mestrado 03 - educação

21
:, 37.04 A9911 i; UMAIDÉIADE PESQUISAEDUCACIONAL JoséMárioPiresAzanha DEDALUS-Ace~o-FE Uma ideia de pesquisa educacional / ! I '"1111/11[111111 1111111111 11111 ""1 1111111111 IllfJ 111111111/111 20500031260 VtiPV~P

Upload: roga-art

Post on 09-Sep-2015

14 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

USP - livro para a prova de mestrado.

TRANSCRIPT

  • :,

    37.04A9911

    i;

    UMAIDIADE

    PESQUISAEDUCACIONAL

    JosMrioPiresAzanha

    DEDALUS-Ace~o-FEUmaideiadepesquisaeducacional/

    ! I

    '"1111/11[111111 111111111111111""1 1111111111IllfJ 111111111/111

    20500031260

    VtiPV~P

  • ,Copyright!O1992 byJosMrio

    DadosInternacionaisdeCatalogaonaPublicao(CIP)(CmaraBrasileirado Uvro,SP,Brasil)

    Azanha,J~ Mrio Pires,1931-UmaIdiadePesquisaEducacional!Jos MrioPiresAzanha.-

    SoPaulo:EditoradaUniversidadedeSoPaulo,1992.- (Campi;6)

    ISBN: SS-314.006S-1

    1.Cincia - Metodologia 2. Educao - Mtodos experimentais

    3.PesquisaeducacionalI.Ttulo.H.Ttulo. .

    92-1103 CDD-370.78

    Indicosparacatlogosistemtico:

    1. Pesquisaeducacional 370.78

    DireitosreselVados

    Edusp -EditoradaUniversidadedeSoPauloAv. Prol.LucianoGualberto,TravessaJ, 3746andar- Ed.daAntigaReitoria- CidadeUniversitria05580-So Paulo - SP - Brasil Fax(011)211-6988Tel. (011)813-8837/813.3222r.2633,2643

    Printed in Brazil 1992

    ~

    . .Aquisio '(" '

    ,p'#rSolicitanteProc,

    Cr$ Data(.;1/,>1'1N,. de Chamada

  • fI! No tenhomedodequemeuiemapossa,eme:xa-/ memaisdetalhado,parecertrivial.Receioapenasque

    eupossaparecerpresunosopor terlevantadoumaquestotovastaetoimportante.

    E.H.CARR

  • ~SUMRIO

    INTRODUO..................................

    ... 1.A INVESTIGAOEM BUSCADE UMA TECNOLOGIA EDUCACIONAL. . . . . . . . . . . . .

    A qualidadedapesquisaeducacional.. . . . . . . . . . . . . . . .O "praticismo"napesquisaeducacional.. . . . . . . . . . . . . .As relaesentrecinciae tecnologia.. . . . . . . . . . . . . . .Obaconismonaeducao........................

    ., 2.ABSTRACIONISMOPEDAGGICO.................

    C> 3. A IMPORTNCIADOCOTIDIANO.. . . . . . .'. . . . . . . . . .

    o 4. ESTUDODOCOTIDIANO:DIFICULDADESCONCEITUAIS.. . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Questespreliminares...........................EmbaraosmetodoI6gicos........................Explicaoecompreenso........................Pesquisaparticipanteepositivismodegenerado.. . . . . . . . .

    11

    1515202235

    41

    57

    7373788191

  • r~

    '" 5. ESTUDODO COTIDIANO:QUESTESCENTRAIS.. . . . . .

    Pequeno/grande...............................Parte/todoe vidacotidiana """"

    6. UMA DIGRESSOQUASE-METODOLGICA. . . . . . . . . .

    A questodaautonomiadasregrasmetodolgicasdacinciaA transmissodo sabercientfico.. . . . . . . . . . . . . " . . . .Comunidadecientficae inovao.. . . . . . . . . . . . . . . . . .Sere1Jdipity,paradigmaindicirioe abduo.. . . . . . . . . . .A densidadedasdescries.......................

    AP~NDICE:REFLEXESPRELIMINARESSOBREOMTODOEMCI~NCIA .Introduo.....................................Conceitoderegra :'..............Tiposderegra..................................Conceitodemtodo..............................

    TRABALHOSCITADOS............................

    NDICEDEAUTORES.............................

    NDICEDEASSUNTOS............................

    103104112

    135136139143149155

    165

    165170175178

    185

    195

    199

  • consistiriaemsubstituirsub-repticiamenteemtodosossetoresa in-vestigaopropriamenteditaporumdiscursocrticosobrea cin-cia"1.

    Nohcomodiscordardessaadvertncia,mastambmnopo-demostom-Iacomoexpressode umarejeiQradicalda reflexosobrea cincia.O prpriotrabalhodeLadrierenoautorizariaessainterpretao;elequerapenasnosadvertirsobreoslimitesdautilida-dedo discursosobrea cinciae sobreos eventuaisprejuzosparaaprticacientficaquandoa reflexosobreelapretendesubstitu-Iaousearrogapretensespropeduticas.

    No hroteirossegurosparaa iniciaodo futuroinvestigadorcientfico,mas inegvelqueaconvivnciainstitucionalizadacomin-vestigadoresexperimentadospode ser um caminhointeressante.Porm,aoiniciantenainvestigaodaeducaoemfacedaescassezdeoportunidadesinstitucionais,essainiciaodependerempartedadiscussodetemasmetodolgicosou epistemolgicos,noobstanteosriscospermanentesdequeessadiscussopossaserumaoportuni-dadeparainculcaodos"dolosdatribo".

    Diantedessequadro,estetrabalho,queincorporaumapreocu-paopedaggica,teveo propsitoconstantede noapresentar"averdadecomomoedacunhada",porqueestamosconvencidosdequea racionalidadeda cinciatemo seumaisfortecomponentena ad-missoeatmesmonaestimulaodedivergncias.Alis,semapos-sibilidadededivergir,nohcincia.

    Foi convencidosdajustezadessasconsideraesqueiniciamosestetrabalhohalgunsanos.A inspiraoprincipalnosfoi dadapelaleiturada pequenae clssicaobrade PeterWinch (A Idiadeuma'CinciaSocia!),publicadapelaprimeiravezem 1958,na Inglaterra.Nesselivro,o autorsepropsa estabelecerum"planodeguerraemduasfrentes:aprimeira,umacrticaaalgumasidiascontemporneasdominantessobrea naturezada filosofia;a segunda,umacrticadealgumasidiascontemporneasdominantessobrea naturezadoses-tudossociais"2.

    1. J. Ladricre,"MtodosCientficose I'roblemasReais",emFilosofiaePrxisCientfica,O. Pego-raro[org.),trad,de MariaJos J. G. deAlmeida,SoPaulo,LivrariaFranciscoAlves,1978,p,169.

    2, P. Winch,A IdiadeumaCinciaSocial,trad.deAnsioTeixeirae VemF. deCastro,SoPau-lo,CompanhiaEditoraNaciona~1970,p.14.

    12 JOS MRIO PIRES AZANHA

    ~

  • Essaguerra,o autora empreendecontraa filosofiaanalticaecontraa idiadequeosestudossociaisdevemaspiraraumpadrodecientificidadepr6priodascinciasnaturais. .

    Emboratenhamossimpatiapela.declaraodeguerradeWin-ch,nemsempreconcordamoscomo encaminhamentoquedeuaostemastratados.Mas issonotemmaiorimportncia,porqueo valordeumtrabalhointelectualnosemedepelasadesesqueprovoca.

    O quenelenosinspiroufoi a estratgiadelocalizaralgunspon-tosimportantesnatemticaexaminadae proceder110seuexamedemodoincisivoemboranoexaustivo.O nossotrabalhonemdelongepretendeserumaaodeguerra.No tivemosessapretensoe nemteramosforaparatanto.Contentamo-noscom um procedimentomuitomaismodesto:apenastentarexibira fragilidadede algumasposiesaparentementemuitobemestabelecidasno camporestritodapesquisaeducacional.

    No primeirocaptuloexaminamosumadasgrandesvocaesdainvestigaoeducacionalcujopropsito o decriarasbasescientfi-casdeumaamplatecnologiaeducacional,emboranamaiorpartedasvezestenhaserestringidoaumatecnologiadoensino.A preocupaoqueanimaessetipodepesquisaseestendeamuitasoutrasreasalmdaeducacional.O seupressupostobsico a idiadequeo valordacinciaestnasuacapacidadedeserumama.trizgeradoradetecno-logia.Esta,naverdade,apenasseriacinciaaplicada.

    O segundocaptulotemobjetivosmaisrestritos;limitamo-nosnelea descreversumariamenteumesforodeinvestigaomuitoflo-rescentenoBrasilnasltimasdcadas,mastambmnoraroemou-tros pases,de onde,alis,lhe vieramalgunscacoetes.As investi-gaesnessalinhaabandonaramcompletamentea preocupaotec-nol6gicae tentaramumaanlisedaeducaoa partirdeumquadrosocialmaisamplo.Numcertomomento,essetipodeinvestigaofoipreponderantesobreoutrasdireesde pesquisae a partirda fortemotivaopolticaqueo animava,o esquemadeanliseadotadofoimuitomaiso dadennciadoquequalqueroutro.Alis,essavocaodenuncianteprevaleceusobrequaisqueroutrosaspectosdasinvesti-gaes,atmesmosobrea coletasistemticadedadosempfricos.Es-tesapenaserambuscadosparailustrartesesj aceitas.No Brasil,porumcertotempo,essalinhadeinvestigaoteveumefeitodevastador,inibindoseveramenteoutraspossveispreocupaesdepesquisa.

    At hmuitopoucotempo,asinvestigaescommotivaotec-nol6gicaoupolticacobriramo campodapesquisaeducacional.O in-

  • teressepelosestudosdocotidianoescolarfoi o primeirosinaldeumapossvelmudananessequadro.Nessesentido,pareceu-nosumatendnciapromissoraporque- senotivesseoutrosmritos- con-tribuiriaparadiversificarumpoucoo quadrodaspreocupaesnain-vestigaoeducacionalbrasileira.Embora,na verdade,j se possaperceberqueos estudosdo cotidianorapidamentevmtambmin-corporandomaisa preocupaodenunciatriadoquea descritivaouexplicativa.

    A nossaatitudecomrelaoaosestudosdocotidianofoimenosde crticae maisdetentativade colaborao,convencidosqueesta-mosdaausnciadeconfiveisestudosdescritivosdaeducaobrasi-leiraao nveldaescola.Nessesentido,o assuntofoi tratadoemtrscaptuloscomo propsitode,pelomenos,explicitarasprincipaisdifi-culdadesno estudodo cotidianoescolare tambmassuaspossibili-dades,principalmentepara a investigaointerdisciplinarem edu-cao. .

    No ltimocaptulo,permitimo-nosumaincursocautelosanominadoterrenoda metodologia,menosparadar indicaesdo queparaesboaro vastohorizonteem que as questesmetodolgicasprecisamserdiscutidasparaquenotomemoslamparinasporsis.

    Examinandoretrospectivamenteo itinerriodestetrabalho,te-mosa claraconscinciadeque,comoemqualquerviagem,algumaspaisagensinteressantesforamexaminadasinsuficientemente,enquan-to outras,no to interessantes,nosocuparamato fastio.Outras,ainda,nemforampercebidas.Nemmesmoficoudocaminhopercor-rido umasimplese esmaecidavisoimpressionista,porquealgunspontostmumanitidezdestoante.

    Do projetooriginalrestouo ttulo,inspiradonolivrodeWinch,masadequadamentesubstitudoo artigodefinidopelo indefinido.Talvezo quetenharestadovenhaa termritosetentativassemelhan-tesfizeremafloraroutrasidiassobrea pesquisaeducacional,com-pondoafinalumquadropluralistadevisessobreo assunto,condioindispensveldaautnticainvestigaocientficanumareatoasso-ladapelosesforosferozmentedoutrinrios. .

    14 JOS MRIO PIRES AZAN/lA

  • 1.A INVESTIGAO EM BUSCADE UN.TECNOLOGIA EDUCACIONl

    Cinciaepoder do homemcoinciaDAI

    A QUALIDADE DA PESQUISA EDUCACIONAL

    Nostemposquecorrem, t~~ifu.!!.De incio, precisoatentarparao fatodequeaadmissodesidiaprovocaquestesto importantesquenoseriarazoveld(cart-Iasde plano.Nessascondies,a suposioda m qualida,cientficadapesquisaeducacional,seguramente,umpontodepar

  • dae nodechegada.Istoficabvioquandoexaminamosumpoucomaisdetidamenteo significadodaexpresso"mqualidadecientfi-ca".Antesdemaisnada, precisoassinalara ambigidadedaex-presso,quepoderiaserexplicitadapelaseguintequesto:no queconsisteoucomosereconhecea mqualidadecientficadeumainves-tigao?

    Aparentemente,umcaminhopossvelparadiminuira ambigi-dadeda expressoestariano seuentendimentocomoindicativadapresenade falhasmetodolgicasna pesquisade quese trata.Porexemplo,a JOqualidadeseevidenciariaporfalhascomoasseguintes:inadequadoregistrodeobservaes,nofidedignidadeounovalida-dedosinstrumentosdecoletadedados,ambigidadeou imprecisoconceitualdetermosrelevantes,norepresentatividadedoscasoses-tudados,inadequaodastcnicasdeanlise(estatsticasououtras),incoerncianaargumentaoetc.E, de fato,atmesmosemmuitoesforo possvelassinalara presenadeumaou maisdessasfalhasempesquisasrealizadasemqualquerrea,inclusivenaeducacional.

    Contudo,essecaminhono to limpode dificuldadescomopodeparecer.Na verdade,o entendimentode"mqualidadecientfi-ca" de umapesquisacomosignificandoa presenadefalhasmeto-dolgicas,apenasrepresentaa substituiodeumadificuldadevaga-menteformuladapor outrasmaisespecficas.Examinemosalgumasdestas.

    Ao identificara mqualidadecientficadeumapesquisacomapresenanelade falhasmetodolgicas,precisamosnosacautelarde,apressadamente,concluirque,quandoestasltimasocorremnumainvestigao,anulampor issomesmoo seuvalorparaa cincia.Semestacautela,corremoso riscodecometerumerrolgicoI ehistrico.H inumerveisexemplos,nahistriadacincia,de investigaesfa-lhasque,noobstante,impulsionaramo .conhecimentocientfico2.

    1.o erro lgicoocorreriase tomssemosa presenade falhasmetodolgicascomoevidnciaempricademqualidadecientfica,apsdefinirmqualidadecomoexistnciadefalhasmeto-dolgicas.Esseprocedimentoenvolveumviciolgicoedeixaintocadoo problemaqueestemdiscussoequeo daadequaodadefinio.

    2. Evidentemente,seriaum anacronismoquererapontaressasCalhasa partirde critriosatuais.Referimo-nos,pois,a investigaesque mesmoavaliadasemtermosdepadrescientificosvi-gentesnapocadesuarealizaoexibiramdefeitosgraves.Por exemplo,adescobertadeGali-leudasluasdeJpiter foi rejeitadapelosastrnomosconvidadosa olharpelotelescpio,uminstrumentocujosfundamentoscientificoss puderamseresclarecidospelaticade Newton,publicadamuitotempodepois.FeyerabendachaqueGalileuconheciapoucoatmesmoati-

    16 JOS MRIO PlRESAZANHA

    l

  • claroqueessesexemploshistricosnopodemserinterpretadosco-mojustifictivaparaadisplicnciametodolgica,masclarotambmquea partirdessesexemplosficaevidenciadoquenosepodeinter-pretarfalhasmetodolgicascomoindicaoseguradeausnciadeva-lor cientfico.Somenteumaperspectivahistricapermitirajuizaremsituaesconcretasse eventuaisfalhasmetodolgicasafetaramounoo valorcientficodainvestigao,porque,emboraasfalhasante-riormenteindicadase outrassejamabstratamenteabominveisparaqualquercomunidadecientfica,a simplesidentificaodessasfalhasemsituaesespecficasdariamargema complicadase interminveisdisputassobrea adequaodoscritriosaseremutilizadosparaessaidentificao.A noodefalhametodolgicavincula-se idiadevio-laoderegras,detransgressodenormas.Nessestermos,ousepos-tulaqueas regrase normastransgredidasnumaparticularsituaopertencemaumcdigometodolgicouniversalmenteaceitoouseins-talaumainterminveldiscussosobreseaviolaoocorridaconstituiounoumafalhametodolgica. neste'pontoqueselocalizaaquaseimpossiblidadedepassardeconsideraesabstratassobreaqualida-de cientficade pesquisasparaavaliaesnumaparticularsituaoconcreta.Por maisamploquepossasero consensoemtornodede-terminadaregra,abstratamenteconsiderada,noh critriosgeraisparadecidirinequivocamente,emqualquercasoconcreto,sea regrafoi mesmovioladaouatquepontoa violao tolervelsemcom-prometimentodeumpadrocientficodesejveldeinvestigao.

    Nemmesmonaquelescasosqueconstituemexemplosde vio-laoderegrasda lgica,relativamentemaissimplesquanto iden-tificaode suaocorrncia,desaparecea difcilquestoprticadeavaliaroslimitestolerveisdesuatransgresso.Strawsonnosmostraclaramente"queno se podeexplicarcabalmenteo quesejaumacontradiosomenterecorrendoa agrupamentosverbais"3,o que

    cadeKcpler,publicadaem1604,portanto,antesdautilizaodo telescpioporGalileu.Nes-sascondics,elenofoi capazdeconvencerseusinterlocutores,porqueeleprprionoti-nhaosconhecimentostericosparaIsso.

    3. "Podemosdizerqueumadaspossiveismaneirasdeenunciarumainconsistncia adeaplicarpredicadosincompativeisa umamesmapessoaou coisanumamesmaocasio:'Nessascon-dies,nohpossibilidadededecidir,numasituaoconcreta(noformal),sedoisenuncia-dossoou nocontraditriossemumexamedo contextoemqueelesforamexplicitados.Cf. P.

    UMA IDIA DE PESQUISA EDUCACIONAL 17

  • emoutraspalavrassignificaainevitabilidadedeconsideraescontex-tuaisatmesmoparadeterminarinequivocamenteseumcertotextocontmou noafirmaesincoerentes.No caso,o autorcitadoestto-somenteexaminandoquestesreferentes avaliaodeaspectoslgicosda linguagemem geral.Quandopassamos,porm,para oexamedalinguagempresenteemteoriasourelatrioscientficos,hposiescomoa deFeyerabendque,fundadoemepisdiosdahist-ria da cincia,noapenasrepelea condiodecoernciacomode-sejve~comomostraqueasuaestritaobservnciapodeterumefeitoparalisantesobreadescobertacientficaaodescartar"fatos"quecon-tradigamteoriasj aceitas4.

    Nesteponto,j dispomosderazesparaconcluirquea inter-pretaodemqualidadecientficadeumainvestigao,comosigni-ficandoa presenade falhasmetodolgicas,nosremetea questescadavezmaiscomplicadas.E, de fato,nopoderia.serdeoutromo-do,porque,naverdade,a noodefalhametodolgicanogozadenenhumaautonomiaquepermitao seuexameisoladamente.Comojvimos,essanoonoseparveldaadmisso,tcitaouostensiva,deum cdigometodolgicoa partirdo qualas eventuaisfalhassejamconsideradastransgressesmaisoumenosgraves.Contudo,aprprianoode cdigometodolgico inseparveldeumaparticularcon-cepodecincia.E essecomprometimentomaisfundamentalquetornaa disputaemtornodefalhasmetodolgicasapenasadmissvclentreos adeptosde umamesmaconfrariaintelectualporque,a noserassim, semprepossvel,mimadisputadessetipo,a invocaodeumaconcepode cinciaalternativaquelaa partirda qualeven-tuaisfalhasmetodolgicasforamreconhecidas.Pense-se,por exem-plo,no provveldesdmcomqueum psicanalistaortodoxotomariaconhecimentodasseverascrticasdeEysenck anlisefreudianadoPequenoHanss.

    F. Strawson,lntroduccin a U1IQTeoria de Ia Lgica, trad. de V. J. Ameller, Buenos Aires, Edi.

    torial Nova, 1969,p. 5.

    4. P. Feyerabend, Contra o Mtodo, trad de O. S. da Mota e 1.. Hegenberg. So Paulo, LivrariaFrancisco Alves S. A., 1977,caps. II e 111,pp. 37.64.

    5. A anise do Pequeno Hans foi a nica que Freud fez de uma criana, dai sua importncia para

    o pensamentopsicanalltico. Eysenck, veemente critico da psicanlise,examinou o relato do ca.

    sOapontando passo a passo as falbas cientlficas do trabalho. ef. H. Eysenck, "0 Pequeno Hansou o Pequeno Albert?", em Falo e Fico na Psicologia, trad de V. Mendona, So Paulo,Ibrasa, 1968. .

    18 JOS MRIo PIRES AZANHA

  • A permanentepossibilidadedeapeloa concepesalternativasdecincia,emfacededivergnciasmetodolgicas,parececondenaraummalogroinevitvela utilizaoeficientee generalizadadanoode qualidadecientficacomosignificandopresenade falhasmeto-dolgicas.Alis,o reconhecimentodessefato,muitasvezes,podeser-vir desustentaoa posiesrefratrias discussoe que,por issomesmo,se encastelamnumaauto-suficinciaquaseincompreensvel.Exemploclarssimoe impressionantedessemodode evitara dis-cussodas prpriasposiestemosna argumentaode Freud apropsitodaanlise,feitapor ele,deumsupostocasodepossessodemonaca:

    simplesmentedireisabermuitobemquenenhumleitorquej noacreditenajustifi-cabilidadedomododepensamentopsicanalticoadquiriressacrenacomo casodopintordosculoXVIIChristophHaizmann.Tampouco minhaintenousaressecasocomoprovadavalidadedapsicanlise.Pelocontrrio,pressuponhoa suavalidadeeestouempregando-aparalanarluzsobreamolstiademonacadopintoli. .

    Estaspalavras,aparentementecnicase evidenciadorasdeumaposiodogmtica,podem,contudo,ser interpretadasdemodome-nosseveroe maisrealista.De fato,elasrevelam,demaneiratalvezchocantemaslcida,a conscinciado autorde quenoh teoriascientficasdescomprometidascomumaparticularconcepodecin-cia,equequalquercrticaquenoleveemcontaessefatobsicodeveporissomesmoserdesconsiderada.O quehdechocantenestaidia queo pesodatradiopositivista,Jis ~spectoscientficoS--d-edu-caogerale na educaopropriamentecientfica,nosfamiliarizoucomumavisounitriae abstrat-dosbercientficoNemp-oaeriadeixardeserassimporquea prpriahistriadacinCiasomentenasltimasdcadaslibertou-sedessavisosimplificadada cinciae doseudesenvolvimentohistricocomosimplesacrescentamentoscumu-lativos.

    Nesteponto,retomandoa questoda qualidadecientficadapesquisa,temosdereconhecerqueo seuexameprecisalevaremcon-taa teoriadacinciasubjacenteaosesforosdeinvestigao.Semes-sacautelaqualquerdiscussoseriaintil.

    6. S. Freud,"Uma Ne- Demonacado SculoXVII", em ObmsPsicolgicasCompletasdeSigmundFreud,vol. XIX da EdioStandardBrasileira,IradosobdireogeraldeJaymeSa-lomo,Rio deJaneiro,Imago,1969,p. 108.

    UMA IDIA DE PESQUISA EDUCACIONAL 19

  • Deixemos,porm,essaquestoparaconsideraesposteriorese nosdetenhamosagoranumoutroponto.Trata-sedaexacerbadapreocupaodagrandepartedapesquisaeducacionalcomaobtenoderesultadosprticos.Veremoscomoo examedesseassuntonosconduzaopontoaoqualaquestodaqualidadedapesquisanosre-meteu.

    o "PRATICISMO" NA PESQUISA EDUCACIONAL

    o simplesexamedettulosdetrabalhospublicadosede~dicesde revistasespecializadas suficienteparamostrarqueum;}ampla-categoriade pesquisaseducacionais frutodeumalinha-dinvesti-gaoVltadapr"questesqueseacreditamreiv1itis-iu11sentidopl"tic.o..Aparentemente,as razesdo empiilio"tiessaalfeopare-cemclaras,poisasimplesextensodaescolaridadeemtodososnveistornoucadavezmaisurgentee importantea tomadadedecisespr-ticas.Nessascondies, compreensvelquesepretendaasseguraraeficinciae a racionalidadedessasdecisesfundamentando-asempesquisas.E parajustificaranaturalidadedesseraciocniofreqentea invocaodeoutrossetoresdaaohumanaondeo desenvolvimen-todatecnologiateriasidoconseqnciadiretadeinvestigaescient-ficas. "

    Emborasumarssimo,essequadro suficienteparafIXaro quenosinteresSa:~obsessopelainvestigaoprtif!.repousanumavisosegundoaqualhaveriaumarela~~o"~~'1~OI.~ntr"eo desenvolvimentodainvesngaodentfiC"eo"progressodatecnologia.O examedosfun-dneiifosdessa-"i"s-o quepreteoaeIDSTazeremseguida.Antes,porm,queremosassinalarumaconseqnciadessemododeverapesquisaeducacionalque,no fundo,j constituiumapossvelevidn-ciadosenganossubjacentesa essaposio.Qualquerindivduoquetrabalheno campoda-educao,quersejaD"'aprMcefetivaou nafadanliseedainvestigao,sabe,porforadaprpriaexperin-ci,queh umaimem;adiscrepnciaentreo volumedo esforodapesquisaeducacionale assuasminguadasrepercussesprticas.Mui-tastentativasdecompreensodo quesepassatmsidofeitas.Aqui,vamosreferirapenasduas,que,pelaexpressodeseusautores,somuitosignificativas7.Amboscoincidemnaopiniodequeamaisdire-

    7. Trata-sededuasalocuesfeitaspor Kerlingere Suppesnaqualidade,emambosos casos,de

    20 JOS MRIo PIRES AZANHA

    ~

  • taebviaconSeqnciadanfasedapesquisaeducacionalnadireodaquiloquesesupesejam"problemasprticos"acabouporserara-refaode significativosesforostericos,queefetivamentepossamtornarinteressantea investigaoeducacionalemprica.Paradoxal-mente,parecequeo efeitodo"praticismo" a penriaderesultadosprticos.Na opiniodeKerlinger,umdosautoresreferidos,o efeitodaobsessoprticasobrea teorizao todevastadore calamitosoquemelhorseriaseospesquisadoresabandonassemasfontesgover-namentaisde financiamento,poiselastendem'geralmente,por.umavocaonatural,a dar prioridadeaosestudosprticosna esp.eranade um aproveitamentoimediatode suasconcluses.No h nessaopiniomeroexageroretrico,poisaverdadequeaexacerbaodapreocupaoprticaacabaporesterilizaraespeculaocriativaque,segundoa felizexpressodeLukasiewicz,a matrize nicafonteper-manentedo "poemadacincia"..Ora,a ausnciareiteradadeesfor-ostericosnaanlisedaeducaoe,atmesmoumostensivodesin-teressepor eles,reduzextraordinariamenteo alcancedainvestigaoeducacional,poissemteoriasa pesquisaempricaoperademodode-sordenado,incidindosobrefragmentosdo processoeducativo.Parailustraressadesorientaodapesquisaempricadesassistidadeteo-rias, suficienteexaminara temticausualdasinvestigaeseduca-cionaisbrasileirasnosltimostempos:osproblemasda"educaodeadultos","pr-escola","educaona periferia",do "cotidianoesco-lar" etc.- poisesses"problemas"depesquisanosodefatopro-blemas,masapenasumavagadelimitaode assuntos.Qual o"problemadapr-escola"?e o da"educaodeadultos"?Expressescomoessaseoutrassemelhantessoreferencialmentevaziasdopon-to de vistada investigaoeducacional,comoseria,por exemplo,tambmvaziaa expressoo "problemado cncer"paraa investi-gaomdica.Nadaindicamquepossaorientarumprocessode in-vestigaocientfica./

    Diantedisso,na ausnciade autnticosproblemasde investi-gao,o nicocaminhoquerestaaopesquisadorrefratriopreocu-paoterica o levantamentodedadosapropsitodaquelesassun-

    presidentesda AmericanEducationalResearchAssociation.O trabalhode F. Kerlingerfoipublicadono livro Metodologiada PesquisaemCinciasSociais,trad.de MendesRotundo,E.P.U-Edusp,1980,pp.317-348;o trabalhode P. Suppes,"The PlaceofTheory in EducalionResearch",emEdJu:alionaJResearr:her,vol.3,n.6,jun. 1974,pp.3-9.

    UMA IDIA DE PESQUISA EDUCACIONAL 21

  • tosqueo debatepolticoouo modismopedaggicofezaflorarcomorelevantes.Oslevantamentosfornecemamatria-primaparaascodi-ficaes,tabulaese computaesque,no finaldecontas,apenasconseguemestabelecerconclusestotriviaisquesoirrelevantesdequalquerpontodevistaeatmesmodopontodevistaprtic08.Nosetratadediscutiraquia importnciadelevantamentosdedadosempricosparacertosaspectosdainvestigaocientfica.O quedis-cutvel- comoteremosoportunidadedemostrar- qe;-pretextodepr1novera pesq~ com preocupaesprticas,acabe-seprderir;comos-ihouvessealternativ;-a-tf~-concepodeinvesti-ga-cieIltff'ica-em-que-sta reduzidaroletaeclassificaodoquese...chamade."fato~'~e buscade correlaesentreeles.Essacon-cepoestfhiSioricamenteconjugadacom a idia de que "as in-venessofrutospenduradosnarvoredacincia",isto,tecnolo-gia apenascinciaaplicadae,maisainda,aproduodetecnologia a metadacincia.Comoj assinalamos,a aceitaoacrticadessacrenatemsidoa grandeimpulsionadoradeumaamplacategoriadepesquisase de polticasde financiamentoda investigaoem edu-cao.Da o interessequetemparansumexamemaisdetidodoas-sunto.

    liAS RELAES ENTRE CltNClA E TECNOLOGlA

    De quemodointeragemcinciae tecnologia?Emboraestasejaumaquestomuitocomplicadae quenocomportarespostassimplese diretas,o cienticismosefixounumafrmulasimplistaao exibirco-mo um dosseustraosmaissalientesa entusisticavalorizaodacinciacomoprodutoradetecnologia.Esta idiadopapelessencial-menteinstrumentaldacinciavemexercendoseufascniopelomenosdesdeo sculoXVII, noapenassobreo pblicoleigoletradocomotambmsobrea grandemaioriadoscientistas.Nestesculo,emboranomeiointelectualmaissofisticadoo cienticismosejaumavisode-

    8. Com umpoucode maldade,massemexageraro pontoa quepodechegaressatrivialidade,interessantereferiro seguinte:em1980,apublicaoUSP-lnforma6esS e6noticiouumapes-quisasobrepr-escolaresquechegou espantosadescobertadeque"nutrioebaixonveldeaptidofsicaestocorrelaclonados"e tambmumaoutra,naqualsedescobriuquea "pr-es-colapodeserfatorquecondicionafavoravelmenteo rendimentoda criananaescoladepri-meirograu",

    22 JOS MRIo PiRES AZANHA

    " 1f- - - --

  • clinantedacinciae atmesmoforademoda,permaneceuviva,emamploscrculosdessamesmaintelectualidade,lL idiade determi-naodiretae lineardatecnologiapelacincia.Levandoemconta,comoj dissemos,asrepercussesdessaidiasobreosrumosdain-vestigaoeducacional,pretendemosfazerafIorarpelomenosalgunspontosindicativosdacomplexidadedoassunto.O maisimportantedizrespeito presumidainvarinciahistricado relacionamentoentrecinciae tecnologia.

    Raros so os indivduos,atmesmodentreos cientistas,quepossamlmagmaroutraformaderelacionatJ!entoentrecinCia-e~te~c~'nologiquenosejaade.determinaounvoca"desta"pr-aqueIaiiwn--sentidosimplificadodecausaeefeito,ouainda,decinciacomobasedo domniodanatureza.Contudo,comoveremos,falta-funamefo~histricoa estidiae,iiisainda,nauniversalidadecomquepro-postarepresentaumtpicoanacronismo,umaabusivaprojeoparaoconjuntoda histriade um tipo de relacionamentoentrecinciaetecnologiaqueapenashipoteticamentetraduziriao queocorreentreessesdoiselementosculturaisnapocacontempornea9.

    Parans, interessanteinvestigara origemdestaidiainstru-mentaldacinciaporqueacreditamosqueestejaa achaveparaelu-cidarmuitosdosequvocosa respeitodapesquisacientficademodogerale dapesquisaeducacionaldeummodoparticular.Comrelao origemda concepoinstrumentalda cincia,presumimosquesepossalocaliz-IapontualmentenopensamentodeF. Bacon,noobs-tanteaconscinciaquetemosdaprecariedadehistricadeafirmaesdestetipolo.Na verdade,a nossapretensonestetrabalhovaimaislongeainda,poisinsistiremosaolongodelenumasobrevivnciaper-tinazde muitosoutrosaspectosda concepobaconianada cincia.

    "

    9. Vitk: D. J. SollaPrice,"ScienceandTechnology:DistinctionsandInterrelationships",emSo-ciofogyofSciou:e,B. Barnes(ed.),Inglaterra,PenguinBooks,1972,pp.166-180.

    10. claroqueaquio termo"histrumentalismo" usadonumsentidoamploparacaracterizarapreocupaopermanentede Baconcoma utilizaoda cinciaparatransformaodareali-dade.Como disseV. Brochard[PhilosophieAncienneel PhilosophieModeme,Nouvelledi-tion,Paris,L P. J. Vrin, 1966,p. 311):"Baconnuncaperdedevistaquea cinciatemporob-jetoagirsobrea naturezae transform-Ia".Nestesentido,o instrumentalismobaconianodife-re,emparte,do seusignificadoepistemol6gicoestritoque,desdeOfamosoprefcioqeOslan-derao livrodeCoprnicoe desdeBerkeleyatDuhem,emfunodo qualasteoriascientfi-casdevemserconcebidascomomerosinstrumentosdeprediosemmaiorpreocupaocomo problemade suaveracidade.A propsito,vide:K. Popper,"ThreeViewsof Human1

  • Conformeveremos,muitasdesuasidiassobremtodocientficooucontrafaesdelascontinuamathojea repercutirsobreo estiloeosrumosdedeterminadavariedadedeinvestigaocientfica,includaaparcelaconsiderveldapesquisaeducacional.

    A posiodeBaconnahistriado pensamentocientfico sin-gulare controvertida,poisaindaquenotenhasidoum cientista-suashistriasnaturaisdepresena,deausnciae degraduao,que,mesmonasuapoca,nadamaisrepresentavamdoquemaantesco-leesdeinformaesesparsasdeorigemheterogneaedevalordu-vidoso-, elefoi considerado,por alguns,comoummarconareno-vaocientficado sculoXVII, enquantooutrosa elesereferematcommenosprezoll.O pontoprincipaldediscrdiatemsidoasdvidassobreo realvalordacontribuiodeBaconparao desenvolvimentodamodernaconcepodecincia12.Contudo,nemsempretemmere-cidoatenonessapolmicaqueprecisodistinguirentreo discutvelvalorepistemolgicoda contribuiobaconianae a indiscutvelin-flunciahistricadoseupensamentosobreo assunto.Comrelaoaopontoqueaquinosinteressa,suainflunciafoi extraordinariamentenotvel.Foi eleo primeiroaproclamardeumamaneirasistemticaereiteradaaolongodetodaa suaobraqueametasupremadacincia

    11.A innunciade Baconfoi marcanteemmuitosnotveiscientistasdo mesmoperodoe poste-riormentenaprpriafundaoe orientaoda RoyalSoeiety(A. C- Combrie,HistriadeIaCincia,voL2,p. 261)e estendeu-semuitoalmdesuapoca,alcanandoos enciclopedistasfranceses,paraos quaiseleeraum heri.Dcadasmaistarde,HerschellA Pre/iminmyDis-counon1MStudyofN(lI/JJ'Q/PlUlosophy,apud:1.1-Kockrnans,PlUlosophyofSciences,p.461.odescobridorde Urano,diziadele:" a Bacon,nossoimortalcompatriotaquedevemoso de-senvolvimentoda idiade que a lisicaconsisteinteiramentede umasriede generalizaesIndutlvas".E aindanosculoXIX, Whewell,cujainnunciaemStuartMiII notria,retomouo prprioUtuloda obra bacoDana(NovumOrganumRmovatUm)e o seuestiloaforstico.Ainda hoje,emboraBachelardfaleem"nefastaInOunciado baconismo"(La Fonnaliondel'sprilScienliJiqUL,p. 12)e Koyrdigaque"de fato,Baconnuncaentendeunadadecincia"(IUdesGalilknnes,p. 12)um notvelhistoriadordacinciae tecnologiachinesasantigasco-moNeedbamconfessaque "bacoDanoemmaisdecinqentapor cento"(La GrandTitula-cin,p.SOle umoutrohistoriadordacincia,nomenosnotvel,disseque"todosnssomosmaisoumenosbacoDanos"(8. Farrlngton,ThePlUlosophyofFl'tJIU:isBocon,p. 157].Sobrea lnOunciade BacoO,principalmentecomrelaoa temas,valea penaconsultar.P.Rossi(org.],11PensierodeFrancisBocon,Turim,Loescher,1974.

    12."Bacoo,em seuNovumOrganum,propunha-seexplicitamentea substituiro OrganumdeArist6leles;pormquandoseo comparacomasdistintasconcepesdomtodocientificode-fendidasnapocaantigae princpiosdamoderna,aparececlaramentequeo mtodode 8a-contemmuitomaisemcomumcomo deArsttelesdo que,por exemplo,comos mtodosdepostuladosdeArquimedese Galileu."Combrie,op.cit.,p.256.Cf. tambmHessee Losee.

    24 JOS MARIo PIRES AZANHA

    l

  • daraohomemo domniodanatureza!3. claroqueneste,comoemoutrosaspectosdo seupensamento,podeterhavidopredecessores14,masa novidadedesuasidiasestnanfasecomqueforamprocla-madase na forahistricaquetiveram.As transcriesqueseguemilustramaeloqnciaeaatualidadedaidiabaconianadequeacin-cia,sobretudo,poder:

    Cinciae poderdo homemcoincidem,umavezque,sendoa causaignorada,frustra-seo efeito.Poisa naturezanosevence,senoquandoselheobedece.E oquecontemplaoapresenta-secomocausaa regranaprtica[NO,livroI, "'J.

    A verdadeirae legtimametadascincias a dedotaravidahumanadenovosinventoserecursos[NO,livroI,VI].

    Porqueo conhecimentonodevesercomoumacortesapenasparaprazerevaidade,nemcomoumaescravaapenasparaproveitodeseuamo,mascomoumaes-posaparaprocriaoe ajuda[AL,livroI, capoI, v-ll)!s.

    Poucostmescapadoseduodessasidias,enoseriaexage-ro afirmarqueelasexprimem,aindahoje,acompreensodoobjetivodacinciado pblicoleigoe degrandepartedosprprioscientistas,almdeconstituira justificativaa queospesquisadorese asinsti-.tuiesdepesquisarecorremnassuasexignciasdeapoioe estmulo.Em facedapopularidadedessaconcepoinstrumentaldacinciaqueganhaimportnciao examedosseusfundamentos.E, semne-nhumatortuosidadedeanlise, possvelmostrarquenassuasbasesh duasfalhasincontornveis,umaepistemolgicae outrahistrica,quenaverdadeseentrelaam:

    1.A nfaseno carterinstrumentalda cincia um superdi-mensionamentodeumaspectodessesaberque inteiramentecontin-gente.A idiadequeconhecimentocientficopoder,nofundo,signi-fica afirmarque a possedesseconhecimentopermiteprevisoe

    13."A originalidadedeBaconfoi conceber luzdasdescobertasedasinvenesdosltimoss-culosa possibilidadedeoutrasinvenesdestinadasatransformarascondiesprticasdavi-da humana,de quererdotara humanidadepor meioda cinciade um novopoder."P. MSchubl,Mcanismed Pl/o$ophie,Frana,PUF, 1947,p.37.

    14.SegundoCombrie(op.cit.,p.254),a "idiautilitria"dacincia,Bacona deveaoseuhom-nimodo sculoXII. No essa,contudo,a opiniodeFarrington(op.cit.,p.27],paraquemadvidaparacomGiordanoBnmoantesdoquecomrellioaGrossetesteouRogerBacon.

    15.NascitaesdeBacon,usaremos,DOcasodoNovumOrganum,atraduodeJosAluysiodosReisAndrade,Abri~2"ed.,1979;e,no casodeAdvancenrentof uaming, atraduodeM. LnaL~eiro,AliaDZ8Editorial,1988.

    UMA IDIA DE PESQUISA EDUCACIONAL 25

  • eventualmenteinterferncia16.Queistosejaverdadeirocomrelaoaumaamplaclassedeconhecimentosseriaociosodiscutir,maspreten-derasuavalidadeparatodoo corpodacinciaconstituiumaarbitra-riedadeepistemolgica.Sobquealegaessepodemerigirospoderesdeprevisoe deinterfernciaemcritriosparaaferira cientificidadedeumadadaread saber?Comofazerissosemumadevastadoramutilaodaquiloqueaolongodahistriatemsidoclassificadocomoconhecimentocientfico?Um dosobjetivosbsicosdacincia o deformulaodeexplicaes,nosentidodeconseguirreferira ocorrn-ciadecertascategoriasdefenmenosa leisgerais.Ora,o xitonaob-tenodeexplicaescorretasnoestabelecepor si s umpoderdepredio.Mais ainda,nemmesmoo xitodeprediesdependene-cessariamentedapossedeexplicaescorretas.Paraficarmosapenasemdoisexemplosmuitosignificativos- porquecomrelaoa elesoreconhecimentohistricodasuacientificidade relativamentepacfi-co -, bastacitara astronomiae a teoriadaevoluo.No casodaas-tronomia,a suahistriaestpontilhadademomentos,nosquaiscoe-xistiramexplicaestotalmenteincorretase,noobstante,grandeca-pacidadedepredio,aopassoque,comrelao teoriadaevoluo,nstemosum exemplodegrandeforaexplicativadeparcomumaquasecompletaausnciadepoderdepredio17.Avaliaraexcelncia~ia-pelo seueventualpoderdepredioSlSD-!!l.Caa reduodo esforocientfico meradescobertade regularid!dcs,cQmexclusodetodatentativadeir maisalm,poisessadescoberta,~malgumasocasies,.-sufiCiente-paraasseguraro Xiiuepredies.

    16.A amplitudedeaceitaodesta~ia extraordinria.At mesmoumautorcomoHabennas- de quem nunca se poderia dizer que um baconlsta - disse que "O saber emplrico-analti-co ,pois,umsaberpreditivo.Na verdade,o significadode taisprevises,Isto,suapossvelutilizaotcnicaDlio senoo resultadodasregrasem funodasqualsnsaplicamosasteorias realidade".1.Habermas,La Techniquee/Ia Scit!llCt:comme"lckologie",trad.deI.-R.Ladmlral,Gallimard,1973,p.147.Nopontoemapreo,oquedistingueesteautordeBaconquesuaconcepodesaber"cientficono unitria,demodoqueno trechocitadonoesla-riamincludasascinciashistriC9-bennenuticas.

    17.Comoexemplosmuitointeressantesdesucessodeprediesnaausnciadeexplicaescorre-tas,bastareferir - no campoda astronomia- a previsode mars,enchentes,eclipsesele.,convivendocomexplicaesrantasiosase falsas;e no campoda biologia,o secularxitodemuitospovosnaobtenode melhoresespcimesanimaisevegetaisnacompletaIgnornciadosmecanismosgenticosdesencadeadospeloscruzamentos.Cf. S. Toulmin,L'Expliea/ionScienliJique,capo2, trad.de1.-1.Lecercle,Paris,LibralrieArmandColin, 1973;e tambmC.DarwIn,TheOrigin01Species,capoI, EncyclopaediaBritannicaIne.,GreatBooksof WesternWorld, vol. 49, 1952.

    26 JOS MRIo PIRES AZANHA

    ~

  • exatamentenestepontoqueresideaarbitrariedadeepistemolgicadessaconcepodecincia,poispressupeumafeiounitriadosa-bercientfjico,nos quantoaosprocedimentosmetodolgicoscomotambmemtermosdosobjetivosdessesaberque,alis,paraBaconeraindissociveldomtodo18.

    2.Comrelaoaosegundoponto,isto,adificuldadedejustifi-carhistoricamentea concepoinstrumentaldacincia,precisoan-tesdemaisnadafrisarqueoprprioBaconnuncapretendeufundarasuaidiadecinciacomopodernahistriadescritivadacinciaqueohaviaprecedidoouquelheeracontempornea,mesmoporque"o fimeametadacinciaforammalpostospeloshomens".ParaBacon,atento,a cincianoforaseno"aberraes";nocabia,pois,a suareforma,masasuainstaurao:

    Seriaalgodeinsensato,emsimesmocontraditrio,estimarpoderserrealizadoo queataquinoseconseguiufazer,salvosese fizerusodeprocedimentosaindanotentados[NO,I, VI].

    Vo seriaesperar-segrandeaumentonascinciaspelasuperposioou peloenxertodo novosobreo velho. precisoquesefaaumarestauraodaempresaapartirdomagodesuasfundaes,senosequisergirarperpetuamenteemcrculos,commagroe quasedesprezvelprogresso[NO,I,XXXI].

    Emboraessaspassagens,e muitasoutrasquese lhepoderiamjuntar,exibama transparnciadopropsitobaconianodedesvincularasuaconcepodacinciadas"trevasdatradio",algunsobstinadosbaconistaspoderiamalegarque,a despeitodostennose do estilodasuaexposio,a verdade queBaconcaptou- nasuaidiainstru-mentaldacincia- a realnaturezadasrelaesentrecinciae tecno-logia,isto , a determinaodestapor aquela.No entanto,o valordessaalegaoteriaquefundar-senaprpriahistriadacinciaenahistriadatecnologia,detalmodoqueseevidenciassetersidoesse,historicamente,o relacionamentoconstante,manifest.oouno,entreo

    18."Ainda nospodeser indagado,maiscomodvidado quecomoobjeo,seintentamoscomnos.mmtodoaperfeioar[tomartil) apenasa filosofianaturalou tambmasdemaL~cin-cias:a lgica,ticae a poltica.Ora,o quedissemosdevesertomadocomoseestendendoatodasascincias[...]Por isso,pretendemosconstituirhistriae tbuasdedescobertaparaaira,o medo,a vergonhae assuntossemelhantes;e tambmparaexemplosdascoisascivise,nomenos,paraasoperaesmentais,comoa memria,paraa composioe adiviso,parao juizocle. E, ainda,parao calor,parao frio,paraa luz,vegetaoeassuntossemelhantes."[NO,livroI.DOar).

    UMA IDIA DE PESQUISA EDUCACIONAL 27