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SAMANTHA DO PRADO SOBRAL MANIFESTAÇÕES BUCAIS EM PACIENTES COM SÍNDROME DE KABUKI BRASÍLIA 2010

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  • SAMANTHA DO PRADO SOBRAL

    MANIFESTAES BUCAIS EM PACIENTES COM SNDROME DE KABUKI

    BRASLIA 2010

  • UNIVERSIDADE DE BRASLIA FACULDADE DE CINCIAS DA SADE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA SADE

    SAMANTHA DO PRADO SOBRAL

    MANIFESTAES BUCAIS EM PACIENTES COM SNDROME DE KABUKI

    Dissertao de mestrado apresentada como requisito parcial para obteno do ttulo de mestre em Cincias da Sade ao Programa de ps-graduao em Cincias da Sade da Universidade de Braslia.

    Orientadora: PROF.DR. Heliana Dantas Mestrinho

    BRASLIA 2010

  • Dedico este trabalho s pessoas imprescindveis na minha vida:

    Meu esposo, Vincius, meu companheiro de todas as horas, grande incentivador e colaborador;

    Meu pai, Vander, meu exemplo de f, de carter, perseverana e de luta por um mundo melhor;

    Minha me, Yonnie, que mesmo h quase dez anos na vida eterna, ainda minha maior inspirao;

    Meu irmo, Rogerio, sempre presente, dando timos conselhos;

    Minha cunhada, Cnthya, e minha afilhada, Mariana, sempre trazendo alegria minha vida.

  • Agradecimentos

    Deus, pois sem Ele nada sou.

    Ao Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade, Faculdade de

    Cincias da Sade, Universidade de Braslia.

    Aos Pacientes Portadores de Sndrome de Kabuki e suas famlias, pela

    confiana, pela participao e pela amizade que nasceu.

    Prof. Dr. Llian Marly de Paula, pelo apoio, conselhos e colaborao.

    Prof. Dr. Mara Santos Crdoba, pela contribuio, conhecimentos e por

    sua participao na Banca Examinadora.

    Ao Prof. Dr. Jorge Lus Lopes de Zeredo, pela disponibilidade e pela

    participao na Banca Examinadora.

    Aos Profs. Drs. Andr Ferreira Leite e Paulo Tadeu Souza Figueiredo por

    toda ajuda, conselhos, amizade e disponibilidade, contribuindo imensamente

    para a elaborao deste trabalho.

    Equipe de Mdicos (as) e Funcionrios do Ambulatrio e Laboratrio de

    Gentica Clnica do HUB, especialmente, Dra. ris Ferrari e ao Raony, pela

    ateno, disponibilidade e profissionalismo.

  • Aos colegas e amigos da Escola Nacional de Administrao Pblica ENAP,

    especialmente Chrystini, Cleusa e Cinara, pela compreenso e apoio

    constantes para a realizao deste trabalho.

    Ao estatstico Prof. Eduardo Freitas, pela colaborao na anlise estatstica.

    Aos Servidores da Diviso de Odontologia do HUB, que contriburam de

    maneira fundamental na conduo dos atendimentos odontolgicos.

    Aos Colegas do Projeto de Extenso para Atendimento de Pacientes

    Portadores de Anomalias Dentrias do HUB, pelo apoio e amizade sempre

    constantes.

    Ao meu irmo, Rogerio, pelas oraes, pelo amor verdadeiro e por me escutar

    e sua esposa, Cnthya, pelas conversas quando eu mais precisei.

    minha sobrinha e afilhada, Mariana, que est chegando j trazendo muita

    alegria minha vida.

    toda minha famlia e amigos por acreditarem em mim e pelas oraes.

  • Agradecimentos Especiais

    Ao meu esposo, Vincius Pugsley, exemplo de ser humano, pelo incentivo, pelo amor, pela compreenso e ajuda incondicionais e por trazer leveza minha vida.

    Aos meus pais, Vander e Yonnie, que me ensinaram a crer em Deus sempre e em primeiro lugar, o prazer de estudar e trabalhar e pelos eternos e bons exemplos de dedicao, honestidade, caridade e, principalmente, amor.

    Prof. Dr. Ana Carolina Acevedo-Poppe, por me ensinar o amor vida

    acadmica, investigao cientfica e por estar sempre disponvel.

    minha orientadora, Prof. Dr. Heliana Dantas Mestrinho, pela pacincia,

    pelos ensinamentos, por ser incansvel e sempre bem disposta, por acreditar

    em mim e pelo exemplo de dedicao pesquisa. Agradeo tambm a Jos

    Carlos, Marina, Luza e Heliana pela compreenso e acolhimento.

  • No devemos permitir que algum se afaste de ns sem se sentir melhor e mais feliz.

    Madre Teresa de Calcut

  • SUMRIO

    LISTA DE ILUSTRAES.................................................................................. 10

    LISTA DE TABELAS........................................................................................... 11

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS.............................................................. 12

    RESUMO.............................................................................................................. 13

    ABSTRACT.......................................................................................................... 14

    INTRODUO..................................................................................................... 15

    REVISO DA LITERATURA............................................................................... 16

    HISTRICO ........................................................................................................ 16

    PREVALNCIA.................................................................................................... 18

    DIAGNSTICO E PROGNSTICO..................................................................... 19

    ETIOLOGIA/HERANA....................................................................................... 20

    MANIFESTAES SISTMICAS........................................................................ 22

    MANIFESTAES BUCAIS................................................................................ 24

    Alteraes do Desenvolvimento Craniofacial.................................................. 25

    Alteraes do Complexo Maxilofacial............................................................. 26

    Alteraes de Nmero..................................................................................... 27

    Alteraes de Forma e Tamanho Dentrio..................................................... 28

    Alteraes do Desenvolvimento do Esmalte................................................... 31

    Alteraes do Desenvolvimento do Complexo Dentino-Pulpar...................... 32

    Alteraes na Erupo Dentria..................................................................... 33

    ndices de Prevalncia da Doena Crie em Dentes Decduos (ceod) e

    Permanentes (CPOD).......................................................................................... 34

    OBJETIVOS......................................................................................................... 36

    OBJETIVOS GERAIS........................................................................................... 36

  • OBJETIVOS ESPECFICOS................................................................................ 36

    METODOLOGIA.................................................................................................. 37

    AMOSTRA............................................................................................................ 37

    MTODO.............................................................................................................. 37

    Exame Clnico................................................................................................. 38

    Exames Complementares............................................................................... 38

    Critrios de Diagnstico das Anomalias Dentrias......................................... 39

    Anlise Estatstica........................................................................................... 44

    RESULTADOS..................................................................................................... 45

    CARACTERIZAO DA AMOSTRA................................................................... 45

    MANIFESTAES SISTMICAS....................................................................... 46

    ALTERAES CRANIOFACIAIS E MANIFESTAES BUCAIS....................... 49

    DISCUSSO........................................................................................................ 61

    CONCLUSES.................................................................................................... 69

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.................................................................... 70

    ANEXOS.............................................................................................................. 83

  • Lista de Ilustraes

    Figura 1 - Maquiagem usada no teatro japons Kabuki ..................................... 19

    Figura 2 - Distribuio de incisivos em chave de fenda nos indivduos com

    Sndrome de Kabuki estudados........................................................................... 52

    Figura 3 - Alteraes de nmero na dentio permanente dos indivduos com

    Sndrome de Kabuki estudados........................................................................... 54

    Figura 4 - Distribuio de taurodontia nos indivduos com Sndrome de Kabuki

    estudados............................................................................................................. 55

    Prancha I - Caractersticas faciais dos portadores de sndrome de Kabuki........ 48

    Prancha II - Caractersticas clnicas de indivduos examinados......................... 51

    Prancha III - Caractersticas radiogrficas dos indivduos com KS examinados 53

    Prancha IV - Caractersticas radiogrficas dos indivduos com KS examinados 56

  • Lista de tabelas

    Tabela 1 - Indivduos com KS de acordo com faixa etria e gnero.................37

    Tabela 2 - ndice DDE Simplificado Modificado................................................43

    Tabela 3 - Combinaes DDE Simplificado Modificado....................................43

    Tabela 4 - Superfcie envolvida por DDE..........................................................43

    Tabela 5 - Distribuio da amostra por gnero e idade....................................45

    Tabela 6 - Distribuio dos indivduos com sndrome de Kabuki de acordo com

    a renda familiar (em salrios-mnimos - SM).....................................................46

    Tabela 7 - Caractersticas diagnsticas da sndrome de Kabuki nos indivduos

    estudados..........................................................................................................46

    Tabela 8 - Manifestaes sistmicas da sndrome de Kabuki nos indivduos

    estudados..........................................................................................................47

    Tabela 9 - Classificao da ocluso dentria nos indivduos com sndrome de

    Kabuki estudados, de acordo com os critrios de Angle (1899)........................50

    Tabela 10 - Alteraes do desenvolvimento craniofacial e dentrio observadas

    nos indivduos com KS estudados.....................................................................59

  • Lista de Siglas e Abreviaturas

    ceod = Dentes Decduos Cariados, Extrados e Restaurados

    CEP = Comit de tica em Pesquisa

    Cl = Classe

    CPOD = Dentes Permanentes Cariados, Perdidos e Restaurados

    DDE = Defeitos de Desenvolvimento do Esmalte

    DF = Distrito Federal

    FS = Faculdade de Sade

    HUB = Hospital Universitrio de Braslia

    KS = Sndrome de Kabuki

    OMIM = Online Mendelian Inheritance in Man

    TCLE = Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    UnB = Universidade de Braslia

  • Resumo

    A Sndrome de Kabuki (KS, Sndrome da maquiagem de Kabuki, Sndrome de

    Niikawa-Kuroki) uma desordem gentica rara caracterizada por mltiplas

    anomalias congnitas e deficincia cognitiva. O diagnstico clnico e baseado

    nos achados descritos simultaneamente em estudos independentes de dois

    grupos no Japo. A amostra foi composta por 16 indivduos com KS,

    diagnosticados pelo Servio de Gentica Clnica do Hospital Universitrio de

    Braslia, Braslia, Brasil, com idades compreendidas entre oito e 24 anos de

    ambos os gneros. Cada indivduo foi submetido a exames clnico, radiogrfico

    e a fotografias intra e extrabucais. Anomalias craniofaciais e dentrias foram

    observadas em todos os indivduos examinados. Sete dos 16 indivduos tinham

    malocluso classe III de Angle, provavelmente devido recesso maxilar e

    hipoplasia do tero mdio da face. Palato profundo foi observado em doze

    indivduos e aplainamento condilar em dois pacientes. Dentre as anomalias

    dentrias a mais observada foi a anomalia de forma, principalmente incisivos

    em chave de fenda. Forma atpica da coroa de premolares e molares e

    dilacerao radicular tambm foram relatadas. Hipodontia e microdontia foram

    diagnosticados em nove e quatro indivduos, respectivamente. Opacidades

    difusas foram verificadas na dentio permanente (n=10). Grande

    heterogeneidade das manifestaes clnicas foi observada nos indivduos com

    KS examinados em concordncia com a literatura. Anomalias no descritas

    previamente foram observadas nesta amostra, tais como anomalias de forma

    de coroa dentria, anomalias de forma da raiz, aplainamento condilar e fibrose

    da rafe palatina. Mais estudos clnicos e moleculares so necessrios para

    melhor compreender as anomalias craniofaciais e dentrias descritas nesta

    sndrome.

  • Abstract

    Kabuki syndrome (KS, Kabuki make-up syndrome, Niikawa-Kuroki syndrome) is

    a rare genetic disorder characterized by multiple congenital anomalies and

    mental retardation. The diagnosis is clinical and based on the findings

    described simultaneously in independent studies of two groups in Japan. The

    sample comprised sixteen KS individuals diagnosed by Department of Clinical

    Genetics, University Hospital of Brasilia, Brasilia, Brazil with ages between 8 to

    24 years of both genders. Each individual underwent complete physical

    examination, as well as intra-oral and radiographic examinations. Extra-oral and

    intra-oral photographs were also performed. Craniofacial and dental anomalies

    were observed in all KS patients examined. Seven of the 16 individuals had

    class III malocclusion, probably due to maxillary recession and mid-face

    hypoplasia. Also, high arched palate was observed in twelve individuals.

    Flattening of the condyle was revealed in two individuals. The most common

    dental anomaly observed was teeth shape abnormalities, mainly screwdriver

    incisors. Moreover, atypical shape of the premolar's and molar's crowns and

    root dilaceration were also observed. Hypodontia and microdontia were present

    in 9 and 4 individuals, respectively. Enamel diffuse opacities were reported in

    permanent dentition (n=10). A great clinical heterogeneity was observed in KS

    individuals in line with other previous studies in the literature. Some non

    previously reported anomalies were also observed in this sample, such as

    crown anomalies, root shape, flattening of the condyle and fibrosis of raphe

    palate. Further clinical and molecular studies are necessary in order to better

    understand the presence of dental anomalies in this syndrome.

  • 15

    INTRODUO

    A sndrome de Kabuki (KS, sndrome da maquiagem de Kabuki e

    sndrome de Niikawa-Kuroki) uma desordem gentica rara caracterizada por

    mltiplas anomalias congnitas e retardo mental. Seu diagnstico clnico e

    baseado nos achados descritos simultaneamente em estudos independentes

    de dois grupos no Japo (Kuroki et al., 1981; Niikawa et al., 1981). Estima-se

    que a prevalncia no Japo seria de 1/32.000 e na Austrlia e Nova Zelndia

    cerca de 1/86.000 (Niikawa et al., 1988; White et al., 2004).

    Indivduos com KS so identificados pela face peculiar que consiste em

    fissura palpebral longa e everso do tero lateral das plpebras inferiores,

    sobrancelhas arqueadas com distribuio esparsa dos plos no tero lateral,

    orelhas proeminentes e nariz largo com ponta deprimida. Essa caracterizao

    facial confere aos indivduos afetados a aparncia da maquiagem usada no

    tradicional teatro Kabuki japons. Alm da face peculiar observada em 100%

    dos pacientes, as manifestaes clnicas comumente registradas so:

    anomalias esquelticas em 92% dos indivduos acometidos; anormalidades

    dermatoglficas, em 93%; retardo mental de leve a moderado, em 92% e

    crescimento ps-natal deficiente, em 83% (Niikawa et al., 1988).

    Outras importantes manifestaes clnicas relatadas so crescimento

    prematuro dos seios nas meninas, puberdade precoce, nus imperfurado,

    problemas cardacos congnitos, susceptibilidade a infeces e anomalias

    dentrias (Kuroki et al., 1981; Niikawa et al., 1981; Kuroki et al., 1987; Niikawa

    et al., 1988).

    A etiologia da sndrome de Kabuki ainda no est esclarecida. A maioria

    dos casos diagnosticados so espordicos sem predominncia de gnero ou

    ordem de nascimento, tendo sido sugerido o modo de herana autossmico

    dominante com expresso varivel (Kuroki et al., 1981; Niikawa et al., 1988;

    Halal et al.,1989; Kobayashi e Sakuragawa, 1996; Silengo et al., 1996;

    Courtens et al., 2000).

    Manifestaes bucais so frequentemente relatadas em pacientes

    diagnosticados com a sndrome de Kabuki, sendo que, em 1999, Mhanni et al.

    descreveram detalhadamente anomalias dentrias em oito indivduos afetados.

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/dispomim.cgi?cmd=entry&id=147920#147920_Reference22%23147920_Reference22http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/dispomim.cgi?cmd=entry&id=147920#147920_Reference46%23147920_Reference46

  • 16

    Posteriormente, Matsune et al., 2001, identificaram alteraes bucais em mais

    de 60% dos pacientes com KS onde palato profundo e ogival, malocluso, arco

    dental curto, microdontia e hipodontia foram as mais encontradas. Sendo

    malocluso mais observada a mordida cruzada posterior causada pelo

    desenvolvimento deficiente da maxila. Fissura labial e/ou palatina tambm

    foram descritas por Niikawa et al., 1981; Handa et al. , 1991, e Burke e Jones,

    1995.

    Agenesia dentria, particularmente ausncia de incisivos e pr-molares,

    e alteraes de forma dentria, principalmente dentes conides e incisivos com

    formato de chave de fenda, so constantemente descritos em pacientes com

    sndrome de Kabuki (Halal et al., 1989; Mhanni et al., 1999; Matsune et al.,

    2001; Petzold et al., 2003). Outras manifestaes bucais encontradas em

    pacientes afetados so fossetas no vermelho do lbio inferior e diastemas

    (PeBenito e Ferreti, 1989,Franceschini et al., 1993).

    Vrios estudos de caso relatam manifestaes bucais em indivduos

    com sndrome de Kabuki no Brasil (Souza et al., 1996; Kokitsu-Nakata et al.,

    1999; Courtens et al., 2000; Santos et al., 2006; Rocha et al., 2008), mas a falta

    de conhecimento das alteraes bucais nesta populao pode deixar casos

    suspeitos sem diagnstico (Kokitsu-Nakata et al., 1999). Nos ltimos anos o

    Centro de Atendimento de Pacientes com Anomalias Dentrias do Hospital

    Universitrio de Braslia HUB em colaborao com o Servio de Gentica

    Clnica tem acompanhado indivduos com sndrome de Kabuki residentes em

    Braslia e no Centro-Oeste. Uma melhor caracterizao das manifestaes

    bucais desses pacientes pode auxiliar no diagnstico da sndrome, alm de

    favorecer a elaborao de abordagens apropriadas para o tratamento e

    acompanhamento odontolgico de pacientes com KS.

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/dispomim.cgi?cmd=entry&id=147920#147920_Reference46%23147920_Reference46

  • 17

    REVISO DE LITERATURA

    1. Histrico

    A sndrome de Kabuki uma condio rara de causa desconhecida,

    descrita, simultaneamente, no Japo por Niikawa et al. e Kuroki et al., em 1981,

    com base nos achados de mltiplas anomalias congnitas em 10 pacientes

    japoneses, com idades entre quatro a 16 anos. Os achados nesses pacientes

    sugeriam a descoberta de uma nova sndrome que devido semelhana dos

    traos faciais dos pacientes com a maquiagem dos atores no tradicional teatro

    japons Kabuki foi sugerido o termo sndrome da Maquiagem de Kabuki.

    Posteriormente, Schrander-Stumpel et al., 1994 e Burke e Jones, 1995,

    sugeriram que o termo maquiagem fosse retirado da terminologia por causar

    constrangimento aos pacientes e suas famlias.

    Em 1988, Niikawa et al. fizeram um estudo mais detalhado da sndrome,

    analisando 62 pacientes diagnosticados em 33 instituies, boa parte delas no

    Japo. Dos 62 casos, 58 eram japoneses e a maioria possua as cinco

    caractersticas clnicas reconhecidas no diagnstico: face peculiar, anomalias

    esquelticas, anormalidades dermatoglficas, retardo mental de leve a

    moderado e crescimento ps-natal deficiente.

    Clarke e Hall, 1990, descreveram trs pacientes no nipnicos com KS.

    No mesmo ano, Gillis et al. descreveram a sndrome em pacientes de origem

    rabe. Philip et al., 1992, estudou 16 casos da sndrome em pacientes no

    japoneses na Europa e na Amrica do Norte. Eles concluram que as

    caractersticas faciais so reconhecidas independentemente da etnia.

    A sndrome clinicamente varivel e caracterizada pela face peculiar,

    crescimento ps-natal deficiente, deficincia mental leve a moderada, padres

    dermatoglficos no usuais e anomalias esquelticas. Para Philip et al., 1992, e

    Schrander-Stumpel et al., 1994, as caractersticas principais da sndrome esto

    igualmente distribudas em pacientes de origem japonesa ou no, sendo que

    h maior prevalncia de baixa estatura em no nipnicos. As caractersticas

    so muito tpicas, sendo a fissura palpebral longa constantemente encontrada.

  • 18

    Ainda, segundo Philip et al., 1992, disfunes neurolgicas significantes e

    hiperextensibilidade articular parecem ser mais comuns em pacientes no

    nipnicos.

    A partir dos anos noventa, outros relatos de casos descreveram novas

    manifestaes clnicas de pacientes com KS. Na Espanha, Galn-Gmez et al.,

    1995, descreveram a sndrome de Kabuki em cinco crianas nas quais foram

    relatadas anormalidades dermatoglficas e em quatro delas, problemas

    cardacos. No Brasil, Kokitsu-Nakata et al., 1999, reportaram caso de menina

    com sndrome de Kabuki associada a fossetas no lbio inferior e anomalias

    gastrointestinais. Na Austrlia e na Nova Zelndia, White et al., 2004,

    documentaram as caractersticas de 27 crianas e adultos com sndrome de

    Kabuki. Seis desses pacientes mostraram deficincia de crescimento na

    infncia e sobrepeso ou obesidade na infncia ou na adolescncia.

    A partir dos relatos iniciais da sndrome de Kabuki, detalhando as

    manifestaes clnicas, alguns autores tm estudado nos ltimos anos as

    alteraes citogenticas, genticas e imunolgicas dos pacientes com

    finalidade de esclarecer a patognese da sndrome. Porm, at o presente, a

    etiologia ainda no est esclarecida (Kuroki et al., 1981; Niikawa et al., 1988;

    Halal et al.,1989; Kobayashi e Sakuragawa, 1996; Li et al., 1996; Silengo et al.,

    1996; Makita et al., 1999; Courtens et al., 2000; Shotelersuk et al., 2002).

    .

    2. Prevalncia

    Inicialmente, devido ao grande nmero de diagnsticos de KS em

    pacientes japoneses, acreditava-se que os casos de sndrome de Kabuki eram

    mais comuns entre essa populao (Niikawa et al., 1981). Porm, essa

    hiptese foi descartada quando casos em outras etnias e em outras regies

    geogrficas foram diagnosticados (Halal et al., 1989; Philip et al., 1992;

    Franchescini et al., 1993; Schrander-Stumpel et al., 1994; Galn-Gmez et al.,

    1995). No Brasil, tambm h relatos de casos de pacientes com sndrome de

    Kabuki (Souza et al., 1996; Kokitsu-Nakata et al., 1999; Courtens et al., 2000;

    Santos et al., 2006; Rocha et al., 2008).

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/dispomim.cgi?cmd=entry&id=147920#147920_Reference23#147920_Reference23http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/dispomim.cgi?cmd=entry&id=147920#147920_Reference22%23147920_Reference22http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/dispomim.cgi?cmd=entry&id=147920#147920_Reference46%23147920_Reference46http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/dispomim.cgi?cmd=entry&id=147920#147920_Reference46%23147920_Reference46

  • 19

    Calcula-se que a prevalncia dessa sndrome no Japo seja de 1/32.000

    (Niikawa et al., 1988), 1/50.000 em regio da Espanha (Kuroki, 1993) e de

    1/86.000 na Austrlia e Nova Zelndia (White et al., 2004). Contudo, acredita-

    se que, devido grande quantidade de casos no diagnosticados, a

    prevalncia seja maior que a relatada na literatura (Burke e Jones, 1995).

    3. Diagnstico e Prognstico

    O diagnstico da sndrome de Kabuki clnico, s vezes, reveste-se de

    dificuldade e baseado em cinco caractersticas:

    1) Face peculiar percebida em 100% dos pacientes - caracterizada pela

    fissura palpebral longa com everso do tero lateral da plpebra inferior,

    sombracelhas arqueadas com distribuio dos pelos no tero lateral dispersa

    ou escassa, ponta do nariz deprimida e orelhas proeminentes;

    Figura 1 Maquiagem usada no teatro japons Kabuki

    Fonte: Niikawa et al., 1981 e Handa et al., 1991

    2) Anomalias esquelticas verificado em 92% dos pacientes - como, por

    exemplo, braquidactilia do quinto dedo, clinodactilia, luxao congnita do

    quadril;

    3) Anormalidades dermatoglficas, tais como presena de coxins digitais,

    presena de alas ulnares e ausncia dos trirradios c ou d (93% dos

    pacientes);

    4) Retardo mental leve a moderado (93% dos casos) e

  • 20

    5) Deficincia de crescimento ps-natal (83% dos casos), observado

    normalmente aps o primeiro ano de vida (Niikawa et al., 1988).

    A face tpica do paciente com sndrome de Kabuki est presente desde a

    tenra idade. Porm, esse fentipo facial altera-se com a idade e a everso do

    tero lateral da plpebra torna-se bastante evidente com o passar dos anos

    (Philip et al., 1992; Schrander-Stumpel et al., 1994). Para GalnGmez et al.,

    1995, Mahnni et al., 1999, e White et al., 2004, as caractersticas faciais tpicas

    dos pacientes com sndrome de Kabuki ficam mais pronunciadas com o passar

    dos anos, o que pode dificultar o diagnstico precoce.

    Apesar dos poucos estudos longitudinais existentes a expectativa de

    vida e o prognstico da sndrome parecem ser bons, a despeito das

    complicaes frequentes, tais como, infeces, problemas cardacos, renais e

    hepticos, alm da imunodeficincia (Shavlev et al., 2004; White et al., 2004;

    Salpietro et al., 2007).

    4. Etiologia/Herana

    A etiologia da sndrome de Kabuki desconhecida. Os estudos relatam

    que no h diferena entre os gneros e a maior parte dos nascimentos ocorre

    a termo. A ausncia de correlao com consanguinidade e a distribuio

    igualitria entre os gneros parece excluir herana autossmica recessiva e

    sugere a influncia de agentes ambientais, porm nos estudos realizados at o

    presente, no foi identificado nenhum fator mutagnico ou teratognico comum

    nas gestaes (Kuroki et al.,1981; Niikawa et al.,1981; Niikawa et al., 1988;

    Matsumoto e Niikawa, 2003).

    Apesar da quantidade de casos j relatados, as bases moleculares da

    sndrome ainda no esto esclarecidas (Matsumoto e Niikawa, 2003).

    Embora a maioria dos casos seja espordica, o relato da ocorrncia de KS

    em duas geraes ou mesmo a semelhana entre pais e filhos acometidos pela

    sndrome foi descrito em mais de 10 famlias. Esses achados so compatveis,

    ento, com herana autossmica dominante onde cada paciente representaria

  • 21

    uma nova mutao (Kuroki et al.,1981; Niikawa et al., 1988; Schander-Stumpel

    et al., 1994, Silengo et al., 1996). Alm disso, Ilyina et al., 1995, e Tsukahara et

    al. ,1997, sugerem que a sndrome de Kabuki uma desordem gentica com

    expresso varivel.

    Vrias alteraes citogenticas j foram relatadas em pacientes com KS.

    Porm, a anormalidade citogentica que tem sido repetidamente relatada a

    que envolve o cromossomo X, o que levou alguns autores a acreditarem que a

    sndrome poderia ser causada por anomalias envolvendo o cromossomo X

    (Kuroki et al., 1981; Niikawa et al., 1988; Halal et al.,1989; Kobayashi e

    Sakuragawa, 1996; Li et al., 1996; Makita et al., 1999; Courtens et al., 2000;

    Shotelersuk et al., 2002). No entanto, recentemente, Bianca et al., 2009,

    estabeleceram que no h como afirmar a existncia de associao entre KS e

    anormalidades ligadas aos cromossomos sexuais.

    Milunsky e Huang, 2003, tambm relataram mutao em seis pacientes

    com sndrome de Kabuki de diferentes grupos tnicos na regio 8p22-8p23.1.

    Miyake et al., em 2004, e Hoffman et al., em 2005, no conseguiram reproduzir

    os resultados de Milunsky e Huang, 2003, utilizando a mesma tcnica em 28 e

    15 pacientes, respectivamente. Em 2008, Milunsky et al. reexaminaram os

    dados da publicao de 2003 e concluram que houve falha na interpretao

    dos dados, porm encontraram alterao no cromossomo 8 homlogos.

    Estudos sugerem que poderia haver alguma correlao entre a sndrome

    de Kabuki e a sndrome de Van der Woude devido ao fato de ambas

    compartilharem algumas caractersticas clnicas, tais como depresso no lbio

    inferior, fissuras labiais ou palatinas, hipodontia, palato profundo, taurodontia,

    problemas cardacos congnitos, e, possivelmente, serem causadas por

    mutaes em genes contguos e serem autossmicas dominantes

    (Franceschini et al., 1993; Arangannal et al., 2002; Nawa et al., 2008). Makita et

    al., 1999, relataram caso de criana com sndrome de Kabuki e sndrome de

    Van der Woude. Sugeriram que ambas as sndromes seriam causadas pela

    microdeleo de genes, porm essa microdeleo no seria no 1q32-q41,

    regio da sndrome de Van der Woude tipo I.

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/dispomim.cgi?cmd=entry&id=147920#147920_Reference22%23147920_Reference22http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/dispomim.cgi?cmd=entry&id=147920#147920_Reference22%23147920_Reference22

  • 22

    5. Manifestaes Sistmicas

    Diversas alteraes sistmicas em pacientes com sndrome de Kabuki j

    foram relatadas na literatura. Niikawa et al., 1988, descreveram problemas

    cardacos congnitos, como, por exemplo, um ventrculo com trio comum,

    defeitos no septo ventricular, defeitos no septo atrial, tetralogia de Fallot,

    coarctao da aorta, aneurisma da aorta, em 31% dos pacientes examinados.

    Tambm Hughes e Davies, 1994, relataram problemas cardacos congnitos

    em 55% dos pacientes examinados, sendo que 25% desses pacientes

    apresentaram coarctao justaductal. J Digilio et al. , 2001, fizeram avaliao

    cardaca de 60 pacientes diagnosticados com sndrome de Kabuki e relataram

    que 58% desses pacientes possuam problemas cardacos congnitos. Sendo

    os problemas mais comumente observados a coarctao da aorta e defeitos

    nos septos atrial e ventricular.

    Alteraes hormonais e urogenitais so tambm frequentemente

    relatadas na sndrome de Kabuki. Niikawa et al., 1988, descreveram a

    puberdade e desenvolvimento precoce dos seios em 23% das meninas

    pesquisadas. Em 2003, Matsumoto e Niikawa verificaram em reviso de 350

    casos que a maior parte das mulheres afetadas possuam menstruao normal.

    H relatos de pais afetados pela sndrome de Kabuki, ou com as caractersticas

    faciais da sndrome, em quatro famlias, porm no existem mais informaes

    sobre a fertilidade masculina (Ilyiana et al., 1995; Frediane et al., 2001;

    Kobayashi et al., 2001). Diversos autores, como Niikawa et al.,1988, Philip et

    al.,1992, Ilyina et al.,1995, Kawame et al., 1999, e White et al., 2004, relataram

    anomalias urogenitais em dos pacientes examinados tendo sido observado,

    micropnis, hipospadias, hidronefrose, rins ectpicos e duplicao do sistema

    coletor renal.

    So relatadas em pacientes com KS, anormalidades gastrointestinais,

    como, por exemplo, nus imperfurado, m rotao do clon, atresia anal,

    refluxo gastroesofgico (Kuroki et al., 1981; Niikawa et al., 1981; Niikawa et al.,

    1988; Kokitsu-Nakata et al., 1999; Digilio et al., 2001; White et al., 2004).

    Niikawa et al., 1988 e White et al., 2004, descreveram maior

    suscetibilidade infeces na infncia, particulamente, otite mdia, podendo

  • 23

    causar perda ou diminuio da audio em pacientes com KS. No est

    esclarecido se a otite mdia , de fato, um achado em pacientes com fissuras

    orofaciais ou outra anormalidade craniofacial. Episdios de otite mdia tm sido

    relatados em muitos pacientes com fenda palatina (Gillis et al., 1990; Peterson-

    Falzone et al., 1997). J Ming et al., 2003, relataram trs casos de pacientes

    com KS e coloboma e demonstraram em reviso que a prevalncia de

    coloboma e outras alteraes oftalmolgicas aumentada na sndrome de

    Kabuki. Salientam, por fim, que avaliao oftalmolgica deve ser realizada nos

    pacientes diagnosticados com sndrome de Kabuki. Anormalidades

    respiratrias em pacientes com KS so incomuns, embora Peterson-Falzone et

    al., 1997, relataram problemas nas vias areas em 58% dos pacientes que

    apresentavam anomalias craniofaciais.

    Wessels et al., 2002, em reviso de literatura de 300 casos, destacaram

    atraso no crescimento ps-natal e anomalias esquelticas e viscerais em

    grande parte dos pacientes com KS.

    Hoffman et al., 2005, realizaram avaliaes imunolgicas em 19

    pacientes com sndrome de Kabuki e descobriram nveis baixos de IgA em 15

    (79%) pacientes. Oito (42%) pacientes tinham tambm nveis baixos de IgG .

    Os autores sugeriram que essa hipogamaglobulinemia achado frequente na

    sndrome de Kabuki.

    Shalev et al., 2004, relataram casos de depresso em pacientes jovens

    com KS, no ficando esclarecido se h uma predisposio depresso

    associada sndrome. Foi verificado, no entanto, que os pacientes

    responderam bem ao uso de antidepressivos.

    Outras manifestaes clnicas raras encontradas em pacientes com KS

    foram anemia, diarria crnica, doena celaca, vitiligo, hipoglicemia neonatal

    persistente, estrabismo, ptose da plpebra, dificuldade de fala, dificuldade para

    alimentar-se, diabetes, esclera azul, hrnia umbilical, hrnia congnita no

    diafragma e paralisia do diafragma (Kuroki et al., 1981; Niikawa et al., 1981;

    Niikawa et al., 1988; Philip et al., 1992; Schrander-Stumpel, 1994; Tawa et al.,

    1994; Silengo et al., 1996; Kokitsu-Nakata, 1999; Courtens et al., 2000; Digilio

    et al., 2001; Matsune et al, 2001; Wessels et al., 2002; Upton et al., 2003;

  • 24

    Genevive et al., 2004; White et al., 2004). Vale acrescentar tambm que Ilyina

    et al., 1995, Lerone et al., 1997, e Courtens et al., 2000, sugeriram

    envolvimento ectodrmico devido ao comprometimento do cabelo, unhas e

    dentes verificado em pacientes acometidos pela sndrome.

    6. Manifestaes Bucais

    As anomalias bucais so prevalentes em diversas sndromes, como, por

    exemplo, sndrome EEC, sndrome de Down, sndrome de Prader-Willi,

    sndrome de Goldenhars, sndrome de Proteus (Bedi e Hobson, 1984; Buss et

    al., 1995; Banks et al., 1996; Becktor et al., 2002; Asokan et al., 2008).

    Segundo Silengo et al., 1996, as anomalias dentrias esto presentes em mais

    de 70% dos pacientes com sndrome de Kabuki.

    As anomalias craniofaciais, incluindo subdesenvolvimento do processo

    mastide, tm sido relatadas em muitos pacientes com KS (Adam e Hudgins,

    2004). As mais comuns so palato profundo, fissura palatina, fissura labial,

    malocluses, hipodontia e diastemas (Niikawa et al., 1988; Handa et al., 1991,

    Mhanni et al., 1999). Essas caractersticas podem ser importantes auxiliares no

    diagnstico e na compreenso da etiologia da sndrome de Kabuki (Matsumoto

    e Niikawa, 2003).

    Outras anomalias relatadas so microdontia, fossetas no lbio inferior e

    arco dental reduzido. Alm disso, erupo ectpica, taurodontia e alteraes de

    forma dos dentes, incluindo dentes conides e incisivos em chave de fenda,

    tm sido observados (PeBenito e Ferreti, 1989; Franceschini et al, 1993;

    Hughes e Davies, 1994; Lerone et al., 1997; Matsune et al., 2001). Santos et

    al., 2006, relataram o primeiro caso de fuso e geminao em paciente com

    sndrome de Kabuki, que, posteriormente, foi tambm observado por Cogulu et

    al., 2008.

    Ilyina et al.,1995, e Kawame et al., 1999, notaram alteraes no formato

    do filtrum que se apresentava respectivamente, largo, protrudo e trapezoidal

    caracterstica essa que tambm pode ser importante auxiliar para o

    diagnstico da sndrome.

  • 25

    Alteraes do Desenvolvimento Craniofacial

    Fossetas no lbio inferior (lower lip pits), alteraes da forma do palato e

    fissuras orofaciais

    Fossetas labiais e fissuras orofaciais congnitas ocorrem

    frequentemente como padro hereditrio e podem ocorrer isoladamente ou

    associadas a outras anomalias. Acredita-se que as fossetas labiais so

    resultantes de chanfro no lbio nos estgios iniciais do desenvolvimento com

    fixao dos tecidos na base do chanfro ou podem resultar da falha da unio

    dos sulcos embrionrios laterais do lbio. As fossetas labiais normalmente

    apresentam-se como depresso uni ou bilateral no vermelho do lbio, sendo

    mais comum no lbio inferior. Podem ter glndulas salivares associadas

    (Arangannal et al., 2002).

    A depresso ou fosseta no lbio inferior descrita raramente em

    pacientes com KS e caracterstica frequentemente relatada na sndrome de

    Van der Woude associada ou no a fissura labial e palatina. A fosseta no lbio

    herana autossmica dominante com expresso varivel. A sndrome de Van

    der Woude possui alta prevalncia, sem predileo de gnero. Os pacientes

    acometidos da sndrome de Van der Woude podem ter fissura labial e/ou

    palatina, alm de fosseta no lbio, agenesia dentria e palato profundo

    (Franceschini et al., 1993Burke e Jones, 1995; Kokitsu-Nakata et al., 1999;

    Makita et al., 1999; Arangannal et al., 2002; Matsumoto e Niikawa, 2003;

    Petzold et al., 2003).

    Palato profundo a manifestao bucal mais comumente relatada em

    pacientes com a sndrome de Kabuki (Niikawa et al., 1981; Niikawa et al., 1988;

    Franceschini et al., 1993; Matsune et al., 2001; Petzold et al., 2003; Atar et al.,

    2006). Em trabalho de reviso realizado em 2004, Adam e Hudgins compilam

    que o palato profundo uma alterao presente em 72% dos pacientes com

    KS.

    As fissuras labiais e palatinas tm sido descritas em cerca de 33 a 50%

    dos pacientes com sndrome de Kabuki (Niikawa et al., 1988; Handa et al.,

    1991; Burke e Jones, 1995; Kawame et al., 1999; Schrander-Stumpel et al.,

    2005). Burke e Jones,1995, verificaram que cerca de 40% dos pacientes com

  • 26

    sndrome de Kabuki possuam fissura palatina e foram os primeiros a sugerir

    que a sndrome de Kabuki pode ser uma condio no diagnosticada em

    pacientes com fissura labial e/ou palatina. Em seu trabalho, em 2004, Adam e

    Hudgins verificaram que um tero dos pacientes com KS possuam fissura

    palatina.

    Asai et al., 1992, analisaram 33 indivduos com fissura labial e/ou

    palatina portadores de KS e encontraram cinco casos de fissura labial

    associada a fissura palatina, 23 casos de fissura palatina isolada e cinco casos

    de fissura palatina submucosa, no foi encontrado nenhum caso de fenda labial

    isolada. Petzold et al., 2003, tambm relataram fissura palatina submucosa.

    Iida et al., 2006, relataram seis casos de pacientes com KS que possuam

    fissura palatina, sendo dois casos de fissura no palato mole; um, no palato duro

    e mole e trs casos de fissura palatina submucosa, sugerindo que pode haver

    mais casos de fissura palatina submucosa do que se prev.

    Alteraes do Complexo Maxilofacial

    Malocluses

    As malocluses tambm tm sido relatadas nos pacientes com sndrome

    de Kabuki (Niikawa et al., 1988; Handa et al., 1991; Matsune et al., 2001;

    Takada et al., 2004)

    Segundo Matsune et al., 2001, pacientes com sndrome de Kabuki

    possuem tendncia a hipoplasia de tero mdio da face e severa recesso

    maxilar, possivelmente predispondo a desenvolver um arco dental atrsico,

    apinhamentos e malocluso, devido a discrepncia entre os arcos. Por meio de

    anlise cefalomtrica, observaram que a malocluso mais prevalente nos

    pacientes estudados foi a mordida cruzada posterior unilateral, causada pelo

    pobre desenvolvimento da maxila.

    Petzold et al., 2003, estudando quatro pacientes com KS, relataram

    retrognatia maxilar e mandibular, arcos dentais com pobre desenvolvimento,

    arcada inferior estreita, mordida aberta anterior, malocluso classe III de Angle,

    dentes girovertidos, mordida cruzada unilateral e perda de espao dos caninos.

  • 27

    Mais recentemente, Lung e Rennie, 2006, descreveram paciente com

    malocluso classe III de Angle e mordida cruzada posterior unilateral.

    Diastemas

    Diastemas so um tipo de malocluso caracterizada pelo espaamento

    entre os dentes, sendo mais percebido entre os incisivos centrais superiores.

    Segundo Moyers, 1991, pode estar relacionado a diversos fatores etiolgicos

    tais como, microdontia, macroglossia, hbitos de suco, postura anormal da

    lngua e insero anterior do freio lingual ou labial.

    Essa anomalia relatada frequentemente em pacientes com KS,

    normalmente associada hipodontia e/ou microdontia (Braun e Schmid, 1984;

    Niikawa et al., 1988; Halal et al., 1989; PeBenito e Ferretti, 1989; Gillis et al.,

    1990; Lerone et al., 1997; Mhanni et al., 1999; Matsune et al., 2001; Petzold et

    al., 2003; Lung e Rennie, 2006).

    Alteraes de Nmero

    Agenesia dentria

    A dentio humana consiste de 20 dentes decduos, sendo 2 incisivos,

    um canino e dois molares em cada quadrante, e 32 permanentes, sendo dois

    incisivos, um canino, dois pr-molares e trs molares em cada quadrante.

    Agenesia dentria consiste na ausncia de formao do germe dentrio em

    razo de distrbios no processo de odontognese, resultando em nmero

    menor de dentes (Vastardis, 2000).

    A agenesia dentria a mais frequente anomalia dentria em humanos.

    Pode afetar vrias combinaes de dentes e ocorrer como condio isolada,

    associada a outras anomalias do desenvolvimento dentrio, a fissuras lbio-

    palatinas ou associada a vrias sndromes, como sndrome de Down, sndrome

    de Rieger, Displasia Ectodrmica (Schalk-van der Weide et al., 1994; Arte et

    al., 2001; Gorlin, 2001; Kau, 2003). Tanto a forma sindrmica quanto a no-

    sindrmica da agenesia pode ser espordica ou familiar. Pode ser transmitida

    como herana autossmica dominante, autossmica recessiva ou ligada ao

    cromossomo X (Kapadia et al., 2007).

  • 28

    A terminologia hipodontia empregada quando h ausncia de um a

    seis dentes, excluindo-se os terceiros molares. Se a ausncia de mais de

    seis dentes, tambm se excluindo os terceiros molares, relata-se oligodontia, e

    se a ausncia for de todos os dentes, ocorre a denominada anodontia (Arte et

    al., 2001).

    A agenesia dentria uma das anomalias dentrias mais relatadas em

    pacientes com sndrome de Kabuki, sendo que a hipodontia observada em

    cerca de 40% dos pacientes, principalmente com ausncia de incisivos

    centrais, laterais e pr-molares (PeBenito e Ferretti, 1989; Lerone et al., 1997;

    Kawame et al., 1999; Mhanni et al., 1999; Matsune et al., 2001; Petzold et

    al.,2003). Franceschini et al.,1993, relataram casos de pacientes com

    hipodontia na dentio decdua e permanente.

    Alteraes de Forma e Tamanho Dentrio

    Alteraes de forma dentria ocorrem como falhas na odontognese.

    Podem ocorrer isoladas ou associadas a sndromes.

    Alteraes de forma e tamanho da coroa dentria

    INCISIVOS EM CHAVE DE FENDA

    Mhanni et al., 1999, em estudo com oito pacientes, relataram incisivos

    com coroas achatadas e aparncia de chave de fenda. Wessels et al., 2002,

    em reviso de literatura, compilaram a presena dessa alterao em cerca de

    50% dos pacientes com sndrome de Kabuki.

    Segundo Petzold et al., 2003, os incisivos em chave de fenda possuem

    coroas achatadas com leve convergncia incisal de maneira que a maior

    circunferncia do dente encontra-se na borda gengival. Esses incisivos foram

    descritos tambm por Atar et al. e Lung e Rennie, em 2006.

    MICRODONTIA E DENTES CONIDES

    Um dente considerado conide quando a dimenso msio-distal

    oclusal da coroa menor que a cervical (Bckman e Wahlin, 2001). Lai e

  • 29

    Seow, 1989, verificaram que incisivos laterais superiores conides foram mais

    prevalentes em indivduos com hipodontia que no grupo controle.

    Lavelle et al., 1970, relataram que os indivduos com dentio completa

    tm a dimenso msio-distal dos dentes maior do que aqueles que tem

    agenesia dentria.

    Bacetti, 1998, mostrou evidncias da existncia de associao recproca

    significante entre agenesia de segundos pr-molares e incisivos laterais

    superiores de tamanho reduzido. Incisivos laterais superiores conides so

    exemplo de reduo da coroa dos dentes em associao com agenesia

    dentria (Arte et al., 2001).

    Lerone et al., 1997, foram os primeiros a descrever dentes conides em

    pacientes com sndrome de Kabuki. Matsune et al., 2001, relataram dentes

    conides em quatro de seis pacientes examinados e que tanto o arco dental

    quanto os dentes tendem a ter tamanho menor que o padro normal da

    populao japonesa e que essa discrepncia foi mais marcante nos dentes

    permanentes. Petzold et al., 2003, e Lung e Rennie, 2006, tambm observaram

    o achado.

    ALARGAMENTO DAS CMARAS PULPARES

    Caracteriza-se por cmaras pulpares maiores que o normalmente

    observado (Freitas et al., 2000).

    O alargamento das cmaras pulpares, principalmente de dentes

    posteriores em indivduos com KS, foi primeiramente descrito por Petzold et al.,

    2003. Posteriormente, Lung e Rennie, 2006, relataram o mesmo achado em

    uma paciente.

    Alteraes de forma e tamanho da raiz

    DILACERAO RADICULAR

    O termo dilacerao radicular foi primeiramente utilizado por Tomes, em

    1848, e definido como desvio ou curvatura na relao linear entre a coroa e

    raiz do dente. Os critrios de diagnstico so vrios na literatura, mas

    normalmente considera-se dilacerao como um desvio do eixo normal do

  • 30

    dente de 20 graus ou mais na regio apical da raiz. Essa condio pode ser

    assintomtica ou provocar atraso na erupo, reteno do dente. Pode ocorrer

    devido a traumatismo no decduo precedente que afete o germe do

    permanente. Alm disso, consideram-se tambm possveis causas: origem

    idioptica - sem qualquer relao com trauma precedente -, anomalias de

    desenvolvimento, fissura orofacial, infeco dentria, efeito de estruturas

    anatmicas (como canal mandibular, fossa nasal, seio maxilar),

    desenvolvimento ectpico do germe e perda de espao, presena de cisto,

    tumor, odontoma, dente supranumerrio, fatores hereditrios, entre outros

    (Jafarzadeh e Abbott, 2007).

    Ainda segundo Jafarzadeh e Abbott, 2007, a dilacerao radicular pode

    ser encontrada em dentes decduos ou permanentes e em qualquer regio

    desses dentes, inclusive na juno coroa-raiz, porm sendo mais comum no

    tero apical da raiz. No existe diferena de predominncia entre as arcadas

    dentrias. A prevalncia de dilacerao varia entre 0,38 a 98%. Pode ocorrer

    como caracterstica isolada ou associada a sndromes como, por exemplo,

    Smith-Magenis, Ehler-Danlos, Axenfeld-Rieger.

    Na literatura, no h relatos de dilacerao em pacientes com sndrome

    de Kabuki.

    TAURODONTIA

    Segundo Seow e Lai, 1989, um dente considerado com taurodontia

    quando a proporo coroa raiz for igual ou maior que 1:1. anomalia de

    forma de dentes multirradiculares e resulta de distrbios na invaginao das

    clulas da bainha epitelial de Hertwig, criando uma cmara pulpar mais

    alongada em direo ao pice radicular e coroa retangular sem constrio

    cervical (Ackerman et al., 1973; Wright, 2000).

    A taurodontia pode ocorrer isoladamente ou associada a outras

    sndromes, como sndrome de Down e de Van der Woude (Jaspers e Witkop,

    1980; Nawa et al., 2008). A frequncia de taurodontia na populao varia entre

    0,3 e 11,3% (Seow e Lai, 1989).

    Diversos estudos apontam haver associao entre taurodontia e

    hipodontia (Seow e Lai, 1989; Arte et al., 2001; Bckman e Wahlin, 2001).

  • 31

    Petzold et al., 2003, foram os primeiros a relatar molares com aparncia

    de taurodontia em pacientes com sndrome de Kabuki. Posteriormente, Cogulu

    et al., 2008, e Rocha et al., 2008, tambm verificaram taurodontia em molares

    e pr-molares.

    RAIZ SUPRANUMERRIA

    Caracteriza raiz supranumerria a presena de nmero maior de razes

    que o descrito na literatura (Freitas et al., 2000).

    Petzold et al., 2003, relataram casos de anomalias de desenvolvimento

    da radicular, especificamente de bifurcao de raiz, raiz supranumerria, em

    dentes usualmente unirradiculares em indivduos com sndrome de Kabuki.

    FORMAO INCOMPLETA DE RAIZ

    A formao incompleta da raiz se d quando se observa

    radiograficamente dentes com razes curtas e fechamento apical prematuro

    com pices arredondados e sem histrico de uso de aparelho ortodntico

    (Parekh et al., 2006).

    Petzold et al., 2003, relataram formao incompleta da raiz em pacientes

    com KS, fizeram, posteriormente, estudo histolgico de fragmento de um dos

    dentes e nenhuma anomalia de desenvolvimento do esmalte ou dentina foi

    encontrada. Em um dos casos relatados essa reabsoro ocorreu

    provavelmente devido ao posicionamento de canino impactado.

    Alteraes do Desenvolvimento do Esmalte

    Os defeitos de desenvolvimento do esmalte (DDE) so alteraes

    perceptveis na translucidez e/ou espessura do esmalte dentrio. So

    atribudos a distrbios na formao da matriz, na calcificao e/ou

    mineralizao durante a amelognese (Suckling, 1989). Podem afetar um s

    dente, grupos de dentes ou toda a dentio em graus variveis. So vistos

    tanto na dentio decdua quanto na dentio permanente. A etiologia

  • 32

    varivel podendo ser causados por fatores ambientais, genticos ou

    sistmicos. So classificados como hipoplasias ou opacidades (Ainamo e

    Cutress, 1982; Seow, 1991; Seow, 1997).

    As hipoplasias so defeitos da estrutura do esmalte e representam

    normalmente uma reduo de sua espessura. So identificadas por pontos ou

    estrias, rasos ou profundos, envolvendo parcial ou totalmente a superfcie do

    dente. J as opacidades so defeitos causados pela alterao da translucidez

    do esmalte. Podem ser demarcadas (restritas) ou difusas. As demarcadas

    possuem borda definida com colorao varivel entre branca a marrom. J as

    difusas no possuem borda delimitada. Em ambas o esmalte adjacente possui

    colorao normal (Ainamo e Cutress, 1982; Seow, 1991; Seow, 1997; Suckling,

    1989).

    O diagnstico etiolgico desses defeitos difcil devido a variedade de

    causas existentes e a limitao dos dados coletados. A percepo dos defeitos

    de desenvolvimento de esmalte pode ser prejudicada pela presena de saliva,

    placa bacteriana, crie, atrio, iluminao (Seow, 1997).

    Poucos relatos descreveram alteraes do desenvolvimento de esmalte

    em pacientes com KS. Matsune et al., 2001, relataram hipoplasia em um

    paciente com KS e, em estudo recente, Spano et al., 2008, descreveram a

    presena de defeitos de desenvolvimento de esmalte, particularmente,

    hipoplasia em 5 pacientes examinados.

    Alteraes do Desenvolvimento do Complexo Dentino-pulpar

    Calcificaes pulpares

    Calcificaes pulpares so ndulos calcificados no interior das cmaras

    pulpares ou condutos radiculares. So diagnosticadas pelo exame radiogrfico.

    Sua prevalncia varia entre 8 a 90% da populao e desenvolvem-se ao longo

    da vida. Essas calcificaes so visveis em radiografias. Dois modelos de

    desenvolvimento de calcificaes tm sido propostos: calcificao inicial

    isolada dos componentes do tecido pulpar e interaes epitlio-mesenquimais.

    Calcificaes pulpares generalizadas so raras e esto normalmente

    associadas a desordens sistmicas ou genticas da dentina (Parekh et al.,

    2006).

  • 33

    Somente Petzold et al., em 2003, descreveram calcificaes pulpares

    em pacientes com sndrome de Kabuki.

    Alteraes na Erupo Dentria

    Alteraes na cronologia de erupo

    A erupo dentria refere-se ao aparecimento do dente na cavidade

    bucal (Demirjian, 1978). Segundo Schour e Massler, 1940, o desenvolvimento

    da dentio decdua e permanente um processo complexo que se inicia no

    perodo intra-uterino, atinge a formao completa quando os dentes

    permanentes desempenham suas funes e estende-se ao longo de toda vida.

    A erupo o processo de movimentao axial ou oclusal do dente

    desde a sua posio de desenvolvimento at seu posicionamento oclusal

    dentro do osso alveolar (Demirjian, 1986; Van der Linden, 1986).

    Demirjian et al, 1973, desenvolveram mtodo de estimar a maturidade

    dental avaliando radiogradias panormicas de 1446 meninos e 1482 meninas,

    com idades entre trs e 17 anos, observando-se sete dentes permanentes

    inferiores do lado esquerdo. Estudaram a formao dentria e definiram

    estgios de desenvolvimento classificados de A a H que vo desde o incio da

    calcificao na regio superior da cripta (estgio A) at o trmino do

    desenvolvimento da raiz dental e fechamento do pice radicular (estgio H).

    Em 1976, Demirjian e Goldstein modificaram o mtodo, passando a utilizar

    quatro dentes, simplificando o uso do mtodo em casos de agenesia dentria,

    por exemplo.

    Braun e Schmid, 1984, e Petzold et al., 2003, relataram atraso de

    erupo dos dentes decduos e permanentes em pacientes com KS.

    Reteno intrassea de dentes decduos e permanentes

    Os dentes iniciam os movimentos eruptivos quando a coroa est

    completa. Atravessam a crista do processo alveolar quando cerca de dois

    teros da raiz esto formados e a margem gengival quando cerca de trs

    quartos da raiz esto completos (Van der Linden, 1986).

  • 34

    Mltiplos fatores locais podem afetar o processo de irrompimento

    dentrio, dentre eles, erupo ectpica, trauma, raiz residual, dente decduo

    anquilosado, fibrose gengival, hematoma de erupo, dente supranumerrio,

    crie. Tambm podem alterar a erupo dentria algumas sndromes como

    sndrome de Down, sndrome de Crouzon, disostose cleido-craniana, alm de

    outros fatores sistmicos, como hipopatireoidismo, deficincia de vitaminas,

    entre outros (Nolla, 1960; Van der Linden, 1986; Valladares-Neto et al., 1995).

    Um dente decduo considerado retido quando est presente na

    cavidade bucal aps seu tempo normal de exfoliao. Pode estar em

    infraocluso se houver falha na manuteno no mesmo nvel dos demais

    dentes. Estudos demonstraram permanncia de molares decduos que

    permaneceram na boca onde houve agenesia dos pr-molares por at 20 anos

    aps o perodo normal de exfoliao (Schour e Massler, 1940; Rune e Sarnas,

    1974; Bjerkin e Bennet, 2000; Ith-Hansen e Kjaer, 2000).

    Matsune et al., 2001, relataram infraocluso de dentes decduos em trs

    pacientes com KS de seis examinados. Petzold et al., 2003, relataram um caso

    de reteno de um molar permanente em paciente com sndrome de Kabuki.

    ndices de Prevalncia da Doena Crie em Dentes Decduos (ceod) e

    Permanentes (CPOD)

    A crie dentria doena crnica e multifatorial, causada pelo

    desequilbrio do processo de des-remineralizao, resultando na perda de

    minerais da superfcie dentria. Essa perda pode ser clinicamente visvel em

    diferentes graus que vo desde uma opacidade no esmalte at a presena de

    uma cavidade que pode se estender at a cmara pulpar (Thylstrup e Fejerkov,

    1993).

    De acordo com Thylstrup e Fejerskov, 1993, so vrios os fatores

    etiolgicos envolvidos no processo da doena crie, sendo considerados como

    fatores determinantes a placa dentria, a capacidade tampo da saliva, a

    velocidade de secreo salivar, a dieta, presena de flor e como fatores

    mascaradores os fatores scio-econmicos, culturais e comportamentais.

  • 35

    O ndice mais utilizado em levantamentos epidemiolgicos e em

    experincias clnicas para avaliao da prevalncia da doena crie o CPO,

    desenvolvido por Klein e Palmer. Neste ndice enumeram-se as superfcies (S)

    ou dentes (D) cariados (C), perdidos (P) ou obturados (O). Esse ndice tem

    uma variao que o ceo para dentes (d) ou superfcies (s) de dentes

    decduos, sendo cariados (c), extrados (e) ou obturados (o). o ndice utilizado

    pela Organizao Mundial de Sade (Pinto, 2000).

    Tem sido demonstrada alta prevalncia da doena crie em pacientes

    com sndrome de Kabuki (Matsune et al., 2001; Petzold et al., 2003; Atar et al.,

    2006; Lung e Rennie, 2006; Cogulu et al., 2008; Spano et al., 2008).

  • 36

    OBJETIVOS

    Objetivo Geral

    O objetivo deste estudo foi descrever as manifestaes bucais e

    craniofaciais em pacientes com diagnstico de sndrome de Kabuki realizado

    pelo Servio de Gentica Clnica do HUB.

    Objetivos Especficos

    Caracterizar a amostra em relao a sua distribuio por idade, gnero e

    fatores scio-econmicos.

    Verificar alteraes dos tecidos moles da cavidade bucal de pacientes

    com sndrome de Kabuki.

    Verificar a presena de alteraes craniofaciais em pacientes com

    sndrome de Kabuki

    Verificar a presena de fissuras orofaciais em pacientes com sndrome

    de Kabuki.

    Verificar a presena de malocluses em pacientes com sndrome de

    Kabuki.

    Verificar a presena de anomalias dentrias e alteraes na erupo

    dentria nos pacientes com sndrome de Kabuki.

  • 37

    METODOLOGIA

    Este estudo foi submetido e aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa

    (CEP/FS), sob o registro 057/2008 da Faculdade de Cincias da Sade da

    Universidade de Braslia (Anexo A).

    Amostra

    A amostra para o presente estudo constituiu-se de 16 indivduos com

    diagnstico de sndrome de Kabuki feito pelo Servio de Gentica do Hospital

    Universitrio de Braslia HUB (Tabela I).

    Do banco de dados da clnica de Gentica do HUB constavam

    inicialmente 47 pacientes com suspeita de KS e destes, 27 tiveram diagnstico

    confirmado. Devido a dados cadastrais desatualizados, foi possvel entrar em

    contato com 18 responsveis pelos pacientes e 16 concordaram em participar

    da pesquisa. Aps assinatura de termo de consentimento livre e esclarecido -

    TCLE (Anexo B), todos os participantes receberam tratamento odontolgico de

    acordo com suas necessidades individuais e com os procedimentos oferecidos

    na Clnica de Anomalias do Desenvolvimento Dentrio do HUB.

    Tabela 1 Indivduos com KS de acordo com faixa etria e gnero

    08 a 18 anos

    19 a 24 anos

    Total

    Feminino 5 4 9

    Masculino 4 3 7

    Total 9 7 16

    Mtodo

    A descrio das manifestaes bucais foi baseada nos resultados dos

    exames clnicos e complementares. O exame clnico compreendeu anamnese,

    exame fsico e os exames complementares, radiografias extra-bucais,

    panormica. Foram feitas tambm fotografias intra e extrabucais.

  • 38

    Exame Clnico

    Na anamnese foram registrados alm do histrico familiar, os dados

    pessoais do indivduo, incluindo os dados scio-econmicos, histricos mdico

    e odontolgico pregresso e atual, dados relacionados existncia de

    consanguinidade na famlia e descendncia oriental.

    Os exames fsicos extrabucal e intrabucal foram realizados por um nico

    examinador, em consultrio odontolgico sob luz artificial.

    No exame extrabucal foram avaliadas presena de alteraes na pele,

    face, perfil, membros, presena de ndulos palpao, edemas e presena de

    alteraes na articulao temporomandibular (ATM).

    No exame clnico intrabucal foram avaliados tecidos moles, glndulas e

    dentes e arcadas dentrias. Para o exame dentrio foi realizada profilaxia com

    pasta profiltica e secagem dos dentes com ar comprimido, necessrios

    deteco de crie e de defeitos de desenvolvimento de esmalte.

    Exames Complementares

    Os exames complementares consistiram em exame radiogrfico e

    fotografias intra e extrabucais.

    Exame radiogrfico

    Foram realizados exames radiogrficos em 15 pacientes. Um paciente

    no permitiu o exame. As tomadas radiogrficas panormicas foram feitas

    utilizando aparelho Rotograph Plus Villa Medical System Itlia e periapicais e

    bite-wings, utilizando aparelho Spectro 70 Kv 10 mA Dabi Atlante Brasil, a fim

    de verificar agenesias dentrias, reteno intra-ssea de dentes, presena de

    cries, alargamento das cmaras pulpares, presena de razes supranumerrias,

    bifurcao atpica de condutos radiculares, dilacerao, taurodontia, formao

    incompleta da raiz, reabsoro radicular e calcificaes pulpares.

    As radiografias foram digitalizadas utilizando o aparelho Epson

    Expression 1680 Japo, com a resoluo 300 dpi.

  • 39

    Fotografias

    Com a finalidade de melhor documentar as caractersticas intra e

    extrabucais dos pacientes, foram feitas oito tomadas fotogrficas, sendo trs

    extrabucais de rosto (frente e perfil) e cinco tomadas intrabucais com o auxlio

    de afastadores bucais e espelho nas posies frontal, lateral esquerda, lateral

    direita, oclusal superior e oclusal inferior. As fotografias foram realizadas com

    uso de cmera digital Canon EOS Rebel 300 D.

    Critrios de Diagnstico das Anomalias Dentrias

    As caractersticas avaliadas esto descritas a seguir:

    1. Relao entre maxila e mandbula

    Para a anlise de malocluses na dentio decdua, foram observadas e

    registradas as relaes entre os segundos molares decduos, superiores e

    inferiores, descrevendo trs tipos fundamentais (Baume, 1950):

    a. Plano reto: relao dos molares em plano vertical

    b. Degrau mesial: relao dos molares formando degrau mesial com

    relao arcada mandibular

    c. Degrau distal: relao dos molares formando degrau distal em

    relao arcada mandibular

    Nas denties mista ou permanente foram avaliadas a relao entre os

    molares permanentes de acordo com a classificao clnica de Angle

    (1899):

    a. Classe I: quando a cspide msio-vestibular do primeiro molar

    oclui no sulco vestibular do primeiro molar inferior

    b. Classe II: quando a cspide msio-vestibular do primeiro molar

    oclui mesialmente ao sulco msio-vestibular do primeiro molar

    inferior

    c. Classe III: quando a cspide msio-vestibular do primeiro molar

    oclui distalmente ao sulco msio-vestibular do primeiro molar

    inferior

  • 40

    2. Presena de fissuras labiais e/ou palatinas: As fissuras labiais so

    causadas por falhas no desenvolvimento da face, quando os processos

    maxilares no se fundem e podem ser uni ou bilaterais. J as fissuras

    palatinas so causadas por falhas na sincronizao dos movimentos e

    do crescimento das cristas palatinas, lngua, mandbula e cabea.

    (Katchburian e Arana, 1999)

    3. Presena de diastemas localizados ou generalizados: O diastema

    caracteriza-se pelo espaamento entre os dentes, sendo mais notado

    entre os incisivos superiores (Moyers, 1991);

    4. Presena de apinhamento dentrio: mau alinhamento dos dentes que

    pode ser causado pelo desequilbrio esqueltico, pelo funcionamento

    anormal da lngua e dos lbios e/ou por disfuno oclusal, bem como

    pela desarmonia entre o tamanho dos dentes e o espao disponvel

    (Moyers, 1991);

    5. Reteno prolongada de dentes decduos: Um dente foi considerado

    retido prolongadamente quando presente na cavidade bucal aps seu

    tempo normal de esfoliao, de acordo com Schour e Massler (1940);

    6. Reteno intrassea de dentes permanentes: o diagnstico foi realizado

    com base em exame clnico e radiogrfico e registrado quando

    clinicamente havia ausncia dentria e radiograficamente o dente

    encontrava-se intra-sseo. A explicao para o fato pode estar

    relacionada falta de fora eruptiva dentria e, desta forma, o dente no

    consegue erupcionar (dente retido) ou impedido de erupcionar devido

    presena de uma barreira fsica (dente impactado) (Freitas et al.,

    2000);

    7. Agenesia dentria: o diagnstico de agenesia foi baseado no exame

    clnico e radiogrfico. Um dente foi considerado congenitamente

    ausente, quando no estava presente na cavidade bucal nem verificado

    em exame radiogrfico, sem relato de exodontia ou perda por trauma,

    considerando sua cronologia normal de desenvolvimento (Cameron e

    Sampson, 1996; Arte et al., 2001, Kau et al, 2003);

  • 41

    8. Presena de alargamento das cmaras pulpares: quando cmaras

    pulpares apresentavam-se radiograficamente maiores que o comumente

    observado. descrita em casos de reabsoro interna, dentinognese

    imperfeita tipo III (dentes em concha), taurodontia (Neville et al., 1998 e

    Freitas et al., 2000);

    9. Presena de incisivos em chave de fenda: quando os incisivos

    apresentavam largura mesiodistal maior no tero mdio da coroa ou

    quando o tero incisal afunilava-se para a borda incisal, lembrando

    chave de fenda (Neville et al., 1998), ou quando a poro cervical das

    coroa era mais larga que o bordo incisal (Freitas et al., 2000);

    10. Presena de microdontia: um dente foi considerado pequeno quando

    comparado com o dente oposto e com os adjacentes. Se apresentar

    coroa afunilada com dimenso msio-distal da borda inciso-oclusal da

    coroa menor que a cervical chamado tambm dente conide (Brook,

    1975; Bacetti, 1998; Bckman e Wahlin, 2001;);

    11. Presena de bifurcao atpica dos condutos: observada ao exame

    radiogrfico quando um dente apresenta mais condutos que o

    comumente observado. (Freitas et al., 2000);

    12. Presena de raiz supranumerria: verificada com auxlio das radiografias

    e caracterizava-se pela presena de nmero aumentado de razes em

    um dente quando comparado com o classicamente descrito na anatomia

    dental (Neville et al., 1998);

    13. Presena de dilacerao radicular: quando atravs de observao

    radiolgica verificava-se angulao anormal ou curvatura na raiz.

    (Neville et al., 1998);

    14. Presena de taurodontia: Um dente foi considerado com taurodontia

    quando percebido, radiograficamente, aumento ocluso-apical da cmara

    pulpar, apresentando coroa quadrangular e proporo alterada do

    tamanho da coroa em relao raiz (Seow e Lai, 1989). A presena de

    taurodontia foi determinada para 24 primeiros molares inferiores

    permanentes em 12 pacientes, de acordo com os critrios descritos por

    Seow e Lai, 1989. Foram excludos os dentes com destruio coronria,

  • 42

    restauraes extensas e rizognese incompleta. Para estabelecer a

    relao coroa-corpo/raiz, as radiografias panormicas foram

    digitalizadas com resoluo de 300 dpi utilizando o escaner Epson

    Expression 1680 Transparency Unit UE 35 Japan. As medies dos

    primeiros molares inferiores foram feitas utilizando o programa Image

    Pro-Express verso 6.0 para Windows. As medies foram repetidas

    com intervalo de uma semana. Foi considerada taurodontia quando a

    relao coroa-corpo/raiz foi igual ou maior que 1,1. Taurodontia foi

    registrada tambm quando molares superiores e segundo molares

    inferiores apresentaram taurodontia severa.

    15. Presena de formao incompleta da raiz: Os dentes foram

    considerados com razes curtas quando ao exame radiogrfico

    apresentavam fechamento apical prematuro com pices arredondados e

    sem histrico de uso de aparelho ortodntico (Parekh et al., 2006);

    16. Presena de reabsoro radicular externa: caracterizada

    radiograficamente pela diminuio do tamanho da raiz ficando o pice

    arredondado devido perda de estrutura dentria (Neville et al., 1998;

    Freitas et al., 2000);

    17. Presena de calcificaes pulpares: quando radiograficamente

    mineralizaes, de forma arredondada ou ovalada estavam presentes

    dentro da cmara pulpar ou do conduto radicular. O aspecto radiogrfico

    era radiopaco comparando-se com a radiolucncia do tecido pulpar

    (Parekh et al, 2006);

    18. Atraso da erupo dentria: Foi utilizado o mtodo de Demirjian e

    Goldstein, 1976

    19. Presena de defeitos do desenvolvimento do esmalte

    Para a avaliao dos defeitos do desenvolvimento de esmalte utilizou-se

    o ndice DDE Simplificado Modificado (Clarkson, 1989) Tabela II. Foram

    avaliadas as superfcies vestibulares, linguais e oclusais dos dentes. Foi

    considerado defeito de desenvolvimento do esmalte quando percebida em uma

    superfcie a perda de translucidez do esmalte, manifestada como mancha

    esbranquiada lisa, brilhante, com bordas definidas (no caso de opacidade

  • 43

    demarcada ou restrita) ou sem limite definido (caso de opacidade difusa) em

    reas no associadas reteno de biofilme. Quando observada alterao na

    espessura do esmalte, foi considerada hipoplasia (Suckling, 1989). Nos casos

    da combinao dos defeitos foi utilizado cdigo especfico (Tabela III). A

    extenso do defeito tambm foi registrada de acordo com tero da superfcie

    envolvido (Tabela IV).

    A fim de verificar a concordncia intra-examinador para o DDE, foi feito

    treinamento prvio da examinadora por meio de fotografias e uma amostra de 5

    pacientes foi selecionada. Dois exames clnicos foram realizados com intervalo

    mnimo de 15 dias entre um exame e outro e o teste Kappa foi de 0,82.

    Tabela 2 ndice DDE Simplificado Modificado

    Alteraes Cdigo

    Normal 0

    Opacidade restrita 1

    Opacidade difusa 2

    Hipoplasia 3

    Tabela 3 Combinaes DDE Simplificado Modificado

    Combinaes Cdigo

    Restrita e difusa 5

    Restrita e hipoplasia 6

    Difusa e hipoplasia 7

    Os trs tipos 8

    Tabela 4 Superfcie envolvida por DDE

    Tero envolvido Cdigo

    1/3 1

    2/3 2

    3/3 3

  • 44

    Doena Crie

    19. ndices CPOD e ceod

    O diagnstico das leses de crie foi realizado por meio de inspeo

    visual, uso de sonda exploradora e avaliao de radiografias.

    Foi utilizado o ndice ceod (cariado extrado obturado) para dentes

    decduos e CPOD inovado (Cariado Perdido Obturado) para dentes

    permanentes (Pinto, 2000). Os critrios usados para diagnstico de crie

    dentria foram presena de leses incipientes no cavitadas ativas e inativas e

    leses de crie cavitadas ativas e inativas, devido desequilbrio no processo de

    desmineralizao-remineralizao (Maltz e Carvalho, 1997).

    Anlise Estatstica

    Foi feita anlise estatstica descritiva, por meio de porcentagem e mdia.

    Os dados coletados foram organizados em tabelas e representados em

    grficos para melhorar a descrio. Foi realizado o teste qui-quadrado para

    verificar a existncia de associao entre as variveis deficincia de

    crescimento ps-natal e ocluso, agenesia dentria e fissura orofacial,

    agenesia dentria e microdontia, agenesia dentria e taurodontia e anomalias

    esquelticas e ocluso.

  • 45

    RESULTADOS CARACTERIZAO DA AMOSTRA

    Nesse estudo foram avaliados na Clnica de Anomalias Dentrias 16

    pacientes com sndrome de Kabuki, de ambos os gneros, diagnosticados pelo

    Servio de Gentica Clnica do Hospital Universitrio de Braslia HUB. A faixa

    etria variou entre oito e vinte e quatro anos de idade e a mdia de idade foi de

    17,8 anos. No foi observada diferena entre os gneros (p = 0,66).

    Tabela 5- Distribuio da amostra por gnero e idade

    08 a 18 anos 19 a 24 anos Total

    Feminino 5 4 9

    Masculino 4 3 7

    Total 9 7 16

    Dados obtidos em entrevista com os responsveis pelos pacientes

    revelaram que na amostra no houve relato de descendncia oriental, nem de

    pais afetados pela sndrome, mas foi registrado 37,5% de casos de

    consanguinidade. Uma paciente era negra. Pesquisa realizada em pronturio

    mdico revelou caritipo normal em quinze pacientes. Quatorze casos foram

    registrados como tendo ocorrido de forma espordica e nos demais no

    constava informao a respeito.

    A maioria dos participantes (81,25%) nasceu no DF e as informaes

    dos pronturios mdicos sobre gestao e parto registraram que em 50% da

    amostra ocorreu alguma anormalidade durante a gestao, sendo relatada

    gravidez de risco e ameaa de aborto, que metade nasceu de parto normal e

    que 25% dos pacientes nasceram prematuramente. Houve tambm registro de

    intercorrncias ao nascimento em 68,75% da amostra, tais como, baixo peso

    ao nascer, cianose e hrnia inguinal.

    Na Tabela 6 apresentada a distribuio da amostra de acordo com a

    renda familiar informada em entrevista, onde se observa maior frequncia de

    pacientes nas faixas de renda at trs salrios mnimos (56,25%).

  • 46

    Tabela 6. Distribuio dos indivduos com Sndrome de Kabuki de acordo com

    a renda familiar (em salrios-mnimos - SM)

    Renda familiar Pacientes

    n (%)

    at 1SM 3 (18,75%)

    1- 3 SM 6 (37,50%)

    3-5 SM 2 (12,50%)

    > 5 SM 3 (18,75%)

    no informaram 2 (12,50%)

    total 16 (100%)

    MANIFESTAES SISTMICAS

    Os dados obtidos nos pronturios mdicos forneceram informaes

    sobre as caractersticas diagnsticas e as manifestaes sistmicas da

    sndrome de Kabuki. A tabela 7 apresenta as cinco principais caractersticas

    diagnsticas relacionadas sndrome, na qual se observa que exceo do

    crescimento ps-natal deficiente, as demais alteraes foram apresentadas

    pela quase totalidade da amostra.

    Tabela 7. Caractersticas diagnsticas da Sndrome de Kabuki nos indivduos

    estudados

    Caractersticas diagnsticas Pacientes

    afetados n (%)

    Face peculiar 16 (100%)

    Anomalias esquelticas 14 (87,5%)

    Anomalias dermatoglficas 14 (87,5%)

    Retardo mental de leve a moderado 16 (100%)

    Crescimento ps-natal deficiente 8 (50%) (1) A porcentagem foi calculada em relao ao total de casos (n = 16)

    A prancha I, figuras A a F, ilustra as caractersticas faciais de indivduos

    com sndrome de Kabuki, que consistem em abertura palpebral longa e

    everso do tero lateral das plpebras inferiores, sobrancelhas arqueadas com

    distribuio esparsa dos plos no tero lateral, orelhas proeminentes e ponta

    do nariz deprimida e larga.

  • 47

    A tabela 8 revela a principal caracterstica da amostra estudada: a

    grande heterogeneidade das manifestaes clnicas sistmicas dos indivduos

    com KS. Verifica-se que as infeces, tais como episdios repetidos de

    pneumonia e otite, foram os achados mais frequentes, seguidas pelas

    convulses e problemas auditivos, como perda de audio. Ressalta-se que

    houve um caso de tero bicorno, achado este ainda no relatado na literatura.

    Tabela 8. Manifestaes sistmicas da sndrome de Kabuki nos indivduos

    estudados

    (1) A porcentagem foi calculada em relao ao total de casos (n = 16)

    Manifestaes Sistmicas Pacientes afetados

    n (%)

    Convulso 3 (18,75%)

    Infeces 13 (81,25%)

    nus imperfurado 1 (6,25%)

    Deficincia auditiva 3 (18,75%)

    Problemas de viso 1 (6,25%)

    Esclera azul 1 (6,25%)

    Hrnia umbilical 1 (6,25%)

    Dificuldade para deambular 1 (6,25%)

    Malformaes cardacas 2 (12,5%)

    Desenvolvimento mamrio precoce 2 (12,5%)

    Hiperextensabilidade das articulaes 1 (6,25%)

    tero bicorno 1 (6,25%)

    Menarca precoce 1 (6,25%)

    Manchas hipocrmicas 2 (12,5%)

  • 48

    Prancha I

    Prancha I Caractersticas faciais dos portadores de sndrome de Kabuki. A a F

    Fotografias extrabucais. Nota-se as peculiaridades da face fissura palpebral longa

    com everso do tero lateral das plpebras inferiores, nariz largo e com ponta

    deprimida e orelhas grandes e proeminentes. G a I Fotografias extrabucais (perfil).

    Notase pouco desenvolvimento da pr-maxila. I - Manchas hipocrmicas no pescoo

    e regio submentoniana.

  • 49

    ALTERAES CRANIOFACIAIS E MANIFESTAES BUCAIS

    Devido deficincia mental, os pacientes apresentaram limitao de

    colaborao para realizao dos exames clnico, radiogrfico, tomadas

    fotogrficas e tratamento odontolgico.

    Alteraes craniofaciais

    Todos os indivduos apresentaram alteraes craniofaciais, sendo que

    sete tinham, hipoplasia maxilar (prancha I, figuras G a I) e trs hipoplasia

    mandibular. No entanto, aplainamento dos cndilos foi achado radiogrfico em

    dois pacientes (prancha III, figuras A e B). No exame clnico intrabucal foi

    verificada alta prevalncia de palato profundo (75%) e notou-se tambm em

    dois pacientes, fibrose no palato na regio da rafe palatina, achado nunca

    citado anteriormente, ilustrados na prancha II, figura A.

    Dois indivduos apresentaram fissura lbio-palatina, sendo que um com

    fissura bilateral e com agenesia dos incisivos laterais na regio da fissura, e o

    outro com fissura unilateral (lado esquerdo), agenesia do primeiro pr-molar

    esquerdo e ausncia do conduto auditivo esquerdo. Ambos foram submetidos

    cirurgia para correo das fissuras ainda nos primeiros anos de vida no

    Hospital de Reabilitao de Anomalias Craniofaciais da Universidade de So

    Paulo.

    A Tabela 9 apresenta a distribuio da amostra de acordo com a

    classificao oclusal, conforme os critrios de Angle (1899). Pode se verificar

    que todos os indivduos examinados apresentaram malocluso, sendo que a

    mais freqente foi do tipo classe III (prancha II, figura B). Ademais, 50% dos

    participantes possuam diastemas e 31,25%, apinhamento dentrio.

    Apresentaram mordida cruzada unilateral, 31,25% dos pacientes;

    mordida cruzada bilateral, 18,75% e mordida cruzada total, 12,5%. Em trs

    pacientes no foi possvel registrar a ocluso de acordo com os critrios de

    Angle, porque no possuam os primeiros molares superiores e/ou inferiores.

    Quatro pacientes apresentaram arco superior atrsico e o paciente com

    dentio decdua apresentou degrau mesial.

  • 50

    Seis pacientes (37,5%) iniciaram tratamento ortodntico, porm devido falta

    de colaborao houve interrupo do tratamento em cinco casos.

    Tabela 9. Classificao da ocluso dentria nos indivduos com sndrome de

    Kabuki estudados, de acordo com os critrios de Angle (1899)

    Tipo de Malocluso Pacientes afetados n (%)

    Classe I 4 (25%)

    Classe II 2 (12,5%)

    Classe III 7(43,75%)

    No examinados 3 (18,75%)

    Total 16 ( 100%)

  • 51

    Prancha II

    Prancha II Caractersticas clnicas de indivduos examinados. A a C - Fotografia

    intrabucal do indivduo 15. Nota-se o palato profundo e fibrose na regio da rafe (A),

    mordida cruzada total, hipoplasia de esmalte (incisivos centrais superiores e

    inferiores), diastemas e ausncia de incisivo inferior (B), incisivos em chave de fenda,

    hipoplasia de esmalte e desgaste incisal (C). D e E - Detalhe de fotografia intrabucal

    do indivduo 3. Observa-se incisivos em chave de fenda (D), microdontia e opacidades

    difusas e restritas (E). F - Detalhe de fotografia intrabucal do indivduo 12. Incisivo

    lateral conide e diastema.

  • 52

    Alteraes bucodentrias

    Os exames intra e extrabucais no revelaram qualquer alterao em

    lbios, mucosa bucal, lngua e glndulas salivares dos indivduos examinados.

    Devido a no cooperao dos pacientes os ndices de placa visvel e de

    sangramento gengival no puderam ser realizados. Foi verificado durante a

    realizao dos tratamentos odontolgicos, dificuldade dos pacientes e/ou

    responsveis para executar procedimentos de higiene bucal em decorrncia

    das limitaes cognitivas e motoras observadas nos indivduos com KS.

    No que se refere s anomalias dentrias de nmero, tamanho e forma

    verificou-se clnica e radiograficamente na amostra que incisivos em chave de

    fenda foi o tipo de anomalia mais prevalente, encontrada em 11 pacientes

    (68,75%), seguida pela agenesia dentria em sete pacientes (43,75%) e

    microdontia afetando os incisivos laterais superiores e molares superiores em

    quatro pacientes (25%), sendo que desses, dois (12,5%) apresentavam dentes

    conides. Em seis participantes foi observada forma atpica das coroas

    dentrias, principalmente dos primeiros e segundo molares (prancha II, figuras

    C, D, E e F e prancha III, figuras A a C).

    A figura 2 apresenta a distribuio de incisivos em chave de fenda na

    amostra. A mdia de dentes alterados foi de 2,81, com desvio-padro de 2,81,

    com mnimo de 0 e mximo de 8 dentes afetados por paciente.

    Figura 2. Distribuio de incisivos em chave de fenda nos indivduos com

    sndrome de Kabuki estudados

    Paciente 3 Paciente 4 Paciente 5 Paciente 6 Paciente 8 Paciente 10

    Paciente 11 Paciente 12 Paciente 13 Paciente 14 Paciente 15

    Legenda: Dente sem alterao Incisivo em chave de fenda

    Dente com restaurao extensa Agenesia dentria

  • 53

    Prancha III

    Prancha III Caractersticas radiogrficas dos indivduos com KS examinados. A. Radiografia panormica indivduo 4. Nota-se aplainamento condilar (setas grossas brancas), alterao de forma de molares onde se observa formato quadrangular, microdontia (setas pretas), alterao de forma de razes (linha preta) e taurodontia dos primeiros molares inferiores. B. Radiografia panormica indivduo 11. Observa-se aplainamento condilar (seta grossa branca), bifurcao radicular (tringulos brancos), microdontia dos terceiros molares superiores, calcificaes pulpares e condutos radiculares atrsicos, molares com alterao de forma (formato quadrangular), encurtamento radicular (incisivos inferiores), incisivos em chave de fenda (tringulos pretos) e reteno prolongada de terceiros molares. C. Radiografia panormica do indivduo 15. Nota-se forma atpica das coroas de molares inferiores, segundos molares superiores conides, alargamento da cmara pulpar, alteraes de forma da raiz nos caninos e premolares inferiores esquerdos, dilacerao corono-radicular e microdontia (setas pretas largas), incisivos em chave de fenda, diastemas e agenesia de cinco dentes permanentes (asteriscos).

  • 54

    A figura 3 e pranchas III, figura C, e IV, figura A, ilustram a distribuio

    dos dentes permanentes afetados por agenesia dentria na amostra estudada.

    Os 3s molares e os incisivos laterais foram os dentes mais ausentes.

    Figura 3. Alteraes de nmero na dentio permanente dos indivduos com

    sndrome de Kabuki estudados

    Paciente 6 Paciente 7

    Paciente 8 Paciente 9

    Paciente 10 Paciente 14

    Paciente 15

    Legenda:

    Dente permanente presente Diagnstico de agenesia Dente extrado

    As alteraes do desenvolvimento dentino-pulpar foram detectadas por

    meio de exame radiogrfico em nove pacientes (56,25%) da amostra, sendo

    que sete indivduos (43,75%) apresentaram calcificaes pulpares e dois

    (12,5%), alargamento das cmaras pulpares. A tabela 10 e a prancha IV,

    figuras A e B, apresentam a distribuio de dentes com calcificaes pulpares

  • 55

    nos pacientes KS examinados, na qual se verifica que um indivduo apresentou

    16 dentes afetados. Com relao s alteraes de formao radicular a

    variabilidade dos achados radiogrficos tambm se fez presente. Alm da

    taurodontia (figura 4 e prancha IV, figura B), cuja prevalncia foi de 25%, quatro

    pacientes (25%) apresentaram bifurcao atpica dos condutos, dois (12,5%)

    formao incompleta da raiz, reabsoro radicular e dilacerao radicular e

    apenas um indivduo (6,25%) apresentou raiz supranumerria.

    Figura 4. Distribuio de taurodontia nos indivduos com sndrome de Kabuki

    estudados

    Paciente 4 Paciente 9

    Paciente 12 Paciente 13

    Paciente 14

    Legenda:

    Dente com taurodontia Dente com destruio extensa

    Foram observados clnica e radiograficamente em 4 pacientes (25%),

    permanncia prolongada de dentes decduos, em trs pacientes (18,75%) ,

    reteno intra-ssea de dentes permanentes e apenas um (6,25%) indivduo

    apresentou atraso da erupo dentria.

  • 56

    Prancha IV

    Prancha IV Caractersticas radiogrficas dos indivduos com KS examinados. A

    Indivduo 8. Hipodontia e permanncia prolongada de decduos (asteriscos),

    calcificaes pulpares nos premolares e molares superiores direito e esquerdo e

    molares inferiores esquerdo, reteno do terceiro molar inferior direito e esclerose

    ssea ou germe do terceiro molar superior esquerdo. B Indivduo 12. Observa-se

    taurodontia dos primeiros molares (B1, B2, B3 e B4), microdontia e reteno

    prolongada de caninos (setas pretas) e dos terceiros molares e calcificaes pulpares

    nos molares superiores e segundo molar inferior esquerdo.

  • 57

    A figura 5 e prancha II, figuras C e E, apresentam a distribuio dos

    defeitos de desenvolvimento de esmalte (DDE) nos pacientes KS. A

    prevalncia de DDE na amostra foi de 87,5%, com 21,75% dos defeitos

    atingindo os 3/3 teros da coroa dentria, sendo que a opacidade difusa e

    associao de restrita e difusa foram as alteraes mais prevalentes. A maior

    par