lopes galvÃo conclusão e bibliografia
DESCRIPTION
eduTRANSCRIPT
[a que vace precisa saber sabre...]Tftulo
Hist6ria da Educa<rao
Eliane Marta Teixeira Lopes
Ana Maria de Oliveira Ga/viio
Colc9io
[0 que voc~ precisa saber sobre...]
Organizadores
Paulo Ghiraldelli Jr. (Unesp, Marilia) e Nadja Hermann (UFRS)
ConseUw Edirorial
Alberto Tosi Rodrigues (UFES) , James Marshall (Auckland University),
L. Henrique Araujo Dutra (UFSC), Michael Peters (Auckland University),
Waldomiro Jose da Silva Filho (UFBA)
Edicores Associados
Caetano Emesto Plastino (USP), Marcus Vinicius Cunha (Unesp, Araraquara),
Pedro Pagni (Unesp, Marilia), Silvio Gallo (Unicamp), Raquel Moraes (UnB),
T.~rsoBonilha Mazotti (UFRJ), Sofia Srein(UFGO), Srella Accorinti (Argentina)
Historia da Educa~ao
RCliisao deprovasDaniel Seidl
ProjelO gYlifico e diagrama,iio
Maria Gabriela Delgado
Capa
Rodrigo Murtinho
ElianeMarta Teixeira LopesAna Maria de Oliveira Galvao
2il edi~ao
CIP-BRASIL.Cataloga,ao-na-fonteSindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
851h
Lopes, Eliane Marta Teixeira
Historia da Educa,ao IEliane Marta Teixeira Lopes,Ana Maria de Oliveira
Galvao. - Rio de Janeiro: DP&A, 2005, 2. ed.
. - (0 que voce precisa saber sobre)14x21cm
lZOp.
Inclui bibliografiaISBN: 85-7490-346-9 ~
DP&Aeditor a.
I. Educa,ao - Historia. \. Galvao, Ana Maria de Oliveira. II. Tftulo III. Serie.
CDD370.9CDU 37(091)
Aguisa de condusao
A LITERATURAE UMA DAS MANEIRASDE EXPRESSARa vida atraves da
linguagem, em prosa ou verso; de forma popular ou erudita;agradando a muitos ou a poucos. "Minha escola", 0 poema aseguir, talvez se refira a escola que freqiientou seu autor. Outros
escritores ja trataram desse tema: no Brasil e em outros pafsesdo mundo, na atualidade ou em seculos anteriores, a escola
vem sendo tematizada pel a literatura. Assim, certamente cabe
a pergunta: por que este poema e nao outro? Mas cabe a resposta:por que nao este? Fizemos um exerdcio de decriptar2 0 poema,
nao para que ele ficasse mais acessfvel, pois ele ja 0 e, alem dedelicado e bonito. Apenas esbo~amos este trabalho para que 0leitor e a leitora sintam-se convidados a conferir significados,
atraves de associa~oes e de remissoes ao que nao esta no texto -situa~oes, palavras, informa~oes... - e, assim, fazer uma das
muitas leituras possfveis do ponto de vista da Historia, da Historiada Educa~ao. Ressaltamos que 0 que fizemos nao e nenhumtipo de pesquisa: e uma leitura, ja que para formarmos esses
links, essas liga~oes, muitas outras pessoas fizeram pesquisas em
muitas areas do conhecimento. Se tivessemos feito uma pesquisapropriamente dita, certamente muitas outras associa~oes teriam
sido feitas para que, depois, pudessemos escrever um novo textoe contar uma historia... Pesquisa, como procuramos deixar claro,se faz com fontes, e quantas mais houver, melhor.
2 De- + -cript(o)- + -ar = Traduzir ou decifrar mensagens cifradas, das quais nao setern a chave.
98 HIsr6RIA DA EDUCA<;:AO
Minha escola
Ascenso Ferreira
A escola que eu freqiientava era cheia de grades como as pris6es.
Eo meu Mestre, carrancudo como urn dicionario;
Complicado como as Matematicas;
Inacessfvel como Os Lusfadas de Cam6es!
Asua porta eu estava sempre hesitante
De urn lado a vida... A minha adoravel vida de crian~a:
Pinh6es... Papagaios... Carreiras aosol...
Voos de trapezio a sombra da mangueira!
Saltos de ingazeira pra dentro do rio...
Jogos de castanhas...
- 0 meu engenho de barro de fazer me!!
Do outro lado, aquela tortura:'~s armas e os bar6es assinalados!"
- Quantas ora~6es?
- Qual e 0 maior rio da China?
- A2 + 2AB = quanto?
- Que e curvilfneo, convexo?
- Menino, venha dar sua Ii~ao de retorica!
- "Eu come~o, atenienses, invocando
a prote~ao dos deuses do Olimpo
para os destinos da Grecia!"
- Muito bem! Isto e do grande Demostenes!
- Agora a de frances:
- "Quand Ie christianisme avait apparu sur la terre..."- Basta.
- Hoje temos sabatina...
- 0 argumento e a bolo!
- Qual e a distancia da Terra ao Sol?
-I!!
A GUISA DE CONClUSAO99
- Nao sabe? Passe a mao a palmatoria!
- Bern, amanha quero isso de cor...
Felizmente, a boca da noite,
Eu tinha uma velha que me contava hist6rias...
Lindas hist6rias do reino da Mae-d'Agua...
Erne ensinava a tomar a ben~ao a lua nova
Minha escola
Ascenso Ferreira I
A escola que eu freqiientava era cheia de grades como as pris6es.2
I FERREIRA, Ascenso (1895-1965). Nasceu em Palma res, zona da" mat a de
Pernambuco, regiao de engenhos de ac;ucar, onde viveu a infancia. "Por esse
tempo Ascenso nao era ainda, como e hoje, grande em tres dimensoes. Ate os
vinte e quatro anos foi tao magro que Ihe puseram apelido de 'tabica de
senhor de engenho'. Depois e que principiou a botar corpo. Meteu-se na
polftica e por causa dela teve de deixar a cidade natal. No Recife, onde sefixou, entrou a recitar nas ruas e em casa de amigos os seus primeiros versos,"
(Manuel Bandeira). De inicio parnasiano, ficou conhecido mesmo por seus
poemas modernistas, feitos mais para serem recitados em voz alta em seroes
coletivos - pnitica comum na epoca - do que para serem lidos solitaria esilenciosamente.O ritmo e marca fundamental de seus poemas mais conhecidos.
A arquitetura das escolas, freqiientemente, e associadaaquela das prisoes. Inspirados na arquitetUra deconventos, manicomios e seminarios, os colegiosreligiosos, antes do advento das escolas publicas, eramquase uma contin'oac;ao dos presidios, cercados degrades, com separac;oes por todos os lados, disciplinarigida, ordem meticulosamente observada. Por muitotempo, 0 internato, mesmo leigo, foi concebido como 0espac;o educativo por excelencia: nele as crianc;as seconservariam longe dos perigos da vida mundana, emurn local sistematicamente planejado para seremformadas. As escolas publicas mudam urn pouco essaconcepc;ao arquitetonica, mas a ideia de separac;ao domundo e lugar de tortura, porque separadas das coisasque as crianc;asamam, permanece. Permanece tambem aideia de que a escola, assim como os presidios, servempara corrigir e modelar as crianc;as. Quase todos osautores de romances, memorias, autobiografias quandovao se referir as suas escolas fazem comparac;oes com asprisoes. Muitos dizem que, no internato, tal como ocorreentre os presidiarios, ficavam riscando os dias, noscalendarios, que ainda restavam para que tcrminassemde cumprir a "sentenc;a".
102HIST6RIA DA EDUCA~AO
Eo meu Mestre, Jcarrancudo como um dicionario;4
J No diciomlrio Aurelio vamos encontrar
varias acep\;oes para "mestre": homem
que ensina; professor; aquele que eperito ou versado numa ciencia ou arte;
homem superior e de muito saber;
artifice em rela\;ao aos seus oficiais;titulo dado a artista, cientista ou
escritor eminente, em sinal de respeito;
chefe de operarios; mestre-de-obras;diretor espiritUal; mentor, confessor;
aquele que tern 0 mestrado; capitao de
embarca\;ao; titulo dado aos compositores
mais famosos de musica religiosabizantina; Bras.N.E. Titulo dado a todoborn tocador,principalmente de sanfona;mestre de meninos; mestre-escola;mestre de primeiras letras.o feminino e mestra. 0 professor eraassim chamado: mestre-escola, mestredas primeiras letras. No Brasil, noperiodo colonial, no seculo XIXe mesmono inicio do seculo XX, quando eraainda pequena a existencia de espa\;osfom1ais de escolariza\;iio, era bastantefreqiiente a contrata~ao de urnprofessor,0 mestre-escola, por donos deengenhos ou fazendas, para ensinar aseus filhos no interior das propriedadesrurais. Ele era, ao mesmo tempo, 0mestre e a escola. A professora eramestra: "A gente chegava - Ben~a,Mestra",lembra Cora Coralina.
Havia uma ideia de que 0 dicionarioera para gente sabia e erudita, em geralconfundida com carrancuda, mal-humorada, emburrada - talvez peloemprego didatico e obrigat6rio nasescolas que 0 torna cada vez menosurn objeto de respostas a curiosidadesdas pr6prias pessoas. Em vez disso, 0dicionario e urn utensilio de trabalhoe e imensa a riqueza que a consultaentre os de varias especialidades podetrazer.
AGUISA DE CONCLusAo 103
I Complicadocomoas Matematicasj5
I lnac=fveI como0, L",raJa,deC'mO,,"
Uma disciplina, aparentemente como outra qualquer,a matematica e sempre 0 bicho-papao dos estudantes.Tambem os professores se convertem em bichos-papoes esao detestados pela maioria dos alunos.)a que alguns ateacham que e uma ma-tematica, afinal, por que tantadificuldade? Por que ao longo da hist6ria sustenta-se 0medo pelos calculos, pela aritmetica e a matematica? Naosera certamente por falta da inova~o em metodos e tecnicasde ensino, modifica~oes nos currfculos e gradescurriculares. Por que sera, entao?
6 Os LusEadase urnpoema epico de Luis de Cam6es e foipublicado em1572. Portugal, pais que colonizou terras de ultramar, foi chamadopelos romanos de Lusitania. Lusiada e uma referencia a mitologia,ao filho ou descendente de Baco - Luso - que teria povoado a
parte mais ocidental da Peninsula Iberica. A a\;ao do poema descrevea descoberta dos caminhos para india por Vasco da Gama.Em quase todas as escolas estudava-se muito cedo Os LusEadas,
que e urn poema de muita dificuldade, embora de muita beleza.
Na epoca a que se refere Ascenso Ferreira em seu poema, era
ainda relativamente pequena a produ\;ao de livros didaticos
brasileiros (que s6 se inicia sistematicamente na segunda metade
do seculo XIX) e a obra de Camoes era utilizada com esse fim,como atestam varias outras fontes. Temos em nossos acervos uma
edi~ao da obra Nooa edi~ao escalar brasileira F.T.D. Para usa dos
estudantes do cursa ginasial. da "Colec\;ao de livros classicos ET.D.",
da Livraria Francisco Alves, sem data, mas aproximadamente de
1930. Comparando com a edi\;ao completa ve-se que foram feitos
muitos cortes, sobretudo nas partes consideradas "picantes", por
aqueles que autorizaram a publica\;ao. ou seja, a Igreja Cat6lica.
Sem poder alongar-nos nesses comentarios, ha aqui urn manancial
quase inesgotavel para pesquisa em Hist6ria da Educa\;ao, nao s6em Portugal, mas tambem no Brasil.
104 HIST6RIA DA EDUCAC;:AO
Asua porta eu estava sempre hesitante
De um lado a vida... A minha adonivel vida de erian<;a:Pinh6es... Papagaios... Carreiras ao sol...Voos de trapezio a sombra da mangueira!
Saltos de ingazeira pra dentro do rio...
Jogos de castanhas...- 0 meu engenho de barro de fazer meJ!1
Do outro lado, aquela tortura:'~s armas e os bar6es assinalados!"8
7 Nessa estrofe, 0 poeta se refere a varias brincadeiras comunsem seu tempo, caracterlsticas de sua vida de crianc;a.Algumas delas ainda podem ser encontradas entre n6s:o piao, que tambem era chamado de pinhao e que certamemese sofisticou no decorrer do tempo; 0 papagaio ou a pipa;a brincadeira nas arvores (mangueiras, ingazeiras ecertamente tantas outras); os banhos de rio; e 0 jogo decastanhas (os cajueiros eram comuns na regiao, certamenteem outro lugares nao se jogam(vam) castanhas, mas pedras,saquinhos com feij6es etc.). 0 pr6prio engenho onde,segundo outras fontes, os meninos gostavam de ficarouvindoas conversas dos mais velhos ou observando as engrenagensda maquina, tambem era considerado um lugar de lazer.As brincadeiras a que se refere Ascenso remetem aliberdade, a ausencia de comrole, ao corpo em movimento- 0 que certameme contrastava com 0 que vivia no outrolado da porta - a escola.
8 Este eo primeiro verso de Os Lusiadas. Informa nosso
livro didatico da decada de 1930 que bar6es nao significa
tItulo de nobreza e sim uma das grafias posslveis para
varoes. Outras observac;6es VaGsendo feitas para tomara literatura didatica.
AGUISA DE CONCLUSAO 105
- Quantas ora<;6es?9
- Qual e0 maior rio da China?
- A2 + 2AB = quanta?
- Que e eurvilfneo, eonvexo?IO
- Menino, venha dar sua li<;aode ret6riea!\1- "Eu eome<;o,atenienses, invoeando
a prote<;aodos deuses do Olimpo
para os destinos da Grecia!"- Muito bem! Isto e do grande Dem6stenes!
- Agora a de franees:
- "Quand Ie ehristianisme avait apparu sur la terre..."
- Basta.
o epico Os Lusiadas, como mostram diversas
fontes, era freqiientemente utilizado paraensinar os alunos a fazer analise sintarica.
Ea essa pratica que, provavelmente, 0 autor
esta se referindo no verso.
\0 Perguntas de geografia, algebra egeometria... Que mais deveriamperguntar? 0 que fazia parte doprograma? Coisas tao importantesquanto essas?
\I Esta palavra vem do grego - rhetorike, "a arte da ret6rica" - e passou pelolatim rhetorica. Quer dizer hoje eloqiiencia, orat6ria; no entanto sua trajet6ria
e longa: vem, como sua etimologia indica, das Sete Artes Liberais do currlculona Grecia Antiga, que passou depois para 0 currlculo romano. Dem6stenes
foi 0 mais ilustre dos oradores gregos: viveu entre 384-322 a.C. Durante
quinze anos, ele se bateu contra Felipe da Macedonia e contra 0 seu projetode dominar a Grecia. Sua eloqiiencia e sua ret6rica foram postas a servic;o
da polltica, na luta pela independencia de sua patria. Nao se era ret6rico e
tampouco se ensinava ret6rica com fins omamentais ou inuteis. No Brasil,a ret6rica, ate 0 seculo XIX, ocupava um lugar importante nos currlculosdas escolas secundarias.
106 HIST6RIA DA EDUCAc;AO AGUISA DE CONCLUSAO107
1
- Hoje temos sabatina...'2
- 0 argumento e a bolo! 13
- Qual e a distancia da Terra ao Sol?-? !!
_ N1iosabelPasseamaoapalmat6ria!14 ~- Bern.,rn,nh.qu,,""'0dwn..." I
12Vem de sabato (sabado) e era, na escola, uma repeti~ao, no sabado, das
Ii~oes estudadas durante a semana. Ja os jesuftas utilizavam a sabatina
em suas praticas pedag6gicas. Ate meados do seculo xx, a sabatina (ou
o argumento, como tambem era chamada), que nao mais ocoma somenteaos sabados, mas em outros dias da semana, era uma pratica central na
vida escolar: atraves dela, que poderia ocorrer acompanhada de puni~oes
ffsicas para aqueles que nao acertavam as respostas, 0 professor "tomava
a Ii~ao" (mesmo no infcio do seculo XX, 0 metodo individual prevalecia
em muitas escolas -0 professor nao "dava aulas" - como ocorre no metodo
simultaneo - mas "tomava as 1i~6es" de cada aluno individualmente -mesmo que todos estivessem juntos) e avaliava a aprendizagem do aluno.
Mesmo quando, na sociedade brasileira (mas isso ocorre tambem em
outros pafses), a oralidade vai cedendo lugar as praticas de escrita (que
se tornam, senao centrais, legftimas no espa~o escolar) e parece anacronico
realizar "provas orais", a ideia da sabatina perrnanece nos questionarios
que por tanto tempo caracterizaram 0 ensino de algumas disciplinas,
como hist6ria, geografia etc. Figuradamente, sabatina tomou, alem do
sentido de questionario, 0 de discussao e debate. Na decada de 1960
havia um programa de TV que se chamava "Sabatinas Maizena". Hoje em
dia, esses programas tem 0 nome de "Quiz Show", sempre com 0 sentido
de competi~ao de conhecimento...
H A palmat6ria e uma pequena pe~a circular demadeira, com cinco oriffcios e um cabo, que serviapara bater nas palmas das maos. 0 sinonimo eruditomais pr6ximo ao latim e a outras Hnguas latinas eferula. Bastante utilizada pelos proprietarios deterras para castigar fisicamente os escravos, aprincipio foi prescrita - e algumas leis provinciais doseculo XIXno Brasilatestam isso- como instrumento
pedag6gico que servia para punir tanto os meninosque nao aprendessem a Ii~ao quanto os que fossemindisciplinados. Era 0 terror das crian~as e dealgumas ainda e, pois, embora desde meados doseculo XIX sua utiliza~ao nas escolas tenha passadoa ser criticada, desaconselhada (sobretudo pelos
higienistas, que abominavam os castigos ffsicos), emesmo proibida em alguns locais, sua "aplica~ao"ainda e uma pratica em escolas, internatos e abrigosque conservam a tortura como modo de educar.
13Como dissemos acima, algumas vezes a sabatina (ou 0 argumento)
era acompanhada de puni~6es ffsicas e a palmat6ria, de que falaremos
a seguir, era 0 instrumento mais utilizado para concretiza-Ias. Cada
uma das aplica~oes do instrumento nas maos das crian~as era
chamada de "bolo". As vezes 0 pr6prio professor se encarregava de
aplicar os bolos nos alunos que nao acertavam as questoes.
As vezes, delegava ao estudante que se safa bem na atividade a
tarefa de dar bolos nos colegas. Assim. quem acertasse as Ii~oes
recebia 0 "premio" de poder bater no colega.
15Acreditava-se que 0 cora~ao (do latimcor) era 0 motor
da aprendizagem e da mem6ria. Assim, aprender de
cor significa guardar na mem6ria, que se situava no
cora~ao. Dizer um poema de cor e dize-Io sem ler ondeesta escrito. Em sociedades, comunidades ou mesmo
entre grupos e indivfduos que se utilizam mais da
tradi~ao oral do que das praticas de escrita, acredita-
se que a verdadeira aprendizagem s6 ocorre quandose sabe de cor, ou seja, de mem6ria. No perfodo em
que estudou Ascenso, como mostram outras fontes,em que pesem as renova~oes nos metodos de ensino
apregoadas pelas vanguardas pedag6gicas da epoca, amem6ria constitufa a base do ensino. Para isso, alunos
e professores lan~avam mao de recursos mnemonicos,
freqiientes no cotidiano escolar, como a cantoria ou acantilena, muitas vezes acompanhadas de movimentos
do corpo (como 0 balan~ar das pernas).
108HIST6RIA DA EDUCA~AO
Felizmente, a boca da noite,
Eu tinha uma velha que me contava historias...
Lindas historias do reino da Mae-d' Agua...E me ensinava a tomar a benc;ao a lua noval6
Bibliografia utilizada e sugestoes para leitura
160 poeta conclui 0 poema se referindo, assim como fizeram outros
escritores (como Manuel Bandeira, que deseja a presen<;a de
Rosa em Pasatgada), a esses personagens meio magicos para osolhos de hOje, bastante familiares naquele momento: os contadores
de historias. Representados em geral por velhos e velhas, e no
Brasil freqiientemente associados a transmissao oral (de gera<;aoem gera<;ao) de tradi<;6es indfgenas e africanas, esses homens e
mulheres fascinavam, seduziam, levavam para outros espa<;os,
para mundos nao conhecidos, meninos e meninas que, se de
urn lado viviam a repeti<;ao, 0 tedio, 0 corpo inerte,caracterfsticos da escola, de outro, podiam - aboca da noite _
experimentar a imagina<;ao, a criatividade, a poesia.
COMO NOSREFERIMOSNA APRESENTAC;AO,ao escrevereste livroutilizamos textos escritos por outros(as) autores(as) e por nosmesmas, em outros momentos. lncluimos aqui as referenciasdesses artigos e livros sobre os quais nos baseamos ou a que nosreferimos, indicando-os, ao mesmo tempo, como sugest6es deleitura para quem quiser se aprofundar nos assuntos de quetratamos. Evidentemente, nao tivemos a pretensao de fazer umaindica<;ao exaustiva de textos sobre cada urn dos temasabordados, mas selecionamos alguns titulos, priorizando aquelesque estao disponiveisno Brasile que julgamosmais interessantes,seja porque ja sao considerados classicos, seja porque trazemabordagens inovadoras.
Historiografia, historia da educa~ao e fontes
BLOCH,Marc. IntrodUfoo a histfrria. Lisboa: Publicac;6es Europa-America, s.d.
BURKE,Peter. A Revolu~ao Francesa da Historiografia: a Esco/a dos Annales
(1929-1989). Sao Paulo: Unesp, 1991.
BURKE,Peter (arg.) A escrita da historia: novas perspectivas. Sao Paulo:Unesp, 1992.
CARDOSO,Ciro Flamarion, VAINFAS,Ronaldo (arg.) Dominios da historia:ensaiosde teoriae metodologia.Rio de Janeiro: Campus, 1997.
CARVALHO,Marta Maria Chagas de. A configurac;ao da historiografiaeducacional brasileira. In: FREITAS,Marcos Cezar (arg.) Historiografiabrasileiraem perspectiva,Sao Paulo: Comexto, 1998. p. 329-353.
CARVALHO,Marta Maria Chagas de e NUNES,Clarice. Historiografia daeducac;ao e fontes. Cademos ANPEd, n. 5, set. 1993, p. 7-64.
CERTEAU,Michel de. A escrita da historia. Rio de Janeiro: Forense-Universitaria, 1982.
110HISTORIA DA EDUCA<;AO
CHARTIER,Roger. A historia cultural: entre praticas e representaqoes. Lisboa:Difel,s.d.
COMPERE,Marie-Madeleine. rHistoire de rEducation en Europe: essaicomparatif sur la faqon dont elles'ecrit. Paris: INRP/Peter Lang, 1995.
FARGE,Arlette. Le gout de l'archive.Paris: Seuil, 1989.
FARIAFILHo,Luciano Mendes de (org.) Educaqao,modemidade e civilizaqao:fontes e perspectivas de analise para a historia da educaqao oitocentista.Belo Horizonte: Autentica, 1998.
GALVAO,Ana Maria de Oliveira. Problematizando fontes em Hist6ria da
Educa~ao. Educaqiioe Realidade.Porto Alegre, v. 21, n. 2, jul.!dez. 1996,p. 99-118.
HARTOG,Fran~ois. 0 espelhode Herodoto: ensaios sobre a representaqaodooutro. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1999.
HUNT,Lynn (org.) A nova hist6riacultural.Sao Paulo: Martins Fontes, 1992.
LE GOFF, Jacques. Documento/monumento. In: Historia e memoria.Campinas: Editora da Unicamp, 1994, p. 535-549.
LOPES,Eliane Marta S. Teixeira. Perspectivashistoricasda educaqao.Sao Paulo:Atica, 1986.
. Uma contribui~ao da hist6ria para a hist6ria da educa~ao.Em Aberto. Brasilia, v. 9, n. 47, juI./set. 1990.
. Fontes documentais e categorias de analise para uma hist6riada educa~ao da mulher. Teoria e Educaqao. Porto Alegre, n. 6, 1992,p. 105-114.
. Hist6ria da Educa~ao e Literatura: algumas ideias e notas.Educaqaoem Revista, Belo Horizonte, n. 27, 1998, p. 35-46.
MONARCHA,Carlos (org.) Hist6riada educaqaobrasi/eira:formaqaodo campo.Ijui: Editora Unijui, 1999.
MOTA,Carlos Guilherme (org.) Febvre.Sao Paulo: Atica, 1992.
NUNES,Clarice. Ensino e historiografia da educa~ao: problematiza~ao deuma hip6tese. Revista Brasileirade Educaqao.Sao Paulo, n. I, jan./fev./mar./abr. 1996.
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA E SUGESTOES PARA LEITURA 111
I
.Narrativa e hist6ria da educa~ao: algumas reflex6es. In: BOOM,Alberto Martinez, NAROOOWSKI,Mariano (compiladores). Escuela, historia
y poder:miradasdesdeAmerica Lntina.Buenos Aires: Ediciones NovedadesEducativas, 1996, p. 97 -120.
PESSANHA,Jose Americo Motta. 0 sono e a vigilia. In: NOVAES, Adauto
(org.) Tempo e historia.Sao Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 33-55.
SAVIANI,Demerval e LOMBARDI,Jose Claudinei (orgs.) Historia e Historia da
Educaqiio. Campinas: Autores Associados, 1998.
VEYNE,Pau\. Como se escreve a hist6ria. 2" ed. Brasilia: UnB, 1992.
WARDE,Miriam Jorge. Contribui~6es da Hist6ria para a Educa~ao. Em Aberto.
Brasilia, Inep, v. 9, n. 47, jul.!set. 1990, p. 3-11.
Historia do ensino
ANDRADE,MarizaGuerra de. A educaqaoexilada:Co/egiodoCaraqa.BeloHorizonte: Autentica, 2000.
AZEVEOO,Fernando de. A cultura brasileira.6" ed. Rio de Janeiro: UFRJ;Brasilia: UnB, 1996.
BASTOS,Maria Helena Camara e FARIAFILHO,Luciano Mendes de. A escola
elementarno seculoXIX: 0 metodomonitorial/mutuo.Passo Fundo: Ediupf,1999.
BOTO,Carlota. A escola do homem novo: entre 0 Iluminismo e a RevoluqiioFrancesa.Sao Paulo: Unesp, 1996.
CAMBI,Franco. Hist6ria da pedagogia.Sao Paulo: Unesp, 1999.
CARVALHO,Marta Maria Chagas de. Molde nacional e forma civica:higiene,moral e trabalho no projeto da Associaqao Brasileirade Educaqao (1924-1931). Bragan~a Paulista, SP: Edusf, 1998.
FARIAFILHO,Luciano Mendes de. Dos pardieiros aos palacios: cultura escolar
e urbana em Belo Horizonte na Primeira Republica. Passo Fundo: Editorada Universidade de Passo Fundo, 2000.
GALVAO,Ana Maria de Oliveira. Amansando meninos: uma leitura do cotidiano
da escolaa partirdaobradeJoseLinsdoRego (1890-1920).Joao Pessoa:Editora da UFPB, 1998.
112 HISTORIA DA EDUCAO;:AOBIBLIOGRAFIA UTilIZADA E SUGESTOES PARA LEITURA 113
GHIRALDELLIJR., Paulo. Historia da educa~ao. Sao Paulo: Cortez, 1990.
HORTA, Jose Silverio Bafa. 0 hino, 0 sermiio e a ordem do dia: a educa~ao noBrasil (1930- I 945). Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1994.
JAEGER,Werner. Paidea: a forma~ao do homem grego. Sao Paulo: MartinsFontes, 1979.
LOPES,Eliane Marta Teixeira. Origens da educa~ao publica. Sao Paulo: Loyola,1980.
CERTEAU,Michel de. Ler: uma opera~ao de cac;a.In: A inven~aodo cotidiano.
Petr6polis: Vozes, 1994, p. 259-273.
CHARTIER,Roger (arg.) Praticas da leitura. Sao Paulo: Estac;ao Liberdade,1996.
LOPES,Eliane Marta Teixeira; FARIAFlLHO,Luciano Mendes de; e VEIGA,Cynthia Greive (orgs.) 500 anos de educa~aono Brasil. Belo Horizonte:Autentica, 2000.
MANACORDA,Mario Alighiero. Historia da Educa~ao: da Antigiiidade aosnossosdias. Sao Paulo: Cortez, 1992.
MARROU,Henri-Irenee. Historia da Educa~ao na Antigiiidade. Sao Paulo:Herder, USp, 1969.
CHARTIER,Roger e CAVALLO,Guglielmo. Historiada leiturano mundo ocidental.Sao Paulo: Atica, 1999.
CHARTIER,Roger e MARTIN,Henri-Jean (org.) Histoire de l'editionfran~aise.Paris: Fayard, 1989-1991. 4v.
DARNTON,Robert. 0 grande massacredos gatos e outros ePisodiosda historiacultural francesa. Sao Paulo: Graal, 1986.
. 0 beijo de Lamourette: midia, cultura e revolu~ao. Sao Paulo:Companhia das Letras, 1990.
FARIAFILHO,Luciano Mendes de (org.) Modos de ler,formas de escrever:estudos de historia da leitura e da escrita no Brasil. Bela Horizonte:Autentica, 1998.
FEBVRE,Lucien, MARTIN,Henri-Jean. 0 aparecimentodo livro. Sao Paulo:Unesp, 1992.
HALLEWELL,Laurence. 0 livro no Brasil (sua historia). Sao Paulo: T. A.Queiroz: Edusp, 1985.
NUNES, Clarice. Anisio Teixeira: a poesia da a~ao. Bragan~a Paulista. SaoPaulo: Edusf, 2000.
RIBEIRO,Maria Luisa Santos. Historia da educa~ao brasileira (a organiza~aoescolar). Sao Paulo: Cortez, 1978.
ROMANELLI,Otafza de Oliveira. Historia da Educa~ao no Brasil (1930- 1973).
Petr6polis: Vozes, 1978.
SOUZA,Rosa Fatima de. Templos de civiliza~ao: a implanta~ao da escola primaria
graduada no Estado de Sao Paulo (1890- I 9 10). Sao Paulo: Unesp, 1998.
Historia do livro e da leitura
Historia das crianc;as e dos jovens
ARIES,Philippe. Historia social da crian~a e da familia. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan, 1981.
BECCHI,Egle, JULIA,Dominique (orgs.) Histoire de l'enfance en Occident.Paris: Seui\, 1998. 2v.
DELPRIORE,Mary (arg.) Historia das crian~asno Brasil. Sao Paulo: Contexto,1998.
ABREU,Marcia (arg.) Historia do livro e da leitura. Campinas: Mercado deLetras, ALB; Sao Paulo: Fapesp, 2000.
BATISTA,Antonio Augusto Gomes, GALVAo,Ana Maria de Oliveira (orgs.)Leitura:praticas,impressos,letramentos.Belo Horizonte: Autentica, 1999.
CATANI,Denice Barbara, BASTOS,Maria Helena Camara (orgs.) Educa~aoem revista: a imprensa periodica e a historia da educa~ao. Sao Paulo:Escrituras, 1997. p. 5-10.
FREITAS,Marcos Cezar de (org.) Historia social da infancia no Brasil. SaoPaulo: Cortez, 1997.
LEVI,Giovanni, SCHMm, Jean-Claude (orgs.) Historiadosjovens. Sao Paulo:Companhia das Letras, 1996. 2v.
114 HISTORIA DA EDUCA~AO
Historia das mulheres
DELPRIORE,Mary, BASSANEZI,Carla (orgs.) Hist6ria das mulheres no Brasil.Sao Paulo: Contexto, 1997.
DUBY,Georges e PERROT,Michelle. Hist6riadas mulheresno ocidente. Porto:Edic;5esAfrontamento, 1994.5 v.
LOPES,Eliane Marta Teixeira e ASSUN<;:AO,Maria Madalena Silva de.Professora. Presen~a Pedag6gica.Belo Horizonte, v. 3, jan./fev. 1997.
Conclusao
CAMOES,Luizde. Os Lusladas.Rio de Janeiro. Sao Paulo, BeloHorizonte:LivrariaFranciscoAlves.PauloAzevedo& C s.d.
CORALINA,Cora. Poemas dos becos de Goids e est6rias mais. 6" ed. Sao Paulo:
Global editora, 1984.
FERREIRA,Ascenso. Poemas de Ascenso Ferreira. Recife: Nordestal editora, 1995.
Dicionarios e enciclopedias - utensllios de trabalho
ALMOYNA,Julio Martinez. Dicionario Espanhol- Portugues. Porto: Porto Ed., 1951.
CHEVALIER,J. e GHEERBRANT,A. Dicionario de Simbolos. Rio de Janeiro: Jose
Olympio, 1988.
DicionarioAurelio Eletr6nico.Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
FARIA,Ernesto. Dicionario Escolar Latino-Portugues. Brasil: Ministerio daEducac;ao e Cultura, 1956.
FONSECA,Pedro Jose da. DiccionarioPoTtuguez-Latino.9-'ed. Lisboa: Em Casada Viuva Bertrand & C', 1879.
NASCENItS, Antenot Dicianario de Sir0nirnos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
PARLAGRECO,Carlo. Dizionario Portoghese-Italiano-Portoghese. Milano:Vallardi,1954.
PICOCHE,Jacqueline. DictionnaireEtymologiquedu Fran~ais. Les Usuels duRobert. Paris, 1994.
SCHUMAHER,Schuma e VITALBRAZIL,Erico (orgs.) Diciondrio Mulheres doBrasil:de 1500 ate a atualidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.
I'I
I,
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA E SUGEST6ES PARA LEITURA115
SPITZERS.]., poCarlos. DicionarioAna16gicoda Ungua POTtugueza.Porto Alegre:Globo,1936.
Version electroniquedu Nouveau Petit Robert - Dictionnaire alphabetique etanalogique de la langue fran~aise - Le Petit Robert sur CD-ROM - @
Dictionnaires Le Robert, 1996.
Webster's EncyclopedicUnabridgedDictionary of the English Language.NovaYork/Avenel, Nova Jersei: Gramercy Books, 1989.
Encarta@ 96 Encyclopedia.@ Microsoft Corporation. 1993-1995.
DecouvertesEncyclopedie.Paris: Gallimard, Larousse, Liris Interactive. 1997.