metrópole, tecnologia, amenidades e riscos leonardo freire de mello

16
III Encontro da ANPPAS 23 a 26 de maio de 2006 Brasília – DF Metrópole, Tecnologia, Amenidades e Riscos Leonardo Freire de Mello Núcleo de Estudos de População – NEPO/Unicamp [email protected] RESUMO O objetivo central do presente artigo é apresentar brevemente o arcabouço teórico-conceitual sobre o qual se fundamenta um modelo – em construção – de análise de aglomerações metropolitanas que procura contrapor os conceitos de riscos e amenidades enquanto forças de diferentes polaridades que influenciam fortemente as tomadas de decisão locacionais da população e, assim, interferem nos processos de distribuição espacial da população e de organização do espaço metropolitano. O trabalho, desenvolvido no Núcleo de Estudos de População – NEPO da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP no âmbito do projeto “Dinâmica intrametropolitana e vulnerabilidade nas metrópoles do interior paulista: Campinas e Santos”, faz parte da tese de doutoramento do autor intitulada “Trabalhadores do Conhecimento e Qualidade do Lugar: um estudo comparativo da Região Metropolitana de Campinas”, que se encontra em elaboração.

Upload: gil81640

Post on 25-Sep-2015

213 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

O objetivo central do presente artigo é apresentar brevemente o arcabouço teórico-conceitual sobre o qual se fundamenta um modelo – em construção – de análise de aglomerações metropolitanas que procura contrapor os conceitos de riscos e amenidades enquanto forças de diferentes polaridades que influenciam fortemente as tomadas de decisão locacionais da população e, assim, interferem nos processos de distribuição espacial da população e de organização do espaço metropolitano. O trabalho, desenvolvido no Núcleo de Estudos de População – NEPO da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP no âmbito do projeto “Dinâmica intrametropolitana e vulnerabilidade nas metrópoles do interior paulista: Campinas e Santos”, faz parte da tese de doutoramento do autorintitulada “Trabalhadores do Conhecimento e Qualidade do Lugar: um estudo comparativo da Região Metropolitana de Campinas”, que se encontra em elaboração.

TRANSCRIPT

  • III Encontro da ANPPAS 23 a 26 de maio de 2006

    Braslia DF

    Metrpole, Tecnologia, Amenidades e Riscos Leonardo Freire de Mello

    Ncleo de Estudos de Populao NEPO/Unicamp [email protected]

    RESUMO

    O objetivo central do presente artigo apresentar brevemente o arcabouo terico-conceitual sobre o qual se fundamenta um modelo em construo de anlise de aglomeraes metropolitanas que procura contrapor os conceitos de riscos e amenidades enquanto foras de diferentes polaridades que influenciam fortemente as tomadas de deciso locacionais da populao e, assim, interferem nos processos de distribuio espacial da populao e de organizao do espao metropolitano. O trabalho, desenvolvido no Ncleo de Estudos de Populao NEPO da Universidade Estadual de Campinas UNICAMP no mbito do projeto Dinmica intrametropolitana e vulnerabilidade nas metrpoles do interior paulista: Campinas e Santos, faz parte da tese de doutoramento do autor intitulada Trabalhadores do Conhecimento e Qualidade do Lugar: um estudo comparativo da Regio Metropolitana de Campinas, que se encontra em elaborao.

  • 2

    I METRPOLE E TECNOLOGIA

    A origem do termo metrpole bastante antiga, assim como a generalizao da sua utilizao. Do ponto de vista etimolgico, a palavra se origina do acrscimo do sufixo metro (que remete, segundo o Dicionrio Houaiss, a matriz, tero, ventre) palavra grega polis (cidade), buscando expressar a idia da principal cidade, ou a cidade-me, de um pas, provncia ou regio. Hans Blumenfeld afirma que:

    O aparecimento de uma forma fundamentalmente nova de estabelecimento humano um fato extremamente raro da humanidade. Em pelo menos 5.000 anos, todas as civilizaes tm sido caracterizadas predominantemente por dois tipos bem marcados de

    estabelecimentos: a vila rural e a cidade (BLUMENFELD, 1972: 53). Sendo assim, podemos concluir que a metrpole, que no vila rural, mas obviamente

    tambm no apenas cidade A cidade sofreu uma transformao qualitativa de modo que, hoje, ela no meramente uma verso maior da cidade tradicional, mas uma nova e diferente forma de agrupamento humano. (BLUMENFELD, 1972: 52) ento deve ser alguma outra coisa e, mais que isso, uma coisa nova na histria das diversas civilizaes humanas. O termo megalpole, muitas vezes incorretamente usado como alternativa a metrpole, foi cunhado no incio do sculo XX por Patrick Geddes ao observar o grande ajuntamento urbano que se estendia por boa parte da regio noroeste dos Estados Unidos, indo de Boston at Washington. Elizabeth Baigent aponta que:

    [] It was not until 1927 that his use of the noun megalopolis is noted in print for the first time, though he was notoriously chaotic in getting his ideas published and may well have used the word in lectures before this date. The 1927 usage is characteristic of his subsequent use, and characteristically incoherent, being the transcription of conversations with a disciple. Beginning as Polis the city, it developed into Metro-polis the capital; but this into Megalo-polis or city overgrown, whence megalomania. Next, with its ample supply of bread and shows (nowadays called budget) it was Parasito-polis, with degeneration accordingly. Thus all manner of diseases, bodily, mental, moral: hence Pathalo-polis, and finally in due time Necro-polis city of the dead, as its long-buried monuments survive to show (BAIGENT, 2004: 689).

    importante notar que Geddes utiliza megalpole para designar uma forma de desenvolvimento ou desdobramento da metrpole, sendo muito maior e muito mais complexa que esta. Alm disto, o autor reala bastante o carter apocalptico e degenerativo deste desenvolvimento, trazendo, pela primeira vez para a discusso, a idia de que a aglomerao urbana, a cidade de milhes de habitantes, a metrpole ou sua herdeira, a megalpole

  • 3

    algo fadado e condenado destruio quando se tornar a necrpole, ou a cidade dos mortos.

    Esta uma abordagem interessante j que esta viso determinstica e apocalptica da metrpole terminar se consolidando em parte do imaginrio das pessoas apesar da grande

    metropolizao das cidades europias e norte-americanas ocorrida no perodo ps 2 Guerra Mundial contribuir para reverter, pelo menos parcialmente, esta idia.

    Sendo assim, hoje, metrpole pode ser tanto sinnimo de modernidade e cosmopolitismo como de violncia, caos e stress. As megalpoles de Geddes, Mumford e Gottmann se fundem em uma s metrpole, uma s coisa, complexa o suficiente para no poder ser comparada a nada que a precedeu e demandando, obviamente, novo ferramental conceitual e

    analtico para entend-la. Para entendermos a metrpole contempornea e podermos pensar em um novo conjunto de ferramentas tericas, conceituais e analticas para trabalhar com ela, temos que considerar trs fenmenos que se intensificaram a partir de meados da dcada de 1970: o Neoliberalismo, a Reestruturao Produtiva e a Globalizao. Colocando de uma maneira bastante concisa, podemos afirmar que a metrpole contempornea a expresso concreta1:

    1. do darwinismo econmico e social decorrente da incorporao e absoro cultural do neoliberalismo como doutrina e pensamento hegemnico;

    2. da nova economia e da reestruturao produtiva ps-fordista, assim como a metrpole da Era Industrial foi a expresso concreta do capitalismo fordista e do estado de bem

    estar social do ps-guerra; e 3. da sociedade em rede e da globalizao.

    Se a metrpole contempornea filha do desenvolvimento e aprimoramento do modo de produo capitalista que, por sua vez, fruto do desenvolvimento tecnolgico acumulado ao longo dos ltimos vinte sculos, obviamente podemos concluir que a metrpole contempornea no existiria da forma como existe se a tecnologia no houvesse se

    desenvolvido da forma como se desenvolveu e propiciou as condies para que a produo capitalista se organizasse e consolidasse como o modo de produo dominante.

    Sendo assim, podemos entender a tecnologia como um ator central no processo de metropolizao pelo qual as aglomeraes urbanas passaram ao longo das ltimas dcadas em todo o mundo. A metrpole, ento, a expresso concreta no espao de um determinado modo de pensar,

    perceber a realidade e, mais que isso, de produo. Ou seja, a metrpole a materializao do

  • 4

    modo de produo capitalista da forma como ele se aprimorou e consolidou na segunda metade do sculo XX. Isto quer dizer que a estrutura espacial da metrpole contempornea reproduz de maneira quase sempre bizarra, mas ao mesmo tempo extremamente fiel matriz a lgica do capital.

    Isto quer dizer que a maneira como o espao passa a ser apropriado e transformado dentro da metrpole determinada pela lgica mxima do capital, ou seja, a busca incessante de produtividade, eficincia e lucro. Com isso, o espao deixa de ser algo que poderamos chamar de domnio pblico, ainda que isto nunca tenha sido exatamente a verdade, e passa rpida e inexoravelmente para a esfera do domnio privado. O estado de bem estar social construdo nos pases centrais a partir da destruio causada pela

    Segunda Guerra Mundial comeou a ser completamente desmantelado no mesmo momento em que a metrpole de Gottmann comeou a se transformar na megalpole de Geddes e

    Mumford, pois o Fordismo que alimentou o crescimento econmico e industrial pr-1972 e permitiu a criao das condies econmicas, polticas e sociais para que o estado de bem estar social se estabelecesse e consolidasse, paradoxalmente tambm permitiu o salto tecnolgico que leva nova ordem que condena o estado de bem estar social e, consequentemente, a metrpole antiga morte, coroando um novo arranjo, baseado nas leis do mercado e do capital que tem, como jia da coroa, a metrpole moderna, permeada de tecnologia e, como discutiremos a seguir, riscos e amenidades. A tecnologia moderniza e torna a produo industrial mais eficiente, porm, a indstria de alta tecnologia no precisa de muita mo-de-obra, provocando desemprego.

    A dcada de 1980, fortemente marcada pelo desemprego, tambm foi o momento histrico do incio da chamada revoluo da tecnologia da informao que, segundo Manuel Castells [...] foi essencial para a implementao de um importante processo de reestruturao do sistema capitalista a partir da dcada de 1980 (CASTELLS, 2003a: 50). A dcada de 1990 o grande momento da globalizao, do neoliberalismo e da reestruturao produtiva. Os trs processos, alimentados pela revoluo da tecnologia da informao, se

    consolidam em praticamente todo o planeta, especialmente nos pases capitalistas centrais da Europa e da Amrica do Norte, com os pases perifricos buscando uma forma de se inserirem

    na nova economia, motor da New World Order. Os Tigres Asiticos e o Mxico, por exemplo, se tornam destinos de grande parcela dos investimentos internacionais, recebendo um grande nmero de plantas industriais, em especial as sweatshops2 e as maquiladoras3.

  • 5

    Este fluxo de recursos financeiros para estes pases perifricos gera fortes impactos em suas estruturas sociais, econmicas, culturais e polticas que fazem com que cidades como So Paulo, Cidade do Mxico, Xangai e Jacarta se consolidem entre as vinte maiores do mundo sem, contudo, que este crescimento seja acompanhado pela melhoria geral das condies bsicas de vida da populao e/ou por investimentos em infra-estrutura urbana. A megalpole do caos est no horizonte.

    As projees para 2015, apontam que 76,24% da populao das 20 maiores metrpoles mundiais, cerca de 258 milhes de pessoas, vivero em 16 metrpoles perifricas como Mumbai e Lagos. Se considerarmos as 408 metrpoles com mais de um milho de habitantes analisadas pela

    World Urbanization Prospects: The 2003 Revision das Naes Unidas veremos a populao vivendo em reas metropolitanas passou de 665 milhes em 1975 para quase 1.153 milhes em 2003 e deve chegar a 1.381 milhes em 2015, o que representa um aumento de aproximadamente 208% de aumento em apenas 40 anos! Uma nova mudana estrutural ocorre com a emergncia de um novo meio que rapidamente se incorpora vida cotidiana das pessoas, corporaes e governos, a Internet. Em uma velocidade espantosa, o capital, as relaes sociais e comerciais e, em boa medida, a cultura e o entretenimento se digitalizam e caem na rede. Como coloca Castells, tudo isto se relaciona intimamente com a consolidao da nova economia pois

    esta economia tem uma base tecnolgica. Essa base tecnolgica so as tecnologias de informao e comunicao de base microeletrnica, que tm uma forma central de organizao cada vez maior, que a Internet. Internet no tecnologia, e sim uma forma de organizao de atividades. O equivalente da Internet na era industrial a fbrica: o que era a fbrica na grande organizao na era industrial a Internet na Era da Informao (CASTELLS, 2003b: 18).

    Esta digitalizao da sociedade e da economia tem um custo social e cultural muito grande, como comeamos a perceber no final da dcada de 1990, e uma nova forma de excluso e segregao, a digital, surge e se implanta em todo o mundo, fazendo aumentar rapidamente a diferena entre os que esto conectados s redes de computadores e nova economia e os que no esto.

    A metrpole segue a tendncia e, em pouco tempo, quilmetros de fibras ticas passam a

    correr sob o solo das metrpoles e uma multido de antenas, retransmissores e satlites passa a disputar cada centmetro de espao livre no cu, conectando pessoas e corporaes de uma

    forma indita na histria.

  • 6

    Podemos, ento, concluir o tpico afirmando que a metrpole contempornea a expresso material da revoluo tecnolgica da segunda metade do sculo XX e da nova economia.

    II RISCOS E AMENIDADES

    Ao trazer para a discusso os conceitos de riscos e amenidades, procuramos fundamentos que

    permitam utiliz-los como idias contrapostas, buscando um possvel caminho terico de suporte a novas metodologias de anlise do fenmeno metropolitano que tenham por base o

    contraponto entre percepo/valorizao de riscos (um lugar com muitos riscos tem pouca qualidade e, portanto, as pessoas desenvolvem relaes topofbicas com eles e procuram deles se afastar. Ou no?) e percepo/valorizao de amenidades (um lugar com muitas amenidades tem muita qualidade e, portanto, as pessoas desenvolvem relaes topoflicas com

    eles e procuram deles se aproximar. Ou no?). Os riscos e as amenidades, podem ser percebidos de maneira diferente por pessoas, ou grupos

    de pessoas, diferentes. possvel e provvel que uma mesma caracterstica de um lugar seja percebida como amenidade por alguns teoricamente aumentando a qualidade deste lugar para este grupo e fomentando o estabelecimento de uma relao topoflica deste grupo com este lugar e como risco por outros provocando um movimento no sentido diametralmente oposto ao anterior, ou seja, fomentando uma relao topofbica deste grupo com este lugar e, consequentemente, reduzindo a sua qualidade. A discusso sobre amenidades e qualidade do lugar faz sentido em metrpoles perifricas como So Paulo e Lagos se considerarmos que elas esto imersas no mesmo processo global de homogeneizao cultural que as metrpoles centrais e que pelo menos algumas partes das

    metrpoles perifricas vibram na mesma freqncia que as centrais, replicando a mesma lgica hegemnica.

    Entra aqui a discusso sobre a metrpole como Mquina do Entretenimento na qual o foco o consumo versus a metrpole como Mquina do Crescimento cujo foco a produo industrial, ou seja, apesar de continuar sendo produzido de uma maneira fordista ou ps-fordista, o entretenimento vem substituindo a produo industrial na metrpole nova e esta

    substituio provoca alteraes na estrutura espacial da metrpole. A metrpole como Mquina do Entretenimento definida por Terry Clark et al. como sendo a resultante de um processo no qual

    [...] CNN, MTV, and Hollywood movies are seen as bringing a standard world fare that may encourage more globally homogeneous consumption. It can raise and refocus economic aspirations by redefining consumption desiderata. But much of consumption is

  • 7

    driven by local specifics: cafes, art galleries, geographic/architectural layout, and aesthetic image of a city define its unique attractions (or blandness) (CLARK et al, 2002: 494).

    Os autores ainda apresentam seis mudanas nas dinmicas urbanas de crescimento que so decorrentes, segundo eles, deste novo entendimento da metrpole, fundamentado na capacidade de atrao exercida pelas amenidades. So elas:

    1. First, there is a rise of the individual consumer in explanatory power [] This translates into more individualization and volatility of tastes, creating more numerous and complex niche markets [] [that] coexists with substantial numbers of structurally disadvantaged within the city (CLARK et al, 2002: 497).

    2. Second, we note a decline in large bureaucratic decision-makers in both the public and private sectors (CLARK et al, 2002: 497).

    3. Third, there is relative decline in the explanatory power of classical variables affecting the economic base (like distance, transportation costs, local labor costs, and proximity to natural resources and markets) because air travel, fax, the Internet, and associated changes have drastically facilitated contacts among physically distant persons, globally (CLARK et al, 2002: 497).

    4. Fourth, there is a rise of leisure pursuits compared to work (CLARK et al, 2002: 497).

    5. Fifth, there is a rise of concern over the arts and other aesthetic considerations along with more traditional concerns about the spatial dynamics of cities (CLARK et al, 2002: 498).

    6. Sixth, these unique tastes and concerns create a new role for government and public officials as they respond to citizen demands. These demands are often for public goods (clean air, attractive views, pedestrian responsiveness) contrasting with more private goods (jobs, contracts, tax breaks to separate persons and firms) in the past (CLARK et al, 2002: 498).

    Esta nova concepo merece um estudo melhor e mais aprofundado, mas para os objetivos do presente artigo, a discusso sobre o tema se encerra aqui. A seguir so discutidos os conceitos

    de riscos e amenidades, tentando apontar para uma possvel relao antagnica ou no entre os dois.

    Riscos

    Risco um dos componentes fundamentais das sociedades contemporneas. Como colocam Eduardo Marandola e Daniel Hogan, a incerteza, a insegurana e o medo parecem ter

  • 8

    invadido nossas vidas. Em todos os campos do dia-a-dia de nossa sociedade contempornea nos sentimos indefesos e impotentes. Estamos constantemente em risco (MARANDOLA E HOGAN, 2004a: 26). Alm disto, importante destacar que risco um conceito construdo e utilizado das mais

    diferentes formas pelos diferentes ramos da Cincia, indo da teoria da Sociedade de Risco apresentada pela Sociologia de Ulrick Beck e Anthony Giddens, at a Anlise e Gesto do

    Risco da Administrao e das diversas especializaes da Engenharia, passando pelo estudo dos perigos naturais (natural hazards) promovido pela Geografia e a anlise das populaes em situao de risco feita pela Demografia (MARANDOLA E HOGAN, 2004b). No , ento, nenhuma surpresa verificar que os riscos e suas diferentes percepes pelos

    diferentes grupos scio-econmicos que compartilham o espao metropolitano tambm geram suas contribuies para a construo deste mesmo espao metropolitano. Desta maneira, a

    metrpole contempornea se configura como a metrpole do medo e do risco, da cerca eltrica e da segurana privada, do carro blindado e do rastreamento via satlite. Todavia, a idia de risco se amplia para alm desta primeira interpretao relacionada com a segurana pblica e privada. Existem outras categorias de risco que tambm contribuem para a constituio da complexidade urbana metropolitana contempornea e que, muitas vezes, no so to claramente percebidos pelas pessoas. A vida metropolitana a vida da mobilidade, seja ela espacial, econmica ou social. A mobilidade metropolitana uma componente fundamental da intrincada teia de relaes que se estabelece no espao metropolitano e que se converte nele prprio, ou seja, o espao metropolitano o espao da mobilidade e o espao a mobilidade ou ainda, como coloca Yi-Fu Tuan, o espao a passagem, a vastido, o movimento (TUAN, 1977). Em contraponto idia do espao como movimento, insegurana e exposio ao risco, o lugar a pausa, a segurana a proteo contra o risco. Porm, para viver na metrpole, a pessoa tem

    que se deslocar de um lugar seguro para outro atravs do espao do risco. a que alguns dos principais riscos metropolitanos se tornam mais claros.

    O risco relacionado com os deslocamentos espaciais dentro da metrpole pode ser entendido tanto como a probabilidade, por exemplo, da ocorrncia de um acidente de trfego durante o

    deslocamento entre o ponto A e o ponto B ou da ocorrncia de um assalto violento durante o mesmo deslocamento quanto, em uma abordagem mais ampla, do custo social e poltico em termos de participao pblica nos processos de tomada de deciso urbanos decorrente da pouca afetividade (e dos conseqentes descaso e desconsiderao) dedicada s pores do espao no percebidas como lugares pelas pessoas.

  • 9

    Este risco est fortemente associado ao desenvolvimento tecnolgico e ao modo de produo capitalista pois a mobilidade contempornea s pode se dar como se d porque a tecnologia dos transportes o permite, assim como a produo globalizada da nova economia tambm s possvel porque a tecnologia de informao e comunicao se encontra em seu atual patamar

    de desenvolvimento. A vulnerabilidade tambm apresenta uma multiplicidade de definies, abordagens e

    utilizaes nas diferentes cincias, o que demonstra sua forte conexo com os altos graus de incerteza que permeiam tanto a vida cotidiana quanto a pesquisa e o desenvolvimento cientfico contemporneos.

    Neste artigo o foco est sobre a vulnerabilidade sociodemogrfica, na forma como o conceito

    foi desenvolvido pela Comisin Econmica para Amrica Latina y el Caribe CEPAL e que estabelece que a vulnerabilidade de determinados grupos sociais se relaciona com a

    capacidade que estes grupos tm de reagir, responder ou at mesmo sobreviver aos perigos e ameaas sociais, econmicas, ambientais e culturais que compem a realidade contempornea.

    Colocado de uma outra forma, a vulnerabilidade sociodemogrfica a suscetibilidade de sofrer perdas socioeconmicas, como no poder de compra, na capacidade de insero social ou mesmo de emprego (MARANDOLA E HOGAN, 2004b: 15), ou seja, os grupos mais vulnerveis do ponto de sociodemogrfico so exatamente aqueles definidos como excludos econmica, social, digital, ambiental, tecnolgica, culturalmente ou de qualquer outra maneira.

    Apesar dos diferentes nomes dados a estes grupos, s excluses que sofrem e s vulnerabilidades a que esto sujeitos, parece quase que consensual nas diferentes anlises e abordagens que estes grupos so cada vez maiores e que os processos ligados nova economia e metrpole contempornea so os maiores contribuintes tanto para este aumento quanto para a agudizao das excluses e vulnerabilidades observadas. Desta forma, podemos dizer que a metrpole contempornea a metrpole da excluso e da

    vulnerabilidade e, mais que isso, que ela talvez seja a responsvel pela disseminao desta excluso e desta vulnerabilidade at mesmo em espaos no definidos como metropolitanos4.

    O importante termos em mente que risco algo quase sempre negativo que permeia e determina as relaes sociais na metrpole contempornea e, apesar de suas diferentes percepes pelos diferentes grupos scio-econmicos que terminam definindo as diferentes vulnerabilidades aos diferentes riscos e perigos, contribui e influencia fortemente a construo

  • 10

    do espao metropolitano, transformando a metrpole contempornea na metrpole do medo, do risco, da excluso e da vulnerabilidade.

    Amenidades

    O termo amenidades utilizado aqui como traduo para a lngua portuguesa do conceito de

    amenities usado na literatura de lngua inglesa. As amenidades normalmente so bens pblicos dos quais todos os habitantes de uma determinada rea podem usufruir sem custos

    especficos para os seus potenciais utilizadores. Um exemplo geralmente utilizado de amenidade a existncia de um parque pblico ou de uma intensa vida cultural em uma determinada cidade. As amenidades caracterizam os diversos aspectos atraentes dos diferentes espaos, em

    particular das cidades, que desempenham papis importantes nos processos de tomada de deciso locacional (residencial ou comercial) dos indivduos nesses mesmos espaos. Elas podem produzir tanto efeitos positivos quanto negativos e influenciam na forma da cidade ao atrair ou repelir as pessoas, gerando movimentos urbanos. O conceito originalmente vem da economia, onde se define que a pure amenity is an nonproduced public good such as weather quality that has no explicit price. In practice, previous empirical studies include some government services such as education and public safety (GYOURKO E TRACY apud CLARK et al, 2002: 497). Por sua vez, Bruno M. Hermann e Eduardo A. Haddad definem que as amenidades so

    um conjunto de caractersticas especficas de uma localidade com contribuio positiva ou negativa para a satisfao dos indivduos. As amenidades no esto restritas a caractersticas naturais, como reas verdes, praias, clima etc. Tambm esto includos na definio os bens (ou males) gerados pelo prprio homem, tais como trnsito, poluio, oferta de entretenimento, segurana etc. (HERMANN E HADDAD, 2005:238)

    Um conceito associado ao de amenidades que importante abordar o de externalidade, que toda e qualquer conseqncia, esperada ou no, decorrente de qualquer relao econmica e que gera impacto sobre outros agentes alm dos diretamente envolvidos na relao, ou seja, o efeito colateral de uma determinada tomada de deciso que se materializa em alguma interveno ou ao concreta sobre o meio e que pode ser chamada de efeitos de vizinhana

    j que correlaciona os efeitos esperados ou no que a proximidade espacial com outra coisa, pessoa ou atividade pode causar no objeto de estudo.

  • 11

    Os efeitos de vizinhana so de importncia fundamental nas anlises urbanas e, como afirma Rodrigo Simes, em especial na realidade brasileira por serem fatores determinantes da distribuio e da trajetria espacial do crescimento econmico brasileiro no perodo (SIMES, 2005: 21). Podemos pensar, por exemplo, nas externalidades decorrentes do processo de tomada de deciso locacional residencial de uma famlia, supondo que no h restries oramentrias e

    que a famlia pode escolher o lugar que quiser para morar, em funo de seus gostos, preferncias e expectativas.

    A famlia, cansada da poluio atmosfrica, sonora e visual, da violncia e dos engarrafamentos existentes no bairro central em que vive e talvez influenciada por uma

    macia campanha publicitria chega concluso que mudar-se para um condomnio fechado localizado a 30 quilmetros do centro da cidade onde vive a melhor maneira de

    obter a qualidade de vida que almeja porque o local em questo rene uma srie de caractersticas ou amenidades como a existncia de reas verdes e a presena de muros, cercas eltricas, cmeras de vigilncia e segurana armada 24 horas que compem um conjunto de qualidade do lugar que os leva a acreditar que vivendo l estaro livres das vicissitudes da metrpole sem, contudo, ter que abrir mo das benesses oferecidas por ela, como a vida cultural e noturna intensa, as boas escolas e os bons hospitais, assim como as boas oportunidades de negcios e de trabalho. A famlia realiza a negociao, compra a casa desejada e se muda para l. At a nada de novo ou que no ocorra milhares de vezes por ano. A questo que, ao optar pelo condomnio em

    questo e no por um outro parecido ou, at mesmo, por continuar morando na regio ou bairro da cidade em que vive, a famlia provoca, quase sempre sem perceber ou levar em

    considerao, o surgimento de uma srie de externalidades que podero se transformar, ao longo do tempo, em custos, problemas e riscos tanto novos como j conhecidos para ela prpria e para a sociedade como um todo. Uma primeira externalidade que podemos pensar como exerccio o aumento da presso e do

    volume de trfego de veculos nas vias de acesso ao condomnio escolhido, em especial nos horrios de pico pela manh e ao final do dia.

    Isto uma externalidade porque no foi planejada para acontecer, mas aconteceu e algum vai ter que arcar com as conseqncias e os custos deste acontecimento. No exemplo, quem dever arcar com as conseqncias muito provavelmente ser a coletividade, que ter que lidar com um maior fluxo de veculos em vias provavelmente no planejadas para absorver tal volume de trfego, com um gradativo aumento no nmero de acidentes (mais veculos

  • 12

    circulando, maior a probabilidade de ocorrncia de acidentes de trnsito) e com o progressivo aumento da poluio atmosfrica na regio (mais veculos circulando, maior o volume de poluentes lanados na atmosfera). muito provvel que o tempo gasto no deslocamento entre a residncia e os locais de trabalho, estudo e lazer da famlia aumente, pois, se o novo lugar de residncia agrega muitas caractersticas que o tornam de alta qualidade, provvel que outras famlias com perfis

    semelhantes ao da analisada tambm queiram e, eventualmente, se mudem para o mesmo condomnio, contribuindo ainda mais para o aumento dos problemas apresentados, para no falar no aumento da presso sobre o sistema pblico de esgotamento sanitrio, de captao e destinao final de resduos slidos e guas pluviais alm de outras questes.

    Desta maneira, o lugar possua uma determinada qualidade do lugar que levou a famlia a optar por ele entre as alternativas existentes, comea a se transformar em um novo problema

    para a famlia que nele investiu como uma soluo para os problemas que j tinha antes. Acreditamos que as amenidades ambientais e a qualidade do lugar decorrente da concentrao destas amenidades em um determinado ponto do espao acabam por gerar, no mdio e longo prazo, um aumento dos riscos e das vulnerabilidades tanto na rea onde se concentram quanto nas reas vizinhas a ela.

    O modelo de anlise baseado no contraponto entre amenidades e riscos ainda apresenta diversas inconsistncias que demandam mais estudos e aprofundamento tanto conceitual quanto prtico, mas, apesar disso, parece ser um possvel caminho promissor para o desenvolvimento de uma ferramenta de captao e anlise da realidade metropolitana

    contempornea.

    Para finalizar devemos manter a idia de que amenidade algo quase sempre positivo que

    permeia e determina as relaes sociais na metrpole contempornea e que, apesar de suas diferentes percepes pelos diferentes grupos scio-econmicos que, assim, terminam definindo as diferentes qualidades dos diferentes lugares e os sentidos, direes e intensidades de suas interaes com estes lugares , contribui e influencia fortemente a construo do

    espao metropolitano, transformando a metrpole contempornea na metrpole das amenidades e das externalidades, da cultura e do entretenimento e transforma ainda mais o

    espao um produto de consumo como qualquer outro.

  • 13

    III DISCUSSO E CONSIDERAES FINAIS

    A tecnologia parece ser uma das possveis solues para as questes urbanas, apesar de ser uma componente central do processo de complexificao e degradao social e ambiental metropolitano.

    Por outro lado, inegvel que a vida metropolitana contempornea est permeada de riscos, cada vez mais intensos e diversos, percebidos e experimentados de formas absolutamente

    diferentes pelos vrios grupos sociais que ocupam este espao. Novamente a tecnologia aparece como componente central do processo, contribuindo tanto para o surgimento de novos riscos e o aumento das vulnerabilidades individuais e coletivas ao ampliar e diversificar as diferentes exposies aos variados riscos quanto para, ao mesmo

    tempo, a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Qual o caminho devemos seguir? Esta a pergunta que precisamos responder rapidamente. O problema que a resposta, assim como o futuro da metrpole, encontra-se envolvida em incerteza, demonstrando que a cincia e a tecnologia contemporneas no so capazes de apreender e lidar efetivamente com as questes que lhes so postas. Um caminho que parece bastante promissor o da remoo das barreiras entre os diversos campos da cincia, levando formao ou criao de novas cincias hbridas, mas tambm indiscutvel que a tecnologia desempenha um papel cada vez mais importante e central na construo e no desenvolvimento social. Todavia, como coloca Manuel Castells, claro que a tecnologia no determina a sociedade. Nem a sociedade escreve o curso da transformao tecnolgica [...] dado que a tecnologia a sociedade, e a sociedade no pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnolgicas (CASTELLS, 2003a: 43). importante entendermos que, apesar dos possveis cenrios sombrios para seu futuro, as cidades e as metrpoles, representam e concentram o desenvolvimento da humanidade, sendo talvez a caracterstica que melhor defina o que ser humano contemporaneamente e, mais que isso, que:

    [...] o papel das cidades na Era da Informao o de ser meios produtores de inovao e de riqueza, mas tambm, ainda mais, de ser meios capazes de integrar a tecnologia, a sociedade e a qualidade de vida em um sistema interativo, em um sistema que produza um crculo virtuoso de melhora, no s da economia e da tecnologia, seno que da

    sociedade e da cultura (CASTELLS, 2003b: 29).

  • 14

    inegvel a capacidade humana de inovar e suplantar dificuldades e obstculos, assim como a capacidade de mudar e de se adaptar que os seres humanos possuem. O futuro ainda no est escrito, ou seja, a mesma metrpole pode tanto vir a se tornar a necrpole imersa em sofrimento e caos visualizada por Geddes e Mumford quanto o centro e ponto inicial do

    crculo virtuoso de melhora da sociedade e da cultura vislumbrado por Castells. Qual caminho ser seguido ainda a grande incgnita que se apresenta.

    Estamos imersos no processo histrico e isto dificulta que tenhamos distanciamento suficiente para analis-lo enquanto ele se desenvolve. Porm, para se compreender quais so os possveis caminhos e alternativas que se delineiam, necessrio o investimento e o esforo no desenvolvimento de novas ferramentas de captao, processamento e anlise de dados que

    permitam tanto uma melhor apreenso do momento contemporneo quanto de projeo de perspectivas e tendncias futuras. com este esforo que este artigo pretende contribuir.

    BIBLIOGRAFIA

    BAIGENT, Elizabeth. Patrick Geddes, Lewis Mumford, and Jean Gottmann: divisions over megalopolis. Progress in Human Geography, dez. 2004, vol. 28, no. 6, pp. 687700. ISSN 0309-1325.

    BENKO, Georges. Economia, Espao e Globalizao: na aurora do sculo XXI. 3 ed. So Paulo: Hucitec: Anna Blume. 2002.

    BLUMENFELD, Hans. A Metrpole Moderna. In VRIOS. Cidades A Urbanizao da Humanidade. 2 ed. Traduo de Jos Reznik. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 1972.

    CASTELFRANCHI, Yurij. Sweatshops: uma realidade em expanso. Reportagem do site ComCincia disponvel em http://www.comciencia.br/200405/reportagens/08.shtml. 2004.

    CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede (A era da informao: economia, sociedade e cultura; v.1). So Paulo: Paz e Terra. 7 ed. 2003(a).

    CASTELLS, Manuel. A Cidade na Nova Economia. In MACHADO, Jorge Alberto S. (org.). Trabalho, Economia e Tecnologia: Novas Perspectivas para a Sociedade Global. So Paulo: Tendenz; Bauru: Prxis. 2003(b). pp. 15-30.

    CLARK, Terry Nichols, LLOYD, Richard, WONG, Kenneth K. & JAIN, Pushpam.

    Amenities Drive Urban Growth. Journal of Urban Affairs, 2002, vol. 24, no. 5, p.493-515. ISSN: 0735-2166.

    CUNHA, Rodrigo. Os blocos econmicos e o emprego: o caso das maquiladoras. Reportagem do site ComCincia, disponvel em

  • 15

    http://www.comciencia.br/200405/reportagens/06.shtml. 2004. ENTRENA, Francisco. Cidades sem Limites. In MACHADO, Jorge Alberto S. (org.).

    Trabalho, Economia e Tecnologia: Novas Perspectivas para a Sociedade Global. So Paulo: Tendenz; Bauru: Prxis. 2003. pp. 55-91.

    HERMANN, Bruno M. & HADDAD, Eduardo A. Mercado Imobilirio e Amenidades Urbanas: a view through the window. Est. econ., So Paulo, 35(2): 237-269, abr-jun 2005.

    MACHADO, Jorge Alberto. Repensando a Cidade: Redes Globais, Fragmentao e outras Tendncias Contemporneas. In MACHADO, Jorge Alberto S. (org.). Trabalho, Economia e Tecnologia: Novas Perspectivas para a Sociedade Global. So Paulo: Tendenz; Bauru: Prxis. 2003. pp. 31-54.

    MARANDOLA Jr., Eduardo & HOGAN, Daniel Joseph. O risco em perspectiva: tendncias e abordagens. Geosul, v.19, n.38. pp.25-57. 2004. ISSN: 0103-3964.

    MARANDOLA Jr., Eduardo & HOGAN, Daniel Joseph. Vulnerabilidades e riscos: entre Geografia e Demografia. In: XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais. Anais. Caxamb, MG: Associao Brasileira de Estudos Populacionais. 2004. [CD-ROM].

    MARANDOLA JR., Eduardo & MELLO, Leonardo F. de. (2005) Lugar e espao de vida: novos enfoques para o planejamento e a participao? In: Encontro Latino-Americano de Gegrafos, 10, 2005, So Paulo. Anais e Contribuies Cientficas. So Paulo: Depto. de Geografia, FFLCH/USP. [CD-ROM]

    MELLO, Leonardo F. de; et al. (2004) A busca do lugar: mobilidade e riscos no espao metropolitano de Campinas. In: SEMINRIO SOBRE QUESTO AMBIENTAL URBANA: EXPERINCIAS E PERSPECTIVAS, 1, 2004, Braslia. Anais. Braslia: Neur/UnB. [CD-ROM]

    MELLO, Leonardo F. de. & MARANDOLA JR., Eduardo. (2005) Life Spaces, Mobility and Metropolis: Dialoguing with Geography. In: XXV IUSSP INTERNATIONAL POPULATION CONFERENCE, 2005, Tours, Frana. Anais. Tours, Frana: IUSSP [CD-ROM]

    MEYER, Regina Maria Prosperi. Atributos da metrpole moderna. So Paulo Perspec., out./dez. 2000, vol.14, no.4, p.3-9. ISSN 0102-8839.

    TUAN, Yi-Fu. Space and place: the perspective of experience. Minneapolis: University of Minneapolis Press. 1977. 235p.

  • 16

    NOTAS

    1 Para um desenvolvimento em maior detalhe desta conceituao, ver MELLO, L. F. de. Metrpole, Tecnologia

    e Risco. 2 Mais e mais utilizada nos ltimos anos, a expresso sweatshops (literalmente, fbricas do suor) indica uma

    situao de explorao extrema dos trabalhadores, caracterizada por um salrio abaixo do mnimo necessrio sobrevivncia, pela ausncia de qualquer forma de garantia ou proteo trabalhista, pela explorao de crianas, pelas condies de trabalho perigosas para sade ou por ameaas, molstias sexuais e abusos fsicos e psicolgicos no lugar de trabalho. As denncias internacionais contra os sweatshops crescem a cada ano e formam uma triste antologia que nos mostra as inmeras possibilidades para explorao dos trabalhadores: mulheres foradas a tomar contraceptivos ou submetidas a testes de gravidez e que so demitidas em caso dem positivo, trabalhadores expostos a substncias txicas, ameaados e demitidos em caso de protestos, forados a turnos de trabalho de at 19 horas, impedidos de abandonar o trabalho por meio de vigias armados (CASTELFRANCHI, 2004). 3 Maquiladoras so empresas que importam peas e componentes de suas matrizes estrangeiras para que os

    produtos (como carros, computadores, aparelhos de som) sejam manufaturados (montados) em geral, por trabalhadores que ganham um salrio inferior ao daqueles que trabalham nas matrizes para depois exportar o produto final para o pas de origem da empresa ou para outros pases em que o produto seja competitivo. Elas existem no Mxico desde 1965, mas ganharam um impulso com a eliminao das alquotas de importao a partir do Nafta, implantado no comeo de 1994, e no final daquele ano j somavam mais de 2 mil empresas, que a princpio se instalaram na fronteira com os Estados Unidos, mas depois se espalharam por todo o territrio mexicano. Em 1998, o Decreto para a Fomentao e Operao da Indstria Maquiladora serviu de novo impulso, e j so mais de 3 mil empresas do gnero instaladas no Mxico. As maquiladoras so na maioria dos setores de eletroeletrnicos (Canon, Casio, Kodak, Ericsson, Hewlett Packard, IBM, Motorola, General Electric, Philips, Samsung, Sanyo, Sony) e automotivo (BMW, Ford, General Motors, Honda) (CUNHA, 2004). 4 Para uma anlise melhor estruturada e mais aprofundada dos temas pode-se recorrer a MELLO et al, 2004,

    MARANDOLA & MELLO, 2005 e MELLO & MARANDOLA, 2005.