mapeamento participativo e gestÃo do territÓrio...
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MAPEAMENTO PARTICIPATIVO E GESTÃO DO TERRITÓRIO DA
COMUNIDADE INDÍGENA ILHA
Ordenamiento Territorial, Políticas Públicas Y DesarrolloSostenible
Vanessa Sousa Morais
Universidade Federal de Roraima
Dra. Maria Bárbara de Magalhães Bethonico
Dr. Maxim Repetto
O programa de extensão/PROEXT “Realidades indígenas em Roraima: extensão
universitária e construção participativa de propostas de gestão territorial”, realizou nos
últimos dois anos levantamentos junto aos moradores de uma comunidade que
enfrentou a situação excepcional de enchentes em seus rios. Na comunidade indígena da
Ilha, localizada na Terra Indigena São Marcos/RR/Brasil, onde predomina a etnia
macuxi, a enchente do rio Uraricoera atingiu os moradores de suas margens, causando
problemas como a morte de animais de criação, perdas da plantações e mudança de
famílias para áreas mais elevadas. Diante dessa situação a comunidade convidou um
grupo de professores do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena da
Universidade Federal de Roraima para colaborar na compreensão do fenômenos
climáticos e a ação do ser humano no meio ambiente e vice-versa, apoiando as vítimas
da enchente. O projeto envolve várias etapas como a construção participativa na
elaboração de um etnomapa, quando algumas atividades são espacializadas, permitindo
compreender como a comunidade se organiza em seu espaço geográfico. O etnomapa é
uma ferramenta facilitadora entre os conhecimentos dos povos indígenas, e pode ajudar
a garantir o conhecimento, a posse e o uso do território. O ponto central é a visão de
gestão do território. Manejar os recursos naturais conforme a natureza permite. O
objetivo do artigo é registrar a participação de bolsistas indígenas em ações de extensão
universitária nos momentos em que se propõe analisar a organização espacial da
comunidade da Ilha, com base na participação e confecção de um mapa, permitindo
compreender as relações que a comunidade estabelece com o meio ambiente e com as
demais comunidades no seu entorno, como Campo Alegre, além de permitir análises
sobre as redes que se formam a partir das estradas e do acesso pela balsa do Passarão.A
partir da base cartográfica da Fundação Nacional do Índio, iniciou-se o registro quando
foram usados na metodologia instrumentos como, coleta de dados para construção do
etnomapa, passando pelo procedimento de registro, diálogo e o traçado detalhado, em
uma ação em que os colaboradores são os moradores da própria comunidade, sendo
posto em detalhes as áreas mais utilizadas.O presente trabalho vem apresentar os
resultados parciais, através da construção de um Calendário Cultural. Enquanto bolsista
e aluna indigena da universidade Federal de Roraima/UFRR, além de moradora da
comunidade, tive como oportunidade de participar da construção do etnomapa, visando
transformar a experiência e conhecimentos coletados durante as oficinas em uma base
da aprendizagem colaborativa.
Palavras-chave: Comunidade indígena, etnomapa, gestão do território, Roraima.
INTRODUÇÃO
O presente projeto é parte de desenvolvimentos, ideias, ações de ensino, pesquisas e
extensão universitária na terra indígena são marcos, comunidade indígena Ilha,
juntamente com seus membros, professores do curso de licenciatura intercultural e
gestão territorial indígena do instituto Insikiran. Devido há alguns contatos anteriores
com a comunidade Ilha, surgiu a ideia de fazer atividade de apoio às vítimas da
enchente do rio Uraricoera que ocorreu em 2011, ediante dessa situação a comunidade
convidou um grupo de professores do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena
da Universidade Federal de Roraima para colaborar na compreensão do fenômenos
climáticos e a ação do ser humano no meio ambiente e vice-versa, apoiando as vítimas
da enchente, assim foi desenvolvida oficinas, produzindo um mapa participativo para
gestão do território dentro da comunidade indígena, com metodologias participativas e
diagnóstico da comunidade e da terra indígena, o projeto envolve várias etapas como a
construção participativa na elaboração de um etnomapa, quando algumas atividades são
espacializadas, permitindo compreender como a comunidade se organiza em seu espaço
geográfico.
O projeto busca construir propostas com objetivo que estão voltados principalmente as
necessidades daárea geográfica que estuda a relação entre os seres humanos e o
ambiente em que vivem. Estuda também o uso que o homem faz do meio físico, que
busca alternativa de uso de recursos naturais e a gestão da ação humana sobre a
natureza.
LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ÁREA MAPEADA
A comunidade indígena Ilha está localizada, na região baixo São Marcos, entre as
comunidade indígenas Campo Alegre e Vista Nova. A distância do município de Boa
Vista-RR, para a comunidade e de 60 km, passando a Vila do Passarão, ao chegar o
acesso se dá por via fluvial, no rio Uraricoera, atravessando a balsa, prossegue em
estrada não pavimentada por, aproximadamente, três quilômetros, até a comunidade
Ilha.
A comunidade, tem 184 moradores, e 42 famílias, sua população é constituída por uma
etnia, Macuxi (tronco linguístico caribe), com os falantes das línguas tradicionais
restrito apenas as pessoas mais velhas como os fundadores da própria comunidade Sr.ª
Tarcila Viana e Sr° André Morais, e suas filhas Belinha e Cideca.
A região e de lavrado, tem o clima do tipo quente úmido com temperatura média
sazonais de 25°c no período de chuva (maio a setembro) e 28°c no período seco
(outubro a abril). A precipitação média anual é entorno de 1.650mm. A região é
predominante de áreas abertas constituídas por vários elementos peculiares, tanto no que
se refere à fauna, flora, hidrologia, geologia, etc. como a população humana que habita
a região (Maxim Repetto 2011). O mês de verão e o mês da ventania da naquela região.
A comunidade indígena da Ilha está localizada na região sul da Terra Indígena São
Marcos, as construções centrais, como a escola municipal indígena Albino Morais,
moradores, igrejas, curral, cozinha da comunidade, chafariz, malocão e posto de saúde
encontram-se na parte mais elevada do terreno, mas quatro famílias que habitam as
margens do rio Uraricoera onde desenvolvem suas criações e plantações.
Fonte ISA, adaptado PDPI-APIRR- Maxim Repetto (2003)
CONSTRUÇÃO DO ETNOMAPA
O etnomapa é uma ferramenta facilitadora entre os conhecimentos dos povos
indígenas, e pode ajudar a garantir o conhecimento, a posse e o uso do território, A
partir da construção de propostas que obtiveram às necessidades ambientais e culturais
da própria comunidade indígena, busca-se pensar alternativas de uso dos recursos
naturais e uma gestão do território consciente sobre a natureza, definindo perspectivas e
estratégias acerca da educação ambiental.
Para contribuir na informação e localizações das áreas a ser posta no etnomapa,
tivemos como participante os moradores da comunidade Ilha como, crianças, jovens,
Localização da comunidade indígena ilha.
Localização da comunidade indígena ilha.
anciões, professores da escola municipal da comunidade, acadêmicos, bolsista e
professores da Universidade Federal, a participação dos moradores e muito importante
isso faz que eles venha obter a visão da gestão do território.
Todas essas atividades colaboraram na autonomia das decisões sobre o seu
próprio território e estimulando o exercício da cidadania, como seres participantes,
ativos e transformadores numa visão crítica para um mundo melhor. Esclarecendo
assim, todos os fatores existentes da realidade onde vivem, que através da construção do
etnomapa, poderão contribuir como participantes e construtores na melhoria de suas
atividades diversas de seu território.
Na construção do etnomapa os moradores acharam importante destacaralgumas
construções centrais como:
Escola municipal indígena Albino Morais
Casas dos moradores
As duas igrejas evangélicas,
Curral para o gado bovino,
Cozinha da comunidade (em construção),
Chafariz para distribuição de agua encanada (FUNASA),
Malocão para reuniões e ventos comunitários e um posto de saúde.
Áreas de pasto dos gados da comunidade.
Estradas antigas e novas.
Os igarapés, lagos, rios,
Área de plantações para roças e melancia.
Todas localizadas na parte mais elevada do terreno; temos, também mais quatro famílias
que habitam as margens do rio Uraricoera, onde desenvolvem suas criações e
plantações.
Foi possível perceber a riqueza da vida ali desenvolvida, onde ocorrem atividades
coletivas e individuais. Entre as atividades destacadas no calendário temos a ferra do
gado, o cultivo da melancia e a pesca, sendo desenvolvidas por particulares ou de forma
coletiva, como é o caso da preparação das roças de melancia que envolvem um grupo de
pessoas que compartilham as tarefas no formato de rodízio entre os moradores que
praticam essa atividade.
Mapa produzido pela comunidade e professores da universidade Federal de Roraima
Dra. Maria Bárbara de Magalhães Bethonico e Dr. Maxim Repetto (foto: arquivo do
projeto).
Criança da comunidade Ilha participando da oficinas na construção do etnomapa.
Professor e Dr. Maxim Repetto ministrando a aula aos moradores e moradoras Altina,
Betty, Zeita, Antônia, Luzirene, Belizio, Everton e Luana, tuxaua Alvino da comunidade
Ilha.
FUNDAMENTACAO TEORICA
O CRESCIMENTO POPULACIONAL CAUSA A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL
Crescimento da população indígena e a questão das terras no estado de
Roraima/Brasil.(p.5)
Conforme demonstram os dados, a população indígena brasileira e, também, a de
Roraima vem crescendo nas últimas décadas. (BETHONICO; SILVA, 2013).
TABELA
População auto declarada brasileira 1991-2010
Região 1991 % 2000 % 2010 %
Brasil 294.131 100 734.127 100 817.963 100
Norte 124.615 42,4 213.443 29,1 305.873 37,4
Nordeste 55.853 19,0 170.389 23,2 208.691 25,5
Sudeste 30.589 10,4 161.189 22,0 97.960 12,0
Sul 30.334 10,3 84.747 11,5 74.945 9,2
Centro
Oeste
52.740 17,9 104.360 14,2 130.494 16,0
Fonte IBGE- Censo Demográfico 1991, 2000, 2010.
Devido ao crescimento da população, conforme a tabela nos mostra, esse aumento de
pessoas, faz com que as comunidades venham ser afetadas, trazendo assim a degradação
ambiental. A comunidade da Ilha também tem servido como exemplo nesse
crescimento, não somente a comunidade, como toda a região norte teve um aumento da
população.
Todo esse crescimento houve, devido às migrações. Conforme as análises do IBGE.
O texto aborda:
Projetos de assentamento rurais, implantados pelo governo federal, também
contribuíram para as modificações das paisagens e pressão sobre espaços indígenas, não
apenas na delimitação das áreas de sua instalação, mas pela construção de vias de
diversos atores sociais e políticos, direcionar ações para a garantia da terra, mesmo com
o reconhecimento do direito a terra desde o período colonial até as constituições
brasileiras, como a de 1934, mais recentemente, a de 1988, definidas no art.231.
Dra. Maria Bárbara de Magalhães Bethonico e Sr. Pedro morador da comunidade Ilha.
O calendário cultural se apresenta como uma forma de sistematizar as atividades
desenvolvidas na comunidade e pode ser utilizado como referência para os moradores,
além de registrar o cotidiano da comunidade, vendo os tempo de pesca, de plantação, de
caçar, dos climas e estações do ano em relação aos peixes, fazendo com que a
comunidade conheça a própria natureza, relacionando com os assuntos do dia a dia,
contribuindo na melhor compreensão do que está acontecendo e preparar as gerações
futuras para uma relação cada vez mais harmoniosa com o meio ambiente.
Professor e Dr. Maxim Repetto ministrando a aula aos moradores e moradoras Altina,
Betty, Zeita, Antônia, Luzirene, Belizio, Everton e Luana, tuxaua Alvino da comunidade
Ilha.
A PARTICIPAÇÃO COMO BOLSISTA NA CONSTRUÇÃO DO ETNOMAPA
Os bolsistas do programa extensão “realidades indígenas em Roraima: extensão
universitária e construção participativa de propostas de gestão territorial”, tiveram a
oportunidade de participar na construção de debate, além de obter aprendizado na
construção do etnomapa e da gestão do território, oportunizando conhecer à história da
comunidade e assim servir de exemplo para os estudos e pesquisa de seus trabalhos de
Conclusão de Curso. Vale salientar que uma das bolsistas e moradora da comunidade
Ilha, teve oportunidade de escutar histórias que jamais tinha ouvido.
Assim o objetivo das bolsistas foi transformar a experiência e conhecimentos
coletados durante as oficinas em uma base da aprendizagem colaborativa. A qual
envolveu variados pontos de enunciação, de interação e troca de conhecimentos, entre
os alunos indígenas da universidade e os moradores da comunidade, entre professores
universitários não indígenas e comunidade. Assim houve um esforço coletivo de debate,
estudo e compreensão da realidade e dos conhecimentos ali acumulados para elaborar o
etnomapa, tendo oportunidade de colocar em prática as aprendizagens teóricas da sala
de aula.
CONCLUSÃO
Conclui-se que, devido a desestrutura da Comunidade da Ilha em frente as situações
problemáticas de sua área geográfica e situações climáticas enfrentada como enchentes,
acredita-se que com a implantação do Projeto que pretende atender a essas dificuldades,
foi construído um etnomapa geográfico na intenção de ajudar ou esclarecer a
comunidadefatos como questõesambientais para facilitar assim, a administração do seu
próprio território, na comunidade da Ilha.
BIBLIOGRAFIA
BETHONICO, M. B. M; SILVA, C. C. Crescimento da população indígena e a questão
das terras no estado de Roraima/Brasil. XIII Encontro de Geógrafos da América Latina,
2013, Lima-Peru.
CARVALHO, F.; REPETTO, M.; ALMEIDA, F. C.; MARIA, I. F.; MAFRA, J.
S.(Org.). História cultural e meio ambiente em Roraima: perspectivas interculturais.
Boa Vista: Editora da UFRR, 2008.
SILVA, Castro Costa; BETHONICO, M. B. M. Projeto de pesquisa: Banco de Dados:
uma ferramenta para a gestão dos territórios indígenas. Boa Vista: Instituito
Insikiran/UFRR, 2014.
ANEXOS
Igreja da comunidade ilha se encontra localizada no etnomapa (foto: por Vanessa).
No mapa foi localizada a cozinha (Foto: por Vanessa).
Posto de saúde e o malocão da comunidade Ilha, estas construções se encontra no
etnomapa (foto: por Vanessa).
Esta balsa e uns dos transporte via fluvial que se dá acesso da comunidade a cidade
(foto: por Vanessa).
Este e o registro da enchentes de 2011, que afetou a vila do Passarão e a comunidade
Ilha do outro lado (Foto: por Vanessa).