n09_parte01_art02-processos de combinação de orações - enfoques funcionalistas e...

Upload: marcos-rogerio-ribeiro

Post on 13-Jan-2016

8 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 5, n. 9, p. 23-34, 2 sem. 2001 23

    PROCESSOS DE COMBINAO DE ORAES: ENFOQUES FUNCIONALISTAS E GRAMATICALIZAO

    PROCESSOS DE COMBINAO DEORAES: ENFOQUES FUNCIONALISTAS

    E GRAMATICALIZAO

    Maria Luiza Braga*

    RESUMO

    Neste trabalho, investigo os processos de vinculao de oraes. Ini-cialmente considero as propostas tipolgicas apresentadas porHalliday (1985), Matthiessen e Thompson (1988) e Foley and Van ValinJr. (1984). Identifico os critrios que sustentam essas classificaes emostro como so reinterpretados por Hopper e Traugott (1993), luzdos estudos sobre gramaticalizao.

    Palavras-chave: Funcionalismo; Combinao de oraes; Gramaticali-zao.

    * Universidade Federal do Rio de Janeiro.1 Confira, tambm, Van Valin Jr. e LaPolla (1997).

    Os lingistas de orientao funcionalista, ao investigarem os processos dearticulao de oraes, usualmente se referem ao trao dependncia e em-pregam-no como um critrio na identificao das diversas estratgias decombinao. Uma vez que se trata de um trao de natureza formal, era de se esperarque o continuum dos processos de articulao fosse segmentado em pontos similares.A anlise das propostas tipolgicas de alguns autores revela, todavia, que tal no ocaso. Neste trabalho, cotejo, na primeira parte, algumas abordagens freqentementereferidas Halliday (1994), Matthiessen e Thompson (1988) e Foley e Van Valin Jr.1

    A seguir, na segunda seo, considero a maneira como as mesmas so retomadas, soba perspectiva da gramaticalizao, por Hopper e Traugott (1993). A concluso apre-sentada na terceira parte.

  • Maria Luiza Braga

    24 SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 5, n. 9, p. 23-34, 2 sem. 2001

    A ABORDAGEM FUNCIONALISTA: ALGUMAS PROPOSTAS

    Halliday analisa as oraes complexas segundo duas dimenses: tipo de rela-es semntico-funcionais e dependncia. O sistema da interdependncia, ou siste-ma ttico, inclui a parataxe e a hipotaxe e aplica-se a todos os complexos, sejam pala-vras, grupos, sintagmas ou oraes. Hipotaxe uma relao entre um elemento de-pendente e seu dominante, the binding of elements of unequal status (1994, p.221) enquanto parataxe uma relao entre elementos com estatuto igual, the linkingof elements of equal status (1994, p. 221), um iniciando e o outro continuando aseqncia. As oraes paratticas, em princpio, so simtricas e transitivas, enquan-to as hipotticas so assimtricas e no-transitivas.2

    A primeira dimenso, isto , a das relaes semntico-funcionais que constitu-em a lgica das lnguas naturais, inclui a expanso e a projeo e especfica dasrelaes inter-oracionais. A projeo e a expanso, por seu turno, incluem subvarie-dades. Com referncia ltima, a orao secundria expande a primria por elabora-o, extenso ou realce.3 Com respeito primeira, a orao secundria, projetadaatravs da primria, pode instanciar uma locuo ou uma idia.4

    Os Quadros 1 e 2, reproduzem as duas dimenses, ilustradas por alguns dosexemplos oferecidos por Halliday.5

    O Quadro 1, uma adaptao de outros fornecidos pelo autor, apenas umaplida amostra da abordagem de Halliday. Por razes de espao, deixa de reproduzira sistemtica distino entre oraes finitas e no-finitas e tambm ignora a contri-buio dos juntores, quando da diferenciao entre mecanismos paratticos e hipo-tticos. No obstante as lacunas, a considerao dos dois quadros permite a ilao decertas propriedades da proposta em tela. Interessa-me ressaltar o tratamento exausti-vo de todas estratgias de articulao de oraes e, principalmente, as conseqnciasacarretadas pela incluso consistente das relaes lgico-semnticas quando da clas-sificao dos mecanismos de articulao de oraes. A esse respeito, gostaria de sali-entar trs pontos:

    2 Tanto a primeira orao de uma seqncia parattica quanto a orao dominante em uma seqncia hipotticaso denominadas primrias. As oraes que sucedem as primrias de uma seqncia parattica e a oraodependente de uma seqncia hipottica so chamadas de secundrias.

    3 De acordo com Halliday, uma orao secundria expande uma primria por elaborao ao parafrase-la,especific-la em maior detalhe, coment-la ou exemplific-la. A glosa para essa relao i. e.. Vale lembrarque cada um desses processos pode incidir ou sobre a orao como todo, ou sobre alguma poro dela. Umaorao secundria expande uma orao primria por extenso quando lhe acrescenta um novo elemento, for-nece-lhe uma exceo ou lhe oferece uma alternativa. Os itens and, or constituiriam as glosas para essarelao. Uma orao secundria expande uma orao primria por realce quando a qualifica com algum traocircunstancial de tempo, lugar, causa ou condio. As glosas para essas relaes so so, yet, then.

    4 Locues, para Halliday (1994), so construes de palavras e idias, construes de significado (p. 220).5 Exclu do quadro os smbolos empregados por Halliday para sinalizar o tipo de interdependncia sinttica e

    subvariedades das relaes semntico-funcionais.

  • SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 5, n. 9, p. 23-34, 2 sem. 2001 25

    PROCESSOS DE COMBINAO DE ORAES: ENFOQUES FUNCIONALISTAS E GRAMATICALIZAO

    Quadro 1

    Paratactic

    John didnt wait;he ran away.

    John ran away,and Fred stayed

    behind.

    John was scared, so heran away.

    Hipotactic

    Jonh ran away,which surprised

    everyone.

    John ran away,whereas Fred stayed

    behind.

    John ran away,because he was

    scared.

    The man who came to dinnerstayed for a month.

    The peoplewhose house we rent.

    The scar which was formedwhere the bullet entered.

    The reason I like her is shedoesnt have favourites.

    Threatening peoplewill get you nowhere.

    I heardthe water lapping on the crag.

    Clause complex EmbeddingE

    nhac

    emen

    tE

    xten

    sion

    Ela

    bora

    tion

    Fonte: Halliday (1985, p. 270).

    1. a considerao sistemtica da dimenso lgico-semntica confere um trata-mento sinttico s reprodues do discurso direto, indireto e indireto livre,resgatando-as, portanto, do limbo sinttico a que so relegadas pela aborda-gem gramatical tradicional;

    2. a classificao dos discursos indiretos como estratgias de hipotaxe, e nocomo encaixamento, no endossada por mim, j que confere um trata-mento sinttico diferenciado aos complementos oracionais de verbos dicen-di e de atividade mental, por um lado, e complementos oracionais de verbosde percepo e verbos causativos, por outro lado;

    3. a incluso do eixo lgico-semntico, por fim, fornece respaldo intuio deque uma mesma relao semntica pode ser codificada por diferentes estra-tgias sintticas (posio j assumida por vrios pesquisadores brasileiros(Cf. Gryner 1995, Paiva 1998, Braga 1995, Lima-Hernandes 1999, entreoutros) e desarticula a correlao, sustentada pela abordagem tradicional,entre tipo de orao e tipo de relao semntica, sinalizada, sobremaneira,pelo conectivo que encabea a orao.

  • Maria Luiza Braga

    26 SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 5, n. 9, p. 23-34, 2 sem. 2001

    Matthiessen e Thompson (1988) remetem a Halliday e se valem do rtulohipotaxe de realce, mais adequado para eles do que subordinao, uma vez que livredas conotaes associadas ao ltimo termo. A utilizao do rtulo no significa, to-davia, uma adeso estrita proposta do lingista ingls. Com efeito, para os doisprimeiros autores, encaixamento inclui, alm das oraes relativas restritivas, os com-plementos oracionais que funcionam como sujeito e objeto. Recorde-se que, paraHalliday, a categoria encaixamento compreende, alm das oraes que funcionamcomo ps-modificadores, apenas aquelas denominadas atos e fatos.

    Matthiessen e Thompson, baseados em critrios semnticos e posicionais, sus-tentam que as chamadas oraes adverbiais no constituem instncias de subordina-o. Alm de estarem privadas do trao encaixamento, sua parfrase por um SPREPfornece uma nominalizao e no um nome comum.6 Acrescente-se que elas po-

    It is so,he said.

    Do so!he toldthem.

    It is so,she knew.

    Do so,she saidto herself.

    direct

    It was so,he said.

    They shoulddo so, hetold them.

    It was so,she knew.

    She woulddo so, shedecided.

    freeindirect

    ReportHypotatic

    He said thatit was so.

    He toldthem to doso.

    She knewthat it was so.

    She decidedthat shewould do so.

    indirect

    The sayingthat it is so

    Thestipulationto do so

    The factthat it is so

    The needto do so

    impersonalqualifying

    FactAs Head

    (It is said)that it is so

    (It isstipulated)to do so

    That itis so

    To do so

    impersonal

    His assertionthat it was so

    His order tothem to do so

    Herknowledgethat it was so

    Her decisionto do so

    indirectqualifying

    Clause complex Nominal group

    Loc

    utio

    n ve

    rbal

    Idea

    men

    tal

    Prop

    osal

    Prop

    osit

    ion

    Embedded aspostmodifier

    Prop

    osal

    Prop

    osit

    ion

    Rankorien-tationtaxis

    QuoteParatatic

    Quadro 2

    Fonte: Halliday (1985, p. 270).

    6 No exemplo a seguir, fornecido pelos autores em pauta, Before leaving Krishnapur, the Collector took a strangedecision, a orao sublinhada parafrasevel por Before his departure from Krischnapur, uma nominalizao, is-to , uma metfora que apresenta um evento como uma entidade. (Matthiessen e Thompson, 1988, p. 280)

  • SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 5, n. 9, p. 23-34, 2 sem. 2001 27

    PROCESSOS DE COMBINAO DE ORAES: ENFOQUES FUNCIONALISTAS E GRAMATICALIZAO

    dem se agregar a um conjunto de oraes e no apenas a uma orao-ncleo,7 cir-cunstncia que impede que se identifique a orao da qual seriam um constituinte.

    A meu ver, a superposio mais interessante entre a proposta de Halliday, deum lado, e de Matthiessen e Thompson, de outro, diz respeito s motivaes prag-mtico-discursivas das construes hipotticas. Para os dois ltimos, elas represen-tam a gramaticalizao das unidades retricas que constroem o discurso. Vale lem-brar que gramaticalizao aqui concebida na acepo lata, aquela que contemplaas foras e maneira como as formas e construes gramaticais emergem, so utiliza-das e formatam a lngua (Hopper e Traugott, 1993). Halliday (1994), por seu turno,salienta que

    the clause complex is of particular interest in spoken language, because it represents thedynamic potential of the system the ability to choreograph very long and intricatepatterns of semantic movement while maintaining a continuous flow of discourse that iscoherent without being constructional. (p. 224)

    Cumpre acrescentar que para Thompson (1984) a categoria subordinao problemtica. Segundo ela, ao investigarem os processos de combinao de oraes,os lingistas se valem do conceito de subordinao, no explicitando, todavia, aspropriedades e tipos de construes abarcadas por ele.8 Na melhor das hipteses, sobtal rtulo incluem eles as ocorrncias de oraes no-principais, sem oferecerem cri-trios que facilitem o reconhecimento das principais.

    Foley e Van Valin Jr. (1984), por outro lado, defendem que a investigao ecompreenso da grande variedade de processos de vinculao (nexo) requer um mo-delo diferente daquele que repousa sobre a oposio coordenao vs. subordinao.Sugerem, ento, uma classificao tripartite, que inclui, a par de subordinao e coor-denao, a co-subordinao. A identificao de cada tipo se faz mediante a combina-o dos traos encaixamento e dependncia, propriedades que podem se superpor,embora sejam distintas. Ressaltam, tambm, a importncia de se distinguir juntura,que tem a ver com nvel da clusula ncleo, core e periferia e nexo, que tem a vercom o processo de juno:

    It must be emphasized from the outset that nexus and levels of juncture are independentparameters in clause linkage. A given type of nexus, e. g. coordination, may occur at allthree levels (nuclear, core, and peripheral), and conversely, at a given level of juncture, e.g. peripheral, all of the nexus possibilities to be discussed above are found. Thus the leveland type of linkage must be carefully distinguished. (p. 238)

    7 Matthiessen e Thompson reservam o rtulo ncleo para a orao a que se ligam as chamadas oraes adverbi-ais. Corresponde orao primria de Halliday.

    8 Postura igualmente lcida pode ser encontrada em Van Valin, Jr. e LaPolla (1997) para quem the tradicionalcontrast between subordination and coordination seems to be very clearcut for languages like English and itsIndo-european brethren. (p. 448)

  • Maria Luiza Braga

    28 SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 5, n. 9, p. 23-34, 2 sem. 2001

    Os mencionados tipos de nexo so assim caracterizados:1. Coordenao: [-encaixamento] [-dependncia]. Os dois juntos so inde-

    pendentes, a relao entre eles de todo-todo. Da o fato de cada um poderter sua prpria fora ilocucionria e ser especificado, independentemente,quanto a outros operadores como evidenciais, tempo, etc.

    2. Subordinao: [+encaixamento] [+dependncia]. Um dos juntos est en-caixado no outro e a relao entre eles parte-todo. O junto subordinadocodifica informao de fundo e no pode ser especificado, independente-mente, quanto a fora ilocucionria.

    3. Co-subordinao: [-encaixamento] [+dependncia]. Os dois juntos noesto em uma relao de encaixamento, embora se encontrem em uma rela-o de dependncia no que diz respeito a fora ilocucionria e tempo abso-luto.

    Uma vez considerados os tratamentos oferecidos por Halliday, Matthiessen eThompson, e Foley e Van Valin, Jr., passo a abordar os mecanismos de juno sob oenfoque da gramaticalizao apresentado em Hopper e Traugott (1993).

    O TRATAMENTO DE HOPPER E TRAUGOTT

    Aspectos das propostas referidas acima so recuperadas por Hopper e Trau-gott9 (1993) que reinterpretam e reutilizam os pares subordinao/coordenao e pa-rataxe/hipotaxe.10 Segundo eles, as oraes complexas, unidades constitudas por duasou mais oraes, poderiam ser distribudas ao longo de um continuum com trs pon-tos parataxe, hipotaxe e subordinao, conforme pode ser visualizado abaixo:

    parataxe > hipotaxe > subordinao- encaixamento - encaixamento + encaixamento- dependncia + dependncia + dependncia

    Fonte: Hopper e Traugott (1993, p. 170).

    A parataxe compreende tanto as seqncias nas quais as oraes-ncleo11 sejustapem uma s outras, desde que sob um mesmo contorno entonacional (justa-

    9 Esses autores mencionam, ainda, Shopen (1985), Haiman e Thompson (1988), Austin (1988), Lehmann(1988), entre outros.

    10 De acordo com os autores o par parataxe/hipotaxe remonta tradio do sculo XIX, segundo a qual a parataxeincluiria todos os casos de justaposio e a hipotaxe, os de subordinao. O par coordenao/subordinao, deintroduo mais recente, definido formalmente em termos de estrutura de constituintes. (Hopper e Traugott,1993, p. 170)

    11 As oraes-ncleo distinguem-se das oraes-margem porque podem ocorrer por si mesmas; estas, por suavez podem exibir diferentes graus de dependncia.

  • SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 5, n. 9, p. 23-34, 2 sem. 2001 29

    PROCESSOS DE COMBINAO DE ORAES: ENFOQUES FUNCIONALISTAS E GRAMATICALIZAO

    posio), quanto aquelas nas quais um elemento segmental sinaliza a relao entreelas (coordenao). Contrape-se subordinao que se caracteriza pela total inclu-so de uma orao-margem em uma orao-ncleo. A subordinao e a hipotaxecompartilham uma propriedade dependncia e diferenciam-se pelo trao encai-xamento: apenas a orao subordinada um argumento oracional de outra orao.O lugar de insero das oraes adverbiais, estratgia de subordinao para Foley eVan Valin Jr. (1984) e de hipotaxe para Hopper e Traugott (1993), representa umadas diferenas entre as duas propostas.

    A explicitao do elo entre as oraes da orao complexa, por sua vez, variasegundo o processo de juno, como pode ser verificado no quadro abaixo:

    parataxe hipotaxe subordinao

    (independncia) (interdependncia) (dependncia)ncleo margemintegrao mnima integrao mximaelos maximamente explicitados elos minimamente explicitados

    Fonte: Hopper e Traugott (1993, p. 171).

    A proposta que acabei de mencionar remete a Givn (1979) que, no final dadcada de 70, defendeu a existncia de dois modos comunicativos diferentes opragmtico e o sinttico12 e postulou uma relao diacrnica entre eles. As constru-es mais compactadas e integradas, tpicas do chamado modo sinttico, teriam sur-gido por via de sintaticizao das construes paratticas, tpicas do outro modo. Amaior vinculao sinttica entre as oraes que formam a orao complexa, por suavez, constituiria um reflexo da integrao semntico-pragmtica dos eventos codifi-cados por elas. Em obra mais recente, ele especifica, sob forma escalar, a correlaoentre o tipo semntico do verbo e o complemento oracional requerido por ele. (VerQuadro 3)

    Vale lembrar que os referidos Foley e Van Valin Jr. tambm aderem hipteseda iconicidade diagramtica. Afirmam que In multiclause construction, then, thecloseness of semantic relationship correlates with the tightness of the syntactic linkbetween clauses (1984, p. 268) e oferecem as hierarquias13 apresentadas no Quadro 4.

    O modelo de Hopper e Traugott, conjugado ao eixo das relaes lgico-se-mnticas de Halliday e aceitao de que uma mesma relao semntica pode ser

    12 O modo pragmtico caracteriza-se, entre outros aspectos, por ligaes frouxas entre os elementos de umaconstruo e morfologia empobrecida, enquanto o modo sinttico, pela presena de subordinao e uso elabo-rado de morfologia gramatical. Em consonncia com essa hiptese, o autor sustentava que o sujeito seria umareanlise de tpicos frasais, que as oraes relativas emergiriam de oraes tpicas, que os complementossentenciais no Hebraico Bblico se explicariam como uma reanlise de adendos, sob forma de uma orao, aum nome previamente mencionado.

    13 As diferenas em relao ao modelo de 1997, em Van Valin Jr. e LaPolla so pequenas.

  • Maria Luiza Braga

    30 SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 5, n. 9, p. 23-34, 2 sem. 2001

    codificada por diferentes estratgias sintticas, oferece um tratamento mais adequa-do aos processos de combinao de oraes. A esse respeito, considerem-se as vriascodificaes da relao de tempo, coletadas em Lima-Hernandes (1999) e Braga(1999):

    (1) Parataxe:Justaposio:Ela... o cachorrinho morreu, ela enterrou encostadinho na parede nossa a.(Port. Pop.)

    Semantic scale of verbs

    She let go of the knife

    She made him shaveShe let him go homeShe had him arrested

    She caused him to switch jobsShe told him to leaveShe allowed him to leaveShe wanted him to leaveShe expected him to leaveShed like him to leave

    Shed like for him to leave

    She suggested that he leaveShe wished that he would leaveShe agreed that he could leaveShe preferred that he leaveShe hoped that he might leaveShe was afraid that he might leaveShe thought that he might leave later

    She knew that he left

    She said: He left

    Syntax of COMP-clause

    Co-lexicalized verb

    Bare verb-stem comp

    Infinitive comp

    For-to comp

    Modal-subjuntive comp(deontic)(epistemic)

    Indicative comp

    Direct quote comp

    Fonte: Adaptado de Givn (1995, p. 125-126).

    Succ

    essf

    ulca

    usat

    ion

    Inte

    nded

    man

    ipul

    atio

    nPr

    efer

    ence

    aver

    sion

    Epi

    stem

    icun

    cert

    aint

    yE

    pist

    emic

    cert

    aint

    yD

    irec

    tqu

    ote

    Quadro 3

  • SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 5, n. 9, p. 23-34, 2 sem. 2001 31

    PROCESSOS DE COMBINAO DE ORAES: ENFOQUES FUNCIONALISTAS E GRAMATICALIZAO

    Co-subordinao nuclearCoordenao nuclearCo-subordinao coreSubordinao coreCoordenao coreCo-subordinao perifricaSubordinao perifricaCoordenao perifrica

    CausativaModalidadePsico-aoJussiveComplemento de percepo diretaComplemento de discurso indiretoOrao adverbial de tempoCondicionaisAes simultneasSuperposio de aes seqenciaisNo superposio de oraes seqenciaisAo-ao: no especificada

    Quadro 4

    CoordenaoF: ... duas cenouras descascada e partida miudinha, no?E: Humhum.F: A bota meio copo de leo... A voc bate no liqidificador e depois voctira e bota numa vasilha, bota farinha de trigo (NA-1, PEUL)

    (2) HipotaxeEu fico com remorso at de comer o po, quando eu como. (Rio/DID)... quando a gente viaja, a gente observa que as frutas de outros estados sototalmente diferentes (Rio/DID)

    (3) SubordinaoNo tem ningum para servir o caf pra ele na hora que ele levanta (SP/EF)

    Do ponto de vista defendido por Hopper e Traugott, essa diversidade formalno aleatria, j que cada processo de combinao parataxe, hipotaxe e subordi-nao corresponde a um grau diferente de gramaticalizao. O fato de nem todasas relaes semnticas disporem de codificaes sintticas correspondentes a cadaponto do continuum no constitui problema. Com efeito, o processo de gramaticali-zao pode se interromper a meio do caminho, antes que as formas alcancem osestgios mais avanados.

    A meu ver, no entanto, a proposta de Hopper e Traugott deveria ser ligeira-mente alterada de maneira a conferir um tratamento mais sistemtico s oraesreduzidas. As oraes de gerndio, particpio e infinitivo tm sido, tradicionalmente,consideradas como estruturas subordinadas,14 provavelmente em virtude do traodependncia. Quando se trata, porm, do trao encaixamento a situao mais deli-

    14 Confira, porm, Haiman (1985).

  • Maria Luiza Braga

    32 SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 5, n. 9, p. 23-34, 2 sem. 2001

    cada, j que ele no recorta uniformemente essas oraes. A ttulo de exemplo, con-sidere-se a noo de finalidade: no discurso oral, tende a ser, prototipicamente, codi-ficada por orao de infinitivo vinculada orao-ncleo, instanciando, portanto,uma estratgia hipottica:

    (4) Inf.: ... eu no vou ao cinema para me divertir? Ento, vou ao teatro para medivertir. (DID,SP, 234)

    Todavia, como mostra Azevedo (2000), esse tipo de orao pode ser encaixadaem SVs ou em outros constituintes da matriz, principalmente no registro escrito,como exemplificado abaixo.

    (5) Foram as bandeiras e as entradas, expedies que penetraram no serto, as guer-ras com os espanhis e outros acontecimentos que concorreram para dar ao Brasila grande extenso que atualmente possui. (Hermida, apud Azevedo, 2000, p. 135)

    (6) Comeamos a existncia autnoma devendo aos ingleses. E isso foi apenas o in-cio do longo e tortuoso processo de emprstimos para pagar emprstimos, que acom-panhou a nossa histria desde o sculo XIX. (Sodr, apud Azevedo, 2000, p. 138)

    Os exemplos acima mostram, portanto, que o estatuto das oraes reduzidasde finalidade pode variar: elas sero consideradas ora como estratgia de subordina-o, ora como estratgia de hipotaxe. Em outras palavras, o trao encaixamento nodelimita de forma sistemtica uma mesma classe formal de oraes.

    Uma ltima considerao diz respeito ao princpio da unidirecionalidade, que,em se tratando dos processos de combinao de oraes, tende a ser desrespeitado(Cf. Hopper e Traugott, 1993). O que parece estar em jogo aqui, porm, uma dis-cusso maior, aquela que concerne contribuio do princpio para a compreensodos fenmenos de gramaticalizao, as vantagens ou desvantagens que possam advirde sua aplicao sistemtica a esse campo do saber lingstico. Trata-se de uma dis-cusso mais ampla que transcende, portanto, a preocupao com os processos decombinao de orao.

    CONCLUSO

    Neste trabalho, inicialmente, considerei algumas tipologias, de cunho funcio-nalista, dos processos de juno de oraes (Halliday, 1985; Matthiessen e Thomp-son 1988; Foley e Van Valin Jr, 1984). A seguir, mostrei como aspectos delas eram re-interpretados sob a tica dos estudos sobre gramaticalizao, salientando as vanta-gens dessa nova abordagem.

  • SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 5, n. 9, p. 23-34, 2 sem. 2001 33

    PROCESSOS DE COMBINAO DE ORAES: ENFOQUES FUNCIONALISTAS E GRAMATICALIZAO

    ABSTRACT

    In this article, I investigate the processes of clause combining. FirstlyI analyze the typologies of clause complex developed by Halliday(1985), Matthiessen and Thompson (1988), and Foley and Van ValinJr. (1984) and the parameters used by these authors. Then I considerthe same processes under the approach of grammaticalization, as pre-sented in Hopper and Traugott (1993).

    Referncias bibliogrficas

    AUSTIN, P. Complex sentence constructions in Australian languages. Amsterdam/Phila-delphia: John Benjamins Publishing Company, 1988.

    AZEVEDO. J. L. F. A expresso de finalidade no portugus. Tese de doutorado. Rio de Ja-neiro: Faculdade de Letras/UFRJ, 2000.

    BRAGA, M. L. As oraes de tempo no discurso oral. Cadernos de Estudos Lingsticos, n.28, Campinas, Unicamp/IEL, 1995. p. 85-97.

    GIVN, T. On understanding grammar. New York: Academic Press, 1979.

    __________. Syntax: a functional-typological introduction. Amsterdam/Philadelphia: JohnBenjamins Publishing Company, 1990.

    __________. Functionalism and grammar. Amsterdam/Philadelphia: John BenjaminsPublishing Company, 1995.

    GRYNER, H. Graus de vinculao nas clusulas condicionais. Cadernos de Estudos Lin-gsticos, n. 28, Campinas, Unicamp/IEL, 1995. p. 69-83.

    HAIMAN, J. Natural syntax: iconicity and erosion. Cambridge: Cambridge University Press,1985.

    HAIMAN, J.; THOMPSON, S. A. Subordination in universal grammar. In: BRUGMAN,Macaulay et al. BLS, n. 10, p. 510-523.

    HALLIDAY, M, A. K. An introduction to functional grammar. Great Britain, EdwardArnold, 1985.

    HOPPER, P.; TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge UnviersityPress, 1993.

    LANGACKER, R. Foundations of cognitive grammar. Stanford: Stanford University Press,1991.

    LEHMANN, C. Towards a typology of clause linkage. In HAIMAN, J.; THOMPSON, S.A. (Eds.) Clause combining in grammar and discourse. Amsterdam/Philadelphia: JohnBenjamins Publishing Company, 1988. p.181-225.

  • Maria Luiza Braga

    34 SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 5, n. 9, p. 23-34, 2 sem. 2001

    LIMA-HERNANDES, M. C. Gramaticalizao de combinao de clusulas: oraes detempo no portugus do Brasil. So Paulo, FFLCH/USP, 1999. (Dissertao, Mestrado).

    MATTHIESSEN, C.; THOMPSON, S. A. The structure of discourse and subordination.In: HAIMAN, J.; THOMPSON, S. A. (Eds.). Clause combining in grammar and discourse.Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 1988. p. 275-333.

    PAIVA, M. C. Da parataxe hipotaxe: uma trajetria do portugus de contato. SEMINRI-OS DO GEL, 27. Anais... So Jos do Rio Preto, 1998. p. 57-63.

    SHOPEN, T. (Ed.). Language typology and syntactic description. Cambridge: CambridgeUnviersity Press, 1985.

    THOMPSON, S. A Subordination in formal and informal discourse. In: SCHIFFRIN,D. (Ed.). Meaning, form and use in context: linguistic applications. Washington D. C.:Georgetown University Press, 1984. p. 85-94.

    VAN VALIN JR., R.; LAPOLLA, R. J. Syntax: structure, meaning and function. Cambridge:Cambridge Unversity Press, 1997.