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ANGELINA MORAND BIANCHI BILATE EXPRESSÃO DE MEDIADORES INFLAMATÓRIOS E PROGRESSÃO DIFERENCIAL DE MIOCARDITE AGUDA E CARDIOMIOPATIA CHAGÁSICA CRÔNICA EXPERIMENTAL EM HAMSTER SÍRIO INFECTADO POR Trypanossoma cruzi

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ANGELINA MORAND BIANCHI BILATE

EXPRESSÃO DE MEDIADORES INFLAMATÓRIOS E PROGRESSÃO DIFERENCIAL DE MIOCARDITE AGUDA E

CARDIOMIOPATIA CHAGÁSICA CRÔNICA EXPERIMENTAL EM HAMSTER SÍRIO INFECTADO POR Trypanossoma cruzi

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ANGELINA MORAND BIANCHI BILATE

EXPRESSÃO DE MEDIADORES INFLAMATÓRIOS E PROGRESSÃO DIFERENCIAL DE MIOCARDITE AGUDA E CARDIOMIOPATIA CHAGÁSICA CRÔNICA EXPERIMENTAL EM HAMSTER SÍRIO

INFECTADO POR Trypanossoma cruzi

Tese apresentada ao Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Doutor em Ciências (Imunologia).

São Paulo

2006

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ANGELINA MORAND BIANCHI BILATE

EXPRESSÃO DE MEDIADORES INFLAMATÓRIOS E PROGRESSÃO DIFERENCIAL DE MIOCARDITE AGUDA E CARDIOMIOPATIA CHAGÁSICA CRÔNICA EXPERIMENTAL EM HAMSTER SÍRIO

INFECTADO POR Trypanossoma cruzi

Tese (Doutorado) apresentada ao Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Doutor em Ciências.

Área de concentração: Imunologia Orientador: Prof. Dr. Edecio Cunha Neto

São Paulo

2006

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À minha mãe Elisabeth Bianchi

(in memoriam), pela alegria de viver...

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho representa não apenas um trabalho de tese mas uma trajetória de

amadurecimento científico e pessoal. Gostaria de expressar o meu agradecimento a

todas essas pessoas que, de uma forma ou de outra, participaram dessa trajetória.

AMIGOS ESPECIAIS Simone Fonseca

Kellen Faé Cristina Caldas Priscila Teixeira

Mônica S. Ferreira

Apoio Técnico Ana Maria Silva

D. Aurora Raimunda

Cardiologia - InCor Vera Maria Curi Salemi

Felix Ramires

FAMÍLIA Badezir Felipe Bilate

Marluce Bilate Analuce Bilate, João Sbano

Josemar, Mauro e Sylma Bilate Nonno, nonna

Laboratório do Prof. Momtchilo

Alexandre Keller Eliane G Nascimento

Biotério Daniel Mucida

Edilberto Postol Ernesto Luna

Luís Roberto Mundel

LAB IMUNOLOGIA Maria Lúcia Marin, Rosemeire Aparecida, Flávio Alcântara, Sandra Maria Monteiro, Adalberto Silva, Hélcio Rodrigues, Carlos Sérgio, Nicolas Panajotopoulos, Franscisco Monteiro, Ivete, Germano Preus, Jair Muro, Regiane, Neuzeti, Sandra Emiko, Georgia Mundin, Idania Marrero, Washington Silva, Samar, Raquel Alencar, Roberta Iolanda Oruê

SBI NA REDE Daniel Mucida

Daniel Ketelhuth Laudicéia Almeida

ESPECIAIS Thales de Brito

Momtchilo Russo Verônica Coelho

Jorge Kalil Luiza Guilherme

SUPER ESPECIAL Gabriel D. Victora

SUPER ESPECIAL Edecio Cunha Neto

GRUPO CHAGAS/HIV Andréia Kuramoto, Eliane Mairena, Susan Ribeiro

Kátia Françoso, Adriana Coutinho Natalie Müller, Bosco Cristiano Maciel, Sandra Moraes

Luciana Nogueira, Arlei Correia, Sandra Drigo, Leo Kei Iwai, Rajendranath Ramasawmy

“Research is a formalised curiosity. It is poking and prying with a reason”

Zora Neal Hurston 1891-1960

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RESUMO

BILATE A. M. B. Expressão de mediadores inflamatórios e progressão diferencial de miocardite aguda e cardiomiopatia chagásica crônica experimental em hamster sírio infectado por T.cruzi. 2006. 196f. Dissertação (Doutorado em Imunologia) – Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

A doença de Chagas, causada pelo Trypanosoma cruzi, é uma causa significante de morbi-mortalidade em muitos países da América Latina, onde estima-se que 13 milhões de pessoas podem estar infectadas. Nossos resultados anteriores mostraram que com uma única combinação de parasita (cepa Y) e hospedeiro geneticamente heterogêneo (hamster sírio) foi possível recapitular o espectro da evolução da doença de Chagas humana. No presente estudo, testamos a hipótese de que o infiltrado inflamatório e seus mediadores produzidos localmente estão relacionados a morbi-mortalidade da fase aguda e gravidade da cardiomiopatia crônica no modelo de infecção por T. cruzi em hamster sírio. Hamsters infectados pela cepa Y de T. cruzi apresentaram diferentes padrões de evolução da doença tanto na fase aguda como na fase crônica, de maneira semelhante aos humanos. Na fase aguda, 30-50% dos animais apresentaram sintomas tais como caquexia, letargia, vômito e diarréia, que estiveram relacionados à morte nesta fase. A presença de parasitas circulantes no 13° dia pós-infecção (PI) esteve associada ao intenso parasitismo cardíaco na data da morte espontânea durante a fase aguda. O elevado parasitismo cardíaco, além de associado com a presença de sintomas, esteve associado também à elevada expressão de RNAm de IL-10 e TNF-α e genes ativados por citocinas inflamatórias (A20 e iNOS) no miocárdio. Na fase aguda, o tratamento com bloqueador de TNF-α (Etanercept), resultou em aumento de parasitismo sanguíneo e cardíaco e aumento da expressão de IL-10 no miocárdio de animais assintomáticos. Na fase crônica da infecção, embora a intensidade de miocardite estivesse correlacionada positivamente com a dilatação macroscópica do ventrículo esquerdo, nenhuma das duas variáveis esteve associada à morte durante a fase crônica. Nesta fase, houve predomínio de expressão de RNAm de IFN-γ no miocárdio em detrimento de TNF-α e IL-10, embora essas duas últimas também tenham sido detectadas em níveis aumentados. A morte durante a fase crônica somente esteve associada à expressão de A20. Na fase crônica, o tratamento com Etanercept agravou a cardiomiopatia crônica pós-infecção por T. cruzi, evidenciado pela disfunção ventricular e dilatação do ventrículo esquerdo, e resultou em aumento da expressão miocárdica de RNAm de IL-10 e diminuição da expressão de iNOS. Em conjunto, na fase aguda, o parasitismo cardíaco parece determinar os níveis de expressão miocárdica de citocinas como TNF-α e IL-10 e genes ativados por TNF-α e IFN-γ, como iNOS. O baixo parasitismo e a menor expressão de citocinas no miocárdio dos animais assintomáticos sugere que estes foram capazes de controlar o parasitismo antes da sua disseminação pelos tecidos durante a fase aguda. Na fase crônica, embora níveis significativos de citocinas estejam presentes no miocárdio e a intensidade da inflamação local esteja envolvida na progressão da cardiomiopatia chagásica crônica para a forma dilatada, esses fatores parecem não ser determinantes para a morte dos animais cronicamente infectados. Isto indica que mecanismos inflamatórios têm importante papel patogênico na evolução da cardiomiopatia crônica pelo T. cruzi, porém não são suficientes para levar à morte. Palavras-chave: miocardite, hamsters, Trypanosoma cruzi, citocinas, miocardiopatia chagásica

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ABSTRACT

BILATE A. M. B. Expressão de mediadores inflamatórios e progressão diferencial de miocardite aguda e cardiomiopatia chagásica crônica experimental em hamster sírio infectado por T.cruzi. 2006. 196f. Dissertação (Doutorado em Imunologia) – Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

Chagas’ disease, caused by protozoan Trypanosoma cruzi, is a significant cause of mortality and morbidity in many Latin-American countries, where it is estimated that 13 million people may be infected. Previous results from our group show that, with a single combination of parasite (Strain Y) and genetically heterogeneous host (Syrian hamster), it is possible to reproduce the range of different outcomes of human Chagas’ disease. In the present study, we tested the hypothesis that the inflammatory infiltrate and its locally produced mediators may be related to morbidity and mortality in the acute phase and with the severity of chronic cardiomyopathy in the Syrian hamster model of T. cruzi infection using Strain Y. Like humans, hamsters infected by T. cruzi Strain Y show different patterns of evolution in both the acute and chronic phases. In the acute phase, 30-50% of animals showed symptoms such as cachexia, lethargy, vomiting, and diarrhea, which were related with mortality during this stage. The presence of circulating parasites on the 13th day post-infection (PI) was associated with intense cardiac parasitism on the date spontaneous death during the acute phase. High cardiac parasitism, in addition to its association with symptoms, was also associated with high expression of mRNA for IL-10, TNF-α, and genes activated by inflammatory cytokines (A20 and iNOS) in the myocardium. During the acute phase, blockade of TNF-α with Etanercept lead to increased parasitism in blood and heart and to increased expression of IL-10 in the myocardium of asymptomatic animals. In the chronic phase of infection, although the intensity of myocarditis was positively correlated with macroscopic dilation of the left ventricle, none of these variables were associated with death during the chronic phase. In this phase, there was a predominance of expression of mRNA for IFN-γ in the myocardium over that of TNF-α and IL-10, although the latter two were also detected at increased levels. Death during the chronic phase was associated only with the expression of A20. In the chronic phase, treatment with Etanercept worsened post-T. cruzi infection chronic cardiomyopathy, as measured by ventricular dysfunction and left ventricle dilation, and lead to increased expression of IL-10 and decreased expression of iNOS mRNAs in the myocardium. Overall, cardiac parasitism in the acute phase seems to determine the levels of expression of cytokines – such as TNF-α and IFN-γ – and genes activated by TNF-α and IFN-γ – such as iNOS. The low parasitism and cytokines in the myocardium of asymptomatic animals suggests that these animals were able to control parasitism before its dissemination to the tissues during the acute phase. In the chronic phase, although significant levels of cytokines were present in the myocardium and the intensity local inflammation is involved in the progression of Chagas’ disease cardiomyopathy to the dilated form, these factors seem not to be determinants of mortality in chronically infected animals. This indicates that inflammatory mechanisms play an important pathogenic role in the evolution of T. cruzi chronic cardiomyopathy, but are not sufficient to lead to death.

Key words: myocarditis, hamsters, Trypanosoma cruzi, cytokines, Chagasic cardiomyopathy

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................ 13 1.1 Considerações gerais e dados epidemiológicos.......................................................................... 13 1.2 Ciclo de vida e história natural da infecção por T. cruzi.............................................................. 13 1.3 Patogênese da cardiomiopatia chagásica crônica humana......................................................... 17 1.3.1 Aspectos anátomo-patológicos................................................................................................. 17 1.3.2 Aspectos imunológicos............................................................................................................. 18 1.3.2.1 Citocinas inflamatórias e modelos experimentais.................................................................. 19 1.3.2.2 Citocinas inflamatórias e estudos em humanos.................................................................... 23 1.4 Modelos animais para a cardiomiopatia da doença de Chagas.................................................. 28 2 JUSTIFICATIVA............................................................................................................................. 30 3 OBJETIVOS....................................................................................................................................33 3.1 Objetivo Geral.............................................................................................................................. 33 3.2 Objetivos específicos................................................................................................................... 33 4 METODOLOGIA............................................................................................................................. 35 4.1 Desenho experimental................................................................................................................. 35 4.2 Obtenção, manutenção e manipulação dos animais................................................................... 40 4.3 Obtenção dos parasitas e infecção dos animais......................................................................... 40 4.4 Tratamento com Etanercept na fase aguda da infecção ............................................................ 41 4.5 Avaliação da eficácia do tratamento com Etanercept na fase aguda da infecção....................... 41 4.6 Tratamento com Etanercept na fase crônica da infecção ........................................................... 42 4.7 Avaliação da eficácia do tratamento com Etanercept na fase crônica da infecção..................... 43 4.8 Análise de sobrevida.................................................................................................................... 43 4.9 Coleta de sangue ........................................................................................................................ 44 4.10 Obtenção do soro ..................................................................................................................... 44 4.11 Detecção de parasitas circulantes ............................................................................................ 44 4.12 Análise ecocardiográfica da estrutura e função cardíaca.......................................................... 44 4.13 Análise histopatológica do tecido cardíaco .............................................................................. 45 4.13.1 Cálculo do índice de dilatação................................................................................................ 46 4.13.2 Quantificação da miocardite................................................................................................... 46 4.13.3 Detecção de antígenos de T. cruzi no tecido cardíaco........................................................... 47 4.13.4 Detecção de TNF-α no miocárdio .......................................................................................... 48 4.13.5 Detecção de imunocomplexos no miocárdio. ........................................................................ 49 4.14 Quantificação dos níveis de TNF bioativo................................................................................. 50 4.15 Determinação do efeito in vitro e in vivo do Etanercept sobre a atividade de TNF-α em hamster........................................................................................................................................ 51 4.16 Pesquisa de anticorpos séricos anti-T.cruzi.............................................................................. 52 4.17 Quantificação gênica por RT-PCR em tempo real..................................................................... 53 4.17.1 Extração de RNA ................................................................................................................... 53 4.17.2 Quantificação do RNA............................................................................................................ 54 4.17.3 Transcrição reversa ............................................................................................................... 55 4.17.4 Reação de RT-PCR em tempo real........................................................................................ 56 4.17.5 Especificidade e adequação dos primers .............................................................................. 57 4.17.6 Cálculo da eficiência de amplificação dos primers utilizados................................................. 58 4.18 Análise estatística ..................................................................................................................... 65 5 RESULTADOS............................................................................................................................... 66 5.1 Fase aguda da infecção pelo T. cruzi.......................................................................................... 66 5.1.1 Sinais e sintomas...................................................................................................................... 66 5.1.2 Parasitemia............................................................................................................................... 66 5.1.3 Análise anátomo-patológica...................................................................................................... 67 5.1.4 Citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio............................................................ 71 5.2 Efeito do Etanercept in vitro e in vivo sobre o bloqueio de TNF-α de hamster............................ 77 5.3 Efeito do tratamento com Etanercept na fase aguda da infecção por T. cruzi ........................... 80 5.3.1 Parasitismo sanguíneo e cardíaco............................................................................................ 80 5.3.2 Detecção de TNF-α no miocárdio ............................................................................................ 85

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5.3.3 Citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio ........................................................... 88 5.4 Evolução da infecção por T. cruzi em hamsters: Fase aguda e Fase crônica ........................... 95 5.4.1 Fase aguda............................................................................................................................... 95 5.4.2 Fase crônica ............................................................................................................................ 103 5.4.3 Citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio: fase aguda X fase crônica ................ 124 5.5 Efeito do tratamento com Etanercept na fase crônica da infecção pelo T. cruzi ........................ 125 5.5.1 Mortalidade............................................................................................................................... 125 5.5.2 Análise ecocardiográfica........................................................................................................... 126 5.5.3 Análise histopatológica ............................................................................................................ 130 5.5.4 Investigação das causas do agravamento da cardiomiopatia.................................................. 133 5.5.5 Citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio............................................................ 136 6 DISCUSSÃO....................................................................................................................................141 7 CONCLUSÕES ...............................................................................................................................171 REFERÊNCIAS...................................................................................................................................173 ANEXOS............................................................................................................................................ 188

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Introdução

13

1 INTRODUÇÃO

1.1 Considerações gerais e dados epidemiológicos

A Doença de Chagas (Tripanosomíase Americana) ocasionada pela infecção

pelo protozoário Trypanosoma cruzi é uma causa significante de morbidade e

mortalidade em muitos países da América do Sul e Central, onde estima-se que 13

milhões de pessoas podem estar infectadas (MOUL e LAZDINS, 2003). Somente no

Brasil, 17.000 mortes foram atribuídas à doença de Chagas em 1995 (AKHAVAN,

1996), e dados recentes da Organização Mundial de Saúde (WHO, 2002) mostram a

incidência de aproximadamente 300.000 novos casos por ano. Apesar do eficiente

controle da transmissão vetorial e em bancos de sangue (MONCAYO, 2003),

responsável pela redução da morbidade e mortalidade decorrente da forma crônica,

ainda existem milhões de pacientes portadores da doença de Chagas que

continuam sob risco de vida na América Latina e no Brasil, necessitando de

tratamento adequado. Além disso, mesmo que se bloqueie completamente a

transmissão vetorial, persistirá o problema nos indivíduos já infectados sob potencial

risco de desenvolver a cardiomiopatia chagásica crônica (CCC), a principal causa de

morbidade e mortalidade.

1. 2 Ciclo de vida e história natural da infecção por T. cruzi

O ciclo de vida do T. cruzi envolve dois hospedeiros intermediários – inseto

triatomíneo hematófago e mamífero – e quatro estágios de desenvolvimento – dois

no hospedeiro invertebrado, epimastigota e tripomastigota metacíclico, e dois no

hospedeiro mamífero, amastigota e tripomastigota sanguíneo. Os epimastigotas se

replicam extracelularmente no intestino médio do triatomíneo e se diferenciam em

tripomastigotas metacíclicos no reto. No momento do repasto sanguíneo, são

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Introdução

14

eliminados pelas fezes, contaminando o hospedeiro mamífero. As formas

metacíclicas invadem o citoplasma de diversos tipos de células do hospedeiro

mamífero e se diferenciam em amastigotas replicativas. Após intensa replicação, os

amastigotas se diferenciam em tripomastigotas que, após a ruptura da célula,

ganham a circulação, onde infectam novas células, dando continuidade ao ciclo de

replicação. Após vários ciclos de invasão-replicação, os parasitas se disseminam no

sangue e em diferentes tecidos (NEIVA, 1910).

A doença de Chagas é caracterizada por duas fases distintas: fase aguda e

fase crônica. A fase aguda no homem, em geral, é de quadro clínico benigno e

autolimitado, durando em torno de 60 a 90 dias. É caracterizada pelo elevado

parasitismo sanguíneo e tecidual, e pode cursar de forma oligosintomática ou

assintomática na grande maioria dos indivíduos infectados. Apenas 10% dos

indivíduos infectados por T. cruzi, especialmente crianças, apresentam alguma

manifestação clínica na fase aguda onde a miocardite e parasitismo cardíaco

evidente estão presentes na grande maioria dos casos (Figura 1), dos quais apenas

2-7% são fatais (PAEADA et al., 1997; ANDRADE, 1999). Após a fase aguda,

interpõe-se longo período de parasitemia controlada e ausência de manifestações

clínicas, que pode variar de duas a três décadas ou perdurar durante toda a vida do

indivíduo (DIAS et al., 1956). Esta fase chama-se forma indeterminada (IND) e

estima-se que mais de 70% dos indivíduos infectados permanecem nesta forma

(BRASIL, 1965). De acordo com os critérios da Organização Mundial de Saúde

(WHO, 2002) e de Belo Horizonte (ROCHA et al., 2003), pacientes da forma

indeterminada não apresentam alterações de eletrocardiograma, de raio X ou de

ecocardiograma. Uma pequena parcela dos indivíduos infectados (5-10%) pode

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Introdução

15

desenvolver denervação da musculatura lisa parietal no tubo digestivo por motivos

ainda desconhecidos.

Figura 1. Miocardite aguda humana. Em (A) fotomicrografia em pequeno aumento (100X) de tecido cardíaco de um paciente com miocardite aguda. Em (B), maior aumento (400X). As setas apontam para o infiltrado inflamatório. Cortesia do Prof. Dr. Thales de Brito, Instituto de Medicina Tropical, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

Ao longo de 5-30 anos após a primoinfecção, cerca de 30% do total de

indivíduos infectados previamente assintomáticos desenvolvem, em graus clínicos

variados, a forma cardíaca da doença de Chagas – a cardiomiopatia chagásica

crônica (CCC). Os graus clínicos de CCC variam desde discretas alterações de

eletrocardiograma (ECG) mas não de exames mais sensíveis, como o

ecocardiograma (CCC leve), a significativas alterações de ECG, como distúrbios de

condução e arritmia ventricular (CCC moderada), e ainda, alterações de ECG, raio X

e/ou de ecocardiograma, com ou sem sinais de dilatação das câmaras cardíacas

(CCC grave) (WHO, 2002; ROCHA et al., 2003). Dos 30% dos pacientes que

evoluem para CCC, apenas 1/3 desenvolvem a CCC grave, com distúrbios de

condução e arritmias que exigem a implantação de marcapasso. Essa parcela de

pacientes (equivalente a 1 milhão dos pacientes) freqüentemente desenvolve

significativa disfunção do ventrículo esquerdo (VE), que pode ser global ou difusa,

e/ou dilatação das câmaras cardíacas e insuficiência cardíaca congestiva (ICC)

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Introdução

16

refratária cuja a única alternativa terapêutica é o transplante cardíaco (MACÊDO,

1982; ROSSI, 1991; DIAS et al., 2000). A disfunção do VE é o substrato para a

instalação da síndrome de insuficiência cardíaca congestiva (ICC). A disfunção do

VE ocorre quando o coração é incapaz de manter seu desempenho normal frente a

uma agressão como, perda de massa muscular, diminuição da capacidade contrátil,

sobrecarga de pressão ou de volume e restrição ao enchimento ventricular

(MATSUBARA et al., 1990). Diante de uma agressão, o volume de sangue ejetado

pelo VE diminui e, conseqüentemente, mecanismos reativos ou compensatórios são

ativados para restaurar o fluxo sanguíneo normal. A diminuição do volume ejetado

desencadeia a dilatação ventricular devido ao maior acúmulo de sangue dentro da

cavidade durante a diástole.

Alguns trabalhos sugerem que a insuficiência cardíaca de etiologia chagásica

possa ter pior prognóstico com sobrevida após estabelecimento dos sintomas de 2-4

vezes menor do que a de outras etiologias, como a doença isquêmica e

cardiomiopatia dilatada idiopática (CDI) (MADY et al., 1994; PEREIRA-BARRETO,

1995; BESTETTI e MUCCILLO, 1997; FREITAS et al., 2005). A elevada mortalidade

da CCC está relacionada ao fato de não existir terapia específica eficiente. Uma vez

que os agentes quimioterápicos anti-T. cruzi são pouco eficazes em evitar a

progressão das lesões cardíacas características da CCC (LAURIA-PIRES et al.,

2000; URBINA, 2001; CERECETTO e GONZALEZ, 2002), o tratamento disponível

atualmente é apenas sintomático com drogas cardiovasculares direcionadas para

combater as conseqüências da agressão miocárdica. A ausência de alternativas de

tratamento está relacionada ao conhecimento limitado que se tem da patogênese

das lesões crônicas e da biologia do parasita. Como exemplo, o conhecimento dos

mecanismos imunológicos envolvidos no controle da replicação do parasita e os

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Introdução

17

fatores de suscetibilidade que levam 30% dos indivíduos a desenvolver a CCC após

a infecção pelo T. cruzi poderiam auxiliar no desenvolvimento de terapias

específicas.

1. 3 Patogênese da cardiomiopatia chagásica crônica humana

1.3.1 Aspectos anatomo-patológicos

As principais características anatomo-patológicas da CCC são a dilatação das

câmaras cardíacas, aumento acentuado do peso do coração, aneurisma apical e

trombose mural em pacientes chagásicos crônicos que faleceram pela insuficiência

cardíaca (KÖBERLE, 1968; OLIVEIRA et al., 1981; SAMUEL et al., 1983). O

principal achado histopatológico de biópsias endomiocárdicas de pacientes com

CCC grave, que diferencia das outras cardiomiopatias, é uma miocardite crônica

focal e/ou difusa, responsável pela destruição progressiva das fibras cardíacas,

hipertrofia de cardiomiócitos e intensa fibrose (CARRASCO-GUERRA et al., 1987;

HIGUCHI et al., 1987; ROSSI, 1991). O infiltrado inflamatório é composto por

macrófagos (50%), células B (10%), células T (40%) (MILEI et al., 1992), com uma

predominância de 2:1 de células T CD8+ sobre células T CD4+ (HIGUCHI et al.,

1993; TOSTES et al., 1994). Histiócitos e células endoteliais do tecido cardíaco de

CCC apresentam expressão aumentada de moléculas HLA de classe I e de classe II,

ICAM-1 (do inglês, intercellular adhesion molecule – 1) e selectina-E, enquanto que

os cardiomiócitos expressam níveis elevados de HLA de classe I, provavelmente em

resposta à produção local de citocinas inflamatórias (HIGUCHI et al., 1987; REIS et

al., 1993; ABEL et al., 2001).

Estudo realizado com biópsias endomiocárdicas de pacientes portadores da

doença de Chagas mostrou que apenas 15% dos pacientes na forma indeterminada

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Introdução

18

apresentaram miocardite, enquanto que 62% dos pacientes com alterações

eletrocardiográficas mas sem dilatação ou ICC apresentaram miocardite. No grupo

de pacientes portadores de CCC com dilatação e ICC, 92% apresentou miocardite

(HIGUCHI et al., 1987), ilustrando o papel da miocardite na progressão para as

formas graves de CCC. A Figura 2 mostra um corte histológico de tecido cardíaco de

um paciente com CCC grave com intenso infiltrado inflamatório. A fibrose, mais

intensa na CCC do que em outras cardiomiopatias (ROSSI, 1991; HIGUCHI et al.,

1999), destaca-se como componente fundamental do processo de desorganização

funcional e estrutural do coração, que culmina na falência do órgão.

Figura 2. Miocardite da cardiomiopatia chagásica humana. Em (A) fotomicrografia em

pequeno aumento (100X) de tecido cardíaco de um paciente com CCC grave.

Em (B), maior aumento (400X). As setas apontam para o infiltrado inflamatório.

Cortesia do Prof. Dr. Thales de Brito, Instituto de Medicina Tropical, Faculdade de

Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

1. 3. 2 Aspectos imunológicos

Os mecanismos determinantes da progressão da miocardite crônica focal de

baixa intensidade observada na forma indeterminada para o dano miocárdico

extenso e progressivo típico da CCC ainda não foram completamente elucidados.

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Introdução

19

Entretanto, mecanismos inflamatórios parecem desempenhar um papel importante

na patogenia da CCC. Dados da literatura apóiam a hipótese que a resposta imune

disparada pela persistência do parasita ou por antígenos próprios do hospedeiro, ou

ambas, participa da geração e/ou manutenção das lesões cardíacas típicas da CCC

(CUNHA-NETO et al., 2006; DOS REIS et al., 2005). A elevada carga parasitária

desencadeia respostas celular e humoral anti-T. cruzi capazes de controlar, mas não

de eliminar completamente o parasita. Assim, uma infecção persistente de baixo

grau se estabelece, podendo ser reativada em condições de imunossupressão

(ALMEIDA et al., 1996; BOCCHI et al., 1998). A progressão diferencial para a CCC

ou para a forma indeterminada ocorre na presença de infecção persistente no

miocárdio em ambas as formas clínicas (JONES et al., 1993; ANEZ et al., 1999) e o

fato de apenas 30% desenvolver a CCC sugere o envolvimento de mecanismos

genéticos de suscetibilidade. Casos de agregação familiar na CCC apóiam essa

hipótese (ZICKER et al., 1990). Para elucidar os fatores ligados ao hospedeiro que

controlam a suscetibilidade diferencial ao desenvolvimento da doença, vários grupos

têm estudado a regulação da produção de citocinas na CCC.

1. 3. 2. 1 Citocinas inflamatórias e modelos experimentais

As citocinas inflamatórias desempenham um papel central na resistência à

infecção aguda pelo T. cruzi. Logo após a infecção, o parasita estimula macrófagos

a produzir citocinas inflamatórias, como TNF-α e IL-12. A produção de IL-12 estimula

a síntese de IFN-γ por linfócitos e células NK que, em conjunto com o TNF-α, ativa

macrófagos a produzir as espécies reativas de nitrogênio e oxigênio, que irão

destruir os parasitas e, dessa forma, controlar a disseminação do parasitismo. Já foi

mostrado que o IFN-γ inibe a replicação do parasita in vivo e in vitro, através da

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Introdução

20

indução da síntese de óxido nítrico (NO, do inglês, nitric oxide) por macrófagos

(GAZZINELLI et al., 1992) e que esta atividade tripanocida é dependente de TNF-α

(SILVA et al., 1995). Esse aumento de citocinas inflamatórias é desencadeado

principalmente por âncoras de glicosilfosfatidilinositol, presentes em abundância na

membrana do T. cruzi, que se ligam em receptores do tipo Toll (TLR, do inglês, Toll

like receptors) presentes nos macrófagos. Camundongos geneticamente deficientes

de citocinas inflamatórias (IL-12, IFN-γ) ou de seus receptores (TNFR1, IFNR), ou de

moléculas induzidas por citocinas inflamatórias, como a óxido nítrico sintase

induzível (iNOS, do inglês, inducible nitric oxide synthase), são mais suscetíveis à

infecção aguda por T. cruzi, apresentando maior parasitismo e mortalidade (HUANG

et al., 1999; MICHAILOWSKY et al., 2001; ALIBERTI et al., 2001; CAMPOS et al.,

2004). Por outro lado, citocinas com atividade anti-inflamatória, como a IL-10,

também participam da infecção aguda por T. cruzi (SILVA et al., 1992; HOLSCHER

et al., 2000). Já foi mostrado que linhagens de camundongos naturalmente

resistentes (B6D2 – (C56BL/6 X DBA)F1) à infecção pela cepa TULAHUEN de T.

cruzi se tornaram suscetíveis quando tratados com anticorpo anti-IFN-γ e esta

suscetibilidade estava relaciona ao aumento da produção de IL-10 (SILVA et al.,

1992). Entretanto, camundongos deficientes de IL-10 infectados com a cepa

Tulahuem de T. cruzi, apesar de controlarem a parasitemia de maneira eficiente

devido ao aumento substancial de IFN-γ e TNF-α, desenvolvem uma resposta

inflamatória exacerbada que culmina na morte por choque tóxico mediado por TNF-α

(HOLSCHER et al., 2000). Esse resultado indica um papel deletério das citocinas

inflamatórias na infecção pelo T. cruzi.

O papel do TNF-α na infecção aguda por T. cruzi é controverso, com

diferentes estudos mostrando efeitos tanto protetores como prejudiciais. Essa

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Introdução

21

aparente contradição parece estar relacionada não somente as diferenças de

abordagem experimental (por exemplo, uso de camundongos geneticamente

deficientes), mas também a questões inerentes às diferentes linhagens de

camundongos e cepas de T. cruzi. Camundongos suscetíveis à infecção pelo T.

cruzi (C3H infectados com a cepa CL ou Colombiana ou BALB/c infectados com a

cepa Tulahuen) apresentam níveis elevados de TNF-α circulante durante a fase

aguda e esses níveis se correlacionam com a parasitemia e mortalidade nesta fase

da infecção (RUSSO et al., 1989; STAROBINAS et al., 1991; TRUYENS et al.,

1999). Por outro lado, camundongos deficientes do receptor p55 de TNF-α (TNFR1)

apresentam elevada parasitemia e mortalidade quando infectados pela cepa Y de T.

cruzi, mostrando o papel do TNF-α no controle da infecção aguda (ALIBERTI et al.,

2001). Em conjunto, esses trabalhos sugerem que níveis aumentados de citocinas

inflamatórias e o desequilíbrio de citocinas inflamatórias vs. anti-inflamatórias podem

ser os responsáveis pela suscetibilidade à infecção aguda.

Em modelos murinos de infecção crônica (camundongos C57BL/6 ou

C3H/HeSnJ infectados com a cepa Brazil ou Sylvio X10/4, respectivamente), já foi

relatada a presença abundante de células produtoras de TNF-α no infiltrado

inflamatório miocárdico (ZHANG e TARLETON, 1996). Além disso, camundongos

C56BL/6 infectados por 60 ou 120 dias com a cepa Colombiana apresentaram

expressão elevada de TNF-α e IFN-γ no miocárdio (TALVANI et al., 2000). Nesse

trabalho, a expressão de IL-10 e IL-4 foi detectada em níveis ainda mais elevados,

comparáveis aos níveis de TNF-α e IFN-γ detectados em períodos mais precoces da

infecção. Nesta linha, a produção elevada de IFN-γ em camundongos deficientes de

IL-4 resultou em aumento significativo da miocardite crônica pós-infecção com a

cepa Colombiana de T. cruzi (SOARES et al., 2001). Em conjunto, os resultados

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Introdução

22

sugerem a participação das citocinas inflamatórias na geração das lesões cardíacas

pós-infecção por T. cruzi e que IL-10 e IL-4 desempenham um possível papel

regulador da atividade inflamatória.

Além das citocinas inflamatórias participarem da patogênese da miocardite

chagásica, elas também parecem desempenhar importante papel em modelos de

cardiomiopatia não infecciosa. Modelos de camundongos transgênicos com

superexpressão de TNF-α e MCP-1 (quimiocina induzida por IFN-γ) seletivamente

no miocárdio desenvolvem espontaneamente, miocardite, dilatação das câmaras

cardíacas e disfunção ventricular (KOLATTUKUDY et al., 1998; KUBOTA et al.,

2000; SIVASUBRAMANIAN et al., 2001). No modelo de Kubota e colaboradores

(2000), o tratamento com receptor solúvel p55 do TNF-α (TNFR1) reverteu os efeitos

causados pelo excesso de TNF-α no miocárdio, mostrando que a inibição desta

citocina pode ser uma estratégia para controlar os seus efeitos amplificadores na

resposta inflamatória no miocárdio (KUBOTA et al., 2000). Nesta linha,

camundongos tratados com anticorpo neutralizante anti-TNF-α ou camundongos

deficientes de TNFR1 não desenvolvem miocardite auto-imune induzida por miosina

(SMITH e ALLEN, 1992; BACHMAIER et al., 1997). Em modelos animais de ICC, o

bloqueio da atividade de TNF-α com Etanercept (receptor solúvel p75 humano –

TNFR2 – conjugado com porção Fc de IgG1 humana) resultou em melhora da

função cardíaca (LI et al., 2002; MOE et al., 2004; PENG et al., 2003) e acelerou a

recuperação do endotélio vascular de ratos após indução de dano cardiovascular por

balão (KRASINSKI et al., 2001). Em humanos, o tratamento com Etanercept como

antagonista da ação de TNF-α apresentou resultados promissores no tratamento da

insuficiência cardíaca avançada em ensaios clínicos com pequenos números de

pacientes (DESWAL et al., 1999; FICHTLSCHERER et al., 2001). Em conjunto,

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Introdução

23

esses resultados sugerem a participação de citocinas e quimiocinas inflamatórias na

indução de cardiomiopatia. Portanto, o bloqueio da atividade de TNF-α por meio do

Etanercept, poderia auxiliar a elucidar o papel patogenético desta citocina em

modelo experimental de CCC.

1. 3. 2. 2 Citocinas inflamatórias e estudos em humanos

Diferentes grupos já mostraram que pacientes com CCC apresentam níveis

circulantes aumentados de citocinas inflamatórias (FERREIRA et al., 2003; TALVANI

et al., 2004; PÉREZ-FUENTES et al., 2003; D’ANGELO-MENDONZA et al., 2005;

MOCELIN et al., 2005). Além disto, observa-se que a produção de citocinas

inflamatórias é maior por células de pacientes com CCC do que por células de

pacientes com a forma indeterminada (ABEL et al., 2001; GOMES et al., 2003;

SOUZA et al., 2004).

Nosso grupo mostrou que a freqüência de células mononucleares do sangue

periférico produtoras de IFN-γ é maior entre os pacientes com CCC em comparação

aos pacientes da forma IND após estímulo com fitohemaglutinina (PHA) (ABEL et al.,

2001). Nesta linha, outros grupos também mostraram que células mononucleares de

sangue periférico de pacientes com CCC estimuladas com antígenos de

tripomastigotas produzem mais IFN-γ e menos IL-10 do que as de pacientes IND.

Nesse trabalho, a elevada produção de IFN-γ se correlacionou com a gravidade do

acometimento cardíaco (GOMES et al., 2003). Além disso, células T infiltrantes das

lesões cardíacas obtidas de pacientes com CCC produzem IFN-γ e TNF-α mas não

produzem IL-4 quando estimuladas com PHA (CUNHA-NETO et al., 1998). Este

achado está de acordo com resultados anteriores que mostraram a presença

abundante de IFN-γ e TNF-α no tecido cardíaco de pacientes com CCC grave (REIS

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Introdução

24

et al., 1993; REIS et al., 1997). Além disso, pacientes com CCC apresentam níveis

séricos elevados de TNF-α associados à gravidade da CCC (PÉREZ-FUENTES et

al., 2003). Dados do nosso grupo mostraram que tanto pacientes portadores de CCC

como IND apresentam níveis elevados de TNF-α plasmático em comparação a

indivíduos sadios, porém entre os pacientes com CCC grave, os níveis de TNF-α

são significativamente mais elevados do que nos pacientes não graves (FERREIRA

et al., 2003). Nesta linha, já foi mostrado que entre os pacientes portadores de CCC

grave, o genótipo de alta produção de TNF-α (alelo 2 do polimorfismo –308 TNFa)

está relacionado a uma menor sobrevida (DRIGO et al., 2005). Além da CCC, o

TNF-α também está relacionado à gravidade de outras cardiomiopatias de etiologia

não chagásica (LEVINE et al., 1990) e está presente em abundância no tecido

cardíaco de pacientes portadores de cardiomiopatia idiopática (DOYAMA et al.,

1996).

Resultados de nosso grupo mostraram que quimiocinas induzidas por IFN-γ,

como CCL2/MCP-1, CXCL9/Mig e CXCL10/IP-10, estão seletivamente

superexpressas em amostras de miocárdio de pacientes com CCC em comparação

a pacientes com cardiomiopatia dilatada idiopática (CUNHA-NETO et al., 2005). As

causas para essa polarização na produção de citocinas/quimiocinas inflamatórias

ainda não foram completamente elucidadas. O perfil pró-inflamatório pode estar

relacionado ao fato de glicoconjugados (do tipo mucina) do parasita estimularem a

produção de IL-12 (CAMARGO et al., 1997). Em conjunto, esses resultados sugerem

que a inflamação crônica secundária a infiltração por células mononucleares e seus

produtos – citocinas e quimiocinas inflamatórias – poderiam contribuir para o dano

cardíaco observado na CCC humana.

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Introdução

25

Apesar de as citocinas inflamatórias estimuladas pela infecção pelo T. cruzi e

o burst oxidativo e NO por elas desencadeados serem essenciais ao controle do

parasitismo da fase aguda, esses componentes podem exercer efeitos deletérios

sobre o hospedeiro, aumentando o estresse oxidativo no coração, contribuindo para

as lesões cardíacas típicas da CCC. Nessa linha, vários autores tem sugerido a

participação do estresse oxidativo na patogênese da CCC (ZACKS et al., 2005).

Camundongos infectados por T. cruzi por 120 dias apresentam elevada expressão

de moléculas relacionadas ao estresse oxidativo em mitocôndrias isoladas de

cardiomiócitos (VYATKINA et al., 2004) e diminuição da atividade de enzimas anti-

oxidantes no miocárdio (WEN et al., 2004), sugerindo um impedimento da ativação

de defesas anti-oxidantes.

O estresse oxidativo é o desequilíbrio entre a produção de espécies reativas

de oxigênio (ROS) e nitrogênio (RNS) e as defesas anti-oxidantes (MALLIWELL e

GUTTERIGE, 2000). As ROS são produzidas pela ação de oxigenases e

apresentam potente efeito oxidante. As RNS – NO e seus derivados – são

produzidos pelas NO sintases (NOS). Conforme descrito anteriormente, o TNF-α

estimula a expressão de iNOS, resultando em aumento da produção de NO. No

coração, o NO atua na contratilidade miocárdica e relaxamento ventricular (HARE,

2003). Alguns trabalhos sugerem que o aumento da iNOS contribui para a disfunção

miocárdica em pacientes com ICC uma vez que o aumento de NO induzido pelo

TNF-α resulta em aumento do estresse oxidativo no coração, impedindo a ativação

de vias anti-oxidantes (HARE, 2003; CHAMPION et al., 2003). Em modelo murino de

infecção por T. cruzi, camundongos deficientes da expressão de iNOS apresentam

cardiomiopatia aguda menos intensa do que camundongos com expressão normal

de iNOS (HUANG et al., 1999). Nesta linha, a inibição de iNOS em camundongos

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Introdução

26

transgênicos com superexpressão de TNF-α no miocárdio, que desenvolvem

cardiomiopatia dilatada e apresentam elevada expressão de iNOS, resultou em

melhora da função cardíaca (FUNAKOSHI et al., 2002), possivelmente pela

diminuição do estresse oxidativo.

Enzimas anti-oxidantes são expressas em resposta a produção de ROS e

diminuem os efeitos oxidantes danosos causado pelas ROS. As principais enzimas

anti-oxidantes são superóxido dismutases (SOD), catalases, peroxiredoxina e

glutationa peroxidase. A isoforma mitocondrial da superóxido dismutase do

manganês (MnSOD) responde por 70% da atividade de SOD no coração e 90% em

cardiomiócitos (ZACKS et al., 2005). A MnSOD é ativada tanto por TNF-α como por

IFN-γ e sua atividade anti-oxidante contribui para a regulação dos efeitos deletérios

causados por essas citocinas (WONG e GOEDDEL, 1988; WONG et al., 1989),

sendo considerada um gene protetor. A importância da MnSOD na regulação das

vias oxidantes no coração foi ressaltada em camundongos geneticamente

deficientes de MnSOD que morrem após 10 dias de vida por anormalidades

cardíacas como dilatação do ventrículo esquerdo, afilamento das paredes do

ventrículo e fibrose endocárdica (LI et al., 1995).

Já foi descrito que o estresse oxidativo aumenta a apoptose de cardiomiócitos

e que este fenômeno é revertido pela indução de expressão de MnSOD (YANG et

al., 2003). Na CCC humana já foi sugerido que a apoptose de cardiomiócitos

poderia contribuir para o desenvolvimento da insuficiência cardíaca (TOSTES et al.,

2005). Além da CCC, alguns trabalhos sugerem que a apoptose de cardiomiócitos

seja um dos mecanismos responsáveis pela perda de miocárdio viável na ICC

(OLIVETTI et al., 1997; NARULA et al., 1998; NARULA et al., 2001). Em modelos

experimentais de ICC, a apoptose de cardiomiócitos estava correlacionada ao grau

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Introdução

27

de disfunção cardíaca (MOE et al., 2002; SABBAH, 2000; WENCKER et al., 2003).

Apesar do clássico papel do TNF-α na indução de apoptose via TNFR1, TNF-

α/TNFR1 também desencadeia a ativação de genes protetores com atividade anti-

apoptótica (AGGARWAL, 2003). Um dos genes protetores anti-apoptóticos ativados

pelo TNF-α é o A20 (LEE et al., 2000). Esse gene codifica uma proteína

citoplasmática do tipo zinc finger e é ativado pelo NFκB (do inglês, nuclear factor

kappa B) quando o NFκB é ativado pelo TNF-α via TNFR1 (HEYNINCK e

BEYAERT, 2005). Após a sua ativação, o A20 se liga ao TRAF2 (do inglês, TNF

receptor associated factor 2) e ao IKKγ (do inglês, inhibitor of NFκB kinase gamma),

e desta forma inibe a ativação de NFκB (COOPER et al., 1996; BEYAERT et al.,

2000). Camundongos tratados com TNF-α apresentam elevada expressão de RNAm

de A20 em diferentes órgãos em comparação a animais não tratados (LEE et al.,

2000). Neste trabalho, os autores mostraram também que camundongos deficientes

de A20 apresentam inflamação em diversos órgãos, caquexia e hipersensibilidade a

lipopolissacarídeo e a TNF-α. Além disso, as células desses animais são mais

suscetíveis à apoptose induzida por TNF-α (LEE et al., 2000). Esses resultados

mostram a importância do A20 na regulação de respostas inflamatórias induzidas

pelo TNF-α via NFκB. Além disso, dados da literatura mostram que o gene A20 está

aumentado em modelos animais de insuficiência cardíaca e que está relacionado a

ativação de vias anti-apoptóticas (COOK et al., 2003). A expressão dessas

moléculas ainda não foi descrita na cardiomiopatia chagásica.

Em conjunto, esses resultados mostram que o equilíbrio entre a ativação de vias

efetoras de dano cardíaco e vias de proteção pode estar relacionado aos

mecanismos de lesão miocárdica pós-infecção por T. cruzi.

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Introdução

28

1. 4 Modelos animais para a cardiomiopatia da doença de Chagas

A contribuição dos modelos murinos de infecção aguda pelo T. cruzi para o

entendimento dos mecanismos de patogênese da miocardite pós-infecção já foi

amplamente estudada, conforme ressaltado anteriormente. Entretanto, os

mecanismos de controle da disseminação do parasitismo durante a fase aguda e a

evolução para a fase crônica ainda não foram completamente esclarecidos. A

maioria das linhagens de camundongos isogênicos é suscetível à infecção aguda

com curta sobrevida após a infecção, dependendo da linhagem de camundongo, da

cepa e inóculo de T. cruzi (WRIGHTSMAN et al., 1982; ANDRADE et al., 1985;

STAROBINAS et al., 1991; ROGGERO et al., 2002). O que se observa em uma

dada combinação de linhagem isogênica e cepa de T. cruzi é um mesmo padrão de

doença em todos os animais agudamente infectados: intensa miocardite, elevado

parasitismo e curta sobrevida em linhagens de camundongos suscetíveis, ou

miocardite leve com baixo parasitismo e sobrevida mais longa em camundongos

resistentes. Os modelos murinos de fase crônica, como camundongos C3H/HeSnJ

infectados com a cepa Sylvio X10/4 (ZHANG e TARLETON, 1996; MARINHO et al.,

1999) ou camundongos BALB/c infectados com a cepa Colombiana (SOARES et al.,

2001; PONTES DE CARVALHO et al., 2002), apesar de desenvolverem miocardite

multi-focal, não desenvolvem disfunção cardíaca ou dilatação das câmaras

cardíacas, características da CCC grave. Alguns autores já mostraram que coelhos,

ratos, cães e macacos podem desenvolver cardiomiopatia dilatada após infecção

crônica por T. cruzi (AMORIM, 1985; ANDRADE et al., 1987; ANDRADE et al., 1997;

CHAPADEIRO et al., 1988; DE LANA et al., 1988; TEIXEIRA et al., 1975; FALASCA

et al., 1990; ROSNER et al., 1989). Entretanto, lesões cardíacas significativas

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Introdução

29

semelhantes às lesões típicas da CCC humana são pouco reprodutíveis, os animais

são de difícil manipulação, exigem experimentos mais longos e de alto custo.

Dados da literatura mostraram que o hamster sírio após 3-10 meses de infecção

por T. cruzi reproduz as principais características anatomopatológicas da forma

cardíaca crônica humana, com dilatação das cavidades ventriculares, especialmente

do ápice do ventrículo esquerdo e trombose mural; histopatologicamente foi relatado

infiltrado mononuclear multi-focal, freqüentemente acompanhado de fibrose

(RAMIREZ et al., 1994). Nossos resultados anteriores mostraram que os hamsters

não isogênicos infectados pela cepa Y de T. cruzi apresentam suscetibilidade

diferencial à infecção aguda, uma vez que 30% dos hamsters infectados morreram

entre a 3° e 4° semana de infecção enquanto 70% dos animais sobreviveram

(BILATE et al., 2003). Entre os sobreviventes foi possível observar, através de

métodos quantitativos, uma progressão diferencial para a cardiomiopatia,

mimetizando os diferentes fenótipos encontrados entre os pacientes acometidos

pela CCC humana. Nesse trabalho, os exames ecocardiográficos mostraram que o

estabelecimento da cardiomiopatia, medido pelo grau de disfunção do ventrículo

esquerdo, ocorreu a partir do 8° mês pós-infecção em uma pequena parcela dos

animais e em todos os animais sobreviventes após 12 meses de infecção. Além da

disfunção ventricular, histopatologicamente, encontramos diferentes graus de lesão

cardíaca, caracterizada por miocardite e fibrose, que variaram de moderada a

intensa. Em conjunto, os resultados sugerem que o hamster sírio infectado com a

cepa Y de T. cruzi é um modelo adequado para o estudo de mecanismos de

patogênese relacionados tanto ao desenvolvimento de fase aguda como da fase

crônica da doença de Chagas.

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Justificativa

30

2 JUSTIFICATIVA

Ainda não são conhecidos os fatores envolvidos na evolução diferencial nas

fases aguda e crônica da infecção por T. cruzi. Apenas 10% dos indivíduos

infectados por T. cruzi apresentam alguma manifestação clínica na fase aguda onde

a miocardite e parasitismo cardíaco estão presentes na grande maioria dos casos,

dos quais apenas 2-7% são fatais (PARADA et al., 1997; ANDRADE, 1999).

Décadas após a primo-infecção, 30% dos indivíduos infectados por T. cruzi

desenvolvem alguma forma de cardiomiopatia, e desses, apenas 1/3 desenvolve a

cardiomiopatia grave com dilatação das câmaras cardíacas e insuficiência cardíaca

congestiva refratária (MACÊDO, 1982; ROSSI, 1991). Portanto, a identificação dos

fatores envolvidos na resistência/suscetibilidade é fundamental para o entendimento

dos mecanismos de patogênese da miocardite aguda e cardiomiopatia crônica e

para o estudo de novos alvos terapêuticos específicos para a cardiomiopatia da

doença de Chagas. Dados de modelos de camundongos geneticamente deficientes

de citocinas inflamatórias mostraram que estas apresentam papel indispensável no

controle da infecção aguda por T. cruzi (HOLSCHER et al., 1998; MICHAILOWSKY

et al., 2001; ALIBERTI et al., 2001). A cardiomiopatia chagásica crônica humana

apresenta pior prognóstico (MADY et al., 1994; BESTETTI e MUCCILLO, 1997;

FREITAS et al., 2005) e maior expressão de citocinas e quimiocinas no miocárdio

que as cardiomiopatias dilatadas de natureza não inflamatória (CUNHA-NETO,

2005). Uma vez que a frequência de miocardite e a produção periférica e

intralesional de citocinas inflamatórias estão associadas com a gravidade da CCC

em pacientes (HIGUCHI, 1987; GOMES et al., 2003; FERREIRA, 2003; TALVANI et

al., 2004; SOUZA et al., 2004; GOMES et al., 2005), é possível hipotetizar que

diversos mediadores inflamatórios produzidos localmente estejam envolvidos nos

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Justificativa

31

mecanismos determinantes para a progressão para a CCC e evolução para seus

estágios mais graves. Por outro lado, os trabalhos que avaliam a produção local de

citocinas são realizados apenas com amostras de pacientes graves ou após

transplante, impossibilitando a comparação com pacientes em estágios menos

avançados da doença.

Para avaliar o papel da inflamação local na geração e progressão das lesões

cardíacas que podem levar à morte, tanto na fase aguda como na crônica, em uma

parcela significativa dos indivíduos infectados pelo T. cruzi, é necessário um modelo

animal que reproduza tanto a fase aguda como a fase crônica e seus diferentes

graus de lesões cardíacas, comumente encontrados entre os pacientes com CCC.

Dados da literatura e do nosso grupo mostraram que o hamster sírio infectado

por T. cruzi reproduz as principais características anatomopatológicas da forma

cardíaca crônica humana, com infiltrado inflamatório multi-focal ou difuso na

ausência de T. cruzi, intensa fibrose, disfunção ventricular, dilatação e óbito após 12

meses de infecção (RAMIREZ et al., 1994; BILATE et al., 2003), recapitulando a

história natural da CCC. Os hamsters não isogênicos apresentam variações

qualitativas dos fenótipos cardíacos, o que não ocorre com camundongos isogênicos

ou geneticamente modificados. Isso representa uma vantagem adicional para o

estudo da suscetibilidade diferencial ao desenvolvimento da miocardite aguda e

cardiomiopatia crônica, mimetizando os diferentes fenótipos cardíacos encontrados

entre os pacientes acometidos pela doença de Chagas

Portanto, o hamster sírio pode ser considerado um modelo adequado para o

estudo dos mecanismos de patogênese da miocardite aguda e da cardiomiopatia

crônica e dos fatores envolvidos na progressão das formas leves e graves de

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Justificativa

32

cardiomiopatia, bem como para testar novas abordagens terapêuticas para o

controle da CCC, fornecendo resultados em curto prazo.

Com o objetivo de investigar o papel da inflamação e seus mediadores na

miocardite aguda e cardiomiopatia crônica pós-infecção por T. cruzi avaliamos a

expressão de citocinas pró- e anti-inflamatórias e genes ativados por citocinas

inflamatórias em hamsters aguda e cronicamente infectados por T. cruzi e a sua

relação com a gravidade das fases aguda e crônica. Baseado em dados da literatura

que mostram o importante papel do TNF-α no controle da miocardite e da

parasitemia da fase aguda pelo T. cruzi em camundongos (RUSSO et al., 1991;

SILVA et al., 1995; ABRAHAMSOHN e COFFMAN, 1996; ALIBERTI et al., 2001) e a

associação entre níveis aumentados de TNF-α plasmático e a gravidade da CCC

humana (FERREIRA et al., 2003; TALVANI et al., 2004; PÉREZ-FUENTES et al.,

2003), verificamos se o TNF-α também desempenhava algum papel (benéfico ou

deletério) na miocardite aguda e cardiomiopatia crônica em hamster sírios infectados

por T. cruzi. Para tal, testamos o efeito do bloqueio do TNF-α pelo Etanercept nas

fases aguda e crônica. O bloqueio de TNF-α somente na fase crônica da CCC

experimental permite avaliar o papel do TNF-α no desenvolvimento da CCC sem

influenciar o curso da fase aguda, onde o TNF-α tem papel protetor, enquanto que

em camundongos geneticamente deficientes dessa citocina isso não é possível. A

identificação dos fatores envolvidos na resistência/suscetibilidade poderá indicar

potenciais alvos terapêuticos que impeçam o desenvolvimento da CCC ou a

progressão para as formas graves.

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Objetivos

33

3 OBJETIVOS

Objetivo Geral

Avaliar o papel do infiltrado inflamatório e expressão de citocinas e genes

ativados por citocinas inflamatórias na evolução das fases aguda e crônica da

infecção pelo T. cruzi em hamsters sírios.

Objetivos específicos

1. Analisar o perfil de expressão miocárdica de citocinas e genes ativados por

citocinas na infecção aguda e crônica pelo T. cruzi;

2. Investigar se o parasitismo cardíaco e a miocardite na fase aguda da

infecção pelo T. cruzi estão relacionados à expressão de citocinas e genes

ativados por citocinas no miocárdio;

3. Investigar se a gravidade da cardiomiopatia crônica pós-infecção por T. cruzi

está relacionada à miocardite e à expressão de citocinas e genes ativados

por citocinas no miocárdio;

4. Comparar a expressão miocárdica de citocinas e genes ativados por

citocinas no na miocardite aguda e cardiomiopatia crônica;

5. Investigar o efeito do bloqueio de TNF-α nas fases aguda e crônica da

infecção pelo T. cruzi no hamster sírio sobre a miocardite aguda e

cardiomiopatia crônica, respectivamente.

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Objetivos

34

Para cumprir esses objetivos, estabelecemos como metas:

(1) Analisar a mortalidade durante a infecção aguda e crônica

(2) Quantificar a intensidade de miocardite e parasitismo cardíaco na fase aguda da

infecção;

(3) Avaliar o desenvolvimento de disfunção ventricular e dilatação das câmaras

cardíacas na fase crônica da infecção pelo T. cruzi;

(4) Quantificar a intensidade de miocardite na fase crônica da infecção;

(5) Analisar a expressão miocárdica de RNAm de citocinas inflamatórias (TNF-α,

IFN-γ) e anti-inflamatórias (IL-10) e de genes ativados por citocinas inflamatórias

nas fases aguda e crônica da infecção pelo T. cruzi.

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Metodologia

35

4 METODOLOGIA

4.1 Desenho experimental

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Metodologia

36

Efeito in vivo do Etanercept sobre a fase aguda da infecção por T. cruzi

Grupo I Etanercept

(2,5mg/Kg via s.c) (n = 12)

Infecção i.p. com 105 tripomastigotas

sanguíneos da cepa Y de

Etanercept 2X/semana

(2,5mg/Kg via s.c)

Dia 1

Dias 5, 8, 12, 16

Parasitemia: Contagem direta

Dias 5, 8, 14, 21

Sacrifício

Dia 21

• Análise histopatológica: Quantificação ninhos no miocárdio Determinação da área ocupada por antígeno de T. cruzi Determinação da área de inflamação Detecção de células TNF-α positivas • Sorologia anti-T. cruzi: ELISA direto antígeno específico Determinação dos títulos de IgG anti-extrato alcalino de epimastigotas • Expressão de RNAm de citocinas e genes ativados por citocinas: RT-PCR em tempo real para TNF-α, IFN-γ, IL-10, iNOS, MnSOD, A20

Desenho experimental I

Avaliação sintomas clínicos: caquexia, letargia, febre, vômito e diarréia

Grupo II Sem tratamento

(n = 12)

Grupo III Controles não

infectados (n = 6)

Injeção de solução salina

Controles sem tratamento (n = 12)

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Metodologia

37

9 meses PI

Infecção com 105 formas tripomastigotas de

T. cruzi cepa Y (n=74)

Controles injetados com solução salina

(n=13)

Controles tratados com Etanercept s.c. 2.5mg/Kg/

2x/semana/ 10 semanas (n=7)

Infectados sem

tratamento (n=19)

Infectados tratados com Etanercept s.c.

2.5mg/Kg/ 2x/semana/10 semanas

(n=13)

Hamsters sírios fêmeas (10 semanas) (n=94)

Análise ecocardiográfica basal

Medida da parasitemia

13 dias PI

8 meses PI

Análise ecocardiográfica

11 meses PI

• Curva de sobrevida; análise ecocardiográfica; parasitemia; sorologia para T. cruzi • Análise anátomo-patológica e morfométrica do coração: presença de dilatação e miocardite • Análise imunohsitoquímica para detecção de: antígenos de T. cruzi, células TNF-α+, imunocomplexos de IgG • RT-PCR em tempo real: análise da expressão de RNAm de citocinas (TNF-α, IFN-γ, IL-10) e genes ativados por citocinas (iNOS, MnSOD, A20) no miocárdio.

Medida da parasitemia

Desenho experimental II

Efeito do Etanercept sobre o desenvolvimento da cardiomiopatia crônica pós-infecção por T. cruzi

Controles injetados com solução salina

(n=13)

9 e 10 meses PI

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Metodologia

38

Injeção i.p. de LPS (10mg/kg)

90 minutos

Coleta de soro

Quantificação dos níveis séricos de TNF-α/LT-α bioativos

Bioensaio de citotoxicidade a células L929

Efeito in vitro do Etanercept sobre a bioatividade de TNF-α/LT-α de hamster

Desenho experimental III

Soro hamster ( TNF-α bioativo) ou

TNF-α recombinante humano

Quantificação dos níveis séricos de TNF-α/LT-α bioativos

Bioensaio de citotoxicidade a células L929

Soro hamster ( TNF-α bioativo) ou TNF-α recombinante humano + Etanercept (14, 140, 1400pg/ml)

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Metodologia

39

Efeito in vivo do Etanercept sobre bloqueio da bioatividade de TNF-α em modelo de endotoxemia

2h

Etanercept (2,5mg/Kg via s.c.)

n=6

90 minutos

Coleta de soro

Coleta de soro (Tempo zero)

Quantificação dos níveis séricos de TNF-α/LT-α Bioensaio de citotoxicidade a células L929

Solução salina s.c n=6

Desenho experimental IV

Injeção i.p. LPS (10mg/kg)

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Metodologia

40

4.2 Obtenção, manutenção e manipulação dos animais

Hamsters sírios não isogênicos (Mesocricetus auratus) de 2 meses de idade e

do sexo feminino foram obtidos do Biotério Central da Faculdade de Medicina da

USP e mantidos com ração e água filtrada ad libitum no biotério do Instituto de

Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da USP. Para os procedimentos longos

(> 20 minutos), os animais foram previamente anestesiados com 250 mg/Kg de

tribromoetanol ou 50 mg/Kg de pentobarbitol via intraperitoneal. Para os

procedimentos curtos (< 20 minutos), os animais foram anestesiados via inalatória

com éter etílico.

Para os experimentos de fase aguda e de fase crônica da infecção por T.

cruzi, os animais foram identificados com chip PINOS TRANSPONDER ID100

(Trovan, ULM, Alemanha) implantado no subcutâneo de cada animal. A cada

procedimento, os chips eram escaneados com leitor ótico (Trovan, ULM, Alemanha)

para obtenção do código do chip.

4.3 Obtenção dos parasitas e infecção dos animais

Dez camundongos BALB/c foram infectados com 105 formas tripomastigotas

de cultura da cepa Y de Trypanosoma cruzi e após 7 dias foram submetidos a

sangria total para obtenção das formas tripomastigotas sangüíneas. Para a obtenção

da suspensão de parasitas para a infecção dos hamsters, uma alíquota de sangue

dos camundongos infectados foi diluída em tampão de lise de hemácias e os

tripomastigotas foram contados pelo método de contagem direta em câmara de

Neubauer. Após a contagem, os parasitas foram diluídos em solução salina e 105

formas tripomastigotas por 400 µl foram injetadas via intraperitoneal em cada

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Metodologia

41

hamster. Como controle, foram utilizados animais sadios não infectados da mesma

idade, injetados com salina no mesmo dia da infecção.

4.4 Tratamento com Etanercept na fase aguda da infecção

Nos dias zero (antes da infecção), 5, 8,12 e 16 PI, um grupo de 12 animais foi

tratado com 2,5 mg/Kg de Etanercept via subcutânea a cada 72 h, totalizando 5

injeções. Os animais foram sacrificados 21 dias PI para análise do efeito do

tratamento, conforme descrito a seguir. Este esquema experimental foi baseado em

trabalhos da literatura que mostraram que após 5, 10 e 15 dias de infecção por T.

cruzi ocorre aumento significativo de RNAm de TNF-α no miocárdio

(CHANDRASEKAR et al., 1998) e em trabalhos que utilizaram anticorpo monoclonal

neutralizante anti-TNF-α para tratar camundongos antes da infecção e após 7 dias e

sacrifício após 12 dias de infecção (ABRAHAMSOHN e COFFMAN, 1996). A dose

de Etanercept foi escolhida baseada em protocolos descritos na literatura para

modelos experimentais de disfunção cardíaca em ratos e camundongos

(KRASINSKI et al., 2001; PENG et al., 2003). Como controle, 12 animais foram

infectados e não receberam tratamento e 6 animais não foram infectados nem

tratados.

4.5 Avaliação da eficácia do tratamento com Etanercept na fase aguda da

infecção

Após 21 dias de infecção (15 dias pós-tratamento), os animais foram

avaliados quanto a presença ou ausência de sintomas de fase aguda e sacrificados

por injeção intracardíaca de KCl 3 M após indução de anestesia com pentobarbital.

O coração foi retirado e o tecido cardíaco processado para estudo histopatológico,

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Metodologia

42

onde analisou-se a presença de miocardite, e imunohistoquímica para detecção de

antígenos de T. cruzi e TNF-α. A ponta do ventrículo esquerdo (VE) foi congelada

para posterior extração de RNA para avaliação da expressão de citocinas (TNF-α,

IFN-γ e IL-10) e genes ativados por citocinas (iNOS, MnSOD, A20) por RT-PCR em

tempo real.

4.6 Tratamento com Etanercept na fase crônica da infecção

A partir do 9° mês de infecção, os animais foram divididos aleatoriamente em

2 grupos: 1) infectados sem tratamento; 2) infectados e tratados por via subcutânea

(s.c.) com 2,5 mg/Kg de Etanercept (Immunex Co, Seatle, EUA) 2x/semana por 70

dias. O período escolhido para início dos tratamentos foi o 9° mês pós-infecção com

o objetivo de avaliar o efeito do bloqueio de TNF-α na prevenção da progressão para

a forma grave da cardiomiopatia e também no tratamento da disfunção ventricular já

instalada, uma vez que nossos resultados anteriores (BILATE et al., 2003)

mostraram que 8 meses pós-infecção em torno de 50% dos animais infectados

apresentaram disfunção ventricular enquanto o restante apresentou função

ventricular preservada. O esquema de tratamento com Etanercept foi baseado em

protocolos descritos na literatura para tratamento de pacientes com insuficiência

cardíaca (BOZKURT et al., 2001). A dose de 2,5 mg/Kg de Etanercept foi escolhida

baseada em protocolos descritos na literatura para modelos experimentais de

disfunção cardíaca em ratos e camundongos (KRASINSKI et al., 2001; PENG et al.,

2003). Como controle de toxicidade da terapia, um grupo de 7 animais sadios,

pareados para idade e sexo, foram submetidos ao mesmo esquema e tempo de

tratamento com Etanercept.

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Metodologia

43

4.7 Avaliação da eficácia do tratamento com Etanercept na fase crônica da

infecção

Antes da infecção por T. cruzi e 8 meses PI (período pré-tratamento), todos

os animais foram submetidos a exame ecocardiográfico para análise da estrutura e

função cardíaca. Os registros de óbitos durante o período de tratamento foram

utilizados para a determinação da curva de sobrevida. Após 15 e 45 dias de

tratamento, uma amostra de sangue foi colhida para a detecção de parasitas

circulantes. Após o tratamento (11 meses PI), todos os animais sobreviventes foram

submetidos a exame ecocardiográfico para análise da função cardíaca e presença

de dilatação do VE. Após 72h do exame ecocardiográfico, os animais foram

sacrificados, o coração foi retirado, pesado e o tecido cardíaco processado para

estudo histopatológico, onde se analisou a presença de miocardite; imuno-

histoquímica para detecção de antígenos de T. cruzi, imunocomplexos de IgG e

TNF-α. A ponta do VE foi congelada para posterior extração de RNA para avaliação

da expressão de citocinas (TNF-α, IFN-γ e IL-10) e genes ativados por citocinas

(iNOS, MnSOD, A20) por RT-PCR em tempo real.

4.8 Análise de sobrevida

Após a infecção por T. cruzi, os animais foram observados diariamente para

determinação da curva de sobrevida. Os animais que, no decorrer das observações,

apresentaram incapacidade de movimentar-se e/ou alimentar-se voluntariamente

foram sacrificados e considerados como mortos para a análise de sobrevida. Os

óbitos espontâneos ocorridos no decorrer do estudo também foram registrados. As

curvas de sobrevida foram analisadas pelo teste de LogRank através do programa

computacional GraphPad Prism, versão 3.0.

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Metodologia

44

4.9 Coleta de sangue

Os animais foram sangrados pelo plexo retro-orbital com auxílio de pipeta

Pasteur heparinizada e o sangue obtido foi utilizado para detecção de parasitas

circulantes. No momento do sacrifício, o sangue de cada animal foi obtido através de

punção cardíaca para obtenção do soro e posterior detecção de anticorpos anti-T.

cruzi.

4.10 Obtenção do soro

Para obtenção do soro, o sangue colhido foi deixado à temperatura

ambiente por 2 h para completa coagulação e transferido para tubos secos de 1,5

ml. O soro foi centrifugado a 10000 g por 6 minutos em centrífuga refrigerada de 8-

10°C e em seguida foi estocado a -80°C até o momento de uso.

4.11 Detecção de parasitas circulantes

Uma alíquota de 5 µl de sangue de cada animal foi obtida, conforme descrito

anteriormente e diluída 1/2 em tampão de lise de hemácias para contagem de

parasitas circulantes pelo método de contagem direta em câmara de Neubauer

(WRIGHTSMAN et al., 1982). Alternativamente, 5 µl de sangue de cada animal foi

colocado diretamente em lâmina com lamínula (22x22 mm) e a contagem de

parasitas circulantes foi realizada em 50 campos em objetiva 40X (BRENER, 1962).

4.12 Análise ecocardiográfica da estrutura e função cardíaca

O estudo das alterações da anatomia cardíaca bem como da função

ventricular dos animais foi realizado através de ecocardiografia transtorácica bi-

dimensional, Modo-M e Doppler pulsado, utilizando ecocardiógrafo Accuson, modelo

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Metodologia

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Sequóia 512 com transdutor linear de 13 MHz (15L8) que oferece 0,35 mm de

resolução lateral e 0,25 mm de resolução axial. Para a realização desse exame, os

animais foram previamente anestesiados com 250 mg/Kg de tribromoetanol (Sigma

Chemicals Co. EUA) via intraperitoneal, pesados, colocados em posição supino

ventral, submetidos a tricrotomia e restringidos de movimentos. Imagens

bidimensionais foram obtidas e, a partir destas, o cursor para Modo-M foi

posicionado perpendicular ao septo intraventricular e à parede posterior do VE ao

nível dos músculos papilares. As imagens foram armazenadas em formato digital

para análise posterior pelo ecocardiografista de maneira cega. Os exames foram

realizados de acordo com a padronização deste exame em roedores pequenos

(TANAKA et al., 1996; HAAS et al., 1995; GARDIN et al., 1995) e segundo as

recomendações da Sociedade Americana de Ecocardiografia (SAHN et al., 1978).

As dimensões cardíacas durante a sístole e diástole foram analisadas pelo Modo-M

para a determinação dos diâmetros diastólico (DDVE) e sistólico (DSVE) do

ventrículo esquerdo. A função ventricular esquerda foi calculada através da fração

de encurtamento do ventrículo esquerdo: ∆D (%) = [(DDVE-DSVE)/DDVE] X 100. Os

valores de DDVE e DSVE foram corrigidos pelo peso corporal. Simultaneamente ao

ecocardiograma, o eletrocardiograma de uma derivada também foi realizado para

localizar a diástole. Como controle, foram utilizados os ecocardiogramas de animais

sadios não infectados, pareados por idade e sexo.

4.13 Análise histopatológica do tecido cardíaco

Para a análise histopatológica do coração, os animais foram previamente

anestesiados, pesados e os batimentos cardíacos foram interrompidos em diástole

através da injeção intracardíaca de solução de KCl 3 M. Alguns animais com morte

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Metodologia

46

espontânea também tiveram o coração recuperado antes do rigor mortis. O coração

foi retirado da cavidade torácica, pesado, dissecado e cortado transversalmente ao

nível do equador. A porção mediana foi fixada por 48 h em solução tamponada (pH

7.2) de formalina 10% e posteriormente processado pelo método de inclusão em

parafina. Cortes transversais de tecido cardíaco (5-7 µm) ao nível do músculo papilar

do coração foram realizados de modo a analisar conjuntamente ventrículo direito

(VD) e esquerdo. Todas as análises histopatológicas foram realizadas de modo

cego.

4.13.1 Cálculo do índice de dilatação

As imagens do corte transversal corado com hematoxilina e eosina (H&E)

foram digitalizadas em aumento de 10X e as medidas de diâmetro do VE, espessura

da parede posterior (PP) e do septo intraventricular (SIV) foram obtidas com o

programa AxioVision 3.0 (Zeiss, Alemanha). O cálculo do índice de dilatação do VE

foi calculado pela equação: diâmetro do VE / média do SIV + PP. Este índice foi

calculado de modo a obter a informação de presença ou ausência de dilatação na

data da morte.

4.13.2 Quantificação da miocardite

As imagens do corte transversal corado com hematoxilina e eosina (H&E)

foram digitalizadas em aumento de 400X e a quantificação da intensidade da

inflamação foi feita por morfometria com auxílio de programa analisador de imagens

(AxioVision 3.1, Zeiss, Alemanha). Para isso, o número de células inflamatórias

presentes em dois cortes não consecutivos (8-10 campos aleatórios por corte) foi

somado e dividido pela área total de tecido cardíaco (n°células inflamatórias/mm2). A

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Metodologia

47

área de inflamação no miocárdio foi quantificada com o auxílio do programa

MetaMorph 5.0 (Nikon, Japão). A soma das áreas dos infiltrados de dois cortes não

consecutivos (20 campos/corte) foi calculada para cada animal e dividida pela soma

das áreas de todos os campos analisados. O resultado foi expresso em

porcentagem de área de inflamação.

4.13.3 Detecção de antígenos de T. cruzi no tecido cardíaco

Os cortes de tecido cardíaco embebidos em parafina foram submetidos a

imuno-histoquímica para detecção in situ de antígenos do T. cruzi no miocárdio.

Para isso, os cortes foram previamente desparafinizados e o bloqueio de peroxidase

endógena foi feito com H2O2 3%. Após essa etapa, os cortes foram incubados

durante 18h a 4oC com soro policlonal de coelho anti-T. cruzi (1:30000). A revelação

foi feita com anticorpo biotinilado anti-IgG de coelho (1:800) e complexo avidina-

biotina-peroxidase para amplificação da reação (1:1000) (Dako, CA, EUA). A

visualização da reação foi feita após a adição do substrato cromogênico da

peroxidase diaminobenzidina (DAB). Todos os cortes foram contra-corados com

hematoxilina. Como controle positivo, foram utilizados cortes de tecido cardíaco de

camundongo com miocardite aguda pós-infecção por T. cruzi. A omissão do

anticorpo primário anti-T.cruzi foi utilizada como controle negativo interno da reação.

A área de antígeno de T.cruzi no miocárdio (corada em marrom pela

peroxidase) foi quantificada com o auxílio do programa MetaMorph 5.0 (Nikon,

Japão). Para esta análise, o programa quantifica automaticamente a área corada em

marrom (definido pelo experimentador) em cada campo (aumento de 200X). A soma

das áreas de antígeno de T.cruzi de dois cortes não consecutivos foi calculada para

cada animal e dividida pela soma das áreas de todos os campos analisados. O

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Metodologia

48

resultado foi expresso em porcentagem de área de antígeno de T.cruzi . A área de

antígeno de T.cruzi compreende a área de ninhos intactos e a área de antígeno

disperso pelo miocárdio, proveniente do rompimento de ninhos.

O número de ninhos no miocárdio foi obtido após contagem manual de dois

cortes não consecutivos (40-50 campos por corte) em aumento de 400X com auxílio

de programa analisador de imagens (AxioVision, Zeiss, Alemanha). Para o cálculo

do número de ninhos/mm2 de tecido, foi somado o número de ninhos de todos os

campos e dividido pela soma da área de todos os campos analisados.

4.13.4 Detecção de TNF-α no miocárdio

Cortes de tecido cardíaco de 5µm fixados em formalina e embebidos em

parafina foram desparafinizados e submetidos a reação de imuno-histoquímica para

detecção de TNF-α. Os cortes foram submetidos a digestão enzimática com tripsina

0,025% pH 7,4 para exposição dos sítios antigênicos. O bloqueio de peroxidase

endógena foi feito com H2O2 3% e o bloqueio de reações inespecíficas foi feito com

leite Molico 10% em PBS. Após essas etapas, a permeabilização dos cortes foi feita

com tampão saponina 0,1%. Os cortes foram então incubados com anticorpo

primário anti-TNF-α produzido em cabra (Santa Cruz, CA, EUA). Em seguida foi

adicionado anti-IgG de cabra conjugado com peroxidase. A visualização da reação

foi feita com a adição do substrato cromogênico da peroxidase (diaminobenzidina) e

em seguida as lâminas foram contra-coradas com hematoxilina. A omissão do

anticorpo primário foi utilizada como controle negativo. Cortes de tecido esplênico de

hamster infectado por T.cruzi e tecido de tonsila humana com inflamação crônica

foram utilizados como controle positivo. O anticorpo anti-TNF-α utilizado é específico

para TNF-α humano, de rato e de camundongo, porém também reconhece TNF-α

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Metodologia

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de hamster. O antígeno peptídico específico para obtenção do anticorpo anti-TNF-α

apresenta 72% de identidade com TNF-α de hamster e quando analisado pelo

programa NCBI BLAST (http://www.ncbi.nlm.nih.gov), conforme descrição do

fabricante (Santa Cruz, CA, EUA). Esta análise também mostrou que o antígeno

peptídico não apresenta identidade com nenhuma seqüência de proteína de hamster

depositada em banco de dado.

Para esta análise 30-40 campos em aumento de 400X de 3-4 cortes não

consecutivos de cada animal foram examinados. A identificação de marcação

positiva pela peroxidase em pelo menos um campo foi utilizada para o cálculo de

freqüência de animais com células TNF-α positivas no infiltrado inflamatório.

4.13.5 Detecção de imunocomplexos no miocárdio

Cortes de tecido cardíaco de 5 µm fixados em formalina e embebidos em

parafina foram desparafinizados e submetidos a imuno-histoquímica para detecção

de imunocomplexos de IgG depositados sobre as estruturas cardíacas. Os cortes

foram incubados com anticorpo produzido em cabra anti-IgG de hamster conjugado

a peroxidase (Rockland, PA, EUA) e em seguida com complexo amplificador LSAB

(Dako, CA, EUA). A visualização da reação foi feita com a adição do substrato

cromogênico da peroxidase (diaminobenzidina) e em seguida as lâminas foram

contra-coradas com hematoxilina. A omissão do anticorpo primário foi utilizada como

controle negativo e cortes de tecido renal de hamsters infectados por Toxocara canis

foram utilizados como controle positivo.

Para esta análise 30-40 campos em aumento de 400X de 3-4 cortes não

consecutivos de cada animal foram examinados. A identificação de marcação

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Metodologia

50

positiva pela peroxidase em pelo menos um campo foi utilizada para o cálculo de

freqüência de animais com imunocomplexo IgG no miocárdio ou no endotélio.

4.14 Quantificação dos níveis de TNF bioativo

A quantificação dos níveis bioativos de TNF-α e LT-α foi feita por meio de

bioensaio de citotoxicidade a fibroblastos L929 (modificado de HOGAN e VOGEL,

1988).

Cultivo de fibroblastos: os fibroblastos foram cultivados por 48 h em meio DMEM

acrescido de 10% de soro fetal bovino (Gibco, Grand Island, NY, EUA) em garrafa

de 25 ml. Após 48 h, a confluência da monocamada de células foi checada ao

microscópio e, para o repique, as células foram tratadas por 2-4 minutos a 37°C com

tripsina 0,1%/EDTA 0,02% em solução Hanks sem Ca2+/Mg2+. A ação da tripsina foi

bloqueada com 10 ml de DMEM com 10% de soro fetal bovino. As células L929

foram centrifugadas a 600 g por 8 minutos e em seguida ressuspensas em meio de

cultivo DMEM com 10% de soro fetal bovino.

Bioensaio de citotoxicidade: 3 X 104 fibroblastos L929 foram cultivados em placas de

96 poços por 24 h a 37°C em atmosfera de 5% de CO2. Após este período, as

amostras (plasmas ou sobrenadantes de cultivo de células esplênicas) foram

adicionadas aos poços contendo a monocamada de células L929. A divisão celular

foi interrompida com 2 µg/ml de actinomicina D (Sigma Chemicals Co, CA, EUA).

Em seguida, as placas foram incubadas por 18-20 h a 37°C em atmosfera de 5% de

CO2. O sobrenadante foi aspirado e os poços lavados com solução salina. A

coloração foi feita com 50 µl do corante vital violeta cristal 0,05% em etanol 20% por

10 minutos à temperatura ambiente. Após lavagem e secagem, a coloração das

células foi eluída com 100 µl de metanol e a citotoxicidade foi determinada em leitora

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Metodologia

51

de ELISA (BIORAD, model 3550) em comprimento de onda de 595nm. Como curva-

padrão, utilizamos TNF-α recombinante murino (Pharmigen, CA, EUA) em

concentrações conhecidas. A concentração de TNF-α/LT-α nas amostras foi

calculada por meio de interpolação na curva padrão.

4.15 Determinação do efeito in vitro e in vivo do Etanercept sobre a atividade

de TNF-α em hamster

A capacidade do receptor solúvel de TNF-α humano (Etanercept, Immunex

Co, Seattle, EUA) de bloquear a atividade de TNF-α de hamster foi testada através

do bioensaio de citotoxicidade em células L929, descrito acima. Para isso utilizamos

soro de hamster com elevados níveis de TNF-α bioativo e diferentes concentrações

de Etanercept. Dados da literatura mostraram que 140 pg/ml de Etanercept bloqueia

a citólise de células L929 induzida por 1,7 ng/ml (equivalente a 100 U/ml de TNF-α

bioativo) de TNF-α recombinante humano (BECHER et al., 1999). Essa relação foi

utilizada como parâmetro para saber qual concentração de Etanercept deveria ser

utilizada para bloquear o TNF-α de hamster. Células L929 foram cultivadas na

presença de soro de animal injetado com 10 mg/Kg de LPS de E. coli sorotipo

0127:B8 (Sigma Chemicals Co, EUA), com elevados níveis de TNF-α bioativo, e

concentrações crescentes de Etanercept (14, 140, 1400 pg/ml). Como controle,

utilizamos TNF-α recombinante humano (1700 pg/ml). Após incubação por 20h a

37°C em atmosfera de 5% de CO2, a citotoxicidade às células L929 foi medida

conforme descrito acima e a porcentagem de lise celular foi calculada a partir da

fórmula: (1-(absorbância amostra/absorbância controle))X100, usando como controle

a absorbância das células L929 cultivadas apenas em meio. A lise celular nos poços

contendo Etanercept e TNF-α humano ou de hamster foi comparada à lise celular

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Metodologia

52

obtida nos poços controles sem Etanercept. Os resultados foram expressos em U/ml

de TNF-α bioativo.

O efeito do Etanercept no bloqueio de TNF-α in vivo foi avaliado em modelo

de endotoxemia, conforme descrito na literatura (WU et al., 1999). O modelo para

verificar se o Etanercept bloqueia a atividade de TNF-α induzida por LPS consistiu

na administração i.p. de 10 mg/Kg de LPS de E. coli sorotipo 0127:B8 (Sigma

Chemicals Co, EUA) em animais previamente tratados com 2,5 mg/Kg de Etanercept

(2 h antes da injeção com LPS). Noventa minutos após a injeção de LPS, o soro dos

animais foi coletado para dosagem de TNF-α bioativo. Como controle positivo, um

grupo de animais não recebeu Etanercept e foi injetado com LPS e o soro foi obtido

nos mesmos períodos. Como controles, o soro de todos os animais foi obtido antes

da injeção de LPS ou Etanercept. Os níveis de TNF-α foram determinados pelo

bioensaio de citotoxicidade às células L929. A dose de 10 mg/Kg de LPS foi

previamente testada em hamster e mostrou-se eficaz na indução de endotoxemia.

4.16 Pesquisa de anticorpos séricos anti-T.cruzi

A confirmação da infecção foi feita através da pesquisa de IgG anti-T.cruzi no

soro dos animais infectados (agudos e crônicos) pelo método de ELISA direto

antígeno específico. Para isso, placas de poliestireno foram sensibilizadas com

167ng/poço de extrato alcalino de formas epimastigotas de T. cruzi por 18-24 h a

4°C. O bloqueio contra reações inespecíficas foi feito com PBS-Tween 20 0,1%

acrescido de 2% de BSA por 1 h a 37°C. Em seguida, os soros foram diluídos em

PBS-BSA 1% e incubados por 2 h a 37°C. A revelação da reação foi feita com a

incubação do anticorpo de cabra anti-IgG de hamster conjugado a peroxidase

(Rockland, Gilbertsville, PA, EUA) por 1 h a 37°C. A reação foi visualizada após a

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Metodologia

53

adição do tampão citrato pH 5,0 e substrato da peroxidase o-fenilenodiamina e em

seguida determinada a absorbância (Abs) em comprimento de onda de 490 nm,

utilizando leitora de ELISA (model 3550, BioRad, Hercules, CA, EUA). Para a

determinação do título de IgG, os soros foram diluídos 1/200 até 1/25600. O valor

de cut-off foi determinado da seguinte maneira: média da Abs dos soros de animais

controles não infectados na diluição 1/200 (menor diluição) dos experimentos da

fase aguda e crônica acrescido de 2 desvios-padrão: 0,173 + 2(0,079) = 0,331. O

título de IgG anti-T.cruzi foi determinado como sendo o inverso da primeira diluição

com Abs superior ao cut-off. Todos os animais que foram infectados e apresentaram

título de IgG sérica anti-T. cruzi > 800 foram incluídos nas análises. Os animais

controles não infectados que apresentaram título > 400 foram excluídos de todas as

análises.

4.17 Quantificação gênica por RT-PCR em tempo real

4.17.1 Extração de RNA

O RNA foi extraído pelo método descrito por Chomzynski e colaboradores

(1987), o qual utiliza solução de Trizol (Life Technologies, Grand Island, NY, EUA)

para isolamento de RNA total. Trizol é uma solução monofásica de fenol e

isotiocianato de guanidina que rompe a célula mantendo a integridade do RNA. Este

método consistiu inicialmente da homogeneização de amostras de tecido cardíaco

(ventrículo esquerdo) de aproximadamente 20-40 mg em solução de Trizol

(Invitrogen, Carlsbad, CA) utilizando homogeneizador de tecido (Power Gen 1000,

Fisher Scientific, Atlanta, EUA). Após a incubação das amostras por 5 minutos a

temperatura ambiente, para permitir completa dissociação de complexos de

nucleoproteínas, foi adicionado 0,2 ml de clorofórmio para cada ml de trizol, seguido

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Metodologia

54

de agitação vigorosa por aproximadamente 15 segundos. O material foi

posteriormente incubado por 2 a 3 minutos à temperatura ambiente e centrifugado

por 15 minutos a 1120 g a 4oC. Após esta centrifugação ocorre a separação da

solução em três fases (aquosa, interface e orgânica). A fase aquosa foi transferida

para um novo tubo contendo 0,5 ml de álcool isopropílico para cada ml de trizol, para

a precipitação do RNA. Este tubo foi homogeneizado por inversão, seguido de

incubação por 10 minutos a temperatura ambiente e então centrifugado novamente

a 1120 g por 15 minutos a 4oC. O sobrenadante foi removido e o pellet de RNA

lavado com etanol 75% diluído em água DEPC (Dietilpirocarbonato, Sigma-Aldrich,

Steinhein, Alemanha) seguido de centrifugação a 640 g por 5 minutos a 4oC. O RNA

assim obtido foi deixado secar por 5 minutos para evaporação do etanol e então

ressuspenso em 10 µl de água DEPC. Este material foi mantido a – 80oC até o

momento da transcrição.

Alternativamente, algumas amostras de tecido cardíaco foram extraídas

utilizando kit comercial RNeasy® Fibrous Tissue Mini kit (Quiagen, Valencia, CA,

EUA), de acordo com especificações do fabricante. Resumidamente, as amostras

foram lisadas com tiocianato de guanidina e tratadas com proteinase K. Os restos

celulares foram separados por centrifugação e adição de etanol e as amostras foram

colocadas em coluna de sílica. Possíveis contaminações com DNA foram eliminadas

através do tratamento das amostras com DNase e por último as amostras foram

eluídas da coluna em água DEPC.

4.17.2 Quantificação do RNA

Após extração, o RNA obtido foi quantificado através de leitura em

espectrofotômetro (Beckman, DU530, Fullerton, CA, EUA) nos comprimentos de

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Metodologia

55

onda (λ) de 260 e 280 nm. O grau de pureza da amostra foi verificado através da

análise da relação entre 260 e 280 nm. Sendo considerada uma boa extração

aquela que apresentou valores entre 1,6 a 1,8. Para o cálculo da concentração da

amostra considerou-se que a absorbância igual a 1 corresponde a 40 µg de RNA /

ml no comprimento de onda de 260 nm (SAMBROOK, 1989).

Além disso, uma alíquota de RNA foi submetida a eletroforese em gel de

agarose 1% para visualização da integridade das amostras e também possíveis

contaminações com DNA (Figura 3).

Figura 3. Avaliação da integridade das amostras de RNA. 1 µg de RNA para cada amostra foi carregado em gel de agarose 1% corado com brometo de etídio (0,5 µg/ml) e submetido a corrida eletroforética a 100 V durante 40 minutos. Lanes 1 a 3 representam RNA de diferentes amostras de tecido cardíaco e lane 4 marcador de peso molecular de 100 pb (Ladder 100 bp, Invitrogen, Carlsbad, CA, EUA).

4.17.3 Transcrição reversa

Após constatação da qualidade e pureza do RNA, a transcrição reversa do

RNA para cDNA foi feita com 5 µg de RNA total utilizando a enzima transcriptase

reversa (Super-script II™ Reverse Transcriptase, Invitrogen, Carlsbad, CA, EUA).

Para este protocolo foi adicionado ao RNA 1µl de oligodT (500 µg/ml), 1 µl de dNTP

1 2 3 4

28S

18S

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Metodologia

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(10 mM de dATP, dCTP, dGTP e dTTP) e água DEPC q.s.p. 12 µl. Esta mistura foi

aquecida a 65oC por 5 minutos em termociclador (MJ research, Inc., watertown, MA,

EUA). Em seguida foi adicionado ao tubo de reação 4 µl de tampão de transcrição

5x (Tris-HCl 250mM pH 8,3, KCl 375 mM, MgCl2 15 mM), 2 µl de DTT 0,1 M e 1 µl de

inibidor de RNase (40 U/µL) (RNAse OUT™, Invitrogen, Carlsbad, CA, EUA). As

amostras foram então colocadas em termociclador a 42oC por 2 minutos. Por último

foi adicionado 1 µl da enzima transcriptase reversa (200 U/µL) e a solução foi

colocada novamente em termociclador a 42oC por 50 minutos seguidos de 70oC por

15 minutos.

4.17.4 Reação de RT-PCR em tempo real

Os primers utilizados nas reações de amplificação foram desenhados pelo

programa Primer Express (Applied Biosystems, EUA). O tamanho dos primers variou

de 18 a 23 bases, a temperatura de anelamento (Tm, do inglês melting temperature)

de 59-61ºC e o conteúdo de GC de 40-60% e foram utilizados na concentração de

250 nM. O tamanho dos produtos de amplificação gerados variou de 90 a 110 pb e

75-85°C de Tm. As reações de PCR em tempo real foram realizadas em placas de

96 poços, usando o reagente “SYBR-Green PCR Master Mix” (Applied Biosystems,

Foster City, CA, EUA) e o equipamento “Perkin-Elmer ABI Prism 7500 Sequence

Detection System”. A reação foi realizada em 40 ciclos de 15 segundos a 94ºC e 1

minuto a 60ºC, de acordo com o manual de instruções do fabricante ABI PRISM

7500. A determinação da intensidade de fluorescência na reação foi feita pelo

cálculo do ∆Rn (∆Rn = Rn+ - Rn-), onde Rn+ = intensidade de emissão do SYBR

Green / intensidade de emissão do ROX em um dado momento da reação, e Rn- =

intensidade de emissão do SYBR Green / intensidade de emissão do ROX, antes da

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Metodologia

57

amplificação. O composto ROX é utilizado como controle interno passivo, pois a

fluorescência que emite tem intensidade constante durante toda a reação, enquanto

que o a fluorescência emitida pelo SYBR Green aumenta à medida que este liga-se

nas duplas fitas de DNA. Durante os ciclos iniciais da reação, não há acúmulo de

produtos de amplificação e os valores de ∆Rn permanecem na linha de base

(fluorescência do ROX > SYBR Green). Na fase logarítmica da reação ocorre

acúmulo dos produtos de amplificação e a ∆Rn ultrapassa a linha de base. Para a

quantificação relativa, foi estabelecido um valor de ∆Rn, que é uma linha de corte

(Threshold) para cada curva de amplificação de um dado par de primers. O número

do ciclo em que a ∆Rn cruza o threshold corresponde ao Ct (cycle threshold) da

amostra. O valor de Ct é preditivo da quantidade de RNAm alvo presente na

amostra. O cálculo da quantificação relativa foi feito pelo método de 2-∆∆Ct descrito

por Livak e Schmittgen (2001), utilizando como gene de referência o GAPDH. A

fórmula utilizada para a quantificação relativa (QR) é QR= 2∆∆Ct, onde ∆Ct= Ct gene

alvo – Ct gene eferência, e ∆∆Ct= ∆Ct amostra - ∆Ct controle.

Os genes ciclofilina, transferrina e GAPDH foram testados para a escolha do

gene endógeno. Após vários experimentos, foi escolhido o gene GAPDH como gene

referência pois o Ct para esse gene foi semelhante nas amostras de miocárdio de

animais controles não infectados, animais infectados e infectados tratados.

4.17.5 Especificidade e adequação dos primers

A especificidade dos primers desenhados pelo Primer Express foi avaliada

pela curva de dissociação. Para isso, após a reação, a placa foi submetida a um

segundo programa: 95°C por 1 minuto, 60°C por 1 minuto e 95°C por 1 minuto. A

curva de dissociação consiste na monitorização da fluorescência das amostras em

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Metodologia

58

relação ao aumento de temperatura. A fluorescência das amostras decresce com o

aumento da temperatura, pois a medida que as pontes de hidrogênio, que mantém

as duplas fitas unidas se rompem (devido ao aumento de temperatura), o SYBR-

Green é liberado. A fluorescência é emitida somente quando o DNA está em dupla

fita. Assim, quando observamos somente um pico de fluorescência em uma dada

temperatura significa que houve amplificação de um produto específico. Esta

temperatura é a temperatura de anelamento ou melting point (Tm) do produto de

amplificação (amplicon). A Tabela 1 mostra a seqüência e as características dos

primers utilizados e a Figura 4 as suas respectivas curvas de amplificação e

dissociação. Para o desenho dos primers para os genes codificadores de A20, iNOS,

e MnSOD, foram utilizadas regiões conservadas seqüências de camundongo e rato

depositadas no banco de dados, uma vez que, até o momento, não existem

seqüências correspondentes para hamster disponíveis em banco de dados.

A especificidade da reação de PCR em tempo real foi também avaliada

através da migração do produto de amplificação em gel de poliacrilamida 8%, o qual

possibilita a separação de fragmentos pequenos e a visualização de possíveis

amplificações não específicas. A Figura 5 mostra que a reação de PCR em tempo

real para os genes estudados amplificou fragmento único com o tamanho em pb

esperado.

4.17.6 Cálculo da eficiência de amplificação dos primers utilizados

O método 2-∆∆Ct para cálculo da expressão gênica assume que a eficiência de

amplificação do gene alvo e do gene de referência é igual a 2, ou seja, 100%. Para o

cálculo da eficiência foi utilizada a equação E = 10(-1/slope), onde E corresponde à

eficiência e slope corresponde ao coeficiente de angulação da curva (PFAFFL, 2001;

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Metodologia

59

PFAFFL et al., 2002). Para cada gene estudado foi realizada uma reação com

diluições seriadas de amostra de cDNA (1/5 a 1/1250) e o primer de interesse. Os

valores de Ct obtidos foram plotados em gráfico para cálculo do slope e da

eficiência. A Figura 4 mostra as curvas de amplificação utilizadas para cálculo da

eficiência de amplificação dos genes estudados.

Tabela 1. Descrição e identificação dos genes estudados, seqüência dos primers

utilizados e características do produto de amplificação

Primers Identificação

Gene Bank Seqüência Tm

amplicon (0C)

Tamanhoamplicon

(pb)

GAPDH

X02231

5´CTGACATGCCGCCTGGAG

3´TCAGTGTAGCCCAGGATGCC

82

101

TNF-α M13049 5´TCAAAATTCGAACGACAAGCC

3´TTGGCCAGGAGGGCATT

84 102

IFN-γ M28621 5´GAAGCTCACCAAGATTCCGGTAA

3´TTTTCGTGACAGGTGAGGCAT

78 91

IL-10 AF046210 3´GGCAACTGCAGCGCTGTC

5´AGACGCCTTTCTCTTGGAGCTTAT

77 102

iNOS M92649 5´TCCCTCCTGATCTTGTGTTGGA

3´GCATACCACTTCAACCCGAGC

79 86

MnSOD X04972 5´CCTGCTCTAATCAGGACCCATT

3´GCTCCCACACGTCAATCCC

79 72

A20 U19463 5´GAATTTGTGGAAACAGGACTTTGC

3´TGCTGATGCCATTTTGACCA

78 81

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Metodologia

60

b) TNF-

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3log RNA (ng)

Méd

ia C

t

y = -3.198x + 36.794 R2 = 0.997

E = 10(-1/3.198) = 2.0

A) GAPDH

y = - 3.569x + 28.831 R2 = 0.9993

E = 10 (-1/3.589) = 1.9

log RNA (ng)

Média Ct

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

3 1 2 4

a b

c

B) TNF-α a b

c

1 2 3 4

12

34

1 2

3 4

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Metodologia

61

log RNA (ng)

Méd

ia C

t

C) A20 a) b)

c)

D) MnSOD a) b)

c)

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

y = -3.653x + 35.6026 R2 = 0.9934

E=10 (-1/3.653) = 1,9

1 2 3 4

0

5

10

15

20

25

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

y = -3.309x + 25.744 R2 = 1

E= 10 (-1/3.309) = 2,0

log RNA (ng)

Méd

ia C

t 1 2 3 4

1 2

3 4

1

2

3

4

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Metodologia

62

log RNA (ng)

Méd

ia C

t

E) INF-γ a b)

c

F) a b)

clog RNA (ng)

Méd

ia C

t

1 2 3 4

0

5

10

15

20

25

30

35

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

1 2

3 4

1 3 4

y = -3.605x + 30.937 R2 = 0.9792

E = 10 (-1/3.605) = 1,9

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

1 2

3 4

y = -3.909x + 41.128 R2 = 0.9919

E = 10(-1/3.909) = 1.8

2

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Metodologia

63

log RNA (ng)

Méd

ia C

t

a b

c

0

5

10

15

20

25

30

35

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

y = -3,398x + 32,371 R2 = 0,9979

E = 10 (-1/3.398) = 1.9

1 2 3 4

1 2

3 4

G) IL-10

Figura 4. Curva de amplificação, eficiência e dissociação dos genes estudados. A) GAPDH; B) TNF-α; C) A20; D) MnSOD; E) INF-γ; F) iNOS; G) IL-10. Em (a) curva de amplificação utilizada para verificar a eficiência de amplificação dos primers utilizados. Em (b) gráfico utilizado para o cálculo da eficiência. O quadro interno em (b) mostra a equação da reta e o valor do coeficiente de angulação utilizado para cálculo da eficiência. Em (c) curva de dissociação mostrando a amplificação de um único fragmento para os primers testados. 1. cDNA diluído 1/10 (500ng RNA); 2. cDNA diluído 1/50 (100ng RNA); 3. cDNA diluído 1/250 (20ng RNA); 4. cDNA diluído 1/1250 (4ng RNA).

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Metodologia

64

Figura 5. Produto de amplificação da reação de PCR em tempo real para controle de amplificações não específicas. 10 µl do produto de amplificação da reação de PCR em tempo real para os genes de TNF-α (1), MnSOD (2), A20 (3), iNOS (4), INF-γ (5), IL-10 (6) e GAPDH (7) foram submetidos a eletroforese em gel de poliacrilamida 8% corado com brometo de etídeo (0,5 µg/ml). Todos os genes apresentam amplificação de um único fragmento com o tamanho esperado. TNF-α – 102 pb, MnSOD – 72 pb, A20 – 81 pb, iNOS – 82 pb, INF-γ – 91pb, IL-10 – 102 pb e GAPDH – 101 pb. L – marcador de peso molecular (ladder) de 50pb.

1 2 L 3 4 5 6 7 L

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Metodologia

65

4.18 Análise estatística

A estatística descritiva está representada pela mediana e valores mínimo e

máximo. As comparações entre dois grupos para variáveis numéricas não pareadas

foram realizadas utilizando-se o teste não-paramétrico U de Mann-Whitney. As

comparações entre mais de dois grupos de variáveis numéricas não pareadas foram

feitas utilizando-se o teste ANOVA não-paramétrico de Kruskal Wallis e o teste de

Dunns como pós-teste. As comparações intragrupo para dois diferentes tempos

analisados foram feitas pelo teste pareado não-paramétrico Wilcoxon signed rank

test. As associações entre variáveis qualitativas nominais foram analisadas

utilizando-se o teste exato de Fisher, ou pelo teste Qui-quadrado com correção de

Yates quando o valor de alguma das caselas foi igual a zero. As análises de

correlação entre duas variáveis numéricas independentes foram feitas utilizando-se

o teste de correlação não-paramétrico de Spearman. Todos os valores de p

relatados são bicaudais. Valores de p menores que 0,05 foram considerados

significativos. Os testes U de Mann-Whitney, Kruskal-Wallis, Wilcoxon, Fisher e qui-

quadrado com correção de Yates foram executados no programa computacional

GraphPad Prism, versão 3.0. O teste de Spearman foi executado no programa de

estatística SPSS 10.

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Resultados

66

5 RESULTADOS

5.1 Fase aguda da infecção pelo T. cruzi

5.1.1 Sinais e sintomas

Baseado em nossos resultados anteriores, onde aproximadamente 30% dos

hamsters infectados morreram espontaneamente durante a fase aguda (a partir do

21° dia PI) (BILATE et al., 2003), objetivamos investigar as diferenças

histopatológicas entre os animais que sucumbem à fase aguda e os que resistem.

Para isso, os animais foram infectados e sacrificados após 21 dias de infecção.

Neste experimento foi possível distinguir dois subgrupos de acordo com a presença

ou ausência de sintomas de fase aguda na terceira semana de infecção: 50% (6/12)

dos animais apresentaram sintomas de fase aguda (caquexia, letargia, vômito,

diarréia e perda de peso) e o restante permaneceu sem os sintomas clínicos

descritos acima. A perda de peso no grupo de animais infectados que apresentaram

sintomas de fase aguda 21 dias PI foi significativamente maior do que entre os

animais infectados que não apresentaram sintomas (Figura 6). Entre os animais

controles não infectados, ao contrário, observou-se ganho de peso (Anexo A). Em

conjunto, os resultados mostram que o hamster sírio não isogênico apresenta

suscetibilidade diferencial à fase aguda da infecção pela cepa Y de T. cruzi.

5.1.2 Parasitemia

A pesquisa direta de parasitas circulantes mostrou que a freqüência de

animais com parasitemia detectável após 5, 8, 13 e 21 dias PI foi muito baixa: 1/12,

3/12, 0/12 e 0/12, respectivamente.

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Resultados

67

Figura 6. Perda de peso durante a fase aguda da infecção por T. cruzi em hamster.

Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas da cepa Y de T. cruzi. Antes e 21 dias após a infecção, os animais foram pesados para cálculo da perda de peso em relação ao peso inicial antes da infecção. O gráfico mostra a comparação dos animais sem sintomas de fase aguda (FA-) e dos animais com sintomas de fase aguda (FA+). Cada símbolo representa um animal e a barra horizontal, a mediana. Valor de p bicaudal obtido pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney.

5.1.3 Análise anátomo-patológica

A análise histopatológica e imunohistoquímica para detecção de antígenos de

T. cruzi no tecido cardíaco mostrou que os animais sacrificados 21 dias PI (com e

sem sintomas de fase aguda) apresentaram intensa miocardite multi-focal de grau

moderado a grave e elevado número de ninhos de parasita (Figura 7). Os ninhos

rotos freqüentemente estavam acompanhados de intenso infiltrado inflamatório,

enquanto que os ninhos intactos estavam presentes em áreas livres de infiltrado

inflamatório (Figura 7). Como a infecção aguda pelo T. cruzi resultou em dois

padrões distintos de evolução (ausência ou presença de sintomas de fase aguda)

optamos por comparar separadamente os grupos de acordo com a presença dos

sintomas de fase aguda. No grupo sintomático, o parasitismo cardíaco, medido tanto

FA - FA +-10

0

10

20

30

40

p=0,0011

21 dias PI

% p

erda

pes

o

p=0,001

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Resultados

68

pelo número de ninhos como pela área de antígeno de T. cruzi (incluindo a área dos

ninhos e a área de antígeno fora dos ninhos) foi significativamente maior do que

entre os animais sem sintomas (Figura 8). Observou-se correlação positiva

estatisticamente significativa entre o número de ninhos no miocárdio e a área de

antígeno de T. cruzi (r=0,81; p=0,003; teste de correlação de Spearman bicaudal).

Figura 7. Parasitismo cardíaco e miocardite após 21 dias de infecção por T. cruzi. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. e sacrificados 21 dias PI. Os animais foram divididos em dois grupos de acordo com a presença ou ausência de sintomas de fase aguda. Os corações foram coletados e o tecido cardíaco processado pelo método de inclusão em parafina. Cortes de 5 µm foram corados com H&E (A e B) ou submetidos a imunohistoquímica para detecção de antígeno de T. cruzi (C e D). Em (A e C), fotomicrografia de tecido cardíaco mostrando infiltrado inflamatório de um animal assintomático e em (B e D) de um animal sintomático, aumento de 400X. As setas indicam os ninhos. As cabeças de setas indicam áreas de inflamação sem ninho. Em marrom, marcação positiva da peroxidase para antígeno de T. cruzi. Aumento de 400X.

A

C D

B

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Resultados

69

Entre os animais que desenvolveram sintomas de fase aguda, o parasitismo

cardíaco foi caracterizado por numerosos e grandes ninhos de amastigotas em

regiões livres de inflamação, enquanto que, entre os animais que não apresentaram

sintomas, o parasitismo foi caracterizado por ninhos menores e antígenos do

parasita localizados em meio a focos de infiltrado linfomononuclear (Figura 7).

Entretanto, a intensidade de miocardite, medida pela área de inflamação no

miocárdio nos mesmos campos onde foi medida a área de antígeno de T. cruzi, foi

semelhante entre os animais com sintomas em comparação aos animais sem

sintomas (Figura 8).

Em conjunto, os resultados sugerem que o desenvolvimento de sintomas de

fase aguda, aliado ao intenso parasitismo cardíaco contribuem para a suscetibilidade

à infecção aguda.

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Resultados

70

Figura 8. Intensidade de parasitismo cardíaco e miocardite após 21 dias de infecção.

Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. e sacrificados 21 dias PI. Os animais foram divididos em dois grupos de acordo com a presença ou ausência de sintomas de fase aguda. Os corações foram coletados e o tecido cardíaco processado pelo método de inclusão em parafina. Cortes de 5µm foram corados com H&E ou submetidos a imunohistoquímica para detecção de antígeno de T. cruzi. O número de ninhos (A) foi obtido após contagem de 40 campos em aumento de 400X após a imunohistoquímica. A área de antígeno de T. cruzi (B) foi obtida após contagem de 15-20 campos/corte em aumento de 200X e quantificação automática da área pelo programa de análise de imagens MetaMorph 5.0 (Nikon, Japão) após a imunohistoquímica. A área de miocardite (C) foi medida em 20-30 campos de 2 cortes não consecutivos em aumento de 200X e quantificação automática da área pelo programa de análise de imagens MetaMorph 5.0 (Nikon, Japão) após a coloração com H&E. Valores de p determinados pelo teste U não-paramétrico de Mann-Whitney bicaudal. Cada símbolo representa um animal e a barra horizontal mostra a mediana.

ausente presente0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

fase aguda - 21 dias PI

Nin

hos/

mm

2

p=0,009

A

FA – FA +

21 dias PI

ausente presente0.0001

0.001

0.01

0.1

1

fase aguda - 21 dias PI

Áre

a A

g.T.

cru

zi (%

)

p=0,004

B

FA – FA +

21 dias PI

ausente presente0

1

2

3

4

5

6

7

fase aguda - 21 dias PI

Áre

a in

flam

ação

(%)

C

FA – FA +

21 dias PI

p=NS

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Resultados

71

5.1.4 Citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio

Uma vez que o aparecimento de sintomas de fase aguda estava associado à

intensidade do parasitismo cardíaco, comparamos a expressão de RNAm de

citocinas (TNF-α, IFN-γ e IL-10) e genes ativados por citocinas inflamatórias

(MnSOD, A20, iNOS) no miocárdio de animais com e sem sintomas de fase aguda

no 21° dia PI. A Figura 9 mostra os níveis de expressão de RNAm de citocinas e

genes ativados por citocinas no miocárdio de animais infectados em relação aos de

controles não infectados. Pode-se observar o predomínio de IFN-γ e IL-10, embora

os outras citocinas analisadas também tenham sido detectadas em níveis superiores

aos dos controles. A expressão de TNF-α, IFN-γ, IL-10, A20 e MnSOD foi

significativamente maior nos animais sintomáticos do que nos assintomáticos (Figura

10 e 11). Entretanto, não observamos diferença significativa na expressão de iNOS

entre sintomáticos e assintomáticos (Figura 11). Por outro lado, considerando todos

os animais infectados (com e sem sintomas de fase aguda), a expressão de iNOS

esteve significativamente correlacionada com a expressão de TNF-α e A20 (Figura

12, Tabela 2).

Considerando todos os animais infectados (com e sem sintomas de fase

aguda), a expressão de TNF-α esteve positivamente correlacionada com a

expressão de A20, IL-10, IFN-γ e MnSOD (Figura 12, Tabela 2). A expressão de IL-

10 correlacionou-se positivamente com a expressão de IFN-γ, A20 e MnSOD (Figura

12, Tabela 2).

A intensidade do parasitismo cardíaco, medida pela área de ninho/antígeno

de T. cruzi no miocárdio, esteve positivamente correlacionada com a expressão de

TNF-α, L-10, A20 e iNOS. (Figura 12, Tabela 2). As correlações entre expressão de

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Resultados

72

citocinas e intensidade do parasitismo cardíaco são apresentadas na Figura 12 e

Tabela 2. Em conjunto, os resultados sugerem que a gravidade da fase aguda,

evidenciada pelo aparecimento de sintomas clínicos e intenso parasitismo

miocárdico, está associada a uma elevada expressão de mediadores pró- e anti-

inflamatórios no miocárdio.

Figura 9. Perfil de expressão de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio na fase aguda da infecção por T. cruzi. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. Após 21 dias de infecção, os animais foram sacrificados e a ponta do VE do coração foi obtida para a extração de RNA. A quantificação relativa da expressão de RNAm de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais infectados em relação ao miocárdio de animais controles não infectados (n=6) foi feita por RT-PCR em tempo real, utilizando SYBR green. Uma amostra de RNA foi considerada imprópria para a análise e foi excluída. Cada símbolo representa um animal e a barra horizontal, a mediana.

TNF-α A20 MnSOD iNOS IFN-γ IL-100.0625

0.1250.25

0.51248

163264

128256512

1024

infectados - 21 dias

expr

essã

o re

lativ

a R

NA

m

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Resultados

73

Figura 10. Expressão miocárdica de citocinas na fase aguda da infecção por T. cruzi. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. Após 21 dias de infecção, os animais foram divididos em dois grupos de acordo com a presença (FA+) ou ausência (FA-) de sintomas de fase aguda. A ponta do VE do coração foi obtida para a extração de RNA após o sacrifício dos animais. A quantificação relativa da expressão de RNAm de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais infectados em relação ao miocárdio de animais controles não infectados (n=6) foi feita por RT-PCR em tempo real, utilizando SYBR green. Cada símbolo representa um animal e a barra horizontal, a mediana. Valores de p bicaudais obtidos pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney.

FA - FA +0.125

0.250.5

1248

163264

128256

p=0,026

21 dias PIex

pres

são

rela

tiva

IFN

- γ

FA - FA +1248

163264

128256512

p=0,0022

21 dias PI

expr

essã

o re

lativ

a IL

-10

FA - FA +1

2

4

8

16

32

p=0,0087

21 dias PI

expr

essã

o re

lativ

a TN

F-α

p=0,009

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Resultados

74

FA - FA +0.0625

0.125

0.25

0.5

1

2

4

8

p=NS

21 dias PI

expr

essã

o re

lativ

a iN

OS

FA - FA +0.0625

0.1250.25

0.51248

1632

p=0,010

21 dias PI

expr

essã

o re

lativ

a A2

0

Figura 11. Expressão miocárdica de genes ativados por citocinas na fase aguda da infecção por T. cruzi. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. Após 21 dias de infecção, os animais foram divididos em dois grupos de acordo com a presença (FA+) ou ausência (FA-) de sintomas de fase aguda. A ponta do VE do coração foi obtida para a extração de RNA após o sacrifício dos animais. A quantificação relativa da expressão de RNAm de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais infectados em relação ao miocárdio de animais controles não infectados (n=6) foi feita por RT-PCR em tempo real, utilizando SYBR green. Cada símbolo representa um animal e a barra horizontal, a mediana. Valores de p bicaudais obtidos pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney.

FA - FA +0.25

0.5

1

2

4 p=0,0043

21 dias PI

expr

essã

o re

lativ

a M

nSO

D p=0,004

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Resultados

75

Tabela 2. Correlação entre expressão de citocinas e genes ativados por citocinas e intensidade de parasitismo cardíaco na fase aguda da infecção por T. cruzi.

A tabela mostra os valores de r e p dos testes de correlação entre a área de antígeno de T. cruzi no miocárdio e os níveis de expressão miocárdica de citocinas e genes ativados por citocinas bem como a correlação das citocinas e genes entre si nos animais infectados por 21 dias. Em cinza, correlações significativas. Valores de r e p obtido pelo teste de correlação não-paramétrico bicaudal de Spearman.

r p

Área Ag. T. cruzi (%) TNF-α IFN-γ IL-10 A20 iNOS MnSOD

Área Ag. T. cruzi (%)

0,66 0,03

0,42 0,19

0,69 0,02

0,60 0,05

0,64 0,03

0,50 0,12

TNF-α 0,66 0,03

0,70 0,02

0,84 0,001

0,93 0,0001

0,70 0,02

0,64 0,03

IFN-γ 0,42 0,19

0,70 0,02

0,80 0,003

0,54 0,09

0,38 0,25

0,59 0,06

IL-10 0,69 0,02

0,84 0,001

0,80 0,003

0,75 0,007

0,46 0,15

0,78 0,004

A20 0,60 0,05

0,93 0,0001

0,54 0,09

0,75 0,007

0,78 0,004

0,60 0,05

iNOS 0,64 0,03

0,70 0,02

0,38 0,25

0,46 0,15

0,78 0,004

0,33 0,33

MnSOD 0,50 0,12

0,64 0,03

0,59 0,06

0,78 0,004

0,60 0,05

0,33 0,33

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Resultados

76

% Área Ag T. cruzi

TNF- α

IFN- γ

IL-10

A 20

iNOS

MnSOD

∗ ∗ ∗

∗ ∗∗∗∗∗∗

∗∗

∗∗ ∗∗

∗∗ ∗

% Área Ag T. cruzi

TNF- α

IFN- γ

IL-10

A 20

iNOS

MnSOD

% Área Ag T. cruzi

TNF- α

IFN- γ

IL-10

A 20

iNOS

MnSOD

∗ ∗ ∗

∗ ∗∗∗∗∗∗

∗∗

∗∗ ∗∗

∗∗ ∗

Figura 12. Correlação entre expressão de citocinas e genes ativados por citocinas e

intensidade de parasitismo cardíaco na fase aguda da infecção. O gráfico em matriz mostra a correlação entre a área de antígeno de T. cruzi no miocárdio e os níveis de expressão miocárdica de citocinas e genes ativados por citocinas bem como a correlação das citocinas e genes entre si nos animais infectados por 21 dias. *p<0,05 e ** p<0,01, valores de p bicaudais obtidos pelo teste de correlação não-paramétrico de Spearman.

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Resultados

77

5.2 Efeito do Etanercept in vitro e in vivo sobre o bloqueio de TNF-α de

hamster

Para investigar se o Etanercept, receptor p75 solúvel de TNF-α humano e,

portanto, antagonista da ação dessa citocina, também bloqueia a atividade de TNF-α

de hamster in vitro, verificamos o efeito de diferentes concentrações de Etanercept

sobre a atividade citotóxica de soro de hamster com elevados níveis de TNF-α

bioativo, em células sensíveis ao TNF-α (células L929). Os resultados mostraram

que enquanto o soro rico em TNF-α apresentou 4000 U/ml de TNF-α bioativo

quando cultivado com células L929 na ausência de Etanercept, na presença de 140

pg/ml ou 1400 pg/ml de Etanercept, apresentou 2000 U/ml e 500 U/ml de TNF-α

bioativo, respectivamente. Esse resultado mostra que 140 pg/ml de Etanercept reduz

50% da bioatividade de TNF-α de hamster e 1400 pg/ml reduz 88% (Figura 13).

Para verificar se in vivo o Etanercept bloqueia sistemicamente a bioatividade

de TNF-α de hamster, utilizamos o modelo de endotoxemia (WU et al., 1999),

conforme descrito na metodologia. Os resultados mostraram que os níveis séricos

de TNF-α bioativo após 90 minutos da injeção de LPS são significativamente

menores entre os animais que receberam Etanercept 2h antes do LPS em

comparação aos animais apenas injetados com LPS (respectivamente, 2896,3 vs.

4,5 U/ml, média geométrica). Este resultado mostrou que a administração de 2,5

mg/Kg Etanercept 2h antes da injeção de LPS bloqueou in vivo a bioatividade de

TNF-α de hamster (Figura 14).

Em conjunto, nossos resultados mostraram que o Etanercept bloqueia a

atividade de TNF-α de hamster tanto in vitro como in vivo e, portanto, foi

considerado adequado para ser utilizado para investigar os efeitos do bloqueio de

TNF-α sobre a miocardite aguda e cardiomiopatia crônica da infecção pelo T. cruzi.

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Resultados

78

Figura 13. Efeito in vitro do Etanercept sobre a atividade de TNF-α de hamster. Em (A) lise

celular de células L929 mediada por TNF-α recombinante humano (1,7 ng/ml) ou por soro de hamster com níveis elevados de TNF-α bioativo (4000 U/ml), coletado 90 minutos após injeção de 10 mg/Kg de LPS de E. coli, na presença de diferentes concentrações de Etanercept. (B) Níveis de TNF-α bioativo presentes no soro de hamster injetado com LPS cultivado com células L929 em diferentes concentrações de Etanercept por 24 h. A quantificação dos níveis de TNF-α bioativo foi realizada pelo bioensaio de citotoxicidade a células L929 e o resultado está expresso em unidades de TNF bioativo por ml de soro. As unidades de TNF foram determinadas como sendo o inverso da diluição de soro onde se observou 50% de lise celular. A lise celular foi calculada pela fórmula: 1-(abs amostra/abs controle)X100.

0.010.020.030.040.050.060.070.080.090.0

100.0

0 14 140 1400

Etanercept (pg/ml)

Lise

cel

ular

(%)

TNF humTNF ham

A

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

0 14 140 1400Etanercept (pg/ml)

TNF

(U/m

l)

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

0 14 140 1400Etanercept (pg/ml)

TNF

(U/m

l)

B

rTNF-α humano

TNF-α hamster

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Resultados

79

Figura 14. Efeito in vivo do Etanercept sobre a atividade de TNF-α de hamster. Um grupo de 6 animais foi injetado via i.p. com 10mg/Kg de LPS de E. coli e o soro coletado 90 minutos depois (T90) e outro grupo recebeu 2,5 mg/Kg de Etanercept via s.c. e 2h depois foram injetados via i.p. com 10mg/Kg de LPS de E. coli e o soro coletado 90 minutos depois (T90). Como controle, amostras de soro foram coletadas de todos os animais antes das injeções de LPS ou Etanercept (T0). sTNFR, Etanercept. Os níveis séricos de TNF-α foram determinados pelo bioensaio de citotoxicidade a células L929 e o resultado está expresso em unidades de TNF bioativo por ml de soro. As unidades de TNF foram determinadas como sendo o inverso da diluição de soro onde se observou 50% de lise celular. A lise celular foi calculada pela fórmula: 1-(abs amostra/abs controle)X100. Valor de p bicaudal obtido pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney.

T0 T 90 T0 T901

32

1024

32768

LPS Etan+LPS

TN

F (U

/mL)

p=0,001

sTNFR + LPS

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Resultados

80

5.3 Efeito do tratamento com Etanercept na fase aguda da infecção por T. cruzi

5.3.1 Parasitismo sanguíneo e cardíaco

Baseado em resultados anteriores da literatura que mostram o importante papel

do TNF-α no controle da infecção aguda pelo T. cruzi em camundongos (RUSSO et

al., 1991; SILVA et al., 1995; ABRAHAMSOHN e COFFMAN, 1996; CASTANOS-

VELEZ et al., 1998; ALIBERTI et al., 2001), e com base nos nossos resultados de

níveis aumentados de expressão de TNF-α no miocárdio, correlacionados à

intensidade do parasitismo cardíaco, verificamos o efeito do bloqueio do TNF-α pelo

Etanercept na infecção aguda da infecção pelo T. cruzi. Os resultados mostraram

que 6/12 animais infectados e tratados com Etanercept apresentaram sintomas de

fase aguda, proporção semelhante à observada entre os infectados não tratados

(conforme descrito anteriormente no item 5.1.1). A parasitemia foi medida após 5, 8,

14 e 21 dias de infecção. Apenas no 21° dia PI a freqüência de animais infectados e

tratados com parasitemia detectável foi significativamente maior do que nos

infectados não tratados (5/11 vs. 0/12; p=0,01; teste qui-quadrado com correção de

Yates). (Figura 15). Entre os cinco animais infectados tratados que apresentaram

parasitemia detectável no 21° dia PI, apenas um apresentou parasitemia em um dos

outros dias anteriores.

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Resultados

81

Figura 15. Freqüência de positividade de parasitemia em diferentes dias pós-infecção.

Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. 12 hamsters foram tratados com 2,5 mg/Kg de Etanercept via subcutânea nos dias 0 (1 dia antes da infecção), 5, 8, 12 e 16 pós infecção. A parasitemia foi medida por contagem direta em 5 µl de sangue. Foram contados 50 campos em lâmina convencional de microscopia e lamínula 22X22mm (BRENER, 1962). Limite de detecção: 104 parasitas/ml de sangue.

Os animais infectados e tratados com Etanercept durante a fase aguda e

sacrificados após 21 dias de infecção apresentaram aumento significativo do número

de ninhos no miocárdio quando comparados aos animais infectados não tratados

(Figuras 16 e 17). A área de antígeno de T. cruzi no miocárdio foi significativamente

maior entre os animais infectados tratados do que entre os infectados não tratados

(Figuras 16 e 17). Além disso, observamos correlação positiva estatisticamente

significativa entre o número de ninhos no miocárdio e a área de antígeno de T.cruzi

no miocárdio (r=0,86; p<0,0001, bicaudal, teste de correlação não-paramétrico de

Spearman). Enquanto o miocárdio da maioria dos animais infectados não tratados

apresentou antígenos de T.cruzi em meio a infiltrado inflamatório, o miocárdio de

uma parcela de animais tratados com Etanercept apresentou numerosos ninhos de

amastigotas na ausência de inflamação (Figura 16). Considerando-se apenas o

grupo de animais que não apresentaram sintomas de fase aguda, a área de

5 8 14 210

10

20

30

40

50infectadosinf+Etan

dias PI

Freq

uênc

ia p

ositi

vida

de (%

)infectados + Etanercept (n=12)

infectados (n=12)

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Resultados

82

antígeno de T. cruzi no miocárdio foi significativamente maior entre os animais

infectados e tratados com Etanercept quando comparados aos infectados não

tratados (Figura 17). Por outro lado, no grupo de animais com sintomas de fase

aguda, a área de antígeno de T. cruzi foi semelhante entre infectados e infectados

tratados com Etanercept (Figura 17). Além disso, a área de antígeno de T. cruzi no

miocárdio dos animais infectados e tratados com Etanercept que não apresentaram

sintomas de fase aguda foi semelhante à observada nos infectados não tratados que

apresentaram sintomas (Figura 16). Em conjunto, os resultados sugerem que o

tratamento com Etanercept durante a fase aguda facilitou a disseminação do

parasitismo sangüíneo e cardíaco na terceira semana de infecção em uma parcela

de animais que seriam resistentes ao desenvolvimento de fase aguda e que

apresentariam baixo parasitismo cardíaco.

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Resultados

83

Figura 16. Parasitismo cardíaco e miocardite após tratamento com Etanercept na fase

aguda da infecção por T. cruzi. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. 12 hamsters foram tratados com 2,5 mg/Kg de Etanercept via subcutânea nos dias 0 (1 dia antes da infecção), 5, 8, 12 e 16 pós infecção. Após 21 dias de infecção, os animais foram divididos em dois grupos de acordo com a presença ou ausência de sintomas de fase aguda e foram sacrificados. Os corações foram coletados e processados pelo método de inclusão em parafina. Cortes transversais de 5µm foram corados com H&E (A e B) ou submetidos a imunohistoquímica para detecção de antígeno de T. cruzi (C e D). Em (A) e (C), fotomicrografia de tecido cardíaco de animais infectados não tratados e em (B) e (D), de animais infectados e tratados com Etanercept. Aumento de 400X. As setas indicam os ninhos. As cabeças de setas indicam áreas de inflamação sem ninho. Em marrom, marcação positiva para antígeno de T. cruzi.

C D

BA

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Resultados

84

infectados inf+TNFR0.0001

0.001

0.01

0.1

1

10p=0,0087

ausência sintomas FA - 21 dias PI

área

Ag.

T. c

ruzi

(%) p=0,009

Figura 17. Intensidade de parasitismo cardíaco após tratamento com Etanercept na fase aguda da infecção por T. cruzi. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. 12 hamsters foram tratados com 2,5 mg/Kg de Etanercept via subcutânea nos dias 0 (1 dia antes da infecção), 5, 8, 12 e 16 pós infecção. Após 21 dias de infecção, os animais foram sacrificados e os corações foram coletados e processados pelo método de inclusão em parafina. Cortes transversais de 5µm foram submetidos à detecção de antígenos de T. cruzi. O número de ninhos (A) foi obtido após contagem de 40 campos consecutivos em aumento de 400X após imunohistoquímica para detecção de antígenos de T. cruzi. A área de antígeno de T. cruzi (B, C e D) foi obtida após contagem de 15-20 campos/corte em aumento de 200X após imunohistoquímica para detecção de antígenos de T. cruzi e quantificação automática da área pelo programa de análise de imagens MetaMorph 5.0 (Nikon, Japão). Para essas análises fora utilizados 2 cortes não consecutivos de tecido cardíaco. Valores de p bicaudais obtidos pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney.

infectados inf+sTNFR0.0001

0.001

0.01

0.1

1

10p=0,03

21 dias PI

% á

rea

antíg

eno

T. c

ruzi

infectados inf+sTNFR1

4

16

64p=0,05

21 dias PI

n° n

inho

s/m

m2

infectado inf+sTNFR0.0001

0.001

0.01

0.1

1

10

presença de sintomas FA - 21 dias PI

área

Ag.

T. c

ruzi

(%)p=NS

A B

C D

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Resultados

85

5.3.2 Detecção de TNF-α no miocárdio

Após 21 dias de infecção os animais foram sacrificados e o miocárdio submetido

a imunohistoquímica para detecção de células TNF-α+. O miocárdio de todos os

animais infectados (tratados ou não com Etanercept) apresentou numerosas células

mononucleares com marcação positiva para TNF-α enquanto que nenhum animal

controle não infectado apresentou células TNF-α+ (Figura 18). Este resultado indica

que hamsters infectados por T. cruzi por 21 dias exibem alta produção local de TNF-

α pelo infiltrado linfomononuclear.

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Resultados

86

Figura 18. Presença de TNF-α no infiltrado inflamatório cardíaco após tratamento com Etanercept. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. 12 hamsters foram tratados com 2,5 mg/Kg de Etanercept via subcutânea nos dias 0 (1 dia antes da infecção), 5, 8, 12 e 16 pós infecção. Após 21 dias de infecção, os animais foram sacrificados e os corações foram coletados e processados pelo método de inclusão em parafina. Cortes transversais de tecido cardíaco de 5µm foram submetidos a imunohistoquímica para detecção de TNF-α e contracorados com hematoxilina. Como controle positivo, foi utilizado tecido linfóide de tonsila humana com inflamação crônica (A e B) e tecido de baço de hamsters infectados por T. cruzi (C e D). Como controle negativo, foi utilizada a omissão do anticorpo primário anti-TNF-α (A e C). Em marrom, marcação positiva para TNF-α. As setas apontam para células TNF-α+ no infiltrado inflamatório de um animal infectado não tratado (E) e em (F) de um infectado tratado. Para esta análise, 30-40 campos (aumento 400X) de 3-4 cortes (5µm) não consecutivos de tecido cardíaco de cada animal foram examinados. A identificação de marcação positiva pela peroxidase em pelo menos um campo foi utilizada para o cálculo de freqüência de animais com células TNF-α+ no infiltrado inflamatório.

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Resultados

87

B

DC

A

E F

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88

5.3.3 Citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio

Para saber se o tratamento com bloqueador de TNF-α (Etanercept) durante a

fase aguda alterou o perfil de expressão de citocinas e genes ativados por citocinas

no miocárdio, realizamos a quantificação relativa do RNAm por RT-PCR em tempo

real. Os níveis de expressão de RNAm de citocinas e genes ativados por citocinas

do miocárdio de animais infectados e tratados com Etanercept em relação aos

controles não infectados estão mostrados na Figura 19. A expressão de citocinas

TNF-α, IFN-γ e IL-10 e de genes ativados por TNF-α (A20) ou por TNF-α e IFN-γ

(MnSOD e iNOS) foi semelhante entre animais infectados não tratados e infectados

tratados (Tabela 3). Como a infecção aguda pelo T. cruzi resultou em dois padrões

de evolução (ausência ou presença de sintomas de fase aguda) tanto nos infectados

sem tratamento como nos tratados com Etanercept, optamos por comparar

separadamente os grupos de acordo com a presença dos sintomas de fase aguda

(Tabela 4). Enquanto que, no grupo de animais infectados não tratados, a expressão

de TNF-α, IFN-γ, IL-10, MnSOD e A20 foi significativamente maior entre os animais

sintomáticos do que entre os infectados assintomáticos (Figuras 10 e 11, item 5.1.4),

entre os animais infectados e tratados com Etanercept não houve diferenças

significativas de expressão em relação a presença ou ausência de sintomas de fase

aguda (Tabela 4). Embora a mediana de expressão de iNOS tenha sido três vezes

menor, e a de A20, três vezes maior, nos animais infectados tratados sintomáticos

em relação aos tratados assintomáticos, não houve diferença significativa. Por outro

lado, a expressão de IL-10 entre os animais tratados assintomáticos foi

significativamente maior do que entre os não tratados assintomáticos (Tabela 5).

Este resultado mostra que o tratamento com Etanercept na fase aguda da infecção

aumentou a expressão de IL-10 no miocárdio de animais que não apresentam

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Resultados

89

sintomas de fase aguda. Embora a mediana de expressão de A20, TNF-α e IFN-γ

tenha sido 2,5, 2 e 6,5 vezes maior, respectivamente, nos animais tratados

assintomáticos do que nos não tratados assintomáticos (Tabela 5), não houve

diferença significativa. Embora a mediana de expressão de iNOS tenha sido 2 vezes

maior nos tratados sintomáticos do que nos não tratados sintomáticos (Tabela 6),

também não houve diferença significativa.

Enquanto a intensidade do parasitismo cardíaco nos animais infectados não

tratados esteve correlacionada à expressão de citocinas no miocárdio, o mesmo não

foi observado entre os infectados tratados. Por outro lado, a expressão de TNF-α

esteve correlacionada a expressão de A20, iNOS, MnSOD, IFN-γ e IL-10. As

correlações entre expressão de citocinas e intensidade do parasitismo cardíaco e

inflamação são apresentadas na Figura 20 e Tabela 7.

Considerando todos os animais infectados e tratados, o tratamento com

Etanercept durante a fase aguda da infecção pelo T. cruzi não afetou de maneira

significativa o perfil de expressão de citocinas e genes ativados por citocinas no

miocárdio, e este não está relacionado à intensidade de parasitismo cardíaco.

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Resultados

90

Figura 19. Perfil de expressão de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais após tratamento com Etanercept durante a fase aguda. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. Doze hamsters foram tratados com 2,5 mg/Kg de Etanercept via subcutânea nos dias 0 (1 dia antes da infecção), 5, 8, 12 e 16 pós infecção. Após 21 dias de infecção, os animais foram sacrificados e a ponta do VE do coração foi obtida para a extração de RNA. A quantificação relativa da expressão de RNAm de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais infectados e tratados em relação ao miocárdio de animais controles não infectados (n=6) foi feita por RT-PCR em tempo real, utilizando SYBR green. Duas amostras de RNA foram consideradas impróprias para a análise e foram excluídas. Cada símbolo representa um animal e a barra horizontal, a mediana.

TNF-α iNOS A20 MnSOD IFN-γ IL-100.0625

0.1250.25

0.51

2

4

8

16

32

64

128

256

512

infectados + sTNFR 21 dias

expr

essã

o re

lativ

a R

NAm

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Resultados

91

Tabela 3. Expressão de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais infectados e tratados com Etanercept

Expressão Infectados (n=11)

Infectados + sTNFR (n=10)

TNF-α 5,8 (1,3-31,4) 5,1 (2,1-46,2)

IFN-γ 67,0 (0,7-160,3) 72,3 (15,8-214,0)

IL-10 142,5 (11,4-366,0) 142,9 (50,6-387,0)

MnSOD 1,0 (0,3-2,1) 0,7 (0,4-4,1)

iNOS 1,4 (0,1-7,9) 1,5 (0,2-7,6)

A20 2,6 (0,08-29,3) 3,1 (0,9-56,1)

A expressão relativa em relação aos controles não infectados está representada pela mediana (mínimo-máximo). P=NS para as comparações entre infectados vs. infectados tratados com Etanercept (infectados + sTNFR). Valores de p bicaudais obtidos pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney.

Tabela 4. Expressão de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais infectados e tratados com Etanercept de acordo com a presença ou ausência de sintomas de fase aguda

Expressão FA - (n=5)

FA + (n=5)

TNF-α 5,0 (4,9-5,6) 9,0 (2,1-46,2)

IFN-γ 83,8 (59,4-138,7) 46,4 (15,8-214,0)

IL-10 127,1 (54,1-179,6) 155,9 (50,6-1653,0)

MnSOD 0,7 (0,6-0,9) 1,07 (0,4-4,1)

iNOS 1,5 (0,2-1,8) 5,2 (0,5-7,6)

A20 3,1 (1,9-3,9) 9,8 (0,9-56,1)

A expressão relativa em relação aos controles não infectados está representada pela mediana (mínimo-máximo). P=NS para as comparações entre animais infectados tratados com Etanercept sem sintomas de fase aguda (FA -) vs. com sintomas (FA +). Valores de p bicaudais obtidos pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney.

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Resultados

92

Tabela 5. Comparação da expressão de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais assintomáticos infectados e tratados com Etanercept e infectados não tratados

Expressão Infectados

(n=5)

Infectados + sTNFR (n=5)

TNF-α 2,5 (1,3-5,7) 5,0 (4,9-5,6)

IFN-γ 12,9 (0,7-140,5) 83,8 (59,4-138,7)

IL-10 28,0 (11,4-75,3) 127,1 (54,1-179,6)*

MnSOD 0,5 (0,3-1,0) 0,7 (0,6-0,9)

iNOS 0,8 (0,1-2,1) 1,5 (0,2-1,8)

A20 1,2 (0,08-2,6) 3,1 (1,9-3,9)

A expressão relativa em relação aos controles não infectados está representada pela mediana (mínimo-máximo). P=NS para as comparações entre infectados vs. infectados tratados com Etanercept (infectados + sTNFR). * p=0,016 para a comparação entre infectados vs. infectados tratados com Etanercept. Valores de p bicaudais obtidos pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney.

Tabela 6. Comparação da expressão de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais sintomáticos infectados e tratados com Etanercept e infectados não tratados

Expressão Infectados

(n=6)

Infectados + sTNFR (n=5)

TNF-α 14,8 (4,6-31,3) 9,0 (2,0-46,2)

IFN-γ 79,6 (44,8-160,3) 46,3 (15,8-214,0)

IL-10 192,7 (142,5-366,0) 155,9 (50,64-1653,0)

MnSOD 1,1 (1,0-2,1) 1,1 (0,4-4,1)

iNOS 2,3 (0,2-7,9) 5,2 (0,5-7,6)

A20 15,2 (1,0-29,2) 9,8 (0,9-56,1)

A expressão relativa em relação aos controles não infectados está representada pela mediana (mínimo-máximo). P=NS para as comparações entre infectados vs. infectados tratados com Etanercept (infectados + sTNFR). Valores de p bicaudais obtidos pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney.

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Resultados

93

Tabela 7. Correlação entre expressão de citocinas e genes ativados por citocinas e intensidade de parasitismo cardíaco após tratamento com Etanercept na fase aguda da infecção por T. cruzi

A tabela mostra os valores de r e p dos testes de correlação entre a área de antígeno de T. cruzi no miocárdio e os níveis de expressão miocárdica de citocinas e genes ativados por citocinas bem como a correlação das citocinas e genes entre si nos animais infectados e tratados. Em cinza, correlações significativas. Valores de r e p bicaudais obtidos pelo teste de correlação não-paramétrico de Spearman.

r p

Área Ag. T. cruzi (%) TNF-α IFN-γ IL-10 A20 iNOS MnSOD

Área Ag. T. cruzi (%) 0,20

0,58 -0,14 0,70

0,34 0,33

0,34 0,33

0,37 0,29

0,28 0,42

TNF-α 0,20 0,58 0,70

0,02 0,67 0,03

0,82 0,004

0,78 0,008

0,98 0,0001

IFN-γ -0,14 0,70

0,70 0,02 0,56

0,09 0,51 0,13

0,30 0,40

0,66 0,04

IL-10 0,34 0,33

0,67 0,03

0,56 0,09 0,54

0,11 0,34 0,33

0,77 0,009

A20 0,34 0,33

0,82 0,004

0,51 0,13

0,54 0,11 0,74

0,01 0,79

0,006

iNOS 0,37 0,29

0,78 0,008

0,30 0,40

0,34 0,33

0,74 0,01 0,70

0,02

MnSOD 0,28 0,42

0,98 0,0001

0,66 0,04

0,77 0,009

0,79 0,006

0,70 0,02

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Resultados

94

Figura 20. Correlação entre expressão de citocinas e genes ativados por citocinas e intensidade de parasitismo cardíaco após tratamento com Etanercept na fase aguda da infecção por T. cruzi. O gráfico em matriz mostra a correlação entre a área de antígeno de T. cruzi no miocárdio e os níveis de expressão miocárdica de citocinas e genes ativados por citocinas bem como a correlação das citocinas e genes entre si nos animais infectados e tratados com Etanercept na fase aguda da infecção por T. cruzi. *p<0,05 e ** p<0,01, valores de p bicaudais obtidos pelo teste de correlação não-paramétrico de Spearman.

% Área Ag T. cruzi

TNF- α

IFN- γ

IL-10

A 20

iNOS

MnSOD

∗∗ ∗∗∗∗∗∗

∗∗∗∗∗

% Área Ag T. cruzi

TNF- α

IFN- γ

IL-10

A 20

iNOS

MnSOD

% Área Ag T. cruzi

TNF- α

IFN- γ

IL-10

A 20

iNOS

MnSOD

∗∗ ∗∗∗∗∗∗

∗∗∗∗∗

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Resultados

95

5.4 Evolução da infecção por T. cruzi em hamsters: fase aguda e fase

crônica

5.4.1 Fase aguda

A evolução da infecção aguda em animais que foram acompanhados até a

fase crônica foi avaliada em 74 animais infectados com 105 tripomastigotas

sanguíneos da cepa Y de T. cruzi. Esses animais foram acompanhados durante os

dois primeiros meses de infecção para análise da sobrevida e presença de parasitas

circulantes na fase aguda. Dos animais que morreram espontaneamente durante a

fase aguda (0-125 dias PI), analisamos também a presença de miocardite e ninhos

de parasitas no tecido cardíaco na data da morte.

Sinais, sintomas e mortalidade durante a fase aguda

Nossos resultados mostraram que, entre 21 e 32 dias PI, 30% dos animais (22/74)

apresentam um quadro de sintomas clínicos semelhante ao quadro observado em

humanos suscetíveis à infecção aguda, tais como caquexia, letargia, vômito, diarréia

e perda de peso. Todos os animais que apresentaram esses sintomas morreram

neste período da fase aguda (entre os dias 21 e 32 PI), enquanto que os animais

que não apresentaram sintomas nesta fase sobreviveram até a fase crônica.

Nenhum animal não infectado morreu no período equivalente (Figura 21A). Entre os

dias 33 e 125 PI, não foram observados óbitos dos animais infectados (Figura 21A).

Esses achados são semelhantes ao observado em nosso estudo anterior, onde

utilizamos o mesmo modelo experimental (BILATE et al., 2003). Entre os animais

sintomáticos que morreram espontaneamente entre 21 e 32 dias PI e que puderam

ser recuperados, a perda de peso foi significativamente maior do que entre os

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Resultados

96

animais infectados que sobreviveram à fase aguda e não apresentaram sintomas

(Figura 21B).

Parasitemia

A pesquisa direta de parasitas circulantes mostrou que 27% (20/74) dos

animais apresentaram parasitemia detectável no 13° dia PI (Figura 21C), e a

presença de parasitas circulantes neste período esteve significativamente associada

à mortalidade durante a fase aguda (Tabela 8). Este resultado sugere que a

sobrevivência à fase aguda está relacionada ao controle da parasitemia.

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Resultados

97

Figura 21. Sobrevida, perda de peso e parasitemia durante a fase aguda da infecção por T. cruzi em hamsters. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. Os óbitos ocorridos entre os dias zero e 125 PI foram registrados para a análise da sobrevida durante a fase aguda (A). *p=0,03 controles vs. infectados, teste de logrank. Em (B), o gráfico mostra a % de perda de peso em relação ao peso antes da infecção. Antes da infecção e no dia da morte espontânea (entre 21 e 28 dias PI), os animais foram pesados para cálculo da perda de peso em relação ao peso inicial antes da infecção. Como controle, os animais infectados sobreviventes foram pesados no mesmo período. Cada símbolo representa um animal e a barra horizontal, a mediana. Valor de p bicaudal obtido pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney. Em (C), o gráfico mostra a freqüência de animais com parasitemia indetectável (<104 parasitas/ml) e detectável (>104 parasitas/ml) no 13° dia PI. Uma alíquota de sangue foi retirada por punção retro-orbital com auxílio de pipeta Pasteur e diluída em tampão de lise de hemácias. A parasitemia foi medida pelo método de contagem direta em câmara de Neubauer conforme descrito em trabalhos anteriores (WRIGHTSMAN et al., 1982).

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Resultados

98

<104 >104 e <105 >105 e <1080

25

50

75

100

54/74

8/74 12/74

n° parasitas/ml sangue

% a

nim

ais

0 25 50 75 100 1250

20

40

60

80

100controles (n=13)infectados (n=74)

dias pós-infecção

sobr

eviv

ênci

a (%

)

sobreviventes mortos-150

-125

-100

-75

-50

-25

0

25

50

p<0,0001

(n=50) (n=13)

fase aguda

% p

erda

pes

o

A

B

C

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Resultados

99

Tabela 8. Associação entre parasitemia e mortalidade na fase aguda

N° animais parasitemia vivos mortos

negativa 46 8

positiva 6 14

p<0,0001; RR=2,84; OR=13,42; Teste exato de Fisher.

Análise histopatológica

Dos 22 animais que não sobreviveram à fase aguda, corações de 14 animais

foram recuperados e submetidos à análise histopatológica. A análise histopatológica

e imunohistoquímica para detecção de antígenos de T. cruzi no tecido cardíaco

mostrou que todos os animais que morreram espontaneamente entre 21 e 28 dias PI

apresentaram miocardite multi-focal e/ou difusa, de grau moderado a grave e

elevado número de ninhos de parasita rotos ou intactos (Figura 22). Os ninhos rotos

freqüentemente estavam acompanhados de intenso infiltrado inflamatório, enquanto

que os ninhos intactos de amastigotas estavam presentes em áreas livres de

infiltrado (Figura 22). Além disso, foi possível verificar que, em alguns casos,

numerosos focos de células inflamatórias estavam presentes em áreas de fibras

cardíacas que haviam sido destruídas (Figura 22).

Dada a associação entre presença de parasitas circulantes no 13° dia PI e

morte durante a fase aguda (Tabela 8), investigamos se a parasitemia estava

relacionada ao parasitismo cardíaco da fase aguda. Para isso, quantificamos o

número de ninhos presentes no miocárdio na data da morte espontânea durante a

fase aguda (21-28 dias PI) dos animais com e sem parasitemia detectável. A

intensidade do parasitismo cardíaco foi significativamente maior entre os animais

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Resultados

100

com parasitemia detectável do que nos animais com parasitemia indetectável (Figura

22), sugerindo que o controle da parasitemia impede a instalação e disseminação do

parasitismo cardíaco.

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Resultados

101

Figura 22. Parasitismo cardíaco e miocardite na fase aguda. Hamsters de 2,5 meses de idade

foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. Os corações dos animais que morreram espontaneamente durante a fase aguda (21-28 dias PI) foram recuperados e processados pelo método de inclusão em parafina. Cortes transversais de 5 µm foram corados com H&E (A) ou submetidos a imunohistoquímica para detecção de antígeno de T. cruzi (B e D). Em (A), fotomicrografia de tecido cardíaco de um animal que morreu espontaneamente durante a fase aguda. As setas apontam para o infiltrado inflamatório e para uma fibra cardíaca destruída, aumento de 400X. Em (B) fotomicrografia de tecido cardíaco de um animal com parasitemia detectável (positiva) e (D), animal com parasitemia indetectável (negativa); aumento de 400X. As setas apontam para os ninhos. Em marrom, marcação positiva para antígeno de T. cruzi. A parasitemia foi medida 13 dias PI pelo método de contagem direta em câmara de Neubauer, conforme descrito anteriormente. O parasitismo cardíaco foi medido pela contagem do número de ninhos presentes em 40 campos microscópicos (aumento 400X) de dois cortes não consecutivos de tecido cardíaco após imunohistoquímica para detecção de antígenos de T. cruzi (C). O número total de ninhos presentes nos campos foi dividido pela soma das áreas dos campos. A média do número de ninhos/mm2 de miocárdio foi obtida para os dois cortes. Valor de p bicaudal obtido pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney. Cada símbolo representa um animal e a barra horizontal mostra a mediana.

B

C

A

Dnegativa positiva

0.5 1 2 4 8

16 32

p=0,01

parasitemia 13 dias

Nin

hos/

mm

2

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Resultados

102

Citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio

Uma vez que os animais que morreram espontaneamente durante a fase

aguda também apresentaram miocardite e intenso parasitismo cardíaco,

investigamos a presença de mediadores inflamatórios no miocárdio. Dos 14

corações que foram recuperados antes do rigor mortis, apenas 5 forneceram RNA

íntegros que permitiram a quantificação relativa por RT-PCR em tempo real. O perfil

de expressão de RNAm de citocinas (TNF- α, IFN-γ e IL-10) e genes ativados por

citocinas (MnSOD, iNOS, A20) é apresentado na Figura 23. Nestes animais, que

morreram entre 21-28 dias PI, houve predomínio da expressão de IFN-γ, IL-10 e do

gene A20 em comparação à expressão de TNF-α, iNOS e MnSOD, embora a

expressão de TNF- α tenha sido superior à expressão de controles não infectados.

Este resultado sugere que a morte na fase aguda está associada a um perfil de

expressão miocárdica de RNAm de citocinas inflamatórias e anti-inflamatórias.

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Resultados

103

Figura 23. Perfil de expressão de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais infectados que morreram espontaneamente durante a fase aguda. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. Os corações dos animais que morreram espontaneamente durante a fase aguda (21-28 dias PI) foram recuperados e a ponta do VE foi obtida para a extração de RNA. A quantificação relativa da expressão de RNAm de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais infectados em relação ao miocárdio de animais controles não infectados (n=3) foi feita por RT-PCR em tempo real, utilizando SYBR green.

5.4.2 Fase crônica

Mortalidade durante a fase crônica

Durante a fase crônica (4-11 meses PI), a freqüência de óbitos foi

significativamente mais elevada entre os animais infectados do que nos controles

não infectados (64% (16/25) vs. 23% (3/13), respectivamente) (Figura 24).

Considerando somente o grupo de animais que foram acompanhados desde o

primeiro dia de infecção até a morte espontânea ou sacrifício 11 meses PI (n=38), 13

animais morreram durante a fase aguda. Dos 25 animais restantes, 16 morreram

durante a fase crônica e 9 sobreviveram até o final do estudo (11 meses PI). Os

óbitos durante a fase crônica ocorreram entre 5 e 10,5 meses PI.

TNF-α A20 MnSOD iNOS IFN-γ IL-100.0625

0.1250.25

0.51248

163264

128256512

1024

infectados - fase aguda (21-28 dias PI)

expr

essã

o re

lativ

a R

NA

m

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Resultados

104

Nesse mesmo grupo, observamos que, dos 24 animais com parasitemia

indetectável 13 dias PI, 4 animais (17%) morreram espontaneamente durante a fase

aguda, 14 animais (58%) morreram durante a fase crônica e 6 (25%) sobreviveram

até o final do estudo (11 meses PI). Dos 14 animais que apresentaram parasitemia

detectável 13 dias PI, 9 animais (64%) morreram durante a fase aguda, 2 animais

(14%) morreram durante a fase crônica e 3 animais (21%) sobreviveram até 11

meses PI.

Figura 24. Sobrevivência durante a infecção por T. cruzi. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sanguíneas de T. cruzi. Os óbitos ocorridos nestes períodos foram registrados para a análise de sobrevida. A comparação entre as curvas de sobrevida foi feita pelo teste de Logrank. * p=0,0006 para a comparação entre infectados e controles.

Análise ecocardiográfica

Para verificar a integridade da estrutura e função do ventrículo esquerdo (VE)

dos animais empregados no estudo, realizamos uma análise ecocardiográfica basal

(antes da infecção por T. cruzi). Esta análise mostrou que todos os animais

empregados neste estudo apresentaram anatomia cardíaca e função ventricular

0 50 100 150 200 250 300 3500

20

40

60

80

100 controles (n=13)

infectados (n=38)

dias pós-infecção

sobr

eviv

ênci

a (%

)

*

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Resultados

105

esquerda dentro dos padrões de normalidade (SALEMI et al., 2005). A Tabela 9

mostra os valores basais de função sistólica do VE, medida pela fração de

encurtamento do VE (∆D%), diâmetro das câmaras cardíacas durante a sístole

(DSVE) e diástole (DDVE).

Após 8 meses de infecção, os animais sobreviventes à fase aguda foram

submetidos novamente ao exame ecocardiográfico, que mostrou aumento

significativo do diâmetro diastólico e sistólico do VE e diminuição também

significativa da função sistólica do VE entre os animais infectados em comparação

aos controles não infectados (Figura 25), indicando dilatação e disfunção do VE.

Baseando-se em nosso trabalho anterior, onde utilizamos 94 hamster sadios para

obter os parâmetros ecocardiográficos de normalidade (SALEMI et al., 2005),

estabelecemos como função ventricular normal valores de ∆D% maiores ou iguais a

30,0. Com base neste valor, identificamos que 30% (13/43) dos animais infectados

apresentaram disfunção ventricular 8 meses PI. Considerando somente o grupo de

animais que foram acompanhados desde o primeiro dia de infecção até a morte

espontânea ou sacrifício 11 meses PI, a função ventricular, medida 8 meses PI, foi

significativamente menor entre os animais que morreram durante a fase crônica

(entre 8 e 10 meses PI) do que entre os animais que sobreviveram até o final do

estudo (11 meses PI) (Figura 26).

De acordo com a função ventricular obtida 8 meses PI, foi possível distinguir

diferentes padrões de evolução nos animais que foram acompanhados desde o

primeiro dia de infecção até a morte espontânea ou sacrifício 11 meses PI: (1)

desenvolvimento de disfunção ventricular acompanhada de morte entre 8-10 meses

PI em 21% (4/19) dos animais; (2) função ventricular preservada na parcela restante.

Dos animais que apresentaram função ventricular preservada 8 meses PI,

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Resultados

106

observamos três distintos desfechos: 1. 40% (6/15) dos animais morreram entre 8-10

meses PI e, portanto, a função ventricular não pôde ser registrada após 11 meses de

infecção; 2. 11% (1/9) sobreviveu até 11 meses PI e desenvolveu disfunção

ventricular; 3. 89% (8/9) dos animais mantiveram função ventricular preservada 11

meses PI e sobreviveram até o final do estudo (Figura 27). Esses resultados

sugerem que, após 8 meses de infecção, um subgrupo de hamsters infectados

desenvolve dilatação do VE acompanhada de disfunção ventricular enquanto que o

restante evolui com perfil semelhante aos pacientes da forma indeterminada da

doença de Chagas.

Tabela 9. Medidas ecocardiográficas basais

Antes da infecção, todos os animais empregados no estudo (n=94) foram submetidos ao exame ecocardiográfico para determinação do tamanho e função cardíaca basal. DDVE, diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo; DSVE, diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo, ∆D%, fração de encurtamento do ventrículo esquerdo. Os valores de diâmetro foram corrigidos pelo peso corporal: DDVE ou DSVE(cm)/peso corporal (g) X 1000.

Medidas ecocardiográficas média desvio-padrão

mediana

min-max

DDVE/peso 3,99 0,43 4,02 2,83-4,81

DSVE/peso 2,20 0,39 2,22 1,20-3,17

∆D% 44,47 6,54 43,87 32,11-67,64

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Resultados

107

C D E

∆D(%

)

A B

Figura 25. Função ventricular esquerda e diâmetros diastólico e sistólico do ventrículo esquerdo após 8 meses de infecção por T. cruzi. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sanguíneas de T. cruzi. Após 8 meses de infecção, os animais foram submetidos ao exame ecocardiográfico (A e B). Em (A) ecocardiograma transtorácico Modo-M do VE de um animal controle não infectado e em (B) de um animal infectado por 8 meses. Em B, podemos notar o aumento do diâmetro diastólico do VE (DDVE) e do diâmetro sistólico do VE (DSVE) em comparação ao controle não infectado. As medidas de DDVE e DSVE foram corrigidas pelo peso corporal (C e D, respectivamente) (DDVE ou DSVE (cm)/peso corporal (g) X 1000). (E) A função ventricular esquerda, medida pela fração de encurtamento do VE (∆D%) foi calculada pela fórmula: ∆D%= DDVE-DSVE/DDVE X 100. Cada símbolo representa um animal. A barra horizontal mostra a mediana e a linha pontilhada o valor de ∆D% considerado como parâmetro de função ventricular normal (∆D=30%). Valores de p bicaudais obtidos pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney.

5 m

m

DDVEDSVEDDVE DSVE

5 m

m

DDVEDSVEDDVE DSVE

controles infectados0

1

2

3

4

p=0,002

8 meses PI

DSV

E/pe

so

controles infectados0

2

4

6

8 p=0,0184

8 meses PI

DD

VE/p

eso

controles infectados0

10

20

30

40

50

60

p=0,0127

8 meses PI

∆D

%

p=0,013 p=0,02

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Resultados

108

Figura 26. Função ventricular de animais que sobreviveram ou morreram durante a fase crônica da infecção por T. cruzi. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sanguíneas de T. cruzi. Oito meses PI, os animais foram submetidos ao exame ecocardiográfico e a função ventricular foi medida pela fração de encurtamento do VE (∆D%). Cada símbolo representa um animal. A barra horizontal mostra a mediana e a linha pontilhada o valor de ∆D% considerado como parâmetro de função ventricular normal (∆D=30%). Valor de p bicaudal obtido pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney. Para essa análise, foram considerados apenas 19 animais dos 25 sobreviventes à fase aguda, pois 6 animais morreram entre 5 e 7,5 meses PI, portanto antes do exame ecocardiográfico.

sobreviventes mortos0

10

20

30

40

50

p=0,0101

fase crônica

FEVE

8 m

eses

PI

∆D(%

) 8 m

eses

PI

p=0,01

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Resultados

109

Figura 27. Evolução da função ventricular ao longo da infecção crônica pelo T. cruzi. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sanguíneas de T. cruzi. Após 8 e 11 meses de infecção, os animais foram submetidos ao exame ecocardiográfico para análise da função ventricular, medida pela fração de encurtamento do VE (∆D%). Em (A), função ventricular de hamsters controles não infectados ( animais com função ventricular preservada aos 8 e 11 meses PI e que sobreviveram até 11 meses PI (n=10). animais com função ventricular preservada 8 meses PI e que morreram entre 8-10 meses PI (n=2)). Em (B) função ventricular de hamsters infectados por T. cruzi ( animais com função ventricular preservada 8 meses PI e que desenvolveram disfunção VE 11 meses PI (n=1); animais com função ventricular preservada 8 meses PI e que morreram entre 8-10 meses PI (n=6); animais com disfunção ventricular 8 meses PI e que morreram entre 8-10 meses PI (n=4); animais com função ventricular preservada aos 8 e 11 meses PI e que sobreviveram até 11 meses PI (n=8).

A. controles não infectados

B. infectados

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

8 meses 11 meses

tempo de infecção

FEVE

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

8 meses 11 meses

tempo de infecção

FEV

E∆D

%

∆D%

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Resultados

110

Análise anatomo-patológica

Para investigar a presença de dilatação das câmaras cardíacas e saber se a

morte espontânea durante a fase crônica esteve relacionada ao desenvolvimento de

dilatação, calculamos o índice de dilatação do ventrículo esquerdo, com base no

diâmetro das cavidades do VE e espessura das paredes do VE (septo

intraventricular e parede livre). Os resultados mostraram que o índice de dilatação foi

significativamente maior entre os animais infectados (sobreviventes e mortos durante

a fase crônica) em comparação aos animais controles não infectados (Figura 28).

Entretanto, o índice de dilatação do VE dos animais infectados sobreviventes foi

semelhante ao dos mortos (Figura 28). Com base no valor de corte de 3,28 (média +

2 desvios-padrão dos valores de índice de dilatação dos controles), verificamos que

7 animais apresentaram dilatação do VE. Desses 7 animais, 4 sobreviveram até o

final do estudo (11 meses PI) e 3 morreram espontaneamente durante a fase

crônica.

A intensidade de miocardite, medida pelo número de células inflamatórias

presentes no miocárdio, foi significativamente maior entre os animais infectados

(sobreviventes e mortos durante a fase crônica) do que nos animais controles não

infectados (Figura 29). Para verificar se a morte espontânea durante a fase crônica

estava relacionada à intensidade de miocardite, o grupo de animais infectados foi

dividido em sobreviventes e mortos durante a fase crônica. O resultado mostrou que

o número de células inflamatórias foi semelhante nesses dois grupos (Figura 29).

Isso sugere que a intensidade de miocardite não está relacionada à progressão para

morte na fase crônica da infecção. Por outro lado, o número de células inflamatórias

presentes no miocárdio foi significativamente maior no grupo de animais que

apresentou dilatação macroscópica do VE do que nos animais que não

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Resultados

111

apresentaram dilatação (Figura 30). Considerando-se o grupo de animais infectados

(sobreviventes e mortos durante a fase crônica), observamos uma correlação

positiva estatisticamente significativa entre o número de células inflamatórias

presentes no miocárdio e o índice de dilatação do VE (Figura 30). Em conjunto, os

resultados mostram que um subgrupo de hamsters infectados pelo T. cruzi

desenvolveu simultaneamente dilatação das câmaras cardíacas e miocardite.

Entretanto, a presença de miocardite e dilatação não está associada à morte,

sugerindo que outros eventos que não a inflamação e dilatação ventricular são

decisivos para a evolução ao óbito.

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Resultados

112

Figura 28. Dilatação do ventrículo esquerdo na fase crônica da infecção por T. cruzi. Hamsters

de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. Após 11 meses de infecção os animais sobreviventes foram sacrificados e os corações coletados e processados pelo método de inclusão em parafina. Alguns corações de animais que morreram espontaneamente durante a fase crônica foram recuperados antes do rigor mortis e também foram processados. Cortes transversais de 5µm ao nível do equador do coração foram corados com H&E (A e B). Em (A), coração de um animal infectado sem dilatação do ventrículo esquerdo (VE) ou do ventrículo direito (VD) e em (B) de um animal infectado com dilatação do VE e do VD. Para o cálculo do índice de dilatação do VE, as imagens do corte foram digitalizadas em aumento de 10X e as medidas de diâmetro do VE, espessura da parede livre e do septo intraventricular foram obtidas com o programa AxioVision 3.0 (Zeiss, Alemanha). O índice de dilatação do VE foi calculado pela equação: diâmetro VE/ média espessura parede livre e septo intraventricular. Em (C), comparação entre controles e infectados e em (D), comparação entre os animais infectados sobreviventes até o final do estudo (11 meses PI) e mortos espontaneamente durante a fase crônica. Cada símbolo representa um animal. A barra horizontal mostra a mediana. Os animais com valores de índice de dilatação ≥ 3,28 foram considerados como apresentando dilatação do VE (linha pontilhada) Valores de p bicaudais obtidos pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney.

BA

sobreviventes mortos0

2

4

6

8

fase crônica

índi

ce d

ilata

ção

VE

controles infectados0

2

4

6

8 p=0,0398

fase crônica

índi

ce d

ilata

ção

VE

p=0,04 C D

p=NS

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Resultados

113

Figura 29. Miocardite na fase crônica da infecção por T. cruzi. Hamsters de 2,5 meses de idade

foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. Após 11 meses de infecção os animais sobreviventes foram sacrificados e os corações coletados e processados pelo método de inclusão em parafina. Alguns corações de animais que morreram espontaneamente durante a fase crônica foram recuperados antes do rigor mortis e também foram processados. Cortes transversais de 5 µm ao nível do equador do coração foram corados com H&E (A e B) Em (A), fotomicrografia de tecido cardíaco de um animal controle não infectado e em (B) de um animal infectado por 11 meses. As setas apontam para o infiltrado inflamatório (aumento de 160X). A intensidade de miocardite foi medida pelo número de células inflamatórias presentes no miocárdio (C e D). Para esta análise, as imagens de 2 cortes corte foram digitalizadas em aumento de 400X e 8-10 campos não consecutivos de cada corte de tecido cardíaco de cada animal foram examinados com auxílio do programa AxioVision 3.0 (Zeiss, Alemanha). O número total de células inflamatórias presentes nos dois cortes foi dividido pela área total de miocárdio. Em (C), comparação entre controles e infectados e em (D), comparação entre os animais infectados sobreviventes até o final do estudo (11 meses PI) e mortos espontaneamente durante a fase crônica. Valores de p bicaudais obtidos pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney.

B A

sobreviventes mortos0

50

100

150

200

250

300

350

fase crônica

n° c

els

infla

mat

ória

s/m

m2

p=NS

controles infectados0

50

100

150

200

250

300

350

p=0,0051

fase crônica

n° c

els

infla

mat

ória

s/m

m2

p=0,005 C D

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Resultados

114

Figura 30. Dilatação do ventrículo esquerdo e miocardite na fase crônica da infecção por T. cruzi. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. Após 11 meses de infecção os animais sobreviventes foram sacrificados e os corações coletados e processados pelo método de inclusão em parafina. Alguns corações de animais que morreram espontaneamente durante a fase crônica foram recuperados antes do rigor mortis e também foram processados. A intensidade de miocardite e a dilatação do VE foram medidas conforme descrito anteriormente. Em (A), comparação da miocardite no grupo de animais infectados com e sem dilatação do VE; valor de p determinado pelo teste U não-paramétrico bicaudal de Mann-Whitney. Animais com índice de dilatação acima de 3,28 (linha pontilhada) foram considerados com dilatação do VE. Em (B) correlação entre a intensidade de miocardite e a dilatação do VE nos animais infectados; valores de r e p bicaudal obtidos pelo teste de correlação não-paramétrico de Spearman.

A B

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

0,0 100,0 200,0 300,0 400,0

n° céls. Inflamatórias/mm2

índi

ce d

ilata

ção

VE

p=0,03 r=0,50

ausente presente0

100

200

300

400

p=0,007

dilatação VE na fase crônica

n° c

éls.

infla

mat

ória

s/m

m2

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Resultados

115

Detecção de TNF-α no miocárdio

A análise imunohistoquímica para detecção de TNF- α no miocárdio mostrou

que 5/13 animais infectados apresentaram células mononucleares com marcação

positiva para TNF- α, enquanto que nenhum animal controle não infectado

apresentou marcação (Figura 31). Dos cinco animais com células mononucleares

TNF- α+ no miocárdio, quatro morreram espontaneamente durante a fase crônica

enquanto dos oito animais com células mononucleares TNF- α– no miocárdio, três

animais morreram espontaneamente entre 8-10 meses PI e cinco sobreviveram até

o final do estudo (11 meses PI). Esse resultado mostra que, na fase crônica, um

subgrupo de animais infectados apresenta células mononucleares produtoras de

TNF-α no infiltrado inflamatório.

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Resultados

116

Figura 31. Presença de TNF- α no infiltrado inflamatório cardíaco na fase crônica da infecção por T. cruzi. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. Após 11 meses de infecção os animais sobreviventes foram sacrificados e os corações coletados e processados pelo método de inclusão em parafina. Alguns corações de animais que morreram espontaneamente durante a fase crônica foram recuperados antes do rigor mortis e também foram processados. Cortes transversais de tecido cardíaco de 5µm foram submetidos a imunohistoquímica para detecção de TNF- α. Como controle positivo, foram utilizados baço de hamsters infectados por T. cruzi (A e B) e tecido cardíaco de paciente com CCC grave (C e D) onde já havia sido feita a confirmação de marcação com TNF- α por imunohistoquímica utilizando outro anticorpo anti-TNF- α. Como controle negativo, foi utilizada a omissão do anticorpo primário anti-TNF- α (A, C e E). Em (E) e (F), tecido cardíaco de um animal infectado por 11 meses. Em marrom, marcação positiva para TNF- α. As setas apontam para células TNF- α+ no infiltrado inflamatório de um animal infectado por 11 meses (F). Para esta análise, 30-40 campos (aumento 400X) de 3-4 cortes (5µm) não consecutivos de tecido cardíaco de cada animal foram examinados. A identificação de marcação positiva pela peroxidase em pelo menos um campo foi utilizada para o cálculo de freqüência de animais com células TNF- α+ no infiltrado inflamatório.

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Resultados

117

B

DC

A

E F

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Resultados

118

Citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio

Para investigar o perfil de expressão de citocinas (TNF- α, IFN-γ e IL-10) e

genes ativados por citocinas (iNOS, MnSOD, A20) no miocárdio de animais

cronicamente infectados e a sua influência na progressão diferencial da CCC no

hamster, utilizamos a técnica de RT-PCR em tempo real. Essa análise mostrou que

o miocárdio de animais infectados por 8-11 meses apresenta o predomínio de

expressão de RNAm de IFN-γ mas também expressa em níveis aumentados TNF- α,

IL-10 e A20 em comparação ao miocárdio de animais não infectados (Figura 32). Os

níveis de expressão de MnSOD e iNOS foram semelhantes entre infectados e não

infectados (Figura 32). Por outro lado, observamos correlação positiva

estatisticamente significativa entre os níveis de expressão de A20 e a expressão de

IL-10 e MnSOD (Figura 33, Tabela 10). A expressão de IL-10 também esteve

correlacionada com a expressão de MnSOD, que por sua vez esteve correlacionada

com expressão de TNF- α, enquanto que a expressão de IFN-γ esteve

correlacionada com a expressão de iNOS (Figura 33, Tabela 10).

Para investigar se o perfil de expressão de citocinas e genes ativados por

citocinas no miocárdio dos animais cronicamente infectados estava relacionado com

sobrevivência à fase crônica, comparamos os níveis de expressão nos animais

infectados que morreram espontaneamente durante a fase crônica com os animais

que sobreviveram até o final do estudo (11 meses PI). Os resultados mostraram que

não houve diferença estatisticamente significativa nos níveis de expressão de TNF-

α, IFN-γ, IL-10, iNOS e MnSOD entre os sobreviventes e mortos espontaneamente

durante a fase crônica (Tabela 11). Entretanto, a mediana de expressão de IL-10 foi

4,3 vezes maior nos animais que morreram espontaneamente do que nos animais

que sobreviveram (Tabela 11). A expressão do gene anti-apoptótico A20 foi

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Resultados

119

significativamente maior entre os animais que morreram espontaneamente durante a

fase crônica do que entre os sobreviventes até o final dos 11 meses de infecção

(Tabela 11), sugerindo que esse gene pode estar relacionado a morte durante a fase

crônica. Além disso, os níveis de expressão de A20 e IL-10 estavam negativamente

correlacionados com a função ventricular medida 8 meses PI (Tabela 10, Figura 33).

Para investigar se o perfil de expressão das citocinas estava relacionado à

gravidade da cardiomiopatia, comparamos o grupo de animais que desenvolveu

dilatação e miocardite na fase crônica com o grupo que não desenvolveu. A

expressão de citocinas ou genes ativados por citocinas foi semelhante nos animais

com dilatação do VE e miocardite em comparação aos que não apresentaram

dilatação ou miocardite na fase crônica (Tabela 12).

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Resultados

120

TNF-α A20 MnSOD iNOS IFN-γ IL-100.25

0.5

1

2

4

8

16

32

64

infectados - fase crônica

expr

essã

o re

lativ

a RN

Am

Figura 32. Perfil de expressão de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais cronicamente infectados. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. Após 11 meses de infecção os animais sobreviventes foram sacrificados (n=8), os corações coletados e a ponta do VE foi obtida para a extração de RNA. Os corações dos animais que morreram espontaneamente durante a fase crônica (8-11 meses PI) (n=5) também foram recuperados e a ponta do VE foi obtida para a extração de RNA. A quantificação relativa da expressão de RNAm de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais infectados em relação ao miocárdio de animais controles não infectados (n=10) foi feita por RT-PCR em tempo real, utilizando SYBR green. Cada símbolo representa um animal e a barra horizontal, a mediana.

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Resultados

121

Tabela 10. Correlação entre expressão de citocinas e genes ativados por citocinas e função ventricular na fase crônica da infecção por T. cruzi

A tabela mostra os valores de r e p dos testes de correlação entre a função ventricular (∆D%) medida 8 meses PI e os níveis de expressão miocárdica de citocinas e genes ativados por citocinas bem como a correlação das citocinas e genes entre si nos animais infectados por 11 meses. Em cinza, correlações significativas. Valores de r e p bicaudal obtidos pelo teste de correlação não-paramétrico de Spearman.

r p

∆D% 8 meses

PI TNF-α IFN-γ IL-10 A20 iNOS MnSOD

∆D% 8 meses PI 0,014

0,97 0,25 0,47

-0,82 0,002

-0,63 0,04

0,54 0,08

-0,41 0,20

TNF-α 0,014 0,97 0,54

0,05 0,43 0,17

0,24 0,43

0,01 0,97

0,65 0,015

IFN-γ 0,25 0,47

0,54 0,05 0,24

0,46 -0,03 0,93

0,57 0,04

0,47 0,10

IL-10 -0,8 0,002

0,43 0,17

0,24 0,46 0,74

0,006 -0,27 0,39

0,7 0,01

A20 -0,6 0,04

0,24 0,43

-0,03 0,93

0,74 0,006 -0,05

0,86 0,7 0,01

iNOS 0,54 0,08

0,01 0,97

0,57 0,04

-0,27 0,39

-0,05 0,86 0,02

0,96

MnSOD -0,41 0,20

0,65 0,015

0,47 0,10

0,7 0,01

0,7 0,01

0,02 0,96

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Resultados

122

Figura 33. Correlação entre expressão de citocinas e genes ativados por citocinas e

função ventricular na fase crônica da infecção por T. cruzi. O gráfico em matriz mostra a correlação entre a função ventricular (∆D%) medida 8 meses PI e os níveis de expressão miocárdica de citocinas e genes ativados por citocinas bem como a correlação das citocinas e genes entre si nos animais infectados por 11 meses. *p<0,05 e ** p<0,01, valores de e p bicaudais obtidos pelo teste de correlação não-paramétrico de Spearman.

∆D%8mPi

TNF- α

IFN- γ

IL-10

A 20

iNOS

MnSOD

∗∗ ∗

∗ ∗∆D%8mPi

TNF- α

IFN- γ

IL-10

A 20

iNOS

MnSOD

∆D%8mPi

TNF- α

IFN- γ

IL-10

A 20

iNOS

MnSOD

∗∗ ∗

∗ ∗

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Resultados

123

Tabela 11. Níveis de Expressão de RNAm de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais sobreviventes e mortos na fase crônica

Expressão Sobreviventes

(n=8) Mortos (n=5)

TNF-α 2,2 (0,7-3,9) 0,9 (0,3-14,1)

IFN-γ 5,9 (1,2-11,3) 3,3 (1,7-5,3)

IL-10 1,4 (0,3-2,3) 6,0 (0,7-27,5)

MnSOD 0,9 (0,7-2,0) 1,0 (0,7-4,9)

iNOS 1,9 (0,6-3,0) 0,8 (0,3-3,1)

A20 1,1 (0,4-1,8) 3,5 (0,6-14,2)*

A expressão relativa em relação aos controles não infectados está representada pela mediana (mínimo-máximo). p=NS para as comparações entre sobreviventes vs. mortos durante a fase crônica. * p= 0,03, sobreviventes vs. mortos. Valores de p bicaudais obtidos pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney.

Tabela 12. Níveis de Expressão de RNAm de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais com ou sem dilatação do ventrículo esquerdo e miocardite

Expressão não dilatados (n=7)

Dilatados (n=5)

TNF-α 1,7 (0,3-14,0) 1,7 (0,7-3,8)

IFN-γ 4,0 (2,0-8,0) 5,5 (1,2-11,3)

IL-10 1,6 (0,7-27,5) 2,0 (0,3-3,2)

MnSOD 1,1 (0,7-4,9) 0,9 (0,7-1,5)

iNOS 0,9 (0,3-3,1) 2,0 (1,0-2,4)

A20 1,8 (0,6-14,2) 1,1 (0,9-4,0) A expressão relativa em relação aos controles não infectados está representada pela mediana (mínimo-máximo). p=NS para as comparações entre dilatados e não dilatados. Valores de p bicaudais obtidos pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney. A diferença de número de animais analisados nesta tabela em relação a tabela anterior se deve ao fato de um corte de tecido cardíaco de um animal foi considerado inapropriado para o cálculo do índice de dilatação.

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Resultados

124

5.4.3 Citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio: fase aguda X fase

crônica

Uma vez que os hamsters infectados por T. cruzi desenvolvem tanto a fase

aguda, evidenciada por intenso parasitismo cardíaco e intensa miocardite, como a

fase crônica, caracterizada por miocardite, dilatação e disfunção ventricular,

objetivamos a comparação da expressão miocárdica de RNAm de citocinas e genes

ativados por citocinas inflamatórias na fase aguda e na fase crônica (Tabela 13). Os

resultados mostraram que os níveis de expressão de RNAm das citocinas TNF-α,

IFN-γ e IL-10 foram significativamente menores nos animais infectados por 8-11

meses (fase crônica) do que nos animais infectados por 21 dias (fase aguda),

enquanto os níveis de expressão dos genes ativados por citocinas foram

semelhantes nos animais aguda e cronicamente infectados.

Tabela 13. Perfil de expressão de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio: fase aguda X fase crônica

Expressão Fase aguda (n=11) Fase crônica (n=13)

TNF-α 5,7 (1,3-31,3) 1,7 (0,3-14,1)*

IFN-γ 67,0 (0,7-160,3) 4,0 (1,2-11,3)*

IL-10 142,5 (11,4-366,0) 1,7 (0,2-27,5)*

MnSOD 1,0 (0,3-2,1) 0,9 (0,7-4,9)

iNOS 1,4 (0,1-7,9) 1,3 (0,3-3,1)

A20 2,6 (0,07-29,3) 1,5 (0,4-14,2)

A expressão relativa em relação aos controles não infectados está representada pela mediana (mínimo-máximo). p=NS e *p<0,001 para comparação entre infectados fase aguda vs. infectados fase crônica. Valores de p bicaudais obtidos pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney.

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Resultados

125

5.5 Efeito do tratamento com Etanercept na fase crônica da infecção pelo T.

cruzi

Para avaliar o efeito do bloqueio de TNF-α sobre o desenvolvimento de

cardiomiopatia e alterações de mediadores inflamatórios, os animais infectados

foram divididos em 2 grupos no 9° mês PI: infectados sem tratamento e infectados

tratados via subcutânea com 2,5 mg/Kg de Etanercept 2X/semana durante 10

semanas. Como controles, um grupo de animais sadios não foi infectado, sendo

apenas injetado com salina no mesmo dia da infecção, e outro grupo de animais não

infectados foi submetido ao tratamento com Etanercept (mesma dose, via e tempo

de administração).

5.5.1 Mortalidade

A freqüência de óbitos durante o período de tratamento com Etanercept (9-11

meses PI) foi de 62% (8/13) para os animais infectados e tratados, e de 40% (6/15)

para os infectados não tratados (sem diferença significativa entre as curvas de

sobrevida) (Figura 34), representando apenas uma tendência não significativa de

aumento de mortalidade. Para descartar um possível efeito tóxico do tratamento, um

grupo de animais sadios foi submetido ao mesmo esquema de tratamento e

observamos que o tratamento com Etanercept per se não resulta em aumento de

mortalidade (Figura 34).

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Resultados

126

0 10 20 30 40 50 60 70 800

20

40

60

80

100controles (n=13)

infectados (n=15)

infectados + sTNFR (n=13)

controles + sTNFR (n=7)

dias pós-tratamento

Sobr

eviv

ênci

a (%

)

*

Figura 34. Sobrevivência durante tratamento com Etanercept na fase crônica da infecção por T. cruzi. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sanguíneas de T. cruzi. Após 9 meses de infecção, os animais infectados foram divididos em dois grupos: infectados sem tratamento, e infectados e tratados com 2,5 mg/Kg de Etanercept (sTNFR) via subcutânea 2X/semana durante 10 semanas. Como controle foram utilizados animais sadios não infectados sem tratamento ou tratados com Etanercept. Todos os grupos foram mantidos em biotério por até 11 meses após a infecção. Os óbitos ocorridos neste período foram registrados para a análise de sobrevida. A comparação entre as curvas de sobrevida foi feita pelo teste de Logrank. * p=0,01 vs. controles + etanercept e p=0,008 vs. controles.

5.5.2 Análise ecocardiográfica

A análise ecocardiográfica realizada 11 meses PI nos animais sobreviventes

mostrou que o tratamento com Etanercept durante a fase crônica da infecção por T.

cruzi resultou em aumento significativo do diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo

(DDVE), indicando dilatação ventricular, e diminuição significativa da função

ventricular, medida pela fração de encurtamento do VE, em relação aos animais

infectados não tratados (Figura 35). Um possível efeito cardiotóxico direto do

Etanercept foi descartado, uma vez que animais sadios tratados com Etanercept

pelo mesmo período e dose não apresentaram aumento do DDVE ou diminuição da

função ventricular após o tratamento (Figuras 35 e 36). Comparando os valores de

DDVE corrigidos pelo peso corporal bem como a função ventricular dos animais

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Resultados

127

infectados antes e depois do tratamento com Etanercept, observamos que o

tratamento com Etanercept resultou em aumento significativo do DDVE e diminuição

significativa da fração de encurtamento do VE (Figura 36). Em conjunto, nossos

resultados sugerem que o tratamento com Etanercept na dose de 2,5 mg/Kg,

2x/semana, na fase crônica da infecção pelo T. cruzi piorou a cardiomiopatia

chagásica crônica avaliada 11 meses PI.

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Resultados

128

controles ctr+sTNFR infectados inf+sTNFR0

1

2

3

4

5

6

7

8

p<0,001

p<0,05

11 meses PI

DD

VE/p

eso

controles ctr+sTNFR infectados inf+sTNFR0

1

2

3

4

5

6

p<0,001

p<0,05

11 meses PI

DSV

E/pe

so

controles ctr+sTNFR infectados inf+sTNFR0

10

20

30

40

50

60

p<0,01

p<0,05

11 meses PI∆

D (%

)

C D E

A BFigura 35. Função ventricular esquerda e diâmetros sistólico e

diastólico do ventrículo esquerdo após tratamento com Etanercept na fase crônica de infecção por T. cruzi. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sanguíneas de T. cruzi. A partir do 9° mês de infecção por T. cruzi, os animais foram tratados via s.c. com 2,5 mg/Kg de Etanercept (sTNFR) 2x/semana. Setenta dias após tratamento (11 meses PI) os animais foram submetidos ao exame ecocardiográfico para medida dos diâmetros diastólico (DDVE, A) e sistólico (DSVE, B), corrigido pelo peso corporal, e função ventricular esquerda (C), expressa pela fração de encurtamento do VE ( ∆D%= DDVE-DSVE/DDVE X 100). Como controle foram utilizados animais sadios não infectados tratados (ctr+sTNFR) ou não com Etanercept, pareados para idade, sexo e tempo em biotério. Cada símbolo representa um animal. A barra horizontal mostra a mediana e a linha pontilhada o valor de ∆D% considerado como parâmetro de função ventricular normal (∆D=30%). Valores de p bicaudais determinados pelo teste Anova não-paramétrico de Kruskal-Wallis e teste post-hoc de Dunns, para as comparações individuais

5 m

m

DDVE DSVE DDVEDSVE 5 m

m

DDVE DSVE DDVEDSVE

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Resultados

129

Figura 36. Perda de função ventricular e aumento do diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo após tratamento com Etanercept. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. A partir do 9° mês de infecção por T. cruzi, os animais foram tratados via s.c. com 2,5 mg/Kg de Etanercept (sTNFR) 2X/semana. Antes do tratamento (8 meses PI) e setenta dias após o tratamento (11 meses PI) os animais foram submetidos ao exame ecocardiográfico para medida dos diâmetros diastólico (DDVE) e sistólico (DSVE), corrigido pelo peso corporal, e função ventricular esquerda, expressa pela fração de encurtamento do VE (∆D%= DDVE-DSVE/DDVE X 100). Os gráficos mostram a % de diminuição da função ventricular (A) e % de aumento do DDVE (B) em relação a antes do tratamento. Como controle foram utilizados animais sadios não infectados tratados (ctr+sTNFR) ou não com Etanercept, pareados para idade, sexo e tempo em biotério. Cada símbolo representa um animal e a barra horizontal mostra a mediana. Valores de p bicaudais determinados pelo teste Anova não-paramétrico de Kruskal-Wallis e teste post-hoc de Dunns, para as comparações individuais.

controles ctr+sTNFR infectados inf+sTNFR-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

p<0,05

p<0,05

8-11 meses PI

% a

umen

to D

DVE

controles ctr+sTNFR infectados inf+sTNFR

0

25

50

75

100

p<0,05

p<0,05

8-11 meses PI

% p

erda

funç

ão V

EA B

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Resultados

130

5.5.3 Análise histopatológica

Para saber se o tratamento com Etanercept influencia a gravidade da

miocardite, foi feita a análise morfométrica para quantificar as células inflamatórias

presentes no miocárdio. Os resultados mostraram que o número de células

inflamatórias no miocárdio, foi semelhante entre infectados tratados e infectados não

tratados (Figura 37). Entretanto, foi observada inflamação subendocárdica no tecido

cardíaco dos animais infectados tratados, enquanto que nos animais infectados não

tratados a inflamação é apenas miocárdica (Figura 37). Este dado sugere que,

embora a intensidade da inflamação seja semelhante, o tratamento com Etanercept

alterou a localização do infiltrado inflamatório. A análise imunohistoquímica para

detecção de células produtoras de TNF-α no miocárdio mostrou que 2/10 (20%)

infectados e tratados com Etanercept apresentou células mononucleares TNF-α+ no

infiltrado inflamatório subendocárdico (Figura 37).

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Resultados

131

Figura 37. Inflamação e TNF- α no miocárdio após tratamento com Etanercept. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sanguíneas de T. cruzi. Após 9 meses de infecção, os animais infectados foram divididos em dois grupos: infectados sem tratamento e infectados e tratados via s.c. com 2,5 mg/Kg de Etanercept (sTNFR) 2X/semana por 70 dias. Após o tratamento, os animais sobreviventes foram sacrificados e os corações coletados e processados pelo método de inclusão em parafina. Alguns corações de animais que morreram espontaneamente durante o período de tratamento foram recuperados antes do rigor mortis e também foram processados. Cortes transversais de tecido cardíaco de 5µm foram submetidos a coloração com H&E (A e B) ou imunohistoquímica para detecção de TNF-α (C, D e E). Em (A) miocardite de um animal infectado não tratado e em (B) miocardite subendocárdica de um animal infectado tratado, aumento de 400X. As cabeças de seta apontam para o infiltrado inflamatório. Em (C) células TNF-α+ no infiltrado inflamatório miocárdico de um animal infectado não tratado (aumento de 400X) e em (D) no infiltrado inflamatório subendocárdico de um animal infectado tratado (aumento de 100X e canto inferior direito, ampliação em 400X). As setas apontam para células TNF-α+ coradas em marrom pela peroxidase. Para esta análise, 30-40 campos (aumento 400X) de 3-4 cortes (5µm) não consecutivos de tecido cardíaco de cada animal foram examinados. A identificação de marcação positiva da peroxidase em pelo menos um campo foi utilizada para o cálculo de freqüência de animais com células TNF-α+ no infiltrado inflamatório. Em (E) a intensidade de miocardite foi medida pelo número de células inflamatórias presentes no miocárdio nos animais infectados não tratados ou tratados com Etanercept (inf + sTNFR). Para esta análise, as imagens do corte foram digitalizadas em aumento de 400X e 6-10 campos de dois cortes não consecutivos de tecido cardíaco de cada animal foram examinados com auxílio do programa AxioVision 3.0 (Zeiss, Alemanha). O número total de células inflamatórias presentes nos dois cortes foi dividido pela área total de miocárdio. Cada símbolo representa um animal. A barra horizontal mostra a mediana. Valores de p bicaudais obtidos pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney.

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Resultados

132

B

C D

A

infectados inf+sTNFR0

100

200

300

400

500

600

fase crônica

cels

infla

mat

ória

s/m

m2

p=NS

E

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Resultados

133

5.5.4 Investigação das causas do agravamento da cardiomiopatia

Para investigar o mecanismo pelo qual o tratamento com Etanercept durante

a fase crônica induziu piora significativa da cardiomiopatia nos animais infectados

por T. cruzi, analisamos a parasitismo sangüíneo e cardíaco, a presença de

imunocomplexos no miocárdio após o tratamento.

Parasitismo sangüíneo e cardíaco

Uma vez que o TNF-� é importante para o controle de patógenos intracelulares

(TITUS et al., 1989; GARCIA et al., 1995; ZGANIACZ et al., 2004), investigamos

se o tratamento com Etanercept desencadeou a reagudização da infecção, o que

estaria associado a um possível aumento de parasitemia e parasitismo cardíaco.

Para isso, após 25 e 50 dias de tratamento, fizemos a detecção de parasitas

circulantes no sangue dos animais sobreviventes pelo método de contagem direta

em câmara de Neubauer e imunohistoquímica para detecção de antígenos de T.

cruzi no miocárdio. Nenhum animal infectado e tratado com Etanercept ou

infectado não tratado apresentou parasitemia detectável nos dois períodos

analisados, sugerindo que tratamento com Etanercept não desencadeou aumento

substancial do número de parasitas circulantes.

A análise imunohistoquímica para detecção de antígenos de T. cruzi foi

realizada em 3 cortes não consecutivos de tecido cardíaco de 14 animais infectados

não tratados e de 10 infectados tratados com Etanercept. Os resultados mostraram

que nenhum animal infectado não tratado apresentou antígenos ou ninhos de T.cruzi

no miocárdio e apenas 1/10 animais infectados tratados apresentou antígenos de T.

cruzi no miocárdio. Neste animal foi encontrado apenas um ninho de T. cruzi em

apenas um campo dos 3 cortes de tecido cardíaco analisados (120 campos) (Figura

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Resultados

134

38). Este resultado sugere que o agravamento da disfunção ventricular observado

nos animais infectados e tratados com Etanercept não foi decorrente de aumento de

parasitismo cardíaco.

Figura 38. Detecção de antígenos de T. cruzi no miocárdio após tratamento com Etanercept. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sanguíneas de T. cruzi. Após 9 meses de infecção, os animais infectados foram divididos em dois grupos: infectados sem tratamento e infectados e tratados via s.c. com 2,5 mg/Kg de Etanercept (sTNFR) 2X/semana por 70 dias. Após o tratamento, os animais sobreviventes foram sacrificados e os corações coletados e processados pelo método de inclusão em parafina. Alguns corações de animais que morreram espontaneamente durante o período de tratamento foram recuperados antes do rigor mortis e também foram processados. Cortes transversais de 5 µm foram submetidos a imunohistoquímica para detecção de antígeno de T. cruzi. A seta aponta para o ninho de amastigotas de T. cruzi.

Detecção de imunocomplexos no miocárdio

Uma vez que o Etanercept é uma molécula que contém uma porção do

receptor de TNF humano e uma porção de IgG de camundongo, ou seja, proteína

heteróloga, o tratamento prolongado poderia acarretar o desenvolvimento de

anticorpos anti-Etanercept e subseqüente geração de imunocomplexos circulantes

que poderiam, eventualmente, se depositar no miocárdio e ser o responsável pela

significativa perda de função ventricular observada pós-tratamento. Para descartar

esta hipótese, avaliamos por imunohistoquímica a presença de imunocomplexos IgG

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Resultados

135

e os resultados mostraram que nenhum animal infectado não tratado ou infectado e

tratado com Etanercept apresentou depósitos de imunocomplexos IgG no miocárdio

(Figura 39). Este resultado sugere que o agravamento da disfunção ventricular não

foi decorrente da deposição de imunocomplexos no miocárdio.

Figura 39. Pesquisa de imunocomplexos no miocárdio após tratamento com Etanercept.

Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sanguíneas de T. cruzi. Após 9 meses de infecção, os animais infectados foram divididos em dois grupos: infectados sem tratamento e infectados e tratados via s.c. com 2,5 mg/Kg de Etanercept (sTNFR) 2X/semana por 70 dias. Após o tratamento, os animais sobreviventes foram sacrificados e os corações coletados e processados pelo método de inclusão em parafina. Cortes transversais de 5 µm foram submetidos a imunohistoquímica para detecção de imunocomplexos IgG. Em B, C e D fotomicrografia de miocárdio de animal controle não infectado, infectado por 11 meses e infectado e tratado com Etanercept, respectivamente. Aumento de 400X. Como controle positivo, foi utilizado rim de hamster infectado por Toxocara canis (A). Como controle negativo, foi utilizada a omissão do anticorpo primário. Em marrom, marcação positiva para imunocomplexos IgG.

C D

A B

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Resultados

136

5.5.5 Citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio

Para investigar se o tratamento com Etanercept durante a fase crônica altera

o perfil de expressão de citocinas (TNF-α, IFN-γ e IL-10) e genes ativados por

citocinas (A20, iNOS, MnSOD) no miocárdio, realizamos a quantificação relativa do

RNAm por RT-PCR em tempo real. Os níveis de expressão de RNAm de citocinas e

genes ativados por citocinas do miocárdio de animais infectados e tratados com

Etanercept em relação aos controles não infectados são apresentados na Figura 40,

onde podemos observar o predomínio de IL-10 e IFN-γ. Os resultados mostraram

que a expressão de iNOS foi significativamente menor e a expressão de IL-10 foi

significativamente maior no miocárdio de animais infectados e tratados com

Etanercept do que entre os infectados não tratados (Tabela 14). Quando

comparamos a expressão somente entre os animais sobreviventes até o final do

estudo, a diferença é ainda mais significativa (Tabela 15). A expressão de RNAm

das outras citocinas investigadas (TNF-α e IFN-γ) e dos genes ativados por citocinas

(A20, MnSOD) foi semelhante entre infectados tratados e não tratados (Tabela 14) e

também foi semelhante quando consideramos apenas os sobreviventes nos dois

grupos (Tabela 15).

Enquanto nos animais infectados não tratados, a expressão de A20 e IL-10

correlacionavam-se negativamente com a função ventricular medida 8 meses PI, nos

animais infectados e tratados, observamos correlação negativa estatisticamente

significativa com a expressão de TNF-α (Figura 41, Tabela 16). Além disso, a

expressão de TNF-α estava positivamente correlacionada com a expressão de iNOS

e com IFN-γ (Figura 41, Tabela 16).

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Resultados

137

TNF-α A20 MnSOD iNOS IFN-γ IL-100.25

0.5

1

2

4

8

16

32

64

infectados + sTNFRfase crônica

expr

essã

o re

lativ

a RN

Am

Figura 40. Perfil de expressão de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio após tratamento com Etanercept. Hamsters de 2,5 meses de idade foram infectados com 105 formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. Após 9 meses de infecção, os animais infectados foram divididos em dois grupos: infectados sem tratamento e infectados e tratados via s.c. com 2,5 mg/Kg de Etanercept (sTNFR) 2X/semana por 70 dias. Após 11 meses de infecção os animais sobreviventes ao tratamento foram sacrificados (n=5), os corações coletados e a ponta do VE foi obtida para a extração de RNA. Os corações dos animais que morreram espontaneamente durante o tratamento (n=5) também foram recuperados e a ponta do VE foi obtida para a extração de RNA. A quantificação relativa da expressão de RNAm de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais infectados em relação ao miocárdio de animais controles não infectados (n=10) foi feita por RT-PCR em tempo real, utilizando SYBR green. Cada símbolo representa um animal e a barra horizontal, a mediana.

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Resultados

138

Tabela 14. Expressão de RNAm de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais infectados e tratados com Etanercept

Mediana (min-max); p=NS e *p<0,05 para comparação infectados vs. infectados tratados com Etanercept (infectados + sTNFR). Valores de p bicaudais obtidos pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney.

Tabela 15. Expressão de RNAm de citocinas e genes ativados por citocinas no miocárdio de animais infectados sobreviventes ao tratamento com Etanercept

Mediana (min-max); p=NS e *p<0,05 para comparação infectados vs. infectados tratados com Etanercept (infectados + sTNFR). Valores de p bicaudais obtidos pelo teste não-paramétrico U de Mann-Whitney.

Genes Infectados (n=12)

Infectados + sTNFR (n=10)

TNF-α 1,7 (0,3-14,0) 1,6 (0,7-5,0)

IFN-γ 4,0 (1,2-11,3) 4,5 (0,9-10,7)

IL-10 1,7 (0,3-27,5) 4,4 (1,5-50,8)*

iNOS 1,3 (0,3-3,1) 0,8 (0,2-1,6)*

MnSOD 0,9 (0,7-4,9) 0,9 (0,4-1,6)

A20 1,5 (0,4-14,2) 1,6 (0,3-8,0)

Genes Infectados (n=8)

Infectados + sTNFR (n=5)

TNF-α 2,2 (0,7-3,8) 1,6 (0,7-3,3)

IFN-γ 5,9 (1,2-11,3) 4,6 (3,4-10,7)

IL-10 1,4 (0,3-2,2) 3,8 (1,8-50,8)*

iNOS 1,8 (0,6-3,0) 0,7 (0,5-1,3)*

MnSOD 0,9 (0,7-2,0) 0,9 (0,7-1,1)

A20 1,1 (0,4-1,8) 0,9 (0,3-1,6)

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Resultados

139

Figura 41. Correlação entre expressão de citocinas e genes ativados por citocinas e função ventricular na fase crônica da infecção. O gráfico em matriz mostra a correlação entre a função ventricular (∆D%) medida 8 meses PI e os níveis de expressão miocárdica de citocinas e genes ativados por citocinas bem como a correlação das citocinas e genes entre si nos animais infectados e tratados com Etanercept durante a fase crônica da infecção por T. cruzi. *p<0,05 e ** p<0,01, valores de p bicaudais obtidos pelo teste de correlação não-paramétrico de Spearman.

∆D%8mPi

TNF- α

IFN- γ

IL-10

A 20

iNOS

MnSOD

∗ ∗∗

∗∆D%8mPi

TNF- α

IFN- γ

IL-10

A 20

iNOS

MnSOD

∆D%8mPi

TNF- α

IFN- γ

IL-10

A 20

iNOS

MnSOD

∗ ∗∗

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Resultados

140

Tabela 16. Correlação entre expressão de citocinas e genes ativados por citocinas e função ventricular após tratamento com Etanercept na fase crônica da infecção por T. cruzi

A tabela mostra os valores de r e p dos testes de correlação entre a função ventricular (∆D%) medida 8 meses PI e os níveis de expressão miocárdica de citocinas e genes ativados por citocinas bem como a correlação das citocinas e genes entre si nos animais infectados e tratados. Em cinza, correlações significativas. Valores de r e p bicaudal obtidos pelo teste de correlação não-paramétrico de Spearman.

r p

∆D% 8 meses PI TNF-α IFN-γ IL-10 A20 iNOS MnSOD

∆D% 8 meses PI -0,64

0,04 -0,55 0,10

-0,15 0,68

-0,13 0,73

-0,56 0,09

-0,06 0,87

TNF-α -0,64 0,04 0,72

0,02 -0,28 0,42

0,08 0,83

0,82 0,004

0,14 0,70

IFN-γ -0,55 0,10

0,72 0,02 0,006

0,99 -0,39 0,26

0,62 0,05

-0,02 0,95

IL-10 -0,15 0,68

-0,28 0,42

0,006 0,99 0,14

0,70 -0,53 0,12

0,24 0,50

A20 -0,13 0,73

0,08 0,83

-0,39 0,26

0,14 0,70 -0,19

0,60 0,51 0,13

iNOS -0,56 0,09

0,82 0,004

0,62 0,05

-0,53 0,12

-0,19 0,60 -0,02

0,95

MnSOD -0,06 0,87

0,14 0,70

-0,02 0,95

0,24 0,50

0,51 0,13

-0,02 0,95

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Discussão

141

6 DISCUSSÃO

No presente estudo, nós utilizamos o modelo de infecção por T. cruzi em

hamster sírio previamente descrito (RAMIREZ et al., 1994; BILATE et al., 2003)

para investigar o papel da inflamação e seus mediadores na miocardite aguda e

cardiomiopatia crônica. Nossos resultados mostraram que, a despeito de níveis

baixos ou indetectáveis de parasitemia em todos os animais, os hamsters

infectados pela cepa Y de T. cruzi apresentaram diferentes padrões de evolução da

doença cardíaca na fase aguda e principalmente na fase crônica, de maneira

semelhante ao que ocorre em pacientes. A presença de parasitas circulantes no 13°

dia pós-infecção esteve associada ao intenso parasitismo cardíaco na data da

morte espontânea durante a fase aguda. O elevado parasitismo cardíaco, além de

associado com a presença de sintomas, esteve associado também à elevada

expressão de RNAm de IL-10 e TNF-α e genes ativados por citocinas inflamatórias

(A20 e iNOS) no miocárdio. Na fase crônica da infecção, embora a intensidade de

miocardite estivesse correlacionada positivamente com a dilatação do ventrículo

esquerdo, nenhuma das duas variáveis esteve associada à morte durante a fase

crônica. Nesta fase, houve predomínio de expressão de RNAm de IFN-γ no

miocárdio em detrimento de TNF-α e IL-10, embora essas duas últimas também

tenham sido detectadas em níveis aumentados. A morte durante a fase crônica

somente esteve associada à expressão de A20.

Uma única combinação de parasita e hospedeiro não isogênico nos permitiu

recapitular o espectro da evolução da doença de Chagas humana, que exibe

diferentes padrões de progressão da fase aguda e crônica (RASSI et al., 2000;

PRATA, 2001). A vantagem do hamster sírio infectado por T. cruzi como modelo

para se estudar a patogênese da miocardite aguda da doença de Chagas está no

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Discussão

142

fato deste roedor poder desenvolver tanto miocardite e parasitismo cardíaco

intensos, associados à morbidade e mortalidade na fase aguda, como miocardite e

parasitismo leves, associados a sobrevivência à esta fase. Já na cardiomiopatia

crônica, a vantagem deste modelo deve-se ao fato de o hamster poder desenvolver

tanto a cardiomiopatia grave, associada à morte durante a fase crônica, como não

desenvolver lesão cardíaca nesta fase. Como uma parcela significativa dos animais

sobrevive à fase aguda, é possível estudar, utilizando o mesmo esquema

experimental, a indução e resolução da miocardite e a evolução da cardiomiopatia

crônica.

A freqüência de morte espontânea observada durante a fase aguda (Figura 21)

está de acordo com nossos resultados anteriores (BILATE et al., 2003), onde,

utilizando o mesmo modelo experimental, observamos 30% de mortalidade durante

esta fase. A mortalidade diferencial durante a fase aguda pode ser explicada pelo

fato que os hamsters empregados neste estudo não são isogênicos, ao contrário

dos modelos murinos de doença de Chagas. Nesses modelos isogênicos, observa-

se ou 100% de mortalidade, ou 100% de sobrevivência à fase aguda, de acordo

com a cepa e carga de parasita e a linhagem de camundongo utilizadas

(WRIGHTSMAN et al., 1982; TRISCHMANN e BLOOM, 1982). Esses trabalhos

utilizaram as cepas Peru (WRIGHTSMAN et al., 1982) ou Brazil (TRISCHMANN e

BLOOM, 1982) para a infecção de diferentes linhagens isogênicas de camundongos

e conseguiram definir linhagens resistentes (C57BL/6, C57BL/10; SJL/J; DBA/2J) e

suscetíveis (A/J, CBA/N, C3H/HeJ, BALB/c) de acordo com a intensidade de

parasitemia e a sobrevivência à fase aguda, mostrando a importância dos fatores

genéticos na determinação da suscetibilidade/resistência à infecção.

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Discussão

143

Apesar da confirmação sorológica da infecção dos animais empregados no

estudo, a infecção com a cepa Y do T. cruzi resultou em baixa freqüência de

parasitemia detectável durante a fase aguda. Quando detectável, os níveis de

parasitemia foram baixos (Figura 21) quando comparados a camundongos

suscetíveis à infecção pela cepa Y (ABRAHAMSOHN e COFFMAN, 1996;

MARINHO et al., 1999; ABRAHAMSOHN et al., 2000), mas semelhantes aos níveis

encontrados em camundongos resistentes à infecção por esta cepa

(ABRAHAMSOHN et al., 2000; GALVÃO DA SILVA et al., 2003). Os resultados de

baixa freqüência e baixos níveis de parasitemia nos hamsters infectados estão de

acordo com resultados anteriores de nosso grupo (BILATE, 2001) e de outros

grupos (RAMIREZ et al., 1994; CABRINE-SANTOS et al., 2001) utilizando o mesmo

modelo de infecção. Entretanto, a associação entre presença de parasitas

circulantes no 13° dia PI e morte durante a fase aguda (Tabela 8) sugere que, neste

modelo, o controle da parasitemia parece conferir resistência à fase aguda e,

conseqüentemente, levar à sobrevivência à esta fase. Além disso, o fato de que os

animais com parasitemia detectável no 13° dia PI e que morreram

espontaneamente durante a fase aguda apresentarem maior parasitismo cardíaco

na data da morte do que os animais com parasitemia indetectável, que também

morreram espontaneamente durante o mesmo período (Figura 22), sugere que o

controle precoce da parasitemia preveniu a disseminação dos parasitas pelo tecido

cardíaco. Por outro lado, esse resultado também sugere que, além do parasitismo,

outros fatores contribuem para a suscetibilidade à morte durante a fase aguda.

Corroborando essa hipótese, dados da literatura mostram que camundongos

suscetíveis (BALB/c) apresentam elevada parasitemia e menor sobrevida à fase

aguda do que camundongos resistentes (C57BL/6) quando infectados com a cepa Y

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Discussão

144

(ABRAHAMSOHN et al., 2000) ou com a cepa Colombiana (MICHAILOWSKY et al.,

2001). Esses resultados sugerem que, nos modelos murinos de infecção aguda, o

controle da parasitemia também está associado à sobrevivência à fase aguda.

Os animais sintomáticos aos 21 dias PI apresentaram elevado parasitismo

cardíaco e elevada expressão de citocinas, como TNF-α e IL-10, e genes ativados

por citocinas, como A20 e iNOS quando comparados aos animais assintomáticos

(Figuras 8, 10 e 11). Isso sugere que, neste modelo, o aparecimento de sintomas

está relacionado ao intenso parasitismo cardíaco e este parece determinar os níveis

das citocinas no miocárdio. A correlação positiva entre expressão de citocinas e

genes ativados por citocinas e a área de antígeno de T. cruzi (Tabela 2 e Figura 12)

apóia essa hipótese. Essa correlação com citocinas produzidas tanto por

macrófagos como por linfócitos sugere a participação das respostas inata e

adquirida no controle da infecção aguda. Esse resultado é consistente com dados

anteriores de modelos murinos suscetíveis ou resistentes à infecção aguda pelo T.

cruzi que mostram a importância da produção local e periférica das citocinas na

fase aguda para o controle da infecção (RUSSO et al., 1989; STAROBINAS et al.,

1991; SILVA et al., 1992; TRUYENS et al., 1999; TALVANI et al., 2000;

MICHAILOWSKY et al., 2001).

O aumento significativo dos níveis de expressão de TNF-α e IFN-γ no

miocárdio dos animais sintomáticos com intenso parasitismo cardíaco em

comparação aos assintomáticos com baixo parasitismo (Figura 10), aliado à

correlação positiva entre os níveis de expressão das duas citocinas (Tabela 2 e

Figura 12), sugere a participação conjunta de TNF-α e IFN-γ no controle do

parasitismo cardíaco na fase aguda da infecção por T. cruzi em hamsters. Esses

resultados estão de acordo com os modelos de infecção por T. cruzi em

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Discussão

145

camundongos e ratos (CHANDRASEKAR et al., 1998; TALVANI et al., 2000). Ratos

Lewis infectados com a cepa Sylvio X10/7 de T. cruzi apresentaram elevada

expressão de TNF-α no miocárdio após 5, 10 e 15 dias de infecção, sendo que os

maiores níveis de expressão de TNF-α e miocardite mais intensa foram detectados

no 15° dia de infecção (CHANDRASEKAR et al., 1998). Camundongos C57BL/6

infectados com a cepa Colombiana de T. cruzi também apresentaram elevada

expressão miocárdica de RNAm de TNF-α e IFN-γ após 15 e 30 dias de infecção,

quando a miocardite e o parasitismo cardíaco eram intensos em relação ao período

de 60 e 120 dias PI (TALVANI et al., 2000). Por outro lado, um papel patogênico do

TNF-α na suscetibilidade à infecção aguda foi ressaltada em trabalhos que

mostraram que camundongos suscetíveis à infecção pela cepa CL de T. cruzi

(C3H/He) apresentaram níveis séricos de TNF-α bioativos mais elevados do que

camundongos resistentes (C57BL/6) (RUSSO et al., 1989; STAROBINAS et al.,

1991). Nesta linha, Truyens e colaboradores (1999) mostraram que níveis elevados

de TNF-α circulante durante a fase aguda estavam associados com elevada

parasitemia, caquexia e mortalidade de camundongos BALB/c suscetíveis à

infecção aguda por T. cruzi. Entretanto, camundongos deficientes de TNFR1

infectados com a cepa Tulahuen ou Y de T. cruzi apresentaram elevada parasitemia

e sobrevida mais curta na fase aguda em comparação aos controles (CASTANOS-

VELEZ et al., 1998; ALIBERTI et al., 2001), sugerindo que a sinalização por TNF-α

participa do controle da parasitemia, inflamação e influencia a sobrevivência à

infecção aguda. Em conjunto, esses resultados sugerem que o TNF-α é essencial

para o controle da parasitemia e sobrevivência à fase aguda, mas que, em níveis

elevados, pode contribuir para a suscetibilidade e morte nesta fase.

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Discussão

146

Quanto ao IFN-γ, linhagens de camundongos naturalmente resistentes

(B6D2) à infecção pela cepa Tulahuen de T. cruzi apresentaram significativo

aumento de parasitemia e mortalidade após tratamento com anticorpo neutralizante

anti-IFN-γ (SILVA et al., 1992). Além disso, a infecção com a cepa Tulahuen,

Colombiana ou Y em camundongos geneticamente deficientes de IFN-γ ou de seu

receptor resulta em elevada parasitemia, mortalidade na fase aguda, parasitismo

cardíaco disseminado e miocardite leve quando comparados a animais com

expressão normal de IFN-γ (HOLSCHER et al., 1998; MICHAILOWSKY et al., 2001;

ALIBERTI et al., 2001). Em conjunto, esses resultados demonstram a importância

do IFN-γ no controle da infecção aguda. Por outro lado, nossos resultados

contrastam com os dados de Zhang e Tarleton (1996), que utilizaram dois modelos

de infecção aguda com a cepa Brazil, um suscetível (camundongos C3H) e outro

resistente (C57BL/6) e encontraram expressão semelhante de TNF-α e IFN-γ no

coração por análise imuno-histoquímica. As diferenças de resultado podem ser

explicadas pela técnica utilizada para a detecção da expressão de citocinas. No

nosso estudo, a análise da expressão de citocinas no coração foi feita por RT-PCR

em tempo real, uma técnica que permite detectar e quantificar pequenas diferenças,

enquanto no trabalho de Zhang e Tarleton, a expressão de citocinas foi analisada

por imuno-histoquímica semi-quantitativa, que não permite detectar diferenças sutis.

Vale ressaltar que, no nosso estudo, todos os animais infectados (sintomáticos ou

assintomáticos) apresentaram grande quantidade de células expressando TNF-α no

coração (Figura 18), mas a diferença de expressão entre os grupos sintomáticos e

assintomáticos foi detectada somente pelo RT-PCR em tempo real.

A correlação positiva entre os níveis de expressão de iNOS e a intensidade

do parasitismo cardíaco e a expressão de TNF-α (Tabela 2 e Figura 12) sugere que

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Discussão

147

o parasitismo cardíaco resultou em aumento de TNF-α no coração e este modulou a

expressão de iNOS durante a fase aguda. No entanto, não houve diferença

significativa nos níveis de expressão de iNOS entre os animais assintomáticos e

sintomáticos (Figura 11), possivelmente devido à grande dispersão e ao pequeno

número de animais. Corroborando a hipótese de que o parasitismo modula a

expressão de iNOS no miocárdio, ratos Lewis ou camundongos CD1 infectados por

T. cruzi apresentaram elevada expressão miocárdica de iNOS após 15 ou 32 dias

de infecção, respectivamente (CHANDRASEKAR et al., 1998; CHANDRASEKAR et

al., 2000; HUANG et al., 1999), período em que a expressão de TNF-α também é

elevada. Além disso, a infecção com a cepa Tulahuen ou Colombiana de T. cruzi

em camundongos geneticamente deficientes de iNOS resultou em maior

parasitismo sangüíneo e cardíaco e mortalidade na fase aguda (HOLSCHER et al.,

1998; MICHAILOWSKY et al., 2001), sugerindo que a iNOS está envolvida no

controle da infecção aguda. Já foi mostrado que, in vitro, a atividade tripanocida de

macrófagos é dependente de NO e TNF-α (SILVA et al., 1995). Por outro lado, outro

estudo utilizando uma combinação diferente de parasita-hospedeiro mostrou que

camundongos geneticamente deficientes de iNOS apresentam mortalidade e

parasitemia semelhantes às de camundongos com expressão normal após infecção

com a cepa Brazil ou Tulahuen de T. cruzi (CUMMINGS e TARLETON, 2003),

questionando o papel da iNOS no controle da infecção aguda.

Além da importância das citocinas inflamatórias e dos mediadores por elas

ativados no controle do parasitismo da fase aguda, as citocinas anti-inflamatórias

também desempenham papel fundamental na limitação da resposta inflamatória. O

aumento significativo da expressão de IL-10 nos animais sintomáticos em

comparação aos assintomáticos (Figura 10) permite sugerir que o intenso

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Discussão

148

parasitismo cardíaco, ou as citocinas inflamatórias por ele induzidas, tenha

estimulado a produção desta citocina, que poderia regular a ação danosa das

citocinas inflamatórias. Nesta linha, nossos resultados também mostraram que os

níveis de expressão de IL-10 estavam correlacionados positivamente com a

expressão de IFN-γ e TNF-α e com a intensidade do parasitismo cardíaco (Tabela 2

e Figura 12), sugerindo um mecanismo conjunto de regulação. Em apoio a essas

hipóteses, camundongos C57BL/6 infectados com a cepa Colombiana de T. cruzi

apresentaram elevada expressão miocárdica de RNAm de IL-10 após 15, 30, 60 e

120 dias PI, com pico expressão após 60 e 120 dias, quando a miocardite e o

parasitismo cardíaco eram menos intensos do que 15 e 30 dias após a infecção

(TALVANI et al., 2000). Além disso, camundongos deficientes de IL-10 infectados

com cepa Y ou Tulahuen de T. cruzi apresentaram elevada produção de IFN-γ e

TNF-α e baixa parasitemia quando comparados aos controles com expressão

normal de IL-10, mas tiveram uma menor sobrevida em função de uma síndrome

semelhante ao choque tóxico induzido pelo aumento descontrolado de IFN-γ e TNF-

α (ABRAHAMSOHN e COFFMAN, 1996; HUNTER et al., 1997; HOLSCHER et al.,

2000), ressaltando a importância da IL-10 no controle da resposta inflamatória

exacerbada na infecção aguda. Em conjunto, nossos resultados e de outros grupos

apontam a participação da IL-10 no controle da resposta inflamatória na infecção

aguda por T. cruzi. Entretanto, nossos resultados contrastam com dados de Zhang

e Tarleton (1996), citados anteriormente. Nesse trabalho, os autores utilizaram

imuno-histoquímica para detectar a expressão de citocinas no coração e

observaram que a expressão de IL-10 no coração durante a fase aguda foi

semelhante nos camundongos suscetíveis e resistentes à infecção pela cepa Brazil.

As diferenças de resultados também podem ser explicadas pelo fato de terem sido

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Discussão

149

utilizadas técnicas distintas para a detecção das citocinas, conforme descrito

anteriormente, e pelo fato de termos usado um esquema experimental diferente do

utilizado por Zhang e Tarleton.

O aumento da expressão de MnSOD no miocárdio dos animais sintomáticos

com intenso parasitismo cardíaco em relação aos assintomáticos com baixo

parasitismo cardíaco sugere que, nessa parcela de animais suscetíveis, a infecção

aguda pelo T. cruzi resultou em aumento da ativação de vias anti-oxidantes. Nossos

resultados mostraram também que os níveis de expressão de MnSOD

correlacionaram-se positivamente com a expressão de IL-10 e TNF-α, bem como

com a intensidade do parasitismo, sugerindo que essas citocinas modularam a

expressão de MnSOD na fase aguda da infecção. Corroborando esse achado,

camundongos C57BL/6 infectados com a cepa CA-1 (isolada de um paciente com

CCC) apresentaram elevada expressão de RNAm de MnSOD no músculo

esquelético e baço após 30 dias de infecção, enquanto camundongos deficientes da

expressão de TNF-α apresentaram redução significativa da expressão de MnSOD

(CASTANOS-VELEZ et al., 1998). Isso sugere que a infecção aguda modula

positivamente a expressão de MnSOD e que essa modulação é dependente de

TNF-α. A MnSOD é uma enzima anti-oxidante ativada tanto por TNF-α como por

IFN-γ (WONG e GOEDDEL, 1988; WONG et al., 1989) e está aumentada em

modelos animais de insuficiência cardíaca (YANG et al., 2003). Além disso,

camundongos deficientes de MnSOD morrem após 10 dias de vida de

anormalidades cardíacas como dilatação do ventrículo esquerdo, afilamento das

paredes do ventrículo e fibrose endocárdica (LI et al., 1995). É possível que o

aumento da expressão de MnSOD no miocárdio de animais com sintomas de fase

aguda da infecção por T. cruzi seja decorrente de uma resposta compensatória do

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Discussão

150

tecido ao estresse oxidativo, causado pelo intenso parasitismo e infiltrado

inflamatório. Já foi demonstrado que o estresse oxidativo desencadeia a ativação de

defesas anti-oxidantes (HALIWELL E GUTTERIDGE, 2000). O intenso parasitismo

ativa células fagocíticas, como os macrófagos, que irão produzir ROS, que

estimulam a produção de enzimas anti-oxidantes.

O aumento da expressão do gene protetor de apoptose (A20) no miocárdio

dos animais sintomáticos quando comparados com os assintomáticos (Figura 11)

sugere que a expressão de A20 poderia estar relacionada à gravidade da

miocardite aguda induzida pelo T. cruzi. Para apoiar essa hipótese, nossos

resultados mostraram também que a expressão de A20 esteve correlacionada

positivamente com a expressão de IL-10, TNF-α e iNOS. O gene A20 é ativado pelo

NFκB via TNF-α/TNFR1 (HEYNINCK e BEYAERT, 2005) e regula a ativação de

NFκB, impedindo a amplificação da resposta inflamatória (COOPER et al., 1996;

BEYAERT et al., 2000). Camundongos deficientes de A20 apresentam inflamação

exacerbada em diversos órgãos, caquexia e hipersensibilidade ao LPS e TNF-α e

as células desses animais são mais suscetíveis à apoptose induzida por TNF-α

(LEE et al., 2000). Esses resultados mostram a importância do A20 na regulação de

respostas inflamatórias induzidas pelo TNF-α. É possível que o aumento de A20 no

miocárdio de animais sintomáticos seja decorrente da elevada produção de TNF-α.

Podemos especular que, em fases mais tardias, a expressão de A20 poderia

controlar a ação deletéria do TNF-α.

É possível que o desenvolvimento de sintomas de fase aguda, aliado à

ausência de controle da parasitemia e conseqüentemente intenso parasitismo

cardíaco, miocardite e seus mediadores, contribua para a morte dos animais

suscetíveis à infecção aguda. Nesta linha, podemos hipotetizar que um subgrupo de

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Discussão

151

animais que consegue controlar precocemente o parasitismo periférico escapa dos

sintomas clínicos e da morte na fase aguda, o que não ocorreria no subgrupo que

não consegue esse controle e que permite a disseminação do parasitismo. Em

outras palavras, nossos resultados sugerem que um subgrupo de animais consegue

controlar a disseminação do parasitismo, resultando em menor recrutamento de

células inflamatórias para o local da lesão. Conseqüentemente, a produção local de

mediadores inflamatórios, tais como citocinas e genes ativados por citocinas,

também seria menos intensa. Com isso, podemos hipotetizar que esse é o

subgrupo de animais que consegue sobreviver à fase aguda, podendo ou não

desenvolver a cardiomiopatia típica da fase crônica, após alguns meses. Por outro

lado, no subgrupo de animais com elevado parasitismo cardíaco associado à

presença de sintomas de fase aguda, podemos especular que outros fatores (por

exemplo, polimorfismos genéticos) contribuam para a falta de controle do

parasitismo periférico, e para conseqüente disseminação do parasita por diversos

órgãos, incluindo o coração. No coração, o elevado parasitismo leva ao aumento do

recrutamento de células inflamatórias, desencadeando uma intensa resposta

inflamatória local que se autoperpetua através da produção descontrolada e

exacerbada de citocinas inflamatórias. Em contrapartida, a expressão de genes

protetores ativados por citocinas inflamatórias (A20 e MnSOD), aliada à elevada

expressão de citocinas anti-inflamatórias (Figuras 10 e 11), sugere que a produção

exacerbada de citocinas inflamatórias poderia ativar as vias de proteção celular que,

em fases posteriores poderiam regular a sua ação danosa. De maneira resumida, é

possível que o desenvolvimento de sintomas de fase aguda, aliado à ausência de

controle da parasitemia e conseqüentemente intenso parasitismo cardíaco,

miocardite e seus mediadores, contribua para a morte dos animais suscetíveis à

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Discussão

152

infecção aguda. Nesta linha, podemos hipotetizar que um subgrupo de animais que

consegue controlar precocemente o parasitismo periférico escapa dos sintomas

clínicos e da morte na fase aguda, o que não ocorreria no subgrupo que não

consegue esse controle e que permite a disseminação do parasitismo.

Para avaliar, no nosso modelo, o papel do TNF-α na fase aguda da infecção,

utilizamos o tratamento com o receptor solúvel p75 humano (Etanercept) para

bloquear a atividade do TNF-α. Inicialmente, observamos que o Etanercept é capaz

de neutralizar a atividade de TNF-α de hamster in vitro e in vivo (Figuras 13 e 14),

mostrando que esta droga é adequada para o bloqueio de TNF-α de hamster.

O aumento significativo do parasitismo sangüíneo e cardíaco após o

tratamento com Etanercept na fase aguda (Figuras 15 e 17), especialmente um

subgrupo de animais assintomáticos, sugere que o bloqueio da atividade de TNF-α

nesta fase facilitou a disseminação do parasitismo sanguíneo e cardíaco em uma

parcela de animais que, possivelmente, apresentariam baixo parasitismo cardíaco.

Esses resultados estão de acordo com dados de elevada parasitemia em

camundongos deficientes de TNFR1 infectados por T. cruzi (CASTANOS-VELEZ et

al., 1998; ALIBERTI et al., 2001). O aumento de parasitismo e a aparente

diminuição de inflamação nos animais infectados e tratados com Etanercept são

consistentes com o papel do TNF-α na migração de células inflamatórias para o

local da lesão (BEN-HORIN e BANK, 2004). É possível que o bloqueio da atividade

de TNF-α tenha diminuído o recrutamento de células inflamatórias para o coração e,

conseqüentemente, diminuído a produção local de mediadores inflamatórios que

iriam controlar o parasitismo. Alternativamente, o bloqueio de TNF-α pode ter

diminuído a atividade microbicida de macrófagos e conseqüentemente, permitido a

disseminação do parasitismo. Em apoio a essa hipótese, camundongos resistentes

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Discussão

153

à infecção (C57BL6) apresentam aumento de parasitemia e mortalidade e

diminuição da produção de NO in vitro e in vivo (SILVA et al., 1995).

Nossos resultados referentes à expressão de RNAm (Tabela 3) sugerem que

o tratamento com Etanercept durante a fase aguda da infecção pelo T. cruzi não

alterou a expressão miocárdica de genes ativados por TNF-α (iNOS, MnSOD e

A20). Uma vez que o tratamento com Etanercept não bloqueia IFN-γ, a expressão

de genes ativados por IFN-γ, que também são ativados por TNF-α (como iNOS e

MnSOD) permaneceu inalterada. Além disso, podemos especular que o tratamento

com Etanercept tenha induzido a ativação de vias de sinalização que podem ser

independentes de TNF-α Por outro lado, o tratamento com Etanercept foi realizado

em animais que modulam positivamente a expressão de TNF-α no miocárdio, após

a infecção por T. cruzi, evidenciado pelos níveis aumentados de expressão de

RNAm de TNF-α em relação aos animais não infectados (Figura 19) e pela

presença de numerosas células TNF-α+ no infiltrado inflamatório no miocárdio,

mostrado pela análise imuno-histoquímica (Figura 18). Entretanto, o significativo

aumento de expressão de RNAm de IL-10 no grupo de animais infectados e

tratados com Etanercept, que não apresentaram sintomas de fase aguda (Tabela

5), pode ter sido conseqüência do aumento de parasitismo em função da falta de

atividade de TNF-α. Podemos hipotetizar que um subgrupo de animais que

controlariam o parasitismo cardíaco, de maneira análoga aos animais infectados

não tratados, foram suscetíveis ao tratamento com Etanercept, ou seja, em um

subgrupo de animais o TNF-α seria importante para controlar o parasitismo e em

outro subgrupo, outros mediadores inflamatórios exerceriam esse controle.

Entretanto, a despeito do alto parasitismo, esse subgrupo de animais “resistentes”

permaneceu livre de qualquer sintoma de fase aguda. Com isso, é possível que nos

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Discussão

154

animais sensíveis ao tratamento, o bloqueio da atividade de TNF-α aumenta o

parasitismo mas protege os animais de desenvolverem fase aguda sistêmica, por

mecanismos que podem estar relacionados à ausência de atividade de TNF-α. Um

possível mecanismo seria o aumento da expressão de IL-10 ou de outras citocinas

anti-inflamatórias não investigadas no presente estudo. Em apoio a essa hipótese,

camundongos infectados com T. cruzi e tratados com IL-10 recombinante

apresentaram aumento da parasitemia e camundongos deficientes de IL-10

infectados por T. cruzi apresentaram redução do parasitismo cardíaco

(ABRAHAMSOHN e COFFMAN, 1996), mas apresentaram menor sobrevida e

desenvolveram uma síndrome de choque tóxico devido ao aumento de TNF-α

(HOLSCHER et al., 2000). Em conjunto, resultados do nosso e de outros grupos

mostram a importância da IL-10 no controle da resposta inflamatória estimulada

pelo T. cruzi.

Para investigar a influência da parasitemia na fase aguda sobre o desfecho

final na fase crônica seria necessário um grupo de animais que tivesse parasitemia

detectável e que sobrevivesse até a fase crônica. No nosso estudo, não foi possível

relacionar esta variável da fase aguda com a evolução da fase crônica, uma vez

que a grande maioria dos animais que apresentaram parasitemia morreram durante

a fase aguda. Dos 5 sobreviventes, dois morreram durante a fase crônica e apenas

três sobreviveram até o final da análise (11 meses PI), mostrando evolução

semelhante à dos animais com parasitemia indetectável. Apesar do número

pequeno de animais, esse resultado sugere que a parasitemia no 13° dia PI parece

não influenciar a progressão da fase crônica. Por outro lado, uma vez que nesse

grupo de animais acompanhados por longo tempo, a parasitemia foi avaliada

apenas no 13° dia PI, não podemos descartar que um possível aumento de

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Discussão

155

parasitemia anterior ou posterior a essa data pudesse estar relacionado à

sobrevivência na fase crônica. Nossos resultados anteriores, utilizando o modelo de

infecção com 100.000 ou 35.000 formas sangüíneas da cepa Y em hamsters,

mostraram que, apesar da baixa parasitemia durante a fase aguda (medida após 7,

14 e 21 dias de infecção; BILATE, 2001), a gravidade da cardiomiopatia,

evidenciada pela intensidade de miocardite, fibrose e disfunção ventricular, estava

associada ao maior inóculo (BILATE et al., 2003). De maneira semelhante, dados

de modelo murino mostraram que camundongos A/J infectados com alto inóculo de

cepa Y de T. cruzi apresentaram maior parasitemia na fase crônica e miocardite

mais intensa do que os animais infectados com baixo inóculo (MARINHO et al.,

1999), sugerindo que a carga parasitária está associada ao desenvolvimento de

lesão cardíaca na fase crônica. Entretanto, estudo realizado em área endêmica com

pacientes portadores da doença de Chagas acompanhados por 8 anos mostrou que

a parasitemia na fase aguda não estava relacionada ao desenvolvimento de CCC

(PEREIRA et al., 1992). Nesta linha, já foi mostrada a presença de agregação

familiar de casos de CCC em áreas endêmicas (ZICKER et al., 1990), sugerindo a

participação de fatores genéticos na progressão da doença. As diferenças de

resultados nos estudos com humanos e em animais podem ser explicadas pelo fato

do método utilizado para medir a parasitemia serem distintos. Enquanto nos

estudos com humanos, a parasitemia foi medida por xenodiagnóstico, no estudo

com camundongos, a parasitemia foi medida pelo método semiquantitativo de

subinoculação. Além disso, nos estudos com camundongos, a associação

encontrada foi com a parasitemia na fase crônica, enquanto que, no estudo com

humanos, a parasitemia foi medida durante a fase aguda. No nosso estudo anterior,

não houve associação entre gravidade da CCC e a parasitemia, mas sim com o

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Discussão

156

inóculo. Em conjunto, esses resultados sugerem que, além do parasitismo, outros

fatores (genéticos e ambientais) devem contribuir para o desenvolvimento das

lesões cardíacas nos hamsters cronicamente infectados por T. cruzi.

A observação de que os animais que apresentaram disfunção ventricular,

pelo ecocardiograma realizado 8 meses PI, morreram entre 8-10 meses PI (Figura

26) indica que o desenvolvimento de disfunção ventricular durante a fase crônica

inicial (8 meses PI) está associado com mortalidade durante a fase crônica tardia da

infecção por T. cruzi. Este resultado está de acordo com nosso trabalho anterior

onde, utilizando a mesma combinação de cepa de parasita e hospedeiro, o

desenvolvimento de disfunção ventricular precoce por hamsters cronicamente

infectados estava associado ao óbito na fase crônica tardia (BILATE et al., 2003).

Na mesma linha, estudos com pacientes mostraram que a função ventricular é um

bom preditor de sobrevida de pacientes com CCC (MADY et al., 1994; FREITAS et

al., 2005) que e manifestações clínicas precoces estão associadas a um pior

prognóstico em fases mais avançadas da CCC (MADY e NACRUTH, 1995).

Por outro lado, a observação de que apenas 1 de 9 animais infectados

sobreviventes apresentou disfunção ventricular 11 meses PI (Figura 27) contrasta

com nossos resultados anteriores, onde, nesse mesmo período, 100% dos

hamsters infectados desenvolveram disfunção ventricular significativa

acompanhada de dilatação do VE (BILATE et al., 2003). É possível que o inóculo de

parasitas empregado no estudo atual tenha sido mais virulento e agressivo do que o

empregado no estudo anterior e possa ter sido o responsável pelo estabelecimento

precoce de disfunção ventricular (8 meses PI) e aumento da freqüência de óbitos

durante a fase crônica neste estudo. Por outro lado a diferença de suscetibilidade

ao desenvolvimento de cardiomiopatia pode estar relacionada também a fatores

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Discussão

157

genéticos e ambientais, já que os hamsters empregados no estudo atual não são

isogênicos. É possível que a ausência de disfunção ventricular significativa 11

meses pós-infecção pode ter sido decorrente de uma diferença de tempo de

progressão para o comprometimento cardíaco: entre 8 e 11 meses PI morreram os

animais mais suscetíveis, com maior grau de acometimento cardíaco, e os

sobreviventes restantes são representados pelos animais resistentes à fase crônica,

com pequeno ou nenhum grau de acometimento cardíaco. Os nossos resultados

podem ser comparados aos estudos longitudinais realizados com indivíduos

infectados por T. cruzi, onde o desenvolvimento de cardiomiopatia em uma parcela

dos pacientes indeterminados pode ocorrer na adolescência, no início da idade

adulta, ou somente a partir dos 50 anos de idade (ESPINOSA et al., 1985).

Apesar da ausência de disfunção ventricular à análise ecocardiográfica, vale

ressaltar que 44% (4/9) dos animais infectados que sobreviveram até o final do

estudo (11 meses PI) apresentaram simultaneamente dilatação do VE e miocardite

(Figura 30). Este resultado sugere que o acometimento cardíaco nesses animais

não foi suficiente para comprometer a função ventricular e levar à morte na fase

crônica. Dilatação do VE e função ventricular ainda preservada são comuns em

pacientes portadores da doença de Chagas (RASSI et al., 2000). Nesta linha, uma

vez que os animais que desenvolveram dilatação apresentaram também miocardite

e dada a correlação positiva entre intensidade de miocardite e dilatação do VE nos

animais cronicamente infectados (Figura 30), podemos sugerir que um subgrupo de

hamsters (7/12) infectados pelo T. cruzi desenvolveu cardiomiopatia semelhante à

CCC humana, enquanto que o restante dos animais não desenvolveu a

cardiomiopatia típica da fase crônica (5/12), lembrando os indivíduos da forma

indeterminada da doença de Chagas. Em humanos, apenas 30% dos indivíduos

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Discussão

158

infectados por T. cruzi desenvolvem CCC, que pode variar de leve a grave, de

acordo com função ventricular e alterações eletrocardiográficas. Os 70% restantes

permanecem na forma indeterminada. Dos pacientes que desenvolvem CCC,

apenas 1/3 desenvolve dilatação das câmaras cardíacas e ICC refratária

(MACÊDO, 1982; ROSSI, 1991). Estudo realizado com biópsias endomiocárdicas

de pacientes portadores da doença de Chagas mostrou que a freqüência de

miocardite é maior em pacientes com CCC grave e com dilatação do que nos

pacientes indeterminados ou com CCC leve (HIGUCHI et al., 1987), mostrando o

papel da miocardite na progressão para as formas graves de CCC. Portanto, pode-

se hipotetizar que o dano às fibras cardíacas causado pela miocardite tenha

contribuído para o desenvolvimento de dilatação do VE na fase crônica nos

hamsters infectados por T. cruzi. Por outro lado, a ausência de associação entre

intensidade de miocardite ou grau de dilatação do VE e mortalidade (Figuras 28 e

29) sugere que, neste modelo, outros eventos, que não a inflamação e dilatação

ventricular possam ser decisivos para a evolução ao óbito. Em fases mais

avançadas da doença, a miocardite é substituída por fibrose, o que poderia explicar

porque alguns animais não apresentaram miocardite na data de sacrifício (11

meses PI). No estudo atual, a fibrose cardíaca nos animais cronicamente infectados

não foi quantificada. Porém, nossos resultados anteriores, utilizando o mesmo

modelo experimental, mostraram que os animais infectados por 12 meses

apresentaram fibrose significativamente superior aos animais não infectados

(BILATE et al., 2003).

Na cardiomiopatia dilatada, o desenvolvimento de hipertrofia excêntrica,

caracterizada pela síntese de sarcômeros em série, progride para a dilatação das

câmaras cardíacas devido ao estiramento das fibras cardíacas (HUNTER e CHIEN,

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Discussão

159

1999). Nesta linha, já foi mostrado que diversos mediadores inflamatórios, como

TNF-α, IL-1β e MCP-1, podem ativar o programa hipertrófico de cardiomiócitos

(SCHAUB et al., 1997; YOKOYAMA et al., 1997; KOLATTUKUDY et al., 1998;

KUBOTA et al., 1998). Além disso, dados do nosso grupo mostraram que

cardiomiócitos fetais cultivados com IFN-γ e MCP-1 apresentam expressão

aumentada do fator natriurético atrial (ANF) (CUNHA-NETO et al., 2005), gene

envolvido no fenótipo hipertrófico associado à ICC (HUNTER et al., 1999). Na CCC

humana foi observada a expressão aumentada de RNAm de genes induzidos por

IFN-γ no miocárdio (relacionados ou não à resposta inflamatória) e reduzida de

genes reprimidos por esta citocina (relacionados ao metabolismo cardíaco) em

relação ao miocárdio de pacientes CDI (CUNHA-NETO et al., 2005). Esses

resultados sugerem que a sinalização por IFN-γ pode modular diretamente a

expressão gênica de cardiomiócitos, contribuindo para o agravamento do fenótipo

hipertrófico e da ICC. Em conjunto, podemos hipotetizar que, na CCC, a destruição

de fibras cardíacas pela inflamação crônica e seus mediadores (p. ex. IFN-γ e TNF-

α) resultaria em uma resposta hipertrófica que compensaria a perda de

cardiomiócitos. Porém, com o decorrer do processo de inflamação crônica, essa

resposta hipertrófica poderia desencadear a dilatação das câmaras cardíacas.

Para saber se, no nosso modelo, os mediadores inflamatórios influenciam a

gravidade da CCC, avaliamos a expressão miocárdica de citocinas pró- e anti-

inflamatórias, bem como a expressão de genes ativados por citocinas inflamatórias

(Figura 32). A expressão aumentada do gene A20, ativado por TNF-α/NFκB, no

miocárdio de alguns animais que morreram espontaneamente durante a fase

crônica em relação aos sobreviventes (Tabela 11) sugere que a expressão deste

gene está associada ao desfecho final da cardiomiopatia - morte. Podemos

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Discussão

160

especular que o aumento de expressão do gene A20 no miocárdio de animais que

morreram espontaneamente durante a fase crônica tenha sido decorrente da

ativação de vias inflamatórias dependentes de TNF-α/NFκB, que também ativam

vias de proteção celular. Nesta linha, a correlação negativa entre a função

ventricular obtida após 8 meses de infecção (associada com morte precoce durante

a fase crônica) e os níveis de expressão de A20 nos animais infectados e a

correlação positiva entre os níveis de expressão de A20 e MnSOD (Tabela 10 e

Figura 33), também considerado um gene protetor ativado por TNF-α (WONG et al.,

1989), sugere a participação de vias de ativação de genes protetores na progressão

da CCC no hamster. Além disso, a correlação positiva entre os níveis de expressão

de IL-10 com a expressão de A20 e MnSOD e a correlação negativa de IL-10 com a

função ventricular analisada 8 meses PI (Tabela 10 e Figura 33) apóiam a hipótese

de que a expressão de genes com função de proteção celular (por exemplo. A20 e

MnSOD) e citocinas com atividade anti-inflamatória (por exemplo, IL-10) na lesão

cardíaca crônica podem ser decorrentes de ativação de mecanismos de

compensação desencadeados pelos próprios mediadores inflamatórios.

Corroborando essa hipótese, biópsias endomiocárdicas de pacientes com rejeição

aguda de enxerto cardíaco apresentaram elevada expressão de genes protetores,

como o A20 (SOUZA et al., 2005). Dados da literatura mostram que, em modelos

animais de hipertrofia cardíaca, ocorre aumento significativo da expressão de

RNAm de A20 no miocárdio, associado a ativação de NFκB e o tratamento de

cardiomiócitos com adenovírus que codifica o A20 preveniu a apoptose induzida por

privação de soro e a resposta hipertrófica induzida por fenilefrina ou endotelina

(estímulos hipertróficos) (COOK et al., 2003). Além disso, camundongos com

miocardite crônica pós-infecção com vírus Coxsackie apresentaram elevada

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Discussão

161

expressão de IL-10 no miocárdio (GLUCK et al., 2001). Em conjunto, resultados do

nosso e de outros grupos sugerem a participação de mecanismos anti-inflamatórios

na miocardite crônica.

Por outro lado, a semelhança nos níveis de expressão no miocárdio de

citocinas (TNF-α, IFN-γ, IL-10) e genes ativados por citocinas (iNOS e MnSOD)

entre os animais que morreram espontaneamente durante a fase crônica em

comparação aos sobreviventes (Tabela 11) sugere que tais mediadores não estão

associados à sobrevivência à fase crônica. Além disso, o fato de a expressão

desses mediadores também ter sido semelhante no grupo de animais com

miocardite e dilatação do VE e no grupo sem miocardite ou dilatação do VE (Tabela

12) sugere que os mediadores inflamatórios e anti-inflamatórios avaliados neste

estudo não estão envolvidos na gravidade da CCC do hamster infectado por T.

cruzi. Uma vez que a composição celular do infiltrado linfomononuclear não foi

caracterizada, não podemos descartar a hipótese de que a quantidade de algum

tipo celular predominante poderia estar relacionada tanto à gravidade da doença

quanto à expressão de citocinas e genes ativados por citocinas ou de genes

relacionados à resposta inflamatória não avaliados neste estudo.

Apesar da falta de associação entre as citocinas inflamatórias avaliadas

nesse estudo e a progressão diferencial da CCC nos hamsters infectados pela cepa

Y de T. cruzi, a maioria dos animais apresentou elevada expressão de TNF-α, IFN-γ

e IL-10 em comparação aos animais não infectados (Figura 32). Esse resultado está

de acordo com estudos em humanos que mostraram, por imuno-histoquímica, a

presença abundante de células produtoras de TNF-α, IL-4, e IFN-γ, com predomínio

deste último, no miocárdio de pacientes com CCC grave e miocardite. Em modelos

murinos de infecção crônica por T. cruzi (camundongos C57BL/6 infectados com a

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Discussão

162

cepa Colombiana), observou-se elevada expressão de RNAm de TNF-α e IL-10, e

uma menor expressão de IFN-γ, no tecido cardíaco após 60 ou 120 dias de infecção

(TALVANI, et al., 2000). Nesse modelo, a intensidade da miocardite foi maior após

60 dias de infecção e esta era essencialmente focal, enquanto que, após 120 dias

de infecção, a miocardite era leve e difusa. Além disso, em outros modelos murinos

de infecção crônica (camundongos C57BL/6 ou C3H/HeSnJ infectados com a cepa

Brazil ou Sylvio X10/4, respectivamente) foi possível detectar, por imuno-

histoquímica, a presença de numerosas células TNF-α+ após 60, 85, 126 e 210 dias

de infecção, mas não a presença de células expressando IFN-γ, IL-4, ou IL-10 nos

mesmos períodos (ZHANG e TARLETON, 1996). Neste trabalho, a intensidade da

miocardite em ambos os modelos estava correlacionada com o número de células

TNF-α+, sugerindo que TNF-α, mas não IFN-γ, IL-4 e IL-10, está relacionado à

gravidade da miocardite crônica nestes modelos. Em conjunto, nossos resultados e

de outros grupos sugerem a participação das citocinas inflamatórias na progressão

da miocardite crônica pós-infecção pelo T. cruzi. Por outro lado, a presença de

citocinas anti-inflamatórias, também nas lesões cardíacas, sugere que estas

estejam desempenhando um possível papel regulador.

No nosso estudo, a ausência de associação entre a expressão local de

citocinas inflamatórias e gravidade da CCC (miocardite, dilatação e morte)

contrastam com dados da literatura, onde a produção de IFN-γ por células

mononucleares de pacientes com doença de Chagas está associada ao

desenvolvimento de cardiomiopatia (BAHIA-OLIVEIRA et al., 1998; ABEL et al.,

2001; GOMES et al., 2003). Além disso, monócitos de pacientes da forma

indeterminada da doença Chagas apresentaram elevada expressão de IL-10

quando cultivados com T. cruzi, enquanto que monócitos de pacientes com CCC

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Discussão

163

apresentaram elevada expressão de TNF-α (SOUZA et al., 2004), mostrando a

contribuição do perfil Th1 na progressão da cardiomiopatia. Entretanto, uma

diferença a ser considerada é que, enquanto no nosso estudo a avaliação dos

mediadores foi realizada no órgão-alvo da doença, os trabalhos que sugerem o

envolvimento das citocinas do perfil Th1 na progressão das lesões cardíacas em

pacientes portadores da doença de Chagas avaliaram a produção/expressão de

citocinas em células da periferia. Com isso, é possível que mecanismos diferentes

estejam operando localmente. Por outro lado, a análise imuno-histoquímica

realizada em biópsias endomiocárdicas ou em necrópsias de pacientes com CCC

mostraram a presença de IFN-γ, TNF-α, IL-10 e IL-4 no infiltrado inflamatório (REIS

et al., 1997), sugerindo que tanto citocinas do perfil Th1 como Th2 estão

relacionadas à progressão das lesões cardíacas. Entretanto, nesse trabalho, as

amostras eram provenientes de pacientes com CCC grave e, portanto, não

podemos descartar a possibilidade de que os mesmos mediadores estejam

presentes também no infiltrado inflamatório de pacientes com CCC leve ou

moderada.

Contudo, podemos especular que a correlação entre intensidade de

inflamação e dilatação nos hamsters cronicamente infectados por T. cruzi, assim

como a ausência de relação destas com a sobrevivência à fase crônica da infecção,

estejam associada, se não a uma produção diferenciada de citocinas, a uma

resposta diferencial do miocárdio aos mediadores inflamatórios. Entre os animais

que morreram espontaneamente durante a fase crônica, a intensidade de resposta

do miocárdio aos mediadores inflamatórios pode ter sido maior do que entre os

animais que conseguiram sobreviver até o final do estudo. Outro fator a ser

considerado é a amostra de ventrículo esquerdo utilizada para os estudos de

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Discussão

164

histopatologia e expressão de RNAm. Enquanto no primeiro utilizamos a porção

mediana do coração, no segundo utilizamos a ponta do ventrículo esquerdo.

Podemos especular que a intensidade de resposta inflamatória possa ser diferente

em porções distintas do coração.

Devido à heterogeneidade genética desses animais, é possível que

polimorfismos genéticos envolvidos na resposta imune também estejam envolvidos

na progressão diferencial. Nesta linha, dados da literatura já mostraram a

associação de polimorfismos do gene TNF com uma menor sobrevida de pacientes

com CCC grave ou com suscetibilidade ao desenvolvimento de cardiomiopatia

(DRIGO et al., 2005; RODRIGUEZ-PÉREZ et al., 2003). Por outro lado, a hipótese

de que a progressão diferencial esteja relacionada a outros mediadores

inflamatórios ou a mediadores não relacionados à resposta imune não investigados

neste estudo deve ser considerada. Adicionalmente, uma vez que avaliamos a

expressão de RNAm de citocinas e genes ativados por citocinas, é possível que a

ausência de associação com a gravidade da CCC seja decorrente de regulação

pós-transcricional. Já foi mostrado que IL-10, IFN-γ, iNOS e MnSOD apresentam

regulação pós-transcricional de RNAm (MOORE, 2001; HODGE et al., 2002;

COPPOLA et al., 1998; NILAKANTAN et al., 2005). Portanto, apesar de níveis

semelhantes de expressão de RNAm entre animais com ou sem dilatação e

miocardite, é possível que mecanismos pós-transcricionais tenham resultado em

aumento ou diminuição da produção protéica de alguns dos mediadores estudados.

Uma vez que no nosso modelo – hamsters sírios infectados pela cepa Y –

desenvolvem, com o mesmo inóculo de parasitas, tanto a miocardite da fase aguda

como a cardiomiopatia da fase crônica, uma pergunta relevante é se a expressão

de mediadores inflamatórios e anti-inflamatórios é semelhante ou diferente nas

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Discussão

165

fases aguda e crônica. A observação de níveis de expressão de RNAm de citocinas

(TNF-α, IFN-γ e IL-10) significativamente menores nos animais cronicamente

infectados do que nos animais agudamente infectados (Tabela 13) está de acordo

com a menor intensidade de miocardite e parasitismo cardíaco na fase crônica em

comparação a fase aguda. Por outro lado, a observação de níveis semelhantes de

expressão dos genes ativados por citocinas inflamatórias tanto nos animais

agudamente infectados como nos cronicamente infectados (Tabela 13) sugere que

a regulação desses genes pode ter sido semelhante nas fases aguda e crônica.

Entretanto, uma vez que esses genes exibem regulação pós-transcricional, a

ausência de diferença pode ter sido decorrente deste mecanismo.

O aumento da disfunção ventricular e dilatação do VE, evidenciados pela

análise ecocardiográfica, nos animais infectados e tratados com Etanercept em

relação aos infectados não tratados (Figura 35) sugere que o tratamento com 2,5

mg/Kg de Etanercept 2x/semana durante 70 dias da fase crônica da infecção

agravou a CCC avaliada 11 meses PI. Vale ressaltar que os efeitos deletérios do

Etanercept sobre a cardiomiopatia não podem ser atribuídos à cardiotoxicidade do

medicamento, já que animais não infectados e tratados pelo mesmo período se

comportaram de maneira semelhante aos controles não tratados em todos os

parâmetros analisados (Figuras 34, 35 e 36). Uma vez que o TNF-α está envolvido

na resposta imune contra o T. cruzi (SILVA et al., 1995; ALIBERTI et al., 2001) e

que pacientes com CCC imunossuprimidos após transplante cardíaco apresentam

reativação da doença (ALMEIDA et al., 1996; BOCCHI et al., 2005), a causa do

agravamento da cardiomiopatia durante o período de tratamento com Etanercept

poderia ter sido a reagudização da doença de Chagas no hamster cronicamente

infectado. Entretanto, observamos que, entre os animais infectados e tratados com

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Discussão

166

Etanercept, não houve aumento de parasitismo cardíaco (Figura 38) em relação aos

animais infectados não tratados. Portanto, o tratamento com Etanercept não

interferiu significativamente no controle do parasitismo na fase crônica da infecção.

A possibilidade de que a piora da função ventricular fosse secundária a deposição

de imunocomplexos Etanercept – anti-Etanercept no miocárdio foi excluída uma vez

que nenhum dos animais infectados tratados com Etanercept apresentou depósitos

de imunocomplexos IgG no miocárdio (Figura 39).

Nossos dados contrastam com os resultados de ensaios clínicos com número

reduzido de pacientes portadores de ICC (DESWAL et al., 1999; FICHTLSCHERER

et al., 2001; BOZKURT et al., 2001) e de modelos experimentais de ICC no rato e

cão (LI et al., 2002; MOE et al., 2004, respectivamente) onde o tratamento com 0,4-

0,5mg/Kg de Etanercept resultou em melhora da função ventricular. Além disso, um

estudo realizado com 15.739 pacientes mostrou que a prevalência e incidência de

ICC foram significativamente menores nos pacientes com artrite tratados com 25

mg de Etanercept em relação aos pacientes tratados com outras terapias para

artrite reumatóide (WOLFE e MICHAUD, 2004). Por outro lado, ensaios clínicos

realizados nos Estados Unidos e na Europa com 1500 pacientes mostraram que o

uso do Etanercept não acarretou melhora dos sintomas clínicos da ICC (MANN,

2002). Além disso, pacientes com esclerose múltipla tratados com anticorpo

monoclonal anti-TNF-α ou com receptor p55 solúvel de TNF-α (Lenercept)

apresentaram piora da doença (VAN OOSTEN et al., 1996; SCHWID e

NOSEWORTHY, 1999), sugerindo um papel protetor dessa citocina na esclerose

múltipla.

Alguns autores sugerem que a sinalização por TNF-α seja importante para a

manutenção da homeostase do coração (KURRELMEYER et al., 2000). Esses

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Discussão

167

autores mostraram que em modelos de infarto em camundongos deficientes da

expressão de TNFR1/TNFR2 ocorre aumento significativo da área de infarto e

apoptose de cardiomiócitos. Nessa linha, é possível que o efeito benéfico do

Etanercept ocorra em condições de elevada produção de TNF-α, onde este

tratamento serviria para bloquear o excesso de TNF-α presente, mantendo os níveis

homeostáticos dessa citocina. Como exemplo, camundongos tratados com 2 mg/Kg

de Etanercept apresentaram melhora da sobrevida e da função miocárdica em

modelo de endotoxemia induzida por LPS (PENG et al., 2003), onde a injeção de

LPS resulta em aumento substancial dos níveis de TNF-α plasmático e miocárdico

(KADOKAMI et al., 2001; PENG et al., 2003). Os níveis de TNF-α estimulados por

doses altas de LPS são muito superiores aos níveis encontrados em pacientes com

ICC (KADOKAMI et al., 2001; MOCELIN et al., 2005). Em conjunto os resultados

benéficos na artrite reumatóide (WOLFE e MICHAUD, 2004) e indiferentes na ICC

(MANN, 2002) ou deletérios em hamsters cronicamente infectados por T. cruzi

(Figuras 35 e 36), sugerem que existe especificidade de doença e órgão alvo

quanto ao efeito benéfico do bloqueio da atividade de TNF-α, que pode estar

relacionado a um efeito homeostático da citocina.

Para investigar o efeito do bloqueio de TNF-α/LT-α sobre os mediadores pró-

e anti-inflamatórios produzidos no miocárdio, avaliamos a expressão de RNAm de

citocinas e genes ativados por citocinas inflamatórias no miocárdio dos animais

infectados e tratados com Etanercept. O aumento da expressão de IL-10 no grupo

de animais que permaneceram assintomáticos nos experimentos de fase aguda

(Tabela 5) e no grupo que sobreviveu até os 11 meses no experimento de fase

crônica (Tabela 15) sugere que o TNF-α pode ter controlado a expressão de IL-10.

Em apoio a essa hipótese, células esplênicas de camundongos infectados pela

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Discussão

168

cepa Y de T. cruzi e tratados com anticorpo neutralizante anti-TNF-α durante a fase

aguda apresentaram elevada produção espontânea de IL-10 em comparação aos

animais não tratados (ABRAHAMSOHN e COFFMAN, 1996). Nesse trabalho, o

cultivo de células esplênicas de animais infectados na presença de anti-TNF-α

também resultou em aumento da produção de IL-10. Uma vez que apenas uma

parcela dos animais infectados tratados exibiu aumento da expressão de IL-10, é

possível especular que fatores genéticos estejam envolvidos neste aumento. Nesta

linha, vários polimorfismos do gene da IL-10, especialmente na região promotora, já

foram descritos em humanos (MOORE et al., 2001). Além disso, a despeito do

conhecido papel anti-inflamatório da IL-10, dados na literatura mostram que esta

citocina também pode exercer efeito pró-inflamatório em alguns processos

patológicos (MOCELLIN et al., 2003). Deste modo, considerando a piora da função

ventricular após o tratamento com Etanercept na fase crônica associada ao

aumento da expressão de IL-10, é possível que essa citocina tenha contribuído para

o agravamento das lesões cardíacas.

A observação de diminuição significativa da expressão de RNAm de iNOS

em uma parcela dos animais infectados e tratados com Etanercept é (Tabela 14)

consistente com dados da literatura que mostram que a produção de TNF-α ativa a

expressão de iNOS (SILVA et al., 1995). Entretanto, outros estudos mostram que a

elevada expressão de iNOS está associada a disfunção cardíaca em modelos

animais e em pacientes com ICC (FINKEL et al., 1992; DEBELDER et al., 1993;

FUNAKOSHI et al., 2002; HARE, 2003; CHAMPION, 2003). Na doença de Chagas,

os níveis elevados de TNF-α no soro de pacientes com CCC mas não IND se

correlacionam positivamente com os níveis séricos de NO e negativamente com os

níveis séricos de glutationa peroxidase e superóxido dismutase (SOD), enzimas

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Discussão

169

envolvidas nas vias anti-oxidantes (PÉREZ-FUENTES et al., 2003). Esses

resultados sugerem que a produção aumentada de NO, estimulada pela exposição

crônica ao TNF-α, seria a responsável pela diminuição da ativação do sistema anti-

oxidante, que acaba por aumentar o estresse oxidativo, podendo contribuir para o

agravamento da disfunção cardíaca tanto na CCC como nas outras cardiomiopatias.

Por outro lado, alguns autores também sugerem que a produção de NO no coração

pode ter efeitos benéficos. Camundongos deficientes de eNOS, cuja expressão é

constitutiva em cardiomiócitos, desenvolvem uma síndrome semelhante à

insuficiência cardíaca (BAROUCH et al., 2002). Além disso, camundongos

deficientes de IFN-γ apresentam miocardite auto-imune induzida por miosina mais

intensa do que camundongos normais e essa piora estava relacionada a diminuição

da expressão de iNOS no miocárdio (ERIKSSON et al., 2001), sugerindo um papel

protetor da iNOS no processo inflamatório miocárdico. Em apoio a essa hipótese, já

foi relatado o aumento da expressão gênica da iNOS no tecido cardíaco de

pacientes com CDI, e este aumento estava correlacionado positivamente com

melhor função ventricular (THOENES et al., 1996). Em conjunto, esses resultados

sugerem que, na ICC, o NO pode ter ação benéfica ou deletéria sobre a função

miocárdica. Portanto, no nosso estudo, é possível hipotetizar que a diminuição

significativa da expressão de iNOS pode ter contribuído para o agravamento da

disfunção ventricular e dilatação do VE nos animais infectados e tratados com

Etanercept. Sabendo-se que o TNF-α modula a expressão de inúmeros genes

(SULLIVAN, 2003) é possível que os efeitos biológicos observados nesse estudo

tenham sido decorrentes da modulação da expressão de outros mediadores

inflamatórios, ou de mediadores não relacionados à resposta imune, mas

envolvidos na manutenção da função cardíaca. Alem disso, uma vez que o

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Discussão

170

Etanercept não bloqueia TNF-α de membrana (KIRCHNER et al., 2004), este

poderia agir sobre outras células-alvo ou até mesmo exercer efeito autócrino,

compensando a ausência de atividade de TNF-α circulante.

Em conjunto, nossos resultados mostraram que, com uma única cepa de

parasita (cepa Y) e um hospedeiro geneticamente heterogêneo (hamster sírio) foi

possível recapitular o espectro da evolução da doença de Chagas humana, que

exibe diferentes padrões de progressão nas fases aguda e crônica (RASSI et al.,

2000; PRATA, 2001). Com esse modelo, foi possível estudar, utilizando o mesmo

esquema experimental, a indução e resolução da miocardite e a evolução da

cardiomiopatia crônica. Na fase aguda, o parasitismo cardíaco parece determinar os

níveis de expressão miocárdica de citocinas como TNF-α e IL-10 e genes ativados

por TNF-α e IFN-γ, como iNOS. Durante a fase aguda, o baixo parasitismo e a

menor expressão de citocinas no miocárdio dos animais assintomáticos sugere que

estes foram capazes de controlar o parasitismo antes da sua disseminação pelos

tecidos. Na fase crônica, embora níveis significativos de citocinas estejam presentes

no miocárdio e a inflamação local esteja envolvida na progressão da cardiomiopatia

chagásica crônica para a forma dilatada, esses fatores parecem não ser

determinantes para a morte dos animais cronicamente infectados. Isto indica que

mecanismos inflamatórios têm importante papel patogênico na evolução da

cardiomiopatia crônica pelo T. cruzi, porém não são suficientes para levar à morte.

Esse resultado sugere que outros mecanismos imunológicos ou cardiovasculares

não investigados nesse estudo podem ter contribuído para o desfecho final – morte.

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Conclusões

171

7 CONCLUSÕES

• A infecção de hamsters sírios geneticamente heterogêneos com a cepa Y de

T. cruzi permitiu recapitular o espectro da evolução da doença de Chagas

humana. Com este modelo, foi possível estudar, utilizando o mesmo

esquema experimental, a indução e resolução da miocardite e a evolução da

cardiomiopatia crônica;

• Na fase aguda, o parasitismo cardíaco parece determinar os níveis de

expressão miocárdica de citocinas como TNF-α e IL-10 e genes ativados por

TNF-α e IFN-γ, como iNOS. A ausência de parasitismo e citocinas no

miocárdio dos animais assintomáticos sugere que estes foram capazes de

controlar o parasitismo antes da sua disseminação pelos tecidos;

• O aumento significativo do parasitismo sangüíneo e cardíaco após o

tratamento com Etanercept durante a fase aguda sugere que o bloqueio da

atividade de TNF-α facilitou a disseminação do parasitismo sangüíneo e

cardíaco;

• O desenvolvimento de disfunção ventricular 8 meses PI esteve associado

com mortalidade durante a fase crônica da infecção por T. cruzi;

• A correlação entre a disfunção ventricular analisada 8 meses PI e níveis de

expressão de IL-10 e A20 na fase crônica (8-11 meses PI), bem como o

aumento da expressão de A20 no miocárdio de animais que morreram

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Conclusões

172

espontaneamente durante a fase crônica, sugere que esses mediadores

estão envolvidos na progressão da CCC no hamster infectado por T. cruzi;

• O tratamento com Etanercept durante a fase crônica da infecção por T. cruzi

agravou a cardiomiopatia chagásica crônica, por mecanismos possivelmente

relacionados ao aumento da expressão de IL-10 e diminuição da expressão

de iNOS;

• Na fase crônica, embora níveis significativos de citocinas estivessem

presentes no miocárdio e a intensidade da inflamação cardíaca estivesse

envolvida na progressão da cardiomiopatia para a forma dilatada, esses

fatores parecem não ter sido determinantes para a morte dos animais

cronicamente infectados.

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Referências

173

REFERÊNCIAS

ABEL, L. C.; RIZZO, L. V.; IANNI, B.; ALBUQUERQUE, F.; BACAL, F.; CARRARA, D.; BOCCHI, E. A.; TEIXEIRA, H. C.; MADY, C.; KALIL, J.; CUNHA-NETO, E. Chronic Chagas' disease cardiomyopathy patients display an increased IFN-gamma response to Trypanosoma cruzi infection. J. Autoimmun. v. 17, n. 1, p. 99-107, 2001.

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Anexos

188 Anexo A. Dados individuais de animais controles não infectados do experimento de fase aguda

Id Peso Peso % perda animais inicial (g) final (g) peso

4F88 152 167 -9,87 5446 139 166 -19,42 49BF 139 155 -11,51 6 E96 141 185 -31,21 2CC8 151 175 -15,89 804B 161 176 -9,32

Id = identificação

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Anexos

189 Anexo B. Dados individuais dos animais infectados por T. cruzi por 21 dias

Id Fase Título IgG Peso Peso %

perda % área % Ag ninhos/ TNF-α A20 IFN-γ IL-10 MnSOD IL-4 iNOS

Animal aguda* anti-T. cruzi

inicial (g)

final (g) peso inflamação

T. cruzi mm2 ER ER ER ER ER ER ER

78A7 ausente 25600 151 158 -4,64 6,091 0,0025 0,56 5,75 1,91 140,49 75,26 0,99 19,38 0,37 8B99 presente 12800 175 116 33,71 0,600 0,02 1,60 10,41 8,40 77,81 142,54 1,02 11,02 1,65 9918 presente 3200 181 113 37,57 0,302 0,11 1,02 24,17 23,00 44,80 184,79 1,64 6,71 3,05 99C7 presente 6400 146 100 31,51 1,112 0,15 2,33 19,11 29,25 156,64 366,01 2,10 17,58 4,55 A98E ausente 12800 161 166 -3,11 1,392 0,006 0,00 2,45 1,05 12,95 11,42 0,68 31,45 2,09 A805 ausente 12800 163 165 -1,23 2,216 0,025 0,33 2,46 1,24 11,12 21,37 0,27 9,42 1,43 956C presente 25600 164 105 35,98 1,292 0,016 0,27 6,75 6,70 81,48 200,54 1,04 17,22 1,31 6E71 ausente 6400 157 154 1,91 2,872 0,016 0,00 5,15 2,60 0,67 41,72 0,54 4,39 0,81 A105 presente 6400 193 133 31,09 3,174 0,13 3,41 4,58 1,03 67,01 150,51 1,22 12,84 0,22 A540 ausente 25600 175 179 -2,29 1,304 0,00027 0,00 1,33 0,08 27,83 28,01 0,51 20,65 0,12 SEM presente 12800 164 133 18,90 3,141 0,276 1,67 31,39 21,96 160,32 347,35 0,97 31,68 7,90 738F ausente 6400 175 190 -8,57 2,615 0,0075 0,14

Id, identificação de cada animal. * Após 21 dias de infecção, os animais foram analisados quanto a presença ou ausência de sintomas de fase aguda. ER, expressão relativa de RNAm.

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Anexos

190 Anexo C. Dados individuais dos animais infectados com T. cruzi e tratados com Etanercept durante fase aguda da infecção.

Id Fase Título IgG Peso Peso % perda % Ag ninhos/ TNF-α iNOS A20 MnSOD IFN-γ IL-10

Animal

aguda anti-T. cruzi inicial (g) final (g) peso T. cruzi mm2 ER ER ER ER ER ER

7E13 presente 1600 158 110 30,38 1,43 16,89 46,18 7,56 56,08 4,15 213,98 1652,86A500 presente 6400 156 102 34,62 0,137 4,27 9,04 5,23 9,78 1,07 46,34 142,89 A20B presente 12800 149 103 30,87 0,44 6,67 2,28 1,32 2,61 0,61 15,79 155,93 A3BE presente 6400 138 119 13,77 0,135 1,06 2,07 0,48 0,91 0,40 34,08 50,64 9036 presente 12800 164 110 32,93 0,17 5,24 9,59 6,63 16,51 1,70 89,87 387,02 853D ausente 12800 141 131 7,09 0,02 0,33 5,58 1,76 3,03 0,77 120,79 143,68 7550 ausente 12800 151 153 -1,32 0,0344 0,44 5,30 0,24 3,15 0,91 138,65 179,61 727C ausente 12800 136 140 -2,94 0,055 1,47 4,91 1,46 3,89 0,58 61,75 54,11 8E16 ausente 3200 145 124 14,48 0,025 1,11 4,98 1,51 3,10 0,68 59,40 105,91 A504 ausente 6400 148 153 -3,38 0,061 1,05 4,93 1,06 1,90 0,62 83,83 127,09 8DB1 presente 1600 152 98 35,53 0,15 1,09 9BAA ausente 12800 145 152 -4,83 0,0193 0

Id, identificação de cada animal. * Após 21 dias de infecção, os animais foram analisados quanto a presença ou ausência de sintomas de fase aguda. ER, expressão relativa de RNAm.

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Anexos

191 Anexo D. Dados individuais de animais controles não infectados do experimento de fase crônica

Id peso (g) peso (g) peso (g) óbito DDVE

basal/ DDVE8m/ DDVE11m/ ∆D% ∆D% ∆D% n°cel inflam/ IDVE

animal basal 8 meses PI

11 meses PI peso peso peso basal 8mPI 11mPI mm2

corte1

833E 96 179 4,479 2,85 37,5 8B99 126 210 203 3,571 2,71 2,71 39,77 31,9 40,72 198,3 95DF 101 170 170 4,059 3,00 3,29 52,84 54,3 39,03 70,8 2,40 804B 107 200 186 4,112 2,95 3,33 40,03 39,8 31,22 106,7 7550 105 143 140 3,810 3,36 3,50 47,6 40,3 31,5 73,1 2,11 99C7 102 209 190 3,431 2,25 2,58 49,33 42,7 53,97 956C 91 145 135 4,615 3,03 3,93 50,12 47,6 46,79 1,73 A500 101 154 131 3,366 3,44 4,12 56,11 32,8 30,34 129,5 1,60 7E13 107 200 4,112 2,75 43,71 32,1 9BAA 93 202 191 4,516 2,77 3,25 49,77 40,1 38,85 173,3 2,32 3907 100 172 4,100 3,26 46,35 46,5 8592 116 244 230 3,190 2,79 2,74 51,4 31,1 32,23 50,7 3,09 4BC3 113 255 244 3,363 2,35 2,46 48,91 42,0 38,6 85,6 2,59

Id = identificação, IDVE = índice de dilatação do ventrículo esquerdo; DDVE = diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo; D% = fração de encurtamento do ventrículo esquerdo; m = meses; mPI = meses pós-infecção. , morte espontânea.

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Anexos

192 Anexo E. Dados individuais dos animais infectados com T. cruzi por 8 a 11 meses.

Id óbito título IgG peso peso 8 peso 11 DDVE DDVE DDVE DD% ∆D% ∆D% n°cel IDVE TNF-α A20 MnSOD iNOS IL-4 IFN-γ IL-10

animal anti-T. cruzi

inicial (g)

meses PI

meses PI inicial 8m 11m inicial 8m 11m inflam ER ER ER ER ER ER ER

998C 25600 98 181 150 3,51 2,82 3,73 45,35 39,70 36,66 199,26 5,90 0,74 1,09 0,69 2,02 0,73 1,17 0,259D1B 6400 102 179 167 4,17 2,74 3,41 34,13 38,10 43,87 169,33 2,00 1,74 1,10 0,85 0,91 1,93 3,73 1,30A757 98 74 3,68 5,81 39,5 34,50 165,00 2,81 0,74 3,48 1,32 0,74 5,06 3,99 8,85727C 12800 117 169 144 3,35 3,37 3,96 41,65 39,70 33,43 343,75 4,87 1,69 0,95 0,72 2,03 3,40 7,80 1,509F5A 102 133 4,21 41,21 136,22 2,88 0,31 0,63 0,67 0,76 4,82 1,99 0,6995F7 116 218 3,55 3,21 49,07 28,00 144,24 4,08 0,89 4,05 1,04 1,05 7,07 1,74 3,20A42D 25600 92 189 168 4,64 2,38 3,21 44,91 38,60 29,08 217,78 3,62 2,64 1,07 1,47 2,43 7,46 11,32 2,01A105 12800 106 180 167 3,90 3,06 3,17 41,11 40,50 30,79 187,50 1,63 3,42 1,84 2,03 2,99 8,09 7,97 1,16A249 12800 96 188 188 4,13 2,93 2,77 46,80 38,90 39,02 136,41 2,43 2,74 1,46 1,10 1,68 5,48 6,33 1,88A20B 6400 99 196 166 5,15 2,81 2,77 39,81 39,50 43,74 266,67 4,45 3,85 1,76 0,93 1,31 5,53 5,45 2,2586 E 4 6400 83 143 145 5,09 3,43 3,93 50,69 39,90 39,17 1,81 0,42 0,78 0,62 3,18 3,10 0,724DE1 99 165 3,97 46,68 75,83 2,01 1,44 2,03 0,87 3,12 1,50 5,29 8E0B 98 161 3,53 3,66 53,95 22,50 176,35 1,82 14,04 14,21 4,86 0,26 2,38 3,26 27,478117 105 199 179 3,83 2,56 36,88 34,30 304,00 3,51 7CD9 12800 101 177 4,20 3,28 48,29 36,20 286,67 3,35 9F9E 127 146 2,94 2,81 44,20 35,60 A805 12800 97 205 146 4,33 2,93 3,97 43,64 32,00 36,5 924E 73 165 5,89 3,82 35,35 25,30 7A1F 88 164 4,53 3,54 42,94 23,20 A748 89 76 3,93 51,66 5945 113 219 3,83 3,06 59,25 32,50 70AB 112 162 3,49 2,65 44,39 41,90

Id = identificação, IDVE = índice de dilatação do ventrículo esquerdo; DDVE = diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo;

D% = fração de encurtamento do ventrículo esquerdo; mPI = meses pós-infecção; ER = expressão relativa. , morte espontânea.

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Anexos

193 Anexo F. Dados individuais dos animais infectados com T. cruzi e tratados com Etanercept durante fase crônica da infecção.

Id óbito Título IgG peso peso peso DDVE DDVE DDVE ∆D% ∆D% ∆D% n° cel TNF-α A20 MnSOD iNOS IL-4 IFN-γ IL-10

Animal anti-T. cruzi

inicial (g)

8m PI

11m PI inicial 8m 11 m inicial 8 m 11m inflam ER ER ER ER ER ER ER

738F 3200 111 208 167 2,83 2,98 4,311 57,64 30 9,5 123,8 5,05 1,44 0,41 1,59 9,81 7,61 1,63 9909 12800 107 168 138 3,89 3,45 4,710 56,43 39,5 11,14 210,7 0,68 5,02 0,77 0,39 1,38 1,75 5,10 78A7 6400 89 154 134 4,81 3,64 5,448 48,63 38 12,9 398,2 3,08 1,57 0,88 0,75 2,72 5,35 50,767A63 12800 92 147 148 5,01 3,40 4,054 43,1 40,2 41,1 100,0 3,26 1,60 1,12 1,35 7,43 10,74 1,85 8C6A 1600 95 148 3,56 3,31 54,27 28,9 496,2 2,64 2,05 1,12 1,47 14,27 5,25 6,92 59D8 6400 94 157 4,43 3,38 41,94 41,6 130,4 1,55 7,96 1,65 0,24 3,26 2,47 13,058 E 16 6400 98 135 104 4,48 3,33 6,923 67,64 41,7 21,44 250,5 1,65 3,80 1,08 1,22 2,81 0,94 1,50 7B9C 6400 105 172 153 3,48 2,73 3,529 40,92 47,1 22,5 216,7 0,68 0,34 0,85 0,55 4,34 4,47 6,25 82A6 25600 92 149 124 4,21 3,36 4,435 46,68 39,1 31,21 305,6 1,59 0,47 0,95 0,86 4,03 4,58 2,65 A98E 12800 91 148 114 3,78 2,77 3,596 46,33 50,5 47,7 232,0 1,40 0,87 0,74 0,60 1,29 3,44 3,79 9808 104 131 4,32 5,11 44,54 29,1 9D3E 110 172 3,54 3,90 48,39 20,8 A049 98 163 4,23 3,93 36,74 26

Id = identificação; DDVE = diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo; D% = fração de encurtamento do ventrículo esquerdo; mPI = meses pós-infecção; ER = expressão relativa. , morte espontânea.

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Anexos

194 Anexo G. Comparação de diferentes medidas avaliadas em animais controles e animais cronicamente infectados pelo T. cruzi Medidas controles infectados n

(controles) n

(infectados) valor p mediana (min-max) mediana (min-max)

DDVE/peso 8 meses PI 2,85 (2,25-3,44) 3,28 (2,38-5,81) 13 43 0,02∗

DDVE/peso 11 meses PI 3,27 (2,46-4,12) 3,41 (2,77-3,97) 10 9 0,31

DSVE/peso 8 meses PI 1,75 (1,29-2,34) 2,05 (1,35-3,78) 13 43 0,002∗

DSVE/peso 11 meses PI 1,99 (1,16-2,82) 2,26(1,57-2,64) 10 9 0,35

D% 8 meses PI 40,10 (31,10-54,30) 35,60 (14,70-50,50) 13 43 0,013∗

D% 11 meses PI 38,85 (30,34-53,97) 36,66 (29,08-43,87) 10 9 0,29

n° cels. inflam./mm2 106,70 (50,70-198,30)

182,00 (75,80-343,80) 9 14 0,005∗

IDVE 2,32 (1,60-3,09) 3,12 (1,63-5,90) 7 14 0,04∗

IDVE = índice de dilatação do ventrículo esquerdo; DDVE = diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo; DSVE = diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo; D% = fração de encurtamento do ventrículo esquerdo; PI = pós-infecção; ∗p < 0,05, significativo, Teste U de Mann-Whitney.

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Anexos

195 Anexo H. Comparação entre diferentes medidas avaliadas em animais sobreviventes e mortos espontaneamente na fase crônica da infecção pelo T. cruzi Medidas sobreviventes mortos n (sobreviventes) n (mortos) valor p

mediana (min-max) mediana (min-max)

DDVE/peso 8 meses PI 2,93 (2,38-3,43) 3,24 (2,56-5,81) 9 10 0,18

DSVE/peso 8 meses PI 1,75 (1,43-2,10) 2,21 (1,54-3,78) 9 10 0,04∗

∆D% 8 meses PI 39,50 (32,00-40,50) 33,40 (22,50-41,90) 9 10 0,01∗

IDVE 3,62 (1,63-5,90) 2,88 (1,82-4,08) 7 7 0,53

n° cels. inflam./mm2 199,30 (136,40-343,80) 165,00 (75,80-304,00) 7 7 0,32

TNF-α (ER) 2,23 (0,74-3,85) 0,89 (0,31-14,05) 8 5 0,22

A20 (ER) 1,09 (0,42-1,84) 3,47 (0,63-14,22) 8 5 0,03∗

MnSOD (ER) 0,89 (0,688-2,035) 1,039 (0,669-4,856) 8 5 0,72

INOS (ER) 1,848 (0,62-2,99) 0,7580 (0,2550-3-125) 8 5 0,28

IFN-γ (ER) 5,89(1,172-11,32) 3,263 (1,743-5,29) 8 5 0,17

IL-10 (ER) 1,4 (0,253-2,249) 6,025 (0,689-27,47) 8 4 0,15

IDVE = índice de dilatação do ventrículo esquerdo; DDVE = diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo; DSVE = diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo; D% = fração de encurtamento do ventrículo esquerdo; ER = expressão relativa; ∗p < 0,05, significativo, Teste U de Mann-Whitney.

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Anexos

196 Anexo I. Comparação entre diferentes medidas avaliadas em animais infectados pelo T. cruzi e infectados tratados com Etanercept Medidas infectados infectados + sTNFR n (infectados) n (infectados + sTNFR) valor p

mediana (min-max) mediana (min-max)

DDVE/peso 8 meses PI 3,06 (2,38-5,81) 3,39 (2,73-5,11) 19 13 0,09

DDVE/peso 11 meses PI 3,41 (2,77-3,97) 4,37 (3,53-6,92) 9 8 0,03∗

DSVE/peso 8 meses PI 2,00 (1,43-3,78) 2,08 (1,35-3,59) 19 13 0,283

DSVE/peso 11 meses PI 2,26(1,57-2,64) 3,48 (1,84-5,48) 9 8 0,03∗

�D% 8 meses PI 36,20 (22,50-41,90) 39,10 (20,80-50,50) 19 13 0,48

�D% 11 meses PI 36,66 (29,08-43,87) 21,97 (9,5-47,70) 9 8 0,03∗

n° cels. inflam./mm2 182,0 (75,8-343,8) 224,4 (100,0-496,2) 14 10 0,5

TNF-�(ER) 1,74 (0,31-14,05) 1,62 (0,68-5,05) 13 10 0,83

A20 (ER) 1,46 (0,42-14,22) 1,584 (0,335-7,963) 13 10 0,88

MnSOD (ER) 0,93 (0,67-4,86) 0,91 (0,41-1,65) 13 8 0,78

INOS (ER) 1,31 (0,26-3,12) 0,80 (0,24-1,59) 13 10 0,04∗

INF-� (ER) 3,99 (1,17-11,32) 4,52 (0,94-10,74) 13 10 0,83

IL-10 (ER) 1,69 (0,25-27,47)) 4,45 (1,50 -50,76) 12 10 0,02∗

DDVE = diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo; DSVE = diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo; D% = fração de encurtamento do ventrículo esquerdo; ER = expressão relativa; ∗p < 0,05, significativo, Teste U de Mann-Whitney.

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