ministÉrio da educaÇÃo fundaÇÃo universidade federal de ... · currículo do curso de...
TRANSCRIPT
-
MINISTRIO DA EDUCAO FUNDAO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDNIA
NCLEO DE CINCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA EDUCAO
PROGRAMA DE PS GRADUAO EDUCAO ESCOLAR MESTRADO PROFISSIONAL
ADRIANA GUSTAVO CARDOSO
EDUCAO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR: UMA REFLEXAO
METODOLGICA PARA O CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIR-CMPUS DE
VILHENA
Trabalho de Concluso Final de Curso: Dissertao
PORTO VELHO RO
2016
-
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDNIA NCLEO DE CINCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA EDUCAO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO ESCOLAR
MESTRADO PROFISSIONAL
ADRIANA GUSTAVO CARDOSO
EDUCAO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR: UMA REFLEXO
METODOLGICA PARA O CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIR-CMPUS DE
VILHENA
Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao Escolar da Universidade Federal de Rondnia como requisito final para a obteno do ttulo de Mestre em Educao, sob orientao do Prof. Dr. Clarides Henrich de Barba.
Porto Velho 2016
-
Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
-
Aos meus grandes amores Gabriel e Gilberto, Com amor, dedico.
-
AGRADECIMENTOS
Quando pensamos em caminhar rumo ao conhecimento, no fazemos este
trajeto sozinhos.
Quero agradecer a algumas pessoas que dele fizeram parte e me ajudaram a
chegar at aqui:
Deus, nosso Pai, que nos enche de coragem, fora e f!
Ao meu amado filho Gabriel, compreensivo, amoroso e companheiro em
todos os momentos desde sempre;
Ao meu amado companheiro Gilberto, incansvel, dedicado e atencioso em
todas as jornadas sempre com um voto de otimismo;
Ao meu Professor Orientador Prof. Dr. Clarides Henrich de Barba, por ter me
motivado e acreditado na minha ideia de pesquisa;
s Professoras Prof. Dr. Maria Madalena Ferreira e Prof. Dr Maria Cndida
Muller pelas valiosas contribuies a este trabalho e por terem aceitado participar da
banca;
A todos os professores e professoras do Programa de Ps-Graduao em
Mestrado em Educao Escolar pela oportunidade de aprendizagem e troca de
saberes;
A minha colega e amiga de Mestrado Michele Gomes Ne pela fora e ajuda
nos momentos precisos;
Em especial, aos acadmicos do curso de Pedagogia da Fundao
Universidade Federal de Rondnia por terem aceitado participar deste estudo.
-
CARDOSO, Adriana Gustavo. EDUCAO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR: UMA REFLEXAO METODOLGICA PARA O CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIR-CMPUS DE VILHENA. Porto Velho/RO. 2016. 113 p. Dissertao (Mestrado Profissional em Educao Escolar) - Programa de Ps-Graduao em Educao Escolar - UNIR, Porto Velho, 2016.
RESUMO
A questo socioambiental apresenta-se como um grande desafio para a sociedade.
Ao mesmo tempo em que se fala em desenvolvimento acelerado, expanso agrcola
e utilizao dos recursos naturais, em sua plenitude, esse movimento est
relacionado diretamente a problemas ambientais severos que tm se apresentado
cotidianamente. Assim, a Universidade, imbuda de sentimento de criao, reflexo
e ao dos sujeitos envolvidos na sociedade, na perspectiva de construo do
conhecimento, permanece, enquanto instituio cientfica, com a funo social de
promover o entrelaamento desse saber com o cotidiano vivenciado. Esta pesquisa
identificou as percepes que os acadmicos de Pedagogia do 6. perodo da
Universidade Federal de Rondnia (UNIR), Cmpus de Vilhena, tm em relao
Educao Ambiental (EA), aos Recursos Naturais, Sustentabilidade e
Responsabilidade Socioambiental. A partir dessa realidade, o objetivo principal foi
identificar como concebida a educao ambiental no ensino superior e como ela
pode ser significativa para o entendimento da interdependncia entre os seres vivos
e o seu ambiente, podendo colaborar na construo de intervenes e aes mais
conscientes e coletivas na questo ambiental. O caminho metodolgico escolhido foi
da pesquisa-ao e, tratando-se de uma pesquisa qualitativa, foi aplicado um
questionrio de perguntas abertas e fechadas para identificar as concepes iniciais
de EA dos acadmicos para depois ser realizada uma oficina temtica. Os dados
levantados nesta pesquisa demonstraram que os sujeitos ainda percebem a
natureza com o enfoque racionalista pois sugeriram que o ser humano apenas
utilizador do ambiente. Constatamos, contudo, que a insero da disciplina de EA no
currculo do curso de Pedagogia da UNIR Cmpus de Vilhena questo
fundamental no mesmo para que os acadmicos possam estar percebendo o
ambiente natural de forma holstica.
Palavras-chave: Educao Superior. Educao Ambiental. Percepo Ambiental. Curso de Pedagogia do Cmpus de Vilhena-UNIR.
-
CARDOSO, Adriana Gustavo. Enviromental education higuer education: a reflection methodology for pedagogy course of joining- Vilhena Cmpus.Porto Velho/RO. 2015. 113 p. Dissertation (Professional Master in School Education) Graduate Program in School Education UNIR, Porto Velho, 2016.
ABSTRACT
The environmental issue represents a major challenge to society. While fast
development, agricultural expansion and the use of natural resources are iscussed,
in its fullness, this movement is directly related to severe environmental problems
that arise daily. This way, the University, imbued with a feeling of creation, reflection
and action of those involved in society, aimed at constructing knowledge, remains, as
a scientific institution, with the social function of promoting the intertwining of this
knowledge with what is experienced every day. This study aimed at identifying the
perception that Pedagogy students of the 6th semester at the Federal University of
Rondnia (UNIR), Vilhena Cmpus, assume in relation to Environmental Education
(EE), to Natural Resources, to Sustainability and to Environmental Responsibility.
The objective of this study was, from this reality, identify how the environmental
education is conceived in higher education and how it can be significant for
understanding the interdependence of the organisms and their environment, possibly
collaborating on the construction of more conscious and collective interventions and
actions directed to the environmental issue. The chosen methodological approach
was the action research and, as a qualitative research that this study is, a
questionnaire with open and closed questions was applied in order to identify
students initial conceptions related to the EA and, after that, a thematic workshop
was conducted. The data collected in the survey showed that subjects still perceive
nature with the rationalist approach it suggested that the human being is just setting
the user. We note, however, that the inclusion of the EA discipline in the UNIR
Vilhena Cmpus Pedagogy course curriculum is fundamental in the same so that
academics can be realizing the natural environment holistically.
Keywords: Higher Education. Environmental Education. Environmental Perception.
Pedagogy course of the Federal University of Rondnia Vilhena Cmpus.
-
LISTA DE FIGURAS
Figura 1:Cidade de Vilhena........................................................................................52
Figura 2: Mapa do Estado de Rondnia e localizao da cidade de Vilhena............53
Figura 3: Espao que foi realizada a oficina de EA .................................................. 74
Figura 4: Turma assistindo o documentrio ............................................................. 75
Figura 5: Turma discutindo sobre o documentrio ................................................... 76
Figura 6: Saco da Reciclagem ................................................................................. 78
Figura 7: Saco da Reciclagem ................................................................................ 78
Figura 8: Lixeira da coleta seletiva ........................................................................... 81
Figura 9: Cores Internacionais da Coleta Seletiva ................................................... 82
Figura 10:Construo de Conceitos de EA pelos participantes.................................83
Figura 11:Plantio de mudas........................................................................................84
Figura 12:Confraternizao coletiva aps oficina.......................................................86
-
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Correntes de Educao Ambiental ......................................................... 36
Quadro 2- Princpios e Valores da UNIR................................................................... 50
Quadro 3- Matriz Curricular 8 perodo Pedagogia ................................................ 59
-
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 : Percentual dos participantes por gnero ............................................... 63
Grfico 2 : Categorias identificadas na questo sobre a importncia da EA ........... 65
Grfico 3 : Alternativas consideradas mais importantes para o Meio Ambiente....... 67
Grfico 4 : Aes voltadas EA consideradas pelos acadmicos............................69
Grfico 5 : Importncia da EA no currculo da Universidade.....................................70
Grfico 6 : O curso de Pedagogia da UNIR- Cmpus Vilhena deve desenvolver mais
aes para EA............................................................................................................71
-
LISTA DE SIGLAS
A Aluno (a)
AC Anlise de Contedo
CECAE Coordenadoria Executiva de Cooperao Universitria e de Atividades Especiais
CFE Conselho Federal de Educao
CNE Conselho Nacional de Educao
EA Educao Ambiental
CIEARO Comisso Interinstitucional de Educao Ambiental do Estudo de Rondnia
COM-VIDAS Comisso do Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola
CMMAD Comisso Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
CONSEA Conselho Superior Acadmico
CONSEPE Conselho de Ensino, Pesquisa e Extenso
CTG Centro de Tradies Gachas
LABEA Laboratrio de Educao Ambiental
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
FNO Fundo Constitucional de Financiamento do Norte
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
MMA Ministrio do Meio Ambiente
MEC Ministrio da Educao e Cultura
ONU Organizao das Naes Unidas
PC Plano de Curso
PCN Parmetros Curriculares Nacionais
PDI Plano de Desenvolvimento Institucional
PIN Plano de Integrao Nacional
PLANAFORO Plano Agropecurio e Florestal de Rondnia
PNEA Poltica Nacional de Educao Ambiental
PNRS Poltica Nacional de Resduos Slidos
PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento
PNUMA Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente
POLONOROESTE Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil
PPC Projeto Pedaggico de Curso
PPP Projeto Poltico Pedaggico
PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
RO Rondnia
SEDAM Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental (RO)
-
SEMARO Secretaria do Meio Ambiente de Rondnia
SEMED Secretaria Municipal de Educao
SEMMA Secretaria Municipal de Meio Ambiente
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservao
SPVEA Superintendncia do Plano de Valorizao Econmica da Amaznia
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UC Unidades de Conservao
UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao
UNIR Fundao Universidade Federal de Rondnia
USP Universidade de So Paulo
-
SUMRIO 1 INTRODUO ...................................................................................................... 14
2 DELINEAMENTO DA PESQUISA ......................................................................... 21
2.1 A Pesquisa-Ao no processo investigatrio ...................................................... 21
2.3 Procedimentos metodolgicos ........................................................................... 22
3 A EDUCAO AMBIENTAL NO CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO ...... 27
3.1 Histria e Caracterizao da Educao Ambiental ............................................. 27
3.2 Tendncias da Educao Ambiental ................................................................. 35
4 A EDUCAO AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE ................................................ 40
4.1 A Universidade no contexto brasileiro ................................................................ 40
4.2 A Insero da Educao Ambiental no currculo das Universidades .................. 42
5. A PRTICA DA EDUCAO AMBIENTAL NO CURSO DE PEDAGOGIA DA
UNIR DO CMPUS DE VILHENA ............................................................................ 46
5.1 O Estado de Rondnia e a insero da UNIR no contexto ambiental ................. 46
5.2 O Contexto da Pesquisa: a cidade de Vilhena.....................................................51
5.3 A Insero da UNIR no Estado de Rondnia e a EA no Curso de Pedagogia da
UNIR - no Cmpus de Vilhena ................................................................................. 55
5.4 Relatos dos alunos ............................................................................................ 62
5.5 Oficina de Educao Ambiental ......................................................................... 74
6 PRODUTO FINAL ...... .......................................................................................... 87
6.1 Plano de Curso reformulado.................................................................................87
6.2 Criao do Laboratrio de Ensino de EA.............................................................90
7. CONSIDERAES FINAIS ................................................................................. 92
REFERNCIAS ....................................................................................................... 95
APNDICE...............................................................................................................102
ANEXOS...................................................................................................................105
-
14
1 INTRODUO
A questo socioambiental apresenta-se como um grande desafio para a
sociedade. Ao tempo em que se fala em desenvolvimento acelerado, expanso
agrcola e utilizao dos recursos naturais em sua plenitude este movimento est
relacionado diretamente a problemas ambientais severos que tem se apresentado
cotidianamente.
Nesse sentido, a conservao e preservao ambiental, precisa estar
cotidianamente presentes nas atitudes de uma sociedade consumista que se
instalou ao longo de dcadas e, a Educao Ambiental (EA) apresenta-se como uma
forma de se vivenciar este processo de conscientizao.
De acordo com Demo (1993, p. 30), mais que deter conhecimento disponvel
sobre EA, trata-se de habilitar metodologicamente a pessoa a manej-lo e a produzi-
lo. Assim, o conhecimento por si, no constri sujeitos crticos, especialmente para
uma conscientizao ambiental, necessitam utilizar de seu conhecimento de
pertencimento local e regional a fim de estar contribuindo com aes de
sustentabilidade. O ensino nessa perspectiva, e a educao ambiental precisam
estar dialogando qualitativamente e ambiguamente.
Em 1988, foi elaborado o Relatrio da Comisso Brundtland, neste relatrio
foi sugerida a convocao pela Organizao das Naes Unidas (ONU) no Rio de
Janeiro em 1992, conhecida aps sua realizao por Rio-92. Este documento elenca
uma srie de medidas que precisam ser tomadas pelos pases envolvidos para
promover o desenvolvimento sustentvel. Destacamos algumas delas:
a) preservao dos ecossistemas e da biodiversidade;
b) diminuio do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com
uso de fontes energticas renovveis;
c) aumento da produo industrial nos pases no-industrializados com base
em tecnologias ecologicamente adaptadas;
d) atendimento das necessidades bsicas (sade, escola, moradia)
(CMMAD, 1988)1.
A questo ambiental nesse vis perpassa em nosso cotidiano, por isso se
1 CMMAD Comisso Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso Futuro Comum.
Fundao Getlio Vargas: Rio de Janeiro, 1988.
-
15
entende que a educao tem um papel fundamental em um olhar crtico do uso dos
recursos naturais num sentido maior que o de preservar para a gerao atual e
para as geraes futuras.
H algum tempo o ambiente vm sofrido substancialmente em funo da ao
antrpica de modo que esta ao tem degradado de forma prejudicial a natureza
como por exemplo o desmatamento das florestas, o assoreamento dos rios e
audes, a mudana climtica em prol cada vez mais da industrializao, etc. Deste
modo, a percepo da sociedade diante da urgncia de uma conscincia ambiental
prxis emergente. Assim, no Brasil, a preocupao com o ambiente natural tem
sido discutida cada vez mais. O processo de industrializao e a globalizao
planetria trouxeram um modelo econmico insustentvel para o planeta.
Leff (2009) entende que a crise ambiental problematiza o pensamento
metafsico e a racionalidade cientfica, abrindo novas vias de transformao do
conhecimento por meio do dilogo e hibridao dos saberes:
A crise ambiental uma crise da razo, do pensamento, do conhecimento. A educao ambiental emerge e se funda em um novo saber que ultrapassa o conhecimento objetivo das cincias. A racionalidade da modernidade pretende por prova a realidade, colocando-a fora do mundo que percebemos com os sentidos e de um saber gerado na forja do mundo da vida (p. 18)
A este respeito podemos compreender que em um ambiente natural, as
questes ambientais podem ser evidenciadas pelo modo em que os educadores
possam trabalhar a educao ambiental diante do ambiente natural como um espao
nico de vivncia dos seres e que dele necessitamos para sobreviver. Esta proposta
de entrelaamento de saberes evidenciada por ele nos incita a questionamentos
respeito das polticas ambientais proposta por Leff (2001) que determinam a
conservao e a regenerao dos recursos de uma determinao das atividades
produtiva. importante compreender que as polticas pblicas precisam estar
atreladas assim em um desenvolvimento que seja economicamente sustentvel.
Segundo Layrargues (2006), as sociedades se transformam, podendo estas
transformaes serrem profundas ou superficiais, lentas ou rpidas, graduais ou
instantneas e podem ser geradas por diversas causas como por exemplo de
natureza social, econmica, tecnolgica e inclusive natural, resultando num processo
sempre de mudanas.
-
16
Neste contraponto, Barba (2011, p.14) considera que a construo do
conhecimento frente crise ambiental leva a refletir sobre o papel da cincia frente
ao ser e ao agir do homem no mundo e nos leva, especialmente, a compreender a
complexidade da temtica ambiental na sociedade contempornea.
A educao nessa perspectiva possvel condutora de reflexes e aes
sustentveis podendo oportunizar comunidade e aos acadmicos que dela fazem
parte projetos de pesquisa e extenso contributivos a demanda ambiental instalada
atualmente. A sociedade necessita de instituies educacionais comprometidas com
a questo ambiental, para o enriquecimento do processo individual e igualmente
coletivo.
Nesta perspectiva, concordamos com Reigota (1996) quando afirma que:
[...] A educao ambiental deve ser entendida como educao poltica, no sentido de que ela reinvidica e prepara os cidados para exigir justia social, cidadania nacional e planetria, autogesto e tica nas relaes sociais e com a natureza (REIGOTA, 1996, p. 10).
Desse modo, a EA precisa ser compreendida e exercida com criticidade e
responsabilidade diante da finitude dos recursos naturais, e a Universidade deve
participar deste processo.
A Universidade, por sua vez, formadora de profissionais em diferentes reas,
deve estar inserida nesse processo de apropriao do saber ambiental voltado
responsabilidade que todos devem ter em relao ao uso do ambiente. Nesse vis,
Mathis (2001, p.17) corrobora quando afirma que:
As universidades possuem uma funo humanista e transformadora, podendo assumir papel de promotoras no processo de desenvolvimento local e regional. Isto se deve a sua alta capacidade de lidar com a complexidade e ao fato de terem condies de gerar integrao para processar as ligaes e interdependncias que existem entre as vrias dimenses do desenvolvimento (MATHIS, 2001, p.17).
Contudo, a Universidade imbuda de sentimento de criao, reflexo e ao
dos sujeitos envolvidos na sociedade na perspectiva de construo do conhecimento
permanece enquanto instituio cientfica com a funo social de promover o
entrelaamento deste saber com o cotidiano vivenciado.
De acordo com Cunha e Leite (1996, p. 82) as decises sobre o que
-
17
ensinar/aprender mostram-se vinculadas s formas de controle que vo passando,
numa perspectiva histrica, de gerao para gerao. Assim, o currculo da
Universidade muitas vezes pode no ser construdo por um coletivo, por isso
preciso se ouvir as falas de todos os sujeitos envolvidos no processo para se pensar
um projeto pedaggico que seja voltado para as realidades locais e que seja
proposto de maneira interdisciplinar.
De todo modo, a Universidade enquanto espao de reflexo configura-se na
ideia de autonomia no sentido em que, enquanto instituio educacional deve ter
caminhos percorridos em prol da sociedade em que est inserida numa prtica de
reflexo e predisposio autnoma no fazer pedaggico construtivo, contribuindo
sobremaneira para o desenvolvimento e conscientizao ambiental territorial local.
Ao trabalhar a EA enquanto problemtica ambiental local e regional no
currculo da universidade, se oportuniza discusses acerca de questes que esto
no entorno dos afazeres pedaggicos da academia. A EA utilizada como instrumento
de conscientizao e ao, deve ser considerada a partir das concepes dos
sujeitos envolvidos no processo acadmico de ensino e evidencia-se o fato da
existncia da disciplina de EA no currculo do curso de Pedagogia da UNIR a ser
ministrada no 8 perodo letivo do curso.
Nesta dimenso, a formao de professores engajados com as questes
ambientais nos parece fundamental, pois o professor em formao deve ser um
profissional reflexivo no apenas nas questes metodolgicas, mas tambm com as
questes ambientais que o cercam.
Importante salientarmos que, no processo de ensinar-aprender-ensinar, o
professor deve cotidianamente refletir sobre o meio que est inserido, tornando
assim sua prtica reflexiva e crtica. O professor deve estar atento as constantes
mudanas ocorridas na sociedade contempornea visando sempre o bem estar
coletivo enquanto sujeito educador e enquanto cidado.
Assim, esta pesquisa se faz relevante no sentido de contribuir para o
desenvolvimento da disciplina de EA oportunizando para a pesquisadora e alunos a
construo coletiva dos contedos com um olhar reflexivo e crtico no mbito dos
contedos ambientais, propondo revelar tambm a importncia desta disciplina no
contexto curricular do curso e na Universidade.
Pretendemos com esta pesquisa, identificar as percepes que os
acadmicos do 6 perodo do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de
-
18
Rondnia (UNIR) do Cmpus de Vilhena, tm em relao Educao Ambiental
(EA), Recursos Naturais, Sustentabilidade e Responsabilidade Socioambiental
enquanto sujeitos constituintes de uma comunidade local e regional com as
seguintes questes de pesquisa:
a) Que concepes os acadmicos do curso de Pedagogia da Fundao
Universidade Federal de Rondnia Cmpus de Vilhena tm a respeito da
educao Ambiental e como elas so percebidas para uma proposio de
desenvolvimento da temtica na Escola para que se d maior ateno s formas de
ver a natureza, provocando aes de manuteno crtica e reflexiva do meio em que
se vive?
b) Quais temas podem ser priorizados no ensino de EA para a formao de
professores no curso de Pedagogia da Fundao Universidade Federal de Rondnia
Cmpus de Vilhena?
c) Como o caminho de construo e conscientizao da questo ambiental
est sendo trilhado no ensino superior na perspectiva crtica de educao ambiental
em especial no curso de Pedagogia- Cmpus de Vilhena?
Deste modo, temos como objetivo geral identificar quais as concepes dos
acadmicos do curso de Pedagogia Campus de Vilhena/UNIR tem sobre
educao ambiental e como percebem se importante ou no a EA na formao de
futuros educadores.
Os objetivos especficos foram assim definidos:
- Analisar quais concepes os acadmicos do curso de Pedagogia
Campus Vilhena/UNIR tem sobre educao ambiental e como estas so percebidas
atravs de um questionrio para uma proposio de desenvolvimento da temtica na
Escola para que se d maior ateno s formas de ver a natureza, podendo
colaborar na construo de intervenes e aes mais conscientes e coletivas na
questo ambiental;
- Identificar quais temas so priorizados no ensino de Educao Ambiental
para a formao de professores no curso de Pedagogia da Fundao Universidade
Federal de Rondnia Cmpus de Vilhena;
- Compreender como o caminho de construo e conscientizao da questo
ambiental est sendo trilhado no ensino superior na perspectiva crtica da educao
ambiental,
-
19
- Promover uma oficina sobre EA dos principais problemas levantados na
pesquisa afim de se identificar as concepes dos acadmicos frente a esta e sua
importncia para a confeco dos produtos finais propostos na pesquisa,
- Propor a reelaborao do Plano de Ensino da disciplina de Educao
Ambiental a partir das concluses da pesquisa para servir de apoio no ensino e na
extenso das temticas ambientais como um espao de reflexo e confeco de
material didtico-pedaggico para uso dos acadmicos do curso de Pedagogia.-
Cmpus de Vilhena.
Assim, entendemos que a Universidade, co-participante na construo de
uma viso crtica e emancipadora de EA na consolidao de uma sociedade
sustentvel. Nesta questo, corrobora Zainko (1998, p. 72-73) quando diz que a
vocao cientfica da Universidade depende da realizao de projetos e programas
de formao e de pesquisa, pois enquanto uma instituio social, a Universidade
deve desenvolver em seu interior o desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da
extenso.
Este texto est organizado em sete sees. Primeiramente, apresentamos a
Introduo com consideraes sobre a necessidade da conscincia ambiental e o
motivo desta preocupao, as questes de pesquisa, os objetivos propostos e a
caracterizao da cidade de Vilhena que a localizao de residncia dos
acadmicos participantes da pesquisa.
Na segunda seo, descrevemos o Delineamento da Pesquisa com o enfoque
metodolgico da Pesquisa-ao, procedimentos da coleta e da anlise de dados.
A Reviso de Literatura apresentada na terceira e quarta seo com a
abordagem dos autores da Educao Ambiental mais relevantes para a construo
terica abordando temas como a EA se insere no contexto educacional brasileiro e a
insero da EA na Universidade.
A quinta seo est subdividida em quatro partes que compem a
caracterizao da ocupao do Estado de Rondnia (RO) e seus decorrentes
enlaces ambientais e histricos e a insero da UNIR neste contexto ambiental,
descrevendo um breve histrico da instituio e seus cmpus especificamente o
Cmpus de Vilhena. Esta seo traz tambm um tpico sobre a importncia e
realizao de oficinas de EA para a construo de um sujeito crtico e atuante,
descrevendo a oficina realizada para coleta de dados. Nesta seo ainda, analisa os
dados obtidos a partir da anlise de contedo descrita por Bardin (1977) obtidos pelo
-
20
questionrio aplicado e a oficina realizada.
A sexta e stima seo do estudo, respectivamente revelam uma proposta de
plano de curso como produto final e a criao de uma Laboratrio de Educao
Ambiental como subproduto da pesquisa para o processo investigatrio realizado e a
reflexo sobre as consideraes finais apresentadas.
-
21
2. DELINEAMENTO DA PESQUISA
2.1 A Pesquisa ao no processo investigatrio
A pesquisa no campo da Educao, segundo Tozoni-Reis (2010, p.1), tem
como principal objetivo a interpretao do fenmeno educativo, porque ns,
educadores, necessitamos produzir conhecimentos sobre os fenmenos educativos
presentes em nosso cotidiano.
Este processo est evidenciado pela pesquisa qualitativa que de acordo com
Almeida Jnior (1997) atende as novas necessidades do reconhecimento acadmico
que podem ser atendidas no momento em que as escolas modifiquem suas aes e
atuem conjuntamente com docentes e discentes, de maneira que ambos atualizem
um espao novo de ensino-aprendizagem em resposta s exigncias sociais. Essa
dinmica que foi referida faz-se importante do dilogo constante entre o professor e
o aluno, no processo de ensinar-aprender-ensinar. O professor universitrio deve
estar sempre atento a sua prtica no sentido de ajust-la de acordo com as
demandas apresentadas e a realidade vivenciada o contexto da relao entre a
teoria e a prtica.
Tal evidncia pode ser compreendida pelo trip ensino-pesquisa-extenso
enquanto uma prtica do universo pedaggico da universidade brasileira.
importante pensar em uma educao que entrelace estes sentidos acadmicos com
outros saberes. Assim, a extenso necessita estar atrelada ao ensino, que o
alicerce bsico da formao acadmica, e estas atividades pesquisa qualitativa
que enriquece e aprimora os conhecimentos e vivncias no contexto no ensino.
Assim, consideramos esta pesquisa como qualitativa caracterizada como um
estudo de caso. De acordo com Ludke e Andr (1986, p.17) um estudo de caso, seja
ele simples ou especfico, deve ser bem delimitado e ter seus contornos claramente
definidos no estudo.
Assim, optou-se pelo estudo de caso caracterizado como pesquisa-ao
como uma proposta metodolgica de interveno em uma turma do 6 perodo do
Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Rondnia, Cmpus de Vilhena e,
que contempla em sua matriz curricular a disciplina de Educao Ambiental prevista
para ser ministrada no 8 perodo dos cursantes.
-
22
A pesquisa props uma investigao da pesquisa ao sobre os
conhecimentos e reflexes que podem ser construdas com acadmicos do Curso
de Pedagogia, pois estes so produtos das vivncias dos sujeitos que investigam e
dos sujeitos participantes da pesquisa proposta.
Em relao a pesquisa-ao, usamos a contribuio de Thiollent (1988, p.9):
A pesquisa-ao corresponde a um contexto emprico voltado para a descrio de situaes concretas e para a interveno ou a ao orientada em funo da resoluo de problemas efetivamente detectados nas coletividades pesquisadas.
A pesquisa-ao neste estudo foi nossa escolha metodolgica de percurso.
Como sabemos, uma pesquisa-ao deve promover o envolvimento tanto dos
sujeitos participantes como do prprio pesquisador afim deste poder modificar sua
prtica. A pesquisa-ao, neste sentido favorece esta prtica e reflexo para a
transformao da mesma.
Neste aspecto, afirma Tozoni-Reis (2010, p. 48):
A metodologia da pesquisa-ao articula a produo de conhecimentos com a ao educativa. Por um lado investiga, produz conhecimentos sobre a realidade a ser estudada e, por outro, realiza um processo educativo para o enfrentamento dessa mesma realidade.
A este respeito, entendemos que a metodologia da pesquisa-ao proposta
por Tozzoni-Reis na Educao Ambiental foi fundamental para desenvolvermos as
atividades educativas com os alunos do 6 perodo do Curso de Pedagogia da
Universidade Federal de Rondnia, Cmpus de Vilhena, de modo que se pode
investigar o aprendizado dos mesmos no campo educacional.
2.2 Procedimentos Metodolgicos
De acordo com Duarte (2002) uma pesquisa sempre, de alguma forma, um
relato de longa viagem empreendida por um sujeito cujo olhar vasculha lugares
muitas vezes j visitados. Nada de absolutamente original, portanto, mas um modo
diferente de olhar e pensar determinada realidade a partir de uma experincia e de
uma apropriao do conhecimento que so, a sim, bastante pessoais.
Inicialmente utilizou-se da pesquisa bibliogrfica para fundamentao terica
-
23
explicitando e discutindo aspectos relevantes da temticas embasadas
principalmente em Loureiro (2000, 2012), Tozoni-Reis (2010) e Carvalho (2001,
2008).
Na pesquisa descritiva, optou-se por utilizar os seguintes instrumentos de
coleta de dados com os alunos do 6 perodo: a) um questionrio com perguntas
abertas e fechadas, b) a oficina partindo das demandas percebidas no questionrio e
c) o udio da oficina em relao s falas dos participantes durante a discusso e
reflexo das temticas apresentadas.
Neste estudo, revelaram-se questionamentos na oficina vivenciada
permeando temticas sobre a concepo de EA racionalista, ou seja, proposies
de aes veiculadas pela mdia acerca do que EA. Os questionamentos a este
respeito foram definidos do seguinte modo: a) A importncia da disciplina de EA no
currculo da universidade pode contribuir com a sociedade? b) Que implicaes tem
para o coletivo concepes efetivas e reflexivas sobre a importncia da preservao
do meio ambiente? c) Que pontos e contrapontos existe entre os princpios e valores
da universidade e da regio?
Os sujeitos participantes da pesquisa foram os acadmicos do 6 perodo do
curso de Pedagogia do Cmpus Vilhena da UNIR em um total de 21 que assinaram
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) submetido e aprovado ao
Comit de tica em Pesquisa da UNIR com o nmero de protocolo CAAE
44833815.0.0000.5300. Propomos turma a participao em uma oficina de EA
realizada por esta pesquisadora para criar um espao de discusso acerca da
problemtica ambiental e construo posterior do Plano de Curso da disciplina de
EA. Considerando assim que a turma em tela dever cursar a disciplina de EA no
final do curso, pretendemos enriquecer e otimizar a prtica desta disciplina
envolvendo as concepes destes sujeitos na construo da mesma para uma
conscincia ambiental plena.
Deste modo, a apropriao dos sujeitos envolvidos foi proposta nas atividades
prticas.
Propomos aos acadmicos que respondessem um questionrio com
perguntas fechadas e abertas. Este questionrio serviu como embasamento da
proposio de uma oficina para podermos trabalhar as questes apresentadas nas
respostas acerca sobre a concepo de educao ambiental.
-
24
O processo de realizao do questionrio foi em uma aula dentro do horrio
dos acadmicos de semana letiva. O questionrio props questes que pudessem
estar realizando reflexes destes sobre suas percepes em relao problemtica
ambiental atual, para alm dos fatos que aparecem na mdia.
De acordo com Gil (2008, p. 121) pode-se definir questionrio como a tcnica
de investigao composta por um conjunto de questes que so submetidas a
pessoas com o propsito de obter informaes sobre conhecimentos, crenas,
sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspiraes, temores, comportamento
presente ou passado.
Assim, as questes propostas no questionrio, foram voltadas as concepes
dos sujeitos sobre EA. O quantitativo de participantes foi 21 sujeitos. Dentre estes,
perguntamos inicialmente, sobre a idade e o gnero com a finalidade de identificar
dados sociodemogrficos dos mesmos. A idade levantada a partir da questo sobre
a idade apresentou uma mdia de 20 a 42 anos. O roteiro do questionrio completo
encontra-se no Apndice.
As demais etapas da pesquisa, aps a aplicao do questionrio foram o
levantamento das principais temticas pontuadas neste, a organizao de uma
oficina de educao ambiental com 21 (vinte e um) acadmicos da turma do 6
semestre do Curso de Pedagogia que aceitaram estar participando da atividade.
Desse modo, realizarmos a oficina de EA com a seguinte sequncia de
atividades:
a) Introduo da importncia da temtica ambiental dentro da Universidade
oralmente realizada pela pesquisadora, a proposio de exibio do documentrio
A Histria das Coisas,
b) discusso sobre o documentrio e identificao das temticas que se
realaram no mesmo,
c) atividade do saco da reciclagem juntamente com a lixeira da coleta seletiva,
discusso sobre as cores internacionais de coleta seletiva a partir de um cartaz
confeccionado previamente pela pesquisadora com as dez cores relacionadas e
suas destinaes,
d) distribuio de um material pr-organizado com as cores internacionais da
coletiva seletiva com a finalidade de gerar reflexes e percepes para os
participantes que nem tudo o que produzido pode ser descartado e reciclado e a
confeco em grupo de cartazes com a formulao do conceito de EA com a
-
25
contribuio de todos do grupo e aps estes conceitos foram socializados no grande
grupo formando um cartaz nico com os conceitos, a proposio de um plantio de
mudas de modo que os sujeitos percebessem a importncia do reflorestamento para
o restabelecimento da fauna silvestre local.
A oficina, em sua essncia foi planejada a partir das reflexes e percepes
dos acadmicos. Alguns tpicos apareceram mais nos questionrios e respostas
apresentadas como sustentvel, cuidado com o planeta de forma generalizada,
legislao ambiental, destinao do lixo e reciclagem. Devemos destacar que a
reciclagem foi a que mais pontuou entre as respostas dadas. A partir destes olhares
a oficina foi planejada de modo que oportunizasse maiores reflexes e contato com
materiais concretos dentro das temticas identificadas no questionrio.
No caso especfico desta pesquisa, a oficina, para alm da construo de
conceitos vazios e longnquos de suas realidades. Assim, o pesquisador ao utilizar-
se da pesquisa qualitativa possui mais clareza e completude do que o sujeito
participante espera e trs para a contribuio coletiva de conceitos ambientais na
perspectiva do fazer metodolgico aliado a sua prtica cotidiana.
Para anlise dos Dados, utilizou-se a Anlise de contedo proposta por
Bardin (1977):
A anlise de contedo um conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes. No se trata de um instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com maior rigor, ser um nico instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de formas e adaptvel a um campo de aplicao muito vasto: as comunicaes. Documentos e objectivos dos investigadores, podendo ser bastante diferentes os procedimentos de anlise [...] (p.31).
As categorias de anlise identificadas nas categorias das respostas
apresentadas nas respostas dos participantes expostas no questionrio foram
obtidas por diferentes instrumentos embasados nas informaes prestadas pelos
sujeitos pesquisados.
As questes foram analisadas de acordo com a Anlise de Contedo (AC),
descrita por Bardin (1977) e foram propostas dentre outras, concepo sobre EA,
sustentabilidade, currculo da Universidade e a insero da EA neste, dados
sciodemogrficos dos sujeitos participantes e a importncia da EA para a
conscincia ecolgica.
Optou-se pelas categorias de anlise propostas por Sauv (2005), a partir da
-
26
anlise dos relatos da oficina e do questionrio proposto primeiramente que
identificamos algumas categorias de anlise.
-
27
3. A EDUCAO AMBIENTAL NO CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO
3.1 contexto histrico da Educao Ambiental no Brasil
O planeta vem sofrendo com o processo de globalizao que gerou um
desenvolvimento global, danoso ao ambiente natural. Sabemos, pois que quanto
maior o consumo maior o descarte de materiais e a produo de lixo.
Na obra A Implantao da Educao Ambiental no Brasil (1998) publicada
pela Coordenao de Educao Ambiental do Ministrio de Educao e Desporto
trouxemos uma citao que expressa claramente esta problemtica:
Chegamos aos dias de hoje. Visualize uma criana que nasceu e sempre viveu em situao confortvel, numa cidade grande. Para ela, o abrigo est nas casas; os alimentos e os outros produtos vitais para a sobrevivncia vm das lojas; a gua lhe chega, j tratada, pelas torneiras; o lixo deve ser recolhido para ser levado aonde os olhos no vm; gua usada vira esgoto que se vai por um cano para dentro do solo, e a maior parte do solo foi recoberto por asfalto ou cimento, evitando a sujeira. Para esta criana, a natureza est l longe [...] Por outro lado, a palavra poluio (do ar, da gua, ou do solo) lhe ser familiar. A cidade seu ambiente e a no ser que tenha aprendido e compreendido que h uma relao de dependncia entre o meio urbano e o rural ela nem imaginar que cidades modernas so parasitas do ambiente rural, como j escreveu o importante eclogo Eugene Odum, ao lembrar que, da maneira pela qual a cidade administrada, quase tudo vem de fora: a energia, os alimentos e os outros materiais orgnicos, como a madeira e demais matrias primas. Alm disso, a cidade no purifica o ar e recicla pouca ou nenhuma gua ou materiais inorgnicos (BRASIL, MEC, 1998, p. 22).
Nesse sentido, necessrio mudar a configurao ambiental local e mundial.
No tarefa fcil, mas devemos enquanto educadores em formao refletir atuar na
contramo do desequilbrio ambiental. A sociedade precisa repensar seu papel junto
natureza para alm da sobrevivncia. preciso, existir uma interveno poltica e
cultural na perspectiva de conscientizao da necessidade de preservao do
ambiente.
As transformaes que vm ocorrendo em nosso planeta so emergentes.
Vrias aes vem sendo feitas a favor de uma mudana comportamental em relao
ao uso dos recursos naturais, mas acreditamos que ainda so poucas e morosas na
contramo do que se pudesse estar realizando. O que queremos dizer que
-
28
sabemos que as tecnologias vm acompanhadas de desenvolvimento e este afeta
de alguma forma o ambiente natural na medida em que sobrecarrega o ambiente
com construes de estradas,
Podemos afirmar que a preocupao com o ambiente recente, mas nem por
isso deixamos de registrar alguns movimentos que ocorreram em funo desta
preocupao.
Na dcada de 60, a obra de Rachel Carson2 j alertava sobre os efeitos
danosos que as aes do homem poderiam provocar no ambiente. No Brasil, cria-se
em 1965 o Cdigo Florestal Brasileiro, regido pela Lei n 4.771, de 15 de setembro
de 1965, este como primeira tentativa de preservao ambiental em solo brasileiro.
A dcada de 70 do sculo XX foi marcante com a proposio da Conferncia
das Naes sobre o Ambiente Humano em Estocolmo. A Declarao de Estocolmo
prope que tanto as geraes futuras como a presente tenham em seu cotidiano um
ambiente sustentvel. Em 1972, criado pela Organizao das Naes Unidas
(ONU) um organismo denominado Programa das Naes Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA), sediado em Nairobi.
O PNUMA tem entre seus principais objetivos, manter o estado do meio
ambiente global sob contnuo monitoramento; alertar povos e naes sobre
problemas e ameaas ao meio ambiente e recomendar medidas para melhorar a
qualidade de vida da populao sem comprometer os recursos e servios ambientais
das geraes futuras. No Brasil, trabalha para disseminar, entre seus parceiros e a
sociedade em geral, informaes sobre acordos ambientais, programas,
metodologias e conhecimentos em temas ambientais relevantes da agenda global e
regional e, por outro lado, para promover uma participao e contribuio mais
intensa de especialistas e instituies brasileiras em fruns, iniciativas e aes
internacionais. O PNUMA opera ainda em estreita coordenao com organismos
regionais e subregionais e cooperantes bilaterais, bem como com outras agncias
do Sistema ONU instaladas no pas (ONU, 2015).
Em 1975, no Brasil, o Conselho Federal de Educao tornou obrigatria a
disciplina de Cincias Ambientais em cursos universitrios de Engenharia. (MMA,
2015, p. 1). Ainda neste ano, foi elaborada a Carta de Belgrado que prope temas
que falam que a erradicao das causas bsicas da pobreza como a fome, o
2 Livro A Primavera Silenciosa de Rachel Carson, escritora e biloga americana, publicado em 1962.
-
29
analfabetismo, a poluio, a explorao e dominao, devam ser tratados em
conjunto. Nenhuma nao, nesses aspectos deve se desenvolver as custas de outra
nao, havendo necessidade de uma tica global. A reforma dos processos e
sistemas educacionais central para a constatao dessa nova tica de
desenvolvimento. A juventude deve de acordo com o documento receber um novo
tipo de educao que requer um novo e produtivo relacionamento entre estudantes e
professores, entre escolas e comunidade, entre o sistema educacional e sociedade.
Finaliza com a proposta para um programa mundial de Educao Ambiental.(MMA,
2015)
J em 1977, a Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e
a Cultura (UNESCO) organiza a Conferncia Intergovernamental de Educao
Ambiental em Tbilisi. Nesta conferncia, foram debatidos os objetivos, as
caractersticas da EA, assim como as estratgias pertinentes no plano nacional e
internacional.
A dcada de 80 marcada pela declarao da Constituio da Repblica
Federativa do Brasil que dedicou o Captulo VI ao Meio Ambiente e no Art. 225,
Inciso VI, determina ao [...] Poder Pblico, promover a Educao Ambiental em
todos os nveis de ensino [...]. Realizou-se tambm neste ano, o Primeiro
Congresso Brasileiro de Educao Ambiental no Rio Grande do Sul e a realizao
do Primeiro Frum de Educao Ambiental promovido pela CECAE/USP, que mais
tarde foi assumido pela Rede Brasileira de Educao Ambiental. (MMA, 2015 )
O movimento maior com a preocupao do ambiente natural foi promovido a
partir dos anos 80, do sculo XX
Segundo Morales (2009) a EA, no Brasil, emerge na dcada de 1980 com a
crescente institucionalizao no cenrio das polticas pblicas, podendo ser
destacadas: a Lei Federal n. 6.938/81, que estabelece a Poltica Nacional do Meio
Ambiente, em que a educao ambiental situada como um dos componentes que
contribui na soluo dos problemas ambientais e ofertada em todos os nveis de
ensino (EA formal) e na comunidade (EA no-formal), consolidando a poltica
ambiental do Pas e a Constituio Federal de 1988, que destaca, no Artigo 225,
captulo VI, o meio ambiente, abordando a promoo da educao ambiental em
todos os nveis de ensino e conscientizao pblica para a preservao do meio
ambiente.
A dcada de 90 por sua vez, marcada por fatos importantes relativos
-
30
questo ambiental. No ano de 1990, a Declarao Mundial sobre Educao para
Todos: Satisfao das Necessidades Bsicas de Aprendizagem, aprovada na
Conferncia Mundial sobre Educao para Todos, realizada em Jontien, Tailndia,
de 5 a 9 de maro de 1990, reitera: confere aos membros de uma sociedade a
possibilidade e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de respeitar e desenvolver a
sua herana cultural, e espiritual, de promover a educao de outros, de defender a
causa da justia social, de proteger o meio ambiente.... (MMA, 2015, p.2).
Em 1991, o MEC, determina que a EA deveria ser contemplada no currculo
escolar em todas as modalidades de ensino. No ano de 1992, acontece importante
Conferncia realizada pela ONU, no Rio de Janeiro, denominada RIO-92 com o
objetivo de socializar os resultados das experincias nacionais e internacionais de
EA, discutir metodologias e currculos. Do encontro resultou a Carta Brasileira para a
Educao Ambiental (MMA, 2015, p. 3).
A partir da ECO-92 elaborou-se e promoveu-se mais encontros reflexivos e
aes voltadas a questo ambiental, tanto governamentalmente quanto nas
instituies educacionais.
Finalmente, em consonncia com a preocupao de se debater a questo
ambiental nos currculos escolares de modo interdisciplinar foi promulgada em 1999,
a Lei n 9.795 de 27 de abril de 1999 que instituiu a Poltica Nacional de Educao
Ambiental (PNEA), tornando explcita o conceito de EA:
Art. 1o Entendem-se por educao ambiental os processos por meio dos quais o indivduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias voltadas para a conservao do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999, p. 1).
Nos artigos 2 e 3 da referida lei, o comprometimento de todos os segmentos
da sociedade para a preservao ambiental e severidade desta problemtica que
estes sujeitos devem perceber:
Art. 2o A educao ambiental um componente essencial e permanente da educao nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os nveis e modalidades do processo educativo, em carter formal e no-formal. Art. 3o Como parte do processo educativo mais amplo, todos tm direito educao ambiental, incumbindo: I ao Poder Pblico, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituio Federal, definir polticas pblicas que incorporem a dimenso
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art205http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art225http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art225
-
31
ambiental, promover a educao ambiental em todos os nveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservao, recuperao e melhoria do meio ambiente; II s instituies educativas, promover a educao ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem; III aos rgos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente Sisnama, promover aes de educao ambiental integradas aos programas de conservao, recuperao e melhoria do meio ambiente; IV aos meios de comunicao de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminao de informaes e prticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimenso ambiental em sua programao; V s empresas, entidades de classe, instituies pblicas e privadas, promover programas destinados capacitao dos trabalhadores, visando melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercusses do processo produtivo no meio ambiente; VI sociedade como um todo, manter ateno permanente formao de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuao individual e coletiva voltada para a preveno, a identificao e a soluo de problemas ambientais (BRASIL, 1999, p. 1).
Percebemos que necessrio o envolvimento de toda a sociedade em prol da
preservao do ambiente, pois os discursos solitrios, no adiantam se no tivermos
uma ao conjunta para a prtica do cuidado e da conscincia ambiental.
Depois de muitos debates e embates da sociedade brasileira, em 2012
promulgada a Lei n 12.651, de 25 de maio de 2012, que cria o Novo Cdigo
Florestal Brasileiro. No mesmo ano, ele foi alterado pela Lei n 12.727, de 17 de
outubro de 2012. O novo cdigo regula os limites de uso da propriedade, proteo
da vegetao, reas de Preservao Permanente e as reas de Reserva Legal; a
explorao florestal, o suprimento de matria-prima florestal, o controle da origem
dos produtos florestais e o controle e preveno dos incndios florestais, e prev
instrumentos econmicos e financeiros para o alcance de seus objetivos.
Os Projetos de Colonizao para a Amaznia, como SUDAMSUDENE
BASA PIN PROTERRA INCRA I e II PND da Amaznia; POLOAMAZONIA
POLONOROESTE PLANAFLORO - PROJETO CALHA NORTE que foram
pensados dentro de um processo evidenciado pelo capitalismo multinacional que
tinham como finalidade assegurar a produo da nova fronteira agrcola no norte do
pas que fora determinada pelos produtos industrializados no CentroSul, mantendo
o poderio econmico da regio.
A criao do Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil
-
32
(POLONOROESTE)3 foi feita pelo Decreto N 86.029, de 27 de maio de 1981 que
dispunha este programa e teve como objetivos de acordo com o decreto: concorrer
para a maior integrao nacional; II - promover a adequada ocupao demogrfica
da regio-programa, absorvendo populaes economicamente marginalizadas de
outras regies e proporcionando emprego; Ill - lograr o aumento significativo na
produo da regio e na renda de sua populao; IV - favorecer a reduo das
disparidades de desenvolvimento, a nveis inter e intra-regionais; e V - assegurar o
crescimento da produo em harmonia com as preocupaes de preservao do
sistema ecolgico e de proteo s comunidades indgenas(BRASIL, 1981, p.2).
Em Rondnia, o movimento ambientalista teve ascenses e quedas. De
acordo com Almeida (2009):
Nos anos anteriores a dcada 70 o sistema de produo empregados no estado de Rondnia estava fincada sobre o extrativismo da borracha, da castanha e de outros produtos regionais, mas ao longo dos ltimos trinta anos, foi palco de profundas transformaes, inmeros projetos foram implantados visando organizao e integrao do espao geogrfico rondoniense, a poltica pblica federal para esta regio visava especialmente induo do povoamento e foi promotora do deslocamento de milhares de migrantes. Fundada na necessidade de aliviar a presso demogrfica dos centros de maior densidade populacional do pas, ligada poltica excludente de acesso a terra e calcada no modelo de produo de gros para exportao (p. 5).
O estado de Rondnia sofreu substancialmente em funo justamente da
proposta de colonizao da poca, principalmente na dcada de 70.
Outro momento que no podemos deixar de registrar em nosso trabalho
afirmao de Almeida (2009) que enfatiza que com a criao da SEMARO4 e, por
conseguinte do Departamento de Educao Ambiental constituiu-se num avano
significativo para o estado, uma vez que passou a fiscalizar, controlando e
informando todas as atividades relacionadas ao Meio Ambiente.
O projeto COM VIDAS5, que um projeto em parceria com as escolas e o
3 Compreendeu a rea de influncia da ligao rodoviria Cuiab - Porto Velho, abrangendo o oeste e
o noroeste do Estado de Mato Grosso (municpios de Cuiab, Vrzea Grande, Nossa Senhora do Livramento, Pocon, Cceres, Mirassol d'Oeste, Barra do Bugres, Tangar da Serra, Vila Bela da Santssima Trindade, a parte a Oeste do rio Roosevelt, no Municpio de Aripuan) e o Territrio Federal de Rondnia. 4 Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Estado de Rondnia.
5 A COM-VIDA uma nova forma de organizao na escola e se baseia na participao de
estudantes, professores, funcionrios, diretores, comunidade. Quem organiza a COM-VIDA o
-
33
MMA, outra alternativa que o estado de RO possui para que conscientize os jovens
e crianas dentro dos espaos escolares na busca de uma conscincia crtica entre
o espao escolar e a responsabilidade socioambiental e ajudando a formular a
Agenda 216.
Nesse vis, conforme Almeida e Gallo (2006) apesar da colonizao ter sido
danosa do ponto de vista ambiental, houve algumas prticas de EA em Rondnia:
[...]Pode-se dizer que a EA em Rondnia passou a existir de fato nas polticas estaduais a partir do PLANAFORO7 que apesar dos desvios de recursos, gastos excessivos com mquinas governamentais e nas obras de infra-estrutura, desmatamento e conflitos pela terra, entre outros, financiou experincias interessantes em EA como programas de rdio cursos de capacitao de professores e encontros com comunidades do entorno das unidades de conservao.[...] Outro aspecto positivo para o estado de Rondnia foi em 1981, que atravs do Decreto 3782, de 14.06.88 criou a primeira aproximao do Zoneamento Scio Econmico- Ecolgico do Estado de Rondnia, pois reconheceu que os projetos governamentais e as atividades produtivas devem se adaptar s caractersticas ambientais locais e que nos planos de desenvolvimento regional deve ser considerada a presena de populaes tradicionais.(2006, p. 4)
Destarte, Almeida (2009) contribui relacionando a importncia da criao da
CIEARO8 para o estado de RO, pois essa comisso foi um ponto estratgico para a
articulao de um frum de discusso de poltica pblica em EA no Estado de
Rondnia, mas no teve muito xito nem muita visibilidade por ter passado pelo
controle de diversos rgos e nunca ter sido institucionalizada, o que est
delegado ou a delegada e seu suplente da Conferncia de Meio Ambiente na Escola, com o apoio de professores. O principal papel da COM-VIDA contribuir para um dia-a-dia participativo, democrtico, animado e saudvel na escola, promovendo o intercmbio entre a escola e a comunidade. Por isso, a COM-VIDA chega para somar esforos com outras organizaes da escola, como o Grmio Estudantil, a Associao de Pais e Mestres e o Conselho da Escola, trazendo a Educao Ambiental para todas as disciplinas. . Disponvel em http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/com-vida.pdf. Acesso em 20 mar.2016 6 A Agenda 21 um plano de ao aprovado na Conferncia das Naes Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, realizada no Rio de Janeiro. Na Agenda 21 esto definidos os compromissos que 179 pases assinaram e assumiram de construir um novo modelo de desenvolvimento que resulte em melhor qualidade de vida para a humanidade e que seja econmica, social e ambientalmente sustentvel. Desde 2002, o nosso pas tem uma Agenda 21 Brasileira, feita com a participao de milhares de pessoas. Disponvel em http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/com-vida.pdf. Acesso em 20 mar.2016. 7 PLANAFORO (Plano Agropecurio e Florestal de Rondnia), concebido para dar seguimento e
aperfeioar programas especiais de investimento, a exemplo do Poloamaznia, e procurando corrigir os impactos ambientais negativos do Polonoroeste, bem como realizar grandes investimentos pblicos em infraestrutura e fortalecimento institucional do setor pblico e de setores no-governamentais.(FERREIRA, ARAUJO E MARQUES, 2006, p.1) 8 Comisso Interinstitucional de Educao Ambiental do Estado de Rondnia.
http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/com-vida.pdfhttp://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/com-vida.pdfhttp://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/com-vida.pdf
-
34
acontecendo agora com o decreto e a definio do regulamento, por nunca ter
havido uma sede no existe um registro histrico da comisso (ALMEIDA, 2009,
p.9).
O municpio de Vilhena, tambm participou do COM-VIDAS com o
engajamento de algumas escolas, pois possui dentro de sua Secretaria Municipal de
Educao (SEMED)9 um Departamento de Educao Ambiental o qual nos informou
que algumas escolas possuem projetos de EA. Identificamos no municpio tambm,
a existncia da SEMMA10 (Secretaria Municipal do Meio Ambiente) que tem como
objetivos principais:
A SEMMA tem a funo de operacionalmente planejar, formular, coordenar e acompanhar a execuo e avaliao da poltica ambiental e da conservao dos ecossistemas do municpio, com nfase na proteo do meio ambiente e combater a poluio urbana, de efetuar o licenciamento ambiental das atividades previstas em lei; orientar, fiscalizar e aprovar atividades que potencialmente causem agresso ambiental; conservar as espcies ameaadas ou raras ou em perigo de extino, inclusive apreenso de animais e plantas silvestres capturadas ilegalmente; elaborar projetos e definir prioridades de recuperao e conservao de reas de preservao; operar o aterro sanitrio e os locais de destinao de resduos especiais; educao ambiental; produzir, atravs do viveiro municipal, mudas para utilizao em ajardinamento e arborizao de vias e espaos pblicos e para a distribuio populao em geral em determinados eventos (VILHENA, SEMMA, 2016, p.1, grifo nosso).
Consideramos extremamente, a existncia da SEMMA na cidade de Vilhena
no sentido de mostrar que possui previso de aes relativas conservao do
ambiente do municpio.
Desse modo, as legislaes que hoje vigoram sobre a questo ambiental e a
necessidade de preservao, perfazem um caminho de comprometimento de todos
os sujeitos da sociedade diante da gerao de conflitos sociais, pois como nos
afirma Bert (2009):
Tambm na rea ambiental, a ideia de conflito est associada ao controle de recursos, que hoje se sabe, so limitados e no podem ser usados indiscriminadamente, pois o uso intensivo dos recursos
9 Secretaria Municipal de Educao. Disponvel em
http://vilhena.ro.gov.br/index.php?sessao=91ea5f2a59sv91&id=2510. Acesso em 30 mar.2016. 10
Disponvel em http://vilhena.ro.gov.br/index.php?sessao=d35ef008e2svd3&id=2523. Acesso em 25 de mar.2016.
http://vilhena.ro.gov.br/index.php?sessao=91ea5f2a59sv91&id=2510http://vilhena.ro.gov.br/index.php?sessao=d35ef008e2svd3&id=2523
-
35
ambientais tem provocado tanto sua escassez quanto o comprometimento da qualidade ambiental. Situao que tem suscitado uma srie de campanhas que motivam a sociedade a evitar o desperdcio estamos, pois na era do reutilizar, do reciclar, do dar destinao adequada, do evitar certos consumos (sacolas plsticas, desperdcio de gua e luz, etc) e do identificar os produtos que possibilitam uma melhor qualidade de vida (p. 64, grifos do autor).
A EA neste sentido prope embasamento terico-reflexivo que aes efetivas
de busca na sustentabilidade planetria sejam realizadas, no apenas com aes
individuais, mas que esta conscincia se torne coletiva na medida que tenha a maior
abrangncia possvel de interao desta tanto em nvel local como global. No
queremos dizer com isso que as aes individuais no so importantes, pelo
contrrio. destas aes que podemos, enquanto sujeitos inseridos em uma
sociedade para que possamos estar contribuindo para uma melhor compreenso do
alto risco que o ambiente est correndo neste uso irracional dos recursos naturais.
3.2 Caractersticas e Tendncias da Educao Ambiental
A educao ambiental, no contexto mundial, afirma e reafirma a necessidade
de se considerar as diversas dimenses, tornando-se visvel a abordagem
interdisciplinar e sistmica que impera nesse novo saber ambiental (MORALES,
2009, p. 4). Ainda hoje percebemos que existe um discurso defensionista de EA.
Diante deste fato podemos comprovar nos discursos e documentos que vm ao
longo tempo construir uma EA crtica. No tarefa fcil, pois os atores sociais
perpetuam uma viso fragmentada e utilitarista de natureza.
Segundo Layrargues (2004), a educao ambiental promotora e resultante
de vrias relaes em cada contexto histrico e, ao mesmo tempo em que permite a
mudana, pela ao problematizadora, pode, dependendo de como est estruturada
e de qual finalidade cumpre na sociedade, ser um meio de reproduo de formas
excludentes, opressoras e dicotmicas de se viver (LAYRARGUES, 2004, p. 77).
Esta relao a qual o autor aborda, especificamente no contexto histrico,
compreendem ser relevante, pois no espao histrico-social que os indivduos se
constituem como cidados.
Nesta perspectiva, surgem algumas correntes que ao longo deste tempo
foram surgindo afim de que se possa entender a EA como uma necessidade urgente
-
36
e como o cidado inserido na sociedade compreende esta necessidade.
Segundo Sauv (2005) coexistem diversas tendncias em EA. Para a autora
a noo de tendncia refere-se perspectiva terico-metodolgica, ou seja, uma
maneira geral de conceber e praticar educao ambiental.
Desta forma, apresentamos abaixo um quadro comparativo de acordo com
Sauv, sobre estas correntes, no sentido de visualizar os diferentes modos de se
conceber a EA como forma de entender o significado de ambiente:
Quadro 1 A tipologia das concepes sobre o ambiente na EA
Ambiente Relao Caractersticas Metodologias
Como natureza
para ser apreciado e preservado
natureza como catedral, ou como um tero, pura e original
exibies; imerso na natureza
Como recurso para ser gerenciado
herana biofsica coletiva, qualidade de vida
campanha dos 3 R; auditorias
Como problema
para ser resolvido nfase na poluio, deteriorizao e ameaas
resoluo de problemas; estudos de caso
Como lugar para viver
EA para, sobre e no para cuidar do ambiente
a natureza com os seus componentes sociais, histricos e tecnolgicos
projetos de jardinagem; lugares ou lendas sobre a natureza
Como biosfera
como local para ser dividido
espaonave Terra, Gaia, a interdependncia dos seres vivos com os inanimados
estudos de caso em problemas globais; estrias com diferentes cosmologias
Como projeto comunitrio
para ser envolvido
a natureza com foco na anlise crtica, na participao poltica da comunidade
pesquisa participativa para a transformao comunitria; frum de discusso
Fonte: SAUV, 2015.
Estas tipologias esto norteadas por uma prtica que pode ser evidenciada
nas dimenses do saber. Destarte, nossa pesquisa partiu da premissa que trabalhar
uma EA Crtica faz, com que os sujeitos percebam seu entorno e nele possam estar
intervindo de forma crtica e reflexiva em relao ao ambiente que habitam e que
possam , como educadores, poderem estar contribuindo com a comunidade escolar
que estiverem includos.
Assim, a tendncia de educao ambiental adotada pelo sujeito representa de
-
37
um modo geral a sua prtica, incorporando uma pluralidade de aes e uma
diversidade de proposies. Por outro lado, uma mesma proposio pode
corresponder a duas ou trs tendncias, segundo o ngulo sob o qual analisada.
Assim, em cada uma das correntes apresenta um conjunto de caractersticas
especficas que a distingue das outras, as correntes no so, no entanto,
mutuamente excludentes em todos os planos: certas correntes compartilham
caractersticas comuns (SAUV, 2005, p. 17).
Optamos em nossa pesquisa, trabalharmos com trs das tipologias descritas
por Sauv (2015) que se compactuam com a perspectiva crtica em nosso
entendimento que so o ambiente como lugar para viver, o ambiente como biosfera
e o ambiente como projeto comunitrio.
Desta forma, o ambiente como lugar para viver percebido como algo
antropocntrico em algumas respostas encontradas nos questionrios aplicados.
Aqui, a autora nos reserva a viso de que o ambiente um lugar de se viver com
sustentabilidade e que as pessoas precisam conceber o ambiente de forma holstica,
no apenas como um lugar que se tira recursos naturais para sobreviver.
Na questo do ambiente como biosfera a preocupao foi em trabalhar o
planeta de forma que os sujeitos se sentissem parte dele e que dele necessitam
para viver. A importncia desta perspectiva envolve uma viso macro do planeta
quando percebemos a necessidade de preservao deste para a sobrevivncia e
no ao contrrio. O ambiente como projeto comunitrio envolve as duas vises no
sentido de que o ser humano precisa entender que o ambiente necessita o cuidado
de todos e no apenas de aes isoladas. No que estas no sejam importantes,
pelo contrrio, que a viso macro da insero coletiva de ao ambiental deve ser
perseguida por todos os seres e estes precisam se sentirem parte do planeta e com
responsabilidade sobre o mesmo para o bem de todos.
Acreditamos que estas trs tipologias vo ao encontro da prtica do professor
a partir das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a formao inicial em nvel
superior (cursos de licenciatura, cursos de formao pedaggica para graduados e
cursos de segunda licenciatura) e para a formao continuada, institudas pela
Resoluo N 2, de 1 de Julho de 2015 e trs em seu artigo 7, inciso XI :
XI - realizar pesquisas que proporcionem conhecimento sobre os estudantes e sua realidade sociocultural, sobre processos de ensinar e de aprender, em diferentes meios ambiental-ecolgicos, sobre
-
38
propostas curriculares e sobre organizao do trabalho educativo e prticas pedaggicas, entre outros (BRASIL, MEC, 2015, p. 8).
Nesse contexto, a tipologia de EA apresentadas por Sauv (2005) traz
perspectivas concebidas pela autora. Entendemos que algumas podem fundir-se na
mesma proposio visto que, trazem em sua essncia a utilizao do ambiente
como recurso e por isso, o homem precisa cuid-lo e preserv-lo. Acreditamos que
um cidado efetivamente preocupado com a natureza enquanto ambiente deve estar
se apropriando de conceitos que perpassem esta concepo reducionista, no
sentido que o sujeito de sentir-se parte do ambiente natural e que dele depende para
a sobrevivncia de ambos.
A este respeito Sauv (2005, p. 319) entende que:
No correr dos anos, um nmero cada vez maior de atores da educao ambiental introduziu uma dimenso de pesquisa ou de reflexo em suas intervenes no terreno da prtica. Desenvolveu-se, assim, um patrimnio pedaggico que contm rica diversidade de proposies tericas, de modelos e de estratgias, capaz de estimular a discusso e de servir de inspirao para os que trabalham na prtica. A anlise dessas proposies permite identificar uma pluralidade de correntes de pensamento e de prtica na educao ambiental: naturalista, conservacionista, solucionadora de problemas, sistmica, holstica, humanista, crtica, bio-regional, feminista etc. (Sauv, 2002), que correspondem a outros tantos modos complementares de ligar-se ao meio ambiente [...]
Deste mesmo modo, entendemos que a inteno de Sauv o de demonstrar
as relaes das proposies que envolvem a realidade da educao ambiental no
contexto das tendncias relacionadas a educao ambiental em uma perspectiva
relacionada a teoria e a prtica.
Diante disso, pensamos uma EA crtica perpassa uma organizao tradicional
de ao e pensamento, conforme afirma Loureiro (2012, p. 52):
Entender os modos de pensar e fazer a educao que refutem as
premissas pedaggicas tradicionais de: organizao curricular
fragmentada e hierarquizada; neutralidade do conhecimento
transmitido e produzido; e organizao escolar e planejamento do
processo de ensino e aprendizagem concebidos como pura
racionalidade (grifo do autor), pautados em finalidades pedaggicas
desinteressadas quanto s implicaes sociais de suas prticas (p.52).
-
39
O discurso da EA crtica necessita confundir-se com o cotidiano dos cidados.
necessrio pois, difundir e aprofundar-se sobre os problemas ambientais para
reduzi-los e at mesmo ameniz-los. Ademais, um cidado crtico aquele que
participa, prope solues e atua para que a sociedade em que vive seja cada vez
melhor. Um cidado crtico preocupado com as questes ambientais, como
destinao do lixo, desmatamento, alteraes climticas, est sempre apto e atento
para participar de aes tanto individuais ou coletivas para a manuteno do
equilbrio ambiental.
-
40
4 A EDUCAO AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE
4.1 A Universidade no contexto brasileiro
De acordo com Cunha e Leite (1999) as instituies de ensino superior no
Brasil s surgem em 1808. Antes, o ensino superior era ministrado pelos colgios
jesutas. Com a expulso desta ordem religiosa do reino portugus, em 1759, os
conventos franciscanos substituram os colgios jesutas no Rio de Janeiro e em
So Paulo, pois a igreja catlica era, ento, uma instituio privada que se mesclava
ao Estado pelo regime do padroado.
De acordo com Oliven (2002):
[...] durante o perodo da Regncia, foram criados, em 1827, dois cursos de Direito: um em Olinda, na regio nordeste, e outro em So Paulo, no sudeste. Alm destes cursos, a Escola de Minas foi criada na cidade de Ouro Preto, que como o nome sugere situava-se na regio de extrao de ouro (p. 32).
J no perodo da Repblica Velha temos a criao da primeira universidade
brasileira, como afirma Oliven (2002):
A primeira universidade brasileira foi criada em 1920, data prxima do centenrio da independncia (1922). Resultado do Decreto n 14.343, a Universidade do Rio de Janeiro reunia, administrativamente, Faculdades profissionais pr-existentes sem, contudo, oferecer uma alternativa diversa do sistema: ela era mais voltada ao ensino do que pesquisa, elitista, conservando a orientao profissional dos seus cursos e a autonomia das faculdades (p. 33).
Desta forma, concordamos com Chau (2003, p. 5) quando afirma que a
Universidade uma instituio social e como tal exprime de maneira determinada a
estrutura e o modo de funcionamento da sociedade como um todo. Tanto assim
que vemos no interior da instituio universitria a presena de opinies, atitudes e
projetos conflitantes que exprimem divises e contradies da sociedade. Essa
relao interna ou expressiva entre universidade e sociedade o que explica, alis,
o fato de que, desde seu surgimento, a universidade pblica sempre foi uma
instituio social, isto , uma ao social, uma prtica social fundada no
reconhecimento pblico de sua legitimidade e de suas atribuies, num princpio de
diferenciao, que lhe confere autonomia perante outras instituies sociais, e
-
41
estruturada por ordenamentos, regras, normas e valores de reconhecimento e
legitimidade internos a ela. (CHAU, 2003).
A Universidade, nesse ponto precisa se apropriar do local onde est inserida
articulando saberes, vivncias e conhecimento. O espao acadmico precisa estar
alm de textos cientficos, se fazendo presente nos momentos de construo
coletiva da sociedade para o bem maior que o bem comum. Desse modo, a
formao do acadmico para a vida e insero na sociedade deve prepar-lo para a
sociedade globalizada que trs cotidianamente uma avalanche de informaes e
inovaes, e estas, devem estar afinadas com um desenvolvimento socioambiental
crtico.
Desse modo, Pimenta (1985) orienta como uma universidade deveria ser
conduzida dentro de seu espao de localizao, como segue:
No nosso objetivo, seria um despropsito, delinear, aqui, as grandes foras que definiriam insero das universidades no espao urbano em que se enrazam. suficiente chamar a ateno para um importante problema; compreender a histria e o funcionamento de uma Universidade significa, em grande medida, estar atento s formas de entrelaamento que vieram a estabelecer no contexto das cidades em que se fixaram. (p.81)
Assim, mais do que a perpetuao da Universidade em um determinado local
a contribuio desta sociedade que est inserida seu objetivo principal. Esta
contribuio no pode ser delimitada apenas na formao acadmica de quem tem
vnculo com algum curso, mas, tambm a comunidade de entorno que dela deve
estar introduzida e contemplada no seu desenvolvimento.
Diante disso, concordam Dourado e Catani (1999, p.8) quando afirmam que
as transformaes do mundo contemporneo redimensionam o papel social da
educao e das instituies educativas, uma vez que questionam, particularmente, o
papel da escola como agncia de formao para o mundo do trabalho e para a vida
societria. Ademais, a sociedade constituda por um coletivo diverso de opinies e
vivncias, neste coletivo que precisamos buscar a conscincia ambiental urgente
que o planeta necessita, e a educao, tem um papel fundamental nesse sentido.
Desta forma, Loureiro (2012, p.55) entende que estamos, contudo diante de
uma sociedade consumista baseada na acelerao da produo de riquezas
materiais alienadas para permitir a reproduo e acumulao do capital. A este
-
42
respeito importante ressaltar a importncia de desenvolver um currculo baseado
em contedos que tratem a respeito de refletir e promover uma conscincia crtica
em que se possa pensar a natureza e o meio ambiente com um bem da
humanidade.
4.2 A insero da Educao Ambiental no currculo das Universidades
Ao revisitarmos a histria da educao brasileira, nos deparamos com vrias
etapas de elaborao de construo e propostas curriculares nos diferentes
perodos.
De acordo com Lopes e Macedo (2005, p.13), as primeiras preocupaes
com o currculo, no Brasil, datam dos anos 20. Desde ento, at a dcada de 1980,
o campo foi marcado pela transferncia instrumental de teorizaes americanas.
Essa transferncia centrava-se na assimilao de modelos para elaborao
curricular, em sua maioria de vis funcionalista, e era viabilizada por acordos
bilaterais entre os governos brasileiro e norte-americano dentro do Programa de
Ajuda a Amrica Latina.
A Educao Ambiental foi instituda como proposta de reflexo no currculo
escolar a partir de 1997 com a constituio dos Parmetros Curriculares Nacionais
(PCN) no ensino fundamental mais especificadamente, possibilitando assim a
oportunidade de discusso desta temtica de forma transversal, ou seja, de que
fosse tratada e discutida no contexto das disciplinas previstas nos currculos das
escolas. Este contexto deveria ser trabalhado interdisciplinariamente e no como
uma disciplina exclusiva da temtica ambiental.
No podemos deixar de destacar a importncia que os PCN tiveram para o
embasamento curricular da educao brasileira como documento norteador de
propostas curriculares e metodolgicas tanto com as disciplinas elencadas no
currculo bem como os temas transversais previstos neste documento. Desse modo,
encontramos no documento introdutrio os princpios e a finalidade da proposta dos
PCN em relao a qual educao deva ser realizada na escola voltada
principalmente promoo da qualidade do ensino. Infelizmente, ainda no
percebemos em sua totalidade a promoo da educao ambiental nas escolas de
forma articulada ao currculo escolar. Encontramos ainda projetos pontuais,
-
43
importantes sim, mas que no trazem em seu contexto a participao de toda
comunidade escolar.
Os temas transversais trazem em sua proposta um currculo interdisciplinar
para alm daquele que vm sido trabalhado de forma fragmentada nas escolas e
traz tona temticas emergentes inseridas em nossa sociedade que antes na
maioria das vezes no era contemplada nos livros e materiais didticos. Desse
modo, entendemos que o currculo proposto nas instituies educacionais deva
discutir problemticas relativas realidade do aluno, colocando este sujeito frente
de discusses relacionadas ao seu cotidiano e como este pode estar modificando
sua prxis.
Nesse contexto, a temtica ambiental prevista nos PCN, vm para oportunizar
a discusso dos problemas ambientais de forma interdisciplinar. No implica em
acrescentar uma disciplina denominada Educao Ambiental nos currculos e sim
trabalhar interdisciplinariamente de forma contnua e integrada as questes
pontuadas de forma local global de modo que os sujeitos percebam que a
sustentabilidade planetria est em questo e urgente a mudana de hbitos e
posturas.
O MEC, desse modo, ao implantar os PCN para as escolas brasileiras props
que fosse trabalhado a insero no mundo do trabalho e do consumo, o cuidado
com o prprio corpo e com a sade, passando pela educao sexual, e a
preservao do meio ambiente so temas que ganham um novo estatuto, num
universo em que os referenciais tradicionais, a partir dos quais eram vistos como
questes locais ou individuais, j no do conta da dimenso nacional e at mesmo
internacional que tais temas assumem, justificando, portanto, sua considerao
(MEC, PCN 1997, p. 27).
Aps a publicao dos PCN, em 1999 foi instituda a Lei 9.795 que
estabeleceu a Poltica Nacional de Educao Ambiental- PNEA (BRASIL, 1999),
tornando obrigatria a insero da educao ambiental em todos os nveis e
modalidades de ensino, como encontramos no Artigo 9 e 10:
Art. 9 Entende-se por educao ambiental na educao escolar a desenvolvida no mbito dos currculos das instituies de ensino pblicas e privadas, englobando: I educao bsica: a. educao infantil; b. ensino fundamental e c) ensino mdio; II - educao superior; III - educao especial; IV- educao profissional; V educao de jovens e adultos
-
44
Art. 10. A educao ambiental ser desenvolvida como uma prtica educativa integrada, contnua e permanente em todos os nveis e modalidades do ensino formal. 1 A educao ambiental no deve ser implantada como disciplina especfica no currculo de ensino. 2 Nos cursos de ps-graduao, extenso e nas reas voltadas ao aspecto metodolgico da educao ambiental, quando se fizer necessrio, facultada a criao de disciplina especfica. (BRASIL, 1999, p.3 ).
Deste modo, por meio da Poltica Nacional de Educao Ambiental, esta no
pode ser oferecida como disciplina especfica no ensino. Assim, a forma como o
currculo vem sendo tratado nas universidades deve inserir temas que possam
discutir as desigualdades sociais, tica, justia ambiental, biodiversidade,
espacialidade, multiculturalismo ambiental, enfim, entre outros temas que reforam a
temtica ambiental nos cursos de formao de professores.
Faz-se necessria a reflexo, da problemtica ambiental em todas as
disciplinas dos cursos. Por conseguinte, quando afirmamos isso, estamos
defendendo a interdisciplinaridade como proposta de reflexo sobre ambiente
natural e a finitude de seus recursos. Especificamente nesta questo, a disciplina de
Educao Ambiental, quando ofertada na Universidade por meio do currculo,
colabora com a reflexo em que se busca uma harmonia entre a ao antrpica e o
meio ambiente.
A este respeito Grun (2012, p. 115), entende que esta perspectiva de
compreenso quando afirma que questes como a preservao de culturas
tradicionais, que como sabemos hoje, so condies sine qua non da preservao
da biodiversidade, ficam completamente inviabilizadas de serem trabalhadas como
contedo educacional, pois houve um processo de varredura de saberes do
currculo. Ainda de acordo com Grun (2012, p.116 grifos do autor) outro tpico caso
de rea de silncio do currculo a tradicional descrio do mtodo cientfico
sempre presente nos livros de cincia e de como estas descries no se refere de
maneira alguma natureza.
No documento denominado Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educao Ambiental aprovado pela Resoluo n 14 de 2012, so apontados os
princpios a serem realizados em seu artigo 15:
Art. 15. O compromisso da instituio educacional, o papel socioeducativo, ambiental, artstico, cultural e as questes de gnero, etnia, raa e diversidade que compem as aes educativas, a
-
45
organizao e a gesto curricular so componentes integrantes dos projetos institucionais e pedaggicos da Educao Bsica e da Educao Superior; 1 A proposta curricular constitutiva do Projeto Poltico-Pedaggico (PPP) e dos Projetos e Planos de Cursos (PC) das instituies de Educao Bsica, e dos Projetos; Pedaggicos de Curso (PPC) e do Projeto Pedaggico (PP) constante do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) das instituies de Educao Superior (BRASIL, 2012, p.5)
Percebemos assim, o papel da Universidade propor, para alm da oferta de
incluso de uma disciplina de Educao Ambiental em seu currculo, a efetiva
problematizao e vivncia dos problemas regionais e locais em que est inserida
numa perspectiva de conscientizao e avano nas discusses feitas. O
compromisso desta deve ir alm da formao e qualificao de sujeitos para o
mercado de trabalho. A Universidade precisa compreender seu papel
desenvolvimentista de EA necessitando propor aes e reflexes na busca de um
desenvolvimento sustentvel e na formao de sujeitos crticos nesta questo.
O sujeito em formao deve estar preparado para refletir sua realidade, o
mundo que o cerca, pensando e agindo sobre ele. Pensarmos uma EA crtica no
currculo prope um engajamento de todos os componentes curriculares de forma a
pensar o ambiente como essencial para a vida.
-
46
5 A PRTICA DA EDUCAO AMBIENTAL NO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIR CMPUS DE VILHENA
O campo da formao de professores tm sido uma temtica bastante
discutida h algum tempo no Brasil. Com a extino do curso Normal Magistrio, de
nvel mdio, que habilitava os professores a trabalharem com crianas dos anos
iniciais do ensino fundamental, antigamente denominado 1 a 4 srie, os cursos de
Pedagogia tornaram-se definitivamente os formadores, alm de outras habilitaes,
o curso que formaria os professores para se trabalharem com estes anos.
Podemos comprovar a questo acima com um fragmento da Resoluo do
CNE N 1, de 15 de maio de 2006, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais
para o Curso de Graduao em Pedagogia, licenciatura que diz:
Art. 2 As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia aplicam-se formao inicial para o exerccio da docncia na Educao Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Mdio, na modalidade Normal, e em cursos de Educao Profissional na rea de servios e apoio escolar, bem como em outras reas nas quais sejam previstos conhecimentos pedaggicos (BRASIL, 2006, p.3 ).
A docncia dos professores compreendida, de acordo com esta resoluo,
como ao educativa e processo pedaggico metdico e intencional, construdo em
relaes sociais, tnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos,
princpios e objetivos da Pedagogia, desenvolvendo-se