metodologia transdiciplinar

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Gustavo Korte

INTRODUO

Metodologia Transdisciplinar

NESTNcleo de Estudos Superiores Transdisciplinares So Paulo - 2000

Introduo Metodologia TransdisciplinarTexto e apresentao: Gustavo Korte Colaborao e reviso: Dalva Alves

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ndice, 2 Apresentao , 4 Captulo I - Mtodo e Metodologia, 5 1. O que mtodo, 5. 2. Informaes que emergem da Filosofia, 9 3. O que metodologia , 15 4. Como proceder para abordar o conhecimento, 16 5. A linguagem discursiva e o idioma, 18 Captulo II - Disciplina, 21 6. O que entendemos por conceito, significado, constructo e definio, 21 7. O que entendemos por disciplina, 26 8. Caminhos inter, multi, pluri e transdisciplinares, 27 9. Os marcos iniciais destes caminhos para o conhecimento, 28 10. H vrios mtodos, 29 11.Inter disciplinar , 30 12. Multidisciplinar, 31 13. Pluridisciplinar, 32 14. Transdisciplinar, 33 15. Transdisciplinaridade no novidade, 34 16. O processo transdisciplinar: sugestes para um caso concreto, 40 Captulo III- Misticismo e Autoritarismo, 47 17. Usando os recursos pessoais, 47 18. Que misticismo, 48 19. Que significa mistrio, 50 20. Misticismo tem a ver com mistrio, 51 21. Teoria, 54 22. Autoritarismo, 55 23. Noes de autoridade e poder, 58 Captulo IV - Racionalismo e empirismo, 63 24. Holismo, 63 25. Humanismo e entendimento holstico, 66 26. O racionalismo como mtodo de abordagem do conhecimento, 67 27. O significado de empirismo, 73 28. Relaes entre racionalismo e empirismo, 75 29. Necessidade e contingncia, 76 30. O empirismo e o racionalismo na abordagem do conhecimento, 79 31. Antagonismo e simbiose entre empirismo e racionalismo, 80 32. Questes a responder, 81 33. O todo e o reconhecimento das partes, 81 34. Racionalismo: ruptura ou quebra da unidade, 81 35. Exemplo de pragmatismo, racionalismo e empirismo nas cincias mdicas, 82 36. A reunio de segmentos, 85 37. Restaurao, 86 38 .Projeo, 88 Captulo V - A utilidade e o conhecimento, 90 39. O Pragmatismo, 91 40. Pragmatismo como futurismo,92 41. Pragmatismio como praticalismo, 94 42. O Relativismo, 96 Captulo VI Ceticismo, 99 43. O que ceticismo, 99

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44. O argumento histrico, 100 45. O argumento dialtico em favor do ceticismo, 100 46. O argumento fisiolgico em favor do ceticismo, 101 47. O argumento psicolgico em favor do ceticismo, 103 48. Princpio da uniformidade da natureza, 103 49. O que dvida?, 104 50. O que certeza?, 105 51. Dvidas pendentes sobre a matria abordada, 106 52. Indivduo, dualismo e contexto, 106 Captulo VII Amorosidade,109 53. O senso comum e a amorosidade, 109 54. A natureza do respeito, da ao correta e da obrigao, 11455. Uma viso transdisciplinar da amorosidade, 116 56. Indcios de amor na fsica quntica, 124

Captulo VIII Intuicionismo , 129 57. Intuio, intuicionismo e instinto, 129 58. Intuio, Toms de Aquino e Kant, 130 59. Bergson e a intuio, 131 60. Intuio, opinio e instinto, 134 61. Aproveitamento transdisciplinar e intuitivo de leis cientficas, 136 62. Ordem de grandeza, 137 63. Comparando dimenses atmicas e dimenses ticas, 138 64. O mtodo de Canizzaro e o conceito de densidade social, 140 65. Mol, massa molecular, peso molecular e molalidade, 141 66. Reconhecendo sinais, 142 67. Vontade, 14368. Foras sociais, 145 69. Relacionando fora social e vontade humana, 148 70. Ns, os colides e as cincias experimentais, 149

71 Micelas e os ncleos sociais, 150 72. A regra de Weimarn, 151 73. Movimento Browniano e Efeito Tyndall, 152 74. Propriedades coligativas em sociedade, 153 75. Sedimentao social, 155 76. Von Helmhotz e as Cincias Sociais, 157 77. A termodinmica e as cincias sociais, 159 78. A termoqumica presta servios s cincias psicossociais, 161 79. A viso holstica dos cientistas, 163 80. Vivenciando um paradoxo, 168

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DedicatriaEste trabalho e os esforos nele desenvolvidos procuraram dar continuidade amorosidade vital que impulsiona o ser humano, induzindo-o a percorrer alegremente os campos do conhecimento. Neste fluxo de idias, linhas e formas de pensar, procuramos homenagear os que nos transmitiram ateno, informaes, amor e sobretudo os princpios ticos que do sentido vida: foram inmeros os professores que marcaram nossa vida pessoal. Queremos externar uma homenagem aos que, como verdadeiros educadores, deram lies nas classes que frequentamos no Colgio Visconde de Porto Seguro, especialmente a Hamilcar Turelli, Ubiratan DAmbrsio, Leila Cury, Aldo Perracini, Walter Toledo Silva e Benedito dos Santos, que ainda se mantm nas trincheiras da vida. Mas no podemos deixar de mencionar, in memoriam, os competentes e queridos Llio Canevari, Nicolau DAmbrsio, Albrecht Tabor, Fritz Ackerman, Fritz Pietschke, Leila Cury e Alfredo Silva.

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Tambm aqui nossa homenagem, dentre os muitos que delas so credores, aos que dedicaram parte considervel de suas vidas, misso junto aos cursos superiores que frequentamos: Zeferino Vaz, Antonio Sesso, Joo Cruz Costa, Lvio Teixeira, Lineu de Camargo Schtzer, Florestan Fernandes, Almeida Jnior, Theotnio Monteiro de Barros Filho, Basileu Garcia, Jorge Americano, Alexandre Corra, Alfredo Buzaid, Gama e Silva, Canuto Mendes de Almeida, Cndido Motta Filho, Slvio Marcondes e Vicente Marotta Rangel. E, finalmente, um agradecimento especial a Dalves Alves, assdua colaboradora e incentivadora para a realizao deste trabalho, e aos demais que, como fundadores e companheiros, mantiveram-se, durante vrios meses, nossos interlocutores sobre os temas aqui abordados, em nossos encontros semanais no NEST: Wilma Gili Marchetti, Valquiria Albuquerque, Claudino Pilleti, Pedro Scuro Neto, Antonio Agenor Farias, Nelson Rebello Jr., Andreys Stareika, Gilmar Mendona, Helena Renner e Rodolfo Viana. Gustavo Korte

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Captulo 1 Mtodo e Metodologia1 O que mtodo Qualquer ao, seja ela efetivada na vida terica1 ou na prtica2, no mundo das realidades3, abrangendo concretudes, fantasias ou fices, instala dentro de ns a busca de referenciais pelos quais possamos nos guiar. De fato, de maneira quase instintiva, procuramos em nosso redor4 fixar marcos atravs dos quais a trilha a ser percorrida indique onde estamos, e quais os demais referenciais do percurso5. Na prtica, todavia, os caminheiros so dotados de muito mais ousadia. Avanam, no mais das vezes, sem tais referenciais. Aventuram-se pela realidade sem as prvias especulaes recomendadas pelo racionalismo, empirismo e pragmatismo. Deixamos de lado os imperativos da ao que so ditados pelo racional e pelo emprico e avanamos guiados por um processo que nem s intuitivo mas que resulta de uma vontade desordenada, que, conscientemente, evitamos racionalizar. Sonhamos de olhos abertos, projetando nossas aes na direo e com o sentido que conscientemente no pensaramos adotar. No despertar, tentamos relembrar o que ocorreu, e, no mais das vezes nos arrependemos, sem conseguir explicar em nvel de conscincia qual foi a causa real de nossos movimentos. S ento percebemos que os marcos deixados pelas linhas de pensar onricas so frgeis, difusos e, no mais das vezes, confusos. A linguagem dos sonhos, sejam noturnos ou diuturnos, , quase sempre, constituda por sinais aparentemente desconexos, sem apoio em algo sensvel que nos permita reconstruir a seqncia dos pensamentos onricos6. Fromm7 escreveu: Os mitos dos babilnios, indianos, egpcios, hebreus e gregos so redigidosna mesma lngua que os dos achantis ou dos xavantes. Os sonhos de uma pessoa vivendo hoje em dia em Nova Iorque ou Paris so os mesmos registrados por pessoas que viveram h mil anos em Atenas ou Jerusalm. Os sonhos do homem antigo e do moderno esto escritos na mesma lngua que os mitos cujos autores viveram na aurora da histria.

A busca dos caminhos do conhecimento efetiva-se, inicialmente, na busca dos mtodos. um processo que leva a situaes semelhantes as que experimentamos ao despertar dos sonhos. As imagens pouco ntidas, que surgem nossa frente durante esse processo, devem ser comparadas, definidas e, por uma ao do intelecto, passam por um mapeamento. Acumulam-se os dados obtidos pela observao pessoal. As informaes resultantes das observaes, sejam tericas ou prticas, indicam os mais diversificados modelos de relaes, sejam presenas, ausncias, posies, duraes ou outras formas de manifestao dos fenmenos. A partir da procedemos construo de formas de pensar que supomos prprias, convenientes e oportunas.

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Vida terica: processamento das idias cujo contedo conseguimos abordar pela abstrao da realidade atravs do racionalismo, autoritarismo, misticismo, ceticismo, intuicionismo e amorosidade. Tem o sentido do lidar com o abstrato e a idia de vida contemplativa. 2 Vida prtica: processamento da vida no mundo da ao, especialmente pelo empirismo e pragmatismo, alm dos demais caminhos do conhecimento,i.e., amorosidade, intuicionismo, autoritarismo, misticismo, racionalismo, ceticismo. 3 Mundo das realidades: o universo imaginrio ou real, que inclui tudo, tanto o verdadeiro como o falso, o concreto, o abstrato e o fictcio, tanto sonhos como esperanas. Passado, presente e futuro com todas as suas contingncias e necessidades. . 4 Contexto 5 Parmetros 6 O inconsciente atemporal. 7 FROMM, Erich. A linguagem esquecida. Rio de Janeiro: Zahar Ed. 1964, p.14.

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Reconhecemos que o misticismo, o autoritarismo, o racionalismo, o empirismo, o pragmatismo, o ceticismo, a amorosidade e o intuicionismo so os oito mtodos fundamentais a partir de cuja combinao podemos seguir as trilhas do conhecimento. Eleger um mtodo equivale a escolher um caminho. Aos peregrinos do intelecto so oferecidos vrios roteiros, inmeras trilhas e os mais diversos caminhos e os mais sbios preferem aproveitar-se das experincias dos que os antecederam, evitando repeties de insucessos que, muitas vezes, lhes possam consumir, irremediavelmente, o tempo de vida que no lhes ser devolvido. Sabemos que muitas vezes nos possvel recuar diante de erros, equvocos e direcionamentos que nos distanciam de nossos propsitos. Mas, por ora, s a imaginao e a fico cientficas nos tm permitido recuar no eixo dos tempos. Sabemos, assim, que o tempo algo que parece ser irrecupervel. Tempo mal aproveitado vida mal vivida. Tempo desperdiado vida consumida sem aproveitamento. Somos intuitivamente levados a crer que compete, aos que querem avanar em direo ao conhecimento, faz-lo com segurana, firmeza e em velocidade cautelosa, que seja compatvel com suas potencialidades. A razo e a vontade de viver com aproveitamento impe-nos efetuar a escolha do caminho que nos parea o mais prprio. Se soubermos faz-lo, poderemos alcanar nossos objetivos. Caso contrrio, restaremos s margens do processo intelectivo em que definimos uma parte da nossa natureza humana. Dentro das nossas abordagens procuramos respaldar nossos avanos nas informaes trazidas pelo senso comum. Da por que os avanos sero grafados na linguagem discursiva, traduzida no idioma portugus falado no Brasil, e tero, como base de informaes, a autoridade do que nos informado pelos dicionrios, sejam eles etimolgicos, gramaticais, enciclopdicos ou de campos de conhecimentos especficos. A palavra mtodo tem origem no vocbulo grego leia-se Mthodos). Este verbete aporta vrios significados, dentre os quais destacamos: caminho, programa , processo, tcnica, procedimento, forma ou modelo de ao, meio, tratado procedimental. No sentido figurado significa tambm prudncia, ateno, ritual, circunspeco; modo judicioso de proceder;ordem.

Caminhando na direo do entendimento, tentando conscientizar os vrios processos mentais de abordagem cognitiva, podemos exercer vrias opes. Torna-se fcil, ento, constatar que vrios mtodos so passveis de utilizao. De fato, muitos so os caminhos para o conhecimento. H mtodos unidisciplinares especficos, aplicados a disciplinas especficas. H mtodos interdisciplinares, que propiciam o conhecimento via de sua abordagem por diferentes disciplinas. H mtodos pluri e multidisciplinares, que como veremos mais adiante, trazem respaldo em aes apoiadas em conhecimentos oriundos de varias diferentes disciplinas. Neste caso, tanto as crenas de que resultam como as razes finais que definem os procedimentos decorrem ou esto relacionados a diferentes disciplinas. E h tambm o mtodo que nos parece mais prprio, objeto fundamental desta abordagem, que se define na transdisciplinaridade, por muitos entendida como sendo o prembulo do conhecimento holstico. Os dicionrios especificam alguns dos muitos significados contidos no verbete mtodo, indicados pelas diferentes prticas e disciplinas8.8

Dicionrio Novo Aurlio CD-Rom: [Do gr. mthodos, 'caminho para chegar a um fim'.]S. m.1. Caminho pelo qual se atinge um objetivo. 2. Programa que regula previamente uma srie de operaes que se devem realizar, apontando erros evitveis, em vista de um resultado determinado. 3. Processo ou tcnica de ensino. 4. Modo de proceder; maneira de agir; meio. 5. V. meio1 (8). 6. Tratado elementar. 7. Fig. Prudncia, Mtodo categrico-dedutivo. Filos. 1. Mtodo dedutivo. Mtodo da mxima circunspeco; modo judicioso de proceder; ordem. verossimilhana. Estat. 1. Mtodo de estimao de parmetros ou de interpolao, baseado na determinao do mximo da funo de

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So muitos os mtodos sugeridos pelas diferentes disciplinas. Eles conduzem a espaos intelectuais que se abrem abordagem dos fenmenos e possibilitam o seu estudo. O que podemos verificar que, em cada campo do conhecimento, os interessados recorrem a vrias trilhas, todas elas anunciando possibilidades de conquistas nos campos do conhecimento. Todavia, ao mesmo tempo em que procuramos agir racionalmente, de uma viso introspectiva sincera, resulta uma observao irrefutvel: enquanto caminhamos por entre as nvoas do desconhecido, ns nos deixamos guiar, ora menos, ora mais, pelo misticismo, que envolve em mistrios uma grande parte do que supomos conhecido. E este misticismo nos induz a aceitar, como conhecimento fundamental, proposies simplesmente redutveis s razes de crena e justificao, que nada mais seno o que, modernamente, designado por conhecimento cientfico. Recebemos sinais intuitivos de que o espao ocupado pelo conhecimento, tal como o Universo, perde a linearidade geomtrica e revela-se na idia contida nas curvaturas pluridimensionais sugeridas pela trigonometria. O conhecimento, tal qual o Universo, est em expanso e se faz representar por curvaturas. Os mtodos no podem ser inflexveis. Do mtodo reconhecido por autoritarismo recebemos uma seqncia de informaes, revestidas de afirmaes sobre as quais no suscitamos dvidas, e indicadas pelas mais variadas notcias de fatos e aes, atribuindo a tais idias e linhas de pensar tambm a natureza de crena e justificao de que se reveste o que designamos e supomos ser o conhecimento. Tambm observamos que nos percursos empreendidos pelo intelecto surgem possibilidades de fixar caminhos tendo em vista um sentido eminentemente utilitarista, quando no simplesmente prtico. Queremos conhecer o processo visando reduzir custos operacionais e melhorar os rendimentos. Queremos agir para aumentar ganhos pessoais ou coletivos ou para reduzir os prejuzos .Por vezes, desse processo pragmtico emerge com nitidez a relao trabalho-resultado, usualmente reduzida pelos economistas expresso custo-benefcio. As observaes indicam que, na maioria dos casos, os mtodos especficos cumprem o ritual pragmtico de atender utilidade do conhecimento em face das pessoas envolvidas. Devemos reeconhecer que, muitas vezes, somos guiados pelo pragmatismo, traduzido na idia do mtodo que justifica o conhecimento pela sua utilidade9. Ou seja, o pragmatismo umverossimilhana de um conjunto de valores obtidos experimentalmente. Mtodo das alturas iguais. Astr. 1. Caso particular do mtodo das retas de altura, em que os astros so observados mesma altura. Mtodo das pocas superpostas. Astr. 1. Mtodo utilizado na cincia em geral, particularmente na astronomia, e segundo o qual a correlao entre um fenmeno causa e vrios outros considerados como efeitos obtida pela comparao simultnea com a varivel independente comum, o tempo. Mtodo das retas de altura. Astr. 1. Mtodo de determinao das coordenadas geogrficas de um ponto da superfcie terrestre pela utilizao das retas de altura [v. reta de altura] Mtodo de Agazzi. Pedag.1. Mtodo de educao pr-escolar, no qual se utiliza um material emprico para ensinar as crianas a distinguir as formas e as cores e para desenvolver livremente a linguagem. Mtodo de Bouguer. Astr. 1. Mtodo proposto pelo astrnomo francs Pierre Bouguer (1698-1758) para obter por extrapolao o valor da constante solar fora da atmosfera, com base no valor obtido no solo. Mtodo de Bragg. Min. 1. Mtodo de investigao da estrutura cristalina dos cristais, mediante o emprego de raios X. Mtodo Decroly. 1. Mtodo de ensino em que as matrias se entrelaam em torno de uma idia central, formando um todo homogneo, ajustado experincia globalizada e s reaes afetivas da criana; mtodo dos centros de interesse. Mtodo de dupla distncia. Astron. 1. Dupla-distncia. Mtodo dedutivo. Filos. 1. O que emprega Mtodo de unicamente o raciocnio, partindo de princpios considerados como verdadeiros e indiscutveis; mtodo categrico-dedutivo. Froebel. Pedag.1. Mtodo de educao pr-escolar baseado na auto-atividade interessada. Mtodo de palavras. Pedag. 1. Procedimento didtico usado no ensino da leitura, e em que cada palavra ensinada como um todo, sem prvio estudo de seus elementos fonticos. Mtodo de Stanislavski. Teat. 1. Tcnica de adestramento de atores, proposta e usada por Konstantin Stanislavski, ator e encenador russo (1863-1938), e pela qual se comea treinando o ator para que desenvolva plenamente as suas potencialidades psquicas, a fim de compor e interpretar seus personagens com absoluta verdade interior, pois, segundo Stanislavski, "o que interessa no a verdade fora do ator, mas a verdade dentro dele". Mtodo direto. Pedag. 1. Procedimento didtico usado para o ensino de lnguas vivas estrangeiras, e que consiste no uso exclusivo, em todos os contatos do professor com os alunos, da lngua que est sendo ensinada. Mtodo dos centros de interesse. Pedag. 1. Mtodo Decroly. Mtodo hipottico-dedutivo. Filos.1. O que admite premissas cuja verdade ser julgada a posteriori. Mtodo sinttico. 1. Aquele em que se emprega a sntese ou recomposio de um todo pelos seus elementos componentes. 9 Utilidade [Do lat. Utilitas. tis] S. f. 1. Substantivo que indica como pode usada ou aproveitada a coisa, objeto ou pessoa a que se refere, tendo em vista o interesse e ou a necessidade que define sua relao com os seres humanos. 2. Qualidade de til; serventia. 3. Indica a possibilidade de vantagem, proveito, lucro. 4. Diz-se da pessoa ou coisa cuja ao, uso ou funo atendam ao interesse emergente de algum fenmeno ou relao

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dos mtodos que justifica nossa busca do conhecimento. Por isso propomos o estudo do seu significado e de sei aproveitamento nos processos intelectivos. Grande parte dos mtodos especficos reconhecidos pela literatura cientfica tm caractersticas que respondem ao que sugerido pelo empirismo, ou seja, pelo aproveitamento da experincia prpria, da vivncia dos outros ou da somatria do que nos traduzido como verdade pela palavra dos historiadores. Este um dos mtodos a que dedicaremos nossa ateno, ou seja, o caminho sinalizado pela experincia pessoal, seja ela prpria ou dos outros. H pensadores10 que procuram se ajustar ao mtodo designado por racionalismo, que abordaremos mais adiante. O racionalismo diz respeito s relaes causais que agem na seqncia dos fatos projetados no eixo dos tempos e visa enunciar as leis de causa-efeito que, supostamente, regem todos os fenmenos. Outro dos mtodos a que recorreremos o ceticismo. No fluir da vida somos freqentemente espicaados pelo ceticismo, pelo duvidar seqencial que nos leva alternncia entre crena e descrena, propiciando dvidas e sugerindo certezas. No caminhar pelo mundo sensvel somos tangidos pela amorosidade e, atrados pelas delcias com que ela nos pastoreia, avanamos pelos campos do conhecimento. A conscincia do que o amor e a amorosidade nos impelem a trat-los como um dos mtodos de conhecer mais prprios e agradveis. . Tambm agimos muitas vezes, animadamente, pelo intuicionismo, que foge simultaneamente s exigncias da razo discursiva e da experincia. O intuicionismo, como mtodo que pode nos levar ao conhecimento, ser a nossa ltima abordagem nesta introduo. 2 - Informaes que emergem da Filosofia Os entendimentos filosficos sugerem algumas convergncias e tantas outras divergncias conceituais. Walter BRGGER11 afirma que: ... Mtodo e sistema perfazem a essncia do sabercientfico no qual o sistema representa o aspecto de contedo e o mtodo o aspecto formal. Com maior preciso, designamos sistema o conjunto ordenado de conhecimentos ou de contedo de uma cincia. Pelo contrrio, caracterizamos como mtodo, em conformidade com o sentido etimolgico da palavra, ( em grego , atalho, vocbulo composto de , caminho, , junto de, ao lado de; donde atalho, rodeio) o caminho seguido para construir e alcanar dito conjunto. Falando de um modo geral, ocupamo-nos metodicamente com um domnio do saber, quando o pesquisamos segundo um plano, pomos em destaque suas peculiares articulaes, ordenamos os conhecimentos parciais de acordo com a realidade, os ligamos com rigor lgico e tornamos inteligveis, consoante os casos, valendo-nos de demonstraes; no final, devemos saber, de todas e de cada uma das coisas, no s o que so, mas tambm por que so deste ou daquele modo, por conseguinte, no apenas o fato, mas tambm a razo do mesmo... A transferncia do mtodo prprio de uma cincia para outra pode falsear e at inutilizar todo o trabalho; o que sucede, quando, p. ex., se pretende elaborar a metafsica s com o mtodo da cincia natural. S. Toms de Aquino prepara j a ntida separao dos mtodos , pela distino que faz entre os trs graus de abstrao, distino essa que ele desenvolve( seguindo o trilho aberto por Aristteles. Por sobre a abstrao fsica (cientfico-natural) e a matemtica, eleva-se a abstrao metafsica que considera o ente enquanto tal.tica. 5. Idia de que a coisa ou pessoa a que se refere prpria, por natureza ou aptido, para satisfazer as alguma necessidade ou aspirao de seres humanos, seja em carter individual ou coletivo. 10 A tradio intelectual do ocidente designa por pensadores os que trabalham com as formas de pensar ordenando-as segundo um mnimo de racionalidade, ou seja, de formas de pensar que se sujeitam a princpios de ordenao por causa-efeito, tendo em vista antecedente-consequente e ou anterior-posterior, subjugando tais observaes a supostas comprovaes empricas ou lgicas, que sejam concreta ou abstratamente possveis.. 11 BRGGER, Walter. Dicionrio de Filosofia. S. Paulo: Herder, 1969

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Andr LALANDE12, explica que a palavra mtodo carreia trs significados fundamentais: o primeiro, traduz etimologicamente, perseguio(cf. );conseqncia, esforo para atender um fim, pesquisa, estudo ; donde se encontram , entre os modernos, duas concepes muito vizinhas , possveis de distinguir: 1 - Caminho pelo qual chegou-se a um certo resultado, mesmo quando este caminho no estava adredemente fixado de maneira desejada e refletida. Chamamos aqui ordenar, a ao do esprito pela qual, tendo sobre um mesmo sujeito ... diversas idias, diversos julgamentos e diversos raciocnios, ele os dispe da maneira mais prpria para tornar conhecido esse sujeito. isto que se chama ainda mtodo. Tudo isso, por vezes, ocorre naturalmente e algumas vezes melhor quando executado por aqueles que no aprenderam nenhuma regra da lgica em relao aos que as aprenderam. (Lgica de Port-Royal, Introduo, 6-7) . 2- Programa regulador para avanar em uma seqncia de operaes a serem cumpridas e que assinala certos erros a serem evitados, visando atingir um resultado determinado. No segundo traz o significado de procedimento tcnico de clculo ou de experimentao. O mtodo dos menores quadrados. O mtodo de Poggendorf (emprego do espelho mvel para medida de ngulos). E no terceiro significado aporta a idia de um sistema de classificao (sobretudo em Botnica: John Ray, Methodus plantarum nova, 1682). ainda LALANDE quem afirma que a idia de mtodo sempre de uma direo definvel e que pode ser regularmente perseguida em uma operao do esprito. DESCARTES aconselha prosseguir... levando em conta as consideraes e as mximas a partir das quais formei um mtodo, pelo qual me parece que eu tenho um meio de aumentar por degraus o meu conhecimento e de elevar pouco a pouco a um ponto mais alto que a mediocridade de meu esprito e a curta durao da minha vida me permitam atingir ( Discurso do Mtodo, I, 3) . , . Substantivo fem. caminho, via, regra. , confinante. () (, ) embuste, cilada, fraude, engano. , mtodo, sistema, regra, ordem pedaggica, modo de proceder, costume, via. Mais adiante BLTING ensina que o advrbio grego , escrito com a

Rudolf BLTING13 em seu Dicionrio Grego-Portugus, esclarece:

letra grega tau e no com teta, antes mencionado por Brgger, traz vrios significados tais como no meio, entre, alm; como preposio e genitivo, quer significar entre, no meio, no lado de ,junto com, sob, em, conforme; como preposio e acusativo significa depois de, para dentro, segundo, conforme, entre. Resta observar na referncia etimolgica que ), significa perseguir, o que diferente de ,, caminho, trilha, roteiro, cujo radical escrito com teta (O) e no tau ( ), onde o prefixo meta traz o significado de objetivo a ser atingido. Por mtodo, convm repetir, entendemos o caminho, a trilha e os marcos do pensamento que indicam as diretrizes do procedimento intelectual. Importa indicar diferenas entre a idia de mtodo e a de sistema. Quando falamos mtodo recebemos logo a idia de um caminho, que est pelo menos entre um ponto de sade e um de chegada. Sistema envolve muito mais do que o mapeamento de um caminho. Sistema14 o verbete com que designamos a somatria de elementos, partes e partculas, movimentos, fluxos e refluxos, que aportam uma utilidade para que possamos chegar a12 13

LALANDE, Andr. Vocabulaire Tchnique et Critique de la Philosophie. Paris: Quadrige-Presses Universitaires, 1997. BLTING, Rudolf. Dicionrio Grego-Portugus, R.Janeiro: Ed. Ministrio de Educao e Cultura, 1953. 14 Sistema. O verbete contm vrios significados, dentre os quais atentamos para os mais comuns. Sistema traz implcito o significado de idias convergentes (sys+thema), temas que tm relaes em comum. O conceito de sistema interliga conjuntos e subconjuntos, identificados por razes comuns a vrios elementos de um determinado conjunto-universo. Sistema traz o significado de um produto da inteligncia humana derivado da necessidade de compreender a natureza, tanto mais prximo quanto possvel do que supomos ser a realidade. No Dicionrio Novo Aurlio-CD ROM, a saber: [Do gr. systema, 'reunio, grupo', pelo lat. systema.]S. m. 1. Conjunto de elementos, materiais ou ideais, entre os quais se possa encontrar ou definir alguma relao (5). 2. Disposio das partes ou dos elementos de um todo, coordenados entre si, e que funcionam como estrutura organizada: sistema penitencirio; sistema de refrigerao. 3. Reunio de elementos naturais da mesma espcie, que constituem um conjunto intimamente relacionado: sistema fluvial; sistema cristalino. 4. O conjunto das instituies polticas e/ou sociais, e dos mtodos por elas adotados, encarados quer do ponto de vista terico, quer do de sua aplicao prtica: sistema parlamentar;

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determinados objetivos. Quando verificamos um sentido identificado pelo pragmatismo, em determinados rgos, funes ou processos, e abordamos a significao desse conjunto heterogneo, mas onde as partes funcionam, agem, interagem, existem e operam juntas, ento no falamos de um mtodo mas de um sistema. Os enunciados, ou como diria Morris15, em Semitica, so os interpretantes de um sistema. Referem-se a relaes causa-efeito ou a expresses antecedente-conseqente, pelas quais podem ser reconhecidos os conjuntos de elementos que o integram. Os sistemas, atendendo ao sentido pragmtico com que identificamos o funcionamento do conjunto a que se referem, podem ser simples ou complexos, primitivos ou derivados, abstratos ou concretos, vivos ou inanimados, auto-suficientes ou dependentes. Podemos consider-los fictcios na medida em que se adstrinjam a conhecimentos hipotticos. Os sistemas so enunciados pelo conhecimento humano a partir de experincias, constataes, ou por hipteses geradoras de crenas justificadas. Acreditamos que h um sistema solar em que o sol o centro e em que os planetas giram a seu redor e acreditamos que vivemos nesses sistema. Se o ctico pe em dvida essa crena, a maioria dos atuais homens de cincia repele a atitude. Mas podemos convir que, podemos estar sujeitos a regras mais dominadoras que as que regem o sistema solar, e efetivamente, poderamos afirmar que as leis que regem o espao macrofsico, assim como o microfsico, so outras que no as anunciadas por Newton e Galileu, nem pelos indicadores da fsica quntica, mas dizem respeito muito mais aos campos eletromagnticos e s vibraes de natureza igual ou semelhante s que ocorrem em nosso sistema nervoso. E, a partir da hiptese, que supomos fictcia, poderamos concluir que o sistema solar apenas aparentemente um sistema, mas de fato, to somente um minsculo rgo, assistemtico, que serve como sistema apenas diante do pensamento humano. A idia de sistema sempre revelada em relao a um determinado conjunto-universo. O conjunto universo sempre uma fico elaborada pela mente humana. Na medida em que esse universo hipottico se reduz ou se amplia, o processo de sua identificao pode tornar-se invlido. E, consequentemente, os supostos fundamentos de verdade em que est estruturado podem ser convalidados, invalidados ou excludos. Da porque, quando falamos em mtodos de abordagem do conhecimento podemos entender a possibilidade de que cheguemos a elaborar ou enunciar um sistema, mas, de fato, em relao metodologia, os sistemas so contingenciais, isto quer dizer, podem ou no ser revelados, reconhecidos, descritos ou identificados. Os mtodos podem ou no levar a sistemas, podem ou no levar a snteses.

sistema de ensino. 5. Reunio coordenada e lgica de princpios ou idias relacionadas de modo que abranjam um campo do conhecimento: o sistema de Kant; o sistema de Ptolomeu. 6. Conjunto ordenado de meios de ao ou de idias, tendente a um resultado; plano, mtodo: sistema de vida; sistema de trabalho; sistema de defesa. 7. Tcnica ou mtodo empregado para um fim precpuo: sistema Taylor (de Frederick W. Taylor - 1856-1915); sistema Braille (de Louis Braille - 1809-1852). 8. Modo, maneira, forma, jeito. 9. Complexo de regras ou normas: um sistema de futebol; um sistema de corte e costura. 10. Qualquer mtodo ou plano especialmente destinado a marcar, medir ou classificar alguma coisa: sistema mtrico; sistema decimal. 11. Hbito particular; costume, uso: A cozinheira tinha o sistema de preparar as refeies com antecedncia. 12. Anat. Conjunto de rgos compostos dos mesmos tecidos e que desempenham funes similares. 13. Biol. Coordenao hierarquizada dos seres vivos em um esquema lgico e metdico, segundo o princpio de subordinao dos caracteres. 14. Comun. Conjunto particular de instrumentos e convenes adotados com o fim de dar uma informao: sistema radiotelegrfico; sistema de computadores; sistema audiovisual. 15. Fs. Parte limitada do Universo, sujeita observao imediata ou mediata, e que, em geral, pode caracterizar-se por um conjunto finito de variveis associadas a grandezas fsicas que a identificam univocamente. 16. Geol. Conjunto de terrenos que corresponde a um perodo geolgico. 17. Ling. Conjunto de elementos lingsticos solidrios entre si: sistema fonolgico; sistema sincrnico. 18. Ling. A prpria lngua quando encarada sob o aspecto estrutural. 19. Ms. Qualquer srie determinada de sons consecutivos. 15 MORRIS, C. Fundamento da teoria dos signos. S. Paulo: Ed. USP,1976,pp.13 e 14.

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Se a crena cientfica em relao ao sol, planetas e luas for constatada como falsa, e for verificado que o que designamos por sistema solar , na realidade, um conjunto de elementos assistemticos, teremos que a idia de um sistema solar no passaria de uma fico em si mesmo. Da mesma forma que ocorre com os mtodos, h grande nmero de sistemas utilizados e estudados em vrias disciplinas e nos mais diversos campos do conhecimento. Tendo em vista as dificuldades ocasionais do leitor que no dispe de um dicionrio mo, em caso de procurar reconhecer diferenas entre mtodos e sistemas, passamos a enunciar os nomes de alguns dos significados de sistemas e os campos em que so utilizados ou reconhecidos como ferramentas de trabalho intelectual. No rodap, cada um dos sistemas referidos pelos diconaristas explicitado em conformidade com as informaes trazidas pelo dicionrio Novo Aurlio em CD-ROM, da Editora Nova Fronteira, obra a que usualmente recorremos: Sistema aberto16; Sistema afocal17;Sistema anglo-norte-americano18; Sistema aplantico19; Sistema artificial20; Sistema astigmtico 21; Sistema autocolimador22.; Sistema binrio23; Sistema Braille24; Sistema cartesiano25; Sistema CGS26 ; Sistema CGS eletromagntico27; Sistema CGS eletrosttico28; Sistema cilndrico29; Sistema compatvel30; Sistema conservativo31; Sistema copernicano32; Sistema cristalino33; Sistema cromtico34; Sistema cbico35; Sistema de barraco36; Sistema decimal37; Sistema de comunicao38; Sistema de controle automtico39; Sistema de coordenadas40; Sistema de equaes41; Sistema de logaritmos42; Sistema de16 17

Fs.1. O que pode trocar energia e massa com o exterior. pt.1. Sistema ptico que forma no infinito a imagem dum objeto no infinito. 18 Tip. Sistema tipomtrico baseado no ponto 0,351 mm e usado nos pases de lngua inglesa. 19 pt. . Sistema ptico em que a aberrao de esfericidade e a coma foram corrigidos. 20 Bot. Sistema baseado num rgo arbitrariamente escolhido pelo botnico. [Cf. sistema sexual.] 21 pt. Sistema ptico em que a imagem de um ponto um segmento de reta, no sendo a imagem de uma reta, em geral, uma reta, mas sim uma linha curva. 22 pt. Sistema ptico que pode ser focalizado (em geral para o infinito) por um dispositivo de autocolimao. 23 Mat. Importante sistema de numerao, utilizado na tecnologia dos computadores, no qual a base dois, e que s tem dois algarismos: o zero e o um. 24 Sistema de escrita para cegos, universalmente adotado, inventado por Louis Braille, pedagogo francs (1809-1852), que consta de pontos em relevo para leitura com auxlio dos dedos. 25 Geom. Anal. Sistema de coordenadas, em que estas so cartesianas, e que foi inicialmente esboado e posteriormente definido por Rene Descartes (1596-1650). em sua obra designada Geometria. 26 Fsica. Sistema de unidades de medida baseado em trs unidades fundamentais: o centmetro, unidade de comprimento; o grama, unidade de massa; e o segundo, unidade de tempo. 27 Fsica. Sistema de unidades de medida em que trs unidades fundamentais so as do sistema c. g. s. (centmetro, grama e segundo) e em que a permeabilidade do vcuo tomada como a quarta unidade fundamental. 28 Fsica. Sistema de unidades de medida em que trs unidades fundamentais (centmetro, grama e segundo) so as do sistema c. g. s., e a permissividade do vcuo a quarta unidade fundamental. 29 Geometria Analtica. Sistema de coordenadas em que estas so cilndricas. 30 lgebra. Sistema de equaes que admite pelo menos uma soluo bem determinada. 31 Fsica. Aquele em que no h dissipao de energia sob forma trmica. 32 Astronomia. Sistema cosmolgico heliocntrico criado por Nicolau Coprnico [V. copernicano.], e segundo o qual os planetas giravam em torno do Sol em movimentos circulares. 33 Mineralogia. Conjunto de eixos cristalogrficos cujas posies referentes no espao e cujos valores dimensionais definem e classificam os cristais em sete categorias: sistema monomtrico ou isomtrico, tetragonal ou quadrtico, hexagonal, trigonal, ortorrmbico, monoclnico e triclnico. 34 Ms. Sistema baseada na diviso da oitava em 12 partes iguais. 35 Mineralogia. Corresponde ao acima descrito sistema isomtrico 36 Brasileirismo. Sistema vigente em certos locais do interior brasileiro, e no qual o fazendeiro paga aos empregados com vales, aceitos apenas no barraco da fazenda, onde so vendidos artigos de primeira necessidade a preos exorbitantes. 37 Matemtica. Sistema de nmeros em que a unidade de ordem vale 10 vezes a unidade de ordem imediatamente anterior. Sistema de computador. Proc. Dados. V. sistema de processamento de dados. 38 Comunicaes. Sistema de circulao de mensagens entre dois plos distintos no espao ou no tempo. Compe-se basicamente de: fonte, que produz a mensagem original; emissor, que codifica a mensagem em uma seqncia de sinais, transmitindo-os atravs de um determinado canal; canal, meio utilizado para enviar os sinais; receptor, que exerce operao reversa do emissor; destinatrio, a quem se deseja alcanar com a mensagem. 39 Qualquer combinao opervel de um ou mais controladores automticos ligados em malha fechada, com um ou mais processos; servossistema. 40 Geom. Anal. Conjunto de n meros que determinam univocamente a posio de um ponto num espao n-dimensional. 41 Matemtica. Conjunto de equaes que devem ter pelo menos uma soluo que as satisfaa simultaneamente.

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numerao43; Sistema de processamento44; Sistema de processamento de dados45; Sistema de referncia46; Sistema Didot47; Sistema dissipativo48; Sistema duodecimal49; Sistema especialista50; Sistema executivo51; Sistema extragalctico52; Sistema fechado53; Sistema filogentico54; Sistema Fournier55; Sistema gaussiano56;Sistema geocntrico57; Sistema Giorgi58; Sistema heliocntrico59 ; Sistema heterogneo60; Sistema hexagonal61; Sistema homogneo62; Sistema indeterminado63; Sistema internacional de unidades64.; Sistema isolado65; Sistema isomtrico66; Sistema kepleriano67; Sistema linear68 ; Sistema mtrico decimal69; Sistema MKS70; Sistema monitor71; Sistema monoclnico72; Sistema monomtrico73; Sistema MTS74 ; Sistema no-linear75; Sistema natural76; Sistema nervoso autnomo77; Sistema nervoso42 43

Mat. O conjunto dos logaritmos dos nmeros numa base. Atribui-se ao matemtico Napier, a inveno da Tbua de Logaritmos. Mat. O conjunto de regras para representao dos nmeros. 44 Proc. Dados. V. sistema de processamento de dados. 45 Proc. Dados. Conjunto complexo e organizado de procedimentos e equipamentos, geralmente baseados em circuitos eletrnicos, capaz de manipular e transformar dados segundo um plano determinado, produzindo resultados a partir da informao representada por estes dados. [V. processamento de dados.] 46 Fs. Significa o conjunto referencial em que est delimitado o campo da experincia ou da observao . 47 Tip. Sistema tipomtrico baseado no ponto de 0,3759 mm. [Estabelecido pelo impressor francs Franois Ambroise Didot (1730-1804), segundo a medida criada por Fournier. Cf. altura francesa e sistema Fournier.] 48 Fs. Aquele em que ocorre dissipao de energia sob forma trmica. 49 Mat. Sistema de numerao em que a base doze. 50 Proc. Dados. Novo sistema de computao que retm uma frao significativa do conhecimento de um especialista em uma determinada rea, e que pode utilizar este conhecimento para sugerir concluses s quais o especialista chegaria, se ambos fossem confrontados com os mesmos problemas. 51 Proc. Dados. V. sistema operacional. 52 Astr.1. V. galxia (2). 53 Fs.. Aquele que pode trocar energia com o exterior, mas cujas paredes ou fronteiras no permitem a passagem de substncias materiais. 54 Bot. Sistema de classificao dos vegetais baseado na teoria da evoluo. [ o nico que se usa hoje em dia, e que classifica, tambm, as plantas fsseis.] 55 Tip. Sistema tipomtrico (hoje usado somente na Blgica) baseado no ponto original de 0,3487 mm. [ criao do tipgrafo francs Pierre Simon Fournier (1712-1768.)] 56 Fs. Sistema de unidades de medidas eltricas e magnticas em que todas as quantidades eltricas so medidas no sistema c.g.s. eletrosttico e as magnticas no sistema c.g.s. eletromagntico. 57 Astr. Sistema cosmolgico que admitia ser a Terra o centro do Universo, em torno da qual giravam todos os astros. [Cf. sistema ptolomaico.] 58 Fs. Sistema de unidades de medidas que coincide, praticamente, com o sistema mtrico, e no qual as unidades fundamentais so o metro, o quilograma e o segundo, e a permeabilidade do vcuo igual a 10 elevado potncia -7. 59 Astr. Sistema cosmolgico que admite ser o Sol o centro do Universo, girando em torno dele os astros do sistema solar. [Cf. sistema copernicano e sistema kepleriano.] 60 Fs.-Qum. O que constitudo por mais de uma fase e, portanto, tem propriedades que podem diferir de um ponto para outro. 61 Min. O sistema cristalino caracterizado por um eixo de simetria senrio. 62 Fs.-Qum. O que constitudo por uma s fase, i. e., aquele que em qualquer ponto tem as mesmas propriedades. 63 lg. Sistema de equaes que admite uma infinidade de solues. 64 Sistema de unidades de medida baseado em seis unidades fundamentais: o metro, unidade de comprimento; o quilograma, unidade de massa; o segundo, unidade de tempo; o ampre, unidade de corrente eltrica; o kelvin, unidade de temperatura termodinmica; e a vela(candeia), unidade de intensidade luminosa. 65 Fs. O que no pode trocar nem energia nem massa com o exterior. 66 Min. Sistema cristalino que se caracteriza essencialmente por trs eixos cristalogrficos iguais e retangulares, tendo os cristais deste sistema quatro eixos de simetria ternrios, sistema monomtrico, sistema cbico. 67 Astr. Sistema cosmolgico heliocntrico, criado pelo astrnomo alemo Johann Kepler (1571-1630), e segundo o qual os planetas giram em torno do Sol seguindo rbitas elpticas. 68 Mat. O constitudo por equaes lineares. 69 Sistema de unidades de medida baseado no metro, e que usa mltiplos e submltiplos decimais. 70 Fs. Sistema de unidades de medida baseado em trs unidades fundamentais: o metro, unidade de comprimento; o quilograma, unidade de massa; e o segundo, unidade de tempo. 71 Proc. Dados. Vide sistema operacional. 72 Min. Sistema cristalino que se caracteriza essencialmente por trs eixos cristalogrficos desiguais, dois deles perpendiculares entre si, e o terceiro perpendicular ao eixo horizontal, porm oblquo em relao ao vertical. 73 Min. V. sistema isomtrico. 74 Fs. Sistema de unidades de medida baseado em trs unidades fundamentais: o metro, unidade de comprimento; a tonelada, unidade de massa; e o segundo, unidade de tempo. 75 Mat. O que envolve pelo menos uma equao no linear. 76 Bot. Sistema de classificao no qual os caracteres empregados levam em conta as afinidades naturais das plantas, merecendo considerao, assim, todos os rgos, conquanto se d preferncia morfologia floral. 77 Anat. Poro do sistema nervoso, tanto aferente quanto eferente, que inerva musculatura cardaca e lisa, e controla secrees glandulares diversas. No se encontra sob o controle da vontade, e divide-se em dois grandes setores: o simptico e o parassimptico. [Sin.: sistema nervoso vegetativo e sistema nervoso da vida vegetativa.]

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central78; Sistema nervoso da vida vegetativa79;Sistema nervoso vegetativo80; Sistema octal81; Sistema on-line82; Sistema operacional83; Sistema ortorrmbico84; Sistema planetrio85; Sistema presidencial86; Sistema polar87; Sistema ptolomaico88; Sistema quadrtico89; Sistema racionalizado90; Sistema reticuloendotelial91; Sistemas analgicos92; Sistema sexagesimal93. Sistema sexual94; Sistema solar95 ; Sistema Taylor96;.Sistema telescpico97; Sistema temperado98 ; Sistema tetragonal.99 Sistema triclnico100; Sistema trigonal101.

Fritzjof Capra, ao trabalhar com a idias de sistemas vivos, reconhece duas correntes fundamentais que fluem pelos limites do pensamento cientfico, atravs das quais pretende-se explicar o que designado por sistemas vivo. Afirma, citando como fonte os estudos de Haraway:Antes que o organicismo tivesse nascido, muitos bilogos proeminentes passaram por uma fase de vitalismo, e durante muitos anos a disputa entre, mecanicismo e holismo estava enquadrada como uma disputa entre mecanicismo e vitalismo. ..(...)...Tanto o vitalismo como o organicismo opem-se reduo da biologia fsica. Ambas as escolas afirmam que, embora as leis da fsica e da qumica sejam aplicveis aos organismos, elas so insuficientes para uma plena compreenso do fenmeno da vida. O comportamento de um organismo vivo como um todo integrado no pode ser entendido somente a partir do estudo de suas partes. Como os tericos sistmicos enunciariam vrias dcadas mais tarde, o todo mais do que a soma das partes102...78 79

Anat. Poro do sistema nervoso composta de encfalo, medula espinhal e meninges que os recobrem. Anat. V. sistema nervoso autnomo. 80 Anat. V. sistema nervoso autnomo. 81 Mat. Sistema de numerao em que a base oito, adotado na tecnologia de computadores 82 Proc. Dados. Sistema de carter interativo, com a capacidade de aceitar dados diretamente no computador a partir do lugar aonde so criados e enviar os resultados do processamento diretamente para a rea aonde so necessrios, efetuando o transporte de dados atravs de canais ou linhas de comunicao, so evitados estgios intermedirios, tais como gravaes de dados em fita, ou disco magntico, ou impresso fora de linha. 83 Proc. Dados. Conjunto integrado de programas bsicos, projetado para supervisionar e controlar a execuo de programas de aplicao em um computador; sistema monitor, sistema executivo. [Abrev.: OS, do ingls Operational System.] 84 Min. Sistema cristalino que pode referir-se a trs eixos cristalogrficos desiguais dispostos em ngulo reto, e caracterizado, no essencial, por um eixo de simetria dupla, que a interseo de dois planos de simetria, ou, ento, perpendicular a dois eixos de simetria. 85 O conjunto dos planetas que giram em redor do Sol. [Cf. sistema solar.] 86 Corresponde ao presidencialismo como forma de governo. 87 Geom. Anal. Sistema de coordenadas em que estas so polares. 88 Astr. Sistema cosmolgico geocntrico, criado pelo astrnomo grego Cludio Ptolomeu, no sc. II d. C., e segundo o qual todos os astros giravam em torno da Terra em movimentos circulares ou combinao de movimentos circulares. [Cf. sistema geocntrico.] 89 Min. Sistema cristalino que pode referir-se a trs eixos retangulares, dois deles iguais, e caracterizado por um eixo de simetria qudrupla; sistema tetragonal. 90 Fs. Sistema de unidades de medidas eltricas e magnticas, derivado do sistema mtrico ou do c.g.s., e no qual as unidades destes aparecem multiplicadas por potncias apropriadas de 4 < com o objetivo de tornar mais simples ou mais simtricas algumas expresses tericas 91 Histol. integrado por clulas aparentemente isoladas e autnomas que circulam pelo endotlio, articuladas por um comando ainda no suficientemente identificado, que atuam em defesa de clulas do organismo que estejam sendo agredidas ou perturbadas por aes ou substncias fora das funes celulares normais. Constitui-se por clulas que, situadas em diferentes locais do organismo, tm caractersticas reticulares e endoteliais e dispem de capacidade fagocitria, intervm na formao de clulas sangneas, no metabolismo do ferro e desempenham funes de defesa contra infeces, etc. 92 Fs. Sistemas de natureza diferente cujo comportamento se descreve por equaes idnticas. 93 Mat. Sistema de numerao em que a base sessenta. 94 Bot. Sistema artificial, definido por Lineu (1707-1778), pelo qual as plantas so classificadas segundo os caracteres encontrados nos rgos reprodutivos. [Cf. sistema artificial.] 95 Astr. Conjunto de planetas [V. planeta (1).], asterides, satlites, cometas, meteoritos e poeira csmica que gravitam em redor do Sol. [Cf. sistema planetrio.] 96 Refere-se ao conjunto de regras definidas por Frederick Taylor (1856-1915), engenheiro e economista americano, que realizou a primeira medida prtica de realizao do trabalho humano. H uma brevssima referncia histrica ao conjunto de regras para o clculo das diferenas finitas, que no propriamente designado sistema, e que foi idealizado por Brook Taylor (1685-1731), matemtico ingls. 97 pt. Sistema afocal imerso em ar. 98 Ms. Sistema que consiste em dividir a oitava em 12 semitons exatamente iguais, e que usado na afinao de certos instrumentos de sons fixos (piano, rgo, etc.), de modo que uma tecla pode servir para produzir mais de uma nota, de nomes diferentes, mas de som igual, como, p. ex., d, si sustenido e r dobrado bemol, o que era impossvel no temperamento desigual [Sin.: temperamento igual.] 99 Mineralogia. Corresponde ao Sistema quadrtico. 100 Min. Sistema cristalino que pode referir-se a trs eixos desiguais oblquos. 101 Min. Sistema cristalino caracterizado por um nico eixo de simetria ternria e trs eixos cristalogrficos iguais, dispostos simetricamente em torno do eixo ternrio, e fazendo com este um ngulo diferente de 90 graus. 102 CAPRA, Fritzjof. A Teia da Vida. S. Paulo: Cultrix,1997, p.38..

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Vejamos a relao entre mtodo e sistema nesta busca do conhecimento. Capra recorre ao empirismo cientfico traduzido nos conhecimentos biolgicos, autoridade de cientistas como Haraway, e ao pragmatismo prprio dos sistemas que procuram traduzir o servio das formas de pensar que, sistematizadas, mas no necessariamente sistmicas, servem a determinados mtodos. E, finalmente, via do ceticismo, no caso antimecanicista, apoia-se no racionalismo para induzir concluso de que o todo mais do que a soma das partes. E explica: Os vitalistas e osbilogos organsmicos diferem nitidamente em suas respostas pergunta: "Em que sentido exatamente o todo mais que a soma das partes?" Os vitalistas afirmam que alguma entidade , fora ou campo nofsico deve ser acrescentada s leias da fsica e da qumica para se entender a vida. Os bilogos organsmicos afirma que o ingrediente adicional o entendimento da "organizao", ou das "relaes organizadoras."103 Capra, ainda afirma que: ...Desde o incio do sculo, tem sido reconhecido que o padro de organizao de um sistema vivo sempre um padro de rede. No entanto, tambm sabemos que nem todos os sistemas de rede so sistemas vivos...104

Para deixar mas ntida a diferena entre mtodo e sistema, pode-se observar que no prprio falar em mtodos vivos ou mtodos inanimados, mas em mtodos eficientes ou ineficientes, que so ou no so utilizados, que levam ou no ao conhecimento. 3 - O que metodologia O mapeamento dos mtodos nos leva a pensar que no h conhecimento fora de uma sistematizao metodolgica nem que possa estar distanciado de marcos reconhecveis. O que importa afirmar que todo conhecimento relativo. Ou seja, no se caminha metodicamente sem que antes haja uma trilha. Esta idia conflita, todavia, com a experincia humana, pois a revelao do conhecimento pode dar-se tanto no desbravamento de novos espaos nos campos do saber como durante ou no final do percurso. Conhecer sugere um processo em que, pelo trabalho das formas de percepo, a mente humana se prope chegar a um objetivo que, supostamente, vai satisfazer a vontade que a anima. Tendo origem no verbete grego mthodos, metodologia traduz a idia de ordenao, seqncia, arte, estudo, tcnica, processo. O Novo Aurlio acentua trs significados principais:arte de dirigir o esprito na investigao da verdade; na Filosofia, estudo dos mtodos e, especialmente, dos mtodos das cincias; na Literatura, como um conjunto de tcnicas e processos utilizados para ultrapassar a subjetividade do autor e atingir a obra literria.

Os estudos metodolgicos, muitas vezes, conduzem prpria Epistemologia105. Torna-se oportuno questionar se, para chegar ao conhecimento, possvel utilizar vrios mtodos ou nos bastar apenas um. Tambm suscita a questo fundamental se um ou vrios mtodos podem conduzir falsidade do que supomos ser juzos de conhecimento. Os estudos desenvolvidos anunciam, de um lado a complexidade e a teia em que se entrelaam os procedimentos metodolgicos e, de outro, que h muitos caminhos que devem ou podem ser percorridos na direo do conhecimento, sem que entre si sejam, necessariamente convergentes, colidentes ou exclusivos. - Ser que todos os caminhos nos levam aonde queremos chegar?

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CAPRA, Fritzjof. A Teia da Vida. S. Paulo: Cultrix,1997, p.38. CAPRA, Fritzjof. A Teia da Vida. S. Paulo: Cultrix,1997, p.136. 105 , , (episteme) s.f., cincia, saber, conhecimento, arte. , , , (epistemnico), adj. Cientfico. )

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Todavia, outro o significado contido no processo dinmico em que se revela a ao de percorrer uma trilha. Esta ao, como prtica humana, resulta de nossa vontade. Por outro lado, na mesma indagao vem a sugesto de que h caminhos objetivos, que esto nossa frente e no dependem de ns, pois existem em si e por si mesmos, e onde, sobretudo, persiste em ns querer saber se h em ns a vontade que pode ou no nos animar a percorr-los. So muitos os mtodos sugeridos pelas diferentes disciplinas que nos permitem a abordagem dos fenmenos. Faamos uma avaliao de perspectivas e propsitos em torno dos quais devero ser captados os contornos da nossa vontade para que possamos ver definido o caminho a ser percorrido.. Ao iniciar uma peregrinao intelectual, por mais difusos ou abstratos que possam parecer os objetivos, impe-se explicitar, pelo menos, a natureza e algumas das propriedades do alvo em cuja direo partimos. Nada acrescenta desdobrar avanos na vivncia de aventuras, desbravamentos e riscos que o conhecimento desordenado pode acarretar. No de bom alvitre caminhar sem metas de segurana, ordenao seqencial e alvo definido. A vida marcada por um impulso direcionado, com sentido e acelerao. A experincia indica que a desordem no leva ao que chamamos sistematizao do conhecimento. S a ordenao nos deixa seguros de estarmos na direo e sentido prprios aos nossos objetivos. H um sentido pragmtico na motivao final de nossos movimentos. Buscar a utilidade do conhecimento, sua aplicabilidade para fins genricos ou especficos, querendo definir, no final do percurso a utilidade contida na vivncia, ainda que seja utpica, uma das componentes naturais que forma a vontade, e que a experincia sugere inerente natureza do ser humano. Cabe questionar se, quando falamos em utilidade ou funo do conhecimento utilitarista, estamos apenas clareando uma das determinaes genticas que integram o nosso sistema nervoso. Isto , cabe fixar esta indagao para investigarmos se, quando pensamos em utilidade do conhecimento, estamos apenas respondendo a um requisito biolgico das nossas funes pensantes ou ela uma resposta criativa da espcie humana para responder s suas necessidades de sobreviver e preservar a espcie. A pergunta confunde porque, enquanto mtodo significa caminho, impe-se a idia de utilidade, convenincia e propriedade da ao e da vontade que nos leve a percorr-lo. 4 - Como proceder para abordar o conhecimento H muitos significados contidos na palavra conhecimento106. Questionando como abordlo, vemos que a resposta requer indicao de mtodos ou caminhos possveis. Algumas vezes, imbudos de um ceticismo crnico, somos levados a acreditar que a alma nada conhece por si mesma. Por isso, inicialmente, usamos do misticismo e do autoritarismo para forma uma base de106

Conhecimento. S. m. O verbete tem vrios significados: o resultado do ato de aprender. Em sentido restrito, diz respeito s idias,linhas e formas de pensar percebidas conscientemente pelo intelecto e gravadas na memria. Diz-se que tem algum conhecimento de algum fato quem teve informaes, notcias ou referncias a suas causas ou efeitos. No empirismo, conhecimento revela a experincia de vida. No Direito Comercial, designa o documento escrito que faz prova de que algum tem em seu poder mercadorias objeto de comrcio, visando o embarque ou o recebimento; conhecimento de bagagem o documento de bagagem, fornecido pela empresa de transporte; conhecimento de carga, recibo de mercadoria entregue empresa transportadora; conhecimento de depsito; documento que faz prova de depsito de mercadorias; pode corresponder ao recibo emitido juntamente com o warrant, dado pelos armazns gerais, trapiches ou estabelecimentos similares. Em Filosofia h muitas teorias do conhecimento. H muitos mtodos para abordagem do conhecimento.A posio, pelo pensamento, de um objeto como objeto, variando o grau de passividade ou de tividade que se admitam nessa posio. Designa-se conhecimento de um fenmeno a relao entre causa e efeito, que expressa as condfies necessrias e suficientes para que ele ocorre. Se verificadas tais condies ento o fenbmeno cponhecido. Conhecimento cientfico, atualmente,m designa a crena tida por verdadeira e suficientemente justificada.etc. Conhecimento a priori. o designativo usado por Kant para o o conhecimento absolutamente independente da experincia e de todas as impresses dos sentidos. Conhecimento emprico. Hist. Filos. Sientio1. Conhecimento a posteriori..

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supostos conhecimentos. O misticismo nos chega pela nossa crena, enraizada em formulaes mticas e msticas. O autoritarismo funda-se na autoridade de quem nos informa. Mais adiante, recorreremos ao racionalismo, empirismo, pragmatismo, ceticismo, amorosidade e ao intuicionismo. Mynikka Vyagar (sc. VIII), escritor hindu, em Tirouvyagam, sugere: ...A alma nada conhece por si mesma. O conhecimento repousa sobre uma relao entre doistermos: ele, de uma parte, e seu deus, de outra. Ora, esse produto est longe de ser estvel, submisso s flutuaes que podem existir nas relaes entre pessoas humanas107.

O racionalismo, exigente e fundado na suposta racionalidade, esclarece e satisfaz sobretudo as formas de pensar ditadas pela lgica discursiva.. A experincia que a vida nos propiciou, como tambm a nossos ancestrais e a outros humanos, reunida pelos historiadores, aponta o caminho ditado pelo empirismo. O pragmatismo, exigindo resultados prticos ligados utilidade do conhecimento, sugerido como mtodo, pois traz a idia de utilidade do conhecimento. Usando o ceticismo deveremos suscitar dvidas e questionar tudo que no nos parecer claro. E assim o ceticismo emergir como outra das possibilidades metodolgicas. Os sinais da amorosidade como mtodo de conhecimento vm, desde a tradio hebraica mais remota, firmada por Moiss (sc. XIII a.C.). So reafirmados pelos clssicos na sistematizao do conhecimento, como Pitgoras (sc. VI a.C.), Zoroastro (sc. VI a .C.), Confcio (sc. VI a.C.), Budha (sc. VI a.C.), Plato (sc. V a.C.)108; Aristteles (sc. IV a.C.), Cristo, Paulo de Tarso (sc. I), Maom (sc. VI),Toms de Aquino (1226-1274)109 e tantos outros pensadores. Na realidade, os rituais do amor, margem da vida, mapeam os caminhos mais apropriados para a assimilao e a composio de informaes, de idias, de linhas e formas de pensar. Constituem trilha indispensvel e so fios essenciais do tecido em que nos revelada a alegria e o prazer no processo do conhecimento. Por isso que, a par dos demais sinalizadores, seguimos, tambm, os indicativos oriundos da amorosidade, adotando-os como imperativo decorrente de lei natural e reconhecendo-lhes os traos do que designamos conaturalidade110. E, finalmente, deixar-nos-emos guiar pelo intuicionismo, que mal sabemos definir e que nem sabemos at onde nos levar. Esta aparente irresponsabilidade na escolha metodolgica implica em que aceitamos, como princpio de procedimento, na sua forma mais elementar, que h caminhos que no respondem positivamente razo nem experincia anterior. Todavia, o intuicionismo, como um deles, nem por isso perde a natureza de meios de acesso ao saber. Torna-se imperativo, por ora, afim de que tenhamos um avano significativo, que cada um procure responder, em seu ntimo, as questes que seguem: - Queremos realmente saber, conhecer, entender os fenmenos ou, simplesmente, vivenci-los? - Onde chegar? - Partindo de onde? - Quando chegaremos? - A causa deste querer saber e avanar resultante de uma evoluo interior ou est em ns como sendo prpria e exclusiva de nossa Natureza? No importa que as respostas sejam precisas ou imprecisas, exatas ou inexatas. importante o esforo individual que anima o intelecto a responder. O que interessa que essas perguntas estejam presentes em nossas formas de pensar, em cada passo, e possibilitem exercer o

107 108

Apud Histoire des Litteratures. Paris:Ed. Gallimard,1955, p.1062. Plato, em O Banquete, traduz o que Fedro anuncia: O amor entre os homens tanto como entre os deuses, uma grande e maravilhosa divindade. 109 Toms de Aquino sugere que h duas formas fundamentais pelas quais adquirimos o conhecimento: por conaturalidade(sapientia) como dom de Deus; e por estudos das cincias e da doutrina, como resultado do trabalho intelectual do ser humano. 110 Entenda-se por conaturalidade a qualidade que prpria e intrnseca da natureza do ser a que se refere.

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arbtrio que nos haver de permitir avanar, recuar, pensar e escolher em cada momento o que parea mais prprio111, oportuno112 e conveniente113. 5- A linguagem discursiva e o idioma Para que um campo de conhecimento seja reconhecido como cientfico, o que de uma certa forma implica numa abordagem racional das informaes que dele nos chegam, diz-se que deve ser tratado com objeto, linguagem e metodologia que lhe sejam prprias. Muitas so as linguagens e diversificadas so as formas de comunicao. No h que confundir linguagem com idioma. A linguagem classe da qual a linguagem verbal gnero e o idioma espcie ou subespcie. Em geral a linguagem sempre de natureza simblica. E ns nos comunicamos, sobretudo, por sinais que no so necessrios verbalizados. Os estudiosos de neurolingstica informam que noventa e dois por cento das formas de comunicao no so discursivas, ou seja, nem integram idiomas nem linguagem verbalizada. Mas, por outro lado, apenas oito por cento das comunicaes entre os seres humanos ocorrem pela verbalizao dos idiomas. J.C. Mazzilli114 afirma: Em PNL115 usa-se o termo Prestidigitao Lingstica para designaruma srie de padres de direo do pensamento para criar mltiplas posies perceptivas num determinado contexto. Destina-se a evitar o raciocnio linear, ou pensamento unidirecional. Seu modelo constitudo por estratgias que permitem estabelecer analogias, hierarquizar critrios, segmentar para baixo ou para cima, ver intenes e conseqncias etc. e nos permite desafiar crenas e raciocinar de um modo global.

A veracidade dessa afirmao emerge do empirismo em nossas observaes de vida, na medida em que no difcil reconhecer o uso simultneo de muitas outras linguagens tais como visual, ttil, auditiva, gustativa, corporal, olfativa etc. De fato, a linguagem um instrumental atravs de cuja utilizao as idias so transmitidas com significados que mais se aproximam do que lhes atribudo. A leitura de Gardner116 nos sugere a crena de que a cada linguagem corresponde uma inteligncia: Cada inteligncia possui seus prprios mecanismos de ordenao e a maneira como uma inteligncia desempenha sua ordenao reflete seus prprios princpios e meios preferidos. Para possibilitar a memorizao de nossos supostos progressos discursivos e formar o patrimnio/ intelectual que pretendemos legar, contendo-os em documentos escritos, impe-se, de um lado, reunir os elementos que compem as nossas supostas aquisies intelectuais e de outro, usar a linguagem verbal discursiva. a forma de propiciar que idias e formas de pensar possam ser reconhecidas por outros, independentemente do tempo e do lugar em que foram tecidas e aportem alguma fidelidade ao que lhes d significado. A nossa intuio sugere que a cada inteligncia deve corresponder um mtodo de conhecimento. As inteligncias progridem por mltiplas formas de percepo. As formas de percepo emergem nas dimenses em que a inteligncia se revela. E o conhecimento, localizado nas dimenses em que as formas de percepo afloram, torna-se o alvo comum tanto do mtodo como da inteligncia. Da porque somos levados a crer que os mtodos, as inteligncias e as111 112

Com o sentido do que responde s propriedades que definem nossa natureza como seres humanos e pensantes. Significando o que compatvel e mais ajustado ao momento da deciso. 113 O que converge para os objetivos; que se ajusta e facilita o seguir adiante. 114 MAZZILLI, J.C. Repensando Scrates. S.Paulo: Ed. Icone,1997, p.131. 115 PNL: abreviao de Programao Neuro Lingstica. 116 GARDNER, Howard. Estruturas da mente- A teoria das inteligncias mltiplas. Porto Alegre: Ed. Artes Mdicas, 1994, p.131.

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formas de expresso so elementos convergentes que integram o conjunto em que se opera o conhecimento. Duas idias fundamentais ligadas verbalizao da linguagem discursiva se abrem nossa abordagem. A primeira delas est em Plato, no Cratylo117, quando Scrates sustenta que a cada nome corresponde uma entidade, seja um objeto, uma pessoa, um qualificativo, uma idia, uma ao ou um perodo. Para o filsofo grego, boa linguagem aquela em que a essncia das coisas ou entidades revelada no designativo por que estas so reconhecidas. Nessa mesma trilha Heidegger118 questiona: Existe algum entre ns que no sabe o que formar uma idia? Quando nsformamos uma idia de alguma coisa de um texto, se somos fillogos, de um trabalho de arte, se somos historiadores da arte, acerca de um processo de combusto, se somos qumicos ns temos uma idia representacional desses objetos. Onde ns temos essas idias? Em nossas cabeas. Ns as temos em nossa conscincia. Ns as temos em nossa alma. Ns temos as idias dentro de ns mesmos, estas idias de objetos.

A segunda indicada pela trilha reaberta por Charles Sanders Peirce (1839-1914), por muitos considerado o pai da Semitica. Peirce acredita que nos seus primrdios intelectivos o Homo sapiens ter-se-ia utilizado do objeto-smbolo e da memria. Pelas formas de percepo receberia as informaes acerca do objeto-smbolo, e estas seriam em seguida gravadas na memria. O registro do objeto-smbolo na memria passa por um processo gradativo de abstrao que ocorre como formas de pensar na percepo dos signos. Trazendo as imagens pictogrficas de uma cabea de boi desenhada na parede de uma caverna, e o tmulo de um companheiro onde colocada uma pedra desenhada, BROSSO119 e VALENTE para esclarecer a mensagem de Peirce, exemplificam o processo de abstrao em trs diferentes formas: a pedra desenhada um cone, e a cabea do boi um ndice do boi. Na verdade ambos so cones, mas como o desenho da cabea tem com o objeto representado uma proximidade fsica, ou seja, uma relao de contigidade, torna-se naquele momento um ndice. Com a escrita criptogrfica o ndice, na seqncia e ao longo de sculos, poder evoluir para tornar-se o smbolo do boi. Assim se expressam esses autores: Ento teramos: cones(primeiridade- noes de possibilidade e qualidade); ndices: (secundidade: noes de choque e reao, incompletude); e smbolos (terceiridade noes de generalizao, norma e lei).

Peirce explica que temos o cone quando o signo possui analogia, semelhana ou similaridade com o objeto nele representado; temos o ndice quando se revela uma conexo de proximidade (contigidade) e o smbolo quando a conexo com o objeto da representao corresponde a uma abstrao intelectual, a uma linha de pensar memorizada, sem a qual a ligao no teria meios de ser reconhecida. Citado por BROSSO e VALENTE, Roman JAKOBSON afirma que a linguagem um dossistemas de signos, e a lingistica, enquanto cincia dos signos verbais, apenas parte da Semitica, a cincia geral dos signos (...) ou a doutrina dos signos, dos quais os mais comuns so as palavras120. Peirce afirma que o mais alto grau de realidade s atingido pelos signos e que ele aprova a criao de novas palavras para novas idias121. Com a palavra faneroscopia Peirce designava tudo

que presente ao esprito, sem cuidar se corresponde a algo real ou no.117 118

PLATO. Cratylo. (V. trechos em KORTE, Gustavo. A viagem em busca da linguagem perdida, S.P. Peirpolis,1997 p. 408-416). HEIDEGGER, Martin. O que designado pensamento? N. York: Harper&Row Pub. 1999, p.39. 119 BROSSO, Rubens. e VALENTE, Nelson. Elementos de semitica. S.Paulo:Panorama, 1999, pp.19 e 20. Rubens Brosso foi um dos fundadores do NEST. 120 JAKOBSON, Roman. Lingstica, Potica, Cinema, S. Paulo:Cultrix. 10. ed; p.14). 121 BROSSO e VALENTE, idem, p.65

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Seguem esta linha as sugestes de Ludwig WITTGENSTEIN (1889-1951), no Tratactus Logico-Philosophicus,122. Wittgenstein nessa sua primeira fase afirma123: ... Que algo caia sob umconceito formal como seu objeto no pode ser expresso por uma proposio. Isso se mostra, sim, no prprio sinal desse objeto. (O nome mostra que designa um objeto; o numeral que designa um nmero, etc.).Com efeito, os conceitos formais no podem, como os conceitos propriamente ditos, ser representados por uma funo. Pois suas notas caractersticas, as propriedades formais, no so expressas por funes. A expresso da propriedade formal um trao de certos smbolos. O sinal da nota caracterstica de um conceito formal , portanto, um trao caracterstico de todos os smbolos cujos significados caem sob o conceito. A expresso do conceito formal , portanto, uma varivel proposicional em que apenas esse trao caracterstico constante.

Parece-nos evidente que h um sentido estritamente pragmtico na linguagem escrita, pois ela responde ao desejo de usarmos, vazando a dimenso tempo, o instrumento de comunicao para gravar informaes, possibilitando que no nos escapem da memria. Dentre as muitas possibilidades de linguagem discursiva usaremos o portugus como idioma eleito, j que nossas formas de pensar so ordenadas e construdas no vernculo. Deveremos aprender um vocabulrio especfico e prprio para os avanos metodolgicos ser formulado ao longo de nossos entendimentos. Impem-se-nos, neste instante, formular algumas avaliaes quanto oportunidade124. Vamos trabalhar com a transdisciplinaridade, tomando-a, em si mesmo, como um mtodo, um caminho, um processo de conhecimento. H marcos que nos levaro a campos imprevistos, muito alm dos que pretendemos alcanar. Mas h tambm trilhas enganosas que, no apenas podem nos desviar dos nossos objetivos, como tambm afastar-nos definitiva e perigosamente da meta final. Tentemos responder a algumas questes tais como:- para onde devemos nos dirigir? que idia de lugar intelectivo nos atrai? quando chegaremos? quais as provises disponveis? como chegaremos? Neste primeiro degrau impe-se concluir que, para que sejam efetivas a aprendizagem e a possibilidade de registr-la nos bancos de memria do conhecimento humano, dois elementos so essenciais: a escolha do mtodo, no sentido do caminho intelectual a ser percorrido, e a conscincia de que, embora restritiva na extenso e compreenso, devemos escolher a linguagem discursiva consubstanciada em nosso idioma, como o meio regular pelo qual procuraremos registrar nossos progressos.

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WITTGENSTEIN. Ludwig. Tratactus Logico Philosophicus. Trad. e introd. Luiz Henrique Lopes dos Santos. S.Paulo: Edusp. 1994. Suas obras esto compreendidas em duas fases : a primeira, at 1921, em que reuniu suas idias na obra acima citada. A segunda fase, entre 1922-1951, quando faleceu. Em estudo que fez sobre os dois perodos, David Pears, em As idias de Wittgenstein, S.Paulo:Edusp, p. 14, escreveu: Em ambos os perodos o objetivo de Wittgenstein era o de compreender a estrutura e os limites do pensamento e o seu mtodo era o de estudar a estrutura e os limite das linguagem. Sua filosofia era uma crtica de linguagem, muito parecida em alcance e propsito com a crtica do pensamento realizada por Kant. Assim como Kant, Wittgenstein admitia que os filsofos freqente e no deliberadamente ultrapassam os limites, caindo num tipo de disparate especioso que, parecendo expressar pensamentos genunos, em verdade no o faz. Desejava ele descobrir a posio exata da linha que divide o que faz sentido do que no faz sentido, de modo que fosse possvel perceber quando se chega aquela fronteira e parar. 123 WITTGENSTEIN. L. Obra citada, Trad. e introd. Luiz Henrique Lopes dos Santos. S.Paulo: Edusp. 1994, p. 185. 124 Oportunidade . s. f. 1. Tempo ou instante prprio. 2. Perodo em que ocorre a possibilidade. 3 Ocasio. 4.Ensejo, lance. 5. Circunstncia adequada ou favorvel; convenincia. 6. Ocasio que revela convenincia para a ao. 7 Tempo em que se manifesta o fenmeno. 8. Momento propcio.

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Captulo II Disciplina6 O que entendemos por conceito, significado, constructo e definio.Impe-se fazer a aproximao verbal a trs palavras que sero usadas muitas vezes em nossas abordagens: conceito, significado e constructo. Queremos identificar significados. Recorremos a conceitos. Alojam-se, no depsito de nossas formas de pensar, conjuntos de idias, verbalizadas, convergentes ou divergentes, que designamos por constructos. Importa pois, inicialmente, distinguir entre conceito, significado e constructo. Conceito traz o sentido do que resultante de concepo. O verbete concepo, feminino em portugus e no idioma latino, originado de conceptio, onis significa a ao de conter, deincluir a partir da origem, encerrar; de conceber recebendo a semente de um novo ser ou conceber pelo esprito, no significado de receber, absorver ou encerrar uma nova idia ou forma de pensar. Na

filosofia entende-se por conceito a representao dum objeto pelo pensamento, por meio de suas caractersticas gerais. Conceituar contm um processo de abstrao, de projetar uma idia em formas verbais pelas quais seja reconhecvel. Corresponde ao de formular a idia por meio de palavras, definindo-a,dando-lhe os contornos formais, essenciais, plsticos, intrnsecos ou extrnsecos, que delimitam a sua caracterizao.

O verbete conceito traduz vrios significados, com direo e sentidos diferentes. Refere-se a pensamento: idia, opinio, noo, concepo; tambm a juzos de valor ou qualidade: apreciao, julgamento, avaliao, opinio. Traduz expresses subjetivas tais como ponto de vista; opinio, concepo; ou juzos sobre situaes sociais: reputao, fama. Tambm referente a formas de expresso idiomticas: mxima, sentena, provrbio; a formulaes discursivas crpticas: parte deuma charada ou logogrifo, pela qual sinalizada a palavra ou frase como expresso para a soluo proposta. Em Lgica encontramos os significados de conceito absoluto, ou seja o que define valor, qualidade ou relao e no submetido s condies limitativas do sujeito em que se realiza. Conceito abstrato o indefinido que expressa uma essncia indeterminada.

Quando tentamos conceituar sujeitamo-nos a restries fundamentais, a saber: a) da linguagem discursiva, verbalizada; b) do nosso potencial de projetar e representar, buscando consenso, aludindo s qualidades includas no objeto, na idia, pessoa ou coisa que pretendemos tornar reconhecvel; c) da intensidade da fora (ou inteno) que nos direciona e faz mover em busca do reconhecimento da idia, de tal forma que ela se torne a mais ntida possvel e propicie sua comunicao a outrem. Remontando natureza mtico-religiosa os pressupostos que nos levam conceituao, Cassirer125 explica: O conceito constitui-se, costumava ensinar a lgica, quando certo nmero deobjetos acordantes em determinadas caractersticas e, por conseguinte, em uma parte de seu contedo, reunido no pensar; este abstrai as caractersticas heterogneas, retm unicamente as homogneas e reflete sobre elas, de onde surge, na conscincia, a idia geral dessa classe de objetos. Logo, o conceito (notio, conceptus) a idia que representa a totalidade das caractersticas essenciais, ou seja, a125

CASSIRER, Ernst. Linguagem e mito. S.Paulo:Ed. Perspectiva. 1992, p.42.

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essncia dos objetos em questo. E, mais adiante, apoiando-se em Goethe (1749-1832), Cassirer126, promete: Obteremos uma idia mais precisa do fato se, por exemplo, tivermos em vista o mtodo do exame goethiano da Natureza: mtodo que se distingue no s porque nele se constata, com a maior clareza e vivacidade possvel, um determinado tipo de pensamento natural, mas tambm porque, ao mesmo tempo, consegue reconhecer e exprimir nessa atividade, a norma interna da natureza. Goethe volta sempre a insistir na necessidade da plena concreo, na plena determinao de contemplao da Natureza, onde cada coisa singular deve ser compreendida e contemplada no contorno preciso de sua figura singular; mas, no com menos agudeza, afirma que o particular est eternamente submetido ao geral, por intermdio do qual justamente ele constitudo e torna-se inteligvel em sua singularidade. A forma e o carter da natureza viva residem , precisamente, no fato de nada haver em seu mbito que no esteja relacionado com o todo.

Friedrich W.J. Schelling (1775-1854) ao tratar das relaes das artes com a natureza, observando as dificuldades nas conceituaes, quer quanto forma quer quanto ao contedo, em procedimentos que tm a arte por objeto, afirmava na seqncia de Goethe: Jamais a determinaoda forma , na natureza, uma negao, pelo contrrio, sempre, uma afirmao. Seguindo as idias comuns, considerareis, indubitavelmente, a configurao de um corpo como uma limitao que lhe foi imposta; mas se forem conhecidos (internamente) na fora criadora, a configurao aparecer como uma medida que esta fora se impe a si mesma e na qual se revela como uma fora verdadeiramente inteligente e sbia.... Representando-se esta fora da particularidade e, por ltimo, tambm da individualidade, como um carter vivo, o conceito negativo da mesma tem necessariamente como conseqncia de atribuir uma insuficiente e falsa finalidade ao que caracterstico da arte.

Lamarck (1744-1829) cujo trabalho classificatrio de plantas e animais est ainda vivo e atual no campo das Cincias Naturais, sugere a escala de progresso para a conceituao e classificao dos seres vivos. De fato, Lamarck sugere que h sempre um gnero em que o ser particular pode ser includo, e que definido pelos caracteres genricos reconhecidos nos demais integrantes, e de outro, que h sempre diferenas especficas entre as espcies de um mesmo gnero, que as identificam e fazem diferentes das demais. Observa-se no pensamento de Lamarck, assim como dos demais naturalistas, que conceituar traz o significado de classificar, de tal forma que o objeto do conceito seja includo no gnero (categoria) em que est includo e ao mesmo tempo diferenciado dos demais espcimes pela caracterizao das diferenas especficas. Por bvio que quando procuramos conceituar estamos agindo sob a ao de uma fora que nos impulsiona na direo do conhecimento. Seguindo o pensamento de Edmund Husserl127 quando aborda O Caminho para o Ego transcendental, devemos reconhecer que ... a vidaquotidiana pelos seus fins verdadeiros e relativos pode contentar-se com evidncias e verdades relativas..(...)... Por conseqncia, do ponto de vista da inteno final, a idia de cincia e de filosofia implica uma ordem de conhecimentos anteriores em si, referidos a outros, em si posteriores e, no fim de contas, um comeo e um progresso, comeo e progresso no fortuitos, mas, pelo contrrio, fundados na natureza das prprias coisas.." . No difcil observar que nas relaes humanas usuais no se desenvolve um esforo

maior em busca de conceitos especficos e obedientes sistemtica e metodologia que indicam ou podem levar ao que supomos ser o conhecimento. Em realidade, em funo das nossas deficincias intelectuais e das imprprias projees e representaes que nos so trazidas pela linguagem insuficiente, a maioria das pessoas despreza o rigorismo conceitual e, intelectualmente, trabalha com idias aproximadas, contornos pouco ntidos, e sobretudo, recorre imaginao criativa para desenhar ou mapear as informaes que compem os conceitos.

126 127

CASSIRER, Ernst. Idem, p. 45. HUSSERL, Edmund. Meditaes Cartesianas Introduo fenomenologia. Porto:Ed.Rs, s/d. P.23.

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H uma impacincia do intelecto que reage ao macro e ao microcosmos das idias, e que, quanto mais profunda a pesquisa conceitual, mais vai sendo sensibilizado pelo acatamento dos pressupostos mtico-religiosos. Ns respondemos impacientemente s foras que nos sugerem os avanos conceituais. A vida nos parece muito curta para aprofundarmo-nos nesses mundos infinitamente abstratos. Pode-se observar que quando se aplica especificamente na busca de conceitos a atividade intelectiva de natureza conceitual est sujeita a uma durao limitada. H limites reduzidos de tempo em que mentalmente possvel manter-se atento s especulaes conceituais mais aprofundadas. Quando ultrapassados tais limites, a mente cansada procura evadir-se do campo dessas especulaes. A experincia ensina que o ingresso intelectivo no universo das abstraes mentais, bem como o desempenho dos meios de percepo durante o desenvolvimento dessa atividade, consome muita energia, extenua as foras mentais e acarreta canseiras inesperadas. O verbete significado inclui-se na categoria gramatical dos substantivos. Etimologicamente fcil observar que a idia nele contida tem origem no particpio passado do verbo latino significo, as, avi, atum, are. H vrias direes em que se propagam os sinais contidos no verbete. Assim, vejamos: o significado: a) corresponde ao consumada de quem deu ou fez um sinal, uma indicao, umadeclarao, um anncio; b) aporta um sinal, um sintoma; c) manifesta a expresso de uma concordncia, como signo de assentimento, aplauso ou aprovao no necessariamente verbalizada; d) identifica o sentido lgico ou verbal contido na palavra, forma ou sinal; e) assinala o equivalente verbal no mesmo ou em outro idioma; f) est contido na representao ou projeo do significante; g) corresponde, como interpretante, ao conceito expresso pelo intrprete. Quanto a significado, Husserl ao abordar o campo da experincia transcendental, sugere que: A anlise intencional deixa-se guiar por uma evidncia fundamental: todo o cogito, enquanto conscincia. , num sentido muito largo, significao da coisa que visa, mas esta significao ultrapassa a todo o instante aquilo que, no prprio instante, dado como explicitamente visado. Ultrapassa-o, quer dizer, maior com um excesso que se estende para alm. No nosso exemplo, cada fase da percepo constitui apenas um aspecto do prprio objeto, enquanto visado na operao. Esta ultrapassagem da inteno na prpria inteno128, inerente a toda a conscincia deve ser considerada como essencial (Wesensmoment) a esta conscincia.

A idia de significado, como interpretante que decorre do intrprete, sugere, na semitica, algo esttico, inerente e presente no bojo do designatum, reconhecvel na observao do fenmeno. Mas neste sentido, por analogia, quando falamos em significado emprico do contedo conceitual, podemos traduzir o movimento acelerado, negativo ou positivo, que surge como intrnseco ao prprio conceito. E ento nos apercebemos que o designatum no tem o poder de designar algo esttico, mas expressa tambm um contedo dinmico. Ou seja, tambm as idias so dinmicas em si mesmas. E, como existem num universo dinmico, no mundo das realidades, os significados so dinmicos e no podem ser contidos ou presos a conotaes de imutabilidade eterna. O verbete significado traduz o contedo conceitual que recebemos pelos128

Ultrapassagem da inteno na prpria inteno corresponde a dizer que a inteno, no processo dinmico em que se manifesta, sofre uma acelerao. Ora, a ao de uma fora causa a acelerao. E qual seria pois a fora causadora dessa acelerao na inteno que a faz ultrapassar-se a si mesma? Husserl no esclarece, as fica a idia de que o cogitar, o pensar, em si, uma fora que acelera a vontade, o propsito, a inteno. Isto porque, as palavras de Husserl nos trazem memria o conceito fsico de acelerao. Ao ser medida a acelerao ela definida como uma grandeza derivada, decorrente das relaes entre deslocamento (espao) e durao (tempo) . Em verdade, enquanto a velocidade grandeza derivada definida pela relao entre o deslocamento e o tempo levado para que se opere, a acelerao corresponde variao da velocidade por unidade de tempo em que atua. Por isso foi criada a idia de que a variao da velocidade no tempo medida em uma relao em que o tempo concorre na frmula numa expresso de segundo grau, ou seja, tempo ao quadrado. Como entender a expresso metro por segundo ao quadrado que representa a idia da acelerao? Ora, no fcil compreender a expresso tempo ao quadrado e muito menos encontrar a correspondncia no mundo sensvel. Todavia ela existe e nos campos da fsica e da matemtica perfeitamente compreensvel a expresso variao da velocidade na unidade de tempo. (N. do A .)

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sinais que nos chegam. Pode ser ou estar mas no necessariamente - prisioneiro das amarras da comunicao verbal discursiva, ou seja, das palavras. O conceito responde a um movimento da mente e das formas de percepo cuja velocidade sofre variaes para mais ou menos. Por este meio obtemos sempre um conceito em movimento. E, a partir dele, alterando, modificando ou reduzindo as idias que lhe so conexas, podemos avanar ou regredir no campo do conhecimento. Conceito sugere um processo dinmico de atribuir juzos a pessoas, coisas, fenmenos ou idias, que j possumos, e que comum a mais pessoas. Este processo sempre verbalizado. A experincia sugere que os fenmenos so sempre complexos, nunca ocorrem isoladamente, e que h sempre uma acelerao, um plus que se acrescenta ao que j existia, e que impulsiona as formas de percepo propiciando novas formulaes ou subtraindo-as das j existentes. Usa-se em filosofia o verbete constructo com o significado de um conceito que est sendo verbalizado, que est em processo de construo discursiva. P. ex. globalizao. Partimos do neologismo para a formao da idia, via de seu reconhecimento, adjetivando-a de tal forma que seu significado venha a ser cada vez mais esclarecido. Globalizao torna-se mais compreensvel quando apelamos Geografia, Cincia das Comunicaes, Sociologia e Poltica, num processo de atribuio de conceitos que formem e traduzam o significado do que a sntese verbal procura. Constructo, com origem etimolgica no latim, pelo particpio passado do verbo construo, is, struxi, structum, ere, traduz: 1. o que foi construdo, o que foi enunciado, o que foi elaborado; 2. o que foi amontoado, acumulado. substantivo masculino, que se refere ao que elaborado ou sintetizado com base em dados simples, especialmente um conceito. Em verdade, o verbete constructo insere-se como processo de caracterizao da forma de pensar. De qualquer forma, sempre uma construo verbal discursiva, no se tendo notcia embora no nos parea impossvel - que haja constructo elaborado fora da linguagem discursiva. O constructo, como resultado de um conjunto nem sempre mensurvel de elementos discursivos que integram a idia, a linha ou a forma de pensar, pode ou no ser adotado como elemento constitutivo de uma crena justificada Em recente livro129 o atual Dalai Lama, Tenzin Gyatso, refere-se a constructo como sendo uma sntese mental que surge de uma gama de acontecimentos complexos. A leitura desta expresso sugere o constructo como um resultado discursivo de um processo de composio e integrao de elementos que aceitamos como verdadeiros em face de nossas crenas, sejam elas justificadas ou no. Tentando fixar o que, aps estas consideraes, sob o ngulo de viso que identifica a relao sujeito-formas de percepo-objeto, podemos dizer que: a) temos um conceito quando um grupo de pessoas no contexto social do sujeito reconhece o mesmo significado no mesmo objeto em face das caractersticas com que o identificam, o que praticamente revelado quando o objeto exibido diante do grupo e todos o reconhecem pelas mesmas caractersticas (p.ex. estamos diante de vrios modelos de cadeiras. Coloca-se uma frente de todos, e todos verbalizam a mesma palavra, cadeira. Troca-se a cadeira exposta por outra, de outro modelo. Pergunta-se de novo o que est frente, e todos respondem cadeira; o conceito de natureza objetiva130 na medida em que serve a todos: h um corpo que foi lanado frente e todos o reconhecem pela mesma palavra, pelo mesmo designativo; b) o significado o contedo desse129 130

DALAI LAMA. Uma tica para o novo milnio.Rio de Janeiro:Sextante,2000.p.53. Objetivo. Vem de ob-jectum, lanado frente, ou seja, ob= frente; jectus = lanado.

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designativo, composto, formatado ou determinado pelo conceito, mas que de natureza subjetiva131 e expressa uma relao pessoal subjetiva do sujeito em relao ao objeto; e c) o constructo o processo em qual se manifesta o esforo contextual132 em construir ou formatar um conceito comum referente ao mesmo objeto. Definio substantivo que traz o significado daquilo que est limitado, tem fronteiras, contornos e, consequentemente tem fim. Omnis definitio limitatio est133, dizia Spinoza. Conhecemos os limites de alguma coisa quando suas relaes com o contexto so conhecidas. O uso da classificao ordenatria indica que sabemos definir algum ser, objeto ou ao quando sabemos as diferenas genricas e especficas segundo as quais ele classificado ou situado dentre de parmetros ou modelos j conhecidos. H muitos modelos de definies134. Ns as conhecemos por tericas ou prticas. Dentre estas as mais comuns so as definies operacionais. O contedo terico aportado pelo verbete definio tem origem no latim definito, onis. Subst.feminino, com o significado de circunscrio, ou seja, dar os contornos em que se encontra o objeto, o ser ou o processo que se tem em mente definir. Traduz a verbalizao da idia, a linha ou forma de pensar pela qual identifica-se a relao entre o sujeito e o objeto de seus pensamentos. Um dos significados aportados pelo verbete contm a idia de preciso com que o sujeito ou seu contexto especificam determinada relao cognitiva. A definio terica corresponde ao resultado de processo de ordenamento em que ocorre a incluso de um objeto (smbolo ou funo) em uma classe, pela determinao das condies sob as quais o objeto por definir se iguala a qualquer elemento da referida classe(Novo Aurlio). Tambm terica a definio por postulado, quando um conjunto de noes determinado pelos axiomas ou postulados em que so enunciadas as relaes necessrias e suficientes que so aceitas como reguladoras do fenmeno observado. Enquanto no conceito verifica-se uma convergncia de caractersticas genricas qu