alimentar, física, militar, ambiental, etc) da espécie humana. No entanto, existe a

impossibilidade metodológica de regulamentar aquilo que ainda não está materializado ou que

ainda é incipiente, na medida em que ainda não apresentou concretamente seus efeitos societais.

Do aparato regulatório existente - leis ambientais, de biosegurança, de patentes - ainda não se

sabe o que pode ser aproveitado para a regulação das nanos. Não há consenso sobre a

globalização ou regionalização das leis e instâncias de coordenação, devido às dificuldades de se

envolver diversos atores (seja sociedade civil, instituições políticas ou países, agências

multilaterais). Incertezas também pairam sobre as iniciativas de auto-regulamentação.

As ciências humanas e sociais em alguns momentos não acompanharam o ritmo de

desenvolvimento das tecnologias existentes e, em outros momentos, não tiveram o espaço

necessário para apresentar teorias explicativas e analíticas que dessem conta da nova realidade4.

Acredita-se que no caso das nanotecnologias ainda exista tempo para que essa reflexão seja

maior.

Dado o exposto, objetiva-se neste paper apresentar uma reflexão preliminar sobre a contribuição

das ciências humanas e sociais no debate sobre as nanotecnologias, buscando perceber em que

medida algumas de suas teorias contribuem para pensar essa nova tecnologia como algo que

envolve riscos ao meio ambiente natural e social, mas que também contribui para a solução de

problemas sócio-econômicos e que, portanto, demandam alto engajamento público e politização.

2. Nanotecnologia: o que, como e quando?

Epistemologicamente a palavra “nano” vem do latin “nanus” e é utilizada para representar coisas

por demais pequenas. Os cientistas se apropriaram desse prefixo para, através do que

denominaram escala nanométrica, representar partículas de magnitude demasiadamente

pequenas, numa atividade científica batizada de nanociência que tem como ferramenta e produto,

a nanotecnologia.

4 Como exemplo emblemático, destaca-se o desenvolvimento das armas nucleares, onde o próprio Einstein não previu a iminência e a realidade de sua utilização para destruição em massa.

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Um nanômetro (nm) equivale a bilionésima parte de um metro. Uma nanoestrutura que pode ser

representada, por exemplo, pela dimensão dezenas de mil vezes menor que a do diâmetro de um

fio de cabelo humano. Para termos uma noção mais clara, um átomo mede cerca de 2 décimos de

um nanômetro e um vírus cerca de 100 nanômetros. Assim, como nos esclarece Chaves (2007), a

nanociência e a nanotecnologia visam, respectivamente, a compreensão e o controle da matéria

na escala nanométrica, ou de forma mais abrangente, desde a escala do átomo até cerca de 100

nanômetros.

Dalcomuni (2006) define N&N como o entendimento, controle e exploração de materiais e

sistemas, cujas estruturas e componentes exibem propriedades e fenômenos físicos, químicos e

biológicos significativamente novos e/ou modificados a partir de sua nanoestrutura.

A novidade em relação às outras tecnologias revolucionárias é que, até a última revolução

tecnológica (da tecnologia da informação), a revolução partia de inovações criadas da dissociação

de elementos, uma construção de cima para baixo, ou de fora para dentro (tecnologia Top down),

como um artesão esculpindo sua obra. Já a nanociência parte de baixo para cima, construção de

tecnologias a partir de sua menor estrutura (tecnologia Botton Up)5, e o exemplo mais apropriado

para esse caso é a concepção e evolução da vida.

Quadro 01: Breve Cronologia da Nanotecnologia

1959 Conferência de Richard Feynman, na Reunião da Sociedade Americana de Física. 1966 Viagem Fantástica (Fantastic Voyage), filme baseado no livro de Isaac Asimov6

1974 Norio Taniguchi cunha o termo nanotecnologia. 1981 Trabalho de Gerd Binnnig e Heinrich Rohrer, criadores do microscópio eletrônico de

tunelamento (scanning tunneling microscope).

1985 Descoberta dos fulerenos, por Robert Curl, Harold Kroto e Richard Smalley. 1986 Publicação do livro de Eric Drexler, “Engines of Creation”. 1989 Donald Eigler escreve o nome IBM com átomos de xenônio individuais.

Descoberta dos nanotubos de carbono, por Sumio Iijima, no Japão

2000 Administração Clinton lança no California Institute of Techonology, a National Nanotechnology Initiative.

2001 Cees Dekker, biofísico holandês, demonstrou que os nanotubos poderiam ser usados como transistores ou outros dispositivos eletrônicos.

2001 Equipe da IBM (EUA) constrói rede de transistores usando nanotubos, mostrando mais tarde o primeiro circuito lógico à base de nanotubos.

2002 Chad Mirkin, químico da Northwestern University (EUA), desenvolve plataforma, baseada em nanopartículas, para detecção de doenças contagiosas.

Fonte: Elaborado por Dalcomuni (2004) para apresentação no II Seminanosoma (Slide).

Foi Richard Feynman (Prêmio Nobel de Física) em 1959, na Reunião da Sociedade Americana de

Física, quem chamou atenção para as possibilidades existentes na escala nano, tendo esse

momento sido considerado como o marco histórico da evolução das nanotecnologias.

Em sua palestra intitulada “There's Plenty of Room at the Bottom”, Feynman alertou os cientistas

para as possibilidades de construção de novos materiais a partir do manuseio de átomos. Para

5 Para um melhor entendimento sobre essa questão ver, por exemplo, Regis (1997) e Brasil (2006). 6 O filme tem como roteiro uma equipe de especialistas que adentram o corpo humano à bordo de um nano-submarino nuclear com o objetivo de salvar a vida de um imprescindível cientista. È o vislumbrar de uma nanomáquina.

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Feynman, desde que respeitada as leis da natureza, seria possível manipular átomos, a base de

todas as coisas animadas e inanimadas, criando novos elementos não encontrados naturalmente

no ambiente e/ou reproduzindo os existentes. Schumpeter (1984) definiu inovação como: fazer

algo novo, ou fazer algo velho de forma diferente. Por esta definição, as nanotecnologias

aparecem com um conteúdo amplamente inovador.

Apesar das predições de Feynman, somente em 1981 foi possível falar em nascimento da

nanotecnologia e consolidação da nanociência enquanto campo de investigação profícuo. Foi

nesse ano que Gerd Binnnig e Heinrich Rohrer, terminaram a construção do microscópio

eletrônico de tunelamento (scanning tunneling microscope), que viria se tornar a base sólida dos

experimentos nanocientíficos ao possibilitar a manipulação dos átomos de forma individual.

Cabe ressaltar, que a ascensão das nanotecnologias não significa a aceleração dos processos de

miniaturização, que parte da idéia de redução daquilo que é grande, como aconteceu com os

processadores informáticos. Ao contrário, a lógica da nanotecnologia está justamente em

combinar as menores partículas de possível manipulação na natureza a fim de criar estruturas

funcionais para a sociedade (uma analogia possível seria a utilização de areia para fabricação de

blocos e, consequentemente, prédios).

A possibilidade de manipular átomos de forma individualizada, suscita entre os cientistas a

possibilidade de usar nanotecnologias em todos os campos científicos (física, química e biologia)

e em suas diversas áreas (medicina, cosméticos, alimentos, novos materiais, energia, etc.), o que

mais uma vez ressalta o conteúdo eminentemente revolucionário desse empreendimento

tecnocientífico.

Para além de suas possibilidades experimentais e aplicações, objeto de investigação das ciências

naturais, as nanotecnologias inauguram um novo (ou talvez revisitado) problema para as ciências

humanas e sociais, qual seja, o impacto de uma nova tecnologia na sociedade.

Nos itens que se seguem, apresentamos alguns elementos que evidenciam o conteúdo

revolucionário das nanotecnologias e, na seqüência, a emergência de questões que põem em

evidência os riscos existentes, e que apontam para as incertezas associadas às novas

tecnologias. A partir destas considerações, buscaremos verificar em que medida alguns estudos

nas Ciências Sociais e Econômicas podem nos ajudar a interpretar, de forma mais adequada, os

rumos que estão sendo trilhados e que não deixam seus rastros visíveis.

3. Revolução Nanotecnológica: a iminência de um novo Kondratiev

3.1 Revoluções tecnocientíficas e rupturas

Dizer que a economia possui um comportamento cíclico não é uma mera suposição teórica. Uma

simples verificação do comportamento histórico dos dados revela essa tendência e mostra, mais

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ainda, uma oscilação representada por grandes “picos” e “vales”, caracterizando momentos de

grande expansão econômica, acompanhados por períodos de grande recessão.

Durante a década de 1920, o soviético Nikolai Dmitrijewitsch Kondratiev apresentou um estudo

baseado em séries estatísticas no qual demonstrou a presença de ciclos longos ou ondas longas

de crescimento na história do capitalismo, duração de mais ou menos 50 anos. Seu argumento

era de que esses ciclos poderiam ser explicados unicamente por fatores endógenos ao sistema

capitalista e sua base explicativa estava no processo de acumulação de capital. Tal afirmação

inaugurou (a despeito de haver alguns estudos precedentes) um longo debate sobre a natureza e

a periodicidade dos grandes ciclos econômicos (ARAÚJO, 2001).

Seguindo a perspectiva de Kondratiev, os estudos de Schumpeter demonstraram a presença de

ciclos econômicos consubstanciados em processos de “destruição criativa”. Esse processo

explicava a dinâmica dos ciclos através de ondas de inovações que revolucionavam a estrutura

econômica vigente e, através de um processo concorrencial, a situação de equilíbrio era abalada.

Essas ondas, impulsionadas pela concorrência, fazem com que novos produtos, processos e

métodos de organização industrial se estabeleçam, em detrimento dos antigos.

O trabalho de Schumpeter destaca-se por deslocar os estudos econômicos, do plano estático para

o plano dinâmico. Para este autor, o desenvolvimento econômico passa então a ser visto como

uma mudança espontânea e descontínua na estrutura produtiva existente, sendo definido como

a realização de novas combinações produtivas (as inovações). Para Schumpeter, o aspecto

essencial a captar é que ao tratar do capitalismo, estamos tratando de um processo evolutivo.

Para ele o capitalismo é, por sua própria natureza, uma forma ou método de mudança econômica,

que nunca está e que nunca poderá estar num estado estacionário.

Figura 01: Representação de um ciclo Schumpeteriano

Vale

Pico

Boom (prosperidade): surgimento das inovações busca crescente pelo lucro extraordinário.

Recuperação: retomada dos investimentos

Depressão: Término do processo de difusão das inovações, crise, quebra de diversas empresas, desuso de produtos e processos decorrentes da inovação

Vale

RECESSÃO Queda dos investimentos

Fonte: Elaboração própria

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Assim, para Schumpeter, o impulso fundamental que inicia e mantém o movimento da máquina

capitalista decorre dos novos bens de consumo, dos novos métodos de produção ou transporte,

dos novos mercados, das novas formas de organização industrial que a empresa capitalista cria.

A figura acima mostra que os ciclos na economia (para Schumpeter) possuem quatro fases:

prosperidade, recessão, depressão e recuperação. A prosperidade está ligada ao surgimento de

inovações radicais, seguida por uma onda de novas inovações incrementais, consubstanciando-se

numa espécie de paradigma produtivo. Tal paradigma atinge seu auge quando não é mais

possível obter novos produtos a partir do padrão tecnológico existente, surgindo daí a recessão. A

depressão está associada ao término do processo de difusão das inovações ensejando fusões,

aquisições e falências, é a deflagração da crise. Uma parte dessas quebras provém do desuso de

produtos e processos decorrentes da inovação, ou seja, destruição criativa. A recuperação

provém de uma nova inovação radical que vai dar novo fôlego ao ciclo produtivo7.

Shikida & Bacha (1988) lembram que os períodos de expansão e contração da economia não são,

para Schumpeter, infinitos. Ao contrário, ele prevê a possibilidade de crise a partir da

oligopolização do processo inovativo. Ao atribuir papel fundamental ao empreendedor8 e ao

perceber a internalização da atividade inovativa em grandes departamentos de P&D, Schumpeter

vislumbra a decadência da dinâmica do ciclo econômico.

Cabe ressaltar, que o tratamento dado por Schumpeter ao caráter cíclico da economia guarda

relação direta com a atividade científica. Para Schumpeter, a presença do empreendedor é

condição sine qua non para a revolução científica. A partir da evolução do capitalismo, o

empreendedor seria substituído pelos vultosos departamentos de P&D9.

Entre as décadas de 1970 e 1980, reconhecendo a importância das contribuições

Schumpeterianas, alguns trabalhos buscaram ampliar o escopo da análise de Schumpeter a fim

de explicar os ciclos. Dentre muitos, cabe destacar o trabalho seminal de Freeman e Perez

(1988), que cunharam o termo “paradigma tecnico-econômico”, referindo-se ao processo inovativo

que modifica não somente as estruturas econômicas vigentes, mas que, sobretudo, revoluciona

todo o aparato institucional estabelecido, mudando a forma do progresso tecnológico num sentido

amplo. Sua difusão abrange todo o sistema, envolvendo fatores sociais, políticos, ambientais,

culturais, formas organizacionais e níveis de produção da firma, qualidade e quantidade de força

de trabalho. Revoluciona também o padrão de distribuição de lucros e o padrão de investimento

nacional e internacional, mudando os custos relativos e, conseqüentemente, as vantagens

comparativas, estabelecendo um novo padrão de consumo e gerando novas incertezas.

7 A abordagem de Schumpeter possui uma formulação eminentemente econômica, porém, a importância desse autor reside no fato de endogeneizar a atividade científica e tecnológica e nela, perceber elementos fundamentais que explicam mudanças nos processos sociais. 8 O empreendedor para Schumpeter é um ser diferente, raro, com espírito investigativo e curiosidade aguçada, não necessariamente é o capitalista mas, sobretudo, é o inovador. 9 A partir daí Schumpeter vislumbra a decadência do Capitalismo ao transformar a atividade científica num produto do mercado

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Freemam e Perez propuseram uma taxonomia para as inovações, argumentando que o corpo

teórico keynesiano não dava conta de explicar a recessão dos anos 1980 e, mostraram que a

falha dessa perspectiva estava na falta de uma teorização acerca das condições das mudanças

tecnológicas em cada período de tempo. Para os autores, a chave explicativa estava nas

mudanças dos paradigmas técnico-econômicos.

Eles identificaram cinco ondas na história do capitalismo, cada uma com a presença de um

paradigma diferente, onde se pode identificar um fator-chave10 que, ao satisfazer três condições

próprias, permitirá que um novo paradigma tecnológico desloque o antigo. As três condições são:

custos relativos decrescentes, rápido incremento da oferta e aplicações penetrantes.

Quadro 02: Os cinco paradigmas técnico-econômicos de Freeman e Perez

Fator-Chave

Constelação de Inovações

Inovações tecnicamente bem-sucedidas

Segmentos motrizes

Infra-estrutura de transporte e comunicação

Mudanças gerenciais e organizacionais

Período de mudança

Ferro

Algodão

Carvão

Mecanização da indústria e transportes através da força da água

Moinho de Arkwright’s Cromford, Processo de mistura de Henry cort

Tecelagem

Produtos de ferro

Roda d’agua

Sistemas fabris

Empreendedores

Pacerias

1815- 1848

Ferro

Carvão

Mecanização da indústria e transportes com o uso do vapor

Ferrovia Liverpool-Manchester, Navio a Vapor Grande Oeste

Ferrovias e equipamentos ferroviários

Motores a vapor Ferramentas

Ferrovias

Telégrafo

Navios a vapor

Sociedades anônimas

Subcontratação de trabalhadores

1848- 1873

Aço

Cobre

Ligas-Metálicas

Eletrificação da indústria, do transporte e das residências

Carnegie e Bessenger Steel Rail Plant Estação elétrica de Edinon -NY

Equipamento elétrico

Engenharia pesada

Química pesada

Produtos de aço

Ferrovias de aço

Navios de aço

Telefone

Profissionais especializados

Taylorismo

Mega empresa

1895- 1918

Petróleo

Gasolina

Material Sintético

Motorização dos transportes, economia civil e da guerra

Linha de produção de Ford

Processador de óleo pesado de Burton

Automóveis e caminhões

Tratores e Tanques

Motores a Diesel Aviões

Refinarias

Rádio

Autopistas

Aeroportos

Linhas aéreas

Produção e consumo em massa

Fordismo

1941-1973

Chips

Circuito integrado

Informacionali-zação da economia

IBM 1401 e 360

Micro Intel Computadores

Softwares

Equipamento de telecom

Biotecnologia

Infovias Redes de trabalho internas, locais e globais

1973- 2000

Fonte: Freeman e Perez (1988), adaptado pelo autor.

O novo paradigma surge num mundo ainda impregnado pelo antigo e ele só se torna dominante

quando o fator-chave tem capacidade de atender às três condições citadas, tornando-se o eixo

central de um crescimento rápido e continuado do sistema de inovações técnicas, sociais e

gerenciais. Algumas das inovações vão estar diretamente ligadas à produção desse fator chave e

outras, à sua utilização.

Essas transformações demandam uma reacomodação do comportamento social e institucional em

todos os níveis e devem ser compatíveis com as diversas modificações que estiverem ocorrendo

10 O fator-chave é um insumo que serve de base para o desenvolvimento de novos produtos e processos

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na economia. Assim, os ciclos seriam explicados pelos desajustes entre o nível econômico e

institucional e o novo ajustamento seria a fonte de um novo processo de crescimento que se

consubstanciaria numa nova onda longa.

Como mostram Freeman e Perez, o aspecto essencial das mudanças dos paradigmas técnico-

econômicos é que eles possuem efeitos penetrantes por toda a economia, com novos produtos,

serviços, sistemas e indústrias afetando, direta ou indiretamente, quase que igualmente todos os

setores da economia. Importante também notar que cada onda de inovações carrega em si a

exploração desmesurada de novos materiais. A seguir apresentamos nossa interpretação de

como as nanotecnologias aparecem como fator-chave para o paradigma das NBICs

(Nanotecnologia, Biotecnologia e Tecnologias da Informação).

3.2 O caráter revolucionário das nanotecnologias e os riscos associados

O quadro abaixo apresenta alguns exemplos de aplicações das nanotecnologias. Pode-se

perceber que suas possibilidades não se limitam ao desenvolvimento de uma única área

comercial, tampouco à de uma única área científica. Vejamos:

Quadro 03: Alguns exemplos de aplicações das nanotecnologias

ÁREA EXEMPLOS

Novos Materiais

Materiais leves, mais resistentes, mais maleáveis. Catalisadores mais eficientes, ferramentas de corte mais duras, fluidos magnéticos inteligentes, etc. Novos microscópios e instrumentos de medida, ferramentas para manipular a matéria em nível atômico, bioestruturas, etc.

Nanoeletrônica e Tecnologia

computacional

Nanofios, nanodiodos e nanotransitores, fotoisomerismo, computadores quânticos. Aumento da eficiência no armazenamento de dados e velocidade de processamento, além de uso reduzido de energia. Aumento de eficiência nos negócios de mercado, entretenimento e defesa. Com a tecnologia do Fotoisomerismo é possível armazenar o conteúdo de 300 DVD´s Convencionais num cubo do tamanho de um dado. (CIÊNCIA HOJE, 2005)

Agricultura

Agricultura de precisão, Certificados de qualidade (língua eletrônica a base de nanosensores), Desenvolvimento de revestimentos comestíveis em frutas através de biopolímeros. Com os biopolímeros haverá Impactos nos sistemas agroalimentares na medida em que aumentará a durabilidade dos alimentos, o que aumenta a qualidade de produtos para exportação.

Medicina Terapia Fotodinâmica, Cosméticos – nano, aumento da velocidade dos diagnósticos, medicina menos invasiva, redução de rejeições em transplantes. Novos medicamentos baseados em nanoestruturas, kits de autodiagnóstico, materiais para regeneração de ossos e tecidos, etc.

Segurança e aeronáutica

Detectores de agentes químicos e orgânicos, circuitos eletrônicos mais eficientes, sistemas de observação miniaturizados, tecidos mais leves, confecção de coletes à prova de balas, vidros blindados. Aviões equipados com nanosensores e inteligência artificial à base de computação quântica.

Eletrônica OLEDs. As vantagens dos OLEDs, em comparação com os atuais displays de cristais líquidos (LCDs), incluem baixo consumo de energia elétrica, mobilidade de transporte, economia de espaço e preço baixo.

Meio ambiente Nanoimãs hidrofóbicos que quando dispersos em uma mistura água/óleo dispersam-se na fase óleo tornando-a magnética, facilitando sua remoção da água.

Automotiva Materiais mais leves, pneus mais duráveis, plásticos não-inflamáveis e mais baratos, etc.

Energia Novos tipos de bateria, fotossíntese artificial, economia de energia ao utilizar materiais mais leves e circuitos menores, etc.

Fonte: Elaborado com base no trabalho ROCO et.al. (1999) , entre outros.

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Com Freeman e Perez vimos que, para um novo produto ser reconhecido como fator-chave, deve

satisfazer às três condições: custos relativos decrescentes, rápido incremento da oferta e

aplicações potenciais penetrantes. Porém, nesse momento, não nos parece possível verificar se

as nanotecnologias atendem a esses três requisitos, devido à amplitude desse insumo que inclui e

comporta todos os elementos da tabela periódica, além dos novos elementos que estão sendo

criados. Mas é justamente isso que faz os cientistas intuírem várias aplicações promissoras, além

das já existentes.

A convergência com outras áreas, como as tecnologias da informação e as biotecnologias, fazem

da N&N uma atividade científica extremamente profícua, que aparece como área emergente e

próspera para pesquisa e desenvolvimento (P&D).

No Brasil, e na maioria dos países, os estudos e pesquisas têm avançado de forma substancial

em todas as áreas de aplicação. Porém, a discussão sobre os possíveis reflexos dessa tecnologia

sobre a sociedade, ainda é muito incipiente. Como toda nova tecnologia, parece ser necessário

pensar, para além dos seus benefícios, nas implicações no mercado de trabalho, meio ambiente,

cultura, política. Verificamos que ainda é incipiente e embrionária a participação dos diversos

setores da sociedade, que ainda não vislumbrou o limiar11 de um novo processo de “destruição

criativa”12.

A participação dos vários atores tais como; cientistas sociais, associações de classe e sindicatos,

acadêmicos, sociedade civil, ONGs e população em geral; torna-se relevante para que a nova

tecnologia possa avançar de forma responsável, para que sejam maximizados os promissores

benefícios e para que os impactos negativos possam ser, não somente mitigados mas, sobretudo,

evitados.

Dalcomuni (2004) apresenta uma agenda de estudos ampla que emerge no âmbito da área de

N&N:

• Incluir, de forma integrada, a dimensão econômica e social nas pesquisas e atividades em

N&N;

• Construir abertura, divulgação e formas de participação pública no processo de

desenvolvimento da pesquisa nanotecnológica;

• Criar base de conhecimento e infra-estrutura institucional para avaliar os impactos

científicos, tecnológicos, econômicos e sociais das nanotecnologias e suas implicações no

curto e longo prazo;

• Estabelecer mecanismos para informar, educar e envolver o público sobre os impactos das

nanotecnologias visando ao monitoramento contínuo das oportunidades e riscos destas

tecnologias;

11 Evidentemente, a percepção sobre as possibilidades das nanotecnologias assume (ou não) diversos graus, porém, as evidências já apontam no mínimo, para diversos “avanços” na estrutura produtiva dos países. 12 A falta de difusão da informação talvez seja a explicação mais adequada para explicar esse fato.

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10

• Educar e treinar novas gerações de cientistas e de trabalhadores em N&N; e

• Estimular as associações profissionais a desenvolver fóruns de discussão e atividades de

educação continuada para informar, educar e envolver profissionais em N&N.

O conteúdo inovador das N&N suscita diversos temas e questões intrigantes, tais como: a) Quem,

o que, quando, como e por que financiar a nanotecnologia?; b) Como incluir a sociedade no

debate sobre os possíveis impactos à saúde e ao meio ambiente?; c) De que forma fazer o

rastreamento de objetos e de produtos realizados pelo emprego das nanotecnologias e como

conhecer suas conseqüências societais?; d) Poderão as nanotecnologias aumentar, ou até

mesmo perpetuar a distância entre países ricos e pobres na medida em que amplia o gap

tecnológico existente entre eles?; e) quais serão os possíveis impactos sobre o mercado de

trabalho?.

Não será possível responder à essas questões neste paper. Porém, acreditamos que os

elementos apresentados nos ajudam a visualizar a relevância da inclusão da nanotecnologia

como agenda de pesquisa para as ciências humanas e sociais, sobretudo quando se considera a

possibilidade de riscos (ambientais, agroalimentares, à saúde, entre outros).

Para as inovações emergirem, não só a disponibilidade da tecnologia e a viabilidade econômica

são necessárias, há que se ter também asseguradas as possibilidades institucionais, fazendo-se

necessária, por exemplo, a construção de instituições regulativas que orientem a definição de

estratégias de pesquisas e trajetórias de uso dos conhecimentos gerados.

O desenvolvimento tecnológico possui dois lados, não necessariamente antagônicos, mas muitas

vezes complementares. De um lado está a curiosidade científica, a motivação do pesquisador em

explicitar o novo, o invisível, materializar o imaginário. Só existe ciência porque existe o

desconhecimento sobre muitas coisas. Por outro lado, está a motivação econômica numa intensa

busca por lucros extraordinários13, que somente se dá através da diferenciação, e ser diferente é

ser inovador.

Essa motivação econômica pode ser, e na maioria das vezes é, totalmente deslocada de uma

agenda que contemple as prioridades para o bem estar da sociedade. A sociedade ainda paga

caro por não prever os impactos das revoluções industriais e tecnológicas (vide Chernobyl). Na

modernidade, relevante se faz a discussão antecipada sobre as conseqüências societais do

desenvolvimento científico e tecnológico que promovam, sobretudo, a informação. As tecnologias

atuais agem de forma diferente das tecnologias anteriores a ponto de marcarem uma ruptura com

a própria estrutura social14. Percebe-se, dessa forma, o papel que a academia, sobretudo as

ciência humanas e sociais, possui na promoção de um aprofundamento da discussão sobre

nanotecnologia, buscando responder de forma adequada aos vários questionamentos que

13 Na literatura econômica o lucro extraordinário refere-se àquele obtido através da inovação, que dá ao capitalista um poder de monopólio. 14 Esse processo será mais bem explicitado no tópico que trata da contribuição das ciências sociais.

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11

emergem. Isso justifica trabalhos que procurem entender o desenvolvimento tecnológico e suas

interações com as instituições e organizações sociais.

Nas próximas seções, buscamos uma primeira aproximação com algumas teorias que podem nos

ajudar a perceber o papel que, tanto as ciências sociais, como as ciências econômicas, podem

desempenhar num projeto de reflexão crítica e envolvimento social nas questões relacionadas às

novas tecnologias e, de forma especial, nas questões da nanotecnologia15.

4. As ciências humanas e sociais e a construção de um debate crítico

4.1 Contribuição seminal das Ciências Sociais

Para analisar as novas tecnologias e os possíveis impactos sobre a humanidade nos parece

necessário, inicialmente, fazer uma reflexão acerca da relação homem-natureza. Com esse

objetivo, vale à pena uma breve incursão ao trabalho de Morin (1977) que defende a

interdisciplinaridade16 no estudo dos problemas complexos. A contribuição de Morin também

passa pelo fornecimento de um viés metodológico para o entendimento da complexidade da

natureza humana, de sua diversidade de anseios e da forma como a sociedade percebe o

desconhecido.

A nanotecnologia pode ser vista como um problema complexo na medida em que ainda não está

no dia a dias das pessoas e, sobretudo, por suscitar rupturas nas bases social, econômica,

política e ambiental. Além disso, apresenta um alto grau de incerteza, sobretudo, devido ao fato

de que aparece como uma “tecnologia atômica” que inclui nanopartículas, nanobiotecnologia,

nanofabricação e fabricação molecular17. Toda incerteza enseja a complexidade.

As nanotecnologias apresentam-se como a mais recente incursão do homem em busca do

domínio do mundo natural. Moscovici (1975, p.16) nos lembra que a “natureza humana está na

busca por sua elevação acima da natureza e para além dela, assim, a sociedade nasce e se

conserva para construir em cada um de nós uma barreira protetora contra a incessante ameaça

da natureza”. Porém, o autor ressalta que, o preço pago pela humanidade para construir seu

universo próprio é muitas vezes a guerra, a doença, a loucura e lembra que, desse processo

surgem as artes, as ciências, a literatura, os mitos ou as religiões.

Na contribuição dada pelas teorias clássicas que tratam da humanização do animal homem,

Engels (1984), por exemplo, nos explica que os animais têm como única possibilidade, utilizar a

natureza como meio de sobrevivência e, dessa forma, acabam por modificá-la simplesmente pelo

15 Infelizmente, não houve possibilidade, dada as limitações desse trabalho, de se ampliar a discussão para o papel de algumas áreas das ciências humanas mas, sugere-se, que a área do direito pode apresentar contribuições fundamentais para, por exemplo, pensar a construção de um marco regulatório. 16A interdisciplinaridade tem sido apontada em vários estudos como uma necessidade para as ciências, veja COMISSÃO GULBENKIAN (1996) e WALLERSTEIN (1998). 17 Para um estudo mais sistemático sobre “Tecnologia Atômica” ver ETC Group (2004).

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12

fato de estarem nela presentes. Já o homem, intervém na natureza e a obriga a servir-lhe,

dominando-a e, assim, se diferencia dos outros animais.

Nesse processo, o desenvolvimento técnico aparece como um estigma do fenômeno humano.

Com Leroi-Gourhan (1984), vemos que a antropogênese (formação do homem) coincide

simbioticamente com a tecnogênese (formação da técnica). Mauss (2003) ressalta que a primeira

ferramenta do homem foi seu próprio corpo. Para ele, o homem não pode ser definido,

antropológica e socialmente, sem a dimensão da técnica. A técnica é arte (tekhnè) de construção

da vida, transformação da natureza (artificialização da natureza), transformação do próprio

homem (desnaturalização do homem). Nesse sentido Leroi-Gourhan define o desenvolvimento

das sociedades humanas pelo aumento constante no nível de abstração: da garra à mão, da

linguagem oral para a linguagem escrita; até chegarmos ao nível das novas tecnologias que

permeiam nossa sociedade.

Mas, a emergência de novas tecnologias, por estar imersa num oceano de incertezas, faz

germinar no seio dessa sociedade, sensações incômodas que se consubstanciam em sensações

como: perigo, risco e vulnerabilidade. Sensações que aparecem mesmo antes de o homem

buscar sua independência da natureza, mas que têm seu grau elevado com a emergência de

tecnologias e se potencializa na sociedade moderna.

Giddens (1997) pensa a modernidade como sendo reflexiva e experimental. Ou seja, os indivíduos

ao buscarem dominar e transformar a natureza, acabam por receber de volta as conseqüências

dessa transformação. O resultado pode ser bom ou não, e isso vai depender da intensidade da

transformação e de sua reflexão.

A nanotecnologia, nesse contexto, aparece como uma transformação/intervenção profunda do

homem sobre a natureza e, diante disso, Giddens nos faz pensar que ela, a despeito de todas as

possibilidades sacramentais, envolve riscos e que sua reflexividade precisa ser pensada de forma

crítica.

Para tanto, vislumbramos como interpretação possível e profícua, para a análise dos riscos

ambientais a partir das nanotecnologias, a “Sociologia do Risco” de Ulrick Beck. Para Goldblatt

(1996, p.228) “a obra de Beck tem uma particular importância para qualquer pessoa interessada

na resposta da teoria social à degradação do ambiente e à política de ambiente”. Entendido

ambiente como o conjunto dos elementos que envolvem e permeiam a natureza e a sociedade.

Em uma obra seminal, Beck (1992)18 mostra como a sociedade do risco desenvolve-se no interior

da sociedade industrial, do auge de sua transformação ao declínio e seus resultados. Assim, os

processos de modernização e industrialização ocasionam o surgimento de ameaças e perigos que

vão alterar a rota de desenvolvimento da sociedade industrial. Para Goldblatt (1996), Beck associa

a penumbra, o risco e a insegurança à processos complementares de modernização reflexiva.

18 Beck, U. Risck Society. 1992.

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13

A sociologia do risco nos permite pensar em que medida os riscos inerentes às nanotecnologias

se diferenciam dos demais riscos presentes em outros desenvolvimentos tecnológicos, desde a

revolução industrial. Em sua teorização, Beck chama atenção para como a produção e as

implicações dos riscos contemporâneos se distinguem das formas anteriores de perigo e risco,

seja em termos qualitativos ou quantitativos.

Analisando a trajetória da percepção de risco e perigo nas diferentes sociedades, Beck identifica

que no período pré-industrial o risco estava associado ao perigo natural (furacões, terremotos,

etc.) sendo, portanto, inevitáveis tendo em vista sua forma natural. Cabia àquela sociedade,

recorrer à proteção da autoridade sobrenatural/espiritual. Já na sociedade industrial clássica, os

riscos aparecem associados aos perigos impostos pelo capital em sua forma física (a máquina) ou

em sua relação social (trabalho), seja pelo perigo de acidentes de trabalho ou à insegurança do

desemprego. Nessas sociedades, recorre-se às instituições e leis a fim de se proteger dos riscos

e perigos (ex.: leis trabalhistas, de crimes ambientais, código de trânsito).

Mas, na sociedade moderna, os riscos são imprevisíveis, as incertezas são altas e dificultam

cálculos probabilísticos que permitam uma intervenção amenizadora através da regulação. Além

disso, nessa sociedade a atribuição de responsabilidades torna-se complexa tendo em vista que a

natureza do risco é global19. Assim, destacam-se as seguintes características da sociedade do

risco: a inexistência de limites espaciais ou sociais; a possibilidade de autodestruição; o fato de

sua transmissão ser muitas vezes invisível, além do fato de todos estarem expostos de forma

igual aos riscos. Na sociedade de risco, a posição social não fornece proteção suficiente para os

riscos globais20.

Diante dessas considerações, as nanotecnologias, mais do que qualquer outra, aparecem como

indutoras da possibilidade de risco. Beck também contribui para nossa análise mostrando que

diante dessa sociedade de risco, aumenta a importância dos que produzem, interpretam e

divulgam o conhecimento.

Ele propõe uma política diferencial, onde o poder político é exercido de diferentes formas, em

diferentes instituições, com papel contínuo do Estado e de instituições paraestatais em moldes

democráticos. Destaque para a participação da sociedade civil. Para o autor, o discurso e a

prática da ciência devem estar no centro da política da sociedade de risco. Além disso, o fato de

as sociedades de riscos serem transnacionais, demanda uma política para além do estado-

nação21.

Diante dessas observações, Beck lembra que os movimentos sociais tornam-se o meio pelo qual

pode haver uma aproximação entre ciência e sociedade. O que nos remete a atenção para a obra

19 Por exemplo, de quem seria a responsabilidade do aquecimento global? 20 Nessa sociedade, ninguém sai ileso, todos estão expostos a armas biológicas – por exemplo-, morando debaixo de um viaduto do Rio de Janeiro, ou numa mansão na Califórnia. 21 Schnaiberg (2000), sob a perspectiva da sociologia ambiental, coloca o problema da regulação de atividades em nível global. Para esse autor, a ausência de uma instituição global reguladora, faz com que as firmas busquem se localizar em países que possuam uma legislação mais frouxa.

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14

de Santos (2003), onde evidencia a necessidade de se politizar as novas tecnologias e discutir a

questão tecnológica em toda sua complexidade, incluindo diversos atores sociais. Para Santos,

“questões tecnológicas são sempre sócio-técnicas e devem ser encaradas pela sociedade como

de interesse público” (p.12).

Especificamente na politização das nanotecnologias, Identificamos alguns atores que tem

buscado promover o debate crítico e o engajamento público. Destacamos o papel que tem sido

desempenhado pelo ETC Group22, organização internacional da sociedade civil com sede em

Winnipeg, Canadá. A ação de grupo centra-se no acompanhamento de pesquisa básica,

educação e campanhas que envolvem a biodiversidade na agricultura, propriedade intelectual e

sistemas de informações comunitárias23.

No Brasil, destacamos as ações promovidas pela RENANOSOMA24 (Rede de Pesquisa em

Nanotecnologia, Sociedade e Meio-ambiente) coordenada pelo Dr. Paulo Roberto Martins.

Lembramos o projeto “Engajamento público em nanotecnologia” que tem como objetivo informar e

discutir nanotecnologia com os diversos públicos não-especialistas, como estudantes e

profissionais do ensino médio, profissionalizante e universitário, sindicatos, associações, etc. Além

disso, essa rede promove debates, fóruns e seminários que têm ajudado dar maior notoriedade a

emergência das nanotecnologias e seus possíveis impactos sobre ambiente e sociedade.

Martins (2005, p.131) identifica a possibilidade de “construção de um círculo libertário e solidário

das populações do hemisfério sul, mediante a reação em cadeia, dialética, de construção histórica

de uma cidadania radical, pensando de que forma deve-se promover o engajamento público no

problema da regulação das nanos”. O autor lembra que a maior parte dos recursos de P&D são

gastos por empresas e governo, apontando para uma maior dificuldade de outros setores da

sociedade (sindicatos, Ongs, etc) participar do debate sobre os rumos do progresso tecnológico.

A seguir, vislumbramos a possibilidade de contribuição das ciências econômicas a partir da

construção teórica Evolucionista/Neoschumpeteriana.

4.2 Vislumbrando uma interpretação a partir das Ciências Econômicas

A partir da possibilidade de uma tecnologia de futuro, emerge o entendimento de uma

oportunidade econômica. O mainstream do pensamento econômico não conseguiu lidar de forma

adequada com a questão da mudança técnica e suas implicações sócio-econômicas e ambientais

por prender-se demasiadamente na noção de lucro de monopólio. No entanto, enfoques

alternativos passaram a se desenvolver, por volta da década de 1970, nos Estados Unidos e

Inglaterra, ficando conhecida como corrente evolucionista/neoschumpeteriana.

22 Grupo de Ação na Erosão, Tecnologia e Concentração. 23 Ver: <www.etc.org> 24 Informações em << http://nanotecnologia.incubadora.fapesp.br/portal>>

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15

Na abordagem Neoclássica da economia a empresa aparece como uma “caixa preta” que toma

decisões acerca de preços e de quantidades produzidas. A força de trabalho nesse caso é

basicamente um insumo necessário à produção, é integrante de uma função de produção que

combina capital e trabalho. O progresso técnico (entendido como nova tecnologia) é algo

exógeno, ou seja, as novas tecnologias estão disponíveis e podem ser incorporadas ao processo

produtivo dependendo da estrutura de lucros e custos das firmas.

Para contestar essa formulação do progresso técnico, Nathan Rosenberg publicou em 1982 um

texto intitulado “Inside the Black Box” que tinha como objetivo contribuir para elucidar a relação

entre ciência, progresso técnico e performance econômica; na trajetória da Ciência Econômica

esse tipo de abordagem ficou conhecido como “endogeneização” do conhecimento científico.

Nesse trabalho, Rosenberg chama atenção para o fato de que muitas vezes, o conhecimento

tecnológico adquirido e acumulado graças às experiências repetida várias vezes, ou por meio de

processos empíricos de tentativa e erro, prescinde do conhecimento científico. O autor lembra que

não raras vezes ocorreu progresso tecnológico, mesmo sem a presença de uma comprovação

científica (ou conhecimento científico prévio) sobre o fenômeno envolvido. Assim, a tecnologia

atua como um grande fornecedor de conhecimentos empíricos que, somente posteriormente, são

escrutinados pela sociedade científica.

Buscando desmistificar a idéia de que a Ciência sempre antecede a tecnologia, Rosenberg lembra

que muitos materiais utilizados nas indústrias levam tempo para se mostrarem eficientes ou não,

pois características como corrosão, contaminação, degradação, resistência sob pressão,

dificuldade de manutenção entre outras, demandam demasiado tempo para serem testadas.

Assim, impera o princípio do learning by doing e learning by using. É como se cada

estrangulamento observado num avanço técnico ensejasse uma verdadeira agenda científica

naquela área, isso reforça a forte ligação explicitada pelo autor entre as necessidades

tecnológicas apresentadas pela indústria e a agenda de pesquisa científica.

As observações de Rosenberg nos permitem pensar em que sentido a N&N segue essa lógica.

Parece-nos claro que a atividade científica tem como papel fundamental, fornecer as informações

necessárias para que a sociedade possa avaliar os riscos associados ao empreendimento

tecnológico proveniente da agenda científica. E, supondo que as nanotecnologias, dada sua

relação direta com o orgânico, tendo em vista suas aplicações biológicas e químicas, podem

trazes riscos incomensuráveis à sociedade, tem-se nessa abordagem indicativos interessantes de

que a motivação econômica pode suplantar, inicialmente, a necessidade de “verificação” das

novas tecnologias.

As nanotecnologias, a partir do desenvolvimento de novos materiais, suscitam a criação de novos

mercados para novos produtos, elaborados a partir de novos processos. Isso inaugura um

profundo processo concorrencial que, ao fim ao cabo, pode consubstanciar-se em uma destruição

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16

criadora. Nesse sentido, a abordagem Evolucionista/Neoschumpeteriana, com ênfase nos papéis

da ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento sustentável, contribui para o debate25.

Nelson e Winter (1977), nos EUA, propuseram uma interpretação evolucionista da mudança

econômica que parte da identificação da racionalidade limitada e da presença de incerteza. Nesse

ambiente, as firmas adotam “rotinas” em sua ação (em substituição ao comportamento

otimizador). O progresso tecnológico é apresentado como resultado de um processo de inter-

relação entre busca e seleção. As inovações são introduzidas por firmas motivadas pelo lucro. As

direções possíveis dos processos de busca são condicionadas pela tecnologia (trajetória anterior)

e pela rentabilidade esperada.

A nanotecnologia apesar de já incorporada a alguns produtos e processos, ainda é tida como uma

tecnologia de futuro devido às suas possíveis implicações. Dessa forma, os trabalhos de Nelson e

Winter, podem ajudar a pensar de que forma essa tecnologia vai ser incorporada na dinâmica

industrial, como pode impactar as suas rotinas e, de maneira mais extensa, a organização

industrial. Também contribuem para se pensar como será o ambiente de seleção das empresas,

tendo em vista que para esses autores não somente o mercado é a instância de seleção, mas

também outros fatores como, por exemplo, o ambiente institucional. A regulação nesse sentido

aparece como uma forma de enviesar o ritmo de progresso técnico, chancelando novos produtos

e processos.

Ainda no enfoque evolucionista/neoschumpeteriano, aparece a discussão sobre paradigmas.

Atualmente, questiona-se sobre o potencial de aplicação das nanotecnologias e sobre as

possíveis trajetórias tecnológicas que poderão oferecer às empresas e, mais ainda, surgem

questões sobre a forma como a regulação poderá assumir um papel direcionador dessas

trajetórias. Essa reflexão pode ser analisada a partir do instrumental teórico proposto por Dosi e

Freeman & Perez.

Em Dosi (1982;1988) o ambiente institucional da firma aparece como um elemento que vai

determinar o progresso tecnológico no interior da empresa, fazendo-a assumir diferentes

trajetórias tecnológicas a partir do aparato regulatório e as oportunidades oferecidas pelo

mercado. Um paradigma tecnológico é definido como modelo ou padrão de solução para os

problemas técnico-econômicos selecionados, baseado em princípios e procedimentos derivados

das ciências naturais, conjuntamente com regras específicas que objetivam adquirir conhecimento

novo e resguardá-lo, sempre que for possível, contra rápida difusão dos competidores.

No contexto de competição Dosi (1988) ressalta que existe um grau de incerteza elevado que

permeia uma nova tecnologia, o que dificulta a previsão do ritmo e da direção das inovações,

assim, não se consegue saber com antecedência quais problemas surgirão e quais soluções

serão encontradas. Esse grau de incerteza pode afetar de forma decisiva a competitividade de

25 Para uma revisão sobre as contribuições Neoschumpeteriana, ver Possas (1989).

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17

empresas e países, tendo em vista que podem adotar uma determinada trajetória tecnológica

equivocada, o que resultará em bancarrota.

O Grau de incerteza apontado por Dosi, pode ser traduzido como efeitos colaterais de uma nova

tecnologia que não são previstos e que podem se mostrar totalmente infrutíferos ao processo

sócio-econômico. Como exemplo emblemático tem-se o uso do amianto, onde a solução virou

problema.

Freeman & Perez (1988) ampliam o debate a partir do conceito de paradigma tecnico-econômico

e sistemas de inovação, que têm no ambiente institucional o ponto central da análise. O novo

paradigma tecnico-econômico aparece como um processo inovativo que modifica não somente as

estruturas econômicas vigentes, mas também todo o aparato institucional estabelecido.

Por fim, ressaltamos que o paradoxo entre visão social versus visão científica/tecnológica das

novas tecnologias, parece também poder ser pensado a partir do arcabouço teórico da Economia

das Convenções, que analisa a correlação de forças que está por detrás do processo de

regulamentação e regulação das novas tecnologias. Na academia, especula-se sobre as

convenções necessárias em nível internacional para se desenvolver a regulamentação

nanotecnológica tendo em vista que os riscos ao meio ambiente e à sociedade aparecem numa

agenda global.

5. Considerações finais: a tríplice aliança

Neste paper buscamos apresentar possibilidades teórico-analíticas para a interpretação da

sociedade contemporânea, marcada pela emergência de um paradigma caracterizado pela

convergência entre as tecnologias mais evolucionárias da sociedade moderna; quais sejam;

nanotecnologias, biotecnologias e tecnologias informação.

Inicialmente, definimos a nova tecnologia e refletimos sobre seu caráter revolucionário, onde

pudemos identificar um conteúdo eminentemente paradigmático que a coloca no núcleo das

transformações anunciadas para o futuro próximo.

Continuando, assumimos a tarefa de buscar no âmbito da teoria social e da teoria econômica

aquelas contribuições que nos pareciam dar pistas das implicações do atual fazer científico e

tecnológico, e que possibilitassem entender os riscos associados e as implicações em termos

estruturais. Sem encerrar as possibilidades, mas, sobretudo, abrindo-nos o olhar, a Sociologia do

risco e a Economia da inovação, apareceram como embriões de uma reflexão adequada aos

nossos objetivos. Aparecem como um ponto de partida para se pensar a promoção de uma

ciência crítica, menos cética e mais analítica.

As contribuições apontaram para a necessidade de formação de uma tríplice aliança, envolvendo

Estado, Empresa e Sociedade (cientistas e não cientistas) a fim e garantir as pesquisas (que

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18

certamente podem contribuir para o bem estar social) concomitantemente com a segurança da

sociedade. Além disso, concluímos que a convergência de tecnologias demanda das ciências uma

maior interação e interdisciplinaridade que, como vimos, aparece como elemento essencial na

politização das novas tecnologias.

Acreditamos que, com uma configuração social mais densa e uma politização diferencial, cujo

elemento dominante seja a informação e o entendimento sobre o desenrolar das novas

tecnologias, reconhecendo avanços e problematizando riscos, estaremos em vias de participar de

uma sociedade cuja reflexividade seja menos danosa.

A tecnologia pode ser ao mesmo tempo, um obstáculo ou um instrumento para o desenvolvimento

sustentável. O direcionamento vai depender da forma como a sociedade perceber, planejar e

participar da disposição dos “átomos” que já se manipulam e se controlam em nossa sociedade.

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