material - geografia da religião no brasil

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w w w.mercator.ufc.br Mercator - Revista de Geografia da UFC, ano 08, número 16, 2009 111 GEOGRAFIA DA RELIGIÃO NO BRASIL: censos demográficos e transformações recentes Msc. Fernando Raphael Ferro de Lima Doutorando em Geografia da UFPR Rua Maximo João Kopp, 274, bloco 1. Santa Cândida, CEP:82630-900 - Curitiba, Paraná, Brasil Telfax. : (41) 3351 6398 - [email protected] Prof. Dr. Agemir de Carvalho Dias [email protected] RESUMO A diversidade religiosa é um importante elemento caracterizador das sociedades modernas. Desde a constituição de 1891 o Brasil não possui mais uma religião oficial, de modo que a tolerância o trânsito religioso são permitidos e tidos, inclusive, como direito dos brasileiros. Neste texto é trabalhada a distribuição espacial dos fiéis no Brasil, tendo por base os dados do Censo Demográfico de 2000. As dinâmicas de colonização do território brasileiro afetaram de forma diferenciada a distribuição dos agrupamentos religiosos pelo país. A partir destes dados podemos fazer algumas observações gerais sobre a dinâmica espacial dos fiéis no país. Palavras-chave: lreligião; dinâmica populacional; migração. ABSTRACT Religious diversity is an important element that characterizes modern societies. Since the constitution of 1891, Brazil no longer has an official religion, so the change of religions and the tolerance is allowed and taken, including, as a constitutional right. This text is worked out the spatial distribution of the faithful in Brazil, based on Census 2000 data. The dynamics of colonization of the Brazilian territory affected differently the distribution of religious groups around the country. From these data we can make some general observations about the spatial dynamics of the faithful in the country. Key words: religion, populational dinamics, migration. RESUMEN La diversidad religiosa es un importante elemento caracterizador de las sociedades modernas. Desde la Constitución de 1891, Brasil ya no tiene una religión oficial, de modo que el tránsito de la tolerancia religiosa es permitida y reconocida como un derecho de los brasileños. Este texto trabaj sobre la distribución espacial de los fieles en Brasil, basado en datos del Censo 2000. La dinámica de la colonización del territorio brasileño afecta de manera diferente la distribución de los grupos religiosos en todo el país. De estos datos podemos hacer algunas observaciones generales acerca de la dinámica espacial de los fieles en el país. Palabras-clave: religíon; dinamica poblacional; migracíon. Introdução A diversidade religiosa é um importante elemento caracterizador das sociedades modernas. Desde a constituição de 1891 o Brasil não possui mais uma religião oficial, de modo que a tolerância o trânsito religioso são permitidos e tidos, inclusive, como direito dos brasileiros (ORO, 2008). Isto não significa que ao longo de todo este período não tenha ocorrido conflitos entre as diversas religiões no país, tampouco que não tenham ocorrido episódios de perseguição a grupos minoritários. Mas de um modo geral, as pessoas são livres para buscar a religião que mais lhe agrade, e de praticá-la da forma que lhe convier, sob a proteção do estado brasileiro. Depois da constituição de 1988 a proteção da pratica religiosa foi ampliada, de modo que a discriminação religiosa é encarada como crime tão grava quanto o racismo, o que contribui para a valorização e respeito às crenças minoritárias no país. As religiões historicamente excluídas e desvalorizadas passam a ter seu direito de existir reconhecidos, e com garantias legais contra a eventual perseguição religiosa. A tolerância, deste modo, pode ser ampliada no país. DOI: 10.4215/RM2009.0816.0008

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    GEOGRAFIA DA RELIGIO NO BRASIL:censos demogrficos e transformaes recentes

    Msc. Fernando Raphael Ferro de LimaDoutorando em Geografia da UFPR

    Rua Maximo Joo Kopp, 274, bloco 1. Santa Cndida, CEP:82630-900 - Curitiba, Paran, BrasilTelfax. : (41) 3351 6398 - [email protected]

    Prof. Dr. Agemir de Carvalho [email protected]

    RESUMOA diversidade religiosa um importante elemento caracterizador das sociedades modernas. Desde a constituio de1891 o Brasil no possui mais uma religio oficial, de modo que a tolerncia o trnsito religioso so permitidos e tidos,inclusive, como direito dos brasileiros. Neste texto trabalhada a distribuio espacial dos fiis no Brasil, tendo por baseos dados do Censo Demogrfico de 2000. As dinmicas de colonizao do territrio brasileiro afetaram de formadiferenciada a distribuio dos agrupamentos religiosos pelo pas. A partir destes dados podemos fazer algumasobservaes gerais sobre a dinmica espacial dos fiis no pas.

    Palavras-chave: lreligio; dinmica populacional; migrao.

    ABSTRACTReligious diversity is an important element that characterizes modern societies. Since the constitution of 1891, Brazil nolonger has an official religion, so the change of religions and the tolerance is allowed and taken, including, as aconstitutional right. This text is worked out the spatial distribution of the faithful in Brazil, based on Census 2000 data.The dynamics of colonization of the Brazilian territory affected differently the distribution of religious groups around thecountry. From these data we can make some general observations about the spatial dynamics of the faithful in thecountry.

    Key words: religion, populational dinamics, migration.

    RESUMENLa diversidad religiosa es un importante elemento caracterizador de las sociedades modernas. Desde la Constitucin de1891, Brasil ya no tiene una religin oficial, de modo que el trnsito de la tolerancia religiosa es permitida y reconocidacomo un derecho de los brasileos. Este texto trabaj sobre la distribucin espacial de los fieles en Brasil, basado en datosdel Censo 2000. La dinmica de la colonizacin del territorio brasileo afecta de manera diferente la distribucin de losgrupos religiosos en todo el pas. De estos datos podemos hacer algunas observaciones generales acerca de la dinmicaespacial de los fieles en el pas.

    Palabras-clave: religon; dinamica poblacional; migracon.

    Introduo

    A diversidade religiosa um importante elemento caracterizador das sociedades modernas. Desde aconstituio de 1891 o Brasil no possui mais uma religio oficial, de modo que a tolerncia o trnsitoreligioso so permitidos e tidos, inclusive, como direito dos brasileiros (ORO, 2008). Isto no significaque ao longo de todo este perodo no tenha ocorrido conflitos entre as diversas religies no pas, tampoucoque no tenham ocorrido episdios de perseguio a grupos minoritrios. Mas de um modo geral, aspessoas so livres para buscar a religio que mais lhe agrade, e de pratic-la da forma que lhe convier, soba proteo do estado brasileiro.

    Depois da constituio de 1988 a proteo da pratica religiosa foi ampliada, de modo que adiscriminao religiosa encarada como crime to grava quanto o racismo, o que contribui para a valorizaoe respeito s crenas minoritrias no pas. As religies historicamente excludas e desvalorizadas passama ter seu direito de existir reconhecidos, e com garantias legais contra a eventual perseguio religiosa. Atolerncia, deste modo, pode ser ampliada no pas.

    DOI: 10.4215/RM2009.0816.0008

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    Este arcabouo legal de proteo s religies minoritrias no pas permitiu que na segunda metadedo sculo XX o pas conhecesse o incio de um processo de alterao do perfil religioso da populao.Ao longo deste captulo iremos trabalhar a distribuio espacial dos fiis no Brasil, tendo por base osdados do Censo Demogrfico de 2000. Estes dados contm diversas informaes sobre as pessoas quecompem cada uma das religies atuantes no pas, e permite que tenhamos uma idia mais clara sobre operfil dos fiis, sobretudo caractersticas socioeconmicas.

    Teses sobre a religio no Brasil

    O primeiro aspecto a se considerar sobre a religio no Brasil que esta umas das variveissociodemogrficas que mais mudaram no pas, ao lado da incorporao do gnero feminino ao mercadode trabalho e crescente escolarizao da populao. Este processo se deu a partir de uma reduo daparticipao do catolicismo romano por outras formas de expresso religiosa (NERI, 2008). Uma dashipteses que grande parte desta mudana se deu entre as camadas mais pobres dos grandes centrosurbanos (ALMEIDA, 2004).

    A liberdade religiosa, que tambm pode ser entendida como liberdade de conscincia, consideradaa me de todas as outras liberdades; sob ela se assenta o direito privacidade, um dos pilares doliberalismo moderno. No Brasil, a liberdade religiosa foi consolidada pela constituio de 1891, com aseparao entre Estado e Igreja. Obviamente que o principal alvo desta separao foi reduzir o poder daIgreja Catlica Apostlica Romana sobre atos civis, como o matrimnio, por exemplo.

    No entanto, com o decorrer do sculo XX, foram diversos os esforos de reconhecimento dasoutras religies, conduzindo a processo de institucionalizao, sobretudo dos espritas e dos umbandistas,cujas prticas eram perseguidas como magia e ilegal da medicina pelos rgos repressores do Estado.

    A liberdade de escolha da religio, os processo de urbanizao, a dinmica atuao proselitista dasigrejas evanglicas e o uso intensivo dos meios de comunicao por parte dos agrupamentos religiososfizeram com que o trnsito religioso, isto , a troca de uma religio por outra se tornasse um fenmenorelativamente comum no pas, sobretudo nas ltimas dcadas. Estima-se que pelos menos , ou seja,25% dos brasileiros com mais de 16 anos j tenham mudado de religio (ALMEIDA, 2004, p.17), o quecaracteriza uma situao de competio e desequilbrio na demografia religiosa brasileira.

    Outro fator importante o crescimento das pessoas que se declaram sem religio, o que leva aformulao de diversas questes. Um delas se isso poderia significar um avano da secularizao nopas. Outra questo que se coloca, se isso est relacionado s pessoas que se encontram em trnsitoreligioso, ou seja, no se sentem pertencentes religio de origem, tampouco religio de destino. Seriaimportante tambm poder dimensionar quanto cada uma destas hipteses verdadeira, j que o maisprovvel que o avano dos sem religio signifique tanto uma coisa quanto a outra.

    O trnsito religioso no Brasil ocorre principalmente a partir da religio catlica em direo s outrasreligies, e das diversas religies em direo aos evanglicos pentecostais, que por sua vez geram tambmretorno s religies de origem. Almeida (2004) observou diversos fatores relacionados mudana religiosa,dentro os quais se destaca o papel da migrao como fator de influncia. Ele observa em seu estudo queos nordestinos, que no nordeste so majoritariamente catlicos, quando migram para o Sudeste tendem ase tornar evanglicos devido ao contato com as diversas igrejas evanglicas pentecostais que formaramuma grande rede nas periferias das grandes cidades brasileiras (ALMEIDA, 2004, p. 21).

    Outra questo que se coloca no pas a do sincretismo religioso. O sincretismo caracteriza-se pelamistura entre duas ou mais religies ou, ainda, sua prtica simultnea. Para fins estatsticos, o sincretismoreligioso coloca-se como um problema de difcil soluo, pois os questionrios censitrios costumamrealizar a pergunta tendo em vista a opo por uma das respostas. Do mesmo modo, quando o entrevistadoresponde, ele pode ter em mente apenas a religio qual julga pertencer por algum critrio subjetivo,como lao familiar, status scio-econmico, ou ainda preconceito religioso. Deste modo, nos dados oficiaisalgumas religies/grupos religiosos aparecem sub-representados, como as religies afro-brasileiras,sobretudo a umbanda e o candombl.

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    Figura 1 - Principais fluxos do trnsito religioso no Brasil

    A hiptese explicativa que os mais pobres tendem a declarar-se como catlicos, do mesmo modoque os negros, ocultando ao recenseador sua prtica religiosa de fato. Neste ponto de vista, algunsautores apontam as religies evanglicas, sobretudo as tradicionais, como aquelas dotadas de identidademais definida. Os catlicos costumam agrupar-se em duas situaes: praticantes e no-praticantes, divisoesta associada a freqncia regular ao culto religioso, sendo que este ltimo grupo, com baixa ou nenhumafreqncia ao culto.

    Na seqncia iremos apresentar os dados populacionais do censo demogrfico de 2000, procurandocomparar os resultados observados com as teses acima levantadas.

    Religies no censo brasileiro

    Como j foi colocado, a instituio da liberdade religiosa no Brasil se deu a partir da proclamaoda repblica, quando ocorreu a separao formal entre igreja e estado. Todavia, esta separao foimarcada pela afirmao do Estado nacional frente Igreja Catlica. Com isso, as disputas destes processosocorreram no sentido de barrar o avano do positivismo sobre as instituies republicanas, com vistas agarantir que o pas, apesar de laico, continuasse cristo.

    Antes deste marco, porm, j havia no Brasil a presena de numerosas outras religies. O judasmoinstalara-se no pas quando da ocupao dos Holandeses ainda no sculo XVII; os imigrantes europeusvindos na segunda metade do sculo XIX trouxeram diversas ramificaes do cristianismo reformadopara o pas, e, tambm, do cristianismo ortodoxo oriental. A migrao de japoneses foi acompanhada daintroduo de religies orientais, como o budismo e o xintosmo.

    Alm destes fatores, relacionados diretamente entrada de pessoas das variadas partes do mundodo Brasil, necessrio reconhecer tambm a presena de prticas religiosas indgenas e africanas, ouafro-brasileiras, que eram perseguidas pela polcia, tornadas clandestinas, mas ainda assim, parte do

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    cotidiano de grande parte da populao brasileira. Deste modo, a produo de informaes sobre oassunto percorreu uma longa estrada, e est, ainda, marcada por inmeras imperfeies na coleta dedados, das quais algumas foram comentadas.

    Desde 1940 os censos incluem perguntas sobre a religio praticada pelo entrevistado. Em todoperodo, com exceo de 1970, esta foi uma pergunta aberta. Em 1970 o IBGE adotou seis categoriascomo referncia. Elas foram ampliadas para nove em 1980, 43 em 1991 e 143 em 2000. O aumento dascategorias de enquadramento das respostas testemunho do crescimento da diversidade religiosa noBrasil (Figura 2).

    Para fins de comparao, tendo em vista as limitaes dos censos anteriores a 2000, a comparaoao longo do perodo pode ser feita entre estes grupos populacionais. Pelo grfico observa-se que aproporo de catlicos caiu gradativamente no pas, com uma acelerao nesta queda a partir dos anos1970. Ao longo deste mesmo perodo ocorreu um crescimento dos grupos evanglicos, sobretudo apartir de 1991, e dos sem religio, que vem aumentando de forma constante desde 1980. Os outrosgrupos religiosos tm mantido uma participao relativamente constante na populao brasileira, em tornode 3% do total nacional.

    Fonte: IBGE

    Figura 2 - Dinmica das religies no Brasil 1940 -2000.O crescimento explosivo dos evanglicos nos anos 1990, entretanto, est ligado consolidao

    dos evanglicos pentecostais. Em 1970 5,8% da populao brasileira era composta por evanglicos.Neste censo ainda no havia a possibilidade de diferenciar os pentecostais dos protestantes histricos outradicionais. Em 1980 o percentual de protestantes chegara a 6,6% da populao, sendo que 3,4% eramde protestantes histricos e 3,2% de pentecostais.

    Em 1991 os pentecostais haviam chegado a 6% da populao e os protestantes histricos carampara 3%. Nota-se, portanto, que parte do crescimento dos evanglicos neste perodo se deu pela mudanade religio de catlicos e parte pela migrao de protestantes histricos. Nos anos 1990, porm, ocorreum aumento generalizado dos evanglicos, com um aumento tanto dos protestantes histricos, que passamde 3% para 5%, quanto dos pentecostais, que passam de 6% para 10,6% em 2000.

    A tabela 1 lista os 10 maiores agrupamentos religiosos do pas, considerando inclusive aqueles quese declaram sem religio. Deve-se destacar que a tabela foi elaborada tendo por base as informaes do

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    censo de 2000 do IBGE, e, portanto, a denominao das igrejas,/ grupos religiosos no coincide com aforma como o grupo se autodenomina1.

    Tabela 1 - Dez maiores Igrejas/Grupos Religiosos nmero de fis e dados relativos

    IGREJA/GRUPO RELIGIOSO FIIS

    TOTAL (%)

    1 Catl ica Apostlica Romana 124.941.084 73,5

    2 Sem Religio 12.492.403 7,4

    3 Igreja Evanglica Assemblia de Deus 8.303.869 4,9

    4 Igreja Evanglica Bat ista 2.932.706 1,7

    5 Igreja Congregacional Crist do Brasil 2.483.918 1,5

    6 Esprita, Kardecista 2.242.886 1,3

    7 Igreja Universal do Reino de Deus 2.101.826 1,2

    8 Outras Igrejas Evanglicas Pentecostais 1.507.967 0,9

    9 Igreja Evangelho Quadrangular 1.307.027 0,8

    10 Igreja Evanglica Adventista do Stimo Dia 1.142.377 0,7

    Fonte: IBGE/FGV

    possvel perceber que a igreja com maior nmero de adeptos no pas continua sendo a IgrejaCatlica Apostlica Romana (ICAR), mas o segundo maior grupo composto por pessoas que se declaramsem religio. A Assemblia de Deus, (3) a Congregao Crist (5), Universal do Reino de Deus (IURD,7) e a Igreja do Evangelho Quadrangular (9) so todas igrejas consideradas pentecostais. A IgrejaAdventista enquadra-se na categoria Outras Igrejas Evanglicas no censo de 2000, sendo que a nicaigreja protestante tradicional ou de misso listada entre as dez maiores confisses do pas a ConvenoBatista Brasileira (CBB). Estas informaes do a mostra da fragmentao mais acentuada das igrejasevanglicas de misso.

    Atravs da observao das informaes scio-econmicas podemos compreender melhor o perfildos fiis de cada um destes grupos. Para tanto, iremos classificar os grupos de acordo com a sistemticaadotada pelo censo demogrfico de 2000.

    A tabela 2 mostra que os catlicos, por formarem o maior contingente da populao formam, decerto modo, a mdia do pas. Observa-se que os evanglicos e os sem religio, juntamente com oagrupamento outras religies so os grupos que possuem a renda per capita mais baixa. De todos estesgrupos, porm, so os pentecostais os mais pobres. Na outra ponta destacam-se os praticantes dasreligies espiritualistas, das religies orientais e das religies afro-brasileiras como pertencentes aos gruposde renda mais elevada. No caso das religies orientais e espiritualistas a diferena nos rendimentos significativamente superior a mdia nacional.

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    Tabela 2 - Caractersticas scioeconmicas dos agrupamentos religiosos

    AGRUPAMETO RELIGIOSO MERO DE

    PESSOAS

    PARTICIPAO O TOTAL

    ACIOAL (%)

    REDA MDIA PER CAPITA (R$)

    REDA EM RELAO

    MDIA ACIOAL = 100

    Catlica 125 527 349 73 ,9 298,8 100,5

    Evanglica 26 184 941 15 ,4 247,7 83,3

    Evangl icos de Misso 6 943 510 4 ,1 358 ,8 120,7

    Evangl icos Pentecostais 18 684 787 11 ,0 229 ,0 77,0

    Outro s Evanglicos 556 646 0 ,3 250 ,2 84,2

    Sem religio 12 492 403 7 ,4 270,6 91,0

    Espiri tual ista 2 288 290 1 ,3 786,1 264,4

    Afro-brasi leira 525 012 0 ,3 389,9 131,2

    Orien tais 490 753 0 ,3 962,2 323,7

    Outras Religies 2 364 107 1 ,4 272,8 91,8

    TOTAL 169 872 855 100 297,3 100

    Fonte: FGV/IBGE

    A tabela 3 mostra que o predomnio dos catlicos na populao maior na zona rural que na nascidades, razo inversa do que ocorrem em todos os outros agrupamentos religiosos. Os espiritualistas soum grupo populacional majoritariamente urbano, com 96,8% de seus adeptos vivendo nesta situao dedomiclio. O mesmo ocorre, de um modo geral, com todos os agrupamentos, excetuando-se os evanglicose os catlicos e os sem religio.

    Decompondo esta tabela, percebe-se tambm que os agrupamentos religiosos no catlicos adquiremuma importncia maior nas grandes cidades, sobretudo nas regies metropolitanas. A tabela 4 mostra quequase 75% dos fiis das religies afro-brasileiras e orientais encontram-se em municpios que compemregies metropolitanas, o que verdade para cerca de 60% dos espritas. Enquanto isso, apenas 35,6%dos catlicos vive neste tipo de municpio. Os evanglicos possuem uma presena muito mais expressivanos municpios grandes e metropolitanos que nos municpios pequenos, sendo que os catlicos que moramnas zonas rurais s no so mais nmeros que aqueles vivendo em regies metropolitanas.

    Tabela 3 - Grupos religiosos por situao de domiclio 2000

    AGRUPAMETOS RELIGIOSOS

    URBAO RURAL

    TOTAL (%) TOTAL (%)

    Catlicos 97 308 179 77,5 28 219 170 22,5

    Evanglicos 22 313 922 85,2 3 871 018 14,8

    Evanglico de Misso 5 921 639 85,3 1 021 871 14,7

    Evanglico Pentecostal 15 897 480 85,1 2 787 305 14,9

    Outros Evanglicos 494 802 88,9 61 843 11,1

    Sem Religio 10 709 456 85,7 1 782 947 14,3

    Espiri tual ista 2 215 514 96,8 72 775 3,2

    Afro-brasi leira 502 746 95,8 22 268 4,2

    Orien tais 469 487 95,7 21 268 4,3

    Outras Religies 2 096 641 88,7 267 466 11,3

    Total 135 615 945 79,8 34 256 912 20,2

    Fonte: IBGE

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    A partir destes dados podemos fazer algumas observaes gerais sobre a dinmica espacial dos fiisno pas. Primeiramente, que os agrupamentos evanglicos, sobretudo os pentecostais, so parte de umfenmeno urbano, muito destacado nas grandes cidades. As pessoas sem religio tambm so maisnumerosas nos municpios metropolitanos e de grande porte. Isto refora algumas das teses colocadas nocomeo do captulo sobre o trnsito religioso. As pessoas, principalmente nas grandes cidades, costumampassar de sua religio de criao a uma situao sem religio. Depois, partem deste grupo em direo aosevanglicos pentecostais.

    Tabela 4 Distribuio por tipo de municpio (%)

    GRUPO RELIGIOSO REGIO METROPOLITANA

    URBANO GRANDE

    URBANO MDIO

    URBANO PEQUENO

    RURAL

    Catlicos 35,6 14,6 18,8 11,3 19,7

    Evanglicos 47,3 16,4 16,6 8,3 11,4

    Evanglico de Misso 45,6 17,1 17,2 8,2 11,9

    Evanglico Pentecostal 47,8 16,0 16,4 8,5 11,3

    Outros Evanglicos 50,7 21,1 15,0 5,4 7,7

    Sem Religio 53,9 14,1 14,1 6,9 11,1

    Afro-Brasileira 73,2 14,7 8,1 2,1 1,9

    Espiri tual ista 58,6 22,3 13,0 4,2 1,9

    Orien tais 72,6 14,4 8,4 2,4 2,2

    Outras Religies 51,1 18,0 16,5 6,2 8,2

    TOTAL 39,5 15,0 17,9 10,3 17,3

    Fonte: CENSO/FVG

    A primeira vista, h uma relao entre a expanso dos evanglicos pentecostais e o fenmeno damigrao, tanto aquela campo/cidade, que marcou a urbanizao no Brasil entre os anos 1950-1980,quanto migrao cidade pequena/cidade grande, que o processo que tem se configurado maisrecentemente. Tambm possvel observar que a reduo relativa da populao de catlicos maior nosgrandes centros urbanos que nas cidades pequenas e zonas rurais.

    Os dados do censo tambm permitem constatar que a diversidade religiosa maior nas reas urbanas,com destaque para as regies metropolitanas. Como j foi observado nas zonas rurais o catolicismo ainda muito forte, com uma presena muito tmida de outras tradies religiosas como o judasmo, o islamismoe o budismo.

    Alguns fenmenos merecem uma ateno mais detalhada. A relao entre tica protestante eprosperidade econmica no se confirma no Brasil, j que, de um modo geral, o protestantismo umfenmeno mais ligado as populaes de menor renda, sobretudo os protestantes pentecostais.Aparentemente, o apelo das chamadas teologias da prosperidade se daria entre estas parcelas maiscarentes da populao.

    Outro dado que contraria o senso comum o da renda per capita dos fiis das religies afro-brasileiras, que superior a mdia nacional. Deste modo, parece ser um indcio da hiptese levantada nocomeo do captulo de que os mais pobres tendem a ocultar sua religiosidade, declarando-se apenascatlico. Assim, cabe uma investigao mais detalhada sobre a extenso do sincretismo religioso no Brasil,que tomado como maior do que os dados do senso permitem ver.

    Religies por regio

    Dado o tamanho do territrio e da populao do Brasil, passamos agora para uma anlise regional.Procuraremos compreender um pouco melhoras diferenas existentes entre as vrias regies do pas.

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    Para tanto, vamos avaliar os dados demogrficos e de renda per capita para as macrorregies definidaspelo IBGE. Comeando pela Regio Sul, notamos que depois da regio Nordeste, ela a que concentramaior proporo de catlicos no pas. No sul o padro de que o pentecostalismo um fenmeno ligadoa pobreza urbana confirma-se, com os pentecostais aparecendo com a menor renda per capita da regio.O padro dos praticantes das religies afro-brasileiras, porm, difere do nacional mostrando que no Sulos praticantes destas religies encontram-se entre os estratos mais pobres da sociedade.

    Tabela 5 Participao no total e renda por grupo religioso, 2000 regio sul

    REGIO SUL FIIS RENDA

    TOTAL (%) VALOR (R$) NDICE

    Catlicos 19 506 758 77,7 347,10 101

    Evanglicos 3 849 564 15,3 286,35 84

    Evanglicos de Misso 1 424 810 5,7 406,20 119

    Evanglico Pentecostal 2 344 883 9,3 215,20 63

    Outros Evanglicos 79 871 0,3 237,39 69

    Sem Rel igio 988 603 3,9 347,67 102

    Afro-Brasileiro 132 729 0,5 259,61 76

    Espiri tual ista 294 581 1,2 715,29 209

    Orien tais 53 043 0,2 927,84 271

    Outras Religies 285 070 1,1 299,68 88

    Total 25 110 348 100 342,36 100

    OBS: O ndice refere-se a qual a relao da renda daquele grupo em relao a varivel total, ao fim da tabela. Assim, umndice 101, significa que a renda mdia 1% maior que a renda mdia do total da populao.

    Fonte: IBGE

    A disparidade de renda dos praticantes das religies orientais e espiritualistas permanece, mas inferior quela encontrada em nvel nacional. Os sem religio aparecem com uma renda per capita bemprxima a mdia, e so menos numerosos que no restante do pas, representando menos de 4% dapopulao total.

    Na regio sudeste a proporo de catlicos inferior a mdia nacional, influenciado, sobretudo,pela presena bastante acentuada de evanglicos e sem religio nos estados do Rio de Janeiro e EspritoSanto, com diferenas substanciais entre ambos. Os sem religio chegam a 8,4% do total, valor bem maiselevado que na regio sul, apesar de prximo a mdia nacional.

    Os outros padres repetem a dinmica nacional. Deve-se destacar, porm, que a maior parte dospraticantes de outras religies, dos espiritualistas e dos fiis de religies orientais encontra-se nesta regiodo pas.

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    Tabela 6 Participao no total e renda por grupo religioso, 2000 regio sudeste

    REGIO SUDESTE FI IS RENDA

    TOTAL (%) VALOR (R$) NDICE

    Catlicos 50 284 454 69,42 405 ,19 104

    Evanglicos 12 685 289 17,51 281 ,01 72

    Evangl icos de Misso 3 101 388 4,28 396,66 102

    Evangl ico Pentecostal 9 302 898 12,84 242,16 62

    Outros Evanglicos 281 003 0,39 290,77 75

    Sem Religio 6 084 122 8,40 344 ,57 89

    Afro-Brasileiro 320 020 0,44 468 ,19 120

    Espi ri tual ista 1 446 671 2,00 828 ,93 213

    Orien tais 367 166 0,51 1. 019 ,31 262

    Outras Religies 1 242 471 1,72 321 ,71 83

    TOTAL 72 430 193 100,00 388 ,77 100

    Fonte: IBGE

    No Centro-Oeste os evanglicos atingem 18,9% da populao, sendo em grande maioria depentecostais. O percentual de pessoas sem religio tambm elevado. Reduzida a presena de pessoaspraticantes de religies orientais e de religies afro-brasileiras. O comportamento da renda segue o padronacional, apesar do fato de os evanglicos de misso possuir uma renda mais alta que a mdia nacionaldeste mesmo agrupamento.

    Tabela 7- Participao no total e renda por grupo religioso, 2000 regio centro-oeste

    REGIO CENTRO-OESTE FIIS RENDA

    TOTAL (%) VALOR (R$) NDICE

    Catlicos 8 081 674 69,44 347,75 101

    Evanglicos 2 195 666 18,87 288,03 84

    Evangl icos de Misso 485 803 4,17 473,65 138

    Evangl ico Pentecostal 1 642 169 14,11 234,03 68

    Outros Evanglicos 67 694 0,58 266,06 77

    Sem Religio 912 641 7,84 321,78 94

    Afro-Brasileiro 16 107 0,14 473,51 138

    Espiri tual ista 227 743 1,96 797,47 232

    Orien tais 25 263 0,22 856,61 249

    Outras Religies 179 563 1,54 284,82 83

    Total 11 638 657 100 343,55 100

    Fonte: IBGE

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    O perfil da regio norte semelhante ao do Centro-Oeste, diferenciando-se pelo maior percentualde catlicos, mas tambm o maior percentual de evanglicos. Os pentecostais so a maioria novamente.O percentual de pessoas sem religio fica abaixo da mdia nacional, mas neste aspecto guarda grandesdisparidades internas, com um elevado percentual deste grupo no estado de Rondnia, por exemplo.

    As religies afro-brasileiras e orientais tm pequena participao na regio. Na categoria outrasreligies, o percentual elevado, o que d mostra da presena da populao indgena nesta regio dopas. Em relao renda, o padro semelhante ao da regio Centro-Oeste.

    O Nordeste a regio do pas onde a predominncia dos catlicos mais ampla, e a participaodos evanglicos menor. No caso do nordeste, cabe a observao de que a presena de catlicos muito mais forte no interior que no litoral, o que se justifica pelo fato de grande parte das grandes cidadesnordestinas situarem-se no litoral. Nestas cidades, a participao de catlicos se aproxima mais dosndices da regio sudeste. Esta mesma diferenciao pode ser observada em relao a outras variveis,como possvel observar em Almeida (2007)

    Tabela 8 - Participao no total e renda por grupo religioso, 2000

    REGIO NORTE FI IS RENDA

    TOTAL (%) RENDA (R$) NDICE

    Catlicos 9 285 464 71,92 183,84 101

    Evanglicos 2 550 484 19,75 163,18 90

    Evanglicos de Misso 557 470 4,32 230,38 127

    Evanglico Pentecostal 1 928 437 14,94 144,07 79

    Outros Evanglicos 64 580 0,50 153,78 85

    Sem Rel igio 849 152 6,58 172,36 95

    Afro-Brasileiro 5 518 0,04 277,33 153

    Espiri tualista 50 100 0,39 700,49 386

    Orien tais 14 537 0,11 652,82 360

    Outras Religies 155 917 1,21 173,80 96

    TOTAL 12 911 172 100,00 181,45 100

    Fonte: IBGE

    a nica regio em que a renda mdia dos evanglicos superior a dos catlicos. Tambm a nicaregio em que o grupo outras religies apresenta renda acima da mdia. Contudo, deve-se destacar quea renda mdia de todo o Nordeste , em geral, bastante inferior a renda mdia das outras regies.

    Grupos religiosos no espao nacional

    A avaliao dos dados do censo mostra diferenas significativas entre as vrias regies do Brasil.Avaliaremos estas diferenas a partir da diviso por grupos religiosos. Comearemos pelo grupo maisrepresentativo em termos percentuais, avanando pelas grandes categorias utilizadas pelo censo.

    Os catlicos tm uma maior participao no total da populao nas regies Nordeste e Sul,ultrapassando 80% da populao no Nordeste, contra uma mdia nacional de 74%. No Piau 90% dapopulao catlica, maior percentual relativo do pas, no extremo oposto do Rio de Janeiro, onde esteagrupamento menor, 56,2%. O censo permite relacionar o recuo dos catlicos com o crescimento dos

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    evanglicos e dos sem religio.Rio de Janeiro e Rondnia so os estados com menor populao de catlicos, e reforando este

    argumento, interessante notar que ambos so estados com grande percentual de migrantes em suapopulao. A presena de catlicos mais forte nos estados do Nordeste, mas em Santa Catarina estegrupo ultrapassa 80% da populao, o nico estado em que isto ocorre fora da regio nordeste. Emrelao a este aspecto, estas regies, principalmente o interior das regies Sul e Nordeste, so reas deesvaziamento populacional, ou seja, que cedem populao, que vo em direo s capitais e aos estadosdas regies Centro-Oeste e Norte.

    Tabela 9 - Participao no total e renda por grupo religioso, 2000

    REGIO NORDESTE FIIS RENDA

    TOTAL (%) VALOR (R$) NDICE

    Catlicos 38 368 998 80,30 152,44 98

    Evanglicos 4 903 939 10,26 157,31 101

    Evanglicos de Misso 1 374 041 2,88 235,43 152

    Evanglico Pentecostal 3 466 400 7,25 126,15 81

    Outros Evanglicos 63 500 0,13 167,98 108

    Sem Rel igio 3 657 888 7,66 136,72 88

    Afro-Brasileiro 50 642 0,11 222,31 143

    Espiritual ista 269 193 0,56 640,07 413

    Orien tais 30 744 0,06 572,06 369

    Outras Religies 501 086 1,05 177,20 114

    TOTAL 47 782 490 100,00 155,09 100

    Fonte: IBGE

    Portanto, possvel concluir que o catolicismo decai nas regies receptoras de imigrantes e nosgrandes centros urbanos, mantendo-se forte nas regies que cedem populao. Uma explicao pode sera dificuldade da igreja catlica de atender adequadamente a populao, j que o nmero de catlicos porparquia superior a mdia nacional nas regies receptoras de populao e inferior a mdia nacional nasreas de decrescimento populacional (ANTONIAZZI, 2008).

    Como possvel observar no mapa 2, os evanglicos so quase 20% da populao da regio norte,mas apenas 10,3% da populao do Nordeste, seguindo uma lgica inversa a dos catlicos: onde osevanglicos so mais fortes, os catlicos so menos expressivos. Neste quesito, Rondnia se destacacomo o estado mais evanglico do Brasil, com 27,2% pertencendo a este agrupamento. Este nmerotambm elevado no Esprito Santo e no Rio de Janeiro, com 25% e 22% respectivamente.

    interessante notar as diferenas internas no grupo de igrejas evanglicas. No Brasil costuma-sedividir os evanglicos em dois grandes grupos: o das igrejas do protestantismo histrico, que o IBGEclassifica como evanglicas de misso, e o das igrejas evanglicas pentecostais. Como pudemos observarnas tabelas anteriores, os evanglicos de misso so minoria entre os evanglicos. Este grupo tem expandidosua base de fiis, sobretudo, entre as populaes catlicas das reas urbanas de grandes cidades.

    No Rio de Janeiro e em Rondnia, pentecostais representam grande maioria dos evanglicos. NoEsprito Santo, cerca de 10% da populao de evanglicos de misso, a maior participao relativa doBrasil. Na regio Sul os pentecostais tm uma participao menor nos estados de Santa Catarina e RioGrande do Sul, com uma participao mais relevante no Paran, onde so 12% da populao contra4,2% dos evanglicos de misso.

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    Fonte: Dados do IBGE.

    Figura 3 - Mapas percentuais por grupo religioso

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    O agrupamento sem religio congrega os ateus, agnsticos e aquelas pessoas que por algum motivono se identificam com nenhuma religio. Este grupo mais significativo no Rio de Janeiro, com 15,8% dapopulao, seguido por Rondnia, onde so 12,7%. O menor percentual deste grupo ocorreu em SantaCatarina, onde apenas 2% declararam-se Sem Religio. A mdia nacional deste grupo 7,4%. Na regiosul este percentual menor que a mdia nacional, o que tambm ocorre em alguns estados do Nordeste.No Centro-Oeste, Norte e Sudeste seus percentuais so superiores a mdia nacional.

    Os estados de So Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul concentram cerca de 80% dos fiisdas religies afro-brasileiras, com destaque para o Estado do Rio de Janeiro, onde so 1,3% da populao,e Rio Grande do Sul (1,2%) contra 0,3% da mdia nacional. Na regio Nordeste pequeno o percentualdas pessoas que se declararam como pertencentes s religies afro-brasileiras. Deve-se considerar,entretanto, a importncia do sincretismo religioso, onde as prticas afro-brasileiras encontram-seprofundamente enraizadas no catolicismo popular.

    Vendo a questo sob este aspecto, importante destacar que os percentuais mais significativosobservados nestes dois estados podem estar relacionados a uma identidade melhor definida dos crentesdestes grupos no sul e sudeste que no nordeste. Outra hiptese pode ser o preconceito dirigido a estasreligies, com um agressivo proselitismo religioso por parte de algumas igrejas crists direcionadas a estesgrupos.

    As religies espiritualistas apresentam os maiores percentuais relativos no Distrito Federal, cerca de3% da populao. Em So Paulo, Rio de Janeiro, Gois e Rio Grande do Sul os espiritualistas tambmrepresentam uma parcela maior da populao. Estes cinco estados concentram 65% dos espritas dopas, juntamente com Bahia, Minas Gerais e Pernambuco. Somados, estes oito estados representam 85%do total.

    No caso das religies espiritualistas, do mesmo modo que nas afro-brasileiras, importante notarque parte da populao que participa dos agrupamentos espiritualistas ou cr na totalidade ou em partede suas doutrinas, continua se declarando como pertencente outra religio. O perfil diferenciado dosadeptos destas religies, j que em geral possuem a mais elevada renda per capita mdia, excludas asreligies orientais. O perfil marcadamente urbano e a concentrao espacial em estados mais industrializadosajuda a explicar esta caracterstica.

    Nas religies orientais h uma concentrao espacial no Sudeste e Sul, principalmente em So Pauloe no Paran, que agregam os maiores contingentes de descendentes de orientais. O perfil desta populao destacado pela renda per capita mais elevada que a mdia nacional, o que pode ser explicado tanto pelaregio onde se concentram, como pelos maiores graus de escolaridade observados entre seus adeptos.

    Consideraes Finais

    A anlise dos dados do censo no se esgota nas informaes apresentadas acima, pois so vrias ascaractersticas por explorar a partir dos micro-dados do censo. Uma possibilidade oferecida, que athoje no foi explorada, a avaliao do perfil populacional de cada denominao religiosa ou grupo,permitindo-se a comparao por estados e municpios. A desagregao dos dados municipais outrapossibilidade pouco explorada pelos estudiosos da questo no Brasil.

    Todavia, a partir dos dados avaliados, possvel ter uma viso menos turva do aspecto demogrficodo fenmeno religioso. As diferentes dinmicas de colonizao afetaram de forma diferenciada a distribuiodos agrupamentos religiosos pelo pas. As migraes internas, sobretudo os movimentos campo/cidade,que se intensificaram a partir dos anos 1960/70, parecem guardar uma relao estreita com a mudanareligiosa no pas (MENDONA, 1984). Deste modo, possvel observar algumas mudanas maissignificativas: o percentual de evanglicos e de pessoas sem religio maior nas grandes cidades que nasreas do interior do sul e do nordeste do pas. Nestas regies, que em geral foram doadoras de populaonas dcadas citadas, os percentuais de catlicos significativamente superior a mdia nacional.

    Tambm possvel observar que o centro-oeste brasileiro, sobretudo os estados de colonizaomais recente, como Rondnia, so reas onde os agrupamentos evanglicos e os que se declaram sem

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    religio so mais expressivos no pas. Os agrupamentos que aparecem como espiritualistas e religiesorientais aparecem fortemente associados s variveis alta renda e situao de domiclio urbana, comprevalncia destes agrupamentos na regio sudeste do pas e nas grandes cidades. Isto refora acaracterstica de que as grandes cidades apresentam maior diversidade religiosa que as cidades pequenase reas do interior.

    O processo de mudana religiosa, portanto, parece fortemente interligado com processos de migraopopulacional, o que eventualmente pode ser associado a questes como mudana de identidade ou perdado sentimento de pertencimento a grupos sociais especficos (COSTA, 1979). Este impacto da migraotambm pode ser visto quanto a outras instituies sociais, como a famlia, por exemplo, que passa aconviver com novos rearranjos a partir das transformaes decorrentes da urbanizao, como a inserodas mulheres no mercado de trabalho e o aumento da escolarizao. Certamente, so questes quecaminham juntas, cujo esclarecimento demanda maiores aprofundamentos sobre a relao entre a varivelreligio e os outros fenmenos decorrentes da urbanizao.

    Caso as tendncias populacionais apontem para uma reduo da importncia das migraes noterritrio brasileiro, propiciadas pelo virtual fim da fronteira agrcola e a maior estabilidade nas taxas decrescimento populacional, possvel imaginar como cenrio futuro a reduo do ritmo do trnsito religioso,com uma estabilizao dos grupos evanglicos pentecostais, e mudanas nos percentuais religiosos ditadasmais pelo comportamento da taxa de crescimento vegetativo destes grupos do que pela mudana religiosa.Quanto aos novos agrupamentos religiosos surgidos, sua tendncia tambm deve ser para a estabilizao.As reas de maior mudana no perfil religioso certamente continuaro a ser as cidades com crescimentoacelerado e as reas ainda restantes de fronteira agrcola. Estas hipteses, contudo, s podero seraveriguadas com as informaes do censo 2010.

    Notas

    1 Os Batistas, por exemplo, so conhecidos como Conveno Batista Brasileira; o que o IBGE chama de Igreja CongregacionalCrist no Brasil, se autodenomina de Congregao Crist no Brasil; a Igreja Evanglica Adventista do Stimo Dia, se auto-denominaapenas Igreja Adventista do Stimo Dia, sendo o qualificativo Evanglico atribudo apenas pelo IBGE. Vrios so os exemplos deconfuso em relao a terminologia.

    Referncia Bibliogrfica

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    ANTONIAZZI, A. Por que o panorama da religio no Brasil mudou tanto? CONIC, Conselho Nacionaldas Igrejas Crists. 04/03/2007. Acesso em 5/6/2008. In: http://www.conic.org.br/index.php?system=news&news_id=375&action=read

    COSTA, E. B. Protestantism, modernization and cultural change in Brazil. Berkeley, University ofCalifornia. Tese de doutorado, 1979. No publicado.

    ORO, A.P. Consideraes sobre a liberdade religiosa no Brasil. Cincias e Letras. Porto Alegre. n.37,jan./jun. 2005. pp. 433-447. Acesso em 10/06/2008 In: http://www4.fapa.com.br/cienciaseletras/pdf/revista37/cap20.pdf

    MENDONA, A. G. O celeste porvir A insero do protestantismo no Brasil. So Paulo: Paulinas, 1984.

    NERI, M. A tica catlica e o esprito da revoluo feminina. Acesso em : 10/06/2008. http://www.fgv.br/cps/religioes/Apresenta%E7%E3o/valor.pdf.

    Trabalho enviado em maro de 2009Trabalho aceito em agosto de 2009