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MARKETING TURÍSTICO UMA ABORDAGEM DE REDE por Ricardo Alexandre Fontes Correia Tese de Mestrado em Ciências Empresariais Orientada por Prof. Doutor Carlos Henrique Figueiredo e Melo de Brito Faculdade de Economia Universidade do Porto 2005

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  • MARKETING TURSTICO

    UMA ABORDAGEM DE REDE

    por

    Ricardo Alexandre Fontes Correia

    Tese de Mestrado em Cincias Empresariais

    Orientada por

    Prof. Doutor Carlos Henrique Figueiredo e Melo de Brito

    Faculdade de Economia Universidade do Porto

    2005

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    i

    Breve Nota Biogrfica

    O candidato licenciou-se em Economia na Faculdade de Economia da Universidade do

    Porto em Julho de 2001, tendo ingressado de imediato, nos quadros da Arthur Andersen

    (Actualmente designada por Deloitte&Touche).

    Aps quase 2 anos de experincia numa das maiores multinacionais na prestao de

    servios de Auditoria/Consultadoria e porque a atraco acadmica do candidato foi por

    demais considervel, este decidiu enveredar mais intensamente neste mbito, sendo

    desde o ano lectivo de 2003/2004 docente da Escola Superior de Tecnologia e Gesto

    de Mirandela do Instituto Politcnico de Bragana.

    Na Escola Superior de Tecnologia e Gesto de Mirandela o candidato regente entre

    outras das disciplinas de: Marketing Turstico, Marketing, Estrutura e Comportamento

    Organizacional e Sistemas de Informao de Marketing, integrando simultaneamente a

    equipa de elaborao do Plano Regional de Ordenamento do Territrio de Trs-os-

    Montes e Alto Douro.

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    ii

    Agradecimentos

    Ao meu orientador, Prof. Doutor Carlos Melo Brito, pelo estmulo que imprimiu ao meu

    trabalho, pela sua permanente disponibilidade, pelos inmeros e valiosos conselhos e

    pela motivao que me soube transmitir, fazendo-me sempre acreditar na materializao

    de um projecto desta envergadura num to curto espao de tempo.

    Ao Director da Escola Superior de Tecnologia e Gesto de Mirandela Dr. Vtor Simes

    Alves por todo o apoio prestado a este trabalho, que permitiu a marcao clere das

    entrevistas principal instrumento emprico desta investigao.

    A todos os entrevistados pela sua pronta disponibilidade; organizao da Rota do

    Vinho do Porto - Associao de Aderentes, em especial Carla Pinto pela colaborao,

    interesse e amabilidade concedida.

    Aos meus pais, irm e avs devendo-lhes a eles o apoio, compreenso e aconselhamento

    constante ao longo da vida que desembocou neste trajecto percorrido que com este

    trabalho assinala um importante marco para a sua posterior continuidade, mas que

    contudo os prejudicou com a minha permanente e exaustiva entrega ao seu

    desenvolvimento.

    O agradecimento mais relevante destina-se minha querida esposa Snia que viu o

    nosso primeiro ano de casamento ser perturbado por um continuo outorgamento a este

    trabalho de dissertao e cuja compreenso e apoio serviram de tnico para algumas das

    consequncias nefastas que trabalhos desta natureza geram no que diz respeito ao estado

    de esprito dos seus autores.

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    iii

    Resumo O espao fsico tem sido encarado como algo dado, uma realidade inaltervel confinada

    a fronteiras irreversivelmente delimitadas que lhe confeririam um carcter de

    estabilidade. Este trabalho rejeita essa viso esttica do espao adoptando uma viso

    relacional do territrio para desta forma o considerar como uma realidade

    eminentemente relacional contemplando dinmicas que conduzem sua reconfigurao

    temporal. O territrio surge assim nesta investigao com caractersticas equiparadas s

    de uma organizao que, com os seus recursos, actores e actividades, se pretende tornar

    mais dinmica e atraente ao longo do tempo alcanando uma melhor posio na rede

    interorganizacional.

    Dentro do territrio, foi dado especial relevo rede turstica por se encontrar uma

    grande propenso entre as caractersticas desta indstria com as potencialidades de

    anlise da network approach, abordagem tutora do estudo, pretendendo-se com a

    aplicao da mesma apurar os efeitos dinmicos da modelao bidireccional existente

    entre a rede turstica e o territrio onde esta se desenvolve. Na rede turstica considerada

    estudou-se especificamente o turismo vitivincola, recaindo um interesse significativo

    da pesquisa sobre fenmenos de aco colectiva materializados pela aco de uma rota

    de vinhos assim como os efeitos da advindos para a rede turstica e, por esta via, as

    dinmicas imprimidas ao territrio.

    Em sntese, em termos cientficos, esta dissertao, centrando-se nas influncias

    recprocas das dinmicas territoriais e tursticas numa perspectiva de rede, procura

    contribuir para o aprofundamento do conhecimento na rea turstica e territorial,

    apresentando uma clara componente interdisciplinar ao estabelecer uma ligao entre o

    marketing, a administrao territorial, a aco colectiva e o turismo, com evidentes

    ganhos ao nvel da gesto das organizaes que actuam nestes domnios.

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    iv

    Abstract The territory has been regarded as something given, a static reality confined to

    irreversible borders and limits that gave it some particular character of stability. This

    dissertation rejects that kind of external visions of space, adopting a relational image of

    the territory, for this way to consider it like a highly relational reality, contemplating

    interorganisational dynamics that loads the space to a permanent reconfiguration in time.

    In this study, the territory become visible with equal characteristics to any organization,

    that with their resources, actors and development of activities, want to become more

    dynamic and attractive across time achieving a better position in the interorganisational

    network.

    All the resources inherent were given to the territories for a special interest to the

    tourism network because a large propension was found in-between the characteristics of

    this industry with the elucidation capabilities of network approach, that superintend the

    study, pretending with the application of this approach to gain concern about the

    dynamic effects of a bidirectional modelation existing between the tourism network and

    the place where it develops. Among the tourism network considered we expose

    specially the wine tourism giving a particular interest to collective action phenomenon

    materialized by the action of a wine route, as well as, to analyse the effects that results

    in the tourism network and through this way the dynamics conferred to territory.

    Synthesis in scientific terms this dissertation suggesting about the mutual territorial and

    tourism dynamics analysed from the network approach perspective encompass a

    innovative thematic providing a contribution for a more accurate knowledge in these

    areas, this is taking in a strong interdisciplinar character, establishing a close link

    between marketing, the territorial administration, the collective action and the tourism

    with relevant understandment at the level of the management of the organizations that

    act as those levels.

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    v

    ndice

    Breve Nota Biogrfica ... i Agradecimentos . ii Resumo ........... iii Abstract ........... iv ndice de Figuras ........... x ndice de Tabelas ... xi Listagem de Siglas . xii Introduo .. 1 Parte I Reviso da Literatura ... 9 Captulo 1 Redes Territoriais .... 10 1.1 - O Territrio como Rede . 11 1.2 - Redes Interorganizacionais 18 1.3 - O Modelo A-R-A . 24

    1.3.1 - Actores .... 251.3.2 - Actividades . 281.3.3 - Recursos .. 291.3.4 - A Network ... 30

    1.3.4.1 - Ligaes entre Actividades 331.3.4.2 - Elos entre Recursos .... 381.3.4.3 - Laos entre Actores ... 471.3.4.4 - Interligao dos Elementos 55

    1.4 - Caractersticas Estruturantes das Redes ...... 58

    1.4.1 - Posio na Rede .. 581.4.2 - Estabilidade, Mudana e Mobilizao 61

    1.5 - Aco Colectiva em Redes .. 69

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    vi

    1.5.1 - A Network Approach e a Aco Colectiva . 691.5.2 - A Aco Colectiva .. 741.5.3 - Os Movimentos de Aco Colectiva e a Terceira Dimenso da Network Approach . 79

    1.6 - Concluso . 82 Captulo 2 Redes Tursticas Vitivincolas 84 2.1 - O Turismo Vitivincola ... 84 2.2 - A Aco Colectiva no Turismo .. 88 2.3 - As Rotas do Vinho ... 94 2.4- Aco Colectiva nas Rotas do Vinho .. 96 2.5 - Impactos das Rotas no Desenvolvimento Territorial ... 100 2.6 - Concluso . 103 Captulo 3 Modelo de Anlise ... 105 3.1 - Perspectivas Tericas .. 105 3.2 - Questes de Investigao 111 3.3 - Modelo de Anlise ... 113

    3.3.1 - A Relao Territrio Rede Turstica ... 1153.3.1.1 - Actores ... 1163.3.1.2 - Recursos . 1173.3.1.3 - Actividades 119

    3.3.2 - A Relao Rede Turstica - Issue-Based Net .. 1203.3.2.1 - Problema Especfico .. 1213.3.2.2 - Complementaridades / Interesses Comuns 1223.3.2.3 - Massa Crtica . 1223.3.2.4 - Translao .. 1233.3.2.5 - O Efeito da Aco Colectiva . 123

    3.3.3 - A Articulao Dinmica do Modelo ... 124 3.4 - Concluso . 124

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    vii

    Parte II Investigao Emprica .............. 126 Captulo 4 Metodologia .. 127 4.1 - Determinantes das Escolhas Metodolgicas . 127

    4.1.1 - Objectivos da Investigao . 1284.1.2 - Contedo e Contexto do Projecto de Investigao . 1294.1.3 - Constrangimentos ... 131

    4.2 - Estratgia de Investigao .. 132 4.3 - Estrutura de Investigao .. 133

    4.3.1 - Unidade de Anlise . 1344.3.2 - Recolha de Informao e Seleco da Amostra .. 134

    4.3.2.1 - Dados Primrios . 1354.3.2.2 - Dados Secundrios . 137

    4.3.3 - Seleco da Amostra ... 138 4.4 - A Anlise dos Dados 140 Captulo 5 O Territrio e o Turismo no Douro ... 141 5.1 - O Territrio do Douro como Patrimnio Mundial da Humanidade .. 141

    5.1.1 - Caracterizao Geral ... 1425.1.2 - Os Elementos Visuais da Paisagem 1475.1.3 - Direito de Propriedade do Territrio .. 1485.1.4 - Caracterizao Scio-Econmica do Territrio .. 1505.1.5 - A Actividade Econmica 1515.1.6 - Vitivinicultura . 1545.1.7 - A Articulao dos Actores Territoriais ... 157

    5.2 - O Turismo no Douro ... 159

    5.2.1 - Caracterizao Geral ... 1605.2.2 - Principais Recursos Tursticos do Territrio .. 1625.2.3 - A Articulao dos Agentes Tursticos no Douro 1675.2.4 - Anlise SWOT do Turismo no Douro . 172

    5.3 - Concluso . 173 Captulo 6 O Caso da Rota do Vinho do Porto 175

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    viii

    6.1 - A Rota do Vinho do Porto .. 175 6.2 - Rota do Vinho do Porto - Associao de Aderentes . 180

    6.2.1 - A Organizao 1836.2.2 - A Distribuio Geogrfica dos Aderentes .. 1846.2.3 - Principais Actividades 1866.2.4 - Rede de Relaes 1926.2.5 - Os Entraves Administrativos e Territoriais Actuao da RVP A.A 196

    6.3 - Concluso . 197 Captulo 7 Anlise do Caso 199 7.1 - Articulao entre a Rede Turstica e a Rede Territorial . 200

    7.1.1 - Actores 2007.1.1.1 - Individuais . 2017.1.1.2 - Institucionais .. 206

    7.1.2 - Recursos .. 2147.1.2.1 - Tangveis 2147.1.2.2 - Intangveis .. 220

    7.1.3 - Actividades . 2267.1.3.1 - Transferncia . 2267.1.3.2 - Transformao ... 229

    7.2 - A Dinmica da Aco Colectiva . 233

    7.2.1 - Problema Especfico ... 2347.2.2 - Complementaridade / Interesses Comuns ... 2377.2.3 - Massa Crtica .. 2427.2.4 - Translao ... 2487.2.5 - Efeito da Aco Colectiva .. 251

    7.3 - Concluso . 259 Captulo 8 Concluso . 261 8.1 - Sntese de Resultados .. 261 8.2 - Principais Contributos 270 8.3 - Limitaes do Estudo .. 272 8.4 - Sugestes para Investigao Futura .. 273

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    ix

    Referncias ... 275 Anexos ............ 290 Anexo 1 - Guio de Entrevista Organizao da Rota do Vinho do Porto -Associao de Aderentes ... 290 Anexo 2 - Guio de Entrevista aos Associados . 293 Anexo 3 - Guio de Entrevista com Peritos do Territrio e do Turismo do Douro . 296

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    x

    ndice de Figuras Figura 1.1 Modelo ARA de rede industrial .. 24

    Figura 1.2 Esquema de anlise dos efeitos de desenvolvimento de relacionamentos

    negociais .......

    31

    Figura 1.3 Elos de recursos na constelao de recursos de uma organizao .. 43

    Figura 1.4 Modelo tridimensional das redes industriais ............... 80

    Figura 1.5 A network approach e o fenmeno da aco colectiva ... 81

    Figura 2.1 A relao dos comuns com o turismo e outras actividades . 93

    Figura 2.2 Rotas vitivincolas: componentes da experincia do turista .... 98

    Figura 2.3 O efeito da criao de uma rota vitivincola ........ 102

    Figura 3.1 Territrio como organizao ... 108

    Figura 3.2 O territrio como sistema articulado de redes . 109

    Figura 3.3 A rede turstica .... 110

    Figura 3.4 O actor colectivo turstico ....... 111

    Figura 3.5 A interaco do territrio com a rede turstica 113

    Figura 3.6 Modelo conceptual de anlise ......... 114

    Figura 3.7 A relao territrio rede turstica ............. 115

    Figura 3.8 A relao rede turstica issue-based net .. 121

    Figura 5.1 O territrio do Douro enquadrado em Portugal ... 142

    Figura 5.2 A Regio Demarcada do Douro inserida no territrio ......... 143

    Figura 5.3 O Alto Douro Vinhateiro inserido na Regio Demarcada do Douro .. 143

    Figura 5.4 Distribuio da populao economicamente activa e empregada do Douro

    em 2001 .

    152

    Figura 5.5 Evoluo do nmero de passageiros dos cruzeiros tursticos, 1994-2004 .. 166

    Figura 5.6 O vinho como elemento despoletador do turismo ... 167

    Figura 6.1 Logtipo da RVP . 178

    Figura 6.2 Os aderentes da RVP.A.A dispersos pelo territrio 185

    Figura 6.3 Rede de relaes da RVP A.A. 193

    Figura 7.1 Modelo conceptual de anlise simplificado 199

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    xi

    ndice de Tabelas Tabela 3.1 Questes de investigao 112

    Tabela 4.1 Entrevistados ... 136

    Tabela 5.1 reas dos concelhos dentro da rea do PIOT-ADV ... 146

    Tabela 5.2 Caracterizao populacional ... 150

    Tabela 5.3 Taxa de analfabetismo 151

    Tabela 5.4 Taxa de actividade .. 152

    Tabela 5.5 Taxa de desemprego .... 153

    Tabela 5.6 Indicadores de estrutura das exploraes das freguesias do ADV, por sub-

    regio e total ..

    154

    Tabela 5.7 Capacidade de alojamento da hotelaria convencional no Douro 160

    Tabela 5.8 Capacidade de alojamento do TER no Douro . 161

    Tabela 5.9 Capacidade de alojamento da hotelaria convencional vs TER no Douro ... 161

    Tabela 5.10 Dormidas em estabelecimentos hoteleiros, segundo o pas de residncia

    habitual, em 2002 ..

    162

    Tabela 5.11 Estadas mdias de ocupao por hospede e tx de ocupao dos

    estabelecimentos hoteleiros ..

    162

    Tabela 5.12 Anlise SWOT do turismo no Douro . 172

    Tabela 6.1 Stakeholders da RVP A.A ... 195

    Tabela 8.1 Esquematizao sinttica dos principais resultados .... 270

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    xii

    Listagem de Siglas IMP Industrial Marketing and Purchasing

    ARA Actores - Recursos - Actividades

    BIA Business Interest Association

    RVP Rota do Vinho do Porto

    RVP A.A Rota do Vinho do Porto - Associao de Aderentes

    RDD Regio Demarcada do Douro

    UTAD Universidade de Trs-os- Montes e Alto Douro

    ADV Alto Douro Vinhateiro

    PIOT Plano Intermunicipal de Ordenamento do Territrio

    IPTM Instituto Porturio e dos Transportes Martimos

    IND Instituto de Navegabilidade do Douro

    CRT Comisso Regional de Turismo

    IVDP Instituto dos Vinhos do Douro e Porto

    BTL Bolsa de Turismo de Lisboa

    FITUR Feira Internacional de Turismo

    TER Turismo no Espao Rural

    FRAH Fundao Rei Afonso Henriques

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    1

    Introduo

    O turismo assume-se como um dos principais sectores da economia mundial sendo

    expectvel que o mercado turstico alcance um total de 1.600 milhes de pessoas em

    2020 o que ser equivalente a 20 % da populao existente nesse perodo (World

    Tourism Organization, 1997). Paralelamente com uma das taxas de crescimento mais

    rpidas de todos os sectores da economia, acontece uma diversificao dos produtos

    tursticos, que tendem a ser orientados para novas ofertas e experincias. Mas apesar

    destas constataes no tem havido consenso na definio da indstria do turismo

    possivelmente porque o seu produto difcil de definir e coordenar atravs de uma

    diversidade de empresas e nveis transversais de oferta (Smith, 1994).

    De facto a definio de um conceito de turismo, no tarefa de todo consensual. Leiper

    (1979) apresenta as vises dominantes entre vrios autores da tomada do turismo como

    indstria, fazendo da surgir problemticas dotadas de grande pertinncia. Assim, Leiper

    (1979) projecta inicialmente uma corrente de autores que no toma o turismo como

    indstria, mas sim enquadrado numa amlgama de indstrias conectadas com o

    propsito de suprirem as necessidades tursticas, suportando-se esta viso em dois

    princpios: o facto de as indstrias do turismo se sobreporem s chamadas indstrias

    regulares e pelo facto de as referidas indstrias no produzirem os mesmos bens, ou

    sequer recorrerem a tecnologias equivalentes. O autor apresenta posteriormente um

    outro grupo terico que de uma forma oposta ao primeiro assiste considerao do

    turismo como indstria, sustentando-se esta posio na grande importncia comercial

    que o turismo assume, defendendo este grupo que um dos principais critrios da

    definio da pertena a esta indstria advir da relao proporcional de negcios

    resultantes do turismo em cada organizao.

    Uma tomada de posio de Leiper contrastante com estes dois agregados a que

    assoma a utilidade da definio da indstria do turismo quando formulada para retratar a

    coordenao de actividades visando o servio dos turistas. Esta posio faz passar o

    critrio de pertena indstria da afinidade de factores produtivos e/ou substituibilidade

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    2

    tecnolgica para a complementaridade e interdependncia entre operadores, que

    partilham a responsabilidade de gerir os fluxos tursticos. Assim o critrio mais

    relevante para a pertena a esta indstria torna-se a participao na coordenao da

    produo turstica (Tremblay, 1998).

    De facto, o turismo tende a desenvolver-se numa rea territorial confinada, onde

    diferentes organizaes tero de coordenar esforos com vista sua potenciao. O

    produto turstico produzido em interaco com os consumidores e estes tm que ser

    deslocados para a arena da produo (o destino turstico) para desfrutarem do seu

    consumo (Grngsj, 2003). Esta indstria frequentemente descrita como englobando

    um grande nmero de pequenas empresas que produzem produtos complementares mas

    que so geralmente independentes no sentido em que no so detidas por um

    conglomerado (Hjalager, 2000).

    O destino turstico assume-se como o elemento preponderante nesta indstria pois

    dele que emanam os atributos geradores de expectativas nos consumidores. O destino

    tomado como uma amlgama de produtos individuais e oportunidades de experincias

    que interligados daro corpo experincia total da rea visitada (Murphy et al, 2000).

    Middleton e Clark (2001) introduziram o termo de produto turstico global podendo este

    ser definido como um pacote de componentes tangveis e intangveis baseados nas

    actividades do destino. Sendo este pacote entendido pelo turista como uma

    experincia disponvel a um determinado preo (Middleton e Clark, 2001, pp.124-125).

    Para estes autores o produto turstico pode ser dividido em dois nveis: o nvel total que

    inclui a totalidade de experincia que o turista enfrenta desde a sua partida at ao

    regresso e o nvel especfico que reporta a uma componente oferecida por uma

    organizao particular.

    Smith (1994) integra no produto turstico cinco elementos: o enquadramento fsico, que

    se refere ao local e s condies envolventes como sejam as infra-estruturas e o clima;

    os servios, que devero existir para permitir usufruir da planta fsica; a hospitalidade

    entendida como um potenciador de realizao de expectativas; a liberdade de escolha,

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    3

    que passa pela existncia de um leque de opes no limitadoras da aco a

    experincias muito confinadas; e o envolvimento que remete para a participao e

    interaco do cliente na elaborao e reafirmao do produto.

    De uma forma mais genrica o produto global que se integra neste destino poder

    assumir dimenses tangveis e intangveis. A tangibilidade englobar as infra-estruturas

    de acesso, equipamentos hoteleiros, diverses existentes, etc, enquanto que a

    intangibilidade maioritariamente proveniente da imagem geral do destino (Palmer e

    Bejou, 1995), da cultura, comportamento e hbitos intrnsecos e ter uma importncia

    extrema para a criao de expectativas. Todos estes recursos so utilizados por um lado

    por vrios turistas, em conjunto com outros turistas e pelos turistas em conjunto com os

    residentes (Briassoulis, 2002).

    De facto e com algumas excepes, os turistas e locais esto repartidos pelo mesmo

    espao, o que acontece mais frequentemente quando os turistas tm de recorrer a

    recursos tangveis, quer de forma planeada quer de forma no planeada como sejam os

    hospitais, bancos, polcia, sendo neste caso o contacto e a interaco com os locais mais

    intensa.

    Os recursos tursticos tomam uma dimenso de bem pblico em que por determinao

    econmica a utilizao do bem por parte de um elemento reduz a sua quantidade

    disponvel para outros, mas contudo difcil excluir algum do seu consumo. Sendo no

    sector turstico estes recursos transversais e utilizados por mltiplos grupos de forma

    interdependente. De facto uma das principais caractersticas destes recursos que a sua

    posse repartida por regimes variados, desde o privado, estatal, associativo, livre, quer

    antes, quer depois do desenvolvimento turstico (Healy, 1994), o que conduz

    existncia de uma multiplicidade de actores que com perspectivas de gesto e actuao

    potencialmente diversas tutelam grande parte dos recursos constituintes do produto

    turstico.

    Sendo a dimenso tangvel facilmente comparvel e monitorizavel, vislumbrando-se

    relativamente lineares as formas contributivas para o seu reforo e sustento a principal

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    4

    necessidade de compreenso da situao e afirmao de um destino orienta para

    problemticas relacionadas com a formao e consolidao da imagem que se constitui

    como principal componente da dimenso intangvel do produto global inserido no

    destino.

    O estudo de Baloglu e McCleary (1999), refere-se s recomendaes de amigos e

    familiares como o mais poderoso instrumento de formao de imagem, sendo que todo

    o ambiente criado pelo destino turstico contribui para a sua imagem. Muita desta

    imagem e ambiente que no consegue ser tangvel, resulta contudo em grande parte da

    tangibilidade associada a um destino, que por sua vez remete maioritariamente para a

    existncia e correcta activao de infra-estruturas, pois um rio, um lago, um castelo,

    para poderem ser alvo de recomendao e construrem uma imagem favorvel devero

    deter infra-estruturas e servios que num primeiro momento facilitem o seu acesso e

    posteriormente potenciem a vivncia de uma experincia nica.

    Esta vantagem provinda das infra-estruturas, assume relevncia tal que vrios autores a

    consideram o elemento central para o desenvolvimento dos destinos e de pequenas

    organizaes tursticas (Goeldner et al, 2000; Lerner e Haber, 2000), porm, e devido

    ao seu carcter de bem pblico muitas destas infra-estruturas no so suficientemente

    fornecidas pelo sector privado, tendo que existir a este nvel uma parceria e colaborao

    estreita com o sector pblico.

    Contudo, esta apenas uma das dependncias tpicas desta indstria, j que o destino

    turstico tomado como produto global, contm diversos tipos de complementaridades,

    mltiplos sectores, mltiplas ligaes pblico privadas, originadoras de uma oferta

    multi-fragmentada (Pavlovich, 2003), que, se disposta a esta condio, sem tentar

    encontrar valores e normas comuns poder no descobrir sustentabilidade, suficiente

    para se afirmar como um destino visvel e desejvel, devendo-se integrar estes

    elementos estruturantes geradores de interdependncias de uma forma harmoniosa e

    compatvel.

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    5

    Tal partilha de valores vital nesta indstria caracterizada pela transferncia por parte

    dos fornecedores, de clientes de organizao para organizao, de forma a

    providenciarem uma experincia turstica coerente e compreensvel (Greffe, 1994), de

    nada contribuindo o servio superior de um actor turstico se os actores que o rodeiam e

    complementam assumem padres com ele divergentes. Assim o turismo proporciona

    experincias, que contem um pacote global de produtos servios e interaces

    (Kandampully, 2000).

    De facto as pequenas organizaes e destinos tursticos, oferecem usualmente mltiplas

    possibilidades para os turistas realizarem uma abundncia de coisas. Contudo, do ponto

    de vista do turista essas actividades constituem unicamente uma experincia parcial que

    contribuir apenas para a formao de uma experincia integrada, de um produto

    turstico global (Lehtolainen, 2003).

    Ser uma dificuldade acrescida para o turista integrar por si s estas experincias sem

    que exista uma coordenao por parte das organizaes ofertantes que potenciem um

    entendimento valorizador e uniforme do destino que as proporciona. Existe

    consequentemente uma relao dialctica porquanto do ponto de vista do turista, o

    destino turstico oferece um produto unificado comparativamente a outros destinos, mas

    dentro desse destino existir uma competio entre os diferentes elementos constituintes

    do produto turstico (Grngsj, 2003).

    De uma forma mais clara o destino caracterizado por um sistema aberto de mltiplos

    interessados interdependentes, onde as aces de um dos interessados tero impactos

    nos restantes actores da comunidade. Adicionalmente nenhuma organizao

    individualmente poder exercer um controlo directo no processo de desenvolvimento do

    destino turstico (Jamal e Getz 1995, p.193). Assim, o sector turstico constitudo por

    uma multiplicidade de pequenas organizaes que isoladamente apenas contribuem para

    um bem global tomando no seu desenvolvimento as caractersticas de um bem pblico e

    social cujos benefcios podero ser partilhados por numerosos actores (Saxena, 2000).

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    6

    O destino turstico insere-se dentro de um territrio que possui recursos, actores e uma

    envolvente especfica ao desenvolvimento de actividades, sendo que em qualquer

    anlise em rede existir uma dimenso evidente muito similar do territrio

    (Hakansson et al, 2003). Apesar disso, o territrio no tem sido alvo de anlise

    enquanto objecto condicionante da actividade das organizaes e moldvel por elas,

    continuando a ser continuamente caracterizado como um elemento estanque e fechado,

    meramente geogrfico que acolhe organizaes.

    Ao invs desta viso, que toma o territrio como um elemento externo, esta dissertao

    perspectivar o territrio como uma realidade interactiva e relacional onde o valor do

    mesmo poder ser tomado como a forma de articulao de recursos nele existentes com

    outros recursos, podendo nesta perspectiva o territrio ser tomado como uma realidade

    anloga a qualquer outra organizao que influencia e influenciada pelas organizaes

    com as quais interage.

    Nesta perspectiva as relaes espaciais no sero limitadas a fronteiras especficas mas

    podem ser desenvolvidas por interaces mantidas distncia entre diferentes reas

    (Sayer, 2000), proporcionando o espao condies ao desenvolvimento de outras

    actividades, condies que sero dinmicas no tempo e que podero assumir uma

    natureza tangvel ou intangvel (Johnston e Arajo, 2002).

    Esta dissertao tem por objectivo compreender as dinmicas relacionais de base

    territorial que condicionam a actuao de actores (individuais e colectivos) e a prpria

    performance da rede turstica; concretamente pretende-se explicar os fundamentos da

    interaco do espao entendido como realidade relacional com a rede turstica nele

    existente e que constitui um recurso particular do territrio, analisando os

    condicionamentos recprocos impostos entre estas realidades. Sendo que se elucidar

    simultaneamente dos efeitos decorrentes de fenmenos de aco colectiva na rede

    turstica com a sua posterior transmisso dinmica para o territrio. De uma outra forma,

    a questo que se pretende investigar consiste num claro exerccio de interactividade

    consubstanciado na percepo da influncia da dinmica territorial sobre a configurao

    turstica e a consequente projeco dos efeitos desta configurao na dinmica territorial.

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    7

    A dissertao encontra-se dividida em duas partes. Na primeira, que consubstancia a

    reviso da literatura, so apresentados os principais fundamentos tericos associados

    tomada do espao como uma rede interorganizacional e apresentao do turismo

    vitivincola sob a perspectiva da network approach propondo-se um modelo conceptual

    de anlise para a investigao a empreender. Na segunda parte, procede-se a uma

    anlise emprica do fenmeno em estudo tutelada pelo modelo anteriormente referido.

    A primeira parte, inclui trs captulos. O primeiro versa sobre a tomada do territrio

    como uma rede interorganizacional apresentando-se uma srie de consideraes

    relativas adequabilidade desta tomada do territrio como rede que se afirma como

    uma viso inovadora e actual, explicitando-se para tal as caractersticas das redes

    interorganizacionais e o modelo estruturante da anlise das mesmas: o modelo actores -

    recursos - actividades. O captulo termina com a abordagem de aco colectiva em redes

    traduzindo nestas os seus efeitos, provindos de estmulos ou interesses colectivos e que

    sero considerados aquando do desenvolvimento do modelo de anlise. No segundo

    captulo, procede-se a uma especificao de redes tursticas vitivincolas comeando-se

    por se expor as caractersticas do turismo vitivincola e a aco colectiva extremamente

    significante levada a cabo na actividade turstica. Dentro do turismo vitivincola,

    destaca-se ainda o papel efectuado pelas rotas do vinho, bem como a aco colectiva

    que potencialmente elas comportam; referindo-se no final do captulo o impacto e

    interaco das rotas do vinho com o desenvolvimento territorial. Por fim, no terceiro

    captulo, apresenta-se o modelo conceptual que servir de base anlise de um caso no

    qual um territrio interage de forma especfica com uma rede turstica vitivincola.

    A segunda parte da dissertao comea por expor a metodologia de investigao que vai

    ser utilizada no estudo emprico indicando-se neste captulo as determinantes das

    escolhas metodolgicas, a estratgia e o design de investigao. No quinto captulo

    apresenta-se o territrio e o turismo no Douro como o espao onde se ir desenrolar o

    caso da Rota do Vinho do Porto que ser desenvolvido no captulo seguinte

    apresentando-se aqui as caractersticas estruturantes desta organizao para que

    posteriormente no stimo captulo se proceda aplicao do modelo de anlise

    desenvolvido no Captulo 3. Com esta aplicao, pretende-se determinar a interaco

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    8

    entre o territrio e a sua rede turstica, no que diz respeito a cada uma das variveis

    consideradas no modelo. No oitavo captulo faz-se uma sntese dos resultados do

    respectivo estudo emprico ao qual se aplicou o modelo conceptual de anlise, expondo

    as contribuies do estudo para a investigao cientfica e as consequentes implicaes

    prticas. So ainda referenciadas algumas das limitaes inerentes ao estudo,

    concluindo-se com um conjunto de propostas para investigaes futuras.

    Esquematicamente expe-se, de forma resumida, a estrutura da dissertao apresentada:

    Parte IReviso da Literatura

    Parte IIInvestigao Emprica

    Captulo 6O Caso da Rota do

    Vinho do Porto

    Captulo 1Redes Territoriais

    Captulo 3Modelo de Anlise

    Captulo 2Redes Tursticas

    Vitivincolas

    Captulo 5O Territrio e o

    Turismo no Douro

    Captulo 4Metodologia

    Captulo 8Concluso

    Captulo 7Anlise do Caso

    Parte IReviso da Literatura

    Parte IIInvestigao Emprica

    Captulo 6O Caso da Rota do

    Vinho do Porto

    Captulo 1Redes Territoriais

    Captulo 3Modelo de Anlise

    Captulo 2Redes Tursticas

    Vitivincolas

    Captulo 5O Territrio e o

    Turismo no Douro

    Captulo 4Metodologia

    Captulo 8Concluso

    Captulo 7Anlise do Caso

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    9

    Parte I

    Reviso da Literatura

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    10

    Captulo 1

    Redes Territoriais Uma vez que o trabalho de investigao se centra no domnio da interaco estabelecida

    entre o territrio e a sua rede turstica, torna-se imperioso esclarecer

    fundamentadamente a tomada do territrio como elemento de anlise relacional, atravs

    da explicitao e anlise da publicao cientfica existente que suporta estas

    consideraes afirmando-se consequentemente este como o principal objectivo deste

    captulo.

    O captulo divide-se em seis seces. Na primeira, expe-se o quadro terico que

    suporta a viso relacional do territrio que presidir posterior anlise de um caso

    particular. Na segunda seco, so apresentadas as consideraes tericas das redes

    interorganizacionais luz do modelo conceptual de anlise desenvolvido pelo Industrial

    Marketing and Purchasing (IMP) Group e que se afirmam como o grande corpo terico

    de sustentao deste trabalho de investigao. Na terceira seco, surge o modelo

    preferencial de anlise, a que fazem referncia a generalidade dos estudos no mbito das

    redes interorganizacionais o modelo Actores - Recursos - Actividades (ARA)

    explanando-se a as caractersticas e conhecimentos essenciais dele advindos que sero

    extremamente profcuos no desenvolvimento do modelo de anlise. A seco seguinte,

    elucida as caractersticas essenciais das redes ou networks que se afirmam

    verdadeiramente indispensveis na compreenso das dinmicas associadas ao modelo.

    O quinto captulo destina-se a apresentar a aco colectiva em redes surgindo como um

    necessrio complemento abordagem do IMP, que embora seja concordante e comporte

    fenmenos desta natureza apresenta-se relativamente limitada quanto sua explicitao.

    O captulo termina com uma breve concluso relativa aos seus objectivos e uma

    explicao da necessidade do segundo captulo, relativo s redes tursticas vitivincolas.

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    11

    1.1 - O Territrio como Rede

    As teorias tradicionais de marketing tm um valor limitado para uma maioria das

    organizaes tursticas, pois aquelas, de uma forma geral, tomam como adquirido que

    uma organizao detenha controlo total sobre o marketing e a criao da imagem do seu

    produto (Grngsj, 1998), o que, como se depreende da exposio das caractersticas do

    produto turstico, assume apenas uma escassa plausibilidade de adequao a elas, pois o

    produto turstico confinado a um territrio envolve a posse por vrios actores de

    factores ou recursos que s combinados e conjugados na sua totalidade, fornecero a

    imagem definitiva e completa desse produto. Subjacente a esta posse repartida e

    multivariada de recursos, estaro os valores e perspectivas associadas pelas

    organizaes que os controlam e activam, que quando divergentes podero emanar num

    produto confuso e pouco coerente que gere uma m imagem no consumidor de tal

    destino.

    De facto, cada operador poder influenciar e satisfazer o consumidor, apenas no que diz

    respeito ao seu produto, que contudo e por maior que esta organizao possa ser, nunca

    ser igual experincia total que o consumidor observou no destino.

    Tinsley e Lynch (2001) reconhecem o mrito da abordagem em rede, para a

    compreenso das organizaes, sendo que aferem contudo que a investigao dentro das

    pequenas organizaes tursticas est pouco desenvolvida. A abordagem em rede,

    ajusta-se particularmente bem ao estudo deste sector repleto de interligaes entre

    actores que simultaneamente cooperam e competem, que se influenciam, tentando dessa

    forma assumir uma posio privilegiada conferidora de maior poder, mas sem nunca

    deterem por completo o controlo da rede interorganizacional e elaborao do produto

    turstico.

    Um destino turstico, tem inerente um territrio, um espao, uma localizao, dentro do

    qual esto localizados os recursos que proporcionaro as experincias que procuram os

    turistas e que os motivam a deslocar-se a esse espao. Nessa rea geogrfica limitada,

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    12

    existem mltiplas empresas tursticas impelidas a colaborar de forma mais ou menos

    explcita com outras organizaes para formarem experincias valorizadas e

    potenciadoras da imagem do espao ou destino turstico.

    A rede de relaes existente numa regio ou destino turstico particular, ter tambm

    uma importncia decisiva na percepo e no prprio condicionamento dos actores que

    se movimentam e actuam neste territrio, tornando-se essa rede um prprio recurso

    inerente regio onde se localiza. De facto e de acordo com Hakansson et al (2003), o

    valor de um territrio depende da forma como um conjunto de recursos nele

    combinado e utilizado conjuntamente com outros. Neste caso, um territrio ou destino

    turstico, poder ser visto como uma organizao comparvel a uma qualquer empresa,

    sendo que o valor dessa organizao depender de como o conjunto de recursos que

    contm combinado e utilizado no seu interior.

    Na perspectiva dos autores, tomando o territrio e o destino turstico como uma

    organizao, cada empresa ser considerada como uma combinao particular de

    recursos, que pode ser tomada como uma entidade significativa em relao a outros

    destinos, tornando-se num recurso com valor, que pode ser visto como parte de uma

    vasta constelao de recursos que em si se manifestam. Assim, o carcter das relaes

    sociais e institucionais, que se desenvolvem e tm origem num contexto territorial em

    que se enquadra o destino turstico algo de nico, inimitvel e que afecta o potencial e

    atractividade da regio em que se desenvolvem.

    O espao poder ser segundo os mesmos autores como um fenmeno heterogneo,

    como algo simultaneamente criado e utilizado diferentemente pelas organizaes tendo

    uma ampla componente dinmica cambiante no tempo. O espao ter pois de ser

    considerado como algo que afecta no s a organizao individual mas a forma de

    como a organizao interage com outras organizaes considerando-se tambm que a

    interaco entre as organizaes cria o espao (Hakasson et al, 2003, pp.8-9).

    Indo ao encontro desta ideia de que o territrio influencia e influenciado Hess (2004,

    p.177), afirma que certos actores econmicos podem ficar embebidos no sentido em

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    13

    que podem absorver e em alguns casos tornarem-se constrangidos pelas actividades

    econmicas e dinmicas sociais que j existam nesses territrios.

    Assim, um destino turstico com o respectivo produto, poder ser caracterizado pela

    forma de como as organizaes que albergam, interagem no seu interior e o fazem

    afirmar com um destino atractivo para os seus potenciais consumidores: os turistas.

    Sendo estas organizaes que no limite tero capacidade para criar ou conferir valor ao

    destino; valor que contudo estar dependente da forma de articulao e configurao do

    territrio tomado como organizao.

    Os autores (Hakasson et al, 2003) recorrem ao conceito de posio na rede1 para

    considerarem a localizao como uma combinao de recursos; servindo-nos de tal

    viso e aplicando-a analogamente ao destino turstico, poderemos observar a posio de

    um destino turstico concomitantemente como um conjunto de recursos, dependendo a

    posio desse destino relativamente a outros da activao interna de recursos e das

    relaes que entre eles so mantidos, sendo que os recursos podem ser interligados entre

    destinos compatveis criando desta forma um destino mais amplo e poderoso.

    Esta viso do territrio tambm considerada no estudo de Johnston e Arajo (2002)

    em que os autores concebem o espao como um ambiente no qual as organizaes so

    elementos activos e que ser configurado atravs dos relacionamentos formados na base

    das actividades e recursos localizados nesse ambiente especfico. De facto no estudo de

    Johnston e Arajo (2002), o espao visto como originador de consequncias nas

    relaes interorganizacionais, a viso do territrio como um simples receptculo de

    actividades econmicas banida; e este, tomado antes, como uma estrutura de

    relaes que so dependentes de recursos especficos.

    Assim, os territrios podem conter uma variedade de organizaes, sistemas industriais,

    redes e formas de administrao, anlises estritamente espaciais, apenas podem fazer

    1 O conceito de posio na rede, completamente exaurido na quarta seco deste captulo, sendo referente percepo que outras organizaes tm em relao organizao em causa dependendo esta percepo entre outros factores da mobilizao de recursos que essa organizao consegue gerar e da importncia que assume para a rede interorganizacional que com ela estabelece relaes.

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    14

    uma anlise superficial das relaes interorganizacionais. O termo genrico territrio

    vago nas relaes que constituem esse territrio, assim como nas dinmicas e conexes

    dessas relaes (Johnston e Arajo, 2002, p.9).

    Os autores sugerem que os territrios so envolventes nas quais as organizaes so

    directamente activas e tm uma presena num ponto do tempo, sendo configurados

    atravs de relaes formadas na base de actividades e recursos encontrados nessa

    envolvente especfica (Johnston e Arajo, 2002 p.10). Segundo os mesmos autores: o

    espao inseparvel dos indivduos, instituies e organizaes. () As localizaes

    espaciais, tomadas enquanto conceptualizaes abstractas sejam elas denominadas

    cidades, aglomerados ou regies no assumem demasiada valia. A relevncia de uma

    perspectiva espacial reside nas associaes e funes de factores que interagem dentro e

    atravs de um dado espao, (Johnston e Arajo, 2002, p.5). Podemos desta afirmao

    inferir que um destino turstico dever antes ser caracterizado pela sua mobilizao de

    relacionamentos, pelo dinamismo interno, pela interactividade associada, podendo-se

    verificar o caso de que um destino turstico possua recursos em grande nmero, mas que

    devido falta de interaco e coordenao, no serem potenciadores suficientes de valor.

    Johnston e Arajo (2002) expem que os territrios podem conter a um nvel genrico

    recurso tangveis e intangveis, sendo que os tangveis assumem usualmente a dimenso

    de bens pblicos. Assim, um territrio ou um destino turstico em concreto, pode conter

    vrios tipos de envolventes e recursos condicionantes da actividade empresarial,

    revestindo muitos desses recursos uma natureza tangvel, mas que tambm assumem em

    grande nmero qualidades claramente intangveis como sejam as relaes e actividades

    institucionais onde se inclui a interaco entres actores e que so designados pelos

    autores de territorial operating environments (Johnston e Arajo, 2002).

    Nesta perspectiva dinmica o territrio deixa de ser considerado como uma mera

    localizao de factores e tomado mais como um grupo de agentes territoriais e

    elementos econmicos, scio-culturais, polticos e institucionais que tem organizaes e

    padres reguladores especficos e que compartilham regras e normas. (Cova et al, 1996,

    p.654). De facto e adoptando a viso atinente aos territrios seguida pelos autores,

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    15

    poderemos falar dos destinos tursticos como espaos nos quais se desenvolvem um

    conjunto de relaes funcionais, cuja natureza reflecte recursos, tecnologias e processos

    organizacionais. Dentro desse destino devero existir estruturas e mecanismos como

    sejam actores institucionais que possam auxiliar as organizaes a desenvolver

    relacionamentos com outras organizaes (Johnston e Arajo 2002, p.14).

    Na linha desta viso relacional do territrio Murdoch (2000, p.358), afirma que a

    distncia, assim como o espao, torna-se plstica, j que est continuamente a alterar a

    sua forma dentro de conjuntos discrepantes de relaes. Segundo o mesmo autor, o

    espao embora parcialmente fsico completamente relacional, o que abre por completo

    a possibilidade de estar continuamente associado a movimentos dinmicos, que

    impelem sua mudana. O estudo de Murdoch (2000) tambm um exemplo de

    aplicao do modelo ARA2 ao estudo de territrios, tendo com isso o grande mrito de

    aproximar o pensamento geogrfico s redes de relaes entre actores. Esta viso

    relacional e em rede torna-se absolutamente compatvel com os destinos tursticos,

    sendo estes espaos confinados dentro dos quais emergem organizaes com normas e

    valores associados que pela sua forma de actuao e desenvolvimento de actividades

    moldaro esse destino.

    Nesta percepo, as fronteiras do destino turstico, no devero ser traadas por factores

    de ordem administrativa mas antes por uma compartilha de normas comuns de

    entendimento complementar. De facto, um destino turstico tece relaes intra e inter

    organizacionais que criam conexes e que ligam territrios dispersos, existindo

    possveis destinos tursticos que s ganharo atractividade atravs da eliminao de

    vrias barreiras administrativas pela fora de relacionamentos conjuntos. De uma

    maneira mais simples e adaptando as palavras de Grngsj as fronteiras dentro do

    destino tm que ser flexveis e as questes de mtuo interesse podem constituir as

    melhores fronteiras para um destino turstico (Grngsj, 2003, p.443, itlico original).

    2 O modelo ARA assume uma relevncia excepcional nesta dissertao sendo desenvolvido na terceira seco deste captulo, consistindo na articulao das organizaes em torno de actores, recursos e actividades que interligadas entre si daro origem a uma consequente rede de actores, rede de recursos e rede de actividades que exigir por parte das organizaes uma gesto consciente das relaes existentes entre estas redes.

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    16

    Esta tomada do espao ou do destino turstico permite uma anlise do mesmo como um

    fenmeno multidimensional extremamente interligado com outras variveis que

    podero ser decisivas na compreenso da dinmica das organizaes e da actividade

    turstica que nele se desenvolve.

    A abordagem em rede, servir a anlise do destino sob a forma de produto turstico

    porquanto consegue ultrapassar fronteiras polticas, e reunir interesses pessoais e

    profissionais dos habitantes que vivem e trabalham na regio (Buhalis, 2000), servindo

    para analisar convenientemente o jogo de interaces no que diz respeito a posies

    com a respectiva indexao ao controlo advindo das ligaes entre recursos e

    actividades e posio perante a mudana.

    As redes tursticas, podero ter simultaneamente como fonte de origem e forte

    motivao, moldar a mudana ocorrida no destino. De facto os rpidos e volteis

    padres de consumo do produto turstico, a emergncia de novos mercados tornam

    qualquer organizao inapta por si s a controlar os mecanismos e a complexidade

    externa de activos sociais e culturais que numa primeira instncia conduzem o turismo.

    Tambm, e devido s caractersticas de bem pblico da maioria dos produtos tursticos

    os actores que dependam no desenvolvimento da sua actividade turstica de alguns

    factores externos, podero devido existncia de efeitos de boleia, ter poucos

    incentivos ao investimento a nveis ptimos em recursos contributivos para a elaborao

    do produto turstico o que usualmente favorece a participao governamental.

    Atravs da percepo de interesses comuns e de actividades complementares

    potenciadoras de recursos dos agentes e do destino turstico tomado como organizao,

    a actuao em rede levar a uma diminuio da dependncia face importncia da

    participao pblica, na medida em que permitir mediar uma relao simultnea de

    cooperao e competio que aliada ao comprometimento e confiana entretanto gerada

    se consubstanciar na diminuio dos riscos de novos investimentos, (Tremblay, 1993,

    Tremblay, 1998) podendo, atravs de fluxos informacionais, interaces contnuas e

    teorias partilhadas promover um ambiente de inovao e valorizao no seio do destino.

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    17

    De facto a gesto do turismo depende de forma crucial da capacidade de aprendizagem

    de grupos de organizaes, atravs da interaco entre eles e entre os seus clientes.

    Muito desse processo de aprendizagem desenrola-se atravs da rede de canais de

    comunicao flexveis e prximos queles que surgem nas redes industriais (Tremblay,

    1998, p.851). Este autor apresenta 3 tipos de rede possveis de surgirem no mercado

    turstico. A primeira dessas configuraes, ocorre horizontalmente entre organizaes

    que possuem o mesmo tipo de capacidades tecnolgicas mas que esto localizadas em

    diferentes destinos servindo portanto mercados distintos (exemplo redes ou associaes

    de hotis). O segundo tipo de rede turstica identificada pelo autor, remete para um

    contguo de organizaes que tem como alvo clientes de um mesmo grupo especfico e

    que por isso mantm relaes por forma a conectar recursos heterogneos mas

    complementares em torno de um produto consistente; estas ligaes podero ocorrer

    vertical, lateral ou diagonalmente, formando uma quasi-organizao (grupos que podem

    conectar actividades complementares como aviao, agncias de viagens, hotis).

    O ltimo tipo de redes merecer especial importncia por se aplicar coordenao de

    recursos na ltima parte do servio turstico que se desenrola num destino especfico.

    Neste caso, e num destino especfico, as organizaes partilham infra-estruturas,

    atraces, cenrios naturais pblicos, bem como atitudes sociais perante o turismo. E

    necessitam de atravs de relaes e interaces mltiplas coordenar os recursos pblicos

    existentes e minimizar as suas externalidades negativas. Ou seja, as organizaes que

    tentaro atravs de movimentos coordenados determinar e apurar o bolo turstico

    local e atravs de interaces influenciadoras reforar a sua posio para desse modo

    aumentar se possvel a sua fatia.

    De alguma forma Komppula (2000), estuda o ltimo tipo de redes tursticas sugeridas

    por Tremblay ao aproveitar o conceito de issue-based net3 introduzido por Brito (1996),

    definindo Komppula uma rede turstica regional como uma issue-based net

    fundamentada numa administrao regional ou na diviso de regies marketing, cujo

    objectivo comum ser tornar a regio em questo melhor conhecida como destino

    turstico assim como aumentar as receitas provindas do turismo (Komppula, 2000, p.3). 3 O conceito de issue-based net ser explanado na seco quinta deste captulo, consistindo na mobilizao de um conjunto de actores em torno de um problema especfico com vista sua resoluo.

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    18

    Com estes estudos, podemos reconhecer que a temtica territorial, comea a ganhar

    algum espao dentro da abordagem conceptual das redes, seguidas por autores com

    afinidades perante o marketing industrial. De facto, uma apreenso relacional e

    sistmica do destino turstico considerado como empresa, aproxima este tema de

    interesse aos objectivos e mais valias na anlise das investigaes dentro das redes

    industriais.

    1.2 - Redes Interorganizacionais

    O objectivo desta seco ser apresentar e explorar as caractersticas dos mercados

    enquanto redes, de forma a ser possvel ganhar entendimento do corpo conceptual que

    ir servir de elemento estrutural anlise. Sabendo-se que a realidade proposta como

    alvo do estudo dotada de caractersticas multidisciplinares, no constituiu de forma

    alguma surpresa, a grande adequabilidade e ajustamento encontrado dentro deste corpo

    conceptual, com os propsitos da investigao a empreender. De facto nestas

    concepes o mercado considerado uma rede multidimensional de relaes dinmicas

    entre actores que controlam recursos e desenvolvem actividades (Mattsson, 2003). A

    interligao e interdependncia entre as actividades desenvolvidas pelos actores que se

    movimentam na rede interorganizacional um trao comum entre todas estas

    concepes (Easton e Hakansson, 1996).

    Por outro lado, foi possvel encontrar nestas concepes, uma clara ruptura com as

    abordagens que definiam a existncia de fronteiras entre as organizaes e o seu meio

    envolvente; de facto, nestas abordagens as organizaes no tomam o meio envolvente

    de uma maneira dada e inaltervel mas interagem com ele de forma particular

    (Hakansson e Snehota, 1989). Tambm a existncia de um persistir de relacionamentos

    atribui visibilidade e cria configuraes prprias e distintivas dentro do ambiente da

    organizao (Anderson et al, 1994).

    A assumpo desta ruptura, vir-se- a afirmar tambm como um dos princpios

    estruturantes do nosso estudo, pois no mesmo, tentar-se- apurar da influncia e

    condicionamento que a configurao e caractersticas do meio envolvente exercem na

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    19

    actuao dos actores que nele desenvolvem actividades. A metfora da tomada de

    mercados como networks est enraizada no estudo das organizaes. Nohria e Eccles

    (1992), reconhecem que alguns dos elementos crticos das organizaes passaro por

    redes sociais e consequentemente o nosso entendimento sobre elas poder ser reforado

    se as tomarmos como parte integrantes da realidade; da mesma forma Miles e Snow

    (1986 e 1992), consideram as relaes das organizaes componentes vitais do seu

    correcto funcionamento. Contudo, um dos primeiros obstculos utilizao desta

    metfora reside nos mltiplos significados a ela atribudos, pois muito embora nas

    abordagens utilizadas no marketing o seu entendimento seja unnime, ela transversal a

    outros domnios com outro tipo de entendimento (McLoughlin e Horan, 2002; Nohria e

    Eccles, 1992; Arajo e Easton, 1996).

    Powell e Smith-Doerr (1994), agregam os mltiplos entendimentos frequentemente

    atribudos a esta metfora em dois grupos com um diferente nvel de diversidade. Assim

    num primeiro grupo identificariam-se os estudos que procuram utilizar a perspectiva de

    rede como uma ferramenta analtica mais ou menos rgida e de modelao de

    comportamento (Wellman, 1988; Cook, 1977; Granovetter, 1985) e num segundo grupo

    de estudos, este mais disperso, como um modelo de gesto organizacional de base

    estruturao de relacionamentos, sendo que neste grupo que os mercados tomados

    como redes so classificados pelos autores. A abordagem dos mercados como redes

    alicerada em teorias organizacionais como sejam os estudos empreendidos por Cyert e

    March (1963) que tomam as organizaes como alianas, Katz e Kahn (1966) que

    contribuem para este entendimento ao enfocarem o carcter eminentemente aberto para

    com o exterior das organizaes e de Pfeffer e Salancik (1978) que decalcam o

    ambiente socialmente elaborado onde as organizaes operam. Contudo, o

    desenvolvimento desta abordagem, se bem que extremamente alicerada pelos estudos

    referenciados anteriormente, de forma directa resultante dos esforos de investigao

    de autores pertencentes ao IMP Group, formado em 1976 e que inicialmente teve o seu

    grande impulso na Universidade sueca de Uppsala, generalizando-se as linhas

    orientadoras a outros pases europeus (Ford, et al, 1986; Easton e Arajo, 1989) e

    posteriormente Amrica do Norte (Achrol, 1991; Nohria e Eccles, 1992).

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    20

    Esta linha orientadora faz da interaco e da interligao de relacionamentos entre as

    organizaes a sua maior riqueza conceptual possibilitando este enfoque que as

    organizaes no sejam entendidas por operarem em completo isolamento com o meio

    envolvente (Hakansson e Snehota, 1989; Thorelli, 1986; Astley, 1984), mas pelo

    contrrio por influenciarem e serem influenciadas por esse meio, contribuindo para o

    seu contexto sem no entanto, e no obstante a sua maior ou menor influncia, se

    poderem considerar soberanas dele. Contudo, a viso do mercado como rede elimina

    tambm uma tomada atomstica onde as conexes entre actores operantes surjam

    instantnea e anonimamente sem barreiras que obstaculizem a interligao de actores

    (Hakansson e Snehota, 1995). Os actores, longe de actuarem de forma atomstica tm

    uma identidade (Huemer et al, 2004) e esto inseridos num ambiente social e

    econmico particular e especfico, fazendo com que a emerso das conexes exija um

    investimento relacional dinmico cuja rentabilidade resultar da tomada de partido das

    relaes da advindas, de tal forma que a capacidade de uma empresa desenvolver e

    gerir os seus relacionamentos com outras entidades, assuma uma importncia extrema

    devendo ser tomada como uma vantagem competitiva (Lwendahl e Revang, 1998;

    Ritter et al, 2004).

    Na sua forma mais abstracta, uma rede poder ser tomada como uma estrutura, onde um

    nmero de ndulos est relacionado atravs de linhas especficas, sendo que numa rede

    empresarial, os ns seriam as unidades empresariais e os relacionamentos entre eles

    existentes tomados como as linhas (Hakansson e Ford, 2002). Esta concepo, atravs

    da sua simplicidade elaborada, consegue pr em relevo, a caracterstica essencial e

    identificadora da tomada dos mercados como rede de relaes: a interdependncia entre

    as entidades em estudo (Easton e Hakansson, 1996). Esta caracterstica de tal forma

    proeminente dentro da concepo dos mercados como redes que a tentativa de ganhar

    entendimento acerca dos meios de gerir os relacionamentos que conectam os ns e que

    inexoravelmente geram interdependncias, comanda grande parte dos estudos

    empreendidos nesta rea.

    Os relacionamentos empresariais so definidos por Anderson e Narus (1991, p.96)

    como uma estrutura forte e extensiva de vnculos sociais, econmicos, servios e

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    21

    tcnicos prolongados no tempo, com o propsito de diminuio dos custos totais ou/e

    aumento de valor e com isso poder ser alcanado um benefcio mtuo. Enquanto que

    para Turnbull et al (1996, p.45) os relacionamentos fornecem o ambiente dentro dos

    quais os episdios individuais4 tm lugar. Sendo que cada episdio afectado e afecta

    a relao como um todo. Desta forma torna-se primrio apontar as caractersticas que

    comportem de uma forma suma os relacionamentos em causa.

    Hakansson e Snehota (1995) atribuem quatro caractersticas estruturais aos

    relacionamentos existentes em redes empresariais: Continuidade - remete para o

    carcter geralmente prolongado no tempo dos relacionamentos; Complexidade -

    relaciona-se com o nmero geralmente vasto de agentes envolvidos nos

    relacionamentos o que empresta um cariz de complexidade aos mesmos; Simetria - diz

    respeito posio diferenciada entre compradores (que os autores consideram

    tipicamente como mais propensos a disporem de maior poder) e vendedores e

    Informalidade - que caracteriza o envolvente global onde os relacionamentos se

    estruturam.

    A dualidade de efeitos (potenciador, limitador) apontada para os relacionamentos

    ampliada por Snehota (2003), ao nvel de mercados, considerando o autor que a

    perspectiva de anlise dos mercados em rede os permite tomar como uma instituio na

    medida em que estes consistiriam num conjunto de actores conectados por relaes de

    troca a uma rede tomada como padro de comportamentos. A alegao do mercado

    como instituio levaria a destacar que a sua forma sempre especfica resultando da

    interaco dos seus elementos - os actores individuais e como instituio que , ser

    constituda por processos evolucionrios. Sendo que as instituies so a estrutura do

    contexto de aco impondo limites mas tambm facilitando a aco. (Snehota, 2003,

    p.7).

    De facto uma outra caracterstica da interligao de relacionamentos de uma estrutura

    em network reside nas paradoxais consequncias dos relacionamentos em rede. Os

    estudos de Hakansson e Ford (2002) e Ford et al (2002) evidenciam trs desses 4 Os autores apresentam como exemplos de episdios: negociaes, pagamentos, entregas, contactos sociais, etc.

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    22

    paradoxos que pelos seus importantes efeitos no desenvolvimento da rede iremos de

    seguida expor.

    Primeiro paradoxo: as empresas inseridas na rede no so livres para actuar de acordo

    com os seus objectivos, os relacionamentos permitem o desenvolvimento futuro da

    empresa mas tambm condicionam esse desenvolvimento (Hakansson e Ford 2002;

    Ford et al, 2002). Deste modo poderemos tomar os relacionamentos mantidos entre os

    actores envolvidos em rede simultaneamente como potenciadores e limitadores da aco

    dos mesmos. Potenciadores na medida em que as possibilidades de actuao dos actores

    no mercado passaro pelos recursos de que dispem, os quais dependem em parte dos

    relacionamentos mantidos. Limitadores, pois a configurao de regras que modelam a

    actuao, poder colocar limites a formas de relacionamento que escapem aos modelos

    de comportamento aquiescido e, por esse motivo, limitar o desenvolvimento de novas

    relaes.

    O segundo paradoxo prende-se com o facto de que numa estrutura em rede as empresas

    simultaneamente influenciam e so influenciadas (Hakansson e Ford, 2002). Numa

    estrutura em rede, a opo dual pelo desenvolvimento de relacionamentos, passar pela

    ponderao dos actores econmicos envolvidos, da atractividade quanto ao controlo

    sobre recursos que tais relacionamentos lhe permitiro exercer, pois em sentido estrito e

    de acordo com a teoria da dependncia de recursos (Aldrich, 1976; Aldrich, 1979)

    nenhum actor auto-suficiente, o que justifica o despontar de redes.

    Qualquer relao ter como estmulo superior, o controlo de forma directa ou indirecta

    de recursos e como aco moderadora de actuao, os custos empregues ao servio

    dessa causa. Parte desses custos podero passar pelo ajuste que necessrio fazer para

    manter os laos que conectam a empresa com outras entidades e a interdependncia que

    esses laos originaro na configurao futura da empresa. O desenvolvimento de um

    n envolve o desenvolvimento de laos e um lao no pode ser desenvolvido sem

    afectar os ns com os quais est interligado (Hakansson e Ford, 2002, p.136). O

    investimento em relaes tem um efeito simultneo de auto aperfeioamento e de

    dependncia. De auto aperfeioamento pois os actores aprendem a relacionar-se entre

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    23

    si e aprendem com as relaes (Hakansson et al, 1999) e de dependncia pois em

    alguma medida os relacionamentos futuros dependero dos relacionamentos actuais,

    que por sua vez j dependeram de relacionamentos passados ou de outra forma o

    passado projectado no futuro (Snehota, 2003, p.11). Tal configurao de evoluo de

    dependncia nas relaes poder mesmo constituir um obstculo poderoso aquando da

    ingerncia de um novo actor numa rede (Johansson e Elg, 2002). De forma sumria

    cada empresa toma benefcios e incorre em custos provindos da rede na qual est

    inserida e dos investimentos e aces de todas as empresas envolvidas (Hakanson e

    Ford, 2002, p.134).

    O terceiro paradoxo prende-se com o facto de quanto mais uma empresa desejar o

    controlo da rede, menos inovativa e dinmica ir ser essa rede (Hakanson e Ford, 2002).

    A tentativa de influncia entre actores na rede poder ser tomada proporcionalmente ao

    potencial de desenvolvimento desta, sendo desta forma a ambio de influncia um

    gerador de dinamismo na rede (Gadde et al, 2003). Contudo quando a influncia emana

    apenas de um actor sobre todos os demais, o dinamismo esmorece e a hierarquia com a

    inrcia a ela associada surge.

    O controlo de uma rede poder consequentemente ser tomado como um limite a

    relacionamentos dinmicos, e de interaco bidireccional, na medida em que um tal

    controlo propiciar um despontar de uma hierarquia que, actuando em consonncia com

    o seu poder, embargaria o dinamismo e a aco concertada resultantes de interaces e

    ajustamentos mltiplos por orientaes de comando pr-definidas irremediavelmente

    limitadas no respeitante compreenso da articulao total da rede, anuladoras de

    dinmicas e instigadoras da atribuio de um domnio a uma rede que em virtude da

    existncia daquele deixaria de o ser.

    Vimos at agora em que consistia uma estrutura organizada em rede, evidenciamos a

    sua principal caracterstica, apresentamos algumas caractersticas destes

    relacionamentos e detectamos alguns dos paradoxos a elas inerentes. De seguida, com o

    apoio do modelo Actores - Recursos - Actividades, procuraremos conseguir adicionar

    entendimento que permita a posterior operacionalizao por forma a que a abordagem

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    24

    em rede ganhe robustez suficiente de modo a possibilitar a sistematizao e

    enquadramento da realidade em estudo.

    1.3 - O Modelo A-R-A

    As redes so estruturas vivas relacionando continuamente uns aos outros actores,...,

    actividades e recursos (Hakansson, 1992, p.135).

    Iremos apresentar o modelo ARA (representado na Figura 1.1) que sustenta grande

    parte da operacionalizao da abordagem dos mercados em rede. Tendo as suas origens

    em campos sociolgicos (Callon e Law, 1989; Callon ,1986a; Latour, 1987), revela-se

    especialmente adequado para retratar as relaes e efeitos da advindos decorrentes de

    uma abordagem em rede do mercado que reparte a complexidade de actuao em trs

    variveis fundamentais: actores, actividades e recursos (Hakansson e Johanson, 1992).

    Actores

    Actividades Recursos

    Actores

    Actividades Recursos

    Rede de Actividades

    Rede de Actores

    Rede de Recursos

    Actores

    Actividades Recursos

    Actores

    Actividades Recursos

    Rede de Actividades

    Rede de Actores

    Rede de Recursos Figura 1.1 Modelo ARA de rede industrial Fonte: Hakansson e Johanson (1992, p.29)

    O modelo ARA, sem atribuir aos actores no mercado qualquer especificao

    predeterminada (Mattsson, 2003) fornece no entanto um quadro conceptual que facilita

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    25

    a operacionalizao e o entendimento da dinmica inerente perspectiva de anlise em

    rede numa ptica tripartida no atinente s variveis basilares.

    Para um melhor entendimento deste modelo, julgou-se conveniente apresentar em

    avano uma caracterizao isolada de cada um dos trs elementos para que

    subsequentemente e j com um maior conhecimento das suas caractersticas se possa

    compreender de uma forma mais conseguida a amplitude de inter conexes e efeitos da

    decorrentes entre as trs variveis consideradas. Num momento posterior esta

    compreenso ser fundamental para o entendimento das caractersticas fundamentais

    (para alm da interligao de relacionamentos desenvolvida anteriormente).

    1.3.1 - Actores

    Os actores individualmente considerados constituem a mais pequena unidade de anlise

    de uma rede interorganizacional (Easton e Hakansson, 1996), contudo o esprito da

    abordagem dos mercados em rede, conduz por si prprio reduo das tomadas de

    consideraes acerca da actuao isolada de actores; isto, porque os actores em rede no

    actuam em isolamento mas estaro sempre vinculados a terceiros e como tal o estudo de

    um actor isoladamente no dever exarar entendimento relevante porquanto remete a

    anlise para algo de artificial. Assim, os actores quando actuantes em rede deixam de

    ser vistos interna e isoladamente tornando-se mais identificadora a sua anlise externa

    isto ...em termos dos recursos que so capazes de gerir e as actividades nas quais

    esto envolvidos (Gadde et al, 2003, p.362).

    Assim sendo, os actores devero ser analisados nos seus intentos de interaco com

    outros actores com vista ao desenvolvimento de actividades que possibilitem o acesso a

    recursos. Nesta acepo os actores constituem a essncia da rede pois so os

    despoletadores de um processo dinmico interligando recursos atravs das actividades

    que desenvolvem na rede, actividades e recursos que no sero coordenados de uma

    forma aleatria mas antes em funo dos interesses, influncias e condicionamentos

    exercidos pelos actores que tentaro influenciar-se mutuamente em funo dos seus

    prprios interesses.

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    26

    Os actores, no seu desempenho pela execuo de actividades conducentes ao controlo

    de recursos, podero despontar a distintos nveis organizacionais: podero faz-lo de

    forma e a um nvel individual, optar por associaes com outros actores, actuar atravs

    de organizaes, constiturem a prpria organizao ou aparecer atravs de conjuntos de

    organizaes (Hakansson, 1989).

    A actuao dinmica conducente ao controlo de recursos e reforo do poder na rede

    interorganizacional poder verificar-se a dois nveis: de forma directa, atravs da posse,

    ou de forma indirecta, atravs dos relacionamentos mantidos com outros actores, sendo

    que qualquer um destes meios exige um investimento (Brito, 2001); no primeiro caso

    maioritariamente em bens tangveis, tcnicos e de conhecimento que dever ser

    realizado no em isolamento mas antecipando-se partida a que tipo de pontes para o

    controlo de recursos esses investimentos daro acesso e no segundo caso o investimento

    passar pelo envolvimento em relacionamentos, o que comporta simultaneamente

    investimentos e custos de oportunidade, j que grande parte dos relacionamentos

    possveis entre actores poder ser incompatvel, fazendo essa incompatibilidade com

    que para alm dos custos directos em termos de fomento de novos relacionamentos, os

    mesmos conduzam extino ou pelo menos reformulao de relacionamentos prvios,

    o que exige por parte dos actores envolvidos uma especial ponderao a este nvel j

    que ganhar controlo e acesso de recursos numa nova rea poder significar perd-lo em

    outro domnio (Hakansson, 1992).

    Assim e citando Snehota (2003, p.9) o que define o mercado o conjunto de actores e

    de relaes. Os mercados no so definidos pelo produto. O produto apenas uma

    varivel nas relaes de troca particulares desenvolvidas entre actores.

    Hakansson e Johanson (1992) agrupam as mltiplas especificidades dos actores em

    cinco caractersticas base:

    A primeira dessas caractersticas, prende-se com o facto de caber aos actores a execuo

    e controlo de actividades sendo que em virtude dessa funo, caber-lhes- decidir de

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    27

    forma individual ou conjunta que actividades desenvolver, o momento em que devero

    ser desenvolvidas e os recursos a alocar as mesmas.

    A segunda caracterstica, atribuda aos actores reflecte o facto de os mesmos, atravs

    dos relacionamentos mantidos na rede, poderem aceder por essa via a recursos de outros

    actores.

    A terceira caracterstica, respeita ao controle que os actores dispem sobre os recursos e

    que segundo os autores poder ser: directo - quando o recurso faz parte integrante do

    actor e o mesmo pode a ele aceder directamente sem qualquer tipo de contratempo ou

    limite, ou indirecto - quando o recurso propriedade de um actor terceiro e o actor focal

    ter de se servir da sua rede de relacionamentos e de dependncias de outros actores da

    resultantes para aceder a esses recursos via relacionamentos.

    A quarta caracterstica, remete para o objectivo dos actores que de uma forma genrica

    reside no aumento de poder sobre a rede, muito embora possam subsistir conjuntamente

    a este objectivo genrico, objectivos de ndole especfica. Associado ao objectivo

    genrico est inerente o pressuposto que o aumento de poder sobre a rede poder ser

    utilizado como um instrumento para a realizao de outras metas sendo que o poder

    sobre a esta varia de acordo com o controlo de recursos e/ou actividades por parte dos

    actores.

    A quinta e ltima caracterstica genrica, atribuda pelos autores, refere-se ao

    conhecimento e ligaes diferenciais que os actores possuem da rede e ao carcter mais

    ou menos conflituante que estas possam assumir. Assim para alm do facto de os

    actores terem um conhecimento mais enriquecido das contrapartes que lhes esto mais

    prximas na rede, a expanso do conhecimento com novos actores far-se- custa do

    enfraquecimento em maior ou menor grau do poder destes (ou pelo menos de um deles)

    com quem se relaciona podendo contudo tambm esse aumento de controlo por parte do

    actor focal originar aumento de controlo de alguns outros actores na rede. Desta forma,

    existe a possibilidade de coexistirem interesses comuns e simultaneamente conflituantes,

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    28

    os quais os actores devero articular para conseguirem o seu objectivo global: o

    aumento do poder sobre a rede.

    1.3.2 - Actividades

    As actividades podero ser tomadas de uma forma muito ampla como uma sequncia

    de actos direccionados relativamente a um propsito (Hakanson e Snehota, 1995, p.52),

    sendo que quando os actores combinam, desenvolvem, trocam, ou criam recursos esto

    a desenvolver actividades (Brito, 1996, p.9). Nas abordagens em rede so

    diferenciados dois tipos de actividade (Hakansson e Johanson, 1992): as actividades de

    transformao e as actividades de transferncia, dizendo as primeiras respeito

    alterao de um recurso controlado por parte de um actor e as segundas que se

    evidenciam apenas nas relaes entre actores e envolvem a deslocao entre os mesmos

    do controlo directo de um recurso, sendo que algumas actividades de transformao so

    levadas a cabo com vista a facultar actividades de transferncia e vice versa.

    Atendendo caracterstica estruturante da abordagem em rede: a interligao dos

    actores, uma das actividades que se perfila como vital, a interaco entre estes, pois

    atravs das actividades que desenvolvem que poder surgir na escurido advinda do

    isolamento, formas de comportamento especficas que de alguma forma iluminem o

    campo de interveno e permitam aos actores ganharem conhecimento sobre os seus

    recursos e advindo da consequentemente melhores modos de serem combinados

    obtendo-se potencialmente resultados diferentes e inovadores (Lundvall, 1985), que

    invariavelmente ultrapassem os de um jogo de soma fixa.

    Desta forma, quando os actores (tomados como empresas) desenvolvem actividades,

    devero estabelecer relacionamentos que ultrapassem o limite restrito dos fornecedores

    e clientes e que abarque entre outros, concorrentes, organizaes governamentais,

    clientes de clientes, consultores ou associaes (Mattsson, 1985). Os padres de

    comportamento resultantes destas actividades pela quantidade e complexidade de

    agentes envolvidos, no podero partida ser estabelecidos nem dominados por um

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    29

    nico actor, antes ser o prprio desenrolar de uma interligao de actividades que

    gerar vagas comportamentais indutoras da aco por parte destes.

    De facto, uma anlise das actividades individualmente consideradas, perder sentido se

    no se atender s conexes entre si existentes, que de alguma forma integrando-se

    nessas vagas ou ciclos comportamentais onde alguns comportamentos so repetidos e as

    rotinas e formas de relacionamentos resultantes dessas actividades padronizveis,

    acabam de certa forma por ganhar um carcter institucional (Hakansson e Johanson,

    1992).

    1.3.3 - Recursos

    Os recursos de um actor podero ser considerados tudo que estes disponham ou tenham

    acesso e que revelem utilidade para o desenvolvimento das suas actividades. Nesta

    definio ampla estaro includos bens tangveis, conhecimento, recursos humanos mas

    tambm relacionamentos e formas de actuao especficas, dominadas pelos actores.

    usual a diviso desta multiplicidade de recursos em trs grandes grupos: recursos fsicos

    (infra-estruturas, maquinarias, materiais), recursos financeiros e recursos humanos (que

    incluem entre outros o factor trabalho, o conhecimento e os relacionamentos)

    (Hakansson, 1987).

    Hakansson e Johanson (1992) estabelecem uma relao entre actividades de

    transformao e recursos de transformao e entre actividades de transferncia e

    recursos de transferncia sendo que estes dois tipos de recursos seriam reciprocamente

    dependentes.

    Um qualquer recurso poder conhecer desenvolvimento do seu valor a dois nveis

    distintos: por um lado atravs da sua prpria configurao ver-lhe ser atribudas novas

    caractersticas num sentido de reforo do recurso especfico ou serem-lhe reconhecidas

    novas valncias e potencialidades pela deteco de outras actividades onde os mesmos

    possam vir a ser solicitados sendo que o valor de um recurso emana do seu uso

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    30

    potencial (Hakansson e Snehota, 1995). Da mesma forma o valor de um recurso poder

    diminuir decorrente da evoluo contrria dos dois nveis referenciados.

    Gadde et al (2003, p.359) defendem que grande parte dos recursos de uma empresa

    poder estar localizada fora dos limites da sua propriedade e ser controlado

    bilateralmente com outras empresas colocando por isso como um dos maiores recursos

    disposio dos actores a rede onde os mesmos se inserem. Este entendimento, remete-

    nos de alguma forma para a terceira caracterstica atribuda aos actores que por sua vez

    nos endereava para o controlo dos recursos por parte destes, permitindo assim uma

    outra classificao possvel dos recursos agora referente ao seu controle em: recursos

    directos quando a posse pertence aos actores e recursos indirectos quando a eles se

    acede atravs da network.

    1.3.4 - A Network

    Como foi referido aquando da introduo do modelo ARA a definio isolada de cada

    um dos elementos justificava-se apenas num exerccio de simplificao e ganho de

    compreenso adicional que permitisse o entendimento posterior da interligao mltipla

    desses elementos. Elaborada a primeira etapa estamos na condio de apresentar as

    consequncias dos efeitos decorrentes da considerao simultnea dos elementos do

    modelo.

    Hakansson e Johanson (1992) definem quatro foras estruturantes da network:

    Interdependncia Funcional - fomentada uma relao de dependncia entre os trs

    elementos operantes que permita sustentar um processo coordenador de recursos

    diferenciados para dar resposta a procuras diversas.

    Estrutura de Poder - Emanados do controlo de actividades e recursos despontam entre

    os actores operantes diferentes relaes de poder concordantes com esse controlo.

  • Marketing Turstico Uma Abordagem de Rede

    31

    Estrutura de conhecimento - J que quer o modo como as actividades existentes na rede

    tomam lugar, quer o perfil de utilizao dos recursos, resulta de uma experincia

    passada e das trocas de conhecimentos entre os elementos nela operantes.

    Dependncia intertemporal - Uma vez que a rede uma consequncia ou resultado de

    todas as aces passadas, mas tambm um mapa, que poder ser mais ou menos claro

    aos olhos dos actores que o interpretam, do caminho futuro.

    As quatro foras estruturantes da rede remetem para a sua essncia: os efeitos

    multivariados resultantes da conexo entre os seus elementos, tornando-se portanto

    pertinente ganhar um entendimento acerca dos efeitos provenientes da mudana

    ocorrida em qualquer dimenso operante, sendo para isso importante recorrer ao

    esquema conceptual desenvolvido por Hakansson e Snehota (1995).

    Estrutura da Actividade

    Estrutura Organizacional

    Reunio de Recursos

    Enlaces de Actividades

    Vnculo de Actores

    Laos deRecursos

    Padro de Actividade

    Teia de Actores

    Constelao de Recursos

    Actividades

    Actores

    Recursos

    Empresa Relao Rede

    Estrutura da Actividade

    Estrutura Organizacional

    Reunio de Recursos

    Enlaces de Actividades

    Vnculo de Actores

    Laos deRecursos

    Padro de Actividade

    Teia de Actores

    Constelao de Recursos

    Actividades

    Actores

    Recursos

    Empresa Relao Rede

    Figura 1.2 Esquema de anlise dos efeitos de desenvolvimento de relacionamentos negociais Fonte: Hakansson e Snehota (1995, p.45) adaptado

    Este esquema conceptual (Figura 1.2) pe em evidencia a interligao de realidades e

    entidades parcelares (mas nunca isoladas) que constituem apenas um tomo da realidade

    e entidade global: a rede, conseguindo evidenciar atravs da referida interligao os

    efeitos associados a mudanas organizacionais ocorridas em qualquer desses tomos de

    tripla acepo: Organizao, Relaes, Rede e os seus impactos nesta, assim:

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    Num primeiro nvel ilustrada a mudana a um grau directo no relacionamento e na

    alterao do potencial deste da resultante, o que por sua vez ser dependente das

    consequncias que esta alterao venha a suscitar ao nvel de cada uma das partes

    envolvidas na relao, (observveis na segunda coluna da Figura 1.2). Um outro nvel a

    considerar relaciona-se com os efeitos das organizaes e na sua estrutura competitiva,

    (observveis na primeira coluna da Figura 1.2). Por fim temos o efeito na realidade

    global, provocado por diferentes estmulos, reaces e interesses derivados,

    (observveis na terceira coluna da Figura 1.2).

    Os actores no se podero alhear do facto de que no desenvolvimento das suas

    actividades esto a contribuir para a elaborao da realidade global e esta por sua vez

    contribui para a especificidade da realidade parcelar sendo que qualquer considerao

    da trajectria de uma realidade particular, imune a influencias ser apenas

    compreensvel por erros de percepo e miopia empresarial, pois a realidade parcelar

    provocar invariavelmente efeitos no todo que por sua vez ter um efeito boomerang e

    se vir a reflectir na sua realidade.

    Por outro lado, qualquer aco instigadora da realidade global ter efeitos na nossa

    realidade parcelar, revelando-se em qualquer um dos casos a capacidade dos actores na

    descoberta dos vnculos entre estas realidades e na adopo das melhores formas de

    ajuste a elas um elemento estratgico fundamental. Estas constataes evidenciam-se

    citando Hakansson (1992, p.133) onde o mesmo afirma que uma mudana iniciada por

    um actor, dever para ter qualquer efeito ser acompanhada por adaptaes de pelo

    menos alguns dos outros actores. Se este no for o caso, na melhor das hipteses a

    mudana no ter qualquer efeito no seu iniciador e na pior das hipteses poder dar um

    resultado oposto ao desejado.

    Desta forma, o modelo contempla a interligao existente de funes e ilustra as

    direces provveis e potenciais dos efeitos (sem no entanto os quantificar) decorrentes

    da alterao de qualquer uma da dimenso considerada na network. Apesar do seu

    grande mrito no por si s suficiente para determinar de forma absoluta a direco

    dos efeitos, a sua magnitude e probabilidade de ocorrncia pelo que dever ser

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    complementado com outros instrumentos de anlise que conjuntamente possam conferir

    mais especificidade antecipao dos efeitos de mudana nos relacionamentos entre

    organizaes.

    Iremos seguidamente explorar mais aprofundadamente a dimenso reflectida na

    segunda coluna do modelo, porquanto que esta dimenso que interliga as outras duas,

    por forma a detalhar o processo evolucionrio da mudana, os seus despoletadores e os

    obstculos a ela associados.

    1.3.4.1 - Ligaes entre Actividades

    As actividades desenvolvidas por um actor, quer seja ele uma empresa ou uma unidade

    organizacional, contm em si interdependncias que as relacionam com actividades de

    empresas terceiras. De facto, numa perspectiva orientada pelo marketing, muitos dos

    propsitos e fins ltimos das organizaes empresariais passam pelo desenvolvimento

    de actividades que gerem trocas entre os actores, residindo a essncia das relaes de

    negcios nas trocas e interdependncias entre actores suscitadas por essas actividades

    (Prenkert, 1998), sendo essencial sob uma perspectiva de abordagem do mercado em

    rede, a elaborao continuada de interdependncias (Dubois, 1998; Hakansson e Ford,

    2002). Da resulta que nenhuma empresa poder ignorar o facto e as consequncias de

    as suas actividades estar