marilena kerscher pacheco
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
CENTRO DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO E DOUTORADO
MARILENA KERSCHER PACHECO
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA ATU AÇÃO
NA EDUCAÇÃO BÁSICA: O QUE DIZEM OS PROFESSORES
FORMADORES
CURITIBA
2011
MARILENA KERSCHER PACHECO
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA ATU AÇÃO
NA EDUCAÇÃO BÁSICA: O QUE DIZEM OS PROFESSORES
FORMADORES
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Joana Paulin Romanowski
CURITIBA
2011
Dados da Catalogação na Publicação Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Sistema Integrado de Bibliotecas – SIBI/PUCPR Biblioteca Central
Pacheco, Marilena Kerscher
P116f Formação de professores de Educação Física para atuação na Educação 2011 Básica : o que dizem os professores formadores / Marilena Kerscher Pacheco ; orientadora, Joana Paulin Romanowski. – 2011. 171 f. ; 30 cm
Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2011
Bibliografia: f. 157-163
1. Professores - Formação. 2. Professores de Educação Física. 3. EducaçãoFísica (Ensino fundamental). 4. Ensino superior - Currículos. I. Romanowski, Joana Paulin. II. Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Programa de Pós- Graduação em Educação. III. Título. CDD 21. ed. – 370.71
Dedico este trabalho aos meus dois amores: meu esposo Edson e meu
filho Alexsandro. Saibam que eu nada seria e tão pouco conseguiria
sem a presença de vocês em minha vida.
AGRADECIMENTOS
Nem sempre há oportunidade de agradecermos a todas as pessoas participantes em nossas vidas as quais contribuíram para a nossa formação, seja de forma direta ou indireta. A escrita de uma dissertação apresenta esta oportunidade.
Gostaria primeiramente de agradecer em especial a minha orientadora Prof.ª Dr.ª Joana Paulin Romanowski: obrigado pela paciência, pelos ensinamentos e, acima de tudo, pela sua amizade. Sem seu apoio eu não teria alcançado este sonhado objetivo.
Obrigado a Prof.ª Dr.ª Marynelma Camargo Garanhani da UFPR que aceitou tão prontamente fazer parte da banca de avaliação e acima de tudo trouxe para minha pesquisa inestimáveis contribuições.
Também agradeço aos professores do Mestrado em Educação da PUCPR que participaram da minha formação, em especial a Prof.ª Dr.ª Pura Lúcia Oliver Martins por todo aprendizado e carinho.
Sinceros agradecimentos a direção do curso do Mestrado em Educação e a Solange, Franciele e Francineide, da secretaria, pelo carinho com que atenderam as solicitações que fiz no encaminhamento da pesquisa.
Aos amigos e colegas de Mestrado, obrigado pela parceria e pelas trocas de experiências e sabedorias em oportunos momentos. Em especial agradeço as duas colegas que se transformaram em duas queridas e admiráveis amigas: Obrigado Marília e Eliana por sua presença nesta jornada!
Agradeço aos professores do curso de Educação Física interlocutores desta pesquisa e em especial aos coordenadores do curso. Saibam que sem o seu auxílio e disposição esta pesquisa não seria viável. Obrigado pela confiança depositada em mim e pelas respostas tão ricas em informações preciosas sobre objeto de pesquisa investigado.
Complexas de serem mensuradas, porém mais fáceis de serem sentidas, assim são as relações familiares. Agradeço aos meus pais, Guilherme e Irene, que mesmo com formação formal incompleta, nunca deixaram de inspirar o desenvolvimento de seus filhos e em especial a minha mãe Irene que sempre esteve ao meu lado nos momentos mais difíceis, me apoiando e orientando nas mais diversas situações. Saibam que esta vitória é especialmente de vocês.
Também agradeço aos meus sogros, José e Adenilde, por todo apoio e coragem nesta caminhada.
Por fim, gostaria de deixar registrado meu infindável amor e apreço por meus maiores tesouros: meu valioso esposo Edson, obrigado pelo seu apoio infinito, seu amor, sua paciência e sua sabedoria e a minha maior relíquia, meu filho Alexsandro, que é a mais nova luz que ilumina meu caminho: saibam que amo vocês incondicionalmente. Obrigado por fazerem parte da minha vida!
Nestes anos de trabalho muitos foram os que estiveram ao meu lado, participando desta jornada, certamente estes poucos parágrafos não foram suficientes para citar e agradecer a todos. Portanto, peço desculpas aos que aqui não estão presente, saibam, no entanto, que vocês fazem parte do meu pensamento e da minha eterna gratidão.
Obrigado a todos os responsáveis!
RESUMO
Esta pesquisa objetivou analisar um curso de Educação Física, em uma Instituição de Ensino Superior (IES) localizada na cidade de Curitiba (Paraná), verificando as particularidades destacadas na formação dos novos professores para atuação na Educação Básica considerando os relatos dos professores formadores deste curso, geradas a partir do Parecer CNE/CP nº 09/2001 e da Resolução CNE/CES nº 01/2002. Foram examinadas: as concepções dos formadores, a relação teoria e prática, a formação para a inclusão, enfim a formação do professor de Educação Física que irá atuar na Educação Básica. Diante destas determinações legais o curso foi reestruturado em duas modalidades: Licenciatura e Bacharelado. A metodologia da pesquisa é de abordagem qualitativa e para o levantamento dos dados foram realizadas entrevistas do tipo semiestruturada. As falas das entrevistas foram textualizadas. A pesquisa apoia-se nos referenciais de Diniz-Pereira (1999, 2000), Taffarel (2001, 2006), Dias-da-Silva (2008), Martins (2000, 2003, 2007), Martins e Romanowski (2010), Romanowski (2007), Romanowski e Wachowicz (2003, 2005), Romanowski e Martins (2009), Garanhani (2008), Roldão (2007), Fazenda (1993, 2002), Mantoan (2003), Pimenta (1997, 1999, 2008), Steinhilber (2006), Gamboa (2010), Candau (2000), Caparroz (2007), Figueiredo (2004, 2009), Gatti e Barreto (2009). Após análise dos relatos dos professores e das fontes estudadas verificou-se que as reformulações realizadas no curso de Licenciatura rearticularam o currículo e a carga horária do mesmo. A maioria dos professores formadores se mostrou favorável a separação do curso, seguindo uma concepção de formação mais centrada e específica aos conteúdos pedagógicos e seus aprofundamentos metodológicos para uma preparação dos futuros professores que exercerão a função docente na Educação Básica. A relação teoria e prática ocorre durante as aulas, mas com maior ênfase na Estágio de modo a auxiliar o aluno em seu processo formativo, fazendo com que ele tenha uma interação maior com a escola, em suas diferentes modalidades de ensino e acontece no decorrer do curso. Verificou-se que apesar de ter ocorrido a separação das áreas: Licenciatura e Bacharelado, no curso de Educação Física, a mesma é polêmica no meio acadêmico e estudantil existindo uma diferenciação de interesses entre o Conselho de Educação Física CONFEF/CREF e a Executiva Nacional dos Estudantes – EXNEEF, que luta pela reunificação do curso, a fim de criar a Licenciatura Ampliada em Educação Física.
Palavras-chave: Educação Física. Formação de Professores. Reformulação Curricular. Relação Teoria e Prática. Licenciatura Ampliada.
ABSTRACT
This research analyzes a Physical Education course in a Higher Education Institution in the city of Curitiba (Parana), verifying the particulars outlined in the training of new teachers to work in the Basic Education teachers considering the reports of the trainers of this course based on CNE / CP nº 09/2001, and Resolution CNE / CES nº 01/2002. Were examined: teacher’s point of the view, relationship between theory and practice, formation for inclusion, and, finally, the formation of a teacher who will act in basic education. Faced with these legal requirements the course was restructured into two types: Degree and Bachelor. The research methodology is qualitative approach, and to data collection was used the technique of interviews (semistructured). The reports of the interviews were transcribed. The research is based on benchmarks of Diniz-Pereira (1999, 2000), Taffarel (2001, 2006), Dias-da-Silva (2008), Martins (2000, 2003, 2007), Martins and Romanowski (2010), Romanowski (2007), Romanowski and Wachowicz (2003, 2005), Romanowski and Martins (2009), Garanhani (2008), Roldão (2007), Fazenda (1993, 2002), Mantoan (2003), Pimenta (1997, 1999, 2008), Steinhilber (2006), Gamboa (2010), Candau (2000), Caparroz (2007), Figueiredo (2004, 2009), Gatti and Barreto (2009). After analyzing the reports of teachers and sources studied it was found that movement reorganizes the curriculum and course working hours. Most of the teachers approved the separation of the course, following design training more focused and specific to their educational content and methodological insights for preparing future teachers who hold the teaching function in Basic Education. The relationship between theory and practice occurs during class, but with greater emphasis on the stage in order to assist the student in his learning process, allowing a greater interaction with the school, in their different modes of teaching and it happens during the course. It was found that although there was the separation of areas, and Bachelor Degree in Physical Education course, it is controversial in the academic and student field, there is a differentiation of interests between the Board of Physical Education (CONFEF / CREF) and the National Executive students (EXNEEF), who advocate the reunification of the course in order to create the Extended Degree in Physical Education.
Key-words: Physical Education. Curriculum Reform. Relation between Theory and Practice. Extended Degree.
LISTA DE TABELAS
Quadro 1 - Identidade dos Respondentes. .............................................................. 21�
Quadro 2 - Inscritos para o vestibular no curso de Educação Física .................. 39�
Quadro 3 - Estrutura curricular do curso de Educação Física 2010. ................ 169�
LISTA DE GRÁFICOS
Figura 1 - Sujeitos da Pesquisa ........................................................................ 21
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CNE Conselho Nacional de Educação
CFE Conselho Federal de Educação
CP Conselho Pleno
CES Câmara de Educação Superior
DCN Diretrizes Curriculares Nacionais
IES Instituição de Ensino Superior
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CONSUN Conselho Universitário
MEC Ministério da Educação
NDE Núcleo Docente Estruturante
PNE Portador de Necessidades Especiais
EJA Educação para Jovens e Adultos
TCC Trabalho de Conclusão de Curso
IMC Índice de Massa Corporal
RCQ Relação Cintura-Quadril
SMEL Secretaria Municipal de Esporte e Lazer
APAE Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
GPAQ Grupo de Pesquisa em Atividade Física e Qualidade de Vida
CONFEF Conselho Federal de Educação Física
CREF Conselho Regional de Educação Física
MEEF Movimento Estudantil da Educação Física
EXNEEF Executiva Nacional dos Estudantes de Educação Física
SUMÁRIO
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1 INTRODUÇÃO
Na atualidade a formação de professores expressa uma das
preocupações das políticas educacionais, dos sistemas de ensino e das
Instituições de Ensino Superior. Desde a aprovação da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional em 1996, intensificou-se o debate em torno dos
cursos de licenciatura. Esta pesquisa focaliza as mudanças na reformulação
curricular, para formação de professores que irão atuar na Educação Básica no
curso de licenciatura e elege o curso de licenciatura em Educação Física como
foco de investigação, considerando as concepções dos professores
formadores.
No campo da licenciatura em Educação Física, várias investigações
examinam e avaliam este curso tomando como perspectiva de análise a
realização de uma formação comprometida com uma docência eficiente e
responsável na Educação Física escolar, como definido por Garanhani (2008):
Ser professor de Educação Física numa perspectiva de educação em que o sujeito se constrói ao mesmo tempo em que é construído significa organizar uma prática pedagógica voltada não somente para o desenvolvimento da autonomia e identidade corporal do aluno, mas também para a sua socialização e ampliação de conhecimento (GARANHANI, 2008, p.203).
Neste sentido, os estudos destacam a realização de uma Educação
Física que busca desenvolver nos alunos as suas potencialidades, como
sugere a Carta da Educação Física Escolar (2007, p.3): “A Educação Física
Escolar por sua característica e potencial possibilita a vivência e assimilação de
valores como: solidariedade, excelência, sustentabilidade, esportividade, paz,
entre outros, conforme recomenda as Nações Unidas”. Para tanto se faz
necessário que os futuros professores tenham sido bem preparados em sua
graduação, por meio de um currículo bem estruturado para trabalharem com as
necessidades educativas de seus alunos no cotidiano escolar.
Na história da Educação no Brasil podem-se constatar, ao longo dos
séculos, mudanças marcantes em todas as áreas educacionais e na Educação
Física não poderia ser diferente.
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Entre tantas mudanças podem-se citar alguns exemplos como: a
metodologia de ensino aplicada em cada época; os interesses de quem retêm
o poder educacional e o administra; o valor que era dado aos professores e a
sua formação profissional na área da docência; o incentivo para a qualificação
profissional dos professores; sua valorização perante a instituição de trabalho e
também perante a sociedade; o incentivo a pesquisa educacional que vêm
sendo de grande destaque nas Universidades; e, com especial relevância, o
currículo para formação de professores destinados a atuação na Educação
Básica por via dos cursos de licenciatura.
Outra mudança marcante nas licenciaturas e nos cursos de Educação
Física foi a separação do curso em duas áreas de formação e atuação
distintas, como Freitas (2003) expõe a respeito da formação de professores
que os cursos de licenciatura se destinarão à formação de professores, os
quais serão preparados para a atuação na área escolar e os cursos de
bacharelado estarão voltados à formação dos educadores/cientistas da
educação, pontuando assim a ruptura nos cursos de licenciatura plena.
Neste sentido, os cursos ganharam uma estrutura própria de formação
de professores, como é destacado no Parecer CNE1/CP2 nº 09/01, e na
Resolução CNE/CES3 nº 01/2002, exigindo que os cursos realizassem uma
reestruturação em seus currículos, tornando-os adequados a cada área de
formação.
Figueiredo (2009, p.5) alerta sobre a formação de professores
salientado: “É possível investir na formação qualificada de professores
comprometidos com a sua intervenção e com a formação humana das
centenas de alunos que passarão por suas vidas ao longo da carreira
profissional”. Essa formação qualificada em uma instituição de ensino superior
ao longo da graduação se efetivará junto ao currículo do curso, que deverá
pautar seu projeto pedagógico para a graduação em Educação Física.
Dias-da-Silva, et al. (2008) destaca que as relações sociais interferem
no processo de reestruturação curricular, que visa se adequar as
transformações da sociedade atual.
1 CNE – Conselho Nacional de Educação. 2 CP – Conselho Pleno. 3 CES – Câmara de Educação Superior.
9
Os processos de reestruturação curricular em curso tentam responder às demandas da sociedade contemporânea que, sob o impacto das inserções aceleradas das tecnologias de informação e da automação, passa por transformações significativas nos seus modos de relacionamento com as instituições sociais (DIAS-DA-SILVA, ET AL., 2008, p.21).
Os cursos de formação de professores destinam-se a intervir em suas
estruturas educacionais, realizando modificações em todo o campo de
formação educacional, a fim de buscar uma maior adequação em seu currículo
para a realização de um curso que atenda as necessidades de seus alunos no
futuro campo de atuação profissional.
Freitas (2007) destaca que para formação do profissional da educação,
devem ser levados em conta alguns princípios, entre eles:
A revisão das estruturas das instituições formadoras do profissional da educação, experienciando novas maneiras de organizar a formação do educador e avançando para formas de organização por cursos e programas, para todos os níveis de ensino, contemplando a formação inicial e continuada (FREITAS, 2007, p.1220-1221).
Estas mudanças estariam sendo revistas com a finalidade de
incorporar a um novo processo de aprendizagem as necessidades
apresentadas durante o processo educativo do professor em formação.
Diniz-Pereira já destacava em 1999, que o currículo de formação de
professores não estava adaptado a uma formação completa do futuro
professor, pois se baseava no modelo da racionalidade técnica. O autor
apresenta as principais críticas atribuídas a este modelo:
A separação entre teoria e prática na preparação profissional; - a prioridade dada a formação teórica em detrimento da formação prática e - a concepção da prática como mero espaço de aplicação de conhecimentos teóricos. Um outro equívoco desse modelo consiste em acreditar que para ser um bom professor basta o domínio da área de conhecimento específico que se vai ensinar (DINIZ-PEREIRA, 1999, p.112).
Para o autor a formação docente deve contemplar várias áreas de
conhecimentos para preparar o professor na sua profissão docente, dando-lhe
assim um suporte para atuar na Educação Básica.
Diniz-Pereira (2000) ressalta ainda que é preciso “romper com uma
visão simplista de formação de professores, negar a ideia do docente como
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mero transmissor de conhecimento e superar os modelos de Licenciatura que
simplesmente sobrepõem o “como ensinar” ao “o que ensinar”” (DINIZ-
PEREIRA, 2000, p.75).
Mendes (2005) realizou uma pesquisa sobre reforma curricular,
destacando o que vários artigos e periódicos traziam a esse respeito. Em uma
de suas argumentações ele destaca que é necessário repensar o currículo de
Educação Física para a formação de professores/profissionais orientadas por
questões sociais.
Os/as autores(as) colocam que ao repensarmos nossos currículos obrigatoriamente temos de repensar a formação profissional. Na Educação Física, essa formação, pautada primordialmente em disciplinas biomédicas e esportivas, evidencia os valores hegemônicos em tais currículos, ou seja, currículos essencialmente construídos com conteúdos do esporte ou a ele ligados, com um cunho competitivo acentuado e também com uma grande preocupação em fazer com que a área se tornasse um celeiro de talentos para o esporte nacional. Daí a necessidade de repensá-los, procurando discutir como seria possível uma formação mais orientada por questões sociais (MENDES, 2005, p.44).
Segundo Freitas (1999, p.21) “As diretrizes currriculares que orientarão
a elaboraçao dos currículos e os estudos tomarão por base as diretrizes para a
Educação Básica”, proporcionando desta maneira um rumo a seguir e também
abrindo possibilidades para que cada curso desenvolva seu curriculo
pedagógico voltado também aos interesses de formação de cada área,
tornando-se um currículo mais dinâmico e direcional.
Gatti e Barreto (2009) destacam, segundo as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Formação de Professores para a Educação Básica (2002),
que a formação profissional dos professores deve ser orientada pelo princípio
da ação-reflexão-ação, como uma estratégia didática para o futuro professor
que ingressará nas diferentes modalidades da Educação Básica:
Postulam essas diretrizes que a formação de professores que atuarão nos diferentes níveis e modalidades da educação básica observará alguns princípios norteadores desse preparo para o exercício profissional específico, que considerem, de um lado, a formação de competências necessárias à atuação profissional, como foco do curso, a coerência entre a formação oferecida e a prática esperada do futuro professor, e, de outro, a pesquisa, com foco no ensino e na aprendizagem, para compreensão do processo de construção do conhecimento (GATTI E BARRETO, 2009, p.46).
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É necessário que o professor de Educação Física em formação receba
de seus formadores recursos e experiências ligadas às diversas realidades que
o ensino brasileiro apresenta, pois da mesma maneira que estes novos
professores poderão encontrar escolas bem estruturadas para exercer sua
função, também virão a encontrar escolas em situações precárias, com déficit
de materiais para aplicar suas aulas, com espaços inadequados para as
atividades, com turmas de número elevado de alunos, com alunos com
dificuldades de aprendizagem e comportamento, entre tantas outras razões. E
essa formação sólida está ligada também a estruturação do currículo do curso
que fornecerá aos alunos em formação, os futuros professores, conhecimentos
de docência para uma atuação satisfatória e prazerosa.
Diniz-Pereira (2000) expressa a importância da graduação na
licenciatura a respeito da formação do professor que irá atuar na escola básica
destacando:
(...) é necessário que o licenciado, futuro professor da escola básica, seja compreendido como sujeito em formação que traz consigo uma representação de educação construída durante sua própria escolarização, que vivencia uma formação superior fundamentada e que continuará se formando na prática pedagógica com questões advindas da realidade escolar. Sendo assim, a Licenciatura deve ser vista como uma etapa intermediária, porém imprescindível, no complexo processo de formação do professor (DINIZ-PEREIRA, 2000, p.75).
O professor formador também deve considerar que os alunos que
chegam a Universidade não vêm desprovidos de informações e quaisquer
conhecimentos, eles chegam com uma bagagem cultural, com uma estrutura
de formação educacional anterior, com uma formação familiar e espiritual entre
outras, o que torna cada aluno um ser único e que deve ser respeitado em seu
processo de formação.
Assim, busca-se dentro de uma formação inicial fornecer meios e
subsídios para que os futuros professores consigam iniciar um trabalho
docente pautado em um processo educativo de qualidade, tendo em vista
experiências de formação acadêmicas ligadas a realidade aonde irão se
efetivar, buscando neste meio a atuação voltada ao desenvolvimento das
potencialidades dos alunos para assim realizar um trabalho significativo junto a
eles.
12
Caparroz (2007) destaca que o currículo do curso não é tão somente o
único subsídio, mas um meio usado pelos professores para ensinar em um
amplo processo formativo.
(...) a própria prática leva-nos a reconhecer que o conhecimento engendrado em aula, pelos professores universitários, não é fruto exclusivamente daquilo prescrito pelo currículo, mas o resultado da tensão entre as crenças, valores, incorporações teóricas e formação acadêmica dos professores dos diferentes setores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem (CAPARROZ, 2007, p.7).
Neste contexto, entende-se que o processo de ensino-aprendizagem
está relacionado a toda uma metodologia didática, mas também as
experiências dos professores formadores que se utilizam de sua própria
vivência para ensinar e exemplificar, auxiliando o desenvolvimento teórico e
prático de suas aulas.
Assim, a pesquisadora, enquanto ex-aluna de um curso de Educação
Física formada em 2006 por um currículo anterior às atuais reformulações, o
qual não fazia a distinção entre licenciatura e bacharelado formando para a
Licenciatura Plena, suscitou várias indagações durante o tempo de graduação
e após a respeito da formação de professores na Licenciatura em Educação
Física. Dentre as quais é possível citar:
• Qual é a formação para professores realizada no curso de Educação Física
após a reformulação curricular ocorrida a partir do Parecer CNE/CP
nº 09/01 e da Resolução CNE/CES nº 01/2002?
• Quais são as prioridades indicadas na proposta curricular do curso de
Licenciatura em Educação Física destinada à formação de professores da
Educação Básica, segundo os professores formadores?
• O que estas mudanças significaram para a formação profissional e docente
na Educação Física?
• Quais foram as mudanças mais significativas na reformulação curricular do
curso e o impacto exercido sobre os alunos em sua prática pedagógica nos
estágios na concepção dos atuais professores atuantes na Universidade?
• O currículo do curso de Educação Física proporciona uma formação que
distingue a Licenciatura e o Bacharelado, direcionando a uma formação
específica?
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• Qual é a formação em conhecimentos de docência privilegiada no curso de
Licenciatura?
Estas foram algumas questões que fundamentaram a pesquisa, no
tocante à reformulação ocorrida no curso.
Como elemento norteador esta investigação focalizou a concepção dos
professores formadores no curso de Educação Física após a sua reformulação
curricular a partir do Parecer CNE/CP nº 09/01 e da Resolução CNE/CES
nº 01/2002. Este curso acatou as novas Diretrizes para a Licenciatura em
Educação Física e com ela possíveis alterações na proposta pedagógica
destinada à formação de professores para Escola Básica, considerando as
seguintes questões:
• Quais são as concepções de formação dos professores formadores
sobre a formação do licenciado em Educação Física?
• O curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade
pesquisada possibilita ao futuro professor uma formação de
conhecimentos para atuar nas diferentes situações e modalidades de
ensino da Educação Básica?
• Quais são as prioridades indicadas na proposta curricular do curso de
Licenciatura em Educação Física destinadas à formação de professores
da Educação Básica, segundo os professores formadores?
Para responder a estas questões a pesquisa tem como objetivos:
• Verificar as concepções de formação dos professores formadores sobre
a formação dos licenciados de Educação Física;
• Analisar quais as contribuições destacadas na formação dos novos
professores na área da Licenciatura em Educação Física para atuar na
Educação Básica após a reformulação do curso, considerando os
depoimentos dos professores formadores;
• Investigar o curso de Educação Física, analisando o currículo do curso
de Licenciatura e as alterações ocorridas nele para formação docente a
partir do Parecer CNE/CP nº 09/01 e da Resolução CNE/CES
nº 01/2002;
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• Analisar a relação Teoria e Prática na formação de professores da
Educação Básica e como ocorre a formação para a Educação Infantil,
Ensino Fundamental e Ensino Médio, segundo as falas dos docentes
formadores.
A metodologia utilizada para pesquisa foi de abordagem qualitativa do
tipo estudo de caso. Para o levantamento dos dados foram realizadas
entrevistas semiestruturadas com os professores e coordenadores do curso,
guiada por um roteiro de questões, mas que possibilitou aos entrevistados
respostas abertas conforme sua interpretação. A descrição da trajetória de
pesquisa compõe o capítulo 2. As falas das entrevistas foram textualizadas.
Este aspecto encontra-se descrito no capítulo 2 e 3.
O terceiro capítulo trata da análise dos dados focalizando a formação
de professores realizada no curso de Licenciatura em Educação Física
trazendo vários elementos de sua composição destinados a formação de
professores e profissionais da área a fim de compreender, sob a visão dos
professores, como ficou o curso após a reformulação curricular acontecida no
mesmo, e quais foram as principais mudanças no currículo de formação de
professores na Licenciatura destinada à formação do professor que irá atuar na
Educação Básica.
O capítulo quatro apresenta os impasses para o curso frente as
mudanças conduzidas, indicando que os cursos de Licenciatura ganharam
identidade própria nos cursos de formação, mas ainda apresentam uma
procura menor do que os cursos de Bacharelado. Foi destacado pela
coordenação que uma das dificuldades que o curso apresenta é em relação ao
tempo de graduação, pois o curso hoje é oferecido em quatro anos, enquanto
outras Universidades o curso é disposto em três anos e meio. Outra questão
abordada foi a adaptação do curso as tendências da sociedade e a dificuldade
de mudar a concepção dos professores atuantes quando necessário. Também
no capítulo 4 está descritas as inferências a partir da análise dos dados, assim
como a concepção da pesquisadora.
No capítulo cinco são apresentadas as considerações finais e os
trabalhos futuros.
15
2 TRAJETÓRIA DA INVESTIGAÇÃO
O atual capítulo destina-se a relatar a trajetória da pesquisa realizada,
destacando os principais procedimentos utilizados bem como os sujeitos
envolvidos e o campo de pesquisa. Também esclarece o tipo da pesquisa e os
critérios pré-estabelecidos para a aplicação das entrevistas e seleção dos
professores a serem entrevistados.
O campo de investigação é um curso de Educação Física em uma
Instituição de Ensino Superior (IES4) localizada na cidade de Curitiba (Paraná),
que realizou a reestruturação distinguindo o curso em Bacharelado e
Licenciatura. Esta Pesquisa tem como foco principal a investigação do curso de
Licenciatura em Educação Física.
O principal critério de seleção do campo de investigação foi o
reconhecimento de que a universidade em questão é tradicional e de grande
porte fundada em 1959 e que oferta o curso de Educação Física desde 1985,
ou seja, o curso pesquisado apresenta 26 anos de atividade. Também por ter
vivenciado o processo de reformulação, culminando com a ruptura do mesmo,
passando a ser ofertado então em duas modalidades diferenciadas:
Licenciatura e Bacharelado, nos períodos da manhã e noite.
Foi analisado para pesquisa o currículo do curso de Licenciatura em
Educação Física, as mudanças ocorridas e suas implicações para a formação
docente após a Reformulação Curricular a partir do Parecer CNE/CP nº 09/01 e
da Resolução CNE/CES nº 01/2002; e a concepção que os professores
universitários atuantes hoje no curso de Educação Física tem sobre a formação
dos futuros professores de Educação Física que irão se inserir nas Instituições
de Ensino as quais irão atuar.
Assim, dadas as mudanças efetivadas neste curso, a opção por
estudá-lo remete a uma abordagem do tipo estudo de caso. Segundo Ludke e
André (2007, p.12), “o estudo de caso foca os aspectos mais relevantes a
serem estudados na pesquisa, buscando um maior direcionamento e
aprofundamento no assunto”. A abordagem da pesquisa é qualitativa,
considerando a compreensão, a descrição e o significado do objeto estudado. 4 IES – Instituição de Ensino Superior.
16
Severino (2007, p.121) complementa a respeito do estudo de caso,
destacando: “O caso escolhido para pesquisa deve ser significativo e bem
representativo, de modo a ser apto a fundamentar uma generalização para
situações análogas, autorizando inferências”. Para tanto é necessário
determinar uma série de procedimentos anteriores a realização da pesquisa,
como a focalização do objeto de estudo visando seu potencial de pesquisa,
seus referenciais e sua relevância para o campo acadêmico que está sendo
pesquisado, tornando desta forma o trabalho de pesquisa pessoal, mas
também rigoroso e sistemático para que possa ser aceito e confirmado como
científico.
A pesquisa cientifica compreende a necessidade de manter
procedimentos que facilitem a obtenção de respostas que possam ser
sistematizadas em um conjunto de dados e analisadas com rigor e
cientificidade em busca da compreensão do que esta sendo pesquisado. Assim
esta pesquisa se caracterizou como qualitativa. Segundo Mazzotti e
Gewandsznajder (1998, p.163) “As pesquisas qualitativas são
caracteristicamente multimetodológicas, isto é, usam uma grande variedade de
procedimentos e instrumentos de coleta de dados”, com a finalidade de
obtenção das respostas”. Estes diversos procedimentos ajudam a facilitar e
qualificar a coleta de dados, facilitando ao pesquisador uma leitura apurada e
com visão crítica científica do objeto que está sendo pesquisado, a fim de
tornar a pesquisa relevante e válida na área que está sendo realizada.
Autores como Mazzotti e Gewandsznajder (1998) e Severino (2007),
ressaltam que se deve buscar uma cientificidade concreta dos fatos embasada
em outras produções científicas e na veridicidade dos fatos observados, tendo
uma percepção do contexto como um todo, buscando superações, quando
necessárias, para um maior aprofundamento e esclarecimentos do assunto que
esta sendo pesquisado em busca de um resultado que se apresentará em sua
veridicidade, sem interpretações pessoais do pesquisador.
Considerando estes pressupostos é que foi realizada esta pesquisa e
para isso foi necessário analisar o campo de investigação no levantamento de
dados apontando os fatos da reformulação do curso de Educação Física.
Foram também considerados os documentos que expressam as
mudanças curriculares realizadas, juntamente com a vivência da autora no
17
curso de graduação na época das modificações ocorridas. Além disso, foi
realizada uma análise fundamentada em estudos de pesquisas voltadas a área
consultando os referenciais sobre os assuntos. Almejou-se manter uma visão
voltada para a realidade atual do curso pesquisado, buscando a compreensão
do curso investigado, sobre a visão e a vivência dos professores formadores
participantes da pesquisa, os quais acrescentaram mais vida aos fatos.
Todo este trabalho de organização da pesquisa e interação do
conhecimento faz parte de uma técnica de pesquisa conhecida como
documentação, que segundo Severino (2007, p.124) é “toda forma de registro e
sistematização de dados, informações, colocando-os em condições de análise
por parte do pesquisador”. Desta maneira, o pesquisador realizará o
desenvolvimento do seu trabalho, mantendo um aspecto científico para sua
análise dos dados coletados.
Na elaboração do roteiro de entrevista foram utilizadas perguntas
relevantes ao objeto de pesquisa permitindo ao entrevistado uma resposta livre
sobre o tema. Isto oportunizou informações significativas e detalhamentos do
assunto em questão. “Uma grande vantagem da entrevista sobre outras
técnicas é que ela permite a captação imediata e recorrente da informação
desejada (LUDKE E ANDRÉ, 2007, p.14)”.
A escolha do método de entrevista se deu devido a necessidade de
compreender as concepções dos professores formadores sob sua real
perspectiva, considerando que segundo Severino (2007, p.124) a entrevista é
“uma interação entre pesquisador e pesquisado”, considerando que “O
pesquisador visa apreender os que os sujeitos pensam, sabem, fazem e
argumentam (SEVERINO, 2007, p.124)”. Desta forma foi possível uma
aproximação e uma interação entre o objeto de pesquisa, os professores
entrevistados e a pesquisadora.
Mazzotti e Gewandsznajder (1998, p.168) completam “a entrevista
permite tratar de temas complexos que dificilmente poderiam ser investigados
adequadamente através de questionários, explorando-os em profundidade”.
Estes foram alguns argumentos que levaram a pesquisadora a optar pelo
método de trabalho em pesquisa qualitativa.
As entrevistas para a coleta dos dados aconteceram com os
professores selecionados conforme critérios pré-estabelecidos que serão
18
comentados no item 2.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA
e com a coordenação atuante no curso de Educação Física no ano de 2009 e
2010.
As entrevistas foram realizadas diretamente pela pesquisadora, após
contato e o consentimento livre e esclarecido dos entrevistados. As mesmas
foram pessoais e particulares, com cada professor e coordenador expondo
suas opiniões, conhecimentos e vivência da realidade do curso. A
pesquisadora procurou manter padrões de equivalência em todas as
abordagens para estabelecer um critério maior de verificabilidade e lealdade às
respostas obtidas.
Foram elaborados dois roteiros para as entrevistas. Um dirigido aos
professores formadores do curso de Educação Física e o outro aos professores
que também são os coordenadores do curso. Os roteiros continham algumas
perguntas iguais e mais algumas diferenciadas que se destinavam a cada
grupo. Por via deste fato, na análise dos dados apresentadas no próximo
capítulo, aparecerão algumas questões diferenciadas para os grupos, então
por vezes surgirá apenas dois professores respondendo, que são os
professores coordenadores do curso, outras vezes aparecerão as falas apenas
dos professores formadores respondendo as questões e por fim, em algumas
questões aparecerão as falas de todos os entrevistados, ou seja, professores e
coordenadores.
A transcrição das entrevistas foi realizada primeiramente considerando
as falas originais dos professores entrevistados.
Após uma longa análise das respostas de um rico conteúdo para as
questões levantadas na entrevista, originou-se um questionamento de como
tratar todas essas informações coletadas junto aos professores. A ideia inicial
era fazer recortes das respostas a fim de selecionar o que havia de mais
importante nas falas dos professores. No entanto, uma questão crucial
apresentou-se, o que considerar mais importante? E se o que parecer mais
importante para pesquisadora não for da mesma forma para o professor
entrevistado?
Uma consulta intensa na literatura sobre como trabalhar com
conteúdos de respostas obtidas em entrevistas foi realizada, e uma das formas
consideradas mais adequadas para se trabalhar com a interpretação dos dados
19
neste trabalho, foi o procedimento da textualização. Textualizar respostas
segundo o conceito de Guérios (2002, p. 33) é “a arte de composição textual
pelo pesquisador sobre o outro, na voz do outro”. Realizando, portanto, a
reorganização do discurso apresentado inicialmente nas entrevistas a fim de
complementá-los para que o texto se apresente mais claramente a quem
estiver lendo e mantenha com maior fidelidade possível as falas do
entrevistado.
Desta forma, será possível resguardar as respostas como um todo
preservando a visão e a experiência de vida dos professores em toda a sua
intereza. Isto contribui para expressar a concepção dos professores formadores
a respeito do curso e de todos os relatos de práticas realizadas no processo de
formação do curso examinado.
A intenção de preservar as entrevistas em todo o seu conteúdo é
apresentar aos pesquisadores a vivência dentro de um curso de Educação
Física para formação de professores pelo relato fiel dos professores
formadores.
Assim, na realização desta pesquisa, foram estabelecidos os seguintes
passos: a) Estudo das Resoluções e Portarias referentes ao objeto de
pesquisa; b) Leitura e análise da proposta de reformulação do curso
investigado; c) Contato com a coordenação do curso; d) Contato com os
professores do curso; e) Realização das entrevistas com a coordenação e os
professores; f) Transcrição e Interpretação das respostas obtidas, realizando a
textualização das mesmas; g) Categorização dos dados mediante leitura
flutuante das respostas; h) Análise considerando os referenciais do campo de
estudo em que se situa esta investigação.
Buscando uma maior compreensão do objeto de pesquisa, realizou-se
um estudo para compreensão da grade de disciplinas voltadas para a formação
de professores no curso de Licenciatura em Educação Física, da Instituição
pesquisada.
Com isso, procurou-se alcançar uma percepção do contexto onde
acontece a formação dos futuros professores na licenciatura e quais as
concepções buscadas para uma formação docente.
20
2.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA
A Pesquisa teve como sujeitos professores atuantes no curso de
Educação Física no ano 2010. O curso contava na época com um total de 43
docentes atuantes. Após contato com a coordenação do curso e a autorização
para realizar a Pesquisa, iniciou-se o contato com os professores para agendar
as entrevistas e a coleta dos dados sequenciais.
Junto à coordenação do curso foi realizada uma seleção prévia dos
professores a serem entrevistados, seguindo alguns critérios. Para pesquisa
foram convidados 15 professores, considerando os seguintes critérios: a) os
mesmos deveriam ser formados em Licenciatura em Educação Física; b) ter
como formação continuada no mínimo o mestrado; c) buscou-se os professores
com maior tempo de atuação docente no curso, pelo menos com dois anos de
atividade acadêmica; d) ter participado da Reformulação Curricular no curso; e)
e estar atuando em disciplinas da nova proposta curricular para formação de
professores.
Dos 15 professores convidados a participar da pesquisa, 09
professores aceitaram o convite e as participações foram de grande valor, pois
todos os respondentes se empenharam em sua participação, fazendo com que
cada entrevista durasse em média 40 minutos, trazendo em suas respostas um
rico conteúdo de contribuições para o melhor entendimento do objeto de
Pesquisa e suas implicações.
Para melhor exemplificação, os dados sobre os sujeitos da Pesquisa
estão representados na Figura 1.
21
Figura 1 - Sujeitos da Pesquisa.
Fonte: A autora, 2011.
As informações do Quadro 1 – Identidade dos respondentes são parte
integrante das entrevistas realizadas com os professores e coordenadores do
curso de Educação Física e serviram para auxiliar na caracterização dos
entrevistados objetivando uma melhor compreensão do quadro de docentes
entrevistados.
Quadro 1 - Identidade dos Respondentes.
IDENTIDADE DOS RESPONDENTES
IDENT. SEXO FORMAÇÃO INICIAL /
GRADUAÇÃO
FORMAÇÃO CONTINUADA
EXP. NO
CURSO DE EF
EXP. NA ED.
BÁSICA
ATUANTE NA LIC,
BACH OU AMBOS
A M Licenc. em EF Doutorado 25 anos 04 anos Ambos
B M Licenc. em EF Mestrado 02 anos Não Ambos
C F Licenc. em EF Mestrado 24 anos 02 anos Ambos
D M Licenc. em EF Mestrado 15 anos 01 ano Ambos
E M Licenc. em EF Mestrado 05 anos Não Bacharelado
F F Licenc. em EF Mestrado (Doutoranda)
25 anos 07 anos Ambos
G M Licenc. em EF Doutorado 15 anos 07 anos Bacharelado
H M Licenc. em EF e Adm. de
Empresas
Mestrado 06 anos 01 ano Ambos
I M Licenc. em EF Mestrado 22 anos 03 anos Ambos
Fonte: A autora, 2011.
22
Constatou-se pelas informações de caracterização dos entrevistados
que 100% dos professores entrevistados têm sua formação inicial na
Licenciatura Plena em Educação Física. Um professor também possui uma
segunda graduação em Administração de Empresas.
Dentro de uma formação continuada 02 professores tem doutorado e
07 professores são mestres, sendo que uma professora está atualmente em
processo de doutoramento.
O tempo de atuação como docente no curso variou de 02 anos a 25
anos, constatando-se que existem professores atuantes no curso recém-
ingressos, mas a grande maioria já possui uma trajetória bem fundamentada de
trabalho e história dentro do curso.
Dos 09 professores entrevistados, 02 não possuem experiência na
Educação Básica, sendo que os demais professores já atuaram em escolas por
algum período, adquirindo alguma experiência de vivência escolar, conhecendo
as particularidades de ser professor atuante em instituições de Ensino Infantil
ou Ensino Médio.
Quanto à atuação nas áreas de formação na Educação Física, ou seja,
Licenciatura e Bacharelado, com exceção de 02 professores que atuam apenas
no Bacharelado, mas já atuaram na Licenciatura anteriormente, os demais
atuam nas duas áreas de formação de professores dentro do curso,
ministrando a mesma disciplina para ambas as áreas, mas com enfoque
direcional para cada formação, sendo assim, as disciplinas por vezes,
apresentam o mesmo conteúdo para as duas áreas, mas em certos momentos,
conforme o desenvolvimento dos assuntos é realizado um direcionamento mais
específico para a formação que o professor está trabalhando.
Assim verificou-se que dos 09 professores participantes da Pesquisa,
quase todos possuem uma vasta experiência de prática profissional e são
ativos no curso há vários anos, atuando nas duas áreas de formação
profissional que o curso de Educação Física oferece atualmente.
23
3 REFORMULAÇÃO NAS LICENCIATURAS: IMPLICAÇÕES NA FORMAÇÃO DÕS PROFESSORES
Este capítulo apresenta conceitos sobre a reformulação nas
licenciaturas e em específico na Educação Física, dando ênfase a
reestruturação curricular do curso em estudo e as mudanças pedagógicas
ocorridas no atual currículo de formação de professores junto às necessidades
de reformulação do curso, segundo as Diretrizes Curriculares que estão
destinadas ao cumprimento do contido na Resolução CNE/CP nº 01/2002 para
o curso de licenciatura visando a formação geral e para formação específica, o
curso deverá tomar como parâmetros a matriz curricular, dos conteúdos
programáticos de cada área de conhecimento, definindo os conteúdos
específicos da área em acordo como o que está indicado na Resolução
CNE/CES nº 07/2004.
Este capítulo também expressa a análise dos dados junto as
entrevistas realizadas com a coordenação do curso de Educação Física e os
professores participantes da Pesquisa.
Para realização das análises das respostas, as mesmas foram
agrupadas em categorias, as quais foram definidas pela afinidade dos assuntos
pesquisados, considerando recorrências nos conteúdos das falas dos
entrevistados.
Na primeira categoria foram classificadas as perguntas relevantes a
formação de professores considerando a organização do curso de Educação
Física, destacando as particularidades de cada área de formação e os
propósitos das disciplinas.
Esta descrito sobre o processo de reformulação, destacando o que o
motivou e quais as principais mudanças ocorridas no currículo para formação
de professores para Educação Básica após a reformulação.
Foi comentado também o trabalho de formação considerando se o
curso desenvolve uma formação voltada ao conceito de inclusão e para a
diversidade nas disciplinas e se existe uma abordagem interdisciplinar entre as
disciplinas no curso de Educação Física.
24
Inclui-se nesta categoria como está sendo encaminhada a formação de
professores para atuação na Educação Básica dentro de uma fundamentação
científica, ética, prática e técnica dentro do curso e como é desenvolvida a
formação pedagógica. Outro aspecto pesquisado foi a formação docente
aplicada a pesquisa realizada pelo curso.
Também se buscou entender dentro das disciplinas como ocorre a
formação para o trabalho nas escolas com as diferentes etapas do Ensino, a
Educação Infantil, o Ensino Fundamental, o Ensino Médio e se há a
preocupação com outras práticas educativas.
A segunda categoria de análises foi agrupada observando a
importância da relação Teoria e Prática para formação de professores
desenvolvida no curso, apontando a maneira como são trabalhadas as
disciplinas, os conteúdos, as dinâmicas, as atividades e a avaliação.
Nesta categoria também se incluiu a prática de Estágios no curso e nas
disciplinas especificamente, destacando como é contemplada a prática de
Estágio para os alunos e como se estabelece a relação entre o curso e os
campos de Estágio que irão receber os alunos em formação. Outro tópico foi a
maneira que o professor encaminha sua prática docente no curso e sua prática
pedagógica dentro da disciplina que ministra.
A terceira e última categoria de análise ficou destinada a apresentar na
concepção dos professores formadores qual é a visão que eles têm atualmente
sobre a formação de professores para a Educação Básica no curso que atuam.
Outro tópico destacado foi a respeito do perfil dos alunos que
ingressam no curso de Educação Física, tanto para a Licenciatura quanto para
o Bacharelado e o que os professores formadores esperam que estes alunos
venham a se tornar em sua vida profissional. De que maneira eles desejam que
esses futuros professores venham a se inserir em seus campos de atuação e o
que eles esperam que esses alunos venham a se tornar em sua vida
profissional, tendo como base a formação inicial recebida no curso pesquisado.
25
3.1 DOS CURSOS UNITÁRIOS AOS CURSOS ESPECÍFICOS: REFORMULAÇÃO CURRICULAR NA EDUCAÇÃO FÍSICA
Inicialmente os cursos de Educação Física em licenciatura plena
apresentavam como característica o enfoque ao esporte e ao movimento
humano, fazendo com que as propostas de formação de professores nesses
cursos fossem voltadas muito mais para a formação do graduado em Educação
Física, o qual seria habilitado para trabalhar em diversas áreas de atuação
(qualidade de vida, treinamento, condicionamento físico, lazer, administração
de centros esportivos, entre outros e também como professor na Educação
Básica), considerando que os currículos de formação para licenciatura plena, a
priori, estariam proporcionando uma formação qualificada para atuação do
profissional de Educação Física em qualquer área que ele se inserisse para
desenvolver suas aptidões.
Percebe-se que há muito tempo as diretrizes curriculares têm sido alvo
de contínua atenção perante os educadores, pesquisadores e os órgãos
governamentais, objetivando o desenvolvimento de documentos direcionadores
dos cursos voltados às necessidades de formação docente.
A proposta da reformulação curricular no curso de Educação Física,
criando duas áreas de formação de professores diferenciadas, observa o que
foi descrito legalmente nos pareceres, resoluções e diretrizes que servirão
como um eixo norteador para o desenvolvimento do novo currículo de
formação de professores e profissionais da Educação Física, se adequando as
novas exigências documentais, geradas a partir da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, Lei 9394/96.
No que se refere à licenciatura, pode-se citar como marco de
mudanças significativas a Resolução nº 01/99 do Conselho Nacional de
Educação/Conselho Pleno (CNE/CP), que definiu a preparação para os
professores da Educação Básica, a ser realizada como um processo
autonômo, em curso de licenciatura plena. Com o parecer CNE/CP
nº 09/2001 e da Resolução CNE/CES nº 01/2002, o curso de licenciatura
adquiriu estrutura com identidade própria em relação ao bacharelado, com
objetivos e conteúdos específicos, gerando assim um perfil profissional próprio
26
para atuação no sistema de ensino com direcionamentos para a área da
docência.
Em maio de 2001, foi aprovado o Parecer CNE/CP nº 09/2001,
determinando que “A licenciatura ganhou, como determina a nova legislação,
terminalidade e integralidade própria em relação ao bacharelado, constituindo-
se um projeto específico”. Auxiliando os cursos de licenciatura a reverem o
processo de formação de professores para Educação Básica mais direcionada
aos trabalhos pedagógicos diretamente na escola.
Os cursos específicos de licenciatura dentro das Universidades,
considerando estas resoluções, abrem novas possibilidades para desenvolver
um projeto de trabalho pedagógico destinado à formação de professores para
atuação nas instituições de ensino, baseado em pilares de conhecimentos
científicos, técnicos e práticos, buscando formar professores qualificados a
exercer sua função docente com sabedoria e responsabilidade perante seus
alunos.
Com isso, segundo o Parecer CNE/CP nº 09/2001, os cursos de
licenciaturas nas instituições de ensino superior destinados para a formação de
professores para atuação na Educação Básica, entre eles o curso de Educação
Física, precisaram ser reformulados para ganharem uma estrutura própria de
formação de professores, exigindo dos cursos uma “definição de currículos
próprios da Licenciatura que não se confundam com o Bacharelado ou com a
antiga formação de professores que ficou caracterizada como modelo 3+15
(Parecer CNE/CP nº 09/2001, p.6)”.
No ano seguinte, em abril de 2002, foi aprovado o Parecer CNE/CES
nº 0138/2002 com novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de
Graduação em Educação Física, onde foi definido que “o Graduado de
Educação Física com Licenciatura em Educação Física deverá estar
capacitado a atuar na Educação Básica e na Educação Profissional (p.3)”,
levando o graduado em Educação Física, ainda segundo o Parecer CNE/CES
nº 0138/2002, receber uma “formação generalista, humanista, crítica e
reflexiva” (p.3), para assim estar apto a atuar nas áreas profissionais da
Educação Física, tendo uma qualificação científica, intelectual e ética.
5 Modelo 3+1 - três anos para o estudo das disciplinas específicas e um ano para a formação didática.
27
Assim sendo, a construção dos currículos destinados a formação de
professores em Educação Física tende a passar por reformulações a fim de
atender as novas competências de formação, onde deverá ser considerado
para o embasamento do currículo de formação do licenciado em Educação
Física a Resolução CNE/CP nº 01/2002 que descreve as orientações
necessárias para a construção deste currículo.
Esta Resolução estabelece que o curso de licenciatura em Educação
Física “constituem-se de um conjunto de princípios, fundamentos e
procedimentos a serem observados na organização institucional e curricular de
cada estabelecimento de ensino e aplicam-se a todas as etapas e modalidades
da Educação Básica (Resolução CNE/CP nº 01/2002, p.1)”.
Segundo a Resolução citada os cursos de licenciatura deverão assumir
uma nova postura de formação, tornando esta formação mais específica para a
área da docência como é descrito no Artigo 1º:
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, constituem-se de um conjunto de princípios, fundamentos e procedimentos a serem observados na organização institucional e curricular de cada estabelecimento de ensino e aplicam-se a todas as estapas e modalidades da educação básica (RESOLUÇÃO CNE/CP nº 01 de 2002, p.1).
Diferenciações aconteceram para formação do futuro professor para
Educação Básica e estas mudanças também atingiram a prática pedagógica do
professor e o estágio supervisionado, alterando a carga horária para estas
atividades e suas aplicações no campo escolar.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para Graduação em Educação
Física (2004) destacam no Artigo 10º:
A formação do graduado em Educação Física deve assegurar a indissociabilidade teoria-prática por meio da prática como componente curricular, estágio profissional curricular supervisionado e atividades complementares (RESOLUÇÃO CNE/CES nº 07 de 2004).
Visando pautar esta formação com experiências no cotidiano escolar e
suas modalidades de ensino, a Resolução CNE/CP nº 02 de 19 de Fevereiro
de 2002, traz mudanças significativas para carga horária dos cursos de
28
licenciatura, incluindo o de Educação Física, aumentando as horas de prática,
estágios supervisionados e aulas curriculares como ressaltado no Artigo 1º,
onde se define:
Art. 1º A carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, será efetivada mediante a integralização de, no mínimo, 2800 (duas mil e oitocentas) horas, nas quais a articulação teoria-prática garanta, nos termos dos seus projetos pedagógicos, as seguintes dimensões dos componentes comuns: I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, vivenciadas ao longo do curso; II - 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda metade do curso; III - 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza científico cultural; IV - 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades acadêmico-científico culturais (RESOLUÇÃO CNE/CP nº 02 de 2002).
O Art.10, das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de
graduação em Educação Física (Resolução nº 07, de 31 de março de 2004),
demarcam alguns itens em relação à prática e aos estágios na graduação para
licenciatura destacando:
Parágrafo 1º - A prática como componente curricular deverá ser contemplada no projeto pedagógico, sendo vivenciada em diferentes contextos de aplicação acadêmico-profissional, desde o inicio do curso. Paragrafo 2º - O estágio profissional curricular representa um momento da formação que o graduando deverá vivenciar e consolidar as competências exigidas para o exercício acadêmico-profissional em diferentes campos de intervenção, sob a supervisão de profissional habilitado e qualificado, a partir da segunda metade do curso. (RESOLUÇÃO CNE/CES nº 07 de 2004).
Estes são alguns tópicos destacados das diretrizes para uma formação
acadêmica do professor de Educação Física e que as Universidades estão
incumbidas de reestruturar no curso, revisando o currículo de formação.
Após a ordenação do parecer CNE/CP nº 09/2001 e da Resolução
CNE/CES nº 01/2002, o curso de Licenciatura Plena em Educação Física do
curso pesquisado foi reestruturado para atender a duas formações distintas, a
Licenciatura e o Bacharealdo. Com isso o curso de Licenciatura, buscou
oferecer aos alunos uma formação mais direcionada a prática pedagógica e a
atuação docente, que se distinguiu da formação do bacharel, criando uma área
específica para a formação de professores que atuarão na Educação Básica.
29
Em 18 de março de 2004, o CNE (Conselho Nacional da Educação)
aprova as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para Graduação na
Educação Física, distinguindo que o curso de Educação Física passa a ter o
compromentimento de formar dois profissionais distintos com alterações em
seus curriculos de formação, direcionando estes profissionais para as áreas
específicas de formação, ou seja, licenciatura ou bacharelado, criando uma
distinção entre a formação de professores para atuação na Educação Básica e
profissionais técnicos para atuação nas áreas não formais da profissão, ou
seja, fora das escolas.
A partir desta Resolução, os cursos de Educação Física tiveram que
reestruturar seu currículo para formação de professores a fim de atender as
novas definições definidas por lei e se adaptar a elas, construindo um currículo
de formação para cada área; Licenciatura e Bacharelado.
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para graduação em
Educação Física (2004) “As competências de natureza político-social, ético-
moral, técnico-profissional e científica deverão constituir a concepção nuclear
do projeto pedagógico de formação do graduado em Educação Física (Art.6º,
p.01)”.
As Diretrizes direcionam os campos de atuação profissional,
especificando as atribuições de cada área de formação, como consta no Art.4º,
parágrafo 1º, das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para Graduação na
Educação Física a formação acadêmica para o graduado6 em Educação Física
deverá qualificá-lo para:
Analisar criticamente a realidade social para nela intervir acadêmica e profissionalmente por meio das diferentes manifestações e expressões do movimento humano, visando a formação, a ampliação e o enriquecimento cultural das pessoas, para aumentar as possibilidades de adoção de um estilo de vida fisicamente ativo e saudável (RESOLUÇÃO CNE/CES nº 07 de 2004).
E segundo o Art.4º, parágrafo 2º, a formação acadêmica para o
licenciado7 em Educação Física deverá qualificá-lo para exercer:
6 Grifo da pesquisadora 7 Grifo da pesquisadora
30
A docência deste componente curricular na educação básica, tendo como referência a legislação própria do Conselho Nacional de Educação, bem como as orientações específicas para esta formação tratadas nesta Resolução (RESOLUÇÃO CNE/CES nº 07 de 2004).
Com base nas definições supracitadas fica exposto para o curso de
Educação Física a distinção do bacharel e do licenciado.
As Diretrizes Curriculares para o curso de Educação Física destacam
que a formação qualificada em uma instituição de ensino superior ao longo da
graduação se efetivará junto ao currículo do curso, que deverá, segundo o
Art.5º, das Diretrizes Curriculares para graduação em Educação Física, pautar
seu projeto pedagógico para a graduação em Educação Física nos seguintes
princípios:
a) autonomia institucional; b) articulação entre ensino, pesquisa e extensão; c) graduação como formação inicial; d) formação continuada; e) ética pessoal e profissional; f) ação crítica, investigativa e reconstrutiva do conhecimento; g) construção e gestão coletiva do projeto pedagógico; h) abordagem interdisciplinar do conhecimento; i) indissociabilidade teoria-prática; j) articulação entre conhecimentos de formação ampliada e específica (RESOLUÇÃO CNE/CES nº 07 de 2004).
A revisão dos currículos para formação de professores deverá ser
elaborado para cada área de formação oferecida, direcionando os conteúdos
de estudo. Neste currículo de formação de professores deverá conter
conteúdos de Formação Ampliada e também de Formação Específica.
Segundo o Artigo 7º, das Diretrizes Curriculares para Graduação em
Educação Física (2004), Parágrafo 1º, A Formação Ampliada deve abranger as
seguintes dimensões do conhecimento: a) Relação ser humano-sociedade; b)
Biológica do corpo humano; c) Produção do conhecimento científico e
tecnológico.
Ainda segundo o mesmo artigo, Parágrafo 2º, A Formação Específica,
que abrange os conhecimentos identificadores da Educação Física, deve
contemplar as seguintes dimensões: a) Culturais do movimento humano; b)
Técnico-instrumental; c) Didático-pedagógico.
A Resolução CNE/CP nº 07/2004 descreve também no Parágrafo 3º
uma complementação para a articulação dos currículos do curso:
31
A critério da Instituição de Ensino Superior, o projeto pedagógico do curso de graduação em Educação Física poderá propor um ou mais núcleos temáticos de aprofundamento, utilizando até 20% da carga horária total, articulando as unidades de conhecimento e de experiências que o caracterizarão (RESOLUÇÃO CNE/CP nº 07 de 2004).
Relacionado à formação de professores no Ensino Superior para a
atuação no Ensino Básico, podemos observar que As Diretrizes Curriculares
para graduação em Educação Física (2004) trazem novas concepções sobre a
formação do professor e estas nos remetem a enfrentar novos desafios, que
muitas vezes estão enraizadas em nossa formação e que se tornam obstáculos
a serem superados na formação do professor para o exercício da docência.
Essas Diretrizes trazem para o curso um direcionamento a ser
cumprido junto aos docentes e alunos do curso, possibilitando aos mesmos,
vivências integradas ao sistema de ensino, considerando ainda que segundo
as Diretrizes as atividades práticas deverão contar com a supervisão de
profissional qualificado e habilitado que será responsável pela orientação das
práticas dos alunos e intervenção nesta, se necessário for.
Das reformulações curriculares na licenciatura ocorridas ao longo dos
tempos, uma que se fez destaque no curso de Educação Física foi a separação
do curso de Educação Física em duas áreas de formação, uma destinada a
Licenciatura e outra ao Bacharelado, onde ficou definido os objetivos da
formação de professores para atuação na Educação Básica, fazendo com que
o curso tivesse mudanças significativas em seu currículo a ser reformulado
para atender as necessidades de um novo Projeto Pedagógico que atendesse
as necessidades e as modificações desta formação docente.
Percebe-se, que após esta divisão dos cursos, tendo suas atribuições
profissionais definidas, o currículo de formação de professores do curso de
Educação Física pesquisado, expressa a compreensão das novas exigências
curriculares e profissionais em busca de atender as necessidades para cada
formação segundo o que consta na Resolução CNE/CP nº 01 de 18 de
fevereiro de 2002 e Resolução CNE/CP nº 02 de 19 de fevereiro de 2002 para
a formação de atuação na Educação Básica e sob a perspectiva do Conselho
Nacional de Educação na Resolução nº 07 de 31 de março de 2004 para a
formação específica do graduado de Educação Física.
32
Atualmente, em 2011, o curso apresenta modificações em seu
currículo, considerando a Resolução nº 47/2007 – CONSUN8, a qual aprova a
alteração na duração dos cursos de Educação Física - Bacharelados e
Licenciatura – de 3,5 anos para 04 anos e a uma nova reorganização
curricular, para ingressantes a partir do 2º semestre de 2007 e 1º semestre de
2008, respectivamente, fazendo que o curso passasse novamente por
alterações a fim de se adequar a esta resolução a qual altera o curso de um
regime semestral para anual, como era antes da reformulação a qual formava
os professores de Educação Física em Licenciatura Plena, tendo o curso a
duração de 04 anos.
Esta separação das áreas de formação no curso de Educação Física é
bastante polêmica e apresenta controvérsias a respeito. Destaco a seguir,
colocações diferenciadas de alguns autores a respeito da separação das áreas
de formação de professores para Educação Física, tentando expor que esta
nova reestruturação do curso não foi bem aceita por todas as entidades ligadas
a Educação Física e nem tão pouco por todos os estudiosos, que argumentam
sobre a ruptura do curso, salientando que a mesma enfraqueceu a Educação
Física a partir do momento que foi direcionada as áreas de atuação profissional
para formações distintas, deixando de serem considerados, a priori, os
conhecimentos da área.
Essas necessidades são definidas socialmente, vinculadas também a
grupos de especialistas que julgaram necessário a separação do curso e sua
reestruturação visando principalmente os campos de atuação profissional,
fazendo uma distinção dos profissionais de Educação Física que irão atuar nas
escolas (os licenciados) e os profissionais que irão atuar nos demais áreas da
Educação Física (os bacharéis). Desta forma, ficou definido que os cursos de
Educação Física deveriam separar as áreas de formação profissional
direcionando os cursos para se reestruturarem a fim de buscar uma formação
que possa proporcionar aos futuros professores estratégias e conhecimentos
na sua área de atuação específica.
Steinhilber (2006) distingue o campo de atuação para o graduando de
Educação Física esclarecendo:
8 CONSUN – Conselho Universitário.
33
(...) aqueles alunos que desejarem atuar como Professores de Educação Física Curricular na Educação Básica devem procurar frequentar o curso de LICENCIATURA, e aqueles outros que desejarem atuar em demais nichos do mercado de trabalho específico da Educação Física, devem procurar cursos superiores de GRADUAÇÃO (bacharelado conforme já esclarecido), estando claro que um formado em curso de licenciatura não poderá atuar na área do formado em curso de “bacharelado” e vice versa (STEINHILBER, 2006, p.20).
Neste contexto, se apresenta um ponto de questionamento referente a
essa nova estruturação curricular: A quem realmente beneficiou esta
separação do curso de Educação Física? Os alunos do curso são os quem
mais usufruirão positivamente desta reformulação?
Segundo Taffarel (2006a) a questão da separação “torna-se tão
somente pragmática: onde deve ser inserido o profissional? A autora também
destaca:
As ofensivas realizadas na última década sobre os cursos de formação de professores, notadamente os de Educação Física, a saber, privatizações, reformulações curriculares mercadológicas reforçam a lógica pós-moderna ao determinarem a fragmentação do conhecimento sob a égide do mercado (TAFFAREL, 2006a, p.05).
A formação de professores está sendo regida atualmente pelos
interesses e necessidades que vão surgindo na sociedade e para atender
essas demandas, os cursos responsáveis pela formação de professores, entre
eles, certamente se encontra o curso de Educação Física, são incumbidos de
realizar reestruturações em seu currículo a fim de propiciar uma formação
visando as evoluções educacionais e profissionais que acontecem diante de
novas exigências sociais e das novas regras que são ditadas.
A ruptura do curso de Educação Física investigado, separando o curso
em duas áreas distintas de formação e atuação profissional vem demonstrando
essa característica e traz ao curso novas possibilidades de integração as áreas
de atuação profissional, considerando que o mesmo destina-se a uma
formação mais centrada aos interesses das áreas de formação.
Diniz-Pereira (1999) já expressava uma visão apurada das
necessidades de reformulações curriculares existentes para a formação de
professores na educação, expondo que “essas alterações representam uma
superação do atual modelo de preparação dos profissionais da educação e um
34
salto qualitativo para a formação de professores (DINIZ-PEREIRA, 1999,
p.123)”.
A formação de professores está diretamente ligada ao currículo do
curso e suas atribuições fazendo com que o futuro professor seja preparado
para enfrentar com êxito as situações do cotidiano e suas implicações e para
isso se faz necessário manter um olhar atento e futurista em relação as
mudanças que surgem na sociedade e em toda estrutura educacional,
buscando manter um padrão satisfatório de formação de professores pautados
em qualidade de formação profissional, científica e humana, não só formando o
professor, mas sim transformando-o em um professor.
Taffarel (2001) explica:
O processo de reformulação das diretrizes curriculares para os cursos de graduação foi intensificado no Brasil frente as pressões e demandas externas à Universidade (reestruturação positiva, ajustes estruturais, reforma do Estado) e tencionamentos internos dos cursos de graduação (insatisfação com o currículo extenso, fragmentado e ultrapassado) (TAFFAREL, 2001, p.1).
Nesse contexto é possível salientar a importância do professor
formador, destacando que o mesmo trabalha em processo inacabado. Santiago
(2007) expõe que “o professor é aquele que tem por profissão a função
específica e especializada, realiza parcela significativa da atividade educativa
que a sociedade considera relevante para sua conservação e transformação”,
buscando desenvolver uma identidade própria a fim de se inserir em uma
sociedade tão diversificada em culturas, conhecimentos e interpretações.
Ao professor em formação se faz necessário ter o olhar voltado sempre
à frente em busca de novos conhecimentos e aprimoramentos, pois o professor
atual necessita estar sempre complementando sua educação, revendo seus
conceitos e atualizando seus conhecimentos, a fim de se adequar a um
processo evolutivo na educação buscando em sua prática pedagógica a
relação professor-aluno-sociedade mantendo uma intercomunicação
harmoniosa entre todos os envolvidos neste processo de aprendizagem.
Garanhani (2008) nos remete a pensar no professor como um facilitador
na busca pelo conhecimento e expõe:
35
Ao entender o aprender como um processo de hominização, não se pode compreendê-lo como o resultado de um processo cumulativo de informação, mas sim de um processo de seleção, organização e interpretação da informação a que cada um está exposto. O professor é mais do que transmissor de informações, ou seja, o professor é um construtor de sentido (GARANHANI, 2008, p.200).
Este processo evolutivo que ocorre em todas as áreas e especialmente
na educação, nos faz buscar através de uma formação acadêmica bem
sedimentada os meios para alcançar os objetivos profissionais. Sendo assim,
podemos considerar que o currículo de formação de professores deve estar
sempre estruturado a fim de atender as necessidades educativas de formação
dos futuros professores tornando-os profissionais críticos e comprometidos
com a sua função docente, sua prática pedagógica e seu desenvolvimento
profissional.
Taffarel, et al. (2006b) comenta sobre as reformas educacionais, mais
especificamente a da reformulação dos currículos de formação de professores
nas instituições de ensino superior sob a perspectiva das Diretrizes para a
formação de professores na licenciatura que irão atuar na Educação Básica
sob a Resolução CNE/CP nº 01 de 18 de fevereiro de 2002 e Resolução
CNE/CP nº 02 de 19 de fevereiro de 2002 e na formação específica do
graduado de Educação Física sob a perspectiva do Conselho Nacional de
Educação na Resolução nº 07 de 31 de março de 2004, dizendo que as
reformas têm gerado muita polêmica no meio acadêmico. Expõe a autora:
Localizamos aí um paradoxo. Na medida em que existe a necessidade de mais professores, desqualifica-se a formação, separando-a artificialmente em “licenciatura”, voltada ao sistema formal de ensino e “bacharelado” aos demais setores (TAFFAREL, ET AL., 2006b, p.94).
Em um texto bem atual encontramos a narrativa de Frizzo (2010)
comentando que a divisão do curso de Educação Física para formação de
professores em áreas distintas, licenciatura e bacharelado foi “Um dos erros
históricos da Educação Física (p.163)” e que muitos protestos se fizeram para
que esta ruptura não acontecesse e que até hoje existe uma oposição a esta
ruptura do curso de Educação Física, coordenada principalmente por um grupo
conhecido como:
36
Movimento Estudantil da Educação Física (MEEF9), representado pela Executiva Nacional dos Estudantes de Educação Física (EXNEEF10) e por outros setores do campo da esquerda da Educação Física que afirmam a inconsistência teórica e prática de tal proposição (FRIZZO, 2010, p.164).
Este grupo luta junto aos órgãos responsáveis para que aconteça uma
nova reestruturação a fim de integrar novamente a formação de professores
nos cursos de Educação Física, não se utilizando totalmente do currículo
antigo, mas sim promovendo modificações para que o currículo possa
prestigiar de forma permanente tanto a formação pedagógica didática como
também a formação técnica da área.
A Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física - EXNEEF
(2003) em uma carta enviada ao CNE coloca-se contrária a construção das
Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Física, esclarecendo que a
proposta curricular para formação de professores de Educação Física também
deverá prestigiar questões de ordem político-sociais e complementa a respeito
da formação salientando:
Uma proposta curricular deve se questionar sobre os objetivos do curso de formação, buscando uma maior articulação entre teoria e prática, garantindo a interdisciplinaridade assim como reconhecer, identificar e respeitar as diferenças de seus alunos, sistematizar os saberes pedagógicos de modo a facilitar o processo ensino e aprendizagem, incentivar a pesquisa em prol da construção social, direcionando sempre para ações crítico transformadoras. (EXECUTIVA NACIONAL DE ESTUDANTES DE EDUCAÇÃO FÍSICA – EXNEEF, 2003, p. 02).
Ainda Frizzo (2010) em sua argumentação complementa sobre a
divisão do curso de Educação Física em licenciatura e bacharelado destacando
que a mesma “Representa a fragmentação do conhecimento em duas áreas
distintas e pauta a formação dos professores em modismos e necessidades do
mercado (p.167)”. Assim constata-se segundo os estudos de Frizzo (2010) que
alguns cursos de Educação Física defendem a unificação da área novamente,
voltando a ser um único curso de formação de professores de caráter
ampliado.
Rodrigues (2011) nos traz sua contribuição de pesquisa sobre este
assunto salientando que “A Licenciatura Ampliada pressupõe a compreensão 9 MEEF – Movimento Estudantil da Educação Física 10 EXNEEF - Executiva Nacional dos Estudantes de Educação Física
37
da formação do professor de Educação Física apto a atuar em diferentes
espaços tendo como objeto de identidade a docência (p.8)”, ou seja, alguns
cursos de Educação Física estão reanalisando suas propostas de formação de
professores com a finalidade de reverter a ruptura das áreas e centrar uma
única formação de professores direcionada as suas condições de trabalho e
não especificamente a uma área de formação.
Também Taffarel e Lacks (2005), defendem a formação profissional do
curso de Educação Física numa perspectiva ampliada, considerando que a
formação deve se realizar no ensino superior, definindo no currículo de
formação de professores de Educação Física uma formação pautada nos
princípios científicos, pedagógicos, técnicos, ético, moral e político,
independentemente da área de atuação profissional que o aluno irá exercer
após a sua formação, considerando que desta maneira, o aluno estaria tendo
um aprendizado completo, estando apto a exercer a profissão que ele mais
tiver afinidade em sua plenitude de conhecimentos da área educacional e
profissional.
Percebe-se que a reestruturação curricular do curso de Educação
Física trouxe para área muitos questionamentos a respeito da separação de
formação de professores e profissionais e suas áreas de atuação e que
instituições estão tentando reverter este processo de separação para unificar
novamente o curso de Educação Física em uma só formação de professores
de Educação Física, mas com uma estruturação curricular complementada
para as duas áreas de formação.
Cabe, ainda, a reflexão das razões que motivaram tais reformulações
curriculares que vem acontecendo dentro das Instituições, a fim de auxiliar a
formação do professor que irá atuar no segmento do Ensino Educacional, pois
não basta ter um currículo muito bem organizado se o mesmo não contemplar
uma formação acadêmica que consiga dar um suporte básico para a atuação
do futuro professor, e esta base necessita estar muito bem fundamentada nas
Instituições de Ensino Superior, que são as responsáveis pela formação inicial
do professor.
38
3.1.1 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CURSO DE EDUCAÇÃ O FÍSICA
No atual contexto da Educação Brasileira foram instituídas novas
Diretrizes Curriculares para os cursos de formação de professores, as mesmas
tem por objetivo servir de referência para as instituições de ensino superior na
organização de seus currículos de formação profissional, assim como
estabelece orientações específicas para a licenciatura plena em Educação
Física, nos termos definidos nas Diretrizes Curriculares Nacionais para
formação de professores da Educação Básica, dando-lhes um rumo a seguir.
(RESOLUÇÃO CNE/CES nº. 07 de 31 de março de 2004).
Antes da reformulação curricular, o curso pesquisado tinha a duração
de 04 anos e o futuro professor após sua formação, estaria apto a atuar tanto
no campo da Licenciatura como também no Bacharelado, tornando-se um
profissional com duas credenciais.
O curso oferecia uma formação para um professor generalista, que é
compreendido como o profissional formado sob uma perspectiva humanística
com Licenciatura Plena em Educação Física, onde os professores estariam
habilitados a exercerem sua profissão na área escolar (formal), como
professores regulamentados para a profissão e também aptos a atuarem em
outras áreas (não formais) com a formação de bacharel (recreação, lazer,
academias, personal trainer, treinamento desportivo, entre outras), que seria
caracterizado como professor especialista que escolheu um ramo particular da
Educação Física para se especializar, dentro de um conceito de formação
técnica.
O curso de Educação Física foi revisado e de uma graduação com
duração de quatro anos, passou a serem oferecidos dois cursos com
direcionamento apropriado para cada formação em três anos e meio cada um.
Nesta modificação o curso de Licenciatura teve suas horas aulas
ampliadas, especialmente em relação aos Estágios Supervisionados que
acontecem a partir do 5º período do curso iniciando pela Educação Infantil, no
6º período o Estágio é direcionado ao Ensino Fundamental e no 7º período do
curso o Estágio acontece no Ensino Médio, proporcionado aos alunos um
conhecimento das modalidades de ensino. Após a separação das áreas de
formação no curso de Educação Física, os conteúdos das disciplinas foram
39
revistos e direcionados para a área de formação docente, auxiliando o aluno no
entendimento dos conteúdos da Educação Física voltados à prática
pedagógica nas escolas. (Dados de Pesquisa).
Analisando dados coletados para Pesquisa observou-se que existe no
curso de Educação Física uma procura menos acentuada pela Licenciatura
para atuação docente no Ensino Básico. Pode-se constatar tal observação no
Quadro 2, que demonstra nas inscrições para realização do
vestibular, a procura pelo curso de Educação Física pesquisado e suas áreas
de formação.
No quadro 2 estão representados os números de inscritos para cursar
o vestibular direcionado ao curso de Educação Física. Na primeira coluna está
representado o ano da realização dos vestibulares, considerando que
acontecem duas provas anualmente. Na segunda coluna, encontra-se o
número de inscritos para o curso de Licenciatura e na terceira coluna para o
curso de Bacharelado, sendo que até o ano de 2002 as representações estão
apenas na coluna da Licenciatura, porque o curso teve a separação das áreas
a partir do ano de 2003. E na quarta e última coluna, está representado o
número total de inscritos para realização do vestibular para os cursos de
Educação Física.
Quadro 2 - Inscritos para o vestibular no curso de Educação Física de 2000 a 2010.
Fonte: A autora, 2011.
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40
No quadro representativo verificou-se que no ano de 2003 quando
houve a separação das áreas no curso de Educação Física se manteve uma
média no número total de alunos inscritos. Do ano de 2004 a 2007 as
inscrições sofreram um aumento significativo, indicando que o curso de
Educação Física estava em alta naquela época, provavelmente por algum fator
externo da sociedade ligada ao esporte e a qualidade de vida. A partir de 2008
começa um declínio na procura pelo curso, voltando a estabelecer em 2010
uma paridade com os anos iniciais representados no quadro.
Percebe-se pelos dados do
Quadro 2, que a partir da reformulação do curso de Educação
Física em 2003, houve uma procura maior pelo curso de Bacharelado em
Educação Física, exaltando a opção de se formar um profissional da área para
atuar nos diversos eixos que a formação permita e não um professor de
Educação Física pelo curso de Licenciatura que virá a atuar nas instituições de
ensino, sendo um professor específico para as escolas, mesmo que sua
formação em Licenciatura também lhe habilite a trabalhar em outros ramos da
Educação Física, demonstrando o interesse maior pela formação no
Bacharelado que fornecerá aos futuros formandos um campo mais vasto de
atuação profissional.
Diniz-Pereira (2000) descreve os principais dilemas presentes nas
licenciaturas brasileiras que colaboram para a diminuição da procura pelo curso
de licenciatura e comenta que se constata nos cursos de formação de
professores um tratamento diferenciado para as áreas de formação, exaltando
a desvalorização da licenciatura perante o curso de bacharelado:
A separação entre as disciplinas de conteúdo e disciplinas pedagógicas, a dicotomia bacharelado & licenciatura (decorrente da desvalorização do ensino na universidade, inclusive pelos docentes na área de Educação) e a desarticulação entre formação acadêmica e a realidade prática de escolas e professores (DINIZ-PEREIRA, 2000, p.57).
Entende-se que a desvalorização da licenciatura, pelo menos na visão
inicial do futuro acadêmico, pode ter relação com a visão sobre algumas
realidades, entre elas: a desvalorização do professor de escola, que precisa se
aplicar e dedicar muito à função docente e nem sempre é reconhecido por seu
41
esforço, sendo mais fácil talvez seguir a profissão de Educação Física nas
outras diversas áreas oferecidas para atuação profissional quando o graduando
se forma em Bacharelado.
A opção maior pelo curso de Bacharelado se faz presente hoje no
curso pesquisado, mas segundo os relatos de alguns professores esta
realidade está mudando um pouco, está acontecendo uma busca maior ao
passar dos anos pela Licenciatura, mas o curso de Bacharelado ainda é o mais
procurado. Ainda, segundo os professores, acontece muito dos alunos se
formarem em um curso e depois procurarem fazer o outro para obter as duas
formações profissionais e poderem atuar em qualquer área no ramo da
Educação Física.
Figueiredo (2004, p.91) nos traz o conceito “De que a experiência
social do aluno, construída durante sua trajetória, dentro e fora da escola,
interfere, influencia e/ou, de alguma forma, modela o perfil de formação inicial”.
Assim entende-se que a procura maior pela área de Bacharelado para
formação profissional vem já em um primeiro momento de uma observação
realizada ao longo de sua vivência escolar em suas relações sociais.
A fim de compreender a estruturação do curso de Educação Física
pesquisado buscaram-se informações junto à coordenação do curso a respeito
da procura pelo curso e se anualmente ingressava mais alunos para cursar a
Licenciatura ou o Bacharelado e também se a formação acontecia nas mesmas
proporções. Os professores/coordenadores teceram o seguinte comentário:
Segundo a professora F “O Bacharelado hoje tem um pouquinho mais que 3200
horas e a Licenciatura tem 3000 horas. E nós temos efetivamente uma procura muito maior
pelo Bacharelado do que pela Licenciatura, isso é evidente devido a restrição da atuação. Só
que nós estamos vivendo há dois anos uma experiência muito interessante, os nossos alunos
que estão terminando o Bacharelado, estão voltando para fazer a graduação na Licenciatura,
então esse semestre nós tivemos quase 50 alunos, que já estão formados em bacharel e que
vieram fazer a Licenciatura, esses 50, aproximadamente 40 permanecem fazendo as
disciplinas para buscar esta segunda formação. Quanto tempo a mais para a segunda
formação? Na verdade nós conseguimos colocar em dois anos para que pudesse dar conta
do trabalho. São 970 horas que eles tem que fazer nesta segunda formação e por conta da
organização dos Estágios, nós não temos como mudar para um ano só, porque ele não pode
fazer as disciplinas de Fundamentos da Educação, Fundamentos do Ensino, Metodologia e ao
42
mesmo tempo estar fazendo Estágio porque ele vai ter uma visão muito restrita da atuação do
profissional, então ele precisava fazer no primeiro ano essas disciplinas para que no segundo
ano ele possa além das disciplinas que faltam, poder fazer de forma mais adequada o Estágio
que ele tem que cumprir no curso (Profª.F)”.
E na opinião do professor G a respeito da procura pelos cursos e
formação dos professores, obteve-se a seguinte resposta: “Tem mais egresso no
Bacharelado do que na Licenciatura, e se forma mais bacharel do que licenciado. Esse ano,
apesar de não ter concluído ainda o processo seletivo, começamos a perceber pelo número de
inscritos um pouco mais de pareamento, um pouco mais..., mas ainda assim a procura, por
exemplo hoje, o último dia de inscrição no vestibular, a procura maior ainda é para o
Bacharelado (Prof.G)”.
Segundo os professores/coordenadores do curso de Educação Física, a
procura maior é pela área do Bacharelado, sendo que após a formação este
credencial fornece aos alunos um maior leque de opções de trabalho nas áreas
de atuação não formal, ou seja, nos nichos profissionais fora das escolas.
No entanto, a oferta em separado do curso de licenciatura com o do
bacharelado pode estar relacionado a múltiplos interesses políticos, quer de
órgãos governamentais, grupos sociais, ou mesmo de indivíduos. A esse
respeito Diniz-Pereira (1999) analisa as relações de poder no interior das
instituições de ensino quanto ao desprestígio das licenciaturas e destaca que
“os problemas centrais das licenciaturas apenas serão resolvidos, na verdade,
com a implantação de mudanças drásticas na atual condição do profissional da
educação (p.123)”. O autor também complementa que para que aconteça uma
valorização maior do professor é necessário que se conheça mais
profundamente a realidade que este profissional atende e suas necessidades
profissionais e que esse passo aconteceria através de uma intensificação das
pesquisas em ensino na licenciatura.
Segundo colocações de Marques e Diniz-Pereira (2002) a docência é
uma profissão que vem sendo desvalorizada devido alguns pontos que são
esclarecidos pelos autores no seguinte parágrafo:
43
Sabe-se que o desestímulo dos jovens à escolha do magistério na qualidade de profissão futura e a desmotivação dos professores em exercício para buscar aprimoramento profissional é consequência, sobretudo, das más condições de trabalho, dos salários pouco atraentes, da jornada de trabalho excessiva e da inexistência de planos de carreira. (MARQUES E DINIZ-PEREIRA, 2002, p. 182).
Nos diferentes autores tem sido atribuída a opção por cursos que não
sejam relacionados a docência devido a desvalorização do profissional do
ensino e de todo o seu esforço para construir uma carreira bem sedimentada
para sua profissionalização.
Tendo sido o curso de Educação Física separado e ofertado em duas
áreas de formação, o aluno interessado a ingressar no curso tende a fazer
agora a opção no momento da inscrição do vestibular para a Licenciatura ou
para o Bacharelado, sem mesmo saber profundamente o que cada curso
oferece e qual será o seu destino de formação. Em conversas informais com os
professores do curso foi comentado que muitos alunos ingressam no curso de
Educação Física em uma área (Licenciatura ou Bacharelado) e após algum
tempo, descobrem que não tem a aptidão necessária para atuar na mesma, o
que acaba destinando ou a uma desistência de uma área para acesso a outra,
ou o que é mais comum, segundo os professores, o aluno se forma em uma
área primeiro e depois volta ao curso, buscando uma complementação de
currículo para habilitação de atuação também na outra área a fim de obter uma
segunda formação profissional.
Segundo as autoras Gatti e Barreto (2009) faltam aos cursos de
licenciatura um currículo de formação de professores mais centrados as
questões reais das escolas. Destacam as autoras:
Constata-se nas instituições de ensino superior que oferecem licenciatura a ausência de um perfil profissional claro de professor. Os currículos não se voltam para as questões ligadas ao campo da prática profissional, seus fundamentos metodológicos e formas de trabalhar em sala de aula. Continuam a privilegiar preponderantemente os conhecimentos da área disciplinar em detrimento dos conhecimentos pedagógicos propriamente ditos (GATTI E BARRETO, 2009, p.258).
Embasados na colocação acima, pode-se apontar que a licenciatura
vem passando por uma contínua diminuição de procura, devido a várias razões
como a indefinição do perfil do profissional a ser formado, um currículo
44
dissociado da Educação Básica centrado nos conhecimentos específicos, bem
como, desvalorização da profissão docente, o que desmotiva o futuro
acadêmico a opção pela licenciatura e a busca de outras opções diversificadas
na área da Educação Física, visando uma formação mais abrangente que
forneça maiores possibilidades de atuação profissional.
Também ocorreram mudanças e reformulações curriculares no projeto
do curso, ocasionando uma revisão no currículo do mesmo, que foi organizado
para atender cada curso de formação especificamente (Licenciatura e
Bacharelado). Esta divisão foi motivada para proporcionar um estudo mais
aprofundado de certos assuntos. Cabe esclarecer que devido a carga horária
de determinadas disciplinas o tempo disponível não permite aprofundar todos
os itens componentes do campo disciplinar.
Perante estas reformulações o curso teve que desenvolver um
currículo de formação para cada área oferecida direcionando os conteúdos
para uma formação mais específica.
Dos 09 professores entrevistados, 08 professores participaram das
reformulações curriculares do curso. Segundo colocação dos professores havia
necessidade de reformular o curso, fazendo a ruptura do mesmo para atender
as exigências do MEC11 para um melhor atendimento às demandas dos
campos de atuação, da sociedade em geral e do curso especificamente (Prof.
H, Prof. D, Prof. A, Profª. F).
Como comentado no capítulo anterior deste trabalho, as entrevistas
foram organizadas por meio de textualização, permanecendo as falas dos
professores na íntegra. As textualizações das entrevistas aconteceram de
forma a complementar as falas dos professores a fim de tornar o texto mais
compreensível em uma linguagem que qualquer pessoa, de qualquer área de
formação, possa compreender o que foi exposto na fala original, mas sempre
tendo o cuidado de transmitir a mesma ideia exposta inicialmente, sem
alterações ou interpretações das falas.
Então buscou-se evidenciar junto aos professores, a participação dos
mesmos no processo de reformulação do curso, como aconteceu esse
processo, o que motivou esta reformulação e também quais foram as principais
11 MEC - Ministério da Educação.
45
mudanças que ocorreram no curso de Educação Física após esta
reformulação.
Para o professor A: “Sim, houve a minha participação. Eu fui convidado pela
direção na época para fazer parte do grupo que ia fazer a Reformulação Curricular no Projeto
Pedagógico do curso. Eu aceitei e me envolvi e também tinha interesse devido a minha
formação e por estar tanto tempo engajado no curso e tinha chegado o momento de acordo
com as novas Diretrizes, propondo a mudança no curso de Educação Física com duas
vertentes: Licenciatura e Bacharelado. Então eu fiz parte desse processo todo de
implementação do Projeto Pedagógico, tanto da Licenciatura quanto do Bacharelado na
Educação Física da Universidade12 (Prof.A)”
O professor B participante da pesquisa não fez parte da Reformulação,
por estar atuante no curso de Educação Física há dois anos. Então ele
respondeu apenas “Não (Prof.B)”.
A professora C expõe sua opinião dizendo: “Sim, eu participei da
Reformulação. Acredito que a principal mudança foi a questão da divisão entre o Bacharelado
e a Licenciatura, apesar de que a muito tempo já vinhamos percebendo que precisam haver
modificações em função desta mudança e de outras também, da evolução até da própria
disciplina. E a forma como ocorreu foi através de reuniões. Foram feitas primeiramente
reuniões específicas com o grupo de estudo e foi dividido em disciplinas médicas ou biológicas,
depois disciplinas desportivas, onde estavam todos os esportes e também depois disciplinas de
organização. Primeiro foram feitas as reuniões no grupo que organizava o curso e depois foi
trazido a frente do grupo todo, foi discutido carga horária, quais eram as principais locações
das disciplinas, o que precisava vir antes do quê. Antigamente era organizado o currículo por
programa de aprendizagem, onde tinham três ou quatro disciplinas reunidas em uma só, então
toda essa divisão das disciplinas, foi revisada e reorganizada no currículo de formação
(Profª.C)”
O professor D destaca: “Sim, eu participei da reformulação. A questão da ruptura
entre Bacharelado e Licenciatura foi por lei, isso é lei, veio de cima para baixo e tivemos que
cumprir, aí em função disto discutimos a questão de carga horária das disciplinas, se ela ia
continuar, como que ela ia continuar e houve uma intervenção, houve até uma certa discussão
em termos de poder, cada professor e sua área querendo aumentar sua carga horária, até para
ter mais possibilidade de atuação e não perder o seu poder econômico, porque a partir que a
sua disciplina baixa a carga horária, você perde horas de aula e naturalmente teu salário
12 A palavra Universidade foi substituída pelo nome do local pesquisado.
46
diminui. Então a discussão de colegiado foi muito em torno disso, de mencionar o número de
hora aula de cada disciplina e algumas discussões no sentido que algumas disciplinas
deveriam se fundir, por exemplo, a questão de esporte foi muito discutido, o porque de
continuar tendo esportes em separado, Voleibol, Basquetebol, Handebol, Futebol e não ter
uma disciplina única que falasse sobre esportes coletivos por exemplo, isso foi colocado.
Houve discussão sobre o assunto e o currículo apesar de algumas mudanças ele continua
mais ou menos na mesma, é claro que essa diferença de Licenciatura e Bacharelado foi
radical, mas as disciplinas continuam mais ou menos com a mesma carga horária, com temas
muito próximos do que era alguns anos atrás (Prof.D).”
O professor E descreve: “Sim, eu participei da reformulação. Nós temos uma
coordenação aqui que é muito ativa, uma excelente coordenação a meu ver, uma das melhores
do curso. O coordenador atual é muito ligado nesta área e toda necessidade por conta do
MEC, por exemplo, ou por conta de necessidade que foi identificada em termos pessoais,
então ele trouxe isso para um Colegiado e nesse Colegiado, na verdade todo ano é feito a
reestruturação de algumas coisas, mas agora houve aquela mudança mais recente, onde
passou de seis meses para anual as cadeiras agora das disciplinas, também agora tudo em
termos da lei e esta reestruturação passa sempre por um Colegiado, onde os professores das
disciplinas discutem em aberto com os outros pares para que cheguemos a um consenso,
quais são as necessidades do curso, qual o perfil do egresso hoje, para que busquemos essas
novas mudanças, essas novas necessidades (Prof.E)”.
A professora F apresenta, na entrevista, como foi sua participação no
processo de reformulação do curso de Educação Física, como aconteceu e o
que motivou todo esse processo de reformulação e as principais mudanças
ocorridas no curso após a reformulação: “Eu participei de todas as reformulações que
houveram aqui na Universidade2, então eu sempre estive envolvida. As mudanças foram feitas
para atender a legislação, os pedidos das exigências legais e principalmente quando houve o
desmembramento, a separação do Bacharelado e Licenciatura, foi o nosso maior desafio,
porque na verdade nós não tínhamos referencias, porque todo mundo estava construindo
esses dois novos cursos, então foi uma experiência até bastante difícil por conta de você
entender qual era o perfil, o que se caracterizava cada uma dessas duas profissões que se
abriram (Profª.F).”
O professor G descreve: “Sim. Eu participei por duas oportunidades do processo
de reformulação do curso. Foram dois momentos distintos, o primeiro processo, eu vou tentar
lembrar, mas acho que foi no ano de 97/98, esse processo foi feito em discussão colegiada,
47
com diversas reuniões, encontros, inclusive fora da Universidade13 e o segundo processo que
eu participei que foi em 2005, também foi feito em reuniões colegiadas com discussões dentro
da Universidade11. Assim de modo geral, a primeira reformulação que eu participei foi
basicamente uma atualização das disciplinas, conteúdos e da grade para um novo cenário,
porque estávamos com as primeiras grades do curso de Licenciatura. A 2ª discussão, foi um
ajuste, essa que eu participei em 2005, porque já tínhamos em andamento os cursos de
Bacharelado e Licenciatura e foi feito uma adaptação para semestralização do curso e também
para redução de número de horas aulas no curso que estavam demasiadamente altas, enfim,
foi tanto para atualizar a grade, quanto para colocar a grade dentro das normas institucionais,
que estava um pouco diferente daquilo que a Universidade11 exigia. Em termos gerais, acho
que as mudanças maiores foram as disciplinas que tinham uma carga horária demasiadamente
alta, tiveram a carga horária reduzida. Nós tínhamos disciplinas que ainda estavam dentro
daquele projeto pedagógico institucional, que tínhamos os programas de aprendizagem, onde
dois ou três professores trabalhavam juntos em uma disciplina, nesse momento essas
disciplinas foram novamente desmembradas e não mais com aquela visão de programa de
aprendizagem integrada, mas como disciplinas isoladas novamente, cada professor com
determinado conteúdo. Então pontualmente, não consigo recordar agora sem os documentos,
mas eu posso lhe afirmar que foram feitas estas alterações principais (Prof.G)”.
O professor H comenta sobre esta questão relatando: “Pequena, mas sim,
houve a minha participação. No momento que estava sendo reestruturado, foi aberto a todo
Colegiado as sugestões, mas eu não acrescentei nada a proposta inicial do curso. Inicialmente
o que motivou a reformulação foi o direcionamento do MEC num primeiro momento para fazer
a diferenciação entre o Bacharelado e a Licenciatura, aí teve que haver uma adequação do
Projeto Pedagógico do curso em relação a essa necessidade. Posteriormente teve que haver
um outro ajuste, um exemplo, quando eu entrei na Universidade, Lutas14 eram 72h, aí num
segundo momento Lutas passou a ser só 36h e agora atualmente Lutas voltou a ser de 72h,
então nesse efeito elástico eu tive que acomodar o conteúdo de acordo com essas propostas
pedagógicas do curso. Um outro fator que me afetou bastante foi que inicialmente Lutas, que
sempre foi o “carro chefe” que eu trabalhei, era ministrado no sétimo período e depois passou
para o terceiro período, então a diferença é que os alunos estão muito mais “frescos”, então
além de mudar o conteúdo na questão da carga horária, a forma e disposição do conteúdo teve
que ser bastante modificada também em função da maturidade que eu recebo os alunos com
menos conteúdos estudados e eles estão com uns conceitos iniciais muito frágeis. Quando
você recebe o aluno lá no sétimo período, ele já teve bastante Fisiologia, principalmente o
pessoal do Bacharelado, está tendo treinamento desportivo, então o enfoque é bastante
diferente, talvez isso é o que eu tenha sentido mais de diferença nessas alterações (Prof.H)”.
13 A palavra Universidade está substituindo o nome da Instituição pesquisada. 14 Quando o professor se refere a Lutas, ele está se referindo a sua disciplina ministrada no curso.
48
O professor I expõe: “Em um período sim, alguns anos atrás eu participei. Na
época, quando começou a comentar do Bacharelado e da Licenciatura, foi criada uma
comissão para discutir isto, alguns professores convidados, outros se voluntariaram para
participar destas discussões. Na época a comissão formada discutiu por um ano e meio quase
dois anos a redefinição do currículo, a reformulação do currículo, dado que já se fazia
necessário. Apesar de que nosso currículo sempre foi dinâmico, ele sempre foi mudando ao
longo dos tempos, eu desconheço a época que o currículo não foi revisto e revisado. Na época
houve esta reestruturação até mesmo em resposta a movimentação do Conselho e a
estruturação para o Bacharelado (Prof.I)”.
Nos relatos dos professores formadores, constata-se que com exceção
de um professor que está no curso há menos tempo, os demais participaram
da reformulação curricular no curso de Educação Física e fizeram parte deste
processo junto à coordenação do curso, a maioria através do Colegiado. Assim
denota-se que o processo de mudança envolveu o corpo docente nas
discussões e decisões sobre os encaminhamentos realizados.
Taffarel, et al. (2006b) apresenta um parecer a respeito do conteúdo
das Diretrizes para formação de professores de Educação Física colocando
que “A reforma, pode-se dizer, está centralizada em dois aspectos: na natureza
do curso e na concepção de professor que deve ser formado (p.102)”. Assim
entende-se que as Diretrizes se remodelaram a fim de atender necessidades
educacionais dos cursos, induzindo os futuros professores a uma formação
mais centrada aos propósitos da educação, no caso da licenciatura.
Os professores indicam que a ruptura aconteceu no curso por
necessidades impostas, mas que também os próprios docentes viam e sentiam
essas necessidades no dia a dia em seu cotidiano acadêmico, apesar de nem
todos os professores se mostrarem favoráveis ao desmembramento do curso.
Também foi destacada a necessidade de evoluir com as disciplinas,
pois no outro curso, eram ministradas as mesmas disciplinas para Licenciatura
e para o Bacharelado. Os conteúdos das disciplinas eram limitados e tinha uma
abordagem generalista a formação dos dois profissionais, deixando por vezes,
alguns tópicos de conteúdos sem um maior aprofundamento.
As disciplinas passaram por transições a fim de se adequar às novas
propostas para formação de professores com reformulações em seu currículo e
49
nas práticas, pois além da alteração de carga horária, ocorreu a mudança de
período dentro do curso.
Os cursos de licenciatura vêm passando por mudanças no processo de
formação de professores e segundo Martins (2000) “existe uma necessidade
de articular os conteúdos escolares com a realidade e os interesses práticos
dos alunos (...) (MARTINS, 2000, p.78)”.
Martins (2000) ainda destaca que “em decorrência das novas relações
sociais, impõe-se a necessidade de um novo sistema de estudos e de
educação (p.81)”, com a finalidade de atender as necessidades educacionais
dos alunos objetivando fundamentar sua formação profissional, levando o
futuro professor a ampliação dos conhecimentos e saberes educacionais.
Segundo os estudos de Brito Neto (2009) “as reformas curriculares dos
cursos superiores são diretamente afetadas pelos novos perfis profissionais e
modelos de formação exigidos pela lógica da empregabilidade”, induzindo os
cursos de formação profissional a se adequarem as necessidades do mercado
e retrabalharem seus currículos de formação afim de adaptá-los de modo que
possa atender uma formação sustentável para o início da carreira profissional.
Esta característica fez com que os cursos se remodelassem se
adaptando as novas necessidades que a sociedade apresenta mediante as
exigências de um profissional mais qualificado em sua área de atuação,
podendo assim desenvolver um trabalho mais específico e centrado em busca
de uma maior produtividade e eficiência no desempenho de sua função, seja
ela ligada a área formal na docência ou não.
Com a realização das entrevistas procurou-se entender algumas
especificidades que a reformulação curricular trouxe para cada campo de
atuação. Do conjunto das falas dos professores destacam-se as contribuições
específicas para a formação do professor e para atuação profissional do
bacharel em Educação Física.
O prof. A indica: “A contribuição específica foi que agora você pode focar a
Licenciatura para formar o professor, então a própria Diretriz e o próprio Projeto Pedagógico
tem que analisar a Licenciatura para a formação do professor. Ele tem que ser uma pessoa
que adquira e domine as competências para a formação, para ele poder trabalhar com a
Educação Física escolar, ele tem que ter esse envolvimento com a escola, o plano é bem na
50
área da Educação, é focado nesse sentido. O Bacharel, pelo seu lado, é para formar o
treinador, aquela pessoa ou o profissional de Educação Física que vai trabalhar com o
treinamento, então as disciplinas e a própria formação tem que ter essa distinção bem clara.
Um lado vai formar o professor que vai atuar na Educação Física escolar e o Bacharel para
formar o profissional que vai trabalhar com a área de treinamento (Prof.A)”.
Na opinião do prof.B, a separação das áreas oportunizou trabalhar de
forma mais específica os conteúdos, separando e aprofundando melhor os
conhecimentos destinados a cada uma das formações. Em suas palavras: “Nós
conseguimos identificar o perfil do aluno no curso. Existem alguns alunos com perfil de escola
e outros de treinamento, academia, bem Bacharelado mesmo. Com a separação ficou melhor
de você trabalhar de forma específica, às vezes, a parte de escola tem uma visão diferente, se
você tem mais tempo para trabalhar a parte pedagógica, você tentar passar esta visão da
escola separando do Bacharelado. Já o Bacharelado é uma coisa mais dinâmica, é atuar ali,
coisas práticas que eu vou poder usar na academia, que eu vou poder usar lá no meu
treinamento, então você consegue, às vezes, separar estas duas (Prof.B)”.
A Professora C comenta sobre a reformulação dizendo: “Muita gente
condena a separação dos cursos. Eu acredito que foi uma coisa benéfica para a Educação
Física, porque há muito tempo tentávamos fazer aquele dois em um, ensinar dois tipos de
profissionais que eu acredito que são completamente diferentes. O profissional que atua na
escola ele tem uma conotação completamente diferente do profissional que vai atuar no
bacharel, seja numa academia, num clube, onde ele vai trabalhar com pessoas que vão desde
crianças, bebês, às vezes, até pessoas idosas, com problemas, cardiopatias ou coisas assim,
então eu acho que é muita matéria para ser ensinada num curso só, então acredito que por um
lado beneficiou bastante a formação específica de cada professor. É claro que existem
problemas como, por exemplo, o aluno já tem que escolher lá no vestibular o curso que ele
quer fazer, e ás vezes o professor percebe que ele entra na Licenciatura, mas daí não era bem
aquilo que ele queria, daí ele tem que reformular todo o seu curso ou depois quem sabe fazer
um Bacharelado ou o vice-versa também acontece. Então eu acredito que por um lado foi
muito bom, mas por outro tem esta questão que o aluno não sabe bem o que ele quer, ele às
vezes entra num curso e daí diz não, não era bem isso que eu queria, então isso é uma
desvantagem. Mas eu acho que as coisas ficaram mais fáceis, você pode direcionar melhor,
por exemplo, a disciplina de Natação e Esportes Aquáticos ela tem uma base, uma estrutura
comum, mas chega num momento em que você tem que dar mais ênfase numa coisa para
Licenciatura e trabalhar com outro tipo de ênfase para o Bacharelado, então a separação dos
cursos ajuda o professor a desenvolver melhor o trabalho das disciplinas também, centralizar
melhor os conteúdos (Profª.C)”.
51
O professor D diz ser a favor da separação e comenta: “É uma questão
muito polêmica, mas eu sou a favor da separação, porque tínhamos na Licenciatura Plena uma
formação muito generalista onde o aluno tinha um pouquinho de cada coisa e não se
aprofundava em quase nada e depois ele teria que ir atrás. No momento da ruptura, é claro,
que gerou alguns problemas em relação a campo de trabalho. Hoje o licenciado só pode atuar
em escolas e o bacharel só pode atuar em campos não formais, academias, clubes, etc. Agora
a qualidade de formação hoje do licenciado é muito maior, ele sai muito mais preparado para
trabalhar na escola do que com a antiga formação plena. Ele tem mais tempo para discutir as
questões pedagógicas, o Estágio, ele é seriado, então ele vai ficar 6 meses na Educação Pré
Escolar, 6 meses nas séries iniciais, que seriam 1ª a 4ª série, agora é 1ª a 5ª, dos 6 aos 10
anos, 6 meses na 5ª a 8ª série, que agora é 6ª a 9ª, que pega dos 11 aos 14 e 6 meses no
Ensino Médio, que é dos 15 aos 17. Então ele fica dois anos tendo experiências diretas com
realidades e com os indivíduos no seu processo de crescimento e desenvolvimento, então o
aluno que se envolve realmente, saí bem preparado para ser um bom professor de escola, ele
sai com uma condição muito boa. E já o bacharel, ele pode aprofundar mais na parte teórica e
científica da Educação Física, a Fisiologia do Esforço, a preparação de atletas, a Biomecânica,
os gestos mecânicos, a Fisiologia, a Nutrição Esportiva, a Psicologia Esportiva. Então ele
consegue aprofundar mais, ele tem mais carga horária relacionada a este conhecimento, mais
a performance humana, ao rendimento, a saúde. Eu particularmente sou a favor da ruptura, eu
acho que o profissional sai com uma condição, uma competência muito maior que saía na
antiga formação (Prof.D)”.
Para o prof. E existem duas dimensões a serem consideradas,
segundo ele “Acho que tem sempre o lado positivo e o negativo na questão da reformulação.
O positivo é que o professor que era formado antes tinha uma visão mais holística de tudo,
mas não saia daqui um especialista, então entendo que é um benefício esta divisão para que
saiam cada vez mais especialistas. Eu acho que a tendência de qualquer mercado é a
especialização do profissional em sua área de atuação. A Educação Física ainda está fazendo
isso com a Licenciatura e o Bacharelado, mas poderia fazer muito mais em muitas outras áreas
que não acontece, por exemplo, eu pego hoje um médico, eu tenho clínico geral e tenho depois
quantas especializações a escolher, e isto está acontecendo cada vez mais cedo. Em São
Paulo já tem Universidade que até na área de Recreação já especializa, no Bacharelado é
Recreação e Lazer. Então eu acho que é uma tendência cada vez mais eu ter dois ou três anos
mais de generalista, isso tem tendência a acontecer mais para frente. Isso acontecendo na
graduação eu acho que a chance de sucesso na área que você procura é maior (Prof.E)”.
Os professores formadores colocam seu parecer sobre as
contribuições específicas para a formação do professor e para atuação
profissional do bacharel em Educação Física após a reformulação do curso
52
segundo as Diretrizes Curriculares que estão destinadas ao cumprimento do
contido na Resolução CNE/CP nº 01/2002 para a Licenciatura e a Resolução
CNE/CES nº 07/2004 para formação específica do bacharel.
A Professora F expõe: “A maior vantagem de ter separado é que vamos ter:
primeiro, o aluno que ser professor de escola efetivamente, embora eles entrem no primeiro
ano sem muita clareza do que é o Bacharelado e do que é a Licenciatura, tanto que temos um
trânsito de alunos que entram na Licenciatura e vão para o Bacharelado, exatamente por esta
falta de entendimento, mas aqueles que permanecem no curso, efetivamente querem ser
professores de escola, esse é o primeiro ponto. O segundo ponto é que nós podemos
aprofundar os conteúdos, efetivamente podemos estudar os aspectos teóricos da atuação do
professor na escola, porque quando o curso era junto o tempo disponível para formação não
dava conta, então nós tínhamos que ser mais superficiais, indicar o caminho para aluno, mas
ser mais superficiais por conta que nós tínhamos que dar conta de outros aspectos da
formação e agora com a separação não, pode aprofundar. São 3000 mil horas de curso
direcionadas efetivamente para atuação do professor dentro da escola (Profª.F)”.
Para o prof. G este assunto permanecerá por um longo tempo em
pauta de discussões, em suas palavras “Esse é um debate que ainda está em
andamento, apesar de ter acontecido a anos, a Universidade15 pesquisada foi um foi primeiros
cursos no Estado do Paraná, para não dizer o primeiro, se eu não me engano, a fazer essa
cisão, obedecendo as Diretrizes Curriculares. Apesar disso, ainda a uma discussão em
andamento, então é difícil dizer quais são os verdadeiros ganhos. Hoje, eu percebo que há
uma boa e clara definição do papel de cada área de atuação, isso permitiu que cada professor,
de cada núcleo de curso, da Licenciatura e do Bacharelado pudessem desenvolver conteúdos,
ferramentas próprias para cada curso, então acho que este foi um avanço. Mas enfim, se
mensurar o verdadeiro avanço, porque agora depois de 5, 6 quase 7 anos dessa nova
formação, é que começamos a ver os primeiros resultados efetivos no campo de trabalho,
então eu te diria que eu vejo aqui dentro um avanço, mas eu não consigo mensurar bem este
avanço em termos de atuação profissional, porque leva alguns anos, demora algum tempo
para ver quanto que isso está refletindo na formação do aluno lá no mercado. Então eu tenho
pensamentos conflitantes quanto a isso, eu percebo aqui por dentro um avanço, mas lá fora
ainda estou inseguro de te dizer o quanto isso proporcionou um avanço (Prof.G)”.
O professor H discorre: “Pelo que eu percebo na divisão da Licenciatura e do
Bacharelado, o bacharel foi muito aquela coisa do tecnicismo, daquela reformulação onde o
Brasil cresceu em potência esportiva também, como era uma potência que almejava outras
15 A palavra Universidade está substituindo o nome da Instituição pesquisada.
53
áreas de conhecimento e aí o que aconteceu é que os professores de Educação Física
começaram a dar atenção aqueles que tinham mais talento, aí até que teve um momento que
dividiu, vamos formar o técnico para rendimento, mas e o resto dos alunos que não tem tanta
habilidade também, vão ser deixados de lado? Então vamos formar melhor o licenciado para
que ele de atenção para aqueles que não vão para o rendimento. Então num primeiro momento
eu achei isso interessante até, só que para Educação Física Escolar, onde é base de tudo, a
gente vê os países onde tem sucesso no alto rendimento, a base de tudo começa lá na escola,
isso não se aplica concretamente porque na escola temos os mais distintos tipos de alunos.
Só que é uma pena que hoje a Educação Física escolar, nas escolas que tem, é uma vez por
semana só, uma aula de Educação Física, então eu sinto que, eu por exemplo, vim do Colégio
Militar, estudei o Ensino Médio e o Fundamental no Colégio Militar e lá nós fazíamos Educação
Física 3 vezes por semana naquela época, era muita Educação Física, então como que eu
percebo isso. Eu gostaria que as Políticas Públicas começassem a arrumar no sentido do
retorno da carga horária da Educação Física Escolar que é a base de tudo, da modalidade
esportiva para depois sim termos um terreno bem arado para se semear alguma coisa e se
colher frutos até do alto rendimento ou não, mas enfim, ter uma população pelo menos, no
mínimo mais saudável (Prof.H)”.
No relato do prof.I: “Eu sou licenciado, nem por isto minha formação na área de
treinamento, atuação em academia ficou a desejar. Não sei como vai ficar agora com 04 anos
novamente para a formação, talvez mude um pouco. O que eu percebo é que não há tanta
necessidade para o profissional licenciado ter tantas horas na escola, eu não preciso pagar
oitocentas e tantas horas fazendo Estágio de não sei o que, … é tempo demais para repetir
coisas que não são construtivas. É interessante se o aluno pudesse montar seu currículo,
neste caso, creio que Bacharelado e Licenciatura poderiam trabalhar separadamente. Entendo
que temos condições de formar profissionais em qualquer uma das áreas tendo uma única
linha só. Será que não existem crianças com diabetes? Porque então remover a disciplina de
patologias da Licenciatura? Será que a preparação de uma aula é tão diferente de um
treinamento? Não pode ser, né. Claro que a aula tem outras dimensões, como a pedagógica,
mas é preciso pensar na parte motora e para pensar na parte motora é preciso pensar em
repetição, na elaboração de um bom planejamento, de uma boa estrutura. Eu acho que, depois
de tanto tempo, haveria a possibilidade de ter uma única linha de formação, depois o aluno, se
desejar, buscaria uma especialização (Prof.I).”
Este professor denota que é contra a separação das áreas de
formação e se diz a favor de uma única linha de formação para a Licenciatura e
para o Bacharelado. Em sua concepção a separação do curso não apresenta
justificativa plausível e de certa forma, enfraquece o curso por ficar o foco
expandido em práticas, como é o caso do Estágio, que segundo o professor
54
são muitas horas de campo, horas estas que poderiam ser aproveitadas de
outra maneira dentro do curso. Este professor valoriza a formação que observe
a relação com a saúde, e não apenas as práticas desportivas.
Em relação a atuação do professor e do profissional de Educação
Física, foi considerado que existem especificidades na formação dos
professores e do técnico/personal da área. Os espaços que estes profissionais
irão atuar desenvolvem práticas diferenciadas. A escola focaliza o
desenvolvimento da criança e do jovem visando uma formação desportiva, nas
várias modalidades do esporte, garantindo o acesso aos alunos às práticas da
cultura corporal e seus conteúdos para um conhecimento crítico. Enquanto a
academia e demais áreas que tenham relação com a Educação Física,
realizam atividades de outra natureza, como por exemplo, a qualidade de vida
e o treinamento desportivo de atletas. Assim, o foco das disciplinas, segundo
os depoimentos, é motivado para atender as especificidades de formação.
No entanto, segundo a opinião da profª.F a separação das áreas
propiciou uma distinção muito clara de perfis de formação nos alunos,
melhorando a qualidade de formação dos futuros professores destinados a
escola, pois os mesmos realmente optam pela área da Licenciatura, buscando
se aprimorar nos conteúdos didáticos e práticos de formação
Segundo o entender dos professores, agora com a separação das
áreas, o professor ou o profissional de Educação Física consegue alcançar
uma formação com conhecimentos mais amplos em sua área de estudos,
surgindo assim, um acadêmico com maior interesse e dedicação a sua área de
atuação.
Estes depoimentos expressam que o curso de Educação Física ao
distinguir o Bacharelado como um curso próprio e a Licenciatura como outro
curso direciona a formação para uma identidade profissional específica: o
Bacharel em Educação Física e o Licenciado em Educação Física, cada um
desenvolvendo seus trabalhos em áreas diferenciadas.
Brzezinski (2005) apresenta reflexões no tocante a formação
universitária, ressaltando que esta deverá também formar o lado humano e não
apenas as técnicas de ensino:
55
A formação universitária, em qualquer área da graduação, não pode ser confundida com transmissão de informações e técnicas, por mais novas e avançadas que sejam, tampouco com instrução ou uma simples busca do domínio dos requisitos de uma profissão. Essa formação deve levar os acadêmicos a serem capazes de pensar, de compreender e de recriar a natureza, a sociedade e o próprio homem (BRZEZINSKI, 2005, p.5).
Esta formação completa se torna um diferencial nas Universidades que
realizam revisão pedagógica revendo seus currículos, a fim de suprir as
necessidades apresentadas na formação de professores em busca de uma
orientação que possa suprir da melhor maneira às demandas exigidas pela
sociedade e pelo sistema educacional.
Pode-se destacar que a participação integrada dos professores junto a
coordenação contribui para melhorias no curso em um todo. O curso de
Educação Física investigado possui entre seus colegiados a composição do
Núcleo Docente Estruturante (NDE16), oportunizando os debates para a
permanente avaliação do curso e integração dos professores com a
coordenação quando se refere a assuntos relacionados a administração do
curso como um todo e em especial a estruturação do currículo.
Neste sentido, o NDE, proposto pelo Ministério da Educação (2010),
tem por finalidade “constituir-se de um grupo de docentes, com atribuições
acadêmicas de acompanhamento, atuante no processo de concepção,
consolidação e contínua atualização do projeto pedagógico do curso”. O
Ministério da Educação (2010) ainda reforça que o corpo docente participante
do NDE deverá estar apto para que:
Exerçam liderança acadêmica no âmbito do mesmo, percebida na produção de conhecimentos na área, no desenvolvimento do ensino, e em outras dimensões entendidas como importantes pela instituição, e que atuem sobre o desenvolvimento do curso (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2010, p.1).
Também são atribuições do Núcleo Docente Estruturante, entre outras,
segundo o Ministério da Educação (2010):
16 NDE – Núcleo Docente Estruturante
56
Contribuir para consolidação do perfil profissional do egresso do curso; zelar pela integração curricular interdisciplinar entre as diferentes atividades de ensino constantes no currículo; indicar formas de incentivo ao desenvolvimento de linhas de pesquisa e extensão, oriundas de necessidades de graduação, de exigências do mercado de trabalho e afinadas com as politicas publicas relativas à área de conhecimento do curso; zelar pelo cumprimento das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2010, p.1-2).
Na pesquisa em questão foi perguntado aos professores participantes,
se os mesmos conheciam o NDE, se integravam o Núcleo e qual os objetivos
deste Núcleo. Dos 09 professores entrevistados, 08 conhecem o NDE e sabem
que o curso tem este Núcleo; 04 professores compõem o NDE, mas todos que
conhecem o NDE expressaram suas opiniões a respeito do Núcleo e seus
objetivos no curso de Educação Física.
Primeiramente foram destacados os relatos dos professores
participantes do NDE e suas concepções a respeito do Núcleo.
A profª.F confirma a existência do NDE no curso e diz que faz parte
dele, também comenta que o NDE “tem o objetivo de acompanhar todo o andamento do
trabalho dos professores, então ele é responsável por uma proposta de acompanhamento
pedagógico do trabalho que é feito durante o curso. Os nossos professores, eles nos ajudam
na direção a acompanhar o trabalho que é feito pelos professores, os problemas que surgem,
buscar soluções, sugerir, fazer dinâmica com os professores, para que possam ajudar nessa
perspectiva de andamento do curso (Profª.F)”.
Segundo o prof.G ele conhece e faz parte do Núcleo e o NDE “é
responsável para discutir questões didático pedagógicas e de formação, vou dizer bem geral
isso. Porque discutimos tanto questões do currículo do curso, quanto questões do dia a dia da
formação dos alunos e quanto que isso pode influenciar o nosso currículo ou não, então o NDE
tem um papel importante em termos de fomentar essa discussão e manter energizado o
currículo e não deixar ele virar uma coisa muito estanque. Agora, embora esta discussão
ocorra, essas mudanças não são tão rápidas. Mas este é o papel do NDE (Prof.G)”.
Segundo o prof. A, que é participante do Núcleo, o NDE “é um Núcleo que
serve de apoio ao curso de Educação Física, a direção do curso. Na revisão, por exemplo, do
projeto pedagógico, na sugestão de mudanças do projeto, acompanhar o projeto, acompanhar
os alunos. Toda dinâmica do curso, ela passa por esse Núcleo Estruturante. O Núcleo seria um
apoio pedagógico de um grupo de professores para a direção do curso e para o próprio curso,
essa é a função do Núcleo, trabalhar com isso (Prof.A)”.
57
Para o prof D: “Conheço e paço parte do Núcleo. O NDE prioriza professores mais
experientes, prioriza a titulação. O NDE funciona, claro que existem determinações que vem de
cima para baixo, e o NDE, por exemplo, no caso do exame interdisciplinar, o NDE é
responsável pela elaboração das questões. Há situações que o NDE toma decisões sobre o
futuro do curso. Temos que ter uma certa intuição para definir o caminho do curso, até mesmo
questões curriculares. O NDE são as lideranças do curso, que tomarão decisões para definir o
futuro do mesmo (Prof.D)”.
O NDE se faz presente no contexto do curso de Educação Física e
desenvolve um papel importante em sua estrutura de apoio aos coordenadores
do curso. Verifica-se que os professores participantes conhecem a finalidade
deste Núcleo e que a participação vai além de apreciação sobre o curso. O
Núcleo assume as atividades de elaborar as questões da avaliação
interdisciplinar realizada na instituição. No entanto, verifica-se que as decisões
nem sempre estão fundamentadas em dados sistematizados a respeito do
curso, como expressa o professor D, de que às vezes, as decisões são
tomadas com base na intuição.
A seguir destaco as falas dos professores que não são participantes do
NDE, mas conhecem e entendem seus objetivos.
A professora C destaca: Sim, eu conheço o NDE e o curso tem o Núcleo. Eu não
faço parte do Núcleo, mas temos sempre noticias nas reuniões de Colegiado. A ideia do
Núcleo é de fazer com que tenha sempre essas conversas entre professores para que haja os
comentários para ver como está o encaminhamento do curso, o que é que precisa organizar,
quais são as mudanças necessárias para as próximas discussões, o que será mudado no
currículo. Porque sempre tem umas ideias surgindo. E também começar a perceber a questão
da didática que os professores tem em relação aos alunos. Eu acredito que seja isso, pelo
menos é a ideia que foi passada, geralmente precisa de mudanças, o currículo não é uma
coisa estática, então constantemente tem que estar atualizando, tem que estar mudando, tem
que estar trazendo novas ideias. Eu acho interessante, por exemplo, eu mesma tive uma ideia
para o Treinamento Desportivo, de como eu achava que deveria funcionar a disciplina de
Treinamento Desportivo e a vantagem é essa que temos toda a liberdade de procurar as
pessoas e entregar a ideia e essas ideias vão ser discutidas depois dentro do Núcleo
(Profª.C)”.
Expõe o professor E: “Eu já ouvi falar, mas não faço parte. Ele tem haver junto
com a nossa parte estrutural de reestruturação. Quando fazem essa reestruturação do curso,
58
todos os professores são convidados, mas quando são pontos mais específicos aí é só esse
grupo que se reuni, é um grupo fechado que é responsável por isso,. Eles tentam sanar as
dificuldades do curso, porque como é muito desgastante você reunir todos os professores
sempre, então para tomar as decisões, eles respondem pelo grupo, não são votados, eles
estariam respondendo por decisões que talvez não fossem decididos pelo Colegiado, coisas
mais práticas, mais rápidas, necessidades mais urgentes, são tratadas ali, seria uma reunião
de Cúpula (Prof.E)”
E segundo o prof. I: Sim, eu conheço. Mas não faço parte. Entendo que eles
observam o currículo, verificam as mudanças pedagógicas no curso, discutem alguns
problemas de ordem disciplinar, no sentido de condução do curso considerando todos os
problemas de disciplina dos jovens (Prof.I)”.
O professor B destaca: “Eu sei que tem pessoas aqui no departamento, mas não
sei quem participa. Também desconheço os objetivos, mas com certeza reestruturar o
currículo. Não tenho contato com eles (Prof.B)”.
E o prof.H responde: “Não conheço. Não sei se o curso tem este Núcleo
(Prof.H)”.
Nestas falas evidencia-se que os professores esperam do NDE não só
a avaliação do desenvolvimento do curso, mas o controle da disciplina dos
alunos. Assim a função do NDE seria também regulatória. Há expectativa que o
NDE possa contribuir com a prática dos formadores sugerindo situações
didáticas.
Constata-se que há a existência do NDE no curso de Educação Física
investigado e o mesmo se faz presente nas discussões e decisões de assuntos
pertinentes ao projeto pedagógico, currículo e práticas desenvolvidas no curso.
O Núcleo existe com o objetivo de apoiar a coordenação nas decisões a serem
tomadas em busca de melhoramentos e do aprimoramento do curso, prestando
suporte aos professores e ao curso em geral quando necessário for.
O NDE também constitui-se em mais uma instância de avaliação dos
cursos superiores.
Procurou-se verificar junto a coordenação do curso de Educação Física
o que eles veem como destaque no curso o qual eles administram no momento
59
e salientam como ponto forte no curso de Educação Física visando à formação
do futuro professor.
A profª F destaca: “Temos na Licenciatura uma formação, uma preocupação da
formação pessoal de ser professor, do conceito de ser professor, o que é ser professor, qual é
a realidade que ele enfrenta e a importância que ele tem dentro da formação, então o que é ser
professor e quem é o professor hoje para escola, então acho que este é um ponto bastante
importante. Uma das coisas que eu acho que na Licenciatura é muito forte é esta perspectiva
do aluno fazer uma relação constante entre a prática e a teoria, ele perceber que os problemas
lá do seu cotidiano, enquanto professores podem ser resolvidos via uma reflexão constante
que precisa de um conhecimento para ser feita, isso na Licenciatura é bastante nítido. E no
Bacharelado acho que um ponto forte é também essa relação da prática, porque nossos alunos
tem uma aceitação muito boa no mercado, tanto enquanto estagiários como enquanto
profissionais, exatamente porque eles têm esta visão do que é ser professor lá dentro do seu
mercado de trabalho ou do campo especifico. Um aspecto fundamental é que durante todo o
processo de formação o aluno possa estudar e discutir sobre o seu papel na sociedade. É
fundamental que o futuro professor entenda a importância da profissão, que seja capaz de
discutir os direitos e deveres profissionais e esteja habilitado para atuar assumindo o seu papel
político dentro da escola e da sociedade (Profª.F).”
E segundo o prof. G: “Acho que a contribuição do curso é a experiência que o
curso acumulou nestes 32 anos praticamente de formação e atuação em Licenciatura,
permitindo que os professores do curso tenham muita segurança ao transmitir os conteúdos na
área de Educação Física da Licenciatura, então eu vejo isto como um grande diferencial. A
experiência dos professores e a experiência do curso como um todo, que não é só do
professor, nós não temos todos os professores aqui há 30 anos, mas o curso se consolidou
nestas áreas e nessas parcerias, então acho que esta experiência é um diferencial, um ponto
forte no curso de Educação Física (Prof.G).”
Segundo os professores/coordenadores do curso de Educação Física,
o curso oferece aos alunos não apenas uma formação técnica, mas também
uma formação de cunho pessoal, formando o indivíduo como um todo não só
para uma profissão, mas também para a vida. A prática de Estágios também foi
salientada como ponto forte no curso tendo em vista uma boa aceitação no
mercado de trabalho dos profissionais e professores formados pela Instituição
pesquisada. O tempo que o curso está ativo na Universidade também foi
60
colocado como um diferencial, pois o curso como um todo traz consigo uma
carga experiencial bem solidificada junto a Instituição.
Cabe ressaltar que entre os professores educadores atuantes no curso
de Educação Física pesquisado, há muita experiência acumulada, pois o curso
está há mais de três décadas atuando na formação de professores e conta com
um corpo docente bem integrado a ele.
O currículo de formação de professores deve ser dinâmico com o
propósito de atender as necessidades pedagógicas e profissionais da
Educação Física. Segundo Figueiredo (2004, p.90) “a Educação Física, hoje,
extrapola a questão da saúde, relacionando-se com as produções culturais que
envolvem aspectos lúdicos e estéticos (...). Formar-se em Educação Física é
ter a consciência de que se irá trabalhar com o ser humano e todas as
complexidades, voltadas as diversas áreas de atuação profissional e suas
particularidades.
Romanowski, et al. (2005, p.2) salienta que “o trabalho do professor,
sua prática profissional, configura-se como prática educativa intencional
exercida nas instituições de ensino públicas, privadas e organizações
sociais(...). Esta prática também pode se estender ao bacharelado
considerando que o currículo de formação desta área também formará um
professor, mas este estará centrado a desenvolver seu trabalho profissional
nas áreas não formais da Educação Física.
A grade curricular do curso de Educação Física pesquisado foi
desenvolvida tendo em vista as necessidades de formação que apresentem
cada área específica. Existem disciplinas comuns para as duas grades de
formação de professores e disciplinas específicas para cada curso voltadas a
seus interesses centrados para a Licenciatura ou para o Bacharelado,
conforme demonstrado no Quadro 3 em anexo.
Procurou-se verificar na grade curricular do curso de Educação Física,
que se encontra em anexo, as disciplinas comuns que contemplam as duas
formações, ou seja, elas estão inseridas no currículo de formação de
professores do curso tanto na área da Licenciatura quanto na área do
Bacharelado. Aos professores/coordenadores do curso foi questionado a
respeito das disciplinas aplicadas para as duas formações e os seus propósitos
educacionais. A seguir, os relatos dos professores.
61
Conforme a profª F. “Sim, nós temos algumas disciplinas que são comuns aos
dois cursos, por exemplo, Anatomia e Biologia, entre outras. Também temos os Esportes, eles
existem nas duas formações, só que uma parte dessa disciplina ela é diferente, porque a base
técnica da disciplina é a mesma, só que o professor direciona para o trabalho, por exemplo,
nós temos a disciplina de Atletismo, então conhecer a técnica, conhecer o que é o movimento,
quais são os movimentos, é igual nos dois cursos, só que na Licenciatura o professor tem que
aprender a ensinar o Atletismo para as crianças e no Bacharelado ele tem que aprender a
como usar este movimento ou para ensinar alguém correr, porque ele vai treinar ou de uma
forma de buscar, por exemplo, a qualidade de vida, a utilização do movimento de uma outra
forma, então temos várias disciplinas que são comuns, mas o direcionamento pedagógico do
professor, na sua utilização pedagógica ao dar aula ele acaba tendo essa visão, ou ele está
formando o bacharel ou ele está formando o licenciado, então se você pegar a grade curricular
você vai ver que tem até os mesmos nomes, então 50% das disciplinas tem o mesmo nome, só
o que muda é a forma do professor trabalhar em sala de aula (profª.F).”
Explica o prof. G “Sim, existem diversas disciplinas que são comuns a
Licenciatura e ao Bacharelado. Eu não sei se eu vou conseguir relacionar todas para você,
mas existem disciplinas, vamos dizer, de formação, digamos assim, mais geral, como a
Anatomia, Fisiologia Humana, Biologia, Fisiologia do Exercício, são disciplinas comuns. Por
outro lado, as disciplinas que são mais técnicas e instrumentais; Voleibol, Basquetebol,
Handebol, os Esportes de modo geral, são disciplinas comuns, Ginástica Artística, Ginástica
Rítmica, Dança são disciplinas comuns, então todas essas disciplinas são comuns, além das
Institucionais; Processos do Conhecer, Cultura Religiosa e assim por diante (Prof. G)”.
Pela argumentação dos professores percebe-se que algumas
disciplinas são comumente ministradas para as duas áreas de formação, mas
cada uma recebe um foco de direcionamento diferente na disciplina, buscando
os interesses da área.
Destaca-se, que embora alguns campos disciplinares assumam a
diferenciação entre si em cada um dos cursos, outros campos continuam com
uma abordagem sem distinção para a Licenciatura ou o para o Bacharelado,
proporcionado uma formação centrada no conteúdo e não tanto na utilização
do mesmo nas áreas específicas.
A formação pedagógica nos cursos de licenciatura a fim de preparar o
futuro professor que irá atuar nas escolas é um desafio aos professores
formadores e também ao curso em geral que deverá se estruturar para buscar
da melhor maneira métodos para aplicação dos ensinamentos pedagógicos
62
junto aos alunos que estão em fase de preparação e veem no curso um meio
para qualificá-los para atuação docente.
Uma pesquisa realizada por Romanowski e Martins (2009) em cursos
de licenciatura direcionados a formação de professores, as autoras demostram
que grande parte dos cursos deixa de oferecer a disciplina de Didática Geral e
direciona as disciplinas do curso para a Formação Específica da área
buscando trabalhar mais estas disciplinas em prol do objeto de estudo
almejado.
Em outra pesquisa, as autoras Martins e Romanowski (2010) nos
apresentam em seus estudos que as Instituições de Ensino Superior se
encontram ainda em processo de alteração em suas propostas visando à
formação de professores. Destacam as autoras:
Há um movimento que busca atender à nova proposta para os cursos de formação de professores não atrelado ao bacharelado com iniciativas dos seus agentes, que vão desde a criação de uma coordenação geral para os cursos de Licenciaturas, fóruns de Licenciaturas até simples ajustes a redistribuição de carga horária das disciplinas (MARTINS E ROMANOWSKI, 2010, p.208).
Assim, o currículo de formação de professores nas instituições
responsáveis pela formação do futuro professor não deve ser um processo
pontual e descontínuo, mas sim um processo contínuo sempre em pauta para
reestruturação com base na avaliação permanente e sistemática.
A formação pedagógica do futuro professor acontece inicialmente
dentro do curso de graduação aonde o aluno irá se inserir nos seus campos de
estágio para ali observar o cotidiano escolar e posteriormente poder atuar no
mesmo. Estas experiências são dispostas aos alunos através de disciplinas
pedagógicas estabelecidas no currículo de formação de professores e estas
disciplinas buscam proporcionar ao aluno a aproximação com o cotidiano
escolar e as suas particularidades, desde o funcionamento da escola como um
todo e também da área pedagógica que é aonde o aluno irá se inserir para
colocar em prática os aprendizados e conhecimentos obtidos nas disciplinas
teóricas, realizando uma aproximação com a realidade escolar.
Martins e Romanowski (2010) compartilham desse pensamento
certificando em seus escritos a seguinte argumentação:
63
(...) o espaço da escola de Educação Básica são tidos como forma de ilustração, exemplos práticos que reafirmam os conteúdos trabalhados nas disciplinas; ou ainda, como espaço de aplicação dos preceitos teóricos trabalhados na universidade (MARTINS E ROMANOWSKI, 2010, p.211).
Nesse contexto compreende-se que a formação de professores não
está limitada apenas a uma sala de aula com disciplinas teóricas para a
aprendizagem, mas ela se estende à prática como uma nova forma de
aprendizagem através de experiências vivenciadas em diferentes espaços
escolares para alcançar, segundo Martins e Romanowski (2010), uma
valorização da prática como espaço de demonstração de habilidades técnicas
no exercício profissional.
Sobre a formação pedagógica do futuro professor de Educação Física
procurou-se entender na concepção dos professores/coordenadores do curso
pesquisado como é desenvolvida a formação pedagógica nos curso de
Licenciatura e também no curso de Bacharelado e se há distinção nas
disciplinas desenvolvidas nos dois cursos e quais são elas para que aconteça
esta formação pedagógica nos distintos cursos.
A argumentação da profª F foi a seguinte: “Nós temos dois cursos separados.
No Bacharelado nós não temos nenhuma disciplina específica pedagógica dentro da grade
curricular e na Licenciatura nós atendemos a exigência que a legislação coloca. Nós temos as
didáticas, hoje até podemos questionar um pouquinho a questão das disciplinas pedagógicas
mesmo. Quando nós fizemos a segunda mudança no processo do Bacharelado e Licenciatura
nós diminuímos um pouco a carga horária dessas disciplinas e acrescentamos nas disciplinas
pedagógicas especificas do curso, mas nós atendemos aquilo que a legislação coloca, o que
deve estar presente no currículo do curso (Profª.F)”.
E o prof.G descreve da seguinte maneira: “Há uma distinção clara da
Licenciatura para o Bacharelado, particularmente nas grades dos cursos a partir do segundo
ano. Na Licenciatura com a inclusão das disciplinas que são de formação pedagógica
eminentemente, aquelas que são voltadas para conhecimento sobre o funcionamentos do
Sistema de Ensino e das Escolas, Técnicas de Ensino e também as discussões pertinentes da
Educação Brasileira, então essa é caracterização da Licenciatura eu diria, enquanto no
Bacharelado nada disso é incluído. Da mesma forma, os professores mesmo que ministrem
uma disciplina que é comum aos dois cursos, vamos dar um exemplo, a disciplina de Voleibol,
ela é ministrada no Bacharelado e na Licenciatura, os conteúdos dessa disciplina eles são
direcionados para cada formação, então na Licenciatura a disciplina de Voleibol, os conteúdos
64
são aplicados para os ciclos de ensino e para aprendizagem no contexto escolar, enquanto no
Bacharelado a formação dos alunos é direcionada para iniciação esportiva, para um
treinamento da modalidade (Prof.G).”
Segundo os professores/coordenadores do curso de Educação Física
pesquisado, o curso passou por reformulações objetivando atender o que
prescreve a Legislação para a formação de professores, adequando às
disciplinas pedagógicas e sua nova carga horária a grade curricular do curso
de Licenciatura, diminuindo a carga horária de disciplinas pedagógicas gerais e
aumentando a carga horária das disciplinas pedagógicas específicas do curso.
Deste modo, a organização do curso busca cumprir as determinações legais.
Também foi comentada a questão das disciplinas serem ministradas
para cada campo de formação, buscando direcionar nas aulas os conteúdos
que são trabalhos em sala a fim de alcançar uma formação centrada no campo
profissional a que se destinam.
Assim entende-se que as disciplinas pedagógicas estão inseridas no
currículo do curso a fim de complementar a formação profissional do
graduando de Educação Física para uma atuação futura mais centrada em
cada área de formação capacitando o aluno para atuar no meio que estiver
inserido, analisando e transformando seus conhecimentos em atitudes
relevantes a sua atuação profissional. Roldão (2007) argumenta a favor desta
formação:
Não basta ao professor conhecer, por exemplo, as teorias pedagógicas ou didácticas e aplicá-las a um dado conteúdo da aprendizagem, para que daí decorra a articulação desses dois elementos na situação concreta de ensino. Há que ser capaz de transformar conteúdo científico e conteúdos pedagógico-didáctico numa acção transformativa, informada por saber agregador, ante uma situação de ensino por apropriação mútua dos tipos de conhecimento envolvidos, e não apenas por adição ou mera aplicação. Ou seja, um elemento central do conhecimento profissional docente é a capacidade de mútua incorporação, coerente, e transformador, de um conjunto de componentes de conhecimento (...) que vai além dessa apropriação prévia, num processo de conhecimento transformativo (ROLDÃO, 2007, p. 98).
As disciplinas pedagógicas estão inseridas especificamente no
currículo de formação de professores para a Educação Básica, ou seja, no
65
curso de Licenciatura e elas se destinam a auxiliar a formação deste futuro
professor em relação a sua atuação na docência.
Pressupõe-se que o bacharel não realize uma ação pedagógica
formativa nas academias e demais nichos de atuação, mas que atuem no
desenvolvimento da performance, na perspectiva de preparo físico e treino e
também na manutenção da qualidade de vida, entre outros aspectos.
A grade curricular do curso de Educação Física dependerá de qual
área de formação o aluno irá optar. Algumas disciplinas são diferentes nas
duas grades curriculares e outras até possuem o mesmo nome, mas em algum
momento o professor responsável pela disciplina irá direcionar os conteúdos
para cada área de formação, tornando-a mais específica para a área que está
sendo estudada, como explica o prof. G.
Prof. G: “Existem disciplinas comuns, elas estão nas duas grades, mas o conteúdo
em algum momento ele é diferenciado, tanto é que não temos convergência total de conteúdo
de uma disciplina para outra, ela tem uma convergência parcial, a tal ponto que nem todas as
disciplinas podem ser completamente validadas quando se faz transferência de um currículo
para outro (Prof.G).”
No Quadro 3, que se encontra em anexo no trabalho, foram
destacadas em negrito as disciplinas que são comuns aos dois cursos de
formação, como indica o prof. G em seu relato apresentado anteriormente.
Como é possível observar no Quadro 3, o curso de Licenciatura
oferece em sua grade, disciplinas que se voltam a formação docente e sua
integração as escolas, auxiliando o aluno em formação, ao entendimento dos
conteúdos escolares aplicados, da gestão escolar e sua organização e
especialmente a prática pedagógica desenvolvida nas escolas.
A separação do curso de Educação Física trouxe consigo também o
desafio de uma nova reestruturação curricular para cada curso oferecido, tendo
este que ser revisado e reorganizado para atender as exigências de formação
estabelecidas, revisando e alterando as disciplinas oferecidas para que se
encaixassem nas normas recomendadas pelo Conselho Nacional de Educação
e pelas Diretrizes Curriculares estabelecidas para o curso de Educação Física.
66
Diniz-Pereira (2000) comenta sobre a separação das disciplinas e do
curso e relata que os cursos de formação de professores se encontram mais
fragilizados com a atual situação e destaca que os cursos de licenciatura,
quando comparados aos de bacharelado, mostram um status menor e
acentuam sua desvalorização:
A separação entre disciplinas de conteúdo e pedagógicas constitui-se em um dilema que, somado a outros dois – a dicotomia existente entre Bacharelado e Licenciatura e a desarticulação entre formação acadêmica e realidade prática – contribuem para a fragmentação dos atuais cursos de formação de professores (DINIZ-PEREIRA, 2000, p.59).
Esses desafios educacionais ajudam a tornar ainda mais complexo o
papel do professor atuante, o qual é induzido a buscar alternativas
pedagógicas variáveis dentro da escola para assim conseguir alcançar seus
objetivos educacionais sem que nenhum dos alunos seja prejudicado neste
processo educativo onde cada aluno deve ser considerado um ser único em
constante mutação, independente do ciclo evolutivo e a fase de
desenvolvimento o qual se encontra.
Assim, o papel do professor universitário deixa de ser meramente
transmissor de informações para então se transformar em uma peça chave
dentro da educação, instigando seus alunos, futuros professores, a buscarem o
conhecimento, a se interessarem por ele, utilizando-o da melhor forma não só
no meio acadêmico, mas também na vida social e profissional na sociedade.
Essas qualidades só são possíveis de serem alcançadas em um curso
de formação de professores, tendo este em pauta um currículo bem
estruturado, buscando harmonia entre o ser, o pensar e o agir, a fim de
alcançar no final de sua graduação, um suporte mínimo para o desempenho
eficaz de sua profissão como docente transformador na sociedade, que
trabalha com seres humanos em desenvolvimento sedentos por novas
descobertas e aprendizagens.
O que ajuda a proporcionar uma base segura ao futuro educador que
terá que enfrentar no seu cotidiano, na grande maioria, uma realidade bem
diferente do que se espera quando se inicia uma vida profissional ligada a
docência, é ter obtido durante o tempo acadêmico uma base bem solidificada
em sua formação através de um currículo bem estruturado, destinado a
67
desenvolver no futuro professor suas potencialidades a serem aplicadas em
sua carreira de educador.
Roldão (2007) ressalta que a formação de professores está ligada a
dois processos. Explica a autora:
Que para a profissionalização do professorado a dois processos sociais distintos, mas complementares: um, extrínseco, de natureza político-organizativa e outro, intrínseco17, associada à necessidade de legitimar esse grupo social dos docentes pela posse de determinado saber distinto: a formação de um conhecimento profissional específico, corporizado, e por sua vez, estimulado pelo reconhecimento da necessidade de uma formação própria para o desempenho da função, reconhecimento que constitui um dos grandes passos, no início do século XX em particular, para o reconhecimento social dos docentes enquanto grupo profissional (ROLDÃO, p.96, 2007).
Neste sentido, nas falas dos docentes identifica-se esta preocupação:
as disciplinas são trabalhadas não apenas na dimensão técnica, mas também
atendendo ao contexto em que se situa.
No currículo de formação de professores de Educação Física para
atuação na área da Licenciatura, buscou-se captar a compreensão dos
professores formadores a respeito de como acontece a formação do aluno
destinado a trabalhar na área da educação se inserindo nas diversas
modalidades de ensino, ou seja, de que maneira o curso como um todo ou
apenas as disciplinas específicas encaminham a formação do futuro professor
para a atuação nas diversas modalidades de ensino as quais eles poderão vir a
atuar, como a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. E se
há a preocupação com outras práticas educativas.
E mais, os depoimentos a seguir expressam a preocupação com o
trabalho para promover o desenvolvimento da criança e do jovem. As
disciplinas propõe que os licenciados possam compreender a necessidade da
prática docente diferenciada e direcionada a cada grupo de alunos observando
a faixa etária e suas particularidades.
Na concepção do prof. A: “Sim, existe esta preocupação. Porque principalmente
a Aprendizagem Motora ela é voltada para o ser humano como um todo, do nascimento a
morte, então é a Aprendizagem Motora, só que o foco principal, o carinho principal, tem que ser
17 grifos da pesquisadora.
68
na primeira e na segunda infância, porque é onde vai acontecer tudo, porque é onde a criança
vai aprender e adquirir os padrões básicos de movimento, depois ela vai para uma fase motora
especializada, onde ela vai combinar esses padrões básicos de movimento com os conceitos
de movimentos, com locomoção, manipulação e estabilização. É onde a criança vai passar por
uma fase toda de aquisição das Habilidades Motoras até a segunda infância. Então é uma
idade assim que a Educação Infantil tem que ser tratada com muito carinho e o professor de
Educação Física tem que dar esse enfoque, porque as outras fases, como por exemplo,
adolescência, na fase jovem adulto, na fase adulta, nas fases posteriores, nas idades
posteriores, se ele tiver tido esta base e esta base for bem trabalhada, as outras situações vão
em frente. Agora se há lacunas deixadas na Educação Infantil, ele vai sentir para o resto da
vida. Esse é o grande problema da Educação Física, ela tem que ter essa característica,
porque o motor não dá pra você voltar atrás, ou você trabalha no momento certo, no momento
adequado, relacionando idade, fase e estágios de desenvolvimento ou essas lacunas, elas vão
ficar, então a ênfase maior é relacionada a primeira e segunda infância e adolescência, depois
isso tudo vai ser uma consequência. Porque não dá para você atender tudo na disciplina
durante um ano, porque a disciplina é anual, 72h, então você tem que dar o foco principal
nessa área, que depois nessas situações, se ela foi bem trabalhada, ele teve a base, essa
situações ele vai vivenciar na própria Educação Física ou na prática do esporte (Prof.A).”
O prof. B salienta que a preocupação ocorre “Mais em Licenciatura dentro da
disciplina de Antropometria. Tento mostrar as diferenças ao longo da disciplina, nas equações
que você tem que trabalhar de acordo com as faixas etárias. No Atletismo também, conforme a
atividade, quando você vai fazer um gesto motor, é ilustrado que conforme a idade a criança
não está fisicamente desenvolvida para executar aquele gesto. Destaca-se os cuidados
necessários com as faixas etárias, não adianta você querer exigir uma coisa muito complexa
para uma criança. Quando ela estiver “maiorzinha” você consegue complicar. No entanto, se
você não passar alguma coisa básica, quando ela estiver maior ela terá dificuldades para
realizar alguns movimentos (Prof.B).”
A profª. C destaca: “Dentro da Natação tem várias etapas, então trabalha-se os
conteúdos visando principalmente Adaptação Aquática na Licenciatura, então dentro da
Licenciatura isso é o mais essencial, seria mesmo a Adaptação Aquática. O que nós
costumamos dizer é que ocorrem divisões de conteúdos, que não dá para você ficar
trabalhando, se uma escola por exemplo, tem piscina, não dá para ficar trabalhando até a 8 ª
série a Adaptação Aquática, porque depois de um certo tempo aquilo vai ter que evoluir e
chegar até lá no Ensino Médio dentro de um aperfeiçoamento, coisas mais específicas, então
desde a Natação Infantil, onde começa lá a Adaptação Aquática, a ideia é que evolua o
conteúdo também dentro da Natação até chegar a um Treinamento, um Condicionamento
Físico, quando estiver lá no Ensino Médio. A ideia é essa, que as metodologias elas mudam
também, tem metodologias na Natação para trabalhos na Natação Infantil e que você não vai
69
poder trabalhar no Ensino Médio, um exemplo são os brinquedos cantados, atividades de aulas
historiadas, essa metodologias são mais características da criança, que gosta mais deste tipo
de atividades. Então a metodologia ela também muda, além de mudar os conteúdos, também
tem que mudar a forma de ensinar esses conteúdos. Tem um capítulo que eu falo sobre uma
parte da matéria que eu chamo do “Ensino da Natação”, onde eu trabalho todas as
características, que tipo de trabalho você faz na Natação Infantil, no antigo Ensino
Fundamental, do 1º ao 9º ano agora, ali nos primeiros anos você também pode continuar
trabalhando com a metodologia, quando chega a partir da 5ª série você já pode trabalhar
através de Atividades Recreativas e Atividades Competitivas, Testes e atividades do gênero.
Você tem que ir de acordo com aquilo que a criança tem interesse. No Ensino Médio daí a aula
já fica mais formal, aula de academia, também com Recreações, mas você não vai brincar de
brinquedos cantados no Ensino Médio. Nós temos um capítulo todo tratando deste assunto na
disciplina (Profª.C).”
Já o prof D. esclarece: “A ideia da Licenciatura é que cada disciplina ofereça
essa ideia de sistematização, por exemplo, a professora de Dança, ela não tem que chegar lá
na Dança e falar só sobre Dança, ela tem que chegar e falar a Dança nas séries inicias seria
essa, os conteúdos e objetivos para as séries iniciais seriam esses, para as séries
intermediárias seriam esses, para o Ensino Médio, seriam esses. Então cada disciplina, na
Licenciatura, ela tem a obrigação de dar essa base para o aluno, se ela não der essa base, vai
gerar problemas na hora do Estágio ou depois quando eles forem profissionais, porque os
alunos não vão saber como sistematizar aquele conteúdo, seja na Dança, no Voleibol, no
Atletismo em função da necessidade, dos interesses, dos objetivos de cada idade, então
subentende-se que cada disciplina de essa base para o acadêmico de como sistematizar o
conteúdo ao longo do tempo escolar (Prof.D).”
Esta questão destina-se a identificar, junto aos professores formadores,
como ocorre a formação para a Educação Infantil, para o Ensino Fundamental
e para o Ensino Médio. E também verificar junto a eles se há a preocupação
com outras práticas educativas.
O prof. E explica: “Eu reservo uma parte da minha disciplina, duas aulas, para
falar o que seria a Ginástica para o público infantil e como deveria atuar para que essa criança
criasse gosto pela ginástica e na vida adulta continuasse a praticar. Então eu faço e falo de
algumas práticas, mas curricularmente não é obrigatório. Eu procuro buscar isso, porque
acredito que vou ter sucesso mais tarde no número de alunos se eu começar a plantar isso lá
embaixo. Mas aí eu falo mais do lúdico, da atividade encoberta, por exemplo, eu falo para
criança, você vai ter que subir esse morro 50 vezes e daí a criança não sobe, porque 50 vezes
num sol de 40 graus é uma coisa horrível, agora eu falo você vai subir esse morro 40 vezes e
70
vai descer escorregando pela lona de água e sabão, ela vai subir 200 vezes. Então eu vou
fazer uma atividade que encubra o meu objetivo que era subir o morro. Agora como eu fiz isso
acontecer, se eu conseguir fazer de forma lúdica eu vou ter sucesso, então para o público
infantil, deveria se seguir uma lógica de fazer sempre encoberta a atividade principal. Eu
acredito que consigo passar isso de forma lúdica, contando historinhas, brincando, então eu
acho que consigo fazer os alunos entenderem como trabalhar com a ginástica em diversos
locais e públicos diferentes (Prof.E).”
A profª. F nos traz em seus argumentos: “Nós temos algumas disciplinas que
são direcionadas a prática profissional, a metodologia da Educação Física. No primeiro
semestre trabalhamos com a Educação Infantil de 1ª a 4ª, agora 1º ao 5º ano, e no segundo
semestre do 6º ao 9º ano e no último ano fazemos um trabalho direcionado para o Ensino
Médio e cada professor, nas suas disciplinas, ele tenta ao trabalhar o conteúdo mostrar o que é
colocado para cada um dos níveis de ensino, mas nós não temos disciplinas nominadas
Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, não aparece, ele está subentendido na
proposta de cada disciplina que o curso oferece. Até então temos trabalhado um pouquinho
com a questão dos PNE18, que nós temos uma disciplina especifica no curso que daí também
vai acontecer a mesma coisa, no Bacharelado é direcionado para o aluno que vai para
academia e que é portador de necessidades e na Licenciatura direcionado para o aluno
especial e eles fazem alguns trabalhos com os alunos especiais, principalmente das escolas
especiais que a professora direciona o trabalho, então é uma perspectiva de pensar em outras
formações. Como nós temos Educação Física no período da noite, nós temos Estágios no
EJA19, que é uma característica bastante especifica o aluno do EJA, e aí o nosso aluno, discute
esta proposta de como trabalhar com o aluno do EJA, mas ela está embutida especificamente
dentro das disciplinas (Profª.F).”
O prof. G nos traz seu parecer salientando: “Nós temos além das disciplinas
de Estágio, que o aluno vivencia a atuação nesses campos, a formação para esses níveis de
ensino, ela se dá nas disciplinas específicas do curso, com a contextualização daquele
conteúdo para aquela faixa etária, para aquela idade, dentro daquele contexto escolar. Quanto
a segunda parte, eu acredito que sim, porque temos trabalhado com a integração de outros
conteúdos na disciplina. Mas eu vou te dar a minha impressão, que embora isso tenha no
nosso projeto pedagógico, eu não vejo isso acontecer de maneira tão efetiva, percebemos
algumas ações isoladas com outras práticas, mas agora você me perguntando eu acho que é
muito incipiente, essa é uma opinião mesmo, eu acho que é pouco incipiente, acho que está
mais na formalização documental, do que na ação, propriamente dito (Prof.G).”
18 PNE – Portador de Necessidades Especiais 19 EJA – Educação para Jovens e Adultos.
71
Nas palavras do prof. H, ele expõe: “O que eu acho que vem ao encontro
desta tua pergunta é a questão quando trabalhamos na teoria o conceito filosófico das Lutas18.
Hoje eu tenho tentado trazer para os alunos, para que eles possam estar associando alguns
ensinamentos filosóficos principalmente das lutas asiáticas, as lutas mais orientais, para que
tenha esta parte da formação do ser, não só do cognitivo e do motor, mas também do afetivo.
O respeito ao colega, a cooperação entre os colegas, estes conceitos são muito presentes na
parte filosófica das Lutas20 e eu insisto, bato muito nesta tecla para ver se eu consigo de
alguma forma passar isso para os acadêmicos da graduação e eles tentem levar isso para
dentro das escolas, no caso, este foco é mais para a Licenciatura. Confesso que para o
Bacharelado eu não insisto tanto nesta parte (Prof.H).”
E na concepção do prof. I: “No Bacharelado é tratado de forma superficial, até
porque o profissional poderá vir a trabalhar com crianças ao longo da sua vida profissional. Já
na Licenciatura eu procuro focar, falo muito da questão biológica do jovem, da despreocupação
que se tem em informar o jovem da questão biológica e motora. A formação do cidadão é
inerente a formação da Educação Física, História, Matemática ou qualquer disciplina da escola,
não é só uma responsabilidade da Educação Física. As crianças precisam conhecer os
elementos da Educação Física. E a nossa formação, profissionais de Educação Física, deve
ser muito aprofundada nesta área, porque se não, nós vamos dar “estafetinha”21 para o resto
da vida (Prof.I).”
A questão da prática vai além da proposta curricular. Verifica-se na
proposta duas tendências: abrangência de todas as modalidades de atividades
corporais e desportivas; e a abordagem das especificidades de cada nível de
ensino e faixa etária dos alunos. Neste sentido a formação é ao mesmo tempo
direcionada a diversidade das atividades e de contextualização aos diferentes
grupos.
Ainda que o futuro professor possa observar as condições existentes
para o desenvolvimento adequado das atividades de Educação Física na
escola e demais ramos da Educação Física, a metodologia procura considerar
a prática de cada modalidade de atividade corporal.
Verificou-se que não existem disciplinas diretamente direcionadas para
as modalidades de ensino exclusivas, mas existe todo um processo de
20 O professor está se referindo a designação da disciplina que ministra. 21 Quando o professor diz “estafetinhas”, ele se refere a uma corrida de estafetas realizada em equipes de quatro elementos, onde cada um deles percorre uma determinada distância, transportando na mão um tubo que deve ser entregue ao companheiro seguinte. O objetivo dos corredores é transportar o tubo até à meta, o mais depressa possível.
72
sistematização de conteúdos a serem ministrados durante a evolução do curso
e que as disciplinas direcionam os conteúdos e apontam os caminhos para que
o aluno possa compreender estas diferenças de faixa etária e suas
particularidades dentro de cada nível de ensino.
Na fala da professora F fica destacado que a formação do professor
inclui os conhecimentos das práticas pedagógicas direcionadas à infância, e
que esta formação não ocorre no Bacharelado.
Em relação a outras práticas educativas foram destacados os trabalhos
diferenciados que acontecem no curso com os PNE em uma disciplina
específica e os Estágios noturnos que acontecem junto ao EJA e que
proporcionam aos alunos e também aos professores, novas descobertas e
aprendizagens junto a este público diferencial. Também foi destacado o
trabalhado entre os professores com a integração de outros conteúdos na
disciplina.
3.1.1.1 A relação entre as disciplinas e a formação do professor de Educação Física
Quando se coloca em evidência a dimensão da formação de
professores, um dos pontos essenciais é o conjunto de disciplinas oferecidas
pelo curso e seus objetivos em relação ao preparo profissional do futuro
docente. Pode-se destacar que o currículo de formação elaborado visa uma
formação objetiva e centrada nos interesses da área estudada e principalmente
levando em consideração as disciplinas que são de formação pedagógica.
A formação do futuro professor acontece com uma base equilibrada e
ajustada de modo a alcançar os objetivos propostos pelas disciplinas
oferecidas pelo curso. Este processo de ajuste do currículo acontece
envolvendo coordenação, professores e alunos em formação destacando as
suas necessidades de aprendizado e aplicação profissional na prática docente.
Neste sentido destaca-se o entendimento de Pinheiro e Romanowski (2009) a
respeito da formação básica de professores:
73
Pensar a docência exige compreender o docente como um profissional em ação e interação com o outro o aluno, esse processo é produtor de saberes na e para realidade, em que a prática cotidiana se apresenta um local de construção de saberes (PINHEIRO E ROMANOWSKI, 2009, p. 2233).
As mesmas autoras complementam o conceito salientando:
Partindo deste pressuposto a análise dos saberes docentes, os conhecimentos necessários ao professor para poder ensinar constitui questão fundamental para os cursos de formação inicial deste profissional (PINHEIRO E ROMANOWSKI, 2009, p. 2233).
Esses conhecimentos são atribuídos tanto a prática profissional do
professor como também da sua preparação acadêmica e profissional ao longo
de sua profissão e ambas contribuem para que o professor formador trabalhe
com os conhecimentos referentes aos conteúdos selecionados para a
formação do futuro professor, qualificando-o para que o mesmo possa se tornar
apto a assumir sua profissão.
Junto aos professores entrevistados, visando a compreensão da
formação docente dos futuros professores, procurou-se entender quais eram as
disciplinas que cada professor estava responsável e o propósito dela para
formação do futuro professor ou profissional de Educação Física.
Seguindo este conceito, expõe o prof. A: “Eu trabalho Aprendizagem Motora,
dentro da Licenciatura e trabalho com Monografia, o TCC22 para os dois cursos. A proposta da
Aprendizagem Motora é toda a base de como trabalhar as habilidades motoras dentro da
Educação Física escolar, as fases, todo o processo de ensino aprendizagem, de como se
trabalhar uma habilidade respeitando as fases de aprendizagem, as fases de desenvolvimento
motor da criança, todas essas situações são abordadas dentro da atividade motora (Prof.A)”.
O prof. B trabalha com diversas disciplinas, sendo elas: o Atletismo, a
Antropometria, a Bioestatística e o Treinamento Desportivo no final do curso,
sendo esta disciplina destinada apenas a formação do bacharel. O professor
apresenta os propósitos das disciplinas, relatando: “O Atletismo é o esporte base
para todas as disciplinas, todas as outras modalidades. No Bacharelado vai mostrar a relação
entre o Atletismo, os objetivos, os movimentos com relação ao aprendizado. Tem um caráter
mais de treinamento, dando uma visão mais técnica, destacando a importância do Atletismo na
22 TCC – Trabalho de Conclusão de Curso.
74
grade do curso. Na Licenciatura, mostrando o Atletismo para a formação das crianças
complementando o desenvolvimento motor. Também preparando para outros esportes. Mas a
visão da Licenciatura é um caráter mais de ensino dos gestos, dos movimentos, não tanto o
treinamento, mas de forma lúdica, adaptado a escola. O professor ministra também as
disciplinas de Antropometria e Bioestatística que são disciplinas anuais, um semestre uma e
então outra. No Bacharelado também caracterizada mais a parte fisiológica, tendo isto como
objetivo no trabalho. Na Licenciatura para gente mostrar a importância principalmente no
desenvolvimento das crianças, como identificar riscos a saúde, isso também é válido para o
Bacharelado, IMC23, RCQ24 e outros parâmetros que são trabalhados para qualidade de vida. E
nas Licenciaturas o forte é mostrar a importância na escola de você fazer uma avaliação física
e não só peso e altura, mas ter o diferencial, pois na pedagogia você não tem esta parte
fisiológica do trabalho e uma criança que vai fazer uma atividade física você tem que saber,
dado que é um esforço físico, que trará mudanças fisiológicas, você precisa ter ferramentas
para avaliar se a criança está se desenvolvendo de forma normal, curvas de crescimento, e
mostrar a diferença principal do educador físico atuando na escola do que o pedagogo atuando
na escola. A Bioestatística que tem foco igual na Licenciatura e no Bacharelado, objetiva
mostrar como trabalhar com os dados, tendo as informações, saber separar, quantificar, obter
a média, verificar quais crianças estão acima da média, abaixo da média, saber como olhar
estes resultados e saber como apresenta-los, não adianta avaliar a turma inteira e então daí
agora eles estão assim, será que eles estão na média, quantos estão acima, quantos estão
abaixo...Também atuo em Treinamento, no Bacharelado, já no final do curso (prof. B).”
A profª C responsável pelas disciplinas aquáticas coloca: “A disciplina é
Natação e Esportes Aquáticos, ela tem uma conotação diferente no Bacharelado e na
Licenciatura. Primeiro, ela se propõe a trabalhar com esportes aquáticos de uma maneira geral,
na Licenciatura ela já tem uma conotação mais básica da Natação e da Adaptação Aquática,
tendo em vista que muitas escolas hoje tem a disciplina de Natação dentro do currículo, então
ela é mais básica, até a carga horária é menor e a ideia é formar um professor capacitado para
atuar nestas disciplinas (profª.C).”
O prof. D expõe: “Na Licenciatura, eu procuro no Handebol, que é um esporte
coletivo e que faz parte desta cultura corporal do movimento, encaixar este desporto como um
meio para que este acadêmico possa desenvolver as valências motoras e os valores de
convivência social a partir do handebol. No Bacharelado, o Handebol é trabalhado como um
esporte de competição mesmo, um esporte olímpico, competitivo, que tem suas categorias de
competição, ele começa lá com o mini, categoria mini, o pré-mirim e o mirim, daí tem o infantil,
o cadete, o Junior e o adulto. Então o esporte é esse, é praticado assim no mundo todo e como
23 IMC – Índice de Massa Corporal. 24 RCQ – Relação Cintura-Quadril.
75
é que eu preparo um atleta para jogar um desporto desse, um desporto de competição. No
Bacharelado o enfoque é esse (prof.D).”
Nas entrevistas foram destacadas as disciplinas que cada professor é
responsável no semestre que esta pesquisa foi realizada e o propósito dela
para formação do futuro professor ou profissional de Educação Física.
As palavras do prof.E: “A minha disciplina é Ginástica de Academia. Inclusive na
reestruturação curso era uma disciplina que tinha uma carga horária de 28h e dobramos esta
carga horária quando teve a reformulação pela necessidade do perfil do egresso. Primeiro a
busca maior hoje no curso é pelo Bacharelado do que pela Licenciatura, ano passado estava
isso mais latente ainda, agora teve uma pequena diminuição para o Bacharelado, mais ainda
continua mais alto do que a Licenciatura e pelo perfil. Porque as pessoas se formam e querem
trabalhar com o quê? Ou academia ou personal trainer a grande maioria delas e escola menos.
A escola está sendo ainda algo procurado, uma busca pela Licenciatura procurada pela
segurança pessoal, eu posso fazer um concurso. Quando que pelo Bacharelado, o concurso só
seria pela SMEL25, não tem nenhum outro tipo de concurso que me de uma segurança,
digamos assim. Mas mesmo assim a procura pelo Bacharelado, para trabalhar em academia
ou trabalhar como personal trainer que está sendo cada vez mais remunerado, fez com que a
mudança, com essa nova reestruturação, dobra-se a carga horária da Ginástica de Academia
(Prof.E).”
O prof. H coloca: “Neste semestre especificamente, eu estou com Lutas e
Epistemologia da Educação Física. Lutas para o Bacharelado é mais voltado para as bases,
para a identificação das necessidades que os atletas vão ter, para depois os professores terem
uma oportunidade de mercado em relação ao treinamento especificamente, então o bacharel é
formado para o treinamento da Luta. Já o licenciado é aquela coisa da Luta para a Educação
Física Escolar. Agora na Educação Física Escolar, tanto para Licenciatura quanto para o
Bacharelado é uma formação superficial, porque eu procuro trabalhar todas as modalidades
olímpicas. As lutas olímpicas, que é o Judô, o Caratê, o Boxe, a Luta Olímpica e a Esgrima.
Então é um pouquinho de cada uma delas durante essas 72h, para que eles tenham ideia de
como trabalhar com qualquer tipo de luta, posteriormente daí eles podem se aprofundar no
conhecimento dessas lutas. No caso da Licenciatura, como que eles vão buscar o que
chamamos de estratégia, que são os jogos de oposição, as brincadeiras de oposição, para
poder camuflar o conteúdo de Lutas na Educação Física Escolar. Já o Bacharelado, chamando
a atenção deles para as capacidades físicas, para fisiologia do esforço daquela característica
de luta e preparando-os para ter a parte de treinamento desportivo mais a frente. Então essa
talvez seja a diferença básica entre os dois cursos (Prof.H).”
25 SMEL – Secretaria Municipal de Esporte e Lazer.
76
E o prof. I destaca que ministra no momento Fisiologia do Exercício e
Atividades Físicas para populações especiais. Segundo ele, a Fisiologia do Exercício
fundamenta os conceitos para quem vai trabalhar com atividade física e o ser humano.
Abrange o conhecimento da base da fisiologia do exercício, atividade física. E para a
Licenciatura os conceitos são trabalhados com ênfase para jovens e adolescentes. A disciplina
é fundamental para a preparação e compreensão da atividade física. A disciplina de “Atividades
Físicas para populações especiais”, infelizmente não faz parte do currículo da Licenciatura,
apenas do Bacharelado. Antes nominada de Patologias Básicas, hoje “Atividades Físicas para
populações especiais”, teve seu leque ampliado para outras atividades físicas de populações
especiais (Prof.I).”
Visando a formação dos professores em formação compreende-se que
os professores formadores se utilizam de técnicas e táticas disciplinares para o
desenvolvimento dos conteúdos de sua disciplina e percebe-se nas falas dos
professores qual direcionamento é atribuído para a formação na disciplina que
ele ministra.
Pode-se destacar que alguns professores têm seu foco de atuação no
contexto formativo do desempenho profissional docente, outros direcionam os
conhecimentos as práticas desportivas e profissionais, salientando a área da
saúde e do bem estar.
Também destacou-se o ensino do esporte nos dois eixos de formação,
sendo trabalhado no Bacharelado o esporte como forma de competição e
rendimento profissional e na Licenciatura como meio de socialização e
incentivo a prática esportiva.
Alguns professores trabalham a ambivalência da disciplina, visando
tanto a formação para a docência, como também a prática em academias,
enquanto outros professores que trabalham apenas na área de formação do
bacharel de Educação Física, visam mais a formação profissional destinada as
práticas em academias e demais áreas de atuação informal.
3.1.1.2 A interdisciplinaridade no curso de Educaçã o Física
Uma questão relevante em pauta na formação de professores é a
questão da interdisciplinaridade que vem de encontro com toda realidade
vivenciada no dia a dia acadêmico. Ribeiro (2002) apresenta que hoje um
77
profissional dominar várias áreas do saber se tornou complexo, o autor
complementa seu ponto de vista expondo:
É isso então o que leva muitos a entender que a interdisciplinaridade só pode ser um trabalho coletivo, no qual especialistas de áreas distintas se reúnem. Não haverá, portanto, um pesquisador interdisciplinar; haverá, sim, grupos de diálogo e discussão (RIBEIRO, 2002, p.135).
Fazenda (2002) coloca que o termo interdisciplinaridade, não possui
um sentido único, mas que o princípio é sempre o mesmo. Ressalta a autora
que “A interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os
especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas no interior de um
mesmo projeto de pesquisa (FAZENDA, 2002, p.25)”.
Fazenda (1993) já ressaltava a ideia de interdisciplinaridade
comentando que o conhecimento não deve ser fragmentado, mas sim unitário.
Além disto, não se trata apenas do domínio do conhecimento, mas de uma
atitude de interação e cooperação.
Em termos de interdisciplinaridade ter-se-ia uma relação de reciprocidade, de mutualidade, ou, melhor dizendo, um regime de co-propriedade, de interação, que irá possibilitar o diálogo entre os interessados. A interdisciplinaridade depende então, basicamente, de uma mudança de atitude perante o problema do conhecimento, da substituição de uma concepção fragmentária pela unitária do ser humano (FAZENDA, 1993, p.31).
Alves (2004) apresenta sua concepção a respeito da
interdisciplinaridade comentando que a mesma deve ser um trabalho conjunto
entre várias disciplinas, direcionando para a mesma finalidade:
Deve-se entender a interdisciplinaridade como um trabalho conjunto de várias disciplinas em direção do mesmo objeto de pesquisa, com o propósito de aproximá-lo, cada vez mais, da realidade objetiva, à medida que constrói sua perspectiva dialética (ALVES, 2004, p.145).
A interdisciplinaridade busca superar a fragmentação dos conteúdos
nas diversas disciplinas com a construção de um conhecimento na área da
Educação Física, auxiliando o professor ou profissional em interação e em
rede, isto é, a finalidade é comum, os conhecimentos são diversos, mas
mantêm ponta de integração; por práticas e métodos, por proximidade de
78
conhecimentos, por atitudes de colaboração, sem desconsiderar a importância
de cada disciplina isoladamente.
Todos os professores entrevistados entendem que a
interdisciplinaridade entre as disciplinas do curso é essencial na busca de uma
formação articulada que possa atender as necessidades dos acadêmicos que
surgirão ao longo da graduação, mas também expõe as dificuldades de fazer
com que isto se torne algo viável, simples e prático dentro do curso.
A seguir estão os relatos dos professores formadores sobre a
abordagem interdisciplinar do conhecimento nas disciplinas as quais eles
lecionam. Também foi questionado a respeito da interação com as outras áreas
de aprendizagem e se a(s) disciplina(s) pelas quais são responsáveis privilegia
esta interação e se uma abordagem interdisciplinar contribui para o
aprofundamento de algum conteúdo estudado.
Na opinião do prof.A “Sim, é possível. Porque a Aprendizagem Motora ela está
em tudo. Não tem como você falar de qualquer outra disciplina sem a Aprendizagem Motora e
essa relação que o aluno tem aprender a fazer. Ele está numa disciplina prática ou em uma
outra disciplina teórica, tem que saber fazer essas relações com a Aprendizagem Motora,
porque ela é totalmente interdisciplinar. Tanto é que ela é uma área nova nos cursos de
Educação Física, porque antes ela era abordada as pinceladas numa disciplina ou outra, então
a área do comportamento humano, do comportamento motor que é formado pelo
desenvolvimento motor, aprendizagem motora e pelo controle motor, hoje ela é uma área
especifica dentro da Educação Física e ela justamente vai ser a base principalmente das
disciplinas práticas, tem que ter esse entendimento. Porque quando o professor de Basquete
está falando, o professor de Fisiologia está falando, o professor de Cinesiologia está falando de
um movimento, ele tem que estar entendendo a Aprendizagem Motora inserida ali dentro. Se
ele não fizer essa relação, ele não consegue depois trabalhar com a Aprendizagem Motora,
com o ato motor (Prof.A)”.
Expõe o prof. B que trabalhar com a interdisciplinaridade é
importantíssimo e complementa: “Fora da Universidade você não vai atuar só com uma
coisa, então tem que sempre estar ligando tudo, nós tentamos dentro do possível das outras
disciplinas estar sempre relembrando, procurando fazer o “link”. Depende sempre da relação
com outros professores, buscando uma avaliação interdisciplinar. No meu ponto de vista esta é
a maior dificuldade, dado o tempo que temos para preparar ou programar uma avaliação e
atividades interdisciplinares. As vezes você não consegue tempo para conversar com outro
79
professor. É incompatibilidade de horário mesmo. No meu ponto de vista falta tempo para
pensar nesta interdisciplinaridade (Prof.B).”
A profª C destaca em sua fala: “Em outras áreas, principalmente desportivas, é
onde vemos muito intercâmbio na interdisciplinaridade, por exemplo em termos de Fisiologia,
trabalhamos bastante com isso, falamos sobre as atividades, são levantadas algumas
questões, quando você trabalha alguma coisa da biomecânica também, então com essas
disciplinas biológicas é fácil fazer a interdisciplinaridade, às vezes, quando eu trabalho o pólo
aquático eu faço muita integração com o Futebol que tem muitas regras parecidas, a estratégia
de jogo de natação é completamente diferente do pólo aquático, pólo aquático é um esporte
coletivo e a Natação é um esporte individual, então eu procuro trabalhar os dois dentro da
água, mas às vezes as técnicas e as táticas são trabalhadas diferenciadas, então nesse ponto
teve uma interdisciplinaridade das disciplinas. Também a Anatomia, você acaba usando
bastante para poder explicar as musculaturas envolvidas em certos movimentos da natação, aí
a gente faz alguns “links” com as outras disciplinas, mas de maneira geral, nessas situações só
(Profº.C)”.
Outro prof. expõe: “É possível, mas não acontece muito, infelizmente.
Historicamente trabalhamos de forma fragmentada. Mas isto é fruto da história, do positivismo,
lá de Descartes, entendeu que fragmentando seria a melhor forma de conhecer as coisas. Não
sou totalmente contra a fragmentação, mas devem existir momentos de integração, caso
contrário o processo de aprendizagem fica muito pobre (Prof.D).”
A respeito da abordagem interdisciplinar do conhecimento na(s)
disciplina(s) pelas quais são responsáveis e a busca pela interação com outras
áreas de aprendizagem, os professores embasaram os conceitos utilizados
relatando:
Expõe o prof. E: “Eu acho que sim. Deve ser inteiramente ligado, eu trabalhava já
a Musculação em 2005 com outro professor, nós trabalhávamos aos pares, ele na Biomecânica
e eu na Musculação, e realizávamos uma parceria e uma integração das disciplinas. Então
acho que consigo realizar uma interdisciplinaridade em minha disciplina e acho que é
importantíssimo agregar todas as disciplinas de uma forma só, tanto que eu costumo falar que
a minha disciplina não é Ginástica de Academia, é um mix de disciplinas, eu falo para os
alunos, vocês não vão ver aqui Ginástica de Academia, vão ver um misto de várias, vou pegar
lá a contagem musical da Dança, vou pegar a parte do Marketing, vou pegar a parte da
Fisiologia e vocês vão rever tudo, só que agora aplicado, então é um mix mesmo (Prof.E)”.
80
Nas palavras do prof. H: “Essa semana, especificamente eu tive um exemplo,
que foi claramente a resposta para esta pergunta (...) como agora eu recebo os alunos na
Lutas26 no terceiro período eles acabam vendo a cadeira de Ginástica no período anterior,
aonde eles aprendem os conceitos do que é a resistência aeróbica, a resistência anaeróbica, a
força isométrica, a força explosiva, a resistência de força, então eles tem que dominar bastante
esses conteúdos. Quando eles chegam na disciplina de Lutas, eu digo, nessa situação que
você está fazendo este movimento, este gesto motor, que capacidade física você precisa ter
neste momento? Até então eu via que o pessoal tinha dificuldade de dizer, ó professor isso daí
é força isométrica, isso aí é força explosiva, qual é a definição dessa capacidade física e
coincidentemente eu recebi uma turma de terceiro período do Bacharelado noturno deste
semestre especificamente e eu comecei a fazer estas perguntas e eles vêm respondendo com
muita propriedade estas perguntas que normalmente as outras turmas não respondiam e aí eu
fui ter com o professor que ministrou essa disciplina no semestre passado e não por acaso ele
respondeu, “não professor eu tentei fazer alguma coisa, eu usei uma estratégia diferente”, ou
seja, deu certo a estratégia que o professor usou, eles de fato estão muito mais preparados. E
durante a minha prática, como eu sei que Luta é uma coisa muito especifica e poucos são os
que vão trabalhar com Lutas mesmo, eu procuro estar associando, olha este gesto aqui pode
ser o mesmo gesto do lançamento do dardo, pode ser o mesmo gesto do saque do tênis ou da
cortada do voleibol, então eu sempre fico tentando conectar com as outras modalidades
esportivas para que eles possam se motivar até, há então eu vou me dedicar mais a este
momento aqui porque ele tem a ver com as outras práticas. Eu me esforço, eu não sei qual é o
feedback que os outros professores poderiam me dar, mas que eu me preocupo o tempo todo
com isso, sim eu me preocupo (Prof.H).”
E o prof. I considera que: “Sim, é importante, preciso ter uma grande interação
com a grade do curso com disciplinas de Anatomia, Fisiologia, com Treinamento Esportivo e
eu acho que deveria ter maior integração com Estágio Supervisionado (Prof.I)”.
No contexto descrito pelo professor, percebe-se a interação entre
algumas disciplinas com o foco da relação entre os conhecimentos ministrados.
A compreensão neste caso é dos conteúdos que são comuns entre as duas
disciplinas, mas a abordagem permanece disciplinar.
Pereira, et al. (2005) nos trazem sua concepção sobre a
interdisciplinaridade expondo:
26 Quando o professor se refere a Lutas, ele está falando da sua disciplina ministrada no curso.
81
A interdisciplinaridade, como a construção de um conhecimento complexo, busca superar a fragmentação das disciplinas, sem desconsiderar a importância de cada uma delas e adequar-se a aproximação de uma realidade complexa (PEREIRA, ET AL., 2005, p.8).
Considerando o conceito exposto compreende-se que o conhecimento
não pode ser reduzido apenas a pequenas partes, mas ele deve ser transmitido
em sua totalidade e para que isso aconteça de forma mais efetiva se faz
necessário a integração entre as disciplinas através da interdisciplinaridade.
Diniz-Pereira (1999) destaca que “é importante, ainda, pensar a
formação de um professor que compreenda os fundamentos das ciências e
revele uma visão ampla dos saberes (DINIZ-PEREIRA, 1999, p.117).” O autor
complementa seu raciocínio, expondo:
(...) é fundamental investir na formação de um professor que tenha vivenciado uma experiência de trabalho coletivo e não individual, que tenha se formado na perspectiva de ser reflexivo em sua prática, e que, finalmente, se oriente pelas demandas de sua escola e de seus alunos, e não pelas demandas de programas predeterminado e desconectados da realidade escolar. É fundamental criar, nos cursos de licenciatura, uma cultura de responsabilidade colaborativa quanto à qualidade da formação docente (DINIZ-PEREIRA, 1999, p.117).
Assim sendo, entende-se que a interdisciplinaridade abrange muito
mais do que a interação das disciplinas, ela está ligada também a um trabalho
coletivo desenvolvido sob as mesmas perspectivas em busca de uma base de
sustentação para os novos aprendizados e descobertas científicas no campo
da Educação Física, pois as disciplinas estão interligadas entre si através de
conhecimentos similares de aplicação e aprendizado e isso faz brotar nos
ensinamentos novas descobertas na compreensão do teórico e do prático.
3.1.1.3 A Educação Inclusiva e a Educação para a Di versidade
No Brasil podem ser destacados dois fortes posicionamentos a respeito
da inclusão escolar. O primeiro, defendido pela autora Maria Teresa Eglér
Mantoan, entre outros autores e o segundo posicionamento é defendido pelas
APAEs.
82
Mantoan (2003) nos traz a ideia que “se o que pretendemos é que a
escola seja inclusiva, é urgente que seus planos se redefinam para uma
educação voltada para a cidadania global, plena, livre de preconceitos e que
reconhece e valoriza as diferenças (MANTOAN, 2003, p.13)”. A autora dispõe
também:
Em resumo, para os defensores da inclusão escolar é indispensável que os nossos estabelecimentos de ensino eliminem barreiras arquitetônicas e adotem métodos e práticas de ensino adequados às diferenças dos alunos em geral, oferecendo alternativas que contemplem a diversidade, além de recursos de ensino e equipamentos especializados, que atendam a todas as necessidades educacionais dos educandos, com e sem deficiências, mas sem discriminações (Mantoan, 1999, 2001; Forest, 1985). Todos os níveis dos cursos de formação de professores, devem sofrer modificações nos seus currículos, de modo que os futuros professores aprendam práticas de ensino adequadas às diferenças (MANTOAN, 2003, p.26).
Assim pelas palavras da autora percebe-se que a mesma defende a
ideia da inclusão escolar sem distinção dos alunos. Em suas palavras Mantoan
(2003) destaca: “O ponto de partida para ensinar a turma toda, sem diferenciar
o ensino para cada aluno ou grupo de alunos é entender que a diferenciação é
feita pelo aluno, ao aprender e não pelo professor, ao ensinar! (MANTOAN,
2003 p.43).” Seguindo o ponto de vista da autora percebe-se a defesa de uma
escola única para ensinar a todos sem distinção ou separação de alunos, onde
todos receberiam os ensinamentos da mesma forma e a captação destes
ensinamentos pelos alunos é que seria a diferença.
Já a APAE27 em seu documento APAE EDUCADORA: A ESCOLA
QUE BUSCAMOS. Proposta Orientadora das Ações Educacionais; vem
destacando um contexto para a inclusão escolar na perspectiva de atendimento
diferenciado:
Em cada uma de suas unidades, deve-se discutir a melhor forma de atender às necessidades educacionais de seus alunos em seu processo de aprender, definindo-se ou não pela implantação de serviços e apoio especializados, oferecidos no âmbito da própria escola ou em parceria com outras instituições. Caracteriza-se como serviço especializado aquele oferecido pelas escolas especiais, centros ou núcleos educacionais especializados, instituições públicas e privadas de atuação na área da educação especial, realizado em parceria com as áreas de saúde, da assistência social e do trabalho (APAE, 2001, p.27-28).
27 APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
83
O documento também sugere que o currículo das escolas que fazem a
inclusão escolar deve ser “dinâmico, flexível, envolvendo todas as ações e
relações desenvolvidas no interior da escola em seus diferentes contextos
(APAE, 2001, p.30)”, mantendo um padrão educacional elevado.
Outro documento da Federação Nacional das APAEs (2007), na
perspectiva da educação inclusiva destaca:
De uma maneira geral, um documento de política não deve afirmar que a inclusão se consolidará mediante o deslocamento de estudantes de escolas especiais para escolas comuns, o que – no nosso entendimento – se constitui redução e/ou simplificação do significado e das implicações de um efetivo processo de inclusão desejado (FEDERAÇÃO NACIONAL DAS APAES, 2007, p.8).
Esta colocação denota uma política que não apoia a inclusão, pois
entende que o aluno incluído de qualquer forma em uma turma regular de
ensino, poderá ser prejudicado em suas aprendizagens e desenvolvimento por
não receberem uma atenção direcionada a eles e as suas necessidades. O
mesmo documento complementa ainda:
Ao deliberar que a inclusão do aluno com necessidades educacionais especiais seja feita exclusivamente na classe comum do sistema de ensino irrestritamente, ignora-se a heterogeneidade dessa população específica, estabelecendo a hegemonia do lócus na Educação (FEDERAÇÃO NACIONAL DAS APAES, 2007, p.8).
Desta forma, entende-se que a inclusão do aluno que apresente
alguma necessidade especial deverá receber um aprendizado diferenciado dos
demais alunos da turma, ou ainda, ele deverá frequentar uma turma que seja
destinada a alunos especiais com professores qualificados que realizem um
processo de ensino aprendizagem especializado para esta turma. Trata-se da
homogenização sem o reconhecimento da diferenciação.
Na atualidade as políticas educacionais buscam a formação para a
inclusão e para a diversidade. Portanto essas foram dimensões desenvolvidas
durante as entrevistas. Lima (2009) esclarece:
84
A educação inclusiva refere-se a um modelo de educação realizado na escola, cuja abrangência de atendimento não é limitada a um ou outro grupo, mas é aquela que acolhe todos os indivíduos independentemente de suas qualidades ou características físicas, sociais, culturais ou mentais, isto é, universaliza o acesso para todos (LIMA, 2009, p.29).
Quando se fala em educação inclusiva a primeira interpretação é fazer
a inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais (PNE) a um meio
comum de atividades. Esquece-se que a inclusão abrange muito mais,
excluímos os mais fracos ou menos capacitados em uma atividade qualquer
realizada em nosso cotidiano escolar, fazendo com que este aluno se sinta
discriminado perante seu grupo de atividades. A diferenciação inclui o
reconhecimento das diferenças culturais, étnicas e econômicas.
A questão da formação para a inclusão e para diversidade traz desafios
para os professores e muitos não possuem formação para esta compreensão
para tratar do assunto com segurança e assertividade, ainda que este assunto
seja mais uma condição para a formação de professores para Educação
Básica, como consta no Parecer CNE/CP nº 09/2002, destacando:
A educação básica deve ser inclusiva, no sentido de atender a uma política de integração dos alunos com necessidades educacionais especiais nas classes comuns dos sistemas de ensino. Isso exige que a formação dos professores das diferentes etapas da educação básica inclua conhecimentos relativos à educação desses alunos (PARECER CNE/CP nº 09/2002, p.26).
Desta maneira, fica subentendido que a formação de professores que
irão atuar na Educação Básica, deverá prestigiar conteúdos aplicados a
formação de um professor que tenha capacidades de interagir de maneira
produtiva e eficaz com todas as diferenças que possam ser apresentadas ao
longo de sua atuação profissional, dando-lhes assim, um suporte inicial para
que o professor consiga estabelecer uma relação harmoniosa e produtiva junto
a toda classe, sem distinção ou exclusão. Lima (2009) constata em seus
estudos que ainda existe uma problemática quando se trata da formação de
professores para atuarem nesta dimensão educacional e expõe:
85
A preocupação com a educação inclusiva assume novas dimensões e percebe-se uma maior produção cientifica voltada para o tema, com uma diversidade de oferta de eventos, publicações e pesquisas, abordando temáticas relacionadas, mesmo assim em relação a formação de professores que irá atuar com esses educandos, poucos avanços são constatados (LIMA, 2009, p.31).
Pela colocação de Lima (2009) se compreende que o currículo de
formação de professores para atuação na Educação Básica ainda se encontra
deficitário em relação à inclusão de grupos diferenciados nas escolas,
dificultando a atuação dos professores não apenas com a pessoa especial,
mas com todo o grupo, pois o professor sem preparo adequado acaba por
excluir, como comentado por um dos professores entrevistados e está descrito
no próximo relato, onde o professor se posiciona em relação a maneira que é
realizada a inclusão atualmente, ressaltando que desta maneira a inclusão é
inadequada em sua opinião. O entendimento é de homogenidade, de
padronização. A seguir o relato onde o professor descreve sua argumentação a
respeito da inclusão.
O prof. E descreve: “Eu não acredito na inclusão porque quando você faz a
inclusão como nós temos no Brasil, eu tenho 1 professor para 40 alunos e eu vou ter que incluir
ali uma pessoa que é míope, que é cega, uma pessoa que tenha uma paralisia. Eu não
acredito nesse tipo de inclusão e as vezes eu choco as pessoas quando eu falo isso, pois eu
não acredito. Porque primeiro; o professor que trabalha 40h, ele trabalha 80, 40h, mais uma
hora ou duas para programar suas aulas, fazer sua especialização, e quando eu coloco uma
aula para o aluno, cada vez que eu fizer uma aula, terei que fazer duas aulas e não uma aula
só. Se eu montar uma aula só e incluir, eu incluo você, por exemplo, pego uma pessoa que não
consegue saltar, eu incluo você, mas daí eu excluo 39, porque eles poderiam fazer muito mais,
mas eu estou fazendo uma aula que aquela pessoa pode fazer, então eu vou excluir 39. Se eu
faço uma atividade para uma pessoa que tem dificuldade visual, eu excluo 39 que poderiam ir
muito mais além. Então eu sou a favor da inclusão sim, se houverem dois professores na sala
de aula que trabalhem o mesmo conteúdo, dois professores juntos trabalhando. E uma turma
que esta preparada para receber isso e eu falo olhe, a atividade é correr e saltar, e essa
pessoa vai fazer assim e essa pessoa vai fazer assim, essa com a atenção desse e essa com
a atenção desse. Eu até poderia fazer isso, há você fala, mas você poderia colocar duas
opções, se eu estou colocando duas opções, eu estou excluindo. Para você isso, para você
isso, então já não está no mesmo grupo, está em grupos diferentes, e se eu coloco no mesmo
grupo, uns poderiam ir mais e não vão por motivo dele. E se eu fizer só para os que podem
mais, o que pode menos não vai, então uma opinião pessoal, eu acredito que quando eu
incluo, eu excluo os demais, que poderiam evoluir também. Ou eu tenho dois professores com
86
atividades diferentes, que não deixa de ser exclusão na mesma, ou teria que ter uma turma
especial para este público, então eu acho que a inclusão ela é utópica (Prof.E).”
Este professor destaca em seus argumentos discordância da maioria
das opiniões apresentadas na pesquisa pelos colegas professores. A seguir
estão descritas as demais falas dos professores formadores a respeito da
formação para a Inclusão e para Diversidade no curso de Educação Física da
Universidade pesquisada.
Segundo o prof. A: Como a minha disciplina trabalha com a questão da
aprendizagem motora, ela comtempla a questão de como se trabalhar com a inclusão, não um
enfoque mais profundo, mas ela trabalha um enfoque das habilidades motoras, que é o foco
principal da Aprendizagem Motora. Ela vai ver a pessoa, um deficiente físico, um deficiente
visual, um deficiente auditivo, essas situações e todos eles estão propensos a aprender como
qualquer pessoa e o aluno, esse futuro professor tem que aprender a estabelecer as relações,
com as disciplinas, por exemplo, de Educação Física Adaptada e as outras disciplinas que vão
fazer parte deste contexto. E com relação a diversidade, o aluno também vai ter que trabalhar
porque na Aprendizagem Motora não pode existir diferença, o ser humano, ele tem que
trabalhar no seu contexto geral, independente dessas situações da diversidade ou da inclusão
ou não, ele tem que trabalhar aquela situação, ele tem que viver aquilo, porque nós estamos
trabalhando com as competências motoras e as competências motoras elas não podem levar
em consideração nessas situações, idade, sexo, gosto ou religião, nada, ela tem que trabalhar
com esse ser humano, nesse sentido completo (Prof.A)”.
Segundo o prof. B: “Quando eu trabalhava com “Atividade Física Adaptada”, ai
trabalhávamos com inclusão. A diversidade não. A inclusão, como eles tem a “Atividade Física
Adaptada” eles trabalham. No Atletismo é comentado, tem as modalidades do para-atletismo,
dos esportes adaptados e no Treinamento Esportivo também é mostrado os esportes
adaptados, mas eu não dou ênfase dado a existência de uma disciplina exclusiva para isto, não
adianta ficar repetindo (Prof.B)”.
A profª C comenta: “Dentro da disciplina em termos de inclusão, eu trabalho muito
com pessoas que tem traumas, então quero dizer, não é bem a ideia de inclusão, porque
percebe-se que a natação é uma atividade que pode ser trabalhada com muita gente, inclusive
tem muitas pessoas com certas síndromes que indicam a natação como meio de tratamento.
Dentro da Licenciatura eu não abordo muito este tema, o que eu falo dentro de inclusão é a
questão das pessoas que tem trauma, mas não seria bem esta questão da inclusão, porque na
verdade tem uma disciplina no curso que fala só sobre a Educação Física Adaptada, assim de
87
modo geral eu não costumo abordar, a única abordagem é essa, das pessoas que tem trauma
e que geralmente você não consegue colocar dentro da mesma turma (Profª.C)”.
O Prof. D destaca em seu comentário que há hoje no curso um avanço
em relação a inclusão e a diversidade, em suas palavras: “Hoje existem disciplinas
voltadas para inclusão, tanto na Licenciatura como no Bacharelado, essa disciplina não existia
em currículos antigos, ela hoje existe e é um avanço. Isso tem que ser, porque hoje a inclusão
é uma realidade, hoje chegamos nas escolas e tem turmas inteiramente heterogêneas em
vários sentidos, inclusive no sentido de ter crianças portadoras de necessidades especiais,
crianças com síndrome de Dawn, crianças com deficiências físicas, deficiência auditiva,
deficiência visual e o profissional ele tem que ter estratégias de como lidar com isso (Prof.D)”.
Na sequência continuam as falas dos professores a respeito da
formação para a Inclusão e para Diversidade.
Segundo a profª F: “Nós temos na grade curricular uma disciplina especifica de
PNE, a profª X28 direciona, ela faz esta perspectiva do que é inclusão, como ela acontece ou
como ela deveria acontecer e ela trabalha isto de forma bastante clara. Nas disciplinas eu acho
que passamos superficialmente por isso, por conta de achar que a disciplina da Profª X possa
dar conta desta perspectiva e a questão da diversidade acaba aparecendo também como
conteúdo, não como uma forma especifica, então o professor trabalha isto dentro dos seus
contextos (Profª.F).”
O prof. G coloca o assunto da seguinte maneira: “Acho que há um avanço
grande a respeito destes assuntos no curso em geral. Hoje o curso dispõe de uma disciplina
específica de Educação Física Adaptada que trabalha para a inclusão de pessoas com
necessidades especiais, então os alunos não só discutem na disciplina de cunho pedagógico
este contexto, porque isso está inserido em várias disciplinas de cunho pedagógico. Mas nós
temos disciplinas específicas para isso também, no nosso caso a Educação Física Adaptada
onde a inclusão é discutida ao longo de toda disciplina (Prof.G)”.
Nas palavras do prof.H “Esta é uma parte que eu nunca me preocupei. (...) não
contemplo isso na disciplina, talvez seja até uma falha, nunca tinha parado para pensar e não
tenho nenhuma atividade que contemple a parte da inclusão (Prof.H).”
O Professor I, expressa uma compreensão radical do significado de
uma escola democrática, mais que inclusiva. O professor de forma “indignada”
28 X está substituindo o nome da professora citado.
88
coloca: “Não utilizo este termo “inclusão”. Abomino! Discordo! Considero que a criança já faz
parte da sociedade, ou seja, não há como incluir algo que já faz parte. Não é porque ele é um
cadeirante que ele não faça parte da sociedade, ele apenas tem uma dificuldade, como tantas
outras crianças. Não é porque uma criança tem dificuldade de aprendizagem que ela não faça
parte da escola, a isto não chamamos de inclusão. A criança que usa óculos, não chamamos
isto de inclusão. Inclusão é quando eu vou incluir aquele material no meus estudo, incluir é
aquilo que não faz parte e eu vou incluir. O lugar dessas crianças sempre foi na escola… nós é
que os “excluímos”. Eles são cidadãos.(...) Hoje nós pegamos as crianças e jogamos na
escola. Aí identificamos as dificuldades no meio e tentamos adaptá-lo. O ambiente deveria
estar preparado antes. Hoje e sempre. A escola não foi preparada para eles, sejam cegos,
cadeirantes, com paralisia cerebral. Os professores não estão preparados, para os cegos, para
os surdos… a escola não está preparada para isto. Os professores não estão preparados para
isto.(...) A criança tem o direito de se desenvolver. A escola normal não tem condições para isto
(Prof.I).”
Com base em alguns depoimentos foi possível verificar que o curso
introduziu uma disciplina específica destinada a possibilitar que os futuros
professores elaborarem estratégias para o atendimento das diferenças entre os
alunos, visando uma formação que proporcione experiências, ao menos
básicas, para a compreensão da situação que se apresentar no contexto
escolar que o futuro professor de Educação Física estiver inserido.
A formação para a inclusão às necessidades especiais, com disciplina
específica, não por inclusão no conjunto do curso.
Considerando a existência desta disciplina específica a maioria dos
professores acaba por não focar o assunto da diversidade e principalmente da
inclusão à tona, sendo que, como foi citado por um professor, os assuntos se
tornariam muito repetitivos.
Também destaco a opinião do professor que considera a inclusão um
termo inadequado a ser usado pela sociedade em geral, pois segundo ele
todas as crianças fazem parte da mesma sociedade e não precisam ser
incluídas em algo que já é da natureza delas. O professor destaca também que
as escolas normais não estão preparadas para a inclusão e para trabalhar com
as diferenças em seu cotidiano, pois hoje ainda não temos professores
preparados a contento para assumir essas posições de trabalhos
diferenciados, realizando um processo educativo igualitário que privilegie a
todos de forma limiar.
89
Para que a inclusão aconteça em nossas escolas se faz necessário
uma formação universitária voltada para esta questão, uma formação além da
acadêmica, também uma formação humanitária que vise o aluno dentro de um
contexto de formação com consciência e sabedoria para desempenhar
legítimos papéis de educadores. Esta necessidade da inclusão acontece há
muito tempo em nosso cotidiano escolar, mas enquanto não forem oferecidas
condições para que ela aconteça, continuará sendo utópica e servirá apenas
de fachada para mascarar um descaso com a educação.
Mais uma vez, destaco a grande importância de um currículo
pedagógico estruturado para atender as necessidades da formação de
professores que se tornem aptos a refletir e agir adequadamente perante as
situações que o mesmo venha vivenciar em suas experiências docente.
A formação de professores está ligada a uma formação educativa
voltada para sustentar as demandas de uma educação progressiva que precisa
atender as mais variadas classes sociais, etnias e comunidades em geral, mas
ainda se mostra tímida no preparo dos futuros professores para o
desenvolvimento de uma educação democrática.
O processo de formação de professores nas licenciaturas se mostra
como um desafio ainda maior para os tempos atuais e são vários os
contratempos que surgem ao longo do percurso desta formação.
Diversas são as dificuldades apresentadas ao longo desta carreira
escolhida, onde Diniz-Pereira (1999, p.123) aponta principalmente “a não-
valorização do profissional da educação, os salários aviltantes e a precariedade
do trabalho escolar”. O autor também expõe outros fatores consequenciais
para a escolha da docência como futura profissão e a desmotivação dos
professores atuantes, as quais se destacam: “más condições de trabalho,
salários pouco atraentes, jornada de trabalho excessiva e inexistência de
planos de carreira” (DINIZ-PEREIRA, 1999, p.123).
Considerando que sempre surgirão novos obstáculos a serem
transpostos pelo futuro professor, sejam estes no campo pedagógico,
disciplinar, metodológico, didático, administrativo, comportamental, entre
outros, torna-se de primordial relevância, manter um olhar atento ao currículo
de formação dos futuros professores que irão atuar nas instituições de ensino,
90
para que os mesmos possam estar aptos a corresponder a qualquer
necessidade no exercício de sua profissão docente.
Esta dimensão é relevante para que o futuro professor em formação
consiga fundamentar e aplicar o meio mais viável de aprendizagem para cada
atividade que for desenvolvida. Uma tomada de consciência ajuda a decidir a
metodologia aplicada para levar o aluno ao aprendizado num contexto
completo e integrado com a realidade apresentada.
Buscando a compreensão de como estes professores formadores
organizam seu cotidiano a fim de oferecerem uma formação aos alunos que
possa complementar este processo, investigou-se como é encaminhada a
formação do professor dentro de uma fundamentação científica, ética, prática e
técnica. Os professores então fizeram o seu posicionamento da seguinte
maneira.
O prof. A argumentou: “Estamos dentro de uma Universidade que provoca isso,
tem disciplinas como a própria Ética, Filosofia, Cultura Religiosa, Processos do Conhecer, tem
toda uma formação aqui dentro que dá a oportunidade desse encaminhamento. Ciência e
Religião, então elas acontecem aqui dentro, então nós temos que aproveitar isso e o Corpo
Docente da Universidade e também o Corpo Discente tem que perceber isso, que a formação
tem que se dar no campo do cientifico, mas ela tem que se dar no campo do humano, no
campo da ética, no campo da moral, tudo isso, por que se não o que vai ser lá fora, que
profissional eu vou ser? Então eu tenho que transitar nessas situações e felizmente esta
Universidade29 dá essas condições, só não busca quem não quer, tem para os alunos e tem
para o professor essa formação. Como o Administrador30 mesmo fala, o aluno tem que sair
aqui de dentro com duas formações: uma formação acadêmica e uma formação humana e
quando se fala em formação humana, se transita nestas situações ai, na ética, na moral, então
não é só sair um ótimo profissional, mas uma ótima pessoa também, a formação tem que ter
isso. Para prática, a Educação Física tem um viés de muita prática e trabalhar com as
habilidades motoras, que é a técnica, então tem que ter essa formação também, porque o
aluno vai chegar lá fora no mercado de trabalho e ele vai fazer muito uso, vamos dizer assim,
dessas ferramentas, tanto da prática como da técnica, às vezes, na Educação Física
principalmente, é a primeira situação que lhe é colocado, ele vai para quadra, para sala de
dança, então ali já sai o conhecimento técnico dele, o conhecimento de prático dele, isso é
muito importante, vai sair ali no primeiro momento e atrás desse conhecimento técnico e
prático há o conhecimento científico, um conhecimento humanístico, que está suportando isso,
29 A palavra Universidade está substituindo o nome do campo de investigação. 30 A palavra Administrador está substituindo uma referencia feita pelo professor.
91
então ele tem que ter essa formação, porque é aonde ele vai, vamos dizer assim, ser testado,
ser colocado a prova, então são essas situações (Prof.A).”
Para o prof. B esse encaminhamento flui naturalmente: “Na dimensão
cientifica é tranquila, nós trabalhamos com artigos em Estatística. Agora no TCC que eles tem
que trabalhar: aí os objetivos, as variáveis que tem, então você já mostra todas as
preocupações com o dado que ele vai coletar, não simplesmente coletar o dado e agora, vou
fazer o quê? Se aquela coleta foi válida, se ele coletou de uma forma correta, seguindo um
protocolo, um parâmetro, para poder aplicar. Procuro incentivar que os meus alunos publiquem
pelo menos os resumos em algum congresso científico. Na formação ética entendo que os
exemplos que damos, as posturas que temos em situações entre você e seu aluno, mostrando
sua conduta e postura. Você é o exemplo para formar este aluno, no caráter ético. Na prática: a
experiência prática tua também, a importância da sua disciplina, aonde ele vai aplicar, quando
for trabalhar na escola, os exercícios que você passou no Atletismo, onde ele vai aplicar,
quando ele vai aplicar, porque ele vai aplicar, como vai ajudar a criança a se desenvolver lá na
frente, se ele não aplicar o impacto na formação da criança. Enfim, a relação entre a parte
prática e técnica (Prof.B).”
E a profª.C comenta: “Temos alguns artigos que estudamos, algum assunto
relacionada ao conteúdo, principalmente no Bacharelado se aprofunda mais, que é a questão
da técnica em si, então da parte cientifica seria mais ou menos isso. A formação ética, ela está
permeada, porque costumamos fazer comentários da postura que o professor tem que ter, não
só o professor com os alunos, mas o professor com seus pares, com os coordenadores, da
postura de se manter sempre com uma boa conduta, coisas assim, mas não são itens
específicos dentro da disciplina, são comentários que permeiam os conteúdos. Na prática,
primeiro com a prática exclusivamente deles dentro da água, porque acredito que a Natação
em si é uma parte importante você ter essa prática e também através das aulas que eles
ministram, das atividades que eles aplicam dentro das aulas práticas também. Na técnica, junto
eles tem a parte prática da técnica e também a parte teórica, onde é passado toda a questão
técnica de como funciona, quais são os movimentos, porque esses movimentos devem ser
realizados, porque você tem que fazer aquele S31 e não passar a mão em linha reta, então
tudo isso é determinado através das duas partes, experimentação prática e também da parte
teórica (Profª.C).”
Aos professores entrevistados, foi questionado como é encaminhada a
formação do futuro professor de Educação Física dentro de uma
31 Quando a professora se refere a fazer aquele S ela está comentando de um movimento técnico da natação incluído na braçada de um dos estilos do esporte.
92
fundamentação científica, ética, prática e técnica. Em seguida continuam as
respostas obtidas para esta questão.
O prof.D explica: “A Universidade tem o papel de trabalhar com conhecimento
científico, não o de “senso comum”, o que hoje a ciência traz para nós: livros, artigos, revistas
especializadas é papel do professor e da Universidade trabalhar com o conhecimento cientifico.
O conhecimento científico já carrega em si o compromisso ético, a boa ciência visa o bem da
humanidade. Acredito que em uma instituição como a Universidade32 em pesquisa, que além
de uma instituição acadêmica, é também confessional33, existe este comprometimento. Nos
encontros dos professores a filosofia confessional30 é passada para nós, neste sentido somos
incitados a sempre estar lidando com a ética. É o conhecimento científico atrelado à ética. A
questão técnica foi por muito criticado, tivemos momentos históricos como um todo em que a
Educação no Brasil, as leis da década de 60, 70, a 5.962 a 5.064 são leis que enfocavam muito
a questão da técnica, a importância do profissional ter técnicas de ensino, aprendizagem e etc.
Com o passar do tempo observou-se que ter técnica não é tudo, claro que as técnicas e
tecnologias são importantes, no entanto, se ficarmos focados apenas nelas, o processo fica
falho. Deve-se saber utilizar da técnica no momento certo, adequado, mas não só ela (Prof.D).”
Na opinião do prof. E: “A formação ética nós temos uma disciplina que trata
disso, sou um leigo falando para você, eu acredito que deva ser boa. Tem um professor de
ética que vem lá do departamento de filosofia e ele trabalha com todas as disciplinas. No
encaminhamento cientifico foi um “bum” muito grande da minha formação para cá, quando eu
saí de Curitiba para fazer o mestrado fora, não existia um grupo de pesquisa por exemplo, um
encaminhamento cientifico da parte mais acadêmica e quando eu voltei de Portugal e eu vi
coisas lá absurdas acontecendo eu disse, lá no Brasil não tem isso, mas quando eu voltei já
existia. Hoje eu posso falar de algumas linhas que existem aqui, mas vou referenciar uma só
que é o GPAQ34, que convida os alunos a estarem presentes. Nós trabalhamos hoje com a
parte de monografia muito mais profissionalizado em termos científicos do que era 10 anos
atrás. Eu acho que é uma evolução normal, mas é muito mais mesmo, foi uma mudança da
água para o vinho, estou falando desta Instituição porque eu não tenho conhecimento das
outras, mais ainda é uma minoria que está ligada a isso, mesmo tendo evoluído muito ainda
está engatinhando, eu preciso de mais uns 5 ou 10 anos para que esteja talvez como devesse
estar já, então estamos atrasados aí uns 5 ou 10 anos, mais ainda em 10 anos a mudança foi
muito grande. Acho que a técnica está mais adiantada porque como os professores de cada
área são especialistas no que aplicam, tecnicamente falando as pessoas saem prontas para
32 A palavra Universidade está substituindo o nome do campo de investigação.33 A palavra confessional é sinônimo para outro termo usado pelo professor em suas falas e o mesmo foi substituído a fim de preservar a identidade da Universidade pesquisada. 34 GPAQ – O Grupo de Pesquisa em Atividade Física e Qualidade de Vida investiga a relação entre a atividade física e os aspectos que afetam a qualidade de vida das pessoas (Dados de Pesquisa).
93
atuar de uma forma generalista, mais com aquele lado romântico que eu falei, não sabem
vender. Tá eu me formei e daí como que eu faço, como que eu vou ter cliente como personal
trainer, vou esperar ele chegar para mim? Em Curitiba o mercado ainda para o personal trainer
ele espera chegar, há eu queria fazer personal trainer, você faz? Há é só assim, não existe
ainda uma coisa mais agressiva de eu chegar na pessoa, eu criar nela essa necessidade
(Prof.E).”
O prof.H nos mostra seu ponto de vista, esclarecendo: “Eu acho que a
parte técnica e prática no nosso curso é bem contemplada, haja visto agora que fomos
classificados com grau 4 no guia do estudante, sem dúvida nenhuma, a parte técnica e prática
do nosso curso é muito boa. A questão ética, eu acho que recai naquela coisa dos valores e
como que recebemos esses alunos. O professor pode até tentar dar alguns exemplos, mais vai
muito deles absorverem isso, é uma missão difícil também (Prof.H)”. Em referência a
opinião do professor a respeito da parte científica da pesquisa no curso de
Educação Física, sua fala foi transferida para o item a seguir que é relacionada
a formação docente para pesquisa.
O prof.I diz: “De um modo geral, a ética é o próprio comportamento do profissional,
as ações, a condução como seres humanos. A parte científica no curso é trabalhada desde o
começo, com a leitura e o redigir de artigos. A monografia é um baita trabalho bom. Na minha
disciplina, especialmente em patologias, sempre foi fazer um trabalho final. Neste semestre
estou fazendo diferente, tentando motivar os alunos. No prático tenho deixado a desejar, em
fisiologia deve ser 50/50%, mas não tenho seguido esta prática (Prof.I).”
A formação do professor/profissional de Educação Física expressa
abrangência, auxiliando na formação profissional e especialmente na formação
humana, como testemunhada pelos depoimentos dos formadores.
Ao passar dos anos os formadores veem se conscientizando cada vez
mais da necessidade de instruir o educando para a vida em plenitude,
disponibilizando em sua formação, ferramentas para um trabalho educacional
que possa ser sustentável e que consigam levar o professor em formação ao
desenvolvimento de um pensamento crítico e coerente frente às dificuldades e
desafios da prática escolar.
A respeito da formação educacional Freire (2007, p.22) ressalta:
“ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
produção ou a sua construção”. Freire (2007, p.23) ainda complementa: “Quem
94
ensina aprende ao ensinar e que aprende ensina ao aprender”, demonstrando
que o processo formativo é válido dos dois lados. Assim, segundo o autor, é
possível criar possibilidades aos educandos para a construção de sua
identidade e seu senso crítico no meio acadêmico, possibilitando com que os
alunos de cursos de licenciatura, professores em formação, desenvolvam
através de um currículo bem planejado e aplicado ao longo do curso, as
condições para que consigam atuar com competência e estejam preparados a
enfrentar as dificuldades profissionais que lhe surgirão após a formação.
3.1.1.4 Formação Docente para Pesquisa
Entende-se que os cursos de graduação apenas realizam um processo
de ensino inicial referente à questão da formação de pesquisadores, realizando
a introdução à formação em pesquisa. De modo geral a prática de pesquisa é
desenvolvida para os cursos de especialização e pós-graduação Strito Sensu,
como esclarece Pinto e Martins (2009): “A maior finalidade dos Programas de
Mestrado e Doutorado, no Brasil, é a formação de pesquisadores (p.104)”.
Ao professor formador caberá a missão da iniciação científica dos seus
alunos, apresentando a eles os métodos e os recursos metodológicos para a
realização de uma pesquisa dentro de um tema de maior interesse.
Segundo Garanhani (2008) a prática do bom professor se solidificará
se ele for capaz de intervir e modificá-la através de sua capacidade de análise,
que segundo a autora “Este perfil poderá ser possível se a formação docente
contemplar o desenvolvimento de uma atitude de investigador (p.204)”. Assim
compreende-se que o processo de pesquisa nos cursos de graduação assume
uma importância para que instiguem nos alunos qualidades como senso de
investigação, apreço pela pesquisa acadêmica, interesse em um
aprofundamento teórico do objeto pesquisado, melhoria do vocabulário
acadêmico, obtenção de conhecimentos teóricos e práticos da pesquisa, com a
finalidade de aflorar nos professores em formação uma compreensão do que é
a realização de uma pesquisa acadêmica, suas metodologias e suas
finalidades. A partir deste ponto, caberá ao aluno a opção de se tornar um
pesquisador em sua área de atuação.
95
O curso pesquisado oferece disciplinas específicas para a orientação
dos graduandos a respeito da iniciação a pesquisa através da realização do
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), onde os alunos terão a oportunidade
de conhecer os processos destinados a uma pesquisa científica e colocar em
prática seus aprendizados em busca de alcançar um entendimento destes
procedimentos e ter a oportunidade de realizar uma iniciação a pesquisa que é
desenvolvida sobre um tema escolhido pelos próprios alunos do curso.
O curso também dispõe de grupos de pesquisa coordenados por
alguns professores que acolhem os alunos interessados a se aprofundarem no
campo da pesquisa e orienta-os mais profundamente a respeito da pesquisa
colocando-os em práticas direcionadas. Há também o desenvolvimento de
programas específicos, como o PIBIC.
Em busca de verificar como o curso de Educação Física investigado
contempla essa formação para pesquisa e como ela é processada no curso,
questionou-se aos professores/coordenadores como o curso administra todo
este processo de formação para pesquisa. A seguir são apresentadas as falas
dos professores/coordenadores.
A profª F explica: “Nós temos o trabalho do TCC, que é o Trabalho de Conclusão
de Curso. Até o curso anterior nós tínhamos o TCC, onde os alunos desenvolviam o projeto
durante o período de um ano. Quando nós fizemos a segunda reformulação do Bacharelado,
nós optamos por fazer essa disciplina em dois anos, então ela tem um semestre de
metodologia de pesquisa, que é entender o que é pesquisa e como acontece esse processo, aí
um período para fazer o projeto, um período para fazer o processo de desenvolvimento da
monografia e depois a parte de defesa. E temos nas disciplinas uma perspectiva de motivar o
aluno a construção de trabalhos, a pesquisar, a tentar visualizar situações concretas no
cotidiano que possam ser transformadas em trabalhos que encaminhem para o inicio da
iniciação cientifica do aluno (Profª.F)”.
O prof. G destaca em sua opinião que na graduação se faz apenas
uma iniciação a pesquisa por ser realizada de maneira introdutória, em suas
palavras: “Eu acredito que a formação em pesquisa ela se dá realmente na pós graduação,
essa é a minha opinião, a verdadeira formação em pesquisa. Agora a iniciação a pesquisa ela
pode se dar na graduação, então acredito que o curso faz uma iniciação a pesquisa de duas
maneiras distintas: uma é oportunizando a formação, a iniciação cientifica de maneira
institucional através dos programas de iniciação cientifica, com seus laboratórios, grupos de
96
pesquisa que o curso oferece, mas isso claramente é uma voluntariedade e uma opção de
cada aluno procurar. De maneira mais formal, se bem que de outra maneira também é formal,
mas inserido na grade do curso, o próprio desenvolvimento da monografia dá uma noção inicial
do que seria o processo de pesquisa em Educação Física e para isso nós temos quatro
disciplinas consequentes que são integradas para a formação, são elas: Metodologia da
Pesquisa, Desenvolvimento de Projeto, Desenvolvimento de Monografia e Defesa de
Monografia. Então essa é a maneira que eu vejo a formação de pesquisa no curso (Prof.G).”
Mas afinal, porque a pesquisa em um curso de graduação tem
importância? Qual seria o verdadeiro significado de mais este atributo dos
cursos? Segundo Lemos (2009) “Pensar a pesquisa na formação profissional é
assumir, por parte do professor universitário compromisso no desenvolvimento
de uma consciência crítica da área, reflexão e busca da atualização do
conhecimento para a vida (p.19-20)”. Então entende-se que o curso
proporciona uma iniciação científica com objetivos de proporcionar aos seus
alunos conhecimentos introdutórios sobre o que é uma pesquisa científica
dentro de sua área de estudo dispondo de disciplinas esclarecedoras para a
metodologia, desenvolvimento de projeto, bem como a realização de uma
pesquisa introdutória.
Em destaque a crítica de um dos professores entrevistados que nos
traz em seu ponto de vista uma expectativa diferenciada dos demais colegas a
respeito de formação para pesquisa científica, restringindo a formação da
funcionalidade da investigação: “Eu tenho uma crítica muito forte em relação ao aspecto
da parte científica da pesquisa em relação ao nosso curso especificamente. Eu acho que os
alunos todos são obrigados a fazer o trabalho de conclusão de curso, eles tem uma ideia de
como que é um processo de pesquisa cientifica, mas de fato a qualidade dos trabalhos é muito
baixa. Eu acho que é muito baixa fazendo algumas analogias com a Fisioterapia ou com a
Odontologia, eu tenho visto lá que os TCC são feitos em quadras, duplas e, às vezes, até em
grupos maiores e aí sim consegue-se fazer um desenho de pesquisa mais consistente, com
uma coleta de dados mais realista e aí sim eles conseguem produzir um trabalho cientifico de
qualidade maior. Isso não acontece aqui na Educação Física no meu ponto de vista, até do
jeito que é feita a pesquisa científica aqui eu voto para acabar, eliminar o TCC, que do jeito que
ele está não resolve. Eu acho que a grande maioria dos alunos não vai ser pesquisador, não
vai produzir nada cientificamente, talvez assim só para apresentar como que funciona uma
pesquisa cientifica, ela começa aqui e termina aqui, esse é o processo cientifico, mas a
qualidade do TCC é muito fraca, eu acho que tinha que ser reformulado completamente
(prof.H)”.
97
Segundo este professor a qualidade dos trabalhos apresentados, após
as pesquisas realizadas no curso, não exibem um nível satisfatório de
envolvimento dos alunos e aprimoramento dos conteúdos pesquisados por
eles. O professor comenta que não há muito sentido de realizar todo um
processo de pesquisa com os alunos, considerando que a grande maioria se
tornará apenas um profissional da área da Educação Física e não um
pesquisador, bastando desta forma, apresentar aos alunos os passos de uma
pesquisa científica sem a necessidade de torná-la concreta.
Este processo do aprendizado de pesquisa poderá auxiliar o aluno a se
tornar um profissional mais consciente e sensato em sua prática, levando-o a
interagir de modo eficaz em sua realidade em busca de respostas as suas
dúvidas pessoais e profissionais.
Brzezinski (2005) contribui com a dimensão da formação acadêmica,
salientando que esta formação não se resume em um simples transmitir de
conteúdos e técnicas com a finalidade de formar um professor que não tenha a
desenvoltura para pensar e recriar sua prática profissional. Explica a autora:
“Essa formação deve levar os acadêmicos a serem capazes de pensar, de
compreender e de recriar a natureza, a sociedade e o próprio homem (p.6).” A
formação acadêmica deve prestigiar uma formação calcada na relação Teoria e
Prática voltada sempre as necessidades e as mudanças que a sociedade
apresenta, com possibilidades de compreender a realidade social e
educacional.
A formação do educador ao abranger um leque diferenciado de
conhecimentos e práticas nas mais diversas formas, favorece que o aluno de
Educação Física possa desenvolver em sua graduação senso crítico, atitudes
de investigação superando o senso comum e tornando-se assim não apenas
um profissional competente em sua área de formação, mas também um
questionador, superando o estigma de que o professor e/ou profissional de
Educação Física não passa apenas de um executor de movimentos que não se
interessa em estudar profundamente sua área de atuação.
98
3.2 A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
A relação Teoria e Prática na educação não se expressa de maneira
unilateral, ela não acontece isoladamente, mas sim em um determinado
contexto social no conjunto das relações sociais que o determinam e que são
determinadas, portanto é decorrente desta relação.
Martins (2003) considera a relação Teoria e Prática, na perspectiva de
que a teoria expressa a ação. A teoria tem origem na prática, nas relações
sociais. (Grifos da pesquisadora).
Nas suas práticas de luta, as classes trabalhadoras mostram novas formas de organização e novas formas de relação com o conhecimento, invertendo- se a concepção de conhecimento no qual a teoria é guia da ação prática. Inverte-se a relação: a prática não é guiada pela teoria, pois a teoria vai expressar a ação prática dos sujeitos. Ou seja, são as formas de agir que vão determinar as formas de pensar dos homens, as teorias, os conteúdos. A base do conhecimento é a ação prática que os homens realizam pelas relações sociais, mediante instituições. A forma como os homens agem é que vai definir como será o conhecimento, como será a visão de mundo (MARTINS, 2003, p.10).
Para a autora esta relação de Teoria e Prática é determinada pelo agir
do homem que esta inserido em um contexto social que se modifica
constantemente por via dos pensamentos e atitudes do objeto de pesquisa, ou
seja, o próprio homem é responsável pelas constantes alterações nas relações
que ocorrem periodicamente.
E Gamboa (2010a) expõe que existe uma inter-relação entre a Teoria e
Prática e que elas se confrontam, pois ambas fazem parte da ação social
humana. Expõe o autor:
Teoria e prática são duas categorias que indicam sempre uma relação. Entretanto, não existe consenso na interpretação dessa relação. Algumas tendências defendem o primado da teoria perante a prática; outras, o primado da prática como forma de supremacia que confere validez à teoria. (...) Tanto a teoria como a prática, são partes da ação social humana, a qual não resulta de uma teoria posta em prática, nem de uma prática que se torna teoria, mas na inter-relação dinâmica e complexa em que uma confronta à outra35. O termo práxis foi criado para denominar essa dinâmica (GAMBOA, 2010a, p. 7).
35 Grifos da pesquisadora
99
Pode-se se destacar que a relação Teoria e Prática é um contexto
complexo e que leva a muitas reflexões na tentativa de desvelar esta trama que
nos conduz a muitas interrogações em sua aplicação.
Como expõe Martins (2003) “A prática não é guiada pela teoria” e
pode-se complementar que esta prática está em constante mutação, pois é
aplicada na vida social a qual se modifica constantemente entre as atitudes das
pessoas e das novas descobertas no campo da educação.
É indissociável esta relação entre a Teoria e a Prática, pois uma
complementa a outra sendo que, às vezes, destaca-se a prática como
fundamento para teoria e em outras vezes ocorre a relação no sentido
contrário, sendo a teoria a grande concepção da prática. Complementa
Gamboa (2010a, p.10): “A teoria e a prática não se opõem como dois campos
distintos ou separados: as duas são parte de uma mesma realidade: a ação
social humana”, realizando nesta integração a oportunidade da descoberta de
novos conhecimentos.
Sabe-se que a relação Teoria e Prática deve ser parte integrante nas
experiências acadêmicas dos alunos que buscam sua formação, para melhor
orientá-los e inseri-los em sua profissão. Romanowski e Wachowicz (2003)
expressam esta situação:
As experiências mais relevantes, realizadas nos programas de aprendizagem, direcionam-se para o processo ensino–aprendizagem pretendido que é a inovação das atividades de ensino, resultando em uma verdadeira práxis educativa articulada à realidade social. Isso cria oportunidades para que a relação teoria e prática aconteça nas experiências dos alunos (ROMANOWSKI E WACHOWICZ, 2003 p.5).
Estas experiências proporcionadas aos alunos em formação lhe darão
uma base para iniciar seu trabalho profissional, sendo ele formal ou informal na
área da Educação Física. Gamboa (2010a, p.9) nos revela que “A verdadeira
teoria é a que expressa os resultados da prática”, oportunizando no espaço da
graduação vivências concretas ligadas ao cotidiano escolar.
Gamboa (2010a) também destaca que sobre a relação Teoria e
Prática, existe entre elas um confronto em busca de ajustes, segundo o autor:
100
A teoria transforma-se na negação da prática porque a confronta: a prática coloca em xeque a teoria, porque em vez de se ajustar a ela, transforma-se em seu contrário. Desse modo, a relação teoria-prática é, em verdade, uma relação dialética. E como tal, não procura o equilíbrio, o ajuste, a acomodação de uma à outra, visa à sua contradição, isto é, à tensão permanente entre elas (GAMBOA, 2010a, p.11).
Esta relação entre Teoria e Prática faz com que aconteça uma relação
constante, pois a teoria analisa a prática, a qual está sempre em mudança. A
teoria precisa sempre ser revista para expressar a prática e como toda prática
é única e diferenciada, a mesma necessita estar em constante análise para se
explicar suas peculiaridades e confrontá-las com as teorias já existentes.
Gamboa (2010b) complementa este pensamento destacando: “A teoria
transforma-se na negação da prática porque a tenciona: a prática coloca em
xeque a teoria, porque em vez de se ajustar a ela, transforma-se em seu
contrário (p.1)”.
No entanto, para Roldão (2007) a fundamentação do processo de
ensinar se inicia na teoria visando a seguir a atuação prática. Nas palavras da
autora:
A formalização do conhecimento profissional ligado ao acto de ensinar implica a consideração de uma constelação de saberes de vários tipos, passiveis de diversas formalizações teóricas, cientificas, cientifico-didacticas, pedagógicas (o que ensinar, como ensinar, a quem ensinar e de acordo com que finalidade, condições e recursos), que contudo, se jogam num único saber integrador, situado e contextual como ensinar aqui e agora, que se configura como “prático” (ROLDÃO, 2007, p.98).
Para formação inicial do professor torna-se primordial que o mesmo
tenha obtido no início de graduação orientações teóricas que os orientem de
como agir na prática, conseguindo desta maneira exercer uma atuação
coerente com sua fundamentação e consciente junto a seus alunos, caso
contrário na Educação Física, a prática pela prática se torna meramente uma
aplicação de movimentos, os quais foram adquiridos ao longo da vivência e
experiência pessoal do aluno que está se tornando professor, ou seja, não
existiria nesta prática uma visão e aplicação pedagógica didática e sim apenas
a aplicação de conhecimentos. Pacheco e Romanowski (2009) argumentam
que esta relação pode ser geradora de conflitos, quando confrontam a
realidade, destacam as autoras:
101
As relações teoria e prática pedagógica, nem sempre condizem com o que é pré determinado pelas instituições o que acomete a conflitos sociais geradores de dificuldades e limitações no desenvolvimento dos trabalhos pedagógicos do dia a dia (PACHECO e ROMANOWSKI, 2009, p.3).
Segundo as autoras, essas relações quando não são bem trabalhadas,
podem dificultar a atuação profissional do futuro docente que não se sentirá
seguro a realizar uma atuação pedagógica fundamentada.
Buscando compreender as concepções que os professores formadores
do curso de Educação Física desenvolvem sobre a relação Teoria e Prática
nos seus conteúdos aplicados, perguntei como eles guiavam esta questão
dentro da sua disciplina. A seguir estão dispostas as respostas coletadas junto
aos professores.
Para o prof. A “Ela é importante, porque ele vai aprender os conceitos, toda teoria
e ele tem que saber ligar essa teoria com a prática. Quando você está ensinando, por exemplo,
uma criança a controlar a bola, você tem toda uma fundamentação teórica e agora na prática,
como que isso acontece? Como que você ensina então? Como que se dá esse processo?
Como é que essas fases teóricas que estão aqui, ela vai acontecer na prática? Então ela tem
essa abordagem, ela não pode ficar estanque num conhecimento. Esse conhecimento tem que
ser transmito para prática, porque é como se vão acontecer as coisas, esse ato motor vai
acontecer ali na prática, não é na teoria, é na prática e como transferir esse conhecimento
teórico para prática, isso que é fundamental para ele (Prof.A).”
Para o prof. B “Você precisa da parte teórica, você tem que saber porque você
está fazendo aquilo. Por exemplo, você está fazendo uma avaliação física em uma pessoa,
você tem que saber o porque você está fazendo isto e aonde você quer chegar. A mesma
coisa no Atletismo: você vai aplicar um treinamento – mas porque eu estou fazendo isto, será
que não existe uma forma melhor de fazer? (Prof.B).”
Na concepção da profª C. “Eu acho que ambas tem um peso igual, até em
provas eu procuro deixar o mesmo peso, porque dentro da Natação especialmente, não é que
nem um Voleibol, um Basquete, que, às vezes, o professor ele não precisa ser um excelente
executante para ser um excelente professor. Eis uma primeira pergunta que eu faço para os
alunos logo que eles iniciam a disciplina: quando você vai num clube, tem um guarda vidas,
quando você vai a praia tem um guarda vidas lá, porque quando você vai numa escola de
natação não tem guarda vidas? Aí eles já ficam pensando... e eu digo, porque você é o guarda
vidas! Ou seja, o mínimo que você tem que saber é entrar na água e tirar uma pessoa, então
102
por isso que eu acho que a prática, especificamente nas atividades de natação e esportes
aquáticos ela é essencial, porque o aluno, futuro professor que não sabe nem colocar a cabeça
dentro da água, ele está pondo em risco até a vida dos seus próprios alunos. Às vezes, os
alunos até sabem nadar, mas e de repente, passou mal, teve algum problema, acabou
desmaiando dentro da piscina, você tem que ter o mínimo de conhecimento e experiência
prática para você atender esse aluno, então eu acredito que a prática e a teoria na Natação ela
tem peso praticamente igual, nesse sentido principalmente, pela questão da segurança
(Profª.C).”
O prof. D expõe: “Procuro trabalhar bem dividido. Na minha disciplina, 36h são
teóricas e 36 são práticas. Procuro respeitar esta divisão, pois entendo que a teoria e prática se
complementam. Isto é fundamental no processo de aprendizagem (Prof.D).”
Em busca da compreensão de como é trabalhada a relação Teoria e
Prática no curso de Educação Física, perguntei aos professores como é
desenvolvida esta questão dentro da sua disciplina.
Para o prof.E: “Eu trabalho acredito, que 50 a 50%. Eu acredito que os dois são
importantes, porque você pega hoje também o lado negativo. Hoje muitos professores que
saem da graduação, fazem pós graduação, fazem mestrado, fazem doutorado e nunca tiveram
uma prática. Então acredito que a prática, ela é fundamental para você realmente aplicar e ver
de forma efetiva o que você estuda na teoria. Em minha visão um não vive sem o outro. Eu
trabalho até mais teoria do que prática, mesmo tendo duas aulas práticas para uma teórica.
Então acredito que esta relação é importante porque se eu não tiver um, o outro para mim não
funciona, é aquilo que se usa como chavão:, “há... na teoria é muito bonito, mas na prática não
funciona”. Então não adianta, se eu não aplicar os conteúdos e não experimentar com os
alunos, entendo que a aula seria muito vaga, porque um está ligado ao outro, 50% (Prof.E)”.
Para o prof. H “Os dois são muito importantes. Primeiro pelo perfil do aluno de
Educação Física, ingenuamente quando eles vêm para o curso, eles acham que só vão fazer a
parte prática, que só vão ter jogos. Mas é fundamental e do jeito que é dividida 50 a 50 é muito
bom. Talvez até se nós tivéssemos a oportunidade de aumentar um pouquinho a parte prática,
60% talvez, o treinamento fosse até um pouco melhor, mas do jeito que está é muito bom, 50%
é disciplina teórica e 50% é prática, é uma distribuição que dá para trabalhar muito bem os
conteúdos (Prof.H).”
E no parecer do prof. I “Eu acho que não estou conseguindo fazer isto, deveria
ser 50/50%. A minha ação tem que ser mais prática. Uso este conhecimento todo dia na borda
103
da piscina, na Fisiologia do Exercício, mas não tenho conseguido transportar este
conhecimento, esta prática, para a sala de aula (Prof.I).”
Segundo os professores formadores a relação Teoria e Prática são
campos distintos, mas indispensáveis na formação do professor. A maioria
busca trabalhar com o equilíbrio de atividades no campo da Educação Física.
Os professores também destacaram que esta relação é aplicada em
50% e 50% nos conteúdos das disciplinas para que os alunos possam aplicar
na prática o que aprendem na teoria e depois retornar para teoria a fim de
analisar a prática aplicada e seus encalces pedagógicos, com a intenção de se
necessário for, realizar modificações nas próximas aplicações práticas com o
intuito de alcançar seus objetivos propostos naquela atividade.
A relação Teoria e Prática é presente na formação profissional e
favorece solidificar o processo educacional a fim de direcionar o aluno a uma
formação profissional condizente com sua área de atuação. Gamboa (2010a)
sugere que os conflitos entre a Teoria e a Prática são essenciais para estimular
sempre a reflexão dos currículos visando a melhor formação de professores:
Hoje a formação profissional no campo da Educação Física não é alheia ao conflito entre a teoria (agenda idealista) e prática tecnicista (a volta do pragmatismo). Esse conflito se expressa nos currículos dos cursos formadores dos profissionais quando se discute quais saberes científicos são necessários para a profissionalização e para fundamentação das diversas práticas nos diversos campos de atuação vinculados à área (GAMBOA, 2010a, p. 13).
O currículo de formação de professores deve propiciar experiências
teóricas e práticas no decorrer do curso com a finalidade de complementar a
formação do futuro professor que virá a atuar na Educação Básica, preparando
o aluno para assumir o papel de professor engajado e consciente de suas
funções docentes, buscando sua identidade própria para assim conquistar seu
espaço e fazer a diferença no meio que estiver inserido. Pois como citam
Caparroz e Bracht (2007):
O professor não deve aplicar teoria na prática e, sim, (re) construir (reinventar) sua prática com referência em ações/experiências e em reflexões/teorias. É fundamental que essa apropriação de teorias se dê de forma autônoma e crítica, portanto, como ação de um sujeito, de um autor (CAPARROZ E BRACHT, 2007, p.27).
104
Esta é uma das finalidades e desafios do curso de Educação Física,
que busca formar não apenas um profissional competente, mas acima de tudo
um cidadão com princípios éticos e morais, que possa se inserir na sociedade
de modo atuante e buscar fazer a diferença na comunidade que estiver
atuando como professor e/ou profissional de Educação Física. Gamboa
(2010b, p.7) esclarece “Não podemos conceber a teoria separada da prática;
ou seja, o ser separado do pensamento”, pois ambas se complementam em
busca de novas compreensões.
Quando o professor formador se dispõe a auxiliar o aluno em sua
formação acadêmica ele deverá atribuir a esta formação não apenas o estado
técnico do processo, mas especialmente o estado pessoal, pois o professor
estará formando futuros professores que estarão trabalhando com um produto
final, caracterizado por ser humano. O aluno não deve ser considerado apenas
um número em sala de aula e cabe ao professor universitário, formador do
futuro professor, a missão de auxiliá-lo e conduzi-lo perante os desafios
encontrados ao longo da graduação, solidificando a base de sustentação desta
formação através da fundamentação teórica interligada com a experiência da
prática pedagógica.
A lapidação de uma boa conduta profissional, relacionada a maneira
de ver, pensar e agir perante as Instituições de Ensino as quais os futuros
professores virão a atuar, só se tornará concreta se o mesmo tiver vivenciado
em seu tempo de formação acadêmica, um currículo bem estruturado capaz de
formar um professor consciente e comprometido com a sua prática
educacional. Tendo o aluno presenciado em sua formação, diversas
experiências concretas e atuais de convivência em campos educacionais,
experiências estas proporcionadas por meio de práticas conscientes
desenvolvidas durante a graduação, buscando a compreensão dos conteúdos
e sua aplicabilidade, o mesmo se tornará apto a intervir futuramente em
situações do cotidiano com êxito e sabedoria.
O estágio curricular está presente na grade de formação de
professores do curso de Educação Física como um componente essencial a
ser realizado durante o tempo de graduação e também um requisito obrigatório
a ser cumprido com 100% de presença para a aprovação do aluno.
105
O estágio se caracteriza por algumas particularidades e diferenciações
das disciplinas teóricas e práticas do curso, entre elas podemos citar, segundo
Pimenta e Lima (2008) a reafirmação da escolha da profissão, pois este é o
momento de confronto com a realidade, onde o aluno que muitas vezes
desconhece os problemas internos da escola, passa a enfrentar um cotidiano
diferenciado do qual ele fazia parte durante seu processo de ensino e agora
começa a ver os confrontos vivenciados no dia a dia do professor em sua rotina
profissional.
Uma realidade que se apresenta nos estágios acadêmicos é que os
alunos vivenciam uma dicotomia entre o real e a teoria. Pimenta e Lima (2008)
descrevem que os alunos se surpreendem diante da realidade encontrada nas
escolas e vivem um confronto entre a teoria e o que vivenciado por eles. Esta
visão da realidade ajuda os alunos em formação a construírem um
embasamento didático pedagógico que possa auxiliar em suas ações na
prática pedagógica.
O estágio supervisionado, ou seja, acompanhado por um profissional
formado da área, proporciona aos alunos o contato com a realidade que irão
atuar profissionalmente, com o benefício de poder dispor de auxilio técnico
profissional de um professor experiente que possa orientá-los em sua atuação
docente.
Pimenta (1997, p.95) distingue o estágio como: “A essência da
atividade (prática) do professor é o ensino-aprendizagem. Ou seja, é o
conhecimento técnico prático de como garantir que a aprendizagem se realize
como consequência da atividade de ensinar”. Assim entende-se que o estágio
é um processo de transição profissional, ligando o acadêmico em formação a
realidade educacional a qual será inserido após sua formação, fazendo desta
prática docente uma construção de saberes, que os levam a observações do
cotidiano escolar e por consequência a questionamentos e reflexões a cerca do
contexto escolar, contribuindo então para que o professor em formação possa
entender mais a fundo as situações que se apresentam e após reflexão,
consigam compreender e intervir conscientemente na aplicação real de sua
docência.
Aos coordenadores do curso foi abordada a questão que se refere as
mudanças que foram introduzidas no curso de Educação Física afim de
106
atender as exigências da atual legislação de ensino que regulamenta 800 horas
de prática e de estágio. Os professores/coordenadores se posicionaram da
seguinte maneira.
Professora F: “Nós cumprimos rigorosamente aquilo que a Legislação determinou.
Nós cumprimos as 400h de Estágio. Como nós já tínhamos uma perspectiva de Estágio
bastante organizada, desde o curso anterior que eram 300h, quando passou a 400h nós só
redistribuímos a carga horária. Então a medida que fomos montando currículo, nós fomos
colocando essas 400h ao longo dos dois últimos anos do curso como prevê a Legislação, ele
tem que acontecer na metade do curso para frente. E a Prática Profissional acontece desde o
primeiro ano, ela foi distribuída, só que o que nós fizemos, que é uma coisa que nós
precisamos avaliar inclusive com mais cuidado, é que nós associamos as práticas profissionais
a algum conteúdo, então se pegar todas as nossas práticas profissionais tem alguma coisa: é
prática profissional ... alguma coisa, então no primeiro ano é Identidade Profissional, no
segundo é Projeto Pedagógico, no terceiro é Metodologia de Ensino e agora no quarto ano
estamos colocando uma parte do Ensino Médio, que é a Educação Física no Ensino Médio.
Embora a gente teria um conteúdo específico ligado a prática profissional, ela está diretamente
ligada a perspectiva de visualização lá fora da Universidade, então eles saem daqui para ir
conhecer a rotina das escolas e das instituições. Nós não temos conseguido fazer com muita
frequência, principalmente na turma da noite, porque é difícil de tirar da Universidade e levar
para escolas, por causa do período de aula, mas eles tem uma ligação direta com a prática que
está sendo desenvolvida (Profª.F).”
Na concepção do prof. G “As mudanças foram na oferta da disciplina dentro das
400h de Estágio e 400h de Prática Profissional que temos que ter. Então foram inseridas
disciplinas específicas para isso e no caso do Estágio, foi feito de maneira concomitante da
formação mais elementar para mais avançada, então de 1ª a 4ª, de 5ª a 8ª e assim por diante,
avançando junto com o curso, ou seja, primeiro ele tem a formação inicial, enfim, até o aluno
chegar no Ensino Médio e essas 400h foram inseridas dentro da grade do curso a partir do 5º
período do curso (Prof.G).”
Como consta na Resolução CNE/CP nº 02, de 19 de fevereiro de 2002
os cursos de licenciatura deverão cumprir 400h de prática como componente
curricular ao longo do curso e 400h de estágio curricular supervisionado a partir
do inicio da segunda metade do curso.
Os professores/coordenadores comentam que o curso cumpre as indicações
da Legislação e que as cargas horárias relacionadas ao Estágio e as Práticas
Pedagógicas sofreram algumas modificações a fim de se adequar as
107
exigências quanto a carga horária estipulada pela Legislação a partir de 2003
quando o curso foi reformulado separando as duas áreas de formação. As
disciplinas foram reorganizadas a fim de dispor ao aluno experiências docentes
em todos os níveis de Ensino.
É através da prática que os alunos recebem a oportunidade de
transformar as teorias aprendidas em experiências práticas. Dias-da-Silva
(2008) ressalta que não existe prática sem a teoria e explica:
Com toda dificuldade implicada em sua conceituação, a prática é uma dimensão decisiva do saber dos homens, quase sempre pressuposta em nossos cursos universitários. Mas sobretudo, a prática pressupõe a formação que cada um recebeu, estando presente na interpretação de que um cidadão constrói do mundo em que vive. Nesse sentido, não há prática sem teoria! Refletir, pensar e interpretar são nossas práticas invisíveis, que dependem de nossa experiência de mundo... (DIAS-DA-SILVA, 2008, p.28).
A autora destaca que não é factível formar a nova geração de
professores em parâmetros almejados sem levar em consideração a “carga” de
conhecimentos que os mesmos trazem consigo quando entram na
Universidade. É papel do professor mostrar os meios e caminhos para se
alcançar a excelência na educação, mas cabe ao aluno refletir e decidir sobre o
que lhe é oferecido e disponibilizado em sua formação e aplicar em sua
atuação docente.
As Diretrizes Curriculares nacionais para os cursos de graduação em
Educação Física, como já foi referido, inclui a indissociabilidade Teórico Prática
no processo de formação de professores.
No dia a dia das escolas percebe-se que a realidade conhecida nas
teorias em sua grande maioria, torna-se dissociada da prática. Andrade (2005,
p.2) nos apresenta um papel de professor diferenciado, destacando que “com a
teoria como referência e a prática como ferramenta, o professor deve procurar
o real que se apresenta diferente a cada dia”, ou seja, a teoria deixou de ser o
único meio de formar um bom e capaz profissional.
Pimenta e Lima (2008) afirmam que “o estágio é teoria e prática (e não
teoria ou prática)”, as autoras ressaltam ainda:
108
De acordo com o conceito de ação docente, a profissão de educador é uma prática social. Como tantas outras, é uma forma de se intervir na realidade social, no caso por meio da educação que ocorre não só, mas essencialmente, nas instituições de ensino. Isso porque a atividade docente é ao mesmo tempo prática e ação (PIMENTA E LIMA, 2008, p.41).
A construção da identidade docente estará ligada diretamente à prática
durante a graduação, com a compreensão da teoria trabalhadas junto as
práticas educacionais. Pimenta e Lima (2008, p.43) destacam: “O estágio dos
cursos de formação de professores, compete possibilitar que os futuros
professores compreendam a complexidade das práticas profissionais como
alternativa no preparo para sua inserção profissional”, possibilitando ao aluno o
conhecimento do seu campo de atuação e suas particularidades.
Em relação a prática desenvolvida no curso de Educação Física
pesquisado foi questionado aos professores entrevistados se a(s) disciplina(s)
pelos quais eles eram responsáveis administrava Estágio para os alunos. Dos
09 professores participantes da pesquisa, a maioria respondeu que não atuam
em disciplinas de Estágio. Um professor comentou que mesmo a sua disciplina
não tendo ligação com Estágio, ele em particular proporciona aos alunos ao
menos o conhecimento da prática.
Dos 09 professores que participaram desta pesquisa, 01 professor é
ligado ao Estágio e a ele então foram formuladas mais questões sobre o
Estágio. Este professor também administra outra disciplina no curso e comenta
a respeito:
Prof. D: No Handebol, não tem Estágio. Toda carga horária é feita aqui dentro da
Universidade mesmo. A possibilidade de Estágio eles tem na Licenciatura, na escola, onde
eles vão colocar o Handebol como um conteúdo da Educação Física na escola. E no Estágio
do Bacharelado, que não sou eu o responsável, são outros professores, os alunos vão para
academias, para clubes, e eles vão aplicar isso em situações lá com os atletas em iniciação,
atletas em formação ou atletas até de rendimento, então o enfoque é este (Prof.D)”.
Ao prof. D, responsável pela disciplina de Estágio especificamente na
Licenciatura, foi complementada a questão a respeito do desenvolvimento do
processo de Estágio. Expõe o prof. D o seu parecer de como se estabelece a
relação entre a universidade e as escolas no campo de Estágio e como
acontece todo esse processo dentro do curso de Educação Física.
109
“Temos algumas escolas que são parceiras nossas de anos, então só reforçamos os
contatos todo ano ou todo semestre. Ligamos para diretora ou para pedagoga da escola,
avisando que estaremos indo para escola com alguns grupos de estagiários, chegamos lá e
apresentamos os novos estagiários para os diretores, para os pedagogos e para os
professores. Daí dividimos os grupos, geralmente as alunos trabalham em duplas, onde cada
dupla vai atuar junto com o professor. Damos prioridade para escolas grandes que tenham
bastante professores. Temos escolas públicas hoje que tem de manhã ou a tarde, 4 até 5
professores atuando, escolas com muitos alunos. Então nas escolas que tem, por exemplo, 5
professores atuando, colocamos 10 estagiários, uma dupla com cada professor, e aí este
estagiário vai junto com o professor atuante, dialogar com o profissional e ver qual é sua
proposta e vai tentar atrelar a proposta dele com a do profissional, ou se tiver uma autonomia,
ele vai criar uma nova proposta que será aplicada durante seu Estágio (Prof.D)”.
Outra questão levantada foi a respeito das dificuldades encontradas
pelo curso em relação a inserção dos alunos nas escolas para a realização dos
Estágios.
O prof. D explica: “Temos escolas que já são parceiras, mas tem momentos que o
curso tem turmas maiores, aí as parcerias não suprem as necessidades, então buscamos
novos contatos. Geralmente se tratando desta Universidade36 em questão, as escolas são
abertas, quando o professor faz contato e fala que é um Estágio daqui, que será
supervisionado por um professor e que ele vai acompanhar o Estágio também, as escolas
geralmente se mostram abertas. O que acontece, às vezes, é que a escola dá abertura e
quando chegamos lá com os estagiários o professor se mostra um pouco avesso ao estágio.
Muitos casos desses acontecem com professores que não dão aula, é o professor que solta a
bola para os alunos e a aula vira meramente recreativa, não é uma aula de Educação Física,
não existe um processo de aprendizagem, o professor simplesmente disponibiliza o material e
os alunos que se virem e façam o que eles querem e pronto. Então esse tipo de profissional ele
tem restrição ao Estágio, porque daí chegamos lá com o acadêmico e ele vai ter que dar aula
com o supervisor acompanhando. Então para o professor isso gera um problema, porque vai
confrontar o cotidiano dele que é de não dar aula com uma proposta, plano de aula, aula,
supervisão. E nesses casos temos alguns problemas nesses campos de Estágios, inclusive já
tivemos que abandonar alguns campos de Estágios em função disso. O professor começar a
gerar problemas com o estagiário e nós termos que abandonar e buscar no meio do processo
outro campo de Estágio porque não estava “dando liga” entre os estagiários e o profissional.
Porque o profissional, não era profissional neste caso, ele soltava material e não tinha uma
proposta, nem objetivos, nem avaliação, não tinha nada, era simplesmente um “boleiro”
(Prof.D)”.
36 A palavra Universidade está substituindo o nome da Instituição pesquisada.
110
Outro ponto de destaque a ser compreendido neste processo de
Estágio é a respeito dos objetivos do Estágio para a disciplina e para o aluno.
Na concepção do prof.D o Estágio serviria “Para a aproximação do
acadêmico com as realidades, claro que num país como o Brasil, nós temos inúmeras
realidades, desde escolas fantásticas com estruturas e alunos com condição de saúde para
fazer atividades físicas, e outras escolas em condições muito precárias, alunos muitas vezes
desnutridos, com sérios problemas e que interferem no processo de aprendizagem. Mas a
função do Estágio é aproximar o acadêmico das várias realidades e ele vai vindo das séries
iniciais digamos a Pré-escola até chegar ao Ensino Médio e vai percebendo todo esse
processo ao longo do tempo. Claro que o ideal seria que ele tivesse a oportunidade de
experimentar escolas públicas, escolas privadas, mas isso não dá muito tempo, então o que
acontece é que tem alunos que passam o Estágio todo só em escolas públicas e outros mais
em escolas particulares, mas em geral é uma forma de aproximar eles da realidade, esse é o
principal objetivo do estágio. No Estágio procuramos discutir um pouco a parte teórica de todo
este processo. Daí vamos para as escolas e eles vão enfrentar diferentes contextos. Têm
alunos fazendo Estágios em escolas partículas, com estruturas fantásticas, material de sobra,
quadras em perfeitas condições, cobertas; e alunos em escolas públicas, que é muito
desgastada, é sem material, sem espaço adequado para execução das atividades, então
procuramos fazer os alunos entenderam que a aplicação do conhecimento é muito contextual.
Eles vão ter que fazer muita adaptação na escola, vão ter que realmente adaptar esse
conhecimento que eles tem aqui na Universidade dentro da realidade do contexto deles, o
número de alunos, a estrutura que eles tem, até a questão socioeconômica dos alunos,
interfere bastante na aplicação disto (prof.D).”
Também procurou-se verificar junto ao professor como acontece a
avaliação pedagógica nos Estágios Supervisionados, segundo ele:
“No Estágio a avaliação é portifólio, com planos de aula relacionados ao cronograma
que eles fizeram e é avaliado desta forma. Na última avaliação, eles têm que fazer um relatório
final com alguns itens que tem que ser destacados e a avaliação é essa, não existe prova ou
outro tipo de avaliação, é o portifólio final mesmo que avaliamos (prof. D)”.
E para complementação do assunto em questão, procurou-se saber
quais as dificuldades para os alunos irem para os campos de Estágio e
cumprirem com os objetivos propostos pelo Programa da Disciplina.
111
Expõe o prof. D: “Procuramos, a medida do possível, colocar os estagiários em
regiões próximas onde eles moram, mas nem sempre isso acontece. Então existe uma certa
dificuldade de deslocamento, tem muitos alunos que dependem de ônibus. Só que na
contramão dessa dificuldade, existe a Lei do Estágio que exige do acadêmico a presença em
100%, então ele não pode faltar o Estágio, isso é lei. O Estágio é diferente das outras
disciplinas, por exemplo, a outra disciplina que eu sou responsável no curso, que é o Handebol,
o aluno pode ter até 25% de faltas ao longo do semestre, então isso é um direito deles, então
eles podem faltar, de 72 aulas 18 aulas, é um direito deles. No Estágio não, são em média
100,110 horas por semestre e eles tem que estar presente em todos os momentos, a não ser
que tenha um problema muito sério, algo que justifique mesmo a ausência deles como uma
doença infecto contagiosa, caso de óbito de familiares próximos, senão eles tem que
comparecer ao campo de Estágio impreterivelmente. Na verdade existe dificuldade, muitos
encontram dificuldades, mas a lei força com que eles estejam lá, caso contrário é problema
para eles, eles acabam reprovando, tem que fazer a disciplina de novo e por isso existe uma
participação quase total dos alunos no Estágio. Nós professores, procuramos facilitar para eles,
inclusive o aluno até tem uma certa liberdade, se eles conseguirem montar grupos de 4, 6
alunos que morem próximos e que tenham uma escola próxima a casa deles que eles possam
fazer o Estágio e se a escola aceitar os alunos assumindo o compromisso com a Universidade,
eles podem fazer o Estágio até no bairro deles. Nós damos essa liberdade (Prof.D).”
Segundo o professor que é um dos responsáveis pelo Estágio na
Licenciatura da Educação Física, a finalidade do mesmo é proporcionar aos
alunos no processo de formação, que eles tenham contato direto com as
realidades das escolas que são várias, e que eles possam retornar a sala de
aula munidos de um conteúdo único, as experiências vivenciadas por eles
próprios.
O professor também destacou que o Estágio assume um papel de
destaque na formação do futuro professor, pois através dele o aluno tem a
oportunidade de conhecer a escola, seu funcionamento e interagir junto aos
profissionais da área da Educação Física, conhecendo seu campo de atuação.
Quanto a relação entre a Universidade e os campos de Estágio, o
professor esclareceu que devido a Universidade e o curso de Educação Física
estar atuante no campo da formação de professores há muitos anos, o curso
não encontra muitas barreiras para inserir seus estagiários para atuação nas
escolas, mas alguns professores nas escolas, expressam descontentamento
em receber estagiários. Embora a localização de espaços para a realização do
112
estágio não expresse conflitos, a convivência entre os estagiários e professores
das escolas nem sempre é simples, podendo gerar transtornos neste processo.
Diniz-Pereira (2000) traz uma análise a respeito das dificuldades do
estágio.
A falta de integração entre a Licenciatura e a realidade prática onde os licenciados irão atuar constitui um outro “dilema” enfrentado pelos cursos de formação de professores. Em outras palavras, há pouca integração entre os sistemas que formam os docentes, as universidades, e os que os absorvem: as redes de ensino fundamental e médio. Essa desarticulação reflete, talvez, a separação entre teoria e prática existente nos cursos de formação de professores (DINIZ-PEREIRA, 2000, p.61-62).
A interação entre o curso e os locais de estágio deve ser uma relação
harmoniosa que proporcione a todos os envolvidos algum ponto de
contribuição. Dispondo a todos um ambiente apropriado a realização da prática
pedagógica direcionada ao aprendizado do aluno.
A seguir os demais professores comentam a respeito do Estágio, mas
não atuam diretamente nesta área disciplinar.
Profª.C: “Na disciplina não, eles vão ter claro, as vivências no Estágio
supervisionado depois, o que eu costumo fazer é o que chamamos de micro ensino dentro da
disciplina, que é quando os alunos acabam dando aula para eles mesmos. Então eles fazem a
atividade e eu analiso a parte didática deles quando eles dão aula para o grupo mesmo
(Profª.C).”
O Prof. E reponde sobre o Estágio em sua disciplina: “Não tem Estágio na
minha disciplina porque existe uma disciplina de Estágio obrigatório, onde eles buscam a área
de interesse deles. Eu até os levo para conhecer algumas realidades, mas não na minha
disciplina. Eu proporciono para eles um Estágio em particular, não a minha disciplina, mas eu
mesmo (Prof.E).”
Os professores A, B, H e I responderam apenas que sua disciplina não
administra Estágio para os alunos.
Ainda em busca de uma compreensão mais aprofundada desta relação
de Estágio no curso de Educação Física, buscou-se maior detalhamento sobre
as práticas relativas ao Estágio curricular supervisionado. Eis os relatos:
113
Segundo a profª F: “Por conta de uma história que a Instituição tinha em relação
aos currículos dos Estágios desde o inicio do curso, onde nós tínhamos um processo de
acompanhamento do Estágio muito próximo, nós tínhamos os professores juntos com os
alunos nas escolas, nós acabamos construindo uma referência de qualidade nos nossos
Estágios. De uns três anos para cá, que tivemos um pouco mais de dificuldade porque agora
nós temos mais alunos e menos professores nos Estágios, mas de modo geral, os nossos
alunos são muito bem vindos por conta do trabalho que é desenvolvido lá, então os nossos
professores tem contato direto com as direções das escolas, com a Secretaria Municipal
principalmente, nós temos contato com o pessoal que direciona, que dirige as escolas e que
trabalham na secretaria. No Bacharelado a mesma coisa, então nós temos algumas
instituições, alguns clubes, algumas academias que já são nossos parceiros a muitos anos com
os quais trabalhamos de forma bastante direta, então nossos alunos já sabem que vão
trabalhar. E esse ano nós estamos no Bacharelado, tendo experiências de fazer com que
nossos alunos façam Estágio aqui dentro da própria Universidade, então nós estamos abrindo
outras possibilidades de Estágio, nós temos na própria academia da Universidade, que os
alunos fazem Estágio e esse ano nós estamos numa experiência que tem sido bastante
positiva, os alunos estão fazendo Estágio na Clinica de Nutrição, acompanhado pessoas que
estão num processo de acompanhamento nutricional, seja por obesidade ou qualquer outra
razão e a partir do ano que vem eles irão acompanhar pessoas que irão fazer ou já fizeram
cirurgia de redução de estomago, então um acompanhamento mais específico. Estamos
abrindo essas novas possibilidades, que é uma experiência que começamos a fazer esse ano
para buscar mais uma possibilidade de Estágio para o curso (Profª.F).”
E o profº G complementa: “No caso das escolas, esse é um relacionamento de
longa data, muitas escolas atuam com o curso já há muitos anos, portanto existe quase uma
expectativa, porque todo ano nós trabalhamos com as mesmas escolas, então elas estão nos
aguardando. Mas de maneira formal, o curso sempre faz o contato mediante carta de
apresentação, os professores de Estágio fazem contato com as escolas e verificam a
disponibilidade de ofertas de disciplinas e recebimento de alunos. Para as instituições que
atuam no Bacharelado, academias, clubes e particularmente a Secretaria Municipal de
Esportes e Lazer nós temos um relacionamento agora também de um certo tempo e fazemos o
contato formal também (Prof.G).”
Segundo a coordenação do curso, a relação com a escola exige
permanente contato, mas não apresenta dificuldades relacionadas ao Estágio
curricular supervisionado devido o curso manter contato de longa data com as
escolas e também agora com os demais campos para atuação do Estágio na
área informal. Sendo o Estágio uma atividade supervisionada e acompanhada
114
pelos professores da Instituição, o mesmo não encontra dificuldades na
inserção dos alunos nos campos de Estágio, pois o curso apresenta um
processo de contato com as Instituições antes e também durante o Estágio
para um acompanhamento regular dos alunos e suas atividades, sendo elas
apenas de observação ou atuação.
A maior razão desta proximidade advém do trabalho comprometido dos
estagiários na escola.
3.2.1 PRÁTICA DOCENTE NO CURSO
A organização do currículo de formação de professores é um ponto
base para que aconteça um processo de formação profissional, formando o
aluno para se inserir em seu campo de atuação, sendo ele formal ou informal,
atendendo as necessidades educacionais que sua profissão apresenta, através
de uma atuação consciente pautada em princípios teóricos, científicos, práticos
e metodológicos adquiridos ao longo do tempo de graduação.
É nas disciplinas estudadas que os alunos irão se basear para sua
futura atuação profissional. Os professores responsáveis pelas disciplinas são
também responsáveis pela transmissão dos conteúdos e atividades referentes
aos conteúdos que a disciplina propõe para estudos. Esses conteúdos são
transmitidos pelo professor de diversas formas e para isso o professor pode se
apropriar de vários recursos metodológicos e também tecnológicos a fim de
conseguir alcançar junto aos alunos o objetivo desejado para aquela atividade
prevista em aula.
Tardif (2000) nos diz que a condição de ser professor exige adaptação
e improvisação e comenta:
(...) os conhecimentos profissionais exigem sempre uma parcela de improvisação e de adaptação a situações novas e únicas que exigem do profissional reflexão e discernimento para que possa não só compreender o problema como também organizar e esclarecer os objetivos almejados e os meios a serem usados para atingi-los (TARDIF, 2000, p.7).
Junto aos professores entrevistados buscou-se conhecer como
acontece toda essa dinâmica de sala de aula e verificou-se como são
115
trabalhados os conteúdos em sua disciplina, desde a realização de atividades,
conteúdos e avaliação. Os professores teceram os seguintes comentários:
Segundo o professor A: “Eu trabalho esses conteúdos com aulas expositivas,
depois eu trabalho com tarefas; eu trago tarefas de situações dentro da Educação Física
escolar e os alunos trabalham e depois há uma discussão. Eu trabalho também em forma de
seminários onde eu estruturo um seminário com eles, divido em temas e daí o grupo apresenta
o tema e depois o grupo tem que provocar um debate com a turma em relação a este tema que
foi apresentado. E também trabalhos que eu faço ao longo do semestre com eles; eu trago um
artigo, um tema relacionado a aprendizagem motora e eles vão trabalhar encima disso;
também faço avaliação teórica, a prova, faço esse tipo de avaliação. Todas as atividades valem
nota (Prof.A).”
Comenta o professor B: “No Atletismo são aulas teóricas e expositivas, tenho
Datashow, PowerPoint, na aula passo informações básicas, e eu trabalho com os vídeos para
mostrar o gesto correto e as falhas nos gestos, porque acontecem os acidentes, que quando
chama a atenção, quando a turma dispersa, você coloca uma coisa engraçada, aí todo mundo
já olha. Na parte prática (1 teórica e 1 prática), aí é a parte da iniciação, como fazer o passo-a-
passo, de um passo-a-passo chegar no gesto final que eu gostaria, como o movimento total de
um lançamento, de um salto, aí com exercícios simples até chegar no complexo, de forma
também pedagógica, passo-a-passo. Na Antropometria, temos aulas teóricas, expositivas e
práticas, aonde os alunos fazem as medidas neles mesmos, eles se avaliam, assim vamos
mostrando os pequenos erros de posição para identificar os pontos anatômicos, para fazer as
medidas. É isto que faço nas aulas práticas, mostro como calcular, como mostrar as equações
no computador, facilitar a vida deles, que é o que vamos fazer na prática, não vai ficar
calculando percentual de gordura na mão. Então você mostra na mão para eles entenderem
como é o calculo, de onde vem a fórmula, aí depois, você mostra como faz no computador, se
não fica muito fácil também. Na Bioestatística entra a matemática que assusta eles, apesar de
não ser muita conta, é muita informação de interpretação. Aí também tem a aula teórica para
explicar tudo, eu trabalho bastante com exercícios, resolvemos exercícios juntos em sala de
aula, problemas juntos, cria-se situações e resolve para tentar ficar mais claro. Treinamento
também, aulas teóricas e as práticas, mostrando métodos de avaliação, de treino, para eles
visualizarem e sentirem as diferenças (Prof.B).”
Segundo a professora C: “Eu trabalho muito com a parte de didática, tanto na
Licenciatura como no Bacharelado, onde os alunos tem um trabalho que eles devem realizar.
Analisam erros deles mesmos, um nos outros alunos e aí eles fazem toda uma elaboração de
exercícios para correção dos erros, eles aplicam esses exercícios, fazem relatórios, para
vivenciar realmente a prática do ensino da Natação. Além disso, eles tem também outro
116
trabalho relacionado a teoria, a parte de Natação para bebes, que eles vão pesquisar nas
escolas e trazem em uma apresentação de seminário. Também trabalhamos com leituras de
alguns autores. Temos trabalhado também algumas atividades onde eles tem que raciocinar
como ocorre uma coordenação dentro dos quatro estilos e basicamente a parte de aplicação
das aulas que é feito dentro das próprias aulas (Profª.C).”
Esclarece o professor D: “Procuro variar muito a estratégia pedagógica das aulas
expositivas, em alguns momentos, acho que a aula expositiva ela é importante, tem momentos
que precisamos ir lá para frente, usar recursos e trabalhar a aula expositiva acho que isso tem
que ter, mas em muitas situações, é tirado o foco do professor e colocado o foco no aluno, ele
faz leituras e discussões em pequenos grupos, discussões em grandes grupos, seminários.
Basicamente eu vejo assim, ou o foco está no professor com a aula mais expositiva ou o foco
está no aluno, ele que vai ler e o professor vai ser um mediador, uma pessoa que vai aparar as
arestas na hora que surgir dúvidas. Mas é muito usado a variação de estratégias pedagógicas
didáticas, muito, tem que ser né, só aula expositiva o tempo todo não funciona e também você
só focar no aluno, trabalhar com seminário também funciona. Eu entendo que precisamos
variar bastante, foco no aluno as vezes, foco no professor e vamos trabalhando dessa forma. A
avaliação também, no Handebol eu vario bastante, eu trabalho com avaliação teórica, prova
mesmo. Hoje alinhamos muito as provas ao modelo que a Instituição sugere que façamos, que
é o modelo de gabarito, então usamos esse instrumento em alguns momentos, não sempre,
mas eu trabalho bastante com seminários em alguns momentos. Fundamentos, eu trabalho
com seminários, cada grupo de alunos escolhe um fundamento, drible, arremesso, e eles que
vão apresentar para turma e eu fico ali intermediando, dando minhas contribuições. Aí trabalho
também com a avalição prática, essa avaliação prática não tem um cunho muito de exigir do
aluno que ele tenha habilidade, como era antigamente na Educação Física que se exigia isso,
que o aluno mostrasse até um bom desempenho no processo, então isso não é exigido, o que
é exigido do aluno é que ele participe da aula, que ele se envolva, que ele pegue lá a bola e
execute o gesto para que ele possa ter essa experiência motora. Eu trabalho com avaliação
prática também. Basicamente isso, no Handebol avaliações teóricas, provas mesmo,
seminários e avaliações práticas e algumas discussões em grupos valendo nota, tem que ler o
texto, discutir em grupo e depois debater e essa participação valendo nota, são esses os tipos
de procedimentos que eu utilizo (Prof.D).”
Esta questão se refere a maneira como os professores formadores dos
futuros professores desenvolvem os conteúdos a serem ensinados em sua
disciplina e como eles se apropriam de dinâmicas, atividades e avaliação para
desenvolverem da melhor maneira um trabalho pedagógico com seus alunos.
117
Expõe o professor E: “Teórico prático mesmo. O primeiro semestre, eu costumo
dizer para os alunos que eu trabalho para eles e o segundo semestre eles trabalham para mim.
Então no primeiro semestre eu planto muita informação, coloco muito conteúdo junto com eles,
eles seriam mais receptores da informação. E num segundo momento, através dessa
informação, eles começam um trabalho de construção. Então em um primeiro momento eles
são receptores da informação para poder situar-se dentro daquela disciplina e num segundo
momento eles constroem a partir dali. Então eles constroem como? Através de trabalhos, eles
fazem um trabalho que tem o teor de um livro, com mais de 200 fotos todas com descrição,
então fica realmente um livro que fica para eles de consulta que é toda a parte estrutural da
aula de localizada, que é uma aula clássica, desde a origem, inserção, como eu faço exercício,
quais os tipos de exercício e qual é a aplicação deles. Então eles estão para concluir agora,
para daqui a 10,15 dias entregar e depois eles fazem uma aula, além de várias montagens de
pequenas aulas, até chegar nessa aula final. E a aula final, que coroa o segundo semestre, é
uma aula que eles têm tudo que aprenderam nestes dois semestres, mostrar em uma aula de
40 minutos, ou seja, desde a parte de vendas, a forma de ser e estar, a parte de Marketing,
como a parte de planejamento, de como montar uma aula de ginástica, ou seja, eles tem que
fazer isso, em uma equipe de 5 pessoas e cada participante tem que trazer um familiar que não
seja da área para que eles possam atuar não só com os seus pares iguais, mas com o público
verdadeiro naquele momento. Então o final do semestre é coroado com essa avaliação, que
vale 10 também, dividida em quatro notas no último semestre, onde eles aplicam de forma
otimizada naquele momento (Prof.E).”
Para o professor H: “Basicamente a disciplina é dividida em 50% da carga horária
prática e 50% teórica. Normalmente é um ciclo que se repete, começamos falando do histórico
da luta, aí fala um pouquinho dos conceitos filosóficos da luta, das regras e procura estudar e
avaliar as capacidades físicas envolvidas nas lutas e as demandas energéticas em relação à
fisiologia do esforço desta luta. Aí na parte prática fazemos os fundamentos da luta, ou seja, a
base da luta e as primeiras técnicas de cada uma dessas lutas, basicamente um tipo de técnica
de cada grande grupo de luta. A metodologia, bem na prática sempre usamos, mas no final do
módulo da luta, por exemplo, no final do judô, no final do taekendoo, sempre existe um
momento de luta mesmo entre os alunos, para que eles experimentem a disputa, o
enfrentamento, ou seja, o confronto direto. Aí sim eles conseguem se apropriar de todo o
conteúdo e colocar na prática e sentir o que um lutador de fato sente no momento da luta. No
caso da Licenciatura é um pouquinho diferente, pois usamos a estratégia dos jogos de
oposição, mas faz com que os alunos usem os jogos de oposição entre eles para também
sentir as dificuldades da atividade em si e poder estar preparado para aplicar essa atividade lá
no ambiente da escola especificamente. A avaliação é teórica e prática. Falando hoje em dia
como funciona, vendo o “Edgar Morran, aproximação excessiva”, agora a cada ano tento inovar
um pouquinho e melhorar um pouco o processo. Mas hoje é assim, existe uma prova escrita,
normalmente uma prova discursiva, alguns trabalhos de pesquisa e apresentação de
118
seminários que ajudam um pouquinho na nota e eles se apropriam mais dos conteúdos
pesquisando e demostrando. E uma prova prática que consiste trazer o colega e demostrar
aqueles fundamentos que foram estudados durante as aulas práticas, sempre a nota é
composta dessa forma (Prof.H).”
E segundo o professor I: “Na Fisiologia estou tentando transformar em prática, já
fizemos, graças a Deus, umas três práticas. A sala de aula para a parte teórica, e a tentativa de
praticar isto, além de estudos de caso, funcionando na forma: lanço uma proposta, eles vão
para o ginásio, praticam, e aí verificam a pressão arterial, a frequência cardíaca, fazem os
testes de 02, calculam as velocidades, calculam o consumo calórico, e assim por diante, aí
monta-se um estudo de caso, eles vão até a biblioteca pesquisam e me procuram, na própria
biblioteca, para a discussão do caso. São estudos rápidos, de no máximo 35 minutos. A ideia,
caso eu continue na disciplina, é transformá-la em mais prática ainda, para que o aluno possa
vivenciar a aplicabilidade da Fisiologia do Exercício (Prof.I).”
Os professores comentaram suas estratégias de ensino aprendizagem
aplicados em suas disciplinas e o que se percebe é que eles procuram variar
as estratégias de transmissão nas aulas de conteúdos e nas aulas práticas
desenvolvidas em ambientes adequados a prática aplicada. Usa-se em
conjunto recursos tecnológicos para auxiliar a aula como Datashow,
PowerPoint, Vídeos e programas de computador desenvolvidos para auxiliar
em cálculos mais complexos. Acontece também o desenvolvimento de micro
aulas, onde os próprios colegas colaboram entre si a aplicação do que foi
estudado. O estudo de artigos relacionados aos conteúdos é uma atividade
constante no curso.
Houve comentários sobre aplicação de estratégias de ensino
aprendizagem e avaliação, destacando o uso de métodos diferenciados como a
montagem de um projeto de trabalho abrangendo toda a disciplina a fim de
proporcionar ao aluno um referencial do que foi estudado, são empregados
também estudos de caso, com o aprofundamento teórico e prático e discussão
dos resultados com o professor. Usa-se a realização de seminários, em que o
professor passa a ser um mediador dos assuntos e cabe aos alunos o
aprofundamento do tema a ser discutido com os colegas e o professor intervêm
ao final com suas contribuições.
A avaliação é realizada através de provas teóricas descritivas e de
testes de múltipla escolha eventualmente. Também por meio de apresentação
119
de seminários, trabalhos de discussão de artigos em pequenos grupos, estudos
de casos e aplicabilidade dos conteúdos estudados na prática.
Verificou-se que os professores usam diversos métodos de aplicação de
conteúdos e também avaliação. Esses métodos além de auxiliar o professor no
alcance dos objetivos propostos para a disciplina em si, ajuda o futuro
professor a conhecer as diversificações do ensino aprendizagem e as
estratégias a serem empregadas em sala de aula, ou atividades em espaços
abertos.
A prática pedagógica do professor se caracteriza como sendo uma
prática intencional e que está sujeita a modificações, considerando as
concepções dos professores. Estas modificações podem ser geradoras de
conflitos o qual leva os professores a uma reflexão constante sobre sua
atuação docente. Romanowski, et al. (2005, p.2) destacam que “A profissão do
professor caracteriza-se como uma prática social contextualizada, conflituosa,
ideológica, complexa, organizada para além do desempenho técnico”.
Pimenta e Lima (2008) indicam sobre a prática pedagógica que ela é
marcada pela cultura.
A prática educativa (institucional) é um traço cultural compartilhado que tem relações com o que acontece em outros âmbitos da sociedade e das suas instituições. Portanto, no estágio dos cursos de formação de professores, compete possibilitar que os futuros professores compreendam a complexidade das práticas institucionais e das ações aí praticadas para sua inserção profissional (PIMENTA E LIMA, 2008, p. 43).
Não seria possível falar em prática pedagógica isolada do contexto
social onde ela acontece e todos os seus determinantes. A prática está
intimamente ligada a realidade articulada às relações sociais de um
determinado grupo.
Esta prática pedagógica é campo de investigação na didática que
objetiva o estudo dos métodos e as técnicas de ensino aprendizagem, que
segundo Candau (2000, p.14) “O ensino-aprendizagem é um processo que
está sempre presente, de forma direta ou indireta, no relacionamento humano”
e poderá afetar de formas diversas conforme sua aplicação. A prática
pedagógica servirá para ofertar aos alunos uma formação pautada em
afinidades de aprendizagem. Martins (2007) esclarece que as contradições
120
emergem das experiências práticas vivenciadas pelos alunos e essas vivências
são as responsáveis pela reconstrução dos conhecimentos. Nas palavras da
autora:
A reconstrução do conhecimento da Didática não se faz por meio de reflexões teóricas, mas emerge das contradições presentes na prática de nossas escolas, expressando a prática de seus agentes ao vivenciarem essas contradições (MARTINS, 2007, p.4).
Ainda segundo Veiga (2000, p.17) “A prática pedagógica não deve
esquecer a realidade concreta da escola e os determinantes sociais que a
circundam” assim em concordância com Martins (2007) e Veiga (2000)
compreende-se que as relações sociais são as responsáveis pelas
transformações dos conhecimentos já adquiridos e que essas transformações
ocorrem inicialmente através das experiências práticas dos professores em seu
cotidiano escolar.
Com o intuito de buscar um maior esclarecimento junto aos professores
responsáveis pela formação dos futuros professores da Educação Básica, foi
levantada a questão de como é encaminhada a prática pedagógica na
disciplina a qual eles ministram. A seguir os textos das respostas:
O professor A responde: “Ela não tem uma prática pedagógica assim
diretamente na aula, porque a minha aula é uma aula mais teórica, então a prática como
componente curricular ela é trabalhada nessas dinâmicas em trabalhos em grupos que eu faço.
E esse semestre estamos um pouco prejudicados, porque nos semestres anteriores eu fazia
muitos trabalhos de práticas pedagógicas de um determinado tema e os alunos faziam esse
determinado tema na prática, eles fazendo intervenção e como nós estamos num processo
agora retenção de espaço devido as reformas que estão acontecendo nesse semestre, eu não
estou tendo esta oportunidade, então esta prática pedagógica ela tem ficado mais no cunho da
teoria e do debate em sala de aula (Prof.A).”
Segundo a professora C: “Basicamente temos aulas práticas teóricas e é
importante o que eu tento passar para os alunos das aulas práticas e a importância maior é a
questão da segurança dos alunos futuramente, muitos chegam ainda sem saber nadar e o
ideal é que eles saibam pelo menos uma noção de como se deslocar dentro da água até o final
do ano. Porque isto remete além da sua própria segurança, principalmente a segurança do
aluno, então é dada uma ênfase muito grande as aulas práticas (Profª.C).”
121
O professor D descreve: “Hoje aqui na Universidade, nós temos exigências na
primeira semana de aula, entregamos para o aluno o que chamamos de PA (Programa de
Aprendizagem), hoje não chamamos mais de PA, os professores entregam a proposta da
disciplina. Nessa proposta já vai estar todos os conteúdos que vão ser trabalhados, vai estar o
método de ensino aprendizagem que estaremos usando, vai estar toda a avaliação
determinada, quanto vale cada questão, o seminário vale tanto, o trabalho de discussão de
texto vale tanto, a avaliação prática vale tanto, a prova final vai valer tanto, então tudo isso já é
entregue ao aluno no início do semestre e ele fica ciente do que será desenvolvido ao longo da
disciplina. As referências que vão ser usadas, tudo isso é entregue para o aluno no primeiro dia
de aula e nós seguimos a risca isso. Por exemplo, são 18 semanas por semestre, esta
Instituição funciona desta forma, então para cada semana temos bem determinado o conteúdo
que vai ser trabalhado, então o aluno na primeira semana de aula ele já recebe a proposta de
trabalho, e salvo raras exceções, que, às vezes, uma turma tem um ritmo um pouco diferente
da outra, tentamos seguir aquela proposta na íntegra. Cada semana vai ser trabalhado aquele
conteúdo, e tem semana que tem avaliação, tem semanas que não tem avaliação, é só aula
mesmo e o aluno recebe isso de antemão, eu acho que isso foi um grande avanço da
Instituição, melhorou muita a qualidade dos cursos daqui a partir do momento que foi exigido
que cada disciplina de todos os cursos da Universidade tenham a sua proposta muito bem
descrita teoricamente, eu gosto muito disso, foi uma contribuição muito grande da área
pedagógica, foi o curso de Pedagogia da Instituição que alavancou esse processo e deu
suporte para que isso acontecesse, então foi muito importante para qualidade de todos os
cursos daqui, não só da Educação Física (Prof.D).”
�
Esta questão diz respeito de como o professor encaminhada a prática
pedagógica em sua disciplina.
Para o professor E: “Em termos de prática pedagógica eu não tenho um
embasamento pedagógico, dizendo professor você vai ter que trabalhar dessa forma. Eu
acredito até que os professores sejam carentes no aspecto didático, porque o professor ele dá
aula com muita liberdade na Instituição e isso eu acho ruim, ele trabalha como quer. Se você
vai, por exemplo, para Europa, eu já tive a oportunidade de morar quatro anos fora e lá existe a
Escola de Formador de Formadores. Eu só posso trabalhar com formação, mesmo que eu
tenha uma graduação, mas se eu não me especializar no curso de formação de formadores,
não estarei apto para assumir esta responsabilidade. Então as pessoas não tem uma prática
pedagógica condizente talvez mesmo como se tivesse feito um curso de prática pedagógica.
Então eu não saberia dizer para você em termos mais científicos, eu trabalho desta forma!
Porque todo professor que você entrevistar, você deve localizar isso, tem uma liberdade muito
grande de trabalhar e essa liberdade ela pode ser muito positiva para quem tem uma
122
responsabilidade e pode ser muito negativa se eu pego um professor que quer trabalhar de
qualquer jeito (Prof.E).”�
�
Segundo o professor H: “Quando apresentado o plano de trabalho no início do
semestre eu procuro dividir a carga horária entre as modalidades de Lutas37 de forma que eu
consiga seguir mais ou menos aquela ordem que eu te disse, ou seja, falo primeiro da história
e depois falo das regras, da estrutura que é necessária na área, os recursos matérias que são
necessários para a prática daquela modalidade. Mas simultaneamente durante a semana nós
temos um encontro teórico e um encontro prático. Então tem primeiro o encontro teórico, eu
falei do histórico e daí no primeiro encontro prático é falado dos fundamentos. Segundo
encontro teórico eu falo da filosofia, segundo encontro prático começamos a aplicar as
primeiras técnicas mais básicas. Então conforme eu vou evoluindo na teoria, eu vou evoluindo
na prática em paralelo, ao ponto que quando eu chego à última aula do módulo da Luta, vamos
dizer, terminou o módulo de judô, quando chegamos lá na parte de competição, eles estarão
lutando, fazendo a disputa entre eles na parte prática. Teve uma experiência muito positiva,
este semestre que eu fiz isso, foi uma competição de judô por equipe entre todas as turmas,
eram sete turmas de lutas, entre Licenciatura e Bacharelado, manhã e noite, daí eles puderam
colocar em prática mesmo todos os conteúdos que foram trabalhados, então essa é a ordem
(Prof.H).”
Segundo o professor I: “Eu falo muito, você sabe disso, estou tentando falar
menos para cansar menos, procuro então fazer estudos de caso, discussão em sala, leitura de
artigos, estudos na biblioteca, aulas práticas. Também procuro utilizar partes de reportagens de
revistas para discutir em sala, aproveitando uma reportagem de momento para avaliar se
aquilo é verdade, se faz sentido. A questão da avaliação: a ida a biblioteca, com posterior
discussão, vale 0,5 ponto. Cabe ressaltar que eles odeiam pesquisar em livros, preferem ficar
na internet o tempo todo. Apesar da biblioteca ter um acervo gigantesco, eles preferem ir à web
para encontrar ‘imediatamente’ a resposta. Neste sentido, limito as pesquisas a livros, não
permitindo nestes momentos, o uso do computador. A parte prática também vale pontos: a
discussão, a participação, também vale 0,5 ponto e prova final (Prof.I).”
Segundo os professores a prática pedagógica faz parte do processo de
ensino aprendizagem dos alunos em formação e a mesma acontece
combinada com os estudos teóricos, para que os alunos tenham a dimensão
do conhecimento teórico e prático.
Uma questão foi levantada por um professor a qual destaca-se: o
professor comenta que para os professores em geral falta um pouco de
37 Quando o professor se refere a Lutas, é a disciplina que ele ministra.
123
preparação para a docência, ressalta que os professores tem todo o domínio
do conteúdo, mas lhes faltam uma didática pertinente para uma transmissão
efetiva dos mesmos, sendo que muitos professores lecionam da forma que
melhor lhe convêm e segundo o professor isso pode gerar resultados diversos
aos pretendidos.
Todo processo de ensino-aprendizagem acontece com a relação entre
pessoas diferentes em um mesmo contexto de aprendizagem e isso o situa
como sendo um processo social. Candau (2000) discute que o processo de
ensino-aprendizagem acontece também em uma dimensão técnica e expõe:
O domínio do conteúdo e a aquisição de habilidades básicas, assim como a busca de estratégias que viabilizem esta aprendizagem em cada situação concreta de ensino, constituem problemas fundamentais para toda proposta pedagógica (CANDAU, 2000, p.15).
Os cursos de formação de professores para as licenciaturas trazem
consigo uma preocupação constante de manter seu currículo de formação
atualizado e bem estruturado para atender as necessidades da formação
pedagógica dos seus alunos. Algumas dessas necessidades apresentadas por
Candau (2000) tornam-se questões de grande preocupação quando da
estruturação do currículo de formação de professores para atuação na
Educação Básica, pois é a partir desses pressupostos que o futuro professor
iniciará sua jornada no campo da prática pedagógica.
A prática pedagógica na formação docente em Educação Física carece
ser orientada por um profissional da área capaz de ter uma visão abrangente
de todo processo de ensino-aprendizagem específico da área trabalhada e
abrangente na visão pedagógica do ensino dos conteúdos desenvolvidos para
a formação do professor. Isso permite orientar o processo da prática
pedagógica dos alunos em formação para auxiliá-los em sua preparação como
um professor teórico prático reflexivo em sua atividade docente.
Aproveitando a oportunidade do tema sobre a prática pedagógica dos
professores foi perguntado aos professores/coordenadores como eles
concebiam a prática pedagógica no curso de Educação Física. Eles
responderam da seguinte maneira:
124
Professora F: “Acredito que temos um grupo bem experiente, embora tenhamos
alguns professores novos, mas a grande maioria é bastante experiente, então acaba tendo
essa percepção do que é formar o bacharel, o que é formar o licenciado, eles conseguem ter
isso claro e por conta dessa clareza que o professor tem ele consegue ter um encaminhamento
bem lógico do trabalho dele, o que é que ele vai ter que fazer em cada passo para que ele
possa atingir o trabalho. A prática ela é direcionada para visualização da realidade, então
sempre que possível, levamos os alunos para o cotidiano, para perceber situações reais, para
que se possa discutir a luz da teoria que embasam a formação ou a atuação profissional. Então
procuramos direcionar o máximo possível para esta questão mais concreta (Profª.F).”
Professor G: “A respeito da prática pedagógica no curso, no último ano, eu
comecei a perceber um pouco de avanço no Bacharelado daquilo que eu imaginava ser uma
verdadeira prática pedagógica do Bacharelado, porque por ser um curso mais longo, eu via o
curso de Bacharelado com a prática, uma prática pela prática, o aluno ia, por exemplo, fazer
suas práticas e disciplinas, ou talvez o próprio Estágio, se considerarmos o Estágio uma prática
pedagógica, de uma maneira pouca atrelada a sua formação. Eu acho que agora começa a ter
uma integração maior, porque agora os professores tem uma visão mais clara do que é um
Bacharelado, porque todos os professores do curso, sem exceção, se graduaram como
licenciados e a grande maioria ainda na antiga Licenciatura Plena, com aquela visão de um
curso integrado e que não existia o bacharel e o licenciado, então agora, está um pouco
melhor. Na Licenciatura, o que eu percebo é que estamos muito apegados ainda a tradições
muito arregradas a Licenciatura. De um modo geral, o pessoal da Educação Física não
consegue avançar para novas práticas pedagógicas, nem inclusive ver o movimento humano
numa perspectiva mais contemporânea, nós estamos muito presos a uma formação mais
tradicional ainda, essa é a impressão que eu tenho (Prof.G).”
A prática valoriza a experiência como balizadora do agir docente,
articula-se com a realidade escolar, com observações do cotidiano, e são
encaminhadas considerando os pressupostos teóricos.
Após alguns anos da reestruturação o curso e especialmente os
professores se encontram mais preparados para a inserção dos alunos nas
duas áreas de práticas, onde o aluno terá sua experiência profissional inicial
guiado por um professor da área a qual ele está cursando.
Nossa atenção é chamada por Caparroz e Bracht (2007) para uma
crítica aos cursos de formação de professores de Educação Física ressaltando
que os cursos apresentam um déficit “Por não estarem preparando os futuros
profissionais para operarem tarefas primordiais do trabalho docente, como é o
125
caso do planejamento (p.23)”. Os autores complementam sua linha de
pensamento salientando:
Vale ressaltar que essas críticas apontaram a suspeita de que, nos cursos de formação de professores de educação física, estivesse existindo uma falta de aprendizado de elementos/conhecimentos da didática que garantisse aos futuros professores um conhecimento técnico-pedagógico que subsidiasse a realização de determinadas tarefas, como a elaboração dos diferentes planos para a organização do ensino (CAPARROZ E BRACHT, 2007, p.23).
Assim entende-se que apesar dos professores formadores
desenvolverem com os alunos estratégias de ensino aprendizagem na
educação através das disciplinas didáticas que o curso oferece, ainda
encontram muitas barreiras a serem transpostas para que os alunos consigam
aplicar de forma efetiva estes conhecimentos na prática.
Ainda segundo Caparroz e Bracht (2007, p.23) existe “A dificuldade de
organizar/planejar/sistematizar o ensino da educação física na escola e,
consequentemente, a dificuldade de ensinar esse componente curricular”,
sendo que o curso de Educação Física se apresenta em sua totalidade muito
mais como um curso técnico e prático com valorização dos conhecimentos
específicos em cursos de formação de professores.
Veiga (2000) destaca que a didática na prática pedagógica no tempo
de formação dos alunos pode exercer uma forte influência sobre o seu
desenvolvimento docente, comenta a autora:
Ela pode funcionar como instrumento para efetivação de uma prática pedagógica acrítica e repetitiva ou, ao contrário, se constituir em veículo que contribua para a modificação da prática pedagógica. Nesse sentido ela produz o novo (VEIGA, 2000, p.15).
Os professores destacam a importância do trabalho com o cotidiano
escolar. Caparroz e Bracht (2007, p.31) destacam que “O exercício da
docência demanda do processo de formação (inicial e continuado) dos
professores que este garanta a apropriação e (re) construção dos
conhecimentos necessários para desenvolver a prática pedagógica com
qualidade”. Este aprendizado será desenvolvido inicialmente no tempo de
graduação do aluno em formação, e posteriormente no seu dia a dia, na
atividade profissional e em processo de formação continuada.
126
3.3 CONCEPÇÃO DOS PROFESSORES FORMADORES A RESPEITO DA FORMAÇÃO DOCENTE NO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
A formação docente, mais do que nunca, hoje é alvo contínuo de
reflexões junto à comunidade acadêmica e demais órgãos ligados a Educação,
visando sempre o aperfeiçoamento dos futuros professores em formação e
também a formação continuada dos professores, buscando promover a
melhoria do ensino, através de um corpo docente que tenha recebido uma
formação pautada em um processo de ensino-aprendizagem que disponha de
elementos suficientes a lhe darem um suporte teórico, técnico e prático que
ajudem a desempenhar sua atuação pedagógica consciente para atuar na
Educação Básica na área da Educação Física.
Os cursos de licenciaturas ajudam a promover a formação inicial dos
professores e buscam auxiliar em sua qualificação profissional. Isso ajuda
explicar este complexo processo de reformas educacionais que ocorrem no
ensino constantemente e afetam o processo de formação de professores.
Marques e Diniz-Pereira (2002, p. 179) vêm esclarecendo uma das razões da
ocorrência das reformas, segundo os autores as mesmas “Introduzem novas
modalidades de cursos, determinando mudanças significativas tanto no
aspecto quantitativo como no qualitativo”, mas os autores ainda nos fazem um
alerta quanto às reformas educacionais, chamando a atenção para o grande
número de cursos de formação de professores que estão se proliferando no
campo educativo sem ter condições para dispor aos alunos uma formação que
sustente padrões de qualidade no desenvolvimento profissional do futuro
docente. Complementa Marques e Diniz-Pereira (2002, p.179) que “Tal política
favorece o lucro fácil das empresas de ensino e coloca em risco o futuro do
País”, pois ações especulatórias e com a finalidade de alcançar o lucro fácil
podem vir a afetar o processo de formação docente, resultando em uma
formação deficitária nas áreas de uma docência séria e aplicada aos reais
objetivos da educação.
Gatti (2009, p.259) salienta que com a obrigatoriedade da formação em
nível superior dos professores para atuação na Educação Básica, foi ampliada
a oferta de cursos superiores voltados a formação de professores, cita a
autora: “Se verifica um crescimento expressivo da oferta das licenciaturas
tradicionais, que formam os professores dos componentes curriculares
127
específicos do currículo do ensino fundamental”, o que exige acompanhamento
e avaliação de modo a garantir uma formação bem estruturada.
O processo de formação de professores para atuação nas áreas da
Educação Física passou por modificações significativas para se adequar as
novas Legislações e Resoluções aplicadas a própria área de formação,
definindo neste processo atribuições ao curso e ao seu currículo de formação,
destacando então que a formação se daria em dois campos diferenciados, a
licenciatura para atuação profissional na docência e o bacharelado para
atuação profissional nas demais áreas relacionadas a Educação Física.
Conforme as descrições de Steinhilber (2006) sobre as opções de
graduação na Educação Física para intervenção profissional, fica claro as
funções que são atribuídas a cada área de formação segundo o Sistema
CONFEF38/CREFs39 na distinção da licenciatura e do bacharelado no curso de
Educação Física no Ensino Superior.
Junto aos professores/coordenadores do curso, verificou-se em sua
concepção, qual o perfil geral do licenciado e do bacharel.
Segundo a profª. F “O bacharel, nós temos uma perspectiva de formá-lo para
atuar naquilo que se chama de Educação Física não formal, que é uma terminologia que se
usa, onde o aluno poderá atuar em academias, clubes, treinamento, personal, entre outras
áreas e ele acaba tendo um perfil mais prático porque ele tem que ser o prático. Então estamos
tentando reverter essa imagem de que ele só dá aula, porque o aluno, futuro professor ele tem
que estudar muito para poder dar aula, ele tem que ser um pesquisador da sua prática para
que ele possa sustentar seus conhecimentos e aplicá-los no dia a dia aonde ele estiver
atuando. E o licenciado é o profissional que é formado para atuar na Educação Básica e por
conta desta característica e pelo perfil que acabamos dando para curso, nós tentamos
direcionar para o aluno entender, que ele tem que estudar muito para entender os problemas
da escola, entender como que o aluno aprende, como ele tem que ensinar para atingir esse
aluno que tem diferentes perspectivas de aprendizado, então temos uma formação mais
teórica, eu diria, na Licenciatura, então este aluno vai atuar na Educação Básica (Profª.F).”
O prof. G coloca: “ Um pouco do comentário em geral é essa mudança que teve
do Bacharelado e da Licenciatura, foi uma mudança interessante para nós professores, porque
tivemos que refletir muito sobre essas mudanças, então hoje eu vejo que o perfil do licenciado
está bem distinto do perfil do bacharel. O perfil da Licenciatura ele está muito bem estabelecido 38 CONFEF - Conselho Federal de Educação Física 39 CREF - Conselho Regional de Educação Física
128
para a atuação na escola e o perfil do Bacharelado, ele está bem estabelecido para atuação
fora da escola. No caso desta Universidade40, o Bacharelado, ele tem uma característica bem
interessante de atuação na área de bem estar, em academias, clubes, na área de lazer e
recreação e na área de iniciação esportiva, esse é o perfil que temos colocado no Bacharelado
(Prof.G).”
Acentua-se nestas falas a distinção entre os cursos,
Licenciatura/Bacharelado, considerando o espaço e as especificidades dos
campos de atuação: educação formal e educação não formal. A primeira ocorre
na escola, a segunda nos demais ramos da Educação Física. Os professores
que nele atuam, acatam as determinações legais e articulam-se com o campo
de atuação profissional de cada área.
Steinhilber (2006, p.20) descreve as diferenças entre as formações,
destacando que o licenciado “Será formado exclusivamente para atuação na
Educação Básica em suas diferentes etapas e modalidades com atuação
específica no campo da Educação Física” e que o bacharel atuará nas
“Diferentes manifestações da atividade física e esportiva, tendo por finalidade
aumentar as possibilidades de adoção de um estilo de vida fisicamente ativo e
saudável, estando impedido de atuar na Educação Básica”.
Segundo Figueiredo (2009, p.2) “Os currículos dos cursos de formação
de professores ainda são utilitários e normativos”, o que dificulta mudanças no
processo de adequação dos currículos as novas concepções de formação de
professores visando “Possibilidades de se pensar e vivenciar a formação como
espaço de reconstrução das identidades pessoais e sociais dos professores
(FIGUEIREDO, 2009, p.2)”, o que ajudaria a preparar o futuro professor para o
exercício profissional a partir de sua identidade.
O currículo pedagógico dos cursos de licenciatura para formação de
professores que irão atuar na Educação Básica ressalta os trabalhos
desenvolvidos nos contextos escolares e auxilia o aluno na compreensão das
dimensões da profissão que estão por assumir. Pimenta (1999, p.16) descreve
que a formação docente apresenta novos caminhos, ressalta a autora “Um
deles refere-se a discussão sobre a identidade profissional do professor, tendo
como um dos aspectos a questão dos saberes que configuram a docência”,
40 A palavra Universidade está substituindo o nome da Instituição pesquisada.
129
auxiliando o aluno na compreensão dos saberes pertinentes a docência, suas
aplicações, suas responsabilidades e influências como um futuro formador que
irá atuar junto as escolas.
O tempo de graduação tem por característica desenvolver um perfil
profissional nos alunos em formação e este perfil desenvolvido ao passar do
tempo poderá contribuir para a atuação profissional do aluno em sua área de
atuação.
Em relação ao perfil profissional desejado do futuro professor de
Educação Física, os professores destacaram pontos do que consideram ser
primordial para que os alunos alcancem uma satisfatória conduta profissional
na área.
Destaca o prof.A: “Eu considero, por exemplo, a Ética, porque o profissional tem
que ser ético, o professor tem que ser ético, ele tem que transmitir valores, porque ele está
trabalhando com pessoas, ele tem que ser uma pessoa que tem compromisso, tem que ter
formação continuada, porque ele trabalha com conhecimentos e como ele trabalha com
pessoas, ele tem que estar constantemente renovando seus conhecimentos e buscando novos
conhecimentos, ele tem que estar sempre pronto a aprender a aprender, porque ele vai
transmitir esse conhecimentos. E na aula dele, quando ele está trabalhando a aula em si, os
diversos conteúdos, são situações que vão aparecer nas diferentes ordens, então isso são
pontos que o professor de Educação Física tem que ter essas questões dos valores, a questão
do compromisso, do conhecimento. Ele tem que ter a capacidade de organização e
planejamento, ele tem que ir lá dar sua aula, mas tem que transmitir o conhecimento, que isso
é o fundamental, porque nós, a Educação Física em si, não pode mais ser vista como jogar a
bola, quando eu digo jogar a bola, é jogar a bola entre aspas, jogar a bola não precisa de um
professor, o professor está lá para ensinar como jogar bola, vamos dizer assim, todas as
situações devem estar envolvidas. Surge uma situação lá em uma brincadeira, o professor
pode pegar aquela situação e trazer para uma discussão e por os prós e contras daquela
situação, a situação do perder e do ganhar, tudo isto você pode trabalhar na Educação Física,
então Educação Física não pode ser resumida como correr, pular, jogar e saltar, ela tem uma
dimensão muito maior (Prof.A)”.
Para o prof. B “A conduta profissional depende do professor, da responsabilidade
dele, dos objetivos dele, ser ético. Cada professor tem seu pensamento com relação a uma
situação ética ou não, ele é quem faz o julgamento de como ele vai interpretar uma situação
(de uma forma ou outra). Primordial é a consciência do profissional, quando do julgamento de
uma situação, de uma forma ou outra, mas isto vai variar de profissional para profissional
(Prof.B).”
130
A profª C ressalta sua opinião a respeito da sua disciplina comentando:
“Primeiro, dentro da minha área, que seja um profissional responsável, porque com piscina,
você sabe que a atividade é, às vezes, perigosa, principalmente com crianças que nunca
tiveram acesso a piscinas, elas estão entrando lá na escola, pela primeira vez vão ter aula de
Natação, então ele tem que ser extremamente responsável e extremamente cuidadoso. É
claro, ele tem que ter conhecimento básico da atividade, senão ele não vai conseguir aplicar as
aulas, ele tem que ser atencioso, tem que ter uma boa base de Natação também, porque
aquilo que eu falei, eventualmente se algum aluno der algum problema ele tem que prestar o
socorro e tem que auxiliar imediatamente. O aluno tem que ser disciplinado e montar um bom
planejamento de aula para poder exigir que os seus alunos façam também (Profª.C).”
Na opinião do prof.D, “A competência teórica cientifica tem que ser aliada a
valores, não adianta ser extremamente competente e não saber lidar com as pessoas. Eu vejo
que um docente tem que gostar do ele faz, tem que ter afetividade com seus alunos, tem ser
uma pessoa que tenha mais virtudes do que defeitos. Aliar competência técnica e profissional e
cientifica com valores e virtudes e essa competência cientifica, profissional, técnica ela é
processual e depende de uma formação continuada, então você tem que continuar estudando
o tempo todo, voltar para Universidade novamente, tentar seguir uma carreira acadêmica, fazer
uma Pós, um Mestrado, isso vai te dando muita competência para trabalhar (Prof.D)”.
Aos professores atuantes como formadores do futuro professor de
Educação Física, foi perguntado sobre as suas perspectivas em relação ao
perfil profissional desejado desses alunos. Esclarecem os professores:
O prof. E se expressa dizendo: “Eu uso uma palavra principal que é respeito.
Respeito ele é primordial para tudo, então se você pegar o respeito, você pode jogar fora até
os 10 mandamentos da Bíblia, porque respeito mata todos eles. Quando você fala do aluno, eu
estou falando de respeito ao aluno, respeito ao professor, respeito no mercado de trabalho.
Então eu acho que o principal, acima de tudo, acima de conteúdo, é respeito mesmo com as
pessoas, estar num ambiente de respeito (Prof.E).”
O prof. H nos traz o seguinte destaque em seu discurso: “Talvez pelo fato
de eu ter vindo da luta também, porque a vida toda eu fui atleta de judô e tive essa influência
forte da parte filosófica do judô, eu vejo assim, que é aquelas coisas dos valores cardiais, os
valores não são ensinados, mas se aprende os valores por exemplos. Então eu me preocupo
muito com a minha postura profissional com os alunos, ás vezes, até eu sou um pouco mais
exigente do que os outros professores, no momento que é para ser amigo eu sou amigo, mas
eu sempre me preocupo em estar dando um exemplo, demonstrando um exemplo em relação
a lisura, a valores. Eu tenho visto hoje, aqui quando a gente recebe os alunos na graduação, a
131
carência que existe desses valores, da postura de fato como adultos, como pessoas maduras,
como homens de bem e a Luta41, de uma forma geral, ela tem esse preceito muito forte. Então
eu procuro andar dessa forma pelo menos para dar um exemplo e espero de coração que eles
absorvam alguma coisa e levem isso para prática profissional deles, é o máximo que eu
consigo fazer (Prof.H).”
O prof. I relata a seguinte colocação: “Eu acho muito legal o que o Reitor da
nossa Universidade fala: que a Universidade deve dar um diploma de gente boa, também. O
que é formar gente boa? É os alunos verem o professor como “mestre” e não somente um
professor. Entendo que a aprendizagem é maior quando você tem um mestre e seus
discípulos. Você divide mais. E também tem as questões éticas, morais, que estão todas
envolvidas na conduta profissional. Entendo também, nas palavras de um colega de profissão
que diz: precisamos ter amor na acepção mais ampla pelo outro (Prof.I).”
Os professores destacaram o que consideram importante no perfil de
formação do professor e/ou profissional de Educação Física comentando sobre
a Ética profissional, o compromisso com a docência e com a profissão, a
transmissão de valores através de exemplos e condutas, a busca pela
continuidade e aprimoramento de sua formação, por consequência sua
qualificação profissional, a responsabilidade e a consciência profissional, a
disciplina e o respeito em todos os âmbitos, sejam eles, pessoais ou
profissionais.
Outro tópico comentado foi que o professor dever gostar do que faz,
gostar de lecionar e interagir com os alunos sempre com competência técnica e
profissional, exercendo sua autonomia para as decisões e adequações as
situações que lhe sejam apresentadas em sua área de trabalho, seja dentro ou
fora da escola. O professor deve desenvolver um vínculo pessoal com a sua
profissão, se dedicando a ela e ao seu aperfeiçoamento.
O professor formador trabalha com sua presença pessoal na totalidade
e se apresenta perante aos alunos, não apenas como um professor que
transmite conhecimentos teóricos e/ou práticos, mas que também atua por sua
conduta profissional, demonstrando aos alunos as melhoras formas de se
tornar um futuro formador que considere seus futuros alunos não apenas mais
41 O professor está se referindo a sua disciplina.
132
um número em sala de aula e sim uma pessoa única, com suas virtudes e
diferenciações.
Compreende-se que a formação de professores não pode ser pautada
apenas nas aprendizagens práticas e teóricas, esquecendo-se da formação
humana do aluno, pois este se encontra em uma busca de conhecimentos não
apenas de cunhos profissionais, mas também pessoais para o alcance de sua
realização pessoal.
Juliatto (2005) destaca a ideia que o desenvolvimento integral da
personalidade dos estudantes está ligado a organização e realização das
experiências de ensino e aprendizagem. Juliatto (2005) expõe também:
Os indicadores de processo incluem elementos como a organização do currículo, conteúdos de instrução, métodos de ensino, exigências acadêmicas e outras iniciativas da escola, destinadas a realçar o crescimento acadêmico e pessoal dos estudantes. Esses componentes visam a produzir efeitos desejáveis de diferentes tipos, incluindo o desenvolvimento psicomotor, a habilidade da memória e o pensamento sintético e analítico. Eles se destinam a desenvolver pessoas informadas, sensíveis e criativas, com visão aberta para o mundo (JULIATTO, 2005, p. 107).
Ao curso de formação de professores está destinado não apenas a
formação do profissional, mas também o auxilio na formação humana,
preparando o aluno para assumir seu papel docente junto às escolas e o tempo
de graduação produzirá no aluno transformações, através dos novos
conhecimentos adquiridos e do seu amadurecimento pessoal, que os
conduzirão em sua prática profissional.
Outra questão da pesquisa foi entender, na visão dos coordenadores
do curso, o que eles consideram ser preciso para uma completa formação
universitária hoje a fim de se alcançar o objetivo de uma formação de
professores comprometidos com a docência.
Segundo a professora F “Inicialmente, o grupo de professores entenderem o que
é formar um profissional. Acho que os professores são a chave da qualidade de um trabalho,
porque não adianta nós termos grandes equipamentos, espaço, se o professor não souber usar
disso para dar aula, é o primeiro ponto. Segundo ponto é uma proposta pedagógica
extremamente atual e que enxergue sempre o mercado, que veja a necessidade do que está
lá, então o currículo tem que ser atualizado constantemente, ele não pode ser uma coisa que
se faça e permaneça por muitos anos, tem que perceber o dinamismo do mercado de trabalho
133
e das necessidades e ter uma responsabilidade sobre aquilo que estamos fazendo, sobre a
formação e a qualidade daquilo que estamos ofertando. E aí ter ensino, pesquisa e extensão,
senão não estamos cumprindo a base, os pilares que a Universidade tem que cumprir para
alcançar uma boa formação universitária. O curso oferece aos alunos o acesso a um programa
de iniciação cientifica onde nós temos os grupos de pesquisa aqui no curso que é bastante
forte, pena que ele acaba se restringindo a um número pequeno de alunos, porque eles não
dispõem de tempo, a maioria dos alunos tem que trabalhar para pagar a faculdade, então
poucos dispõem de tempo para se envolver com pesquisa, mas aqueles que vêm,
permanecem. E a segunda são os programas de extensão, que a própria Universidade oferece
várias possibilidades e o curso tem tentado fazer isso da melhor forma possível para atender a
necessidade que o aluno tem de buscar outras perspectivas além de sua formação inicial
(Profª.F).”
O prof. G comenta a respeito da formação dos professores
universitários, expondo suas preocupações a respeito e salientando que esta é
uma questão muito difícil de ser respondida, devido a sua complexidade. Expõe
o professor: “Essa é pergunta mais difícil que você me fez. Porque eu tenho pensado muito
sobre isso, é até uma coincidência você falar sobre isso, porque eu oriento também no
mestrado e no doutorado, também em outra Universidade que eu trabalho além daqui, então
eu também trabalho na formação superior e eu vejo também o perfil de alunos de mestrado e
doutorado, eu tenho colegas aqui e na outra Instituição que atuam há anos e começamos a ver
vantagens e desvantagens de cada experiência, então eu acho que a formação acadêmica
sólida é fundamental, ela é importante mesmo, e eu não digo necessariamente um excelente
pesquisador, mas uma formação acadêmica sólida. Eu acho que ele tem que ter experiência
acadêmica em diferentes Instituições, eu vejo, por exemplo, que fazer a graduação na
Universidade X42 especialização, mestrado e doutorado na mesma Instituição, não te dá uma
boa experiência acadêmica, porque você fica com uma visão muito restrita do mundo
acadêmico. Os colegas que eu tenho aqui na Instituição, por exemplo, que fizeram graduação,
especialização e mestrado aqui, eles tem muita dificuldade em inovar, em ousar e olhar além
do óbvio e eu não os culpo por isso, porque eles tiveram essa formação aqui, enfim, por
situações que os levaram a isso e isso dificulta a mudança, então eu acho que tem que ter uma
formação acadêmica em diferentes Instituições, acho que isso ajuda muito. E um outro aspecto
que ajuda muito na experiência de atuação profissional fora do mundo acadêmico, então é
difícil mesmo um professor que trabalha na Licenciatura, ainda que tenha uma sólida formação
acadêmica, mas que nunca tenha vivido os problemas do mundo real na escola, ter trabalhado
com crianças, com adolescentes, com problema com diretor, com falta de material, enfim, é
difícil ele transpor essa barreira para os seus alunos, então é quase um super homem, mas é
possível eu acho, essa que é a minha visão hoje, não estou bem certo disso ainda, porque eu
42 X está substituindo o nome da Universidade Pesquisada.
134
tenho refletido um pouco sobre essa pergunta que você tem feito, mas hoje, no dia 15 de
outubro é essa a minha opinião, mas ela está em movimento ainda, está em processo
(Prof.G).”
Os professores/coordenadores destacaram alguns tópicos para que a
formação de professores aconteça na Universidade auxiliando os alunos a se
tornarem professores comprometidos com a sua formação, destaca a
professora F que para uma completa formação universitária hoje seria
necessário uma junção dos requisitos básicos: um currículo atualizado, que
esteja em consonância com as necessidades da sociedade e que atenda a
legislação; um trabalho adequado dos professores formadores e uma variada
gama de projetos de extensão para que o aluno possa ampliar o seu acervo de
conhecimentos, dentro de uma proposta pedagógica atual e visionária para se
adequar as mudanças que ocorrem constantemente no ensino e também no
mercado de trabalho, ligados aos pilares da educação que são o ensino, a
pesquisa e a extensão em busca de uma boa formação universitária.
Na visão do professor G, o professor formador deve ter experiências
acadêmicas em diferentes instituições de ensino, porque isso ajudará ao
professor a ampliar seus conceitos, suas experiências e suas fundamentações
profissionais para vencer o desafio de compreender a real finalidade da
formação de professores e poder aplicá-la de forma eficaz em suas atividades
teóricas e/ou práticas, proporcionado ao aluno em formação bases que lhe
darão segurança em sua atividade profissional. A formação acadêmica sólida e
continuada é um ponto forte e fundamental do comprometimento profissional e
a mesma deveria acontecer em diferentes instituições para auxiliar o professor
a desenvolver visões diferenciadas sobre o ensino. Outro ponto destacado pelo
professor foi a questão da experiência profissional fora do mundo acadêmico,
pois segundo ele isto auxilia o professor a um aprofundamento realista do
contexto a qual o aluno irá se inserir e proporciona ao professor maior
propriedade e segurança para expor aos alunos as particularidades do
ambiente.
Devemos considerar que no processo de ensino o professor não se
encontra sozinho, ele é envolvido por situações diferenciadas a cada dia junto
135
aos alunos que constituem um papel fundamental neste processo e traz ao
professor novos desafios a serem transpostos.
Na pesquisa buscou-se a compreensão de diversificados aspectos deste
processo da formação de professores da área da Educação Física. Junto aos
professores responsáveis neste momento por fazer parte da constituição desta
formação na Universidade pesquisada, verifiquei em suas concepções, como
eles veem o comprometimento com a docência dos futuros professores, alunos
ainda em formação. Os entrevistados destacaram seus pontos de vista
expondo:
O prof. A ressalta: “O que precisa é, tanto os professores e a Universidade como
um todo, estar imbuído do mesmo objetivo: formar bons professores. Aí tem a parcela do
envolvimento dos alunos que vem buscar sua graduação, que vem buscar sua formação e eles
entenderem qual é o papel do professor na sociedade. Ele realmente ser professor. Porque o
professor ele é fundamental na sociedade, é ele que provoca transformações, é ele que traz o
conhecimento, então diversas situações ele vai ser o ator principal, eu digo isso, eu uso até
esse termo, o ator principal, todo o processo começa com o professor, então ele tem que estar
comprometido com a docência. O aluno tem que se envolver, esse acadêmico tem que se
envolver, ele tem que saber o que ele quer da formação dele, porque a sociedade, a escola,
está esperando ele lá fora e ele tem que ter uma boa formação, tem que assumir o papel de
professor, o papel de docente, então é um envolvimento e ele tem que entender que a
Universidade é apenas um momento, eu costumo dizer que a escolha por ser professor
envolve uma situação: o estudar sempre! Pois professor tem uma exigência: tem que estudar
sempre. Se você não estudar não há como você ser professor. Então essa docência ela vai se
formando e ela vai se dando ao longo dessa formação acadêmica na Universidade e a
formação continuada, seja numa pós-graduação e a todas as ações de formações que ele irá
buscar, então isso é necessário, ele tem que ter essa consciência e nós professores da
Universidade, nós temos que provocar isso neles, que eles tem que estudar continuamente
para serem bons professores, ótimos professores. Não tem como ter uma sociedade, não tem
como ter um país livre, não tem como ter um país que alcance progresso, se não tiver bons
professores na Educação e a Educação tem que ter bons professores (Prof.A).”
O prof. B expõe: “Acho que a formação que tentamos passar, a formação técnica,
é bem complementada para alcançar este comprometimento todo. Em minha opinião o maior
comprometimento vem do aluno mesmo, ele ter a iniciativa. Acho que devemos criar as
situações para que eles tenham iniciativas, onde eles possam aplicar os conhecimentos. Mas
eles precisam ter a iniciativa de querer algo mais, não só se conformar com que é passado em
sala de aula, pois o tempo é muito curto. Então, às vezes, você passa a informação do start
136
inicial, e eles precisam ir extracampo, correr, buscar uma formação maior, para que ele
realmente tenha este comprometimento com a docência. Se ele ficar apenas com a informação
que passamos, acaba sendo pouco. O Estágio é importante, nele o aluno tem a oportunidade
de ter uma situação problema lá na escola, e ele tem que buscar a informação para aquele
problema, e daí que ele vê realmente como funciona o processo (Prof.B)”.
A profª. C destaca: “Você precisa ter conhecimento e saber como passar esse
conhecimento para seu aluno, como que é a didática necessária, que pedagogia você tem que
utilizar para que o aluno se envolva com tudo aquilo que você pretende e é claro que não
adianta você conhecer só como funciona, tem que saber passar isso, você tem que saber
corrigir, saber explicar, saber demonstrar, então tudo isso é extremamente importante. E dentro
da Licenciatura, busca-se de uma maneira geral, dar a ideia para o aluno que a Natação é
apenas um meio, não é um fim e que é uma forma de você formar um cidadão também, ou
seja, desde a parte técnica, que pode um dia auxiliar ele numa situação difícil dentro da água,
até a questão da sociabilização que ele vai ter com os colegas, a auto satisfação, a própria
manutenção da saúde que futuramente ele pode ter através do esporte (Profª.C).”
Comenta o prof. D: É você ter num primeiro momento, uma Universidade com
estrutura e com profissionais competentes para habilitar novos profissionais. Hoje nós vemos a
Educação Física, se não me engano, hoje tem 10 cursos de Educação Física aqui na cidade de
Curitiba formando profissionais, eu acredito que a maioria desses cursos não tenham uma boa
estrutura e nem profissionais competentes para formar futuros profissionais, então eu acho que
aí deveria ser obrigação do Ministério da Educação de não deixar que isso aconteça da
maneira como vêm acontecendo, essa criação de cursos a todo momento e parece que existe
um interesse mercadológico nisso, as Universidades, às vezes, tem um interesse muito
econômico mesmo, ter nichos de mercados para elas, de ter mais alunos e em contrapartida
elas não tem estrutura, propostas e profissionais habilitados para dar aquela formação. Mas a
Universidade que tem boas estruturas e tem bons profissionais, com uma boa proposta para o
curso, seguindo as Diretrizes propostas para a formação de professores na Licenciatura e no
Bacharelado e bons professores para atuar nas diferentes disciplinas e isso talvez seja um
problema também, porque hoje ter titulação, ele é um mestre, é um doutor, e ele começa a
trabalhar com várias disciplinas pela titulação, mas ele não tem a competência necessária para
trabalhar com as várias disciplinas que ele esta ministrando aula, então além da titulação, o
profissional deve ter uma vivência naquela área no qual esta inserido. Na Educação Física tem
muito isto, não adianta eu ter titulação e dar aula de dança, por exemplo, sem estar envolvido
no meio da dança, não estou atualizado neste meio. O aluno então perceberá que o professor
tem titulação, mas não a experiência e estratégias para trabalhar aquela disciplina, então, além
da titulação é necessária a vivência prática (Prof.D).”
137
Buscando o entendimento sobre a questão do comprometimento dos
futuros professores, aluno ainda em formação com a docência, foi lançada esta
questão para a compreensão da percepção dos professores formadores a este
respeito.
Segundo o prof. E: “Não sei se é culpa do professor, se o sistema de ensino está
toda passando por uma revolução, agora com o ensino a distância, tem internet, os professores
ainda não sabem lidar com a internet, professor que não mexe com a internet, que já não
poderia estar no mercado de trabalho, pois é essencial hoje acompanhar a evolução. Eu digo
isso e, às vezes, as pessoas me dizem: há...você tá dizendo isso porque você é novo! Daqui a
pouco vai ter alguma coisa que eu não vou acompanhar e eu vou sair e vai entrar outro no meu
lugar. Então ou o professor se adapta ou se adapta. E outros professores que não sabem lidar,
é não saber lidar mesmo, porque hoje tem alunos com computador na mesa. Essa evolução
desfreada está acontecendo com médico, tem médico que fica preocupado porque o paciente
já chega para consultar sabendo mais que o médico porque ele já pesquisou no google e já se
informou a respeito do assunto, então eu não sei se esta mudança toda que está tão rápida e o
professor ainda continua com algumas práticas muito antigas e algumas eu acho que são
importante, mas talvez tivessem que ser vistas com outros olhos, eu estou falando de forma
geral, não estou dizendo pontualmente isto ou aquilo, e faz com que o aluno não goste mais de
assistir aquela aula tradicional, que queira mudar e eu acho que estamos ainda numa fase de
conflitos, o aluno não gosta daquilo, precisa da informação mais rápida e o professor ainda
passa a informação muito morosa e acaba tendo conflitos. Isso talvez tenha levado os
professores recém formados pensar: há...eu estou formado e daí? Por isso que eu falei que
dentro da minha disciplina eu tento trabalhar muito a parte de vendas para que ele chegue no
mercado e saiba vender e sabendo vender ele vai ter um comprometimento também, porque
ele vai ter um retorno, vão ter que vender com esta postura, desta forma, mas eu acho que não
estão prontos, porque eu vejo na pós graduação que eu dou aula que está muito aquém do que
eu gostaria que estivesse, talvez até eu esteja aquém também, não estou dizendo que estou
perfeito. Mas para as pessoas que eu estou ministrando pós e tenho contato eu tenho sentido
muito isso (Prof.E).”
Na opinião do prof. H: “Eu vejo o grande número de egressos que temos aqui na
Educação Física que acabam não permanecendo na profissão. Eu encontro vários alunos aí
fora e pergunto a eles: E aí o que você está fazendo? Há… professor, sou vendedor disso, sou
vendedor daquilo. Eu penso sinceramente que o máximo que podemos pode fazer aqui é
procurar fazer é o melhor possível no nosso trabalho, é dar a melhor aula possível, é dar o
melhor exemplo possível, me mostrar o mais motivado possível com a profissão, mas de fato,
eu percebo que muitos dos alunos acabam concluindo o curso e vão fazer outros cursos ou
138
vão trabalhar em outra área. Tem muita gente que não atua na profissão. Não sei te dizer, o
que responder nesta pergunta assim (Prof.H).”
E segundo o prof. I: “Entendo que estamos no caminho certo. Nosso currículo é
bom. Temos excelentes profissionais. Estamos no melhor momento da estrutura do curso, de
pessoas e profissionais que trabalham aqui. A Universidade está em um momento fantástico.
Sempre dá para fazer mais. Dá para mudar, sim, dá para mudar um monte. Entendo que o que
falta na Licenciatura é a ênfase nas questões biológicas do ser humano. Eu acho que não
precisa de tantas horas de Estágio para dizer que você é um bom professor. Acho que precisa
de outros subsídios, que te de capacidade de ser um bom profissional. Há pessoas que não
conseguem identificar as especificidades do jovem, da idade, mas tem condições de dar uma
boa aula. Mas entendo que há situações em que isto não é suficiente. Ele tem que saber o
porque ele está fazendo aquilo lá. E para saber ele precisa de Universidade, ele precisa de
conhecimento. Não basta ir para a escola e dar uma manhã de aula de Educação Física para
uma turma. Não vejo tanta necessidade em Estágio supervisionado. Penso que metade deste
tempo poderia ser utilizada para a parte biológica e outros pontos importantes. Talvez um
pouco mais de carga neste sentido. Mas estamos bem (Prof.I).”
Segundo os professores precisa haver um comprometimento geral na
formação de professores que deve acontecer em todas as áreas, sendo elas a
própria Universidade, o curso em si, o professor formador e especialmente do
aluno em formação, em que todos devem buscar um constate aprimoramento a
fim de alcançar os objetivos propostos, que é formar bons professores.
Também foi destacado que o comprometimento com a docência se dá
por meio do aperfeiçoamento constante do professor. O comprometimento
profissional do professor acontece também através do desenvolvimento
didático. O professor deve sempre buscar se atualizar não só dentro de sua
área de atuação como também na compreensão das relações sociais e do
contexto sócio-econômico.
Um dos entrevistados aponta que o comprometimento com a profissão
docente parte do professor formador durante todo o processo educativo, que
busca transmitir aos seus alunos da melhor forma todos os conteúdos da
disciplina e passar para os alunos, não apenas conteúdos teóricos e práticos,
mas também o apreço pela profissão que eles virão a assumir. Caso não haja
este compromisso e interesse, muitos alunos poderão optar por assumir outra
profissão, abandonado a docência.
139
Outro ponto de destaque é a opinião do professor I que se mostra
controverso a tantas horas de Estágio curricular, justificando que o aluno de
Educação Física necessita de mais conhecimentos na área biológica e no
desenvolvimento do ser humano para auxiliá-lo na compreensão do que está
fazendo e porque está fazendo, tornando-o um bom professor e/ou profissional
da área.
Este comprometimento docente poderá ser construído não só através
da formação inicial, mas também de todo processo educativo do professor, de
suas habilidades profissionais, atitudes e valores pessoais que como cita
Pimenta (1999) sobre a natureza do trabalho docente na formação dos
professores nos cursos de licenciaturas:
(...) espera-se da licenciatura que desenvolva nos alunos conhecimentos e habilidades, atitudes e valores que lhe possibilitem permanentemente irem construindo seus saberes-fazeres docentes a partir das necessidades e desafios que o ensino como prática social lhes coloca no cotidiano (PIMENTA, 1999, p.18).
Assim compreende-se que o curso de licenciatura deve proporcionar
aos alunos saberes e experiências da prática profissional docente
proporcionado ao futuro professor do Ensino Básico uma base de
conhecimentos e experiências acadêmicas que auxiliem em sua função
docente.
140
4 IMPASSES PARA O CURSO
Neste capítulo apresento, na percepção dos
professores/coordenadores do curso de Educação Física, o que eles relatam
sobre as dificuldades que o curso apresenta e os impasses vivenciados pelo
curso e pelos professores formadores.
Os cursos de licenciatura vêm passando por modificações ao longo dos
anos objetivando a melhora na qualificação dos docentes que irão atuar junto
aos alunos em formação nas escolas.
O processo de reestruturação dos cursos visando a separação das
áreas de formação aconteceram com o intuito de fornecer aos cursos um
direcionamento mais centrado das disciplinas aplicadas a cada área e por
consequência um aprofundamento didático e metodológico para atender aos
nichos do mercado de trabalho e do ensino educacional, pelo menos é esta a
ideia transmitida pelos órgãos educacionais responsáveis pela reestruturação
dos cursos, entre eles o de Educação Física.
Apesar de encontrarmos hoje uma desvalorização pelos cursos de
licenciatura, entre eles o de Educação Física (Ver
Quadro 2 - Inscritos para o vestibular no curso de Educação Física
de 2000 a 2010. não pode se deixar de destacar a grande importância da
profissão docente e sua influência no meio social, pois é através do professor
que se inicia o processo de aprendizagem sistematizada em um local
desenvolvido para a aplicação do ensino metodológico, ou seja, as escolas.
A formação de professores para atuação na Educação Básica, apesar
de ser alvo constante de reformulações visando o aprimoramento desta
formação ainda não consegue conquistar um público maior para o acesso aos
cursos de licenciaturas. Freitas (2007) esclarece que a escassez de
professores é um problema estrutural e segundo a autora “Produzido
historicamente pela retirada da responsabilidade do Estado pela manutenção
da educação pública de qualidade e da formação de seus educadores (p.1207),
o que ajuda a justificar o desinteresse dos futuros acadêmicos pelos cursos de
licenciaturas.
141
Gatti (2009) nos mostra que o professor é um profissional que trabalha
em várias dimensões influenciando a sociedade na área econômica, politica e
cultural e complementa salientando que “O ensino escolar há mais de dois
séculos constitui a forma dominante de socialização e de formação nas
sociedades modernas e continua se expandindo (p.15)”, então se compreende
um pouco mais a grande importância dos cursos de licenciaturas manterem
seus currículos de formação de professores para Educação Básica sempre
determinados a atender as necessidades de formação dos futuros professores
que estão sendo capacitados para acessar o sistema de ensino.
Freitas (2007) comenta sobre a formação de professores expondo que
há a necessidade de formar professores fundamentados nas Ciências da
Educação e na teoria pedagógica para fortalecer as bases da formação
educacional:
Uma formação de base cientifica e técnica em condições de igualdade para todos, é condição para forjar uma nova qualidade da formação dos educadores, que não se reduz a “treinamento”, para lidar com os complexos processos na formação da infância e da juventude (FREITAS, 2007, p.1221).
Assim compreende-se que o processo de formação de professores
para atuação na Educação Básica, não deve estar centrado apenas em um
eixo formativo, mas sim propiciar ao aluno em formação, experiências relativas
ao saber docente que os conduzam a reflexão da prática pedagógica e possa
tornar o professor um profissional consciente, que reflita sobre a sua prática
educativa e aplique aos seus alunos experiências condizentes ao que ele
aprendeu em seu tempo de formação, desenvolvendo uma docência pautada
em fundamentos teóricos e práticos para assim desenvolver um trabalho
formativo consciente e significativo.
A formação dos futuros professores que atuarão na Educação Básica
se encontra diretamente ligada ao curso de licenciatura que auxiliará o aluno a
buscar em sua formação subsídios que ajudem a exercer sua profissão.
Na busca de entender quais as dificuldades mais latentes no curso de
Licenciatura e de Bacharelado no curso pesquisado, perguntou-se aos
professores/coordenadores do curso de Educação Física, o que eles
142
destacariam no curso em geral e específico como dificuldades que o curso
apresenta. A este respeito, obtiveram-se os seguintes relatos:
Professora F: “Acho que estamos esbarrando como a maior parte dos cursos, com
a formação básica que os alunos trazem para Universidade, é uma dificuldade com
interpretação, com leituras, também isso é uma coisa que acaba resultando de uma concepção
errada, muita gente vem fazer Educação Física achando que a Educação Física é um curso
que só se fazem aulas práticas e que não há um processo de estudos e eles acabam
esbarrando nessa dificuldade de enfrentar disciplinas que são teóricas e que são fundamentais
para a sua formação, então esse é um dos problemas. O segundo, a questão da interpretação
que se dá para a Licenciatura e para o Bacharelado. O mercado ainda coloca algo imaginário,
que o Bacharelado é mais importante que a Licenciatura, porque pode se trabalhar em
academia, pode ser personal, pode ser uma série de coisas e o licenciado ele vêm com a
perspectiva que ele só vai trabalhar com a escola e ele acha que inicialmente esse trabalho
não é importante, então tem um trabalho de conscientização deles. E as dificuldades que são
inerentes ao dia a dia de dar aula, o aluno que não quer estudar, a falta de comprometimento
dos próprios alunos, então são as dificuldades do cotidiano (Profª.F).”
Professor G: “Os alunos que optam por Licenciatura tem um perfil muito
diferenciando em relação ao Bacharelado, eles já optam via de regra, sabendo que eles vão se
formar como professores de Educação Básica e para isso ele já vêm com esse perfil para o
curso e tem uma maior dedicação a sua formação, então eu acho que isso tem sido uma grata
surpresa, não é uma dificuldade. Talvez a maior dificuldade seja quando o aluno começa a sair
da Universidade para ir para aos campos de Estágios e começa a se deparar com diferenças
entre aquilo que imaginamos como mundo idealizado na Universidade e aquele mundo real
que você se depara na escola, então quando o aluno começa a ter essa transição e quando
eles voltam pra Universidade nas discussões de Estágio é que tem uma dificuldade maior
devido aos conflitos e percalços encontrados no caminho. E no Bacharelado, devido os alunos
terem um perfil diferente do licenciado, eles demoram a ter uma atitude mais crítica, mais
reflexiva sobre sua atuação profissional. Os licenciados são mais críticos um pouco, refletem
mais. Os alunos de Bacharelado, eles são menos críticos e mais imaturos, demoram um pouco
mais para se constituir enquanto profissionais, essa é a impressão que eu tenho, agora é claro,
é bem subjetivo, mas isso é o que eu tenho percebido mesmo (Prof.G).”
Segundo os professores/coordenadores da Educação Física algumas
dificuldades do curso se apresentam de forma genérica, como por exemplo, a
dificuldade dos alunos em amadurecerem na Universidade, tomando
consciência de que estão se preparando para assumir uma postura profissional
143
após sua formação, levando o curso de forma a não se preocupar muito com
os contextos apresentados a eles e apresentando dificuldades pedagógicas
como a interpretação de textos e leituras, pois entraram no curso de Educação
Física com uma expectativa a respeito da constituição das disciplinas, tendo a
concepção de que o curso seria basicamente composto por disciplinas práticas
e com pouca teoria, o que acaba gerando desmotivação dos alunos.
Outra questão comentada foi a escolha mais acentuada pelo curso de
Bacharelado do que a Licenciatura, pois a mídia pode influenciar fortemente a
escolha dos alunos, que em sua grande maioria são adolescentes ainda em
processo de maturação e com muitas dúvidas a serem elucidadas e durante
este processo se torna mais fácil exercer influências sobre as escolhas dos
alunos. Segundo os professores os alunos já entram nos cursos com um perfil
pré-definidos e que no caso da Licenciatura os alunos já iniciam o curso
conscientes de sua formação para docência.
Outro ponto de destaque foi a questão da relação Teoria e Prática dos
alunos, pois como já foi destacado anteriormente, os alunos enfrentam um
confronto com a realidade que passam a conhecer e a frequentar durante os
Estágios e isso pode ser um gerador de conflitos.
Objetivando estabelecer os elementos de impasse que o curso de
Educação Física vivencia no cotidiano, a última dimensão pesquisada junto aos
professores/coordenadores objetivou destacar os principais problemas para e
no curso. Relatam os professores:
Professora F: “Internamente, nós temos um apoio imenso da Universidade, o curso
é bastante valorizado, nós temos uma infraestrutura muito boa para trabalhar, diferente de
outras instituições. Um problema que eu vejo, na Licenciatura de forma especifica, nós temos
um curso de quatro anos e outras Universidades estão oferecendo a Licenciatura em três anos,
porque é a carga horária mínima exigida pelo Ministério, que é 2880h. Então a cursos que
conseguem fazer isso em três anos e aí nós enfrentamos um dilema dos nossos alunos
perguntarem por que o nosso curso tem quatro anos se ele poderia pagar três em outra
instituição. Então nós vivemos o dilema de tentar explicar para o aluno que o curso oferece
mais horas de aulas e que ele está ficando um ano a mais porque ele está tendo outros
conhecimentos além do mínimo necessário exigido. Mas eu não vejo que tenhamos grandes
problemas, até porque o grupo é muito sério, os professores são muito responsáveis, é um
grupo que não falta, que cumprem horário, que realmente dá aula. Eu não vejo nenhum
144
problema internamente, só acho que temos problemas quando fica esta comparação com o
que acontece lá fora (Profª.F).”
E para o profº G: “Os problemas para o curso são relacionados a capacidade do
curso se adaptar as mudanças que a sociedade passa, que essa adaptação é um problema de
todos os cursos, não é só da Educação Física, porque os currículos não se movem na
velocidade que a sociedade se move e por outro lado nós também não conseguimos antecipar
rapidamente esses movimentos, então acho que este é um problema para o curso. É realmente
poder trabalhar com a formação que seja correspondente com aquilo que a sociedade precisa
agora e particularmente, o prognóstico do que a sociedade precisa num médio prazo e longo
prazo, porque temos que dar recursos para os alunos se adaptarem a essas mudanças. Claro
que não vamos correr atrás de cada novidade, não é isso, mas precisamos preparar o aluno
para trabalhar com as mudanças que estão ocorrendo, então eu acho que estas são as
dificuldade para o curso. E no curso, a dificuldade no curso é você poder ter coesão suficiente
para entender que mudar é necessário, a dificuldade no curso é também a mudança, porque
nem todos os profissionais que estão aqui, e isso é da natureza humana, consegue receber a
mudança da maneira como algo desafiador e que pode ser motivante, muitas vezes recebem a
mudança como um desconforto, que isso paralisa ou provoca reações negativas, então na
minha opinião, a maior dificuldade no curso é isso (Prof.G).”
A busca pelo aprimoramento dos cursos de formação de professores
exige a preparação de um ambiente de ensino e aprendizagem que muitas
vezes contrasta com a simples construção de um produto que apresente
condições econômico-financeiras favoráveis. Segundo a Profª F, o curso objeto
de estudo, prima pela qualidade na preparação dos seus alunos, em detrimento
a simples oferta de um produto mais atraente ao mercado, oferecendo aos
alunos mais conhecimentos e experiências para sua formação profissional.
Entende-se que a oferta adequada de infraestrutura em um espaço temporal
que permita ao aluno desenvolver-se, em um processo acadêmico adequado,
como destacado por Schwartzman (2000), é a chave para a oferta de cursos
que primem pela qualidade na formação de seus alunos.
O Prof. G. destaca o perene desafio em que todos os cursos se
defrontam: a necessidade da constante atualização, para a adequação
curricular frente às novas tecnologias, novos paradigmas e arranjos sociais.
Nesta dimensão, há que se destacar a natural busca pelo novo, como
demonstrado por estudos antropológicos, destacados por Konder (2002) que
mostram que os homens têm uma tendência “espontânea” a “descobrir” o que
145
é o mundo que os circunda, a conhecer, a buscar compreender o que é esse
mundo, buscando nos cursos de formação, subsídios que possam auxiliá-los
em sua inserção no campo profissional. Então a maior dificuldade para o curso,
apontada pelo professor G, é corresponder a uma formação de professores
e/ou profissionais de Educação Física que corresponda com as novidades de
mercado e as mudanças ocorridas nos campos de atuação, ou seja, na
Licenciatura e no Bacharelado, tendo que adaptar o currículo a atender estas
demandas. E as dificuldades no curso é a necessidade de mudanças, que nem
sempre são bem aceitas, porque podem gerar um desconforto da situação
primária onde os professores se encontram.
Cabendo, portanto, aos coordenadores e professores a busca pela
construção e identificação do conhecimento relevante para a área de atuação,
na difícil missão de formar o futuro professor e/ou profissional de Educação
Física que atuará na Educação Básica ou nos demais ramos profissionais da
área.
4.1 INFERÊNCIAS A PARTIR DA ANÁLISE DOS DADOS
Este tópico trata de pontos de inferências das falas dos professores
formadores na sua concepção sobre a formação do licenciado em Educação
Física, obtidas pela análise das entrevistas fundamentadas com o referencial
teórico estudado. Igualmente, a análise considerou leis e diretrizes que
embasam o curso de Licenciatura em Educação Física geral e específico do
curso o qual foi pesquisado. Soma-se a estes dados, a experiência acadêmica
da pesquisadora em seu tempo de graduação e pós-graduação. Após a
transcrição, textualização e interpretação dos relatos dos professores
entrevistados, foi possível alcançar um aprofundamento das informações
obtidas e realizar uma análise a fim de compreender através da visão dos
professores formadores, como acontece o processo da formação de
professores no curso de Licenciatura em Educação Física da Instituição
pesquisada.
Uma questão preocupante é a desvalorização da área da Licenciatura
em Educação Física, considerando que a procura pelo curso de Licenciatura é
146
menor do que o curso de Bacharelado, pois os futuros acadêmicos, já optam
pelos seus cursos, tendo uma visão pré-estabelecida do que é ser professor de
escola e veem nesta carreira elementos que consideram desmotivantes, como
por exemplo: remunerações que não atendem as expectativas salariais dos
professores quanto a sua carga de trabalho tanto profissional como burocrática
dentro das escolas, fazendo com que os professores não trabalhem apenas na
carga horária de trabalho na escola, mas também além dela para preparar
aulas, corrigir provas e trabalhos, desenvolver projetos, entre outras atividades
extras curriculares.
Existe também, segundo relatos, a dificuldade dos alunos em formação,
superarem os conflitos com a realidade do cotidiano escolar, o que desmotiva
os alunos a permanecerem na profissão docente e nela se especializarem,
acontecendo uma procura também pelo curso de Bacharelado em Educação
Física, após sua formação em Licenciatura, para assim obter duas formações
na área e estar apto a atuar em qualquer campo destinado a profissão da
Educação Física.
A separação das áreas de atuação promoveu uma distinção do perfil
dos alunos e na forma de trabalhar os conteúdos e atividades para a área.
Facilitou ao professor formador a organização e aplicação de conteúdos mais
específicos visando a fundo a formação docente, pois houve um aumento na
carga horária das disciplinas pedagógicas específicas do curso, o que auxiliou
o professor a trabalhar de forma mais complexa os conteúdos relacionados a
formação do professor de Educação Física que atuará na Educação Básica,
dispondo aos alunos contribuições mais específicas e direcionadas a uma
formação centrada na constituição do professor de Educação Física Escolar e
seu desempenho docente e profissional em sua área de atuação.
O curso centrou os objetivos de uma formação pedagógica, tendo um
envolvimento maior e comprometido dos alunos da Licenciatura em suas
atividades práticas.
Esta separação das áreas de formação contribuiu para o
aprofundamento dos conteúdos desenvolvidos e facilitou a aplicação prática,
pois é possível centrar em um campo profissional distinto, no caso da
Licenciatura, a escola. A formação deixou de ser generalista e passou a ser
mais específica, formando o professor de Educação Física Escolar.
147
Houve um aumento na carga horária das disciplinas pedagógicas
específicas do curso, o que auxiliou o professor a trabalhar de forma mais
centrada os conteúdos relacionados a esta formação possibilitando um
conhecimento mais aprofundado da área escolar e suas peculiaridades.
Os conteúdos foram organizados sistematicamente para que os alunos,
futuros professores, consigam elaborar as informações necessárias a preparar
e aplicar uma aula, buscando desenvolver em seus alunos as potencialidades,
assim como uma convivência social e participativa através da prática de
esportes.
A Licenciatura ruma para uma formação que propicia ao aluno um
melhor entendimento da profissão docente e sua especialização como
professor. Isso aconteceu com a ampliação de horas aulas destinadas a
Prática Pedagógica e aos Estágios supervisionados que acontecem no
decorrer do curso. Na reformulação a finalidade foi direcionar a formação do
licenciado para um efetiva atuação do professor dentro das escolas nas
diversas modalidades de ensino.
A formação de professores para atuação nas diversas modalidades de
ensino acontece seriada e gradativa, iniciando-se na Educação Infantil, onde os
professores formadores tratam dos conteúdos pertinentes a esta modalidade,
enfatizando em suas aulas o desenvolvimento da criança na fase que se
encontra, relacionando a sua idade, estágios de adaptação e aprendizagem,
para seu amplo desenvolvimento físico e psicológico. Nas disciplinas são
desenvolvidos conteúdos sobre a prática da educação física considerando a
faixa etária das crianças, adolescentes e jovens e suas características físicas e
biológicas, a fim de que o futuro professor possa identificar em seu aluno o seu
desenvolvimento e aproveitamento das aulas para intervir junto a eles de
acordo com as características específicas. Além disto, este professor poderá
identificar alunos com diferentes manifestações de desenvolvimento e diante
disto adequar as atividades de modo a favorecer e estimular este
desenvolvimento.
Compreende-se que apesar de haver um esforço por parte dos
professores formadores para que ocorra um aprofundamento na formação
docente, no entanto ainda se encontra uma formação direcionada para a
148
prática desportiva, havendo assim uma formação com encaminhamento mais
ligado a perspectiva técnica/instrumental da Educação Física.
Verificou-se que a relação Teoria e Prática acontece de forma
associada no curso, sendo a prática, na maioria das vezes, aplicada após o
desenvolvimento de conceitos teóricos para o embasamento da mesma. A
concepção é da teoria como guia da prática. Desta forma, os alunos são
preparados para se inserirem no cotidiano escolar e aplicar as atividades para
seus alunos.
Neste contexto acontece também o inverso quando os professores se
utilizam de outra estratégia partindo da prática, inserindo os alunos em
processos de observação da prática e então a discussão se sobrepõem ao
aprimoramento teórico. Quer dizer, os alunos relatam o que observaram e
coletivamente encontram nos referenciais possíveis explicações sobre o
observado. Sendo assim, constata-se que a teoria e a prática acontecem nas
disciplinas de forma associada. No entendimento dos professores isto
possibilita equilíbrio nesta relação Teoria e Prática.
No entanto, há discordância entre os professores quanto a
necessidade de tantas horas práticas no curso de Licenciatura, pois segundo
relatos, o curso apresenta muitas horas destinadas a atividades repetitivas,
como o estágio, por exemplo, deixando de aprofundar outros conteúdos que
são essenciais a prática da Educação Física e seus elementos norteadores,
com isso a Licenciatura em Educação Física acaba por perder um pouco suas
características particulares e se aprofunda mais apenas na formação do
professor geral e suas funções docentes.
Em relação à pesquisa como processo de formação do professor,
constatou-se que no curso acontece apenas uma iniciação a pesquisa, ou seja,
basicamente um conhecimento do processo. As pesquisas que são realizadas
no curso, conforme relatos, não são feitas com abrangência e aprofundamento
metodológico, caracterizando uma pesquisa inicial focalizada no trabalho de
conclusão de curso. Deste modo, o curso introduz os alunos na pesquisa, mas
não aprofunda a formação do professor pesquisador. A pesquisa é mais
evidenciada no curso de Bacharelado do que na Licenciatura, assim percebe-
se que principalmente no curso de Licenciatura investigado, não ocorre uma
intensa motivação para que os futuros professores venham a ser também
149
pesquisadores da área da educação e possam se tornar professores mais
motivados a pesquisar e então compreender melhor o seu campo de atuação
profissional.
Outra questão a destacar seria a compreensão do que é a
interdisciplinaridade. Os professores comentam que sim, existe a
interdisciplinaridade no curso e que ela acontece entre as disciplinas, no
entanto, verificando a organização do curso este mantém uma proposta
disciplinar. Assim, a relação entre os diferentes conhecimentos ocorre na
prática quando acontecem situações que propiciam atividades correlatas.
Existe sim um contato entre os professores, os quais algumas vezes, trabalham
conteúdos similares, complementando conceitos e aprendizagens estudados
em algum momento por outro professor e então acontece um aprofundamento
do assunto, enquanto a interdisciplinaridade busca superar a fragmentação dos
conteúdos em busca do alcance de um objetivo comum, mesmo com
conhecimentos diversos.
4.2 CONCEPÇÃO DA PESQUISADORA
Muitas foram as descobertas durante a Pesquisa realizada e muitas
foram as mudanças de concepção a respeito da formação de professores após
um aprofundamento no tema de estudos. Este trabalho permitiu que a
pesquisadora em questão se apropriasse de dados únicos que conduziram a
uma reflexão e conhecimentos a respeito do curso pesquisado e de
particularidades da Educação Física.
Compreende-se que o curso de Formação de Professores, ou seja, as
licenciaturas passaram por mudanças nos últimos tempos com a finalidade de
aprimorar esta formação de modo que ela consiga atender as necessidades
educacionais que as instituições de ensino buscam e também a que os alunos
apresentam ao longo do seu período escolar.
O curso de Licenciatura em Educação Física pesquisado busca através
de aprimoramentos, sejam eles profissionais (corpo docente), curricular,
metodológico, entre outros, atender de forma efetiva uma formação docente
que habilite o futuro professor de escola e que este possa aplicar em sua
profissão seus aprendizados teóricos e práticos para alcançar um desempenho
150
comprometido com sua profissão que esta diretamente ligada ao
desenvolvimento de aptidões pessoais dos alunos.
A respeito da reformulação curricular e da separação das áreas de
formação e atuação profissional, compreende-se que o curso acatou a nova
Legislação e que quase unanimamente os professores entrevistados se
posicionaram a favor desta mudança ocorrida no curso de Educação Física e
destacaram algumas razões de porque aconteceu esta mudança.
Tendo esta pesquisadora vivenciado este tempo de reformulação
durante sua graduação, percebe-se hoje que a separação do curso propiciou
ao mesmo uma reorganização dos conteúdos ministrados para a Licenciatura e
para o Bacharelado e um aprofundamento teórico e prático dos temas
estudados. No entanto, esta ruptura no curso restringiu alguns aspectos na
formação do professor de Educação Física, pois ao curso de Bacharelado falta
um aprofundamento quanto à docência e suas particularidades, como por
exemplo, como trabalhar com o desenvolvimento físico de uma criança em
suas etapas escolares e no curso de Licenciatura fica falha a formação mais
técnica do professor de Educação Física, pois o curso deixou de aprofundar
estes conhecimentos, por exemplo, na Biomecânica, na Fisiologia do Exercício
e em técnicas desportivas, entre outros.
Neste momento, a pesquisadora defende a reorganização do curso de
Educação Física de forma a unificá-lo, seguido de um aprimoramento
curricular.
O curso poderia dispor de um único acesso ao curso e após um
período de estudos similares a todos, realizar um reagrupamento direcional a
Licenciatura ou ao Bacharelado, ocorrendo desta maneira, no início do curso
um estudo que abrangesse as particularidades da Educação Física, como o
conhecimento do corpo humano, suas modificações ao crescimento e as
alterações que ocorrem antes, durante e depois a prática de atividades físicas.
Após este período com conteúdos mais abrangentes, em 03 anos de formação,
o aluno optaria no último ano para se aprofundar em uma das áreas pela qual
despertou mais interesse, o Bacharelado ou a Licenciatura, e neste
encerramento de graduação aconteceria o direcionamento de conteúdos
exclusivos para cada formação.
151
Assim o aluno teria um conhecimento mais amplo da Educação Física
e também um conhecimento direcional de uma das áreas, e sairia do curso
com duas credenciais de formação, estando apto a atuar tanto na área formal,
como informal.
152
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo, com o objetivo de verificar as concepções dos
professores formadores a partir do Parecer CNE/CP nº 09/2001 e da
Resolução CNE/CES nº 01/2002; verificar como ocorre a relação Teoria e
Prática e destacar as alterações ocorridas no curso de Licenciatura em
Educação Física para a formação do professor de Educação Física que irá
atuar na Educação Básica, foram obtidos os seguintes resultados, após a
análise do conjunto de dados.
O curso de Educação Física pesquisado passou por reformulações no
ano de 2002 e verificou-se que o currículo de formação de professores foi
alterado a partir do primeiro semestre de 2003, onde aconteceu a separação
das áreas de formação, distinguindo o curso em dois: um destinado à formação
de professores para atuação na Educação Básica, curso de Licenciatura, e
outro destinado à formação de profissionais para atuação nos demais ramos da
Educação Física, curso de Bacharelado.
O curso antes da reformulação era nomeado como Licenciatura Plena
em Educação Física e dispunha ao graduado a habilitação para trabalhar tanto
na área formal como na informal e o tempo de graduação era de quatro anos.
Após os ajustes no projeto pedagógico e no currículo, os cursos passaram a
serem ofertados com duração de três anos e meio para cada formação.
Destaca-se que a procura maior desde a separação até a data da pesquisa
realizada, é mais intensa pelo curso de Bacharelado, o que pode ser
considerado uma desvalorização do curso de Licenciatura.
O curso pesquisado realizou as modificações prescritas pela legislação
do curso, realizando algumas alterações no currículo do mesmo, alterando
disciplinas em seus conteúdos e cargas horárias com a finalidade de melhor
prestigiar a formação do licenciado. Também ocorreram alterações na carga
horária das atividades práticas e de Estágios supervisionados, buscando uma
melhor preparação do acadêmico que virá a se tornar um professor de
Educação Física escolar, aprimorando desta forma sua formação profissional e
também pessoal, pois o curso busca ainda auxiliar na preparação da pessoa
como cidadão responsável e produtivo na sociedade.
153
Os relatos dos professores e coordenadores entrevistados trousseram
ricas reflexões e discussões sobre a formação no curso para as duas áreas, no
entanto optou-se por aprofundar neste trabalho apenas a formação para a
Licenciatura, considerando os limites em que se situa esta pesquisa.
As reformulações realizadas no curso de Educação Física,
Licenciatura, abrangem especificamente o currículo e as abordagens da prática
dos formadores.
O currículo do curso foi alterado para a adequação as novas normas
estabelecidas, com ampliação das disciplinas destinadas à formação
pedagógica dos professores que atuarão na Educação Básica. O curso de
Licenciatura em Educação Física pesquisado dispõe aos seus alunos, segundo
a coordenação, 3.000 horas/aula que estão distribuídas no currículo ao longo
do período de formação acadêmica, portanto com carga superior ao mínimo
determinado na Legislação.
A partir desta alteração da carga horária foi realizada também uma
adequação da grade disciplinar, sendo oferecidas no curso de Licenciatura
mais horas de Práticas Pedagógicas e Estágio curricular, auxiliando a
preparação do futuro professor que atuará na Educação Básica.
As disciplinas pedagógicas ajudam a encaminhar o processo de
ensino-aprendizagem, pois os professores formadores, a partir da divisão das
áreas de formação, estabeleceram padrões específicos para cada formação
direcionando as teorias e as práticas educacionais de modo a atender as
necessidades que cada área apresente. Isto está evidenciado no modo descrito
de encaminhamento diferenciado das aulas. Algumas disciplinas se encontram
presentes nas grades dos dois cursos, mas os professores dão a cada área de
formação um foco e um direcionamento específico conforme os conteúdos
desenvolvidos.
A relação Teoria e Prática na Licenciatura no curso de Educação Física
ocorre de modo a auxiliar o aluno em seu processo formativo, fazendo com que
ele tenha uma interação maior com a escola, em suas diferentes modalidades
de ensino e ela acontece no curso gradualmente, fazendo com que os alunos
em formação tenham experiências com a docência, da Educação Infantil até o
Ensino Médio, ancorados por uma formação teórica.
154
Segundo a maioria dos professores, há muito tempo já se percebia a
necessidade de realizar uma formação que dispusesse aos alunos de
Licenciatura mais elementos ligados à escola e suas particularidades,
auxiliando em uma formação mais específica a docência, dispondo aos alunos
maior tempo de preparação para assumir esta profissão que impõem tantos
desafios ao futuro professor. Assim, quase todos os professores se mostraram
a favor da divisão do curso de Educação Física e das mudanças ocorridas para
a formação do professor de Educação Física que atuará na Educação Básica.
Os professores descreveram, em sua concepção, quais foram as
contribuições que a separação do curso trouxe para a formação de professores
da Educação básica, destacando que o Projeto Pedagógico do curso passou
por alterações visando a formação específica do professor de Educação Física
para atuação nas escolas e nas diversas etapas educacionais, desde o Ensino
Infantil até o Ensino Médio. A formação desses novos professores visa o
envolvimento do aluno com a escola, para o conhecimento estrutural e
pedagógico desta instituição. Também visa a preparação em cunho
pedagógico para que o aluno desenvolva competências para atuação
profissional docente e suas particularidades junto aos alunos.
A formação no curso de Licenciatura em Educação Física apresenta
em suas disciplinas conteúdos aprofundados e direcionados à formação
docente, auxiliando o aluno a obter uma visão mais aguçada da profissão e por
consequência melhorando a qualidade na formação dos professores que irão
atuar na Educação Básica. Esta formação também se dá nos Estágios, onde
acontece com maior intensidade a relação Teoria e Prática educacional na
formação dos professores através da soma de diversos elementos
educacionais, entre eles a compreensão prioritária dos elementos que
envolvem cada modalidade educacional e suas particularidades através de
estudos teóricos científicos direcionados e posteriormente aplicados na prática
pedagógica, onde o aluno se confrontará com a realidade escolar e
posteriormente retornará a discutir com o professor verificando a relação Teoria
e Prática aplicada.
Foi destacado pelos professores que os alunos que chegam ao curso
para a graduação na Licenciatura, apresentam um perfil diferenciado do
Bacharelado, pois os mesmos entram cientes que assumirão um compromisso
155
com a docência e apresentam durante sua formação uma conduta mais
centrada e envolvida com as disciplinas estudadas e um comprometimento
mais aprofundado com as práticas pedagógicas e o Estágio curricular
desenvolvido no curso.
Apesar desta separação das áreas de formação ter sido uma exigência
legal, esta questão da divisão do curso de Educação Física é muito polêmica e
traz à tona discussões que cercam este assunto. O Conselho de Educação
Física CONFEF43/CREF44 intervêm nesta questão considerando que a divisão
dos cursos além de necessária, foi um grande avanço para a Educação Física,
tornando o curso mais direcional as áreas de formação. No entanto, existem
controvérsias por parte dos alunos e comissões estudantis que afirmam que a
separação do curso de Educação Física foi direcionada mais por interesses
políticos e econômicos do que educacionais, como discute a Executiva
Nacional dos Estudantes de Educação Física – EXNEEF, a qual luta para que
o curso seja revisto e novamente unificada as áreas de formação, a fim de criar
Licenciatura Ampliada em Educação Física.
Como comentado no item anterior, a pesquisa teve respostas dos
professores formadores extremamente ricas para as duas áreas de formação,
mas para esta pesquisa foram destacados os aspectos para formação docente
no curso de Licenciatura em Educação Física, não sendo abordado mais
profundamente as questões relacionadas a formação do profissional de
Educação Física no curso de Bacharelado. Assim deixo a sugestão para um
próximo trabalho, direcionado a área de formação informal na Educação Física.
Também não foram abordados na pesquisa em questão, os
conhecimentos pedagógicos na formação de professores de Educação Física e
isto poderia ser mais um item a ser pesquisado e aprofundado em outra
pesquisa, assim como a relação de como está acontecendo a formação
pedagógica no curso e como se processa intimamente a relação entre a
Universidade e as escolas.
A pesquisa realizada se apresentou como um desafio a ser vencido,
pois vários foram os obstáculos que tiveram de ser superados ao longo do
43 CONFEF - Conselho Federal de Educação Física 44 CREF - Conselho Regional de Educação Física
156
período de Pesquisa. Entre eles gostaria de comentar sobre o desafio de firmar
um tema de Pesquisa e seus objetivos, fazendo com que a Pesquisa seja
aceita no meio acadêmico e tenha relevância para o mesmo.
No final deste trabalho exalto a grandeza da importância do
aprofundamento teórico como base para uma Pesquisa aprofundada, pois sem
os aportes necessários, qualquer resultado obtido não passaria de mero
conhecimento sem a fundamentação teórica e poderíamos fantasiar sobre o
que almejamos da realidade pesquisada.
Após muitos estudos relacionados à formação de professores, hoje
esta pesquisadora se sente mais segura a respeito de algumas questões que
permeavam sua formação inicial, especialmente a formação de professores
atual no curso de Educação Física, pois vindo de uma formação anterior as
reformulações ocorridas no curso, foi despertada uma curiosidade a respeito
das modificações ocorridas e suas particularidades para a formação de
professores e profissionais de Educação Física no curso atual.
Esta pesquisa foi certamente o início de um relacionamento com a
formação de professores nos cursos de Educação Física, pois quanto mais
eram analisadas as respostas dos professores formadores, mais suscitava
questões a respeito da formação docente e suas particularidades, indicando
novas questões de pesquisas e aprofundamentos teóricos que poderão servir
de pontos iniciais para a realização de outros estudos da área. Alegro-me em
disponibilizar o meu trabalho para que possa vir a contribuir com o
esclarecimento de questões relativas à formação de professores e profissionais
no curso de Educação Física, servindo para o desenvolvimento de novas
pesquisas e para estudos na área acadêmica.
O ambiente no qual se vive possui a característica de facilitar ou
dificultar o alcance de objetivos. O tempo do Mestrado em Educação
caracterizou-se como ambiente estimulante para a mente e alma, auxiliando no
molde de minha formação acadêmica, mais acima de tudo em minha formação
humana, pois encontrei pessoas com valores inestimáveis neste espaço.
Certamente esses valores serão guardados e transferidos para outro
processo de formação que fez parceria com este que foi realizado e o nome
deste maravilhoso projeto é ALEXSANDRO! Te amo filho!
157
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164
7 APÊNCIDES
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PROFESSORES AOS PROFESSORES FORMADORES /COORDENADORES DO CURSO DE EDUCAÇÃO
FÍSICA
ROTEIRO DE ENTREVISTAS
COORDENAÇÃO
Caracterização do entrevistado
Nome:
Formação:
Local: Ano:
Experiência de atuação no curso:
Experiência de coordenação de curso:
Disciplinas ministradas ao longo da docência e hoje :
Experiência na educação básica:
REESTRURAÇÃO DO CURSO
1. Houve sua participação no processo de reformulaç ão do curso?
2. Como se deu este processo?
3. O que motivou esta reformulação?
4. Quais as principais mudanças?
5. Como o curso desenvolve a formação pedagógica? H á distinção
para a Licenciatura e para o Bacharelado? Comente.
6. O curso contempla a formação para a pesquisa? Co mo ela se
processa no curso?
7. Quais as maiores dificuldades existentes no curs o de licenciatura?
165
8. Comentários sobre o curso em geral e o perfil do
licenciado/bacharel.
9. Comentários sobre a prática pedagógica do curso.
10. Comentários sobre a formação de professores nos cursos.
11. Em sua opinião, a partir da Reformulação Curric ular no Curso, onde
se separou a formação de professores para a Licenci atura e para o
Bacharelado, quais foram as maiores contribuições e specíficas
para formação do professor e/ou profissional de Edu cação Física?
Comente.
12. No projeto do curso existem disciplinas comuns que contemplam
as duas formações? Caso sim, quais?
13. A respeito da procura pelo curso, anualmente in gressa mais alunos
para cursar a Licenciatura ou o Bacharelado? E quan to a formação
é na mesma proporção?
14. Que mudanças foram introduzidas no curso para a tender as
exigências da atual legislação de ensino que regula menta 800
horas de prática e de estágio?
15. Como se estabelece a relação entre a universida de e as
escolas/instituições no campo de estágio? Como acon tece todo
esse processo?
16. Como ocorre a formação para a educação infantil ? Ensino
fundamental? Ensino médio? Há preocupação com outra s práticas
educativas?
17. A formação para a inclusão? A formação para a d iversidade?
18. O que poderia ser destacado como ponto forte no curso de
Educação Física visando à formação do futuro profes sor?
19. Quais são os problemas para o curso? E os probl emas no curso?
20. Em sua opinião, o que é preciso para uma comple ta formação
universitária hoje a fim de se alcançar o objetivo de uma formação
de professores comprometidos com a docência?
21. Você conhece o NDE – Núcleo Docente Estruturant e? O curso tem
este Núcleo? Você faz parte dele? Qual o objetivo d o Núcleo na EF?
�
166
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PROFESSORES FORMADORES DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
ROTEIRO DE ENTREVISTAS
PROFESSSORES
Caracterização do entrevistado
Nome:
Formação:
Local: Ano:
Experiência de atuação no curso:
Disciplinas ministradas ao longo da docência e hoje :
Experiência na educação básica:
Atuante na Licenciatura e/ou Bacharelado
REESTRURAÇÃO DO CURSO
1. Houve sua participação no processo de reformulaç ão do curso?
Caso sim, como se deu este processo? O que motivou esta
reformulação? Quais as principais mudanças?
2. Qual disciplina você trabalha e quais são os pro pósitos dela para a
formação de professores?
3. Quais os conteúdos trabalhados na disciplina e q uais os autores
que você se baseia? Por que você escolheu estes con teúdos e
estes autores?
4. Como você trabalha estes conteúdos (dinâmicas at ividades e
avaliação).
5. Como é encaminhada a prática pedagógica de sua d isciplina.
6. Em sua opinião, a partir da Reformulação Curricu lar no Curso, onde
se separou a formação de professores para a Licenci atura e para o
167
Bacharelado, quais foram as contribuições específic as para
formação do professor e/ou profissional de Educação Física?
Comente.
7. Sua disciplina administra estágio para os aluno s? Caso sim:
7a) Como se estabelece a relação entre a universida de e as
escolas/instituições no campo de estágio? Como acon tece todo
esse processo?
7b) Quais as dificuldades encontradas pelo curso em relação a
inserção dos alunos nas escolas/instituições para a realização dos
estágios?
7c) Qual o objetivo dos estágios para o curso/disci plina e para o
aluno?
7d) Existem relutância do aluno em ir para o campo de estágio e
cumprir com os objetivos propostos pelo PA? O que o s alunos
comentam a respeito?
8. Como ocorre a formação para a educação infantil? Ensino
fundamental? Ensino médio? Há preocupação com outra s práticas
educativas?
9. E A formação para a inclusão? E a formação para a diversidade?
10. O que você considera primordial para uma satisf atória conduta
profissional?
11. Em sua opinião, o que é preciso para uma comple ta formação
universitária hoje a fim de se alcançar o objetivo de uma formação
de professores comprometidos com a docência?
12. Como é encaminhada a formação do professor dent ro de uma
fundamentação científica? E na formação ética? E na prática? E na
técnica?
13. Como professor atuante, o que você exaltaria na s condutas dos
alunos como pontos positivos e pontos negativos par a a formação
de um futuro professor?
14. Você acha possível existir uma boa abordagem in terdisciplinar do
conhecimento, buscando interagir com outras áreas d e
aprendizagem. Sua disciplina privilegia algo assim? Comente.
15. Qual sua opinião sobre teoria e prática dentro da sua disciplina?
168
16. Você conhece o NDE – Núcleo Docente Estruturan te? O curso tem
este Núcleo? Você faz parte dele? Qual o objetivo d o Núcleo na EF?
169
8 ANEXO – QUADRO DE ESTRUTURA CURRICULAR DO CURSO D E EDUCAÇÃO FÍSICA 2010
Quadro 3 - Estrutura curricular do curso de Educação Física 2010. CURSO DE LICENCIATURA CURSO DE BACHARELADO
1º Período
• Prática Profissional I • Produção e Recepção de Textos • Anatomia I • Atletismo I • Fundamentos da Ginástica I • Animação e Entretenimento • Atividades Rítmicas e Folclóricas I • Biologia Aplicada à Educação Física I • Fundamentos do Ensino e da
Aprendizagem I • Cultura Religiosa
• História e Epistemologia da Educação Física
• Anatomia I • Atletismo I • Fundamentos da Ginástica I • Animação e Entretenimento • Atividades Rítmicas e Folclóricas I • Biologia Aplicada à Educação Física I • Pedagogia do Movimento I • Crescimento e Desenvolvimento
Humano I • Cultura Religiosa
2º Período
• Prática Profissional II • História e Epistemologia da Educação
Física • Atividades Acadêmico Científico Culturais • Anatomia II • Atletismo II • Fundamentos da Ginástica II • Animação e Entretenimento • Atividades Rítmicas e Folclóricas II • Biologia Aplicada à Educação Física II • Fundamentos do Ensino e da
Aprendizagem II • Processos do Conhecer
• Recepção e Produção de Textos • Anatomia II • Atletismo II • Fundamentos da Ginástica II • Animação e Entretenimento • Atividades Rítmicas e Folclóricas II • Biologia Aplicada à Educação Física II • Pedagogia do Movimento II • Crescimento e Desenvolvimento
Humano II • Atividades Complementares • Processos do Conhecer
3º Período
• Atividades Acadêmico Científico Culturais • Prática Profissional III • Crescimento e Desenvolvimento Humano I • Fisiologia Geral I • Basquetebol I • Lutas I • Fundamentos da Educação e Organização
e Gestão da Escola I • Ginástica Artística e Rítmica I • Dança e Corporeidade I • Filosofia • Ética
• Dança e Corporeidade I • Atividades Complementares • Fisiologia Geral I • Aprendizagem Motora I • Basquetebol I • Ginástica Artística I • Ginástica Rítmica I • Esportes Aquáticos I • Ginástica de Academia I • Lutas I • Filosofia
170
4º Período
• Esportes Alternativos • Atendimento de Urgência • Prática Profissional IV • Crescimento e Desenvolvimento Humano II • Fisiologia Geral II • Basquetebol II • Lutas II • Fundamentos da Educação e Organização
e Gestão da Escola II • Ginástica Artística e Rítmica II • Dança e Corporeidade II
• Fisiologia Geral II • Aprendizagem Motora II • Basquetebol II • Dança e Corporeidade II • Ginástica Artística II • Ginástica Rítmica II • Esportes Aquáticos II • Ginástica de Academia II • Lutas II • Ética
5º Período
• Atividades Acadêmico Científico Culturais • Prática Profissional V • Aprendizagem Motora I • Fisiologia do Exercício I • Handebol I • Métodos de Pesquisa e Projeto de
Trabalho de Conclusão de Curso I • Cineantropometria e Bioestatística I • Natação I • Estágio Supervisionado I • Projeto Comunitário
• Voleibol I • Primeiro Atendimento em Educação
Física • Atividades Complementares • Cinesiologia e Biomecânica I • Cineantropometria e Bioestatística I • Fisiologia do Exercício I • Futebol e Futsal I • Handebol I • Métodos de Pesquisa e Projeto de
Trabalho de Conclusão de Curso I • Exercícios Resistidos I • Estágio Supervisionado I • Projeto Comunitário
6º Período
• Cinesiologia • Prática Profissional VI • Aprendizagem Motora II • Fisiologia do Exercício II • Handebol II • Métodos de Pesquisa e Projeto de
Trabalho de Conclusão de Curso II • Cineantropometria e Bioestatística II • Natação II • Estágio Supervisionado II
• Cinesiologia e Biomecânica II • Cineantropometria e Bioestatística II • Fisiologia do Exercício II • Futebol e Futsal II • Handebol II • Métodos de Pesquisa e Projeto de
Trabalho de Conclusão de Curso II • Voleibol II • Exercícios Resistidos II • Estágio Supervisionado II • Voleibol II
7º Período
• Prática Profissional - LIBRAS • Atividades Acadêmico Científico Culturais • Futebol e Futsal I • Voleibol I • Trabalho de Conclusão de Curso I • Estágio Supervisionado III • Educação Física Adaptada I • Gestão e Organização de Atividades
Recreativas na Educação Física I
• Estágio Supervisionado III • Trabalho de Conclusão de Curso I • Atividade Física Adaptada I • Gestão, Organização e Legislação em
Educação Física I • Recreação e Lazer Comunitário I • Treinamento Esportivo I • Atividade Física para Populações
Especiais I • Epidemiologia da Atividade Física I • Psicologia do Exercício • Atividades Complementares
171
8º Período
• Prática Profissional - Educação Física no Ensino Fundamental e Médio
• Futebol e Futsal II • Voleibol II • Trabalho de Conclusão de Curso II • Natação II • Estágio Supervisionado IV • Educação Física Adaptada II
• Nutrição Esportiva • Estágio Supervisionado IV • Trabalho de Conclusão de Curso II • Atividade Física Adaptada II • Gestão, Organização e Legislação em
Educação Física II • Recreação e Lazer Comunitário II • Treinamento Esportivo II • Atividade Física para Populações
Especiais II • Epidemiologia da Atividade Física II
Fonte: A autora, 2011.