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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
(UFPI)
Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste
(TROPEN)
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA)
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(MDMA)
LOGÍSTICA REVERSA NAS INDÚSTRIAS DE MÓVEIS, PLÁSTICOS E PNEUS DE
TERESINA-PI
ELAINE APARECIDA DA SILVA
TERESINA-PI
2011
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
(UFPI)
Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste
(TROPEN)
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA)
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(MDMA)
ELAINE APARECIDA DA SILVA
LOGÍSTICA REVERSA NAS INDÚSTRIAS DE MÓVEIS, PLÁSTICOS E PNEUS DE
TERESINA-PI
Dissertação apresentada ao Programa Regional de
Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente da Universidade Federal do Piauí
(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito à
obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de
Concentração: Desenvolvimento do Trópico
Ecotonal do Nordeste. Linha de Pesquisa:
Políticas de Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Orientador: Prof. Dr. José Machado Moita Neto
TERESINA-PI
2011
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ELAINE APARECIDA DA SILVA
LOGÍSTICA REVERSA NAS INDÚSTRIAS DE MÓVEIS, PLÁSTICOS E PNEUS DE
TERESINA-PI
Dissertação apresentada ao Programa Regional de
Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente da Universidade Federal do Piauí
(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito à
obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de
Concentração: Desenvolvimento do Trópico
Ecotonal do Nordeste. Linha de Pesquisa:
Políticas de Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Teresina, 20 de janeiro de 2011.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
Prof. Dr. José Machado Moita Neto (Orientador)
Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)
__________________________________________________
Profa. Dra. Maria do Socorro Lira Monteiro (Membro Interno)
Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)
__________________________________________________
Prof. Dr. Geraldo Eduardo da Luz Júnior (Membro Externo)
Universidade Estadual do Piauí (UESPI)
__________________________________________________
Prof. Dr. Paulo Borges da Cunha (Suplente)
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI)
3
Dedico...
aos meus pais, Raimundo e Angélica, pelo amor,
dedicação e educação que me proporcionam, e às
minhas irmãs, Eliane, Edlaine e Viviane, pela
convivência que me faz feliz.
4
AGRADECIMENTOS
À Deus, por abençoar mais essa etapa da minha vida, me dando força e colocando
pessoas especiais no meu caminho.
À minha família, em especial, aos meus pais, avós, tios e primos, pelo amor, carinho,
confiança e torcida.
À Universidade Federal do Piauí e ao Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente, pela oportunidade oferecida de participar deste mestrado.
Ao apoio financeiro do Deutscher Akademischer Austausch Dienst (DAAD).
Ao Prof. Dr. José Machado Moita Neto, pelo acompanhamento, competência,
segurança e amizade com que conduziu a orientação.
Aos proprietários e aos gestores das indústrias visitadas, que me atenderam
gentilmente e estiveram dispostos a ajudar.
Aos professores e aos colaboradores do Mestrado em Desenvolvimento e Meio
Ambiente da UFPI, pela presteza e amizade.
Aos amigos conquistados no mestrado, Accyolli Sousa, Antônio Joaquim, Charlene
Silva, Daniel Carvalho, Daniel Gomes, Emiliana Cerqueira, João Macêdo, Letícia Campos,
Marli Cipriano, Reurysson Morais, Roberta Ferreira, Roberth Cipriano, Simone Tupinambá,
Victor Meireles e ao amigo de sempre, Leonardo Madeira, pela confiança, conselhos e
disposição em ajudar.
Aos colegas das turmas 2008-2010 e 2010-2012, pelos momentos de descontração e
torcida.
Ao grupo de pesquisa Química e Meio Ambiente da UFPI, em especial, Cristiany
Marinho e Régis Leal, pela amizade e a boa convivência.
5
RESUMO
A variedade de produtos com ciclos de vida cada vez mais curtos, a crescente conscientização
da sociedade em relação ao meio ambiente, além dos constantes aperfeiçoamentos à
legislação ambiental têm contribuído para uma maior responsabilização socioambiental por
parte das indústrias. Pelo princípio do poluidor-pagador, os fabricantes têm responsabilidade
sobre o gerenciamento dos materiais que produzem. A fim de viabilizar o retorno de materiais
pós-venda e pós-consumo às indústrias e amenizar o problema de destinação inadequada,
utilizam-se os conhecimentos da área de logística, mais especificamente da logística reversa.
O objetivo desse trabalho foi analisar a viabilidade da logística reversa nas indústrias de
móveis e plásticos de Teresina-Piauí e o cumprimento da legislação ambiental de pneus pelos
revendedores, consumidores e destinadores das principais marcas comercializadas na cidade.
Para isso, realizaram-se visitas e entrevistas com os gestores e funcionários de dezesseis
indústrias que fabricam móveis, três dos seus fornecedores, cinco oficinas que realizam a
reforma de móveis, nove indústrias que produzem artefatos de plásticos e borracha, cinco
revendedores de pneus e um ecoponto, para onde são enviados os pneus inservíveis. As
entrevistas combinavam perguntas abertas e fechadas e foram elaboradas conforme as
especificidades de cada setor. Em cada visita foram anotadas as matérias-primas utilizadas e a
origem, as etapas do processo produtivo, os tipos de produtos que industrializam, os tipos e
volumes de embalagens utilizadas para o acondicionamento dos produtos, além dos resíduos
gerados e do gerenciamento adotado. Observou-se, ainda, aspectos gerais de segurança,
qualidade e meio ambiente. Constatou-se que é inviável a aplicação da logística reversa no
setor moveleiro de Teresina, pois as indústrias não apresentam modelos voltados para a gestão
da qualidade, segurança e responsabilidade socioambiental, fatores importantes que
antecedem a sua aplicação. No setor de plásticos, a inexistência de um programa consolidado
de coleta seletiva e a falta de uma legislação efetiva distanciam a logística reversa do setor.
Assim, o seu estabelecimento depende do incremento nas atividades de pesquisa e inovação
tecnológica e da criação de um mercado para produtos reciclados. No setor de pneus,
constatou-se que mesmo havendo legislação ambiental específica, há um desequilíbrio nas
logísticas aplicadas dentro do setor, além do poder público e da sociedade serem omissos no
cumprimento da legislação. Logo, enquanto não houver pressão da sociedade e
regulamentação que force a implementação da logística reversa, as empresas analisadas não
terão condição de efetivá-la.
Palavras-Chave: Logística Reversa; Indústrias de Móveis; Indústrias de Plásticos; Descarte
de Pneus.
6
ABSTRACT
The diverse product life cycles getting shorter, the growing awareness of society towards the
environment, and the constant improvement of environmental laws have contributed to
greater accountability on the part of social and environmental industries. By the principle of
polluter pays, manufacturers take responsibility for managing the materials they produce. In
order to facilitate the return of materials after-sales and post-consumption industries and to
reduce the problem of inadequate destination, we use the knowledge of the logistics area,
more specifically reverse logistics. The aim of this study was to examine the viability of
reverse logistics in the furniture and plastics Teresina, Piauí and environmental compliance
for tire dealers, consumers and destinations of the brands sold in the city. For that, there were
visits and interviews with managers and staff of sixteen industries that manufacture furniture,
three of its suppliers, five workshops that carry the reform of furniture, nine industries that
produce artifacts, plastic and rubber, five dealers tires and a ecopoints, where they are sent to
the scrap tires. The interviews combined open and closed questions and were prepared
according to the specificities of each sector. At each visit were recorded raw materials used
and the source, the steps of the production process, the types of products that industrialize, the
types and volumes of containers used for packaging products, in addition to waste generated
and the management adopted. There was also general aspects of safety, quality and
environment. It was found that it is impossible the implementation of reverse logistics in the
furniture sector in Teresina, because the industry does not present models aimed at the
management of quality, safety and environmental responsibility are important factors leading
to its implementation. In the plastics industry, the lack of a consolidated program of selective
collection and the lack of effective legislation obstructs the reverse logistics industry. Thus,
their establishment depends on the increase in research and technological innovation and the
creation of a market for recycled products. In the tire industry, it was found that even with
specific environmental legislation, there is an imbalance in the logistics implemented within
the sector, the government and society are missing in compliance. So while there is pressure
from society and regulations that would force the implementation of reverse logistics,
companies analyzed would not be able to actualize it.
Keywords: Reverse Logistics; Furniture Industries; Plastics Industries; Disposal of Tires.
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 01 Escopo da cadeia de suprimento moderna ............................................16
Figura 02 Cadeia produtiva típica do setor moveleiro ..........................................40
Figura 03 Estrutura do pneu ..................................................................................43
Figura 04 Localização das indústrias de móveis visitadas ....................................47
Figura 05 Móvel para sala de estar – J.B. Cronemberger .....................................49
Figura 06 Cozinha planejada – Showroom – Sob Medida ....................................49
Figura 07 Móvel para hospital – Incomfal Móveis ...............................................49
Figura 08 Cadeia produtiva do setor moveleiro de Teresina ................................52
Figura 09 Estofado a ser reformado em 22/11/2010 .............................................53
Figura 10 Estofado reformado em 24/11/2010 .....................................................53
Figura 11 Móvel a ser reformado (lixamento e pintura) ......................................54
Figura 12 Móvel a ser reformado (ajuste de portas e gavetas, colocação de
puxador e espelho) ................................................................................54
Figura 13 Localização das indústrias de plásticos e de borracha visitadas ..........57
Figura 14 Polietileno .............................................................................................59
Figura 15 Filme de polietileno ..............................................................................59
Figura 16 Polietileno reciclado ............................................................................59
Figura 17 Filme de polietileno reciclado .............................................................59
Figura 18 Embalagem produzida na Ingepil ........................................................60
Figura 19 Fluxo de produção da Riverplast .........................................................62
Figura 20 Aparas oriundas do corte do filme .......................................................64
Figura 21 Aparas oriundas do corte do filme .......................................................64
Figura 22 Retalhos de borracha doada pela Grendene à INBOPIL ......................65
Figura 23 Piso partilhado produzido na INBOPIL ...............................................66
Figura 24 Tapete para veículos produzido na INBOPIL ......................................66
Figura 25 Corte da borracha para a produção de sandálias ...................................67
Figura 26 Sandálias produzidas na INBOPIL .......................................................67
Figura 27 Exame do pneu .....................................................................................69
Figura 28 Raspagem do pneu ................................................................................69
Figura 29 Escareação do pneu ...............................................................................70
8
Figura 30 Aplicação da cola ..................................................................................70
Figura 31 Escareação preenchida ..........................................................................70
Figura 32 Aplicação da banda de rodagem ...........................................................70
Figura 33 Pneu dentro do envelope .......................................................................71
Figura 34 Autoclave – vulcanização do pneu .......................................................71
Figura 35 Pneu reformado na renovadora Cacique ...............................................71
Figura 36 Selo do pneu reformado na renovadora Cacique ..................................71
Figura 37 Pó da borracha gerada durante a reforma do pneu ...............................72
Figura 38 Ecoponto administrado pela Bomfim Borrachas ..................................73
Figura 39 Vasilhames feitos de borracha para alimentação de animais ................74
Figura 40 Percintas – componente do sofá ...........................................................74
Figura 41 Fluxograma direto e inverso (proposta) das indústrias de plásticos de
Teresina ...............................................................................................78
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Evolução das publicações que mencionam o termo “reverse logistics”
entre 2000 e 2010 na Web of Science ...................................................21
Tabela 02 Empresas nacionais e estrangeiras que obtiveram certificação ISO
14001:2004 emitidas pelo SBAC até 16/12/2010 ................................36
Tabela 03 Indústrias visitadas do setor moveleiro de Teresina .............................48
Tabela 04 Valores, em reais, devidos a títulos de TCFA por estabelecimento por
trimestre ................................................................................................51
Tabela 05 Indústrias visitadas de plásticos e de borracha de Teresina ..................56
Tabela 06 Quantidade de pneus coletados mensalmente pela Prefeitura de Teresina
nas revendedoras ...................................................................................73
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 Artigos publicados nos periódicos indexados no Scielo que mencionam
o termo “logística reversa” até 2010 .....................................................22
Quadro 02 Grupos de pesquisa de logística reversa cadastrados no CNPq ...........25
Quadro 03 Estágios da sustentabilidade nas empresas ...........................................31
Quadro 04 Normas da ABNT referentes ao setor moveleiro .................................39
Quadro 05 Tipos de reforma de pneu .....................................................................45
Quadro 06 Revendedores de pneus de Teresina visitados ......................................68
11
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABDI Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
ABELPRE Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais
ABIMOVEL Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário
ABIPLAST Associação Brasileira da Indústria de Plástico
ABIQUIM Associação Brasileira da Indústria Química
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABR Associação Brasileira do Segmento de Reforma de Pneus
ANIP Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
AREBOP Associação Nacional das Empresas de Reciclagem de Pneus e Artefatos
de Borracha
CEMPRE Compromisso Empresarial para Reciclagem
CF Constituição Federal
CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
CLM Council of Logistics Management
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
CNI Confederação Nacional da Indústria
CNPJ Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
CRQ Conselho Regional de Química
CTF Cadastro Técnico Federal
DOF Documento de Origem Florestal
EPI Equipamento de Proteção Individual
EVA Poli(Etileno-co-Acetato de Vinila)
FIEPI Federação das Indústrias do Estado do Piauí
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IFES Instituto Federal do Espírito Santo
INBOPIL Indústria de Borracha do Piauí
INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
ISO International Organization for Standardization
ITAL Instituto de Tecnologia de Alimentos
LI Logística Inversa
LR Logística Reversa
MDF Medium Density Fiberboard
MTE Ministério do Trabalho e Emprego
NBR Norma Brasileira
12
NEPER Núcleo de Estudo e Pesquisa em Resíduos Sólidos
NEPES Núcleo de Estudos sobre Produção Enxuta e Sustentável
NESDER Núcleo de Estudos em Sustentabilidade, Desenvolvimento Local e
Regional
NR Norma Regulamentadora
OEM Original Equipment Manufacturer
OHSAS Occupational Health and Safety Assessment Series
OP Ordem de Produção
PE Polietileno
PEAD Polietileno de Alta Densidade
PEBD Polietileno de Baixa Densidade
PET Poli(tereftalato de etileno)
PIB Produto Interno Bruto
PP Polipropileno
PPRA Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
PROCON Serviço de Proteção e Defesa do Consumidor
PS Poliestireno
PVC Poli(cloreto de vinila)
PNMA Política Nacional do Meio Ambiente
PNRS Política Nacional dos Resíduos Sólidos
SBAC Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade
SEFAZ Secretaria da Fazenda
SEMDEC Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo
SESMT Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do
Trabalho
SGSST Sistema de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho
SST Segurança e Saúde no Trabalho
TCFA Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental
UCS Universidade de Caxias do Sul
UESC Universidade Estadual de Santa Cruz
UFAL Universidade Federal de Alagoas
UFPB Universidade Federal da Paraíba
UFPI Universidade Federal do Piauí
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UNESP Universidade Estadual Paulista
UNICID Universidade Cidade de São Paulo
UNIP Universidade Paulista
UNINOVE Universidade Nove de Julho
USP Universidade de São Paulo
WMS Warehouse Management System
13
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15
1.1 Logística ........................................................................................................................ 15
1.2 Logística reversa ........................................................................................................... 17
1.2.1 Pesquisa em logística reversa ............................................................................. 20
1.2.2 Política Nacional dos Resíduos Sólidos ............................................................. 26
1.3 Sustentabilidade empresarial ........................................................................................ 30
1.3.1 Segurança do trabalho ......................................................................................... 31
1.3.2 Qualidade do produto ......................................................................................... 34
1.3.3 Responsabilidade socioambiental ....................................................................... 35
1.4 Indústria piauiense e a logística reversa ....................................................................... 37
1.4.1 Setor de móveis ................................................................................................... 38
1.4.2 Setor de plásticos ................................................................................................ 40
1.4.3 Setor de pneus ..................................................................................................... 42
2 METODOLOGIA ................................................................................................................ 46
2.1 Atividades industriais de Teresina ................................................................................ 46
2.2 Indústrias visitadas ........................................................................................................ 46
3 RESULTADOS ................................................................................................................... 47
3.1 Setor de móveis ............................................................................................................. 47
3.2 Setor de plásticos .......................................................................................................... 56
3.3 Setor de pneus ............................................................................................................... 68
4 DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 75
4.1 Setor de móveis .............................................................................................................. 75
4.2 Setor de plásticos .......................................................................................................... 76
4.3 Setor de pneus ............................................................................................................... 78
4.4 Viabilidade da logística reversa nos setores estudados ................................................ 79
14
5 MERCADO E LOGÍSTICA REVERSA NO PIAUÍ ...................................................... 80
5.1 Introdução ..................................................................................................................... 80
5.2 Mercado ........................................................................................................................ 80
5.3 Inovações empresariais ou tecnológicas no mercado de bens e serviços ambientais ... 81
5.4 Exigências ambientais e logística reversa ..................................................................... 82
5.5 Mercado potencial e logística reversa no Piauí ............................................................ 84
5.6 Necessidade e possibilidade .......................................................................................... 87
5.7 Considerações finais ..................................................................................................... 87
6 CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 89
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 90
APÊNDICE ............................................................................................................................ 98
Apêndice A – Perguntas norteadoras para as indústrias de móveis de Teresina ................. 99
Apêndice B – Perguntas norteadoras para as indústrias de plásticos de Teresina ............. 100
Apêndice C – Perguntas norteadoras para as indústrias de pneus de Teresina .................. 101
15
1 INTRODUÇÃO
Teresina possui uma tipologia industrial diversificada: indústria de móveis,
metalúrgica (estruturas e artefatos de ferro e aço), indústria de bebidas (cervejas e
refrigerantes), plásticos, vestuário (confecções de roupas), material de transporte (bicicletas,
peças e acessórios), artigos de colchoaria (colchões), indústria química (tintas), produtos
alimentícios (panificação), indústria gráfica (artigos de livraria e produtos gráficos), entre
outras.
Neste trabalho é delineado como se desenvolvem as atividades do setor moveleiro, de
plásticos e de pneus de Teresina-PI. Assim, o objetivo da pesquisa é analisar a viabilidade da
logística reversa nas indústrias do setor de móveis e de plásticos e o cumprimento da
legislação ambiental de pneus pelos revendedores, consumidores, destinadores e poder
público das principais marcas comercializadas na cidade.
1.1 Logística
A logística, área tradicional da administração e etapa essencial de muitas atividades
industriais e comerciais, é responsável pelo percurso do produto desde a aquisição da matéria-
prima até o ponto de consumo final. Dessa forma, a atividade logística compreende o
estabelecimento das relações entre os fabricantes e os revendedores, além da entrega de bens
aos consumidores.
Conforme Ballou (2006), uma representação fiel do campo da logística foi a refletida
na definição promulgada pelo Council of Logistics Management (CLM), uma organização de
gestores logísticos, educadores e profissionais da área, criada em 1962, para incentivar o
ensino nesse campo e o intercâmbio de ideias,
Logística é o processo de planejamento, implantação e controle do fluxo
eficiente e eficaz de mercadorias, serviços e das informações relativas desde
o ponto de origem até o ponto de consumo, com o propósito de atender às
exigências dos clientes (BALLOU, 2006, p. 27).
Os componentes de um sistema logístico típico são: serviço ao cliente, previsão de
demanda, comunicações de distribuição, controle de estoque, manuseio de materiais,
processamento de pedidos, peças de reposição e serviços de suporte, escolhas de locais para
fábrica, embalagem, manuseio de produtos devolvidos, reciclagem de sucata, tráfego e
transporte, armazenagem e estocagem (BALLOU, 2006).
16
Para Bowersox et al. (2007, p. 28), “como o trabalho logístico é extremamente
detalhado e complexo, há uma tendência natural de manter o foco no desempenho funcional”.
Dessa maneira, a localização das instalações deve ser estabelecida de modo a formar uma
rede, as informações devem ser formuladas e compartilhadas, o transporte deve ser
providenciado, o estoque deve ser posicionado e as atividades de armazenamento, manuseio
de materiais e embalagem devem ser realizadas.
O longo caminho que se estende desde as fontes de matéria-prima, passando pelas
fábricas dos componentes, pela manufatura do produto, pelos distribuidores e chegando ao
consumidor através do varejista constitui a cadeia de suprimento (NOVAES, 2007). Um
escopo da cadeia de suprimento moderna, em que há colaboração entre os integrantes para
otimizar a relação custo-benefício, é ilustrado por Ballou (2006) da seguinte forma:
Adquirir Transformar Distribuir
Escoamento de produtos e informações
Figura 01 - Escopo da cadeia de suprimento moderna. Fonte: Ballou (2006).
Segundo Christopher (1992), o gerenciamento logístico tem potencial para auxiliar a
organização a alcançar tanto a vantagem em custo/produtividade como a vantagem em valor.
Ainda, de acordo com o autor, a logística deve ser vista como o elo entre o mercado e a
atividade operacional da empresa.
A adequada administração logística interpreta cada atividade como contribuinte do
processo de agregação de valor. Assim, quando pouco valor pode ser agregado, torna-se
questionável a própria existência dessa atividade. Contudo, agrega-se valor quando os
consumidores estão dispostos a pagar, por um produto ou serviço, mais que o custo de colocá-
lo ao alcance deles (BALLOU, 2006).
Empresa
Fornecedores
Fornecedor do
fornecedor
Clientes
Clientes/usuários
finais
17
1.2 Logística reversa
Rogers e Tibben-Lembke (1998) adaptaram o conceito de logística reversa (LR), a
partir da definição de logística do CLM, conceituando-a como o processo de planejamento,
implementação e controle da eficiência do custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques
em processo, produtos acabados e as informações relacionadas com o ponto de consumo ao
ponto de origem, a fim de recapturar valor ou destinar adequadamente.
Assim, a logística reversa é a responsável pelo retorno de produtos aos fabricantes
para o reaproveitamento dos componentes desse produto ou, pelo menos, para que lhes seja
dado um destino ambientalmente correto. Destarte, para Leite (2003, p. 16 e 17) a LR é
definida como:
Área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as
informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e
de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos
canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas:
econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros.
A necessidade da logística reversa tem se acentuado em todo o mundo, em função da
quantidade e variedade de produtos com ciclos de vida cada vez mais curtos, estocados em
locais inadequados para a sua recepção. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de
Limpeza Pública e Resíduos Especiais - ABRELPE (2010), 43% dos resíduos sólidos urbanos
coletados no Brasil, em 2009, tiveram uma destinação final inadequada, o que corresponde a,
aproximadamente, 22 milhões de toneladas de resíduos. A constatação é de que esses
materiais tiveram destinação em aterros controlados ou lixões, os quais não garantem a devida
proteção ambiental, com sérios riscos de degradação.
Na visão de Mutha e Pokharel (2009), a logística reversa tem recebido apreciável
atenção, no mundo, devido aos potenciais de valorização dos produtos utilizados; além de
legislações e diretrizes, da consciência do consumidor e da responsabilidade social com o
meio ambiente.
Piazza et al. (2007) consideram que estamos diante de uma nova tendência, onde as
empresas, para permanecerem no mercado, precisarão atualizar-se na busca de novas
alternativas para a redução dos impactos ambientais dos processos e produtos, a partir dos
insumos materiais e energéticos da produção até o reaproveitamento e a disposição final dos
resíduos e dos próprios produtos.
Do ponto de vista logístico, o ciclo de vida de um produto não se encerra com a
entrega ao cliente. Produtos que se tornam obsoletos, danificados ou não funcionam devem
18
retornar ao ponto de origem para serem adequadamente descartados, reparados ou
reaproveitados (GONÇALVES e MARINS, 2006).
De acordo com De Brito (2004, p. 21), é importante observar que a logística reversa é
diferente da gestão de resíduos, haja vista este último se referir, essencialmente, à recolha e
tratamento de produtos a serem descartados e suas consequentes implicações legais. Como
enfatiza a autora, “a logística reversa concentra-se nos fluxos em que existe algum valor a ser
recuperado e o resultado entra em uma cadeia de abastecimento”. Portanto, é parte integrante
do empreendimento.
O foco da logística reversa assenta-se na recuperação de materiais, por meio da
remanufatura, para agregação de algum valor. Como os produtos recuperados entram em
concorrência com os novos produtos, o investimento na recuperação se torna uma aventura
arriscada, entrando em jogo a necessidade de uma política ambiental que favoreça tal
atividade.
Segundo o grupo de trabalho internacional para o estudo da logística reversa, RevLog
(2002), tradicionalmente, os fabricantes não se sentem responsáveis por produtos após o uso
do consumidor. Contudo, devido às legislações sobre a gestão dos resíduos sólidos, a ênfase
tem mudado para a recuperação, uma vez que os custos para a eliminação são elevados.
O empresário, que se responsabiliza inclusive pelos processos finais do ciclo de vida
do produto, tem de fato o estímulo para colocar em prática os conhecimentos técnicos e a
capacidade empresarial para organizar o tratamento desses produtos já utilizados e, sobretudo,
para redesenhá-los, a fim de tal tratamento poder ocorrer da maneira prática e eficiente
(MANZINI e VEZZOLI, 2008).
Leandro (2006) avalia que a logística reversa é uma realidade econômica viável e
interessante para as organizações, tanto para as que produzem quanto para as que somente
comercializam, ao possibilitar uma integração que beneficia todos os envolvidos no processo.
Para Efendigil et al. (2008), uma eficiente estrutura de LR pode levar a um retorno
significativo do investimento, bem como a um aumento significativo da competitividade no
mercado. Além de ser de relevante interesse para a gestão integrada de resíduos sólidos
gerados na indústria, pois permite que materiais deixem de ser tratadas como lixo e passem a
ser matéria-prima secundária no processo produtivo.
De acordo com Rogers e Tibben-Lembke (1998), atividades de remanufatura e
recondicionamento, também, podem ser incluídos na definição de logística reversa.
Entretanto, é importante mencionar que, logística reversa é mais do que reutilizar container e
reciclar embalagens de materiais. Na verdade, redesenhar uma embalagem para usar menos
19
material ou a redução de energia e de poluição proveniente do transporte são atividades
relevantes, mas podem ser melhor colocadas no reino da logística “verde”, na medida em que,
caso não haja bens e materiais sendo enviados “para trás”, a atividade provavelmente não é de
logística reversa.
Nesse sentido, enquanto a logística reversa refere-se ao movimento de mercadorias do
ponto de consumo para o de origem, a fim de recapturar valor; a logística “verde” refere-se à
minimização dos impactos nas atividades da logística, como a redução de energia, redução do
uso de materiais e a certificação ambiental.
A logística reversa pode ser dividida em duas áreas de atuação: pós-venda e pós-
consumo. A primeira pode ser entendida como a área da logística reversa que trata do
planejamento, do controle e da destinação dos bens sem uso ou com pouco uso, que retornam
à cadeia de distribuição por diversos motivos, como devoluções por problemas de garantia,
avarias durante o transporte, prazo de validade expirado, entre outros. E a segunda, refere-se à
área da logística reversa que trata dos bens no final da vida útil, dos bens usados com
possibilidade de reutilização (embalagens) e os resíduos industriais (que devem retornar às
indústrias para descarte final ambientalmente correto) (LEITE, 2003).
Efendigil et al. (2008) definem os participantes nas atividades de logística reversa
como: “atores da cadeia de abastecimento para a frente” (fornecedores, fabricantes),
“jogadores especializados em cadeia reversa” (intermediários, especialistas em reciclagem) e
“jogadores oportunistas” (“opportunistic players”) (organização de caridade), os quais são os
responsáveis pelas operações da cadeia de logística reversa, enquanto outros podem criar ou
combinar as operações e atuarem como organizadores.
O sistema de logística reversa inclui entradas, processos e saídas. Entradas podem se
referir a produtos usados, materiais reciclados, peças usadas ou novas peças que passam por
processos de logística reversa. A natureza dos produtos retornados pode ser aleatória em
termos de qualidade e quantidade. Os itens devolvidos podem ser recolhidos em centros
designados ou a retalhistas e inspecionados pela sua qualidade. Durante a inspeção, os
produtos utilizados podem ser separados para diferentes níveis de qualidade. Os produtos
podem ser consolidados para a eliminação, ou uma pequena transformação (ou pré-
processamento para remanufatura) ou remanufatura (POKHAREL e MUTHA, 2009).
Para Leite (2006), os direcionadores de um programa de logística reversa são de
natureza econômica, ao visar lucro; de serviço ao cliente, quando objetiva diferenciar a
empresa pelo serviço prestado; legal, quando é realizado por força de lei existente; cidadania
20
corporativa, com o fim de responder solicitação social e de imagem corporativa, ao visar
proteger ou reforçar a imagem empresarial.
A implementação bem sucedida de um sistema de logística reversa depende não só do
produto devolvido, mas também das opções de recuperação consideradas (reutilização,
remanufatura, reciclagem), do fluxo de retorno de produtos e sua interação com o fluxo para a
frente e do mercado para os produtos recuperados. Assim, é muito importante se concentrar
no design do sistema de logística reversa para a execução eficiente. O desenvolvimento de um
sistema de logística reversa requer uma análise detalhada dos aspectos técnicos, econômicos e
ambientais com o objetivo de avaliar a viabilidade do sistema (RUBIO et al., 2009).
Conforme Leite (2003), para a maior parte dos bens descartados existem algumas
condições necessárias para a reintegração ao ciclo produtivo, ou tecnologia de reciclagem, ou
mercado para aplicações de materiais etc., mas nem sempre se apresentam todas as condições
necessárias para completar o ciclo de retorno. Em alguns casos, a causa principal pode ser a
baixa disponibilidade do produto de pós-consumo, devido a dificuldades de captação que
impedem escalas econômicas de atividade; em outros, a causa pode ser a característica
monopsônica ou oligopsônica dos mercados de matéria-prima secundárias, que desencoraja
investimentos.
Ao contrário do apontado por Leite, um grande comprador corporativo (inclusive o
governo) pode influenciar de modo positivo o estabelecimento da logística reversa.
1.2.1 Pesquisa em logística reversa
A logística reversa tem recebido apreciável atenção, também, nas publicações
científicas internacionais. Existem mais de 370 trabalhos que mencionam o termo “reverse
logistics”, nos últimos anos.
De Brito (2004) aponta em sua tese “Managing reverse logístics or reversing logistics
management?” outras palavras-chave que podem ser utilizadas para pesquisas de trabalhos
relacionados à logística reversa, como material recovery, obsolete (stock), post-consumer,
producer responsibility, product recovery, re-consumption, recycling, ramanufacturing,
repair, repairable, reuse, secondary (market), take back, value recovery, waste, entre outras.
Na Web of Science, base de referências bibliográficas que indexa periódicos de todo o
mundo, é possível encontrar artigos, papers, reviews, livros e notícias relacionadas à LR em
várias áreas, tais como pesquisa operacional e ciência de gestão, engenharia industrial,
21
ciências ambientais, negócios, planejamento e desenvolvimento, entre outros. Vale destacar
que, 98% das publicações em logística reversa estão em inglês.
Os cinco países que mais se destacam em pesquisa na área de logística reversa são
Estados Unidos, Holanda, Alemanha, Canadá e Inglaterra. Neste ranking, o Brasil é o décimo
oitavo (WEB OF SCIENCE, 2010a).
No artigo de Rubio et al. (2008), “Characteristics of the research on reverse logistics
(1995-2005)”, foi feita a construção de uma base de dados com os artigos de logística reversa
publicados nos principais periódicos, no período de 1995 a 2005, sendo abordados os tópicos,
a metodologia e as técnicas de análise, bem como outros aspectos relevantes das pesquisas.
Nesse trabalho, foram encontrados 186 artigos publicados em 26 periódicos.
Na Tabela 01, encontra-se a evolução das publicações, na última década, que estão na
Web of Science e fazem referência ao termo “reverse logistics”:
Tabela 01 - Evolução das publicações que mencionam o termo “reverse logistics” entre 2000 e
2010 na Web of Science.
Ano de Publicação Produção científica
2000 8
2001 13
2002 15
2003 16
2004 18
2005 27
2006 38
2007 49
2008 52
2009 51
2010 65 Fonte: Web of Science (2010b).
Os periódicos que mais publicam trabalhos relacionados à reverse logistics são:
International Journal of Production Economics, European Journal of Operational Research,
International Journal of Production Research, Computers & Operations Research,
Computers & Industrial Engineering, Omega-International Journal of Management Science,
Production and Operations Management, International Journal of Advanced Manufacturing
Technology, Journal of the Operational Research Society, Transportation Research Part E-
Logistics and Transportation Review, Interfaces, Journal of Cleaner Production e Resources
Conservtion and Recycling (WEB OF SCIENCE, 2010c).
22
Na base de dados Scielo, existem oito trabalhos que mencionam o termo “logística
reversa”. No Quadro 01, são indicados os artigos publicados na base de dados Scielo e os
respectivos autores.
Título do artigo Autores
A organização em rede dos catadores de materiais recicláveis na
cadeia produtiva reversa de pós-consumo da região da grande
Florianópolis: uma alternativa de agregação de valor
Aquino et al. (2009)
Fatores críticos de sucesso para a criação de um processo inovador
sustentável de reciclagem: um estudo de caso
Giovannini e
Kruglianskas (2008)
Embalagens retornáveis para transporte de bens manufaturados:
um estudo de caso em logística reversa
Adlmaier e Sellitto
(2007)
Estrutura da cadeia reversa: “caminhos” e “descaminhos” da
embalagem PET
Gonçalves-Dias e
Teodósio (2006)
WMS – Warehouse Management System: adaptação proposta para
o gerenciamento da logística reversa Guarnieri et al. (2006)
Há vida após a morte: um (re) pensar estratégico para o fim da
vida das embalagens Gonçalves-Dias (2006)
Os consumidores valorizam a coleta de embalagens recicláveis?
Um estudo de caso da logística reversa em uma rede de
hipermercados
Chaves e Batalha
(2006)
Logística reversa numa empresa de laminação de vidros: um
estudo de caso
Gonçalves e Marins
(2006) Quadro 01 - Artigos publicados nos periódicos indexados no Scielo que mencionam o termo “logística
reversa” até 2010. Fonte: Scielo (2010).
A quantidade de publicações relacionadas à logística reversa no Scielo evidencia que
ainda são poucas as pesquisas brasileiras nessa área, ou pelo menos, as publicações em
periódicos conceituados.
Os principais aspectos abordados nas pesquisas brasileiras são a caracterização das
cadeias reversas existentes, seus limites e a proposição de cadeias que resultem em uma maior
agregação de valor aos materiais pós-consumo.
No trabalho de Aquino et al. (2009), foi proposta uma forma de organização logística
para as associações de catadores de materiais recicláveis de Florianópolis, a fim de que
realizassem a comercialização direta de seus produtos às indústrias recicladoras, visando a
agregação de valor.
A pesquisa foi realizada em duas etapas: na primeira, foi feito um diagnóstico
(caracterização da região de estudo, dos resíduos sólidos/gerenciamento e da cadeira
produtiva reversa de pós-consumo). Na segunda etapa, foi feita a proposição de organização
logística, em que sugeriu-se uma estrutura organizacional, a indicação dos fluxos de materiais
23
recicláveis, de informações e de valor, tendo como base a realidade da cadeia produtiva
reversa de pós-consumo pesquisada e as estratégias logísticas adotadas por outras
organizações de catadores.
Os autores concluíram que, quando atuam de forma isolada, nem todas as associações
têm potencial para realizar essa comercialização direta; por outro lado, atuando em rede, as
associações podem obter uma agregação de valor aos materiais recicláveis de,
aproximadamente, 32%.
A reciclagem do Poli(tereftalato de etileno) – PET foi pesquisada por Gonçalves-Dias
e Teodósio (2006). Segundo os autores, apesar do avanço no volume de reciclagem, nenhum
dos setores (público ou privado) consegue, individualmente, organizar-se para efetivar
operacional e ambientalmente a cadeia reversa do PET. Para eles, o alcance de bons
resultados depende do investimento nos dois extremos da cadeia reversa: na coleta seletiva e
no mercado para o produto reciclado.
Em outro trabalho, Gonçalves-Dias (2006) conclui que é necessário, ainda, um
aumento do nível de informação da população, eliminação de desperdício desde a concepção,
desenvolvimento de tecnologias e responsabilidades compartilhadas. Contudo, é
imprescindível, acima de tudo, mudança do padrão do comportamento de consumo da
sociedade atual.
Giovannini e Kruglianskas (2008) demonstraram um caso em que o setor privado
conseguiu estruturar e efetivar uma cadeia reversa para o PET. O estudo foi realizado na
indústria química multinacional BASF que, com a intenção de tornar-se mais competitiva,
desenvolveu um processo de obtenção de resina para a produção de tintas pela reciclagem de
garrafas PET. O projeto da BASF obteve sucesso empresarial e reconhecimento público,
reduzindo custos industriais, motivando funcionários, reduzindo impactos ambientais e
contribuindo para ações sociais através da influência.
Os fatores críticos de sucesso para a criação de um processo sustentável de reciclagem
são: visão e comprometimento da alta organização, estrutura de logística reversa adequada e
estrutura de negócio que garante resultados econômicos e sua adequada distribuição
(GIOVANNINI e KRUGLIANSKAS, 2008).
Outro caso de sucesso foi o descrito por Adlmaier e Sellitto (2007) em um estudo
sobre embalagens retornáveis adequadas para o transporte internacional de peças para motores
a diesel. O estudo diz respeito a cabeçotes exportados do Brasil para os Estados Unidos, por
via marítima. Foram avaliados os ganhos financeiros, ambientais e logísticos do projeto.
24
Conforme os autores, os ganhos financeiros foram o fator-chave e o principal
motivador para o investimento em embalagens retornáveis (o tempo de retorno do
investimento foi estimado em dezoito meses, a vida útil do projeto em dez anos e a economia
anual próxima de R$ 950 mil).
Houve minimização de impactos ambientais resultantes da operação (eliminação da
geração de resíduos das embalagens usadas e da exigência de novos materiais, haja vista o
fornecedor receber e reprocessar as embalagens danificadas ou que já haviam chegado ao fim
de sua vida útil, utilizando as mesmas como matéria-prima para a produção das novas). Além
disso, a operação logística tornou-se menos complexa e menos sujeita às variabilidades
naturais.
Entretanto, foram apontadas, também, as desvantagens do projeto, sob o ponto de vista
dos aspectos econômicos e logísticos. Isso porque foi necessário um investimento inicial
elevado (um milhão de reais), pois as embalagens foram adquiridas de uma única vez, além de
haver a necessidade de reposição. Ainda, os autores citam que há dificuldades de rastreamento
das embalagens vazias, sendo necessário um transporte de retorno e mais controle durante a
operação.
Na pesquisa de Chaves e Batalha (2006), constatou-se que a logística reversa não é um
fator de influência na decisão sobre o local de compra. Na verdade, outros fatores como
proximidade, preço e variedade dos produtos prevalecem nesta escolha. Por outro lado, como
bem afirma Gonçalves e Marins (2006), a implementação de um processo de LR além de
conduzir à satisfação de exigências normativas, como a ISO 14000, pode levar a uma redução
de custo no produto acabado, principalmente, quando existe o reuso do material de descarte.
No caso da empresa de laminação de vidros, estudada pelos autores, surgiram
economias devido à escala de produção na quantidade de compra de matérias-primas, bem
como economias nos fatores de processo (energia, mão-de-obra, manutenção, etc.), já que o
fluxo do material de reuso no processo produtivo é menor, tendo em vista que é um material
semipronto.
Guarnieri et al. (2006) sugeriu a utilização de sistemas para gerenciar a cadeia de
suprimentos reversa dos materiais descartados nos armazéns ao final do processo logístico,
propondo a utilização do Warehouse Management System – WMS, sistema utilizado para
gerenciar a logística direta.
No Brasil, existem vinte e um grupos de pesquisa cadastrados no Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (2010) estudando a logística reversa.
25
No Quadro 02, são apontados os Grupos de Pesquisa cadastrados no CNPq, as instituições de
que fazem parte e a área predominante.
Instituição Grupo de pesquisa - Instituição Área
predominante
UFPB A logística reversa e o meio ambiente na região nordeste
Engenharia de
produção
UFRJ Planejamento estratégico de sistemas logísticos
IFES NEPES - Núcleo de Estudos sobre Produção Enxuta e
Sustentável
UFPB Análise da gestão da produção do setor turístico industrial
UFPB Mapeamento das necessidades de aplicação das técnicas
de engenharia de produção no setor turístico
UNESP Grupo de otimização e logística
UNESP Gestão de sistemas e operações
UNINOVE Gestão social e ambiental
Administração
UESC Gestão sustentável do meio ambiente
UCDB Rede Centro-Oeste para o Desenvolvimento Sustentável
da Agricultura Familiar
UNIP Cidade digital e sociedade do conhecimento
UCS Gestão estratégica de operações e logística
UFAL Logística empresarial
UNICID Logística e transportes
UFPI Química e meio ambiente Química
USP NEPER - Núcleo de Estudo e Pesquisa em Resíduos
Sólidos
Engenharia
sanitária
ITAL Embalagens plásticas Ciência e Tec.
de Alimentos
UFMS NESDER - Núcleo de Estudos em Sustentabilidade,
Desenvolvimento Local e Regional Economia
UFRGS Lastran – Laboratório de Sistemas de Transportes Engenharia dos
transportes
UESC Grupo de pesquisa de materiais avançados e aplicações
tecnológicas
Engenharia de
materiais e
metalúrgica
UNESP Inteligência computacional: desenvolvimento e
aplicações em engenharia elétrica
Engenharia
elétrica Quadro 02 - Grupos de pesquisa de logística reversa cadastrados no CNPq. Fonte: CNPq (2010).
Vale destacar que as pesquisas de cada um desses grupos é direcionada para a sua área
predominante. Assim, a abordagem ambiental acontece mais nos grupos da engenharia de
produção, administração, engenharia sanitária, química e economia.
26
1.2.2 Política Nacional dos Resíduos Sólidos
A logística reversa foi citada na legislação brasileira, pela primeira vez, na Lei Federal
nº 12.305, de 02 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional dos Resíduos Sólidos
(PNRS). Entretanto, a responsabilidade pelo gerenciamento de resíduos foi tratada, em anos
anteriores, na Constituição Federal - CF (1988) e em outras leis, tais como a Lei Federal nº
6.938/81, Lei Federal nº 9.605/98, Lei Estadual do Piauí nº 4.854/96, Lei Municipal de
Teresina nº 2.475/96 e Lei Complementar ao Código Municipal de Posturas de Teresina nº
3.610/07.
A legislação ambiental é um motivador relevante para a incorporação da dinâmica
ambiental nas indústrias. Nesse contexto, pode-se mencionar a Lei n° 6.938 de 31 de agosto
de 1981, que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e traz um princípio
importante quanto à responsabilidade do poluidor: o princípio do poluidor-pagador, que
obriga o poluidor, independente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados pela atividade. De acordo com Trennepohl
(2007), com o princípio do poluidor-pagador busca-se compensar a degradação, pois o dano é
coletivo e o lucro é privado.
No artigo 14 da PNMA foram elencadas algumas penalidades administrativas, quanto
ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e
danos causados pela degradação da qualidade ambiental. Assim, o artigo prevê que os
transgressores estarão sujeitos a multas simples ou diárias, à perda ou restrição de incentivos e
benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, à perda ou suspensão de participação em
linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito e à suspensão de sua
atividade (BRASIL, 1981).
Confirmando-se uma maior tendência à regulamentação ambiental, a Constituição
Federal, promulgada em 1988, dedicou um capítulo ao meio ambiente, tratando das
obrigações da sociedade e do Poder Público. No artigo 225, § 3°, tem-se que “as condutas e
atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados”.
A Lei dos Crimes Ambientais, Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que “dispõe
sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente, e dá outras providências”, tipifica, nos artigos 54 e 68, como crime as seguintes
condutas:
27
Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem
ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a
mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:
Pena: reclusão, de um ano a quatro anos, e multa.
[...]
§ 2º Se o crime:
[...]
V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou
detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências
estabelecidas em leis ou regulamentos:
Pena: reclusão, de um a cinco anos.
[...]
Art. 68. Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de
cumprir obrigação de relevante interesse ambiental:
Pena: detenção, de um a três anos, e multa.
No âmbito estadual, a Lei n° 4.854/96, que trata da Política de Meio Ambiente do
Estado do Piauí, apresenta como um de seus objetivos:
A utilização adequada do espaço territorial e dos recursos hídricos
destinados para fins urbanos e rurais mediante a uma criteriosa definição de
uso e ocupação, normas de projetos, implantação, construção e técnicas
ecológicas de manejo, conservação e preservação, bem como tratamento e
disposição final de resíduos e efluentes de qualquer natureza (PIAUÍ, 1996).
O Artigo 9º, § 1, incisos XIII e XIV da mesma Lei, destaca a responsabilidade da
Secretaria Estadual de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (SEMAR), pelo
estabelecimento de normas e padrões de qualidade ambiental, devendo esta fixar padrões de
emissão e condições de lançamento e disposição para resíduos, rejeitos e efluentes de
qualquer natureza e, também, estabelecer normas relativas à reciclagem e reutilização de
materiais, resíduos, subprodutos e embalagens em geral resultantes diretamente de atividades
de caráter industrial, comercial e de prestação de serviços.
No Artigo 54 da Política de Meio Ambiente do Estado do Piauí, são expressas as
infrações ambientais. Dessa forma, a emissão ou despejo de efluentes ou resíduos sólidos,
líquidos ou gasosos, causadores de degradação ambiental, em desacordo com o estabelecido
na legislação e normas complementares tem as seguintes penalidades, isoladas ou
cumulativamente:
Advertência por escrito; multa; embargo da obra; interdição, parcial ou total,
de estabelecimento ou de atividades; cassação do alvará de licenciamento de
estabelecimento; perda ou restrição de incentivos, benefícios fiscais
concedidos pelo Governo do Piauí e a perda ou suspensão da participação
em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito do Piauí
(PIAUÍ, 1996).
28
Na legislação Municipal, a Lei n° 2.475, de 04 de julho de 1996, que dispõe sobre a
Política de Meio Ambiente de Teresina, em seu Artigo 9º, diz-se que os responsáveis por
empreendimentos capazes de causar degradação ambiental são obrigados a implantar sistema
de tratamento de efluentes e promover todas as medidas necessárias para prevenir ou corrigir
os inconvenientes danos decorrentes da poluição.
A Lei Complementar n° 3.610, de 11 de janeiro de 2007, que dá nova redação ao
Código Municipal de Posturas, traz no artigo 120, os locais a que devem ser destinados os
resíduos. No artigo 127, são apresentadas as penalidades quando acontece a desobediência ou
a não observância das regras: advertência por escrito, multa, suspensão de alvará de
funcionamento da empresa e interdição da atividade.
A Política Nacional dos Resíduos Sólidos, aprovada no Congresso em agosto de 2010,
faz menção à logística reversa e a define como,
instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um
conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a
restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento,
em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final
ambientalmente adequada (BRASIL, 2010).
A Lei apresenta, em 57 artigos, princípios que mudam a gestão dos resíduos sólidos no
Brasil. Como exemplo, pode-se mencionar a responsabilidade compartilhada em relação à
destinação. Isso significa que cada integrante da cadeia produtiva (fabricantes, importadores,
distribuidores, comerciantes e até os consumidores) será responsável, junto com os titulares
dos serviços de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, pelo ciclo de vida completo
dos produtos, que vai desde a obtenção de matérias-primas e insumos, passando pelo processo
produtivo, pelo consumo até a disposição final.
Entre os objetivos da responsabilidade compartilhada, estão promover o
aproveitamento de resíduos sólidos, direcionando-os para a sua cadeia produtiva ou para
outras cadeias produtivas, o estímulo ao desenvolvimento de mercado, à produção e ao
consumo de produtos derivados de materiais reciclados e recicláveis e o incentivo às boas
práticas de responsabilidade socioambiental (BRASIL, 2010).
Assim como a PNMA, a PNRS estabelece o princípio do poluidor-pagador e vai além
ao estabelecer o princípio do protetor-recebedor, o que se configura numa inversão da esfera
punitiva para a compensatória. Através do princípio do protetor-recebedor, acontece a
compensação por serviços ambientais prestados, sendo uma forma de estímulo para os atores
29
sociais que contribuem para a conservação do meio ambiente. Entretanto, a Lei não explica
como acontecerá essa compensação.
Outro ponto importante da Lei é o seu objetivo de integrar os catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo
ciclo de vida dos produtos. Conforme, Gonçalves-Dias e Teodósio (2006), a capilaridade dos
catadores como agentes de reversão dos produtos consumidos torna mais amplo o alcance e a
viabilidade dos volumes reciclados.
Embora a lei defina procedimentos mínimos para o recolhimento e retorno dos
resíduos às indústrias, como a parceria com cooperativas de catadores para coleta e separação
dos materiais, não são especificados as regras para devolução dos materiais e os instrumentos
econômicos capazes de viabilizar a logística reversa.
No artigo 33, são definidos os setores que estão obrigados a estruturar e implementar
sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de
forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos,
que são os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de agrotóxicos, seus
resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua
resíduos perigoso; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
lâmpadas fluorescente, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista e os produtos
eletroeletrônicos e seus componentes (BRASIL, 2010). Vale ressaltar que estes setores já
tinham legislação específica de descarte.
Além dos setores citados, os sistemas serão estendidos a produtos comercializados em
embalagens plásticas, metálicas ou de vidro, e aos demais produtos e embalagens,
considerando a viabilidade técnica e econômica da logística reversa, o grau e a extensão do
impacto à saúde pública e ao meio ambiente dos resíduos gerados. No entanto, nesses casos,
serão firmados acordos setoriais e termos de compromisso entre o poder público e o setor
empresarial (BRASIL, 2010).
O Decreto 7.404, de 23 de dezembro de 2010, regulamenta a Lei que institui a PNRS e
especifica como devem ser estabelecidos os procedimentos para implantação da logística
reversa, por meio de acordos setoriais entre o Poder Público e os participantes da cadeia
produtiva visando a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto. Além
disso, aponta as medidas indutoras (incentivos fiscais, financeiros e creditícios; cessão de
terrenos públicos; subvenções econômicas; pagamento por serviços ambientais, entre outras)
para iniciativas de prevenção e redução da geração de resíduos sólidos no processo produtivo;
desenvolvimento de produtos com menores impactos à saúde humana e à qualidade em seu
30
ciclo de vida; estruturação de sistemas de coleta seletiva e de logística reversa;
desenvolvimento de pesquisas voltadas para tecnologias limpas aplicáveis aos resíduos
sólidos; desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e empresarial voltados para a
melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos.
Apesar de ter uma legislação ambiental moderna e abrangente, a utilização da mesma
é restrita, devido ao desconhecimento das leis por parte da maioria da população, e a pouca
atuação dos órgãos ambientais; pois não fazem uma divulgação que alcance todas as camadas
sociais. Além disso, a falta de pessoal disponível para o monitoramento e a pouca integração
entre os órgãos ambientais são fatores que dificultam a execução dessas leis.
1.3 Sustentabilidade empresarial
A incorporação de práticas sustentáveis nas empresas vem ganhando cada vez mais
importância, diante do aperfeiçoamento da legislação ambiental, da pressão dos grandes
fornecedores e da economia gerada pela utilização eficiente da água, energia, além da
utilização de materiais que iriam ser descartados como matéria-prima secundária.
Consoante o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC (2007), para o
setor empresarial, o conceito de sustentabilidade representa uma abordagem inovadora de se
fazer negócios, no sentido de sustentar a viabilidade econômico-financeira dos
empreendimentos e, ao mesmo tempo, preservar a integridade ambiental para as gerações
futuras, resultando numa reputação positiva e sólida.
No que diz respeito ao tratamento da sustentabilidade, as empresas podem ser
classificadas em cinco estágios:
31
Estágio Caracterização
Pré-cumprimento legal
A empresa entende que os lucros são sua única obrigação,
ignora o tema sustentabilidade e coloca-se contra qualquer
regulamentação neste sentido.
Cumprimento legal
A empresa gerencia seus passivos obedecendo à legislação
trabalhista, ambiental, de saúde e segurança. Limita-se ao
cumprimento legal e o faz com competência. Ações sociais e
ambientais são consideradas como custos e a
sustentabilidade é tratada “da boca para fora”.
Além do cumprimento legal
A empresa apresenta postura pró-ativa, percebendo que pode
economizar custos por intermédio de iniciativas de
ecoeficiência e reconhece que investimentos socioambientais
podem minimizar incertezas e riscos na operação, melhorar a
reputação e impactar positivamente o valor econômico.
Iniciativas de sustentabilidade estão concentradas em
departamentos especializados, em vez de institucionalizadas.
Estratégia integrada
A empresa redefine-se em termos de marca e integra a
sustentabilidade com suas estratégias-chave de negócios. O
fórum principal do tema na empresa é o conselho de
administração. Consegue agregar valor econômico por meio
de iniciativas diferenciadas que beneficiam suas partes
interessadas. No lugar de custos e riscos, percebe
investimentos e oportunidades, desenvolve produtos e
serviços limpos, está atenta ao ciclo de vida dos seus
produtos e serviços e beneficia-se das iniciativas de
sustentabilidade.
Propósito & paixão
A empresa adota as práticas de sustentabilidade porque
entende que não faz sentido contribuir para um mundo
insustentável. As iniciativas de sustentabilidade não chegam
ao conselho de administração, mas emanam dele. Quadro 03 - Estágios da sustentabilidade nas empresas. Fonte: Adaptado do IBGC (2007).
Neste trabalho, consideramos que, para estabelecer a logística reversa, a empresa deve,
no mínimo, atender ao estágio de cumprimento legal. Dessa forma, a observação de fatores
como normas de segurança do trabalho, adequação aos parâmetros de qualidade reclamados
pelo mercado e às normas ambientais funcionam como facilitadores para a aplicação da
logística reversa e devem ser consideradas medidas indiretas da viabilidade de aplicação na
atividade econômica.
1.3.1 Segurança do trabalho
A segurança é condição indispensável para o desenvolvimento adequado das
atividades no ambiente de trabalho. Dessa maneira, as indústrias devem procurar minimizar
32
os riscos a que estão expostos os seus funcionários. Isso porque a falta de eficácia no sistema
de segurança de uma indústria pode comprometer a preservação da saúde e até mesmo da vida
dos funcionários, além de causar problemas de produtividade, qualidade dos produtos e
aumento nos custos.
A fim de normatizar a relação entre empregado e empregador e as condições de
trabalho, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) aprovou através da Portaria nº 3.214 de
08 de junho de 1978, as Normas Regulamentadoras (NR), relativas à segurança e medicina do
trabalho. As NR são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos
órgãos públicos da administração direta e indireta, além dos órgãos dos Poderes Legislativo e
Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)
(BRASIL, 1978).
Neste trabalho, destacamos as NR5, NR6, NR9 e NR25, que tratam, respectivamente,
da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), Equipamentos de Proteção
Individual (EPI), Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e Resíduos
Industriais.
A NR5, que tem fundamentação legal nos artigos 163, 164 e 165 da CLT, estabelece a
obrigatoriedade das empresas públicas e privadas organizarem e manterem em funcionamento
uma comissão composta de representantes do empregador e dos empregados. A CIPA tem
como objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar
compatível o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador
(BRASIL, 1978).
Entre as atribuições da CIPA estão identificar os riscos do processo de trabalho e
elaborar o mapa de riscos, com a participação do maior número de trabalhadores e assessoria
do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT),
onde houver; elaborar plano de trabalho que possibilite a ação preventiva na solução de
problemas de segurança e saúde no trabalho; participar da implementação e do controle da
qualidade das medidas de prevenção necessárias, bem como da avaliação das prioridades de
ação nos locais de trabalho, entre outras (BRASIL, 1978).
A NR6 estabelece e define os tipos de EPI’s que as empresas estão obrigadas a
fornecer a seus empregados, sempre que as condições de trabalho o exigirem, com a
finalidade de resguardar a saúde e a integridade física dos trabalhadores. A sua
fundamentação legal está nos artigos 166 e 167 da CLT (BRASIL, 1978).
De acordo com a NR6, quanto ao EPI, cabe ao empregador: adquirir o adequado ao
risco de cada atividade; exigir o seu uso; fornecer ao trabalhador somente o aprovado pelo
33
órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho; orientar e treinar o
trabalhador sobre o uso adequado, guarda e conservação; substituir imediatamente, quando
danificado ou extraviado; responsabilizar-se pela higienização e manutenção periódica;
comunicar ao MTE qualquer irregularidade observada e registrar o seu fornecimento ao
trabalhador, podendo ser adotados livros, fichas ou sistema eletrônico (BRASIL, 1978).
Ao empregado, cabe usar o EPI, utilizando-o apenas para a finalidade a que se destina;
responsabilizar-se pela sua guarda e conservação; comunicar ao empregador qualquer
alteração que o torne impróprio para uso e cumprir as determinações do empregador sobre o
uso adequado (BRASIL, 1978).
A NR9 estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por parte de
todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do
PPRA, visando à preservação da saúde e da integridade física dos trabalhadores, através da
antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos
ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em
consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. A fundamentação legal
dessa NR são os artigos 175 a 178 da CLT (BRASIL, 1978).
Conforme a NR9, o PPRA deve incluir as seguintes etapas: antecipação e
reconhecimento dos riscos, estabelecimento de prioridade e metas de avaliação e controle,
avaliação dos riscos e da exposição dos trabalhadores, implantação de medidas de controle e
avaliação de sua eficácia, monitoramento da exposição aos riscos e registro e divulgação dos
dados. A elaboração, implementação, acompanhamento e avaliação do PPRA podem ser
feitas pelo SESMT ou por pessoa ou equipe de pessoas que, ao critério do empregador, sejam
capazes de desenvolver o disposto da NR9 (BRASIL, 1978).
Já a NR25, estabelece as medidas preventivas a serem observadas pelas empresas, no
destino final a ser dado aos resíduos industriais resultantes dos ambientes de trabalho de modo
a proteger a saúde e a integridade física dos trabalhadores. A fundamentação legal está no
artigo 200, inciso VII, da CLT:
Art. 200 – Cabe ao Ministério do Trabalho estabelecer disposições
complementares às normas de que trata este Capítulo, tendo em vista as
peculiaridades de cada atividade ou setor de trabalho, especialmente sobre:
[...]
VII – higiene nos locais de trabalho, com discriminação das exigências,
instalações sanitárias, com separação de sexos, chuveiros, lavatórios,
vestiários e armários individuais, refeitórios ou condições de conforto por
34
ocasião das refeições, fornecimento de água potável, condições de limpeza
dos locais de trabalho e modo de sua execução, tratamento de resíduos
industriais (BRASIL, 1943).
Além das NR citadas, a norma ABNT NBR 18801:2010, aprovada em dezembro de
2010, especifica condições de um Sistema de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho
(SGSST) que permite que uma organização controle os riscos de Segurança e Saúde no
Trabalho (SST) e melhore o desempenho (ABNT, 2010a).
Outro instrumento de auxílio à segurança do trabalho é a OHSAS, sigla em inglês para
Occupational Health and Safety Assessment Series, cuja tradução é Série de Avaliação de
Segurança e Saúde Ocupacional. Vale destacar que, diferente dos citados anteriormente, esse
instrumento é voluntário.
Conforme o Guia Interpretativo OHSAS 18001:2007|NP 4397:2008 (2010), a
certificação do SGSST, suportada na OHSAS 18001 constitui uma ferramenta essencial para
as organizações que pretendem alcançar uma confiança acrescida por parte dos colaboradores,
clientes, comunidade envolvente e sociedade, através da demonstração do compromisso
voluntário com a melhoria contínua da gestão e do desempenho da SST.
1.3.2 Qualidade do produto
O mercado, caracterizado pela competitividade, determina que as organizações
desenvolvam mecanismos que atestem que os produtos ou serviços oferecidos estejam de
acordo com os padrões de alta qualidade. Conforme Conte e Durski (2002, p. 52),
o conceito de qualidade evoluiu ao longo do século, mudando de uma
atividade de inspeção e seleção de itens não-conformes, com caráter
fortemente corretivo, para o uso de técnicas estatísticas que garantiriam a
qualidade do produto de forma preventiva. Posteriormente, a ênfase mudou
do produto para o processo, pois um processo com os padrões de qualidade
desejados apresenta como consequência um produto com a qualidade
esperada. Paralelamente, passou-se a trabalhar com os sistemas de qualidade
das empresas. Atualmente, o conceito evoluiu, além das fronteiras da
empresa, abrangendo toda a cadeia onde está inserida.
A abordagem efetuada pela Internacional Organization for Standardization (ISO),
mais especificamente pelas normas internacionais de qualidade da Série ISO 9000, define
qualidade como capacidade de um conjunto de características inerentes a um produto, sistema
e processo, para satisfazer os requisitos dos clientes bem como de outras partes interessadas
na empresa (RIBEIRO, 2007). A ISO 9001, por exemplo, trata do sistema de qualidade em
35
vigor para design de produtos, desenvolvimento, produção, instalação e serviço (ABNT,
2010b).
Kraemer (2010) considera que a gestão da qualidade empresarial passa pela
obrigatoriedade de que sejam implantados sistemas organizacionais e de produção que
valorizem os bens naturais, as fontes de matérias-primas, as potencialidades do quadro
humano criativo e as comunidades locais.
A melhoria na qualidade dos processos permite que haja um melhor uso de matérias-
primas, diminuição de atrasos e da necessidade de refazer trabalhos. Além disso, proporciona
a satisfação dos consumidores, sua fidelização, levando ao aumento da vantagem competitiva
da empresa e esta, por sua vez, ao aumento dos lucros.
1.3.3 Responsabilidade socioambiental
A gestão socioambiental, integrada à cadeia de negócios, vem se consolidando nas
empresas de forma multidimensional e sistêmica, com interdependência entre os stakeholders
(clientes, fornecedores, governos, acionistas, organizações não governamentais, mídia,
colaboradores, concorrentes), que se encontram vinculados direta ou indiretamente ao negócio
de uma determinada empresa (VEZZANI, 2010).
Procedimentos de gestão ambiental são indicativos de comprometimento com a
preservação do meio ambiente. Conforme a CNI (2005), no documento Mapa Estratégico da
Indústria 2007-2015, a visão da indústria sobre o futuro contempla o incentivo a uma cultura
de responsabilidade social corporativa e a utilização crescente de instrumentos de gestão
ambiental.
Kraemer (2010) afirma que, para uma empresa trabalhar com gestão ambiental, deve,
inevitavelmente, passar por uma mudança em sua cultura empresarial e por uma revisão dos
seus paradigmas. Nesse sentido, a ABIQUIM (2010), fazendo eco ao movimento
internacional da indústria química (Responsible Care), pondera que para uma indústria atuar
de forma responsável, deve ter um sistema de gestão que englobe seis dimensões: saúde,
segurança, meio ambiente, proteção empresarial, qualidade e social.
Atendendo a esta demanda, a ISO publicou um conjunto de normas ambientais da
série ISO 14000. Dentre estas normas, destaca-se a ISO 14001, referente a Sistemas de Gestão
Ambiental (SGA) – Requisitos com orientações para uso, que, conforme ABNT (2010c),
especifica os requisitos para que um SGA capacite uma organização a desenvolver e
36
implantar política e objetivos que levem em consideração os requisitos legais e informações
sobre aspectos ambientais significativos.
Segundo o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial –
INMETRO (2010), até 16/12/2010, 1.556 empresas nacionais e estrangeiras obtiveram
certificação ISO 14001:2004, emitidas dentro do Sistema Brasileiro de Avaliação de
Conformidade (SBAC) e distribuídas por área de atuação conforme Tabela 02.
Tabela 02 - Empresas nacionais e estrangeiras que obtiveram certificação ISO 14001:2004 emitidas
pelo SBAC até 16/12/2010.
Área de atuação ISO
14001:2004 Administração Pública e Defesa; Seguridade Social Oficial 1
Agricultura, Pecuária, Caça, Silvicultura 22
Atividades de Serviços Sociais Comunitários e Serviços Pessoais – Outras 32
Atividades Imobiliárias; Locações e Prestação de serviços 143
Comércio; Concertos. de veículos auto; bens de pessoais e domésticos 53
Construção 36
Educação 4
Hotéis e Restaurantes 8
Ind. de Transf. – Artigos de borracha e de plástico 61
Ind. de Transf. – Celulose, Papel, Papelão e seus Produtos; Edição e Impressão 39
Ind. de Transf. – Coque, Refinados de Petróleo e combustível nuclear 23
Ind. de Transf. – Equipamentos de transporte 106
Ind. de Transf. – Madeira, Cortiça e seus produtos 13
Ind. de Transf. – Máquinas e Equipamentos não específicos 48
Ind. de Transf. – Metais de Base e Produtos Metálicos 220
Ind. de Transf. – Outras 13
Ind. de Transf. – Produtos minerais não metálicos - Outros 40
Ind. de Transf. – Química de Base, Produtos Químicos, e fibras sintéticas e artificiais 176
Ind. de Transf. – Têxteis 19
Ind. de Transf. – Couro e Produtos de Couro (Exceto vestuário) 1
Ind. de Transf. – Eletrônica e Ótica 87
Ind. de Transf.– Produtos Alimentícios, Alimentos, Bebidas e fumo 99
Ind. Extrat. – (Exceto produtos energéticos) 18
Ind. Extrat. – Extração de Produtos Energéticos 15
Intermediação Financeira 2
Pesca 2
Saúde e Serviço Social 6
Suprimento de Energia Elétrica, gás e água 100
Transporte; Armazenagens e Telecomunicação 169 Fonte: INMETRO (2010).
Como afirmam Ornellas e Lima Júnior (2010), um SGA constitui uma ferramenta de
gestão que permite à organização estabelecer uma política ambiental adequada à sua própria
realidade e ter capacidade para se adaptar à mudança, potencializando a obtenção de
benefícios, como: redução de custos e de riscos ambientais e vantagens competitivas
37
(melhoria da imagem da empresa e sua aceitação pela sociedade; capacidade de antecipação
em face de crescentes expectativas de desempenho ambiental).
Vale destacar que, todas as normas desenvolvidas pela ISO são de aplicação
voluntária. Logo, as organizações podem implementar somente as que considerarem mais
apropriadas a sua forma de gestão.
1.4 Indústria piauiense e a logística reversa
De acordo com Mendes (2003), a industrialização, no Piauí, começou em Parnaíba
com as charqueadas, no final do século XVIII, e tomou impulso a partir da segunda metade do
século XIX, com a exploração do extrativismo vegetal para a exportação de produtos à base
de carnaúba, babaçu, couros, tucum e borracha de maniçoba. A mudança da capital para
Teresina incentivou o desenvolvimento da atividade. Isso porque, sua localização à margem
do rio Parnaíba contribuiu para um eixo de transporte de mercadorias, o que motivou o
comércio entre as cidades ribeirinhas.
No final do século XIX e começo do XX, o governo piauiense criou uma política de
incentivos fiscais para estimular a implantação de indústrias no Estado. Entretanto, as
limitações na oferta de matérias-primas, o pequeno mercado consumidor interno, a
concentração de renda, a falta de estradas e energia, desestimulava os investimentos
industriais, situação que se prolongou até a década de 1970 (MENDES, 2003).
A industrialização somente se viabilizou a partir de 1970, com a instalação da
hidrelétrica de Boa Esperança. Em 1973, surgiu o ramo de confecções, cujo marco foi a
indústria de confecção de roupa Guadalajara. Dez anos depois, surgiu a fábrica de bebidas
Antártica, com a finalidade de produzir para o Piauí, Ceará, Maranhão e Pará
(MACAMBIRA, 2000).
Pereira Filho (2003) explicita que, entre 1970 e 1980, configurou-se um pequeno
parque industrial composto de cervejaria, cimento, confecções que, apesar de elevar a
participação do setor secundário no Produto Interno Bruto (PIB) piauiense, não foi capaz de
proporcionar o crescimento da economia do Estado, pois não gerava grandes receitas.
A infra-estrutura industrial do Piauí é constituída por cinco distritos industriais, sendo
dois em Teresina, e os demais em Parnaíba, Picos e Floriano. De acordo com o Ministério do
Trabalho e Emprego (2010), Teresina possui 1.865 estabelecimentos industriais, com um total
de 16.868 pessoas empregadas formalmente.
38
Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo –
SEMDEC (2010), o setor industrial teresinense detém, aproximadamente, 17% do PIB e 16%
da população ocupada. Este desempenho se deve de modo considerável à indústria da
construção civil, que é a que tem mais crescido. Também, tem sido relevante a performance
da indústria de transformação, especialmente nos segmentos de confecção, pólo cerâmico,
indústria de alimentos e bebidas, setor gráfico, indústria de madeira e mobiliário, setor
químico e metalúrgico.
Em Teresina, embora a estrutura produtiva instalada seja compatível com o objetivo
de gerar ocupações, constata-se que nela poucas atividades exercem um efeito multiplicador
na sua economia, no sentido de suscitar novas unidades produtivas que lhe sejam
complementares de modo a consolidar uma cadeia produtiva (SEMDEC, 2010).
A viabilidade atual da logística reversa na indústria teresinense foi estudada a partir de
três setores de forte apelo ambiental: móveis, plásticos e pneus. Os setores de móveis e
plásticos foram avaliados a partir de suas práticas concretas de segurança, qualidade e
responsabilidade socioambiental. O setor de pneus, por conta de uma legislação própria, já
deveria ter em perfeito funcionamento a logística reversa. Para cada um dos setores foram
identificados os fatores que inibem o estabelecimento da logística reversa e discutidas as
oportunidades existentes para sua a implantação nas indústrias de Teresina-PI.
1.4.1 Setor de móveis
A indústria mundial de móveis é uma indústria tradicional, constituída,
predominantemente, de pequenas empresas (BRASIL, 2002). No Brasil, conforme Moraes e
Nassar (2002), os principais pólos estão no Sul e Sudeste: Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
O Brasil não é muito competitivo no setor, pois o consumidor nos países
desenvolvidos é mais exigente quanto a produtos funcionais, elegantes, resistentes e com
design moderno, aspectos nos quais os móveis brasileiros são vulneráveis, apesar da
qualidade ter aumentado (BRASIL, 2002).
O processo produtivo da indústria de móveis é bastante verticalizado, sendo todo
realizado em uma mesma fábrica. Segundo a ABIMÓVEL (2010), a maior sazonalidade de
vendas de móveis ocorre no quarto trimestre do ano, devido ao recebimento do 13º salário e
39
às festas de fim de ano. Há grande deficiência de mão-de-obra qualificada, sendo de grande
importância os investimentos em treinamento e capacitação.
O preço, a marca e o design são fatores significativos para o sucesso na
comercialização de móveis. Outros fatores que merecem destaque são: o prazo de entrega e a
assistência ao consumidor, além da tradição da empresa, no caso de móveis sob encomenda.
Os principais problemas relativos à comercialização de móveis, no mercado interno referem-
se aos prazos de entrega. No pós-venda, existe um grande número de reclamações no
PROCON (Serviço de Proteção e Defesa do Consumidor), sendo que os problemas relevantes
são de transporte, estocagem e montagem (MORAES e NASSAR, 2002).
Em virtude das exigências do mercado, a certificação de produtos é um fator de
competitividade das empresas do setor moveleiro e afeta, principalmente, as que não possuem
condições de atender às recomendações das normas técnicas, dentre as quais, as apontadas no
Quadro 04.
ABNT NBR Título
12666:1992 Móveis – Terminologia
12743:1992 Móveis – Classificação
13961:2010 Móveis para escritório – Armários
13962:2006 Móveis para escritório – Cadeiras – Requisitos e métodos de ensaio
14006:2008 Móveis escolares – Cadeiras e mesas para conjunto aluno individual
14535:2008 Móveis de madeira - Tratamento de superfícies - Requisitos e ensaio
para superfície pintada Quadro 04 - Normas da ABNT referentes ao setor moveleiro. Fonte: ABNT (2010d).
A adequação dos procedimentos às normas e, também, o atendimento das exigências
do consumidor, propiciam o melhoramento da qualidade dos produtos.
Cadeia produtiva do setor moveleiro
A cadeia produtiva de móveis constitui-se, simplificadamente, de quatro elos:
insumos, indústria de móveis, distribuição dos produtos e comercialização e, por fim, tem-se
o consumo (BRASIL, 2002), como ilustrado pela cadeia produtiva do setor moveleiro na
Figura 02.
40
Figura 02 - Cadeia produtiva típica do setor moveleiro. Fonte: adaptada de BRASIL (2002).
Na Figura 02, as setas largas indicam o fluxo de materiais; as setas finas e em sentido
inverso às primeiras, indicam o fluxo de capital. Além disso, numa cadeia produtiva tem-se o
ambiente institucional, que representa o conjunto de políticas ou regulamentações que direta
ou indiretamente afetam um ou mais elos da cadeia e, o ambiente organizacional, onde se
inserem as organizações e entidades que aplicam ou implementam as ações que afetam os elos
da cadeia produtiva.
O estabelecimento da logística reversa na indústria moveleira, assim como outros
setores industriais, pode representar uma oportunidade de negócio e um grande diferencial
competitivo em relação às indústrias que não utilizam esse processo; pois, permite a
recuperação de ativos (benefícios financeiros e logísticos) e melhoria da sua imagem, através
da responsabilidade social e ambiental. No entanto, o setor moveleiro de Teresina tem
condições de aplicar e aproveitar essas vantagens da logística reversa? Isto é o que se pretende
responder neste trabalho.
1.4.2 Setor de plásticos
A cadeia produtiva petroquímica e de transformação de plásticos é constituída por três
gerações: os produtores de primeira geração (craqueadores) que fracionam a nafta ou o gás
natural, transformando-os em petroquímicos básicos, como as olefinas e os aromáticos. As
unidades de segunda geração produzem resinas termoplásticas como os polietilenos (linear,
alta e baixa densidade) e o polipropileno, além de intermediários, resultantes do
Serrados, lâminas,
compensados,
aglomerados, MDF
e fibras
Plástico e metal
Colas, vernizes,
tintas, espumas e
laminados
Indústria
de
Móveis
Distribuição
Consumidor
41
processamento de produtos primários, como o estireno, o acetato de vinila, entre outros; e as
unidades de terceira geração, que transformam os plásticos (ABDI, 2009).
As indústrias de plásticos pesquisadas correspondem à terceira geração petroquímica,
que engloba o segmento dos transformadores plásticos que, através de processos industriais
variados, utilizando diferentes tecnologias, como extrusão, sopro, injeção, termoformagem,
compressão, imersão, transformam os produtos da segunda geração petroquímica em produtos
a serem consumidos e utilizados diretamente pela população.
Segundo a ABIPLAST (2008), o consumo aparente de artefatos plásticos, o qual é
obtido a partir do total produzido acrescido do importado, menos o total exportado, atingiu em
2008 a expressiva quantidade de 5.298 mil toneladas. Comparativamente ao ano 2000, o
consumo de transformados plásticos cresceu de forma acumulada na razão de 33%.
De acordo com a ABDI (2009), os tipos de polímeros mais consumidos são os
polietilenos, polipropilenos, poli(cloreto de vinila), poliestirenos, poliésteres e poliuretanos.
Grande parte dos plásticos transformados pela indústria são destinados ao setor de
embalagens em geral, ou seja, produtos de baixo tempo de ciclo de vida e, portanto, de grande
descartabilidade, configurando uma das principais preocupações ambientais da sociedade
moderna.
Por outro lado, na visão dos produtores da segunda geração (produção de resinas
termoplásticas), em todo o seu ciclo de vida, o plástico é capaz de gerar milhares de
empregos, contribuir para a manutenção da saúde pública, evitando doenças e infecções,
garantir a conservação e a preservação de alimentos e movimentando grande parcela da
economia de todas as nações (QUATTOR, 2010).
Assim, para fins de reaproveitamento, faz-se necessário considerar a classificação dos
plásticos conforme o seu comportamento à moldagem em: termoplásticos e termoestáveis. Os
primeiros caracterizam-se por poderem ser endurecidos ou amolecidos reversivelmente
variando-se a temperatura. Os termoestáveis (termofixos, termoduros) apresentam melhor
resistência à temperatura, estabilidade dimensional, resistência química e propriedades
elétricas superiores às dos termoplásticos. Os processos de moldagem dos termoestáveis são
mais caros, especialmente por não apresentarem um alto nível de automatização.
Outra medida importante é a identificação do tipo de plástico. A NBR 13230/2008, da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), estabelece símbolos para identificação
das resinas termoplásticas, utilizadas na fabricação de embalagens e acondicionamento de
plásticos, visando a auxiliar na separação e posterior reciclagem dos materiais, de acordo com
a composição.
42
Como afirma Coltro et al. (2008), a presença do símbolo de identificação da resina na
embalagem não garante ou implica que a mesma seja adequada para reciclagem, mas
certamente facilita a separação e reciclagem ou, no mínimo, permite que esta não venha a
comprometer a qualidade de outras cadeias de reciclagem.
No trabalho “Reciclagem de materiais plásticos: a importância da identificação
correta”, Coltro et al. (2008) concluíram que ainda existe falta de informação no mercado
brasileiro sobre o tipo de resina da embalagem plástica, bem como sobre o símbolo correto de
identificação do material, sendo que ambos os fatores prejudicam a cadeia de reciclagem do
plástico.
Aspectos contrastantes, como a degradação lenta e volumetria elevada dos plásticos e
da borracha, que compromete a vida útil dos aterros, a existência de várias propriedades
diferentes entre si, dificultando a identificação e seleção dos resíduos (principalmente, dos
plásticos) e o elevado potencial econômico para reutilização e reciclagem, fundamentam a
importância do estudo da viabilidade do retorno desses materiais à indústria para o seu
reaproveitamento. Dessa forma, analisa-se, nesse trabalho, a viabilidade da logística reversa
nas indústrias de plásticos de Teresina-PI.
1.4.3 Setor de pneus
O pneu é definido na resolução nº 416, de 30 de setembro de 2009, do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) como,
Componente de um sistema de rodagem, constituído de elastômeros,
produtos têxteis, aço e outros materiais que quando montado em uma roda de
veículo e contendo fluido(s) sobre pressão, transmite tração dada a sua
aderência ao solo, sustenta elasticamente a carga do veículo e resiste à
pressão provocada pela reação do solo (BRASIL, 2009).
As matérias-primas utilizadas na produção do pneu são borracha natural, borracha
sintética, derivados de petróleo como o negro de fumo (carbono finamente dividido, que se
obtém por combustão incompleta de compostos orgânicos), cabos de aço, cordonéis de aço ou
nylon e produtos químicos como enxofre. A fabricação de um pneu passa por um processo
produtivo complexo, que vai desde a preparação da borracha até a produção de itens para
compor o produto final. As partes de um pneu têm propriedades físicas e químicas diferentes
(ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE PNEUMÁTICOS – ANIP, 2010).
A sua estrutura é apresentada no site da Brazil Tires (2010), conforme a Figura 03:
43
Figura 03 - Estrutura do pneu. Fonte: Brazil Tires (2010).
A carcaça é a parte resistente do pneu, retém o ar sob pressão que suporta o peso total
do veículo e é composta de lonas de poliéster, nylon ou aço. Os talões constituem-se
internamente de arames de aço de grande resistência, tendo por finalidade manter o pneu
fixado ao aro da roda. A parte lateral (laterais da carcaça) é revestida por uma mistura de
borracha com alto grau de flexibilidade e resistência à fadiga. O feixe de cintas é
dimensionado para suportar cargas em movimento, com a função de garantir a área de contato
necessária entre o pneu e o solo. A banda de rodagem é a parte do pneu que fica em contato
direto com o solo, seus desenhos possuem partes cheias chamadas de biscoitos e partes vazias
conhecidas como sulcos, e devem oferecer aderência, tração, estabilidade e segurança ao
veículo. O ombro é o apoio do pneu nas curvas e manobras; e a nervura central proporciona
um contato “circunferencial” do pneu com o solo (BRAZIL TIRES, 2010).
Quando descartados inadequadamente, os pneus constituem passivo ambiental que
podem resultar em risco ao meio ambiente e à saúde pública. Isso porque pneus abandonados
perto de córregos e entradas de esgotos podem entupir tubulações e provocar enchentes, além
de servir de criadouro do mosquito transmissor da dengue e causar poluição. Assim, o
gerenciamento dos pneus inservíveis é disciplinado pela resolução do CONAMA nº 416 de
2009, que determina que “para cada pneu novo comercializado para o mercado de reposição,
as empresas fabricantes ou importadoras devem dar destinação adequada a um pneu
inservível”.
A destinação adequada consiste na adoção de procedimentos técnicos em que os pneus
são descaracterizados de sua forma inicial e os seus elementos constituintes são
reaproveitados, reciclados ou processados por outras técnicas admitidas pelos órgãos
44
ambientais competentes, observando a legislação vigente e normas operacionais específicas
de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, e a minimizar os impactos
ambientais adversos (BRASIL, 2009).
As formas de destinação são regulamentadas pelo Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Logo, é necessário que os
fabricantes, importadores, reformadores e destinadores de pneus inservíveis se inscrevam no
Cadastro Técnico Federal (CTF). Os fabricantes e os importadores devem declarar
anualmente a destinação dada aos pneus.
Uma das formas mais usuais de aplicação dos pneus inservíveis é como combustível
alternativo para a indústria de cimento, que, conforme o Compromisso Empresarial para
Reciclagem – CEMPRE (2010), corresponde a 84% das aplicações. Os demais 16% estão
distribuídos para outros usos, como solados de sapatos, borrachas de vedação, dutos pluviais,
pisos industriais e peças de reposição para indústria automobilística (tapetes de carros).
Os pneus e as câmaras de ar consomem cerca de 70% da produção nacional de
borracha e sua reciclagem é capaz de devolver ao processo produtivo de outros setores um
insumo regenerado por menos da metade do custo que o da borracha natural ou sintética, além
de economizar energia e petróleo usado como matéria-prima virgem (CEMPRE, 2010).
Em Teresina, a Lei Municipal nº 3.666, de 23 de agosto de 2007, trata do uso do
asfalto ecológico (composto de borracha reciclada de pneus descartados) pelo Executivo
Municipal. A utilização do asfalto ecológico é apropriada, por se adaptar melhor às variações
climáticas e absorver o impacto dos veículos, reduzindo o risco de acidentes. No entanto, de
acordo com Galdino (2009, p. 29), “a cidade de Teresina não disponibiliza de tecnologias que
transforme a borracha em asfalto ecológico e, enquanto isso não ocorre, continua a
pavimentar as ruas com um asfalto menos resistente e mais caro que o proveniente da
borracha”.
A Reciclanip, entidade criada pelos fabricantes Bridgestone, Goodyear, Michelin,
Pirelli e Continental, coleta e destina pneus inservíveis, levando-os dos pontos de coleta
(locais disponibilizados e administrados pelas Prefeituras, para onde são levados os pneus
recolhidos pelo serviço de coleta municipal ou aqueles levados pelos borracheiros,
consumidores) até as empresas de trituração.
Segundo dados da Reciclanip (2010), no Brasil, existem 468 pontos de coleta de
pneus, distribuídos da seguinte maneira: Amazonas (1), Amapá (1), Bahia (5), Ceará (1),
Distrito Federal (1), Espírito Santo (9), Goiás (17), Maranhão (1), Minas Gerais (129), Mato
Grosso do Sul (12), Mato Grosso (18), Pará (3), Paraná (65), Rio de Janeiro (10), Rio Grande
45
do Norte (2), Rondônia (5), Roraima (1), Rio Grande do Sul (55), Santa Catarina (13),
Sergipe (1), São Paulo (114) e Tocantins (4).
Conforme a Associação Nacional das Empresas de Reciclagem de Pneus e Artefatos
de Borracha – AREBOP (2010), cerca de 30 empresas processam pneus no país. A
capacidade de destinação de pneus das empresas associadas à AREBOP é de mais de 300 mil
toneladas por ano.
Quando não estão no fim de sua vida útil, os pneus podem passar pelo processo de
reforma (Quadro 05). Segundo a Associação Brasileira do Segmento de Reforma de Pneus –
ABR (2010), a reforma de pneus emprega apenas 25% do material utilizado na produção de
um pneu novo, proporcionando a mesma durabilidade original. O Brasil ocupa o segundo
lugar no ranking mundial de recauchutagem, atrás apenas dos Estados Unidos.
Tipo de reforma Descrição
Recapagem Substituição da banda de rodagem.
Recauchutagem Substituição da banda de rodagem e dos ombros.
Remoldagem Substituição da banda de rodagem, ombros e toda
superfície dos flancos. Quadro 05 - Tipos de reforma do pneu. Fonte: BRASIL (2009).
Além da resolução CONAMA nº 416/2009, que determina que os distribuidores,
revendedores, destinadores, consumidores finais e o Poder Público devem, em articulação
com os fabricantes e importadores, implementar procedimentos para a coleta e destinação
adequada dos pneus inservíveis existentes no país; a PNRS estabelece a obrigatoriedade da
estruturação e implementação da logística reversa para o setor.
Nesse trabalho, analisa-se como se articulam os revendedores, consumidores,
Prefeitura e destinador para gerenciar os pneus consumidos na cidade de Teresina e se o setor,
de fato, já implementa a logística reversa, tendo em vista possuir legislação específica.
46
2 METODOLOGIA
2.1 Atividades industriais de Teresina
O presente trabalho foi desenvolvido na cidade de Teresina, capital do estado do Piauí,
que está localizada à margem direita do rio Parnaíba, na confluência com o rio Poti, situando-
se na latitude 05° 05’ S e longitude 42° 48’ W. De acordo com o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE (2010), a sua população é de 814.439 habitantes. O PIB
industrial de Teresina é de R$ 1.300.524 (IBGE, 2008).
As tipologias industriais de Teresina utilizadas pelo guia da Federação das Indústrias
do Estado do Piauí - FIEPI (2000) são: móveis, metalúrgica (estruturas e artefatos de ferro e
aço), indústria de bebidas (cervejas e refrigerantes), plásticos, vestuário (confecções de
roupas), material de transporte (motociclos, velocípedes, peças e acessórios), artigos de
colchoaria (colchões), indústria química (tintas), produtos alimentícios (panificação), indústria
gráfica (artigos de livraria e produtos gráficos), entre outras.
2.2 Indústrias visitadas
Foram listadas as indústrias do setor moveleiro, de plásticos, além dos revendedores
das principais marcas de pneus comercializadas em Teresina, através do guia da FIEPI e do
Telelistas.net. Elaborou-se uma lista contendo o nome da indústria, descrição da atividade,
endereço, telefone e o responsável.
Obteve-se, também, a lista de dados das indústrias cadastradas no Conselho Regional
de Química (CRQ) e das indústrias ativas na Secretaria da Fazenda (SEFAZ), em setembro de
2010, do estado do Piauí.
Foram realizadas visitas e entrevistas com os dirigentes e funcionários das indústrias.
As entrevistas, que combinavam perguntas abertas e fechadas, balizadas por perguntas
norteadoras (conjunto de questões previamente definidas), foram elaboradas a partir das
especificidades de cada setor (vide Apêndices A, B e C).
Em cada visita foram anotadas as matérias-primas utilizadas e a origem, as etapas do
processo produtivo, os tipos de produtos que industrializam, os tipos e volumes de
embalagens utilizadas para o acondicionamento dos produtos, além dos resíduos gerados e do
gerenciamento adotado. Quando permitido, fez-se registro fotográfico. Observou-se,
principalmente, aspectos gerais de segurança, qualidade e meio ambiente. As visitas aos três
setores, fornecedores, oficinas e ecoponto foram realizadas entre setembro (2009) e novembro
(2010).
47
3 RESULTADOS
3.1 Setor de móveis
Foram visitadas dezesseis indústrias que fabricam móveis, cinco empresas que
realizam a reforma dos mesmos e três fornecedores de matérias-primas para os fabricantes e
reformadores. As indústrias foram divididas em dois segmentos, conforme a finalidade do
móvel que produzem:
1. móveis para residência (sofás, guarda-roupas, colchões, tábuas de passar roupa,
além de cozinhas e dormitórios feitos sob medida).
2. móveis para escritórios, escolas e hospitais (armários, estantes, mesas, cadeiras,
carteiras escolares, gôndolas, estruturas porta-pallets, entre outros).
Na Figura 04, pode-se visualizar a localização das indústrias do setor moveleiro.
Como pode ser observado, as indústrias visitadas estão distribuídas por toda a cidade de
Teresina.
Figura 04 - Localização das indústrias de móveis visitadas.
48
Na Tabela 03, estão as indústrias visitadas do setor moveleiro de Teresina, a descrição
da atividade de cada uma, o bairro em que estão localizadas, a quantidade de funcionários e a
indicação dos segmentos que atuam.
Tabela 03 - Indústrias visitadas do setor moveleiro de Teresina.
Indústria Descrição da Atividade
(conforme CNPJ) Bairro
Quantidade
de
Funcionários
Segmento
Marcenaria São
Raimundo
Fabricação de móveis com
predominância de madeira
Buenos
Aires 02 1
Ok Móveis Fabricação de artigos de
carpintaria para construção Parque Piauí 03 1
J. B.
Cronemberger
Fabricação de móveis com
predominância de madeira
Distrito
Industrial 04 1 - 2
Ferraço
Metalúrgica
Fabricação de móveis com
predominância de metal Porto Alegre 06 2
Marcenaria
Holanda
Fabricação de móveis com
predominância de madeira São Joaquim 08 1
Incomfal Móveis Fabricação de esquadrias
de metal Primavera 10 1 - 2
Madeireira Hada Serviços de tradução,
interpretação e similares Angelim 12 1
Sambaíba
Móveis
Fabricação de móveis com
predominância de madeira Poti 12 1
D’stac Móveis Fabricação de móveis com
predominância de metal Mocambinho 14 1 - 2
Sob Medida Fabricação de móveis com
predominância de madeira
Parque
Alvorada 20 1
Modelo Móveis Fabricação de esquadrias
de metal
Tancredo
Neves 28 2
Melo Martins
Industrial
Fabricação de esquadrias
de madeira e de peças de
madeira para instalações
industriais e comerciais
Dirceu
Arcoverde I 30 1 - 2
Metel
Metalúrgica
Fabricação de produtos de
metal Tabuleta 30 2
Metalpires Fabricação de esquadrias
de metal Matadouro 40 2
Metaço
Metalúrgica
Fabricação de móveis com
predominância de metal Pirajá 85 2
Socimol Fabricação de colchões Tabuleta 600 1 - 2
As indústrias do segmento de móveis para residência fabricam móveis diferenciados e
com mais detalhes de acabamento; pois, em sua maioria, são feitos a partir de projetos para
um consumidor final específico (exceto os da Socimol e os da Incomfal Móveis), sendo, por
49
isso, chamados de móveis planejados. Dessa forma, geralmente, se destinam a uma parcela
mais exigente da sociedade. São dormitórios (guarda-roupas, cômodas, camas e criados-
mudo), cozinhas (armários, cadeiras), além de móveis para sala de estar e banheiros.
Figura 05 - Móvel para sala de estar – J. B.
Cronemberger.
Figura 06 - Cozinha planejada – Showroom – Sob
Medida.
No segmento de móveis para escritórios, escolas e hospitais, são fabricados móveis
padronizados. Essas indústrias produzem em maior escala, a fim de abastecer o mercado com
os seus produtos.
Figura 07 - Móvel para hospital – Incomfal Móveis.
50
A principal matéria-prima utilizada no segmento de móveis para residência é a
madeira, o compensado de madeira e o Medium Density Fiberboard – Fibra de Média
Densidade (MDF).
Conforme o Guia do Marceneiro (2010a), os compensados surgiram em escala
industrial após o desenvolvimento de um sistema capaz de laminar ou folhear a madeira.
Dessa maneira, o painel compensado é composto por três ou mais lâminas torneadas, unidas
uma à outra com adesivo ou cola, sempre em número ímpar (número par tende a empenar a
chapa), de tal forma que algumas propriedades físicas e mecânicas se tornem superiores às da
madeira original.
O MDF é um painel de fibras de madeira, sendo sua composição homogênea em toda
a superfície e no interior. A resistência e estabilidade proporcionam primorosos acabamentos
em móveis. O MDF destaca-se pela possibilidade de ser pintado ou laqueado, podendo ser
cortado, lixado, entalhado, perfurado, colado, pregado, parafusado, encaixado e moldurado
(GUIA DO MARCENEIRO, 2010b).
Verificou-se, através das visitas, que as indústrias de móveis utilizam como matéria-
prima ferros, tubos de aço-carbono, tubos de aço-inox, laminados de PVC, fibras de plástico,
tecidos, couros, espuma (para os acentos das cadeiras), cola fórmica e cola branca, selador,
prego, solventes e tintas. A matéria-prima é proveniente dos estados do Piauí, Ceará, Pará,
Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Pernambuco, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Os fornecedores do Piauí, citados pelos gestores das indústrias visitadas, são:
Comercial Madeirão, Madeireira Pará e Compensados e Laminados, todos localizados na
cidade de Teresina.
Foram visitados os três fornecedores citados. Observou-se que, além dos componentes
necessários para a fabricação dos móveis, eles comercializam as máquinas e as ferramentas
necessárias para o desenvolvimento da atividade. Além disso, um deles (Comercial Madeirão)
comercializa EPI’s. Os três fornecedores mencionaram que o período em que as vendas
aumentam são os últimos quatro meses do ano.
Conforme o IBAMA (2010), as transações com madeiras ou outro tipo de produto ou
subproduto florestal em suas diversas formas devem passar pelo Sistema Documento de
Origem Florestal (DOF). Para comprar uma determinada quantidade de um desses produtos, é
necessário aceitar uma oferta realizada no Sistema DOF pelo fornecedor. Dessa maneira, todo
o processo é controlado, desde o corte até a comercialização final. O acesso ao Serviço/DOF é
feito pela pessoa física ou jurídica cadastrada em pelo menos uma das atividades relacionadas
no site e em situação regular junto ao IBAMA.
51
Quando perguntados sobre a necessidade de licença do órgão ambiental fiscalizador
para a comercialização de subprodutos florestais (compensado), só dois dos fornecedores
(Comercial Madeirão e Madeireira Pará) afirmaram pagar um taxa trimestral ao IBAMA.
Segundo os mesmos, os subprodutos só são liberados pelo Instituto depois que eles e os seus
fornecedores pagam essa taxa. Ainda, de acordo com os entrevistados, para a liberação dos
subprodutos, devem ser definidos, antecipadamente, a sua origem e destino; além de ser feita
a confirmação no site do IBAMA. Os dois entrevistados não souberam responder o nome e
nem a quantia da taxa que pagam.
A taxa que os entrevistados se referiram está no Sistema DOF e é denominada Taxa de
Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA). A TCFA foi instituída pela Lei Federal nº
10.165/2000 e os seus valores (Tabela 04) são definidos conforme o porte da empresa e a
atividade por ela exercida.
Tabela 04 - Valores, em reais, devidos a títulos de TCFA por estabelecimento por trimestre.
Potencial de
Poluição, Grau de
utilização de
Recursos Naturais
Pessoa
Física Microempresa
Empresa de
Pequeno
Porte
Empresa
de Médio
Porte
Empresa
de Grande
Porte
Pequeno - - 112,50 225,00 450,00
Médio - - 180,00 360,00 900,00
Alto - 50,00 225,00 450,00 2.250,00 Fonte: BRASIL (2000).
A destinação final dos produtos e subprodutos deve ser informada no Sistema DOF,
sempre que esta acontecer. As fábricas de móveis, por exemplo, devem indicar a destinação
da madeira sempre que os móveis forem fabricados. A utilização de lâminas de madeira e
enchimentos na confecção de compensados é considerada destinação final (IBAMA, 2010).
Geralmente, a cadeia produtiva do setor de móveis de Teresina (Figura 08) é formada
somente pelos fornecedores de matérias-primas, fabricantes dos móveis e pelos consumidores
finais; pois, na maioria dos casos pesquisados, os próprios fabricantes comercializam o
produto. Dessa maneira, essas indústrias atuam, também, como distribuidoras dos produtos,
fazendo com que assumam um duplo papel na cadeia produtiva.
Isso não acontece com a Socimol, D’stac Móveis, Modelo Móveis, Metel Metalúrgica
e Metaço Metalúrgica; pois, as mesmas vendem os produtos para outros pontos de venda, ou
seja, tem outros pontos de distribuição.
52
Figura 08 - Cadeia produtiva do setor moveleiro de Teresina.
As etapas do processo produtivo, entre as indústrias visitadas do segmento de móveis
para residência, apresentam similaridades: planejamento/projeto (onde se definem os custos
da fabricação do móvel), corte, lixamento, gabarito (montagem preliminar), pintura e entrega
(montagem na casa do cliente). O tempo médio de produção dos móveis planejados fica entre
15 e 30 dias.
Vale destacar que este segmento (excetuando-se o caso da Socimol e da Incomfal
Móveis) não tem estoque de produtos armazenados nas indústrias, pois só trabalham por
encomenda.
Das indústrias visitadas, somente duas apresentaram setor de reforma (Incomfal
Móveis e Melo Martins Industrial). Na Melo Martins Industrial, esse setor é responsável pela
reparação dos móveis que apresentaram algum problema no pós-venda e dos que precisam de
manutenção. As demais, consideram que os custos são elevados e não compensa. Dessa
forma, optam por somente fabricar.
Para o entrevistado da Incomfal Móveis, é viável a indústria receber o material para
reforma, desde que o cliente se comprometa a comprar o móvel novamente (fidelização do
cliente), o que já acontece nessa indústria. Os custos da reforma são, em média, 35% do valor
do produto novo. Situação semelhante acontece na Sambaíba Móveis, que oferece o serviço
de reparação dos móveis, na própria casa do cliente, através da aplicação de um novo
revestimento, mesmo se tiver fora da garantia estabelecida no contrato, que é de dois anos.
Na opinião de três gestores entrevistados (Ok Móveis, Incomfal Móveis e Sambaíba
Móveis), existe a possibilidade de reinserir o material pós-consumo na cadeia produtiva e de
negócios, através de reformas, aplicação de novos revestimentos, trocas de estofamentos e
pintura.
Na opinião do gestor da Ok Móveis, é possível que os móveis, depois de reformados,
sejam colocados em um mercado secundário, com um valor menor do que o produto novo.
Matérias-
Primas
Indústria de
Móveis
Distribuidor
Consumidor
53
Entretanto, a indústria não possui uma estrutura adequada que viabilize o recebimento desses
materiais.
Para os demais entrevistados, a reinserção do material pós-consumo na cadeia
produtiva e de negócios não é viável, por conta da inexistência de espaço físico nas indústrias
para o recebimento e o reprocessamento desses materiais, além da falta de mercado para os
produtos.
Foram visitadas cinco empresas que realizam reforma de móveis. Em algumas dessas
empresas, também, são fabricados móveis novos, mas em uma escala menor do que as
reformas. No caso desses, o cliente pode deixar o móvel velho e receber um desconto na
compra do móvel novo. Isso acontece, principalmente, com os estofados. Segundo um dos
entrevistados, os clientes costumam reformar os estofados todo ano. As Figuras 09 e 10
ilustram o antes e o depois de um estofado reformado.
Figura 09 - Estofado a ser reformado em
22/11/2010.
Figura 10 - Estofado reformado em 24/11/2010.
Os custos de uma reforma, como ilustrada nas Figuras 09 e 10, variam entre R$ 250,00
e R$ 450,00, enquanto o valor de um estofado novo está entre R$ 800,00 e R$ 1.000,00. No
geral, de acordo com os entrevistados, os custos de uma reforma correspondem a 50% do
valor do móvel novo. Para eles, esta é uma atividade lucrativa, até porque, em alguns casos é
necessária a reposição/ajuste de poucos componentes, conforme pode ser observado nas
Figuras 11 e 12.
54
Figura 11 - Móvel a ser reformado (lixamento e
pintura).
Figura 12 - Móvel a ser reformado (ajuste das portas
e gavetas, colocação de puxador e espelho).
Durante a reforma dos estofados, são reaproveitados a grade de madeira e o encosto.
Em alguns casos, a espuma também é reaproveitada, sendo feito apenas um preenchimento
com mais espuma nova. Quando não dá mais para reaproveitá-la, elas são descartadas junto
com os tecidos. Um dos entrevistados revelou que doa as sobras de espumas para os lava
jatos. Outro, doa madeira que não lhe serve para as padarias utilizarem como combustível em
seus fornos.
Como o volume de resíduos gerados nos locais que realizam reformas de móveis é
grande, é comum contratarem carroceiros para fazerem a remoção. O frete custa R$ 20,00 e
acontece de três a quatro vezes por semana, dependendo da demanda. Nenhum dos
entrevistados soube dizer o destino dado aos resíduos. Por falta de fiscalização adequada,
esses resíduos são jogados em terrenos abandonados ou nas margens das avenidas de
Teresina.
O segmento de móveis para escritório, escolas e hospitais (Metel Metalúrgica, D´stac
Móveis, Ferraço Metalúrgica, Metaço Metalúrgica, Incomfal Móveis e Metalpires) envolve
um processo de produção mais simplificado, tendo em vista que não possuem muitos detalhes
sofisticados de acabamento e, como no caso do segmento anterior, também, possuem
similaridades. As etapas são: corte, estampagem, dobra, moldagem, soldagem (a ponto-prensa
ou a mig-com arame cobreado de 0,8 mm), pintura (tinta líquida ou tinta epox), montagem e
expedição. No caso desse segmento, é mais comum apresentarem pontos de distribuição,
sendo estes não só no Piauí, como também nos estados vizinhos, Maranhão e Ceará.
55
Os móveis produzidos por este segmento são estantes, armários, arquivos, bebedouros
industrial, roupeiros, mesas, cadeiras, carteiras escolares, gôndolas e estruturas porta-pallets.
As matérias-primas e a origem são as mesmas do segmento de móveis para residência. No
entanto, neste segmento, há uma predominância da utilização de chapas de aço e de ferro.
A vida útil dos móveis das indústrias visitadas varia em torno de cinco a vinte anos.
Entretanto, a maioria dos entrevistados considera que a vida útil dos materiais que produzem
não pode ser definida, e vai depender da forma como o consumidor o utiliza.
Em geral, a estrutura das indústrias visitadas é precária, não possuindo
compartimentação das distintas etapas do processo produtivo, além de possuírem piso rústico
e pouca ventilação.
Há um consenso, por parte dos gestores das indústrias visitadas, da necessidade de
qualificação da mão-de-obra para o setor de móveis. Inexistem, em Teresina, cursos
profissionalizantes direcionados para esse segmento industrial. Dessa maneira, eles têm
dificuldade em repor mão-de-obra. Em sua maioria, os funcionários aprendem o ofício
durante a atividade na própria indústria.
Poucos funcionários utilizam os EPI’s, pois a segurança do trabalho não pareceu ser
fator de relevância para estas indústrias, tendo em vista que não possuem um setor
responsável pela segurança, como a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA),
com exceção da Socimol. Contudo, mesmo nessa indústria, nem todos os funcionários
utilizavam os EPI’s no momento da visita.
A gestão da qualidade ainda não é valorizada pelo setor moveleiro de Teresina,
somente a Socimol possui certificação ISO 9000. Embora, durante as entrevistas, tenha sido
observado que os gestores têm a preocupação de colocar um produto de qualidade no
mercado. Entretanto, desconhecem os procedimentos necessários para a certificação e
desconsideram que seja importante para a fidelização do cliente, pois acreditam que a melhor
propaganda é a satisfação dos clientes (propaganda boca a boca).
Com relação à responsabilização socioambiental, as indústrias visitadas não
apresentam nenhum indicativo direto de reconhecimento desse fator. Se o fazem, é para fins
de licenciamento ambiental ou para a economia de matéria-prima, como no caso do corte, que
é realizado somente após definição de projeto, de modo a minimizar perdas. Motivo pelo qual
o setor de móveis gera poucos resíduos durante o seu processo produtivo.
De acordo com o trabalho de Silva e Moita Neto (2010), os principais resíduos
gerados nesse setor produtivo são o pó de madeira, artefatos de madeira, flocos, tecido,
56
plástico e borra tóxica, uma média de 20,2 ton/ano. Os destinos finais dados a esses resíduos
são o reaproveitamento em outro produto, venda para a reciclagem ou a queima a céu aberto.
A observação realizada nas indústrias do setor de móveis de Teresina aponta a
necessidade de melhorar os desempenhos nos aspectos relacionados às normas de segurança,
de qualidade e ambiental. Desse modo, só a mudança na cultura empresarial e a pressão da
sociedade podem mudar esse quadro e contribuir de maneira favorável à aplicação da logística
reversa no setor moveleiro de Teresina.
3.2 Setor de plásticos
Foram visitadas oito indústrias que produzem artefatos de plásticos e uma que produz
artefatos de borracha. Na Tabela 05, estão descritas as atividades desenvolvidas por cada uma,
o bairro em que estão localizadas e a quantidade de funcionários.
Tabela 05 - Indústrias visitadas de plásticos e de borracha de Teresina.
Indústria Descrição da Atividade
(conforme CNPJ) Bairro
Quantidade de
Funcionários
Plast Nor Plásticos do
Nordeste
Fabricação de embalagens de
material plástico
Distrito
Industrial 250
Bonoplast Indústria de
Plásticos
Fabricação de artefatos de material
plástico para uso pessoal e
doméstico
Memorare 102
Inbopil – Indústria de
Borracha do Piauí Fabricação de artefatos de borracha
Distrito
Industrial 50
Ciplast Indústria e
Comércio de Plásticos
Fabricação de embalagens de
material plástico
Distrito
Industrial 38
Jeraplastic –
Tecnologia em
Plásticos Indústria e
Comércio
Fabricação de embalagens de
material plástico
Santo
Antônio 30
Plastil Plásticos
Indústria
Fabricação de artefatos de material
plástico para uso pessoal e
doméstico
Areias 22
Indústria de Plásticos
Poty
Fabricação de artefatos de material
plástico para uso pessoal e
doméstico
Pedra
Mole 22
Ingepil Indústria de
Garrafas Plásticas
Fabricação de embalagens de
material plástico Aeroporto 15
Riverplast – River
Indústria e Comércio
de Artigos de Plásticos
Fabricação de artefatos de material
plástico para uso pessoal e
doméstico
Angelim 11
57
Na Figura 13, pode-se visualizar a localização das indústrias visitadas de plásticos e de
borracha de Teresina. Como pode ser observado, seis delas estão da zona sul.
Figura 13 - Localização das indústrias de plásticos e de borracha visitadas.
A descrição das atividades das indústrias visitadas estão organizadas de acordo com o
tipo de resina que utilizam: Polietileno (PE) – (Ciplast, Jeraplastic, Plastil, Plast-Nor e
Ingepil), Polipropileno (PP) – (Riverplast), Poli(cloreto de vinila) (PVC) – (Indústria de
Plástico Poty) e Poliestireno (PS) – (Bonoplast).
Polietileno (PE)
A Plast Nor, Jeraplastic, Plastil, Ciplast e Ingepil são indústrias que utilizam o
Polietileno (PE) como matéria-prima principal. Os produtos oferecidos pela Plast Nor e
Jeraplastic são embalagens (sacos e sacolas) flexíveis que podem ser lisas, impressas ou com
tratamento para serigrafia (podendo, dessa forma, ser feita impressão na embalagem fora da
indústria). A Plast Nor produz, ainda, garrafas e tampas para material de limpeza.
58
Além do Polietileno de Baixa Densidade (PEBD) e do Polietileno de Alta Densidade
(PEAD), estas indústrias utilizam Polipropileno (PP), solventes, pigmentos e aditivos. No
caso da Plast Nor, utiliza-se, também, um aditivo próprio para a produção de embalagens oxi-
biodegradáveis.
Os principais fornecedores da Plast Nor são a Braskem e a Quattor (segunda geração
na cadeia produtiva dos plásticos), entre os seus clientes e os da Jeraplastic estão os
supermercados, clínicas, hospitais, empresas de confecções, distribuidores, entre outros.
Como a Plast Nor e a Jeraplastic oferecem produtos similares, as etapas do processo
produtivo são as mesmas nas duas indústrias: primeiramente, é especificada uma Ordem de
Produção (OP) ao material. O objetivo da OP é que a produção aconteça na ordem dos
pedidos realizados pelos clientes dessas indústrias. Depois disso, as matérias-primas são
colocadas em um equipamento denominado extrusora, que é constituído basicamente de um
tubo contendo um parafuso rosqueado. As resinas de polietileno são colocadas na parte
traseira do tubo, sendo conduzidas para a parte frontal pela rosca em rotação. Durante esse
percurso, as resinas são aquecidas e, no final, obtém-se o filme plastificado. Posteriormente, o
filme plastificado segue para impressão, corte, solda, rebobinadeira e acabamento.
Se a embalagem for destinada para produtos do gênero alimentício, antes da
impressão, o filme plastificado passa pela laminadora, que tem como função a colagem de um
filme na embalagem para que o alimento não entre em contato com a tinta da impressão.
Em relação às embalagens oxi-biodegradáveis, das indústrias visitadas, somente a
Plast Nor produz as mesmas. A produção das embalagens, desse tipo, tende a aumentar por
conta da obrigatoriedade, estabelecida na Lei Municipal nº 3.874/09, de estabelecimentos
comerciais, farmácias, lanchonetes, panificadoras e afins, utilizarem para acondicionamento
de produtos e mercadorias em geral, sacolas biodegradáveis ou oxi-biodegradáveis, ou de
papel ou de tecidos retornáveis.
As embalagens oxi-biodegradáveis são definidas na Lei Municipal nº 3.874, de 9 de
junho de 2009, como “aquelas que apresentam degradação natural ou oxidação acelerada por
luz e calor e, posteriormente, a possibilidade de ser biodegradada por microorganismos e que
os resíduos finais tenham menor impacto ao meio ambiente”.
O aditivo usado na produção das embalagens oxi-biodegradáveis leva à decomposição
das ligações carbono-carbono no plástico, diminuindo o peso molecular, causando uma perda
de resistência mecânica e facilitando o ataque químico.
Nessas indústrias, todas as aparas e as embalagens que não estiverem dentro das
conformidades (apresentarem alguma falha de produção) são reaproveitadas. Esta matéria-
59
prima pode ser usada em um processo produtivo semelhante, para a produção de resinas
recicladas, que serão utilizadas na produção de sacolas recicladas.
As embalagens que não têm condições de retornar ao processo dessas indústrias para a
produção das resinas (se estiverem sujas, por exemplo) são vendidas para outras indústrias,
como a Plastil e a Ciplast, indústrias que produzem grãos de resina reciclada, sacos e sacolas a
partir do Polietileno, e que têm suporte para realizar a limpeza desse material.
Nessas indústrias, a produção é 24 horas/dia, o que permite a diminuição nos custos de
produção e a economia de energia. Outra característica comum entre as duas indústrias
(Plastil e Ciplast) é o processo produtivo do grão de resina, que é a matéria-prima básica na
produção de sacolas recicladas.
Figura 14 - Polietileno.
Figura 15 - Filme de polietileno.
Figura 16 - Polietileno reciclado.
Figura 17 - Filme de polietileno reciclado.
60
As etapas do processo produtivo do grão de resina (granulado), a partir de resíduos
plásticos comprados de outras indústrias, dos sucateiros ou de associações que trabalham com
a coleta de material para reciclagem (plástico pós-consumo) são as seguintes: primeiramente,
é feita a triagem dos resíduos plásticos (na Ciplast, são onze funcionários contratados só para
essa função) onde são selecionados os materiais adequados para o processo de
reaproveitamento. Depois disso, estes materiais são colocados em uma esteira, onde é feita a
detecção e a retirada de metais. Após a esteira, o plástico é triturado e lavado no moinho,
seguindo para o agitador, onde o material de interesse é selecionado por densidade.
Posteriormente, o plástico é encaminhado aos secadores e, novamente, para outro moinho, a
fim de ser cortado em partes ainda menores. Em seguida, o plástico e o pigmento são
colocados na extrusora. Ao final deste processo tem-se a matéria-prima denominada de resina
reciclada.
A produção diária de resinas recicladas na Plastil e na Ciplast é 620 kg e 2.000 kg,
respectivamente. As resinas recicladas são utilizadas para a fabricação das sacolas recicladas.
O processo de produção das sacolas é rápido e simples: a matéria-prima (resina) é colocada na
extrusora, o filme plástico segue para a bobinação e depois, para a sacoleira, onde é feita a
divisão do filme plástico em quatro pistas, essa divisão vai depender do tamanho da sacola.
Após a sacoleira, a sacola segue para o corte e a ponta (solda).
Outra indústria que utiliza o Polietileno como matéria-prima principal é a Ingepil. Há
dez anos no mercado teresinense, a Ingepil produz garrafas plásticas de 300 mL e de 500 mL.
Nesta indústria, são produzidas, diariamente, 10.000 garrafas. Para isso, as duas turmas de
quinze funcionários, utilizam cerca de 2.000 kg de PEAD e PEBD por semana. As garrafas
são comercializadas para as indústrias envasadoras de água de côco, sucos, iogurtes, mel e
temperos do Piauí e do Maranhão, com valor que varia entre R$ 0,19 e R$ 0,36.
Figura 18 - Embalagem produzida na Ingepil.
61
O processo de fabricação das garrafas da Ingepil acontece por meio da moldagem por
sopro, que consiste na expansão do plástico quente contra a superfície interna de um molde
frio. Todas as aparas (sobras geradas pelo processo) dessa indústria são reaproveitadas no
processo produtivo. Para o reprocessamento, as aparas são trituradas e misturadas à matéria-
prima virgem na proporção de 1:1.
Como a atividade da Ingepil é voltada para a produção de embalagens para alimentos,
o reprocessamento do material pós-consumo para a mesma finalidade não é adequado. O mais
recomendado é o uso desse material em outro setor industrial. A utilização, os limites de
materiais plásticos e os eventuais aditivos que compõe as embalagens de alimentos são
disciplinados pela ANVISA. Assim, a alternativa apontada pelo entrevistado é o
reprocessamento desse material para a produção de garrafas para detergentes e desinfetantes.
No entanto, o mesmo não tem interesse em realizar essa atividade, por considerar que esses
produtos não tem mercado no Piauí e no Maranhão.
Polipropileno (PP)
A Riverplast, também, há dez anos no mercado teresinense, produz bacias e baldes de
plásticos, cujos clientes são os lojistas da capital e do interior. Diariamente, são produzidos
1.200 baldes e 2.400 bacias.
A matéria-prima necessária para a produção desses artefatos de plástico é proveniente
da Plast-Nor, que é o polipropileno e, em alguns casos, os pigmentos. A Plast-Nor compra a
matéria-prima que utiliza no processo produtivo (polietileno) em grande quantidade das
unidades de segunda geração (Braskem e Quattor) e, por razões logísticas, fica mais fácil para
essa indústria comprar outras matérias-primas e comercializá-las para as indústrias menores,
que não têm suporte logístico para adquiri-las.
Para a produção, a Riverplast utiliza o processo de moldagem por injeção, que consiste
em fundir o plástico na extrusora, utilizando o parafuso desta para injetar o plástico em um
molde, onde é resfriado. Posteriormente, são colocadas as alças dos baldes e, juntamente, com
as bacias são encaminhados para as demais etapas da cadeia produtiva.
Na Figura 19, está representado o fluxo de produção da Riverplast.
62
Figura 19 - Fluxo de produção da Riverplast.
As sobras do processo (aparas), em torno de 10% da produção total, são reprocessadas.
Dessa forma, não há perdas de matéria-prima durante e nem após o processo produtivo; já
que, se algum dos artefatos não estiver em boas condições para a comercialização, é triturado
e reencaminhado para o processo produtivo.
Poli (cloreto de vinila) (PVC)
Na Indústria de Plásticos Poty são produzidos 2000 tubos de PVC por dia para sistema
de abastecimento de água, sistema de esgotamento sanitário e eletroduto. Dentre as principais
matérias-primas utilizadas estão o PVC, estearato de cálcio, carbonato de cálcio, dióxido de
titânio, estabilizante e os pigmentos. As lojas de material de construção e as construtoras estão
entre os principais clientes dessa indústria.
Para a fabricação dos tubos, o PVC é moído, lavado, selecionado e microionizado.
Depois disso, os aditivos são acrescentados e misturados. Posteriormente, todo o material vai
para a extrusão. Por fim, são feitos os acabamentos e a observação da qualidade do produto.
Não há geração de resíduos industriais durante o processo produtivo, as aparas são
reprocessadas e os tubos que não estão em conformidade também.
RIVERPLAST
Compra da matéria-prima
(Plast Nor)
Processo de Moldagem
por Injeção
Embalagem
Armazenamento
Expedição Lojistas da capital e
do interior
Consumidor final
63
Segundo o gestor da Indústria de Plásticos Poty, o consumo dos tubos de PVC tem
aumentado nos últimos anos. Uma das causas apontadas é o incentivo do governo federal em
infra-estrutura, particularmente, em saneamento e energia.
Na opinião do entrevistado, se Teresina tivesse um programa consolidado de coleta
seletiva, e, além disso, os plásticos fossem separados de acordo com o tipo, a Indústria de
Plásticos Poty estaria preparada para receber o PVC. Por causa disso, ainda é mais barato
comprar a resina de PVC virgem do que contratar pessoas para fazer a seleção desse material.
Poliestireno (PS)
A Bonoplast produz, aproximadamente, 40.000 caixas de copos e pratos descartáveis
por mês. Esse valor é ainda maior nos períodos de carnaval e das festas de fim de ano. Para
isso, os 102 funcionários trabalham, alternadamente, durante os três turnos.
As matérias-primas utilizadas são 160 toneladas de poliestireno e três toneladas de
pigmentos por mês, que são compradas em grandes indústrias localizadas no estado de São
Paulo, como a Basf, Dow e MaxPoli.
O mercado de vendas da Bonoplast não se restringe ao Estado do Piauí, pois
comercializa para supermercados, no atacado e no varejo, para os Estados do Maranhão, Pará,
Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Pernambuco.
Para o entrevistado, gerente de produção e responsável pela área logística da indústria,
o consumo de descartáveis tem aumentado nos últimos anos. Esse aumento tem se mostrado
representativo, sobretudo, nas clínicas.
O processo produtivo envolve as seguintes etapas: na primeira, as matérias-primas
(poliestireno e o pigmento) são trituradas e misturadas; depois são encaminhadas à extrusora,
onde esse material é aquecido a 220 °C e se transforma em uma mistura pastosa; essa mistura
é conduzida para um filtro, para retirar todas as impurezas. Posteriormente, a mistura passa
para a etapa de laminação, em que recebe uma camada de brilho e é resfriada passando para o
estado sólido. A partir daí, tem-se o filme, que é embobinado e encaminhado para o estoque
ou direto para a produção dos descartáveis.
Para a produção dos copos e dos pratos descartáveis, o filme é desbobinado e pré-
aquecido. Em seguida, é encaminhado a uma estufa a 160 °C, onde volta a ser uma massa
pastosa. Depois disso, o material é termoformado, ou seja, é estirado e moldado, sofrendo um
choque térmico no molde (15 °C). O produto acabado é empilhado, embalado, encaixotado,
paletizado e segue para a expedição.
64
As embalagens de plástico utilizadas para acondicionar os descartáveis são compradas
na Plast Nor (indústria descrita anteriormente) e o papelão, para a confecção das caixas, é
adquirido em uma indústria localizada na Bahia.
Cerca de 30% do filme se transforma em aparas que são reaproveitadas no processo
produtivo. A quantidade de resíduos industriais encaminhados ao aterro municipal é pequena,
incluindo os contaminados com óleo e graxa das máquinas. O envio deste material para o
aterro não é um procedimento correto, pois não há tratamento adequado aos resíduos
industriais naquele local.
Nas Figuras 20 e 21, pode-se visualizar as aparas geradas durante o corte do filme para
a produção de copos e pratos descartáveis.
Figura 20 - Aparas oriundas do corte do filme.
Figura 21 - Aparas oriundas do corte do filme.
Se as aparas geradas durante o processo produtivo podem ser reprocessadas, o material
descartável pós-consumo não é diferente. Entretanto, só é possível que isso aconteça em
indústrias que tenham outra finalidade, que não a produção voltada para a indústria
alimentícia, como é a dos copos e pratos descartáveis. Dessa forma, a alternativa apontada
pelo entrevistado é a produção de baldes e mangueiras; o que, no momento da entrevista, não
era objetivo da Bonoplast.
A Bonoplast apresentou interesse em trabalhar com o plástico biodegradável. No
entanto, após realizar pesquisa de mercado, constatou que o plástico biodegradável seria três
vezes mais caro do que o plástico convencional.
65
Indústria de Borracha do Piauí (INBOPIL)
A INBOPIL, única indústria que faz o processamento e o reprocessamento da borracha
no Piauí, está há 38 anos no mercado. Em 1990, quando a indústria chegou ao auge de
produção, empregava 1.200 funcionários e produzia cerca de 50.000 pares de sandálias por
dia. Todavia, em 2010, conta com somente cinquenta funcionários e produz uma média de
quinhentos pares de sandálias por dia. Tal redução, é explicada por dois motivos, de acordo
com o gestor responsável pela indústria: falta de capital e porque a sandália não é mais o
carro-chefe; além dela, são produzidos outros componentes para calçados, pisos partilhados
de borracha, tatames, placas de EVA – Poli(etileno-co-acetato de vinila) e a microdura
(utilizada no solado do calçado), que é uma invenção patenteada da própria indústria.
As matérias-primas utilizadas na INBOPIL são o pó do pneu, os retalhos de borracha,
plástico e os produtos químicos (Enxofre, TMTD – Thiuram, Ácido Esteárito – Estearina,
Peróxido, MTb, Expansor AZ, Carbonato, Caulim, Polietileno, Óleo e EVA). Tanto o pó do
pneu quanto os retalhos de borracha são tratados antes da utilização na indústria. Não foi
informado o tipo de tratamento utilizado na indústria.
Das matérias-primas utilizadas, o plástico e os produtos químicos são comprados. Os
outros componentes são doados pelas indústrias de reforma de pneus do estado (“renovadoras
de pneus”), como a Cacique Pneus e por outras indústrias que produzem calçados: Grendene e
Dupé. A indústria assina um documento que comprova a destinação dos resíduos doados pelas
empresas geradoras. O gestor comentou que as empresas geradoras de resíduos têm interesse
em fazer a doação devido ao mercado de créditos de carbono, embora ele não saiba como isto
ocorre na prática.
Só a Grendene, com sede no Ceará, doa 200 toneladas de retalhos de borracha,
anualmente. Na Figura 22, pode-se observar os retalhos doados pela Grendene.
Figura 22 - Retalhos de borracha doada pela Grendene à INBOPIL.
66
Os principais clientes da INBOPIL são as empresas que vendem artigos de couro e
fábricas de calçados (mantas de borracha), supermercados (sandálias), livrarias (folhas de
EVA), academias (tatames) e empresas de eventos (sandálias personalizadas, viseiras,
chapéus). Os seus produtos são vendidos para todos os estados do Nordeste, além de Brasília
e São Paulo.
O processo de produção começa com a mistura e trituração da borracha, do plástico e
do pó de pneu, numa máquina denominada refinadora. Em seguida, essa mistura é
encaminhada à planetária (regeneradora) para que todos os produtos químicos ativos desses
componentes sejam retirados. Depois, é conduzida para o misturador, onde é formada uma
manta. No bâmbule (máquina que realiza a mistura interna do material) são misturados
produtos químicos às mantas. Posteriormente, a mistura é levada, novamente, para o
misturador e para o bitolador, onde são feitos os cortes, de acordo com a finalidade do
produto (sandálias, microdura ou folhas para tatames e para pisos partilhados). A prensa é a
última etapa do processo de produção da borracha e o tempo que o material passa nessa
máquina depende da finalidade do produto.
Depois de obtida, a borracha pode seguir um dos quatro destinos: se a finalidade for o
piso partilhado e tapete para veículos (Figuras 23 e 24), é cortada, lixada e embalada para
expedição. Para a microdura só é necessário o seu lixamento. No caso das mantas para as
fábricas de calçados, a borracha é laminada, conforme especificação do pedido. Já para as
sandálias (Figuras 25 e 26), o processo é mais detalhado (corte, lixa, montagem, ensaque e
enfardo).
Figura 23 - Piso partilhado produzido na
INBOPIL.
Figura 24 - Tapete para veículos produzido na
INBOPIL.
67
Figura 25 - Corte da borracha para a produção de
sandálias.
Figura 26 - Sandálias produzidas na INBOPIL.
Além disso, há o caso das sandálias que são personalizadas. Dessa forma, também
passam pelo processo de serigrafia. A INBOPIL terceiriza esse serviço para outras empresas
especializadas. Para facilitar essa tarefa, o proprietário da INBOPIL aluga um espaço, dentro
dos limites da indústria, para dois serigrafistas. No entanto, nem sempre conseguem atender à
demanda. Assim, as sandálias podem ser personalizadas em outros estados.
Todos os resíduos gerados durante o processo produtivo são reprocessados. De acordo
com o gestor da INBOPIL, o reprocessamento acontece com 25% da produção, que
corresponde às sobras das máquinas é às aparas geradas durante o corte da borracha.
O combustível utilizado para alimentar as máquinas da INBOPIL é a lenha. A
Prefeitura de Teresina doa para a indústria os resíduos de poda. Além disso, a indústria realiza
a coleta desse material, desde que seja apresentado ao seu proprietário a licença da Prefeitura
para a realização do corte da árvore.
Segundo o gestor da INBOPIL, toda a produção pode voltar à cadeia produtiva,
mesmo depois da utilização pelos consumidores. Assim, se Teresina tivesse um programa
consolidado de coleta seletiva, seria mais fácil para a indústria realizar esse trabalho. Isso
porque, não compensa para a mesma fazer um investimento para que aconteça a cadeia
reversa da borracha; já que, empresas como a Cacique Pneus, Grendene e Dupé
disponibilizam esse material, sem nenhum custo.
68
3.3 Setor de pneus
Foram visitados os revendedores das principais marcas de pneus comercializadas em
Teresina, conforme Quadro 06.
Revendedor Fabricante/Marcas
Cacique Pneus Goodyear
Mônaco Pneus Michelin, B.F. Goodrich e Uniroyal
Imperial Centro Car Firestone
Tropicar Continental
São Francisco Pneus Firestone, Bridgestone e FATE Quadro 06 - Revendedores de pneus de Teresina visitados.
Nestes locais, são comercializados pneus de passeio e de carga. De acordo com os
entrevistados, a vida útil dos pneus de passeio é, em média, 40.000 km. Os pneus de carga
têm uma vida útil três vezes maior (120.000 km). Entretanto, para atingir essa média é
necessário que sejam feitos alinhamento, calibragem, suspensão e balanceamento adequados.
Além disso, é importante que seja feito o rodízio de pneus (troca dos pneus dianteiros, que
sofrem maior desgaste, com os traseiros).
Os fabricantes oferecem cinco anos de garantia contra defeitos de fabricação do pneu.
No caso da Goodyear, se for constatado qualquer defeito de fabricação nos primeiros três
meses da data de compra, o pneu é substituído sem ônus para o consumidor. Depois disso, é
substituído cobrando-se o valor proporcional ao desgaste. De acordo com o gerente da
Tropicar, o consumidor é reembolsado pelo que falta consumir do pneu. Para isso, é utilizado
um equipamento denominado profundímetro (indica a profundidade do sulco em milímetros).
Conforme o vendedor da Mônaco Pneus, a Michelin oferece mais dois tipos de
garantia, além da garantia contra defeito de fabricação: garantia contra danos acidentais (de
seis meses ou 10.000 km contra danos causados por quedas em buracos, choques em guias,
pistas ou obstáculos) e garantia de quilometragem para alguns produtos da linha.
No processo de venda, os revendedores incentivam o consumidor a deixar o pneu
velho para destiná-lo ao Ecoponto1, esse caso se aplica mais aos pneus de passeio; pois os de
carga só são abandonados quando não tem mais possibilidade de ser reformado. Dos
revendedores visitados, somente um prefere que o consumidor leve o pneu velho para casa
(Tropicar), por não possuir estrutura para destiná-lo adequadamente. De acordo com o
revendedor da marca Continental, o fabricante não se pronuncia quanto ao destinado dado aos
1 Local de entrega e armazenamento temporário de pneus inservíveis. Em Teresina, é administrado pela Bomfim
Borrachas.
69
pneus. Mesmo assim, a Tropicar recebe cerca de 120 pneus/mês, que são coletados pela
Prefeitura de Teresina. O gerente dessa revendedora tem projeto para a construção de um
local para a realização de reforma de pneu e de uma recicladora.
Dois dos revendedores visitados possuem setor de reforma (“renovadora”): Cacique e
São Francisco. Na Cacique é feita a reforma somente dos pneus de carga (44 pneus/dia); pois,
segundo a diretora comercial da loja, o fabricante não recomenda que sejam feitas reformas
nos pneus de passeio. O gerente da Tropicar justificou de outra maneira: “a reforma de pneus
de passeio é inviável, porque os supermercados comercializam pneus novos a um preço muito
baixo. Portanto, os consumidores preferem comprar um pneu de inferior qualidade do que
gastar o mesmo valor em uma reforma”. Na São Francisco, faz-se reforma de pneus de carga,
de passeio e até de pneus para motos.
O processo de reforma de pneus na renovadora Cacique acontece em doze etapas:
inicialmente, os pneus são identificados pelo nome do dono e pelo problema aparente que
apresentam, passando para o processo de limpeza e secagem, com o objetivo de facilitar a
visualização dos danos. Durante o exame (Figura 27), é definido se o pneu tem condições de
ser reformado; se tiver, passa para a etapa seguinte que é a raspagem (Figura 28). Na
raspagem, remove-se a parte remanescente da borracha anterior, deixando as carcaças com a
dimensão correta para a aplicação da nova banda de rodagem.
Figura 27 - Exame do pneu.
Figura 28 - Raspagem do pneu.
Assim, o pneu está preparado para a etapa da escareação (Figura 29), que consiste na
reparação de todos os cortes encontrados na carcaça. Na fase do conserto, é devolvida à região
70
danificada a sua resistência original. A etapa seguinte consiste na aplicação de cola (Figura
30) para unir a nova banda de rodagem à carcaça. Posteriormente, nivela-se a superfície da
carcaça preenchendo o local das escareações (Figura 31). Depois, acontece a preparação da
banda de rodagem, onde são especificados os desenhos, medidas e larguras pelo setor de
raspagem. Dessa maneira, é aplicada uma nova banda de rodagem à carcaça (Figura 32). Após
aplicação da banda de rodagem, o pneu é colocado dentro de um “envelope” (Figura 33) e
segue para a etapa de vulcanização, que ocorre na autoclave (Figura 34), com tempo e
temperatura controlados para a completa adesão da nova banda. Depois que é retirado da
autoclave, o pneu segue para a pintura com a finalidade de restituir a sua cor original. A
última etapa é o exame final, todas as partes reconstruídas são examinadas minuciosamente e
é colocado o selo de garantia da Cacique (Figuras 35 e 36).
Figura 29 - Escareação do pneu.
Figura 30 - Aplicação de cola.
Figura 31 - Escareação preenchida.
Figura 32 - Aplicação da banda de rodagem.
71
Figura 33 - Pneu dentro do envelope.
Figura 34 - Autoclave – vulcanização do pneu.
Figura 35 - Pneu reformado na renovadora
Cacique.
Figura 36 - Selo do pneu reformado na renovadora
Cacique.
De acordo com o gerente de produção da renovadora Cacique, o custo da reforma de
um pneu de carga é, em média, R$ 450,00; esse valor varia conforme a situação do pneu.
Enquanto o valor do pneu novo custa entre R$ 1.500,00 e R$ 2.000,00. Dessa maneira,
evidencia-se que a reforma de pneus compensa do ponto de vista econômico e, também, do
ponto de vista ambiental; já que, a resolução CONAMA nº 416 de 2009, considera que os
pneus usados devem ser preferencialmente reutilizados, reformados e reciclados antes de sua
destinação final adequada.
O sub-gerente da São Francisco Pneus afirmou que a renovadora recomenda que sejam
feitas, no máximo, duas reformas nos pneus de carga. Nos demais, apenas uma.
72
Dez funcionários são responsáveis pela reforma de pneus na renovadora Cacique. A
empresa tem quatro caminhões para realizar as coletas e as entregas. Os pneus são recolhidos
nas empresas de ônibus de Teresina, em oficinas mecânicas e, também, são deixados na
renovadora pelos caminhoneiros. Quando o pneu não tem condições de ser reformado, é
devolvido ao consumidor. Entretanto, se ele permitir, a renovadora encaminha o pneu para o
Ecoponto. Considerando os aspectos relativos à responsabilidade compartilhada (PNRS), a
retirada do pneu deveria ser condicionada a algum termo de responsabilidade do consumidor.
Durante o processo de reforma são gerados uma média de 50 sacos, como o
demonstrado na Figura 35, de pó de borracha por semana, que são doados para a INBOPIL. O
pó da borracha é utilizado na confecção de sandálias, pisos partilhados, microduras e mantas
para as fábricas de calçados, conforme foi explanado anteriormente.
Figura 37 - Pó de borracha gerado durante a reforma do pneu.
O Ecoponto de Teresina (Figura 38), com duas unidades (sede na Henry Wall de
Carvalho e ponto de recepção de pneus próximo ao aterro), é administrado pela Bomfim
Borrachas e tem seis anos de funcionamento. Segundo a gestora do local, são recebidos 200
pneus/dia. No inverno, essa quantidade aumenta, pois a Prefeitura coleta mais pneus por causa
do risco da dengue.
O local utilizado pela Bomfim Borrachas para a recepção dos pneus foi doado pela
Prefeitura. Dessa forma, a indústria se responsabiliza pelos pneus que ela coleta. Além dos
pneus coletados pela Prefeitura, a Bomfim destina os pneus das revendedoras de Teresina,
73
que, também, são coletados pelo poder público. Há uma controvérsia nessa ocorrência; pois a
Bomfim Borrachas não se considera responsável por essa destinação.
Figura 38 - Ecoponto administrado pela Bomfim Borrachas.
A Reciclanip é a entidade responsável pelo destino dos pneus pós-consumo das
fabricantes Goodyear, Bridgestone, Michelin, Pirelli e Continental. Entretanto, no site da
entidade não tem nenhum ponto de coleta cadastrado no Piauí. As revendedoras dessas
marcas, por não possuírem um local adequado para a recepção dos pneus, utilizam o
Ecoponto administrado pela Bomfim. Um dos responsáveis por um dos pontos de coleta de
Minas Gerais recolhe esporadicamente esses pneus. A gestora do local não soube dizer a
quantidade e nem a frequência de recolhimento.
Segundo os entrevistados, as quantidades de pneus coletados pela Prefeitura nas
revendedoras são as demonstrados na Tabela 06. A Cacique não forneceu essa informação. A
cada destinação, é emitido um comprovante que menciona que os pneus serão armazenados
no Ecoponto de Teresina e, posteriormente, coletados pela ANIP; porém, conforme a gestora
da Bomfim, não é sempre que esse recolhimento acontece.
Tabela 06 - Quantidade de pneus coletados mensalmente pela Prefeitura de Teresina
nas revendedoras.
Revendedor Pneus coletados mensalmente
Cacique Pneus -
Mônaco Pneus 180
Imperial Centro Car 40
Tropicar 120
São Francisco Pneus 70
74
Na sede do Ecoponto, o arame dos pneus é retirado em uma máquina denominada
sacadora e, depois disso, os pneus são triturados. O destino dado a esse material é a confecção
de vasilhames para a alimentação de animais (Figura 39) e a fabricação de percintas (Figura
40), que é um dos componentes do sofá. Além disso, o pneu triturado é vendido por R$ 80,00
cada tonelada para cimenteiras do Ceará a fim de ser utilizado como combustível.
Há uma questão importante nesta utilização, pois se a vulcanização do pneu for feita
usando o enxofre, o uso do pneu como combustível poderá emitir SO2 ou SO3 na atmosfera.
Figura 39 - Vasilhames feitos de borracha para
alimentação de animais.
Figura 40 - Percintas – componente do sofá.
A Bonfim Borrachas presta serviços, também, para importadoras de pneus, dentre as
quais: CN Comércio de Pneus Ltda., Ferrarini, International Comerce Recife Ltda., Oriente
Comércio Importação de Pneus Ltda. e Qualipneus, entre outras. Dessa maneira, essas
importadoras pagam para a Bomfim recolher e reciclar pneus ou elas recolhem e enviam para
a Bomfim reciclar, a um custo de R$ 80,00/tonelada.
75
4 DISCUSSÃO
4.1 Setor de móveis
Dos direcionadores estratégicos em programas de logística reversa apontados por Leite
(2006), são aplicáveis à indústria teresinense o econômico e o de serviço ao cliente; pois, não
existe uma legislação estadual ou municipal que enquadre os resíduos pós-venda e pós-
consumo. Também, os consumidores ainda não assumiram uma postura pró-ativa em relação
às questões ambientais e, por isso, as indústrias não são motivadas a assumir uma
responsabilização socioambiental voluntária, a fim de melhorar a imagem corporativa.
Quando o fazem, as práticas estão direcionadas para fins de licenciamento ambiental.
Um fator considerado favorável para o estabelecimento da logística reversa nas
indústrias de móveis de Teresina, é que os próprios fabricantes atuam como distribuidores dos
produtos, o que faz com que tenham um contato direto com o consumidor final, facilitando,
no momento do resíduo pós-consumo, fazer o caminho de volta.
O estabelecimento da logística reversa no setor moveleiro demanda uma série de
atividades, que envolve a coleta, inspeção, separação (desmontagem), reprocessamento
(transformar o móvel usado em um móvel reutilizável) e a redistribuição. O móvel recuperado
pode voltar para o comprador inicial ou pode ser inserido em um mercado secundário. No
primeiro caso, o oferecimento do serviço de reforma pelas indústrias facilita a viabilidade
logística reversa no setor. Já para a inserção do material recuperado em um mercado
secundário, é necessário que haja uma mudança do padrão do comportamento de consumo da
sociedade atual.
É válido mencionar que, enquanto os gestores das indústrias de móveis desconsideram
o reprocessamento de materiais pós-consumo, por acreditarem que não compensa do ponto de
vista econômico, os responsáveis pelas empresas em que são realizadas as reformas de
móveis, avaliam a atividade como lucrativa; mesmo aqueles que, também, fabricam móveis.
Assim, é factível que as atividades de logística reversa no setor moveleiro de Teresina sejam
terceirizadas para as oficinas de reforma de móveis.
No entanto, para isso, é importante que seja analisado o gerenciamento dos resíduos
sólidos produzidos nesses locais, tendo em vista que há uma expressiva diferença na
quantidade de resíduos gerados nas indústrias de móveis e nos locais em que são realizadas as
reformas. Como o volume de resíduos das oficinas é grande, não são coletados pela
Prefeitura. Dessa forma, acabam tendo um destino inadequado.
76
As indústrias visitadas, em geral, não atendem todos os princípios de uma gestão
moderna que priorize a qualidade do produto, a segurança do trabalhador e, ainda, não
apresentam um compromisso socioambiental, fatores que, nesse trabalho, foram considerados
imprescindíveis para o estabelecimento da logística reversa.
Uma cultura empresarial2 que promova a capacitação de todos os envolvidos no
processo poderá suscitar nova prática empresarial que, por fim, tenha condições de
implementar a logística reversa.
4.2 Setor de plásticos
Os sinais de implementação de melhorias contínuas nas indústrias, no que se refere às
questões ambientais, e que podem ser considerados indicativos de sensibilidade à
implementação futura da logística reversa são os seguintes: 1) métodos que reduzem o
desperdício, considerando o reaproveitamento de resíduos do processo produtivo; 2) métodos
que melhorem o uso de insumos, com o aumento da eficiência energética e a diminuição do
consumo de água; 3) modelos de gestão voltados para a qualidade do produto e da segurança
do trabalho dos funcionários.
As indústrias visitadas apresentam uma boa estrutura física, além de organizar a
disposição das máquinas e dos funcionários conforme as distintas etapas do processo
produtivo. Durante as visitas, constatou-se a utilização dos EPI’s pelos funcionários
(capacetes, máscaras, protetor auricular, luvas e botas).
Duas indústrias, a que utiliza o poliestireno e o PVC como matéria-prima principal,
são as mais preocupadas com a qualidade dos produtos, porque atendem as normatizações da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Por outro lado, nenhuma das indústrias visitadas apresentou um modelo de
compromisso socioambiental que as destaque. Quando o fazem, é para a economia de
matéria-prima, como no caso do reaproveitamento das aparas, de modo a minimizar perdas do
processo (gerando poucos resíduos) ou para a economia de energia (mais ligada às questões
financeiras do que à preocupação com o meio ambiente).
Há uma resistência dos gestores das indústrias visitadas na utilização do aditivo para a
produção das embalagens oxi-biodegradáveis, por três motivos: o aumento nos custos da
produção da embalagem, menor tempo que essa poderá ficar estocada na indústria (podendo
2 Cultura empresarial ou organizacional compreende um conjunto ou sistema de significados que são
compartilhados por uma determinada empresa ou entidade num tempo específico (COMUNICAÇÃO
EMPRESARIAL ON LINE, 2011).
77
haver prejuízos) e por considerarem que a efetividade da Lei Municipal nº 3.874/09, em nada
contribui para a melhoria ambiental; já que, a função do aditivo é apenas dividir o plástico em
partes menores (cominuição), pois o mesmo não é absorvido pela natureza, apenas vira pó.
Das indústrias visitadas, três trabalham com material pós-consumo: Plastil, Ciplast e
Inbopil. Esses materiais são comprados (Plastil e Ciplast) ou recebidos por meio de doação
(Inbopil) para serem utilizados como matéria-prima na fabricação dos produtos. As indústrias
procuram adquirir a matéria-prima desejada previamente segregada, optando por materiais
que apresentem uma relativa homogeneidade. Esses casos demonstram a possibilidade
existente de reutilização dos materiais pós-consumo no local de origem; tendo em vista que,
os resíduos pós-consumo adquiridos correspondem às matérias-primas principais dessas
indústrias.
Entretanto, as indústrias que compram o plástico pós-consumo para a produção de
resinas, com a finalidade de colocar no mercado as sacolas recicladas, utilizam uma grande
quantidade de água para realizar a limpeza desse material. No momento da visita, nenhuma
delas apresentou um funcionário responsável pelo tratamento do efluente, não sabendo, por
isso, explicar como o mesmo acontece, e nem a quantidade de água utilizada. Também, no
processo de reciclagem há um gasto extra de energia (moinho, secadores, esteiras, etc.),
portanto, é necessária uma avaliação mais criteriosa da relação custo/benefício desta atividade
para o meio ambiente.
Na Figura 41, é apresentado um fluxograma da logística direta e reversa de possível
aplicação nas indústrias de plásticos de Teresina. O fluxo logístico ideal consiste na entrada
de matéria-prima da indústria de plásticos, sendo composto por resinas virgens e resinas
recicladas. As resinas virgens obtidas diretamente das unidades de segunda geração e as
resinas recicladas, no comércio local ou dentro da própria indústria.
Os artefatos plásticos para o setor de alimentos e bebidas, sendo feitos exclusivamente
de resina virgem. Todos os artefatos pós-consumo são direcionados a reciclagem, sendo
inicialmente separados de outros materiais através de coleta seletiva e, posteriormente,
separados por tipos de polímeros dentro das unidades recicladoras. Para isso, é importante a
implementação de um programa de coleta seletiva pelo poder publico com apoio da população
e a criação de centros de recebimento e reciclagem com apoio da indústria.
78
Figura 41 - Fluxograma direto e inverso (proposta) das indústrias de plásticos de Teresina.
4.3 Setor de pneus
Embora as revendedoras visitadas incentivem o consumidor a deixar o pneu velho para
destinar ao Ecoponto, elas não tem cumprido o que a legislação determina, que é a destinação
adequada desses materiais; pois, até mesmo desconhecem o destino dado pela Bomfim
Borrachas. Essa, por sua vez, não se considera responsável pelo destino dos pneus inservíveis
das revendedoras, mas os recebe por ter um acordo com a Prefeitura, que doou o local de
recepção utilizado pela destinadora.
Além de recolher os pneus inservíveis que se encontram dispostos inadequadamente
na cidade, é dever do poder público fiscalizar as revendedoras para que cumpram o que
determina a legislação ambiental.
79
4.4 Viabilidade da logística reversa nos setores de móveis, plásticos e pneus de Teresina.
Para que o setor moveleiro possa aplicar a logística reversa, apontamos como
comportamento virtuoso no setor:
a) Fornecedores informados sobre a legislação ambiental vigente e,
consequentemente, credenciados no IBAMA;
b) Fabricantes priorizando a segurança e a saúde dos funcionários, a qualidade
dos produtos que colocam no mercado e tendo um compromisso
socioambiental com a sociedade;
c) Reformadores em parceria fecunda com os fabricantes para captação junto aos
clientes de móveis usados e melhoramento dos aspectos de compromisso
empresarial;
d) Pesquisa tecnológica para minimização de resíduos entre reformadores.
O setor de plásticos está melhor posicionado para assumir a responsabilidade dos
materiais pós-consumo; porém, necessita de alguns pormenores indispensáveis:
a) Identificação mais clara dos diferentes tipos de polímeros;
b) Eficiente coleta seletiva por polímero específico e não pelo genérico (plástico);
c) Modificação do design dos produtos relativos a carga de aditivos, visando o
futuro reprocessamento;
d) Intervenções de mercado para tornar a reciclagem competitiva
economicamente e adequada em todos os aspectos ambientais.
O setor de pneus, por conta da legislação específica, deveria se apresentar, dentro do
contexto atual, como um caso de sucesso de logística reversa em Teresina. Entretanto, não é o
que acontece. É possível encontrar pneus descartados inadequadamente em toda a cidade.
Inclusive, já houveram campanhas públicas com o foco na área da saúde (risco de dengue)
sobre esses materiais. Assim, é o momento de destacar esse tipo de campanha, ressaltando a
responsabilidade dos participantes da cadeia produtiva no descarte apropriado. Para o
fabricante/revendedor fazer a sua parte, é importante que o consumidor devolva o pneu. A
logística reversa só será efetivada quando todos os pneus tiverem um destino adequado.
Portanto, a logística reversa nesse setor será efetivada quando:
a) Houver rigorosa fiscalização do poder público;
b) Melhorar o valor pago por descarte apropriado do pneu, de modo que haja
concorrência pelo pneu usado;
c) Pesquisa tecnológica para ampliar as aplicações dos pneus usados.
80
5 MERCADO PARA LOGÍSTICA REVERSA NO PIAUÍ
5.1 Introdução
Nos capítulos anteriores, ao estudar o processo produtivo de três setores e a sua
viabilidade de aplicar a logística reversa, foi apontada direta e indiretamente a realidade de
“mercado” para os materiais pós-venda e pós-consumo. Neste capítulo, vamos aprofundar a
sua função como indutor de uma visão estratégica sobre as matérias-primas hoje
desperdiçadas em aterros e lixões.
5.2 Mercado
Na acepção primitiva, o termo mercado referia-se a um lugar determinado, no qual os
agentes econômicos realizavam as transações. Mas, na acepção econômica, o conceito de
mercado distancia-se dessa tradição, pois de acordo com Rossetti (2002, p. 395),
Mercado, agora, é uma abstração. Já não existe a conotação geográfica.
Executivos de grandes empresas industriais ou do setor financeiro falam das
dificuldades com que eles se defrontam no mercado. E eles não estão se
referindo a nenhum lugar, mas a uma abstração econômica.
Silva e Luiz (1999, p. 176) definem mercado como “o encontro da oferta com a
demanda por bens e serviços em uma economia”, que resulta na determinação do preço que
cada bem ou serviço será negociado e as quantidades transacionadas. Nesse sentido,
reconhecem como critérios para a classificação do mercado a importância da empresa no
mercado em que opera e se os produtos vendidos são homogêneos ou não.
Rossetti (2002, p. 410) além de distinguir mercado em duas categorias de referência:
de produtos e de fatores, salienta que em ambos, o mercado encerra forças aparentemente
antagônicas, a procura e a oferta. Sendo assim, evidencia que oferta, procura e preços são
elementos essenciais ao conceito econômico de mercado. Logo,
As formas como cada um desses elementos se manifesta, as forças dos
agentes envolvidos nas transações, as características intrínsecas ou
propagação dos produtos e fatores e os poderes de negociação variam em
função das diferentes estruturas de mercado. Mas, em todas elas, ainda que
assumindo diferentes conformações, sempre há procura e oferta. E, de seu
entrechoque, resultam os preços pelos quais se praticam as transações.
81
Com base nessa configuração, para Motta (2006) os fundamentos e conceitos
microeconômicos assentam-se em que a demanda por um bem ou serviço é função do nível de
renda, da estrutura de preferências dos indivíduos e do preço.
Contudo, ressalta-se que devido à inovação tecnológica, pode-se presenciar mercados
que não visam atender explicitamente as necessidades dos consumidores. Como
exemplificação, cita-se o mercado de animais virtuais, os chamados bichinhos virtuais, no
qual o dono deve ter alguns cuidados especiais para que o mesmo sobreviva. Neste exemplo,
o mercado foi criado artificialmente, e como tal, por não ser essencial, pode, inclusive,
desaparecer.
Destarte, Troster e Morcillo (1999, p. 47) consideram que “o essencial de todo
mercado é que os compradores e vendedores de qualquer bem ou serviço entrem livremente
em contato para comercializá-lo”.
Nessa perspectiva, Rossetti (2002) enfatiza as virtudes e os vícios do mercado. Os
primeiros exprimem que o mercado, além de nortear a alocação dos recursos escassos, é um
centro de estimulação, que conduz à qualificação dos recursos e dos produtos, com vistas a
orientar a população a conservar os recursos escassos e possibilitar as trocas voluntárias, com
a finalidade de conciliar os interesses e os objetivos. E os vícios, explicitam a transgressão da
concorrência perfeita, na medida em que internalizam estruturas competitivas para viabilizar
práticas que conspirem contra o interesse público, uma vez que não garante recorrentemente o
pleno emprego dos recursos. Por outro lado, destaca que o mercado não penaliza os agentes
econômicos que geram externalidades negativas durante os processos de produção e consumo,
e que não produz determinadas categorias de bens e serviços, de interesse difuso.
5.3 Inovações empresariais ou tecnológicas no mercado de bens e serviços ambientais
Em função do reconhecimento da finitude dos recursos naturais, o uso dos mesmos na
sociedade capitalista exige um novo reposicionamento dos componentes dos bens e serviços,
com o objetivo de mitigar os impactos sobre o meio ambiente. Para tanto, compreende-se
como fundamental e motivador para a incorporação da dinâmica ambiental nas indústrias a
legislação ambiental.
Dessa forma, Lustosa (2003) assegura que as inovações ambientais resultantes de
regulamentações classificam-se nas categorias tecnologia de final de linha ou end-of-pipe,
aludindo às ações eficientes da empresa no tratamento da poluição já ocorrida e na tecnologia
de prevenção da poluição ou pollution prevention, cujos resultados compensam os custos de
82
implementá-las. Como também, expõe a necessidade de criação de mercados “verdes”, os
quais representam oportunidades de negócios onde a consciência ecológica está presente. Os
segmentos desse mercado podem ser identificados, desde produtos destinados ao consumo,
como bens de capital e serviços.
Alicerçado nesse cenário, de acordo com Romeiro (1999), a escassez crescente dos
bens ambientais transacionados no mercado, como insumos materiais e energéticos, se traduz
facilmente em elevação dos preços, o que incentiva a introdução de inovações que permitam
poupá-los ao substituí-los por recursos abundantes.
Logo, Motta (2006) salienta que o uso racional dos recursos ambientais não causa
dano, pois os preços dos recursos deveriam, na ausência de distorções, refletir o custo de
oportunidade. Entretanto, observa contrariamente que, embora os recursos possuam valor
econômico, não são atribuídos preços adequados, gerando, por conseguinte, custos e
benefícios que não são captados no sistema de mercado.
Deste modo, infere-se que o mecanismo para incorporar o valor dos recursos naturais
às dinâmicas de mercado é a internalização das externalidades. Sendo assim, para Seiffert
(2007, p. 69), “uma externalidade é vista como fato inquestionável de que qualquer atividade
que afete, de modo favorável ou desfavorável, outras atividades ao longo do processo
produtivo”. Portanto, a externalidade pode ser de natureza positiva ou negativa e esse caso,
ocorre quando no preço do bem não encontra-se incluído os ganhos e as perdas socio-
ambientais resultantes da produção ou do consumo. Todavia, a incorporação de custos
ambientais passa pela dificuldade de valorar processos ecológicos, além da aceitação de maior
custo pelo mercado.
5.4 Exigências ambientais e logística reversa
Como instrumento complementar de inclusão no mercado de parâmetros ambientais,
tem-se a reintrodução na cadeia produtiva e/ou de negócios de produtos pós-venda e pós-
consumo, ou seja, a Logística Reversa ou Logística Inversa, a qual encontra-se legitimada na
legislação ambiental, através do Princípio do Poluidor-Pagador (PPP), que imputa ao
fabricante a responsabilidade pelo destino ambientalmente adequado dos recursos utilizados
no processo produtivo da indústria.
A Política Nacional dos Resíduos Sólidos, aprovada no congresso em agosto de 2010,
faz menção à logística reversa e a define como,
83
instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um
conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a
restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento,
em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final
ambientalmente adequada (BRASIL, 2010).
Diante do disposto, reconhece-se que a logística reversa desempenha importante papel
na obtenção de cadeias de abastecimento verde, ao indicar aos clientes a possibilidade de
devolver os produtos com defeito para o fabricante (Logística Reversa Pós-Venda), ou mesmo
os produtos que estejam no fim da vida útil (Logística Reversa Pós-Consumo).
Destarte, em consonância com Efendigil et al. (2008), uma eficiente estrutura de
logística reversa proporciona um retorno significativo de investimento e um aumento
expressivo da competitividade no mercado, em virtude de permitir a redução na utilização de
materiais no processo produtivo, com vistas ao reaproveitamento eficiente dos componentes.
Tal panorama, para Piazza et al. (2007), evidencia uma nova tendência, na qual
empresas para permanecerem no mercado, terão que atualizar-se, com a finalidade de
identificar alternativas para a minimização dos impactos ambientais nos processos e produtos,
considerando os insumos materiais e energéticos da produção, o reaproveitamento e a
disposição final dos resíduos.
Essa configuração, consoante com Romeiro (1999), decorreu do fato de que nos
estágios iniciais do desenvolvimento econômico, a crescente degradação do meio ambiente
foi reconhecida como um efeito colateral danoso, porém inevitável. Entretanto, a partir de
certo nível de bem estar econômico, a população tornou-se sensível e disposta a pagar pela
melhoria da qualidade do meio ambiente, a qual estimulou mudanças organizacionais capazes
de corrigir as falhas de mercado.
Assim, com base nessa conformação, inferiu-se que o desperdício dos resíduos
industriais ao longo da vida do bem, encontra-se embutido nos preços dos produtos, o que
significa que os consumidores assumem, sem perceber, o ônus pela má utilização dos
recursos. Nessa perspectiva, Young e Lustosa (2001) enfatizam que apenas o uso racional dos
recursos naturais possibilita, através de inovações, que a elevação da produtividade torne o
empreendimento mais competitivo, em decorrência da redução de custos e/ou pela melhoria
dos produtos, que os consumidores estariam dispostos a pagar mais.
Contudo, para Motta (2006), a estimativa de custos ou benefícios ambientais é
complexa e específica para cada caso, pois a particularidade dos direitos completos de
propriedade dos recursos ambientais é viabilizada pela negociação entre as partes afetada e
geradora da externalidade. Logo, quando estas negociações são realizadas eficazmente, os
84
preços da externalidade emergem e norteiam a alocação eficiente dos recursos,
independentemente daqueles a quem os direitos de propriedade são assegurados.
Ademais, revela-se que a partir do momento em que os fabricantes são
responsabilizados pelo destino final dos produtos, deve-se considerar os materiais que
constituem os produtos, as redes de coleta dos mesmos depois de descartados pelos
consumidores, a possibilidade de reinserí-los na cadeia produtiva e/ou de negócios e, por fim,
quando não mais houver alternativa para a reutilização desses produtos, descartá-los em local
ambientalmente adequado.
Com a finalidade de adaptar-se a esse cenário, Mutha e Pokharel (2009) ressaltam que
os fabricantes de equipamentos originais ou Original Equipment Manufacturer (OEM’s) são
pressionados, pela legislação verde, a conceber produtos de forma a proporcioná-los a
máxima reutilização e reciclagem. Notam, ainda, que o êxito do comportamento gerencial
depende do volume de produtos devolvidos e da demanda por remanufaturados e, sobretudo,
da rede estratégica para a logística reversa e remanufatura, por meio do uso de módulos de
produtos novos e antigos, os quais devem ser armazenados em depósito para inspeção e
desmontagem antes do envio aos centros de reciclagem para a reutilização ou para o mercado
secundário de peças sobressalentes.
Nessa perspectiva, Atasu e Cetinkaya (2006) destacam, com base no estudo sobre o
dimensionamento dos lotes para coleta e utilização ótima do retorno de produtos
remanufaturados, a criação de um mercado de logística reversa promissor, que possibilite a
recuperação de um valor mais elevado dos produtos remanufaturados e que considere as taxas
de recolha, os horários de retorno e as taxas de reutilização, como elementos combinados com
a oferta e a procura ativa no mercado.
5.5 Mercado potencial de logística reversa no Piauí
Diante da necessidade concreta de incluir a logística reversa nos mecanismos de
mercado, isto é, como estratégia da sociedade, por conferir maior importância às
externalidades ambientais, faz-se mister analisar a potencialidade de implementação em
plantas industriais existentes no Piauí.
A infra-estrutura industrial do Piauí é constituída por cinco distritos industriais, sendo
dois em Teresina, e os demais em Parnaíba, Picos e Floriano, perfazendo um total de 1.865
indústrias instaladas (MTE, 2010), distribuídos em: gráfica, metalúrgica, química, confecções,
móveis, alimentícia, marmoraria, cerâmica, calçados, bebidas, recauchutagem e bicicletas.
85
Para Silva (2010), o processo de industrialização em implantação no Piauí e,
particularmente, em Teresina, causa danos ambientais, semelhantes aos verificados em
centros econômicos desenvolvidos, em função da produção de lixo crescer proporcionalmente
à produção de mercadorias. Todavia, evidencia que todas as indústrias geram, em comum, um
tipo de resíduo que são apropriados para a aplicação em programa de logística reversa, as
embalagens, as quais podem ser de plástico, papel, papelão, vidro e madeira, cuja reutilização
configura-se ao mesmo tempo como grande desafio para as indústrias e como oportunidade de
negócio.
Dessa forma, patenteia-se que para a operacionalização de um programa de logística
reversa com embalagens, faz-se imprescindível analisar a viabilidade de retorno e o processo
de desmontagem, com vistas a evitar o desperdício, além da disponibilidade do
empreendedor, dos funcionários e dos consumidores. Adenda-se, outrossim, que para a
efetividade da reutilização de embalagens, é necessário a existência de mercado,
principalmente no próprio ramo industrial gerador, para as embalagens retornáveis, as quais
encerram preços superiores aos das embalagens descartáveis. Por conseguinte, a rentabilidade
da atividade será assegurada, no curto prazo, somente quando o custo do descarte for
atribuído à indústria, ou seja, for incorporado aos custos das externalidades negativas. No
entanto, a longo prazo, proporciona redução dos custos de produção nas indústrias, além de
contribuir para a preservação do meio ambiente, tendo em vista a possibilidade de reuso do
material diversas vezes antes do descarte final.
No caso da indústria alimentícia, deve-se ter cuidado especial com a reutilização das
embalagens na própria indústria. Assim, o mais recomendável é o uso das mesmas em outro
setor industrial, haja vista que a utilização e limites de materiais plásticos e eventuais aditivos
que compõe as embalagens de alimentos é disciplinada pela ANVISA, inclusive com relação
à reutilização de embalagens que são passíveis de serem aproveitadas no pós-consumo, como
é o caso da Resolução RDC nº 20, de 26 de março de 2008, que dispõe sobre o regulamento
técnico sobre embalagens de poli(tereftalato de etileno) - PET pós-consumo reciclado grau
alimentício (PET-PCR grau alimentício) que entram em contato com os alimentos.
De acordo com Silva (2008), a indústria gráfica gera no processo produtivo, resíduos
de papel (impressão errada), de produtos químicos (revelador, fixador e restauralito), chapas
de alumínio e aparas. Os resíduos, dessa tipologia industrial, disponíveis para um programa de
logística reversa são as embalagens que acondicionam os materiais que produz, além do
papel, que pode ser reutilizado na confecção de papel reciclado, que tem apresentado eficaz
86
aceitação no mercado, em virtude da crescente conscientização da sociedade com a
problemática ambiental.
O desenvolvimento da logística reversa, na indústria moveleira, assim como outros
setores industriais, demanda uma série de atividades, que envolve a coleta, inspeção,
separação (desmontagem), reprocessamento (transformar o móvel usado em um móvel
reutilizável) e a redistribuição. Dessa forma, o móvel recuperado pode voltar para o
comprador inicial ou pode ser inserido em um mercado secundário.
A relevância da utilização do ferro e do alumínio como matéria-prima principal na
indústria metalúrgica, consoante Silva (2008), apresenta grande potencial para o
desenvolvimento de um programa de logística reversa, na medida em que o resíduo pós-venda
ou pós-consumo que retorna para a indústria, volta à cadeia produtiva para a confecção de
peças menores ou para ser fundido, o que poupa o uso de recursos naturais.
O estabelecimento de logística reversa na indústria de recauchutagem, exerce papel
importante, devido a Resolução nº 416/09 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) obrigar as empresas fabricantes e importadoras a coletar e dar destinação final
adequada aos pneus inservíveis, com vistas possibilitar que a coleta seja proporcional às
quantidades fabricadas e/ou importadas. Explicita-se, ademais, que os pneus inservíveis
podem ser utilizados em obras e pavimentação de estradas e na produção de energia de novos
produtos de borracha. Diante desse contexto, constata-se que a implementação de um
programa de logística reversa na indústria de recauchutagem, por um lado, permite o
cumprimento da legislação ambiental e, por outro, evita danos à saúde da população e ao meio
ambiente.
No setor de bebidas já acontece a logística reversa, com o retorno do vasilhame
(garrafas de vidro de refrigerante e cerveja) vazio, o qual é higienizado e retorna ao processo
produtivo, o que caracteriza a Logística Reversa Pós-Consumo. Entretanto, presencia-se,
também, o uso da Logística Reversa Pós-Venda por meio do retorno do vasilhame à indústria;
já que, no momento da entrega, o espaço vazio deixado pelo produto entregue é ocupado por
outro vasilhame. Contudo, o desafio para a indústria de bebidas é consolidar a logística
reversa com embalagens de PET.
Portanto, a consolidação da logística reversa, em todos esses setores, demanda o
estabelecimento do fluxo inverso dos resíduos e a conscientização ambiental do consumidor.
Todavia, para a construção desse novo cenário, faz-se imprescindível a intervenção do Estado
através de políticas públicas que conduzam a educação ambiental, além da pesquisa científica
e da inovação tecnológica para enfrentar situações complexas.
87
5.6 Necessidade e possibilidade
A necessidade e a possibilidade de mercado que reabsorva produtos pós-consumo ou
pós-venda pode ser internalizada em função dos distintos interesses envolvidos. A
necessidade de minimização dos resíduos que são conduzidos ao aterro sanitário, como no
caso de diversos tipos de embalagens, e a possibilidade de fazê-lo retornar à indústria
(logística reversa) é apontada pelos poderes públicos e pelos cidadãos engajados na solução
das questões ambientais como uma saída viável. No entanto, a necessidade e a possibilidade
não se conjugam no olhar dos empreendedores piauienses, pois ainda não foram
suficientemente pressionados pela sociedade a incorporar nos custos de produção a
responsabilidade sobre os produtos lançados no mercado (pós-venda e pós-consumo).
Assevera-se, também, que o termômetro concreto de possibilidade de aplicação da
logística reversa pela indústria piauiense, pode ser identificada por meio de parâmetros já
internalizados nos custos, por vontade própria ou por exigência da legislação brasileira. Dessa
forma, o atendimento da legislação ambiental em vigor, a observância das normas de
segurança do trabalho e a adequação a parâmetros de qualidade, podem ser tomados como
indicadores positivos de possibilidade de aplicação da logística reversa. Entretanto, o mais
efetivo indicador é a adequação a ISO 14000 e seguintes na gestão ambientalmente correta do
empreendimento.
Com base nesse panorama, Silva (2008) reconhece que a indústria piauiense carece de
cultura empresarial e, em geral, de condições objetivas para mitigarem os impactos
ambientais. Desse modo, ressalta-se que, somente a sociedade consciente e organizada pode
exercer papel decisivo junto ao poder público para reverter mentes (transformação cultural) e
fluxos de matéria.
A história e, particularmente, a história brasileira, tem diversos casos em que os
interesses do lucro imediato cedem às pressões sociais e rearranjam seus negócios para uma
configuração aceitável dentro do cenário atual. Os que percebem mais rapidamente a
necessidade de mudança, melhor se posicionam nestes novos cenários.
5.7 Considerações Finais
A análise em foco permitiu compreender que a logística reversa representa uma
ferramenta poderosa, como auxílio ao setor produtivo, no sentido de corrigir os danos
ambientais, apesar de inicialmente ser considerada como um processo que implica em custo
adicional. Assim, mesmo não sendo de fácil implementação, a criação de um mercado de
88
logística reversa contribuirá para a formação de um ciclo virtuoso de mercadorias
ambientalmente adequadas.
Outrossim, constatou-se que a revalorização dos resíduos, operacionalizada pela
logística reversa, minimiza o problema da destinação dos resíduos, ao garantir o retorno ao
ciclo produtivo e de negócios, ao cumprir a legislação ambiental, além de estimular a
competitividade através da otimização dos recursos naturais, transformando resíduos em nova
matéria-prima.
Por conseguinte, inferiu-se que o Piauí possui potencial para desenvolver um mercado
consolidado de logística reversa. Entretanto, para tanto, cada empresa deverá desenvolver
estratégias, de acordo com a estrutura prevalecente, com vistas a estabelecer a maneira
racional e específica para o retorno do resíduo.
89
6 CONCLUSÃO
Faltam os requisitos básicos de qualidade, segurança e compromisso socioambiental
nas indústrias do setor moveleiro de Teresina. Assim, mesmo havendo possibilidades reais de
aplicação, a cultura das empresas e a inexistência de pressão da sociedade indicam que a
viabilidade da logística reversa no setor está bem distante. Os reformadores aparecem como
uma possibilidade de terceirização da logística reversa; porém, é importante considerar o
gerenciamento dos resíduos gerados nos locais de reforma.
Nas indústrias de plásticos, a falta de uma legislação que obrigue ou, pelo menos,
incentive a volta desses materiais às indústrias de origem, admite que as mesmas possam
escolher se querem ou não realizar o processo. Por não se considerarem responsáveis por esse
material pós-consumo, os gestores das indústrias visitadas optam por comprar matéria-prima
virgem ou matéria-prima previamente segregada; já que, é mais rentável para os mesmos do
que contratar pessoas para fazer a seleção do material.
Outra dificuldade é a inexistência de programa consolidado de coleta seletiva em
Teresina. Além disso, é importante que as indústrias assumam a responsabilidade de
identificar os produtos pelos códigos estabelecidos na ABNT, o que facilitará o seu retorno.
Consideramos que o efetivo estabelecimento da logística reversa no setor de plásticos
depende de dois fatores: incremento das atividades de pesquisa e inovação tecnológica e a
criação de um mercado para produtos reciclados.
Para os pneus, embora haja legislação específica que determina a logística reversa, o
setor não apresenta o mesmo empenho que o da logística convencional, ou seja, há um
desequilíbrio nas logísticas aplicadas dentro do setor (o empenho em levar o produto ao
cliente, não é o mesmo para realizar o seu recolhimento). Ainda, o poder público e a
sociedade são omissos no cumprimento da legislação.
A realidade adversa do mercado para implementação da logística reversa nos setores
industriais estudados, só mudará quando a responsabilidade compartilhada for assumida por
todos os interessados na questão ambiental (cidadãos, empresas e poder público).
Em suma, considera-se que o desenvolvimento de um sistema de logística reversa
requer uma análise detalhada dos aspectos técnicos, econômicos e ambientais com o objetivo
de avaliar a sua viabilidade. No entanto, somente uma empresa consciente da necessidade de
uma nova postura no mercado, poderá enfrentar os desafios de implantar a logística reversa no
atual cenário.
90
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99
APÊNDICE A
SETOR DE MÓVEIS
Indústria:
Data:
Endereço:
Fone:
CNPJ:
Responsável pela indústria:
Quem me acompanhou/Função na indústria:
Quantidade de funcionários:
Quais os tipos de móveis produzidos?
Quais as matérias-primas utilizadas para a produção dos móveis?
Qual a origem das matérias-primas?
Quais são os tipos e o volume das embalagens utilizadas para o acondicionamento dos
móveis?
Qual a vida útil dos móveis? Qual a garantia contra defeito de fabricação?
O móvel produzido em sua indústria é utilizado na sua residência?
Como os produtos produzidos na sua indústria poderiam ser reaproveitados na cadeia
produtiva da sua própria indústria?
100
APÊNDICE B
SETOR DE PLÁSTICOS
Indústria: Data:
Endereço: Fone:
CNPJ:
Responsável pela indústria:
Quem me acompanhou/Função na indústria:
Quantidade de funcionários: Trabalha algum químico na indústria?
Quantidade de horas de produção:
Produtos/Matérias-primas/Quantidade da matéria-prima utilizada mensalmente:
Origem das matérias-primas/fornecedores:
Quem compra os produtos da indústria (principais clientes)?
O consumo tem aumentado nos últimos anos?
O produto da indústria tem algum diferencial?
Fluxo de matérias-primas na indústria - Etapas do processo produtivo:
Resíduos gerados durante o processo produtivo:
A indústria tem alguma iniciativa na área do ambiental?
O que pode ser feito para acontecer o reprocessamento do plástico na sua indústria?
Acontece algum tipo de reciclagem?
Se Teresina tivesse coleta seletiva, a sua indústria estaria preparada para receber o plástico
(todos os tipos) e reutilizar de alguma forma?
Como está estruturada a área de Pesquisa & Desenvolvimento?
A indústria trabalha com plástico biodegradável?
Custos/Diferença do convencional/Propriedades:
Porque é mais caro? É mais útil ao meio ambiente?
Observação dos aspectos de qualidade, segurança do trabalho e meio ambiente.
101
APÊNDICE C
SETOR DE PNEUS
Revendedor da marca: Data:
Endereço: Fone:
Quem me acompanhou/Função:
Vida útil dos pneus:
Período de garantia e condições:
Tem conhecimento da legislação?
Na compra de um pneu, o que é feito com o pneu usado?
( ) Proprietário leva de volta ( ) Doam para Cacique
Porcentagem de cada um:
Preferem ficar com o pneu usado para dar um destino?
O que os proprietários que levam para casa fazem com o pneu usado?
Qual tipo de pneu é mais comum ser levado para casa pelo proprietário?
O que é feito com o pneu usado que fica? Qual a quantidade?
Vocês tem um centro de recepção de pneus usados/inservíveis?
É feita recauchutagem? Qual tipo de pneu?
Qual o tipo de usuário compra pneu recauchutado?
A marca que vendem incentiva de alguma forma o recolhimento de pneus usados?
Outras empresas no PI trabalham com a mesma marca?
Recebem pneus de outras marcas?
Vocês realizam serviços de troca de óleo usado? Onde o óleo usado é armazenado
temporariamente? Qual o destino final desse material? Estimativa da quantidade!
102
Sobre a autora
Estagiou na Secretaria Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Piauí
(SEMAR-PI), desenvolvendo as atividades do estágio no setor de licenciamento e
fiscalização, através do acompanhamento da análise e avaliação dos estudos ambientais, do
controle de notificações e autuações e recebimento de denúncias.
Prestou serviços para a concessionária de águas e esgotos do Piauí, Agespisa, onde
acompanhava os processos de licenciamento ambiental e outorga junto à SEMAR e à Agência
Nacional das Águas (ANA). Além da participação em outras atividades relacionadas à gestão
ambiental, como o recebimento de óleo usado e a venda dos resíduos gerados na
concessionária.
Trabalhou como consultora ambiental na Oásis Construções e Consultoria Ltda, onde
participava da equipe multidisciplinar elaboradora de estudos ambientais: EIA/RIMA, RAS,
PCA, RCA, PBA, PRAD e Planos de Gerenciamento para Resíduos Sólidos Urbanos e da
Construção Civil.
O anseio de conhecer mais a fundo os problemas ambientais das indústrias de Teresina
e as possibilidades de amenizá-los, motivou o interesse de ingresso no Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Piauí.
Teresina, 20 de janeiro de 2011.
Elaine Aparecida da Silva ([email protected]) é Tecnóloga em
Gestão Ambiental e Especialista em Gerenciamento de Recursos
Ambientais pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Piauí. Com o presente trabalho, obtém o título de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Piauí
(UFPI).
Durante o curso de Tecnologia em Gestão Ambiental, participou
do programa de Iniciação Científica, pesquisando o gerenciamento dos
resíduos sólidos industriais de uma indústria de bicicletas.
Artigos publicados:
1. Logística reversa – Sapiência (ISSN: 1809-0915)
2. Pesquisando o setor moveleiro de Teresina – Sapiência (ISSN: 1809-0915)
Artigo aceito para a publicação:
1. Logística reversa nas indústrias de plásticos de Teresina-PI: um estudo de
viabilidade – Polímeros – Ciência e Tecnologia (ISSN: 0104-1428)
Artigo submetido:
1. Viabilidade da logística reversa no setor moveleiro de Teresina-PI
Foi aprovada no Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFPI), com
início previsto para março de 2011.