moralidade e socialização: estudos empíricos sobre práticas

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41 Moralidade e Socializaçªo: Estudos Empíricos sobre PrÆticas Maternas de Controle Social e o Julgamento Moral Cleonice Camino 1 Universidade Federal de Pernambuco Leoncio Camino Universidade Federal da Paraíba Raquel Moraes Universidade Estadual da Paraíba Resumo Este estudo teve 3 objetivos. O primeiro foi investigar as prÆticas de controle social utilizadas pelas mªes para evitar comportamentos indesejados de seus filhos. O segundo foi verificar a relaçªo entre as prÆticas maternas de controle social e o julgamento moral dos filhos. Por fim, o terceiro foi validar o questionÆrio de prÆticas maternas de controle respondido pelas mªes. Para tanto, foram realizadas 3 pesquisas: duas de campo em que foram avaliadas as tØcnicas de controle preventivo utilizadas pelas mªes e a sua relaçªo com o julgamento moral dos filhos e uma de campo e laboratório em que foi verificada a validade do questionÆrio. Participaram do primeiro estudo 110 díades de mªes-filhos; do segundo, 222 díades; do terceiro, 72 mªes, das quais 22 foram observadas com seus filhos em situaçªo de laboratório. A idade das crianças variou de 5 a 11 anos. As mªes responderam a um questionÆrio sobre tØcnicas de controle e as crianças a dilemas morais. As respostas das mªes mostraram a existŒncia de dois fatores, que foram considerados como controle interno e externo. O controle interno, de uma forma geral, associou-se a um nível mais elevado de desenvolvimento moral do que o controle externo. Os comportamentos das mªes no laboratório foram consistentes com suas respostas aos questionÆrios. Palavras-chave: PrÆticas maternas de controle social; julgamento moral; validaçªo de instrumento. Morality and Socialization: Empirical Studies on Maternal Practices of Social Control and the Moral Judgment Abstract This study had 3 goals. The first aim was to explore maternal practices of social control used by mothers to avoid undesirable behavior of their children. The second goal was to investigate the relationship between maternal practices of social control and childrens moral judgement. The last goal was to validate mothers answers on maternal practices of social control. In order to attain these goals, field and laboratory studies were conducted: two field studies evaluated the preventive control techniques used by mothers and the relationship of these techniques with the moral judgement of their children. In a third study (field and laboratory studies) the questionnaire answeredd by mothers was validated. The first study had 110 motherchild dyads. The second study had 222 motherchild dyads. The third study had 72 motherchild dyads, 22 of which were observed with their children during a laboratory situation. The childrens age varied from 5 to 11 years old. The mothers answers showed the presence of two factors considered as inner and external controls. The inner control was associated to a higher level of moral judgement than the external. Mothers behavior in the laboratory showed consistency with their answered in the questionnaire. Keywords: Maternal practices of social control; moral judgement; questionnaire validity. Nestas duas œltimas dØcadas, o Brasil e a AmØrica Latina estªo passando por um conjunto de crises dramÆticas. Entre estas, as crises política e econômica parecem sobressair com muita evidŒncia. Mas o observador atento notarÆ que, entrelaçada a essas, vem se desenvolvendo uma forte crise de valores morais. Os numerosos processos de cassaçªo política por corrupçªo nos mais altos níveis dos trŒs poderes, nos Estados latino-americanos, sªo uma prova da crise moral nas instituiçıes políticas. O vale-tudo na luta pelos lucros como recentemente tem sido demonstrado no Brasil atravØs das altas nos preços, maquiadas pela reduçªo no conteœdo de vÆrios produtos domØsticos vendidos nos supermercados, e atravØs dos ganhos exorbitantes da indœstria farmacŒutica mostra a decadŒncia moral do setor produtivo privado. Essa crise institucional vem contaminar, de alguma forma, os cidadªos. A crença no rouba mas faz nas campanhas eleitorais, a prÆtica institucionalizada da Lei de Gerson aquela de levar vantagem em tudo a resistŒncia à aplicaçªo de uma regulamentaçªo mais sensata ao trânsito, sªo alguns 1 Endereço para correspondŒncia: Rua da Aurora, 201/908, 58043 270, Miramar, Joªo Pessoa, PB. E-mail: [email protected] Psicologia: Reflexªo e Crítica, 2003, 16(1), pp. 41-61

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Moralidade e Socialização: Estudos Empíricos sobre Práticas Maternasde Controle Social e o Julgamento Moral

Cleonice Camino 1

Universidade Federal de Pernambuco

Leoncio CaminoUniversidade Federal da Paraíba

Raquel MoraesUniversidade Estadual da Paraíba

ResumoEste estudo teve 3 objetivos. O primeiro foi investigar as práticas de controle social utilizadas pelas mães para evitarcomportamentos indesejados de seus filhos. O segundo foi verificar a relação entre as práticas maternas de controle social e ojulgamento moral dos filhos. Por fim, o terceiro foi validar o questionário de práticas maternas de controle respondido pelasmães. Para tanto, foram realizadas 3 pesquisas: duas de campo � em que foram avaliadas as técnicas de controle preventivoutilizadas pelas mães e a sua relação com o julgamento moral dos filhos � e uma de campo e laboratório � em que foi verificadaa validade do questionário. Participaram do primeiro estudo 110 díades de mães-filhos; do segundo, 222 díades; do terceiro, 72mães, das quais 22 foram observadas com seus filhos em situação de laboratório. A idade das crianças variou de 5 a 11 anos. Asmães responderam a um questionário sobre técnicas de controle e as crianças a dilemas morais. As respostas das mães mostrarama existência de dois fatores, que foram considerados como controle interno e externo. O controle interno, de uma forma geral,associou-se a um nível mais elevado de desenvolvimento moral do que o controle externo. Os comportamentos das mães nolaboratório foram consistentes com suas respostas aos questionários.Palavras-chave: Práticas maternas de controle social; julgamento moral; validação de instrumento.

Morality and Socialization: Empirical Studies on Maternal Practicesof Social Control and the Moral Judgment

AbstractThis study had 3 goals. The first aim was to explore maternal practices of social control used by mothers to avoid undesirablebehavior of their children. The second goal was to investigate the relationship between maternal practices of social control andchildren�s moral judgement. The last goal was to validate mothers� answers on maternal practices of social control. In order toattain these goals, field and laboratory studies were conducted: two field studies evaluated the preventive control techniquesused by mothers and the relationship of these techniques with the moral judgement of their children. In a third study (field andlaboratory studies) the questionnaire answeredd by mothers was validated. The first study had 110 mother�child dyads. Thesecond study had 222 mother�child dyads. The third study had 72 mother�child dyads, 22 of which were observed with theirchildren during a laboratory situation. The children�s age varied from 5 to 11 years old. The mothers� answers showed thepresence of two factors considered as inner and external controls. The inner control was associated to a higher level of moraljudgement than the external. Mothers� behavior in the laboratory showed consistency with their answered in the questionnaire.Keywords: Maternal practices of social control; moral judgement; questionnaire validity.

Nestas duas últimas décadas, o Brasil e a América Latinaestão passando por um conjunto de crises dramáticas. Entreestas, as crises política e econômica parecem sobressair commuita evidência. Mas o observador atento notará que,entrelaçada a essas, vem se desenvolvendo uma forte crisede valores morais. Os numerosos processos de cassaçãopolítica por corrupção nos mais altos níveis dos três poderes,nos Estados latino-americanos, são uma prova da crise moral

nas instituições políticas. O vale-tudo na luta pelos lucros �como recentemente tem sido demonstrado no Brasil atravésdas altas nos preços, maquiadas pela redução no conteúdode vários produtos domésticos vendidos nossupermercados, e através dos ganhos exorbitantes daindústria farmacêutica � mostra a decadência moral do setorprodutivo privado.

Essa crise institucional vem contaminar, de alguma forma,os cidadãos. A crença no �rouba mas faz� nas campanhaseleitorais, a prática institucionalizada da �Lei de Gerson� �aquela de levar vantagem em tudo � a resistência à aplicaçãode uma regulamentação mais sensata ao trânsito, são alguns

1 Endereço para correspondência: Rua da Aurora, 201/908, 58043 270,Miramar, João Pessoa, PB. E-mail: [email protected]

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exemplos que demonstram essa ausência de valores moraise sociais de que padece a sociedade brasileira.

Embora a moral forme �uma estrutura de princípios,idéias e preceitos muito complexa, e incorpora todos oselementos de pensamento, comportamento e sentimento�(Rawls, 1971/1981, p. 340), ela pode ser interpretada como�um conjunto de normas aceitas, livre e conscientemente,que regulam o comportamento individual e social doshomens� (Vasquez, 1969/1983, p. 49). Entendendo a moralnesses termos, acredita-se que a crise moral que atinge asociedade brasileira pode ser vista como fazendo parte deuma crise moral mais ampla que pode ser debitada, emgrande parte, às formas que o capitalismo toma atualmente,o qual, segundo Apel (1992), gerou progressos técnicos ecientíficos sem ter gerado uma ética compatível com essesprogressos, uma ética baseada na cooperação, tendo comotônica a responsabilidade solidária. Ao contrário, segundoHabermas (1973/1978), o capitalismo neo-liberal propiciaa manutenção de uma ética voltada para os valoresespecificamente burgueses do individualismo possessivo edo utilitarismo benthianiano. Além disso, para Habermas, ocapitalismo neo-liberal provoca uma crise de motivaçãoque se revela através de: atitudes individualistas e opiniõesdespolitizadas na vida pública; adesão a valores dirigidosao lazer e ao consumo na vida familiar; e adoção de valorescompatíveis com a concorrência pelo status social na vidaprofissional. É neste sentido que Camino, Da Silva, Machadoe Pereira (2001) afirmam que a mentalidade pós-modernainclui tanto aspirações universais e globalizantes comoaspirações setoriais (nacionalistas) que o espírito deconcorrência e a meritocracia capitalista inculcam. Por isso,na mentalidade pós-moderna, coabitam aspiraçõesmoralistas de fraternidade e de igualdade e preocupaçõesrealistas de justiça concreta, num mundo visto, essencialmente,como competitivo.

Relacionados ao sistema capitalista, outros fatores �históricos, culturais, sociais e políticos � também têmcontribuído para a profunda crise moral brasileira. Massejam quais forem estes fatores, não cabe a menor dúvidade que diversos mecanismos de socialização estão emjogo na explicação da profundidade e extensão desta crise,fato que justificaria uma análise psicossocial do modocomo é transmitida a moral. Nesse sentido, em queconsiste o processo de socialização?

Na psicologia americana, o processo de socializaçãotem sido estudado à luz de diferentes abordagens teóricas,como o behaviorismo e a psicanálise, mas com uma únicaperspectiva: a de entender como os indivíduos adquiremhábitos, crenças e valores culturalmente compartilhadose como incorporam as regras sociais (Maccoby, 1994;Zigler & Child, 1969). O simples enunciado de algumas

definições de socialização no campo da Psicologia2

colocará em evidência a concepção funcionalista implícitanesta perspectiva.

Esperando pela criança, existe uma sociedade que possui umacultura. A criança é colocada no meio de uma forma organizadade viver, possuindo certas possibilidades para processarinformação e desenvolvendo motivos que permitem que estaforma organizada de viver possa influenciá-la. (Brown, 1965, p.193)

A socialização refere-se à adoção e internalização, pelo indivíduo,de valores, crenças e maneiras de perceber o mundo que sãocompartilhadas pelo grupo. Quando a internalização é efetiva,o indivíduo termina por desejar comportar-se da maneira queos outros desejam e esperam que o faça, enquanto membroresponsável do grupo. (Jones & Gerard, 1967, p. 76)

A socialização é o processo pelo qual o comportamento de umapessoa é modificado a fim de se conformar com as expectativasdos membros do grupo ao qual ela pertence. (Secord &Backman, 1964, p. 462)

Essas definições de socialização, representativas daperspectiva adotada nos Estados Unidos, pressupõemum forte determinismo social, onde, por um lado, o socialé concebido como algo externo, estático e em certosentido abstrato e, por outro lado, o sujeito, isolado emsua individualidade, é visto como um aprendiz mais oumenos passivo dos elementos sociais apresentados a ele(Camino, 1996).

Já na Europa, Piaget (1975), embora mantendo ofuncionalismo darwinista subjacente a psicologia americana,acentua os aspectos dinâmicos do comportamento dosujeito. Ele afirma que o conhecimento se desenvolve atravésde uma construção ativa do organismo, quando opera sobreo meio ambiente, construção composta inicialmente deestruturas � ou estágios � simples que evoluem,gradualmente, para estruturas complexas, cada vez maisabstratas, em busca de um melhor equilíbrio. Os estágiosindicam a forma adaptativa e dialética com que a menteadequa-se ao meio ambiente em cada momento daevolução do indivíduo. Por sua vez, as formas de interaçãoda criança com o seu meio social retratam as característicaspróprias de seu estágio evolutivo.

Na perspectiva clássica, três instâncias sociais seriamresponsáveis pela adaptação do sujeito à sociedade: a

2 A comparação entre as definições da socialização dos diversos camposdo saber como a antropologia, a psicanálise, a psicologia social, a psicologiaconstrutivista, a genética, etc (Zigler & Child, 1969) permite constatar que,embora se diferenciem entre elas, no que concerne à natureza passiva ouativa da participação da criança, concordam quanto ao papel externo edeterminístico do social.

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família, a escola e os meios de comunicação. Mas cabetambém a Piaget (1932), ao analisar o desenvolvimentomoral, colocar em relevo a importância dos pares noprocesso de socialização. Na realidade, para Piaget, a relaçãode obediência da criança com o adulto favorece odesenvolvimento de uma moral heterônoma. É somenteatravés da cooperação entre pares que a criança torna-secapaz de uma moral autônoma. Isto porque, por mais queo adulto procure compreender o ponto de vista da criançae procure estabelecer uma comunicação de igual para igual,as relações entre eles permanecem hierarquizadas,propiciando apenas o respeito unilateral da criança para como adulto. As relações entre crianças, ao contrário, propiciama descentração � cada um torna-se capaz de se colocar nolugar do outro � e, juntamente com a descentração, surgemo sentimento de reciprocidade e o respeito mútuo, elementosindispensáveis para uma moral autônoma.

Embora, classicamente, o grupo tenha sido o objetivovisado no processo de socialização, estudos recentes mostramo papel relevante que o próprio grupo desempenha comoagente de socialização (Tajfel, 1981). Para entender isso, deve-se ter em conta que as interações entre os níveis psicológicoe sociológico são processos de �mão dupla�. Numa direção,os processos subjetivos são influenciados pelas formasconcretas que uma formação social adota; enquanto que,na direção oposta, as formações sociais são construídas,dinamicamente, pelo conjunto de representações e açõesdos indivíduos que as constituem.

Assim, no processo de socialização, crianças e adolescentescomeçariam a reconhecer seus interesses a partir de suainserção ativa nos diversos grupos da sociedade. Esse aspectoda socialização se apoiaria, principalmente, nos processosde constituição da identidade social. De fato, os gruposconstruiriam suas identidades nas relações inter-grupais e ossujeitos se �socializariam� neste processo (Camino, 1996).

Na realidade, é na interação com os outros grupos queum grupo constrói, conjuntamente com os sujeitos que aele pertencem, os valores e normas que formam a identidadesocial desses sujeitos. Neste sentido, os jovens não só seadaptariam a grupos já existentes, mas participariam degrupos onde ativamente construiriam suas normas e suasidentidades sociais. Portanto, não são as pessoas que sesocializam individualmente, mas são os grupos que sesocializam na dinâmica das relações que mantêm com osoutros grupos (Camino, 1996).

Entretanto, deve-se considerar que os grupos não sedesenvolvem num vácuo social, mas no interior deformações sociais, econômicas e de formações políticascom ideologias específicas. As características das formaçõessociais influenciam as relações intergrupais, mas também

são conseqüências dessas relações. É neste contexto interativoque deve ser analisada a influência dos meios de comunicaçãona socialização da moralidade.

Em um estudo sobre valores transmitidos pelos meiosde comunicação, Camino e Cavalcanti (1998) analisaram,seguindo a tipologia de Kohlberg (1976, 1984), algumasnovelas da Rede Globo e observaram que os valorestransmitidos com maior freqüência eram relativos a umamoral heterônoma ou constituíam seus reforçadores: odomínio e o poder sobre os outros às custas de agressões echantagens, a justiça expiatória, a justiça retaliativa, ooportunismo (usar o outro para a consecução de benefíciospessoais), a desonestidade e a não assunção das conseqüênciasdos seus próprios atos.

Já Camino e colaboradores (1994) observaram que tantoos personagens identificados como muito simpáticos comoos pouco simpáticos transmitem valores de moralheterônoma, porém os muito simpáticos transmitem maisfreqüentemente esses valores, embora transmitam, também,valores referentes ao bem-estar e à proteção do outro. Emum outro estudo, Camino, Cavalcanti e Rique (1992),estudando adolescentes que se situam no nível convencionalda tipologia kohlbergiana, observaram que: quanto maioro nível de empatia para com os personagens consideradospouco atrativos, maior o nível de adesão aos valoresheterônomos transmitidos por esses personagens; e o nívelde adesão aos valores morais heterônomos ésignificativamente mais elevado em relação aos personagensda telenovela do que em relação a personagens fictícios doquestionário. Assim, esse estudo mostra que a empatia dostelespectadores por personagens de telenovelas podediminuir sua capacidade crítica.

As formas como se socializam os indivíduos são,portanto, múltiplas e bastante complexas. Certamente, faz-se necessário não só analisar o papel dos diversos agentesde socialização no desenvolvimento dos princípios morais,como recolocar estas influências nos contextos sociais,econômicos e políticos nos quais elas se efetuam. Mas,apesar desta complexidade, a Psicologia, pela sua própriatradição, centrou-se, até meados do século XX, na análisedo papel das relações familiares no desenvolvimento dosprincípios morais, tendo, apenas nas últimas décadas, sedeslocado, sob a influência do construtivismo, para ocontexto escolar, a fim de estudar a influência dos pares noprocesso de socialização (Walker, 1999). A centralização nafamília, entretanto, tem sua razão de ser, pois, de fato, pormais que as normas e os processos de socialização variemsegundo os diversos contextos sociais, econômicos epolíticos, o papel dos pais continua sendo o de avaliar se oscomportamentos dos filhos são ou não adequados a essasnormas, uma vez que a sua responsabilidade sobre os

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comportamentos dos filhos é uma constante que transcendea diversidade das normas culturais (Darling & Steinberg,1993).

Além disso, deve-se também ter em conta que a condutados pais não é só determinada pelo contexto sócio-culturalem que ocorre, mas que ela também é afetada pelocomportamento dos próprios filhos. Esta influência temsido observada já no aleitamento, quando mãe e criançaestabelecem, em intercâmbio mútuo, o ritmo de alimentação(Kaye, 1982). No que concerne especificamente às técnicasde controle, Schaffer (1984) tem observado que o padrãode interação vocal e de gestos entre a mãe e o bebê serviráposteriormente de base para o ritmo do diálogo nas futurasocasiões de controle. Por sua vez, Chapman (1979) temmostrado como disposições concretas das crianças delimitama intervenção parental. Assim, este autor constata que, emsituações em que os filhos estão muito desatentos, ordensdadas por suas mães de forma simples e clara são maiseficazes do que o diálogo para conseguir que eles secomportem corretamente.

Mas, uma determinada situação, em um contextoespecífico, não permite caracterizar a relação entre pais efilhos. É necessário que se estabeleçam certas relaçõesconstantes entre as formas como os pais atuam em relaçãoao comportamento dos filhos e as diferentes situações docotidiano, para caracterizar um estilo de atuação chamadode estilo de socialização. De acordo com Musitu e García (2001,p. 9), �os estilos de socialização parental se definem pelapersistência de certos padrões de atuação e pelasconseqüências que esses padrões têm para a própria relaçãopais-filhos�.

De fato, os estilos de socialização seriam caracterizadospor um conjunto de técnicas e formas de atuação queabrangem desde atitudes de aceitação até atitudes de controledos comportamentos indesejados e imposição de limitesaos filhos. Essas últimas se constituem no que a literaturadenomina de controle parental. Neste campo de estudo, destaca-se, como uma das contribuições mais importantes, ostrabalhos de Hoffman sobre a socialização (1960, 1963a,1963b, 1970, 1975). Hoffman (1983, 1994) distingue trêstécnicas de socialização utilizadas pelos pais: a indução, aretirada de afeto e a afirmação de poder.

A indução consiste no emprego, pelos agentes desocialização, de explicações que levam a criança a se convencerde que seu comportamento é inadequado. Esta técnica chamaa atenção da criança para as conseqüências naturais de suaação, voltadas seja para ela mesma, seja para o outro(Hoffman & Saltzstein, 1967). Já a retirada de afeto consisteem mostrar à criança que seu comportamento teve ou podeter por conseqüência a ruptura de um elo afetivo entre ela eo adulto. Finalmente, a afirmação de poder é constituída

pelo emprego de coerção externa, ou de força física, paraimpedir ou punir uma falta cometida. Como exemplo dessatécnica, esses autores citam todas as formas de puniçãoreal, salvo a retirada de afeto.

Analisando as técnicas enquanto processo de informação,Hoffman (1963a, 1975, 1983, 1994) diz que o efeito delassobre a socialização depende de dois componentes: graude pressão e conteúdo. O grau de pressão de uma técnica éa capacidade que ela tem de provocar uma ativação afetiva� ansiedade � devido ao bloqueio de um comportamentomotivado. O conteúdo é o aspecto qualitativo da técnica, éa informação que a técnica pode fornecer. Assim, no que serefere ao grau, a afirmação de poder provocaria o nívelmais elevado de ansiedade na criança, a retirada de afetoum nível médio e a indução um nível baixo dessa ansiedade.No que se refere ao conteúdo, a afirmação de poder �imposição, ameaça, chantagem � e a retirada de afeto �expressões de raiva e distanciamento � mostram formasde se relacionar com as pessoas que não proporcionamconteúdos para o aparecimento de uma estrutura moral,enquanto que a indução, ao mostrar as possíveisconseqüências das ações para os outros, favorece oaparecimento de uma estrutura de controle moral.

Tentando aprofundar os mecanismos pelos quais atuamas diversas técnicas, Aronfreed (1968) distingue duas técnicas,uma orientada para o amor e outra para a aplicação deestímulos aversivos. Constam da primeira técnica categoriasprototípicas, como a retirada de afeto e a explicação. A segundatem como categoria prototípica a punição física, que incluitambém agressões verbais e injúrias. Essas duas técnicaspodem ser vistas como envolvendo, respectivamente, doispadrões de aprendizagem: a indução e a sensibilização. Essespadrões, por sua vez, podem ser vistos como sendoresponsáveis pela orientação interna ou externa que a criançaadquire, no controle do seu comportamento aberto: aindução, por não depender de contingências externas,produziria na criança mais do que a sensibilização � quedepende de contingências externas �, guias internalizadosde ansiedade e recursos instrumentais que seriam utilizadospara redução da ansiedade em face de comportamentosde transgressão. Note-se porém que, posteriormente,Aronfreed (1976) considera que a retirada de afeto podefazer parte da punição, desde que esta seja definida de umaforma mais ampla incluindo, por exemplo, a rejeição e adesaprovação.

No que concerne aos estilos ou combinações dasdiferentes técnicas, Baumrind (1968, 1971, 1991, 1996)propõe um modelo que integra as diferentes formas decuidar da criança. Nesse modelo, a autora rejeita a simplesoposição entre o autoritário e o permissivo considerandoque os papéis da punição e da coerção dependem do

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contexto sócio-cultural em que essas técnicas são utilizadas,bem como da conjugação delas com exigências parentais(confrontação, disciplina constante e contingente, orientação)e das técnicas afetivas (uso da empatia, reciprocidade ecomunicação clara e centrada na pessoa). Tendo como baseuma distribuição de crianças em três grupos, classificados apartir das características sócio-emocionais dessas crianças,Baumrind (1968, 1971) identificou, inicialmente, três estiloseducativos usados pelos pais dessas crianças:

- Pais diretivos � controladores e exigentes, mas tambémcalorosos, empáticos, comunicativos e compreensivos comos seus filhos, que usam tanto a indução como a punição;

- Pais autoritários � distantes, pouco empáticos,controladores e, sobretudo, punitivos com os seus filhos;

- Pais permissivos � não controladores, não exigentes,relativamente calorosos, e empáticos, que se comportamde forma não punitiva.

Baumrind (1971) verificou, em uma pesquisa realizadacom 146 crianças e suas famílias, que, nas meninas, ocontrole utilizado pelos pais diretivos associava-sepositivamente com todos os índices de responsabilidadesocial. Já o controle parental autoritário associava-senegativamente aos índices de responsabilidade social.Quanto ao controle permissivo, quando associado a umcerto grau de rejeição paterna, parecia facilitar tanto aexpressão de forças autônomas de natureza construtivacomo de natureza socialmente destrutiva.

Posteriormente, Baumrind (1991, 1996) acrescentouao modelo anterior os pais não engajados � aqueles que nãosão exigentes, não são empáticos e não demonstraminteresse pelos seus filhos.

Partindo dos pressupostos teóricos já apresentados,pode-se indagar: como as diversas técnicas ou os diversosestilos de socialização parental influenciam odesenvolvimento da moralidade? Para Hoffman (1983, 1994)e Aronfreed (1968), a indução favoreceria uma moralautônoma, enquanto a afirmação de poder e a retirada deafeto favoreceriam uma moral heterônoma. Já para Piaget(1932), a moral autônoma poderia ser adquirida nas relaçõescom os pares. Baumrind, por sua vez, considerando ainfluência da indução e da afetividade nos estilos, afirmaque os pais diretivos facilitariam mais a internalização dosvalores morais do que os permissivos, estes mais do que osautoritários e estes mais do que os não engajados.

Como já foi observado, os trabalhos efetuados sobre ainfluência das técnicas de controle parental nocomportamento das crianças têm sido realizados,principalmente, nos Estados Unidos. Mas será que em outrasculturas as técnicas de controle do comportamento dascrianças produzem os mesmos resultados que os

observados nos Estados Unidos? A fim de responder aesta pergunta, decidiu-se elaborar um projeto de estudossobre o tema, focalizando a figura materna como agentede socialização. No presente escrito, será apresentado,inicialmente, um estudo exploratório em que se testaram osinstrumentos e levantaram-se os primeiros dados sobre asrelações existentes, na Paraíba, entre o controle materno e odesenvolvimento do julgamento moral. Em um segundomomento, será apresentado um estudo mais amplo, queprocurou confirmar os resultados obtidos no primeiroestudo. Finalmente, mostrar-se-á um estudo que pretendeuvalidar experimentalmente o conteúdo das escalas utilizadasnos estudos anteriores e observar diretamente a relação entretécnicas de controle e julgamento moral.

1º Estudo, de Caráter Exploratório, sobre as Relaçõesentre o Controle Materno e o Desenvolvimento doJulgamento Moral

Em seus estudos, Hoffman (1983, 1994) considerou aexistência de três técnicas de controle: a ameaça de puniçãoreal, a ameaça de retirada de afeto e a explicação dasconseqüências da ação proibida. Mas, na realidade doNordeste, essa classificação parece limitada, na medida emque não contempla formas de controle muito usadas nessemeio social. Uma primeira constatação é que, de fato, asmães no Nordeste, como na maioria das culturas, utilizam,como forma de controlar o comportamento da criança, apromessa de uma gratificação ou reforço positivo: �Se ficasbem comportado, ganharás um chocolate�. Mas tambémobserva-se, tanto no Nordeste como em outras culturas depredominância rural, ameaças de punição que apelam paraum mundo mítico ou sobrenatural: �Se não vais dormir, obicho-papão vai te pegar�. Com vistas a adaptar o presenteestudo à realidade nordestina, decidiu-se incluir, nesteprimeiro trabalho exploratório, tanto a promessa de reforçopositivo como a ameaça de punição sobrenatural 3 .

Mas a inclusão dessas duas técnicas responde também aquestionamentos teóricos. Assim, a inclusão do reforçoencontra-se justificada pelo fato de ter sido verificado queos efeitos desta técnica no controle do comportamento dascrianças � amplamente pesquisados em laboratório nasdécadas de 1960 e 1970 � diferem dos da punição(Aronfreed, 1968; Bandura, 1977; Parke, 1977). Deve-sesalientar que, nessas pesquisas, o reforço aparece associadoa comportamentos, geralmente pró-sociais, e não a

3 Usando o termo sobrenatural não se está fazendo, necessariamente,referência a reflexões de caráter religioso, embora considere-se que ameaçascomo �Se falas palavrões, o diabo vai te levar� enquadram-se perfeitamenteneste tipo de técnica.

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julgamentos de ordem moral. Já a inclusão de uma técnicade ameaça com conteúdos referentes ao sobrenaturalpermite investigar a hipótese de Piaget (1964) de que oanimismo mítico e imanente, característico do pensamentoinfantil, pode ser reforçado pela educação do adulto.

Em relação a esse primeiro estudo, foram levantadasas seguintes hipóteses:1) O controle pela explicação das conseqüências naturais

negativas dos atos estará relacionado a um melhordesenvolvimento do julgamento moral;

2) As técnicas não explicativas que demonstram o uso dopoder por parte do adulto, como a promessa derecompensa, a ameaça de punição real pelos agentesde socialização e a ameaça de punição por entidadessobrenaturais (Deus ou Diabo, ou outros seresmitológicos do folclore do Nordeste do Brasil) � técnicasobrenatural �, estarão relacionadas com umdesenvolvimento mais pobre do julgamento moralinfantil.

Método

Decidiu-se verificar, numa situação natural, a relaçãoexistente entre a forma como a mãe diz controlar ocomportamento da criança e o nível de desenvolvimentodo julgamento moral desta. Para isso, foram convidadasas mães de crianças que cursavam o primário em umaescola da rede pública de João Pessoa, para responder aum questionário sobre as técnicas que utilizavam paracontrolar o comportamento dos filhos.

ParticipantesForam entrevistadas 110 crianças e suas respectivas mães.

As crianças encontravam-se distribuídas em cinco gruposde idade: 7 anos (9 meninos e 10 meninas), 8 anos (11 meninose 11 meninas), 9 anos (10 meninos e 10 meninas), 10 anos(15 meninos e 13 meninas) e 11 anos (11 meninos e 10meninas). As mães, que aceitaram voluntariamente o convitepara participar do estudo, trabalhavam, em sua maioria, comoempregadas domésticas e não tinham o primário completo.

InstrumentosPara a avaliação do Julgamento Moral das crianças,

foram utilizados oito pares de histórias, elaboradas porCamino, Camino e Leyens (1996), a partir das históriasutilizadas por Piaget (1932) no seu estudo sobre ojulgamento moral. O escore do julgamento foi obtidoatravés do número de respostas corretas às perguntassobre qual era o personagem mais errado. Na avaliaçãodas técnicas de controle, perguntou-se às mães com quefreqüência elas empregavam cada uma das quatro técnicas

(promessa de recompensa, explicação, ameaça de puniçãoreal e ameaça de punição sobrenatural), quando pretendiamcontrolar o comportamento de seu filho nas seguintessituações: comer, ir dormir, fazer os deveres da escola, lavar-se, brigar fisicamente, agredir verbalmente, mentir, dizerpalavrões, pegar escondido coisas alheias, brincar comobjetos perigosos, fazer jogos sexuais, sair para a rua semautorização e brincar com objetos de valor. Cada técnicaaparecia associada a estes 13 comportamentos. Para cadatécnica, as mães deveriam indicar, em uma escala de 5 pontos( 5 correspondendo a Sempre e 1 a Nunca), a freqüênciacom que utilizavam a técnica em cada um dos 13comportamentos. O instrumento tinha 52 questões.

ProcedimentoAs mães foram entrevistadas em duas sessões. Elas

responderam ao questionário sobre técnicas de controleem vários grupos de, no máximo, 25 mães, com a ajudade vários pesquisadores. A leitura de cada item foi feitaem voz alta. Em seguida, os pesquisadores verificavamcomo cada mãe havia marcado a resposta. Por tratar-sede uma pesquisa exploratória, perguntava-se ao grupode mães, no final da entrevista, sobre o grau de dificuldadee de pertinência do questionário utilizado. As criançasforam entrevistadas individualmente em uma sessão. Aordem de apresentação das histórias foi aleatória.

Resultados

Analisar-se-ão, inicialmente, as diversas técnicasmaternas de controle do comportamento, a fim de verse essas técnicas se agrupam em torno dos eixos principaisprevistos por Hoffman. Num segundo momento, serãoanalisadas as relações existentes entre as técnicas usadaspelas mães e o julgamento moral das crianças.

Técnicas de Controle: Seus Eixos de OrganizaçãoFoi efetuada sobre os escores dos 52 itens do questionário

uma Análise dos Componentes Principais (com rotaçãoortogonal). Os resultados mostram que as 52 questõescorrespondem a dois fatores principais que explicam 46%da variância dos dados, conforme Tabela 1. O primeirofator, que explica 35% da variância e possui um coeficientede fidedignidade α de Crombach de 0,89, é formado por39 itens do questionário, dos quais 13 itens pertencem àtécnica de recompensa, 13 à técnica de punição real e 13 àtécnica de punição sobrenatural. O segundo fator, que explica11% da variância comum e tem um α de Crombach de0,89, é formado por 12 dos 13 itens relativos à técnica deexplicação.

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Tabela 1Índices de Saturação dos dois Fatores Obtidos pela Análise dos Componentes Principais dos Escores do Instrumento de Técnicas de Controle

Técnicas

Recompensa

Explicação

Punição real

Punição sobrenatural

Estatísticas

ComportamentosComerIr dormirFazer os deveres da escolaLavar-seBrigar fisicamenteAgredir verbalmenteMentirDizer palavrõesPegar escondido coisas alheiasBrincar com objetos perigososFazer jogos sexuaisSair para rua sem autorizaçãoBrincar com objetos de valor

ComerIr dormirFazer os deveres da escolaLavar-seBrigar fisicamenteAgredir verbalmenteMentirDizer palavrõesPegar escondido coisas alheiasBrincar com objetos perigososFazer jogos sexuaisSair para rua sem autorizaçãoBrincar com objetos de valor

ComerIr dormirFazer os deveres da escolaLavar-seBrigar fisicamenteAgredir verbalmenteMentirDizer palavrõesPegar escondido coisas alheiasBrincar com objetos perigososBrincadeiras SexuaisSair para rua sem autorizaçãoBrincar com objetos de valor

ComerIr dormirFazer os deveres da escolaLavar-seBrigar fisicamenteAgredir verbalmenteMentirDizer palavrõesPegar escondido coisas alheiasBrincar com objetos perigososBrincadeiras sexuaisSair para rua sem autorizaçãoBrincar com objetos de valor

Eigenvalue% de variabilidade explicadaCoeficiente α de Crombach

Fator I0,700,550,690,690,740,730,660,680,460,740,700,730,57

0,680,740,730,660,560,800,550,690,680,680,680,560,64

0,750,760,770,680,760,690,640,770,580,780,650,730,68

18,7335%0,89

Fator II

0,470,60-0,700,600,720,690,630,550,670,740,700,53

6,5011%0,91

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Com efeito, as três técnicas de controle � ameaça depunição real, punição sobrenatural e promessa derecompensa � formam uma única atitude, onde o controleé posto sobre as conseqüências negativas ou positivasque não estão diretamente ligadas à ação controlada. Oque caracteriza o primeiro fator é, precisamente, o acentosobre as conseqüências não intrínsecas à ação, mas externasa ela. Por esta razão, o fator foi denominado de ControleExterno. O segundo fator, ao contrário, traduz uma atitudeem que o controle baseia-se na ênfase que é dada àsconseqüências intrínsecas da ação e, por isso, foidenominado de Controle Interno. Análises internasmostraram que nem a idade nem o gênero das criançasafetaram significativamente a freqüência com que as mãesutilizaram as duas técnicas de controle.

Técnicas de Controle e Desenvolvimento MoralCom respeito à relação existente entre técnicas de controle

e desenvolvimento moral, uma maneira de abordar a questãoseria correlacionar os escores obtidos pelas crianças nostestes de moralidade com os escores dados pelas mães àsduas técnicas principais. Mas isto pressuporia a existênciade uma relação linear entre os dois tipos de controle e ojulgamento moral, suposição esta que se mostrouinadequada, após uma primeira análise descritiva dos dados.

Tabela 2Médias dos Escores Obtidos no Teste de Julgamento Moral em Função dos Tipos de Histórias e dos Níveis deControle Externo e Interno

Tipo de História

Agressão

Roubo

Controle interno

BaixoMédioAlto

BaixoMédioAlto

Controle externo

Baixo

7,1 abc6,8 bcd7,5 ab

7,4 ab6,3 cdef7,9 a

7,2 A

Médio

6,0 defg6,0 defg6,7 bcde

5,6 fg7,3 ab6,2 cdef

6,3 B

Alto

6,9 bcd6,7 bcde5,9 efg

5,5 fg7,3 ab5,3 g

6,3 BTotal controle externo

Decidiu-se, pois, efetuar uma Análise de Variância dosescores de julgamento moral, dividindo a amostra das mãesem função da freqüência com que utilizavam cada técnica.Assim, para cada tipo de controle, foram estabelecidos trêsníveis: um de baixa freqüência (abaixo do percentil 33,3),um de freqüência média (entre os percentis 33,4 e 66,6) eum de alta freqüência (acima do percentil 66,6). Acombinação dos diferentes níveis dos dois tipos de controleresultou em nove condições diferentes. No que concerne

ao julgamento moral, foram considerados, separadamente,os escores para as histórias que versavam sobre situações deagressão e os escores das que versavam sobre situações deroubo.

A Análise de Variância dos escores de julgamento moral(Tabela 2) mostra um efeito significativo para o controleexterno (F(2,87)=4,175; p<0,025) e uma interaçãosignificativa entre os dois controles (F(4,87)=2,48; p<0,05).A variável tipo de ação também interage com o controleinterno (F(2,87) =5,076; p<0,01) e com os dois controles(F(4,87)=7,288; p<0,001).

Constata-se que os escores do julgamento moral dascrianças submetidas a um baixo nível de controle externo(m=7,2) são significativamente superiores aos resultados dascrianças submetidas aos níveis médio (m=6,3) e alto (m=6,3)de controle externo. Observa-se, também, como indica ainteração significativa, que o efeito do controle externo éfunção do controle interno. Assim, os escores mais altos dejulgamento moral encontram-se nas crianças submetidas aum alto controle interno e a um baixo controle externo(m=7,9 no caso do roubo e m=7,5 no caso da agressão) �que será denominado aqui de estilo indutivo, enquanto queos escores mais baixos encontram-se em criançassubmetidas, simultaneamente, a um alto nível de controleexterno e interno (m=5,3 no caso do roubo e m=5,9 no

caso da agressão) � que será denominado aqui de estilorestritivo e que corresponderia, parcialmente, ao estilodiretivo de Baumrind (1968, 1971). Desta forma, nos casosextremos de controle interno (alto e baixo), o controle externoalto afeta o julgamento moral no sentido que se esperava,isto é, retarda significativamente o desenvolvimento dojulgamento moral. De fato, estes efeitos e interações tendema ser algo mais acentuados, mais nítidos nas respostas àshistórias sobre roubo. Nas histórias de agressão, nos níveis

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moderado e baixo de controle interno, o controle externonão parece ter um efeito tão negativo. Nesta situação,quando o controle interno é baixo, parece que o controleexterno permite às crianças obter, relativamente, um bomjulgamento moral. Pelo contrário, nas histórias sobre roubonos níveis alto e baixo de controle interno o controleexterno é negativo.

Já as crianças submetidas a baixos níveis de controleexterno e interno � que será denominado aqui de controleliberal e que corresponderia, parcialmente, ao estilopermissivo da tipologia de Baumrind � apresentam escoressemelhantes aos das crianças submetidas a um altocontrole interno e baixo controle externo.

Discussão

O estudo mostra claramente a existência de dois fatoressubjacentes às diversas técnicas. Esses dois fatores, queforam denominados de controle externo e controle interno,estariam relacionados a duas modalidades de contingênciaentre a ação e suas conseqüências. Mas deve-se ter em contaque os dois fatores constituem duas dimensões separadas,independentes, e não pólos extremos de uma única dimensão,o que quer dizer que é possível encontrar mães que tantoutilizam intensivamente as duas formas de controle comose abstêm de utilizar ambas as formas numa clara posiçãode laisser faire. Essas duas dimensões ou formas de controlepodem ser comparadas aos processos de indução e desensibilização propostos por Aronfreed (1976) e serviriam,também, para entender estruturas mais globais de interaçãopais-crianças, como as formuladas por Baumrind (1971). Nestesentido, acredita-se que o uso intensivo das duas formas decontrole, interno e externo, corresponderia ao estilo diretivo,a ausência de controle corresponderia ao estilo permissivoe o alto uso do controle externo e baixo do controle internoao estilo autoritário.

Adotando-se essa nomenclatura e fazendo-se umacomparação entre os resultados aqui encontrados e osencontrados por Baumrind (1971), observa-se que o efeitodo controle dos pais tidos como diretivos foi contrário aosresultados encontrados pela autora, uma vez que as criançasdeste estudo apresentaram escores baixos de julgamentomoral. Já os resultados acerca da influência dos pais tidoscomo permissivos e dos autoritários aproximaram-se maisdos encontrados por Baumrind.

O fato dos dois tipos de controle observados no presenteestudo não constituírem uma única dimensão bipolar, masdimensões independentes, permite uma análise destes emduas perspectivas distintas: aquela da pressão, ou dafreqüência do controle exercido pelos pais, e aquela doconteúdo das técnicas (Hoffman, 1970, 1983). No que

concerne ao aspecto da pressão, pode-se distinguir duassituações: a condição �liberal� (nível baixo nos dois controles)e a condição �restritiva� (níveis elevados nos dois controles).Observa-se que as crianças na condição �liberal� obtiveramresultados significativamente superiores aqueles das criançasna condição �restritiva�, tanto em relação à agressão comoem relação ao roubo. Estes resultados confirmam a idéiade Piaget (1932), segundo a qual a autonomia deixada pelospais às crianças favoreceria o desenvolvimento moral. Éimportante constatar que a diferença entre as duas condiçõesé significativa para os dois tipos de ação, o roubo e a agressão.

Em relação ao aspecto do conteúdo dos controles, pode-se também distinguir entre um estilo puramente indutivo(alto nível de controle interno e baixo nível de controleexterno) e um estilo puramente externo (baixo nível decontrole interno e alto nível de controle externo). Osresultados mostram que o estilo indutivo é significativamentemais eficaz que o estilo externo, nas histórias em que a açãoé o roubo. No caso da agressão, a diferença, se bem queesteja na direção esperada, não atinge o nível de significância.Esta parte dos resultados confirma as hipóteses de Aronfreed(1968), Bandura (1977) e Hoffmam (1970), para quem ascrianças aprenderiam dos pais não somente normas precisas,mas também princípios que lhes permitiriam deduzir novasnormas que as guiassem em situações novas.

A este propósito, é pertinente observar que o efeitomais marcante da indução aparece nas respostas às históriassobre o roubo. De fato, as histórias sobre o rouboapresentam situações menos familiares para as criançasdo que as histórias sobre agressão, o que exigiria umjulgamento mais racional da criança. É possível, então,que as crianças forçadas a pensar, utilizem o que elasaprenderam, seja diretamente dos pais indutivos, seja apartir das experiências com os colegas, facilitadas pelasatitudes liberais dos pais. Mas, é também possível queesses resultados sejam devido a uma menor compreensãodas histórias sobre o roubo.

2º Estudo, Confirmatório, sobre a Relação entre oControle Materno e o Julgamento Moral

Os resultados da primeira pesquisa foram bastanteencorajadores, pois tanto os concernentes à existência dedois tipos fundamentais de controle materno como osreferentes às relações destes dois tipos de controle maternocom o desenvolvimento do julgamento moralcorrespondem às expectativas levantadas. Apesar disso, oestudo mostrou certas limitações. Primeiramente, por se tratarda uma primeira pesquisa exploratória, tinha-se utilizadouma amostra relativamente pequena, embora satisfatória paraas análises estatísticas empregadas. Surgiu, assim, o interessede efetuar um estudo maior, a fim de replicar esses resultados.

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Mas um segundo aspecto, este mais teórico, sugeria nãosó repetir o primeiro estudo, como também aprofundá-lo.De fato, os resultados do primeiro estudo levantaram apossibilidade da compreensão ter influenciado no julgamentodas histórias de agressão e roubo. Assim, tornou-se necessáriocontrolar essa variável no segundo estudo. Decidiu-se,portanto, não só facilitar a compreensão das históriasutilizando ilustrações de fácil visualização para crianças, mastambém controlar o grau de dificuldade das histórias, variandosistematicamente o grau das conseqüências e o tipo deintenções.

Um outro aspecto teórico concernente às técnicas decontrole materno indicava também a necessidade dereformular o método empregado na primeira pesquisa. Paraque os dois fatores obtidos no primeiro estudo, controlesexterno e interno, pudessem ser interpretados na perspectivade Aronfreed (1976), desejou-se verificar se a técnica da�retirada de afeto� � não analisada no primeiro estudo �integrar-se-ia ao eixo das técnicas de controle externo, comosugerido por este autor, quando a caracteriza comodesaprovação ou ameaça de rejeição. Ao aumentar o númerode técnicas, decidiu-se eliminar algumas atividades que,segundo as mães, não constituíam objeto de controlefreqüente.

Em relação ao segundo estudo, foram levantadas asseguintes hipóteses:1) No que concerne às diversas técnicas maternas de

controle, espera-se que elas se agrupem nos dois fatoresobtidos na primeira pesquisa: o controle externo e ointerno, fatores interpretados como correspondendo adois modelos de relação de contingência entre as açõese suas conseqüências, modelos que são transmitidospelos pais aos filhos ou que são experimentados pelascrianças a partir de uma certa autonomia dada pelospais;

2) Espera-se, também, que o controle externo tenha umefeito negativo sobre o desenvolvimento moral dascrianças, enquanto que o controle interno tenha um efeitopositivo;

3) Espera-se que, nos dilemas em que se contrastem a) umpersonagem de intenção hostil a um personagem altruístae b) um personagem de intenção hostil a umpersonagem sem intenção, seja mais fácil indicarcorretamente qual o personagem mais �ruim� do quenos dilemas em que se contrasta c) um personagemcom intenção altruísta a um personagem sem intenção.

Método

Decidiu-se investigar, mais uma vez, numa situaçãonatural, a relação existente entre a forma como a mãe dizcontrolar o comportamento da criança e o nível de

desenvolvimento do julgamento moral desta. Na medidaem que se desejava uma amostra maior, escolheu-se umescola de maior porte da rede pública de João Pessoa econvidaram-se as mães das crianças que cursavam o primárioa participar do estudo.

ParticipantesNeste segundo estudo, foram observadas 222 crianças e

suas respectivas mães. Como no estudo anterior, as mãestinham, em sua maioria, o primário incompleto e eramempregadas domésticas. As crianças encontravam-se nasidades de 5 anos (18 meninos e 19 meninas), 6 anos (19meninos e 20 meninas), 7 anos (16 meninos e 19 meninas), 8anos (18 meninos e 19 meninas), 9 anos (20 meninos e 20meninas) e 10 anos (19 meninos e 15 meninas). Todos estascrianças cursavam as séries correspondentes às suas idades.

InstrumentosForam utilizados dois instrumentos: o Instrumento de

Julgamento Moral e o Instrumento de Técnicas deControle. Para o primeiro instrumento, foram elaborados12 pares de histórias, semelhantes aos da primeira pesquisa,nos quais, além dos dois tipos de conteúdo já utilizados �roubo e agressão �, foram manipuladas as intenções,considerando-se três formas de comparação ou contrastede intenções (sem intenção versus intenção hostil; intençãoaltruísta versus intenção hostil; e sem intenção versus intençãoaltruísta) e as conseqüências das ações (seis pares comconseqüências iguais e seis com conseqüências diferentes).A fim de facilitar a compreensão das crianças acerca dashistórias, estas eram acompanhadas de ilustrações. Para cadauma, havia uma cena relativa à intenção ou à falta de intençãodo protagonista de executar uma ação, uma cena sobre aação do protagonista e uma cena mostrando as conseqüênciasda ação. Cada história era acompanhada de questões paraavaliar o julgamento moral e a compreensão das crianças.

Exemplo: História sobre agressão; contraste semintenção versus intenção hostil; conseqüências diferentes:

Gabriel tinha consertado um caminhão de madeira.Sem ver, ele deixou uma ponta de prego aparecendo. Umdia, quando ele brincava com o caminhão, na companhiade um amigo, este se feriu seriamente.

Um dia, Pedro decidiu fazer mal a um amigo. Para isto,ele colocou um prego no sapato do menino. Quando omenino se calçou, ele viu rápido o prego e só se furouum pouquinho.

O índice de julgamento moral era obtido com basenas questões: a) Entre Gabriel e Pedro, existe um que seja�mais ruim� do que o outro? b) Quem?. As respostascorretas foram avaliadas com 1 ponto e as erradas com0 ponto.

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Já o Instrumento de Técnicas de Controle era semelhanteao da pesquisa anterior, porém com algumas modificações.No que diz respeito ao número de técnicas, estas passaramde 4 para 5 com a introdução da técnica �retirada de afeto�.Assim, as técnicas estudadas foram: Punição Real,Recompensa, Punição Sobrenatural, Explicação e Retiradade Afeto. Em relação aos comportamentos, foram suprimidosos relativos a comer, sair na rua sem consentimento, dizerpalavrões e brincar com objetos valiosos, considerando-seque estas atividades, segundo as informações dadas pelasmães da primeira pesquisa, não constituíam objeto de controlefreqüente. Ficaram, portanto, nove comportamentos e cincotécnicas de controle, o que resultou em 45 itens. Como noestudo anterior, as mães deveriam indicar, para cada técnica,em uma escala de 5 pontos � o 5 correspondendo a Sempree o 1 a Nunca �, a freqüência com que a utilizavam.

ProcedimentoSemelhante ao da primeira pesquisa, porém as entrevistas

sobre o julgamento moral foram realizadas em duas sessões,

em lugar de uma. Após a leitura de cada história, mostrava-se, nos desenhos, os principais episódios, investigando acompreensão da criança. Caso necessário, repetia-se a históriao quanto fosse preciso.

Resultados

Seguindo o mesmo procedimento do estudo anterior,analisar-se-á, inicialmente, as diversas técnicas maternas decontrole do comportamento, a fim de ver se essas técnicasse agrupam em torno dos dois eixos encontrados no primeiroestudo. Em um segundo momento, serão analisadas asrelações existentes entre as técnicas usadas pelas mães e ojulgamento moral das crianças.

Técnicas de Controle: Seus Eixos de OrganizaçãoPara verificar a existência dos dois eixos, externo e interno,

empregou-se, como na primeira pesquisa, a Análise peloMétodo dos Componentes Principais, mas utilizou-se a rotaçãooblíqua, porque análises preliminares mostraram que os dois

Figura 1. Exemplo das histórias elaboradas para avaliar o índice de julgamento moral.

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Tabela 3.Índices de Saturação dos dois Fatores Principais por cada Item do Instrumento de Técnicas de Controle Materno

Técnicas

Punição real

Recompensa

Punição sobrenatural

Explicação

Retirada de afeto

Estatísticas

ComportamentosFazer os deveres da escolaAgressão físicaPegar as coisas dos outrosAgressão verbalSe lavarBrincar com objetos perigososMentirJogos sexuaisIr dormir

Fazer os deveres da escolaAgressão físicaPegar as coisas dos outrosAgressão verbalSe lavarBrincar com objetos perigososMentirJogos sexuaisIr dormir

Fazer os deveres da escolaAgressão físicaPegar as coisas dos outrosAgressão verbalSe lavarBrincar com objetos perigososMentirJogos sexuaisIr dormir

Fazer os deveres da escolaAgressão físicaPegar as coisas dos outrosAgressão verbalSe lavarBrincar com objetos perigososMentirJogos sexuaisIr dormir

Fazer os deveres da escolaAgressão físicaPegar as coisas dos outrosAgressão verbalSe lavarBrincar com objetos perigososMentirJogos sexuaisIr dormir

Eigenvalue% de variabilidade explicadaCoeficiente α de Crombach

Fator I0,580,480,590,530,690,520,550,640,81

0,420,630,480,610,560,580,610,600,68

0,660,470,320,510,660,660,420,550,77

0,49

0,720,610,610,610,730,610,590,630,69

13,7734%0,81

Fator II

0,36

0,40

0,380,400,680,700,430,680,73--

-0,46

4,359%0,79

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fatores eram correlacionados (Hartman, 1967). Osresultados, confirmando as hipóteses (Tabela 3), mostramque as 45 questões correspondem a dois fatores principaisque explicam em torno de 40% da variância dos dados. Oprimeiro fator, que explica 31% da variância e possui umcoeficiente de fidedignidade α de Crombach de 0,81, éformado por 36 itens: 9 da escala de punição real, 9 daescala de recompensa, 8 da escala de punição sobrenatural(com exceção do item sobre roubo), os 9 itens da escala deretirada de afeto e, surpreendentemente, 1 item da escala deexplicação (jogos sexuais). O segundo fator � considerandoíndices de saturação acima de 0,40 � foi constituído por 6itens da escala de explicação (os itens sobre roubo, asagressões verbais e físicas, a higiene, os jogos com objetosperigosos, a mentira).

Foram, portanto, encontrados os dois mesmos tipos decontrole subjacentes às diversas técnicas, como se tinhaobtido na primeira pesquisa. Constatou-se, também, que atécnica de controle �retirada de afeto� fazia parte do controleexterno.

Tipo de Controle e Julgamento MoralPara verificar a influência dos tipos de controle sobre o

julgamento, procedeu-se a uma Análise de Variância dosescores de julgamento moral, utilizando os dois tipos decontrole como variáveis independentes e as característicasdos dilemas morais como medidas repetidas. Esta análisemostra uma interação praticamente significativa entre Açãox Contraste x Controle Externo (F(9,398)=2,31; p=0,057),como se pode constatar na Tabela 4.

Com efeito, observa-se, nesta tabela, assim como naprimeira pesquisa, o efeito negativo do controle externosobre o desenvolvimento moral das crianças. Por outro lado,

o fato de que a técnica de retirada de afeto integra o controleexterno revela seu efeito negativo sobre o desenvolvimentomoral e parece confirmar a suposição de Aronfreed (1976)de que haveria conseqüências diferentes na aprendizagemem função de diferenças na maneira em que ocorre acontingência entre a atividade da criança e as formas decontrole parental. Observa-se, também, que não há diferençassignificativas em função do tipo de ação. Julga-se que issotenha ocorrido como resultado das modificaçõesmetodológicas introduzidas nesta segunda pesquisa.

Já na Tabela 5, constata-se uma tendência àsignificância para as interações entre Contraste x ControleExterno x Controle Interno (F(8,398)=1,74; p=0,09).Embora as médias globais relativas ao julgamento moralnas condições de controle externo baixo e médio não sediferenciem significativamente uma da outra, diferenciam-se significativamente da média do controle externo alto evão na direção das hipóteses e dos resultados obtidos naprimeira pesquisa. Isto é, o controle externo alto tem umefeito negativo sobre o julgamento moral das crianças. Eeste efeito é significativo quando se analisam as médias dejulgamento moral por contraste. Neste caso, observa-se,em cada um dos contrastes (ou das comparações entreintenções), que os escores mais baixos de moralidadeencontram-se nas crianças submetidas, ao mesmo tempo, aum alto controle externo e a um baixo controle interno.Observa-se, principalmente nos dois primeiros contrastes� nas duas primeiras comparações �, que os escores maisaltos de moralidade encontram-se na confluência de níveisbaixos do controles interno e externo.

Por outro lado, verifica-se, como na primeira pesquisa,que o estilo indutivo facilita, significativamente, mais ojulgamento moral das crianças do que o estilo externo �

Tabela 4Médias dos Escores de Julgamento Moral em Função do Tipo de História, Tipo de Contraste e Controle Externo

Tipo dehistória

Agressão

Roubo

Tipo decontraste

1º contraste2º contraste3º contraste

1º contraste2º contraste3º contraste

Baixo

5,8 ab5,3 bcd4,5 fg

6,1 a6,1 a4,5 fg

5,4 A

Médio

5,8 abc5,9 ab4,1 g

6,2 a5,7 abc4,2 g

5,3 A

Alto

5,2 cde5,0 def3,0 h

4,7 efg4,9 def3,1 h

4,3 B

Controle Externo

Total controle externo

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controle puramente externo �, salvo no segundo contraste.Porém, diferentemente da primeira pesquisa, observa-se queas crianças submetidas concomitantemente a altos controlesexterno e interno � estilo restritivo � apresentam resultadossemelhantes aos do estilo liberal e mais elevados do que ossubmetidos ao estilo externo.

Discussão

Os resultados obtidos não reproduzem a diferençasignificativa que se tinha encontrado anteriormente entre acondição �liberal� (nível baixo nos dois tipos de controle) ea condição �restritiva� (nível elevado nos dois tipos decontrole), apesar de que as diferenças estejam no sentidoesperado. Esta ausência de significância deve-se aosresultados relativamente bons das crianças de estilo restritivo.Estas últimas obtiveram melhores resultados do que ascrianças da primeira pesquisa.

A inclusão da técnica de retirada de afeto no fator decontrole externo reaproximou-o da condição chamada de�restritiva� � correspondente ao estilo �diretivo� propostopor Baumrind (1971) �, que favoreceria o desenvolvimentomoral? Isto é possível, entretanto deve-se considerar queesta observação é apenas sugestiva, pois foram igualmenteintroduzidas certas modificações no teste de julgamentomoral, o que torna mais difícil de precisar as fontes dediferenças entre as duas pesquisas.

Apesar de pequenas diferenças, a segunda pesquisaconfirma claramente os resultados da primeira, mostrando

Tabela 5Médias dos Escores de Julgamento Moral em Função dos Contrastes de Intenção e dos Fatores de Controle Externo e Interno

Contraste deintenções

1º Contrastesem intenção

Xintenção hostil

2º Contrasteintenção altruísta

Xintenção hostil

3º Contrastesem intenção

Xintenção altruísta

Controleinterno

baixomédioalto

baixomédioalto

baixomédioalto

Baixo

6,8 a 5,5 ab5,5 b

6,7 a 5,0 bc

5,4 abc

4,7 ab 4,0 ab 4,8 a

5,4 A

Médio

6,1 ab6,0 ab5,9 ab

5,8 ab5,6 ab5,9 ab

4,6 ab3,7 ab4,1 ab

5,3 A

Alto

3,7 c4,9 bc6,2 ab

4,2 c4,8 bc5,9 ab

2,2 c3,5 b3,5 b

4,3 BTotal controle externo

o efeito negativo do controle externo sobre odesenvolvimento do julgamento moral das crianças. O fatode que a técnica de retirada de afeto também aparece nocontrole externo, controle que continua a mostrar um efeitonegativo sobre o julgamento moral, parece confirmar aprimeira interpretação em termos de diferentes sistemas de

contingência entre a atividade da criança e suas conseqüências,que seriam aprendidas nas diferentes formas de controle(Aronfreed, 1968).

3º Estudo, Experimental, Sobre a Validade dos Dois Tiposde Controle e sua Relação com o Desenvolvimento doJulgamento Moral

Tendo em vista os resultados das duas pesquisas decampo, que demonstraram claramente que as diferentestécnicas de controle investigadas agrupam-se em tornode dois fatores, denominados controle externo e controleinterno, considerou-se importante realizar um terceiroestudo a fim de validar o Instrumento de Técnicas deControle Materno e verificar a relação dos controlesvalidados com o desenvolvimento do julgamento moral.

Sendo assim, foram levantadas as seguintes hipóteses:1) Sobre a validação do instrumento de técnicas decontrole materno:

a) Mães de alto controle externo (ACE) no questionáriodemonstrarão uma maior freqüência decomportamentos de controle externo, em situaçãoexperimental, do que as mães de baixo controleexterno (BCE) no questionário.

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b) Mães de alto controle interno (ACI) no questionáriodemonstrarão uma maior freqüência decomportamentos de controle interno, em situaçãoexperimental, do que as mães de baixo controleinterno (BCI) no questionário.

c) Mães que no questionário se revelam com estilorestritivo de controle (alto externo/alto interno)mostrarão, em situação de laboratório, um maior usode ambos os controles em termos comportamentaisdo que as mães que se revelam de estilo liberal(baixo externo, baixo interno) no questionário.

2) Sobre a relação entre os tipos de controle maternoe o julgamento moral:

a) Maior uso de controle externo pela mãe resultaráem menor julgamento moral da criança.

b) Maior uso de controle interno pela mãe resultaráem maior julgamento moral.

c) Maior uso de restrição pela mãe resultará emmenor julgamento moral da criança.

Método

Estudos PilotosAntes de proceder ao teste experimental dessas hipóteses,

fez-se necessário proceder a dois estudos pilotos, a fim detornar o mais válido possível o conjunto de processosoperacionais próprios da pesquisa experimental.

a) Estudos prévios para determinar os brinquedosatrativos: O objetivo central do procedimento experimentalconsistia em criar uma situação de tentação real para ascrianças, onde se pudesse observar diretamente a maneiracomo as mães realmente4 controlam o comportamento deseus filhos. Como se supôs que as crianças são mais tentadasa tocar os brinquedos mais atrativos, fez-se necessárioestabelecer a priori quais os brinquedos de que as crianças,com as características da amostra a ser estudada, maisgostavam e dos que elas menos gostavam.

Para isto, em um primeiro momento, pediu-se às 72crianças5 � alunas da primeira série do primeiro grau deuma escola pertencente à rede pública de ensino da cidadede João Pessoa, Paraíba � para escolherem dentre um grandeconjunto de brinquedos aqueles de sua preferência. Esseprocedimento permitiu que fossem escolhidos setebrinquedos para meninos e sete para meninas, sendo quepara os meninos foram escolhidos: 1 trem, 1 carro grande

branco, 1 caminhão a pilhas, 1 bola de futebol, 1 carropequeno vermelho e 1 tanque. Para as meninas: 1 bonecagrande, 1 liqüidificador, 1 boneco, 1 jogo de fazer sorvetes,1 boneca de barbante, 1 jogo de copos e pires e 1 bonecapequena.

Em um segundo momento, testou-se a ordem depreferência por esses brinquedos com 62 crianças, 47meninas e 15 meninos, pertencentes a diferentes escolas darede pública da cidade de João Pessoa, com os mesmosníveis sócio-econômicos e de escolaridade, e da mesma faixaetária das 72 crianças do primeiro estudo. Os resultadosindicaram que o brinquedo mais atrativo para os meninosfoi o trem e, para as meninas, a boneca. Esses brinquedosforam considerados �proibidos� na situação experimental,devendo a mãe evitar que um desses brinquedos fossetocado.

b) Estudo piloto para elaborar a folha deobservação: Fazia-se necessário, também, elaborar umafolha de observação que permitisse registrar as reaçõesdas mães na situação experimental. Uma grade deobservação foi elaborada a partir das situações descritasno questionário sobre controle materno utilizado nosegundo estudo. A viabilidade desta grade de observaçãofoi testada com 18 díades de mães e filhos. Estes eramalunos da primeira série do primeiro grau de uma escolapública de João Pessoa e estavam igualmente distribuídosnas idades de 7 a 9 anos. Os resultados mostraram que afolha de observação não precisava ser modificada, sendoo tempo de registro estabelecido em cinco minutos.

Estudo ExperimentalO objetivo principal da pesquisa era verificar, através

de uma situação de laboratório, se o tipo de controledeclarado pela mãe no questionário coincidia com ocontrole exercido por ela na �realidade�. Assim, tentou-se criar uma situação experimental que reproduzisse aquelado ambiente natural e que permitisse observar as tentativasda mãe de evitar os comportamentos da criança de pegarnos brinquedos proibidos. A fim de facilitar a validaçãose fazia também necessário escolher mães que possuíssemescores extremos nas duas escalas de controle. Com estesobjetivos em mente, desenvolveu-se o estudo em duasfases:

1a Fase: Com o apoio da direção de uma escola públicade João Pessoa , foi solicitada, através de comunicação escrita,a presença da mãe na escola a fim de participar do estudo.Apresentaram-se 72 mães cujos filhos cursavam a primeirasérie do primeiro grau e encontravam-se nas idades de 7anos (9 meninos e 7 meninas), 8 anos (17 meninos e 11meninas), 9 anos (10 meninos e 11 meninas) e 10 anos (5meninos e 3 meninas). As mães foram convidadas aresponder a um questionário sobre as técnicas de controle

4 É evidente que as mães não se comportarão na situação experimental como ofazem na sua casa. Mas certamente este comportamento estará mais perto donatural que as respostas a um questionário. Deve-se ter em conta também que,como todas as mães estão submetidas à mesma situação, as diferenças entre elasdevem se aproximar das que existem na vida real.5 Estas 72 crianças constituirão, como será visto mais na frente, a primeira fase dapesquisa experimental, o que garante a validade da escolha.

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que utilizavam com seus filhos. Posteriormente, as criançasforam contatadas na sala de aulas e convidadas a respondera um conjunto de dilemas morais.

Instrumento para as mães sobre Técnicas de ControleMaterno

O questionário sobre técnicas de controle maternoutilizado neste estudo constou de 25 itens extraídos doquestionário da segunda pesquisa, usando-se, para aseleção dos itens, o índice de saturação dos mesmos emrelação aos dois fatores ou controles (externo e interno).Os 25 itens foram colocados de maneira aleatória. Cadapergunta continha cinco alternativas de resposta: sempre,muitas vezes, regularmente, poucas vezes e nunca.

A composição formal do questionário foi a seguinte:8 itens sobre retirada de afeto, 3 itens sobre ameaça depunição real, 5 itens sobre promessa de recompensa, 4itens sobre punição sobrenatural e 5 itens sobre explicação.

Instrumento de Julgamento MoralA entrevista constou de dois pares de dilemas morais

com conteúdo agressivo, retirados da segunda pesquisa.Optou-se, nesta pesquisa, pela redução do número dedilemas a fim de não cansar as crianças, pois algumasdestas deveriam participar da segunda fase. A escolhados dilemas com conteúdo agressivo foi motivada pelofato de, na abordagem construtivista, esse conteúdo serpouco usado.

2a Fase: Nesta fase, extraíram-se da amostra total 28crianças, 14 meninos e 14 meninas, cujas mães foramclassificadas pelo Instrumento de Técnicas de Controlecomo de alto ou baixo controle externo e de alto oubaixo controle interno. Foram consideradas como de altocontrole as mães cujos escores situavam-se acima dopercentil 66,6 e de baixo controle as mães cujos escoressituavam-se abaixo do percentil 33,3. As mães assimselecionadas foram solicitadas, através de comunicaçãoescrita, a se apresentar, junto com seus filhos, no centrode estudos da escola, em dias e horas previamentedeterminados. Grupos de 4 a 6 mães, com seus filhos,eram transportados da escola até a Clínica Psicológica daUniversidade Federal da Paraíba (UFPB), permanecendona sala de espera até serem chamados. Quando eram,então, conduzidos, por uma das colaboradoras do estudo,à sala especialmente equipada para a observação, era-lhes comunicado que tinham de �esperar� por unsminutos para serem atendidos, dizendo-se à mãe oseguinte: �A criança pode brincar com estes brinquedos(assinalando os que estavam em cima da escrivaninha),porém, por favor, a senhora tenha cuidado para que elanão toque neste brinquedo (mostrando o �objeto

proibido�), porque pode quebrar-se, estragar-se, e não énosso�. Dadas estas instruções, deixava-se a mãe e a criançaa sós, fechando a porta, dando assim início à observaçãodo comportamento da mãe por duas observadoras. Eram,então, anotadas, na folha de observação experimental, asverbalizações, os gestos, atos da mãe para evitar que seufilho tocasse no objeto proibido.

Nesta sala, havia uma escrivaninha, brinquedos, 2 cadeirase um espelho unilateral. Sobre a escrivaninha, situada numângulo da sala, foram colocados os brinquedos com osquais as criança podiam entreter-se. Ao lado direito daescrivaninha, havia uma cadeira destinada à mãe, ao ladoesquerdo havia outra cadeira para a criança. Esta disposiçãofoi considerada mais adequada para se observar ocomportamento da mãe (gestos, expressões não verbais, etc.),através do espelho unilateral que se encontrava às costas dacriança. Os brinquedos �proibidos� � trem para os meninose boneca para as meninas �, considerados os mais atrativosno estudo prévio, foram colocados a uma certa distância dacriança, para que ela, ao querer pegá-lo, tivesse que se dirigirexpressamente para ele. Transcorridos cinco minutos, umaassistente aparecia, batendo previamente à porta, anunciandoque já podiam ser atendidos. Nesse momento, aplicava-se àcriança o terceiro par de histórias sobre julgamento moral,justificando, assim, a presença da mãe e da criança na clínica.

Resultados

Neste último estudo, verificar-se-á, inicialmente, avalidade do Instrumento de Técnicas de Controlecomparando-se os escores dados a este questionário comos comportamentos observados na situação experimentalpara, num segundo momento, como foi feito nos doisprimeiros estudos, analisar a relação entre as técnicasempregadas pelas mães e o desenvolvimento do julgamentomoral dos filhos.

Validação do InstrumentoComo se pode observar na Tabela 6, as mães - ACE -

de alto controle externo, avaliado no questionário, utilizamcom maior freqüência (m=1,00) comportamentos decontrole externo do que as mães - BCE - de baixo controleexterno (m=0,11), o que confirma a primeira hipótese sobrea validade do questionário utilizado. No que concerne àsegunda hipótese, os resultados mostram que as mães - ACI- de alto controle interno apresentam uma média decomportamentos internos (m=0,17), o que revela apenasuma tendência a se diferenciar significativamente da média(m=0,0) apresentada pelas mães - BCI - de baixo controleinterno, o que indica que essa hipótese, embora nãoconfirmada totalmente, também não é invalidada.

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Finalmente, quando se comparam os estilos de controledas mães obtidos nas diversas combinações dos dois tiposde controle, pode-se observar que a terceira hipótese éplenamente confirmada. Isto significa que as mães que foramclassificadas, a partir dos seus escores no questionário, comoutilizadoras do estilo liberal (baixo controle interno e externo)foram significativamente menos utilizadoras, na situaçãoexperimental, dos controles interno e externo, do que asmães classificadas como restritivas (alto controle interno eexterno), conforme Tabela 7.

Técnicas de Controle Materno e o Julgamento MoralAs hipóteses concernentes à influência dos tipos de

controle no desenvolvimento do julgamento moral nãoforam confirmadas (Tabela 8), entretanto, todos osresultados estão na direção esperada. Assim, ao nível altode controle externo correspondem resultados mais baixosno julgamento moral do que no nível baixo de controleexterno, enquanto que ao nível alto de controle internocorrespondem resultados mais elevados de julgamentomoral do que no nível baixo de controle interno. Neste

Tabela 6Médias de Intervenções das Mães Utilizando Técnicas de Controle Externo e Interno em Função dos Níveis Obtidos nas Escalas deControle Externo e Interno

Freqüências observadas dasmães usando técnicas:

de controle externo

de controle interno

Baixo externo (BCE)m n ; dp0,11 (09) ; 0,33Baixo interno (BCI)m n ; dp0,0 (10) ; 0,00

Alto externo [ACE]m n ; dp1,00 (13) ; 1,15m [ACI]m n ; dp0,17 (12) ; 0,39

Testes estatísticosunicaudais

T20 p <

- 2,62 0,01

T20

p<- 1,35 0,09

Classificação das mães nas escalas de controle:

Tabela 7Médias de Intervenções das Mães Utilizando Técnicas de Controle Externo e Interno em Função dos Estilos de Controle Apresentados nasEscalas

Freqüências observadas dasmães usando técnicas:

de controle externo

de controle interno

Estilo liberal (n=11)

m dp0,00 0,00

m dp0,00 0,00

Restritivo (n=08)

m dp0,25 0,46

m dp0,87 1,46

Estilos de controle das mães Testes estatísticos unicaudais

T17

p < - 1,81 0,04

T17

p < - 2,01 0,03

Tabela 8Escores Médios de Julgamento Moral das Crianças em Função dos Níveis de cada Escala de Controle e dos Estilos Obtidos na Combinação deAmbas

Baixo controle externo [BCE]m N dp7,09 12 1,30

Baixo controle interno [BCI]m N dp6,30 10 1,84

Estilo liberalm N dp6,67 06 1,21

Alto controle externo [ACE]m N dp6,70 10 2,75

Alto controle interno [ACI]m N dp7,41 12 2,06

Estilo restritivom N dp7,28 07 2,51

Análises estatísticasTeste �t�T

20 p <

< 1 n. sig.

Teste �t�T

20p <

-1,31 0,10

Teste �t�T

11 p <

< 1 n. sig.

Classificação das mães nas Escalas de Controle

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último resultado, a diferença tende a ser significativa. Jáas hipóteses concernentes à relação entre estilos decontrole e julgamento moral não foram confirmadas,nem vão na direção esperada. Como se pode observarna Tabela 8, o julgamento moral das crianças cujas mãespossuem estilo liberal não se diferencia daquele dascrianças cujas mães possuem estilo restritivo.

Discussão

O conjunto de resultados obtidos através da última pesquisarelatada permite considerar os dois aspectos centrais dostrês estudos: tipos de controle materno e julgamento moral.

Mães que se auto avaliaram como utilizadoras de altocontrole externo no questionário realmente utilizaram, nasituação de laboratório, em maior freqüência este tipo decontrole do que mães de baixo controle externo. Tambémfoi observado, na situação de laboratório, o uso freqüentede controle interno declarado pelas mães no questionário.Igualmente, verificou-se que mães categorizadas como deestilo restritivo (alto controle externo e alto controle interno)demonstraram maior uso de alto controle externo e de altocontrole interno do que mães de estilo liberal.

Com relação à influência das técnicas de controle maternosobre o julgamento moral da criança, não foramencontrados resultados significativos. A explicação maisadequada para este fato parece ser a seguinte: nas investigaçõesanteriores foram utilizados 12 pares de histórias, enquantono presente estudo foram aplicados somente três pares dehistórias. É possível que estes nove pares possuam maiorpoder de discriminação e detecção dos fatores envolvidosem cada tipo de controle. Uma outra justificativa poderiaser encontrada no tamanho da amostra. Nos estudosanteriores, participaram mais de 100 crianças, enquanto nopresente estudo, o julgamento moral foi avaliado apenasem parte da amostra (28 crianças).

Conclusões

O primeiro aspecto que será abordado nesta discussãofinal é constituído pelas técnicas maternas de controle.Discutir-se-á este ponto sob uma dupla perspectiva: estudar-se-á primeiro a natureza de diferentes técnicas maternas decontrole para, em seguida, estudar os efeitos dos diversoscontrastes ou estilos sobre o julgamento moral.

No que concerne à natureza das técnicas de controle, asduas primeiras pesquisas mostraram a existência de doisfatores principais subjacentes às diversas técnicas. Além disto,na terceira pesquisa, em que se busca validar o questionáriode técnicas maternas de controle, verifica-se nos resultados,claramente, que o questionário avalia o que pretende avaliar,sobretudo no que diz respeito ao controle externo.

Desde a primeira pesquisa, tem-se conceituado a naturezadestes dois fatores principais em função do modelo decontingência entre o ato proibido e as conseqüências que atransgressão acarreta. No primeiro fator, é um modeloexterno de contingência que é utilizado pelos pais: asconseqüências para a criança, tanto positivas como negativas,seriam produzidas não pelo ato, em si, da transgressão, maspela intervenção de um agente exterior real (no sentidofísico) ou espiritual. Ao contrário, no segundo fator, o acentoé colocado sobre as conseqüências negativas intrínsecas aoato de transgressão.

Esta interpretação teórica em função do modelo decontingência entre o ato e suas conseqüências, utilizado pelospais, parece confirmada, na segunda pesquisa, pelo fato deque a técnica de retirada de afeto faz claramente parte docontrole externo. Em geral, esta técnica é identificada comotécnica indutiva, sob o termo de técnicas psicológicas(Allinsmith & Greening,1955; Aronfreed, 1961), ou comouma técnica intermediária entre as técnicas indutivas e astécnicas coercitivas (Hoffman, 1970, 1983).

Mas se pode igualmente pensar que o elo comum seriaconstituído pelo fato de que todas essas técnicas orientam acriança para si mesma e para as conseqüências negativasque poderiam lhe acontecer em caso de transgressão. Énecessário, porém, lembrar que, nas duas pesquisas, asquestões sobre a técnica explicativa faziam referência,simultaneamente, às conseqüências negativas para o sujeitoe para outras pessoas. E em certos comportamentos, comoestudar, se lavar, ir dormir, etc., a totalidade dasconseqüências negativas sugeridas era centrada sobre aprópria criança.

Por outro lado, é interessante distinguir no interior dastécnicas explicativas, conforme Hoffman (1970, 1983), astécnicas indutivas orientadas para as conseqüências sociaisdos atos das técnicas racionais que explicariam asconseqüências para o próprio sujeito. Segundo esse autor,estas diferentes formas de indução afetariam diferentementea concepção moral das crianças. As crianças e osadolescentes cujos pais utilizam freqüentemente as técnicasindutivas teriam uma concepção moral humanitária emoposição à moral convencional das crianças cujos paisressaltam tanto os aspectos normativos como asconseqüências materiais das transgressões. As criançassubmetidas a uma coerção externa permaneceriam em umamoral objetiva.

Em conclusão, julga-se, pois, que a concepção de doiscontroles principais em função do modelo de contingênciaentre o ato e suas conseqüências parece se acomodar bem,tanto aos dados das pesquisas aqui apresentadas comoaqueles de outras pesquisas. Pode-se, agora, passar à discussãodos efeitos das duas técnicas principais sobre o julgamentomoral.

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A partir da interpretação teórica que se tem dado a cadaum dos dois controles principais (fatores), pode-se melhorcompreender através de quais processos se efetuam as suasinfluências sobre o julgamento moral das crianças. Assim, ocontrole externo, fazendo repousar as conseqüências tantonegativas como positivas para a criança sobre os agentessociais, reforça a dependência externa desta, dificultando oprocesso de socialização (Hoffman, 1970, 1983; Maccoby &Martin, 1983). As noções do bem e do mal ficariam, assim,ligadas ao querer das autoridades. A criança não atingiriauma moralidade heterônoma subjetiva, porque o modelo decontingência externa não conduz a criança à descoberta desua responsabilidade frente às conseqüências negativas, quederivam de sua própria ação. Esta dependência constituiuma característica essencial da moralidade heterônomadescrita por Piaget (1932).

Um outro aspecto negativo das conseqüências docontrole externo para as crianças, quando a punição física éutilizada, diz respeito ao surgimento de comportamentosagressivos na criança e às dificuldades desta de processaradequadamente informações sociais (Weiss, Dodge, Bates& Pettit, 1992). Também sobre o efeito negativo da punição,Crano e Mendoza (1987) verificaram que as mães punitivasdificultam as relações sociais de seus filhos.

Ao contrário, as técnicas explicativas � racionais ouindutivas �, ao dirigir a atenção da criança sobre asconseqüências futuras da sua ação, sobre o meio e sobresi mesma, em domínios que não são apenas de satisfaçãoou de prazeres imediatos, facilitariam tanto os processosde descentração da criança como a aquisição do sentimentode responsabilidade em relação a seus atos. Neste sentido,considera-se, numa perspectiva diferente da de Piaget,que as relações hierarquizadas não são apenas reforçadorasda moral heterônoma � etapa necessária na primeirainfância �, mas que também podem beneficiar a moralautônoma, uma vez que a relação desigual pode orientara criança para um sistema de comunicação que lhe permitauma melhor aprendizagem de seu meio. É interessantelembrar, a este propósito, a distinção proposta porBaumrind (1971, 1991) entre estilo parental autoritário eestilo diretivo. Neste último, os pais, sem nada negar sobresua posição hierarquizada, orientam a criança para objetivosprecisos e para um melhor aprendizado das conseqüênciasde suas ações sobre o meio.

Mas é evidente que esta aprendizagem pode seproduzir pela própria experiência da criança com seuscolegas, quando ela se sente livre para experimentar eadotar suas próprias reações. Isto explicaria os resultadoselevados obtidos, nas duas primeiras pesquisas, pelascrianças submetidas à condição denominada liberal. Esteúltimo resultado vai na mesma direção das idéias de Piaget

(1932), para quem a criança se desenvolveria moralmente àmedida que seus pais e outras figuras de autoridadediminuíssem suas influências coercitivas. Porém, antes deadotar este ponto de vista, é importante investigar se emvez de ser a condição liberal que influencia o nível moralda criança, como se supõe aqui, é a criança que influencia amãe, pelo fato de não apresentar necessidade de um maiorcontrole materno. A este respeito, Kochanska (1993) verificouque alguns aspectos da criança, como a vulnerabilidade paraa ansiedade, influenciam na escolha que os pais fazem deestratégias disciplinares.

Além disso, como indicado no início do trabalho, osdiversos mecanismos de socialização que estão em jogono desenvolvimento da moralidade devem ser colocadosnum contexto mais completo que, além das relaçõesinterpessoais, incluam tanto os fatores sócio-econômicoscomo o conjunto de valores que regem uma determinadasociedade. Sendo assim, pode-se pensar que a preferênciapor um ou outro tipo de técnica de controle parentalestaria ligada ao maior ou menor grau de adesão dos paisa determinados valores sociais. De fato, quando o usodas técnicas de controle interno ou indutivo refere-se àprevenção de conseqüências tanto pessoais como coletivasde uma ação, pode-se pensar que elas estariam ligadas àvalorização do desenvolvimento pessoal e coletivo. Poroutro lado, ao centrar-se nas conseqüências externas emateriais da desobediência a uma norma, o uso dastécnicas de controle externo estaria ligado à valorizaçãodo conformismo e dos valores materiais.

É neste sentido que se pode repensar o papel das técnicasde controle parental na atual crise de valores pela qual passaa sociedade brasileira. O uso majoritário, na prática, detécnicas de controle externo, observado no terceiro estudo,estaria reforçando valores materialistas e conformistasobserváveis em nossa sociedade. Musitu e García (2001),utilizando a teoria de valores de Schwartz (Schwartz, 1994;Schwartz & Bilsky, 1987, 1990) observaram, na Espanha,que filhos de pais indutivos aderiam mais aos valores doUniversalismo/Benevolência, enquanto que os filhos de paiscoercitivos aderiam mais a valores materialistas.

Por outro lado, Inglehart (1977, 1991, 1994) temmostrado a estreita relação entre o desenvolvimento sociale econômico de uma sociedade e os valores desta. Numaperspectiva psicossociológica, Pereira, Lima e Camino(2001) têm mostrado, em estudantes universitários, que aadesão aos valores pós-materialistas está relacionada comatitudes positivas frente à democracia, enquanto que aadesão a valores religiosos conformistas estaria relacionadaa atitudes negativas. Desta forma, coloca-se como umobjetivo a ser alcançado o estudo, no Brasil, da relaçãoentre técnicas de socialização e valores sociais.

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Sobre os autoresCleonice Camino é Professora da Universidade Federal de Pernambuco.Leoncio Camino é Professor da Universidade Federal da Paraíba.Raquel Moraes é Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco. É Professora daUniversidade Estadual da Paraíba.

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Recebido: 01/01/20021ª revisão: 25/04/2002

Última revisão: 09/07/2002Aceite final: 31/07/2002

Psicologia: Reflexão e Crítica, 2003, 16(1), pp. 41-61

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Grupo de Pesquisa em Interação Social Desenvolvimento e Psicopatologia

- GIDEP -

O objetivo do GIDEP é produzir conhecimentos para a teoria e prática na área de desenvol-vimento e psicopatologia. Em particular, busca-se investigar os fatores socio-emocionais ecognitivos no desenvolvimento normal e atípico dentro do contexto de interações pais-criança, criança-criança, e adolescente-família. O GIDEP está empenhado na qualificação depesquisadores e profissionais dentro de uma perspectiva interdisciplinar. O GIDEP constitui-se em um dos Grupos de Pesquisa do CNPq/UFRGS. Sete teses e 39 dissertações foramdefendidas ou estão em orientação no Grupo.

Participantes e linhas de pesquisaCesar A. Piccinini (PhD pela University of London): Interação pais-bebê/criança; Apego etemperamento infantil; Estratégias educativas parentais.Tânia M. Sperb (PhD pela University of London): Interação de crianças; Cultura e desen-volvimento; Narrativas, desenvolvimento e psicopatologia.Rita Sobreira-Lopes (PhD pela University of London): O desenvolvimento sócio-afetivono contexto das relações familiares; relações pais-filhos em momentos de transição; Desen-volvimento da autonomia na família.Participam ainda do grupo um técnico de audiovisual, 07 Doutorandos, 10 Mestrandos, e 09Bolsistas de Iniciação Científica.Cleonice A. Bosa (PhD pela University of London): interação pais-criança e desenvolvi-mento atípico; impacto dos transtornos do desenvolvimento na família; autismo.

Infra-estrutura do GIDEP: O Grupo mantém o Laboratório de Observação de Processos Interativosequipado com sofisticados equipamentos de gravação, digitalização e edição de imagens devídeo, o que possibilita análises sistemáticas das observações gravadas.

Contatos internacionais e convidados pelo Grupo: Artin Goncu (EUA/1993); AnnetteWatilon (Bélgica/1997); Jan Valsiner (EUA/1995); Jonathan Tudge (EUA/desde 1994); MarcBigras (Canadá/1999); Palácio Espasa (Suiça/1997); Stuart Millar (Inglaterra/desde 1996).

Endereço:GIDEP/CPG Psicologia/UFRGSRua Ramiro Barcelos, 260090035.003, Porto Alegre, RSFone: (51) 33309507