maré de notícias #43
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No Maré de Notícias desse mês: Luto virou luta; Fotos das festas juninas da Maré; Loucos por corrida; Carteiro; Saúde; Bastimo das ruas; Direitos da criança e do adolescente e muito mais.TRANSCRIPT
CAPA
Anarriê!Especial: fotos das
festas juninas da Maré! Pág. 15
Censo MaréMoradores batizam ruas
e enumeram casas pág. 3
Por dentroInscrições para vários
cursos até 29/07 pág. 5
SaúdeUPA tem dois pediatras
pág. 7
Seus DireitosDireitos da Criança e do
adolescente pág. 6 e 7
Carlinhos CarteiroCarteiro da Nova Holanda é o camarada
mais aguardado pelos moradores (e também pelos cachorros). Pág. 4
Loucos por corridaConheça a equipe Maré Esporte. Pág. 12
Programação da Lona Pág. 14Shows de samba, rock,humor e
novas oficinas
O clima de terror imposto pelo Bope, na noite de 24 para 25 de junho, que resultou na morte de 10 pes-soas, se transformou em luta por direitos: à vida, à segurança pública, a ir e vir. O Brasil e o mundo se deram conta do que nós, moradores e trabalhadores de espaços populares, já sabíamos: no centro da ci-dade, a bala é de borracha; aqui, a bala é de fuzil. Mas os moradores foram às ruas logo após o mas-
43Ano IV, No julho de 2013 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita
NOSSO LUTO VIROU LUTA!sacre e conseguiram a saída da PM da Maré. Vol-tamos às ruas uma semana depois para o ato pela paz, que reuniu pessoas de várias partes da cida-de. Familiares das vítimas prestaram depoimento na delegacia, enquanto líderes comunitários e re-presentantes de instituições locais iniciaram diálo-go com as forças de segurança, com uma exigên-cia: Estado que mata, nunca mais! Pág. 8 a 11
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Redes de Desenvolvimento da Maré Rua Sargento Silva Nunes, 1012,
Nova Holanda / Maré CEP: 21044-242 (21) 3104.3276 (21)3105.5531
www.redesdamare.org.br [email protected]
Os artigos assinados não representam a opinião do jornal.
Parceiros:
Rosilene Miliotti Fabíola Loureiro (Estagiária)
Fotógrafa Elisângela Leite
Projeto gráficoe diagramação
Pablo Ramos
Logotipo Monica Soffiatti
Colaboradores Anabela Paiva
André de LucenaAydano André Mota
Flávia OliveiraFrancisco ValdeanMarianna Araujo
Vitor Castro
Coord. de distribuição Givanildo Nascimento
Impressão Gráfica Jornal do Commércio
Tiragem 40.000 exemplares
Leia nosso Maré na internet e baixe o PDF:www.redesdamare.org.br
Instituição Proponente Redes de Desenvolvimento da Maré
Diretoria Andréia Martins
Eblin Joseph Farage (Licenciada) Eliana Sousa Silva
Edson Diniz Nóbrega Júnior Helena Edir
Patrícia Sales Vianna
Coordenação de ComunicaçãoSilvia Noronha
Instituição Parceira Observatório de Favelas
Apoio Ação Comunitária do Brasil
Administraçãodo Piscinão de Ramos
Associação Comunitária
Roquete Pinto
Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ribeiro Dantas
Associação dos Moradores e Amigos do Conjunto Esperança
Associação de Moradores do Conjunto Marcílio Dias
Associação de Moradores do Conjunto Pinheiros
Associação de Moradores do Morro do Timbau
Associação de Moradores do Parque Ecológico
Associação de Moradores do Parque Habitacional
da Praia de Ramos
Associação de Moradores do Parque Maré
Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz
Associação de Moradoresdo Parque União
Associação de Moradores
da Vila do João
Associação Pró-Desenvolvimento da Comunidade de Nova Holanda
Biblioteca Comunitária Nélida Piñon
Centro de Referência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa
Conexão G
Conjunto Habitacional Nova Maré
Conselho de Moradores da Vila dos Pinheiros
Luta pela Paz
União de Defesa e Melhoramentos do Parque
Proletário da Baixa do Sapateiro
União Esportiva Vila Olímpica da Maré
Editora executiva e jornalista responsável
Silvia Noronha (Mtb – 14.786/RJ)
Repórteres e redatores Aramis Assis
Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ)
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RÉEditorial
Este grupo é bom! Desde fevereiro deste ano, esta equipe bacana que está na foto abaixo, formada por moradores, passou a distribuir o Maré de Notícias em conjunto pelas ruas da maior parte das comunidades. Eles saem juntos, ao longo de sete dias úteis, indo de rua em rua, de casa em casa, geralmente na parte da manhã.
Porém, infelizmente não há exemplares para todas as residências, nem os distribuidores conseguem subir nas casas situadas nos pavimentos superiores. Por isso, sempre deixamos uma quantidade de jornais em cada associação de moradores da Maré e também
A matéria de capa desta edição procura contextualizar os últimos acontecimen-tos no campo da segurança pública, en-fatizando o protagonismo da população da Maré, que conhece seus direitos e exige respeito por parte do Estado.
O terror implantado pelo Bope na noite de 24 para 25 de junho mostrou – mais uma vez – que existem policiais que se acham acima do bem e do mal, e agem como se tivessem permissão para ma-tar. Essa suposta permissão para matar os envolvidos com os grupos criminosos armados (em vez de prendê-los) afeta a vida de todos nós, sem distinção. Implan-ta a guerra e não oferece segurança pú-blica. A polícia deve agir com inteligência.
Por isso, os 10 mortos – o policial do Bope, os moradores inocentes e os que supostamente seriam envolvidos – fo-ram lembrados no ato ecumênico reali-zado na Av. Brasil, porque o que precisa mudar é a lógica do Estado que mata.
Leia a reportagem de capa a partir da página 8 e também o artigo “Fuzil: no centro da cidade não, mas na favela sim?!” (pág. 11).
Boa Leitura!
Expediente
Conheça os distribuidores do Maré de Notícias
Travessa Paraíba:esse foi o primeiro nome escolhido pelos moradores
de uma ocupação no Pinheiro
Estado que mata, nunca mais
nas instituições parceiras (veja a lista abaixo no Expediente). Então, se o jornal não chega a sua casa, busque seu exemplar num desses pontos espalhados pelas 16 comunidades da Maré. Na Redes da Maré, onde fica a Redação, o jornal costuma chegar por volta do dia 10 de cada mês. E aí, então, começa a distribuição.
Além de ler, você pode participar da elaboração do conteúdo do jornal! Envie foto, desenho, poesia, piada, sugestão de pauta, elogios e críticas para a Redação: Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 – Nova Holanda. Tel.: 3104-3276. E-mail: [email protected].
A partir da esquerda: Charles, Givanildo (o Giba), Viviane, Sirlene, Luiz, Liliane e Sonia
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Se essa rua fosse nossa...E
Rosilene Miliotti Elisângela Leite
A ocupação ainda não é reconhecida oficialmente e as ruas não têm nomes nem números. Com isso, os moradores encontram dificuldades para receber correspondências e outros serviços, como se o local não existisse. Alguns chamam este pedaço da Vila do Pinheiro de Uga-Uga. Bruna da Silva, 31 anos, foi a primeira moradora a chegar, há mais de 10 anos. “Estava passando por algumas dificuldades. Um dia eu vim pra cá, sentei em uma pedra e comecei a pensar na vida. Olhei pra frente e disse ‘aqui dá um barraco e aqui que eu vou ficar’. Eu tinha um barraquinho, todo de madeira. A gente não tinha banheiro. Não tem nem três anos que os barracos acabaram para dar lugar a casas de alvenaria”, lembra Bruna.
Dona Maria José da Conceição, 57 anos, moradora da ocupação há três anos, diz que pagar aluguel não dá. “Estou desempregada e fomos construindo a casa devagar. Bruna foi a primeira moradora e foi conseguindo trazer rede de esgoto e energia aos poucos”.
Bruna, de fato, conta ter lutado muito pela chegada dos serviços públicos mais básicos. “Aqui não tinha nada. Eu aproveitei a época de eleição e pedi os canos para um candidato para fazer a rede de esgoto. Os próprios
moradores deram a mão de obra. Hoje tem luz, esgoto e água encanada e mais de 100 pessoas moram aqui nesse pedaço da Vila do Pinheiro”, relata. Ela reivindica ainda coleta de lixo e asfaltamento das ruas.
Travessa ParaíbaPara resolver o problema das correspondências, a saída que os moradores encontraram foi dar o endereço de parentes. Bruna conta que usa o endereço da mãe para receber correspondências. Para mudar essa realidade, o processo de escolha do nome das ruas teve início em junho e o estado da “Paraíba” foi o primeiro a ser lembrado para batizar uma travessa.
Shyrlei Rosendo, da Redes da Maré, explica que, com as ruas oficializadas, os moradores poderão exigir dos Correios um CEP para que o local seja reconhecido. “O importante é que os moradores participem do processo e eles mesmos batizem as ruas e enumerem as casas. Nós enviaremos esse mapa e a lista de ruas para os Correios para que eles reconheçam e futuramente venham entregar cartas. Nosso objetivo é formalizar e atualizar o mapa da Maré. Isso facilitará a vida dos moradores dessas ruas que oficialmente não existem”, explica ela, que também é moradora da Maré e trabalha no projeto A Maré que Queremos.
A iniciativa é do projeto A Maré que Queremos, que re-úne associações de moradores das 16 comunidades
da Maré e instituições locais, com o objetivo de promover melhorias es-truturantes para o bairro. O batismo das ruas foi possível após o mape-amento das 16 comunidades pelo Censo Maré, projeto da Redes da Maré e do Observatório de Favelas.
Em julho e agosto, o Parque Maré também escolherá o nome de algumas ruas. Outras comu-nidades já escolheram, com apoio das associações de mo-radores.
“Estava passando por algumas dificuldades. Um dia eu vim pra cá, sentei em uma pedra
e comecei a pensar na vida. Olhei pra frente e disse ‘aqui dá um
barraco e aqui que eu vou ficar”
Bruna da Silva, primeira moradora da ocupação
Moradores da ocupação que fica perto do viaduto novo que liga o
Fundão debatem o processo de escolha dos nomes das ruas
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O que acontece e o que não deixa de acontecer por aqui
Coleta seletiva na Maré
Os Conjuntos Pinheiro e Esperança terão coleta seletiva de lixo doméstico e reaproveitamento dos resíduos sólidos e orgânicos. Para isso, foi desenvolvido o Programa Rever, do Núcleo de Ação Comunitária e Desenvolvimento Social (Nacodes). As duas comunidades da Maré foram escolhidas em função da logística dos blocos, que facilita a implantação da coleta seletiva.
O programa tem como prioridade fomentar reflexões e discussões sobre o ambiente, saúde, educação, integração, gestão autônoma e sustentabilidade inovadora. Participam as duas associações de moradores, os síndicos dos prédios, o grupo de idosos Amor Maior e os Jardineiros Comunitários.
“A base do trabalho é rever conceitos, pois é significativo termos um novo olhar sobre o lixo”, explica um dos organizadores, Sebastião da Silva Rodrigues. “É muito bom unir forças para beneficiar os moradores”, afirma a presidente da Associação de Moradores do Conjunto Pinheiro (Amacovipi), Eunice Cunha.
Cursos de capacitação
A instituição Banco da Providência está com inscrições abertas para vários cursos gratuitos de capacitação: Cabeleireiro, Mega-hair e Entrelace; Corte e Costura, Modelagem, Costura em Malha e Lycra; Lancheiro (Doces e Salgados) e Bolos e Tortas; informática (Windows e Word, Excel, Power Point e Internet, Básico em Montagem e Manutenção de Micro Computadores. Ao final, a instituição encaminha para a agência de empregos.
As aulas ocorrerão do dia 29 de julho até 23 de agosto, às terças e quintas, de 9h às 11h30, em Realengo, mas a instituição pagará o transporte. As inscrições podem ser feitas na capela da Paróquia São José Operário, na Vila Pinheiro, na Via A1 nº120 A, às terças e quintas, com a assistente social Vânia de Carvalho Pinto (tel.: 8578-0628).
Pedestres em apuros no PU – Parte 2
Na edição de junho, o Maré de Notícias mostrou o perigo da passagem da Av. Brigadeiro Trompowski pelos pedestres. A Secretaria Municipal de Obras informou que a travessia segura deve ser feita por uma das duas passarelas do local: uma que liga o Parque União à Av. Brasil e outra em frente ao Quartel do Exército. É possível ainda fazer a travessia por um passeio exclusivo para pedestres, na faixa da direita do Viaduto Engenheiro Edno Machado, cujo projeto de reforma prevê a inclusão de grades de proteção. Não está previsto construir passarela ligando os dois lados da Av. Brasil, na altura do nº 6.993, por falta de espaço, tendo em vista a modificação viária que ocorrerá com as obras da Transcarioca.
O famoso mensageiro de Nova Holanda “Já levei várias mordidas de cachorro,
na barriga, no braço. Também ninguém
nunca manda carta para os cachorros,
deve ser por isso que eles não gostam de
carteiros”
Fabíola Loureiro Elisângela Leite
Antonio Carlos Silva Azevedo, mais conhecido como Carlinhos Carteiro, trabalha nos Correios há 37 anos e há mais de 30 anos na Nova Holanda. No começo, ele encontrou um pouco de dificuldade, pois muitas casas não tinham numeração e as ruas não tinham nome e CEP. Ele era responsável por entregar correspondências em toda a área da comunidade, mas hoje há outros carteiros dividindo o trabalho.Nascido e criado na comunidade da Cachoeirinha, no Complexo de Favelas do Lins, Carlinhos, que é filho único, conta que se tornou carteiro por acaso. “Estava tendo uma blitz da polícia na comunidade e eu precisava tirar meus documentos. Então fui para o centro do Rio de Janeiro com este objetivo e reparei umas pessoas numa fila no prédio ao lado de onde eu fiz os documentos. Perguntei para quê era aquela fila e fiquei sabendo que era para fazer inscrição para trabalhar nos Correios. Resolvi me inscrever também, fui
selecionado e em pouco tempo já estava trabalhando como carteiro”, conta.
Carlinhos tem muitas histórias para contar. Uma delas ocorreu na época em que as ruas da Nova Holanda ainda eram de barro. “Tinha chovido e a rua estava cheia de lama, escorreguei e caí no chão e as cartas voaram da minha mão. Eu pensei que ninguém tivesse visto, mas o pessoal viu, uns ficaram rindo, outros ficaram preocupados.”
O mais conhecidoda Nova HolandaDepois de algum tempo, Carlinhos veio morar na Maré e começou a fazer amizade com os moradores. Chegou a fazer parte de um time de futebol na Nova Holanda, o Pantera Futebol Clube; tem vários afilhados e sempre ganha presentes dos moradores no Natal. Sua popularidade é tanta que um morador lhe comunicou que ele foi eleito a pessoa mais conhecida da Nova Holanda
Carlinhos e Lilian: “Ela sempre dizia que a gente ia se casar, marcamos o casamento, mas depois ela me abandonou”, brinca o carteiro
em uma página de uma rede social na internet.
O carteiro continua trabalhando mesmo tendo se aposentado há dois anos, e já está preparando o psicológico para não ter muito impacto quando chegar a hora de parar. Morando atualmente na Praia de Mauá, em Magé, na Região Metropolitana do Rio, Carlinhos, aos 56 anos, fala que comprou sua casa lá porque quer virar pescador.
“Amo essa comunidade“O botafoguense brinca dizendo ter várias noivas na Nova Holanda, que são as senhorinhas de 80 anos que ficam à sua espera na janela. E também tem a estudante Petronilia Assis dos Santos, de 49 anos, conhecida como Lilian, que dizia que ia se casar com Carlinhos. “Ela sempre dizia isso, a gente ia casar, marcamos o casamento, mas depois ela me abandonou”, brinca o carteiro.
Os moradores mais antigos também ficam esperando ansiosos, na janela de suas
casas, as correspondências chegarem. Quem também espera são os cachorros, que sempre correm atrás dos carteiros. Mesmo depois de o uniforme ter mudado, os cachorros continuaram a latir e a correr atrás de Carlinhos.
Com um enorme sorriso no rosto, por onde passa, Carlinhos é saudado pelos moradores e se diz feliz por ter sido acolhido pela comunidade. “Aqui construí laços de amizade, aprendi muito com esse pessoal. Vou sentir saudades, mas nada é para sempre. Costumo dizer que a Nova Holanda é um mundo, aqui tem tudo que você imagina. Eu amo essa comunidade!”, finaliza.
Na próxima edição, publicaremos reporta-gem sobre a falta de entrega domiciliar de correspondência em cinco das 16 comuni-dades da Maré.
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TOS SEUS DIREITOS O mundo é nosso e o direito é de todos!
Coluna especial
No dia 13 de julho, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, lei 8.069/90) completa 23 anos. Depois de tanto tempo, será que conhecemos bem o que essa lei garante? Quais são os desafios para que seja cumprida?
O ECA nasceu a partir da Constituição Federal do Brasil de 1988 e passou a tratar todas as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos que devem receber proteção de forma prioritária e integral. No Brasil, antes da promulgação do ECA, a legislação voltada para a infância era o “Código de Menores”, destinado àqueles que estavam em “situação irregular”, ou seja, afetava principalmente as famílias e crianças pobres e “abandonadas”. Essa política previa que as ruas deveriam ser protegidas de uma possível ameaça dessa população que deveria ser “corrigida”.
A história da política para a infância no Brasil e a desinformação podem ter contribuído para alguns equívocos, ainda cometidos em relação ao ECA hoje. Trataremos sobre alguns deles:
Hélio Euclides
Ao completar seis anos, a Unidade de Pronto Atendimento da Maré (UPA), na Vila do João, mudou a equipe gestora. Antes o atendimento era feito por profissionais do Corpo de Bombeiros, e desde janeiro passou para o Viva Rio Saúde, num contrato de terceirização do serviço.
“O pediatra é um diferencial e agora estamos acabando com a lacuna. Já estamos com dois profissionais”, afirmou o coordenador Roberto Simões, após uma reunião com as lideranças comunitárias do bairro, em junho. A falta de pediatra era uma das reclamações dos moradores.
Ele lembrou que, mesmo fora do horário do pediatra, é importante que o morador leve a criança doente até a UPA para uma avaliação e encaminhamento ao local adequado, se necessário com o uso da ambulância.
O Viva Rio Saúde já administra seis centros municipais de saúde localizados nos Cieps da Maré, uma unidade na Vila do João, outra no Parque União e a Clínica da Família Augusto Boal.
4 médicos clínicos2 pediatras*1 dentista1 técnico de saúde bucal 5 enfermeiros 11 técnicos de enfermagem1 assistente social
A Redes de Desenvolvimento da Maré está como instituição conselheira da sociedade civil na atual gestão (2011-2013) do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente do Rio de Janeiro (CMDCA-Rio). O papel do CMDCA é formular e deliberar políticas públicas relativas às crianças e adolescentes, articulando-se com outras políticas sociais como a saúde, assistência social, educação, esporte e lazer, entre outras. É sua atribuição, também, organizar e controlar as redes de atenção voltadas para esse público e promover a articulação das ações, das entidades e programas da sociedade civil e do poder público. Toda a rede de instituições para crianças e adolescentes deve ser orientada para garantir os direitos fundamentais, tal como prevê o ECA:
“Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta
prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito,
à liberdade e à convivência familiar e comunitária”. (ECA. Lei Nº 8.069/90)
Serviços para a criançae o adolescente da Maré:
Conselho Tutelar de BonsucessoEndereço: Rua da Regeneração, nº654. Bonsucesso.Tel.: 2573-1013 Vara da Infância, da Juventude e do IdosoEndereço: Praça Onze de Junho, nº 403. Cidade Nova.Tel.: 2503-6300 ramal 6344 (Cartório).Defensoria Publica do Estado do Rio de JaneiroCDEDICA - Coordenadoria de Defesa dos Direitosda Criança e do Adolescente.Endereço: Rua São José, 35/ 13° andar, Centro (Edifício Menezes Cortes).
ATENÇÃO! antes de dirigir-se ao endereço informado ligue grátis
para 129 e informe-se sobre os dias, horários e lista de
documentos para o seu atendimento.
Quartotema: Direitos da Criança e do Adolescente
Menor x criança : O ECA adota os termos: criança e adolescente, sem qualquer discriminação. Ou seja, esses termos devem ser usados tanto para um menino ou menina estudante de escola particular da zona sul, quanto para aquele ou aquela que esteja cumprindo medida socioeducativa.Direitos e deveres : Há no senso comum um discurso de que, a partir do ECA, crianças e adolescentes passaram a não ter responsabilidades, que o ECA não pune o adolescente que comete ato infracional, que a família perdeu a autoridade diante dos filhos, entre outros. No entanto, na própria legislação constam cinco tipos de medidas socioeducativas a serem adotadas àqueles que cometem algum ato infracional.
Primeiro eixo: Defesa dos Direitos Humanos : Formado por: órgãos públicos judiciais; Ministério Público, defensorias públicas e, dentre outras, o Conselho Tutelar, órgão que funciona como um guardião dos direitos da criança e do adolescente. Sua atribuição é atender crianças, adolescentes e orientar suas famílias. Ele deve ser acionado sempre que uma criança ou adolescente estiver em situação de risco social, abuso, violência física, sexual ou emocional, ou qualquer situação de violação de direitos. Para isso, o conselheiro tutelar aplicará medidas que zelem pela proteção dos direitos. Ao contrário do que muitas pessoas acham, o Conselho Tutelar não tem competência de justiça ou de polícia. Ou seja, não pode julgar nenhum caso e nem mesmo pode apreender crianças e adolescentes.
Segundo eixo: Promoção dos Direitos : Direcionado às instituições que oferecem programas e serviços que atendem os direitos humanos de crianças e adolescentes, especificamente das políticas sociais, medidas de proteção e medidas socioeducativas.
Terceiro eixo: Controle e a efetivação do Direito: Ocorre por meio de instâncias públicas colegiadas, como: conselhos setoriais de formulação e controle de políticas públicas e os conselhos dos direitos de crianças e adolescentes. Cada estado e município possuem seus conselhos de direitos e no âmbito do governo federal, existe o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. A divisão desses orgãos é formada por conselheiros de direitos governamentais e da sociedade civil.
Politicamente, o ECA foi uma significativa conquista da sociedade civil. Trabalhadores da área contribuíram para a elaboração dessa legislação. O Sistema de Garantia de Direitos, previsto pelo ECA, corresponde à articulação e integração entre instituições governamentais e da sociedade civil para promover instrumentos normativos e mecanismos de promoção, defesa e controle que garantam os direitos das crianças e dos adolescentes. Ou seja, por meio desses três eixos foi possível estabelecer uma rede de instâncias que consolidam a política de atendimento à criança e ao adolescente.
Viva Rio assumiu gestão prometendo diálogocom comunidade
UPA Maré tem nova administração
1 técnico de radiologia1 farmacêutico, 1 auxiliar de farmácia1 maqueiro1 enfermeiro especialista em infecçãoAlém do quadro de apoio
* O plantão pediátrico é de 19h de segunda até as 19h de quinta. Está aberto o processo de seleção para contratação
de mais um pediatra.
Informações: 2334-7830 / 2234-7832 / 2234-7834.
Equipe da UPA Maré
Equipe Social da Redes da Maré[email protected]
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Reação pela paz surte resultadoDepois da chacina, moradores vão às ruas pedir paz e iniciam diálogo com a polícia,
enquanto familiares das vítimas buscam justiça
A operação truculenta do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope), na Maré, que resultou na morte de 10 pessoas, além de feridos, na noite de 24 para 25 de junho, desencadeou a reação dos moradores, que foram às ruas protestar e pedir paz. Presidentes das associações de moradores e representantes de instituições locais conseguiram iniciar um diálogo com o Bope e com o Comando de Operações Especiais da PM. Parentes das vítimas, desta vez, estão buscando justiça e já foram prestar depoimento na Delegacia de Homicídios. Em diversas ocasiões, brasileiros de diferentes partes do país prestaram solidariedade aos moradores da Maré, que também contaram com o apoio da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Assembleia Legislativa (Alerj).
A noite de terror incluiu dezenas de invasões a casa de moradores e deixou ruas às escuras porque tiros foram disparados em transformadores. “A morte de um policial gerou uma chacina aqui. Mas não é só a morte de pessoas. É o descaso, a forma de tratar o morador, são os palavrões gritados aqui. A violência mais evidente acaba sendo a morte, mas a violência que acontece aqui dentro é generalizada, é psicológica, é o medo que marca pra vida toda. Marca na alma, mais do que fisicamente”, ressalta Bira Carvalho, fotógrafo, morador da Nova Holanda, comunidade que mais sofreu com a ação.
A operação teve início na noite de segunda-feira, dia 24, após um grupo ter efetuado furtos na Avenida Brasil, ao final de uma manifestação em Bonsucesso. A versão oficial fala em arrastão na avenida, mas não apresenta nenhuma pessoa presa responsável pelos furtos. Após os roubos, o grupo teria corrido para dentro da Maré, pela Rua Teixeira Ribeiro, no Parque Maré, um dos acessos mais movimentados da favela. A partir dali, o Bope entrou atirando na Teixeira, segundo testemunhas, dando
início a uma das mais truculentas ações do Estado na Maré. Logo no início da operação, um sargento do Bope, Ednelson dos Santos, foi baleado e morto. A partir daí o que os moradores presenciaram foi uma verdadeira caçada em busca de vingança.
Houve tiros durante toda a noite. Na manhã de terça, dia 25, o Bope continuava na favela. Os corpos, com exceção de um, eram levados pelos próprios policiais e houve relatos de mortos a facadas, supostamente para evitar barulho de tiro, tendo em vista a presença da imprensa na favela quando o dia clareou. Como o Bope levou os corpos – inclusive embrulhado em saco preto segundo testemunhas –, não há certeza sequer do número exato de vítimas.
Reação dos moradoresA ação evidenciou o que uma enorme faixa já anunciava dias antes no centro da cidade, nas manifestações que se generalizaram ao longo do mês de junho: ”A polícia que reprime na avenida é a mesma que mata na favela”. No centro do Rio, a repressão era com balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Na favela, balas de fuzil e outras armas de grosso calibre. E foi exatamente o que aconteceu na noite de 24 para 25 na Maré. A diferença de tratamento deixou indignados moradores locais e de várias partes do Brasil e do mundo, pois a imprensa internacional também divulgou o assunto.
Na Maré, a população foi guerreira. Na terça (25/06), todos temiam que o Bope permanecesse aqui por mais uma noite. Instituições locais decidiram marcar uma manifestação para as 15h. O objetivo era conseguir a imediata retirada do Bope. Cerca de 500 moradores caminharam do Parque Maré até o Parque União, gritando
palavras de ordem contra a ação policial. Abrindo o protesto estava a faixa: “A polícia que reprime na avenida é a mesma que mata na favela”, que foi trazida para cá por moradores.
Um dos momentos mais emocionantes foi quando a população parou a alguns metros do carro blindado da polícia, estacionado na Rua Principal, e berrou: “Não, não, não! Não queremos caveirão!” e “Fora caveirão!”. O blindado acabou saindo e o grupo, então, extravasou: “Ão, ão, ão! Expulsamos o caveirão”. Os manifestantes seguiram de volta para a Rua Teixeira Ribeiro, próximo da Av. Brasil, onde havia um enorme grupo de policiais e vários blindados. Houve negociação e finalmente a notícia de que não haveria mais ação policial naquela noite.
“A polícia não pode ser uma polícia que mata. A polícia tem que garantir segurança para as pessoas, investigar crimes. Uma polícia que pega uma pessoa cometendo ato ilícito, ela mesma julga essa pessoa e a condena à morte, é inaceitável”, afirma Eliana Sousa Silva, diretora da Redes da Maré.
No dia seguinte (26/06), os presidentes das Associa-ções de Moradores das comunidades da Maré e re-presentantes de instituições locais, como os postos de saúde, o Uerê, a Redes, Observatório e Luta pela Paz, iniciaram um diálogo com o Comando de Ope-raçõ es Especiais (COE) da PM e também com o Bope. As reuniões continuam ocorren-do semanalmente. Entre as reivindicações estavam a apuração dos excessos cometidos
“A polícia tem que garantir segurança para as pessoas,
investigar crimes. Uma polícia que pega uma pessoa
cometendo ato ilícito, ela mesma julga essa pessoa e a condena à morte, é
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Bhega, morador e músico, canta no ato pela paz, na Av. Brasil
Caminhada dos moradores no dia 25, que expulsou o blindado
Claudio Duarte Rodrigues, morador baleado no Parque União: Bope entrou atirando
Cartazes no ato ecumênico lembram os nomes das vítimas
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Fuzil: no centro da cidade não,mas na favela sim?!
Por Eliana Sousa Silva - Diretora da Redes da Maré e da Divisão de Integração Universidade Comunidade PR-5 – UFRJ
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“Fuzil deve ser utilizado em guerra, em operações policiais em comunidades e favelas. Não é uma arma para se utilizar em área urbana”. Este comentário foi feito pelo consultor de segurança pública Rodrigo Pimentel, durante o telejornal RJ TV 1ª edição de 18 de junho. Ele foi feito de forma natural, ao analisar a imagem de um policial militar com uma metralhadora atirando para o alto, mas na direção de manifestantes que praticavam ações violentas em frente à Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Ele ressalta o despreparo do profissional da segurança pública, chamando a atenção para o fato de que “o tiro, do mesmo jeito que vai para o alto, desce e pode atingir de maneira letal qualquer pessoa.”
A observação do atual comentarista da área da segurança pública da Rede Globo demonstra o pensamento de parte significativa da nossa sociedade, com ênfase para os governantes, sobre como as políticas públicas são idealizadas e efetivadas a partir de uma visão hierarquizada da cidade e dos cidadãos. No caso da reportagem, a afirmação de que a metralhadora não poderia ser utilizada numa cena urbana de protestos, mas na favela ou em situação de guerra sim, ilustra como o valor a vida na nossa cidade vai depender do território ou das pessoas das quais estamos falando. Afinal, o que define a diferença fundamental para o uso do fuzil, quando estamos falando de cidadãos da mesma cidade? E, ressalte-se, no caso das favelas, temos cidadãos que não têm garantido o direito elementar no campo de segurança pública.
É triste precisar afirmar algo tão óbvio: que não se justifica em passeatas ou nas favelas a utilização de armas pesadas, tampouco as violências policiais características das últimas manifestações pelo país afora, e historicamente nas favelas.
Rodrigo Pimentel entrou aos 18 anos para a Polícia Militar do Rio de Janeiro. Trabalhou como capitão do Bope, durante 5 anos e ganhou notoriedade pela participação no documentário “Notícias de uma Guerra Particular” e outros filmes vinculados à favela e aos grupos criminosos. Deixou a polícia para se dedicar ao trabalho profissional de analista de segurança pública.
O que estarrece é o fato de serem as opiniões e análises desse profissional consideradas um bom parâmetro para se entender o que acontece na segurança pública do Rio de Janeiro. É a partir de visões como a apresentada por Rodrigo Pimentel que se sedimentam juízos perversos e estereotipados sobre as favelas e quem ali reside.
Quando realizei pesquisa de doutorado em 2009 no campo da segurança pública, tive como motivação entender as práticas dos policiais militares nas favelas, especificamente na Maré. As questões ali propostas, e várias ainda me acompanham, se relacionam de maneira direta com a fala do citado comentarista.
O meu intuito e desejo como alguém que cresceu e se socializou na favela era o
de construir um quadro interpretativo das práticas cotidianas presentes na Maré, em especial as violentas, que permitisse ir além das representações hegemônicas no mundo social carioca e brasileiro sobre a violência estabelecida nas favelas do Rio de Janeiro. Dessas, duas estão diretamente relacionadas com a fala de Pimentel: “Quais seriam as representações, valores, princípios e regras que têm orientado as práticas dos profissionais da segurança pública, quando se trata do trabalho junto às populações mais pobres da cidade do Rio de Janeiro?” e “As experiências e representações dominantes nas organizações do Estado, na mídia, na população em geral, estão centradas na idéia de que a única possibilidade de enfrentamento dos grupos criminosos passa, necessariamente, por uma opção sustentada em práticas também violentas?”
A fala daquele comentarista é simplesmente a expressão de uma lógica perversa, violenta e irracional disseminada na sociedade e nas forças do Estado, que enxergam a sociedade civil e as populações das favelas como “problemas” a serem eliminados e não como sujeitos de direitos que devem ser reconhecidos e respeitados.
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União. Organizado por um coletivo de 26 instituições, o ato aconteceu na Av. Brasil, na altura da Passarela 9, e fechou a pista lateral de subida por cerca de uma hora. Tudo transcorreu na paz.
O casal Dilson e Lenice, moradores da Nova Holanda, fez questão de comparecer e ainda levou a filha de 8 anos. “Fui reivindicar nossos direitos. Não adianta ficar dentro de casa, achando que as outras pessoas vão fazer isso por nós”, ressalta ela. O marido acrescenta que o momento é de união para que no futuro essas arbitrariedades do Estado não aconteçam mais com os seus filhos. “Temos que lutar pelos nossos direitos”, aconselha ele.
Para a presidente da Associação de Moradores da Nova Holanda, Andrea de Matos, “a Maré mostrou que deseja respeito, paz e mais oportunidades para todos os seus cidadãos”.
durante a operação e a exigência de que a polícia não mais atue na favela de um jeito diferente do que faz em outras partes da cidade, como o centro e a zona sul.
Ato pela paz na Av. BrasilUma semana depois da chacina, na terça, dia 2 de julho, cerca de 5.500 pessoas participaram de outro momento histórico. O ato ecumênico “Estado que Mata, Nunca Mais” em memória aos mortos reuniu moradores e tam bém pessoas de outras partes da cidade, como estudantes universitários, funcionários da Fiocruz e artistas, entre eles os atores Paulo Betti e Enrique Diaz, MC Leonardo, rapper Fiell e o cantor Bhega, morador do Parque
Ademir da Silva Lima, de 29 anos, André Gomes de Souza Júnior, de 16 anos,
Carlos Eduardo Silva Pinto, de 23 anos,
Em memória de:
“Foi de manhã que entraram na minha casa, às 8 h. Tiraram meu filho da cama. Meu filho tem problema psiquiátrico e estava dormindo. Aí ele (policial) disse: “Isso é vagabundo’. E começou a gritar: ‘Cadê o laudo dessa porra?’. Eu disse
a ele: ‘Vocês estão fazendo o papel de vocês, mas tem que ser dentro da lei. Invadiram a minha casa, sem mandado,
sem nada, nenhuma denúncia’. Bagunçaram tudo. Mandaram acordar todo mundo, mas não levaram nada. Sei que teve
casa que levaram R$ 300. Ninguém dormiu aqui a noite toda, às 5h da manhã ainda estavam dando tiro.”
Moradora que teve a casa invadida
“Por volta das onze e meia da noite, Eraldo foi atingido por uma bala no rosto. Apenas esse tiro pegou dentro do bar; pra mim não foi bala perdida. O caveirão passou duas vezes pelo corpo caído na porta do bar, na terceira vez os policiais pararam o caveirão, saíram do blindado e mandaram as pessoas que estavam no bar ir para dentro de um banheiro. Tinha também uma grávida. Os policiais chutavam
as mesas e cadeiras e xingavam as pessoas o tempo todo. Mandaram apagar as luzes e diziam: ‘Olha a merda que a gente fez’. Os policiais ainda fizeram terror psicológico em um outro funcionário, dizendo que a culpa da morte do amigo era dele. Com Eraldo, havia
anéis, cordão e uma carteira com documentos e dinheiro. Pegaram o corpo do Eraldo, colocaram um pano na cabeça, colocaram dentro do caveirão e saíram. Depois, apenas a carteira, sem dinheiro, foi encontrada. Além disso, os policiais recolheram várias cápsulas na rua
e também a cápsula que atingiu a vítima.”Testemunha da morte de Eraldo, garçom atingido dentro do bar onde trabalhava no Parque União
“Ouvi os gritos e depois só os gemidos. Não podíamos colocar a cabeça na janela para olhar o que estava acontecendo, se não eles matavam a gente. Não podíamos nem andar dentro de casa, tive de andar de quatro até o banheiro porque tive diarreia de nervoso. Foi uma
madrugada de horror. Acho difícil alguém da Rua São Jorge ter conseguido dormir naquela noite.”Moradora da Rua São Jorge, no Parque Maré, onde três pessoas foram mortas numa mesma casa, segundo a perícia,
e os corpos retirados do local pelo Bope
“Quando chegaram lá em cima, falaram pro meu filho e pro meu genro: ‘Se eu achar qualquer coisa, eu vou matar vocês’. Quando
desceram, me mandaram fechar a porta. Eu ri e perguntei: ‘Que porta eu vou fechar? Eu sou assalariada, como eu vou fazer com a porta?’ Ele tirou R$ 180 e me deu. Mas a porta nova foi R$ 380. Os policiais
entraram no início da madrugada e ficaram até o dia amanhecer. Mas não vou dar queixa na delegacia, sabe por quê? Conforme
eles puxavam a arma, eles batiam foto dos meninos daqui de casa. Tiraram fotos da gente. Então, eu vou denunciar pra quê?”
Morador que teve a porta arrombada e a casa invadida por cerca de 15 policiais que usaram a sua laje como base durante a operação
Moradores relatam como foi a noite dos crimes
Ednelson dos Santos, de 42 anos, Eraldo Santos da Silva, de 35 anos,Fabrício Souza Gomes, de 26 anos, Jonatha Farias da Silva, de 16 anos
José Everton Silva de Oliveira, de 21 anos,Renato Alexandre Mello da Silva, de 39 anos,
Roberto Alves Rodrigues.
“Fui reivindicar nossos direitos. Não adianta ficar dentro de casa, achando que as outras pessoas vão fazer isso por nós“
Lenice, moradora da Nova Holanda que foi ao ato com o marido e a filha de 8 anos
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Apesar dos dizeres do cartaz, instituições da Maré iniciaram diálogo com a polícia pedindo o fim das operações truculentas
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Vai correndo tudo bemNeste mês de julho, a equipe de corrida Maré Esporte completa dois anos. Eles tinham apenas vontade de correr e hoje contam com a estrutura e a
parceria da Vila Olímpica da Maré
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Rosilene Miliotti
Roberta Araujo, autônoma, 31 anos e morado-ra da Nova Ho-landa, começou a correr depois que ouviu a fra-se: “Casou, teve filho e se acomodou”. Na época, ela pesava 90 kg. Tomou coragem, começou a caminhar e fazer dieta. Um dia, tentou correr e percorreu meia pista da Vila Olímpica da Maré (VOM). No dia seguin-te, conseguiu um pouco mais, começou a fazer amizade com os outros corredores e passou a correr três vezes ao dia. “Cheguei a pesar 56 kg, mas fiquei muito magra. Em 2011, completei minha primeira maratona (42 km) em 5 horas. Uma vitória”, afirma a corredora, que hoje pesa 62 kg e é atleta do Maré Esporte. Os 38 atletas do Maré Esporte, grupo que existe há três anos, participam de maratonas pela cidade e até da São Silvestre, em São Paulo, uma das corridas mais famosas do mundo. Fora das pistas de corrida, eles ganham a vida nas mais diferentes profissões: enfermeiro, camelô, agente
Antonio, correndo na Praia de Inhaúma em 1981. Ao fundo, onde estão as árvores,é o local onde foi construída a Vila do Pinheiro
Antonio, na corrida da ponte, em 1983penitenciário, aposentado, mecânico, estofador, diarista, entre outros.
Eles correm pelo menos duas horas por dia. E quando um atleta não aparece, os outros ficam preocupados. Os treinos acontecem às terças e quintas na piscina e quartas e sextas na pista de corrida. Segunda é dia de descanso, mas nos fins de semana eles participam de competições e, só para não enferrujar, correm cerca de 15 km.
A equipe foi bati-zada com o nome Maré Esporte, no Aterro do Fla-mengo, após uma corrida. “Nos co-nhecemos pelas competições, cor-rendo na Maré e na Cidade Universitária ao longo de vários anos”, explica William Mendes de Oliveira, 36 anos, guarda municipal e morador da Vila do Pinheiro.
Equipe faz sucessoPara William, a Maré ainda é conhecida como um lugar violento e de pobreza. “Um dos objetivos da equipe é mostrar que a Maré é muito mais do que violência. Em todas as competições nós somos aplaudidos e convidados a participar sempre”, diz William, que aproveita para reivindicar mais
investimento do poder público na comunidade. “A rede de esgoto está defasada e os jovens não tem escola técnica aqui”, afirma.
Antonio Alves da Silva Filho, 62 anos, compete na categoria 60 a 64 anos e este ano vai participar pela 30ª vez de uma maratona. Ele já participou de competições na Favela do Pinto (comunidade situada no Leblon, destruída pelo gover-no nos anos 1960); na primeira corrida da Ponte, em 1983; e na meia maratona na Barra, em 1982, quan-do ainda nem tinha ci-clovia.
“Fui atleta da Marinha, morava na Baixa do Sapateiro e treinava muito no Fundão. Na época, essa área não era aterrada. Antes da Vila Olímpica tinha uma ciclovia aqui. Aí fomos conhecendo as pessoas que iam para competições e formando equipes. Essa é a terceira equipe de corrida formada na Maré”, conta o veterano.
Antonio participa de competições na categoria Master e já ganhou várias corridas. No geral, sempre chega entre os 50 primeiros de sua categoria. Ele lembra que, há muitos anos, os moradores da Maré já realizaram um evento de corrida na comunidade e que até hoje as pessoas perguntam se vai ter novamente.
Para participar de competições e viajar, os atletas contam com recursos próprios, não há patrocínio. Em algumas competições conseguem isenção.
Correndo 24hPaulo José da Silva, 46 anos, começou a cor-rer em 2005, e reconhece que a primeira corri-da foi um martírio. Hoje, diz que não vai parar mais e que começa a gostar da corrida só após percorrer 15 km. Hoje ele está se preparando para a Maratona 24h. “Já participei desta com-
petição em 2011 (quando fez 137 km num dia, parando para refeições e idas ao banheiro). O objetivo da corrida é ficar mais tempo na pista e fazer o maior percurso em 24h”, explica.
A equipe sofre com a não renovação dos atle-tas. A média de idade dos competi-dores é de 40 anos. A mais nova tem 30 anos, o mais velho tem 71 anos. Para Paulo, se a Maré tivesse uma pista
de atletismo de verdade, como possui a Vila Olímpica da Mangueira, os mais novos se interessariam pelo esporte.
Em visita à Maré, o secretário de Esportes e Lazer, Índio da Costa, foi questionado pelos maratonistas sobre a construção da pista de corrida da VOM. Segundo o grupo, o secretário explicou que seria necessário investir cerca de R$ 5 milhões para a obra e que no momento é inviável.
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Quer participar da equipe? É preciso passar por uma avaliação
médica. Em seguida, procure a
coordenadoria de atletismo da Vila
Olímpica da Maré de terça a sexta-feira, das 9h às 16h.
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Dia 18 de julho, das 10h às 15h, tem “festa julina” do Centro de Referência de Mulheres da Maré – Carminha Rosa (CRMM), com comidas típicas, brincadeiras, danças e oficina de grafite. Na Rua 17, s/nº, Vila do João.
R. Ivanildo Alves, s/n - Nova Maré Tels.: 3105-6815 / [email protected] FACE: Lona da Maré Twitter: @lonadamare
PROGRAME-SE!
Oficinas com inscrições abertas
Veja a programação completaem www.redesdamare.org.br
Herbert ViannaLona cultural
entrada gratuita
Roda de Samba Sábado, 13/07, 18h Com o Grupo Nova Raiz
Desenho BásicoA partir de 10 anos2as, de 10 às 12hProf.: Jandir Leite
Artesanato(Módulo I: Fuxico)
A partir de 12 anos2as, de 8h às 10hProf.: Jandir Leite
Oficina de MC’sA partir de 12 anos
2as e 4as, de 15 às 17hProf.: Succo Emici
Dança de salãoA partir de 16 anos
Sáb., 18 às 20hProf.: Roberto Queiróz
Gastronomia e GêneroA partir de 16 anos3as, de 14 às 16h -
4as, de 9h às 12h ou de 13 às 16hProf.: Marianna Aleixo
Maré de HumorSexta, 19/07, 21h
Com Diogo Santos, apresentando personagens
do cotidiano da Maré
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oficinas regularesR. Bitencourt Sampaio, 181 Nova Holanda Programação no local ou pelo tel. 3105-7265
O CAM e a Escola Livre de Dança da Maré retomam as atividades
regulares no dia 5 de agosto. Em julho haverá somente a oficina do Maré de Fronteiras e o Teatro em
Comunidades.
Andrea’s Vintage, cover de Iron Maiden
Banda Alogia
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Favela RockSexta, 26/07, 21h
Com as bandas Alogia e Andrea’s Vintage Olha a chuvaaaa!Por toda a Maré, nas ruas, becos e vielas ocorrem festas juninas. O ensaio fotográfico aqui apresentado, de autoria de Francisco Valdean, mostra festas ocorridas na Baixa
do Sapateiro e no Morro do Timbau
Grupo Forrobodó em apresentação na festa do Morro do Timbau
Grupo Ração Junina em apresentação no
Morro do Timbau, onde a festa foi organizada
por comerciantes locais, com apoio da associação de
Moradores da Baixa do Sapateiro
Grupo Chico Halley em apresentação na Baixa do Sapateiro, onde a festa também foi organizada por comerciantes locais com o Apoio da Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro
Grupo Isto é Show se apresenta
na Baixa do Sapateiro
Francisco Valdean
PÁGINA 16 Imagens do Ato em Memória aos Mortos
na Maré, que reuniu mais de 5 mil pessoas.
Fotos: Elisângela Leite
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