me xendo no bau. vasculhando o u
TRANSCRIPT
UU
poemas
FILINTO ELÍSIOpinturas
LUÍS GERALDES
UME_XENDO NO BAU.
VASCULHANDO O
ME_
XEN
DO
NO
BA
U. V
ASCU
LH
AN
DO
O
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s horas invadem-me o espírito e conto uma a uma as ondas
no espraiar dos teus pés as horas entram-me nas veias são a capilaridade
as horas invadem-me o espírito e conto uma a uma as ondas
no espraiar dos teus pés as horas entram-me nas veias são a capilaridade que fervilha das angústias às alegrias
tudo o que me la-cri_mejano corpo de nut tantas es-trelase da clepsidra esva_indo a areia que me resta!
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s horas invadem-me o espírito e conto uma a uma as ondas
no espraiar dos teus pés as horas entram-me nas veias são a capilaridade
as horas invadem-me o espírito e conto uma a uma as ondas
no espraiar dos teus pés as horas entram-me nas veias são a capilaridade que fervilha das angústias às alegrias
tudo o que me la-cri_mejano corpo de nut tantas es-trelase da clepsidra esva_indo a areia que me resta!
1
2
Edição
Letras Várias – Edição e Arte, Lda.
Título
Me_xendo no Baú Vasculhando o U
Autores
Filinto Elísio
Luis Geraldes
Conteúdos audio
coordenação: João Branco
declamação: Nancy Vieira e João Branco
Design Gráfico e Capa
EADESIGN
Responsável de edição
Carla Fonseca da Costa
Impressão e acabamento
Printer Portuguesa
Tiragem
2000 exemplares (esta edição contém um CD áudio)
Desta edição fez-se uma edição especial de 250 exemplares numeradose 30 exemplares de autores, que vem dentro de uma caixaacompanhada de uma gravura de Luis Geraldes e de um CD áudio.
Depósito Legal
DL Nº 325 458/11
ISBN
978-989-95974-8-8
1ª edição: Lisboa, Abril 2011
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor.
© Filinto Elísio, Luis Geraldes, Letras Várias
Alto Patrocínio de Sua Excelência,Senhor Primeiro Ministroda República de Cabo Verde
CHEFIA DO GOVERNOdo
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5
Lisboa Cidade da Praia
2011
UME_XENDO NO BAU.
VASCULHANDO O
poemas
FILINTO ELÍSIOpinturas
LUÍS GERALDES
6
Ó DE CEIA DAS I_LhAS 15 san_tiago 16 f_ogo 19 mai_o 20 brav_a 22 boa_vista 25 sa_l 26 são n_icolau 28 santa l_uzia 31 são vi_cente 33 santo an_tão 35 MAR SE A TUA & NU_A 39 en_luada 40 ma_luada 43 t_oada 44 mar se a tua & nua 47 tabu_leiro 48 lavr_as novas 51
VALSA BRILLANTE (sounds of hudson & de sacu_didela) 55 valsa brillante (sounds of hudson & de sacu_didela) 57 estação da liberdade 58 arre_pendência 60 es_culpindo 62
QUEM TE TATUARIA? 67 quem te tatuaria? 68 biografo de n_ada 71 me_trificações & ar_ pejos 73 variando em u 74 intradoxos 77 FAN_DENGo BoM 81 la_dainha 83 m_orna 84 cola_deira 87 ba_tuku 89 ta_banka 91 ban_deira 92 cola son jon 95 ma_zurca 96 funa_ná 99 f_ado 101
poemasINDICE´
7
Ó DE CEIA DAS I_LhAS 15 Islands of Life 17 Dancing Along with the Stars 18 Bliss Consciousness 21 The Wheel of Time 23 Pink Lakes at Murray-Sunset National Park 24 Lost in the Beginnings of Infinity 27 Life Forming 29 Sacred Path to Wisdon 31 Lake Mungo 32 Nurturing the New Life 34 MAR SE A TUA & NU_A 39 Mystery of the Dawn 41 Mystery of the Dusk 42 Pilgrimage of Consciousness 45 Never Ending Love 46 Floating Existences 49 Shadows of Us 50
VALSA BRILLANTE (sounds of hudson & de sacu_didela) 55 Travelling oceans 56 Nurturing the New Life 59 Gravitational Dependence 61 Initiation Paths and the Fragility of Life 63
QUEM TE TATUARIA? 67 Wondering Why 69 Faceless Acceptance 70 Mudanças Flutuantes da Matéria 72 Seeds of the Difference 75 Floating Existences in a hidden order 76 FAN_DENGo BoM 81 River of Universal Language 82 Concious Transcends Time and Space 85 Fragile World 86 Moving Together 88 Seven Eternal Universes 90 Vulnerability of Self 93 Travelling oceans 94 The Beginnings of Infinity 97 heidegger’s horse 98 Beyond the Pleasure Principle 100
pinturas
8
9
OS ALqUIMIStAS CHEgANDO
Não me pareceu tarefa fácil descortinar e desmontar a proposta “Me_xendo no Baú”, obra que Filinto Elísio e Luís Geraldes apresentam a este tempo. Estes vieram ao Editor como “estranhos alquimistas”. Tanto a poética como a plástica são aqui e agora, em primo, um labiríntico exercício de saída e exigem, com beleza de espírito, a ventura de um Fio de Ariadne. E são também, já em secundo, uma lúdica procura da figura menor e mais apurada, diria até da estética mais aprumada, bem à lógica da matrioshka. Uma a uma, a busca se impõe à tropia do encontro que estes dois estetas propõem. Não se define, como rezaria o mais clássico jargão, esta proposta em livro. Alguém, de tão raro olhar, classificaria a textura desta obra como um projeto multimédia. De o ter descortinado em sua nuance declamatória, em sua recitada coreografia e em sua ousadia gráfica. Esse alguém — vasculhando o U, como quer o finale da obra —, convenhamos, se rendeu à dúvida filosófica dos cruzares entre o tempo ontológico e existencial, para que, das duas uma, tudo seja matéria em determinada frequência ou seja a Arte, ora em toda a prova, esta imaterialidade que nos detém à vida. Cinco momentos poéticos e plásticos. São cadernos interiores de poemas e pinturas que, escritos, lidos, pintados, vistos, declamados, ouvidos, dançados e apresentados, dão as nuances dialógicas da vida e da morte, da luz e da sombra, da noite e do dia, senão mesmo a dialéctica que importará em tudo seus infinitos elementos da ética e da estética. Quer me parecer proposta filosófica, esta viagem estética do “Mexendo no Baú”. Não me furto a balbuciar aquela canção que às tantas repete que “os alquimistas estão chegando...”. Nota do Editor
10
PREFÁCIo
11
PREFÁCIo
12
13
14
Dias sobre a navegação, noites sobre os mares, ares rarefeitos e cheiro a pobre, lábios secos e de escorbutos, eis que as ilhas invadem os olhos de quem vigia o mundo do escaler. Gritar “terra à vista”, por gosto ou miragem, como se do
continente e ao tanto mar fossem as ilhas a salvação. Olhar, de mirabolante encanto, bocados
da atlântida para o gáudio da galera, não fosse a besta ali tecê-
las, nem ficasse o visto por lapso de ilusão. Ó
pantagruélica toalha do mar. Às vezes, como ouvira Ulisses em pura
odisseia, cantam sereias que nos encantam de morte. Outras vezes, como também fizera ele a tais cantares,
haveria de se amarrar ao mastro e seguir viagem. Mas, poetas
mais que navegantes, ides para os profanos encantos da beleza.
Gozemo-las, as ilhas. Fome de comê-las. Sede de bebê-las. Ó de
ceia das i_lhas...
15
Ó de ceia das i_lhas
16
san_tiagopor primeira
(antes do verbo)
última te quer_ia
tiago profa_no
ao sabor da carne;
louvo-te homem
como um to_milho
pão que sai do for_no
e tosta_do
no aguar da fome;
de tanta boca
sugar teu corpo
teus me_andros
tuas grutas
lamber teus poços
demo_rar no osso
e no caroço;
morrer sempre
aos teus montes
serras e cutelos
morrer às achadas tuas
e fajãs querendo ao verde
(ó minha festa!)
morrer ao teu regaço;
(lamber-te à fome
com ânsia mais que à fome)
com ciência que suga
essência do S
de sant_o
e de pecad_o;
diz-me das especiarias
com que te como
ó portentoso
diz-me dos tem_peros
com que te de_voro
meu apolo
(antes do verbo)
sussurra-me tudo;
o que me cani_baliza
e me incendeia à vida:
ser filho teu
e da poesia…
17
Islands of Life
18
Dancing Along with the Stars
19
f_ogounta-me nas partes ínfimas
& sejas a estação das frutas todas
en_sopado de ervas
e deixa que o meu corpo te responda
— à lenta carícia dessa outra mão —
ao unguento quente
ao sustento demorado
das lacres
no afã dos gemidos
o visco des_medido das nossas águas
o teres seios de vul_cânicos esteios
teus beijos
são o c_aos querendo o c_osmo
só podes ser floresta es_condida
só podes ser feitiço a estas horas
eu te per_corro a cada duna
— és só geo_grafia…
20
mai_oos astros
como as imperceptíveis poeiras
arfam de um alado sono
sina das coisas levi_tantes
(de tudo afinal ser sus_penso)
a voz que (ao verbo) começa a cria_ção
— porque botaram a maçã nisso —
proibida & apetecida no corpo
na gástrica matéria do desejo
são tão límpidas as águas de maio!
(e fizeram-nos frágeis do querer)
persistem em mim ainda todas as fomes
querem de mim ainda as transgressões
e as texturas de mai_o & no de_lírio
dos aromas que (ó Rimbaud) me ressus_citam
numa estação in_fernal…
21
Bliss Consciousness
22
brav_acorpo?
esquartejem-no
bem aos boca_dos Set e suas partes
osíris há de lhe soprar a boca
rodopi_ar em mar_gem areias
re_voar em nilo suas ondas
a voz dos mortos no-la refaz a vida
ao sétimo dia judaico
que não seja este sil_ente calen_dário
— meu faraó longínquo —
brav_a deixa-te estar vi_ciada
& serenada
nesta brisa em tua toc_a
…pássaro!
23
The Wheel of Time
24
Pink Lakes at Murray-Sunset National Park
25
boa_vistano deserto de viana
o céu tem dunas de tantas cores
e o silêncio vão pensa palavras primordiais
pegadas na areia
pedaços de árvores & bocados de vidro
carcaças de barcos
seus en_calhes de histórias muitas
diz a memória
do casal de namorados preso nos es_combros
diz a memória do arco-íris dessas dunas
seus nau_frágios guardados numa concha
fantástica ilha
lundu bonito & ruínas de igreja…
26
sa_lcruci_fixo
colar caído em teu deco_te
fosse teu cangote esta encruzilhada
o meu primeiro projecto de sombra
o de perscrutar luz em ti
escondida antes da aurora
no areal da hera
alcova de algum peca_do
montava eu o puzzle de outrora
— incauto da morte achei-a
desta eternidade —
e teus demónios foram apanhados de súbito
lar_gados como bode ao sabor do monte
queríamos nós cabriolar fêmeas em tempo de es_tio
morreu-me tão estival momento
punha-me nele de cabra_lina pedra
meus geni_tais em clementina
o que explicava à idade de cardeal
um espelho fatal derramado à face
e as rugas me aboca_nharem olhos
ba_nharem também minha sede de pajem
& garga_lharem que a vida são dois dias
sois deuses escondidos que eu sei
sois tantos orixás em fila
os búzios jogado_s sobre os panos
dizem-me lobo-guará perdido na cidade
cansada fera
suplicando à lua esmaecida
lá onde o mar des_gasta a ilha
mas a pedra car_comida sobra
des_nuda-se ela que nem puta
pulsando à tarde com poesia
sois mais que anjo atrás da porta
sois aquele que se salva no armário
sinto-te
& não temas o traído en_raivecido
te imponha
& revire o jogo de cartas marcadas
não me olhes tão assim
meu cúmplice
que o espelho é isso: vermo-nos nele
esse vaivém de mar
mar que me banha b_enta e s_agrada
pressinto-o a cada gota
[oceano tanto – infinita água tua
canto à-toa teu mar_ulhar
sois quanta escondida em banho
cristais de espuma nos meus cantos
meu navio sulca tuas nuvens]
alado navio este meu
e sa_l tem disso
miragens enfim!
27
Lost in the Beginnings of Infinity
28
são ni_colauas horas invadem-me o espírito
e conto uma a uma as ondas
no espraiar dos teus pés
as horas entram-me nas veias
são a capilaridade que fervilha
das angústias às alegrias
tudo o que me lacri_meja
no corpo de Nut tantas estrelas
e da clepsidra esva_indo
a areia que me resta!
29
Life Forming
30
Sacred Path to Wisdon
31
na beira-mar
plantas & bichos
marinam cada momento
do não pensar em nada
esta ilha pode ser o mundo
o umbigo da terra
o segredo guar_dado no cofre do vento
esta nostalgia que ao vento s_ilva
as aves canoras & as algas inquietas
imensa bei_rada de mar…
santal _ uzia
32
Lake Mungo
33
versejo-te com o v_ento e a t_erra
na sombra vã de que já foi luz;
versejo-te sendo este desejo
uma estranha forma de cruz;
(pedaço de céu & braço de mar
coxas da ilha polegares de nada)
versejo-te como um vagabundo
que ronda a cidade e mata a fome;
em qualquer esquina e canta
(na boca da noite) esse hino
que faz relinchar mulheres
donas de um cio de chicotes
vibra_dores & de_cotes:
ó sedosa lua efémera
ó la_pso de tempo
ó la_pso de tento
tentações…
sãovi_cente
34
Nurturing the New Life
35
santo an_tãoque é de tudo se resumir à estrela.
de não ha_ver cânticos de nada;
de tudo afinal ficar calado
quedo & sub_serviente ao sol;
que é do monte se altear em nuvem
de as ondas inva_direm a praça;
do sonho explodir em real_idade
e dela fugir para a ilha de lesbos?
cansa pal_milhar a ilha a pé
andar seus caminhos de corda
se me apaga o â_nimo cruzar
a meia-noite nessa variante
olho para o dis_tante e vejo
o pássaro sobre Santo Antão…
36
37
38
Hábitos nada são que o cárcere do monge e o câncer de uma pele escondida. O monástico sentido do
caminho. As horas, doidivanas, desfilam a carne na avenida. Os lugares, serenados, mergulham o algodão da
libido na canforada água da morte. Quanto nos pesam, de uma
banda o recato que nos consome e nos lacra ao sétimo selo, doutra
banda a evasão dos taliões e mandamentos, pois livres que somos de mortais sinais? Quanto de insustentável
solidão nos aguarda a multidão, o turbilhão da angústia que faz as
vezes da tarde para nos anoitecer? Hábitos para o retalhe nosso
de cada dia. Mergulhemo-nos no mar dos hábitos diluídos. Mar se a tua & n_ua...
39
Mar se a tua & nu_a
40
despes-me
en_luada
(postos astros em zodíaco)
entalas-me
encruada
(canibalizado de tua carne)
…e não dirás contra-pecados
que não sejam novenas
estas;
despes-me
como quem navega
(quem não tem outro sossego)
assaltas-me
assim à desarmada
(tanto me despenham sucos
quanto me salpicam rugas)
…guardarás luas e suas luzes
que às sombras estas lhe são
árvores;
frondosas folhas
tê-las em nós
— da copa à raiz, amplexo
que é da terra ao céu
meu nó do S
meu nu do U
nódulo
e
verde frutal
V de nó vital
— menu
de te deli_ciar.
en_luada
41
Mystery of the Dawn
42
Mystery of the Dusk
43
despes-me
de me reduzires ao corpo
rente ao pêlo e à pele
ao nível zero do toque
e ao sem retoque
assim rosa feita
— mor_dida;
despes-me
de ma_luada
seja eu lobo
(uivante besta)
à sua lua perturbada
seja eu solitário
nos acordes da meia-noite;
despes-me
porque és fêmea
sêmea e quase milho
(parida flor da manhã)
porque és mãos
das cinzas esquecidas
despes-me incen_diada;
porque és onda
se_viciando a praia nua
és altas horas
em que ressona Deus no cio
das marés por virem
despes-me
e peregrino-me do corpo…
ma_luada
44
t_oadat_arde que finda
ou tão simplesmente noite
(ainda) indecisa;
S grafema impreciso
VC de vossemecê
(senão só dá você)
que ao tempo dos bichos
o poema tem mais riso
que almejado siso;
amiúde sem vogais
de ataúde consoantes:
amar-te em MR-T
FDR-T gemendo assaz letras
CMR-T engolindo-as todas
na tua fonte
de todas as divas;
aliterando em T
(Corsino verseja tambor)
metaforizando em P
(cor & sino tal poesia)
empre_dando
V de viola
de realejo R
na escura fronte
de tal homem;
sentado
de rosto ao poente
(t_arde que finda
ou tão simplesmente noite)
guardo as vogais todas
da cartilha
ao tempo de gramática
pouca
e de algum voo
pelo improvável da palavra;
t_oada como eras
minha primeira
(ou se_rias primeva?)
professora…
45
Pilgrimage of Consciousness
46
Never Ending Love
47
mar se a tua & nuaem tudo o que sejas
(estribilho)
sou
vicioso de tuas vogais
(esse meu cair das pétalas)
sou
onde lhe param sílabas
sou teu
poemas sem palavras
mar se a tua
& nua
lua no farol das águas
in_tacta
& frag_menta
mente_facta
— poesia!
sou-ta
sou-te
sou
ti
(e em ti)
sou-to
(rosa no seu lado de cá?)
sou
tu em
(que me sabes)
despe_talar
48
o poeta busca a letra
a musa
a kilo k vc gosta;
ele:
vas_culha
de leve
a letra u
ela:
bor_bulha
de breve1/2 d_ode marítima
1 verso Drummoniano
2 pessoas de fingir
da dor deveras
ele
vira múltiplos de alma
ela
dita saudade dada
(acrescentam-se-lhes:
cifras
ânforas com palavras
algumas metáforas
& outros paladares)
o mais
(receituário deste tabu_leiro)
pão de beijo
...ooooops, lapsus calami! lapsus linguae(tropiezo involuntário... mineira é fogo)
seria:
pão de queijo!
tabu_leiro
49
Floating Existences
50
Shadows of Us
51
lavra_s novasoutra mão
que não esta
fir_mará
(na marmórea lápide)
a frase derradeira;
mão que não dirá
de lavra_s
nem contará
(no epitáfio)
o tanto de poesia
esse largo da igreja;
mão que tão pouco saberá
do silêncio (contigo
em cada olhar) trocado;
mão distante da carícia
que foram nossas sombras
em cada soleira
e dos cães
deuses em ca_nino
(atordoados de cio
e dos instantes pesarosos)
em que falávamos
desse
feel me;
no cada_falso
(mão outra que se desconhece)
do pro_verbial verbo
(que me preveja nome todavia)
lavras da poesia
distante de palavras novas…
52
53
54
Dois grãos de areia. Quem sabe, matéria mais ínfima ainda. Podendo
até ser algo imaterial. Ou tão-simplesmente nada. Mais que o grito e o silêncio. Não se nos apercebe coisa. Nem se
nos convence loisa. Puro brilho à beira do rio Hudson. Este haver,
ao tempo ora ontológico, ora existencial, alma para a última valsa. Este haver alguma plastia, certa utopia,
para o alarde da Arte. O larvar estranho das luzes sobre as sombras.
O avatar do espanto destas sobre aquelas. O ião que, de um anel
ao outro, do átomo nos recorda o vão. Puro não saber se as ilhas,
de tantas águas e sob tanto céu, são desta libido alguma forma
de corpo...
55
(sounds of hudson & de sacu_didela)
Valsa brillante
56
Travelling Oceans
57
valsa brillante(sounds of hudson & de sacu_didela)(uma bandeira é um pedaço de pano, irmão)
mas,
de
sacu_didela,
como está afoita ao vento,
as estrelas caem-lhe por terra
e resvalam-se-lhe (presumo hinos
e alvíssaras)
pelos cueiros
…cidade de drenagens entupidas!
é de quando (nem chove),
assim,
comem-nas terras
— elas, aquém do esteio
e feitas bocas —,
afagos,
tragos
mostos sem medida
comem-nas mátrias,
com queijo e fiambre,
nos detalhes,
intimidades
e territórios;
(uma bandeira de céu, de mar e de sangue, irmão?)
mas, de
sacu_didela,como se liquefaz seu vermelho, seu maluco azul, de céu e mare menstruam-lhe (a cada mêso arquipélago não fecundado)
disfuncional útero …cidade de útero removido!
é de quando, assim como aos oceanos,
as ilhas ficam— às tantas, que se perdem
pelo estio das estrelas —, mas de morderem também,
ou comendo-as ainda(com preservativos)
as ilhas são frutos secos,amêndoas do destino, caroços e destroços,
cancerígenos trópicospátrias
e cloacas outras…
58
estação da liberdade(plataforma de embarque: destino Tucuruvi)
parto (de mim) nesse cais
e dou luz ao silêncio;
reluza outro no espelho
que eu bem me viro;
silen_ciosamente
a partitura da quebra:
vidro
ladrilho
e silício...
É do metrô que passa!
59
Nurturing the New Life
60
arre_ pendência(Em consoante S)
S exílio
S lírio
C de cílio
e de você
esse delírio
broxa rima
sapo coaxa
a cantoria
bão babalão
senhor capitão
acha o povo
seu
k
minho
mas
não me piches
no graffiti
nem me_gapixels
em photoshop
existencializa-te
cristaliza-te
upgrada-te
ta te ti to tu
ou
tu to ti te ta
(andas maluco
tu)
esse exílio
esse lírio
e o suicídio
o triunfo
dos suínos
vem irmão
canta irmão
encanta irmão
bão balalão
cabeça de cão
o hino
da
liberdade
arre
égua
mula
e burro
moribundo
bão balalão
não tem coração
que me arrepia
tanta areia
e
S mundo
viva Sartre
arte
tarte de limão
&
consorte
queres beijo
ou
pão de queijo?
61
Gravitational Dependence
62
es_culpindoem tua sombra
és Cupido
rés de tudo
tu de côncavo
eu de cravo
(e despido)
semblante teu
trava-me
assim
teu desplante
e tal desfrute
o que me assombra
e me alumbra
fostes tu
— que rente
como pente no cabelo —
fê-lo
enfim
ao de leve
E
na penumbra
esse olvido
de repente
a
se
es_culpir…
63
Initiation Paths and the Fragility of Life
64
65
66
Vasculhando: letras, cifras, signos. Vasculhando:
alfabeto ulterior, sinais hieroglíficos, escritos cirílicos e ideogramas outros. Pixar murais, desenhar
paredes interiores e caricaturar pátios silenciosos. Grafitar tudo. A
estação do metro. Tatuar teu corpo. Teus desertos
e teus oásis. Atravessar o Sahara do teu interminável corpo e beber a água de uma sede em Marraquexe. Saber que
Alá é Grande. Pressentir que nenhum Deus é pequeno. Pintar teus lábios de roxo e teus cabelos de violeta.
Gostar de magenta em ti. Do teu delírio
de ouro fino. Morrer contigo como foi viver sem ti. Espelho, esse
refletir, parte de quase nada. O mito de Osíris. O vento que sopra a boca da vida. Quem te tatuaria?
67
Quem te tatuaria?
68
quem te tatuaria?quem,
me_xendo no baú
de tua tatuagem
desenhou-te
(em lápis de cor
ou, sei lá, tinta da China)
negro dragão
tão alva lua
e graciosa borboleta?
quem,
vasculhando o U
de tanta miragem
navegando-te
(em teu corpo-delito)
pecou maçã
tâmara
e manga-rosa?
sabê-lo ser alguém
de ditoso e de distante
(que é do vaga-lume sem sua noite?);
sabê-lo,
por teus cantos, demorado
(como pão quente, chá de manjerico e milho novo);
sabê-lo,
silente de guardado,
ou tão-somente silenciado
(tresandando sândalo e seu pecado)...
ah, sem tanto alarde,
desoficinar poesia
(e sabê-lo Deus, todavia);
ah, mesmo que tarde,
seres lacre que sela
carta já fechada à língua;
seres ainda que cifra,
toda a mensagem de olhos
tua nuvem virando viagem...
ou luar,
que comigo assim mexe
agora que nua te pressinto
re_mexendo...
69
Wondering Why
70
Faceless Acceptance
71
biógrafo de n_adaa Weliton Carvalho
sou este biógrafo
1 tanto falhado
que não se olha
senão de soslaio
e que me recusa
ao pão do dia;
1 biógrafo talhado
máscara diria
de anjo gauchecão fiel que me aguarda
algures na morte;
todavia
a face não me res_guarda
— não sou mais nada!
72
Mudanças Flutuantes da Matéria
73
me_trificações & ar_ pejosardentias outras
de senti-las
flores frutas fomes e tantas ganas
o spleen dos verbos o trípico cio
argêntea-me isto quando te vejo
e ver-te é tutti de orquestra ser-te
— sorver-te fúlgida de luz — cisma
que não espaceia outro caminho
este sem aposento nem poente
realejos em terem sido: estrela
salitre grampo biltre ou pirilampo
esfarpelam metrificações e versos
despenca-me o cacho de uva seja
macho revivido doutra luminária
terra e arpejos também seus pejos...
74
variando em uale_luia como ave césar
lhe diluiam cristo e o bashô
de um santo disto tudo
um cal vário que dista joão
em mi fá sol lá da melo dia
melo sol de_nota si e sal
e não podia tanto castiçal
procissão no adro de_verso
musicar fonema e Nausicaa
demorar o seu expedito u
fosse poema ave que voa
ou então que me me_xias
tu em trave se não o gosto
do bu_raco e tu_bulação...
75
Seeds of the Difference
76
Floating Existences in a Hidden Order
77
intradoxosa_barco
b_arco
c_erco
...de circo meu bem
e_quações estéticas?
com feitoria novo confete da confraria
p_ética
a_berta p_orta
& o_utras a_rtérias
m_otricidades...
78
79
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Tudo é música. O silêncio da música. O intervalo
que canta. O tempo que encanta. A sílaba. O ensaio
de orquestra. O tutti é finito. A lusofonia. A fonia simplesmente. A
crioulidade. A civilização do corpo e da alma. As
ilhas e o cosmos. Caliban e Próspero. A dança. O Minotauro de
Creta. A palavra. O verbo do começo bíblico. A morna toada do
violão. A eterna viagem. A guerra, a paz. A prosperidade
das estrelas e a pena delas de Fernando Pessoa. Tantas bandeiras. Outras línguas e suas latitudes. Longitudinais
sussurros aos ouvidos do Mundo. Deus?
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Fan_dengo bom
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River of Universal Language
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la_dainhanovena
açucena de três vozes
ó la_dainha que o mundo é longe;
música
o que é do U
vasculhado na língua das águas
no ín_fimo de cada gota
e no c_ardume dos peixes de tanto mar
que ao di_luviano e va_zante líquido
de placenta silen_ciosa tudo se resume?
— vozes de vasculhando o U!
84
m_ornacosmos para lá das ilhas
deuses & demónios ao sabor do violão
nesse de_cantar das pedras
(o haver neurónios)
acordes de viagem
de ponta a ponta voar o pássaro
ali_terando
do meio-dia à meia noite
esvaziando da clepsidra toda a areia
seu sa_litre si_lício & seu a_trito
seus cal_cinados peixes
sua saudade…este suplício!
85
Concious Transcends Time and Space
86
Fragile World
87
cola_deirains_tante quente tre_pidante
nosso com_passo gostoso
sou-lhe corte & costura
seu vestido para a nudez do amor
(Cole den_goso comigo)
umbigo na co_ladeira…
88
Moving Together
89
ba_tukuna beira-mar
qual a cor do jazz
a plástica do blues
e o sussurrar da salsa
na re_tina de aquém & mar
mulheres da grande ilha
tam_borilam entre suas coxas
o destino de serem outras deusas
a_finação das mágoas — suas lem_branças…
90
Seven Eternal Universes
91
ta_bankade_vasso todo o tempo
Cronos tenho-o fechado na mão
al_gemado lugar ilha
o esqueleto do dis_perso continente
por dentro da pele
no fluir das veias
sou sopro e distância
sou deste per_fumado chão
sou ta_banka!
92
ban_deirasantos dos cav_alos
que de crina para a noite
corriam a várzea inteira;
no altar
no vol_teio dos pecados
teu corpo em descaso
que a vol_úpia é a de_mora
com que ficámos pelo estio
pedirei aos b_úzios
como às gemas que seduzem
às fogueiras ju_ninas
se há chuva
ou pari_dura
ou de maria – não sendo vir_gem
nem mir_agem todavia —
so_letra a nativ_idade
de cristo;
re_tinam sinos
re_picai tam_bores
sangue das ali_márias
e suas vís_ceras
é o povo pelas ruas:
o bai_xão do povo pelas em_penas
a missa dos profanos
(ó poesia)
é mais em baixo…
93
Vulnerability of Self
94
Travelling Oceans
95
cola son jonár_vore flor e fruto
trave & seu silêncio
tua cola_da sol
arvore eu di_ante à lua
ou fique pela nua dança
& contra_dança
arvores tu para a nu_ance
ó gosto_sa inti_midade
sua resina breve
árvore flor
a_mor
en_trave dor
sua mal_dade…
96
ma_zurcater_ei agora para as danças
a serena paz do silêncio
se fora v_erbo nesse começo
— pensa_mento que é afinal palavra —
será v_erbo o fim dos tempos
dos sa_piens somos derradeiros
k os corpos da mecânica
& da rob_ótica
à fronte de tal h_omem
p_ode este k não f_ode
nem escreve so_neto
tam_pouco chora
o sol a pôr-se
ou ri de nós
a virmos
dançar ao silêncio
(pensa_mento ou v_erbo)
da ma_zurca?
97
The Beginnings of Infinity
98
Heidegger’s Horse
99
funa_nálouco de tão oco
tempo de f_astio
corpo de graffiti
palco às escuras…
sahara k nos s_obra
o “a” ver amazónia
atlântida es_quecida
ao som da gaita…
im_perfeitos
pri_mitivos ani_mais
plantas & plânctones
tudo nature_za
o funa_ná
a zebra
o lobo
o boto
n_ós…
100
Beyond the Pleasure Principle
101
f_adonegro corpo
e o des_tino
chora-se fado
e o s_ado corre
tudo é rio
U de tudo
um dia
por me_lodia
vasculha-se-lhe
exis_tindo
ouro preto
re_nasce em Nie_Meyer…
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as horas invadem-me o espírito e conto uma a uma
as ondas no espraiar dos teus pés as horas entram-me nas veias são a tropia tropia tropia tropia tropia
tropia tropia me tropia_tro-piatropia tropiawwn tropia tropia
as horas invadem-me o espírito e conto uma a
uma as ondas no espraiar dos teus pés as horas entram-me nas veias são a capilaridade que fervilha das angústias às alegrias
tropia TRoPIA tropia_tropiatropia tropia tropia l
trOpIA
as horas invadem-me o espírito e conto uma
a uma as ondas no espraiar dos teus pés as horas entram-me nas veias são a capilaridade que fervilha das angústias às alegrias
tropia tropia tropia_
tropia tpia tropia tropia tropia tropia tropia tropia tropia tropia tropia
tudo o que me lacri_mejano corpo de nut tantas estrelase da clepsidra esva_indo a areia que me resta!
105
as horas invadem-me o espírito e conto uma a
uma as ondas no espraiar dos teus pés as horas entram-me nas veias são tropia trpia tropia tropia tropia stias tropia
tropia tropia a tropia tropia
as horas invadem-me o espírito e conto uma a uma
as ondas no espraiar dos teus pés as horas entram-me nas veias são a tropia tropia tropia tropia tropia
tropia tropia me tropia_tro-piatropia tropiawwn tropia tropia
as horas invadem-me o espírito e conto uma a
uma as ondas no espraiar dos teus pés as horas entram-me nas veias são a capilaridade que fervilha das angústias às alegrias
tropia TRoPIA tropia_tropiatropia tropia tropia l
trOpIA
as horas invadem-me o espírito e conto uma
a uma as ondas no espraiar dos teus pés as horas entram-me nas veias são a capilaridade que fervilha das angústias às alegrias
tropia tropia tropia_
tropia tpia tropia tropia tropia tropia tropia tropia tropia tropia tropia
tudo o que me lacri_mejano corpo de nut tantas estrelase da clepsidra esva_indo a areia que me resta!
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tOpIA
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U
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UtOpIA
112
as horas invadem-me o espírito e conto uma a uma as ondas
no espraiar dos teus pés as horas entram-me nas veias são a capilaridade que fervilha das angústias às alegrias
tudo o que me la-cri_mejano corpo de nut tantas es-trelase da clepsidra esva_indo a areia que me resta!
UU
U
poemas
FILINTO ELÍSIOpinturas
LUÍS GERALDES
ME_XENDO NO BAU.
VASCULHANDO O
ME_
XEN
DO
NO
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U. V
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LH
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DO
O