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XVII Encontro de Iniciação Científica XIII Mostra de Pós-graduação
VII Seminário de Extensão IV Seminário de Docência Universitária
16 a 20 de outubro de 2012
INCLUSÃO VERDE: Ciência, Tecnologia e
Inovação para o Desenvolvimento Sustentável
MCH0008
INOVAÇÃO NO PROCESSO DE FABRICAÇÃO DE ROTORES PELTON: UM ESTUDO DE CASO
EVANDRO LUIZ DE OLIVEIRA [email protected]
MESTRADO - GESTÃO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ
ORIENTADOR(A) EDSON APARECIDA DE ARAUJO QUERIDO OLIVEIRA
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ
INOVAÇÃO NO PROCESSO DE FABRICAÇÃO DE ROTORES PELTON: UM
ESTUDO DE CASO1
(Autor 1) Evandro Luiz de Oliveira2
(Orientador) Prof. Dr. Edson A. Querido de Oliveira3
Resumo
A tecnologia apresenta um significativo avanço nas suas possibilidades de realização,
em parte devido ao grande avanço nas áreas de informática, robótica e eletrônica.
Graças a avanços nestas áreas do conhecimento e outras, muitos processos industriais
que até a algum tempo eram impensáveis, hoje começam a se tornar realidade. Mas
neste ambiente de significativos avanços da tecnologia, uma nova necessidade surge nas
organizações, à necessidade de acompanhar e gerenciar o desenvolvimento tecnológico
e as inovações que as mesmas possibilitam. Para tanto, primeiro necessário
compreender o que se entende por tecnologia, inovação e gestão da tecnologia e
inovação, para possibilitar sua implementação nas organizações. O pressente trabalho
além de contribuir com reflexões sobre o significado destes conceitos com base em
revisão bibliográfica, busca aplicar os mesmos a analise de uma mudança de processo
de fabricação para avaliar se a mesma pode ser considerada uma inovação, além de
mapear como o processo de mudança foi conduzido.
Palavras chaves: Tecnologia; Inovação; Gestão de Tecnologia e Inovação.
1 INTRODUÇÃO
Com avanço rápido da tecnologia em todos os segmentos de negócios assistido
nos últimos séculos, parece se tornar cada vez mais evidente que não é a tecnologia a o
único fator a definir o sucesso ou não de uma organização ou empreendimento é
necessário algo mais. Esse algo mais parece ser composto pelo binômio, criatividade e
inovação, onde a criatividade gera uma nova abordagem sobre um velho problema, uma
nova idéia a qual a ser colocada em prática, possibilita que a organização ou
empreendimento seja inovador, no sentido de realizar uma mudança ou realizar algo não
realizado antes naquele tipo de negócio, com obtenção de ganhos permanentes para a
organização. Mas não basta possuir capital suficiente para adquirir as novas tecnologias,
contar com uma equipe criativa e capaz de transformar as idéias geradas no processo
criativo, se faz necessário ser capaz de realizar a gestão da tecnologia e inovação, ou
seja, é necessário analisar e escolher as tecnologias mais adequadas à estratégia da
organização e liderar as pessoas e organização por meio do processo criativo e inovador
para fazer com que a tecnologia realmente faça diferença. Partindo desta perspectiva, se
realizou o presente trabalho com o objetivo geral de buscar definições operacionais para
os conceitos de Tecnologia, Inovação e Gestão de Tecnologia e Inovação, para posterior
aplicação destes conceitos na análise de um caso prático. Os conceitos pesquisados são
utilizados para estudar e definir se a mudança no processo de fabricação de rotor do tipo
Pelton, pode ou não ser considerada uma inovação tecnológica.
No mundo atual em que o desenvolvimento da tecnologia propicia o
desenvolvimento de mais tecnologia ou a aceleração do desenvolvimento de tecnologias
já em uso, além de ampliar os horizontes dos profissionais e/ou organizações
inovadoras, tornando possível ou viável o que até ontem era impossível ou inviável,
compreender o significado dos conceitos tecnologia, inovação e gestão da tecnologia e
inovação, se torna cada vez mais um imperativo aos profissionais das mais diversas
áreas. Compreender esses conceitos, ajuda a promoção de desenvolvimento e
implementação de inovações e pode indicar novos campos ou temas a serem
aprofundados conforme as necessidades profissionais do dia-a-dia os tornem relevantes.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Revisão do conceito de tecnologia
A maioria das pessoas sabe reconhecer um produto que possui tecnologia, alias
no mundo atual parece que tudo possuiu um grau maior ou menor de tecnologia, apesar
disto o que conhecemos hoje sob denominação de tecnologia é algo relativamente novo,
conforme a Nova Enciclopédia Ilustrada Folha (1996, v.2, p.928):
A moderna tecnologia desenvolveu-se em conseqüência da
Revolução Industrial, que se iniciou na Inglaterra em meados do
século XVIII e rapidamente se expandiu pelo mundo
desenvolvido. Forneceu materiais e a energia motriz que
tornaram o maquinário moderno possível. Anteriormente, o
gênio criativo de muitos inventores já criará máquinas de vários
tipos; no entanto, os engenhos dependiam do vento, da água, da
força humana ou tração animal como fonte de energia motora.
No entanto um empenho tecnológico mais precoce teve lugar no
campo da observação e da aferição. O desenvolvimento de
telescópicos e microscópicos tornou possíveis os grandes
avanços científicos dos séculos dezesseis e dezessete. A
medição do tempo sempre constituiu um interesse especial e os
relógios e cronômetros foram uma das primeiras formas da
tecnologia moderna aplicada.
Mas afinal como definir tecnologia? Segundo Ritzman e Krajewski (2004,
p.81) “definimos tecnologia como know-how, os equipamentos e os procedimentos para
fabricar produtos e prestar serviços”. Os mesmos autores, Ritzman e Krajewski (2004,
p.81), também definem “know-how é o conhecimento e o julgamento de como e quando
e por que empregar equipamentos e procedimentos. Perícias e experiências fazem parte
deste conhecimento e muitas vezes não podem ser inseridos em manuais ou rotinas”.
Outra maneira de definir tecnologia, a partir do enfoque na produção e operações é a
encontrada no trabalho de Daft (1999, p.79) o qual define tecnologia como: “tecnologias
são as ferramentas, técnicas e ações utilizadas nas organizações para transformação das
entradas em saídas. A tecnologia então é o processo de produção aplicado por uma
organização que inclui maquinaria e procedimentos de trabalho”. Na Figura 1, se
encontra a reapresentação gráfica da definição de tecnologia segundo Daft (1999, p.79).
Figura 1: Processo de transformação numa empresa de produção de bens
Fonte: Daft (1999, p.79)
As definições de Tecnologia propostas por Ritzman e Krajewski e Daft não são
uma unanimidade, conforme o trabalho de Mañas (2001, p.104) “a tecnologia tem sido
definida de diferentes maneiras por grande número de autores”, talvez isto possa ser
atribuído a abrangência da utilização da tecnologia, a qual é tão grande, que na verdade
talvez seja mais correto falar em tecnologias em vez de tecnologia.
Segundo Thomson, 1967 e Perrow, 1972 (apud Manãs, 2001 p.104) “[...]
tecnologia pode ser definida como todo o processo operacional, seja de produção ou
serviço, isto é, todo modo de fazer coisas implica uma tecnologia específica [...]”, uma
outra definição é a formulada por Woodward,1977 e Coelho, 1978 (apud Mañas, 2001
p.104) segundo os quais tecnologia deve ser definida como “[...] o processo de produção
de bens inerentes aos equipamentos utilizados nesta produção[...]”. A definição e
Thomson e Perrow, é similar a encontrada no trabalho de Ritzman e Krajewski, ambas
parecem expressar a mesma interpretação (definição), embora se utilizem vocabulários
diferentes. Outro conceito a merecer destaque nas definições acima, é o fato de nas
mesmas estar implícito a idéia de que a tecnologia pode estar tanto nas máquinas,
pessoas, equipamentos ou materiais (recursos) como nas operações e processos
(habilidades). Este desdobramento da tecnologia se encontra em Ritzman e Krajewski
(2004, p.81) divida em três áreas:
a) Tecnologia de produto: transforma idéias em novos produtos
e serviços.
b) Tecnologias de processo: métodos pelos quais uma
organização realiza coisas se apóiam na aplicação da
tecnologia de processo.
c) Tecnologia da informação: os gerentes utilizam a tecnologia
da informação para obter, processar e transmitir informações,
para uma tomada de decisão mais eficaz.
Por outro lado Hickson, Pugh e Pheyseym, em 1969, (apud Mañas 2001,
p.104), desdobraram o conceito de Tecnologia em:
a) Tecnologia de operações, que compreende as técnicas usadas
nas atividades do fluxo de trabalho da organização.
b) Tecnologia de materiais, que considera os materiais usados
no fluxo de trabalho e estabelece ainda, que é possível uma
técnica altamente sofisticada seja aplicada a materiais
relativamente simples; e
c) Tecnologia de conhecimento, em que as complexidades
variáveis do sistema de conhecimento usados nos fluxo de
trabalho são os principais pontos.
O conceito de realizar o desdobramento da tecnologia parece ser corroborado
por Valeriano (1998, p.13) ao afirmar:
A Tecnologia pode apresentar-se de forma explicita ou
implícita. A tecnologia explicita é a que existe como
conhecimentos ou habilidades de pessoas que está expressa
como informações contidas em documentos tais como relatórios,
patentes, projetos, desenhos, etc. A tecnologia implícita é aquela
que se acha incorporada a bens ou serviços. Um simples fio de
cobre tem incorporado diversas tecnologias: de mineração, de
beneficiamento, de minérios, de produção e refino de cobre, de
trefilação, de proteção superficial, etc.
Analisando-se as três abordagens de divisões ou desdobramentos do conceito
de tecnologia, se pode concluir que ambos são complementares e não excludente, assim
como, também pode ser considerado como mais um indicador de como é rico e vasto o
que compreendemos sob o conceito de tecnologia no mundo atual.
O ultimo aspecto a abordar sobre o conceito tecnologia, é procurar entender
qual o papel desempenhado pela mesma, na melhoria do desempenho empresarial ou
organizacional, segundo Ritzman e Krajewski (2004, p.83):
Entre os fatores que impulsionam o aumento da concorrência
global, a tecnologia talvez seja o mais importante. Como
mostram vários estudos, as empresas que investem em novas
tecnologias e as implementam têm em geral condição financeira
mais sólida do que aquelas que o não fazem.
Embora, a tecnologia seja um fator que pode impulsionar a competitividade e
competências das empresas ou organizações, ela por si só não garante o sucesso ou
aumento do desempenho empresarial, os mesmos autores Ritzman e Krajewski (2004,
p.83) advertem:
Ao mesmo tempo, a relação entre tecnologia e vantagem
competitiva não é bem compreendida. A alta tecnologia e a
mudança tecnológica em si nem sempre representam o que há de
melhor. Elas poderiam não criar vantagem competitiva, serem
economicamente justificáveis, adaptarem-se ao perfil desejado
de prioridades competitivas ou aumentarem as competências
fundamentais da empresa. Em outras palavras, para ser uma
empresa de alta tecnologia não é necessário que ela faça uso da
tecnologia. Para muitas tarefas, um simples serrote de mão é
uma melhor escolha do que um laser controlado por
computador.
A advertência de Ritzman e Krajewski, talvez possa ser traduzida, num
paradigma que ultimamente tem ganhado cada vez mais relevância: “ser uma empresa
inovadora, nem sempre significa utilizar as tecnologias mais avançadas disponível em
toda organização, mas selecionar as tecnologias que melhor contribuírem para se atingir
os objetivos e propósitos da organização, ou seja, realizar sua missão”.
2.2 Revisão do conceito de inovação
A inovação talvez seja na atualidade um dos fenômenos mais desejados por
profissionais e organizações com ou sem fins lucrativos, no mundo todo, embora sua
definição e interpretação, não sejam tão claras e objetivas, o que parece ser corroborado
por Mañas (2001, p. 45) ao afirmar, “no mundo dos negócios de hoje, poucos termos
são usados sem a profundidade necessária e tão mal compreendidos como a palavra
inovação”.
A partir desta perspectiva, se procura nos próximos parágrafos, definir o que é
inovação? Como podemos definir este fenômeno e o que significa inovar? O que
diferencia inovação de mudança? Nas exposições a seguir se procurou elaborar algumas
pistas que ajudem a formular, se não uma resposta definitiva, pelo menos encontrar
conceitos e explicações que possibilitem obter-se uma compreensão mais crítica das
questões acima sobre o conceito de inovação.
Segundo Ducker (2003, p.25), a inovação pode ser definida como:
A inovação é o instrumento específico dos empreendedores, o
meio pelo qual eles exploram a mudança como uma
oportunidade para um negócio diferente ou serviço diferente.
Ela pode ser apresentada como uma disciplina, ser apreendida e
ser praticada. Os empreendedores precisam buscar, com
propósito deliberado, as fontes de inovação, as mudanças e seus
sintomas que indicam oportunidades para que uma inovação
tenha êxito. E os empreendedores precisam conhecer e pôr em
prática os princípios da inovação bem sucedida.
A definição de inovação formulada por Ducker traz implícitas algumas
questões inquietantes, a primeira é que a inovação seria uma ferramenta dos
empreendedores, mas e as pessoas comuns, não podem inovar também? Uma segunda
questão é que as inovações podem acontecer juntas com um processo de mudança,
aproveitando o mesmo para criar um novo negócio ou serviços diferentes, mas a
inovação não pode acontecer internamente nas organizações, simplesmente realizando a
utilização das tecnologias e recursos existentes de uma forma diferente ou segundo uma
combinação nova que tenha como conseqüência um ganho, de qualidade, custo e/ou
tempo? Por fim, segundo a definição de Ducker, a inovação pode ser aprendida, pois a
mesma possui princípios que se praticados corretamente podem aumentar a chance de
sucesso. Já segundo Mañas (2001, p.46), “inovar é praticar idéias novas, é colocar a
idéia (gerada ou criada por um processo criativo) em prática”. Nesta definição aparece o
conceito de idéia, o qual lembra o conceito de criatividade, que é um processo gerador
de idéias por excelência, mas qual a diferença entre criatividade e inovação? Segundo
Theodore Levitt (apud Mañas 2001, p.46), “criatividade é basicamente ter a idéia;
portanto bastando ter um problema, um objetivo, conhecimentos específicos e gerais, o
ser humano pode utilizar técnicas diversas que o levem a obter uma idéia”. Essa
reflexão é complementada por Mañas (2001, p.45) “as organizações no decorrer de sua
existência e os pesquisadores em sua vivência perceberam que nas empresas as
possíveis mudanças ocorrem em quatro grandes áreas [...]”. A distinção das quatro
grandes áreas que ocorrem à inovação (mudança) segundo Mañas (2001, p.45), as quais
são empreendimento, estrutura, tecnologia e comportamento; estão resumidas no
Quadro 1. A mudança pode ocorrer em qualquer dimensão ou área da organização, o
que foi constado por organizações e pesquisadores ao longo de sua atuação. Ainda
assim, importante observar que independente da área em que ocorra a inovação nas
companhias, a mesma apresenta uma forte dependência das pessoas para ocorrerem.
Além disto, as pessoas enquanto profissionais individuais ou em equipes atuando dentro
das organizações, quando incentivadas, provocadas, apoiadas ou incentivadas,
apresentam comportamento criativo, ou seja, geram idéias ou possíveis soluções
(MAÑAS, 2001).
Quadro 1 – Quatros áreas organizacionais que pode ocorrer à inovação (mudança)
Área Implicações
Empreendimento Mudanças no produto, serviço, mercado, negócios,..
Estrutura
Realocação de pessoal, hierarquia, unidades de negócio,
ócio,
Departamentalização, redes...
Tecnologia Mudança de processos, equipamentos, relação homem-
máquina ou máquina-homem,...
Comportamento Mudanças de atitude e habilidade das pessoas.
Fonte: Manãs (2001, p.45)
Podem-se resumir as definições anteriores como: criatividade é ter uma idéia
nova enquanto que inovar é utilizando a idéia, criar condições, obter os recursos e os
meios necessários para produzir algo novo ou atingir um objetivo definido.
Já com relação à diferença entre mudança e inovação, se encontra nos estudos
de Daft (1999, p.192):
Na literatura de pesquisas sobre inovações, considera-se como
mudança organizacional à adoção de uma idéia nova ou de um
comportamento novo pela organização. Inovação
organizacional, ao contrário, é a adoção de uma idéia ou de um
comportamento novo no setor de negócios no mercado ou no
ambiente geral da organização. A primeira organização a
introduzir um novo produto é considerada inovadora, e as que
copiam são as que adotam as modificações.
Baseando-se nas definições de mudança e inovação organizacional, talvez se
possa extrapolar e afirmar que: inovar é realizar, criar, utilizar ou fazer algo novo ou de
forma diferente pela primeira vez, enquanto que mudança seria toda transformação que
não seja pioneira naquele ambiente organizacional ou ramo de negócios, ou em outras
palavras, inovação é a mudança pioneira enquanto mudança é a inovação não pioneira
(cópia), outro já fez antes no mesmo ambiente.
Mas o próprio Daft (1999, p.192), adverte: “para o objetivo de mudança
gerencial, entretanto, os termos inovação e mudança serão utilizados
intercambiavelmente porque o processo de mudança dentro das organizações tende a ser
idêntico quer uma modificação seja feita cedo ou tarde em relação a outras organizações
do mesmo ambiente”. Ducker (2003, p.45) também compartilha da visão de que
mudança e inovação caminham juntas: “é a mudança o que sempre proporciona a
oportunidade para o novo e o diferente. A inovação sistemática, portanto, consiste na
busca deliberada e organizada da mudança, e na análise sistemática das oportunidades
que tais mudanças podem oferecer para inovação econômica ou social”.
Partindo-se da perspectiva que mudança e inovação podem possuir o mesmo
significado na prática, segundo Daft (1999, p.189), as mudanças (ou inovações), podem
ser divididas em dois tipos: “mudança incremental representa uma série contínua de
avanços que mantém o equilíbrio geral da organização e muitas vezes afetam apenas
uma parte dela. A mudança radical, ao contrário, quebra a estrutura de referência da
organização, muitas vezes criando um novo equilíbrio porque toda a organização é
modificada”.
Na Figura 2 se tem a representação esquemática da diferença entre mudança
incremental e radical, segundo Daft (1999, p.189).
Figura 2: Mudança Radical e Mudança Incremental
Fonte: Daft (1999, p.191).
Outra maneira de dividir a inovação é encontrada no trabalho de Marquis, 1976
(apud Mañas 2001, p.47 e 48), o qual propôs:
Mudança Incremental
Mudança Radical
Progressão
contínua
Mantém o
equilíbrio
Afeta parte da
organização
Por meio da
estrutura normal
Nova tecnologia
Melhoria
dos produtos
Destruição da
Infra-estrutura
Alcança novo
equilíbrio
Transforma todaa
organização
Cria nova estrutura
Tecnologia
inovadora
Novos produtos
novos mercados
O primeiro tipo de inovação está ligado aos sistemas complexos.
Segundo o autor, este tipo de inovação é o mais difícil de
aparecer. Demorou muitos anos para surgir, exige grandes
recursos de investimento e um planejamento de longo prazo e
extremamente detalhado e complexo. O segundo tipo de
inovação é aquele que interage com a situação existente,
ocasionando uma ruptura na tecnologia existente, modificando
completamente o caráter de uma organização. [...] Inovações do
terceiro tipo, em que as questões estão próximas do curto prazo.
Estes tipos de inovações são, sem dúvida, mais modestos, mas
nem por isso deixam de ser essenciais para a sobrevivência das
organizações.
No Quadro 2 se tem um quadro resumo com vários exemplos da tipologia de
inovação segundo Marquis 1976 (apud Mañas 2001, p.48).
Quadro 2 - Exemplos de tipologia de inovação de Marquis
Quadro de exemplos da tipologia de Marquis
1º tipo
- raros
- grandes recursos
- muitos anos para implementação
- planejamento detalhado e
complete
som estereofônico
lazer
motor a jato
reprodução em papel, etc.
2º tipo
- raros
- ruptura tecnológica
- modificação ampla e sem plano
completos
- influência externa e com recursos
razoáveis
missões espaciais
armazenamentos
produtos químicos
redes de comunicações, etc.
3º tipo
- comuns
- curto prazo
- recursos pequenos ou razoáveis
- influência de fatores econômicos
aperfeiçoamento de produtos
redução de custos
controle de qualidade
etc.
Fonte: Marquis 1976 (apud Mañas 2001, p.48)
Analisando-se a tipologia proposta por Marquis (apud Mañas 2001, p.47 - 48),
pode-se inferir que o conceito de inovação proposto por Ducker (200), conforme
transcrito no item 2.2, parece se enquadrar perfeitamente na inovação do 1º tipo e 2º
tipo proposto por Marquis e não contempla as de 3º tipo.
A partir das definições de Mañas, se por um lado não permite afirmar
categoricamente que a inovação possa ser apreendida, pode-se dizer que a inovação no
mínimo pode ser induzida ou provocada por organizações e indivíduos que buscam
solucionar seus problemas ou melhorias para seus processos produtivos ou não.
Neste sentido, Ducker (2003, p.46) observa:
[...] A inovação sistemática significa o monitoramento das sete
fontes para uma oportunidade inovadora.
As primeiras quatro fontes estão dentro da instituição, seja
empresarial ou pública, ou dentro de um setor industrial ou de
serviços [...].
Essas quatro fontes são:
O inesperado: o sucesso inesperado, o fracasso inesperado, o
evento externo inesperado.
A incongruência: entre a realidade como ela é de fato, e a
realidade como se presume ser ou como “deveria ser”.
A inovação baseada na necessidade do processo.
Mudanças na estrutura do setor industrial ou na estrutura do
mercado que apanham a todos desprevenidos.
O segundo grupo de fontes para a oportunidade inovadora, um
conjunto de três delas, implica em mudanças fora da empresa ou
do setor:
Mudanças demográficas (mudanças populacionais).
Mudanças em percepção, disposição e significado.
Conhecimento novo, tanto científico como não científico.
Mas além do monitoramento das fontes de oportunidades, a inovação parece
seguir um modelo com fases bem definidas, segundo Daft (1999 p.193):
Para que uma modificação seja implementada com êxito, os
gerentes devem assegurar de que cada elemento dela aconteça
na organização. Se um desses elementos estiver faltando, o
processo de mudança estará condenado ao fracasso:
1. Idéia: [...] nenhuma empresa pode permanecer competitiva
sem novas idéias; a mudança é a expressão exterior dessas
idéias. Uma idéia da uma nova maneira de fazer coisas. [...] As
idéias vêm de dentro ou de fora da organização.
2. Necessidade: as idéias normalmente não são seriamente
consideradas a menos que seja percebida a necessidade de
mudança. [...] As idéias estimulam a consideração de novos
produtos.
3. Adoção: A adoção ocorre quando os que tomam as decisões
decidem seguir adiante com uma idéia proposta [...].
4. Implementação: A implementação ocorre quando os membros
da organização utilizam realmente uma nova idéia, técnica ou
comportamento. [...] A implementação é uma etapa muito
importante porque sem ela as etapas anteriores são inúteis. [...].
5. Recursos: Energia e atividade são necessárias para realizar
mudanças uma vez que estas não acontecem por si mesmas; elas
exigem tempo e recursos para criar e implantar uma nova idéia
[...].
Na Figura 3 se tem a representação esquemática da seqüência e dos elementos
descritos acima para uma mudança bem sucedida, segundo Daft (1999 p.189).
Figura 3: Seqüência de elementos para uma mudança bem-sucedida
Fonte: Daft (1999, p.193)
Já segundo Mañas (2001, p.82):
Toda inovação é acompanhada de alguns critérios básicos. Para
que a inovação exista devemos considerar:
Importância: do assunto, do tema, do problema que deve ser
descoberto e corrigido.
Originalidade: a (s) possível (s) solução(ões) deve(m) estar
carregada (s) de colocações novas. [...]. Algo original, porém
amplamente conhecido em outras áreas, pode resolver uma
questão insolúvel em nossa área e;
Viabilidade: é aqui que vemos inovações sendo desmanchadas.
Dá se tanta importância ao método, à pesquisa, ao processo de
criar idéia que esquece a viabilidade de sua implementação[...].
Agora com relação à questão: a inovação pode ser aprendia ou não? Se, está
questão for respondida tendo como referência às premissas propostas por Daft e Mañas
segundo as quais as inovações têm fases bem definidas é possível se concluir que a
resposta é sim, ou seja, a inovação pode ser apreendida pelos membros de uma
organização. Mañas (2001 p.47) vai até mais longe ao afirmar, “a inovação deve ser
incorporada de maneira sistêmica e constante aos processos e à cultura da empresa”. O
que parece corroborar a premissa de que a inovação pode e deve ser apreendida pelas
organizações.
Na mesma linha de raciocínio e corroborando a inferências anteriores, se
encontra no trabalho de Ducker (2003, p.189):
A inovação sistemática resultante da análise, sistema e trabalho
árduo é tudo que pode ser discutido e apresentado como a
prática da inovação. Mas isso é tudo que precisa ser
apresentado, pois cobre 90% de todas as inovações eficazes. E o
realizador extraordinário em inovações, como em qualquer outra
área, somente será eficaz se apoiado na disciplina e dominá-la.
Elaborado um panorama geral do que seja inovação e o seu contexto atual,
mantendo-se a proposta inicial deste trabalho, cujo objetivo foi estudar um caso de
inovação tecnológica no processo de fabricação de rotor do tipo Pelton, no próximo
item se analisa e procura definir os limites e área de atuação do que denominamos
Gestão da Tecnologia e Inovação.
2.3 Gestão de Tecnologia e Inovação
Se uma organização tiver acesso a tecnologias avançadas e ao mesmo tempo
possuir em seus quadros pessoas criativas, isto por si só, parece não ser o suficiente para
a mesma estabelecer uma vantagem competitiva, é preciso algo mais, esse algo é a
capacidade de realizar a Gestão de Tecnologia e Inovação.
Para elaborar um quadro geral do que seja Gestão de Tecnologia e Inovação, se
deve antes de tudo, definir o que se entende por Inovação Tecnológica, segundo Mañas
(2001, p.87), “Inovação tecnológica é o processo realizado por uma empresa para
introduzir produtos e processos que incorporam novas soluções técnicas, funcionais ou
estéticas”.
O mesmo autor ainda observa que se pode estabelecer uma diferenciação entre
inovação absoluta e inovação relativa, sendo que a diferença entre ambas segundo
Mañas (2001, p.87) é:
A Inovação absoluta é ocorre quando uma empresa emprega
uma tecnologia que ainda não era conhecida ou utilizada até
então em qualquer organização ou empresa. Já a Inovação
relativa, ocorre quando uma organização ou empresa utiliza pela
primeira vez uma tecnologia já conhecida utilizada em outras
organizações ou empresas.
Mesmo que a Inovação tecnológica seja relativa, seu impacto na organização
ou empresa que a adota é muito grande, em razão deste impacto se faz necessário que as
organizações que pretendam ser inovadoras em tecnologias, tenham técnicas de gestão
de Tecnologia e Inovação.
Segundo Mañas (2001, p.160):
Gestão de Inovação e Tecnologia possui entre suas atividades
básicas algumas relacionadas com a compra e venda dessas
inovações, o monitoramento ambiental, especificamente
tecnológico de inovações, a produção e a implantação e difusão
de novas tecnologias. Todas essas atividades têm
fundamentalmente que tratar de tecnologia, mas o tratamento
deste objetivo e variável de acordo com as especificidades de
cada atividade.
A definição de Gestão de Inovação e Tecnologia, proposta por Mañas, é
abrangente, mas o fato uma organização possuir um setor ou um gerente designado para
realizar a Gestão de Inovação e Tecnologia garante o sucesso? Outra questão relevante
como avaliar se uma inovação ou tecnologia é adequada para determinada organização,
ou seja, como escolher?
Segundo Mañas (2001, p.165):
O sucesso de uma GTI talvez não esteja tão ligado ao
desenvolvimento das etapas do projeto, de monitoração e
difusão, se estas não estiverem acompanhadas de uma lógica de
avaliação e apreciação de resultados. Um processo de avaliação
e apreciação normalmente de quatro etapas:
1. Estabelecimento de critérios;
2. Estar atento ao comportamento dos resultados;
3. Comparar os resultados com as expectativas
4. Empreender ações necessárias para o acerto.
Analisando-se as observações de Mañas, pode-se deduzir que para se obter
sucesso em um processo de Gestão de Tecnologia e Inovação, é necessário estabelecer
de forma sistemática o processo de quatro etapas de avaliação e apreciação das
tecnologias e inovações, sendo a etapa primeira, (estabelecer critérios), relevante para
garantir que organização inicie um processo de introdução de nova tecnologia ou
inovação, que realmente atenda a alguma necessidade ou possibilite um diferencial
competitivo permanente.
Apesar de todo encantamento que as novas tecnologias produzem e os efeitos
de sua aplicação em termos de inovação, não se deve esquecer que a simples existência
de tecnologias de ponta, não garante o sucesso, assim como a ausência das mesmas não
significa um fracasso, observação que parece ser corroborada no trabalho de Gaither e
Frazier (2002, p.155), ao afirmarem:
Podemos citar exemplos de companhias muito bem sucedidas
que utilizam as mais antigas tecnologias manuais conhecidas.
Também podemos citar exemplos de companhias que estão
fracassando apesar de possuir a tecnologia mais avançada mais
moderna. Mas não devemos concluir precipitadamente que a
tecnologia usada por uma empresa não tem relação com sua
produtividade ou sucesso. Uma cuidadosa reflexão sobre estás
questões deve nos levar as estas conclusões:
1. Nem todos os processos de automação são bem sucedidos;
2. A automação não pode compensar uma má administração;
3. A análise econômica não pode justificar a automação de
algumas operações;
4. Não é tecnicamente viável automatizar algumas operações;
5. Os projetos de automação talvez tenham que esperar em
novos e pequenos negócios.
Partindo-se dos conceitos revistos, sobre a Gestão da Tecnologia e Inovação,
pode-se concluir que está é uma área que tende a crescer de importância nas
organizações e se tornar cada vez mais um imperativo para o sucesso das organizações,
embora seja qual for à decisão tomada à mesma deve sempre estar alinhada com a
estratégia da organização e com as necessidades da empresa e dos clientes, caso
contrário, independente de quão inovadora ou moderna seja a nova tecnologia, sua
implantação pode resultar em um grande fracasso.
Elaborado um panorama geral do que seja Gestão de Tecnologia e Inovação, o
seu contexto atual, tendo em vista a proposta inicial deste trabalho, cujo objetivo foi
estudar um caso de inovação tecnológica no processo de fabricação de rotor do tipo
Pelton, no próximo item se procura definir e apresentar alguns conceitos básicos sobre o
equipamento Rotor Pelton, materiais e processos, de forma a permitir aos leitores não
técnicos ou que não conhecem o produto e/ou processo e materiais empregados na
fabricação do mesmo, possam acompanhar e entender o estudo de caso.
2.4 Rotor Pelton, definição, materiais e processo de fabricação
Segundo Silva e Takao (2004, p.1) uma Turbina Pelton pode ser definida como
sendo “máquina de ação, ou seja, a que utiliza a energia cinética da água, a turbina
Pelton pode ser utilizado sob uma gama bastante variada de quedas (praticamente a
partir de 200 m até 1500 m)”.
De acordo com a Grande Enciclopédia Larousse Cultural (1998, v.23, p.5797),
turbina Pelton “é uma turbina de ação empregada para altas quedas d’água e vazão
baixa. As pás da roda móvel são em forma de W e o sistema de distribuição é acionado
por servomotores”.
Em Shames (1973, p.116-117) se encontra: “Turbina Pelton um tipo simples de
turbina de impulso, onde um jato simples de água sai de um bocal e atinge o sistema de
pás fixadas a uma roda. O rotor, que é a roda de pás, tem um raio r até o centro das pás”.
De maneira geral os rotores (rodas) para turbinas Pelton são fabricados a partir
de um rotor de aço fundido, ou seja, uma peça monobloco que já possui o formato da
peça final com sobre metal para ser retirado posteriormente, por meio de processo de
usinagem para se obter a forma e dimensão final da peça, ver Figura 4 uma foto de Roda
Pelton em aço fundido.
Conforme Sorensen (apud Sass, Bouché e Leitner, 1974, v.2, p.370) “o rotor e
as pás são feitos numa só peça de aço. Para relações não muito grandes de altura da pá
sobre diâmetro do rotor (L/D), as pás também podem ser parafusadas uma a uma, em
segmentos ou como um anel”.
Com relação ao processo de fundição geralmente utilizado para fabricar peças
de diversas formas para posterior processo de usinagem, encontra-se em Sigwart (apud
Sass, Bouché e Leitner, 1974, v.1, p.573), “por fundição de aço entende-se o aço que
alcança a sua forma definitiva na maioria dos casos derramados em formas de areia”.
Segundo Remy, Gay e Gonthier (1990, p.222) “a fabricação de peças de
formas complicadas se faz geralmente por fundição, isto é, vazando o metal em fusão
nos moldes em areia ou metálicos, este processo é econômico”.
Figura 4 – Roda Pelton em aço fundido, massa = 15 ton
Fonte: Remy, Gay e Gonthier (1990, p.232)
Ainda segundo Remy, Gay e Gonthier (1990, p.222) os metais fundidos podem
ser divididos em dois grupos: ligas ferrosas e ligas não ferrosas conforme Quadro 3.
Quadro 3 – Classificação dos Metais Fundidos
Metais
Fundidos
Ligas
Ferrosas
Fundição
Fundição Gris
Fundição esferolítica
Liga de fundição
Aço fundido Aço fundido sem liga
Aço fundido com fraca liga
Aço fundido com forte liga
Fundição maleável Fundição maleável branca
Fundição maleável preta
Ligas
Não Ferrosas
Ligas leves Liga se alumínio
Ligas de magnésio
Ligas pesadas
Ligas de cobre
Ligas de chumbo e de estanho
Ligas de zinco
Fonte: Remy; Gay e Gonthier (1990, p.222)
Segundo Remy, Gay e Gonthier (1990, p.233) “aço vazado (fundição de aço)
assim se designam os produtos de ferro forjável ou de aço, cuja forma é obtida
unicamente pela fundição e solidificação de aço líquido num molde de areia refratária”.
De maneira geral as rodas para turbinas do tipo Pelton são fabricadas em Aço
Vazado ou Fundido, conforme exemplo apresentado na Figura 4.
Outro processo de fabricação utilizado nas indústrias é o forjamento, o qual
conforme Remy, Gay e Gonthier (1990, p.276) “forjamento, está operação tem por
objetivo dar ao aço uma forma aproximada da final, utilizando a maleabilidade a
quente”. Observar que o forjamento é um processo similar ao aço vazado, porém
fornece resultados muito diferentes em termos de características mecânicas e
possibilidades de formas a serem fabricadas.
A forma final das rodas Pelton é obtida por meio de operações de usinagem
que segundo Ferraresi (1990, p.XXV) pode ser definido como “aquelas que ao conferir
à peça a forma, ou as dimensões ou o acabamento, ou ainda uma combinação de
qualquer um dos três itens, produzem cavaco”.
Um pouco mais adiante o próprio Ferraresi (1990, p.XXV), complementa,
“definimos cavaco, a porção de material da peça, retirada pela ferramenta,
caracterizando-se por apresentar forma geométrica irregular [...]”.
Outra definição de usinagem é encontrada em Rosseto, Oliveira e Fernandes
(1996, p.11), “[...] usinagem é todo o processo pelo qual a forma de uma peça é
modificada pela remoção progressiva de cavacos ou aparas de material metálico ou não
metálico [...]”.
As rodas do tipo Pelton, devido a sua complexidade não são usinadas em
máquinas comuns, mas sim em máquinas CNC, as quais segundo Gaither e Frazier
(2002, p.145) “[...] Máquinas de controle numérico computadorizado (CNC)”, já
conforme a Nova Enciclopédia Ilustrada Folha (1996, v.6, p.1463): “CNC, controle
numérico por computador. Diz-se de máquinas ferramentas tais como tornos, fresas etc.
que aceitam comandos através da entrada de dados digitais”. Em outras palavras
máquinas CNC são máquinas cujas operações são controladas por um computador, ou
seja, a máquina realiza as operações de usinagem seguindo instruções de um
computador que na verdade está lendo um programa elaborado para realizar a usinagem
daquelas peças em especifico.
3 MÉTODO/PROCEDIMENTOS
Conforme classificação encontrada em Severino (2007, p.123) com relação ao
objetivo, esse trabalho é uma pesquisa exploratória, pois visa a ampliar a familiaridade e
compreensão, sobre os conceitos de Tecnologia; Inovação; Gestão de Tecnologia e
Inovação.
Ainda, com base na classificação citada, em relação à natureza das fontes, é
uma pesquisa documental, pois foi realizada com base na documentação disponível na
organização por um dos autores do estudo, e revisão de material publicado em revista.
Para esclarecer dúvidas e completar os dados para o estudo de caso, foi realizada
entrevista não estruturada com alguns funcionários que participaram do processo na
época.
Com relação à abordagem, conforme classificação encontrada em Silva e
Menezes (2005, p-20), esse estudo é qualitativo, pois analisa documentos públicos, para
buscar compreender um fenômeno e seu impacto num ambiente local pré-delimitado.
Quanto ao procedimento técnico adotado, é um estudo de caso, pois conforme
definição encontrada em Severino (2007, p.121), essa técnica, se concentra no estudo de
um caso particular. Esse trabalho estuda a mudança no processo de fabricação de rotor
tipo Pelton e a análise se a mudança pode ser considerada uma inovação ou não, de
acordo com a literatura revisada.
O processo de desenvolvimento de novo processo de fabricação de rotor
Pelton, ocorreu em 2003 e para fins deste trabalho a organização estudada será
denominada de “Empresa δ” para preservação de sua identidade.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em geral para fabricação de rodas Pelton, o seguinte processo de fabricação é
seguido:
1. Fabricação por meio de processo de fundição de uma roda com sobre
metal para posterior usinagem conforme ver ilustração na Figura 4.
2. Elaboração de programa para usinagem da peça em máquinas CNC,
Mandrilhadora tipo portal de cinco eixos.
3. Remoção do sobre metal da peça fundida consistindo na usinagem do cubo
(parte cilíndrica central) e aproximação da forma hidráulica das conchas
em maquina CNC – Mandrilhadora tipo portal de cinco eixos.
4. Balanceamento estático da roda, verificação se não existe concentração de
massa maior em algum ponto, correção se necessário.
5. Acabamento manual das conchas (perfil) da Roda, por meio de processo
de esmerilhagem manual e conferência do perfil hidráulico por meio de
gabaritos de chapa de aço finas.
6. Verificação do balanceamento estático, e ajuste se necessário.
7. Realização se teste por Líquidos Penetrantes (LP) e Partículas Magnéticas
(PM) (ensaios não destrutivos) nas conchas, remoção de defeitos se
necessário.
8. Controle dimensional e de forma geométrica da peça.
9. Realização de pintura de partes da peça.
10. Controle do processo de pintura e liberação da peça para transporte.
11. Embalagem e expedição da peça.
Uma opção ao processo tradicional seria a fabricação de um anel forjado, para
obtenção posterior da forma final da roda a partir de usinagem em máquinas CNC, o
desafio desta mudança no processo está na enorme complexidade do processo de
usinagem e programa para máquina CNC.
Empresa δ, na busca de inovação dos processos de fabricação, resolveu tentar
superar este desafio, em uma das ultimas encomendas de rodas do tipo Pelton, após
reuniões de estudo e análise dos prós e contras a se tentar o novo processo, realizado por
uma comissão composta por membros das Engenharias de Produto e Fabricação,
Programador CNC, Operador de Máquinas CNC, Técnico em Ferramentas e Técnicos
de Processos de Usinagem, a equipe concluiu que era possível tecnicamente inovar no
processo de fabricação de rodas do tipo Pelton, apesar de não se ter certeza sobre os
resultados econômicos, ou seja, se os custos totais da nova proposta seriam menores que
os custos totais em relação ao processo tradicionalmente utilizado. O estudo inicial e
respectivo estimativa indicava que os custos seriam aproximadamente iguais. Com base
na conclusão dos estudos, apesar da dúvida sobre o resultado econômico a empresa
decidiu fabricar duas rodas tipo Pelton de uma encomenda recebida utilizando o novo
processo, cuja inovação consiste realizar a fabricação da roda Pelton, a partir da
usinagem de um anel de aço maciço forjado, assim o novo processo de fabricação em
linhas gerais foi:
1. Fabricação por meio de processo de forjamento de um anel maciço de aço,
ver na Figura 5 a representação esquemática do anel forjado.
2. Desenvolvimento e elaboração de programa para usinagem da peça em
máquinas CNC, Mandrilhadora tipo portal de cinco eixos.
3. Simulação da execução e ajuste do programa na máquina CNC, sem
executar remoção de material na peça.
4. Inicio o processo de usinagem da primeira peça, acompanhada em tempo
integral pelo programador CNC.
5. Realização de otimização do programa CNC, ferramentas, parâmetros de
corte, seqüência de usinagem, ângulos, percurso da ferramenta etc, na
usinagem das primeiras conchas da primeira peça.
6. Ajuste do programa, execução da primeira concha sem necessidade de
intervenção humana (operador ou programador CNC) para ajustar
processo de usinagem.
7. Liberação do processo de usinagem totalmente automático pela máquina,
execução completa da peças e finalização do programa.
8. Realização de ensaios não destrutivos de Líquidos Penetrantes (LP) e
Partículas Magnéticas (PM), na máquina.
9. Controle dimensional e de forma geométrica da peça.
10. Realização de pintura de partes da peça, na máquina.
11. Controle do processo de pintura e liberação da peça para transporte.
12. Embalagem e expedição da peça.
Figura 5 – Representação esquemática do anel forjado para fabricação das rodas
Fonte: desenho elaborado pelos autores
Para realizar a Inovação e mudança do processo de fabricação de rodas Pelton
de peça fundida para peça forjada, exigiu-se um esforço adicional, que se resume no
Quadro 4, com dados tabulada de artigo de Marcondes publicado na revista “O Mundo
da Usinagem” (2004, p.25).
Quadro 4 – Resumo dos recursos atividades necessárias para mudança do processo
Atividade Recursos
Elaboração do programa para fabricar a roda a partir de forjado 300h
Ajuste e otimização do programa na Mandrilhadora 80h
Ferramentas especiais utilizada no processo, desenvolvidas ou adaptadas 60%
Remoção de material em forma de cavaco no processo de usinagem 9,2 ton.
Tempo de usinagem total 800h
Fonte: Informações tabuladas da revista “O Mundo da Usinagem – Abril/04” p. 24.
A experiência foi considerada um sucesso pela empresas, segundo Marcondes
na revista “O Mundo da Usinagem” (2004, p.25), “foram fabricadas duas rodas Pelton
no novo processo, sendo que já se obteve uma redução de 30% do tempo de usinagem
da segunda roda em relação à primeira [...]”, redução atribuída pelos funcionários da
Empresa δ envolvidos no processo, como decorrente da aprendizagem e otimização do
processo, nos seus vários parâmetros (programa, ferramentas, etc.).
Nas Figuras 6 e 7, fotos de uma das rodas no processo de fabricação
(usinagem) na mandrilhadora.
Figura 6 - Vista de uma das conchas do Rotor sendo usinado
Fonte: a revista “Mundo da Usinagem” (2004, p.25)
Figura 7 - Vista do primeiro rotor Pelton em fase final de usinagem
Fonte: a revista “Mundo da Usinagem” (2004, p.25)
Mediante entrevista não estruturada com os participantes do processo de
usinagem das rodas Pelton e tabulação dos dados encontrados na revista “O Mundo da
Usinagem” (p.21-25), elaborou-se o Quadro 5, que se resume às diferenças criticas da
fabricação da roda a partir de uma roda fundida com sobre metal e o novo processo feito
a partir de um anel forjado.
Quadro 5 – Comparação de algumas características rodas fundido e forjado
Item Fundida (1) Forjado (2)
Tempo de fornecimento matéria-prima Demorado Rápido
Imperfeições no material (defeitos) na matéria prima. Defeitos Sem defeitos
Desenvolvimento de fornecedores Difícil Fácil
Tempo de usinagem em máquina Médio Grande
Acabamento por esmerilhagem manual? Sim Não
Custo global de fabricação Menor que 2 Maior que 1
Fonte: Dados tabulados pelos autores com base nas informações recolhidas da revista
“O Mundo a Usinagem – Abril/04” p.21-25 e obtidas nas entrevistas com funcionários
A inovação conforme apresentado em resumo nos Quadros 4 e 5, foi
considerado um sucesso pela organização, embora no parâmetro custo total de
fabricação, o desempenho não tenha sido melhor em relação ao processo tradicional
como foram os demais parâmetros. Os funcionários que participaram do processo
acreditam que na execução de novas rodas o tempo total de usinagem poderá vir a ser
reduzido ainda mais, o que tornará o processo de fabricação das rodas a partir de anéis
forjados vantajoso também economicamente em relação à fabricação utilizando fundido.
5 CONCLUSÃO
A análise dos resultados apresentados e discutidos no item 4, permitir concluir
que a mudança realizada e implementada na fabricação dos dois rotores do tipo Pelton
na Empresa δ foi uma inovação.
Se analisar a inovação introduzida pela classificação proposta por Daft (1999,
p.191), conforme Figura 2, a mesma pode ser classificada como do tipo incremental,
por outro lado, se for analisada a mesma a partir da classificação proposta por Marquis
(apud Mañas 2001, p.45) resumido no Quadro 2, a mesma pode ser classificada como
de 3º ordem, uma vez que se trata de uma inovação no processo. Além disto, se for
analisada a inovação realizada no processo de fabricação de rodas Pelton pela Empresa
δ, a partir da tipologia proposta por Manãs (2003, p.45) conforme Quadro 1, a mesma
será classificada como inovação da área de tecnologia.
Outro ponto a chamar a atenção, no caso estudado, é que na prática não houve
o desenvolvimento de uma nova tecnologia, mas sim a combinação de uma maneira
diferente de tecnologias conhecidas e o uso de forma mais ousada das possibilidades
destas tecnologias, o que está de encontro com as definições do que caracteriza uma
inovação segundo Mañas (2001, p.82), discutido no item 2.2, o autor definiu três
características para uma mudança poder ser considerada uma inovação: Importância,
Originalidade e Viabilidade. O caso apresentado atende aos três requisitos, ou seja:
Importância: para Empresa δ é importante desenvolver um novo processo de
fabricação de rodas do tipo Pelton, que não necessita ser feito a partir de peças fundidas,
já que seus prazos de entrega e qualidade são itens de grande impacto no processo de
fabricação destes equipamentos, poderem fabricar a partir de anéis forjados, pode se
tornar um diferencial tecnológico e competitivo.
Originalidade: a mudança do tipo de matéria-prima e a exploração dor recursos
existentes nas máquinas do tipo Mandrilhadora CNC de cinco eixos, é uma mudança
original e desafiadora, tanto que não se tem noticia de sucesso antes neste processo,
embora tentativas já tenham sido desenvolvidas por outras empresas.
Viabilidade: analisando os dados e resultados da fabricação das duas primeiras
rodas, observa-se que é totalmente viável a inovação introduzida no processo de
fabricação das rodas do tipo Pelton, sendo uma questão de experiência, para que o
tempo total de usinagem seja diminuído mais ainda e o custo total de se fabricar rodas a
partir de anéis forjados seja menor ou igual ao custo total de se fabricar a partir de
fundidos.
Finalmente, observando-se a literatura estudada, verifica-se que o caso
analisado percorreu praticamente todas as etapas identificadas no trabalho de Daft
(1999, p.193), segundo o qual toda inovação percorre um caminho de fases bem
definidas, apresentadas na Figura 3 que são: idéia, necessidade, adoção, implementação
e recursos.
Revendo o estudo de caso a partir da literatura sobre o assunto, algumas
conclusões importantes são:
a) A inovação pode ocorrer sem grandes investimentos de recursos e
utilizando-se os recursos atuais, desde que exista um pouco de criatividade e
perseverança.
b) A inovação pode ser realizada sobre tecnologias já conhecidas, podendo-se
basear na utilização de forma mais inteligente dos recursos disponíveis.
c) A inovação não ocorre somente nos grandes centros de pesquisa privados ou
não, ela pode acontecer no chão de fábrica e ser realizada pelas pessoas envolvidas com
o processo desde que apoio e autonomia para agir sejam dados pela alta administração.
d) Mesmo pequenas inovações, podem ter um impacto forte e propiciar um
diferencial competitivo para a organização, que a realiza.
Este estudo de caso parecer corroborar ou pelos menos ir de encontro, ao que a
literatura sobre o assunto apresentou, a inovação tecnológica pode ocorrer em qualquer
nível da hierarquia e ter diversos impactos, mas é fundamental para o crescimento e
ampliação da capacidade tecnológica dos profissionais envolvidos e da organização.
No caso analisado, ficou evidente que a organização não adotou uma estrutura
formal de Gestão de Inovação e Tecnologia, embora a forma como o processo realizado
apresentasse alguns elementos de um processo estruturado de Gestão da Inovação e
Tecnologia, o mesmo não está inserido num programa mais amplo, mas visava a achar
uma solução para um problema especifico. Em razão disto, a pesquisa e trabalhos
voltados para os processos de Gestão da Tecnologia e Inovação muito podem enriquecer
e ampliar os horizontes, abertos como presente estudo, além de poder aprofundar os
conceitos apresentados e discutidos sobre Inovação, Tecnologia e Gestão de Inovação e
Tecnologia.
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